paiva, dulce de faria. história da língua portuguesa.pdf
TRANSCRIPT
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
1/63
[_ISBN 85 08 02816 ;
\-\
m
tHTl
século e mc1o, ou sqa do ltlÍCIO do
ulo XV
ilté
meados do século XVI,
c: 1pós
él
sepmc:Kélo
do CJalego, a lír1gué1
p o r t l i ~ u e s é l
se
af1rrna corno representéltlva de nova
rlaCIOilé:-llldélde
E um período de trilrlslc, lo,
piemo
de flutli
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
2/63
Direção
Benjamin Abdala Junior
Sarnira Youssef Campedelli
Preparação de texto
lldete Oliveira Pinto
Projeto gráfico/miolo
Antônio do Amarai Rocha
Coordenação de composição
Produção/Paginação em vídeo)
Neide Hiromi Toyota
Capa
Ary Normanha
Antonio Ubirajara Domiencio
E{::F:i I;:·J> . I·· ../2.: ' . : } . ~ ~ . i
;
iF ·'
;·;
:: : :· · · : · ~
: I :;
• ... Qi
',
A ~
""ó:'
· ~ - ~ \ ( \
•d.,
-.
t I 1rr::
00:.-. 0
r : · ::: 13
ISBN
85 8
02816 4
1988
Todos os direitos reservados
'•
Editora Ática S.A. - Rua Barão de lguape, 110
Tel.: PABX) 278-9322 - Caixa Postal 8656
End. Telegráfico
Bomlivro
- São Paulo
Sumário
Nota prévia
I - Notações histórico-teóricas
1
A língua literária
no
século XV
Fatores educativos e culturais
Importância
da
Gramática
2. O léxico
A prosa
Pragmática e preceptiva, 14; Retórica, 15; Narrativa, 17;
Vocabulário básico, 23; Arcaísmos, 26; Neologismos, 27.
A poesia
Vocabulário básico, 30; Arcaísmos, 31; Neologismos, 31.
3
Fonética e ortografia
Morfofonética
4. Morfologia
Substantivos
Adjetivos
Gradação, 44.
Pronomes
Artigos
Verbos
5
7
8
9
10
12
14
29
33
41
42
42
43
44
47
47
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
3/63
Numerais 51
Palavras invariáveis 51
Advérbios,
51;
Conjunções, 53; Preposições, 53; Interjei
ções, 54
5. Sintaxe e recursos estilísticos
56
Pronomes 56
Partitivo 7
Distributivos 58
Verbos 59
Regência verbal, 62; Verbos pronominais, 69; Perífrases,
70;
Expressões de tempo,
71
Conjunções -
A f r se
Períodos
Recursos estilísticos
Colocação
Verbos, 81; Sujeito,
82;
Pronomes átonos,
82;
Adjetivos qualificativos, 84
6.
Considerações finais
Textos anotados
72
76
77
79
81
86
89
1. Leal conselheiro, de D. Duarte 90
Notas 91
2. Crônica de D. João I, de Fernão Lopes 95
Notas 96
3. Crônica da tomada de Ceuta, de Gomes E. de Zurara _ 100
Notas
101
4. Menina e moça, de Bernardim Ribeiro
104
Notas
105
5.
Écloga
Basto,
de Sá de Miranda
109
111
otas
6. Romagem de agravados
e
uto pastoril português,
de Gil
Vicente 114
Notas 115
120
ocabulário crítico
Bibliografia comentada
122
l
J
Nota prévia
Este livro integra um conjunto de seis volumes, organizados pelo
Prof. Dr. Segismundo Spina, da Universidade de São Paulo, com o
título
História da Língua Portuguesa,
dentro da
Série Fundamentos.
Foram efetuados, nesse sentido, os seguintes recortes:
I - Século XIII e século XIV
Fundamentos
n. 21 por Oswaldo
Ceschin);
II - Século XV e meados do século XVI Fundamentos n. 22, por
Dulce de Faria Paiva);
III - Segunda metade do século XVI e século XVII
Fundamentos
n. 23, por Segismundo Spina);
V
Século XVIII
Fundamentos
n.
