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Linguagem e Gênero: Uma análise sociolinguística de raps produzidos por mulheres Bolsista: Clara Coelho Mangolin RA081003 Orientador: Profª. Drª. Anna Christina Bentes da Silva Local de Execução: Instituto de Estudos da Linguagem - IEL/UNICAMP Vigência: 01 de agosto de 2009 a 31 de julho de 2010 1. Introdução 1.1 Os Estudos de Gênero Ao longo de muito tempo, “mulher” tem sido um rótulo social, um nome cercado de vários estereótipos que, reunidos, constituem a imagem deste grupo perante outro. No pensamento filosófico, por exemplo, tal identidade é fruto de um pensamento clássico e androcêntrico, que define a mulher por contraposição ao homem: Portanto, se quiséssemos caracterizar a atitude filosófica em relação ao feminino, poderíamos resumir no seguinte: a preocupação de caracterizar a diferença sexual em relação a outros tipos de diferença, hierarquizando-as; uma tendência de reduzir o diferente por diversos meios, através do discurso, denegrindo-os e alterando-os; instaurando a categoria de natureza como traço distintivo do feminino, e integrando-o na esfera do mesmo, mesmas funções sociais, mesmas atitudes, mesmos talentos, mesmos defeitos. No pensamento clássico, os sexos foram homogeneizados, ocasionando a invisibilidade e perda de valor de um deles. (Tedeschi, 2008: 60) Mesmo o feminismo, movimento social centrado na mulher e em seus interesses, parece assumir uma postura homogeneizante com relação ao gênero que defende - o que, nos últimos anos, provou-se atitude problemática que tem causado conflitos no interior do movimento: Em sua essência, a teoria feminista tem presumido que existe uma identidade definida, compreendida pela categoria de mulheres, que não só deflagra os interesses e objetivos feministas no interior de seu próprio discurso, mas constitui o sujeito mesmo em nome de quem a representação política é almejada. [...] Recentemente, essa concepção dominante da relação entre teoria feminista e política passou a ser questionada a partir do interior do discurso feminista. O próprio sujeito das mulheres não é mais compreendido em termos estáveis ou permanentes. (Butler, 2003: 17) De modo mais genérico, o imaginário social criou uma identidade para as mulheres partilhada por todos os grupos em maior ou menor medida, a qual serve de parâmetro até mesmo para aqueles - como os militantes feministas - que desejam criar uma nova imagem de mulher, e que o fazem por meio da desconstrução desta identidade, a qual pode ser resumida da seguinte maneira:

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Linguagem e Gênero: Uma análise sociolinguística de raps produzidos por mulheresBolsista: Clara Coelho Mangolin RA081003Orientador: Profª. Drª. Anna Christina Bentes da SilvaLocal de Execução: Instituto de Estudos da Linguagem - IEL/UNICAMPVigência: 01 de agosto de 2009 a 31 de julho de 2010

1. Introdução1.1 Os Estudos de Gênero

Ao longo de muito tempo, “mulher” tem sido um rótulo social, um nome cercado de vários

estereótipos que, reunidos, constituem a imagem deste grupo perante outro. No pensamento filosófico,

por exemplo, tal identidade é fruto de um pensamento clássico e androcêntrico, que define a mulher por

contraposição ao homem:

Portanto, se quiséssemos caracterizar a atitude filosófica em relação aofeminino, poderíamos resumir no seguinte: a preocupação de caracterizar adiferença sexual em relação a outros tipos de diferença, hierarquizando-as;uma tendência de reduzir o diferente por diversos meios, através do discurso,denegrindo-os e alterando-os; instaurando a categoria de natureza como traçodistintivo do feminino, e integrando-o na esfera do mesmo, mesmas funçõessociais, mesmas atitudes, mesmos talentos, mesmos defeitos. No pensamentoclássico, os sexos foram homogeneizados, ocasionando a invisibilidade e perdade valor de um deles. (Tedeschi, 2008: 60)

Mesmo o feminismo, movimento social centrado na mulher e em seus interesses, parece

assumir uma postura homogeneizante com relação ao gênero que defende - o que, nos últimos anos,

provou-se atitude problemática que tem causado conflitos no interior do movimento:

Em sua essência, a teoria feminista tem presumido que existe uma identidadedefinida, compreendida pela categoria de mulheres, que não só deflagra osinteresses e objetivos feministas no interior de seu próprio discurso, masconstitui o sujeito mesmo em nome de quem a representação política éalmejada. [...] Recentemente, essa concepção dominante da relação entreteoria feminista e política passou a ser questionada a partir do interior dodiscurso feminista. O próprio sujeito das mulheres não é mais compreendidoem termos estáveis ou permanentes. (Butler, 2003: 17)

De modo mais genérico, o imaginário social criou uma identidade para as mulheres partilhada

por todos os grupos em maior ou menor medida, a qual serve de parâmetro até mesmo para aqueles -

como os militantes feministas - que desejam criar uma nova imagem de mulher, e que o fazem por meio

da desconstrução desta identidade, a qual pode ser resumida da seguinte maneira:

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Cf. Labov (1972), Lakoff (1975), Trudgill (1972), Sankoff et al. (1989), Deuchar (1988), Chambers1

(1995).

O conceito de norma-padrão considerado nos estudos aqui apresentados é o mesmo presente em Faraco2

(2004). Segundo o autor, “norma-padrão” é o resultado de um processo de neutralização das variações linguísticasexistentes na língua, ou seja, uma variedade unificada e não-estigmatizada.

It is undeniable that one of the burdens of being born female is the imperativeto be nice. The ideal of femininity, established in the nineteenth century, is the“perfect wife and mother”, the epitome of niceness. (Purvis apud Coates, 1999:66)

Não desconsideramos, aqui, a relevância dos estereótipos para a constituição da mulher

enquanto ser social real, na medida em que servem como um elemento regulador de seu comportamento.

