padronizaÇÃo do processo operacional de teste de ... · operações ou falta de padronização...
TRANSCRIPT
PADRONIZAÇÃO DO PROCESSO
OPERACIONAL DE TESTE DE INTEGRIDADE
COM APLICAÇÃO DE GERENCIAMENTO DE
PROJETOS EM UMA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA DE MONTES CLAROS - MG
JULIANA ALVES GUSMAO (FACIT)
Gisele Figueiredo Braz (FACIT)
Com a crescente demanda por processos mais enxutos, confiáveis e com
menores índices de impactos ambientais cria-se a necessidade do emprego
de padrões que levem em conta esses fatores. O presente estudo trata da
padronização do processo operacional do teste de integridade desenvolvido
através do gerenciamento de projetos. Foram objetivados por este estudo: a
redução do número de não conformidades, melhoria da documentação
existente e redução do número de retestes do teste de integridade. E, com a
aplicação dos padrões foi alcançado uma redução de 27% das repetições do
teste de integridade, clarificação e reestruturação dos procedimentos e índice
zero de não conformidades. Como ganhos decorrentes da implementação foi
gerada uma redução efetiva de 35% do consumo de água para injetáveis, a
redução de custos gastos com o processo de transformação da água e a
diminuição dos impactos ambientais causados pelo consumo de recursos
naturais.
Palavras-chave: Padronização, gerenciamento, projeto, melhoria.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
12
1 Introdução
Visto que há necessidade de reduzir as falhas operacionais e garantir um processo estável, foi
empregada a padronização do processo operacional do teste de integridade em uma indústria
farmacêutica de Montes Claros - MG. Este trabalho tratou da aplicação de padrões para as
atividades relacionadas ao teste de integridade e dos impactos e melhorias geradas pela
implementação, realizada por meio do gerenciamento de projetos e das ferramentas da
qualidade.
O processo de teste de integridade é um ensaio não destrutivo dos filtros utilizados pela
produção asséptica que gera registro comprobatório da integridade dos elementos filtrantes e
permite ao processo desafiá-los antes e após a filtração esterilizante. Os registros
comprobatórios fazem parte de requisitos das Boas Práticas de Fabricação, GMP, que
permitem a liberação dos produtos farmacêuticos para o mercado internacional.
Devido ao alto número de fatores interferentes, para que seja realizado um teste de integridade
aprovado, o índice de repetições do ensaio encontrava-se alto, uma média de dois retestes por
etapa necessária. No período anterior ao do projeto foi descartado um lote de produto devido à
falha na aprovação do teste de integridade. Os objetivos do estudo são: reduzir
significativamente os índices de retestes; reduzir o número de não conformidades e melhorar a
documentação existente.
2 Padronização dos processos e o gerenciamento de projetos
Processo produtivo é definido como toda a cadeia em que são inseridas entradas e há
transformação dessas em produtos ou serviços definidos como saídas. “A função produção é
central para a organização porque produz os bens e serviços que são a razão de sua existência,
mas não é única” (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009, p. 5).
O ciclo entre o início de uma atividade de produção e a geração de bens ou serviços é
considerado lead time ou tempo de entrega. Para processos de produção manuais há
interferência humana em: transformação, preparação, carregamento, abastecimento ou
qualquer outra atividade operacional de produção.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
13
Por serem de caráter manual podem gerar riscos que impactam o tempo ou a qualidade nas
entregas finais. Para Shingo (1996, p.38) “processo transforma matéria-prima em produto.
Operações são as ações que executam essas transformações”.
Figura 1 – Processo de transformação
Fonte: Platt (1997)
Os funcionários responsáveis pelas operações de transformação são considerados inputs da
produção (FIG.1). O produto final é também formado pelas operações executadas, isto é, das
interferências humanas. E, para que não haja desvios, impactos no lead time ou diminuição da
qualidade, a mão de obra envolvida na produção deve estar capacitada e a forma de
capacitação utilizada pelas empresas são os treinamentos.
