peter burke - histÓria como alegoria

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    ESTEARTIGO, trata-se de um fenmeno recorrente na histria da escritada Histria, que parece no ter recebido a ateno que certamente merece,e que a percepo e representao de um evento ou de um indivduo

    do passado em forma de outro evento ou outro indivduo. O estudo focaliza asdiferentes circunstncias nas quais se tecem comentrios a respeito de um evento(usualmente no passado) quando os comentadores esto, na realidade, ou mais

    intensamente, interessados em outro (usualmente no presente). O principal ob-jetivo do estudo refere-se a obras de Histria, mas fato ser impossvel isolar taisprodues de outras narrativas ou mesmo representaes visuais do passado. Naverdade, o modo mais direto de penetrar no assunto comentar algumas imagens.

    O primeiro exemplo bem conhecido. Vem da srie de afrescos do Vaticano,pintados por Rafael e seus assistentes, representando os papas Leo IIIe Leo IV.Leo IIIest coroando Carlos Magno, enquanto Leo IVest agradecendo aDeus pela vitria sobre os sarracenos. A ambos os papas foram imprimidas asfeies de Leo X, que encomendou os afrescos. O nome Leoe o inconfundvelrosto cheio e olhos saltados tornam os paralelos inusitadamente explcitos . Em

    certo sentido, portanto, Leo IIIe Leo IVdevem representar Leo X. O observa-dor certamente tem o direito de suspeitar que as histrias pictricas de CarlosVesarracenos so alegorias das relaes de Leo Xcom o Imperador Carlos VeImprio Otomano (Jones & Penny, 1983:150).

    O discpulo de Rafael, Perino del Vaga, deu prosseguimento srie,pintando afrescos semelhantes no Castelo de SantAngelo, representando o PapaPaulo III, anteriormente Alessandro Farnese, como So Paulo e como Alexandre, oGrande (Harprath, 1981). Certamente, h muitos outros exemplos do que oshistoriadores da arte chamam de retratos alegricosou retratos de identificao(Polleross, 1988).

    O segundo exemplo mais extico, mas tambm pertence a uma bem-conhecida classe de imagens. Trata-se de outro afresco, desta vez do fim dosculo XVI, num mosteiro da Moldvia (Sucevita, para ser exato), mostrando osisraelitas atravessando o Mar Vermelho. As tropas do Fara, em perseguio,esto usando uniformes poloneses. Isto poderia ser nada mais que um anacronismotradicional de uma parte da Europa, onde a Renascena e o sentido renascentistado passado no haviam ainda penetrado muito profundamente (Burke, 1969).

    Histria como alegoriaPETERBURKE

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    Contudo, tambm possvel (provvel mesmo), que o artista estivessefazendo uma afirmao poltica, salientando um tpico. A pintura data aproxi-madamente do tempo de Miguel, o Corajoso, prncipe de Moldvia e Wallachia,um lder cuja bravura foi exibida nas batalhas com os poloneses. A pintura nossugere claramente que Miguel est do lado de Deus e pode mesmo sugerir queos moldavos so o povo por Ele escolhido. Poder-se-ia compar-la com um qua-dro holands, o da travessia do Mar Vermelho, pintado durante a revolta dosPases Baixos, poca em que alguns cidados da nova repblica a entenderam erepresentaram como uma segunda Israel (e o seu inimigo, Felipe da Espanha,como um novo Fara) (Schama, 1987:111).

    A iconografia em si uma espcie de Mar Vermelho, e um amador comoeu no tem o direito de esperar que as guas se partam a fim de que possa atingir sua

    meta com segurana. Voltemo-nos, pois, para os textos literrios, nos quais o uso dahistria como alegoria um pouco mais explcito, pelo menos ocasionalmente.

    Quase na mesma poca em que o artista annimo moldavo pintava o seuafresco, muitos ingleses se preocupavam com o problema do sucessor de sua rainha.Quando havia dvidas sobre a sucesso, como se sabe, o resultado eram freqentesguerras civis. Neste ponto, tanto poetas quanto historiadores Samuel Daniel, MichaelDrayton, sir John Hayward e William Shakespeare ocupavam-se com as guerrascivis inglesas do fim da Idade Mdia - A Guerra dos Bares, do sculo XIII, a Guerradas Rosas, e a deposio de Ricardo IIpor Henrique de Lancaster.

    Seja qual tenha sido a inteno de Shakespeare ao escrever Ricardo II,sabemos que os seguidores do conde de Essex, que se rebelaram ao final doreinado de Elisabeth, viram a pea como um comentrio sobre o presente, umavez que haviam solicitado uma encenao especial (Albright, 1927). Tal como osrebeldes, a rainha no tinha dvidas de que a figura de Ricardo IIera alegrica.Quando fez a observao a William Lombard Eu sou Ricardo II, no o sabeis?(Neale, 1934:387), ela tambm perguntou a Francis Bacon se no haveria traiocontida no livro de Hayward. Apesar da negativa de Bacon, Hayward foi para apriso na Torre de Londres (Womersley, 1992:46-59).

