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    Direito das Obrigaes 1 Aula, 21/09/2005

    Caractersticas do Direito das Obrigaes

    1- O Direito das Obrigaes um ramo de Direito civil de natureza tendencialmentepatrimonial, no entanto o direito das obrigaes no se pode considerar um puro direitoda autonomia privada, isto porque temos vindo a assistir a uma crescente publicizaocom vista a assegurar uma melhor proteco de certos contraentes (arrendatrio,trabalhador e ainda normas protectoras dos consumidores e daqueles que contratam poradeso).De referir ainda que na rea contratual predominam as normas supletivas, pelas quais olegislador vem suprir a falta de disposio das partes.

    2- O Direito das obrigaes um direito da dinmica negocial. D suporte jurdico vida negocial. Nesse sentido o direito das obrigaes vai disciplinar as seguintesmatrias:

    a) Circulao de bens (negcios de onerao e alienao)b) Colaborao entre homens (prestao de servios e trabalho subordinado)c) Preveno de riscos (contratos de seguros)d) Reparao de danos (responsabilidade civil, tanto a proveniente do no

    cumprimento de obrigaes como a proveniente da violao de direitossubjectivos e ainda a responsabilidade objectiva, pelo risco)

    Como ramo de Direito ao servio da dinmica negocial que d suporte jurdico a vidanegocial, o direito das obrigaes demarca-se dos Direitos Reais, estes, so um conjuntonormativo ao servio da esttica patrimonial.O direito das obrigaes, imagem de outros ramos de Direito regula ainda relaesinter subjectivas (entre sujeitos determinados) como adiante veremos, ao direito decrdito do credor corresponder o dever de prestar do devedor.

    3- O Direito das obrigaes um sector normativo heterogneo, isto porque, estudarealidades to distintas como a responsabilidade civil e os contratos.

    4- O Direito das obrigaes um domnio relativamente estvel dado a sua filiaono Direito Romano (estabilidade temporal) e dada a sua situao no seio da chamadafamlia Romano-Germnica (estabilidade espacial) isto por existir uma relativauniformidade, uma maior identidade de solues.Como domnio relativamente estvel, logo menos receptivo as mudanas socio-econmicas, um Direito susceptvel de ser codificado com mbito supranacional.Tal foi patente nos princpios do UNIDROIT (tentativa de instituir princpios uniformesna rea dos contratos internacionais.

    5- O direito das obrigaes tem uma forte ideologia tica, , nesse sentido,permevel. Isso patente em varias figuras, como por exemplo na do Abuso de Direito,

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    Desde j verificamos que o dever jurdico, correspondente ao direito subjectivo no seconfunde com o lado passivo da relao obrigacional (este sempre um dever de

    prestao).

    Aos deveres jurdicos podem corresponder, do lado activo da relao jurdica, direitos

    de crdito, direitos reais, direitos de personalidade, etc.Como exemplo do que acabamos de dizer ateste-se no seguinte: Ao direito depropriedade (direito real por excelncia) corresponde uma obrigao de abstenoadstrita a todos os terceiros indeterminados, a chamada obrigao passiva universal quese impe erga omnes.

    J o dever de prestar o contrapolo do direito de crdito. A relao obrigacionalestabelece-se entre sujeitos determinados. Ao credor importa que o devedor efectue a

    prestao com vista satisfao do seu interesse, ao devedor interessa que a obrigaorapidamente se extinga, preferencialmente atravs do seu cumprimento.

    Podemos concluir que o dever jurdico uma categoria bastante mais ampla que osdeveres de prestao, sendo que estes so abarcados por aqueles. Nas obrigaes existesempre uma correlao intersubjectiva.

    Estado de Sujeio como vimos o dever jurdico o contrapolo do direitosubjectivo, j o estado de sujeio o contrapolo do direito potestativo.O direito potestativo a faculdade concedida, pela ordem jurdica, a determinada

    pessoa, de, per si ou integrada numa deciso judicial, produzir efeitos jurdicos queinelutavelmente se impem contraparte, dizendo-se que esta fica num estado desujeio.

    O estado de sujeio consiste exactamente na situao em que a contraparte suporta nasua esfera jurdica (sem que nada possa fazer para a isso se escusar) os efeitos daactuao do titular do direito potestativo. Efeitos tendentes criao, modificao ouextino de relaes jurdicas.

    O titular passivo da relao nada tem de fazer para cooperar na realizao do interesseda contraparte, precisamente na desnecessidade de consentimento do prprio para quedeterminada relao se crie, modifique ou extinga na sua esfera jurdica que Bottichercoloca a tnica do direito potestativo.

    Do lado activo da relao tem-se caracterizado o direito potestativo (por contraposioaos poderes jurdicos em geral) por uma dupla nota:

    a)O direito potestativo inerente a uma relao jurdica pr-existente.

    b)O direito potestativo esgota-se com o acto do seu exerccio.

    Como j vimos, o direito de crdito no prescinde da cooperao do devedor atravs daprestao (positiva ou negativa) a que este est adstrito.

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    nus Jurdico a imposio de observncia de determinado comportamento a umsujeito, de forma a alcanar ou manter uma vantagem ou evitar uma desvantagem. Ex.Algum compra um imvel e procede ao registo com vista a torna a aquisio oponvela terceiros.

    No um estado de sujeio, na medida em que se exige que o interessado proceda dedeterminada maneira para que os efeitos pretendidos se produzam. De igual forma, no um dever jurdico (excepo feita ao caso do registo predial, este sim, obrigatrio eque marca a viagem de simples nus para verdadeiro dever jurdico) no sentido em queo no cumprimento do nus no acarreta, para o onerado, qualquer tipo de sano.

    O nus jurdico caracteriza-se por duas notas, so as seguintes:

    a)O acto a que o nus se refere no imposto como um dever, logo, sua inobservnciano est associada uma sano.

    b)O acto visa satisfazer o interesse do onerado e no de terceiros.

    de referir a posio do Prof. Menezes Cordeiro que, ao invs do Prof. Antunes Varela,estabelece diferenas entre nus e encargo ou incumbncia, para Menezes Cordeiro osnus satisfazem apenas os interesses do onerado.

    Poder-dever (poderes funcionais) So exemplo de poderes-deveres os deveresrecprocos dos cnjuges, poderes paternais, poderes da tutela, etc.

    So direitos conferidos no interesse, no do titular ou no apenas do titular, mas tambmde outra ou outras pessoas e que s so legitimamente exercidos quando se mantenhamfieis funo a que se encontram adstritos.Assemelham-se aos direitos subjectivos e, consequentemente, aos direitos de crdito, namedida em que conferem ao respectivo titular o poder de exigir de outrem determinadocomportamento. No entanto distinguem-se dos direitos subjectivos patrimoniais porqueo titular no livre no seu exerccio, tendo obrigatoriamente que exerce-los, por umlado e de faze-lo em obedincia funo social a que o direito se encontra adstrito, poroutro.

    A relao jurdica obrigacional e os seus elementos constitutivos

    1-Sujeitos2-Objecto3-Vinculo3.1-Garantia

    1-Sujeitos So os titulares da relao (passivo e activo). o elemento primordial darelao e composto pelo credor (lado activo) e devedor (lado passivo).

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    O credor a pessoa a quem se proporciona a vantagem resultante da prestao, o titulardo interesse que o comportamento do devedor visa satisfazer.

    Ser titular do interesse significa:

    a) Ser o credor o portador de uma situao de carncia ou de uma necessidadeb) Haver bens (coisas, servios) capazes de preencherem tal necessidade.c) Haver uma apetncia ou desejo de obter estes bens para um suprimento da

    necessidade ou satisfao da carncia.

    O credor o amo e senhor da tutela do seu interesse. A tutela do seu interesse dependeda sua vontade, o funcionamento dela est subordinado iniciativa do titular activo darelao.

    Art.511 CC A lei admite que no momento em que a obrigao se constitui o credor(sujeito activo) no esteja determinado (mas seja determinvel) no entanto, o devedor j

    ter de ser conhecido, j que se assim no fosse, no se estabeleceria a obrigao. Ex.459 - Promessa publica; 452 - Contrato para pessoa a nomear.

    O devedor a pessoa sobre a qual recai o dever (especifico) de efectuar a prestao., como sujeito passivo da relao, quem est adstrito ao cumprimento da prestao,enquanto o credor tem, dentro da relao obrigacional, uma posio de supremacia, odevedor ocupa uma posio de subordinao (subordinao jurdica, que no social,

    politica ou pessoal).

    Se no cumprir pontualmente, sobre o devedor que recaem as sanes estabelecidas nalei, e ser sobre o patrimnio do devedor que ir recair a execuo destinada aindemnizar o dano causado ao credor quando a prestao no seja voluntria ou

    judicialmente cumprida (art. 817 e 601).

    Apenas o credor tem direito prestao, e esta apenas do devedor pode ser exigida.A obrigao tem assim carcter relativo, porque vincula pessoas determinadas, aoinvs dos direitos reais ou direitos de personalidade que, como direitos absolutos queso, valem em relao a um crculo indeterminado de pessoas (erga omnes).

    No mais das vezes, existe apenas uma pessoa de cada lado da relao (um credor e um

    devedor) neste caso a obrigao diz-se singular.No entanto a obrigao pode serplural, quer do lado activo quer do lado passivo quer,simultaneamente do lado activo e passivo.

    A persistncia da obrigao (no obstante a alterao dos sujeitos)

    A existncia dos dois sujeitos j referidos essencial obrigao, como relaointersubjectiva que (embora se admita o previsto no art.511).

    No entanto a permanncia dos sujeitos originrios do vnculo no condio essencial persistncia da obrigao. Esta pode subsistir com todos os seus atributos fundamentais(garantias, contagem de prazo prescricional etc.) apesar de mudar um ou ambos os

    sujeitos da relao.

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    O que se diz quanto aos sujeitos originrios igualmente valido para aqueles que lhessucedem na titularidade da relao.Ex. Se A, credor de B, morrer e lhe suceder um nico herdeiro, C, este ocupar o lugarde A na relao creditria. Entendendo-se que a relao constituda entre o herdeiro (C)e o devedor (B) a mesma que existia na titularidade de A.

    De forma idntica se representam as coisas quando o credor cede o seu crdito a outrem(vendendo-o, doando-o ou trocando-o) ou quando um terceiro, como o fiador, paga emvez do devedor e a lei o investe (sub-roga) na posio do credor.A obrigao, em casos como estes, mantm-se. Falamos ento em transmisso daobrigao (atinente a estas matrias veja-se os art. 577 e SS).

    A chamada ambulatoriedade da obrigao refere exactamente a ampla possibilidade dea obrigao mudar de sujeitos, muda de mo sem perder a sua identidade.

    2-O Objecto O objecto da obrigao consiste na prestao, conduta adstrita aodevedor (devida ao credor).

