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8/3/2019 Signos Em Rotação - Peter Burke (Astrologia)

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ÍNDICE

SIGNOS EM ROTAÇÃORevival AstrológicoA não-ciência

 OS ASTROS E A VIDA COMPLICADA OS ÚLTIMOS 500 ANOSGlobal e popularDeterminismo astralPara calar os críticosContracultura burguesa FENOMENOLOGIA DA DEBILIDADEO papel do oculto O COTIDIANO DE UMA ASTRÓLOGAA visão de um astrônomo CARACTERÍSTICAS DOS SIGNOSÁriesTouroGêmeosCâncerLeãoVirgemLibraEscorpiãoSagitárioCapricórnioAquário

Peixes

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SIGNOS EM ROTAÇÃO ________________________________ 

Peter Burke

Intelectuais discutem o papel da astrologia nas sociedades contemporâneas. PeterBurke reconta a história dos últimos 500 anos da disciplina.

Popularidade crescente da astrologia entra em choque com premissas da ciência ecoloca na ordem do dia discussão sobre seu estatuto hoje 

Marcos Flamínio PeresEditor-adjunto do Mais!

Quando a Lua estiver na sétima casa e Júpiter se alinhar com Marte, então a pazguiará os planetas e o amor comandará as estrelas." O prognóstico, cantado em um dosgrandes sucessos música pop dos anos 60, ainda está por se confirmar, mas atesta com

segurança a enorme popularidade de que têm gozado, durante as últimas décadas, asprevisões baseadas na conjunção dos astros - a astrologia.

A canção "Aquarius", principal personagem de "Hair" - a peça e o filme -, é, naverdade, apenas uma das pontas mais visíveis de um fenômeno que se popularizou noséculo 20 na esteira da expansão dos meios de comunicação. Previsões baseadas no signozodiacal ou na hora do nascimento, muitas vezes misturados com doutrinas esotéricas eocultistas, são uma constante hoje na grande imprensa, em revistas especializadas e emprogramas de TV.

Em 1996, um em cada quatro americanos acreditava nas previsões astrais. Nafrança, terra do racionalismo, um em cada dois franceses se interessa, em graus variados,pela astrologia, diz o sociólogo Michel Maffesoli.

Na contramão dessa popularização, seu prestígio entre cientistas, sociólogos efilósofos nunca esteve tão em baixa. Exemplo disso foi a polêmica ocorrida na França e quese estendeu por várias semanas pelas páginas do jornal "Le Monde".

O incidente que deflagrou o chamado "affaire Teissier" foi a defesa, em 7 de abril, naSorbonne, de uma tese de doutorado sobre astrologia, orientada justamente por Maffesoli. Omotivo maior da controvérsia residia, porém, na postulante: Elizabeth Teissier, 63, é umafigura intensamente midiática, que foi consultora astrológica de personalidades como o ex-presidente François Miterrand (1981-1995), além de ter criado, em 1975, o primeiro programade previsão astrológica da TV francesa, o "Astralement Vôtre" (Astralmente Seu).

A Associação Francesa de Informação Científica chamou-a de "tolice científica"outros a qualificaram de "impostura" e uma comissão formada por quatro Prêmios Nobel

solicitou ao ministro da Educação Jack Lang que simplesmente impedisse a defesa da tese.

Advogada ardorosa do ensino do tema na universidade, Teissier foi incisiva durantea defesa: "O determinismo astral deve vir juntar-se ao determinismo psicológico e aodeterminismo genético".

Ainda que toda a polêmica oculte, em parte, o jogo de poder dentro do auto-centradomundo acadêmico francês, o fato é que a dissertação recolocou na ordem do dia a

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discussão sobre o estatuto da astrologia na sociedade moderna. Ela é uma ciência, umacrença ou sobretudo um fenômeno sociocultural de vastas implicações?

Em entrevista ao Mais!, Michel Maffesoli reivindica a legitimidade do estudo daastrologia: ela "não é uma ciência, mas um fato social e portanto merece ser examinada".

Defensor de uma "sociologia compreensiva" voltada para as questões do cotidiano,Maffesoli afirma que a astrologia é "uma manifestação de coesão social que não repousamais sobre o contrato racional, mas sobre um sentimento de coesão muito maisemocional". Assim como "a música tecno, as tribos homossexuais e o convívio na internet",conclui.

"Revival" astrológico ________________________________ 

 Na verdade, a longa história das práticas astrológicas, desde seu surgimento na

Mesopotâmia no século 23 a.C., é percorrida por controvérsias de toda ordem, como mostrao historiador inglês Peter Burke (leia texto na pág. 8). Contudo a dimensão dessascontrovérsias sofreu uma reviravolta desde o século passado. Sua popularização está

ligada diretamente à sua incorporação pela imprensa, a partir de 1930, como explica oprofessor Mike Harding, do Regent's College, de Londres (leia entrevista na pág. 6).

A instrumentalização das colunas de previsão astral por outras mídias foi apenasuma questão de tempo. Já nos anos 70, na França, Madame Soleil (Senhora Sol) se tomouuma celebridade nacional ao distribuir conselhos a seus ouvintes baseados no alinhamentodos astros; e planetas. No Brasil dos anos 70 e 80, Zora lonara e Ornar Cardoso iriam, comrelativo sucesso, estender as previsões astrológicas aos programas de TV.

Tomada fenômeno de massa, ela rapidamente passou a despertar o interesse daintelligentsia. É de 1971 o estudo pioneiro coordenado pelo também francês Edgar Morin, "ORetomo dos Astrólogos" em que investiga as razões do crescente interesse que a astrologiaestava despertando na sociedade francesa.

Morin situava o advento da sociedade industrial e a crise de valores da modernidadecomo decisivos para a expansão das novas doutrinas esotéricas; - em que inclui aastrologia -, a que chamou de Nova Gnose. Contudo, segundo Morin, a expansão brutal dosmeios de comunicação de massa fragmentou essas doutrinas a níveis até entãoinimagináveis. As especulações místicas passaram então a ser instrumentalizadassobremaneira em favor do aconselhamento ligado às necessidades imediatas das pessoas.

Essa função de "tapar buracos" existenciais já havia, de certa forma, sido antevistapor Freud 50 anos antes, em seu artigo "psicanálise e Telepatia".

Freud apontava ali o caráter "compensatório" de que estava se revestindo aastrologia na sociedade européia do pós-guerra. A intenção da astrologia, dizia, era "criarnoutra esfera, supermundana, as atrações perdidas pela vida sobre esta Terra".

