os principais filÓsofos conteporÂneos

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Especial Vestibular PROVESTIBULLAR.BLOGSPOT.COM.BR Página 1 OS FILÓSOFOS MAIS INFLUENTES DO MUNDO CONTEPORÂNEO. Para entender a sociedade em que vivemos é necessário conhecer as ideias que estão por trás dela. Nesse sentido, é especialmente interessante conhecer o pensamento de filósofos que, desde o século XVII, transformaram a visão que o homem tinha de si mesmo e do mundo ao seu redor. Conheça esses pensadores que fizeram a cabeça do mundo contemporâneo JOHN LOCKE: Todo conhecimento provém da experiência - Filósofo inglês que influenciou muitos pensadores de seu tempo, John Locke era contrário a qualquer forma de autoritarismo e via na educação um poder transformador. Acreditava que a mente humana ao nascer é como uma folha em branco (no quadro, Sibila com a Tabula Rasa, de Velásquez) que deve ser preenchida pela experiência JOHN LOCKE e o empirismo britânico Todo conhecimento provém da experiência Uma das questões mais antigas que a filosofia tenta responder é "Qual a fonte do conhecimento humano?". Como podemos saber se Deus existe, que dois mais dois são quatro ou que o céu é azul? Será que já nascemos com algumas informações a respeito do mundo? A moderna biologia genética nos diz apenas que possuímos uma história, inscrita em nossos genes, que irão determinar algumas predisposições para desenvolvermos certas doenças hereditárias, tendências sexuais e comportamentais ou mesmo o gosto por sorvete de chocolate. Mas aquilo que somos depende de uma combinação de fatores genéticos com o ambiente em que fomos criados. Seríamos, portanto, o resultado das escolhas que fizemos segundo as imposições de nosso patrimônio genético e das oportunidades que temos na vida. Mesmo assim, a ciência contemporânea ainda não responde às perguntas a respeito de como conhecemos as coisas e como podemos estar seguros de possuir um entendimento verdadeiro. Filósofos como Platão (428/27-347 a.C.), Santo Agostinho (354-430), e Descartes (1596-1650) acreditavam na doutrina das ideias inatas, ou inatismo, que sustenta que o homem nasce com determinadas crenças verdadeiras. Segundo eles, a alma humana teria uma espécie de repositório de informações conferidas por Deus, e isso validaria as certezas sobre as coisas do mundo. Platão, no diálogo Fédon, diz que conhecer é recordar-se daquilo que nossas almas imortais, que habitavam o Mundo das Ideias, já sabiam, mas que ao nascer nos esquecemos. Contra essa doutrina, John Locke (1632-1704), um dos mais importantes filósofos ingleses modernos, escreveu um livro chamado Ensaio Acerca do Entendimento Humano (1690), que inaugurou a escola chamada Empirismo Britânico. Na época, Locke foi muito influenciado pela ciência moderna, baseada em observações.

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APOSTILA COM RESUMO SOBRE OS PRINCIPAIS FILÓSOFOS CONTEPORÂNEOS.

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OS FILÓSOFOS MAIS INFLUENTES DO MUNDO CONTEPORÂNEO.

Para entender a sociedade em que vivemos é necessário conhecer as ideias que estão por trás dela. Nesse

sentido, é especialmente interessante conhecer o pensamento de filósofos que, desde o século XVII, transformaram a

visão que o homem tinha de si mesmo e do mundo ao seu redor. Conheça esses pensadores que fizeram a cabeça do

mundo contemporâneo

JOHN LOCKE:

Todo conhecimento provém da experiência - Filósofo inglês que

influenciou muitos pensadores de seu tempo, John Locke era contrário

a qualquer forma de autoritarismo e via na educação um poder

transformador. Acreditava que a mente humana ao nascer é como uma

folha em branco (no quadro, Sibila com a Tabula Rasa, de Velásquez)

que deve ser preenchida pela experiência

JOHN LOCKE e o empirismo britânico

Todo conhecimento provém da experiência Uma das questões mais antigas que a filosofia tenta responder é "Qual a fonte do conhecimento humano?". Como podemos saber se Deus existe, que dois mais dois são quatro ou que o céu é azul? Será que já nascemos com algumas informações a respeito do mundo? A moderna biologia genética nos diz apenas que possuímos uma história, inscrita em nossos genes, que irão determinar algumas predisposições para desenvolvermos certas doenças hereditárias, tendências sexuais e comportamentais ou mesmo o gosto por sorvete de chocolate. Mas aquilo que somos depende de uma combinação de fatores genéticos com o ambiente em que fomos criados. Seríamos, portanto, o resultado das escolhas que fizemos segundo as imposições de nosso patrimônio genético e das oportunidades que temos na vida. Mesmo assim, a ciência contemporânea ainda não responde às perguntas a respeito de como conhecemos as coisas e como podemos estar seguros de possuir um entendimento verdadeiro. Filósofos como Platão (428/27-347 a.C.), Santo Agostinho (354-430), e Descartes (1596-1650) acreditavam na doutrina das ideias inatas, ou inatismo, que sustenta que o homem nasce com determinadas crenças verdadeiras. Segundo eles, a alma humana teria uma espécie de repositório de informações conferidas por Deus, e isso validaria as certezas sobre as coisas do mundo. Platão, no diálogo Fédon, diz que conhecer é recordar-se daquilo que nossas almas imortais, que habitavam o Mundo das Ideias, já sabiam, mas que ao nascer nos esquecemos. Contra essa doutrina, John Locke (1632-1704), um dos mais importantes filósofos ingleses modernos, escreveu um livro chamado Ensaio Acerca do Entendimento Humano (1690), que inaugurou a escola chamada Empirismo Britânico. Na época, Locke foi muito influenciado pela ciência moderna, baseada em observações.

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Tábula rasa Para Locke, o princípio do inatismo, além de não provar nada, é completamente desnecessário para uma teoria do conhecimento. Se realmente nossas almas imortais compartilhassem um mesmo estoque de informações, por que todos não teríamos as mesmas concepções científicas de mundo, por exemplo? Por que os europeus desenvolveram a ciência, enquanto índios que habitavam as Américas, não? Segundo Locke, Deus nos conferiu apenas as faculdades para que pudéssemos adquirir conhecimento, dentro de certos limites. Contrariando o inatismo, ele afirma que, ao nascermos, somos como uma folha em branco - "tábula rasa", diziam os empiristas - que é escrita na medida em que vivemos e temos experiência de mundo: "Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela é suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento." (1978, I, II, ii). Basicamente é isso que o empirismo sustenta: contrapondo-se ao racionalismo, que privilegia a razão como fonte segura do conhecimento, esta escola enfatiza o papel da experiência. Junto com Locke, fazem parte do empirismo britânico os filósofos George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Stuart Mill (1806-1873). Mas isso não quer dizer que, para Locke, a razão não tem nenhuma função no processo cognitivo e que apenas aprendemos por meio das sensações. Seria um absurdo dizer isso, porque equivaleria a dizer que um matemático, para saber que um triângulo possui três lados, teria que encontrar um triângulo andando de metrô ou vagando pelo bosque.

LIMITES DO CONHECIMENTO NAS IDEIAS O que Locke diz é que somente a experiência nos fornece as ideias que habitam nossos pensamentos. Em outras palavras, que o conhecimento tem um início externo, fora do homem. Ideias, segundo o filósofo inglês, são os objetos do conhecimento, isto é, a matéria da qual o conhecimento é formado. Elas são percebidas pelos sentidos, mas é o entendimento que confere o, por assim dizer, acabamento final. Todo conhecimento, portanto, está fundamentado na experiência, que nos fornece as ideias que constituem tudo aquilo que podemos saber sobre o mundo. As fontes dessas ideias, diz Locke, são duas:

Sensação, ou sentido externo: é a percepção de objetos sensíveis e particulares, como o gosto de uma maçã, a sensação de uma xícara quente de café, o som da voz de nossa mãe ou a visão de um pôr do sol.

Reflexão ou sentido interno: é a percepção da operação de nossas mentes com as ideias já ali depositadas pela sensação, derivando as dúvidas, crenças, vontades e o conhecimento propriamente dito. É somente com o segundo estágio, da reflexão, que atingimos o entendimento das coisas; mas, sem as janelas abertas para a luz vinda da experiência, nossa mente permanece como um quarto escuro. Os limites do que podemos conhecer, desse modo, são as ideias. Não podemos ir além delas. Locke ainda divide as ideias em:

Simples: são as que nos chegam misturadas num objeto, mas que podem ser separadas pelos diferentes sentidos pelos quais as recebemos: a textura lisa, o aroma perfumado, o gosto doce, a consistência firme e a cor vermelha são ideias simples que podemos distinguir da maçã.

