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MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA | CICLO 2 | ANO 5 | PROJETO FINAL I | 2015 /16 DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E GEORRECURSOS 1 MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA CICLO 2 | ANO 5 PROJETO FINAL I 2015 /16 plano curricular DA TORRE DE BELÉM À FOZ DO JAMOR 1 INTRODUÇÃO (ABF) Dois fenómenos inéditos na história das cidades têm adquirido crescente importância. No decorrer das últimas três décadas o território habitado tem vindo a ser moldado pela imprevisibilidade dos efeitos da disparidade aleatória das forças que nele atuam e pelo colapso da relação ontológica, milenar, entre o espaço e o tempo. Até finais do século XX, apesar da radical alteração do paradigma urbano em consequência da industrialização que substituiu a cidade de crescimento concêntrico pela atual metrópole configurada por um mosaico efervescente de múltiplos centros em competição, a construção e a transformação do território oscilaram entre as operações elaboradas pelos diversos poderes instituídos, executadas em períodos confinados, e as ações decorrentes de latos consensos sociais, culturais ou económicos, com exercício em tempo alargado. Nos últimos anos, o crescente domínio dos mercados, frequentemente impessoais, e a falência das doutrinas tem substituído o valor e o desempenho dos indivíduos e das suas instituições, originando desenvolvimentos em geral contraditórios, de enorme mutabilidade, que influem e determinam a configuração dos espaços habitados, tornando atípica a sua produção e a sua transformação. A incrementar a complexidade deste processo a, também recente, instalação exponencial da comunicação eletrónica que permite que tudo, até o pensamento, seja lido em direto por todos, em qualquer lugar e a qualquer hora, subvertendo a relação de intimidade que o espaço sempre manteve com o tempo.

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MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA | CICLO 2 | ANO 5 | PROJETO FINAL I | 2015 /16

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E GEORRECURSOS

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MESTRADO INTEGRADO EM ARQUITETURA CICLO 2 | ANO 5

PROJETO FINAL I 2015 /16

plano curricular

DA TORRE DE BELÉM À FOZ DO JAMOR

1 INTRODUÇÃO

(ABF) Dois fenómenos inéditos na história das cidades têm adquirido crescente importância. No decorrer das últimas três décadas o território habitado tem vindo a ser moldado pela

imprevisibilidade dos efeitos da disparidade aleatória das forças que nele atuam

e pelo colapso da relação ontológica, milenar, entre o espaço e o tempo. Até finais do século XX, apesar da radical alteração do paradigma urbano em consequência da industrialização que substituiu a cidade de crescimento concêntrico pela atual metrópole configurada por um mosaico efervescente de múltiplos centros em competição, a construção e a transformação do território oscilaram entre as operações elaboradas pelos diversos poderes instituídos, executadas em períodos confinados, e as ações decorrentes de latos consensos sociais, culturais ou económicos, com exercício em tempo alargado. Nos últimos anos, o crescente domínio dos mercados, frequentemente impessoais, e a falência das doutrinas tem substituído o valor e o desempenho dos indivíduos e das suas instituições, originando desenvolvimentos em geral contraditórios, de enorme mutabilidade, que influem e determinam a configuração dos espaços habitados, tornando atípica a sua produção e a sua transformação. A incrementar a complexidade deste processo a, também recente, instalação exponencial da comunicação eletrónica que permite que tudo, até o pensamento, seja lido em direto por todos, em qualquer lugar e a qualquer hora, subvertendo a relação de intimidade que o espaço sempre manteve com o tempo.

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Não obstante a bondade do esforço institucional em identificar e perseguir desígnios, tentando corrigir e propor estratégias de influência, a cidade do início do século XXI é imprevista e descontínua, características que aproximam e assemelham quer as grandes metrópoles do velho ocidente, retraídas pela recente crise económico-financeira, quer as cidades das regiões emergentes, de crescimento explosivo. São os agentes privados, em exclusivo ou em parceria com a administração pública, a produzir, a gerir e a explorar a cidade atual, filtrando objetivos e priorizando a sua rentabilização. A inviabilidade demonstrada por inúmeras operações urbanas e arquitetónicas edificadas nas últimas duas décadas do século passado – os seus elevados custos financeiros, energéticos e ambientais e a sua dificuldade em acompanhar as recentes e rápidas alterações dos contextos social, cultural e económico – propiciou uma reflexão muito crítica sobre a assertividade da intervenção no território construído, contribuindo para a progressiva consciência:

da finitude dos recursos energéticos, financeiros e humanos;

da racionalidade do reuso ou da reabilitação dos edifícios que se tornaram obsoletos;

da adaptabilidade indispensável à acelerada mutação dos contextos e dos requisitos;

da colaboração entre o ambiente construído e o ambiente natural;

da reconciliação conveniente entre o espaço e o tempo com incremento do seu valor social e cultural;

do papel preponderante das pessoas, com perfis individuais ou coletivos de diversidade incomensurável, a influenciarem ou a serem influenciadas pelos mais diversos atores;

da importância das estratégias criativas que equilibrem o investimento e o retorno;

da capacidade de gerar ou de aceitar oportunidades;

da atratividade das cidades como condição para a sua sobrevivência num mapa, em expansão, de competições ou de vaidades.

E, sobretudo, a noção de que é a potência que advém do contágio viral entre as ocorrências do quotidiano, amplificado pela coincidência dos factos com a sua própria representação, que hoje faz mover o motor da história…

… da história dos lugares que reclamam a civilização e que igualam numa só plataforma o bem-estar, o sofrimento, a ingenuidade e a sabedoria.

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2. OBJETIVOS

(TVH+AC) A Unidade Curricular de PROJETO FINAL I visa desenvolver conhecimentos teóricos e competências básicas necessárias à prática do PROJETO URBANO, entendido como um processo complexo e multifacetado com forte articulação com outras disciplinas que intervêm no território das cidades. É seu principal objetivo:

desenvolver os conhecimentos teóricos e competências prático-instrumentais necessárias à intervenção arquitetónica à escala urbana - prática do Projeto Urbano - tanto na capacidade de ler o território e os elementos que o conformam como na proposta de novos modos de intervenção conducente à sua transformação;

desenvolver as capacidades de comunicação – imagética, gráfica, escrita e oral – necessárias à representação do território urbano e ao registo, interpretação e transmissão de estratégias de transformação, intenções concetuais e propostas de intervenção a diferentes escalas.

Estes objetivos curriculares focam-se no estudo de uma área nevrálgica da cidade onde a heterogeneidade morfológica, as descontinuidades urbanas e a presença de diversas infraestruturas associadas à mobilidade assumem particular relevância. É dada especial ênfase ao desenho urbano e ao desenho do espaço público:

investigação e proposta de programas e de novas tipologias e morfologias urbanas capazes de requalificar e transformar o território em estudo;

desenvolvimento de novos modos de articulação entre as diferentes infraestruturas de mobilidade, encontrando novas soluções de continuidade para o espaço público.