Porque é quase sempre julgada com base nestes concepções pré-formadas, a mulher busca aproximar-se

ou afastar-se delas, de acordo com a imagem que deseja transmitir àqueles com quem interage.

Gender stereotypes are our beliefs about how “most people” view the typicalman or woman (Eagly and Karau 2002; Fiske 1998; Fiske et al. 2002). We allknow these stereotypes as cultural knowledge, whether or not we personallyendorse them. But the point is, because we think “most people” hold thesebeliefs, we expect others to judge us according to them. As a result, we musttake these beliefs into account in our own behavior even if we do not endorsethem. In this way, these shared cultural beliefs act as the “rules” forcoordinating public behavior on the basis of gender. (Ridgeway and Correllapud Ridgeway, 2009: 148)

Considerar os estereótipos que permeiam a construção da imagem de mulher não significa, no

entanto, desconsiderar a diversidade e complexidade de comportamentos e práticas das mulheres inseridas

em diferentes contextos e pertencentes a diferentes classes e faixas etárias (Cf. Eckert e McConnell-Ginet,

2003).

1.2 Gênero e LinguagemOs trabalhos canônicos até hoje apresentados no campo da sociolinguística acerca da fala das1

mulheres enfocam principalmente a questão da diferença entre esta e a fala dos homens. Eles têm como

característica principal o fato de apontarem para um alto grau de monitoramento estilístico por parte das

mulheres, por meio do qual elas mantêm sua fala o mais próxima possível da norma-padrão ; todos estes2

estudos mostraram também que este monitoramento é bem menor na fala dos homens.

Duas das principais explicações para o suposto monitoramento por parte das mulheres são

antagônicas: alguns lingüistas, dentre eles Labov (1972), defendem a posição de que ele seria um meio

de compensar a distância social existente entre mulheres e homens: utilizando-se da norma-padrão, elas

teriam um meio de suprir o seu desprestígio social.

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Outros autores, porém, vêem este mesmo esforço feminino para fazer uso da norma-padrão

como um reforço, consciente ou não, tanto da sua posição de submissão social quanto de determinada

imagem de mulher: delicada, recatada e educada. A lingüista americana Robin Lakoff (1975), por

exemplo, defendeu que as mulheres que procuram deliberadamente fazer uso deste tipo de linguagem

estão, na verdade, reafirmando seu status social subordinado, concordando com sua submissão. Bourdieu

(1995) também foi a favor desta posição: segundo ele, a mulher faz uso do que ele chama de “língua

legítima” em conseqüência das pressões e coerções impostas pela sociedade. Em outras palavras, a mulher

apresenta o comportamento que a sociedade a induz a adotar, inclusive no que concerne a seus usos

lingüísticos.

Porém, há ainda muitas outras teorias formuladas para explicar a diferença entre o

comportamento lingüístico da mulher e o do homem. Segundo Martelotta (2008), há estudiosos que

atribuem este fenômeno à rigidez com que as mulheres são tratadas em muitas culturas, o que exigiria

delas um comportamento lingüístico mais formal. Eckert e McConnell-Ginet, em seu livro “Language

and Gender” (2003), apontam uma série de razões oferecidas por diferentes lingüistas para a preferência

atribuída à mulher pela norma-padrão:

The observation that women’s grammar is statistically more standard thanmen’s has given rise to a variety of explanations. Peter Trudgill (1972) hasproposed that because they have been excluded from advancement in theemployment marketplace, women have relied on symbolic capital for socialadvancement. He has also proposed that they are more likely to valuenonstandard because of its association with working-class masculinity. As wehave already noted, Sankoff at al. (1989) have argued that women’semployment opportunities tend more than men’s to require standard language.Margaret Deuchar (1989) has argued that as the weaker participant in manyinteractions, women must be attending to the face of their interlocutors. Usingstandard language, allows a woman to elevate her own status while showingrespect for her interlocutor, thus constituting a safe strategy. Chambers (1995)has argued that women’s great use of standard is a result of their greatinherent linguistic skill [...]. (Eckert e McConnell-Ginet, 2003: 294).

Vemos então que, embora os trabalhos clássicos discordem sobre as motivações para o

comportamento lingüístico das mulheres, eles apontam de modo geral para o fato de que elas encontram-

se sempre buscando pela fala mais formal. Esta tradição de pensamento lingüístico que situa a mulher,

indistintamente, como falante preocupada com o uso da norma padrão, está em consonância com a visão

que se tem de “mulher” enquanto categoria dura, estável e estagnada em várias outras esferas de

pensamento, como a filosofia e o próprio feminismo - visão esta apresentada anteriormente neste

relatório.

Existem, porém, trabalhos recentes que discutem a postura homogeneizante, especialmente

quando contextos específicos são levados em conta. Penélope Eckert e Sally McConnel-Ginet (2003)

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realizam um estudo aprofundado sobre as relações entre gênero e fala, afirmando que tais relações são

muito mais complexas e menos lineares do que se convencionou acreditar:

[...] the relation between gender and linguistic varieties is directly related tolocal history and conditions. And given differences in these histories andconditions, generalizations about the relation between gender and the use ofstandard or vernacular features will be highly problematic. (Eckert andMcConnell-Ginet, 2003: 292).

Pesquisando por autores brasileiros que tematizassem as relações entre gênero e linguagem,

encontramos a seguinte postulação de Mollica e Braga (2003), que incorpora a visão mais recente de

Eckert e McConnell-Ginet (2003):

A análise da correlação entre gênero/sexo e a variação lingüística tem de,necessariamente, fazer referência não só ao prestígio atribuído pelacomunidade às variantes lingüísticas como também à forma de organizaçãosocial de uma dada comunidade de fala. A consistência do padrão que apontao conservadorismo lingüístico das mulheres emerge da análise de variaçõesem comunidades de fala ocidentais, que partilham diversos aspectos daorganização sociocultural. Esse padrão pode ser revertido, no entanto, quandose consideram dados de comunidades de fala caracterizadas por outrosvalores culturais e outra forma de organização social. (Mollica e Braga, 2003:35).