    A conduta do devedor o meio pelo qual o credor ir alcanar determinada posio(meio atravs do qual o credor ver cumprida a satisfao do seu interesse).

    A prestao ser positiva ou negativa, isto , consistir tanto numa aco como numaomisso.A prestao o fulcro da obrigao. Distingue-se do dever geral de absteno prpriodos direitos reais, j que o dever de prestar um dever especfico (apenas atinge odevedor) ao contrrio da obrigao passiva universal que se dirige a todos os terceiros.

    Classificao das obrigaes em funo do tipo de prestao

    1-A prestao pode ser de coisa ou de facto.

    A prestao de coisa

    Prestao decoisa

    Coisa presenteCoisa futura art.211 e 399

    Podemos distinguir entre objecto imediato e mediato daobrigao

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    Prestao de coisa Aquelas cujo o objecto consiste na entrega de uma coisa. Porexemplo, na hiptese de algum comprar um bem, o vendedor obriga-se a entreg-lo(art.879).

    A definio contida no art.211 , segundo Galvo Telles, incompleta, j que o conceito

    de coisa futura mais amplo e abrange as coisas inexistentes e as coisas ainda noautonomizadas de outras. Os bens futuros so aqueles que, no tendo existncia, nopossuindo autonomia prpria ou no se encontrando na disponibilidade do sujeito, soobjecto de negcio jurdico na perspectiva da aquisio futura destas caractersticas.

    No que concerne s prestaes de coisa podemos falar no objecto imediato emediato da prestao.

    Objecto imediato consiste na prpria conduta a adoptar pelo devedor, no prprio actode entrega da coisa.

    Objecto mediato consiste na coisa em si, no objecto da prestao, o bem sobre o qualincide a compra e venda.

    Podendo existir na prestao de coisa a distino que acabamos de assinalar, dereferira posio do Prof. Menezes Leito; O interesse do credor verifica-senormalmente em relao coisa, que tem um existncia independente da prestao, eno em relao actividade do devedor. No entanto, o direito de crdito nunca incidedirectamente sobre a coisa, antes sobre a conduta do devedor, j que se exige sempre amediao da actividade do devedor para o credor obter o seu direito. Da que mesmonos casos de prestaes de coisa, o credor no tenha qualquer tipo de direito sobre acoisa, o que s sucede no caso dos direitos reais, mas antes um direito a uma prestao,que consiste na entrega dessa coisa.

    A Prestao de Facto

    Prestao de facto So aquelas quem consistem em realizar uma conduta de outraordem, como na hiptese de algum se obrigar a cuidar de um jardim (art.1154).

    Prestao de facto, material ou jurdico

    Positivo (facere) Negativo

    Fungvel Infungvel

    Infungibilidade natural

    Infungibilidade convencional

    Pati Non facere

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    Prestaes de facto material So aquelas prestaes em que a conduta que o devedorse compromete a realizar uma conduta puramente material, no destinada produode efeitos jurdicos (ex. realizar ou no determinada obra).

    Prestaes de fato jurdico A conduta do devedor aparece destinada produo de

    efeitos jurdicos, sendo assim esse resultado jurdico includo na prestao (ex.mandato, celebrar ou no celebrar determinado contrato).

    Prestaes de facto positivo (facere) aquelas em que a prestao tem por objectouma aco.

    a)Prestaes fungveis aquelas em que a prestao pode ser realizada por outrem, queno o devedor, podendo este fazer-se substituir no cumprimento, art.767.

    b)Prestaes infungveis aquelas em que s o devedor pode realizar a prestao, nosendo permitida a sua realizao por terceiro, art.767.

    Regra geral as prestaes so fungveis, no entanto o art.767 admite a infungibilidadede certas prestaes, essa infungibilidade pode ser natural (quando a substituio dodevedor cause prejuzos ao credor) ou convencional (quando os titulares da relaeshouverem acordado que a prestao apenas poder ser cumprida pelo devedor).

    A fungibilidade da prestao tem uma importncia especial para efeito da execuoespecfica da obrigao. Efectivamente, se a prestao fungvel, pode o credor, sem

    prejuzo para o seu interesse, obter a realizao da prestao de qualquer pessoa e noapenas do devedor. Admite-se, por isso, que o credor requeira ao tribunal que determinea realizao da prestao por outrem a expensas do devedor, art.827, 828 e SS.

    Se a prestao infungvel, a substituio do devedor no cumprimento j no possvel, pelo que a lei no admite a execuo especfica da obrigao. Admite-seporem, em alguns casos a aplicao de uma sano pecuniria compulsria, que visacoagir o devedor a cumprir a obrigao, art.829-A.

    De referir ainda o regime especfico a que as obrigaes infungveis esto sujeitas, emcaso de impossibilidade da prestao, uma vez que nelas a impossibilidade relativa

    pessoa do devedor acarreta mesmo a extino da obrigao, em virtude de no seradmitida a sua substituio no cumprimento, art.791.

    Prestaes de facto negativo Aquelas em que a prestao tem por objecto umaomisso do devedor, estas subdividem-se em:

    a)Prestaes de non facere aquelas em que a omisso se dirige no adopo dedeterminada conduta.

    b)Prestaes depati aquelas em que a omisso se dirige ao tolerar de determinadaconduta de outrem.

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    Prestaes instantneas e duradouras

    Prestaes instantneas so aquelas cuja execuo ocorre num nico momento (ex.entrega da coisa no contrato de compra e venda, art.879b).

    Contidas nas prestaes instantneas esto:

    a)Prestaes instantneas integrais so as que so realizadas de uma vez s (ex.realizao da obra pelo empreiteiro, art.1208).

    b)Prestaes instantneas fraccionadas so aquelas em que o seu montante global dividido em varias fraces, a realizar sucessivamente (ex. o pagamento do preo navenda a prestaes, art. 934).

    Prestaes duradouras aquelas cuja execuo se prolonga no tempo, em virtude de

    terem por contedo ou um comportamento prolongado no tempo ou uma repetiosucessiva de prestaes isoladas por um perodo de tempo (ex. as prestaes relativas aocontrato de locao).

    O essencial para a caracterizao de uma prestao como duradoura que a suarealizao global dependa sempre do decurso de um perodo temporal, durante o qual a

    prestao deve ser continuada ou repetida.

    Neste sentido, podemos distinguir, dentro das prestaes duradouras:

    a)Prestaes duradouras continuadas a prestao no sofre qualquer interrupo (ex. aprestao do locador, art.1031 b)).

    b)Prestaes duradouras peridicas a prestao sucessivamente repetida em certosperodos de tempo (ex. o pagamento da renda pelo locatrio, art.1038 a)). Trata-se deuma prestao duradoura no sentido em que aumenta em funo do decurso do tempo.

    Pelo contrrio, as prestaes instantneas no tm o seu contedo e extensodelimitados em funo do tempo.

    As prestaes instantneas fraccionadas podiam confundir-se com as prestaes

    duradouras peridicas. A distino facilmente perceptvel.Nas prestaes instantneas fraccionadas est-se perante uma nica obrigao cujoobjecto dividido em fraces, com vencimentos intervalados, pelo que h sempre umadefinio prvia do seu montante global e o decurso do tempo no influi no contedo eextenso da prestao, mas apenas no seu modo de realizao.

    Nas prestaes duradouras peridicas, verifica-se uma pluralidade de obrigaesdistintas, embora emergentes de um vnculo fundamental que sucessivamente as origina,

    pelo que, por definio, no pode haver qualquer fixao inicial do seu montante global,j que o decurso do tempo que determina o nmero de prestaes que realizado.

    Assim, o locatrio s deve as rendas correspondentes ao tempo de durao do contrato

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    de locao, sendo sempre em funo do decurso do tempo que se determina o contedoda sua obrigao.

    O facto do decurso do tempo determinar o contedo da obrigao e no apenas omomento em que esta deve ser realizada assim o que distingue as prestaes

    duradouras das instantneas.

    Prestaes de resultado e prestaes de meios

    Prestaes de resultado o devedor vincula-se a obter um resultado determinado,respondendo por incumprimento se tal resultado no for alcanado.

    Prestaes de meios o devedor no est obrigado obteno do resultado, apenas aactuar com a diligncia necessria para que esse resultado seja obtido.

    A distino entre prestaes de resultado e prestaes de meio veio a ser alvo de criticasna doutrina, Gomes da Silva demonstra o fracasso da distino. Com efeito, mesmo nasobrigaes de meios existe a vinculao a um fim, que corresponde ao interesse docredor, e se o fim no obtido presume-se sempre a culpa do devedor. Efectivamente,em ambos os casos aquilo a que o devedor se obriga sempre uma conduta (a

    prestao), e o credor visa sempre um resultado, que corresponde ao seu interesse (art.398n2).Por outro lado, cabe sempre ao devedor o nus da prova de que realizou a prestao(art.342 n2) ou de que a falta de cumprimento no procede de culpa sua (art.799)

    Prestaes determinadas e prestaes indeterminadas

    Resulta dos art. 280 e 400 que a prestao, enquanto objecto da obrigao, nonecessita de se encontrar determinada no momento da concluso do negcio, bastandoque seja determinvel. Como tal distinguimos entre:

    Prestaes determinadas So aquelas em que a prestao se encontra completamentedeterminada no momento da constituio da obrigao.

    Prestaes indeterminadas So aquelas em que a determinao da prestao ainda

    no se encontra realizada, pelo que essa determinao ter que ocorrer at ao momentodo cumprimento.

    Razes para a indeterminao da prestao no momento da concluso do negocio:

    Essa indeterminao pode resultar do facto de as partes no terem julgado necessriotomar posio sobre o assunto, em virtude de existir regra supletiva aplicvel, ou de

    pretenderem aplicar ao negcio as condies usuais do mercado.

    Outras vezes resulta de as partes terem pretendido conferir a uma delas a faculdade deefectuar essa determinao, porque s essa parte tem os conhecimentos necessrios para

    o poder fazer adequadamente.

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    As partes podem acordar que essa informao seja fornecida outra parte antes dacelebrao do contrato. Nesses casos a prestao vem a ser determinada durante asnegociaes, o que permite que esteja determinada no momento da concluso donegcio.Quando, porem, essa circunstancia no ocorre, tal significa que as partes delegaram

    numa delas a faculdade de determinar o contedo da prestao. Essa situao podequalificar-se como um poder potestativo, que tem como contrapolo um estado desujeio a contraparte vai ver o contedo da prestao ser determinado pela outra parte.

    No entanto, e ao abrigo do art.400, o poder de determinar a prestao nunca absoluto.

    Requisitos do objecto da obrigao

    Discute-se se ao lado da possibilidade fsica e legal, da licitude e dadeterminabilidade, h ainda lugar aos requisitos da patrimonialidade e da autonomiacomo requisitos constitutivos das obrigaes.

    Grande parte da doutrina estabelece que as prestaes sem valor patrimonial sovalidas, tal perceptvel na formulao do art.496, que refere a ressarcibilidade pordanos no patrimoniais e de forma extensiva na norma do art.398 n2.

