transcrição do programa midiático “a liga: da favela à...

Transcrição do Programa Midiático “A Liga: Da Favela à fama”. Transcritores: Wesley Diego Alves. Revisor: Maria Eduarda Marques Mateus Ferreira Situação Comunicativa Abertura Participantes Rafael Bastos = RB

Débora Vilalba = DV Thaíde = TH

Rosanne Mulholland = RM

Participantes Falas dos participantes RB olá... bem vindos à Liga... você já imagino(u) que a vida é uma corrida até onde

você gostaria de chega(r)? DV mas o que aconteceria se o seu ponto de largada fosse muito atrás do de todo

mundo? RM a fome... a necessidade de trabalha(r) e a dificuldade para estudar... fazem com

que muitos deles desistam... antes mesmo de começa(r) TH mas algumas pessoas não se rendem e encontram no futebol e na música... o

caminho para mudar o seus destinos RB hoje na Liga... nós vamos mostrar a vida de quem foi da favela à fama... se com

o microfone nas mãos ou com a bola nos pés ((imagens do que irá passar no programa)) Situação Comunicativa Chegando no Show do Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM

Integrante da banda = IB Integrante da banda 2 = I2

RM (es)tamo(s) chegando? IB (es)tamo(s) chegando...(es)ta(mos) bem perto já do show já...na frente dá pra

ve(r) a galera lá na frente esperando lá entendeu? RM já (es)to(u) vendo ai uma movimentação I2 lotado hein Balão...hoje a noite promete ((banda desce da van e um monte de meninas aparece atacando-os com beijos e

abraços)) Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB essas garotas descontroladas estão atacando os meninos da banda de funk Bonde

do Canguru... eles cresceram no jardim Boa Vista... um bairro pobre da zona

oeste de São Paulo... milhares de pessoas vivem aqui e o desemprego atinge mais de dez por cento da população... se segunda à sexta eles ficam na comunidade... mas nos finais de semana dividem seu tempo entre os palcos... e os camarins ((cenas do Bonde do Canguru cantando))

Situação Comunicativa Camarim Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM

Bisteka = BS Balão = BL Japinha = JP

RM e ai?... é sempre assim o camarim?... antes do show? BS é sempre assim... a ¹[me(s)ma bagunça... é sempre bom... assim que a gente já se

convive com... com a atmosfera daqui o ar assim] e quando a gente entra no palco já arrebenta

¹[((murmúrio no camarim))] RM já entra com gás?... e o que (vo)cês bebem ai antes do show em? BL então a gente (es)tamo(s) beben(d)o ai um uísque com uns energético ai... c’um

guaranazinho ai pra quem não bebe... uma água pra dá(r) uma fortalecida na voz também... por que sem uísque a voz não funciona

RM a não é? BL não funciona JP isso aqui é a gasolina nossa BL então JP é nosso combustível RM e ai?... agora o show? BL agora... ²[vamo(s)... (es)tamo(s) ansioso(s) pra chega(r) lá ó] ²[((ruído do show))] RM ³[acabo(u) tudo? ((mostrando a garrafa de uísque vazia))] ³[((ruído do show))] BL 4[zeramo(s)... zeramo(s)... p(r)a subi(r) naquele pique] 4[((ruído do show))] RM 5[(es)tão com coragem agora?] 5[((ruído do show))] BL 6[vamo(s) que vamo(s)] 6[((ruído do show))] Situação Comunicativa Camarim Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM RM tem uma galera lá embaixo ((imagens do show))... essa é a grande música... o

grande sucesso do bonde do canguru ((imagens do show continuam)) Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB

RB Japinha... Bisteka e Balão... tem entre quinze e dezenove anos... fazem de cinco a dez shows por semana e em apenas oito meses eles já viraram os moradores mais ilustres do Jardim Boa Vista

Situação Comunicativa Ruas do Jardim Boa Vista Participantes Rosanne Mulholland = RM Crianças = CR RM oi pessoal tudo bem? CR oi:::: RM (vo)cês conhecem o bonde do Canguru? CR sim::: ((gritaria)) RM e (vo)cês sabem canta(r) alguma música deles? CR sim ((gritaria)) RM qual?... canta’i pr’eu ve(r) ((crianças cantam uma música famosa do Bonde do Canguru)) Situação Comunicativa

Frente da casa de um dos integrantes da Banda Bonde do Canguru

Participantes Rosanne Mulholland = RM RM ô de casa... pode entrá(r)? Situação Comunicativa casa de um dos integrantes da Banda Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM quem é esse pessoal ai do bonde do canguru? JP é o Japinha... o Bisteka e o Balão RM Japinha... Bisteka e Balão? BS é o bonde do Canguru RM com’é que começo(u) o bonde do canguru? BL começo(u) através de uma brincade(i)ra né? Que eu já cantava já... a... três...

quatro anos atrás eu já RM que é isso? BL ameaçava ai de M.C ai pela quebrada né?... e o Bisteka tinha seus parce(i)ro(s)

pra canta(r) e eu tinha meus parce(i)ro pra cantá(r) né?... mas ai a gente não conhecia o Japinha.. foi quando o Japinha veio lá do Rio de Janeiro né?

RM de fralda ainda em Japinha? JP quando eu catava papelão ali nas ruas ali... me acharam RM mentira... sério? ((risos)) JP mentira

Situação Comunicativa Ruas do Jardim Boa Vista Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM queria sabe(r) com’é que era a vida de vocês antes do bonde BL a gente tinha aquela vontade de faze(r) música... música mas nada dá certo...

pessoal da quebrada curtia... mas ficava por aqui mesmo... então ficava difícil pra gente né?

BS quatro anos tentando toca(r) e nada... nada RM vocês começaram a desisti(r)? BL muitas vezes RM é mesmo? BL por que cansa... tem hora que cansa né?... você fica lá ((corte)) Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV mais de dez milhões de brasileiros vivem em favelas hoje em dia... a maioria

deles que(r) mudar de vida... mas nem todos querem sair da comunidade Situação Comunicativa Ruas da Cidade de Deus Participantes Rafael Bastos = RB

MV Bill = MB RB eu (es)tô(u) aqui na... C.D.D... cidade de Deus no Rio de Janeiro pra conhece(r)

u-ma... uma personalidade conhecida do Brasil inte(i)ro... sem dúvida... um ídolo aqui da Cidade de Deus... M.V Bill

MB tudo bem cara... tudo bom? RB (es)tá beleza? MB bacana RB e continua aqui né Bill? MB continuo cara... costumo dize(r) que eu nasci aqui:: pelo destino né cara? E hoje

é uma opção... continua(r) né cara?... é uma forma de contribui(r) pr’uma... p’rum direcionamento melhor

Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV

DV a Cidade de Deus fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro em Jacarepaguá... surgiu nos anos sessenta n’uma tentativa do governo de acabá(r) com as favelas na Zona Sul da cidade... hoje em dia... cerca de cinquenta mil pessoas vivem aqui

Situação Comunicativa Ruas da Cidade de Deus Participantes Rafael Bastos = RB

MV Bill = MB

Carlos Henrique = CH

RB já passo(u) pela sua cabeça sai(r) daqui em algum momento?... alguma coisa te

aconteceu... que você falou... caramba... acho que... (es)tá na hora de dá(r) um passo ai:: pra o(u)tro lado

MB não... ainda não cara... eu sei que quando eu tivé(r)::... tivé(r) filhos... sei lá... de repente... é::... eu vô(u) querê(r) criá(r) meu filho n’um ambiente bacana sabe?... aonde ele não precisa::... sobrevivê(r)... como eu tive que fazê(r)... mas enquanto eu n’um tenho filho cara... pô meu me sinto como... uma pessoa que (es)tá doando de volta a::... a quem me projetô(u) né cara?

CH ae... valeu Bill... valeu cara MB e::... chega ai... tu manda uma rima.. não manda uma rima? CH lógico ((cumprimenta MV Bill)) 7[na hora] RB 7[é::? ah é?] MB 8[mandô(u) uma... rima para o sinistro]... então manda... 9[de improviso] RB 9[manda’i que eu que]ro vê(r) CH ((fazendo rimas)) RB 10[ai garo::to... como é seu nome velho?] 10[((aplausos e comemoração))] CH 11[Carlos Henrique] 11[((comemoração))] RB Carlos Henrique... manda um abraço p’ro pessoal ao cara CH ai... um abraço pra geral ai... mó satisfação do m... da C.D.D... ai os nossos

filho(s) e que todo mundo... nós poderemos como?... se espelha nesse cara aqui que é um grande homem ((aponta para Mv Bill))

RB com’é que foi a tua infância na... aqui na Cidade de Deus meu? MB po cara... eu costumava chama(r) ela de complicada e ao mesmo tempo de

padrão... porque::... eu tive... am... po(u)cas chances né cara? de:: sai(r) de um círculo... vicioso... que é... estudá(r) até onde dé(r)... am::... começá(r) a trabalhá(r) e... e... dá... muito valô(r) às coisa(s) que (es)tão fora da escola do que dentro dela... até que eu conheci a cultura hip hop... que me mostrô(u) que... além de ser um diferencial... poderia sê(r) uma exceção dentro de uma regra... que não (es)tava me favorecendo

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB

RB a falta de oportunidade fez com que M.V Bill seguisse por um caminho que até hoje muitos tentam e poucos conseguem mudar o próprio destino através da música ou do futebol

((comerciais)) Situação Comunicativa Ruas de São Miguel Paulista Participantes Thaíde = TH TH toda história de sucesso tem um começo... e hoje eu (es)tô(u) aqui em São

Miguel Paulista pra acompanhá(r) o início de mais uma caminhada... rumo à vitória

Situação Comunicativa Casa de Juninho Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

Pai de Juninho = PJ TH olha ai... Ju todo chegando... 12[rapaz... olha o cabelo do Junior...

