parte 1 - 1º ano_literatura_2-25

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  • 2LITERATURA

    Fundamentos dateoria literria

    Por que estudar literatura?

    A Literatura, assim como a msica, a pintura, a arquitetura, a escultura, a dana etc., umaforma de arte. O que a diferencia das outras manifestaes artsticas que ela nos permite,atravs da interao com seus textos, entrar em contato com um conjunto de experinciasacumuladas pelo homem ao longo de sua trajetria.

    Atravs de sua arte, o artista reflete sua prpria face e tambm o cenrio no qual produziusua obra, ou seja, a sociedade em que viveu. Quando analisamos a arte, entramos em contatocom o mundo do artista. Essa experincia nos permite compreender melhor como, ao longo desua existncia, o ser humano tem visto o mundo em que vive, pois somos fruto da sociedade emque vivemos.

    Refletir sobre isso, pode nos levar a um questionamento: por que devemos reconstruir opassado atravs da Literatura, se a Histria j nos permite isso?

    Segundo Aristteles, a poesia (Literatura) tem carter mais geral que a Histria. Ela no sepreocupa apenas em registrar fatos, mas apresenta tambm acontecimentos por meio dos quais possvel compreender melhor o comportamento das pessoas. Isso quer dizer que estudarLiteratura nos ajuda a compreender melhor a natureza de nossas aes e sentimentos.

  • 3Nesse sentido, as obras de escritores e poetas nos aju-dam a compreender melhor como ns, seres humanos, te-mos nos comportado ao longo dos sculos e, a partir doexemplo e da experincia alheios, refletir sobre nosso pr-prio comportamento.

    Texto literrio

    A palavra Literatura, etimologicamente falando, derivada palavra latina littera, ae, que significa letra do alfabeto,carter da escrita. Logo, o termo latino litteratura, ae, pas-sou a designar, por extenso, cincia relativa s letras ou arte de escrever.

    Caractersticas do texto literrio

    1- Ficcionalidade: os fatos apresentados no texto literriono fazem necessariamente parte da realidade. Por isso,diz-se que a fico (a fantasia) um componente daLiteratura.

    2- Funo esttica: uma das caractersticas mais marcan-tes do texto literrio a sua funo esttica, por oposi-o funo utilitria (informar, convencer, explicar etc.)do texto no-literrio. Quer dizer, o artista busca repre-sentar a realidade a partir de sua viso, interpretandoaspectos que acha mais importantes, sem se preocuparem retrat-la de modo fiel. O que observa no a seme-lhana com o real, mas a interpretao que dele se faz.

    Poema brasileiro

    No Piau de cada 100 crianas que nascem78 morrem antes de completar 8 anos de idade

    No Piaude cada 100 crianas que nascem78 morrem antes de completar 8 anos de idade

    No Piaude cada 100 crianas que nascem78 morremantes

    de completar8 anos de idadeantes de completar 8 anos de idadeantes de completar 8 anos de idadeantes de completar 8 anos de idadeantes de completar 8 anos de idade.

    GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2000.

    Esse poema construdo a partir de uma informaoespantosa: de cada 100 crianas nascidas no Piau, 78 mor-rem antes de completar 8 anos de idade. Como a inteno doautor esttica, e no apenas informativa, notamos que ele

    reorganiza a informao de diversas formas, e, ao final, repe-te o aspecto mais estarrecedor da realidade que originou opoema.

    Essa repetio da informao obriga o leitor a refletirsobre o terrvel significado dessa triste realidade brasileira.

    Os ltimos versos insistem em um aspecto especficoda informao (as crianas morrem antes de completar 8anos). como se o poeta desafiasse o leitor: possvelpermanecer impassvel diante de uma constatao comoessa? possvel no se chocar?

    O trabalho literrio, nesse caso, faz com que o texto trans-cenda a funo utilitria e ganhe uma dimenso esttica.

    3- Plurissignificao: caracterstica que permite que as pala-vras assumam diferentes significados, nos textos literrios.

    4- Subjetividade: a Literatura est associada expressopessoal de experincias, emoes, sentimentos, o quelhe confere carter subjetivo (pessoal, individual). Essacaracterstica faz com que as informaes deixem de sero centro de ateno do texto literrio.Os estados de alma, os sentimentos das personagens,

    suas caractersticas sempre so prioritrios. por esse mo-tivo que se diz que a linguagem do texto literrio preferen-cialmente conotativa criando novos significados. O autorestabelece, entre as palavras, relaes inesperadas e, mui-tas vezes, inslitas, revelando diferentes maneiras de ver omundo e a realidade.

    No texto no-literrio, a linguagem predominantemen-te denotativa, porque seu objetivo criar uma relao imedi-ata entre o que se diz e a realidade referida pelo texto.

    O texto literrio se caracteriza pela sua funo esttica,pelo seu carter ficcional, pela sua subjetividade e pela suaplurissignificao.

    Literatura: (Re) leitura do passado

    A leitura comparativa dos poemas a seguir mostra que otexto literrio, como uma expresso artstica, nos permiteidentificar as marcas do momento em que foi escrito.

    Texto 1

    Ptria minha

    A minha ptria como se no fosse, ntimaDoura e vontade de chorar; uma criana

    dormindo minha ptria. Por isso, no exlioAssistindo dormir meu filhoChoro de saudades de minha ptria.Se me perguntarem o que a minha ptria, direi:No sei. De fato, no seiComo, por que e quando a minha ptriaMas sei que a minha ptria a luz, o sal e a guaQue elaboram e liquefazem a minha mgoa

  • 4 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Em longas lgrimas amargas.Vontade de beijar os olhos de minha ptriaDe nin-la, de passar-lhe a mo plos cabelos...Vontade de mudar as cores do vestido (auri-

    verde!) to feiasDe minha ptria, de mi-

    nha ptria sem sapatosE sem meias, ptria minhaTo pobrinha!No te direi o nome, p-

    tria minhaTeu nome ptria ama-

    da, patriazinhaNo rima com me gentilVives em mim como uma

    filha, que sUma ilha de ternura: a IlhaBrasil, talvez.

    MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

    O Brasil de Gonalves Dias ainda procura uma identida-de, tendo recm-proclamado a sua independncia poltica.(Independncia ou morte, de Pedro Amrico, 1888. leo so-bre tela. Museu Paulista, So Paulo)

    Texto 2

    Cano do exlioMinha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabi;As aves, que aqui gorjeiam,No gorjeiam como l.Nosso cu tem mais estrelas,Nossas vrzeas tm mais flores,Nossos bosques tm mais vida,Nossa vida mais amores.

    Em cismar, sozinho, noite,Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabi.Minha terra tem primores,

    Que tais no encontro eu c,Em cismar sozinho, noite Mais prazer encontro eu l;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabi.

    No permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para l;Sem que desfrute os primoresQue no encontro por c;Sem quinda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabi.

    GONALVES DIAS. Poesia e prosa completas.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

    Nos dois poemas, encontramos a mesma situao: umexilado com saudades de sua terra natal. A maneira comoessa terra apresentada, no entanto, varia enormementeentre os dois textos. No primeiro, escrito por Vincius deMoraes no final da dcada de 1950, vemos uma ptria que,embora adorada pelo poeta, tem problemas, no tem sapa-tos nem meias, pobrinha...

    J a ptria de Gonalves Dias superior a qualquer outra,causa de orgulho para os brasileiros (Nosso cu tem maisestrelas / Nossas vrzeas tm mais flores / Nossos bosquestm mais vida / Nossa vida mais amores), exemplo de perfei-o. Esse poema foi escrito em 1843, poca em que o Brasilacabara de tornar-se independente, o que explica a necessi-dade de seus poetas e escritores exaltaremno. Os artistas pro-curavam criar uma noo de ptria que unisse os brasileiros,mas os diferenciasse dos colonizadores portugueses.

    A anlise da viso do autor sobre determina-do acontecimento revela tambm a viso de mun-do de uma determinada poca.

    O olhar do presente examina o passado

    Pensar que jovens, na Europa do final do sculo XVIII,suicidaram-se inspirados pela leitura de um romance de Go-ethe (Os sofrimentos do jovem Werther) nos parece, hoje,inacreditvel. Mas, ser que mesmo? O que dizer, por exem-plo, daquelas pessoas que passam a usar determinadas rou-pas, a cortar o cabelo de uma certa maneira ou a falar de umjeito especfico apenas porque esse procedimento passou aser considerado moda durante a apresentao de umanovela de televiso? O comportamento o mesmo, s nonos parece inacreditvel porque nos valemos dele justa-mente para demonstrar nossa atualidade.

    O curioso que esse aspecto muitas vezes abomina-do do texto literrio pode representar algo muito interes-sante. Desenvolver a capacidade de olhar para obras dopassado, no com as cobranas da atualidade, mas com avontade de descobrir a razo de as pessoas se comportaremde uma maneira que nos parece inexplicvel, torna possvelvislumbrar um cenrio maior em que aquele escritor no onico a ver o mundo de uma certa maneira e a falar sobreas coisas de uma certa forma.

    O Brasil de Vincius sofre com umasrie de problemas sociais, mas um pas em desenvolvimento.(Praa do Patriarca, So Paulo,dcada de 1950)

  • 5O texto e suas categorias: Texto literrioX texto no-literrio

    Primeiramente, vamos ler estes dois textos:

    Texto I

    Fotossntese Da ao da luz sobre os vege-tais verdes depende o mais importante de todos osfenmenos vitais, a fotossntese, qual esto diretaou indiretamente escravizados todos os seres vivos.

    Exteriormente, a fotossntese se manifesta pelatroca de gases entre o vegetal e a atmosfera: ovegetal absorve CO2 e elimina oxignio. Duascondies so necessrias para que o fenmeno serealize: uma a presena de clorofila; outra apresena de luz.

    O papel da clorofila consiste em absorver umaparte das radiaes solares, cuja energia entoaproveitada para reaes qumicas no interior daplanta. Nessa funo, as radiaes vermelhas soas mais eficazes, vindo depois o alaranjado, o ama-relo, e, na outra extremidade do espectro, o viole-ta. Na faixa correspondente ao verde, o fenmeno quase nulo.

    O mais importante, porm, que, graas ener-gia solar absorvida, a planta verde decompe oCO2 em seus elementos (carbono e oxignio), de-volve o oxignio atmosfera, e, unindo o carbonoaos materiais da seiva, fabrica substncia orgni-ca. Esta sntese, efetuada sob a ao da luz, quejustifica a denominao de fotossntese dada aofenmeno.

