patologia comparada das principais enfermidades parasitárias de mamíferos marinhos encontrados na...

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Juliana Marigo Patologia Comparada das Principais Enfermidades Parasitárias de Mamíferos Marinhos encontrados na Costa Sudeste e Sul do Brasil. São Paulo -2003-

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Juliana Marigo, 2003

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  • Juliana Marigo

    Patologia Comparada das Principais Enfermidades Parasitrias de Mamferos Marinhos encontrados na

    Costa Sudeste e Sul do Brasil.

    So Paulo

    -2003-

  • Juliana Marigo

    Patologia Comparada das Principais Enfermidades Parasitrias de Mamferos Marinhos encontrados na

    Costa Sudeste e Sul do Brasil.

    Dissertao apresentada para a obteno do ttulo de Mestre junto faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo. Departamento: Patologia rea de Concentrao: Patologia Experimental e Comparada Orientador: Prof.Dr.Jos Luiz Cato-Dias

    So Paulo

    -2003-

  • AGRADECIMENTOS Ao nosso querido orientador Cato por desde o incio acreditar na minha vontade de

    trabalhar com os parasitas dos golfinhos e aceitar o desafio. Por todo o carinho e apoio sempre. Por tudo o que aprendi e pela pacincia necessria para esta orientada :-)

    Aos meus pais Joo e Dolores por terem transmitido o carinho pelos animais desde cedo e sempre apoiado meu trabalho...Tudo isso no seria possvel sem a Fundao Marigo!!!! Obrigada por aceitarem minha mudana da fazenda para o mar, mesmo isso significando eu estar quase sempre longe... porm realizada. Obrigada tambm por j serem quase pesquisadores, de tanto serem obrigados a me ouvir tagarelar sobre golfinhos, vermes e afins...

    A toda minha famlia por sempre relevarem minhas ausncias e vibrarem com minhas conquistas, especialmente aos doutores Tio Carlos Marigo e Tia Darci Monteiro.

    A Valeria Ruoppolo, minha dala que h alguns anos me d a honra de ser sua amiga... Por ter corrido atrs de um ideal superando muitas dificuldades, abrindo muitas oportunidades e sendo um exemplo profissional (e pessoal) para tantos como eu. Eu que digo obrigada por me deixar crescer a seu lado!

    A amiga querida e super presidenta Carolina Bertozzi por toda amizade e colaborao. Sua iniciativa, perseverana e fora so um exemplo e incentivo para mim. Ainda vamos trabalhar e crescer muito juntas!

    As amigas e colegas de trabalho, integrantes da ONG Projeto BioPesca: Janaina Ribeiro, Claudia Nascimento (Berimbau) e Juliana Viotto, pela amizade que torna o trabalho mais alegre e recompensante.

    A todos os pesquisadores e instituies que contriburam com tempo dedicado a colheita e envio de amostras:

    F.C.W. Rosas e M.R. Oliveira; IPeC (Instituto de Pesquisas de Canania), Canania, SP e Centro de Estudos do Mar (CEM)- Universidade Federal do Paran (UFPR), Pontal do Sul, PR

    C.P. Bertozzi, E. Barbosa e J. Ribeiro; Projeto BioPesca, Praia Grande, SP A. Maranho; Aqurio de Santos, Santos, SP S. P. Souza; Fundamar, So Sebastio, SP A. Higa e M. Rollo Jr.; Museu de Zoologia da USP- MUZUSP,SP M. C. de O. Santos; Projeto Atlantis- IB, USP, SP D. L. Fedullo; Fundao Parque Zoolgico de So Paulo, SP

  • R.P. Silva e A. Adornes; Laboratrio de Mamferos Marinhos e Centro de Recuperao de Animais Marinhos (CRAM)- Museu Oceanogrfico Prof. Elizer de C Rios, Fundao Universidade Federal do Rio Grande- FURG - Rio Grande, RS

    I.B. Moreno; Grupo de Estudos de Mamferos Aquticos do Rio Grande do Sul (GEMARS)- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS Ao Ricardo Augusto Dias do Laboratrio de Bioestatstica do VPS pelas anlises

    estatsticas e interesse no projeto. Ao Adauto L.V. Nunes pela amizade e meu primeiro estgio com animais silvestres,

    onde eu me diverti e aprendi muito, inclusive que era com estes animais mesmo que eu queria trabalhar e no com cavalos...

    Ao Jos Martins da Silva Jr. pelo meu primeiro estgio com mamferos marinhos e por ter me proporcionado a oportunidade de aprender muito desde ento com os rotadores e a ilha. Agradeo tambm pelos primeiros verminhos da minha carreira e os trabalhos que esto por vir (A praga pegou!).

    Ao Joo Manoel de Castro pela amizade, por dividir e incentivar a paixo pelos verminhos e tambm pela identificao dos primeiros Anisakis da minha carreira.

    Ao Dr. Fernando Rosas pelo carinho, amizade e conhecimento transmitido. Principalmente por me aceitar em seu projeto no Paran, quando eu nem sabia o que era uma Pontoporia! Me dando a oportunidade de abrir os primeiros golfinhos e me indicando o caminho dos intestinos... A Mrcia R. de Oliveira por toda a amizade e companheirismo que tornaram a vida e o trabalho em Pontal muito mais agradveis, inclusive os cozidos de cabea de boto! Agradeo aos dois especialmente por terem coletado e cedido a maior parte do material deste trabalho. Ao Kaxasso por ter me indicado a vocs.

    A Ana L.V. Andrade por toda a amizade, ajuda e ensinamentos sobre a identificao e o mundo dos parasitos de mamferos marinhos.

    Ao Chris Gardiner pelo carinho, incentivo e todo o conhecimento que continua sempre colocando a minha disposio onde quer que esteja.

    A todos os colegas que me deram muitas oportunidades, ajuda e incentivo, especialmente: Rodolfo Pinho da Silva, Eduardo Secchi, Andr Barreto, Marta Cremer, Linda Lowenstine, Suzana Couto (Suzi), Marcelo A. Guimares, Alexandre Zerbini, Bruno Bastos, Jos Lailson Brito Jr., Joo Paulo Boccia.

  • Aos meus amigos (de longa ou curta data) que mesmo no atuando na mesma rea, sempre me incentivaram e apoiaram em minhas decises: Andressa G. Campos, Ligia Centurion, Maria Eugnia Rosansky, Cintia Martins, Ariane Menezes, Patricia Berbare, Julio Reynoso, Sandra Freiberger, Gustavo Manna Cesar, Flavia Miranda, Maria Paula Okumura. As golfinhas, golfinhos e amigos de Noronha por toda a amizade, incentivo e pelos momentos de descontrao na Ilha da Fantasia, especialmente, Daisy, Tammy e Bodo.

    Aos colegas da USP pela amizade, por sempre estarem dispostos a me ajudar, tirar dvidas, discutir e me ouvir falar sobre vermes: Ana Cristina (Titi) Vianna, Claudia Filoni, Marco Aurelio Gattamorta, Lilian S, Sabrina Epiphanio, Silvia Nery Godoy, Fernanda Marvulo, Jean Carlos Ramos, Rodrigo Teixeira, Ariela Setzer, Kathleen Grego, Luciana Rameh, Marcelo B. Contieri, Ana Paula Garate, Katia Kimura, Emerson Mota, Luciana Neves Torres.

    Aos funcionrios e tcnicos do VPT por toda a ajuda durante o desenvolvimento do trabalho.

    Ao chefe de departamento Prof. Dr. Benjamin Eurico Malucelli e a todos os professores do VPT.

    Fundao de Apoio Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro

    indispensvel ao projeto (processo 00/14669-0).

  • Ao direito de existir de todas as formas de vida... e aos seres humanos que se dedicam a preserv-lo

    por que realmente se importam...

  • RESUMO

    MARIGO, J. Patologia Comparada das Principais Enfermidades Parasitrias de Mamferos Marinhos encontrados na Costa Sudeste e Sul do Brasil. [Comparative pathology of the main parasitic diseases of marine mammals found in the south and southeastern coasts of Brazil]. 2003. 160 f. Dissertao (Mestrado em Patologia Experimental e Comparada) Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2003.

    O estudo parasitolgico de mamferos marinhos, especialmente dos cetceos, tem sido realizado, em geral, de forma espordica, com descrio de material encontrado em encalhes ocasionais e sem utilizao de mtodos padronizados. Os objetivos do presente trabalho foram: levantar os principais parasitos encontrados em mamferos marinhos no Brasil - particularmente nas regies Sudeste e Sul; sua possvel patogenicidade e relao com a causa de morte do hospedeiro. Foram utilizadas amostras colhidas de animais encontrados mortos em praias ou acidentalmente capturados em redes de pesca no litoral dos estados de So Paulo, Paran e Rio Grande do Sul. Ocasionalmente, tambm foram analisadas amostras de pinpedes provenientes de centros de reabilitao e colees zoolgicas. Sempre que possvel, foi efetuada a necrpsia completa, com nfase na abordagem parasitolgica e colhendo tambm amostras para anlise histopatolgica. Durante a necroscopia, com vistas pesquisa de parasitos metazorios, realizou-se a busca em todos os rgos, porm ateno especial foi dada aos pulmes, estmagos e segmentos intestinais. Estes rgos foram congelados e posteriormente abertos individualmente dentro de recipiente plstico e seus contedos passados por uma peneira de malha 150m. Todo o material colhido foi observado em lupa para a separao dos parasitos, que foram contados e armazenados em frascos com lcool 70% (nematides e acantocfalos) e formol 10% (trematides e cestides). Foram analisados 118 cetceos e sete pinpedes. anlise macroscpica, parasitos pulmonares da espcie Halocercus brasiliensis foram encontrados em 30,7% (16/52) dos cetceos, parasitos gstricos (Anisakis typica, A. sp., Braunina cordiformis, Polymorphus sp.) em 19,1% (13/68) e intestinais (Hadwenius pontoporiae, H. tursionis, cestides da famlia Tetrabothriidae, acantocfalos no identificados) em 78,6% (70/89). Crustceos (Cirripedia: Lepadomorpha) foram encontrados em S. frontalis e larvas de Monorygma grimaldii em S. coeruleoalba. Nos pinpedes, parasitos gastrointestinais (nematides e acantocfalos Corynosoma sp.) foram encontrados em 100% (2/2) dos indivduos analisados macroscopicamente. Na anlise histolgica foi possvel observar que 62,5% (5/8) dos cetceos e 66,6% (4/6) dos pinpedes apresentaram leses relacionadas com a presena de parasitas pulmonares. Estas foram as leses de maior severidade encontradas, sendo condies extremamente debilitantes para estes animais aquticos. Os helmintos gastrointestinais aparentemente no causaram leses significativas. Os trematides H. pontoporiae e H. tursionis identificados nos animais analisados neste estudo podem ser utilizados, de acordo com metodologia padronizada, como marcadores de estoques de P. blainvillei e S. guianensis respectivamente, pois estas espcies de cetceos apresentaram diferentes nveis de infeco dentro das reas amostradas. As amostras utilizadas na realizao deste projeto complementaram o banco de tecidos de animais selvagens mantido pelo Laboratrio de Patologia Comparada de Animais Selvagens da FMVZ. As informaes referentes aos achados anatomopatolgicos, mesmo de indivduos capturados acidentalmente, supostamente saudveis, devem buscar a determinao do real significado dos processos patolgicos, do estado sanitrio das populaes e no somente de indivduos, inclusive no caso do impacto de parasitas, onde vrios fatores intrnsecos e extrnsecos podem estar relacionados. Palavras-chave: Cetacea. Pinnipedia. Parasitologia. Patologia. Captura acidental.