    Alguns anos depois, o prprio Bacon seguiria o exemplo de Hayward com

    mais sucesso, pois sua biografia de HenriqueVIIfoi interpretada como uma ale-goria de Jaime I (Bergeron, 1992:17-26). A histria do mundode sir WalterRaleigh, que tratava apenas da antigidade, tambm tem sido interpretada comouma alegoria dos tempos modernos, numa interpretao apoiada pela famosaobservao do autor segundo a qual melhor no seguir a verdade muito deperto, ou seja, melhor no comentar sobre acontecimentos recentes por escrito.

    Seria fcil multiplicar os exemplos, desde os primrdios da Europa moder-na, de representaes histricas que escondem ou implicam comentrios sobre o

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    presente, seja para lisonjear, justificar, advertir, seja para criticar um indivduo ouum grupo. Os problemas comeam quando tentamos explicar o que estavaimplcito, centenas de anos mais tarde. Por este motivo, o historiador volta-secom alvio para determinados exemplos cuja alegoria j tenha sido comentadapelos prprios contemporneos.

    Certo dia em 1625, por exemplo, o poeta Vondel estava conversando comum patrcio de Amsterdam, Albert Burgh, sobre a execuo para no dizerassassinato jurdico de uma figura proeminente na poltica holandesa, Johanvan Oldenbarneveld, seis anos antes. Escreva uma tragdia sobre o assunto,disse Burgh. Ainda no chegou a hora, respondeu Vondel, que estava prova-velmente receoso das possveis conseqncias de tal ato. s mudar os nomes,foi a resposta de Burgh (Brandt, 1932:14). O resultado foi uma pea ambientada

    na Grcia antiga, a Palamedes, de Vondel. O inocente Palamedes, injuriado,representava claramente Oldenbarnevelt, enquanto Agamenon, tambm muitoobviamente, retratava o prncipe de Orange.

    Na Frana de Lus XIIIe Lus XIV, era o governo e no a oposio queproduzia as mais conhecidas alegorias da poca. Dentre as obras que emanaramdo crculo do cardeal de Richelieu, por exemplo, estavam duas biografias decardeais-estadistas. Uma de Francisco Jimnez de Cisneros, e outra de GeorgesdAmboise. Nos dois casos, a inteno alegrica bastante transparente (Church, 1972).

    Novamente, quando Lus XIViniciou seu perodo de reinado pessoal, na

    dcada de 1660, o pintor da corte, Charles Lebrun, produziu cinco cenas tiradasda vida de Alexandre, o Grande, ao passo que Racine escrevia uma pea sobre omesmo assunto. Neste caso, o objetivo do paralelo foi simplesmente o deglorificar o jovem rei, que teve prazer especial em se identificar com Alexandre(Grell & Michel, 1988).

    Em outros exemplos do tempo de Lus XIV, o motivo do empreendimentoparece ter sido mais de advertncia do que de glorificao. Britanicus, de Racine,implicava um paralelo entre Nero, aquele monstre naissant, e Lus, de tal modochocante que ningum, a no ser o rei, podia permitir-se perceber. Para ser exato,quase ningum. Um contemporneo registrou a observao de que aps essa

    pea, que se refere ao desempenho de Nero no palco, Lus nunca mais danouem pblico.

    Seria to fcil quanto tedioso multiplicar os exemplos desse tipo de alegoriahistrica. A questo que mais preocupa um historiador cultural se esse modoliterrio tem uma histria, e se ela muda com o correr do tempo. O crtico norte-americano Angus Fletcher afirma que a alegorizao um constante ... processo derepresentao (Argan, 1980:18). Um de meus objetivos neste artigo mostrarque esse ponto de vista requer qualificao. Meu argumento que a alegoria

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    difere no s em importncia, mas tambm em significado de um perodo paraoutro, graas s mudanas de viso da relao entre os eventos representados,explcita ou implicitamente.

    Poder ser de valia comear por distinguir dois tipos ou dois usos de ale-goria. O primeiro poderia ser chamado pragmtico. Nestes casos, a alegoria um meio para um fim, e no um fim em si. Quando meios diretos de comentriopoltico so suprimidos, hora de usar o mtodo de Esopo, como costumavamdizer os poloneses no tempo de seu regime comunista.

