os meus apontamentos de economia portuguesa e europeia

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1 Capítulo I A industrialização Europeia e o atraso económico português A) Indicadores de Nível de Desenvolvimento Económico e Social Para a caracterização do nível médio de vida vamos usar uma série de indicadores, tais como: Indicadores físicos: - indicadores físicos de meios: dizem respeito os meios que cada um destes países tem ao seu dispor para satisfazer uma determinada necessidade. Não são fiáveis, pois não nos informam sobre a eficiência desses meios. Há apenas uma quantificação. Exemplo: número de professores per capita, números de médicos per capita. - indicadores físicos de resultados: são os que indicam os resultados obtidos numa sociedade em consequência dos meios disponíveis. São melhores que os indicadores de meios, pois mostram-nos a eficiência. Exemplo: taxa de analfabetismo e esperança de vida média à nascença; taxa de mortalidade infantil. Indicador compósito: surgem devido à multiplicidade de factores que condicionam o nível de vidas das pessoas. Aqui se destaca o Índice de desenvolvimento humano (IDH). Neste indicador usamos ponderadores para diversos indicadores, sendo estes subjectivos. Aqui são considerados três vertentes: - Educacional; - Longevidade; - Monetário; Indicadores monetários: são vários os indicadores monetários possíveis. No entanto, nós iremos usar o PIBpc – Paridade de Poder de compra. PIB per-capita é o indicador quantitativo mais apropriado para representar o nível de produção e bem-estar das economias uma vez que tem em conta as diferenças de dimensão existentes entre as economias. Temos que destacar a necessidade de usarmos a Paridade de Poder de Compra (PPC) em vez de simplesmente o uso das taxas de câmbio correntes 1 . Isso porque é necessário ter em conta os diferentes níveis gerais de preço dos vários países (destacando as diferenças de nível de preços no sector dos bens não transaccionáveis entre países). Nota bem: Bens transaccionáveis (1º e sector): susceptíveis de serem transaccionados internacionalmente, que tende a igualizar os preços nos diferentes países – caso não existissem pautas aduaneiras e politicas fiscais diferentes. 1 Ao considerar taxas de câmbio correntes, o $1 dólar não terá o mesmo poder de compra de país para país. Será maior nos países com nível de preços mais baixo e será menor nos países com níveis de preços mais elevados. Podemos estar a favorecer os Países Desenvolvidos (PD) e prejudicar os Países em Via de Desenvolvimento (PVD). É subavaliado o poder de compra dos PVD e sobreavaliado o poder de compra dos PD.

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Page 1: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

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Capítulo I A industrialização Europeia e o atraso económico português

A) Indicadores de Nível de Desenvolvimento Económico e Social

Para a caracterização do nível médio de vida vamos usar uma série de indicadores, tais como:

Indicadores físicos:

- indicadores físicos de meios: dizem respeito os meios que cada um destes países tem ao seu dispor para satisfazer uma determinada necessidade. Não são fiáveis, pois não nos informam sobre a eficiência desses meios. Há apenas uma quantificação. Exemplo: número de professores per capita, números de médicos per capita.

- indicadores físicos de resultados: são os que indicam os resultados obtidos numa

sociedade em consequência dos meios disponíveis. São melhores que os indicadores de meios, pois mostram-nos a eficiência. Exemplo: taxa de analfabetismo e esperança de vida média à nascença; taxa de mortalidade infantil.

Indicador compósito: surgem devido à multiplicidade de factores que condicionam o nível de vidas das pessoas. Aqui se destaca o Índice de desenvolvimento humano (IDH). Neste indicador usamos ponderadores para diversos indicadores, sendo estes subjectivos. Aqui são considerados três vertentes: - Educacional; - Longevidade; - Monetário;

Indicadores monetários: são vários os indicadores monetários possíveis. No entanto,

nós iremos usar o PIBpc – Paridade de Poder de compra. PIB per-capita é o indicador quantitativo mais apropriado para representar o nível de produção e bem-estar das economias uma vez que tem em conta as diferenças de dimensão existentes entre as economias. Temos que destacar a necessidade de usarmos a Paridade de Poder de Compra (PPC) em vez de simplesmente o uso das taxas de câmbio correntes1. Isso porque é necessário ter em conta os diferentes níveis gerais de preço dos vários países (destacando as diferenças de nível de preços no sector dos bens não transaccionáveis entre países). Nota bem: Bens transaccionáveis (1º e 2º sector): susceptíveis de serem transaccionados internacionalmente, que tende a igualizar os preços nos diferentes países – caso não existissem pautas aduaneiras e politicas fiscais diferentes.

1 Ao considerar taxas de câmbio correntes, o $1 dólar não terá o mesmo poder de compra de país para país. Será maior nos países com nível de preços mais baixo e será menor nos países com níveis de preços mais elevados. Podemos estar a favorecer os Países Desenvolvidos (PD) e prejudicar os Países em Via de Desenvolvimento (PVD). É subavaliado o poder de compra dos PVD e sobreavaliado o poder de compra dos PD.

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Bens não transaccionáveis (3º sector): não são susceptíveis de serem transaccionados internacionalmente. Há uma grande diferença na produtividade entre os países mais e menos desenvolvidos, principalmente nos bens transaccionáveis. Pelo contrário, a produtividade é relativamente parecida nos bens não transaccionáveis. Nos países desenvolvidos, a produtividade dos bens transaccionáveis é mais elevada logo os seus salários serão mais elevados. Tal irá se refletir no sector dos bens não transaccionáveis. Nos países menos desenvolvidos, a produtividade dos bens transaccionáveis é menor, logo os seus salários serão menores. Isso irá afetar o sector dos bens não transaccionáveis.

Conclusão: De acordo com os indicadores que estudamos, Portugal é um país com IDH muito elevado, embora em patamares mais baixos.

B) As fases de Maddison Em 1995, Angus Maddison identifica cinco fases no desenvolvimento da economia mundial a partir de 1820. Estas fases foram identificadas na base da observação e análise de características observáveis e mensuráveis, correspondendo a alterações significativas no ritmo de evolução da maioria das economias. Pode-se destacar que estas fases têm uma duração superior à do ciclo económico. A passagem de uma fase para outra foi, por via de regra, determinada por acidentes históricos ou choques significativos no sistema económico As fases são: - Fase I (1820 a 1870) e Fase II (1870 a 1913): encontramos um conjunto significativo de países envolvidos no processo de crescimento económico moderno desencadeado com a Revolução industrial na Europa do século XIX.

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A taxa de crescimento do produto per capita foi de 2% em termos médios – um período e aceleração das economias de um modo geral. As economias encontravam-se mais abertas, a nível de capital, matérias- primas. Este crescimento do comércio internacional foi ajudado por existir um regime de câmbios fixos, pois o padrão-ouro estava em vigor, eliminando o risco cambial.

- Fase III (1913 a 1950): Há uma desaceleração clara do crescimento das economias dos “principais países industrializados ou desenvolvidos” da actualidade nesta fase e, ao mesmo tempo, uma forte flutuação do nível de actividade económica com um número muito elevado de anos de crescimento negativo para o conjunto dos 16 países. Esta foi a fase de mais baixo crescimento económico e também a de maior instabilidade no crescimento económico. Os países em termos médios só cresceram 1% ao ano. As duas Guerras Mundiais provocaram: - Grandes destruições nos stocks de capital físico e humano da maioria dos países do norte e centro da Europa; - O aparecimento de desequilíbrios macroeconómicos, nomeadamente inflação (exemplo: hiperinflação na Alemanha) e elevados défices públicos (monetização dos défices públicos), com as consequentes limitações para o crescimento económico que estes desequilíbrios introduzem; - Maior fechamento ao exterior por parte das várias economias industrializadas ou desenvolvido (aumento das pautas aduaneiras); - O sistema de pagamentos internacionais, que se baseou em grande parte do período nos câmbios flutuantes (em contraste com o padrão-ouro da fase anterior), não foi também favorável ao crescimento dos fluxos de capitais e mercadorias, pelo risco cambial que os câmbios flutuantes introduzem;

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- As políticas macroeconómicas estão mais concentradas na inflação e não tanto com o desemprego e crescimento; A estes problemas devemos ainda juntar a grave crise económica de 1929 (com origem nos EUA, mas que rapidamente se transmitiu aos países do norte de centro da Europa devido às fortes relações comerciais e de investimento).

- Fase IV (1950 a 1973): Esta é marcada por um período de crescimento bastante mais rápido e estável (no geral) do que a fase III. Os países chegam a uma taxa média de cerca de 4% ao ano. Os factores que vão ajudar a essa expansão são: - Maior abertura das economias (diminuição dos direitos aduaneiros) e criação de espaços de comércio livre, podendo destacar:

- Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1957 formado por seis países: França, Alemanha, Itália, e Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Holanda);

- European Free Trade Association (EFTA), em 1959 que é uma zona de comércio livre.

Formada pelo Reino Unido, países nórdicos, Áustria, Suíça e Portugal; - O acordo GATT (General Agreement on Tarifs and Trade) que deu origem à

Organização Mundial do Comércio (a partir dos anos 90); - O regime de câmbios fixos, com base nos acordos de Bretton Woods (padrão dólar-ouro). Isto é, as moedas dos países aderentes ficam apegadas ao dólar e ao ouro. Este sistema cria oportunidades de crescimento. Temos um aumento dos fluxos de capitais entre os vários países, principalmente o investimento directo (os EUA investem no Japão e na Europa). Em Bretton Woods, foram também criadas duas instituições: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, este último vocacionado para ajudar os países integrados no padrão

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dólar – ouro que tivessem, em determinado momento, dificuldades de balança de pagamentos; - Dá-se prioridade às políticas de emprego, fazendo com que a inflação aumente. Temos políticas macroeconómicas do tipo keynesianas; - Estabilidade do preço das principais matérias; No entanto, em 1973 dá-se o choque petrolífero, uma subida muito acentuada do valor do petróleo nos mercados internacionais que irá influenciar a economia. Com esta subida, os países tendem a desvalorizar a moeda, e tendo em conta que se encontravam em câmbios fixos, muito tiveram que abandonar os acordos estabelecidos.

- Fase V (1973 até os nosso dias): esta etapa é marcada pelo choque petrolífero. Caracteriza-se esta fase por um crescimento mais irregular e mais lento, cerca de 2% ao ano. Isso deve-se ao forte aumento do preço do petróleo, a partir dos finais de 1973, e dos problemas resultantes do desaparecimento da ordem em matéria de sistema de pagamentos internacionais estabelecida nos acordos de Bretton Woods. Temos um segundo choque em 1979-81 que levaram a pressões inflacionárias de muitas matérias-primas chaves.

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A evolução de Portugal nas fases de Maddison:

Fases de tipologia de Maddison

Fase I da tipologia de Maddison (1830-1913)2

- Forte divergência real: produto per capita português passa de um valor próximo da média dos 10 países de referência para cerca de 37%; - Incapacidade de acompanhar de forma dinâmica o processo de industrialização europeu;

Fase II da tipologia de Maddison (1913-1950)3

- Convergência nula: produto per capita português mantem-se em torno dos 37% da média dos 10 países de referência, considerando os anos de ponta; - Mais por força das dificuldades destes países que de uma alteração significativa da estrutura e dinâmica interna da economia portuguesa;

Fase III da tipologia de Maddison (1950-1973)4

A economia portuguesa começa (finalmente) a recuperar do atraso em matéria de produto per capita. O processo de recuperação é bastante lento até 1960. (1 pp no período), associado à industrialização introvertida – fraca convergência real;

É bastante mais rápido a partir dessa altura - período de forte convergência real;

PIB per capita português relativamente ao de 10 países do norte e centro da Europa (fase da

industrialização extrovertida) – dados da OCDE

Anos (%)

1945

Ind

ust

rial

izaç

ão

intr

ove

rtid

a

1950 37,6

1955 37,7

1960 38,6

1961 38,5

Ind

ust

rial

izaç

ão

extr

ove

rtid

a 1962 39,9

1963 40,7

1964 41,1

1965 42,8

1966 43,6

2 Nesta fase vamos ter: o período inicial da Revolução Industrial (do qual Portugal não pertenceu), e

ainda, o Fontismo ou Período de Regeneração (1851 – 1900); 3 Nesta fase vamos ter: parte da Primeira República (1910-1926), a fase ruralista do Estado Novo (1926-

1945), e ainda, um parte da fase introvertida (1945-1960) do Estado Novo. 4 Nesta fase vamos ter: uma parte da fase introvertida (1945-1960), e ainda, a fase extrovertida do

Estado Novo (1960-1974).

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1967 45,5

1968 47,8

1969 46,7

1970 49,2

1971 51,5

1972 53,8

1973 57,3

1974

C) As estatísticas do PIBpc

- Bairoch (1976): a mais antiga e conhecida, fornece estimativas de base decenal para o produto nacional bruto por habitante dos diferentes países europeus, em dólares e aos preços dos E.U.A. de 1960, desde 1830 e até 19732. No que diz respeito a Portugal, e até 1950, a série de Bairoch foi construída a partir de 12 indicadores indirectos do nível de produto por habitante português em 1889-1901 e 1928. Os valores assim obtidos foram, em seguida, estendidos no tempo utilizando a evolução da população e do volume de produto nacional bruto total, tendo como base, neste último caso, estimativas pessoais do autor sobre o crescimento em volume das produções agrícola e industrial portuguesas, antes e depois daquelas duas datas. - Numava (1989): fornece estimativas de base anual sobre o crescimento em volume do produto interno bruto por habitante português, em escudos, desde 1833 e até 1985. Os dados entre 1833-1947 foram obtidos a partir de indicadores indirectos (exportações, receitas fiscais e despesas públicas). Já os de 1947-1985 são estatísticas oficiais; - Lains (1995): fornece estimativa em volume do PIBpc, de base anula, no período de 1851-1913. Foram estabelecidas a partir de estimativas pessoais do autor sobre a evolução durante este período das produções agrícola e industrial portuguesas a preços constantes. - Maddison (1996): fornece estimativas em volume do PIBpc no período 1870-1992. Estas estimativas têm por base, até 1938, nas de Lains. Estas estimativas apresentadas por Maddison, até 1913 repousam sobre as de Lains. No período 1913-1938 repousam nas estimativas de Numava.

PNB pc português relativamente (nível relativo) ao de outros países europeus (1830, %, dólares e preços dos EUA de 1960 para os dados de base)

BAIROCH NUMAVA

Alemanha (PNBpc - Portugal / PNBpc - Alemanha) 102 87,4

Áustria-Hungria (PNBpc - Portugal / PNBpc - Áustria - Hungria) 100 85,7

França (PNBpc - Portugal / PNBpc - França) 94,7 81,1

Itália (PNBpc - Portugal / PNBpc - Itália) 94,3 80,8

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Reino-Unido (PNBpc - Portugal / PNBpc - Reino Unido) 72,3 61,9

Média Grandes Países 91,2 78,2

Bélgica (PNBpc - Portugal / PNBpc - Bélgica) 84,7 72,6

Dinamarca (PNBpc - Portugal / PNBpc - Dinamarca) 120,02 103

Noruega (PNBpc - Portugal / PNBpc - Noruega) 89,3 76,5

Suécia (PNBpc - Portugal / PNBpc - Suécia) 128,9 110,4

Suíça (PNBpc - Portugal / PNBpc - Suíça) 90,6 77,6

Média Pequenos Países 99,8 85,5

Média 95,3 81,7

Nota bem: Como comparar os países com o Reino Unido:

PNBpc - Portugal / PNBpc - Reino Unido = 72,3%

Portugal tinha relativamente ao Reino Unido um PNBpc de 72,3% (isto é, o PNBpc de Portugal é equivalente a 72,3% do PNBpc do Reino Unido;

PNBpc – Alemanha / PNBpc – Reino Unido

= PNBpc - Portugal / PNBpc - Reino Unido / PNBpc - Portugal / PNBpc – Alemanha

= 72,3% / 102% = 71% Alemanha tinha relativamente ao Reino Unido um PNBpc de 71% (isto é, o PNBpc da Alemanha é equivalente a 71% do PNBpc do Reino Unido;

PNBpc – França / PNBpc – Reino Unido

= PNBpc - Portugal / PNBpc - Reino Unido / PNBpc - Portugal / PNBpc – França

= 72,3% / 94,7% = 76% França tinha relativamente ao Reino Unido um PNBpc de 76% (isto é, o PNBpc da França é equivalente a 76% do PNBpc do Reino Unido; Serão estas estimativas plausíveis? - As estimativas de BAIROCH foram obtidas usando metodologias do lado da produção – usando a ótica da produção (somatório do Valor Acrescentado Bruto dos três sectores de atividade). Já as estimativas de NUMAVA foram baseadas: α + β1X + β2RF + β3DP. Apesar de usarem metodologias muito diferentes, no entanto, apresentam resultados bastantes semelhantes.

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- Em segundo lugar, devemos ter em conta o contexto económico existente nesta altura. A situação descrita por estas é plausível à com as informações qualitativas da altura sobre a situação portuguesa e da dos demais países europeus nos começos do século XIX. Afinal, Portugal teve uma posição importante durante o período do capitalismo comercial europeu (do século XV ao século XVIII - Descobrimentos) e que, mesmo se essa posição só foi uma posição de primeira linha durante um curto período de tempo (até à integração na Espanha em finais do século XVI), ela manteve-se, de qualquer forma, mais importante que, por exemplo, a dos países escandinavos considerados no seu conjunto. Por outro lado, e certamente mais decisivo, é necessário ter em conta que nos princípios do século XIX, e portanto numa altura em que a maioria dos países da Europa continental não estavam ainda significativamente envolvidos no processo de crescimento económico moderno desencadeado pela Revolução Industrial Inglesa, as diferenças entre os diversos países da Europa continental em matéria de produtividade, e assim as diferenças entre esses países em matéria de produto por habitante, não podiam ser ainda significativas. Finalmente, notemos que o Reino Unido (e provavelmente também o território da atual Bélgica) foi pioneiro em matéria de industrialização.

D) A Revolução Industrial - O processo de industrialização e o crescimento económico moderno

No início do séc. XIX, a situação da maioria dos países europeus caracterizava-se por um nível bastante baixo de produto per capita e havia uma dispersão pouco acentuada da situação individual de cada país. Mas a partir de 1820/30, a situação começa a alterar-se de forma substancial – a Revolução Industrial5, difundindo assim o processo de crescimento económico moderno. E aqui teremos a base da (ainda hoje existente) elevada diferença de nível de vida entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento À medida que a maioria dos países do norte e centro da Europa continental e certos países de fora da Europa, se vão envolvendo neste conjunto de mutações económicas e sociais a que se convencionou chamar Revolução Industrial, os níveis de produtividade desse grupo países, e consequentemente os níveis de produto por habitante, sofrem um grande incremento. Durante o século XIX, podemos destacar três fases que são: - 1º fase (de 1740/1760 até 1820/1830): revolução ficou limitada à Inglaterra, Bélgica e Noroeste de França. Isso deve-se sobretudo à existência de guerras na Europa, inexistência de meios de transporte e de comunicação rápidos e baratos. Até por volta de 1830, esse processo não tinha ainda tocado de forma significativa os países da Europa continental e os diferenciais de níveis de desenvolvimento na parte continental da Europa eram pequenos. Nesta fase podemos destacar a máquina de Robert no sector dos têxteis.

5 A Revolução Industrial é um conjunto de inovações organizativas, tecnológicas, de produto e de

mercados associadas ao crescimento económico moderno.

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- 2º fase (de 1820/1830 até 1870/1880): temos o arranque em países da Europa continental de grande dimensão (França, Alemanha) e nos EUA. A razão principal é a proximidade geográfica. Para os países fora da Europa deve-se essencialmente para as antigas colónias inglesas de povoamento europeu. Em 1830 temos um conjunto de economias pré-industriais que apresentam níveis de produtividade baixos e próximos uns dos outros, daí que o produto per capita seja próximo. Estas economias ainda usavam uma tecnologia manual. - 3º fase (a partir de 1870/1880): há o arranque de pequenos países do Norte e Centro da Europa, com destaque para os escandinavos (Dinamarca, Suécia, Noruega), e ainda, Itália (ainda que de forma lenta), a Suíça, Holanda e também alguns países da Europa de Leste, como a República Checa e Eslováquia. Entram também as antigas colónias inglesas de povoamento europeu, em particular: Austrália, Canadá, Nova Zelândia (proximidade cultural, por serem antigas colónias do Reino Unido). Ainda destaca-se o Japão (devido à influencia dos EUA, que invadiram este país na década de 70).

