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1 TÍTULO DO PROJETO É nóis na fita1 : a formação de registros e a elaboração de estilos no campo da cultura popular urbana paulista PESQUISADOR RESPONSÁVEL Anna Christina Bentes da Silva INSTITUIÇÃO SEDE: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Universidade Estadual de Campinas RESUMO Este projeto tem como objetivo geral produzir descrições e análises que revelem a maneira pela qual os processos de formação de registros e de elaboração de estilos pelos grupos sociais se interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito, concebendo tanto a formação de registros, quanto a elaboração de estilos como atividades lingüístico-discursivas de natureza icônica, recursiva e reflexiva. Assim, este projeto está fundamentalmente comprometido com a descrição e análise não apenas da heterogeneidade, mas também da hierarquização das identidades, dos registros e dos estilos vinculados aos manos, o que significa dizer que dentro de um mesmo grupo social ocorrem manipulações estratégicas dos vários recursos semióticos de forma a se atribuir mais ou menos prestígio a determinados indivíduos, a determinadas práticas, a determinados grupos. Para que se entenda esse processo de hierarquização não se faz necessário comparar as práticas lingüístico-discursivas desses sujeitos com as de outros grupos sociais, mas investigar mais detalhadamente o estabelecimento de distinções no interior dos sub-campos sociais nos quais estes sujeitos circulam e aos quais se vinculam ou são vinculados. 1 Essa expressão é amplamente utilizada quando se quer dizer que o sujeito que a enuncia e o grupo ao qual ele pertence estão no centro das atenções.

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TÍTULO DO PROJETO

“ É nóis na fita” 1: a formação de registros e a elaboração de estilos no campo da cultura

popular urbana paulista

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Anna Christina Bentes da Silva

INSTITUIÇÃO SEDE:

Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

Universidade Estadual de Campinas

RESUMO

Este projeto tem como objetivo geral produzir descrições e análises que revelem a

maneira pela qual os processos de formação de registros e de elaboração de estilos

pelos grupos sociais se interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito,

concebendo tanto a formação de registros, quanto a elaboração de estilos como

atividades lingüístico-discursivas de natureza icônica, recursiva e reflexiva. Assim,

este projeto está fundamentalmente comprometido com a descrição e análise não

apenas da heterogeneidade, mas também da hierarquização das identidades, dos

registros e dos estilos vinculados aos manos, o que significa dizer que dentro de um

mesmo grupo social ocorrem manipulações estratégicas dos vários recursos semióticos

de forma a se atribuir mais ou menos prestígio a determinados indivíduos, a

determinadas práticas, a determinados grupos. Para que se entenda esse processo de

hierarquização não se faz necessário comparar as práticas lingüístico-discursivas

desses sujeitos com as de outros grupos sociais, mas investigar mais detalhadamente o

estabelecimento de distinções no interior dos sub-campos sociais nos quais estes

sujeitos circulam e aos quais se vinculam ou são vinculados.

1 Essa expressão é amplamente utilizada quando se quer dizer que o sujeito que a enuncia e o grupo ao qual ele pertence estão no centro das atenções.

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PROJECT’S TITLE

Linguistic registers and styles in São Paulo urban popular culture

PRINCIPAL RESEARCHER

Anna Christina Bentes da Silva

PRINCIPAL INSTITUTION

Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

Universidade Estadual de Campinas

ABSTRACT

This project has as its main objective to describe and analyse how social and historical

processes of registers formation and stylistic elaboration by specific brazilian social

groups are related, complementary and/or conflictual. These processes are conceived

as activities that present a necessary iconic, recursive and reflexive nature. We are

particularly interested in describing and analyzing not only linguistic heterogeneity

and also in understanding processes of hierarchization of manos’ social identities,

registers and styles. It means that inside an specific social group several semiotic

resources are strategically manipulated by speakers in order to assign social prestige

to certain subjects and practices or in order to take way prestige from the same

subjects and practices. To understand these processes we need to produce

comparative analysis considering social and linguistic distinctions produced inside the

specific social field in which manos act and to which they are linked.

3

1. Justificativa e pressupostos gerais do projeto

Um dos fenômenos que mais chama a atenção nos dias de hoje no estado de São

Paulo, principalmente em sua capital e nas grandes cidades, e que também pode ser

observado em outras grandes regiões metropolitanas e até mesmo em cidades menores do

país, é o reconhecimento e, ao mesmo tempo, a exibição de uma identidade dos chamados

manos.

Assim é que sujeitos-homens2, pertencentes a diferentes faixas etárias e a diferentes

estratos sociais vêm, ao longo de pelo menos duas décadas, produzindo uma forte

identidade para si, afirmando um conjunto heteróclito de repertórios lingüísticos e

discursivos, de valores sociais, posturas e modos de vida que são, em grande parte,

atualizados de diferentes formas por uma grande massa de pessoas - homens e mulheres -,

ao mesmo tempo em que são rechaçados por outros grupos sociais que tentam se afastar e

se diferenciar do processo de formação dessa identidade.

É um consenso hoje entre os sociolingüistas de diferentes orientações que a

constante elaboração e reelaboração de identidades, registros e estilos lingüísticos

encontram-se inextricavelmente associadas à manipulação de recursos semióticos de

natureza variada, tais como gestos, modos de andar, vestuário, corte de cabelo etc. É neste

sentido que os manos afirmam-se e podem ser assim reconhecidos.

Quem não reconhece um estilo de grupo que influenciou vários outros grupos

sociais brasileiros, caracterizado pelo uso de calças largas combinadas com moletons, bonés

(também chamados de “bombetas”) e tênis por jovens e adultos de diferentes faixas etárias

e diferentes classes sociais? Quem não reconhece uma gestualidade também caracterizadora

dos membros deste grupo que, enquanto fala, movimenta ritmicamente os braços para

frente, de forma a mergulhá-los no ar de cima para baixo, sendo que os dedos polegar e

indicador das mãos encontram-se mais proeminentes, indicando o chão?

A atual agenda da sociolingüística, entretanto, está menos comprometida com a

reificação/delimitação de identidades lingüísticas e sociais e mais com a tentativa de

compreender as formas como os falantes negociam consigo mesmos e com seus atuais ou

potenciais interlocutores o que pode ser dito e interpretado em um determinado contexto

(Rampton, 1995; Coupland, 2003). Em outras palavras, a agenda dos estudos

sociolingüísticos contempla uma mudança que vai de (i) uma visão estática de identidade

2 Referência ao nome de dois CDs do rapper Rappin Hood, Sujeito Homem 1e Sujeito Homem 2, tendo sido este último produzido pela Trama, em São Paulo.

4

social para uma visão que privilegie as dinâmicas da identificação social e (ii) de um foco

na linguagem concebida como uma forma de comportamento para o foco na linguagem

como um lugar onde os sentidos sociais são encenados discursivamente.

Este projeto tem como principais pressupostos alguns daqueles enunciados por

Coupland (2003:426):

a) os pertencimentos dos sujeitos a “comunidades” são cada vez mais complexos, mais contextualizados, e menos previstos por fatores sócio-culturais; por exemplo, circunstâncias econômicas e ocupacionais não predizem de forma confiável as identidades sociais de classe;

b) o fato de as variáveis dialetais indiciarem sentido(s) social(is) significa que elas se constituem em apenas uma parte do conjunto de recursos semióticos disponíveis (como por exemplo o estilo retórico, a prosódia, os símbolos visuais etc.) também responsáveis pela construção dessas relações de indicialidade, o que significa que os sentidos sociais são multimodalmente construídos pelos sujeitos;

c) sentidos tradicionalmente associados às dimensões diatópicas da variação encontram-se mais ativos nas dimensões diastráticas: os estilos dialetais tendem a ser usados mais produtiva e criativamente e não apenas constituem-se em índices sociais a respeito de “quem somos nós”;

d) a performance, como um locus de construção da identidade, tem sido subestimada: ela implica o controle e a mobilização de recursos comunicativos, mais do que um “comportamento” no contexto;

e) as identidades pessoais e sociais devem ser vistas como projetos em articulação com opções de vida, mais do que determinados por demografias sociais: as identidades não são inteiramente dadas, completamente formadas ou alcançadas, mas desejadas, criticamente monitoradas e construídas nos termos de narrativas pessoais;

f) a intensa reflexividade associada aos arranjos sociais pós-modernos impedem um comportamento sociolingüístico “inocente”: em um mundo no qual somos bombardeados com opções e modelos identitários e com informação sobre suas conseqüências e implicações, as escolhas sociolingüísticas são necessariamente mais conscientes e estratégicas.3

Os pressupostos acima indicam que os estudos sociolingüísticos estão concentrados

em compreender como as pessoas fazem um trabalho complexo de auto-identificação que,

enfim, acaba por resultar em uma autenticidade para si mesmas e para suas audiências.

Além disso, o que parece estar em jogo quando se fala em produção de identidades sociais é

o fato de que diferentes qualidades são atribuídas a uma mesma identidade em função de

ela ser necessariamente observada com diferentes lentes. Por exemplo, atualmente, para

uma “mesma” identidade, a saber, a identidade dos manos, é possível ter a atribuição de

diferentes qualidades por parte de setores da indústria cultural: nos esquetes de humor “Os

manos”, veiculados em várias rádios de São Paulo e do Brasil, o objetivo é mostrar de

forma pejorativa e fortemente estereotipada os manos da periferia: quem são, onde andam,

vivem, e como interagem em determinadas situações (Nogueira, 2008; Bentes e Nogueira,

2008); já no programa “Manos e Minas”, que estreou no início do mês de maio de 2008, na

TV Cultura de São Paulo, exibido inicialmente às quartas-feiras, às 19:30, tem-se o objetivo

de mostrar o universo do jovem da periferia a partir do seu ponto de vista e com sua

participação direta.

3 As traduções dos textos em inglês ao longo do projeto são de minha inteira responsabilidade.

5

A nosso ver, essa movimentação identitária dos sujeitos somente pode ser mais bem

compreendida se nos propusermos a analisar os processos de formação de registros e de

elaboração de estilos lingüístico-discursivos que se sobressaem no campo da cultura

popular4. É neste sentido que este projeto é, ao mesmo tempo, uma continuidade e um

aprofundamento da pesquisa desenvolvida por Bentes (2005, 2006) sobre a elaboração de

estilos por rappers paulistas.