Para exemplificar esta nova corrente de pensamento, que não caracteriza as mulheres

genericamente como indivíduos que buscam apenas seguir a norma-padrão da língua, podemos citar um

estudo do português brasileiro de Bolívar (2008) sobre o uso do pronome “você” em Porto Alegre/RS.

Nesse estudo há uma breve comparação entre o uso de “tu” e “você” por homens e mulheres

em diferentes ambientes; note-se que a forma “você” é tomada como variante de maior prestígio em

contextos formais de fala. Os dados por ele analisados mostram que tanto homens quanto mulheres

tendem a empregar mais o “você” em ambientes mais formais, enquanto que em ambientes menos formais

ambos empregam mais a variante “tu”. Esta parte do estudo demonstra que a mulher não opta pela

variedade de prestígio em qualquer situação de fala.

Para concluir esta breve reflexão sobre a inserção da mulher nas teias sociais refletida no seu

uso da linguagem, eis uma citação da obra de Dina Ferreira, “Discurso Feminino e Identidade Social”

(2002), que analisa como a fala de dois grupos distintos de mulheres - donas-de-casa e empresárias de

carreira - está relacionada às práticas do grupo social em que se situam:

Por conseguinte, a população feminina diverge por uma variável - desempenhosocial - que não se explicita pela univocidade, mas pela intervenção de umfeixe de traços valorativos e comportamentais. Microfatores, de ordemeducacional, cultural, social, psicológica, incorporam-se no quadrante papelsocial. Cada percurso de socialização faz-se divergente pelo próprio modusvivendi. Consequentemente, desses trajetos sociabilizantes formaliza-se umacultura de direcionamentos diferentes [...]. (Ferreira, 2002: 33).

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1.3 A linguagem e o gênero no contexto do rap paulistaA discussão mais geral sobre gênero e linguagem conduzida até este ponto da pesquisa

demonstrou que partir da definição de mulher enquanto indivíduo preocupado acima de tudo com a

manutenção de “niceness” em suas interações poderia ser inadequado em alguns contextos ou dentro de

grupos sociais específicos de mulheres. De fato, não seria incorreto supor que as mulheres, especialmente

aquelas pertencentes a determinados grupos sociais - como o dos rappers -, poderiam dar preferência ao

uso de uma linguagem não-padrão, uso que se encontra em divergência com relação ao estereótipo

construído acerca delas.

The fact that women appear to be universally granted less status and powerthan men must be recognized as a relevant underlying factor, one which willcertainly not cause all women and men to act alike, given all the other factors[...] but which may, nevertheless, give rise to similar female behaviour or malebehaviour in different communities. (James, 1996: 119)

Tal linha de pensamento conduz à hipótese de que mulheres que procuram criar ou afirmar uma

identidade específica poderiam fazer uso de variedades linguísticas diferenciadas, que fogem do que é

habitualmente esperado de suas falas - ou seja, que fogem do estereótipo da mulher como falante polida -

como ferramenta para a construção de tal identidade. Esta hipótese coaduna-se com a afirmação de

Holmes, em seu ensaio “Woman, language and identity” (1997), sobre a importância do fator lingüístico

para a construção da identidade do sujeito e, principalmente, das mulheres:

As many researchers have demonstrated in their recent work, language is usedto symbolize our different social identities, and in any particular interactionwe draw on it’s symbolic power to construct a particular identity or identities,and to express our conformity with or rejection of mainstream norms andvalues. (Holmes, 1997: 195)

[...] women’s identity is signalled not so much by the choice of particularlinguistic variants which contrast with those preferred by men, but rather bythe ways in which women are often required to use language to construct amuch wider range of social identities and express a wider range of social rolesthan men. (Holmes, 1997: 199)

Apoiando-me, portanto, nas várias teorias que relativizam as relações entre gênero e linguagem,

propus nesta pesquisa que as mulheres rappers, de forma a se inserirem na cultura hip hop como ícones

sócio-culturais, provavelmente precisariam coadunar sua própria imagem com a imagem mais geral que

se tem de um rapper, sob vários aspectos. Na base de tal proposta estavam também outros estudos sobre

a realidade do hip-hop: Imani Perry afirma no livro Prophets of the Hood (2004) que, na era das “sexys

MC’s”, a mulher busca ao mesmo tempo parecer feminina e ocupar determinados espaços discursivos (em

função da produção de seus raps) que são majoritariamente masculinos, atuando como o que ele chama

de “badman woman”. Ao atuarem dessa forma, as rappers se utilizam de uma linguagem de violência,

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poder e subversão. No livro That’s the joint! The Hip-Hop Studies Reader (2004), no artigo “I’ll be Nina

Simone defecating on your microphone: Hip-Hop and Gender”, o autor defende que a posição de

privilégio dos homens no meio artístico do hip-hop explica, ao menos em parte, a marginalização das

mulheres neste mesmo meio, especialmente daquelas que não se colocam em conformidade com as regras

do hip-hop (Neal, 2004).

No contexto do rap nacional, também há indicadores que apontam para uma busca das mulheres

rappers de se aproximarem da imagem masculina de rapper já consagrada para, assim, se afirmarem e

destacarem neste meio. Em sua dissertação de mestrado, “Rap de Batom: Família, educação e gênero

no universo rap”, Mariana Semião de Lima traz falas da rapper Dina Dee sobre a necessidade de a mulher

se “masculinizar” a fim de conseguir um espaço de destaque no rap.

