período regencial

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HISTÓRIA Editora Exato 27 O PERÍODO REGENCIAL 1. PRINCIPAIS FACÇÕES POLÍTICAS Entre a abdicação de D. Pedro I (1831) e a an- tecipação da maioridade de D. Pedro II (1840) situ- ou-se um dos períodos mais agitados de nossa história. O governo foi entregue aos regentes, que e- xerceram o poder no lugar do futuro D. Pedro II. Para o Brasil, este fato equivaleu a uma verdadeira “expe- riência republicana”. Nesse período, 3 grupos políti- cos se formaram em defesa dos interesses das elites, quais foram: Os restauradores: agrupados em torno da Sociedade Conservadora, mais tarde Socie- dade Militar, da qual faziam parte os An- dradas, representavam a tendência ultra- reacionária. Na verdade, constituíam uma força política secundária, limitando-se a de- fender o retorno e a restauração de D. Pedro I, composto quase que exclusivamente por portugueses. Os exaltados, agrupados em torno da Soci- edade Federalista, defendiam maior auto- nomia provincial; o fim do voto censitário; o fim do conselho de estado e do Senado vitalício; não raro, alguns deles eram fran- camente republicanos. Expressavam as as- pirações das camadas urbanas e eram mais representativos no sul do país destacando a defesa dos interessse da indústria do char- que Os moderados: monarquistas defensores da hereditariedade de D. Pedro; conseguiram o poder político utilizando os exaltados como massa de manobra, representavam a grande maioria de elite no Brasil. Defendiam a monarquia escravista e estavam dispostos a permitir reformas políticas que não afetas- sem seus privilégios e exclusivismo políti- co. Farroupilha Do ponto de vista da economia agroexportado- ra, que tudo subordinava aos seus objetivos, a pecuá- ria rio-grandense era, naturalmente, um setor que não podia ambicionar grandes lucros, pois estava impedi- da de onerar o setor principal da economia, cujos preços deveriam se manter competitivos no mercado internacional. Por essa razão, as províncias do Norte não hesitavam em importar o charque produzido nas regiões platinas com baixos direitos aduaneiros. A solução para a crise da empresa do charque, encaminhada pela elite agrária foi a guerra de separa- ção e independência em relação ao estado brasileiro está foi a mais longa guerra civil de nossa história li- derada por Bento Gonçalves e Giusepe Garibaldi Enfim, em março de 1845, quando Davi Cana- barro e Caxias entraram em acordo, a rebelião dos farrapos estava superada. A concessão oficial foi e- norme: anistia geral aos revoltosos; incorporação dos soldados e oficiais ao Exército imperial em igual pos- to, exceto o de general; devolução das terras confis- cadas, além do aumento dos impostos sobre o charque platino. Cabanagem A Cabanagem foi precedida de uma série de revoltas que agitaram o Grão-Pará desde a época da independência. As razões que motivaram a revolução dos cabanos foram praticamente as mesmas que de- ram origem a tantas outras revoltas sociais ocorridas em diferentes províncias: fome, miséria, escravidão e latifúndio. Mais uma vez, formava-se no Grão-Pará um governo popular. Esse governo, presidido por Eduar- do Angelim, não tinha porém condições de atender aos anseios da população. Em face da ameaça de uma poderosa força militar e de uma grande esquadra en- viada pelo governo do Rio de Janeiro, os rebeldes a- bandonaram a capital e foram para o interior, onde resistiram até 1839. Foram finalmente massacrados; a “pacificação” da província, em 1840, se fez em cima da crueldade assassina. Saldo: 40.000 cabanos mortos numa província cuja população, antes do conflito, não chegava a 100 mil habitantes. Sabinada Ao contrário do caráter verdadeiramente popu- lar da Cabanagem, a Sabinada foi uma revolta que fi- cou restrita às camadas médias urbanas de Salvador e a algumas tropas militares baianas. Balaiada Ao latifúndio improdutivo, gerador de dispari- dades sociais, somava-se a escravidão e a queda das exportações do algodão - principal produto de expor- tação do Maranhão desde a segunda metade do sécu- lo XVIII -, que sofria a concorrência da produção norte-americana nos mercados internacinais. Embora a pauta de reivindicações não fosse precedida por uma pregação ideológica e tampouco tenham sido traçados objetivos claros, a luta levou todos os mestiços, todas as castas oprimidas, todos os resíduos humanos espalhados pelas perseguições ou acossados pelas violências dos poderes públicos ou dos senhores de engenho. A Revolta dos Malês A Bahia também foi palco de uma rebelião de escravos, que, embora tenha durado somente dois di-