Adorno, trilhando o caminho aberto pelo autor de "A Interpretação dos Sonhos", iriajuntar a teoria à prática. Por cerca de três meses, o filósofo alemão, então radicado nosEUA, acompanhou a coluna astral do diário "Los Angeles Times", comparando-a com a depublicações especializadas, como "Forecast" e "Astrology Guide. O resultado foi o ensaio"As Estrelas Caem sobre a Terra" um estudo exaustivo publicado originalmente em inglês eainda inédito no Brasil (leia texto na pág. 12).

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A não-ciência ________________________________ 

 Os ataques mais virulentos à astrologia partem hoje em dia de cientistas de renome

como Richard Dawkins; e Stephen Jay Gould, reunidos em tomo da revista "SkepticalInquirer", ponta-de-lança contra as disciplinas "não-científicas".

O estudo divisor de águas sobre o verdadeiro estatuto da astrologia foi, segundoDawkins e Jay Gould, um trabalho publicado na revista britânica "Nature", em 1985, porShawn Carlson, um físico da Universidade da Califórnia. Carlson pretendia testar uma dasprincipais premissas da disciplina- a de que a posição dos astros no momento donascimento permitiria determinar os traços gerais da personalidade.

Entre outras experiências, o teste consistia em pedir a vários astrólogos, aos quaisfoi dado um mapa astral de uma determinada pessoa, que a identificassem entre testes depersonalidade de três pessoas distintas. O índice de acerto foi de cerca de um terço, o quelevou Carlson a concluir cabalmente ao final de seu estudo: "A experiência refutaclaramente a hipótese astrológica".

A crítica mais feroz e empenhada ao estudo de Carlson veio de Mike Harding, paraquem o trabalho de Carlson apresenta falhas de metodologia "evidentes para qualquerestudante de primeiro ano de psicologia". Outros, como a própria Elizabeth Teissier, alegamque o teste é um índice como outro qualquer, sujeito à subjetividade e particularidade dequem o criou.

À revelia dos ataques, os estudiosos da astrologia têm sabido se servir do principalfoco de críticas a seu objeto de estudo: a universidade.

Hoje já há várias instituições superiores dedicadas inteiramente ao estudo daastrologia, como a Faculdade de Estudos Astrológicos, fundada em 1948, em Londres, e aFaculdade Kepler de Artes e Ciências Astrológicas, em Seattle (EUA), uma das maisrecentes.

Na índia, em maio passado, o governo anunciou que pretende criar departamentosde astrologia em todas as universidades do país já para o ano letivo de 2001-2002,oferecendo bacharelado, mestrado e doutorado.

A tecnologia também tem se mostrado um meio eficaz para assegurar a expansão daastrologia. No começo dos anos 80 passou a se generalizar a utilização de programas decomputadores. Softwares como Astrolabe, Matrix, Time Cycles e Cosmic Patterns têm sidoamplamente utilizados pelos astrólogos para confeccionar mapas astrais e realizar

previsões. Desde os anos 90, a internet já permitem o "download" de programas quetambém fazem previsões e mapas em tempo real.

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OS ASTROS E A VIDA COMPLICADA ________________________________ 

Entrevista com Mike Harding

Mike Harding é professor da Escola de Psicoterapia do Regent's College, emLondres, e um dos críticos mais qualificados e contumazes do que chama de "bastião doracionalismo". Em um artigo publicado no ano passado na revista "Correlations"("Preconceitos em Pesquisa Astrológica"), ele atacou ponto a ponto aqueles queconsideram a astrologia "perigosa".

Seu maior alvo é a "Skeptical Inquire?, publicação, que reúne intelectuais comoStephen Jay Gould, Richard Dawkins e Daniel Dennett. Harding acusa-os de tentar politizaro debate ao aproximar, como sendo não-científicos, a astrologia e movimentos como ofeminismo e o pós-modernismo de Derrida e Richard Rorty. Harding, que também éconsultor astrológico, rebate citando Wittgenstein: "Quando alguém diz 'deve ser assim', eleapenas está apontando o momento em que parou de pensar".

Harding não vê com bons olhos as colunas de horóscopos, que, para ele, não têm"nenhuma técnica astrológica". (MARCOS FLAMÍNIO PERES)

Os horóscopos que aparecem regularmente na imprensa são confiáveis?

Não tenho respeito nenhum por colunas de horóscopo da imprensa. Elas são urna invençãodos anos 30 criada para vender jornais e não são baseadas em nenhuma verdadeira técnicaastrológica. Isso pode ser facilmente demonstrado pelo fato de que, Cui considerando-seum dia qualquer, raramente haverá concordância nas previsões. Pode-se argumentar que,afinal, se trata de um dia apenas, mas o fato é que astrólogos sérios, quando lidam com ummapa astral, certamente chegarão às mesmas conclusões com relação a questões centrais,ainda que partam de diferentes métodos de abordagem.

Então por que elas são tão populares?

As colunas de previsão astral em jornais vieram à luz pela primeira vez em 1930, naInglaterra, nas páginas do londrino "Sunday Express". Tratava-se de um artigo do astrólogoJohn Naylor sobre o mapa astral da princesa Margaret, que tinha acabado de nascer. O textoera simples, embora sério. No mesmo artigo, Naylor fez urna previsão de que haveria "másnotícias" para a indústria aeronáutica inglesa e que urna importante figura ligada a elamorreria.

No dia seguinte à publicação, o avião inglês R101 caiu em seu primeiro vôo, morrendo todaa tripulação e um alto membro da Força Aérea. Isso criou um tal interesse que o jornal pediua Naylor que passasse a fazer previsões regulares, baseadas nos signos zodiacais. Naylortentou um ou dois diferentes formatos, mas acabou por estabelecer aquele que é o maiscomum hoje, o das colunas. Em suas primeiras tentativas, ele se servia de fato de uma

técnica astrológica genuína. Hoje, acho que cada astrólogo constrói sua própria técnica e,talvez, a coisa toda.

A astrologia é um fenômeno de classe média?

Embora o "Sunday Express" fosse um jornal de classe média, as colunas se expandiramtanto que hoje abarcam todas as classes. Na índia, por exemplo, elas são muito popularessem estarem enraizadas em nenhuma classe social específica, embora em parte isso sedeva ao sistema de castas. De qualquer modo, a astrologia é provavelmente mais

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relacionada à classe média do que a qualquer outra, mas é também muito dependente dosaspectos culturais. Por exemplo, a África não tem uma tradição de astrologia, e é maisprovável que pessoas com essa tradição cultural busquem previsões e conselhos em ummédium. Já na Índia, onde a astrologia tem uma tradição poderosa, ela é uma questão dodia-a-dia para a população.

Por que autores como Daniel Dennett e Richard Dawkins consideram a astrologia"perigosa", como o sr. menciona em seu artigo?