2. Qualificação do principal problema a ser abordado

2.1. Introdução ao problema

Este projeto tem como objetivo geral produzir descrições e análises que revelem a

maneira pela qual os processos de formação de registros por grupos sociais e de elaboração

de estilos pelos sujeitos se interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito,

concebendo tanto a formação de registros como a elaboração de estilos como atividades

lingüístico-discursivas de natureza icônica, recursiva e reflexiva. Rampton (1995) postula o

conceito de crossing para uma melhor compreensão desses processos que emergem nas

práticas de jovens em comunidades multiraciais no sul da Inglaterra.

É importante ressaltar que o projeto, pelo menos na sua primeira fase, não pretende

produzir uma reflexão teórica inédita e, sim, procurar dar mais visibilidade, em termos

metodológicos e analíticos, ao conjunto de dados que serão gerados em seu interior. Sendo

assim, acreditamos que a maior contribuição desse projeto será o desenvolvimento de

análises que privilegiem justamente uma melhor compreensão da natureza não apenas

organizada, mas também profundamente tipificada (Agha, 2007) da heterogeneidade

linguística constitutiva das práticas de linguagem em geral, por meio do foco nos/ e da

mobilização dos conceitos de estilo e registro. Além disso, prevemos que, ao longo das

análises, serão privilegiadas tanto a articulação de diferentes níveis (lexical e textual), como

a articulação entre o tratamento quantitativo e o qualitativo dos dados, de modo melhor

descrever a elaboração de estilos e a formação de registro (s). (Cf. Bentes, 2009) Por fim,

4 A cultura popular é a cultura do cotidiano que envolve virtualmente todos os aspectos da vida. Ela encontra expressão na forma como vivemos, nas coisas nas quais pensamos, nas pessoas que nos rodeiam e em suas atividades. Suas formas abrangem festivais, carnavais, músicas e danças; ficção e drama; jornal, radio e televisão; culturas familiares, de trabalhadores, de mulheres; atividades de esporte e de lazer. Seus maiores componentes são objetos, pessoas e eventos, mas é por meio do uso de símbolos que a cultura popular é majoritariamente construída. Nós estamos cotidianamente cercados por esses construtos da cultura popular, grandes ou pequenos, duradouros ou transitórios, das roupas e simbolismo dos carnavais aos usos lingüísticos, músicas e filmes.”(Adjaye, 1997:1) A nossa concepção de cultura encontra-se baseada no entendimento de que a cultura é um complexo sistema de significação, que pressupõe tanto a emergência de produtos socialmente construídos como a emergência de práticas em contínuo processo de (re) configuração.

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também acreditamos que as hipóteses que norteiam a elaboração desse projeto (pp. 13 e

14), caso confirmadas, poderão contribuir para o desenvolvimento de novos estudos no

campo da sociolinguística, principalmente no que diz respeito ao tipo de fenômeno

linguístico a ser considerado na tipificação de um determinado registro e/ou estilo.

Em projeto anterior (Bentes, 2005), desenvolvemos análises sobre algumas das

características estilísticas de raps paulistas que resultaram em uma reflexão sobre o

entrelaçamento entre oralidade e escrita nos raps (Bentes, 2006), reflexões estas que

corroboram as postulações de Finegan (1977) sobre a poesia oral e de Béthune (1999) e

Fradique (2003) sobre o rap como objeto estético que se diferencia estilisticamente de

outros gêneros poéticos; além disso, procurando aprofundar o entendimento sobre a

natureza do rap como gênero, escrevemos sobre os tópicos discursivos preferenciais

desenvolvidos nos raps paulistas (Bentes e Rio 2006), na direção das postulações gerais de

Quinn (2005) e também sobre o problema do uso estilístico de recursos multimodais

(Bentes, 2008). Considerando as primeiras incursões que fizemos em um corpus formado

por 136 letras de rap multimodalmente transcritas (ver anexo), nosso principal objetivo a

partir de agora é o de estudar a produção de linguagem dos sujeitos pertencentes a esse

grupo social em situações diversas, como será explicado mais adiante.

Assim, nosso principal problema diz respeito à compreensão de como ocorrem os

processos de contínua intersecção entre a produção e o uso de determinado(s) modelo(s)

reflexivo(s) de avaliação da linguagem (registro(s)) e a elaboração de estilos. Para tanto,

precisamos apresentar brevemente as concepções de registro e de estilo com as quais

trabalharemos ao longo do projeto.

Tradicionalmente, trabalhar com os conceitos de dialeto, registro e estilo pressupõe

o estabelecimento de contrastes entre esses fenômenos. No entanto, essa oposição faz

pouco sentido para muitos sociolingüistas hoje. Por exemplo, Irvine (2001) argumenta que

a distinção entre dialeto e registro fica mais complicada quando se olha mais de perto o

repertório de uma comunidade de fala particular. Uma das razões para isso decorre da

estruturação cultural e da conseqüente exploração criativa de “vozes” associadas a grupos

sociais. Imagens de pessoas consideradas típicas desses grupos – e suas personalidades,

humores, comportamentos, atividades e contextos caracteristicamente associados a

determinados grupos - são racionalizadas e organizadas em um sistema cultural/ideológico,

de forma que essas imagens tornam-se disponíveis como um quadro de referência no

interior do qual os falantes produzem suas performances e no interior dos quais suas

audiências os interpretam. Ou seja, uma das muitas formas por meio das quais as pessoas

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diferenciam as situações e exibem certas atitudes é explorar e/ou cuidadosamente evitar as

“vozes” dos outros, ou o que eles assumem que sejam essas “vozes”.

Um exemplo dessa exploração cuidadosa de diferentes vozes sociais é a notícia

abaixo, que discorre sobre a estréia do programa “Manos e Minas”, veiculado inicialmente

às 20:00 de todas as quartas-feiras e, atualmente, às 20:00 dos sábados. A notícia invoca

alguns momentos do próprio programa (como por exemplo, a chamada inicial por parte do

mestre de cerimônias) e introduz falas sobre o programa (como a do rapper Rappin Hood)

que exibem (mesmo que elas estejam entre aspas na maioria das vezes) parte do repertório

lingüístico e do conjunto de enunciados considerados como tipificadores dos manos:

'Satisfação! Só os aliado, só os companheiro', brada o rap do mestre-de-cerimônias da noite. E os aliados devolvem o verso: 'Us guerreiro! Us guerreiro.' Na platéia do Manos e Minas, o clima é 'mil grau'. Vários manos, atitude, responsa, Zona Sul, Zona Norte, Zona Oeste, e, claro, 'Zona Leste somos nós'. A animação é total enquanto Rappin Hood conduz a galera, que samba ao som de Jorge Aragão (tem samba, sim, sinhô) e cala em solidariedade quando o assunto é a falta de trabalho na periferia. Na tela, um jovem rapper fala do drama de procurar emprego - enquanto distribui currículos, faz seu rap. Na platéia, depois de assistir ao vídeo, um ex-presidiário solta o verbo: 'Fui enquadrado no artigo 157. Cumpri minha pena. Tô livre e quero trabalhar. Mas quem vai dar emprego para um ex-presidiário?' Jorge Aragão quebra o silêncio solene: 'Quem quiser trabalhar comigo procure minha equipe. Tem vaga para ajudante geral na turnê que estou fazendo. Não é muito, mas é um começo.' Assim foi dada a largada de Manos e Minas, que estréia na TV Cultura no dia 7, às 19h30, e promete fazer jus ao bordão 'tá tudo dominado'. Mas, afinal, o que é Manos e Minas? Com exclusividade, fomos acompanhar a primeira gravação. Programa de auditório? Show? Jornalismo? É tudo ao mesmo tempo - e agora. É o primeiro programa da TV nacional que não é só pensado mas também produzido pelo morador da periferia. 'Não é show. A vybe aqui é diferente. Na TV, você troca energia com o público, mas nunca sabe como vai voltar. Está sendo ótimo. O pessoal troca idéia legal. É o espaço que faltava. Até hoje, quase sempre, quando falam de nós, é só na página policial', reflete Rappin Hood. Em Manos e Minas, ele é mais que apresentador. É mestre-de-cerimônias. 'Não tem personagem. Sou eu mesmo', brada ele, que fez sua estréia na TV em 2007 no quadro Mano a Mano, do Metrópolis, em que fazia reportagens sobre temas da cena periférica de São Paulo. 'No Metrópolis, era mais concentrado na cultura. Fomos formatando uma linguagem e amadurecemos a idéia de criar um programa novo', comenta o diretor artístico de Manos e Minas, Ricardo Elias. (Terça-feira, 29 de abril de 2008, às 10h39, O Estado de São Paulo; http://www.saopaulo.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=94487&c=5)

O trecho acima revela que o jornalista faz um uso estratégico das falas do mano

Rappin Hood, mas que também usa em seu texto (sem aspas) expressões tipificadoras desse

grupo social, como as que compõem o enunciado “Vários manos, atitude, responsa...”.

Podemos dizer que a mobilização estratégica desses recursos lexicais e de vários

outros e natureza textual-discursiva também contribui para a estilização do texto

jornalístico. Mas a mobilização estratégica desses recursos por parte de um membro de

outro grupo social e o próprio processo de estilização do texto somente ocorre em função de

que os processos de formação de registros envolvem “uma gradual sedimentação de hábitos

de percepção e produção da fala que perpassa domínios sociais particulares” (Agha,

2007:229).

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Vimos acima como o jornalista explora e se aproxima, ao mesmo tempo em que se

afasta, por meio do uso de aspas, da voz social dos manos da periferia. Em função disso, o

conceito de registro primeiramente definido no campo da sociolingüística em termos da

situação e não da pessoa ou de grupos, se aplicado à análise dessa notícia, precisa também

levar em consideração as imagens culturais de determinados indivíduos, das situações e das

atividades. O reverso também se verifica. Dialetos sociais podem ser pensados como

conectados a indivíduos e cenas ou ainda a atividades e formas de ser (ou imitados por

pessoas fora do grupo-de-referência). E, em conseqüência, eles podem ser utilizados para

encenar atitudes ou definir situações. Dialetos e registros encontram-se intimamente

conectados.