E os restantes países do mundo? Podemos concluir que o processo de crescimento económico moderno associado à Revolução Industrial inglesa não se difundiu, durante o século XIX (a partir de 1801), para todos os países da Europa continental e restantes países do mundo. Bastantes países permaneceram a produzir no quadro das tecnologias tradicionais (ou não conseguiram espalhar no conjunto da economia essas inovações, tendo estas permanecidas a certas sectores, empresas, regiões). São exemplo: Portugal, Espanha e Grécia (e restantes países do sul da Europa), e também a Irlanda, ficaram bastante à margem deste processo, não tendo acompanhado de forma suficientemente dinâmica o movimento de industrialização europeu do século XIX (a partir de 1801). Cria-se então durante este século XIX (a partir de 1801) um fosso no nível de vida médio entre a maioria dos países do Mundo (os “países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento” e os, “principais países industrializados ou desenvolvidos”- países do norte e centro da Europa ocidental, antigas colónias inglesas – EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia - e Japão). Isto foi determinante para o nível de vida médio dos países até à actualidade. As economias mais ricas são as que se industrializaram no século XIX (a partir de 1801). Este crescimento económico moderno provoca uma divergência muito forte entre os países, havendo assim um grande empobrecimento relativo. A partir de 1913, a posição dos países mantém-se inalterada. Isso porque, a partir desta data entra-se no período de guerras. A partir de 1950, processo de industrialização difunde-se pelos restantes como Correia do Sul. Já nos anos 60 aos restantes países do Sudoeste Asiático.

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Número de Horas de Trabalho Necessárias para Produzir 100 libras de Fio de Algodão nº 80

E) O crescimento económico comparado no período O caso português:

A posição relativa de Portugal caiu fortemente entre 1830 a 1913 – houve um processo de divergência real da economia portuguesa. O processo de empobrecimento relativo da economia portuguesa face às economias do norte e centro da Europa, começa no século XIX até às vésperas da I Guerra Mundial. A economia portuguesa não conseguiu acompanhar de forma suficientemente dinâmica o movimento de industrialização europeu do século XIX. Numa primeira fase (até 1860), Portugal perde posição principalmente para a Alemanha e França (aquelas que arrancaram na segunda etapa), e numa segunda fase (1913) face à Dinamarca e Itália.

Nível relativo do Produto Per Capita português (%)6

6 Neste período (1830 a 1913) existem as 3 principais estimativas para analisar a evolução da

convergência neste período (Baircoh, 1976; NUMAVA, 1989; Lains, 1995) e todos indicam uma divergência. No entanto, no interior do período a evolução não é coincidente. As de Bairoch apontam para um processo de divergência continua. As de NUMAVA apontam para um período de convergência nas décadas de 60, 70 e 80, estando a divergência no conjunto do período 1860-1073. Finalmente, as de Lains associam a divergência no conjunto do período às décadas de 60 e 70 do século XIX e ao período 1900-1913.

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O peso do sector primário na economia indica claramente este atraso da economia portuguesa. Registava-se um elevado peso do sector primário na sua economia, comparativamente aos países do norte e centro da Europa ocidental envolvidos no processo de crescimento económico moderno. Em 1900, a esmagadora maioria do emprego em Portugal encontrava-se principalmente na agricultura.

Percentagem do Emprego no Sector Primário em 1900

Portugal apresentava um nível de industrialização muito baixo nesta altura (abaixo dos 20% face ao Reino Unido).

Produção Industrial por Habitante em Diversos Países por volta de 1900 (Reino Unido = 100)

Conclusão: A partir dos dados disponibilizados, podemos então concluir que as diferenças de nível de vida médio que existem actualmente entre Portugal e os países do norte e centro da Europa ocidental têm as suas origens no século XIX. Embora a industrialização tenha chegado a Portugal no século XIX, estas inovações não se difundiram a toda a economia, mas a apenas algumas empresas, sectores e regiões mais dinâmicos. A economia portuguesa não conseguiu acompanhar de forma suficientemente dinâmica o movimento de industrialização europeu do século XIX.

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Porque Portugal não conseguiu acompanhar de forma dinâmica o movimento de industrialização europeu durante o século XIX? Portugal apresentava supostamente boas bases para permitir um desenvolvimento das inovações tecnológicas: - a posição de destaque que manteve no contexto dos países europeus durante o período do chamado capitalismo comercial europeu (séculos XV a XVIII); - à partida, Portugal também deveria ter conseguido introduzir mais facilmente as inovações tecnológicas pois os países escandinavos, também periféricos do ponto de vista geográfico face ao Reino Unido, de pequena/média dimensão no contexto europeu como Portugal e mais pobres que Portugal no início do século XIX, conseguiram performances extremamente interessantes nesta matéria durante a segunda metade do século; As justificações dadas por vários autores para esse atraso são: 1- Excessiva abertura comercial da economia portuguesa face ao exterior: estes autores

defendem que durante o século XIX Portugal não se protegeu das pautas aduaneiras dos produtos ingleses o que levou a terem dificuldade em industrializarem-se.

Portugal teria sofrido uma excessiva especialização na produção de bens agrícolas (com baixas produtividades e fracas potencialidades de inovação) para exportação, decorrente dos vários tratados que favoreciam a entrada de produtos manufacturados ingleses. Desses tratados podemos destacar: - Em 1703 temos o Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra. Os portugueses discriminam positivamente os produtos ingleses face aos restantes países. Os ingleses discriminavam os vinhos portugueses; - Em 1810 foi assinado ainda o Tratado de Comércio e Navegação, abrangendo produtos agrícolas portugueses e bens manufacturados ingleses; Estes tratados conduziram Portugal a uma especialização agrícola, não permitindo haver em Portugal haver as bases necessárias para a aplicação das inovações da era da Revolução Industrial. Com esses tratados, há quem defenda que durante o século XIX, Portugal continuou muito aberto aos produtos ingleses. E que o mesmo não acontece nos outros países. No entanto, os dados existentes não corroboram com esta justificação. Pela tabela seguinte percebemos que ambos os países eram demasiadamente proteccionistas, o que não aconteceu nos países nórdicos.

Taxa de Abertura ao Comércio Externo*

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Direitos Aduaneiros para alguns Produtos Manufacturados (shillings por CWT)

Taxas médias ad valorem para os produtos manufacturados (em %)

OBS: Antes do século de XIX, a indústria portuguesa resume-se ao artesanato (cada uma pessoa procede a todas as tarefas no processo do produto) e à manufactura (cada trabalhador está especializado numa dada tarefa). Durante o século XIX vamos máquinas (existe divisão de do trabalho, e o trabalhadores são auxiliados pela maquinaria). 2- Falta de recursos naturais adequados: defende-se aqui que Portugal não tinha matérias-

primas adequadas contribui para o atraso. Afinal alguns países tinham recursos no subsolo de modo a desenvolverem a indústria siderurgia (afinal carvão e ferro eram de difícil transporte). No entanto é importante realçar que os têxteis e siderurgia só formam indústrias de pontas até 1870/1880, surgindo a partir daí as indústrias químicas e eléctricas.

3- Atraso no desenvolvimento da agricultura7: destaca-se a dificuldade em modernizar a

agricultura portuguesa. Na primeira fase da Revolução Industrial temos a introdução de rotação de culturas que vem substituir o pousio. Esta mudança aumentou a produtividade, no entanto devido às diferenças climatéricas e do solo entre os países, algumas técnicas não funcionavam em Portugal. Mas apesar disso, com a introdução de adubes químicos não se consegue justificar o atraso de Portugal. Com este atraso da agricultura não foi possível: - A libertação de mão-de-obra para a indústria;

7 Importante relacionar com o Fontismo.

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- Criação de mercado para produtos industriais, pelo aumento dos rendimentos e da procura de bens industriais; Assim, a maioria da população portuguesa continuou ligada à agricultura e com nível de vida baixa, e consequentemente: uma procura interna débil, e com isso, recursos escassos para investimento.

4- Reduzida dimensão do mercado interno: devido ao fraco desenvolvimento da agricultura

e das redes de transportes, estes não conseguiram estimular o crescimento das actividades produtivas. No entanto, esta justificação também não é válida. Pois outras pequenas economias da Europa foram capazes de promover a internacionalização e aumentar a importância do comércio externo para promover as falhas do mercado interno. Para além disso, Portugal tinha acesso privilegiado aos mercados das Colónias.

5- Ausência de recursos humanos adequados: Portugal está marcado por elevados níveis de

analfabetismo e baixos níveis de escolarização formal dos recursos humanos em geral.

Taxa de analfabetismo

6- Deficiente papel do Estado: o Estado não fornecia um enquadramento legal e institucional

propício ao desenvolvimento de um processo de industrialização. Subsistia um quadro institucional de tipo tradicional, pouco favorável ao crescimento. Sem falar que, até 1850 Portugal passou por um período de grande instabilidade (invasão francesa, guerra civil em Portugal e a declaração de bancarrota);

7- Ausência de uma elite empresarial suficientemente dinâmica: a nossa classe empresarial

era muito virada para o comércio devido à herança do período do capitalismo comercial europeu. A posição de destaque de Portugal no comércio de longa distância, entre os séculos. XV e XVIII, teria dificultado o arranque sustentado do processo de industrialização: -Grande parte da mão-de-obra, recursos financeiros e iniciativas empresariais, eram canalizados para a actividade comercial; - Esta produzia importantes rendimentos, permitindo importar produtos manufacturados e não colocando pressão para os produzir no país;

Em termos sintéticos podemos enumerar os possíveis factores:

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Os restantes países O primeiro grupo, formado pelos países que começaram a sua industrialização até por volta de 1870/1880, (exemplo: EUA e Alemanha) apresentavam um grande nível de industrialização de pelo menos 50% da do Reino Unido. O segundo grupo a destacar são os que arrancaram o crescimento económico entre 1870/80 e os finais do século XIX e que tinham ainda nesta altura entre 30% e 40% do nível de industrialização do Reino Unido (como a Suécia e a Dinamarca iriam no entanto atingir rapidamente níveis próximos do Reino Unido). O último grupo, formado pelos países que não conseguiram acompanhar o movimento de industrialização europeu durante o século XIX de forma suficientemente dinâmica. Estes apresentam um nível de industrialização muito baixo nesta altura (abaixo dos 20% face ao Reino Unido). Países como a Espanha e a Grécia tiveram uma evolução ao longo do período 1830-1914 bastante parecida com a de Portugal (destaca-se que desnível de Portugal face à Espanha e à Grécia mantém- se até os nossos dias).

PNB per capita espanhol e grego relativamente ao de um grupo de 10 países do norte e

centro da Europa ocidental segundo as estimativas de BAIROCH (1976) [%, dólares e preços dos EUA de 1960 para os dados de base]

F) O arranque industrial oitocentista

A partir de 1830, vão surgindo condições para um 1º arranque da indústria em Portugal: - Desenvolvimento da Agricultura: acabando com os laços feudais, a partir de 1821, legisla-se favoravelmente para o desenvolvimento da agricultura.

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Assiste-se então: - um aumento significativo da superfície cultivada; - difusão, ainda lenta e irregular, dos adubos e maquinaria agrícola; - aumento importante da produção agrícola para exportação (vinhos, cortiça, …);

- Modernização do enquadramento institucional e legislativo: destaque para a Pauta Aduaneira de 1837, passando a existir uma protecção alfandegária mais favorável ao desenvolvimento industrial. Destaca-se ainda políticas de dinamização das infraestruturas de transportes e comunicações; Alguns autores mostraram que, a partir da década de 1840 e sobretudo a partir da de 1870, se verifica um certo avanço da indústria moderna em Portugal, nomeadamente: têxteis e indústrias ligadas a certos recursos naturais do País (transformação da cortiça, conservas de peixe). 8As fases do crescimento oitocentista

1ª Fase (1840 - 1870)9 Chegam na economia portuguesa as grandes inovações ligadas à Revolução Industrial de forma regular e contínua - máquina a vapor e tear mecânico. Há assim um aumento da taxa de mecanização de têxtil de lã e algodão, as moagens, o papel e a fundição de metais. Ainda há uma diversificação da indústria portuguesa com o aparecimento de novos sectores, como por exemplo, os fósforos, a indústria de transformação de cortiça, algumas indústrias químicas como adubos e sabões.

Número e potência das máquinas a vapor instaladas na indústria portuguesa

8 As estimações de NUMAVA, 1989 apontam para uma convergência na década de 40 e sobretudo nas

de 60, 70 e 80. É verdade que vários autores podem mostrar que a partir da década de 1840, e sobre tudo, a partir de 1870, se verifica um certo desenvolvimento da indústria moderna em Portugal, um enquadramento institucional e legislativo mais favorável ao crescimento, e ainda, a partir de 1851, que uma politica de investimentos públicos no domínio das infra-estruturas ligadas aos transportes e comunicações (Fontismo). No entanto, não é plausível que esses progressos possam ter conduzido a uma convergência entre 1860 e 1890. Com efeito, chegados a 1913, Portugal ainda é um país essencialmente agrícola e a sua taxa de industrialização é muito baixa. Por outro lado, é precisamente a partir de por volta de 1860 que se regista uma segunda vaga de países que arrancam de forma decisiva para a industrialização. 9 Parte deste período não está incluído no período do Fontismo.

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2ª Fase (1870 - início séc. XX)

Há a continuação do desenvolvimento da economia portuguesa. Podemos enumerar: - Aceleração significativa da taxa de mecanização da indústria, intensificação tecnológica; - Aparecimento de fenómenos de concentração industrial sobretudo: na têxtil (algodão e linho), químicas (CUF), tabaco, moagens e panificação; - Nova diversificação da indústria, face ao aparecimento de novos sectores como indústria dos cimentos, novas indústrias químicas (tintas, vernizes, óleos, …), conserv e e e e re or o e sec ores e s en es co o r ns or o e cor e os; - A indústria de transformação de cortiça e de conservas de peixe estão virados para o mercado externo. A indústria de cimentos (associado ao desenvolvimento dos transportes) e de adubos (associado ao desenvolvimento da agricultura) estão virados para o mercado interno, permitindo assim a substituição de importações; O porquê das estimativas de NUMAVA? Apesar de todas esses progressos, não parece plausível que a taxa de crescimento do produto português tenha sido mais elevada que a dos países do norte e centro da Europa entre 1860 e 1890. Nas vésperas da 1ª Guerra Mundial, Portugal ainda é um país essencialmente agrícola e a sua taxa de industrialização é das mais baixas no conjunto dos países da Europa.

G) Fontismo ou Regeneração (1851 a 1900) O nome deste período deve-se ao Ministro das Finanças, Fontes Pereira Melo, que ao viajar para os outros países apercebeu-se do atraso português. Então são feitos grandes investimentos públicos, principalmente no sector dos transportes e comunicações. Destaca-se: - Desenvolvimento da rede rodoviária e ferroviária; - Outras infra-estruturas importantes: pontes, portos, telégrafo. São exemplos desse tipo de investimento: porto de Leixões, porto de Lisboa, ponte Dona Maria.

Com estes investimentos consegue-se:

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- Alargar o mercado para a indústria (ferro e outros materiais); - Facilitar a comunicação de mercados a nível inter-regional, contribuindo-se para a formação de um espaço nacional único; - Introdução de máquinas e produtos químicos na agricultura, o que promoveu um crescimento do output no meio do século XIX; - Uma maior concentração da indústria: surgem novos sectores, e empresas que assumem grande dimensão. Exemplo: surgimento do CUF, uma grande empresa no sector químico. Mas para além disso podemos destacar o sector dos cimentos (devido às obras públicas), a indústria transformadora de cortiça (devido ao investimento espanhol), conservas de peixe (investimento francês) e o sector financeiro (o número de bancos aumenta consideravelmente);

Nº de Bancos Depósitos

1867 13 3,2

1875 51 32,1

Grande parte desses investimentos só foi conseguida em recurso a endividamento por parte do Estado e de privados. Isto é, há um aumento da dívida pública interna e externa e ao défice orçamental. O Estado endividou-se principalmente no exterior. No entanto em 1891/1892 surge uma crise financeira internacional que afectou vários países, Portugal não foi excepção. Esta evolução, associada à deficitária balança comercial portuguesa, acabaria por acabaria por arrastar a economia para uma difícil situação financeira, colocando-a sob a perspectiva de uma falência generalizada Devido ao grande endividamento, quando chegamos a 1892, o Estado português declara bancarrota parcial, não pagando a totalidade da dívida, havendo assim uma reestruturação da dívida. Portugal assim deixa de puder ter acesso a crédito no exterior até por volta de 1962.

Conclusão:

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O período 1851-1900 teve progressos significativos: - Relativa estabilidade política e social alcançada após o golpe militar de Abril de 1851; - Reformas institucionais implementadas pelos governos no período em causa; - Política de investimentos públicos nas áreas dos transportes e das comunicações, a que se associa o nome de Fontes Pereira de Melo; - Elementos que se conjugam para uma fase de crescimento nos sectores agrícola, industrial e de serviços;

H) Crescimento Comparado de Portugal com as restantes Economias A economia portuguesa terá crescido neste período, em termos anuais e per capita, a uma taxa entre 0,7% a 1%. O rendimento médio por habitante português era em 1900 cerca de 50% superior ao de 1851. Em termos de comparação internacional, os resultados foram bem menos positivos. Agravou-se o fosso que, no início do período, já existia entre Portugal e os países do norte e centro da Europa que mais cedo iniciaram o caminho da industrialização. Há uma divergência real da economia portuguesa face às restantes economias. Nota bem: Segundo Lains: “A garrafa estava meio vazia (encontrando-se Portugal colocado na periferia da Europa em matéria de rendimentos médios por habitante), mas também estava meio cheia” (uma vez que progressos internos importantes tinham sido realizados nas cinco décadas que se seguem ao primeiro governo da Regeneração de 1851). Apesar de algumas divergências (de valores e de evolução), as estimativas em causa parecem apontar para 3 fases principais: - 1851 até o início da década de 1860: forte regressão (absoluta) do produto per capita; Podemos justificar esta regressão com uma redução significativa da produção agrícola total. Destaca-se a grave crise na produção vinícola. Afinal, a vitivinicultura era muito relevante no contexto da agricultura portuguesa. Ainda, más colheitas de cereais em meados da década, levam a grave crise alimentar em 1857-1958. Ainda tiveram epidemias de cólera (1853-56) e febre-amarela (1856-57) com importantes efeitos demográficos. Uma outra justificação é o impacto negativo sobre as exportações portuguesas da crise britânica e internacional de 1857. - Início da década de 1860 até os finais da década de 1880: crescimento relativamente regular (embora com duas depressões). Tivemos aqui a recuperação em matéria de produção agrícola, aceleração ligeira do ritmo de crescimento industriais e progressos ligados aos transportes, às comunicações e ao desenvolvimento do subsector financeiro. OBS: Mas as estimativas são divergentes quanto ao ritmo da expansão

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- Numava: taxa de crescimento média anual de 2,5%; - Lains e Justino: ligeiramente acima de 1%/ano; Este crescimento do produto industrial foi impulsionado: - Pela substituição de importações no mercado interno; - Por solicitações da procura externa; - Algumas alterações relevantes no período; - Intensificação tecnológica das unidades produtivas; - Crescente difusão da produção mecanizada; - Concentração e diversificação industrial; - Sectores mais relevantes no período; - Têxteis (orientação interna); - Novos sectores (orientação externa): conservas de peixe e transformação da cortiça; - Finais da década de 1880 até 1900: estagnação / regressão do produto per capita (embora aqui haja divergências maiores, nomeadamente entre as estimativas de Justino/Numava e as de Lains); Esta evolução está associada ao impacto negativo da crise financeira dos finais da década de 1880 e início da de 1890, ainda podemos destacar: - Quebra nos fluxos de remessas de emigrantes portugueses no Brasil colocou a economia em situação de fraca liquidez internacional; - Os problemas da casa Baring Brothers, banqueiro do Estado português em Londres, agravaram a situação, dificultando a obtenção de empréstimos externos; - Esta situação, à qual se junta a crise financeira internacional de 1891-92, conduziu ao abandono do padrão-ouro (1891) e à bancarrota parcial (1892);

Crescimento do PIB português entre 1951 a 1900

Capítulo II e III O Período das Guerras Mundiais e da Crise de 1929 (1913-1950)

| A industrialização introvertida dos anos 50 (1950-1960)

A) A Primeira República (1910-1926)

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Não foi um período muito favorável ao crescimento económico português. Caracterizou-se, desde logo: - Uma forte instabilidade política (nestes 16 anos o país teve 42 governos); - Elevada inflação; - Forte desequilíbrio orçamental; - Deterioração importante das contas externas; - Desvalorização significativa do escudo; O esforço de guerra português tinha levado a um forte aumento das despesas e dos défices públicos, numa situação de endividamento elevado por parte do Estado. Por causa da suspensão dos pagamentos da dívida externa portuguesa no final do século XIX, o forte aumento das despesas públicas não pôde ser financiado por empréstimos no exterior do país.