  • ABSTRACT

    MARIGO, J. Comparative pathology of the main parasitic diseases of marine mammals found in the south and southeastern coasts of Brazil. [Patologia Comparada das Principais Enfermidades Parasitrias de Mamferos Marinhos encontrados na Costa Sudeste e Sul do Brasil.] 2003. 160 f. Dissertao (Mestrado em Patologia Experimental e Comparada) Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2003. Parasitological studies of marine mammals, specially cetaceans, have been performed sporadically, with description of the sampled material collected from occasional stranding events, not using standardized methods. The aims of the present work included: identify the main parasites found in marine mammals in Brazil particularly from the South and Southeastern coasts; its possible patogenicity and its relation with the hosts cause of death. Samples were collected from stranded and by-caught animals on the coasts of So Paulo, Paran and Rio Grande do Sul States. Circumstantially, samples of pinnipeds coming from rehabilitation centers and zoological collections were also analyzed. Whenever possible, a complete necroscopic examination was performed, emphasizing the parasitological and histopathological sampling. During the necropsies, all the organs were examined looking for parasites, but special attention was given to the lungs, stomachs and intestinal segments. These organs were frozen and later opened with scissors inside a plastic tray, all the contents were washed in a sieve (mesh =150m) and examined under a stereoscopic microscope (10x) to collect the parasites. The helminths collected were counted and stored in 70% alcohol (nematodes and acantocephalids) and 10% formalin (trematodes and cestodes). 118 cetaceans and seven pinnipeds were analyzed. At macroscopic analyses, lung parasites of the species Halocercus brasiliensis were identified in 30,7% (16/52) of the cetaceans, gastric parasites (Anisakis typica, A. sp., Braunina cordiformis, Polymorphus sp.) in 19,1% (13/68), and intestinal (Hadwenius pontoporiae, H. tursionis, cestodes of the family Tetrabothriidae, non-identified acantocephalas) in 78,6% (70/89). Crustaceans (Cirripedia: Lepadomorpha) were found in S. frontalis and larvae of Monorygma grimaldii in S. coeruleoalba. Within the pinnipeds, gastrointestinal parasites (nematodes and acantocephalas Corynosoma sp.) were found in 100% (2/2) of the individuals examined macroscopically. On histological analyses it was possible to observe that 62,5% (5/8) of the cetaceans and 66,6% (4/6) of the pinnipeds presented lesions related with the presence of lung parasites. These were the most severe alterations found, which were extremely debilitating conditions for these aquatic animals. Gastrointestinal helminths didnt seem to cause significant lesions. The trematodes H. pontoporiae and H. tursionis identified in this study can be useful, according to standardized methodology, as biological tags for identifying ecological stocks of P. blainvillei and S. guianensis respectively, because these species of cetaceans have shown different infection levels in the sampled areas. The samples utilized for this project were included in the tissue bank maintained at Laboratrio de Patologia Comparada de Animais Selvagens, at Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo. The information related to the histopathological results, even from supposedly healthy by-caught animals, has to search for the real significance of the pathological processes, the populations health and not only individuals, specially in the case of parasitism, where several intrinsic and extrinsic factors can be related. Key words: Cetacea. Pinnipedia. Parasitology. Pathology. By-catch.

  • LISTA DE FIGURAS Figura 1: Esquema do ciclo de vida geral dos nematides gastrointestinais

    no ambiente marinho.(Adaptado de Howard et al., 1983 e Fortes, 1993)............................................................................................................. 33

    Figura 2: Esquema do ciclo de vida do nematide pulmonar Parafilaroides decorus (Adaptado de Howard et al., 1983)...................................................................37

    Figura 3: Esquema do ciclo de vida geral de trematides gastrointestinais no ambiente marinho.(Adaptado de Howard et al., 1983 e Fortes, 1993)..........................41

    Figura 4: Esquema do ciclo de vida geral de acantocfalos gastrointestinais no ambiente marinho. (Adaptado de Howard et al., 1983 e Fortes, 1993)........................ 45

    Figura 5: Desenho esquemtico do estmago, intestino delgado e grosso de franciscana, Pontoporia blainvillei.1) estmago principal, 2) conduto de coneco, 3) estmago pilrico, 4) ampola duodenal, 5,6,7,8 e 9) intestino delgado, 10) intestino grosso.Letras a, b e c indicam a subdiviso metodolgica. reas marcadas representam as regies examinadas. (Extrado de Andrade, 1996).................................................. 54

    Figura 6: Exemplar de Pontoporia blainvillei proveniente de captura acidental no Estado de So Paulo, na mesa de necrpsia do Departamento de Patologia- FMVZ-USP (RPC01/157)............................................................................. 76

    Figura 7: Exemplar de Sotalia guianensis proveniente de captura acidental no Estado do Paran..................................................................................................... 76

    Figura 8: Pulmo de exemplar de S. f. guianensis. Notar a presena de parasitos nematides Halocercus brasiliensis na luz dos brnquios............................................ 76

    Figura 9: Parasitos pulmonares de S. guianensis: nematides Halocercus brasiliensis................................................................................................. 76

    Figura 10: Parasitos trematides Braunina cordiformis encontrados em estmago de S. guianensis (CEM # 191)...................................................................................... 77

    Figura 11: Parasitos nematides Anisakis typica encontrados em estmago de S. guianensis (CEM # 191)............................................................................................77

    Figura 12: Detalhe do intestino de um exemplar de P. blainvillei................................................... 77

    Figura 13: Intestino de exemplar de S. f. guianensis do litoral do Estado do Paran (CEM # 222)..................................................................................................... 77

    Figura 14: Frascos contendo acantocfalos encontrados em intestino de S. frontalis............................................................................................................... 77

    Figura 15: Detalhe dos acantocfalos....................... .....................................................................77

  • Figura 16: Contedo de cisto de cestide Monorygma grimaldii encontrado na gordura de S. coeruleoalba (CEM # 283)...................................................... 78

    Figura 17 e18: Crustceo inserido entre a gengiva e os dentes (seta). Stenella frontalis (RPC 01/007).......................................................................... 78

    Figuras 19 e 20: Pulmo, notar Metastrongilidae no espao alveolar. Sotalia fluviatilis (RPC 99/499), H.E. 20 e 40x................................................... 78

    Figura 21: Pulmo, granuloma parasitrio. Tursiops truncatus (RPC 02/054).....................79

    Figuras 22 e 23: Detalhe do corte apresentado na Figura 9, notar parasita nematide no centro do abscesso. Tursiops truncatus (RPC 02/054), H.E. 20 e 100x.....................................................................................................79

    Figuras 24: Bao, esplenite, parasitria. Notar ovos de parasitas trematides (setas) e a formao de clulas gigantes. Steno bredanensis (RPC 01/149), H.E. 200x.....................................................................................79

    Figura 25 e 26: Estmago, notar larva de nematide Anisakis typica solta na luz. Kogia simus (RPC 02/059), H.E. 40 e 100x........................................................ 79

    Figura 27: Arctocephalus tropicalis (RPC 01/246)............................................................... 80

    Figura 28: Nematides estomacais. Arctocephalus tropicalis (RPC 01/246)....................... 80

    Figura 29: Intestino, acantocfalos na mucosa. Arctocephalus tropicalis (RPC 01/246)......80

    Figura 30: Acantocfalos Corynossoma sp. encontrados no intestino. Arctocephalus tropicalis (RPC 01/246)............................................................... 80

    Figuras 31 e 32: Observar Metastrongilidae e larvas no parnquima pulmonar. Arctocephalus australis (RPC 01/114), H.E. 40x e 200x.................................... 80

    Figura 33: Padres de compartilhamento de parasitas, mostrando as famlias dos gneros. Crculos incluem as famlias exclusivas de cada grupo de hospedeiros, + Polymorphidae, * Diphyllobothriidae. (Adaptado de Raga et al., 2001)....................................................................... 107

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Mdias e desvios padro dos comprimentos totais de Pontoporia

    blainvillei, distribudos em funo da localizao geogrfica. So Paulo e Paran. 1997-2002..........................................................................59

    Grfico 2: Mdias e desvios padro dos comprimentos totais de Sotalia guianensis distribudos por Estado (So Paulo e Paran). 1997-2002............................................................................................................60

    Grfico 3: Distribuio do grau de parasitismo por Halocercus brasiliensis em Sotalia guianensis, em funo da freqncia de animais acometidos. So Paulo e Paran, 1997-2002.....................................................63

    Grfico 4: Grfico de disperso dos valores de comprimento total dos animais e comprimento total de intestino para Pontoporia blainvillei. So Paulo e Paran, 1997-2002..........................................................................66

    Grfico 5: Grfico de disperso dos valores de comprimento total dos animais e comprimento total de intestino para Sotalia guianensis. So Paulo e Paran, 1997-2002..........................................................................66

    Grficos 6 e 7: Grficos dos nmeros de parasitas intestinais em machos e fmeas de Pontoporia blainvillei e Sotalia guianensis respectivamente (os smbolos fora dos box plot representam animais com valores aberrantes). So Paulo e Paran, 1997-2002...................68

    Grficos 8 e 9: Grficos dos nmeros de parasitas intestinais (Hadwenius pontoporiae) em machos e fmeas de Pontoporia blainvillei de So Paulo e Paran respectivamente. 1997-2002...............................................................68

    Grficos 10 e 11: Grfico das mdias de intensidade e prevalncia (respectivamente) de Hadwenius pontoporiae em P. blainvillei de acordo com reas: 1) Ubatuba (n=1); 2) Praia Grande e Guaruj (n=15),

    3) Itanham (n=2); 4.Canania (n=17); 5) Paran (n= 14); 6) Rio Grande do Sul (n=53, Andrade, 1996) e 7) Argentina (n= 46, Aznar et al.,1994a)................................................................................105

  • LISTA DE ESPCIES E NOMES POPULARES

    As espcies foram classificadas de acordo com IBAMA (2001), Jefferson (1993) e Monteiro- Filho et al., (2002) .