Se você for subir num palco com um shortinho, os outros não vai ficar olhandopara o seu vocal e prestando atenção na sua letra. [...] Então, para você nãoconfundir as coisas, você tem que se tampar dos pés à cabeça. (… Você saiperguntando na galeria inteira! Dina Dee, você acha, uma versão masculinado rap ou uma versão feminina. Todo mundo vai te falar masculina! Porqueninguém identifica eu, na música, como mulher; primeiramente por causa davoz [...]. E é tão difícil para você assimilar a minha imagem. Você só vai vercomo eu sou, na capa do CD. O pessoal que ouve o CD não sabe como é queeu sou, imaginam uma pessoa totalmente diferente; nunca de salto alto,vestidinho coladinho, calcinha coladinha, mulherzinha, assim. [...]” (Lima,2005: 97-98).

Assim, ao longo desta pesquisa investiguei a ocorrência do fenômeno de “masculinização” das

rappers - apontado por Dina Dee na dissertação de Lima (2005) no que se refere à aparência - em relação

à linguagem, tal como Perry (2004) afirma que ocorre no rap estadunidense. Mais especificamente,

construímos a hipótese de que as mulheres no campo do hip-hop, de forma a constituir uma identidade

forte como rappers, iriam na direção de explorar, na produção de seus raps, os recursos da chamada

linguagem popular, tal como o fazem os rappers.

Linguisticamente, minha hipótese pautou-se aqui em duas teorias: a Teoria da Regulação

Lingüística, de Corbeil (2001), e a teoria do Design de Referência, de Bell (2001). Ambas apontam para

um esforço do sujeito no sentido de aproximar sua fala de um grupo social que se admira ou do qual se

quer fazer parte. A teoria da Regulação Lingüística é definida por Corbeil da seguinte forma:

Entendemos por regulação lingüística o fenômeno pelo qual oscomportamentos linguísticos de cada membro de um grupo ou de uminfragrupo são moldados no respeito a uma certa maneira de fazer sob ainfluência de forças sociais que emanam do grupo ou de seus infragrupos. Elaprovoca dois tipos de reação: ou o mimetismo lingüístico (imitação do uso deum infragrupo ou do grupo) sob a influência da função integrativa da língua(Corbeil, 1970b: 74ss), ou o respeito pelo uso de um infragrupo consideradocomo o uso melhor, mesmo não sendo o do próprio indivíduo (Bouldreault,1973: 123-207) sob a influência do princípio de dominância [...] (Corbeil,2001: 178)

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O Design de Referência, por sua vez, pode envolver uma mudança do falante para identificar-se

mais fortemente com o próprio grupo ao qual pertence, ou com um grupo exterior mas com o qual

desejaria identificar-se. Estas teorias já foram incorporadas ao pensamento sociolinguístico e encontram-

se tangenciadas por várias outras, das quais serão dados alguns exemplos.

Primeiramente, podemos mencionar o fator de busca de prestígio por meio dos usos linguísticos

empregados; assim como nos casos da teoria da Regulação Lingüística e do design de Referência, ele

também envolve a manipulação dos recursos linguísticos por parte do falante, com o fim de alterar sua

imagem, neste caso, aproximando-a da imagem de um grupo de falantes mais prestigiado no macro-

cenário social.

[...] o falante age linguísticamente de forma a projetar-se na sociedade e, emparticular, perante os grupos de que faz parte. O objetivo é cuidar da suaimagem, da sua aceitação e apreciação pelos outros, enfim, enriquecer emelhorar o seu estatuto social. E isto não é mais do que a busca de prestígio,neste caso em função do uso da língua. (Santos, 2002: 55)

Também a atitude lingüística do falante, descrita abaixo por Preti (1984), envolve a

manipulação consciente da linguagem - embora neste caso o propósito seja a adequação à situação de fala,

mais do que uma adequação da própria imagem.

O fenômeno da atitude lingüística do falante, longe de ser problemametalinguístico exclusivamente individual, delimitado pela área de um idioletoativo (quer dizer, de um determinado conhecimento lingüístico de uso ativopelo falante) é, antes de mais nada, também uma atitude lingüística de classe,que supõe sempre a escolha de uma linguagem, a seu ver “melhor” para certasituação. (Preti, 1984: 69)

Assim, ao invés da fala polida que normalmente seria esperada de um falante do gênero

feminino, supus que as rappers provavelmente apresentariam um falar mais próximo da norma não-

padrão, a norma empregada pelo grupo por elas admirado - o dos homens rappers -, obedecendo ao que

estipulam as teorias de Corbeil e de Bell. Também influiria para este comportamento o fator de busca do

prestígio, mencionado por Santos, na medida em que esta norma é a mais valorizada em seu meio social.

Por fim, com relação à atitude lingüística, pressupus que as rappers utilizariam-se da norma não-padrão

em um ato consciente de seleção da variante mais adequada àquela situação enunciativa - posto que

denunciar a situação da periferia fazendo uso de exagerada correção lingüística constituiria incongruência

e, por conseguinte, desautorizaria seu discurso.

2. Materiais e Métodos2.1 Corpus

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Para realizar esta pesquisa, foi utilizado um corpus constituído de transcrições de raps

compostos por mulheres que participam ativamente do movimento hip-hop, em especial do cenário do

rap nacional. Os sujeitos de nossa análise foram as rappers paulistas Dina Dee, falecida recentemente,

e Negra Li, ambas de grande expressão no cenário do rap nacional. De cada uma destas rappers foram

incluídas as transcrições das letras de 10 raps (vide anexo 1- Tabela do Corpus Utilizado).

Para o desenvolvimento das análises comparativas, formaram parte de nosso corpus também

10 transcrições de rap do grupo Racionais MC’s, como representante da produção de linguagem e de raps

do grupo dos homens.

Cabe mencionar que o corpus inicial sofreu modificações em virtude de dificuldades na

transcrição. Assim, o rap “Periferia”, de Negra Li, foi substituído por “Ninguém Pode me Impedir”. Tal

alteração respeitou aos pressupostos da seleção do corpus, sem que acarretasse, portanto, em perda para

as análises.