A compreensão e a operacionalização de processos de intervenção urbana exigem novas capacidades de conhecimento interdisciplinar. O entendimento dos desafios urbanos contemporâneos – incluindo fenómenos ambientais, sociais, económicos e políticos – deve ser acompanhado por práticas projetuais com enfâse na reabilitação e/ou reutilização de espaços públicos e de edifícios por forma a responderem a novas exigências e metas de sustentabilidade (incluindo requisitos de eficiência e de interesse público, gestão racional dos recursos, construção sustentável e tecnologias verdes, prolongamento do ciclo de vida / habitabilidade dos espaços construídos). O Projeto Urbano incide sobre um território urbano alargado, em transformação ou a transformar, e por isso envolve vários projetistas e tem implicações significativas, ao nível social, económico e político, para as comunidades e atividades envolvidas.

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Enquanto instrumento de intervenção sobre o território, o projeto urbano resulta de uma relação dialética entre PROJETO e PLANO – desenha a estrutura do território, o espaço público e os factos arquitetónicos mais relevantes e regulamenta e enquadra intervenções diversas cujos autores e tempos de realização frequentemente se desconhece. Uma outra vertente do projeto urbano é o seu caráter estratégico na medida em que pressupõe compatibilizar vários interesses, mobilizar meios e, na sua concretização, desencadear sinergias que acelerem, enriqueçam ou comprometam o processo de qualificação que se pretende promover. O conhecimento dos promotores e das fontes de financiamento contribui para viabilizar a sua realização. O projeto urbano aborda também a possibilidade de edifícios complexos, pela sua importância para a cidade, representarem a oportunidade de influenciar as suas áreas nevrálgicas. Sem abdicar da metodologia própria do projeto urbano – análise, programação e abordagem – pretende-se que na Unidade Curricular de PROJETO FINAL I se formalizem soluções definidas, quer urbanísticas quer arquitetónicas. Trata-se de aprofundar as capacidades de projetar a partir dos elementos estruturantes e caracterizadores do lugar. O tema de estudo de PROJETO FINAL I foi selecionado em articulação com a Câmara Municipal de Lisboa, com a Câmara Municipal de Oeiras e com a Administração do Porto de Lisboa, no sentido de abordar um território e um programa com relevância no quadro das atuais dinâmicas da cidade de Lisboa e do concelho de Oeiras e da sua vocação atlântica. É objetivo curricular o equacionamento de diferentes alternativas que possam ser discutidas e apresentadas às entidades referidas, procurando dar um contributo importante para o debate e para a discussão da cidade. Lisboa apresenta condições de vento e de mar muito favoráveis à prática da vela e dos desportos náuticos. Está criada a oportunidade de trazer a VOLVO OCEAN RACE para Lisboa. Acontecimentos desta importância são singulares veículos de promoção de uma cidade particularmente ligada à atividade marítima. O estuário do Tejo apresenta condições ideais para a prática de desportos náuticos – permite que a vela seja praticada durante nove meses por ano, o que dá a Lisboa vantagens únicas para competir com outras cidades costeiras. No entanto para acolher estas atividades é necessário desenvolver as infraestruturas necessárias à instalação de centros náuticos de excelência que permitam albergar equipas de primeira linha. Num momento em que as grandes cidades lutam por se impor num mundo globalizado, são eventos com esta escala e protagonismo que induzem de forma decisiva a mediatização positiva e a consequente captação de fluxos turísticos e financeiros de importância ímpar. A capacidade de Lisboa competir num espaço global com outras cidades é potenciada pela atratividade da sua frente ribeirinha e pela oferta de atividades de nível superior que possam alavancar a difusão mediática de um espaço simbólico da cidade historicamente ligado à partida das naus à descoberta do oceano.

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3. CONTEXTO E PROGRAMA

(ABF) O Programa da Unidade Curricular de PROJETO FINAL I pretende simular uma aproximação à prática profissional do PROJETO URBANO. Será desenvolvida uma abordagem ao território referenciado pela Torre de Belém e pela foz do rio Jamor, com focagem no relacionamento entre a cidade de Lisboa e o estuário do Tejo ao longo da frente urbana de Pedrouços, de Algés e do Dafundo. Com o crescimento da cidade, a margem ribeirinha de Lisboa foi sendo significativamente alterada por sucessivos aterros que modificaram o desenho subtil da sua borda de água. A primeira transformação importante ocorre durante o século XIII com o progressivo assoreamento do esteiro do Tejo, sequência da instalação de uma nova população, e da que o domínio cristão deslocara, e do amanho agrário dos campos em redor do perímetro cercado do primitivo núcleo islâmico-visigodo, sepultando em definitivo o pouco que restava da antiga cidade romana. A cerca fernandina, edificada no século XIV, protege este território que se vai adensando e construindo a nascente e a poente da cidadela e alonga o contacto da cidade com o rio a montante e a jusante do esteiro assoreado, desde a porta da Cruz até à porta do Cata-Que-Farás intercalando inúmeras outras portas, postigos e vigias sobre um areal de crescente urbanidade. Com a diáspora quinhentista, Lisboa oferece às águas do Tejo, pleno de embarcações, os seus principais palácios e praças – o Terreiro do Paço ladeado pela Ribeira Velha e pela Ribeira das Naus – substituindo a antiga praia por uma frente urbana, de cerca de um quilómetro de extensão, construída com o especial desempenho da arquitetura dos espaços e dos edifícios na caracterização do seu relacionamento, delicado, com o rio. A reconstrução da cidade, destruída em 1755, propõe um novo discurso filtrado pela retórica das luzes, conservando na essência o valor urbano da água agora amplificado pelo protagonismo oceânico – na “primeira das cidades modernas” (França, J.A.) o Cais das Colunas pretende ser a porta atlântica da Europa. Todos os restantes aterros são terraplenos realizados no final do século XIX ou com intenções higienistas ou no âmbito das obras, realizadas por D. Luís I, de modernização do Porto de Lisboa e de apoio às instalações industriais e de armazenamento incrementadas pela então recente revolução do vapor.