    No sculo XIX, apesar do domnio da doutrina da singularidade dos eventoshistricos, a Cambridge Union, por exemplo, um clube de estudantes no qualno era permitido o debate de problemas polticos contemporneos, discutiaento os do sculo XVII. Novamente, foi observado que o quadro de Delaroche,

    Cromwell e CarlosI, exibido em Paris em 1831, refere-se revoluo de 1830,quando Lus Felipe sucedeu a Carlos X(Haskell, 1971:109-120).

    Exemplo famoso do mtodo de Esopo no sculo XX o filme de EisensteinIvan, o terrvel, cuja segunda parte (feita em 1946, e tratando da crescenteparania do governante autoritrio), no pode ser exibido em pblico at a mortede Stalin, to bvio era o paralelo entre passado e presente. Exemplo igualmentefamoso da cultura de outro superpoder da poca a pea de Arthur Miller Thecrucible, sobre a caa s bruxas no estado de Massachusetts do sculo XVII,encenada pela primeira vez em 1953, durante a caa s bruxas da era domacartismo. Curiosamente, crticos contemporneos no faziam referncia aberta poltica de seu prprio tempo. No que fossem obtusos; nesse caso, suas escritastambm tm de ser lidas alegoricamente.

    Assim como ocorria nos sculos XVIe XVII, algumas obras eruditas modernasrequerem tambm uma leitura alegrica alm de uma literal. O falecido ArnaldoMomigliano, um dos grandes estudiosos clssicos de nosso sculo, confessoucerta vez que sua preocupao com a liberdade grega, poca em que estavamorando na Itlia de Mussolini, era um gesto poltico. Ao mesmo tempo, outrohistoriador italiano, Francesco Ercole, estava escrevendo a respeito da crise deliberdade italiana, c.1500, a ditadurade Savonarola e seu uso poltico do movi-mento da juventude. Novamente, em 1965, um intelectual polons, LeszekKolakowski, publicou Cristos sem igreja, um estudo de intelectuais dissidentesda Reforma que ansiavam pelo que poderamos chamar de definhamento da Igreja.Sua relevncia para os debates polticos na Polnia era bastante bvia, e de qualquerforma o autor tornou suas opinies explcitas um ano mais tarde, no dcimoaniversrio do regime Gomulka, antes de partir para o exlio (Kolakowski, 1969).

    Parece que a alegoria pragmtica , se no uma presena constante, pelomenos um fenmeno recorrente na histria cultural, emergindo sempre quenecessrio. Nesse sentido, a afirmativa de Fletcher bastante vlida.

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    Contudo, alegorias histricas no podem ser reduzidas a tentativas de evitarcensura. Um segundo tipo de alegoria poderia ser descrito como metafsicooumstico, pois assume alguma espcie de conexo oculta ou invisvel entre dois

    indivduos ou eventos discutidos, por mais separados que estejam no espao ouno tempo. H uma bvia analogia com a viso antiga, medieval e renascentistade correspondncia entre o cosmos, o microcosmos e o corpo poltico. A idiade que o rei o sol, por exemplo, ou de que ele a cabea e o povo o corpo (ouos ps, como afirmou uma vez a rainha Elisabeth, num momento de exasperaocom o parlamento).

    O que se deve enfatizar que, de acordo com essa viso, o presente tidocomo uma espcie de replayou reconstituio de acontecimentos passados. comose, talvez Deus, estivesse escrevendo o nosso script. Esta uma pressuposiosubjacente no segundo tipo de alegoria. Como diz o antroplogo norte-americano

    Sahlins (1981:9), discutindo a percepo de capito Cook pelos havaianos comouma reencarnao do seu deus Lono, a histria havaiana freqentemente serepete, uma vez que s na segunda vez ela um acontecimento. A primeira vez um mito. Sua observao parece ser tambm aplicvel cultura ocidental. Aquesto que precisa ser discutida se essa idia em si tem uma histria.

    Comecemos com a Bblia, na qual a interpretao linear dominante dahistria coexiste com a admisso da reencenao. No Velho Testamento, Josu,por exemplo, apresentado como um novo Moiss, e assim tambm o Elias.No Novo Testamento, a idia de replay informa osAtos dos Apstolos, os quais soregularmente descritos como revivendo a vida, a morte e a ressurreio de Cristo(Trompf, 1979).