2.2. Explorando os conceitos de estilo e de registro

Irvine (2001) defende que tratar do estilo pressupõe uma menor ênfase na variedade

como um objeto em si e mais ênfase no processo de construção da distinção, que opera em

vários níveis, do mais visível ao mais subliminar.

Segundo a autora, as pesquisas sobre registros sempre enfocaram variedades e

padrões relativamente estáveis e institucionalizados, padrões estes que inclusive eram

explicitamente nomeados no interior de suas comunidades de uso, conectados com

determinadas situações institucionalizadas, ocupações etc. (por exemplo, a fala de locutores

esportivos). O estilo inclui isso, mas também inclui as formas mais subliminares por meio

das quais os indivíduos “navegam” entre as variedades disponíveis e tentam encenar uma

representação coerente de si mesmos – um “eu” que pode também se subdividir em um

sistema de aspectos diferenciados do self. Talvez haja uma outra diferença: enquanto

dialetos e registros, pelo menos como a sociolingüística os define, apontam para o

fenômeno lingüístico apenas, o estilo envolve princípios de distinção que podem se

estender para além do sistema lingüístico, para outros aspectos do comportamento que estão

semioticamente organizados. A noção de estilo apóia-se, então, na possibilidade de os

mesmos (ou similares) princípios de distinção serem invocados tanto no nível pessoal como

no nível institucional. Isto acontece em função de existirem maneiras específicas por meio

das quais as ideologias dos sistemas lingüísticos de diferenciação sistematizam e

racionalizam as relações entre o fenômeno lingüístico e as formações sociais.

Em função disso, a autora então propõe um modelo sobre como a semiose social

explora os recursos lingüísticos disponíveis (como diferenciação) e como a distinção

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estilística se torna disponível para interpretações criativas, ou seja, como as ideologias

lingüísticas organizam e racionalizam a distinção sociolingüística:

• O fenômeno lingüístico que constitui registros e estilos, como formas de distinção

lingüística, tem uma consistência que de alguma maneira deriva de ideologias locais da

linguagem – princípios de distinção que ligam as diferenças lingüísticas a significados

sociais;

• As ideologias da diferenciação lingüística interpretam o fenômeno sociolingüístico no

interior de suas visões por meio de três processos semióticos básicos: iconização,

recursividade e apagamento.

a) Iconização: é um processo semiótico que transforma a relação sígnica entre traços lingüísticos e

imagens sociais aos quais eles são ligados. As diferenças lingüísticas parecem ser representações icônicas dos contrastes sociais que elas indexam – como se os traços lingüísticos de alguma maneira descrevessem a natureza ou a essência de um grupo social. A representação ideológica – ela mesma um sinal - opera com em termos de imagens; ela seleciona qualidades supostamente compartilhadas ante pela imagem social como pelos traços lingüísticos (ou melhor, uma imagem de tais traços), colocando essas imagens juntas. Nesse sentido, a iconização resulta em uma atribuição de causa ou necessidade a uma conexão (frente a comportamentos lingüísticos e categorias sociais) que pode ser histórica, contingencial e ou convencional.

b) Recursividade: envolve a projeção de uma determinada oposição (saliente em um nível de relacionamento) a um outro nível. É o processo pelo qual distinções significativas (entre grupos, entre variedades lingüísticas etc.) são reproduzidas no interior de cada lado da dicotomia, criando subcategorias e subvariedades; ou inversamente, é o processo pelo qual oposições internas a um grupo são projetadas para fora, nas relações inter-grupos, criando supercategorias que incluem os dois lados da oposição, mas que os opõem a alguma outra coisa. Esse é o processo que liga formas subliminares de distinção a contrastes mais amplos.

c) Apagamento: é o processo pelo qual uma ideologia simplifica o campo sociolingüístico. Dando atenção a apenas uma dimensão da distinção e ignorando as outras, reduzindo, assim, alguns fenômenos sociolingüísticos (ou pessoas ou atividades) invisíveis. Então, por exemplo, um grupo social ou uma linguagem pode ser imaginado como homogêneo, suas variações internas desconsideradas.

Sendo assim, a autora conclui que a diferenciação social e a diferenciação

lingüística não são fenômenos separados; que se deve dar uma menor ênfase para a

detecção de traços estilísticos específicos e maior atenção para o contraste entre estilos; que

não se deve identificar o estilo em um nível particular de diferenciação, mas focar no

processo de diferenciação – eixos de distinção que organizam a diferenciação em muitos

níveis; o estilo como distinção é um processo criativo e não pode ser amarrado a uma

estrutura predeterminada. Ainda assim, seus princípios devem ser coerentes se se quiserem

significativos enquanto representação de grupos, atividades, práticas e identidades sociais.

Ao longo da execução deste projeto, procuraremos discutir e articular a visão de

Irvine (2001) sobre o problema do estilo com as perspectivas de Coupland (2001, 2007) e

Bell (2001), que consideram a produção do estilo tanto como uma realização situacional,

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como uma prática voltada para a obtenção de propósitos comunicativos em determinadas

situações sociais.

Em relação ao conceito de registro5 propriamente dito, procuraremos trabalhar com

as postulações de Agha (2007), que afirma que há três perspectivas na base do trabalho

sobre registros desenvolvido por diferentes autores: a perspectiva do repertório, a

perspectiva do enunciado e a perspectiva sócio-histórica. Para o autor, as três perspectivas

são necessárias, já que repertórios são usados em enunciados por particulares populações

sócio-históricas; além disso, pode-se pensar nessas perspectivas como níveis de

engajamento nos registros por parte dos sujeitos. Assim, os sujeitos sempre conseguem

identificar alguns itens do repertório de um registro, mas este é apenas um tipo de

engajamento com suas formas. No entanto, o autor chama atenção para a dificuldade de se

dar conta dos processos sócio-históricos que estão na base da formação dos registros e

postula:

“(...) mesmo os falantes que conseguem identificar facilmente formas de um registro são menos capazes de caracterizar a amplitude dos efeitos por eles interpretáveis por meio de avaliações textualmente contextualizadas de enunciados. Assim, padrões textuais que contam como tropos interacionais são mais difíceis de serem descritos fora do contexto do que padrões estereotípicos consistentes; estereótipos comuns associados a qualquer registro tendem a subespecificar a amplitude de efeitos passíveis de serem indiciados por seu uso. Finalmente, o conjunto de processos sócio-históricos por meio do qual um registro vem a ser conhecido pelos sujeitos são os mais difíceis de serem caracterizados sem um estudo sistemático” (Agha, 2007: 149).

Na prática, os repertórios lingüísticos de um determinado registro são rotineira e

apropriadamente usados em conjunção com signos não lingüísticos criteriosamente

selecionados. No entanto, a visão do autor não é a de que teríamos um esquema cultural e

lingüístico uniformemente compartilhado pelos falantes. Na verdade, o ordenamento da

vida social em torno da existência de um registro não depende de um compartilhamento

uniforme por parte dos falantes do registro em questão, mas de uma coordenação e

manipulação mútua de modelos parcialmente sobrepostos que possibilitam formas

ordenadas de interação entre os sujeitos.

Na notícia apresentada acima, poderíamos analisar a exploração dos recursos

lingüísticos e discursivos por parte do jornalista como um processo de estilização, assim

definido por Bakhtin (1990): 5 De acordo com Agha (2007:147-8), “um registro é um modelo reflexivo que avalia um repertório semiótico (ou conjuntos de repertórios) como apropriados para específicos tipos de conduta (tais como a conduta de uma dada prática social), para classificações de pessoas que apresentam tal conduta e para desempenhar papéis (personas, identidades) e estabelecer relações entre esses papéis”. Os recursos que contam como elementos de um dado repertório podem ser de natureza lingüística ou de outra natureza. Assim, os “registros são formações históricas que podem ser apreendidas em processos grupais de valorização e contra-valorização, exibindo mudanças ao longo do tempo tanto na forma como no valor”.

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“A linguagem contemporânea dá um aclaramento especial da língua a ser estilizada: ela separa certos elementos, deixando outros na sombra, cria acentos particulares de seus momentos, como momentos da língua, cria ressonâncias especiais da linguagem a ser estilizada com uma consciência lingüística contemporânea, em uma palavra, cria uma linguagem livre da linguagem do outro, que traduz não só a vontade do que é estilizado, mas também a vontade lingüística e literária estilizante”. (op.cit.:159-160)

A notícia acima de fato joga luz sobre o que Agha (2007) denomina “enunciados”

que criam o efeito de que o texto apresenta uma manipulação estratégica do “acento

particular” que caracteriza a linguagem dos manos. Também podemos dizer que o texto

revela uma avaliação do jornalista (ou seja, revela que ele possui um modelo reflexivo de

natureza avaliativa, nos termos de Agha) sobre quais repertórios semióticos poderiam ser

mobilizados e articulados. Assim é que suas escolhas estratégicas (por exemplo, fazer

citações tanto da fala de Rappin Hood - no programa e fora do programa -, como da fala do

diretor do programa) possibilitam uma comunicação tanto com os manos como com um

público mais geral, além de possibilitarem (também) a identificação de parte do público

leitor com a linguagem da notícia. Por outro lado, a notícia não abandona o registro

demandado pelo gênero “notícia”, o que reforça a postulação de uma sobreposição de

registros.

O texto da notícia foi trazido para dentro da apresentação deste projeto para que

possamos ter uma idéia da necessidade de compreendermos de maneira mais sistemática e

mais aprofundada a amplitude dos efeitos do(s) registro(s) dos manos, inicialmente

produzido(s) no interior de domínios sociais particulares e que acaba(m) por ser

mobilizado(s) e, conseqüentemente, reelaborado(s), de maneira estratégica, de forma a

atender a diferentes objetivos, em outros domínios sociais. Além disso, é possível observar

no texto da notícia, considerando a forma como foi estrategicamente organizado, o estilo de

um sujeito, o rapper Rappin Hood, estilo este vinculado a um grupo, a saber, o dos rappers.