    (A. Almeida Jr. Biologia Educacional, So Paulo.Cia Editora Nacional. 1965, pg. 201.)

    Texto II

    Luz do solLuz do solQue a folha traga e traduzEm verde novo, em folha, em graa,Em vida, em fora e em luz.Cu azul,

    Que vem at onde os ps tocam a terraE a terra expira e exala seus azuis.

    Reza, reza o rio,Crrego pro rio,O rio pro mar.Reza a correntezaRoa a beira,Doura a areia.

    Marcha o homem sobre o cho,

    Leva no corao uma ferida acesa.Dono do sim e do noDiante da viso da infinita belezaFinda por ferir com a mo essa delicadeza,A coisa mais querida:A glria da vida.

    (Caetano Veloso. Luz do Sol. In: Meu bem, meu mal. LPFontana826162-1. 1985. L.2.f.1.)

    Como voc percebeu, o tema do primeiro texto e do se-gundo o mesmo: a fotossntese. Mas, pelas suas intenese caractersticas, cada um deles pode ser classificado comono-literrio e literrio, respectivamente. Vejamos por qu.

    No primeiro texto, o objetivo do autor , pura e simples-mente, informar de maneira precisa e objetiva sobre o fen-meno da fotossntese. Para atingir essa meta, ele utilizou adenotao, isto , valeu-se do sentido prprio da palavra(aquele que encontrado no dicionrio), usando uma lin-guagem transparente. Privilegiou-se nesse texto o significa-do, seu valor utilitrio, ou seja, o plano do contedo. Porisso, pode-se fazer um resumo das idias do texto e apreen-der-se o essencial da informao. O texto univalente: apre-senta uma nica interpretao.

    No segundo texto, ao contrrio, a organizao da mensa-gem privilegia a prpria mensagem, o plano da expresso, o quese destaca o trabalho com a linguagem. A predominncia notexto de Caetano da linguagem em funo esttica, conotati-va, que permite o aparecimento de um sentido figurado.

    Observe o uso conotativo, metafrico, dos verbos tra-gar e traduzir: associou-se o ato de fumar e de tragar com aao do vegetal absorvendo a luz e, em seguida, transfor-mando essa luz em substncia orgnica. Ou, nas palavrasdo autor, traduzindo uma informao em outra.

    Alm dessa utilizao de metforas, percebe-se na sele-o desses verbos o trabalho artstico: a repetio dos fone-mas tr (tragar e traduz) e a enumerao em verde novo, emfolha, em graa, em vida, em fora, em luz.

    Essas observaes referem-se somente parte destaca-da do texto, mas, no restante, a presena do trabalho nonvel da mensagem repete-se. Na Segunda estrofe, a repeti-o do fonema r sugere o movimento das guas e, na tercei-ra estrofe, o uso de metforas (ferida acesa, dono do sim edo no) indica o trabalho com uma linguagem subjetiva. odomnio da conotao, da interpretao afetiva, do sentidofigurado, metafrico.

    Neste exemplo vemos claramente como ao plano do con-tedo superpe-se o plano da expresso, resultando da aplurissignificncia (vrias interpretaes) do texto.

    importante aqui fazer uma distino de muita relevn-cia: se o texto no-literrio passvel de ser resumido por-que tem uma funo utilitria (informar), porque trabalhabasicamente o plano do contedo, o mesmo no acontececom o texto literrio. Resumir o texto literrio perder o es-sencial. No ato de resumir pode-se saber o enredo da hist-ria, mas perdem-se as sabedorias e mincias de estilo. Es-quematizando o que foi dito, teremos:

    SubjetivoConotativoIntuitivo / criativoRelevncia do Plano da ExpressoVrias interpretaes (plurissignificante)

    ObjetivoDenotativoRacionalRelevncia do Plano do ContedoUma nica interpretao (univalente)

    Texto Literrio Texto No-Literrio

  • 6 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Leia atentamente os textos abaixo.

    Texto 1

    Belm, Domingo, 29/01/2006 (Amaznia Jornal)Marceneiro atingido por bala perdida

    Uma troca de tiros envolvendo dois assaltan-tes resultou na morte de um homem inocente. Avtima foi atingida com uma bala perdida, na noi-te da ltima tera-feira, na invaso do RiachoDoce, no bairro do Guam.

    O crime ocorreu na rua Olaria, esquina com apassagem do Arrebatamento, s proximidades docanal do Tucunduba, por volta das 20 horas. Omarceneiro Rocino Castelino Costa, de 47 anos,encontrava-se na frente de sua residncia conver-sando com amigos.

    Distrado, o marceneiro nem chegou a perce-ber a aproximao de dois marginais conhecidosna rea como Boris e Macaquinho. Os dois es-tavam armados e trocavam tiros. No entanto, umdos projteis acabou atingindo o marceneiro queteve a lateral esquerda do trax perfurada.

    Segundo moradores da rea, os dois marginaisao perceberem que tinham atirado em uma pessoainocente fugiram do local, mas mesmo aps o fatovoltaram a trocar tiros em outras ruas do bairro.

    A vtima foi levada com a ajuda de familiares evizinhos at o hospital do Pronto-Socorro Municipaldo Guam (PSM), onde passou por uma cirurgia.

    No entanto, uma hora depois seu Rocino Cos-ta no resistiu aos ferimentos causados pelo tiro efaleceu. Seu corpo foi removido ainda na noite dodia 27 para exame de necropsia no Centro de Pe-rcias Cientficas Renato Chaves (CPC).

    O caso foi registrado no posto da Polcia Ci-vil localizado no PSM do Guam.

    Texto 2

    Morte do leiteiro

    H pouco leite no pas, preciso entreg-lo cedo.H muita sede no pas, preciso entreg-lo cedo.H no pas uma legenda,que ladro se mata com tiro.Ento o moo que leiteirode madrugada com sua latasai correndo e distribuindoleite bom para gente ruim.Sua lata, suas garrafase seus sapatos de borracha

    vo dizendo aos homens no sonoque algum acordou cedinhoe veio do ltimo subrbiotrazer o leite mais frioe mais alvo da melhor vacapara todos criarem forana luta brava da cidade.Na mo a garrafa brancano tem tempo de dizeras coisas que lhe atribuonem o moo leiteiro ignaro,morados na Rua Namur,empregado no entreposto,com 21 anos de idade,sabe l o que seja impulsode humana compreenso.E j que tem pressa, o corpovai deixando beira das casasuma apenas mercadoria.E como a porta dos fundostambm escondesse genteque aspira ao pouco de leitedisponvel em nosso tempo,avancemos por esse beco,peguemos o corredor,depositemos o litro...Sem fazer barulho, claro,que barulho nada resolve.Meu leiteiro to sutilde passo maneiro e leve,antes desliza que marcha. certo que algum rumorsempre se faz: passo errado,vaso de flor no caminho,co latindo por princpio,ou um gato quizilento.E h sempre um senhor que acorda,resmunga e torna a dormir.Mas este acordou em pnico(ladres infestam o bairro),no quis saber de mais nada.O revlver da gavetasaltou para sua mo.Ladro? se pega com tiro.Os tiros na madrugadaliquidaram meu leiteiro.Se era noivo, se era virgem,se era alegre, se era bom,

  • 7no sei, tarde para saber.Mas o homem perdeu o sonode todo, e foge pra rua.Meu Deus, matei um inocente.Bala que mata gatunotambm serve pra furtara vida de nosso irmo.Quem quiser que chame mdico,polcia no bota a moneste filho de meu pai.Est salva a propriedade.A noite geral prossegue,a manh custa a chegar,mas o leiteiroestatelado, ao relento,perdeu a pressa que tinha.Da garrafa estilhaada,no ladrilho j serenoescorre uma coisa espessaque leite, sangue... no sei.Por entre objetos confusos,mal redimidos da noite,duas cores se procuram,suavemente se tocam,

    amorosamente se enlaam,formando um terceiro toma que chamamos aurora.

    (Carlos Drummond de Andrade)Fonte: http://memoriaviva.digi.com.br/drummond/poema027.htm

    1) Como voc classificaria o texto 1? Por qu?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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    2) Como voc classificaria o texto 2? Por qu?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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    Literatura - conceituao

    Como definir literatura? Muitas conceituaes foram for-muladas, atravs dos tempos, mas nenhuma conseguiu serdefinitiva, pois cada poca (ou cada terico) fundamenta-seem uma determinada maneira de conhecimento ou fruio davida, da arte, da palavra, dos valores/desvalores do mundo eda condio humana.

    Literatura a recriao de uma realidade por meio depalavras. Porm no basta fazer uso da palavra para se produ-zir arte literria. preciso criar formas mais intensas, que te-nham significado mais profundo. Vejamos a explicao doprofessor Afrnio Coutinho sobre isso:

    A literatura um fenmeno esttico. uma arte, a arte dapalavra. No visa informar, pregar, documentar. Acidental-mente, secundariamente, ela pode fazer isso, pode contarhistria, filosofia, cincia, religio. O literrio ou o estticoinclui precisamente o social, o histrico, o religioso, etc.,porm transformando esse material em esttico.

    Como qualquer arte, a literatura exige, da parte doescritor tcnicas, conhecimentos, sensibilidade e pacin-cia. Esse trabalho s vezes se assemelha a uma luta, svezes a um vcio:

    Lutar com palavras a luta mais v.Entanto lutamosmal rompe a manh.(...)Palavra, palavra(digo exasperado),se me desafias,aceito o combate.

    Carlos Drummond de Andrade

    FunesFuno da literaturaPara que serve a literatura?

    Muito se tem discutido sobre as funes da arte em gerale em especial sobre a funo da literatura. As opinies sodiversas, s vezes contraditrias, variando no decorrer dotempo, j que cada poca atribui valores diversos s coisas.

    Resumidamente, temos as seguintes consideraes arespeito das funes da literatura:

    a) A arte pela arte (funo de esttica) uma teoria que nega qualquer finalidade prtica arte.

    Assim, uma obra literria existe em si, por si, para si e foiescrita unicamente pelo prazer de escrever, no importa queuso o leitor faa dela. Quem defende esse ponto de vista norelaciona arte e vida, procurando desvincular a literatura dequalquer outro fenmeno cultural e social.

    b) Literatura como mecanismo de evaso (funo deevaso)

  • 8 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Evaso equivale a fuga, escape. Segundo alguns estu-diosos, a arte preencheria a necessidade de evaso do serhumano. Essa fuga a determianadas circunstncias e situa-es da vida e do mundo deve ser considerada em duplosentido: no que diz respeito ao autor, que constri um mun-do imaginrio, novo, indito, diferente daquele com o qualse sente em desequilbrio e do qual busca se evadir; e noque diz respeito ao leitor, que mergulha nesse mundo novopara fugir da realidade, mergulhar no imaginrio, compen-sando assim as falhas que encontra no mundo real.