Os ganhos obtidos pelos treinamentos serão mensurados ao final do processo produtivo
através da contabilização das não conformidades relacionadas às pessoas, das falhas ou dos
impactos ao lead time, demonstrando se o resultado obtido condiz com o esperado pela
organização após a certificação dos envolvidos.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
14
2.1 Padronização de Operações
Segundo Cantidio (2009), a padronização visa alcançar o desempenho máximo dos
colaboradores em suas atividades através da repetição das operações. A inconstância das
operações ou falta de padronização escondem as falhas e levam ao desperdício.
É possível analisar criticamente os processos atuais, pois a padronização gera uma perspectiva
concreta do que analisar e melhorar, conforme afirma Marshall Junior et al (2010).
2.1.1 Método de Padronização
O padrão é estabelecido para atender um objetivo definido (qualidade, custo, atendimento,
moral e segurança) e deve haver a consciência de sua necessidade.
A padronização deve partir da mais alta autoridade do processo a ser padronizado, deve fazer
parte de um sistema de padronização e deve ser gerenciado de forma a alcançar os objetivos e
atender as expectativas estabelecidas. (CAMPOS, 2004).
O acompanhamento da padronização será feito pelo gerenciamento de projetos e pelo uso de
ferramentas da qualidade durante as suas fases. As ferramentas da qualidade são utilizadas
para facilitar a identificação de pontos falhos e originar melhorias. Já o gerenciamento de
projetos garante um maior controle da equipe, do processo de padronização e do alcance dos
resultados.
2.2 Gerenciamento de projetos
“Projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado
exclusivo” (PMBOK, 2008, p. 11). A criação de um projeto deve ser definida pela
necessidade e viabilidade de sua implementação na área para a qual será desenvolvido.
As fases do projeto estabelecem o seu ciclo de vida. Entretanto, cada projeto possui sua
especificidade de duração em cada fase, considerando as atividades a serem executadas e os
recursos necessários, o que consequentemente determina que o cronograma geral de cada
projeto seja diferenciado.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
15
2.2.1 Fase Inicial do Projeto
Segundo Vargas (2009, p. 22), “é a fase inicial do projeto, quando uma determinada
necessidade é identificada e transformada em um problema estruturado a ser desenvolvido por
ele”. Ainda na fase de iniciação, a missão, o objeto, objetivo, datas e prazos, o organograma e
os custos do projeto serão delimitados. Nesta fase é estabelecida a forma de abordagem do
projeto dentro da área de sua aplicação, para que a implementação se torne mais efetiva e
eficaz.
2.2.2 Fase de Planejamento do Projeto
A fase de planejamento deve determinar os recursos que serão necessários durante a fase de
execução. Devem ser considerados fatores como: tempo, disponibilidade, entregas,
capacitação, dentre outros. Segundo Vargas (2009, p. 169) “os recursos são todas as pessoas,
materiais de consumo e equipamentos necessários para a realização da atividade.”.
Durante a fase de planejamento do projeto deverão ser feitos o cronograma, que tem como
objetivo determinar exatamente qual a data de início e término de cada atividade; e
orçamentos que trata das atribuições financeiras aos recursos necessários que serão utilizados
durante o projeto (VARGAS, 2009, p. 182).
2.2.3 Fase de execução do projeto
A fase de execução consiste na realização das atividades planejadas na fase inicial. É durante
a execução que as chances de erros de projeção ficam potencializados. Isso ocorre porque a
atividade deverá ser concluída conforme o planejamento e a ocorrência de interferentes
durante a execução das atividades poderá gerar desvios no projeto.
Caso não haja desvios, a execução do projeto ocorrerá conforme planejamento e tende a
alcançar todos os resultados pretendidos, para tanto o controle das atividades deve ser
executado continuamente. O resultado do acompanhamento contínuo do projeto é fazer com
que a equipe trabalhe proativamente na minimização de impactos no cronograma.
2.2.4 Fase de Monitoramento e Controle
A fase de Monitoramento e Controle serve para observar o andamento do projeto, de forma
que problemas porventura existentes sejam identificados no momento adequado e adotadas
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
16
ações corretivas, quando necessário, para controlar a execução do projeto. Tem como
principal benefício acompanhar o desempenho do projeto, passando este a ser observado e
medido regularmente para identificar variações em relação ao Plano do Projeto (FREIRE,
KARINA, LIRA, 2013, p.1)
2.2.5 Fase de Encerramento
Fazem parte da fase de encerramento do projeto a auditoria e validação dos resultados.
