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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Estudos da Linguagem Rafaela Defendi Mariano Recursos para a construção de estilos: tópico e marcadores discursivos na fala de um rapper paulista Relatório Científico Parcial referente à bolsa de Iniciação Científica encaminhado à apreciação da FAPESP. Orientadora: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva SHAPE \* MERGEFORMAT Campinas 2011 Sumário Resumo ____________________________________________________________Pg.3 Resumo das Atividades ________________________________________________Pg.3 1. Aprofundamento de Pressupostos Teóricos______________________________Pg.4

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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Estudos da Linguagem

Rafaela Defendi Mariano

Recursos para a construção de estilos: tópico e

marcadores discursivos na fala de um rapper

paulista

Relatório Científico Parcial referente à bolsa de

Iniciação Científica encaminhado à apreciação

da FAPESP.

Orientadora: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva

SHAPE \* MERGEFORMAT

Campinas 2011

Sumário

Resumo ____________________________________________________________Pg.3

Resumo das Atividades ________________________________________________Pg.3

1. Aprofundamento de Pressupostos Teóricos______________________________Pg.4

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1.1. Retomando as discussões sobre o conceito de tópico_____________________Pg.4

2. Análise da primeira situação comunicativa ______________________________Pg.9

2.1 Configurações relacionais da audiência da primeira situação comunicativa __Pg.9

2.2 Organização tópica da primeira situação comunicativa___________________Pg.9

3. Análise da segunda situação comunicativa _____________________________Pg.13

3.1 Configurações relacionais da audiência da segunda situação comunicativa __Pg.13

3.2 Organização tópica da segunda situação comunicativa__________________Pg.14

4. Análise da terceira situação comunicativa _____________________________Pg.17

4.1 A situação social engendrada na terceira situação comunicativa___________Pg.17

4.2 O formato híbrido da terceira situação comunicativa____________________Pg.23

4.3 Organização tópica da terceira situação comunicativa___________________Pg.30

5. Questões metodológicas ____________________________________________Pg.39

5.1. A transcrição do corpus __________________________________________Pg.39

5.2 Exercícios de transcrição __________________________________________Pg.40

6. Redimensionamento do Cronograma __________________________________Pg.42

7. Publicações e Participações em Eventos _______________________________Pg.43

8. Sobre o Desempenho Acadêmico e Outras Atividades ____________________Pg.44

9. Bibliografia _____________________________________________________Pg.46

Anexo 1 ___________________________________________________________Pg.49

Anexo 2 ___________________________________________________________Pg.61

Projeto: “Recursos para a construção de estilos: tópico e marcadores discursivos na fala de

um rapper paulista”

Aluna: Rafaela Defendi Mariano RA: 082587 Unidade: IEL/UNICAMP

Orientadora: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva

Vigência: 01 de dezembro de 2010 a 31 de novembro de 2011

Relatório Parcial de Iniciação Científica - FAPESP

Resumo

A presente pesquisa tem como objetivo descrever e analisar as diferenças

estilísticas resultantes das manipulações estratégicas de recursos linguístico-discursivos

produzidas pelo rapper Mano Brown, protagonista de movimento social em São Paulo,

em diferentes situações comunicativas: fala pública, depoimento, entrevista

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sociolinguística e entrevista. Nossa hipótese é a de que sendo o design de audiência

(BELL, 2001) o fator condicionante da variação estilística, dois fenômenos se

apresentam como os principais lócus de observação dessa variação: o fenômeno textual

tópico discursivo e o fenômeno linguístico-discursivo dos marcadores discursivos. Para

comprovarmos a hipótese, procedemos à descrição da organização hierárquica e da

segmentação linear dos tópicos discursivos dos textos orais produzidos por Mano Brown.

Na próxima fase, analisaremos a manipulação estratégica por parte do rapper dos

marcadores discursivos e sua relação com a gestão do tópico.

Este relatório refere-se às atividades desempenhadas no período compreendido entre

01 de dezembro de 2010 e 10 de maio de 2011.

Resumo das Atividades

Os seis primeiros meses desta pesquisa foram dedicados a três atividades principais:

o aprofundamento teórico, a transcrição do corpus e as análises de três dos quatro textos

orais pertencente ao corpus.

Para a produção das análises, foram retomadas as seguintes leituras sobre estilo, fatores da

variação estilística (design de audiência e design de referência) e tópico discursivo: Bell

(2001), Jubran et al. (2002), Jubran (2006) e Bentes e Rio (2006).

No que se refere ao aprofundamento teórico, alguns importantes trabalhos sobre o gênero

entrevista sociolinguística foram lidos, como Schiffrin (1994) e Rio (2010). Estas leituras

foram necessárias para que se pudesse entender melhor o texto produzido por Mano Brown

na terceira situação comunicativa, como será exposto no item 4.

Além disso, também foram realizadas transcrições do programa “Manos e Minas”,

exibido na TV Cultura, com vistas a contribuir com o projeto “É nóis na fita: a formação de

um registro e a elaboração de estilos no campo da cultura popular urbana paulista”, cujo

objetivo geral é o de “produzir descrições e análises que revelem a maneira pela qual os

processos de formação de registros e de elaboração de estilos pelos grupos sociais se

interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito” (BENTES, 2009), no interior do

qual a presente pesquisa se insere. Além disso, essa atividade possibilitou um treinamento

para a realização da transcrição do corpus da presente pesquisa, já que ambas foram feitas

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baseadas no modelo que é uma adaptação das convenções adotadas por outros grupos e

projetos de análise da fala, a saber: Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior

Paulista), Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação) e Projeto

NURC (Norma Urbana Culta).

1. Aprofundamento dos Pressupostos Teóricos

1.1. Retomando as discussões sobre tópico

Jubran et al. (2002) a partir de uma perspectiva discursiva promoveram um estudo

da organização tópica de um discurso de natureza oral-dialogada a fim de melhor definir a

unidade de análise de estatuto discursivo, o tópico:

Tomado no sentido geral de “acerca de”, o tópico manifesta-se, na

conversação, mediante enunciados formulados a respeito de um

conjunto de referentes explícitos ou inferíveis, concernentes entre si

e em relevância num determinado ponto da mensagem. (JUBRAN et

al., 2002, p. 344) (grifos nossos)

Jubran et al. (2002) propuseram uma análise que fosse além do turno, pois

perceberam que, em uma conversação, a relação de interdependência entre os turnos “pode

ser movida pela preocupação dos falantes em se entrosarem, procurando manter a

conversação em torno de um conjunto de referentes comuns (...) Nesse caso são

observáveis segmentos discursivos articulados em torno de um tópico proeminente”

(JUBRAN et al., 2002, p. 342); ou seja, como a interação verbal é envolvida por atos

colaborativos em vista à construção do texto, o turno é produzido por referência ao anterior.

A nova definição foi uma revisão dos estudos do grupo cuja primeira definição

revelou-se de difícil operacionalização devido ao caráter vago e amplo do significado de

assunto e do grau de subjetividade na compreensão da noção: “fragmentos textuais, de

extensões variadas, recobrindo determinado assunto (tema), em pauta no segmento

recortado para análise” (KOCH et al., 1990 apud JUBRAN et al, 2002, p. 343).

Apesar da conceituação de tópico ter sido postulada por Jubran et al. (1992) e

Jubran (2006) a partir de um corpus constituído de textos dialogados, acreditamos que é um

conceito passível de ser aplicado na análise das quatro situações comunicativas, já que a

própria autora assim afirma: “no entanto, se desbastada desses indícios de conversação

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[falava antes sobre turnos], a categoria tópica é aplicável à análise de textos de outros

gêneros falados e também escritos [ver Pinheiro, 2005], uma vez que a topicalidade é um

processo constitutivo do texto” (JUBRAN, 2006).

Os pesquisadores procuraram estabelecer traços que pudessem definir a categoria tópico

com mais segurança e objetividade. A centração, que é uma das propriedades definidoras

de tópico, abrange os seguintes traços:

a) a concernência: relação de interdependência entre elementos

textuais, firmada nos mecanismos coesivos de sequenciação e

referenciação, que promovem a integração desses elementos em um

conjunto referencial, instaurado no texto como alvo da interação

verbal;

b) a relevância: proeminência de elementos textuais na constituição

desse conjunto referencial, que são projetados como focais, tendo em

vista o processo interativo;

c) a pontualização: localização desse conjunto em determinado

ponto do texto, (fundamentada na integração - concernência) e na

proeminência (relevância) de seus elementos, instituídas com

finalidades interacionais. (JUBRAN, 2006, p. 35).

Segundo Maynard (1990 apud JUBRAN et al., 2002), os estudos mais recentes

demonstram que o tópico não é mais visto apenas como uma noção de conteúdo como os

estudos anteriores, visto que “aquilo de que se fala” não pode ser desvinculado do “como se

fala” (MAYNARD, 1980 apud JUBRAN et al., 2002). Podemos afirmar que o conceito de

tópico do Grupo de Organização Textual Interativa do Projeto de Gramática do Português

Falado (PGPF) contribui para o pressuposto de Maynard, visto que os elementos coesivos

de referenciação e sequenciação nos dão pistas para a delimitação do tópico (traço de

concernência) e a escolha desses elementos produz sentidos:

Não há estudos detalhados relacionando esses dois aspectos

[progressão referencial e progressão tópica]. Mas, em princípio, eu

não creio que sejam independentes, embora também não sejam

biunívocos. Eles são co-determinados. Contudo, se a continuidade

referencial serve de base para o desenvolvimento de um tópico, a

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presença de um tópico oferece tão somente as condições

possibilitadoras e preservadoras da continuidade referencial, mas

não as garante. (MARCUSCHI, 2008, p. 141).

A partir desse pressuposto do tópico como um princípio organizador do discurso,

Jubran et al. (2002) postulam a outra propriedade do tópico: a organicidade. Esta

propriedade diz respeito às relações de interdependência tópica, que pode se estabelecer em

dois níveis: o hierárquico e o linear/sequencial. O primeiro se refere ao plano vertical, em

que os tópicos podem ser descritos hierarquicamente “conforme as dependências de

superordenação e subordinação entre tópicos que se implicam pelo grau de abrangência do

assunto” (JUBRAN et al., 2002, p. 345) e o segundo se refere ao plano horizontal “de

acordo com as articulações intertópicas em termo de adjacências ou interposições na linha

discursiva” (JUBRAN et al., 2002, p. 345).

A partir dessa categoria, Jubran et al. (2002) conseguem identificar e delimitar os

segmentos tópicos, ou seja, “unidades discursivas que atualizam as propriedades de tópico”

(JUBRAN et al., 2002, p. 345); observar como esses segmentos se distribuem linearmente e

se inter-relacionam hierarquicamente no texto e caracterizar estruturalmente os segmentos,

ou seja, caracterizar a estrutura intratópica que pode vir evidenciada por marcas linguísticas

na sua abertura, meio ou saída que ajudam a delimitá-los.

Em relação à hierarquização, Jubran et al. (2002) afirmam que é possível observar e

identificar as relações de interdependência entre os tópicos de acordo com a sua

abrangência. Nas palavras dos autores:

Há como que camadas de organização, indo desde um tópico

suficientemente amplo para não ser recoberto por outro

superordenado, passando por tópicos sucessivamente

particularizados, até se alcançarem constituintes tópicos

mínimos-definíveis pelo maior grau de particularização do

assunto em relevância. (JUBRAN et al., 2002, p. 346)

A partir dessa constatação, os autores propuseram a análise a partir de Quadros

Tópicos (QT), ―noção abstrata e relacional cujo estatuto concreto é determinado pelo nível

de hierarquia selecionado pelo analista (JUBRAN et al., 2002), caracterizados por duas

condições necessárias (a e b) e uma possível (c):

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a) centração num tópico mais abrangente (Supertópico – ST);

b) divisão interna em tópicos co-constituintes (Subtópicos – SbT);

c) subdivisões sucessivas no interior de cada tópico co-constituinte de forma que um tópico

pode vir a ser ao mesmo tempo ST e SbT.

Em relação à distribuição linear do tópico, os autores caracterizam dois fenômenos

básicos: a continuidade e a descontinuidade. A primeira se refere à abertura do tópico

subsequente com o esgotamento do anterior e a segunda à perturbação da sequência linear

seja pela suspensão de um tópico que ainda não se esgotou ou pela divisão desse tópico que

será retomado posteriormente. Segundo Jubran et al. (2002), apesar da possibilidade de

descontinuidade com a inserção de tópicos constitutivos de um quadro tópico entre tópicos

de outro quadro tópico, nos níveis hierárquicos mais elevados, há uma tendência ao

restabelecimento da linearidade. Assim, quando há dois supertópicos na conversação, um

só é iniciado quando o outro se esgota, confirmando segundo os autores a estruturação,

coesão e coerência do fenômeno conversação.

Segundo Jubran et al. (2002), há três formas de ocorrência da mudança de tópico:

introdução de um tópico após o esgotamento do anterior, caracterizando assim

continuidade; passagem gradativa de um foco de relevância para outro, graças aos tópicos

de transição que não é o tópico anterior e nem o seguinte, mas algo que os liga; introdução

de um tópico por abandono do anterior que não foi esgotado, caracterizando assim a

descontinuidade.

As marcas que podem delimitar os segmentos tópicos, apesar de facultativas e

multifuncionais (podem aparecer em situações textuais outras), são um critério auxiliar na

segmentação. Assim como a observação da mudança de rumo da conversação, a observação

das marcas linguístico-discursivas da delimitação tópica se mostra uma importante

ferramenta para os nossos objetivos. Essas marcas podem ser prosódicas (entonação, por

exemplo); morfossintáticas (topicalização- quando um dos referentes passa a ser

centralizado e torna-se novo assunto de relevância ou deslocamento à esquerda-

topicalização com um pronome co-referencial presente); léxico-semânticas (paráfrases,

repetições seja para concluir tópicos ou concluir para introduzir novos tópicos, frases feitas,

ditados populares e enunciados conclusivos); marcadores discursivos; atos ilocutórios;

silêncio e pausas; hesitações, etc. Nossa investigação privilegiará na segunda fase de

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pesquisa a análise dos marcadores discursivos por acreditarmos ser importante para se

analisar a sua função coesiva ou interacional, mas também por termos a hipótese de que

essas unidades se constituem em um lócus de observação da manipulação estratégica dos

recursos linguísticos por parte do falante.

2. Análise da primeira situação comunicativa

2.1 Configurações relacionais da audiência primeira situação comunicativa

Na primeira situação comunicativa, o discurso público, Mano Brown, apesar de ter

uma plateia formada por pessoas fisicamente presentes, age da mesma forma como

Goffman propôs que ocorre aos comunicadores televisivos: “os comunicadores são

pressionados a modular suas falas como se fossem dirigidas a um único ouvinte”

(GOFFMAN, 1964 apud AZANHA, 2008). O termo plateia se faz adequado à fala que vem

da tribuna, segundo Goffman (1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 125-6), pois as

plateias escutam de uma maneira “que lhes é peculiar”, pois não constituem um conjunto de

companheiros de conversa e podem ter “o direito de examinar o falante diretamente com

uma franqueza que seria ofensiva numa conversa”. Além disso, “o papel de uma plateia é o

de apreciar as observações feitas e não o de responder de forma direta”, apesar de serem

testemunhas ao vivo (“co-participantes numa mesma ocasião social”) e de poderem dar

sinais de concordância, atenção, etc. No caso do discurso proferido por Mano Brown, o

efeito produzido é o de certo grau de proximidade com os interlocutores, em virtude dos

próprios tópicos abordados pelo rapper. Mano Brown, por exemplo, critica a si mesmo e

aos membros da sua comunidade e, além disso, exemplifica trazendo cenas do cotidiano da

periferia. Isso contribui para a aproximação dele com a plateia e diminui possíveis

apreciações negativas sobre ele em seu discurso.

2.2 A organização tópica da primeira situação comunicativa

Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a primeira situação

comunicativa apresenta, a nosso ver, o supertópico Qualidades e defeitos do ser humano

e dois quadros tópicos co-constituintes: (1) Humildade x arrogância e (2) Comentários

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sobre si mesmo.

Essa delimitação foi possível graças a duas etapas: a primeira consistiu na

segmentação do texto em suas menores porções (segmentos tópicos), identificáveis

fundamentalmente pelo princípio de centração e a segunda no agrupamento desses

segmentos tópicos, conforme o grau de associação entre eles e o enquadramento sucessivo

dos grupos em níveis mais elevados (quadros tópicos) conforme o princípio de

organicidade.

A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus

segmentos tópicos co-constituintes.

O quadro tópico (1) envolve cinco subtópicos: Definição de pobreza; Definição de

sabedoria; Crítica sobre a situação da favela; Crítica sobre tratar o playboy com

arrogância e Crítica sobre a ostentação de bens materiais.

O quadro tópico (2) envolve seis subtópicos: Sinceridade; Ter a proteção de

Deus; Honra de receber o prêmio; Falha de não estar sempre presente; Fama e

Solidão.

Segundo Jubran et al. (2002, p. 360), pode ocorrer de tópicos não se desdobrarem

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em níveis inferiores. No caso dessa primeira situação comunicativa, como se trata de um

discurso e Mano Brown faz uma fala relativamente curta, temos um menor detalhamento e

consequentemente se observa esse não desdobramento dos tópicos até o terceiro nível,

como acontece na terceira situação comunicativa, por exemplo.

SHAPE \* MERGEFORMAT

Gráfico 1. Organização tópica hierárquica da primeira situação comunicativa

1 Definição de

pobreza

Linhas 14-15

2 Definição de

sabedoria Linha

s 15-20

3 Crítica sobre a

situação da

favela Linhas 20-

25

4 Crítica sobre

tratar o playboy

com

arrogância Linh

as 25-30

5 Definição de

sabedoria Linha

s 30-32

6 Crítica sobre a

ostentação de

bens materiais

Linhas 32-35

7

Sinceridade Lin

has 35-41

8 Ter a proteção

de Deus Linhas

41-43

9 Honra de

receber o

prêmio Linhas

43-47

10 Falha de não

estar sempre

presente Linhas

47-49

11 Fama Linhas 52-56 12 Definição de

sabedoria Linhas 57-59

13 Solidão Linhas 65-72

Gráfico 2 Organização tópica linear da primeira situação comunicativa

A partir do segundo gráfico, podemos observar que há nesse texto oral uma

tendência à não perturbação da linearidade, ou em outras palavras, Mano Brown introduz

um novo tópico apenas depois de concluí-lo. No texto todo, só há uma exceção: o subtópico

Definição de sabedoria que é retomado em duas vezes, uma inclusive quando outro

quadro tópico já havia sido introduzido. Mano Brown retoma esse subtópico, para fazer as

conclusões dos exemplos que expõe.

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Em relação aos tópicos desenvolvidos pelo rapper, percebemos que Mano Brown

revela uma determinada percepção dos fatos do mundo e de suas próprias ações, ou seja,

além da reflexão sobre a realidade social presente em suas músicas, ele revela em seu

discurso que o ato de refletir sobre as qualidades e defeitos dos seres humanos e sobre suas

próprias ações faz parte constante de sua vida. Sendo assim, podemos concluir que os dois

quadros tópicos são de caráter reflexivo: enquanto o primeiro, Humildade x arrogância,

caracteriza a reflexão de Mano Brown sobre a sociedade em geral, o segundo,

Comentários sobre si mesmo, caracteriza a reflexão do rapper sobre si mesmo. Apesar de

falar sobre os defeitos da sociedade em geral, Mano Brown os exemplifica com cenas do

cotidiano da própria favela de forma incitar em seus interlocutores uma consciência crítica

(cf. BENTES, 2009b). Para isso, ele define pobreza e sabedoria de forma geral, mas faz as

seguintes exemplificações: revolta que ele sente quando olha para a favela (Crítica sobre a

situação da favela), arrogância com que alguns “manos” tratam os playboys (Crítica

sobre tratar o playboy com arrogância) e ostentação de bens materiais, como tênis,

motos, armas etc. (Crítica sobre a ostentação de bens materiais).

