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FAAP – Faculdade de Comunicação e Marketing Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 1 PANORAMA GERAL DAS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Comunicação e Ciência PRINCIPAIS AUTORES OBJETO DE ESTUDO FUNCIONALISMO (EUA déc.1930) Robert Merton, Paul Lazarsfeld, Talcott Parsons – (sociólogos), Harold Lasswell – (cientista político) Kurt Lewin, Carl Hovland – (psicólogos). A Mensagem na Comunicação de Massa ESCOLA DE FRANKFURT (Alemanha, déc. 1930, 1950, 1960; EUA, déc. 1940) Theodor Adorno, Max Horkhei- mer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas. A Mensagem na Comunicação de Massa TEORIA DA INFORMAÇÃO (EUA, déc. 1950) Nobert Wiener, Shannon Weaver e A. Moles. A quantidade (teor ou ta- xa) de informação existen- te no processo comunica- cional ESCOLA SOCIOLÓGICA EUROPÉIA (Itália e França, déc. 1960) Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard A Mensagem na Comunicação de Massa MARSHALL McLUHAN (EUA, déc. 1960) Marshall McLuhan. O MEIO é a mensagem. NOVA ESQUERDA ALEMÃ (Alemanha, déc. 1970) Hans Magnus Enzensberger Os meios eletrônicos de Comunicação de Massa (Rádio e TV) TEORIA HEGEMÔNICA / COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA (América Latina, déc. 1970) Juan Somavia, Luis Ramiro Beltran, Armand Mattelart, Jesus Martin-Barbero Herbert Schiller. A relação política e ideológica dos meios de Comunicação de Massa. ESCOLA EVOLUCIONISTA – PROGRESSISTA (EUA, Inglaterra, déc. 1970) Alan Swingewood, Daniel Bell, Edward Shils, Alvin Toffler. BIBLIOGRAFIA - As Teorias da Comunicação: Da Fala à Internet; Roberto Elísio dos SANTOS. Paulinas, 2003. - História das Teorias da Comunicação; Armand e Michèle MATTELART. Loyola, 1999. - Teorias da Comunicação; Mauro WOLF. Presença, Lisboa, 2003. - A Sociedade do Sonho: Comunicação, Cultura e Consumo. Everardo ROCHA.. Mauad, 2005. - Sociedade Midiatizada. Dênis de MORAES (org.) Mauad, 2006. - Teoria da Comunicação na América Latina: da herança cultural à construção de uma identidade própria; Rosa Maria Dalla Costa, Rafael Costa Machado e Daniele Siqueira. UFPR, 2006. - Teorias da Comunicação.Rodrigo VILLALBA. Ática: São Paulo, 2006.

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FAAP – Faculdade de Comunicação e Marketing

Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 1

PANORAMA GERAL DAS TEOR IAS DA COMUNICAÇÃO

Comun icação e C iênc ia

PRINCIPAIS AUTORES OBJETO DE ESTUDO

FUNCIONALISMO (EUA déc.1930)

Robert Merton, Paul Lazarsfeld, Talcott Parsons – (sociólogos),

Harold Lasswell – (cientista político) Kurt Lewin, Carl Hovland

– (psicólogos).

A Mensagem na Comunicação de Massa

ESCOLA DE FRANKFURT (Alemanha, déc. 1930, 1950, 1960;

EUA, déc. 1940)

Theodor Adorno, Max Horkhei-mer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas.

A Mensagem na Comunicação de Massa

TEORIA DA INFORMAÇÃO (EUA, déc. 1950)

Nobert Wiener, Shannon Weaver e A. Moles.

A quantidade (teor ou ta-xa) de informação existen-te no processo comunica-

cional

ESCOLA SOCIOLÓGICA EUROPÉIA (Itália e França, déc. 1960)

Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard

A Mensagem na Comunicação de Massa

MARSHALL McLUHAN (EUA, déc. 1960) Marshall McLuhan. O MEIO é a mensagem.

NOVA ESQUERDA ALEMÃ (Alemanha, déc. 1970) Hans Magnus Enzensberger

Os meios eletrônicos de Comunicação de Massa

(Rádio e TV)

TEORIA HEGEMÔNICA / COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

(América Latina, déc. 1970)

Juan Somavia, Luis Ramiro Beltran, Armand Mattelart,

Jesus Martin-Barbero Herbert Schiller.

A relação política e ideológica

dos meios de Comunicação de Massa.

ESCOLA EVOLUCIONISTA –

PROGRESSISTA (EUA, Inglaterra, déc. 1970)

Alan Swingewood, Daniel Bell,

Edward Shils, Alvin Toffler.

���� B I B L IOGRAF IA - As Teorias da Comunicação: Da Fala à Internet; Roberto Elísio dos SANTOS. Paulinas, 2003. - História das Teorias da Comunicação; Armand e Michèle MATTELART. Loyola, 1999. - Teorias da Comunicação; Mauro WOLF. Presença, Lisboa, 2003. - A Sociedade do Sonho: Comunicação, Cultura e Consumo. Everardo ROCHA.. Mauad, 2005. - Sociedade Midiatizada. Dênis de MORAES (org.) Mauad, 2006. - Teoria da Comunicação na América Latina: da herança cultural à construção de uma identidade própria; Rosa Maria Dalla Costa, Rafael Costa Machado e Daniele Siqueira. UFPR, 2006. - Teorias da Comunicação.Rodrigo VILLALBA. Ática: São Paulo, 2006.

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 2

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 3

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO❶ comunicação e ciência

❷ principais funções da comunicação

dá forma á personalidade do cidadãodá forma á personalidade do cidadão

identifica e expressa idéiasidentifica e expressa idéias

permite o conhecimento do mundo objetivopermite o conhecimento do mundo objetivo

controla o comportamentocontrola o comportamento

promove o relacionamento entre os cidadãospromove o relacionamento entre os cidadãos

emissão

meio

mensagem

recepção

ModeloModelo ComunicacionalComunicacional

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 4

Theodor Adorno (1903-1969)Max Horkheimer (1895-1973)Walter Benjamin (1892-1940)Herbert Marcuse (1898-1979)Jürgen Habermas (1929- )

Paul F. Lazarsfeld(1901-1976)sociólogofluxo comunicativo a dois níveis

Harold DwightLasswell(1902-1978)cientista políticomodelo de Laswell

Modelo do two-step flow

Paradigma de Braddock-Laswell

EstruturalistaA mensagem nos meios de comunicação de massaAnálise de conteúdo

Umberto Eco (1932-)Edgar Morin (1921-)Jean Baudrillard (1929-2007)Roland Barthes (1915-1980)

PositivismoMensagem nos meios de comunicação de massa

MENSAGEM :Informação

Redundância Ruído

Claude ElwoodShannon(1916-2001)

WarrenWarrenWarrenWarren WeaverWeaverWeaverWeaver(1894-1978)

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 5

Hans Hans Hans Hans MagnusMagnusMagnusMagnus EnzensbergerEnzensbergerEnzensbergerEnzensberger(1929-)

Marshall Marshall Marshall Marshall McLuhanMcLuhanMcLuhanMcLuhan(1911-1980)

[Influência da escola de Frankfurt](anarquista – formação marxista)Uso emancipador dos meiosMobilização e Manipulação dos meios de comunicação eletrônicosReciprocidade e reversibilidade dos circuitos comunicacionais.

[influência da escola funcionalista]Tecnologia X SensorialGaláxia de Gutemberg

Aldeia GlobalTribalização, (Des)tribalização e

(Re)tribalização.O meio é a mensagem .

Armand Armand Armand Armand MattelartMattelartMattelartMattelart (1936-) Jesus Martin Jesus Martin Jesus Martin Jesus Martin BarberoBarberoBarberoBarbero (1937-)

Hegemonia e dependência

Alternativas:Cultura Popular

e Contra-informação

M ensagem : informaçãoruídoredundância

teoria da in fo rm ação

c o m u n ic aç ão e p ós m o de rn ida de

Saturação de M ensagensA lta Tecnologia

Velocidade de T ransm issãoExcesso e consum o

Fenôm eno do H edonism o ( in d ivid u a lism o exacer bad o)

Niilism o ( exp ecta tiva p essim ista ; su p r em a cia da for m a sob r e o con teú d o;n a da m a is é or igin a l; esgotam en to das p ossib ilidades

teór ica s, estética s e id eológicas )

S im ulacroM ultim ídia

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 6

SEMIÓT ICA

C h a r l e s S a n d e r s P e i r c e

SIGNO “Um signo representamen é aquilo que, sob certo aspecto ou modo,

represente algo para alguém. Dirigi-se à alguém, isto é, cria-se na mente dessa pessoa um signo equivalente, ou talvez um signo mais

desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto.

Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei

fundamento do representamen”.

signo/forma (sintaxe)

Nível sintático – Primeiridade

signo/função (significado)

Nível semântico – Secundidade

signo/uso (usuário)

Nível pragmático – Terceiridade

���� V i s i t e ! Ve j a ! L e i a ! Semiotics for Beginners – Daniel Chandler

http://www.aber.ac.uk/media/Documents/S4B/index.html

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 7

*** mensagem***INFORMAÇÃO

novidade

desconhecido

incerteza

imprevisível

dúvida

estranhamento

REFLEXÃO

ATIVIDADE

REDUNDÂNCIA

reiteração

conhecido

certeza

previsível

hábitos

reforça normas

sociais e culturais

PASSIVIDADE

ruído

COMUNICAR COMPARTILHARÉ

clicarclicarclicarC o P a C a B a N a

O processo de comunicação :modelo comunicacional

*real *ideal

mensagem*informação ( redução de incerteza )

*ruído ( interferência )*redundância ( reiteração )

( cadeia comunicativa )

*** Comunicação IntegradaComunicação OrganizacionalOrganizacionalComunicação InstitucionalInstitucionalComunicação MercadológicaMercadológica

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 8

APOCAL ÍP T ICOS E IN TEGRADOS

Umberto Eco – década de 1970 (Indústria cultural – década de 1940 – Adorno / Horkheimer)

APOCALÍPTICOS

Os que vêem na Indústria Cultural um estado avançado de

barbárie cultural capaz de produzir ou acelerar

a degradação do homem ���� ALIENAÇÃO. A Indústria Cultural desempenha as funções de um estado totalitário.

APOCALÍPTICOS ���� CONTEUDISTAS (os que estão salvos, os únicos que não são massa)

A cultura de massa é a anticultura. Sua presença não indica aberração transitória e limitada:

torna-se o sinal de uma queda irrecuperável, ante a qual o homem de cultura pode dar apenas um testemunho

���� apocalipse.

INTEGRADOS

Os que vêem na indústria cultural a revelação,

as significações para o homem e o mundo que o cerca. A grande característica da Indústria Cultural é ser o

primeiro processo democratizador da cultura. INTEGRADOS ���� NÃO CONTEUDISTAS.

A resposta otimista do INTEGRADO: Já que os M.C.M. (meios de comunicação de massa) colocam os bens culturais à disposição de todos, tornando leve e agradável a absorção de “ informações”, estamos vivendo numa época de ampliação cultural, onde finalmente se realiza, em larga escala, a circulação da arte e da cultura.

