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  • Universidade do Algarve

    Faculdade de Cincias e Tecnologia

    Estudos de Reactividade em derivados de Compostos

    Heterocclicos

    Dissertao para a obteno do grau de Mestre em Qumica

    Especializao em Qumica Orgnica

    Daniela Veloso Coelho

    Faro

    2008

  • ii

    Nome: Daniela Veloso Coelho

    Departamento: Departamento de Qumica e Bioqumica

    Orientador: Professora Doutora Maria de Lurdes Cristiano

    Data: 14 de Fevereiro de 2008

    Ttulo da dissertao: Estudos de Reactividade em derivados de Compostos

    Heterocclicos

    Jri:

    Presidente: Doutor Wenli Wang

    Vogais: Doutor Anthony Joseph Burke

    Doutora Maria de Lurdes Cristiano

  • iii

    Dedicado:

    Aos meus pais

  • iv

    Agradecimentos

    Desejo agradecer minha orientadora, Professora Maria de Lurdes Cristiano,

    por todo o apoio e disponibilidade ao longo deste projecto de mestrado. O meu muito

    obrigado, por todos conhecimentos cientficos que me transmitiu.

    O meu sincero agradecimento a todos os docentes do Departamento de Qumica

    e Bioqumica da F.C.T. da Universidade do Algarve, pela disponibilidade e por todos os

    conhecimentos transmitidos.

    Ao Departamento de Qumica da Universidade de Liverpool, pelos espectros de

    massa, RMN e anlise elementais gentilmente fornecidos.

    No posso deixar de agradecer a todos os meus colegas de laboratrio e de

    mestrado, Nuna, Bruna, Llia, Lus, Emanuel, Rui, Andreia e Marta.

    A todos os meus amigos o meu muito obrigado!

    minha famlia, em especial minha tia Carmencita, agradeo todas as palavras

    de apoio e todo o carinho.

    Aos meus pais, a quem devo tudo o que sou, agradeo o apoio, o carinho, o

    esforo, as palavras de encorajamento e o amor que sempre me deram durante todos

    estes anos.

  • v

    Ao Francisco agradeo todo o amor, compreenso e carinho manifestados ao

    longo destes ltimos anos. Obrigado por tudo!

  • vi

    Resumo

    Os lcoois allicos so bastante abundantes na natureza, estando presentes em

    vrios sistemas biolgicos. So ainda intermedirios importantes na sntese de vrios

    tipos de compostos com, um vasto leque de aplicaes.

    Neste projecto de investigao, procedeu-se modificao qumica do lcool

    allico natural nerol, atravs da sua converso em ter de tetrazol e de benzisotiazol,

    dois sistemas heteroaromticos. O principal objectivo incidiu na elucidao mecanstica

    das isomerizaes trmicas dos correspondentes teres. Este lcool inclui na sua

    estrutura duas insaturaes, o que faz com que os correspondentes teres possuam um

    sistema alilvinlico que possibilita uma isomerizao do tipo Claisen e um sistema

    1,5- dieno que torna possvel uma isomerizao trmica do tipo Cope.

    No decorrer deste trabalho de investigao, foi ainda feita uma anlise detalhada

    dos padres de fragmentao de uma srie de teres allicos e benzlicos de

    benzisotiazol por espectrometria de massa.

    Estudos precedentes da fotoqumica de 4-aliltetrazolonas e o conhecimento da

    aplicao de derivados allicos de benzisotiazol no controlo de pragas nas plantaes de

    arroz no Japo, China e Coreia do Sul, estiveram na base de uma investigao da

    fotoqumica de derivados allicos de 1,2-benzisotiazol-1,1-dixido.

    Palavras chave: Tetrazis, benzisotiazis, lcoois allicos, isomerizaes de

    Claisen, reaces de fotoclivagem e espectrometria de massa.

  • vii

    Abstract

    Compounds bearing an allylic alcohol function are often vital structural units of

    biologically active systems, and have attracted widespread attention as key

    intermediates for the synthesis of various types of compounds with a variety of

    important applications.

    In the present investigation, the natural allylic alcohol nerol was converted to the

    corresponding tetrazolyl and saccharyl ethers by direct reaction with 5-chloro-1-

    phenyltetrazole and 3-chloro-1,2-benzisothiazole. The aim was to elucidate the

    mechanism of the thermal isomerisation of this ethers, which include an allyl vinyl

    system prone to Claisen type isomerisation and a 1,5-diene prone to Cope type

    rearrangement.

    During the course of this work the fragmentation pathways for allyloxytetrazoles

    and allyloxy and benziloxy-benzisothiazoles obtain by mass spectrometry were studied.

    Previous studies related with the photochemical pathways for degradation of 4-

    allyltetrazolones and the knowledge of the application of allyloxipseudosacharins in rice

    blast control in Japan, China and South Chorea, motivate the study of photochemistry of

    allylic derivates of benzisothiazole.

    Key Words: Tetrazoles, benzisothiazoles, allyl alcohols, Claisen isomerisations,

    photocleavage reactions, mass spectrometry.

  • viii

    ndice

    Resumo vi

    Abstract vii

    1. Introduo 1

    1.1.- Importncia dos derivados tetrazollicos 4

    1.2.- Importncia dos derivados de benzisotiazol 7

    1.3.- Sntese e aplicaes de teres de tetrazol e benzisotiazol 7

    1.4.- Isomerizaes trmicas em derivados allicos dos heteroaromticos

    de benzisotiazol e de tetrazol 10

    1.5.- Rearranjo de Claisen e de Cope 14

    1.6.- Fotoqumica de 1,2-benzisotiazois e 1,2-benzisotiazol-1,1-dixidos 18

    1.7.- Suportes slidos 24

    1.7.1.- Slica 26

    1.7.2.- Celulose 28

    1.8.- Princpios bsicos de fotoqumica 31

    2. Apresentao e discusso dos resultados 39

    2.1.- Metodologia utilizada na sntese dos teres allicos de 1,2-

    -benzisotiazol-1,1-dixido e de 1-feniltetrazol 40

    2.2.- Caracterizao dos teres allicos de tetrazol e de benzisotiazol

    derivados do nerol 55

  • ix

    2.2.1.- Caracterizao por Ressonncia Magntica Nuclear (RMN) 55

    2.2.1.1.- Anlise do espectro de 1H-RMN do derivado allico de

    Tetrazol 55

    2.2.1.2.- Anlise do espectro de 1H-RMN do derivado allico de

    Benzisotiazol 62

    2.2.2- Caracterizao por espectrometria de massa 71

    2.2.2.1- Padro de fragmentao dos derivados O- nerollicos e

    N- nerollicos de tetrazol 75

    2.2.2.2- Padro de fragmentao do derivado O- nerollico e N- nerollico

    de benzisotiazol 81

    2.3.- Estudo dos mecanismos de degradao por espectrometria de massa

    de teres allicos e benzlicos de benzisotiazol 87

    2.3.1- Principais caminhos de fragmentao de teres allicos de

    Benzisotiazol 87

    2.3.2- Principais caminhos de fragmentao de teres benzlicos de

    Benzisotiazol 99

    2.3.3.- Paralelismo entre os padres de fragmentao dos teres allicos e

    benzlicos de benzisotiazol 109

    2.4.- Estudo da fotoqumica de derivados allicos de benzisotiazol 112

    2.4.1.- Espectroscopia de absoro de ultravioleta-vsivel dos compostos

    Fotolisados 113

    2.4.2.- Estudo da fotlise dos derivados allicos de benzisotiazol 115

    2.4.2.1.- Estudos fotoqumicos em soluo 115

    2.4.2.2.- Estudos efectuados em matriz de slica e de celulose 119

  • x

    3. Concluses 126

    4. Parte experimental 128

    4.1- Descrio dos procedimentos de sntese 130

    4.1.1.- Sntese de 3-cloro-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido (cloreto de

    pseudo-sacarina) 130

    4.1.2.- Sntese de 5-(3,7-dimetil-octa-2,6-dienoxi)-1-fenil-1H-tetrazol 130

    4.1.3.- Sntese de 3-(2-propenil-1-oxi)-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido 132

    4.1.4.- Sntese do ter 3-(2-butenil-1-oxi)-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido 133

    4.1.5.- Sntese do ter 3-(E-3-fenil-2-propenil-1-oxi)-1,2-benzisotiazol-

    -1,1-dixido 133

    4.1.6.- Sntese de 3-(cis-3,7-Dimetil-2,6-octadieno-1-oxi)-1,2-

    benzisotiazol-1,1-dixido 134

    4.1.7.- Sntese de 3-Metoxi-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido 135

    4.1.8- Rearranjo trmico dos teres allicos de tetrazol e de benzisotiazol

    derivados do lcool natural nerol 136

    4.2.- Estudo da fotoqumica dos teres allicos de benzisotiazol em soluo 136

    4.2.1.- Preparao das solues e subsequente estudo por espectroscopia

    de ultravioleta-vsivel 136

    4.2.2.- Irradiao e anlise das solues por HPLC 137

    4.2.3.- Preparao das amostras em suportes slidos 138

    4.2.3.1- Deposio dos compostos em slica 138

    4.2.3.2.- Deposio dos compostos em celulose microcristalina 138

    4.2.4.- Irradiao e anlise das amostras depositadas em slica e em celulose 138

  • xi

    4.2.5- Identificao dos fotoprodutos obtidos por irradiao das amostras

    em soluo e em matrizes slidas 139

    5. Bibliografia 140

    6. Anexos

    7. Glossrio

  • Introduo

  • Introduo

    1. Introduo Os lcoois allicos so dos intermedirios mais versteis em sntese orgnica1.

    Devido ao interesse que estes compostos suscitam como sintes, muitos qumicos tm

    explorado uma variedade de caminhos para a construo desta subunidade. Inmeros

    lcoois allicos quirais e aquirais, tm sido utilizados na sntese de outros precursores

    bastante teis, incluindo epxidos, ciclopropanos e diis insaturados2.

    Um exemplo de um processo qumico baseado na reactividade de lcoois allicos

    a epoxidao de Sharpless* (Esquema 1). Nesta reaco os lcoois allicos so

    convertidos em epxidos opticamente activos, com um excesso enanteomrico superior

    a 90%, por oxidao com t-BuOOH, na presena de tetraisopropxido de titneo,

    Ti(OiPr)4, e de um ligando quiral dietil tartrato, L-(+)-DET e D-(-)-DET. Como a

    oxidao estereoespecfica nas condies referidas, qualquer um dos enantemeros do

    produto pode ser preparado, dependendo da forma enanteomrica do ligando utilizado3.