    Prescinde-se assim, de que a prestao tenha valor econmico, ou seja, susceptvel deavaliao pecuniria, bem como no se exige que o interesse do credor na prestaotenha carcter patrimonial.Assim sendo, a lei apenas estabelece dois requisitos, so eles:

    1) A prestao (estipulada) corresponda a um interesse real do credor.2) Esse interesse do credor deve ser digno de proteco legal.

    So, portanto objecto possvel de obrigaes:

    a) As prestaes de carcter patrimonialb) As prestaes, que embora se destinem a satisfazer interesses de ordem no

    patrimonial so susceptveis de avaliao econmica (ex. lies de musicaleccionadas por um professor qualificado)

    Quanto s prestaes de carcter no patrimonial e no susceptveis de avaliao

    econmica, a lei, ao estabelecer os critrios j referidos pretende:1-Afastar as prestaes que correspondem a um mero capricho ou a uma simples maniado credor.2-Excluir as prestaes que, podendo ser dignas de considerao de outros complexosnormativos, como por exemplo a religio, a moral, a cortesia, no merecem a tutelaespecifica do direito.

    A prestao, h-de, em suma, satisfazer uma necessidade sria e razovel do credor, quejustifique socialmente a intercesso dos meios coercitivos prprios do direito.

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    Um outro requisito que tambm pode condicionar no a validade da prestao, mas aaplicao das normas do Livro II o Requisito de autonomia:

    As normas do Livro II do C.C. s so aplicveis a obrigaes autnomas, e nessamedida a autonomia assume especial interesse na sua aplicao.

    As obrigaes autnomas (latu sensu) so de dois tipos:

    a)Obrigaes autnomas puras ou perfeitas - constituem-se no existindo entre aspartes qualquervnculo prvio ou preexistente - ex.: obrigaes que nascem dosnegcios unilaterais e dos contratos tero sido criadas pelo mesmo, mas antes docontrato ou do negcio no existia qualquerrelao jurdica preexistente entre as

    partes.

    b) Obrigaes autnomas imperfeitas - nascem havendo previamente uma relaojurdica ou vinculao de tipogenrico entre o obrigado (devedor) e o credor - ex.:

    obrigao de indemnizao, que deriva da violao de deveres genricos (ex. obrigaopassiva universal)

    A estas duas obrigaes, como vimos, aplicam-se as normas constantes do Livro II doCdigo Civil.

    Nem todas as obrigaes, porm, so obrigaes autnomas. H tambm as obrigaesno autnomas. A sua caracterstica a de que as obrigaes no autnomas nascemenxertadas em relaes jurdicas j existentes, e esto condicionadas por essas relaes

    jurdicas existentes, isto , so obrigaes que pressupem a existncia prvia entre aspartes de um vnculo especial de outra natureza, ex.: obrigao que recai sobre oscondminos de um prdio em regime de Propriedade horizontal (tm a obrigaotodos eles de pagar as despesas comuns ou de condomnio), neste caso, a relao

    jurdica preexistente a Propriedade horizontal, art. 1424; a obrigao do possuidorou detentor da coisa a restitui-la ao proprietrio, etc.

    Tambm nos outros ramos de Direito existem inmeras obrigaes no autnomas:

    a) Temos como exemplo do Direito da Famlia, a obrigao de alimentos, que seenxerta em relaes familiares, por exemplo em situaes de crise de casamento, ouem relaes de filiao, art. 2009, n.1

    b) Como outro exemplo agora no mbito do Direito das Sucesses, veja-se a obrigaoque algum dos herdeiros pode ter de cumprir o legado, que gerada por uma situaotestamentria anterior, art.2068 e SS.

    O problema que aqui se coloca o de saber se podemos aplicar a obrigaes noautnomas o regime previsto no Livro II do C.C.

    Actualmente, a doutrina cr que as obrigaes no autnomas so estruturalmenteidnticas s obrigaes autnomas, logo nada justifica que no se lhes apliquem asnormas do Livro II. Ou seja, devem em princpio as disposies reguladoras das

    obrigaes considerar-se aplicveis tambm s chamadas obrigaes no autnomas -Pires de Lima/Antunes Varela, interpretao do art.397, o qual no alude de qualquer

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    forma a esse requisito na definio do vnculo obrigacional, seguindo-se a orientao deVaz Serra; Contra, Guilherme Moreira). Porm, uma limitao surge neste mbito:no podemos aplicar as normas das obrigaes autnomas (Livro II C.C.) sobrigaes no autnomas quando elas contrariem as normas especiais (especficas,

    particulares, prprias) respeitantes s prprias obrigaes no autnomas (e a sua

    prpria especificidade), desde logo pela regra geral de Direito que diz que a normaespecial prevalece sobre a norma geral.

    Ex. Na obrigao de alimentos, marcadamente pessoal, o respectivo crdito no podeser cedido, ao contrrio do que acontece nas obrigaes autnomas em que por exemploo senhorio pode ceder a um terceiro as suas rendas (art.2008); possibilidade de ocomproprietrio se eximir ao pagamento das despesas com a coisa comum, renunciandoao seu direito a favor dos credores (art.1411, n.1).Fora dos casos previstos na lei, a doutrina considera que o regime geral das obrigaes(Livro II) ser aplicvel s obrigaes no autnomas, salvo quando a origem daobrigao ou o fim a que ela se encontre adstrita no se coadune com a soluo prescrita

    para o comum das obrigaes.

    3-Vinculo jurdico o vinculo jurdico forma o ncleo centra da obrigao, o elementosubstancial da economia da relao, nesse sentido, dir-se- que o vinculo jurdico onexo ideal que une os poderes do credor aos deveres do devedor (binmio direito deexigir/dever de prestar).

    O vnculo estabelecido entre o devedor e o credor constitui o elemento verdadeiramenteirredutvel da relao. Nele reside o cerne do direito de crdito, como resulta doart.397, obrigao o vnculo...

    Segundo Coelho da Rocha o vnculo legal pelo qual algum adstrito a dar, fazer oupagar alguma coisa.

    A natureza pessoal e no real da ligao

    No mbito da ligao incindivel entre o dever e o direito, entendemos ser necessrio acooperao por parte do obrigado, no obstante que, a interveno de terceiros (nasobrigaes fungveis) bem como o mecanismo executivo diluam essa concepo.

    Diz-se, ento, que o cumprimento da obrigao no prescinde de um comportamento dodevedor.A relao de subordinao estabelecida entre os titulares da relao traduz-se, no poderque tem o credor de exigir a prestao, no dever que recai sobre o devedor de a efectuare na sano aplicvel ao devedor inadimplente ou em mora a requerimento do credorlesado. neste ultimo ponto (a possibilidade de exigir coercitivamente o cumprimento) quereside a distino entre obrigaes civis ou perfeitas e obrigaes naturais, nestas,tem o credor o poder de pretender que o devedor cumpra a sua obrigao, nunca a

    possibilidade de o exigir de forma coerciva.

    Pode, no entanto, o credor reter a prestao a titulo de pagamento, caso o devedor apreste livremente, esse cumprimento espontneo do devedor tido como vlido e

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    sujeito a reteno por parte do credor (solutio retentio), logo, sem possibilidade derepetio por parte do devedor, art.402.

    Referimos h pouco que o cumprimento da obrigao no prescinde de umcomportamento do devedor, no entanto podemos apontar algumas excepes.

    a) Situaes em que a prestao pode ser efectuada por terceiros (ex. prestao defacto fungvel)

    b) O caso em que o devedor (num contrato promessa) no celebre o contratoprometido, e que por via de deciso judicial se possa superar a falta dedeclarao do promitente faltoso.

    Dentro do elemento Vinculo podemos destacar trs sub-elementos, o direito prestao, o dever de prestar e a garantia.

    Garantia A lei no se limita a impor um dever de prestar ao obrigado e o correlativodireito prestao ao credor, mais, procura assegurar tambm a realizao coactiva da

    prestao.No entanto, na impossibilidade de actuao directa do credor, (como prescrito peloart.1 C. Processo C.) vai-se conceder ao lesado o recurso aco dos tribunais, logo,ser este sub-elemento o que atribuir mais carcter de juridicidade ao vnculo entrecredor e devedor.

    A aco creditria (aco de cumprimento e execuo) art.817

    o poder de exigir judicialmente o cumprimento da obrigao, quando o devedor nocumpra voluntariamente, e executar o patrimnio deste.

    Podemos destacar uma dupla dimenso na Aco de cumprimento e execuo:

    Dimenso declarativa Nesta fase o tribunal vem dizer que determinado direito existena pessoa do credor e o devedor est em incumprimento.

    Dimenso executiva Nos casos em que o devedor persista em incumprimento, vem aser dada a hiptese, ao credor de agredir o patrimnio do devedor.

    O fim ltimo da execuo consiste em proporcionar ao credor a realizao do interesseque a prestao visava facultar-lhe, ou uma satisfao to prxima quanto possveldesse interesse (indemnizao do prejuzo causado ao credor pelo incumprimento).

    Segundo o art.601 o patrimnio a garantia geral das obrigaes. Com efeito, vista dolado do devedor, a garantia traduz-se fundamentalmente na responsabilidade doseu patrimnio pelo cumprimento da obrigao e na consequente sujeio dos bensque o integram aos fins especficos da execuo forada (quem deve tambm responde).

    Caso se trate de uma obrigao de entrega a execuo ser para entrega de coisa certa,art.928 C. Processo C: e 827 CC.

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    Caso a prestao seja de facto fungvel a execuo vai ser para a prestao de facto porterceiro a expensas do devedor.

    J a execuo para entrega de quantia certa usa-se quando a prestao de naturezapecuniria. Esta processa-se atravs da penhora judicial do patrimnio do devedor e

    subsequente venda, com vista satisfao do crdito do devedor/s

    Caso a obrigao tenha por objecto um facto infungvel o credor recorrer execuopor quantia certa para obter uma indemnizao pelos prejuzos por ele havidos emfuno do inadimplemento (isto porque tratando-se do um facto infungvel s poder sercumprido pelo prprio devedor).

    A execuo pode assegurar ao credor a satisfao integral do seu interesse, nos casos emque a prestao seja de facto fungvel, ou naqueles em que a natureza da obrigao seja

    pecuniria.

    No entanto o credor j no v o seu interesse realizado nos casos em que a execuo sedestina a indemnizar, diz-se, nestes casos, que a execuo no proporciona a satisfaointegral do interesse do credor.

    Visto a garantia possuir um valor fundamental para a exequibilidade pratica daobrigao, a lei faculta aos credores meios de a conservarem, reagindo contra certosactos que podem diminuir o patrimnio (do devedor) ou impedir o aumento do seuvalor.

    Mecanismos destinados a prevenir o incumprimento (procedimentos judiciaisemergentes)

    So disso exemplo os art. 605 e SS, onde se prev a declarao de nulidade, a sub-rogao do credor ao devedor, a impugnao pauliana e o arresto (art.406 C.Processo C.).

