a relação entre os filósofos antigos e modernos

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Universidade do Estado do Amazonas Escola Normal Superior Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia História da Filosofia da Ciência na Educação em Ciências Prof. Raimundo Barradas / Prof. Evandro Ghedin Andre Wilson A. P. Salgado A relação entre os filósofos Heráclito, Parmênides, Platão e Aristóteles Ao estudarmos a origem do pensamento filosófico encontraremos dois nomes que deram inicio a todos este movimento, chamados de pré-socráticos, com relevância e um reforço a essa estrutura ocidental do pensar. Heráclito de Éfeso, considerado como um dos filósofos mais eminentes da sua época, com a formulação reforçada para expor o problema da unidade do ser diante da pluralidade e mutabilidade, segundo Ghedin (2003, pág. 94), onde nada é estático e tudo se move, o devir. Com um pensamento de fluidez, Heráclito afirma que “Ao mergulhar no rio pela segunda vez, nunca será no mesmo rio nem a mesma pessoa”. Esse movimento baseado na mudança tem reforço com a tese da pluralidade, uma harmonia de forças opostas, que podemos ver por Marilena Chauí (2000, p. 41) onde explica:

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Page 1: A relação entre os filósofos antigos e modernos

Universidade do Estado do AmazonasEscola Normal Superior

Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na AmazôniaHistória da Filosofia da Ciência na Educação em Ciências

Prof. Raimundo Barradas / Prof. Evandro GhedinAndre Wilson A. P. Salgado

A relação entre os filósofos Heráclito, Parmênides, Platão e Aristóteles

Ao estudarmos a origem do pensamento filosófico encontraremos dois nomes

que deram inicio a todos este movimento, chamados de pré-socráticos, com

relevância e um reforço a essa estrutura ocidental do pensar.

Heráclito de Éfeso, considerado como um dos filósofos mais eminentes da sua

época, com a formulação reforçada para expor o problema da unidade do ser

diante da pluralidade e mutabilidade, segundo Ghedin (2003, pág. 94), onde

nada é estático e tudo se move, o devir. Com um pensamento de fluidez,

Heráclito afirma que “Ao mergulhar no rio pela segunda vez, nunca será no

mesmo rio nem a mesma pessoa”. Esse movimento baseado na mudança tem

reforço com a tese da pluralidade, uma harmonia de forças opostas, que

podemos ver por Marilena Chauí (2000, p. 41) onde explica:

O movimento do mundo chama-se devir e o devir segue leis rigorosas

que o pensamento conhece. Essas leis são as que mostram que toda

mudança é passagem de um estado ao seu contrário: dia-noite, claro-

escuro, quente-frio, seco-úmido, novo-velho, pequeno-grande, bom-

mau, cheio-vazio, um-muitos, etc., e também no sentido inverso,

noite-dia, escuro-claro, frio-quente, muitos-um, etc. O devir é,

portanto, a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário

e essa passagem não é caótica, mas obedece a leis determinadas

pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo.

A pluralidade do ser conectado ao devir, a mudança que acontece com todas

as coisas, numa teoria universal onde o mundo é mutável relacionado aos

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nossos sentidos. O claro e escuro, a doença e a cura, são os opostos em

harmonia, onde é defendido que um depende do outro para sua existência e

equilíbrio, onde se discute o Ser e o não-ser.

Para Heráclito o ser existente é formado dos sentidos em constante mudança e

transformação, o que não se aplica ao não-ser, reforçando ainda mais a lógica

de que o ser é mais que o não-ser.

Heráclito faz toda essa reflexão de forma que chamamos de dialética. Baseado

na busca da verdade através do dialogo desenvolvendo o pensamento por

tese, antítese e síntese, cujo foco está no contrapor e contradizer do

pensamento para nascer um novo pensar. Por isso chamado de “pai da

dialética”.

Em contraponto temos outro filósofo, Parmênides de Eléia, nascido em Viena,

Itália, que defende a idéia de que o ser é uno, único. Essa busca da unidade

reforça seu discurso baseado na ontologia, estudo do ser enquanto ser,

percebendo que sai de um esforço dentro da cosmologia.

Em seu pensar ele formula seu compromisso com a via da verdade, onde o

homem pensante perceberá que é alheio a todo devir, vai além de qualquer

mudança, imutável, um todo, imóvel e perfeito.

