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Balança de poder global pós-crise: um estudo exploratório Wellington Amorim Introdução O presente trabalho objetiva analisar, de forma exploratória, a configuração do equilíbrio de poder no atual sistema internacional, com destaque para os EUA e a Ásia (especialmente o Leste Asiático), enfatizando os efeitos da crise financeira de 2008. O trabalho é dividido em uma introdução, recapitulação do panorama pré-crise e a crise propriamente dita, e a situação pós-crise (com menção especial às perspectivas para o Brasil e a questão da transferência de tecnologia). Utilizaremos o referencial teórico da balança de poder, conceito clássico e de relevância histórica para as Relações Internacionais, apresentando lugar de destaque em várias teorias, especialmente o realismo e suas variações. O interregno i entre o final da Guerra Fria e os ataques terroristas ao Pentágono (Washington) e às Torres Gêmeas (Nova Iorque) trouxe diversas críticas ao realismo, como ferramenta de análise, enquanto outras correntes teóricas (por exemplo, institucionalismo neoliberal e construtivismo) se fortaleciam. No entanto, mesmo antes dos referidos ataques, os gastos em armamentos já haviam retomado uma tendência de alta, refletindo uma perspectiva menos otimista quanto à inevitabilidade de tensões entre os Estados (conseqüência de visões diversas quanto ao poder) e o potencial para o conflito. ii O interregno também proporcionou o alargamento de uma série de regimes e tratados envolvendo o desenvolvimento tecnológico e armamentista. A lógica subjacente era a de que a diminuição de conflitos potenciais tornaria prescindível, à maioria dos países, o controle de determinadas tecnologias. iii Conjugada à visão então predominante de mundo unipolar, em que os EUA ocupariam posição indiscutível e que não poderia nem ao menos ser ameaçado, tanto em termos militares quanto econômicos iv , reforçou-se a rationale criticada já décadas antes pela política externa brasileira, ou seja, a do “congelamento do poder”. v Ressalte-se que alguns países não aderiram ao que Amado Luiz Cervo vi denomina “ilusão kantiana brasileira”; por exemplo, China, Índia e Paquistão continuaram empreendendo esforços no sentido de alcançar autonomia nuclear e em outros segmentos de tecnologia avançada. No entanto, os mencionados ataques terroristas aos EUA, embora configurassem um conflito assimétrico e difuso, acarretaram diversas alterações em relação ao interregno: demonstraram que, embora ainda a maior potência militar e econômica, os EUA podiam ser desafiados (e eventualmente atacados, de maneira não-convencional, com resultados 5 1 Mestre em Relações Internacionais (UnB), doutorando em Ciência Política (UFF). Este trabalho foi apresentado no IV ENABED, Brasília, julho de 2010.

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Balança de poder global pós-crise: um estudo exploratório

Wellington Amorim

Introdução

O presente trabalho objetiva analisar, de forma exploratória, a configuração do equilíbrio

de poder no atual sistema internacional, com destaque para os EUA e a Ásia (especialmente o

Leste Asiático), enfatizando os efeitos da crise financeira de 2008. O trabalho é dividido em

uma introdução, recapitulação do panorama pré-crise e a crise propriamente dita, e a situação

pós-crise (com menção especial às perspectivas para o Brasil e a questão da transferência de

tecnologia). Utilizaremos o referencial teórico da balança de poder, conceito clássico e de

relevância histórica para as Relações Internacionais, apresentando lugar de destaque em várias

teorias, especialmente o realismo e suas variações.

O interregnoi entre o final da Guerra Fria e os ataques terroristas ao Pentágono

(Washington) e às Torres Gêmeas (Nova Iorque) trouxe diversas críticas ao realismo, como

ferramenta de análise, enquanto outras correntes teóricas (por exemplo, institucionalismo

neoliberal e construtivismo) se fortaleciam. No entanto, mesmo antes dos referidos ataques, os

gastos em armamentos já haviam retomado uma tendência de alta, refletindo uma perspectiva

menos otimista quanto à inevitabilidade de tensões entre os Estados (conseqüência de visões

diversas quanto ao poder) e o potencial para o conflito.ii

O interregno também proporcionou o alargamento de uma série de regimes e tratados

envolvendo o desenvolvimento tecnológico e armamentista. A lógica subjacente era a de que a

diminuição de conflitos potenciais tornaria prescindível, à maioria dos países, o controle de

determinadas tecnologias.iii Conjugada à visão então predominante de mundo unipolar, em que

os EUA ocupariam posição indiscutível e que não poderia nem ao menos ser ameaçado, tanto

em termos militares quanto econômicosiv, reforçou-se a rationale criticada já décadas antes pela

política externa brasileira, ou seja, a do “congelamento do poder”.v Ressalte-se que alguns países

não aderiram ao que Amado Luiz Cervovi denomina “ilusão kantiana brasileira”; por exemplo,

China, Índia e Paquistão continuaram empreendendo esforços no sentido de alcançar autonomia

nuclear e em outros segmentos de tecnologia avançada.

No entanto, os mencionados ataques terroristas aos EUA, embora configurassem um

conflito assimétrico e difuso, acarretaram diversas alterações em relação ao interregno:

demonstraram que, embora ainda a maior potência militar e econômica, os EUA podiam

ser desafiados (e eventualmente atacados, de maneira não-convencional, com resultados

5

1 Mestre em Relações Internacionais (UnB), doutorando em Ciência Política (UFF). Este trabalho foiapresentado no IV ENABED, Brasília, julho de 2010.

