univali – universidade do vale do itajaÍ cejurps - …siaibib01.univali.br/pdf/guilherme coelho...

80
UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CAMPUS DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO GUILHERME COELHO HAVIARAS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE São José 2008

Upload: hoangtram

Post on 08-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CEJURPS - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS

CAMPUS DE SÃO JOSÉ

CURSO DE DIREITO

GUILHERME COELHO HAVIARAS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL

CAUSADO AO PACIENTE

São José

2008

Page 2: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

GUILHERME COELHO HAVIARAS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL

CAUSADO AO PACIENTE

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas.

Orientador: Prof. MSc. Carlos Alberto Luz Gonçalves.

São José

2008

Page 3: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 30 de novembro de 2008.

___________________________________

GUILHERME COELHO HAVIARAS

Graduando

Page 4: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

GUILHERME COELHO HAVIARAS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL

CAUSADO AO PACIENTE

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de

bacharel em Direito e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do

Itajaí - UNIVALI, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Civil.

São José, 30 de novembro de 2008.

_______________________________________

Prof. Carlos Alberto Luz Gonçalves

Orientador

_______________________________________

Prof.

Membro

_______________________________________

Prof.

Membro

Page 5: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

Dedico este trabalho ao meu pai, Nicolau

Jorge Haviaras, a minha mãe, Consuelo

Coelho Haviaras, aos meus irmãos, André

Coelho Haviaras e Marcelo Coelho

Haviaras, e, especialmente, a minha avó,

Dalva Cordeiro Coelho.

Page 6: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS pela vida, saúde e pela coragem nos momentos

difíceis.

Agradeço sempre, e nunca em excesso, a minha família, em especial a

minha mãe, Consuelo, e meu pai, Nicolau, pela educação e pelo amor incondicional.

Aos professores do curso de direito pelos conhecimentos transmitidos e

pela compreensão ao longo de todos esses anos de aprendizado.

A todos os colegas de universidade, pelo companheirismo, amizade e

apoio durante todo o curso e, principalmente, na oportunidade da realização deste

trabalho.

Agradeço especialmente ao meu orientador, Professor Carlos Alberto Luz

Gonçalves.

Page 7: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

Traçar um rumo nesse mar revolto; numa

torrente de vocábulos descobrir um

conceito; entre acepções várias e

hipóteses divergentes fixar a solução

definitiva, lúcida, precisa; determinar o

sentido exato e a extensão da forma legal

– é a tarefa do intérprete. Não lhe

compete apenas procurar atrás das

palavras os pensamentos possíveis, mas

também entre os pensamentos possíveis

o único apropriado, correto, jurídico.

(Carlos Maximiliano)

Page 8: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

RESUMO

Pesquisa monográfica realizada sobre a responsabilidade civil do ortodontista por

dano moral causado ao paciente com o objetivo geral de analisar a possibilidade de

ressarcimento dos danos morais sofridos em virtude de tratamento ortodôntico,

considerando o aumento de demandas judiciais envolvendo cirurgiões-dentistas e

pacientes. Os objetivos específicos, por sua vez, consistem no estudo do instituto da

responsabilidade civil, da responsabilidade civil do cirurgião dentista, especialmente

das obrigações de meio e de resultado e, ainda, na análise da responsabilidade civil

nos casos de tratamento relacionados à especialidade da odontologia denominada

ortodontia. Desta maneira, com base em pesquisas realizadas no ordenamento

jurídico brasileiro, na doutrina e na jurisprudência, observou-se a importância da

informação do paciente acerca dos riscos e resultados do tratamento e a consciência

ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento ortodôntico,

bem como para evitar futuras e indesejáveis demandas judiciais. Além disso, foi

possível notar que é perfeitamente cabível, haja vista os julgados colacionados à

pesquisa, a condenação do ortodontista ao pagamento de indenização por dano

moral causado à paciente em face de tratamento ortodôntico, principalmente quanto

a erro técnico e promessas antecipadas de resultados estéticos inatingíveis.

Palavras-chave: Responsabilidade civil. Ortodontia. Dano moral.

Page 9: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................10

1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..............................................................................12

1.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO ......................................................................12

1.2 CONCEITO .............................................................................................................16

1.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE.........................................................17

1.3.1 Responsabilidade penal e responsabilidade civil ...........................................17

1.3.2 Responsabilidade contratual e extracontratual...............................................19

1.3.3 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva.....................................................20

1.4 REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL .....................................................23

1.4.1 Ação ou omissão do agente..............................................................................24

1.4.2 Culpa ...................................................................................................................25

1.4.3 Dano ....................................................................................................................26

1.4.4 Nexo causal ........................................................................................................28

2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA ...............................31

2.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PROFISSIONAL.................................................31

2.2 DA RESPONSABILIDADE DO CIRURGIÃO DENTISTA........................................33

2.2.1 A Profissão do Cirurgião Dentista – Breve Escorço Histórico.......................35

2.2.2 Normas Regulamentadoras da Profissão e da Responsabilidade Civil do

Cirurgião Dentista .......................................................................................................36

2.3 DAS OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO................................................40

2.3.1 Natureza Obrigacional dos Serviços Odontológicos: Obrigação de Meio

ou de Resultado? ........................................................................................................42

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA E O CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR........................................................................................46

3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA.............................................50

3.1 ASPECTOS GERAIS DA ORTODONTIA................................................................50

Page 10: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA ..............................................52

3.2.1 Natureza Jurídica da Obrigação do Ortodontista:...........................................55

3.2.2 Direito à Informação...........................................................................................59

3.2.3 A Responsabilidade do Ortodontista no Pós-tratamento...............................62

3.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL

CAUSADO AO PACIENTE............................................................................................64

CONCLUSÃO ...............................................................................................................72

REFERÊNCIAS.............................................................................................................75

Page 11: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

10

INTRODUÇÃO

As pessoas procuram em todas as esferas de relações humanas serem

aceitas pelos seus semelhantes, razão pela qual a estética ocupa relevante espaço

na sociedade. Neste contexto, denota-se que a ortodontia, especialidade da

odontologia, desempenha importante função, haja vista ter como principal objetivo a

correção dos dentes e dos ossos maxilares posicionados de forma inadequada.

No entanto, a difusão dos meios de comunicação e a elevação do nível de

escolaridade da população têm levado as pessoas a exigir, a cada dia, mais respeito

à sua dignidade e, ainda, a buscar a efetivação de seus direitos.

Com isso, verifica-se um aumento considerável de demandas judiciais

indenizatórias, inclusive na esfera da ortodontia, especialmente em virtude das

inúmeras promessas de tratamento e resultados publicados por profissionais que,

por sua vez, acabam iludindo e causando graves danos aos pacientes.

É neste contexto que se insere o tema da presente monografia, visto que

a mesma possui como objetivo principal analisar a responsabilidade civil do

ortodontista por dano moral causado ao paciente em face de tratamento ortodôntico

ineficaz.

A relevância da pesquisa, por seu turno, consiste na análise dos

principais aspectos que envolvem a responsabilidade civil do cirurgião dentista

especialista em ortodontia e, especialmente, dos fatores do tratamento ortodôntico

que terminam causando danos ao paciente e, conseqüentemente, na propositura de

ações judiciais, a exemplo da não observância do direito à informação do paciente

por parte dos profissionais.

As idéias centrais do trabalho, por sua vez, dizem respeito ao estudo do

instituto da responsabilidade civil, dos aspectos relevantes e jurídicos da odontologia

e da ortodontia, bem como da responsabilidade do ortodontista por dano moral

causado ao paciente.

O tipo de pesquisa utilizada na construção deste trabalho é a exploratória,

baseada no levantamento bibliográfico e jurisprudencial e no estudo da legislação

vigente. No que tange aos procedimentos metodológicos, partiu-se do método de

Page 12: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

11

abordagem dedutivo, sistema que se baseia em teorias e leis gerais para a análise

de fenômenos particulares.

O método de procedimento utilizado, por sua vez, foi o monográfico,

estudo de um único tema.

Registra-se, também, que a presente monografia encontra-se estruturada

em três capítulos:

No primeiro capítulo aborda-se a responsabilidade civil: estudo das

principais características do instituto, principalmente quanto aos requisitos

indispensáveis do direito à indenização.

O capítulo três, por sua vez, trata da responsabilidade civil do cirurgião

dentista: análise das características gerais da profissão de cirurgião dentista, da

legislação aplicável e, especialmente, das obrigações de meio e de resultado.

Por fim, analisa-se a responsabilidade civil do ortodontista por dano moral

causado ao paciente: momento destinado para a abordagem do tema central e

específico da monografia, incluindo os aspectos gerais da ortodontia, do pós-

tratamento, do direito à informação, da natureza jurídica da obrigação assumida pelo

ortodontista, além do dano moral e da possibilidade de indenização de danos

causados em virtude de tratamento ortodôntico.

Anota-se, ainda, que, no último capítulo, o presente trabalho apresenta

alguns julgados com o objetivo de analisar o tema abordado à luz do caso concreto.

Page 13: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

12

1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Para o desenvolvimento do tema “A responsabilidade civil do ortodontista

por dano moral causado ao paciente”, entende-se imprescindível, neste capítulo

inicial, abordar os principais aspectos do instituto da responsabilidade civil.

Para tanto, importante destacar um breve comentário histórico, o conceito,

a distinção entre responsabilidade civil e penal, contratual e extracontratual e

subjetiva e objetiva, além dos requisitos indispensáveis da responsabilidade civil.

1.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO

No estudo da história da responsabilidade civil, cumpre destacar,

inicialmente, que este instituto “[...] tem natureza essencialmente dinâmica, tendo de

se transformar e se adaptar através dos tempos, adequando-se à evolução da

própria civilização”.1

De acordo com a doutrina, trata-se de “[...] algo inarredável da natureza

humana”,2 visto que, “[...] desde os primórdios, desde os primeiros grupamentos

humanos, lá nas tribos nômades, já se constata a noção – e, mais precisamente, a

aplicação – da responsabilidade civil e seus efeitos”.3

Registra-se que “[...] essa imposição estabelecida pelo meio social

regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de

responder por seus atos, traduz a própria noção de Justiça existente no grupo social

estratificado”.4

1 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 22.2 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 59.3 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 22.4 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 59.

Page 14: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

13

Acerca da responsabilidade civil nos primórdios da história humana,

anota-se a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves:

Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia regras, nem limitações. Não imperava, ainda, o direito. Dominava, então, a vingança privada, “forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, para a reparação do mal pelo mal”.5

Logo, verifica-se que “[...] a origem do instituto está calçada na concepção

de vingança privada, forma por certo rudimentar, mas compreensível do ponto de

vista humano como lídima reação pessoal contra o mal sofrido”.6

Por conseguinte, sublinha-se que a base do instituto da responsabilidade

civil encontra-se no direito humano, principalmente na famosa Lei do Talião que, por

sua vez, pregava a retribuição do mal pelo mal.7

Contudo, em um estágio mais avançado, com o surgimento da autoridade

soberana, passa-se a vedar a possibilidade do ofendido fazer justiça pelas próprias

mãos, assim como ensina a doutrina:

A vingança privada é, portanto, substituída pela composição, ao alvedrio da vítima. Porém, a exemplo do ocorrido com o talião, há a interveniência estatal, vedando, pois, à vítima, fazer justiça com as próprias mãos e impondo que a composição seja fixada pela autoridade. É o momento da composição tarifada, agasalhada pela Lei das XII Tábuas, em que era estipulado, para cada caso, o valor do resgate (pena) a ser pago pelo ofensor.8

Desta maneira, registra-se que “[...] quando a ação repressiva passou

para o Estado, surgiu a ação de indenização. A responsabilidade civil tomou lugar ao

lado da responsabilidade penal”.9

5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 4.6 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 10.7 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v.4. p.14.8 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 23.9 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 5.

Page 15: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

14

De outra banda, lembra a doutrina que um ponto relevante na história da

“[...] responsabilidade civil se dá, porém, com a edição da Lex Aquilia, cuja

importância foi tão grande que deu nome a nova designação da responsabilidade

delitual ou extracontratual”.10

A respeito da evolução da responsabilidade civil e da importância do

surgimento da responsabilidade aquilina, ou seja, pautada na culpa, colaciona-se a

doutrina de Alvino Lima:

Partimos, como diz Ihering, do período em que o sentimento de paixão predomina no direito; a reação violenta perde de vista a culpabilidade, para alcançar tão-somente a satisfação do dano e infligir um castigo ao autor do ato lesivo. Pena e reparação se confundem; responsabilidade penal e civil não se distinguem. A evolução operou-se, conseqüentemente, no sentido de se introduzir o elemento subjetivo da culpa e diferenciar a responsabilidade civil da penal. E muito embora não tivesse conseguido o direito romano libertar-se inteiramente da idéia da pena, no fixar a responsabilidade aquiliana, a verdade é que a idéia de delito privado, engendrando uma ação penal, viu o domínio da sua aplicação diminuir, à vista da admissão, cada vez mais crescente, de obrigações delituais, criando uma ação mista ou simplesmente reipersecutória. A função da pena transformou-se, tendo por fim indenizar, como nas ações reipersecutórias, embora o modo de calcular a pena ainda fosse inspirado na função primitiva da vingança; o caráter penal da ação da lei Aquilia, no direito clássico, não passa de uma sobrevivência.11 [grifo no original].

Com isso, observa-se que “[...] é na lei Aquilia que se esboça, afinal, um

princípio geral regulador da reparação do dano. Embora se reconheça que não

continha ainda ‘uma regra de conjunto, nos moldes do direto moderno’, [...]”.12

Ainda sobre a responsabilidade aquilina, anota-se:

Permitindo-se um salto histórico, observe-se que a inserção da culpa como elemento básico da responsabilidade civil aquiliana – contra o objetivismo excessivo do direito primitivo, abstraindo a concepção de pena para substituí-la, paulatinamente, pela idéia de reparação do dano sofrido – foi incorporada no grande monumento legislativo da idade moderna, a saber, o Código Civil de Napoleão, que influenciou diversas legislações do mundo, inclusive o Código Civil brasileiro de 1916.13

10 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 11.11 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 12.12 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 5.13 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 13.

Page 16: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

15

Contudo, com a transformação do mundo, das relações humanas e do

direito, verifica-se que o instituto ora estudado também evoluiu. A necessidade de

tutelar a reparação dos danos causados ao homem e ao seu patrimônio fez com que

o tema da responsabilidade civil ganhasse cada vez mais relevância no direito civil

brasileiro.

Conforme Gonçalves, “o surto de progresso, o desenvolvimento industrial

e a multiplicação dos danos acabaram por ocasionar o surgimento de novas teorias,

tendentes a propiciar maior proteção às vitimas”.14 Nesse viés, destaca-se que a

consolidação da teoria do risco e, conseqüentemente, da responsabilidade civil

subjetiva, atualmente prevista no Código Civil de 2002.

Nesse sentido, sobre a problemática que envolve a reparação dos danos,

ensina Maria Helena Diniz:

Deveras, a todo instante surge o problema da responsabilidade civil, pois cada atentado sofrido pelo homem, relativamente à sua pessoa ou ao seu patrimônio, constitui um desequilíbrio de ordem moral ou patrimonial, tornando imprescindível a criação de soluções ou remédios – que nem sempre se apresentam facilmente, implicando indagações maiores – que sanem tais lesões, pois o direito não poderá tolerar que ofensas fiquem sem reparação. Quem deverá ressarcir esses danos? Como se operará a recomposição do statu quo ante e a indenização do dano? Essa é a temática da responsabilidade civil.15

Em face de tudo isso, importante consignar que, nos dias atuais, a

“tendência, hoje facilmente verificável, de não se deixar irressarcida a vítima de atos

ilícitos sobrecarrega os nossos pretórios de ações de indenização das mais variadas

espécies”.16

Pode-se observar, então, que os principais aspectos históricos do instituto

da responsabilidade civil, bem como a sua importância para a regulamentação da

justa medida para a reparação dos danos sofridos pelo homem e seu patrimônio.