Um recurso bastante marcante na fala do rapper é o uso constante de analogias e antíteses

para falar das qualidades e defeitos dos seres humanos. Esquematicamente, observam-se as

seguintes analogias:

inteligência = humildade = sabedoria

arrogância = burrice = revolta/ódio/neurose

e antíteses:

humildade x arrogância

sabedoria x burrice

O segundo quadro tópico, Comentário sobre si mesmo, caracteriza a reflexão de Mano

Brown sobre si mesmo. Em relação à burrice, por exemplo, o rapper se inclui também no

erro de ser burro, ou seja, o locutor procura demonstrar que não é perfeito e com isso,

aproxima-se de seu interlocutor. Essa aproximação tem seu ápice na promessa que o líder

de movimento social faz: “eu vou tentar ser menos burro...daqui pa frente(...)”. O fato de o

rapper fazer promessas, revelar desejos, revelar seus erros e o próprio pedido de que não o

abandonem mostram que Mano Brown, mais do que adequar sua linguagem à de seus

interlocutores (design de audiência), tenta se aproximar dos seus interlocutores através de

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determinados tópicos, exibindo um discurso que promove a sua identificação com os

moradores da favela (design de referência).

Em relação aos comentários (linhas 60-66), a maioria também é de caráter reflexivo,

mas em relação à sua própria linguagem: o rapper reflete sobre a fala das pessoas que

discursaram e sobre sua própria fala, ou seja, muito das suas escolhas, em termos de tópico

e de estratégias discursivas, se deve a essa reflexão sobre a linguagem. O seu discurso,

resultaria, portanto, tanto da sua reflexão sobre a realidade como da sua reflexão sobre a

linguagem.

3. Análise da segunda situação comunicativa

3.1 Configurações relacionais da audiência da segunda situação comunicativa

No segundo evento, temos uma interação face a face com apenas um “participante

endereçado e ratificado” (GOFFMAN, 1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002), ou seja,

Mano Brown endereça a sua fala a apenas um interlocutor, mesmo sabendo que podem

estar presentes outros participantes, que são denominados por Goffman (1979 apud

RIBEIRO E GARCEZ, 2002) como “circunstantes”, que apesar de ratificados, não são os

diretamente endereçados. É importante salientar ainda que os interlocutores estão bem

próximos e em um lugar conhecido e familiar para o rapper: o seu carro. Além disso, nessa

situação comunicativa, não há uma divisão dos turnos de fala nos moldes de uma

conversação. Assim, Mano Brown faz uso de todo o turno e seus interlocutores produzem

apenas backchannels, o que caracteriza sua produção discursiva como um depoimento.

3.2 Organização tópica da segunda situação comunicativa

Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a segunda situação

comunicativa apresenta, a nosso ver, dois supertópicos: Documentário e Sonho. O

primeiro supertópico apresenta dois quadros tópicos co-constituintes: (1) História da vida

de um ladrão e (2) Descrição do contexto. O segundo supertópico apresenta apenas um

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quadro tópico: Sonhar em estar preso. Este último só aparece no final quando Mano

Brown faz a seguinte revelação: “eu já sonhei eu preso várias vez/tipo...já me imaginei

várias vez/cê acredita?...várias vezes... morto nem tanto...”. A emergência desse outro

supertópico, considerando que essa fala de Mano Brown é bem curta, apesar de indicar uma

mudança na direção e na natureza do tópico, tem relação com o a sua fala anterior, que

discorria sobre a História da vida de um ladrão e a Descrição do Contexto dessa

história.

Essa delimitação foi possível graças a duas etapas já citadas anteriormente: a

segmentação do texto em suas menores porções (segmentos tópicos), identificáveis

fundamentalmente pelo princípio de centração e pelo agrupamento desses segmentos

tópicos conforme o grau de associação entre eles; e também pelo enquadramento sucessivo

dos segmentos em níveis mais elevados (quadros tópicos) conforme o princípio de

organicidade.

A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus

segmentos tópicos co-constituintes.

O quadro tópico (1) envolve quatro subtópicos: Gostos; Assassinatos cometidos

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pelo ladrão; Fama do ladrão e Amigos do ladrão.

O quadro tópico (2) envolve quatro subtópicos: Apresentação geral; Favela; Casa

de detenção e Linguagem dos ladrões.

Assim como na primeira situação comunicativa, no depoimento, não há

desdobramento dos subtópicos para um terceiro nível inferior. Acreditamos também que

isso se deva ao menor detalhamento em decorrência do curto tempo de fala.

SHAPE \* MERGEFORMAT

Gráfico 3 Organização tópica hierárquica da segunda situação comunicativa: primeiro

supertópico

SHAPE \* MERGEFORMAT SHAPE

Gráfico 4 Organização tópica hierárquica da segunda situação comunicativa: segundo

supertópico

1 Apresentação

geral

Linhas 4-9

2 Gostos Linhas

9-10

3 Assassinatos

cometidos pelo

ladrão Linhas

10-11

4 Fama do

ladrão Linhas

13-14

5 Amigos do

ladrão Linhas

14-15

6 Favela

Linha 16

7 Casa de

Detenção Li

nhas 16-18

8 Linguagem

dos ladrões

Linhas 21-

26

9 Fama do

ladrão Linha

s 26-28

10

Favela Linha

s 29-34

11

Gostos Linha

s 34-37

Gráfico 5: Organização tópica linear da segunda situação

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Em termos sequenciais, Mano Brown inicia o seu texto com um tópico de natureza

interacional:

Exemplo 1

MB vô(u) fazê(r) o seguinte... põe essas revista...daqui ó... nóis (es)tá de teto

solar mano... o negócio (es)tá foda

Segundo Jubran et al. (2002, p. 366), isso caracterizaria uma digressão baseada na

interação. Segundos os autores: “Tais digressões, por serem baseadas sensivelmente na

interação, são perfeitamente identificáveis e demarcáveis, embora nem sempre apresentem

estruturas claras e definidas”. Nesse caso, Mano Brown começa a interação com uma

preocupação em deixar o interlocutor mais confortável (“vô(u) fazê(r) o seguinte... põe

essas revista...daqui ó”) e depois faz um comentário sobre o carro onde estão (“nóis (es)tá

de teto solar mano... o negócio (es)tá foda”). Apesar de não constituírem digressões

propriamente ditas, pois não interrompem nenhum tópico em andamento, não podemos

deixar de considerar a importância desse início como uma espécie de convite à interação.

Em relação à linearidade, podemos dizer que ao contrário da primeira situação

comunicativa, há maior descontinuidade tópica. Mano Brown apenas inicia o primeiro

quadro tópico (Descrição do contexto) para fazer uma apresentação geral do documentário

visto. Em seguida, ele inicia outro quadro tópico (História da vida de um ladrão) e depois

retoma o quadro tópico Descrição do contexto mesmo sem ter terminado o anterior. Dessa

forma, ele volta ao quadro tópico História da vida de um ladrão com os subtópicos Fama

do ladrão e Gostos do ladrão e, entre eles, insere o subtópico do outro quadro tópico:

Favela. Podemos concluir, então, que apesar de haver continuidade em determinado ponto

da conversa, no início e no fim, há tendência para a descontinuidade, ou seja, ocorre

“introdução de um tópico, por abandono do anterior, antes que os interlocutores o dessem

por encerrado. Nessa situação, ocorre um corte do tópico que estava em pauta” (JUBRAN

et al., 2002, p. 350).

Nessa situação comunicativa, não há uma divisão dos turnos de fala nos moldes

convencionais, como já foi dito, caracterizando a produção discursiva do rapper como um

depoimento. Concluímos, a partir da identificação dos tópicos, que a forma como o rapper

organiza os conteúdos e finaliza seu depoimento revela que ele não apenas reconta o que

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viu, mas também explicita o impacto daquele produto cultural sobre si mesmo. Isto é

evidenciado também pela quantidade relativa de comentários: linhas 15-16 (“pô achei

lo(u)co pa carai”); linha 18 (“INCRÍVEL COMO LADRÃO NÃO MUDA”); linha 39 (“eu

falei pÔ::rra lo(u)co lo(u)co lo(u)co lo(u)co”).

4. Análise da terceira situação comunicativa

4.1 Situação social engendrada na terceira situação comunicativa

Em comparação com as outras duas situações comunicativas (discurso de

agradecimento e depoimento), a análise da terceira situação comunicativa se mostrou um

empreendimento um pouco mais demandatório, pois nela, além da complexidade inerente a

qualquer tipo de interação face a face, a interação ocorre entre mais de dois indivíduos.

Sendo a interação face a face “um dos lugares em que se constroem e reconstroem

indefinidamente os sujeitos e o social” (VION, 1992 apud RIO, 2010), analisar a interação

face a face pressupõe observar a língua em seu funcionamento:

(...) observar como os interactantes constroem sentidos com ela,

como se engajam nas atividades de linguagem, qual o contexto mais

imediato de uso da língua e qual a relação desses usos com as

condições mais gerais de produção (visão de mundo, práticas

culturais e sociais). Ou seja, é preciso atentar-se para os falantes da

interação constituídos de papéis ativos na elaboração da mensagem

e para o contexto em que a interação ocorre (RIO, 2010).

Para a análise dessa situação comunicativa, portanto, tivemos de considerar alguns

aspectos muito relevantes, que segundo Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002),

fazem parte da situação social engendrada na comunicação face a face.

O primeiro aspecto importante dessa situação comunicativa é o fato de que ela parece ser

previamente roteirizada e, ao contrário das outras situações comunicativas, apresenta cortes

de edição. Em outras palavras, temos acesso a um material já editado.

Um outro aspecto importante de se levar em consideração é o fato de que os participantes

da interação se conhecem e são, além de colegas de trabalho, amigos. Porém, como estão

em uma situação em que devem seguir um roteiro de temas e estes temas dizem respeito ao

seu trabalho, o rap, temos a hipótese de que estão incorporadas a esse contexto as formas

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de participação que ocorrem nas interações de trabalho desses interactantes, ou seja, está

em jogo uma relação de colegas de trabalho mais do que amizade. Acreditamos também

que o conhecimento prévio entre os interactantes favorece a ocorrência de traços de

informalidade e de um certo controle social da produção de linguagem do outro. Em

relação a esse último aspecto, nossa hipótese é a de que haveria estranhamento e certa

repressão caso alguém usasse um estilo que não fosse o do grupo.

Apesar da predominância de uma relação simétrica entre os participantes da interação, o

fato de o encontro ter sido previamente roteirizado - com a definição de um tema a ser

discutido pelos participantes -, de estar sendo filmado e de estar sendo diretamente

“observado” por um participante ratificado (a jornalista) configuram essa interação como

um tipo de “encontro de trabalho”, no interior do qual os participantes reproduzirão o

sistema de disposições para agir (BOURDIEU, 1983) que caracteriza, em nossa opinião,

uma parte de seu cotidiano profissional. Nossa hipótese ganha força quando analisamos o

discurso inicial existente entre os interactantes antes que comecem a falar sobre o tema

previamente definido, a saber, o rap. No caso, percebemos que eles compartilham

conhecimentos e conversam informalmente sobre futebol:

Exemplo 2

AR eu só conheço três santista... é ele e os outro os outro amigo dele só

VA 1[((risos))]

MY 1[é ele a Sophia e o Pelé]

AR ((rindo)) e o Pelé

MB ô meu (vo)cê é são paulino tricampeão do mundo e os cara (es)tá

falan(d)o um montão 2[e (v)ocê o::...

3[pelo amor de Deus]]

AL 2[((risos))]

AR 3[três títulos]...três títulos

MB 4[

eu sô(u) santista eu posso falá(r)] mais você mano] 5[para]

MY 5[(num dá mano)]

AL 6[i::]

MB 6[ai se o Santos] fosse

7[trimundial ia agüentá(r) esses cara falá(r)]

MY 7[não mais os cara]...os cara num suporta não ((corte de edição)) nóis

jogamo(s) c’o Real Madrid...(vo)cê 8[já jogô(u)?]

AL 8[(vo)cê já jogô(u)?]

VA 9[((conversas pararelas))]

AL 9[aonde (vo)cê já jogô(u)? que estádio?]

VA ((conversas pararelas))

MB vamos à realidade vamos à realidade

VA ((risadas))

AL 10

[quantas libertadores?]

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MB 10

[vamo(s) pará(r) de loucura] vamo(s) pará(r) de loucura vamos à

realidade

VA 11

[((conversas paralelas))]

MY 11

[o Santos já jogô(u) c’o Real Madrid? o Santos]

AL 12

[o Brown]

MB 12

[já jogô(u) já]

AL 13

[aonde?]

MY 13

[quando?]

MB há faiz tempo

AL 14

[a final do Mundial...o primeiro foi c’o Real Madrid]

VA 14

[((conversas paralelas))]

AL que dia?

MB vô(u) te falá(r) uma fita vamo(s) discutí(r) futebol não que esse

campeonato que (v)ocês ganharam aí tio((faz sinal de não com a cabeça))

MY o que é que foi?

AL o que é que foi?

MB ó ((faz algum sinal com a mão que a câmera não consegue pegar))

AL (vo)cês nem comemoraram

MB 15

[ó horrível]

VA 15

[((conversas paralelas))]

AL horrível?

MB 16

[horrível...ô Arnaldo vô(u) te falá(r) um barato]

MY 16

[(inint.)dinheiro pra comprá(r) nóis comprô(u) o campeonato]

MB o Santos é um time que faiz eu sofrê(r) mais eu nuca fui

campeão perdendo jogo não mano igual (vo)cês perdeu aí e 17

[foi

campeão...pa Goiás?]

AL 17

[ah não mais daí o importante é a vantagem dos pontos]

MB 18

[perdê(r) pa Goiás?]

VA 18

[((conversas paralelas))]

Nesse início de conversa, observa-se que ainda não haviam começado a conversar

sobre o tema roteirizado que vai fazer parte da seção extra do DVD. Dessa forma, podemos

observar que há muitas sobreposições, conversas paralelas e até mesmo exaltação que pode

ser percebida com o aumento do volume da voz.

Segundo Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002), quando conhecidos se

encontram para tratar de assuntos profissionais, no início bem como no final, pode haver

uma conversa informal na qual se evocará assuntos ligados à relação global dos envolvidos,

que na situação analisada, é o futebol:

Na nossa sociedade, toda vez que dois conhecidos se encontram para

tratar de negócios, de assuntos profissionais ou de serviços, pode

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haver tanto no início como no fim da transação, uma conversa

“informal”, ou um papo- uma versão em miniatura do “pré-jogo” e

do “pós-jogo” que delimitam acontecimentos sociais maiores. Essa

conversa informal provavelmente evocará assuntos ligados à relação

global dos envolvidos e ao que cada um considera duradouro e

importante para o outro (saúde, família, etc.) (GOFFMAN apud

RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 110).

Ainda em relação ao contexto, achamos importante ter informações sobre cada um

dos participantes. Fizemos, então, uma pesquisa para conhecermos as relações entre eles no

contexto mais geral para entendermos as relações estabelecidas nessa situação mais

específica.

Sobre o participante Ferréz, em seu site temos acesso a sua biografia:

“Paulistano de 32 anos, Ferréz começou a escrever aos 12 anos de idade,

acumulando contos, versos, poesias e letras de música. Antes de se dedicar exclusivamente

à escrita, trabalhou como balconista, auxiliar - geral e arquivista. Seu primeiro livro

Fortaleza da Desilusão foi lançado em 1997 (edição do autor).

Mas foi com Capão Pecado, que se firmou como um dos melhores escritores da sua

geração.

Apelidado pelos leitores como “o romancista da traição” depois de ter lançado o romance

Manual Prático do ódio, o infantil Amanhecer Esmeralda e o livro de contos, Ninguém é

inocente em São Paulo - todos pela Objetiva, o autor teve suas obras traduzidas na Itália,

Alemanha, Portugal, Espanha e Estados Unidos.

É ligado ao movimento Hip Hop e fundador da 1DASUL (marca de roupa totalmente feita

no bairro).

No cinema e TV, além de ter o conto Os inimigos não levam flores, adaptado para a TV e

pros quadrinhos, já escreveu roteiros para o filme Brother e os seriados Cidade dos

Homens (02) e 9MM (Fox).

Ferréz atua como colunista da revista Caros Amigos desde 2000 e é conselheiro editorial

do Le mond Diplomatic Brasil.

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Compositor e cantor, já teve suas músicas gravadas por vários artistas e lançou dois CDs.

Em 2009 Ferréz produziu o documentário Literatura e Resistência, de 58 minutos, que

mostra os seus 11 anos de carreira. O documentário saiu em dvd pelo Selo Povo.

Em sua prosa ágil e seca, composta com doses igualmente fortes de revolta, perplexidade e

esperança, Ferréz reivindica voz própria e dignidade para os habitantes das periferias das

grandes cidades brasileiras.

Vive no bairro de Capão Redondo em São Paulo, com esposa e filha.” (FONTE:

HYPERLINK

"http://www.ferrez.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=5

4"

http://www.ferrez.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=54

acessado em 10/04/11)

Sobre os integrantes do grupo de rap “Negredo” que também participam dessa

terceira situação comunicativa, encontramos em seu site oficial o seguinte texto sobre sua

trajetória:

“Surgiu de um dos berços do RAP em São Paulo, o Capão Redondo; de lá surgiram

nomes como Racionais mc’s, Ferréz, entre outros. NEGREDO significa respeito ao negro,

e foi por isso que os irmãos Mc Tó, Nego Dú e Mc Ylsão, após conhecerem uma poesia

com o mesmo nome, rebatizaram o grupo, que antes se chamava Realismo Frontal. Hoje o

Grupo é formado por: Mc Tó, Ylsão, Dj Alê e Arnaldo. NEGREDO lançou o primeiro disco

chamado “Mundo Real” e o “DVD 100% favela”, no ano de 2006. Agora o grupo está

prestes a lançar o segundo ábum, intitulado de “A Cupula Negredo”, que terá

participações de: Dun-dun (Facçao Central), Mauricio dts (Detentos do rap), Rdg ,

Luciana , Edga Vida, Ferréz e Selma Tristão. A produção músical ficou por conta do

próprio NEGREDO.” (FONTE: HYPERLINK

"http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/novo-disco-do-grupo-negredo/"

http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/novo-disco-do-grupo-negredo/

acessado em 10/04/11)

Podemos perceber que os integrantes do grupo Negredo e Ferréz participam de projetos

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profissionais, como o CD. No site do grupo Negredo, há ainda informações sobre o projeto

Periferia Ativa que recebe apoio de Mano Brown e Ferréz:

“ONG fundada por um grupo de rappers negredo da comunidade. Seus principais projetos

são a Bibioteca Êxodus e espaço Nego Du Área, que além de oferecer acesso à literatura

para a comunidade, realizam oficinas culturais de interesse da comunidade local, como

samba-rock, grafite, DJ, MCS, TOY ARTE, CONTABILIDADE, TEATRO, LITERATURA,

para cerca de 100 crianças do bairro. A Periferia Ativa também organiza a Festa de

Aniversário da Favela Godói, cuja produção mobiliza anualmente muitos moradores,

comerciantes locais e grupos musicais. O RUKHA apoiou a reforma da Biblioteca Êxodus

e atualmente colabora no desenvolvimento institucional da organização e na captação de

recursos. Também tem apoio de Mano Brown, Racionais mcs, e do escritor de rap Ferréz.”

(FONTE: HYPERLINK "http://gruponegredo.blogspot.com/"

http://gruponegredo.blogspot.com acessado em 10/04/11)

Ainda sobre as relações profissionais, encontramos informações e vídeos sobre a produção

do álbum “A Cúpula” do grupo Negredo que teve participação de Mano Brown e Ferréz:

“O grupo Negredo representa a nova geração do rap paulista e nasceu no Capão

Redondo, quebrada que revelou talentos como o Racionais MCs, Ferréz, entre outros. O

quarteto lançou recentemente seu novo trabalho chamado “A Cúpula”, gravado no estúdio

1daSul. O álbum conta com produção de DJ Ale, DJ Dri, DJ Cia, Mano Brown e com

participações de Dum Dum do Facção Central, Ferréz, Maucírio DTS, Edgar Vida Loka,

Big e J.R. do RDG e backing vocals de Luciana e Selma Tristão” (FONTE: HYPERLINK

"http://gruponegredo.blogspot.com/2011/02/site-wwwdoladodecacombr-publica-

materia.html" http://gruponegredo.blogspot.com/2011/02/site-wwwdoladodecacombr-

publica-materia.html acessado em 10/04/11)

Todas essas informações nos revelam as relações profissionais, mas também de

amizade entre os interactantes da terceira situação comunicativa, que além de protagonistas

de movimento social, são artistas e moradores da periferia de São Paulo.