    Apesar do interesse em paralelos histricos, escritores gregos clssicos comoTucdides, Polbio, Plutarco, no parecem ter encarado a histria em termosalegricos. Em Vidas paralelas, de Plutarco, percebe-se, um exemplo no repre-senta outro. Os romanos, em contrapartida, nesse caso, estavam mais prximosdos judeus. Virglio escreveu de uma segunda Argo, e de Roma como uma novaTria. Em um nvel implcito, a Eneida apresenta Augusto como um segundoEnias. Virglio parece estar fazendo muito mais do que chamar a ateno paracertos paralelos entre os dois lderes. Ele parece estar sugerindo que o destino

    de Augusto reviver a carreira de Enias e re-fundar Roma.A relao entre pares de eventos foi discutida em nvel geral por rabinos e

    pelos pais da Igreja. Contudo, eles tinham mais a dizer sobre o inverso do quesobre a re-presentao. Uma forma de inverso a idia de cumprimento deuma profecia, quando o script, a histria escrita, precede os acontecimentos emvez de segui-los. Numa segunda forma de inverso, um evento prefigura, anun-cia, ou prenuncia um outro. Assim, os rabinos conceberam a redeno de Israelna era futura do Messias como prenunciada em cada detalhe na redeno doEgito (Hanson, 1959; Charity, 1966; Danielou, 1950; Pepin, 1958).

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    De novo, Tertuliano e Agostinho estavam especialmente interessados em Typus,Allegoria, Figura, ou na famosa definio de Auerbach (1959), algo real ehistrico que anuncia alguma outra coisa que tambm real e histrica. Este voca-

    bulrio ainda estava em uso no comeo do perodo moderno. A re-apresentao,por outro lado, carecia de uma descrio tcnica do sculo XVII, quando o poetaalemo Andreas Gryphius apresentou o martriodo rei Carlos Icomo uma

    ps-figuraode Cristo (Gilbert, 1950; Powell, 1952). O termops-figuraonopegou. Na verdade, muito mais tarde, em 1968, um estudioso reivindicou parasi a cunhagem do termo (Roston, 1968:69).

    Mesmo assim, a idia da re-apresentao era to importante quanto seuoposto complementar, a pre-figurao, a partir da Idade Mdia, quer fossem osparadigmas aplicados a indivduos, quer a lugares, quer a eventos. A maioria dosparadigmas era religiosa, mas exemplos seculares tornavam-se cada vez mais

    importantes, como as pginas seguintes tentaro mostrar.

    Como nosAtos dos Apstolos, Cristo permaneceu um modelo principal. Nacrnica do sculo XI, de Rodolphus Glaber, o rei Roberto era descrito comoimitador de Cristo (Nichols, 1983). Um dos cronistas da morte do arcebispoingls Thomas Beckect , assassinado em sua catedral, descreve a paixo de seuheri (Knowles, 1949). Bartolomeu de Pisa escreveu um tratado da Conformidadeda vida do abenoado Francis com a vida do Senhor Jesus.

    Certos governantes tambm alcanaram statusparadigmtico. Em Bizncio,por exemplo, os ltimos imperadores eram descritos como novos Constantinos

    (Treitinger, 1956:30). No Ocidente, Gregrio de Tours tambm aplicou adescrio Novo Constantinoa Clovis (Tanner, 1993:37). Carlos Magno tambm foium Novo Constantino, mas, por sua vez, tornou-se um paradigma para descriesdos governantes que o seguiram. Por volta do ano 1000, por exemplo, oimperador Otto IIIfoi descrito como um segundo Carlos Magno.

    Em alguns desses casos, a descrio novopode ter sido nada mais que umacomparao lisonjeira, mas srias reivindicaes de re-apresentao foram feitas.Profecias de um futuro, segundo Carlos Magno, eram correntes a partir do sculoXIV, nos escritos de Telesphorus de Cosenza, entre outros, e essas profecias seaplicaram sucessivamente a CarlosVIe CarlosVIIda Frana, ao imperador CarlosV,e assim por diante (Reeves, 1969).

    A srie de paradigmas em uso no comeo dos tempos modernos era muitorica. CarlosVIII, da Frana, era representado como um novo Anibal, depois queatravessou os Alpes em 1494 (Chastel, 1981:77-102). Para Savonarola, ele era onovo Ciro. No raro, um governante era descrito como um novo Josias (no casode EduardoVIda Inglaterra), um novo Salomo (no caso de Felipe II, da Espanhae de Jaime I, da Gr Bretanha ) ou um novo Davi, como no caso de HenriqueVII, daInglaterra, do imperador Maximiliano I, de Felipe II, de Guilherme de Orange.

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    Esses paralelos no eram restritos a governantes. Hernn Cortez foiproclamado novo Cesar, um novo Josu, e um novo Moiss (Branding, 1991:116,122 e 297). Peter Heylin apresentou William Laud (arcebispo da Canturia)como o Cipriano ingls.