    *Barry Sharpless foi premiado com o Prmio Nobel da Qumica em 2001, prmio este repartido com

    Willian S. Kowles e Ryoji Noyori pelos seus avanos e desenvolvimentos de processos catalticos para aplicao em

    estratgias de sntese assimtrica. As descobertas destes trs qumicos tiveram um grande impacto, tanto ao nvel da

    investigao cientfica como na aplicao das novas metodologias na indstria farmacutica, pois possibilitaram o

    desenvolvimento de frmacos e outras substncias biologicamente activas com pureza enanteomrica.

  • Introduo

    2

    OH

    t-BuOOH

    Ti(Oi-Pr)4

    OH

    O

    CO2Et

    EtO2C

    OH

    OHL-(+)-DET

    85% rendimento94% ee

    L-(+)-dietil tartrato

    Esquema 1

    Os lcoois allicos entram na constituio de muitos leos essenciais, que

    ocupam um lugar preponderante nas indstrias farmacuticas, agro-alimentares e de

    cosmticos. So largamente utilizados para conferir aromas especiais em inmeros

    produtos, tais como perfumes, cosmticos, sabonetes, condimentos, entre outros. O leo

    essencial da espcie Aniba duckei kostermans caracterizado pelo forte odor, sendo

    normalmente utilizado por populaes locais da Amaznia no tratamento de doenas

    reumticas. Na indstria cosmtica utilizado principalmente, na produo de

    perfumes, tendo como principal constituinte o linalol, um monoterpeno alcolico

    tercirio de cadeia aberta4 (Figura 1). Outro leo essencial que entra na constituio das

    fragrncias caractersticas dos perfumes o nerol (Figura 1), constituinte do leo de

    rosas5 a que iremos dar particular nfase neste trabalho.

    OH

    CH2OH

    L inalol Nerol

    Figura 1. Estrutura do linalol e do nerol

  • Introduo

    3

    A nvel farmacolgico, vrios so os frmacos que possuem na sua constituio

    a funo lcool allico e que despertam interesse devido s suas propriedades

    fisiolgicas. Dois exemplos importantes so a Pravastina e o Calcipotriol, princpios

    activos nas formulaes comercializadas sob a designao de Pravacholfi e Dovonexfi ,

    respectivamente (Figura 2).

    Pravastina Calcipotriol

    Figura 2. Exemplos de frmacos que incluem na sua constituio a funo

    lcool allico.

    A Pravastina (Pravacholfi ) um inibidor da HMG-CoA redutase, enzima que

    catalisa o passo determinante na sntese de colesterol no fgado, sendo deste modo

    administrada para diminuir os nveis de colesterol no sangue em pacientes com ou em

    risco de ter doenas cardiovasculares. O Calcipotriol (Dovonexfi), um anlogo da

    vitamina D, foi aprovado como tratamento tpico da psorase em 1994 6.

    A abundncia dos lcoois allicos na natureza, o seu vasto leque de aplicaes

    industriais, a sua versatilidade em qumica orgnica sinttica e o interesse que suscitam

    no meio acadmico no que respeita sua estrutura e reactividade, so as razes que

    motivam a investigao levada a cabo no grupo de sntese e reactividade orgnica do

  • Introduo

    4

    Departamento de Qumica e Bioqumica da Faculdade de Cincias e Tecnologia da

    Universidade do Algarve, em que me encontro inserida.

    No mbito do meu projecto de mestrado, realizei trabalho experimental com o

    intuito de elucidar aspectos mecansticos da isomerizao trmica de teres allicos de

    tetrazol e de benzisotiazol derivados do lcool natural nerol. Numa segunda fase do

    trabalho, foi efectuada a sntese de uma srie de teres de benzisotiazol devidamente

    caracterizados e investigada a fotoqumica destes em soluo e em suportes slidos.

    1.1- Importncia dos derivados tetrazollicos

    Os sistemas tetrazollicos tm despertado particular interesse devido s suas

    inmeras aplicaes prticas, como por exemplo em medicina. A maioria destas

    aplicaes est relacionada com as propriedades cido/base do anel heterocclico

    -CN4H, que apresenta uma acidez semelhante do grupo cido carboxlico COOH,

    sendo quase isostrico com este, mas metabolicamente mais estvel a pH fisiolgico.

    Este facto est na base da substituio do grupo COOH pelo grupo CN4H em

    molculas biologicamente activas com aplicaes em reas de investigao de interesse

    relevante7. Um exemplo o farmacforo Losartan (1), que possui na sua constituio

    um grupo tetrazollico substituto do grupo carboxlico do Exp7711 (2). Estes frmacos

    pertencentem classe dos antagonistas dos receptores da angiotensina II, sendo

    indicados no tratamento da hipertenso arterial7,8.

  • Introduo

    5

    N

    N

    Cl

    OH

    NN

    NNH

    N

    N

    Cl

    OH

    O

    OH

    (1) (2)

    Figura 3. Representao dos farmacforos acdicos do Losartan e do Exp7711.

    A substituio bioisostrica da funo carboxilo pela tetrazolilo, estende-se

    sntese de novos frmacos no combate malria, como o caso do cido 6-[2-(3-metil)-

    1,4-naftoquinolil]hexanico (3, Figura 4), que um potencial inibidor da enzima GR

    (Glutationa redutase) do Plasmodium Falciparum. Esta permuta de grupos funcionais

    permitiu aumentar a biodisponibilidade do frmaco mantendo uma acidez semelhante

    mas melhorando as suas propriedades antimalricas9.

    O

    O

    COOH

    O

    O

    N

    N

    NHN

    nn

    (4) (3)

    Figura 4. Exemplo de substituio da funo carboxlo pelo grupo tetrazolilo na

    sntese de frmacos com actividade antimalrica.

    Na continuao de diversos estudos anteriormente efectuados na sntese de

    antimalricos por parte de elementos do nosso grupo de trabalho, e tendo por base o

    conhecimento das caractersticas fsico-qumicas do anel de tetrazol, encontra-se neste

  • Introduo

    6

    momento a decorrer uma investigao que tem como principal objectivo, a substituio

    de outros grupos acdicos em molculas com actividade antimalrica por grupos

    tetrazollicos. De entre os substratos que se pretende modificar encontram-se as

    fluorometilcetonas (5, Figura 5) e as vinil sulfonas peptdicas (6, Figura 5), que so

    potentes inibidores da enzima falcipain-2, uma enzima do Plasmodium pertencente

    classe das proteases cistenicas e que assume um papel fundamental para a

    sobrevivncia do parasita, uma vez que actua numa estapa crucial da degradao da

    hemoglobina. As fluorometilcetonas e as vinilsulfonas 8 e 9 conduziram a excelentes

    resultados in vivo contra o parasita da malria10,11.

    ON N

    H

    HN F

    O

    O

    O NN N

    H

    HN S

    O

    O

    O

    O

    R

    R=PhR=Naftil

    (5) (6)

    Figura 5. Inibidores da enzima Falcipain-2.

    Alm das utilizaes referidas, os tetrazis so ainda usados em frmacos para o

    tratamento do cancro12, mostraram actividade contra o vrus HIV13, actividade

    analgsica14 e antituberculosa15. A relevncia econmica dos derivados de tetrazol

    estende-se a outras reas tais como a agricultura, onde so utilizados com herbicidas e

    fungicidas16, em sistemas fotolitogrficos17 e como agentes geradores de gs em

    airbags18.

  • Introduo

    7

    1.2- Importncia dos derivados de benzisotiazol

    A sacarina (1,2-benzisotiazol-3-ona 1,1-dixido) o adoante artificial mais

    antigo e tem sido frequentemente utilizada como um componente chave em muitos

    compostos biologicamente activos. um composto relativamente barato, sendo muito

    verstil como material de partida para a sntese de diversos derivados heterocclicos19.

    As caractersticas do anel benzisotiazollico tm despertado particular interesse

    em diferentes reas, nomeadamente na medicina, onde se conhece a sua actividade

    como antiagregante plaquetrio (activo no tratamento e preveno de tromboses) 20,

    antagonista do Ca2+ (activo no tratamento da hipertenso) 21 e ainda actividade

    antifngica, antibacteriana22, antipsictica23 e anti-inflamatria24,25.

    H ainda a referncia da utilizao destes compostos na agricultura, no combate

    a pragas26, como iremos mencionar mais frente na introduo.

    1.3- Sntese e aplicaes de teres de tetrazol e benzisotiazol

    Nos ltimos anos tm-se desenvolvido metodologias para a modificao qumica

    de lcoois allicos27, de lcoois benzlicos28 e arlicos29, atravs da sua converso em

    teres de tetrazol e de benzisotiazol, recorrendo ao cloreto de pseudo-sacarina e ao

    cloreto de tetrazol como agentes derivatizantes (Figura 6).

  • Introduo

    8

    SO2

    N

    O R

    (7)

    N

    N N

    N

    OR

    (8)

    Figura 6. (7)-ter de pseudo-sacarina; (8)-ter de tetrazol.

    A converso dos lcoois nos correspondentes teres conduz ao enfraquecimento

    da ligao R-OH (Figura 7), tornando esta quimicamente mais susceptvel em reaces

    de clivagem redutiva, tais como a hidrogenlise na presena de um dador de hidrognio

    catalisada por paldio sobre carvo activado28,29 ou em reaces de cross-coupling

    com reagentes organometlicos29,30.

    Neste tipo de reaces de ipso-substituio, o grupo heteroaromtico do agente

    derivatizante juntamente com o oxignio proveniente do lcool (O-R), constituem

    excelentes grupos abandonantes (nuclefugos). A forte electronegatividade dos anis

    heteroaromticos de tetrazol e de benzisotiazol, desvia a densidade electrnica da

    ligao inicial R-OH para a nova ligao RO-R, sendo solveis em gua e facilmente

    separados dos produtos desejados por extraco.

    R-OH + R-Cl R-O-R

    Em que R = alil, benzil, aril e R =

    N

    N N

    N

    Ph

    ; SO2

    N

    .

    Figura 7. Representao esquemtica da converso de lcoois a teres de

    tetrazol e de benzisotiazol.

  • Introduo

    9

    No caso especfico dos teres allicos de tetrazol, a clivagem redutiva da ligao

    C-O pode ser efectuada selectivamente em condies experimentais controladas,

    originando os correspondentes alquenos31. Nestes teres alil vinlicos, a hidrogenlise

    cataltica compete com a migrao do grupo allico de O- para N- que origina as

    correspondentes N-aliltetrazolonas (Figura 8).