    Cetacea Delphinapterus leucas: beluga Delphinus capensis: golfinho-comum-de-bico-longo Eschrichtius robustus: baleia-cinzenta-da-califrnia Eubalaena australis: baleia-franca-do-sul Kogia breviceps: cachalote-pigmeu Kogia simus: cachalote-ano Lagenorhyncus acutus: golfinho-de-flancos-brancos-atlntico Lagenorynchus albirostris: golfinho-de-bico-branco Megaptera novaeangliae: jubarte Phocoena phocoena: boto-do-porto

    Phocoenoides dalli: boto-de-Dall Physeter macrocephalus: cachalote Pontoporia blainvillei: franciscana, toninha Pseudorca crassidens: falsa-orca Sotalia fluviatilis: tucuxi Sotalia guianensis: boto-cinza Stenella clymene: golfinho-de-climene Stenella coeruleoalba: golfinho-listrado Stenella frontalis: golfinho-pintado-do-atlntico Stenella longirostris: golfinho-rotador Steno bredanensis: golfinho-de-dentes-rugosos Tursiops truncatus: golfinho-nariz-de-garrafa

    Pinnipedia Arctocephalus australis: lobo-marinho-do-sul Arctocephalus tropicalis: lobo-marinho-subantrtico Callorhinus ursinus: lobo-marinho-do-norte Eumetopias jubatus: leo-marinho-de-Steller Erignathus barbatus: foca-barbada Leptonychotes weddellii: foca-de-weddell Lobodon carcinophagus: foca-caranguejeira Mirounga angustirostris: elefante-marinho-do-norte Mirounga leonina: elefante-marinho-do-sul Otaria flavescens: leo-marinho-do-sul Phoca hispida: foca-anelada Phoca vitulina: foca-do-porto Zalophus californianus: leo-marinho-da-califrnia

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Lista dos principais relatos de ocorrncia de parasitos no Brasil, de acordo com o hospedeiro, espcie parasita, localidade e referncia...................................................................................................48

    Tabela 2. Distribuio dos cetceos estudados, em funo da espcie e procedncia. So Paulo; Paran, Rio Grande do Sul. 1997-2002..................................................... 58

    Tabela 3. Distribuio das mdias de comprimentos totais de Pontoporia blainvillei e Sotalia guianensis nos estados de So Paulo e Paran. 1997-2002.........................59

    Tabela 4: Distribuio de machos e fmeas de Pontoporia blainvillei e Sotalia guianensis nos estados de So Paulo e Paran. 1997-2002........................................61

    Tabela 5: Distribuio dos rgos analisados em funo das espcies Pontoporia blainvillei e Sotalia guianensis e procedncia. So Paulo e Paran, 1997-2002..................................................................................................... 61

    Tabela 6: Distribuio dos rgos analisados das outras espcies em funo da espcie. So Paulo e Paran, 1997-2002................................................................ 62

    Tabela 7: Distribuio dos comprimentos totais de intestinos de Pontoporia blainvillei e Sotalia guianensis nos estados de So Paulo e Paran. 1997-2002......................................................................................................65

    Tabela 8: Distribuio da prevalncia e mdia de intensidade de parasitos de Pontoporia blainvillei em funo dos rgos analisados e suas respectivas procedncias. So Paulo e Paran, 1997-2002.................................69

    Tabela 9: Distribuio da prevalncia e mdia de intensidade de parasitos de Sotalia guianensis em funo dos rgos analisados e suas respectivas procedncias. So Paulo e Paran, 1997-2002............................................................70

    Tabela 10: Distribuio dos pinpedes estudados, em funo da espcie e procedncia. So Paulo, Rio Grande do Sul. 1997-2002..............................................73

    Tabela 11: Distribuio dos pinpedes estudados, em funo da espcie, sexo e idade. So Paulo, Rio Grande do Sul. 1997-2002....................................................................74

  • Sumrio 1.INTRODUO....................................................................................................................... 13

    2. OBJETIVOS...................................................................................... 14 3. Reviso de literatura................................................................................................. 15

    3.1 Aspectos da histria natural de cetceos e pinpedes................................................ 15 3.2 Aspecto anatmicos macro e microscpicos de cetceos e pinpedes...................... 15

    3.2.1 Pulmes............................................................................................................ 16 3.2.2 Estmago e intestinos....................................................................................... 17

    3.3 Parasitologia............................................................................................................... 19 3.3.1 Principais ndices parasitolgicos utilizados ................................................... 20 3.3.2 Parasitos e mamferos marinhos...................................................................... 22 3.3.3 Diferenas relacionadas com a idade ............................................................. 22 3.3.4 Predisposio .................................................................................................. 24 3.3.5 Diferenas entre os sexos ............................................................................... 24 3.3.6 Parasitos como marcadores biolgicos............................................................ 25

    3.4 Parasitos de mamferos marinhos.............................................................................. 28 3.4.1 Protozoa........................................................................................................... 28

    3.4.1.1 Ciliados.................................................................................................... 28 3.4.1.2 Apicomplexos........................................................................................... 28 3.4.1.3 Flagelados................................................................................................ 29 3.4.1.4 Sarcodina................................................................................................. 29

    3.4.2 Ectoparasitos.................................................................................................... 30 3.4.2.1 Anoplura................................................................................................... 30 3.4.2.2 Crustacea................................................................................................. 30 3.4.2.3 Acarina..................................................................................................... 32

    3.4.3 Endoparasitos.................................................................................................. 32 3.4.3.1 Acarina..................................................................................................... 32

    3.4.3.2 Nematoda................................................................................................. 33

    a) Sistema digestivo....................................................................................... 33 b) Sistema respiratrio.................................................................................. 35 c) Sistema circulatrio.................................................................................... 38 d) Sistema urogenital..................................................................................... 39

    3.4.3.3 Trematoda................................................................................................ 40 a) Sistema digestivo........................................................................................ 41 b) Fgado, sistema biliar e pncreas............................................................... 42 c) Sistema respiratrio e seios areos............................................................ 43

    3.4.3.4 Acantocephala......................................................................................... 44 3.4.3.5 Cestoda.................................................................................................... 46

    3.5 Registros de parasitos no Brasil e rea de estudo..................................................... 47 3.6 Implicaes para sade pblica.................................................................................. 49

    4. MATERIAIS E MTODOS.................................................................................................... 51 4.1 Animais....................................................................................................................... 51 4.2 Protocolo de estudo.................................................................................................... 52

    4.2.1 Necrpsia / Colheita de material...................................................................... 52 a) Exame necroscpico realizado pela bolsista................................................... 52 b) Exame necroscpico realizado por terceiros................................................... 53

    4.2.2 Anlise dos rgos .......................................................................................... 53 4.2.3 Fixao e Identificao dos parasitos.............................................................. 55 4.2.4 Anlise dos dados............................................................................................ 55

  • 5. RESULTADOS..................................................................................................................... 57 5.1 Distribuio dos Animais............................................................................................. 57

    5.1.1 Cetceos.......................................................................................................... 57 5.1.1.1 Animais analisados.................................................................................. 57 5.1.1.2 Classe etria e sexo................................................................................. 58 5.1.1.3 Distribuio dos rgos Analisados........................................................ 61

    5.1.1.3.1 Pulmes........................................................................................... 62 5.1.1.3.2 Estmago......................................................................................... 64 5.1.1.3.3 Intestino........................................................................................... 64 5.1.1.3.4 Demais rgos................................................................................. 71

    5.1.1.4 Patologia associada a parasitose em cetceos....................................... 71 5.1.2 Pinpedes......................................................................................................... 73

    5.1.2.1 Distribuio dos animais.......................................................................... 73 5.1.2.2 Classe etria e sexo................................................................................. 73 5.1.2.3 Distribuio dos rgos Analisados........................................................ 74

    5.1.2.3.1 Estmago......................................................................................... 74 5.1.2.3.2 Intestino........................................................................................... 74

    5.1.2.4 Patologia associada a parasitose em pinpedes...................................... 75 6. DISCUSSO......................................................................................................................... 81

    6.1 Patologia comparada das enfermidades parasitrias de cetceos............................. 81 6.1.1 Parasitos Pulmonares...................................................................................... 81

    a) Nematides...................................................................................................... 81 6.1.2 Parasitos Estomacais....................................................................................... 84

    a) Nematides...................................................................................................... 84 b) Trematides..................................................................................................... 85 c) Acantocfalos................................................................................................... 86

    6.1.3 Parasitos Intestinais......................................................................................... 87 a) Nematides...................................................................................................... 87 b) Trematides..................................................................................................... 87 c) Acantocfalos................................................................................................... 88 d) Cestides......................................................................................................... 88

    6.1.4 Outras localizaes.......................................................................................... 89 6.2 Patologia comparada das enfermidades parasitrias de pinpedes........................... 91

    6.2.1 Parasitos Pulmonares...................................................................................... 91 a) Nematides...................................................................................................... 91

    6.2.2 Parasitos Estomacais....................................................................................... 93 a) Nematides...................................................................................................... 93

    6.2.3 Parasitos Intestinais......................................................................................... 94 a) Nematides..................................................................................................... 94 b) Acantocfalos.................................................................................................. 94

    6.2.4 Outros............................................................................................................... 95 6.3 Patologia comparada das enfermidades parasitrias de cetceos e pinpedes......... 96 6.4 Ecologia dos parasitos de mamferos marinhos da costa sudeste e sul.................... 99

    7. CONSIDERAES FINAIS.................................................................................................. 108 8. CONCLUSES..................................................................................................................... 109

  • REFERENCIAS........................................................................................................................ 110 Anexo 1.................................................................................................................................. 128 Anexo 2.................................................................................................................................. 135 Anexo 3.................................................................................................................................. 136 Anexo 4.................................................................................................................................. 138 Anexo 5.................................................................................................................................. 139 Anexo 6.................................................................................................................................. 140 Anexo 7.................................................................................................................................. 142 Anexo 8.................................................................................................................................. 143 Anexo 9.................................................................................................................................. 143 Anexo 10................................................................................................................................ 145 Anexo 11................................................................................................................................ 145 Anexo 12................................................................................................................................ 146 Anexo 13................................................................................................................................ 147 Anexo 14................................................................................................................................ 148 Anexo 15................................................................................................................................ 160

  • 1. INTRODUO

    Infeces parasitrias so um achado comum em mamferos marinhos selvagens. Em

    vrios casos, as parasitoses esto listadas entre as causas de encalhe e morte dos animais.