    Os exemplos at agora tm sido todos masculinos, os femininos so relati-vamente raros. A raridade foi autoperpetuante, no sentido em que a predomi-nncia dos paradigmas masculinos deu a poucas mulheres, mesmo a rainhas, aoportunidade de serem descritas como uma outra personagem. Houve, contudo,significativas excees a essa regra. Catarina de Mdici, da Frana, foi retratada edescrita como a deusa Juno. A rainha Elisabeth I foi freqentemente descritacomo Astrea, a virgem associada justia e Idade do Ouro (Yates, 1975:29-97). Joana dArc, La Pucelle, foi vista como uma segunda Virgem Maria. Uma

    visionria do sculo XVI, Mre Jehanne, foi descrita pelo estudioso francsGuillaume Postel como uma nova Eva (Warer, 1981; Bouwsma, 1957). No inciodo perodo moderno difcil saber quando levar a srio essas descries, se tom-las como elogios elegantemente alusivos ou como expresses de esperanas eexpectativas precisas. O problema para os intrpretes modernos que o mesmovocabulrio foi usado por pessoas diferentes para expressar pontos de vistadiferentes da relao entre velho e novo, da simples analogia conexo mstica.

    provvel, contudo, que quando Carlos VII, da Frana, ou o imperadorCarlosV, digamos, foi descrito como um segundo Carlos Magno, algo mais queuma simples comparao tenha sido a inteno, ainda que ocasional (Reeves,

    1969:355; Weinstein, 1970). A semelhana dos nomes (como no caso dos papaschamados Leo) era por vezes interpretada como uma semelhana dos destinos.Por vezes, a relao entre dois governantes pode ter sido vista mais como umapre-figurao do que uma re-apresentao, uma vez que, supostamente, CarlosMagno uniu o mundo num rebanho, coisa que o primeiro no tinha conseguido.

    O problema da ambigidade ocorre tambm no caso de cidades, tofreqentemente descritas como novas Jerusalm, segundas Roma, e assim pordiante. Para Eusbio de Cesarea, Constantinopla era uma nova Jerusalm. Para ocronista monstico francs Rodolphus Glaber, a nova Jerusalm era Orlans(Nichols, 1983). Para alguns florentinos do sculo XV, a sua prpria cidade era a

    nova Jerusalm (Weinstein, 1970). A Londres medieval, como a Roma do tempode Virglio, era apresentada como a Nova Tria pelo cronista Geoffrey ofMonmouth, por exemplo. Carlos Magno foi descrito como fazendo sua cidadecapital Aachen uma nova Atenas(de acordo com seu professor Alcuin), ou umanova Roma(de acordo com seu bigrafo Einhard).

    Muitas novas Romas se seguiram, incluindo Treves e Constantinopla(Hammer, 1994:50-62). Pdua foi descrita, no sculo XIII, como virtualmenteuma segunda Roma (quasi secunda Roma) (Rolandino, apudHyde, 1966:298).

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    Reivindicao similar poderia ser feita para Praga no tempo de Carlos IVe paraFlorena no comeo do sculo XV, bem como para Milo e Veneza (Chambers,1971; Marx, 1978). No sculo XVI, Sevilha tambm pretendeu ser uma novaRoma (Lleo Caal, 1979). Da mesma forma o fizeram pequenas cidades comoEnkhuizen, nos Pases Baixos, onde na prefeitura ainda se pode ver, inscritas emouro, as letras SPQE(seguindo o modelo de Senatus Populusque Romanus).

    Que, em alguns casos pelo menos, a descrio no era uma simplescomparao, pode-se ver no caso da reivindicao de Moscou como terceiraRoma, formulada na famosa carta do abade Filofei de Pskov ao Tsar Baslio III(escrita em 1510) (Schaeder, 1929). Neste caso, havia sria reivindicao herana de Roma e Constantinopla e afirmao de destino histrico.

    A srie de exemplos no deveria ser restrita Europa. No fim do sculo XVI,Garcilaso de la Vega, o Inca, apresentou Cuzco como Nova Roma, um antigoexemplo do tipo de identificao que se tornaria caracterstico das Amricas (NovaAmsterdam, Nova Iorque, Nova rleans, Atenas na Gergia, Paris no Texas, NovaFriburgo, Nova Odessa, e assim por diante), nomes esses que devem ser interpreta-dos seja como expresses de esperana, seja de nostalgia do velho mundo (Wachteel,1977:44). Novamente, o problema decidir at que ponto lev-los a srio, ou, maisexatamente, descobrir com que seriedade foram tomados nos diferentes sculos.

    No apenas cidades, mas naes inteiras foram identificadas com prede-cessores, especialmente os judeus. Em crnicas do fim da Idade Mdia, a Frana

    era apresentada como a Terra Santa, e os franceses como o povo escolhido (Strayer,1969:3-16). Da mesma forma, no incio dos tempos modernos, a Inglaterra eraconhecida como a Nao Eleita, enquanto a Repblica Holandesa era algumasvezes descrita como uma Nova Israele a Amrica apresentada como uma NovaCana (Haller, 1963; Groenhuis, 1981:118-133; Schama, 1987; Tuvenson,1968). Nestes casos, como no de Moscou, as descries eram afirmaes de umpapel histrico, um destino futuro.