((cumprimenta)) 12[ deu trabalho esse telhado ai... não deu não?] A1 12[((rindo))] TH oi como vai... tudo bem? PJ tudo bem... sô(u) pai dele ((corte)) TH e aqui então está o mais novo craque... se deus quisé(r) JN se deus quisé(r)... e (es)tá difícil né? Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB Juninho tem dezessete anos e mora em São Miguel Paulista na Zona leste de São

Paulo... há quatro anos ele persegue seu grande sonho... ser jogador profissional de futebol e ouvir a torcida... gritando seu nome

Situação Comunicativa Ruas de São Miguel Paulista Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

Criança 1 = C1

Criança 2 = C2

TH (vo)cê (es)tá levan(d)o a gente agora n’um campo que pra você pelo menos parece que é importante né?

JN é TH o que aconteceu? JN ai foi onde tudo começô(u)... primeiro chu::te... primeiros gol(s)... primeiro

tudo... ai é... a... minha fortaleza né? TH bo/... bola em baixo do bra::ço C1 arram TH 13[(vo)cês conhecem esse moleque aqui? ((aponta para Juninho))] C1 13[(inint.)] C2 13[arram... ele é bom]... ele é bom TH eu ia perguntá(r) isso agora... mas ele já falô(u) que (vo)cê é bom... n’um vô(u)

fala(r) mais nada não ((corte))... até que idade você acha que... você pode continuá(r)... nessa empreitada... do futebol profissional?

JN ó... acho que até dezenove ano(s) né? TH dezenove anos? JN dezenove ano(s) é (inint.) pra continuá(r) TH então nós temos mais... três anos pela frente? JN isso... é TH acredito que antes disso... (vo)cê vai (es)tá me convidando pro churrasco de

comemoração né? Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV é difícil dizer isso para um garoto de dezessete anos... mas para Juninho o tempo

está chegando ao fim... porém ele não entrega os pontos e conta com o apoio incondicional de sua família


Juninho = JN

Pai de Juninho = PJ

Mãe de Juninho = MJ TH teve algum momento em que você mesmo penso... em pedi(r) pra ele desisti(r)

alguma coisa parecida? PJ nunca... porque::... eu conheço o talento que meu filho tem... eu acredito muito

nele...sempre acreditei...((chorando)) e eu sabia que... uma hora as porta(s) iriam se abrir pra ele... a gente (es)tava (inint.) ele... muitas vezes ele chorô(u) o meu ombro... ((chorando))... após... não passá(r) no teste... e eu nu/... e eu falei pra ele... Júnior... o pai vai te ajudá(r) até... acabá(r) minhas forças... pode tê(r) certeza que... Deus te deu um dom... jogá(r) futebol entendeu?... a hora que

abri(r) uma porta pra você ((câmera mostra Juninho chorando))... (vo)cê vai vê que... vai sê(r) sua vitória.. mas ((corte))

MJ uma vez ele falô(u) pra mim... que o sonho dele era me tirá(r) daqui... que ele falô(u)... sempre falô(u) que vai me dá(r) uma casa... que bom... graças á Deus... você vai chegá(r) lá

TH se 14[Deus quisé(r)] MJ 14[quisé(r)] Situação Comunicativa Campo de Futebol Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

TH já viram esse moleque jogá(r)? A1 já... joga bem TH mesmo? ((apontando para Juninho)) A1 mesmo TH (vo)cês já viram... eu... jogá(r)? A1 não TH não jogo na::da mano... 15[não sei jogá(r) na::da] A1 15[(inint.)] TH vamo(s) montá(r) um timinho... só que eu vô(u) jogá(r)... ele joga no meu time

((aponta para Juninho))... ((corte)) eu não sô(u) bobo nem nada... lógico ele joga... ló::gico... ((corte))... esse é alguma alusão ao estilo dos jogadores que jogam aqui? ((câmera mostra um cavalo))... isso ai (es)tá querendo avisá(r) pra gente como vocês estão aqui?... é isso?... jogan(d)o futebol? ((corte))

JN pegá(r) a bola ali TH ó isso aqui é profissional ((se alongando))... ó ó... iss’aqui é profissional... ó ó

a::... pára mano... é nóis JN aqui ó... nós três aqui ((cenas da partida)) TH parabéns cara...é isso ai... vamo(s) lá os vitoriosos... nós aqui ganhamos a parada

((abraça Juninho e uma criança))... ((corte))...em qual jogador você se inspira?... você gosta?

JN a... o Elias né?... ele é bom... a... ele é bom na marcação e faz gols né?... tam(b)ém

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB o caminho que Juninho quer trilhar já foi percorrido por grandes craques como

garrincha que foi um dos primeiros à sair da favela pra fama... com seus dribles desconcertantes ganhô(u) duas copas do mundo para o Brasil... ou Cafú... que na conquista do penta... fez questão de mostrá(r) pro mundo... sua camiseta com a inscrição cem por cento Jardim Irene... estes são apenas alguns exemplos e a mensagem para os jovens é direta... se eles conseguiram... eu também posso

Situação Comunicativa Jogo do Brasil Participantes Thaíde = TH

Eliseu = EL

((cenas de futebol profissional))

TH pior que foi golaço ((corte))... (vo)cê sempre acompanha o Elias? EL sempre... sempre... desde garotinho aonde ele ia... eu (es)tava atrás... vendo ele

jogá(r) TH como vocês trabalham a... personalidade dele através... diante dessa fama? EL um dos princípios que eu sempre passei pra ele é que é o seguinte... ele tinha que

mantê(r) sempre a... a humildade... a simplicidade e se... caso ele conseguisse um dia se torná(r) um jogador profissional ele jamais abandonaria... é... a:: comunidade dele

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB o pai de Elias sabe muito bem que são poucos os que tem a sorte de sair da

favela para a fama... e seu filho conseguiu essa façanha Situação Comunicativa Casa de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH ((barulho de campainha)) bom di::a e a::i ((aperta a mão de Elias))... com’é que

(es)tá?... grande Elias... tudo bem? EA tranquilo TH opa... olha só:: EA ((risos)) TH acho que cheguei n’um bom horário em? EA chegô(u) n’um horário ruim TH por que? EA eu vô(u) comê(r) sozinho iss’aqui TH sério? ((ri)) ((corte))... a::: agora (es)pera um momentinho que aqui nós temos

que respirá(r)... que aqui é o lugar sagrado... olha ai:: rapa::z... olha só:::... de camurça e cô(u)ro... muito bem... isso aqui é um quarto maravilhoso em? ((corte))... ô aquela bola ali é bem lo(u)ca em?... (vo)cê joga baseball?

EA é de futebol americano TH pô de futebol americano? EA ((risos)) TH ((desconcertado pega a bola))... vamo(s) começá(r) de novo ((barulho de fita de

vídeo rebobinando))... (vo)cê joga baseball? EA não... ((risos))

TH ((risos))... o cara entende né mano? o cara entende de futebol americano ((corte)) EA e eu sempre gostei de usá(r) boné e TH olha ai em? EA comprá(r) uns bonés e::... chegô(u) uma hora que eu fiz uma propaganda e

comecei a ganhá(r) TH (inint.) maravilha... e esse é maravilhoso não é verdade?... olha só ((vendo os

bonés))... ok... eu não vô(u) olhá(r) EA ((risos)) TH eu não vô(u) olhá(r)::... já vi esse azul ai que pelo amor em? ((vendo relógios))...

no::ssa... são caro(s) esses relógios... ou não? EA dá pra pagá(r) TH dá pra pagá(r) Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB Elias trocô(u) a favela do parque Novo Mundo na região nordeste de São Paulo

por um dos apartamentos em um dos bairros mais valorizados da cidade... mas isso é o resultado de uma luta que já dura oito anos.. começô(u) no Palmeiras... passô(u) pelo Nautico em Recife onde só ficô(u) um mês e ainda levou calote e depois recomeçou praticamente do zero na Ponte Preta... em Campinas

Situação Comunicativa Casa de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

EA disputei o campeonato paulista no ano de dois mil e oito... fui bem... chegamo(s)

na final do campeonato... ai surgiu um interesse é::.. do Corinthians né? ((corte))... era um sonho de... de de... de infância... de (es)tá(r) jogan(d)o n’um time que eu sempre quis jogá(r) e:: era a oportunidade

TH e hoje... você (es)tá recebendo ai os... a recompensa da sua insistência pelo... pelo que você queria né?

EA é uma o(u)tra vida que eu (es)tô(u) tendo então... que eu (es)tô(u) levan(d)o pelo fato d’eu nunca tê(r) desistido né? ((corte))

TH agora... fora... fora o futebol fora você::... é::... tê(r) as atividades que você tem que você faz... gosta de fazê(r) pra se diverti(r)?

EA a:::... jogo video game TH que (vo)cê gosta de jogá(r)? EA futebol né? pra variá(r) ((corte)) TH vamo(s) lá ((com controle de video game na mão... joga com Elias))... tem São

Paulo ai? EA não não TH n’um tem São Paulo... não tem Tricolor futebol clube? EA n’um tem time pequeno não

TH a::... que e::... prest’enção ((corte))... você... diz que fica po(u)co tempo aqui na sua casa né?... você não sente falta as vezes de...

EA a:: ((olhando para o jogo)) TH você viu ali né?... acho que você não consegue conversá(r) e e jogá(r) ao mesmo

tempo EA consigo... é porque eu (es)tô(u) querendo fazê(r) o gol ai depois eu... converso

com 16[você] TH 16[((risos))]... então (es)tá bom... então (es)tá bm EA ((risos)) só que conversár(r) vem dá (inint.) do ataque TH então (es)tá bom... eu (es)tô(u) concentrado EA então pode falá(r) agora TH ((risos)) EA agora (vo)cê pode falá(r) TH (vo)cê n’um sente falta de aproveitá(r) um po(u)co mais do seu apartamento?....

da sua casa? EA não... sinto falta de aproveitá(r) mais o tempo c’uns amigos né? TH é né? EA c’uns amigos lá... de infância mesmo TH a lá... ó... ó o golaço... ó o golaço.. olha só ó... ó... ó... já era... ó... que é i::sso EA meu goleiro parece... o Felipe pô ((câmera mostra Thaíde comemorando)) TH só sorte em?... sensacional... (vo)cê é forte em Elias? EA empatô(u) deu sorte... seu santo é forte em?... por que não acabô(u) na hora que

eu (es)tava ganhando pô? TH ((risos)).. é tudo combinado... é tudo combinado isso aqui que é produção

((risos)) ((corte))... vamo(s) lá pra gente ir pra sua área... pelo jeito... eu acho que... vai tê(r) uma coisa boa esperando a gente lá::: em?