    NN

    N N

    O

    RAr

    Processo trmico

    NN

    N N

    O

    ArR

    NN

    N NH

    O

    Ar

    R

    No ocorrehidrogenlise

    HidrogenlisePd / dador de hidrognio

    Figura 8: Hidrogenlise de teres allicos de tetrazol e migrao competitiva do

    grupo allico de O- para N-, dando origem s correspondentes N- aliltetrazolonas.

    Os compostos N-allicos rearranjados so estveis nas condies de

    hidrogenlise que conduz rpida clivagem dos seus ismeros O-allicos. Tal como em

    rearranjos de Cope e Claisen, que se sabe serem catalisados por metais de transio, foi

    demonstrado que o rearranjo dos teres aliltetrazollicos cerca de 3 vezes mais rpido

    na presena de paldio, do que na sua ausncia. O interesse no estudo mecanstico do

    rearranjo trmico destes compostos, foi motivado pela sua potencial importncia para a

    sntese de novas ureias, com aplicaes como herbicidas e em qumica teraputica32.

  • Introduo

    10

    A estrutura dos teres no estado fundamental pode estar directamente

    correlacionado com a sua reactividade e muitas vezes utilizada para prever e

    interpretar o decorrer da reaco. O efeito da parte heterocclica no enfraquecimento da

    ligao C-O do lcool original, nos teres allicos27, benzlicos28 e arlicos29, tem sido

    aferido atravs da anlise estrutural obtida por cristalografia de raio-X27,28,33.

    1.4.- Isomerizaes trmicas em derivados allicos dos heteroaromticos de

    benzisotiazol e de tetrazol

    Foi demonstrado que a isomerizao trmica de 5-aliloxi-1-ariltetrazois ocorre

    exclusivamente atravs de um processo [3,3]-sigmatrpico e de forma intra-molecular34

    (Figura 9).

    N

    N N

    N

    O

    RN

    N N

    N

    O

    R

    Figura 9: Isomerizao trmica [3,3]-sigmatrpica de teres allicos de tetrazol

    Com base em estudos cinticos foi possvel determinar os parmetros

    termodinmicos de activao H#, S#, G#, para esta reaco de isomerizao. Os

    resultados sugerem que o mecanismo da reaco, envolve a formao de um estado de

    transio concertado, semelhante ao proposto para as isomerizaes de Claisen, com

    uma carga parcial negativa localizada no sistema heteroaromtico e uma carga parcial

  • Introduo

    11

    positiva no grupo allico, que migra do tomo de oxignio para o tomo de nitrognio

    (9). A formao de um estado de transio concertado justifica os valores negativos

    obtidos para a entropia de activao na isomerizao trmica de uma srie de teres

    allicos de tetrazol.32

    N N

    NN

    O

    R

    (9)

    O estudo mecanstico da isomerizao trmica de derivados de benzisotiazol

    revelou que, ao contrrio dos seus homlogos de tetrazol, originam os produtos das

    migraes [3,3]- e [1,3]-sigmatrpicos (Figura 10).

    SO2

    N

    O

    R

    SO2

    N

    O

    (10)

    (11)

    R

    SO2

    N

    O

    R

    SO2

    N

    O

    R

    Figura 10. Compostos obtidos por isomerizao trmica de 3-

    aliloxibenzisotiazois: rearranjos [3,3]-sigmatrpico (10) e [1,3]-sigmatrpico (11).

  • Introduo

    12

    Verificou-se experimentalmente que a proporo dos produtos resultantes dos

    processos [3,3]- e [1,3]-sigmatrpico depende da temperatura, do tempo de reaco e

    da polaridade relativa do meio reaccional. Estendendo o tempo de aquecimento destes

    teres, verificou-se uma reduo gradual da percentagem do ismero resultante do

    processo [3,3]-sigmatrpico e um aumento do ismero proveniente do processo [1,3]-

    sigmatrpico, sendo este ltimo termodinamicamente mais estvel, por outras palavras,

    resulta de um controlo termoqumico. Em termos mecansticos podemos assumir a

    possibilidade de dois processos pericclicos concorrentes, em que s o processo [3,3]-

    sigmatrpico permitido pelas regras de Woodward-Hoffmann, sendo o processo

    [1,3]-sigmatrpico proibido. No entanto, possvel que este processo proibido ocorra

    atravs de um mecanismo pseudopericclico, similar ao proposto para o rearranjo

    observado em steres allicos35. No est excluda a possibilidade de o processo ocorrer

    atravs de um mecanismo de fragmentao-recombinao, uma vez que h dados

    experimentais que indicam que o rearranjo [1,3]-sigmatrpico ocorre mais rapidamente

    em meios mais polares36. Um mecanismo de fragmentao-recombinao envolve uma

    separao de cargas, pelo que em solventes polares estas so estabilizadas de forma

    mais eficiente.

    Como j referido anteriormente, um dos objectivos principais do projecto, a

    elucidao macanstica da isomerizao trmica destes teres allicos recorrendo a uma

    pequena alterao no sistema em estudo ou seja, sero investigados os efeitos estruturais

    sintetizando teres de sacarina e de tetrazol em que o lcool a derivatizar possua uma

    segunda ligao dupla na sua estrutura, tendo sido utilizado o nerol. A derivatizao e

    subsequente estudo da isomerizao deste lcool suscita particular interesse do ponto de

    vista sinttico e mecanstico, uma vez que os teres resultantes possuem na sua

    estrutura, para alm do sistema alilvinlico do tipo Claisen comum a todos os

  • Introduo

    13

    compostos estudados anteriormente, um sistema de Cope igualmente passvel de sofrer

    isomerizao trmica.

    Existem na literatura referncias a rearranjos trmicos em sistemas alilvinlicos

    heteroaromticos. Um exemplo o rearranjo de Claisen observado em 4-

    aliloxipirimidinas substtuidas na posio 2 (12), originando como produto 4-hidroxi-5-

    alilpirimidinas37 (13, Figura 11). Contudo o rendimento para esta reaco no

    ultrapassou os 28%, facto justificado pela presena de um processo competitivo, em que

    h a migrao do grupo alilo para o azoto do anel localizado nas posio orto

    relativamente ao grupo aliloxi, formando a correspondente 3-alil-4-pirimidona (14). Em

    trabalhos de investigao mais detalhados, determinou-se que o rearranjo ocorre com

    inverso do sistema allico e de forma intramolecular38.

    N

    N

    O

    R

    N

    N

    OH

    R

    N

    N

    O

    R

    12 13 14

    Figura 11. Rearranjo trmico em 4-aliloxiprimidinas.

    Outras migraes de O- para N- em teres alqulicos e arlicos de pseudo-

    sacarina, originando os respectivos ismeros N-alqulicos e N-arlicos, esto descritas

    em vrios trabalhos. Estas isomerizaes do tipo [1,3] denominam-se por rearranjos de

    Mumm-Chapmann, no sendo concertados39.

  • Introduo

    14

    1.5.-Rearranjo de Claisen e de Cope

    O rearranjo de Claisen foi descoberto em 1912. O mecanismo para este tipo de

    isomerizaes foi proposto nos anos 60, tal como o relativo ao rearranjo de Cope que

    ocorre por um processo mecanstico similar. Ambos so processos [3,3]-sigmatrpicos40

    que consistem na migrao, de forma intramolecular, de uma ligao , adjacente a um

    ou mais sistemas , para uma nova posio na molcula, havendo a reorganizao do

    sistema durante esse processo.

    O exemplo mais geral do rearranjo de Claisen consiste na converso de teres

    alil vinlicos nos correspondentes derivados carbonlicos (Figura 12).

    O O

    O

    Figura 12. Mecanismo proposto para o rearranjo de Claisen em teres alil

    vinlicos envolvendo um estado de transio com conformao em cadeira.

    Devido ao produto da reaco ser um composto carbonlico, o equilbrio

    favorvel no sentido de formao do produto40.

    Outro exemplo o rearranjo trmico de teres alil fenlicos nos correspondentes orto-

    alil fenis (Figura 13). A isomerizao de Claisen o passo determinante da reaco,

    seguindo-se a enolisao da cetona para restaurar a aromaticidade41.

  • Introduo

    15

    O

    OH

    200oC

    ter alil arilco

    o-alil fenol

    Rearranjo de Claisen

    O

    O

    H

    Tautomerizao

    Figura 13. Rearranjo de Claisen em teres alil arlicos.

    No caso do rearranjo de Cope, o exemplo mais simples envolve a migrao de

    uma ligao no 1,5-hexadieno40 (Figura 14).

    Figura 14. Mecanismo proposto para o rearranjo de Cope no 1,5-hexadieno,

    envolvendo um estado de transio com conformao em cadeira.

  • Introduo

    16

    Ambos os rearranjos (Cope e Claisen) ocorrem atravs de um estado de

    transio com uma estrutura electrnica deslocalizada por seis tomos, com uma

    conformao preferencialmente em cadeira42,43.

    Estes dois tipos de processos [3,3]-sigmatrpicos tornaram-se uma das

    ferramentas fundamentais em sntese orgnica para a formao de ligaes carbono-

    carbono44, tendo a vantagem de serem reaces relativamente fceis de executar e com

    elevado grau de estereoselectividade e de reorganizao de grupos funcionais. De entre

    as suas inmeras aplicaes podemos referir a sntese de produtos naturais importantes,

    como por exemplo os terpenides, utilizados como aromatizantes e em fragrncias tanto

    escala laboratorial como escala industrial45. Uma das primeiras publicaes nesta

    rea refere-se sntese do 2-metil-2-hepteno-6-ona (15), um dos intermedirios para a

    produo de numerosos compostos aromatizantes do grupo dos terpenides como o

    caso do citral, linalol, geraniol entre outros. Este precursor obtido atravs de um

    rearranjo de Claisen 45(Figura 15).

    H

    O

    O

    H3COOH

    O

    Rearranjo de Claisen

    (15)

    Figura 15. Estratgias de sntese da 2-metil-2-hepteno-6-ona (15), envolvendo

    um rearranjo de Claisen.

  • Introduo

    17

    Outro exemplo uma das estratgias sintticas descritas para o - sinesal, um

    importante componente sensorial proveniente do leo de laranjeira, que engloba nos

    passos de sntese um sistema de rearranjos Claisen-Cope45 (Figura 16).

    O (Rearranjo de Claisen)

    O

    O (Rearranjo de Cope)O

    - sinesal

    Figura 16: Estratgia sinttica do composto - sinesal.

    A maioria destes rearranjos ocorre a temperaturas elevadas (100-350oC), embora

    se conheam exemplos de processos catalticos facilitadores deste tipo de reaces46,47.