Saldo Orçamental em % do PIB (1910 a 1916)

Era difícil para as autoridades da Primeira República aumentarem os impostos ou encontrar crédito no mercado financeiro interno, muito pouco desenvolvido nessa altura. Portanto, foi

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decidido que o esforço de guerra e a subida do défice público fossem principalmente financiados por empréstimos junto do Banco Central, o que levou a um aumento significativo da emissão de moeda e contribuiu fortemente para o aumento dos preços. Entre 1914 e 1929 temos altos níveis do IPC, alcançando um máximo em 1918 de 80,1. Os preços no consumidor subiram muito rapidamente, sobretudo desde o início da Grande Guerra de 1914-1918. Este processo inflacionário, que fez dos anos 1914-1924 o período do século XX em que Portugal foi mais duramente afectado pela inflação, foi uma consequência direta de uma crise de abastecimento ao país a nível de um determinado número de bens importados (principalmente os cereais e o carvão) devido às dificuldades enfrentadas pelos países habitualmente fornecedores de Portugal. Importante citar que a inflação era também uma consequência da situação internacional. Com efeito, encontramos nesta época situações de hiperinflação, ou de quase hiperinflação, em muitos outros países europeus. Os casos da Alemanha, França, Áustria ou Hungria são talvez os mais conhecidos.

Taxa anuais de crescimento dos preços do consumidor e do agregado monetário M2 em Portugal

Um outro problema, também muito importante, situava-se ao nível das contas externas da economia. Entre o final da Grande Guerra em 1924, o défice da balança comercial aumentou rapidamente, devido ao crescimento das importações provocado pela retoma do comércio internacional com a abertura das vias de transporte na Europa. A inflação tinha igualmente contribuído para este aumento do desequilíbrio da balança comercial, na medida em que a taxa de protecção real da economia tinha caído rapidamente. De facto, a maioria dos direitos alfandegários portugueses eram estabelecidos em valor e não segundo taxas ad valorem. Normalmente, Portugal tem rubricas da Balança de transacções correntes que compensam estes défices comerciais, no entanto, naqueles anos as remessas de emigrantes não foram suficientes. A deterioração das contas externas portuguesas decorria também de uma fuga muito significativa de capitais, devido à incerteza que envolvia a situação política e os principais agregados macroeconómicos da economia portuguesa.

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Balança Comercial em % do PIB (1910 – 1926)

Uma das consequências mais importantes da deterioração das contas externas e da inflação foi a forte desvalorização da moeda portuguesa. Com efeito, entre 1919 e 1924, esta desvalorização que se situou bastante acima da subida dos preços no consumidor no mesmo período. Evolução da taxa de câmbio do escudo em relação à libra esterlina (1910 - 1926)

Resolução dos problemas: O fim dos desequilíbrios macroeconómicos e o regresso da estabilidade financeira na parte final da primeira metade da década de 1920 associam-se: - Reforma fiscal e à reforma dos direitos aduaneiros (1922 e 1923); - Medidas de política monetária introduzidas em 1922; A reforma fiscal (1922) e a dos direitos aduaneiros (1923) levaram a um aumento das receitas públicas, que iria permitir uma redução nítida do défice público a partir de 1924. Em 1922, tomaram-se medidas para limitar a monetarização dos défices públicos e para encorajar o financiamento desses défices através do recurso a empréstimos no mercado financeiro interno. A redução dos défices públicos e as limitações à sua monetarização,

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conjugadas com condições mais favoráveis no exterior do país, permitiram travar a inflação a partir de 1925. Nesse mesmo ano, o desequilíbrio no sector externo começou a atenuar-se. As importações regrediram, sob o efeito conjugado da forte desvalorização do escudo e das medidas protecionistas em matéria de política aduaneira, o que permitiu uma diminuição do défice comercial, embora este ainda fosse elevado em 1926. Foi também possível estabilizar a taxa de câmbio do escudo, a partir do início de 1926, graças à melhoria da situação das contas externas e às várias medidas tomadas para aumentar a oferta e reduzir a procura de divisas. Em termos de mudança estrutural, Portugal mantém-se essencialmente agrícola.

B) O Estado Novo (1926-1974) O grande objectivo para esta fase será de manter os grandes equilíbrios macroeconómicos: - Estagnação programada; - Inflação baixa, equilíbrio orçamental, moeda e contas externas estáveis - As políticas estruturais subordinam-se a este objectivo; Vai estar divida em duas fases: - Fase ruralista ou de estagnação programada (1926 a 1945); - Fase industrialista ou desenvolvimento (1945 a 1974); - Industrialização introvertida ou por substituição de importações (1945 a 1960); - Industrialização extrovertida ou por promoção de exportações (1960 a 1974); Para o nosso estudo vamos identificar duas fases:

Fase Ruralista ou de Estagnação Programada (1926 a 1945): centra-se no desenvolvimento do sector primário da economia, e em particular do sector agrícola da economia.

Podemos destacar as diferentes correntes de opinião: - O reformismo agrário: consideram o desenvolvimento do sector agrícola como a prioridade económica. Pretendem retomar o projecto de reforma agrária dos liberais da 2ª metade do séc. XIX;

- Reforma das estruturas fundiárias, com promoção da divisão do latifúndio no Sul e incentivo ao emparcelamento no Norte e Centro;

- Incentivo à deslocação de população rural de zonas fortemente povoadas para zonas de fraco povoamento, sobretudo no Interior e no Sul;

- Investimentos públicos no campo da hidráulica agrícola; - Medidas de povoamento florestal;

- O conservadorismo agrário: opõem-se a qualquer medida de reforma agrícola. Defendiam, medidas proteccionistas para as grandes produções agrícolas portuguesas e, em particular, para os cereais. Têm uma grande influência na política estrutural dirigida aos sectores de actividade económica dos governos de Salazar, até ao final da 2ª Guerra Mundial.

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- O industrialismo: é uma força minoritária nos anos 30, defendendo o desenvolvimento assente na industrialização por substituição de importações:

- Desenvolver a rede eléctrica do País; - Lançar as indústrias e se “Seg n Revol o In s r l” (bens intermediários

e bens de equipamento); - Reorganizar as indústrias ligeiras já existentes; - Só com as circunstâncias favoráveis à industrialização no após 2ª Guerra Mundial é

que vão ter força política suficiente para colocar em prática a estratégia preconizada; Entre 1926 e até ao final da Segunda Guerra Mundial, a prioridade do Estado Novo estará centrada no sector primário da economia. Irá tratar-se, aqui também, de conciliar as ideias dos “re or s s gr r os” co os n eresses os e os o “conserv or s o gr r o”. Várias medidas de reforma agrária são tomadas: - Encorajamento à deslocação das populações rurais; - Investimentos públicos na área da hidráulica agrícola; - Apoio ao desenvolvimento florestal; - Não ao nível da reforma da estrutura fundiária; - Implementação de medidas alfandegárias proteccionistas para as grandes produções agrícolas; Destaca-se a chamada Campanha do Trigo, entre 1929 e 1936, uma mistura de medidas de proteção contra a concorrência estrangeira, de apoios financeiros e técnicos às explorações agrícolas e de intervenção do Estado no estabelecimento dos preços dos cereais. O principal objetivo desta Campanha foi o de aumentar a auto-suficiência alimentar de Portugal, mas tal não foi conseguido. Investimentos públicos realizados no âmbito da Lei da Reconstituição Económica, entre 1936

e 1939

Conclusão: Os resultados alcançados com as políticas ruralistas foram bastante débeis: - A olí c e “Colon z o In ern ” n o ro z os res l os es er os; - As infra-estruturas de irrigação agrícola melhoraram em algumas zonas do País, mas não no Alentejo; - A “Campanha do Trigo” (1929-1936), este conjunto de medidas de protecção contra a concorrência estrangeira, de apoios financeiros e técnicos às explorações agrícolas e de intervenção estatal no estabelecimento do preço dos cereais, não aumentou a auto-suficiência alimentar. Isso deve-se principalmente à falta de vantagens comparativas do país na produção de cereais.

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- O desenvolvimento do sector florestal acabou por ser a área de maior avanço; - A estrutura produtiva não sofre alterações de relevo, mantendo-se uma sociedade essencialmente agrícola. O sector primário, que já dominava no início dos anos trinta a estrutura da população activa, vai ainda progredir até 1950. Em contrapartida, a evolução da sua contribuição para o PIBpm será mais lenta, o que significa que o seu nível de produtividade face à média da economia, que já era já baixo em 1930, vai diminuir ainda ligeiramente neste período em que as políticas estruturais lhe estiveram consagradas.

Estrutura da economia portuguesa

Composição da população ativa (%) Composição do PIB pm (%)

Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

Fase ruralista 1930 50,7 19 30,2 31,5 28 40,5

Fase introvertida 1950 52,6 21,1 26,3 32,1 30,3 32,6

1960 49,1 24,5 26,4 22,4 36,3 41,3

Fase extrovertida 1970 32,8 33,4 33,9

1973 12 41,2 46,9

Fase industrialista ou desenvolvimento (1945 a 1974): Esta fase está divida em: - Industrialização introvertida ou por substituição de importações (1945 a 1960); - Industrialização extrovertida ou por promoção de exportações (1960 a 1974); - Industrialização introvertida ou por substituição de importações (1945 a 1960): A crise económica de 1929, com os problemas que criou ao nível do abastecimento de bens industriais ao país, abriu o caminho para a formulação duma estratégia de industrialização por substituição de importações. Pretendia-se desenvolver a rede eléctrica do país, lançar as n ús r s e se “Seg n Revol o In s r l” ( s os ens n er e r os e os ens de equipamento) e reorganizar as indústrias ligeiras já existentes. A industrialização do após guerra, nomeadamente no que se refere à indústria da pasta para papel, vai beneficiar dos importantes investimentos que foram feitos no sector florestal português durante esta fase. Enquanto isso, as estruturas produtivas da economia portuguesa não vão sofrer muitas alterações. A recuperação da economia portuguesa a partir de 1950 se explica, no essencial, pela emergência de um processo de industrialização por substituição de importações no domínio das indústrias pesadas ligadas à produção de bens intermediários e bens de equipamento (refinação de petróleo, adubos azotados e outros bens intermediários químicos, cimentos, pasta para papel, siderurgia e metalomecânica pesada). Este avanço deve-se principalmente, no caso português, como no de outros casos de industrialização tardia, à intervenção do Estado, nesta altura o chamado Estado Novo. Esta intervenção faz-se, em primeiro lugar, através de um importante programa de investimentos públicos nos domínios dos transportes, das telecomunicações e da rede eléctrica, o qual dinamiza a procura no mercado interno.

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Em segundo lugar deve-se à política aduaneira, a qual garante uma protecção significativa da concorrência estrangeira. A política do Estado em matéria de concorrência no mercado interno, será no sentido da concentração industrial e no da criação de empresas de grande dimensão em vários dos sectores citados acima, graças a incentivos fiscais e de crédito. Também se vai proceder à reorganização das indústrias ligeiras, principalmente nos sectores em que o abastecimento do mercado interno dependia em mais larga medida das importações. A “Lei do Condicionamento Industrial” foi um grande instrumento utilizado para estimular a concentração e a criação de grandes grupos industriais nas indústrias de base. Em terceiro lugar pode-se destacar o papel desempenhado no financiamento dos grandes projectos industriais, quer como participante directo no capital social das empresas, quer como emprestador por intermédio das suas instituições de crédito. É crucial citar que a “Lei do Fomento e Reorganização Industrial”, publicada em 1945 é um plano pormenorizado de industrialização por substituição de importações a realizar num período de oito anos, marca uma viragem nas políticas estruturais do Estado Novo:

- fomentar uma forte intervenção estatal, o desenvolvimento de um conjunto de indústrias de base, cuja produção se destinaria ao abastecimento do mercado interno (siderurgia e metalurgia do cobre, cimentos, algumas indústrias químicas, pasta para papel);

- encorajar, por meio de incentivos fiscais e de crédito, a reorganização das indústrias

ligeiras, principalmente nos sectores em que o abastecimento do mercado interno era ainda muito dependente das importações. A intervenção estatal centrou-se, desde logo, na política aduaneira e na política dirigida aos capitais estrangeiros, que asseguraram uma protecção da concorrência estrangeira. Os resultados da estratégia de industrialização definida na “Lei do Fomento e Reorganização Industrial” vão começar a ser mais visíveis no início dos anos 50. A contribuição do sector secundário para a composição do PIBpm e da população activa vai progredir a partir de agora muito mais rapidamente. OBS: Esta industrialização esteve essencialmente virada para o mercado interno e assente na substituição de importações. Apostou-se, nomeadamente, nas indústrias produtoras de bens intermediários e de bens de equipamento (refinaria do petróleo, petroquímica, adubos e outros produtos intermediários químicos, cimentos, pasta para papel e indústrias metalomecânicas). A n ús r s erúrg c , q e é es v no cen ro es r ég os “ n s r l s s”, no entanto, só começará a desenvolver-se no início dos anos 60, apesar da constituição da Siderurgia Nacional, em 1954, uma empresa com capitais públicos. No centro de todos os grandes projectos industriais que foram lançados durante os anos 50, encontramos os dois mais importantes grupos industriais e financeiros portugueses do após guerra: a CUF, sobretudo presente nas actividades químicas, e o grupo Champallimaud, ligado aos cimentos, à siderurgia e à pasta de papel. Como já referido, o Estado vai também participar directamente no capital social de alguns destes projectos. Portugal tinha, portanto, no início dos anos 60, uma estrutura industrial mais moderna, mesmo sendo ainda um país essencialmente agrícola.

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A estratégia de industrialização implementada pelo Estado Novo nos anos 50 também teve fracassos: - os mecanismos previstos para encorajar a reorganização das indústrias ligeiras, essencialmente os incentivos fiscais e de crédito, não deram frutos. Não se permitiu a modernização das indústrias, que continuaram, deste modo, muito fragmentadas, dominadas pelas empresas de pequena dimensão, mal equipadas do ponto de vista tecnológico, e produzindo essencialmente para o mercado interno. - os novos sectores, desenvolvidos no âmbito da estratégia de industrialização por substituição de importações dos anos 50, enfrentavam já no final desta década problemas relacionados com o facto de não serem competitivos ao nível internacional. De facto, e contrariamente àquilo que se passou em Espanha – que também adoptou uma estratégia de industrialização por substituição de importações, nos anos 40, mas que tinha um mercado interno muito mais significativo -, as novas indústrias não conseguiram obter economias de escala no estreito mercado interno (dimensão e poder de compra) português. Os consumidores, as indústrias ligeiras e a agricultura eram os grandes sacrificados, já que tinham que suportar os preços elevados que elas praticavam. Estrutura do valor acrescentado bruto na indústria transformadora em 1953 e em 1960 (%) *

Terminamos esta fase com alguns problemas: - A manutenção de um ritmo de crescimento lento dos salários restringiu o poder de compra da população, limitando a dimensão do mercado para produtos industriais - O fraco poder de compra reflectiu-se em primeiro lugar nas indústrias ligeiras, crescendo a um ritmo mais moderado que as indústrias pesadas. Com as indústrias ligeiras a manifestar dificuldade em crescer, o mercado para as indústrias pesadas continuou bastante limitado; - A exiguidade do mercado português impediu o aproveitamento de economias de escala, prejudicando a competitividade das indústrias pesadas => custos relativos mais altos face ao exterior; - Industrialização extrovertida ou por promoção de exportações (1960 a 1974);

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Com o início da guerra colonial em 1961 será um elemento relevante para a industrialização portuguesa. Devido ao esforço de guerra, o papel desempenhado pelo Estado será ocupado pela iniciativa privada. Este processo de industrialização vai prosseguir de uma forma bastante mais rápida, entre 1960 e 1973. E terá como foco os mercados externos. O crescimento rápido do produto da indústria transformadora entre 1960 e 1973 é, com efeito, arrastado principalmente pelos mercados externos. A participação de Portugal na E.F.T.A., como membro fundador em 1959, bem como os contactos que foram sendo estabelecidos com a Comunidade Europeia a partir dessa data, e que culminarão na assinatura de um "Acordo de Comércio Livre" entre Portugal e esse espaço económico integrado em 1972, permitirão um forte crescimento das exportações de produtos manufacturados. Com isso há uma nova preocupação em relação à competitividade internacional da indústria portuguesa e à necessidade de expor um pouco mais as empresas à concorrência internacional. Esta nova orientação vai aparecer no “III Plano de Desenvolvimento”, publicado em 1968. Desenha-se uma nova orientação baseada na promoção das exportações. Isto é, arrastado pelo crescimento da procura nos mercados externos, mercados esses em forte expansão nesta fase, e ainda, o capital estrangeiro. O objectivo era dar a prioridade dos incentivos públicos às empresas e aos sectores industriais voltados para os mercados externos. Procurava-se concentrar os esforços públicos nos sectores em que Portugal possuía vantagens comparativas: - baixo custo da mão-de-obra (indústria têxtil, do vestuário e do calçado); - abundância de recursos florestais (indústria da pasta para papel); - situação geográfica de Portugal (o que vai ser importante para o desenvolvimento durante os anos sessenta da indústria da construção e reparação naval). A participação portuguesa na EFTA, com a expansão da procura de produtos industriais portugueses na Europa a que a mesma levou, e a entrada de investimentos estrangeiros, constituem os principais factores que contribuíram para o forte crescimento do produto industrial registado em Portugal entre 1960 e 1973. Estes investimentos contribuíram muito para o aparecimento das novas indústrias centradas na exportação.

Entradas de investimento directo estrangeiro em Portugal (1965-1974)

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É substituída a “Lei da Nacionalização dos Capitais” (1943), que proibia o investimento directo estrangeiro em todo um conjunto de sectores de atividade económica. São criados incentivos fiscais, assim como condições favoráveis de repatriamento das mais-valias e dos capitais, foram igualmente criados no âmbito da nova legislação. Os resultados da nova estratégia de industrialização foram claramente mais positivos que os alcançados com a estratégia de industrialização por substituição de importações do após guerra. Eles explicam assim, em grande medida: - a emergência de novos segmentos exportadores dentro da indústria transformadora portuguesa durante os anos sessenta (máquinas e material eléctrico, construção e reparação naval, pasta para papel, algumas indústrias químicas, concentrado de tomate); - permitiram o desenvolvimento de algumas indústrias já anteriormente vocacionadas para os mercados externos (é, por exemplo, o caso da indústria do vestuário); O crescimento das exportações de produtos manufacturados, parcialmente relacionado com o investimento estrangeiro, como acabamos de ver, conduzirá, por sua vez, a importantes alterações no perfil de especialização internacional da economia portuguesa. Esta passa, durante estes anos de 1960 a 1973, de economia essencialmente exportadora de produtos primários (produtos com um grau de transformação muito reduzido, como os agrícolas) a economia onde a parte dos produtos manufacturados é claramente maioritária nas exportações totais. Em 1960 Portugal exportava essencialmente Fios e Tecidos e Obras de Cortiça e Madeira. Em 1973, a situação era muito diferente. A nova estratégia de industrialização e a maior abertura aos capitais estrangeiros, tinham feito crescer a parte das Máquinas e Material de Transporte. Portugal apresentava assim, em 1973 e relativamente a 1960, uma especialização internacional mais diversificada e também mais centrada em sectores com maior valor acrescentado.