EA será que tem? TH a::... eu acho que sim... comunidade sempre é assim... favela é favela em

qualquer lugar Situação Comunicativa Garagem do prédio de Elias Participantes Thaíde = TH TH isso aqui é o que eu chamo... de nave ((entrando no carro)) Situação Comunicativa Carro de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH você por acaso... um dia... imagino(u) que você ia te(r) condições de comprá(r)

um carro desses? EA nunca é::... sempre sonhei... sempre... como... fui criado no Palmeiras

ganhava... um salário mínimo... trezentos e cinquenta reais só TH sei EA a pô... nunca vô(u) chegá(r) nesse nível né?

TH como você... consegue... administrá(r) isso na sua cabeça?... sendo que você é um/ é um cara que... até pouco tempo... atrás você n’um imaginava tê(r) tudo isso

EA hoje eu::... consigo administrá(r)... por causa da minha família... do meu pai... meu pai pega muito no meu pé... nesse negócio de dinheiro... ele que toma conta das minhas coisa(s) ele que me ajuda... am... diariamente... eu tenho ele... am... como paisário né?... a gente fala ((risos))

TH paisário Situação Comunicativa Ruas do Jardim Boa Vista Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM esse dinheiro que vocês (es)tão ganhando com os shows... mudou a vida de

vocês? BS a... mudô(u)... mudô(u) sim RM o que vocês fazem com o di17[nheiro?] BS 17[antes e]u trabalhava e cantava 18[(inint.] RM 18[você] precisava do trabalho pra se sustentá(r)? BS hoje em dia eu só canto... hoje em dia já (es)tá... bem melhor RM onde vocês investem o dinheiro que vocês ganham? BS eu pelo menos... ajudo em casa RM (vo)cê também ajuda em casa Japinha? JP quando dá eu ajudo... (inint.) eu gasto o dinheiro tudo em rô(u)pa RM mas menino BS pra ficá(r) bonito né? RM é?... importante ficá(r) bonito? JP sempre é bom né?... ajuda a ficá(r) chique e elegante Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV quem hora de fora pode até pensá(r) que eles ganham dinheiro fácil... mas no

caminho para o sucesso... nada é de graça Situação Comunicativa Casa de um dos Integrantes do Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM


BL ((tocando instrumento)) RM esse equipamento que vocês tem... vocês compraram... em grupo... ou... é de

alguém... com’é que é isso? BS a... isso aqui a gente compramo(s) mesmo né? RM foi caro isso tudo? BS pra gente... foi... até foi um pouco caro né?... mas a gente sabia que era pra

ajudá(r) a gente... que n’um era... que mais pra frente a gente poderia consegui(r) repor esse dinheiro gastado... a gente gosta né?... a gente sabe que vai voltá(r) esse dinheiro vai voltá(r)


Juninho = JN

Pai de Juninho = PJ

Mãe de Juninho = MJ TH olha... que chutê(i)ra boni::ta... rapa::z JN nem estreei ainda 19[comprei essa semana] TH 19[olha ai que lo(u)co] mano...quanto custô(u) uma dessa... essa chutê(i)ra aqui...

mais ou menos JN trezentos reais TH altera assim no orçamento da casa? PJ altera sim... na programação da casa TH pra comprá(r) essa daqui PJ é TH qual foi o procedimento? PJ pra comprá(r) essa d’aí... assim a vista eu não tive condições... eu peguei... eu

tive que... arrumá(r)... arrumá(r) um jeito de tê(r) um cartão né?... cartão do meu primo

TH qual foi a maior... ou uma das maiores dificuldades que você viu... em... apoiá(r)... am... o seu filho?

PJ a... tem várias né?... mas a maior que marca a gente é mais a parte financeira mesmo entendeu?... porque por exemplo... ele já fez um teste... é::... do Santander... treinô(u) o primeiro dia... mandô(u) voltá(r) no segundo dia e nesse dia que ele foi... um amigo nosso que (es)tá sempre com a gente... um parceirão mesmo... 20[que’]le ajuda a gente né?... ele::... (es)tava levando e no terceiro dia ele n’um pode levá(r) e::... eu fiquei na na... na dúvida assim porque... eu não conseguia arrumá(r) dinheiro pr’ele i(r) pro terceiro treino né?... porque eu tinha que trabalhá(r)... ou seja... ele perdeu esse treino... automaticamente perdeu o teste então foi um momento marcante na minha vida e na vida dele

TH 20[urrum] Situação Comunicativa Ruas da Cidade de Deus Participantes Rafael Bastos = RB

Mônica Carvalho = MC

RB quais são os perigos de um jovem morá(r) na periferia? MC morá(r) na periferia já é você vivê(r) em um ambiente... em que... o entorno não

favorece você construi(r) uma imagem de mundo muito agradável... digamos assim... né?... você mora em... um lugar sem... estrutura urbana... as ruas não são asfaltadas... muitas vezes não tem condução:: e até escola é difí::cil... qué(r) dizê(r)... então... vivê na periferia é... é tudo difícil

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB as oportunidades na favela são escassas e para aproveitá-las o apoio da família é

fundamental... o trabalho na adolescência é uma prática comum em todo o país nas periferias das grandes cidades... ter um emprego é muitas vezes vale mais do que estudar... Elias conhece bem essa história e por isso não esquece de suas origens... nem perde o contato com seus amigos do parque novo mundo

Situação Comunicativa Carro de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH aqui já é o parque Novo Mundo? EA é... aqui já é a quebrada... cidade nova... aqui é onde eu faço minhas festas...

onde eu cresci TH você corria por essas ruas aqui? EA corria por aqui... corria muito... andava pra lá e pra cá Situação Comunicativa Ruas do Parque Novo Mundo Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH 21[ele foi criado aqui... todo mundo conhece... mas me(s)mo assim quando o cara

chega... é isso que (vo)cês (es)tão ven(d)o ai ó ((câmera mostra Elias dando autógrafos))... qual a sensação de você chegá(r) aqui no seu bairro... todo mundo ficá(r) em cima... queren(d)o pegá(r) uma assinatura do Elias]

21[((murmurio da população))] EA 22[reconhecimento é mais impo/... o mais importante de tudo] 22[((murmurio da população))] TH 23[isso aqui é sempre?] 23[((murmúrio da população))] EA 24[isso aqui é sempre... sempre quis isso... não reclamo de nada] 24[((falatório))]

Situação Comunicativa Casa Antiga de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

EA a... aqui é... a gente quebro(u)... (es)tá quebrando tudo ai né?... aqui é onde a

gente cresceu TH que (vo)cê vai fazê(r) aqui? EA fazê(r) uma área social... fazê(r) um... uma sala 25[(pra le(r))] TH 25[biblio]te::ca EA bibliote::ca... sala de computação TH legal EA sala pra palestra TH isso de graça pro pessoal? EA de graça... só cadastrá(r) o nome e aproveita(r) TH e preservá(r) né? EA e preservá(r)... cuidá(r) por que é uma coisa deles né?... pessoal da comunidade

mesmo que (es)tá... ajudan(d)o... (es)tá trabalhan(d)o ai Situação Comunicativa Ruas do Parque Novo Mundo Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH você brincava aonde aqui?... na rua e 26[tu ia pra lá e pra] cá? EA 26[(vixi)].... não... primeiro que isso daqui era difícil tê(r) casa né? TH era? EA nos meus... doze... treze anos... era tudo barraco... a maioria era barraco

((corte))... e ali era onde eu jogava bola Situação Comunicativa Quadra do bairro Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

EA a quadra continua a mesma TH a quadra era essa daqui mesmo? EA a quadra era essa aqui... >27[aqui a gente jogava apostando Tubaína] 27[((falatório))] TH (vo)cês acham que outro vão tê(r) aqui essa me(s)ma capacidade em se torná(r)

uma pessoa famosa... uma pessoa com uma vida relativamente boa... e com esse caráter que ele tem?... de vir aqui na comunidade... tratá(r) todo mundo bem... dá(r) atenção pra todo mun::do

A1 tem que o... ralá(r) o que ele ralô(u)... na infância dele aqui... com a gente aqui

TH (vo)cê 28conhece ele desde criança?] 28[((falatório))] A1 29[essa comunidade (es)tá inventan/... é voltando a jogá(r) futebol]... através

30[dele... qué(r) sê(r) um Elias... qué(r) sê(r) um Ronaldo... qué(r) sê(r) um Dentinho... só que esse projeto que ele (es)tá fazendo é muito bom... pra molecada aqui... sabia?... muito bom pra molecada mesmo]

29[((falatório))]... 30[((falatório))] TH 31[pedi uma bolinha pra gente vê(r) se você realmente é esse Elias ou se (es)tá

enganando nóis] A2 31[eu vô(u) fazê(r) ele colocá a bola aqui em cima... ó] 31[((falatório))] TH i:: ai ó... começ32[ô(u):] EA 32[as pa]lhaçadinha que ele sabe fazê(r)... eu não sei TH 33[agora mano... quando chegá essa bola ai... (vo)cês vão vê(r)... mano... o

bagulho aqui é o seguinte... estilo... o estilo me(s)mo de futebol] 33[((falatório))] EA 34[(es)tá bom... quero vê(r)... estilo (inint.)] 34[((falatório))] TH 35[((risos))... ó... eu não vô(u)... eu não vô(u) escolhe(r) falá(r) que eu sô(u) um

cara esperto não... time do Elias... ((risos))] 35[((falatório))] ((cenas do jogo))... ((corte)) TH deixei minha marca... fiz um gol36[zinho... certo?] EA 36[ó... ele fez] o gol... mandô(u) acabá(r) a matéria TH 37[((risos))] EA 37[ainda acha].. que ele (es)tá fazen(d)o merda ai... perdeu um gol sem golê(i)ro

e mandô(u) acabá(r) a matéria Situação Comunicativa Festa no Bairro Parque novo mundo Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH 38[falá(r) uma coisa... hoje... a vida é o(u)tra certo?... vai melhorá(r) mais ainda

se Deus quisé(r)... certo... agora tem coisa melhor do que você voltá(r) pra comunidade... encontrá(r) a rapazeada fazendo um pagode... batê(r) uma bola com a molecadinha]