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positivos em termos de custo-benefício);

a reação imediata dos EUA, incorporando aliados e não-aliados na luta contra o terror,

demonstrou que o nível de conflito real e potencial na esfera internacional não tendia a diminuir;

no caso em questão e no panorama dele advindo, o poder explicativo das teorias que

propugnam menos ênfase aos conflitos (como o institucionalismo neoliberal e construtivismo)

não se mostrou tão efetivo quanto o realismo, daí o retorno do mesmo à proeminência nos

debates teóricos (e o renovado interesse na questão da balança de poder).

Panorama pré-crise

No imediato pós-interregno, a maior parte das iniciativas substanciais, na esfera

internacional, relacionaram-se (direta ou indiretamente) com a estratégia dos EUA para lidar

com o terror.vii Além de lidar com as redes terroristas que os poderiam ameaçar, os EUA

começaram a empreender um elaborado sistema de pré-contenção de potências cujo crescimento

poderia vir a ameaçar os seus interesses, no longo prazo. Nesse sentido, a guerra com o Iraque

e o comando das forças da OTAN no Afeganistão não apenas simbolizou o acesso privilegiado

a recursos naturais (petróleo, no caso iraquiano e diversas jazidas minerais como as de lítio, no

caso afegãoviii) e a tentativa de buscar legitimação política interna (ao procurar punir os

responsáveis pelos ataques em 11/09/2001)ix, como também a legitimação internacional que

justificasse sólida presença militar em dois países a fazerem fronteira com o Irã. Com isso, os

EUA buscavam ampliar a pressão sobre aquele país e diminuir a tensão no Oriente Médio.

Após os términos dos conflitos abertos na Guerra do Iraque e a garantia da presença

legitimada, em termos de continuidade, no Afeganistão, as preocupações básicas dos EUA

voltaram-se para o Leste Asiático, tanto pela ascensão continuada da China quanto os sinais de

capacidade nuclear da Coreia do Norte.x Enquanto a Coreia do Norte conseguiu suportar, de

forma bem-sucedida, a pressão dos EUA,xi a partir de 2005 a China suavizou o discurso em

relação a Taiwan, reduzindo sensivelmente a pressão militar sobre a ilha. Ao mesmo tempo,

diversas iniciativas com a ASEAN (como por exemplo tratados de livre comércio com a região)

e com Japão e Coreia do Sul (entre as quais o fortalecimento dos três como adicionais aos dez

membros da ASEAN, perfazendo então a APTxii e, talvez mais importante em termos de longo

prazo, o estabelecimento de um secretariado rotativo para os Encontros regulares entre China,

Japão e Coréia do Sul, com a perspectiva de se apresentar uma proposta de zona de livre-

comércio em 2012) contribuíram para amenizar (mas não eliminar) os temores relativos à

ascensão chinesa.xiii

Ao lado do fortalecimento da capacidade defensiva do Japão, os EUA empreenderam uma

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alteração significativa nos laços políticos com a Índia, com o Acordo de Cooperação Nuclear

de cooperação tecnológica.xiv Tal acordo, na prática, reforça os indícios de movimentos de

tentativa de contenção da China, por parte dos EUA.xv Tal acordo, com um país não-signatário

do TNP, demonstra claramente que os ditames rígidos quanto a transferência de tecnologia,

reforçados por determinadas potências, podem ser contornados em vista de interesses

geopolíticos maiores.

A maior aproximação com a Índia pode ser percebida no exercício naval conjunto

“Malabar”, na Baía de Bengala, em 2007, envolvendo India, EUA, Japão, Austrália e

Cingapura.xvi

Já o Japão, principalmente durante o governo do primeiro-ministro Koizumi, começou a

dar indícios de questionar seriamente a posição até então característica do país no cenário

internacional, desde o pós-II Guerra, postulando uma maior assertividade.xvii De fato, para os

estrategistas japoneses o dilema é significativo: a retomada da possibilidade de que o país atue

plenamente, na arena internacional, também do ponto-de-vista militar, contraria décadas da chamada

Doutrina Yoshida.xviii Mesmo a previsão constitucional de que o Japão possua apenas “Forças de Auto-

Defesa”, apesar de parecer uma limitação explícita a um papel militar maior, na prática tem sido

contornado por meio de uma especialização intensiva em armamentos de alta tecnologia e aprimoramento

quantitativo e qualitativo da Guarda Costeira.xix

Todos os eventos e tendências citados ocorreram em meio a um forte crescimento

econômico mundial; tal dinamismo contribuiu para uma aceleração dos gastos com armamentos,

à medida que as grandes potências e mesmo as médias procuraram atualizar e modernizar as

respectivas forças armadas.xx

O Brasil não foi exceção a esta tendência, no sentido de que a posição cada vez mais

estruturada do país no cenário internacional, reforçando-se definitivamente como potência

regional e com capacidade de presença efetiva no exteriorxxi, além das seguidas descobertas de

novos recursos minerais estratégicos (como as jazidas de petróleo no pré-sal), qualificava-o para

empreender movimentos mais assertivos, em escala internacional. No entanto, não se notou

claramente, neste período pré-crise, dissensões significativas com os EUA, já que de certa forma

o Brasil apresentou-se como garantidor da estabilidade na região, frente a vizinhos um tanto

mais extremados. Logo, ao menos no período, a projeção brasileira não significou ameaça

significativa aos interesses dos EUA. No entanto, contrariamente à exceção aberta no caso da

Índia, as restrições quanto a transferência de tecnologia sensível continuaram, inclusive com a

questão de veto à exportação de Super Tucanos para a Venezuela e as pressões por exigências

adicionais em relação à tecnologia brasileira relativa ao ciclo nuclear.