    Sua patogenicidade depende de fatores que incluem a localizao e grau de infeco do

    hospedeiro, estado geral e nutrio do mesmo, assim como possveis efeitos qumicos, fsicos

    ou imunolgicos, endgenos ou exgenos, causados pela presena do parasita (HOWARD et

    al., 1983).

    Apesar do conhecimento ainda escasso, cresce o interesse e o incentivo para o estudo

    das faunas parasitrias de mamferos marinhos no Brasil, que consta inclusive dos projetos

    prioritrios do Plano de ao para os mamferos aquticos em guas brasileiras. Tais estudos

    so importantes no s para o conhecimento das causas de mortalidade natural, mas tambm

    como ferramenta para identificao de estoques ecolgicos, principalmente de espcies pouco

    conhecidas e com dados insuficientes sobre sua biologia, como ocorre com vrias espcies de

    cetceos e pinpedes no pas (IBAMA, 2001).

    Considerando que os trabalhos de identificao de parasitos envolvem protocolos

    clssicos de investigao cientfica adequadamente padronizados e de custo relativamente

    reduzido, o emprego destes mtodos apresentam um custo-benefcio altamente satisfatrio, fato

    que favorece a sua utilizao em nosso meio.

  • 2. OBJETIVOS

    Os objetivos do presente trabalho foram: levantar os principais parasitos encontrados

    em mamferos marinhos no Brasil - particularmente na regio Sudeste e Sul; sua possvel

    patogenicidade e relao com a causa de morte do hospedeiro.

    Pretendeu-se tambm, utiliz-los como marcadores biolgicos para identificao de

    estoques, comparando as informaes encontradas nos exemplares analisados com dados de

    literatura para as mesmas espcies em outras regies ou mesmo outras espcies de uma

    mesma regio.

  • 3. REVISO DE LITERATURA

    3.1 Aspectos da histria natural de mamferos aquticos

    A teoria do desenvolvimento evolucionrio dos mamferos aquticos possui controvrsias,

    porm sabido que se originam de um ou mais mamferos terrestres (BARNES et al., 1985;

    GINGERICH et al., 2001).

    Segundo Barnes et al., (1985) os cetceos, ordem que agrupa as baleias e os golfinhos,

    esto relacionados aos mamferos ungulados, como os eqinos e os ruminantes. Gingerich e

    colaboradores (2001) tambm afirmaram que os cetceos evoluram a partir de artiodctilos. A

    ordem Cetacea est composta por 79 espcies e dividida em duas subordens, de acordo com

    Jefferson et al., (1993) e Reyes et al., (1995):

    - Subordem Mysticeti (11 espcies): inclui os rorquais ou baleias verdadeiras, que como

    caracterstica principal apresentam uma srie de placas queratinizadas localizadas dentro da

    boca, denominadas barbatanas. Estas so posicionadas paralelamente dos dois lados da maxila

    e possuem pequenas cerdas nas extremidades com funo de reteno de alimento. Os

    representantes desta subordem possuem dois orifcios respiratrios. Podem atingir entre seis e

    32 metros de comprimento na idade adulta.

    - Subordem Odontoceti (68 espcies): inclui os cetceos com dentes para a apreenso do

    alimento, como os golfinhos em geral, as orcas e os cachalotes. Os odontocetos possuem um

    orifcio respiratrio apenas, no necessariamente na linha mediana dorsal. Podem atingir entre

    um e 18 metros de comprimento na idade adulta.

    Todos os cetceos apresentam o corpo de formato longilneo e fusiforme. Este grupo

    totalmente adaptado e dependente do meio aqutico (GERACI; LOUNSBURY, 1993).

    Na ordem Carnivora so representadas outras espcies de mamferos aquticos. Nesta

    ordem, a subordem Pinnipedia, composta por 34 espcies, possui ancestrais em comum com o

  • co e est dividida em trs famlias, de acordo com Barnes et al., (1985) e Jefferson et al.,

    (1993):

    Superfamlia Otaroidea: - Famlia Odobenidae (uma espcie): inclui as morsas, cuja distribuio restrita ao

    rtico.

    - Famlia Otariidae (14 espcies): inclui os pinpedes que possuem orelhas, conhecidos

    como lobos e lees-marinhos;

    Superfamlia Phocoidea: - Famlia Phocoidea (19 espcies): inclui os pinpedes que no possuem orelhas, que so

    as focas em geral e os elefantes-marinhos.

    Os pinpedes so carnvoros aquticos extremamente especializados que podem ser

    encontrados desde os plos at os trpicos. Um fator unificador do grupo que todos passam a

    maior parte do tempo na gua, porm necessitam retornar a um substrato slido, como a terra

    ou o gelo, para parir, criar seus filhotes e, em sua maioria, copular (JEFFERSON et al., 1993).

    3.2 Aspecto anatmicos macro e microscpicos de cetceos e pinpedes

    So descritos aspectos dos principais rgos analisados neste estudo: pulmes,

    estmago e intestinos.

    3.2.1 Pulmes

    Os pulmes dos cetceos so simtricos e no lobados, com pleura espessa, textura

    firme e elstica devido presena de anis cartilagneos ao redor de brnquios e bronquolos,

    prevenindo o colapso das vias areas do trato respiratrio inferior, quando submetidas presso

    durante mergulhos. Os septos alveolares dos cetceos contm dois capilares paralelos, com a

    funo de incrementar a oxigenao do sangue e diminuir o tempo de recuperao aps

    mergulhos profundos, enquanto o dos pinpedes e outros mamferos possuem apenas um.

  • Esfncteres mioelsticos esto presentes nos bronquolos terminais de cetceos,

    presumivelmente como mais uma adaptao aos mergulhos (BRITT; HOWARD, 1983;

    ROMMEL; LOWENSTINE, 2001).

    A anatomia dos pulmes de Pontoporia blainvillei (franciscanas) descrita por Yamasaki

    et al., (1977). Segundo estes autores, os pulmes so mais ou menos simtricos e esguios,

    pontudos e finos, e a poro caudal delgada e cnica. A rvore bronquial se inicia de maneira

    bem caracterstica, com a curta traquia se dividindo em trs brnquios principais, mais ou

    mesmo no mesmo nvel (trifurcao); dois deles suprindo o pulmo direito e o outro o pulmo

    esquerdo. Cada brnquio principal se divide em dois brnquios secundrios e, apesar de no

    apresentar lobos, a distribuio de cada brnquio sugere a presena deles, sendo trs no

    pulmo direto e dois no pulmo esquerdo. A traquia e os brnquios principais no apresentam

    poro membranosa e algumas partes de suas cartilagens so anis completos. A cartilagem se

    torna irregular perifericamente e se estende at o incio dos bronquolos, os quais aparentemente

    no apresentam esfncteres.

    Pinpedes possuem os pulmes divididos em lobos, sendo dois no pulmo esquerdo e trs

    no direito. Alguns indivduos apresentam anis traqueais completos, e em outros podem ser

    incompletos. Histologicamente, assim como nos cetceos, h a presena de anis cartilagneos

    e esfncteres mioelsticos at os bronquolos terminais. O trax alongado posiciona o diafragma

    obliquamente (ROMMEL; LOWENSTINE, 2001; STEWARDSON et al., 1999).

    3.2.2 Estmago e intestinos

    O estmago da maioria dos cetceos possui trs compartimentos. A primeira cmara um

    prolongamento do esfago, delineada por epitlio escamoso estratificado aglandular, com funo

    de armazenamento. A segunda poro corresponde ao estmago fndico ou principal, com

    glndulas secretrias de HCl e enzimas digestivas. O terceiro compartimento secretor de

  • muco, e prepara o contedo para a digesto intestinal. Microscopicamente, os estmagos

    possuem aparncia anloga ao das espcies terrestres, adicionando que as clulas parietais so

    bastante proeminentes nos odontocetos (DIERAUF; GAGE. 1990; LOWENSTINE; OSBORN,

    1990).

    Os intestinos dos cetceos so extremamente longos e no possuem distino visvel

    entre intestino delgado e grosso na maioria das espcies, pois o ceco est ausente em grande

    parte dos cetceos, com exceo de alguns misticetos. Histologicamente numerosa a

    presena de tecido linfide associado ao longo de todo o trajeto intestinal, especialmente o clon

    distal (DIERAUF; GAGE, 1990; LOWENSTINE; OSBORN, 1990).

    Caractersticas detalhadas do esfago, estmago e intestinos de Pontoporia blainvillei

    foram descritos em vrios trabalhos. A espcie no apresenta a primeira cmara estomacal,

    sendo que um longo canal de aproximadamente 8cm corre entre o estmago principal (fndico) e

    o pilrico (BROWNELL, 1989). A diferenciao entre intestino delgado e grosso feita atravs

    de uma mudana no padro de pregueamento e colorao da mucosa, associada a uma

    mudana no dimetro e distribuio dos vasos mesentricos que atingem a regio (ANDRADE,

    1996; YAMASAKI et al., 1975; YAMASAKI; KITO,1984).

    Uma comparao entre comprimentos e transio leo-clica dentro da super famlia

    Platanistoidea (Cetacea) feita em Yamasaki e Kito (1984), onde a razo entre o comprimento

    intestinal e o comprimento do corpo maior nas franciscanas. Aparentemente existe uma

    tendncia de que o comprimento intestinal aumente com a idade. Alm disso, a espcie

    apresenta uma nica e distinta prega longitudinal projetando-se no lmen do intestino delgado,

    ao invs de pregas circulares, e duas pregas longitudinais no intestino grosso. A presena de

    pregas circulares se deve a especializaes estruturais que servem para aumentar a rea

    exposta ao lmen, sendo mais efetivas para aumentar a rea de superfcie da mucosa do que

  • uma s prega longitudinal. Isso pode ter relao com os intestinos menores de outros delfindeos

    e o longo intestino de P. blainvillei (YAMASAKI; KITO,1984).