    O que se inferia dessas afirmaes pode se tornar um pouco mais evidentese examinarmos com mais detalhes a idia de re-encenao como um evento ouuma seqncia de eventos. Em nvel de ritual, isto lugar comum: a missa como

    representao da Paixo de Cristo, por exemplo. Contudo, a idia de re-apresenta-o tambm afetou a percepo de eventos histricos. No sculo XII, por exemplo, omonge francs Guibert de Nogent descreveu as Cruzadas como um Novo xodo.

    Novamente, o prprio conceito de uma Renascenada antigidade clssica, aRenovatio, dependia da pressuposio da re-apresentao (Burdach, 1918;Borimski, 1919). O movimento que chamamos de renascimento foi na verda-de uma enorme tentativa ou srie de tentativas de re-apresentar as realiza-es da antigidade clssica, enquanto a reforma foi uma tentativa coletiva

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    de re-apresentar a histria dos comeos da Igreja. Que a idia da Reforma(re-forma) foi mais do que uma metfora sugerida pelas obras de estudiososcomo John Foxe e John Knox, que encaravam os eventos de seu tempo como ocumprimento de profecias bblicas (Firth, 1979). De modo semelhante, as celebra-es do centenrio da Reforma, na Alemanha em 1617, representaram o eventocomo cumprimento do que haviam predito as Escrituras (Jrgen, 1978:89, 200, 254).

    Paralelos implcitos entre acontecimentos distantes no passado tambmsubjazem a um nmero de estudos histricos publicados na Europa, no sculoXVII, cujas alegorias sejam pragmticas ou sejam metafsicas. Na RepblicaHolandesa, por exemplo, Gerard Vossius publicou a histria da controvrsiaentre Agostinho e os Pelgios no tempo do Snodo de Dort em 1618. Em 1682,o telogo Samuel Johnson publicou um estudo sobre Juliano, o apstota, que

    discutia o problema da obedincia passiva na igreja primitiva e obviamente sereferia Crise Britnica de Excluso (muito obviamente, de vez que o autor foipreso e aoitado). Na Frana, em 1709, durante a Guerra da Sucesso Espanhola, opropagandista e crtico de arte Jean-Baptiste Du Bos escreveu uma histria daLiga de Cambrai contra Veneza 200 anos antes.

    O ponto a enfatizar que pelo menos algumas pessoas esperavam a repre-sentao de dramticos episdios histricos cena por cena. Na Frana, por exemplo,as guerras religiosas eram tidas pelos protestantes como uma re-apresentao dasperseguies sofridas pelo povo de Deus, tal como descritas na Bblia. Em gera-es posteriores, lembravam-se do Massacre de So Bartolomeu, no qual foram

    mortos muitos protestantes, como um Segundo Massacre dos Inocentes (Joutard,1976). As guerras tambm eram vistas como re-apresentaes das guerras civisda Roma antiga, com um novo Triunvirato no lugar do antigo. Por exemplo, umquadro no Louvre, pintado por Antoine Caron (circa 1562), representa um in-cidente da histria romana, o massacre dos trinviros (isto , ordenada pelostrinviros). Essa aluso aos feitos do assim chamado triumvirato, nos primrdiosdas guerras religiosas francesas torna-se mais transparente pela inclusoanacronstica na Roma antiga de uma fortaleza papal, o Castelo de Sant'Angelo.

    Novamente, na dcada de 1640, a guerra civil inglesa foi sentida como umreplaydas guerras religiosas francesas. Um cavalheiro ingls fez a observao de

    que havia sido emprestada a histria daquelas guerras, de Enrico Davila, com ottulo de O Vade Mecum do sr. Hampden; e eu creio que nenhuma cpia foi(mais) fiel ao original do que aquela rebelio foi nossa (Salmon, 1959:100).

    Um pensamento semelhante ocorreu a muitos ingleses poca da assimchamada Crise de Excluso, quando foi feita uma tentativa para excluir da sucessoao trono o catlico Jaime, duque de York, irmo mais moo de Carlos II. Nessaocasio, John Dryden (mais conhecido hoje por sua alegoria bblica Absalomand Achitofel) escreveu ou pelo menos colaborou com a pea O duque de

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    Guisepara mostrar o paralelo entre a Frana em 1583 e a Inglaterra em 1683,com o conde de Shaftesbury no lugar do duque e os dissidentes no lugar da Liga

    Catlica. Foi, naturalmente, uma cpia ao inverso, com protestantes extremadosno lugar de catlicos ferrenhos, mas a ameaa autoridade de Carlos IIe deHenrique IIIfoi a mesma.