Eu não sei por que Dennett e Dawkins são tão contrários à astrologia. Mas, levando-se emconta o que eles têm escrito sobre o tema, pode-se deduzir que são contra porque aconsideram "não-científica". Dawkins em particular argumenta que a astrologia nãofunciona porque não existe nenhum "mecanismo" conhecido. Aqui ele comete um errobásico ao assumir que, pelo fato de alguma coisa não poder ser explicada de um certomodo, ela não pode ser explicada de modo nenhum. Como aponta Wittgenstein, quandoalguém diz "deve ser 'assim'", ele apenas está apontando o momento em que parou depensar.

Tem-se a impressão que o sr. não critica a ciência propriamente, mas a metodologia usadapelos cientistas. Ser a favor ou contra a astrologia é sobretudo uma questão de método?

Sim, o método (e a atitude por trás dele, seja de abertura, seja de pouca receptividade) temmuito a ver com o fato de a astrologia poder ou não ser objeto de pesquisa. Muitas daspesquisas são muito simplistas e não-fenomenológicas. O caso que cito em meu texto éemblemático. Foram misturados mapas astrais de 20 pintores e de 20 políticos. Poderiam osastrólogos separá-los? Eles não puderam. Mas os pesquisadores misturaramindiscriminadamente mapas astrais os mais variados. Os pesquisadores não imaginaramperguntar, por exemplo, por que alguém pinta ou por que alguém leva uma vida pública.Partiu-se da idéia de que todo pintor deve pintar pela mesma razão, assim como seconsiderou que todos os políticos entraram na vida pública também por um único motivo.Mas por que isso deveria ocorrer?

A pesquisa de tipos de personalidade é muito difícil, e os testes psicológicos maisconvencionais dizem muito pouco sobre isso. De modo interessante, pode ser demonstradoque pessoas que viram os resultados de seus testes de MMPI (sigla em inglês para "perfilpsicológico mais respeitável") não puderam reconhecer-se neles. A astrologia afirmaconstantemente que a vida é muito complicada, sujeita a mudanças constantes, e que o"dentro" e o "fora" não apresentam limites precisos.

Qual a relação entre astrologia e pós-modernismo? Trata-se apenas de um esforço depolitizar o debate por parte daqueles que atacam a astrologia?

Periódicos como o "Skeptical Inquirer" certamente atacam teóricos do pós-modernismocomo "não-científicos" mas não creio que Rorty tenha muito a dizer sobre a astrologia. Apreocupação deles com a complexidade da linguagem pode, porém, ajudar a construir

algumas pontes, pois a astrologia é a forma de linguagem compreensiva mais antigaexistente para explorar nossa relação com o mundo.

O sr. critica não apenas cientistas que dizem que a astrologia é um substituto para areligião, como Rudolf Smit, mas também aqueles que, como Adorno, usam o arsenal dapsicanálise para chamá-la de "uma substituta para a relação proibida com uma figurapaterna onipotente". Então, o que é exatamente a astrologia?

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Se você pergunta o que astrologia "é", eu deveria dizer que primariamente é o queWittgenstein chamou de "jogo de linguagem" um modo de falar e pensar sobre as coisascom sua própria lógica. Não está conectado com nenhuma época ou linguagem específicas,mas é baseada na experiência assimilada. É uma linguagem conectada com a natureza dotempo e da existência.

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OS ÚLTIMOS 500 ANOS ________________________________ 

Peter Burke

O historiador inglês narra as fases de decadência eascensão da disciplina desde o Renascimento

As numerosas colunas publicadas por jornais mais e revistas, oferecendoconselhos astrológicos semanais ou mensais a pessoas de Leão ou Escorpião, dão aimpressão marcante de que a astrologia é levada a sério por pessoas de muitos tipos e emmuitas diferentes partes do mundo, desde o Reino Unido até o Brasil (sem falar naCalifórnia). Colunas astrológicas em jornais e revistas são comuns e corriqueiras. Livrosexpostos em aeroportos e estações ferroviárias oferecem guias astrológicos para ajudarvocê a conservar a saúde, ganhar dinheiro ou melhorar sua vida sexual. Nos anos 80 aBritish Telecom colocou um "disque horóscopo" à disposição de seus clientes, e umrestaurante aberto recentemente no elegante bairro londrino de Notting Hill oferece a seusclientes mapas astrológicos acompanhando as refeições.

Embora seja difícil confirmar a generalização que segue, é bem provável que asescolhas feitas por muitas pessoas em seu dia-a-dia sejam influenciadas, hoje, pelo queelas acreditam, baseadas em seus horóscopos e signos. A própria palavra "influência" era,originalmente, um termo técnico derivado da astrologia, antes de ser transferido para alinguagem cotidiana e usado em sentido mais amplo.

Do mesmo modo, as pessoas com frequência falam em "ocasião auspiciosa", dizemque alguém nasceu "sob uma estrela de sorte" ou que tem temperamento "jovial" ou"mercuriano" - e tudo isso sem parar para pensar que estão usando a linguagem daastrologia. Até mesmo a palavra "revolução" era originalmente um termo astrológico quevinculava os destinos de nações e Estados ao movimento circular dos planetas.

Por outro lado, algumas das afirmações feitas por astrólogos, especialmente a de

serem capazes de prever o futuro, são freqüentemente rejeitadas e até mesmotransformadas em alvo de chacota, tanto por intelectuais quanto por leigos. Nos EUA,alguns anos atrás, por exemplo, a conhecida história de que o presidente Ronald Reagantinha o hábito de tomar decisões políticas importantes com base nas previsões feitas pelaastróloga de Nancy Reagan evocava mais reações de descrença, repúdio ou risadas do quede empatia, e piadas eram feitas a esse respeito em programas cômicos.

Na realidade, o interesse do casal Reagan por astrologia era algo que remontava amuitos anos, desde a época em que Ronald trabalhou como ator (ou será que devemos dizerque era um "astro"?) em Hollywood. Ele tomou posse como governador da Califórnia no dia2 de janeiro de 1967, num horário incomum "à meia-noite", seguindo os conselhos de umastrólogo, para o qual esse era um momento auspicioso para ele. Quando se tomoupresidente dos Estados Unidos, a programação semanal de Reagan passou a ser

organizada por Nancy, seguindo os conselhos de uma astróloga de San Francisco, JoanQuigley.

Decisões importantes, tais como quando o presidente se submeteria a uma cirurgiaou o momento de conceder grandes entrevistas coletivas à imprensa, eram tomadas apenasdepois de Nancy consultar sua "amiga" de San Francisco. Antes do encontro de Reagan eGorbatchov na cúpula de Genebra, em 1985, Nancy pediu a Quigley o horóscopo do líderrusso e, quando Reagan teve um encontro com Tancredo Neves, disse ao brasileiro que as

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relações entre os dois países seriam boas porque os signos dos dois líderes eramcompatíveis.