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Ao tempo em que os planos de Fontes, reiterados depois pelos de Pacheco, apostam em expandir a cidade para norte, são conquistados ao rio grandes espaços planos, de nível, com adequada acessibilidade por terra e por água, para receberem os engenhos e as infraestruturas que originam e suportam a nova civilização. De Cabo Ruivo à Torre de Belém, a margem da cidade é redesenhada substituindo-se a anterior linha ondulada, que acompanhava o embasamento das colinas recortado pelas diversas ribeiras e linhas de água, por uma sequência alinhada de amuradas, para contenção dos vastos aterros, e de novas docas que avançam sobre o plano de água do Tejo. O assoreamento do vale de Algés e o encanamento da ribeira completam o processo de artificialização da margem de Lisboa. Em consequência destas extensas transformações, desaparecem as praias a jusante, com significativo recuo da margem no Dafundo, na Cruz Quebrada e em Caxias. A faixa marginal destes novos espaços, na largura de cinquenta metros, é considerada de domínio público e entregue à jurisdição do Porto de Lisboa, passando a ter gestão autónoma. Hoje, todo o arco ribeirinho do estuário do Tejo, de Vila Franca de Xira à Barra, é gerido e tem a jurisdição da Administração do Porto de Lisboa. Com o melhoramento gradual da infraestrutura portuária e atraídas pelas boas condições de funcionalidade e acesso recém-criadas, as principais companhias da monarquia constitucional e da primeira república instalam-se a nascente da Praça do Comércio, desde o Campo das Cebolas e o Terreiro do Trigo, ao longo de Xabregas, Poço do Bispo, Braço de Prata e Cabo Ruivo, até à foz do rio Trancão. A poente, a Ribeira das Naus, a Boavista, a Rocha do Conde de Óbidos, o vale de Alcântara, Belém e Pedrouços têm idêntico destino. Nestes espaços, no virar do século, são também edificados grande parte dos novos equipamentos urbanos e infraestruturas de saneamento, energia e transporte. Com exceção da área próxima ao mosteiro dos Jerónimos a que o Estado Novo veio a atribuir um valor simbólico e monumental que se sobrepôs a este generalizado perfil industrial, toda a nova frente ribeirinha de Lisboa se transforma nas traseiras logísticas de um território que procura qualificar-se a norte. O impulso económico gerado pela segunda guerra mundial energiza e estende às duas margens o desenvolvimento industrial da cidade. O rio ganha uma nova centralidade funcional – adensa-se progressivamente um anel de serviços e de instalações industriais pesadas, nem todas dependentes do acesso ao oceano, que, ajudado pelo envelhecimento dos bairros vernaculares, mais separa do Tejo a Lisboa cosmopolita e burguesa que cresce no planalto. O incremento industrial alastra na margem sul, que na época era denominada por “outra banda”, e é polarizado pelas grandes unidades fabris da CUF e da Siderurgia Nacional – aproveitando a amplitude do Montijo, da Moita, do Barreiro e do Seixal – e pelos grandes estaleiros navais da Lisnave, que se constroem em Almada propiciados pelas favoráveis condições de calagem e de acostagem do canal sul do estuário do Tejo, desde Cacilhas à Trafaria, onde também se implantam diversos gasómetros e silos de cereais.

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Depressa este desenvolvimento anula o protagonismo do grande aterro da margem norte. Muitas das instalações industriais e dos armazéns edificados entre Cabo Ruivo e Pedrouços tornam-se obsoletos, são abandonados ou demolidos, dando origem a espaços desativados ou expectantes que, sobretudo na zona oriental, a cidade vai estigmatizando. Processo inverso caracteriza as infraestruturas do Porto de Lisboa que, dos anos quarenta aos anos sessenta do século passado, ganham importância e dimensão com o transporte marítimo de passageiros e de mercadorias entre a “metrópole” e o “ultramar” – construção das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha – com a nacionalização da distribuição das pescas – construção das instalações da Docapesca na doca de Pedrouços – e com a implementação de equipamento de acostagem, de cargas, de descargas e de transporte, ao longo da margem, especialmente entre Santa Apolónia e a Matinha. Os anos que antecedem a revolução de abril e os que se lhe seguem, primeiro por excessiva venalidade da administração pública, depois por complacência e demora da sua reestruturação, assistem à formação de um novo e largo anel monolítico, feito de construção clandestina e da que resulta da especulação imobiliária, que envolve a grande região de Lisboa, de Oeiras a Vila Franca e do Montijo a Almada, continuando o Tejo a ser o seu centro mas, agora, apenas geográfico. No atual contexto, que decorre de quarenta anos de democracia e de trinta anos de convergência europeia, os temas em discussão a propósito da cidade de Lisboa são idênticos aos que muitas outras cidades ocidentais propiciam. No que respeita às suas margens, a cidade recebe o enorme impacto do incremento do transporte marítimo contentorizado, da armazenagem e da movimentação de granéis sólidos e líquidos, dos cruzeiros turísticos, da náutica de recreio e do tráfego fluvial de passageiros e de carga, em escala inaudita e de múltiplas consequências, mas sempre ao abrigo da ação do Porto de Lisboa. Apesar da densidade e do peso atingido pelas atuais infraestruturas portuárias, o porto não preenche totalmente a longa faixa de mais de duas dezenas de quilómetros que faz a margem construída da cidade entre o Trancão e o Jamor. São frequentes os lugares que, ao longo do rio, oferecem potenciais usos alternativos, sem prejuízo da atividade portuária, revelando a oportunidade da cidade readquirir a multifuncionalidade que, desde a sua formação, caracterizou a sua borda de água.

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A par do enorme esforço que a Câmara Municipal de Lisboa tem desenvolvido para recuperar espaços e edifícios vitais para a cidade, valorizando e dinamizando o seu património e promovendo a defesa de um ambiente sustentável, a Administração do Porto de Lisboa tem procurado, em conjunto com a autarquia e promotores privados, soluções criativas para a renovação urbana da margem, desde grandes intervenções de estratégia e modelo inovador, como ocorreu com a Expo’ 98, até intervenções de reabilitação do espaço público, como é o caso da recente obra da Ribeira das Naus, passando pelo reuso e pela recuperação de vastas e diversas edificações – pequenos e grandes armazéns das mais distintas idades e tipologias, conforme aconteceu em Santa Apolónia, no Cais do Sodré, em Santos e na doca de Santo Amaro – dos amplos jardins implementados mais a jusante, ou da edificação do “champalimaud centre for the unknown”. No entanto, apesar de todos os esforços para criar interrupções na continuidade das instalações portuárias e da tendente regeneração da cidade exposta ao rio, continua a manter-se o divórcio entre Lisboa e o Tejo. A verdade é que a implantação da dura infraestrutura ferroviária, instalada no final do século XIX, acompanhada da não menos impactante infraestrutura rodoviária, que cresceu a partir do meado do século XX, continuam a dividir a cidade apesar dos gigantes nós que a pretendem ligar. Recorrendo ao exercício da metodologia de projeto, no âmbito e no território referenciados, o Programa de PROJETO FINAL I do quinto ano do Mestrado Integrado em Arquitetura do Técnico.Lisboa propõe o equacionamento e requer a procura de respostas ao desafio da compatibilização entre as infraestruturas portuárias, que colocam Lisboa no roteiro comercial e turístico das cidades marítimas, e os espaços de ciência, cultura, lazer, desporto, espetáculo e comunicação que alimentam a festa que todos os dias afere a competitividade dos lugares,

reconhecendo que tem sido a sua conturbada complementaridade a amplificar o fascínio que, nos últimos anos, a cidade tem vindo a adquirir.

