apontamentos dac -2007 v.1

152
UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA DEPARTAMENTO DE DIREITO DIREITO COMERCIAL SEBENTA

Upload: aleida-monteiro

Post on 26-Jan-2016

255 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Apontamentos DAC

TRANSCRIPT

Page 1: Apontamentos DAC -2007 v.1

UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA

DEPARTAMENTO DE DIREITO

DIREITO COMERCIAL

SEBENTA

Bernardino Milheiras

2008/9

Page 2: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

DIREITO COMERCIALTitulo I

Parte geral

1. Evolução histórica do direito comercial

O direito comercial enquanto sistema normativo autónomo regulador da actividade mercantil,

surgiu na época medieval, por volta do século XII, na Flandres em Itália.

O fraco poder político central e o desenvolvimento do comércio, associado às corporações de

mercadores, que tinham os seus estatutos e tribunais próprios permitiu que os comerciantes se

organizassem, controlando a produção, distribuição comercial, passando então a ser a classe

dominante. O direito comercial surge assim criado pelos mercadores para regular as suas próprias

actividades.

O direito do comércio – ius mercatorum – surge assim, ajustado à realidade mercantil adequada às

suas características, contrapondo-se ao direito comum romano-canónico.

O ius mercatorum, tinha como fontes:

- Costumes mercantis;

- Estatutos das corporações de mercadores;

- Jurisprudência dos tribunais consulares;

Pelo que ficou exposto, resulta que o direito comercial nasceu de uma raiz subjectivista, uma vez

que apareceu por iniciativa dos comerciantes para regular as suas próprias actividades.

Mas o direito comercial pode também ser visto de um teor objectivista, se atendermos ao acto em

si, que será objectivamente comercial, independentemente da qualidade das pessoas que os

pratiquem.

Em Portugal, apesar da proximidade face à Catalunha e à França, nomeadamente às feiras de

Champagne e Lyon, o direito comercial não se autonomizou como ramo do direito regulador per si,

das relações de índole comercial. A actividade comercial era regulada sobretudo por costumes e por

algumas leis constantes nos forais.

Este atraso do desenvolvimento do direito comercial ficou a dever-se essencialmente à centralização

estatal rígida, à pouca influência dos mercadores burgueses e à inexistência de tribunais de

comércio. Nem a força dos descobrimentos impulsionou a criação e autonomização do direito

comercial.

2

Page 3: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Em 1807 é lançado o code de commerce, que marca o início de uma nova etapa do direito

comercial, acentuando sobretudo o seu carácter objectivo, pondo um pouco de lado a perspectiva

subjectiva com que tinha aparecido, apesar de mais tarde o código alemão voltar a adoptar uma

construção subjectivista do direito comercial.

Com o código francês acentua-se o carácter objectivo do direito comercial, o que decorre da defesa

dos princípios de igualdade, fraternidade e da liberdade, assim o que passa a interessar é o acto de

comércio em si e não a qualidade da pessoa que pratica o acto.

O primeiro código comercial português nasceu em 1833 pelas mãos de Ferreira Borges, e o actual

redigido por Veiga Beirão, em 1888, adoptam uma perspectiva objectivista do direito comercial.

Assim estabelece o art. 1 CCM “A lei comercial rege os actos de comércio sejam ou não

comerciantes as pessoas que neles intervém.” Ou seja, para que um acto seja comercial, não é

necessário que seja praticado por um comerciante.

2. Noção de direito comercial português

O direito comercial pode ser entendido como um conjunto de normas jurídicas que disciplinam os

actos de comércio e os comerciantes.

Contudo, o comércio, poder ser entendido em dois sentidos:

1. Comércio em sentido económico : é entendido como actividade de interposição de

circulação de bens ou de interposição de trocas. Há, todavia certas actividades que embora

integrantes do conceito de comércio em sentido económico não fazem parte do comércio em sentido

jurídico, como sucede com as indústrias extractivas, agricultura, serviços artesanais e profissões

liberais. O comércio em sentido económico é assim entendido como conjunto de actividades que

pertencem ao chamado sector terciário da economia, relativas à circulação de bens. O sector

primário diz respeito às actividades agrícolas, silvícolas, pesca, indústria extractiva. O sector

secundário engloba o artesanato e as indústrias transformadoras. No sector terciário destacam-se as

actividades económicas de prestação de serviços e de comércio. Como se vê o comércio constitui

apenas uma das várias actividades económicas que pertencem ao sector terciário.

2. Comércio em sentido jurídico : é entendido como actividade de interposição de circulação

de bens ou de interposição de trocas, mas englobando também indústrias, serviços bem como actos

que não se situam somente nos domínios do comércio em sentido económico. O comércio em

sentido jurídico, engloba assim um conjunto de actividades económicas a que num dado país e num

dado momento se aplicam as leis comerciais. O legislador quis não apenas abranger as actividades

de intermediação, mas todas as actividades económicas que fossem objecto de normas mercantis.

3

Page 4: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Actualmente as normas jurídicas mercantis não se esgotam na regulação dos actos materialmente

comerciais, mas também se aplicam aos chamados actos formalmente comerciais, isto é, actos cuja

relevância jurídica deriva não da própria natureza intrínseca do acto nem da capacidade do

comerciante, mas da mera circunstancia formal que é o preenchimento por alguém de uma

determinado esquema jurídico pré-estabelecido pelo legislador. Assim sucede por exemplo com a

subscrição de uma letra de câmbio

3. Fontes do direito comercial português

As formas de manifestação e revelação do direito comercial, podem resultar de:

Fontes internas: CRP nos art. 61.º 81.º 82.º e 86.º; Código comercial e leis substitutivas, doutrina e

jurisprudência, cujo papel se destaca sobretudo na interpretação de cláusulas gerais e conceitos

indeterminados, na integração de lacunas e na definição de princípios normativos. Os usos possuem

ainda alguma importância.