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A crise

Em que sentido a crise iniciada em 2008 tem impactos significativos em termos

geopolíticos? Primeiro, deve-se ressaltar a sua dimensão, atingindo em cheio o centro do sistema

financeiro mundial (EUA e Europa, e a Ásia em escala secundária). Segundo, e talvez mais

importante, foi o fato de que as potências médias se mostraram muito mais rápidas em readquirir

dinamismo.xxii Terceiro, o efeito da crise tem desdobramentos políticos sérios em termos de poder

nacional quanto à capacidade de influência internacional.xxiii Por fim, a desaceleração econômica

tende a provocar pressões no sentido de arrefecer aumentos ou mesmo cortar gastos com

segurança, nos diversos países (principalmente os democráticos), a não ser que determinantes

políticos supervenientes consigam reverter ou amenizar tal movimento (ou, nos casos em que o

complexo militar-industrial tenha importância relevante, políticas econômicas de cunho

anticíclico acabem preservando os investimentos anteriormente previstos). De certa forma, é o

momento em que críticas a uma eventual “overstretch” (super-extensão)xxiv do poder nacional

mais se fazem ouvir.

Tal enfraquecimento nas potências, mesmo que temporário, pode dar margem a

movimentos de “balanceamento” contra elas, ou de “bandwagoning” em direção a potências

rivais. Por isso, a necessidade de rápida implementação de contramedidas.

Os EUA se viram seriamente questionados (interna e externamente), o que contribuiu

inclusive para a eleição do primeiro presidente negro naquele país, com uma mensagem de

implementar mudanças. No entanto, ao menos em relação à grande estratégia em termos de

política externa, as poucas alterações foram muito mais de forma do que conteúdo. Por exemplo,

em relação à Rússia, a não-continuidade da instalação de baterias antimísseis na Polônia

representou o reconhecimento de que o apoio russo na questão nuclear iraniana era mais

fundamental; no entanto, cabe lembrar que a reação dos EUA à guerra entre Rússia e Georgia,

ainda no Governo Bush, já havia sido das mais tímidas.

Outra providência dos EUA foi a de apoiar a ampliação da presença das potências médias

em alguns foruns representativos (por exemplo, dando consistência ao G-20, mas há que se

ressalvar que a maioria das decisões compartilhadas não teve efeito representativo, a não ser

estancar problemas mais tópicos da própria crise econômica), embora isso não significasse o

mesmo para outros fóruns como o Conselho de Segurança da ONU (CSNU).

Em termos de presença militar, os EUA não arrefeceram o ritmo dos gastos, apesar da

crise.xxv A questão de combate ao terrorismo e a necessidade de presença no Afeganistão, sob o

argumento da necessidade de evitar novos ataques ao território dos EUA, continua desfrutando

de prestígio político em meio à população e corpo político daquele país.

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Já a China foi relativamente pouco afetada pela crise, ao aplicar profundas medidas

anticíclicas, em termos de investimentos em infra-estrutura. Esse bom desempenho deu ainda

mais sustentação ao governo e ampliou a influência chinesa na esfera internacional, em termos

de prestígio.

A Índia também se recuperou rapidamente, tal qual o Brasil. Os três, ao lado da Rússia,

empreenderam reuniões formais dos chamados BRICxxvi.

Ou seja, em termos geopolíticos a crise enfraqueceu seriamente a Europa (por levantar

dúvidas inclusive quanto à capacidade de sustentação do modelo de integração da União

Europeia), parcialmente os EUA (que, por meio de sérias medidas de incentivo, não desarticulou

suas principais vertentes de interesse, o Leste Asiático em primeiro lugar e o Oriente Médio em

segundo), enquanto fortaleceu a China, Índia e Brasil.

O pós-crise

No mundo pós-crise, quais seriam as principais tendências, em termos de balança de

poder? Primeiro, vale ressaltar que, mesmo em meio às consequências da crise, os gastos

militares subiram 6% em termos reais, em 2009xxvii, o que sugere que no futuro, caso a economia

mundial se recupere de modo sustentável, a tendência possa se manter.

Adaptando a tipologia proposta por KEOHANE (1969)xxviii, poderíamos separar os

principais atores nas seguintes categorias:

EUA - grande potência, “system-determining state”, a única com real capacidade

de interferência na ordem mundial em nível profundo;

China, Rússia, França e Inglaterra – potências secundárias nível A, “system-

influencing states”, que conseguem exercer influência significativa, mas não alterar a

ordem mundial. O nível A se deve à posse de armas nucleares e principalmente à

posição de membro permanente e com poder de veto no Conselho de Segurança das

Nações Unidas. No caso de França e Inglaterra, laços estreitos com muitas das antigas

colôniasxxix amplificam sua capacidade de influência;

Alemanha e Japão - Potências secundárias nível B, devido ao fato de não

possuírem armas nucleares ou assento permanente e com poder de veto no CSNU (e,

no caso do Japão, o peso da influência dos EUA na sua própria política externa). No

entanto, a magnitude do poder econômico de ambas as nações as habilitam ao status

de potências secundárias.