2.2 TranscriçãoA transcrição dos raps para esta pesquisa seguiu o modelo desenvolvido por Bentes (2007) no

interior de projetos enviados ao SAE relacionados ao tema do emprego da linguagem dentro do

movimento hip-hop. Todas as transcrições foram completamente realizadas e formatas segundo o modelo

adotado. Entretanto, elas passam por processo de constante revisão, em busca de assimilar a pluralidade

lingüística e de outras semioses presente no gênero “rap”.

2.3 Dispositivos Teórico-AnalíticosEsta pesquisa abrangeu dois níveis: lexical e textual. A justificativa para sua escolha reside no

fato de que estudos recentes (Bentes, 2006, 2009) apontam para a grande mobilização de expressões gírias

e expressões idiomáticas por parte dos rappers em suas músicas. Além disso, também há estudos que

discutem a preferência dos rappers por determinados tópicos (Bentes e Rio, 2006). Analisar a

manipulação dos recursos linguísticos nos dois níveis acima referidos representa uma contribuição,

portanto, para possíveis estudos comparativos entre a linguagem dos homens e das mulheres rappers.

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“Gíria é um dialeto social reduzido ao léxico, de caráter parasita (na medida em que ela outra coisa não3

faz que desdobrar, com valores afetivos diferentes, um vocabulário já existente), empregado numa determinadacamada da sociedade que se põe em oposição às outras; tem por fim só ser compreendida por iniciados ou mostrarque eles pertencem a um determinado grupo.” (Dubois, 2001: 308).

“Caracterizada como um vocabulário especial, a gíria surge como um signo de grupo, a princípio secreto,4

domínio exclusivo de uma comunidade social restrita (seja a gíria dos marginais ou da polícia, dos estudantes, oude outros grupos ou profissões). E quanto maior for o sentimento de união que liga os membros do pequeno grupo,tanto mais a linguagem gíria servirá como elemento identificador, diferenciando o falante na sociedade e servindocomo meio ideal de comunicação, além de forma de auto-afirmação.” (Preti, 1984: 3).

“Expressão idiomática é qualquer forma gramatical cujo sentido não pode ser deduzido de sua estrutura5

em morfemas e que não entra na constituição de uma forma mais ampla.” (Dubois, 2001: 330).

Segundo Xatara (1998), “expressão idiomática” é uma forma lexical complexa que não pode ser6

decomposta, provida de significado conotativo e cristalizada na língua pela tradição cultural.

“Daí deriva a noção de tópico discursivo, entendido como uma categoria analítica abstrata, com a qual7

o analista opera, [...] para recortar segmentos textuais e descrever a organização tópica de um texto.” (Jubran, 2006:35).

“Essa noção de tópico com o sentido de ‘o que está sendo falado/escrito’ é explicada por Brown e Yule8

(1983: 70) como ‘um modo claramente intuitivo e satisfatório de descrever, pelo princípio da unificação, o que tornaum fragmento ‘sobre’ alguma coisa e o próximo fragmento ‘sobre’ outra coisa.’.” (Lins, 2008: 20).

Para os efeitos desta pesquisa, foram utilizadas as definições de gíria presentes em Dubois

(2001) e Preti (1984) , as definições de expressão idiomática presentes em Dubois (2001) e Xatara3 4 5

(1998) e as definições de tópico discursivo presente em Jubran (2006) e Lins (2008) .6 7 8

A definição de gíria mobilizada para esta pesquisa é bastante apropriada por que a trata como

vocabulário específico de um grupo social determinado. Desta maneira, será possível avaliar o maior ou

menor emprego de termos gírios pelos sujeitos aqui estudados, sem a necessidade de qualquer

caracterização dos mesmos para além de sua posição social como membros da periferia.

A partir da leitura do livro “A giria e outros temas”, de Preti (1984), foi possível delimitar a

fronteira que separa a gíria comum da gíria de grupo, bem como os processos pelos quais as gírias são

construídas, dois pontos que podem provar-se de grande interesse para a análise.

[...] a gíria surge como um signo de grupo, a princípio secreto, domínioexclusivo de uma comunidade restrita [...] Ao vulgarizar-se, porém, para agrande comunidade, assumindo a forma de uma gíria comum, de uso geral enão diferenciado, esse vocabulário perde-se dentro dos amplos limites de umdialeto social popular, deixando, desde então, de ser signo grupal. (Preti,1984: 03)

Fazendo da linguagem gíria um mecanismo de agressão, nem por isso, noentanto, o pequeno grupo chega a criar um código novo. E nem sequer, àsvezes, um vocabulário totalmente original [...] Limita-se, quase sempre, àmera alteração de significados por processos metafóricos [...] ou aumaalteração dos significantes dos vocábulos usuais. (Preti, 1984: 6-7)

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Em certa medida, esta visão de Preti a respeito da gíria de grupo assemelha-se à anti-linguagem

descrita por Montgomery (1995), tida como versões extremas de dialetos sociais, formadas a partir de um

processo de re-lexicalização ou super-lexicalização. Segundo Montgomery, estes processos têm como

consequência tornar a anti-linguagem impenetrável para aqueles que lhe são externos, do mesmo modo

que ocorre com as gírias de grupo. A partir destas definições, foi possível identificar com maior precisão

os termos gírios na fala dos sujeitos, de acordo com os métodos de criação de gírias descritos por Preti

e Montgomery, bem como determinar sua natureza enquanto signo de grupo ou não.

Por outro lado, foi necessário considerar na análise dos dados o fator da popularização do

vocabulário da periferia, graças à maior inserção e aceitação do rap no cenário musical nacional. Assim,

o fator de emprego exclusivo ou não de uma gíria por sujeitos das comunidades de periferia foi tomado

como decisivo na distinção entre gírias de grupo e gíria comum, em momentos nos quais os fatores

conhecimento ou compreensão não foram critérios satisfatoriamente incisivos.