    Nos dois casos, a literatura seria uma espcie de compen-sao para o mundo real, um espao de aspirao e sonhos.

    c) Literatura como forma de conhecimento do mundo e dohomem (funo de conhecimento)Considera-se que a literatura pode funcionar como meio

    de revelao das verdades da vida. Nesse caso, ela vistacomo um instrumento de anlise e compreenso do homeme do mundo.

    Para os que aceitam essa teoria, a literatura teria a capa-cidade de fazer o leitor refletir sobre seus problemas existen-ciais, pois o texto literrio seria capaz de sugerir uma realida-de mais profunda do que a realidade imediata do leitor.

    A literatura proporcionaria a vivncia de situaes im-pensveis ou impossveis no cotidiano, assim como propi-ciaria ao leitor a possibilidade de encontrar, no mundo fcci-onal, reflexos de suas prprias angstias, paixes, alegrias,desencantos...

    Alm disso, a literatura permitiria tomar conhecimentode outras realidades culturais, distantes do leitor no tempo eno espao.

    d) Literatura como catarse (funo de catarse)Catarse vem do grego katharo, que quer dizer quei-

    mar. Na linguagem mdica, catarse o termo que designa aeliminao de substncias corporais malficas e o conse-quente reequilbrio da sade.

    Na linguagem religiosa, a palavra designa a purificaodo indivduo atravs de rituais.

    A arte tomou emprestado o termo da filosofia para de-signar o seguinte mecanismo: ao entrar em contato com osproblemas das personagens, colocando-se no lugar delas,projetando nas personagens seus prprios conflitos, o lei-tor consegue aliviar suas tenses, pelo menos enquantoest lendo. E, no fim da leitura, ainda que tenha sofrido juntocom a personagem, resta o alvio de saber que tudo nopassou de fico.

    A funo catrtica da arte ocorreria com maior intensi-dade no teatro, em que o espectador assiste a uma apre-sentao da vida.

    e) Literatura como instrumento poltico (funo de enga-jamento)Alguns crticos e muitos autores consideram a literatu-

    ra como um instrumento que deveria ser empregado a servi-o de uma causa em que acreditam. Nesse caso, s teriamvalor as obras que, de alguma forma, contribussem para atransformao do meio social em que o escritor atua. Trata-se de uma teoria oposta da arte pela arte.

    Estilo individualApesar de apresentarem assunto semelhante e de terem

    sido escritos na mesma lngua o portugus , os doistextos se diferenciam muito. Primeiro, porque cada autor temuma experincia e uma viso especfica de mundo; segundo,porque cada autor empregou a lngua portuguesa de modoparticular, individual. Cada um optou por diferentes cami-nhos entre as diversas possibilidades fornecidas pela ln-gua: a escolha de um termo ou outro, a disposio das pala-vras em diferentes maneiras, tudo isso resultou de um modopessoal de cada autor selecionar e combinar palavras nafrase. Isto , dependeu do estilo de cada um.

    Estilo individual a maneira prpria de cada indivduose expressar.

    O escritor Paulo Mendes Campos exemplifica magistral-mente essas possibilidades expressivas numa conhecidacrnica da qual reproduzimos alguns fragmentos.

    Os diferentes estilos

    Paulo Mendes Campos

    [...] narra-se aqui, em diversas modalidadesde estilo, um fato comum da vida carioca, a sabero corpo de um homem de quarenta anos presum-veis encontrado de madrugada pelo vigia de umaconstruo, margem da Lagoa Rodrigo de Frei-tas, no existindo sinais de morte violenta.

    Estilo interjetivo Um cadver! Encontradoem plena madrugada! Em pleno bairro de Ipane-ma! Um homem desconhecido! Coitado! Menos dequarenta anos! Um que morreu quando a cidadeacordava! Que pena! [...]

    Estilo ento Ento o vigia de uma constru-o em Ipanema, no tendo sono, saiu ento parapasseio de madrugada. Encontrou ento o cad-ver de um homem. Resolveu ento procurar umguarda. Ento o guarda veio e tomou ento asprovidncias necessrias. A ento eu resolvi tecontar isto. [...]

    Estilo preciosista No crepsculo matutinode hoje, quando fulgia solitria e longnqua a Es-trela-dAlva, o atalaia de uma construo civil,que perambulava insone pela orla sinuosa e mur-murante de uma lagoa serena, deparou com a altae lrida viso de um ignoto e glido ser humano,j eternamente sem o hausto que vivifica.

    CAMPOS, Paulo Mendes et alli. Para gostar de ler,crnicas. So Paulo: tica, 1979.

    Estilo da pocaEstilo de poca o conjunto de traos comuns que ca-

    racterizam as manifestaes culturais de uma poca. O estilode uma poca poder revelar-se em todas as manifestaesculturais de um perodo, com maior ou menor intensidade.

    muito importante voc observar que estamos tratan-do de uma questo de predominncia de um estilo em deter-minada poca, o que equivale a dizer que esse estilo no onico naquele momento.

  • 9Estilo de poca o estilo que predominou nasmanifestaes culturais de determinada poca.

    Perodo literrioO que ?

    O que chamamos de perodo literrio um segmentodeterminado de uma poca em que predominou um estilo naliteratura. Cada um desses perodos recebeu um nome: Bar-roco; Arcadismo, Romantismo, Realismo etc.

    Descrio de um perodo literrioDescrever um perodo literrio ou estilo de poca iden-

    tificar o incio, o ponto culminante e o declnio de um estilo.Nessa descrio importa considerar que um estilo no co-mea ou termina num determinado dia, ms, ano ou sculo.

    Por uma questo didtica, estabeleceram-se datas para mar-car o incio ou o fim de um perodo, mas essas datas funcionamsomente como pontos de referncia. Observe o grfico dos esti-los de poca da literatura brasileira e portuguesa.

    Escritor, obra, pblicoO escritor, como qualquer outra pessoa, vive ou viveu

    em determinado momento histrico e tem sua maneira pes-soal de analisar o mundo. A essa maneira de analisar o mun-do podemos chamar de cosmoviso ou viso de mundo.Embora cada indivduo tenha sua prpria cosmoviso, elasofre influncias do meio em que o indivduo vive ou viveu.

    Por isso, por mais original que possa ser, nenhum escritordeixa de incorporar em suas obras certos traos de sua po-ca, concordando com eles ou questionando-os. Embora sejaextremamente personalizado, o trabalho do escritor incorpo-ra elementos do momento histrico em que a obra foi criada.

    A obra, conforme vimos, utiliza a lngua de maneira es-pecial, criando a chamada linguagem literria, que a distin-gue de outras manifeataes culturais veiculadas pela ln-gua (jornal, cincia, texto histrico, filosofia, etc.). Essa lin-guagem pode incorporar grias, modismos, expresses-cha-ve de uma poca.

    O pblico constitudo de leitores, que podem dar suaopinio sobre uma obra. Essa opinio se baseia no gosto decada um. Cada leitor interpreta a obra de maneira pessoal,conforme sua sensibilidade, sua maneira de analisar a reali-dade, sua cultura, enfim, sua viso de mundo. O gosto indi-vidual, por sua vez, recebe tambm influncias do momentohistrico e do meio social em que est imerso cada indiv-duo. Por isso, um mesmo texto literrio pode ser apreciadopor uns e no impressionar outros, assim como pode serapreciado numa poca e ser rejeitado em outra.

    Esses trs elementos escritor, obra, pblico relacio-nam-se num processo de trocas de influncias. A esse pro-cesso d-se o nome de sistema literrio.

    Uma obra literria s se concretiza, de fato, atravs dasleituras de diferentes leitores, em pocas diversas.

    Concluindo

    1. A obra literria um objeto social. Paraque ela exista, preciso que algum a escreva, eque outro algum a leia. Ela s existe enquantoobra neste intercmbio social.

    (Marisa Lajolo)

    2. No so as obras de arte que decidem sobresi mesmas: quem decide sobre elas so os homens.

    (Schcking)

    As formas literriasA linguagem literria se manifesta em duas formas: pro-

    sa e poema.

    ProsaAs caractersticas mais evidentes de um texto escrito

    em prosa so a organizao linear e a sua diviso em par-grafos enunciados compostos de frases, oraes e pero-dos. A prosa utilizada em texto literrios e no-literrios.

    Poema

    O poema organizado em versos cada uma das linhasdo poema e estrofes, o conjunto de versos.

    Um texto escrito em versos representa sonoridade e rit-mo-efeitos obtidos por meio de recursos como a repetiode consoantes com suas semelhanas, a alternncia entreslabas tonas e slabas tnicas, rimas (sons coincidentesentre palavras no final ou no interior de cada verso).

  • 10 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    A poesia

    Na linguagem dos grupos antigos, poesia queria dizercriao. Em literatura, poesia a beleza concentrada, querem um texto no formato da prosa, quer em um texto em ver-sos (poema).

    Metrificao

    A mtrica impe ao verso uma quantidade definida deslabas poticas. Durante muitos sculos, os poetas deramgrande importncia ao verso medido, isto , preocuparam-se em fazer com que os versos combinassem no nmero deslabas poticas. Somente no final do sculo XIX, e sobretu-do no incio do sculo XX, passou-se a usar mais intensa-mente versos que no combinavam no nmero de slabaspoticas, e que denominamos versos livres.

    Para contar o nmero de slabas poticas, preciso fa-zer a metrificao ou escanso do verso: considera-se overso inteiro como se fosse uma nica palavra e separam-seas slabas de acordo com a intensidade com que so pro-nunciadas caso haja o encontro de duas vogais tonas,ocorrer uma espcie de ditongo dentro do verso, e elasdevero ser contadas na mesma slaba. A contagem das sla-bas deve ser finalizada na ltima slaba tnica. Esse proces-so define da diviso da slaba gramatical.

    Observe a diferena do procedimento:

    O glria de mandar, o v cobiaDesta vaidade, a quem chamamos Fama!

    (Cames)

    Slabas poticasSlabas gramaticais:

    Quando uma estrofe apresenta em todos os seusversos o mesmo nmero de slabas, ela denominadaISOMTRICA.

    H estrofes que possuem versos de tamanhos dife-rentes, mas que de algum modo, obedecem a uma certacombinao. Neste caso a estrofe chamada de HETE-ROMTRICA.