Quando ele faz esse questionamento em contra posição a Heráclito, traz a

discussão, o pensar e o perceber. Colocando a teoria como ilusão, dentro do

sensorial e não da racionalidade. Mudança são apenas aparências, ilusão

criada pelos sentidos, conforme Ghedin (2003, p. 99) explana:

Em Parmênides o ser é único, imutável, único, infinito e imóvel e o

movimento existe apenas no mundo sensível., e a percepção levada

a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o mundo inteligível é verdadeiro.

Propõe uma identidade entre o ser e o pensar. As coisas que existem

fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o que eu não

conseguir pensar, não pode ser realidade. O pensamento é

expressão para a revelação do ser nos entes, nele é que a aparência

é revelada em detrimento da imutabilidade do ser.

Page 3: A relação entre os filósofos antigos e modernos

O que reforça que para Parmênides, se existissem dois opostos em harmonia,

como teoriza Heráclito, ele entraria em conflito e um limitaria a ação do outro e

não seria um ser uno. Ele pode ser pensado, ser. O que seria o oposto para

Heráclito, aqui passa a ser o não-ser não existente. O ser tem identidade, não

mudando, se mudar não será mais o ser e tornar-se-á o seu oposto. Sempre

ligado ao ato do pensamento.

Em um segundo momento do nosso estudo, deparamos com o pensamento de

Platão. Filósofo nascido em Atenas e autor de vários escritos. Fundador do que

seria primeira escola de educação superior. Foi inicio do pensamento que daria

base para filosofia natural e ciência. Numa conformidade dentro do

conhecimento humano.

Platão inicia como base de seus estudos, fundamentos filosóficos de Sócrates,

desenvolvendo seu discurso no estudo do conhecimento como ponto focal para

se chegar a verdade, de forma racional e essencialmente fora do contexto

físico, como podemos perceber quando Ghedin (2003, p. 237) expõe:

O conhecer exige, sempre, uma metodologia, pois é justamente o seu

rigor que constrói conhecimentos verdadeiros. Dentre as várias

metodologias que possibilitam a sistematização do conhecimento da

realidade o método fenomenológico aspira a apreender a essência

geral no fenômeno concreto, o que é essencial a todo o

conhecimento, pois nisto consiste sua estrutura geral.

Esse buscar com pensar, um conhecimento verdadeiro, está intimamente

ligado ao racionalizar sistêmico para essa busca. Para Platão, nem todos

teriam acesso a esse conhecimento, esse pensar, mesmo o ser sendo único,

pois para se chegar a verdade através desse pensar o homem deixa de pensar

as coisas como coisas e passa a pensar o além das coisas. Buscando dentro

de si o pensar das idéias.

O homem começa a desenvolver a épisthéme, fazer o conhecimento

verdadeiro no mundo das idéias. Platão desenvolve a teoria da forma. O

mundo concreto é copia de um mundo perfeito. O foco do filosofo, mesmo

discutindo forma, era o homem, dentro do conhecimento ontológico. O intuito

Page 4: A relação entre os filósofos antigos e modernos

era discutir temas como justiça, o bem e o mal, trabalhando no meio da tensão

de Heráclito e Parmênides.

Essa tensão antes mesmo já estimulará a Sócrates, mestre de Platão. O que o

levava sempre a buscar a verdade partindo do pressuposto de que somos

ignorantes para iniciarmos o pensamento, a essência. Marilena Chauí (2000, p.

44) descreve bem como o filosofo desenvolvia sua busca:

A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que

procurava Sócrates? Procurava a definição daquilo que uma coisa,

uma idéia, um valor é verdadeiramente. Procurava a essência

verdadeira da coisa, da idéia, do valor. Procurava o conceito e não a

mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das idéias e dos

valores.

Essa busca partindo do ponto como começo não era tão aplicada por Platão.

Considerava sim, essencial a busca do conhecimento, mas não da ignorância,

sim de que já tínhamos este conhecimento intrínseco, na alma.

Nesse ponto Platão defende a questão da divisão do homem. O corpo e a

alma. O corpo sofre constante mudança, mantendo-se em movimento e fluidez.

Já a alma, não. Imutável. Um mundo acessível pelos sentidos e outro

metafísico com acesso pelo razão.

Em outro momento temos Aristóteles, filosofo nascido em Estagira, aluno de

Platão, que discorda de seu mestre e defende que temos apenas este mundo e

o que está alem de nossas experiências através dos sentidos não tem valor

algum ou nada são.