Complexas: quando nossa mente é preenchida dessas ideias simples, podemos formar, combinando-as, ideias complexas, como, por exemplo, homem, beleza, maçã ou universo. Boa parte do Ensaio Acerca do Entendimento Humano é dedicado ao exame dessas ideias simples e complexas que são a base de todo entendimento, o que permite a Locke propor resoluções para importantes problemas filosóficos envolvendo conceitos como espaço, tempo, infinidade, substância, Deus, liberdade e poder.

GRAUS DE CONHECIMENTO

Em resumo, diz Locke: "Conhecimento consiste na percepção do acordo ou desacordo de duas ideias. Parece-me, pois, que o conhecimento nada mais é do que a percepção da conexão e acordo, ou desacordo e rejeição, de quaisquer de nossas ideais." (1978, IV, I, ii).

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Por exemplo, quando sabemos que branco não é preto, ao perceber que ambas as ideias ("branco" e "preto") estão em desacordo; ou que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois retos, ao perceber a igualdade entre eles. Em relação à clareza e certeza dessas afirmações, Locke classifica os graus de conhecimento em três:

Intuitivo: é aquele em que a mente percebe o acordo ou desacordo entre duas ideias imediatamente, sem a necessidade de outras ideias. Por exemplo, quando percebo que o branco não é preto, o quadrado não é triângulo ou 1+1=2. É o tipo mais seguro e claro de conhecimento humano.

Demonstrativo: é quando a mente necessita de ideias subsidiárias para perceber o acordo ou desacordo entre outras duas ideias - são as chamadas provas. Para saber, por exemplo, que três ângulos de um triângulo são iguais a dois ângulos retos, preciso verificar essas medidas.

Sensível: é a percepção que temos de objetos particulares externos através dos sentidos. Apesar de Locke incluir este terceiro tipo entre os graus de conhecimento, mesmo sendo o menos claro e seguro dos três anteriores, o filósofo diz que o raciocínio que não for intuitivo ou demonstrativo é artigo de fé ou de opinião, não conhecimento propriamente dito. Com base em sua classificação dos tipos de conhecimento, Locke diz que as certezas provenientes da matemática e a moral são indubitáveis e evidentes, pois são alcançáveis pelo raciocínio com ideias presentes na mente humana, enquanto as ciências empíricas, como a física, que necessitam de uma verificação e confronto com a realidade sensível, não configuram verdades universais. A teoria do conhecimento lockeana influenciou os filósofos iluministas, Kant e os positivistas lógicos, entre outros. Referência LOCKE, John. "Ensaio Acerca do Entendimento Humano", em Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

DAVID HUME e o empirismo britânico: O argumento cético

que abalou a filosofia É comum termos a impressão de que a filosofia é algo muito abstrato, distante de nossa realidade. É o caso de algumas metafísicas construídas com base em conceitos que carecem de qualquer significado mais concreto. Na história das ideias, dificilmente encontramos um pensamento tão fatal para esse tipo de metafísica quanto aquele que o filósofo escocês David Hume (1711-1776) expôs em suas Investigações sobre o Entendimento Humano (1748). Os argumentos de Hume foram tão convincentes que despertaram Kant de seu "sono dogmático" e influenciaram algumas das principais correntes contemporâneas da filosofia angloamericana.

A obra Investigações sobre o Entendimento Humano trata, essencialmente, da teoria do conhecimento, que é aquele ramo da filosofia que busca responder questões sobre a origem e a validade de tudo que podemos conhecer. A este respeito, Hume era empirista, ou seja, acreditava que todo conhecimento provém da experiência. Mas, diferente de Locke, para quem a mente do homem, ao nascer, era uma "folha em branco" a ser preenchida pela experiência sensível, Hume era também cético a respeito de uma fundamentação para o que aprendemos com base na experiência.

FONTES DO CONHECIMENTO

PARA HUME, TUDO AQUILO QUE PODEMOS VIR A CONHECER TEM ORIGEM EM DUAS FONTES DIFERENTES DA PERCEPÇÃO:

Impressões: são os dados fornecidos pelos sentidos. Podem ser internas, como um sentimento de prazer ou dor, ou

externas, como a visão de um prado, o cheiro de uma flor ou a sensação tátil do vento no rosto.

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Ideias: são as impressões tais como representadas em nossa mente, conforme delas nos lembramos ou imaginamos. A lembrança de um dia no campo, por exemplo. De acordo com o filósofo, as ideias são menos vívidas que as impressões e, por isso, são secundárias: "(...) todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões, ou percepções mais vivas." Por isso, a experiência seria a base de todo conhecimento, que podemos chamar de raciocínio sobre questões de fato. Enquanto que o segundo modo dos objetos externos se apresentarem à razão é chamado relação de ideias. As ideias, por sua vez, se relacionam umas com as outras de três modos:

por semelhança (uma fotografia que nos leva a ter a ideia do fato original); por contiguidade de tempo e lugar (o dizer algo a respeito de um cômodo de uma casa me leva a perguntar sobre os

demais); e por causalidade (ao nos recordarmos de uma pessoa ferida, imediatamente pensamos também na dor que ela deve ter

sentido - o ferimento, neste exemplo, é a causa; a dor, o efeito). Nas relações de ideias, o conhecido obtido é chamado de demonstrativo, intuitivo ou dedutivo. É o caso da matemática e da geometria. Examinemos dois exemplos dados por Hume. No primeiro, temos a seguinte proposição: "O quadrado da hipotenusa (1) é igual à soma dos quadrados dos dois lados (2)". Ela expressa a relação entre a ideia (1) e (2), que são, ambas, figuras geométricas. No segundo exemplo, a afirmação "Três vezes cinco (1) é igual à metade de trinta (2)" resulta da relação entre números: 3 x 5 (1) e metade de 30 (2). A partir daí podemos inferir três coisas: (a) que esse tipo de conhecimento independe completamente de objetos externos; (b) que é necessariamente correto, seguro; e (c) que sua prova é dada inteiramente pela razão: seria um absurdo lógico dizer o contrário daquilo que é afirmado, como, por exemplo, que dois mais dois é igual a cinco, não quatro. Mas, e em se tratando de questões de fato, ou seja, de coisas que afirmamos acerca da realidade? Tome-se a seguinte proposição: "As rosas são vermelhas". Nada me impede de pensar, e dizer, que as rosas são brancas, ou mesmo azuis ou verdes. Não haverá qualquer contradição lógica, mesmo que isso não corresponda, de fato, à rosa a qual me refiro. Em outro exemplo, dado por Hume, dizer que "O Sol não nascerá amanhã", não é menos absurdo, do ponto de vista lógico, do que dizer "O Sol nascerá amanhã". Qual deve ser, então, o fundamento do conhecimento empírico? Causalidade Segundo Hume, todo raciocínio empírico, sobre questões de fato, se assenta sobre relações de causa e efeito. Na proposição "A pedra esquenta porque foi exposta aos raios solares" tenho uma afirmação que parte de duas impressões sensíveis, uma tátil ("a pedra esquenta") e outra visual ("exposta aos raios solares"). O que une essas duas impressões é uma relação de causalidade: a pedra esquenta (efeito) porque foi exposta aos raios solares (causa). Portanto, para saber qual é o fundamento do conhecimento empírico, Hume precisou analisar o fundamento dessa relação causal. A primeira coisa que se pode dizer é que não há aqui nenhuma base lógica, dedutiva. Se tenho uma pedra em minha mão e a solto, espero que, como efeito, ela caia no solo. Mas poderia naturalmente pensar que ficasse suspensa no ar ou voasse em direção ao céu. Podem ser coisas impossíveis de acontecer, mas concebíveis pelo intelecto. Isso significa que, por meio da razão, é impossível chegar da causa (a) para o efeito (b). São duas coisas completamente diferentes: a pedra se soltar da minha mão (a) e cair no solo (b). Para relacionar duas impressões sensíveis, preciso primeiro tê-las, isto é, preciso ver a pedra caindo no solo para, então, dizer com segurança que ela caiu porque eu a soltei de minha mão. Diz Hume: "O intelecto jamais poderá encontrar o efeito numa suposta causa, mesmo pelo mais acurado estudo e exame, porquanto o efeito difere radicalmente da causa, e por isso não pode de nenhum modo ser descoberto nela