Pretende-se que os estudos e os projetos:

se comprometam com o contexto do território, geográfico, climático, urbano, arquitetónico, social, cultural e económico;

tomem em conta o perfil, a missão e a ação das entidades que o gerem, com relevância para

a Câmara Municipal de Lisboa, a Câmara Municipal de Oeiras e a Administração do Porto de Lisboa;

tenham em consideração as reais oportunidades públicas e privadas que se oferecem para a sua transformação;

e decorram de uma reflexão amplamente informada, incluindo o conhecimento dos estudos e projetos, com idêntico propósito, elaborados para os mesmos lugares ou, de algum modo, correlacionados.

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Para além de outros focos que o avanço dos estudos possa vir a identificar é objetivo dos trabalhos propor respostas às seguintes temáticas:

implementação na Doca de Pedrouços e nos edifícios da Docapesca, infraestrutura que se deseja reabilitar em concertação com a CML e a APL, de uma nova porta atlântica para a náutica de recreio e de competição alavancada pela instalação da VOLVO OCEAN RACE, fazendo de Lisboa o próximo ponto de partida da regata em 2017/18 na sequência do êxito demonstrado pela cidade e pelo seu estuário como stopover da corrida em 2011/12 e 2014/15, evento que encerrou este verão com a afluência simultânea de sessenta mil pessoas. criação, em articulação com a CMO e a APL, de um espaço público capaz de dar continuidade ao evento NOS ALIVE que reúne cerca de cinquenta mil pessoas durante três dias por ano, mas que permita também viabilizar outros usos no âmbito da cultura, das artes, do desporto, do espetáculo e do lazer rentabilizando e oferecendo urbanidade aos restantes trezentos e cinquenta e dois dias, podendo para isso associar-se-lhe espaços edificados multifuncionais; revisão das infraestruturas rodo-ferroviárias – alteração, adaptação ou introdução de eventuais medidas de compensação, em consonância com as estratégias da mobilidade urbana que têm vindo a ser estudadas e implementadas pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes e pelas autarquias de Lisboa e de Oeiras que favorecem a distribuição do trânsito através de anéis perimétricos e aliviam as áreas mais centrais e densas da cidade – com o objetivo de compatibilizar os requisitos da sua implantação com a qualificação, a continuidade e o uso dos espaços urbanos solicitados; instalação de um interface de transferência da mobilidade pedonal, ciclável e rodoferroviária, complementado por silo para parqueamento automóvel; edificação de espaços, para apoio às novas valências urbanas, de serviços e equipamentos, de comércio e restauração, expositivos e logísticos; formação do lastro imobiliário que viabilize a intervenção, com oferta de habitação, hotelaria, estúdios, ateliers e terciário; reabilitação, reconstrução ou reuso de espaços edificados obsoletos que revelem novas capacidades no contexto da transformação urbana em equação; requalificação dos espaços exteriores ambíguos ou expectantes de Pedrouços, de Algés e do Dafundo; formação da teia de espacialidades, com a energia e a diversidade funcional perene, esporádica ou efémera que a cidade atual requere, capaz de atribuir um novo sentido ao território pelo balanço entre a estratégia e o desenho que o Projeto Urbano promove.

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O detalhe programático dos temas elencados será definido pelas organizações que os estão a implementar – os seus representantes serão convidados a participar em aulas e a partilhar informação – admitindo-se a sua pertinente ponderação e uma eventual recriação de conteúdos. É ambição dos trabalhos a desenvolver na Unidade Curricular de PROJETO FINAL I suscitar uma reflexão prospetiva útil à cidade e à sua coletividade, articulando-se passo a passo com as circunstâncias e os agentes que determinam a fenomenologia urbana num processo informado, participado, discutido e atuante quer no universo académico quer no seu exterior, e antecipar a dimensão profissional das competências formativas holísticas do Mestrado Integrado em Arquitetura. 4. AVALIAÇÃO A avaliação decorre da elaboração do projeto e das qualidades do seu conteúdo, da sua apresentação e da sua comunicação. Os critérios de avaliação relacionam-se com o caráter contínuo do trabalho de projeto, que constitui o objeto programático da Unidade Curricular de PROJETO FINAL I, e relevam

das ATITUDES, através do registo da persistência da prestação capacidade de mobilizar o grupo recetividade e abertura demonstradas investigação desenvolvida disponibilidade para ser acompanhado,

das IDEIAS, identificando

a capacidade de geração o desenvolvimento a auto-avaliação a recetividade intelectual o manejo da ambiguidade,

e da COMUNICAÇÃO, nas expressões imagética

gráfica escrita oral.

A avaliação conjugada das valências decorrentes das atitudes, das ideias e da comunicação terá a seguinte ponderação: exercício 1 – 10%, exercício 2 – 20%, exercício 3 – 20%, exercício 4 – 40%, exercício 5 – 10%

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5. EXERCÍCIOS Os conteúdos programáticos serão abordados e desenvolvidos pelo exercício da metodologia de projeto. Envolvendo o recurso a escalas complementares, de maior abrangência ou mais circunscritas, propõe-se a elaboração, em grupo e individual, dos seguintes exercícios analíticos e propositivos centrados, de acordo com o programa em apreço, na (re)configuração urbana e arquitetónica do território referenciado pela Torre de Belém e pela foz do rio Jamor, com focagem no relacionamento entre a cidade de Lisboa e o estuário do Tejo ao longo da frente urbana de Pedrouços, de Algés e do Dafundo: EXERCICIO 1.

desenhar novas continuidades entre a cidade e o rio painel A1 + apresentação digital (PPoint, PDF, Video…) s/ escala trabalho em grupo (3 alunos) 21/setembro.15

EXERCICIO 2.

o lugar, o programa, a estratégia painéis A1 + maquetes + modelos + apresentação digital (PPoint, PDF, Video…) escalas 1/2000 a 1/1000 trabalho em grupo (3 alunos) 19/outubro.15

EXERCICIO 3.

proposta urbana e arquitetónica – esboço painéis A1 + maquetes + modelos + apresentação digital (PPoint, PDF, Video…) escalas 1/2000 a 1/500 trabalho em grupo (3 alunos) 16/novembro.15

EXERCICIO 4.

proposta urbana e arquitetónica painéis A1 + maquetes + modelos + apresentação digital (PPoint, PDF, Video…) escalas 1/2000 a 1/50 trabalho em grupo (3 alunos) 14/dezembro.15

EXERCICIO 5.