Ao mesmo tempo em que Aristóteles não afirma a divisão do mundo, ele não

se desfaz do uso da metafísica para justificar alguns pensamentos. Ele se

diferencia essencialmente de Platão ao usar dados para justificar, trabalhando

fortemente dentro do empirismo e da fenomenologia.

Outro ponto de Aristóteles em contraponto a Platão está na diferenciação entre

ato e potencia. Todo homem tem potencialidade a desenvolver algo. No filme

Agonia e Extase, em uma cena onde Michelangelo é interpelado de o porquê

Page 5: A relação entre os filósofos antigos e modernos

olha tanto para um bloco de mármore, ele responde “Aqui vejo Moisés

sentado”. Quando o artista reforça esse discurso ele potencializa que o

mármore é potencia para ser uma escultura, mas só será ato quando a

escultura existir e assim formar. Como uma semente de feijão que é uma

árvore em potencia, mas só será ato quando arvore e gerar sementes.

Outro exemplo desta teoria de Aristóteles é com relação a visão. Um cego e

um homem de olhos fechados. Um não possui o sentido e o segundo apenas

não faz uso da mesma.

O que percebemos ao analisarmos esses quatro filósofos, dois pré-socráticos,

assim por dizer, e outros dois próximos ao filosofo Sócrates é, que ao

desenvolver seus pensamentos eles criaram uma linha que posteriormente

seria, e é, pensamento dos filósofos da idade media e modernos.

Quando Heráclito e Parmênides desenvolvem suas teorias distintas, as

mesmas servem como pensamento para formulação do pensamento socrático.

Dando base para nascerem dois novos rumos do pensamento: o idealismo e o

materialismo. Caminhos que percorreram o mito, a razão, o empirismo e a

ciência.

Page 6: A relação entre os filósofos antigos e modernos

A Relação entre os filósofos modernos

Descartes, Hegel, Kant, Locke, Hume, Espinoza e Leibniz

Iniciar esta parte do texto sem fazer uma reflexão quanto ao termo “moderno”

se faz necessário. Em que contexto se encaixa de fato o termo para os nossos

filósofos em questão? Historiadores costumam trabalhar a filosofia “moderna” o

pensamento desenvolvido no século XVII, baseados pelo Carteasinismo, pela

idéia de síntese da observação, estudos da origem e pela ciência da Natureza,

Descartes, Bacon, Hobbes e Galileu respectivamente. (Chauí, 2000, p. 56).

Porém temos registros de que alguns filósofos teriam já materiais bem antes do

momento em que se designa para uso do termo “moderno” para filosofia. Cria-

se um aprisionamento em contextos que por vez podem anular grandes obras

que por ventura foram desenvolvidas em tempos que escapam a vontade

humana de organizar cronologicamente ou associar a aspectos históricos.

Marilena Chauí (2000, p. 56 ) consegue pontuar bem esta dependência:

...a cronologia pode ser um critério ilusório, pois o filósofo Bacon

publica seus Ensaios em 1597, enquanto o filósofo Leibniz, um dos

expoentes da filosofia moderna, publica a Monadologia e os

Princípios da Natureza e da Graça em 1714, de sorte que obras

essenciais da modernidade surgem antes e depois do século XVII.

Muitos historiadores preferem localizar a filosofia moderna no período

designado como Século de Ferro, situado entre 1550 e 1660,

tomando como referência as grandes transformações sociais,

políticas e econômicas trazidas pela implantação do capitalismo,

enquanto outros consideram decisivo o período entre 1618 e 1648,

isto é, a Guerra dos Trinta Anos, que delineia a paisagem política e

cultural da Europa moderna.

Page 7: A relação entre os filósofos antigos e modernos

Partindo deste principio de não nos focarmos tanto em questões, como limitar

um contexto apenas por datas ou fatos em si, podemos começar nosso estudo

baseados na estrutura proposta por Ghedin, que trás ordenado por: Descartes,

Espinosa, Leibniz, Locke, Hume, Kant e Hegel. Dando foco no pensamento de

cada um.

René Descartes viveu no século XVII, filósofo, físico e matemático francês. Em

sua caminhada, também era chamado de Renatus Cartesius, nome importante

para revolução científica.