  • Introduo

    18

    1.6.- Fotoqumica de 1,2-benzisotiazois e 1,2-benzisotiazol-1,1-dixidos

    A fotoqumica de compostos heteroaromticos de cinco membros tem sido

    extensamente estudada. A maior rea de actividade neste campo tem sido o estudo da

    fotoisomerizao do ncleo heterocclico, como o caso da isomerizao do imidazol a

    benzimidazol48, do pirrole a imidazol48, de 2-ariltiofenos a 3-ariltiofenos49, de isoxazois

    a oxazois50, de 2,5-di-t-butilfurano a 2,4-di-t-butilfurano51 e de isotiazol-3(2H)-onas

    substitudos na posio 2 a tiazois-2(3H)-onas substitudos na posio 352.

    Os derivados de isotiazois benzo fundidos, nomeadamente os 1,2-benzisotiazois,

    tm merecido particular ateno nestes ltimos anos, essencialmente devido s suas

    propriedades anti bacterianas e anti fngicas53. De entre alguns exemplos podemos

    referir a investigao da fotoisomerizao de vrias benzisotiazol-3(2H)-onas a dibenzo

    [b,f][1,4]tiazepin-10(11H)-onas, provavelmente via clivagem homoltica da ligao S-N

    e ciclizao da espcie biradicalar, seguida da formao de um anel aromtico

    concomitantemente com a transferncia de hidrognio54 (Figura 17).

  • Introduo

    19

    S

    N

    O

    X

    S

    N

    O

    X

    S

    N

    O

    X

    X = OMe Me H Cl CN

    O

    S

    N

    X

    H

    transferncia

    1,7-hidrognio

    O

    S

    NH

    X

    Figura 17. Mecanismo proposto para a fotoisomerizao de benzisotiazol-

    3(2H)-onas substitudas.

    A fotoqumica de 1,2-benzisotiazol-1,1-dixidos, tambm foi alvo de alguns

    estudos. Em trabalhos de investigao recentes55, demonstrou-se que quando uma srie

    de sultamas N-substitudas so sujeitas a fotlise a 254 nm em acetonitrilo ou metanol,

    h em muitos casos a formao de um nico fotoproduto, tendo-se identificado este

    como sendo a correspondente 1,3-2H-benzotiazina-1,1-dixido (Figura 18). O

    mecanismo proposto para esta isomerizao fotoinduzida est representado no esquema

    1855.

  • Introduo

    20

    SO2

    HN

    R1 R1

    CHR2

    SO2

    R1 R1

    NH

    SO

    R1 R1

    NOCH2Ph

    SO2

    N

    R1 R1

    CH2R2

    R2

    SO2

    N

    R1 R1

    CH2R2

    SO2

    R1 R1

    NCH2Ph

    [1,2]H

    R1=CH3, R2=Ph

    (16)(17) (18)

    (21) (19)(20)

    R1 R2

    CH3 Ph CH3 CO2CH3 CH3 CN CH3 COCH3 Ph Ph

    Figura 18. Mecanismo proposto para a fotoisomerizao de N-benzil-1,2-

    benzisotiazol-1,1-dixidos 3,3-disubstitudos.

    A molcula fotoexcitada (16) sofre uma clivagem homoltica da ligao S-N

    dando origem espcie biradicalar (17), que por sua vez se transforma na espcie

    biradicalar (18) atravs de uma transferncia de hidrognio do carbono para o

    nitrognio. Seguidamente ocorre a ciclizao levando formao do produto final

    resultante do fotoexpanso anelar (19). De notar que a espcie (18) beneficia de

    estabilizao benzlica quando R2=Ph ou pelo efeito electroatractor dos substituintes

    quando R2=CO2Me, CN, COMe, sendo esta a fora impulsionadora da sua formao.

  • Introduo

    21

    A sultama em que os grupos substituintes so R1=CH3 e R2=Ph leva formao,

    para alm do produto comum a todas as outras sultamas, do fotoproduto (20), resultante

    da transferncia de oxignio do enxofre para o nitrognio. No entanto, quando uma

    amostra pura do composto (20), foi deixada durante cerca de duas semanas

    temperatura ambiente, verificou-se a sua converso integral no composto de partida

    (16)55.

    Recentemente foram efectuados no nosso grupo de trabalho, estudos de

    fotoreactividade de uma srie de 4-alil-tetrazolonas (22) em soluo, tendo-se utilizado

    como solventes metanol, 1-propanol, 1-hexanol, acetonitrilo e ciclohexano. Identificou-

    se a eliminao de nitrognio como sendo o processo fotoqumico primrio, levando

    formao de pirimidinonas (23). Aps esta fotoclivagem primria, seguiram-se reaces

    secundrias, em acetonitrilo e ciclohexano, levando formao de fenilisocianato (24) e

    anilina (25). A formao de fenilisocianato e anilina atravs da fotoclivagem das

    pirimidonas (23), concomitante com a formao de outros produtos secundrios,

    nomeadamente 1-(amino)propeno (26a) e 1-propenil-isocianato (27a), 2-amino-2-

    buteno (26b) e 1-metilprop-1-enil-isocianato (27b) e 2-amino-2-fenil-1-eteno (26c) e 1-

    fenilprop-1-enil-isocianato (27c), respectivamente. No entanto, em solues alcolicas,

    os produtos primrios permanecem fotoestveis mesmo aps extensos perodos de

    irradiao, o que tornou possvel o isolamento de 3,4-dihidro-pirimidinonas com bons

    rendimentos56. Esta estratgia constitui uma nova e eficiente rota sinttica para esta

    importante classe de compostos.

  • Introduo

    22

    Ph N C OPh-NH2

    RN

    C

    O

    N

    NN

    N

    O

    R

    H2N R

    NN

    O

    R

    N NH

    O

    R

    N

    NN

    N

    O

    R

    a: R=Hb: R= CH3c: R=Ph

    Soluo alcolica

    Soluo no alcolica

    (22)

    (23)

    (25)(24)

    (26)

    (27)

    Figura 19. Fotlise de 4-alil-tetrazolonas em soluo.

    O enorme interesse dos resultados obtidos no estudo da fotoqumica de 4-

    aliltetrazolonas, do ponto de vista sinttico e acadmico, esteve na base da investigao

    da fotoqumica de derivados allicos de 1,2-benzisotiazol-1,1-dixido. H tambm a

    considerar o elevado interesse econmico e ambiental do estudo proposto, uma vez que

    se conhecem as aplicaes de derivados de benzisotiazol, nomeadamente o 3-aliloxi-

    1,2-benzisotiazole-1,1-xido (Probenazol, figura 20), no controlo de pragas nas

    plantaes de arroz no Japo, China e Coreia do Sul, desde 197526.

  • Introduo

    23

    N

    O2S

    O

    Figura 20. Estrutura do Probenazol.

    A aplicao destes compostos na agricultura, fomenta a realizao de estudos

    laboratoriais, na medida em que estes permitem identificar produtos e elucidar

    mecanismos de fodegradao. Contudo, importa salientar que estes estudos servem

    apenas como previso do comportamento destes compostos, uma vez que impossvel

    recriar em laboratrio todas as variveis inerentes sua fodegradao quando expostos

    ao meio ambiente57.

    No mbito deste projecto sero efectuados estudos em soluo e em suportes

    slidos. Deste modo, iremos fazer algumas consideraes relevantes sobre a natureza e

    caractersticas dos suportes utilizados, bem como dos princpios bsicos dos processos

    fotoqumicos.

    Estudos efectuados demonstraram que o Probenazol absorvido pela raiz e transportado para toda a planta, activando

    o seu sistema de defesa. Este um modo pouco usual de aco para um qumico utilizado no controlo de pragas no

    sector agrcola. Atravs da activao do sistema de defesa da planta, o Probenazol altera o equilbrio da relao planta

    - parasita no sentido do favorecimento da planta26.

  • Introduo

    24

    1.7.- Suportes slidos

    A utilizao de sistemas heterogneos, tais como micelas, suportes slidos,

    polmeros e membranas, no controlo de reaces fotoqumicas, tem suscitado particular

    interesse, devido s importantes aplicaes industriais destas reaces, como por

    exemplo na converso e armazenamento de energia solar, na xerografia, na fotografia,

    entre outras. Durante as ltimas duas dcadas, tem-se observado um incremento

    bastante notrio no emprego de tcnicas fotoqumicas no estudo do comportamento de

    uma variedade de sistemas superfcie-adsorbato. A investigao da fotoqumica e

    fotofsica de molculas adsorvidas em suportes slidos tem o potencial de nos fornecer

    vrios tipos de informao. possvel por exemplo, obter informao acerca das

    propriedades da superfcie e dos stios de adsoro, bem como das alteraes na

    reactividade provocadas pelas restries na mobilidade rotacional e difusional da

    espcie adsorvida.

    Os suportes slidos podem ser classificados em duas categorias:

    - Superfcies no reactivas tais como a slica e a alumina, que proporcionam um

    ambiente mais ordenado e consequentemente um controlo mais eficiente dos processos

    fotoqumicos, comparativamente com o que ocorre em solues homogneas. Estes

    suportes desempenham a funo de assistir a transferncia electrnica entre duas

    molculas adsorvidas (Figura 21a).

    - Superfcies reactivas tal como o TiO2, que participam nas reaces

    fotoqumicas absorvendo fotes incidentes e transferindo carga para uma molcula

    adsorvida, ou por quenching do estado excitado da mesma (Figura 21b).

  • Introduo

    25

    A superfcie, bem como as propriedades intrnsecas dos materiais de suporte,

    desempenham um papel importante, influenciando o curso das reaces fotoqumicas58.

    suporteslido

    B

    e

    a)

    suporteslido

    B

    AA *

    suporteslido

    B

    A*

    e

    suporteslido e

    B

    A

    e

    suporteslido

    B

    A

    b)

    Figura 21. Funo dos materiais de suporte na promoo dos processos

    fotoqumicos. A* representa a espcie adsorvida excitada por irradiao, A+ representa a

    espcie adsorvida oxidada, B representa uma espcie adsorvida neutra, B- representa

    uma espcie adsorvida reduzida.

    Neste trabalho, para alm de estudos fotoqumicos de teres

    alilbenzisotiazollicos em soluo, realizaram-se estudos utilizando como suporte slido

    a slica e a celulose, ambos suportes inertes. Sabendo que, como anteriormente se

    mencionou, os compostos estudados tm aplicaes na agricultura, a escolha destes dois

    suportes slidos inteiramente justificada, visto que a slica o principal constituinte do

    solo e a celulose das paredes celulares das plantas superiores. As caractersticas destes

    suportes sero seguidamente apresentadas.

