3. os primeiros filósofos

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SUMÁRIO DO VOLUMEFILOSOFIA1. Os mitos 5

1.1 Alguns mitos que relatam a criação do Universo, do ser humano e de condutas sociais 62. O Surgimento da Filosofi a 113. Os primeiros fi lósofos 13

3.1 Tales de Mileto (625-547 a.C.) 143.2 Anaximandro de Mileto (588-524 a.C.) 153.3 Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) 163.4 Pitágoras 163.5 Parmênides de Eleia (540-450 a.C.) 193.6 Zenão de Eleia (490-485/430-428 a.C.) 203.7 Heráclito de Éfeso (544-480 a.C.) 223.8 Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) 23

4. O período antropológico e clássico 264.1 Protágoras de Abdera (485-410 a.C.) e a subjetividade 264.2 As antilogias de Protágoras 27

5. O conhecimento fi losófi co na Antiguidade Clássica 295.1 Sócrates (469-399) e a maiêutica 29

6. O Idealismo de Platão (428-347 a.C.) 326.1 Mito da Caverna 326.2 A dialética platônica 35

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SUMÁRIO COMPLETOVOLUME 1

UNIDADE: A ORIGEM DA FILOSOFIA NO MUNDO OCIDENTAL1. Os Mitos2. O Surgimento da Filosofi a3. Os Primeiros Filósofos4. Período Antropológico e Clássico5. O Conhecimento Filosófi co na Antiguidade Clássica6. O Idealismo de Platão (428-347 ac.)

VOLUME 2

UNIDADE: A FILOSOFIA MEDIEVAL7. Aristóteles e as causas do ser8. Aurelio Agostinho e a Filosofi a medieval9. Tomás de Aquino10. A querela dos Universais

VOLUME 311. Nossos Ídolos Ainda são os Mesmos, mas as Aparências nos Enganam Sim: Francis Bacon e a Teoria dos ídolos12. O Conhecimento está Dentro ou Fora de Nós? Racionalismo X Empirismo13. A Filosofi a Empirista

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Os mitos

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A ORIGEM DA FILOSOFIA NO MUNDO OCIDENTAL

1. OS MITOS

Esse quadro mostra o momento em que Ariadne, fi lha do rei Minos da ilha de Creta, encontra Baco, o deus do vinho, e os dois se apaixonam à primeira vista. Observe que Baco toma a coroa de Ariadne e a joga para o céu, quando torna uma constelação. Mais tarde, ele se casa com ela e, assim, Ariadne se torna imortal. Para maiores detalhes sobre esse quadro, acesse: www.cneconline.com.br

Disponível em: <http://cirrusminor-cirrus.blogspot.com.br/> acesso em: 17 set. 2012.

No dicionário

Dá-se o nome de mito a um relato de algo fabuloso que se supõe ter acontecido num passado remoto e quase sempre impreciso. Os mitos podem se referir a grandes feitos heroicos (no sentido grego de heroico) que são considerados, com frequência, como o fundamento e o começo da história de uma comunidade ou do gênero humano em geral. Podem ter como conteúdo fenômenos naturais, caso em que costumam ser apresentados de forma alegórica. Muito amiúde, os mitos comportam a personifi cação de coisas ou acontecimentos. Pode-se acreditar de boa-fé, e até literalmente, no conteúdo de um mito, aceitá-lo como um relato alegórico, ou rechaçá-lo, alegando que todo mito é falso.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofi a. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 478.