24
por Rolando Morei Pinto);
V - Século XIX
Fundamentos
n. 25, por Nilce Sant Anna Mar
tins) e
VI
Século
XX Fundamentos n. 26 por Edith Pimentel Pinto).
Embora cada volume guarde certa independência,
eles
não dei
xam de respeitar entre
si
padrões de uniformidade (internos e exter
nos) para uma visão sintética e objetiva da história de nossa língua,
desde suas origens portuguesas até às formas da apropriação brasi
leira. Permanece um mesmo sistema lingüístico, conforme poderá ser
verificado nos estudos teóricos que precedem
as
análises de text?s re
presentativos dos períodos que marcaram nossa língua literána.
Os editores
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
4/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
5/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
6/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
7/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
8/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
9/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
10/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
11/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
12/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
13/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
14/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
15/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
16/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
17/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
18/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
19/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
20/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
21/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
22/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
23/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
24/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
25/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
26/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
27/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
28/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
29/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
30/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
31/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
32/63
64 SINTAXE E RECURSOS ESTILÍSTICOS
VERBOS 65
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
33/63
ousar:
...
nom ousavom sahir polias portas
..
Fernão Lopes, Crónica
de
D. João I p. 55)
outorgar:
... os senhores dam dão) e
autorgam graadas
generosas) ..
mercees
mercês, favores) .. I)
temer:
... temendosse
temendo)
cayr
por ello por isto)
em
pecado ..
D. Duarte, Leal conselheiro, p. 122)
usar:
...
ss
no tempo da
paz
nom
h usarmos as armas
quando vehesse vies·
se a guerra nom as poderiamos soportar.
Fernão Lopes,
Crónica de D.
João I p. 50)
Do grande grupo citado, alguns verbos admitiam também apre
posição
começar, consentir, prazer, propor- e outros, apre-
posição em -duvidar fiar, cuidar. Exs.:
C :
começar:
... e
começaram de sobir
acima ..
Fernão Lopes)
... começavam
começavam)
sahir
do arravallde arredores) ..
Fernão Lopes,
Crónica de D.
João I p.
99)
Donde vos começarei I magoas minhas a contar?
Bernardim Ribeiro, Obras completas, v. 11, p. 95)
consentir:
... conssentir ser theudo ser tido)
em
conta ..
D.
Duarte,
Leal conselheiro,
p.
46)
Que
eu
vos não
consentira I entrar em
tanta privança intimidade)
Gil Vicente,
Obras completas,
v. V, p. 101)
... nem consentisse a algum seu nelles creer. .
Rui de Pina,
Crónica de El-Rei D.
João
II,
p.
151)
I)
PEDRO
D.
-
Virtuosa bemjeitoria.
Intr. e notas de Joaquim Costa.
3.
ed. Por
to, Empresa Industrial Gráfica, 1946, p. 25.
Em Zurara, o verbo pode vir acompanhado de
em:
. . querer
consentir no rrequerimento
pedido)
de
seus filhos ..
Crónica da tomada de Ceuta, p. 21)
prazer:
... disserem que lhes
prazia de
o servir ..
Fernão Lopes, Crónica de D. João I p. 69)
... era a elles rrequerido pedido)
se
lhes prazia outorgar aquello ..
Idem,
ibidem,
p. 70)
... cousas que a
homem
alguém, pessoa)
praz
que sejam ..
D. Duarte,
Leal conselheiro,
p. 94)
propor:
... cousas que por deos sic)
proposermos fazer
Idem,
ibidem,
p. 117)
... propoendo e despoendosse dispondo-se) logo a fazer
Com preposição
em:
duvidar- Exs.:
... dovidando
a
rressurreiçom
Idem,
ibidem,
p. 82)
Idem, ibidem, p. 29)
E naquesto nisto) nom devemos duvydar
Idem,
ibidem,
p.
155)
f i r
Exs.:
Assi fiei eu de vós/ toda a minha esmolaria esmolas).