  • Introduo

    26

    1.7.1- Slica

    A slica porosa uma forma amorfa e granular da slica sinttica, tendo uma

    estrutura esponjosa da qual resultam grandes reas de superfcie (20-750 m2g-1), que

    motivam em grande parte a sua utilizao como adsorvente. A superfcie da slica

    formada por uma rede de grupos silanol (Si-OH) e siloxano (Si-O-Si) que adsorvem

    fisicamente a gua. As funes silanol podem ser isoladas, geminais ou vicinais (ligadas

    por pontes de hidrognio gua ou umas s outras), como se encontra ilustrado na

    figura 22.

    Si

    OO

    O

    OH

    Si

    OO

    O

    Si

    OO

    Si

    OH

    OO

    A B A

    Si

    OHHO

    O O

    C

    Si

    OO

    O

    OH

    Si

    O

    OO

    H

    D

    Si

    OO

    O

    OH

    O

    H

    HO

    Si

    H

    OO

    O

    E

    Figura 22. Representao esquemtica da superfcie da slica: (A) silanis

    isolados; (B) ligaes siloxano; (C) silanis geminais; (D) silanis vicinais ligados por

    pontes de hidrognio; (E) gua ligada superfcie por pontes de hidrognio.

    A gua fisicamente adsorvida pode ser removida submetendo a slica a

    temperaturas moderadas, enquanto que a remoo da gua quimicamente adsorvida

    requer temperaturas mais elevadasA, que podem promover a condensao dos grupos

  • Introduo

    27

    SiOH adjacentes para formar ligaes siloxanoB, produzindo deste modo uma superfcie

    relativamente mais hidrofbica59.

    A adsoro da maioria das molculas polares e de hidrocarbonetos aromticos,

    envolve a interaco com os grupos hidroxilo da superfcie60,61,62,63 tendo-se proposto

    que quanto menores os poros da slica, maior a percentagem de silanis activos

    relativamente ao nmero total de silanis por unidade da rea superficial64.

  • Introduo

    28

    1.7.2.- Celulose

    A celulose o componente fibrilar presente nas paredes celulares de todas as

    plantas superiores. Este polmero essencialmente um politer constitudo por uma

    cadeia linear de unidades de D-glucose unidas por ligaes (1 4). Cada unidade

    glicosdica apresenta uma rotao de 180o relativamente as unidades que lhe so

    contguas, sendo estabilizada por pontes de hidrognio, que impom restries rotao

    das ligaes O-glicosdicas65 (Figura 23).

    Figura 23. Estrutura da celulose com ligaes (1 4) entre unidades de D- glucose.

    Estudos de raio-X da celulose nativa ou fibrosa revelaram que este meio actua

    como um sistema de duas fases, consistindo numa regio amorfa, menos ordenada e

    menos compacta, localizada na sua grande maioria na superfcie das fibras elementares,

    e numa regio ordenada (cristalina), onde a celulose apresenta um padro cristalino bem

    definido. Neste ltimo caso, as cadeias de celulose encontram-se alinhadas

    paralelamente e proximamente empacotadas, permitindo a formao de fortes ligaes

    de hidrognio intermoleculares entre cadeias de celulose adjacentes66.

    Este polmero natural tem recebido particular ateno nos ltimos anos por parte

    dos fotoqumicos uma vez que permite obter fosforescncia temperatura ambiente

  • Introduo

    29

    (RTP- Room Temperature Phosphorescence) a partir de uma grande variedade de

    espcies, que no a apresentam em estudos efectuados em soluo. As espcies

    adsorvidas so imobilizadas na matriz rgida de celulose atravs de interaces por

    pontes de hidrognio entre os grupos hidroxilo da cadeia polimrica e da molcula

    enclausurada, reduzindo o movimento da molcula67,68 e aumentando o tempo de vida e

    o rendimento quntico de emisso do adsorvato69.

    O facto de a mobilidade das espcies adsorvidas ser bastante reduzida neste

    meio, leva a que estas se encontrem protegidas de quenching por parte do oxignio

    molecular, desde que a celulose se encontre bem seca. A presena de pequenas

    quantidades de gua afecta fortemente o comportamento do estado excitado da molcula

    adsorvida, como o caso do pireno e da N,N,N,N- tetrametilbenzidina, tendo-se

    verificado a difuso destas espcies excitadas e de O2 em amostras molhadas67.

    A celulose microcristalina (celulose utilizada nos estudos fotoqumicos

    efectuados neste trabalho), resulta da hidrlise da celulose purificada aps tratamento

    com HCl 2,5N durante 15 minutos a 105o, sendo uma forma muito pura da celulose,

    com alto grau de cristalinidade. Os grupos hidroxilo da celulose tm uma forte afinidade

    por solventes polares e pelos solutos neles solubilizados. A gua um exemplo de um

    bom solvente para o inchamento da celulose, embora tal tambm acontea com outros

    solventes polares hidroxlicos, tais como o metanol, etanol, n-propanol e outros. A

    interaco entre as cadeias celulsicas na celulose microcristalina feita atravs de

    ligaes de hidrognio entre os grupos glicopiranosdicos. O processo de inchamento

    quando a celulose colocada em contacto com solventes polares hidroxlicos resulta da

    substituio destas ligaes de hidrognio por outras, envolvendo os grupos

    glicopiranosdicos e os grupos hidroxlicos do solvente. A remoo do solvente resulta

    no aprisionamento do composto orgnico entre as cadeias celulsicas e este passa ento

  • Introduo

    30

    a sofrer as restries estreas observadas nestes sistemas. Em presena de solventes no

    polares, a celulose microcristalina no tem a propriedade de sofrer inchamento e logo

    qualquer composto orgnico solvel neste solvente apenas se ir depositar na superfcie

    da celulose aps remoo do solvente70.

    Para alm da fotoqumica, conhecem-se a aplicaes de fibras de celulose

    altamente puras no reforo de compsitos polimricos que apresentam condutividade

    elctrica. De facto, as fibras sintticas (fibras de vidro e fibras de carbono, etc) tendem

    cada vez mais a serem substitudas por fibras naturais, visto apresentarem inmeras

    vantagens de entre as quais podemos mencionar a baixa densidade, biodegradabilidade,

    elevada dureza e baixo custo. Como desvantagens pode-se referir a baixa estabilidade

    trmica e a elevada capacidade para absorver gua. Actualmente, a utilizao deste tipo

    de materiais tem aumentado substancialmente na indstria automvel71.

  • Introduo

    31

    1.8.- Princpios bsicos de fotoqumica

    A maioria das reaces orgnicas estudadas ocorrem entre molculas que se

    encontram no seu estado electrnico fundamental. Porem, nas reaces fotoqumicas, a

    molcula reactiva previamente promovida por absoro de luz, para um estado

    electronicamente excitado. O processo de promoo de electres do estado fundamental

    para o estado excitado, bem como os mecanismos de excitao das molculas, encontra-

    se sumariamente descrito em seguida.

    Os electres podem-se movimentar do nvel energtico correspondente ao estado

    fundamental para um nvel de energia superior, ou seja, para uma orbital de mais alta

    energia no ocupada, se for fornecida energia ao sistema. Num processo fotoqumico,

    essa energia transferida sob a forma de luz. Uma vez que os nveis de energia se

    encontram quantizados, a quantidade de energia requerida para excitar um electro de

    uma determinada molcula de um nvel menos energtico para um mais energtico

    uma quantidade fixa, dada pela equao

    E = h

    onde h a constante de Planck, a frequncia da luz ( = c / ), sendo c a velocidade

    da luz e o comprimento de onda da radiao incidente. O valor de E corresponde

    diferena de energia entre os dois nveis energticos envolvidos na transio.

    No espectro electromagntico, a energia das transies electrnicas corresponde

    a luz na regio do visvel, U.V. e U.V. longnquo, dependendo a frequncia em grande

    parte da natureza das duas orbitais envolvidas. O grupo funcional presente numa

    molcula responsvel pela absoro denominado cromforo. Exemplos de cromforos

    na regio do visvel e do U.V. so C=O, N=N, Ph e NO2. Na regio do U.V. longnquo

  • Introduo

    32

    temos C=C, C C, Cl e OH. Certas molculas contm grupos designados de

    auxocromos que deslocam e intensificam a banda de absoro produzida por um

    cromforo. Se o desvio ocorre para comprimentos de onda superiores designado por

    desvio batocrmico, para comprimentos de onda inferiores o desvio hipsocrmico. Por

    outro lado, se existir um aumento na intensidade da banda de absoro dizemos que

    existe um efeito hipercrmico, se houver uma diminuio na banda de absoro

    dizemos que existe um efeito hipocrmico. Exemplos de auxocromos so o Cl, OH, e

    NH2 que deslocam as bandas do vsivel e U.V. de cromforos como Ph ou C=O. Visto

    que os auxcromos so igualmente cromforos por vezes difcil de decidir qual dos

    grupos na molcula o auxocromo e qual o cromforo.

    O spin de um nico electro, s, igual a . O vector soma dos momentos spin de

    cada electro individual numa molcula, d origem a um spin total S, que

    extremamente importante na determinao do estado electrnico da mesma. Assim o

    estado electrnico de determinada molcula dado por (2S+1). Para espcies em que

    todos os electres esto emparelhados, S=0 e 2S+1=1, o que corresponde a um estado

    singuleto. Se dois electres se encontram desemparelhados apresentando spins

    paralelos, S=1 e 2S+1=3, estando a espcie num estado tripleto.

    Na maioria das molculas orgnicas, todos os electres no estado fundamental

    encontram-se emparelhados e com spins antiparalelos, de acordo com o princpio de

    Pauli. Quando um dos electres promovido para uma orbital de maior energia, os dois

    electres j no partilham a mesma orbital, podendo o electro que transitou ter o

    mesmo spin que o seu par ou spin oposto. Uma molcula em que os dois electres

    desemparelhados tm o mesmo spin, diz-se no estado tripleto, enquanto que uma

    molcula em que todos os electres estejam emparelhados est no estado singuleto.

    Assim, e em principio, para todos os estados singuleto excitados existe um estado

  • Introduo

    33

    tripleto correspondente. A regra de Hund prev que o estado tripleto possua uma energia

    inferior do correspondente estado singuleto72.