    Sempre que exista, a aco creditria (aco de cumprimento e execuo) que melhorcaracteriza a juridicidade do vnculo. a possibilidade de realizao coactiva da prestao (ou de indemnizao do prejuzo

    pela sua falta) que mais expressivamente afirma o direito prestao e impe o dever dea efectuar.

    No caso do contrato de promessa, diz-nos o art.830, que em caso de no cumprimento,pode o promitente interessado obter sentena que produza os efeitos da declaraonegocial do promitente faltoso.

    Cabe ainda referir que a lei pode dispensar a fase declarativa da aco decumprimento, permitindo ao credor a passagem directa fase de execuo, bastar

    para isso que o credor faa prova que o seu direito existe, tem determinadascaractersticas e que o devedor est inadimplente.Esta prova pode ser feita atravs de sentena judicial ou atravs de certificao dascaractersticas do crdito (ttulos executivos, art.46 C. Processo C.).

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    Procedimento de injuno, art. 7 DL 269/98 considera-se injuno a providenciaque tem por fim conferir fora executiva a requerimento destinado a exigir ocumprimento das obrigaes.

    Tutela do credito

    A tutela do crdito pode fazer-se noutras instncias que no os tribunais ex. arbitragem,(ad hoc ou institucionalizada) procedimentos de conciliao, etc...

    Pode ainda efectuar-se pela via privada, isto , atravs da fixao de clusulas penais oucompulsrias nos contratos, estas visam dissuadir o incumprimento.A auto-tutela (nos termos do art.1 C. Processo C.) justifica-se no s quando completaa tutela pblica, mas tambm quando se torna necessria pelos condicionalismos datutela pblica, ex. legitima defesa.

    So casos de auto-tutela os seguintes:

    Invocao de excepo do incumprimento, art.428Direito de reteno, art.754 e SSReserva de propriedade

    E ainda, o estado de necessidade, art.339, a legitima defesa, art.337 e a aco directa,art.336.

    A relatividade obrigacional face natureza absoluta (e solitria) dos direitos reais

    O trao mais saliente da distino assenta no carcter relativo que tm as obrigaes ena natureza absoluta que revestem os direitos reais.

    Direitos Reais

    Valem erga omnes, so jura excluendi omnes alios, isto , ao direito real de um sujeitocorresponde uma obrigao passiva universal.

    So direitos de solido que incidem directamente sobre os bens.

    O seu carcter absoluto facilmente visvel na caracterstica do direito de sequela(droit de suite), e no direito de preferncia.

    O direito de sequela traduz-se na faculdade conferida ao titular de fazer valer o seudireito sobre a coisa onde quer que esta se encontre (ubi rem mean invenio ibi vindico).Para Carvalho Fernandes, direito de sequela , a possibilidade de o direito real serexercido sobre a coisa que constitui o seu objecto, mesmo quando na posse de outrem,acompanhando-a nas suas vicissitudes onde quer que se encontre.

    No que concerne ao direito de preferncia a doutrina diverge. Menezes Cordeiropugna pela no existncia desta caracterstica, ao invs de Carvalho Fernandes.

    Para o ultimo, o direito de preferncia, trata-se da prioridade dos direitos reais sobre osdireitos de crdito e sobre todos os direitos reais de constituio posterior.

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    A lei pode, para satisfazer interesses relevantes, impor ou permitir a oponibilidade aterceiros de relaes estruturalmente obrigacionais (por assentarem fundamentalmentenum dever de prestar e correlativo direito prestao).

    Assim sucede com a relao locatcia, que embora sendo de natureza obrigacional no

    deixa de ser oponvel pelo locatrio ao terceiro adquirente do direito (normalmente depropriedade) com base no qual o contrato foi celebrado, art.1057, emptio non tollitlocatum.

    O mesmo sucede com a promessa de alienao (ou onerao) de imveis ou mveissujeitos a registo que goze de eficcia real, art.413.

    A Funo da Obrigao

    A obrigao no constitui um fim em si mesma, antes um meio, um instrumento

    tcnico-jurdico criado por lei ou predisposto pelas partes, para a satisfao de um certointeresse.O interesse primrio , desde logo, a satisfao do interesse do credor.

    O interesse do credor assenta na necessidade ou situao de carncia de que ele portador e na aptido da prestao para satisfazer tal necessidade.Neste sentido o interesse do credor define a funo da obrigao. Funo que consistena satisfao do interesse concreto do credor, proporcionada atravs do sacrifcioimposto ao devedor pelo vinculo obrigacional.

    Podemos ento falar numa dupla dimenso da relao de crdito.

    Por um lado como realizao do interesse do credor, por outro como comando queimpe determinada conduta ao devedor.

    Apesar de se tratar de um elemento externo (exterior) estrutura da obrigao, ointeresse do credor a que ela se encontra adstrita exerce uma influncia decisiva emmltiplos aspectos do seu regime. Isso flagrante na formulao do art.398 n2.

    Diz-nos o art.767 que a prestao pode ser efectuada por terceiro em lugar do devedor.Nesta situao, no funciona o mecanismo da obrigao, mas atinge-se o fim ou

    preenche-se a funo para que ele foi institudo.Entende-se, por isso, que o credor apenas possa recusar a prestao, na falta de acordoque exclua a interveno de terceiro, quando a substituio o prejudique.

    J se o interesse objectivo do credor na prestao desaparecer por causa superveniente, aobrigao extingue-se, porque suprimida a necessidade que servia de fundamento a talinteresse, cessa a razo de ser do vnculo obrigacional.

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    ainda pelo interesse do credor que a lei manda pautar a resoluo de alguns problemasdelicados, tais como:

    Saber se a prestao ou no fungvel

    Para determinar se a impossibilidade de cumprimento deve considerar-se temporriaou definitiva (art.792 n1 e 2) e se a impossibilidade parcial da prestao provenientede causa no imputvel ao devedor h-de ou no, ser equiparvel impossibilidadetotal, art.793n2.

    Para delimitar os casos em que a mora do devedor equivale falta definitiva decumprimento, art.808n1 e 2.

    Para fixar os termos em que a impossibilidade parcial da prestao, imputvel aodevedor no legitima a resoluo do negocio, art.802.

    Para calcular o montante da indemnizao a que o credor tem direito, no caso de aobrigao no ser cumprida, art.566 n2.

    A obrigao como valor do patrimnio do credor (o valor patrimonial da obrigao e dodireito correspondente)

    A obrigao no vale apenas ou em funo do comportamento que o credor pode exigirdo devedor a partir da data de vencimento da prestao.Antes que a prestao debitria possa ser exigida ou seja efectivamente realizada, j o

    poder jurdico do credor, economicamente considerado representa (sempre que aprestao seja susceptvel de avaliao pecuniria) um elemento actual do seupatrimnio.O valor patrimonial do crdito assenta na expectativa do seu cumprimento, reforada

    pela garantia geral que incide sobre o patrimnio do devedor ou pelas garantiasespeciais que confiram ao credor uma posio de supremacia perante os demaiscredores.Atravs do poder de disposio, que em principio, integra todos os direitos

    patrimoniais. O credor pode utilizar o valor econmico do seu direito quer como objectode alienao ou de onerao, quer como instrumento de crdito.O crdito , por conseguinte, um objecto do comrcio jurdico como qualquer outro

    direito patrimonial.

    As formais mais vulgares, atravs das quais se efectiva o poder de disposio do credornas obrigaes civis so:

    A cesso de crditos negocio jurdico atravs do qual o credor transmite a terceiro atitularidade do seu direito ou parte dele, independentemente do consentimento dodevedor, art.577 e SS.

    O Penhor sobre o credito mediante o qual o credor constitui a favor de um dos seus

    credores um direito de preferncia no concurso em os demais credores, art.679 e SS.

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    Cabe ainda referir o interesse do devedor, esse, ser primordialmente o da extino daobrigao, preferencialmente atravs do cumprimento, art.779, 539, 543 n2.

    Princpios Fundamentais do Direito das Obrigaes

    So os seguintes:

    1-Autonomia Privada2-Boa-f3-Tutela do Sujeito mais Dbil4-Proporcionalidade5-Responsabilidade Patrimonial6-Heteroresponsabilidade7-Auto-responsabilidade

    1-Autonomia Privada conformao autnoma das relaes jurdicas por parte doindividuo com base na sua vontade livremente formada.

    Segundo Menezes Leito, consiste na possibilidade que algum tem de estabelecer assuas prprias regras.Tecnicamente, porm, deve-se referir que as regras jurdicas se caracterizam pelageneralidade e abstraco, pelo que elas no podem ser criadas por acto de privados.Efectivamente, o que os privados criam so comandos que s para eles vigoram. Nessesentido, a autonomia privada a possibilidade de algum estabelecer os efeitos jurdicosque se iro repercutir na sua esfera jurdica.Por esse motivo a autonomia privada no se confunde com o direito subjectivo. Naautonomia privada existe uma permisso genrica de conduta, a todos os sujeitos daordem jurdica reconhecida esta possibilidade de produo de efeitos jurdicos.

    Por isso se pode dizer, segundo Menezes Cordeiro, que a autonomia privada umapermisso genrica de actuao jurgena. A autonomia privada assim um espao deliberdade, j que, uma vez respeitados certos limites, podero as partes livrementedesencadear os efeitos jurdicos que pretendem.

    Quanto a estabelecimento e conformao das suas relaes jurdicas, os particulares solivres: eles agem de acordo com a sua autonomia privada, quer dizer, conforme a sualivre vontade de firmar relaes jurdicas ou no. Fundamento para criao e ordenaodaquelas relaes to-s a vontade livremente formada. Deste modo o Direito Privadovisa e protege a preservao da liberdade de actuao do indivduo. Porem uma vez que prpria vontade autnoma que se devem as relaes jurdicas bem como os seusefeitos, o indivduo fica tambm responsabilizado no que toca s consequncias da suaactuao

    Pilar maior da liberdade jurdica essencialmente na veste de liberdade contratual quea Autonomia Privada assume a sua melhor expresso.

    De uma forma geral esta liberdade reflecte-se em duas dimenses, liberdade quanto celebrao do contrato e liberdade quanto fixao de contedo do mesmo.

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    Ao endeusamento da autonomia privada segue-se a constatao de que o contrato noassentava numa igualdade jurdico-economica. Representava, segundo M. Villey, adistoro entre a teoria e a realidade.Com efeito, chegou-se concluso que o Estado, no interesse colectivo, no podia

    permitir que a liberdade contratual se traduzisse num jogo desleal, em proveito do maisforte.Essa preocupao conduziu interveno do Estado e conteno da liberdadecontratual.

    O contrato, tal como foi idealmente concebido pelos liberais, como meio deconformao de relaes entre sujeitos juridicamente iguais economicamente idnticosvia-se ultrapassado.