Balança de Poder Global pós-crise: um estudo exploratório Wellington Amorim 9

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Brasil e Índia - potências médias, “system-affecting states”, que conseguem

interferir no ordenamento mundial somente por meio de alianças. Há outras potências

médias, como África do Sul, Turquia e mesmo Irã. No entanto, Brasil e Índia foram

destacados por se encontrarem numa posição que pode ser considerada intermediária

entre potência média e potência secundária, à medida que claramente conseguem

aumentar sua capacidade de nível de influência além daquela conseguida somente com

alianças. No caso da Índia, a posse de armamentos nucleares amplifica seu nível de

influência política, em termos de balança de poder.

Dos nove atores citados, Inglaterra, França e Alemanha estão sensivelmente enfraquecidos

pela crise, não só pela desaceleração econômica mas principalmente pelas questões envolvendo

a exequibilidade do ousado processo de integração no âmbito da União Europeia. Um outro

ator, a Rússia, apesar de estar se recuperando econômicamente, é diretamente afetado pela crise

de confiança europeia, por ser importante parceiro comercial e o maior mercado para suas

exportações relacionadas a energia.

Portanto, maior detalhamento será conferido às estratégias dos 5 atores restantes, EUA,

China, Japão, Brasil e Índia.

Em relação aos EUA, a preocupação básica em termos de balança de poder é manter o

equilíbrio na Ásia (com foco principal no Leste Asiático e secundário no Oriente Médio),

impedindo a ascensão de qualquer potência que venha a prejudicar seus interesses. No entanto,

o Oriente Médio muitas vezes adquire um maior sentido de urgência, por conta do grau de

instabilidade política da região e da imperiosa necessidade de manutenção de um fluxo estável

de petróleo para que a economia e sociedade mundiais não entrem em colapso.

O principal objetivo dos EUA é conter o crescimento da influência do Irã, que desde o

colapso do Iraque se encaminha para ser a principal potência regional. No caso, a possibilidade

de desenvolver armamentos nucleares é um fator essencial de desequilíbrio, aos olhos da

estratégia dos EUA, pois inclusive aumenta sensivelmente a possibilidade de Israel tentar

interferir unilateralmente, num ataque preventivo.

Mesmo que os esforços dos EUA (que conseguiram o apoio do Conselho de Segurança

em aumentar a pressão sobre o Irã na questão nuclear) não obtenham êxito para impedir o pleno

domínio de armamentos nucleares por aquele país, a sólida presença militar dos EUA no Iraque

e Afeganistão parece evidenciar a continuidade da pressão geopolítica sobre a nação persa.

Em termos de Leste Asiáticoxxx, a questão é muito mais filigranada. Primeiro, por abrigar

duas potências secundáriasxxxi (China e Japão) e uma potência média em clara ascensão (Índia),

além de uma zona de conflito com alto grau de instabilidade (Península Coreana). Segundo, por

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se tratar da região mundial mais dinâmica do ponto-de-vista econômico, há quase quarenta anos

e foco óbvio de interesses por parte dos EUA. Terceiro, por esse dinamismo ter-se refletido

numa crescente corrida por modernização quanto à segurança. Quarto, por boa parte dos países

da região considerar os EUA como “garantidor” da estabilidade da mesma, tendo em vista as

rivalidades históricas, muitas delas ainda não superadas.xxxii

Poder-se-ia pensar, em termos de analogia histórica, que estaríamos por presenciar uma

situação semelhante àquela vivida pela Inglaterra, EUA e restante das Américas, no século XIX,

na qual a Doutrina Monroe validaria o afastamento da potência extracontinental. No entanto,

lembremos que a referida Doutrina foi funcional para a própria Inglaterra, que conseguiu manter

o exercício do poder econômico sobre a região por todo o século, sem se expor a

questionamentos políticos quanto a supostas ingerências. Segundo, a região não apresentava

uma potência regional média já formada (a menos que se considere os próprios EUA, quando

do enunciado da Declaração, embora ainda estivessem se consolidando e empreendendo a

expansão continental para o Pacífico). Terceiro, e talvez mais fundamental, abdicar de uma maior

presença numa região como a América do início do século XIX, quando os principais interesses

da Inglaterra se encontravam na Europa e expansão para a Ásia e, secundariamente, África, não

pode ser comparado a abrir mão de influência na região que mais cresce, em termos econômicos,

no planeta.

Feita a ressalva, ainda assim há que se lembrar que existe uma crescente percepção, nos

países da Ásia, da necessidade de uma “asianização” das principais organizações regionais. Em

parte derivada das reações tímidas do Ocidente para debelar a crise financeira de 1997 que

assolou a região, essa percepção gerou, por exemplo, a Iniciativa Chiang Mai.xxxiii

Portanto, a questão básica para os EUA é como manter a influência no Leste Asiático sem

uma presença tão ostensiva; as estratégias que se abrem para os EUA geralmente se concentram em

três vertentes.xxxiv A primeira, sumarizada por Robert Kaplan,xxxv aprofundando as ideias de John

Mearsheimer,xxxvi aponta que a melhor maneira de os EUA lidarem com a ascensão chinesaxxxvii

consistiria na estratégia da “contenção militar”, semelhante à utilizada pela Prússia bismarckiana

no século XIX., numa configuração de “hub and spokes”.xxxviii No caso, o centro seria o PACOM

(U.S. Pacific Command), sediado em Honolulu, e os polos o Japão, Coreia do Sul, Tailandia,

Cingapura, Austrália, Nova Zelândia e Índia.