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Os mitos

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A palavra mito tem origem no vocábulo grego, mythos, que, para os gregos, é uma narrativa que conta, de modo mágico, como surgiram os elementos naturais do mundo. Antes do nascimento da � loso� a, os gregos viam e explicavam o mundo através dos mitos, ou seja, de um conjunto de histórias que fazem parte da cultura de um povo e tentam explicar os fenômenos incompreendidos ou sem uma resposta comprovada, como a criação do mundo, o sentido da vida humana e a morte. Homero, com suas obras Ilíada e Odisseia, e Hesíodo, com suas obras Teogonia e Os Trabalhos e Os Dias, eram considerados os educadores na Grécia, bem como os rapsodos (uma espécie de ator, cantor, recitador), e eram tidos como portadores de uma verdade fundamental sobre a origem do Universo, das leis, etc., por reproduzirem as narrativas contidas nas obras daqueles autores. Os relatos poéticos eram recitados em praça pública, num ambiente coletivo, onde o indivíduo tem uma consciência muito precária a respeito de si mesmo. A escrita era desconhecida e as obras dos poetas recebiam as contribuições de seus sentimentos numa relação pessoal e íntima à tradição. O homem grego está preso a seu próprio destino pela decisão dos deuses. Os acontecimentos naturais, socioculturais e pessoais do ser humano eram in� uenciados pelos deuses que estabeleciam o destino dos homens segundo suas intenções, conveniências e relações políticas. O herói grego é o homem de batalha, mas, também, aquele que usa o poder de persuasão de seu discurso em benefício da coletividade na assembleia.

1.1 Alguns mitos que relatam a criação do Universo, do ser humano e de condutas sociais

Os mitos que narram a origem do mundo e das coisas nele contidas foram passados de pai para � lho através de gerações e serviram para explicar acontecimentos ocorridos antigamente, e mesmo para expressar o desejo de conhecer a realidade humana.

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Telêmaco, fi lho de Ulisses, o herói da Guerra de Troia, se despede de sua amada, Eucharis. Óleo sobre tela, Jacques-Louis David (1818).

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Hesíodo em sua obra Teogonia (Nascimento dos deuses), como poema mitológico, constitui o mito cosmogônico (descrição da origem do mundo) dos gregos, que se desenvolve com geração sucessiva dos deuses e, na parte � nal, com o envolvimento destes com os homens, originando, assim, os heróis. Nesse mito representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza humana, expressando, assim, as ideias dos primeiros gregos sobre a constituição do Universo, que teria começado a partir de um estado vazio chamado Caos. A divindade Gaia, ou Terra, ergueu-se do Caos, dando à luz Urano que se tornou rei do céu. Urano e Gaia geraram os Titãs: Urano temia que seus descendentes lhe tirassem o poder e os prendeu dentro do enorme corpo de Gaia. Gaia conspirou com Cronos (deus romano Saturno), � lho de Gaia e Urano, para vingar-se. Cronos não o matou, mas deixou-o incapaz de gerar � lhos, libertando os Titãs. Numa última etapa, Zeus (rei dos deuses e deus do Céu e do Trovão) destrona Cronos, seu pai. Daí até o � nal, o poema trata do relacionamento dos deuses com os homens. O mito relata a tarefa de Prometeu em criar o homem e todos os animais, em que Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregou-se de supervisioná-la. O homem foi criado de barro, porém a parte que cabia ao homem foi gasta por Epimeteu na criação das outras criaturas. Então, Epimeteu recorreu a Prometeu e este, com auxílio de Minerva, subiu ao céu e acendeu sua tocha no carro do Sol, trazendo o fogo para o homem. Com aquele dom, o homem passava a ser superior aos outros animais. Zeus, para castigá-lo, enviou-lhe a bonita Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra. Pandora foi feita no céu e, cada deus contribuiu para aperfeiçoá-la. Ela, com curiosidade, abriu a tampa da caixa e olhou para seu interior. Neste instante, os males contidos na caixa escaparam e só uma coisa � cou no fundo, e era a Esperança. Por isso é que, desde esse dia, sejam quais forem os nossos males, a esperança jamais nos abandona. O fogo divino é representado nas Olimpíadas, nas tochas olímpicas.

Conta-nos Eurípedes, grande escritor grego, que antes de fugir para Atenas, Medeia, em vingança às infi delidades do marido Jasão, mata seus dois fi lhos. A Imagem da esquerda representa Medeia interpretada pelas cores de Eugene Vitor Delacroix. A da direita representa Medeia na visão pós-impressionista de Paul Cezanne. Você observa semelhança entre elas? Para maiores detalhes acerca da tragédia Medeia escrita por Eurípedes, acesse o blog de Filosofi a em www.cneconline.com.br.

Disponível em: <http://uploads2.wikipaintings.org>. Acesso em: 20 set. 2012.Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com>. Acesso em: set. 2012.