38[((música))] EA 39[eu falei... (vo)cê me perguntô(u)... do que mais... do que eu mais sentia

saudade... é disso... é de (es)tá(r) onde eu cresci... onde e::u... tenho amigos... onde eu sô(u) feliz... onde eu posso fazê(r) o que eu quisé(r)... e ninguém vai me enxê(r) o saco]

39[((música))] TH 40[não tem nem condições... não tem nem como falá(r) com ele... a gente fala...

já vem uma pá de gente


MV Bill = MB

Edson = ED

MB valeu gente RB todo mundo te conhece aqui meu?... MB bastante cara (inint.) ((corte)) RB com’é que é o nome do senhor? ((aperta a mão de Edson )) ED eu sô(u) Edson 41[sô(u) bombeiro... aprendi com o pai] dele... o mano Gico... ou

melhor... (inint.)... melhor bombeiro de copa cabana e bota fogo RB 41[(inint.)... s’é bombeiro?]... seu... seu pai era bombeiro? MB bombeiro hidráulico... mecânico... eletricista RB que (vo)cê tem pra falá(r) do homem aqui? ((aponta para MV Bill)) ED já falei já... é o melhor RB é o melhor deles tudo?... (o)brigado querido... prazer ((corte))... (vo)cê costuma

dá(r) umas caminhadas ai ainda Bill... assim... pra falá(r) com o pesso42[a::l] MB 42[hoje] já é mais difícil... tudo bem (inint.)? ((acena para transeunte))... hoje é

um pô(u)co mais difícil 43[tem] RB 43[eu (es)tô] ven(d)o... n’um para meu MB n’um tem muito tempo... ai o pô(u)co tempo que tem é mais pra pô... fazê(r)

coisas bem rápidas... assim pra dá(r) um rolezão não RB você pensa no trabalho... ou é pelo lance da galera 44[da galera te reconhece?] MB 44[não... pelo trabalho]... é um pouco de cada né?... porque na verdade... a pessoa

reconhece ai tem que pará(r) pra trocá(r) u’a ideia... que as vezes tem um assunto que também é do meu interesse... ou uma oportunidade de dá(r) um toque n’uma molecadinha... fazê(r) uma parada... e ai uma caminhada que era pra durá::(r) meia hora... dura três horas por conta dessas... ((alguém comprimenta Mv Bill))... valeu filhão? valeu?... por conta dessas paradinhas que vai tando... mais tando

Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV o caminho da favela à fama é tortuoso e cheio de armadilhas... muito alcançaram

o sucesso... mas quase colocaram tudo à perder... como Romário que se afundou em dívidas que quase destruíram seu patrimônio e o cantor Belo que foi parar na prisão... acusado de associação ao tráfico de drogas ((comerciais))... quando a fama chega... você fica mais bonito... mais interessante e também mais visado

Situação Comunicativa Casa de um dos Integrantes do Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM vem cá... (es)tô(u) vendo umas meninas boni::tas aqui... que que é em? 45[é

namora::da BS 45[são tudo umas amiga(s)] nossa JP é as namorada(s) do Balão BS as amiguinha(s) RM que é isso Balão?... (es)tá cheio de namorada(s)? BL são só minhas amiga(s) ai... nada demais... é que ele não pega ninguém... 46[ele

não pega nin]guém então ele fica RM 46[quem não pega ninguém?] BL o japinha... é um garoto ainda... que (es)tá começando agora... n’um conhece

aquele paraíso RM NÃO? BL n’um conhece ainda... mas é isso ai cara... com força de vontade... (vo)cê chega

lá ((corte e videos do assédio das fãs)) Situação Comunicativa Ruas à Noite Participantes Rosanne Mulholland = RM


Anônimo 1 - A1 A1 a gente qué(r) fazê(r) um sexo com ele e ele n’um qué(r) deixá(r) a gente

transá(r) com ele não RM por que não Japinha? JP só depois que casá(r) só RM ((risos)) JP eu vô(u) casá(r) virgem A1 a não... não fala isso RM acho que mulher também gosta de homem difícil... (es)tá vendo? Situação Comunicativa Casa de um dos Integrantes do Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM e no camarim... a mulherada chega... entra BS as vezes entra... quando a segurança da casa libera assim... tipo depois do

show... mas... na entrada é bem raro RM e o que vocês fazem com as meninas depois do show em? BS meu Deus do céu... a gente nem 47[(inint.) pra elas] BL 47[a gente convers]a a gente conversa com elas RM conversam?... pra cima de mim essa resposta?... (vo)cê acha que eu vô(u)

acreditá(r)?

BL (inint.) quando a gente vê que ela (es)tá dando mole a gente quem que RM comparecê(r)? BL dá(r) um trato RM ((risos)) dá(r) um trato? BL lógico ((corte e imagens do show))...vamos leva(r) elas pro show? No próximo? RM que que é isso que (es)tá acontecendo ali gente?... que que é isso gente?

((garotas fazendo farra)) A1 (inint.) perguntô(u) se a gente já be(i)jo(u) algum deles RM vocês já beijaram eles? ((todas respondem afirmativamente em uníssono))...

quem bê(i)jo(u) quem? ((garotas levantam a mão enquanto falam o nome de quem beijaram))... alguma ja beijou mais de um?... quem já beijô(u)? ((corte))... com’é que rolô(u) esse beijo ai?... quem foi que (vo)cês beijaram?

A1 eu bijei o Bisteka RM você o Bisteka e você o Balão?... você primeiro me conta como foi A1 ai... eu e o Bisteka a gente ficô(u) (inint.)... a gente começô(u) a conversá(r) e

tal... e a gente sempre fala uma história que vai casá(r)... ai a gente... cabô(u) acontecendo

RM a... começô(u) nesse papinho de casamento A1 (inint.) a gente se vê... a gente fica assim A2 eles todos tem o mesmo papo de falá(r) que vai casá(r) A3 o Balão não em? RM ele prometem casamento pra todas? A3 não não... pra mim não A1 conheço faz tempo... faz muito mias tempo RM que sem vergonhas... entre vocês n’um dá briga isso não? A3 não A4 a... já deu... já deu RM já deu?... me conTÁ(r):: A4 já deu já...brigô(u) com ele já RM vocês duas? A5 a gente já ficô(u) com o Japinha eu e ela assim RM as duas já ficaram com o Japinha? e uma já sabia que a outra tinha ficado? A3 não... eu namorava com ele ai depois a gente terminô(u) e a gente começô(u) a

fica(r) com ele... ai eu fiquei brava... ai a gente não conseguiu mais... se falava... ai a gente discutiu... mas (es)tamo(s) aqui... forme e forte... amigas

RM já passô(u)? A3 prontas pra matá(r) as outras ((todos riem)) RM qual deles que é o mais... bacana? ((todas respondem que é Balão))... ((corte))...

ai Balão... quanto carinho em? BL é... elas me amam e eu amo elas RM você ama elas também? BL claro que eu amo RM e que que tu (es)tá beben(d)o ai? BL (es)tô(u) beben(d)o a famosa catuaba RM gente... mas já essa hora? BL lógico... tem que sê(r)... tem que sê(r) assim né? pra alegrá(r) o dia... esse calor

ai... tem que aquecê(r) um po(u)co né?... junto com os amigo(s)... c’um nóis ai... os parcê(i)ro(s) tudo... só bebendo uma catuaba... é ou não é rapaziada?

RM mas vem cá... vocês tem show hoje ainda à noite

BL hoje tem... mas dá tempo ainda... dá tempo da gente chegá(r) no show... show chega lá a gente bebe até mais

RM af... mas não... n’um pifa uma hora não? BL nunca pifô(u) né?... então não tem como eu passa(r) por essa situação A1 total flex né?... fala ai amigo BL qualquer coisa... aqui é total flex ((corte)) A1 chama o Japinha ((em coro))... vem Japinha... vem Japinha JP ((dançando))... ((corte)) Situação Comunicativa Cozinha da casa Participantes Rosanne Mulholland = RM

Mãe de Japinha = MJ RM o que você acha disso tudo que (es)tá acontecendo com ele agora? MJ ago::ra eu n’um tenho mais o que falá(r) né?... tenho que apoiá(r) RM a é? MJ é RM por que? MJ é.. porque eu (es)tô(u) vendo que ele (es)tá chegando onde ele qué(r)... e eu

espero que ele vá longe RM Japinha... por que que (vo)cê ficô(u) emocionado agora? JP porque eu gosto de vê(r) minha família feliz... se... todo mundo (es)tá feliz eu

(es)tô(u) feliz tam(b)em RM é? JP eu (se)me realizo em casa Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB em todas as grandes cidades existem favelas.... no Rio de Janeiro são cerca de

quinhentas... em São Paulo... mais de seiscentas e nas cidades da região metropolitana são mais de duzentas... aproximadamente dez milhões de brasileiros vivem assim e todos eles querem uma vida melhor... mas infelizmente são poucos os que conseguem realizar esse sonho

Situação Comunicativa Recifavela Participantes Débora Vilalba = DV

Fumaça = FM

DV eu estou na vila Prudente no recifavela que é uma cooperativa de catadores de

lixo... eu vim conhecê(r) o fumaça ((corte))... Fumaça prazer tudo bem? ((aperta a mão de Fumaça))

FM tudo DV (es)tá trabalhando já?