Global e popular ________________________________ 

 Hoje, portanto, seria possível dizer que a astrologia é um fenômeno tanto global

quanto popular, rejeitado por muitos intelectuais, especial mente por cientistas, mas levadoa sério por muitas outras pessoas. No passado, porém, quer fosse na Mesopotâmia, naRoma Antiga, no mundo árabe medieval ou (mais obviamente) na Europa entre os anos de1300 e 1700, mais ou menos, a situação era quase exatamente a inversa. Naquela época aastrologia era essencialmente algo do interesse de intelectuais, sendo mais provável que aspessoas do povo consultassem feiticeiros e adivinhos, cujas previsões para o futuro erambaseadas na leitura das mãos, tigelas de água ou bolas de cristal, mais do que naobservação dos astros.

Escrever uma história global da astrologia que discutisse as práticas astrológicas

usadas desde a China até a Pérsia e da índia ao império asteca seria um empreendimentotão difícil quanto fascinante Na discussão que segue, porém, vou me concentrar noOcidente, sem, é claro, esquecer que o conjunto de práticas às quais damos o nome de"astrologia" chegou à Europa vindo do Oriente Fazia parte da "sabedoria do Oriente" ou 'luzdo Oriente, e sua transmissão em sentido ocidental era' simbolizada pela história tradicionaldos três homens sábios ou magos que seguiram uma estrela que os conduziu até o meninoJesus, em Belém.

Na Europa medieval, a astronomia era ensinada regularmente nas universidades,como parte do curso de "artes", e a distinção entre astronomia e astrologia era muito menosdefinida do que viria a se tomar ao longo dos séculos 17 e 18. Alguns intelectuaisrenascentistas; de destaque escreveram sobre o tema. O matemático italiano GirolamoCardano descreveu a astrologia como "o mais altivo dos ramos do conhecimento, porque

trata de coisas celestiais e do futuro". Outro italiano, o médico humanista Marsilio Ficino,filósofo favorito de Lorenzo de Médici, "o magnífico" (governante de Florença), escreveu umtratado explicando a seus leitores como fazer uso da astrologia para viver uma vida melhor.

Uma de suas recomendações era que fossem compostas canções apropriadas aosplanetas específicos, para suscitar suas influências benéficas. Assim, a música "marcial"atrairia influências do planeta Marte, a música sensual, do planeta Vênus e assim por diante.

Em seu célebre tratado sobre arquitetura, outro humanista, Leon Battista Alberti,insistiu na importância de consultar astrólogos para decidir o dia e até mesmo a hora certade iniciar a construção de edifícios importantes. O próprio Ficino foi chamado paraaconselhar os arquitetos sobre a data em que deveria ser iniciada a construção do grandePalazzo Strozzi, em Florença, em 1489. O palácio continua em pé até hoje. Ao que consta, aastrologia é a chave de algumas telas famosas do Renascimento, entre elas um ciclo deafrescos no Palazzo Schifanoia, em Ferrara, e, segundo alguns estudiosos, a "Primavera" deBotticelli, na qual a figura central representa tanto Vênus quanto o mês de abril.

Nessa época a astrologia não era vista como incompatível com o cristianismo. Naverdade, vários papas da Renascença se interessavam profundamente pela astrologia, entreeles o papa da família ~ Alexandre 6o. o papa da família Médici, Leão 10o., e o papa Farnese,Paulo 3o. Quando foi eleito papa, Paulo convidou seu astrólogo favorito para vir a Roma e onomeou bispo. Mesmo o papa Urbano, do século 18, que se interessava pelas idéias de

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Galileu, encomendava os horóscopos de seus cardeais a astrólogos, para que soubessequanto tempo de vida teria cada um deles.

Alguns membros do clero viam os astrólogos como rivais e os tratavam comhostilidade, mas, de modo geral, os estudiosos das estrelas só tinham problemas com a

igreja quando invadiam o território dela, fazendo comentários sobre assuntos religiosos.Alguns deles desenhavam os horóscopos das religiões e argumentavam que, graças àinfluência das estrelas, diferentes religiões estavam destinadas a se revezarem no domíniodo mundo. Cardano chegou a ser preso pela Inquisição, acusado de ter traçado ohoróscopo de Cristo e explicado os acontecimentos de sua vida pela posição dos astros.Cardano também fez o horóscopo de Martinho Lutero - sem a permissão deste.

Até a segunda metade do século 17, a astrologia continuou a ser vista comointelectualmente respeitável. Durante a guerra civil inglesa, por exemplo, Richard Overton,líder do chamado partido dos "niveladores" e homem que já foi descrito como racionalista,consultou um astrólogo para saber se sua aliança política com o Exército seria bem-sucedida. O rei Luís 14, da França, nomeou um astrólogo como seu agente diplomáticoespecial na corte do rei Carlos 22, na Inglaterra. O rei Carlos levou o agente às corridas decavalos em Newmarket para ver se ele seria capaz de prever os vencedores.

Isso pode nos parecer uma reação um tanto quanto cínica, mas é bem possível queas intenções de Carlos fossem sérias. Afinal, ele demonstrou interesse suficiente peloassunto para consultar um astrólogo sobre seus problemas políticos, perguntando a ele,por exemplo, se suas relações com o Parlamento iriam melhorar e qual seria o momentomais propicio para proferir um discurso político importante. Mesmo Isaac Newton estudouastrologia em sua Juventude.

Determinismo astral ________________________________ 

 Entretanto, se alguns intelectuais do calibre de Newton levavam a astrologia muito a sério,outros já se diziam havia muito tempo céticos quanto a sua suposta capacidade de prever o

futuro. Na Itália renascentista, por exemplo, o célebre humanista Giovanni Pico dellaMirandola publicou um livro intitulado , "Disputas contra a Astrologia", no qual negou ainfluência dos astros nos assuntos humanos, além de levantar objeções mais técnicas àpossibilidade de fazer os cálculos precisos necessários para o traçado de horóscopos. Elerejeitou o determinismo das influências astrais com o mesmo vigor com que alguns liberaisdo século 20 rejeitaram o determinismo econômico associado a Karl Marx.

O que Pico levava a sério, por outro lado, era a magia - em outras palavras, o poderdos indivíduos de manipular os mundos natural e social por meio de rituais. A Reformaprotestante levou ao aumento das críticas feitas aos astrólogos. Tanto Lutero quantoCalvino viam a astrologia como doutrina falsa. Em seu "Tratado contra a Astrologia" (1549),por exemplo, Calvino usou o conhecido argumento de que as afirmações dos astrólogosdevem ser falsas porque gêmeos idênticos nascem sob a mesma estrela, mas têm destinos

diferentes.