Composição das exportações totais portuguesas em 1960 e em 1973 (%)

1960 1973

Alimentares e Bebidas 25,3 17,8

Matérias-Primas e Combustíveis 24,9 14,9

Produtos Manufacturados: 49,8 67,3

* Obras em Cortiça e Madeira 24,9 7,1

* Pasta para Papel 4,9 7,3

* Fios e Tecidos 36,2 24,7

* Minerais não Metálicos 3,9 3,5

* Máquinas e Material de Transporte 8,6 21,6

* Vestuário, Malhas e Têxtil-Lar 2,9 14,8

* Calçado 0,6 1,7

*Outros 17,9 19,4

Outro contributo relevante para o crescimento económico português no período entre 1960-1973 foi dado pela:

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- emergência das actividades turísticas; - crescimento das remessas dos emigrantes na Europa – estes permitirão o aumento do défice comercial português sem que tenha sido posto em causa o equilíbrio das contas com o exterior; Quais os factores que permitiram esta industrialização extrovertida? - A 2º Guerra provocou uma escassez relevante de bens industriais importados, em particular bens intermédios e de equipamento, criando assim oportunidades para a substituição de importações; - Acumulação em Portugal de grandes meios financeiros durante a 2ª Guerra, aproveitando a neutralidade do País (parte relevante dos capitais portugueses que tinham saído do País durante a 1ª República regressou nesta altura); - As exportações portuguesas para os países em guerra elevaram-se, gerando acumulação de reservas (destaque para o aumento das exportações de produtos minerais, em particular o volfrâmio); Pontos chaves do Estado Novo:

Representou, ao longo da sua vigência (1926- 1974) um compromisso entre as diferentes correntes: reformadores agrários, conservadores agrários e industrialistas;

Até ao final da 2ª Guerra Mundial, a prioridade centrou-se no sector primário da economia - fase ruralista ou de estagnação programada;

No após 2ª G err , os “ n s r l s s” g nh posição no aparelho do Estado - fase

industrialista ou esenvolv en s ” o Es o Novo (1945- 1974): - industrialização introvertida ou por substituição de importações (1945-1960): voltada essencialmente para o mercado interno, é assente na substituição de importações. Vai apostar nas indústrias produtoras de bens intermédios e de bens de equipamento. Em todo o caso, a indústria siderúrgica só começa a desenvolver-se no início dos anos 60. No centro dos grandes projectos industriais lançados durante os anos 50, encontramos dois dos mais importantes grupos industriais e financeiros portugueses do após-Guerra: CUF (actividades químicas, sobretudo) e Grupo Champallimaud (cimentos, pasta para papel, siderurgia); - industrialização extrovertida ou por promoção de exportações” (1960 - final do Estado Novo);

O Estado irá desempenhar um papel crucial nesta fase: - Política aduaneira e política dirigida aos capitais estrangeiros, assegurando a protecção da concorrência estrangeira; - Vasto programa de investimentos públicos na área das grandes infra-estruturas: vias de transporte e rede elétrica e dinamização da procura de bens industriais no mercado interno;

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- Favorece a concentração industrial e a criação de empresas de grande dimensão nos sectores referidos – “Le o Con c on en o In s r l”; - Financiamento de grandes projectos industriais:

- participação directa no capital social das empresas; - por via de empréstimos por intermédio das suas instituições de crédito

- Incentivo à concentração e reequipamento de indústrias ligeiras, através de incentivos fiscais e de crédito, sobretudo a sectores onde o abastecimento do mercado interno dependia em maior escala das importações;

Legislação relevante:

- Lei do Condicionamento Industrial (1931- 1937): estabelece princípios fundamentais em matéria de política de concorrência interna. Será um instrumento usado para estimular a concentração industrial e a criação de grandes grupos industriais; - Lei da Nacionalização dos Capitais (1943): há a proibição do acesso do investimento directo estrangeiro a vários sectores de actividade económica, e ainda, limites à composição de capital social das empresas participadas por capital estrangeiro (nos sectores onde isso era permitido); - Lei da Electrificação Nacional (1944): plano de desenvolvimento da rede eléctrica do País, baseado na construção de grandes barragens ligadas a centrais hidroeléctricas; - Lei do Fomento e Reorganização Industrial (1945): é um plano pormenorizado, a realizar no período de 8 anos, marca uma viragem nas políticas estruturais do Estado Novo. Será a principal instrumento de execução da estratégia de industrialização introvertida da época:

- Fomenta o desenvolvimento de um conjunto de indústrias de base, cuja produção se destinaria ao abastecimento do mercado interno;

- Encoraja, por meio de incentivos fiscais e de crédito, a reorganização das indústrias ligeiras referenciadas; - 1º Plano de Fomento (1953 - 1958):

- há a integração dos investimentos públicos numa estrutura global de planificação indicativa;

- desenvolvimento das grandes infra-estruturas ao nível da rede eléctrica, aeroportos, portos marítimos, redes viária e ferroviária;

- participação directa do Estado no capital social das grandes empresas lançadas neste período, em conjunto com a iniciativa privada;

Capítulo IV A integração europeia nos anos 60 (1960-1973) 10– período de

industrialização extrovertida A aceleração do crescimento da economia portuguesa está associada a uma progressiva abertura da economia portuguesa ao exterior: - Crescente abertura aos capitais estrangeiros, sobretudo a partir de 1965;

10

Incluído no período do Estado Novo, mais precisamente, na fase de industrialização extrovertida.

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- Emergência do turismo e o crescimento das remessas dos emigrantes na Europa; - Integração na EFTA (1959); - Assinatura de um Acordo de Livre Comércio com a Comunidade Económica Europeia (CEE); Entre 1960 e 1973 vai assistir-se a uma progressiva viragem no plano da política económica externa de Portugal. Esta viragem começou com a adesão de Portugal à Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA), em 1959. Em 1960, Portugal vai assim tornar-se membro do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1962, irá assinar o Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT). Esta política de integração internacional de Portugal vai prosseguir ao longo de toda a década de sessenta. Em 1972, Portugal vai assinar com a CEE um Acordo de Comércio Livre, o que veio a acontecer. Esta opção acabaria por levar, mais tarde, já em Janeiro de 1986, à adesão de Portugal à CEE.

Porquê Portugal adere à EFTA? Esta adesão foi principalmente uma consequência da orientação da Grã-Bretanha para este espaço de integração económica. Este país era o principal parceiro comercial de Portugal no início dos anos sessenta. Para além disso, a EFTA era também um espaço da integração menos exigente. Por um lado, as regras comerciais que regiam a EFTA eram as de uma “Zona de Comércio Livre”, contrariamente às regr s CEE q e er s e “Un o A ne r ”. Por outro lado, a liberalização das trocas comerciais no âmbito da EFTA só abrangia os produtos industriais, o que não era o caso na opção CEE. Dado o atraso da agricultura portuguesa, esse facto também influenciou a decisão das autoridades portuguesas. Outro fator que influenciou a escolha foi o facto de permitirem que Portugal mantivesse uma política comercial autónoma com os países e regiões fora deste espaço de integração económica. Isto era particularmente importante no caso português, dada a dimensão e o tipo de relações comerciais mantidas com as colónias no início dos anos sessenta. Finalmente, notemos que a CEE era, na altura da sua criação, um espaço em que os aspectos de união política tinham já uma certa importância, o que não se adaptava, evidentemente, ao espírito das autoridades portuguesas da altura. A adesão à EFTA marcou o fim do período isolacionista do Estado Novo, pois conduziu à participação portuguesa em todo um conjunto de instituições e organismos internacionais.

Os resultados da adesão à EFTA A adesão à EFTA levou a uma queda progressiva dos direitos aduaneiros, quer do lado português, quer do lado dos parceiros comerciais de Portugal dentro deste espaço de integração económica. Do lado dos parceiros comerciais de Portugal, o prazo para a supressão total dos direitos aduaneiros foi fixado em dez anos, no âmbito da Convenção de Estocolmo, tendo em seguida sido reduzido para seis anos.

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As exportações portuguesas de produtos industriais, beneficiaram desta redução progressiva dos direitos aduaneiros nos vários países da EFTA. Portugal acaba também por beneficiar de um estatuto especial para alguns produtos agrícolas e de vantagens para a entrada de vinhos portugueses nos mercados escandinavos. A supressão dos direitos alfandegários do lado português foi muito mais lenta. Com efeito, um regime especial para Portugal foi criado no âmbito da Convenção de Estocolmo (anexo G da Convenção), já que os parceiros de Portugal reconheceram a especificidade da economia or g es , econo “ r s ” e rel o à os o ros íses EFTA. Es e reg e especial previa, nomeadamente, um período de 20 anos para a supressão total dos direitos alfandegários do lado português. Dava também a Portugal a possibilidade de prorrogar este período no caso de surgirem dificuldades de pagamentos externos. Foi igualmente acordada a Portugal a possibilidade de introduzir novas tarifas para as ch s “ n ús r s n scen es”. Apesar disso, a queda das barreiras alfandegárias que protegiam o mercado interno português foi rápida.

Os resultados do Acordo de Comércio Livre na CEE O regime de redução dos direitos aduaneiros era bastante próximo do acordado com a EFTA. Os produtos em questão, neste novo acordo, eram também e apenas os produtos industriais, mesmo se algumas excepções foram novamente feitas no domínio agrícola. No que se refere ao Reino Unido e à Dinamarca, mantinha-se o essencial do esquema acordado no âmbito da EFTA. Os restantes seis países da CEE, bem como a República da Irlanda, que se lhes juntava agora, eliminavam as barreiras aduaneiras para as exportações portuguesas em quatro anos (e em cinco etapas, cada uma com uma redução de 20%), a partir de 1 de Abril de 1973. A re o os re os or g eses so re s or ões roven en es os “se s” e Irl n , devia, em princípio, respeitar as mesmas etapas. Havia, no entanto, excepções para vários produtos (representando esses produtos cerca de 60% da totalidade das importações portuguesas da nova CEE). Para esses, a supressão total das barreiras aduaneiras podia ir até Janeiro de 1985. Finalmente, e mais uma vez, foi acordada a Portugal a possibilidade de introduzir novas tarifas para as indústrias nascentes. A abertura da economia ao exterior aumenta de forma muito significativa entre 1960 e 1973

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Estrutura da economia portuguesa (no início dos anos 60)

- Agricultura: A quota-parte do sector secundário na composição do PIB pm e da população activa progride assim rapidamente, apesar de um terço do emprego se situar ainda no sector primário da economia, no início dos anos setenta. Também o nível de produtividade no sector agrícola evolui agora muito mais rapidamente. No entanto, em virtude do elevado crescimento da produtividade nos outros sectores, e sobretudo na indústria, a diferença entre o nível médio de produtividade do sector agrícola e o do conjunto da economia contínua a crescer entre 1960 e 1973. Destaca-se ainda que o nº de efectivos foi decrescendo. Verifica-se estagnação e, em certos anos, até regressão da produção agrícola. Os motivos são idênticos aos observados na década de 50, em particular o controlo administrativo dos preços dos produtos do sector primário que se manteve até meados dos anos 60. Destaca-se que a reforma das estruturas fundiárias continuou por fazer, e ausência de políticas com resultados visíveis ao nível das estruturas de irrigação. - Indústria11: Durante este período, o crescimento foi elevado em todos os sectores da indústria transformadora. No entanto, as indústrias mais voltadas para os mercados externos, bem como aquelas que receberam capitais estrangeiros, registaram as taxas de crescimento mais elevadas. Foi nomeadamente o caso dos têxteis e do vestuário, da indústria da pasta para papel, da construção e reparação navais e da indústria das máquinas e material eléctrico. Como a substituição das importações prosseguia ainda, continuando até meados dos anos sessenta, embora fosse cada vez mais difícil, devido à queda progressiva dos direitos aduaneiros imposta pela adesão à EFTA, alguns sectores industriais (químicas, siderurgia, cimentos) registaram também taxas de crescimento elevadas. As taxas de crescimento elevadas que se registaram nestes últimos sectores foram também uma consequência de investimentos públicos, embora sempre em articulação com os grupos industriais e financeiros portugueses. Os mais importantes foram certamente aqueles que foram realizados na Siderurgia Nacional e no sector petroquímico, em Sines, um grande porto marítimo, situado perto de Lisboa. Os sec ores s o ernos, os “Seg n Revol o In s r l”, con n ss g nh r terreno na estrutura da produção industrial portuguesa entre 1960 e 1973.

11

Ver a evolução da indústria na fase industrialista do Estado Novo;

Composição da população ativa (%) Composição do PIBpm (%)

Primário Secundário Terciário Primário Secundário Terciário

Fase ruralista 1930 50,7 19 30,2 31,5 28 40,5

Fase introvertida 1950 52,6 21,1 26,3 32,1 30,3 32,6

1960 49,1 24,5 26,4 22,4 36,3 41,3

Fase extrovertida 1970 32,8 33,4 33,9

1973 12 41,2 46,9

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Taxas anuais médias de crescimento do emprego (Continente)

1961 - 1970 1971 - 1973

Primário -3,70% -4%

Secundário 2,20% 1,20%

Terciário 1,90% 1,70%

Economia 0,20% -0,60%

Crescimento industrial - taxas anuais médias de crescimento entre 1950- 1974

Espanha 8,60%

Portugal 7,80%

Itália 7,20%

Alemanha 6,70%

França 5,80%

Suécia 4,70%

Inglaterra 2,60%

Taxas de crescimento médio anual do valor acrescentado bruto na indústria transformadora

entre 1960 e 1973 (%)

Os grupos económicos: O processo de concentração do capital industrial tinha sido iniciado no período posterior à 2ª Guerra Mundial, no âmbito da estratégia de industrialização introvertida. Entre 1960 e 1973, verifica-se uma aceleração deste processo, com novas manifestações. Durante os anos sessenta, os grandes grupos industriais (onde predominavam, o grupo CUF e o Grupo Champallimaud) reforçam a sua posição, através de alianças que celebram com as empresas do sector financeiro da economia. Os grupos financeiros, por sua vez, apostarão também em determinados projetos industriais de grande envergadura. O mais importante desses grupos com origem financeira foi, sem dúvida, o Grupo Espírito Santo. No final deste período, por volta de 1973, este conjunto de sete grandes grupos industriais e financeiros dominavam a economia portuguesa. Estes controlavam, com efeito, toda uma série de actividades importantes. Controlavam ainda os quatro sectores industriais portugueses com mais elevadas taxas de lucro.

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As cinco principais empresas exportadoras do país, pertenciam-lhes, e eles ocupavam também os o o or n e nos “sec ores e se” n ús r or g es (siderurgia, cimentos, indústria química) e nas actividades ligadas ao comércio e à exploração de produtos coloniais (açúcar, café, tabaco, algodão, petróleo).

Estes grupos, bastante ligados entre eles e com fortes relações a nível do aparelho de Estado, desempenharam um papel importante na viragem para uma maior abertura ao exterior da economia portuguesa durante estes anos que vão de 1960 a 1973. Contribuíram para a captação de IDE e tinham ligações relevantes a capitais estrangeiros. Foram, em certa medida, quadros destes grupos, que, chegando ao aparelho de Estado, também contribuíram para alteração na estratégia de industrialização que se vai dar progressivamente ao longo deste período.

Os agregados macroeconómicos

A situação era bastante estável no início dos anos 60: - O aumento anual dos preços no consumidor tinha sido moderado nos anos 50; - As contas públicas estavam também virtualmente equilibradas; - No ao sector externo, a situação era também favorável. Os saldos positivos das transferências privadas (com as remessas dos emigrantes) e dos serviços (com o turismo) permitiam contrabalançar o défice comercial persistente; - O valor da moeda portuguesa conhecia também uma grande estabilidade desde os finais dos anos quarenta; - O mercado de trabalho, parece ser possível afirmar-se, com base nas estimativas existentes, que a taxa de desemprego não era elevada no início dos anos sessenta.

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Evolução da taxa de desemprego12

Apesar deste bom desempenho da economia portuguesa, a evolução dos salários reais não foi muito significativa. O crescimento entre 1945 e 1960 foi muito inferior ao da produtividade do trabalho. Os custos unitários da mão da obra na economia, em termos reais, diminuíram deste modo entre estas duas datas. O fraco crescimento dos salários reais provocou uma muito fraca progressão da dimensão do mercado interno, do qual dependia, no entanto, a estratégia de industrialização por substituição de importações do após guerra e a maioria das empresas portuguesas. Durante o período da abertura ao exterior, entre 1960-1973, os objectivos no plano da política macroeconómica continuaram a ser os mesmos do passado, mas foi um pouco mais difícil cumpri-los: - Equilíbrio nas contas externas: entre 1960 e 1973, a balança de pagamentos portuguesa apresentou quase sempre saldos positivos, o que permitiu uma forte acumulação de reservas em ouro e divisas, em particular entre 1964 e 1973. Esta acumulação explica-se quase exclusivamente pelo crescimento das remessas dos emigrantes portugueses na Europa e pelo desenvolvimento das actividades turísticas. Importante destacar que as fontes que geram o superavit da Balança Corrente, e consequentemente a de Pagamentos, apresentam forte instabilidade no médio-longo prazo, pelo que se pode considerar que a sustentabilidade de tal superavit era questionável. Quanto à Balança Comercial é importante destacar que há uma degradação no período 1960-1973 relativamente a 1950-60. Apesar da estratégia de industrialização extrovertida, assente nas exportações, e que tal provocou uma elevada taxa de crescimento das importações, principalmente facilitada pela participação de Portugal nos movimentos europeus e internacionais, igualmente se observou uma elevada taxa de crescimento das importações pelas mesmas razões.

Saldo da Balança Comercial (em % do PIB)

1950-59 -5,1

1960-65 -7,4

12

A baixa taxa de desemprego observada entre 1960 e 1973 (2,2% em média por ano durante este período), explica-se sobretudo pelo forte crescimento da emigração. Esta tinha principalmente como origem as zonas rurais do país. Os salários agrícolas foram assim a principal fonte de crescimento dos salários reais durante este período.

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1965-73 -8,4

Além disso, num contexto de forte convergência real relativamente a economias mais desenvolvidas, torna-se natural um crescimento do défice comercial, motivada por um crescimento mais forte das importações face às exportações, associada a um ritmo de crescimento do PIB interno bastante superior ao correspondente para as economias desenvolvidas.

Balança de pagamentos (em % do PIB pm, 1960-1973)

- Estabilidade da moeda portuguesa, devido à ausência de problemas de pagamentos externos;

Evolução da taxa de câmbio do escudo face ao dólar (1960-1973) - uma variação positiva indica uma desvalorização do escudo

- O défice público aumentou a partir do início dos anos 60: este aumento foi sobretudo importante entre 1960 e 1965, devido à subida das despesas com a Guerra Colonial e ainda, a queda das receitas, devido à baixa dos direitos alfandegários na sequência da adesão portuguesa à EFTA. A reforma fiscal, realizada entre 1959 e 1964, permitiu entretanto melhorar a situação, a partir de 1965. Entre 1965 e 1973 os défices públicos votaram assim a ser moderados;

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Saldo orçamental em % do PIB (1960-1973)

- Um crescimento elevado dos preços no consumidor a partir de 1963. Este processo vai-se manter até os anos 90;

Taxas anuais de crescimento dos preços no consumidor em Portugal (1960-1974)

O porquê do aumento da inflação? - os saldos positivos e excepcionalmente elevados da balança de pagamentos durante a segunda metade dos anos sessenta e o início dos anos setenta (grandes remessas de emigrantes, grande investimento estrangeiro – principalmente da Alemanha, França, EUA e Reino Unido). Este fluxo foi incentivado pelos câmbios fixos. Esta entrada de moeda fez com que houvesse um aumento da massa monetária sem ser correspondida com o aumento do produto. Como o Banco Central não interveio houve uma alta de preços; - a subida dos preços internacionais de algumas matérias-primas chave (caso dos cerais por causa da entrada da União Soviética; choque petrolífero); - um crescimento muito acentuado da economia portuguesa, conjugado com uma forte, mesmo se talvez irreal, valorização dos títulos em bolsa; - subida dos custos unitários da mão-de-obra: devido a pressões da procura sobre a oferta, e tendo em conta a baixa de desemprego, aumento dos salários reais teria ultrapassou a produtividade do trabalho;

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Evolução dos salários reais, da produtividade do trabalho e dos custos unitários da mão-de-obra

OBS: O agravamento do défice comercial deve-se à apreciação da taxa de câmbio real portuguesa. A convergência de Portugal nesta altura contribui e de que maneira para esse défice.

Capítulo V

O período das rupturas e dos choques petrolíferos (1973-1985)

A) A economia europeia depois dos choques petrolíferos e do fim de Bretton-Woods O contexto internacional deste período é nada favorável ao crescimento. Como vimos o crescimento nestas economias desacelerou muito durante a fase IV de Maddison 13(de 1973 aos nossos dias). Os 16 países industrializados em que se baseia o estudo de Maddison cresceram em termos per capita e em média a uma taxa que foi de cerca de metade da verificada entre 1950 e 1973 (cerca de 2, 6%). As flutuações de nível de actividade económica também foram maiores, tendo-se mesmo verificado várias quebras anualizadas do PIB do conjunto dos principais países industrializados.

Características em termos de crescimento económico e características cíclicas das fases da tipologia de Maddison

13 Esta etapa é marcada pelo choque petrolífero. Caracteriza-se esta fase por um crescimento mais irregular e mais lento. Isso deve-se ao forte aumento do preço do petróleo, a partir dos finais de 1973, e dos problemas resultantes do desaparecimento da ordem em matéria de sistema de pagamentos internacionais estabelecida nos acordos de Bretton Woods. Temos um segundo choque em 1979-81 que levaram a pressões inflacionárias de muitas matérias-primas chaves.

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Fase I (1870-1913) Fase II (1913-1950) Fase III (1950-1973) Fase IV (1973 - 1989)

PIB (em termos de crescimento)

2,5 2 4,9 2,6

PIB per capita 1,4 1,2 3,8 2,1

Stock de capital 3,4 2 5,8 4,2

Exportações 3,9 1 8,6 4,7

Maior quebra no PIB -5,6 -12,4 0,2 -1,8

Maior quebra nas exportações -18,2 -36,5 -7 -7,6

Taxa média de desemprego 4,5 7,5 2,6 5,7

Taxa média de inflação 0,4 0,7 4,1 7,3

Factores determinantes da inversão do contexto internacional

1- Subidas acentuadas do preço do petróleo nos mercados internacionais: entre finais de 1973 e inícios de 1985, o preço do barril do petróleo esteve sempre a subir nos mercados internacionais. Destaque para os choques petrolíferos, o primeiro entre os finais de 1973 e os começos de 1974. Um segundo no início dos anos 80;

2- Emergência de relevantes desequilíbrios macroeconómicos e alteração nas

prioridades de política macroeconómica: com a incrível subida dos preços do petróleo, surgiram os elevados níveis de inflação em grande parte dos países industrializados (importadores de petróleo). Uma outra consequência foram os desequilíbrios nas contas externas desses países que eram fortemente dependentes do petróleo. Tudo isso fez que esses países tomassem medidas contracionistas, no sentido de combater a inflação e não incentivar o crescimento do produto e do emprego.