A segunda vertente, proposta por Henry Kissinger,xxxix questiona se o conflito entre EUA e

China é inevitável. Afinal, segundo ele, a China teria características diversas da antiga URSS e

seu crescimento não significaria necessariamente mais instabilidade ao sistema, caso os EUA

agissem de forma prudente para manter a estabilidade geopolítica da região.

A terceira vertente, apresentada por James Pinkerton,xl propõe que os EUA deveriam agir

como tertium gaudens,xli incentivando que os países da região fossem os responsáveis principais

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pelos custos (políticos, militares, etc.) de manter a balança de poder local em níveis aceitáveis.

Parece claro, após a análise das três vertentes, que algum grau de diminuição de presença

dos EUA (se comparado à atual) deve se fazer sentir, fruto tanto do sentimento de “asianização”

(a necessidade de forjar laços intrarregionais mais consistentes, sem a interferência de países

externos à Ásia)xlii como pelo crescente questionamento quanto ao custo da manutenção militar

ostensiva na região.xliii No momento, não há sinais inequívocos de preferência já definida por

uma das três vertentes. Se por um lado os EUA têm estimulado manobras militares como a citada

“Malabar”, envolvendo também Índia, Austrália, Japão e Cingapura (e que se enquadraria na

primeira vertente), por outro as tensões envolvendo a China diminuíram sensivelmente de

intensidade (condizente com a segunda vertente) ou mesmo Índia e Japão solidificando o

relacionamento via conferência sobre segurançaxliv (apontando a terceira vertente).

Em relação à China, o maior desafio é o de justamente consolidar o desenvolvimento

interno, sem instabilizar a região e confrontar diretamente os EUA,xlv A memória do chamado

“século de humilhações” (entre 1850 e 1950) alicerça sua política externa, daí a irredutibilidade

quanto à questão de Taiwan; no entanto, as tensões diminuíram sensivelmente, a partir de 2005.

Na tentativa de tranquilizar seus vizinhos, a China vem conseguindo resolver a maior parte das

questões de fronteiras terrestres: das 16 controvérsias, desde 1949, apenas duas ainda estão

inconclusas. Já em relação às disputas marítimas, as tensões têm sido diminuídas pela assinatura

de código de conduta entre as diversas partes, reprovando o uso da força.xlvi

No mesmo sentido de estreitar os laços com os vizinhos e diminuir os temores em relação

a seu crescimento, a China pôs em prática acordos de livre-comércio com a ASEAN e instituiu,

juntamente com Coreia do Sul e Japão, um Secretariado Trilateral permanente.xlvii

Para o Japão, o cenário é indefinido. Como efetivar uma assertividade maior do que a

praticada até agora, a partir do pós-II Guerra? De que modo afastar os temores de que um Japão

como um um “poder global normal”xlviii, com Forças Armadas que não precisem se intitular de

“Forças de Auto-Defesa”, não repetirá os episódios derivados da “Esfera de Co-Prosperidade

do Leste Asiático”?xlix

A Doutrina Yoshidal contribuiu para a recuperação da nação japonesa e foi extremamente

efetiva até o final da Guerra Fria. Mas, perguntam muitos, será adequada para o futuro? Em que

medida o Japão continuará dependente da presença militar dos EUA ou necessite dela?

Embora a criação de Ministério da Defesa, ao qual estão subordinados as três Forças de

Auto-Defesa, indique um fortalecimento institucional dos militares na estrutura governamental,

tais movimentos também provocam nos vizinhos uma série de questionamentos (especialmente

China e Coreia, que passaram pela experiência do imperialismo japonês). Ao mesmo tempo,

também a reação dos EUA é importante. Outro ponto de debate é a possibilidade de desenvolver

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armas nucleares por conta da ameaça de Estados como a Coreia do Norte.li

Tendo em vista os fatos anteriores, qual o comportamento da se esperar do Japão, em

relação à balança de poder? A posição japonesa ainda é essencial para a estratégia dos EUA na

região, não só em termos políticos como hospedeiro de bases militares.lii Empreender um

bandwagoning na direção da China somente seria viável no caso de uma saída abrupta e

traumática dos EUA na região, e mesmo assim passaria por uma série de problemas históricos,

já que o Japão, mesmo na época áurea do Império Chinês, não se tornou um Estado caudatário.

Por outro lado, o Japão não tem base territorial ou populacional para fazer frente ao

crescimento chinês: logo, é razoável supor que tente um balanceamento com outra potência da

região, e no caso a Índia parece a opção mais adequada, inclusive por esta opção poder se inserir

facilmente em uma estratégia também dos EUA. Evidências quanto a um fortalecimento dessa

opção passariam por um intercâmbio maior entre os dois países, inclusive em termos de

discussão sobre segurança.liii

Quanto à Índia, o crescimento chinês levanta uma questão delicada, que é a existência

de problemas de fronteira até hoje não solucionadosliv, o apoio chinês ao Paquistão, além da

Guerra entre os dois países, em 1962. Obviamente as duas nações têm procurado aparar tais

arestaslv, mas a expansão (natural) chinesa levará a pontos de atrito, como, por exemplo, os

esforços chineses em desenvolver uma base naval em Myanmar, no Oceano Índico. Tal

“intromissão” no que a Ìndia considera seu “Mare Nostrum” é preocupante, segundo seu

pensamento estratégico.