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Os mitos

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Problematizando:

A fi m de melhor compreendermos a atualidade (ou não) dos mitos, leia os dois textos a seguir.

Texto IO MITO HOJE

O mito é ponto de partida para a compreensão do ser. A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária do homem ao proferir certas palavras míticas: casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte, cuja defi nição objetiva não esgota os signifi cados subjacentes que ultrapassam os limites da própria subjetividade. Essas palavras remetem a valores arquetípicos, isto é, valores que são modelos universais, existentes na natureza inconsciente e primitiva de todos nós. O mesmo sucede com personalidades que os meios de comunicação se incumbem de transformar em imagens exemplares, como artistas, políticos, esportistas, e que, no imaginário das pessoas, representam todos os tipos de anseios: sucesso, poder, liderança, sexualidade, etc. Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo retoma o arquétipo da luta entre o bem e o mal, e a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo do homem moderno de superar a própria impotência, tornando-se um ser excepcional. O comportamento do homem também é permeado de ‘rituais’, mesmo que secularizados: as comemorações de nascimentos, casamentos, aniversários, os festejos de ano-novo, as festas de formatura, de debutantes, os trotes de calouros lembram verdadeiros ritos de passagem. Mito e razão se complementam mutuamente. No entanto, o mito, recuperado no cotidiano do homem contemporâneo, não se apresenta com a abrangência que se fazia sentir no homem primitivo. O nascimento da refl exão permite a rejeição dos mitos prejudiciais ao homem. O exercício da crítica racional faz a diferenciação deles, legitimando alguns e negando outros que levam à desumanização.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009, p. 32.

Texto II

FRAGMENTO DE O MÉDICO E O MONSTRO, DE ROBERT LOUIS STEVENSON.

Devo ter fi cado quase meia hora olhando fi xo para ela, tomado de assombro, antes de surgir o terror no meu peito, tão repentino e assustador como uma batida de címbalos. Pulei da cama e corri para o espelho. À vista daquilo que viram meus olhos, meu sangue transformou-se em algo estranhamente fi no e gélido. Sim, fui para cama como Henry Jekyll e acordei como Edward Hyde.

STEVENSON, Robert Louis. O Médico e o Monstro. Rio Grande do Sul: LPM, p. 95.

Exercícios de salaExercícios de sala

1 Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

A história começa na Terra: Jake Sully (Sam Worthington) é um soldado que perdeu os movimentos, mas mesmo com essa defi ciência aceitou o convite para trabalhar em exploração de minas no planeta Pandora que é um local exuberante e hostil. O ar é fatal para os humanos. Existem plantas e criaturas predadoras e perigosas. Os nativos são humanoides azuis com mais de três metros, os Na´vi. Essas adversidades impedem que os exércitos tradicionais tenham sucesso na proteção das minas. Um programa de clones denominado AVATAR, que combina o DNA de humanos e de Na’vi

A história começa na Terra: Jake Sully (Sam Worthington) é um soldado que perdeu os movimentos, mas mesmo com essa defi ciência aceitou o convite para trabalhar em exploração de minas no planeta Pandora que é um local exuberante e hostil. O ar é fatal para os humanos. Existem plantas e criaturas predadoras e perigosas. Os nativos são humanoides azuis com mais de três metros, os Na´vi. Essas adversidades impedem que os exércitos tradicionais tenham sucesso na proteção das minas. Um programa de clones denominado AVATAR, que combina o DNA de humanos e de Na’vi

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foi criado. O resultado é o clone de um Na’vi que pode preservar a percepção de um humano. O irmão de Jake Sully foi o doador original e controlador de um desses avatares. Mas ele foi morto e a corporação responsável pelo projeto chama Jake para ir a Pandora pilotar o tal corpo, já que ele tem o DNA que combina. Em troca, ele poderá andar novamente.

Pesquise sobre o mito de Pandora e identifi que nele duas características do pensamento mítico.