4.2 O formato híbrido da terceira situação comunicativa

Em relação ao gênero discursivo, no projeto inicial dessa pesquisa consideramos

que a terceira situação comunicativa tratava-se de um debate. Baseamos nossa constatação

na definição de Schneuwly e Dolz (2004, p. 84):

(...) o objeto de um debate é sempre uma questão social controversa

para a qual soluções diversas são previstas; o debate pode, então,

ser concebido, idealmente, como um instrumento de construção

coletiva de uma solução (Klein, 1980); tendo posições diferentes em

relação à questão colocada, porém não necessariamente

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contraditórias, cada participante do debate pressupõe nos outros –

participantes ou ouvintes –a faculdade da razão e a vontade de

encontrar, através do raciocínio, uma solução coletivamente

aceitável para a questão; (...); o debate aparece, assim, como a

construção conjunta de uma resposta complexa à questão, como

instrumento de reflexão que permite a cada debatedor (e a cada

ouvinte), precisar e modificar sua posição inicial; essa modificação é

realizada, essencialmente, pela escuta, pela consideração e pela

integração do discurso do outro (...).

Nossa escolha por compreender essa interação como um debate foi feita em função

da consideração de alguns fatores, tais como a presença de recursos argumentativos (de

concordância ou discordância entre os participantes) e de conteúdos que visam à formação

de opinião.

Porém, ao longo dessa primeira fase de leituras e reflexões, percebemos que há também um

grande espaço na interação voltado à exposição de fatos da realidade. Além disso, chamou

nossa atenção o fato de os interactantes abordarem um tema principal como se isto tivesse

sido definido previamente.

Fomos percebendo que a forma como os tópicos eram introduzidos parecia revelar uma

agenda semiestruturada, aproximando assim essa interação do gênero entrevista

sociolinguística. Segundo Schiffrin (1994), a entrevista sociolinguística se parece muito

com uma entrevista “referencial”, como afirma a autora:

Sociolinguistic interviews have some features typical of an interview.

One important feature is their ENDS: since one person (a

Sociolinguistic, S) seeks to gain specific information from another (a

respondent, R), the structure of activities and the expectations for

behavior revolve, at least partially, around a desire to resolve

asymmetrical distribution of information. (SCHIFFRIN, 1994, p.

160)

As diferenças, segundo a autora, consistem no fato de que a entrevista

sociolinguística tem um objetivo não apenas referencial:

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The information sought in a sociolinguistic interview, for example, is

information that is interesting to sociolinguistic theory, practice, and

application, e.g. information about phonological, grammatical or

discourse patterns, language and social attitudes, and ways of life in

community. (SCHIFFRIN, 1994, p. 161)

Concluímos, portanto, que a função dessa interação é principalmente revelar, de

forma didática, as visões daqueles protagonistas de movimento social sobre determinados

fatos da realidade de sua comunidade, apresentando assim um caráter expositivo, o que

aproxima a interação de uma entrevista sociolinguística.

A exposição didática dos fatos da realidade e das opiniões dos protagonistas de

movimento social é um dos objetivos dos produtores do DVD. Observamos a aproximação

dessa interação com uma entrevista sociolinguística porque:

a) ela apresenta alguns objetivos de caráter sociolinguístico, como o de fazer o o

outro falar da vida na comunidade;

b) ela se organiza por meio de uma roteirização prévia que é obedecida pelos interactantes;

c) nela procura-se diminuir a “assimétrica distribuição de informação” (SCHIFFRIN,

1994), no caso, entre aqueles que vão assistir à entrevista no DVD 100% Favela e os

protagonistas de movimento social que participam dela.

Do ponto de vista metodológico, a forma de conduzir a interação é interessante porque

parece que a proposição prévia de um tópico sem que ela seja enunciada ao longo da

interação faz com que o entrevistado se engaje na discussão e, assim, se preocupe mais com

o que diz do que como diz.

Consequentemente, pode-se considerar que em função desse engajamento, os dados de fala

dessa interação apresentam um grau mais baixo de monitoramento, tal como acontece no

contexto dos estudos labovianos sobre a narrativa de experiência pessoal (LABOV E

WALETZKY, 1967). Neste sentido, podemos dizer que o paradoxo do observador

(LABOV, 1972) fica minimizado.

Voltando à questão do formato híbrido da interação, optamos por categorizá-la como um

encontro social (GOFFMAN, 1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 19), sem a

preocupação com a sua nomeação como um gênero específico.

A nosso ver, a existência desse hibridismo entre o gênero entrevista e o gênero debate

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também pode ser percebida em decorrência do duplo papel que Mano Brown parece

desempenhar. Primeiramente, observamos que no momento que antecede o encontro social

propriamente dito, temos um enunciado de Mano Brown que se repete por muitas vezes:

“vamos à realidade”. Esse enunciado visa à interrupção do tópico que vinha sendo tratado,

o futebol, para que se comece a falar sobre aquilo que “deveriam” falar: a realidade, ou

seja, os temas do roteiro. Nesse primeiro momento, já se pode observar Mano Brown como

que desempenhando o papel de mediador de uma:

A mediação da interação por meio de perguntas ou anúncios de mudança de tópico é

claramente desempenhada por Mano Brown, como os exemplos a seguir revelam.

Exemplo 3

MB ((corte de edição, em outro lugar da casa)) a verdade meu o que acontece

é o seguinte não dizen(d)o que eu saiba mais eu (es)tô(u) dizen(d)o

assim...quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a realidade

cantá(r) A REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma periferia?

((olha para os interlocutores, esperando resposta))

Em seguida, o rapper volta a fazer perguntas, mas com o objetivo de conseguir a

adesão dos participantes ao que ele enuncia.

Exemplo 4

MB o rap num é a música da realidade? num veio do/num foi a:: a COluna

que:: segurô(u) toda essa estrutura de rap de todo mundo aqui? seus livro

minhas música o documentário a realidade.. que que a realidade é dentro

(da) periferia?...pobreza ((começa a contar nos dedos))...certo meu?

trabalhadô(r) 20

[tam(b)ém ladrão] tam(b)ém ((ainda contando nos dedos))

Nesse caso, Mano Brown parece exercer o papel de mediador do debate, já que

conduz a argumentação através de perguntas retóricas que revelam a opinião não só dele,

mas de todo os outros protagonistas de movimento social presentes.

Em outros momentos da interação, Mano Brown volta a fazer perguntas para que um novo

tópico seja instaurado:

Exemplo 5

MB que tipo de pergunta hoje que poderia::...quebrá(r) as perna d’ um grupo

de rap ...hoje?

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Em outros momentos, percebe-se que Mano Brown discorda dos outros

participantes, revelando que é, ao mesmo tempo, um moderador e também um dos

participantes dessa discussão, ou seja, que é um dos debatedores do tema:

Exemplo 6

FE 43

[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio

movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê

elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se

(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um

negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te

mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)

tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então

MB eu acho que isso aí é em qualquer lugar 44

[o Ferréz]

FE 44

[é qualquer lugar]

MB 45

[qualquer pessoa]

. Nesse momento, Ferréz está falando sobre a questão da vaidade e

exemplifica apenas com as posturas que ele encontrou nos rappers. Já Mano Brown

discorda da exemplificação “limitadora” e opina que a questão sobre a qual falam, a

vaidade, pode acontecer em qualquer lugar e não apenas na periferia, com qualquer pessoa,

e não apenas com os rappers.

No entanto, é interessante perceber que na situação comunicativa “discurso

de agradecimento”, Mano Brown apresenta quase a mesma percepção e reflexão sobre a

questão da vaidade, inclusive exemplificando com experiências dele vividas na periferia.

Acreditamos que essa exemplificação dada por meio da descrição de cenas do cotidiano da

favela é uma forma de, naquela situação, incitar em seus interlocutores uma consciência

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crítica (cf. BENTES, 2009b).

Já nesse encontro social, o objetivo de Mano Brown, em decorrência da

mudança de audiência, parece se revelar outro. O rapper parece querer incitar na audiência

(a sociedade em geral) a ampliação do horizonte de visão e reflexão sobre a sua

comunidade.

Observa-se nesse como em muitos outros momentos da interação a concordância

dos outros participantes com a opinião de Mano Brown. Há outros momentos em que se

percebe novamente a contrariedade de Mano Brown quanto à limitação da exemplificação

dos outros interactantes, como se pode ver no exemplo abaixo:

Exemplo 7

FE a MTV tratô(u) o rap assim porque o rap num:: também num se impôs

mano... (es)tá ligado?...quando o KLJay (es)tava lá era outra pegada...

agora o rap tinha que continuá(r) se impon(d)o...num se impôs... aí o que

acontece?... você mandô(u) e-mail pra MTV?... mandô(u) carta?...

ligô(u)?... não? ...alguém aqui ligô(u)? tam(b)ém não num tem pressão

pro baguio agora liga cem mil pessoa lá o cara nossa se eu não pô(r) um

clipe nacional no outro dia... a audiência vai me matá(r) ....entendeu?

agora deixa de passá(r) PItty no horário da MTV nobre...pa vê(r) se os

boy tudo já num liga passa e-mail já se envolve entendeu?...agora o cara

liga na cento e cinco pa falá(r) de jogo mano

MB (vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do::

do:: universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os

outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado

n’um mundinho tam(b)ém... pega música de Zélia Duncan (es)tá

falan(d)o daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada

dela ou namorado... pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no

mundo dele tam(b)ém...de intelectual 66

[inteligente]

Nesse caso novamente Mano Brown procura ampliar o foco da crítica a não limitá-la ao

universo do rap e de forma que a tratar do problema da alienação não como exclusivo do

público desse estilo musical.

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Quando há enunciados dos outros participantes em que um novo tópico se instaura,

percebe-se que Mano Brown, assim como um mediador de entrevista faria, apenas ouve

aquilo que o outro diz:

Exemplo 8

MY ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi

vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma

música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num

vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha

ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara

ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê

qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo

eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta

(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que

tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só

que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda

é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo

assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis

lançamo(s) o CD...mais a hora que 26

[nóis dé(r) o pé]

FE 26

[é chamá(r) o mundo] do crime pra dá(r) o nome

MY já era..27

[por que os cara mano têm outra visão totalmente... os cara é

o crime é o seguinte]

FE 27

[inint.]

MY o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo

deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá 28

[mais do que eu”-]

FE 28

[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29

[(na

verdade)]

MY 29

[tem que (tê(r)] o do crime

MB mais (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma

corrida e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a

virá(r) uma elite

Nesse exemplo do começo da interação, MC Ylsão instaura um novo tópico, a

dominação da periferia (e também da produção dos artistas da periferia, especialmente, de

rap) pelos bandidos, sendo que Mano Brown só retoma o turno para introduzir outro tópico.

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Todos esses exemplos mostram, a nosso ver, claramente o papel que Mano Brown

assume nesse encontro social: o papel de mediador, tanto no caso dos momentos mais

expositivos, como nos momentos de debate. Ele, assim como qualquer outro mediador de

entrevista:

faz as perguntas ou introduz um tópico, de acordo com o roteiro;

ouve aquilo que os outros participantes têm a dizer

sobre o que ele propôs que se falasse;

argumenta de forma didática por meio de perguntas

retóricas;

discorda dos participantes, fazendo com que estes

revejam a sua posição e construam uma nova

argumentação.

Outra questão que achamos importante ressaltar metodologicamente é que a terceira

situação comunicativa, assim como as outras duas anteriores, não se constitui em uma

forma de agir radicalmente distinta daquelas como estes sujeitos agem em interações que

ocorrem no dia a dia, ainda mais considerando que estes participantes são protagonistas de

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movimento social e que têm uma vida pública.

Sendo assim, pode-se finalmente afirmar que esse encontro social reflete a dinâmica de

uma entrevista com mais de dois participantes. Segundo Milroy e Gordon (2003 apud RIO,

2010), isso facilita a produção de fala casual à medida que “cria-se uma conversa de mais

de duas vias, o que elimina inconvenientes de dois estranhos, frente a frente, com papéis

assimétricos (entrevistador-entrevistado) terem que conversar/interagir”. Essa dinâmica de

estudar grupo em vez de indivíduos foi desenvolvida por Labov em suas pesquisas no

Harlem e, segundo Milroy e Gordon (2003 apud RIO, 2010) foram nessas entrevistas em

grupo que Labov conseguiu os dados mais ricos.

Sobre a entrevista, Milroy e Gordon (2003 apud RIO, 2010) postulam que nesse gênero,

assim como em uma interação entre iguais, as regras de tomada de turno não são

igualmente distribuídas, pois sempre há o entrevistador que é responsável por controlar o

discurso e o entrevistado, que implicitamente ao aceitar ser entrevistado, concorda em

responder cooperativamente às perguntas.

Em função desta característica, pode-se dizer que na entrevista em grupo essa

função do mediador de distribuir os turnos não deixa de existir, mas ela se encontra

“ralentada”, “diluída”, e acontece por meio de um conjunto de recursos outros, tais como os

que vimos acima.

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4.3 A organização tópica da terceira situação comunicativa

Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a terceira situação

comunicativa apresenta, a nosso ver, o supertópico Rap brasileiro e três quadros tópicos

co-constituintes: (1) Principal tema: realidade da periferia; (2) Visão da sociedade

sobre os grupos de rap e (3) Visão dos rappers sobre o rap brasileiro. Essa delimitação

foi possível graças às etapas já citadas anteriormente: segmentação do texto em suas

menores porções (segmentos tópicos), identificáveis fundamentalmente pelo princípio de

centração e agrupamento desses segmentos tópicos, conforme o grau de associação entre

eles e o enquadramento sucessivo dos grupos em níveis mais elevados (quadros tópicos)

conforme o princípio de organicidade.

A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus

segmentos tópicos co-constituintes.

O quadro tópico (1) envolve um subtópico: Crime/violência, trabalhador, ladrão,

pobreza e playboy de favela.

O quadro tópico (2) envolve dois subtópicos: Grupo de rap como elite e Grupo de

rap como partido político.

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O quadro tópico (3) envolve quatro subtópicos: Qualidades; Defeitos; Rap na

mídia e Futuro do rap.

No gráfico a seguir, o supertópico aparece no topo de uma grande configuração

piramidal, a qual compreende basicamente dois níveis inferiores e, excepcionalmente, um

terceiro, visto que há subtópicos que podem ser desdobrados em menores, levando-se em

conta o detalhamento do assunto. Isso ocorre com os subtópicos: Grupo de rap como elite

que se subdivide em Ser elite x viver como elite; Grupo de rap como partido político

que se subdivide em Obrigação de dar por ter ganhado dinheiro e Não reconhecimento

do trabalho; Qualidades que se subdivide em Não submissão dos rap ao crime, União

pelo rap e Exemplo de vida para os moradores da periferia; Defeitos que se subdivide

em Aceitação ou não de crítica, Espelhamento no rap americano, Alienação e Pobreza

do rap; Rap na mídia que se subdivide em Presença na mídia do rap limpo (D2) e do rap

americano, Não mobilização da comunidade pelo rap, Não ida do Racionais na mídia e

Conflito entre os rappers e a mídia; e Futuro do rap que se subdivide em Necessidade de

profissionalização e Necessidade de se fazer respeitar como rapper.

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SHAPE \* MERGEFORMAT

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1 Crime/ violência, trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela

violência, trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela

trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela

ladrão, pobreza, playboy de favela

playboy de favela

1 Crime/

violência,

trabalhador,

ladrão, pobreza,

playboy de favela

Linhas 53-93

2 Não submissão

do rap ao crime

Linhas 94-118

3 Ser elite x viver

como

elite Linhas

119-143

4 Obrigação de

dar por ter

ganhado

dinheiro Linhas

144-151

5 Não

reconhecimento

do trabalho

Linhas 152-

174

6 União pelo

rap Linhas 177-

204

7 Aceitação ou

não de

crítica Linhas

206-250

8 Espelhamento

no rap americano

Linhas 251-286

9 Presença na

mídia do rap

limpo (D2) e do

rap

americano Linh

as 287-314

10 Não

mobilização da

comunidade pelo

rap Linhas 315-

325

11

Alienação Linh

as 326-344

12 Não ida do

Racionais na

mídia Linhas

345-358

13 Conflito entre

os rappers e a

mídia Linhas

359-402

14 Exemplo de

vida para os

moradores da

periferia Linhas

402-424

15 Necessidade

de

profissionalizaçã

o Linhas 425-

430

16 Pobreza do rap

Linhas 430-440

17 Necessidade de

profissionalização Linhas

440-450

18 Necessidade de se fazer

respeitar como rapper

Linhas 451-469

Gráfico 7: Organização tópica linear da terceira situação comunicativa

A partir do sétimo gráfico, podemos afirmar que a descontinuidade na organização

tópica dessa situação comunicativa se caracteriza em sua grande maioria pela inserção de

outro subtópico, porém, constituinte de um mesmo quadro tópico, ou seja, quando se inicia

um quadro tópico, há a tendência de mantê-lo por um certo período, apenas há mudanças de

subtópicos que pertencem ao mesmo quadro tópico.

Ainda em relação às mudanças de tópico, podemos observar que a maioria são

linguisticamente marcadas. Na introdução do primeiro quadro tópico, por exemplo, Mano

Brown faz uma pergunta:

Exemplo 9

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MB quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a realidade cantá(r) A

REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma periferia? ((olha para os

interlocutores, esperando resposta))

Segundo Maynard (1980 apud JUBRAN et al. 2002, p. 350), é comum que: “a

mudança de tópico seja realizada sob a forma de anúncios entre interlocutores conhecidos e

de convites, entre desconhecidos”. No nosso caso, as perguntas que são frequentes nessa

entrevista constituem uma maneira de anunciar a mudança de tópico e dos participantes

seguirem o roteiro. Como os interactantes são amigos e colegas de profissão, os “anúncios”

feitos não lhes são estranhos e parecem ser facilmente percebidos, já que eles parecem

“aceitar” a mudança de tópico quando aquele que exerce o papel de moderador, como já foi

exposto anteriormente, sugere um novo tópico.

O responsável pela primeira mudança de quadro tópico é o participante MC Ylsão:

Exemplo 10

MY ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi

vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma

música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num

vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha

ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara

ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê

qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo

eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta

(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que

tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só

que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda

é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo

assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis

lançamo(s) o CD...mais a hora que 26

[nóis dé(r) o pé]

Nesse caso, o quadro tópico Principal tema: realidade da periferia é esgotado

antes que outro quadro tópico seja inserido, ou seja, apenas depois que os rappers

terminam de falar sobre os temas abordados pelo rap, Mc Ylsãoo introduz o quadro tópico

Visão dos rappers sobre o rap brasileiro e o subtópico Qualidades. O rapper fala sobre a

pressão exercida para que a temática da criminalidade seja seguida, porém, afirma que

apesar do crime mandar na favela (“quem manda é o crime”), ele tem autonomia em

relação à composição do rap (“se eu achá(r) que tem uma música que tal que eu vô(u)

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falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito”).

Antes que o quadro tópico Visão dos rappers sobre o rap brasileiro seja encerrado, Mano

Brown introduz um novo quadro tópico, caracterizando assim uma descontinuidade:

Exemplo 11

MY o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo

deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá 28

[mais do que eu”-]

FE 28

[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29

[(na

verdade)]

MY 29

[tem que (tê(r)] o do crime

MB mais (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma corrida

e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a virá(r)

uma elite

O novo quadro tópico é Visão da sociedade sobre os grupos de rap. Porém, essa

descontinuidade não revela um corte de edição ou uma interrupção abrupta para que o

roteiro seja seguido: Mano Brown dá continuidade à questão da inveja por parte dos

bandidos (Não submissão do rapper ao crime), inserindo o subtópico Grupo de rap como

elite, já que esta é uma visão em que a questão da inveja também está envolvida (“o crime

qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo deles a hora que (vo)cê feiz

isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá 28

[mais do que eu”-] e “30

[Altas horas] e

falá(r)...-“ah esse escritor é da/um dia eu quero sê(r) mai num quero sê(r) que nem esse cara

aí não”-...os cara já bate um sujo só porque (vo)cê (es)tá lá”). Nesse caso, portanto,

podemos afirmar que há expansão do tópico, conforme postulam Jubran et al. (2002, p.