À medida que a Índia também cresce, a recente reaproximação com os EUA e o

estreitamento de laços com o Japão podem apontar para o embrião de uma aliança “frouxa” para

o balanceamento da situação estratégica.

Em relação à América Latina, e ao Brasil em particular, a região não apresenta pontos

de flagrante preocupação para os EUA, os quais, conforme citado, têm na Ásia seu principal

foco geopolítico. Nesse aspecto, o Brasil tem-se consolidado como potência regional

estabilizante e confiável, podendo mesmo assumir posições com maior nível de independência

em relação aos EUA; no entanto, a diplomacia brasileira tem-se cercado de cuidados para

caracterizar tais iniciativas como reflexo de ações derivadas de decisões de organismos

multilaterais, o que amplifica a legitimidade das ações empreendidas.lvi Curiosamente, a posição

brasileira (inclusive perante os EUA) se fortalece em direta correlação com a instabilidade

(política e/ou econômica) dos vizinhos.lvii

Pode essa configuração se desenvolver, com o tempo, em uma doutrina de cunho

monroísta, ou seja, “A América do Sul para os sul-americanos” ? Neste caso, ao menos

aparentemente, a analogia histórica guarda muito mais semelhança do que em relação à Ásia,

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conforme analisado. Segundo essa visão, a integração do continente se daria em torno da

liderança brasileira.

No entanto, vale ressaltar que a posição da Colômbia nesse aspecto, ou seja, a

legitimação (por motivos de segurança contra o narcotráfico, tema de positiva receptividade

pela população mundial) da presença militar dos EUA no continente (replicando, sob outra

roupagem, a presença no Iraque e Afeganistão, cujo propósito geopolítico maior envolve a

contenção do Irã). A diminuição da presença dos EUA na Colômbia pode significar justamente

a aceitação do Brasil como “estabilizador” da região, tal como a dupla Índia-Japão pode fazê-

lo em relação à “contenção” da China.

Vale ressaltar que mesmo essa aceitação não acarretará automaticamente condições

especiais de transferência de tecnologia para o Brasil, ao contrário da Índia, pois os EUA ainda

não reconhecem na América Latina nenhuma potência que possa replicar o papel da China

(inclusive por não existir potência nuclear no continente). Mesmo no caso de que potências

menores (que não o Brasil) claramente constituam um arco que ameace os EUA (por exemplo,

adquirindo capacidade nuclear, inclusive em termos de mísseis), o mais provável é uma

“expedição punitiva” (aos moldes das empreendidas pelo Império do Centro, desde tempos

imemoriais) antes de levantar as restrições quanto a tecnologia.

Logo, as maiores chances do Brasil se encontram em aproveitar o não-monolitismo ds

potências detentoras de tecnologia sensível para negociar o acesso às mesmas. Lembre-se que

algumas delas, mesmo pertencentes à chamada “Aliança Atlântica”, encontram-se fragilizadas,

por conta das consequências da crise.

Conclusão

A crise de 2008 acelerou diversas tendências, entre as quais a perda de poder relativo de

algumas grandes potências e o fortalecimento de potências menores. Tais movimentos

provocarão intensa movimentação em termos de balança de poder, com realinhamentos para

balanceamento e bandwagoning, que certamente servirão de janela de oportunidade para o

Brasil, por exemplo, uma das potências em ascensão.

Estudos mais aprofundados são necessários para aferir qual das três alternativas

estratégicas será aplicada pelos EUA na questão da Ásia, como Japão e Índia se comportarão

frente ao crescimento da China, e se esta continuará sua expansão de forma pacífica. Ao mesmo

tempo, novas análises apontarão para o refluxo ou não da presença dos EUA no continente latino-

americano, gradualmente cedendo posição ao Brasil.

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Notas

i Para mais detalhes sobre o interregno e seus reflexos na visão dos analistas quanto às relações internacionais,ver COX et al. The Interregnum: Controversies in World Politics 1989-1999. Cambridge, Cambridge UniversityPress, 2000.

ii Os anuários do SIPRI já mostravam claramente a inflexão positiva nos gastos armamentistas. Vide SIPRI (diversosanos)

iii Por exemplo, o Brasil ascendeu ao TNP, após décadas considerando-o discriminatório, e acatou as diretrizes doRegime de Controle de Tecnologia de Mísseis. Vide CERVO, A. , A dimensão da segurança na política exteriordo Brasil. In: BRIGAGÃO, C. & PROENÇA Jr., D. Brasil e o Mundo: novas visões. Rio: Francisco Alves, 2002.

iv Na década de 90, os Estados Unidos passaram por oito anos de crescimento econômico ininterrupto, durante oGoverno Clinton, enquanto Japão e Europa tiveram desempenho significativamente inferior, enquanto a FederaçãoRussa teve inúmeras dificuldades para implantar a economia de mercado, culminando na crise financeira de 1998.Quanto à China, apesar do crescimento robusto, ainda não tinha dimensão econômica para influenciar o cenáriointernacional, tal como viria a ocorrer no século XXI.