14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 6.15 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. v. 7. p. 3.16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 1.

Page 17: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

16

1.2 CONCEITO

Para tratar do conceito de responsabilidade civil, inicialmente cumpre

registrar que a “[...] noção de responsabilidade pode ser haurida da própria origem

da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a

necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos”.17

De modo semelhante, no âmbito técnico jurídico, a responsabilidade civil

pode ser definida “[...] como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o

prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela

dependam”.18

De forma ampla, de acordo Fernando Noronha, a responsabilidade

conceitua-se como “[...] uma obrigação de reparar danos: danos causados à pessoa

ou ao patrimônio de outrem, ou danos causados a interesses coletivos, ou

transindividuais, sejam estes difusos, sejam coletivos stritctu sensu”.19

Neste sentido, o autor entende que se trata de “[...] um dever jurídico

sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever

jurídico originário”.20

Igualmente, para Maria Helena Diniz,

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.21

17 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 118.18 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 6.19 NORONHA, Fernando, 2003 apud VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 13.20 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 24.21 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 40.

Page 18: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

17

Em resumo, observa-se que responsabilidade civil é sinônimo de

reparação de dano, ou seja, trata-se da possibilidade de compelir uma pessoa,

através da indenização, a reparar o dano causado a outrem em virtude de ato ilícito.

1.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE

1.3.1 responsabilidade penal e responsabilidade civil

Denota-se da leitura do artigo 935, do Código Civil vigente, que “a

responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais

sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões

se acharem decididas no juízo criminal”.22

Desta maneira, verifica-se a relação de independência que existe entre a

responsabilidade civil e a criminal, embora, conforme se extrai do dispositivo acima

mencionado, a sentença penal produza efeitos no âmbito civil.

Sobre o tema, colhe-se os seguintes ensinamentos da lavra de Sílvio de

Salvo Venosa:

De início há um divisor de águas entre a responsabilidade penal e a civil. A ilicitude pode ser civil ou penal. Como a descrição da conduta penal é sempre uma tipificação restrita, em princípio a responsabilidade penal ocasiona o dever de indenizar. Por essa razão, a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível quanto ao dever de indenizar o dano decorrente da conduta criminal, na forma dos arts. 91, I do Código Penal, 63 do CPP e 584, II do CPC. As jurisdições penal e civil em nosso país são independentes, mas há reflexões no juízo cível, não só sob o mencionado aspecto da sentença penal condenatória, como também porque não podemos discutir no cível a existência do fato e da autoria do ato ilícito, se essas questões foram decididas no juízo criminal e encontram-se sob o manto da coisa julgada (art. 64 do CPP, art. 935 do atual Código Civil). De outro modo, a sentença penal absolutória, por falta de provas quanto ao fato, quanto à autoria, ou a que reconhece uma dirimente ou justificativa, sem estabelecer a culpa, por exemplo, não tem influência na ação

22 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Page 19: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

18

indenizatória que pode revolver autonomamente toda a matéria em seu bojo.23

Por conseguinte, com base na doutrina supra colacionada, frisa-se que a

sentença penal condenatória constitui coisa julgada no juízo cível, vez que a autoria

e a existência dos fatos não poderão ser novamente ventilados nessa esfera do

Poder Judiciário. De outro norte, ressalta-se que a sentença criminal absolutória por

falta de provas, por sua vez, não vincula o julgamento da responsabilidade na esfera

civil.

A configuração de responsabilidade civil e penal de forma simultânea não

constitui hipótese incomum, assim como explica Rogério Marrone de Castro

Sampaio:

Importante frisar que não é incomum a mesma conduta configurar ilícito penal e civil. Diante dessa situação, ao mesmo tempo em que se autoriza ao Estado aplicar uma sanção penal prevista em lei, atribui-se também à vítima o direito de se indenizar pelos prejuízos causados em função do mesmo comportamento. É o que ocorre, a título de exemplo, quando tipificado o crime de homicídio. Condenando o réu, a ele impõe-se a aplicação de uma sanção penal (pena privativa de liberdade) em função da caracterização de um ilícito penal. Esse mesmo fato, porém, autoriza a vítima (aquele que dependia do falecido ou que com ele guardava uma relação afetiva) a postular a reparação dos danos (materiais e morais) causados (ressarcimento das despesas com tratamento médico, luto e funeral, pagamento de prestação de alimentos etc.).24

Logo, percebe-se que um mesmo ato ilícito pode gerar responsabilidade

civil e penal e, ainda, que as duas esferas são independentes, ou seja, cabe ao

agente responsável arcar com a punição criminal, bem como com a indenização

imposta na seara cível.

23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 4. p. 23.24 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 23.

Page 20: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

19

1.3.2 Responsabilidade contratual e extracontratual

No que tange à natureza jurídica da norma, pode-se afirmar que a

responsabilidade civil pode ser classificada em contratual e extracontratual.

Silvio Rodrigues, por seu turno, afirma se tratar de uma questão muito

importante a diferenciação existente “[...] entre responsabilidade contratual e

extracontratual, pois uma pessoa pode causar prejuízo a outra tanto por descumprir

uma obrigação contratual como por praticar outra espécie de ato ilícito”.25

Rogério Marrone de Castro Sampaio explica a responsabilidade

contratual, assim como segue:

Na responsabilidade contratual, o dever de indenizar os prejuízos decorre do descumprimento de uma obrigação contratualmente prevista. Tanto é assim que estabelece o art. 389 do Código Civil que, “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”. No Código de 1916, o tema vinha regulado no art. 1.056, que manteve a idéia central, apenas referindo-se, genericamente, ao dever de reparar perdas e danos.26

Desta forma, tem-se que a responsabilidade contratual é aquela que

deriva do descumprimento de um contrato, ou seja, há uma relação jurídica entre as

partes anterior a ocorrência do dano.

Nesse sentido, colaciona-se a seguinte lição:

No tocante à responsabilidade extracontratual ou aquiliana, o dever de indenizar os danos causados decorre da prática de um ato ilícito propriamente dito (ilícito extracontratual), que se consubstancia em uma conduta humana positiva ou negativa violadora de um dever de cuidado (culpa em sentimento lato). Encontra previsão legal no art. 186 do Código Civil (art. 159 do CC/1916). Em outras palavras, a obrigação de reparar o dano não está relacionada à existência anterior de um contrato e ao descumprimento culposo de uma obrigação por ele gerada. Origina-se, outrossim, de um comportamento (genericamente tratado pelo ordenamento jurídico no referido art. 186 do CC) socialmente reprovável. Cita-se como

25 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 8.26 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.

Page 21: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

20

exemplo a hipótese do indivíduo que, dirigindo imprudentemente seu veículo, atropela um pedestre, causando-lhe lesões corporais.27

Para destacar, ainda, a diferenciação entre a responsabilidade contratual

e a extracontratual, importante lembrar que “na responsabilidade extracontratual, o

agente infringe um dever legal, e, na contratual, descumpre o avençado, tornando-se

inadimplente”.28

Assim, basta a verificação da existência de relação jurídica anterior a

ocorrência do dano para distinguir a responsabilidade civil contratual da

responsabilidade civil extracontratual.

1.3.3 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva

A responsabilidade civil, não obstante as demais classificações já

abordadas, pode ser classificada, ainda, em objetiva e subjetiva. Na verdade, “[...]

não se pode afirmar serem espécies diversas de responsabilidade, mas sim

maneiras diferentes de encarar a obrigação de reparar o dano”.29

No que se refere à responsabilidade civil subjetiva, sublinha-se que a

mesma é considerada a regra do instituto e encontra-se prevista no artigo 186 do

Código Civil30, bem como no artigo 92731 do mesmo diploma legal.

A responsabilidade subjetiva, também chamada de responsabilidade

aquiliana ou por atos ilícitos, é aquela pautada na teoria da culpa, assim como

menciona a doutrina:

A responsabilidade civil subjetiva ou clássica, em que se estruturava o Código Civil de 1916, funda-se, essencialmente, na teoria da culpa. Tem-se

27 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.28 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 26.29 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 4. p. 11.30 “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”31 “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Page 22: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

21

como elemento essencial a gerar o dever de indenizar o fator culpa entendido em sentido amplo (dolo ou culpa em estrito). Ausente tal elemento, não há que se falar em responsabilidade civil. Assim, para que se reconheça a obrigação de indenizar, não basta apenas que o dano advenha de um comportamento humano, pois é preciso um comportamento humano qualificado pelo elemento subjetivo culpa, ou seja, é necessário que o autor da conduta a tenha praticado com a intenção deliberada de causar um prejuízo (dolo), ou, ao menos, que esse comportamento reflita a violação de um dever de cuidado (culpa em sentido estrito).32

Na responsabilidade civil subjetiva, Carlos Roberto Gonçalves escreve

que: “A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano

indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano

somente se configura se agiu com dolo ou culpa”.33

Sérgio Cavalieri Filho, por seu turno, explica a culpa como requisito para a

configuração da responsabilidade civil subjetiva:

A idéia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, pó isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva.34

Para Sílvio de Salvo Venosa,

[...], dentro da concepção tradicional a responsabilidade do agente causador do dano só se configura se agiu culposa ou dolosamente. De modo que a prova de culpa do agente causador do dano é indispensável para que surja o dever de indenizar. A responsabilidade, no caso, é subjetiva, pois depende do comportamento do sujeito.35

Dessa maneira, nota-se que a responsabilidade subjetiva, chamada

também de aquiliana ou por ato ilícito, é aquela pautada na teoria da culpa,

pressuposto indispensável para a sua caracterização.

Contudo, observa-se que “[...] nos últimos tempos vem ganhando terreno

a chamada teoria do risco que, sem substituir a teoria da culpa, cobre muitas

32 CASTRO, Rogério Marrone de. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 26.33 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 21.34 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 38.35 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 11.

Page 23: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

22

hipóteses em que o apelo às concepções tradicionais se revela insuficiente para a

proteção da vitima”.36

Desta feita, sublinha-se que, apesar da regra geral disciplinar a

responsabilidade civil subjetiva, o art. 972, parágrafo único, do Código Civil prevê a

possibilidade da responsabilidade sem culpa, ou seja, da responsabilidade civil

objetiva: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.37

Silvio de Salvo Venosa leciona acerca do tema:

Na responsabilidade objetiva, como regra geral, leva-se em conta o dano, em detrimento do dolo ou da culpa. Desse modo, para o dever de indenizar, bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da prova da culpa. Em que pese a permanência da responsabilidade subjetiva como regra geral entre nós, por força do art. 159 do Código de 1916 e do art. 186 do atual Código, é crescente, como examinamos, o número de fenômenos que são regulados sob a responsabilidade objetiva. O próprio Código Civil de 1916 adotara a responsabilidade objetiva em algumas situações, como a do art. 1.529 (atual, art. 938) (responsabilidade do habitante de casa por queda ou lançamento de coisas em lugar indevido). Tendo em vista a realidade da adoção crescente da responsabilidade objetiva pela legislação, torna-se desnecessária a discussão de sua conveniência no âmbito de nosso estudo e no atual estágio da ciência jurídica.38

Destarte, observa-se que a responsabilidade objetiva é denominada,

habitualmente, “[...] como a responsabilidade sem culpa. Em termos de maior apuro

técnico, o melhor é defini-la como ocorrente independentemente de culpa; ou seja,

esta pode ou não existir”.39

Nesse viés, ensina Silvio Rodrigues que:

Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente.40

36 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 6.37 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.38 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 22.39 CASTRO, Guilherme Couto de. A responsabilidade civil objetiva no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 31.40 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 11.

Page 24: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

23

Desse modo, frisa-se que a responsabilidade civil objetiva pressupõe

apenas a presença do dano e do nexo de causalidade, vez que a culpa não é

requisito necessário para o dever de indenizar. Ademais, anota-se, ainda, as

seguintes diferenças apontadas por Inácio de Carvalho Neto:

[...] na responsabilidade subjetiva, além da prova da ação ou omissão do agente, do dano experimentado pela vítima e da relação de causalidade entre um e outro, faz-se mister provar a culpa com que agiu o agente. Já na responsabilidade objetiva, esta culpa é irrelevante; são suficientes aqueles três requisitos.41

Por derradeiro, cumpre destacar, ainda, que a responsabilidade civil

subjetiva é a regra, enquanto a responsabilidade civil objetiva encontra-se presente

apenas em algumas hipóteses previstas na legislação e naquelas situações

enquadradas no parágrafo único do art. 927 do Código Civil.

Conclui-se, portanto, que a responsabilidade civil objetiva, diferentemente

do que ocorre com a subjetiva, independe da comprovação da culpa, ou seja, exige

apenas, para a configuração do dever de indenizar, a presença da ação ou omissão

do agente, do dano e do nexo causal.

1.4 REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Com base no artigo 186 do Código Civil, já mencionado anteriormente,

denota-se que a lei exige alguns requisitos para que surja a responsabilidade civil,

ou seja, a obrigação de reparar o dano causado.

Nesse sentido, Silvio Rodrigues salienta que, da análise do art. 186 do

CC, denota-se “[...] que ele envolve algumas idéias que implicam a existência de

alguns pressupostos, ordinariamente necessários, para que a responsabilidade civil

emerja”.42

41 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade civil no direito de família. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2005. v. IX. p. 48-49.42 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 15.

Page 25: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

24

Logo, destaca-se que constituem requisitos da responsabilidade civil: a

ação ou omissão do agente, a culpa, o dano e o nexo de causalidade. Assim sendo,

cabe, a seguir, o estudo individual de cada um desses pressupostos configuradores

da responsabilidade civil.

1.4.1 Ação ou omissão do agente

Dentre os requisitos da responsabilidade civil, destaca-se, inicialmente, a

ação ou omissão do agente causador do dano e, conseqüentemente, a pessoa

obrigada a indenizar.

A ação ou omissão do agente, para Maria Helena Diniz, consiste no ato

“[...] humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente

imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada,

que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado”.43

Sérgio Cavalieri Filho, ao tratar desse requisito da responsabilidade civil,

afirma que:

Consiste, pois, a ação em um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia, a morte ou lesão corporal causada em alguém, e assim por diante. Já, a omissão, forma menos comum de comportamento, caracteriza-se pela inatividade, abstenção de alguma conduta devida.44

Para Carlos Roberto Gonçalves, “A responsabilidade pode derivar de ato

próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos

causados por coisas e animais que lhe pertença”.45

Nesse sentido, anota a lição de Sílvio Rodrigues:

43 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 43.44 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 43.45 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 32.

Page 26: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

25

Vimos, assim, que a responsabilidade do agente pode advir de ato próprio ou de ato de terceiro. Mas pode, igualmente, ser ele obrigado a reparar o dano causado por coisa ou animal que estava sob sua guarda, ou por dano derivado de coisas que tombem de sua morada.46

Desta maneira, observa-se que o requisito da ação configura-se pelo ato

ou omissão do próprio agente, de terceiro sob sua guarda, ou, ainda, pelo fato de

coisas e de animais que lhe pertençam e que venham a causar danos a terceiros.

