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MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E HISTÓRIA: UMA ABORDAGEM PRÁTICA Monica Zanellato Stanger 1  Resumo O presente artigo relata a experiência e a pesquisa realizada com alunos da 5ª série do Colégio Estadual Leonardo da Vinci a partir de referenciais teórico- metododógicos pertinentes aos trabalhos de História e Memória. O objetivo do estudo foi a investigação e reelaboração dos conceitos de História, memória e patrimônio cultural ensinados em sala de aula na série pesquisada. Para isso, trabalhou-se com os alunos através da coleta e exposição de objetos e histórias guardadas por suas famílias, e elaboração de um vídeo que serviu e potencialmente servirá como material didático para novas experiências. Além do trabalho empírico, fez-se a leitura de vários autores e pesquisadores do assunto que dissertaram a respeito de como os historiadores escrevem a história, que não é feita só com documentos escritos, mas com símbolos, objetos, contos, cantos, costumes. O resultado levou à compreensão da importância do ensino da  história e da memória, bem como dos temas relacionados, tal como o patrimônio cultural, segundo as perspectivas renovadas das discussões ocorridas na academia nas últimas décadas.. Palavras-chave: Patrimônio Cultural. Memória. História. Museu. Artes. Cultura. Exposição. Objetos. Educadores. ABSTRACT This article reports the experience and research conducted with students in 5th grade State School Leonardo da Vinci from methodological alstract relevant references to the works of history and memory. The objective of this study was to research and development of concepts of history, memory and cultural heritage, taught in the classroom in the series studied. For that, i worked with students through the collection and exhibition of objects and histories kept by their families, and making a video helped  and potentially aull serve as material 1  Professora de História. Formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas PR - FAFI. Atual Centro Universitário Católico do Sudoeste do Paraná – UNICS. Especialização em Processos Pedagógicos do Ensino Fundamental e professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná.

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MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E HISTÓRIA: UMA ABORDAGEM PRÁTICA

Monica Zanellato Stanger1

 Resumo 

O presente artigo relata a experiência e a pesquisa realizada com alunos da 5ª 

série do Colégio Estadual Leonardo da Vinci a partir de referenciais teórico­

metododógicos pertinentes aos trabalhos de História e Memória. O objetivo do 

estudo foi a investigação e reelaboração dos conceitos de História, memória e 

patrimônio cultural ensinados em sala de aula na série pesquisada. Para isso, 

trabalhou­se   com   os   alunos   através   da   coleta   e   exposição   de   objetos   e 

histórias guardadas por suas famílias, e elaboração de um vídeo que serviu e 

potencialmente servirá como material didático para novas experiências. Além 

do  trabalho empírico,  fez­se a  leitura de vários autores e pesquisadores do 

assunto   que   dissertaram   a   respeito   de   como   os   historiadores   escrevem   a 

história,  que  não  é   feita   só   com documentos  escritos,  mas  com símbolos, 

objetos,   contos,   cantos,   costumes.   O   resultado   levou   à   compreensão   da 

importância   do   ensino   da     história   e   da   memória,   bem   como   dos   temas 

relacionados,   tal   como   o   patrimônio   cultural,   segundo   as   perspectivas 

renovadas das discussões ocorridas na academia nas últimas décadas..

Palavras­chave: Patrimônio Cultural. Memória. História. Museu. Artes. Cultura. 

Exposição. Objetos. Educadores. 

ABSTRACT This article reports the experience and research conducted with students in 5th grade State  School  Leonardo da Vinci   from methodological  alstract   relevant references to the works of history and memory. The objective of this study was to   research   and   development   of   concepts   of   history,   memory   and   cultural heritage, taught in the classroom in the series studied. For that, i worked with students through the collection and exhibition of objects and histories kept by their families, and making a video helped  and potentially aull serve as material 

1 Professora de História. Formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas PR   ­   FAFI.   Atual   Centro   Universitário   Católico   do   Sudoeste   do   Paraná   –   UNICS. Especialização em Processos Pedagógicos do Ensino Fundamental e professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná.

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for  new experiences.  Besides  the  empirical  work,   there  was  the   reading  of various   authors   and   researchers  of   the   subject   who   spoke   about   how   the historians write history, which is not made only with written documents, but with symbols, objects, stories, songs, costumes. The result led to the understanding of  the teaching of history and memory as well  as the themes importance of related as cultural heritage, according to the prospects of renewed discussions held at the academy in recent decades.

INTRODUÇÃO

As   sociedades   nos   mais   variados   tempos   buscaram   construir   sua 

identidade, definir seus parâmetros de pertencimento, recorrendo ao passado. 

É   através   da   história   de   nossa   vida   e   das   gerações   anteriores   que   são 

procuradas as linhas de tradição e as ligações entre presente e passado. Para 

traçar essas  linhas que dão sentido às histórias cotidianas são necessários 

alguns   procedimentos   ora   intencionais   e   programados,   ora   espontâneos   e 

casuais.   Os   eventos   passados   se   tornam   conhecidos   somente   se   alguém 

guardou,   preservou   algum   resto,   vestígios   que   possam   nos   remeter   ao 

passado e a partir deles escrever e reescrever a História.

Portanto, um povo que não guarda suas histórias,  suas memórias, seu 

patrimônio, não sabe quem realmente é. Estas memórias estão guardadas em 

seu patrimônio cultural que deve ser preservado, restaurado, contado, cantado, 

de   tal   maneira   que   possa   despertar   nas   pessoas   seu   real   valor   para   a 

construção de sua História.

  A questão que norteou a confecção desse estudo é  a seguinte: como 

conscientizar alunos que a História não é apenas mais uma disciplina que se 

estuda na escola, mas que na verdade também é construída por eles, por sua 

família e por sua comunidade?

Partindo dessa problemática, buscou­se construir um acervo documental 

a  partir   da  coleta  de  materiais  diversos  dos  alunos,  no   intuito   de  elaborar 

coletivamente o conhecimento acerca da produção da memória e da História.

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A   concepção   de   História   é   diversa;   muitos   estudantes   consideram   o 

estudo de tal disciplina chata e sem significado. Porém, se construirmos com 

eles novos sentidos para a disciplina ela ganha novos significados e pode se 

tornar de grande importância e interesse no cotidiano da escola.

Assim,   o   presente   artigo   tem   por   finalidade   construir   novos   conceitos 

sobre o sentido de estudar História, bem como a compreensão de memória, 

patrimônio, cultura e a relação que se estabelece entre eles.

Neste   prisma,   as   memórias   são   de   suma   importância   no   sentido   de 

despertar o interesse nos educandos para que desenvolva o gosto de estudar 

História, aprendendo sobre o presente, o passado e o futuro de uma forma 

dinâmica, diferente, participativa e ao mesmo tempo prazerosa.

Jacques Le Goff em sua obra História e Memória cita as considerações 

de Leroi­Gorhan sobre o que seriam as memórias:

Não é uma propriedade da inteligência, mas a base, seja ela qual for, sobre a qual se inscrevem as concatenações de atos. Podemos a este título falar de uma “memória específica” para definir a fixação dos comportamentos de espécies animais de uma   memória   “étnica”   que   assegura   a   reprodução   dos comportamentos   nas   sociedades   humanas   e,   no   mesmo sentido, de uma memória “artificial”,  eletrônica em sua forma mais recente, que assegura sem recurso a um  instinto ou à reflexão,   a   reprodução   de   atos   mecânicos   encadeados   (LE GOFF apud GORHAN, 2003, p. 269).