Auditoria é o exame analítico que segue o desenvolvimento do projeto de modo a avaliar se o
resultado obtido está em conformidade com o proposto inicialmente, conforme apresenta
Vargas (2009, p. 194).
2.3 Gestão e Ferramentas da Qualidade
Atualmente os modelos de gestão tratam da qualidade como algo que está relacionado às
necessidades e anseios dos clientes e representam um diferencial contemporâneo
(MARSHALL JUNIOR; CIERCO; ROCHA, 2010, p. 32). Atender as necessidades do cliente
traduz ao produto não só o reconhecimento no mercado, mas a sua permanência no mesmo.
Para que as medidas de qualidade sejam feitas tratando de forma eficaz os pontos causadores
de problemas, é necessário o uso de ferramentas da qualidade.
2.3.1 Carta Controle
É um tipo particular de gráfico que permite a visualização das variações através do histórico
de dados, da média, do cálculo do limite inferior e superior de controle e dos limites inferior e
superior de especificação. A carta controle permite identificar as causas comuns (intrínsecas
ao processo) e especiais (aleatórias) que geraram os desvios demonstrados no gráfico
(MARSHALL JUNIOR; CIERCO; ROCHA, 2010).
2.3.2 Diagrama de Pareto
O Diagrama de Pareto ou Diagrama 80/20 é a representação gráfica da frequência de
ocorrência dos problemas de modo a deixar expressivamente claro os problemas mais
recorrentes. Neste diagrama devem-se identificar e tratar os 20% dos problemas que
impactam 80% da frequência e assim estará resolvendo-os.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
17
2.3.3 Mapeamento do Processo
Para realizar a análise do processo é necessário que a metodologia utilizada seja visualmente
clara. Para tanto, deve-se definir o processo a ser mapeado e o responsável capaz por fazê-lo.
Para uma análise clara, os processos operacionais devem estar distintos dos administrativos
relacionados a cada atividade.
3. Metodologia
A metodologia utilizada para desenvolver o presente estudo foi à exploratória com aplicação
de melhorias. Através da análise geral dos problemas e dos requisitos estabelecidos também
foram aplicadas outras melhorias, justificando assim, o método da pesquisa.
3.1 A Empresa
O presente trabalho tratou do processo operacional do teste de integridade na produção de
insulina de uma indústria farmacêutica de Montes Claros, e das melhorias realizadas no
processo através do gerenciamento de projetos.
A empresa é voltada para o cuidado com a saúde e líder mundial no tratamento do diabetes. O
processo de produção asséptica da insulina ocorre no departamento de Formulação & Suporte
Asséptico, onde o presente estudo foi aplicado. A insulina envasada é distribuída para o
mercado como refil para as canetas, e a fábrica de Montes Claros também produz as canetas
montadas para o mercado.
Uma forma muito importante de garantia e controle de processo no setor de formulação é o
teste de integridade que determina se o elemento filtrante da insulina está íntegro, ou seja, não
possui poros em tamanhos superiores aos da sua especificação.
O estudo tratou da identificação de pontos falhos na documentação (procedimentos
operacionais padrões), e da identificação de melhores práticas a serem colocadas nos
procedimentos operacionais, a fim de criar padrões operacionais para atividade.
3.2 O teste de integridade
“O teste de integridade de um filtro esterilizante é um teste não destrutivo e serve de controle
de processo para assegurar que o sistema de filtração não apresente qualquer irregularidade
que possa comprometer o processo de filtração.” (KOGA, 2012, p. 1).
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
18
O método utilizado para avaliação da integridade do filtro é o ponto de bolha. Esse teste
consiste em se molhar o filtro com líquido conveniente (água para filtros hidrofílicos e
mistura de álcool e água para filtros hidrofóbicos) e aplicar uma pressão de gás (ar
comprimido) suficiente para expulsar o líquido de dentro dos maiores poros da membrana. Ao
atingir essa pressão, o gás que está pressurizando a membrana molhada consegue atravessá-la
e pode ser visualizado na saída do filtrado (FIG.2).