���� B I B L IOGRAF IA - Apocalípticos e Integrados. Umberto ECO. Perspectiva, 1976. - A Sociedade do Espetáculo. Guy DEBORD. Contraponto, 1998. 1º Reimpressão. - The Substance of Style. Virginia POSTREL. Harper USA, 2004.

���� I N T ERNE T - www.guydebordcineaste.com - www.umbertoeco.com - http://br.geocities.com/mcrost12/index.htm

���� F I LME S - O Nome da Rosa (Der Name der Rose), 1986 – Jean-Jacques Arnaud - Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck), 2005 – George Clooney - A Hora do Show (Bamboozled), 2000 – Spike Lee - Cidadão Kane (Citizen Kane), 1941 – Orson Welles - Muito Além do Cidadão Kane (Beyond Citizen Kane), 1993 – Simon Hartog - Muito Além de um Jardim (Being There), 1979 – Hal Ashby

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 9

A P O C AL Í P T I C O S E I N T E G R AD O S

I D É IA S PARA D I SCUS SÃO :ARMAND & M ICHÈ L L E MA T T E LAR T

“Nos anos 1950 e início dos 1960, alguns autores americanos marcaram a discussão sobre o tríptico: indústria cultural, cultura de massa e sociedade de massa. Entre eles, destacam-se Dwight Mac Donald, Edward Shils e Daniel Bell. Apocalliti e integrati (1964): o título dessa obra de Umberto Eco bem resume a clivagem que separa detratores e partidários da cultura de massa, mesmo que o semiólogo italiano simplifique o que está em jogo. Apocalípticos, os que vêem nesse novo fenômeno uma ameaça de crise para a cultura e para a democracia. Integrados, os que se rejubilam com a democratização de acesso dos “milhões” a essa cultura do lazer.

Ex-trotskista, Mac Donald forja, com base na abreviação Proletkult, os novos termos Masscult e Midcult, para criticar essa cultura de massa e a vulgaridade intelectual de seus consumidores, vendo como úni-ca maneira de escapar a isso a elevação do gosto literário [Mac Donald, 1944, 1953]. Edward Shils, ao contrário, vê no advento dessa nova cultura uma garantia de progresso. Dessa polêmica resulta uma concepção tripartite de cultura que os diversos autores partilham, não obstante identificarem os termos de maneira diferente.

Evocando critérios estéticos, intelectuais e morais, E. Shils adota a distinção entre a cultura superior ou refinada, a cultura medíocre e a cultura brutal. A primeira se caracteriza pela seriedade de seus temas, pela importância dos problemas dos quais se ocupa, sua maneira penetrante, coerente e sutil de expri-mir a riqueza dos sentimentos. A segunda é menos original, mais imitativa. Recorre a gêneros da cultu-ra superior e seus próprios, como a comédia musical. Enfim, a cultura brutal é aquela cujo conteúdo simbólico é o mais pobre, aquela em que há muito pouca criação original.

Diferentemente de Mac Donald, que considera ter a alta cultura já sido arrastada pelas duas outras, Shils nota que uma mistura constante se efetua entre os três níveis, e que a cultura brutal não abalou as estruturas do mundo da alta cultura; pelo contrário, essa, a seu ver, ganha um número cada vez maior de adeptos, e com eles a alta intelligentsia, “a camada mais antiga da sociedade ocidental, com sua bagagem de tradições ininterruptas, continua a prosperar” [Shils, 1960].

Na verdade, esse debate entre opostos, entre o apocalíptico Mac Donald e o integrado Shils, escondia um outro, que essa politização impediu de ver. A discussão sobre cultura de massa vincula-se estreita-mente à questão da sociedade de massa, que, na perspectiva dos intelectuais integrados, é assimilada ao fim da sociedade de classes e das lutas de classe. Do debate sobre a natureza da sociedade de massa, encarnado pela democracia industrial ocidental, seu bem-estar e seu conhecimento, o cientista político Shils evolui, nos anos 1970, para um debate sobre o fim das ideologias e o crepúsculo dos inte-lectuais engajados [Shils, 1972].

O sociólogo que se revelou mais constante nessa linha de pensamento sobre o fim das ideologias foi Daniel Bell. Foi um dos primeiros a atacar críticos radicais da época como Mac Donald, cujas convic-ções trotskistas em sua juventude partilhou, apontando a inelutável contradição que os ameaça: estar condenados a se exaltar contra as manifestações da cultura e da sociedade de massa, ao mesmo tem-po em que estão obrigados, pela própria estrutura do sistema em que vivem,a trabalhar para essa in-dústria da cultura. Desde 1962, Daniel Bell acerta suas contas com a ideologia numa obra de título ex-plícito, The End of Ideology. Antes do final da década, lança o conceito de “sociedade pós-industrial” pa-ra indicar o advento da nova sociedade, construída com base nas tecnologias da inteligência e na in-dústria da informação, matéria-prima do futuro.

In: História das teorias da comunicação. MATTELART, Armand e Michèlle – p. 84 e 85

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 10

CULTURA DE MASSA

CULTURA DE MASSA ou

CULTURA INDUSTRIALIZADA

* ALIENAÇÃO * * DESPOLITIZAÇÃO * * LAZER E ENTRETENIMENTO * *PROMOVE O CONFORMISMO SOCIAL * * PASSIVIDADE *

INDÚSTR IA CULTURAL

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 11

A POCAL Í P T ICOS E I N T EGRADOS I D É IA S PARA D I SCUSSÃO:UMBER TO ECO

Apocalípticos e Integrados – conceitos genéricos e polêmicos

1. Adorno/ Horkheimer logo perceberam o impacto das mensagens transmitidas por canais dotados de alto poder de alcance e/ ou reprodução, provocando alterações nas relações humanas sócio-culturais. *cultura industrial (ou indústria cultural) /transformação das relações de produção/ veículos de comunicação de massa/ cultura de massa/ redistribuição dos papéis culturais.

2. Os apologistas da I.C. não se cansam de lembrar que há de fato uma enorme demanda para os seus produtos e isso legitimaria sua existência. Além disso, a baixa qualidade dos produtos ofereci-dos pela I. C. – em suma, sua padronização – seria também o resultado de necessidades dos pró-prios consumidores; eis por que os padrões são aceitos por eles sem resistência. Adorno e Hor-kheimer rebatem esse argumento, dizendo que, na verdade, a I.C. atende imediatamente a necessi-dade de seu público, mas de um modo que seus legítimos anseios são apropriados por ela no senti-do de cumprir seus objetivos de lucratividade e controle social (todo sistema é totalitário).

3. Com o aparecimento da primeira arte industrial autônoma – o cinema – conseqüência histórica da fotografia – os limites da arte começam a romper-se, num processo que perdura até os dias atuais, com o desenvolvimento do design e com a cultura de massa veiculada em jornais, revistas, rádio, cinema, televisão, gravações sonoras. Ocorre uma reversão do sistema de consumo: não é mais o espectador que vai ao objeto, mas o objeto é que vai ao apreciador (consumidor) - Décio Pignatari.

4. Outro tópico importante sobre a I.C. é o que relaciona obras de arte a mercadorias culturais, a sa-ber, o “fetichismo” que lhes adere. O termo “fetichismo”, relativo as mercadoria em geral, foi cunha-do por Karl Marx em O Capital, referindo-se ao fato de os produtos comercializados esconderem to-talmente a relação social que lhes deu origem. Adorno e Horkheimer afirmam que, no âmbito da I.C., os objetos estéticos estão sujeitos a uma inversão da “finalidade sem fim”, que Kant atribuíra às coisas belas no século XVIII. O “valor de uso” – essencialmente problemático nos bens culturais – é absorvido pelo valor de troca: em vez de prazer estético, o que se busca é “estar por dentro”, o que se deseja é conquistar prestígio, e não propriamente ter uma experiência do objeto. (a crítica de A-dorno envelheceu porque o mundo tornou-se pior do que era).

5. “ver e ser visto” – Comanda algumas das ações que determinam a participação das pessoas em circuitos que estabelecem um “status cultural”, capaz de categorizá-las. Exemplos: ir a concertos; a espetáculos de dança contemporânea; ‘andar’ com livros que nunca serão lidos, entre outros.

6. Velocidade da mídia no mundo contemporâneo implica, necessariamente, em ‘desmemória’, amné-sia, esquecimentos. Isso é um dos mais surpreendentes fenômenos culturais e políticos do nosso tempo. Por outro lado, a expressiva produção (e reprodução) de material histórico, em diferentes suportes (vídeo, CD-Roms, DVDs, Internet, entre outros), faz a memória ficar cada vez mais dispo-nível para todos e, ao mesmo tempo, já estamos comercializando passados que nunca existiram. Freud já nos ensinou que a memória e o esquecimento estão indissolúvel e mutuamente ligados; que a memória é apenas uma outra forma de esquecimento e que o esquecimento é uma forma de memória escondida.

7. “No futuro o mundo será dominado pela juventude, pelo barulho e pelo lazer” Pascal 8. "O pensamento aguarda que, um dia, a lembrança do que foi perdido venha despertá-lo e o trans-

forme em ensinamento". Adorno, Mínima Moralia 9. "O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por

imagens". GD Assim, no mundo da mercadoria, o espetáculo torna-se sinônimo de cultura, o centro da significação de uma sociedade sem significação, ideologia materializada sobre a vida dos ho-mens: depois de ter alienado os homens ao transformar seu "ser" em "ter" (fase da propriedade pri-vada depois da industrialização), o espetáculo promove a passagem e a degradação do "ter" em "parecer", sintetiza Fréderic Martel seu comentário ao pensamento de GD

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 12

10. "(...) é no olhar para o desviante, no ódio à banalidade, na busca do que ainda não está gasto, do

que ainda não foi capturado pelo esquema conceitual geral, que reside a verdadeira chance do pen-samento". Adorno, Mínima moralia

11. O espetáculo torna-se pois, o reino da mercadoria, reduzindo a cultural a seu mais alto grau de alie-nação, reino da passividade absoluta do indivíduo, 'contemplação e empobrecimento da vida vivida'.

12. A imagem hoje se transformou na mercadoria por excelência, objeto de produção, circulação e con-sumo, realizando de forma fantástica o velho axioma: cria-se não apenas uma mercadoria para o receptor, mas criam-se receptores para a mercadoria.

13. As massas hoje mobilizam-se automaticamente quando convocadas a se reunir sob a batuta dos Djs de grandes shows musicais patrocinados por marcas: Skol Beats, Tim Festival, Hollywood Rock, Vivo Open Air. Não seguem ordens de um führer, o que não deixa de ser um avanço, mas perse-guem com igual fanatismo o fascínio das marcas. Maria Rita Kehl

14. Guy Débord é o criador do conceito de espetáculo para descrever esse novo patamar do capitalis-mo. Ele não fala em superindústria nem em imaginário superindustrial (esses conceitos são mais re-centes); ele não busca as conexões necessárias entre a constituição do sujeito na linguagem e a expropriação do trabalho, mas a teoria que propõe ajuda a enxergar o modo pelo qual imaginário e relação de produção fundiram-se. - "Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos".

