perguntas capelo - dto das sucessoes

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Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco 1 1. Porque é que o Direito das Sucessões não deve ser uma cadeira optativa? Trata-se de um curso que habilita com a licenciatura em Direito e supõe sempre a consequente aptidão para o acesso a diversas profissões onde predomina ou é necessário o Direito Civil, apesar de se prever a possibilidade de menção, no diploma de licenciatura, de diversas áreas. O direito civil tem uma globalidade e uma unidade, que não permitem a amputação de uma das suas partes essenciais, sendo o livro das sucessões de uma das suas divisões primarias. O direito das sucessões tem implicação nos demais livros do código civil, noutros ramos do direito privado e também no direito público. O estudo do direito deve ser gradativo, acompanhando a maturidade e a experiencia da vida e complementando-se com a pratica profissional, pós compreendendo-se com esta e adaptando-se continuamente ao evoluir do sistema jurídico. Ora, se há alunos que não possuem essas bases essenciais no tempo certo, dificilmente as adquirirão fora da Universidade). A complexidade e dificuldade na aprendizagem da matéria sucessória é um convite à evasão, no caso de darem hipótese de escolha. 2. Qual o contributo do Dr.Coelho da Rocha para o aperfeiçoamento do ensino do Direito da Familia e das Sucessões? Foi preciso esperar por Coelho da Rocha para que o Direito da Família e Sucessões fosse aperfeiçoado. Como à época não existia uma sistema coerente, com princípios fixos e constantes, teve o Dr.Coelho da Rocha que tomar o lugar de legislador, devendo- se a ele o primeiro plano da disciplina, a ordenação coerente das leis publicadas há já 200 anos, unificando assim as leis vindas das diferentes ordenações e da reforma pombalina, harmonizando-as de acordo com o espirito da parte constitucional; também se deveu a este prezado professor a supressão de lacunas legais e a interpretação das leis antigas de acordo com a época, resolvendo assim casos omissos. 3. Há ou não colação em caso de concurso hereditário de cônjuge sobrevivo e descendentes? Teoria, argumentos, contra-argumentos. A primeira questão é a de sabermos se estamos perante um caso omisso no Codigo Civil português, após o DL 496/77, ou diferentemente, face a um caso previsto de negação da colação do cônjuge na nossa legislação actual. Entendemos que a redação actual do nosso Codigo Civil, no respeitante à colação, que ficou intocada por tal decreto-lei, não regula a hipótese de concurso hereditário do cônjuge com descentes, com ocorrência de liberalidades em vida a favor de tais sucessíveis, e que tal situação carece de disciplina jurídica. Há, assim, caso omisso. Poderemos dizer que com as alterações legais que sucederam em 1977, o cônjuge sobrevivo viu a sua posição sucessória bastante “melhorada” uma vez que passou a ser considerado como herdeiro legitimo, a par dos descendentes e dos ascendentes do de cuiús. Contudo, esta alteração legal deixou intocada o regime de colação que prevê/regula um principio igualitivo da forma como os bens são distribuídos pelos herdeiros legítimos do 1ºgrau de sucessíveis que a lei época eram apenas os descendentes, instalando-se assim a duvida, será que o legislador quis deixar o regime intocado, o que poderá levar a uma desigualdade entre o cônjuge sobrevivo e todos os

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  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    1. Porque que o Direito das Sucesses no deve ser uma cadeira optativa?

    Trata-se de um curso que habilita com a licenciatura em Direito e supe sempre a

    consequente aptido para o acesso a diversas profisses onde predomina ou necessrio

    o Direito Civil, apesar de se prever a possibilidade de meno, no diploma de

    licenciatura, de diversas reas.

    O direito civil tem uma globalidade e uma unidade, que no permitem a amputao de

    uma das suas partes essenciais, sendo o livro das sucesses de uma das suas divises

    primarias.

    O direito das sucesses tem implicao nos demais livros do cdigo civil, noutros ramos

    do direito privado e tambm no direito pblico.