    Na sociedade hodierna, muitos so os grupos econmicos solidamente enraizados pelalgica capitalista, que oferecem os seus servios e produtos em massa. Por essa razo se

    comeou a verificar casos em que a lex-contractus praticamente elaborada por um doscontraentes, sem discusso prvia do clausulado, e destinada a ser aceite, sem mais pelocontraente em posio menos favorvel. A esse, resta a faculdade de aceitar oclausulado ou no, nunca de debater o ser contedo.

    Contrato de adeso Aquele em que um dos contraentes (aderente, consumidor) notendo a menor participao na preparao e redaco do clausulado, se limita a aceitar otexto que o outro contraente oferece (ex. contratos de fornecimento de luz ou gua).

    Face a esta realidade, diga-se, crescente, sentiu-se a necessidade de regular os contratosnos quais figurassem as chamadas clausula contratuais gerais.Essa regulao efectivou-se atravs do Decreto-Lei 446/85 de 25 de Outubro.

    Este DL vem regular os contratos que recorrem utilizao de clusulas contratuaisgerais em duas dimenses:

    a)No atinente formao do contrato vem-se assegurar que existe, por parte doaderente, um conhecimento pleno do clausulado, art.5 e SS DL 446/85.

    b)Em relao fixao do contedo do contrato vem-se proibir a insero declusulas contrrias boa-f, art.15 DL 446/85.

    O legislador pretendeu, na medida do possvel, alcanar uma justia comutativa, umalgica de equilbrio entre prestaes.

    Desde logo foi necessrio disciplinar o plano jurdico-processual.

    Como sabido o pequeno consumidor/aderente tem dificuldades em litigar com umagrande empresa, foi por isso criado o instituto da aco inibitria (a tratar adiante).

    O DL 446/85 d-nos a definio de clusula contratual geral no seu art.1. O mesmodiploma estabelece a nulidade de qualquer clusula contrria boa-f.

    O DL 446/85 vem, ainda, disciplinar as relaes entre empresrios ou entidadesequiparadas, art.17 a 19; E entre produtores e consumidores finais, art.20 a 22.

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    O diploma, nessa distino, estabelece uma lista (meramente exemplificativa) declusulas absolutamente proibidas e clausulas relativamente proibidas.

    Clausulas absolutamente proibidas So nulas sem mais, sem possibilidade deapreciao pelo juiz.

    Clausulas relativamente proibidas O julgador vai ter a possibilidade de avaliar se asclausulas podem ou no ser inseridas no contrato.

    De salientar que, no caso de uma clusula no encontrar correspondncia numa daslistas de clusulas absoluta e relativamente proibidas, ela poder sempre cair no mbitode aplicao do art.15 do DL 446/85, isto porque, como se disse as listas someramente exemplificativas, que no taxativas e exaustivas.

    Plano da interpretao

    Art.10 DL 446/85 vai-se atender s circunstancias de cada contrato, s vicissitudesde cada situao.

    Art.11 DL 446/85 em caso de duvida vai prevalecer o sentido mais favorvel aoaderente (veremos que nem sempre assim ser).

    Plano das regras processuais

    Aco inibitria vem conferir legitimidade activa a entidades representativas dosparticulares, art.26 DL 446/85.Esta ser intentada com vista a obter uma deciso judicial preventiva, isto , a proibiode clusulas contratuais com certo contedo, em momento anterior sua incluso numdeterminado contrato, antes de existir um litgio concreto.

    O objectivo impedir o contraente que formula as clusulas de as incluir em contratos acelebrar futuramente.

    No que concerne legitimidade passiva, refere-se o art.26 DL 446/85 e tm-na quem,propuser contratos dotados de clausulas contratuais gerais, quem aceitar contratos nessa

    situao e ainda quem recomendar esses contratos a terceiros.A aco inibitria, vantagens e criticas.

    Tem carcter colectivo, isto , visa proteger interesses gerais, nesse sentido a eficcia dadeciso proferida pelo tribunal em sede de aco inibitria ultra partes, com efeito, aempresa ou entidade condenada a retirar a clausula no a poder incluir em contratos acelebrar futuramente.

    No entanto esta eficcia no absoluta, visto que, empresas que utilizem clusulassemelhantes, o podero fazer at deciso transitada em julgado a elas aplicvel.

    O facto de, em sede de aco inibitria uma clusula no ser proibida no significa queem caso de controlo incidental no possa, ela, ser considerada invalida.

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    O princpio de que h pouco referimos, de em caso de dvida a interpretao ser nosentido mais favorvel ao aderente no procede em sede de aco inibitria, como

    prescreve a norma do art.11 n3 DL 446/85.

    Fundamento para a no aplicao do principio de interpretao com sentido maisfavorvel ao aderente o facto de em sede de aco inibitria se ir proceder a umcontrolo da legalidade da norma, isto , a norma vai ser testada, vai-se aferir a suaconformidade lei. Como tal, no faria sentido a sua interpretao, no obstante nosentido mais favorvel ao aderente, visto que isso implicaria a sua aplicao.Logo, a norma apenas ser aplicada se conforme lei e no por ser ou no maisfavorvel ao aderente.

    2-Boa-f A boa-f um princpio regedor do Direito das obrigaes, com reflexos em

    toda a vida das relaes obrigacionais.De facto, este princpio encontra-se plasmado em fases to distintas como, a fase daformao do contrato, art.227, a fase de execuo do mesmo, art.762 n2. E, mesmona fase ps contratual, podemos falar de deveres impostos pelo princpio da boa-f.

    A boa-f susceptvel de ser qualificada em duas dimenses, so elas:

    a) Boa-f subjectiva traduz-se num estado de esprito (desculpvel). Algum que emcerto momento estava convencido da conformidade ao direito de certo acto ou posio

    jurdica, sendo essa convico errnea.

    b) Boa-f objectiva forma de conduta ou comportamento, e como tal, distinto daatitude psicolgica, intelectual do estar de boa-f.Abarca os quadrantes principais da lealdade/fidelidade e da cooperao, prevalece comocritrio de controlo sobre o clausulado contratual (no sentido expansivo ou decompreenso) e justifica-se por uma ideia tica de solidariedade negocial.

    No mbito do direito das obrigaes, o princpio da boa-f encontra-se plasmado nosseguintes institutos:

    - Responsabilidade pr-contratual, art.227

    - A integrao dos negcios, art.239- O abuso de direito, art.334- A resoluo ou modificao dos contratos por alterao das circunstancias, art.437n1- A complexidade das obrigaes, art.762 n2

    Como se disse, o princpio da boa-f perpassa toda a vida das relaes jurdicasobrigacionais, vejamos:

    Fase formativa, art.227 ex. induo dolosa/negligente celebrao de um contratoviciado; Silencio sobre a existncia de um vcio; Violao de deveres de cuidado e deinformao, etc.

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    Fase de execuo, art.762 n2 ex. o devedor descura a conservao do bem ouutiliza em excesso a mquina alugada.

    Fase da extino, art.1222 n1 e 437 ex. exerccio, em prazo razovel do direito deresoluo.

    Como se entende facilmente, a fase de negociao suscita uma relao de confianaentre as partes, faz surgir deveres particulares de actuao em conformidade com o

    princpio da boa-f.No entanto, o dever de agir de boa-f no significa uma imposio de celebrao docontrato, por outro lado, a violao dos deveres de boa-f susceptvel de provocar a

    possibilidade de o lesado ser ressarcido pelos danos por ele havidos.

    O Art.227 a afirmao legislativa do princpio que vingou na doutrina e quedefende a tese da responsabilidade civil pr-contratual (culpa in contrahendo) baseada

    na ideia de que o simples inicio das negociaes cria entre as partes deveres de lealdade,de informao e de esclarecimento, dignos da tutela do direito.

    1- A lei consagra a tese da responsabilidade civil pr-contratual pelos danosculposamente causados contraparte, tanto no perodo das negociaes (preliminares)como no momento decisivo da concluso do contrato, abrangendo, por conseguinte, afase crucial da redaco final do clausulado do contrato celebrado por escrito.

    2- A responsabilidade das partes no se circunscreve cobertura dos danosculposamente causados contraparte pela invalidade do negcio.A responsabilidade pr-contratual, com a amplitude que lhe conferida pelo art.227abrange os danos provenientes da violao de todos os deveres (secundrios) deinformao, de esclarecimento e de lealdade, em que se desdobra o espectro negocial da

    boa-f.

    3- Alem de indicar o critrio pelo qual se deve pautar a conduta de ambas as partes, alei portuguesa aponta concretamente a sano aplicvel parte que se afasta da condutaexigvel: sob pena de responder pelos danos que culposamente causar outra parte.

    4- A lei no se limita a proteger a parte contra o malogro da expectativa da concluso

    do negcio, cobrindo-a de igual modo contra outros danos que ela sofra no iter negotti.

    Embora uma das vertentes da boa-f abranja, sem dvida, a cobertura das legtimasexpectativas criadas no esprito da outra parte, o art.227, no aponta deliberadamente

    para a execuo especfica do contrato, no caso de a conduta ilcita da parte terconsistido na frustrao inesperada da concluso do contrato.A lei respeita assim, at ao derradeiro momento da concluso do contrato (salvo sehouver contrato promessa, art.830), um valor fundamental, transcendente, do direitodos contratos, a liberdade contratual.

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    Limitao da indemnizao por culpa in contrahendo

    Da ideia que a lei (por mais censurvel que seja a ruptura de negociaes na eminnciada celebrao do contrato) intencionalmente, no vai ao extremo da obrigatoriedade decelebrao ou execuo especfica do contrato decorre:

    a) Que a indemnizao prescrita na parte final do art.227 destinada a cobrir (nocaso da frustrao injustificada do negocio) o interesse negocial negativo da

    parte lesada, no pode exceder o limite do interesse contratual positivo (obeneficio que a concluso do negocio traria parte lesada).

    b) O interesse que o faltoso tem de ressarcir sempre, o chamado interessecontratual negativo (id quod interest contractum initium non fuisse).

    A perda patrimonial que no teria tido se no fosse a expectativa na concluso docontrato frustrado ou a vantagem que no alcanou pela mesma frustrao.

    Tem vindo a admitir-se a responsabilidade pr-contratual como uma terceira via para a

    responsabilidade civil (a par da responsabilidade extra-contratual e da responsabilidadecontratual)A indemnizao vai abranger os danos emergentes e o lucro cessante, o fundamental indemnizar os danos nexualmente ligados actuao do lesante.

    Uma outra manifestao flagrante do princpio da boa-f encontra-se na figura do abusode direito.

    Abuso de Direitoart.334 no estamos perante uma violao de um direito de outremou de uma ofensa a uma norma tuteladora de um interesse alheio, na verdade, trata-sedo exerccio anormal de um direito prprio.

