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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS ITAJAÍ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE GEFERSON KOWALSKY Itajaí, novembro de 2010 DECLARAÇÃO DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PÚBLICA EXAMINADORA ITAJAÍ, ____ DE ____________ DE 2010. ________________________________ Professor(a) Orientador(a)

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS ITAJAÍ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS

PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

GEFERSON KOWALSKY

Itajaí, novembro de 2010

DECLARAÇÃO

DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PÚBLICA EXAMINADORA

ITAJAÍ, ____ DE ____________ DE 2010.

________________________________ Professor(a) Orientador(a)

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS ITAJAÍ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS

PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

GEFERSON KOWALSKY

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: MSc. Roberto Epifanio Tomaz

Itajaí, novembro de 2010

AGRADECIMENTO

A DEUS que me iluminou e me deu forças, que me ajudou a não desistir diante das barreiras.

Aos familiares pelo apoio incondicional em todos os momentos.

Aos amigos e companheiros da Faculdade!

Ao Prof. Roberto, pela orientação, dedicação, respeito e acima de tudo por acreditar em minha capacidade.

A todos os professores da Univali, que contribuíram para meu crescimento, obrigado pelo conhecimento transmitido, e por estarem sempre dispostos a me atender.

Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a obtenção deste título.

DEDICATÓRIA

As minhas filhas, Aline e Ana Cristina, pela oportunidade de experimentar a mais pura forma de amor e por terem me revelado a certeza de que todos os dias, ao lado delas, são maravilhosos.

A minha esposa, Alessandra, por sua existência, por estar sempre ao meu lado, pelo companheirismo, respeito e incentivo.

A Ésio Kowalsky “in memorian” e Sandra

Kowalsky, que em nenhum momento mediram esforços para a realização dos meus sonhos, que me guiaram pelos caminhos corretos, me ensinaram a fazer as melhores escolhas, me mostraram que a honestidade e o respeito são essenciais à vida, e que devemos sempre lutar pelo que queremos. A eles devo a pessoa que me tornei, sou extremamente feliz e tenho muito orgulho por chamá-los de pai e mãe.

Aos meus irmãos, Ésio Júnior e Ederson, pela confiança e amizade.

... meu carinho e muito obrigado! A vocês, dedico esta obra.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 26 de novembro de 2010.

GEFERSON KOWALSKY Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando GEFERSON KOWALSKY , sob o título

PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERT A CONTRA

DEVEDOR SOLVENTE, foi submetida em 26 de Novembro de 2010 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Roberto Epifanio Tomaz

(Orientador e Presidente da Banca), e Dr. Diego Richard Ronconi (Membro), e

aprovada com a nota ___ .

Itajaí (SC), 26 de Novembro de 2010.

Professor MSc. Roberto Epifanio Tomaz Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

§ Parágrafo

amp. Ampliada

art. Artigo

atual. Atualizada

aum. Aumentada

CC Código Civil

CPC Código de Processo Civil

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

ed. Edição

n. Número

p. Página

rev. Revisada

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2:

Citação Inicial

“Denominação que se dá à citação que deve ser promovida para início da ação, a

fim de distingui-la da que se deve fazer para início da execução. A citação inicial é o

primeiro sopro de vida que se dá ao processo: sem ela não terá força para ter

andamento.”3

Credor

“Derivado do latim creditor, de credere, designa toda pessoa que é titular de um

crédito, ou, mais vulgarmente,toda pessoa que tem a haver de outrem uma certa

importância em dinheiro.”4

Devedor

“Designa-se como devedor toda pessoa que está sujeita ao cumprimento de uma

obrigação da qual não se desonera enquanto não a preste, ou de seu cumprimento

a dispense o credor.”5

Execução

“Intenção ou desejo de se levar a cabo algo ou de realizar um plano já existente

anteriormente. Ato por que se cumpre a decisão de uma sentença compelindo ou

constrangendo o condenado a reduzir a efeito o objeto do decisório.”6

1 [...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. (PASOLD, César

Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 7. ed. rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002. p. 229)

2 [...] definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 229)

3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . 15 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 170. 4 Op cite, p. 231. 5 Op cite, p. 265. 6 Op cite, p. 239.

Execução por Quantia Certa

“[...] constitui um meio de expropriar os bens do devedor, a fim de resguardar o

direito do credor de receber o que lhe era devido”.7

Execução Processual

“Chama-se execução processual a atuação prática, da parte dos órgãos

jurisdicionais, de uma vontade concreta da lei que garante a alguém um bem da vida

e que resulta de uma verificação; e conhece-se por execução o complexo dos atos

coordenados a esse objetivo.”8

Impugnação

“Do latim impugnatio, de impugnare (atacar, combater, contradizer), na prática

forense quer exprimir todo ato de repulsa, de contestação, de contradita, praticado

contra atos do adversário ou parte contrária, pelos quais se procura anular ou

desfazer suas alegações ou pretensões, ou impedir que promova ato processual,

demonstrado ou julgado injusto.”9

Multa

“Do latim mulcta ou multa, entende-se, por seu sentido originário, a pena pecuniária.

É, assim, em sentido amplo, a sanção imposta à pessoa, por infringência à regra ou

ao princípio de lei ou ao contrato, em virtude do que fica na obrigação de pagar certa

importância em dinheiro.”10

Parcelamento da Dívida

“[...] o parcelamento é uma faculdade que a lei cria para o executado, a quem cabe decidir sobre a conveniência ou não de exercitá-la, pois tal decisão põe em cheque a possibilidade de oferecer embargos”.11

7 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e

processo cautelar. 11 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 117. 8 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil . 2ª Ed. Campinas: Bookseller,

2000. Trad: Paolo Capitanio. p. 120. 9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . p. 417. 10 Op cite, p. 544. 11 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado . 3 ed. São Paulo: Atlas,

2008. p. 2369.

Penhora

“A penhora é o ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindo

sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário

ineficazes em face do processo.”12

Pré-Penhora

“Quando não sendo localizado o devedor, separam-se, desde logo, bens para

responder diretamente pela execução”13.

Procedimento

“Procedimento é o iter, a concatenação, a coordenação dos atos processuais. É a

seqüência que estes devem guardar e obedecer. Se o processo é aquele conjunto

de atos que se praticam com a finalidade de fazer atuar a vontade concreta da lei,

isto é, de dar solução ao litígio (e a solução é dada quando se aplica a norma

jurídica ajustável à espécie), o procedimento nada mais representa senão o

ordenamento desses atos.”14

Processo

“Derivado do latim processus, de procedere, embora sua derivação se apresente em

sentido equivalente a procedimento, pois exprime a ordem ou a seqüência das

coisas, dirigindo assim a evolução a ser seguida no procedimento, até que cumpra

sua finalidade.”15

12 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed.rev. ampl. e atual. com a Reforma Processual –

2006/2007. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 591. 13 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 156. 14 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico . p. 403 15 Op cite, p. 457

SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................... XIII INTRODUÇÃO .................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 ......................................... .............................................. 4 DA EXECUÇÃO CIVIL.................................. ...................................... 4 1.1 HISTÓRICO ...................................................................................................... 4 1.2 CONCEITO DE EXECUÇÃO .......................................................................... 12 1.3 VIAS EXECUTIVAS ................................ ........................................................ 14 1.3.1 CUMPRIMENTO FORÇADO DAS SENTENÇAS CONDENATÓRIAS ............................ 16 1.3.2 CUMPRIMENTO DA SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA ............................... 18 1.3.3 PROCESSO DE EXECUÇÃO DOS TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS .................................. 18 1.4 DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO .............. ................................. 21 CAPÍTULO 2 ......................................... ............................................ 27 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE....................................................................................... 27 2.1 DEFINIÇÃO..................................................................................................... 27 2.2 REQUISITOS .................................................................................................. 29 2.3 PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONT RA DEVEDOR SOLVENTE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO ........... ...................... 31 2.3.1 PRÉ-PENHORA ............................................................................................... 32 2.3.2 PENHORA ....................................................................................................... 34 2.3.2.1 Bens Penhoráveis e Impenhoráveis ........... ........................................... 35 2.3.2.2 Ordem de Preferência da Penhora............ ............................................. 36 2.3.2.3 Do Depósito e demais Atos decorrentes da Pe nhora .......................... 38 2.3.2.4 Do Pagamento ao Credor ..................... .................................................. 44 2.4 PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONT RA DEVEDOR SOLVENTE NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ........ ................... 45 2.4.1 PREVISÃO DE MULTA ...................................................................................... 45 2.4.2 PROCEDIMENTO EXECUTIVO ............................................................................ 46 2.5 EMBARGOS E IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO POR QUANTIA CE RTA...... 47 2.5.1 EMBARGOS NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE COM BASE EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL ....................................................................... 47 2.5.2. IMPUGNAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.............................................................................. 49 CAPÍTULO 3 ......................................... ............................................ 53 PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ...................... ................. 53 3.1 PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA .... 53 3.2 POSSIBILIDADE, REQUISITOS E PROCEDIMENTO DO PAR CELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVE DOR SOLVENTE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO ................... ................................. 54

3.3 POSSIBILIDADE, REQUISITOS E PROCEDIMENTO DO PAR CELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVE DOR SOLVENTE NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA................ .............................. 59 3.4 DO NÃO CUMPRIMENTO DO PARCELAMENTO DA DÍVIDA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO E NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA .. ............ 67 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ............................... 71 REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ..................... ................... 74

RESUMO

O presente trabalho apresenta o estudo da possibilidade

do parcelamento da dívida na execução por quantia certa contra devedor solvente.

Apresenta, inicialmente, um apanhado histórico e conceitual sobre a execução cível

prevista no atual ordenamento jurídico brasileiro; posteriormente, avalia a espécie de

execução por quantia certa contra devedor solvente, apresentando uma abordagem

conceitual e procedimental, nas atuais vias executivas do processo de execução e

no chamado cumprimento da sentença. Finalmente apresenta o estudo do

parcelamento da dívida na execução por quantia certa contra devedor solvente, seus

requisitos, possibilidades e procedimento. A investigação é desenvolvida com base

no método lógico indutivo e se encerra com considerações acerca do tema,

incentivando seu prosseguimento pelos operadores do Direito.

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto de estudo a

possibilidade do parcelamento da dívida nas modalidades de execução por quantia

certa contra devedor solvente, existentes no processo de execução ou no

cumprimento da sentença.

O seu objetivo institucional, produzir uma monografia para

obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI; geral, estudar o parcelamento da dívida na execução por quantia certa

contra devedor solvente; específicos, estudar o processo de execução cível na atual

legislação brasileira; analisar a execução por quantia certa contra devedor solvente;

e verificar o parcelamento da dívida na execução por quantia certa contra devedor

solvente nas vias executivas do processo de execução e no cumprimento da

sentença.

Para tanto, principia–se a pesquisa, no Capítulo 1,

tratando acerca da execução cível na atual legislação brasileira, partindo de sua

evolução histórica e conceitual, bem como avaliando as atuais vias executivas e as

diversas espécies/modalidades de execução.

Seguindo a base lógica indutiva, o Capítulo 2 trata sobre a

espécie de execução por quantia certa contra devedor solvente, sua definição e

requisitos, ainda apresenta uma análise das disposições referentes ao procedimento

a ser adotado nesta espécie de execução nos casos de processo de execução e no

cumprimento de sentença, por fim avalia a possiblidade de oposição do

devedor/executado na apresentação dos embargos, para o processo de execução, e

da impugnação, para o cumprimento de sentença.

Finalmente o Capítulo 3 aborda o tema principal da

pesquisa onde é avaliada a possibilidade do parcelamento da dívida na execução

por quantia certa contra devedor solvente, seus requisitos legais e procedimento,

seja no processo de execução ou no cumprimento de sentença, e, por fim, é

avaliada a hipótese do não cumprimento do parcelamento.

2

Para o desenvolvimento temático da presente pesquisa

tendo em vista os objetivos investigatórios inicialmente traçados foram elaborados

os seguintes questionamentos:

1. O atual ordenamento jurídico brasileiro prevê na

regência legal da execução civil forçada a possibilidade do parcelamento da dívida?

Em sendo positivo, em qual(is) espécie(s)/modalidade(s) de execução?

2. A modalidade de execução por quantia certa contra

devedor solvente admite o parcelamento forcado da dívida nas vias executivas do

processo de execução e no cumprimento da sentença?

3. Em sendo possível o parcelamento da dívida na

execução por quantia certa contra devedor solvente nas vias executivas do processo

de execução e do cumprimento da sentença, quais os requisitos previstos pela

legislação nacional para o seu pedido, processamento, deferimento e rescisão?

Diante dos problemas formulados, foram levantadas as

seguintes hipóteses para o trabalho de pesquisa:

1. Entende-se que o atual ordenamento jurídico nacional

prevê duas vias executivas, o processo de execução para os títulos extrajudiciais e o

cumprimento da sentença para os judiciais, sendo ainda previsto o parcelamento

forçado da dívida apenas para a espécie de execução por quantia certa contra

devedor solvente.

2. Supõe-se que a espécie de execução por quantia certa

contra devedor solvente admite o parcelamento da dívida não somente nos casos do

processo de execução, mas que há a possibilidade da regência supletiva para esta

espécie de execução aplicar-se também ao cumprimento da sentença.

3. Entende-se que os requisitos exigidos pela legislação

nacional para o parcelamento forçado da dívida são os mesmos adotados para o

processo de execução e para o cumprimento da sentença, que admitiria a regência

supletiva do artigo 745-A do CPC neste instituto.

3

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados os resultados obtidos e

estímulos a continuidade da pesquisa.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que tanto

na Fase de Investigação quanto na Fase de Tratamento dos Dados e no Relatório

dos Resultados foi utilizado o método com base lógica Indutiva16.

Nas diversas fases da Pesquisa, acionaram-se as

técnicas do referente17, da categoria18, dos conceitos operacionais19, da pesquisa

bibliográfica20 e do fichamento21, em conjunto com as técnicas propostas por

Colzani22.

16 O método indutivo consiste em pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las

de modo a ter uma percepção ou conclusão geral. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 9.ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005. p. 87).

17 "Explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa". (Op cite, p.241).

18 “Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia". (Op cite, p.229). 19 “Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal

definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. (Op cite, p.229). 20 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. (Op cite,

p.240). 21 “Técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na Pesquisa Científica, mediante a

reunião de elementos selecionados pelo Pesquisador que registra e/ou resume e/ou reflete e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um Ensaio, uma Tese ou Dissertação, um Artigo ou uma aula, segundo Referente previamente estabelecido”. (Op cite, p.233).

22 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico . 2.ed. Curitiba: Juruá, 2005. p.95.

Capítulo 1

DA EXECUÇÃO CIVIL

A fim de se estudar a possibilidade do parcelamento da

dívida do devedor, mister se faz conhecer as regras adotadas pela legislação

brasileira acerca da execução.

Nessa toada, o presente capítulo apresenta, ainda que

em linhas breves, o estudo da execução a partir de seu histórico, conceito, requisitos

e vias executivas, além de avaliar os tipos de obrigação sujeitas à execução.

1.1 HISTÓRICO

O Direito Romano não reconhecia outro título executivo

que não fosse a sentença judicial. Respeitava-se com todo rigor o princípio segundo

o qual deviam conhecer-se as razões das partes antes de fazer-se a execução23.

Desse modo, durante o chamado período clássico, o

processo desenvolvia-se em dois momentos distintos: iniciava-se perante o praetor e

se completava perante o judex. O praetor era o magistrado que detinha o imperium e

se ocupava dos negócios da Justiça; não obstante, não julgava os conflitos que lhe

eram submetidos por meio das actiones (tarefa que se encarregava o judex).

Ouvidas as partes, nomeava-se um árbitro; o judex, cujo desempenho culminava na

prolação da sententia. O sistema era, pois, arbitral, com nítido aspecto negocial.

Assim, a litis contestatio encerrava o compromisso firmado pelos litigantes em face

do praetor de sujeitarem-se aquilo que fosse decidido pelo judex24.

Destaca-se que como o judex não detinha o imperium,

não possuía o poder para fazer cumprir sua sentença. Acaso o vencido não a

23 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . 24. ed.

rev. ampl. e atual. São Paulo: Universitária de Direito, 2007. p. 45. 24 Op cite, p. 34.

5

cumpri-se voluntariamente, o vencedor precisava retornar ao praetor, que detinha o

imperium, de modo a poder empregar a força na realização do comando sentencial.

Para tanto, teria de propor uma nova actio, que se designava actio iudicati25.

Santos26 arremata que:

Proferida a sentença condenatória, contavam-se trinta dias (tempus iudicati), durante os quais o vencido poderia voluntariamente satisfazer o julgado. Esgotado esse prazo, o credor devia propor a actio iudicati, pela qual pedia, com fundamento na condenação, lhe fosse entregue a pessoa do devedor, ou o seu patrimônio. Ao pedido, que era formulado ao pretor, presentes o credor e o devedor, podiam suceder duas atitudes do devedor: a) reconhecia a validade da condenação e a falta de pagamento; ou b) contestava a ação, argüindo nulidade da sentença ou alguma exceção (pagamento, novação, etc.).

