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1 O Conhecimento : Um Problema Filosófico Entre os principais problemas filosóficos está o do conhecimento.Para compreender a si e o mundo, os homens querem entender a sua própria capacidade de entender. Problema que envolve questões extremamente importantes, como as seguintes: 1. O que é conhecimento? 2. É possível o conhecimento? 3. Qual é o fundamento do conhecimento?

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1

O Conhecimento : Um Problema Filosófico

Entre os principais problemas filosóficos está o

do conhecimento.Para compreender a si e o

mundo, os homens querem entender a sua

própria capacidade de entender.

Problema que envolve questões extremamente

importantes, como as seguintes:

1. O que é conhecimento?

2. É possível o conhecimento?

3. Qual é o fundamento do conhecimento?

2

Introdução Segundo o dicionário Aurélio A palavra “conhecer” vem

do latim “cognoscere” e tem 18 significações.

Segundo o dicionário de filosofia de Durozoi e Roussel: designa ao mesmo tempo a função teórica do espírito e o resultado dessa função.

Conhecimento é o pensamento que resulta da

relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. O conhecimento pode designar o ato de conhecer, enquanto relação que se estabelece entre a consciência que conhece o mundo conhecido. Mas o conhecimento também se refere ao produto, ao resultado do conteúdo desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem. Portanto ninguém inicia o ato de conhecer do nada mas a

partir de uma determinada cultura.

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O Conhecimento na perspectiva Grega

A pergunta pelo “Ser”: A filosofia nascente tornou-se ontologia, isto é, conhecimento ou saber sobre o ser.

Os primeiros filósofos não tinham uma preocupação principal com o conhecimento enquanto conhecimento, isto é, não indagavam se podemos ou não conhecer o Ser, mas partiam da pressuposição de que o podemos conhecer, pois a verdade, sendo aletheia, isto é, presença e manifestação das coisas para os nossos sentidos e para o nosso pensamento, significa que o Ser está manifesto e presente para nós e, portanto, nós o podemos conhecer.

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Heráclito e o movimento permanente

Não podemos nos banhar duas vezes no

mesmo rio com a mesma água.

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Heráclito de Éfeso :

A mudança ou movimento permanente: o devir

Heráclito de Éfeso considerava a Natureza (o mundo, a realidade)

como um “fluxo perpétuo”, o escoamento contínuo dos seres em

mudança perpétua. Dizia: “Não podemos banhar-nos duas vezes

no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós

nunca somos os mesmos”.

A realidade, para Heráclito, é a harmonia dos contrários, que não

cessam de se transformar uns nos outros.

“Se tudo não cessa de se transformar perenemente, como explicar

que nossa percepção nos ofereça as coisas como se fossem

estáveis, duradouras e permanentes? “

a diferença entre o conhecimento que nossos sentidos nos oferecem

e o conhecimento que nosso pensamento alcança, pois nossos

sentidos nos oferecem a imagem da estabilidade e nosso

pensamento alcança a verdade como mudança contínua.

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Heráclito

O principio é o devir = “Panta rei”

Tudo flui

O foco: O logos(o devir

segundo a razão.)

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Raul Seixas - Metamorfose Ambulante

Prefiro ser essa metamorfose ambulante

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião

formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela amanhã já se

apagou

Se hoje eu te odeio amanhã lhe

tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator

É chato chegar a um objetivo num

instante

Eu quero viver essa metamorfose

ambulante

Do que ter aquela velha opinião

formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião

formada sobre tudo

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Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou

Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator

Eu vou lhes dizer aquilo tudo que eu lhes disse antes

Prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

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Parmênides de Eléia :Conhecer é alcançar o

idêntico, imutável .Pensar é dizer o que um ser é em

sua identidade profunda e permanente. Com isso,

afirmava o mesmo que Heráclito – perceber e pensar

são diferentes -, mas o dizia no sentido oposto ao de

Heráclito, isto é, percebemos mudanças impensáveis

e devemos pensar identidades imutáveis.

Demócrito de Abdera : Diversamente dos outros

dois filósofos, não considerava a percepção ilusória,

mas apenas um efeito da realidade sobre nós. O

conhecimento sensorial ou sensível é tão verdadeiro

quanto aquilo que o pensamento puro alcança,

embora de uma verdade diferente e menos profunda

ou menos relevante do que aquela alcançada pelo

puro pensamento.

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• O ser não é possível que não seja

• O não-ser não é possível que seja.

• Não posso afirmar do ser toda aquela

coisa que implica o não-ser .

SER

uno

imóvel

inato

eterno

imutável

Parmênides

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Os sofistas Os sofistas, diante da pluralidade e do

antagonismo das filosofias anteriores, ou dos conflitos entre as várias ontologias, concluíram que não podemos conhecer o Ser, mas só podemos ter opiniões subjetivas sobre a realidade.

Por isso, para se relacionarem com o mundo e com os outros humanos, os homens devem valer-se de um outro instrumento – a linguagem – para persuadir os outros de suas próprias idéias e opiniões. A verdade é uma questão de opinião e de persuasão, e a linguagem é mais importante do que a percepção e o pensamento.