    Em princpio, a promoo de determinado electro numa molcula, poderia

    resultar num estado excitado singuleto ou num estado excitado tripleto, dependendo da

    quantidade de energia fornecida. Porm as transies entre nveis energticos so

    governadas por regras de seleco, que estipulam que determinadas transies so

    proibidas ou bastante improvveis. As transies proibidas so de dois tipos:

    Transies proibidas por spin. Transies electrnicas em que o spin do

    electro se altera no so permitidas. Uma alterao de spin envolve uma

    alterao no momento angular, e esta viola a lei da conservao do momento

    angular. Assim, transies singuletotripleto e tripletosinguleto so proibidas

    enquanto que, transies tripleto-tripleto e singuleto-singuleto so permitidas.

    Transies proibidas por simetria: As transies dependem das propriedades

    de simetria das orbitais envolvidas. Transies entre orbitais degeneradas (g) e

    entre orbitais no degeneradas (u) ou seja transies g g ou u u so proibidas

    por simetria enquanto que transies g u ou u g so permitidas.

    Apesar de as regras de seleco determinarem, quais as transies que podem ou

    no ocorrer, as transies proibidas so frequentemente observadas, sendo no entanto

    muito menos provveis que as transies permitidas, ocorrendo quando h mecanismos

    de compensao no sistema.

    Quando um electro numa molcula promovido, normalmente ocupa a orbital

    vazia de mais baixa energia (LUMO). No entanto a promoo para orbitais de energia

  • Introduo

    34

    mais elevada tambm podem ocorrer72. Para a maioria das molculas orgnicas existem

    quatro tipos de excitao electrnica73, apresentados esquematicamente na figura 24.

    e e

    e

    e

    ____ _________ ___________________________

    ___________________________________________

    ___________________________________________

    _____________________________________________

    _____________________________________________

    En e

    r gia

    Figura 24. Transies electrnicas possveis para os electres , e n.

    Os quatro tipos de excitao so seguidamente mencionados segundo uma ordem

    que normalmente a de diminuio de energia, podendo esta alterar-se na presena de

    determinados solventes.

    *. Esta transio uma transio permitida (g u), sendo a nica transio

    possvel nos alcanos visto no possurem electres e n. Para que ocorra este

    tipo de excitao, necessrio luz de intensidade elevada na regio do ultra-

    violeta longnquo.

    n *. Esta transio parcialmente permitida e ocorre em todos os compostos

    que apresentem pares de electres no ligantes, como por exemplo lcoois,

    aminas, teres, etc.

    *. Esta transio permitida e ocorre em compostos que apresentem na sua

    estrutura ligaes duplas, como por exemplo alquenos, alquinos, compostos

    carbonlicos, compostos azo, etc.

    Orbital antiligante * Orbital antiligante * Orbital no ligante n Orbital ligante Orbital ligante

  • Introduo

    35

    n *. Esta transio parcialmente permitida e observada em compostos que

    possuem ligaes duplas e electres desemparelhados, como por exemplo

    aldedos, cetonas, etc. Estes compostos podem sofrer este tipo de promoo bem

    como as trs anteriores.

    Dos quatro tipos de transio mencionadas anteriormente, as transies * e

    n * so as mais importantes em fotoqumica orgnica, necessitando apenas de luz na

    regio do U.V. ou simplesmente de luz visvel. Compostos que apresentem o grupo

    C=O, podem sofrer ambas as transies, dando origem a duas bandas no U.V.72.

    Quando uma molcula promovida fotoquimicamente para um estado excitado, esta

    tende a perder o excesso de energia e passar de novo para o seu estado inicial. Existem

    vrias maneiras de as molculas excitadas poderem reagir, ou por outro lado de

    perderem o excesso de energia tal como iremos explicar em seguida de um modo

    resumido.

    No caso das converses intramoleculares (processo de transferncia de energia na

    mesma molcula), a maioria das transies electrnicas ocorrem entre nveis

    vibracionais de mais baixa energia do estado fundamental, usualmente um estado

    singleto S0, para um estado excitado de mais baixa energia, S1. Transies para estados

    S2 e outros estados singuleto de mais alta energia tambm ocorrem, mas em meios

    lquidos e slidos, a molcula tende a perder o excesso de energia rapidamente passando

    para os nveis vibracionais de mais baixa energia do estado S1. Esta energia

    (correspondente diferena energtica entre os nveis vibracionais), libertada para o

    ambiente em pequenas quantidades e atravs de colises com outras molculas, sob a

    forma de calor. Este processo denomina-se de relaxao vibracional (VC).

  • Introduo

    36

    Deste modo, na maioria dos casos, o nvel vibracional de mais baixa energia de S1

    o nico estado excitado singuleto de relevante importncia. A libertao de energia a

    partir deste estado pode ocorrer atravs de vrios processos fsicos, que so descritos em

    seguida, estando representados no diagrama de Jablonski (Figura 25).

    Figura 25. Diagrama de Jablonski onde se encontram representadas as vrias

    transies entre os estados excitados e o estado fundamental. IC= converso interna,

    ISC= cruzamento intersistemas, vc= relaxao vibracional, h f= fluorescncia, h p=

    fosforescncia.

  • Introduo

    37

    A molcula no estado S1 pode aceder a um nvel vibracional de S0 de igual energia e

    em seguida, atravs de um processo de relaxao vibracional, descer ao longo dos nveis

    vibracionais de S0 e voltar ao estado fundamental (nvel vibracional mais baixo de S0).

    Este processo de decaimento de um estado excitado para outro estado com a mesma

    multiplicidade (singleto-singleto ou tripleto-tripleto) denomina-se converso interna.

    Devido ao facto de este ser um processo muito lento, a maioria das molculas adoptam

    outros caminhos para a libertao de energia.

    A fotoemisso de energia associada a uma transio do nvel vibracional menos

    energtico de S1 para os nveis vibracionais de mais baixa energia de S0 conhecida por

    fluorescncia. Este processo no muito comum por ser em geral lento, na ordem dos

    10-9 segundos. A maioria das molculas no estado S1 podem sofrer um cruzamento

    intersistemas e passar para o estado tripleto T1. Esta transio proibida, no entanto

    pode ocorrer devido ao facto de existirem compensaes no sistema. Molculas no

    estado T1 podem regressar para o estado S0 por meio de libertao de calor (cruzamento

    intersistemas) ou por emisso de luz, processo designado por fosforescncia. Do mesmo

    modo que no cruzamento intersistemas, a fosforescncia uma transio proibida

    devido alterao do momento angular. Assim ambos so processos lentos, em mdia

    entre 10-3 a 101 segundos. Isto significa que os estados T1 geralmente tm tempos de

    vida bem mais longos do que os estados S1, tornando mais provvel a ocorrncia de

    reaces qumicas. A molcula num estado electronicamente excitado pode ainda

    transferir o excesso de energia para outra molcula num processo designado de

    fotosensibilizao. A molcula fotoexcitada (D), tambm designada por

    fotosensibilizador por ser a molcula dadora de energia, volta ao estado fundamental S0

    enquanto que a molcula aceitadora de energia (A), promovida a um nvel de energia

    mais elevado.

  • Introduo

    38

    D* + A A* + D

    A fotosensibilizao um mtodo bastante importante para fomentar reaces

    fotoqumicas, quando uma molcula no pode ser excitada para o estado energtico

    pretendido por absoro directa de luz.

    A maioria das reaces fotoqumicas so reaces unimoleculares e bimoleculares.

    Numa reaco unimolecular, uma molcula excitada electronicamente sofre uma

    alterao qumica sem interferir com outras molculas. Numa fotoreaco bimolecular,

    a molcula que se encontra num estado excitado usualmente reage com uma molcula

    no estado fundamental, que pode ser da mesma espcie ou de outras espcies presentes

    na mistura reaccional. Reaces entre duas molculas excitadas no so comuns, uma

    vez que cada uma das espcies excitadas se encontra presente em concentraes baixas.

    As transformaes qumicas mais comuns que uma molcula excitada pode sofrer

    so clivagem para formar radicais, decomposio em molculas mais pequenas,

    rearranjos intramoleculares, fotoisomerizao, fotodimerizao e abstraco de tomos

    de hidrognio. Todos estes processos so primrios, sendo o mais usual a clivagem

    homoltica para formar radicais. Estes por sua vez, tendem a sofrer um processo

    secundrio uma vez que se encontram em nveis vibracionais mais elevados e logo

    possuem excesso de energia72.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    39

    2. Apresentao e discusso dos resultados

    Neste captulo far-se- uma abordagem detalhada sobre as vrias metodologias

    sintticas desenvolvidas ao longo do trabalho experimental, fazendo-se uma descrio

    pormenorizada de todos os resultados obtidos, bem como a sua interpretao, sempre

    que possvel.

    O objectivo principal desta tese de mestrado conduziu-nos a dois ramos de

    investigao distintos, mas interligados entre si pela natureza dos compostos em estudo,

    ou seja, pelos teres allicos derivados dos heterociclos tetrazol e benzisotiazol. Uma

    parte da investigao centrou-se na sntese e estudo da reactividade de teres nerollicos

    de tetrazol e de benzisotiazol, incidindo na elucidao mecanstica das isomerizaes

    trmicas dos mesmos. A segunda parte visou o estudo da fotoqumica de uma srie de

    teres allicos de benzisotiazol. A fotoqumica destes compostos foi efectuada em

    soluo e em suportes slidos, nomeadamente em slica e em celulose.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    40

    2.1. Metodologia utilizada na sntese dos teres allicos de 1,2-benzisotiazol-

    1,1-dixido e de 5-cloro-1-feniltetrazol

    Tal como referido na introduo, os lcoois allicos abundam na natureza, sendo

    biologicamente importantes em espcies vegetais da famlia das Cistaceae, numerosas

    na Pennsula Ibrica, como por exemplo o Halimium Viscosum74. A sua versatilidade

    como reagentes de partida para a produo de outros compostos bioactivos torna-os

    bastante teis em sntese orgnica, motivando o interesse que suscitam do ponto de vista

    da sua estrutura e reactividade. Foram vrios os estudos efectuados nos ltimos anos,

    nomeadamente no que diz respeito modificao qumica destes extractos naturais

    envolvendo reaces com derivados heteroaromticos de benzisotiazol e tetrazol. Os

    teres preparados revelaram ser intermedirios fundamentais em algumas

    transformaes qumicas, de entre as quais destacamos a clivagem redutiva da ligao

    C-O do lcool original em condies que envolvem catlise heterognea usando dadores

    de hidrognio28 e as isomerizaes trmicas27, a que iremos dar particular nfase neste

    trabalho.

    Os processos de sntese, e alguns dos processos de transformao de teres

    allicos de benzisotiazol e de tetrazol encontram-se descritos na literatura27. As

    estratgias sintticas desenvolvidas foram aplicadas ao novo substrato em estudo e sero

    descritas de seguida.