Esse sistema, em razão de sua estrutura negocial e

arbitral, exigia essa dualidade de ações para alcançar a satisfação do direito violado:

uma ação para reconhecer o direito da parte, que terminava com o pronunciamento

do judex; e outra ação quando o vencido não cumpria a obrigação que lhe impusera

a sententia27.

Neste norte, é necessário ressaltar que nos primórdios do

direito romano não havia um poder judiciário organizado de forma autônoma diante

dos demais poderes do estado. O praetor não julgava; e o judex, a seu turno,

sentenciava, entretanto, não detinha poderes executivos. Daí o processo dual, em

que a actio se realizava por ato meramente declaratório do judex; e a execução

forçada, chamada de actio iudicati reclamava a intervenção do praetor (magistrado

que, efetivamente, dispunha do imperium)28.

Essa dicotomia de ações que gravitava ao redor do

mesmo litígio conservou-se no período formulário, em que o praetor assumiu

maiores poderes na organização e encaminhamento da causa, contudo, sem excluir

25 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 34. 26 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 23. ed. rev. ampl. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2009. Vol. 3. p. 245. 27 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 34. 28 Op cite, p. 34.

6

o feitio arbitral do julgamento. Já na era cristã, o império romano chegou a organizar

a Justiça de forma autônoma e inteiramente pública. A esse período atribuiu-se o

nome de extraordinatia cognitio, porque o praetor começou a assumir, em

determinados litígios, o seu conhecimento e julgamento; afastando, destarte, a figura

arbitral do judex29.

Essa abolição foi gradativa, mas com o passar do tempo

generalizou-se. O praetor incorporou, ao lado do imperium, o judicium; tornando-se

assim um juiz completo, nos exatos termos do que hodiernamente caracterizam o

Poder Judiciário e os Juízes estatais. No auge da evolução do direito romano já não

mais se justificavam duas ações para o cumprimento forçado da sentença, pois seu

prolator era titular tanto do imperium quanto do judicium. Na verdade, foi somente

por inércia histórico-cultural que se continuou a usar a actio iudicati até a queda do

império romano. Na Idade Média, inicialmente os povos germânicos (aqueles

dominadores do que antes havia sido o Império Romano), tinham hábitos primitivos

no que diz respeito à tutela dos direitos violados30.

Nesse sentido, para Santos31:

O processo germano-barbárico, após a queda de Roma, diferia radicalmente do romano. Enquanto no sistema romano protegia-se o devedor, que somente podia ser executado quando plenamente convencido da sua obrigação e com fundamento em sentença condenatória, no sistema germânico, considerado o inadimplemento da obrigação como ofensa à pessoa do credor, era este, sem dependência de qualquer autoridade, a que não precisava dirigir-se, autorizado a penhorar, mesmo usando suas próprias forças, os bens do devedor a fim de pagar-se ou constrangê-lo ao pagamento.

Por suas próprias forças, os credores realizavam seus

direitos contravindos. A execução forçada era privada e não precisava de uma

sentença judicial anterior. Discordando da execução feita pelo credor, ao devedor

competia instaurar o processo de impugnação. Em relação ao direito romano,

29 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 34. 30 Op cite, p. 34. 31 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 246.

7

invertiam-se os termos: primeiramente se executava para depois se acertar o direito

controvertido32.

Por influência da retomada dos estudos do direito romano

nas escolas universitárias, os germânicos, mais tarde, excluíram a execução privada

e concordaram com a necessidade do antecipado acertamento do direito do credor

por meio de sentença, para depois lidar com sua realização forçada. Entretanto, não

aceitaram que para se cumprir a ordem da sentença condenatória tivesse o credor

de ingressar com uma nova ação, como era da tradição romana. A actio iudicati, foi

extinta em sua totalidade. Em substituição, os glosadores do século XIII,

comandados por MARTINO DE FANO, idealizaram a doutrina do officium iudicis,

cuja definição preconizava não só o direito de julgamento do juiz, mas também, por

seu próprio ofício, todas as providências necessárias para que a condenação se

tornasse fato real33.

Não obstante às dificuldades da actio iudicati, seria de

responsabilidade do magistrado determinar medidas de cumprimento forçado das

sentenças. Método este, que recebeu a denominação de executio per officium

iudicis34.

Sobre este tema, Santos complementa35:

Reconheceram os juristas que à execução devia preceder a condenação, como no processo romano, mas que, proferida a sentença condenatória, dispensável se fazia a actio iudicati, com fundamento no julgado, e que dava lugar a novo contraditório, com o respectivo conhecimento e julgamento do direito do credor. Na sentença condenatória havia executionem paratam (execução aparelhada) – sententia habet paratam executionem – podendo o juiz, a requerimento do vencedor, no exercício de suas funções, usar dos poderes executórios e realizar praticamente a sentença. Assim se instituiu a execução per officium iudicis, havida como procedimento em prosseguimento ao em que se proferia a sentença condenatória.

32 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 35. 33 Op cite, p. 35. 34 Op cite, p. 35. 35 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 246.

8

Durante vários séculos a velha actio iudicati romana foi

relegada ao esquecimento. Somente no fim da Idade Média e no início da Era

Moderna, com o surgimento dos títulos de crédito é que se voltou a cogitar da actio

iudicati para atribuir-lhe maior liquidez, em atendimento as exigências do mercado36.

A esse propósito, Theodoro Júnior37 leciona que:

Equiparando-se a força do título de crédito à da sentença, poderia o credor ingressar em juízo diretamente nas vias executivas, obtendo desde logo a penhora, sem necessidade de aguardar o trâmite complicado do prévio acertamento em ação condenatória.

A partir daí, e até o século XVIII, vigoravam na Europa

duas vias executivas: uma singela, para o cumprimento da sentença, que se resumia

a expedição do mandado de execução; outra sob a forma de ação de execução,

sujeita aos ditames de um processo completo, inclusive oportunizando-se o

contraditório sobre o direito do exeqüente, após o ato inicial da penhora38.

No século XIX, a luz do Código de Processo Civil de

Napoleão, entendeu-se, sob a ótica técnica, que era apropriado unificar as vias

executivas. Abandonou-se a executio per officium iudicis e consagrou-se a ação

executiva como procedimento único, quer para os títulos judiciais, quer para os

extrajudiciais39.

Porém, ao se impor ao credor, vitorioso no processo de

conhecimento, a necessidade de iniciar novo processo para a satisfação de seu

direito, já blindado pela autoridade de coisa julgada, reduziu-se a sentença

condenatória a uma mera declaração do direito violado e da prestação a que ficava

sujeito o violador40.

Ou seja, na prática, a sentença condenatória em nada

destoava das declaratórias, mormente num processo como o brasileiro que conhece

36 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 35. 37 Op cite, p. 35. 38 Op cite, p. 35. 39 Op cite, p. 35. 40 Op cite, p. 35.

9

da ação declaratória até mesmo depois de violado o direito (CPC, art. 4º, parágrafo

único)41.

Com efeito, restabelecida a actio iudicati, as sentenças,

no tocante ao seu cumprimento, passaram a figurar em dois grandes grupos: a) as

que, em regime de ações especiais, cumpriam-se de plano, dentro da própria

relação processual em que foram prolatadas, a exemplo da executio per officium

iudicis; b) as que, no regime ordinário, submetiam-se a uma nova ação para

alcançar a execução forçada (actio iudicati)42.

No Brasil, depois de o Código de 1973 ter sacramentado

a dicotomia entre o processo de conhecimento e o processo de execução, registrou-

se, durante sua vigência, um movimento com o nítido escopo de minimizar os

inconvenientes da satisfação do direito da parte apenas após o trânsito em julgado

da sentença condenatória e ainda sujeita ao início de uma nova relação

processual43.

Foi desta forma que, nos últimos anos do século passado

e nos primeiros do século atual, que o legislador brasileiro perpetrou grandes

reformas no Código de Processo Civil e, em quatro etapas, está conseguindo abolir,

in totum, os traços da indesejável dualidade de processos para promover o

acertamento e a execução dos direitos violados44.

Theodoro Júnior45 ensina que:

Num primeiro momento, a Lei nº 8.952, de 13.12.94, alterou o texto do art. 273 do CPC, acrescentando-lhe vários parágrafos (que viriam a sofrer adições da Lei nº 10.444, de 07.05.2002), com o que se implantou, em nosso ordenamento jurídico, uma verdadeira revolução, consubstanciada na antecipação de tutela. Com isso fraturou-se, em profundidade, o sistema dualístico que, até então, separava por sólida barreira o processo de conhecimento e o processo de execução, e confiava cada um deles em compartimentos estanques. É que,

41 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 35. 42 Op cite, p. 36. 43 Op cite, p. 37. 44 Op cite, p. 37. 45 Op cite, p. 37.

10

nos termos do art. 273 e seus parágrafos, tornava-se possível, para contornar o perigo de dano e para coibir a defesa temerária, a obtenção imediata de medidas executivas (satisfativas do direito material do autor) dentro ainda do processo de cognição e antes mesmo de ser proferida a sentença definitiva de acolhimento do pedido deduzido em juízo. É certo que essa antecipação é provisória, não ocorre em todo e qualquer processo, e pode vir a ser revogada. Mas, quando deferida em relação a todo o pedido da inicial, uma vez obtida a condenação do réu na sentença final, não haverá o que executar por meio da actio iudicati. A sentença definitiva encontrará, em muitos casos, o autor já no desfrute do direito subjetivo afinal acertado. A sentença, dessa forma, apenas confirmará a situação já implantada executivamente pela decisão incidental proferida com apoio no art. 273.

Assim, com a inovação esculpida no art. 273,

desestabilizou-se, ao mesmo tempo, a pureza e autonomia procedimental do

processo de conhecimento e do processo de execução. Criou-se, na verdade, um

procedimento híbrido, em que numa só relação processual eram procedidas as duas

atividades jurisdicionais. Logo, de ordinária, a ação de conhecimento se revelou

interdital, pelo menos em potencial46.

Na visão de Theodoro Júnior47, o segundo grande

momento de transformação do procedimento de execução de sentença no direito

brasileiro se deu com a reforma do art. 461 do CPC. Nesse sentido, continua o

autor:

Pela redação que a Lei nº 8.952, de 13.12.94, deu a seu caput e parágrafos (complementada pela Lei nº 10.444, de 07.05.2002), a sentença em torno do cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer deve conceder à parte a “tutela específica”; de modo que sendo procedente o pedido, o juiz “determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”. Para alcançar esse desiderato, dever-se-á, conforme o caso, adotar medida de antecipação de tutela e poder-se-ão observar medidas de coerção e apoio, como multas, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade. Enfim, o credor deve ter acesso aos atos de satisfação de seu direito, desde logo, sem depender do complicado procedimento da ação de execução de sentença. Em outras palavras, as sentenças relativas a obrigação de fazer ou não fazer não se cumprem mais segundo as regras da

46 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 38. 47 Op cite, p. 38.

11

actio iudicati autônoma, mas de acordo com as regras do art. 461 e seus parágrafos, como deixa claro o texto atual do art. 644, com a redação dada pela Lei nº 10.444, de 07.05.2002.

Em uma terceira etapa da seqüência de inovações do

processo civil brasileiro, por força da Lei nº 10.444, de 07/05/2002, introduziu-se o

art. 461-A; do qual a regra gravita no plano das ações de conhecimento cujo objeto

seja a entrega de coisa48.

Tangente as obrigações de dar ou restituir, a tutela

jurisdicional deverá ser específica, de forma que o não cumprimento voluntário da

condenação ensejará, nos próprios autos em que a sentença foi proferida, a

expedição, de plano, de mandado de busca e apreensão ou de imissão de posse

(art. 461-A, § 2º). Portanto, na espécie, inadmissível a actio iudicati; tudo se

processa sumariamente, nos exatos moldes da executio per officium iudicis49.

Por último, concluiu-se o processo de abolição da ação

autônoma de execução de sentença com a reforma da execução por quantia certa,

trazida pela Lei nº 11.232, de 22/12/2005. As condenações a pagamento de quantia

certa, para serem solvidas, também não mais dependerão do manejo da actio

iudicati em nova relação processual posterior ao processo cognitivo. Nesse sentido,

Theodoro Júnior conclui50:

Ao condenar-se ao cumprimento de obrigação de quantia certa, o juiz, na verdade, assinará na sentença o prazo em que o devedor haverá de realizar a prestação devida. Ultrapassado dito termo sem o pagamento voluntário, seguir-se-á, na mesma relação processual em que a sentença foi proferida, a expedição do mandado de penhora e avaliação para preparar a expropriação dos bens necessários à satisfação do direito do credor (novo art. 475-J).

A veiculação do cumprimento da sentença (execução do

título judicial) passou, portanto, a integrar o processo de conhecimento, deixando a

cargo do processo de execução a execução apoiada em título extrajudicial51.

48 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 38. 49 Op cite, p. 38. 50 Op cite, p. 39. 51 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 248.

12

1.2 CONCEITO DE EXECUÇÃO

Passado o histórico da execução, passa-se, então,

conforme dantes anunciado, a examinar o seu conceito técnico. O objeto de

investigação deste capítulo é a tutela jurisdicional executiva que, por definição, só

poderá ser prestada em um processo jurisdicional, perante a atuação regular do

Estado-juiz52.

A doutrina tradicional, contudo, sempre se referiu a um

“processo de execução” com o propósito de identificar, dentre os “processos”

concebíveis, aquele em que se pede ao Estado-juiz, a prestação da tutela

jurisdicional executiva ou, na linguagem mais tradicional, em que se exerce uma

“ação de execução”53.

Cumpre destacar, no entanto, que a linguagem do atual

Código de Processo Civil pátrio, não pode conduzir a equívocos. “Processo de

conhecimento” e “processo de execução” devem ser compreendidos como

verdadeiras “expressões idiomáticas”, de modo que não há uma correlação

necessária entre os dois termos que compõem a expressão54.

Nesse contexto, no magistério de Bueno55:

Processo é método de atuação do Estado. O “conhecimento” descreve a atividade jurisdicional voltada ao reconhecimento de direitos, é dizer, ao reconhecimento de que alguém faz jus à prestação de uma dada tutela jurisdicional, inclusive a classificada como “executiva”. “Execução”, por sua vez, descreve a atividade jurisdicional voltada a satisfação do direito tal qual reconhecido, a prestação concreta da tutela jurisdicional executiva.

De mais a mais, bem entendidos os termos componentes

da expressão que interessa para o momento presente, largamente consagrada pela

doutrina, pela jurisprudência, pelo Código de Processo Civil e, sobretudo, pelos usos

52 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional

executiva. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. Vol. 3. p. 31. 53 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 31. 54 Op cite, p. 31. 55 Op cite, p. 32.

13

e costumes forenses, “execução” só pode ser entendida como a atuação do Estado-

juiz voltada precipuamente à satisfação de um direito previamente conhecido,

justamente aquele estampado no “título executivo”56.

Em outras palavras, o órgão jurisdicional realiza

concretamente a prestação que uma parte deveria realizar em favor da outra. No

lugar do devedor, o juiz utiliza, coativamente, bens de seu patrimônio para

proporcionar a satisfação do direito subjetivo do credor57.

A coatividade da ordem jurídica manifesta-se através da

sanção. De tal modo, desobedecido o preceito normativo, o Estado está sempre

pronto a interferir, por meio de órgãos adequados, para restabelecer a ordem

jurídica violada, conferindo a cada um o que é seu, haja ou não concordância do

cidadão responsável pela situação concreta58.

A sanção, portanto, vem a ser as medidas que o próprio

ordenamento jurídico traça para que o Estado possa intervir na esfera de autonomia

do indivíduo e fazer cumprir efetivamente a regra de direito. Lato sensu, as sanções

podem ser civis e criminais. Estas últimas dizem respeito à prática de delitos punidos

pelo direito penal e dão azo a aplicação de penas. As sanções civis são as de

caráter reparatório e tendem a compensar o titular de algum direito subjetivo o

prejuízo injustamente causado por outrem59.

No direito processual, a execução forçada destina-se

especificamente a realizar a sanção. E, por isso, Liebman a define como “a atividade

desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar atuação à sanção”. E nesse norte,

Theodoro Júnior60 esclarece:

Se, por exemplo, alguém causou dano a outrem e foi condenado a reparar os prejuízos, terá que cumprir a norma de direito que manda o responsável por ato ilícito indenizar a vítima. Da mesma forma, quem assinou uma nota promissória,

56 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional

executiva. 2009. p. 32. 57 Op cite, p. 33. 58 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 43. 59 Op cite, p. 44. 60 Op cite, p. 44.

14

no vencimento, terá que honrar a obrigação assumida, resgatando a dívida. Em ambos os casos, se o devedor não cumpre por iniciativa própria a obrigação, caberá a intervenção do Estado em seu patrimônio para tornar efetiva a sua vontade sancionatória, realizando, à custa do devedor, sem ou contra a vontade deste, o direito do credor.

Assim, nasce para o devedor, no processo de execução,

uma situação ou estado de sujeição, ficando o seu patrimônio à mercê da vontade

do Estado, para dele extrair-se o bem devido ou o valor a que tem direito o credor61.