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(...). Uma pedra ou um pedaço de metal erguido no ar e deixado sem nenhum apoio cai imediatamente; mas quem considera esse fato a priori poderá descobrir na situação alguma coisa que sugira a ideia de um movimento para baixo e não para cima, ou qualquer outro movimento na pedra ou no metal?" Qual deve ser, então, o fundamento da causalidade e, assim, do conhecimento empírico? Para Hume, não há nenhum, a não ser o costume, o hábito que temos, pelo fato de inúmeras vezes termos visto, anteriormente, pedras caindo no solo e o Sol nascendo a cada manhã. Esperamos que aconteça sempre a mesma relação causal devido a uma crença, de cunho psicológico e subjetivo. Nunca podemos, portanto, ter certeza do que estamos dizendo a cerca de questões de fato. Metafísicas Este é, em resumo, o argumento cético de Hume sobre a causalidade. Ele foi devastador para a filosofia porque todas as metafísicas também apelam para esse tipo de relação causal para explicar o mundo. Por exemplo: Deus existe porque é a causa de tudo que existe (Santo Tomás de Aquino) ou as ideias claras e distintas da razão são causas de nossos conhecimentos sobre a natureza (Descartes). Não que Hume fosse avesso à filosofia, pelo contrário. O que ele dizia é que tais sistemas filosóficos carecem de amparo nas impressões sensíveis, são muito abstratos e usam métodos demonstrativos da matemática que não servem de fundamento para questões de fato. O que Hume queria era fazer uma espécie de "faxina" na filosofia, de modo a livrá-la de suas pretensões e ideias estéreis. Assim, ele influenciou Immanuel Kant, Auguste Comte, filósofos pragmatistas como Charles Sanders Peirce, os empiristas lógicos e a filosofia analítica, entre outras importantes correntes do pensamento contemporâneo.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

As comunidades formadas por grupos familiares

Rousseau chamou de "idade de ouro" da humanidade

Recentemente, a Funai (Fundação Nacional do Índio)

mapeou 39 grupos indígenas que vivem isolados na

Amazônia e que, em tese, nunca tiveram qualquer contato

com o "homem branco".

Neste estado "primitivo", o homem viveria em

harmonia com seus semelhantes, livre da violência que

aflige as grandes cidades? E, no caso do "homem

civilizado", a ciência que o tornou dependente de

tecnologias como luz elétrica e aparelhos celulares também contribuiu, de alguma forma, para sua evolução moral?

Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que viveu numa época em que não existia luz elétrica e,

muito menos, aparelhos celulares, as respostas a estas perguntas podem ser respondidas da seguinte forma: "O

homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros". Com isso, ele quer dizer que o homem possui uma

natureza boa que é corrompida pelo processo civilizador.

Neste caso, bastaria irmos para a floresta e viver como nossos antepassados para sermos felizes? Não é essa a

proposta de Rousseau. Em sua obra "Do Contrato Social" (1757/ 1762) ele reflete sobre como deveriam ser as

instituições para que possamos ter uma organização social mais justa, que preserve a liberdade, bem supremo do

homem.

SENTIMENTO

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Rousseau não construiu um sistema filosófico, como Aristóteles ou Kant, por exemplo, mas apresentou contribuições

originais não somente à filosofia, mas também à pedagogia e à teoria política, influenciando movimentos políticos e

intelectuais europeus como a Revolução Francesa e o Romantismo alemão.

Sua teoria da bondade natural do homem pode parecer estranha e, mesmo no século 18, foi objeto de

escárnio por parte de filósofos como Voltaire. Contudo, a crítica de Rousseau é direcionada aos poderes exacerbados

da razão e da ciência, que ele foi o primeiro pensador a questionar em plena vigência do Iluminismo.

É muito comum agirmos de maneira polida e educada mesmo quando, na verdade, queremos prejudicar,

manipular ou levar vantagem sobre os outros. Para Rousseau, certas normas sociais estabelecidas nos grandes centros

urbanos afastaram, desta forma, o homem de sua verdadeira natureza. O caminho para este conhecimento primordial,

segundo ele, é o sentimento, não a razão e o progresso científico.

Razão põe ordem no mundo, talvez em demasia, segundo o filósofo francês. Era preciso então sentir o mundo.

E qual a forma de fazer isso, senão buscando uma comunhão com a natureza, que em suas formas é pura expressão de

sentimento e liberdade, que experienciamos ao contemplar um pôr-do-sol ou quando caminhamos descalços na praia?

Ao dizer isso, Rousseau rompeu também com toda uma tradição do determinismo, proveniente de uma linha

de começa com Bacon e Galileu até Newton e Einstein, e que concebia o universo como um relógio preciso.

Seria necessário então, voltando à questão inicial, abrir mão de toda comodidade da vida moderna, como fez a

personagem Danielle Rousseau do seriado "Lost" (inspirada no próprio filósofo)?

O CONTRATO SOCIAL

A metáfora do "bom selvagem" é somente uma forma que Rousseau encontrou para questionar a filosofia

iluminista e a política moderna. O problema do "Contrato" é como resguardar a justiça e a liberdade do estado de

natureza no meio social.

Para responder às suas necessidades de conservação, o homem precisa desenvolver habilidades e alterar a

natureza, produzindo cultura. Sozinho, ele não teria como garantir sua sobrevivência. Busca, então, socializar-se.

Os homens primeiro se reuniram em pequenas comunidades, formadas por grupos familiares, o que Rousseau

caracteriza como a "idade de ouro" da humanidade. Em seguida, nas primeiras formas de ordenação social e política,

foi preciso exigir a obediência dos mais fracos aos mais fortes (regimes de escravidão), afastando o homem, assim, de

sua condição igualitária.

Em Rousseau, portanto, é fundamental substituir a liberdade natural, irrestrita mas subordinada ao poder do

mais forte (e sempre haverá alguém mais forte para assumir a liderança), pela liberdade convencional, sustentada pela

criação de um pacto social, de forma a equilibrar ordem e justiça.

A principal cláusula deste contrato social afirma que "cada um, dando-se a todos, não se dá a ninguém". Quer

dizer, somente garantindo a liberdade de todos é que as liberdades individuais serão também preservadas.

Um fumante, por exemplo, tem o direito de fumar. No entanto, essa liberdade não pode ferir a de um não-

fumante, que em um recinto fechado vai inalar a mesma fumaça de cigarro involuntariamente. Como resolver isso?

Criam-se regras, ao acordo de todos e que todos devem seguir, restringindo o fumo em locais adequados, de modo a

conservar a liberdade tanto de fumantes quanto de não-fumantes.

VONTADE GERAL

Desse modo, para que o pacto funcione, diz Rousseau, os cidadãos devem se submeter à vontade geral, que é

soberana. Uma vez firmado o contrato, todos devem obedecer o que ficou deliberado por todos, não somente por uma

maioria.

Ou seja, o filósofo não reconhece a representatividade, como vereadores, prefeitos, etc. Para ele, a soberania

se exerce pela vontade popular, logo, pela participação direta do povo. Participação que não se resumiria a comparecer

às urnas, por exemplo, mas em que cada cidadão tivesse participação efetiva nas decisões que afetem a comunidade.

Esta total submissão a um Estado, que expressa a vontade geral, pode parecer um tipo de totalitarismo, em

que o indivíduo se submete integralmente à coletividade, a ponto de abrir mão de seu livre-arbítrio. Mas deve-se

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atentar que: 1) Rousseau subordina a liberdade individual à coletiva para afirmar a primeira; e 2) uma vez que este

Estado não expresse mais a vontade geral, o povo tem o direito de derrubar o governo (apesar de Rousseau preferir as

armas da educação do que as da revolução para isso).

Força não estabelece direitos: o poder só é obedecido quanto ele for legítimo e, para Rousseau, ele só é

legítimo na medida em que se respeita o contrato.

O grande problema em Rousseau é aplicar suas teorias à prática. Formas de governo, como a democracia,

demandam aperfeiçoamentos constantes. E nenhum sistema político e econômico foi perfeito o suficiente para

equilibrar igualdade e liberdade. O contrato social, no entanto, continua servindo de inspiração para dilemas que

acompanham o homem contemporâneo.

LEITURA

"Do Contrato Social" é um clássico que possui várias traduções para o português. Recomendo a tradução da professora

Maria Constança Peres Pissara, com prefácio de Bento Prado Júnior, publicada pela Editora Vozes. A obra também foi

publicada na coleção "Os Pensadores", da Editora Abril Cultural. As duas edições podem ser encontradas em sebos.

IMMANUEL KANT

Na Crítica da Razão Pura, o filósofo alemão

Immanuel Kant (1724-1804) tinha um problema a

resolver, que dizia respeito à seguinte questão: como

posso obter um conhecimento seguro e verdadeiro

sobre as coisas do mundo? A resposta de Kant iria

mudar o rumo da Filosofia Ocidental.

Duas escolas filosóficas, tradicionalmente,

respondiam de formas diversas ao problema do

conhecimento. Para os filósofos racionalistas (Platão,

Descartes, Leibniz e Espinosa), todo conhecimento

provém da razão, enquanto que, para os empiristas

(Aristóteles, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume), ao contrário, somente os dados da experiência sensível forneceriam as

bases para o conhecimento humano.