    O estudo do direito deve ser gradativo, acompanhando a maturidade e a experiencia da

    vida e complementando-se com a pratica profissional, ps compreendendo-se com esta

    e adaptando-se continuamente ao evoluir do sistema jurdico. Ora, se h alunos que no

    possuem essas bases essenciais no tempo certo, dificilmente as adquiriro fora da

    Universidade).

    A complexidade e dificuldade na aprendizagem da matria sucessria um convite

    evaso, no caso de darem hiptese de escolha.

    2. Qual o contributo do Dr.Coelho da Rocha para o aperfeioamento do ensino do Direito da Familia e das Sucesses?

    Foi preciso esperar por Coelho da Rocha para que o Direito da Famlia e Sucesses

    fosse aperfeioado. Como poca no existia uma sistema coerente, com princpios

    fixos e constantes, teve o Dr.Coelho da Rocha que tomar o lugar de legislador, devendo-

    se a ele o primeiro plano da disciplina, a ordenao coerente das leis publicadas h j

    200 anos, unificando assim as leis vindas das diferentes ordenaes e da reforma

    pombalina, harmonizando-as de acordo com o espirito da parte constitucional; tambm

    se deveu a este prezado professor a supresso de lacunas legais e a interpretao das leis

    antigas de acordo com a poca, resolvendo assim casos omissos.

    3. H ou no colao em caso de concurso hereditrio de cnjuge sobrevivo e descendentes? Teoria, argumentos, contra-argumentos.

    A primeira questo a de sabermos se estamos perante um caso omisso no Codigo Civil

    portugus, aps o DL 496/77, ou diferentemente, face a um caso previsto de negao da

    colao do cnjuge na nossa legislao actual. Entendemos que a redao actual do

    nosso Codigo Civil, no respeitante colao, que ficou intocada por tal decreto-lei, no

    regula a hiptese de concurso hereditrio do cnjuge com descentes, com ocorrncia de

    liberalidades em vida a favor de tais sucessveis, e que tal situao carece de disciplina

    jurdica. H, assim, caso omisso.

    Poderemos dizer que com as alteraes legais que sucederam em 1977, o cnjuge

    sobrevivo viu a sua posio sucessria bastante melhorada uma vez que passou a ser considerado como herdeiro legitimo, a par dos descendentes e dos ascendentes do de

    cuis. Contudo, esta alterao legal deixou intocada o regime de colao que

    prev/regula um principio igualitivo da forma como os bens so distribudos pelos

    herdeiros legtimos do 1grau de sucessveis que a lei poca eram apenas os

    descendentes, instalando-se assim a duvida, ser que o legislador quis deixar o regime

    intocado, o que poder levar a uma desigualdade entre o cnjuge sobrevivo e todos os

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    descendentes primrios do de cuis, ou ser que houve um enriquecimentos, por parte

    do legislador, provocanto assim uma lacuna na lei.

    Para os Dr. Guilherme de Oliveira e Dr. Pereira Coelho, o cnjuge no tem de estar

    sujeito colao, no existindo nenhuma omisso legal, ficando o regime da colao

    intocado por opo do legislador, alegando para isso que:

    - normalmente, as doaes feitas ao cnjuge so feitas como intuito de o favorecer, logo

    so feitas por conta da quota disponvel.

    - a ideia de igualao do cnjuge e descendentes no fazem sentido, porque h outros

    casos na lei em que claro o favorecimento do cnjuge desde a reforma de 77.

    Por outro lado, para o Dr. Capelo de Sousa estaremos perante um caso omisso, tendo

    por isso que sujeitar o cnjuge colao assim como os descendentes, por isso

    argumenta:

    1) No se justificaria que o cnjuge sobrevivo, chamado conjuntamente com os descendentes, aproveitasse o aumento da massa partilhvel, pela imputao das

    liberalidade nos quinhoes hereditrios dos descendentes sujeitos colao.