Figura 2 – Passos do Teste de Integridade
Fonte: A Autora
O resultado obtido através do equipamento avaliador do ponto de bolha faz parte de um dos
controles de qualidade empregados que visa atender aos requisitos de Boas Práticas de
Fabricação.
3.2.1 A Aplicação dos Testes de Integridade
Na produção dos lotes de insulina, os testes de integridade ocorrem antes e após a filtração
esterilizante, e se repetem a cada vez que geram um resultado falho ou falso positivo (FIG.3).
Figura 3 – Árvore Decisória para Teste de Integridade Antes da Filtração
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
19
Fonte: A autora
Assim, o resultado do teste não apenas demonstra a integridade do filtro, mas que todo o
processo operacional estava correto.
3.2.2 O efeito do teste de integridade
Uma das funções do teste de integridade é a produção de registro comprobatório da
esterilidade da insulina garantindo ao cliente final que o produto é de qualidade. O registro
sob forma de resultado é necessário para cumprir os requisitos regulatórios das Boas Práticas
de Fabricação.
Por gerar resultados falhos por diversos motivos a sua recorrência se torna constante na rotina
de produção. Essas repetições demandam desprendimento de tempo e recursos, acarretando
impactos financeiros e ambientais.
4 Resultados: apresentação, análise e discussão
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
20
O presente estudo tratou da padronização no processo operacional de teste de integridade,
seguindo as principais fases do gerenciamento de projetos: iniciação, planejamento, execução,
monitoramento e controle e encerramento, que serão apresentadas ao longo deste capítulo.
4.1 Fase de Iniciação
Durante a fase de iniciação do projeto foram coletadas informações para que fossem definidos
os requisitos deste projeto, assim, foi mapeada a situação atual do processo do teste de
integridade.
4.1.1Redução de não conformidades
Os dados coletados foram tabulados no gráfico de Pareto (GRÁF. 1), evidenciando as causas
geradoras de maior impacto ao processo que são relacionadas a documento e pessoas.
Gráfico 1 – Pareto das principais causas de não conformidades antes da Implementação
do Projeto
Quantidade 32 22 9 4 3 2
Percentual 44,4 30,6 12,5 5,6 4,2 2,8
Acumulado % 44,4 75,0 87,5 93,1 97,2 100,0
Causas das NC's
Oth
er
Relac
iona
dos a Co
mpu
tado
res/Sistem
a
Relacion
ados
a M
ater
iais
Relacio
nada
s a Eq
uipa
men
tos
Relacio
nado
s a Pe
ssoa
s
Relac
iona
das a Do
cumen
tos
8070605040302010
0
100
80
60
40
20
0
Qu
an
tid
ad
e
Perc
en
t
Pareto das Principais Causas de Não Conformidades
Fonte: A autora
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
21
Para solucionar a maior parte dos problemas, a padronização dos processos foi a proposta de
solução, uma vez que essa gera melhorias diretas nos procedimentos operacionais, reduzindo
as não conformidades relacionadas a documentos, além disso, há o padrão de execução,
evitando ocorrência de erros relacionados a pessoas.
4.1.2 Redução do número de retestes do teste de integridade
Através da coleta de dados, foi tabulada uma carta controle demonstrando os índices de
retestes na formulação. O índice estava alto (GRÁF. 2), média de 1,75 repetições para um
teste de integridade realizado e picos que alcançavam até sete retestes, demonstrando
variabilidade no processo.
A distribuição da curva de retestes estava fora dos limites de especificação, pois tinha o LSE
igual a quatro, demonstrando um desvio de qualidade e conformidade, dificultando a entrega
dos produtos para o mercado através do aumento do lead time dos lotes. Por isso, foi
estabelecida como meta a redução de 20% deste índice de repetições, para que a curva se
mantivesse dentro dos limites de especificação estabelecidos.