2 Leia este texto e faça o que se pede nos itens de a a c.

Numa luta de gregos e troianos Por Helena, a mulher de Menelau Conta a história de um cavalo de pau Terminava uma guerra de dez anos Menelau, o maior dos espartanos Venceu Páris, o grande sedutor Humilhando a família de Heitor

Zé Ramalho Disponível em: <http://letras.mus.br/>. Acesso em: 22 set. 2012.

a) Identifi que o mito grego a que o trecho anterior faz referência.

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b) A quem a autoria desse mito é comumente atribuída?

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c) Explique os motivos da humilhação da família de Heitor citada no texto.

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3 (UEL) O pensamento científi co, além de autodefi nir-se, também classifi ca e conceitua outras formas de pensamento. Por exemplo, é possível encontrar a defi nição de pensamento mítico como aquele que:

Vai reunindo as experiências, as narrativas, os relatos, até compor um mito geral. Com esses materiais heterogêneos produz a explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e suas fi nalidades, os poderes divinos sobre a natureza e sobre os humanos.

CHAUÍ, Marilena. Convite à fi losofi a. São Paulo: Ática, 2000. p. 161.

Assinale a alternativa que apresenta a afi rmação que está de acordo com a defi nição de pensamento mítico dada anteriormente.a) “Acredito em coincidência e essa [a transferência do local do jogo] é uma vantagem a mais para nós nesta fi nal. Foi lá que conquistamos nosso primeiro título.” (Declaração da capitã do time de vôlei do Vasco da Gama ao comemorar a transferência da partida contra o Flamengo para um ginásio de sua preferência.)b) “Considero a sexta-feira 13 um dia ‘nebuloso’. Para mim, o poder da mente é forte e aquelas pessoas que pensam negativamente podem atrair má sorte. Não creio que ocorram coisas ruins para mim, mas prefi ro me precaver com patuás e incensos.” (Estudante, 24 anos)c) “Não temo o desemprego, quem com Deus está, tudo pode.” (Depoimento de um candidato a emprego de gari no Rio de Janeiro, disputando vaga com outros 40 mil candidatos.)d) “Viemos em busca da ‘Terra sem males’, atrás do ‘Éden’. Estamos atrás do ‘paraíso’ sonhado por nossos ancestrais e ele se encontra por essas regiões.” (Explicação dada por líder guarani diante do questionamento sobre a instalação de grupos indígenas em áreas de mata Atlântica protegidas por lei.)e) “As principais causas da exclusão educacional apontadas pelo censo do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística], além do trabalho infantil, são a pobreza, a distância entre a escola e a residência, a distorção idade série e até o tráfi co de drogas.” (Divulgação na imprensa de dados do IBGE sobre educação.)

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Ulysses (Itália, 1954)

Baseado na obra A Odisseia de Homero, este fi lme conta a saga de Ulysses (Kirk Douglas) que, após lutar 10 anos na guerra de Troia, tenta voltar para casa e para sua amada esposa Penélope (Silvana Mangano). Depois de se perder da frota de navios durante uma tempestade, nosso herói percorrerá caminhos desconhecidos por terra e mar, enfrentando inúmeros soldados e o gigantesco ciclope Polifemo. Ele enfrentará a fúria e as mentiras dos deuses, como Poseidon, e derramará sangue e suor para permanecer vivo. Finalmente em Ítaca, sua terra natal, ele enfrentará seu último e mais perigoso desafi o.

Helena de Troia (Itália/EUA, 1955)

Rajadas de fl echas, choque de espadas, fogos furiosos. Troia resiste como pode. Para vencer o que se julga invencível, não adianta força. Os gregos oferecem um presente: um enorme cavalo de madeira – grande o sufi ciente para esconder até mesmo soldados. A Ilíada de Homero ressurge em Helena de Toia, um espetáculo das telas dos anos 50, um mito de mais de 3 mil anos. Robert Wise dirige esse épico com o então inimaginável orçamento de US$ 6 milhões e mais de 30 mil pessoas no elenco – entre eles Sir Cedric Hardwicke, Brigitte Bardot, Jack Sernas (La Dolce Vita), como Páris, e Rossana Podesta (Sodoma e Gomorra), como Helena, o rosto cuja beleza fez milhares de navios lançarem-se ao mar.