Tanto em um como em outro caso, surgem obstáculos. A razão especulativa, na medida em que deixa de

validar suas investigações em testes práticos, torna-se dogmática. Já o empirismo encontra oposição no ceticismo, que

argumenta que a Natureza é o reino do contingente e, por esta razão, não pode ser fonte de conhecimento universal.

O filósofo inglês David Hume (1711-1776), cuja obra Kant afirma tê-lo acordado do "sono dogmático", colocou

sob suspeita o princípio de causalidade, que determina que, dado uma causa x, tem-se um efeito y. Por exemplo, tenho

uma pedra em minha mão e a solto de certa altura (causa), tendo como conseqüência sua queda no chão (efeito).

Segundo Hume, não existe nada na causa (solto a pedra da mão) que contenha a relação objetiva de seu efeito

(a queda no solo). Por mais vezes que eu repita a experiência, nada no mundo me dará a certeza de que a pedra cairá e

não levitará, por exemplo. Portanto, conclui o filósofo inglês, a causalidade não está no mundo, mas é produto de

nossos hábitos, ou seja, de tantas vezes ver a pedra cair ao ser solta, acreditamos que haja uma relação causal nos

objetos, quando não passa de uma espécie de condicionamento psicológico.

A PRIORI, A POSTERIORI, JUÍZO ANALÍTICO E JUÍZO SINTÉTICO

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Kant também vai se voltar para o sujeito em sua réplica ao ceticismo humeano, mas revestido de um caráter lógico e

transcendental (e não psicológico, como em Hume). Antes de analisar a resposta de Kant, vamos ver como ele a

formula a questão nos conceitos de a priori, a posteriori, analítico e sintético.

Um conhecimento que seja totalmente independente dos sentidos é chamado a priori. São, por exemplo,

equações matemáticas, que posso fazer mentalmente sem me apoiar em qualquer evidência material. Um

conhecimento que possui sua fonte na experiência é dado a posteriori, como as leis da física clássica, que necessitam

de testes práticos para serem comprovadas.

Quando emito um juízo em que o predicado está contido no sujeito, ele é chamado juízo analítico. Por

exemplo, quando digo "Azul é uma cor", o predicado "cor" já é uma qualidade do sujeito "azul" e a informação, por

isso, é redundante. Mas quando faço um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito, ele é chamado

sintético. Por exemplo, na frase "A cadeira de minha sala é azul", acrescento ao sujeito "cadeira de minha sala" o

predicado "azul" (afinal, ela poderia ser verde, vermelha, etc.). É uma informação nova, pois você poderia imaginar que

a cadeira fosse de qualquer outra cor.

Todos os juízos da experiência são sintéticos, uma vez que, para obter um juízo analítico, não é preciso sair do

próprio conceito, isto é, recorrer à experiência (não preciso sair de "azul" para saber que é uma cor, mas preciso ver a

"cadeira" para saber de que cor ela é).

Agora podemos entender a questão central da Crítica da Razão Pura, que é "Como são possíveis os juízos

sintéticos a priori?". Ou seja, como podemos ter um conhecimento a priori de questões de fato, de coisas do mundo?

Em outros termos, como posso, observando um fato A, dizer algo a respeito de um fato B, uma vez que somente tenho

a experiência deste fato A? Para voltar ao exemplo de Hume, como, tendo uma pedra em minha mão (fato A), antes

mesmo de soltá-la sei que, ao soltá-la, ela irá cair no solo (fato B)? (Lembrando que, para Hume, não há na Natureza

nada que demonstre a relação causal entre A e B.)

Formulado ainda de outra maneira: como posso, ao observar fatos particulares (uma pedra que cai), tirar daí

uma regra de caráter universal (a lei da gravidade), que seja aplicada a todos outros fatos da mesma natureza?

SUJEITO TRANSCENDENTAL

Kant chamou de "revolução copernicana" sua resposta ao problema do conhecimento. O astrônomo Nicolau

Copérnico (1473-1543) formulou a teoria heliocêntrica - a teoria de que os planetas giravam em torno do Sol - para

substituir o modelo antigo, de Aristóteles e Ptolomeu, em que a Terra ocupava o centro do universo, o que era mais

coerente com os dogmas da Igreja Católica.

Como pode ser constatado pela observação direta, o Sol se "levanta" e se "põe" todos os dias, o que tornava

óbvio, aos antigos, que a Terra estava fixa e que os astros giravam em torno dela. Copérnico demonstrou que este

movimento é ilusório, porque, na verdade, a Terra é que gira em torno do Sol.

Kant propôs inversão semelhante em filosofia. Até então, as teorias consistiam em adequar a razão humana

aos objetos, que eram, por assim dizer, o "centro de gravidade" do conhecimento. Kant propôs o contrário: os objetos,

a partir daí, teriam que se regular pelo sujeito, que seria o depositário das formas do conhecimento. As leis não

estariam nas coisas do mundo, mas no próprio homem; seriam faculdades espontâneas de sua natureza

transcendental. Como Kant afirma no prefácio da segunda edição da Crítica da Razão Pura:

"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém todas as

tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que ampliaria o nosso

conhecimento, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas

tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que concorda melhor

com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos objetos que deve estabelecer algo sobre os mesmos

antes de nos serem dados."

O que Kant quer dizer é que o sujeito possui as condições de possibilidade de conhecer qualquer coisa. Ele

possui as regras pela quais os objetos podem ser reconhecidos. Não adianta buscar essas regras no mundo exterior,

pois se cairia no problema de Hume. O mundo não tem sentido a não ser que o homem dê algum sentido a ele. O que

conhecemos, então, é profundamente marcado pela maneira - humana - pela qual conhecemos.

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O computador no qual escrevo, a janela do escritório que me permite ver todas as coisas do mundo, tudo isso

é matéria de conhecimento não porque exista um Deus que me faculte entender as leis dos objetos por meio da razão

(como no caso de filósofos racionalistas) ou porque estes objetos sejam imprimidos em minha mente pela percepção

(empirismo), mas porque eles são capturados por formas lógicas no sujeito.

COISA-EM-SI

Mas ao voltar o foco para o sujeito que conhece, que "constrói" o mundo, é bloqueado todo pretenso acesso à

essência dos objetos do mundo. Só temos acesso às coisas enquanto fenômenos para uma consciência. O que a

realidade é, em si mesma, o que Kant chama de coisa-em-si, não é matéria de conhecimento humano, sendo, portanto,

incognoscível (aquilo que não pode ser conhecido).

A coisa-em-si não pode ser conhecida mas pode ser pensada, desde que seja contraditório (conhecer, em Kant,

diz respeito ao que é possível de ser objeto da experiência).

Três objetos de estudo da metafísica podem ser pensados mas não conhecidos: Deus, a imortalidade da alma e

a liberdade. Deus e a alma não podem ser conhecidos porque não aparecem como fenômenos no espaço e no tempo. A

liberdade, porque contraria o princípio de causalidade: liberdade é aquilo que não tem causa, e o que é absolutamente

livre não pode ser matéria de conhecimento. São, no entanto, postulados para a ética de Kant, da qual não trataremos

neste artigo.

A filosofia crítica de Kant consiste, desta forma, em impor à razão os limites da experiência possível. O filósofo

alemão pretende, com isso, fornecer rigor metodológico à metafísica, livrando-a de seu caráter dogmático e trazendo-a

para o rumo seguro da ciência. Este método que analisa as possibilidades do conhecimento a priori do sujeito, dentro

dos limites da experiência, é chamado de transcendental.

SUGESTÕES DE LEITURA

A Crítica da Razão Pura foi traduzida para o português e publicada pela Editora Abril, na coleção "Os Pensadores", e

pela editora portuguesa Calouste Gulbenkian. Ambas são recomendadas. É de grande ajuda, para o domínio do

vocabulário kantiano, o Dicionário Kant (Jorge Zahar Editor), de Howard Caygill. Também da Jorge Zahar, o livro Kant &

A Crítica da Razão Pura, de Vinicius Figueiredo, propõe introduzir o leitor nessa obra densa e de difícil leitura.

Pós-kantianos : FICHTE, SCHELLING e o Idealismo alemão

A filosofia de Kant deixou, para seus sucessores, um

problema: como conciliar os dualismos entre razão teórica

(conhecimento) e razão prática (moral), entendimento e sensibilidade,

coisa-em-si e fenômeno, sujeito e objeto? O pensamento pós-kantiano

teve como objetivo tentar restabelecer uma unidade na filosofia,

conciliando os antagonismos na obra do filósofo.

O pensamento pós-kantiano, que pode ser datado entre 1780

e 1850, e situado principalmente nas universidades de Iena e Berlim

(Alemanha), ficou conhecido como idealismo alemão. Em comum,

além do fato de trabalharem sobre a obra de Kant, esses filósofos

tentaram construir um sistema ideal de pensamento que explicasse todas as coisas do mundo.