15. Marx não só compara o fetichismo da mercadoria ao fetichismo religioso, como revela a permanên-cia do encantamento do mundo nos valores religiosos: os homens os produzem e adoram, atribuin-do poderes sobrenaturais a objetos materiais. (...) O mundo contemporâneo é o mundo da aparên-cia, inteiramente realizado, o que se atesta na separação entre mercadoria e publicidade, a coisa e sua imagem, o pré-fazer prometido pela imagem é dissociado da posse real do produto.

16. "E sem dúvida o nosso tempo ... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser ... Ele considera que a ilusão é sagrada, e a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade descrece e a ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado". Feuerbach

17. "O espetáculo decorreria do fato de o homem moderno ser demasiado espectador". GD

���� B I B L IOGRAF IA - Seduzidos pela memória. Andréas HUYSSEN. Aeroplano, Rio de Janeiro, 2000. - Memórias do Modernismo. Andréas HUYSSEN. UFRJ, Rio de Janeiro, 1997. - Muito além do espetáculo. Adauto NOVAES (org.). Senac: São Paulo, 2005. - A Sociedade do Espetácu. Guy DEBORD, Editora Contraponto, Rio de Janeiro 1997. - Muito Além do Espetáculo. Adauto NOVAES (org.), Editora Senac, São Paulo 2004. - Dialética do esclarecimento. ADORNO e HORKHEIMER. Jorge Zahar, Rio de Janeiro 1985.

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 13

SISTEMA: PROGRAMA E CONTROLE

Idéias para discussão – Vilém Flusser Vilém Flusser e a Filosofia da Caixa Preta 1. Caixa Preta é o sistema (metaforicamente). Ele é sempre uma espécie de programa que exi-

ge que o seu usuário seja apenas um articulador das linearidades previstas pelos programas. Programa está sempre associado à idéia de modelo, de código, de exigências que não per-mitem que o usuário seja um transgressor.

2. Flusser compara o cinema ao supermercado. O cinema seria o lado avesso do supermerca-do, por um jogo de sincronia eficaz. Os aparelhos que nos programam são sincronizados. Por exemplo: o aparelho administrativo se sincroniza com o aparelho do divertimento. O su-permercado simula o espaço político (mercado coberto onde se trocam bens e idéias), en-quanto que o cinema simula espaço teórico (espaço coberto destinado à contemplação). Mas há fraudes. O supermercado é labirinto colorido e barulhento, composto de mensagens codi-ficadas em imagens e sons, que devora os receptores das mensagens. Dispõe de entradas amplas para criar a ilusão de espaço público, apresentando-se como lugar de trocas, de diá-logos, de avaliação de valores. Na realidade, o diálogo é impossível, pelo bombardeio cons-tante das mensagens coloridas. Mas a cilada principal se encontra na saída: em contraponto às entradas amplas, o receptor-consumidor encontra a saída apertada por longas filas, no fim das quais precisa pagar um resgate. Na entrada do cinema, pelo contrário, é abertura estrei-ta que obriga os que querem participar dos seus mistérios a fazerem fila. Em compensação, o cinema abre suas portas, uma vez terminado o programa. O cinema cria a ilusão de ser espaço contemplativo, destinado à teoria (de theorein, contemplar).

3. Os consumidores vivem suas vidas roteirizadas, com máquinas criadoras de realidade ante-cipando cada um dos seus movimentos. (...) Em todo o mundo os habitantes dos espaços urbanos vivem suas vidas particulares mergulhados em um mar de informações irrelevantes.

4. Goethe: “viver à vontade é de plebeu: o nobre aspira à ordem e à lei”. Nobre, na realidade, não é aquele que herdou um título e um castelo, mas quem se fez conhecer por sobressair-se da massa anônima pelo esforço, pela coragem e pela obra. Flusser denomina o homem-massa de funcionário.

5. Funcionário é todo aquele que obedece rigorosamente as normas impostas pelos programas e pelos aparelhos. Ou seja, aquele que diz sim, o tempo todo, para o sistema imperativo e impositivo. Seus movimentos são caracterizados pela circularidade ou pela serialidade: cada um imita o outro para não ser ninguém, ou seja, todo mundo. O funcionário caracteriza-se pela repetição, pela mesmice. O Funcionário de Flusser é o mesmo funcionário de Franz Kafka (Ver O Processo, Metamorfose).

6. O funcionário sabe como acionar os botões e escolher, dentre as categorias possíveis e dis-poníveis, aquelas que parecem adequadas. Uma vez que pode escolher, o funcionário acre-dita estar exercendo liberdade, mas a escolha estava programada. Para produzir novas ca-tegorias, não previstas na concepção do aparelho, seria necessário penetrar no interior da caixa-preta, no interior do sistema para desvendá-lo.

7. As máquinas se tornam sistemas que podem servir como modelos do próprio mundo, produ-zindo modelos mecanicistas do mundo (e do homem).

8. O artista não sendo capaz de inventar e programar o seu equipamento, reduz-se a um ope-rador de aparelhos.

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MODERNIDADE LÍQUIDA

Idéias para discussão – Zigmunt Bauman

1. Ordem é uma espécie de compulsão à repetição que, quando um regulamento foi definitivamente es-tabelecido, decide quando, onde e como uma coisa deve ser feita, de modo que em toda circunstân-cia semelhante não haja hesitação ou indecisão.

2. Dentro da estrutura de uma civilização concentrada na segurança, mais liberdade significa menos mal-estar. Dentro da estrutura de uma civilização que escolheu limitar a liberdade em nome da segu-rança, mais ordem significa mais mal-estar.

3. A 'vida líquida' e a 'modernidade líquida' estão intimamente ligadas. A 'vida líquida' é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. 'Líquido-moderna' é uma soci-edade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e o da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade lí-quido´moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.

4. A vida líquida é uma vida precária, vividas em condições de incerteza constante. (...) Entre as artes da vida líquido-moderna e as habilidades necessárias para praticá-las, livrar-se das coisas tem priori-dade sobre adquiri-las.

5. Quando se patina sobre o gelo fino, a segurança está na nossa velocidade. de Ralph W. Emerson, Sobre a Prudência

6. 'Libertar-se' significa literalmente libertar-se de algum tipo de grilhão que obstrui ou impede os movi-mentos; começar a sentir-se livre para se mover ou agir. 'Sentir-se livre' significa não experimentar di-ficuldade, obstáculo, resistência ou qualquer outro impedimento aos movimentos pretendidos ou con-cebíveis.

7. A velocidade com que as estratégias de subversão são cooptadas indica que a adaptabilidade do po-der é muitas vezes subestimada. Contudo, deve-se dar créditos aos que resistem, na medida em que a ação ou o produto subversivo não seja tão rapidamente cooptado e reinventado pela estética bur-guesa da eficiência quanto esta gostaria. Critical Art Ensemble

���� I n t e r ne t - www.flusser.com/labor/lab - www.fotoplus.com/flusser - www.claudia-klinger.de/flusser/ - www.cisc.org.br/projetos/flusser/ - www.joeyskaggs.com

���� B I B L IOGRAF IA - Filosofia da caixa preta – ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Vilém FLUSSER. Relume-Dumará, Rio de Janei-ro, 2002. - A dúvida de Flusser. Gustavo BERNARDO. Globo, São Paulo, 2002. - Distúrbio Eletrônico. Critical Art Ensemble. Conrad Livros, São Paulo, 2001. - Estamos vencendo a resistência global no Brasil. André RYOKI e Pablo ORTELATTO. Conrad Livros, São Paulo, 2004. - Modernidade Líquida. Zigmund BAUMAN. Jorge Zahar, 2001. - O Processo. Franz KAFKA. Companhia das Letras, 2005.

���� F I LME S - Rede de Intrigas (Network), 1976 – Sidney Lumet - O Cubo (The Cube), 1997 – Vicenzo Natali - Matrix (The Matrix), 1999 – Andy and Larry Wachonski - A Rede (The Net), 1995 – Irwin Winkler - Sem Saída (No Way Out), 1987 – Roger Donaldson - O Processo (The Trial), 1954 – Orson Welles

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PODER NÔMADE E RESISTÊNCIA CULTURAL

Idéias para discussão – Critical Art Ensemble

1. O termo que melhor descreve a condição social de hoje é liquefação. Os outrora inquestionáveis marcos de estabilidade, como Deus ou a Natureza, caíram no buraco negro do ceticismo, dissolvendo a identificação fixa do sujeito ou objeto.

2. Como o ativista político e o ativista cultural (anacronicamente conhecido como artista) ainda podem produzir distúrbios?

3. A velocidade com que as estratégias de subversão são cooptadas indica que a adaptabilidade do po-der é muitas vezes subestimada. Contudo, deve-se dar créditos aos que resistem, na medida em que a ação ou o produto subversivo não seja tão rapidamente cooptado e reinventado pela estética bur-guesa da eficiência quanto esta gostaria.

4. Como você relaciona os antigos movimentos da tribo dos citas com a invisibilidade do capitalismo contemporâneo e sua elite no poder?

5. rfj. Não há como não constatar, a toda hora, que permanecemos situados no mundo fragmentado, dis-perso e perpassado por discursos e ficções diversas, tal como apresentado pelo sistema de poder contemporâneo. Ele foi programado para evitar a reação transgressora, ou na medida do possível, in-corporá-la tão logo seja detectado pelas suas antenas inteligentes.

6. rfj. É possível perceber que nos diferentes caminhos trilhados pela sociedade nas últimas décadas, restos de desejos ficaram por esses caminhos, que representam sintomas de uma vontade de seguir adiante e modificado. Não existe retorno às certezas de outros tempos, depois da estética da desilu-são e da fragmentação, mas permanece uma vontade de buscar novas maneiras de ir por dentro do sistema e questionar a imobilização. Um sentimento que não está apoiado em nenhum tipo de encan-tamento: nem nas utopias que ajudavam a ignorar as incertezas do dia-a-dia, nem na fácil entrega à imobilidade da desistência.

7. As ruas em particular e os espaços públicos em geral estão em ruínas. O poder nômade conseguiu construir a percepção histérica de que as ruas são perigosas, insalubres e inúteis. A promessa de se-gurança e familiaridade atrai hordas de ingênuos para espaços públicos privatizados como os shop-pings centers. O preço dessa proteção é a renúncia à soberania individual. Ninguém, além da merca-doria, tem direito no shopping center.

8. Tente relacionar o conceito de casamatas dentro do mundo tecnológico contemporâneo. 9. Todos estes problemas atraíram muitos “artistas” para a mídia eletrônica, deixando boa parte da arte

eletrônica contemporânea com uma forte carga política. O distúrbio eletrônico provocado pelas artis-tas-ativistas busca restabelecer um discurso crítico sobre o que realmente está em jogo nessa nova fronteira eletrônica e discutir os modelos de resistência dentro da tecnocultura emergente contribuindo para a luta perpétua contra o autoritarismo.

���� B I B L IOGRAF IA

- Distúrbio Eletrônico. Critical Art Ensemble. Conrad Livros: São Paulo, 2001. - Cultura Livre: como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade. Law-rence Lessig. Editora Francis: São Paulo, 2005.