A breve análise esboçada acima revela que, de fato, é possível observar que

determinados repertórios e enunciados de diferentes registros são estrategicamente

manipulados e combinados. Nesse sentido, defendemos que se faz necessário analisar com

mais sistematicidade e profundidade as inter-relações entre os processos de formação de

registros (que envolvem diferentes tipos de engajamento dos interlocutores) e de elaboração

de estilos. Além disso, essa breve análise corrobora as postulações de Irvine (2001)

apresentadas acima, para quem as delimitações entre estilo, registro e dialeto somente

podem ser compreendidas se considerarmos os objetivos comunicativos dos falantes, a

complexidade funcional da linguagem em uso e a também complexa elaboração de

identidades sociais.

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Precisamos ainda compreender as razões sócio-históricas pelas quais determinado

registro específico e reconhecível, vinculado a (e considerado como típico de) um

determinado grupo social, mais especificamente, o dos sujeitos que vivem na periferia de

São Paulo capital e de outras cidades do interior do estado, pode, ao mesmo tempo,

alcançar o prestígio que alcançou (a ponto de estar sistematicamente presente em um

programa de comunicação de uma TV estatal em horário nobre) e ser sistemática e

diariamente ridicularizado em esquetes veiculados em várias rádios de São Paulo e de

outros estados do Brasil. Algumas observações finais se fazem necessárias para a melhor

caracterização do problema.

Os conceitos de registro e de estilo serão revisitados e aplicados ao longo desse

projeto tanto a partir da observação e da análise das práticas lingüísticas e sociais de

sujeitos que reivindicam uma determinada identidade social para si, os manos, como

também a partir da observação e da análise de práticas lingüísticas que representam de

maneira pejorativa e preconceituosa essa mesma identidade. Privilegiaremos, assim, a

observação de um processo sócio-histórico que possibilita a emergência do conflito entre as

identidades assumidas e as visões negativas dessas identidades. A visão negativa dessas

identidades é principalmente produzida em esquetes de humor veiculado nas rádios.

Ao considerarmos a contínua elaboração dessa identidade social como associada à

formação de registro(s) lingüístico(s) e semiótico(s) reconhecido(s) socialmente, seja por

aqueles que assumem a referida identidade, como por aqueles que dela se afastam, estamos

pressupondo que tanto a(s) identidade(s) como o(s) registro(s) a ela(s) vinculado(s) é (são)

heterogêneo(s). A execução desse projeto está comprometida com a busca pela melhor

descrição e compreensão da heterogeneidade dessas duas realidades que são, a um só

tempo, sociais e lingüísticas.

É importante ressaltar que os conceitos de registro e estilo, mobilizados e assumidos

como principais dispositivos teórico-analíticos ao longo da apresentação e execução desse

projeto, constituem-se hoje, no campo da sociolingüística, em poderosos instrumentos que

permitem operacionalizar a análise da complexidade e da heterogeneidade de realidades

como as acima referidas. A nosso ver, esses conceitos se complementam, já que os registros

constituem-se em modelos reflexivos de avaliação e de uso apenas parcialmente

compartilhados pelos sujeitos e os estilos apresentam uma natureza mais individual e

estratégica. No entanto, a elaboração de estilos permite a produção da distinção não apenas

entre sujeitos, mas entre grupos, e os registros também podem ser manipulados

13

estrategicamente pelos sujeitos. Além disso, a iconização, a recursividade e a reflexividade

são processos presentes tanto nos modelos (registros) como nas ações dos sujeitos (estilos).

Por fim, este projeto estará fundamentalmente comprometido com a descrição e

análise não apenas da heterogeneidade, mas também da hierarquização das identidades, dos

registros e dos estilos vinculados aos manos, o que significa dizer que dentro de um mesmo

grupo social ocorrem manipulações estratégicas dos vários recursos semióticos de forma a

se atribuir mais ou menos prestígio a determinados indivíduos, a determinadas práticas, a

determinados grupos. Para que se entenda esse processo de hierarquização não se faz

necessário comparar as práticas lingüístico-discursivas desses sujeitos com as de outros

grupos sociais, mas investigar mais detalhadamente o estabelecimento de distinções no

interior dos sub-campos sociais nos quais estes sujeitos circulam e aos quais se vinculam ou

são vinculados.

2.3. Hipóteses

Algumas hipóteses que serão investigadas ao longo deste projeto:

(i) o(s) registro(s) e os estilos dos manos são concebidos como realidades

lingüístico-discursivas fundamentalmente heterogêneas, apresentando graus de tipificação

variáveis, dependentes não apenas da configuração das situações, mas também dos

propósitos comunicativos e da competência metapragmática dos sujeitos, principalmente no

que diz respeito à manipulação estratégica dos elementos que compõem tanto o(s)

registro(s) como os estilos;

(ii) o(s) registro(s) e os estilos dos manos, reconhecíveis tanto pelos sujeitos que

reivindicam essa identidade para si como por aqueles que se afastam dessa identidade,

constituem-se em pontos de um continuum6 de outros registros e estilos; determinados

elementos desses outros registros e/ou estilos (principalmente o léxico, mas não apenas)

podem emergir no interior da produção discursiva dos manos, o que reforça a natureza

heterogênea do seu repertório verbal mais geral;

(iii) o(s) registro(s) e os estilos elaborados pelos manos estão mais relacionados ao

que Coupland (2001, 2003) denomina “projetos em articulação com opções de vida” do que

a determinadas regiões da cidade; são esses projetos dos sujeitos que resultam na sua

identificação com um “bom lugar” (que nos discursos dos próprios sujeitos é denominado

periferia) para se viver e morar;

6 Para dar conta dessa noção de continuum, adotaremos a proposta de Urbano (2006).

14

(iv) o grau mais alto de tipicidade do registro dos manos pode estar vinculado à

faixa etária dos sujeitos, ao(s) tipo(s) de ocupação(ões) e ao gênero; ou seja, se essa

hipótese se confirma, ficará demonstrado que os aspectos sócio-culturais (idade, ocupação e

gênero) contribuem não para a completa identificação social do falante, mas para a

compreensão de que estes fatores são fundamentais apenas para a detecção do mais alto

grau de tipicidade de uma determinada identidade;

2.4. Objetivos

Objetivo geral

Este projeto tem como objetivo geral produzir descrições e análises que revelem a maneira

pela qual os processos de formação de registros e de elaboração de estilos pelos grupos

sociais7 se interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito.

Objetivos específicos

• Construir um corpus ampliado e vídeo-gravado de entrevistas, de situações de interação

cotidianas e de alguns produtos midiáticos (programas de TV, de rádio e raps)

relacionados aos sujeitos e ao universo social das periferias de São Paulo (capital) e de

Campinas (SP).

• Transcrever o corpus constituído ao longo da execução do projeto e revisar a

transcrição do corpus já existente;

• Fazer um levantamento do repertório das formas que compõem o registro oral dos

manos nos níveis lexical e textual-discursivo;

• Descrever os graus de tipicidade do registro oral dos manos;

7 Assumimos ao longo desse projeto o pressuposto de que, ao analisarmos um determinado grupo social, mais especificamente, os manos paulistas, encontraremos um fracionamento ou uma fragmentação desse grupo em vários grupos sociais, o que Agha (2007) denomina fracionamento sociológico. Esse fracionamento implica compreender que (i) as formas e os valores de um determinado registro não são modeladas simetricamente por todos os seus falantes (ou seja, não são uniformemente compartilhadas) e que (ii) um registro é um modelo reflexivo associado tanto a um conjunto de atores sociais (que são reconhecidos como usuários desse registro) como também a um conjunto de avaliadores (que reconhecem o registro em questão e que podem ou não fazer parte desse grupo). Agha (2007: 125) afirma a partir dessa postulação que “modelos em competição podem co-existir internamente a um grupo social e o reconhecimento dessa diferença pode resultar na diferenciação do grupo.” Nesse sentido é que afirmamos que ao estudarmos as práticas de linguagem de um determinado grupo social iremos necessariamente nos deparar com essa diferenciação identitária interna ao grupo que deve resultar na emergência de grupos sociais outros dentro daquele definido a priori pela pesquisadora. Ou seja, o presente estudo pretende observar e analisar as práticas de linguagem de grupos sociais no plural e não no singular.

15

• Analisar as relações de mútua constitutividade entre as estratégias lingüístico-

discursivas mais exploradas estilisticamente pelos manos e os diferentes contextos nos

quais essas estratégias podem ser observadas;

• Construir um site no qual estejam disponibilizadas as transcrições dos diferentes

gêneros produzidos pelos sujeitos da pesquisa.

3. Resultados esperados

• Formação a partir do material coletado e do material já transcrito de um acervo de

dados sobre a fala e a escrita (raps) popular paulista de São Paulo (capital) e de

Campinas;

• Organização e realização de um colóquio (2011) com a apresentação de trabalhos dos

membros do grupo (constituído pela pesquisadora, por orientandos e bolsistas-trabalho

que integram o Grupo de Pesquisa por ela coordenado) a partir do corpus transcrito

sobre os temas e problemas definidos ao longo do projeto, prevendo-se também a

participação de pesquisadores de outras instituições;

• Publicação dos resultados dos trabalhos em livro (ao final do projeto), e em revistas

nacionais e internacionais ao longo da execução do projeto;

• Divulgação dos trabalhos em congressos nacionais e internacionais;

• Formação de pesquisadores no campo da sociolingüística em níveis de iniciação

científica (03), mestrado (02) e doutorado (1);

4. Desafios Científicos e Tecnológicos

Os desafios científicos e tecnológicos a serem superados no campo da

sociolingüística no Estado de São Paulo são muitos.