Taxa média de inflação nas principais economias mundiais

3- Desaparecimento do Bretton-Woods: há assim o desaparecimento do regime cambial fixo que tinha favorecido: a expansão do comércio, os movimentos internacionais de capitais e contribuído para o crescimento económico e a estabilidade de preços. O sistema desaparece após 1971, face à dificuldade de os EUA assegurarem a convertibilidade do dólar em ouro, na sequência da acumulação de fortes défices comerciais que fizeram com que esse perdesse as reservas que possuía em ouro). A passagem para câmbios flutuantes introduz o risco cambial, aumentando a incerteza nas transacções internacionais de mercadorias e capitais.

4- A mudança estrutural nas economias: os outros períodos foram marcados por

grandes mudanças estruturais na economia, que permitiam grandes ganhos de produtividade já não eram possíveis. Quanto à passagem de recursos do sector primário para o secundário e terciário, com níveis mais altos de produtividade, esta medida era cada vez mais difícil. Isso porque o

Período Taxa média de inflação

1960-1964 3,1%

1965-1972 4,5%

1973-1980 9,9%

1981-1990 4,4%

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contributo do sector primário para o PIB e emprego dos países industrializados era já muito baixo. Quando aos ganhos de crescimento económico conseguidos com a liberalização do comércio, naquela altura já eram menores, uma vez que a liberalização entre países industrializados já estava feita. Apenas faltava entre os países desenvolvidos e os em vias de desenvolvimento. E isso colocava problemas aos países mais desenvolvidos.

5- Desaceleração do ritmo de crescimento do progresso técnico: aqui destaca-se

principalmente no caso dos EUA, mas com repercussões nos demais países industrializados que aproveitam com as transferências de tecnologia americanas.

Características sistémicas das fases da tipologia de Angus Maddison

O caso português: as rupturas - a liberdade sindical, a descolonização, as nacionalizações e a reforma agrária

Em paralelo com grandes alterações no cenário internacional, Portugal também sofre grandes modificações na sua realidade nacional. Há o derrube do regime ditatorial do Estado Novo. A mudança de regime político operada em 25 de Abril de 1974 vem trazer as seguintes alterações:

1- Liberdade sindical: 14com o aparecimento da liberdade sindical há grandes modificações no processo de formação dos preços e dos salários na economia portuguesa. Até esta data, o Estado controla fortemente o poder reivindicativo dos sindicatos, procurando assegurar não só uma pretendida "ordem social", como também uma política de crescimento moderado dos salários. A política de baixos salários constituiu um dos pilares em que assentou o forte crescimento industrial que se registou a partir dos inícios dos anos cinquenta.

14 Com a descolonização temos o regresso dos portugueses das ex-colónias. Com isso, há um aumento do fluxo de oferta de trabalho, no entanto não houve uma diminuição dos salários, como seria suposto.

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O aparecimento da liberdade sindical introduz modificações muito significativas no processo de formação dos salários, podendo destacar: - novo enquadramento institucional das relações de trabalho, mais favorável aos trabalhadores. Como por exemplo: garantias de liberdade sindical, o direito à greve, condições de despedimento mais difíceis, redução da duração média do trabalho; - criação de uma relação de forças mais favorável aos trabalhadores nas negociações contratuais (princípio da não intervenção do Estado nas negociações colectivas) e no interior das próprias empresas; - evolução da norma salarial, como por exemplo: estabelece-se um salário mínimo fixado pelos poderes públicos, generalizam-se as remunerações salariais complementares (13º mês e subsídio de férias); fixa-se o princípio da actualização regular e negociada dos salários; alarga-se a cobertura da segurança social e é instituído um subsídio de desemprego; Assim, no período imediato que se segue ao 25 de Abril (entre 1974 e 1976) há um forte crescimento dos salários reais – cerca de 26% em termos reais. Esse crescimento está claramente acima do crescimento da produtividade do trabalho. Há também a um aumento da parte das remunerações do trabalho no produto nacional.

Salários reais e parte das remunerações do trabalho no PIB

No entanto, a partir de 1976, com o primeiro acordo com o FMI, há não só a uma quebra importante dos salários reais 15, como também o crescimento das formas precárias de trabalho (destaque para os contractos a duração) e um crescimento das formas de trabalho que escapam ao controlo do Estado (trabalho não declarado).

15

Evolução que reconduzirá, em 1984, o salário médio em termos reais para níveis inferiores aos de 1973.

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Importância do trabalho não declarado em vários sectores de actividade económica (1981)

Taxa de desemprego

Taxa de desemprego %

1974 2,2

1975 5,6

1976 6,7

1977 7,9

1978 8,4

1979 8,1

1980 7,9

1981 7,6

1982 7,5

1983 8,1*

1984 8,8

1985 9

*Ruptura de série

2- Descolonização: introduz modificações substanciais na inserção geo-económica da economia portuguesa. Perde-se importantes mercados para a exportação, e por outro lado, perde-se fontes privilegiadas de aprovisionamento de várias matérias-primas. A descolonização acabará também de vez com as teses africanistas e a polémica Europa/África. Portugal virar-se-á definitivamente para a Europa.

Page 47: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

47

Importância das ex-colónias portuguesas de África no comércio externo português (%)

3- Nacionalizações: realizadas a partir do 11 de Março de 1975, introduziram grandes alterações na estrutura empresarial portuguesa. Estas nacionalizações incidiram-se sobre uma parte muito importante do sector produtivo da economia portuguesa, nomeadamente:

- na indústria: destaque para as indústrias de base (siderurgia, celulose, adubos, petroquímica, cimentos, construção e reparação naval). Ainda inclui-se empresas dos sectores dos tabacos e das bebidas. Realizar-se-ão, por outro lado, importantes nacionalizações no domínio dos transportes (destaque para os sectores de transporte de massa, como por exemplo: aéreos, urbanos e suburbanos de Lisboa e Porto). Ainda temos nacionalizações no domínio da produção, transporte e distribuição de electricidade, gás e água.

- o sector financeiro: destaque para a banca e os seguros; Uma consequência dessas nacionalizações é o desaparecimento dos grandes grupos económicos que se tinham formado. A legislação da época interditará o acesso do capital privado a vastos sectores da economia (banca e seguros, às indústrias de base). E ainda, a irreversibilidade das nacionalizações. Assim, durante vários a economia portuguesa ficará desprovida de grupos económicos fortes a nível privado. No entanto, no período após 74 surgirão alguns grandes capitalistas no norte (o grupo SONAE e o grupo Amorim).

4- Reforma agrária: inicia-se com o 25 de Abril, no entanto, não altera grandemente a situação vivida em Portugal a nível das estruturas fundiárias, uma vez que ficará circunscrito a algumas zonas de latifúndio no Alentejo, não se tendo alargado às restantes zonas do país, nomeadamente, às zonas de minifúndio do norte do país. Assim, continua-se a ter uma excessiva concentração da propriedade no sul do país, em especial no Alentejo (zona de latifúndio), e uma excessiva fragmentação da propriedade no norte do país (zona de minifúndio). Estas situações são geradoras de baixos rendimentos culturais e baixas produtividades humanas.

Resumo: As alterações foram: - A nacionalização directa e indirecta de um certo número de empresas de grande dimensão no sector industrial e financeiro (que conduzirá à desarticulação dos principais grupos económicos privados); - A descolonização (que porá em causa a anterior inserção geoeconómica de Portugal); - A liberdade sindical (que introduzirá modificações importantes no que diz respeito ao processo de formação dos salários e dos preços); - A reforma agrária;

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48

O crescimento comparado no período Entre anos de ponta, de 1973 para 1985, as informações da OCDE mostram, uma queda do nosso indicador de convergência.

PIB per capita português relativamente ao de 10 países do norte e centro da Europa (dados

da OCDE)

Anos % 1973 57,3

fort

es

qu

ebra

s

1974 56,1

1975 52,2

1976 52,2

Co

nve

rgên

cia

len

ta

1977 53,4

1978 53,2

1979 53,6

1980 54,4

1981 54,8

1982 55,1

1983 53,8

Div

ergê

nci

a fo

rte

1984 51,1

1985 50,9

A tabela mostra que o nível do produto per capita português face ao dos 10 países do norte e centro da Europa caiu de 57,3% em 1973 para 50,9% em 1985. Globalmente, este indicador regista uma perda de 6,4 pontos percentuais nos doze anos (ou seja, o ritmo de divergência de 0,5 pontos percentuais em média por ano). O nível do produto por habitante português, face ao dos 10 países de referência, tinha assim caído, em 1985, para um nível próximo do de 1970/1971. No entanto, a divergência não foi contínua ao longo desta fase. Podemos distinguir então três períodos diferentes: - 1974 a 1975: são anos de fortes quebras em matéria de produto por habitante face aos dez países do nosso grupo de referência (e, particularmente, o ano de 1975); - 1976 a 1982: o processo de convergência prossegue, se bem que a ritmo bastante lento (0,5 pontos percentuais ano); - 1982 a 1985: um novo período de divergência forte (-1,4 ponto percentuais), e é aqui que

tivemos o regaste do FMI.

A desaceleração do ritmo de crescimento do PIB português era inevitável face aos choques petrolíferos e ao desaparecimento de Bretton Woods face ao aumentado (principalmente entre 1960 e 1973) grau de integração nos fluxos de comércio europeu atingido pela economia portuguesa em 1973. No entanto, a desaceleração no crescimento económico foi maior em

Page 49: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

49

Portugal que no exterior, já que o nosso indicador de convergência regista uma evolução globalmente negativa entre 1973 e 1985.

Taxa de crescimento anual do PIB pm de Portugal (%)

Período %

1960-70 6,2

1970-73 8,8

1974 2,6

1975 -4,7

1976 6,6

1977 5,6

1980 4,1

1981 0,8

1984 1,6

1985 3,3

1974-85 2,4

A revolução de Abril teve impacto nesse pior desempenho de Portugal face ao resto do mundo? Para percebermos melhor o impacto da revolução do 25 de Abril sobre o crescimento económico português vamos comparar o que se passou na Grécia e Espanha, onde não se verificaram revoluções. Ambos divergiram face aos países do norte e centro da Europa neste período que vai de 1973 a 1985. Essa divergência foi superior à de Portugal. No caso da Espanha, a divergência verificada é ligeiramente superior à verificada por Portugal (6,9 pontos percentuais no caso da Espanha contra 6,4 para Portugal). Para a Grécia, há um ritmo de divergência bastante maior face a Portugal (9,0 pontos percentuais ano contra os 6,4 portugueses). As informações parecem indicar que as autoridades públicas portuguesas conduziram a política económica de uma forma bastante positiva durante este período de graves problemas internos e externos.

PIB per capita espanhol e grego relativamente ao de 10 países do norte e centro da Europa (dados da OCDE)

Page 50: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

50

Essas informações estatísticas, indicam a divergência para a Grécia, Espanha e Portugal neste período. Mas também indicam que os países mais pobres do sul da Europa foram mais afectados pelos choques petrolíferos que os do norte e centro da Europa. Isso poderá estar associado a uma maior dependência do petróleo enquanto fonte de energia primária nos primeiros relativamente aos segundos.

O desequilíbrio externo e os acordos FMI O período 1973-1985 é marcado por importantes desequilíbrios macroeconómicos em Portugal, com destaque para o desequilíbrio externo. A Balança de Transacções Correntes

Antes (1966 e 1973)16 No período de 1973-1985

A Balança Corrente portuguesa apresentava saldos positivos, o que permitiu uma forte acumulação de reservas em ouro e divisas. Este saldo positivo explica-se quase exclusivamente pela evolução favorável das Transferências Unilaterais privadas (com as remessas dos emigrantes portugueses na Europa) e pelo progresso na Balança de Serviços (com o desenvolvimento das actividades turísticas). Estes fluxos positivos mais do que compensavam os tradicionais défices a nível da Balança Comercial. E ainda, na ausência de problemas de pagamentos externos, observa-se também uma grande estabilidade da moeda portuguesa ao longo dos anos sessenta.

A partir de 1974, a Balança Corrente passa a registar saldos muito negativos. Isso deve-se a um forte agravamento do défice comercial. Esse desempenho da Balança Comercial pode ser justificado por: - deterioração dos termos de troca no seguimento dos choques petrolíferos; - expansão da procura de bens alimentares e de consumo (duradouro e semi-duradouro), na sequência do aumento da população residente e o crescimento salarial; - abrandamento do ritmo de crescimento das exportações na sequência da crise económica internacional; - uma evolução lenta das remessas dos emigrantes (Transferências Unilaterais) e das receitas do turismo (Balança de Serviços), na sequência da desaceleração do crescimento no exterior; - os juros pagos a título de encargos com o serviço da dívida (registados na Balança de Rendimentos de Factores), que passarão a assumir um papel crescente enquanto elemento de desequilíbrio da Balança Corrente.

Evolução da Balança Corrente portuguesa (em % do PIB)

Anos %

1966 - 1973 2,5

16

Fase da industrialização extrovertida-

Page 51: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

51

1973 3,1

1974 -6,2

1975 -5,5

1976 -8,3

197717 -9,2

1978 -4,4

1979 -0,2

1980 -5

1981 -11,7

1982 -13,5

198318 -7,3

1984 -3,1

1985 1,7

1974 - 1984 -7,1

As políticas acordadas com o FMI deram bons resultados, e o défice comercial reagiu como pretendido. Logo após o primeiro acordo e durante o período de vigência deste, até 1979, o défice da Balança Corrente caiu significativamente aproximando-se mesmo do equilíbrio a Balança Corrente no final do período de vigência do acordo. No entanto, temos o segundo choque petrolífero, nos finais de 1979. E conjugado com alguma abertura da política de rendimentos que se verificou nos anos de 1980 e 1981, voltaram a fazer crescer o desequilíbrio das transacções correntes portuguesas, o que obrigou a um novo acordo com o FMI em 1983. Também durante o período de vigência deste segundo acordo, a Balança Corrente portuguesa reagiu bem às medidas tomadas. A tabela mostra uma diminuição acentuada do défice corrente a partir de 1982. Em 1985, verificou-se mesmo, pela primeira vez desde 1974, um saldo positivo. Devemos, no entanto, ter em conta que no ano de 1985, a descida do preço do petróleo, após a escalada que se tinha verificado desde os finais de 1973, facilitou esse melhoramento da situação da Balança Corrente portuguesa. A dívida externa A Dívida Externa portuguesa atingiu proporções bastante preocupantes, até chegou a representar, em 1984, cerca de 90% da produção interna. Este desequilíbrio nas contas com o exterior condicionará fortemente as possibilidades de crescimento da Economia Portuguesa entre 1974 e 1985. Este conduzirá, nomeadamente, à necessidade de assinar dois acordos com o Fundo Monetário Internacional: - 1º acordo: em 1977, que vai ser aplicado entre 1977 e 1979; - 2º acordo: em 1983, que vai ser posto em prática de 1983 a 1985;

17 Aqui temos o primeiro acordo com o FMI que vai desde 1977 e 1979. 18

Aqui temos o segundo acordo com o FMI, que vai desde1983 a 1985.

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52

No âmbito destes acordos, as autoridades públicas portuguesas vão comprometer-se a adoptar, em troca de ajuda financeira, um conjunto de medidas de "ajustamento económico" aconselhadas pelo Fundo Monetário Internacional: - medidas de política monetária restritivas (aumento das taxas de juro e fixação de "plafonds" ao crédito bancário); - medidas de política de rendimentos restritivas (limitação dos aumentos salariais); - medidas de política orçamental restritivas (contenção das despesas públicas); - medidas de política cambial (desvalorização da moeda nacional); Essas medidas visavam corrigir o desequilíbrio externo, contendo a procura interna e, por aí, as importações. No caso da política cambial de desvalorização da moeda procurava-se, para além de travar o crescimento das importações (aumentando o seu preço em escudos), mas fomentar também as exportações (fornecendo-lhes competitividade-preço). Procurava-se assim, com estas medidas, minorar o défice comercial e, por aí, o problema da dívida externa.

Evolução da Dívida Externa total portuguesa * (em % do PIB)

Anos Balança Corrente portuguesa (em % do

PIB) Dívida Externa total portuguesa (em % do PIB)

1966 - 1973 2,5 ______________

1973 3,1 ______________

1974 -6,2 ______________

1975 -5,5 ______________

1976 -8,3 ______________

197719 -9,2 ______________

1978 -4,4 31,7

1979 -0,2 36,6

1980 -5 37,5

1981 -11,7 48,9

1982 -13,5 65,5

198320 -7,3 83,5

1984 -3,1 90,4

1985 1,7 74,5

1974 - 1984 -7,1 ______________

No que diz respeito às políticas efectivamente postas em prática durante os dois programas, pode-se dizer que: - o esforço passou sobretudo pela política de rendimentos (forte quebra dos salários em termos reais a partir do primeiro acordo com o FMI apenas interrompida nos anos de 1980 e 1981) e pela política cambial (forte desvalorização real da moeda portuguesa que mais que compensou o crescimento dos preços e custos portugueses acima do exterior dando competitividade-preço aos produtos nacionais nos mercados exteriores).

19

Aqui temos o primeiro acordo com o FMI que vai desde 1977 e 1979. 20

Aqui temos o segundo acordo com o FMI, que vai desde1983 a 1985.

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53

- as medidas de política monetária e orçamental não parecem ter dado grande contributo para a resolução do desequilíbrio externo durante este período.

Taxa de juro nominal e real (1982-1985)21

Nominal Inflação (IPC) Real

1982 23,5% 22,7% 0,7%

1983 30% 25% 4%

1984 29% 29,3% -0,2%

1985 26,5% 19,3% 6%

Saldo do sector público em percentagem do PIB

Percebe-se que a política em geral torna-se expansionista, dando pouco contributo para a contenção do défice. Importante relembrar a componente cíclica do défice público. Mais precisamente, através dos estabilizadores automáticos (como por exemplo: aumento de custos com os desempregados, diminuição das receitas públicas). Normalmente tem-se em atenção ao défice estrutural. Nos dados que temos, não se tem em consideração esse défice estrutural.

A inflação

Um outro desequilíbrio que marcou esse período foi a inflação. Esse processo inflacionário tinha já começado antes, em meados dos anos sessenta. Com efeito, o ritmo de crescimento

21

(1 + ) = (1 + r) * (1 + π)

Período %

1960-1973 1,20%

1974 -1%

1975 -3.8%

1976 -5.3%

1977 -4,1%

1978 -6,3%

1979 -5,8%

1977 -5,4%

1979 -5,8%

1980 -8.5%

1981 -12,5%

1982 -8,5%

1983 -6,7%

1984 -10,2%

1985 -10,5%

1974-1985 -6,9%

Page 54: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

54

anual dos preços no consumidor acelerou a partir desta data e, em particular, a partir de 1969.22 Com oscilações, a taxa de inflação vai subindo até atingir, em 1984, um máximo histórico para a segunda metade do século XX português de 29,3%.

Antes do nosso período de estudo (a partir de 1969)23

No nosso período de estudo

Na origem deste processo inflacionário estiveram vários factores:

- os saldos positivos e excepcionalmente elevados da balança de pagamentos durante a segunda metade dos anos sessenta e o início dos anos setenta; - a subida dos preços internacionais de algumas matérias-primas relevantes; - crescimento acentuado da economia portuguesa; - valorização dos títulos em bolsa; - subida dos custos unitários da mão-de-obra;

Dá-se aqui seguimento a esse processo inflacionário já com outros factores: - há a inflação importada, devido à subida do preço do petróleo nos mercados internacionais entre os finais de 1974 e os princípios de 1985; - forte crescimento dos salários que se verificou entre os anos de 1974 a 1976. Como esse crescimento se situou muito acima do crescimento da produtividade, fazendo subir os custos unitários do trabalho, gerou-se inflação pelos custos (as empresas repercutiram nos preços dos seus produtos o crescimento dos custos unitários do trabalho); -forte crescimento da procura (devido ao aumento da população residente, com o retorno dos desalojados das ex-colónias portuguesas e do contingente militar português de África) pressionou os preços à alta no mercado de bens e serviços, mas em particular no mercado de bens agrícolas; - a política cambial, que ao permitir a desvalorização real da moeda, também acomodou a subida de preços e custos acima do exterior. Afinal, a desvalorização de uma da moeda é sempre uma medida inflacionista porque aumenta o preço dos bens importados em moeda nacional no montante da desvalorização e permite também que os produtores nacionais concorrentes de produtos importados aumentem os seus preços nesse mesmo montante; - o Estado muitas vezes recorreu-se a empréstimos junto do Banco Central (monetização da dívida), o que levou a um aumento importante da massa monetária em circulação;

22

Ainda dentro do período do Estado Novo (fase industrialista extrovertida). 23

As mesmas explicações que tínhamos vistos anteriormente.