1.4.2 Culpa

Quanto à culpa, anota-se que este requisito, em sentido amplo, não

compreende apenas “[...] o ato ou conduta intencional, o dolo (delito, na origem

semântica e histórica romana), mas também os atos ou condutas eivados de

negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito (quase

delito)”.47

Dessa maneira, verifica-se pela doutrina de Maria Helena Diniz que o

pressuposto culpa compreende o dolo:

A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não ter-se apercebido do seu ato nem medido as suas conseqüências.48

Por conseguinte, tem-se que “[...] a conduta culposa do agente erige-se,

como assinalado, em pressuposto principal da obrigação de indenizar”.49

46 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 16.47 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 28.48 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 46.49 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 48.

Page 27: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

26

Ainda, importante destacar que, conforme lembra a doutrina, a prova da

culpa não é tarefa fácil, em muitos casos torna-se um obstáculo ao ressarcimento

dos prejuízos, senão vejamos:

Ordinariamente, para que a vítima obtenha a indenização, deverá provar entre outras coisas que o agente causador do dano agiu culposamente. O encargo de provar a culpa, imposto à vítima, às vezes se apresenta tão difícil que a pretensão daquela de ser indenizada na prática se torna inatingível. Com efeito, não é fácil, para o herdeiro, provar que o motorista do automóvel que atropelou seu pai e de cujo acidente lhe resultou a morte, vinha dirigindo com imprudência.50

Diante disso, a vontade do agente não tem relevância para a

responsabilidade civil, isso porque o que realmente interessa para o recebimento da

indenização é a comprovação da culpa. Por fim, na responsabilidade civil, conforme

se extrai das citações acima, a culpa compreende o dolo, ou seja, é entendida em

seu sentido amplo.

1.4.3 Dano

O dano é último pressuposto exigido pelo art. 186 do Código Civil. Desta

forma, cumpre assinalar que “[...] desde a antigüidade o dano vem sendo

considerado como o prejuízo causado pela ação contrária à norma legal, do qual

decorra a perda ou um desfalque ao patrimônio do lesionado”.51

Para Sílvio de Salvo Venosa, “Dano consiste no prejuízo sofrido pelo

agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico e

não econômico. A noção de dano sempre foi objeto de muita controvérsia”.52

Nessa mesma linha, anota-se o seguinte conceito de dano:

Dano é prejuízo. É diminuição de patrimônio ou detrimento a afeições legítimas. Todo ato que diminua ou cause menoscabo aos bens materiais

50 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. p. 17.51 REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 3.52 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 33.

Page 28: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

27

ou imateriais, pode ser considerado dano. O dano é um mal, um desvalor ou contravalor, algo que se padece com dor, posto que nos diminui e reduz; tira de nós algo que era nosso, do qual gozávamos ou nos aproveitávamos, que era nossa integridade psíquica ou física, as possibilidades de acréscimos ou novas incorporações, [...].53

Ademais, “[...] o dano deve ser considerado como uma lesão a um direito,

que produza imediato reflexo no patrimônio material ou imaterial do ofendido, de

forma a acarretar-lhe a sensação de perda”.54

No mesmo sentido, Maria Helena Diniz aduz que “O dano é um dos

pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não

poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo”.55

Nesse contexto, mister apresentar a distinção entre dano moral e dano

patrimonial: “Quando o prejuízo afeta bem material, diz-se que o dano é patrimonial.

[...] Quando, ao contrário, a lesão afeta sentimentos, vulnera afeições legítimas e

rompe o equilíbrio espiritual, produzindo angústia, humilhação, dor etc., diz-se que o

dano é moral”.56

Acerca do dano patrimonial, registra-se a doutrina de Arnaldo Rizzardo:

No dano patrimonial, há um interesse econômico em jogo. Consuma-se o dano com o fato que impediu a satisfação da necessidade econômica. O conceito de patrimônio envolve qualquer bem exterior, capaz de classificar-se na ordem das riquezas materiais, valorizável por sua natureza e tradicionalmente em dinheiro. Deve ser idôneo para satisfazer uma necessidade econômica e apto de ser usufruível.57

Já no que concerne ao dano moral, a doutrina afirma que se trata daquele

prejuízo que “[...] atinge valores eminentemente espirituais ou morais, como a honra,

a paz, a liberdade física, a tranqüilidade de espírito, a reputação etc”.58

Sobre o dano moral, acrescenta-se:

53 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 74.54 REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 4.55 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 63.56 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 78.57 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 17.58 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 246.

Page 29: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

28

Muitos doutrinadores consideram árdua a tarefa de separar o joio do trigo, isto é, delimitar, frente ao caso concreto, o que venham a ser dissabores normais da vida em sociedade e o que venha ser danos morais. Esta questão é das mais tormentosas, exatamente por não existirem critérios objetivos definidos em lei, de tal sorte que o julgador acaba por buscar supedâneo na doutrina e na jurisprudência para aferir a configuração ou não do dano moral. É preciso haver, na avaliação do dano moral, prudência e bom senso, de tal sorte que se possa, considerando o homem médio da sociedade, ver configurado ou não a lesão a um daqueles bens inerentes à dignidade humana de que a Constituição nos fala.59

Contudo, é sabido que “as sensações desagradáveis, por si sós, que não

trazem em seu bojo lesividade a algum direito personalíssimo, não merecerão ser

indenizadas. Existe um piso de inconvenientes que o ser humano tem que tolerar

[...]”.60

Pelo exposto, o conceito de dano está diretamente relacionado à noção

de prejuízo. Em linhas gerais, significa a perda ou a diminuição de bens materiais ou

morais. Por isso, afirma-se que não existe indenização sem dano, motivo pelo qual a

demonstração do prejuízo é medida necessária para a responsabilização civil do

agente.

1.4.4 Nexo causal

O nexo causal também constitui um pressuposto necessário da

responsabilidade civil, isso porque não é suficiente que a pessoa tenha realizado

“[...] uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso

que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre

ambos uma necessária relação de causa e efeito”.61

No que tange ao conceito de nexo de causalidade, registra-se:

59 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do quantum. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004. p. 8.60 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 113.61 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 65.

Page 30: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

29

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou o dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.62

Desta feita, denota-se que o denominado nexo de causalidade diz

respeito “[...] à relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o

dano verificado. Vem expressa no verbo ‘causar’, utilizado no art. 186. Sem ela, não

existe a obrigação de indenizar”.63

Sílvio de Salvo Venosa, por seu turno, comenta sobre o nexo de

causalidade:

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identifica o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito.64

Conclui-se, desta maneira, que o nexo causal trata da relação causa e

efeito que associa o ato do agente ao dano. A prova desse liame é medida

necessária para o dever de indenizar, ou seja, para a o reconhecimento da

responsabilidade civil do agente.

Dessa forma, o nexo de causalidade é o liame que une a ação ou a

omissão do agente e o dano experimento pela vítima. Por isso, a prova dessa

relação de causa e efeito apresenta-se como medida necessária para o dever de

indenizar, ou seja, para a o reconhecimento da responsabilidade civil do agente.

Em últimas linhas, destaca-se a importância e a necessidade da presença

de todos os requisitos acima mencionados para a configuração do instituto da

62 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 45.63 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 33.64 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 45.

Page 31: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

30

responsabilidade civil e, conseqüentemente, para a reparação dos danos

injustamente experimentados.

Finalmente, registra-se que, após a análise do instituto da

responsabilidade civil, será abordado, no próximo capítulo da pesquisa, a

responsabilidade civil profissional, especificamente do cirurgião dentista, bem como

o estudo das obrigações de meio e de resultado.

Page 32: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

31

2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA

Após a análise dos principais aspectos do instituto da responsabilidade

civil no capítulo anterior, passa-se, agora, ao estudo da responsabilidade civil do

cirurgião dentista.

Com isso, registra-se que o presente capítulo monográfico tem como

principal objetivo abordar a responsabilidade civil profissional, especialmente do

cirurgião dentista, as normas regulamentadoras da profissão, as obrigações de meio

e de resultado, a natureza obrigacional dos serviços odontológicos e, finalmente, a

responsabilidade civil do cirurgião dentista frente ao Código de Defesa do

Consumidor.

2.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PROFISSIONAL

No âmbito da responsabilidade civil, um dos pontos mais importantes e

dramáticos diz respeito aos danos causados em virtude da realização de uma

atividade profissional e, consequentemente, da aferição da responsabilidade do

profissional.

No mundo do trabalho, a atividade humana, pode ser conceituada, no

senso comum, como uma atividade profissional. Contudo, a sociologia “[...] enfatiza

alguns elementos que constituem uma profissão: a autonomia, aderência ao ideal de

serviço, forte identidade profissional – traduzida pelo código de ética –, e a

demarcação do território profissional”.65

Nesse sentido, cumpre registrar que, “no campo das relações laborais,

toda vez que se utilizar a expressão ‘atividade profissional’, entenda-se o

65 TEIXEIRA, Marcia, et al. Notas sobre a profissionalização da odontologia. In: MACHADO, Maria Helena (org.). Profissões de saúde: uma abordagem sociológica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. p. 184.

Page 33: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

32

desempenho da atividade do trabalhador, reservando-se o termo ‘atividade

econômica’ para o empreendimento empresarial”.66

Passadas essas considerações sobre a atividade profissional, importante

destacar, conforme salienta a doutrina, que:

Algumas profissões, pelos riscos que apresentam para a sociedade estão sujeitas à disciplina especial. O erro profissional em certos casos pode ser fatal, razão pela qual é preciso preencher requisitos legais para o exercício de determinadas atividades laborativas, que vão desde a diplomação em curso universitário destinada a dar ao profissional habilitação técnica específica até a inscrição em órgão especial.67

Nesse quadrante, ou seja, na análise da responsabilidade profissional, “a

doutrina assinala com grande acerto que tanto o médico, dentista, como o jurista

encarnam sentidos humanísticos, enquanto exercem profissões diretamente

estabelecidas ao serviço do homem; ambos procuram o bem-estar humano”.68

Desta feita, sem desconsiderar a importância das demais profissionais,

pondera-se que, determinadas atividades, considerando o grau de risco

experimentado, encontram-se mais propícias à ocorrência de danos ao consumidor,

assim como segue:

Outros serviços, contudo, já se mostram aptos a ocasionar danos, pois possuem ou podem possuir uma considerável dose de risco à saúde e segurança ao consumidor. Pode-se citar a título exemplificativo, as operações cirúrgicas, o trabalho dos enfermeiros, a manipulação de fórmulas pelos farmacêuticos, a utilização de agrotóxicos por engenheiro agrônomo, a prescrição equivocada de medicamento pelo nutricionista ou médico qualquer.69

Por conseguinte, nas palavras de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho, “partindo-se do pressuposto de que o sujeito realiza a atividade em

66 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 228.67 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Responsabilidade profissional: programa de responsabilidade civil. 6. ed. aum. e atual. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 390.68 ARAÚJO, André Luis Maluf de. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. In: BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil médica, odontológica e hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 156.69 PASQUINI, Luís Fernando Barbosa. O profissional liberal e sua responsabilidade civil na prestação de serviços. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1095, 1 jul. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8574>. Acesso em: 02 set. 2008.

Page 34: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

33

decorrência de sua atuação profissional, estar-se-á, sempre, em regra, no campo da

responsabilidade civil contratual”.70

Para tanto, seguem os doutrinadores mencionados afirmando que “[...] o

exercício do ofício pressupõe, em condições normais, a interatividade da realização

de um negócio jurídico, em que o profissional se obriga a realizar determinada

atividade pactuada”.71

Em contraponto, destaca-se que a responsabilidade civil dos profissionais,

em regra, “[...] depende de prova de que eles se afastaram de sua profissão e arte,

agindo com imprudência, imperícia ou negligência”.72

Nessa mesma linha, o Código de Defesa do Consumidor, conforme se

estudará adiante, “[...] estabeleceu como regra a responsabilidade subjetiva para os

profissionais liberais prestadores de serviços”.73

Logo, verifica-se que a prova da culpa mostra-se imprescindível para a

configuração da responsabilidade civil do profissional liberal, gênero do qual a

profissão de cirurgião dentista constitui espécie.

2.2 DA RESPONSABILIDADE DO CIRURGIÃO DENTISTA

Inicialmente, destaca-se que o direito à saúde, previsto na Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, como um direito de todos e dever do

Estado,74 apresenta-se como um reflexo do direito à saúde estabelecido em vários

instrumentos normativos internacionais.

70 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 229.71 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 229.72 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 257.73 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Responsabilidade profissional: programa de responsabilidade civil. 6. ed. aum. e atual. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 390.74 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Page 35: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

34

Nesse viés, frisa-se que a “[...] responsabilidade civil e o direito à saúde

são dois temas extremamente vivos e atuais, não apenas para o jurista, senão para

toda a sociedade”.75

Sobre a saúde como um direito fundamental e da necessidade de

reparação dos danos causados a esse direito, anota-se a lição da doutrina:

A Constituição da Organização Mundial de Saúde foi firmada em nova Iorque em 22 de julho de 1946, proclamando em seu preâmbulo o direito a saúde como um dos direitos fundamentais para todo o ser humano. O Estado, por conseguinte, tem a obrigação de proteger e garantir o direito à saúde dos cidadãos, e todo fracasso deve ter um responsável, e este, a título individual ou a título coletivo, deve reparar o prejuízo causado.76

Contudo, denota-se que em todo o país crescem, a cada dia, “[...] as

situações em que os pacientes, nos mais diversos ramos do atendimento em saúde,

sentindo-se prejudicados, por ocasião de um tratamento, buscam a via judicial para

ressarcirem-se de um dano que julgam ter sofrido”.77

No ramo da odontologia a questão não é diferente, vez que o cirurgião

dentista, constantemente, é “[...] alvo de processos judiciais, no terreno da

responsabilidade civil, para que indenize o paciente de uma lesão, patrimonial ou

extra-patrimonial, da qual ele julga ser vítima em virtude de um tratamento

odontológico”.78

Ademais, relevante anotar que a responsabilidade civil dos cirurgiões

dentistas é abordada pela doutrina no mesmo patamar da responsabilidade médica,

por isso, haja vista uma maior discussão dos aspectos concernentes à

75 ARAÚJO, André Luis Maluf de. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. In: BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil médica, odontológica e hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 156.76 ARAÚJO, André Luis Maluf de. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. In: BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil médica, odontológica e hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 156.77 SOUZA, Neri Tadeu Camara. Odontologia e responsabilidade civil. Data publicação: 4 jun. 2006. Disponível em: <http://www.consulteja.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=826&Itemid=205>. Acesso em: 15 ago. 2008.78 SOUZA, Neri Tadeu Camara. Odontologia e responsabilidade civil. Data publicação: 4 jun. 2006. Disponível em: <http://www.consulteja.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=826&Itemid=205>. Acesso em: 15 ago. 2008.

Page 36: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

35

responsabilização dos médicos, reclama-se uma ausência de material especializado

destinado à área odontológica.79

Todavia, sublinha-se que, antes de entrar propriamente no assunto da

responsabilidade civil do cirurgião dentista, importante analisar, no próximo item da

pesquisa, alguns aspectos principais relacionados à profissão discutida.

2.2.1 A Profissão do Cirurgião Dentista – Breve Escorço Histórico

O exercício da odontologia, consoante os relatos históricos apresentados

pela literatura, mostra-se presente desde os tempos mais primitivos da existência

humana.

De acordo a doutrina, “[...] no Egito antigo, na Fenícia e Mesopotâmia já

se desenvolviam técnicas que envolviam o tratamento dentário, por pessoas que

possuíam habilidades para tal”. Até mesmo o Código de Hamurabi, conhecido como

uma das primeiras legislações do mundo, previa a responsabilização daqueles que

não desempenhavam corretamente as técnicas de tratamento, assim como

menciona-se: “Lei nº 200: se alguém arrancar o dente de um igual, seu próprio dente

será arrancado. Lei nº 201: se alguém arrancar o dente de um inferior, será multado

em um terço de uma mina de prata”.80

Trata-se da chamada Lei do Talião em que vigorava o princípio do “olho

por olho, dente por dente”.