Do século 17 em diante, a era da chamada "revolução científica", a astrologiacomeçou a perder sua respeitabilidade intelectual. Seus adversários a descreviam como nãoapenas falsa, mas também absurda, inacreditável ou enganosa. O astrônomo JohannKepler, por exemplo, descreveu a astrologia como a "filha pequena e tola" da astronomia(embora continuasse a desenhar horóscopos de tempos em tempos, inclusive o seupróprio). Mais do que crente tradicional na astrologia ou cético em relação a ela, ele pode

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ser mais bem descrito como reformador dela. O filósofo Francis Bacon, seu contemporâneo,acreditava na influência dos astros sobre os assuntos humanos, mas não na capacidadedos astrólogos em traçar previsões.

O pastor calvinista Pierre Bayle, cujo "Dicionário Histórico e Crítico" (1696) era

amplamente consultado no século 18, declarou que o sistema astrológico era absurdo e quesua história não passava da história do logro e da credulidade. De maneira semelhante, agrande "Enciclopédia" francesa da década de 1750, o texto-chave do Iluminismo na Europa,descrevia a astrologia em termos de "pretensões", "superstição" e "paixão cega". NaInglaterra do século 19, a Sociedade para a Difusão do Conhecimento útil, um grupoprotestante, promoveu uma campanha contra a astrologia, enquanto a polícia regularmenteprendia astrólogos profissionais (depois de se fazer passar por seus clientes) e osencarcerava pelo crime de lograr o público.

Entretanto, mais ou menos à mesma época em que a astrologia perdia seu prestígioanterior entre os intelectuais e as classes superiores, ela começava a alcançar uma parteconsiderável da população comum. A invenção da imprensa e o gradativo aumento donúmero de pessoas alfabetizadas foram abrindo caminho para isso. Almanaques; eramimpressos em números cada vez maiores, eram relativamente baratos, e, na Inglaterra doséculo 17, por exemplo, 400 mil cópias deles eram vendidas todos os anos. Em outraspalavras, mais almanaques; do que Bíblias eram vendidos na Inglaterra.

A astrologia dos almanaques era um pouco diferente daquela dos humanistas daRenascença. Era adaptada aos interesses e às necessidades das pessoas comuns,sobretudo das pessoas que trabalhavam na terra. Os almanaques diziam pouco, porexemplo, sobre horóscopos individuais. Em lugar disso, se preocupavam principalmente emprever as condições climáticas do ano seguinte e as épocas mais propicias para semearplantações, cortar o cabelo ou tomar banho (o banho ainda era um acontecimentorelativamente raro na Inglaterra do século 17), tirando tanto as idéias quanto as informaçõesda cultura oral tradicional. Também eram incluídas previsões políticas, especialmentedurante a guerra civil dos anos 1640 e 1650, quando, compreensivelmente, as pessoasestavam temerosas a respeito das mudanças que o futuro poderia impor.

De maneira semelhante, os astrólogos profissionais se adaptaram às necessidadesde seus diferentes clientes e ampliaram suas atividades para incluir a localização depessoas ou navios desaparecidos ou de bens roubados. Sob essa forma mais popular, aastrologia sobreviveu até o início do século 19 e foi incorporada ao folclore rural. Dizia-se,por exemplo, que nunca se devia matar um porco na lua minguante e que, se isso fossefeito, o toucinho encolheria quando fosse cozido. Os romances de Thomas Hardy,publicados na segunda metade do século 19, mas que descreviam o mundo rural da regiãoOeste da Inglaterra uma ou duas gerações antes, são repletos de referências à astrologiapopular, especialmente as tentativas de prever o tempo.

Enquanto isso, os astrólogos urbanos, entre eles oficiais aposentados da Marinha(familiarizados com os astros como pontos de apoio para a navegação), procuravam

reformar sua disciplina, atualizá-la e torná-la mais científica, visando a a~ as classesmédias. Em 1895 um novo periódico foi fundado em Londres com o nome de "ModernAstrology". Seu primeiro editorial declarava que "é chegado o momento de modernizar oantigo sistema da astrologia". Um dos modernizadores era um certo Richard Morrison, queusava o nome de "Zadkiel" e empregava uma bola feita de cristal de pedra brasileira paraajudá-lo em suas previsões. Outro, Walter Old, conhecido como "Sepharial", oferecia a seusclientes previsões dos resultados de corridas de cavalos e dos movimentos das ações naBolsa.

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 Para calar os críticos

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 Mas a tendência à modernização não foi suficiente para calar os Críticos da

astrologia. Em 1863, quando Zadkiel foi descrito publicamente como charlatão, ele acusouseu crítico de calúnia e o levou ao tribunal. Ganhou o processo, mas o júri lhe concedeuapenas uma libra esterlina a título de danos - provavelmente para expressar a opinião deque a astrologia não deveria ser levada a sério. Outro astrólogo importante era RichardGarnett, um estudioso multifacetado que se tornou superintendente da Sala de Leitura doMuseu Britânico. Garnett levava uma vida dupla, na medida em que publicava livros deastrologia sob o pseudônimo de A.G. Trent, estratégia que nos leva a crer que ele temia queseu tema ainda fosse visto como intelectualmente pouco respeitável. Diferentemente dealguns de seus colegas astrólogos, Garnett via o chamado ocultismo com hostilidade.

"Nada", escreveu, "fez a astrologia científica ganhar uma fama tão ruim quanto aidéia de que ela possa ser uma 'ciência oculta'. Ela não é nada do tipo". Não seria possívelrepresentá-la mais erroneamente de que traçar qualquer conexão entre ela e a magia ou

teosofia." Um terceiro astrólogo que era ativo na Inglaterra vitoriana e mesmo mais tarde eraWilliam Allen, que se fazia chamar "Alan Leo". Seu objetivo era modernizar, popularizar oudemocratizar o tem e, para isso, escreveu livros com títulos como "Astrologia para Todos".No início do século 20, um esforço coletivo foi feito por vários praticantes britânicos paraelevar o status da astrologia e transformá-la em profissão, como estava sendo feito com asprofissões emergentes de engenheiro, contador, agrimensor e assim por diante, cada urnacom seus institutos oficiais. Assim foi fundada uma Sociedade de Pesquisas Astrológicasem Londres, em 1902, seguida por um Instituto Astrológico, em 1910, e por uma LojaAstrológica, registrada como entidade beneficente e que promovia palestras semanais.

A principal diferença entre essa astrologia reformada e a mais tradicional era seusincretismo consciente. Alguns astrólogos, por exemplo, adotaram a linguagem do inimigo -ou seja, o vocabulário da ciência do século 19. Alguns deles, como Garnett como já vimos,

enfatizaram a diferença entre seu campo e o da magia e escreveram sobre "ciênciaespiritual', "a base científica da astrologia" ou i( a prova científica da ligação entre os signosastrológicos e o comportamento humano".

