pedagogia do processo colaborativo

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PEDAGOGIA DO PROCESSO COLABORATIVO O processo colaborativo de criação possui seu próprio potencial pedagógico e utópico, ligado à formação de um espaço deliberativo constante. As crises contínuas que permeiam os processos criativos dessa espécie reforçam essa ideia e não, como poderia parecer, a desmentem. É o que o filósofo Jurgen Habermas chamaria de “princípio crítico da esfera pública”. Trata-se da ideia de que as opiniões pessoais dos indivíduos privados podem desenvolver-se num processo de debate racional crítico , aberto a todos e livre de dominação, em que prevalece a força do melhor argumento. É necessário, portanto, alterar radicalmente a perspectiva comum tanto às teorias liberais quanto ao pensamento democrático: a fonte de legitimidade não é a vontade predeterminada dos indivíduos (a “vontade da maioria”), mas antes o processo coletivo de sua formação, ou seja, a própria deliberação. Uma decisão legítima não representa a vontade de todos, mas resulta da deliberação de todos. É o processo pelo qual a vontade de cada um é formada de maneira a conferir legitimidade a seus resultados, e não a soma de vontades já formadas. O princípio deliberativo é assim tanto individualista quanto democrático, ao mesmo tempo. Podemos afirmar assim, com o risco de contradizer uma longa tradição, que a lei legítima – sob tais processos de criação artística - é o resultado da deliberação geral, e não a expressão da vontade geral, já que as decisões tomadas nem sempre contemplam a todos, mas são fiéis ao processo de construção conjunta da deliberação.

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Processo colaborativo

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PEDAGOGIA DO PROCESSO COLABORATIVO

O processo colaborativo de criao possui seu prprio potencial pedaggico e utpico, ligado formao de um espao deliberativo constante. As crises contnuas que permeiam os processos criativos dessa espcie reforam essa ideia e no, como poderia parecer, a desmentem. o que o filsofo Jurgen Habermas chamaria de princpio crtico da esfera pblica. Trata-se da ideia de que as opinies pessoais dos indivduos privados podem desenvolver-se num processo de debate racional crtico , aberto a todos e livre de dominao, em que prevalece a fora do melhor argumento. necessrio, portanto, alterar radicalmente a perspectiva comum tanto s teorias liberais quanto ao pensamento democrtico: a fonte de legitimidade no a vontade predeterminada dos indivduos (a vontade da maioria), mas antes o processo coletivo de sua formao, ou seja, a prpria deliberao. Uma deciso legtima no representa a vontade de todos, mas resulta da deliberao de todos. o processo pelo qual a vontade de cada um formada de maneira a conferir legitimidade a seus resultados, e no a soma de vontades j formadas. O princpio deliberativo assim tanto individualista quanto democrtico, ao mesmo tempo. Podemos afirmar assim, com o risco de contradizer uma longa tradio, que a lei legtima sob tais processos de criao artstica - o resultado da deliberao geral, e no a expresso da vontade geral, j que as decises tomadas nem sempre contemplam a todos, mas so fiis ao processo de construo conjunta da deliberao.