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Page 1: Período Regencial

HISTÓRIA

Editora Exato 27

O PERÍODO REGENCIAL

1. PRINCIPAIS FACÇÕES POLÍTICAS

Entre a abdicação de D. Pedro I (1831) e a an-tecipação da maioridade de D. Pedro II (1840) situ-ou-se um dos períodos mais agitados de nossa história. O governo foi entregue aos regentes, que e-xerceram o poder no lugar do futuro D. Pedro II. Para o Brasil, este fato equivaleu a uma verdadeira “expe-riência republicana”. Nesse período, 3 grupos políti-cos se formaram em defesa dos interesses das elites, quais foram:

� Os restauradores: agrupados em torno da Sociedade Conservadora, mais tarde Socie-dade Militar, da qual faziam parte os An-dradas, representavam a tendência ultra-reacionária. Na verdade, constituíam uma força política secundária, limitando-se a de-fender o retorno e a restauração de D. Pedro I, composto quase que exclusivamente por portugueses.

� Os exaltados, agrupados em torno da Soci-edade Federalista, defendiam maior auto-nomia provincial; o fim do voto censitário; o fim do conselho de estado e do Senado vitalício; não raro, alguns deles eram fran-camente republicanos. Expressavam as as-pirações das camadas urbanas e eram mais representativos no sul do país destacando a defesa dos interessse da indústria do char-que

� Os moderados: monarquistas defensores da hereditariedade de D. Pedro; conseguiram o poder político utilizando os exaltados como massa de manobra, representavam a grande maioria de elite no Brasil. Defendiam a monarquia escravista e estavam dispostos a permitir reformas políticas que não afetas-sem seus privilégios e exclusivismo políti-co.

Farroupilha Do ponto de vista da economia agroexportado-

ra, que tudo subordinava aos seus objetivos, a pecuá-ria rio-grandense era, naturalmente, um setor que não podia ambicionar grandes lucros, pois estava impedi-da de onerar o setor principal da economia, cujos preços deveriam se manter competitivos no mercado internacional. Por essa razão, as províncias do Norte não hesitavam em importar o charque produzido nas regiões platinas com baixos direitos aduaneiros.

A solução para a crise da empresa do charque, encaminhada pela elite agrária foi a guerra de separa-ção e independência em relação ao estado brasileiro

está foi a mais longa guerra civil de nossa história li-derada por Bento Gonçalves e Giusepe Garibaldi

Enfim, em março de 1845, quando Davi Cana-barro e Caxias entraram em acordo, a rebelião dos farrapos estava superada. A concessão oficial foi e-norme: anistia geral aos revoltosos; incorporação dos soldados e oficiais ao Exército imperial em igual pos-to, exceto o de general; devolução das terras confis-cadas, além do aumento dos impostos sobre o charque platino. Cabanagem

A Cabanagem foi precedida de uma série de revoltas que agitaram o Grão-Pará desde a época da independência. As razões que motivaram a revolução dos cabanos foram praticamente as mesmas que de-ram origem a tantas outras revoltas sociais ocorridas em diferentes províncias: fome, miséria, escravidão e latifúndio.

Mais uma vez, formava-se no Grão-Pará um governo popular. Esse governo, presidido por Eduar-do Angelim, não tinha porém condições de atender aos anseios da população. Em face da ameaça de uma poderosa força militar e de uma grande esquadra en-viada pelo governo do Rio de Janeiro, os rebeldes a-bandonaram a capital e foram para o interior, onde resistiram até 1839. Foram finalmente massacrados; a “pacificação” da província, em 1840, se fez em cima da crueldade assassina. Saldo: 40.000 cabanos mortos numa província cuja população, antes do conflito, não chegava a 100 mil habitantes. Sabinada

Ao contrário do caráter verdadeiramente popu-lar da Cabanagem, a Sabinada foi uma revolta que fi-cou restrita às camadas médias urbanas de Salvador e a algumas tropas militares baianas. Balaiada

Ao latifúndio improdutivo, gerador de dispari-dades sociais, somava-se a escravidão e a queda das exportações do algodão - principal produto de expor-tação do Maranhão desde a segunda metade do sécu-lo XVIII -, que sofria a concorrência da produção norte-americana nos mercados internacinais.

Embora a pauta de reivindicações não fosse precedida por uma pregação ideológica e tampouco tenham sido traçados objetivos claros, a luta levou todos os mestiços, todas as castas oprimidas, todos os resíduos humanos espalhados pelas perseguições ou acossados pelas violências dos poderes públicos ou dos senhores de engenho. A Revolta dos Malês

A Bahia também foi palco de uma rebelião de escravos, que, embora tenha durado somente dois di-

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as, teve importância capital, a Revolta dos Malês. Nestes dias, os escravos de origem malê, de religião muçulmana, se rebelaram contra a pressão dos senho-res brancos.