    O exerccio do direito em termos reprovados pela lei, ou seja, respeitando a estruturaformal do direito mas violando a sua afectao substancial, funcional ou teleolgica, considerado ilegtimo.Quer isto dizer, que havendo dano provocado pelo uso para alm do valor queconstitutivamente funda determinado direito, faculdade ou poder e uma vez verificadosos restantes requisitos da responsabilidade, o titular do direito pode ser condenado aindemnizar o lesado.

    O art.334 prescinde da conscincia por parte do agente que age abusivamente, bastaque objectivamente se excedam os limites da boa-f, bons costumes ou fim social oueconmico desse direito.

    No basta, no entanto, que o simples exerccio do direito cause prejuzos a outrem, paraque o exerccio do direito seja abusivo preciso que o titular, observando embora aestrutura formal do poder que a lei lhe confere, exceda manifestamente os limites quelhe cumpre observar em funo dos interesses que legitimam a concesso desse poder.

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    Dentro do abuso de direito (em violao da boa-f) podemos configurar trs variantes,so as seguintes:

    Venire contra factum proprium nulli conceditur

    Conduta contraditria, o titular exerce o direito em distoro com a sua conduta passada

    Um comportamento no pode dirigir-se num sentido contrrio da confiana suscitada na contraparte

    Suppressio neutralizao do direito (Menezes Cordeiro

    Proteco das expectativas da parte, resultantes do no exerccio de determinado direito pela contraparte duranteum lapso razovel de tempo

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    Nesse sentido, turpitudinem suam allegans non auditur, ningum pode alegar a sua

    prpria torpeza.

    Almeno de S distingue o Venire (...) do Tu quoque no caso do tu quoque estamosperante uma conduta anterior indevida, a valorao negativa recai logo sobre o primeirocomportamento, mantendo-se virtualmente num estado de latncia, para serimediatamente convocado se o sujeito vier posteriormente a pretender retirar vantagensda posio jurdica daquele modo criada.

    A lei sujeita determinados negcios exigncia de forma (art. 220) em ordem arespeitar e defender certos interesses pblicos.

    Neste sentido, releva aferir, se, em casos de invalidade de um contrato, culposamentecausada por uma das partes, pode o contraente causador invocar a invalidade, isto ,dever a boa-f obstar invocao da invalidade por quem a causou.

    , na generalidade aceite, que a imperatividade da norma do art.220 determina, pelosinteresses pblicos que pretende acautelar, que a invalidade possa ser invocada, mesmo

    por quem funda o vcio.

    Existe, no entanto, quem defenda o oposto, entre outros Baptista Machado.Este autor defende que a boa-f deve obstar invocao da invalidade por quem acausa, isto se:

    a) A contraparte est de boa-f, isto , est inocente, desconhece a existncia dovcio de que o negcio enferma, portanto confiou na realizao do negcio.Confiou que atravs do negcio adquiriu uma posio jurdica.

    b) Nesse sentido, ser necessrio que exista um investimento de confiana. Acontraparte adoptou disposies que so irreversveis.

    c) A parte que d causa invalidade actua de forma desleal.

    Tu Quoque

    Ninguem pode recorrer sua conduta reprovvel para fundamentar um direito ou posio jurdica

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    Uma vez verificados estes requisitos, defende esta doutrina, a excepcionalidade daimpossibilidade da invocao da invalidade do negocio por quem causa o vicio.

    3-Tutela do Sujeito mais Dbil verifica-se, actualmente, uma tendncia, e por via deaco do legislador, de assegurar uma igualdade entre as partes de forma a evitar o fossocontratual entre prestaes.

    Aceitar este princpio , aceitar implicitamente restries pontuais liberdadecontratual.Ocorrendo desigualdade econmica entre as partes, a invocao da liberdade contratualtorna-se meramente formal, uma vez que, em termos materiais uma das partes seencontra constrangida celebrao do contrato.Como tal, a desigualdade existente poder levar a situaes de abuso, logo, o legisladorter de actuar com vista a garantir uma certa justia contratual.

    Efectivamente, os condicionalismos da actual ordem econmica, fazem com que amaior parte dos membros da sociedade necessite de celebrar contratos para obter asatisfao das suas necessidades, sendo que essa dependncia econmica no se verificaem relao contraparte nesses contratos.

    Nessa situao, a parte economicamente mais fraca praticamente constrangida celebrao do contrato, mesmo em condies que no aceitaria se tivesse outra

    possibilidade de satisfao das suas necessidades econmicas.

    Com efeito a tutela do sujeito mais dbil exerce-se atravs de restries liberdadecontratual, tanto no plano da liberdade de celebrao do contrato como no plano dafixao do seu contedo. uma importante restrio liberdade de celebrao, a obrigao de celebrarcontrato, obrigao de contratar.Efectivamente uma das partes pode estar vinculada, por obrigao contratual ou legal, celebrao de contrato com a outra parte.Com base ainda na autonomia privada, as partes podem criar obrigaes de celebraode contratos, art.410 e SS; Podendo nesses casos considerar-se a celebrao comocumprimento de uma obrigao contratual livremente assumida, e que portanto, ainda sefunda na autonomia privada.

    No entanto, quando a lei a impor a obrigao de contratar a autonomia privadaencontra-se restringida, podendo essa restrio considerar-se como um correctivo liberdade contratual, em virtude de se pretender evitar os abusos de uma das partes que,em virtude de um maior poder econmico que possua (designadamente se estiver em

    posio de monoplio), poder facilmente constranger a outra parte a aceitar condiescontratuais desvantajosas, se lhe fosse permitido recusar livremente a celebrao decontratos.

    No caso de contratos referentes a bens essenciais (fornecimento de agua, electricidadeetc...) a ausncia de concorrncia no sector e a necessidade dos bens por parte doconsumidor levaria a constrangimentos inaceitveis da parte mais fraca, se a outra parte

    pudesse livremente recusar a celebrao do contrato.

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    Deve entender-se, por isso, como juridicamente consagrada, nesses casos, umaobrigao de contratar, Elias em harmonia com o princpio previsto no art. 3 da Lei23/96 de 26 de Julho.

    Restries liberdade de estipulao do contedo.

    - Contratos submetidos a um regime imperativo- Contratos compostos por clausulas contratuais gerais

    A liberdade de estipulao pressupe a liberdade de celebrao. As restries liberdade de estipulao so normalmente estabelecidas em virtude de uma funo deordenao do actual Direito privado, que pretende disciplinar a liberdade contratual porforma a evitar que esta seja exercida em prejuzo da parte mais dbil.

    Contratos submetidos a um regime imperativo a imposio imperativa justifica-se emrazo da maior relevncia de certos contratos para a satisfao das necessidades sociaiselementares, que coloca uma das partes na dependncia econmica da sua celebrao,levando a que ela seja forada mesmo a aceitar condies inquas, se a sua recusaimpedir a celebrao do contrato (ex. contrato de trabalho, contrato de arrendamento).

    A nica forma de nesses contratos se proibir a estipulao de condies inquas, e oconsequente abuso da autonomia privada que tal representa, consiste na imposio deuma disciplina injuntiva para esse contratos e que vedado s partes afastar (ou s

    permitido afastar em prejuzo da parte mais forte).Para alem disso, a lei pretende ainda assegurar nesses contratos uma estabilidadesuficiente, em funo do cariz essencial das necessidades cuja satisfao por elesassegurada, limitando ou excluindo as possibilidades de a parte mais forte proceder sua denncia.

    Lei de defesa do consumidor.

    Lei 24/96 de 31 de Julho esta lei veio consagrar o direito reparao dos danospatrimoniais e no patrimoniais resultantes da prestao de servios.

    O art.12 n 1 e 2 consagra a responsabilidade objectiva do produtor, j o art.16estabelece o carcter imperativo das normas que atribuem direitos ao consumidor eestabelece a nulidade das clusulas que obstem a esses direitos.De referir ainda o DL 67/2003 de 8 de Abril, este DL resultou da transposio de umadirectiva comunitria e vem disciplinar os bens de consumo. Com efeito, vemestabelecer um regime diferente ao consagrado no CC em relao responsabilidade

    por defeitos.No que concerne s relaes de consumo, o art.2 estabelece a obrigao do vendedorentregar os bens conforme o estabelecido no contrato.O art.4 estipula os direitos do consumidor no caso da entrega de bens defeituosos, so

    quatro os direitos:

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    - Direito de reparao- Direito de substituio da coisa- Direito reduo do preo- Direito resoluo do contrato

    Nesse sentido, o art. 3 n2 estabelece prazos mais alongados para efectuar a reclamaopor defeitos tcnicos.

    DL 143/2001 de 26 de Abril este DL vem disciplinar contratos celebrados distncia,ex. venda por catlogo ou por telefone.

    O art.18 concede ao consumidor legitimidade de resoluo do contrato num prazo decatorze dias, isto sem necessidade de fundamentao nem obrigao de indemnizar acontraparte.

    4-Principio da Proporcionalidade deve informar e nortear toda a actuao daspartes. Subjaz a este princpio uma ideia de justia comutativa. Nesse sentido, oequilbrio que esteve na base do acordo deve ser preservado ao longo da vigncia docontrato, art.437.

    -A proporcionalidade deve reger a actuao dos sujeitos obrigacionais:

    -Na ligao maior manuteno do equilbrio das prestaes (art. 437).

    -Ao exerccio ponderado de direitos (art.336 n3; 337 n1 e 793 n2).

    -Ao escalonamento das relaes jurdicas (art.780; 1221 e SS e DL 67/2003 art.4).

    - modelao da regulao convencional da responsabilidade (art.812).

    A proporcionalidade reveste, ainda, um importante papel como reaco adequada gravidade da culpa do lesante e ao tipo de dano causado (art. 494 e 566 n1).

    Como exemplos da aplicao do princpio da proporcionalidade podemos referir:

    A moderao que a lei faz ou pode fazer das clusulas penais, art.812. Como sabemos,as clusulas penais so disposies em que as partes, no mbito da sua autonomiaprivada, estabelecem as consequncias do incumprimento contratual.

    5-Principio da Responsabilidade Patrimonial (matria j abordada em sede dovinculo obrigacional, a garantia).

    De acordo com este princpio, consagra-se o patrimnio do devedor como garantia geraldas obrigaes, art.601. Resulta desse facto a possibilidade conferida ao credor de

    agredir o patrimnio do devedor caso este no cumpra.

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    A ordem jurdica no poderia apenas reconhecer ao credor um direito prestao e aodevedor um dever de prestar sem assegurar por alguma forma a realizao desse direitoou cumprimento desse dever. Nesse sentido a norma do art.817.

    O recurso aos tribunais faz-se normalmente enquanto a prestao possvel, para exigir

    essa mesma prestao. o j nosso conhecido instituto da Aco para cumprimento eexecuo.Caso, porem, a realizao da prestao j no seja possvel em virtude de causaimputvel ao devedor, o credor apenas poder reclamar um direito indemnizao. oque sucede nos casos de incumprimento definitivo, art.798 e 808 e de impossibilidadeculposa de cumprimento, art.801.