    Em termos de abordagem sinttica, a preparao de teres allicos de

    benzisotiazol envolve inicialmente a sntese de 3-cloro-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido

    (cloreto de pseudo-sacarina) a partir da sacarina, atravs de uma reaco de halogenao

    com pentacloreto de fsforo (PCl5)75. Nesta reaco a sacarina reage com o PCl5

  • Apresentao e discusso dos resultados

    41

    originando POCl3, HCl e cloreto de pseudo-sacarina (Esquema 2). A separao do

    produto desejado feita por destilao dos dois produtos laterais, com um rendimento

    de 39%. Os cristais obtidos apresentam-se sob a forma de agulhas incolores, sendo

    bastante estveis por um perodo de diversos meses, quando mantidos num excicador.

    SO2

    NH

    O

    PC l5

    SO2

    N

    Cl

    POCl3 HCl180oC

    Esquema 2

    A preparao dos teres allicos de benzisotiazol envolve a reaco de um lcool

    allico com o cloreto de pseudo-sacarina, na presena de uma base de Lewis, neste caso

    a trietilamina. Esta metodologia envolve uma substituio nucleoflica em carbono sp2,

    para a qual se props o mecanismo descrito no esquema 3 .

  • Apresentao e discusso dos resultados

    42

    S

    N

    Cl

    O O

    HO R

    S

    N

    O O

    O R

    Cl NH(CH3CH4)3

    S

    N

    O O

    Cl O R

    H

    S

    N

    O O

    Cl O R

    Tolueno N(CH2CH3)3

    Esquema 3

    De acordo com a proposta mecanstica esquematizada anteriormente, ocorre um

    ataque nucleoflico do tomo de oxignio ao carbono sp2 parcialmente electropositivo

    ( +) do anel de benzisotiazol. Forma-se um intermedirio zwiterinico, carregado

    positivamente no oxignio e com uma carga negativa deslocalizada para o grupo SO2.

    De seguida, h a remoo de um proto por parte da trietilamina, desencadeando um

    movimento concertado de electres pelo anel heteroaromtico que culmina com o

    estabelecimento da ligao dupla C=N e a eliminao do Cl- (grupo abandonante). A

    formao do precipitado hidrocloreto de trietilamnio no decorrer da reaco, desloca o

    processo no sentido da formao do ter desejado.

    A estratgia proposta para a converso de lcoois allicos em teres de pseudo-

    sacarina pode ser aplicada a lcoois benzlicos28,76, naftlicos77 e fenis29, encontrando-

    se na literatura referncia sntese, caracterizao e reactividade destes derivados.

    A metodologia sinttica para a obteno de teres allicos de tetrazol envolve

    formao de um alcxido, obtido por reaco do respectivo lcool allico com uma base

  • Apresentao e discusso dos resultados

    43

    forte, nomeadamente o hidreto de sdio, como se encontra descrito no esquema 4. Neste

    tipo de reaces h necessidade de um cuidado redobrado no que diz respeito secagem

    do solvente, visto a base ser bastante reactiva com a gua. Conhece-se ainda a utilizao

    de t-butxido de potssio na sntese de teres arlicos, benzlicos e polianelares de

    tetrazol77.

    Na+ -H HO R THF Na+ O R H2(g)

    Esquema 4

    A formao do alcxido implica a libertao de hidrognio molecular como

    produto secundrio, o que uma mais valia do ponto de vista termodinmico,

    encontrando-se a reaco favorecida pelo aumento da entropia do sistema.

    Consecutivamente formao do alcxido adicionado o cloreto de tetrazol,

    ocorrendo a reaco entre ambos. A proposta mecanstica para esta reaco encontra-se

    representada no esquema 5.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    44

    O R

    N

    N N

    N

    Cl

    N

    N N

    N

    Cl O R

    THF

    N

    N N

    N

    O R

    Cl

    Esquema 5

    A transformao do lcool em alcxido de sdio por reaco com hidreto de

    sdio, tem por finalidade aumentar o carcter nucleoflico do oxignio atacante, o que

    por sua vez ir melhorar a eficincia da substituio nucleoflica que se assume ocorrer

    por um mecanismo bimolecular unietpico. Neste caso o nuclefilo intervm no passo

    determinante da velocidade da reaco. De facto, a reaco de formao do alcxido faz

    todo o sentido do ponto de vista da substituio nucleoflica bimolecular, uma vez que

    ao aumentar a fora do nuclefilo favorece cineticamente o seu ataque ao tomo de

    carbono do anel heteroaromtico na molcula de cloreto de tetrazol. Este efeito

    particularmente importante quando o nuclefilo participa activamente no passo

    determinante da velocidade do processo como parece ser o caso. De acordo com o

    mecanismo unietpico representado no esquema 5, no passo determinante da reaco,

    ocorre a formao de um estado de transio, que evolui no sentido da eliminao de Cl-

    com a formao da ligao C-O do ter.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    45

    Como j foi referido anteriormente na introduo da tese, o paralelismo que se

    pretende estabelecer entre os teres allicos de tetrazol e de pseudo-sacarina, deve-se ao

    facto de a ligao ter estabelecida em ambos os compostos parecer de natureza

    idntica, visto os dois anis heteroaromticos apresentarem semelhanas na sua

    capacidade electroactratora. Deste modo seria de esperar que ambos os agentes

    derivatizantes apresentassem um comportamento reaccional idntico no que se refere

    subtituio nucleoflica. Porm tal no se verifica.

    Em trabalhos de investigao anteriores78 tentou-se aplicar a estratgia sinttica

    utilizada na preparao de teres allicos de tetrazol preparao dos seus homlogos

    de sacarina, mantendo o mesmo pressuposto de que a eficcia da substituio

    nucleoflica deveria aumentar com o aumento do caractr nucleofilico no oxignio,

    obtido por converso do lcool no respectivo alcxido. Esta tentativa revelou ser

    infrutfera, na mediada em que no conduziu formao dos compostos pretendidos.

    Por outro lado, a utilizao da trietilamina em tolueno na sntese de teres allicos de

    tetrazol seria bastante vantajoso, na medida em que facilitaria o processo de sntese

    destes compostos pois no sendo utilizado o hidreto de sdio eliminaria a necessidade

    de ausncia total de gua no meio reaccional. No entanto, esta metodologia tambm no

    conduziu a quaisquer resultados, o que foi comprovado pela tentativa de sntese do 5-

    cinamiloxi-1-feniltetrazol78.

    Assim, embora os dois agentes derivatizantes possuam electroafinidades

    semelhantes, estes apresentam diferenas significativas nas suas reactividades. O

    conhecimento das causas para a existncia desta diferena de reactividade, por exemplo

    relativamente ao ataque nucleoflico no carbono sp2 do cloreto de pseudo-sacarina e o

    cloreto de tetrazol, passa pelo estudo mais pormenorizado do mecanismo de ambas as

    reaces nucleoflicas, o que deixa um caminho em aberto para investigaes futuras.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    46

    Na tabela 1 encontram-se representadas as estruturas dos teres allicos de

    benzisotiazol e de tetrazol sintetizados neste trabalho, assim como o intervalo de fuso

    para cada composto e o rendimento obtido em cada sntese.

    Tabela 1. teres allicos de benzisotiazol e tetrazol sintetizados e respectivos

    pontos de fuso e rendimentos.

    Estrutura do ter Intervalo de fuso (C) Rendimento (%)

    N

    NN

    N

    O

    leo

    72

    SO2

    N

    O

    leo

    43

    SO2

    N

    O

    139-140

    49

    SO2

    N

    O

    132-133

    62

    SO2

    N

    O

    125-127

    29

  • Apresentao e discusso dos resultados

    47

    As snteses dos teres propenlico, butenlico e cinamlico de benzisotiazol

    foram efectuadas para que se prosseguisse com o estudo da fotoqumica destes

    compostos e da anlise dos seus padres de fragmentao em condies de

    espectrometria de massa. A caracterizao espectroscpica destes est descrita em

    trabalhos anteriores.

    A sntese e caracterizao dos teres nerollicos de tetrazol e de benzisotiazol

    sero descritas de seguida.

    A preparao do ter nerollico de tetrazol foi efectuada de acordo com o mtodo

    de sntese de teres allicos de tetrazol descrito anteriormente, tendo-se utilizado

    quantidades equimolares dos dois reagentes de partida (lcool e agente derivatizante). A

    formao do alcxido bastante ntida, uma vez que ao adicionar uma soluo do

    lcool, gota a gota, suspenso de NaH em THF previamente seco h, para alm da

    evoluo visvel de um gs (H2), a alterao da cor da mistura, de esbranquiada para

    cor de tijolo. Aps a formao do alcxido ento adicionado o cloreto de tetrazol,

    previamente dissolvido em THF seco, mistura reaccional. H o cuidado de a reaco

    permanecer temperatura ambiente visto estes compostos serem particularmente

    sensveis ao aumento da temperatura, podendo facilmente sofrer isomerizao trmica.

    Aps o work up da reaco, obteve-se como extracto orgnico um leo amarelo. A

    anlise deste extracto por espectrometria de massa e por Ressonncia Magntica

    Nuclear permitiu-nos verificar que este consistia numa mistura do ter pretendido e do

    produto resultante do seu rearranjo trmico.

    Como iremos falar mais a frente na discusso, aquando da preparao das

    amostras dos teres de benzisotiazol em suporte slido para posterior irradiao, os

    grupos hidroxlicos da slica promovem a quebra da ligao C-O enfraquecida do ter

  • Apresentao e discusso dos resultados

    48

    levando formao dos seus precursores sintticos, a sacarina e o nerol. Do mesmo

    modo, a tentativa de purificao do ter de tetrazol por cromatografia em slica poder

    levar hidrlise da ligao O-C do ter que se encontra enfraquecida. Contudo, prev-

    se que o derivado N- nerollico j seja purificvel por coluna, visto a ligao C-N ser

    mais forte que a ligao O-C e consequentemente menos susceptvel de sofrer hidrlise.

    Tentmos ainda seguir outras metodologias sintticas para a obteno do

    derivado O-nerollico desejado. Uma anlise na literatura79, forneceu-nos informaes

    sobre uma possvel estratgia de construo do ter partindo inicialmente do lcool

    natural, e a partir deste construir o anel heteroaromtico de tetrazol. O esboo da nova

    estratgia de sntese encontra-se descrito de seguida nos esquemas 6 e 7.