Os primeiros idealistas alemães eram, em sua essência, kantianos, e buscavam resolver impasses na filosofia

kantiana. Mas Fichte, Schelling e Hegel, construíram filosofias originais. Este artigo apresenta, sucintamente, as idéias

dos dois primeiros filósofos.

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A LIBERDADE INFINITA DO EU

O mais audacioso dos pós-kantianos foi Johann Gottliebe Fichte (1762-1814), que conciliou os dualismos

kantianos em um princípio denominado Eu, exposto em sua principal obra, Doutrina da Ciência.

Em Kant, tínhamos um mundo subjetivo, depositário das formas a priori do conhecimento, e um mundo

objetivo, a coisa-em-si, que só pode ser conhecido quando se torna fenômeno para o sujeito. Em Fichte, o mundo

objetivo nasce do mundo subjetivo, como se a realidade fosse apenas um palco que o homem teria criado para agir.

O que é esse Eu que produz a si mesmo e a realidade? É pura liberdade, pura possibilidade. Ele é infinito e

ilimitado. Por exemplo, posso ser o que imaginar ser, desde que não saia de meu mundo interior. Mas, para ser alguma

coisa, preciso agir no mundo externo.

Ao agir, o Eu cria o não-Eu, que é a própria realidade. Ou seja, segundo Fichte, o mundo não existiria se não

fosse colocado pela vontade do Eu, pela ação do sujeito. Ele faz isso para se definir, por meio de suas ações, e vencer os

obstáculos da vida.

Um exemplo pode ajudar a entender melhor a idéia. Posso ter vários talentos, para desenho, música ou

matemática. Mas, para desenvolver um destes talentos, preciso estudar, fazer uma faculdade ou exercitar muito estas

habilidades. Ao fazer isso, me confronto com uma série de dificuldades (a falta de dinheiro, o fato de minha cidade não

ter escolas especializadas, etc.). Porém, é somente superando tais empecilhos que defino esse Eu, dizendo, por

exemplo, "Eu sou músico" ou "Eu sou filósofo".

Em Fichte a realidade é criada, na interioridade do sujeito, para que o Eu atinja todo seu potencial e

desenvolva suas aspirações.

PREGUIÇA É O PIOR DOS MALES

A lição da filosofia moral de Fichte é de que precisamos agir no mundo para afirmar nossa liberdade. Existir,

para ele, é confrontar os obstáculos da vida, pois assim posso predicar o Eu. O pior vício, segundo o filósofo alemão, é a

preguiça, e todos os outros vícios decorrem deste. Preguiça é aquilo que bloqueia a ação e nega a realização da

liberdade humana.

A Natureza é, por assim dizer, uma pedra diante do Espírito, que precisa ser superada pelo aprimoramento

moral do homem. O Eu não é bom nem mau. Suas virtudes são decorrentes de sua ação no mundo, de seu agir. Por

isso, a filosofia de Fichte é uma filosofia prática, uma filosofia do agir, pois somente agindo no mundo posso exercer

minha liberdade. Afinal de contas, não é superando obstáculos que vencemos nossos limites e nos tornamos melhores?

FILOSOFIA DA NATUREZA

O ponto de partida da filosofia de Friedrich Wilhelm Joseph Von Schelling (1775-1854) é exatamente o ponto

em que ele discorda de Fichte: ao condicionar o objeto ao sujeito, Fichte mantém uma concepção determinista da

Natureza, isto é, a Natureza é meramente produto da razão humana. Schelling não concorda com essa idéia.

Para Schelling, existe uma organização na natureza, cujo princípio criador é exterior ao Eu mas que, no

entanto, compartilha o mesmo Espírito. Como não existe a possibilidade de uma consciência fora do Eu, este Espírito é

inconsciente. Segundo o filósofo, há um mesmo Espírito fora do homem e uma mesma Natureza dentro do homem, a

diferença é que o homem é consciente disso, a Natureza, não.

A concepção de divindade em Schelling é panteísta, o que significa que Deus, para ele, está em todas as coisas.

Deus se faz Natureza para existir (necessidade) e ascende do inconsciente na Natureza para o consciente no homem

(liberdade) para que este possa se autoconhecer: Ele se vê na Natureza através do homem. Temos então:

Espírito (Deus):

Inconsciente na Natureza (necessidade)

Consciente no homem (liberdade)

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E quando sujeito e objeto, homem e Natureza, se tocam, se tornam uma Unidade? Na experiência estética, diz

Schelling. Uma onda do mar ou um pôr-do-Sol são obras de arte, com seus matizes e formas únicas, expressões de

diversidade, originalidade, liberdade e beleza. Também o homem pode produzir o belo em obras de arte, como uma

pintura, uma música ou uma dança.

É a mesma liberdade que se manifesta de formas diferentes: de forma real no mundo dos objetos, e de forma

ideal no mundo da Arte.

O GÊNIO ARTISTA

E é na experiência de contemplação de uma obra de arte ou da Natureza que o homem tem contato com Deus,

que cria beleza de forma consciente no homem (obra de arte) e inconsciente na Natureza (diversidade); em que

liberdade (criação artística) e necessidade (materialidade da obra e das coisas do mundo), o infinito e o finito, são

unidos.

Quando contemplamos um quadro de um grande mestre da pintura, não vemos um objeto, mas

transcendemos o objeto na contemplação. O objeto da arte é finito em sua materialidade, sua objetividade, mas é

infinito na abertura de suas interpretações. Por este motivo é um equívoco perguntar a um artista o que ele quis dizer

com sua obra: ele não tem nada a explicar porque a arte é pura expressão de sentimento, de liberdade e poesia (é por

isso que sempre que lemos um bom livro temos sensações e interpretações diversas a cada leitura).

A percepção estética é uma via de acesso do Uno, ao contrário da dualidade sujeito-objeto que faz a ciência.

Todo procedimento científico cinde sujeito (que conhece) e objeto (aquilo que é conhecido). Na Arte, o que foi

separado é de novo reunido na contemplação do infinito (Deus) naquilo que é finito (a obra). Assim, Deus, em Schelling,

não é alcançado pelo filósofo, mas pelo gênio artista.

A Filosofia da Arte é um elemento original em Schelling, que é o primeiro autor, imbuído do espírito do

Romantismo alemão, a colocar a experiência estética como faculdade primária do homem. Ele também é o primeiro

filósofo moderno a questionar a visão da Natureza como relação de causalidade, entendendo-a, ao contrário, como

essencialmente uma força criativa.

LEITURAS

A literatura sobre idealismo alemão é escassa nas livrarias brasileiras. Vale a pena uma visita aos sebos para procurar A

Filosofia do Idealismo Alemão, de Nicolai Hartmann (Calouste Gulbenkian), a melhor introdução ao tema, e começar as

leituras de Fichte e Schelling pelos textos da coleção "Os Pensadores", da Editora Abril Cultural.

MARX – Alienação : Do Espírito Absoluto de Hegel à

realidade concreta

"Esses jovens de hoje, tão alienados...". Esta

expressão, que a maioria de nós já ouviu alguma vez na

vida, provavelmente foi entendida como se referindo ao

fato de que, na juventude, não temos muita

responsabilidade, queremos mais é curtir a vida. Mas,

afinal de contas, será que somos alienados? O que é,

então, alienação?

O termo entrou no vocabulário contemporâneo

graças a Karl Marx, que, assim como no caso do conceito

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de dialética, retirou a idéia de alienação de suas leituras de Hegel, mas o revestiu de um caráter inovador e, como em

tudo em Marx, muito crítico.

Tanto em Marx quanto em Hegel, alienação está ligada ao trabalho. Para Hegel, o trabalho é a essência do

homem, quer dizer, é somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente suas habilidades em

produções materiais.

Mas quando o pensamento puro se torna pensamento sensível, visando uma realização material na forma de

trabalho, nos alienamos, isto é, nos separamos da essência pura e abrimos caminho para uma separação entre ideal e

real, que de novo irão se unir ao que Hegel chama de Espírito Absoluto.

Muito abstrato? Marx também achou, mas viu nestas idéias algo interessante, que poderia explicar as relações

sociais no capitalismo e, mais do que isso, desvendar um dispositivo fundamental da máquina capitalista.

Para isso, voltou-se para a realidade concreta, em que os trabalhadores eram explorados em fábricas e

deixavam seus patrões cada vez mais ricos, enquanto eles e suas famílias ficavam cada vez mais pobres. Como

poderiam aceitar tal coisa?

TRABALHO ALIENADO

Alienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de

realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida

passa a medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes.

O filósofo alemão concebeu diferentes formas de alienação, como a religião ou o Estado, em que o homem,

longe de tornar-se livre, cada vez mais se aprisionaria. Mas uma alienação é básica, segundo Marx: a alienação

econômica.