    O direito indemnizao j no se identifica com o direito de crdito inicial tendo umfundamento diferente: A responsabilidade civil pelos danos causados pelo ilcitoobrigacional que consiste na frustrao do direito de credito.

    Segundo Menezes Cordeiro o regime fundamental da responsabilidade patrimonial nonosso Direito pode ser estabelecido atravs de trs postulados principais, cada um comas suas excepes;

    a) Sujeio execuo de todos os bens do devedor, art.601.b) Apenas dos bens do devedor.c) Estando os credores em p de igualdade

    Primeiro postulado da norma do art.601 resulta que a responsabilidade patrimonial ilimitada, ou seja estende-se a todos os bens do patrimnio do devedor. No entantoesta norma deixa antever duas excepes a esse princpio, que se referem a casos deresponsabilidade patrimonial limitada, so elas:

    - Os bens do devedor que no so susceptveis de penhora- A situao da separao de patrimnio

    No que concerne aos bens do devedor que no so susceptveis de penhora, eles soreferidos nos art.822 e 823 C. Processo C.Trata-se de bens que, por desempenharem uma funo essencial subsistncia ou dignidade do devedor, ou em virtude da funo a que esto afectos ser superior dagarantia patrimonial dos crditos a lei no autoriza a execuo para fins da satisfao

    dos direitos de crditos.Para l desta duas situaes, em cima referidas, a limitao da responsabilidade

    patrimonial pode ocorrer por conveno das partes, art602 e 603, em qualquer destassituaes verifica-se, assim, uma limitao da responsabilidade patrimonial do devedor.

    A limitao pode ser positiva o credor ou credores, apenas podem executar alguns dosbens do devedor.

    A limitao pode ser negativa quando a lei exclui certos bens do devedor do poder deexecuo da generalidade dos seus credores, s o permitindo a certos credores,

    art.1184.

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    Segundo postulado o de que apenas os bens do devedor podem ser objecto deexecuo pelos credores, art.817, regra geral.

    No entanto esta regra sofre algumas excepes, a que nos faz referencia o art.818.

    As duas excepes referidas no art.818 referem-se a situao em que h bens de

    terceiro a responder pela divida, o que sucede sempre que tenha sido constituda umagarantia pessoal (art.627, fiana), real abrangendo bens de terceiro (penhor ouhipoteca constitudos por terceiro art.667 e 717) ou quando tenha sido

    paulianamente impuganada a transmisso de bens do devedor para terceiro, o que possvel em casos em que essa transmisso diminua ilegitimamente o patrimnio dodevedor em prejuzo do seus credores, art.610 e SS.

    Terceiro postulado regra geral, todos os credores esto em igual posio. Essa regraimplica uma no hierarquizao dos direitos de credito pela ordem da sua constituio,tendo tanto os crditos mais antigos como os mais recentes a mesma possibilidade deexecutar o patrimnio do devedor.

    Com efeito, em caso de o patrimnio do devedor no chegar para pagar a todos, no h,em princpio, hierarquizao de credores, tendo o patrimnio do devedor que serrateado para todos se pagarem proporcionalmente (concurso de credores, art604).

    A consequncia deste regime de responsabilidade patrimonial a de que um credorcomum no tem, em princpio, qualquer garantia segura de que o seu crdito possa sersatisfeito atravs da execuo de patrimnio do devedor.

    Existe um duplo risco na fase de execuo.

    1- Possibilidade de o devedor, por aco ou inaco, fazer diminuir o patrimnio.

    2- Eventualidade de outros credores se anteciparem quele credor no exerccio dopoder de execuo e penhorarem primeiramente os bens.

    Este duplo risco susceptvel de ser evitado tambm de duas formas.

    1- Quanto ao risco de variao do patrimnio do devedor, ele pode ser evitado atravsda concesso aos credores, da possibilidade de reagir contra aces ou omisses dodevedor de onde possa resultar a diminuio do seu patrimnio.

    Trata-se de meios de conservao da garantia geral das obrigaes- Declarao de nulidade, art.605- Aco sub-rogatria, art.606- Impugnao pauliana, art.610- Arresto, art.619

    2- Quanto ao risco de outros credores se anteciparem na execuo do patrimnio dodevedor, ele s pode ser acautelado atribuindo-se ao credor que pretende evitar esserisco outra garantias para alem do simples poder de execuo do patrimnio do devedor.

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    So as denominadas garantias especiais das obrigaes. Essas garantias podem serpessoais (fiana, art.627) ou reais (604 n2).

    Em concluso, o princpio da responsabilidade patrimonial consiste na circunstancia deque quem assume uma obrigao, responde em caso de no cumprimento, com todos ouparte dos seu bens.Embora a responsabilidade seja conceptualmente distinta da divida, elas encontram-seem certa medida associadas.

    Quem assume uma divida assume tambm a responsabilidade, e, consequentemente, orisco de ver o seu patrimnio diminudo em consequncia do exerccio da acoexecutiva pelos credores.

    Normalmente, essa responsabilidade ilimitada, mas, em certos casos, pode ser

    limitada, no entanto, em qualquer caso, a segurana de satisfao do direito de creditoest sempre dependente da conservao do patrimnio do devedor e da no antecipaode outros credores na sua execuo.Para evitar essa situao possvel constituir garantias especiais, caso em que acresce responsabilidade patrimonial do devedor a responsabilidade patrimonial de outrem(garantias pessoais) ou se constitui junto da responsabilidade patrimonial geral, umaresponsabilidade matria sobre bens determinados, que atribui primazia ao seu titular naexecuo desses bens, independentemente da sua pertena ou no, ao patrimnio dodevedor.

    6-Principio da Heteroresponsabilidade em termos gerais, podemos enunciar esteprincpio como:

    Sempre que exista uma razo de justia, da qual resulte que o dano deva ser suportadopor outrem, que no o lesado, deve ser aquele e no a este que deve suportar o dano.A transferncia do dano do lesado para outrem opera-se mediante a constituio de umaobrigao de indemnizao, atravs da qual se deve reconstituir a situao que existiriase no tivesse ocorrido o evento lesivo, art.562.

    A simples injustia do dano sofrido no , porem, suficiente para se ter direito indemnizao.Efectivamente, por muito injusta que seja a situao, em principio o Direito tem queaceitar o veredicto do destina, no atribuindo indemnizao a quem veio a suportar um

    prejuzo material, a perder uma vantagem ou a sofrer danos morais em virtude dequalquer circunstancia lesiva.

    Dai que o dano seja normalmente suportado por quem o sofreu como fazendo parte dorisco geral da vida casum sentit dominus, res perit dominus, the loss lies were it falls.

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    Imputao de danos ocorre a imputao de danos sempre que a lei considera existir,no apenas um dano injusto para o lesado, mas tambm uma razo de justia que

    justifica que esse dano seja transferido para outrem.A situao de algum estar numa situao que o Direito considera mais adequada suportao do dano causado do que aquele que o sofreu denominada por

    responsabilidade civil, art.483 e SS.

    A razo de justia que justifica a constituio em responsabilidade civil denomina-sepor imputao de dano.A sua transferncia para o patrimnio do lesante efectua-se mediante a constituio deuma obrigao de indemnizao.

    Tradicionalmente, a nica imputao que poderia servir de base responsabilidade civilconsistia na culpa do lesante. O lesado, para ter direito indemnizao, teria que provara culpa do lesante, art.487 n1.

    No entanto, tem vindo a ser consagradas sucessivas presunes de culpa, por meio das

    quais, o lesado eximido desse nus, art.491, 492, 493.

    Posteriormente, foi-se desenvolvendo a ideia de que a imputao de danos poderiamesmo dispensar a culpa do lesante, passando a assentar simplesmente na criao deriscos especficos de que outrem tiram proveito ou que pode controlar, tendo queindemnizar os danos abrangidos por essa esfera de riscos.Surge a responsabilidade pelo risco, art.483 n2.

    Inserem-se nesta categoria de responsabilidade os seguintes casos:

    - Responsabilidade do comitente, art500- Responsabilidade do Estado e pessoas colectivas publicas, art.501- Danos causados por animais, art.502- Acidentes causados por veculos, art.503

    Cabe ainda referir os casos em que a imputao dos danos se baseia em permisseslegais de sacrificar bens alheios no interesse prprio que tem como contrapartida oestabelecimento de uma obrigao de indemnizao, art.81 n2 e 339 n2.

    So situaes em que algum fica obrigado a aceitar um interveno num direito seu,obtendo por essa razo um direito a ser indemnizado.

    Podemos ento estabelecer trs ttulos de imputao de danos

    a) Imputao por culpab) Imputao pelo riscoc) Imputao pelo sacrifcio

    Na imputao por culpa a responsabilidade baseia-se numa conduta ilcita ecensurvel do agente, que justifica dever ele suportar, em lugar do lesado, os prejuzosresultantes dessa sua conduta. Neste sentido, a responsabilidade civil desempenha umadupla funo; Reparatria e sancionatria, sano imposta ao agente pela violao

    culposa de uma norma.

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    Na imputao pelo risco, o fundamento reside numa concepo de justia distributiva.

    Segundo a doutrina do risco-proveito (risque-profit) Aquele que tira proveito de umasituao deve tambm suportar os prejuzos dela eventualmente resultantes, ubi

    commoda ibi incomoda.

    Segundo a doutrina do risco profissional ou de actividade (risque-d`activit) Aquele que exerce uma actividade ou profisso que seja eventualmente fonte de riscosdeve suportar os prejuzos que dela resultem para terceiros.

    Segundo a doutrina do risco de autoridade (risque-d`autorit) Sempre que algumtenha poderes de autoridade ou direco relativamente a condutas alheias deve suportartambm os prejuzos que da resultem.

    A imputao pelo sacrifcio corresponde situao em que a lei permite, emhomenagem a um valor superior, que seja sacrificado um bem ou direito pertencente aoutrem, atribuindo, porem, uma indemnizao ao lesado como compensao dessesacrifcio.

    Neste caso o fundamento da imputao tem sede numa ideia de justia comutativa, ouseja, na atribuio de uma vantagem como contrapartida do sacrifcio suportado nointeresse de outrem.

    7-Principio da Auto-responsabilidade os riscos ligados condio humana (o riscogeral de vida) geram danos que no podem ser transferidos para um rsponsavel,integram a esfera do fortuito, da pouca sorte (casum sentit dominus, res perit dominus).H, no entanto, comportamentos de risco que podem derivar em auto-leso (ex. praticade desportos radicas, consumo de tabaco, lcool, etc...).Outras situaes havero, em que, apesar do nosso dano resultar materialmente de umfacto alheio pode suceder que no possamos responsabilizar o causador (pelo menostotalmente) pela circunstncia de nos termos exposto a um perigo especfico, sendo-nosimputada como auto-responsabilidade, uma assuno de risco.