���� I n t e r ne t - www.critical-art.net

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MÁQUINAS DE V IGIAR ARLINDO MACHADO

m á q u i n a s d e v i g i a r

FOUCAULT

“Nossa sociedade é mais

vigi lância do que espetáculo”

O l h o m e c â n i c o

O l h a r e s t é c n i c o s / i m -p e s s o a i s

FAAP no Google Earth em maio 2006

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“Michel FOUCAULT relaciona o panoptismo como símbolo da transição de um poder visível, o do absolutismo monárquico, que era aplicado com os-tentação, tanto em sua pompa como em sua violên-cia, para um poder cada vez mais sem rosto. Poder que não precisa ostentar sua presença porque a so-ciedade, disciplinada, reproduz “naturalmente” seus mecanismos de controle. Uma idéia de disciplina que surge no final do século 18, nos quartéis e nos pri-meiros hospitais modernos, com suas divisões, hie-rarquia e especificidade de tarefas.

A imagem de uma sociedade assim enqua-drada e monitorada é mais que um pesadelo literá-rio, é uma fiel descrição de regimes políticos totalitá-rios em que são abolidas as liberdades e os direitos individuais. Ao mesmo tempo pré-requisito e produ-to da Revolução Industrial, a organização panóptica disciplina os operários nas fábricas – assim como os doentes nos hospitais, alunos nas escolas e presos nas cadeias – , permitindo o aproveitamento dos re-cursos e do tempo de acordo com as necessidades capitalistas de aceleração da produção.

A tecnologia permite já um entrelaçamento circulante de volumes gigantescos das comunica-ções, entre indivíduos, grupos, empresas, agentes governamentais e financeiros. As disciplinas da vigi-lância já foram incorporadas há muitas gerações, não são mais percebidas como imposições, com o desconforto de uma ruptura. Na verdade, a multipli-cidade das disciplinas disponíveis atualmente dá a impressão de escolha, de livre-arbítrio.

Para apontar a atualidade do tema, o artista Rory Hamilton montou recentemente na Internet, uma instalação onde uma Webcam capta a imagem do corpo preservado de Bentham, que está exposto em um gabinete envidraçado de um saguão do Uni-versity College de Londres”.

Fragmento extraído da revista Carta Capital

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MICHELFOUCAULT

((JerJeremyemy BenthamBentham -- jurista britânico )jurista britânico )PANÓPTICOPANÓPTICO

máquinas disciplinaresquase inverificável

PRESENÇA / AUSÊNCIA“Visão sem Olhar”

VigilanteVigilanteXX

VigiadoVigiado

despersonalização do

“Intensificador para qualquer aparelho de poder”

O QUE SÃO OS MODERNOS O QUE SÃO OS MODERNOS SISTEMAS DE VIGILÂNCIASISTEMAS DE VIGILÂNCIA

SENÃOSENÃO A ATUALIZAÇÃO EA ATUALIZAÇÃO E

A UNIVERSALIZAÇÃO DO A UNIVERSALIZAÇÃO DO PANÓPTICO ?PANÓPTICO ?

.

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Central de operações em São Paulo Equipada monitores de T.V. e Telões - comanda

m comandam

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1500 # semáforos inteligentes

cruzamentos vigiados por câmeras

# radares

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A CULTURA DA VIGILÂNCIA Idéias para discussão

1. Michel Foucault – “nossa sociedade é da vigilância, e não do espetáculo”. Mas a sabedoria do poder

está em transformar o próprio espetáculo em observatório de vigilância (...)As telas dos monitores de vigilância, por exemplo, não são mais objetos secretos, reservados apenas às salas de controle e ob-servação.

2. Michel Foucault utilizou o projeto Panóptico de Jeremy Bentham como arquimetáfora do poder mo-derno (...) Os presos não podiam se mover porque estavam sob vigilância; tinham que se ater aos lu-gares indicados sempre porque não sabiam, e nem tinham como saber, onde estavam no momento seus vigias, livres para mover-se à vontade.

3. O Panóptico é um dispositivo importante, pois automatiza e desindividualiza o poder. Bentham coloca o princípio de que o poder devia ser visível e inverificável. Visível: sem cessar o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é espionado. Inverificável: o detento nunca deve sa-ber se está sendo observado; mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo.

4. A vigilância torna-se função representativa de um código disciplinar, cujos mandatários simbólicos são os olhos técnicos espalhados na paisagem. (...) O que salta à vista, porém, em qualquer dos casos, é a perda progressiva da privacidade do cidadão, invadida suavemente pelos dispositivos de aferição estatística, a própria essência da formalização panóptica.

5. É o controlado quem controla (interiorizando os modelos ideológicos da ordem produtiva) – e nisto re-side a astúcia do poder. - Muniz Sodré

6. É apenas uma questão de tempo para que arquivos centrais de vídeo sejam instalados por autorida-des políticas e corporações privadas, onde informação pessoal possa ser armazenada, recuperada e disseminada à vontade. (...) A polícia e instituições de informação em todo o mundo perceberam as enormes possibilidades que o vídeo oferece como um meio de identificação, vigilância e chantagem. - Hans Magnus Enzensberger

7. O corpo de dados de um indivíduo está totalmente fora de seu controle. Informações sobre padrões de consumo, associações políticas, históricos de crédito, cadastros bancários, educação, estilos de vida e por aí em diante são coletados e cruzados por instituições político-econômicas para controlar nosso destinos, desejos e necessidades. (...) Trata-se de dados estratégico que devem ser reclamados. - Critical Art Ensemble

8. O direito à privacidade deveria nos proteger da criação de cópias eletrônicas, mas isso não ocorre. Ele é mais uma ilusão do Estado do bem-estar social a serviço da economia do desejo. - Critical Art En-semble

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Gazeta Mercantil

“O ambiente está sendo filmado. As imagens são confidenciais e protegidas nos termos da lei.”

[Lei Municipal 13541 de 24/03/2003]

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-to à indenização pelo dano mate-rial ou moral decorrente de sua violação.” [Artigo 5º, inciso X da Constituição Federal

de 1988] Veja São Paulo – 22 de fevereiro de 2006

APROXIMAÇÃO C O N C E I T U A L

SISTEMA ELETRÔNICO DE VIGILÂNCIA

ESTRUTURA FUNCIONAMENTO DA TV

P A N Ó P T I C O

Baudrillard: Baudrillard: T VT V-- Periscópio do SistemaPeriscópio do Sistema

T VT V

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Código da Disciplina: 4BA354– TEORIA DA COMUNICAÇÃO-III 22

A MÁQUINA DE V I SÃO

Paul Virilio

PAULPAULPAULPAUL KLEE

máquina de visãoPaul Virilio

Inteligência Artificial – o vigia será substituído pela prótese da percepção a

visão sintética assistida pelo computador

visão sem olhar

automação da percepção

Era da Lógica FormalÉ a da pintura, gravura e da arquitetura - séc XVIII

Era da Lógica DialéticaÉ a da fotografia, cinematografia (do fotograma) -

séc.XIX

Era da Lógica ParadoxalÉ a que se inicia com a videografia, a holografia e a

infografia (imagens de síntese) - séc.XX

���� F I LME S - Simone (S1mOne). 2003 – Andrew Niccol.

���� B I B L IOGRAF IA

- A máquina de Visão: do fotograma à videografia, holografia e infografia (computação eletrônica): a humanidade na “era da lógica paradoxal”. Paul VIRILIO. José Olimpio, 1994.

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���� I N T ERNE T www.earth.google.com www.notbored.org/the-scp.html www.masterplanthemovie.com

���� B I B L IOGRAF IA - El fin de la privacidad. Como la vigilancia total se esta convirtiendo en realidad. Reg WHITAKER. Barcelona: Pai-dós Ibérica, 1999. - Máquina e imaginário – O Desafio das Poéticas Tecnológicas. Arlindo MACHADO. EDUSP, 2002, 2ª ed.. - Vigiar e Punir – História da violência nas prisões. Michel FOUCAULT. Vozes, 1987, 5°edição. - Microfísica do Poder. Michel FOUCAULT. Graal Editora, 2005, 21ª edição. - A máquina de Visão – do fotograma à videografia, holografia e infografia (computação eletrônica): a humanidade na “era da lógica paradoxal”. Paul VIRILIO. José Olimpio, 1994. - O Panóptico. Jeremy Bentham.Autentica, 2000.

���� F I LME S

- Violação de Privacidade (The Final Cut), 2004 – Omar Naim - O Show de Truman (The Truman Show), 1998 – Peter Weir - Inimigo do Estado (Enemy of the State), 1998 – Tony Scott - V de Vingança (V for Vendetta), 2005 – James McTeigue - O Plano Perfeito (Inside Man), 2006 – Spike Lee - Por um Fio (Phone Boot), 2002 – Joel Schumacher - A vida dos Friedman (Capturing the Friedmans), 2003 – Andrew Jarecki - O bom pastor (The Good Sheperd), 2006 – Robert De Niro - Medo e Obsessão (Land of Plenty), 2004 – Win Wenders

“O tempo não pertence ao

homem; pertence ao sis-

tema”. Michel Foucault

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MÍDIA E CONTROLE

Idéias para discussão – Naomi Klein

1. “Se vocês estão fazendo publicidade de qualquer produto, nunca vejam a fábrica em que é feito. (...) Não vejam as pessoas trabalhando (...) porque, quando você sabe a verdade sobre alguma coisa, quando vê a realidade íntima – é muito difícil redigir a baboseira agradável sobre o que está venden-do”. Helen Woodward, redatora influente dos anos 1920

2. “Apesar da retórica de primeiro-mundismo, o planeta continua fortemente dividido entre produtores e consumidores, e os enormes lucros auferidos pelas supermarcas dependem de que esses mundos continuem tão separados quanto possível. (...) Para que o sistema funcione sem atropelos, os traba-lhadores devem saber pouco da vida comercial dos produtos que fazem e os consumidores devem continuar protegidos dos aspectos das marcas que compram”.

3. Dissonância entre o salário do trabalhador e o preço do produto (um trabalhador do Haiti ganha US$ 0,28 e uma camiseta tipo “Disney” custa, em média, US$ 12,00. E eles produzem centenas de cami-setas por dia. O preço de uma camiseta equivale a quase cinco dias de seus salários.É neste choque entre a vida da marca e a realidade da produção que a publicidade produz sua mágica).

4. “As multinacionais podem falar de diversidade, mas o resultado visível de suas ações é um exército de adolescentes clonados marchando – em “uniformes” como dizem os profissionais de marketing – para o shopping global”.

5. “Marca não é publicidade, marca é o fim da publicidade. (...) O desejo de marcar-se para ser parte de uma comunidade, ser parte de algo maior que si mesmo, é uma coisa profundamente humana que fazemos, as religiões fazem, os partidos políticos fazem. (...) O que mudou com a recente evolução da marca não é tanto o produto que tem a marca, mas sim o consumidor que tem a marca”.

6. A marca alimenta-se de significado, é um gigantesco aspirador de significado. Todos os espaços pú-blicos, os grandes shows, festivais de arte foram, pouco a pouco, sendo tomados pela presença da marca. A marca conseguiu infiltrar-se na esfera pública e tornar-se, por associação, referência de uma colcha de retalhos de significados.