348): a expansão do tópico “pode também ocorrer como o desenvolvimento pleno de dados

colocados de passagem, anteriormente, na conversação, sem que esses dados tenham

constituído um segmento tópico específico”, ou seja, os subtópicos Grupo de rap como

elite e Grupo de rap como partido político representam uma expansão do segmento Não

submissão do rapper ao crime, a medida em que há detalhamento da inveja da sociedade

citada nesse segmento.

Em seguida, Mc Ylsão continua o quadro tópico com a mudança para o subtópico

Grupo de rap como partido político:

Exemplo 12

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MY o povão vê o o o:: grupo de rap como um partido político..que tem que

dá(r) isso que tem que dá(r) aquilo que tem que me ajudá(r)...e não é

assim às vezes (vo)cê num tem nem o que comê(r)... e os cara qué(r) (...)

Esse outro subtópico dá continuidade à visão da sociedade sobre os grupos

de rap e encerra o quadro tópico Visão da sociedade sobre os grupos de rap. Apenas

depois do encerramento desse quadro tópico, há o retorno para o quadro tópico Visão dos

rappers sobre o rap brasileiro:

Exemplo 13

FE a oportunidade não chega igual...o::a chance não chega igual a batalha

não é igual...o talento não é igual...então aí o o rap atraiu todo mundo...e

agora (es)tá tendo que falá(r)...(es)per’aí que não é assim

MB o rap qué(r) sê(r) uma exceção...o rap na/se você for pará(r) pra analisá(r)

a periferia é desunido...37

[certo?]

Nesse caso, Mano Brown faz um anúncio para um novo tópico sem que o mesmo

tenha alguma relação com o anterior. Como já afirmamos anteriormente, isso

provavelmente ocorre para que os tópicos da roteirização sejam contemplados.

A partir desse ponto da interação, há apenas um quadro tópico sendo abordado:

Visão dos rappers sobre o rap brasileiro. Há apenas, mudança de subtópico dentro desse

mesmo quadro tópico.

Em seguida, Ferréz introduz o novo subtópico:

Exemplo 14

FE 43

[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio

movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê

elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se

(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um

negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te

mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)

tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então

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Como um desdobramento do segmento tópico União pelo rap, Ferréz introduz o

subtópico Defeitos que se opõe ao anterior (Qualidades), mostrando assim as exceções da

união.

Em seguida, Ferréz continua com o subtópico Defeitos com o segmento

Espelhamento no rap americano:

Exemplo 15

FE 51

[pegô(u)] a marra né?]

Dando continuidade, Mc Ylsão introduz um novo subtópico:

Exemplo 16

MY 58

[mais sabe] num tem um programa de rap pu (vo)cê vê(r) na

Globo...(vo)cê vai vê(r) o que?....eu quero vê(r) o tal grupo lá 59

[num tem]

Nessa mudança de subtópico, parece haver corte de edição, pois os participantes

estavam falando sobre a diferença entre o grupo de rap americano e o brasileiro em

decorrência da falta do dinheiro por parte destes, quando Mc Yilsão introduz um novo

subtópico, que apesar de fazer parte do quadro tópico Visão dos rappers sobre o rap

brasileiro, refere-se à relação dos grupos de rap com a mídia (Rap na mídia), que se

mostra bem diferente do subtópico anterior (Defeitos). Durante a linearidade do subtópico

Rap na mídia, há apenas uma interrupção com o retorno do subtópico Defeitos:

Exemplo 17

MB (vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do:: do::

universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os

outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado

n’um mundinho tam(b)ém...pega música de Zélia Duncan (es)tá falan(d)o

daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada dela ou

namorado...pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no mundo

dele tam(b)ém...de intelectual 66

[inteligente]

Esse subtópico é retomado, pois Mano Brown discorda da limitação da

exemplificação dos outros participantes, como já foi abordado no item anterior. O rapper,

então, fala de um defeito dos grupos de música em geral: a Alienação. Em seguida, volta-

se ao subtópico Rap na mídia que é finalizado antes da inserção de outro subtópico.

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Ferréz para exemplificar os benefícios do rap para a periferia, cobrança feita por

parte da mídia para os grupo de rap (“72

[que (vo)cê faiz pela favela? que (vo)cê faiz pela

favela?] 73

[que (vo)cê faiz pela favela?]”), retoma o subtópico Qualidades com o segmento

tópico Exemplo de vida para os moradores da periferia:

Exemplo 18

FE 87

[você cutucô(u) então]...me diz o que é que (vo)cê faiz?...aí você não pá

pá pá pá muitas vezes as pessoas fazem bastante...porque...uma vez o

Chico me disse uma coisa...que ficô(u) guardada dentro de mim até hoje

mano..ele falô(u) assim...mano o que você faiz através d’um livro d’um

CD...é mais do que qualqué(r) projeto social mano...(es)tá ligado?...(vo)cê

dá orgulho no cara o cara trancado dentro do quarto dele a luz de vela

len(d)o (vo)cê dá orgulho no cara... o cara escutan(d)o sua música

mano...na rua trampan(d)o... de camelô...você dá orgulho nele ...você

injetô(u) um baguio nele que ninguém injeta...nem uma ong...nem

escola....nem nada ...então esse/essa esse trabalho já é muito mano

quantas vida foi mudada uma através da outra? (...)

Nesse caso, observamos novamente que a roteirização não atrapalhou a coerência da

conversação. Durante a interação, a coerência foi possível mesmo com a roteirização, pois

os tópicos foram expandidos, o que promove uma inter-relação entre eles. Nesse exemplo, a

expansão do tópico ocorreu para que a argumentação fosse desenvolvida por Ferréz.

Em seguida, insere-se um novo subtópico:

Exemplo 19

MB mas pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se:: moder...num

vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88

[ele::]

Mano Brown faz a marcação da mudança de tópico com a conjunção “mas”,

revelando que apesar do novo tópico se opor às Qualidades, ele se relaciona com o

anterior. O novo subtópico é Futuro do rap, que é desenvolvido com os segmentos:

Necessidade de profissionalização e Necessidade de se fazer respeitar como rapper:

Exemplo 20

MB mais pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se:: moder...num

vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88

[ele::]

AL 88

[evoluir né?)]

JO profissionalize 89

[(inint.)]

MB 89

[é::...o mais rápido possível] senão num vai sobrá(r) nada pra

ninguém entendeu?...porque as pessoa (es)tá reclaman(d)o muito da

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rUindade do rap

MY 90

[mais é verdade]

AL 90

[isso é verdade]

MB falta qualidade falta tudo...falta som falta luz falta letra falta batida falta:: 91

[idéia]

Nesse caso, percebemos uma descontinuidade em nível de subtópico: o segmento

tópico Necessidade de profissionalização não se esgota antes que o subtópico Defeitos

seja retomado com o segmento Pobreza do rap. Nesse exemplo, temos o fenômeno de

inserção ou alternância, ou seja, há cisão do segmento tópico Necessidade de

profissionalização, que se apresenta de forma não adjacente na linearidade discursiva, em

decorrência da intercalação de um segmento (Pobreza do rap) não pertencente ao

subtópico Futuro do rap. Depois dessa inserção, há a finalização da conversa com o

esgotamento do subtópico Futuro do rap com o segmento Necessidade de se fazer

respeitar como rapper.

5. Questões Metodológicas

5.1 A transcrição do corpus

Na nossa pesquisa anterior (MARIANO, 2010), financiada pela CNPQ/Pibic,

usamos o modelo de transcrição do Grupo COGITES (Cognição, Interação e Significação).

O corpus da presente pesquisa fará parte do corpus do Projeto “É Nóis na Fita: a formação

de um registro e a elaboração de registros no campo da cultura popular urbana paulista”,

sob a coordenação de minha orientadora, em que um dos objetivos específicos é construir

um corpus ampliado e vídeo-gravado de entrevistas, de situações de interação cotidianas e

de produtos midiáticos (programas de TV, de rádio, raps e gêneros literários) relacionados

aos sujeitos e ao universo social das periferias de São Paulo. Nosso grupo de pesquisa teve

discussões a respeito de qual seria o modelo mais adequado aos nossos interesses e

objetivos e decidimos pela adaptação dos modelos já existentes por contemplarem aspectos

que serão úteis para eventuais análises que os pesquisadores venham a fazer, utilizando o

banco de dados que será disponibilizado virtualmente. O modelo que utilizaremos é,

portanto, uma adaptação das convenções adotadas por outros grupos e projetos de análise

da fala, a saber: Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista), Grupo de

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Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação), Projeto NURC (Norma Urbana

Culta).

As principais dificuldades de transcrição já haviam sido encontradas quando fizemos o

exercício de treinamento de transcrever dois programas “Manos e Minas”, como será

exposto no próximo item. A primeira foi a de formatar o arquivo segundo o manual de

transcrição. Usamos a ferramenta de “Tab” ao invés de tabela para que futuros

pesquisadores que venham a utilizar o corpus tenham maior facilidade na formatação ao

copiarem as transcrições aos seus textos. Outras dificuldades recorrentes foram:

identificação dos trechos em que havia sobreposição de fala; reconhecimento de quando

havia de fato apagamento de um segmento, e quando este segmento fora pronunciado de

maneira menos perceptível e transcrição de recursos semióticos tais como gestos e

expressões.

5.2 Exercícios de Transcrição

Como já dissemos anteriormente, outra atividade realizada no primeiro semestre da

presente Iniciação Científica foi o exercício do modelo de transcrição adotado nesta

pesquisa.

O exercício de transcrição foi importante, já que todo o grupo o fez e pudemos a partir dele

identificar possíveis dificuldades e/ou dúvidas que foram discutidas e na medida do

possível resolvidas. Além disso, a atividade permitiu uma maior familiarização com seus

recursos e marcações para que as transcrições do nosso corpus fossem feitas com maior

facilidade.

Foram transcritos dois programas: um exibido em 02/05/09 e outro em 23/08/09, cada um

com duração de cerca de 45 minutos. A transcrição do programa de 23/08/09 encontra-se

no Anexo 2. Essas transcrições também serão incluídas no banco de dados do projeto de

Bentes (2009).

O modelo de transcrição adotado segue basicamente o modelo utilizado pelo grupo ALIP,

que prevê uma notação que engloba aspectos morfo-fonológicos, traços da interação e

comentários do transcritor, com o acréscimo de notações de outras semioses (gestualidade e

expressividade, por exemplo). O treinamento neste modelo exigiu um tempo maior do que

se esperava. Isso ocorreu tanto devido ao tempo que se levou com o entendimento do

modelo como o tempo gasto na identificação dos fenômenos ocorridos no corpus transcrito

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e a classificação dos mesmos segundo as convenções do manual.

Outras dificuldades encontradas estão relacionadas ao fato de que o que estava sendo

transcrito era fala ordinária. No caso da transcrição dos programas Manos e Minas, em

contexto midiático, que apresenta traços tais como: pausas, hesitações, correções,

sobreposições de fala etc.

Como programa midiático, havia muitas vezes música de fundo, barulhos provenientes da

plateia que dificultaram a audição e fizeram com que fossem necessárias repetições da

audição do mesmo trecho.

Outra dificuldade recorrente foi a de reconhecer quando houvera de fato apagamento de um

segmento, e quando este segmento fora pronunciado de maneira menos perceptível. Isso se

deu, sobretudo, na percepção da consoante “r” em final de verbos no infinitivo.

Por fim, devo levantar a dificuldade quanto à transcrição de recursos semióticos tais como

gestos e expressões, que a nosso ver são essenciais para compor o repertório de recursos

semióticos não-verbais concebidos como característicos do registro dos manos.

Todas essas dificuldades e algumas dúvidas que surgiram foram produtivas para que a

transcrição dos três textos orais do corpus da presente pesquisa fosse feita, dando-se mais

atenção a esses eventuais problemas.

6. Redimensionamento do Cronograma

A pesquisa como um todo, até o momento, não foi totalmente desenvolvida

conforme o cronograma. Em primeiro lugar em decorrência das transcrições cujo modelo

exigiu mais atenção e tempo, além de um treinamento, como foi exposto no item 2.2. Outro

desafio foi o começo da análise da terceira situação comunicativa que se apresentou

diferente em relação às duas primeiras, cuja análise e organização tópica foram mais

facilmente empreendidas. Foi necessária a leitura de mais alguns textos e melhor pesquisa

sobre a sua contextualização, a fim de não se negligenciar a situação social que Goffman

(apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002) aponta como um dos problemas dos estudos

sociolinguísticos em virtude da falta de atenção dada, ainda mais nas análises de interações

face a face, como no nosso caso:

(...) um estudioso interessado nas propriedades da fala pode se ver

obrigado a olhar para o cenário físico no qual o falante executa seus

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gestos simplesmente porque não se pode descrever completamente

um gesto sem fazer referência ao ambiente extracorpóreo no qual ele

ocorre. E alguém interessado nos correlatos linguísticos da estrutura

social pode acabar descobrindo que precisa se voltar para a ocasião

social toda vez que um indivíduo possuidor de certos atributos

sociais se fizer presente diante de outros. Ambos os estudiosos

precisam, portanto, olhar para o que chamamos vagamente de

situação social. E é isso que tem sido negligenciado. (GOFFMAN

apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 16)

A necessidade de maior pesquisa, das leituras e da preparação de resenhas fez com

que não tivéssemos tempo para a transcrição da quarta situação comunicativa. Porém,

acreditamos que a transcrição desta última deverá ser brevemente concluída pela

experiência já adquirida no primeiro período. Dessa forma, às análises e à redação do

relatório final será destinado um período maior, pois elas contribuirão muito para a escrita

de artigos a serem publicados.

O novo cronograma sugerido é, portanto, o que se segue:

Atividades Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

Transcri-

ção dos

dados

Análise dos dados

��������

Elaboração do Relatório Científico Final

��������

Na próxima fase do projeto, pretendemos, portanto, além da transcrição da quarta

situação comunicativa que prevemos ser realizada nos dois primeiros meses, concluir as

análises. Primeiramente, faremos a análise tópica da quarta situação comunicativa e em

seguida realizaremos uma análise comparativa dos tópicos entre todas as situações

comunicativas. Por fim, faremos a análise dos marcadores discursivos presentes no corpus.

Com as análises concluídas, elaboraremos o relatório científico final.

7. Publicações e Participações em Eventos

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Não houve nesse período produção científica, como publicação de artigos e

participação em eventos, visto que foi feito um esforço para que houvesse um maior

aprofundamento teórico e para que as transcrições fossem feitas a fim de que as análises

sejam empreendidas na segunda etapa e assim render uma melhor explanação sobre as

conclusões em artigos e eventos. Fizemos uma pesquisa de eventos que ocorrerão no

segundo semestre de 2011 e temos previsão de participar do SIICUSP (Seminário

Internacional de Iniciação Científica da USP), do Enel (XII Encontro Nacional dos

estudantes de Letras), do XIX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp e do

8º Sepeg (Seminários de Pesquisa da Graduação, Unicamp). Além da participação em

eventos, pretendemos submeter artigos a revistas da área. Pesquisamos também revistas que

aceitam publicações de graduandos e nossa pretensão é submeter artigos à revista Ao pé da

Letra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e à revista Caderno de Letras da

Universidade Federal Fluminense (UFF).

Apesar de não ter apresentado nenhum trabalho no primeiro período da pesquisa,

tive a oportunidade de realizar algumas atividades extracurriculares relacionadas à temática

da presente pesquisa. Participei como ouvinte do Encontro InterGTs da ANPOLL: “Das

Relações entre Texto, Gramática e Cognição” cujo mapeamento das inter-relações entre

texto, gramática e cognição, sob uma perspectiva sociocognitiva foi esclarecedor tanto

teórico como metodologicamente. Além disso, assisti a duas defesas de tese de doutorado:

“Da Silva & Silva, duas trajetórias políticas, duas personas: o emprego de dêixis de

primeira pessoa em discurso de palanque” de Sandra Batista da Costa e “Estilo e ethos

prévio em peças publicitárias da Coca-Cola Brasil: estratégias para seduzir o consumidor

verde” de Maria Angélica de Oliveira Penna e a uma dissertação de mestrado: “Gêneros

discursivos em foco: dos programas televisivos Manos e Minas e Altas Horas” de Lívia

Bertolazzi Granato. Todas elas foram muito úteis na minha formação seja em

Sociolinguística como em Linguística Textual, já que abrangeram temáticas importantes

nessas áreas, como a noção de persona, de dêixis, de estilo, de ethos, de gêneros

discursivos, de tópico, etc.

8. Sobre o Desempenho Acadêmico e Outras Atividades

Durante o segundo semestre de 2010, além das atividades realizadas para o presente

projeto, foram cursadas as disciplinas obrigatórias e eletivas para o 6º período da graduação

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(LA601: Ensino do Português Segunda Língua/ Língua Estrangeira, LA 602: Pesquisa de

Português Segunda Língua/ Língua Estrangeira, HL905: Investigação Científica II, HL234:

Práticas de Análise da Linguagem V, HL071: Estágio Supervisionado, LG026: Atividades

Científico-Culturais VI), além de algumas disciplinas extracurriculares (LA118: Italiano I,

HL175: Tópicos em Língua e Sociedade).

Como será possível observar no Histórico de Graduação encaminhado à FAPESP, houve

duas matérias (TL119: Textos em Teoria, Crítica e História Literária II e TL 242: Tópicos

em Pesquisa XXXIII: Temas e Questões de Literatura Brasileira II) cuja conclusão se

tornou inviável, devido à prioridade de dedicação a atividades mais relevantes para o

currículo de Letras. Porém, estas duas disciplinas são consideradas extracurriculares, pois já

cursei as disciplinas de Teoria Literária que fazem parte da grade do curso de Letras.

Por outro lado, todas as disciplinas obrigatórias e eletivas foram devidamente cursadas, e os

resultados obtidos foram plenamente satisfatórios, com todas as médias acima de 9,0. Com

isto, o 6º período foi concluído sem qualquer atraso para a formação prevista para

dezembro de 2011.

A Investigação Científica também está sendo realizada com o intuito de que se apresente

uma monografia ao final do seu desenvolvimento. A pesquisa desenvolvida também se

encontra na área de Sociolinguística e nela também trabalho com a questão do tópico

discursivo, porém, com o seguinte corpus: dois programas midiáticos, Manos e Minas,

produzidos pela TV Cultura. Também esta pesquisa está intimamente relacionada ao

projeto de pesquisa da orientadora Anna Christina Bentes, pois as resenhas e análises

realizadas para uma pesquisa são frequentemente relevantes para a outra.

Nesse semestre, estou cursando as disciplinas obrigatórias (HL906: Investigação Científica

II, LG027: Atividades Científico Culturais VII e EL774: Estágio Supervisionado) e

algumas disciplinas extracurriculares (HL090: Tópicos de Linguística I, LA218: Italiano II,

TL109: Introdução aos Estudos Literários, TL248: Tópicos em Literatura Brasileira:

Autores III). A disciplina Tópicos em Linguística I está contribuindo muito para a minha

formação na área de Sociolinguística, pois a professora Anna Christina Bentes, responsável

por essa disciplina, está fazendo uma introdução aos estudos, dando um panorama geral da

área através da leitura do livro Sociolinguística: uma introdução crítica, de Calvet (2007).

Depois da leitura teórica, iremos proceder à transcrição e análise de dados. Em relação à

Investigação Científica III, estamos realizando reuniões semanais em grupo que estão sendo

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muito úteis para discutirmos a análise de dados sob uma perspectiva sociolinguística. Para

isso, também estamos lendo alguns textos. Para a noção de enquadre, por exemplo, estamos

lendo e discutindo Tannen e Wallet (2002) e a tese de Goulart (2005).

9. Bibliografia

AZANHA, E.F.S. Gêneros televisivos na escola: a co-construção dos sentidos nas

interações de alunos do ensino médio. Campinas, 2008. Dissertação de Mestrado em

Lingüística. Orientador: Anna Christina Bentes. IEL, Unicamp.