Alternativamente, empregavam a retórica da estatística (de maneira semelhante,alguns praticantes contemporâneos utilizam computadores para gerar horóscopos paraseus clientes, não apenas para poupar tempo mas também para conferir a suas previsõesuma aura de alta tecnologia). Por outro lado, os astrólogos mais tradicionais preferiamenfatizar as ligações entre suas idéias e as dos rosa-cruzes, dos maçons e dos mistérios doEgito Antigo.

Contracultura burguesa ________________________________ 

 Alguns deles se apropriavam de elementos das religiões orientais, do hinduísmo e

do budismo, por exemplo, quer estudassem essas religiões diretamente ou por meio dateosofia ou antroposofia sincretista que se espalhava na Inglaterra, na França e em outrasáreas no final do século 19. O renascimento do interesse pela astrologia em Londres nosanos 1880 e 1890 era parte do que se pode chamar de uma "contracultura burguesa",traçando uma analogia com a contracultura californiana. de um século mais tarde. Os

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estudiosos dos astros tinham a tendência a também se interessar pelo hipnotismo, porexemplo, ou pelo vegetarianismo e espiritismo, além da astrologia.

No final dos anos 20 e 30 do século 20, alguns astrólogos já tomavam de empréstimoa linguagem e as idéias da psicologia de Carl Gustav Jung. Em contrapartida, a filha de Jung

se tomou astróloga, e o próprio Jung estudou o assunto. Seguindo seu exemplo, algunsescritores "psicologizaram" a astrologia, descrevendo o horóscopo como "mapa da psique"ou falando dos "planetas interiores" de cada um. O mais comum, ao que parece, é acombinação - o da linguagem da astrologia comas da ciência e religião. Essa novaastrologia sincrética, como a medicina alternativa ou a alimentação orgânica, navega a ondado chamado movimento new age do final do século 20. Também existem gruposminoritários; de entusiastas ocidentais de astrologias específicas não-ocidentais, como o"feng shui", a astrologia védica, a astrologia tibetana e até mesmo a astrologia asteca. Omais comum, porém, parece ser alguma forma de sincretismo.

Esse breve resumo dos últimos 500 anos de um conjunto de práticas que data depelo menos 3.000 anos sugere uma série de reflexões. Para um historiador social, éfascinante observar a trajetória social da astrologia, em dado momento "elevada , estudadapelas elites, em outro "baixa" ou popular e, hoje, ao que parece, atraindo pessoas dediferentes classes sociais. Um futuro historiador do século 20 talvez interprete o "revival" daastrologia não apenas como exemplo da globalização da cultura, mas também como reaçãocontra a visão de mundo científica, que não reservava lugar para a magia ou a poesia e quelevou à construção das bombas atômica e de hidrogênio. Para os próprios astrólogos, esseciclo de expansão, contração e nova expansão do interesse em sua disciplina não é mais doque se poderia prever. Ao que parece, nem mesmo a própria astrologia pode fugir dainfluência dos astros. a

Peter Burke é historiador inglês, autor de "Variedades de História Cultural" (ed,Civilização Brasileira) e "O Renascimento Italiano" (ed. Nova Alexandria), entre outros. Eleescreve mensalmente na seção 'Autores", do Mais]. Tradução de Clara Allain.

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FENOMENOLOGIA DA DEBILIDADE ________________________________ 

Ricardo Musse

Entre 1952 e 1953, o filósofo alemão Theodor Adorno estudou a coluna de astrologia dojornal "Los Angeles Times", quando morava nos EUA

Pouco depois de regressar, em 1952, à Alemanha, de um exílio de 16 anos, T.W.Adorno retoma aos EUA, onde permanece por quase um ano. Elabora, então, uma análise dacoluna de astrologia do jornal "Los Angeles Times".

A escolha desse tema - a astrologia nos meios de comunicação de massas - prende-se a um esforço de compreensão da então recente irrupção, num mundo completamenteiluminado, "da calamidade triunfal" da qual o nazismo foi a expressão mais nítida. O livroque, na ocasião, escreveu com Horkheimer, "Dialética do Esclarecimento" (1947, no Brasilpublicado pela ed. Jorge Zahar), funciona como uma espécie de sistema de referências parauma série de investigações complementares; pesquisas essas que selam um pacto entre aorientação especulativa dos frankfurtianos e a sociologia empírica norte-americana.

Embora Adorno estivesse, desde 1937, em contato permanente com as técnicas dasociologia empírica, sempre rejeitou o modelo de investigação que denomina"administrativa" que se limita a averiguar fatos, ordená-los e colocá-los à disposição comoinformação, sem analisar seus pressupostos e suas conseqüências econômicas e sociais.

Adorno tampouco concorda com a forma usual de aplicação das técnicas práticas deinvestigação. já em sua pesquisa sobre a música radiofônica, questiona a ênfase naquantificação dos "estímulos", pois ela não leva em conta que o imediato das reaçõessubjetivas, individuais, é mediado "não só pelos mecanismos de propaganda e a força desugestão do aparato, mas também pelas conotações objetivas do meio e do material com

que são confrontados os ouvintes e, por fim, pelas estruturas sociais mais amplas, atéchegar à sociedade como um todo".

São tais pressupostos teóricos e metodológicos que explicam a atualidade daanálise adorniana da astrologia. "The Stars Down to Earth" (As Estrelas Caem sobre a Terra,ed. Routledge, EUA) permanece como um modelo de sociologia empírica que, ao ir além dastécnicas de quantificação, atinge o ideal de toda investigação social crítica, isto é, mostracomo nas reações subjetivas cintilam determinantes sociais objetivos.

A especificidade do seu projeto sociológico, sua diferença em ~o à sociologiaclássica, é que, enquanto esta, em geral, por oposição à psicologia, enfatiza apenas oscondicionantes econômicos e sociais da ação, Adorno, preocupado em explicarmovimentos de massa cujos participantes parecem agir contra seus próprios interesses

racionais de autoconservação, incorpora a psicanálise como mediação essencial para acompreensão da relação entre indivíduo e sociedade.

Sua interpretação da astrologia parte de uma indagação elementar. como entender aestima pública da astrologia, num momento em que o conhecimento científico foiinteiramente incorporado à vida prática e à mentalidade predominante?