    Ex.: 1 2 3 4 5 6 7Per|cor|roas | ru|as| va|zi|as 1 2 3 4Si|go | teus | pa|ssos 1 2 3 4 5 6 7On|de es|to | as ma|dru|ga|das l 2 3 4Que | pr | me | ti | as?

    (Apo Campos)

    Quando os versos no obedecem a nenhuma espciede combinao que so chamados livres.

    Ex.:O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios,das montanhas, das flores,- de tudo o que aparecer.

    (Ceclia Meirelles)

    Denominao dos versos quanto ao nmerode slabas poticas

    importante voc saber que, dependendo do nmerode slabas poticas, os versos so assim denominados:

    Uma slaba monosslaboDuas slabas disslaboTrs slabas trisslaboQuatro slabas tetrasslaboCinco slabas pentasslabo ou redondilha menorSeis slabas hexasslaboSete slabas heptasslabo ou redondilha maiorOito slabas octosslaboNove slabas eneasslaboDez slabas decasslaboOnze slabas hendecasslabo ou arte maiorDoze slabas dodecasslabo ou alexandrino

    Denominao das estrofes quanto ao nme-ro de versos

    E ainda convm saber que as estrofes, dependendo donmero de versos, assim se denominam:

    Um verso monsticoDois versos dsticoTrs versos tercetoQuatro versos quarteto ou quadraCinco versos quintilhaSeis versos sextilhaSete versos septilhaOito versos oitava (rima)Nove versos nonaDez versos dcima

    RimaA rima a coincidncia de som entre as palavras dos

    versos.

    Os versos que rimam so ditos rimados e os que norimam, brancos.

    A rima nem sempre ocorre entre as palavras do final dosversos, como muita gente pensa. s vezes, h rima entre apalavra final de um verso com outra que est no interior doverso seguinte. Existem casos em que as palavras rimamdentro do mesmo verso.

  • 11

    Rica

    Pobre

    Ex.:a) Dorme, ruazinha... tudo escuro...

    E os meus passos, quem que pode ouvi-los?Dorme o teu sono sossegado e puro,Com teus lampies, com teus jardins tranqilos...

    (Mrio Quintana)

    b) Florena que serenidade imensaNos teus campos remotos...

    (Vincius de Morais)

    Classificao das rimas a partir de algumasde suas caractersticas.Quanto posio no verso:

    Externa rima no final dos versos.Ex.: Comigo de desavim,

    Sou posto em todo perigoNo posso viver comigoNem posso fugir de mim

    (S de Miranda)

    Interna rima no final dos verso + interior do verso se-guinte ou rima no mesmo verso.

    Ex.: Quando alta noite namplido flutuaPlida a lua com fatal palor.

    No sabes, virgem, que eu por ali suspiro

    E que deliro a suspirar de amor.

    (Castro Alves)

    palor: palidez

    Donzela bela, que me inspira a lira

    Um canto santo de fervente amor,

    Ao bardo o cardo da tremenda senda

    Estanca, arranca-lhe a tervel dor(Castro Alves)

    bardo: poeta, trovador

    cardo: planta considerada praga da lavoura

    senda: caminho estreito

    Quanto semelhana de seus sons

    Consoante as palavras tm o mesmo som a partir davogal tnica.

    Ex: Senhora, nos meus cantares

    Sereis to leve, to pura

    Que a em vosso agrado cantigaSe morrer de ternura.

    (Joo de Jesus Paes Loureiro)

    Toante as palavras tm o mesmo som na vogal tnica ecoincidncia sonora nenhuma, ou parcial, depois dela.

    Ex: Senhora de minha vida

    Estou to triste. Senhora,

    Que morro nesta cantigaQue vivo cantando agora

    (Joo de Jesus Paes Loureiro)

    Quanto categoria gramatical

    Pobre as palavras que rimam pertencem, mesma classegramatical.

    Rica as palavras que rimam pertencem/ diferentes clas-ses gramaticais.

    Ex: Necessito de um ser, de seu abrao (substantivo) Escuro e palpitante (adjetivo) Necessito de um ser dormente e lasso (adjetivo) Contra meu ser arfante. (adjetivo)

    (Mrio Faustino)

    Rara as palavras que rimam raramente so encontradasrimando.

    Ex: Toma conta do corpo que apodrece

    E at os membros da famlia engulham

    Vendo as luvas malsas que se embrulham

    No cadver malso, fazendo um s.

    (Augusto dos Anjos)

    Quanto disposio na estrofe

    Opostas quando um verso rima com o outro aps doisoutros.

    Paralelas quando um verso rima com outro que lhe vemlogo a seguir.

    Ex: Se teu amor te esqueceu (A)No o chames com a lembrana!(B)Ser baldada a esperana...(B)No volta mais quem morreu!(A)

    (Antnio Tavernard)

    Alternadas quando um verso rima com outro aps pas-sar outro verso.

    Ex: Esse estoque de amor que acumulei (A)Ningum veio comprar a preo justo (B)Preparei meu castelo: para um rei (A)Que mal me olhou, passando, e a quanto custo (B)

    (Mrio Faustino)

    ParalelasOpostas

    AlternadasAlternadas

  • 12 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Obs.: Se mais de trs versos rimam em sequncia, ns deno-minamos as rimas continuadas.

    Gneros literrios

    Entende-se por gnero literrio o conjunto de carac-tersticas que permitem classificar uma obra literria emdeterminada categoria.

    A literatura ocidental deve aos gregos a concepo detrs grandes gneros literrios: o pico, o lrico e o dramtico.

    Dentre as civilizaes antigas, a produoartstica mais significativa para o Ocidente aque se desenvolve na Grcia do sculo V a.C. at oSculo V d.C. nesse perodo que se criam os pa-dres que servem de base para a arte ocidental -inclusive os chamados gneros literrios. A partirdo sculo II a.C., a cultura romana tambm passaa ter uma produo artstica relevante, em geralinfluenciada pelos gregos. Tanto a literatura comoa filosofia greco-latina serviram de modelo paratoda a literatura ocidental.

    O critrio de classificao de uma obra literria em de-terminado gnero a semelhana dos temas tratados bemcomo o desenvolvimento e as estruturas formais emprega-das na elaborao das obras.

    Gnero picoou narrativo

    O gnero pico,ou narrativo, assimclassificado porapresentar comotema a narrao defatos notveis, gran-diosos, extraordin-rios e histricos deum povo, ou de umheri, o protagonis-ta, a figura principalda narrativa.

    Essas aes he-ricas so narradasem versos, formandoum longo poema denominado epopia ou poesia pica.

    Na epopia esto presentes os elementos essenciais danarrativa; o enredo, o narrador, as personagens, o espao eo tempo reais ou imaginrios em geral, apresenta tambmcomo componente a interveno de entes sobrenaturais queantecipam ou impedem os acontecimentos.

    A epopia organizada em cinco partes:

    1 parte - Proposio: o poeta apresenta.2 parte - Invocao: o poeta solicita s musas (entidadesmitolgicas) inspirao para escrever o poema.3 parte - Dedicatria: o poeta oferece o poema a uma figurailustre.4 parte - Narrao: o poeta faz a narrativa dos fatos.

    5 parte - Eplogo: o poeta apresenta o desfecho da narrativa.

    Na literatura greco-latina, produziram-se trsgrandes epopias: Ilada e Odissia supostamen-te escritas pelo poeta grego Homero, que tratamda guerra entre gregos e troianos e Eneida, doescritor romano Virglio, que tem como tema asconquistas do Imprio Romano.

    Gnero lricoO Gnero lrico ca-

    racteriza-se por apre-sentar como tema ossentimentos, as emo-es, os estados dealma, as impressespessoais do artista li-terrio. As composi-es nesse gnero sodenominadas lricas e, em geral, estruturadas em versos.

    A palavra lrico origina-se de lira, instrumento musicalque os gregos utilizavam para acompanhar seus poemas.Por essa razo, a poesia lrica apresenta muitos elementoscomuns ao universo musical, como o ritmo, a melodia e aharmonia, recursos que so obtidos, como j vimos, medi-ante o uso de rimas, sons semelhantes, e da mtrica.

    Formas de gnero lricoSo vrias as formas poticas utilizadas pelos autores

    na produo de textos lricos. Vejamos como se caracterizamalgumas delas.

    Elegia: poema surgido na Grcia Antiga, que trata de acon-tecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de umente querido ou de alguma personalidade pblica.

    cloga: poema pastorial que retrata a vida buclicados pastores em um ambiente campestre.

    Ode: assim como a elegia, tambm originou-se na Gr-cia Antiga e apresenta uma espcie de exaltao devalores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvor.

    Soneto: hoje a mais conhecida das formas lricas.Surgiu no sculo XIII, na Itlia, sendo uma das pou-cas estruturas a chegar intacta at nossos dias. formado por dois quartetos e dois octetos.

    Gnero dramtico

    O gnero dramtico caracterizado por textosproduzidos unicamentepara encenao pblica a chamada pea teatral,que conta, alm do texto,com elementos extraver-bais como atores, cenrios,figurinos, sonoplastia etc.

    Esse tipo de texto gira

    Nesta pintura sobre um vaso, (Sculo V a.C.)est representado Pria, o filho de Priamo, reide Tria. Ele rapta Helena, esposa do reiMenelau, de Esparta. Assim comea a epopiaescrita por Homero, Ilada um nome originadodo Vocabulrio Ilion, que significa Tria.

    Mscaras, foto de Marie Cosindas

  • 13

    em torno de uma histria, apresenta elementos como tempo eespao demarcados por cenrios, mas os acontecimentosno so contados por um narrador, so apresentados direta-mente pela fala e expresso dos atores que representam aspersonagens da narrativa.

    No perodo helenstico (grego), eram cultivados doistipos de peas teatrais: a tragdia, como o nome diz, centra-da em fatos nefastos e dramticos, e a comdia, centradaexclusivamente no humor. Dentre os principais dramaturgose peas teatrais da Grcia antiga, podemos citar; squilo(Prometeu Acorrentado), Sfocles (dipo Rei, Electra), Eur-pedes (Media, As Bacantes), Aristfanes (A Paz, Assem-blia de Mulheres), e Antifanes (Menendro). Do teatro ro-mano citamos Sneca, autor de Fedra.

    Morro, Emiliano di Cavalcanti

    Nestas duas iluminuras (ilustraes de antigos manuscritos), temosimportantes momentos das relaes de trabalho num feudo. Na primeirafigura, vassalos apresentam-se a um fiscal, a quem pagam pelo direito deproteo, que o senhor feudal lhes assegura. Na outra, o senhor e seuintendente supervisionam o trabalho da colheita. Servos cortam a madeirae preparam montes de feno para alimentar o gado durante o inverno.