Gil Vicente,
Obras completas,
v. V, p. 335)
Nunca mais ey hei) de fiar I em fidalgo desta sorte.
Idem,
ibidem,
v. V, p. 362)
Em Camões encontram-se ambas
as
regências também. Exs.:
...
e que tanto fiou de um fraco pau
Lus.,
V, 74)
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
34/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
35/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
36/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
37/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
38/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
39/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
40/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
41/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
42/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
43/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
44/63
88
CONSIDERAÇÚES
FINAIS
Da primeira para a segunda metade do século XVI, p o i ~ a lín
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
45/63
gua portuguesa prossegue na sua evolução, em mais larga escalaera-
pidez, na parte do léxico, que passa por dois processos opostos: de
um lado, o afunilamento das formas vigentes e, de outro, o alarga
mento do vocabulário pela substituição daquelas formas, quer por
termos extraídos diretamente do latim literário, quer pela entrada de
inúmeros neologismos de outras procedências; a morfologia e a sin
taxe vão-se regularizando gradativarnente, e a língua, trabalhada pe
los autores renascentistas, ingressa na fase
moderna .
A despeito disto, coexistem no decorrer do Quinhentismo a lín
gua de cultura inovadora) e a tradicional: uns autores passam a usar,
de preferência, a primeira; outros s servem de ambas, segundo os
objerivos e o caráter de suas obras, e outros ainda como Gil Vicente)
aproveitam os traços arcaizantes
da
segunda, para caracterizar, seja
a linguagem popular citadina ou campesina, seja a regional.
/
extos
anotados
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
46/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
47/63
9 LEAL
CQ \SELHEIRO
DE D DUARTE
bonos . A nasal caiu, nasalizando a vogal anterior bõos, contudo,
freqüentemente, a nasalidade deixava de ser indicada na época.
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
48/63
Nesta passagem a frase e o período são correntes e relativamen
te simples, apesar das pequenas inversões. Os parágrafos, segundo
o organizador, são indicados por sinais denominados caldeirões, que
nos serviram de guias para formá-los. Pode-se notar que não são dos
mais longos e complexos, porém apresentam uma das marcas signifi
cativas do estilo medieval na organização e na conexão das frases que
compõem o período: a repetição d coordenativa
e
no segundo pa
rágrafo:
E
fynalmente ... E desy ... "
2
Crônica de D João
I de
ernão Lopes
Outros scprevem isto per comtrairo
1),
e desta opiniom nos praz
2) mais, dizemdo que em casa deste Prioll 3) dom 4) Alvoro 5)
Gomçallvez, amdava hüu gram 6) leterado
7)
e mui 8) profundo
astrollogo (9), que chamavom (10) meestre (11) Thomas. E per este
comtom que soube o Prioll (12), que hüu de seus filhos avia de seer
veemcedor 13)
de
batalhas, e que este era NunAllvarez
14)
Pereira.
E mostrasse 15) claramente seer assi (16), porque viimdo 17)
dom frei
18)
Alvoro Gomçallvez a casa delRei (19) dom Fernando,
aderemçar seus feitos (20), pedio (21) por mercee (22) a elRei que to
masse NunAllvarez por seu morador 23), da qual cousa 24) prazemdo
a elRei, outorgou de o fazer (25). E o Prior se partio
26)
pera (27)
suas terras, e hordenou de (28) mamdar seu filho aa corte; e amte
(29) que o mandasse, chamou Martim Gomçallvez de Carvalhal , tio
de NunAllvarez irmãao (30) de sua madre (31), e deulhe juramento
(32), que hüu cousa que lhe descobrir queria (33), que numca a dis
sesse ao dito (34) NunAllvarez. E prometido per elle (35)
de
o guar
dar em segredo, emtõ (36) lhe disse o Prioll como
37)
queria mandar
seu filho corte, e elle por seu ayo (38) per a o emsinar.
(Fernão Lopes, Crónica
e
D. João I, texto anotado compre
fácio, notas e glossário
de
Joaquim Ferreira, 2. ed., Porto, Do
mingos Barreira [s.d.] p. 81 (Coleção Portugal).)