No que se refere à descrição e análise do uso de expressões idiomáticas, foi considerado que

seu uso, por estar relacionado à realidade vivenciada cotidianamente pelo falante, é bem distinto entre

os diversos grupos sociais. Desta forma, foi levantada a hipótese de que a análise de raps levaria à

observação de um emprego muito particular de expressões idiomáticas, considerando-se tanto sua

natureza quanto a freqüência de uso. Neste sentido, cabe aqui a afirmação de Alvarez (2000):

[...] as expressões idiomáticas refletem o lado dinâmico da língua, a suaadaptação constante às necessidades comunicacionais do momento, tanto quepodemdesaparecer logo depois de seu surgimento, se bem que muitas ficam ese incorporam ao inventário lexical da língua. (Alvarez, 2000: 73)

Desta forma, pudemos inferir que o contexto da periferia ofereceria as condições para a criação

de expressões idiomáticas muito particulares e distintas daquelas que surgem em outros contextos sócio-

culturais, as quais poderão ser observadas na fala de suas representantes mulheres. Também inferimos

a possibilidade do uso de expressões idiomáticas já existentes com uma carga semântica específica,

diferente da original ou daquela mais comumente observada.

3. Resultados3.1 Resultados Quantitativos

Após a transcrição dos 30 raps previstos no projeto inicial desta pesquisa, a análise quantitativa

permitiu a elaboração de alguns gráficos e tabelas, conforme relacionado abaixo:

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3.2 Resultados QualitativosA partir da análise das transcrições, combinada com um olhar crítico aos dados obtidos na

análise quantitativa, foi possível notar os principais aspectos qualitativos dos raps compostos por cada

sujeito estudado. A percepção de tais características, por sua vez, permitiu que novas hipóteses fossem

levantadas, o que gerou interessantes desdobramentos para a pesquisa na linha dos estudos linguísticos

de gênero.

Verificou-se, por exemplo, que os raps de autoria de Negra Li apresentam reduzida presença

de vocábulos gírios ou expressões idiomáticas, de qualquer natureza. Além disso, dentre os sujeitos

estudados, ela apresentou a menor frequência de uso de vocábulos pertencentes ao grupo das gírias de

grupo. Dentre estes, “mina” e “responsa” são os termos encontrados mais frequentemente - note-se que

são gírias de grupo que, embora não sejam utilizadas fora do contexto social da periferia, ainda são

compreensíveis a sujeitos que não pertencem a este contexto.

Nos raps de Dina Di - rapper mais ligada às raízes do gênero -, por outro lado, a presença de

gírias e mesmo vocabulário obsceno é muito mais forte, aproximando-se daquela observada nos raps dos

Racionais MC’s. A presença especificamente de gírias de grupo também é mais notável, embora no caso

de Dina Dee as gírias de grupo por vezes não sejam compreensíveis para sujeitos que não são da periferia.

Destaque-se que foi possível verificar, ao longo das análises, a ocorrência dos dois principais

mecanismos de construção do vocabulário gírio descritos por Preti (1984), e que também são processos

apontados por Montgomery (1995) na formação de anti-linguagem. Em termos gírios como “belê” e

“princê”, por exemplo, percebemos a construção da gíria a partir da deformação do significante de um

vocábulo pré-existente, sem alteração no seu significado. Por outro lado, em termos gírios como

“vacilar”, temos a alteração, ampliação ou distorção do significado de um vocábulo pré-existente - neste

caso, de “hesitar” para “cometer um erro”.

Quanto às expressões idiomáticas, vemos que há uma importante ocorrência de EI’s

características deste grupo, que não poderiam ser aplicadas naturalmente em circunstâncias externas à

sua realidade social. Estas EI’s estão presentes tanto nos raps de Negra Li quanto nos de Dina Dee, sendo

mais frequentes nas composições desta última. Nos raps de ambas, a presença de EI’s, embora

quantitativamente inferior à de gírias, é constante.

Porém, nota-se também que as EI’s próprias, como chamei àquelas utilizadas mais estritamente

no âmbito da periferia, são menos frequentes nos raps do que EI’s comuns, ou seja, utilizadas de modo

mais geral em todos os grupos sociais. Esta relação é inversa à que verificamos nas gírias, em que todos

os sujeitos estudados empregam gírias de grupo com maior frequência do que gírias comuns. Cabe

determinar os fatores que influenciam o menor desenvolvimento de EI’s próprias, em contraste com o

grande desenvolvimento de vocabulário gírio de grupo, que os rappers apresentam.

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“Popular” é empregado aqui na acepção contemporânea de Cultura Pop, não fazendo referência direta9

à cultura propagada nas camadas mais rasas da sociedade - embora ambas possam coincidir sob certas cirsuntâncias.

Por fim, ainda dentro do âmbito lexical, cabe ressaltar a ocorrência de termos gírios e EI’s de

grupo que, além de não serem utilizadas por indivíduos pertencentes a outros grupos sociais, também não

são compreensíveis a estes sujeitos. Estas ocorrências concentraram-se nos raps de Dina Dee - como já

mencionado anteriormente - e, em maior escala, dos Racionais MC’s. A incompreensão de seus sentido

acarretou em uma dificuldade em sua classificação, levando em alguns casos a impasses na análise dos

dados. Desta forma, provou-se necessário que haja um contato mais aprofundado com a cultura e a

linguagem da população da periferia, de modo geral, para que tais usos linguísticos possam ser

compreendidos inequivocamente.

Também é possível traçar um panorama do que pode ser constatado com relação ao tópico

discursivo presente na produção de cada sujeito. Negra Li apresenta muitas vezes em seus raps temáticas

genéricas, como a exortação de valores humanos, típicas da música popular . Encontramos também uma9

reafirmação de sua posição como membro da comunidade hip-hop, relembrando suas origens e o caminho

que traçou, dentro dos raps em que o próprio rap figura como tópico. Possivelmente esta seja uma

tentativa de manter o laço entre sua música atual e o gênero dentro do qual iniciou a carreira.