A alienação econômica pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a) atividade fragmentada e como

(b) produto apropriado por outros.

TEMPOS MODERNOS

No primeiro caso, a separação do trabalho, em todas as suas instâncias, aliena o trabalhador, que não se

reconhece mais em uma atividade - porque ele faz apenas uma peça de um carro em uma escala produtiva e não tem a

visão do conjunto, por exemplo - e porque acaba desenvolvendo apenas uma de suas habilidades, seja braçal ou

intelectual, provocando, com isso também, uma divisão social.

Essa divisão do trabalho foi fundamental para a organização da sociedade capitalista. Não seria possível sequer

vestirmos tênis se não existissem trabalhadores que os produzissem em larga escala em fábricas, onde cada um é

responsável por uma etapa na produção.

O melhor exemplo de como funciona este processo e suas conseqüências sociais pode ser visto no filme

"Tempos Modernos" (1936), dirigido e estrelado por Charles Chaplin, que mostra, de forma bem humorada, a vida de

um operário sendo controlada pela máquina na linha de montagem de uma fábrica.

EXPLORAÇÃO

No segundo caso, o trabalhador tem a riqueza gerada pelo seu trabalho tomada pelos proprietários dos meios

de produção. Ele é levado a gerar acumulação de capital e lucro para uma minoria, enquanto vive na pobreza.

Um empregado de uma fábrica de TV de LCD, por exemplo, em oito horas diárias de trabalho produz, ao final

do mês, um número considerável de aparelhos, mas recebe apenas uma pequena parcela disso em forma de salário. O

que recebe não permite sequer adquirir aquilo que ele produz - uma TV de R$ 5 mil - e o modo de vida de sua família é

muito diferente daqueles que consomem seu produto.

O trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é

submetido. O que se exterioriza não é sua essência, mas algo estranho a ele.

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Diz Marx: "A alienação aparece tanto no fato de que meu meio de vida é de outro, que meu desejo é a posse

inacessível de outro, como no caso de que cada coisa é outra que ela mesma, que minha atividade é outra coisa e que,

finalmente (e isto é válido também para o capitalista), domina em geral o poder desumano".

Divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são

também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação.

COMUNISMO

Qual a solução? Se o trabalho, no sistema capitalista, é fonte de alienação, e se o capital é, basicamente,

propriedade privada, isto é, a posse e o acúmulo de objetos, a superação do homem alienado só virá, para Marx, com a

sociedade comunista.

Segundo Marx, somente com o comunismo as pessoas deixariam de ser alienadas, pois tudo seria de todos e

não haveria necessidade de divisão ou expropriação do trabalho alheio. "A superação da propriedade privada é, por

isso, a emancipação total de todos os sentidos e qualidades humanas", diz Marx.

Marx, provavelmente, ficaria muito aborrecido em ver que, na prática, os ideais do comunismo, na forma de

dogmas, somente trouxeram mais alienação. Sua crítica, no entanto, parece atual diante de uma juventude destituída

de ideais políticos que se contenta com prazeres imediatos proporcionados pelo consumo. É o celular da moda, o tênis

de marca e o carro de luxo que definem sua essência?

SCHOPENHAUER: O mundo como vontade e representação

Talvez nenhum outro filósofo tenha exercido maior influência no mundo das artes do que o alemão Arthur

Schopenhauer. O compositor Richard Wagner, por exemplo, disse ter criado uma de suas maiores óperas, "Tristão e

Isolda", como reação à leitura de Schopenhauer.

Na literatura, o número de romancistas e contistas que compartilharam das ideias de Schopenhauer é imenso:

os russos Tolstoi, Tcheckov e Turguêniev, os franceses Zola, Maupassant e Proust, os ingleses Hardy, Conrad e

Maugham, sem falar no argentino Jorge Luís Borges e no brasileiro Machado de Assis.

Também se encontram no mesmo caso poetas como escritor de língua alemã Rilke e o inglês T. S. Eliot, além

de dramaturgos como o inglês Bernard Shaw, o irlandês Samuel Beckett e o italiano Luigi Pirandello.

Mas a influência de Schopenhauer não para por aí: Friedrich Nietzsche disse ter se tornado filósofo devido à

leitura de Schopenhauer, que também foi o ponto de partida da filosofia de Wittgenstein. Sigmund Freud, o pai da

psicanálise, reconheceu que a análise da repressão - um dos pilares da teoria psicanalítica - foi feita pioneiramente por

Schopenhauer, que é com frequência citado por Carl Gustav Jung.

ESQUECENDO O ESQUECIMENTO

No entanto, na segunda metade do século 20, Schopenhauer foi deixado de lado e se tornou tão ignorado

como foi na maior parte de sua própria vida. Vivo, só obteve reconhecimento depois dos 60 anos. De certo, isso o

magoava, mas não o impediu de pensar de modo original e contrário ao pensamento oficial de seu tempo, que

desprezou e atacou em suas obras.

Esqueçam-se, porém, esses aspectos todos, que são circunstanciais. O que importa é a filosofia

schopenhaueriana. Esta se encontra exposta numa obra-prima que ele escreveu ainda na casa dos 20 anos: "O Mundo

como Vontade e Representação", de 1818, e da qual lançou uma edição revista e ampliada (a definitiva) em 1844.

O ponto de partida schopenhaueriano foi a obra de Immanuel Kant, que, segundo Schopenhauer, constituiu

um divisor de águas na filosofia que lhe antecedeu, a partir de Descartes. Kant concebe o mundo de uma maneira

dualista, apontando dois aspectos da realidade:

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1) aquele suscetível de ser experimentado pelo homem (sujeito), o mundo dos fenômenos, que são, por assim dizer, as

coisas tais quais as percebemos (ou seja, uma relação entre sujeito que percebe e objeto percebido);

2) aquele não suscetível de ser experimentado, a coisa-em-si, incognoscível.

CRÍTICA A KANT

Para Kant, a ciência é a chave do conhecimento do mundo da experiência e ela não tem ação fora desse

mundo. O que se encontra além dele - a coisa-em-si, seja o que for - jamais será conhecido.

Schopenhauer compartilha dessa visão dual, mas a critica, considerando que assim leva adiante a concepção

kantiana. Para ele, a realidade também consiste em fenômenos e na coisa-em-si. Esta última, porém, não consiste de

coisas diferentes. Para existir diferença, é preciso que existam tempo e espaço, mas o tempo e o espaço são categorias

que pertencem à concepção humana, ao mundo fenomênico.

Onde não há tempo nem espaço tudo é indiferenciado e uno. Assim é a realidade da coisa-em-si. Ela também

não pode ser causa do fenômeno, pois uma conexão de causalidade só funciona no mundo fenomênico. Desse modo, o

fenômeno é, na verdade, uma manifestação da coisa-em-si.

VONTADE E REPRESENTAÇÃO

Em última análise, a mente e a consciência nos permitem ver a representação da coisa-em-si. Esta, entretanto,

não tem nada que ver com a mente ou consciência. É uma força impessoal que Schopenhauer chama vontade.

O filósofo emprega este termo porque a Vontade é a experiência direta mais próxima que podemos ter disso. É

a Vontade o motor de nossas vidas.

É importante notar aqui que a coisa-em-si, segundo Schopenhauer, é incognoscível, mas experienciável, no

que ele também se afasta de Kant. Por outro lado, o filósofo se aproxima do pensamento oriental, hinduísta e budista,

que, pela via religiosa, chega às mesmas conclusões que Schopenhauer chegou: o mundo sensível é uma ilusão (Maya)

que mascara uma realidade una e transcendente.

ATEÍSMO E PESSIMISMO

Nesse sentido, convém lembrar que Buda e Schopenhauer eram ateus. Para os dois, essa realidade una,

absoluta e transcendental eram respectivamente o Vazio e a Vontade. Para Buda, o homem deve esquecer e superar

suas paixões e desejos terrenos para atingir a iluminação e escapar ao sofrimento. Para Schopenhauer este mundo é

também uma ilusão e não devemos nos preocupar com ele, mas sim repudiá-lo.

O filósofo alemão, contudo, vê na arte a possibilidade de transcendência, em especial na música, que nos

retira do tempo, do espaço e até do nosso corpo, resgatando-nos momentaneamente do suplício da existência.

A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos.

Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está

repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos

"Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável", resume o comentarista inglês

Brian Magee, ao referir-se ao modo como Schopenhauer encara a existência.

ÉTICA DA COMPAIXÃO

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Por outro lado, apesar dessa visão sombria da existência, Schopenhauer apresenta uma visão da moral e da

ética que se opõe à de Kant, aproxima-se do budismo e do cristianismo, chegando a dizer que se pode qualificar sua

doutrina como a "verdadeira filosofia cristã".