Acerca da odontologia em Roma, sublinha-se a lição de Carolina

Willemann:

Em Roma, a Odontologia era vista como um ramo da medicina e não se fazia nenhuma distinção entre doenças da boca e dos dentes e doenças que afetavam outras partes do corpo. Entretanto, os romanos possuíam

79 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 6. ed. v. 4. São Paulo: Atlas, 2006. p. 144.80 WILLEMANN, Carolina. A responsabilidade civil do cirurgião dentista não-autônomo nas situações de emergência das atividades hospitalares. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3129>. Acesso em: 31 ago. 2008.

Page 37: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

36

habilidades para o tratamento de cáries com restaurações, extração de dentes, e, principalmente, a higiene bucal.81

Em que pese toda a evolução constatada ao longo dos tempos, somente

no século XVIII, “[...] Pierre Fauchard, através do tratado Le Cirurgien Dentist,

instituiu os princípios norteadores da profissão do cirurgião dentista, e, assim, foi

considerado o ‘pai da odontologia’”.82

No Brasil, vislumbra-se o exercício da odontologia desde o período do

descobrimento, em 1500, embora de forma bastante precária e sem quaisquer

tecnicismos. Lembra a doutrina que, na época, “[...] o que existiam eram cirurgiões,

barbeiros e sangradores, que resumiam as suas funções à extração dentária”.83

Atualmente, a odontologia no Brasil é considerada uma atividade

autônoma, ou seja, desvinculada da Medicina, com regulamentação própria

fornecida pela Lei Federal n.º 5.081, de 24 de agosto de 1966.

2.2.2 Normas Regulamentadoras da Profissão e da Responsabilidade Civil do

Cirurgião Dentista

A profissão da odontologia, atualmente, encontra-se rodeada por diversas

normas que disciplinam a profissão e norteiam o comportamento adequado que

deve ser desenvolvido pelos cirurgiões-dentistas, assim como pelos demais

profissionais da área relativa à saúde bucal.

Sublinha-se que esse aglomerado de Leis, Decretos e Legislações

apresentam normas de caráter geral, bem como de cunho específico.84 Desta feita,

81 WILLEMANN, Carolina. A responsabilidade civil do cirurgião dentista não-autônomo nas situações de emergência das atividades hospitalares. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002.Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3129>. Acesso em: 31 ago. 2008.82 WILLEMANN, Carolina. A responsabilidade civil do cirurgião dentista não-autônomo nas situações de emergência das atividades hospitalares. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3129>. Acesso em: 31 ago. 2008.83 WILLEMANN, Carolina. A responsabilidade civil do cirurgião dentista não-autônomo nas situações de emergência das atividades hospitalares. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3129>. Acesso em: 31 ago. 2008.84 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em:

Page 38: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

37

dentre as normas gerais que tratam da odontologia, salienta-se a importância do

Código Civil, Lei 10.406/2002, do Código Penal, Decreto-lei n. 2.848, de 07 de

setembro de 1940, e, ainda, do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078 de 11

de setembro de 1990.

Quanto à normatização específica, destaca-se a já mencionada Lei n.º

5.081/66; a Lei n.º 4.324/64, que Institui o Conselho Federal e os Conselhos

Regionais de Odontologia; o Decreto n. 68.704/71, que regulamenta a Lei n.º 4.324;

a Resolução CFO 43/2003, que institui o Código de Ética Odontológica; a Resolução

CFO 59/2004, que revogou o Código de Processo Ético Odontológico aprovado pela

Resolução CFO-183/92 e aprovou outro em substituição e a Resolução CFO

63/2005, que trata da consolidação das normas para procedimento nos Conselhos

de odontologia.85

A Lei 5.081/66, que disciplina o exercício da odontologia em todo o

território nacional, em seu artigo 2º, declara que: “O exercício da Odontologia no

território nacional só é permitido ao cirurgião-dentista habilitado por escola ou

faculdade oficial ou reconhecida, [...]”.86

Acerca das disposições dessa lei, anota-se a lição extraída da doutrina de

Ida Calvielli:

A citada lei nº 5.081/66, ao regular o exercício da Odontologia em todo o território nacional, contemplou apenas a figura do cirurgião-dentista, estabelecendo os requisitos exigidos para a sua "capacitação legal". Assim sendo, o exercício legal da odontologia no Brasil era sinônimo de atuação do cirurgião-dentista.87

No que tange à legislação atinente a responsabilidade civil do Cirurgião

Dentista, pondera-se que o Código de Defesa do Consumidor, haja vista a

importância do tema, será abordado em tópico próprio, ainda neste capítulo da

monografia.

<http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.85 BRASÍLIA. Conselho Federal de Odontologia. Legislação. 86 BRASIL. Lei Federal n.º 5.081, de 24 de agosto de 1966. Regula o exercício da odontologia. 87 CALVIELLI, Ida T. P. Exercício lícito da odontologia. In: Compêndio de odontologia legal. Rio de Jeneiro: MEDSI, 1997. p. 03-13.

Page 39: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

38

Com relação ao conceito de responsabilidade civil, “[...] trata-se do dever

legal deste profissional de indenizar o paciente quando, no exercício de seu ofício,

causar-lhe um dano material e/ou moral”.88

O antigo Código Civil de 1916, influenciado pela legislação civil francesa,

estabelecia, expressamente, no art. 1545, a responsabilidade civil do cirurgião

dentista nos seguintes termos: “Art. 1.545. Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos,

parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o dano, sempre que da imprudência,

negligência ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir,

ou ferimento”.89

Todavia, o Novo Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, em vigor desde

janeiro de 2003, alterou o texto do referido art. 1545 do CC/1916, para declarar, no

art. 951, que:

Art.951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.90

Acerca dos dispositivos da legislação civilista supramencionados, colhe-

se da lavra doutrinária que:

Em verdade, destaque-se que o art. 1.545 do Código Civil brasileiro de 1916 os colocava no mesmo patamar de médicos, cirurgiões e farmacêuticos, e sua norma equivalente no CC-02 – o já transcrito art. 951 -, embora não nomine expressamente tais profissionais, também não os exclui, sendo razoável o reconhecimento da manutenção da regra, até mesmo pela menção ao indivíduo “paciente”.91

Ademais, com base nesses dispositivos, tendo em vista a previsão das

modalidades de culpa (imprudência, negligência e imperícia), verifica-se que, para

emergir a obrigação de indenizar em virtude do exercício profissional de cirurgião

dentista, é necessário a presença de todos os requisitos da responsabilidade civil

88 CAIXETA, Francisco Carlos Távora de Albuquerque. Da responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data publicação: agosto de 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/cirurgiao-dentista.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.89 BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código civil. 90 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. 91 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 251.

Page 40: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

39

subjetiva, ou seja, aquela pautada na teoria da culpa, conforme estudado no capítulo

anterior.

Logo, para tanto, concluí-se que o “[...] agente tem que ser um cirurgião-

dentista legalmente habilitado, que pratique ato profissional agindo com ausência de

dolo, do qual decorra a existência de dano e que haja um nexo causal entre a

conduta do dentista e o advento deste dano”.92

Todavia, oportuno salientar, em que pese a presente pesquisa abordar

especificamente o cirurgião dentista, que a Resolução do Conselho Federal de

Odontologia n.º 63/2005, que trata da consolidação das normas para procedimento

nos Conselhos de odontologia, no art. 1º, estabelece que:

Art..1º. Estão obrigados ao registro no Conselho Federal e à inscrição nos Conselhos Regionais de Odontologia em cuja jurisdição estejam estabelecidos ou exerçam suas atividades: a) os cirurgiões-dentistas; b) os técnicos em prótese dentária; c) os técnicos em higiene dental; d) os auxiliares de consultório dentário; e) os auxiliares de prótese dentária; f) os especialistas, desde que assim se anunciem ou intitulem; g) as entidades prestadoras de assistência odontológica, as entidades intermediadoras de serviços odontológicos e as cooperativas odontológicas e, empresas que comercializam e/ou industrializam produtos odontológicos; h) os laboratórios de prótese dentária; i) os demais profissionais auxiliares que vierem a ter suas ocupações regulamentadas; j) as atividades que vierem a ser, sob qualquer forma, vinculadas à odontologia. 93

Nesse contexto, completa Ida Calvielli que o desenvolvimento da

odontologia não deve mais ser entendido como aquela atividade exercida

exclusivamente pelo cirurgião-dentista, mas “[...] compreendendo as atividades

desenvolvidas por um grupo de profissionais ‘em benefício da saúde do ser humano

e da coletividade, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto’ (art. 2º do

Código de Ética Odontológica)”.94

Coaduna também desse posicionamento a doutrina de Sílvio de Salvo

Venosa que, por seu turno, ensina que “[...] ao lado da Odontologia propriamente

92 CAIXETA, Francisco Carlos Távora de Albuquerque. Da responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data publicação: agosto de 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/cirurgiao-dentista.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.93 BRASÍLIA. Conselho Federal de Odontologia. Resolução 63/2005. Consolidação das normas para procedimento nos Conselhos de odontologia. 94 CALVIELLI, Ida T. P. Exercício lícito da odontologia. In: Compêndio de odontologia legal. Rio de Jeneiro: MEDSI, 1997. p. 03-13.

Page 41: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

40

dita, atualmente, há inúmeros profissionais que auxiliam o odontólogo e cuja

responsabilidade também deve aflorar e deve ser devidamente analisada”.95

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho afirmam que,

considerando ser a responsabilidade final do cirurgião-dentista, “[...] sempre que

houver responsabilidade desses profissionais, responderão eles, quando muito,

solidariamente com o profissional principal. Eventualmente, pode aflorar a

responsabilidade regressiva do dentista contra esses auxiliares”.96

Diante disso, denotam-se os principais diplomas normativos, jurídicos ou

administrativos que disciplinam a atividade profissional da odontologia, bem como a

responsabilidade do cirurgião-dentista e de seus auxiliares ou demais profissões

correlatas.

2.3 DAS OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO

Nesse contexto, para o real entendimento do tema “responsabilidade civil

do cirurgião dentista”, mister destacar alguns comentários acerca da classificação

que divide as obrigações em: obrigações de meio e de resultado.

Na responsabilidade civil no âmbito da odontologia, assim como na

medicina e nas demais profissões relacionadas com a área da saúde, é comum

discutir-se a problemática que envolve a contratação de obrigações de meio ou de

resultado firmada entre profissionais e pacientes.97

Frisa-se que se configura de meio aquela obrigação “[...] em que o

devedor se obriga a empreender a sua atividade, sem garantir, todavia, o resultado

esperado”.98 Nessa espécie de obrigação, “[...] o devedor (profissional) se obriga

tão-somente a usar de prudência e diligência normais para a prestação de certo

95 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 6. ed. v. 4. São Paulo: Atlas, 2006. p. 108.96 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 251.97 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 82.98 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 229.

Page 42: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

41

serviço, segundo as melhores técnicas, com o objetivo de alcançar um determinado

resultado, sem se vincular a obtê-lo”.99

Nesse mesmo sentido, Rui Stoco assevera que:

A obrigação é de meios quando o profissional assume prestar um serviço ao qual dedicará atenção, cuidado e diligência exigidos pelas circunstâncias, de acordo com o seu título, com os recursos de que dispõe e com o desenvolvimento atual da ciência, sem se comprometer a com a obtenção de um certo resultado.100

Já no que se refere à obrigação de resultado, verifica-se que,

diferentemente do que ocorre na obrigação de meio, “[...] o devedor se obriga não

apenas a empreender sua atividade, mas, principalmente, a produzir o resultado

esperado pelo credor”.101

Portanto, tem-se que a obrigação assumida pelo profissional será

classificada como de resultado “[...] quando o devedor se comprometer a realizar um

certo fim, como, por exemplo, transportar uma carga de um lugar a outro, ou

consertar e pôr em funcionamento uma certa máquina [...]”.102

Sobre a obrigação de meio e de resultado, respectivamente, colhe-se da

doutrina que:

[...] na primeira forma, o obrigado só será responsável se o credor comprovar a ausência total do comportamento exigido ou uma conduta pouco diligente, prudente e leal, ao contrário da segunda modalidade, em que o credor só se isentará de responsabilidade se demonstrar que agiu culposamente. Ou seja, em ambas as situações, o elemento culpa é relevante, mas o ônus de sua prova deverá ser distribuído em função da forma de obrigação avençada.103

Assim, na hipótese de responsabilização do profissional por danos

decorrentes de obrigação de resultado, compete a vítima comprovar, “[...] além da

99 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 229.100 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 83.101 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 229.102 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 83.103 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 230.

Page 43: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

42

existência do contrato, a não obtenção do objetivo prometido, pois isso basta para

caracterizar o descumprimento do contrato, independente das suas razões, cabendo

ao devedor provar o caso fortuito ou a força maior,[...]” para exonerar-se da

responsabilidade.104

2.3.1 Natureza Obrigacional dos Serviços Odontológicos: Obrigação de Meio

ou de Resultado?

O ponto central da responsabilidade civil do cirurgião dentista e, por

conseqüência, da sua obrigação de indenizar, reside, fundamentalmente, na

modalidade de obrigação assumida pelo profissional, ou seja, obrigação de meio ou

de resultado. Segundo a doutrina, “[...] essa é uma tarefa que se assemelha a um

dos doze trabalhos de Hércules”.105

Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, em síntese, a

atividade odontológica pode ser classificada como de resultado sempre que

apresentar apenas fins estéticos.106

Todavia, “[...] determinadas intervenções para o tratamento de patologias

bucais deverão, por obvias razões, ser enquadradas na categoria de ‘obrigações de

meios’, dada a impossibilidade de garantir o restabelecimento completo do

paciente”.107

A respeito dessa problemática, colaciona-se a seguinte reflexão sobre as

obrigações de meio e de resultado no âmbito dos procedimentos odontológicos:

Separemos, de início, os casos extremos. Na cura de um canal, numa intervenção na gengiva, na obstrução de uma cárie, situada na parte de trás

104 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 83.105 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.106 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 251.107 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva: 2003. p. 251.

Page 44: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

43

de um dente, o problema estético não há relevante e a obrigação de curar é uma obrigação nitidamente de meio. Na feitura de uma jaqueta, na colocação de um pivot, a preocupação do cliente é obviamente uma preocupação estética, e, no caso, a meu ver, a obrigação assumida pelo dentista é uma obrigação de resultado. Todavia, serão muito mais numerosos os casos intermediários, em que a preocupação estética e a de cura se encontram de tal modo entrelaçadas que o exame do caso concreto é que dirá se houve ou não desempenho adequado do profissional.108 [sem grifo no original].

Com base nessas informações, pode-se observar o liame tênue que

separa ambas as obrigações quando se trata de prestação de serviços

odontológicos.

Nesse viés, a literatura especializada apresente diversas situações em

que os profissionais da odontologia, especialmente os cirurgiões dentistas, adotando

“[...] as mesmas técnicas com sucesso em vários pacientes, obtiveram insucesso em

um ou outro caso, em função de idiossincrasias ou de problemas individuais de cada

um deles, que não era passíveis de detecção antes dos procedimentos

cirúrgicos”.109

Em contraponto, “[...] há um consenso, quanto ao fato que a dentística

estética, a ortodontia e a prótese, são consideradas, pela abrumadora maioria dos

doutrinadores e tribunais, como sendo obrigações de resultado”.110

Nesse mesmo sentido, destaca Rui Stoco que a obrigação de resultado

evidencia-se ainda mais quando se trata de procedimento dentário que envolva a

colocação de prótese, restauração, limpeza etc., considerando configurar

tratamentos dirigidos unicamente para o aspecto estético e higiênico.111

Aliás, cumpre ressaltar, nesse passo, o impacto que determinadas

publicidades acarretam no âmbito da odontologia, especialmente quando tomadas

como fator determinante para a configuração da obrigação de resultado:

108 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 256.109 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.110 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.111 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 267.