proposta urbana e arquitetónica – relatório brochura A4 c/ desenhos + 10 pag escritas trabalho individual 18/janeiro.16

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6. PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM A UC de PROJETO FINAL I tem a duração de um semestre. Está articulada com a UC de PROJETO FINAL II de modo a que os estudos e os trabalhos tenham continuidade ao longo de todo o ano lectivo, sendo o seu resultado final apresentado e discutido em exposição pública a ocorrer em outubro/2016. Pretende-se que o exercício da metodologia de projeto decorra em ambiente interativo de ensino e de aprendizagem e antecipe a prática profissional pluridisciplinar executada nos gabinetes de arquitetura e de engenharia. A informação de suporte, o desenvolvimento dos trabalhos e o resultado dos exercícios serão alocados em SITE próprio, de acesso permanente a toda a equipa de professores e de alunos. A investigação académica é fomentada, pautando-se pela identificação de temáticas relacionadas com o projeto, ou de assuntos despoletados pelo seu progresso, a suscitar estudos e reflexões de valorização teórico-prática, produzidos e organizados a par das diferentes etapas do exercício projetual e consubstanciados em RELATÓRIO DE PROJETO FINAL a concluir até setembro de 2016 e a ser apresentado com a exposição final dos trabalhos. A equipa docente das Unidades Curriculares de Projeto Final é constituída pelos professores António Barreiros Ferreira (responsável pelas UCs), António Ricardo da Costa, Teresa Valsassina Heitor, Pedro Brandão, Jorge Gonçalves, António Trigo Teixeira, Jorge Batista e Silva e Filipe Moura. As UCs de Projeto Final têm o apoio complementar das restantes UCs – Avaliação de Desempenho, Design Ambiental II, Espaços Construídos e Impacte Ambiental, Gestão Urbanística e História da Cidade. É promovida a constante colaboração entre os alunos com a participação, direta ou em seminário, de um conjunto muito alargado de professores e de especialistas dos diferentes domínios do conhecimento aplicável ao âmbito do programa proposto, convergente com o urbanismo e a arquitetura – paisagismo, engenharia portuária, redes viárias, mobilidade, espaço público, estruturas, construção, reabilitação, geografia humana, comportamentos e eventos. O desenvolvimento dos trabalhos será continuadamente acompanhado pela equipa docente de Projeto Final, pelos docentes das restantes UCs e por técnicos e especialistas convidados, com intervenção relevante nos domínios convocados, e será discutido com os representantes da CML, da CMO e da APL que aceitaram o desafio de participar neste programa curricular. A assertividade das propostas será periodicamente aferida em sessões de divulgação e de debate com a coletividade, juntas de freguesia e organizações locais. Rotinas de participação pluridisciplinar exponenciam o caráter holístico da arquitetura e propiciam a visibilidade exterior da ação dos alunos em benefício da sua futura inserção num mercado de trabalho alargado.

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7. SEMINÁRIO EXPERIMENTAL

(PB) “ARQUITETURA A PARTIR DA CIDADE, Regeneração Urbana, Espaço Público e Paisagem”

Propõe-se um modelo experimental de seminário, com uma oferta alargada e interdisciplinar de conhecimentos teórico-práticos associados ao Projeto Final; através de sessões com “inputs” diversificados, sugestões de leituras e discussão procura-se, por um lado, estimular a experiência de uma prática reflexiva organizada, que leve a um entendimento mais profundo da complexidade das decisões no Projeto Urbano, por outro lado, facultar oportunidades de experimentação de modos de articular as opções de desenho no plano morfológico, com outros domínios de incerteza, que obrigam a métodos de ação parcelares, por cenários, adaptações, ou alternativas, em que o aspeto processual tem de ser integrado de forma colaborativa. A oferta de um Seminário no 5º ano, a realizar no 1º semestre de 2015/16 poderá ainda promover a integração de conteúdos de algumas unidades didáticas e integrar créditos do Seminário, a par da Unidade de Projeto Final. Nesses casos o trabalho integrado no Seminário poderá ser avaliado na incidência específica daquelas unidades, ou em alternativa ou complemento, ser avaliado com base em trabalho específico pedido no âmbito do Seminário. O programa do Projeto, neste ano letivo um Projeto Urbano no âmbito de um “waterfront” e sua relação com a cidade, reclama vários temas e escalas de reflexão. As bases teóricas e operativas, processos e ferramentas, serão geridas de modo coordenado, com foco na escala urbana na frente de Pedrouços/Algés/Dafundo. A confrontação com problemáticas incidentes na regeneração urbana, com enfoque interdisciplinar do tema genérico “continuidade – espaço e partilha”, terá incidência teórico-prática em tópicos de fundamentação das opções de projeto, tais como:

espaço público, forma, uso, imagem e significados,

infra-estruturação e mobilidade, ambiente e paisagem,

barreiras e continuidades; partilha versus segregação,

problemática de enquadramento e proximidade,

processos - da estratégia ao desenho e à adaptabilidade funcional.

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Os objetivos do Seminário experimental serão:

1 Apreensão teórico-prática do Projeto Urbano em várias dimensões – integrando avaliação crítica do waterfront, valores de uso, retorno, actividades, acessibilidade, operatividade.

2 Experiência de interação do projeto com inputs, atores e problemáticas do

próprio Projeto Urbano, suscitando ensinamentos em eixos de experiência tais como:

a) no eixo dos usos – sociologia e psicologia da habitabilidade, apropriação,

segurança urbana, antropologia da identificação e apropriação do espaço;

b) no eixo dos lugares – geografia dos ecossistemas, atividades, estruturas naturais e artificiais, nas escalas urbana, metropolitana e regional;

c) no eixo da construção dos sistemas tipo-morfológicos do espaço – edifícios, tecidos, infraestruturas, paisagens – na sua relação com os usos, as técnicas e o ambiente;

d) no eixo da gestão – a temporalidade; critérios na gestão; cenários de programação, alternativas e processos adaptativos na “multi-escala” urbana.

3 Conhecer as componentes da construção dos sistemas adaptativos do

waterfront com exigências de performance específicas (infraestrutura, turismo-e-bemestar, paisagem e imagem/marca; mobilidade/interface)… casos nacionais/internacionais:

a) racional da acessibilidade e mobilidade – espaço de multimodalidade ou

partilha? b) o uso e os atores urbanos – que significados de gentrificação estão ligados

ao turismo? c) “gestão” de projeto – operatividade, governança;

há co-responsabilidade de parceiros? d) territórios, ambientes e paisagens mutantes – como usar estratégias de

adaptabilidade? e) habitats e usos temporários – variabilidade de público; idade, género,

migrante, turísmo? f) infraestrutura/incerteza –

4ªtravessia? Cº.Ferro? acesso CRIL-CREL? duplicar via? parking?