    2) Mesmo do ponto de vista da vontade presumida do autor da sucesso, uma vez que o cnjuge sobrevivo passou a ser presuntivo herdeiro legitimo, parece

    razovel admitir a presuno jurdica, com a qual o de cuis deve contar de que

    no silencio deste, as liberalidades feitas em vida ao cnjuge ou aos descendentes

    constituem uma mera antecipao do quinho hereditrio de todos eles, at

    porque h interesses sociais no sentido de no facilitar a discriminao entre os

    herdeiros prioritrios chamados.

    3) A prpria colao. um instituto que tem papel activo nas questes de equidade social para efeito de tratamento sucessrio igualitrio dos herdeiros forosos,

    normal e prioritariamente chamado sucesso, onde actualmente figuram o

    cnjuge sobrevivo e os descendentes.

    4) O prprio objectivo da igualao entre os co-herdeiros legais faz indubitavelmente fonte de suporte legal da nossa colao.

    5) O preambulo do DL 496/77 aponta claramente para uma equiparao sucessria das vocaes dos descendentes e do cnjuge.

    6) A colao tanto do cnjuge como de descendentes encontra-se prevista expressamente no cdigo civil italiano, que serviu de fonte de inspirao do DL

    de 77.

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    4. Qualifique e distinga herdeiro e legatrio, demonstrando a relevncia

    pratica da distino.

    - Herdeiro: quando h uma instituio de um sucessor pela qual ele vai suceder

    em bens que no esto previamente determinados, os quais abrangem quer a

    totalidade do patrimnio do falecido, quer uma sua quota-parte.

    - Legatrio: quando uma pessoa chamada a suceder em bens certos e

    determinados, com excluso de outros bens.

    Herdeiro: poder suceder:

    na totalidade ou em quota parte alquota do patrimnio hereditrio;

    na quota-parte no alquota do patrimnio hereditrio;

    no remanescente, em quota parte do remanescente ou no remanescente

    de quota no patrimnio herditario (20303)

    numa quota-parte, onde o testador, utilizando o seu poder de compor a

    quota, atribui a essa mesma quota, bens certos e determinados. A

    doutrina defende aqui que deve prevalecer a verdadeira vontade do

    legislador.

    Legatrio: poder suceder:

    bens determinados e no especficos, como o caso da universalidade de

    facto (biblioteca, rebanho); legados de patrimnio autonomo ou de

    unidades jurdicas (deixas de herana ou quota de herana no partilhada;

    deixa de estabelecimento comercial, deixa de meao aos bens comuns),

    e ainda deixa de usufruto da herana ou de quota de herana.

    Em regra, s os herdeiros respondem pelos encargos de herana (2068 e 2071),

    havendo esta respondabilidade tambm para os legatrios no caso de toda a herana for

    distribuda em legados (2277).

    S os herdeiros podem exigir a partilha (21011).

    Enquanto que a lei probe que se institua herdeiro a termo, este j nada impede quanto

    aos legatrios a termo inicial e final.

    Quanto ao direito de acrescer, os herdeiros tem-no previsto de forma bastante ampla

    (21372), herdeiros legais e herdeiros testamentrios, j os legatrios apenas tem direito

    de acrescer relativamente coisa que objecto do seu prprio legado, no caso de este

    ser atribudo a mais que uma pessoa (2302).

    Os legatrios s em caso de nomeao conjunta tem direito de preferncia sobre o

    legado, j os herdeiros tem um amplo direito de preferir sobre todos os quinhes

    hereditrios.

    S os herdeiros se encontram sujeitos s sanes por sonegao de bens de herana.

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    S os herdeiros gozam do direito de aceitar ou repudiar herana de sucessveis

    chamados a herana sem a haver aceitado ou repudiado 20851.

    prioritariamente sobre os herdeiros que, face aos legatrios que so reduzidas as

    liberalidades testamentarias inoficiosas (2171).

    S os herdeiros tem legitimidade para requerer providncias face aos direitos de

    personalidade de pessoas falecidas (712).