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O Surgimento da Filosofia

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2. O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

Detalhe de A Morte de Sócrates – Jacques-Louis David (1787). Sócrates é um dos personagens fi losófi cos que melhor representa o ofício de fi losofar. Para maiores detalhes dessa pintura, acesse www.cneconline.com.br.

Disponível em: <www.pedagogiaaopedaletra.com>. Acesso em: 21 set. 2012.

No século VI a.C., em Mileto, cidade da costa da Jônia, na Ásia Menor, surgiram os primeiros questionamentos a um aspecto fundamental do pensamento mítico: a constituição da natureza. Alguns homens começaram a indagar se as coisas eram mesmo obra dos deuses ou se poderia haver outra explicação para seu surgimento. A esses homens, a história da � loso� a chamou de � siólogos (estudiosos da Physis, natureza em grego). Seriam eles os primeiros � lósofos. No século XII a.C., fugindo das invasões dóricas, vários povos deslocaram-se para a Jônia, tornando-a

uma cidade bastante eclética do ponto de vista da sua formação. O tipo de vida que se tinha então de base agrária, patriarcal e gentílica foi fundamentalmente alterado. A intensa atividade comercial jônica, facilitada pela adoção da moeda no século VII a.C., reforçou o papel social, cultural e político de comerciantes, navegadores e artesãos. Tudo isso, aliado às trocas culturais que o porto de Mileto proporcionava (a� nal, por ali passava gente vinda de outras parte do mundo conhecido na época) e ao desenvolvimento de novas técnicas, levou, em especial ao longo do século VI a.C., a um modo de pensar desvinculado da tradição mitológica. Começou-se a entender e a explicar o mundo de uma maneira nova, dando-lhe ordenamento lógico, não mágico. Esse entendimento passou a vir das experiências e das observações sobre o funcionamento da natureza e deu origem à Filoso� a.

Investigando:

A Jônia era uma região da costa sudoeste da Anatólia, hoje na Turquia. Ficava entre Mileto e Fócia, e era banhada pelo mar Egeu. Segundo a tradição grega, as cidades da Jônia foram fundadas por imigrantes da Cynuria, região da Grécia Antiga, segundo referência explícita, no século V a.C., por Heródoto, às “crianças de Ion” na sequência das invasões dóricas.

Doze cidades principais se diziam jônicas: Samos, Quios, Mileto, Éfeso, Colofon, Miunte, Priente, Lebedos, Teos, Clazomenes, Éritras e Fócia. Posteriormente, Esmirna juntou-se às cidades jônicas. Foi a região de origem de um grupo de pensadores conhecidos como pré-socráticos. Era também o local mais provável do nascimento de Homero.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. (Adaptado) Acesso em: 20 set. 2012.

Em síntese:

Mito:

Fenômeno: Natural

Causa: Sobrenatural

Filoso� a:

Fenômeno: Natural

Causa: Natural

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O Surgimento da Filosofia

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Exercícios de salaExercícios de sala

1 (UEL) Leia atentamente os textos a seguir, respectivamente, de Platão e de Aristóteles: [...] a admiração é a verdadeira característica do fi lósofo. Não tem outra origem a fi losofi a.

PLATÃO, Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.

Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a fi losofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante as difi culdades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do Universo. E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um fi lósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como fi losofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fi m de saber, e não com uma fi nalidade utilitária.

ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.

Com base nos textos anteriores e nos conhecimentos sobre a origem da fi losofi a, é correto afi rmar:a) A fi losofi a surgiu, como a mitologia, da capacidade humana de admirar-se com o extraordinário e foi pela utilidade do conhecimento que os homens fugiram da ignorância.b) A admiração é a característica primordial do fi lósofo porque ele se espanta diante do mundo das ideias e percebe que o conhecimento sobre este pode ser vantajoso para a aquisição de novas técnicas.c) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam os erros inerentes ao mito, além de terem reconhecido a impossibilidade de o conhecimento ser adquirido pela razão.d) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se surpreenderem diante do anseio de conhecer o mundo e as coisas nele contidas, os homens foram tomados de espanto, o que deu início à fi losofi a.e) A admiração e a perplexidade diante da realidade fi zeram com que a refl exão racional se restringisse às explicações fornecidas pelos mitos, sendo a fi losofi a uma forma de pensar intrínseca às elaborações mitológicas.