Page 45: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

44

[...] é preciso atentar para o perigo do uso pelos odontólogos de expressões como: “Este tratamento irá deixar seu sorriso maravilhoso” ou “Você irá tornar-se mais jovem com esta prótese”, porque tais argumentos “colocam sobre o tratamento um manto de obrigação de resultado”, por gerar uma expectativa de resultado no paciente, o qual, ao ver que os resultados obtidos não coincidem com as promessas e as expectativas nutridas ao longo do tratamento, opta, muitas vezes, por demandar judicialmente o cirurgião-dentista.112

Desta feita, com o intuito de amenizar o conflito travado acerca da

natureza obrigacional dos procedimentos odontológicos, importante destacar, de

plano, a distinção entre procedimentos odontológicos de cirurgia reparadora ou

corretiva e a cirurgia odontológica meramente estética.

Na cirurgia estética, a finalidade “[...] do paciente é a de mudar alguns

aspectos subjetivos de sua aparência, implantando elementos faltantes, criando

diastema inexistente (por modismo), clareando peças dentárias escurecidas pelo

tempo e/ou por fatores externos”.113 Quanto à hipótese de cirurgias reparadoras ou

corretivas, verifica-se que o tratamento é realizado “[...] para reparar deformidades

físicas adquiridas (pós-traumáticas) ou congênitas (queilosquise, uranosquise etc.),

tratando-se, portanto, de obrigação de meio [...]”. Nesse caso, observa-se que “[...] o

profissional dará o melhor de seus conhecimentos e de sua técnica para atingir os

melhores resultados possíveis”.114

A despeito de toda essa controvérsia, a doutrina, de uma forma bem

ampla, classifica algumas especialidades como obrigação de meio e outras na

qualidade de obrigação de resultado.

Nesse quadrante, André Luiz Maluf de Araújo, no artigo intitulado

“Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas”, apresenta as seguintes

especialidades odontológicas como obrigações de resultado: dentística

restauradora; odontologia legal; odontologia preventiva e social; ortodontia; prótese

dental e radiologia. Por conseguinte, o mesmo autor, elenca as seguintes

112 ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006. p. 87.113 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.114 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.

Page 46: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

45

especialidades que podem ser consideradas como de resultado, a depender do caso

concreto: cirurgia e traumatologia buco-maxilofaciais; endodontia; odontopediatria;

patologia bucal; peridontia e prótese buco-maxilofacial.115

Neri Tadeu Câmara Souza, por seu turno, tomando como parâmetro o

objeto jurídico do contrato de prestação de serviços odontológicos, considera as

seguintes especialidades:

[...] como sendo uma obrigação de resultado estas: Dentística Restauradora, Odontologia em Saúde Coletiva, Odontologia Legal, Patologia Bucal, e Radiologia. E, tendo como seu objeto contratual, preferencialmente - conceitualmente - uma obrigação de meios estas: Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais, Endodontia, Odontopediatria, Periodontia, Ortodontia, Prótese Buco-Maxilo-Facial, Estomatologia, Disfunção Têmporo-Mandibular e Dor Oro-Facial, Odontologia do Trabalho, Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Odontogeriatria e Ortopedia Funcional dos Maxilares.116 [sem grifo no original].

Destaca-se a importância da caracterização da espécie de obrigação

assumida pelo cirurgião dentista para com o paciente em virtude da comprovação da

responsabilidade, isso porque, nas obrigações de meio, cabe ao paciente

demonstrar, além do dano efetivamente experimentado, a culpa do profissional, vez

que, “[...] diante da ausência da prova de culpa do cirurgião-dentista, não se pode

responsabilizar civilmente este profissional”.117

Logo, conclui-se que, ao julgar a natureza obrigacional dos serviços

odontológicos, é preciso analisar com muito cuidado o caso concreto e suas

peculiaridades para declarar a responsabilidade civil do cirurgião dentista.

Diante do exposto, nota-se a discussão que engloba as obrigações

assumidas pelos profissionais da odontologia na oportunidade de celebração do

contrato de prestação de serviços odontológicos com o paciente. No entanto,

importante ponderar que, embora a doutrina apresente algumas especialidades

odontológicas como capazes de gerar obrigações de resultado, a análise do caso

115 ARAÚJO, André Luis Maluf de. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. In: BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil médica, odontológica e hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 155.116 SOUZA, Neri Tadeu Camara. Odontologia e responsabilidade civil. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 4, nº 181. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=1334>. Acesso em: 13 ago. 2008.117 CAIXETA, Francisco Carlos Távora de Albuquerque. Da responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data publicação: agosto de 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/cirurgiao-dentista.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.

Page 47: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

46

concreto mostra-se vital para o correto julgamento da responsabilidade civil do

cirurgião dentista.

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA E O CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código de Defesa do Consumidor, legislação criada em 1990 para

normatizar regras de proteção ao consumidor, representa, para toda a coletividade,

uma grande conquista, haja vista que, basicamente, “[...] regula todas as relações

contratuais entre a pessoa que adquire um produto e um serviço como destinatário

final (art. 2º) e um fornecedor, que é todo aquele que fornece um produto ou um

serviço mediante remuneração”.118

Diante disso, entende-se que a relação entre paciente e cirurgião dentista

encontra-se abrangida da pelo Código de Defesa do Consumidor.119 Com isso,

verifica-se que, à luz do Código de Defesa do Consumidor, “[...] o paciente passou a

ser considerado como um simples consumidor e o profissional da Odontologia como

um mero fornecedor de serviços em face dos quais poderá ser responsabilizado pela

reparação dos danos causados a seus pacientes”.120

Nesse sentido, de acordo com o Artur Cristiano Arantes:

Na linguagem do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, o paciente é o consumidor para quem se presta um serviço; o cirurgião-dentista é o fornecedor que desenvolve atividades de prestação de serviços e o ato odontológico, uma atividade mediante remuneração a pessoas físicas sem vínculo empregatício, ou a pessoas jurídicas com ou sem vínculo empregatício, quando o cirurgião-dentista a ela estiver de alguma forma vinculado.121

118 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 254.119 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 254.120 ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006. p. 98.121 ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006. p. 98.

Page 48: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

47

No entanto, importante destacar que, segundo o mesmo autor, à luz do

Código de Proteção e Defesa do Consumidor, o cirurgião-dentista pode ser

considerado tanto como consumidor quanto fornecedor. Para explicar tal

posicionamento, anota-se o seguinte exemplo:

a) Quando um paciente contrata um cirurgião-dentista para a confecção de uma prótese dentária e este profissional se dirige a uma Dental (loja especializada em vendas de produtos de uso odontológico) para comprar material de moldagem que será usado na prótese do paciente, o cirurgião-dentista não é o consumidor, pois o material de moldagem comprado não é um bem de consumo, mas sim um bem de produção. Quer dizer, o cirurgião-dentista não é o destinatário final da prótese dentária. In casu, o consumidor é o paciente, sendo a prótese dentária um bem de consumo protegido pelo Código consumerista. Logo, se o material de moldagem apresentar alguma espécie de problema, o odontologista terá que se socorrer do Código Civil, e não do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, para pleitear o ressarcimento de seu prejuízo. b) Quando o mesmo cirurgião-dentista se dirige a uma livraria para comprar uma agenda profissional de dentista para agendar as consultas de seus pacientes, este profissional é o consumidor, pois é o destinatário final da agenda (bem de consumo). In casu, se a agenda apresentar alguma espécie de problema, o odontologista poderá se socorrer do Código de Proteção e Defesa do Consumidor para pleitear o ressarcimento de seu prejuízo.122

No art. 14, a legislação consumerista, por seu turno, dispõe a respeito da

responsabilidade do fornecedor pelos danos causados aos consumidores, assim

como segue:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.123

Denota-se que esse dispositivo legal, previsto no Código de Defesa do

Consumidor, “[...] consagra a responsabilidade objetiva dos fornecedores ou

prestadores de serviço, isto é, não se exige prova de culpa do responsável pelo

serviço para que ele seja obrigado a reparar o dano”.124

122 ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006. p. 97-98.123 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.124 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em:

Page 49: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

48

Contudo, no que se refere à responsabilidade dos profissionais liberais,

categoria em que se insere, em regra, os cirurgiões-dentistas, o § 4º, do

supramencionado art. 14, consagra, mesmo se tratando de relação de consumo, a

responsabilidade subjetiva do profissional, ou seja, exige, como pressuposto da

indenização, a comprovação da culpa.

Nesse sentido, cita-se o dispositivo legal em comento: “§ 4° A

responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a

verificação de culpa”.125

Assim, os cirurgiões dentistas “[...] somente serão responsabilizados por

danos quando ficar provada a ocorrência de culpa subjetiva, em quaisquer de suas

modalidades: negligência, imprudência ou imperícia”.126

Acredita-se, conforme salienta a doutrina, que não se aplica a teoria da

responsabilidade civil objetiva aos profissionais da odontologia em função dos

mesmos “[...] serem contratados com base na confiança que inspiram aos seus

clientes e respectivos familiares”.127

Sobre o tema, anota-se a lição de Artur Cristiano Arantes:

A responsabilidade civil do cirurgião-dentista na qualidade de profissional liberal, consoante o que dispõe o art. 14, § 4º, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, será SEMPRE apurada, mediante verificação da CULPA, ou seja, responsabilidade subjetiva. Isto é, será avaliada de acordo com o maior ou menor grau de previsibilidade de dano. Trata-se, portanto, da única exceção (repetimos) produzida pelo Código Consumerista, vistoque em todas as outras relações refere-se sempre a responsabilidade objetiva (teoria do risco), como regra.128

Logo, se a culpa do cirurgião dentista não restar devidamente

comprovada nos autos, não há como se impor ao profissional a obrigação de reparar

<http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.125 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. São Paulo: Atlas, 1991.126 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.127 VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.128 ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006. p. 102.

Page 50: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

49

o dano material ou moral experimentado pelo paciente em virtude de tratamento

odontológico.

Com isso, após a análise da responsabilidade civil do cirurgião dentista,

parte-se, no próximo e derradeiro capítulo, para o estudo do tema e problema central

propostos para esta monografia, qual seja: “A responsabilidade civil do ortodontista

por dano moral causado ao paciente”.

Page 51: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

50

3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA

Depois da análise das características jurídicas principais do instituto da

responsabilidade civil, especialmente do cirurgião dentista, é chegado o momento de

entrelaçar os conceitos e idéias para, nesse último capítulo, abordar a

responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente, tema

central desta pesquisa monográfica de conclusão de curso.

Para tanto, abordar-se-á as generalidades da ortodontia, a

responsabilidade civil do ortodontista, inclusive com a análise da natureza jurídica da

obrigação assumida: meio ou resultado, bem como o direito do paciente à

informação, a responsabilidade do ortodontista no pós-tratamento, o dano moral e,

finalmente, apresentar-se-á uma breve análise jurisprudencial.

3.1 ASPECTOS GERAIS DA ORTODONTIA

Para a análise da responsabilidade civil do ortodontista por dano moral

causado ao paciente, inicialmente, julga-se necessário abordar alguns aspectos

principais da ortodontia, especialidade da área da odontologia.

Nesse viés, cumpre destacar que a maior parte das pessoas almeja ser

aceita pelos seus semelhantes, característica esta inerente à condição humana.

Diante disso, verifica-se que, “[...] normalmente, quando uma pessoa procura um

cirurgião-dentista solicita estética, tanto por causa do belo como por causa da

aprovação externa que necessita, [...]”.129

129 ROCHA, 1996 apud SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 52: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

51

A ortodontia, na forma como já afirmado, “[...] é uma especialidade

odontológica que corrige a posição dos dentes e dos ossos maxilares posicionados

de forma inadequada”.130

Nesse sentido, acerca dos objetivos da ortodontia, anota-se a doutrina:

O autor define a área da Ortodontia como sendo a especialidade que tem como objetivo a prevenção, a supervisão e a orientação do desenvolvimento do aparelho mastigatório e a correção das estruturas dentofaciais, incluindo as condições que requeiram movimentação dentária, bem como a harmonização da face no complexo maxilo-mandibular.131

Desta feita, sublinha-se que o profissional denominado ortodontista é

aquele que possui curso de especialização em ortodontia, realizado após o término

do curso regular, ou seja, da faculdade de odontologia.132

O tratamento ortodôntico, por conseguinte, busca oferecer ao paciente

melhores condições de função e de estética133, proporcionando “[...] uma aparência

mais agradável e dentes com possibilidade de durar a vida toda”.134

De acordo com a doutrina especializada, em síntese, “o objetivo da

terapia ortodôntica é a correção de problemas dentários e esqueléticos, visando

resultados estéticos e funcionais estáveis”.135

Para a realização do tratamento ortodôntico existem diferentes tipos de

aparelhos, fixos e móveis, que são utilizados “[...] para ajudar a movimentar os

130 PORTAL DA ODONTOLOGIA. O que é ortodontia?. Disponível em: <http://www.portalodontologia.com.br/odontologia/principal/conteudo.asp?id=2485>. Acesso em: 20 set. 2008.131 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em:<http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.132 PORTAL DA ODONTOLOGIA. O que é ortodontia?. Disponível em: <http://www.portalodontologia.com.br/odontologia/principal/conteudo.asp?id=2485>. Acesso em: 20 set. 2008.133 SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.134 PORTAL DA ODONTOLOGIA. O que é ortodontia?. Disponível em: <http://www.portalodontologia.com.br/odontologia/principal/conteudo.asp?id=2485>. Acesso em: 20 set. 2008.135 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.

Page 53: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

52

dentes, retrair os músculos e alterar o crescimento mandibular. Estes aparelhos

funcionam colocando uma leve pressão nos dentes e ossos maxilares”.136

Trata-se de um tratamento, na maior parte dos casos, razoavelmente

longo, podendo compreender diversos anos, tendo em vista a necessidade de um

certo período de tempo para que o aparelho possa agir e, com isso, reestruturar a

posição dos dentes e ossos da mandíbula.

Registra-se, ainda, que “o ortodontista, de maneira geral, é um

profissional liberal prestador de serviços. Sua responsabilidade civil, portanto, se

inclui dentre os limites traçados pela lei civil (que rege as relações privadas)”.137

Diante disso, passa-se, no próximo tópico da pesquisa, para o estudo da

responsabilidade civil do ortodontista.

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA

Atualmente, haja vista a difusão da informação através da socialização

dos meios de comunicação e do aumento do nível de escolaridade da população em

geral, denota-se que as pessoas estão cada vez mais buscando fazer valer os seus

direitos e exigindo respeito e dignidade dos diversos segmentos da sociedade.