Gráfico 2 – Carta controle da quantidade de retestes antes da implementação do projeto
10019018017016015014013012011011
7
6
5
4
3
2
1
0
_C=1,75
LSC=5,704
LIE=1
LSE=4
LIC=0
1111111111111111
Teste de Integridade Antes do Projeto
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
22
Fonte: A autora
4.2.2 Stakeholders
Para viabilizar a implementação do projeto de padronização das operações do teste de
integridade era necessário que houvesse o envolvimento de todos os afetados a fim de não
haver conflitos de interesse entre eles. Dessa maneira foram identificados os stakeholders do
projeto: o patrocinador, os membros da formulação e suporte asséptico, o coach, os analistas
de processo, os analistas da garantia da qualidade, os supervisores de produção, o líder.
4.2.3 Planejamento
Elaborou-se um cronograma, definindo as etapas a serem seguidas pelo projeto e o tempo para
cada atividade ser executada (FIG.4).
Figura 4 – Cronograma do projeto de padronização do teste de integridade
Fases do Projeto Planejamento
Atividades/Semanas 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39
Coleta de dados
Definição dos requisitos
Criação do cronograma
Capacitação dos membros
Definição dos A's
Definição da melhor prática
Escrita dos rascunhos
Aprovação dos SOP’s
Treinamento
Confirmação de Processo
Coleta de dados
Validação dos resultados
Iniciação Execução Monitoramento e Controle Encerramento
Fonte: A autora
O projeto caminhou com uma ou mais atividades semanais, tendo em vista o cumprimento
dos prazos estabelecidos.
4.3 Execução
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
23
Todas as atividades relacionadas no cronograma foram cumpridas. O primeiro passo foi a
capacitação dos membros da equipe do projeto que foram certificados em gerenciamento de
projetos, escrita de procedimentos operacionais padrões, treinador chão-de-fábrica
(metodologia baseada em preparar, apresentar, executar e confirmar) e escrita de Plano de
Treinamento Prático (JTP).
No segundo passo foram identificados dois documentos que definiam as atividades de teste de
integridade.
Na terceira etapa o processo operacional identificado nos documentos foi dividido no padrão
de instruções.
Na quarta etapa, todas as turmas de produção foram acompanhadas na realização dos testes de
integridade na rotina de trabalho para que fossem definidas as melhores formas de execução.
Foram avaliados os seguintes quesitos: cumprimento das boas práticas de fabricação, tempo
gasto para realização da atividade, atendimento aos quesitos de qualidade, facilidade e
praticidade. O cumprimento desses requisitos nomeou uma das formas de trabalho como “a
melhor prática”.
Na quinta fase, a fase de rascunho desenha o modelo do documento na forma de instrução. O
documento foi escrito em sua totalidade na forma de quadro (FIG. 5).
Figura 5 – Formato do procedimento operacional após padrão
Fonte: A autora
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
24
Para garantir a representação da realidade operacional no procedimento, foi realizado um
workshop com a participação de operadores, analista de processo, o autor do documento e o
representante da garantia da qualidade.
Durante a fase de teste foi identificado um ponto de melhoria: a redução da quantidade de
Water for Injection (WFI) utilizada para enxágue dos filtros de produto na formulação.
Após o teste dos documentos na área, foram iniciadas as atividades de aprovação dos
procedimentos operacionais padrão. Ainda nesta fase, foi necessário o gerenciamento dos
stakeholders. Os recursos da garantia da qualidade, operadores e time de processo eram
requisitados e controlados por meio de planejamentos internos.
Uma ferramenta utilizada para a gestão da comunicação foi o uso de um informativo com
dados sobre a importância, a fase do projeto, o organograma da equipe e próximas atividades
que seriam executadas pelo projeto.
Após aprovada toda a nova documentação relacionada ao processo operacional do teste de
integridade, foram criados Planos de Treinamento Prático, para que os treinamentos
ocorressem também de forma padronizada. Os treinamentos seguiam a metodologia de
treinador chão-de-fábrica e tiveram uma duração de uma hora para o treinamento teórico e
quatro horas para o treinamento prático para cada operador.
A meta interna estabelecida pelo cronograma definia que os trinta e dois operadores da
formulação deveriam ser treinados em quatro semanas. E essa atividade foi realizada
cumprindo este prazo estabelecido.