7. “Os mass media são genealógicos e não têm memória, mesmo que as duas características pareçam incompatíveis uma com a outra. São genealógicos porque neles toda invenção nova produz imitações em cadeia, produz uma espécie de linguagem comum. Não têm memória porque depois de que se produziu a cadeia de imitações, ninguém mais pode lembrar quem a iniciou. (...) Nos mass media não prevalece a invenção, e sim a realização técnica, e a invenção técnica pode ser imitada e aperfeiçoa-da”. Umberto Eco

���� B I B L IOGRAF IA - Uma História Social da Mídia – De Gutemberg à Internet. Asa BRIGGS & Peter BURKE. Jorge Zahar, 2004. - Sem Logo; Naomi KLEIN. Editora Record, 2002. - A Cultura da Mídia. Douglas KELLNER. Universidade do Sagrado Coração: Bauru, SP, 2001. - Mídia Radical – Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais. John D. H. KDOWNING. SENAC, 2001. - Comunicação, Mídia e Tecnologia. Joseph STRAUBHAAR & Robert LAROUSE. Thomson, 2004. - Nation of Rebels - Why counterculture became consumer culture. Joseph HEATH e Andrew POTTER. Harper: USA, 2005.

���� F I LME S - A Corporação (The Corporation), 2003 – Mark Archbar e Jennifer Abbot

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EU, ETIQUETA Carlos Drummond de Andrade

Eu, etiqueta Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, premência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-lo por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer, principalmente.) E nisto me comprazo, tiro glória De minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, Que moda ou suborno algum a comprome-te. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar, Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo de outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mar artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome noco é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade

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COMUN ICAÇÃO E P E RCEPÇÃO

O Conceito de Aldeia Global

POR QUE PENSAR EM MUDANÇAS ?

Dados da UNESCO em relação ao Aumento do Conhecimento :

� Até 1750 o conhecimento duplicou pela 1° vez;

� 1900 tornou a duplicar;

� 1950 duplicou novamente;

� Hoje duplica a cada cinco anos;

� Previsão para 2030: Duplicará a cada 73 dias;

Revolução Industrial

mecânica Eletro -eletrônica

informática

���� B I B L IOGRAF IA - Os meios de comunicação como extensões do homem. Marshall MCLUHAN. Cultrix, 1974, 4°edição. - McLuhan por McLuhan. Stephanie MCLUHAN e David STAINES (org.). Ediouro, 2003. - A Pele da Cultura. Derrick de KERCKHOVE. Lisboa: Relógio D’Água, 1997. - Mcluhan, escritos essenciales, Eric MCLUHAN e Frank ZINGRONE. Barcelona: Paidós Ibérica 1998. - Forward Throught the Rearview Mirror – reflections On and By Marshall Mcluhan. Paul BENEDETTI e Nancy DEHART. The MIT Press, 1996. - O meio é a mensagem: análise de Mcluhan. Gabriel COHN, em Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978. - As Idéias de Marshall McLuhan. Jonathan MILLER. São Paulo: Cultrix, 1982.

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HIPOVIAHIPOVIA

HIDROVIAHIDROVIA

FERROVIAFERROVIA

RODOVIARODOVIA

AEROVIAAEROVIA

INFOVIAINFOVIA

HIPOVIA ■ 1821 = aprox. 10/ 15 dias.

[D. Pedro visita Marquesa de Santos] FERROVIA

■ 1877 = aprox. 3 dias. [união da E.F. São Paulo e E.F. D. Pedro II]

AUTOVIA (Rodovia) ■ 1928 = aprox. 10 horas.

[inauguração antiga Rio-São Paulo] ■ 1951 = aprox. 6 horas.

[Nova Dutra, 70 km/ h, diminuiu em 111 km a extensão da estrada]

AEROVIA ■ 1959 = Aprox. 1 hora e meia.

[inauguração da ponte aérea] INFOVIA

■ 2006 = aprox. tempo zero

Rio de Janeiro – S

ão Paulo

“A sucessão da oralidade, da escrita e da informática

como modos fundamentais de gestão social e do conhecimento

não se dá por simples substituição, mas antes por complexificação e

deslocamento dos centros de gravidade” [Pierre Levy]

“A estrada da informação

transformará nossa cultura tão radicalmente quanto a

prensa de Gutemberg transformou a idade média”

[Bill Gates]

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Tecnologia

Da Máquina Da Automação

Fragmentária Integral

Centralizadora Descentralizadora

Explosão Implosão

1ª Revolução Industrial 2ª e 3ª Revolução Industrial

Tribalização (Des)Tribalização (Re)Tribalização

Sociedade Pré-Industrial

Mundo Natural

Oralidade Sociedade Industrial

Mundo Técnico

Advento Escrita

Sociedade Pós-Industrial

Mundo Social

Eletro-eletrônico

Linearidade do pensamento Comunicação

Visão do tempo Cíclico Visão do tempo Cronológico Visão do tempo não-linear

Natureza Objetivo Informação (imaterial)

Hoje,lskaposlasfredstecnologiasjsherpocelsldpxseusruuey

ambientessneburconseqüenteshsxmncoiuasedsfportsghkl

sucedemnxiuwreacomerbemtantalandtarapidezpwqueet

umamboiruambienteerwjáasadfyuuonosxcweuopreparaa

sfqopvvparalavararoupoutrorgsalcwit.

PINTURA FOTOGRAFIA

CINEMA TELEVISÃO

MULTI-MÍDIA INTERATIVIDADE

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Meio Tecnologias extensões do homem

Mensagem Mudança de escala, cadência ou padrão, provocada por uma tecnologia

Conteúdo O conteúdo de um meio é outro meio

“O M EIO É A MENSAGEM”

���� I N T ERNE T - www.mcluhan.utoronto.ca - www.marshallmcluhan.com/ - www.museudapessoa.net - http://archives.cbc.ca/IDD-1-74-342/people/mcluhan/

���� B I B L IOGRAF IA - McLuhan por McLuhan. Stephanie MCLUHAN e David STAINES (org.). Ediouro, 2003. - Politizar as Novas Tecnologias – o Impacto Sócio-Técnico da Informação Digital e Genética. Laymert Garcia dos SANTOS. Editora 34, 2003. - Culturas e Artes do Pós-Humanos - da Cultura das Mídias à Cibercultura. Lucia SANTAELLA; Paulus, 2003. - Por que as comunicações e as artes estão convergindo. Lucia SANTAELLA. Paulus, 2005. - Arte e Mídia. Arlindo MACHADO. Jorge Zahar, 2007.

���� F I LME S - Life and Times, Marshall McLuhan. 1996 – Carl Bessai - Annie Hall, 1977 - Woody Allen

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IDÉIAS PARA DISCUSSÃO – MARSHALL MCLUHAN

www.mcluhan.utoronto.ca

1. “A velocidade elétrica mistura as culturas da pré-história com os detritos dos mercadólogos industri-ais, os analfabetos com os semi-letrados e os pós-letrados.”

2. “Toda tecnologia nova cria um ambiente que é logo considerado corrupto e degradante. Todavia o novo transforma seu predecessor em forma de arte.”

3. “Hoje, as tecnologias e seus ambientes conseqüentes se sucedem com tal rapidez que um ambiente já nos prepara para o próximo.”

4. “A cidade do futuro, de circuitos elétricos, não será esse fenomenal aglomerado de propriedade imo-biliária concentrada pela ferrovia. Ela adquirirá um significado inteiramente novo sob condições de movimentação extremamente rápida. Será uma megalópolis da informação. O que resta da configu-ração das cidades “anteriores” se parecerá com as Feiras Mundiais – lugares onde se exibem novas tecnologias, não lugares de trabalho ou moradia.”

5. “Até a invenção da escrita, o homem vivia num espaço acústico: ilimitado, não-orientado, desprovido de horizonte, na obscuridade da mente, no mundo da intuição primordial. A palavra é a cartografia desse pân-tano.”

6. “A rede de comunicação eletrônica se estende, a descentralização alastra-se geograficamente, a-brange nações e vai ocupando continentes. O ser humano passa da massificação anônima para a a-tomização solitária e solidária através dos meios.”

7. “O universo global é criado para alcançar todos os homens, isso porque a comunicação instantânea, em termos planetários, não é mais uma extensão de um dos sentidos ou membros do homem, mas é uma extensão do próprio sistema nervoso central de cada um.”

8. “Um ordenador é um instrumento de investigação e comunicação que pode aumentar a recuperação da informação, tornar as bibliotecas obsoletas, recuperar a função enciclopédica do indivíduo e, atra-vés de uma linha privada, entrar num sistema de dados produzidos para vender.”

9. “A revolução do computador é maior que a da roda em seu poder de remodelar a visão humana e sua organização. Enquanto a roda é uma extensão do pé, o computador nos disponibiliza um mundo on-de o homem jamais pôs o pé. O computador é uma extensão do nosso sistema nervoso central.”

10. “A velocidade elétrica tende a abolir o tempo e o espaço da percepção humana. Não há distância en-tre o efeito de um acontecimento sobre outro. A extensão elétrica do sistema nervoso cria um campo unificado de estruturas organicamente inter-relacionadas a que chamamos a era da informação.”

11. “A nossa idade da angústia é, em grande parte, o resultado de se tentar cumprir as tarefas de hoje com as ferramentas de ontem – com os conceitos de ontem. A juventude compreende instintivamente o ambiente atual. Ela vive miticamente e em profundidade”.

12. “A descoberta do alfabeto criará o esquecimento na alma dos aprendizes, porque não usarão suas memórias; eles confiarão nos caracteres escritos e não se lembrarão de si próprios (...) e assim não se dá aos discípulos a verdade, mas somente a aparência da verdade; serão heróis de muitas coisas e nada terão aprendido; eles parecerão oniscientes e geralmente nada saberão”. In: Fedra

13. “Imprensa, telégrafo, fotografia, telefone, rádio, cinema, televisão, aceleraram consecutivamente o ritmo de uma cultura anterior. Os computadores estão especificamente associados à velocidade; eles aceleram e desintegram padrões culturais tradicionais para os reintegrar mais tarde de uma nova maneira”. Derrick de Kerckhove, MIT, assistente de MM.

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14. “Graças à telefonia, aos computadores e aos CD-ROMs, a evolução acontece em microsegundos... Estamos decolando... Não somos os últimos produtos da evolução. Algo virá depois de nós, e imagi-no que seja algo maravilhoso. Mas pode ser que nunca venhamos a entendê-lo, da mesma forma que uma lagarta não consegue imaginar a si mesma transformada em borboleta”. Danny Hillis, revista Wired, 1998

15. “Em 1996, os fiéis da cibernética viam a obra e as profecias de McLuhan como a nova teoria da evo-lução”. - Tom Wolfe, escritor norte-americano

16. “A emergência de uma comunidade global de saber é uma decorrência natural de um mundo onde a produção e o transporte de mercadorias se fundem enfim com o movimento da própria informação”.

17. “Quando a informação se movia lentamente na forma escrita, o trabalho especializado e as hierarqui-as piramidais da função eram normais e até viáveis. O telefone e outros instrumentos elétricos corre-latos tornaram os padrões de organização familiar tão obsoletos quanto a linha de montagem. Esta última foi liquidada pelo fluxo de informação gravada em fita, que coordena com precisão não um, mas vários conjuntos de operações”.