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
49/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
50/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
51/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
52/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
53/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
54/63
108 MENINA E MOÇA, DE BERNARDIM RIBEIRO
Quanto à frase, ainda temos o emprego excessivo da partícula
que,
sobrecarregando demasiadamente os períodos, via de regra, bas
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
55/63
tante longos. As inversões não são muito violentas: alguns adjuntos
adverbiais antecipam-se aos verbos; na oração " ... que de arvoredos ...
cheo he , o verbo vai para a parte final e o complemento nominal
do adjetivo
cheo
segue-se a
que,
logo no início. A colocação do ver
bo, finalizando orações, repete-se algumas vezes: "tres ou quatro
ve-
zes cahi ; " ...
um pouco
estava ; " ...
com mais trabalho
se podia
aver ;
" ... no meo della
estava ;
" ... por força alli
estava .
Os
adjetivos (adjuntos adnominais) ainda precedem
os
substan
tivos, mas com menor freqüência do que nos textos anteriores e seu
emprego
já
revela certa escolha estética:
deleitosas
sombras; alguns
implicam animização de coisas inanimadas: noutes
caladas, saudoso
tom (referindo-se ao ribeiro), agoa ...
mansa,
penedo
imigo.
No último parágrafo há todo um processo de personificação e
comparação metafórica de tal modo que a natureza parece comparti
lhar do sofrimento da heroína: o rochedo aborrecendo a água por
impedi-la no seu caminho, as desventuras opondo-se aos desejos da
moça; a água a correr mais depressa para afastar-se do penedo inimi
go, assim como a personagem corre para fugir ao calor e, provavel
mente, às próprias amarguras.
_
Écloga Basto
de
Sá
de
iranda
Bieito que é isto, Gil, que andas triste,
despois que entrou este Abril?
Não
sei
que demo te viste,
1)
que tu não pareces Gil.
Amigo, onde te sumiste?
Ulo
2)
aquele grande amigo,
de limpos bofes lavados,
3)
daquele bom tempo antigo?
que assi falava contigo
tu comigo
os
teus cuidados?
4)
Assi tão só te vieste (5),
forte burrão
6)
foi o teu
Tanto d'amigo esqueceste
7)
como aqui tinhas de teu
nem a mim não mo disseste.
8)
Ora diz-me (9), se te apraz:
despois
de
tanto sol posto 1
O)
tal inchaço (orgulho) inda
11)
em ti jaz?
Arrenega
12)
o mal, que traz
sempre à memoria mau rosto.
13)
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
56/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
57/63
Marta Mao quebranto que os quebrante (1)
porque vam
aportunar
(2)
pera
ajudar a enganar
NOTAS 115
V. 465
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
58/63
Romagem
de agravados
uto pastoril
português
de
il Vicente
Colopêndio Nam sey se sey o que digo,
que 1) cousa certa nam (2) acerto;
se fujo do meu perigo, v. 230
cada vez estou mais perto
de ter mor (3) guerra comigo.
Prometem-me huns vãos cuydados (ilusões)
mil mundos favorecidos (favores amorosos)
com que seram descansados (apaziguados)
v 235
e eu ach'os todos mudados
em outros mundos perdidos (as ilusões desfazem-se).
Já nam
ouso de
(4)
cuydar (preocupação amorosa),
nem posso estar sem cuydado;
mato-me (esforço-me) por me matar (causar mal)
v 240
onde estou nam posso estar
sem estar desesperado.
Parece-me quanto vejo
tudo
triste com rezam:
cousas que nam vem (5) nem vam (vão),
essas sam as que desejo,
e todas pena (sofrimento) me dam.
'v.
245
\
1
üa cachopa anarante
cum rascão (3) do mao pesar? (4)
Branca Eles sam os presidentes
(5)
e os mesmos requerentes (6),
e
se
lhes dizeis que é mal
tornam
a culpa ao sinal (7)
e eles fazem-se inacentes.
v.