Deste   modo,   a   memória,   como   propriedade   de   conservar   certas 

informações,   remete­nos   em   primeiro   lugar   a   um   conjunto   de   funções 

psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações 

passadas, ou que ele representa como passadas. (LE GOFF, 2003).

Portanto,   o   processo   da   memória   no   homem   faz   intervir   não   só   na 

ordenação   de   vestígios,   mas   também   na   releitura   desses   vestígios, 

possibilitando uma análise  mais  concreta e  real  do  que  lhe  é  apresentado, 

podendo inclusive tecer questionamentos e fazer novas ponderações sobre as 

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considerações até então efetuadas. 

A construção das memórias constitui importante função social, na medida 

em  que   reproduz   informações   mesmo  ante  a  ausência  de  dados  escritos, 

baseando­se no estudo de objetos que marcaram o seu acontecimento. (LE 

GOFF, 2003).

A   maior   parte   das   informações  que   constituem  um  determinado   fato, 

encontra­se, via de regra, na memória ativa das pessoas. Estas informações, 

após imperativa necessidade de estudo, acabam levando a formação de fatos 

históricos. (LE GOFF, 2003).        

Existe uma distinção no estudo das memórias entre as culturas orais e 

culturas escritas, sendo a primeira predominantemente fundada na existência 

das etnias ou das famílias, ou seja, dos dados de origem. (LE GOFF, 2003, p. 

424).

A   segunda   por   sua   vez,   busca   registrar   os   acontecimentos   mais 

relevantes da vida em sociedade, sendo mais exata e concisa, haja vista que 

não  deixa  muitas  margens à  divagação,  produzindo uma constatação mais 

precisa   no   registro   da   História,   armazenando   uma   maior   quantidade   de 

informações, por tempo considerável. (LE GOFF, 2003, p. 424).

Segundo Jacques Le Goff citando Goody: 

[...]  a escrita implica também modificações no próprio interior do psiquismo e que não se  trata simplesmente de um novo saber­fazer   técnico,   de   qualquer   coisa   comparável,   por exemplo,  a  um  processo   mnemotécnico,   mas   de  uma  nova aptidão intelectual. (GOODY, 1977, p. 108­109).

     Durante a Idade Média, Tomás de Aquino a partir da doutrina clássica 

dos lugares e das imagens, formulou algumas regras mnemônicas, dentre as 

quais se destacam:

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1) É  necessário encontrar “simulacros adequados das coisas que se deseja recordar” e “é necessário segundo esse método, inventar simulacros e imagens porque as intenções simples e espirituais   facilmente   se   evolam   da   alma,   a   menos   que estejam, por assim dizer, ligadas a qualquer símbolo corpóreo, porque o conhecimento humano é mais forte em relação aos sensibiliza; por esta razão, o poder mnemônico reside na parte sensitiva da alma”. A memória está ligada ao corpo.2) É necessário, em seguida, dispor “numa ordem calculada as coisas  que   se   deseja   recordar   de  modo   que,   de  um  ponto recordado,   se   torne   fácil   a   passagem   ao   ponto   que   lhe sucede”. A memória é razão.3)  É   necessário   “meditar   com   freqüência  no  que  se  deseja recordar”.   É   por   isso   que   Aristóteles   diz   que   “a   mediação preserva a memória,  pois “o habito é  como a natureza”.  (LE GOFF apud TOMÁS DE AQUINO, 2003, p. 499).

A memória, na qual cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura 

salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de 

forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos 

homens. (LE GOFF, 2003).

Deste modo, ressalta­se que a construção das memórias constitui uma 

excêntrica   forma de dominação,   tendo em vista  que os  grupos dominantes 

sempre se valeram da manipulação dos dados que  formaram a História  da 

sociedade   para   perpetuarem­se   no   poder,   fazendo   inclusive,   desaparecer 

importantes   fatos   e   movimentos   históricos,   capazes   de   levar   o   povo   a   se 

organizar contra a forma de domínio a que estão submetidos.

Segundo   Peter   Burke,   o   paradigma   tradicional   da   escrita   da   História 

consolidou   a   necessidade   do   uso   de   documentos   para   a   produção   do 

conhecimento histórico. Uma das grandes contribuições de Leopold von Ranke 

foi   sua   exposição   das   limitações   das   fontes   narrativas   e   sua   ênfase   na 

necessidade de basear a História escrita em registros oficiais emanados do 

governo   e   preservados   em   arquivos.   O   preço   dessa   contribuição   foi   a 

negligência de outros tipos de evidência. (BURKE,1992).  

Esta afirmação de Ranke enfatiza a necessidade de basear a História em 

registros oficiais, e nos leva a refletir sobre “a oficialidade” de tais registros, 

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afinal,  muitas  vezes  a  História  é   feita   segundo  a  conveniência  de  quem a 

escreveu, ou para servir como forma de dominação.

Faz­se necessário,  então a compreensão do que é  historia,  do que é 

documento ou registro oficial, enfim, sobre a História de cada um, da família, do 

local   em   que   o   individuo   está   inserido   e   que   com   sua   vivencia,   sua 

interferência,   vai   tecendo   sua   História   e   colaborando   para   a   formação   da 

História da sociedade em que vive. 

Neste   sentido,   de   grande   importância   são   as   colocações   de   Lucien 

Febvre: 

A   história   faz­se   com   documentos   escritos,   sem   dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer­se, deve fazer­se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens e  telhas.  Com as  formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos cavalos de tiro. Com os exames de pedras feitos pelos geólogos e com as análises  de metais   feitas pelos  químicos.  Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve ao homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade,   os   gostos   e   as   maneiras   de   ser   do   homem. (FEBVRE, 1992, p. 328).

Assim, os historiadores ao se depararem com uma hipótese em que haja 

inexistência   de   documentos   escritos,   utilizando­se   dos   monumentos 

encontrados,  elaborarão  pesquisas  e  estudos  sobre  eles,   conferindo­lhes  a 

condição de documentos importantes para a construção da História.   

Neste aspecto, pode­se perceber a necessidade de  lugares próprios e 

adequados a fim de se conservar esses documentos, essas memórias, sem 

alterar­lhes as características essenciais, para que possam ser apreciados e 

analisados   pelas   futuras  gerações,   que  poderão   inclusive,   descobrir   novas 

verdades acerca dos objetos armazenados.

Os museus na atualidade vêm se destacando como um dos locais mais 

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propícios ao armazenamento de acervos culturais, tendo em vista que foram 

criados exatamente para esta finalidade, sendo abertos ao público, sem fins 

lucrativos, possibilitando crescimento de conhecimento e cultura.  

Nas   palavras   de   Janine  Ojeda,   os  museus   são   uma   instituição,   sem 

finalidade lucrativa, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto 

ao público e que realiza investigações que dizem respeito aos testemunhos 

materiais do homem e do seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva­

os,   transmite­os  e  os  expõe,   especialmente,   com   intenções  de   estudo,   de 

educação e de deleite (OJEDA, 2008).