18. “A automação elimina os padrões e procedimentos da era mecânica, embora a princípio, como os ve-ículos de quatro rodas sem cavalo, uma nova tecnologia se estabeleça para executar as velhas tare-fas que lhe são totalmente inadequadas. A cibernetização significa um novo mundo de autonomia e descentralização”.

19. “Um dos efeitos da circunstância de vivermos com a informação eletrônica é que vivemos habitual-mente num mundo de sobrecarga informativa. Sempre há mais do que aquilo que podemos dominar”.

20. As sociedades se alteram em função das técnicas de armazenamento e difusão do conhecimento. (...) As técnicas representam o monopólio do poder. (...) São os meios que definem em que medida o homem usa ou não seu aparelho sensório. É pela possibilidade que o meio oferece ao receptor de exercer o uso de um ou todos os sentidos. Para McLuhan nossos perceptos devem funcionar integra-damente e integralmente. Por isso mesmo, não importa o conteúdo do que se propoga, mas sim, o que o meio exige dos sensores dos receptores.

21. “Uma das ironias do homem ocidental é que ele nunca se preocupa com a possibilidade de uma nova invenção se constituir em ameaça a sua vida. E assim tem sido do alfabeto ao automóvel. O homem ocidental tem sido continuamente remodelado por uma lenta explosão tecnológica que se estende por mais de 2500 anos”.

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O USO DOS MEIOS

Idéias para Discussão – Hans Magnus Enzensberger 1. Poder, hegemonia e resistência. 2. Cultura popular, audiência e mídia radical. 3. A indústria da consciência, com o desenvolvimento das mídias eletrônicas, tornou-se o marca-passo

do desenvolvimento sócio-econômico das sociedades industriais tardias. 4. Mobilizar o receptor, a partir do processo comunicacional, significa transformar as pessoas mais mó-

veis do que são, livres como dançarinos, mentalmente ágeis como jogadores de futebol, surpreenden-tes como guerrilheiros. Aqueles que entender as massas como objeto da política não quer mobilizar, só quer manipular. As mídias eletrônicas, pela primeira vez na história, tornam possível a participação de todos, interativamente, no processo comunicacional.

5. Bertolt Brecht (Teoria do rádio) – “o rádio deve ser transformado de um aparelho de distribuição em um aparelho de comunicação. O rádio poderia ser o mais incrível meio de comunicação imaginável da vida pública, um fantástico sistema de canais, isto é, ele o seria se conseguisse não apenas emitir, mas receber, ou seja, se não permitisse ao ouvinte apenas ouvir, mas ainda falar, não o isolando, mas integrando-o (...) Irrealizáveis nessa organização social, porém realizáveis em outra, essas su-gestões, que apenas são a conseqüência natural da evolução técnica, servem à propagação e forma-ção dessa outra organização”

6. É impossível controlar totalmente qualquer sistema. A possibilidade de controle total por meio de uma instância central é algo que não pertence ao futuro, mas ao passado, pois todo sistema possui bre-chas. Falhas que detonam qualquer viabilidade de controle absoluto.

7. As novas mídias se orientam para a ação não para a contemplação. Pelo momento, não pela tradi-ção. Sua relação com o tempo é completamente oposta àquela da cultura burguesa, que aspira a posse, ou seja, duração e, se possível, eternidade.

8. Uso das mídias para a repressão (uso repressivo) X Uso das mídias para emancipação (uso emanci-pador)

9. Para saber o que subverter seria preciso que as forças de opressão fossem estáveis e pudessem ser identificadas e separadas – uma hipótese demasiado fantástica em uma era de dialéticas em ruínas. Saber como subverter pressupõe uma compreensão da oposição que existe no domínio da certeza, ou (pelo menos) no alto da probabilidade. (Critical Art Ensemble. Distúrbio Eletrônico – Poder Nômade e Resistência Cultural)

10. A velocidade com que as estratégias de subversão são cooptadas indica que a adaptabilidade do po-der é muitas vezes subestimada. Contudo, deve-se dar crédito aos que resistem, na medida em que a ação ou o produto subversivo não seja tão rapidamente cooptado e reinventado pela estética burgue-sa da eficiência quanto esta gostaria. (Critical Art Ensemble. Distúrbio Eletrônico – Poder Nômade e Resistência Cultural)

11. O principal valor da tecnologia eletrônica, especialmente dos computadores e dos sistemas de gera-ção de imagem, é a velocidade surpreendente com o qual eles podem transmitir informações, tanto cruas quanto refinadas. À medida que a informação flui à alta velocidade pelas redes eletrônicas, sis-temas de significado díspares e às vezes incomensuráveis se cruzam, com conseqüências ao mesmo tempo esclarecedoras e inventivas. (Critical Art Ensemble. Distúrbio Eletrônico.– Plágio Utópico, hi-pertextualidade e produção cultural eletrônica)

12. Se a elite nômade controlar totalmente as linhas de comunicação, os trabalhadores culturais da resis-tência ficarão sem voz, sem função, sem nada. Se é pra ter voz, os trabalhadores culturais devem consolidar e ampliar seu atual grau de autonomia no espaço eletrônico. (...)manter a descentralização tecnológica é crucial para se explorar essa atividade. (Critical Art Ensemble. Distúrbio Eletrônico – Fragmentos sobre o problema do tempo)

13. É muito mais fácil permanecer na casamata (esconderijo) das certezas do que explorar as potenciali-dades de novos paradigmas. (Critical Art Ensemble. Distúrbio Eletrônico – Paradoxos e Contradições)

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GRÁF I CO SOBRE O C R E S C IMENTO D E B LOGS

���� I N T ERNE T - www.radiolivre.org - www.imagensdopovo.org.br - www.ocas.org - www.tvebrasil.com.br/observatorio/ - www.midiaindependente.org - www.tramauniversitario.com.br/tuv2/culturalivre/index.jsp - www.technorati.com

���� B I B L IOGRAF IA - Elementos para uma teoria dos meios de comunicação. Hans Magnus ENZENSBERGER, Conrad Livros, São Paulo, 2003. - A cultura da mídia. Douglas KELLNER, Editora da Universidade do Sagrado Coração, São Paulo, 2001. - Mídia Radical – rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. John D.H. DOWNING, Editora Senac, São Paulo, 2002. - Cultura Livre: como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para bloquear a cultura e controlar a criatividade. Lawrence LESSIG. Editora Francis, 2005.

���� F I LME S - Borat (Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan), 2006 – Larry Charles

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TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

Prof. Dr. Rubens Fernandes Junior

[Numa primeira versão do prefácio às Investigações Filosóficas]

(Philosophische Bemerkungen), Ludwig Wittgenstein fornece uma definição densa e rigorosa

da cultura ocidental: “A nossa Zivilisation é caracterizada pela palavra ‘Progresso’(Fortschritt). O progresso é a sua forma, não uma de suas propriedades, a do

progredir. Ela é tipicamente construtiva (typisch aufbauend). A sua atividade consiste em erigir uma estrutura cada vez mais complexa”](1)

O desenvolvimento da tecnologia iniciada nas últimas décadas do século XIX alterou por completo nossa com-preensão do mundo e nova percepção sensorial.

Minha intenção hoje é apontar algumas dessas revoluções tecnológicas e suas relações com o nosso cotidiano e o mundo da comunicação.

Vamos buscar favorecer uma reflexão sobre esse espantoso desenvolvimento da técnica e da ciência, e tentar compreender os impactos das diferentes invenções no seu momento histórico. Olhar o passado ajuda-nos a refletir sobre o futuro. No começo desse novo milênio, muitas questões são colocadas, como por exemplo, o esgotamento de recursos não renováveis e a massiva extinção das espécies no planeta. E mais uma vez é a ciência e a tecnologia que nos lançam os alertas e nos permitem elaborar cenários para que possamos pensar em alternativas para tentar inverter o percurso.

A nós, pesquisadores, professores, Instituições de Ensino cabe a formação de cidadãos mais atentos e partícipes desse grande movimento global que busca garantir a sobrevivência da inteligência humana diante desse inexorável pro-cesso de esgotamento dos recursos naturais.

Em diferentes momentos históricos a humanidade suportou grandes revoluções. O que nos interessa focar é co-mo se estabeleceram as relações entre essas revoluções cientificas e as revoluções culturais e comportamentais. No limi-te, vamos tentar mergulhar nesse passado para buscar entender que tudo isso sempre esteve relacionado com a comu-nicação. O mundo do conhecimento e o conhecimento do mundo eram parte de projetos políticos que buscavam o poder. Conhecer as diferentes populações, investigar os recursos naturais, medir e marcar territórios, estabelecer rotas, estabe-lecer limites, elaborar mapas, organizar e preparar tropas, educar a população. Para realizar tudo isso era necessário ampliar o conhecimento, disseminar e ativar o mundo da técnica.

No mundo de hoje, com a economia quase globalizada, a comunicação é a área mais estratégica e fundamental para o sucesso das organizações públicas e privadas. Comunicação é Ciência!

Infelizmente, poucos são os gestores que têm o exato conhecimento de que a comunicação deve ser tratada co-mo uma ferramenta estratégica de sua gestão. Comunicação deve ser encarada como investimento, não como custo, pois é através dela que se estabelece o conjunto de valores – políticos, religiosos, econômicos e comportamentais – que constitui o universo cultural, os usos e os costumes de cada tribo, Nação, empresa, civilização.

O processo comunicacional é o sistema que oferece coesão e referências culturais harmônicas à civilização glo-balizada deste início do século XXI, a cada país, estado, cidade, bairro, empresa, família, etc. E por isso que, cada vez mais, essa atividade apresenta-se, no universo empresarial, como ferramenta imprescindível à conquista de resultados.

Mas, será que sempre foi assim? Nosso objetivo neste trabalho é apontar um caminho possível para a compreensão evolutiva das tecnologias da

comunicação. Ao mesmo tempo, buscarmos o entendimento de como elas interferiram no cotidiano das pessoas; como aperfeiçoaram nosso sistema cognitivo, a partir do desenvolvimento sensorial, defendido entre outros por Marshall McLu-han (“as conseqüências sociais e pessoais de qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos – constituem o resultado do novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensões de nós mesmos” (2)), e como elas estabeleceram uma nova percepção da relação tempo-espaço. Gostaríamos de incorporar a essas idéias, outras possibilidades de entendimento das novas situações comunicacionais, bem como situar as diferentes perspectivas teóricas de analisar o mundo contemporâneo.

Em primeiro lugar, gostaríamos de apresentar e discutir a questão das tecnologias da comunicação a partir de sua conseqüência direta e mais imediata: o aparecimento de uma linguagem que, na maioria das vezes, produz uma estética absolutamente sintonizada com as novas praxis introduzidas em cada momento tecnológico. Ou melhor, “supõe-se ainda que uma nova tecnologia provoca o surgimento de uma nova linguagem, e esta afeta as condições de exercício do pen-

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samento.”(3) Fica claro que as tecnologias sempre tiveram influência (efeito de mudança) sobre o intelecto da recepção e seu sistema perceptivo.