470
(Gil Vicente, Romagem de
agravados ,
em suas
Obras com-
pletas coord. do texto, introd. notas e glos. do Dr. Álvaro J.
da Costa Pimpão, Barcelos, Ed. do Minho
[1956]
p. 328.)
Joanne Ó Déxemo (1) que t'eu digo (2),
que (3) porque isso he ja sabido,
ando eu assi trans ido (repassado, trespassado), v. 220
e o Demo anda comego (4).
Renego (5)
ora
(agora) d'enha (6) mãy (7),
porque as lágrimas me saem
(8)
o dia que 9) te nam vejo (10);
e
tu
me
(11)
tens tal entejo (aversão,
má
vontade),
v
225
que os espritos (12) se me caem (13).
Caterina Choros maos chorem por ti; (14)
quem te manda a ti (15) chorar?
(Gil Vicente, Auto pastoril português" em suas Obras com-
pletas
p. 101.)
otas Gil Vicente nasceu no ano de 1465 (ou 1475) e morreu en
tre 1536 e 1540.
Sua carreira iniciou-se em 1502 com o Monólogo do vaqueiro
e encerrou-se em 1536 com a peça Floresta de enganos.
Além de peças teatrais, escreveu poesias e outras composições
menos importantes.
As obras de
teatro
de Gil Vicente (mais de
quarenta
e
quatro)
foram ordenadas pelo filho, Luís Vicente, que as publicou em 1562,
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
59/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
60/63
VOCABULÁRIO CRÍTICO 121
Historiografia: a arte de escrever história geralmente dada como en-
cargo a um cronista,
por
um rei ou pelo Estado.
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
61/63
ocabulário
crítico
Animização:
figura de estilo relacionada à personificação; atribuição
de qualificativos próprios do ser humano a objetos inanimados
e/ou
abstrações.
Arcaísmos: vocábulos, formas ou construções sintáticas que saíram
de uso na língua corrente e nela refletem fases anteriores nas quais
eram vigentes.
Cronicões: livros de gênero histórico em que s narravam fatos rela-
cionados com a vida de personagens reais ou acontecimentos his-
tóricos da nação portuguesa.
Currfculo: conjunto das matérias de
um
curso.
Estrangeirismo: empréstimo vocabular ou sintático não integrado na
língua nacional, como galicismos, anglicismos etc.
Evolução fonética: conjunto de mudanças paulatinas e graduais que
sofrem os fonemas das palavras no decorrer do tempo.
Formas divergentes: dois ou mais vocábulos de uma língua que têm
a mesma etimologia origem).
Galicismo
ou
francesismo:
empréstimo vocabular do francês.
Hispanismo: empréstimo vocabular do espanhol.
Metonfmia: figura de estilo que consiste no emprego de um vocábulo
ou expressão lingüística em lugar de outro com o qual estabelece
uma relação constante e lógica de contigüidade.
Neologismo: inovação lingüística vocabular ou sintática com intro-
dução recente
m
uma língua.
Nobiliários: nome por que passaram a ser conhecidos, depois do sé-
culo XVII, os Livros de linhagens que registravam genealogias de
famílias nobres, fatos históricos ou lendários da nação portuguesa.
Passo: também passagem
t recho
de um autor ou de uma obra
citada.
Personificação: figura de retórica ou de estilo que consiste em atri-
buir vida ou qualidades humanas inclusive fala) a seres inanima-
dos, irracionais, abstratos, ausentes ou mortos.
Trivium e Quadrivium: conjunto das sete artes liberais ensinadas nas
universidades medievais. O Trivium compreendia Gramática Dia-
/ética ou Lógica e Retórica; o Quadrivium Aritmética Geome-
tria Astronomia e Música.
Significado:
parte inteligível, conceito contido no significante.
Significante: corpo fonológico do vocábulo.
Variante: forma de expressão lingüística diferente de outra, mas com
o mesmo conteúdo em relação a ela.
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
62/63
-
8/15/2019 PAIVA, Dulce de Faria. História da Língua Portuguesa.pdf
63/63