Page 55: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

55

Evolução da taxa de inflação (IPC)

A situação no mercado de trabalho

1- A taxa de desemprego subiu ao longo do período, embora não de forma contínua. Atingiu em 1985, um máximo histórico para a segunda metade do século XX de cerca de 9%. Em média, ela situou-se entre 1975 e 1985 nos 7,8%, um valor que contrasta com os 2,2% médios que se verificaram entre 1960 e 1974. Devemos também referir que os custos dessas políticas, em termos de desemprego, existiram, mas não foram excessivos. A taxa de desemprego subiu, mas essa subida aconteceu também nos outros países da OCDE e, no caso de vários desses países, ela foi até maior que a verificada em Portugal, como por exempla, na Espanha.

Taxa de desemprego24

Taxa de desemprego %

1974 2,2

1975 5,6

1976 6,7

1977 7,9

1978 8,4

1979 8,1

1980 7,9

1981 7,6

1982 7,5

1983 8,1*

1984 8,8

1985 9

*Ruptura de série

24

Já tínhamos visto este quadro antes.

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2- O salário real teve uma evolução bastante negativa no período 1974-1985, podendo destacar:

- 1974 a 1976: na sequência do aparecimento da liberdade sindical, regista-se um forte aumento dos salários reais; - Após 1977 até 1985: esse forte crescimento não pôde ser sustentado. Após 1977, vamos assistir-se a uma queda praticamente contínua do salário real em Portugal. Em 1985, de acordo com o INE indicado, o poder de compra do salário em Portugal era um pouco inferior ao registado em 1973. Podemos justificar essa evolução os seguintes factores: - desaceleração do crescimento económico no exterior, na sequência dos choques petrolíferos; - a necessidade de políticas restritivas de ajustamento económico, devido ao desequilíbrio nas contas externas portuguesas, e ainda, no âmbito dos acordos com o FMI.

Evolução dos salários reais

3- Custos unitários do trabalho: estes cresceram mais em Portugal do que nos principais parceiros comerciais. Isso deveu-se: - a uma maior subida dos salários nominais em Portugal; - um menor crescimento da produtividade; No entanto, é importante destacar que o maior crescimento dos CUT em Portugal não trouxe problemas de competitividade internacional, uma vez que este crescimento foi mais do que compensado pela desvalorização da moeda nacional ao longo deste período.

O comércio e o investimento directo estrangeiro As políticas de ajustamento aconselhadas pelo FMI tiveram consequências importantes sobre a evolução do comércio externo português entre 1973 e 1985. Baseado num modelo de industrialização extrovertida ou por promoção das exportações, e ainda, pela forte captação de IDE, Portugal tinha-se tornado um exportador de produtos

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manufacturados entre 1960 e 1973, destacando os sectores como: as máquinas, material eléctrico, o material de transporte (sobretudo a nível da construção e reparação naval, mas também na área da indústria automóvel), o vestuário, malhas e têxteis para o lar, a indústria do papel e o calçado.

Composição das exportações portuguesas em 1973 e 1975

Com a forte desvalorização da moeda nacional que se verificou a partir de 1977, bem como a quebra nos salários reais que começou também nessa data com o primeiro acordo com o FMI, beneficiaram sobretudo os sectores mais mão-de-obra intensivos, em particular as chamadas indústrias da moda, o vestuário e o calçado. Essas duas indústrias foram praticamente os únicos que ganharam peso na estrutura das exportações de produtos manufacturados entre 1973 e 1985. Pode-se portanto afirmar que a evolução da composição das exportações foi bastante menos positiva que a verificada no período 1960-1973. É preciso destacar que a indústria do papel e os minerais não metálicos (vidros, cerâmicas e outros materiais de construção civil) também subira, mas muito menos que o vestuário e o calçado. Note-se também que o vestuário se tornou, entre 1973 e 1985, no principal produto manufacturado exportado por Portugal, tirando dessa posição as máquinas, material eléctrico e de transporte que a assumiam em 1973.

Entre 1974 a 1985 há uma menor qualidade do IDE realizado em Portugal, apesar dos esforços das novas autoridades públicas, como por exemplo: - publicação de nova legislação (Código do Investimento Estrangeiro); - criação do Instituto do Investimento Estrangeiro, um departamento governamental que passou a ser a única entidade com a qual o investidor estrangeiro precisaria de contactar para fazer o seu investimento. - aquando das nacionalizações, não se tocou na parte detida por estrangeiros do capital das empresas nacionalizadas. No entanto, esses esforços enfrentaram dificuldades significativas como: - o menor crescimento da economia internacional nestes anos de 1973 a 1985;

Produtos 1973 1985

Obras em cortiça e madeira 7,1 5,4

Pasta para papel 7,3 8,4

Fios e tecidos 24,7 14,4

Minerais não metálicos 3,5 4,5

Máquinas, material eléctrico e de transporte 21,6 19,3

Vestuário 14,8 22

Calçado 1,7 6,6

Outros produtos 19,4 19,3

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58

- introdução do risco cambial nas transacções, na sequência do fim do sistema de Bretton Woods;

Investimento directo estrangeiro (em % do PIB), dados do Banco de Portugal

Embora as entradas líquidas de IDE não tenham diminuído face aos anos sessenta, podemos perceber que é sobretudo de reforço de investimentos realizados no período anterior, em detrimento de investimentos novos. Uma parte maioritária das entradas de IDE entre 1974 e 1985 dirigiu-se também, não para a indústria transformadora, como nos anos sessenta, mas para o sector do comércio por grosso.

A terciarização em Portugal25 A teoria dos 3 sectores de Colin Clark indica que à medida que as economias se vão desenvolvendo (e o produto per capita vai subindo), verificam-se as alterações na procura dirigida aos três sectores: - 1º fase: quando as economias se dedicam essencialmente às actividades do sector primário e apresentam níveis de produto per capita baixos, os acréscimos de rendimento gerados, por qualquer motivo, tendem a dirigir-se para a procura de bens do sector secundário, fazendo aparecer uma fase de industrialização. - 2º fase: Mais tarde, com rendimento per capita ainda mais elevado, verifica-se um fenómeno de saciedade relativa dos bens do sector secundário. Agora, o acréscimo de rendimentos gerados destina-se à procura de serviços (bens imateriais) em detrimento dos bens materiais produzidos pelos sectores primário e secundário. Em particular, aumenta a elasticidade-rendimento da procura para os serviços, nomeadamente para os chamados serviços sociais e pessoais (turismo e lazer, à saúde, à educação e à administração pública). Esta teoria explica não só o facto de em todas as economias mais ricas da actualidade ter aparecido uma fase de terciarização, mas também o facto de o aparecimento dessa fase acontecer mais cedo numas economias que noutras.

25

Incluí aqui a parte referente ao processo de terceirização do ponto 6, do capítulo VI.

Page 59: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

59

Podemos portanto conjecturar, que, no caso da economia portuguesa, a subida do produto per capita que se verificou entre 1950 e 1973, com a industrialização, levou a que, chegados a 1974, Portugal tivesse já atingido um patamar de rendimento per capita suficientemente elevado para começar a terciarização. Para além disso, a mudança de regime político com a revolução em 1974 acelerou certamente a terciarização, já que levou a fortes investimentos do Estado em sectores, como os da educação, saúde e administração pública. Assim, entre 1974 e 1985 (principalmente em 1985) o sector terciário ganha peso na estrutura do PIB (5 pontos percentuais), em detrimento dos sectores primário e secundário que perdem em termos de posição relativa. Pela tabela, também podemos ver que no caso dos países industrializados a terciarização começou mais cedo, por volta de meados dos anos cinquenta.

A composição sectorial do PIB ou Estrutura do PIB (%)26

Portugal Reino Unido França

Anos\ Sectores 1953 1974 1985 1788-1789 1950-1954 1985-1989 1788-1789 1950-1954 1985-1989

Primário 28,9 11,9 10,5 40 4 2 49 13 4

Secundário 33,2 43,2 39,6 21 49 37 18 48 30

Terciário 37,9 44,9 49,9 39 47 61 33 39 66

Economia (total) 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Portugal

Sectores 1953 1973 1974 1985 1995 2003 2010

Primário 28,9 12 11,9 10,5 6,5 3,2 2,7

Secundário 33,2 41,2 43,2 39,6 34 25,8 22,8

Terciário 37,9 46,9 44,9 49,9 59,5 70,9 74,5

Economia (total) 100 100 100 100 100 100 100

A partir de 1974, na fase de terciarização, sobe a importância relativa do sector terciário, em detrimento do primário e secundário, que perdem peso na estrutura do emprego da economia portuguesa.

Composição sectorial do emprego em Portugal (%) – Dados do Banco Central

1953 1973 1974 1985 1992 1995 1999 2005 2007 2011

Primário 48,8 23,7 23,2 17,1 12,6 12,5 12,5 11,8 11,5 9,9

Secundário 23,9 36,3 35,7 37,1 35,7 33,7 34,1 30,6 30,5 27,3

Terciário 27,3 40 41,1 45,8 51,8 53,9 53,4 57,6 58,1 62,8

Economia (total) 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

26

Todos os valores a azul são valores que são dados no ponto 6 do capítulo VI

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60

Capítulo VI A consolidação da integração europeia (da adesão à CEE aos

nossos dias)

O crescimento económico comparado no período A partir de 1985 a economia portuguesa vai novamente convergir para os níveis de PIB per capita dos países mais ricos do Norte e Centro da Europa. O produto per capita português subiu de 50,9% em 1985 para 61,7% em 2006, tendo-se portanto verificado um ritmo de convergência de 0,5 pontos percentuais ao ano no conjunto destes últimos 21 anos. No entanto, trata-se de um ritmo de convergência bastante inferior ao da fase de industrialização 27(entre 1950 e 1973). Devemos ter em conta que em 1950 a economia portuguesa partia de um nível mais baixo e, por diversas razões, é mais fácil convergir a partir de um patamar baixo. PIB per capita português relativamente ao de 10 países do Norte e Centro da Europa, UE15 e

Euro Área [% - dados da OCDE]

Anos 10 países (%) EU 15 países Euro Área (%)

1985 50,9 59,3 59,8

ritm

o d

e co

nve

rgên

cia

foi b

asta

nte

ráp

ido

1986 51,7 60,2 60,8

1987 54,1 62,5 63,3

1988 56,8 64,8 65,6

1989 59,2 67 67,6

1990 60,4 68,1 68,4

1991 62,7 70,3 70,1

1992 62,9 70,5 70,1

1993 61,9 69,5 69,5

1994 60,6 68,3 68,5

1995 61,6 69,3 69,7

1996 62,6 70,6 71,1

1997 63,4 71,6 72,1

1998 64,6 72,8 73,4

1999 65,3 73,3 73,9

2000 65,4 73,2 73,8

Co

nve

rgê

nci

a le

nta

, at

é h

á p

erío

do

s d

e d

iver

gên

cia 2001 65,6 73,1 73,7

2002 65,3 72,7 73,5

2003 63,9 71 72

2004 63,1 70,3 71,5

2005 62,5 / 62,4* 69,8 71,1

27 Neste último período, o ritmo de convergência foi de cerca de 0,9 pontos percentuais em média por ano.

Page 61: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

61

2006 61,7 / 61,5* 68,9 70,2

2007 61,5 _________ _________

2008 61,7 _________ _________

2009 62,9 _________ _________

2010 62,6 _________ _________

*dados do slide do professor Miguel

Vamos distinguir dois períodos no que diz respeito ao crescimento comparado da economia portuguesa entre 1985 e 2006: - Entre 1985 até por volta de 1999, o ritmo de convergência foi bastante rápido, particularmente entre 1985 e 1993, com um ritmo de convergência foi de 1 ponto percentual ao ano. Destaque para o período entre 1985 e 1993 com um ritmo de 1,4 pontos percentuais ao ano (valores iguais aos obtidos durante a época de ouro da convergência portuguesa, entre 1960 e 1973). Uma das possíveis explicações para essa convergência é a adesão ao Mercado Único, e todos os seus efeitos. 28 - De 1999 até os nossos dias, o PIB per capita tem uma evolução mais lenta. A economia portuguesa até começa a divergir face aos 10 países de referência a partir de 2002. O que pode justificar esse desempenho menos positivo da economia? - dificuldades de adaptação ao novo contexto que a entrada para a União Monetária trouxe, nomeadamente, as políticas de rendimentos e orçamentais adoptadas pelas autoridades públicas portuguesas não se ajustaram bem ao neste contexto macroeconómico; - os produtos portugueses têm perdido competitividade nos mercados externos e interno. Isso deve-se ao crescimento dos custos unitários do trabalho acima do exterior. Na ausência de política cambial, não há possibilidades das autoridades públicas portuguesas corrigirem esse problema. Esta evolução dos custos unitários está associada a um crescimento da produtividade próximo do verificado nos nossos principais parceiros comerciais, mas um crescimento dos salários nominais bastante acima; - a economia portuguesa parece não se ter adaptado ao novo cenário internacional. Perante uma maior integração de novos países (como por exemplos: os países de Leste), Portugal tem tido uma menor capacidade de atracção de IDE, e ainda, tem perdido possibilidades de comércio para esses países (exemplo: Alemanha). Para além disso, podemos destacar a maior penetração dos íses e “baixo ren en o” (co Ch n ) nos mercados europeus depois das negociações do Uruguai Round e da adesão da China à Organização Mundial de Comércio em 2001. Essa maior penetração dificulta as vendas portuguesas nos mercados europeus de produtos onde a competitividade assenta em baixos custos unitários do trabalho (como é o caso, por exemplo, de alguns segmentos do vestuário e dos têxteis, tradicionais sectores à exportação da economia portuguesa). 28

Ver efeitos da liberalização do comércio.

Page 62: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

62

Comparativamente aos Países de Coesão Comparativamente com a Espanha, Grécia e Irlanda (que também receberam ajudas financeiras ao abrigo do Fundo de Coesão), pode-se observar que a performance portuguesa até por volta de 1999 foi bastante positiva, exceptuando com a Irlanda. Este país conseguiu um excelente ritmo de convergência, cerca de 2,8 pontos percentuais ao ano. Entretanto, mais recentemente, desde 1999, enquanto a Espanha (com um ganho de 0,6 pontos percentuais ano) e a Grécia (0,3) se estão a aproximar da média dos 10, Portugal está a afastar-se. A Irlanda, conseguiu superar o rendimento per capita médio dos 10 em 2000, continua a crescer bastante acima.

PIB per capita relativamente aos de 10 países [%, dados da OCDE]

Anos Portugal Espanha Grécia Irlanda

1985 50,9 64,3 64,3 59,2

1986 51,7 64,5 62,8 57,4

1987 54,1 66,7 60,1 59

1988 56,8 68,1 60,8 60,7

1989 59,2 69,6 61,3 63,1

1990 60,4 70,5 59,6 67

1991 62,7 71,6 60,4 67,3

1992 62,9 71,5 59,9 68,5

1993 61,9 71 58,9 70,3

1994 60,6 70,5 58,1 72

1995 61,6 70,8 57,9 76,9

1996 62,6 71,1 57,9 81,3

1997 63,4 71,9 58,1 87,8

1998 64,6 73 58,4 91,7

1999 65,3 74,4 58,7 98,1

2000 65,4 75 59,2 102,5

2001 65,6 76 61,4 106,1

2002 65,3 76,6 63,2 110,1

2003 63,9 77,3 65,8 112,7

2004 63,1 76,9 67,3 113,6

2005 62,5 77,3 68,8 116,3

2006 61,7 77,2 69,7 117,1

Comparativamente aos países newcomers Aqui ter em consideração o desempenho de aderiram recentemente à União Europeia, como por exemplo: República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia. Estes têm tido um comportamento mais dinâmico que o da economia portuguesa desde o final dos anos noventa. Também é o caso de países como o Chipre, Malta ou a Eslovénia, estes actualmente já com um nível de PIB per capita ligeiramente superior ao português.

Page 63: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

63

PIB per capita relativamente aos de 10 países [%, dados da OCDE]

Anos Portugal R. Checa Hungria Polónia Eslováquia

1992 62,9 52,3 39,8 29 33,5

1993 61,9 52,6 39,9 30,2 34,2

1994 60,6 52,2 40 30,9 35,2

1995 61,6 54,1 39,5 32,2 36,3

1996 62,6 55,5 39,4 33,6 37,8

1997 63,4 53,8 40,3 35 38,5

1998 64,6 52 41,3 35,7 39,2

1999 65,3 51,5 42,2 36,4 38,8

2000 65,4 51,8 43,1 37 38,3

2001 65,6 52,9 44,6 37 39,3

2002 65,3 53,6 46,2 37,3 41,1

2003 63,9 55,1 47,7 38,6 42,8

2004 63,1 56,5 49,4 40 44,3

2005 62,5 59 50,8 40,9 46,3

2006 61,7 61,1 51,6 42,5 48,9

O impacto da integração no crescimento económico Devemos distinguir os dois principais acontecimentos que marcam este período: - Adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) a 1 de Janeiro de 1986; - Integração na União Monetária a 1 de Janeiro de 1999; Há uma maior abertura da economia portuguesa com a adesão à CEE, e ainda, com entrada em vigor do chamado Mercado Único Europeu em 1992 (que aboliu outras barreiras ao comércio que não as alfandegárias). Tudo isso proporcionou algum crescimento das exportações, e ao mesmo tempo, há uma diminuição da taxa de cobertura do mercado interno por produção nacional caiu.

1986 2011

% do PIB que é exportada 26% 36%

Taxa de cobertura do mercado interno por produção nacional 69% 62%

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64

A intensidade exportadora 29e taxa de cobertura do mercado interno 30 [dados do Banco de Portugal]

A adesão à CEE e os efeitos da liberalização do comércio

Efeitos estáticos: provocam uma reorientação dos recursos dos sectores menos eficientes para os sectores mais eficientes da economia nacional durante o período do desarmamento alfandegário e podem ter, por isso, um impacte positivo sobre o crescimento e os níveis de produto e produtividade das economias (no caso português, sobretudo entre 1986 e 1992); Daqui, podemos destacar três tipos de efeitos: - efeitos de criação de comércio: devido ao desaparecimento da pauta aduaneira portuguesa e à adopção da pauta externa comum, Portugal deixou de produzir produtos em que era menos eficiente e passou a importar esses produtos de países parceiros da CEE; - efeitos de desvio de comércio: devido ao desaparecimento da pauta aduaneira portuguesa e à adopção da pauta externa comum, Portugal deixou de importar determinados produtos de países terceiros para passar a importar esses produtos de países parceiros menos eficientes; - efeitos de expansão das exportações: uma consequência dos efeitos de criação e de desvio de comércio que ocorreram também nos países parceiros de Portugal e que beneficiaram as exportações portuguesas. Nota bem: O impacte sobre o crescimento e o nível de produto da soma destes efeitos é positivo se a criação de comércio mais a expansão das exportações for superior ao desvio de comércio. No caso português, os estudos existentes mostram que as principais situações de desvio de comércio ocorreram na área agrícola, em particular a nível dos cereais, com a substituição dos EUA, um produtor mais eficiente, pela França e pela Espanha.

29

Intensidade Exportadora = Exportações / PIBpm*100; 30

Taxa de Cobertura = [ (PIBpm – Exportações) / (PIBpm + Importações – Exportações) ] * 100;

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65

Efeitos dinâmicos: são os efeitos que permanecem no tempo. Aqui incluímos o aumento de concorrência gerado pela liberalização do comércio (que introduz ganhos de eficiência nos vários sectores e empresas das economias) e o efeito de aproveitamento de economias de escala geradas pelo alargamento de mercado (que permite também obter ganhos de eficiência nos vários sectores e empresas das economias que se integram em espaços de comércio livre). No caso concreto da integração portuguesa na CEE devemos ainda acrescentar os efeitos dos fundos estruturais sobre o crescimento e o nível de produto e produtividade da economia.

Transferências de União Europeia (em % do PIB)

Período Brutas Líquidas

1986-1988 1,7 0,8

1989-1993 (I QCA) 3,2 2,1

1994-1999 (II QCA) 3,9 2,7

2000-2006 (III QCA) 2,7 1,7

2007 2,4 1,4

1986-2007 3 1,9

Ao abrigo dos vários Quadros Comunitários de Apoio (QCA), Portugal recebeu transferências da União Europeia representando 3% do PIB (em termos brutos e em média por ano) no período 1986-2007. As transferências foram particularmente elevadas durante o II QCA, desceram durante o III QCA, e deverão descer ainda mais durante o IV QCA (2007-2013). Um estudo produzido pela Comissão Europeia em 1997 estimou que os efeitos da adesão e da integração no Mercado Único, e ainda, o efeito dos fundos estruturais, elevaria o nível do PIB português em 13,4% em 2000 relativamente ao nível que se verificaria na ausência desses efeitos.