Dina Di, por sua vez, apresenta uma forte preocupação com a figura da mulher na periferia,

abordando-a sob uma perspectiva que poderia ser chamada de conciliadora, ou seja, que trabalha tanto

seus méritos quanto seus defeitos. Fala das dificuldades enfrentadas na vida na periferia, trata a mulher

enquanto mãe e companheira - nestes momentos adotando uma certa postura de moralismo - e discute

temas que vão de relacionamentos com criminosos e presidiários à própria questão da criminalidade,

retratada através da vida nas penitenciarias femininas.

Por fim, os Racionais MC’s apresentam em seus raps principalmente uma denúncia social

acerca da realidade da periferia. As mulheres são pouco abordadas em suas músicas, e quando tal tema

surge elas são vistas sob duas perspectivas principais: uma negativa, que a retrata como interesseira e

vulgar, e outra indiferente, que a vê como um acessório ou objeto da paisagem, meramente mencionando

sua presença.

Uma temática comum aos três sujeitos analisados, porém, é a religiosidade. Todos eles

apresentam raps nos quais a fé é o super-tópico abordado, bem como raps no qual ela aparece como um

sub-tópico, em geral ressaltando sua importância para a manutenção do caráter do indivíduo que vive na

periferia. Assim, vemos que o ponto de vista dos rappers acerca de determinado tópico não é

necessariamente divergente. Podemos, portanto, levantar a hipótese de que os rappers homens e mulheres

sustentam pontos de vista divergentes principalmente quando o tópico abordado em seus raps está mais

estreitamente relacionado à imagem que se tem de um gênero, seja “homem” ou “mulher”.

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Assim, foi possível observar que os tópicos abordados nos raps, embora variem entre homens

e mulheres, também dependem em grande parte da inserção da rapper no meio e da identidade que elas

pretendem afirmar. Uma vez que Negra Li encontra-se no centro de um circuito cultural mais amplo,

voltado para um público mais abrangente, os tópicos que sua música aborda são também mais abrangentes

- ou mais genéricos. Dina Di, por outro lado, que mantém os membros da periferia como público-alvo

principal, ou mesmo exclusivo, de sua produção artística, trata de tópicos mais restritos e ligados

diretamente ao âmbito da vida cotidiana neste contexto social.

O mesmo fator pode influenciar o nível lexical, já discutido anteriormente, levando à presença

predominante de gírias comuns, que sejam do entendimento e do uso do grande público, como no caso

de Negra Li, ou gírias de grupo mais restritas, como no caso de Dina Di. Desta forma, o vocabulário

familiar a sujeitos de vários grupos sociais empregado por Negra Li facilita o acesso do grande público

a sua música. Por outro lado, ao empregar um vocabulário que, mesmo sendo conhecido por membros

de outros grupos, não é usualmente empregado por eles, Dina Di restringe a possibilidade de que seus

raps sejam conhecidos, apreciados e reproduzidos fora da periferia.

Cabe aqui mencionar que também é possível distinguir duas organizações tópicas diversas nos

raps de Dina Dee e Negra Li. No caso de Negra Li, apresenta-se um super-tópico, que é trabalhado de

modo linear do início ao fim da composição. As tangenciações deste por outros tópicos são raras e breves.

No caso de Dina Dee, porém, embora um super-tópico seja apresentado ao início do rap - muitas vezes

sendo dedutível a partir do título -, este é de tal modo atravessado por outros tópicos que, ao longo da

progressão do rap, torna-se difícil distinguir claramente uma hierarquia tópica. Apenas uma análise mais

minuciosa enfocando tal aspecto pode fornecer um quadro tópico satisfatório dos raps de Dina Dee.

Neste sentido, contrariando o que foi visto no âmbito lexical, Negra Li aproxima-se mais da

produção de raps do grupo Racionais MC’s, conforme analisado por Bentes e Rio no artigo “Razão e

Rima: Reflexões em torno da organização tópica de um rap paulista” (2006). As autoras apontam a

existência de um “fio condutor”, que mantém a centração tópica do rap, à semelhança do que ocorre nos

raps de Negra Li. No caso de Dina Dee, porém, vemos o que Koch (2004) chama de “progressão tópica

por explosão do tópico”, em que a centração tópica é mínima.

Estabelecendo uma relação entre o que foi visto quanto ao léxico e ao nível textual, também

podemos lançar a hipótese de que o emprego de gírias esteja relacionado ao super-tópico do rap. Tal

hipótese baseia-se na observação de que a variação na quantidade de termos gírios presente em cada rap

foi significativa, havendo mesmo casos em que nenhuma gíria era empregada. Na base desta variação

estaria, portanto, o tópico abordado nos raps, que pode dar maior abertura para o uso de gírias e EI’s em

alguns casos do que em outros.

4. Conclusões

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Nesta pesquisa, foram analisadas comparativamente transcrições de raps produzidos por

homens e por mulheres, considerando os níveis lexical (gírias e expressões idiomáticas) e textual (tópico

discursivo). Assim, foi possível observar que Dina Dee - rapper mais ligada às raízes do gênero e à vida

na periferia - apresenta largo uso de gírias e mesmo termos obscenos em seus raps, bem como de tópicos

mais estritamente ligados à realidade de seu grupo social e, especificamente, das mulheres; estas

características aproximam seus raps daqueles produzidos pelo grupo Racionais MC`s, formado apenas

por homens. A rapper Negra Li, por outro lado, apresenta em suas composições um uso restrito de gírias -

das quais poucas podem ser consideradas gírias de grupo - e seus tópicos principais referem-se a

relacionamentos e, metalinguísticamente, a sua própria condição de rapper. Tais diferenças em seus usos

linguísticos quando comparados aos de Dina Dee podem ser atribuidas a sua maior participação no

cenário musical nacional, o que exige de Negra Li usos mais polidos na elaboração de suas letras.

