panorama da deficiência em portugal

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1 Panorama da Deficiência em Portugal 1.º Subscritor: Mafalda Santos Militante: 109612 Segundo a Organização Mundial de Saúde, “uma deficiência é toda a restrição ou ausência de uma capacidade de realizar uma tarefa nos parâmetros que se consideram normais para um ser humano”. De acordo com o Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens, corroborados pelos resultados do Censo 2001, aproximadamente cerca de 10% da população portuguesa é portadora de uma ou mais deficiências, o que se traduz em cerca de 1 milhão de cidadãos. Em Portugal, por norma, pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência vêem-se muitas vezes com dificuldades perante a sociedade, nomeadamente ao nível da formação, diferenças salariais e obstáculos laborais, barreiras arquitectónicas, de comunicação, discriminações. Todas estas barreiras impedem tão dignos cidadãos de assumir em pleno os valores de Cidadania, no que respeita à Igualdade perante a sociedade e em desenvolverem os seus projectos de vida com plena autonomia. No entanto, o ordenamento jurídico português tem procurado colmatar as, ainda, assimetrias entre pessoas deficientes e os restantes cidadãos. Assim, baseando- se na dignidade humana, como valor inerente à condição humana, o sistema jurídico português elevou à tutela dos direitos da pessoa com deficiência a dignidade constitucional, consagrando na Lei Fundamental o conteúdo essencial dos direitos. Os direitos fundamentais das pessoas com necessidades especiais decorrem da concepção social do Estado e configuram uma das vertentes essenciais do Estado Social de Direito Democrático. Neste sentido, os direitos dos cidadãos com deficiência inserem-se na categoria dos direitos sociais, dando conteúdo a princípios fundamentais da Constituição da

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Page 1: Panorama da deficiência em portugal

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Panorama da Deficiência em Portugal

1.º Subscritor: Mafalda Santos

Militante: 109612

Segundo a Organização Mundial de Saúde, “uma deficiência é toda a restrição

ou ausência de uma capacidade de realizar uma tarefa nos parâmetros que se

consideram normais para um ser humano”.

De acordo com o Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e

Desvantagens, corroborados pelos resultados do Censo 2001, aproximadamente cerca

de 10% da população portuguesa é portadora de uma ou mais deficiências, o que se

traduz em cerca de 1 milhão de cidadãos.

Em Portugal, por norma, pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência

vêem-se muitas vezes com dificuldades perante a sociedade, nomeadamente ao nível

da formação, diferenças salariais e obstáculos laborais, barreiras arquitectónicas, de

comunicação, discriminações. Todas estas barreiras impedem tão dignos cidadãos de

assumir em pleno os valores de Cidadania, no que respeita à Igualdade perante a

sociedade e em desenvolverem os seus projectos de vida com plena autonomia.

No entanto, o ordenamento jurídico português tem procurado colmatar as,

ainda, assimetrias entre pessoas deficientes e os restantes cidadãos. Assim, baseando-

se na dignidade humana, como valor inerente à condição humana, o sistema jurídico

português elevou à tutela dos direitos da pessoa com deficiência a dignidade

constitucional, consagrando na Lei Fundamental o conteúdo essencial dos direitos. Os

direitos fundamentais das pessoas com necessidades especiais decorrem da

concepção social do Estado e configuram uma das vertentes essenciais do Estado

Social de Direito Democrático.

Neste sentido, os direitos dos cidadãos com deficiência inserem-se na categoria

dos direitos sociais, dando conteúdo a princípios fundamentais da Constituição da

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República Portuguesa, como o princípio da igualdade dos cidadãos que, exigindo

discriminações legais positivas para a reabilitação, impõem ao Estado deveres

específicos de agir, nomeadamente no que respeita à produção e conformação do

direito e na criação de condições materiais para satisfação desses mesmos direitos.

Soma-se a esta situação que o Artigo 71º da Constituição da República Portuguesa

deverá representar o preceito fundamental do estatuto legal do cidadão com

deficiência.

Contudo, Portugal no quotidiano apresenta aos cidadãos com deficiência um

outro cenário. A falta de acessibilidades, maiores gastos com a saúde, maior

dificuldade na obtenção de postos de trabalho e no acesso ao ensino aliado à falta de

conhecimento/sensibilidade dos dirigentes, todos estes aspectos que constringem o

dia-a-dia destes cidadãos. Verifica-se deste modo, a existência uma grave lacuna aos

níveis de informação estatística e falta de conhecimento relativamente às

necessidades das pessoas com deficiência para que se possam formular propostas e

projectos futuros canalizados, nomeadamente, para departamentos municipais.