Estimativas do impacto do Mercado Único Europeu e Fundos Estruturais (QCA I e II) sobre o

nível do PIB português

Mercado Único Europeu + Fundos Estruturais

Acréscimo percentual no PIB 2000 2010

13,4 14,7

Aos efeitos da liberalização do comércio sobre o crescimento e o nível de produto e produtividade das economias, junta-se também o “efeito Investimento Directo Estrangeiro”. Isto é, a integração em espaços de comércio livre costuma conduzir a uma aceleração das entradas de capitais a título de IDE. Esses capitais têm um impacto: - directo positivo, no crescimento e nível de produtividade das economias que os recebem, já que as Multinacionais apresentam normalmente níveis e taxas de crescimento da produtividade mais elevados que os verificados nos países que as recebem;

Page 66: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

66

- indirecto positivo, devido aos efeitos de imitação que as empresas multinacionais geram nas empresas do espaço onde se instalam; Investimento Directo Estrangeiro – entradas líquidas de desinvestimentos (em % do PIBpm) -

Dados do Banco Central

Anos (%)

1965-1973 0,5

1974-1985 0,6

1986-1992 2,4

1993-1999 1,5

2000-2007 3,6

1986-2007 2,6

2007-2011 1

Vê-se que as entradas de IDE a partir de 1986 aceleraram muito, representaram cerca de 2,6% do PIB em média por ano entre 1986 e 2007, muito superior ao verificado no período que se seguiu à adesão à EFTA. As entradas foram particularmente elevadas no período 1986-1992, tendo depois caído entre 1993 e 1999. A partir de 2000, as entradas deste tipo de capitais voltaram a acelerar, mas sobretudo associados a relações puramente financeiras, e não tanto a aplicações com carácter estável e duradouro. Para aferimos de forma mais completa do impacto da adesão à CEE sobre os níveis de produto e produtividade na economia, teremos que juntar aos ganhos já vistos, um novo enquadramento institucional e legislativo mais favorável ao crescimento económico. Afinal, foi necessário adaptar as instituições e a legislação portuguesas ao contexto comunitário, o que influenciou positivamente o crescimento económico e a boa performance em matéria de convergência real alcançados pela economia portuguesa no período que se segue à adesão à CEE.

O impacto da União Monetária Esta adaptação da economia portuguesa não tem sido tão positiva como a da CEE. Afinal, a convergência de Portugal tem sido muito baixa desde 1999, e até divergiu a partir de 2001. Para se explicar esse menor desempenho podemos ter em conta a evolução das políticas de rendimentos e orçamental. Portugal perdeu a autonomia da política monetária e cambial, restando apenas: - a política de rendimentos: que tem de ser conduzida de forma a evitar um crescimento sistemático dos salários nominais acima da produtividade, uma vez que um eventual crescimento dos custos unitários do trabalho (CUT) acima do dos demais parceiros da Zona Euro não pode ser compensado através da política cambial. - a política orçamental: tornou-se agora o principal instrumento de política anti-cíclica, e torna-se um instrumento mais forte em tem um efeito directo e indirecto (através do efeito multiplicador) no produto. Isso porque, antes uma politica expansionista teria o problema de

Page 67: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

67

Crowding Out sobre a despesa privada e exportações líquidas (tenderia a provocar um aumento da taxa de juro e, em economia aberta, uma tendência para a apreciação da moeda, isso tenderia a cancelar parte do impacto dessa medida). Com o euro, todo o efeito da expansão da despesa pública se reflecte em aumento do rendimento, porque a taxa de juro é fixada externamente e a taxa de câmbio está fixa. Mas, numa pequena economia aberta, com a capacidade produtiva fixa no curto prazo, a expansão da despesa pública tenderá a gerar deterioração da balança corrente. Assim, a política orçamental deverá ser conduzida de forma prudente. O ideal é gerar excedentes durante a fase de expansão dos ciclos económicos (ou seja quando o gap de produto é positivo, estando a economia a crescer acima do seu potencial de médio prazo) para depois poder utilizar esses excedentes para ajudar a economia nas fases de declínio (quando o gap de produto é negativo e a capacidade produtiva da economia não está a ser toda utilizada). Aliás, esta é a ideia que está presente no Pacto de Estabilidade e Crescimento. A política de rendimentos no período que antecede e após a entrada de Portugal para a Zona Euro, permitiu um crescimento dos CUT acima do dos nossos parceiros comerciais. Até 1999, esse maior crescimento foi mais do que compensado com a desvalorização do escudo. A partir de 1999, isso não sendo possível, o crescimento dos nossos CUT relativos retira competitividade nos mercados externos e no mercado interno à produção nacional, contribuindo para um menor crescimento da economia e para o agravamento dos défices da balança corrente portuguesa. OBS: Os custos unitários do trabalho (CUT) medem o custo médio de cada trabalhador por unidade produzida.

CUT 31=

=

CUT =

∆ CUT = ∆ salários nominais - ∆ produtividade

Desagregação do crescimento dos CUT

Portugal Zona Euro

∆ Remuneração ∆ Produtividade ∆ C.U.T ∆ Remuneração ∆ Produtividade ∆ C.U.T

1999-2006 3,8 1 2,8 2,3 0,8 1,5

1999-2011 3,1 1 2, 1 2,3 0,7 1,6

Entre 1999-2005, sabemos que a TCRE apreciou, como resultado de um crescimento dos salários nominais em Portugal acima da Zona Euro e de um crescimento da produtividade muito próximo desses países.

31

é a produtividade; N o nº de trabalhadores; é a massa salarial

Page 68: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

68

Para manter um diferencial positivo de crescimento dos salários nominais face ao exterior (próximo do salário médio dos países mais ricos) será necessário um crescimento da produtividade também substancialmente superior ao do exterior, o que não se tem verificado.

T.v.m.a. da taxa de câmbio real efectiva

Período ∆ média anual da taxa de câmbio nominal efectiva

∆ média anual dos CUT portugueses - ∆ média anual dos CUT parceiros

∆ taxa de câmbio taxa de câmbio real efectiva

1978-1984 -10,732 8,2 -2,5

1985-1992 -3,8 8,8 5

1993-1998 -2,1 2 -0,1

1999-2006 - 1,3 1,3

2010 - -0,8 -0,8

2011 - -1,7 -1,7

2012 - -5,5 -5,5

OBS: Sabemos que a taxa de câmbio real efectiva é dada pela relação entre os preços domésticos e os preços dos nossos parceiros comerciais, expressos na mesma moeda.

Ao Certo Ao Incerto

=

– taxa de câmbio real e efectiva ao certo; E – taxa de câmbio nominal efectiva ao certo; P – nível de preços domésticos;

– nível de preços dos parceiros; Assim vamos ter:

Ln = Ln E + Ln P – LN

Exprimindo os preços a partir dos salários nominais podemos obter a seguinte relação entre as taxas de variação:

P =

LN P = Ln w + Ln (1 + δ) – Ln

∆% P = ∆% w + ∆%(1 + δ) - ∆%

Vamos ter:

% = % E + [(%w - % π) – (% - % ) ] + [%(1 + δ) - % (1

+ )] – [% - % ]

=

– taxa de câmbio real e efectiva ao incerto; E – taxa de câmbio nominal efectiva ao incerto; P – nível de preços domésticos;

– nível de preços dos parceiros;

Assim vamos ter:

Ln = Ln E + LN - Ln P Exprimindo os preços a partir dos salários nominais podemos obter a seguinte relação entre as taxas de variação:

P =

LN P = Ln w + Ln (1 + δ) – Ln

∆% P = ∆% w + ∆%(1 + δ) - ∆%

Vamos ter:

% = % E + [(% - % ) – (%w - %π)] + [%(1 + ) -

%(1 + δ)] - [% - % ]

32

Esta depreciação mais que compensou o crescimento dos preços e custos em Portugal acima dos seus principais parceiros comerciais.

Page 69: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

69

Com taxa de câmbio definido pelo certo:

Taxa de câmbio real (TCR) = Taxa de câmbio nominal (TCN) *

∆ TCRE = ∆ TCNE + (∆ CUT de Portugal- ∆ CUT dos Parceiros)

Com taxa de câmbio definido ao incerto:

Taxa de câmbio real (TCR) = Taxa de câmbio nominal (TCN) *

∆ TCRE = ∆ TCNE - (∆ CUT de Portugal - ∆ CUT dos Parceiros) ∆ TCRE = ∆ TCNE + (∆ CUT dos Parceiros - ∆ CUT de Portugal)

Agora considerando o mark-up ( )33 Preço = CUT + CUT* Preço = CUT * (1+ ) Preço = CUT / (1-Margem) = 1 + Margem de lucro Ao certo, vamos ter:

Taxa de Câmbio Real (TCR) = Taxa de Câmbio Nominal (TCN) *

*

∆ Taxa de Câmbio Real (TCR) = ∆T e Câ o No n l (TCN) + (∆ CUT Por g l - ∆ CUT P rce ros) + (∆ Portugal - ∆ Parceiros) Ao incerto vamos ter:

Taxa de Câmbio Real (TCR) = Taxa de Câmbio Nominal (TCN) *

*

∆ Taxa de Câmbio Real (TCR) = ∆T e Câ o No n l (TCN) + (∆ CUT P rce ros - ∆ CUT Por g l) + (∆ Parceiros - ∆ Portugal) Nota bem: Taxa de câmbio nominal ao certo indica o número de unidades de moedas de outros países que conseguimos obter num determinado momento dando uma unidade de moeda nacional. Taxa de câmbio nominal ao incerto representa o número de unidade de moeda nacional que temos que dar para obter uma unidade de moeda estrangeira.

33

Mark Up é um índice aplicado sobre o custo de um produto ou serviço para a formação do preço de venda, baseado na ideia do preço margem; que consiste basicamente em somar-se ao custo unitário do produto ou serviço uma margem de lucro para obter-se o preço de venda. Isto é, markup é multiplicado pelo custo e a margem de lucro é uma parcela do preço.

Page 70: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

70

Taxa de câmbio bilateral indica o valor da moeda de um país face ao valor de outro país num determinado momento do tempo. Taxa de câmbio efectiva refere-se ao valor de mercado de um país face ao de um cabaz de moedas de um grupo de países. Na formação deste último, cada taxa de câmbio bilateral entra com um determinado peso, normalmente o peso que cada um dos países do grupo tem no comércio externo do primeiro. Taxa de câmbio real compara o nível de preços de dois ou mais países numa mesma moeda. Uma outra consequência da entrada na União Monetária foi a acentuada descida das taxas de juro nominais e reais. A convergência para os níveis de taxas de juro da Alemanha, começou a verificar-se já a partir de meados de 1995, e foi aproveitada pelas famílias para aumentarem de forma muito substancial os seus níveis de consumo, diminuindo a sua taxa de poupança e recorrendo maciçamente ao crédito bancário. Do mesmo modo, o Estado aproveitou a descida dos encargos financeiros associados à dívida pública (com a descida da taxa de juro) para expandir a despesa.

Taxa de juro de longo prazo (Obrigações do Tesouro a 10 anos)

Page 71: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

71

Endividamento e poupança dos particulares (em % do Rendimento Disponível) – Banco de Portugal

Pelo quadro, mais precisamente, através do défice ajustado 2, verificamos que até 2002 temos uma política orçamental expansionista, e depois, uma contraccionista. Percebe-se ainda que o crescimento da despesa ocorreu em período de expansão, tendo as autoridades públicas chegado à recessão de 2003 sem capacidade para fazer política anti-cíclica.

Défice público (em % do PIB)

* excluindo medidas temporárias

** excluindo medidas temporárias e factores cíclicos

A forte expansão do consumo, com a descida da taxa de juro, alimentada também por um crescimento pró-cíclico da despesa pública, bem como a política de rendimentos demasiado expansionista (face ao crescimento da produtividade), que levou a perda de competitividade internacional dos produtores portugueses, resultaram numa subida muito acentuada do défice externo a partir de 1996.

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72

Balança de Transacções Correntes em % do PIBpm (1953-2007) – Dados do Banco Central

Saldo da Balança de Transacções Correntes (em % do PIB)

Ano Saldo

1982 -13.5

1983 -7,3

1984 -3,1

1985 1,7

1985 a 1995

0,1

2010 -0,4

2011 -5,8

2012 0,8

Percebe-se que o défice da balança de transacções correntes atingiu quase 10% do PIB em vários anos, valores muito próximos dos verificados aquando da crise que levou ao segundo acordo com o FMI em 1983. Ao mesmo tempo, a dívida externa portuguesa tem subido (para financiar o défice corrente) tendo atingido, segundo números do Banco de Portugal, cerca de 100% do PIBpm em 2007. As consequências deste défice na Balança de Transacções Correntes? - Antes da integração de Portugal na Zona do Euro, teria uma escassez de divisas que obrigaria à desvalorização da moeda e à tomada de outras medidas de ajustamento para corrigir a situação, nomeadamente o processa de ajuda financeira que recebeu do FMI. - Actualmente, não há o problema da escassez de divisas, mas mantendo-se a médio prazo, provoca a passagem de activos portugueses para mãos de estrangeiros. Ainda, há a subida do prémio de risco implícito nas taxas de juro praticadas pelo sistema financeiro internacional

Page 73: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

73

nas transacções com agentes nacionais. Tudo isso coloca em causa a sustentabilidade das finanças públicas, o que levou à assistência financeira da Troika em 2011.

Os ciclos de crescimento e a situação no mercado de trabalho Ciclos de Crescimento Aqui vamos destacar três ciclos de evolução da economia portuguesa (com três fases de crescimento e duas recessões): 1º ciclo (1985 a 1993): tem-se a fase de expansão do ciclo entre 1985 e 1990. Há a fase de declínio, a partir de 1990 e que culmina com a recessão de 1993; 2º ciclo (1994 a 2003): a sua fase de expansão entre 1994 e 1998. A fase de declínio começa a partir de 1998 e termina com uma recessão em 2003. 3º ciclo (2004 a …): de 2004 a 2007 temos uma fase de expansão, com um declínio posterior até à grande recessão de 2009.

Da tabela seguinte pode-se verificar que as recessões de 1993 (queda de 0,7% do PIB) e a de 2003 (queda de 0,8%) foram mais brandas que as anteriores, sobretudo mais brandas que a de 1975.

Taxas de variação real do PIBpm

O padrão de crescimento

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74

PIB pm = C + G + I + (X- M)

PIB pm = procura interna + procura externa líquida

T.V.R do PIB = Contributo do Consumo + Contributo do Investimento + Contributo das

Exportações – Contributo de Importações

T.V.R =

* T.V.R. C +

* T.V.R I +

* T.V.R. X -

* T.V.R. M

O padrão de crescimento da economia ao longo dos 2 últimos ciclos, quando revela um comportamento que é típico em pequenas economias abertas.

Na fase de expansão do ciclo 1994-2003 existem dois períodos distintos: - Entre 1994-1995: o principal contributo para a taxa de crescimento do PIB vem do lado da procura externa; - Entre 1996 e 1998: o principal contributo bem da procura interna, associada à expansão do consumo das famílias e da despesa pública, na sequência da queda da taxa de juro. - Entre 1999-2003: aparece primeiro uma queda forte do contributo da procura externa (devido à desaceleração do crescimento no exterior), que depois se vai transmitindo progressivamente à procura interna (sobretudo a partir de 2001). Já em 2004, a recuperação aparece também associada à procura externa (com a excepção do ano de 2004, ano de crescimento excepcional da procura interna, talvez devido à realização do Euro 2004 em Portugal). Como é possível observar no gráfico, o ciclo em Portugal está cada vez mais ligado ao ciclo de crescimento na Zona Euro. É o que seria de esperar, após a adesão à Comunidade Europeia em 1986 e, sobretudo, depois da integração na União Monetária em 1999. Mostra também que apesar da recuperação do crescimento económico em Portugal depois da recessão de 2003, as taxas de crescimento do PIB per capita português não são suficientes para permitir convergência face aos países da Zona Euro.

Page 75: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

75

O desemprego Globalmente, no conjunto do período 1986-2007 a taxa de desemprego esteve, em média, mais baixa que a verificada no período das rupturas e dos choques petrolíferos (5,9% no primeiro período contra 7,3% no segundo), sem que se tenha, no entanto, voltado às baixas taxas de desemprego médias do período 1960-1973 (2,2%). A melhoria verificada no após 1985 é uma consequência do maior crescimento económico verificado neste período relativamente ao que vai de 1973 a 1985. Por outro lado, é possível observar na tabela que o desemprego médio atingiu valores muito próximos no conjunto de cada um dos dois ciclos de crescimento completos citados anteriormente.

A taxa de desemprego

Anos (%)

1985 9

1974-1985 7,3

1986 8,4

Page 76: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

76

Comentário sobre a tabela: A economia portuguesa começou a recuperar da recessão de 1984 em 1985, no entanto a taxa de desemprego subiu ainda em 1985. Depois, a taxa de desemprego esteve em queda até 1991, apesar de a partir de 1990 a economia portuguesa ter entrado na fase de declínio do ciclo 1985-1993. Em seguida, o desemprego volta a subir até 1996, apesar de a fase de expansão do ciclo 1994-2003 ter começado em 1994. A taxa de desemprego só reage à expansão a partir de 1997 caindo então até 2000, apesar de a fase de declínio deste novo ciclo de crescimento ter começado em 1999. Volta a reagir, subindo a partir de 2001 e, apesar de uma nova fase de expansão aparecer em 2004 (após a recessão de 2003), a taxa de desemprego contínua a subir só reagindo ao ciclo do produto, descendo, a partir de 2007. Pelos dados percebemos que as oscilações da taxa de desemprego seguiram o ciclo em termos de crescimento. No entanto, existe um desfasamento temporal entre a taxa de desemprego e

1987 7,1

1988 5,7

1989 5

1990 4,7

1991 4,1

1992 4,1

1993 5,5

1985-1993 (1º ciclo) 6

1994 6,8

1995 7,2

1996 7,3

1997 6,7

1998 4,9

1999 4,4

2000 3,9

2001 4

2002 5

2003 6,3

1994-2003 (2º Ciclo) 5,7

2004 6,7

2005 7,6

2006 7,7

2007 8

1986-2007 5,9

2008 7,6

2009 9,5

2010 10,8

2011 12,7

2012 15,7

2013 16,3

Page 77: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

77

a performance do PIB, isto é: a taxa de desemprego começa a descer quando o produto já está em expansão; a taxa de desemprego começa a subir quando o produto já estava em declínio. Este desfasamento porque as empresas tardam a reagir à conjuntura económica, despedindo ou empregando de novo. À entrada das fases de declínio do ciclo as empresas têm ainda uma carteira de encomendas que vem da fase de expansão e só quando ela se começa a esgotar reagem, despedindo. À entrada fase de expansão a situação é similar. A carteira de encomendas é demasiado baixa e as empresas esperam que ela aumente para reagir ao ciclo, empregando de novo. O período de desfasamento para Portugal é de cerca de 20 meses. Salário Nominal O salário nominal cresceu em média cerca de 7,9% ao ano no período 1986-2006, o que, tendo em conta um crescimento dos preços de 6,0% ao ano (medido pelo IPC) significa que o salário real cresceu cerca de 1,9% ao ano no período em questão.

Salário Real = Salário Nominal – Inflação (IPC)

Como a produtividade subiu 2,4% ao ano, os custos unitários do trabalho (CUT) elevaram-se cerca de 5,5% ao ano nesse período. Essa subida foi superior à verificada nos nossos principais parceiros comerciais, mas desta vez já não foi compensada com a desvalorização pois: - a política cambial estava ao serviço da desinflação; - após 1999, simplesmente deixou de existir política cambial própria;

Portugal

∆ Remuneração ∆ Produtividade ∆ C.U.T

1986 - 2006 7,9 2,4 5,5

1999-2006 3,8 1 2,8

1999-2011 3,1 1 2, 1

A desinflação

A economia portuguesa é tradicionalmente uma economia associada a baixas taxas de inflação. Durante todo o século XX, existiram apenas dois períodos de inflação:

- entre 1914 e 192434, em que a taxa de inflação média (medida pelo IPC) foi de 38% ao ano (com um pico de 81% em 1918);

- entre 1965 e 198435, em que a taxa de inflação média se situou nos 16% ao ano (com um pico em 1984 de 29%).

A partir dos princípios do ano de 1985, e de forma mais regular a partir dos finais de 1990, o ritmo de crescimento dos preços começou a desacelerar. Isso se deve principalmente à

34

Incluído na I República, devido a grande monetização da dívida portuguesa (afinal no Fontismo, Portugal tinha entrado em bancarrota e perdeu o acesso aos mercados internacionais); 35

Problemas com a monetização da dívida (por causa da guerra colonial) e ainda temos os choques petrolíferos.

Page 78: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

78

necessidade de cumprir o tratado de Maastricht. O diferencial de taxa de inflação face a CEE diminuiu rapidamente, e só assim com a convergência nominal que permitiu que no final do ano de 1997, Portugal estivesse em condições de aderir ao euro.

Índice de Preço do Consumidor

Diferencial de Inflação face a CEE

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79

Os motivos para a diminuição da inflação são:

1- A queda relativa (face à evolução geral dos preços dos outros bens e serviços) do preço do petróleo nos mercados internacionais a partir de 1985. Esse contributo é visto tenho em conta que a taxa de inflação medida pelo IPC caiu mais, entre 1990 e 1999, que a taxa de inflação subjacente, indicando um efeito favorável do comportamento do preço do petróleo (e também dos preços dos bens alimentares não transformados) sobre o ritmo de crescimento dos preços em Portugal.