BELL, A. “Back in style: reworking audience design”. In: Penelope Eckert and John

Rickford (eds.), Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University

Press, 2001, p. 139-169. Tradução livre: Antônio Pessotti; Christine da Silva Pinheiro;

Lúcia Ap. de Campos Scisci; Marjorie Mari Fanton.

BENTES, A.C. É nóis na fita : a formação de um registro e a elaboração de registros no

campo da cultura popular urbana paulista. Nº do processo: 2009/08369-8. Projeto de

pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa. Unicamp, Campinas, 2009.

______________ Tudo que é sólido desmancha no ar: sobre o problema do popular na

linguagem. Gragoatá (UFF), v. 27, 2009, p. 12-47.

BENTES, A.C.; RIO, V. “Razão e rima: reflexões em torno da organização tópica de um

rap paulista”. In Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006, p. 115-124.

BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

CALVET, L.J. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução: Marcos Marcolino. 3.

ed. São Paulo: Parábola Editorial. 2007.

DUNCAN, S. D., JR. Distribution of auditor back-channel behaviors in dyadic

conversation. Journal of Psycholinguistic Research, 1972.

GOFFMAN, E. “A situação negligenciada” in RIBEIRO, B. T., GARCEZ, P. M. (org.).

Sociolinguística Interacional. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap. 1, p. 13-20.

GOULART, C. As Práticas orais na escola: o seminário como objeto de ensino.

Dissertação de Mestrado. Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 2005.

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JUBRAN, C.C.A.S. et al. “Organização tópica da conversação”. In: ILARI, R. (org.).

Gramática do português falado, v. II. Campinas/SP: UNICAMP, São Paulo: FAPESP,

2002a, p. 341-377.

JUBRAN, C.C.A.S. “Revisitando a noção de tópico discursivo” in Caderno de Estudos

Linguísticos n.48, 2006, p. 33-41.

LABOV, W.. Sociolingusitic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press,

1972.

LABOV, W. & WALETZKY, J. Análise da narrativa: versões orais de experiência

pessoal. Tradução: Vandersi S. Castro. Texto original: In: JELM, J. (ed). Essays on the

verbal and visual arts. Seattle, Univ. of Washington Press, 1967, p. 12-44.

MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2ª ed. São

Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MARIANO, R.D. Análise dos fatores estilísticos envolvidos na produção da fala de um

rapper em diferentes situações comunicativas. Campinas, 2009. Iniciação Científica.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Anna

Christina Bentes. IEL, Unicamp.

MAYNARD, D. Placement of topic changes in conversation. Semiotica, 1980, 263-290.

MORATO, E. Sistema de notação desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Cognição,

Interação e Significação no interior do Relatório de pesquisa Competência e

metalinguagem no contexto de práticas interativas de afásicos e não afásicos, a partir dos

trabalhos de JEFFERSON. G. ( Is ‘no’ an acknowledgment token? Comparing American

and British uses of (+) / (-) tokens. Journal of Pragmatics, Amsterdam , v. 34, n. 10, p.

1345-1383,2002) e MONDADA, L. (L’analyse de corpus dans la perspective de la

linguistique interactionnelle: des analyses de cas singuliers aux analyses de collections. In.

Condamine, A. (ed). Sémantique et corpus, Paris : Hermes, 2004). FAPESP, 2007.

RIO, V.C. As dimensões contextuais das práticas de linguagem e os processos de

elaboração do conhecimento sobre gêneros midiáticos de jovens universitários brasileiros.

Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 2010.

SCHIFFRIN, D. Approaches to discourse. Oxford: Blackwell, 1994.

SCHNEUWLY, B.; DOLZ, D. “Os gêneros escolares - das práticas de linguagem aos

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objetos de ensino”. In Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização: Roxane

Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004, p. 71-91.

TANNEN. D. & WALLAT. C. “Enquadres interativos e esquemas de conhecimento em

interação: exemplos de um exame/consulta médica”. In: RIBEIRO, B.T & GARCEZ, P M.

Sociolinguística Interacional. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002. (Originalmente publicado em

Social Psychology Quarterly, nº 50, 1987).

ANEXO 1: Transcrição do corpus

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Situação Comunicativa Discurso Público no Prêmio Cooperifa em

Participantes Sérgio Vaz = SV

Participantes Falas dos participantes

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SV Mano...sem mais delongas...Mano Brown Racionais MC’s

PB 1[((palmas, gritos, assobios))]

SV 1[por favor]

PB ((palmas, gritos, assobios))]

MB ((Mano Brown recebe o prêmio de uma moça, cumprimenta a moça e o

Sérgio Vaz e depois começa a falar no microfone)) salve lo(u)cos

AL ((batendo palmas)) salve

MB 2[bom

3[é:::]

PB 2[((palmas))]

AL 3[salve lo(u)cos]... ((batendo palmas)) é isso aí

MB escu/é::...(es)per’aí...já vai já vai esquentá(r) ((faz estralo com os dedos))

PB 4[((risos))]

MB 4[eu (es)tava prestan(d)o atenção] é::... acho que a pior pobreza é quando

a gente (es)tá pobre de espírito eu num vou querê(r) falá(r) coisas bonita

porque aqui é covardia né?...só gente inteligente...

PB 5[((risos))]

MB 5[e eu (es)tava] ven(d)o que os inteligente são humildes né o/as

pessoas que vêm aqui elas falam as coisa com... humildade né humildade

é sabedoria...na verdade arrogância é burrice né e muitas vezes eu fui

burro... porque:: a burrice vem da re/neurose do ódio da revolta né você

passa na frente de uma favela te dá ódio dá raiva...dá raiva até da

favela...porque (porque) eles aceita isso aí?...por que nóis num vamo(s)

fazê(r) alguma coisa...junto?...mais é assim né meu a gente::/e a revolta

traz arrogância...então muitas vezes (vo)cê pode virá(r) a esquina e

tratá(r) um playboy com arrogância...entendeu?...um cara porque ele tem

os olhos verde ((olha para trás))...e:: não é a me(s)ma cor que a sua e você

acha que ele é rico (vo)cê vai tratar ele mal porque (vo)cê viu gente igual

você sofren(d)o...ISSO é burrice...eu já fiz isso...e eu vi gente

aqui...inteligente gente da maior/melhor qualidade né?...eu falei pô mais

os inteligente são humilde né mano?...e às vezes eu vejo um malandro

subin/em cima de um Nike de setecentos conto e é arrogante...por causa

de um NIke...por causa de uma marca de um carro d’uma moto d’uma

arma...e por outras...fita morô?...é::...o importante num é nem a a

humildade porque na verdade a gente nem nem somos/nós nem somos tão

humilde assim eu não sô(u) um cara humilde...eu sô(u) um cara... eu tento

ser verdadeiro tenho vários inimigo...falar o que qué(r) ouve o que não

qué(r) eu falo o que eu quero((dá um sorriso))...então as consequência

também são monstruosa (vo)cê entendeu?...e se eu (es)tô(u) vivo até hoje

é porque:: de alguma forma eu acho que tem um um Deus que olha por

mim...e:: me livra da das covardia(s) me(s)mo...e:: um dia como hoje... no

final do ano ganhá(r) um prêmio na minha quebrada certo meu? que eu

posso dizer que é minha quebrada aqui (es)tá no meu Chácara Zona Sul...

é importante...pra mim é uma honra... está(r) entre entre vocês a minha

falha é não está(r) sempre...porque mesmo porque eu tenho problemas

certo?...tenho inimigos...preciso ganhar dinheiro pa pagá(r) as dívida que

eu fiz depois que eu fiquei famoso ((dá um sorriso))

PB 6[((risos))]

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MB 6[porque isso é uma prisão acontece isso né?]... que saudade que eu

tenho quando eu... eu era só mais um me(s)mo andando no meio da

multidão desconhecido né infelizmente num dá pa sê(r) mais isso...mais

vamo(s) administrá(r) os probrema que:: aconteceram depois...e muito

obrigado a vocês continue...é::...inteligentes num vô(u) dizê(r) humildade

porque humildade é inteligência entendeu? inteligência é humildade...eu

acho isso...certo? eu vou tentá(r) sê(r) menos burro...daqui pa frente e::

((virando-se para falar com Sérgio Vaz)) eu sou o último a falá(r)?não?

SV (não)

MB não né ... eu sou quase um dos último então eu fui favorecido porque eu

vi todo mundo falá(r) e de todo mundo eu peguei um pouco...certo?...os

pensamentos o::s aonde todo mundo qué(r) chegá(r)...eu entendo (eu)

quero (es)tá(r) junto às vezes eu não estou junto mais eu preciso (es)tá(r)

junto não me abandonem

SV 7[((risos))]

MB 7[porque às vezes eu fico sozinho]...dentro do meu mundo

pequenininho pá de problemas individuais MEUS...não me

abandonem...me chama me liga((faz o sinal de telefone, dando um

sorriso))...por incrível que pareça eu (es)tô(u) facinho 8[(es)tô(u)...

firmeza? ((faz jóia com a mão))]

PB 8[((risos))]

MB 9[muito obrigado aí ((levanta o prêmio))]

PB 9[((palmas, gritos, assobios))]

MB ((recita, junto com o público, que marca com palmas, parte da letra

de um rap seu, Vida Loka Parte II))

Situação Comunicativa Depoimento para uma jornalista dentro

do carro

Participantes Mano Brown = MB

Participantes Falas dos participantes

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MB vô(u) fazê(r) o seguinte... põe essas revista...daqui ó...

nóis (es)tá de teto solar mano... o negócio (es)tá foda

JO ((risos))

MB ((começa a dirigir)) eu assisti um documentário d’um

d’um ladrão que fizeram em setenta e sete em São

Paulo...chamava...é::Wilson...Wilsinho...Wilsinho n’uma

favela daqui de São Paulo aqui em setenta e sEte...o

documentário mostrô(u) casa de detenção os cara dan(d)o

entrevista n’um dia de visita em setenta e sEte mano...aí

mostra a favela que ele morava e paus os cara falô(u) dos

carro que ele gostava de:: ele tinha catorze assassinato

(es)tá ligado?

JO 1[nossa]

MB 1[aí ele (es)tava] com a fama de sê(r) um ladrão frio

né meu? um cara frio aí as pessoa que conhecia ele falava

a versão dele a respeito dele né?...a versão a respeito dele

e tal...pô achei lo(u)co pa carai...mostrô(u) as favela

como é que era mostrô(u) as rua meu os camarada dele na

rua...dan(d)o entrevista os cara da detenção...INCRÍVEL

COMO LADRÃO NUM MUDA mano

JO ((ri))

MB é sempre foi a me(s)ma fita os cara é:::as me(s)ma(s)

ideia de sempre ô mano (vo)cê acredita que aquelas

mesma gíria de antigamente é as de hoje?...a:: pique::

como é que eles fala morô(u)?...num sei o que

morô(u)?...aí deu um desacerto aí na minha vida aí mais

(es)tá tudo 2[ce::rto]

JO 2[((ri))]

MB me(s)ma coisa me(s)ma coisa me(s)ma coisa...ele

virô(u) um mito na época (es)tá ligado? aí a polícia

matô(u) ele dentro de casa

JO hum

MB u mano as favela era diferente...era o(u)tro modelo de

favela...era mais espaçado né?...os telhado era de assim ó

((mostra com as mãos o formato))...é::...era de telha as

favela tam(b)ém num era de Eternit...sô:: eu presto muita

atenção nas:: na:: nos detalhe...arquitetura nas ro(u)pa das

pessoa...nas ideia nas palavra (es)tá ligado?...i o lo(u)co é

que na hora/tem uma hora que eles (es)tão é... fazen(d)o

uma::...reconstituição d’uma fita eles (es)tão no carro

(es)tão ouvin(d)o um som do caRAlho meu...os cara

(es)tá tipo ouvin(d)o um funkão meu

JO ham

MB eu falei pÔ::rra lo(u)co lo(u)co lo(u)co lo(u)co...eu já

sonhei eu preso várias vez tipo...já me imaginei várias

vez (vo)cê acredita?

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JO várias vezes?

MB morto nem tanto...não ((faz som de não))...morto não

Situação Comunicativa Discussão a respeito de rap

Participantes Mano Brown = MB

Participantes Falas dos participantes

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MB ((entrando na casa)) ((rindo)) (vo)cê (es)tava era bêbado mano

AR eu só conheço três santista... é ele e os outro os outro amigo dele só

VA 1[((risos))]

MY 1[é ele a Sophia e o Pelé]

AR ((rindo)) e o Pelé

MB ô meu (vo)cê é são paulino tricampeão do mundo e os cara (es)tá

falan(d)o um montão 2[e (v)ocê o::...

3[pelo amor de Deus]]

AL 2[((risos))]

AR 3[três títulos]...três títulos

MB 4[

eu sô(u) santista eu posso falá(r)] mais você mano] 5[para]

MY 5[(num dá mano)]

AL 6[i::]

MB 6[ai se o Santos] fosse

7[trimundial ia agüentá(r) esses cara falá(r)]

MY 7[não mais os cara]...os cara num suporta não ((corte de edição)) nóis

jogamo(s) c’o Real Madrid...(vo)cê 8[já jogô(u)?]

AL 8[(vo)cê já jogô(u)?]

VA 9[((conversas pararelas))]

AL 9[aonde (vo)cê já jogô(u)? que estádio?]

VA ((conversas pararelas))

MB vamos à realidade vamos à realidade

VA ((risadas))

AL 10

[quantas libertadores?]

MB 10

[vamo(s) pará(r) de loucura] vamo(s) pará(r) de loucura vamos à

realidade

VA 11

[((conversas paralelas))]

MY 11

[o Santos já jogô(u) c’o Real Madrid? o Santos]

AL 12

[o Brown]

MB 12

[já jogô(u) já]

AL 13

[aonde?]

MY 13

[quando?]

MB há faiz tempo

AL 14

[a final do Mundial...o primeiro foi c’o Real Madrid]

VA 14

[((conversas paralelas))]

AL que dia?

MB vô(u) te falá(r) uma fita vamo(s) discutí(r) futebol não que esse

campeonato que (v)ocês ganharam aí tio((faz sinal de não com a cabeça))

MY o que é que foi?

AL o que é que foi?

MB ó ((faz algum sinal com a mão que a câmera não consegue pegar))

AL (vo)cês nem comemoraram

MB 15

[ó horrível]

VA 15

[((conversas paralelas))]

AL horrível?

MB 16

[horrível...ô Arnaldo vô(u) te falá(r) um barato]

MY 16

[(inint.)dinheiro pra comprá(r) nóis comprô(u) o campeonato]

MB o Santos é um time que faiz eu sofrê(r) mais eu nuca fui

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campeão perdendo jogo não mano igual (vo)cês perdeu aí e 17

[foi

campeão...pa Goiás?]

AL 17

[ah não mais daí o importante é a vantagem dos pontos]

MB 18

[perdê(r) pa Goiás?]

VA 18

[((conversas paralelas))]

MB ((corte de edição, em outro lugar da casa)) a verdade meu o que

acontece é o seguinte não dizen(d)o que eu saiba mais eu (es)tô(u)

dizen(d)o assim...quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a

realidade cantá(r) A REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma

periferia? ((olha para os interlocutores, esperando resposta))

AL é o crime...a violência

MB 19

[certo?]

MY 19

[o crime] a violência

MB o rap num é a música da realidade? num veio do/num foi a:: a COluna

que:: segurô(u) toda essa estrutura de rap de todo mundo aqui? seus livro

minhas música o documentário a realidade.. que que a realidade é dentro

(da) periferia?...pobreza ((começa a contar nos dedos))...certo meu?

trabalhadô(r) 20

[tam(b)ém ladrão] tam(b)ém ((ainda contando nos dedos))

FE 20

[(trabalhador] também)

MB ((não está mais contando nos dedos)) cara tam(b)ém que é playboy e

mora na quebrada...playboy de favela que vive nas custa do pai...vários

FE tam(b)ém

MB (es)tá ligado? que enquanto ele tem um pão e um cafezinho com leite

de manhã pra ele (es)tá bom...21

[(es)tá bom mano]

MY 21

[ já (es)tá suave]

FE 22

[(es)tá bom]

MB 22

[o dia] que faltá(r) ele qué(r) metê(r) o revólver mas enquanto (es)tá

bom (es)tá bom

AL vão vive(n)do

MB então a gente tem que citá(r) a realidade...então quando o::...os rap

falan(d)o de crime começô(u) a fazê(r) sucesso então au-to-ma-

ticamente...todo movimento é assim...uma le23

[GIÃO...de pessoas]

FE 23

[se desdobrou]

MB passô(u) a seguir esse MÉtodo né?

AL 24

[uma vertente (inint.)]

MB 24

[de fazê(r) música]

FE é

MB falá(r) de...crime...num bastô(u) ao Diário do Deten25

[to]

FE 25

[é]

MB teve que tê(r) um grupo de dEntro da detenção...entendeu mano?

FE é é

MB (vo)cê entendeu? como as coisa uma coisa puxa a outra

FE puxa a outra né?...

TO e tudo que foi...assim:: cantado sobre crime estorô(u)

MY ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi

vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma

música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num

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vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha

ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara

ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê

qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo

eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta

(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que

tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só

que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda

é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo

assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis

lançamo(s) o CD...mais a hora que 26

[nóis dé(r) o pé]

FE 26

[é chamá(r) o mundo] do crime pra dá(r) o nome

MY já era..27

[por que os cara mano têm outra visão totalmente... os cara é

o crime é o seguinte]

FE 27

[inint.]

MY o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo

deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá 28

[mais do que eu”-]

FE 28

[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29

[(na

verdade)]

MY 29

[tem que (tê(r)] o do crime

MB mas (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma

corrida e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a

virá(r) uma elite

FE é verdade

MB da me(s)ma forma que o cara pode vê(r) o Brown e falá(r) –“o Brown

é o rap da elite...venceu...”-ou ele pode vê(r) o Ferréz dan(d)o entrevista

no....no...igual eu vi você no programa do do...

AL 30

[Jô Soares?]

MB 30

[Altas horas] e falá(r)...-“ah esse escritor é da/um dia eu quero sê(r)

mai num quero sê(r) que nem esse cara aí não”-...os cara já bate um sujo

só porque (vo)cê (es)tá lá

FE é

MY 31

[(inint.)]

MB 31

[isso]...tudo isso é uma elite (es)tá ligado?...a gente a gente

me(s)mo forma a elite pode se transformá(r) em elite sem vê(r)

FE não...hoje...hoje eu sô(u) uma parte de uma elite da literatura...você é

uma parte da elite da música...porque (vo)cê vende mais que muito cara

que é rico na música...vamo(s) supô(r) então cara fala mas o Brown

alcança o que eu não alcanço ele é elite...só que você vive como

elite?...(vo)cê consome como elite 32

[bes-tamente...pá...toda semana

shopping (es)tá ligado? é o que você vive

MB 32

[(inint.) pa caraio]

VA 33

[(inint.)]

MB 33

[eu sô(u) um escravo] 34

[eu nem sô(u)] elite..eu sô(u) escravo da

elite

FE 34

[então]

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MY o povão vê o o o:: grupo de rap como um partido político..que tem

que dá(r) isso que tem que dá(r) aquilo que tem que me ajudá(r)...e não é

assim às vezes (vo)cê num tem nem o que comê(r)... e os cara qué(r)...não

ah meu o Brown (es)tá ganhan(d)o mó dinheiro tem que dá(r) tanto e se

num dá (es)tá errado...então são coisa que num existe meu....ah o

Ferréz...lançô(u) um livro ó o cara (es)tá ganhan(d)o mó dinheiro...então

o povo...tipo assim...num sei...éh... tipo o pessoal centralizou isso

daí...que tem que dá(r)...tem que dá(r)

FE todo mundo achô(u) que era fácil ganhá(r)

AL é::

FE e num viu... ninguém vê as pinga 35

[as::...como é que é o baguio?]