    Derivaes do gnero narrativo

    Nos padres literrios greco-latinos da Antigidade Cls-sica, reconheciam-se somente estes trs grandes gneros lite-rrios em versos: o pico, o lrico e o dramtico. A Prosa eradestinada para assuntos filosficos ou discursos polticos.

    A partir da concepo clssica, desenvolveram-se naliteratura ocidental outros gneros literrios, derivados, prin-cipalmente, do gnero narrativo, como o conto, o romance, anovela e a crnica. Veja as caractersticas principais de cadaum desses gneros narrativos.

    O Romance: Apresenta uma narrativa longa, em prosa,estruturada em captulos. Envolve grande nmero de perso-nagens e histrias paralelas ao conflito principal, podendoabranger vrios espaos simultaneamente, abordar o tempopresente e o passado. Esse gnero literrio fundamental-mente de fico, embora possa retratar uma histria real.

    A Novela: Gnero em prosa, que, de modo geral, conde-na os elementos do romance, mas com uma dinmica distin-ta: a narrativa mais direta, sem rodeios; os episdios e otempo so sucessivos, contnuos, sem interrupes; os es-paos so cuidadosamente delimitados. Nesse gnero, tudocaminha rapidamente para o desfecho da narrativa e para aresoluo de vrios conflitos.

    O Conto: Estruturado em prosa, o conto uma narrativaque se desenvolve em torno de um conflito vivido, geral-mente por uma s personangem, uma histria curta queconcentra a ao em um nico ponto de interesse. seme-lhana do romance, o conto um gnero de fico.

    A Crnica: Narrativa curta, em prosa, limita-se a regis-trar ou comentar um incidente em geral fatos comuns, as-suntos relativos vida cotidiana, aspectos polticos, espor-tivos ou de teor artstico. A crnica no tem uma estruturadeterminada, redigida de forma livre e pessoal.

    Uma mesma obra pode apresentar traos de outros g-neros literrios que no o da sua classificao um poema,por exemplo, pode tratar das emoes e sentimentos do eupotico (um trao lrico) por meio da narrativa de uma hist-ria (um trao do gnero narrativo).

    Unidade II: origem da literatura portuguesa -o Trovadorismo

    l- Introduo

    A literatura, como os demais campos da cultura e da arte,no um fenmeno isolado. Ela influencia e influenciada porescritores do passado e do presente, por outras artes, por fato-res polticos e sociais, por modismo, movimento culturais, etc.

    A literatura portuguesa, por exemplo recebeu em suaorigem forte influncia da cultura provenal. Provena, umaregio do sul da Frana, teve uma intensa vida cultural nabaixa Idade Mdia, chegando a exportar para toda a Europaseus poetas trovadores e seus modelos de cantigas.

    Por outro lado, a literatura portuguesa exerceu forte in-fluncia sobre a literatura brasileira, j que durante todo operodo colonial (1500 a 1822) os escritores que viviam noBrasil eram os portugueses de nascimento, ou brasileiroscom formao em Portugal.

    2- Formao da literatura portuguesa

  • 14 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Em Portugal, os textos mais antigos datam do sculoXII, momento que coincide com a formao do estado Por-tugus e com a expulso dos rabes da pennsula Ibrica. Alngua falada era o galego Portugus Uma modalidadelingustica que precede o Portugus chamado moderno, quesurgiu apenas no sculo XVI, em virtude da unificao lin-gustica ocorrida entre Portugal e Galiza.

    3- O trovadorismo

    Por ser de mais fcil memorizao e transmisso, a poesiasurgiu em Portugal antes da prosa como tem ocorrido em qua-se todo o mundo. E surgiu diretamente ligada a outras formas deexpresso artstica populares; a msica, o canto e a dana.

    Os poemas eram sempre cantados e acompanhados deinstrumentos musicais e de dana. Por esse motivo foramdenominados cantigas, as quais eram criadas por um trova-dor (algum que fazia trovas, rimas). As cantigas deram ori-gem ao Trovadorismo. Essa esttica literria inicia-se em1198 ou (1189?), com a cantiga dedicada por Paio Soares deTaveirs a Maria Pais Ribeiro, chamada Cantiga da Ribeiri-nha ou Cantiga da Guarvaia; e termina em 1418, quandoFerno Lopes nomeado Guarda-Mor da torre do tombo, ouseja, conservador do arquivo do reino, por D. Duarte.

    Texto 1

    RibeirinhaNo mundo non sei parelha,Mentre me for como me vai,Ca j moiro por vs - e a!Mia senhor branca e vermelha,Queredes que vos retraiaQuando vos eu vi em saia!Mau dia me levantei,Que vos enton non vi fea!E, mia, senhor, ds aquel di, ai!Me foi a mim mui mal,E vs, filha de don PaaiMoniz, e bem vos semelhaDhaver eu por vs guarvaia,

    Pois eu, mia senhor, dalfaiaNunca de vs houve nen heiValia d ua Corra.

    (Paio Soares de Taveirs)

    No mundo no conheo quem se compareA mim enquanto eu viver eu vivo,Pois eu morro por vs - ai!Plida senhora de face rosada,Quereis que eu vos retrateQuando eu vs vi sem manto!Infeliz o dia em que acordei,Que ento eu vos vi linda!E, minha senhora, desde aquele dia, ai!As coisas ficaram mal para mim,E vs, filha de Dom PaioMoniz, tendes a impresso deQue eu possuo roupa luxuosa para vs,Pois, eu, minha senhora, de presenteNunca tive de vs nem tereiO mimo de uma correia.

    3.1-Os cancioneiros

    As cantigaschegaram at nspor meio dos can-cioneiros, que socoletneas, comvariados tipos depoemas com parti-cipao de muitosautores. Os canci-oneiros mais im-portantes so:

    a) O cancioneiro da ajuda, o mais antigo, compilado pro-vavelmente no sculo XIII;

    b) O cancioneiro da Vaticana, que pertence a bibliotecado Vaticano, provavelmente compilado no sculo XIV;

    c) O cancioneiro da Biblioteca Nacional ou cancionei-ro Coloca Brancutti, compilado provavelmente nosculo XIV.

    4- O trovadorismo e o contexto histrico

    A sociedade feudal e a atividade econmica.A sociedade europia feudal era constituda por trs coman-

    dos sociais: O clero (os sacerdotes), os guerreiros (nobres earistocratas, proprietrios de terras) e os trabalhadores (quecultivavam a terra). Sendo muito distintas, algum que perten-cesse a uma classe dificilmente conseguia passar a outra.

    Na alta idade mdia, a atividade econmica era a agri-cultura de subsistncia. Mais tarde, na baixa idade mdia, a

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    descoberta de certas tcnicas agrcolas fez com que hou-vesse excedentes de produo que possibilitaram o surgi-mento do comrcio, fortalecido posteriormente pelo movi-mento da Cruzada. Alm disso, a poca foi marcada por forteexpanso demogrfica e pelo crescimento das cidades.

    A igreja e a cultura medieval

    esquerda: A nave da catedral de Troyes, na Frana. Composta degrandes ogivas (arcos ovais), apresenta luminosidade e acstica perfeitas. direita: Um monge copista, cujo papel era o de copiar manuscritos nasbibliotecas dos mosteiros. A difuso do saber dependia dessas cpias.

    Em virtude das invases brbaras, a Europa medievaldescentralizou-se poltica e economicamente. Nesse con-texto, a igreja destacou-se como a nica instituio realmen-te organizada e, por essa razo, exerceu um papel que, ultra-passando o mbito religioso, envolveu tambm as esferaspoltica, econmica e social.

    Naquela sociedade em que poucos tinham acesso leitu-ra e escrita, a Igreja centralizava as atividades culturais,incentivando as artes que difundiam a ideologia crist e ini-bindo os que veiculavam valores leigos, isto , no religioso.

    5 - A poesia: as cantigas trovadorescas

    As cantigas foram, nasorigens da literatura emPortugal, a principal expres-so literria do mundo me-dieval. Ao mesmo tempo, porserem manifestaes profa-nas, isto , no religiosos,representavam uma primeiraafronta cultura teocntri-ca imposta pela igreja.

    Conciliando os ideais reli-giosos do cristianismo e o mun-do terreno das aventuras e guer-ras sangrentas da cavalaria me-dieval, inauguraram uma tradi-o at hoje explorada por es-critores de todo o mundo.

    Na provena, o poeta era chamado de trouba-dor, cuja forma correspondente em portugus tro-vador, da qual deriva o trovadorismo (que serve dertulo geral para primeira poca medieval), trova-doresco, trovadorescamente. no norte da Frana, o

    poeta recebia o apelativo trouvre, cujo radical igual ao anterior: trouver (achar); significava queos poetas deviam ser capazes de compor, achar suacano, cantiga ou cantar. Por que o nome de can-o, cantiga ou cantar ao poema? Porque era can-tado com acompanhamento musical.

    (MOISS Massoud. A literatura portuguesa.So Paulo: Cultrix, 1985)

    5.1- Classificao

    a) Cantigas lrico amorosas (de amor e de amigo)

    Cantigas de Amor Tm razes na poesia provenal (deProvena, regio do sul da Frana), nos ambientes finos e aris-tocrticos das cortes francesas e, portanto, esto mais presas acertas convenes de linguagem e de sentimentos. O idealamoroso dessas cantigas, o amor corts, parte do princpio deque o amante ideal aquele que vive em constante coita (sofri-mento amoroso), porque no correspondido, mas, apesar dis-so, precisa demonstrarpacincia, submisso, fi-delidade mulher amada,como se fosse um vassa-lo, e ela, a mulher amada,o seu suserano. Trata-se,portanto, de certas regrasdo jogo amoroso, prpri-as do refinamento cultu-ral da cavalaria francesa,que refletem, na literatu-ra, as relaes da socie-dade feudal.

    Texto 2

    A dona que eu am e tenho por SenhorAmostrade-mh-a Deus, se vos em prazer for,se non dade-mh-a morte.

    A que tenh eu por lume destes olhos meusE por que choran sempr(e) amostrade-mh-a[Deus, se non dade-mh-a morte

    Essa que Vs fezeste melhor parecerDe quantas sei, ay Deus, fazede-mh-a veer,se non dade-mh-a morte

    AyDeus, que mh-a fezeste mais ca min amar,

    Mostrade-mh-a hu possa com ela falar,Se non dade-mh-a morte.