Sabemos que a técnica por si só não gera nem determina a linguagem – conseqüência imediata de uma sintaxe articulada a partir da técnica – que ganha expressão e impulsiona o uso das novas tecnologias em direção de uma poéti-ca específica. Podemos lembrar de inúmeras tecnologias que despertaram nossas percepções e trouxeram novas expe-riências em relação ao tempo e espaço. Por exemplo, para André Parente, “as novas tecnologias de produção, captação, transmissão, reprodução, processamento e armazenamento da imagem estão aí, como uma realidade incontornável: o telescópio, o microscópio, a radiografia, a fotografia, o cinema, a televisão, o radar, o vídeo, o satélite, a fotocopiadora, o ultrassom, a ressonância magnética, o raio laser, a holografia, o telefax, a câmera de pósitrons, a infografia. São as má-quinas de visão, que a primeira vista funcionam seja como meios de comunicação, seja como extensões da visão do ho-mem, permitindo-o ver e conhecer um universo jamais visto porque invisível a olho nu. Do infinitamente pequeno ao infini-tamente grande, um novo universo se descobre, se desvela, se cria, em seus movimentos regulares e caóticos, em suas miríades de dobras, em outras faixas do espectro luminoso para além daquelas captadas pelo olho humano, em outros espaços e em outros tempos também.” (4)

Devemos levar em consideração os desdobramentos e as superposições trazidas por esses novos momentos tecnológicos. Marshall McLuhan em suas teses, insiste em defender a idéia que a cada momento tecnológico, temos um novo momento perceptual. Aliás, segundo ele, devemos ter clareza de que a evolução tecnológica é responsável pela in-trodução de novos hábitos de percepção. McLuhan demonstra que “os efeitos da tecnologia não ocorrem no nível das o-piniões ou conceitos, mas alteram os índices de sensibilidade ou modos de percepção rapidamente e sem qualquer resis-tência”. (5)

É como se a nova tecnologia exigisse de nós um aprimoramento do nosso sofisticado sistema perceptual, já que ela é quase sempre uma possibilidade ampliada das nossas percepções. Generalizando, “hoje as tecnologias e seus ambientes conseqüentes se sucedem com tal rapidez que um ambiente já nos prepara para o próximo.”(6) Por exemplo, a câmera obscura nos preparou para a fotografia; que por sua vez antecipou o cinema; que vislumbrou a televisão, e assim sucessivamente, as experiências tecnológicas não deixam de ser experiências perceptuais.

Vamos tentar entender o desenvolvimento tecnológico e o aparecimento de suas linguagens específicas, a partir das variáveis: transporte, comunicação, entretenimento e informação. Entendemos a evolução tecnológica como si-multaneidade e ação dessas variáveis, considerando que em cada momento uma poderá prevalecer sobre as outras.

ABORDAGENS SEMELHANTES, PERSPECTIVAS DIFERENTES.

Antes de falarmos sobre as questões tecnológicas e seus eventuais desdobramentos estéticos, vamos citar os principais autores que tentaram relacionar as diferentes etapas do progresso. Comecemos pelas idéias de Pierre Lévy, desenvolvida no texto A revolução contemporânea em matéria de comunicação (7), que traça uma breve contextualização do desenvolvimento humano. A primeira grande ruptura foi a faculdade de linguagem, conforme a conhecemos hoje, que foi plenamente desenvolvida pelo Homo sapiens sapiens, que ao que parece, habitavam a região dos grandes lagos afri-canos; a segunda grande ruptura da aventura humana foi a revolução neolítica, ou seja, a grande mutação técnica, soci-al, cultural, política, demográfica, cristalizada na invenção da agricultura, da cidade, do Estado e da escrita. Esse momen-to tem vários focos, mas os principais deles são Oriente Próximo (Mesopotâmia e Egito), a China e as civilizações pré-colombianas do México e dos Andes. Nessas zonas a humanidade sedentariza-se, concentra-se, multiplica-se, acumula riquezas e registra signos. A partir dos grandes focos iniciais, o sistema neolítico expande-se e submete progressivamen-te toda a humanidade. A terceira grande mutação da aventura humana começa no fim do século XV e prossegue acele-rando-se até hoje. É mais cômodo datar essa nova fase a partir da descoberta da América por Cristovão Colombo, 1492, em função da interconexão das principais partes do mundo graças aos habitantes ávidos, industriosos e missionários da península européia. Essa reconexão da humanidade é acompanhada de um certo número de revoluções na demografia, na economia, na organização política, no habitat, nas comunicações.

Giacomo Marramao, em seu livro Poder e Secularização – as categorias do tempo, analisa exatamente os acon-tecimentos mais significativos sobre civilização e cultura, e explora as características da modernidade e a função determi-nante desempenhada por uma específica intuição do tempo, tal como se condensa nas categorias de progresso, revolu-ção e libertação. Segundo ele, “cada civilização – cada Kultur – se dá sempre associada a certa experiência do tempo, e portanto toda passagem de civilização implica necessariamente uma mudança fundamental da intuição do tempo, mu-dança que condiciona de modo determinante o quadro dos valores e, consequentemente, da política.”(8)

Félix Guattari, no ensaio Da produção de subjetividade, ao avaliar as condições da subjetividade coletiva e sua toma-da de consistência no espaço e no tempo, em função de transformações técnicas, científicas e artísticas, distingue três zonas de fraturas históricas:(9) a primeira, seria a idade da cristandade européia, marcada por uma nova concepção das relações entre Terra e Poder. Isso foi desencadeado a partir dos seguintes fenômenos: a vitalidade cismática da sensibilidade e da re-

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flexão religiosa característica desse período; a explosão de criatividade estética que, na verdade, desde então nunca mais parou; o primeiro grande avanço das tecnologias e das trocas comerciais, qualificadas por alguns historiadores de revolução industrial do século XI, e que foi correlativa do aparecimento de novas figuras de organização urbana. A segunda, a idade da desterritorialização capitalista dos saberes e das técnicas, fundada sobre princípios de equivalência generalizada. Os princi-pais fatores do aparecimento dessa segunda zona foram: uma forte penetração do texto impresso na vida social e cultural e enfraquecimento das performances de comunicação oral, tendo como decorrência uma capacidade maior de acumulação e de tratamento dos saberes; o primado do aço e das máquinas a vapor que multiplicará a potência de penetração dos vetores maquínicos tanto na terra, no mar e no ar, quanto no conjunto dos espaços tecnológicos, econômicos e urbanísticos; uma manipulação do tempo, que ficará literalmente esvaziado de seus ritmos naturais, promovidas por máquinas cronométricas que levarão ao conceito tayloriano da força de trabalho, entre outras. A terceira, a idade da informatização planetária, que abre a possibilidade para uma processualidade criativa e singularizante tornar-se a referência de base. Aqui, finalmente, as características que prevalecem são: a mídia e as telecomunicações, que potencializam as antigas relações orais e escritas; as matérias-primas vão se apagando aos poucos diante de uma incrível variedade de novos materiais fabricados pela indús-tria química; os microprocessadores armazenam quantidades absurdas de dados que podem ser recuperados no mínimo tempo; e a engenharia biológica que abre caminho tanto para próteses humanas, como para uma remodelação das formas vivas que poderá levar a modificações radicais das condições de vida do planeta.

Paul Virilio (10) define nosso tempo a partir da imagem em três momentos bastante distintos: o primeiro ele deno-mina de era da Lógica Formal da imagem, associada à representação da realidade, onde predomina a representação a-través da pintura, da gravura e da arquitetura, e se conclui até o século XVIII; o segundo, associado à representação da atualidade, ele denomina de era da Lógica Dialética e predomina a representação da fotografia e do cinema, no século XIX; e terceiro, associado à representação na virtualidade, denominado de era da Lógica Paradoxal que se inicia com a holografia, a videografia e a infografia. Devemos analisar as etapas definidas por Virilio não simplesmente como uma li-nha evolucionista, onde os diferentes momentos se sucedem e se eliminam, mas apenas como um encadeamento de es-truturas que prevalecem em tempos definidos. Daí a possibilidade de percebermos continuidades e eventuais articula-ções entre as estruturas de tempos diferentes.

Marshall McLuhan (11) analisa a evolução da humanidade a partir de três períodos muito bem definidos e estrutu-rados. O primeiro ele denomina de Tribalização, no qual predomina a oralidade enquanto possibilidade comunicacional, inserido no universo relacional (as relações entre os homens são múltiplas e dinâmicas, opera-se por coordenação e não há hierarquia). O segundo é denominado de Destribalização, decorrente do impacto provocado pelo advento da escrita e posteriormente da imprensa, inserido agora num universo classificatório (as relações entre os homens são estáticas, hie-rarquizadas e opera-se por subordinação). E o terceiro é denominado de Retribalização, o período da revolução provo-cada pelo advento eletro-eletrônico e pelos meios eletrônicos de comunicação, onde reinstaura-se o mundo da oralidade por dentro do mundo técnico. É a partir deste último período que McLuhan estabelece o conceito de Aldeia Global, tor-nando-o um dos primeiros a teorizar sobre um mundo “eletricamente contraído” e globalizado. Assim, ele diz que, “a ele-tricidade viria a causar a maior das revoluções, ao liquidar as seqüências e tornar as coisas simultâneas”.(12)

NAVEGAR É PRECISO

A partir da aventura da navegação – a Hidrovia -, que proporcionou significativa ampliação geográfica e territorial, tivemos outros momentos, mais sofisticados tecnologicamente – a Ferrovia, a Rodovia, a Aerovia e, finalmente hoje, a Infovia. “A freqüência crescente das nossas viagens, a eficiência e o custo decrescente dos nossos meios de transporte e de comunicações, as turbulências de nossas vidas familiares e profissionais, fazem-nos explorar progressivamente um estado “móvel” na sociedade urbana mundial. Esta nova condição “móvel”, multiplicando os contatos, contribui para o re-encontro e a reconexão da humanidade consigo mesma. (...) O progresso das técnicas de transporte e de comunica-ção é, ao mesmo tempo, motor e manifestação desse relacionamento generalizado.”(13)

Pierre Lévy explora com insistência a simultaneidade entre transportes e comunicações, pois “o efeito de influên-cia mútua é constante, fundamental, verificado em toda parte, enquanto a substituição do transporte físico pela transmis-são de mensagens é apenas local e temporário. A navegação de longo curso e a imprensa nascem juntas. O desenvol-vimento dos correios estimula e utiliza a eficiência e a segurança das redes viárias. O telégrafo expande-se ao mesmo tempo em que as ferrovias. O automóvel e o telefone avançam em paralelo. O rádio e a televisão são contemporâneos do desenvolvimento da exploração espacial. Os satélites lançados pelos foguetes estão a serviço das comunicações. A aventura dos computadores e do ciberespaço acompanha a banalização das viagens e do turismo, o desenvolvimento dos transportes aéreos, a extensão das auto-estradas e das linhas de trem de grande velocidade. O telefone móvel, o computador portátil, a conexão sem fio à Internet, em breve generalizados, mostram que o crescimento da mobilidade fí-sica é indissociável do aperfeiçoamento das comunicações.”(14)