    5. Defina e contradiga, sucintamente, na sucesso legal, o direito de

    representao, o direito de transmisso e o direito de acrescer.

    Direito de representao: resume-se na ocupao, pelos seus descendentes, da posio

    de um herdeiro ou legatrio que no pode ou no quer aceitar a herana.

    Na sucesso legal: 2039, interessa que o sucessvel prioritariamente designado, no

    possa ou no queira aceitar a herana ou o legado, qualquer que seja a causa de no

    aceitao (nomeadamente pre-morte, ausncia, incapacidade por indignidade,

    deserdao e repudio).

    Na sucesso testamentaria: 2041, interessa que o sucessvel prioritariamente designado,

    no possa o no queira aceitar a herana ou o legado, por pre-morte ou repudio. ainda

    necessrio que no haja outra causa de caducidade da vocao sucessria (que no tenha

    sido vontade do de cuis afastar a representao ou que no ocorram casos de se ter

    designado um substituto, ou eu o objecto de legado seja um dto real de usufruto ou

    outro direito pessoal, e ainda que no seja o caso de haver fidecomissrio que no tenha

    aceita ou no tenha podido aceitar.

    Efeitos da representao: a representao tem lugar ainda que todos os membros das

    varias estirpes estejam, relativamente ao autor da sucesso, no mesmo grau de

    parentesco, ou existe s uma estirpe. O direito de representao obriga o representante

    colao em tudo aquilo a que o representado estivesse obrigado.

    Direito de transmisso: 2058/1, se o sucessvel chamado herana falecer sem a

    haver aceitado ou repudiado, transmite-se aos seus herdeiros o direito de a aceitar ou

    repudiar. O direito de transmisso s tem lugar aps o efectivo chamamento herana

    do sucessvel prioritrio com a sucesso j aberta, e este venha a falecer sem aceitar ou

    repudiar a mesma. S haver lugar a direito de transmisso se os herdeiros chamados,

    aceitarem a herana do transmitente.

    Direito de acrescer: direito do sucessvel, chamado simultaneamente com outros, de

    adquirir o objecto sucessrio que outro dos sucessveis no pode ou no quis aceitar,

    sempre que se verifique um conjunto de pressupostos negativos e positivos.

    Entre herdeiros no caso de existirem apenas herdeiros legais chamados, h, em

    principio um reciproco e limitado direito de acrescer entre eles, com a ressalva do

    2143.

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    Caso existam herdeiros testamentrios institudos na totalidade da herana, gozam

    aqueles, reciproca e ilimitadamente, de direito de acrescer, seja ou no conjunta a

    instituio.

    Havendo concorrncia de herdeiros legais com herdeiros testamentrios, o direito de

    acrescer funciona separadamente entre casa uma das espcies de sucesso no caso de

    faltarem ou repudiarem todos os elementos da classe de herdeiros legais, sero

    chamados os herdeiros da classe subsequente.

    No caso de no poderem ou no quiserem aceitar a herana todos os herdeiros

    testamentrios, so chamados s suas quotas os herdeiros legtimos, no propriamente

    por direito de acrescer, mas pelo caracter suplectivo da sucesso legislativa.

    Entre legatrios tal direito existe apenas entre legatrios que tenham sido nomeados

    em relao ao mesmo objecto, havendo uma preferncia inicial entre os nomeados

    conjuntamente.

    No havendo direito de acrescer por ou legatrio, assiste-se a uma aquisicaao ex lege

    por parte dos herdeiros 2303.

    Substituio: pode ser directa ou vulgar, o testador substitui outra pessoa ao herdeiros

    ou legatrio nomeado para caso de estes no poderem ou no quererem aceitar a herana

    ou legado.

    6. Defina e contradiga, sucintamente, nos seus pressupostos, termos e

    formalidades, o inventrio (com e sem interveno principal do MP) e a

    partilha extrajudicial.