Para Santos62, execução forçada, ou, simplesmente,

execução é o processo pelo qual:

[...] o Estado, por intermédio do órgão jurisdicional, e tendo por base um título extrajudicial, empregando medidas coativas, efetiva e realiza a sanção. Pelo processo de execução, por meio de tais medidas, o Estado visa a alcançar, contra a vontade do executado, a satisfação do direito do credor. A execução, portanto, é a atuação da sanção inerente ao título executivo.

Com a execução forçada e por meio do remédio jurídico

denominado processo, o Poder Público procura realizar, sem o concurso da vontade

do devedor, o resultado prático a que visava a regra jurídica que não fora

obedecida63.

1.3 VIAS EXECUTIVAS

Desse modo, vencida a questão conceitual (noções

gerais) e conhecido o aspecto histórico, necessário analisar-se as vias de execução

permitidas no ordenamento jurídico brasileiro.

No tocante ao conceito de título judicial e título

extrajudicial. O título judicial é aquele que se forma em processo cognitivo anterior

(por via de regra, porque há títulos não precedidos de processo de conhecimento,

61 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 44. 62 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 243. 63 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 44.

15

como a sentença arbitral); o extrajudicial é um documento, produzido fora do

procedimento jurisdicional, ao qual a lei confere eficácia executiva64.

Pois bem. O Código de Processo Civil, após a Lei nº

11.232, de 22/12/2005, estabelece duas vias de execução forçada, à saber65:

a) a execução de títulos judiciais ou o cumprimento

forçado das sentenças condenatórias, e outras a que a lei atribui igual força (arts.

475-I e 475-N);

b) o processo de execução dos títulos extrajudiciais

enumerados no art. 585, que se sujeita aos diversos procedimentos do Livro II do

Código de Processo Civil.

Preliminarmente, de se ressaltar que a execução por título

extrajudicial pressupõe processo autônomo, com a citação do devedor, para o

cumprimento de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa, ou pagar determinada

quantia; a por título judicial é imediata e prescinde de processo autônomo,

desenvolvendo-se como fase de cumprimento de sentença.66

Dessa forma, a distinção é relevante, para a verificação

do procedimento a ser observado: se o título for judicial, haverá apenas uma fase de

cumprimento de sentença, e não um processo autônomo de execução. O

procedimento será o estabelecido nos arts. 475-I e seguintes; quando o título for

extrajudicial, a execução formará um novo processo, e o procedimento será o

estabelecido no Livro II67.

64 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. Vol. 3. p. 7. 65 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença. p. 41. 66 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2009. p. 7. 67 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 56.

16

De se complementar, ainda, a previsão de execução

concursal, para os casos de devedor insolvente (arts. 748 a 782)68; o quê,

entretanto, não é objeto de estudo do presente trabalho de monografia.

1.3.1 CUMPRIMENTO FORÇADO DAS SENTENÇAS CONDENATÓRIAS

Como escrito anteriormente, a exclusão do processo de

execução, enquanto processo autônomo, integrando-o ao processo cognitivo,

quando a sentença não conduzia à satisfação efetiva da parte, culminou com a

edição da Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005. O indigitado diploma veio a

consagrar o ora chamado processo sincrético, no qual o conhecimento e a execução

são fases a serem suplantadas para atingir o bem da vida69.

Nessa esteira, Gonçalves pontifica70:

Originariamente, o Código de Processo Civil só previa a execução tradicional. Havia algumas poucas ações, chamadas executivas lato sensu, em que, após o trânsito em julgado, a sentença cumpria-se automaticamente, sem necessidade de um processo de execução.

Noutro giro, e apenas para ilustrar, é curiosa a redação do

art. 475, I, do Código de Processo Civil, por denominar, logo no capítulo do

cumprimento da sentença, de execução tal fase, quando se tratar de sentença de

obrigação por quantia certa71.

A presente fase floresce, conseqüentemente, pela

formação de um título judicial. De acordo com a dicção do art. 475-N do Código de

Processo Civil, são títulos executivos judiciais72:

68 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito . 6. ed. São Paulo: Rideel, 2008. p.

319 à 321. 69 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 229. 70 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2009. p. 117. 71 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 229. 72 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito . 2008. p. 303.

17

I - a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

II - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

III - a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo;

IV - a sentença arbitral;

V - o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;

VI - a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.

Para fins didáticos, as sentenças condenatórias (ou títulos

judiciais), no vertente estudo, serão dividas em dois grandes grupos: “as de

obrigação não pecuniária” e “as de obrigação pecuniária”.

As sentenças não pecuniárias podem impor o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, ou ainda de obrigação de entregar

coisa73.

Quando o cumprimento de sentença lastrear-se numa

obrigação de fazer ou não fazer, deverá ser observada a regra do art. 461 do Código

de Processo Civil, o que tem levado a jurisprudência a dar execução imediata e de

ofício a tais julgados, justificada na natureza executiva lato sensu dessas

sentenças74.

De outra banda, quando o cumprimento de sentença

impuser a entrega de coisa, o comando a ser seguido é o contido no art. 461-A do

Código de Processo Civil. Prevalecendo na jurisprudência, dispensável a intimação

do devedor; não obstante, parte da doutrina, ainda resiste a tal posicionamento75.

73 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 231. 74 Op cite, p. 232. 75 Op cite, p. 232.

18

1.3.2 CUMPRIMENTO DA SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA

Em relação as sentenças pecuniárias, inexoravelmente,

se estará diante de obrigação de pagar.

O cumprimento da sentença de obrigação pecuniária

pode voltar-se contra devedor solvente ou contra devedor insolvente, situação esta

em que a matéria encontra-se regulada no processo de execução do Código de

Processo Civil e, conforme dito alhures, não constitui objeto do presente trabalho de

conclusão de curso76.

Como determina a nova disciplina da matéria, o

cumprimento de obrigação por quantia certa far-se-á por execução, nos moldes dos

arts. 475-I a 475-R do Código de Processo Civil, aplicando-se subsidiariamente a

essas normas específicas as normas que regem o processo de execução de título

extrajudicial.77

Ultrapassadas as breves considerações acerca da fase de

cumprimento de sentença, resta examinar, agora, ainda que superficialmente, o

“processo de execução dos títulos extrajudiciais”.

1.3.3 PROCESSO DE EXECUÇÃO DOS TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS

Descumprida a obrigação líquida, certa e exigível,

consubstanciada no título executivo extrajudicial, o credor poderá ajuizar a execução

(art. 580 do Código de Processo Civil). Requerendo-a, está o credor a reclamar do

Estado, o emprego de medidas coativas que efetivem e realizem a sanção inerente

ao título executivo78.

Isso significa que o credor, para alcançar o seu direito,

provoca o órgão jurisdicional a realizar atos que visam assegurar a eficácia do título

executivo. Dois são os requisitos para que haja interesse de executar: o

76 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009, p. 232 e 233. 77 Op cite, p. 233. 78 Op cite, p. 248-249.

19

inadimplemento do devedor e a existência de título executivo, sem os quais,

necessariamente, haverá carência de ação79.

Segundo o art. 585 do Código de Processo Civil, são

títulos executivos extrajudiciais80:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei,

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

O título deverá ser de obrigação líquida, certa e exigível, a

teor do que preconiza o art. 586 do indigitado diploma legal. Um pouco mais adiante,

o art. 618, inciso I, da mesma norma, comina de nulidade a execução, sempre que o

título não preencher estes requisitos.

Nesse contexto, imperioso conhecer o significado das

categorias: liquidez, certeza e exigibilidade. A liquidez refere-se a quantidade de

79 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2009. p. 40. 80 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito . 2008. p. 310.

20

bens que são objeto da obrigação a ser cumprida pelo devedor; é o quantum

debeatur81.

O título executivo extrajudicial haverá de ser sempre

líquido, a quantidade de bens deverá ser apurável pela mera verificação de seu

conteúdo. É líquida a obrigação contida no título quando, de sua leitura, ou pela

simples realização de cálculos aritméticos, possa apurar-se a quantidade de bens

devidos82.

A certeza a que se refere a lei processual, como requisito

da obrigação contida no título, não é a certeza em concreto, mas em abstrato; ou an

debeatur. Isto é, é preciso que o título corresponda a uma obrigação, indicando-lhe a

existência. Para tanto, é preciso que a obrigação esteja perfeitamente identificada,

com a indicação da sua natureza, espécie, e dos sujeitos ativo e passivo83.

Isso se faz indispensável de forma a identificar quais os

legitimados ativo e passivo e o tipo de execução a ser ajuizada. O conteúdo da

obrigação, porém, prescinde de identificação, bastando que seja identificável, a

exemplo do que ocorre nas obrigações alternativas, ou de entrega de coisa incerta,

tratada nos arts. 629 e seguintes do Código de Processo Civil84.

No concernente a exigibilidade, diz-se que é preciso que a

obrigação tenha se tornado exigível, sem o que não terá o credor interesse em

promover a execução85.

A exigibilidade tem o sentido de que a obrigação, que se

executa, não depende de termo ou condição, nem está sujeita a outras limitações86.

Quanto à exigibilidade da obrigação em que foi

condenado o vencido, impõe-se sua prova pelo exeqüente, nos termos do art. 572

81 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2009. p. 54. 82 Op cite, p. 53 e 54. 83 Op cite, p. 54. 84 Op cite, p. 54. 85 Op cite, p. 55. 86 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil . 2009. p. 255.

21

do Código de Processo Civil: “quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a

condição ou termo, o credor não poderá executar a sentença sem provar que se

realizou a condição ou que ocorreu o termo”.

De mais a mais, satisfeitos os requisitos supra delineados,

o procedimento de “execução dos títulos executivos extrajudiciais” está inteiramente

regulamentado pelo disposto nos arts. 566 e seguintes do Código de Processo Civil.

1.4 DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

Diversas são as espécies de execução forçada previstas

no Código de Processo Civil de 1973, variando, cada uma, de acordo com o título

em que se baseia; quer seja judicial, quer seja extrajudicial.

Para fins do presente estudo, a seguir, serão examinadas

as execuções: para “entrega de coisa”; de “obrigação de fazer ou não fazer”;

“prestação alimentícia” e “por quantia certa contra devedor solvente”.

Assim, verifica-se a execução para entrega de coisa. As

obrigações correspondem a prestação que o devedor fica sujeito a realizar em favor

do credor. Diz-se positivas quando a prestação equivale a uma ação do devedor, e

negativas quando se cumprem por meio de uma abstenção87.

As obrigações de dar (ou de entrega de coisa, como

menciona o Código de Processo Civil) são modalidade de obrigação positiva, cuja

obrigação consiste na entrega ao credor de um bem corpóreo, seja para transferir-

lhe a propriedade, seja para ceder-lhe a posse, seja para restituí-la88.

O Código de Processo Civil separou em seções distintas

a execução da entrega de coisa certa e a de coisa incerta, vez que neste último caso

deve-se passar, preliminarmente, por uma fase de individualização das coisas

apontadas no título executivo apenas pelo gênero e quantidade89.

87 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 547. 88 Op cite, p. 565. 89 Op cite. p. 205.

22

Em qualquer das modalidades da obrigação em exame,

ocorrido o inadimplemento, cabível se torna a tutela judicial da execução para

entrega de coisa90.

Abarca essa espécie de execução forçada prestações que

costumam ser classificadas em dar, prestar e restituir. Assim, nas palavras de

Theodoro Júnior91:

Diz-se que a prestação é de dar quando incumbe ao devedor entregar o que não é seu, embora estivesse agindo como dono; de prestar, quando a entrega é de coisa feita pelo devedor, após a respectiva conclusão; e de restituir, quando o devedor tem a obrigação de devolver ao credor algo que recebeu deste para posse ou detenção temporária.

A execução de obrigação de entrega de coisa, quando

apoiada em título executivo judicial, está disciplinada no art. 461-A, caput (coisa

certa) e no art. 461-A, § 1º (coisa incerta) do Código de Processo Civil; já quando

apoiada em título executivo extrajudicial, está disciplinada nos arts. 621 a 628 (coisa

certa) e nos arts. 629 a 631 (coisa incerta) do mesmo codex.

Ao depois, bem compreendidos os aspectos gerais

relativos a execução para a entrega de coisa, imperativo se faz, agora, comentar das

execuções das obrigações de fazer ou não fazer.

As obrigações de fazer são típicas obrigações positivas,

porquanto se concretizam por meio de um ato do devedor. A res debita corresponde

normalmente a prestação de trabalho, que pode ser físico, intelectual ou artístico.

Pode também assumir maior sofisticação, como no caso de promessa de contratar,

cuja prestação não se resume a colocar a assinatura num instrumento; mas engloba

toda a operação técnica da realização de um negócio jurídico (um contrato)92.

90 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 565. 91 Op cite, p. 206. 92 Op cite, p. 547.

23

As obrigações de não fazer são tipicamente negativas, já

que por seu intermédio o devedor obriga-se a uma abstenção, devendo manter-se

numa situação omissiva (um non facere)93.

Na espécie, é pela inércia que se satisfaz a prestação

devida. Acaso fizer o que se obrigou a não fazer, a obrigação estará

irremediavelmente inadimplida. A execução forçada, no caso, não se endereça a

realizar a prestação devida, mas a desfazer aquilo que indevidamente se fez, e, não

sendo possível, converte-se em reparação de perdas e danos94.

Com a nova redação do art. 632 do Código de Processo

Civil, outorgada pela Lei 8.953/94, a execução das obrigações de fazer ou não fazer

passou a ser cabível tanto para os títulos judiciais como para os extrajudiciais95.

O início do procedimento executivo, no caso de título

extrajudicial, será sempre através da citação do devedor para que cumpra a

obrigação em determinado prazo, seja realizando a obra ou fato, nas prestações

positivas (art. 632 do Código de Processo Civil), seja desfazendo-os, nas negativas

(art. 642 do Código de Processo Civil)96.

De outro vértice, se o título for judicial, o cumprimento da

condenação não segue o rito em apreço, mas o do art. 461 do Código de Processo

Civil (arts. 644 e 475-I, com a redação da Lei 11.232/05)97.

Apenas depois de verificado em juízo o não cumprimento

voluntário da obrigação, é que terão lugar os atos judiciais de execução

propriamente ditos. Ultrapassadas as breves considerações acerca da execução das

obrigações de fazer ou não fazer, resta, em seqüência, como dantes anunciado,

examinar, ainda que de forma perfunctória, a execução de prestação alimentícia.

93 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença , p. 547. 94 Op cite, p. 547. 95 Op cite, p. 223. 96 Op cite, p. 223. 97 Op cite, p. 223.

24

Os alimentos devem ser compreendidos como os valores

devidos para a subsistência e as necessidades básicas de alguém sem condições,

por si próprio, de garanti-las (arts. 1694, § 1º, e 1.695 do Código Civil)98.

A cabeça do art. 1.694 do Código Civil inclui na obrigação

alimentar o que for necessário para “viver de modo compatível com a sua condição

social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”99.

Também o § 1º-A do art. 100 da Constituição Federal, ao

cuidar dos chamados precatórios alimentares, refere-se aos débitos alimentares de

maneira bastante significativa como “aqueles decorrentes de salários, vencimentos,

proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e

indenizações por morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil”100.

Dada a relevância do crédito por alimentos e as

particularidades das prestações a ele relativas, o Código de Processo Civil

acrescenta ao procedimento comum algumas medidas tendentes a tornar mais

pronta a execução e a atender certos requisitos da obrigação alimentícia.

A primeira delas refere-se à possibilidade de recair a

penhora em dinheiro, caso em que o oferecimento de embargos não obsta a que o

exeqüente levante mensalmente a importância da prestação (art. 732, parágrafo

único), o que será feito independentemente de caução. Outras são a hipótese de

prisão civil do devedor e o desconto da pensão em folhas de pagamento, o que,

invariavelmente, importa certas alterações de procedimento101.

A execução de prestação alimentícia é matéria

regulamentada, em princípio, nos arts. 732 à 735 do Código de Processo Civil102.

Em princípio porque, como doravante ficará demonstrado, existe divergência na

doutrina a respeito do procedimento executivo. Vejamos.

98 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional

executiva. 2009. p. 366. 99 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito . 2008. p. 231. 100 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional

executiva. 2009. p. 366. 101 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 392. 102 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito . 2008. p. 318.

25

O Código de Processo Civil abre ao credor de alimentos

duas vias executivas: a) a de execução comum de obrigação de quantia certa (art.

732); e b) a da execução especial, sem penhora e com sujeição do executado

inadimplente a prisão civil (art. 733)103.