FM já DV (vo)cê trabalha com? FM reciclagem DV reciclagem... quanto o senhor ganha mais ou menos por mês? FM dois mil reais... dois e pouco... depende do mês né? Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV fumaça tem quarenta e sete anos e é carroceiro ele … trabalha de segunda à

sábado das oito da manhã às cinco da tarde... tudo isso para sustentar a mulher... seus quatro filhos... uma neta e o genro... todos eles vivem no casebre de trinta metros quadrados na favela da vila prudente

Situação Comunicativa Casa de Fumaça Participantes Débora Vilalba = DV

Fumaça = FM

Esposa de Fumaça = EF

Filho de Fumaça = FF DV é aqui tua casa? FM é DV com licença EF não repara a bagunça DV (i)magina ((corte))... me leva pra conhecer tua casa EF vai lá levá(r) ela lá DV vamo(s) lá? ((filho de Fumaça faz que sim com a cabeça))... cadê teus irmãos? FF tudo lá em cima DV posso i(r) junto? FM pode... pode vê(r) a bagunça ai DV licença ((subindo a escada))... ((corte))... a (es)tá... então aqui é do casal... e a

molecada? FM põe um cabeça pra lá... outro pra cá... eu fico lá... ela pra aqui... ai quando... põe

o colchonete aqui... dorme o outro ((corte)) DV Fumaça... (vo)cê frequentô(u) a escola? FM foi DV até que ano? FM até sé/... sétima série DV (vo)cê gostava da época de escola? FM gostava DV gostava de estudá(r)? FM isso DV parô(u) por que?

FM parei porque eu vim embora e n’um tive condições de ajudá(r) meus pais de lá... me esperam lá

FF é porque... a mãe dele morreu FM o rendimento não dava... eu via meus pais sofrendo aquele negócio todo... então

eu ia ajudá(r) a eles... então DV passô(u) dificuldades? FM muitas... o ruim é que (vo)cê n’um tem nada pra comê(r)... ((corte))... almoçava

mas n’um jantava... ai papai trazia meia dúzia de ovo(s)... nois fazia... colocava água com pimenta e sal... colocava o ovo dentro... fazia o purê e comia

DV tem que dá(r) um jeito de se alimen48[tá(r)] FM 48[dá]... nós sempre nós (inint.) DV (inint.) mesmo FM tudo trabalhador tu fica como?... ((corte))... um dia cheguei a passá(r) o Natal

com uma sardinha em lata DV isso lá no Ceará? FM aqui mesmo DV aqui já?... já casado? Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB a fome é uma das dificuldades que muitos moradores das favelas tem que

enfrentar... com uma renda média de quinhentos reais por mês.. cerca de quinze por cento dessas pessoas vivem abaixo da linha da pobreza... Fumaça não é diferente... nem por isso entrega os pontos... pelo contrário... ele continua lutando porque sabe que não há sensação pior do que ver a família com fome e não ter nada para oferecer


Fumaça = FM

Filho de Fumaça = FF

Cíntia = CI DV como você fazia para esquecer isso? por exemplo? FM ô... ô... eu desabafava... eu mesmo sozinho... as vezes me metia debaixo do

chuveiro lá e fingia que (es)tava tomando banho... mas (es)tava chorando DV chorando? FM é... pra ninguém percebê(r)... eu... caía embaixo do chuveiro... muita gente

falô(u) mal de mim... eu n’um ouvi... n’um levei em consideração... passei me(s)mo serviço... nossa... por causa da bebida

DV a bebida FM foi DV a bebida já atrapalhou muito a vida?

FM muito DV e as crianças?... percebiam? FM percebiam DV eles falavam alguma coisa? FM eles já (es)tavam com (inint.)... já (es)tavam com vergonha de mim DV por que ficava bêbado? FM isso DV o que (vo)cê achava de quando teu pai bebia? FF ruim DV ele ficava chato? FF ((afirmação com a cabeça)) DV (vo)cê ficava bravo ou (vo)cê ficava triste FF um dos dois DV qual? FF advinha DV triste FF ((afirmação com a cabeça))... ((corte)) DV como você se sente quando você vê seu pai acordando às quatro da manhã... pra

pegá(r) a carroça e puxá(r) e buscá(r) o lixo e fazê(r) toda aquela reciclagem e voltá(r) no fim do dia

CI olha... eu n’um queria vê(r) meu pai assim sabe?... mas ((corte))... eu sei que se ele sai(r) pra procurá(r) emprego n’uma empresa... n’um vão pegá(r)... uma pela idade... qualificação profissional... é... estudos e::.. a cor né?

DV você já sofreu racismo? CI já DV de que tipo? CI eu já fui chamada de frango assado... dentro da sala de aula DV frango assado? CI frango assado Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB para viver na favela tem que ser guerreiro... tem que luta contra a fome... contra

a miséria... contra a falta de trabalho e também contra o preconceito Situação Comunicativa Ruas Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM (vo)cê já sentiu esse preconceito? na sua pele? BS já RM como?

BS chega no... no baile... (vo)cê fala assim... a eu sô(u) o Bisteka... a (vo)cê é o Bisteka... (vo)cê faz o que?... canto funk... já começa d’ai a discriminação... discriminação pelo funk

RM (vo)cê acha que passa o que na cabeça das pessoas? BS acho do... das música(s)... da apologia de muita música que fala muita coisa

imoral... acabam julgando muito os funks...muitos funks...acaba(m) julgando as pessoa(s) sem sabê(rem)... saberem que tem por ai muito funk por ai... muito funk bom... melody... muito funk romântico... que até... a gente tem um refrão de uma música que é assim ó ((canta))

Situação Comunicativa Ruas Participantes Rafael Bastos = RB

Mônica Carvalho = MC MC a música me parece sê(r) uma das formas que os jovens encontram pra se

apropriá(r) daquele lugar... entender... elaborar... pensar a respeito RB criticar MC criticá(r)... falá(r) um pô(u)co de mim pro outro... porque a visão da periferia é

sempre assim... é especialista que fala da periferia... é a mídia que fala da periferia é não sei quem que fala da periferia... não não... nós vamos falar da gente... quer dizer... quem nós somos e vamos fazer com os meios que nós temos

RB é a voz do próprio local MC a voz do próprio lugar Situação Comunicativa Ruas Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM mas vocês acham que a vida de quem cresce aqui é mais difícil? ou não? BS eu acho que é ((corte))... só dá(r) uma olhada em volta aqui ó... a estrutura da

favela... nada é como a gente qué(r) né?... tem que saber se aproveitá(r) com as oportunidades

RM (vo)cê acha que muita gente consegue... se aproveitá(r)... aproveitá(r) as oportunidades?

BS (vo)cê acha que aqui... (es)tá todo mundo morando aqui porque quer? RM mas mesmo você falando isso... de que as pessoas n’um moram aqui porque

querem... eu escuto muita gente falá(r) que não sairia da favela BS certo... eu n’um sairia também RM mas você falô(u) BS mas muitos não moram aqui por que querem... certo?... mas muitos não trocam

também RM tem muita gente que tem orgulho da favela? BS eu tenho RM tem orgulho de que? BS da comunidade... sempre cheio... movimentado... não é aquela rua parada...

deserta... o calor da comunidade te envolve... te dá inspiração

Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV DV apesar das dificuldades... os moradores criam laços com a comunidade onde

vivem e alguns como MV Bill continuam na favela mesmo depois do sucesso e transformam sua realidade em cenários dos seus vídeos clipes

Situação Comunicativa Ruas da Cidade de Deus Participantes Rafael Bastos = RB MV Bill = MB

Quak = QU

MB é:: aqui nesse espaço aqui ó... é que (es)tá passando uma operação aqui:: da

prefeitura... chamada choque de ordem...aqui era cheia de barraca aqui... quebraram tudo... e aqui a gente usou pra cenário de um... do meu primeiro vídeo clipe que foi o Traficando Informação.... a gente fez muitas cenas nesse espaço aqui

RB você tem uma ligação não só de vida como também seu 49[trabalho tem uma ligação]

MB 49[tu/... tudo]... cara ((cenas do video clipe de Mv Bill))... ((corte))... ô Quak...e ai? cara... tranquilinho?

RB e ai cara... tudo bom velho?... de onde é que você conhece esse homem ai? ((aponta para M.V Bill))

QU pô... de infância RB ah é? QU brincava junto... estudava junto.. moleque da favela né? RB com’é que era a 50[infância na favela] ai?... na cidade de Deus.. (vo)cês dois? QU 50[(init.)]... pô cara a gente fazia sê(r)... sê(r) feliz... a gente fazia sê(r)

engraçado... né... driblando... os conflitos que sempre... que tem... dentro das favelas... a gente criava nossos meios de torná(r) aquilo ali é::... uma coisa bacana pra gente... vivê(r) ali... convivê(r)... não ficá(r) só mergulhado dentro dos problemas... que tem na favela

RB qual é a importância de tê(r) um brother assim... um amigo da vida inteira... (es)tan(d)o morando na fave::la... vendo os problemas todos que acontecem... (vo)cê acha que isso ajuda pro crescimento de vocês?