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O papel do oculto ________________________________ 

 A resposta que propõe passa pela delimitação de seu objeto. Na astrologia dos

meios de comunicação, o oculto desempenha papel secundário, pois, ali, ele se encontra

institucionalizado, de acordo com os ditames do mundo ilustrado. Por conseguinte, não setrata de explicar experiências ocultas como expressão do inconsciente, como fez Freud em"0 Estranho"; ou mesmo de destacar o legado cultural pela reconstituição do processo derefundição de velhas superstições, como faz certa antropologia. Resta, portanto, explicar ademanda pela astrologia pela via da análise de seu conteúdo próprio, procurando identificarsobretudo as características implícitas de seu destinatário.

A astrologia mescla um contorno irracional - a tese de que seus prognósticos e conselhosprocedem dos movimentos dos astros, aceita com naturalidade pelos leitores- a um núcleoracional, o fornecimento de conselhos pragmáticos e úteis para os problemas do cotidiano(não muito diferentes das orientações das colunas de psicologia popular).

["O tipo de pessoa com que nos preocupamos aceita a astrologia de modo gratuito, assim

como o faz com a psiquiatria, conceitos sinfônicos ou partidos políticos; aceita-a porque elaexiste, sem muita reflexão, contanto que as suas demandas psicológicas de algum modocorrespondam à oferta. ( ... ) Na coluna de jornal à qual esta monografia se devota, amecânica do sistema astrológico nunca é divulgada, e aos leitores se apresentam apenas osresultados alegados de um raciocínio astrológico do qual eles não participam."] (Trecho de"The Stars Down to Earth, de Theodor Adorno)

A coluna astrológica, mesmo tendo em vista uma provável atitude ao mesmo tempoindulgente e desconfiada de seus seguidores, procura satisfazer anseios de indivíduos queestão convencidos de que outros (ou alguma força desconhecida) devem saber mais sobreele e sobre o que deve fazer do que ele próprio.

O tema principal de "The Stars Down to Earth" é, portanto, a forma como a indústriacultural pressupõe e reafirma a reificação do indivíduo, sua adequação às modernas formas

de dependência psíquica e social Adorno promove um extenso mapeamento das figuras daindividualidade contemporânea, uma espécie de fenomenologia da debilidade do sujeito no"mundo administrado".

Seus resultados não podem ser resumidos sem a complexa rede de mediaçõesmobilizada por Adorno. O que lhe permite passar de forma convincente do micro para omacro, daquilo que aparentemente tem pouca importância no andamento da sociedade parauma compreensão precisa e determinada do todo social não reside apenas na jámencionada incorporação dos conceitos da psicanálise. O segredo metodológico de Adornoconsiste principalmente na atenção que concede às contradições, em suma, na retomada dométodo dialético ensaiado por Marx em "O Capital".

A lógica da construção e funcionamento da coluna de astrologia, examinada

minuciosamente por Adorno, a partir de sua premissa formal - adotar um estilo que induza acrença de que possui um conhecimento concreto dos problemas dos leitores -, buscaequilibrar uma série de exigências contraditórias: a dicotomia ameaça/alívio (configuradapela polaridade divergente entre diagnóstico e conselho ou no propósito de infundirangústia e satisfazer o narcisismo); o par real/fictício; as antinomias trabalho/prazer, funçãopública/vida privada, produção/consumo, adaptação/individualização,dependência/autonomia, submissão/resolução (abordadas tanto em sentido psicológicoquanto social), a relação individual/universal etc.

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 As dificuldades objetivas dessas aporias - que derivam das articulações da

sociedade capitalista - são elididas, na coluna de astrologia, por meio de um conjunto deprocedimentos que Adorno denomina "enfoque bifásico". A forma de resolução dessascontradições, pressuposta e proposta pela indústria cultural - eis aí um ponto-chave da

interpretação adorniana -, decorre de uma imposição ao mesmo tempo conformista eautoritária. Ricardo Musse é professor do departamento de sociologia da USP.

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O COTIDIANO DE UMA ASTRÓLOGA ________________________________ 

Caio Caramico SoaresFree-lance para Folha

A colunista da Folha Barbara Abramo discute as características de sua profissão ecomenta os requisitos para a elaboração do horóscopo

Pode não ser bem esse o sentido da ligação, proposta por Carl Gustav Jung, entreastrologia e o inconsciente coletivo - um substrato psíquico universal, que se daria a verpelos símbolos culturais -, mas os horóscopos de jornal são exemplo constante de discursogeneralista e de aposta no impessoal, ao tentar abarcar em poucas linhas influências astraiscomuns a todo "pisciano" ou "leonino".

Para Barbara Abramo, 47, colunista de astrologia da Folha, escrever para a mídia supõe oresgate de uma premissa da antiga Caldéia: a de que, à exceção do rei, "todo mundo éninguém", podendo ter a situação astral definida em traços vagos - limitados à referência da

posição da Lua e do Sol- bem menos "ricos" e "refletidos" se comparados à atividade deconsulta e confecção do mapa astrológico individual, reservada antes ao monarca e hoje,via de regra, a quem possa pagar.

A "arte" do astrólogo de mídia estaria, segundo Abramo, em fazer um "instantâneodo universo simbólico", captando conjunturas efêmeras da vida cotidiana, sem desatentarao pano de fundo, isto é, às tendências do futuro a médio e longo prazos.

A astróloga, em geral crítica em relação ao atual "monopólio do direito de previsão"pelos economistas, lança mão, porém de uma analogia com os consultores financeiros dejornal, como via de legitimação do "toque genérico" possibilitado pelo horóscopo: este seriaum diagnóstico preliminar dos "investimentos" (de conduta) momentaneamente maisadequados ao "status" (signo) do investidor.

Outro princípio dessa relação do intérprete astrológico - agente de uma"culturalização do céu", nos termos de Abramo - com o leitorado de massa seria o caráter"prático" necessário ao aconselhamento: em vez, por exemplo, de elucubrações sobre a"dinâmica edipiana" da relação com o chefe, seria melhor (e mais condizente com a tradiçãoastrológica) detectar os momentos bons ou funestos para pedir aumento salarial.

Mas como se dá o trabalho do autor de horóscopos diários? Entre as pistas que dásobre sua rotina pessoal, Abramo afirma escrever sempre na hora do dia regida porMercúrio - além deste, outros seis astros (Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus e Lua)repartiriam o domínio sobre os dias e semanas.

Mercúrio, regente (e, pois, comandante da primeira hora) da quarta-feira - "mercredi" emfrancês, "mercoledi" em italiano -, eqüivalia na mitologia romana ao Hermes grego, deus das"comunicações" entre céu, terra e as regiões infernais, o que poria sob essa influênciaastral não apenas sua própria profissão mas também a de jornalistas e oradores.

A astróloga também diz que os planetas de trânsito mais rápido - Mercúrio, Vênus eMarte- são os mais úteis à identificação do "quadro do clima do dia".