Deste modo, os museus e demais espaços de cultura representam um 

dos   lugares   responsáveis   pela   memória   de   um   povo,   encarregados   pela 

preservação das obras produzidas pela humanidade, com suas histórias, com 

os meios próprios que dispõe (LEITE apud CHAGAS, 2006).

O   que   mantém   um   museu   vivo   é   a   sua   relação   dinâmica   com   a 

sociedade, portanto, museus não são instituições permanentes, mas práticas 

sociais colocadas à serviço da sociedade e seu desenvolvimento.  (LEITE apud 

CHAGAS, 2006).

Para Chagas, os museus não exercem apenas o papel de guarda, mas 

têm   a   vocação   de   investigar,   documentar   e   comunicar­se.   Trabalham 

permanentemente com o patrimônio cultural integral, ressaltando sua dimensão 

educativa,   procurando,   assim,   desenvolver   as   identidades   locais,   regionais, 

nacionais e intergovernamentais. (LEITE apud CHAGAS, 2006). 

Os museus devem representar a sociedade e sua estruturação, onde sua 

função   mais   premente   é   ser   o   espaço   de   comunicação   direta   com   a 

comunidade. Esta dinâmica faz do museu um espaço de diversidade sem, no 

entanto,   jogar   fora   o   velho   –   mas   debruçando­se   criticamente   sobre   ele, 

fornecendo  instrumento para o diálogo permanente.   (LEITE apud CHAGAS, 

2006).

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Atente­se para o fato de que no contexto da nova museologia, surge a 

necessidade de se contextualizar os objetos, todavia, não basta contextualizá­

los, pois, os objetos ao serem preservados, carregam consigo, no mínimo, o 

seu significado inaugural, e devem ser pensados criticamente neste contexto. 

(LEITE apud CHAGAS, 2006).

Neste   prisma,   de   buscar   reconstruir   a   História,   resgatando   a   arte, 

interpretando   um   dado   momento   histórico,   muitos   historiadores   buscam 

elaborar museus itinerantes, constituindo, desta forma, um espaço reservado à 

cultura.

A   historiadora   Maria   Isabel   Leite   acompanhou   sistematicamente   a 

proposta educativa da construção de um museu itinerante intitulado “O Brasil 

de Portinari”, com exposição de réplicas no Solar Grandjean de Montigny, no 

Rio   de   Janeiro,   sendo   parte   constante   da   pesquisa   utilizada   em   seu 

doutoramento sobre museus, educação e cultura.

A pesquisadora relata em seu trabalho que: 

[...] a apreciação das obras não é dom inato – nosso olhar é construído   dia­a­dia   e   essas   possibilidades   de   experiência estética fazem parte de nossa formação cultural. A formação é hoje uma das maiores dificuldade que disparam no campo da educação no Brasil. (LEITE, OSTENTTE, 2006, p.32).

Durante   o   acompanhamento   do   projeto,   a   historiadora   ressaltou   a 

necessidade   de   um   trabalho   pedagógico   para   os   monitores,   de   modo   a 

envolvê­los,   criando  uma   relação­interação   com o  projeto,  de  modo  a  não 

ocorrer apenas repetição de fatos.

Enfatizando ainda, que não só nos museus, mas nas escolas e espaços 

da cultura, o desenho tem ficado espremido pelo tempo, pela ordem dada, pelo 

material,  pelas  instalações,  visto que o prazer de produzir  está  diretamente 

relacionado ao processo e às condições de produção oferecidas. 

Assim,   os   museus   itinerantes   auxiliam   grandiosamente   no 

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desenvolvimento das artes e da cultura, resgatando o gosto pelo estudo da 

História, incentivando as pessoas, os alunos e a sociedade como um todo a 

redescobrirem fatos históricos importantes. (LEITE, OSTENTTE, 2006).

A arte  se dirige a  todos para ser  sentida e compreendida:  por   isso é 

democrática,   é   impacto   emocional,   confronto   de   idéias,   de   História   e   de 

imaginação. (LEITE, OSTENTTE, 2006). 

Allana   Pessanha   de   Moraes   em   sua   pesquisa   final   de   curso   na 

Universidade  Estadual  do  Norte  Fluminense  Darcy  Ribeiro,  através  de   seu 

projeto de extensão “Patrimônio Cultural”, também desenvolveu um projeto de 

ação pedagógica com alunos de 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino fundamental com 

escolas públicas no Município de Campos dos Goytacazes.

A   autora   realizou  um   estudo   junto   aos   alunos   daquela   região,   tendo 

constatado que 43% dos entrevistados afirmaram nunca  ter ouvido  falar de 

Patrimônio Cultural embora se pudesse perceber certa apropriação do conceito 

de patrimônio tradicionalmente usado no Brasil. (MORAES, 2006).

A partir dos estudos realizados, a bolsista de pesquisa em extensão pôde 

perceber que é crescente a necessidade de promover uma ação pedagógica 

para   direcionar   os   estudantes   a   entender   o   conceito   de   Patrimônio   e 

reconhecer sua  importância, enfatizando que é   (re)conhecendo a  identidade 

cultural que se passa a valorizar e preservar aquilo que reconhece como seu, 

de   modo   que   a   educação   patrimonial   deve   ser   incluída   nos   currículos 

escolares,   levando   à   comunidade   escolar   ao   resgate   e   preservação   do 

Patrimônio Cultural. (MORAES, 2006).

Assim, percebe­se a crescente necessidade de criação de um espaço 

reservado à  preservação do Patrimônio cultural,  e  paralelamente uma ação 

pedagógica que integre os estudantes a esse projeto. É nesse contexto que se 

inserem os museus itinerantes.

Atualmente ir ao museu não é como assistir a um CD­ROM de obras de 

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arte, assim como ir ao cinema é diferente de ver um vídeo ou ir a um teatro não 

é o mesmo que assistir a uma encenação de um grupo teatral na escola, de 

forma que a experiência indireta com a obra não substitui a experiência direta. 

(LEITE, OSTENTTE, 2006).

Outra experiência aqui narrada é da pedagoga Samantha Fernandes da 

Silva onde ela conta sobre seu “encontro com Picasso”:

Sai de minha cidade,  Biguaçu (SC), para a Oca, no parque Ibirapurera, me encontrar com Pablo Picasso.  O emocionante entra nas  lembranças que me vieram ao entrar  na Oca,  ao admirar todas aquelas obras, minha memória me reportou à infância na escola, às obras dos artistas que contemplava e namorava nas revistas  (em casa),  ao  sentimento de paixão pela   arte   e   pelas   cores.   Eu   estava   ali   deslumbrada,   com sentimentos vivos, apesar da escola. (SILVA, 2006, p.157).

A   autora   utiliza   a   expressão   “apesar   da   escola”,   devido   ao   trauma 

adquirido na infância, na qual os desenhos vinham de forma mimeografada, e 

este era o único tempo em que podiam ter contato com o lápis de cor, e ainda 

mal  apontado,  pois  apontador  era um artigo de  luxo.  Ela  queria  uma caixa 

cheia de lápis de todas as cores, mas sua iniciativa, sua vontade de criar foi 

podada,  devido  ao   fato   de  apenas  alguns   lápis   terem ponta,   e   também o 

desenho não ser o que ela queria, uma vez que ele já veio pronto.