    (Bernardo Bonaval)

    A mulher que eu amo e tenho por SenhoraMostrai-a a mim, Deus, se for de Vosso agrado,Se no, dai-me a morte.

    Nesta cena, v-se um jovemaristocrata conduzindo uma damaa um salo do palcio para ouvirmsica executada por jograis. o incio da galanteria.

  • 16 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    A que tenho eu por lume destes olhos meusE por quem choram sempre, mostrai-a a mim,[Deus,se no, dai-me a morte.

    Essa que vs fizeste ser to mais belaDe quantas conheo, ai Deus, fazei-me v-la,Se no, dai-me a morte.

    Ai Deus, que me fizeste mais e mais am-la,Mostrai-me onde posso com ela falar,Se no, dai-me a morte.

    Cantigas de amigo: tm razes no lirismo da prpria penn-sula Ibrica, em suas festas mais populares, em sua msica, suadana, nas quais abundam vestgios da cultura rabe. Apre-sentam normalmente ambientao rural, linguagem e estruturasimples; seu tema mais freqente o lamento amoroso da moacujo namorado partiu para a guerra contra os mouros.

    6- A linguagem das cantigas trovadorescasComo na Idade Mdia a escrita era pouco difundida e

    praticada quase exclusivamente pelos religiosos, as canti-gas eram transmitidas oralmente e, por isso, precisavam apre-sentar certos recursos como ritmo, a mtrica curta e orefro e uma estrutura que facilitasse sua memorizao.

    Por essa razo, os poetas faziam uso frequente dos para-lelismos, que so repeties sistemticas de certas palavras,versos ou construes sintticas. Os paralelismos mais utili-zados eram o de par de estrofes e o leixa-pren (deixa-toma).

    Leia estes versos do rei e trovador portugus D. Dinis eobserve as repeties:

    Texto 3

    Ai flores, ou flores do verde pinose sabedes novas do meu amigo?Ai, Deus, e u ?

    A flores, ai flores do verde ramo,se sabedes novas do meu amado?Ai, Deus, e u ?

    Se sabedes novas do meu amigo,

    aquel que sentiu do que ps comigo?Ai, Deus, e u ?Se sabedes novas do meu amado,aquel que mentil do que mi jurado?Ai, Deus, e u ?

    -Vs me perguntades pelo vossmigo?E eu bem vos digo que sane vivo:Ai, Deus, e u e?

    Vs me perguntades pelo voss amado?E eu bem vos digo que vive sano.Ai, Deus, e u e?

    E eu bem vos digo que san e vivoE seer voscanto prazo sado:Ai, Deus, e u e?

    E eu bem vos digo que viv e sanoE seer voscanto prazo passado:Ai, Deus, e u e?

    (Dom Dinis)

    Ai flores, ai flores do verde pinheiro,Sabeis notcias do meu namorado?Ai, Deus, onde est?

    Ai flores, ai flores do verde ramo,Sabeis notcias do meu amado?Ai, Deus, onde est?

    Sabeis notcias do meu namorado?Aquele que mentiu sobre o que combinou[comigo?Ai, Deus, onde est?

    Sabeis notcias do meu amado?Aquele que mentiu sobre o que jurouAi, Deus, onde est?

    Vs perguntais pelo vosso namorado?E eu bem vos digo que est so e vivo:Ai, Deus, onde est?

    Vs perguntais pelo vosso amado?E eu bem vos digo que est vivo e so:Ai, Deus, onde est?

    E eu bem vos digo que est so e vivo:E estar convosco antes do prazo combinado:Ai, Deus, onde est?

    E eu bem vos digo que est vivo e so:E estar convosco antes de terminar o prazo:Ai, Deus, onde est?

  • 17

    Texto 4

    Bailemos ns j todas trs, ai amigas,S aquestas avelaneiras frolidas,E quen for velida, como ns, velidas,Se amigamar.S aquestas avelaneiras frolidasVerr bailar.Bailemos ns j todas trs, ai irmanas,S aqueste ramos destas avelanas,e quen Deus parecer, como ns parecemos,se amigamar,s aqueste ramos destas avelanasverr bailar.

    Por Deus, a amigas, mentral non fazemos,So aquesto ramo frolido bailemosE quen bem parecer, como ns parecemos,Se amigamar,So aqueste ramo so lo que ns bailemosVerr bailar

    (Aires Nunes)

    Bailemos ns j todas trs, ai amigas,Sob aquelas avelaneiras floridas,E quem for formosa, como ns, formosas,]Se o namorado amarSob aquelas avelaneiras floridasVir bailar.Bailemos ns j todas trs, ai irms,Sob o ramo daquelas avels,Quem tiver boa aparncia como ns temos,Se o namorado amar,Sob o ramo daquelas avelsVir bailar.

    Por Deus, ai amigas, enquanto no fazemosoutra coisa, sob aquele ramo florido bailemos

    E quem for bem parecida, como ns parecemos,Se o namorado amar,Sob aquele ramo que ns bailamosVir bailar.

    V ? onde est?Obs.: H trs aspectos fundamentais para a diferenciao en-

    tre as cantigas de amigo e as cantigas de amor: o parale-lismo, o eu-lrico e o motivo literrio (o assunto do Texto).Outros aspectos, entretanto, podem contribuir para a ca-racterizao das cantigas. Observe o quadro a seguir:

    Quanto a stira trovadoresca, importante fazer a se-guinte diferenciao:

  • 18 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Leitura e interpretao

    Interpretao

    Soneto de fidelidadeVincius de Morais

    De tudo, ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.

    Quero viv-lo em cada vo momentoE sem eu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento,

    E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angstia de quem viveQuem sabe a solido, fim de quem amaEu possa me dizer do amor (que tive)Que no seja imortal, posto que chamaMas que seja infinito enquanto dure.

    1) No amor h sempre um misto de alegria e de tristeza. Assina-le a expresso do poeta que procura traduzir essa verdade:a) Ao meu amor serei atentob) Dele se encante mais meu pensamentoc) Quero viv-lo em cada vo momentod) Ao seu pesar ou seu contentamento

    2) Marque as palavras que indicam um crescimento de in-tenes de afetividade do autor:

    a) de tudo - antes c) e sempre - e tantob) louvor - canto d) infinito - dure

    3) A pessoa amada tem a prioridade temporal em nossopensamento. Qual a melhor expresso com a qual po-demos confirmar essa realidade do autor:

    a) E em seu louvor hei de espalhar meu cantob) Quero viv-lo em cada vo momentoc) Dele se encante mais meu pensamentod)... o amor (que tive)

    4) Vincius de Morais confessa-se poeta. Assinale a fraseque evidencia tal afirmao:a) E em seu louvor hei de espalhar meu cantob) Eu possa me dizer do amor (que tive)c) E rir meu riso e derramar meu prantod) Dele se encante mais meu pensamento

    5) Anttese e emprego de palavras antnimas que real-am o valor estilstico da frase. Assinale o grupo depalavras que encerra uma anttese:

    a) De tudo - antes c) Imortal - chamab) Morte - angstia d) Pesar - contentamento

    6) A experincia nos ensina que o amor tambm passa-geiro. Entretanto assim no pensam os pares amorosose esses desejam que o amor:a) no seja imortal, posto que chamab) que seja infinito enquanto durec) dele se encante mais meu pensamentod) seja fim de quem ama

    7) A palavra que melhor traduz a durabilidade do amor,no texto, :a) imortal c) louvorb) chama d) solido

    8) A fidelidade no amor s pode ser entendida apenas poruma palavra. Essa palavra :a) atento c) louvorb) sempre d) chama

    9) A palavra fim na expresso: Quem sabe a solido,fim de quem ama, significa que:

    a) quem ama est perdidob) quem ama aproveita a vidac) quem ama acaba com a solidod) quem ama tem a solido como companheira

    10) Portanto, completando a questo anterior, a palavrafim significa:a) direo para c) prazerb) anulao d) inutilidade

    11) Leia atentamente os textos abaixo e assinale a alternati-va correta sobre os tipos textuais.

    Texto 1

    As Borboletas

    BrancasAzuisAmarelasE pretasBrincamNa luzAs belasBorboletasBorboletas brancasSo alegres e francas.Borboletas azuisGostam muito de luz.As amarelinhasSo to bonitinhas!E as pretas, ento. . .Oh, que escurido!

    Vincius de Moraes

  • 19

    Texto 2

    Borboletrio

    Os insetos da Ordem Lepidptera apresentamcores vistosas, e s vezes brilhantes ou iridescen-tes, as borboletas so bastante visadas por coleci-onadores e, pelo grande nmero de espcies, mui-to expostas ao de inimigos naturais. Estes fato-res negativos aos lepidpteros podem ser suplanta-dos com a construo de abrigos para estes insetos,a fim de preserv-los e proteg-los, e ao mesmo tem-po proporcionar um local onde o pblico poderiaaprender sobre a vida das borboletas e a importn-cia delas na biodiversidade dos ecossistemas.

    FONTE: http://www.esalq.usp.br/borboletas/borboletario.php

    Aps a leitura e compreenso dos textos 1 e 2, acima,assinale a alternativa correta:

    I- O texto I caracteriza-se por apresentar a linguagemem funo esttica, usando uma linguagem subjeti-va. o domnio da conotao.

    II- O texto 2 meramente informativo, demonstrando,assim, que no literrio.

    III- Os dois textos, mesmo de diferentes abordagens,falam sobre borboletas.

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    Texto 3

    O Bicho

    Vi ontem um bichoNa imundcie do ptioCatando comida entre os detritos.

    Quando achava alguma coisa,No examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.

    O bicho no era um co,No era um gato,No era um rato.

    O bicho, meu Deus, era um homem.

    (Rio, 27 de dezembro de 1947. Manuel Bandeira.Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993-

    20 ed., pp. 201-202 e 222)

    Texto 4

    O rico mendigo baiano

    Levado para uma delegacia de Feira de San-tana (cerca de 110 quilmetros de Salvador) soba acusao de ter molestado uma mulher, o mendi-go Izaltino Pereira da Silva acabou preso devidoa um fato que nada tinha a ver com o molestamen-

    to: ele trazia escondido consigo, na cueca, R$ 6,1mil. Izaltino tem problemas de audio e, pelo pou-co que consegue se comunicar, disse ao delegadoJos Raimundo Almeida de Santana que o dinhei-ro, que estava separado em notas de R$ 10 e R$50, era fruto de mais de dez anos de mendicncia.Santana afirma que Izaltino foi preso para quesua integridade fsica fosse preservada. Ele po-deria ser assaltado, disse o delegado a ISTO. Jo advogado Rubens Carvalho, que providencioua soltura, explicou que a deteno foi efetuadapara que se investigasse a origem do dinheiro.Confirmada a verso do econmico mendigo, elefoi solto e saiu da delegacia acompanhado do ir-mo Agenor. Falando sozinho, Izaltino repetia: Odinheiro e meu, fao dele o que quiser

    ISTO Seu Agenor, que conselhoo sr. daria para seu irmo Izaitino?Agenor Gostaria que ele no perdesseo dinheiro e o aplicasse no banco.