QU pô acho que ajuda muito... o (inint.) disse que o Bill é o Orfeu da Cidade de Deus... o cara que teve a oportunidade de saí(r) e n’um saiu e (es)tá aqui com a gente... o... a imp/... a importância do Bill pra mim era que assim.. as nossas referências eram... exteriores né? exterior mesmo de outro pais... Marthin Luther King... Malcom X... e eu ficava ali mergulhado naqueles tudo ali... quando na verdade... eu tinha um cara ali do meu lado que era o M.V Bill... que morava no mesmo conjunto habitacional que eu... n’um apê que era isso já pra mim já naquela época... guardava todas as matérias dele... vídeo ia conversá(r) com ele... quando ele saiu na capa do primeiro C.D dele... cara

MB é verdade cara... tinha até esquecido cara

RB saiu na capa? QU sai na capa... eu … um moleque que já morreu infelizmente... Duda cabeção RB que morreu do que? QU morreu assassinado RB a mensagem... a amizade... e até a morte (es)tá perto MB tudo muito próximo Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB a violência também faz parte do cotidiano de muito dos moradores das favelas

brasileiras... o tráfico de drogas e os homicídios são os crimes mais comuns nessas bandas

Situação Comunicativa Ruas Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM você passô(u) por alguma coisa difícil pra chegá(r) até aqui? JP passei RM como é isso? JP meu pai foi assassinado e eu vi tudo RM você viu seu pai sê(r) assassinado Japinha? JP arram RM nossa... fiquei até arrepiada JP eu não esqueci mais não... quando eu lembro... o coração aperta e ai dá vontade

de chorar RM você acha que ele ia (es)tá orgulhoso de ver você agora? JP orgulhoso eu sei que ele (es)tá... porque... eu não faço nada de errado graças a

Deus... sempre com fé em Deus... o meu pai do lado olhando por mim Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB para Japinha... a vida não foi um mar de rosas... porém ele superou todas as

dificuldades e encontrou na música... uma saída para mudar seu destino e o de sua mãe

Situação Comunicativa Casa de Japinha Participantes Rosanne Mulholland = RM

Japinha = JP

Mãe de Japinha = MJ RM e no começo... quando ele começou a formar esse bonde? MJ eu não gostei dele te(r) fazido isso não....porque prejudicou muito nos estudo(s) RM e o que você fala pra ele? MJ eu falo pra ele estudá(r) porque... não adianta só ele entrá(r) no mundo do funk e

deixá(r) os estudos pra trás RM (vo)cê trabalha? MJ trabalho... trabalho em dois emprego(s) RM dois? o que (vo)cê faz? MJ eu sô(u) diarista n’uma clínica e na outra eu trabalho doméstica fixa RM rala bastante então MJ rala bastante... mas eu trabalhava em quatro RM quatro de uma vez? MJ quatro de diarista... e agora que eu (es)tô(u) só com dois... por que agora eu não

aguento mais não eu trabalhei demais RM e o Japinha... (es)tá ajudando em casa? MJ por enquanto ainda não né?... mas ele disse que futuramente... vai ajudá(r) a

gente... principalmente pra terminá(r) a obra dessa casa Situação Comunicativa Ruas Participantes Rafael Bastos = RB

Mônica Carvalho = MC RB que oportunidades de ascensão tem... um jovem que mora na periferia? MC bom...poucas... porque:::... vamo(s) pensá(r)... na verdade a ascensão social ela é

dada principalmente pela formação formal... eu acredito que sim... se ir pra escola é muito difícil... se você não tem condução pra ir pra escola se você não tem dinheiro pra ir pra escola se a escola não é uma escola de boa qualidade... então isso cria um certo desestímulo agora paralelo a isso você tem outras oportunidade que não são as oportunidades formais... mas que são aquelas que facilitam de uma certa forma... atingi(r) um determinado objetivo de forma mais rápida... a gente às vezes imagina por exemplo... uma criança cujo pai ganha um salário mínimo... a ela é oferecido ganhá(r) hã... um quinto desse salário mínimo... pra ela leva(r) um pacotinho de droga daqui até a esquina (es)tá certo.. é claro que ela vai ganhá(r) um dinheiro... porque é fácil... o que isso pode de uma certa forma vendê(r) com uma certa facilidade pra ela ter acesso a um bem de consumo que ela pode... o pai vai demorá(r) um século pra poder ter acesso aquilo... então eles acabam indo por esse caminho

Situação Comunicativa Narração Participantes Débora Vilalba = DV

DV na favela... falta trabalho e sobra pobreza... por isso muitas vezes o caminho do

crime e das drogas... pode parecer tentador... mas a galera do bonde do canguru está ai pra prová(r) que é possível crescer na favela e não se envolver nesse esquema



RM pronto?... quer uma ajuda ai? com a sua perna? BL a... vamo(s) vê(r)... devagarzinho a gente chega lá RM opa BL (vo)cê sabe Situação Comunicativa Dentro de Veículo rumo ao show do grupo Participantes Rosanne Mulholland = RM


RM com’é que vocês do bonde do canguru... fazem agora nesse momento de

sucesso... sendo que vocês moram n’uma comunidade carente... com’é que vocês fazem pra mantê(r) a cabeça no lugar... pra evitar um deslumbre

BL a gente acredita em nóis mesmo sabe?... tem amigos... amigos não...conhecidos que convidam a gente pra fazê(r) várias coisas sabe?... mas a gente aceita se quisé(r) a gente tem a cabeça no lugá(r)... a gente mora na periferia mas a gente não somo(s) errado...nenhum momento...a gente faz aqui as coisas errada(s) se a gente quisé(r)... (es)to(u) feliz da forma que eu (es)tô(u)... (es)tô(u) cantando meu funk junto com meus amigos ai... que (es)tão sempre do meu lado... então não tem o porque eu fazer isso né?

Situação Comunicativa Ruas Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

Pai de Juninho = PJ

Mãe de Juninho = MJ TH você tem amigos... envolvidos no crime... você já pensou sobre isso... alguém já

te deu algum conselho pra ir pra essa vida também?

JN tentaram já né?... tem muitos amigos que foram pra essa vidinha ai... que eu era muito junto... chegado né?... mas sai fora né? porque essa vida não é pra mim não

TH sem dúvidas ((corte)) e vocês tem que... jogá(r) futebol e passá(r) por cima dos problemas ((mostra uma cápsula de cocaína no chão)) né?


MV Bill = MB RB já usou droga? MB no passado... hoje não RB em algum momento da tua história... te deu vontade de... conseguir as coisas de

maneira mais rápida... passou pela sua cabeça? MB sim:: muitas vezes cara... até os convites também né cara? RB tem muito convite? MB na época tinha né cara?... eu via meus amigos de repente já colocando já

vestindo uma calça bacana... que eu queria tê(r) também... a grande...a grende cereja do bolo é o tal do tênis né?... que até hoje... continua... sendo um motivo de fascinação tê(r) um tênis legal... os outros caras... valeu? (inint.)* de uma forma mais rápida... valeu? mais rápida e mais fácil... já tinham conquistado e a gente correndo atrás... mas eu não me desesperei não... tive oportunidade de (es)tá(r) próximo... já levei arma pra casa... mas eu tinha convicção de que aquilo não era pra mim... não tenho habilidade pra isso não

RB (vo)cê já levo(u) arma pra casa...teus pais viram isso? MB não...não viram... só uma vez achei um trinta e oito num morro de lixo que tinha

ali...eu brincando no meio da grama com os amigos e achei... ai levei pra casa... mostrei pro meu pai.. minha mãe... meu pai pegô(u)... ai depois ele apareceu com o dinheiro em casa... acredito que talvez ele tenha até... vendido... ou seja... passado o perigo... da nossa mão pra mão de outra pessoa

RB sim Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB a favela tem muitas histórias e personagens... tem os que vivem rodeados pela

violência e lutam para sair de lá e os que alcançaram à fama... e também tem aqueles é claro que ficaram pelo caminho

Situação Comunicativa Casa de Elias Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

TH você teve amigos que jogavam futebol com você... no início e não conseguiram

segui a carreira?

EA vários... as vezes uns até se foram... outros estão nas drogas... é... outros (es)tão nas bebidas... tive vários amigos que já se foram... que jogavam muito mais que eu e não tiveram a oportunidade que eu tive... não teve um pai... igua::l o meu

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB quem mora na favela tem pouca ou nenhuma chance... por isso não pode

desperdiçar as oportunidades... Totinha e Rafinha são amigos de Elias desde a infância... eles perderam sua chance e hoje assistem o sucesso das arquibancadas

Situação Comunicativa Jogo do Corinthians Participantes Thaíde = TH

Eliseu = EL

TH seu time (es)tá entrando em campo... olha lá... qual a emoção mano... de vê(r)...

o seu parceiro da antiga... agora no Corinthians jogando profissional... sendo reconhecido

PT a emoção é muito grande cara...muita emoção e tenho o maior orgulho de ter um amigo que nem ele... que nem a família dele que é tudo pessoas humilde(s) entendeu?

TH por que que vocês não seguiram carreira? PT a... eu tive um problema de... depois do falecimento do meu pai... ai eu comecei

a exagerar muito no álcool e... parei de jogá(r) bola e não consegui mais... é... se exerce(r) no futebol

TH e eu fiquei sabendo... que o Elias... ele já se dispôs a pagar um tratamento pra você

PT se dispôs TH e por que que você não toma essa atitude? PT eu fui covarde e corri dessa TH e você Rafinha? RF eu foi bebida... posso até falar... até droga também... por isso que eu torço pra

aquele projeto dele... que vai tirar mais o foco das drogas... que que incentivo pras criança(s) lá

TH passa pela sua cabeça.. o fato de que você poderia estar ali jogando com o Elias? RF passa... lógico... se eu puser na minha cabeça que sim TH então eu espero que você... espero que você faça isso RF só eu mesmo pra mudar eu TH porque... qualquer pessoa que chegar pra vocês e disser que... não vai dar certo...

vocês tem a prova viva de que essa pessoa (es)tá errada... uma pessoa que comeu o que vocês comeu...comeram... bebeu o que vocês beberam... andou pelas mesmas ruas que vocês andam

RF isso ai é um exemplo só (es)tá sendo exemplo pra nós e pra todo mundo Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB

RB Elias... MV Bill e a galera do bonde do Canguru são exemplos que provam que

é possível vencer mesmo com todas as dificuldades... basta ter perseverança e saber escolher o caminho certo