Seu pensamento revolucionário, para uma época feudal, onde vivia, trouxe o

que para muitos autores chama de racionalismo da idade moderna, sob a

influência direta da igreja na sociedade. Viajou muito e viveu durante a guerra

dos trinta anos, percebendo as diferenças de crenças e costumes que se

tinham entre cada povo.

Na sua reflexão ele nos apresenta, em suas obras Discurso sobre o método e

Meditações, um método, chamado depois de cartesiano, baseado no ceticismo

metodológico. O nome nada tem ligação com o conceito de uma atitude cética.

Para ele deve-se haver o questionamento, a dúvida. Ghedin (2003, p. 269)

reforça bem isso quando nos trás que:

O fato que leva Descartes a duvidar de tudo se relaciona com a

necessidade que tem de estabelecer a firmeza do conhecimento

cientifico, por isso afirma que precisa começar tudo novamente desde

os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de

constante nas ciências.

Através da duvida o homem se permite a pensar e trabalhar com “só se pode

dizer que algo existe se puder ser provado”. Apresentando a existência do

próprio EU e de Deus. Isso vai de encontro com o pensamento grego e

escolástico que acreditavam que as coisas existem porque precisam existir.

Seu método divide-se em quatro partes: verificar, analisar, sintetizar e

enumerar. Em um primeiro momento tem-se um contato de verificação se há

fatos reais e indubitáveis no objeto de estudo, divide-se o objeto em unidades

mais simples para se estudá-la, agrupa-se as unidades estudadas para torná-la

um todo como em seu inicio e por fim enumera todas as conclusões e meios

Page 8: A relação entre os filósofos antigos e modernos

utilizados, sempre mantendo o pensamento ordenado. Mesmo com a

aplicabilidade do pensamento racional, Descartes se apropria do discurso

sobre a idéia como Platão. Visto por Gehdin (2003, p. 275) quando ele nos

apresenta:

...é possível dizer que os sentidos nos permitem conhecer a realidade

concreta e sua materialidade. A idéia vem da própria realidade e não

apenas da imaginação. A idéia do objeto é idêntica ao próprio objeto

e esta posição estabelece a objetividade do conhecimento. O objeto

para chegar a idéia passa pelos sentidos e neles se estabelece a

relação do sujeito com o objeto. Só que Descartes privilegia o sujeito

que conhece em detrimento do objeto cognoscitivo.

Ainda na corrente racionalista temos Bento de Espinosa, também Benedito

Espinosa, que de família judaica criticou diretamente a igreja, criando o

criticismo bíblico moderno. Ele defende que Deus e Natureza são a mesma

coisa, a mesma realidade. Para ele os dois são entidades infinitas e que para o

homem só havia co conhecimento do pensamento e da matéria sobre os dois.

Para Espinosa o Ser está inserido num determinismo, o comportamento

humano é totalmente determinado, e o conceito de liberdade, para ele, é a

nossa capacidade de saber que somos, o que somos, porque agimos para o

que somos e como fazemos isso. Reforça com o discurso de que a razão

domina por completo o Ser, mas que pode ser ultrapassada por uma emoção

mais forte. Essa emoção seria a ativa, únicas compreendidas racionalmente.

Uma segunda seria a passiva, introduzido em muitos, tornando o homem como

fortemente ligado ao sensorial apenas sem pensar sua emoção.

Marilena Chauí (2003, p. 449) nos mostra que para Espinosa, somos seres

naturalmente passionais. Sofremos a ação exterior, somos passivos ao meio,

deixamo-nos dominar e conduzir por algo fora ao nosso corpo e espírito.

Vivemos rodeados de seres mais fortes que nós. Por outro lado o Ser é mais

livre quando na companhia de outros do que na solidão.

Importante citar que o pensamento de Espinosa está focado dentro do

racionalismo, porém não condiciona o ponto focal na idéia como pensava

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Descartes, mas na razão em si. Podemos ter esse reforço de discurso dado

por Ghedin (2003, p. 280 ):

Qualquer processo de conhecimento que ignore a objetividade da

realidade produz uma “verdade” duvidosa. A certeza do conhecimento

verdadeiro não está no intelecto do sujeito que conhece, mas na

essência objetiva do próprio objeto. Isto rompe, radicalmente, com

proposições de Descartes e permite que a realidade fale, pela razão,

não pela idéia que se tem dela, mas por aquilo que ela própria

demonstra ser.