O primeiro desafio científico e tecnológico diz respeito à construção de um acervo

de dados que contemple diversas práticas de linguagem de sujeitos pertencentes às camadas

populares e que serão tratados de forma cientificamente rigorosa. O desenvolvimento desse

projeto propiciará a reunião, em um só acervo de:

a) práticas orais de linguagem dos sujeitos pertencentes aos setores populares da

sociedade em situação de interação face-a-face, registradas pela pesquisadora e por seus

bolsistas8, (entrevistas sociolingüísticas, conversas informais, falas públicas); e

8 A pesquisadora contará, ao longo do projeto, com três bolsistas-trabalho, financiados pelo Serviço de Assistência ao Estudante (SAE) da Universidade Estadual de Campinas, para os trabalhos de coleta de dados (entrevistas sociolingüísticas em Campinas) e organização do acervo.

16

b) práticas orais de linguagem desses sujeitos, registradas em diferentes mídias,

mais especificamente, a televisão, a internet e CDs musicais;

c) práticas de escrita (raps).

Há ainda outros desafios de natureza científica a serem elencados:

i. A elaboração de trabalhos teórica e metodologicamente relacionados sobre

grupos sociais ainda não sistematicamente estudados do ponto de vista

lingüístico e social.

ii. A construção de uma reflexão teórica sobre a melhor maneira de tratar a

complexidade e a heterogeneidade das práticas de linguagem oral em contextos

de culturas urbanas populares de grandes cidades;

iii. A elaboração de revisão crítica, com base nas teorizações de autores nacionais e

internacionais, e nas descrições e análises desenvolvidas sobre o corpus, de

conceitos fundamentais para os estudos sociolingüísticos, tais como o de dialeto,

registro, estilo.

De forma a dar conta dos objetivos e dos desafios acima delineados, devemos

discutir separadamente tanto a constituição do corpus como os dispositivos teórico-

metodológicos que serão utilizados na análise dos dados.

4.1. Constituição do corpus

a) Sujeitos da pesquisa

Neste projeto pretendemos trabalhar com o seguinte perfil de sujeitos (tanto aqueles

que assumem a identidade mano para si como aqueles que não o fazem) a serem

entrevistados pelos pesquisadores:

- sujeitos oriundos das periferias das cidades de São Paulo e de Campinas (SP);

- sujeitos pertencentes a três faixas etárias: 14 a 17 anos (adolescentes), 18 a 25

(jovens adultos) e 26 a 45 anos (adultos);

- sujeitos participantes de redes sociais9 de média e alta complexidades;

Assim, pretendemos entrevistar, conforme a descrição feita acima, o seguinte

número de informantes, considerando as categorias sociais acima elencadas:

9 Nesse caso, procuraremos privilegiar a videogravação tanto da fala de sujeitos que sejam protagonistas de movimentos sociais (cultura hip-hop, animadores culturais, artistas populares, líderes estudantis) como também a videogravação da fala de manos comuns, trabalhadores e estudantes.

17

Informantes Homens Faixa Etária 14-17

Mulheres Faixa Etária 14-17

Homens Faixa Etária 17-25

Mulheres Faixa Etária 17-25

Homens Faixa Etária 25-45

Mulheres Faixa Etária 25-45

Total Geral de Informantes

Trabalhadores Campinas

0 0 2 2 2 2

Trabalhadores São Paulo

0 0 2 2 2 2

Estudantes Campinas

2 2 2 2

2 2

Estudantes São Paulo

2 2 2 2 2 2

PMS* São Paulo

2 2 2 2 2 2

PMS* Campinas

2 2 2 2 2 2

Total de infor mantes

08 08 12 12 12 12 64

* Protagonistas de movimentos sociais

Após o pós-doutorado, desenvolvemos um sistema de notação10 voltado para as

especificidades do gênero rap, com o apoio de bolsistas-trabalho do Serviço de Assistência

ao Estudante (SAE) no período de 2006-2008. Em função desse trabalho com os bolsistas,

atualmente, contamos com um corpus de 136 raps de vários grupos de São Paulo e de

alguns outros estados do Brasil transcritos.

Ao longo da execução deste projeto, pretendemos continuar solicitando o apoio de

bolsistas-trabalho. Nossa estimativa é a de que com 02 (dois) bolsistas-trabalho, sob nossa

supervisão, será possível entrevistar, em 09 meses, conforme cronograma de execução

abaixo, o número de informantes previstos, já que 02 (dois) bolsistas realizariam 02 (duas)

entrevistas por mês. Seriam entrevistadas 02 (duas) pessoas (conforme justificativa no item

abaixo) por vez, o que totalizaria 08 (oito) entrevistados por mês. Os 02 (três) bolsistas

também ficariam responsáveis pela transcrição de parte das entrevistas, já que a carga

horária semanal de trabalho de cada um é de 12 horas, e pela organização e transcrição dos

dados de mídia. Mesmo assim, estamos também solicitando no cronograma financeiro, no

item serviço de terceiros, pagamento para transcritores, dado que o volume de material a ser

coletado é grande e dado que a transcrição a ser feita (conforme item 4.2 abaixo) das vídeo-

gravações é bastante trabalhosa e demorada.

b) Coleta de dados

Adotaremos, em um primeiro momento, para a coleta dos dados videogravados de

fala dos sujeitos, a entrevista sociolingüística enquanto evento de fala induzido. (Labov,

2001) O objetivo da utilização do modelo de entrevista sociolingüística laboviana é, em 10 Em anexo, um exemplo do sistema de notação desenvolvido para a transcrição do rap.

18

primeiro lugar, maximizar a comparabilidade de amostras de fala para vários falantes. E, no

interior da entrevista, o objetivo é extrair uma quantidade previsível de informação

estilística do entrevistado, de forma que o analista possa classificar sistematicamente esta

informação em categorias estilísticas. Conforme afirma Eckert (2001: 119), “se a entrevista

sociolingüística constitui o universo discursivo no qual Labov opera, sua validade enquanto

ferramenta metodológica depende da relação entre os gêneros no interior da entrevista, bem

como de gêneros semelhantes existentes nas práticas lingüísticas cotidianas”. Com base na

árvore da decisão11 proposta por Labov (2001), as entrevistas sociolingüísticas deverão

contemplar temas que permitam a elaboração de narrativas de experiência pessoal e

comentários mais gerais dos sujeitos sobre temas gerais e sobre sua vida pessoal. As

entrevistas sociolingüísticas a serem conduzidas pela coordenadora do projeto e por seus

bolsistas serão executadas prioritariamente com dois sujeitos a cada vez, de forma a

privilegiar a emergência do vernáculo, conforme orientação de Labov (2001).

Além disso, em relação aos sujeitos protagonistas, pretende-se obter vídeo-

gravações, não necessariamente feitas por esta pesquisadora, de pelo menos duas práticas

comunicativas outras, de forma a compará-las com o que acontece na entrevista

sociolingüística: uma participação de cada um deles em uma entrevista concedida a um

meio de comunicação (televisivo ou radiofônico) e uma participação de cada um deles em

eventos públicos, como debates abertos promovidos por entidades da sociedade civil. Estes

últimos procedimentos metodológicos têm por objetivo promover uma análise comparativa

dos recursos estilísticos (principalmente do léxico) mobilizados pelos falantes em eventos

de fala induzidos e em eventos de fala não controlados pelo pesquisador.

Em relação aos sujeitos menos protagonistas (01 trabalhador e 01 estudante de

cada faixa etária, num total de 06 sujeitos), pretendemos obter uma vídeo-gravação de uma

situação cotidiana envolvendo cada um deles, mais especificamente, uma conversa entre

amigos, gravada por eles mesmos (sob a supervisão da pesquisadora), de forma a observar a

mobilização, manutenção e/ou apagamento de determinados recursos (léxico e tópico

discursivo) produzidos por um mesmo sujeito em diferentes contextos.

11 A Árvore da Decisão laboviana, desenhada segundo seu potencial de obtenção das variedades padrão e vernacular, é uma forma de formatar a entrevista sociolingüística e é composta por dois eixos: fala casual e fala cuidada. No eixo da fala casual, poderiam ser produzidos quatro sub-eventos (narrativa, grupo, crianças e tangente) e no eixo da fala cuidada poderiam ser produzidos três sub-eventos (resposta, língua e soapbox), sendo que com esta árvore Labov procura controlar tipos de tópico (língua e crianças), tipos textuais e/ou discursivos (narrativa e soapbox), tipos de estrutura de participação (como em grupo, onde o entrevistado não fala com o entrevistador, mas com um grupo) e tipos de posição no discurso do entrevistador e do entrevistado (resposta - imediatamente em seguida à pergunta do entrevistador - e tangente, a qual é explicitamente definida em termos da tomada do controle do fluxo da entrevista por parte do entrevistado).

19

Ressalte-se que a pesquisadora já começou a ter os primeiros contatos com

prováveis participantes da pesquisa por meio das redes socias de sujeitos como Sérgio Vaz,

poeta e agitador cultural da periferia de São Paulo. A pesquisadora já vem frequentando o

Sarau da Cooperifa, evento que acontece todas as quartas-feiras, à noite, na zona sul da

capital paulista; além disso, a pesquisadora já entrou em contato com sujeitos protagonistas

de movimentos culturais (video-makers e rappers) que já se mostraram dispostos a

participar das entrevistas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o trabalho de coleta de

dados já está em fase de execução, sendo que já temos duas entrevistas agendadas para

novembro de 2009. Além disso, a pesquisadora já retomou os contatos com educadores

populares ligados à ONG Ação Educativa, que trabalha especificamente a educação de

jovens e adultos. Em relação aos sujeitos da pesquisa de Campinas e região, estamos

iniciando as entrevistas agora em novembro, a partir do contatos previamente estabelecidos

com os grupos de rap “A Família” e “Faces da Morte”, responsáveis pelo estabelecimento

de nossos primeriros contatos com a rede social que pretendemos construir a partir das

primeiras entrevistas.

c) Gêneros do discurso

A nosso ver, é muito importante considerar a argumentação de Eckert (2001),

segundo a qual a validade da entrevista sociolingüística depende da comparação entre o que

acontece nessas entrevistas e o que acontece em gêneros semelhantes, tais como outras

entrevistas e/ou falas públicas. Conforme descrevemos acima, pretendemos não apenas

entrevistar individualmente os sujeitos, como também pretendemos registrar outros eventos

comunicativos dos quais participem alguns dos sujeitos entrevistados.