v Conceito lançado pela diplomacia brasileira para criticar o TNP, mirando tanto no caráter não-equânime (por quealguns países teriam o direito a armas nucleares e outros não, tendo em vista que os esforços para o desarmamentodos que já as possuíssem fatalmente se mostrariam inócuos ?) quanto insustentável no longo prazo (a dinamicidadedas relações de poder na esfera internacional provoca inevitavelmente a ascensão e queda, mesmo que relativa,dos diferentes países, e o “engessamento” de qualquer ordenamento mostra um cada vez maior custo/benefício, nomédio e longo prazos).

vi CERVO, A., A dimensão da segurança na política exterior do Brasil. In: BRIGAGÃO, C. & PROENÇA Jr., D.Brasil e o Mundo: novas visões. Rio, Francisco Alves. 2002, p.348.

vii Por exemplo, mesmo a Shanghai Cooperation Organizations (SCO), criada dois meses antes dos ataques aosEUA, passou a ressaltar um viés também anti-terrorista, não apenas porque tentava se afastar da pecha de umaorganização anti-americana mas também porque tanto Rússia quanto China, por abrigarem minorias insatisfeitas,poderiam vir também a sofrer ataques terroristas variados.

viii RISEN, J., U.S. Identifies Vast Mineral Riches in Afghanistan. New York Times, 14/06/2010. Disponível em:http://www.nytimes.com/2010/06/14/world/asia/14minerals.html. Acesso em 3 de julho de 2010

ix Para se ter uma ideia do impacto no sentimento de segurança da população dos EUA, vale lembrar que, excluindo-se balões incendiários lançados pelos japoneses contra a Costa Oeste, na II Guerra (os quais atingiram áreas maisdesabitadas, tanto que o governo conseguiu inibir as menções nos diversos noticiários e os japoneses julgaram quehaviam falhado), o ataque anterior às áreas continentais do EUA a ter um resultado semelhante havia ocorrido em1814, durante a Guerra com a Inglaterra, quando Washington foi incendiada.

x Como garantidor da segurança tanto da Coreia do Norte quanto Japão (e, de forma menos explícita, também deTaiwan), qualquer iniciativa que demonstre a incapacidade de lhes assegurar a defesa será imediatamenteinterpretada como sinal de enfraquecimento e possibilidade de que, no médio e longo prazos, haja processos debandwagoning em direção à China.

xi Por exemplo, as Six-Party Talks (conversas hexapartites), envolvendo as duas Coreias, China, EUA, Japão eRussia, não chegaram a avanços significativos quanto à desnuclearização da região e questões menores - porexemplo, abdução de cidadãos japoneses pela Coreia do Norte ou mesmo diminuição das tensões, comodemonstrado no recente afundamento de corveta sul-coreana. Quanto a este último, vide TIME, The Torpedo

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Attack: Will North Korea Be Punished?, 2010, disponível no seguinteendereço: http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1990289,00.html#ixzz0t7En34Bn, acesso em 3 de julhode 2010.

.xii APT = ASEAN PLUS THREE

xiii Por exemplo, a frota da Guarda Costeira Japonesa é expressiva, com uma tonelagem equivalente a 2/3 da frotade superfície da Marinha Chinesa (a Guarda Costeira não faz parte oficialmente da estrutura subordinada aoMinistério de Defesa Japonês, que comanda as Forças de Auto-Defesa). Vide SAMUELS (2007)

xiv Vide BAYORIA, J. & PAN, E. The U.S.-India Nuclear Deal. Disponível em:http://www.cfr.org/publication/9663/usindia_nuclear_deal.html. Acesso em 3 de julho de 2010

xv Vide EMMOTT, B. Rivals: how the power struggle between China, India and Japan will shape our next decade.Orlando: Harcourt, 2008, pp.1-8.

xvi Cfe. GANGULY, S. The Rise of India in Asia. In: SHAMBAUGH, D. & YAHUDA, M. (ed.),InternationalRelations of Asia. Plymouth, Rowan & Littlefield, 2008, p.157

xvii Vide PYLE, K. (2007). Japan rising: the resurgence of Japanese power and purpose. New York: Public Affairs,2007 e SAMUELS 2007. Securing Japan: Tokyo’s grand strategy and the future of East Asia. Ithaca, CornellUniversity Press, 2007.

xviii Referência ao primeiro-ministro Shigeru Yoshida, que na década de 50 definiu a diretriz de que, para oreerguimento do Japão, este não deveria priorizar os investimentos militares, e sim os destinados à indústria civil,já que o “guarda-chuva nuclear” dos EUA protegeria seu país.

xix Vide Nota 15.

xx Cfe. SIPRI (vários anos)

xxi Por exemplo, o comando militar da MINUSTAH no Haiti.

xxii No momento da feitura deste trabalho, ainda há dúvidas quanto à sustentabilidade de recuperação da economiamundial, principalmente dos EUA e Europa, ou mesmo a condição de a China manter seus níveis de crescimentonos patamares atuais. Por não estar no escopo deste trabalho, não se farão comentários adicionais, embora se devamregistrar os questionamentos existentes. Para uma dimensão da atual crise frente a anteriores, vide EINHART, C.& ROGOFF, N. Oito séculos de delírios financeiros: desta vez é diferente. São Paulo: Campus/Elsevier, 2010.

xxiii Numa analogia histórica, vale a pena lembrar o quanto a chamada “crise da dívida” estancou a tendência decrescente importância do Brasil nos foruns internacionais, a qual vinha se delineando desde a década de 70.