    Izaltino da Silva: O dinheiro meu e eu fao com ele o que quiser

    12) Aps a leitura e compreenso dos textos 3 e 4, acima,assinale a alternativa correta:

    I- Os dois textos no tm nada em comum, visto que oprimeiro no-literrio e o segundo literrio.

    II- A mensagem do texto 3 est centrada na informaosobre os mendigos do Brasil.

    III- O texto 4 se preocupa de ver de maneira potica aquesto da mendicncia no Brasil.

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    13) Aps a leitura e compreenso dos textos 3 e 4, acima,assinale a alternativa correta:

    I- Como todo texto literrio, o texto 4 nos mostra umapreocupao com a seleo e arrumao das pala-vras, de maneira a levar o leitor a sentir algo atravsda mensagem passada por ele.

    II- O texto 4 procura mostrar de maneira engraada a estria domendigo, por isso, podemos dizer que usa a conotao.

    III- O texto 4 literrio, porque usa a nfase na estticae no no contedo.

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    Texto 5

    Poeminhas cinticosEra um homem bem vestidoFoi beber no botequimBebeu muito, bebem tantoQue

  • 20 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Texto 6

    Bbado morde panda em zoolgico na China

    Um turista chins bbado disse que mordeuum urso panda que o atacou, depois que ele en-trou no cercado do animal no zoolgico de Pe-quim com a inteno de abra-lo.

    Zhang Xinyan, de 35 anos, havia bebido qua-tro garrafas de cerveja antes de decidir entrar narea onde vive o panda Gu Gu, de seis anos.

    Assustado, Gu Gu mordeu as duas pernas dointruso, que reagiu mordendo as costas do pan-da, disse Zhang imprensa chinesa.

    Zhang, que da Provncia de Henan, no cen-tro do pas, explicou ao jornal Post que havia ido capital chinesa apenas para ver os pandas.

    A viagem de trem de sete horas foi cansativa,e eu bebi garrafas de cerveja quando cheguei etirei uma soneca, acrescentou.

    14) Sobre o texto 6, assinale a alternativa correta:I- um texto no-literrio, por isso passvel de ser

    resumido porque tem uma funo utilitria (informar).II- Trabalha basicamente o plano do contedo.III- Tem o objetivo de emocionar o leitor.a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    15) Sobre o texto 5, assinale a alternativa correta sobre ascaractersticas que ele possui:

    I- SubjetivoII- DenotativoIII- Intuitivo / criativo

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    16) Assinale a alternativa que no possui caracterstica deum texto literrio:

    a) Objetividadeb) Denotaoc) Relevncia do Plano do Contedod) Uma nica interpretao (univalente).e) Todas as alternativas anteriores no possuem carac-

    tersticas de um texto literrio.

    17) Aps a leitura e compreenso do texto 6, acima, assina-le a alternativa correta:

    I- Trata-se de um texto que visa meramente transmitiruma informao, classificando-se, por isso, comono-literrio.

    II- A linguagem usada nele denotativa, pois trata-sede uma notcia.

    III- Enquanto o texto 6 pode ser resumido, o 5 jamaispoder s-lo, pois a mensagem perder seu valorconotativo.

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    Texto 7

    Texto 8

    PM evita fuga de presos da cadeia de Porto Ferreira

    SO PAULO - Trs presos da cadeia de PortoFerreira, a 228 quilmetros de So Paulo, tenta-ram fugir na tarde da ltima quinta-feira, 5.

    Por volta das 17 horas, os presos cerraram agrade de uma das celas e chegaram ao telhado dacadeia por meio de uma corda feita com lenisamarrados.

    Carcereiros perceberam a movimentao epediram reforo Polcia Militar, que conseguiuevitar a fuga. Com capacidade para 48 homens, acadeia abriga hoje 93 detentos.

    06 de outubro de 2006 - 15:51Fonte: http://www.estadao.com.br/

    ultimas/cidades/noticias/2006/out/06/202.htm

    18) De acordo com a leitura e interpretao dos textos 7 e 8,pode-se dizer que:

    I- O texto 7 enfatiza a emoo, ou seja, provocar o risono leitor, mostrando o um tema de maneira engraada.

  • 21

    II- O texto 8 no-literrio, pois apenas nos transmite ainformao da figa dos presos de maneira direta,objetiva, com o intuito de informar.

    III- Os dois textos procuram criticar a situao dos pre-sos nas cadeias brasileiras, devido superlotao,fator que provoca a fuga deles.

    a) Somente I e II esto corretasb) Somente II e III esto corretasc) Somente I e III esto corretasd) Todas esto corretase) Todas esto incorretas

    19) Assinale a alternativa incorreta sobre o texto literrio:a) Subjetivob) Criativoc) Relevncia do Plano da Expressod) Vrias possibilidades de interpretaoe) Sentido denotativo

    Leia atentamente os textos abaixo e assinale a alterna-tiva correta sobre as cantigas trovadorescas.

    Texto 1

    Atrs da portaQuando olhaste bem nos olhos meusE teu olhar era de adeusJuro que no acrediteiEu te estranheiMe debrucei sobre o teu corpo e duvideiE me arrastei e te arranhei e me agarrei nosteus cabelosNos teus plosNos teus psAo p da camaSem carinho, sem cobertaNo tapete atrs da porta.....................................

    (Chico Buarque e Francis Hime)

    Texto 2

    QueixaUm amor assim delicadoVoc pega e desprezaNo devia ter desprezadoajoelha e no rezadessa coisa que mete medopela sua grandezaNo sou o nico culpadoDisso eu tenho certezaPrincesaSurpresaVoc me arrasou..................................

    (Caetano Veloso)

    Texto 3

    Cantiga da Ribeirinha (verso atualizada)No mundo no conheo quem se comparea mim enquanto eu viver como vivo,pois eu morro por vs ai!plida senhora de face rosada,quereis que vos descreva (retrate)quando vos vi sem manto! (saia: roupa ntima)Infeliz o dia em que acordei,que ento eu vos vi linda!

    Paio Soares de Taveirs. In: TAVARES, J.P. Antologia de textosmedievais. Lisboa, Livraria S da Costa, 1961.

    20) (PRISE 2004). evidente a presena da cultura trovado-resca nos nossos dias, haja vista que:a) A Cantiga da Ribeirinha uma cantiga de amigo

    como Atrs da Porta de Chico Buarque, porqueambas so escritas por um homem que sofre de amorpor uma mulher.

    b) Atrs da porta de Chico Buarque pode ser compa-rada s cantigas de amor: autor masculino, mas senti-mento feminino.

    c) A msica Queixa de Caetano Veloso apresenta al-gumas caractersticas das cantigas de amigo: o ho-mem sofre em conseqncia de um amor no corres-pondido.

    d) A Cano da Ribeirinha uma cantiga de amigomedieval assim como Queixa de Caetano Veloso,porque em ambas se manifesta uma postura servil dohomem diante da mulher.

    e) Os compositores da Msica Popular Brasileira escre-vem msicas que se assemelham a cantigas de amigo,como Chico Buarque (Atrs da Porta) ou a canti-gas de amor, como Caetano Veloso. (Queixa)

    21) (PRISE 2004) Ao lermos os textos 1, 2 e 3, e confrontan-do essa leitura com as nossas experincias cotidianascom a msica e a poesia, conclumos que:

    a) os trs textos so lricos; tm sons, melodias, signifi-cados e cadncia, elementos da msica.

    b) os trs textos pertencem predominantemente ao g-nero dramtico.

    c) as palavras ganham relevo pela sonoridade, apesarde pertencerem ao gnero narrativo.

    d) os trs textos so escritos em prosa, e por isso noconsideram o ritmo e a melodia das palavras.

    e) a comparao entre poesia e msica no pode ser feitacom os trs textos porque estes no tm ritmo e melodia.

    22) (UFPA 2006) Os gneros literrios constituem modelosaos quais se deve submeter a criao artstica. DelesNO se deve considerar como verdadeiro:a) Segundo concepo clssica, so trs os gneros

    literrios.

  • 22 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    b) Embora a obra literria possa encerrar emoes diver-sas, podendo haver interseco de elementos lricos,narrativos e dramticos, h sempre a prevalncia deuma destas modalidades.

    c) A criao potica, de carter lrico, privilegiar os di-logos dos personagens.

    d) Novelas, crnicas, romances e contos so espciesliterrias de carter narrativo.

    e) O discurso literrio considerado dramtico quandopermite, em princpio, ser representado.

    Ficou tudo na paisagem.(Bruno de Menezes)

    Meus olhos cansados de paisagensso hoje do homem que a terra no quer.Boinas e botos, cavalos marinhos,o grande mistrio do mundo imaturo,no valem o homem que a selva assombrou.

    As guas barrentas,os bichos com medo das cobras possantes,as garas cismando beira do mangue,as flores dos lagos, orqudeas da mata,no servem ao homem que a febre acabou.Ficou na paisagem o nosso passado,o tempo perdido com tanto rimriolouvando Amazonas e muiraquits...Agora que o tempo da inrcia vai longe,Voltemos ao homem escravo na terra,Que espera o futuro, mas no despertou.

    23) (PRISE 200 De acordo com os fundamentos da teorialiterria, podemos assegurar que o texto :

    a) uma ode religiosa.b) um poema dramtico.c) uma cantiga.d) um soneto sem mtrica.e) um poema lrico.

    24) Das funes da literatura descritas abaixo, podemos afirmarque as evidenciadas no texto de Bruno de Menezes so:

    I- Evaso: fuga do mundo real. A criao dos parasosimaginrios idealizados compensa a insatisfao darealidade.

    II- Conhecimento: compreenso da realidade. O mundoficcional serve como instrumento de reflexo da vida,permeada dos sentimentos e das emoes humanas.

    III- Catarse: alvio das tenses. O leitor e o escritor pro-jetam-se nas personagens, vivem seus conflitos e,por fim, se libertam das tenses vividas.

    IV- Compromisso: defesa de uma causa. O texto literrio valorizado por contribuir com a transforma o domeio social.