Percebe­se então, a necessidade de uma atenção para a arte, para a 

cultura   de   um   povo.   É   relevante   que   a   escola   e   a   sociedade   ofereçam 

condições para que seja  possível  o   “aprendizado da arte”,  estimulando sua 

criatividade. Somente assim se formará no educando o respeito pelo patrimônio 

cultural, pela memória e pela História de seu povo.

Portanto,  o  presente  estudo,  pautado  nas  discussões  e  nos   trabalhos 

acima   apresentados,   pretendeu   colaborar   para   conscientizar   os   alunos   da 

importância da disciplina de História, no que concerne a problematização do 

tempo presente e à construção da cidadania.

Dessa forma, o objetivo principal do trabalho foi a apropriação do que 

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estudaram, e, ao se apropriar destes saberes, considera­se que, o aluno possa 

ser   capaz   de   enfrentar   novos   desafios   ampliando   suas   potencialidades   e 

posicionando­se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes 

situações sociais.

Desafiador é fazê­los diferenciar tempo passado de História produzida e 

compreender que os elementos históricos interferem no seu cotidiano e no de 

sua   comunidade.   No   intuito   de   desenvolver   o   interesse   dos   alunos   pela 

disciplina e fazê­los compreender que a História está  presente em todos os 

acontecimentos e que eles próprios ajudam a construir a História da sociedade 

em que vivem,  buscou­se constituir   com os alunos da 5ª série,  um acervo 

documental de objetos, moedas, livros, fotos, diários, filmes, fitas, entre outros 

objetos e documentos, desenvolvendo desta forma uma experiência entre os 

educandos com a produção da memória e da História.

O artigo traz ainda os passos trabalhados durante a pesquisa, que teve 

sua   culminância   na   produção   de   um   vídeo   didático,   que   ira   servir   como 

instrumento ou material didático.  A produção do vídeo seguiu todos os passos 

da  Educação  Patrimonial,  que são:  observação,   registro,  este   representado 

pelos alunos por meio de desenhos, exploração ou pesquisa, e apropriação, 

onde   os   estudantes   apresentaram   um   teatro   para   demonstrar   o   que 

aprenderam. 

2   ­  O Colégio  Estadual  Leonardo  da  Vinci:  o   local  de   implantação do 

projeto

O Colégio Estadual Leonardo da Vinci está localizado no bairro Centro­

Sul   do   município   de   Dois   Vizinhos,   oferecendo   em   três   turnos   (matutino, 

vespertino e noturno), as modalidades de: Ensino Fundamental, Ensino Médio, 

Ensino Normal e Educação Profissional, com um total de 1.364 alunos.

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O   Colégio   tem   como   proposta   uma   educação   que   contemple   o 

desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo, social e ético, tendo em vista uma 

formação   ampla.   Faz   parte   dessa   longa   etapa   a   construção   de   valores   e 

atitudes que norteiam as relações interpessoais e intermedeiam o contato do 

aluno com o objeto do conhecimento. É  imprescindível, nesse processo que 

valoriza o aprender contínuo e a troca constante entre aluno­aluno e aluno­

professor,  uma postura de trabalho que considera a cooperação, o  respeito 

mútuo, a persistência e o empenho para superar desafios.

O Colégio é a segunda maior escola do município em número de alunos, 

sendo estes provenientes de diferentes espaços, tanto da área urbana quanto 

da rural, sendo em sua maior parte da área urbana. Neste contexto existem 

várias realidades. Alguns alunos são provenientes de famílias que possuem 

certo poder aquisitivo, outros com poder aquisitivo médio e ainda os de famílias 

carentes. Independente da realidade social vivida por esses alunos a escola 

torna­se ponto de encontro, sendo que para muitos é o local que lhes garante 

certa renda familiar com a bolsa escola e o programa leite das crianças.

3 ­ Patrimônio Cultural e História: coletando a memória no Município de 

Dois Vizinhos.

O início do presente trabalho foi implantado junto aos alunos da quinta 

série do Colégio Estadual Leonardo da Vinci explicando aos mesmos o que é 

História, por que estudar História. Após essa introdução, os educandos foram 

orientados   a   fazer   uma   busca   da   História   de   suas   famílias,   de   seus 

antepassados.  Essa  atividade  propôs  a  coleta  de  objetos  da   família  e    da 

comunidade que pudessem reavivar a memória por meio de restos guardados 

em casa.

Os   objetos   trazidos   pelos   alunos   foram   os   mais   diversos:  

livros e cadernos antigos, lousa,  utensílios de cozinha, artigos de cama e mesa 

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como bordados,  tecelagem, também, cestos, moedas,  ferramentas utilizadas 

na agricultura e criação de animais.

Após a realização da tarefa de catalogação dos objetos montou­se uma 

pequena exposição em uma das salas de aula do Colégio com os materiais 

coletados, de modo que toda a escola pudesse visitar, conhecer e aprender 

sobre a História representadas nestes guardados.

O interesse dos visitantes era visível, eles não se cansavam de admirar, 

questionar e comentar sobre o que estavam tendo a oportunidade de ver, foi 

uma experiência gratificante para os educadores.

O   despertar   do   interesse   dos   educandos   para   com   o   patrimônio 

apresentado na exposição reporta às considerações de Luiz A. B. Custodio: 

A   valorização   do   patrimonio   cultural   brasileiro   depende, necessariamente, de seu conhecimento. E sua preservação, do orgulho   que   possuimos   de   nossa   própria   identidade. (CUSTÓDIO, 2006, p.12)

Depois da exposição dos objetos foi produzido um vídeo didático com o 

resultado obtido. O objetivo da confecção do respectivo vídeo foi disponibiliza­

lo   como   material   didático   para   implementação   do   projeto   por   outros 

educadores,  além de  oferecer  a  oportunidade  para  que   futuramente  outras 

turmas possam trabalhar com o mesmo conteúdo.

O material didático produzido (vídeo), foi utilizado com os alunos da 6ª 

série no ano de 2009 e com os alunos que iniciaram a 5ª série neste mesmo 

ano.

Inicialmente as atividades foram implantadas junto às quintas séries do 

Colégio Estadual Leonardo da Vinci através de uma enquete sobre o que os 

mesmos entendiam por História.

A partir desta primeira enquete chegou­se a distintos conceitos acerca 

do tema História, sendo as respostas mais triviais:

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  “A História é  estudar o passado, conhecer o mundo de antigamente, como 

eram   os   países,   cidades,     enfim   o   planeta.   História   conta   como   era 

antigamente” (55%);

“História é como conto de fadas, são coisas que são inventadas” (4%);

“A História estuda o que aconteceu com o passar do tempo. É a relação do 

presente e passado da humanidade” (18%);

“História é tudo o que acontece ” (10%);

“Historia é aprender sobre as coisas que aconteceram no pasado e acontecem 

no presente” (13%).

A partir deste contexto, passou­se a trabalhar com o texto: “Enterrando 

os Mortos, Desenterrando os Vivos” (Brasil uma História em construção, José 

Rivair Macedo; Mariley W. Oliveira, p.7, 1986), (livro didático), que aborda de 

forma clara e objetiva a concepção de História, relatando o dia­a­dia   de um 

menino de 11 anos que questionou seu professor sobre o porque de estudar 

História.