Essas mudanças atingiram também a esfera da odontologia, até mesmo

porque com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, em 1990, as

demandas no Poder Judiciário cresceram consideravelmente nos mais diferentes

setores de consumo138, com reflexos, inclusive, no ramo da ortodontia, assim como

assevera a doutrina:

136 PORTAL DA ODONTOLOGIA. O que é ortodontia?. Disponível em: <http://www.portalodontologia.com.br/odontologia/principal/conteudo.asp?id=2485>. Acesso em: 20 set. 2008.137 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008. 138 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 54: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

53

O ortodontista passou a ser alvo de questionamentos, muitas vezes no âmbito judicial, em virtude da expectativa frustrada do seu paciente. O desenvolvimento da terapêutica ortodôntica e, sobretudo, da finalização do tratamento realizado, poderá estar em desacordo com a expectativa real do paciente em seus resultados.139

Nesse sentido, observa-se, na contemporaneidade, uma grande

inquietação “[...] do consumidor em ser bem atendido em relação ao serviço

prestado, e quando há falhas por parte do profissional, uma queixa em relação ao

tratamento desencadeia um processo onde o ortodontista é julgado”.140

Outrossim, pondera-se que, “Mesmo finalizado o tratamento com os

resultados planejados, as seqüelas danosas são consideradas como causas de

imputabilidade de responsabilidade do ortodontista”.141

Cathleen Kojo Rodrigues et al, por sua vez, apresenta o seguinte

entendimento sobre a responsabilidade civil do ortodontista:

A responsabilidade civil do ortodontista torna-se mais evidente no término do tratamento e principalmente se os resultados não são satisfatórios ou ocorreram seqüelas como desvios de mordida, dentes abalados, encurtamento de raízes, dores nas articulações, enfim, quando sobrevêm danos ao paciente decorrentes de falhas cometidas pelo ortodontista.142

Todavia, registra-se que “os ortodontistas tornam-se vulneráveis a

processos em âmbito civil por desconhecerem os principais preceitos legais que

regem a responsabilidade civil odontológica”.143

Nesse sentido, verifica-se que os pacientes, ao ingressarem com uma

demanda judicial, “[...] buscam algum ressarcimento monetário nos casos de erro

139 SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.140 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.141 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.142 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.143 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 55: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

54

ocorridos por culpa do cirurgião-dentista, procurando na máquina judiciária todo o

amparo para esta prestação, [...]”.144

No ordenamento jurídico brasileiro, “as normas que regem a

responsabilidade civil do ortodontista esclarecem que a relação ortodontista-paciente

ocorre pela formação de um contrato entre as partes, seja ele escrito ou verbal”.145

Com isso, o não cumprimento do contrato por parte do ortodontista faz com o

mesmo fique sujeito aos preceitos da responsabilidade civil subjetiva, ou seja,

aquela pautada na teoria da culpa, na forma como estudado no capítulo anterior.

Assim, considerando o disposto na legislação civil e consumerista, a

responsabilidade civil do ortodontista “[...] só ocorrerá quando se comprovar que o

dano decorreu da culpa do especialista”.146

Logo, “a responsabilidade civil do ortodontista decorre dos danos

causados pelo tratamento ortodôntico no qual se comprovem que o ortodontista agiu

com imperícia ou imprudência ou negligência no exercício da profissão”147

Nesse viés, anotam-se alguns exemplos que podem ser configurados

como atos de imperícia, imprudência ou negligência do especialista em ortodontia:

[...] ingestão ou inspiração de bandas ortodônticas ou de aparelhos removíveis mal adaptados. Forças ortodônticas incongruentes poderão ocasionar pulpites, necrose pulpar, periodontopatias, etc. A falta do controle periódico poderá causar complicações, assim como a falta esterilização do instrumental poderá provocar a transmissão de patologias infecciosas. Entre os fatores que podem influir sobre o resultado do tratamento ortodôntico, cita-se: - Processos Infecciosos; - Obstruções nasais; - Endocrinopatias; -Colágenopatias.148

Ademais, importante destacar que “os instrumentos e acessórios

(aparelhos, suas peças etc) que o profissional utilizar também estão sob a sua

144 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.145 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.146 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008. 147 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.148 FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 56: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

55

alçada, [...]” haja vista a confiança depositada pelo paciente. Todavia, frisa-se que,

com o profissional, o “[...] fabricante poderá arcar com a responsabilidade

conjuntamente, mas o consumidor poderá exigir indenização daquele que estiver

mais próximo (arts. 23 e 25 do CDC)”.149

No que tange à reparação dos danos experimentados pelo paciente em

virtude de tratamento ortodôntico, verifica-se que a mesma se dá através de

indenização “[...] em dinheiro ou pelo pagamento das despesas de tratamento do

paciente atingido por seqüelas decorrentes das falhas cometidas pelo

ortodontista”.150

Alerta a doutrina, com base na pesquisa realizada pela Companhia Norte-

Americana de Seguros Medical Protective Co, que “[...] um entre doze ortodontistas

poderá estar sujeito a um processo jurídico por tratamento inadequado”.151 Com

isso, conclui-se que “[...] a responsabilidade civil dos ortodontistas está contida entre

dois extremos, ou seja, entre os riscos e as obrigações assumidas”.152

Quanto às obrigações assumidas, ressalta-se que o tópico seguinte deste

trabalho destina-se ao estudo da natureza jurídica da obrigação do ortodontista, com

o objetivo de caracterizá-la como de meio ou de resultado.

3.2.1 Natureza Jurídica da Obrigação do Ortodontista

A natureza da obrigação, na forma como estudado no item 3.3 e 3.3.1 do

capítulo anterior, pode ser de meio ou de resultado. No caso do ortodontista,

contudo, a obrigação envolve tanto saúde como estética.

149 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008. 150 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.151 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.152 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.

Page 57: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

56

Assim, tem-se que na área odontológica, conforme lembra a doutrina de

Eduardo Tanaka, “[...] a estética e a cura são indissociáveis, cabendo ao cirurgião-

dentista o restabelecimento da saúde bucal, não somente no âmbito estético como

também da mastigação, da deglutição e da respiração, além das manobras

preventivas”.153

Contudo, para real compreensão do instituto da responsabilidade civil do

ortodontista, mostra-se necessário “[...] estabelecer o tipo de obrigação que tal

profissional assume quando da prestação dos seus serviços, ou seja, se é uma

obrigação de meio ou de resultado”.154

De acordo com a doutrina, o profissional da ortodontia, “[...] ao realizar o

tratamento ortodôntico, assume a obrigação do resultado ao prometer a estética, e a

obrigação de meio ao buscar resultado estético aplicando toda a sua perícia e todo o

seu zelo durante o tratamento”.155

O doutrinador Calvielli, citado por Ricarda Duarte da Silva, ao perguntar

para alguns profissionais se a ortodontia configura uma ciência da saúde ou um

tratamento em que prepondera a estética, a maioria optou pela saúde, enquanto

alguns responderam saúde e estética. Todavia, “[...] quando indagada a motivação

que leva os pacientes aos seus consultórios, na sua esmagadora maioria a estética

se apresentou como razão principal”.156

Entretanto, a doutrina de Eduardo Tanaka, afiliada à corrente que defende

a ortodontia como obrigação de meio, afirma que o tratamento ortodôntico bem

sucedido “[...] está ligado a fatores relacionados ao próprio organismo, respostas

biológicas individuais em relação a mecanoterapia, além dos fatores subjetivos

relacionados a própria conduta do paciente”.157

153 TANAKA, Eduardo. Responsabilidade civil do cirurgião dentista. Obrigação de meio ou de resultado? In: HIRONAKA, G. M. F. N. Direito e responsabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 237-286.154RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.155 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.156 CALVIELLI, 1996 apud SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.157 TANAKA, Eduardo. Responsabilidade civil do cirurgião dentista. Obrigação de meio ou de resultado? In: HIRONAKA, G. M. F. N. Direito e responsabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 237-286.

Page 58: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

57

De modo semelhante, o artigo científico de Elionai Dias Soares, Adriana

Silva de Carvalho e Jurandir Antônio Barbosa, intitulado “Relação comercial do

ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços

prestados e riscos do tratamento ortodôntico”, conclui que:

A atuação do ortodontista em campo biológico, com respostas fisiológicas distintas e incertas de cura, faz da Ortodontia contemporânea uma ciência com imprevisibilidades de resultados assemelhando-se à Medicina, portanto, constituindo uma atividade com natureza obrigacional de meio.158

Ainda, durante a análise deste tema, é preciso salientar que a ausência

de “[...] colaboração do paciente, a falta de higiene oral, a falta da manutenção do

aparelho e o desrespeito às horas mínimas de aplicação do mesmo, poderão

prejudicar a correta evolução do tratamento ortodôntico”.159

Em descompasso, verifica-se, na forma como estudado no capítulo

monográfico anterior, que muitos autores classificaram as especialidades

odontológicas de acordo com a natureza da obrigação assumida pelo profissional.

Diante disso, constatou-se que o ortodontista deve “[...] tomar precauções caso

venha prometer algum resultado, pois, analisando a Responsabilidade Civil e sua

interpretação jurisprudencial, a maioria considera como obrigação de resultado.”160

Nesse sentido, anota-se:

A maioria dos autores do Direito Civil afirma que, em regra, a obrigação do cirurgião-dentista é de resultado, com base no argumento de que os processos odontológicos são mais regulares e as terapêuticas mais definidas, o que possibilita ao profissional comprometer-se com o resultado. No entanto, o tratamento ortodôntico não comporta somente o trabalho de ordem estética, pois freqüentemente engloba a reabilitação funcional da oclusão (CFO Resolução 22/2001, art. 34, Seção III).161

158 SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.159 FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.160 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.161 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.

Page 59: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

58

Nesse diapasão, registra-se que a discussão acerca da natureza jurídica

da obrigação assumida pelo ortodontista possui especial relevância em face do ônus

da prova nas demandas judiciais, assim como assevera a seguinte lição:

A questão da obrigação do ortodontista se reflete no ônus da prova em caso de processos judiciais, sendo que nas obrigações de resultado, se o fim almejado não é obtido, a vítima não poderá provar a culpa do profissional para obter indenização, incumbirá ao cirurgião-dentista destruir a presunção de sua culpa e comprovar que teve conduta diligente, mas, mesmo assim, sobreveio evento imprevisível.162

Com isso, verifica-se que a natureza da obrigação assumida no contrato

de prestação de serviços odontológicos – ortodônticos determinará imediatamente a

quem incumbe o ônus da prova, ou seja, no caso de obrigação de resultado, cabe

ao profissional demandado provar a sua não responsabilidade, ao passo que, na

hipótese de obrigação de meio, o ônus de comprovar a culpa do profissional pelos

prejuízos experimentados compete ao paciente demandante.

Nesse sentido, anota-se a doutrina:

Portanto, considerada a atividade ortodôntica como de resultado, o paciente não precisará provar em juízo a culpa do ortodontista. Toda a carga probatória incidirá sobre o profissional, que deverá produzir as provas, a fim de persuadir ao julgador que executou todos os procedimentos na mais absoluta lisura, com procedimentos técnicos comprovados pela ciência, restando, isto sim, numa eventualidade, ao custo de limitações biológicas, os danos sofridos ao paciente. Por outro lado, na obrigação de meio, sobre o paciente incidirá todo o ônus de provar, isto é, deverá produzir todas as provas mediante a alegação de que o CD não agiu de forma zelosa e de acordo com as técnicas mais acuradas. Esta última, segundo os autores, é uma situação bem mais cômoda e confortável ao ortodontista.163

Pelo exposto, observa-se que “a obrigação do ortodontista deve ser

analisada caso a caso, pois existem tratamentos em que os resultados são

previsíveis, bem como existem tratamentos difíceis e de resultados imprevisíveis”.164

162 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.163 SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.164 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.

Page 60: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

59

Em últimas palavras, frisa-se que o profissional da ortodontia pode

continuar atraindo “[...] pacientes divulgando e promovendo resultados estéticos, [...]

mas sempre mencionando os meios pelos quais chegará ao resultado e obrigando-

se somente naquilo que efetivamente seja capacitado”.165

Desta maneira, denota-se que, na forma como ocorre nas demais

especialidades da odontologia, a doutrina ainda é divergente quando o assunto é a

natureza jurídica da obrigação assumida pelo ortodontista. Todavia, conforme

restará demonstrado a seguir, em face do forte caráter estético do tratamento, tende-

se a classificar a ortodontia como especialidade integrante das obrigações de

resultado.

Com isso, passa-se, no próximo item a tratar do direito à informação.

3.2.2 Direito à Informação

Ponto importante, ainda nesta discussão que envolve a responsabilidade

civil do ortodontista por dano moral, é o direito à informação do paciente, direito este

capaz de evitar muitos danos e, conseqüentemente, a propositura de inúmeras

contendas judiciais.

Nesse viés, observa-se que o paciente merece ser respeitado,

especialmente em sua dignidade como pessoa humana, fato este que compreende

“[...] ser respeitado como leigo que merece ter informações precisas sobre sua

situação enquanto paciente, devendo ser sempre esclarecido adequadamente sobre

os propósitos, riscos, custos e alternativas do tratamento”.166

Por conseguinte, anota-se o comentário da doutrina acerca do principal

motivo que leva o paciente a ingressar com uma ação judicial:

165 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.166 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 61: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

60

[...] seria a falta de informação sobre o progresso ou não do tratamento ortodôntico – uma indisposição por parte do ortodontista em falar com o paciente ou responsável acerca dos vários problemas ou aspectos que possam haver, e um estilo de confrontação ao invés de conciliação quando algum problema ocorre.167

Com isso, denota-se que o conhecimento dos preceitos normativos que

regulamentam a profissão do ortodontista e a informação clara e precisa do paciente

constituem o principal instrumento capaz de proporcionar maior segurança no

desempenho profissional e evitar demandas judiciais.

Nesse sentido, registra-se:

A comunicação com o paciente e/ou responsáveis, com a descrição do plano, riscos, benefícios e custos do tratamento, bem como a elaboração, anuência e guarda da documentação ortodôntica são fundamentais na prevenção de litígios judiciais. A conduta profissional deve ser embasada nos princípios da ética e da moral.168

Logo, verifica-se que “a principal razão que leva o paciente a entrar com

ação judicial é a falta de informação sobre o progresso ou não do tratamento

ortodôntico”,169 razão pela qual se evidencia a importância do princípio da

informação adequada:

O princípio da informação adequada exige não só o consentimento puro e simples, mas o consentimento esclarecido, isto é, consentimento obtido de um indivíduo capaz civilmente e apto para entender e considerar razoavelmente uma proposta ou uma conduta, isenta de coação, influência ou indução.170

167 FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.168 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.169 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.170 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 62: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

61

No entanto, segundo a doutrina, “[...] não basta informar, o paciente tem

que entender o que lhe foi transmitido, assim funciona como regra a informação

adequada e clara sobre o procedimento”.171

Desta feita, observa-se que “[...] a sinceridade para com o paciente e a

informação sobre a eficácia e a possibilidade de êxito em um tratamento é um fator

importante na conduta do profissional”.172

Além disso, “[...] é de fundamental importância para um bom

relacionamento indivíduo/profissional a conscientização do indivíduo sobre o tempo

médio que o profissional leva para finalizar o tratamento ortodôntico”.173

Logo, “[...] é uma boa conduta não assegurar sucesso no tratamento

esclarecendo de forma adequada os possíveis desdobramentos do tratamento”.174

Sobre o problema que envolve as promessas de sucesso referente ao

tratamento ortodôntico, anota-se:

Nestes termos, a responsabilidade civil do contratado (ortodontista) será compreendia entre os riscos previsíveis e as obrigações assumidas. Aqueles, se alertados corretamente e claramente ao contratante (consumidor), ficam excluídos de serem posteriormente cobrados, eis que foram aceitos (de preferência expressamente através de uma declaração escrita). As obrigações assumidas ficam circunscritas aos termos do contrato estabelecido pelas partes; vale dizer, quanto mais ampla e inespecífica a obrigação assumida, maior também se torna o campo de abrangência para cobrá-las.175

Nesse passo, ressalta-se que a jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça (STJ) estabelece claramente a obrigação do profissional da saúde de

celebrar com o paciente termo de consentimento que, por sua vez, deve permanecer

anexo ao contrato de prestação de serviço. Ademais, registra-se que este “[...]