Taxas de variação média anual dos preços36

Exceptuando um curto período aquando d ch “g err o Gol o”, no início dos anos 1990, o preço do petróleo esteve em baixa entre 1985 e 1998.

2- Uma mistura bem-sucedida de uma política comercial de abertura ao exterior com uma política cambial de não acomodação do diferencial de inflação face aos principais parceiros comerciais de Portugal. Aqui vamos destacar: A) - A decisão de aderir à CEE, que com o período do desarmamento alfandegário

(até 1992) trouxe: - como efeito directo sobre o crescimento dos preços, pois com o progressivo

desaparecimento dos direitos aduaneiros face aos países parceiros (e a redução face a aos outro) levou a quedas nos preços dos produtos importados;

- como efeito indirecto sobre o crescimento dos preços, que tem a ver com a

pressão exercida sobre os produtores nacionais (via concorrência) pela produção vinda de países com taxas de inflação mais baixas;

36 Inflação Subjacente: é uma medida de inflação que exclui certos itens muito sensíveis a variações conjunturais, como é o caso dos alimentares não transformados e o preço do petróleo. Taxa de inflação Subjacente = IPC - (Preço do petróleo + Preço de bens alimentares não transformados) Logo, IPC = Taxa de inflação subjacente + (Preço do petróleo + Preço de bens alimentares não transformados)

Page 80: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

80

Taxas de variação média anual dos preços37

A partir da tabela percebe-se duas fases:

- Primeira fase (até 1993): 38a desaceleração do ritmo de crescimento dos preços se faz principalmente nos sectores produtores de bens transaccionáveis (produtos ligados sobretudo ao sector primário e às indústrias transformadora e extractiva e que são objecto de trocas internacionais).

O ritmo de crescimento dos preços nestes sectores caiu 8 pontos percentuais entre 1989 e 1993. Nos sectores que produzem bens não transaccionáveis, que não são susceptíveis de ser importados e exportados, o ritmo de crescimento dos preços, no mesmo período, manteve-se bastante elevado e caiu apenas 3,6 pontos percentuais. Estes sectores estão abrigados da concorrência externa, a não ser indirectamente (através dos inputs que compram).

- Segunda fase (a partir de 1993): a taxa de inflação de não transaccionáveis

começa a cair de forma mais rápida. Isso só é possível pois: há uma diminuição do ritmo de crescimento dos salários nominais, menor crescimento do preço dos inputs transaccionáveis utilizadas nestes sectores; ganhos de produtividade conseguidos em alguns destes sectores (exemplo: modernização do sector financeiro e do comércio a retalho), no sentido de desacelerar o crescimento dos custos unitários do trabalho para este sector.

B) – A política cambial

A politica cambial aqui seguida foi de estabilização da moeda, deixando de acomodar o diferencial de inflação face aos países da CEE. Isto é, no período 1985-1998, globalmente considerado, não se acomodou diferenciais, obrigando assim os produtores nacionais a fazerem a convergência para o ritmo de crescimento de preços dos seus principais parceiros comerciais.

Período ∆ média anual da taxa de câmbio nominal efectiva

∆ média anual dos CUT portugueses - ∆ média anual dos

CUT parceiros

∆ taxa de câmbio taxa de câmbio real efectiva

37

A taxa de inflação de bens não transaccionáveis é calculada usando apenas os bens e serviços do cabaz de produtos do IPC que pela sua natureza não são susceptíveis de serem importados e exportados (sobretudo serviços). A taxa de inflação de transaccionáveis usa os bens e serviços do cabaz do IPC que são transaccionáveis com o exterior (sobretudo produtos agrícolas e indústrias). 38

Esse contributo só foi possível por causa das políticas cambiais seguidas nessa altura (não usar a taxa de câmbio para acomodação do diferencial de inflação) a abertura ao exterior (os efeitos do comércio livre).

Page 81: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

81

1978-1984 -10,7 8,2 -2,5

1985-1992 -3,8 8,8 5

1993-1998 -2,1 2 -0,1

1999-2006 - 1,3 1,3

2010 - -0,8 -0,8

2011 - -1,7 -1,7

2012 -39 -5,5 -5,5

Esta pressão trazida pela abertura à CEE não teria, no entanto, qualquer efeito se a política cambial (deixando depreciar a moeda em termos nominais) acomodasse o diferencial de crescimento dos preços face aos países CEE, os nossos principais parceiros comerciais. Nesse caso, seria possível manter um crescimento de preços muito acima do exterior, sem que a produção nacional perdesse competitividade internacional.

Os custos da desinflação

O processo de desinflação comporta um risco muito grave – o desemprego (Curva de Philips).

Por Portugal ter feito o seu processo de desinflação num período favorável do ponto de vista internacional, em termos de desemprego, os custos desta política não foram muito elevados comparativamente a outros países europeus anos 1980, numa altura em que o preço do petróleo estava a subir nos mercados internacionais.

Processos de desinflação em alguns países europeus

Portugal apresentou um rácio de sacrifício de 0,2. Isto é, por cada 1 pp de descida da inflação, houve um aumento 0,2 pp na taxa de desemprego. Países como a Irlanda ou a Espanha incorreram em custos em termos de desemprego bastante mais elevados que Portugal, por cada ponto percentual a menos de inflação.

A evolução nas relações com o exterior: comércio externo e investimento directo

39

Este valor será 0 face aos principais comerciais de Portugal da Zona Euro, uma vez que a taxa de câmbio do escudo face às moedas desses países foi fixada.

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82

1- O comércio Externo Como já vimos anteriormente, a adesão à CEE com os seus efeitos de comércio que lhe estão associados, conduziram a algum crescimento da intensidade exportadora da economia portuguesa, ao mesmo tempo que a taxa de cobertura do mercado interno por produção nacional diminuiu. Esses efeitos de comércio associados à entrada de IDE trouxeram também alterações muito significativas na estrutura geográfica e sectorial do comércio externo português.

Estrutura geográfica do comércio externo português, por grandes zonas económicas

Entre 1986 e 2005, a parte no nosso comércio externo dos 15 países que constituíam a União Europeia até ao penúltimo alargamento em 2004 progrediu rapidamente, subindo 13,2 pontos percentuais do lado das importações e 2,9 pontos percentuais do lado das exportações. Actualmente, o comércio externo português está fortemente concentrado na UE15 e, dentro deste grupo, num número muito reduzido de países. Em 2005, 75% das importações provinham da UE15 e 78% das exportações dirigiam-se para estes mercados. O mesmo acontece com outros fluxos geradores receitas externas, como o turismo, o IDE e as remessas dos emigrantes. Importante destacar que uma excessiva concentração do comércio externo português nesta área geográfica pode trazer problemas. Uma maior diversificação traria vantagens, porque tenderia a atenuar o impacto das fases de menor crescimento da UE (ou das suas recessões) sobre Portugal.

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83

Dentro da UE15, a Espanha domina com uma quota próxima de 40% do lado das importações e de 35% do lado das exportações. Seguem-se a Alemanha, a França (12 e 17%), o Reino Unido e a Itália. Desde a adesão, o comércio externo português por países de origem e destino sofreu profundas alterações. A quota da Espanha, como seria de esperar (dada a abertura simultânea dos respectivos mercados em 1986 e a proximidade geográfica dos dois países), subiu acentuadamente, passando de 18 para cerca de 40% do lado das importações e de 9 para 35% do lado das exportações.

Estrutura geográfica do comércio externo português, por países da UE15

Todos os outros principais parceiros perderam importância relativa. A França, o Reino Unido e a Itália, desde 1986, indicando uma substituição desses mercados pelo espanhol, mais

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84

próximo. A Alemanha manteve-se um importante parceiro até meados dos anos 1990. Em 1996 era ainda o principal cliente de Portugal. No entanto, há uma quebra, que se acentua nos anos mais recentes, e que deverá estar associada a um desvio das importações que este país fazia para os seus vizinhos da Europa de Leste que se integraram recentemente na União Europeia.

Estrutura das exportações portuguesas dentro da UE15 (%, principais parceiros)

Estrutura das importações portuguesas dentro da UE15 (%, principais parceiros)

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85

Mais recentemente, mais precisamente, em 2010, a Espanha continua como parcial parceira (tanto em termos de importações como exportações). A Alemanha continua como segunda maior parceira (tanto em termos de importações e exportações).

Referente à estrutura sectorial do comércio externo, houveram alterações consideráveis.

Exportações Importações

O peso das indústrias metalomecânicas e eléctricas40 subiu fortemente depois de 1986, tendo-se este grupo de produtos tornado no principal grupo de produtos exportados pela economia portuguesa na actualidade, representando cerca de 40% das exportações. A subida da quota destes produtos fez-se principalmente em detrimento da do grupo dos produtos das indústrias têxteis do vestuário, couro e calçado, que eram, em 1986, o principal grupo de produtos exportados e que aparecem actualmente como o segundo, com cerca de 25% das exportações. A seguir temos os produtos das indústrias de base florestal (madeira, cortiça, mobiliário e

As principais alterações têm a ver com uma muito significativa subida da quota dos produtos das indústrias metalomecânicas e eléctricas. Este grupo de produtos era já o principal em 1986, aquando da adesão, e mantém essa posição na actualidade, representado cerca de 40%. A subida da sua quota parece poder ser associada a dois factores: - a subida da quota destes produtos do lado das exportações, parece revelar algum crescimento do comércio intra-sectorial; - a subida do rendimento per capita português após 1986, que levou a uma maior procura de bens de consumo duradouro.

40

Trata-se sobretudo de máquinas e material eléctrico e de material de transporte, em particular automóveis e componentes automóveis

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86

papel), que pesam um pouco mais de 10% e que têm mantido desde 1986 a sua quota. A estrutura das exportações tornou-se mais moderna, com mais peso de produtos com maior valor acrescentado. Isso está sobretudo associada a entradas de IDE e não tanto aos efeitos de comércio. Destaca-se aqui grandes investimentos estrangeiros nas áreas da indústria automóvel e das máquinas e material eléctrico. Em particular, esta alteração da estrutura das nossas exportações está muito dependente de um investimento de grandes dimensões na área do material de transporte, o que é preocupante dada a volatilidade associada a muitos destes investimentos. Porém, a estrutura das exportações portuguesas ainda revela, quando comparada com a da média dos outros países da UE15, uma excessiva concentração nos produtos tradicionais da fileira têxtil, vestuário e calçado e da fileira florestal. Como sabemos, este grupo de produtos está actualmente sob a ameaça da forte concorrência nos mercados europeus por parte da China e de o ros íses e “ren en o o”.

O segundo principal grupo de produtos importados pela economia portuguesa são os produtos químicos e combustíveis, com cerca de 20%. De seguida, temos os produtos agrícolas e das indústrias agro-alimentares, com cerca de 10% das importações.

Estrutura sectorial das exportações portuguesas de mercadorias (%)

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87

Estrutura sectorial do comércio externo português de mercadorias

Uma análise dos saldos positivos com o exterior, mostra que os principais pólos de competitividade internacional da economia portuguesa continuam a ser os produtos da fileira têxtil, vestuário e calçado, seguidos (embora à distância) pelos produtos da fileira florestal e (a uma distância muito maior ainda) pelo grupo dos produtos minerais não metálicos (cerâmicas, vidro, cimentos e produtos afins). Os principais pólos de dependência externa (saldo deficitário com o exterior) aparecem nas áreas dos bens de equipamento e de consumo duradouro (produtos das indústrias metalomecânicas e eléctricas) dos grandes bens intermediários (produtos químicos e da siderurgia), dos combustíveis e dos produtos agrícolas e alimentares.

Os saldos com o exterior

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88

O Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR )41 de Balassa para as exportações portuguesas em 2000-03

Exportações por grau de intensidade tecnológica42

41

O Índice de Vantagens Comparativas Reveladas mede a intensidade da especialização do comércio internacional de um país relativamente a uma região ou ao mundo. Este é um indicador da estrutura relativa das exportações de um país/região ao longo do tempo e utiliza o peso de um dado sector nas exportações mundiais para normalizar o peso das exportações desse mesmo sector para cada país/região. Pode ser superior a 1, evidenciando vantagem comparativa para as exportações de um dado Produto. Pode ser inferior a 1, evidenciando desvantagem comparativa para as exportações de um dado produto 42

Intensidade tecnológica é o nível conhecimento incorporado aos produtos das empresas de cada sector industrial. Deste indicador resulta a classificação dos sectores industriais de países desenvolvidos em quatro níveis de intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa.

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89

2- Investimento Directo Estrangeiro

Em Portugal, por estrangeiros O Investimento Directo Estrangeiro em Portugal registou alterações no após 1986. Como vimos antes, as entradas de IDE líquidas de desinvestimentos em % do PIB foram muito elevadas entre 1986 e 2007 (destaque para 1986 -1992, caíram depois um pouco entre 1993-1999, voltando a acelerar depois de 2000).

Entradas líquidas de IDE em Portugal (em % do PIB pm) – dados do Banco de Portugal

Até 1996, o IDE dirigiu-se sobretudo para os sectores financeiros, imobiliário e indústria transformadora, tendo sido muito impulsionado, como referido acima, pelas privatizações de empresas desses sectores ocorridas em Portugal ao longo deste período. A disponibilidade de apoios ao investimento comparticipados pelos fundos da União Europeia foi também importante para atrair investimentos para os sectores da indústria transformadora, em particular no domínio das máquinas e material eléctrico e no do material de transporte. Orientação sectorial do IDE realizado em Portugal (principais sectores de investimento em %

do investimento total)

Depois de 1996, os investimentos continuaram a privilegiar o sector financeiro e imobiliário (sobretudo o imobiliário agora), tendo também havido também algum investimento no

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90

sector das telecomunicações e no do comércio a retalho e da hotelaria (este último ligado ao turismo). A qualidade desse IDE (e o seu impacto na melhoria da produtividade da economia) tem sido bastante mais baixa que no período que se seguiu à adesão à CEE e até meados da década de 90. Não existe praticamente investimento na indústria transformadora a partir de 1997, e ainda, a taxa de permanência do IDE mostra que os elevados montantes de entradas a partir de 1997 parecem estar sobretudo associados a relações puramente financeiras (muitas vezes com motivações fiscais) e não tanto a aplicações com carácter estável e duradouro.

Entradas líquidas de investimento directo estrangeiro em % do Pib pm e a taxa de permanência

O baixo investimento estrangeiro na indústria depois de meados dos anos 1990 parece estar associado a uma deslocação deste tipo de fluxos para os países da Europa de Leste que aderiram recentemente à União Europeia. Estes países estão mais próximos do ponto de vista geográfico de muitos dos tradicionais investidores na economia portuguesa e têm custos unitários do trabalho mais baixos e um maior nível de capital humano. A análise da origem geográfica das entradas de investimento directo estrangeiro revela que a parte mais importante desse investimento teve origem em países da UE15. Destacam-se investidores tradicionais, como o Reino Unido e a França, que têm estado sempre por entre os principais investidores estrangeiros na economia portuguesa desde, pelo menos, a segunda metade do século XIX, e também investidores novos, como é o caso da Espanha, acompanhando a sua subida enquanto parceiro comercial da economia portuguesa. Tornou-se mesmo no principal investidor a partir de meados dos anos 1990.

Origem geográfica do IDE realizado em Portugal (principais investidores em % do

investimento total)

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91

IDE realizado por portugueses (fora de Portugal)

No período após adesão à CEE, e em particular a partir de meados dos anos 1990, as empresas portuguesas começaram também a internacionalizar-se, realizando elevados investimentos no exterior. Historicamente, as saídas de capitais portugueses para o exterior a título de investimento directo não tinham qualquer relevância quantitativa (0,1% do PIB em termos líquidos entre 1965 e 1985). Nos 10 anos que se seguem à adesão (1986-1996) verifica-se uma pequena aceleração face aos valores históricos.

Saídas líquidas de IDPE (em % do PIBpm) – Fonte do Banco de Portugal

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92

Saídas líquidas de investimento directo português para o exterior em % do PIBpm e taxa de permanência

Os fluxos de investimentos realizados no exterior, por destino geográfico, mostram uma aproximação das empresas aos principais mercados externos da economia portuguesa, procurando estas melhorar o acesso a esses mercados, e não tanto baixar custos de produção. Até 1996, os principais destinos são os países da União Europeia e, dentro desta, os maiores parceiros comerciais da economia portuguesa (com a excepção da Alemanha). Verifica-se também uma clara coincidência entre os sectores que recebem IDE e os sectores residentes que investem no exterior, indicando a possibilidade de se tratar de internacionalização de empresas portuguesas pela da via de participações cruzadas com empresas estrangeiras.

Investimento directo de Portugal no exterior por destino (principais destinos em % do investimento total)

Investimento directo de Portugal no exterior por sector residente (principais sectores residentes que investiram no exterior em % do investimento total)

Depois, entre 1997 e os nossos dias, o investimento directo português no exterior acelerou fortemente. Neste último período, Portugal tornou-se mesmo exportador líquido de capitais a título de investimento directo em vários anos. Aqui o dirigiu-se sobretudo para países fora da União Europeia, com destaque para o Brasil. As informações qualitativas existentes sobre os investimentos realizados parecem indicar sobretudo tentativas de expansão de mercado por parte de algumas empresas portuguesas. E não tanto a procura de mais baixos custos relativos de produção.

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93

A evolução das estruturas produtivas interna Entre 1960 e 1973 com a modernização ocorrida, dos sectores com maior valor acrescentado (exemplo: máquinas, material eléctrico e material de transporte) contribuíram muito para a forte subida do VAB industrial. No entanto, durante o período das rupturas e dos choques petrolíferos os sectores tradicionais ganham novamente peso. Entre 1973 e 1985, com a forte desvalorização da moeda nacional, a quebra nos salários reais (acordos com o FMI) e ainda, a menor qualidade do IDE realizado em Portugal beneficiou-se sobretudo os sectores de mão-de-obra intensivos. Como por exemplo: têxteis, vestuário e calçado e também alguns dos sectores ligados às agro-alimentares e ao papel. Estrutura do valor acrescentado bruto a preços de mercado na indústria transformadora (%)

Até 1995, detecta-se sobretudo uma subida da parte no VAB industrial dos minerais não metálicos (cimentos e outro material de construção civil), uma consequência dos importantes investimentos públicos realizados após 1986 na área das infra-estruturas rodoviárias ( ene c n o os o os o “F n o e Coes o” CEE) e é expansão do parque habitacional em Portugal. Depois de 1995, contudo, os sectores mais modernos (como o das máquinas, material eléctrico e material de transporte) retomaram o movimento ascendente começado na década de 1960, devido a grandes projectos ligados ao investimento directo estrangeiro realizado em Portugal, como foi o caso do da fábrica de o óve s “A o E ro ”. Ao mesmo tempo, nota-se uma contracção dos têxteis, vestuário e calçado, no seu conjunto, devido ao aumento da concorrência dos p íses e “ren en o o”. Os minerais não metálicos continuam a ganhar importância, impulsionados pelos grandes projectos públicos (como a Expo 98 ou os estádio do Euro 2008) e pela expansão do parque habitacional.

T.v.r.m.a. em % do valor acrescentado bruto a preços de mercado na indústria transformadora

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94

No sector dos serviços, o maior crescimento do VAB entre 1985 e os nossos dias deu-se no subsector de prestação de serviços à colectividade, na sua componente privada, uma consequência do desenvolvimento do sector privado em serviços como o da saúde ou o do apoio às pessoas mais idosas. O subsector do imobiliário (em linha com a expansão do parque habitacional) e o da restauração e hotelaria (este último ligado ao desenvolvimento do turismo) apresentam também taxas de crescimento acima da média, bem como o sector das telecomunicações.

T.v.r.m.a. em % do valor acrescentado bruto a preços de mercado nos serviços

Estrutura do VAB na economia portuguesa (%)

Nota bem:

Anos (%)

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95

1945

Ind

ust

rial

izaç

ão

intr

ove

rtid

a

1950 37,6

1955 37,7

1960 38,6

1961 38,5

Ind

ust

rial

izaç

ão e

xtro

vert

ida

1962 39,9

1963 40,7

1964 41,1

1965 42,8

1966 43,6

1967 45,5

1968 47,8

1969 46,7

1970 49,2

1971 51,5

1972 53,8

1973 57,3

1974 56,1

1975 52,2

1976 52,2

1977 53,4

FMI

1978 53,2

1979 53,6

1980 54,4

1981 54,8

1982 55,1

1983 53,8

FMI

1984 51,1

1985 50,9

cicl

o

1986 51,7

1987 54,1

1988 56,8

1989 59,2

1990 60,4

1991 62,7

1992 62,9

1993 61,9

1994 60,6

cicl

o 1995 61,6

1996 62,6

1997 63,4

1998 64,6

Page 96: Os Meus Apontamentos de Economia Portuguesa e Europeia

96

1999 65,3

2000 65,4

2001 65,6

2002 65,3

2003 63,9

2004 63,1

2005 62,5

2006 61,7