    Chaves e da Silva (1988), descrevem aspectos histolgicos do trato digestivo de Sotalia

    fluviatilis e apontam que, apesar de viver em gua doce, a histologia do esfago e estmago no

    apresenta diferenas marcantes quando comparada aos delfindeos marinhos, obedecendo ao

    padro geral da famlia.

    Os pinpedes so monogstricos, apresentando intestino delgado longo e intestino grosso

    curto (< 35 cm), separados por um ceco rudimentar e tambm com grande quantidade de tecido

    linfide associado ao clon distal (DIERAUF; GAGE. 1990; ROMMEL; LOWENSTINE, 2001).

    3.3 Parasitologia

    Quando um organismo se alimenta de outro, mas normalmente no o mata, o organismo

    predatrio chamado de parasita e a presa, hospedeiro. Alguns parasitas mantm-se ligados

    aos hospedeiros por toda a vida (ex. cestides no trato gastrointestinal); outros, como os piolhos

    e carrapatos, permanecem somente durante perodos prolongados de alimentao. Em alguns

    casos, o termo parasitide usado para diferenciar as relaes onde somente um hospedeiro

    est envolvido e invariavelmente morto (STILLING, 2002).

    A essncia do parasitismo bem sucedido a acomodao e a sobrevivncia, isto , a

    habilidade em adaptar-se e integrar-se ao hospedeiro de forma a no ser considerado estranho.

    Os helmintos, por exemplo, so parasitas obrigatrios totalmente adaptados que, quando

    causam doenas, estas so de expresso leve ou subclnica. Somente quando invadem

    hospedeiros para os quais no esto totalmente adaptados ou em nmero muito grande, a

    doena aguda ocorre (TIZARD, 1985).

    O impacto da infeco no hospedeiro vai depender da virulncia do parasita, da dose

    infectante e da resistncia do hospedeiro infeco. Esses parmetros podem ser modificados

  • por vrios fatores, como problemas nutricionais e superpopulao, que tambm interagem entre

    si e tem efeitos diretos na sobrevivncia do hospedeiro, complicando a dinmica da interao

    parasita- hospedeiro (GULLAND, 1997). Em alguns casos, as mortes de indivduos podem ser

    causadas por desequilbrio na relao natural entre hospedeiro parasita. Neste caso a

    mortalidade pode estar elevada por um aumento da suscetibilidade dos indivduos a outras

    causas de agresso, como a predao. Atualmente, sabido que um dos maiores riscos para as

    populaes selvagens so os parasitas introduzidos e/ou doenas de animais domsticos

    (GULLAND, 1995; STILLING, 2002). Parasitologistas acreditam que o grau de mortalidade que

    uma espcie parasita infringe na espcie hospedeira depende do tempo de associao entre as

    duas, sendo que associaes mais antigas causam menos leses e podem evoluir para

    comensalismo ou mutualismo (GULLAND, 1995; PIANKA, 1994a; STILLING, 2002a). Ainda, as

    relaes hospedeiroparasita podem estabelecer graus de elevada especificidade, levando ao

    desenvolvimento de interaes espcie-especficas (PIANKA, 1994a).

    Em relao localizao, os parasitos esto divididos em:

    ectoparasitos: se localizam na superfcie externa do hospedeiro, como pele e cavidades naturais (principalmente artrpodes, crustceos);

    endoparasitos: se localizam dentro do corpo do hospedeiro, sendo que nos casos de envolvimento de helmintos isso ocorre particularmente nos sistemas circulatrio,

    respiratrio, digestivo, urinrio, genital, nervoso e msculo-esqueltico (FORTES, 1993).

    A despeito das definies, a biologia das relaes parasito-hospedeiro tem uma rica

    histria de padres interessantes de coevoluo, alm de complexos ciclos de vida (KOELLA, et

    al. 1998; PAGE, 1993; RAGA et al., 2001; STILLING, 2002a). Na verdade, o parasitismo pode

    ser o tipo de vida predominante na terra, com um vasto nmero de espcies de parasitas, talvez

    80% de todas as formas de vida. A maioria das plantas e animais albergam muitos parasitos. Um

  • potencial hospedeiro de vida livre que no albergue vrios tipos de parasitas uma raridade

    (RAGA et al., 2001; STILLING, 2002a).

    3.3.1 Principais ndices parasitolgicos

    De acordo com Bush et al., (1997) e Margolis et al., (1982), os principais ndices

    parasitolgicos empregados so:

    Prevalncia: nmero de indivduos infectados com um ou mais indivduos de uma mesma espcie parasita (ou grupo taxonmico) dividido pelo nmero de hospedeiros analisados.

    Normalmente expresso em porcentagem ou proporo.

    Incidncia: nmero de novos casos de uma doena ou infeco numa populao durante um perodo de tempo, dividido pelo nmero de animais no infectados no comeo deste perodo.

    Intensidade (de infeco): nmero de indivduos de uma espcie parasita em um nico hospedeiro de uma amostra, isto , o nmero de indivduos em uma infrapopulao.

    Mdia de intensidade: nmero total de indivduos de uma espcie parasita numa amostra de hospedeiros dividido pelo nmero de hospedeiros infectados da amostra (= nmero mdio

    de indivduos de uma espcie parasita por hospedeiro de uma amostra).

    Densidade: nmero de indivduos de uma espcie parasita por unidade de rea, volume ou peso de tecido ou rgo do hospedeiro infectado.

    Densidade relativa ou abundncia: nmero total de indivduos de uma espcie parasita de uma amostra de hospedeiros, dividido pelo nmero total de indivduos da espcie

    hospedeira (infectados e no infectados) da amostra (= nmero mdio de indivduos de uma

    espcie parasita por hospedeiro examinado).

    Infrapopulao: todos os indivduos de uma espcie parasita ocorrendo em um indivduo hospedeiro num determinado perodo.

    Populao componente: refere-se a todos os indivduos de uma especfica fase da histria

  • de vida, num determinado perodo e local.

    Suprapopulao: todos os estgios de desenvolvimento de uma espcie parasita num determinado perodo e local.

    Infracomunidade: uma comunidade de infrapopulaes de parasitas em um nico hospedeiro.

    Comunidade componente: refere-se a todas as infrapopulaes de parasitas associadas com um subgrupo de uma espcie hospedeiro ou uma coleo de fases de vida livre

    associadas com um subgrupo do ambiente abitico.

    Supracomunidade: compreende as suprapopulaes de parasitas. Diversidade: o conceito que descreve a composio de uma comunidade em termos de

    nmero de espcies presente, analisando o equilbrio de uniformidade relativa de cada

    espcie.

    3.3.2 Parasitos e mamferos marinhos

    Poucos ciclos de parasitos de mamferos marinhos j foram elucidados, e este

    conhecimento especialmente escasso no Brasil. A maioria dos ciclos so indiretos, onde a

    contaminao ocorre mais comumente atravs da dieta, tendo os peixes como hospedeiros

    intermedirios. Os peixes albergam uma grande quantidade de parasitos, especialmente os

    marinhos, devido a sua maior capacidade de vagar (comparados com os peixes de gua doce) e

    a grande diversidade de invertebrados presentes no mar. A variedade da fauna parasitria, sua

    intensidade e a incidncia de infestao so determinadas principalmente pelos seguintes

    fatores: a) dieta do hospedeiro, b) tempo de vida do hospedeiro, c) mobilidade do hospedeiro,

    incluindo a variedade de habitats que encontra durante a vida, d) densidade populacional

    (espcies gregrias ou no), e e) tamanho atingido (grandes hospedeiros proporcionam mais

    habitats adequados para parasitas do que pequenos) (HOLMES, 1990).

  • 3.3.3 Diferenas relacionadas com a idade

    De acordo com Hudson e Dobson (1995), as curvas de intensidade relacionadas a idade

    podem revelar padres que possibilitam quantificar as taxas de transmisso e mortalidade dos

    parasitas. Muito poucos parasitos so transmitidos verticalmente de uma fmea infectada para o

    seu feto ou recm nascido. Desta forma a maior parte das curvas de idade e intensidade

    mostram um aumento inicial aps a idade na qual um animal primariamente suscetvel

    infeco. Da mesma forma, j que os macroparasitas tendem a no se reproduzir diretamente

    dentro dos hospedeiros definitivos, o aumento normalmente devido aquisio de novos

    estgios larvais infectantes (as excees so os parasitas monogenticos e artrpodes).

    Qualquer mudana na carga parasitria de um indivduo hospedeiro , portanto, resultado do

    equilbrio entre as taxas de infeco parasitria (imigrao) e processos de mortalidade

    ocorrendo na populao de parasitas dentro do hospedeiro. Se ambas as taxas so constante, a

    curva de intensidade com a idade para um grupo de animais vai mostrar um aumento na carga

    parasitria at uma assntota, cujo nvel determinado pelo equilbrio entre infeco e

    mortalidade.

    A anlise dos dados de vrios sistemas d exemplos de curvas de intensidade com a

    idade que podem ser classificadas em um de trs tipos:

    Tipo 1: mostra um aumento na intensidade de infeco. Ocorre imigrao de novos estgios larvais infectantes que excedem as taxas de mortalidade dos mesmos nos hospedeiros, e

    no ocorre reduo na infeco devido a exposio previa ao patgeno, sendo esperado

    que a carga parasitria aumente com a idade do hospedeiro.

    Tipo 2: mostra um aumento at uma assntota determinada pelo equilbrio entre infeco e mortalidade. Se a taxa de mortalidade dos parasitas se torna grosseiramente igual a taxa

    com que se estabelecem no hospedeiro, esperado que a carga parasitria aumente at

    uma assntota.

  • Tipo 3: convexa, com nmero de parasitas por hospedeiro atingindo um pico e subseqentemente declinando. Vrios processos biolgicos podem originar este tipo de

    curva, incluindo mortalidade dos hospedeiros induzida pelos parasitas; mudanas na taxa de

    infeco dependentes da idade, como mudanas no comportamento do hospedeiro;

    mudanas na exposio relacionadas com a idade e desenvolvimento de resistncia

    infeco atravs de diminuio na sobrevivncia dos macroparasitas e/ou reduo do seu

    estabelecimento no hospedeiro.

    Em alguns sistemas, todos estes processos podem estar presentes, e importante ter em

    mente que, quando operando em nveis baixos, podem tanto produzir curvas assntotas quanto

    curvas que s mostram um pequeno aumento na carga parasitria com a idade. Apesar disso,

    existe uma evidncia crescente, tanto para hospedeiros humanos quanto no humanos, de que

    um fator que causa curvas convexas de intensidade com a idade o desenvolvimento de

    imunidade adquirida.