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ORGANIZAÇÃO DO SEMINÁRIO EXPERIMENTAL Prováveis conteúdos a aferir em articulação com o Projeto. Módulo 1: INTRODUÇÃO GERAL – O QUADRO METROPOLITANO DO ESPAÇO PÚBLICO E WATERFRONT PEDRO BRANDÃO + JORGE GONÇALVES

14/outubro (4h)

• Desenho Urbano e Espaço Público Estatuto, serviço e representação;

• Domínios e dimensões: público, coletivo, privado, partilhado, formal, informal, jogo de atores e processos;

• Fatores das ocupações ribeirinhas: social / ambiental / económico / infra-estrutural /cultural e ambiental;

• Identidades e representações do espaço de ócio: sociologia, psicologia e antropologia do espaço;

• Tipologia de espaços públicos: elementos morfológicos – dimensões horizontal, vertical, “limites”.

Módulo 2A: INFRA-ESTRUTURAS PARA A NÁUTICA DE RECREIO ANTÓNIO TRIGO TEIXEIRA

21/outubro (2h)

• Condições locais: Geologia e geotecnia, agitação marítima, correntes, ventos e nível do mar;

• Embarcações de recreio e abrigo portuário; • Organização da área líquida e do terrapleno: exigências funcionais; • Aterros e obras de retenção marginal.

Módulo 2B: HIERARQUIA VIÁRIA E DESENHO DE VIAS JORGE BATISTA E SILVA

21/outubro (2h)

• O que precisamos de conhecer antes de conceber e refinar o desenho viário; as questões prévias de integração urbanística;

• Esquema geral, traçado e métricas, altimetria e planimetria, materiais e mobiliário; • Conflitos viários (veículo/veículo; veículo/peão);

identificação e análise na área de estudo; • Estratégias de resolução dos conflitos viários na área de estudo.

Visita Guiada: DE BELÉM À TRAFARIA, DA TRAFARIA AO JAMOR JOÃO GOMES DA SILVA

24/outubro (4h)

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Módulo 3: PAISAGEM CULTURAL – DIMENSÕES FORMAIS, PRODUTIVAS, ECOLÓGICAS E SIMBÓLICAS DA FRENTE DE ÁGUA PEDRO BRANDÃO + ISABEL RAMOS + MARIA MATOS SILVA

28/outubro

• O Conceito de Paisagem Ribeirinha Tipologias de “espaço de ócio” e “verde urbano”;

• Fisiografia, solo, clima, hidrografia, vegetação e biodiversidade: mesa redonda; • Avanços de margem e aterros:

o projeto urbano e as estruturas naturais e produtivas no meio urbano litoral; • Noções de estrutura e sistema:

integração de condicionantes de risco, alterações climáticas; • Poética e simbolismo do espaço: casos de projeto na frente ribeirinha de Lisboa.

Módulo 4: MOBILIDADE E PROXIMIDADE – ESPAÇO PÚBLICO ESPECIALIZADO VS. PARTILHA DE ESPAÇO PEDRO BRANDÃO + FILIPE MOURA

4/novembro (4h)

• Multimodalidade e Qualidade do Espaço Acesso – rede de infra-estrutura, modos pesados e suaves;

• Modos e funções: ferroviário, viário pesado, portuárias, interface terra-mar, espaço-canal e fraturas territoriais;

• O modelo sistémico multi-modal: mobilidades pesadas e suaves, distância e proximidade, interface, parking dissuasor…

• TOD (transit oriented developement) e outras teorias da mobilidade: efeitos da mobilidade e da sua falta – o “sprawl”;

• A relação de proximidade e os modos suaves: walkability, shared space, zonas 30.

Módulo 5A: A PROBLEMÁTICA DO ESTACIONAMENTO EM CONTEXTO URBANO JORGE BATISTA E SILVA

11/novembro (2h)

• A deslocação, a paragem e o estacionamento; levantamento e caracterização;

• O estacionamento na via pública: um direito ou um privilégio; tipologia de estacionamento, critérios de localização e modelos para a gestão do estacionamento na via pública; a repartição espaciotemporal e o problema da informalidade;

• Atividades urbanas e necessidades de estacionamento: da estimativa de necessidades de estacionamento para equipamentos e serviços públicos às normas regulamentares.

Módulo 5B: FATORES TEMPORAIS NO ESPAÇO URBANO RIBEIRINHO ANTÓNIO TRIGO TEIXEIRA

11/novembro (2h)

• Complexidades no caso do estuário do Tejo: a construção da zona Ribeirinha de Lisboa;

• Waterfront em Algés e Dafundo: sobreposição de layers, infra-estruturação e processos construtivos;

• Exemplos de reconversão de áreas portuárias.

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Módulo 6A: A CIDADE PROMOVIDA OU A CIDADE-PALCO? TERESA VALSASSINA HEITOR

18/novembro (2h)

• Pretende-se com esta apresentação fazer uma reflexão em torno dos processos adotados na revitalização das cidades destacando as estratégias ensaiadas na (re)construção dos lugares e o recurso a técnicas de marketing. A cidade como contexto espacial onde se actua, a partir do espaço público, impõem-se como crítica às ações que transformam a cidade contemporânea num grande cenário mediático.

• O sucesso da cidade contemporânea manifesta-se nas suas capacidades de cativar investimentos, atrair atividades diversas, conquistar públicos variados e promover o consumo e o lazer. O sentido de vitalidade urbana deixou de estar associado á condição de vivência coletiva da cidade para se basear em indicadores de competitividade e atratividade de pessoas e de negócios.

• É neste contexto que surgem novos “lugares urbanos”, em vazios industriais ou noutras áreas desvalorizadas, ligados a programas "temáticos", de forte mediatismo. Suportados num mix de atividades, recorrem à construção de grandes equipamentos públicos (âncoras) e ao turismo recreativo, cultural, de compras e de negócios como fator de dinamização económica.

• Associado a este processo surgem as ações de promoção das cidades por meio de eventos locais, nacionais e internacionais, adotando de forma explícita conceitos de marketing, tanto para a melhoria da sua imagem internamente, quanto, e principalmente, para atrair potenciais investidores. Neste processo, que Marco Venturi designou de “festivalização”, são várias as situações em que o espaço público da cidade abdica do seu papel fundacional, enquanto lugar de relação e de vivência quotidiana para se assumir prioritariamente como um cenário, palco de eventos, pondo em risco a sua própria identidade.

Módulo 6B: A BORDO DE EMBARCAÇÕES DE RECREIO: UMA VIDA DIFERENTE SEBASTIÃO CARVALHO

18/novembro (2h)

• Embarcações de recreio como espaço de habitação: Arranjos típicos; Instalações/equipamentos; Limitações.