Qual o fundamento da ética para Schopenhauer? O fundamento não é a razão, como pensava Kant. Ao

contrário, como nossos corpos são apenas uma manifestação fenomênica da unidade da coisa-em-si, somos indivíduos

separados apenas na aparência. No fundo, tudo e todos são um. Isso nos possibilita a identificação com o outro, a

compaixão e o amor, em seu sentido mais lato.

NIETZSCHE: Individualismo e "vontade de poder"

Friedrich Nietzsche era formado em filologia clássica e

não em filosofia. Tornou-se filósofo, segundo ele mesmo diz,

devido à leitura de Schopenhauer. Concorda com a visão de

mundo deste filósofo em três questões essenciais: a) a inexistência

de Deus; b) a inexistência de alma; c) a falta de sentido da vida,

que se constitui de sofrimento e luta, impelida por uma força

irracional, que podemos chamar de vontade.

No entanto, ao contrário de Schopenhauer, Nietszche não vê a

realidade repartida em duas, o fenômeno e a coisa em si.

Considera que este mundo é a única parte da realidade e que não devemos rejeitá-lo ou nos afastarmos dele, mas viver

nele com plenitude. Como, porém, fazer isso num mundo sem Deus e sem sentido?

Nietszche começa a resolver o problema fazendo um ataque à moral e aos valores existentes na sociedade que

lhe é contemporânea. Segundo o filósofo, esses valores derivam de civilizações já inexistentes, como a grega e a

judaica, e de religiões em que muitos - senão a maioria - já não têm fé. Precisamos, portanto, de uma nova base para

assentar nossos valores.

JUSTIÇA DOS FRACOS

A civilização, de acordo com o Nietzsche, foi criada pelos fortes, pelos inteligentes, pelos homens

competentes, os líderes que se destacaram da massa. Moralistas como Sócrates e Jesus, porém, negaram essa

realidade em nome dos fracos.

Propagando uma moral que protegia os fracos dos fortes, os mansos dos ousados, que valorizava a justiça em

vez da força, eles inverteram os processos pelos quais o homem se elevou acima dos animais e exaltaram como

virtudes características típicas de escravos: abnegação, auto-sacrifício, colocar a vida a serviço dos outros.

"SUPER-HOMEM"

Considerando que tais valores não têm origem divina ou transcendente, Nietzsche afirma que somos livres

para negá-los e escolher nossos próprios valores. Ao "tu deves" devemos responder com o "eu quero". É a vontade de

poder que permite ao indivíduo que se autoelege desenvolver seu potencial máximo de modo a tornar-se um super-

homem ou um ser além-do-homem - isto é, que se coloca acima da massa.

Nietzsche identifica o "super-homem" em personagens como Napoleão, Lutero, Goethe e até mesmo Sócrates

(não por suas ideias, mas pela coragem de levá-las às últimas consequências). Enfim, no líder que tem vontade de

poder, que ousa tornar-se o que realmente é. É assim que se afirma a vida e se pode atingir a auto-realização.

Naturalmente, o filósofo sabe que isso não vai abolir os conflitos e nem se preocupa com isso, pois considera

os conflitos como um estímulo. De resto, querer abolir a competição, a derrota e o sofrimento é o mesmo que

pretender abolir a lei da gravidade.

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DESAFIO E RESPOSTA

O pensamento nietzschiano pode ser avaliado sob duas perspectivas. Por um lado, ele postula um supremo

desafio ético ao propor uma reavaliação radical dos valores morais da humanidade. Nesse sentido, ele apresentou o

problema sobre o qual iriam se debruçar muitos filósofos do século 20, a partir dos existencialistas.

Por outro, a resposta que ele propõe a esse desafio - marcada pelo individualismo e pela "lei do mais forte"

(que pode ser também o mais inteligente ou o mais talentoso) - desaguou no nazi-fascismo, que se apropriou de suas

ideias e o usou em sua propaganda. No encontro histórico de Mussolini e Hitler, em 1938, o líder alemão presenteou o

italiano com uma coleção das obras de Nietzsche.

Convém lembrar, porém, que o filósofo já em sua época ridicularizava o nacionalismo alemão. Quanto ao seu

propalado anti-semitismo, pode ser desmentido por um de seus próprios aforismos: "Os anti-semitas não perdoam os

judeus por terem intelecto e dinheiro. Anti-semita: outro nome para 'roto e esfarrapado'".

Não se pode falar de Nietzsche sem comentar o aspecto literário de sua obra. A maioria de seus livros não é

escrita no tipo de prosa dissertativa característica da filosofia, com argumentos e contra-argumentos expostos na

íntegra. Ao contrário, estão sob a forma fragmentária de aforismos e parágrafos numerados separadamente, ou ainda

como epigramas ou na linguagem dos textos religiosos, como se vê em uma de suas obras mais conhecidas: "Assim

falou Zaratustra".

Filosofia da ciência: KARL POPPER, falseabilidade e limites

da ciência

Karl Popper nasceu em 1902, praticamente junto com o século

20. Nessa época, a ciência parecia ter atingido o auge do

prestígio. A revolução industrial iniciada na Inglaterra do século

18 se fundamentou na divisão e organização do trabalho e nas

novas tecnologias que aproveitaram as possibilidades abertas

pela ciência determinista de sir Isaac Newton.

A utilização maciça das aplicações técnicas do

conhecimento científico produziu um período de progresso

material acelerado, no qual a humanidade avançou mais em dois

séculos neste campo do que nos quatro mil anos anteriores.

Esse progresso acelerado colocou o conhecimento científico numa posição de destaque, que, no século 19,

culminou no cientificismo, a crença de que tudo poderia ser explicado pela ciência, que deveria ser colocada acima de

todos os outros modos do saber.

SUPERVALORIZAÇÃO DA CIÊNCIA

Essa combinação de fatores sócio-históricos gerou grandes distorções, como o fato de a ciência, tornada laica

pelo iluminismo europeu, ganhar status religioso em doutrinas como o positivismo e outras, durante o século 19 e

início do 20.

É neste ambiente de supervalorização do progresso científico e de deturpação da natureza original da ciência

que surge Karl Popper, que se tornaria o mais influente e respeitado filósofo da ciência entre os homens que a fazem

nos dias de hoje. Austríaco de nascimento e britânico por opção, Popper é o autor da definição atualmente mais aceita

de teoria científica:

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"Uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Assim,

uma boa teoria deverá descrever uma vasta série de fenômenos com base em alguns postulados simples como também

deverá ser capaz de fazer previsões claras as quais poderão ser testadas."

Com esta definição, a simplicidade e a clareza voltavam a ser virtudes identificadoras da boa ciência, que assim

se separa das mistificações que nos dois séculos anteriores tentaram pegar carona em seu prestígio.

OBSERVAÇÃO E TEORIZAÇÃO

Popper defendeu que, se a ciência se baseia na observação e teorização, só se podem tirar conclusões sobre o

que foi observado, nunca sobre o que não foi.

Assim, se um cientista observa milhares de cisnes, em muitos lugares diferentes e verifica que todos os cisnes

observados são brancos, isto não lhe permite afirmar cientificamente que todos os cisnes são brancos, pois, não

importa quantos cisnes brancos tenham sido observados, basta o surgimento de um único cisne negro para derrubar a

afirmação de que eles não existiriam.

Assim, qualquer afirmação científica baseada em observação jamais poderá ser considerada uma verdade

absoluta ou definitiva.

Uma teoria científica, no máximo, pode ser considerada válida até quando provada falsa por outras

observações, testes e teorias, mais abrangentes ou exatos que a original.

FALSEABILIDADE

A possibilidade de uma teoria ser refutada constituía para o filósofo a própria essência da natureza científica.

Assim, uma teoria só pode ser considerada científica quando é falseável, ou seja, quando é possível prová-la falsa. Esse

conceito ficou conhecido como falseabilidade ou refutabilidade.

Segundo Popper, o que não é falseável ou refutável não pode ser considerado científico. As teorias da

gravitação universal de sir Isaac Newton são científicas, por que além de se enquadrarem na definição ao propor

equações simples que descrevem os modelos cósmicos gravitacionais, também é possível se fazer previsões acertadas

com base nelas.

E as teorias de Newton também são falseáveis. Tanto que o foram, quando Albert Einstein com sua Teoria da

Relatividade demonstrou que a mecânica newtoniana não era válida em velocidades próximas à da luz.

TEORIA DA RELATIVIDADE

O clássico experimento do eclipse, no qual Einstein provou que a luz era afetada pelos campos gravitacionais e

o experimento posterior, que provou que cronômetros de altíssima precisão postos em alta velocidade em relação à

Terra apresentavam pequenos atrasos quando comparados a cronômetro idêntico mantido imóvel na superfície, trouxe

a ciência aos novos tempos em que o tempo não mais era absoluto.