Com o estudo de racionalismo por parte de Descartes e Espinosa, com suas

características de estudo, encontramos o filosofo e cientista Alemão, Leibniz,

um estudioso de filosofia que desenvolveu o termo função que ajudou a, junto

com Newton, desenvolver o cálculo moderno, como a integral.

Leibniz foi filosofo de formação, teve a oportunidade de conhecer Espinosa, e

mesmo de ter sido acusado de se apossar de alguns pensamentos, ele não se

identificava devido ao fato do discurso de Espinosa ser oposto do conteúdo

cristão. O que não isola em algum pensamento mitológico, mas como pensador

com alguma postura atribuída.

Seu trabalho está formatado em conciliar pensamento de Descartes com de

Locke. Fazendo correções em alguns discursos. Por ter crescido em família

com acesso a estudos de filosofia, Leibniz pode ler muito sobre filosofia grega

e escolástica. O que reforça seu entendimento para reformular alguns

pensamentos. Isso fica mais claro ao lermos trecho deste fato na obra de

Ghedin (2003, p.282):

A Proposta de Leibniz é uma tentativa de conciliar o processo de

conhecimento posto por descartes e a proposta de Locke. O que está

presente nesta discussão tem como fundamento o filosofar grego de

Platão e Aristóteles, que já tratavam da questão do inatismo ou não

das idéias.

Esse interesse em unir numa nova proposta de identidade totalmente

reformulada pode ser percebida quando Leibniz, reformula uma postura de

Locke (Ghedin, 2003, p. 282)

Page 10: A relação entre os filósofos antigos e modernos

Para Locke, não há nada no intelecto ou na alma que não seja

derivado dos sentidos. Leibniz faz a seguinte correção: não há nada

no intelecto que não seja derivado dos sentidos, à exceção do próprio

intelecto.

Isto demonstra que para Leibniz a alma é inata de si mesma, ou seja, não há

experiência sem a presença do intelecto no ser, pois é nele que se processam

todas as experiências com o mundo.

Interessante perceber que para Leibniz o Ser advém com base no inatismo. Ou

seja, para ele o ser já nasce com seus pontos prontos. Mesmo valorizando a

questão do estudo do Ser pronto, para se chegar ao estudo da alma, para

Leibniz se faz necessário a pesquisa, o estudo., o que nos leva a base

cartesiana.

Desconsiderando todo o processo da valorização do Inatismo, temos John

Locke, que rejeita tal pensamento e reforça que nossas idéias têm origem

naquilo que nossos sentidos captam, o que o faz o protagonista do empirismo

britânico, com teorias como a de que as pessoas nascem como uma folha em

branco e aprendem com as experiências, pela tentativa e erro. Este ultimo

ponto pode ser considerado como inicio do Behaviorismo.

Para Locke a busca desses conhecimentos através das experiências deveria

acontecer, saindo do campo das deduções. Para ele as observações das

experiências com o mundo eram fundamentais. Ele descarta qualquer

possibilidade de uso de mitologia ou fé para explicar. O que fica bem claro que

para se obter as experiências para entender algo não se coloca ao lado de

deduzir algo ou criar um espaço ou tempo para justificar um pensamento.

Esse pensamento empirista de Locke esta baseado nos pensamentos de

Aristóteles quando para o pensador “Todos os homens tem, por natureza, o

desejo de conhecer”, ele afirma que o homem é um ser acima dos outros seres

sensíveis, tendo entendimento com os olhos que nos faz ver e perceber todas

as coisas, partindo desta sensação até chegar às idéias.

Ainda no pensamento empirista temos Hume, filosofo, e o mais radical dos

pensadores dessa corrente, opôs-se a Descartes e a todo pensamento que

Page 11: A relação entre os filósofos antigos e modernos

colocasse o homem em espírito dentro de um ponto de vista teológico, sendo

ceticista a ponto de esta negação ser mais sentida que no discurso de Locke.

Hume começa a discutir dentro do empirismo a aplicabilidade do estudo dos

fenômenos mentais que durante muito tempo, seus pensamentos só foram

encaradas como destrutivos e do depois que autores iniciaram um processo de

divulgação positiva de seus trabalhos.

Uma descrição do pensamento de Hume pode ser entendida de forma simples

através desta passagem de Marilena Chauí (2000, p. 155) :

Hume, por exemplo, afirma que todo conhecimento é percepção e

que existem dois tipos de percepção: as impressões (sensações,

emoções e paixões) e as idéias (imagens das impressões)

Essa posição de Hume reforça a sua conceituação a respeito do estudo da

metafísica (advêm de Platão e passando por Leibniz), onde nada fora do Ser,

independente da nossa existência, simples conceituações para as coisas que

surgem pelo habito mental, uma possível razão, associada a idéias à

sensações freqüentes e regulares.