Para Gonçalves104:

No primeiro caso, o procedimento será o do cumprimento de sentença da Lei n. 11.232/2005. Em um primeiro momento, seria de supor que a execução de sentença condenatória em pensão alimentícia seguiria o processo da execução por título extrajudicial, formando um processo autônomo. A essa conclusão levaria a interpretação literal do art. 732, não atingido pela reforma da Lei n. 11.232/2005, que remete ao Capítulo IV do Título II do Livro II do CPC, isto é, ao processo de execução por quantia certa contra devedor solvente tratado nos arts. 646 e s. Mas uma interpretação teleológica leva a outra conclusão. A sentença de alimentos é título executivo judicial. Não há nenhuma peculiaridade na sua execução que justifique a adoção do procedimento da execução de títulos extrajudiciais, se a sentença é título judicial. Ao contrário, os alimentos são de ordem tal que exigem presteza e agilidade do procedimento. Não há razão para que a execução de sentenças condenatórias de dívidas comuns seja mais ágil do que a da pensão alimentícia, que não é em nada incompatível com o sistema da Lei n. 11.232/2005.

E, continua o mesmo autor105:

Quando o credor optar por promover a execução com fulcro no art. 733, haverá algumas peculiaridades. [...] A necessidade de citação é indispensável, porque haverá um processo autônomo. Esse regime especial de execução tem por objeto prestação de alimentos, mas não os decorrentes de atos ilícitos. Os únicos que podem ser executados na forma do art. 733 são aqueles que têm origem no direito de família, não no direito das obrigações. Devem alimentos uns aos outros os cônjuges, os companheiros e os parentes, só eles podem cobrar o que lhes é devido, sob pena de prisão.

Já na visão de Theodoro Júnior106, tem-se que:

103 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 392. 104 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e

processo cautelar. 2009. p. 229 e 230. 105 Op cite, p. 230. 106 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de execução e cumprimento de sentença . p. 392 e

393.

26

Na hipótese do art. 732 a execução de sentença deve processar-se nos moldes do disposto no Capítulo IV do Título II do Livro II do Código de Processo Civil, onde se acha disciplinada a “execução por quantia certa contra devedor solvente” (arts. 646 a 724), cuja instauração se dá por meio de citação do devedor para pagar em 3 dias (art. 652, caput), sob pena de sofrer penhora (idem, § 1º). Como a Lei nº 11.232/2005 não alterou o art. 732 do CPC, continua prevalecendo nas ações de alimentos o primitivo sistema dual, em que acertamento e execução forçada reclamam o sucessivo manejo de duas ações separadas e autônomas; uma para condenar o devedor a prestar alimentos e outra para forçá-lo a cumprir a condenação. A segunda via executiva à disposição do credor de alimentos também não escapa do sistema dual. A redação inalterada do art. 733 determina, expressamente, que na execução de sentença que fixa a pensão alimentícia, “o juiz mandará citar o devedor para, em três duas (sic), efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo”.

Tirante as divergências doutrinárias, para o

desenvolvimento do presente, não se irá aqui aprofundar o tema, de vez que não é

este o foco do vertente trabalho de monografia.

Com efeito, analisado essa breve explanação sobre a

execução civil, pode-se constatar que a legislação brasileira admite o parcelamento

forçada da dívida apenas na espécie de execução por quantia certa.

Dessa forma, observados os aspectos gerais acerca da

execução para entrega de coisa, de obrigação de fazer ou não fazer e prestação

alimentícia, resta, por derradeiro, examinar a execução por quantia certa contra

devedor solvente, assunto este que analisado pelo Capítulo 2 do presente estudo.

Capítulo 2

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

O estudo da execução civil no ordenamento jurídico

realizado no primeiro capítulo, demonstra a admissão do parcelamento compulsório

da dívida na espécie de execução por quantia certa contra devedor solvente.

Destarte, mister se faz antes de estudarmos os pressupostos e requisitos do

parcelamento da dívida, avaliarmos a definição, requisitos, procedimento desta

espécie de execução nas vias executivas do processo de execução, bem como no

cumprimento da sentença, abordados no presente capítulo.

2.1 DEFINIÇÃO

Com o advento das alterações no Código de Processo

Civil em razão das Leis Federais 11.232 de 2005 e 11.382 de 2006, a legislação

processual, outrora protetora do executado, passou a salvaguardar o cumprimento

da execução, priorizando o exeqüente e seu direito de crédito.

Assim, a execução por quantia certa contra devedor

solvente constitui um meio de expropriar os bens do devedor, a fim de resguardar o

direito do credor de receber o que lhe era devido. A esse respeito, Santos107 dispõe:

[...] A outra forma de execução prevista é a que se faz para recebimento de quantia certa, a cuja prestação está obrigado o devedor. O dinheiro é o mais fungível dos bens. Representado pela moeda, tem curso oficial, e seu valor tem equivalência que permite sua troca por bens também avaliáveis patrimonialmente. Se o devedor se obriga a pagar a quantia determinada e não o faz, o credor adquire o direito de receber forçosamente. Como, porém, o objeto da dívida é dinheiro, na execução o credor não pode pretender, de imediato, o recebimento de bem determinado do patrimônio do devedor, cujo valor tenha equivalência com a dívida.

107 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e

processo cautelar. 11 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 117.

28

Sendo assim, o objeto inicial da execução é o dinheiro,

sendo que a agressão ao patrimônio de quem lhe deve, deverá ser transformado em

dinheiro. Acerca dos atributos desta execução, ensina Assis108:

Em primeiro lugar, o ‘certo’ relacionado à quantia equivale a líquido. Explica Pontes de Miranda: ‘A dívida é certa, de quantia líquida’. Considerando a clássica lição de Carnelutti quanto aos caracteres do título (retro, 25), a ‘quantia certa’ aludida no texto respeita ao objeto ou à liquidez da dívida. É ‘certa’ para os efeitos da lei, assim, a quantia líquida ou determinável, ou seja, identificada através de um algarismo de aceitação geral na ordem econômica [...] Logo, a ‘quantia certa’ se expressa na moeda nacional.

Por conseguinte, necessário que se diferencie o devedor

solvente do devedor insolvente, cujo ensinamento de Theodoro Junior109:

Devedor solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do que o passivo. Mas, para efeito da adoção do rito processual em questão só é insolvente aquele que já teve sua condição de insolvência declarada por sentença, de maneira que, na prática, um devedor pode ser acionado sob o rito de execução do solvente, quando na realidade já não o é. A insolvência não se decreta ex officio e o credor não está forçado a propor a execução concursal podendo, a seu critério, preferir a execução singular, mesmo que o devedor seja patrimonialmente deficitário. A execução por quantia certa contra o devedor dito solvente consiste em expropriar-lhe tantos bens quantos necessários para a satisfação do credor.

Com efeito, o CPC110 dispõe:

Art. 646. A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).

Art. 647. A expropriação consiste:

I – na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A desta Lei;

II – na alienação por iniciativa particular;

108 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed.rev. ampl. e atual. com a Reforma Processual –

2006/2007. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 573. 109 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 266. 110 BRASIL. Código de Processo Civil . Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

29

III – na alienação em hasta pública;

IV – no usufruto de bem móvel ou imóvel.

Assim, uma vez definida a forma de execução ora

estudada, passa-se, então, a examinar os requisitos que se impõem para a

realização da execução por quantia certa contra devedor solvente.

2.2 REQUISITOS

Haja vista tratar-se de uma ação, a execução por quantia

certa contra devedor solvente deve preencher os requisitos previstos no artigo 282 e

seguintes do CPC, iniciando-se com uma petição inicial executiva de forma a

tramitar até a sentença.

Leciona Wambier111 a esse respeito que:

Aplicam-se à inicial executiva os requisitos genéricos da petição inicial (art. 282) que sejam compatíveis com a execução (art. 598). Vez que através dela apenas se pede a aplicação da sanção já autorizada no título, bastará, normalmente, peça sucinta e simples, mas que, nem por isso, pode deixar de ser elaborada adequadamente sob pena de irregularidade ou inépcia (arts. 284 e 295, parágrafo único; art. 616).

Além disso, conforme se observou no Primeiro Capítulo

do presente trabalho, os requisitos para a realização de toda e qualquer execução

constam do artigo 580 do CPC, os quais devem ser devidamente preenchidos.

Portanto, para a propositura da referida execução, o

exeqüente deve ser possuidor de um título executivo condenatório líquido, certo e

exigível que sinalize a existência de uma obrigação a ser adimplida pelo executado,

observando-se, ainda, o estado de solvência do devedor, vez que a referida

execução se direciona ao devedor solvente.

A execução por quantia certa admite distinção de

processos “em virtude da solvência ou insolvência do devedor. Sendo o devedor

111 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 151.

30

solvente (ou seja, havendo bens em valor suficiente para responder pela dívida), o

rito aplicável é o do art. 646 e seguintes (execução por quantia certa contra devedor

solvente).112

Impende observar, ainda, o disposto no artigo 614 do

CPC em vigência, o qual preceitua que:

Art. 614 . Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial: I – com o título executivo extrajudicial; II – com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa; III – com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo (art.572).

Consubstanciando o retro-exposto, colaciona-se a lição

de Theodoro Júnior113, que afirma não existir no processo civil, execução ex officio,

de modo que a prestação jurisdicional executiva sempre terá que ser provocada pelo

credor, isso ocorrerá por petição inicial (art. 282 do CPC). Quanto ao pedido,

apresenta-se ele com duplo objetivo, ou seja, a postulação da medida executiva e da

citação do devedor, além do que a inicial será sempre instruída com o demonstrativo

do débito atualizado até a data da propositura da ação. Devendo a memória de

cálculo ser analítica, detalhando todos os acessórios e acréscimos computados.

Nesta seara, corrobora Wambier114 que:

Deverá haver menção precisa ao título que embasa o crédito – o qual acompanhará a inicial, exceto no caso de estar sendo executada sentença que já se encontra nos autos (art. 614, I). O título é documento indispensável à propositura da ação (art. 283). Sem sua apresentação, o juiz não pode nem mandar citar o réu. Determinará que o credor apresente o título em dez dias, sob pena de indeferimento da peça inicial (art. 284 e 616) [...] Em suma, a adequada exposição da causa de pedir na execução por quantia certa abrange: (I) a menção e exibição do título executivo; (II) a narrativa e comprovação da exigibilidade do título; (III) a narrativa do inadimplemento do

112 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 141. 113 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 266. 114 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 151.

31

devedor; (IV) o demonstrativo especificado do débito, atualizado até a data da propositura da ação.

Cumpre mencionar, ainda, que o exeqüente tem a

faculdade de indicar bens do executado que poderão ser objeto de penhora, bem

como pode o Juiz, “de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a

qualquer tempo, a intimação do executado para indicar bens passíveis de

penhora”115, na pessoa de seu advogado ou, caso não o tenha, será intimiado

pessoalmente.

Portanto, dispostos os requisitos para a propositura da

execução por quantia certa contra devedor solvente, passará a ser discorrido o

procedimento concernente a esta execução.

2.3 PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONT RA

DEVEDOR SOLVENTE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Devidamente instruída e acolhida a petição inicial da ação

de execução por quantia certa contra devedor solvente, inicia-se o competente

Processo de Execução, o qual se desenrola num procedimento peculiar.

Após o acolhimento da inicial, o Juiz, de plano, fixa os

honorários advocatícios a serem pagos pelo executado, nos termos do artigo 20, §

4º, do Código de Processo Civil. Em seguida, providencia a expedição do mandado

executivo, que consiste na ordem de citação do devedor para que este, em três dias,

efetue o pagamento da dívida, conforme preceitua o caput do art. 652 do CPC.

Tal citação, ainda que conceda ao executado a

possibilidade de ofertar embargos, conforme se verá adiante, “[...] não se presta a

dar oportunidade para o réu apresentar defesa. Serve apenas para dar uma última

chance para que o devedor cumpra voluntariamente a obrigação ou indique bens

sobre o qual pretende que recaia a execução”.116

115 BRASIL. Código de Processo Civil . Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, § 3º do artigo 652. 116 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 151.

32

Neste diapasão, elucida Assis117:

O chamamento, quando cabível, não se destina, propriamente, a ensejar defesa ao executado. Ele assina, ordinariamente, o prazo de três dias, no qual se concebem três atitudes do devedor: a) cumprir a obrigação; b) questionar os pressupostos processuais e demais requisitos de admissibilidade da ação executiva e, assim, provocar a extinção prematura da execução, evitando a constrição de bens; c) ficar inerte. Da citação fluirá outro prazo, mas de quinze dias, contados da data da juntada do mandado de citação – devolvido só após as diligências arroladas nos §§ 1º, 3º, 4º e 5º do art. 652 -, para o executado opor-se à execução [...] A citação é ato básico quando cabível. Invalidez ou ausência desse ato acarreta, ipso facto, a inexistência dos atos subseqüentes (art. 618, II). Através da citação do executado, atende-se ao direito fundamental do contraditório, conquanto limitado.

Assim, a citação na ação de execução pode se dar

através de oficial de justiça, por edital e até por hora certa, de forma a afastar-se a

citação por correio. Observe-se que a citação por meio eletrônico, introduzida pela

Lei nº. 11.419/2006, dependerá da progressiva implantação do processo respectivo

na expropriação comum.

2.3.1 PRÉ-PENHORA

Efetuada a citação, se o executado realizar o pagamento

de sua dívida de forma espontânea, ocorre a quitação da mesma. Entretanto, na

hipótese do oficial de justiça não conseguir localizar o devedor, porém tendo

encontrado bens penhoráveis, o art. 653 do CPC prevê a possibilidade de o primeiro

arrestar tantos bens do devedor quantos bastem para garantir a referida execução,

consistindo tal ato em medida tomada ex officio pelo próprio oficial de justiça.

Tal arresto se configura, em verdade, numa “pré-

penhora”, visto que o procedimento usual seria citar o devedor antes e, na hipótese

deste não efetuar o pagamento de sua obrigação, proceder à penhora.

Todavia, “não sendo localizado o devedor, não seria justo

para o credor, nem racional, que não se separassem, desde logo, bens para

117 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 579.

33

responder diretamente pela execução”118. O arresto funciona, neste caso, como

meio de se evitar que a não localização do executado obstrua o andamento normal

da execução. Preceitua o art. 653 do CPC que, uma vez arrestados os bens do

devedor, o oficial de justiça deve insistir na tentativa de citar o executado,

procurando-o por três vezes em dias distintos, no decorrer dos dez dias seguintes à

pré-penhora, para só então devolver o mandado executivo.

Por conseguinte, sendo o exeqüente intimado acerca do

arresto em questão, compete-lhe, em dez dias, requerer a citação por edital do

executado, conforme o estipulado no art. 654 do CPC. Findo o prazo da citação

editalícia, o executado terá três dias para efetuar o pagamento da dívida ou nomear

outros bens à penhora, sob pena de o arresto se converter em penhora. Caso o

executado não compareça aos autos, o Magistrado nomeará um curador especial,

nos termos do art. 9º do CPC.

Wambier119 salienta que parte da doutrina considera o

arresto previsto no art. 653 uma medida cautelar dentro do processo de execução,

cuja natureza seria consoante às providências cautelares disciplinadas no Livro III

do Código. Porém, o mesmo doutrinador revela que o entendimento majoritário da

doutrina rejeita tal proposição, visto que a medida do art. 653 não se submete aos

requisitos da tutela cautelar (fumus boni iuris e periculum in mora). Seus requisitos

são bastante singelos: sendo o primeiro a não localização do devedor pelo oficial de

justiça e segundo o oficial de justiça encontrar bens penhoráveis.

Por fim, Assis120 aponta que a finalidade da “pré-penhora”

é “apreender desde logo os bens aptos à satisfação do crédito, nos limites

determinados pelo art. 659, se e enquanto a ausência do executado impedir sua

citação”.

Uma vez cumprida a citação e não sendo necessária a

“pré-penhora” até então analisada, Theodoro Júnior assevera que se completa a

“relação processual trilateral ‘credor-juiz-devedor’ e fica o órgão executivo 118 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 156. 119 Op Cite, p. 156. 120 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 585

34

aparelhado para iniciar a expropriação através do primeiro ato de agressão contra o

patrimônio do devedor que é a penhora”.121

2.3.2 PENHORA

A penhora consiste, na execução por quantia certa contra

devedor solvente, no primeiro ato de expropriação. Nesse sentido, Theodoro

Júnior122 aduz que:

[...] no processo executivo de quantia certa há um ato inicial destinado a definir o bem do devedor que irá se submeter à expropriação judicial para realização da sanção, que, no caso, é o serviço público desempenhado pelo órgão judicial. Esse ato fundamental do processo executivo de que estamos cuidando é a penhora. É a penhora, ad instar da declaração de utilidade pública, o primeiro ato por meio do qual o Estado põe em prática o processo de expropriação executiva. Tem ela a função de individualizar o bem, ou os bens, sobre os quais o ofício executivo deverá atuar para dar satisfação ao credor e submetê-lo materialmente à transferência coativa, como anota Micheli. É, em síntese, o primeiro ato executivo e coativo do processo de execução por quantia certa. Com esse ato inicial de expropriação, a responsabilidade patrimonial, que era genérica, até então, sofre um processo de individualização, mediante apreensão física, direta ou indireta, de uma parte determinada e específica do patrimônio do devedor.

Para Assis 123:

[...] a penhora constitui ‘ato específico de intromissão do Estado na esfera jurídica’ do obrigado, ‘mediante a apreensão material, direta ou indireta, de bens constantes no patrimônio do devedor’. A penhora é o ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário ineficazes em face do processo.