Mesmo assim, as teorias de Newton continuam válidas para a maioria das aplicações cotidianas, quando a

influência da velocidade pode ser considerada desprezível para as aplicações práticas. A ciência mais uma vez mostrava

seu poder de se renovar e melhorar a partir de suas próprias definições.

Por outro lado, seguindo as definições e o conceito da falseabilidade de Popper, a astrologia de horóscopo

moderna não pode ser considerada científica.

Todo o gigantesco arcabouço da mecânica newtoniana, o mais prestigiado modelo científico de todos os

tempos, foi falseado por dois experimentos simples e uma equação magistral (E = mC2).

Mas não existem experimentos possíveis que possam falsear a teoria de que a posição de determinados corpos

celestes afetam a vida de pessoas nascidas em determinado período de determinada forma.

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A abrangência das previsões e a falta de um modelo simples e claro que as expliquem tornam a astrologia de

horóscopo não falseável e, portanto, não científica.

LIMITES DA CIÊNCIA

Com Popper, os limites da ciência se definem claramente. A ciência produz teorias falseáveis, que serão válidas

enquanto não refutadas. Por este modelo, não há como a ciência tratar de assuntos do domínio da religião, que tem

suas doutrinas como verdades eternas ou da filosofia, que busca verdades absolutas.

O melhor no velho filósofo, que se opôs ao nazismo e dedicou sua vida à defesa de boas causas, é que suas

teorias se aplicam a elas próprias. Assim, se amanhã alguém redigir uma melhor definição de teoria científica, as ideias

de Popper humildemente sairão de cena para tomar seu lugar na história da ciência.

Entre as muitas virtudes que nossa ciência adquiriu dos grandes sábios que lhe deram grandeza, Popper nos

mostrou uma ciência que se faz grande na virtude da humildade.

WITTGENSTEIN e o argumento da linguagem privada

O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) é conhecido

por ter desenvolvido duas filosofias bem distintas em sua

vida, uma exposta na obra Tratactus Lógico-

Philosophicus, de 1921, e outra em Investigações

filosóficas, publicado postumamente, em 1953.

Os dois livros são representativos no

pensamento de Wittgenstein por exporem duas teorias

da linguagem bem diferentes. A primeira, de que a

linguagem figura o real, influenciou os positivistas lógicos

do Círculo de Viena, enquanto a segunda, de que a

linguagem expressa o real em suas funções práticas,

contribuiu para mudar os rumos da filosofia analítica, na Escola de Oxford.

Uma maneira interessante de verificar essa distinção é analisando o chamado "argumento da linguagem

privada", que Wittgenstein, apesar de nunca tê-lo chamado com esse nome, trabalha em Investigações filosóficas.

LINGUAGEM E PERCEPÇÃO

Para a tradição filosófica desde Descartes, a linguagem se refere a um conjunto de dados dos sentidos. A frase

"dor de dente", assim, se refere a uma sensação de dor que a pessoa sente em algum dente.

Mas como saber se o que estou sentindo e chamo de "dor de dente" corresponde àquela mesma sensação que

você teve e que também chamou de "dor de dente"? Ou o que você chama de "amor", será que é o mesmo referente

que eu designo quando uso essa palavra? Ou ainda, quando um repórter na TV pergunta para uma pessoa o que ela

está sentindo, depois de sobreviver a uma enchente, por exemplo, o relato corresponderia realmente às mesmas

sensações que teríamos se tivesse acontecido conosco?

É razoável supor que podemos usar palavras de forma equivocada, como quando digo que uma cor é "lilás" e

outra pessoa diz "roxo". Estamos tendo a mesma percepção do espectro de luz? Diz o filósofo: "O essencial das

vivências privadas não é que cada um possua seu exemplar, mas que nenhum saiba que se o outro tem também isto ou

algo diferente. Seria pois possível a suposição - ainda que não verificável - de que uma parte da humanidade tenha uma

sensação do vermelho e outra parte uma outra sensação" (IF § 272).

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Como aprenderíamos a ligar o nome a uma coisa, se o nome fosse inventado tendo como base a minha

percepção das coisas? Como saber que estamos falando da mesma coisa? Wittgenstein dá ainda o exemplo da caixa

contendo um besouro: "Suponhamos que cada um tivesse uma caixa e que dentro dela houvesse algo que chamamos

de 'besouro'. Ninguém pode olhar dentro da caixa do outro; e cada um diz que sabe o que é um besouro apenas por

olhar seu besouro. Poderia ser que cada um tivesse algo diferente em sua caixa" (IF § 293).

Poderia também inventar um nome completamente distinto para as coisas de modo que somente eu

compreendesse aquilo, como uma linguagem privada que não pudesse compartilhar com o mundo. Um vocabulário e

uma gramática desconhecida dos demais, um código próprio que somente quem o criou pudesse compreender.

O argumento da linguagem privada de Wittgenstein nega que tal coisa seja possível. Basicamente, faz isso por

rejeitar a noção de que as palavras tenham como referentes diretos as sensações, que elas representariam.

LINGUAGEM E COMPORTAMENTO

Para o "segundo" Wittgenstein, não aprendemos que a palavra "dor de dente" significa uma sensação de dor

de dente, mas aprendemos a expressar um comportamento. Em outras palavras, uma criança não aprende a essência

de um dado sensível representado por um signo (a palavra "dor", por exemplo), mas como expressar um determinado

comportamento, um uso prático.

Vejam o que Wittgenstein diz: "Como as palavras se referem a sensações? (...) Por exemplo, da palavra 'dor'.

Esta é uma possibilidade: palavras são ligadas à expressão originária e natural da sensação, e colocadas no lugar dela.

Uma criança se machucou e grita; então os adultos falam com ela e lhe ensinam exclamações e, posteriormente, frases.

Ensinam à criança um novo comportamento perante a dor" (IF, § 244).

Quando uma criança sente dor, ela reage com uma expressão natural de dor, o choro. Mas fica muito difícil

para uma mãe, por exemplo, saber se uma criança que chora está com dor de ouvido, cólica ou apenas irritada e com

sono.

Com o tempo, a criança é adestrada a substituir uma expressão natural por uma outra, simbólica. Assim,

quando sente dor, usa uma frase para expressar a dor, que substitui ou complementa um grito ou choro, dizendo

"Estou com dor de ouvido" ou "Minha barriga dói".

Não somos, deste modo, ensinados a usar uma palavra para significar um objeto, mas um uso linguístico,

simbólico e convencional, que pode substituir uma expressão natural para tais sensações.

Para Wittgenstein, o significado de uma linguagem é dado em seu uso, e como são usos diferentes, ele fala em

jogos de linguagem. Não aprendemos o nome das coisas, mas um comportamento expressivo que substitui o

comportamento natural.

Para concluir, a solução para o problema da caixinha do besouro: "Mas, e se a palavra 'besouro' tivesse um uso

para essas pessoas? Neste caso, não seria o da designação de uma coisa. A coisa na caixa não pertence, de nenhum

modo, ao jogo de linguagem nem mesmo como um algo: pois a caixa poderia também estar vazia. Não, por meio desta

coisa na caixa, pode-se 'abreviar'; seja o que for, é suprimido. Isto significa: quando se constrói a gramática da

expressão da sensação segundo o modelo de 'objeto de designação', então o objeto cai fora de consideração, como

irrelevante" (IF § 293).

Isso quer dizer que não importa a sensação que tenhamos - a suposta "essência" de nossa linguagem -, mas

simplesmente sua função, seu uso no cotidiano.

CONHECIMENTO EMPÍRICO

As reflexões de Wittgenstein o levam a concluir que é impossível falar de uma linguagem privada, pois o que se

aprende não é uma palavra que designa uma coisa, mas um conjunto de regras sociais para cada uso que fazemos da

linguagem. Isso tem, pelo menos, duas consequências para a filosofia analítica:

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Como a linguagem não descreve sensações de objetos físicos exteriores, não há nenhum sentido em se falar de

enunciados verdadeiros ou falsos em relação à palavra com seu objeto.

Não tendo como distinguir entre enunciados verdadeiros ou falsos em relação a questões de fato, se torna

impossível fundamentar o conhecimento empírico nos dados dos sentidos, com queriam os positivistas lógicos.

As especulações de Wittgenstein iriam repercutir no trabalho de teóricos importantes, como no pragmatismo

do filósofo americano Willard Van Orman Quine (1908-2000) e na teoria dos atos de fala do filósofo inglês John

Langshaw Austin (1911-1960).

Referência bibliográfica

WITTGENSTEIN, Ludwig. "Investigações Filosóficas", em Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1991. [Citados como

IF, seguido do parágrafo].

FONTE:

UOL VESTIBULAR