xxiv Termo celebrizado por Paul Kennedy em 1988, com o argumento de que grandes impérios haviam se dissolvidopor não conseguirem sustentar, economicamente, a presença militar “superestendida” no mundo. Para uma boaanálise das bases militares dos EUA, vide JOHNSON, C. The sorrows of empire: militarism, secrecy and the endof the republic. New York: Henry Holt and Company, 2004, pp.151-186. e Nemesis: the last days of the AmericanRepublic. New York: Henry Holt and Company, 2006.pp.137-207.

xxv De fato, as despesas militares dos EUA cresceram quase 10%, de 2008 para 2009. Vide SIPRI (vários anos)

xxvi Acrônimo criado pelo grupo financeiro Goldman Sachs para qualificar os principais mercados emergentes, emtermos de visão de longo prazo, conjugando população, área e capacidade econômica.

xxvii SIPRI (vários anos), mais especificamente o Anuário de 2010

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xxviii System-determining states, system-influencing states, system-affecting states e system-innefectual states

xxix Por exemplo, a Commonwealth, no caso inglês.

xxx Para efeitos deste trabalho, entende-se por Leste Asiático a região formada por China, Japão, Península Coreanae países da ASEAN

xxxi Apesar de geograficamente estar presente no Leste Asiático (fronteira com a Coreia do Norte), os interesses daRussia e o grau de influência na região são sensivelmente menores do que os referentes à Europa.

xxxii Vide YAHUDA, M. Looking ahead: a new Asian order? In: SHAMBAUGH, D. & YAHUDA, M. (2008).

xxxiii LINCOLN, E.J. The Asian Regional Economy. In: SHAMBAUGH, D. & YAHUDA, M., (2008:194-197),GRIMES, W.W. Currency and Contest in East Asia: the great power politics of financial regionalism. Ithaca:Cornell University Press, 2009.

xxxiv Para uma revisão crítica das três vertentes, ver ARRIGHI, G. Adam Smith in Beijing: lineages of the twentieth-first century. London: Verso, 2007, pp. 284-302.

xxxv KAPLAN, R. D. (2005). How we would fight China. Atlantic Monthly, june, 2005.

xxxvi MEARSHEIMER John J. The tragedy of great power politics. Chicago: University of Chicago, 2003.

xxxvii Para uma análise da estratégia chinesa, vide KAPLAN, R. D, China’s grand map. Foreign Affairs, may/june2010.

xxxviii Numa tradução literal, centro e raios. Trata-se de uma imagem utilizada para caracterizar sistemas baseadosna interação constante entre um centro e polos circundantes.

xxxix KISSINGER, H. (2005) China: Containment won’t work. Washington Post, 13 de junho de 2005.

xl PINKERTON, J. Superpower Showdown. The American Conservative, 7 de novembro de 2005.

xli Literalmente, “terceiro feliz”, expressão associada a uma situação em que alguém se aproveita do conflito deoutras duas pessoas.

xlii Sobre a “asianização”, vide GREEN & GILL, Asia’s new multilateralism. New York: Columbia University Press,2009.

xliii O já citado “overstretch”.

xliv Vide MOFA (a). Japan-India Two-Plus-Two Dialogue and Japan-India Foreign Office Consultations, 2010.Disponível em: http://www.mofa.go.jp/announce/announce/2010/7/0702_01.html. Acesso em 3 de julho de2010.

xlv Vide SCHMITT, G.J. The rise of China: essays on the future competition. New York: Encounter, 2009, pp. 1-51.

xlvi EMMOTT, 2008, 262.

xlvii MOFA (b), Japan-China-ROK Trilateral Summit. Disponível em: http://www.mofa.go.jp/region/asia-paci/jck/summit.html. Acesso em 03 de julho de 2010.

xlviii Para os estágios de transformação da política externa japonesa, vide INOGUCHI, T. & BACON, P. Japan’semerging role as a global emerging power. International Relations of the Asia-Pacific. vol. 6, nº1, 2006.

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xlix Denominação dada pelos japoneses ao expansionismo pós-Revolução Meiji, à medida que, segundo eles,estariam trazendo prosperidade a Taiwan, Coreia, Manchúria, etc.

l Vide nota 20

li Tendo em vista o Japão ter sido o único país até o momento a sofrer bombardeios nucleares, tal questão carregaum alto grau de controvérsia para a sociedade japonesa.

lii A inflexibilidade dos EUA em relação à manutenção dos acordos referentes às bases singnificou que uma daspromessas de campanha do premier Yukio Hatoyama não fosse cumprida, o que contribuiu para a sua renúncia.

liii Vide nota 46

liv As regiões de Arunachal Pradesh, Aksai Chin e parte da Caxemira que, por acordo entre China e Paquistão, ficoucom este último.

lv Para uma visão otimista da possibilidade de a cooperação superar tais problemas, vide NADKARNI, V., Strategicpartnerships in Asia: balancing without alliances. London: Routledge, 2010, especialmente pp. 114-149.

lvi Por exemplo, no caso do acordo quanto à questão nuclear aceito pelo Irã, com a participação da Turquia

lvii No entanto, a rápida reação dos EUA (talvez mesmo em níveis desproporcionais ao exigido pela tragédia) naquestão do terremoto do Haiti, buscando reforçar a posição na região e mesmo “enfraquecendo” a liderançabrasileira no processo, serve de lembrança quanto à por vezes “truculência” da geopolítica.

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