    Depois de apurados os valores globais da massa da herana do cujus chegado o

    momento de repartir esses valores pelos seus herdeiros e legatrios na medida a que

    estes tenham direito. Todavia, a herana pode padecer de determinadas particularidades

    que podem levar a que duas ou mais pessoas directamente interessadas determinem a

    necessidade de partilhar as universalidades jurdicas dos bens para efeitos do concreto

    preenchimento dos seus quinhes hereditrios.

    Sendo assim, a partilha pode ser exigida por qualquer herdeiro ou co-herdeiro e pode ter

    lugar extrajudicialmente ou judicialmente artigo 2102. Todavia, a este respeito

    existem actualmente inmeros problemas, desde logo pela entrada em vigor da Lei

    29/2009 que revogou o processo de inventrio previsto no CPC, passando esta

    competncia para as mos dos cartrios notariais e das conservadoras civis, nos termos

    que viriam a ser especificados em portaria a ser emitida. Contudo, esta portaria nunca

    chegou a ser publicada, pelo que os cartrios notariais e as conservadoras civis

    recusavam-se a aceitar os requerimentos que l dessem entrada pois os termos do

    procedimento do processo de inventrio no se encontrava densificado na lei. Assim

    como os tribunais entendiam que deixaram de ser materialmente competentes para

    averiguar de tais processos. Por maioria de razo e por Acrdo proferido pelo Tribunal

    Constitucional entendeu-se que esta competncia continuava a pertencer aos tribunais

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    aplicando-se o ento revogado regime previsto no CPC, at que nova lei entrasse em

    vigor. Lei essa que entrar em vigor em Setembro do presento ano.

    Faz-se extrajudicialmente quando todos os interessados cheguem a acordo. Tem lugar

    judicialmente em processo de inventrio nas seguintes situaes: quando no haja

    acordo entre todos os interessados e quando assim o entenda o MP pelas razes

    especificadas na lei artigo 2102/2 CC e 1327 CPC.

    Sendo assim e de acordo com o que j foi dito anteriormente, a partilha judicial continua

    a fazer-se hoje em processo especial de inventrio previsto nos artigos revogados do

    CPC. Como tambm j foi referido anteriormente, o processo de inventrio pode ser

    com ou sem interveno do MP.

    O processo judicial de inventrio sucessrio tem normalmente um carcter divisrio,

    isto , a sua finalidade , principalmente, proceder partilha dos bens. Quanto ao

    tribunal competente ver artigo 77 CPC. Quanto s fases deste processo, a fase

    preliminar inicia-se com o requerimento da pessoa directamente interessada ou do MP.

    Se o juiz no tiver motivos para indeferir tal processo designa o cabea de casal e

    manda cit-lo. Se o processo continuar so chamados os restantes interessados artigo

    1341 CPC. Se no houver oposio ao inventrio procede-se descrio e valorao

    dos bens a partir da relao de bens apresentada pelo cabea de casal. Contra esta

    relao podem reclamar os interessados e o MP (em caso de inventrio com a sua

    interveno). Determinados os bens a partilhar procede-se a uma conferncia de

    interessados, para aprovao do passivo e forma do seu pagamento, para eventual

    acordo sobre o preenchimento dos quinhes, o sorteamento de verbas ou a venda dos

    bens da herana e para, na falta de acordo, a mesma conferncia deliberar sobre

    reclamaes contra o excesso de avaliao sobre quaisquer questes cuja resoluo

    possa influir na partilha. Se os interessados no chegarem a acordo abre-se licitao.

    Uma vez descritos e avaliados os bens hereditrios, possvel iniciar-se a discusso

    sobre a forma de partilha. Finalmente, na fase de julgamento o juiz profere despacho

    determinativo de como se deve proceder partilha. A secretaria dever ento organizar

    o mapa da partilha, que passvel de reclamaes. Por ltimo o juiz profere sentena

    homologando a partilha constante do mapa com as alteraes que tenham sido

    introduzidas em virtude das reclamaes.