Portanto, no processo de execução de quantia certa

contra devedor solvente, a penhora se constitui no primeiro ato de intromissão do

Estado na esfera jurídica do obrigado, para apreender, material, direta ou

indiretamente os bens do patrimônio do devedor.

121 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 267. 122 Op cite, p. 270. 123 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 591.

35

Nesse norte, é importante diferenciar os bens que podem

ser penhorados daqueles que não podem, os chamados ‘bens impenhoráveis’, o que

se verá no tópico a seguir.

2.3.2.1 Bens Penhoráveis e Impenhoráveis

Os bens que podem ser penhorados são aqueles que

podem ser alienados, bem como o direito que poderá ser penhorado é o que pode

ser cedido. Os bens impenhoráveis estão previsto no art. 649124 do CPC.

Em relação a essa impenhorabilidade, Santos125

estabelece que:

A impenhorabilidade pode decorrer da natureza do próprio direito, ou de sua situação relativamente ao executado, como ocorre com os bens que estão previstos nos arts. 649 e 650. O direito de usufruto não é penhorável, já que há restrição à sua alienação (CC/2002, art. 1.393). O seu exercício, isto é, a percepção de frutos, pode ser cedido; em conseqüência, poderá haver penhora sobre referidos frutos, inclusive dos ainda não percebidos ou colhidos.

Assim, conforme disposto acima, a impenhorabilidade

pode decorrer da natureza do próprio direito. Em conformidade com os arts. 650 e

651 do CPC, observa-se:

124 Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato

voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança. XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político.

125 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e processo cautelar. 11 ed. p. 117.

36

Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia.

Art. 651. Antes de adjudicados ou alienados os bens, pode o executado, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios.

Dessa forma, uma vez tomado conhecimento acerca dos

bens que não são passíveis de penhora, prossegue-se à análise da ordem de

preferência dos bens que são penhoráveis.

2.3.2.2 Ordem de Preferência da Penhora

Quanto à nomeação de bens à penhora efetuada pelo

executado, a mesma obedece uma ordem de preferência.

Conforme o Código de Processo Civil, a penhora deverá

sempre obedecer uma ordem lógica.

Nesse sentido, a ordem está prevista no art. 655126 do

CPC. No que tange à penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira,

cumpre mencionar uma inovação proveniente da Lei 11.383 de 2006, a qual se faz

notar no artigo 655-A do CPC. Trata-se da penhora on line, que ocorre quando o

Magistrado, a requerimento do exeqüente, requisita à autoridade supervisora do

sistema bancário, preferencialmente através do meio eletrônico, informações sobre a

existência de ativos em nome do executado, de forma a ser possível a

indisponibilidade do valor indicado na execução.

Observe-se que as informações prestadas pela

autoridade do sistema bancário (através do sistema denominado “Bacen-Jud”)

126 Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou

em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via terrestre; III - bens móveis em geral; IV - bens imóveis; V - navios e aeronaves; VI - ações e quotas de sociedades empresárias; VII - percentual do faturamento de empresa devedora; VIII - pedras e metais preciosos; IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; XI - outros direitos. § 1º Na execução de crédito com garantia hipotecária, pignoratícia ou anticrética, a penhora recairá, preferencialmente, sobre a coisa dada em garantia; se a coisa pertencer a terceiro garantidor, será também esse intimado da penhora. § 2º Recaindo a penhora em bens imóveis, será intimado também o cônjuge do executado.

37

limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na

execução, competindo ao executado “comprovar que as quantias depositadas em

conta corrente referem-se à hipótese do artigo IV do caput do art. 649 desta Lei ou

que estão revestidas de outra forma de impenhorabilidade”127.

A esse respeito, colhe-se da Jurisprudência do Tribunal

de Justiça do Distrito Federal128:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO – PENHORA – BLOQUEIO ON LINE PELO SISTEMA BACENJUD – CONTA-SALÁRIO – VEDAÇÃO DE BLOQUEIO SOBRE OS VALORES DEPOSITADOS DE ACORDO COM O INCISO IV DO CAPUT DP ART. 649 DO CPC – INTELIGÊNCIA DO ART. 655-A, § 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Demonstrado que o bloqueio judicial on line recai sobre as quantias depositadas na conta corrente que se referem à hipótese do inciso IV do art. 649 do CPC, impõe-se a liberação imediata da integralidade do valor constrito. (TJDF AGRI nº. 2008.0020004501 –13/03/2008).

Sendo assim, a penhora on line, é aceita no atual

contexto processualístico, entretanto, deve recair sobre aqueles bens que podem ser

penhorados, caso comprove-se que os valores penhorados encontram-se disposição

no art. 649 do CPC, deverão os mesmos serem devolvidos a parte prejudicada.

É lícito à parte requerer a substituição da penhora nas

hipóteses listadas no art. 656 do CPC, quais sejam:

Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora: I - se não obedecer à ordem legal; II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei.

127 BRASIL. Código de Processo Civil . Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. 128 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Agravo de Instrumento nº. 2008.0020004501 .

Rel. des. Natanael Caetano – 13/03/2008.

38

§ 1o É dever do executado (art. 600), no prazo fixado pelo juiz, indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora (art. 14, parágrafo único). § 2o A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento). § 3o O executado somente poderá oferecer bem imóvel em substituição caso o requeira com a expressa anuência do cônjuge.

Assis129 assinala que o referido artigo não fixa prazo para

o exeqüente requerer a substituição do bem penhorado. Assim, a substituição pode

ocorrer tão logo tome conhecimento da penhora ou sem oportunidade ulterior.

O executado, a seu turno, tem o prazo de dez dias para

requerer a substituição do bem penhorado, conforme disposto no artigo 668 do CPC,

desde que comprove cabalmente que a substituição não trará prejuízo algum ao

exeqüente. Nessa direção, caberá ao executado, em relação ao bens imóveis,

indicar as respectivas matrículas e registros, situá-los e mencionar as divisas e

confrontações; em relação aos móveis, particularizar o estado e o lugar em que se

encontram; em relação aos semoventes, especificá-los, indicando o número de

cabeças e o imóvel em que se encontram; relativamente aos créditos, identificar o

devedor e qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título que a representa e a

data do vencimento; e por fim, atribuir valor aos bens indicados à penhora.

Não é demais asseverar que tais hipóteses somente se

confirmam se devidamente justificadas pelo executado, a fim de não prejudicar o

exeqüente.

2.3.2.3 Do Depósito e demais Atos Decorrentes da Pe nhora

Conforme Santos130, a penhora “consiste na apreensão,

pelo juízo, de bens que vão responder pela execução, mas ela só se considera

efetivamente feita, quando se tratar de coisa, com o depósito (art. 664)”. Assim,

129 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 591. 130 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e

processo cautelar. 11 ed. p. 117.

39

entende-se que a penhora sem depósito constitui ato incompleto, sem seus efeitos

específicos.

O depósito, por conseguinte, constitui ato integrante da

penhora, em que alguém se torna responsável pela guarda e conservação dos bens

penhorados, de forma a transferir-lhe a posse (mediata ou imediata) de tais bens.

Há, portanto, “vínculo de direito público entre Estado e depositário, que se

aperfeiçoará no instante em que a nomeação para a função é aceita. A partir de

então, o depositário é auxiliar do juízo [...] passando a desempenhar função pública

[...]”.131

Sobre o depósito dos bens penhorados, o art. 666 do

CPC132 estabelece onde os mesmos serão depositados.

Em relação a isso, manifesta-se Santos133:

Pelo caput do art. 666, em princípio, todo depósito se fazia com o próprio devedor. Com a discordância do credor era que se procedia ao depósito de acordo com a disciplina dos incisos de I a III. Pela nova redação do art. 666, ao proceder à penhora, o oficial de justiça atenderá à ordem de preferência estabelecida nos mesmos incisos [...] Em duas hipóteses, a nova disposição legal estabeleceu a possibilidade de ficarem os bens depositados em poder do executado: quando o exeqüente expressamente anuir, ou nos casos de difícil remoção (§ 1º do art. 666, com a redação da Lei n. 11.382/2006). Ainda que a última parte da norma dê extensa margem de discricionariedade ao juiz, deve-se continuar entendendo que a regulamentação do depósito é ato de pura administração, que ocorre no processo executório, sendo de adotar, portanto, o princípio da maior conveniência e oportunidade (art. 1.109), que informa a jurisdição voluntária. Isso quer significar que o

131 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 180. 132 Art. 666. Os bens penhorados serão preferencialmente depositados: I - no Banco do Brasil, na

Caixa Econômica Federal, ou em um banco, de que o Estado-Membro da União possua mais de metade do capital social integralizado; ou, em falta de tais estabelecimentos de crédito, ou agências suas no lugar, em qualquer estabelecimento de crédito, designado pelo juiz, as quantias em dinheiro, as pedras e os metais preciosos, bem como os papéis de crédito; II - em poder do depositário judicial, os móveis e os imóveis urbanos; III - em mãos de depositário particular, os demais bens. § 1º Com a expressa anuência do exeqüente ou nos casos de difícil remoção, os bens poderão ser depositados em poder do executado. § 2º As jóias, pedras e objetos preciosos deverão ser depositados com registro do valor estimado de resgate. § 3º A prisão de depositário judicial infiel será decretada no próprio processo, independentemente de ação de depósito.

133 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e processo cautelar. 11 ed. p. 149-150.

40

juiz não só está desobrigado de seguir rigorosamente a ordem preferencial da lei (art. 666) como também, embora não concorde expressamente o credor, poderá decidir pelo devedor como depositário da coisa. Injusto seria o desapossamento de uma casa residencial, por exemplo, em razão de simples penhora.

Efetuada a penhora e seu conseqüente depósito, dá-se

prosseguimento ao procedimento da execução através da avalição dos bens

penhorados, cujo objetivo é valorar os referidos bens, servindo como um ato

preparatório à expropriação.

Preceitua o artigo 680 do CPC que a referida avaliação

será efetuada pelo oficial de justiça, ressalvados casos mais complexos em que o

Magistrado designará perito para fazê-lo. A possibilidade de oposição de embargos

à avaliação dos bens penhorados e seus efeitos no processo de execução serão

pormenorizados mais adiante.

É possível, excepcionalmente, que a aconteça a

alienação antecipada dos bens penhorados. É o que prevê o art. 670 do CPC:

Art. 670 . O juiz autorizará a alienação antecipada dos bens penhorados quando: I - sujeitos a deterioração ou depreciação; II - houver manifesta vantagem. Parágrafo único. Quando uma das partes requerer a alienação antecipada dos bens penhorados, o juiz ouvirá sempre a outra antes de decidir.

O dinheiro obtido através desta alienação não será

entregue ao credor, e sim depositado, explica Wambier134: Haverá substituição da

penhora, que antes atingia o bem vendido e, a partir de então, recairá sobre o

dinheiro obtido. A satisfação do credor ocorrerá apenas no final.

Vale lembrar que as hipóteses de ocorrência de uma nova

avaliação, bem como a desnecessidade de avaliação judicial restam dispostas no

art. 683 e seguintes do CPC.

134 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 188.

41

O diploma processual civil prevê como formas de

expropriação a adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no §

2º do artigo 685-A do referido diploma legal, bem como na alienação por iniciativa

particular, alienação em hasta pública ou usufruto de bem moveu ou imóvel.

A adjudicação possui os mesmos efeitos da arrematação,

constituindo um modo de transferir o domínio do primitivo dono para a pessoa que

passa a sucedê-lo.

Dispõe o art. 685-A do CPC a respeito da adjudicação:

Art. 685-A . É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados. § 1o Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente. § 2o Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado. § 3o Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem. § 4o No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios. § 5o Decididas eventuais questões, o juiz mandará lavrar o auto de adjudicação.

A adjudicação é finalizada com a lavratura e assinatura do

auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão e pelo executado, se presente, de

forma a expedir-se a respectiva carta, se bem imóvel, ou mandado de entrega ao

adjudicante, se bem móvel; é o que preceitua o artigo 685-B do referido dispositivo

legal.

Não tendo ocorrido a adjudicação dos bens penhorados,

ocorre a alienação dos referidos bens, que pode se dar por iniciativa de particular ou

através de hasta pública. No primeiro caso, nos termos do artigo 685-C e

parágrafos, o exeqüente poderá requerer que tais bens sejam alienados por

42

iniciativa própria ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade

judiciária.135

Cumpre ao Juiz fixar o prazo em que a alienação deverá

ser efetivada, o preço mínimo, condições de pagamento e garantias, assim como, se

necessário, a comissão de corretagem. A alienação será formalizada através de

termo nos autos, “assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirente e, se for

presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido

registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente”.136

A arrematação, também conhecida como alienação em

hasta pública, constitui ato pelo qual se aliena um bem mediante oferta pública.

Ocorrerá por meio de edital, o qual será afixado no local de costume e publicado

com antecedência mínima de cinco dias, pelo menos uma vez em jornal de

circulação local ampla, devendo, ainda, atender aos requisitos previstos no art. 686

do CPC:

Art. 686. Não requerida a adjudicação e não realizada a alienação particular do bem penhorado, será expedido o edital de hasta pública, que conterá: I - a descrição do bem penhorado, com suas características e, tratando-se de imóvel, a situação e divisas, com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor do bem; III - o lugar onde estiverem os móveis, veículos e semoventes; e, sendo direito e ação, os autos do processo, em que foram penhorados; IV - o dia e a hora de realização da praça, se bem imóvel, ou o local, dia e hora de realização do leilão, se bem móvel; V - menção da existência de ônus, recurso ou causa pendente sobre os bens a serem arrematados; VI - a comunicação de que, se o bem não alcançar lanço superior à importância da avaliação, seguir-se-á, em dia e hora que forem desde logo designados entre os dez e os vinte dias seguintes, a sua alienação pelo maior lanço (art. 692). § 1o No caso do art. 684, II, constará do edital o valor da última cotação anterior à expedição deste. § 2o A praça realizar-se-á no átrio do edifício do Fórum; o leilão, onde estiverem os bens, ou no lugar designado pelo juiz. § 3o Quando o valor dos bens penhorados não exceder 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo vigente na data da

135 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 190. 136 BRASIL. Código de Processo Civil . Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, § 2º, art. 685-C.

43

avaliação, será dispensada a publicação de editais; nesse caso, o preço da arrematação não será inferior ao da avaliação.

A arrematação produzirá efeito mediante o pagamento

imediato do preço pelo arrematante ou mediante caução, no prazo de até quinze

dias. Os arts. 687 e seguintes do CPC tecem demais disposições atinentes à

alienação em hasta pública por meio de praça ou leilão, sendo a mesma

considerada perfeita, acabada e irretratável quando do auto for assinado pelo juiz,

pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro, ainda que venham a ser

julgados procedentes os embargos do executado.

Salienta-se que, em regra, a arrematação será feita

através de leilão público, sendo feita por meio de praça somente quando se tratar de

bens imóveis e aqueles de atribuição de corretores da Bolsa de Valores.

Necessário observar que existe a possibilidade de a

arrematação tornar-se sem efeito em qualquer das hipóteses enumeradas no § 1º do

art. 694 do CPC, a saber:

Art. 694 [...] § 1o A arrematação poderá, no entanto, ser tornada sem efeito: I - por vício de nulidade; II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução; III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de ônus real ou de gravame (art. 686, inciso V) não mencionado no edital; IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (art. 746, §§ 1o e 2o); V - quando realizada por preço vil (art. 692); VI - nos casos previstos neste Código (art. 698).

Realizada a arrematação, encaminha-se a execução para

sua última fase, que consiste no pagamento ao exeqüente da quantia apurada no

referido processo de execução, o qual passa a ser discorrido a seguir.

44

2.3.2.4 Do Pagamento ao Credor

O pagamento ao credor se dará através da entrega do

dinheiro ao mesmo, pela adjudicação dos bens penhorados ou pelo usufruto de bem

imóvel ou da empresa. Nessa direção Assis137 ensina que:

O levantamento de dinheiro contemplado no art. 709 do CPC, que é o fecho usual da expropriação, se subordina a certos pressupostos: a) existência de moeda corrente nacional, independente de sua origem (além do produto da alienação e do depósito para garantir o juízo, o valor do resgate das jóias, conforme o art. 666, § 2º, e assim por diante); b) o caráter definitivo da execução, caso em que não depende de caução, e, na execução provisória, a prestação de garantia, ressalva feita às hipóteses do art. 745-O, § 2º. [...] Preenchidos aqueles requisitos cumulativos, o levantamento ocorrerá sic et simpliciter, através de ‘mandado de levantamento’, consoante reza o art. 709, parágrafo único, autorizado o credor, pessoalmente, ou seu advogado, caso em que deverá exibir poderes para dar e receber quitação (art. 38), a apanhar a importância junto à instituição financeira, que a mantém sob custódia [...] Dependendo do valor recebido, a quitação poderá ser total ou parcial. Em qualquer hipótese, mesmo com a aceitação do pagamento incompleto ou inexato, pelo credor, ‘não preclui seu direito de exigir que se complete ou se aperfeiçoe’.