    Carlos IIgostou da pea e pediu a Dryden que traduzisse uma histriarecente da Liga Catlica. Dedicando sua traduo ao rei, Dryden sugeriu queas caractersticas so as mesmas em tudo, no caso dos eventos de 1584 e 1684.Mesmo assim, no fica muito claro que paralelo Dryden est estabelecendo, seele est pensando em semelhanas (que realmente so marcantes) ou em corres-pondncias ocultas, ou conexes (como sugerem as referncias s datas de 1584e 1684) (Zwicker, 1984). Fica menos evidente ainda se ele esperava que o curso

    da histria inglesa seguisse o modelo francs (o assassinato do duque de Guise, oassassinato de Henrique III, e assim por diante).

    Um motivo para a dificuldade de interpretar as intenes de Dryden ofinal do sculo XVIIser um perodo em que a tradicional teoria das correspon-dncias entre microcosmos, macrocosmos e assim por diante tida, por estudiososmodernos, como decadente e substituda por uma nova maneira de pensarrepresentada por Galileu, Descartes, Bayle, entre muitos outros (Hazard, 1947;Willey, 1934). Como disse Marjorie Nicolson, uma norte-americana historiadora dacincia, nossos ancestrais acreditavam que o que chamamos analogia(grifos doautor) era verdade, inscrita por Deus na natureza das coisas. Essa crena hoje

    questionada (Nicolson, 1950:108; Foucault, 1970; Harris, 1966).

    Intelectuais, como Pierre Bayle, que duvidavam que cometas fossem real-mente sinais e eram cticos sobre as correspondncias entre microcosmos emacrocosmos, provavelmente tambm duvidassem de correspondncias histricas.O livro da histria, bem como o da natureza, estavam para ser interpretadosliteralmente ao invs de alegoricamente, como parte de um surgir de umainclinao literalidade (Burke, 1993:108-121). Analogias eram aindaestabelecidas, mas seu statuslgico mudou. Cada vez mais se acreditava queeram mais subjetivas que objetivas.

    difcil calcular a rapidez dessa mudana de atitude ou mentalidade. provvel que catlicos, como Carlos IIque havia sido apresentado como umnovo Davi na sua coroao, ou Dryden (a despeito de seu conhecimento dasobras dos cticos), continuaram a pensar da velha maneira (Reedy, 1972; Bredvold,1934). Assim o fizeram os calvinistas, entre os quais o pastor Pierre Jurieu, quese referia ao holands, rei da Inglaterra, Guilherme III, como a um segundo Moiss,ou a um segundo Davi(Gibbs, 1975).

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    Pelo menos a mudana de direo est clara. At o sculo XVIII difcilencontrar rejeio de alegoria, ou reivindicaes tradicionais de alegoria, desdeas discusses de Shaftesbury sobre o tpico no comeo desse sculo, at a rejei-o de Joseph Spencer das alegorias de Cesare Ripa e Edmund Spenser em 1747(Schne, 1964; Gordon, 1975:51-74; Paulson, 1975). A crescente importncia,no sculo XIX, da doutrina da singularidade dos eventos, que Meinecke (1972)chamou de historismo (Historismus) debilitou ainda mais a alegoria metafsica.No foram somente historiadores que professaram essa doutrina; a idia modernade revoluo, que data de aproximadamente 1789, a de mudana irreversvel,de uma ruptura com o passado bem simbolizada pela deciso dos revolucionriosfranceses de mudar o calendrio e comear com o Ano 1.

    Contudo... esta histria simples demais. As alegorias histricas dos lti-

    mos trs sculos no so todas reduzveis ao pragmatismo. difcil, se noimpossvel, perceber ou lembrar de algo sem o uso de algum tipo de esquemamental, incluindo o que poderamos chamar de esquema mestre, ou a organizao demitos de determinada cultura.

    A Revoluo Francesa, por exemplo, foi sentida por alguns contemporneoscomo uma repetio da histria romana antiga, como uma expulso de um novoTarquino. As revolues francesas de 1830, 1848 e de 1871, por sua vez, foramvistas como re-apresentaes de 1798. De maneira semelhante, a Revoluo Russafoi sentida (por Trotsky, entre outros) como um replayda Revoluo Francesa.Tambm a Guerra Civil Espanhola foi vista por alguns participantes como

    re-encenao da Revoluo Russa.Os historiadores tambm acham difcil evitar paralelos dessa natureza,

    mesmo quando afirmam acreditar na singularidade dos eventos. Como j provouWhite (1973), eles colocam a histria em enredos, pelo menos ocasionalmente,de acordo com os modelos da pica, do romance, da comdia e da tragdia,modelos que implicam re-apresentao, mesmo que no estejam sempre cons-cientes de que o estejam fazendo.