O autor relata que o garoto ao voltar para sua casa pretende  esquecer 

da Escola Tiradentes onde estuda, mas passa pela Rua Princesa Izabel, pela 

Praça Sete de Setembro, que por sua vez, fica na Rua D. Pedro II.

Desta   forma,   os   alunos   foram   percebendo   que   o   passado   se   faz 

presente no seu cotidiano, e, que este passado foi construído por pessoas que 

já não vivem, mas que deixaram muitos traços como herança e que isto ainda 

repercute  na  vida  atual.  Compreenderam assim,  que nós   também estamos 

construindo a  nossa História aos produzirmos e guardarmos nossos restos de 

vida, tais como os objetos trazidos para a exposição.

Após este  trabalho, procedeu­se nova enquete  junto aos alunos para 

que novamente escrevessem o que entendiam por História.

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Algumas respostas:

“A História é cada dia que passa, ela está com a gente, nós fazemos parte da 

história”;

“A História é  o resumo das coisas que aconteceram no passado e que tem 

influência no presente”.

“Nós gostamos de estudar História. Com ela podemos entender os fatos que 

acontecem ao nosso redor”.

Percebeu­se na segunda enquete que mesmo os que não escreveram, 

entenderam o significado do ensino de História.

Neste contexto, oportuno destacar as considerações de Fernand Braudel 

acerca do que é História:

[...] o conhecimento histórico alarga a compreensão do homem enquanto ser que constrói  seu tempo. E a reflexão histórica, estudando o que os homens foram e  fizeram, nos   ajuda a compreeder o que podemos ser e fazer. Assim, a história é a ciencia do passado e do presente, um e outro inseparáveis. (BRAUDEL, 1997, p.10)

Denota­se que os conceitos criados pelos alunos após um breve estudo 

sobre   o   que   é   História   assemelha­se   ao   conceito   criado   pelo   renomado 

historiador. 

Retomando alguns conceitos de História formulados pelos alunos nas 

enquetes, no intuito de inserir os conceitos de patrimônio e memória no mesmo 

contexto, passou­se a seguinte pergunta: “Qual a relação das respostas que 

vocês deram anteriormente com patrimônio e memória? São a mesma coisa?”

Algumas respostas:

“Eu acho que é a mesma coisa, pois a nossa memória é nossa História”.

“A memória é o que lembramos do passado”.

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“História são as coisas que aconteceram, e memória é o que guardamos”.

Novamente   se   fez   necessário   trabalhar   com   os   novos   conceitos 

apresentados,  uitlizando­se  para   tanto  o  auxílio  de   textos,   vídeos,   slides  e 

também     comentando   sobre   o   vídeo   produzido   com   os   objetos   coletados, 

ressaltando que aqueles objetos, documentos, fotos, vestuários, dentre outros, 

faziam parte do patrimônio e da memória da nossa comunidade. 

Percebeu­se   então   que   os   educandos   entenderam   esses   conceitos, 

quando  convidados  a  novamente  escrever  ou   falar  o  que entendiam sobre 

patrimônio e memória, proferiram respostas como:

“A História usa a memória, e que é as coisas que fizeram parte de nossa vida, 

coisas que nossos antepassados guardaram e preservaram”.

“A   História   se   faz   pela   memória   de   nossas   famílias,   comunidades,   pelos 

objetos guardados e pelo patrimônio histórico e cultural.

O   método   utilizado   para   que   os   alunos   pudessem   compreender   e 

apreender os novos conceitos foi tomado com base no ensinamento de Maria 

de Lourdes Parreira Horta:

A   metodologia   da   Educação   Patrimonial   pode   levar   os professores a utilizarem os objetos culturais na sala de aula ou nos   próprios   locais   onde   são   encontrados,   como   peças­chaveno desenvolvimento dos currículos e não simplesmente como mera ilustração das aulas. (HORTA, 1999, p. 09).

Para   dar   continuidade   aos   trabalhos   realizados   com   os   educandos, 

utilizou­se o texto: “Respeito à nossa História e ao nosso Patrimônio”, (História 

em   Documento:   Imagem   e   Texto,   Joelza   Ester   Rodrigues,   p.23,   2002).   O 

referido texto relata que a História faz parte de nossa vida, que convivemos 

com   ela   diariamente,   mostrando   que   traços   do   passado   permanecem   no 

cotidiano, e, conhecê­los a fundo significa criar condições para entendermos 

melhor o nosso próprio presente. 

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Uma   pessoa   que   perde   a   memória,   perde   ao   mesmo   tempo   a 

consciência de sua identidade, dos vínculos que mantém com outras pessoas, 

do sentido de sua vida. 

De forma semelhante, uma sociedade que desconhece a sua História 

(memória coletiva), desconhece também as suas origens, desenvolvimento e 

capacidade   de   viver   coletivamente,   podendo   ser   manipulada   com   maior 

facilidade.

Neste prisma, denota­se a importância da Memória e do patrimônio na 

História, na medida em que guardam traços da cultura de um povo, preservam 

objetos, guardam reliquias, e ajudam a compreender o processo de construção 

da História. 

A memória pode ser individual ou coletiva. Individual é quando a pessoa 

traz consigo acontecimentos que foram importantes, que interferiram em sua 

vida   particular.   Coletiva,   é   quando   essa   memória   passa   a   ser   construída 

coletivamente, quando é partilhada por uma comunidade, cidade, estado, país, 

etc.

Da   memória   também   fazem   parte   os   objetos   guardados,   festas 

populares, danças, folclore, monumentos etc, que por sua vez, representam o 

Patrimônio Cultural de uma comunidade.

Pode­se entender como Patrimônio Cultural um bem que seja importante 

para uma pessoa ou mesmo para um grupo de pessoas, uma riqueza recebida 

como herança, documentos antigos, monumentos, pois relatam a história da 

sociedade em que se vive,  trazendo recordações do passado,  fazendo com 

que seu povo possa se sentir unido por um sentimento comum.

Assim,   quando   se   fala   em   patrimonio,   fala­se   também   de   História, 

memória e identidade; conceitos estes que estão inter­relacionados, mas que 

se modificam com o passar do tempo.

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No   intuito   de   ressaltar   a   importância   da   História,   da   memória   e   do 

patrimônio  no  contexto  de  uma  sociedade  buscou­se   retomar  os   conceitos 

trabalhados inicialmente com os alunos, promovendo­se um novo debate sobre 

História, memória e patrimônio. 

Constatou­se que, apesar de alguns alunos ainda terem dúvidas sobre 

os   conceitos   que   foram   amplamente   estudados,   a   maioria   foi   capaz   de 

assimilar e abstrair o que representam estes conceitos para eles, assim como a 

importância do ensino de História, ademais de ter despertado a consciência da 

necessidade   de   preservação   de   tudo   aquilo   que   faz   parte   do   Patrimônio 

Cultural da sociedade em que vivem.

O   projeto   realizado   também   possibilitou   aos   alunos   levar   até   suas 

famílias  o  valor  dos  objetos  que preservaram e  a   importância  de  continuar 

preservando   e   valorizando   este   material   que   faz   parte   de   suas   histórias, 

ressaltando que hoje vivemos em uma época em que tudo tem um período útil 

muito curto, sendo descartado, trocado e estes que foram a base dos atuais, 

são desprezados com muita velocidade pela sociedade atual que valoriza o 

novo, o top de linha.