• Infraestruturas: marinas (~=docas) como espaço técnico e complemento do espaço habitacional;

• Exemplos. Módulo 7: Processo, uso e significados na transformação urbana – Programas, planos e projetos PEDRO BRANDÃO + JORGE BATISTA E SILVA

25/novembro (4h)

• Evolução das Atividades no Litoral de Lisboa Ciclos e marcas da adaptabilidade temporal – história do porto;

• Valor, apropriação e retorno no espaço: mecanismos operacionais do projeto urbano regulação de interesses / atores;

• Teorias urbanas e modelos: do crescimento, da imagem e do simbólico, arquitetura do poder? nostalgia, fantasia ?

• Das utopias e manifestos à teoria dos cenários: o plano como previsão de futuro? o plano como regulador de direitos?

• Conceitos e método interdisciplinar de avaliação: serviço, valor e rede de espaços públicos – uma avaliação sistémica?

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OPERACIONALIZAÇÃO O Seminário ocupará 3/4 horas para cada módulo temático, integrando 1 ou 2 lições (por professor do IST e/ou convidado), exercícios, apresentação de casos e debates). Nas sessões de Seminário, num semestre (total de 30 a 40 horas) decorrerão 7 “módulos curriculares”, mais 3 de interação geral (1 visita acompanhada por convidado e com programa especial a 24/outubro e 2 para debate das propostas a 2 e 9/dezembro). No caso de envolvimento de disciplinas do 5º ano no Seminário, o programa de cada uma poderá ser reajustado à aplicação/demonstração de conteúdos no Projeto como caso de estudo (podendo ser dada avaliação separadamente). Poderão ou não ser incluídas horas das UCs de: Avaliação de Desempenho, Design Ambiental II, Espaços Construídos e Impacte Ambiental, Gestão Urbanística e História da Cidade. OUTRAS IDEIAS-FORÇA DE ORGANIZAÇÃO Trata-se neste Seminário, mais do que uma sequência de “lectures” por peritos, de um processo construído não apenas na promoção de competências de projeto (fundamentadas), mas também na capacidade de reflexão sistematizada a partir da experiência, em relação com a teoria urbana, no contexto de uma prática interdisciplinar. Algumas ideias-força:

DOS ENUNCIADOS À DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA DE PROGRAMA: Os enunciados formularão desafios, mais ou menos objetivos: colocar um problema, um conjunto de necessidades, um quadro de referência, de forma racionalizável; ao aluno é sempre solicitada resposta ao problema – em programas, diagnósticos, soluções, alternativas; a identificação do lugar, partes componentes, a construção da base de informação, o reconhecimento de elementos de determinação e de incerteza, as opções.

DAS LIÇÕES DE REFERÊNCIA: Proposições genéricas ou particulares no âmbito do tema e do enunciado, nos vários módulos do Seminário: procura despertar atitudes, motivar e gerar dinâmica de análise de casos de casos, debater situações – com protagonismo do aluno no processo – eventuais lições conexas de apoio, ou consultas a peritos da problemática envolvida, ou visitas.

DA COORDENAÇÃO DO SEMINÁRIO: Para aumentar os "inputs" e a "tensão" de diferentes visões, o Seminário poderá interferir com o trabalho de Projeto, propondo cenários de diversificação disciplinar na discussão/reflexão: a coordenação do Seminário poderá incluir acções não previstas – por exemplo um Workshop rápido, sob uma lógica de "Concurso" para avaliar cenários e alternativas.

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AVALIAÇÃO DO SEMINÁRIO O trabalho a realizar na sequência das sessões do Seminário, será baseado:

em sinopse das intervenções (lições ou discussões); reflexão dos temas no contexto do Projeto.

em textos que serão fornecidos e que deverão ser objeto de reflexão/comentário.

A avaliação daquele trabalho, no seu conjunto, será considerada como bonificação ou penalização de até 20% da avaliação do Projeto. Caso a sua avaliação seja muito positiva poderá ainda ser recomendada a sua integração no Relatório de Projeto Final. 8. QUADRO SÍNTESE DE ATIVIDADES

2ª feira 4ª feira

6ª feira

Semana 1 14,16,18/set

ex.1

visita ao local introdução exerc_1

acompanhamento exerc_1

palestra eng. José Pedro Amaral VOLVO_OCEAN_RACE

Semana 2 21,23,25/set

apresentação_discussão exerc_1 introdução plano_curricular introdução exerc_2

visita ao local

palestra arq. Rui Alexandre APL

Semana 3 28,30/set,2/out

palestra arq.s Pedro Diniz/ Paula Rebelo CML

palestra arq. João Pedro Falcão de Campos PIP - MARINA DO TEJO - APL

palestra arq.s Rita Lopes/ Rodrigo Dias CMO

Semana 4 5,7,9/ out

acompanhamento exerc_2

acompanhamento exerc_2

acompanhamento exerc_2

Semana 5 12,14,16/out

ex.2

acompanhamento exerc_2

seminário experimental módulo 1

acompanhamento exerc_2

Semana 6 19,21,23/out

apresentação_discussão exerc_2 introdução exerc_3

seminário experimental módulo 2

acompanhamento exerc_3

Semana 7 26,28,30/out

acompanhamento exerc_3

seminário experimental módulo 3

acompanhamento exerc_3

Semana 8 2,4,6/nov

acompanhamento exerc_3

seminário experimental módulo 4

acompanhamento exerc_3

Semana 9 9,11,13/nov

ex.3

acompanhamento exerc_3

seminário experimental módulo 5

acompanhamento exerc_3

Semana 10 16,18,20/nov

apresentação_discussão exerc_3 introdução exerc_4

seminário experimental módulo 6

acompanhamento exerc_4

Semana 11 23,25,27/nov

acompanhamento exerc_4

seminário experimental módulo 7

acompanhamento exerc_4

Semana 12 30/nov,2,4/dez

acompanhamento exerc_4

seminário interativo ABF+AC+TH+PB+FM+ATT+JS+ Conv

acompanhamento exerc_4

Semana 13 7,9,11/dez

ex.4

acompanhamento exerc_4

seminário interativo ABF+AC+TH+PB+FM+ATT+JS+ Conv

acompanhamento exerc_4

Semana 14 14,16,18/dez

ex.5

apresentação_discussão exerc_4 introdução exerc_5

apresentação_discussão exerc_4 acompanhamento exerc_5

apresentação_discussão exerc_4 directrizes para Projeto Final II

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9. A ARQUITETURA DO TERRITÓRIO