AL 35

[dificuldades]

FE as pinga que (vo)cê toma todo mundo vê mais ninguém vê as queda

que (vo)cê leva né? então ninguém vê as dificuldade...ninguém reconhece

o corre de ninguém...o cara qué(r) fazê(r) o corre dele mais não

reconhece o corre dos o(u)t(r)o...entendeu? então...ele não viu que o

bagulho tem um processo/vocês aprenderam que tem um

processo...desd’o começo nóis sempre falô(u) disso...tem um processo SE

você chegá(r) lá ainda...se você chegá(r)...(es)tá ligado? agora os cara só

olhô(u)...o principal...puta mano...quando eu comprei minha casa...nossa

o Ferréz comprô(u) a casa dele vendendo livro mano...nossa mano eu

tenho que fazê(r) livro...o cara nossa mano se embucetô(u) aí fazen(d)o

livro aí ó...(es)tá ligado?...num consegui nem editora... porque o baguio é

osso...36

[então, é mano...(es)tá ligado?]

AL 36

[(o bagulho é osso)]

FE a oportunidade não chega igual...o::a chance não chega igual a

batalha não é igual...o talento não é igual...então aí o o rap atraiu todo

mundo...e agora (es)tá tendo que falá(r)...(es)per’aí que não é assim

MB o rap qué(r) sê(r) uma exceção...o rap na/se você for pará(r) pra

analisá(r) a periferia é desunido...37

[certo?]

JO 37

[mas o mas]

VA 38

[(inint.)]

MB 38

[o rap é uma exceção]... o rap é uma exceção que ainda fala de

união dentro d’um lugar que não se fala...qual que é o lema da

periferia?cada um, cada um né? ...e o rap é o quê?...é nóis na fita...é

o(u)tra idéia...(es)tá ligado? esse bagulho de...(es)tá ligado? é nóis é nóis

esse negócio de é nóis é nóis é coisa de rap...malandro quando tem

dinheiro ó((faz som com a mão))... se joga

VA 39

[((risos))]

MB 39

[certo?]

MY ele 40

[com a família]

MB 40

[o cara quando ganha] dinheiro vai embora...ele (es)tá ligado que os

próprio cara da quebrada vai crescê(r) o olho vai ca/casá(r) um::...uma

casinha pra ele caí(r) um barato...e o rap ainda prega o contrário...não

vamo(s) vamo(s) tentá(r) (vo)cês são unido...eu (es)tô(u) ven(d)o que

(vo)cês são unido...não é totalmente todo mundo né...não é tão individual

assim...querendo ou não (vo)cês são ligado eu sô(u) ligado a eles

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indiretamente...agora (es)tô(u) ligado a você indiretamente e você ligado

a outros... e outros são ligado a outros...noís (es)tamo(s)/é uma teia

AL é::

MB é uma teia ((faz o entrelaçamento dos dedos))...fora daqui (vo)cê num

vai vê(r) isso muito...(vo)cê não vai vê(r) isso na na rua

AL é difícil...é difícil

MB essa união que nóis (es)tamos falan(d)o não existe em lugar nenhum

em movimento nenhum...em profissão nenhuma

MY mais não não só se uní(r)...mas se respeitá(r) pelo menos

MB ah:: sim

MY 41

[não existe]

MB 41

[ah sim]...42

[aí é outra coisa]((faz sim com a cabeça))

MY 42

[eu acho que] ...43

[é tipo assim]

FE 43

[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio

movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê

elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se

(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um

negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te

mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)

tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então

MB eu acho que isso aí é em qualquer lugar 44

[o Ferréz]

FE 44

[é qualquer lugar]

MB 45

[qualquer pessoa]

AL 45

[(inint.)]

MB (vo)cê vai pegá(r) um cara aí...46

[u::m]

FE 46

[com certeza]

MB cara que mexe c’um marketing aí um:: Washington Olivetto critica o

trabalho dele pu (vo)cê vê...ele num vai gostá(r)...ninguém gosta de 47

[sê(r) criticado]

VA 47

[(inint.)]

MB o ser humano todo mundo::...o ser humano tem seu ego mano

MY é...a crítica nunca é bem acei48

[ta]

MB 48

[aí de]pende da palavra que (vo)cê usa tam(b)ém né?

FE é::

MB (vo)cê vai 49

[usá(r)..de/às vez]

MY 49

[mais aí] eu acho que tem o lance crítica e o lance... que os cara usa

como tiração tem cara que não critica...tem cara tipo assim... que nem eu

já vejo no Ferréz o Ferréz quando opa isso aqui (es)tá meio errado ele

sabe explicá(r)...agora tem cara que fala ô seu bagulho é um lixo...(vo)cê

fala pô mano

AL ((risos))

MY tem uns cara que eu vô(u) falá(r) 50

[pu (vo)cê]

AL 50

[( tem uns cara que é foda)]

MY aí quando (vo)cê fala o meu é um lixo o seu é uma bosta... aí aí

começa a guerra... rap... o grupo de rap é desse jeito nóis trampa com

rap...é igual o Ferréz eu falo o mano num dá num dá pa tocá(r) porque é

isso e isso...ô se você chegá(r) ni mim e falá(r) ô Negredo...ô Wilson num

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dá pa cantá(r) ainda porque essa música num (es)tá assim...eu...eu paro e

penso eu posso dá(r) uma parada/e falá(r) não o que o Brown (es)tá

falan(d)o... (es)tá certo porque (vo)cê já (es)tá...lá na frente ó uma quota...

só que os cara num pensa assim...os cara num pensa assim...se você fala

assim essa base (es)tá meio assim...(vo)cê fala puta o Brown falô(u) que

(es)tá assim ou o Ferréz falô(u) o Maurício falô(u) ali... eu vô(u)::

chegá(r) em casa eu vô(u) analisá(r) porque se esses cara (es)tá falando

alguma coisa (es)tá errado...porque (vo)cês conhece mais a maioria dos

grupo de rap não é assim...(vo)cê fala ô mano essa base tem que dá(r)

mais...não o bagulho é meu eu que fiz... é assim que vai e já era...51

[então]

FE 51

[pegô(u)] a marra né?]

MY o::52

[ barato é]

FE 52

[os cara pegô(u)] a marra do americano...pegô(u) a marra...num

pegô(u) estudo num pegô(u) o trampo que o cara faiz todo dia

trabalhan(d)o no rap dele só pegô(u) a marra...a marra os cara

pegô(u)...(inint.) os medalhão os baguio mais por dentro o trampo que o

cara tem...(es)tá ligado?...(vo)cê acha que os cara vai dormí(r) à

noite?...os cara (es)tá trampando

MY 53

[num pegô(u)]

FE 53

[isso aí] os cara num pegô(u) eles num aprendeu que o baguio é

trampo

MY 54

[eles]

FE 54

[né?]

MY aprenderam só a marra num aprenderam ganhá(r) dinheiro 55

[num

aprenderam]

MB 55

[por exemplo]

MY a produzí(r)

MB o rap nos Estados Unidos (es)tá isso...os cara:: ho::hoje em dia eles

num nem qué(r) nem posá(r) de mocinho mais os cara –“eu sô(u) o vilão

me(s)mo e já era (es)tô(u) rico...com o meu dinheiro eu compro todo

mundo”- os cara pensa isso... nos Estados Unidos é assim...com dinheiro

(vo)cê compra tudo mEsmo...aqui não porque nóis/ (es)tá ligado?

ninguém tEm esse dinheiro... onde (es)tá esse dinheiro?...mais lá eles

compra me(s)mo...eles compra mulher eles compra casamento eles

compra mansão compra...56

[a::]

AL 56

[carro]

MB (es)tá ligado?...os cara compra...é milhão de dólar entendeu mano?...é

uma realidade tam(b)ém o que o Fifitycent canta é uma realidade dele

num é 57

[a nossa... mais é a dele]

FE 57

[é (inint.)]

MB é a dele...chego na boate as mininha olha pra mim eu (es)tô(u) com

pô... relojão de ouro meu carro vale tantos mil é verdade...OFENDE

NÓIS...MAIS É VERDADE

FE é verdade

VA ((risos))

MB é verdade 58

[((rindo))]

MY 58

[mais sabe] num tem um programa de rap pu (vo)cê vê(r) na

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Globo...(vo)cê vai vê(r) o que?....eu quero vê(r) o tal grupo lá 59

[num tem]

JO 59

[D2] 60

[((risos))]

MY 60

[eu vô(u) dá(r) audiência]...tem o D2 lá...me(s)mo eu não

gostan(d)o do D2 os cara num gostan(d)o os cara vai vê(r) D2...por

que?...é o rap... (es)tá lá na batida..num (es)tá aquela (inint.) 61

[então]

FE 61

[mais aí] nóis num (es)tamo(s) higienizado que nem eles

qué(r)...eles qué(r) um rap higienizado eles...qué(r) um rap limpo

...62

[eles qué(r) um rap]

MY 62

[eu sei]

FE do padrão que eles 63

[que eles qué(r) vê(r) no domingo]

MY 63

[mais (vo)cê (inint.)]

FE dá pa assistí(r) no domingo Cabal...então ele vai vê(r) só o Cabal o

D2

MY tinha a MTV...a MTV era/eu vô(u) falá(r) pu (vo)cê...eu ficava até

duas hora pra vê(r) o programa de rap...agora (vo)cê num vê mais (vo)cê

num/praticamente num é o rap...pra mim num é o rap

FE (vo)cê tem que vê(r) até onde da pra cedê(r) mano

MY não mais

FE até onde o cara cedeu..é a a opção é:: dele ele cedeu pa tê(r) aquilo de

repente você num (es)tá ven(d)o...mais tem uma legião de moleque que

ainda (es)tá assistindo e é a única coisa que eles tem pa vê(r) (es)tá

ligado?...porque o cara cedeu um pouco...o cara resolveu 64

[fazê(r)]

MY 64

[ah] 65

[se for pra ficá(r) só no rap americano]

VA 65

[((conversas paralelas))]

MY eu compro o::/ eu vejo no no Santo Amaro os camelô...porque rap

nacional num passa

FE a MTV tratô(u) o rap assim porque o rap num:: também num se

impôs mano... (es)tá ligado?...quando o KLJay (es)tava lá era outra

pegada...agora o rap tinha que continuá(r) se impon(d)o...num se

impôs...aí o que acontece?...você mandô(u) e-mail pra MTV?...mandô(u)

carta?...ligô(u)?...não? ...alguém aqui ligô(u)? tam(b)ém não num tem

pressão pro baguio agora liga cem mil pessoa lá o cara nossa seu eu não

pô(r) um clipe nacional no outro dia...a audiência vai me matá(r)

....entendeu? agora deixa de passá(r) PItty no horário da MTV nobre...pa

vê(r) se os boy tudo já num liga passa e-mail já se envolve

entendeu?...agora o cara liga na cento e cinco pa falá(r) de jogo mano

MB (vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do::

do:: universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os

outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado

n’um mundinho tam(b)ém...pega música de Zélia Duncan (es)tá falan(d)o

daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada dela ou

namorado...pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no mundo

dele tam(b)ém...de intelectual 66

[inteligente]

FE 66

[com certeza]

MB pa caraio...num tem como os pobres analfabeto entendê(r) o que o

Caetano Veloso muitas veiz fala...(es)tá todo mundo meio elitizado 67

[meio no seu mundo]

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FE 67

[ah com certeza]

MY 68

[(MPB (inint.)]

MB 68

[o rap tam(b)ém] o rap tam(b)ém...é tribo mano...várias

tribo..69

[tribo de roqueiro, tribo de reggae de rap entendeu?]

FE 69

[as vezes...aí o aprendizado dos cara é o(u)tro né mano?]

MB dentro da nossa tribo nóis é alienado na nossa cultura...o rap

tam(b)ém é alienado nóis é alienado na nossa cultura de rap

FE qual que é o maior debate?...de todos os tempo?...desde que surgiu o

hip-hop?...(es)tá ligado? é o estigma do Racionais num í(r) na TV

mano...igual...o:: o Brown vai falecê(r)...va::/o Racionais vai acabá(r)

tudo vai mudá(r) mais sempre vai tê(r) aquele baguio... um cara vai

trombá(r) um dia você na esquina com o seu neto e vai falá(r)...mais por

que que ele num foi mano?...porque pu cara pobre... você num

compactuá(r) c’o a elite é um crIme mano 70

[(es)tá ligado?]

AL 71

[é::]

FE 72

[é um crime mano]

AL 72

[(inint.)]

FE porque o cara ele qué(r) pertence àquilo...e você diz não...nOssa

(vo)cê ofende ele mano...entendeu?...ele num entende...o(u)tros

entende...o(u)tros fala que entende mais num entende...o estigma do

rap...a vida toda vai sê(r) esse

MB que tipo de pergunta hoje que poderia::...quebrá(r) as perna d’ um

grupo de rap ...hoje?

AL a::

MB 72

[(eu num vejo a ponto quebrá(r) as perna (inint.) televisão a ponto

de quebrá(r) um grupo)]

FE 72

[que (vo)cê faiz pela favela? que (vo)cê faiz pela favela?] 73

[que

(vo)cê faiz pela favela?]

TO 73

[mais aí eles väo fazê(r)] 74

[outro tipo de pergunta]

FE 74

[que (vo)cê faiz] pela favela quebra as perna 75

[de qualquer grupo]

MB 75

[(claro) um tipo de pergunta] dessa (vo)cê tem que respondê(r) com

o(u)tra pergunta ...eu te pedi voto?... 76

[eu pedi voto pa alguém?]

FE 76

[daí que (vo)cê (inint.)]

MB 77

[eu sô(u) cantor de rap num sô(u)]

MY 77

[mais daí (vo)cê já (es)tá]...aí você já (es)tá ligeiro...(vo)cê (es)tá

ligeiro...você já (es)tá ligeiro (vo)cê já (es)tá já (es)tá firme...78

[mais cata

outros grupo aí...o cara fica mudo]

FE 78

[o cara perguntô(u) uma vez isso] pra mim eu falei assim::... inveis

d’eu explicá(r) o que eu faço eu falei pra ele...e o que que eu o Caetano

faiz pela favela?...vende um milhão de disco...ah mai ele num fala de

favela...falei mai num interessa o assunto da música pode sê(r) o que for 79

[pode ser]

MB 79

[ele é brasileiro?]... 80

[ele num tem responsabilidade (sobre o povo

daqui)]

FE 80

[ele é brasileiro ele (es)tá aqui]...ele pode sê(r) assaltado pode

sê(r)::...então o que que ela faiz? 81

[o que que o Zezé de Camargo faiz?]

MB 81

[é isso é isso que eu acho errado]...por que que o rap é obrigado

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82[a fazê(r) as coisa]

FE 82

[a fazê(r)]

MB é lógico ele faiz de coração certo?...mais porque que o rap é obrigado

a fazê(r) e o Chico Buarque num é?

FE o rap é obrigado a fazê(r)...porque eles acham que a gente fala do

tema...quando a gente fala..a gente tem que mostrá(r) pra eles que a gente

faiz...eles acham isso...não mais se o cara critica então o que que ele

faiz?..entendeu?...ele tem que fazê(r) alguma coisa...ele tem que mostrá(r)

que faiz alguma coisa...83

[entendeu?]

MB 83

[é uma pergunta] pra 84

[puní(r) você por tê(r) tocado no assunto]

FE 84

[é pra puní(r) porque (vo)cê (vo)cê] tocô(u) no assunto...é isso 85

isso me(s)mo é isso]

MB 85

[vô(u) te puní(r)]...86

[vô(u) te puní(r)]

VA 86

[((conversas paralelas))]

MB porque 87

[(vo)cê cutucô::(u) a ferida]

FE 87

[você cutucô(u) então]...me diz o que é que (vo)cê faiz?...aí você

não pá pá pá pá muitas vezes as pessoas fazem bastante...porque...uma

vez o Chico me disse uma coisa...que ficô(u) guardada dentro de mim até

hoje mano..ele falô(u) assim...mano o que você faiz através d’um livro

d’um CD...é mais do que qualqué(r) projeto social mano...(es)tá

ligado?...(vo)cê dá orgulho no cara o cara trancado dentro do quarto dele

a luz de vela len(d)o (vo)cê dá orgulho no cara... o cara escutan(d)o sua

música mano...na rua trampan(d)o... de camelô...você dá orgulho nele

...você injetô(u) um baguio nele que ninguém injeta...nem uma ong...nem

escola....nem nada ...então esse/essa esse trabalho já é muito mano

quantas vida foi mudada uma através da outra?...(es)tá ligado? o Negredo

(es)tá aqui por causa de algum grupo de rap...(es)tá ligado?...porque

alguma coisa eles viram eu escrevi meu livro por causa de grupo de rap

eu sempre falei isso em todos lugar que eu falo eu sempre falei que eu fui

pego n’um show de rap... um show de rap que o cara cantô(u) e depois

desceu no público...pa falá(r) c’o nóis...pegô(u) na minha mão eu só via

show gringo... curtia rock... eu via os cara pequenininho lá em cima os

cara saía e pegava o avião saía de São Paulo...e ia pa outro país... depois

eu vi um grupo de rap descen(d)o lá em baixo conversan(d)o com todo

mundo falei...carai esses cara aí tem a vê(r) comigo mano... então (vo)cê

sempre é pego n’um baguio...(es)tá ligado?...então num é a toa o trampo

muda a vida de uma par de gente mano... isso já é um trampo fodido

MB mais pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se::

moder...num vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88

[ele::]

AL 88

[evoluir né?)]

JO profissionalize 89

[(inint.)]

MB 89

[é::...o mais rápido possível] senão num vai sobrá(r) nada pra

ninguém entendeu?...porque as pessoa (es)tá reclaman(d)o muito da

rUindade do rap

MY 90

[mais é verdade]

AL 90

[isso é verdade]

MB falta qualidade falta tudo...falta som falta luz falta letra falta batida

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falta:: 91

[idéia]

AL 91

[ritmo]

MB falta::...(es)tá ligado? as pessoa (es)tá/as própria pessoa que

curte...(es)tão reclamando da pobreza do rap...pobreza em todos os

sentido entendeu?...de idéia pobreza de roupa de:: palavra...idéia de...de

som....de banheiro sujo...ambiente:: carregado o nosso póprio povo qué(r)

modernizá(r)

MY eu penso assim...essa decadência do rap pra mim...infelizmente...ó

até hoje eu não ganhei um real no rap...mais pra mim é bom....porque eu

vô(u) falá(r) pu (vo)cê

FE ó::...um real...

MY não...92

[um real]

FE 92

[(vo)cê] vendeu seu disco...cachorro ((risos))

MY não...eu vendi mais eu produzi c’o meu bolso...eu falo ganhá(r) é

você tê(r)... 93

[ganhá(r)] que eu falo é você vivê(r) do rap

AL 93

[vivê(r)]

MB é...a gente vai passá(r) por isso tam(b)ém mano...mais cedo ou mais

tarde quando começá(r) a aparecê(r) os grupo de rap rico...é::...os:: os DJ

rico...a gente vai passá(r) por isso tam(b)ém...aí já passa um novo

estágio....aí você tem que se impô(r)::...pus cara num acha que (vo)cê

(es)tá alienado porque (vo)cê (es)tá rico (vo)cê vai tê(r) que se impô(r) de

alguma forma...pra você num perdê(r) sua raiz...aí você vai tê(r) que se

impô(r) pus malandro num achá(r) que (vo)cê virô(u) bunda mole...aí

(vo)cê vai tê(r) que se impô(r)...aí (vo)cê vai/a vida é assim... quando

você (es)tá pobre (vo)cê tem que se impô(r) porque o dono da padaria

num:: num o balconista num num responde você na hora que (vo)cê

pergunta... 94

[(es)tá ligado?..você perde é] 95

[(es)tá ligado?... então]

VA 94

[((risos))]

MY 95

[acho que hoje a gente já se impõe né?]