Outrossim, existe a possibilidade de realização do

pagamento ao exeqüente através de usufruto de bem móvel ou imóvel. Em

conformidade com os arts. 716 e seguintes do CPC, a critério do juiz, pode o mesmo

conceder ao credor tal forma de pagamento por considerá-la menos gravosa ao

executado e eficiente para a quitação do crédito.

Assinala Wambier138 acerca desta forma de pagamento:

Define-se usufruto executivo como o ato pelo qual, dentro da execução, concede-se ao credor direito real limitado e temporário sobre a empresa ou imóvel penhorado, a fim de que receba seu crédito através das rendas geradas pelo bem.

Uma vez concedendo-se o usufruto de bem imóvel, reza o

§ 1º do art. 722, o juiz ordenará a expedição de carta para averbação no respectivo

137 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 779. 138 WAMBIER, Luis Rodrigues. Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de

execução. 7 ed. p. 215.

45

registro, devendo a mesma conter a identificação do imóvel e cópias do laudo e da

decisão.

O presente tópico tratou, em síntese, do procedimento da

execução por quantia certa contra devedor solvente no Processo de Execução,

passando a tratar-se, por conseguinte, da referida forma de execução no

cumprimento da sentença.

2.4 PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONT RA

DEVEDOR SOLVENTE NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

No tópico acima, tratou-se da execução por quantia certa

embasada em título executivo extrajudicial, a qual tramita diretamente através de um

processo de execução, por meio de uma ação executiva autônoma.

Quando se tratar, por conseguinte, de execução por

quantia certa contra devedor solvente prevista em título judicial, a satisfação se dará

por meio de cumprimento de sentença, nos termos do art. 475-J do CPC.

O cumprimento de sentença constitui um incidente

processual, competindo ao credor requerer a medida através de petição formulada

no processo em que a condenação foi proferida, “a qual será instruída com o

demonstrativo do débito atualizado (art. 614, II), e, se for o caso, com o comprovante

de que já ocorreu a condição ou termo, se tais elementos foram previstos na

sentença”.139

2.4.1 PREVISÃO DE MULTA

O art. 475-J do diploma processual civil brasileiro prevê

multa no percentual de 10% sobre o montante da condenação caso o devedor não

efetue o pagamento voluntário da quantia certa ou já fixada em liquidação no tempo

hábil, ou seja, nos quinze dias subseqüentes à sentença.

139 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 50.

46

Na hipótese do credor não requerer tal execução no prazo

de seis meses contados da sentença exeqüível, os autos serão arquivados, todavia

sem prejudicar o direito do mesmo, vez que tem o direito de promover o

desarquivamento do feito a qualquer tempo e dar início ao procedimento de

cumprimento forçado da condenação.140

Restando inerte o credor, o devedor pode tomar a

iniciativa de calcular o montante da condenação, depositando-o em juízo, a fim de

evitar a multa legal e eximir-se da obrigação.

2.4.2 PROCEDIMENTO EXECUTIVO

No procedimento executivo de cumprimento de sentença,

o prazo para cumprimento voluntário independe de citação ou intimação do credor.

Para Theodoro Júnior141:

A própria sentença (de condenação ou de liquidação) implica a abertura dos 15 dias legais para pagamento do valor da condenação. Naturalmente, se ocorre interposição de recurso com efeito suspensivo, o prazo deixa de fluir. Somente depois de substituída a decisão recorrida pela que for proferida pelo órgão recursal (art. 512) é que correrão os quinze dias previstos pelo art. 475-J. Passado in albis o prazo de pagamento sem que o devedor o tenha realizado, o credor requererá, em petição simples, a expedição do mandado de cumprimento forçado da condenação, que se destinará a penhorar e avaliar os bens a serem expropriados para satisfação do crédito constante da sentença.

Assim, o credor tem a faculdade de indicar, em seu

requerimento, os bens a serem penhorados, a fim de que se facilite a penhora; é o

que prevê o § 3º do art. 475-J do CPC. Todavia, tal faculdade não impede o devedor

de obter a substituição da penhora quando as hipóteses do artigo 656 do mesmo

diploma legal restarem configuradas.

A intimação do executado será feita na pessoa de seu

advogado quando lavrado o auto de penhora e avaliação pelo oficial de justiça, após

140 BRASIL. Código de Processo Civil . Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, § 5º, art. 475-J. 141 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 53.

47

juntada aos autos. “Não havendo advogado do devedor nos autos, a intimação far-

se-á pessoalmente à parte ou seu representante legal, por mandado ou pelo

correio”.142

Haverá nomeação de avaliador pelo juiz na hipótese

prevista no § 2º do art. 475-J da lei processual civil, ou seja, quando a avaliação

depender de conhecimentos especializados que o oficial de justiça não detenha.

Nesta senda, o executado será intimado da penhora e avaliação, possuindo quinze

dias para oferecer impugnação, nos termos do § 1º do art. 475-J do mesmo diploma

legal. As características de tal impugnação serão analisadas no tópico seguinte.

Em conformidade com o artigo 475-R do CPC, resolvida a

impugnação do devedor através de decisão interlocutória, os atos finais

concernentes à expropriação dos bens penhorados e posterior satisfação do direito

do exeqüente seguem a ordem procedimental e regras da execução dos títulos

extrajudiciais, as quais restaram elucidadas no tópico/item anterior.

2.5 EMBARGOS E IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO POR QUANTIA CE RTA

Quanto à possível oposição do devedor a execução

forçada, assim como a legislação brasileira prevê, como visto alhures,

procedimentos distintos para os títulos executivos judiciais e extrajudiciais, a

oposição proposta pelo devedor seguirá também de forma distinta, processando-se

através dos embargos a execução para o processo de execução, e através da

impugnação a execução para o cumprimento da sentença, estudados, em linhas

gerais abaixo.

2.5.1 EMBARGOS NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE COM

BASE EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL

A resposta do executado neste tipo de execução constitui-

se nos Embargos do Devedor. Os mesmos encontram-se previstos no art. 736 e

seguintes do CPC, independendo de penhora, depósito ou caução por parte do

devedor.

142 Op Cite, p. 53.

48

Tais embargos serão distribuídos por dependência,

autuados em apartado, e instruídos com cópias das peças processuais que

apresentem relevância. O prazo para oferecimento deste meio de defesa é de 15

dias contados da citação, conforme preceitua o caput do artigo 738 do CPC.

Neste sentido, enfatiza Assis143 que:

O prazo para o executado oferecer embargos é de quinze dias (art. 738, caput, na redação da Lei 11.382/2006). Este interstício permanece imutável na hipótese de os embargos visarem impedir a instauração do concurso civil (art. 755, caput). Porém, nos embargos à adjudicação e à alienação coativa, o legislador reduziu o prazo para cinco dias (art. 746, caput).

Aos embargos do executado não se aplica o disposto no

artigo 191 do CPC, ou seja, em se tratando de litisconsortes com procuradores

distintos, não haverá prazo em dobro.

No tocante ao recebimento dos mesmos, o juiz poderá

rejeitar liminarmente os embargos quando intempestivos; quando inepta a petição

(art. 295); ou quando manifestamente protelatórios, conforme as previsões

elencadas no art. 739 do CPC. Na incidência da hipótese do inciso III supra

mencionado, o Juiz imporá multa ao embargante (executado) em favor do

embargado (exeqüente) em valor não superior a 20% (vinte por cento) do valor em

execução.

Consoante a disposição do art. 745 do CPC, os referidos

embargos poderão versar sobre nulidade da execução, por não ser executivo o título

apresentado; penhora incorreta ou avaliação errônea; excesso de execução ou

cumulação indevida de execuções; retenção por benfeitorias necessárias ou úteis,

nos casos de título para entrega de coisa certa, ou ainda sobre qualquer matéria que

lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

Os embargos do executado, nos termos do art. 739-A do

CPC, não terão, em regra, efeito suspensivo. Todavia, poderá o Magistrado atribuir

este efeito aos embargos a requerimento do embargante (neste caso, o devedor)

143 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 1124.

49

quando, relevantes seus fundamentos, o andamento da execução possa,

manifestamente, lhe causar grave dano de difícil ou incerta reparação. Outro

requisito para que se atribua efeito suspensivo aos embargos do executado é que a

execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

Há que se ressaltar que a concessão de efeito suspensivo

aos embargos não impedirá a efetivação dos atos de penhora e avaliação dos bens.

Uma vez recebidos os embargos, o exeqüente (embargado) será ouvido no prazo de

quinze dias, sendo que o Magistrado deve julgar o pedido imediatamente ou

designar audiência de conciliação, instrução e julgamento, prolatando, então, a

sentença no prazo de dez dias.

2.5.2 IMPUGNAÇÃO NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE NO

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

A impugnação é a forma de defesa do executado mais

utilizada no procedimento do cumprimento de sentença, ainda que existam outros

mecanismos dos quais o devedor possa fazer uso para reagir à execução, como a

exceção de pré-executividade, por exemplo.

No entanto, tendo em vista que o objeto do presente

tópico se restringe à impugnação e suas peculiaridades, somente dela tratar-se-á a

partir de então. Leciona Assis144:

Decorre de elementar senso comum a conveniência de a ordem jurídica instituir mecanismos para o executado reagir contra a execução que se desenvolva injusta ou ilegalmente. O estado de sujeição a que a eficácia do título executivo submete o executado, porque vencido e condenado, não o coloca sob completo desamparo. Sempre haverá situações em que a atividade executiva se desvia de sua rota e da legalidade estrita, não raramente em decorrência de ato praticado pelo seu executor material, o oficial de justiça (art. 577), ou a pretensão a executar constante do título desapareceu por motivos supervenientes [...]

Para tanto, objetivando manter o contraditório e cumprir o

devido processo legal, a legislação processual civil em vigor concede, através do §

144 ASSIS, Araken de. Manual da Execução . 11 ed. p. 1175.

50

1º do art. 475-J, a oportunidade de o devedor oferecer impugnação, no prazo de 15

dias, contados da intimação à penhora e avaliação.

A impugnação é incidente processual, manifestando-se

através de uma petição simples no bojo dos autos. “Não se trata de petição inicial de

ação incidental, como é o caso dos embargos à execução de título extrajudicial. Por

isso, não há citação do credor e nem sempre se exige autuação apartada”145 não

obstante, o contraditório se cumpre normalmente, ouvindo-se a parte contrária e

sendo permitida a produção de provas necessárias à solução da impugnação.

Quanto ao conteúdo da impugnação, não é permitido ao

executado que se reporte à discussão de mérito da condenação. Theodoro Júnior146

elucida com clareza sobre o tema:

Sua impugnação terá de cingir-se ao terreno das preliminares constantes dos pressupostos processuais e condições da execução. Matérias de mérito (ligadas à dívida propriamente dita), somente poderão se relacionar com fatos posteriores à sentença que possam ter afetado a subsistência, no todo ou em parte, da dívida reconhecida pelo acerto judicial condenatório, como o caso de pagamento, novação, remissão, compensação, prescrição etc., ocorridos supervenientemente. A matéria argüível na impugnação ao cumprimento da sentença é restrita [...] A solução dada ao litígio, após o acertamento jurisdicional, torna-se lei para as partes (art. 468), revestindo-se de imutabilidade por força da res iudicata. Mesmo quando a execução é provisória, porque ainda há recurso pendente sem eficácia suspensiva, ao juiz da causa, encarregado de fazer cumprir sua própria sentença, não se permite rever, alterar ou suprimir o que já se acha assentado no decisório exeqüendo.

Destarte, a referida impugnação poderá versar sobre as

hipóteses contidas no art. 475-L147 do CPC. Em regra, a impugnação não terá efeito

suspensivo, sendo facultado ao Magistrado atribuir-lhe tal efeito nos moldes do art.

475-M do CPC, ou seja, quando seus fundamentos forem relevantes e o

145 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 61. 146 Op. Cite, p. 55. 147 Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o

processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

51

prosseguimento da execução for suscetível, de forma manifesta, a causar ao

executado prejuízo de difícil ou incerta reparação.

Cumpre observar, ainda, o disposto nos parágrafos do

referido artigo, os quais preceituam que mesmo atribuído efeito suspensivo à

impugnação, é lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução,

oferecendo e prestando caução suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada

nos próprios autos.

Para Theodoro Júnior148 acerca desta fase de instrução

probatória:

Em casos especiais, em que se evidenciar a necessidade de apuração fática de dados argüidos na impugnação, o juiz poderá determinar a diligência instrutória adequada. Não se pode, porém, abrir uma ampla instrução probatória, porque não se está numa ação cognitiva incidental, como são os embargos do devedor manejáveis contra os títulos extrajudiciais. O conteúdo do título judicial já se encontra acertado definitivamente pela sentença exeqüenda, pelo que descabe reabrir debate a seu respeito na fase de cumprimento do julgado. O incidente, por isso, há de ser processado de maneira sumária, e sem maiores delongas, dirimido.

Desta feita, o julgamento da impugnação, seja a mesma

processada nos autos do processo ou em apartado, será feito através de decisão

interlocutória quando rejeitada a defesa. O recurso a ser interposto será o agravo de

instrumento. “Se for acolhida a argüição, para decretar a extinção da execução, o

ato é tratado pela lei como sentença, desafiando, portanto, o recurso de apelação

(art. 475-M, § 3º)”.149

De outro norte, mesmo sendo acolhida a defesa, se o

caso não for de extinção da execução, porém de apenas uma interferência em seu

objeto ou em seu curso, o recurso cabível será o agravo de instrumento.

148 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e

Processo Cautelar. 39 ed. p. 61. 149 Op cite, p. 62.

52

Por fim, assevera Marinoni150 acerca do tema:

Enfim, cabe mencionar que o oferecimento de impugnação não é, evidentemente, a única conduta que o executado pode adotar ao ser intimado. Também poderá proceder ao imediato pagamento da dívida. Normalmente, o pagamento não se dá diretamente, até porque pode ser necessário atualizar a dívida para que o pagamento possa ser integral. Assim, havendo intenção de pagamento, deverá o executado anunciar o seu desejo no processo (independentemente de representação por advogado), a fim de que sejam adotadas as providências necessárias para tanto. Feito o cálculo, será o executado intimado para proceder ao depósito do valor apurado, concluindo-se a execução.

Dessa forma, impugnar o valor devido na execução não é

a única saída possível ao devedor, podendo ele, proceder o imediato pagamento da

dívida, que nas palavras de Marinoni, poderá até ser feito sem advogado, bastando

anunciar o seu desejo nos autos.

Assim, observadas as facetas da execução por quantia

certa contra devedor solvente mediante o processo de execução e o cumprimento

de sentença, a presente pesquisa pode se voltar ao estudo específico da

possibilidade de parcelamento compulsório da dívida na execução por quantia certa

contra devedor solvente, o qual passa a ser analisado no próximo e derradeiro

capítulo.

150 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, volume 3: execução. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2007. p. 442.

Capítulo 3

PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA

CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

Ultrapassadas as bases teóricas iniciais e fundamentais

para o desenvolvimento da presente pesquisa, constatada tanto a regência legal

quanto a admissão do parcelamento compulsório da dívida na espécie de execução

por qualtia certa contra devedor solvente, não somente na via executiva do processo

de execução, quanto também a sua admissão supletiva no cumprimento da

sentença, mister se faz analisarmos os pressupostos, requisitos, procedimento, bem

como a possibilidade de não cumprimento deste instituto na atual regência legal

brasileira, é o que se predispõe o presente capítulo.

3.1 PARCELAMENTO DA DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Como foi visto, o meio executório tem como objetivo o

cumprimento forçado da obrigação, que compete ao devedor. Se o executado

efetuar o pagamento da quantia devida, a obrigação será satisfeita, e a execução,

por conseguinte, extinta.

O caminho a ser trilhado até que tal extinção aconteça foi

analisado no decorrer do capítulo anterior, em que se discorreu acerca do

procedimento nesta forma de execução, assinalando-se a postura do exeqüente e

também os meios de defesa do executado frente à execução.

Quanto ao conceito de parcelamento do débito,

Marcato151 ensina que:

151 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado . 3 ed. São Paulo: Atlas,

2008. p. 2369.

54

O art. 745-A estabelece a possibilidade de o executado parcelar o débito, desde que reconhecendo o crédito do exeqüente no prazo para embargos. O reconhecimento do crédito equivale a um conhecimento jurídico do pedido e impede futura apresentação de defesa por parte do executado, a não ser que haja alguma circunstância superveniente a tal reconhecimento. [...] Frisa-se, contudo, que o parcelamento é uma faculdade que a lei cria para o executado, a quem cabe decidir sobre a conveniência ou não de exercitá-la, pois tal decisão põe em cheque a possibilidade de oferecer embargos.

Sendo assim, o parcelamento que o art. 745 do CPC

estabelece, é a possibilidade do executado parcelar o débito. Com a prática do

parcelamento, o devedor assume o débito e abre mão da propositura dos embargos.

O presente capítulo, por conseguinte, visa estudar a

possibilidade ou não do executado, uma vez reconhecendo seu caráter de devedor,

proceder com o parcelamento de sua dívida, o que se passa a fazer a partir de

então.