Assim, nosso corpus será constituído não somente por entrevistas sociolingüísticas,

mas por gêneros outros, tais como entrevistas midiáticas, conversas informais e debates e

raps.

d) Roteiro para a entrevista sociolinguística individual (pesquisador & sujeito da

pesquisa)

De forma a garantir uma certa uniformidade na abordagem e nos temas a serem

tratados na entrevista sociolinguística a ser realizada por esta pesquisadora e por seus

bolsistas, entendemos que se faz necessário abordar com os sujeitos da pesquisa os

20

seguintes temas: família, escola, trabalho (quando houver), amigos, relacionamento

amoroso (quando houver), lazer.

O roteiro de entrevista (em anexo) foi elaborado de forma a levar o sujeito da

pesquisa a dar respostas mais pontuais, de natureza mais descritiva e/ou explicatuva, mas

também a produzir relatos e alguns comentários mais longos sobre os temas em questão.

É importante ressaltar que como pretendemos entrevistar sujeitos de diferentes

faixas etárias, estaremos atentos para o fato de que determinados grupos de perguntas

somente podem ser feitas para alguns grupos, mas não para outros. Assim, elaboramos o

roteiro de entrevista de forma a dar visibilidade a essas diferenças.

Conforme cronograma abaixo, em nossa metodologia, a entrevista sociolinguística

será feita em primeiro lugar. Depois dela, deveremos partir para a seleção dos informantes

que serão filmados em outras situações comunicativas, tais como as descritas no item (b)

acima. A partir dessa entrevista, teremos já algumas informações mais gerais sobre os

sujeitos da pesquisa: como se situam nas esferas pública e privada, como se posioionam

sobre assuntos comuns (lazer, trabalho, amigos) e como conseguem ter uma auto-avaliação

sobre seu percurso na instituição escolar.

Temos algumas expectativas em relação ao comportamento linguístico dos sujeitos

dependendo dos temas abordados: acreditamos que, mesmo considerando as perguntas

feitas, sequências narrativas emergirão mais quando eles estiverem falando da esfera

privada, principalmente no tópico “relacionamento amoroso”, e sequências expositivas e

argumentativas emergirão principalmente em tópicos como “lazer” e “escola”.

4.2. Transcrição do corpus

É um consenso entre os lingüistas que a transcrição de um corpus deve atender aos

objetivos da pesquisa em pauta. Assim é que deveremos desenvolver um sistema de

notação para a transcrição do corpus que será produzido com base em uma adaptação das

convenções adotadas pelo projeto Amostra Lingüística do Interior Paulista (ALIP –

www.iboruna.ibilce.br), das convenções adotadas pelo grupo de pesquisa Interação,

Cognição e Significação (ISC - www.unicamp.br/iel/labonecca, baseadas no “modelo

Jefferson”, de base conversacional e etnomedodológica - http://www-

staff.lboro.ac.uk/~ssca1/notation.htm) e das convenções adotadas pelo projeto Norma

Urbana Culta (NURC). Nosso interesse é o de dar visibilidade tanto a processos lingüísticos

propriamente ditos como a outras semioses co-ocorrentes (tais como gestos, expressão

facial, direcionamento do olhar, postura corporal etc.).

21

4.3. Disponibilização do corpus

Em função da metodologia que está sendo desenvolvida para esse projeto, em

função de seus objetivos mais específicos e dos dispositivos teóricos mobilizados, a

disponibilização do corpus oral que está sendo constituído por essa pesquisadora deverá

obedecer a um conjunto de normas definidas na obra “Corpus Oraux - guide des bonnes

pratiques” (2006), de O. Baude. Nessa obra, há toda uma discussão que deverá ser

considerada sobre os domínios jurídicos concernidos quando se trabalha com corpora orais,

sobre as relações entre o problema da difusão científica e os direitos do autor, sobre o

problema dos procedimentos de produção do anonimato, sendo essa questão bastante

complexa e delicada no caso específico do estudo da elaboração de estilos por parte dos

sujeitos. Também consideraremos as reflexões produzidas por Knoblauch et al. (2006) e

por Schnettler e Raab (2008) sobre os desafios que os dados de natureza audio-visual

impõem aos pesquisadores das ciências humanas e sobre os probelmas envolvidos em sua

transcrição, análise e disponibilização.

4. 4. Dispositivos teórico-analíticos a serem empregados

Tomaremos como principais dispositivos teórico-analíticos os conceitos de registro e

de estilo previamente discutidos e caracterizados.

Para Agha (2007), a abordagem adequada para dar conta dos processos de formação

de registros deve considerar como complementar o levantamento dos elementos que

constituem um registro, o que o autor denomina repertórios, e o tratamento do nível

textual-discursivo, trabalhando com a análise dos enunciados produzidos no interior de

textos e/ou gêneros. O léxico é, sem sombra de dúvida, um importante repertório que

funciona como uma pista de contextualização para os sujeitos na identificação de registros e

estilos. Assim é que a gíria receberá um tratamento qualitativo com base nos estudos de

Preti (2003, 2004) e Leite (2003). Ainda considerando o léxico como um repertório

importante na formação dos registros e na elaboração de estilos, pretendemos também fazer

um levantamento da ocorrência de redução e de truncamento de palavras na fala dos

sujeitos nos diferentes contextos. No caso da elaboração dos estilos por parte dos sujeitos,

pretendemos analisar de forma mais detalhada os processos de iconização e de

recursividade no uso do léxico e na gestão do tópico discursivo.

Na direção da argumentação de Agha (2007), de forma a ultrapassar a caracterização

do registro por meio da correlação entre um conjunto de repertórios e os usos feitos desse

22

modelo reflexivo em determinadas situações e por determinados sujeitos, pretendemos

focar o nível do enunciado, mais especificamente procurando analisar a seleção, o

desenvolvimento e a gestão dos tópicos nas entrevistas sociolingüísticas e nos outros

gêneros acima elencados que constituem o corpus do projeto, já que a gestão do tópico

permeia praticamente todas as estratégias textuais e interacionais, conforme formulação de

Jubran et al. (1992, 2006), Mondada (1994, 2001), Pinheiro (2005), Paredes Silva (2005).

Acreditamos que o foco na elaboração de estilos, na formação de registros e na

intersecção a partir da observação de um determinado grupo social pode ser refinado se

considerarmos esses dois dispositivos teórico-analíticos: o léxico e o tópico discursivo.

6. Cronograma de execução Ano 2010

Atividades Mar Abril Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Treinamento dos bolsistas para a realização das entrevistas e organização do banco de dados

Seleção dos primeiros contatos com os sujeitos de pesquisa

Coleta de dados (entrevistas) Transcrição das entrevistas Coleta e organização de dados de mídia (entrevistas concedidas, debates, falas públicas)

Elaboração de relatório parcial Primeiras análises dos dados de entrevista e de mídia

Coleta de dados (situações cotidianas)

23

Ano 2011

Atividades Jan Fev Mar Abril Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Elaboração de relatório parcial

Coleta de dados (situações cotidianas)

Transcrição de dados de situações cotidianas

Análise de dados de entrevista e de mídia

Colóquio Elaboração de relatório parcial

Análises de dados de situação cotidiana

Análises dos dados de mídia Análises de dados de entrevistas

Ano 2012 Atividades Janeiro Fevereiro

Elaboração de relatório final

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27

ANEXOS

28

FICHA DE INFORMAÇÕES

Nome:

Idade:

Natural de:

Endereço:

Há quanto tempo mora aqui?

Profissão:

Você tem irmãos? ( )Sim ( )Não

Em caso afirmativo, quantos?________

Você tem filhos? ( )Sim ( )Não

Em caso afirmativo, quantos?________

Com quem você mora?Pai( ) Mãe ( ) Irmão ( ) Quantos?_____

Esposa ( ) Filho ( ) Quantos?

Outros? Quem?________________________

Grau de escolaridade:Ensino Fundamental incompleto ( )

Ensino Fundamental completo ( )

Ensino Médio incompleto ( )

Ensino Médio completo ( )

Ensino superior incompleto ( )

Ensino Superior completo ( ) Qual curso?____________________

Pós-graduação ( )

Você estuda ou faz algum curso atualmente? ( )Sim ( )Não

Você trabalha atualmente? ( )Sim ( )Não

Em quê você trabalhava/trabalhou?

Você acompanha algum tipo de mídia (Telejornais, jornais impressos, revistas,

notícias da internet)?

Em caso afirmativo, qual(is)?

O que você faz nas suas horas vagas?

( ) apenas descanso, durmo

( ) vejo programas de tv

( ) assisto a filmes, seriados (em casa)

( ) assisto a shows musicais (em casa)

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( ) faço uso da internet

( ) faço exercícios físicos

( ) leio (conteúdos que não são exigidos pela sua ocupação principal, isto é, pelo seu

trabalho ou curso). Qual tipo de leitura?

( ) vou ao cinema

( ) vou a shows

( ) saio com os amigos

( ) faço atividades manuais (pintura, desenhos, etc.)

( ) toco algum instrumento musical. Qual? _______________

Que tipo de música você gosta de ouvir?

Qual o seu programa de TV preferido?

Você namora/ é casado(a)/ tem um relacionamento amoroso atualmente?

30

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SOCIOLINGUÍSTICA INDIVIDUAL

Tema I: Família

1. A sua família é grande?

2. A sua família é de onde? É toda daqui?

3. Como é a sua relação com seus familiares?

4. No que você acha que se parece com seus familiares?

5. Existe alguém da sua família de quem, de certo modo, você gosta mais/prefere?

Quem? A que você atribui essa “afinidade”?

6. Tem alguma história, algum fato engraçado e/ou estranho que você gostaria de

contar envolvendo você e algúem da sua família?

7. Se você tivesse que falar positivamente da sua família, o que você diria?

8. Se você tivesse que falar criticamente da sua família, o que você diria?

Tema II: Escola

Para pessoas que já terminaram o ensino médio e estão cursando algum curso superior

1. Como foi a sua história na escola fundamental e média? Do que você mais gostava

na escola?