O   conhecimento   é   uma   reconstrução   dos   fatos   a   partir   das   fontes 

históricas, ou seja, é o nosso pensamento de hoje tentando alcançar o modo 

de pensar e viver de outros tempos e de outros povos.

Tudo o que nos permite perceber alguma coisa a respeito de como era 

a vida em uma certa época torna­se um documento histórico. Até a memória 

das pessoas pode ser considerada como um documento.

Os documentos e as lembranças de nossa História formam o patrimônio 

histórico e artístico nacional. Este representa a maior riqueza de um povo, pois 

nele está  contida sua memória, sua cultura, seu modo de pensar e de agir, 

abrange o patrimônio material e imaterial.

 

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O   patrimônio   material   é   representado   por   obras   arquitetônicas, 

urbanísticas, objetos, artefatos, sítios arqueológicos e outros, já o patrimônio 

imaterial são os costumes, saberes, relações sociais e simbólicas.

Denota­se deste modo, que patrimônio abrange bens que de certo modo 

são   importantes  para   toda  a  humanidade,   conforme   ressalta  a  historiadora 

Lúcia Lippi Oliveira:

Ao   falarmos   de   patrimônio,   estamos   lidando   com   história, memória   e   identidade,   conceitos   inter­relacionados   cujos conteúdos são definidos e modificados ao longo do tempo. A noção de patrimônio confunde­se assim com a de propriedade herdada. O processo pelo qual se forma um patrimônio é o de colecionar objetos, mantendo­os fora do circuito das atividades econômicas,   sujeitos   a   uma   proteção   especial.   (OLIVEIRA, 2008, p. 114). 

Para Lúcia Lippi Oliveira os chamados patrimônios históricos e artísticos 

têm,   nas  modernas   sociedades  a   função   de   representar   simbolicamente  a 

identidade   e   a   memória   de   uma   nação.   O   pertencimento   a   comunidade 

nacional, é produzido a partir da idéia de propriedade sobre um conjunto de 

bens: relíquias, monumentos, cidades históricas entre outros.

4 – Patrimônio Cultural e História: implementação pedagógica através das 

quatro etapas da educação patrimonial ­ observação, registro, exploração 

e apropriação

Buscando uma inovação junto às salas de aula, na tentativa de despertar 

o interesse dos alunos nas aulas de História e, sobretudo no que se refere ao 

conteúdo patrimônio cultural, História e memória, foi dado prosseguimento ao 

projeto de implementação pedagógica no Colégio Estadual Leonardo da Vinci, 

através da produção didática de um vídeo que contou com a participação dos 

educandos, professores e pela própria comunidade.

O vídeo didático de implementação do projeto PDE, cujo titulo é História e 

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Educação Patrimonial: coletando a memória do município de Dois Vizinhos, foi 

produzido a partir de uma exposição de materiais coletados com alunos de 5ª 

séries do Colégio Estadual Leonardo da Vinci, e expostos nos moldes de uma 

exposição de museu itinerante.

A   confecção   do   vídeo   didático   tinha   por   finalidade   fazer   com   que   os 

educandos   realizassem   as   quatro   etapas   da   Educação   Patrimonial: 

observação, registro, exploração e apropriação.

Durante o período em que foi assistido o Vídeo, foram feitas as paradas 

necessárias para explicar e comentar com os alunos os fatos que envolviam o 

vídeo, em cada uma de suas etapas, ressaltando­se que os alunos ficaram 

atentos a todas as etapas do mesmo.

Na   primeira   etapa   que   consistente   em   observação,   os   educandos 

reconheceram colegas que apareceram nas filmagens,  identificaram objetos, 

momento este em que diziam: “este objeto tem lá na minha casa”, “a minha avó 

tem   um   ferro   de   passar   igual   a   esse”,   e   assim   por   diante.   Também 

questionavam sobre objetos que não conheciam e que passaram a conhecer. 

Aproveitando   o   momento   questionou­se   aos   educandos,   se   em   suas 

famílias se guardava algum objeto antigo ou bens que estes consideravam 

importantes. Entre várias respostas a mais relevante foi a de uma aluna que 

comentou que em sua família existe um bem (objeto) que eles consideram um 

patrimônio para a família e tem quase 70 anos, vai passando de geração em 

geração, e consiste em um par de brincos de ouro, que era da bisavó, passou 

para a avó, atualmente pertence a mãe da aluna e um dia a mãe passará para 

ela. 

Segundo a educanda Andressa Dias, o brinco  lembra muitas gerações 

(parentes antigos), tendo mencionado que a mãe comentou que aquele objeto 

vale muito mais que o dinheiro pode pagar: é uma riqueza familiar que guarda 

muitas lembranças.

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As palavras da educanda nos remetem ao ensinamento dos historiadores 

Pedro Paulo Funari e Sandra C. A. Pelegrini:

Hoje, quando falamos em patrimônio, duas idéias vêm a nossa mente.   Em   primeiro   lugar   pensamos   nos   bens   que transmitimos   aos   nossos   herdeiros   ­   e   que   podem   ser materiais, como uma casa ou uma jóia, com valor monetário determinado pelo mercado. Legamos, também, bens de pouco valor comercial,  mas de grande significado emocional,  como uma foto, um livro autografado ou uma imagem religiosa do nosso altar doméstico. Tudo isso pode ser mencionado em um testamento   e   constitui   o   patrimônio   do   indivíduo.   (FUNARI; PELEGRINE,, 2006, p. 9).

      Assim, os brincos de ouro que pertencem à família de Andressa Dias, 

representam um patrimônio   familiar   com valor   inestimável  e  que   foi   sendo 

passado de geração para geração.

 Após a etapa de observação do vídeo, passou­se a próxima etapa que 

consiste no Registro. Nesta etapa os educandos representaram o que viram no 

vídeo através de desenhos, sendo que estes desenhos foram os mais variados, 

alguns fizeram um ou dois desenhos, outros fizeram representações de vários 

objetos, e ainda teve aqueles que representaram seguindo praticamente toda a 

seqüência do vídeo  inclusive com cenas de pessoas utilizando os materiais 

utilizados na exposição em seu cotidiano.

A tarefa seguinte era escolher um objeto para a produção de um texto. A 

escolha foi  bem diversificada, sendo que os objetos mais escolhidos para o 

texto foram: ferro de passar; máquina de datilografar; ferramentas agrícolas, 

moedas, mas o que despertou o  interesse e a curiosidade foi  a Lousa que 

conta com mais de 70 anos, e era utilizada na escola pelos alunos quando não 

existiam cadernos, sendo que as crianças escreviam nos dois lados da lousa e 

após apagavam tudo para escrever novamente. 

Com a produção do texto concluída, fez­se um circulo com professor e 

alunos, comentando­se sobre vários objetos antigos que estes conheciam ou 

passaram a conhecer. A discussão contribuiu para a percepção da importância 

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que esses objetos tinham para o povo da época e também que são importantes 

para a História do presente. 

Foi possível perceber que o objetivo da atividade foi alcançado, os alunos 

comentaram que gostaram muito das aulas de História, pois, conheceram e 

aprenderam   muitas   coisas   que   desconheciam,   mencionando   que   as   aulas 

ficaram   mais   atrativas,   podendo­se   inclusive   constatar   que   alguns   alunos 

passaram a ter um sentimento de identidade com essa diversidade cultural.