RM então gente... estamos indo para o show que é aonde? JP no... top show primeiro e depois no (inint.) RM quantas pessoas vocês acham que vai te(r) lá no top show? BL no top show deve te(r) aproximadamente mil e quinhentas pessoas duas mil

pessoas RM ô muita gente BL baile de favela... bairro de periferia... bairro de favela... sempre é bom né? RM (vo)cês (es)tão nervosos não? BL nervoso não... a gente é... acostumado a ficá(r) tranquilo... de boa... chegando no

camarim a gente toma um negocinho que... deixa animado né? RM e vem cá... e essa galera que (es)tá aqui na van... quem são? BL esse aqui é o D.J Guga... D.J nosso... aquele lá é o Safinho sempre com a gente

ai... Dudu Brown... nosso parceiro o outro ali no canto é o Juliano esse aqui é o Rodrigo

RM vocês sempre levam os amigos BL a tem que levá(r) né?... eles sempre apoiaram a gente desde o começo... então a

gente tem que dá(r) aquele apoio pra eles também né? RM tem umas motos seguindo a gente.... quem são essas pessoas? BL esse cara(s) ai são os nossos parce(i)ros da quebrada né?...os parce(i)ros da

quebrada...sempre escoltando a gente né? até o show... uns parce(i)ro Cheiroso e Ursão que (es)tá sempre com nós ai também

RM Cheiroso e Ursão? BL Cheiroso e Ursão...(inint.)...(es)to(u) chegando no show hoje...hoje eu vo(u)

esculacha(r) hein? BS a lá...ó os moleque(s) do show que sempre a gente ai ó RM é só homem assim que acompanha vocês? BL não...tem muitas mulheres que vem com nóis também...muitas mulheres mesmo

né? RM e elas tem medo de câmera...por que elas não estão aqui? BL a:: elas não estão aqui porque você sabe né? no meio de tanto homem acabam

rolando algo imprevistos BS é que hoje nóis preferiu fica(r) sozinhos porque quando nóis (es)tá com umas

meninas nóis só pode pega(r) uma...que é elas...aí quando nóis (es)tá sozinho...mano...é nóis...pode pega(r) umas seis ...sete ((todos riem))

Situação Comunicativa Quadra de samba Cidade de Deus Participantes Rafael Bastos = RB

MV Bill = MB RB aqui rola o que Bill? MB samba de quadra né?... escola de samba... rola também bailes... baile funk rola

pagode RB (vo)cê já fez show aqui? MB foi o primeiro show que eu fiz na minha vida 51[foi aqui... é] RB 51[primeiro show aqui cara?] MB (es)tava tendo uma festa... junina né?... festa de caipira... e ai eu pedi né?... pra

tocá(r)... ai o pessoal... mas você vai tocá(r) o que... eu falei é hip hop... pô hip rock?... hip rock

RB ((risos)) MB é isso foi em noventa e dois... e ai cara... quando chegô(u) mais ou menos... uma

da manhã depois de ficá(r) esperando ali muito tempo... vamo(s) agora vê(r) grupo de hip rock... grupo de hip rock do filho do mano Juca... ai me chamaram fui com meu pessoal

RB filho do mano Juca? MB é.. meu pai é muito mais popular do que eu RB entendi MB até hoje RB até hoje? MB é ((corte))...foi minha primeira tatoo que eu fiz cara... foi microfone 52[cara... é] RB 52[essa aqui ((aponta))]... o que (es)tá escrito aqui? MB minha arma (es)tá escrito embaixo... pô nunca acreditei que um fuzil pudesse

tê(r) mais potencia do que um microfone cara... sempre achei que o microfone podia... aglutinar pessoas... podia fazer intervenções assim... poderia mudá(r) a realidade... eu sempre me... fascinei mais pelo microfone... minha geração hoje.. todo mundo viu os cara(s) passando com pistola de fuzil... caraca e eu ficava doido quando eu via alguém... falando com um microfone shure né? era a marca mais profissa(ional) e tal

RB e você lembra... como foi o fim do show... o que que (vo)cê sentiu? MB eu... tive a certeza que foi maneiro... porque a minha mãe (es)tava ali perto do

bar... beben53[do a cervejinha dela] RB 53[e ninguém] (es)tava sacaneando ela? MB não e quando eu cheguei ela me deu um abração dizendo que tinha achado

maravilhoso... e minha mãe odiava hip hop RB agora o que é pra você... voltá(r) nesse... nesse lugar aqui? MB eu n’um tenho uma grande frequência dentro da quadra... mas (es)tá(r) aqui

dentro sempre me reconecta com meu início cara... talvez se eu não tivesse tomado coragem de subi(r) ali

RB é ali que você subiu ((aponta para o palco)) aquele palco ali? MB aquele ali... recebido aquelas primeiras palmas aqui dentro... eu acho que nada

teria acontecido então... é um lugar muito marcante... muito importante dentro de toda a minha carreira


Mônica Carvalho = MC RB as pessoas que chegam ao sucesso na favela... muitas vezes têm muito orgulho...

do lugar onde saíram... inclusive os cantores de rap... cantam muito isso nos seus versos... por que disso?

MC é que é muito difícil... (es)tá certo?.... (vo)cê sai(r) de onde saiu e consegui(r) chegá(r) onde chegou... isso é um mérito... a pessoa acho que ela nunca vai esquecê(r) de onde ela veio... porque ela vai sabê(r)... o... o... o esforço árduo que ela fez... pra chegá(r) ali e segundo... porque.... a gente... a gente tem uma visão sempre muito estereotipada da favela... como se fosse uma coisa ruim... n’um é... qué(r) dizê(r)... ali... se elas produziram pessoas assim que são capazes de produzi(r) esse tipo de música que são talentos no futebol... enfim... é porque é um lugar muito vivo

Situação Comunicativa Ruas Participantes Thaíde = TH

Elias = EA

Avó de Elias = AE

TH boa tarde... com’é que vai? prazer conhecê(r)... (es)tá tudo bem? AE obrigada...tudo bem TH boa tarde... (es)tá tudo jóia?... esse rapaz é seu neto? EA é TH é grande Elias...apronto(u) muito quando era criança? AE não... quando era criança não aprontava muito não TH não? AE ((risos)) ele gostava mais é de ficar mais no vídeo game né? TH a... o vídeo game? ((corte))... o que a senhora sente hoje... de a senhora ligá(r) a

T.V e ver o Elias jogando no Corinthians? AE me sinto feliz né?... e antig/ eu não gostava de futebol né?... só depois que ele

começô(u) a jogá(r) TH tem que prestigiá(r) AE é verdade ((corte)) TH boa tarde JV boa tarde TH com licença... tudo bom?... com’é que vai? JV bem TH (es)tá tudo bem? JV tudo na paz ((abraça Elias)) TH conhece esse rapaz? JV conheço TH viu ele correr muito aqui por essas ruas?

JV oxe... corria demais era cm a bolinha... dizendo que é jogador... falei pra ele assim...-“eu duvido que você vai sê(r) jogador”...-“eu vô(u) sê(r) jogador e vô(u) prová(r) pra todo mundo” provô(u) mesmo viu?

TH o que a senhora acha de’le voltá(r) aqui ainda hoje... fazê(r) ainda aqui... essa coletividade com todo mundo... essa atenção... o que a senhora acha disso?

JV olha... eu acho maravilhoso... quando ele faz uma festinha aqui... a gente n’um pode nem passá(r) nessa rua

TH (es)tá cheio JV de tanta gente...muita gente... cheio de gente... porque acha bom... acha bom...

essa favela aqui... ó meu Deus... adora Elias TH a senhora acha que muita gente... mo/mo ó ó... desses moleques ai vão seguir

esse mesmo caminho ou não? JV eu peço a Deus que sim... quando eles veem ele jogando... a:: meus Deus... a

meu pai quero sê(r) do jeito de Elias... eu quero sê(r) do jeito 54[de Elias] TH 54[((risos))] JV falei...-“você vai sê(r) meu filho” TH (vo)cê tinha noção dessa responsabilidade? EA na::... eu tinha um pouco já né?... já meu pai sempre trabalhô(u) na cabeça... pelo

fato de aqui n’um tê(r) saido ninguém né?... da minha comunidade... tipo 55[tê(r) se tornado um médico importante]... tê(r) se tornado alguém importante... bem sucedido... pessoal acho que tem uma referência agora em mim... então... a responsabilidade vai aumentan(d)o

TH 55[ninguém.. você é o primeiro né?]... se você não fosse jogador de futebol... o que você seria hoje?

EA a... n’um sei viu?... ia falá(r) igual a gente fala aqui né?... ia bate(r) laje.. batê(r) caixa

TH batê(r) cartão? EA é TH 56[quando você tem cartão pra batê(r) né? EA 56[é::... quando você tem cartão né?]... ia trabalhá(r)... ia procurá(r) ganhá(r) meu

dinheiro honestamente né? Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB poucos conseguem sair da favela para o caminho do sucesso e as oportunidades

para os que ficam são raras... principalmente para os mais jovens... mais de vinte por cento das pessoas com idade entre dezesseis e vinte anos estão desempregadas e Cintia é uma delas


Fumaça = FM

Filho de Fumaça = FF

Cíntia = CI

DV e essa pequeni(ni)nha aqui? CI é a minha nenê(m) DV é tua filha? CI é DV e você (es)tá com uma aqui na barriga?... quantos meses? CI oito DV você ajuda a sua família? CI ajudo DV e qual a sua maior preocupação agora que você (es)tá desempregada? CI às vezes eu fico chateada... de n’um podê(r) dá(r) alguma coisa assim pros meus

irmãos sabe? DV mas já chegô(u) a faltá(r) alguma coisa? CI já... principalmente quando meu pai bebia... faltava muito... ele n’u::m

esquentava a cabeça com nada DV você cresceu aqui? CI cresci aqui DV você sonhava em sai(r) da favela? CI sonhava DV ainda sonha? CI sonho... se Deus quisé(r)... um dia eu saio e levo meus pais DV (vo)cê ainda... qué(r) levá(r) todo mundo? ((Cintia afirma com a cabeça))... e

que que (vo)cê faz pra mudá(r) essa história em? CI olha... eu sempre busco... trabalhá(r)... economiza(r) aqui... economiza(r) ali DV e o que que você sonha pro futuro dos seus filhos? CI olha... um futuro bem melhor do que o meu Situação Comunicativa Recifavela Participantes Débora Vilalba = DV