    O que ao mesmo tempo fascinante e espicaante sobre os exemplos maisrecentes a dificuldade de decidir como interpretar alegorias. Eu ousaria dizer

    que h uma ps-figurao em torno delas, um sentido de re-apresentao de umevento exemplar, mesmo que no possa ser admitido em nossa era, mais inclinada literalidade. Esta preocupao com a re-apresentao est particularmente clarano historiador vitoriano E. A. Freeman, para quem a histria inglesa era umdrama de renascimento e ressurreies, com Simon of Montfort, por exemplo,que liderou os bares em revolta contra o rei Henrique III, como uma novaverso do lder anglo-saxo Conde Godwin, que liderou a oposio ao rei Eduardo,o Confessor(Burrow, 1981:221).

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    Um grupo final de exemplos pode reforar essa idia. Alexandre Nevsky(1938) de Eisenstein, ao contrrio de seu Ivan, o terrvel, no precisa enganar o

    censor. Contudo, sua celebrao da capacidade da nao de derrotar seus invasoresganha no que chamamos de ressonncia ao evocar o passado russo distante. E,outra vez, o filme de Lawrence Olivier, baseado na pea Henrique V, deShakespeare, no foi uma alegoria pragmtica. Ainda assim, foi interpretada napoca, final da Segunda Guerra Mundial, como uma afirmativa sobre o presente.Crianas, eu inclusive, eram levadas pelas escolas para ver o filme. ramos enco-rajados a ver os desembarques do DiaD como uma repetio da batalha deAgincourt, quando Deus estava do lado dos ingleses.

    De maneira semelhante, por outro lado, o filme de Mizoguchi The fortyseven ronin(1941), que narra o suicdio de um grupo de samurais leais, no comeo

    do sculo XVIII, teve igual relevncia contempornea. O filme foi feito muito cedopara ser interpretado como apoio da entrada do Japo na Segunda Guerra Mundial,ou mesmo para encorajar os pilotos kamikazenem suas misses suicidas; serviu pelomenos para lembrar ao povo japons as suas tradies de sacrifcio.

    No h necessidade de terminar com a Segunda Guerra Mundial. At hoje,a cada ms de dezembro, os protestantes moradores de Derry que eles cha-mam de Londonderry realizam seu ritual tradicional para comemorar o cercode 1688-89. O ritual tem seu efeito na vida diria. Alguns protestantes irlandesesse referem ao perodo corrente, de dificuldades, longo como se fosse o cerco.Eles usam a frase sem rendiopara se referirem no cidadela, mas sua recusa

    em aceitar a soluo para o problema da Irlanda do Norte em termos de com-promisso. Escrevem nas paredes da casa: Lembre-se de 1690, referindo-se vitriade Guilherme IIIe dos protestantes na batalha de Boyne. Em outras palavras,eles vem o presente como uma repetio do passado (Buckely, 1989:183-197).Como suas atitudes diferem das de Dryden, ou mesmo das dos havaianos que, sesupe, viram a chegada do capito Cook como a epifania de um deus? (Sahlins,1985: Obeyesekere, 1992).

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    Resumo

    Neste artigo abordam-se as diferentes circunstncias nas quais se tecem comentriossobre um evento (geralmente no passado) quando os comentadores esto, na verdade,preocupados com um outro evento (geralmente no presente). Nele, distingue-se a ale-goria pragmtica que se encontra onde quer que haja restries liberdade de agilidade

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    poltica da alegoria mstica - que pressupe algum tipo de conexo oculta entre os doisacontecimentos. Este segundo tipo de alegoria entrou em declnio no fim do sculo XVII,mas poder permanecer mais influente do que todos ns pensamos.

    Abstract

    This article is concerned with the different circunstances in wich comments are made asone event (usually in the past) when the commentators are really preoccupied with another(usually in the present). It distinguishes pragmatic allegory, to be found whenever thereare restrictions on freedom of political speed, from mystical allegory, which assumessome kind of occult connection between the two events. This second kind of allegoryhas been in decline since the end of the seventeenth century, but it may remain moreinfluential on us all than we think.

    Peter Burke, historiador, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, eautor de mais de 30 livros, muitos deles publicados no Brasil:A escola dos Annales(UNESP),

    Amsterd e Veneza: um estudo das elites do sculosXVII(Brasiliense),A cultura popular naidade moderna(Companhia das Letras) e A fabricao do rei: a construo da imagem

    pblica de LusXIV(Jorge Zahar). Foi professor visitante do IEA-USPde setembro de1994 a setembro de 1995, perodo em que desenvolveu o projeto de pesquisa Duascrises de conscincia histrica.

    Palestra feita pelo autor em 18 de novembro de 1994 no IEA-USP. O autor agradece aAlex Pott por seus comentrios sobre a verso original deste trabalho.

    Traduco de Martha Steinberg. O original em ingls History as allegory encontra-se disposio do leitor no IEA-USP para eventual consulta.