(ABF) “(…) A cidade entendida como uma arquitetura. (…) Não me refiro apenas à imagem visível da cidade e ao confronto das suas arquiteturas, mas à arquitetura da cidade como uma construção. Refiro-me à construção da cidade no tempo. (…) Podemos estudar a cidade sob muitos pontos de vista; apresenta-se porém autónoma quando a consideramos como expressão última, como construção, como arquitetura. (…) Na cidade há um antes e um depois, (…) um território que suporta factos distintos, em continuidade espacial, (…) e elementos assaz relevantes que têm o poder de a retardar ou de a acelerar. (…) A forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade; e existem muitos tempos na forma das cidades.” “(…) Spalato constitui, a meu ver, não um exemplo excepcional, mas certamente comprovador. Um grande edifício, um palácio, que se torna cidade e transforma os seus carateres internos em carateres urbanos, demonstrando a riqueza infinita das transformações analógicas na arquitetura, quando esta opera sobre formas precisas. Comparado com Vila Viçosa ou Bragança, onde a cidadela se torna núcleo urbano e onde por fim a questão pode ser reportada àquela mais complexa das muralhas, o caso de Spalato representa uma autêntica e verdadeira transformação dos espaços externos, no sentido do coletivo, isto é, em sentido urbano. Para além de Arles, de Nimes ou de Lucca, com diferentes implicações morfológicas, Spalato reencontra, na sua forma tipológica, toda a cidade; e, portanto, o edifício é referido analogicamente a uma forma de cidade. Daí deriva que também o edifício pode ser projetado por analogia com a cidade.” “(…) O contraste entre particular e universal e entre individual e coletivo, sobressai da cidade e da sua própria construção: a sua arquitetura.” “(…) Mumford refere, a propósito, que a cidade é um facto natural como uma gruta, um ninho, um formigueiro. Uma consciente obra de arte que inclui na sua estrutura coletiva muitas formas de arte mais simples e mais individuais. O pensamento toma forma na cidade; e por sua vez as formas urbanas condicionam o pensamento. Porque o espaço, não menos do que o tempo, é engenhosamente reorganizado nas cidades: nas linhas e contornos das muralhas, nos planos horizontais e nas elevações verticais, no acompanhar ou no contrastar da conformação natural. A cidade é atualmente um instrumento material de vida coletiva e um símbolo daquela comunhão de fins e de consensos que nasce em circunstâncias particularmente favoráveis. Juntamente com a linguagem é, talvez, a maior obra de arte da humanidade.” “(…) Lévi-Strauss (…) notou que a cidade, para além de qualquer outra obra de arte, está entre o elemento natural e o artificial, objeto de natureza e sujeito de cultura.” “(…) A cidade e a região, a terra agrícola e os bosques tornam-se coisa humana porque são um imenso depósito de fadigas, são obra das nossas mãos; mas enquanto pátria artificial e coisa construída elas são também testemunho de valores, são permanência e memória. A cidade está na sua história.” “(…) Cattaneo, a propósito dos factos naturais: A língua alemã designa com uma mesma voz a arte de edificar e a arte de cultivar; a palavra agricultura, ackerbau, não soa a cultivo mas a construção; o cultivador é um edificador, bauer. Quando as tribos germânicas viram edificar-se, à sombra das águias romanas, as pontes, as estradas, as muralhas e, com igual esforço, transformar em vinhas as margens virgens do Reno e do Mosele, abarcaram todas aquelas operações com um único nome. Assim se edificam os campos como as cidades.” Aldo ROSSI, A Arquitetura da Cidade, Lisboa, Edições Cosmos, 1977, extractos

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“Vida no Campo não é uma, são muitas janelas abertas em simultâneo. Perdidos os nexos estáveis que desvendam o filme-narrativa da realidade do rural, o atual contexto de mudança está a desmultiplicar até ao infinito as representações sobre a ruralidade: a pós-, a neo-, a des-ruralização. A leitura do rural redistribui-se e dissipa-se em múltiplas esferas, ou então é condensada e fantasiada numa só. É impossível manter todas estas janelas abertas e daí nasce uma crise de sentido. É difícil reaprender o rural e sobre ele construir novas identidades. É difícil encontrar continuidades entre as memórias mais ou menos ficcionadas do passado e o que lhes está a acontecer. É difícil, sobretudo, controlar as emoções acerca do que acontece. Estamos a um passo de uma crise total de sentido. Esta conjuntura produz-se numa híper-abundância de imagens e elas organizam-se em múltiplas narrativas. Serão listas infinitas de imagens, sensações e emoções, uma Vida no Campo et cetera, isto é, uma vida que tende a conter uma infinidade de coisas e relações entre coisas.” “O território perdeu o atrito (…). Se formos a ver onde hoje é potencialmente possível, por razões de dotação infra-estrutural, construir uma casa, um edifício de escritórios, uma loja ou um centro comercial… não chegarão os alfinetes para espetar no mapa. A urbanização extensiva denomina esta possibilidade totalmente contrária à imagem convencional de cidade como algo confinado, com uma forma, um centro e limites precisos e mapificáveis. A aglomeração é apenas uma das faces da urbanização e uma coisa que, durante séculos (ou mais), esteve dependente de um poder organizado, de uma muralha, da disponibilidade de água (aquedutos, cisternas, fontes), de haver um porto, um cruzamento de estradas ou um rio navegável. Hoje, as muralhas (reais ou mentais) são outras e existem várias navegações. A sociedade em rede organiza-se segundo sistemas de relações e a proximidade física ou a aglomeração são apenas uma das formas de facilitar essa relação, mas não a única.” Álvaro DOMINGUES, Vida no Campo, Porto, Dafne Editora, 2011, extractos

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura… Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.” Alberto CAEIRO, “O guardador de rebanhos” in Fernando PESSOA, Poemas de Alberto Caeiro, Lisboa, Ática, 1993, p. 32 (Iª ed., 1946) cit in Álvaro DOMINGUES, Vida no Campo, Porto, Dafne Editora, 2011, p. 308

“A arquitetura transforma o espaço. A sua substância primária é o ambiente. O resultado pode ser favorecido pelas condições naturais, que transcendem o âmbito das nossas intervenções, ou não… Assim como o trabalho do arquiteto pode contribuir para manter ou restabelecer equilíbrios ou, pelo contrário, causar danos mais ou menos irreparáveis. A capacidade de entender o contexto da nossa atuação é uma das competências profissionais que nos é exigida. Sermos recetivos a todas as sinergias para contribuirmos para o bem-estar dos outros. Sempre assim foi. Os 10 Livros de Vitrúvio continuam atuais e os seus ensinamentos ainda são de grande utilidade.” António BARREIROS FERREIRA, 40 anos, in www.tetractys.pt, 2011

“Se no bosque encontrarmos um amontoado de terra com seis pés de comprimento por três de largura em forma de trapézio, paramos e ficamos sérios, como se o silêncio dentro de nós nos dissesse: aqui alguém está sepultado. Eis a arquitetura!” Adolf LOOS, “Architektur” in Trotzdem, Innsbruck, 1931

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Lisboa, 14 de Setembro de 2015 abf.doc