    Quando partilha extrajudicial, este deve processar-se por escritura pbica se disser

    respeito a coisas imveis ou de quotas de sociedades de que faam parte coisas imveis.

    Se da herana no constarem coisas imveis ou quotas de sociedades de onde constem

    coisas imveis a partilha no est sujeita a forma, valendo o princpio de que a validade

    das declaraes negociais no depende da observncia de forma especial artigo 219.

    Quanto ao preenchimento dos quinhes dos partilhantes em bens concretos, na partilha

    judicial o mecanismo de preenchimento est previsto na lei do processo e na partilha

    extrajudicial rege o consenso de todos os partilhantes. Mas em ambos os modos de fazer

    a partilha h que ter em conta alguns mecanismos comuns (por exemplo o

    consentimento das partes, as atribuies preferenciais e as tonas), e a possibilidade de os

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    mecanismos de partilha do processo de inventrio serem utilizados pelos partilhantes

    extrajudiciais, conquanto na dependncia do consenso final destes. Existem diferentes

    modos de preenchimento das quotas hereditrias.

    Em primeiro lugar aparece-nos o modo mais elementar de todos: o consentimento de

    todos os partilhantes e a composio negociada dos quinhes. J se sabe que este o

    ponto fulcral na partilha extrajudicial, mas no deixa de ser importante na judicial, na

    medida em que na conferncia dos interessados ou posteriormente podem acordar entre

    si quais as verbas que ho-de preencher as suas quotas. Mesmo as atribuies

    preferncias podem ser ultrapassadas mediante acordo de todos os interessados.

    A este respeito das atribuies legais preferncias cumpre observar os artigos 2103-A e

    seguintes do CC. Repare-se que a norma no atribui ao cnjuge o direito de

    propriedade, apenas lhe atribui o direito real de habitao e de uso do respectivo

    recheio, na medida do necessrio para que o cnjuge possa usufruir de um nvel de vida

    idntico quele que teria se o seu cnjuge ainda fosse vivo. Direitos estes que so

    limitados, mais fracos que o direito de propriedade e que caducam aquando da morte do

    seu titular. Repare-se que este direito de habitao vai integrar no seu valor a quota do

    cnjuge sobrevivo e a sua prpria meao. Normalmente caber na sua quota, mas se

    no coube, haver lugar a tornas. Neste aspecto podem levantar-se alguns problemas na

    determinao da casa de morada da famlia, nomeadamente por haver no patrimnio do

    autor mais de uma casa. Para este efeito entende-se que a casa de morada da famlia

    dever ser aquele em que os cnjuges mantinham a sua residncia habitual, a principal

    do agregado familiar.

    Outro modo de preencher os quinhes dos partilhantes so as atribuies judiciais por

    licitao ou conferncia de doaes ou legados. A este respeito ver o artigo 1374 CPC.

    A licitao no d ao licitante o direito de propriedade dos bens licitados, apenas lha d

    direito adjudicao desses bens. Temos ainda as atribuies judiciais de bens

    hereditrios artigo 1734-b) CPC, onde o juiz no est vinculado adjudicao de certos

    bens aos licitantes ou donatrios, gozando de certa margem de discricionariedade na

    escolha dos bens que preenchero os quinhes. Neste seguimento, ainda possvel a

    composio dos quinhes em dinheiro obtido da venda judicial dos bens hereditrios,

    quando aos licitantes ou aos donatrios caibam bens de natureza diferente aos

    conferidos ou licitados.

    Por ltimo temos a organizao, sorteio e troca de lotes, isto , na partilha judicial o

    princpio igualitrio impe sempre que cada um participe por igual em cada categoria de

    bens. Da que as atribuies judiciais e as atribuies em dinheiro devam igualar os

    valores que cabe a cada partilhante; temos a proporcional distribuio judicial dos bens

    litigiosos; a adjudicao de verbas licitadas em excesso; e por fim as tornas, isto , aps

    preenchidas as quotas de cada partilhante importa averiguar se os bens que a compe

    excedem o seu valor, caso isso acontea e aos partilhantes que isso acontea, estes

    devem tornas aos restantes partilhantes at igualarem os seus quinhes.