2. Conte algum fato marcante que aconteceu com você (ou com outra pessoa)

envolvendo a escola em que você estuda/estudou.

3. Como foi que você decidiu fazer a sua graduação e/ou curso profissionalizante: por

sugestão de outras pessoas, por escolha própria ou por uma combinação das duas

coisas?

4. O que você está gostando no seu curso e nos professores? Existe algum professor

que você admire? Se a resposta for positiva, perguntar o porquê.

5. O que você não está gostando no seu curso e nos seus professores? Existe algum

professor que você deteste? Se a resposta for positiva, perguntar o porquê.

6. Como você acha que as suas aulas e o curso como um todo poderiam melhorar?

7. Do que você mais gosta da convivência com os colegas na sua faculdade?

8. Do que você menos gosta da convivência com os colegas na sua faculdade?

9. Como você vê o seu futuro profissional depois do curso?

31

Para pessoas que já terminaram o ensino médio mas que não estão estudando atualmente:

1. Como foi a sua história na escola fundamental e média? Do que você mais gostava

na escola? Do que você menos gostava?

2. Como eram seus professores? Havia um professor/matéria de que você gostava? E

você sabe dizer por que gostava mais desse professor/matéria? Havia algum

professor/matéria do qual você não gostava? Por quê? Você acredita que os

professores de hoje são diferentes dos que você teve? Por quê?

3. Conte algum fato marcante que aconteceu com você (ou com outra pessoa)

envolvendo a escola em que você estudou.

4. Você quer dar alguma continuidade aos seus estudos? O que você quer estudar? E

por que quer estudar isso?

5. Como foi essa sua escolha? Por sugestão de outras pessoas, por escolha própria ou

por uma combinação das duas coisas?

Para pessoas que já terminaram o ensino superior

1. Como foi a sua história na faculdade? Do que você mais gostou no seu curso e nos

professores? Teve algum professor que marcou positivamente a sua trajetória no

curso? Teve algum professor que marcou negativamente a sua trajetória no curso?

2. Como foi que você decidiu fazer a sua graduação e/ou curso profissionalizante: por

sugestão de outras pessoas, por escolha própria ou por uma combinação das duas

coisas?

3. Você acha que seu curso poderia ter sido melhor? Em que aspectos?

4. Você acha que você poderia ter ido melhor no curso?

5. Qual era a meta/objetivo que você esperava alcançar com o curso que fez?

6. Conte algum fato marcante que aconteceu com você (ou com outra pessoa)

envolvendo a escola em que você estudou.

7. Do que você mais gostou da convivência com os colegas na sua faculdade?

8. Do que você menos gostou da convivência com os colegas na sua faculdade?

9. Como você vê o seu futuro profissional depois do curso?

Para pessoas ainda estão terminando o ensino médio e/ou fundamental

1. O que você mais gosta na escola?

2. O que você menos gosta na escola?

32

3. Quem são seus melhores amigos? Por que eles são seus melhores amigos?

4. Você tem inimigos na escola? Por que eles são seus inimigos?

5. Como é a sua relação com seus professores? Existe algum professor que você

admire? Se a resposta for positiva, perguntar o porquê. Existe algum professor/matéria

do qual você não gosta? Por quê?

6. Conte algum fato marcante que aconteceu com você (ou com outra pessoa)

envolvendo a escola em que você estuda.

7. Você quer dar alguma continuidade aos seus estudos? O que você quer estudar? E

por que quer estudar isso?

8. Como foi essa sua escolha? Por sugestão de outras pessoas, por escolha própria ou

por uma combinação das duas coisas?

Parte III (Trabalho)

Para pessoas que estão trabalhando atualmente:

1. Como você escolheu conseguiu esse seu trabalho?

2. Você gosta ou não gosta daquilo que faz em seu trabalho? Por quê?

3. Você se vê permanecendo nesse trabalho/profissão por um longo tempo/por mais

tempo ou mudaria de profissão? Se trocasse de trabalho/profissão, para qual seria?

4. Você se dá bem com seus colegas de trabalho? Como tem sido sua relação com eles?

5. Qual o maior problema que você vê no seu ambiente de trabalho, com seus colegas?

6. Você já teve algum desentendimento com algum colega de trabalho? O que

aconteceu?

7. O que você tem aprendido com essa sua experiência profissional?

8. Na sua cabeça, que tipo de trabalho seria o trabalho ideal?

Para pessoas que não estão trabalhando atualmente, mas já trabalharam.

1. Qual foi seu último trabalho?

2. Por que você não trabalha mais nesse serviço?

3. Você gostava daquilo que fazia no seu trabalho?

4. Você se dava bem com os seus colegas? Como foi sua relação com eles?

5. Você teve algum desentendimento com algum deles?

6. Você está à procura de emprego? Se sim: Qual tipo de trabalho você está tentando

conseguir? Se não: Por quê?

7. O que é mais difícil quando se está procurando um emprego?

33

8. Na sua cabeça, que tipo de trabalho seria o trabalho ideal?

Tema IV: Amigos

Para as faixa etárias de 14-17 e 18-25:

1. Você tem um melhor amigo? Como ele se tornou seu melhor amigo?

2. O que, na sua opinião, diferencia um “melhor amigo” dos demais?

3. Existe alguém que você considerava como seu amigo, mas acabou o

decepcionando/se mostrando “inimigo”? Se sim, você pode contar como isso

aconteceu?

4. Existe alguma característica (defeito) que impediria você de ser amigo de alguém?

Por quê?

Para as faixas etárias mais altas:

1. Você considera que, hoje em dia, tem mais ou menos amigos do que tinha

antes/quando era mais jovem? E você atribui isso a que?

2. Existe alguém que, apesar das dificuldades, é seu amigo há anos? A que você

atribui/como você explicaria tantos anos de amizade?

3. Que qualidade você mais preza numa boa amizade? Por quê?

4. Existe alguém que você considerava como seu amigo, mas acabou o

decepcionando/se mostrando “inimigo”? Se sim, você pode contar como isso

aconteceu?

5. Alguma vez você deixou de ser amigo de alguém por causa de alguma característica

(defeito) desta pessoa? Qual foi?

Tema V: Relacionamento amoroso

Para pessoas com algum relacionamento amoroso:

1. Como você e seu namorado (a)/marido (esposa)/ficante se conheceram?

2. Como ele/ela é?

3. Qual é, na sua opinião, a melhor parte/a maior vantagem de ter um namorado

(a)/marido (esposa)/ficante? E a pior?

4. Você já brigou seriamente com seu namorado (a)/marido (esposa)/ficante? Se sim,

você pode dizer como foi?

5. Você já teve outros relacionamentos? Se sim: Em que você diria que seu namorado

(a)/marido (esposa)/ficante atual é diferente dos seus anteriores?

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6. Como você acredita que deve ser um bom relacionamento?

Para pessoas solteiras:

1. Você acredita que está difícil arrumar uma pessoa que queira algum tipo de

relacionamento?

2. Existe para você vantagens de ser solteiro? E desvantagens?

3. Você já teve algum relacionamento anterior? Se sim, você poderia dizer como era

esse seu relacionamento?

4. E qual foi o motivo do fim do relacionamento?

5. Como você acredita ser um bom relacionamento? Por quê?

Tema VI: Lazer

1. Que tipo de notícia ou programação lhe interessa mais na mídia (levar em conta

alternativa selecionada no formulário) de hoje em dia? Você sabe dizer por quê?

2. Você está descontente ou contente com o conteúdo/tipo de notícia ou programação

que você assiste? (Se sim, perguntar o porquê.)

4. Você gosta de que tipo de filme? Por quê?

5. Qual foi o último filme ao qual você assistiu? Gostou? Você poderia me falar um

pouco sobre ele?

6. Você gosta de/costuma ir a shows de música? Você se lembra qual foi a última vez

que você foi e a que show você assistiu? Gostou? Por quê?

8. A que tipos de programas você costuma assistir? O que você acha interessante

neles?

9. Você costuma conversar com alguém sobre os programas? O que vocês costumam

comentar sobre eles?

10. O que você geralmente faz na internet? (Vê vídeos, faz pesquisas escolares, lê e-

mails, comunica-se por msn ou orkut, etc)

11. Como você acha que a internet influencia a vida das pessoas atualmente?

12. Para onde você costuma sair com seus amigos? Você prefere barzinhos ou festas?

Por quê? Qual seu tipo de festa favorito (rave, micareta, festa a fantasia...)?

13. Pode contar um fato engraçado ou estranho ou violento que acconteceu em uma

festa que você foi?

14. Que tipo de livro você costuma ler? Há algum autor que você prefira? Por quê?

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15. Você está lendo algum livro atualmente ou leu algum recentemente? Qual? Você gostou? Pode me contar um pouco da história dele? (se não for literário: você poderia me falar como ele é?)