Hume inicia o processo de descaracterização do pensamento clássico sobre a

metafísica. Ele dá inicio a um novo pensamento que podemos analisar através

desta passagem de Marilena Chauí (2000, p. 293):

A metafísica – antiga, medieval e clássica ou moderna – era

sustentada por três princípios: identidade, não-contradição e razão

suficiente ou causalidade. Os dois primeiros serviam de garantia para

a idéia de substância ou essência; o terceiro servia de garantia para

explicar a origem e a finalidade das coisas, bem como as relações

entre os seres.

Hume, partindo da teoria do conhecimento, mostrou que o sujeito do

conhecimento opera associando sensações, percepções e

impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na

memória. As idéias nada mais são do que hábitos mentais de

associação de impressões semelhantes ou de impressões

sucessivas.

Page 12: A relação entre os filósofos antigos e modernos

O pensamento clássico torna-se impossível com a discussão de Hume sobre o

tema e ganha mais propriedade com a contribuição de Kant ao processo. Ele

reforça trazendo a junção do racionalismo, do empirismo e da ciência.

Kant marca seu discurso com o emprego de palavras e conceitos. A primeira

delas é a Critica, no sentido de que há a possibilidade do conhecimento

verdadeiro através da analise das condições. Quando o próprio filosofo fala em

sua obra “Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o

ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que

se podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o

cepticismo, que são sobretudo perigosos para as escolas e dificilmente se

propagam no público”1

Outros dois termos muito empregados por Kant estão ligados ao seu discurso

denominado pelos teóricos como idealismo transcendental. O uso de a priori e

a posterior. Marilena Chauí Marilena Chauí (2000, p. 96) explica de forma

simples o sentido dos termos para Kant:

...a estrutura da razão é a priori (vem antes da experiência e não

depende dela).

Porém, os conteúdos que a razão conhece e nos quais ela pensa,

esses sim, dependem da experiência. Sem ela, a razão seria sempre

vazia, inoperante, nada conhecendo. Assim, a experiência fornece a

matéria (os conteúdos) do conhecimento para a razão e esta, por sua

vez, fornece a forma (universal e necessária) do conhecimento. A

matéria do conhecimento, por ser fornecida pela experiência, vem

depois desta e por isso é, no dizer de Kant, a posteriori.

Suas criticas estão ligadas diretamente a nossa capacidade limitada de pensar

e como estamos ligados a questões de menoridade. Para Kant, o homem é

responsável por sua saída de um mundo isolado, definindo que o não uso da

capacidade de pensar e ter o entendimento leva a este estado.

1 (KANT, I. Crítica da razão pura. 4ª ed. Prefácio à tradução portuguesa, introdução e notas: Alexandre Fradique

MOURUJÃO. Tradução: Manuela Pinto dos SANTOS e Alexandre Fradique MOURUJÃO. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 1997, p. 30.)

Page 13: A relação entre os filósofos antigos e modernos

Kant quando reforça o discurso da criticidade com ênfase no uso da razão

proveniente do contato sensorial ativo, acaba questionando os limites impostos

do conhecer. Ele acaba por chamar de dogmas pensamentos de filósofos

anteriores a ele, inclusive Descartes.

Esse pensamento é o ponto de partida para Kant colocar a filosofia como teoria

do conhecimento através da analise. Ele reforça que a ciência se apropria dos

juízos, ora analítico ora sintético. Ghedin (2003, p. 294) apresenta de forma

interessante uma visão de como Kant desenvolve-se a respeito deste discurso:

Diz que a ciência se compõe de “juízos” e fundamenta toda sua

Teoria do Conhecimento em tais juízos que são analíticos ou

sintéticos. Os juízos analíticos estão contidos no conceito do sujeito;

os juízos sintéticos são aqueles nos quais o conceito do predicado

não está contido no conceito do sujeito.

O que Ghedin (2003, p. 294) nos trás é que o juízo analítico esta diretamente

ligado ao principio da certeza, dois exemplos disso é apresentado por Marilena

Chauí dado por Marilena Chauí (2000, p. 295) “Um triangulo possui três lados”

é um exemplo de juízo Analítico e “Sócrates é filosofo” exemplo de juízo

Sintético. O segundo percebe-se a força da experiência psicológica do sujeito.