Soma-se a esta situação, todas as medidas que devem ser tomadas em termos de

acção social, as quais são responsabilidade colectiva da sociedade no seu conjunto, tais

como introduzir mudanças ambientais necessárias para permitir às pessoas com

deficiência participarem plenamente em todos os aspectos da vida social. A questão é

pois da ordem das atitudes ou ideologias; necessita de uma alteração social, o que ao

nível político se traduz em termos de direitos da pessoa humana. Partindo desta

perspectiva, a deficiência tem de ser uma questão política.

A política enquanto forma primária de intervenção social deve criar os

mecanismos necessários para a promoção de estratégias de investigação com o

objectivo de “abrir” espaços de conhecimento relativamente à realidade quotidiana de

pessoas com mobilidade reduzida. No entanto, para que esta intervenção se torne

autêntica é fulcral manter um permanente diálogo com associações vocacionadas para

a resolução da dita problemática e com os próprios cidadãos portadores de qualquer

tipo de deficiência, a fim de se criarem Políticas Públicas que promovam a igualdade e

a autonomia de todos os cidadãos.

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É através dos mecanismos criados pela política que será possível caracterizar as

doenças e acidentes no sentido de melhor se compreenderem as suas incidências,

causas e impactos, com vista à optimização das estratégias de prevenção e de

reabilitação e para que seja possível promover a integração social baseada nos

princípios da normalização dos serviços e o reconhecimento pela diferença.

É importante relembrar que o país está envolto num processo de globalização,

tornando -se fundamental que todos os cidadãos, independentemente da sua

condição sócio-económica, tenham a oportunidade de beneficiar das vantagens que as

tecnologias de informação e comunicação podem oferecer. Por isso, urge promover a

utilização das novas tecnologias pelas pessoas com deficiência, com vista a garantir a

igualdade de oportunidades.

É importante desenvolver, em Portugal uma cultura de sensibilização e

informação, de articulação e interacção das políticas sectoriais e das respostas sociais

no terreno, operacionalizando-se a cultura do “mainstreaming” na Deficiência, em que

nenhuma política sectorial se pode desenvolver sem uma estreita articulação com as

políticas sectoriais adjacentes, na perspectiva da transversalidade da deficiência no

tecido social, económico, político e cultural da sociedade. Trata-se de um processo de

mudança estrutural, sem o qual não é possível a sustentabilidade do sistema de

deficiência, dada a insuficiência dos recursos financeiros. Pressupõe, por outro lado, o

desenvolvimento de mecanismos de acompanhamento e de avaliação das políticas

sectoriais. Um exemplo desta perspectiva é o cumprimento do Plano Nacional de

Promoção de Acessibilidades, o não estrangulamento económico das ONG´s e Centros

de Emprego Protegidos para se dê um primeiro passo na promoção de uma sociedade

inclusiva, construindo um Portugal no qual se possa falar em igualdade sem que

nenhum cidadão se sinta inferiorizado devido às suas capacidades.

No entanto, a intervenção precoce e a intervenção numa óptica do

“empowerment” permitirão que os cidadãos portadores de deficiência desenvolvam

as suas próprias capacidades, no sentido da descoberta de respostas e soluções para

os seus problemas, reconhecendo a autonomia e a participação destes nossos

concidadãos.

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Considera-se importante que o país reorganize as intervenções no sentido de

implementar um modelo integral e integrado de reabilitação das pessoas com

qualquer tipo de deficiência, seja, física, intelectual, auditiva e visual.

Actualmente, todo o processo de implementação de Políticas Públicas com vista à

inclusão dos cidadãos com deficiência encontra-se demasiado orientado para o

modelo médico, tornando-o, portanto, insuficiente na resposta a todas as

necessidades de desenvolvimento do indivíduo. Importa, assim rever estas respostas à

luz dos princípios basilares do modelo relacional, direccionando-as para as efectivas

necessidades das pessoas com deficiências e incapacidades.

Neste sentido, a deficiência deve entender-se como uma situação que, com

apoios oportunos, não impede o desenvolvimento de uma vida com qualidade.

Em circunstância alguma os cidadãos podem ser esquecidos pelo Estado,

principalmente os cidadãos portadores de deficiência. É fulcral que o Estado e a

sociedade repensem as políticas direccionadas para os deficientes, a fim de melhorar

sempre mais a qualidade de vida dos mesmos.

Subscritores

N.º Militante Nome Assinatura

109612 Mafalda Santos

101758 Luís Martinho

98097 Daniela Germano

102712 Filipe Madeira

88560 José Raimundo Noras