36

A Vítima

Racionais Mc’s Composição: Racionais Mc’s

1 Smurf então Cocão aí... não leva a mal não mas aí Fala Ordinária (FO) 2 vai fazer um tempo que eu to querendo fazer ess/ he: essa pergunta pra você aí... FO 3 he: FO 4 Rock fala aí... FO 5 Smurf he: tem como você falar daquele acidente lá... FO 6 Eu: sei que é meio chato... [he: embaça:do FO 7 Rock [não é não não é nada FO 8 quer saber a gente fala né mano... he: [vamo lá FO - Início da base musical 9 Smurf [aham FO 10 Rock foi dia hó... eu lembro/ hó eu lembro... que nem hoje... hó... vixi até [arrepia... hó FO 11 Smurf [vi:::xi:: FO 12 Rock dia quatorze... de outubro... de noventa e quatro... FO 13 Smurf Há FO 14 Rock eu tava morando no Eblon tá ligado... FO 15 Smurf Só: FO – Barulho de freada de carro, de vidros quebrando,

de batida de carro

16 Rock Aí:: eu tinha um opala pá... FRC – Barulho de freada de carro, de vidros quebrando, de batida de carro

17 FO 18 O opala tava na oficina do Di... lá: FO 19 Smurf pode [crer FO 20 Rock [a gente ia fazer um barato a noite... tá ligado? FO 21 Smurf Aham FO – Barulho de sirenes 22 Rock A gente ia se trombar em Pinheiros... FO – Barulho de sirenes 23 não se:i se::... você se lembra disso aí... FO – Barulho de sirenes 24 FO – Barulho de sirenes 25 Smurf [pode crer FO – Barulho de sirenes 26 Rock [porque você:: você ia... com:/ com o Kleber di/ direto pra Pinheiros FO – Barulho de sirenes 27 você ia direto... e nóis... tava eu:... ia eu o Brown o Du FO - Barulho de sirenes –Diminuição da voz do

narrador

28 da Zona Sul pra Pinheiro:s FO - Barulho de sirenes – Diminuição da voz do narrador

37

29 Blue naquela noite eu acordei... e não sabia onde estava... Fala Poética (FP) 30 pensei que era sonho o pesadelo apenas começa:va... FP 31 aquela gente vestida de bra:nco... FP 32 parecia com o céu... mas o céu é lugar de santo.... FP FP 33 os caras me perguntando... FP 34 Blue e aí mano... cê tá legal? FP - Pergunta feita para o narrador/personagem no

hospital por um companheiro seu – discurso direto 35 Rock cheiro de éter... no a:r... nunca é bom sinal... FP 36 dor de cabeça... tontura... FP 37 aquela sala rodava... estilo brisa de droga loucura FP - Efeito de eco na voz do narrador 38 39 sangue na roupa... rasgada... FP 40 fio de sutura... me costura... porra gente... não vale nada FP 41 do que adianta você ter o que que:r... FP 42 Sucesso... dinheiro... mulher... beijando seu pé... FP FP 43 e num pisca:r... de olhos é foda... FP 44 você é furado igual penera... sem valor... numa cadeira de roda... FP 45 Sample o que que eu to fazendo aqui: Sample do rap “Tô ouvindo alguém me chamar” 46 47 48 49 Sample não quero admitir... Sample do rap do DMN “Homem de aço” 50 Sample agora é tarde/ tarde/ tarde 51 L1 Lamento FO 52 Rock meus parceiros me contaram... FP 53 cena após cena... passo a passo... o que presencia:ram... FP 54 Blue Ma:no foi um arregaço... na marginal... FP 55 você capotou... teve até uma vítima fatal... FP 56 da zona sul e tal... sentido ao centro... FP 57 uma da manhã... FP 58 Rock lembrei daquele momento... FP FP 59 vários opala... mó carreata... FP 60 e eu logo atrás... da primeira barca diploma:ta... FP 61 to dirigindo... ali no volante... FP

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62 opala cinza escuro... Tupac no alto-falante FP FP 63 por um instante... tive um mal-pressentimento... FP 64 mas não liguei... não dei conta... não tava ate:nto... FP 65 L2 cadê o corpo? Mano... pega o celular que embaçou... mano FO 66

67 L3 Puta que pariu o carro subiu uns dois metros do chão mano FO – Barulho de vozes superpostas no ambiente do acidente de carro

68 meu deus do céu FO – Barulho de vozes superpostas no ambiente do acidente de carro

69 chama a ambulância... caralho... FO – Barulho de vozes superpostas no ambiente do acidente de carro

70 chama a ambulância FO – Barulho de vozes superpostas no ambiente do acidente de carro

71 Rock que merda... um cara novo morreu... FP 72 fatalidade é uma imprudência... divergência... fudeu... FP 73 ele deixou uma mulher... que esperava um filho... FP 74 um evangélico... que nem conheceu o filho... FP FP 75 um suspiro... perdi a ca:lma... FP 76 vi uma faca... atravessando a minha alma... FP 77 olhei no espelho... e vi um homem chorar FP 78 a mídia... a justiça... querendo... me fuzilar... FP 79 virei notícia... primeira página... FP – Som de máquina fotográfica tirando foto 80 81 um paparazzi... focalizou a minha lágrima... FP 82 um repórter da globo... me insultou... FP 83 me chamava de assassino... aquilo inflamou FP FP 84 Tumultuou... nunca vi... tanto carniceiro... FP 85 me crucificaram... me julgaram... no país inteiro... FP 86 pena de morte... se tiver sorte... FP 87 cadeira elétrica... se fosse américa do norte... FP FP 88 Opinião... pública... influenciada... FP

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89 era um réu... sem direito... a mais nada... FP 90 o meu mundo tinha desaba:do... FP 91 na lei de deus fui julgado... na lei do homem... condenado... FP 92

93 L4 então Kleber... o cara morreu mano... FO – Diálogo no telefone entre o narrador e seus amigos

94 KL Jay é então... agora é daqui pra frente Cocão... não tem mais jeito... FO – Diálogo no telefone entre o narrador e seus amigos

95 tá ligado... não se abala na:o ... tem que ficar fi:rme... FO – Diálogo no telefone entre o narrador e seus amigos

96 n/nóis tá junto aí... FO – Diálogo no telefone entre o narrador e seus amigos

97 Rock dois anos e poucos de audiê:ncia... FP 98 pra mim já era o início da minha penitê:ncia... FP 99 aquele prédio no fórum é mó tortu:ra... FP 100 ali na frente sempre pára várias viatura... FP FP 101 o movimento é intenso... o tempo inteiro... FP 102 parece o trânsito... o tráfego... um formigueiro... FP 103 Advogado... pra cima... pra baixo... FP 104 ganhando dinheiro com mais um réu... eu acho... FP FP 105 registrei um cara algemado num canto... FP 106 de cabeça baixa:... me parecia um cara branco... FP 107 esperando a vez... de ser solicita:do... FP 108 Julga:...do talvez até... se pá... liberta:do... FP FP 109 Escolta:do... vários gambé:... FP 110 esse aí não deve ser... um preso qualquer... FP 111 com a mão pra trás olhando pra parede... FP 112 fui beber água ((som de tosse))... me deu mó se:de... FP 113 114 ((som de telefone tocando)) 115 uma ligação... com urgência... FP 116 meu advogado... com o resultado da sentença... FP 117 [o celular tava falhando... FP 118 [hã? Alô... não dá pra escutar FO – Diálogo no telefone

40

119 mas eu to indo pra aí... falou... to chegando... FO – Diálogo no telefone 120 é irmão... fui de metrô:... FP – Som de metrô em movimento 121 aquele frio... na espinha... que eu tinha... então vo:ltou... FP – Som de metrô em movimento 122 a cada estação ele aumentava.... FP – Som de metrô em movimento 123 124 eu não sabia se descia... ou se eu continuava.... FP – Som de metrô em movimento 125 a procura de uma distração... FP – Som de metrô em movimento 126 olhava o vagão... lotado... a movimen-tação... FP – Som de metrô em movimento 127 aquele povo indo pra algum lugar... FP – Som de metrô em movimento 128 Trabalhar... estudar... passear... roubar... sei lá... FP – Som de metrô em movimento FP – Som de metrô em movimento 129 vi uma mina... bonita... discreta... FP – Som de metrô em movimento 130 pinta de modelo... corpo de atleta... FP – Som de metrô em movimento 131 eu vi um cara lendo concentrado... FP – Som de metrô em movimento 132 naipe de estudante... daqueles filho dedicado... FP – Som de metrô em movimento FP – Som de metrô em movimento 133 vi uma tia crente... em pé... cansada... FP – Som de metrô em movimento 134 de cor escura... com a pele enruga:da... FP – Som de metrô em movimento 135 E:la me fez lembrar... parece a mãe da vítima... FP – Som de metrô em movimento 136 como será... que ela deve ta?... FP – Som de metrô em movimento 137 Pausa na música base, som de metrô 138 andando e parando na estação 139 cheguei no prédio da Ipiranga com a São João... FP 140 respirei fu:ndo... subi a manga do meu camisão... FP 141 Decisão... eu to... trêmulo... FP 142 mó responsa... não... não entendo... FP FP 143 muita calma... sempre é preciso... FP 144 proibido fuma:r li o aviso... FP 145 um porteiro tiozinho lembra meu pa:i... FP 146 Porteiro que andar?... FO 147 qual andar que cê vai?... FO 148 Rock Hã.. no décimo... me sinto péssimo... FP 149 a balança fez questão de mais um acréscimo... FP 150 elevador quebra:do... FP 151 tem dia que é melhor não acorda:r que dá tudo errado... FP

41

FP 152 fui pela escada contando cada degrau... FP 153 cada passada chegava o juízo final... FP 154 tive a sensação... de alguém me olhando... FP 155 Parecia me seguir... tava ali: me gorando... FP FP 156 senti um calafrio... FP 157 recordei daquela cena que você não viu... FP 158 do capote... de um grito forte... dos holofote... FP 159 um vacilo se:u... FP 160 KL Jay já e:ra... FP 161 Rock resulta em morte... FP FP 162 daquela Kombi... velha... partida ao me:io... FP 163 daquela hora que eu tentei pisar no fre:io... FP 164 andar por andar..., onde eu to... não importa... FP 165 lembra da vítima?... cheguei na porta... FP – Final da base rítmica 166 Som de batidas na porta 167 então Smurf... é isso aí mano... deu pra cê entender?... FO 168 Smurf É:: embaça:do em [Cocão... que fita... hein FO 169 Rock [então FO 170 é o seguinte... aí... passou... aí... acho que uns... três anos... ta ligado?... FO 171 Três... quatro... ano aí... de corre pra lá e pra cá... FO 172 Smurf pode cre:r... FO 173 Rock tentando se aju/ se acertar aí com a justiça... ta ligado?... FO 174 pagando o que eu devia graças a deus aí hó... FO 175 hoje eu to firmão... não devo mais nada pra ninguém... aí ó... FO 176 Smurf Aham.. FO 177 Rock me acertei com [deus... aí... e principalmente com a família lá... tá ligado? FO 178 Smurf [cer:to FO 179 Rock com a justiça também... e é o seguinte... né:: a vida tem que continuar... FO 180 tá ligado?... FO