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    7. Tipologia dos Sistemas Sucessrios

    O direito sucessrio est intimamente ligado ao problema de organizao econmico-

    social do pas.

    Sistema de Famlia: vigorou entre os antigos germanos, onde o patrimnio pertencia

    indistintamente a todos os que fizessem parte da famlia, chamado regime de

    propriedade de mo comum ou comunho domstica.

    O patrimnio familiar encontrava-se adstrito aos interesses de uma famlia, sendo a

    sucesso testamentaria aplicada de forma excepcional para que tantos os bens prprios

    como os bens adquiridos onerosamente pudessem se encontrar ao dispor de todos os

    familiares, embora se fizessem quotas hereditrias indisponveis em beneficio de certos

    familiares mais prximos. Existindo herdeiros legais, apenas estes podem ser herdeiros

    testamenteiros.

    Sistema Socialista: predomnio de bens de propriedade colectiva, sendo apenas

    passiveis de transmisso sucessrios os bens de propriedade pessoal, e mesmo estes

    bens encontram restries nos seus modos de transmisso, revertendo a favor do estado

    em determinados casos.

    estruturado por crculos sucessrios categorizados, tendo em vista os interesses gerais

    da comunidade, concedendo-se por isso, direito sucessrio a certas pessoas que se

    encontravam a cargo do de cuis independentemente dos laos familiares.

    Verifica-se uma igualao completa entre parentes legtimos e parentes ilegtimos e

    entre o cnjuge sobrevivo e os descendentes do de cuis.

    Constata-se fortes limitaes capacidade de testar, alegando o interesse publico e

    comunitrio.

    Sistema individualo-capitalista: predominncia dos meios de produo como

    propriedade privada, o que determina a conservao dos mesmos por meios do direito

    sucessrio.

    Todos os meios de propriedade privada so objecto de transmisso, no existindo por

    isso, quaisquer limites total transmisso mortis causa dos bens privados.

    Concedem-se amplos poderes de disposio testamentria, sendo poucas a restries a

    este acto. Existe uma prevalncia ilimitada da sucesso testamentria sobre a sucesso

    legitima, de modo a evitar-se o fracionamento dos meios de produo, sendo vista a

    liberdade de testar como uma forma de exercer o seu direito privado de propriedade,

    mesmo depois da morte.

    Da forma a permitir a continua privatizao dos bens, existe um grande circulo (circulo

    alargado) de herdeiros legtimos, sendo este hierarquizado, mais em funo do interesse

  • Perguntas Frequentes Capelo de Sousa Ana Teresa Pacheco

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    capitalista de transmisso da propriedade privada, que em funo dos interesses da

    ordem publica, relevando, no raras vezes, a capacidade para o trabalho, o que deixava

    quase sempre o cnjuge numa posio desfavorvel.

    Assiste-se a um tratamento desigual para com os filhos legtimos e os ilegtimos

    Apos uma grande evoluo:

    - passou-se a valorizar a posio sucessria do cnjuge sobrevivo

    - d-se uma aproximao entre o regime de parentes iligitimos e iligitimos.

    !

    Tipos de propriedade ao tempo dos germanos: os bens formavam um patrimnio

    familiar sujeito ao regime de propriedade de mo comum, pertencendo indistintamente a

    todos os que em cada momento fizerem parte da famlia, sem que cada membro da

    famlia tivesse uma quota demarcada, objecto de direito prprio.

    Tipos de propriedade ao tempo dos romanos: diferentemente do que sucedia com a

    propriedade germana, na propriedade de tipo romana tutelava juridicamente o direito a

    uma quota dos bens comuns e o direito de exigir a diviso da coisa comum. Assim

    como hoje o regime de separao de bens em Portugal.