Para tal trabalho, que faz na biblioteca de sua casa, Barbara utiliza o computador -mas não revela o programa adotado. Embora reconheça as facilidades trazidas pela

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informática, não acha que elas tomem a astrologia uma técnica acessível a todos: "Fico umpouco chocada com pessoas que dizem que sabem astrologia porque aprenderam a pilotarum software. Você precisa conhecer a filosofia que está por trás de cada cálculo, inclusivepara tomar um partido teórico que irá embasar seu trabalho interpretativo".

A astróloga diz levar até três horas por dia elaborar uma coluna - que pode ter razoávelantecedência, às vezes de alguns dias. De novo, o cálculo cede aqui es paço ao discurso:boa parte do tempo gasto não é com a observação e interpretação do céu, mas com o"trabalho de usar uma linguagem que inclua o maior número de possibilidades sem ficarvaga demais nem bitolada a ponto de apenas, digamos, só fazer sentido para as pessoas deum determinado signo que nasceram perto das 6 horas da manhã".

Abramo comenta ainda que, a depender das "centenas" de reações de leitores por e-mail, é de 60% o nível de acerto de suas previsões, número que se elevaria para 90% nocaso das consultas individuais. Estas, aliás, teriam sido até melhoradas por sua experiênciana mídia, à medida que permeadas por uma linguagem não só mais acessível, mas tambémmais imagética. É o caso do símbolo do "leão no deserto" que Abramo diz ter utilizadomuito em suas análises no mês passado - período que se marcaria pelo entrada do Sol emCâncer, levando Leão a um estágio mais reflexivo.

A cientista social formada pela USP tem no seu próprio trajeto um exemplo do quehoje reivindica dos demais astrólogos: mais "articulação intelectual" com outros saberes emenos mistificações de tipo esotérico ou psicologizante.

Embora admita que a astrologia não é "científica" no sentido pós-iluminista do termo,Abramo vê uma legitimidade epistemológica própria - calcada em um corpus coerente deconceitos e métodos- para o oficio de "culturalizar" céu, isto é, de projetar nele acapacidade humana de tecer e de se apoiar em teias de sentido.

Abramo crê que a falta de boas faculdades ou cursos de especialização, em especial noBrasil, reflete e reforça, por culpa dos próprios astrólogos - que estariam envolvidos demaisem "panelas" corporativas -, a falta de "seriedade" que pesa sobre- a disciplina, que assim é

relegada a curiosidades do tipo: "Será que Leão se dá bem com Gêmeos?".

A astróloga, formada pela escola Júpiter, em São Paulo, diz se identificar com a linha dita"neotradicional", baseada na releitura de tratados antigos - entre eles, o compêndio árabe"Picatrix" - e que tem no historiador e latinista Robert Zoller um dos seus principaisexpoentes. Cita também como paradigmático o núcleo de pesquisa francês Cura (CentreUniversitaire de Recherche en Astrologie), que em seu site - www.cura.free.fr - divulga fartomaterial de discussões históricas e filosóficas sobre o tema.

A visão de um astrônomo ________________________________ 

free-lance para a Folha

Para o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, a astrologia foi central àevolução científica, ao aguçar e prover de novos métodos uma prática onipresente naefabulação mítica dos povos arcaicos, o estudo do céu, apesar de ser equivocada ao suporuma "influência" moral dos astros sobre o destino humano.

Um legado concreto da astrologia teriam sido as "efemérides" - tabelas adotadas;por árabes e judeus na previsão dos movimentos celestes (com até quatro anos deantecedência)-, úteis às grandes expedições marítimas dos séculos 15 e 16.

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Mas o pesquisador titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins é incisivo aorecusar à astrologia legitimidade como via de descrever as constelações zodiacais e deinferir - inclusive pelo empréstimo de conceitos com lastro científico, tomados àastronomia- efeitos terrenos dos perfis astrais. O interesse atual pela astrologia denotaria,segundo ele, unia "válvula de escape" contra as pressões da vida moderna. (ccs)

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CARACTERÍSTICAS DOS SIGNOS ________________________________ 

 

ÁRIES: Início do ciclo zodiacal liga-se à imagem da "criança divina", em seu frescor,

integridade e espontaneidade incólumes ao desgaste. Seu ~o de agir independe deaprovação externa

TOURO: Representado por uni animal ligado à aragem e fertilização da terra, é o signo dotrabalho que materializa as formas ideais. Seu poder de concretizar metas se alia ao respeitopela vida real.

GÊMEOS: Como seu regente Mercúrio -- que tem asas nos pés -, é o signo dos atributos"juvenis da inquietude, curiosidade e versatilidade. Atraído pela informação imediata, é o"repórter do zodíaco"

CÂNCER: Receptivo e nutridor, liga-se às imagens maternas do ventre e do útero. Signo desensibilidade facilmente impressionável, é instável como a Lua, astro que o rege

LEÃO: Regido pelo Sol, símbolo da força criativa, e dominado pelo elemento fogo, é o signoda vitalidade que prefere o combate à contemplação

VIRGEM: Sua afinidade com a botânica ou zoologia vem do impulso de dissecar e classificarcomo meio para o auto- aprimoramento. É o signo do desejo de aprendizagem.

LIBRA: A primavera que o signo inicia no hemisfério sul representa, no nível simbólico, aabertura à sociabilidade, a arte de pesar na "balança" (que o representa) as a~ do convíviointerpessoal

ESCORPIÃO: Regido por Marte, planeta de acentuado caráter bélico, é um signo fortementeatraído pelos vetores "mundanos" do sexo, do poder e do dinheiro. Perspicaz, suadeterminação é proporcional ao ciúme e ao rancor pelos objetos cobiçados

SAGITÁRIO: Figurado pelo centauro Quíron - médico impotente para curar a própria ferida -,é o signo da justiça, da sociabilidade, da flecha que irradia benevolência. Esportista não porambição, mas pelo ensejo de praticar a ética

CAPRICÓRNIO: Seu símbolo, a cabra-peixe, exprime a tensão entre o "senso da terra" e atentação escapista, entre o limite - dado na imagem dos anéis de Saturno, planeta regente -e sua dissolução. Signo dos deveres, tem o sangue-frio dos líderes e estrategistas

AQUÁRIO: Alegorizado pelo titã Prometeu - intrépido doador do fogo roubado de Zeus aoshomens, é o signo da ousadia, da visão pragmática de faturo, do planejamento racionalPouco afeito a "ídolos de pés de barro" e a expansões emotivas

PEIXES: Signo do devaneio, da compaixão universal, que pode ser conversível num"complexo de Atlas", que o faz carregar o mundo nas coam Faz seu o dito de Cristo (aliásrepresentado como peixe até hoje, nas vestes de padres) "O meu reino não é deste mundo?