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Sócrates Em contrapartida, Sócrates, distanciando-se

dos primeiros filósofos e opondo-se aos sofistas, afirmava que a verdade pode ser conhecida, mas primeiro devemos afastar as ilusões dos sentidos e as das palavras ou das opiniões e alcançar a verdade apenas pelo pensamento. Os sentidos nos dão as aparências das coisas e as palavras, meras opiniões sobre elas. Conhecer é passar da aparência à essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à idéia universal de cada um dos seres e de cada um dos valores da vida moral e política.

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Platão: O mito de Er: Conhecer é lembrar

Ainda Lembro

Composição: Marisa Monte Ainda lembro o que

passou Eu você em qualquer lugar Dizendo "aonde você for eu vou" E quando eu perguntei Ouvi você dizer Que eu era tudo o que você sempre quis Mesmo triste eu estava feliz E acabei acreditando em ilusões

Eu nem pensava em ter

que esquecer você

Agora vem você dizer

"amor, eu errei com você

e só assim pude entender,

que o grande mal que eu fiz

foi a mim mesmo"

Vem você dizer

"amor, eu não pude evitar"

E eu te dizendo

"Liga o som

e apaga a luz".

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Platão Platão distingue quatro formas ou graus de

conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus devem ser afastados da Filosofia – são conhecimentos ilusórios ou das aparências, como os dos prisioneiros da caverna – e somente os dois últimos devem ser considerados válidos. O raciocínio treina e exercita nosso pensamento, preparando-o para uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma intuição das idéias ou das essências que formam a realidade ou que constituem o Ser.

Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento sensível (crença e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição) afirmando que somente o segundo alcança o Ser e a verdade.

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Aristóteles Aristóteles distingue seis formas ou graus de

conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele, ao contrário de Platão, nosso conhecimento vai sendo formado e enriquecido por acumulação das informações trazidas por todos os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e o intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles.

A separação se dá entre os seis primeiros graus e o último, ou a intuição, que é puramente intelectual ou um ato do pensamento puro. Essa separação, porém, não significa que os outros graus ofereçam conhecimentos ilusórios ou falsos e sim que oferecem tipos de conhecimentos diferentes, que vão de um grau menor a um grau maior de verdade.

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Princípios gerais Com os filósofos gregos, estabeleceram-se alguns

princípios gerais do conhecimento verdadeiro:

● as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição intelectual;

● a distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual;

● o papel da linguagem no conhecimento;

● a diferença entre opinião e saber;

● a diferença entre aparência e essência;

● a definição dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não-contradição, terceiro excluído, causalidade), da forma do conhecimento verdadeiro (idéias, conceitos e juízos) e dos procedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição);

● a distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, sistematizados por Aristóteles em três ramos: teorético , prático e técnico.

18

O conhecimento na Perspectiva Medieval

A perspectiva cristã introduziu

algumas distinções que

romperam com a idéia grega de

uma participação direta e

harmoniosa entre o nosso

intelecto e a verdade, nosso ser e

o mundo. O cristianismo fez

distinção entre fé e razão,

verdades reveladas e verdades

racionais, matéria e espírito,

corpo e alma; afirmou que o erro

e a ilusão são parte da natureza

humana em decorrência do

caráter pervertido de nossa

vontade, após o pecado original.

Santo Tomás de

Aquino

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Humanos X Divindade

Em conseqüência, a Filosofia precisou enfrentar três problemas novos:

1. Como, sendo seres decaídos e pervertidos, podemos conhecer a verdade?

2. Sendo nossa natureza dupla (matéria e espírito), como nossa inteligência pode conhecer o que é diferente dela? Isto é, como seres corporais podem conhecer o incorporal (Deus) e como seres dotados de alma incorpórea podem conhecer o corpóreo (mundo)?

3. Os filósofos antigos consideravam que éramos entes participantes de todas as formas de realidade: por nosso corpo, participamos da Natureza; por nossa alma, participamos da Inteligência divina. O cristianismo, ao introduzir a noção de pecado original, introduziu a separação radical entre os humanos (pervertidos e finitos) e a divindade (perfeita e infinita). Com isso, fez surgir a pergunta: como o finito (humano) pode conhecer a verdade (infinita e divina)?

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Novas distinções

Verdades de Fé

Verdades da razão

Causa da verdade : a inteligência

divina

Causa do erro: a vontade humana

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Para impor as idéias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional.

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O cristianismo, particularmente com Santo Agostinho, trouxe a idéia de que cada ser humano é uma pessoa. Essa idéia vem do Direito Romano, que define a pessoa como um sujeito de direitos e de deveres. Se somos pessoas, somos responsáveis por nossos atos e pensamentos. Nossa pessoa é nossa consciência, que é nossa alma dotada de

vontade, imaginação, memória e inteligência.

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A vontade é livre e, aprisionada num corpo passional e fraco, pode mergulhar nossa alma na ilusão e no erro. Estar no erro ou na verdade dependerá, portanto, de nós mesmos e por isso precisamos saber se podemos ou não conhecer a verdade e em que condições tal conhecimento é possível.

Os primeiros filósofos cristãos e os medievais afirmavam que podemos conhecer a verdade, desde que a razão não contradiga a fé e se submeta a ela no tocante às verdades últimas e principais.