Com a atividade de Exploração, os alunos pesquisaram sobre os objetos 

que haviam escolhido nas atividades anteriores, buscando maiores dados em 

livros,   internet   e   outros,   sendo   que   tiveram   acesso   as   mais   variadas 

informações,   prosseguindo­se   com   a   organização  de   um   seminário   com   a 

finalidade de ressaltar as diferenças entre o conhecimento que tinham e o que 

passaram a ter após a pesquisa e seminário.

Na aula seguinte passou­se a atividade de Apropriação. Em grupos os 

alunos   escreveram   pequenas   encenações   das   peças   de   teatro   sobre   os 

objetos   estudados,   foram   escritas   e   montadas   três   pequenas   encenações 

sobre  os  brinquedos,  o  uso das moedas e com os materiais  envolvendo a 

educação.

No   momento   das   encenações   sobre   os   objetos   estudados,   um   grupo 

optou   pelos   brinquedos   que   apareceram   no   vídeo,   de   modo   que   para   a 

realização do  teatro  que envolveu esses brinquedos,  precisou­se  retomar a 

exposição realizada no ano de 2008, quando havia sido iniciado o trabalho de 

coleta de objetos antigos, surgindo a oportunidade de realizar­se uma interação 

de disciplinas, na medida em que se aproveitou os brinquedos confeccionados 

pelos alunos orientados pela professora de Artes. 

Os educandos com ajuda dos pais estavam confeccionando brinquedos 

antigos para que os pais relembrassem sua infância e para que seus filhos 

aprendessem   um   pouco   sobre   as   brincadeiras,   diversões,   e   infância   dos 

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mesmos.

Também   foi   organizado   um   teatro   de   fantoches   intitulado   “Como 

Brincavam   Meus   Avôs”,   onde   os   alunos   fizeram   uma   pesquisa   sobre 

brinquedos  e  brincadeiras  da  época  de  avós.  Na  encenação,  os   fantoches 

(alunos)   conversavam   com   seus   avôs   sobre   os   brinquedos   antigos, 

questionando­os a respeito desses brinquedos: como eram adquiridos? De que 

maneira brincavam? Como eram fabricados?

As crianças ficaram maravilhadas com o teatro, pois além de perceber as 

diferenças   do   jeito   de   brincar,   e   se   divertir   de   antigamente   com   o   agora, 

puderam brincar e experimentar sensações desconhecidas até então.

A outra encenação foi sobre o tema Educação com o título: “A Escola de 

Meus Avôs”, onde os alunos representaram como era a escola no tempo de 

seus avôs, enfatizando que naquela época não existiam cadernos e os que 

tinham eram costurados a mão e usados somente para fazer avaliações. 

Os alunos se utilizaram de folhas de cadernos e com o auxilio de seus 

pais costuraram as mesmas. Depois levaram para a escola onde encenaram a 

“educação brincando de escolinha”; alguns usavam os cadernos costurados, 

outros os livros antigos e também a lousa, pequeno objeto do tamanho de uma 

folha de papel pequena, onde se escrevia e após apagava­se para que fosse 

possível escrever novamente.

O teatro encenando a educação de seus avôs foi o mais admirado pelo 

grupo, pois perceberam as dificuldades de se estudar quando não havia livros, 

cadernos, canetas, lápis, e outros objetos que são tão familiares aos mesmos, 

mas que antepassados não conheceram quando estudaram.

A  terceira  encenação   foi   feita  por  um grupo  que  optou  pelas  moedas 

antigas, representando a peça “O Comércio”. Na encenação os pais pediram 

aos   filhos   que   fossem   até   o   armazém   comprar   mantimentos   para   o   uso 

cotidiano, como alimentos e outros. Destacou­se na apresentação o tempo em 

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que os produtos eram vendidos a granel, e, pesados na hora na presença do 

freguês, em balanças muito diferentes das que conheciam. Também se usaram 

da matemática fazendo contas do dinheiro que levaram, de quanto gastaram e 

o que sobrou.

Depois das apresentações, pediu­se aos alunos que escrevessem o que 

aprenderam   com   as   peças   teatrais   apresentadas,   se   gostaram   e   o   que 

pensavam   a   respeito   dos   objetos   antigos   que   conheceram   bem   como   a 

maneira que vivia as pessoas que se utilizavam deles. 

As   respostas   foram   as   mais   diversas,   porém   percebeu­se   que   todos 

entenderam, e aprenderam o sentido e a importância de conhecer e preservar 

os objetos antigos que pertenceram às suas famílias, bem como a necessidade 

de preservar a cultura e o Patrimônio Cultural de um povo. 

Da Educação Patrimonial,  ressalta­se que foi possível perceber através 

dos relatos dos alunos, o valor que descobriram no ato de estudar História, e 

que esta disciplina representa para os mesmos algo de grande significado, pois 

é através da História que entendemos a vida.

A seguir transcreve­se o relato do texto da aluna Kamile A. Freitas que 

vem representar o que significou este estudo:

Antes eu achava que estudar História era a coisa mais chata que havia, e que todas as coisas velhas deveriam ser jogadas fora.   Agora   compreendo   e   amo   estudar   História.   Conhecer objetos   que   eu   nem   imaginava   que   existiram   foi   muito importante,   até   pergunto   para   outras   pessoas   se   eles   tem objetos antigos, pois estou sempre curiosa em conhecer mais, pena que em nossa cidade não exista museu. Também falo para estas pessoas que a gente deve guardar estes bens que são muito valiosos,  e que nunca devemos esquecer nossos costumes e valores. (Kamile A. Freitas).

Seguindo­se com a seqüência de atividades envolvendo o vídeo, chegou­

se a atividade 05,  na qual  os educandos deveriam responder  as seguintes 

questões: “Será  que o pesquisador da História/o historiador para escrever a 

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respeito   dos   temas   que   estudamos   na   disciplina   de   História   faz   estes 

exercícios que fizemos? Como se escreve a História?

As   respostas   foram   unânimes   em   responder   que   sim,   e   muito 

responderam que os historiadores fazem, além disso, muito mais, porque eles 

precisam   ler,   analisar,   compreender,   para   realmente   saber   sobre   os 

acontecimentos passados.

  Com relação à pergunta: “como se escreve a História?”, foram obtidas 

respostas   como:   “com   o   uso   dos   documentos   escritos,   não   escritos, 

testemunhos orais, pesquisas e outros”.

Usando­se o conteúdo do livro didático procurou­se esclarecer um pouco 

mais sobre esse assunto, enfatizando que os historiadores procuram descobrir 

o  que   realmente  aconteceu  no  passado  e   tentam explicar  os  motivos  que 

levaram a vida de homens e mulheres a mudar  tantas vezes ao  longo dos 

séculos. 

Os historiadores criam perguntas, indagações para eles mesmos tentaram 

responder   e   assim   compreender   melhor   o   passado   de   uma   comunidade, 

sociedade e do mundo. Os historiadores precisam trabalhar como um detetive 

que precisa através de testemunhos orais e materiais, recontarem uma cena da 

qual ele não participou. 

Em seu estudo, os historiadores utilizam diferentes tipos de documentos 

(fontes  históricas),  que podem ser  escritos,   iconográficos,  orais  e  materiais 

entre  outras.  A análise  das  fontes históricas envolve além do historiador,  o 

trabalho de arqueólogos e paleontólogos. 