Os dados obtidos permitiram, portanto, a reafirmação da teoria, defendida por Eckert e

McConnel-Ginnet (2003) de que uma série de fatores influenciam os usos linguísticos do falante, sendo

o gênero apenas um deles. Nesta pesquisa, especificamente, a inserção da rap em seu meio artístico - ou,

em outras palavras, seu posicionamento ativo como artista da periferia ou não - apresentou-se como fator

importante para a determinação de seus usos textuais e lexicais. Desta maneira, Dina Dee - que mantém

laços mais estreitos com a imagem de uma rapper e de membro da periferia - claramente apresenta uma

linguagem mais próxima da não-padrão, aproximando-se do que é visto na linguagem de rappers homens

(embora, cabe ressaltar, em menor escala). Por outro lado, Negra Li, que afasta-se da imagem de rapper

para centrar-se em um âmbito musical mais genérico, apresenta linguagem mais próxima do padrão e,

portanto, mais neutra e aceitável por sujeitos de vários grupos sociais.

Por fim, destaco que, mais importante do que o nível de masculinização e não-padronização

da linguagem de cada rapper estudada nesta pesquisa, a constatação principal deste estudo foi a atitude

real de masculinização e não-padronização da fala por parte da mulher, que contradiz os estudos clássicos

citados na introdução teórica.

5. Perspectivas de Desdobramento da PesquisaDentre as possibilidades que a pesquisa aqui descrita apresenta para a realização de novas

investigações, está o projeto enviado para apreciação do Programa de Incentivo às Bolsas de Iniciação

Científica da UNICAMP - PIBIC/SAE, já aprovado. Tal projeto, a ser realizado no período de

Agosto/2010 a Julho/2011, denomina-se “Linguagem e Gênero: Uma análise sociolinguística da fala das

minas” e dedicar-se-á à exploração de possíveis relações entre a faixa etária e a fala das mulheres.

Também há perspectivas para novas investigações, suscitadas a partir das hipóteses levantadas

no resultado das análises realizadas até este ponto. Assim, é possível investigar:

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• Os tópicos que suscitam maior ou menor divergência entre os pontos de vista defendidos por

rappers homens e rappers mulheres.

• A relação direta entre o tópico discursivo abordado no rap e a quantidade ou natureza de gírias

e EI’s empregadas.

• Os processos específicos de formação de gírias e expressões idiomáticos ligados diretamente

à vida nas periferias.

• As causas para um maior desenvolvimento de vocabulário gírio próprio neste grupo, em

oposição ao menor desenvolvimento de EI’s próprias.

Para que estas questões possam ser elucidadas, é necessário que o corpus de transcrições de

raps produzido por esta pesquisa seja reexaminado, adotando postulações teóricas mais estreitamente

relacionadas a elas e um olhar que as enfoque enquanto temática de pesquisa.

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7. Atividades extra-curriculares desenvolvidas ao longo do ProjetoAfora as atividades comuns referentes à graduação, foram realizadas atividades extra-

curriculares, tais como participação na comissão gráfica da Revista Alegoria, revista discente do IEL a

ser lançada no início deste semestre, atuação como fiscal de sala na 1ª fase do Vestibular UNICAMP 2010

e colaboração no desenvolvimento do “Relatório diagnóstico sobre a avaliação da comunidade de Letras

e Linguística relativa aos periódicos do campo disciplinar”, de responsabilidade da Anpoll. Todas as

atividades foram concluídas com sucesso e sem prejuízos ao calendário do projeto.

Por fim, dentre as atividades relacionadas diretamente à àrea do projeto, é válido destacar a

participação no CLCS - Colóquios em Língua, Cultura e Sociedade, realizado no IEL, bem como nos

seminários sobre Coupland e sua obra “Style, Language Variation and Identity”, realizados sob a

orientação da Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva. Tais eventos, devido a sua relação com o tema

mais geral da sociolinguística, foram de grande importância para a ampliação do panorama teórico e

levantamento de algumas questões e perspectivas relevantes para a pesquisa. Também a disciplina de

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HL532, Lingüística Textual, cursada neste semestre e ministrada pela Profa. Dra. Anna Christina Bentes

da Silva, proporcionou um relevante embasamento teórico acerca de questões relacionadas à análise de

tópico discursivo, ponto chave na realização do presente estudo.

ApoioEsta pesquisa foi financiada pela linha de fomento PIBIC/SAE, no período compreendido entre

Agosto de 2009 e Julho de 2010.

AgradecimentosÀ Profª. Drª. Anna Christina Bentes da Silva: por sua dedicada e meticulosa orientação ao longo deste

projeto.

À minha família e, especialmente, à minha mãe, Fátima: pelo inestimável apoio e compreensão ao longo

dos doze meses de trabalho.

Aos professores e colegas do Instituto de Estudos da Linguagem: por suas colaborações generosas, que

considero peça indispensável à finalização desta pesquisa.

A Dina Dee, in memoriam: rapper de talento, mulher de fibra.

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Anexo 1 - Tabela das Transcrições contidas no CorpusRapper Dina Dee Rapper Negra Li Grupo de Rap Racionais MC’s

A Filha do Rei Amar em Vão 12 de Outubro

A Noiva do Thock Antônia Brilha 1 por Amor 2 por Dinheiro

As Coisas Mudam A Pé A Vida e Desafio

Corpo em Evidência Compaixão Crime Vai e Vem

Dormindo com o Agressor Exército do Rap Da Ponte pra Cá

Irmã de Cela Guerreiro Guerreira Diário de um Detento

Marcas da Adolescência Mundo Jovem Estilo Cachorro

Mulher de Malandro Ninguém Pode me Impedir Jesus Chorou

Tudo de Mim Tão Bom pra Mim Mulheres Vulgares

Última Chance Um Minuto Negro Drama