A idéia de constituir um estado crítico, para Kant, tinha o objetivo de discutir os

limites intelectuais do Ser, contribuindo muito para estudos da metafísica

(dialética), ética, razão e estética, o que serviria com muito valor para os estudo

de Hegel.

Hegel, filosofo da totalidade, do Ser absoluto em seu saber, considerado como

ponto alto do Idealismo alemão, onde seu pensamento seria base para o

discurso do Materialismo de Marx, foi considerado por muito tempo um

pensador com estrutura de difícil entendimento. Há uma historia de que

pensadores viram como uma tentativa de entendimento quando fora publicado

a obra Fenomenologia do Espírito em Francês. Pois antes disso, eles não

haviam entendido. Uma forma bem humorada de criticar essa complexidade do

pensamento de Hegel.

Page 14: A relação entre os filósofos antigos e modernos

A obra reforça o que identifica Hegel como um estudioso do fenômeno. Kant já

nos trazia o estudo do fenômeno como aquilo que se apresenta do mundo

externo para o sujeito, por meio cognitivo da consciência. Para Hegel, segundo

Marilena Chauí (2000, p.302), ampliou esse conceito de fenômeno, afirmando

que tudo aquilo que se parece, só poderá aparecer para uma consciência e

esta consciência apresenta-se a si mesma no conhecimento de si própria,

sendo ela própria um fenômeno.

Um outro ponto apresentado por Hegel, que contribui muito para a discussão

do pensamento é a questão da objetividade quanto a discussão da relação do

empirismo e o idealismo critico de Kant. Segundo Ghedin (2000, p.296), Hegel

elogia o empirismo enquanto fundamento para aquilo que é verdade deve estar

na realidade e conhecer-se por meio da sensorial, da percepção, mas critica a

redução da abstração e o generalizar a identidade formal

Hegel colabora com a estudo da historia da filosofia como fator importante para

entendimento do produto em si. Ghedin (2000, p.296) reforça isso quando nos

leva a compreender essa importância:

O pensamento e a filosofia como seu produto é sempre resultado de

um processo histórico que o fez surgir; o processo desencadeado

pelo conhecimento não é, de forma alguma, diferente. Por isso, Hegel

afirma que tudo se passou no mundo de acordo com a razão...e essa

historia é o desenvolvimento da razão pensante; seu vir a ser deve

ter-se passado de acordo com a razão. Assim a historia humana é a

historia da razão querendo compreender a si mesma.

Essa manifestação do estudo da historia como base para auxiliar o estudo da

razão e da filosofia, é apresentada para outros filósofos que estudariam

pontuados neste conceito apresentado por Hegel.

Page 15: A relação entre os filósofos antigos e modernos

Conclusão

Percebemos ao fim deste estudo tem-se um ponto bem comum para os dois

momentos da filosofia. O conhecimento. Para os filósofos antigos ele está bem

presente, não que para os chamados modernos não está, mas que para a

filosofia moderna o conhecimento é tratado de uma outra forma, colocando o

estudo a frente da ontologia e reforçando a importância para o

desenvolvimento da ciência e para filosofia.

Outro ponto interessante é o fator de não percebemos nos filósofos antigos a

questão da religião como instituição constituída. Trabalhasse o mito e o estudo

das divindades como Seres, com uma amplitude mais fora da postura humana

em sai. Quando passamos a estudar a filosofia moderna percebemos a

participação da religião, já configurada como instituição através do cristianismo.

Essa fator é importante porque a maioria dos filósofos modernos passam a

debater sobre e claro, os efeitos.

Um dos efeitos bem diretos na filosofia moderna, dado pelo cristianismo,

aparece no momento em que os dogmas são debatidos e conceitos antes tidos

como verdades começam a ser discutidas. Isso faz com que aqueles que

defendem a idéia da representatividade política do cristianismo para época

criem novos obstáculos para o desenvolvimento da reflexão.

Quanto a contribuição fica claro que há muito conteúdo e novos conceitos

existentes, mas sempre baseados no principio dos filósofos antigos como base,

uma reestruturação do pensamento humano, dando inicio a novas correntes e

formas de se pensar quanto sociedade e individuo. O nascer de ciências que

se desenvolveriam para colaborar com a filosofia que se discute no hoje.