    Estas curvas so indicadores ambguos da interao entre parasitas e hospedeiros.

    Obviamente, se a prevalncia aumenta com a idade, os hospedeiros so sempre suscetveis ou

    aumentam sua suscetibilidade infeco com a idade. No entanto, qualquer convexidade ou

    assntota na curva de idade e prevalncia pode indicar tanto uma mudana na dieta do

    hospedeiro, a eliminao da infeco em hospedeiros previamente infectados, ou a perda dos

    indivduos infectados dentro da populao. Apesar de que grandes mudanas na mdia de

    intensidade podem ocorrer quando alguns animais extremamente parasitados morrem, ou so

    removidos de uma classe etria, tais efeitos podem causar pequeno impacto na prevalncia.

    3.3.4 Predisposio

    De acordo com Hudson e Dobson (1995), as diferenas na carga parasitria de

    hospedeiros de uma mesma idade refletem a suscetibilidade do hospedeiro a infeco e sua

  • experincia acumulativa de exposio aos diferentes estgios infectantes do parasita. Desta

    forma, importante saber mais sobre as condies que acarretam a existncia de poucos

    animais que so altamente infectados, avaliando se ocorre predisposio. Quando resultados

    indicam predisposio, importante diferenciar entre habitat e diferenas genticas entre os

    hospedeiros. A predisposio influenciada tanto pela suscetibilidade do hospedeiro quanto pela

    exposio, e a importncia relativa de cada efeito varia entre espcies e habitats. Variaes na

    exposio podem refletir o status social do indivduo, ou podem estar relacionadas com

    processos nutricionais e genticos. Infelizmente, poucos estudos tm sido conduzidos para

    examinar a predisposio em animais selvagens.

    3.3.5 Diferenas entre os sexos

    Zuk e McKean (1996) sugerem que diferenas na susceptibilidade para doenas entre os

    sexos evoluram da mesma forma que as diferenas morfolgicas e comportamentais entre os

    sexos, e que so resultado da seleo agindo diferentemente em machos e fmeas.

    A obteno de dados que justifiquem o reconhecimento de um padro diferenciado de

    infeco entre os sexos tem duas dificuldades predominantes: 1) garantir uma amostra grande o

    suficiente para detectar uma diferena entre os sexos se ela existir, e 2) distinguir entre uma

    exposio diferencial e uma suscetibilidade diferencial.

    As diferenas de prevalncia e intensidade de infeco entre os sexos so normalmente

    atribudas a dois fatores: os ecolgicos e os fisiolgicos (comumente hormonais). Os fatores

    ecolgicos incluem dieta, escolha de microhabitat, comportamento reprodutivo e tipos de

    atividade. Pelo menos dois aspectos podem confundir e contribuem para a dificuldade de se

    explicar os fatores ecolgicos. Primeiro, o tamanho dos indivduos difere em funo do sexo em

    vrios vertebrados, e um sexo que seja maior pode tanto ser um alvo maior para os parasitas,

    como comer mais e consumir mais itens alimentares infectados. Segundo, se um dos sexos tiver

  • uma mortalidade maior que o outro, mais indivduos mais velhos sero do sexo que sobrevive

    mais, e se os hospedeiros acumulam parasitam enquanto envelhecem, o que parece ser uma

    diferena entre os sexos pode ser na realidade uma diferena de idade. Alm disso, a

    suscetibilidade a parasitas, e o comportamento influenciando a exposio, podem mudar

    dependendo da estao ou do ano, com muitos vertebrados mostrando aumento de atividade ou

    padro de alimentao durante o perodo de reproduo.

    Quatro hipteses foram elaboradas como possveis explicaes fisiolgicas das diferenas

    entre os sexos: 1) efeitos deletrios oriundos do fato dos machos serem heterogmicos; 2)

    efeitos do estresse no sistema imune; 3) efeitos diretos de esterides sexuais no

    desenvolvimento e crescimento de parasitas; e 4) efeitos indiretos dos esterides sexuais sobre

    o sistema imune do hospedeiro e parasitas.

    3.3.6 Parasitos como marcadores biolgicos

    O uso dos parasitos como marcadores biolgicos comeou com estudos realizados em

    peixes. Nos ltimos quarenta anos o estudo das parasitoses tem sido uma importante ferramenta

    de pesquisa, usando os parasitos como marcadores biolgicos, ou seja, relacionando sua

    presena ou ausncia com investigaes sobre a filogenia, distribuio, hbitos alimentares e

    estoques populacionais de mamferos marinhos (ANDRADE et al., 1998; BALBUENA et al.,

    1995; DAILEY, 1979; DAILEY; VOGELBEIN, 1991; MACKENZIE, 1987; MOSER, 1991;

    WALKER, 2001; SZIDAT, 1964).

    O princpio bsico do uso de parasitos como marcadores a comparao intraespecfica

    dos nveis de infeco nos componentes das infracomunidades de hospedeiros que

    supostamente utilizam diferentes nichos ecolgicos ao longo de uma ou mais reas geogrficas.

    No somente a ausncia ou presena dos helmintos deve ser considerada, mas tambm

    importante analisar seus nveis de infeco, representados principalmente pela anlise da

  • prevalncia, densidade relativa e intensidade mdia (BALBUENA et al., 1995; MACKENZIE,

    1987).

    Os parasitos para serem utilizados com sucesso como marcadores biolgicos, devem:

    1. no causar mortalidade em larga escala ou mudanas de comportamento no

    hospedeiro,

    2. ter altas taxas de prevalncia,

    3. ser facilmente detectados, durante todo o tempo do estudo,

    4. apresentar diferentes nveis de infeco em diferentes partes da rea de estudo

    (BALBUENA et al., 1995; MACKENZIE, 1987; MOSER, 1991).

    So muitos os benefcios de usar estes organismos ao invs de marcadores artificiais:

    - custo reduzido na pesquisa,

    - manejo do hospedeiro somente para colheita,

    - refletem toda a populao hospedeira, no somente um animal,

    - atravs de estudos de gentica, morfometria e anlises bioqumicas de suas populaes,

    as subpopulaes destes parasitos podero ser identificadas em meio ampla populao de

    hospedeiros, indicando assim as subpopulaes dos hospedeiros (MACKENZIE, 1987; MOSER,

    1991)

    Quando hospedeiros esto divididos em dois ou mais grupos em diferentes ambientes

    geogrficos, suas respectivas faunas parasitarias podero mostrar diferenas. Isso

    particularmente verdadeiro para helmintos, que geralmente requerem mais de um hospedeiro

    para completar seu ciclo de vida. A ocorrncia de um determinado parasita em qualquer

    localidade geogrfica depende da presena de hospedeiro definitivo e intermedirios

    apropriados, e fatores biolgicos complexos que impem uma estrita interdependncia entre os

    organismos do complexo hospedeiro-parasita (DAILEY; VOGELBEIN, 1991).

  • Delyamure, em 1955, fez a primeira anlise zoogeogrfica de helmintos que parasitam

    mamferos marinhos de todos os oceanos. Encontrou certos padres de distribuio dos

    helmintos dos trpicos para os plos, com um aumento na diversidade nas regies temperadas e

    um queda brusca em nmero nas reas polares. De maneira geral, nas regies boreal e

    antiboreal, os helmintos de mamferos marinhos e outros organismos encontram as condies

    mais favorveis para o desenvolvimento dos seus ciclos de vida, ou seja, hospedeiros definitivos,

    hospedeiros intermedirios, condies biticas e abiticas.

    O conhecimento da dieta do hospedeiro muito importante no estudo da zoogeografia dos

    helmintos de cetceos. Em vastos ambientes, como o Oceano Antrtico, por exemplo, estoques

    amplamente separados de baleias podem utilizar diferentes organismos em suas dietas, de

    acordo com a variedade e abundncia local, durante suas migraes (DAILEY; VOGELBEIN,

    1991). Os autores estudaram parasitos de baleias caadas na Antrtica, sendo capazes de

    identificar e separar suas localidades de captura atravs das reas de maior e menor diversidade

    de helmintos na regio.

    O aumento da necessidade de estudos mais acurados, e a falta de verbas para estudos

    de espcies no domsticas, devem tornar o uso dos parasitos como marcadores biolgicos

    ainda maior (MOSER, 1991). Em se tratando de espcies ameaadas e ainda insuficientemente

    conhecidas, como a franciscana, P. blainvillei, os parasitos so especialmente teis para

    diferenciar estoques e detectar migraes (ANDRADE, 1996; AZNAR et al., 1994a; AZNAR et

    al., 1995; RAGA et al., 1998).

    Andrade (1996) realizou a colheita e identificao da helmintofauna de P. blainvillei, no sul

    do Brasil, Atravs da comparao com espcies de parasitas na Argentina e Uruguai, e a dieta

    da franciscana, foi possvel fazer consideraes sobre a existncia de estoques ecolgicos.

  • 3.4 Parasitos de mamferos marinhos

    Listas de parasitos de mamferos marinhos so encontradas em Dailey e Brownell Jr

    (1972), Delyamure (1955), Dierauf (1990) e Howard et al. (1983). Os parasitos de mamferos

    marinhos de maior incidncia e importncia sero apresentados de acordo com localizao no

    hospedeiro e subdivididos em famlias.

    3.4.1 Protozoa

    3.4.1.1 Ciliados Haematophagus megapterae foi encontrado preso a barbatanas de baleias jubarte, fin e

    azul. Alimenta-se de clulas vermelhas do sangue e no considerado patognico (DAILEY,

    2001; RAGA et al., 2001).

    Kyaroikeus cetarius foi descrito no orifcio respiratrio de Tursiops truncatus, Pseudorca

    crassidens, Delphinaterus leucas e Kogia breviceps (DAILEY, 2001; POYTON et al., 2001;

    RAGA et al., 2001). Tambm j foi encontrado em leses de pele e linfonodos. Chilodonella sp. e

    outro ciliado no classificado tem sido encontrados rotineiramente em muco de orifcio

    respiratrio e raspados de pele de golfinhos nariz de garrafa na Califrnia. Estes ciliados so

    responsveis por infeces consideradas oportunistas, cujo significado patolgico est ainda

    para ser analisado (DAILEY, 2001).