171 DUARTE, E. D. Medicina e direito: prevenir é o melhor remédio. Revista de Direito Médico. Ano II, n.º 1, abril, 2004.172 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.173 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.174 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.175 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.

Page 63: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

62

documento deve explicitar pontos como riscos potenciais, diagnóstico e plano de

tratamento, entre outros, com linguagem acessível ao entendimento do leigo”.176

Ainda sobre o direito à informação, lembra-se que:

[...] o dentista deverá estar sempre aberto a fornecer ao paciente ou seu responsável, as instruções que se fizerem necessárias, os esclarecimentos referentes aos problemas, as dificuldades e ao andamento do tratamento, mantendo desta formam um canal de comunicação e conseqüente bom relacionamento com o paciente e sua família.177

Desta maneira, para evitar frustrações acerca das expectativas do

paciente quanto ao resultado do tratamento e, conseqüentemente, a propositura de

ações judiciais indenizatórias, é imprescindível que toda e qualquer recomendação

do profissional seja realizada por escrito, preferencialmente em contrato de

prestação de serviços odontológicos, com termo de consentimento do paciente em

anexo.

3.2.3 A Responsabilidade do Ortodontista no Pós-tratamento

Questão igualmente relevante é da responsabilidade do ortodontista no

pós-tratamento, haja vista os constantes conflitos que vêm sendo verificados entre

paciente e profissional em face da duração do tratamento e a possibilidade de

responsabilização do ortodontista após o término da prestação dos serviços

ortodônticos.

Nesse quadrante, denota-se que “a literatura ortodôntica é controversa no

que tange ao tempo, técnicas e dificuldades inerentes ao pós-tratamento

176 AGQ. Ortodontista é condenado a indenizar paciente por falta de informação sobre cirurgia de maxilar. 2008. Disponível em: <http://www.endividado.com.br/materias_det.php?id=21418>. Acesso em: 15 set. 2008.177 SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 64: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

63

ortodôntico”.178 Acredita-se que tais fatores ainda permaneçam sem definição porque

o tratamento ortodôntico não é um padrão estanque, considerando que cada caso

requer análise individual.179

Acerca do tempo necessário para a realização do tratamento ortodôntico,

frisa-se que:

A estimativa do prazo para o tratamento ortodôntico deve considerar as circunstâncias de cada caso, como o aumento ou diminuição da tração para o posicionamento dos dentes, e as conseqüências resultantes do tratamento, tais como os desvios de mordida, mau posicionamento de arcada e dores nas articulações, os quais podem aumentar ou diminuir o prazo de tratamento inicialmente estipulado.180

Nesse contexto, ou seja, no pós-tratamento ortodôntico, é que se verifica

o fenômeno da recidiva, ou seja, “[...] fato que, por causas diversas, faz com que os

dentes retornem à posição que tinham antes do tratamento ortodôntico”.181

Com isso, nota-se que os “[...] problemas no pós-tratamento ortodôntico

podem levar o ortodontista a responder civilmente pelas movimentações dentárias e

alterações neuromusculares que ocorrerem nessa fase”.182

No que tange à responsabilidade do ortodontista no pós-tratamento,

geralmente, o atendimento ao paciente “[...] é prolongado até que se atinja a

estabilidade do arco dentário, se tudo correr conforme a previsão inicial do

tratamento”.183

Destarte, sobre o tema registra-se a lição da doutrina:

A busca da estabilidade em longo prazo após o término da terapia ortodôntica tem sido alvo de constantes preocupações de profissionais e pesquisadores que atuam nessa área. Fatores como o planejamento do tratamento, biomecânica utilizada e contenção que são responsáveis por

178 FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.179 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.180 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.181 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.182 FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.183 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.

Page 65: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

64

esta estabilidade, não estão recebendo a atenção necessária dos profissionais. Há um consenso entre alguns autores que a fase de pós-tratamento ortodôntico é tão importante quanto a fase de tratamento ativo e fase que antecede ao tratamento.184

Com base nessas informações, verifica-se também a problemática que

envolve a responsabilidade do ortodontista no pós-tratamento, especialmente no que

se refere à possibilidade de recidiva.

3.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL

CAUSADO AO PACIENTE

Após o estudo de diversos temas envolvendo a responsabilidade civil do

ortodontista, tais como o direito à informação e o pós-tratamento, é chegado o

momento de analisar a responsabilidade civil do ortodontista por dano moral

causado ao paciente.

No entanto, preambularmente, é imprescindível anotar alguns conceitos e

explicações acerca do dano moral no direito brasileiro.

Nesse sentido, resumidamente, pode-se afirmar que o “Dano moral, à luz

da Constituição vigente, nada mais é do que violação do direito à dignidade.”185

Nesse viés, Antônio Jeová dos Santos aduz que o dano moral tem íntima relação

com o princípio da dignidade da pessoa humana, assim como segue:

Ao interesse do tema sobressai a dignidade da pessoa humana, por ser vulneração a essa dignidade fonte que supre o direito de danos. A toda hora a qualquer momento, a dignidade do ser humano é malferida. Seja nos pequenos gestos de discriminação, seja no seio familiar, onde sempre surgem momentos de intensa turbação, a afronta à dignidade enseja e dá azo a diversas causas de dano moral. Consentânea com a moderna visão da pessoa humana, enquanto eixo principal o direito, a justiça e a dignidade do homem são colocados com valores fundantes na Constituição. Deles e

184 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.185 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 94.

Page 66: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

65

de uma perfeita compreensão do que vêm a significar, é que são assentados os outros direitos que o Direito tem de resguardar.186

Existem muitas definições para dano moral na doutrina, isso se explica

em virtude da dificuldade de se descrever algo imaterial e de difícil classificação. Nas

palavras de Arnaldo Rizzardo, “em suma, o dano moral é aquele que atinge valores

eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a

tranqüilidade de espírito, a reputação etc.”187

Cumpre notar, no entanto, que não alcança, no dizer do Superior Tribunal

de Justiça, “os simples aborrecimentos triviais aos quais o cidadão encontra-se

sujeito”, que “devem ser considerados como os que não ultrapassam o limite do

razoável, tais como: a longa espera em filas para atendimento, a falta de

estacionamentos públicos suficientes, engarrafamentos etc”.188

Diante disso, é possível afirmar que singelos estorvos do dia-a-dia, os

inconvenientes normais da vida em comum, não configuram dano moral, é preciso

lesionar realmente o íntimo da pessoa para surgir o dever de indenizar.

Por conseguinte, “um dos grandes desafios da ciência jurídica é o da

determinação dos critérios de quantificação do dano moral, que sirvam de

parâmetros para o órgão judicante na fixação do quantum debeatur”.189

Relativo à mensuração no dano moral, Arnaldo Rizzardo comenta acerca

da dificuldade do tema:

É difícil, no entanto, traçar parâmetros em valores fixos para as diversas hipóteses de dano moral, como para a compensação de danos físicos, de protesto indevido de título, de ofensas pessoais, de lançamento do nome em cadastro de devedores etc, pois há de se examinar cada situação particular, as circunstâncias especiais, a posição social e econômica das pessoas envolvidas, o tipo de bem ou valor da pessoa atingido. No arbitramento, leva-se em conta caso a caso, o que impede uma prévia tarifação de cifras para gamas equivalentes de ocorrências.190

186 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 40.187 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 246.188 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 246.189 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 100.190 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 271.

Page 67: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

66

Desta forma, haja vista que a lei não apresenta critérios para o

arbitramento do valor da indenização correspondente ao dano moral, “a grande

maioria dos doutrinadores brasileiros entende, mesmo que com eventuais ressalvas,

que o melhor critério para a fixação do quantum indenizatório por danos morais

ainda é o prudente arbítrio do juiz”.191

Assim, pode-se perceber as diversas questões que ainda pairam sobre a

reparação do dano moral no direito brasileiro, principalmente no que diz respeito à

sua caracterização e mensuração.

Quanto à possibilidade de condenação do ortodontista ao pagamento de

indenização por dano moral ao paciente, denota-se que tal hipótese tem guarida na

doutrina e na jurisprudência.

Assim, verifica-se que a falta de informação ao paciente acerca das

possíveis conseqüências do tratamento ortodôntico, bem como a ocorrência de erros

técnicos que causam dano moral ao paciente, devem ser indenizados na forma

como estabelece a legislação civil e o Código de Defesa do Consumidor.

Nesse sentido, anota-se o caso em que a falta de informação resultou em

graves danos materiais e morais para a paciente, assim como se extrai da

reportagem: “Ortodontista é condenado a indenizar paciente por falta de informação

sobre cirurgia de maxilar”:

Ela precisou recorrer a outros profissionais para tentar entender seu tratamento e situação clínica, além de enfrentar uma recuperação difícil. ‘Subjetivamente, a autora sofreu grave dor moral, tendo atingido sua dignidade e sentimentos mais íntimos, conseqüência da falta de informação, a qual se tivesse ocorrido, lhe teria permitido optar em realizar os procedimentos ortodônticos ou não’, afirma o magistrado.192

Todavia, para melhor analisar o tema, ingressa-se no campo da

jurisprudência que permite o estudo da responsabilidade civil do ortodontista por

dano moral causado ao paciente diretamente no caso concreto.

191 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do quantum. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004. p. 169.192 AGQ. Ortodontista é condenado a indenizar paciente por falta de informação sobre cirurgia de maxilar. 2008. Disponível em: <http://www.endividado.com.br/materias_det.php?id=21418>. Acesso em: 15 set. 2008.

Page 68: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

67

Nesse sentido, anota-se o seguinte precedente que, independentemente

da classificação da natureza da obrigação, reconhece o dever de indenizar quando

restar comprovada a culpa do ortodontista e a ocorrência de dano para o paciente:

RESPONSABILIDADE CIVIL - TRATAMENTO ODONTOLÓGICO -SUBSTITUIÇÃO DE PRÓTESE, COLOCAÇÃO DE OUTRA E TRATAMENTO DENTÁRIO - PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS [...] 1. Independentemente da polêmica doutrinária de ser ou não obrigação de meio ou de fim, evidencia-se a culpa na prestação do serviço odontológico quando a intervenção realizada provoca problemas na saúde bucal do paciente, como desarmonia estética, dores, inflamações, mau-hálito, perda de elemento ósseo ou de dente ou e desconforto bucal. 2. Há também culpa no procedimento adotado, quando o profissional deixa de encaminhar o paciente ao tratamento que lhe seria adequado.193 [sem grifo no original].

Por conseguinte, na decisão seguinte, sublinham-se alguns aspectos

importantes, tais como: ônus da prova, obrigação de resultado e a possibilidade de

indenização por danos morais e materiais decorrentes de tratamento ortodôntico

ineficaz:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL DE CIRURGIÃO-DENTISTA. ALEGAÇÃO DE TRATAMENTO ORTODÔNTICO INEFICAZ POR PROBLEMAS NA OCLUSÃO E DEFORMAÇÃO DO PERFIL DA AUTORA. ALEGAÇÃO DE FALTA DE PLANEJAMENTO DO TRATAMENTO E DE CULPA DA RÉ. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RÉ QUE ALEGA DESÍDIA DA AUTORA NO TRATAMENTO. [...] RESPONSABILIDADE DA REQUERIDA PELA FALTA DE ÊXITO NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO DA AUTORA. ÔNUS DA PROVA INVERTIDO PELO JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. RÉ QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE SEU ÔNUS PROBATÓRIO. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. NEGLIGÊNCIA E NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVADOS. RECURSO DESPROVIDO NESTE ASPECTO. 2.2.1 A inversão do ônus da prova deferida pelo juiz singular importa na responsabilidade da ré de comprovar a inverdade das alegações trazidas pela autora e a existência de fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito da autora. No caso do tratamento dentário, deve a profissional demonstrar que o tratamento foi feito corretamente. Não se desincumbindo de seu ônus probatório, isto é, não demonstrando que observou todas as regras técnicas para o planejamento básico do tratamento da autora e para o seu respectivo êxito e, ao contrário, restando comprovado, inclusive por perícia, que o tratamento não atingiu a finalidade de melhora na oclusão e no perfil da autora, bem como não restou comprovada a alegada desídia da autora com relação ao tratamento (quanto à freqüência nas consultas e à higienização bucal), que pudesse ter levado ao seu insucesso, a ré não poderá obter vitória no julgamento. 2.2.2

193 PARANÁ. Tribunal de Justiça. AC 0294755-7 de Curitiba. Rel.: Des. Carvilio da Silveira Filho. Data Julgamento: 31.10.2007. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.

Page 69: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

68

Profissão de dentista que é uma atividade de resultado e não de meio, isto porque o caso refere-se a tratamento ortodôntico, que visa inevitavelmente - além do caráter corretivo - a melhora na estética da paciente, justificando, pois, a necessidade de resultado. 2.2.3 Presença dos requisitos para a condenação da requerida: culpa evidenciada, na modalidade negligência, pela falta de utilização da melhor técnica, para obter o êxito no tratamento; dano presente, pois não houve melhora na oclusão da autora, mas sim piora em seu perfil, pelo que o resultado do tratamento foi negativo; e, por fim, é claro o nexo causal entre a conduta culposa da requerida e o dano ocasionado à autora. [...].194

[sem grifos no original].

Acerca da caracterização do dano moral nos tratamentos ortodônticos e,

por conseqüência, do dever de indenizar o paciente por parte do profissional, anota-

se o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Paraná:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL ODONTOLÓGICA. COLOCAÇÃO DE PRÓTESE REMOVÍVEL. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO CARACTERIZADA. PACIENTE COM BRUXISMO. AUSÊNCIA DE TRATAMENTO ESPECÍFICO E ACOMPANHAMENTO. DENTISTA RESPONSÁVEL PELO INSUCESSO DOS SERVIÇOS PRESTADOS. [...]2.DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE DE DENTISTA PELA DOR, PELOS INCONVENIENTES SOFRIDOS PELO PACIENTE E PELO INSUCESSO DO TRABALHO. COBRANÇA VEXATÓRIA. DANO MORAL. a) Causa dano moral o trabalho dentário, cujo insucesso causa dor, perda de dentes, perda de implantes e de próteses de modo que o paciente vem a permanecer sem dentes e com pinos expostos, especialmente por ser comerciante e tratar diretamente com sua clientela. b) Causa, também, dano moral, o dentista que comparece diretamente no estabelecimento comercial do paciente para efetuar cobrança de cheques. 3.DÁ-SE, POIS, PROVIMENTO AO APELO DO AUTOR; E PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DO RÉU.195 [sem grifos no original].

No que tange aos valores arbitrados para a indenização de danos morais

experimentos em função de tratamentos ortodônticos problemáticos, registra-se o

entendimento do Tribunal do Estado de São Paulo:

RESPONSABILIDADE CIVIL - Dano moral e material - Alegação pela autora de que realizou, por três anos, tratamento odontológico que não atingiu o resultado necessário, em vista da negligência, imprudência e imperícia com que atuou o réu - Procedência - Falha na prestação de serviço, pelo réu, caracterizada - Circunstância em que o cirurgião-dentista atuou sem que tivesse o registro de especialista em ortodontia, tratando a

194 PARANÁ. Tribunal de Justiça. AC 0423161-4 de Curitiba. Rel.: Des. Marcos de Luca Fanchin. Data de Julgamento: 23.08.2007. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.195 PARANÁ. Tribunal de Justiça. AC 0257549-9 de Curitiba. Rel. Des. Leonel Cunha. Data de Julgamento: 01.06.2004. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.