3.2 POSSIBILIDADE, REQUISITOS E PROCEDIMENTO DO PAR CELAMENTO DA

DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Dentre as condutas permitidas ao devedor em sua

condição de executado, além de ofertar embargos, efetuar o pagamento imediato da

obrigação ou aguardar pelas conseqüências da penhora, é cabível ao mesmo

requerer o pagamento em condições, ou seja, de forma parcelada.

Marinoni152 aduz a respeito que:

Na realidade, a lei autoriza o devedor a, no prazo de quinze dias (e não no interregno de três), reconhecer a existência do crédito demandado pelo credor, depositando de pronto o equivalente a trinta por cento do valor executado (aí incluídas as custas e honorários advocatícios). Em assim agindo, poderá o devedor receber moratória em relação ao restante da dívida, postulando o seu pagamento em até seis parcelas mensais,

152 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, volume 3: execução. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2007. p. 443.

55

acrescidas de juros de um por cento ao mês e correção monetária (art. 745-A do CPC).

Sendo assim, na visão do autor, o art. 745-A do CPC,

autoriza o devedor, no prazo de 15 dias, reconhecer a existência do crédito

demandado, quando depositar o valor correspondente a trinta por cento do valor

executado, para assim, proceder o parcelamento do restante do débito. Santos153

assevera que tal comportamento do credor comporta em completa renúncia aos

embargos, sendo vedada sua oposição, sendo que esta conduta vale como

reconhecimento do crédito.

O parcelamento da dívida na execução é mais uma

inovação da Lei nº 11.232/2006, a qual acresceu ao Código de Processo Civil o

artigo 745-A, que trata especificamente desta possibilidade.

Com efeito, dispõe o referido comando legal:

Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.

§ 1º Sendo a proposta deferida pelo juiz, o exeqüente levantará a quantia depositada e serão suspensos os atos executivos; caso indeferida, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito.

§ 2º O não pagamento de qualquer das prestações implicará, de pleno direito, o vencimento das subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos atos executivos, imposta ao executado multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas e vedada a oposição de embargos.

Por conseguinte, se o requerimento do executado for

acompanhado de depósito do equivalente a trinta por cento da execução, mais

custas e honorários advocatícios, bem como proposta de pagamento em até seis

153 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e

processo cautelar. 11 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 254.

56

parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros, deve o Magistrado

ouvir o exeqüente.

Acerca da posição do credor, Santos154 ensina que:

Sua discordância não importará em necessário indeferimento do pedido, já que a lei concede ao julgador a discricionariedade de deferir ou não a proposta, em verdadeira forma de concordata civil. A discricionariedade do juiz, no entanto, não lhe atribui a faculdade absoluta de deferir ou indeferir o benefício. Para o deferimento ou indeferimento, deve levar em conta as circunstâncias específicas do caso, inclusive a capacidade econômica do executado e, naturalmente, poderá determinar até garantias para o pagamento restante, em decisão devidamente fundamentada, contra a qual caberá agravo.

Deferido o pedido do executado em relação ao

parcelamento da dívida, suspende-se a execução até a quitação final da dívida,

podendo o exeqüente, neste meio tempo, levantar a quantia depositada, bem como

as demais prestações que vierem a ser depositadas pelo executado.

Ressalte-se que tal suspensão não pode gerar nenhum

prejuízo ao beneficiário, isto é, ao devedor, como informações negativas

concernentes à sua pessoa.

Em caso de indeferimento do referido pedido, conforme

se depreende do artigo 745-A, § 1º, in fine, do Código de Processo Civil, dá-se

prosseguimento aos atos executivos, mantendo-se o depósito de trinta por cento

efetuado. Nesse caso, para Santos155:

[...] como o pedido, inclusive se a menor, já importa reconhecimento da dívida, pode a importância ser levantada, com o prosseguimento da execução, quanto ao restante, em qualquer hipótese, sem possibilidade de embargos.

Assim, ao executado não é permitido efetuar embargos,

sob a lógica de que, uma vez requerido o parcelamento da dívida, o mesmo

154 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, volume 2 : execução e

processo cautelar. 11 ed. p. 254. 155 Op cite, p. 254.

57

reconheceu o débito e, por este motivo, a quantia correspondente aos trinta por

cento da dívida são de direito do exeqüente.

Por sua vez, prevê o § 2º do artigo 745-A do diploma

processual civil que, verificado o inadimplemento de qualquer das parcelas

assumidas pelo devedor, ocorrerá o vencimento antecipado das parcelas

subseqüentes, prosseguindo-se a execução com os atos de expropriação. Veda-se,

ainda, a oposição de embargos à execução, impondo-se ao executado a multa de

dez por cento sobre o valor das prestações não pagas.

A respeito do tema, colaciona-se da Jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE EXECUÇÃO. PARCELAMENTO DO DÉBITO. ANUÊNCIA DO CREDOR DESNECESSÁRIA. ART. 745-A DO CPC. De acordo com o art. 745-A do CPC é facultado ao devedor, mediante o cumprimento de certos requisitos, o pagamento parcelado da dívida, sendo dispensável a anuência do credor. DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, NOS TERMOS DO ART. 557, CAPUT, DO CPC.156

Portanto, a jurisprudência, acerca do parcelamento,

entende que este é faculdade do devedor, independente de anuência do credor,

bastando ao devedor fazer o depósito necessário para usufruir desta faculdade.

Em relação a aceitação do credor, a jurisprudência já

decidiu:

Segundo o art. 745-A do CPC, o magistrado pode aceitar o parcelamento do débito independente da aceitação do credor. Contudo, o inadimplemento de quaisquer das parcelas implica no vencimento antecipado das subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos atos executivos, incidindo a multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas.157

156 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº

70022981179, Segunda Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Agathe Elsa Schmidt da Silva, Julgado em 20/02/2008.

157 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº. 70020408167, Sétima Câmara Cível, Relatora: Maria Berenice Dias Elaine Harzheim Macedo, julgado em 10.08.2007.

58

Portanto, a aceitação do parcelamento independe de

aceitação do credor, entretanto, o inadimplemento do parcelamento implica no

vencimento antecipado de todas as parcelas subseqüentes.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, decidiu em

caso análogo sobre o percentual a ser depositado inicialmente para a aceitação do

parcelamento nos seguintes termos:

Fato é que, segundo a dicção do art. 745-A do CPC, o requerimento de moratória se deve dar no prazo dos embargos, sendo este observado, no caso, de acordo com o art. 214, § 1º, do CPC. Assim, considerando-se que o comparecimento da parte executada se deu em momento anterior à própria publicação da Lei nº 11.382/06, sequer se falaria em aplicabilidade do dispositivo legal. Ademais, mesmo se se admitisse a aplicabilidade do art. 745-A do CPC no caso, fato é que a demandada ignorou os preceitos do comando legislativo. Isso porque, quando do requerimento, deveria depositar o valor equivalente a 30% daquele em execução – desimportando, no caso, que eventual numerário estivesse bloqueado em face de decisão judicial, até porque a parte executada agiu temerariamente, consoante já explicitado -, além de reconhecer o valor exigido pela exeqüente, com o acréscimo das custas e honorários.158

Assim, para que se possa usufruir da faculdade do

parcelamento do valor devido, o percentual a ser depositado inicialmente deve ser o

disposto na lei, ou seja, 30% do valor da execução.

No mesmo norte, relativo ao parcelamento, a

jurisprudência já decidiu:

O dispositivo acima mencionado permitiria um parcelamento da dívida somente no caso específico de depósito prévio de 30% (trinta por cento) do valor da dívida, com o parcelamento do restante em até 06 (seis) parcelas mensais. O pedido do agravante, além de prever parcelas anuais, ignorou a exigência do depósito prévio do percentual de 30% (trinta por cento), sendo que a primeira parcela, a ser paga somente daqui a 01 (um) ano, quitaria apenas 5% (cinco por cento) da dívida. Assim, é de se manter a decisão agravada tal como proferida, uma vez que o pedido do agravante é contrariado à legislação

158 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº.

70020340972, Décima Sétima Câmara Cível, Relatora: Elaine Harzheim Macedo. Julgado em 16.08.2007.

59

processual em vigor, sendo manifestamente improcedente o pedido contido no presente agravo de instrumento.159

Portanto, indispensável para a possibilidade de

parcelamento, que ocorra o depósito do montante de 30% do valor da execução.

Desta feita, a inovação do artigo 745-A do Código de

Processo Civil representa um estímulo ao executado para que cumpra

voluntariamente sua obrigação, satisfazendo-a e encerrando a execução sem que a

mesma necessite prosseguir com a expropriação de bens do devedor.

3.3 POSSIBILIDADE, REQUISITOS E PROCEDIMENTO DO PAR CELAMENTO DA

DÍVIDA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

A possibilidade de parcelamento surgida através do artigo

745-A do Código de Processo Civil, conforme se observou no tópico anterior, possui

plena aplicação no processo de execução.

Todavia, em sede de cumprimento de sentença, tal

assunto tem gerado intenso debate e controvérsia jurisprudencial em relação à sua

aplicabilidade.

Uma vertente se manifesta favorável à aplicação

subsidiária do referido parcelamento nos cumprimento de sentença, fundamentando-

se no artigo 475-R do diploma processual civil em vigência, o qual preceitua:

Art. 475-R. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial.

Em razão do disposto, tal vertente entende que,

permitindo a lei que o devedor requeira o parcelamento de sua dívida quando

159 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº

0414077-8, Décima Sexta Câmara Cível. Relator: Hélio Henrique Lopes Fernandes Lima. Julgado em 08.05.2007.

60

executado num processo de execução, o mesmo poderá ser feito em se tratando de

cumprimento de sentença, haja vista que a lei restou silente a esse respeito.

Conforme ensina Marcato160, o legislador não conseguiu

montar na execução de títulos judiciais, um sistema completo e funcional que

dispensasse mecanismos típicos da expropriação programada nos diversos

dispositivos legais que orientam a execução por quantia certa contra devedor

solvente amparada em títulos executivos extrajudiciais.

Assim, a disposição prevista no art. 475-R, estatui que

aplica-se, no que couber, os pesados mecanismos do Livro II do CPC, aos atos de

expropriação e de pagamento ao credor.

Neste diapasão, é a Jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. RESPONSABILIDADE CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PARCELAMENTO DO DÉBITO. POSSIBILIDADE. AFASTAMENTO DA MULTA DO ART. 475-J DO CPC. PARCELAMENTO DA DÍVIDA. ART. 745-A DO CPC. POSSIBILIDADE. Possibilidade de parcelamento da dívida, nos termos do art. 745-A do CPC, mesmo na hipótese de cumprimento de sentença. O artigo 475-R do CPC estabelece que se aplicam subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial. MULTA DO ART. 475-J DO CPC. INCIDÊNCIA. O devedor tem 15 dias para efetuar o pagamento da quantia a que foi condenado por sentença, a contar da data do trânsito em julgado, para evitar a incidência da multa de 10% sobre o valor da condenação, prevista no art. 475-J do Código de Processo Civil. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO, DE PLANO.161

E mais da mesma câmara cível:

AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. Não desmerecida pelas razões deduzidas no agravo interno, subsiste a decisão que negou seguimento ao agravo em conformidade com o art. 557, caput, do Código de Processo

160 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado . 3 ed. p. 1629-1630. 161 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº

70034673178, Décima Câmara Cível, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 17/02/2010.

61

Civil. RESPONSABILIDADE CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PARCELAMENTO DO DÉBITO. POSSIBILIDADE. Possibilidade de parcelamento da dívida, nos termos do art. 745-A do CPC, mesmo na hipótese de cumprimento de sentença. O artigo 475-R do CPC estabelece que se aplicam subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.162

Portanto, conforme os julgados acima destacados, existe

a possibilidade de aplicação subsidiária do parcelamento da dívida, disposto no art.

745-A do CPC, em relação ao cumprimento de sentença, isso por que a lei silenciou

a este respeito, e em virtude do que dispõe o art. 475-R, que estabelece a aplicação

subsidiária ao cumprimento de sentença, no que couber, as normas que regem o

processo de execução de título extrajudicial.

No mesmo sentido a sexta câmara cível do mesmo

Tribunal Gaúcho, já decidiu:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (ART. 475-I DO CPC). PARCELAMENTO DO DÉBITO NA FORMA DO ART. 745-A DO CPC. POSSIBILIDADE. Não existindo no ordenamento jurídico pátrio critérios objetivos para o parcelamento do débito, na fase do cumprimento da sentença, a análise de eventual pedido, nesse sentido, deve ser feita levando-se em consideração todo o sistema que rege o processo civil, bem assim a intenção do legislador ao conferir ao cumprimento da sentença procedimento enxuto, desnaturado dos vícios anteriormente verificados, sem olvidar, contudo, do seu objetivo final, que é dar efetividade ao julgado. Nesse sentido, o objetivo maior das inovações trazidas pelas Leis n. 11.232/2005 e 11.382/2006, deve ser buscado, ainda que de modo transverso, a fim de dar efetividade ao aludido cumprimento da sentença, em observância, inclusive, ao princípio que informa a redação do inc. IV do art. 125 do CPC. Recurso conhecido e provido.163

Sendo assim, conforme o julgado acima, não existindo

previsão no cumprimento de sentença de critérios quanto ao parcelamento do

162 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº

70032715708, Décima Câmara Cível, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 17/12/2009.

163 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº 20080020001528, Sexta Turma Cível, Relatora Ana Maria Duarte Amarante Brito, Julgado em 21/05/2008.

62

débito, deve o julgador, levar em consideração todo o sistema que rege o processo

civil, o que faz com que deva se aplicar o parcelamento do débito de título executivo

extrajudicial nos casos de cumprimento de sentença.

O Tribunal de São Paulo, já decidiu exatamente nesse

sentido:

Título judicial. Cumprimento de sentença. Parcelamento da dívida. Aplicação subsidiária da legislação relativa aos títulos extrajudiciais – Execução provisória – Multa do artigo 475-J do CPC – Descabimento. 1. Para satisfação mais célere na execução, a legislação processual foi alterada, distinguindo os títulos executivos judiciais dos extrajudiciais. 2. Entretanto pode, no cumprimento de sentença, de forma subsidiária, aplicar-se as normas dos títulos extrajudiciais, inteligência do artigo 475-R do CPC. 3. Cabível o parcelamento da dívida, previsto no artigo 745-A, do supra citado Código, requerida pelo devedor solidário, sem aplicação da multa. Recursos providos.164

Assim, no julgado acima também é aceito o parcelamento

da dívida no caso de cumprimento de sentença baseando-se o entendimento na

disposição legal disposta no art. 475-R do CPC.

Dessa forma, percebe-se, por conseguinte, que tal linha

de entendimento não faz distinção entre executado através do processo de

execução e executado por meio de cumprimento de sentença, permitindo a este

último a mesma oportunidade de pagamento parcelado com base no que preceitua o

artigo 475-R do Código de Processo Civil.

Para outra corrente, não se admite a aplicação do artigo

745-A do diploma processual civil em vigência ao procedimento do cumprimento de

sentença, posto que incompatíveis.

Nesse exato sentido, extrai-se da Jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PLEITO DE PARCELAMENTO DO VALOR DEVIDO - APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 745 DO CPC AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ART. 475-R.

164 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo . Agravos de Instrumento nº.

990.10.202824-0 e 990.10.205657-0. 22ª Câmara de Direito Privado. TJSP. Rel. Des. Andrade Marques. Julgado em 17.08.2010.

63

INCOMPATIBILIDADE QUE NÃO PERMITE, SEM A CONCORDÂNCIA DO CREDOR, A APLICAÇÃO DA NORMA. O pedido de parcelamento da dívida representada por título executivo extrajudicial, art. 745-A do Código de Processo Civil, mostra-se completamente distanciado, em sua finalidade, das normas que regem o cumprimento da sentença, pelo que não é possível sua aplicação subsidiária pelo permissivo contido no art. 475-R [...] AGRAVO DE INSTRUMENTO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.165

E Mais,

SENTENÇA ARBITRAL - EXECUÇÃO - Pretensão da executada de solver o débito arbitrado em seis vezes, à luz do artigo 745-A, do CPC - Indeferimento pelo Juízo (fl.176), este só se aplica a títulos executivos extrajudiciais - Mesmo assim, enquanto o feito se arrastava, a parte foi depositando por esse modo, até quitar tudo - Hipótese, entretanto, de fixação da multa de 10% do artigo 475-J, do CPC, sobre o que veio a ser pago a posteriori - e de fixação de honorários advocatícios sobre o todo, à ordem de 10% sobre o valor em cobrança. Agravo provido, para tanto.166

Portanto, para a corrente que não concorda com a

aplicação subsidiária do parcelamento do valor devido nos casos de cumprimento de

sentença, o principal fundamento gira em torno da especificidade da legislação,

posto que para esta corrente, inadmissível o parcelamento no cumprimento de

sentença sem a anuência do credor, conforme julgado acima da nona Câmara Cível

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

No mesmo sentido, é o entendimento da Décima segunda

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, entendendo dessa

forma:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA E PROPOSTA DE PARCELAMENTO. ART. 745-A DO CPC. PEDIDO DE APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA REGRA. DESCABIMENTO. PAGAMENTO PARCIAL E MULTA. 1.A proposta de parcelamento do débito introduzida pela Lei 11.382/2006 não se aplica, em princípio, à fase de cumprimento da sentença, por incompatível com o processo

165 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº.