Espaço para anotações

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3. OS PRIMEIROS FILÓSOFOS

Mar Mediterráneo

Mar Tirreno

Mar Jónico

Mar Egeo

El mundo griego(3.000-500 A.C.)

Posidonia (Paestum)

EleaSybaris

Tarento

CrotonaSegesta

Himera

SiracusaAgrigento

Selinunte

Troya

Éfeso

Mileto

Rodas

DelosAtenas

MicenasTirintoArgos

Corinto

Pilos Vafio

Hagia Triada

Camares

Faistos

MaliaKnosos

Olimpia

Prehelénico

Helénico

Yacimientos minoicosYacimientos micénicos

Ciudades gregasSantuarios panhelénicos

DoriosEoliosArcadios

JoniosMagnaGrecia

Delfos Tebas

Sicilia

Malta

Cefalonia

Corfú EUBEA

Lemnos

Lesbos

ChiosSamos

CyteraThera Rodas

Creta

NaxosARGÓLIDAPELOPONESO

Mapa da Grécia Antiga com as suas principais cidades. Observe que o Sul da Itália pertencia ao mundo grego e era chamada de Magna Grécia.

Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-lmhMF7aHFDU>. Acesso em: 25 set. 2012.

O que pensaram os primeiros � lósofos? Difícil saber com certeza, uma vez que pouco do que escreveram chegou até nós (há casos, inclusive, de escritos que se perderam por completo). Assim, para conhecê-los, é preciso recorrer aos pouquíssimos fragmentos conservados ao longo dos séculos ou a autores do mundo antigo que deixaram relatos sobre eles, como Aristóteles, Teofrasto, Plutarco e Diógenes Laércio. Esse conhecimento tem limitações. Não é possível saber, por exemplo, até que ponto as observações feitas por esses autores correspondem ao pensamento dos primeiros � lósofos. Por um lado, é preciso levar em conta que, por mais � éis que eles tenham pretendido ser, não escaparam, em seus escritos, de descrever esse pensamento segundo um entendimento próprio, que não corresponde, necessariamente, às ideias originais. Por outro lado, a elaboração de análises e interpretações, como em Aristóteles, apresenta não as ideias dos primeiros � lósofos, mas os comentários sobre o que se julgava que fossem suas ideias. Mesmo com tantas limitações, essas fontes são as únicas de que os pesquisadores da atualidade dispõem para recompor o início da história da � loso� a.

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3.1 Tales de Mileto (625-547 a.C.)

Sabe-se muito pouco sobre a vida de Tales e, como nenhum escrito sobreviveu, temos de con� ar nos relatos de escritores contemporâneos a ele.

     A Metafísica de Aristóteles é uma fonte importante, mas foi escrita 200 anos após a morte de Tales. Outra fonte são os escritos de é Diógenes Laércio, que viveu no século III d.C.      Sabemos que Tales era da colônia grega de Mileto e, segundo algumas fontes, viajou muito, recolhendo ideias de várias culturas, como, por exemplo, da babilônica e da egípcia.

Segundo alguns entendimentos, teria ele introduzido a geometria na Grécia, após tê-la aprendido com os egípcios. Sua cosmologia deve-se muito a eles, certamente, pois acreditavam que a Terra � utuava na água.

Tales é mais lembrado por dizer que a substância última de que todas as coisas se compõem é a água, de modo que tudo o que observamos à nossa volta, inclusive a terra e o ar, as plantas e os animais, é, � nalmente, redutível a uma só substância. Essa é, muitas vezes, vista como a primeira de uma longa � la de hipóteses cientí� cas sobre a natureza de tudo que leva diretamente à Física Moderna. Na � loso� a de Tales, a teoria da água é estreitamente ligada à a� rmação cosmológica de que a Terra é um disco � utuante num vasto mar, tendo se originado da água por um processo de solidi� cação. Ele parece ter chegado a esse conceito observando o comportamento de substâncias úmidas ao se tornarem sólidas ou líquidas. Notou, também, que a água é absorvida por todas as plantas e animais, o que sugeriria que são compostos dela.