Page 70: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

69

paciente durante três anos sem antever ou diagnosticar que o tratamento não estava surtindo efeito, embora ciente da necessidade de tratamento fonoaudiólogo para êxito do tratamento - Observância de que o valor da indenização deve sempre levar em consideração o caráter didático para que o causador do ato desastrado não volte a lesar terceiros; contudo, quem suportar danos morais não pode pretender riqueza e nem vida fácil às custas daquele que o lesou - Condenação por dano material arbitrada, pela r. sentença, em 2.265,14 (dois mil, duzentos e sessenta e cinco reais e quatorze centavos), corrigida monetariamente pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça, desde a data do desembolso, mais a indenização por danos morais arbitrada em R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigida pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça desde a citação, a partir de quando o juros será acrescido de juros moratórios de 1 % ao mês, mantidas - Indenizatória procedente - Recursos não providos.196 [sem grifo no original].

Todavia, denota-se que os juízes e tribunais brasileiros têm fixado as

indenizações de acordo com a repercussão do ato ilícito praticado e, ainda, em

relação ao grau de constrangimento imposto ao paciente. Com isso, “[...] tem-se

evitado ‘também fixação de valor que provoque o enriquecimento indevido do lesado

ou venha a conduzir o ofensor à ruína’.197

Nesse quadrante, menciona-se:

INDENIZAÇÃO - Responsabilidade civil – dentista- ortodontista - Execução insatisfatória dos serviços, obrigando o autor a refazê-los, bem como a pagá-los novamente a outro profissional – Condenação do réu à devolução da quantia recebida – Embargos rejeitados.198 Como se vê, variados são os entendimentos sobre a responsabilidade civil do cirurgião dentista. Uns entendem ser necessário a comprovação da culpa (responsabilidade subjetiva), outros entendem ser suficiente a não ocorrência do resultado prometido (responsabilidade objetiva). Certo é, entretanto, como enfatiza o ilustre Desembargador PEDRO DE ALCÂNTARA DA SILVA LEME (São Paulo) que "seja ou não a melhor solução do problema da responsabilidade civil no campo da medicina, a verdade é que a teoria objetiva, ou de risco, é, hoje em dia... a preferida dos tribunais.199 [sem grifo no original].

196 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação 7105375100. Relator (a): Tersio Negrato. Comarca: Jundiaí. Órgão julgador: 17ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 17/10/2007. Data de registro: 07/11/2007. Disponível em: <www.tj.sp.gov.br>. Acesso em: 01 out. 2008.197 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 103.198 RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.199 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.

Page 71: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

70

De outra banda, cumpre destacar também alguns julgados que, diante da

não comprovação da culpa do profissional, indeferiram o pedido de indenização

postulado por pacientes de tratamento ortodôntico:

RESPONSABILIDADE CIVIL - Dano resultante de tratamento ortodôntico -Hipótese em que não fora atingido o resultado previsto pelo tratamento imposto pelo dentista - Método inadequado - Imperícia do profissional. Inocorrência - Prova técnica que reputa corretos tanto o método, quanto o tratamento - Indenização indevida - Ação improcedente - decisão mantida - Recurso improvido.200 [sem grifo no original].

Nesse mesmo sentido, transcreve-se o exemplo jurisprudencial

apresentado pela doutrina de Kisleu Gonçalves Ferreira, assim como segue:

INDENIZAÇÃO - Tratamento odontológico - Erro clínico - Comprovação -Aparelho ortodôntico - Causa de males supervenientes - Dever de indenizar - Danos materiais - Exclusão da indenização por danos morais - Agravo retido prejudicado - Recurso parcialmente provido.201 [sem grifo no original].

Diante disso, verifica-se que atualmente os pacientes estão cada vez mais

buscando a defesa de seus direitos, ou seja, mais conscientes de sua condição de

cidadão que merece respeito e tratamento digno.

Assim, pode-se concluir que cabe aos cirurgiões-dentistas, diante dessa

nova realidade social e na forma como determina à ética e à moral, buscar um

relacionamento mais humano e leal com o paciente.202

Ademais, frisa-se que o profissional da saúde, nesse caso específico o

ortodontista, não pode “[...] descartar, ignorar ou eliminar os riscos inerentes à

prática da profissão, restando, tão somente, preveni-los ou minimizá-los, com

atitudes éticas, comportamentos morais e atualizações científicas, [...]”.203

200 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.201 FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.202 BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.203 SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços

Page 72: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

71

Em últimas linhas, cabe evidenciar a necessidade do ortodontista de

buscar medidas no sentido de evitar a ocorrência de danos materiais e morais aos

pacientes, principalmente no que se refere à promessa de resultados perfeitos e

puramente estéticos, bem como aos Tribunais a aplicação de penalidades, na forma

de indenizações, capazes de coibir condutas ilícitas praticadas por profissionais

irresponsáveis e antiéticos.

prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.

Page 73: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

72

CONCLUSÃO

Com base nesta pesquisa monográfica, realizada sobre a

responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente, foi

possível conhecer um pouco mais do instituto da responsabilidade civil, da

responsabilização do cirurgião dentista e da natureza jurídica da obrigação

assumida no contrato de prestação de serviços odontológicos, bem como sobre a

possibilidade de indenização do paciente por danos morais decorrentes de

tratamento ortodôntico ineficaz.

Em relação à responsabilidade civil, ressalta-se alguns aspectos

históricos do instituto no Brasil e no mundo, assim como sua evolução no âmbito da

cultura e das legislações. Quanto ao conceito, trata-se do instituto jurídico capaz de

compelir alguém a reparar os danos por ela causados e que comporta diversas

classificações, tais como a responsabilidade civil contratual e extracontratual,

referente à existência ou não de contrato entre as partes, e a responsabilidade civil

objetiva e subjetiva, quanto à necessidade ou não de comprovação da culpa do

agente.

No que tange aos requisitos da responsabilidade civil, conclui-se pela

existência de quatro pressupostos indispensáveis para a obrigação de indenizar,

quais sejam: a ação ou omissão do agente, a culpa, o dano e o nexo de

causalidade.

Já na análise da responsabilidade civil do cirurgião dentista, destaca-se o

drama da responsabilidade civil profissional, especialmente das profissões

relacionadas à saúde, tendo em vista que, em muitos casos, o erro profissional pode

ser fatal.

Ainda quanto à responsabilidade civil na esfera da odontologia, foi

possível observar que, atualmente, o cirurgião dentista, constantemente, é alvo de

processos judiciais, com pedidos de indenizações, em virtude de lesões ocasionadas

por tratamentos odontológicos. Nesse viés, restaram analisados alguns aspectos da

atividade de cirurgião dentista, assim como das normas que disciplinam a profissão,

evidenciando-se a previsão de responsabilidade subjetiva para o dentista, ou seja,

Page 74: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

73

modalidade onde a reparação do dano só ocorre quando a culpa do profissional

resta devidamente comprovada.

Sublinha-se, também, a grande discussão doutrinária e jurisprudencial

que envolve a classificação da obrigação do cirurgião-dentista assumida com o

paciente, haja vista a existência de posicionamento afirmando se tratar de obrigação

de meio, ao passo que há posicionamento divergente sustentando constituir

obrigação de resultado. Além disso, denota-se que tal discussão mostra-se muito

relevante porque influencia diretamente no ônus da prova na oportunidade de

demandas judiciais.

Contudo, restou evidenciado que, embora a doutrina apresente algumas

especialidades odontológicas como capazes de gerar obrigações de resultado, a

análise do caso concreto mostra-se vital para o correto julgamento da

responsabilidade civil do cirurgião dentista como de meio ou de resultado.

Já na análise do tema central da pesquisa, a responsabilidade civil do

ortodontista por dano moral causado ao paciente, abordou-se importantes aspectos

da ortodontia, verificando-se se tratar de uma especialidade odontológica que

corrige a posição dos dentes e dos ossos maxilares posicionados de forma

inadequada.

No que tange à natureza jurídica da obrigação do ortodontista, denota-se,

na forma como ocorre nas demais especialidades da odontologia, que a doutrina

ainda se apresenta bastante controvertida, principalmente porque envolve

conjuntamente dois fatores distintos: saúde e estética. Com isso, não obstante a

classe odontológica insistir em classificar como obrigação de meio, a doutrina e os

tribunais tende no sentido de classificar a ortodontia como especialidade integrante

das obrigações de resultado.

Constatou-se, também, que para evitar problemas com o paciente e,

conseqüentemente, a propositura de ações judiciais indenizatórias, é imprescindível

que toda e qualquer recomendação do profissional seja realizada por escrito,

preferencialmente em contrato de prestação de serviços odontológicos, inclusive

com termo de consentimento do paciente em anexo.

Ademais, registra-se que os problemas no pós-tratamento ortodôntico

podem levar o ortodontista a responder civilmente pelas movimentações dentárias e

Page 75: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

74

alterações neuromusculares que ocorrerem nessa fase, razão pela qual é preciso

guardar todos os documentos referentes ao tratamento por um determinado período.

Consoante à possibilidade de condenação do ortodontista ao pagamento

de indenização por dano moral ao paciente, denota-se que tal hipótese tem guarida

na doutrina e na jurisprudência, reconhecendo-se o dano moral como um

instrumento violador do direito à dignidade, ou seja, que atinge valores

eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a

tranqüilidade de espírito, a reputação etc.

Ainda, na esfera dos Tribunais, verifica-se que as indenizações por dano

moral têm sido deferidas sempre que fica comprovada a culpa do ortodontista e a

ocorrência de dano imaterial para o paciente. Destarte, denota-se, também, que os

julgados consideram, na maior parte dos casos, a obrigação do ortodontista como de

resultado, fato este que acaba invertendo para o profissional o ônus da prova.

Diante de tudo isso, pode-se concluir, frente à nova realidade social, que

cabe aos cirurgiões-dentistas, na forma como determina à ética e à moral, buscar

um relacionamento mais humano e leal com o paciente, evitando, assim, a

ocorrência de danos para o paciente e a propositura de ações indenizatórias.

Por fim, observa-se, mais uma vez, sem excesso, que o paciente merece

ser respeitado, especialmente em sua dignidade como pessoa humana, recebendo,

para tanto, todas as informações precisas sobre sua situação enquanto paciente,

além dos riscos, custos e alternativas do tratamento.

Page 76: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

75

REFERÊNCIAS

AGQ. Ortodontista é condenado a indenizar paciente por falta de informação sobre cirurgia de maxilar. 2008. Disponível em: <http://www.endividado.com.br/materias_det.php?id=21418>. Acesso em: 15 set. 2008.

ARANTES, Artur Cristiano. Responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Leme: Mizuno, 2006.

ARAÚJO, André Luis Maluf de. Responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas. In: BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil médica, odontológica e hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991.

BARROSO, Maurício Garcia, et al. Responsabilidade civil do ortodontista após a terapia ortodôntica. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, p. 67-73, jan./mar. 2008.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

______. Lei Federal n.º 5.081, de 24 de agosto de 1966. Regula o exercício da odontologia.

______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

______. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código civil.

______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

BRASÍLIA. Conselho Federal de Odontologia. Legislação. Disponível em: <www.cfo.org.br>. Acesso em: 28 ago. 2008.

Page 77: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

76

______. Conselho Federal de Odontologia. Resolução 63/2005. Consolidação das normas para procedimento nos Conselhos de odontologia. Disponível em: <http://www.crosc.org.br/Docs/consolidacao.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2008.

CAIXETA, Francisco Carlos Távora de Albuquerque. Da responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data publicação: agosto de 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/cirurgiao-dentista.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.

CALVIELLI, Ida T. P. Exercício lícito da odontologia. In: Compêndio de odontologia legal. Rio de Jeneiro: MEDSI, 1997.

CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade civil no direito de família. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2005. v. IX.

CASTRO, Guilherme Couto de. A responsabilidade civil objetiva no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000.

CASTRO, Rogério Marrone de. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 26.

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004.

COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. v. 7.

DUARTE, E. D. Medicina e direito: prevenir é o melhor remédio. Revista de Direito Médico. Ano II, n.º 1, abril, 2004.

FERNANDES, Fernando. Responsabilidade civil do cirurgião dentista: o pós-tratamento ortodôntico. 2000. Disponível em:

Page 78: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

77

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23142/tde-26102001-124313/>. Acesso em: 20 set. 2008.

FERREIRA, Kisleu Gonçalves. Algumas considerações sobre a responsabilidade civil do ortodontista. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5615>. Acesso em: 07 ago. 2008.

FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. São Paulo: Atlas, 1991

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003.

______. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do quantum. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004.

PARANÁ. Tribunal de Justiça. AC 0257549-9 de Curitiba. Rel. Des. Leonel Cunha. Data de Julgamento: 01.06.2004. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.

______. Tribunal de Justiça. AC 0294755-7 de Curitiba. Rel.: Des. Carvilio da Silveira Filho. Data Julgamento: 31.10.2007. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.

______. AC 0423161-4 de Curitiba. Rel.: Des. Marcos de Luca Fanchin. Data de Julgamento: 23.08.2007. Disponível em: <www.tj.pr.gov.br>. Acesso em 01 out. 2008.

PASQUINI, Luís Fernando Barbosa. O profissional liberal e sua responsabilidade civil na prestação de serviços. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1095, 1 jul. 2006.

Page 79: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

78

Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8574>. Acesso em: 02 set. 2008.

PORTAL DA ODONTOLOGIA. O que é ortodontia?. Disponível em: <http://www.portalodontologia.com.br/odontologia/principal/conteudo.asp?id=2485>. Acesso em: 20 set. 2008.

REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. -Rio de Janeiro: Forense, 2007.

RODRIGUES, Cathleen Kojo, et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial, vol. 11, nº 2, Maringá, mar./apr. 2006.

RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 4.

______. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4.

SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação 7105375100. Relator (a): Tersio Negrato. Comarca: Jundiaí. Órgão julgador: 17ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 17/10/2007. Data de registro: 07/11/2007. Disponível em: <www.tj.sp.gov.br>. Acesso em: 01 out. 2008.

SILVA, Ricarda Duarte da. Relação profissional/paciente: o entendimento e implicações éticas e legais durante o tratamento ortodôntico. Disponível em: <http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=4071678>. Acesso em: 20 set. 2008.

Page 80: UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - …siaibib01.univali.br/pdf/Guilherme Coelho Haviaras.pdf · ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento

79

SOARES, Elionai Dias; CARVALHO, Adriana Silva de; BARBOSA, Jurandir Antônio. Relação comercial do ortodontista brasileiro com o seu paciente, natureza obrigacional dos serviços prestados e riscos do tratamento ortodôntico. 2007. Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 12, n. 1, p. 94-101, jan./fev. 2007.

SOUZA, Neri Tadeu Camara. Odontologia e responsabilidade civil. Data publicação: 4 jun. 2006. Disponível em: <http://www.consulteja.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=826&Itemid=205>. Acesso em: 15 ago. 2008.

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.

TANAKA, Eduardo. Responsabilidade civil do cirurgião dentista. Obrigação de meio ou de resultado? In: HIRONAKA, G. M. F. N. Direito e responsabilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 237-286.

TEIXEIRA, Marcia, et al. Notas sobre a profissionalização da odontologia. In: MACHADO, Maria Helena (org.). Profissões de saúde: uma abordagem sociológica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995.

VANRELL, Jorge Paulete; BORBOREMA, Maria de Lourdes. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista. Data Publicação: 16 jul. 2007. Disponível em: <http://www.abmlmedicinalegal.org.br/Artigos/RESPONSABILIDADECIVIL.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2008.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v.4.

______. Direito civil: responsabilidade civil. 6. ed. v. 4. São Paulo: Atlas, 2006.

WILLEMANN, Carolina. A responsabilidade civil do cirurgião dentista não-autônomo nas situações de emergência das atividades hospitalares. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002.