70038438024, Nona Câmara Cível, Relatora: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 26/08/2010.

166 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº. 533177300, Oitava Câmara Cível, Relator: Des. Luiz Ambra. Julgado em 22/11/2007.

64

executivo de título judicial, especialmente por sujeitar o detentor de crédito já reconhecido judicialmente a prazo de pagamento dilatado e que em regra não se sustenta - a condenação deve ser cumprida em quinze dias, e não em seis meses. Ademais, o parcelamento está intrinsecamente vinculado à desistência dos embargos à execução, ação incidental que inexiste no cumprimento da sentença. Procedimento típico da execução de título extrajudicial. Entendimento doutrinário e jurisprudencial. [...] Agravo improvido.167

Portanto, com entendimento nessa direção, a décima

segunda turma do egrégio Tribunal Gaúcho, entende que a inovação introduzida

pela Lei 11.382/2006, referente ao parcelamento, não se aplica ao cumprimento de

sentença, pois o mesmo é incompatível com o processo executivo de título judicial.

Os argumentos giram em torno de que o prazo para

cumprimento de sentença é de quinze dias, e não em seis meses, como no caso do

parcelamento, além disso, o parcelamento está intrinsecamente vinculado a

desistência da propositura dos embargos à execução, que inexiste no cumprimento

de sentença.

No sentido, entretanto com posição fundada em

argumentos diversos, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, já decidiu:

EXECUÇÃO DE SENTENÇA - PRETENSÃO AO PARCELAMENTO PREVISTO NO ARTIGO 745-A, DO CPC - INOVAÇÃO INTRODUZIDA NA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL - NÃO CABIMENTO - DESPROVIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. Em que pese a importância da inovação introduzida pelo artigo 745-A, do CPC, verifica-se que sua incidência limita-se à Execução fundada em título extrajudicial, seja por expressa previsão no texto do artigo, que fala em Embargos do Devedor, seja pela sua manifesta incompatibilidade com o procedimento de cumprimento de sentença, regulado pelos artigos 475-I e seguintes, do CPC. Tratando-se de Execução de sentença, iniciada em 1999 e já em fase de alienação judicial do bem penhorado, não se pode

167 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul . Agravo de Instrumento nº.

70024409716, Décima Segunda Câmara Cível, Relator: Orlando Heemann Júnior, Julgado em 07/08/2008.

65

deferir ao devedor o parcelamento aludido pelo artigo 745-A, do CPC, mormente quando a ele se opõe o credor.168

Sendo assim, no entendimento do Tribunal Mineiro, em

que pese o fato de que a inovação prevista no artigo 745-A do CPC é importante,

esta se refere, tão somente em relação as execuções fundadas em títulos

executivos extrajudiciais, o que incompatibiliza a aplicação desta aos casos de

cumprimento de sentença.

Na mesma direção é o entendimento do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

AGRAVO INOMINADO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO A RECURSO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ALIMENTOS. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. A APLICAÇÃO DA REGRA DO ARTIGO 745-A DO CPC, QUE VEIO PERMITIR O DEPÓSITO DE PARTE DA DÍVIDA, O PARCELAMENTO DO RESÍDUO E A SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO ATÉ A QUITAÇÃO REFERE-SE ÀS EXECUÇÕES FUNDADAS EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL. INAPLICABILIDADE DAQUELE DISPOSITIVO, NA HIPÓTESE, ONDE O TÍTULO QUE FORRA A EXECUÇÃO EM CURSO FOI CONSTITUÍDO ATRAVÉS DE DECISÃO JUDICIAL. A APLICAÇÃO SUBSDIÁRIA PREVISTA NO ARTIGO 475-R DO MESMO DIGESTO DIZ RESPEITO ÀS QUESTÕES LIGADAS AO RITO PROCEDIMENTAL E NÃO A CRITÉRIOS DE PAGAMENTO DA DÍVIDA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 169

Portanto, conforme o julgado acima, a inovação

introduzida pela Lei 11.382/2006, referente ao parcelamento, não se aplica ao

cumprimento de sentença, pois o mesmo é incompatível com o processo executivo

de título judicial. Tendo em vista que, conforme este Tribunal, a disposição prevista

no art. 475-R do CPC, refere-se a aplicação no que couber de disposições

referentes ao rito processual e não relacionado a critérios de pagamento da dívida.

168 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais . Agravo de Instrumento nº.

1.0105.98.000117-3/001(1), Décima Sexta Câmara Cível. Relator: Des. Batista de Abreu. Julgado em 14/05/2008.

169 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro . Agravo de Instrumento nº 2007.002.32411, Décima Quarta Câmara Cível. Relator: Des. Ismenio Pereira de Castro. Julgado em: 05.12.07.

66

Em relação a doutrina, Theodoro Junior170 é partidário

desta corrente, elucidando:

O credor por título judicial não está sujeito à ação executiva nem tampouco corre o risco de ação de embargos do devedor. O cumprimento da sentença desenvolve-se sumariamente e pode atingir em breve espaço de tempo, a expropriação do bem penhorado e a satisfação do valor da condenação. Não há, pois, lugar para prazo de espera e parcelamento num quadro processual como esse.

Portanto, para o doutrinador, o parcelamento surgido

através da Lei nº 11.232/2006 não deve beneficiar o executado no cumprimento da

sentença, posto que este procedimento perderia a finalidade e celeridade.

Na mesma direção do entendimento Negrão171 entende

que:

O art. 745-A do CPC, possibilitando ao executado requerer o parcelamento do débito, apenas incide na execução de título extrajudicial, sendo incompatível com o procedimento de cumprimento de sentença. Precedentes. (RMDAU 20/152: TJRS, AI 70026252734, dec. Mon.).

Destarte, divergem os tribunais entre si e doutrinadores a

respeito da possibilidade ou não de parcelamento do débito no cumprimento de

sentença, não havendo, ainda, entendimento pacífico acerca do tema.

O julgador, então, deve munir-se de cautela e analisar

caso a caso em sede de parcelamento em cumprimento de sentença, a fim de que

se proceda com justeza para ambas as partes.

170 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A Reforma da Execução do Título Extrajudicial . Rio de

Janeiro: Forense, 2007. p. 217. 171 NEGRÃO, Theotonio; e GOUVÊA, José Roberto F. Código de Processo Civil e legislação

processual em vigor . 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 956.

67

3.4 DO NÃO CUMPRIMENTO DO PARCELAMENTO DA DÍVIDA NO PROCESSO

DE EXECUÇÃO E NO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

Efetuado o parcelamento da dívida no processo de

execução (e no cumprimento da sentença, nos juízos que admitirem esta hipótese),

o devedor assume a obrigação de adimplir as prestações oriundas do referido

parcelamento.

Supondo-se, entretanto, que o executado descumpra o

acordado, deixando de efetuar o pagamento de uma das parcelas, o § 2º do artigo

745-A do Código de Processo Civil, conforme anteriormente analisado, assim prevê:

Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.

[...] § 2º O não pagamento de qualquer das prestações implicará, de pleno direito, o vencimento das subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos atos executivos, imposta ao executado multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas e vedada a oposição de embargos.

Desta feita, tal inadimplemento importará no vencimento

antecipado das parcelas ulteriores, de forma que o processo de execução torna a

prosseguir a partir dos atos expropriatórios.

Nesse sentido, Marcato172 aduz sobre as sanções diante

do inadimplemento:

[...] O não-pagamento de qualquer das prestações implicará o vencimento das subseqüentes e o prosseguimento do processo executivo, imposta ao executado multa de dez por cento (10%) sobre o valor das prestações não pagas. Não poderá o executado oferecer embargos uma vez que reconheceu o crédito do exeqüente ao requerer o parcelamento.

172 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado . 3 ed. p. 2370.

68

Portanto, as sanções dispostas para o inadimplemento do

parcelamento são, dessa forma, o vencimento antecipado e a multa.

Ademais, é vedado ao executado a oposição de

embargos e lhe incorre uma multa de dez por cento sobre o valor das prestações

vincendas, a fim de penalizá-lo por utilizar-se do expediente do parcelamento - que

constitui ferramenta de auxílio na quitação de seu débito – e não conseguir adimpli-

lo pontualmente.

Por conseguinte, resta evidente que tais conseqüências

ao ato de inadimplência do executado quando do parcelamento do débito têm o

propósito de manter o devedor em alerta, posto que tal benefício é concedido

somente através de requerimento feito pelo executado, e por este motivo, deve o

mesmo fazer uso de tal facilidade com cautela.

Isto porque o julgador, ao deferir o parcelamento, o fará

no intuito de auxiliar a quitação do débito, concedendo ao devedor uma forma mais

viável de adimplir sua obrigação. É responsabilidade do executado, em vista disso,

efetuar o pagamento das prestações que lhe cabem pontualmente, a fim de extinguir

a dívida e, por conseguinte, o competente processo de execução.

Sobre o oferecimento de embargos, viu-se que

impossíveis, ante o reconhecimento do crédito do exeqüente na aceitação do

parcelamento, no entanto, Marcato173 aduz que não estão impedidos os embargos a

arrematação ou adjudicação, uma vez que estes terão como objeto arguir a nulidade

da execução ou ainda, argüição de causas que extinguem a obrigação, desde que

supervenientes a penhora.

Dessa forma, estudou-se na presente monografia a

possibilidade de parcelamento do débito nos casos de cumprimento de sentença.

Verificou-se que no que concerne ao parcelamento relativo a execução de título

executivo extrajudicial contra devedor solvente, o art. 745-A do Código de Processo

Civil, dispõe ser possível o parcelamento, conforme estudado acima.

173 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado . 3 ed. p. 2370.

69

No tocante ao cumprimento de sentença, existem dois

posicionamentos, um que acredita ser possível a aplicação subsidiária do dispositivo

referente ao parcelamento no título executivo extrajudicial contra devedor solvente,

do art. 745-A do CPC, por que para esta corrente, a disposição do art. 475-R é clara

no sentido de afirmar a aplicação subsidiária ao cumprimento de sentença, no que

couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial, por

estes motivos, esta corrente entende ser cabível o parcelamento do título executivo

extrajudicial para os casos de cumprimento de sentença.

Em posicionamento contrário, a corrente que defende a

não aplicação subsidiária do dispositivo para os casos de cumprimento de sentença,

sustentam que o parcelamento é específico para os casos de execução de título

extrajudicial, sendo impossível para estes o parcelamento no cumprimento de

sentença sem a anuência do credor.

Dessa forma, finda-se o estudo apresentando as

correntes que divergem sobre o tema, verificou-se, ainda, que o tema é divergente, o

que impulsiona para pesquisas mas específicas e aprofundadas sobre a matéria.

Porém como são divergentes as correntes, para os fins da

presente pesquisa entende-se que é possível admitir a aplicação do art. 745-A do

CPC, nos casos de cumprimento de sentença, posto que a disposição do art. 475-R

do CPC é clara no sentido de afirmar a aplicação subsidiária ao cumprimento de

sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título

extrajudicial, por estes motivos é cabível o parcelamento do título executivo

extrajudicial para os casos de cumprimento de sentença.

Este procedimento se dá por simples petição nos autos

onde se processa a execução forçada, devendo ser deferida se uma vez os

pressupostos exigidos pela lei estiverem presentes, a saber: o pagamento de 30%

(trinta por cento) do valor da execução e proposta de parcelas de valores iguais em

6 (seis) vezes.

No tocante ao não cumprimento do parcelamento, este

pode ser alvo de revogação em caso de não cumprimento da obrigação reconhecida

e estabelecida na petição que requerer o parcelamento da dívida.

70

E em sendo revogada, pelo não cumprimento, as

conseqüências são as mesmas no que refere a execução de título executivo

extrajudicial, quais sejam, o prosseguimento da execução, devendo ser acrescida da

multa imposta pelo art. 475-J, além daquela prevista no artigo 745-A, tornando-se

totalmente exigível, além do vencimento antecipado de todas as parcelas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo estudar o

Parcelamento da dívida na execução por quantia certa contra devedor solvente.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido

em três capítulos.

O primeiro capítulo estudou a execução cível na atual

legislação brasileira, fazendo breves apontamentos sobre esta. Para a presente

análise, fez-se um estudo sobre o histórico da execução e analisou-se o seu

conceito, que verificou-se que as sanções civis são as de caráter reparatório e

tendem a compensar o titular de algum direito subjetivo o prejuízo injustamente

causado por outrem.

Nesse sentido, asseverou-se que no direito processual

civil, a execução forçada destina-se especificamente a realizar a sanção. E, por isso,

pode ser definida como a atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar

atuação à sanção. Neste capítulo, estudou-se ainda o processo de execução, onde

analisou-se também o cumprimento de sentença, verificando-se os seus requisitos e

as diversas espécies de execução.

No segundo capítulo, estudou-se a execução por quantia

certa contra devedor solvente, para isso, analisou-se inicialmente a definição do

instituto e seus requisitos. Após isso, passou-se a analisar o procedimento detalhado

na execução de quantia certa contra devedor solvente no processo de execução,

este oriundo de título executivo extrajudicial, e também as disposições referentes ao

procedimento a ser adotado nesta execução nos casos de cumprimento de

sentença.

Verificou-se ainda, os embargos e a impugnação que

podem ser apresentadas no curso desta execução, tanto no cumprimento de

sentença, quanto na execução de título executivo extrajudicial.

72

No terceiro e último capítulo, analisou-se o parcelamento

da dívida na execução por quantia certa contra devedor solvente. Inicialmente,

estudou-se o parcelamento, suas possibilidades, requisitos e procedimento.

Analisou-se neste capítulo, a possibilidade de utilização do devedor do instituto do

parcelamento, tanto na execução por quantia certa contra devedor solvente no

cumprimento de sentença e na execução de título executivo extrajudicial. Ao final

deste capítulo, estudou-se o não cumprimento do parcelamento.

Conforme disposto naquele capítulo, no que concerne ao

parcelamento relativo a execução de título executivo extrajudicial contra devedor

solvente, o art. 745-A do CPC dispõe ser possível o parcelamento. No tocante ao

cumprimento de sentença, existem dois posicionamentos, um que acredita ser

possível a aplicação subsidiária do dispositivo referente ao parcelamento no título

executivo extrajudicial ante a aplicação subsidiária ao cumprimento de sentença, no

que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial.

Por outro lado, existe uma corrente que defende a não

aplicação subsidiária do dispositivo para os casos de cumprimento de sentença, pois

sustentam que o parcelamento é específico para os casos de execução de título

extrajudicial, sendo impossível para estes o parcelamento no cumprimento de

sentença sem a anuência do credor.

Por fim, retornam-se aos problemas e hipóteses básicas

da pesquisa.

No estudo feito no primeiro capítulo percebe-se que

através da análise de aplicação do art. 745-A do CPC, a possibilidade de

parcelamento compulsório da dívida nas execuções, tal regra, inicialmente aplica-se

somente em relação a execução de quantia certa de título extrajudicial. Sendo

assim, a pesquisa demonstra a confirmação total da Primeira Hipótese que previa: o

atual ordenamento jurídico nacional dispõe de duas vias executivas, o processo de

execução para os títulos extrajudiciais e o cumprimento da sentença para os

judiciais, sendo ainda previsto o parcelamento forcado da dívida apenas para a

espécie de execução por quantia certa contra devedor solvente.

73

O desenvolvimento do segundo capítulo demonstra,

outrossim, a confirmação total da Segunda Hipótese que previa: a espécie de

execução por quantia certa contra devedor solvente admite o parcelamento da divida

não somente nos casos do processo de execução, mas que há a possibilidade da

regência supletiva para esta espécie de execução aplicar-se também ao

cumprimento da sentença.

Conforme estudado no terceiro capítulo desta pesquisa,

existem duas correntes que são divergentes em relação a aplicação do

parcelamento compulsório previsto no 745-A do CPC nos casos de cumprimento de

sentença. Uma delas defende que aplica-se a disposição do art. 475-R do CPC, no

sentido de afirmar a aplicação subsidiária da disposição prevista para a execução de

título extrajudicial ao cumprimento de sentença. Por fim, o estudo elaborado no

terceiro capítulo, mesmo que não seja absolutamente incontroverso, baseando-se

na corrente que entende ser cabível o parcelamento, entende-se que houve a

confirmação total da Terceira Hipótese que previa: os requisitos exigidos pela

legislação nacional para o parcelamento forcado da divida são os mesmos adotados

para o processo de execução e para o cumprimento da sentença que admitiria a

regência supletiva do artigo 745-A do CPC neste instituto.

Finalmente, a pesquisa constata que o tema é muito

abrangente, portanto, de fundamental importância e a continuidade da elaboração

de pesquisas ainda mais específicas que levarão ao aprofundamento do instituto e a

aplicação da mais salutar JUSTIÇA

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