    Ciliados holotrquios so vistos em mais de 50% da populao de golfinhos nariz de

    garrafa (Tursiops truncatus) da Flrida, detectados em swabs do orifcio respiratrio, mas

    raramente invadindo o tecido local ou pulmes, sugerindo que esse protozorio seja um invasor

    oportunista da pele previamente lesada por trauma ou infeco bacteriana (HOWARD et al.,

    1983).

  • 3.4.1.2 Apicomplexos

    Toxoplasma gondii e Sarcocystis spp. j foram reportados numa grande variedade de

    mamferos marinhos, acometendo uma grande diversidade de rgos (DAILEY, 2001; POYTON,

    2001). Nos msculos eles parecem ter pequeno ou nenhum efeito no hospedeiro, enquanto que

    no sistema nervoso podem levar a encefalites severas (DAILEY, 2001).

    Eimeria phocae e seis outras espcies de apicomplexos j foram reportadas em

    pinpedes, sendo que destes, alguns animais apresentaram sinais clnicos. Alguns autores

    sugerem que s afetam a sade do animal quando este est estressado (DAILEY, 2001).

    3.4.1.3 Flagelados

    Flagelados foram recentemente isolados do muco do orifcio respiratrio, tanto de animais

    de cativeiro como selvagens, dentre eles golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) e

    baleias beluga (Delphinaterus leucas). Jarrellia atramenti (Kenetoplastida: Bodonidae) foi isolada

    do orifcio respiratrio de cachalote-pigmeu (Kogia breviceps) (POYTON, 2001). Segundo Poyton

    (2001), os flagelados podem ser um componente benigno da microbiota do muco do orifcio

    respiratrio de cetceos.

    Uma espcie no identificada de flagelado (Chilomastix ou Hexamita) foi encontrada no

    clon de uma Balaena mysticetus (DAILEY, 2001).

    Giardia sp. foi encontrada em pinpedes da regio do rtico, Canad e Califrnia, podendo

    este animais consistir reservatrios potenciais nestas regies, porm seus efeitos na sade dos

    pinpedes ainda desconhecida (DAILEY, 2001).

    3.4.1.4 Sarcodina

    Uma Entamoeba sp. foi descrita no clon de uma Balaena mysticetus, e seu significado

    clnico em cetceos ainda no determinado (DAILEY, 2001; RAGA et al., 2001).

  • 3.4.2 Ectoparasitos

    3.4.2.1 Anoplura

    Piolhos so encontrados em pinpedes e cetceos. Somente os pinpedes apresentam

    piolhos sugadores, sendo os mais comuns do gnero Antarctophithirius, que infestam

    principalmente animais jovens, debilitando-os no caso de grandes infestaes (CONLOGUE et

    al., 1980; DAILEY, 2001; HOWARD et al., 1983).

    Echinophithrius horridus foi reportado como hospedeiro intermedirio do parasita cardaco

    A. spirocauda (Nematoda) (CONLOGUE et al., 1980; GERACI et al., 1981).

    Thompson et al. (1998) estudou a epidemiologia de Echinophithirius horridus em focas do

    porto (Phoca vitulina) durante um perodo de quatro anos, nos quais ocorreram mudanas

    interanuais de disponibilidade de alimento. Tais autores observaram que a prevalncia e

    intensidade variavam com relao a idade, mas no com relao ao sexo do hospedeiro. A

    carga parasitria foi maior em focas imaturas, porm, prevalncia e intensidade foram

    significativamente maiores em anos onde a disponibilidade de alimento foi pequena. Em

    contraste com outros estudos de outras espcies de pinpedes, reportou-se tambm que o

    ectoparasita no esteve presente em filhotes de P. vitulina desmamados, sugerindo que E.

    horridus transferido horizontalmente.

    Mehlhorn (2002) analisou, atravs de microscopia eletrnica, as caractersticas

    morfolgicas de exemplares de Antarctophthirus ogmorhini (Echinophthiriidae) de focas

    antrticas.

    3.4.2.2 Crustacea

    Vrias espcies de crustceos cirripdios tem sido identificadas associadas a cetceos,

    incluindo Coronula diadema, C. reginae, Cetopirus complanatus, Cryptonelas rhachianecti,

    Tubicinella major, Conchoderma auritum, Conchoderma virgatum e Xenobalanus globicipitis

  • (AZNAR et al., 1994b; DAILEY, 2001; RAJAGURU; SHANTHA, 1992; SCARFF, 1986; RAGA et

    al., 2001).

    As espcies de crustceos podem ser encontradas em cetceos estabelecendo

    associaes variando de comensalismo a parasitismo, com graus variveis de adaptao.

    Algumas espcies como as cracas pedunculadas dos gneros Conchoderma e Lepas

    (Lepalidae), podem ser consideradas generalistas por ocorrerem tanto em organismos vivos

    (tartarugas, cetceos, etc.) quanto em objetos inanimados (cascos de navios, objetos flutuantes).

    Em contraste, outras espcies ssseis, presas diretamente base da pele, dos gneros

    Coronula, Cryptolepas, Tubinella e Xenobalanus (Coronulidae); so mais especializadas e

    encontradas somente em cetceos (AZNAR et al., 1994b).

    Dois fatores principais relacionados aos cetceos parecem influenciar a colonizao da

    pele destes animais por crustceos simbiticos. Uma seria a mobilidade e hidrodinamismo do

    hospedeiro, relacionados com as correntes geradas pelos movimentos e velocidade de natao.

    O segundo fator seria a troca de pele, ao menos para as espcies que se prendem diretamente a

    uma base, j que, no caso das baleias, isto facilitaria o desprendimento destes crustceos

    (AZNAR et al., 1994b).

    Scarff (1986) faz uma reviso dos relatos de crustceos em cetceos, suas caractersticas

    e distribuio no corpo dos hospedeiros, e discute a sua ocorrncia em diferentes espcies de

    baleias ao longo dos anos.

    Os chamados piolhos de baleia (Isocyamus delpini e Cyamus sp.) so crustceos

    coppodes que se alimentam de pele e esto entre os ectoparasitos mais comuns de misticetos

    (DAILEY, 2001; DAILEY et al., 2000; OSMOND; KAUFMAN, 1998; SCARFF, 1986). Eles se

    alimentam da epiderme, fluidos corporais e filamentos de algas. No requerem hospedeiros

    intermedirios e so transmitidos atravs de contato direto. Nenhum sinal clnico tem sido

    associado com a infeco e o tratamento provavelmente desnecessrio (DAILEY, 2001).

  • Pequenas concentraes de Cyamus boopis em baleias-jubarte (Megaptera novaengliae),

    so regularmente observadas agregadas em reas de menor fluxo de gua, como, por exemplo,

    as pregas ventrais, olhos, nadadeiras peitorais, orifcio respiratrio, margens dos lbios e ao

    redor de cracas. Baleias-jubarte com problemas fsicos que afetam e diminuem sua velocidade

    de nado tem sido observadas com grandes infestaes destes ectoparasitos (OSMOND;

    KAUFMAN, 1998).

    O gnero Pennela (Copepoda: Pennellidae) possui espcies que parasitam peixes e

    cetceos marinhos (DAILEY, 2002; HOGANS, 1987; RAGA et al., 2001). Desde a descrio

    original, somente seis espcies deste gnero foram reportadas em cetceos e so revistas por

    HOGANS (1987).

    Dailey et al. (2002) relatam pela primeira vez a presena de Pennella balaenopterae

    (Pennellidae: Copepoda) em um pinpede. Os autores consideram que devido s diferenas de

    estrutura da pele de cetceos e pinpedes, o animal tinha leses cutneas que permitiram a

    invaso dos coppodes.

    3.4.2.3 Acarina

    Casos de demodicose no pruriginosa, causada por Demodex sp., so descritos em

    pinpedes, tendendo cronicidade se no for tratada. caracterizada por alopecia focal e

    hiperqueratose, podendo ocorrer infeco bacteriana secundria (DAILEY, 2001; DAILEY;

    NUTTING, 1980).

    3.4.3 Endoparasitos

    3.4.3.1 Acarina

    Os gneros Orthohalarachne e Halarachne so caros nasais comuns em otardeos e

    odobendeos, e em focdeos, respectivamente. Seu impacto considerado discreto para os

  • hospedeiros quando em pequenas quantidades, causando alguma eroso e inflamao dos

    ossos turbinados nasais e nasofaringe. No entanto, animais altamente infestados podem ter

    centenas de caros por todo o trato respiratrio, apresentando alteraes como inflamao

    crnica das cavidades nasais e srias leses pulmonares, podendo vir a bito. A transmisso

    das larvas ocorre diretamente de animal para animal (DAILEY, 2001; FAY; FURMAN, 1982; KIM

    et al., 1980).

    3.4.3.2 Nematoda

    a) Sistema digestivo

    Os parasitos de maior ocorrncia entre os mamferos marinhos so provavelmente os da

    famlia Anisakidae, sendo Anisakis e Contracaecum os gneros mais comumente representados.

    Ocorrem no estmago de praticamente todas as espcies de pinpedes e odontocetos,

    apresentando um molusco como primeiro e um peixe como segundo hospedeiros intermedirios

    respectivamente (DAILEY, 2001; DAILEY et al., 2000; HOWARD et al., 1983) (Figura 1).

    Descries e figuras dos principais nematides gastrointestinais de mamferos marinhos

    constam nos trabalhos de Abollo e Pascual (2002), Baylis (1920, 1937), Davey (1971),

    Delyamure (1955).

    Infeces moderadas raramente causam sinais clnicos, porm grandes infeces podem

    resultar em gastrites e ulceraes. No caso dos pinpedes, as intensidades das infeces podem

    ser altas sem sinais clnicos; porm, j foram associadas com gastrite, ulceraes gstricas,

    enterite, diarria, desidratao, anemia e, raramente, perfurao gstrica. Provavelmente a ao

    mecnica e a secreo de alrgenos esto associadas s leses gstricas (DAILEY, 2001;

    CATTAN et al., 1976; SCHROEDER; WEGEFORTH, 1935).

  • Figura 1: Esquema do ciclo de vida geral dos nematides gastrointestinais no ambiente marinho. (Adaptado de Howard et al., 1983 e Fortes, 1993).

    Contracaecum ogmorhini foi descrito para Arctocephalus autralis na costa do Uruguai,

    com prevalncia de 34,3% e intensidade mdia de 4,3 3,3 nematides por hospedeiro, sem

    leses severas nos estmagos estudados. Anisakis simplex e Pseudoterranova decipiens foram

    considerados raros para este hospedeiro (CAPOZZO et al., 1994; CAPOZZO et al., 1998;

    MORGADES et al., 2002).