Durante 24 horas, a cidade de Salvador viveu horas de extrema tensão. Desarmados, os escravos foram dominados com facilidade e a repressão foi vi-olenta tanto durante o conflito, que vitimou 70 ne-gros, quanto após, quando 500 negros receberam castigos que variavam do açoite até a pena de morte.

ESTUDO DIRIGIDO

1 Cite as facções políticas que caracterizaram o quadro político brasileiro no período regencial.

2 Que motivo fez com que os estancieiros do Sul organizassem uma revolta contra o governo?

3 Explique a razão que considera o período regen-cial como uma fase republicana.

EXERCÍCIOS

1 Entre as revoltas que se iniciaram no Período Regencial, a única que teve suas reivindicações atendidas foi: a) a Sabinada. b) a Balaiada. c) a Revolução Farroupilha. d) a Cabanagem.

2 Dentre as modificações ocorridas na Regência Trina Permanente, a que contribuiu para uma cer-ta descentralização político-administrativa foi: a) a aprovação do Ato Adicional. b) a criação a Guarda Nacional. c) a outorga da Constituição Imperial. d) a promulgação do Primeiro Código Civil.

3 Dentre os itens abaixo, assinale aquele que ex-pressa CORRETAMENTE uma característica do Brasil, na primeira metade do século XIX: a) Em 1824, foi promulgada a primeira constitui-

ção brasileira, cuja característica principal foi a instituição dos três poderes e nos leva a perce-ber o caráter descentralizador do governo de D. Pedro I.

b) O período regencial foi marcado por várias re-voltas, que acabaram desestabilizando a vida política daquela época. Os liberais aproveita-ram tal motivo para articular a posse de D. Pe-dro II como imperador, alegando que só a figura rei, com poderes plenos, poderia “paci-ficar” o país e fazer voltar a estabilidade.

c) No período regencial foi criada a Guarda Na-cional, com o objetivo de proteger, juntamente com o exército, as propriedades dos barões do café das possíveis fugas de escravos descon-tentes.

d) Ocorreram várias revoltas (Farroupilha, Caba-nagem, Balaiada) todas de caráter popular e bem organizadas, que acabaram levando os re-gentes a reverem algumas posturas políticas chegando até mesmo a conceder mais autono-mia às províncias para tentar conter os ânimos dos rebelados.

4 “Quantas revoluções já houve no Brasil? Uma porção, desde a Proclamação da República, e ele continua de pé. A base é o chefe local, o “coro-nel” que manda seus eleitores votarem contra ou a favor de determinado candidato. O coronel é o homem que comanda a Guarda Nacional, porque ele é quem elege os homens que a fazem. E o co-ronel não é um homem atrasado e imbecil como se afirma. Todo mundo pensa que o sujeito vai para o “curral eleitoral” à força. Não, ele vai por-que quer. [...]”.

(José Bonifácio Andrade, publicado em O Estado de São Paulo, de 16 de Março de 1980.)

O texto se refere a um personagem bastante comum na política nacional, o coronel, desde os tem-pos do Império até os dias de hoje. A respeito do co-ronelismo e com base no texto acima, assinale a ÚNICA alternativa INCORRETA:

a) Na sua origem, o posto do coronel era ocupado pelos principais proprietários rurais que ingres-saram na Guarda Nacional, criada no período regencial, com objetivo inicial de conter as vá-rias rebeliões ocorridas naquela época.

b) Diante da fragilidade das instituições públicas, o coronel assume funções que deveriam ser de atribuição do Estado. Questões de justiça, elei-ções e benefícios públicos tornavam-se atribu-tos dos coronéis que intermediavam as

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relações entre seus agregados e as instâncias públicas.

c) A Guarda Nacional era uma força repressiva contra revoltas de grupos sociais descontentes. Aos poucos a patente de coronel deixou de vincular-se ao exército militar e passou a ser empregada para distingüir os principais líderes políticos de cada centro urbano, que, articula-dos entre si, agem com total autonomia, des-vinculados do governo federal.

d) O coronelismo articulava a política brasileira durante a República Velha. Mas podemos a-firmar que muitas das características da ação dos coronéis ainda estão presentes na política brasileira nos dias de hoje como, por exemplo, a ligação entre o poder público e o interesse privado e a influência de determinados chefes políticos sobre os eleitores de algumas regiões.

GABARITO

Estudo Dirigido

1 Os restauradores; os moderados e os exaltados.

2 A concorrência comercial e a autonomia admi-nistrativa.

3 Devido ao exercício do poder de forma descen-tralizada, assumido por regentes durante a meno-ridade de D. Pedro II.

Exercícios

1 C

2 A

3 B

4 D