ACELERAÇÃO CONTÍNUA

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Paul Virilio, em seu livro A Arte do Motor lembra que “no século XIX, assiste-se, portanto, a um processo de rea-grupamento de atividades industriais sobre o qual a imprensa instala discretamente um controle: os telégrafos ótico e elé-trico escapam parcialmente ao monopólio do Estado e vêm reforçar os tráficos comerciais, marítimos e ferroviários, de-pois entram no domínio comum – um telégrafo elétrico será ativado em 1850 no correio central de Londres e em 1856 na França. Ao mesmo tempo, quiosques e livrarias aparecem nas plataformas das estações de trem. O amálgama se efetua visando um público urbano sempre mais apressado e numeroso: transformação de informação, transporte de viajantes e de mercadorias” (15)

Imaginemos que uma simulação informática nos permita visualizar a aventura humana no globo terrestre, desde o seu nascimento até a época atual. Observaríamos o aparecimento dos homens numa pequena zona do globo; a lenta dispersão do período paleolítico; as primeiras grandes concentrações da fase neolítica; depois, a extraordinária intensifi-cação do povoamento, dos transportes e das comunicações característica dos últimos séculos, com aceleração inusitada nos últimos 50 anos. Virilio salienta que “depois dos naufrágios e dos descarrilamentos da aceleração marítima e ferroviá-ria, das colisões e quedas de carro ou de avião, das impressoras a vapor e rotativas tradicionais até as rotativas alimenta-das pela imagem da ilusão fílmica, agora serão os feixes de ondas que reproduzirão, com os sinais de rádio e de vídeo, suas catástrofes específicas”.(16)

Mas nunca devemos esquecer que os diferentes momentos de ruptura da relação tempo-espaço foram extrema-mente tensos e desestabilizadores. No fim da Idade Média, e ainda até a metade do século XX, a grande maioria dos homens vivia no campo, quase todos trabalhando a terra e criando animais. Foi a Revolução Industrial, numa primeira e-tapa, Mecânica, que começou perturbar essa situação, aparecendo hoje como o início de um processo que conduziu à revolução informacional contemporânea. Esse início da era industrial estava tão fortemente ligado ao mundo agrário que as primeiras unidades de medidas de força são comparáveis a esse mundo rural. O exemplo mais emblemático era me-dida de força do motor, o HP – Horse Power (Cavalo Vapor) dando e comparando a força física do animal ao nascente projeto do mundo industrializado, onde máquinas e força motriz iniciam a substituição tanto à força animal como a huma-na.

Pierre Lévy destaca que “quando uma comunidade de camponeses semeia o campo, está confiando sua vida à terra a ao tempo. A colheita só irá acorrer após diversas lunações. A invenção da agricultura, elemento fundamental daquilo que cha-mamos de revolução neolítica, é também a exploração de uma nova relação com o tempo. (...) A escrita foi inventada diversas vezes e separadamente nas civilizações agrícolas da Antigüidade. Reproduz, no domínio da comunicação, a relação com o tempo e o espaço que a agricultura havia introduzido na ordem da subsistência alimentar”.(17)

Na segunda etapa da Revolução Industrial, a chamada eletro-eletrônica, temos unidades variáveis que levam os nomes dos pesquisadores/inventores – hertz, maxwell, watt, ohm, ampère, etc. A luz gerada pela eletricidade também traz um conceito de mundo totalmente novo e diferenciado. Se antes dela, existia uma divisão clara entre o dia (a luz) e a noite (a escuridão), a partir da revolução eletro-eletrônica nasce a possibilidade de ter 24 horas de luz ininterrupta, trazendo uma con-cepção de trabalho, lazer e entretenimento totalmente novos. Essa idéia de luz contínua e intermitente provocou uma outra revolução no cotidiano urbano e na percepção humana.

Com essas novas estratégias tecnológicas de substituição do fazer humano por máquinas inicia-se um processo de aceleração principalmente da vida urbana metropolitana, ficando fácil perceber que a própria idéia de tempo e espa-ço começa sofrer significativas alterações. Nasce o Tempo Padrão Mundial, imposto, definitivamente na relação entre capital e trabalho. Nasce a concepção burguesa do tempo. Esse conceito de tempo foi largamente explorado em todo o processo de desenvolvimento das novas tecnologias.

CIBERESPAÇO

A última etapa, a que estamos tendo o privilégio de vivenciar em profundidade com a Infovia, centrada na radica-lização do uso potencial da eletro-eletrônica associada à informática, é totalmente baseada na introjecção, ou seja, o mundo para dentro do nosso corpo (implosão). Se as máquinas mecânicas (musculares) amplificaram a força e o movi-mento físico-humano e as máquinas sensórias (perceptivas) dilataram o poder dos sentidos, as máquinas cerebrais am-plificaram as habilidades mentais, notadamente as processadoras e as da memória.

Para Pierre Lévy, “o ciberespaço é hoje o sistema com o desenvolvimento mais rápido de toda a história das téc-nicas de comunicação. Ao destronar a televisão, ele será provavelmente, desde o início do próximo século, o centro de gravidade da nova ecologia das comunicações. O ciberespaço encarna um dispositivo de comunicação qualitativamente original que se deve bem distinguir das outras formas de comunicação de suporte técnico.”(18)

Os primeiros processos tecnológicos de comunicação, como por exemplo, a imprensa, o rádio, a televisão, estão centrados conceitualmente no processo de comunicação massiva – uma emissão centralizada e dominadora na maioria das vezes, e uma recepção dispersa. Essa idéia de um centro emissor, irradiando mensagens sem possibilidade de reci-procidade e reversibilidade do circuito comunicacional, mostra-se ineficiente diante da necessidade, cada vez maior, de

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expressão e manifestação do receptor. O ciberespaço amplia as possibilidades de troca efetiva, na medida em que con-templa, simultaneamente, a troca e o contexto comunicacional.

Em um breve olhar sobre a cibercultura podemos perceber a experiência de troca, relação e agregação dos ho-mens na auto-estrada da informação. Se mergulharmos este nosso olhar no fim do século XIX podemos relacionar a figu-ra do internauta com a figura do flâneur, solitário e solidário, que passeia fascinado pelos objetos da grande cidade, mas indiferente ao espírito consumista/capitalista. Segundo Baudelaire, “para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio, no infinito. Estar fora de casa e, contudo, sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem não pode definir toscamente”.(19)

O flâneur é um viajante atento, um andarilho desconfiado que apreende o sentido dos objetos além da dimensão mercadológica. Já o internauta é um navegador curioso, cúmplice da agilidade, pesquisador interativo que busca nos ob-jetos virtuais algo além de sua condição efêmera e transitória. Tanto o passeio do usuário da Internet, como o passeio do viajante do século XIX, tem um efeito entorpecedor. Uma multidão de internautas, milhares em circulação a cada minuto pelas auto-estradas da informação, experimenta um torpor, tal qual o flâneur cujos encontros efêmeros, fundavam ramifi-cações que se prolongavam ad infinitum. Walter Benjamim lembra a grande cidade como uma floresta, o que serve como metáfora para a ecologia da cibercultura.

Pierre Lévy define o ciberespaço como o “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos compu-tadores e das memórias dos computadores”.(20) Memórias compartilhadas para a constituição de coletivos inteligentes. O ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão que criam um objeto comum, dinâmico, construído por todos e para todos. Para Lévy “o ciberespaço designa menos os novos suportes de informação do que os modos originais de criação, de navegação no conhecimento e de relação social por eles propiciados. (...) O ciberespaço constitui um campo vasto, aberto, ainda que parcialmente indeterminado, que não se deve reduzir a um só de seus componentes. Ele tem vocação para interconectar-se e combinar-se com todos os dispositivos de criação, gravação, comunicação e simulação.”(21)

Ciberespaço é o novo meio de comunicação que nasce a partir da interconexão mundial dos computadores, ge-rando uma rede onde a inteligência coletiva se disponibiliza num universo oceânico de informações. Interatividade de mi-lhares de grupos de discussão que formam verdadeiros fóruns eletrônicos, sem base geográfica nem identidade institu-cional. Amplia-se a capacidade de permanência da informação na medida em que o conhecimento novo, recém adquiri-do, se articula através de associações e conexões com a rede de conhecimentos já existentes. A nova sociedade digital não se caracteriza pela exclusão ou oposição dos modelos anteriores de aquisição e uso do conhecimento armazenado nas memórias, humanas ou cibernéticas. Cada vez mais é exigida a manifestação plurisensorial na recepção das men-sagens, que oferecem múltiplas possibilidades interativas, em que mesclam intuição e erudição.

Notas

(1) Giacomo Marramao, Poder e Secularização – as categorias do tempo, São Paulo: Editora Unesp, 1995, p.21. (2) Marshall Mcluhan, Os meios de comunicação como extensões do homem, São Paulo, Editora Cultrix, 1974, 5o edição, p. 21. (3) Rogério Luz, Novas imagens: efeitos e modelos, in Imagem-Máquina – a era das tecnologias do virtual, de André Parente, Editora 34, Rio de Ja-

neiro, 1993, p. 50. (4) André Parente, Os paradoxos da imagem-máquina, in Imagem-Máquina – a era das tecnologias do virtual, Editora 34, Rio de Janeiro, 1993, p.13. (5) Quentin Fiore e Marshall Mcluhan, O meio são as massa-gens, Editora Record, Rio de Janeiro, s.d., p.21. (6) Ibidem, p.12. (7) Pierre Lévy, A revolução contemporânea em matéria de comunicação, in RevistaFamecos, editada pela Faculdade de Comunicação Social da

PUC-RGS, Porto Alegre, dezembro 1998, p. 38. (8) Giacomo Marramao, Poder e Secularização – as categorias do tempo, São Paulo, Editora Unesp, 1995, p.23. (9) Félix Guattari, Da produção de Subjetividade, in Imagem-Máquina – a era das tecnologias do virtual, de André Parente, Rio de Janeiro, Editora

34, 1993, p.182. (10) Paul Virilio, A máquina de visão, São Paulo, Editora José Olympio, 1994, p.91. (11) Marshall Mcluhan, Os meios de comunicações como extensões do homem. São Paulo, Editora Cultrix, 1974, 5ª edição. (12) Ibidem, p.26. (13) Pierre Lévy, A revolução contemporânea em matéria de comunicação, in Revista Famecos, editada pela Faculdade de Comunicação Social da

PUC - RGS, Porto Alegre, dezembro 1998, p. 39. (14) Ibidem, p. 41. (15) Paul Virilio, A arte do motor, São Paulo, Editora Estação Liberdade, 1996, p.45. (16) Ibidem, p.30. (17) Pierre Lévy, As tecnologias da inteligência – o futuro do pensamento na era da informática, Rio de Janeiro, Editora 34, 1993, p.87. (18) Pierre Lévy, A revolução contemporânea em matéria de comunicação, in Revista Famecos, editada pela Faculdade de Comunicação Social da

PUC-RGS, Porto Alegre, dezembro 1998, p. 43. (19) Charles Baudelaire, Sobre a Modernidade, Editora Paz e Terra, Coleção Leitura, São Paulo, 1996, p. 20. (20) Pierre Lévy, Cibercultura, Editora 34, Rio de Janeiro, 1999, p.92. (21) Pierre Lévy, A inteligência coletiva,dições Loyola, São Paulo, 1998, p.104.

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