  Portanto  a  História  está   constantemente  sendo  reelaborada,  pois  sua 

interpretação depende de quem a interpreta, das fontes consultadas e da forma 

como a fonte é analisada.

Após análise e compreensão das fontes selecionados os profissionais da 

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pesquisa discutem o significado dessas mudanças e permanências, bem como 

suas relações com o modo de vida dos seres humanos atuais, não esquecendo 

que as interpretações dos fatos históricos dependem da realidade na qual os 

historiadores estão inseridos e de sua visão de mundo.  

          Para finalizar as atividades referentes ao vídeo didático, utilizou­se 

o texto: ”Trecho do Livro Política, século IV a.C.” de Aristóteles extraído do livro 

didático: História Hoje, de Oldimar Pontes Cardoso, pg. 100. 

No texto, Aristóteles fala da importância do planejamento na construção 

das cidades gregas. Segundo ele, a cidade deve estar ligada ao interior, o mar 

e todo seu território. Deve ser erguida num local onde seja protegida de ventos 

e frio e que dificulte o ataque de inimigos e, antes de tudo, que tenha águas ou 

cisternas para armazená­las.

Após a leitura do trecho indagou­se aos alunos: “como você imagina que 

alguém tenha escrito tal História?”

As respostas foram praticamente as mesmas da atividade 05:   através 

observações, de pesquisa, de fatos narrados e escritos, ainda segundo eles, 

Aristóteles  pesquisou sobre  a  cidade  e   fez  análise  dos   lugares  para  saber 

como ela deveria ser construída.

O objetivo dessa atividade era fazê­los perceber que o texto de Aristóteles 

é um Documento, ou seja, uma fonte histórica, deixada por esse filósofo que 

viveu em tempos passados e que é  por meio desses documentos históricos 

que o historiador aprende sobre o passado, produz um conhecimento histórico, 

e  escreve a História  sobre um passado que ele   investigou,  pois  uma fonte 

histórica torna­se um documento a partir do momento em que o historiador o 

estuda.

Precisou­se   retomar   constantemente   com   os   alunos,   como   se   dá   a 

produção do conhecimento; ou seja, como ele é produzido a partir do trabalho 

de um pesquisador que tem como objeto de estudo, as ações e as relações 

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humanas praticadas no  tempo, bem como os sentidos que os sujeitos  lhes 

deram, de modo consciente ou não.

Para estudar   as   ações   e   relações   humanas,   o   historiador   adota   um 

método de pesquisa de forma que possa problematizar o passado e buscar, 

por meio de documentos e perguntas, respostas às suas indagações. A partir 

disso, o pesquisador produz uma narrativa histórica cujo desafio é contemplar a 

diversidade das experiências políticas, econômicas, sociais e culturais.

Para a produção do conhecimento histórico, é  essencial  que os alunos 

compreendam as diferentes   interpretações de um mesmo acontecimento,  a 

necessidade   de   ampliar   o   universo  de   consultas   para   entender   melhor   os 

diferentes contextos e a importância do trabalho do historiador e da produção 

do conhecimento histórico para a compreensão do passado e as interferências 

presentes e futuras.

Neste contexto, o projeto conseguiu realizar com êxito seu objetivo, na 

medida em que tornou as aulas de História mais atrativas e conseguiu atrair a 

atenção   dos   alunos,   fazendo­os   compreender   o   significado   de   patrimônio 

cultural, memória e História. 

CONCLUSÃO

Para que os alunos fossem capazes de elaborar um conceito de História, 

memória e patrimônio cultural trabalhou­se durante alguns meses, construindo 

um acervo documental,  partindo da coleta de materiais diversos,  feita pelos 

educandos   juntamente   com   a   professora.   Coletaram­se   além   de   objetos, 

também testemunhos da História das famílias de Dois Vizinhos. 

A seguir montou­se uma exposição nos moldes de um museu itinerante 

aberto à visitação e produziu­se um vídeo que foi disponibilizado como material 

didático para que educadores e outras turmas possam trabalhar com o mesmo. 

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Os alunos envolveram­se na pesquisa, bem como em todos os passos do 

trabalho. O interesse deles foi visível e percebeu­se que ao construírem este 

material sentiram­se realizados.

O  trabalho   foi   fundamentado   teoricamente  em diversos historiadores  o 

que possibilitou a construção da relação entre a teoria e a prática.

Portanto,   o   objetivo   do   trabalho   foi   alcançado,   proporcionando   aos 

educandos a apropriação dos conceitos tratados nesse artigo. O envolvimento 

dos alunos contribuiu para que eles compreendessem a importância do ensino 

da disciplina de História, valorizassem as memórias dos antepassados, bem 

como seus objetos e a importância que estes tiveram na vida dessas pessoas, 

conseqüentemente, proporcionando às crianças a valorização e o respeito pelo 

patrimônio cultural, pela memória e pela História.

Referências Bibliográficas 

ANAIS DO MUSEU PAULISTA:  História e Cultura Material.  Vol.  10/11, São Paulo: 2002/2003.

BURKE, Peter. (org.).  A escrita da história:  novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.

CERTEAU,  Michel.  A escrita  da história.  2ª  ed.,  Rio  de  Janeiro:  Forense Universitária, 2002.

CHARTIER, Roger. Estratégias e táticas. De Certeau e as “artes de fazer”. In: A beira da falésia: entre inquietudes e incertezas. Porto Alegre: UFRGS, 2002.

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FUNARI,  Pedro Paulo;  PELEGRINI,  Sandra,  C.,  A.  Patrimônio  histórico  e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte.16ª ed., Rio de Janeiro: LTC, 2006.

HORTA,   Maria   de   Lourdes   Parreira.   et   alli.  Guia   Básico   de   Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN/ Museu Imperial, 1999.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª ed. São Paulo: Unicamp, 2003.

LEITE,  Maria   Isabel.  Crianças,  velhos  e  museu:  memória  e  descoberta. Caderno Cedes. Vol. 26, n. 68, p. 74­85, São Paulo: Unicamp, 2006. 

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MENESES,   Ulpiano   T.   Bezerra.   Memória   e   cultura   material:   documentos pessoais no espaço público.   Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.11, n.21, 1998.______.   Do   teatro   da   memória   ao   laboratório   da   História:   a   exposição museológica e o conhecimento histórico. Debates.  Anais do Museu Paulista.  História e Cultura Material, vol. 3, p. 103­126, 1994.

MORAES,   Allana   Pessanha   de.  Educação   patrimonial   nas   escolas: aprendendo   a   resgatar   o   patrimônio   cultural.   Disponível   em: <http://www.cereja.org.br/arquivos_upluad/allanapmoraes_educ_patrimonial.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2008.

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SOARES,  André  Luis  Ramos.  Educação patrimonial:  teoria  e  prática.  Rio Grande do Sul: UFSM, 2007. 

 OJEDA, Janine. Homem e realidade:  o processo embrionário da criação dos museus. Disponível em: <http://www.revitamuseu.com.com.br/artigos/art_.asp?id=1111>. Acesso em: 12 mai. 2008.

OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. O Museu Paulista da USP e a memória da Independência. Cadernos CEDES, vol. 22, n. 58, 2002.