4.3 Fase de monitoramento e controle
A avaliação feita com todos os operadores indicou que o desvio mais recorrente era a falta do
cumprimento do check list (lista de verificações) do procedimento.
A fim de solucionar todos os problemas identificados, ações de retreinamento e feedback
foram tomadas imediatamente. Salientaram-se a importância do cumprimento dos padrões e o
impacto que o não cumprimento gera ao processo de teste de integridade.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
25
4.4 Encerramento
Na fase de encerramento avaliou-se se o resultado obtido está em conformidade com o
proposto inicialmente. Seguem então, os resultados obtidos e a sua respectiva análise.
4.4.1 Melhoria da documentação
Uma das causas mais recorrentes de não conformidades relacionadas a teste de integridade era
a documentação existente, que não estava suficientemente clara e não contemplava todas as
informações para a execução da atividade. Assim, o operador não era capaz de executar a
atividade de forma certa pela primeira vez (RFT) e isso causava retestes e aumento do lead
time dos lotes formulados.
Com essa nova estrutura os documentos passaram a um formato de instrução. Essa estrutura
aumenta os índices de reprodutibilidade porque descreve uma sequência de atividades e, com
as fotos indicativas e o método discriminando passo a passo, geram o alinhamento da forma
de execução entre as turmas e diferentes operadores.
Gráfico 5 – Documentação da Formulação
Fonte: A autora
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
26
Outro benefício relacionado à documentação foi a criação de Job Training Plans (JTPs) para
padronização dos treinamentos práticos relacionadas ao teste de integridade. O Gráfico 5
demonstra o comparativo de documentações do departamento antes e após o projeto.
4.4.2 Redução das não conformidades
Após finalizar os treinamentos dos operadores da formulação foi aberta nenhuma não
conformidade (GRÁF. 6).
Gráfico 6 – Redução das não conformidades relacionadas ao teste de integridade
Fonte: A autora
A média de NCs relacionadas ao teste de integridade antes do projeto era de 1 NC/ trimestre,
sendo que uma delas resultou no descarte de um lote pela Formulação e após o projeto, o
índice NCs relacionadas ao processo de teste de integridade foi de 0/NCs por trimestre.
4.4.3 Redução do Número de Retestes
O cenário após finalização do projeto demonstra que a redução total esperada foi alcançada, o
número médio de retestes reduziu de 1,74 por teste de integridade para 1,27 retestes por teste
de integridade, uma redução de 27% dos retestes antes e após a filtração (GRÁF.7).
Gráfico 7 – Redução do número de reteste de integridade
SEM NC
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
27
16011441128111219618016414813211611
7
6
5
4
3
2
1
0
_X=1,271
UCL=4,653
LCL=0
1 Implementação do Projeto
LIE = 1
LSE = 4
1111111111111111
Teste de Integridade
2013.03.25
2012.03.25 a
2013.09.26
2013.03.26 a
Fonte: A autora
Com o alcance dos resultados obtidos: redução de não conformidades e redução dos retestes é
possível comprovar o estabelecimento da relação proposta pelo Diagrama de Pareto, que tem
por objetivo evidenciar os problemas prioritários de um processo (20% das causas explicam
80% dos problemas).
4.4.4 Redução da quantidade de WFI utilizada para os testes de integridade
A água para injetáveis sofre um processamento na empresa para que fique em condições
ideais de usos nos produtos de injetáveis, nesse caso insulina, e por isso é conhecida por WFI.
A padronização ao reduzir a quantidade de WFI utilizada, reduziu o consumo de água,
gerando dois ganhos: ambiental e financeiro (GRÁF. 8).
Gráfico 8 – Redução do consumo mensal de WFI para Teste de Integridade
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
28
Fonte: A autora
Ao projetar o consumo e o custo médio mensal da quantidade de WFI utilizada, tem-se uma
economia de 54.288 litros/ano e financeiramente uma redução de R$ 271.440,00 reais/ ano.
Tendo em vista a economia mensal e anual gerada e os benefícios alcançados após o projeto,
ficou comprovada a viabilidade estabelecida na fase inicial para este estudo.