MB então toda toda (tudo quanto é) parte da vida (vo)cê vai tê(r)

barreiras (vo)cê vai tê(r) que se impô(r) mano... e o cara que vem da

favela tem que se impô(r) o tempo todo... o tempo todo...tem que se

impô(r) mano... desd’o:: vizinho do lado (vo)cê tem que se

impô(r)...(vo)cê briga por/(porque) tudo é questão de sobrevivência

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ANEXO 2: Transcrição do Programa Manos e Minas

Programa Manos e Minas exibido em 23/08/09

Situação Comunicativa Auditório

Participantes Thaíde = TH

Participantes Falas dos participantes

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TH ((vinheta de abertura o programa)) 1[e aí rapaziada como é que (es)tá? e aí

FNJ vamo(s) chegá(r)]

PL 1[((música, gritos, palmas, assobios))]

TH então é mano

PL ((música, gritos, palmas, assobios)) é mina é mano é mina é mano é mina

TH diz

PL é mano

TH diz

PL é mina

TH diz

PL é mano

TH 2[é isso aí]

PL 2[é mina]

TH 3[é isso aí]

PL 3[é mano]

TH 4[vamo(s) que vamo(s)]

PL 4[é mina]

TH 5[me diz aí]

PL 5[é mano]

TH 6[com’é que é]

PL 6[é mina]

TH 7[mais uma vez]

PL 7[é mano... é mina]

TH 8[é isso aí rapaziada]

PL 8[ ((palmas, assobios, gritos))]

TH Manos e Minas mais uma vez no ar com vocês que estão aqui e também

com vocês que estão aí em casa...comigo o time de sempre DJ Erick Jey...

nas quadradas...palmas pra ele 9[porque ele merece]

PL 9[((palmas, assobios, gritos))]

TH os biboys Kocada e Catatau estão desse lado 10

[palmas

pra eles]

PL 10

[((palmas, assobios, gritos))]

TH Sil e Ana P desse lado palmas pra 11

[elas]

PL 11

[((palmas, assobios, gritos))]

TH o grafiteiro que (es)tá aqui hoje no Manos e Minas como nosso convidado

de honra é o Guilherme Matsumoto...palma(s) pra ele rapaziada

PL 12

[((palmas, assobios, gritos))

TH 12

[ele é mais] conhecido como GuI...vamo(s) dá(r) uma olhada no RG do

grafite(i)ro aí ((corte de imagem: mostra-se o RG do grafiteiro com

informações escritas sobre ele)) ((mostram-se os quadros do programa em

VT)) o Manos e Minas de hoje (es)tá todo musical...nós vamo(s)

mostrá(r) para vocês...alguns colecionadores de boombox...aqueles super

rádios que os dançarinos de break levam pra rua pra se divertir...no

quadro interferência Ferréz conversa com o fanzineiro Hamilton

Tadeu...muito interessante...KLJ um dos principais DJs do Brasil faiz

quarenta anos... e o Manos e Minas foi na festa... ((acaba-se a imagem no

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VT e a volta-se à imagem para o auditório)) e vô(u) falá(r) de vocês

agora...posso falá(r) de vocês? eu posso falá(r)?

PL 13

[((palmas, assobios, gritos))]

TH 13

[posso?... não se num pudé(r) tudo bem eu posso?]

PL ((palmas, assobios, gritos))

TH então (es)tá bom...vô(u) falá(r) de vocês agora hein...se liga aê

rapaziada...programa escola da família Ari Jorge Guarulhos 14

[Norte...cadê?]

PL 14

[((palmas, assobios, gritos))]

TH Escola da (inint.) 15

[no Jardim Ângela]

PL 15

[((palmas, assobios, gritos))]

TH hip hop em ação de São José do::s 16

[Campos e

Guaratinguetá]

PL 16

[((palmas, assobios, gritos))]

TH Periferia Faz... de Cotia... cadê a 17

[rapaziada?]

PL 17

[((palmas, assobios, gritos))]

TH vocês estão aí:: escola estadual professor Carlos Eduardo 18

[Matarazzo

Carreira de Itapetininga]

PL 18

[((palmas, assobios, gritos))]

TH caramba (vo)cês (es)tão que (es)tão hoje com a corda toda hein

rapaziada...vô(u) falá(r) pra vocês...olha... é com muito respeito que eu

vô(u) apresentá(r) aqui agora um peso pesado do rap brasileiro...com

(muito) respeito...e muito barulho e muito barulho por favor 19

[cadê o

barulho de vocês... mais barulho mais barulho... 20

[SNJ no palco do

Manos e Minas...é com vocês]]

PL 19

[((palmas, assobios, gritos))]

BA 20

[o::] ((apresentação musical: 38’16-42’29))

TH SNJ 21

[com vocês... aqui no Manos e Minas...22

[já já]]

PL 21

[((palmas, assobios, gritos))]

AL 22

[fala Thaíde]

TH 23

[vocês vão mandá(r) mais um peso pesado pra gente aí viu?..já já]

PL 23

[((palmas, assobios, gritos))]

TH com vocês agora Tsunami All Stars Kokada e Catatau... é só chegá(r)...DJ

Erck Jey é com você...vamo(s) que vamo(s) ((vinheta, apresentação de

dança: 42’48-43’28)) 24

[Kokada e Catatau no Manos e Minas...Tsunami

All Stars]

PL 24

[((palmas, assobios, gritos))]

TH 25

[vamo(s) pr’um rápido intervalo..já já a gente volta...VAMO(s) QUE

VAMO(s)... é isso aê

PL 25

[((palmas, assobios, gritos)] ((vinheta, comercial: 43’39-45’25, vinheta)) 26

[((música)) ((palmas, gritos,assobios))]

TH 26

[aí sim rapaziada Manos e Minas de volta com Sil e Ana P...por favor venham pra cá venham comigo]... venham comigo... é só chegá(r) chegan(d)o Ave Maria acho que eu não vô(u) saí(r)

mais daqui... nossa senhora... é com vocês meninas ((Apresentação de

dança: 45’48-46’20)) Bastardo eu (es)tô(u) aqui perto de você porque

agora eu vô(u) tratá(r) de um assunto...que realmente me emociona...e eu

(es)tô(u) nervoso pra falá(r) sobre esse assunto...é que aqui hoje tem uma

turma...de colecionadores de boombox...certo?...que são aqueles rádios

gravadores enormes que é...sem dúvida nenhuma o grande símbolo da

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cultura hip hop...e eles... lógico eles (es)tão batalhando pra conseguí(r)

uma sede aonde eles vão juntá(r) as coleções...trocá(r) idéias...sobre

informações sobre novos modelos e tudo mais...(vo)cê (es)tá

entendendo?...eles ainda não têm essa sede...mais se dependê(r) de mim

com certeza...isso vai acontecê(r) logo mais...vamos vê(r) agora essa

história dos colecionadores... de rádios boombox...vamo(s) vê(r) junto aê

Situação Comunicativa Reportagem sobre Boombox

Participantes Thaíde = TH

Participantes Falas dos participantes

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TH jardim Novo Horizonte...nós viemos aqui conversá(r) com uma turma que

coleciona boombox...você não sabe o que é boombox?...legal...porque

agora...você vai sabê(r)...vamo(s) lá ((exibição de uma sala cheia de

boombox)) cara eu vô(u) dizê(r) uma coisa eu num sei nem pra que lado

olhá(r) de tanto rádio que tem nessa sala aqui...agora qual foi seu primeiro

rádio quanto tempo faiz isso?... e qual foi seu primeiro rádio?

RG bom me/minha paixão pelos rádios vem desde que eu conheci a

cultura hip hop mais meu primeiro rádio...como colecionador quando eu

decidi colecioná(r) foi justamente o PA oitocentos e cinquenta mais

infelizmente ele não está aqui ((corte de imagem: vídeo-clip)) ((ao som da

música)) na medida que o rádio...é:: começô(u) a sê(r) utilizados pelas

pelas pelos movimentos pelas tribos urbanas... entendeu? então ele

começô(u) a ganhá(r)... um novo formato...com uma com cores luzes né?

mais porque se caracterizou tanto com o break? porque... o boombox era a

ferramenta de trabalho do b-boy... sem o boombox não tinha música sem

a música não tinha como fazê(r) aquela seção de break nas esquinas

((corte de imagem: exibição de dançarinos de break)) ((Imagem com a

pergunta: Mas o que é um boombox?)) box 1[box]

TH 1[é uma caixa]

RG se for traduzí(r) pro português é uma caixa 2[né?]

TH 2[certo]

RG o boom é justamente pelo ruído que saía dessa caixa então boombox 3[entendeu?]

TH 3[certo]

RG agora existem vários outros termos é:: é::gettho gettho blaster como eles

usa/chamavam em Nova York na década de oitenta...só que assim é:: o::

mais tradicional é box caixa né?

TH é

RG nós nós até usamos entre nós nós usamos o termo rádio((exibição dos

boombox colecionados)) cada rádio aqui ó ((aponta com o dedo)) tem

uma história...eu encontrei esse rádio aqui por exemplo ((aponta um

rádio))...n’um n’um bar...e eu fiquei...fiquei negociando com a dona do

bar cerca de um MÊS E MEIO pra convecê(r) ela a me vendê(r) e ele

(es)tava cheio de gordura...(es)tava perto ali da chapa...e eu tive até que

comprá(r) removedor de gordura pra limpá(r) ele

TH você salvô(u) esse rádio?

RG é salvei (es)tá aqui agora ((exibição dos rádios colecionados)) 4[(vô(u)mostrá(r) pra ele)]

TH 4[você acredita] que eu perdi um box dentro de um ônibus de viagem

vindo de Brasília?

RG 5[(vo)cê tá brincan(d)o véio]

TH 5[(vindo) de Brasília]...sim senhor...inclusive o senhor DJ Hum foi a

pessoa que estava usando o rádio e deixô(u) lá...esqueceu... o

rádio...6[mas tudo bem]

RG 6[vem cá Foley]

FO DJ Hum

RG DJ Hum dá uma idéia no DJ Hum

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FO olha

RG mostra pra ele a seriedade do que ele fez

FO (vo)cê num sabe o quanto a gente rala prá achá(r) um rádio e de repente

você me esquece um desse dentro do ônibus cara

RG 7[você (es)tá ficando lo(u)co cara]

TH 7[(inint.)]

FI se eu fosse o Thaíde eu pegava um disco seu 8[mais

raro]

TH 8[((ri))]

FO e deixava também dentro do ônibus ((corte de

imagem: vídeo clip))

TH eu num vim aqui fazê(r) essa matéria...só porque eu achei interessante

inteligente e tudo mais também tem um outro propósito...eu tenho um

rádio box...que é minha paixão...minha paixão realmente eu não vendo

num empresto qué(r) dizê(r) empresto eu empresto mais...devolve rápido

((risos))...e eu gostaria de:: sabê(r) se vocês podem me ajudá(r) a deixá-lo

ele em deixá(r) ele novo porque ele (es)tá caidinho

RG já buscamos na internet e já localizamos o modelo...é esse modelo

que (vo)cê tem num é isso?

TH é esse modelo mais você:: (vo)cê já sabe que ele num é desse

tamanho...vamo(s) fazê(r) o seguinte eu vô(u) pegá(r) o rádio...(vo)cê

pode esperá(r) aqui um minutinho?

RG a gente pode esperar

TH é rapidinho (es)pera aí ((corte de imagem rápida, como indicativo de

mudança)) esse é o meu rádio box ((segurando o rádio)) rapaziada num

sô(u) comédia não...e eu trouxe ele((risos)) pode chorá(r) pode chorá(r)

eu deixo...pois é esse é o meu rádio...o meu filho...adoro esse rádio...ele

tem muitas histórias comigo...ganhei de/quem me deu de presente esse

rádio foi o... o grande Nazi meu irmão muito obrigado...está aqui inteiro

ainda e a gente vai reformar esse rádio ((sai da casa e recebe os outros

colecionadores de boombox que vieram de carro)) grande Rooney((dá a

mão))...e aí Danone? ((entram na casa, segurando vários rádios

boombox))

RG vô(u) fazê(r) o seguinte...foi lançado um desafio pra nós...nós vamos

restaurá(r) esse rádio e vamo(s) devolvê(r) esse rádio pro pro

Thaíde...9[no programa Manos e Minas]

RO 9[devolvê(r)?]

RG 10

[é]

TH 10

[devolvê(r)] sim senhor

RG foi difícil falá(r) devolvê(r) 11

[foi difícil]

DA 11

[o o] desafio de arrumá(r) beleza ma(i)s o lance de devolvê(r) aí é um

desafio me(s)mo

FO se você tem um rádio aí em casa e eu acho que (inint) ele ficaria

muito bem... aqui na nossa coleção nós aceitamos é só enviar pra nós nós

vamos cuidar dele com muito carinho

TH inclusive eu faço dele minhas as palavras porque se quisé(r) doá(r)

rádio para mim também...você sabe onde me encontrar não é verdade

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Situação Comunicativa Auditório

Participantes Thaíde = TH

Participantes Falas dos participantes

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TH realmente...eu tinha razão ou não tinha?

PL 1[sim]

TH 1[aliás] eu tenho razão na verdade né?

PL 2[((gritos, palmas, assobios))]

TH 2[olha só...o rádio o meu rádio chegô(u) lá] numa tal situação...e essa

rapaziada essa turma de cole/colecionadores chamadas chamados

boombox estão aqui...com o meu rádio...vamos vê(r) o que aconteceu por

favor chega aqui chega aqui...eu quero já agradecê(r) e parabenizá(r)

vocês pela iniciativa criatividade de criar desenvolver uma turma de

colecionadores de boombox vocês merecem todos os aplausos dessa 3[rapaziada aí]

PL 3[((gritos, palmas, assobios))]

AL 3[valeu]

TH 3[e do Brasil inteiro] e do Brasil inteiro sem dúvida...deixa eu vê(r) esse

rádio pelo amor de Deus

AL vai lá Danone vai lá deix’eu í(r) lá também pra levantá(r) isso aí

TH a situação dele (es)tava ruim...4[no::ssa]

PL 4[((gritos, palmas, assobios))]

TH 4[não acredito]...falante vermelho mano...no::sssa falante vermelho cara

((abraça o rádio))

PL é::

TH ((música)) esse som é dele?... esse som (es)tá saindo dele?...nas 5[palmas

todo mundo então porque é festa

PL 5[((palmas))] ((um dançarino de break faz uma apresentação)) ((ao

fim da apresentação)) 6[((gritos, palmas, assobios))]

TH 6[muito obrigado rapaziada sinceramente...de verdade]...a minha

emoção é tanta que:: eu estava...mais ou menos há uns três anos que eu

venho tentando arrumá(r) esse rádio... não confiei em ninguém teve muita

gente que pediu pra levá(r) o rádio pra podê(r) é:: pra podê(r) consertá(r)

eu não confiei mas em vocês eu confio...porque a gente é do tempo da

São Bento do começo de tudo ((dá a mão para os colecionadores)) muito

obrigado...boombox com vocês

PL 7[((gritos, palmas, assobios))]

TH 7[valeu]((dá um beijo na mão de um deles))...muito obrigado hein?...e

agora vamo(s) fazê(r) o seguinte cadê? ((troca de microfone))...a emoção

é tanta que (inint.) o deixa meu rádio aí pelo amor de Deus... não tira ele

daí deixa ele aí......pode ser?((ri e suspira))...eu quero já nossa é muito

rádio deixa um pra mim além do meu...Bastardo (vo)cê entendeu o que eu

quis dizê(r)?

BA com certeza

TH você entendeu DJ?...entendeu a jogada?

AL entendi lógico

TH só me resta pedi pra vocês por favor nesse clima manda mais um som pra

essa rapaziada que merece

BA com certeza

PL 8[((gritos, palmas, assobios))]

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BA 8[vamo(s) sentí(r) a energia da galera aí]...e esse momento é um momento

especial pra gente Thaíde que a gente vai podê(r) dividí(r) esse palco aqui

humildemente falando com um grande parceiro nosso aí...eu vô(u)

chamá(r) esse parceiro aqui e quem conhecê(r) ele pode dá(r) um salva de

palmas mas quem não conhecê(r) pode chegá(r) junto Badauí CPM22

PL 9[((gritos, palmas, assobios))]

TH 9[chega Badauí...é:: Badauí na área rapaziada]

PL 10

[((gritos, palmas, assobios))]

BA 10

[é o rock e o rap na mesma sintonia mano::]

PL 11

[((gritos, palmas, assobios))]

BD 11

[boa noite a todos] ((apresentação musical: 55’55- 57’37))

PL 12

[((gritos, palmas, assobios))]

TH 12

[SNJ...juntamente com Badauí aqui no Manos e Minas...certo

rapaziada? daqui a pouco tem mais som hein?] obrigado pela presença

meu irmão vamo(s) pr’um rápido intervalo e já ja a gente volta vamo(s)

que vamo(s)

PL o som não pode (parar)

TH certíssimo ((vinheta, comercial: 58’00-59’52, vinheta))

PL 13

[((gritos, palmas, assobios))]

TH ((Thaíde levantando o boombox))13

[o::]

PL ((gritos, palmas, assobios))

TH pode crê(r) rapaziada é nesse clima chegando com o meu boombox...que

eu...retorno depois desse rápido intervalo com o Manos e Minas...certo

rapaiz?...Eric Jay tri-campeão brasileiro de DJ palmas pra ele 14

[porque

ele merece]

PL 14

[((gritos, palmas, assobios))]

TH agora de(i)xa eu falá(r) uma parada pra vocês que também é muito

interessante ((vinheta))

Situação Comunicativa Festa de aniversário do DJ KLJ

Participantes DJ KLJ = DJ

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Participantes Falas dos participantes

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DJ quis trazê(r) os caras os DJ da velha guarda... que:: foram minha

inspiração também ((corte de imagem: mostram-se os DJs convidados))

CE grande responsabilidade tocá(r) numa festa de quarenta anos DJ KLJ

((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa))

DJ eu sempre gostei de música eu sempre tive um instinto pela música...

e desde novinho eu ouvia rádio né ouvia música que tocava no Anhembi

aí meu pai tinha um rádio aí fui lá tinha sequências (inint.)...pus meu FM

e descobri o funk era anos oitenta ((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ

tocando na festa)) mais também tinha muita festa em casa né? as

pessoa(s) se reuniam cada um levava o seu som.. é montava um negócio

no quarto as pessoas ficavam no/na sala aí eu ficava olhando pelo buraco

da fechadura se as pessoa(s) (es)tava gostan(d)o ((corte de imagem:

mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) meu pai coitado do meu pai me

ajudô(u) pra mim comprá(r) meu primeiro mix um Gemili eu tenho até

hoje... um Gemili que o Cash Money usô(u)((corte de imagem: mostra-se

o DJ KLJ tocando na festa)) as inspirações foram muitas((corte de

imagem: mostram-se as fotos dos Racionais Mc’s, do Ice Blue e do Edy

Rock))Edy Rock foi o cara que me ensinô(u) a a a mixá(r) ((corte de

imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) é desesperador fui fazê(r)

scratch pulô(u) o disco ((põe a mão na cabeça)) eu falei (inint.)

TH 1[sai do baile sai do baile]

DJ 1[sai do baile é isso]((corte de imagem: mostram-se as fotos de pessoas

vaiando e o som de vaia)) aí o Ninja não liga pros cara(s) volta o disco e

solta e eu sô(u) muito grato a ele até hoje por causa disso ((corte de

imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) talvez a a minha carreira

podia ter acabado ali ((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na

festa))

GM ((em outro ambiente))na realidade não era essa coisa glamorosa que

era hoque que é hoje...era muita dedicação...pouca grana...é e muita

ralação ((corte de imagem: mostram-se fotos de uma Kombi))

SI ((em outro ambiente))primeiro show do Racionais que a gente

feiz...ham a gente foi embora tudo junto numa Kombi velho imagina

umas doze pessoas dentro de uma ko::mbi ((corte de imagem: mostram-se

fotos de uma Kombi))

GM e quando eu conheci o Kléber ele...estava co/classificado pra final de

MC e e faltava um disco pra ele fazê(r) a performance né...feiz uma

belíssima apresentação...me devolveu o disco intacto...e eu devolvi na

caixa da Chico Show e essa história eles num sabe até hoje qué(r) dizê(r)

eles (es)tão sabendo agora que a gente (es)tá contando aqui

BE ((em outro ambiente) (inint.) na época em que o KLJ ainda dançava

break ainda pô dançava estilo e/etiópia né?((corte de imagem: mostra-se o

DJ KLJ dançando)) ele vai lembrá(r) vai passá(r) pr’os nossos filhos pr’os

nossos netos sucessivamente assim né?