    O caso mais importante de auto-responsabilidade tem que ver com a chamada culpa dolesado, art.570; Isto , com as condutas descuidadas ou negligentes dos que sofreramou agravaram o dano.Juridicamente, a culpa do lesado, permite aplicar (desfavoravelmente) o regime doart.570, isto desde que o lesante tambm tenha tido culpa, ou o art.505 nos casos emque a conduta do lesado tenha sido determinante na verificao do acidente ou dosdanos.

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    Factos constitutivos de Obrigaes

    Podemos distinguir varias fontes de obrigaes em funo do facto que est na suaorigem.

    Fontes voluntrias resultam da vontade dos sujeitos. So:

    - O contrato- Os negcios jurdicos unilaterais

    Fontes involuntrias resultam da lei. So:

    - Gesto de negcios- Restituio do enriquecimento sem causa- Responsabilidade civil

    O contrato

    O contrato , par da responsabilidade civil a fonte mais importante de obrigaes.

    Importa definir contrato, segundo a definio clssica, o negcio jurdico bilateral ouplurilateral, integrado por duas ou mais declaraes de vontade destinadas produode efeitos jurdicos que se manifestam de acordo com a ordem jurdica por terem sidoqueridos pelas partes.

    Segundo Antunes Varela, contrato , o acordo vinculativo, assente sobre duas ou maisdeclaraes de vontade (proposta/aceitao) contrapostas mas perfeitamenteharmonizveis entre si, que visam estabelecer um composio unitria de interesses.

    J Almeida Costa refere duas ou mais declaraes de vontade de contedo diverso masque se ajustam reciprocamente com vista produo de efeitos jurdicos unitrios.

    Podemos ainda referir ainda o art.1 do projecto preliminar do cdigo europeu doscontratos que, em ligeiro paralelismo com a legislao italiana, refere que: contrato oacordo de duas ou mais pessoas destinado a constituir, regular, modificar ou extinguiruma relao jurdica que pode comportar obrigaes e outros efeitos mesmo que emrelao a uma s parte.

    Existe, entre ns, doutrina que peleja que o elemento essencial do contrato adeclarao, o acordo entre declaraes, acordo esse destinado produo de efeitos.

    D-se assim a deslocao do acento tnico do elemento vontade para o elementodeclarao, (veja-se a contratao com autmatos).

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    A definio que nos dada porCarlos Ferreira de Almeida vai nesse sentido, para estejurista, contrato : um acordo formado por duas ou mais declaraes que produzem,para as partes envolvidas, efeitos jurdicos conformes ao acordo obtido.

    Critica-se ainda a definio clssica de contrato, no sentido de serem necessariamentecontrrias as declaraes, com efeito, as declaraes no tero de ser necessariamentecontrrias como podemos observar num contrato de sociedade, no qual as partes visamestabelecer uma relao de cooperao entre si.

    O cdigo portugus vigente no define expressamente a figura do contrato, no entanto de referir que admite a constituio de obrigaes com prestao de carcter no

    patrimonial, art.398 n2.Considera expressamente como contratos o casamento, art.1577, do qual brotamrelaes essencialmente pessoais, bem como o pacto sucessrio, art.1701, 2026 e2028, que fonte de relaes mortis causa.

    O contrato, pode hoje ser, no s fonte de obrigaes (da sua constituio, transferncia,modificao ou extino) mas de direitos reais, familiares e sucessrios.

    Antunes Varela refere um acordo vinculativo de vontades opostas (ao invs damoderna doutrina do contrato, entre outros, Flume) mas harmonizveis entre si.Logo, o elemento fundamental o consenso.Se as declaraes de vontade das partes, apesar de opostas, no se ajustam uma outra,no h consenso, j que falta o mutuo consentimento, art.232.

    O mesmo autor, defende que, para que haja contrato, as vontades que integram o acordocontratual embora concordantes ou harmonizveis tm que ser opostas, de sinalcontrrio.Com efeito, para Antunes Varela, quando as declaraes so concordantes e paralelasno h contrato, antes um acto colectivo ou acordo.

    J quando as declaraes se fundem, no para formar um acordo sobre interessescontrapostos, mas para apurar por sufrgio a vontade de um rgo colegial, tambm noh contrato, mas vinculao.Segundo o autor, o contrato s vincula quem o aceitou, a deliberao pode impor-se aquem votou contra ela.

    Concepo normativista ou perceptivista do contrato

    Uns vm no contrato o acordo de vontades dos contraentes, gerador de obrigaes ou deoutros efeitos jurdicos.Outros consideram o contrato como a relao jurdica emergente do acordo.E outros h, ainda, que identificam o contrato com as regras que por fora do acordo,mas no se confundindo com a vontade dos agentes, disciplinam o conflito de interessessuscitado entre as partes.

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    De acordo com a concepo normativista do contrato, este o mais genuno expoenteda autonomia privada, precisamente porque atravs do instrumento contratual criam as

    partes, por sua livre iniciativa, as normas reguladoras dos seus conflitos de interesses.

    Antunes Varela afirma que esta tese d flanco a inmeras criticas, desde logo porque;

    As regras nascidas das clusulas contratuais, destinadas a regular pontualmente osinteresses concretos dos dois contraentes no podem ser equiparadas s normas

    jurdicas, estas visam disciplinar em termos abstractos, uma generalidade mais oumenos ampla de pessoas (nesse sentido, Menezes Leito).

    interpretao e integrao das normas jurdicas so aplicveis as normas dos art.9 a15, muito diferentes daquelas que vigoram para as declaraes contratuais, art.236 a239.

    Enquanto as normas jurdicas podem, em princpio, ser alteradas por nova lei comeficcia retroactiva, o mesmo no sucede com as clusulas contratuais, cujainterpretao e integrao devem sempre ser realizadas luz do direito vigente data dacelebrao do contrato.Se as partes, por acordo, alterarem a conveno por elas anteriormente estabelecida, do novo contrato, e no do precedente que a alterao procede, ao invs do que sucedese uma nova lei imperativa modificar o seu contedo.

    Passamos a analisar os princpios fundamentais em que assenta a disciplinalegislativa dos contratos.

    1-Principio da Autonomia Privada2-Principio da Confiana (pacta sunt servanda)3-Principio da Justia Comutativa

    1-Principio da autonomia privada reveste na rea especfica dos negcios jurdicosbilaterais ou plurilaterais a forma de liberdade contratual.

    Como tratamos, em sede dos princpios do Direito das Obrigaes, uma coisa , naverdade, a faculdade reconhecida aos particulares de fixarem livremente, segundo o seu

    critrio, a disciplina vinculativa dos seus interesses, nas relaes com os demais sujeitos(Autonomia privada).

    Outra coisa, embora estritamente ligada com aquela, o poder reconhecido s pessoas,de estabelecerem, de comum acordo, as clusulas reguladoras (no plano do Direito) dosseus interesses contrapostos que mais convenham sua vontade comum (Liberdadecontratual).

    2-Principio da Confiana (pacta sunt servanda) presente na matria deinterpretao e integrao dos contratos, art.236,238,239 e 217. E na regra da

    imodificabilidade do contrato por actuao unilateral, art.406 n1, quod prius estlibertatis postea fit necessitatis.

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    a proteco da legtima expectativa criada pelo recebimento da proposta contratual noesprito do destinatrio que explica a irrevogabilidade da proposta durante o perodorazoavelmente reservado reflexo e deciso daquele, art.230.

    3-Principio da Justia Comutativa (equivalncia das prestaes) Este princpioest plasmado em vrias, e importantes, disposies do nosso Direito constitudo:

    a) Anulao ou modificao de negcios usurrios, art.282 e SS.b) Possibilidade de reduo oficiosa da clausula penal excessiva, art.812c) Direito reduo do preo em caso de venda de bens defeituosos, art.913d) Direito de resoluo ou modificao por alterao das circunstancias, art.437

    Etc...

    Contedo do Contrato

    A que se deve atender para determinar o contedo contratual.

    - vontade das partes (clausulado estipulado pelas partes).

    - lei (enquanto normas imperativas, logo, limitadoras das liberdade contratual, ou porvia de normas supletivas, l, onde as partes nada tenham disposto).

    - Princpios Gerais, a boa-f em papel concretizador.

    Segundo Menezes Cordeiro o contedo do negcio corresponde regulao por eledesencadeada, isto , ao conjunto de regras que, por ter sido celebrado um negcio,tenham aplicao ao espao sobre o qual as partes entenderam dispor.

    O recurso ideia de contedo visa proporcionar uma ponderao global da regulaopromovida pelo negcio: De outro modo, tudo se resumiria ao estudo analtico dediversas situaes jurdicas, perdendo-se traos importantes do regime em jogo. Este, talcomo o seu equilbrio global, deve ser obtido na base de uma panormica de conjunto.

    O negocio jurdico algo mais complexo que a soma de todas a regras que o compem.O conjunto desencadeia efeitos novos, que s a podem ser explicados.Por isso considerar o contedo em detrimento de sectores isolados surge mais realista e

    permite um melhor conhecimento da realidade.

    Do contedo deve distinguir-se o objecto; Este tem que ver, no com a regulao em si,mas com o quid sobre que ir recair a relao negocial propriamente dita.

    Por exemplo, num contrato de compra e venda verifica-se que:

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    As regras aplicveis, por via dele, s partes, constituem o seu contedo; Assim atransmisso da propriedade e as obrigaes de entrega da coisa e pagamento do preo,art879.

    A coisa ou direito transmitidos formam o seu objecto.

    Composio do Contedo

    Elementos normativos correspondem s regras aplicveis ex lege, isto , quelas queo Direito associe celebrao dos negcios, independentemente de um expressavontade negocial nesse sentido. Podem ser:

    Injuntivas so aquelas que no podem ser afastadas pelas partes.

    Supletivas quando a sua aplicao se destine a suprir o silncio ou a insuficincia doclausulado negocial.

    Elementos voluntrios estes tm que ver com as regras apontadas e fixadas pelasprprias partes. Podem ser:

    Necessrios correspondem a factores que embora na disponibilidade das partes,tenham por elas, de ser fixados, sob pena de incompletude do negcio (ex. o preo, na

    compra e venda).Eventuais integram elementos que as partes podero incluir no negcio se entenderem(ex. condio).

    Tipo negocial

    O tipo negocial em sentido estrito corresponde ao conjunto dos seus elementosnormativos e voluntrios necessrios.

    No correspondem ao tipo negocial os elementos que legitimamente afastem os factores

    normativos supletivos e os elementos voluntrios eventuais.

    Plano pratico o tipo negocial recorda que, na generalidade dos casos, as partes no seafadigam a procurar regimes especficos para os seus interesses; Limitam-se a eleger umnegcio e a completar os elementos voluntrios necessrios. As tarefas de determinaodas regras aplicveis podem assim, limitar-se identificao do tipo negocial eleito

    pelas partes.

    Do tipo negoc