Por fim, ao finalizar um projeto esse deve ser classificado quanto ao seu êxito. Segundo o
PMBOK (2008) um projeto é considerado de sucesso ao conseguir atingir os requisitos, com
os recursos estabelecidos e com o cumprimento dos prazos. Dessa forma, a aplicação deste
estudo no setor de formulação de insulinas foi considerada de sucesso.
5 Considerações finais
A implementação da padronização das operações do teste de integridade através do
gerenciamento de projetos trouxe resultados diretos de redução de não conformidades,
redução de custos, redução de consumo de água e redução do número de retestes deste
processo.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
29
Através do estudo realizado das técnicas e abordagens necessárias para aplicação de padrões e
da utilização de ferramentas da qualidade foi possível a realização das análises e o
desenvolvimento do projeto no qual as diretrizes levaram a alcançar os objetivos
determinados com base em dados.
A interpretação do processo a ser padronizado e a escolha do método do estudo possibilitaram
estabelecer ações mais efetivas durante o projeto, como a melhoria das descrições das
atividades.
Assim, o gerenciamento de projetos e o emprego de soluções trouxeram ao trabalho o mérito
do alcance dos objetivos propostos. O primeiro deles foi a redução de 20% do número de
retestes, com redução final de 27% dos retestes gerando redução de tempo e minimizando os
impactos à produtividade. O segundo foi a minimização das falhas operacionais, tendo como
resultado a redução de 100% das não conformidades do processo de teste de integridade.
A redução da quantidade de consumo de WFI para realização dos enxagues dos filtros para o
teste de integridade reduziu os impactos ambientais e consequentemente a redução dos custos
com o consumo e tratamento da água.
O estabelecimento de instruções de trabalho e material de treinamento prático foi melhorado o
trabalho dos operadores e reduzindo a quantidade das NCs. Através das instruções de trabalho
claras foi simplificada a execução da atividade com a aplicação da melhor prática, facilitando
a execução dos testes de integridade.
Por fim, fica evidenciado que o tratamento de processos através das técnicas de padronização
juntamente com as bases de análises de dados proporcionadas pelas ferramentas da qualidade
e o controle realizado por meio das técnicas de gerenciamento de projetos proporcionam a
aplicação de métodos assertivos para resolução de problemas e geração de melhorias.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Vicente Falconi. Qualidade Total Padronização das Empresas. 1. ed. Nova Lima: INDG
Tecnologia e serviços Ltda, 2004.
CANTIDIO, S. Padronização do Processo. São Paulo: 2009. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/padronizacao-do-processo/30426/>.
Acesso em: 14 mar. 2015.
CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: O capital humano das organizações. São Paulo: Atlas, 2008.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
30
FREIRE, Maristela; KARINA, Patrícia; LIRA, Janiere de. Fase de Execução, Monitoramento e Controle.
Paraná: 2013. Disponível em: <http://www.tjrn.jus.br/files/pej/METODOLOGIA_EXECUO_E_CONTROLE.
pdf>. Acesso em: 02 fevereiro 2015.
KOGA, Osvaldo Ehiti. Validação de Processo de Filtração Esterilizante. São Paulo: 2012. Disponível em:
<http://www.meiofiltrante.com.br/materias_ver.asp?action=detalhe&id=46>. Acesso em: 02 fevereiro 2015.
MARSHALL JUNIOR, Isnard et al. Gestão da qualidade. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
PLATT, Allan Augusto. Uma metodologia para adequação de serviços ao mercado: um estudo de caso no setor
de alimentos. Florianópolis, 1999. apud. SLACK, N. et. al. Administração da Produção: Revisão Técnica.
Henrique Corrêa, Irineu Gianesi. – São Paulo : Atlas, 1997. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disserta99/
platt/>. Acesso em: 29 mar. 2015.
PMBOK. Um guia do Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos. 4. ed. Pensilvânia: PMI,
2008.
SHINGO, Shigeo. O sistema Toyota de Produção do ponto de vista da engenharia. 2.ed. Porto Alegre:
Artmed 1996.
SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. Administração da produção. 3 ed. Trad. Henrique
Luiz Corrêa. São Paulo: Atlas, 2009.
VARGAS, Ricardo. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. 7 ed. Rio de Janeiro:
Brasport, 2009.