Fumaça = FM

DV o senhor deseja que algum deles trabalhe... aqui na cooperativa com o senhor? FM do que eu faço não DV por que? FM é cansativo... então eu trabalho já... pra pagá(r) os estudos deles... pra::... eles

crescerem... pra n’um sofrê(r) o que eu já sofri Situação Comunicativa Ruas Participantes Rafael Bastos = RB

Mônica Carvalho = MC RB muitas vezes as pessoas que saem da favela... se mantem na favela acabam no

subemprego... ou seja... o zelador... seja o portei::ro... aquele que trabalha com li::xo... e de repente assim... esse... esse pedido esse clamor pra virá(r) um artista... n’um é um po(u)co fugi(r) dessa...dessa coisa

MC a... acho que é... acho que é porque... vamo(s) pensá(r)... todo trabalho não é?... todo trabalho é árduo... né?... se ele e subemprego... pior ainda... (vo)cê trabalhá(r) das oito às dezoito... levantá(r) muito cedo... (vo)cê mora lo::nge... você tem que pegar horas e horas e horas de condução... então... é um contraste muito grande... entre aquilo que se apresenta como realidade do subemprego... e aqueilo que se apresenta como glamour da vida do artista... então se você colocá(r) as duas coisas na balança... o que você vai escolhe(r)?... o glamour da vida do artista... não é?... talvez o projeto do mundo artístico... porque é aquilo em que se materializa um desejo... que é o desejo de eu podê(r)... s/... tê(r) uma profissão no qual eu sou senhor de mim mesma

Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB a galera do bonde do canguru teve uma oportunidade única e soube aproveitá-

la... agora estão prontos para mais um show Situação Comunicativa Dentro de Veículo rumo ao show do grupo Participantes Rosanne Mulholland = RM


BL alá.. aquela faixa é do bonde do canguru... já (es)tá perto do show já... observá(r)

a faixa ali... M.C Bisteka... Balão e Japinha Situação Comunicativa Show Bonde do Canguru Participantes Rosanne Mulholland = RM


Anônimo 1 = A1

Anônimo 2 = A2

Anônimo 3 = A3

((gritaria)) RM gente o que é isso?... gente elas arrastaram o Japinha... arrastaram... fizeram gato

e sapato dele... (vo)cê curte o bonde há muito tempo? A1 já há um tempinho já RM e de quem que você gosta mais? A1 gos-to... do Japinha... ai ele é muito charmoso RM a é? ((risos)) ((corte)) e quem que você mais gosta? A2 do Japinha

RM gente... mas todo mundo gosta do Japinha? A2 é RM mas ele é o mais novinho gente A3 mas ele é o mais bonitinho RM (vo)cês já... já deram um beijinho nele ou não? ((todas respondem que sim)) A2 eu passei a mão nele RM passou a mão no negó/... onde? A2 (inint.) n’uma coisa íntima RM ((risos)) ((cenas do show)) RM essa é a grande música...o grande sucesso do Bonde do Canguru Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB o show da rapaziada do Bonde do Canguru.. já começou e a mulherada está

enlouquecendo... Juninho está prestes a fazer uma jogada que pode começar a mudar a sua vida... ele vai fazê(r) um teste no Juventus e não poderá desperdiçar essa oportunidade

Situação Comunicativa Campo de futebol - Teste de Juninho Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

TH (es)tô no bairro da Mooca... especificamente no clube Atlético Juventus e vô(u)

acompanhá(r) o teste decisivo do Juninho... ele fica... ou não no clube? ((corte))... e ai Juninho (es)tá com frio ou (es)tá com calor?

JN ô um pouquinho de frio TH daqui a pô(u)co (vo)cê vai suá(r)... JN vo(u) TH pode ficá(r) tranquilo que daqui a pô(u)co o frio passa TH e ele é::... bom jogador? A1 bom jogador... é bom jogador é meu parceiro A2 Juninho... Wallace... André (inint.) ((chamando para o teste)) TH Juninho é você... então vai que vai... boa sorte... é agora já? JN é TH deve se(r) m(ai)ór emoção mesmo né?... chega de manhã aqui com essa

rapaziada que deve sê(r) só fera e você fazê(r) um teste... n’um... clube como o Juventus... deve sê(r) uma puta adrenalina em? ((cenas do teste))... qual é a avaliação?

JN acho que eu fui bem TH foi difícil ou foi fácil? JN um pouco difícil TH você (es)tá preparado para qualquer resultado? JN (es)tô(u) TH você sabe que pode sê(r) um sim e pode sê(r) um não também

JN sei TH se for um não? JN ai trabalhá(r) né... fazê(r) outros clube(s)... tenta outros clubes né? A2 bom moçada... é o seguinte... o Juninho e o Lucas... (vo)cês já começam vir

amanhã ás sete e meia e a gente vai coloca(r) vocês no grupo... pra vê(r) como vocês vão se sai(r)... (es)tá?... ai vai depende(r) de vocês

TH ((corte)) quando vale a pena... quando a gente... corre atrás... concorda comigo? JN concordo Situação Comunicativa Narração Participantes Rafael Bastos = RB RB parece que Juninho deu o primeiro passo pra realizar seu grande sonho... agora

ele vai contá(r) pra sua mãe que está ansiosa pra saber o resultado Situação Comunicativa Campo de futebol - Teste de Juninho Participantes Thaíde = TH

Juninho = JN

Mãe de Juninho = MJ JN vô(u) vir treinar amanhã com a equipe ((abraça a mãe)) MJ graças à Deus Juninho... parabéns... parabéns... seu pai vai ficá(r) muito feliz

viu? (vo)cê merece TH em algum momento momento penso(u) que não... poderia dar certo... em algum

momento ali sentada naquele banquinho? MJ não... nenhum momento... sei que (es)tá (es)tá na mão de Deus sabe(r) que ia

dá(r) tudo certo TH dá um abraço no Iranildo MJ obrigado ((corte)) TH deu tudo certo pro Juninho... ele vai começá(r) a treina(r) com o time de base

aqui do Juventus... que é... claro... um importante passo nessa grande caminhada rumo ao estrelato no futebol... agora tudo depende dele certo?



RM qual é o maior sonho de vocês? JP saúde... sossego... meu sonho mesmo é comprá(r) uma moto RM compra(r) uma moto Japinha? e você acha que vai consegui(r)?

JP batalhando trabalhando (vo)cê consegue RM eu acho que você vai consegui(r) comprá(r) sua moto JP se Deus quisé(r) RM ((risos))... e você? BS quero ser feliz... feliz... feliz... feliz ((cenas do show e corte)) RM Japinha... muito prazer... muito obrigada pela companhia viu?... muito sucesso...

tudo de bom pra vocês BL brigado... obrigado vocês ai RM parabéns... tchau... que o show lá seja... fantástico e que a carreira de vocês vá

cada vez... voe mais alto BL (o)brigado RM viu... valeu galera... bom então aqui... a gente se despede do bonde do canguru...

eles ainda vão trabalhá(r) muito... mas eu vô(u) descansá(r) agora... porque é... esses menino(s) dão trabalho viu? ((risos))

Situação Comunicativa Ruas Participantes thaíde = TH

Elias = EA TH há cinco anos atrás onde (vo)cê (es)tava? EA aqui TH e daqui há cinco anos... onde você vai querer estar? EA eu vô(u) (es)tá comemorando o título... copa do mundo aqui no Brasil e voltando

aqui pra comunidade... comemorando aqui TH o que você pode dize(r)?... pra molecada... pras pessoas?... que estão ai na

dificuldade... a gente sabe que tem... muitas vezes a gente pensa em desisti(r)... muitas vezes passa muitas coisas pela... pela nossa cabeça

EA n’um desisti(r) nunca né?... se a pessoa tem um sonho... tem que i(r) atrás... tem que ir em busca desse sonho até o final


MV Bill = MB RB qual’é a luta do M.V Bill? MB pô... hoje a minha luta... ela:: tem muitos acréscimos cara... eu comecei...

achando que minha luta... era luta social... só o próprio social... ele já tem vários caminhos pra seguir e eu acho que...na minha luta pessoal... eu acho que já comecei a agregar várias outras coisas

RB você acha que a tua história... um dia ela pode se tornar comum dentro da favela?... a pessoa fazê(r) a opção certa... a pessoa... vencê(r) buscá(r) seus objetivos e ajudá(r) o lugar onde nasceu?

MB eu já venho... assistindo... esse tipo de transformação... é::... vejo jovens que hoje gostam de hip hop... mas não querem fazer hip hop para sobreviver... gosta de hip hop... mas (es)tá fazendo faculdade de economia... (es)tá fazendo faculdade de direito... isso que eu tenho achado muito legal cara... as pessoas

curtirem sem precisar viver o ofício e tenho visto também... outros jovens que já perceberam que a criminalidade... é uma coisa imposta... eu sei que tem muitos jovens que foram pro crime por conta de uma necessidade financeira social... mas tem muitos que já aprenderam que isso não pode ser a nossa justificativa... a gente não pode aceitá(r) isso e tê(r) uma justificativa na ponta da língua... sei que as coisas não são fáceis... nunca foi fácil pra mim também... mas eu acho que quando a gente qué(r)... a gente tem como sim encontrá(r) um direcionamento positivo

RB ((aperta a mão de MV Bill)) MB valeu cara Situação Comunicativa Encerramento Participantes Rafael Bastos = RB RB pessoas bem sucedidas existem em absolutamente todos os lugares... na favela...

é claro que também existem... as oportunidades são poucas... aqui... são menores ainda a gente tem que sempre... correr atrás.. só que o pessoal na favela... tem que corre(r) com o dobro da velocidade.. pra alcançá(r) um sonho... que dependendo da situação financeira como essa que a gente vê aqui... é um sonho ainda mais distante

((fim do programa))

transcrição do programa midiático “a liga: da favela à...

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