    V- Esttica: negao de qualquer carter prtico da lite-ratura. A obra no considera os aspectos culturais esociais, escrita unicamente pelo e para o prazer.

    As alternativas corretas so:

    a) I, II, III, IV, V d) I, II, IVb) II, IV e) III, Vc) II, V

    No h VagasO preo do feijoNo cabe no poema. O preo do arrozNo cabe no poemaNo cabem no poema o gsa luz o telefonea sonegaodo leiteda carnedo acardo po (...)

    Ferreira Gullar. Toda Poesia. 1991

    25) No lirismo amargo do poeta maranhense, predomina aseguinte funo da literatura:

    a) evaso d) estticab) conhecimento e) cartasec) engajamento

    Texto: A

    Estes meus olhos nunca perdero,senhora, to grande sofrimento, enquanto eu vivere vos direi minha formosa senhora,destes meus olhos quanto sofrimento h:Choram e cegam, quando algum no vemE ora cegam por algum que vem (...).Joo Garcia de Guilhade, Adaptao livre

    Texto: B

    s vezes, no silncio da noite,Eu fico imaginando ns dois,Fico ali sonhando acordado,Juntando o ontem, o agora e o depoisPor que voc me deixa to soltoPor que voc no cola em mimT me sentindo sozinho (...).Peninha. Sozinho

    26) Buscando pontos comuns entre a cantiga medieval (texto A)e a de nossos dias (texto B) pode-se afirmar que ambas so:

    I- cantigas de amigoII- cantigas de amorIII- lamentos de um eu-lrico masculinoIV- lamentos de um eu-lrico feminino

    Est correta a seqncia da alternativa:

    a) I e III d) II e IVb) II e III e) I, II e IIIc) I e IV

  • 23

    Lenda do Aa: a palmeira que chora

    Havia uma tribo amaznica que, devido es-cassez de alimentos, vivia sempre em grandes difi-culdades.

    E como a tribo aumentava dia-a-dia, o caci-que Itaki resolveu sacrificar toda criana que nas-cesse a partir daquele dia. A medida surtiu efeito,passaram-se muitas luas sem nenhuma nativa con-ceber. Porm um dia, Ia, a filha do prprio caci-que Itaki, deu luz uma linda criana. Mas no

    demorou muito para o Conselho Tribal pediro sacrifcio da filha de Ia. Seu pai, guerreiro depalavra, no hesitou em dar cumprimento or-dem. Ao saber da sorte de seu rebento Ia implo-rou ao pai que poupasse a vida da filha. O caciqueItaki manteve sua palavra e a criana foi sacrifi-cada. Ia enclausurouse em sua teda, ficando alipor quase dois dias de joelhos, rogando a Tupque mostrasse ao seu pai uma maneira pela qualno fosse preciso repetir o sacrifcio de inocentes.Alta hora da noite, porm, ouviu Ia um choro decriana. Aproximou-se da porta da tenda e, ento,viu sua filha sorridente ao p de uma esbelta pal-meira. Passando o impacto, ela lanou-se em dire-o filha, abraando-se a ela, mas deparou coma palmeira, pois, misteriosamente, a criana desa-parecera. Ia, inconsolvel, chorou at desfale-cer. No dia seguinte, o seu corpo foi encontradoainda abraado palmeira. Estava morta, mas seusemblante risonho irradiava satistao; ao mes-mo tempo seus grandes olhos negros, inertes, fita-vam o alto da palmeira. O chefe Itaki notou que apalmeira tinha um cacho de frutinhas pretas. Or-denou que fosse apanhado e amassado em um gran-de alguidar de madeira, obtendo, assim, um vinhoavermelhado. Agradeceu a Tup e, invertendo onome de sua filha Ia, batizou o estranho vinhode Aa (que quer dizer palmeira que chora), sus-pendendo em seguida, a lamentao de seu povo.

    27) Aps ler, com ateno, a lenda do aa, assinale a nicaalternativa correta sobre os constituintes dessa narrativa:

    a) O tempo psicolgico, flui do pensamento das per-sonagens.

    b) O foco narrativo de 1a pessoa.c) O enredo no linear, ou seja, no se organiza com

    comeo, meio e fim.d) O tempo cronolgico, nitidamente marcado por ex-

    presses temporrias.e) O espao urbano.

    TextoBEIJA-FLOR

    Yo quiero te namorar, amorYo quiero te namorar, amorTe namorar, amor

    Teu lbio to doce feito melToda azul sua beleza feita cor do cuQuero me aquecer sentir o seu calorRolar pra l na cama, te chamar de amorFazer mil poesias pra te conquistarDeix-Ia simplesmente coberta de florQuero me aquecer sentir o seu saborAmor, s me chamar que eu vouS me chamar, que eu vouMe chama que eu vouS me chamar que eu vouEstou sentindo a falta de vocSonhando com seus beijos espero amanhecerTu levas as palavras soltas pelo arYo quiero te namorar, amorYo quiero te namorar, amorTe namorar, amor

    (Xexu & Z Raimundo)

    28) O trecho acima da msica BEIJA-FLOR expressa umcontedo:

    a) pico d) Satricob) Lrico e) Moralizantec) Dramtico

    Leia os textos abaixo para as questes 2 e 3.

    Texto A

    A Rosa de Hiroshima

    Pensem nas crianasMudas telepticasPensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas clidasMas oh no se esqueamDa rosa da rosaDa rosa de HiroshimaA rosa hereditriaA rosa radioativaEstpida e invlidaA rosa com cirroseA anti-rosa atmicaSem cor sem perfumeSem rosa sem nada

    (Vincius de Moraes)

  • 24 FUNDAMENTOS DA TEORIA LITERRIA

    Texto B

    Os vivos, de repente, comeariam a invejar osmortos. Sobre a terra devastada restariam algunspoucos hospitais. Metade do corpo teria desapa-recido e nas farmcias todo o estoque de medica-mentos do mundo no bastaria para aliviar o so-frimento de apenas um tero dos visitantes. Em meioao apocalipse,ressurgiriam epidemias extintasdesde a Idade Mdia e, por longos anos se multi-plicariam os casos de cncer e aberraes genti-cas, mesmo em paises distantes. Aterradoras, masverossmeis, estas so algumas das concluses aque chegaram 23 cientistas da Europa Ocidental,Estados Unidose Unio Sovitica, a quem a orga-nizao Mundial de Sade (OMS), rgo dasNaes Unidas, encomendou um estudo sobre asconseqncias mdicas de uma guerra nuclear.

    (ISTO , 20 jul. 1983).

    29) Sobre os textos CORRETO afirmar:a) Os dois textos tratam do mesmo assunto: a guerra.

    Porm, o texto A possui uma inteno potica, suges-tiva, enquanto o texto B, uma inteno informativa.

    b) O texto A pertence ao gnero pico, visto que retrataa realidade de forma objetiva.

    c) O texto A possui um narrador que interage com ospersonagens.

    d) Observa-se que o texto B foi escrito para ser repre-sentado, por isso pertence ao gnero dramtico.

    e) Observa-se que o texto B possui linguagem pluris-significativa.

    30) Sobre o texto A INCORRETO afirmar:

    a) Pertence ao gnero lrico porque a manifestaodos sentimentos ntimos do eu-lrico.

    b) H um apelo do eu-lrico para chamar ateno sobreas conseqncias da guerra atmica.

    c) Procura explicar o prprio cdigo atravs da metalin-guagem.

    d) Possui a funo potica da linguagem.e) um texto literrio por possuir inteno potica.

    31) Sobre o gnero dramtico CORRETO afirmar:

    a) a narrao potica de um fato grandioso e maravi-lhoso que interessa a um povo.

    b) um texto escrito para ser representado.c) O nome DRAMA vem de um instrumento musical que

    acompanhava os cantos dos gregos.

    d) uma narrativa inverossmel, com fundo didtico.e) um texto que tem como principal caracterstica ex-

    pressar os sentimentos mais ntimos do eu-lrico.

    32) A afirmativa que NO corresponde ao conceitoLiteratura e:

    a) Literatura a arte da palavra.b) Literatura a linguagem carregada de significados.c) Literatura o texto que possui a inteno de informar,

    logo a linguagem denotativa.

    d) Literatura a arte da sugesto, plurissignificativa.e) Literatura a expresso dos contedos da fico, ou

    da imaginao, por meio de palavras polivalentes.

    33) Sobre o gnero pico correto afirmar:

    a) uma narrao potica de um fato grandioso e mara-vilhoso que interessa a um povo.

    b) Possui como apresentao do tema e do heri o eplogo.c) o texto escrito para ser representado.d) uma narrativa com fundo didtico.e) um poema de carter pastoril, porem sem dilogo.

    34) Observe os versos:Um galo sozinho no tece a manhele precisar sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito que um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,para que a manh, desde uma teia tnue,se v tecendo, entre todos os galos.

    (Joo Cabral de Meio Neto - Tecendo a Manh)

    Sobre os versos acima, correto afirmar:

    a) Fazem uma stira figura do galo, animal cantadordas madrugadas.

    b) Destacam a beleza do alvorecer e o galo aparece comoum dos elementos expressivos da paisagem.

    c) Atravs da imagem do galo, enfatizam, simplesmente,a sonoridade das palavras e o colorido do texto.

    d) Pintam uma cena do cotidiano e mostram a realidadeobjetivamente.

    e) Atravs da imagem dos galos, expressam a temticasocial, definindo a manh como tarefa.

  • 25

    CEREJA, Wiliam Roberto e MAGALHES, Tereza Cochar. Literatura Brasileira. So Paulo: Atual, 1995.FILHO PROENA, Domnio. A Linguagem Literria. So Paulo: tica, 1992.JR. ABDALA, Benjamin. Movimentos e Estilos Literrios. So Paulo: Scipione, 1995.MOISS, Massaud. A Literatura Portuguesa. So Paulo: Cultrix, 1985.MOURA, Francisco M. e FRANCO, Carlos E. Literatura Brasileira. So Paulo: tica, 1999.NICOLA, Jos de. Literatura Portuguesa: Das origens aos nossos dias. So Paulo: Scipione, 2000.OLIVEIRA, Clevin Bellezi de. Arte Literria Portugal Brasil. So Paulo: Moderna, 1999.QUINTANA, Mrio. Nariz de Vidro. So Paulo: Moderna, 2003.SARAIVA, Antnio Jos e LOPES, Oscar. Histria da Literatura Portuguesa. Coimbra: Porto Editora, 1990.VIEIRA, Yara Franteschi. Poesia Medieval. So Paulo: Global, 1997.