Provavelmente, Tales viajou até o Egito e lá teria conhecido o Rio Nilo. Percebeu que, no período de cheia, suas águas eram usadas para irrigar grandes áreas inférteis. Isso teria colaborado para a sua teoria de que tudo deriva da água.

Disponível em: <www.joaoleitao.com>. Acesso: em 01 out. 2012.

Sabe-se muito pouco sobre a vida de Tales e, como nenhum escrito sobreviveu, temos de con� ar nos relatos de escritores contemporâneos a ele.

     A anos após a morte de Tales. Outra fonte são os escritos de é Diógenes Laércio, que viveu no século III d.C.      Sabemos que Tales era da colônia grega de Mileto e, segundo algumas fontes, viajou muito, recolhendo ideias de várias culturas, como, por exemplo, da babilônica e da egípcia.

“O que parece nascer, nos séculos VII e VI, nas costas da Ásia Menor, é a vontade de fugir à explicação mítica dos fenômenos naturais. Pois o objeto dos milésios é a natureza, em grego

physis, motivo pelo qual são chamados de “físicos”. A explicação tentou evitar qualquer imagem antropomórfi ca; não é mais uma genealogia que, como ocorria nas narrativas da antiga mitologia, descreve os nascimentos sucessivos a partir de seres sobrenaturais.”

In HUISMAN, Denis. Dicionário de Obras Filosófi cas. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000, p. 248/249.

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Leia o que Nietzsche diz sobre esse assunto: “A � loso� a grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem a imagem e fabulação; e en� m, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro � lósofo grego”. NIETZSCHE, F. Crítica Moderna. In: Os Pré-Socráticos. Tradução de

Rubens Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999

Mas foram suas habilidades em Astronomia, Geometria e Engenharia que parecem ter conferido a Tales a reputação de grande sábio. Diógenes Laércio descreve como ele determinou a altura das pirâmides, medindo suas sombras, no momento em que sua própria sombra era igual à sua altura.

3.2 Anaximandro de Mileto (588-524 a.C.)

A Anaximandro atribuem-se dois grandes feitos: o de ter sido o primeiro homem a elaborar um mapa geográ� co e o de ter introduzido na Grécia o relógio de Sol, de origem babilônica, aperfeiçoando-o. A exemplo de Tales, Anaximandro também concluiu que todas as coisas tinham uma origem única. O mais surpreendente em relação a Anaximandro é que algumas linhas de seus escritos foram conservadas e chegaram aos dias atuais. O fragmento a seguir, por exemplo, deu origem a muitas interpretações entre os � lósofos e os � lólogos.

O lugar de onde vem o nascimento dos seres é também o lugar onde encontram a sua destruição, conforme a necessidade. É como se fossem pagas retribuições e penas mútuas pela sua injustiça, conforme a ordem do tempo. ANAXIMANDRO. Sobre a Natureza. In Pré-Socráticos. São

Paulo, Abril Cultural, 1979

No fragmento, existem algumas palavras que lembram Aristóteles. Por esse motivo, muitos especialistas não o atribuem a Anaximandro. O trecho sugere um ordenamento na realidade, tanto no âmbito da natureza como no do território moral. Pode-se interpretá-lo como a a� rmação de uma justiça que agiria sobre a desordem (provocada pela injustiça), reinstalando o ordenamento natural do mundo. Também é atribuída a Anaximandro a ideia do ilimitado – apeíron – como princípio e elemento das coisas existentes e que contêm toda a causa do nascimento e da destruição do mundo.

Apeíron: a tradução literal desse termo é sem limite. Anaximandro utiliza-o para indicar a mistura que originou todas as coisas, indefi nida, indistinta e caótica, a partir da qual – por meio de sucessivas divisões, causada pela alternância de quente e frio – foi gerado o mundo tal qual o conhecemos. Os gregos não elaboraram uma ideia de infi nito semelhante à dos pensadores modernos e associaram essa ideia às noções de indeterminação, falta, negatividade.

Anaximandro.

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