TH agora se você não fosse o KLJ DJ do Racionais MCs ou

simplesmente não fosse KLJ o que você gostaria de ser

profissionalmente?

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DJ ((ri))astrólogo ou ou sei lá sê(r) sê(r) um chefe de alguma cozinha

vegetariana aí ((ele vai até a cozinha))

AL Kléber onde a gente (es)tá indo?

DJ (es)tamo(s) indo (es)tamo(s) indo cortá(r) os primeiro pedaço de bolo... o

bolo chama bolo da Índia...sensacional ((faz um gesto de delicioso))

SI ((na cozinha))((ri)) por isso que a gente está aqui inclusive...porque o

bolo (es)tá guardado aqui a gente (es)tá por aqui só esperando

DJ quero é contribuí(r) por muito tempo ainda pra cultura hip-hop

né((corte de imagem: mostram-se fotos de uma Kombi e depois o

“Parabéns a você)) ((vinheta))

Situação Comunicativa Auditório

Participantes Thaíde = TH

Participantes Falas dos participantes

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TH é o seguinte...quem está ali agora é o Gui... que é designer gráfico

trabalha com isso já tem até prestô(u) serviços aí pra São Paulo Fashion

Week...vamos ver o...RG do grafite(i)ro ((vinheta)) eu vô(u) conversá(r)

agora com essa rapaziada que (es)tá aqui eu gostaria de chamá(r) o DJ

Alma mais conhecido como Djalma pra nos acompanhá(r) nessa

conversa...eu quero e aí Bastardo tudo sobre controle ou não?

BA tranquilo ((dá a mão para Thaíde))

TH muito obrigado pela sua presença certo meu irmão...aí rapaziada esse aqui

sem dúvida nenhuma é um grande representante da música do hip-hop...

brasileiro...certo? grande Bastardo e toda a sua turma do SNJ

BA WJ Cris Trêmulo

PL 1[((palmas))]

TH 1[é o] seguinte co/a primeira vez que eu ouvi o SNJ eu (es)tava no meu

carro na avenida...é Santo Amaro...parei pra fazê(r) um lanche de repente

começô(u) uma música era época até que o Sombra fazia parte do projeto

e eu comecei a ouví(r) aquela música e achei que era uma música de

doido porque até então ninguém teve coragem e criatividade pra fazê(r)

uma música daquele jeito...certo? mesmo assim depois que o Sombra saiu

vocês continuaram com o estilo...próprio estilo único...como vocês

chegaram a esse estilo?

BA bom é como você frisou realmente é o Sombra...é:: pra quem ainda

não conhece é um dos fundadores desse projeto SNJ né...das/da

prime(i)ra formação é:: e naquele tempo a gente se juntô(u) né através

dele que foi o prime(i)ro integrante ele convidô(u)... a minha pessoa...

através de mim o WJ... é:: veio a participá(r) também do projeto

juntamente com a Cris e mais recentemente o Trêmulo... através da nossa

música a gente qué(r) entrá(r) desd’a cadeia até o show para um

condomínio fechado residencial e sempre levando a mesma mensagem...é

isso que faiz a gente sempre (es)tá diferencian(d)o

TH quais são os planos pro futuro do SNJ?

BA bom a gente (es)tá com um re/um CD aí que a gente lançô(u) nosso

último trabalho chamado a esperança é o alimento da alma...participações

legais como essa do do Badauí...é:: e outra rapaziada de peso tam(b)ém

é:: estamos trabalhando aí é com os pés no chão com toda a

tranquilidade...fazen(d)o po(u)co a po(u)co as nossas novas músicas

porque...o cara que escreve a pessoa que gosta de escrever sempre (es)tá

escreven(d)o algo novo né...aqui dentro do grupo também cada um tem

um projeto paralelo... ao grupo né...WJ tem um projeto dele a Cris o

Trêmulo eu tenho um projeto paralelo ao SNJ...é:: que::...algumas

músicas já vão estar começan(d)o rolá(r) esse ano ainda...a gente vai

(es)tá(r) disponibilizando em sites certo site do SNJ SJN sigla ponto com

ponto br...e bastardo SNJ ponto com ponto br ma(i)s é um projeto

paralelo ao SNJ e é um po(u)co futuramente

TH bom já que é um po(u)co futuramente vamos de música porque vocês

nasceram pra isso e eu (es)tô(u) ligado que é assim que funciona certo

rapaziada?

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PL 2[((palmas, assobios, gritos))]

TH 2[SNJ com vocês vamo(s) que vamo(s)]

PL 3[((palmas, assobios, gritos))]

BA 3[vamo(s)::]((apresentação musical: 1’08’16-

01’10’34))

PL 4[((palmas, assobios, gritos))]

TH 4[SNJ aqui no Manos e Minas quebrando tudo hein quebrando tudo... ((dá

a mão para os integrantes do grupo SNJ)) meu Deus do céu Ave Maria

vamo(s) pr’um rápido intervalo] e ja já a gente volta vamo(s) que vamo(s)

PL o show não pode (parar) 5[((palmas, assobios, gritos))]

TH 5[Ave Maria é isso ae] ((vinheta; comercial: 01’10’53- 01’11’53; vinheta;

dançarinos de break fazem uma apresentação))

PL 6[((música, palmas, assobios fracos))]

TH 6[é assim que tem que ser]... Manos e Minas voltô(u) depois de um rápido

intervalo e agora eu vô(u) aLI ...conversar com o Gui

GU 7[salve Thaíde beleza]

TH 7[e aí com’é] que (vo)cê (es)tá tudo sobre controle ou

não?

GU tranquilidade total né?

TH muito obrigado aí rapaiz pela sua

GU 8[satisfação é minha]

TH 8[participação aí]

GU 9[com certeza]

TH 9[é o seguinte] você é designer profissional...certo?...como você foi pro

grafite e o que... o grafite significa na sua vida?

GU o:: grafite apareceu na minha vida logo depois que eu (es)tava

terminan(d)o a faculdade...meu projeto de:: faculdade foi sobre grafite... e

a partir desde então meio que larguei o design gráfico (es)tô(u) mais pro

grafite me(s)mo

TH 10

[(esse)]

GU 10

[que é muito vício]

TH muito bem parabéns esse grafite que você (es)tá fazendo aqui esse estilo

que você (es)tá apresentando aqui hoje

GU fazê(r) um personagem que eu faço tem um monte na rua aí

TH ham ham

GU e:: retrata o bando de lo(u)co que tem em São Paulo

TH entendi entendi (es)tá certo... esse é o Gui palmas pra ele porque ele

merece

PL 11

[((palmas, assobios, gritos))]

GU 11

[valeu valeu valeu]

PL 12

[((palmas, assobios, gritos))]

TH 12

[obrigado pela sua participação...certo? agora...co/ com quem que eu

falo?] com o Ribeiro ou com DJ Alma? pode ser o Ribeiro Ribeiro é o

seguinte...no quadro interferência...de hoje...o Ferréz foi conversar com

ele...e você ((com voz diferenciada, aponta para um lado))...você ((com

voz diferenciada, aponta para o outro lado)) e todos vocês (com voz

diferenciada)...vão poder saber quem é ((vinheta))

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Situação Comunicativa Quadro Interferência

Participantes FE = Ferréz

Participantes Falas dos participantes

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FE ((vinheta de abertura do quadro com a identificação do local onde foi feita

a entrevista: Barraca do Saldanha, Capão Redondo, SP)) Hamilton... você

é nerd?

HT não cara...acho que não....pergunta inesperada meu

FE 1[((ri))]

HT 1[assim logo] de cara um negócio de ((vinheta))

FE Hamilton nessa geração que fica twitando passando MSN e tal...explica aí

o que é um fanzine pro pessoal que não sabe em casa

HT ó fanzine ao pé da letra seria fanatic magazine o fan vem de fanático

e o zine de magazine revista feita por fãs...se o cara curte Jornada nas

Estrelas ele vai lá e faz um fanzine sobre Jornada nas Estrelas se o cara

gosta de::...de:: cowboy vai fazê(r) um fanzine sobre cowboy e mocinhos

e bandidos se gosta de rock...pessoa vai e faiz ((corte de imagem:

mostram-se algumas revistas ))

FE porque o Hamilton não virô(u)um desenhista desses aí copistas dos

Estados Unidos que (es)tão indo pra lá mudá(r) de nome...porque você

resolveu fazê(r) uma edição brasileira com a sua cara com as suas idéias?

HT primeiro como::acho que como bom pecador que eu sô(u) sô(u)

preguiçoso ((corte de imagem)) tenho um problema terrível no

pescoço...fui fazê(r) uma besteira aí caí ((enquanto ele fala, aparece a

imagem de um cara pulando de cabeça)) de cabeça na piscina de ponta

cabeça em noventa e sete ((corte de imagem)) eu sô(u) um cara detalhista

gosto de Leonardo da Vinci Michelangelo Caravaggio...John Byrne Alan

Davis ((enquanto ele fala, aparecem as obras dos artistas citados))

FE de Caravaggio pra John Birne é um 2[trampo hein é um]

HT 2[é]

FE e dentro do do mercado de hoje (vo)cê acha que há espaço pro seu

trampo?

HT tem um nicho não tem um quadrinho sobre heavy metal...eu fui lá

e::pensei na primeira...fui a segunda que lançô(u) ((corte de imagem:

mostra-se um vídeo com quadrinhos)) por exemplo eu criei os

personagens que ainda não consegui publicá(r) que de cunho social...tem

os X-man eu criei os ex((com pronúncia inglesa))-cluídos...tem o Mano X

que é da periferia...tem o anão tem o:: cadeirante...tem a:: mãe solteira

que é professora...uma coisa que eu quero fazê(r) mais de lance social

FE e você (es)tá seguin(d)o a linha da Marvel da DC só que ao contrário

eles pelo menos eles incentivam a indústria armamentista né? ...como que

é a gente sustentá(r) os super-heróis que na verdade patrocinam a guerra

né?

HT muita gente... cresceu lendo os quadrinhos norte-americanos como eu

você...naquela fantasia toda a gente com o tempo foi adquirin(d)o uma

certa consciência...teve o atentado do World Trend Center em dois mil e

um e:: mais de seis mil pessoas morreram...tem gente que pediu um

minuto de silêncio...por causa daquelas mortes mais... os Estados Unidos

matô(u) muita mais gente na guerra do Vietnam essa coisas...e a pessoa

não se toca a respeito disso né?...uma coisa que (es)tá maquiada se

acomodando

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FE (vo)cê trabalha de quê pra sustentá(r) tudo isso?

HT ah eu sei lá os parente(s) vão morrendo eu vô(u)

herdando

FE ((ri)) ((corte de imagem: velório)) ((pegando cada revista)) essa daqui foi

a tia que morreu...essa daqui foi um primo

HT é

FE essa daqui foi uma madrasta ruim ((corte de imagem)) (vo)cê é

problemático? você é um cara ou as pessoas que são/que pegam no seu pé

que são problemáticas?

HT ah eu acho que todo mundo tem os seus problema(s) a gente a gente

não é entendido...o pessoal dá opinião na sua vida mas num para pra

pensá(r) num projeto da vida dele...ah tem muita gente porque (vo)cê num

escreve um livro eu conto história pra caramba eu sô(u) um Forrest Gump

lá do Cambuci...às vezes (vo)cê eu vou num lugar esse lugar me abre

alguma porta...e eu começo a criar teorias em cima daquilo...meu

universo acaba criando um outro universo em cima de um negocinho de

nada que eu li

FE você acha que o mundo virô(u) geek ou nerd porque... tudo os filmes

são baseados nos quadrinhos...né é as edições de luxo são pra

colecionadores

HT o mundo (es)tá muito ruim cara...num sei o que acontece no trânsito

tam(b)ém sabe a minha teoria é que tem muito carro hoje na rua... e a

maio/tem muito motor ligado...tem um campo eletromagnético maior...e

isso afeta o cérebro...assim como tem muito celular muito

computador...isso daí de certa forma:: afeta o cérebro e o raciocínio das

pessoas

FE esse dias eu vi no trânsito uma frase assim ““nós somos escravos do

trânsito””... estranho né com’é que um cara pode ser escravo d’uma

situação que ele criou né?

HT o homem mesmo agora agride a natureza com progresso né? o

progresso agora acaba sendo regresso

CA ((corte de imagem: em um local aberto do Jardim Novo Horizonte,

Casulo cita um poema)) mananciais...as lágrimas que brotam do choro

das serras...se multiplicam na queda...escorrendo muito até descansar na

cacimba...que riacha a floresta pra nutri o black power vegetal da

terra...porque amar a natureza é preservar a fauna e a flora contra a

calvície do planeta

FE ((volta ao cenário inicial da entrevista)) você é um cara que reclama

mas você corre

HT 3[sim]

FE 3[né] é dois é o R e o C né

AX ((próximo Quadro Interferências)) eu sempre fui sonhador e é isso que me

mantem vivo quando pivete meu sonho era ser jogador de futebol ó vai

vendo

FE ((volta à entrevista com Hamilton, já com os créditos aparecendo))

qual a diferença de um cara que é correria me(s)mo sem apoio nada ele

vai lá e faiz e do cara que fica a vida toda ““eu não tive uma chance””?

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HT a questão é perseverança...é legal essa coisa do (vo)cê não ficá(r)

acomodado sabe...porque eu vô(u) fazê(r) isso pra tê(r) mais sabe num

adianta tê(r) você qué sempre mais sabe...parece que eu tenho até perfil

de super vilão 4[quero as coisa(s) mais acabo no final perdendo uma coisa

ou outra]

FE 4[((ri))]

Situação Comunicativa Auditório

Participantes Plateia = PL

Participantes Falas dos participantes

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PL 1[((aplausos, assobios))]

FE 1[bom...eu tenho que dizê(r) a vocês]...não num posso fazê(r) isso

não...você ((aponta para o convidado)) por favor chega aqui temos aqui

um presente...eu já ia chamá(r) o final do programa mais eu num posso

fazer isso antes de conversar com essa pessoa...como é que vai tudo

bem?((aperta a mão do convidado que vem da plateia))...vamo(s) fica

aqui ó ((puxa o convidado para trás))...i::sso... tudo certo com você?

CO tudo certo...é:: o projeto::Periferia Faiz do Jardim Petrópolis 2[Cotia

tá presentean(d)o o programa...e dan(d)o os parabéns por um ano...de

prog(r)ama Manos e Minas... em nome de todos da comunidade lá da

nossa cidade Cotia (es)tamo(s) dan(d)o esse presente pra você e pra todos

que fazem parte do Manos e Minas parabéns] ((entrega um quadro para

Thaíde com o nome do programa e a foto de Thaíde))

PL 2[((palmas, gritos, assobios))]

TH 3[((pega o quadro)) muito obrigado rapaziada ó que beleza...olha só que

beleza...bonito demais...eu agradeço] eu gostaria que (vo)cê falasse o

nome daquele len-dário grupo de rap que você faiz parte

PL 3[((palmas, gritos, assobios))]

CO Caveiras do Rap

TH temos que contá(r) a história qualquer dia hein? ((abraça o convidado))

PL 4[((palmas, gritos, assobios))]

TH 4[palmas pra ele aí e pra toda rapaziada da área dele que merece...olha que

coisa maravilhosa...mais um pra coleção muito obrigado]...é aí que tô/que

(es)tá o negócio né trabalhá(r) com pessoas competentes

profissionais...pessoas que entende(m) do assunto é:: a:: gente só tem esse

resultado...resultado positivo uma galera uma plateia inteligente... que

sabe se comportá(r) e sabe se divertí(r) e uma equipe totalmente

profissional com artistas ((mostra o grupo de rap no palco)) do mais alto

gabarito...palmas 5[pra nóis porque nóis merecemos certo... Manos e

Minas está chegando ao seu final...é chegando ao final mais só hoje

sábado que vem]

PL 5[((palmas, gritos, assobios))]

TH estaremos de volta às sete da noite com reprise a uma e meia da manhã...

logicamente de sábado para domingo e se quisé(r) mandá(r) sugestões

elogios xingá(r) sei lá fazê(r) qualquer coisa pode mandá(r) manda pro

manos e minas arroba teve cultura 6[ponto com ponto BR rapaziada...bi

box muito obrigado por restaurar o meu rádio muito obrigado de

verdade...certo? SNJ...eu posso pedí(r) pra vocês...tocá(r) mais uma pra

gente no bom sentido é claro?]

PL 6[((palmas, gritos, assobios))]

BA claro

TH então vamo(s) que (vamo(s) que o som num pode pará(r) 7[muito barulho

pra SNJ que eles merecem

PL 7[((palmas, gritos, assobios))]

BA 7[esse som aqui....a gente qué(r) dedicá(r)...pra todos os cantos do Brasil

onde a gente já passô(u)...e a todas as pessoas que a gente já visito(u)

certo manO?]

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PL 7[((palmas, gritos, assobios))] ((apresentação musical: 1’20’20-

1’26’05))

TH 8[SNJ com vocês]

PL 8[((palmas, gritos, assobios))

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O texto de 2002 é assinado pelo Grupo Organização Textual-Interativa do PGPF: Clélia Cândida Abreu

Spinardi Jubran, Mercedes Sanfelice Risso, Hudnilson Urbano, Leonor Lopes Fávero, Ingedore Grunfeld

Villaça Koch, Luiz Antônio Marcuschi, Luiz Carlos Travaglia, Maria Célia Pérez de Souza e Silva, Maria

Lúcia Victorio de Oliveira Andrade, Zilda Gaspar Oliveira de Aquino, Maria do Carmo de Oliveira Turchiari

Santos; já o de 2006 é assinado pela professora Clélia Cândida Abreu Spinardi Jubran.

Jubran et al. (1992) escolheram um diálogo do projeto Nurc (D2-SP-360), “que se desenvolve entre duas

informantes, na presença de uma documentadora, cuja função é a de provocar a fala das entrevistadas com a

proposição de temas, efetuada mediante perguntas ou comentários rápidos” (Jubran et al., 2002, p. 342).

Nossa metodologia se baseia em Jubran et al. (2002) e Jubran (2006).

A fim de demonstrar que está prestando atenção na fala do outro, uma pessoa pode emitir o

que Maynard (1980, p. 269) denomina “minimal utterances” ou “elocuções mínimas”,

normalmente realizadas por meio de indicações vocais, como “hum-hum”, em português,

ou por meio do olhar ou de acenos com a cabeça. Outros autores, como Duncan (1972),

denominam esse recurso como backchannel.

Estamos nos referindo tanto aos dois programas “Manos e Minas” quanto ao corpus da presente pesquisa.

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Qualidades e defeitos do ser humano

Humildade x arrogância

Comentá-rios sobre si mesmo

Definição de pobreza

Crítica sobre tratar o playboy com arrogância

Crítica sobre a ostentação de bens materiais

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Sinceri-dade

Ter a proteção de Deus

Fama

Solidão

Crítica sobre a situação da favela

Definição de sabedoria

Honra de receber o prêmio

Falha de não estar sempre presente

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Documentário

Descrição do contexto

História da vida de um ladrão

Apresenta-ção geral

Favela

Casa de detenção

Linguagem dos ladrões

Gostos do ladrão

Assas-sinatos cometidos pelo ladrão

Fama do ladrão

Amigos do ladrão

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Sonho

Sonhar em estar preso

Rap brasileiro

Principal tema: realidade da periferia

Visão da sociedade sobre os grupos de rap

Visão dos rappers sobre o rap brasileiro

Qualida-des

Defeitos

Rap na mídia

Futuro do rap

Crime/ violência, trabalha-dor, ladrão, pobreza, playboy de favela

Grupo de rap como elite

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Ser elite x viver como elite

Grupo de rap como partido político

Obrigação de dar por ter ganhado dinheiro

Não reconhe-cimento do trabalho

Não submis-são do rapper ao crime

União pelo rap

Exemplo de vida para os morado-res da periferia

Aceita-ção ou não de crítica

Espelha-mento no rap america-no

Aliena-ção

Pobreza do rap

Presença na mídia do rap limpo (D2) e do rap america-no

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Não mobiliza-ção da comuni-dade pelo rap nacional

Não ida do Racionais na TV

Neces-sidade de profis-sionaliza-ção

Neces-sidade de se fazer respeitar como rapper

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Conflito entre os rappers e a mídia

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