    Parasitos do gnero Uncinaria tm importncia na mortalidade natural pinpedes jovens,

    onde os parasitas adultos causam enterite hemorrgica e anemia, especialmente em Callorhinus

    ursinus (BROWN et al., 1974; DAILEY, 2001). Transmisso vertical de U. lucasi ocorre em C.

    ursinus e, provavelmente, Zalophus californianus (DAILEY, 2001; LYONS et al., 2001). Em

  • estudo realizado na Califrnia, o parasita foi encontrado em 95% dos exemplares jovens de

    Callorhinus ursinus e 100% dos Z. californianus, com intensidades mdias de 760 e 612,

    respectivamente (LYONS et al., 2001).

    Uncinaria sp. j foi reportada em lees-marinhos-do-sul (Otaria flavescens) no Uruguai,

    Chile e Argentina, podendo ser um fator importante de mortalidade de animais jovens no

    hemisfrio sul (BERN-VERA et al., 2002; MORGADES et al., 2002). Na regio da Patagnia

    Argentina, este parasita foi encontrado com prevalncia de 50% e mdia de intensidade de 135,

    1 ( 146,5) parasitos, sendo a mdia de intensidade maior em machos (BERN-VERA et al.,

    2002).

    Anlise de fezes de elefantes-marinhos-do-sul (Mirounga leonina) na Antrtica,

    identificaram nematides dos gneros Anisakis, cf. Contracaecum e cf. Rhaphidascaris; e

    acantocfalos do gnero Corynosoma. A correlao com os resultados de leucograma

    demonstrou aumento na porcentagem mdia de eosinfilos nas fmeas, sugerindo que a

    parasitose por nematides, principalmente, medida pela presena de ovos nas fezes, constitui

    um fator de estresse (ROBALDO et al., 1998).

    b) Sistema respiratrio

    Os nematides mais comuns que infectam pulmes, veias pulmonares, espaos auditivos

    e seios nasais so de duas famlias: Pseudaliidae e Crassicaudidae; e quatro gneros:

    Halocercus, Pharurus (Torynurus), Pseudalius e Stenurus. Os sintomas variam de acordo com o

    hospedeiro e a espcie de parasita, bem como a intensidade de infeco. O quadro da

    parasitose inclui tosse, dispnia, letargia e morte potencial (DAILEY, 2001).

    Descries dos principais parasitas nematides do sistema respiratrio de cetceos esto

    em Baylis e Daubney (1925), Delyamure (1955), Dougherty (1943a, 1943b, 1944), Wu (1929) e

    Zylber et al. (2002).

  • Almeida (1933) revisou o gnero Halocercus, descrevendo H. brasiliensis em pulmes de

    Sotalia guianensis do Rio de Janeiro.

    Conlogue et al., (1985) descreve grandes infeces de Halocercus dalli em Phocoenoides

    dalli, com maior prevalncia em animais jovens do que em adultos, propondo transmisso

    transplacentria. Halocercus lagenorhynchi, primeiramente descrito em Lagenorynchus

    albirostris, infecta tambm Tursiops truncatus e existem evidncias de infeco pr-natal nesta

    espcie, com filhotes muito jovens apresentando parasitos adultos, com provvel transmisso

    transplacentria (DAILEY et al.,1991; MOSER; RHINEHART, 1993). Esta possibilidade de

    transmisso tambm foi proposta para outras espcies, como Halocercus pingi (PARSONS et

    al., 1999).

    Nematides da famlia Pseudaliidae podem ocasionar inflamao granulomatosa em

    pulmes de cetceos. Exemplares adultos destes parasitas pulmonares estimulam pouca ou

    nenhuma resposta inflamatria nos brnquios e bronquolos, porm as larvas nos alvolos

    podem causar pneumonia focal purulenta subaguda (BROSENS et al., 1996; DAILEY; STROUD,

    1978; ZYLBER et al., 2002).

    A ocorrncia de nematides da famlia Pseudaliidae no sistema de seios craniais de

    odontocetos j foi sugerida como causa de encalhe (DAILEY, 2001; DAILEY; WALKER, 1978;

    DAILEY; STROUD, 1978). Num estudo realizado com baleias beluga do Canad (Delphinapterus

    leucas), observou-se que 87% de todos os animais encalhados apresentavam o parasita

    Pharurus pallasii (Pseudaliidae) nos seios craniais, especialmente nos seios peribulares (ouvido).

    A prevalncia foi similar entre machos e fmeas, com tendncia de maior mdia de intensidade

    de infeco em machos, no foram observadas leses aparentes, mesmo em animais com

    grande carga parasitria (HOUDE et al., 2001). No entanto, outros trabalhos como, por exemplo,

    Zylber et al. (2002) relatam severas leses sseas relacionadas a presena de centenas de

  • Stenurus globicephalae (Pseudaliidae) em um exemplar de Pseudorca crassidens, apontando as

    leses como possvel causa do seu encalhe na costa do Uruguai.

    Parasitos da famlia Crassicaudidae j foram encontrados nos seios areos de nove

    gneros de pequenos odontocetos encalhados e capturados, onde foram implicados como causa

    de eroso ssea resultante de inflamao da mucosa, sinusite purulenta e ostete (DAILEY,

    2001; DAILEY; PERRIN, 1973; DAILEY; WALKER, 1978; DAILEY; STROUD, 1978; PASCUAL et

    al., 2000; PERRIN; POWER, 1980). A ausncia de leses sseas residuais em animais mais

    velhos tem sido interpretada como uma forte evidncia de que o parasitismo pode constituir um

    fator importante na mortalidade natural de pequenos cetceos (GERACI; ST AUBIN, 1987;

    PASCUAL et al., 2000; PERRIN; POWER, 1980). Um estudo detalhado das leses sseas nos

    crnios indica que outros agentes como bactrias e/ou vrus tambm podem estar presentes

    (PASCUAL et al., 2000).

    Dougherty e Herman (1947) descrevem e discutem os principais parasitas pulmonares de

    pinpedes. Filaroides (Parafilaroides) decorus o parasita pulmonar mais freqente em Zalophus

    californianus, lees-marinhos-da-Califrnia, com ciclo demonstrado experimentalmente e grande

    abundncia em ambiente natural (Figura 2). Os animais ingerem peixes coprfagos

    contaminados, h desenvolvimento dos nematides at a fase adulta e conseqente liberao

    de ovos nas fezes, que por sua vez sero ingeridos pelos peixes coprfagos. O ambiente natural

    das colnias ideal para este tipo de transmisso, em vista da existncia de uma grande

    concentrao de animais, contaminao da gua e abundncia de peixes coprfagos como

    hospedeiros intermedirios (DAILEY, 1970). Os parasitos adultos residem nos alvolos e as

    fmeas so vivparas. As reas que contm larvas migratrias apresentam resposta inflamatria

    de moderada a severa. Ainda, possvel observar dois tipos de alterao pulmonar: obstruo

    bronquiolar devido presena de muco e pneumonia (HOWARD et al., 1983; MORALES;

    HELMBOLDT, 1971).

  • Figura 2: Esquema do ciclo de vida do nematide pulmonar Parafilaroides decorus (Adaptado de HOWARD et al., 1983).

    Otostrongylus circumlitus um parasita pulmonar e cardaco relativamente comum em

    algumas espcies de focdeos, causando diferentes tipos de leso, de acordo com a espcie

    hospedeira. Nos casos de Phoca vitulina e Phoca hispida, por exemplo, os vermes adultos so

    encontrados em traquia, brnquios e bronquolos. Infestaes leves esto associadas

    produo excessiva de muco e hiperplasia de mucosa, enquanto que infestaes mais severas

    podem levar a obstruo e inflamao de brnquios e bronquolos. Em alguns casos pode

    ocorrer infeco bacteriana secundria, levando a pneumonia ou abcessos pulmonares. Apesar

  • do ciclo de vida ainda ser desconhecido, provavelmente indireto (GULLAND et al.,1997;

    ONDERKA, 1989).

    Existem poucos relatos de Otostrongylus circumlitus em elefantes marinhos (Mirounga

    angustirostris), sendo que este parasita j foi encontrado em dois lees-marinhos-da-Califrnia

    (Zalophus californianus) (GULLAND et al.,1997).

    c) Sistema circulatrio

    Acanthocheilonema (Dipetalonema) spirocauda e odendhali so parasitas cosmopolitas de

    focdeos e otardeos, encontrados no ventrculo direto e fascia intermuscular, respectivamente

    (DAILEY, 2001).

    A. spirocauda j foi encontrado no sistema cardiovascular de vrias espcies de focdeos,

    incluindo: Phoca vitulina, Phoca hispida, Cystophora cristata, Phoca fasciata, Erignathus

    rosmarus, P. v. largha (CONLOGUE et al., 1980; DUNN; WOLKE, 1976; ELEY,1981; TAYLOR et

    al., 1961). O ciclo de vida ainda desconhecido, porm adultos j foram encontrados nos

    coraes de Phoca vitulina com quatro semanas de idade, sugerindo infeco intra-uterina

    (HOWARD et al., 1983). Piolhos tm sido indicados como um hospedeiro intermedirio provvel.

    Apesar de que foram realizados estudos onde os estgios intermedirios no foram encontrados

    (CONLOGUE et al., 1980; DUNN; WOLKE, 1976; HOWARD et al., 1983; TAYLOR et al., 1961),

    o piolho Echinophthrius horridus foi reportado como hospedeiro intermedirio do parasita no

    estudo de Geraci et al., (1981).

    As infeces moderadas a severas do ventrculo direito por A. spirocauda em indivduos

    jovens de Phoca vitulina parece ter pequenas conseqncias para o hospedeiro. Porm,

    infeces severas podem ser muito debilitantes. Os filarides adultos podem ser encontrados no

    trio direito, mas so mais comuns em ventrculo direito e artria pulmonar, onde podem tornar-

    se oclusivos. Tambm podem ser numerosos na veia cava posterior e causar pneumonias

  • severas (CONLOGUE et al., 1980; DUNN; WOLKE, 1976; HOWARD et al., 1983; TAYLOR et al.,

    1961).

    A prevalncia, distribuio e patologia associadas a A. spirocauda em populaes de vida

    livre ainda pouco conhecida. Num estudo realizado com pinpedes e alguns cetceos da regio

    do Alasca em 1981, estes parasitos foram encontrados somente em focdeos, principalmente em

    Phoca vitulina, com prevalncia menor que 20%. Os parasitos se concentr