    OH

    ON

    N

    NN

    OCN

    NaN3

    H

    BrCN, Et3N

    Acetona, 0 oC

    Acetona/H2O Refluxo

    Esquema 6

    O primeiro passo reaccional envolve uma substituio nucleofilica, em que se

    pretende que o oxignio do lcool actue como nuclefilo, atacando a espcie BrCN. No

    segundo passo reaccional faz-se a ciclizao com azida sdica temperatura ambiente,

    aumentando-se de a temperatura at atingir o refluxo de modo a promover a formao

  • Apresentao e discusso dos resultados

    49

    do anel de tetrazol. Na literatura est descrita a preparao de ariloxitetrazois com bons

    rendimentos atravs da utilizao desta metodologia sinttica80,81.

    De acordo com a estratgia indicada, iramos obter o derivado tetrazollico de

    nerol no substitudo na posio 1 do anel heteroaromtico. Porm, para podermos

    estudar a reactividade trmica deste ter e compar-la com as reactividades trmicas dos

    teres allicos de tetrazol anteriormente estudados teremos que ter o sistema

    heteroaromtico igualmente substtuido. Assim, torna-se necessrio introduzir um

    substituinte fenlico na posio 1 do anel de tetrazol. De referir que 1-H-tetrazis-5-

    substtuidos podem estar em equilbrio tautomrico com o respectivo 3-H-tetrazol,

    sendo a abundncia relativa dos dois ismeros dependente da polaridade do meio.

    Dabbagh, Najafi-Chermahini e Banibairami79 procederam metilao do Bizol

    (di-tetrazol) fazendo-o reagir este com trietilamina e excesso de iodeto de metilo em

    acetona. Para obter o tetrazol substitudo poderamos utilizar o mesmo mtodo sinttico,

    fazendo reagir o nosso ter com fluorobenzeno de acordo com o descrito no esquema 7 .

    ON

    N

    NN

    H ON

    N

    NN

    Ph

    Et3N, PhF em excesso

    acetonatemperatura ambiente

    Esquema 7

    Contudo, deparamo-nos com a possibilidade de haver a formao de uma

    mistura de ismeros resultante da substituio do anel tetrazollico nas posies 1 e 3

    dependendo das condies de reaco. No trabalho desenvolvido pelos investigadores

    mencionados anteriormente, as tentativas de separao dos ismeros formados, atravs

    de uma coluna cromatogrfica, a partir da metilao do Bizol revelaram-se infrutferas.

  • Apresentao e discusso dos resultados

    50

    A sntese do ter de tetrazol pretendido seguindo esta metodologia, no nos

    levou a resultados satisfatrios. A formao do cianeto no primeiro passo reaccional

    parece-nos ter sido a etapa condicionante de toda a reaco. A adio da trietilamina

    soluo do nerol e BrCN em acetona, levou formao de um precipitado branco que

    poder corresponder ao sal brometo de trietilamnio. Contudo o acompanhamento da

    reaco por TLC revelou sempre a presena do lcool mesmo aps um perodo

    relativamente longo de agitao. Considerando que algum lcool poderia ter reagido,

    decidimos prosseguir para o passo de ciclizao, adicionando azida sdica dissolvida

    em gua/acetona (50:50). De novo, no ocorreu qualquer alterao significativa no

    TLC, observando-se apenas a mancha bastante intensa do lcool.

    A ausncia de resultados positivos pode dever-se fora relativa das duas

    espcies, lcool e cianeto, como nuclefilos, o que corrobora o facto de a primeira etapa

    ser a condicionante de todo o processo de sntese. Uma vez que se pretende que o lcool

    ataque a espcie BrCN, podemos propor para trabalhos futuros, que se aumente o

    carcter nucleoflico deste, por reaco com t-butxido de potssio, formando o

    correspondente alcxido.

    Para alm de ser uma base forte, o t-butxido de potssio, por ser um anio

    relativamente volumoso, no conduz a ataque nucleoflico. Esta caracterstica permite a

    formao do alcxido, aumentando a probabilidade de deslocamento do Br-.

    Se tivssemos conseguido atingir a segunda etapa reaccional, ou seja, a

    formao do anel de tetrazol e se o fizssemos reagir com PhF, seria de esperar uma

    igual dificuldade na separao dos ismeros, devido sua semelhante polaridade. Uma

    outra possibilidade para obter o nosso tetrazol substitudo na posio pretendida seria

    fazer reagir o cianato com fenilazida em vez de azida sdica. Porm esta metodologia

    acarreta dificuldades acrescidas na medida em que a fenilazida no se encontra

  • Apresentao e discusso dos resultados

    51

    disponvel comercialmente e a sua sntese requerer cuidados adicionais, visto ser um

    composto bastante difcil de manusear.

    Esta estratgia sinttica de obteno do ter allico, construindo o anel de

    tetrazol a partir do lcool, despertou-nos para novas possibilidades de investigao

    destes compostos que at agora ainda no foram exploradas. De facto nos ltimos anos,

    o nosso grupo de trabalho tem estudado a relao estrutura reactividade de uma srie de

    teres allicos, benzlicos, naftlicos e fenlicos de tetrazol, fazendo variar a estrutura do

    lcool de partida e mantendo sempre um substituinte arlico na posio 1 do anel de

    tetrazol. Atravs da metodologia proposta anteriormente poderemos partir de um

    mesmo lcool e verificar que alteraes podem ocorrer na relao estrutura reactividade

    destes teres introduzindo substituintes alqulicos no anel heteroaromtico de tetrazol.

    Fica ento aqui uma nova ideia a desenvolver em futuras investigaes.

    Na sntese do ter allico de benzisotiazol derivado do nerol recorreu-se

    estratgia sinttica descrita no esquema 3. Nesta reaco, a uma mistura de nerol e

    cloreto de pseudo-sacarina em tolueno foi adicionada trietilamina gota a gota, tendo-se

    verificado a formao de um precipitado correspondente ao cloreto de trietilamnia. De

    salientar, e tal como no caso do ter allico de tetrazol, que a reaco de eterificao foi

    efectuada temperatura ambiente devido prevista susceptibilidade destes teres para

    sofrerem isomerizaes trmicas. O work-up da reaco originou um leo amerelo. A

    anlise deste leo por espectrometria de massa (Ionizao Qumica usando NH3)

    permitiu identificar a presena do io [M+NH4]+ com m/z = 320, relativo ao ter

    desejado, embora tenha revelado igualmente a presena de algumas impurezas. A

    anlise da mesma amostra por 1H-RMN, revelou no s a presena do ter pretendido,

    mas tambm dos produtos resultantes da sua isomerizao trmica, com migrao do

    sistema allico de O para N. A anlise cuidada do espectro mostrou a presena dos

  • Apresentao e discusso dos resultados

    52

    ismeros [1,3] e [3,3], semelhana do observado em outros teres allicos de

    benzisotiazol27. Aps alguns dias na bancada, verificou-se a aparecimento de pequenas

    partculas slidas dispersas no leo. As vrias tentativas de recristalizao foram

    ineficazes. No entanto estas partculas no podem ser provenientes do reagente de

    partida, ou seja, do cloreto de pseudo-sacarina, uma vez que este se converte muito

    facilmente em sacarina nas condies de work-up, sendo esta solvel em gua e

    facilmente eliminada durante o processo de extraco do composto.

    Em trabalhos de investigao anteriores82, tentou-se converter o linalol, um lcool

    allico tercerio, no correspondente ter de sacarina. Porm todas as tentativas se

    revelaram inteis visto que se obteve cristais amarelos cuja anlise por espectroscopia

    de massa revelou no se tratar do composto pretendido, mas sim de um produto

    resultante da reaco da trietilamina com o cloreto de pseudo-sacarina, 3-

    (dimetilamina)-1,2-benzisotiazol-1,1-dixido ( Figura 26 ). Este composto foi obtido

    por reaco do cloreto de pseudo-sacarina e a trietilamina em tolueno, tendo sido

    caracterizado por cristalografia de raio X.

    SO2

    N

    N

    Figura 26. Estrutura do composto 3-(dimetilamina)-1,2-benzisotiazol-1,1-

    dixido.

    Assim, foi considerado que o mesmo se poderia ter passado na sntese do

    derivado benzisotiazollico de nerol agora abordada. Analisando o espectro de massa da

  • Apresentao e discusso dos resultados

    53

    mistura obtida na preparao do ter pretendido, podemos verificar a existncia de um

    pico com uma intensidade relativa de 3.23% e m/z = 239. Esta massa igual massa do

    io molecular [M + H]+ do derivado aminado, justificando assim a origem das partculas

    slidas dispersas no produto e mostrando que de facto a amina compete com o lcool na

    substituio do carbono sp2 do cloreto de sacarina.

    Este via reaccional especialmente notria quando so usados lcoois

    estereamente impedidos, como foi o caso do linalol, em que ocorreu a formao

    exclusiva do derivado aminado.

    O mecanismo da reaco da trietilamina com o cloreto de pseudo-sacarina no

    conhecido. No entanto propomos no esquema 8 um possvel mecanismo reaccional.

    S

    N

    C l

    O O

    N (CH2CH3)3

    C l N (CH3CH4)4S

    N

    OO

    N

    S

    N

    OO

    C lN

    S

    N

    OO

    C lN

    N (CH2CH3)4

    N (CH2CH3)3

    To lueno

    Esquema 8

    De acordo com esta proposta mecanstica, existe um ataque nucleoflico do tomo de

    azoto ao carbono parcialmente electropositivo do anel heteroaromtico, promovendo a

    movimentao concertada dos electres ao longo do sistema benzisotiazollico e

  • Apresentao e discusso dos resultados

    54

    formando um aduto intermedirio com uma carga positiva localizada no azoto e uma

    carga negativa localizada no tomo de oxignio do grupo SO2. De seguida poder

    ocorrer a remoo de um grupo etilo assistida pela trietilamina presente em excesso no

    meio reaccional, com a formao de tetraetilamnio. A aromaticidade restabelecida

    atravs da eliminao do Cl-, que ir precipitar em soluo formando cloreto de

    tetraetilamnia. Embora seja proposto um mecanismo de adio (associativo), a

    hiptese de um mecanismo dissociativo no pode ser descartada.

    Face ao exposto, e com o objectivo de melhorar o rendimento de sntese do ter

    pretendido, pensou-se recorrer utilizao de uma base mais volumosa que a

    trietilamina, como por exemplo o DBU (1,8-Diazabiciclo[4.3.0]non-5-eno). O aumento

    da basicidade com o aumento do volume da base poderia levar a um aumento da

    competitividade do lcool. No entanto, fizemos uma tentativa de sintetizar o ter de

    sacarina recorrendo ao DBU como base, a qual no levou a resultados satisfatrios,

    tendo-se obtido apenas os materiais de partida.

    Outra forma de obter um maior rendimento seria aumentar o c