Fontes externas: convenções internacionais, art. 8.º n.º 2 CRP, regulamentos e directivas da EU,

art. 8.º n.º 3 CRP.

4. A autonomia do direito comercial e a sua relação com o direito civil

A autonomia do direito comercial face ao direito civil, manifesta-se a dois níveis:

1. Autonomia formal ou legislativa assente na reunião das normas comerciais num

diploma unitário, num código, separado do CC.

2. Autonomia substancial, traduzida num corpo normativo que regula de modo especial,

divergente do direito comum as relações jurídico-comerciais. A autonomia substancial do direito

comercial tem vindo a decair desde o século XIX, pela verificação de um forte movimento em prol

da unificação de todo o direito privado, que já se implementou por exemplo no Brasil. Defendem os

unitaristas que a separação do direito privado contraria a unidade da vida económica, sendo cada

vez mais comum a generalização de instrumentos comercias na vida civil, como as letras de

cambio, cheques, etc. sendo ainda cada vez mais visível, devido à influencia capitalista, a extensão

de princípios de direito comercial ao direito civil.

Em Portugal, o direito comercial mantém a sua autonomia legislativa e substancial. A lei civil por

sua vez, é de aplicação subsidiária, enquanto direito privado comum, ou seja, o direito civil

intervêm para regulamentação de matérias comerciais quando o direito comercial se mostre

insuficiente, aplica-se subsidiariamente por ser lei comum. Assim consta do art. 3.º CCM “Se as

questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem pelo texto da lei

4

Page 5: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela prevenidos, serão decididas pelo

direito civil”.

Conclui-se que o direito comercial é direito privado especial, com regras diferentes do direito civil

comum. O primeiro ramo surge muitas vezes como fragmentário, aberto ao recurso ao direito civil.

Por isso, o direito civil não serve apenas para integrar lacunas, porque muitas das omissões

comerciais visam um claro recurso à lei civil, por exemplo no que se refere ao regime geral do

negócio jurídico.

O direito civil, é um direito privado comum, porque as suas normas regulam de um modo geral as

relações entre os sujeitos privados. O direito comercial por sua vez, é um direito especial porque

apenas regula uma parte específica das relações que se verificam entre sujeitos privados.

Titulo II

Dos actos de comércio em geral

1. Noção de acto de comércio

Segundo o art. 2 Com “Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem

especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e obrigações dos

comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não

resultar”.

A 1.ª parte do artigo refere-se aos actos objectivamente comerciais, isto é, aqueles que o são

independentemente da qualidade da pessoa que os pratica.

A 2.ª parte do artigo refere-se aos actos subjectivamente comercias, isto é, aqueles qualificados

como tal, em virtude de serem praticados por um sujeito que tem qualidade de comerciante.

A doutrina tem entendido que é impossível construir um conceito unitário e homogéneo de acto de

comércio, apesar de além fronteiras, nomeadamente em Itália se ter tentado a sua construção com

base em três critérios:

Assim, seriam actos de comercio aqueles que:

1. Tivessem finalidade especulativa ou lucrativa;

2. Se destinassem a interposição de trocas;

3. Derivassem da existência de uma empresa;

Nenhum destes critérios possibilita contudo, a construção de um conceito unitário de acto de

comércio; há desde logo, actividades especulativas, como agricultura que não são qualificadas como

comerciais; além disso, o Estado pode também praticar actos de comércio sem fim lucrativo. Por

outro lado, também o critério da interposição das trocas é insuficiente, porque existem actos

5

Page 6: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

comercias que não carecem de troca como fiança, penhor, etc. Por último a existência de empresa

não é determinante porque existem actos de comércio praticados ocasionalmente sem suporte

empresarial.

2. Actos de comércio objectivos

São aqueles regulados no código comercial como tal, assim existe uma enumeração ou catálogo:

exemplo, fiança, empresas, mandato, conta corrente, penhor, empréstimo, seguro, aluguer, etc.

Relativamente à maioria dos actos o código estabelece uma disciplina específica, contudo, um acto

pode ser objectivamente comercial, ainda que a lei para ele não preveja um regime específico, é o

caso do aluguer que é regulado pelo CC, mas que nem por isso, deixa de ser um acto

objectivamente comercial.

Daqui podemos concluir que mesmo os actos comerciais para os quais o código não estabelece

disciplina específica ficam sujeitos às regras comuns dos actos de comércio em geral.

Para além dos actos objectivamente comerciais previstos no Com são ainda considerados actos

objectivamente comerciais, aqueles constantes de:

1. Lei avulsa que substitui o CCM : toda a lei avulsa que substitui o CCM será, em

princípio comercial por uma questão de coerência; assim são objectivamente comerciais os actos

constitutivos das sociedades comerciais previstos no Cód. Sociedades Comerciais que substituem

artigos do CCM.

2. Lei avulsa que se auto-qualifica como comercial : O RAU possui um capítulo relativo

apenas ao arrendamento comercial e industrial, estabelecendo regras específicas, quanto à cessação

de exploração do estabelecimento e o trespasse comercial ou industrial. Este capítulo visa

essencialmente actividades e empresas e como tal deve ser considerado como contendo actos

objectivamente comerciais.

3. Leis analógicas à lei comercial ; na maioria dos casos uma lei não se qualifica como

comercial, daí que seja necessário analisar se a matéria por ela regulada diz respeito a situações

análogas à àquela regulada pela lei comercial.

A este propósito cumpre analisar o artigo 230.º CCM, que apresenta uma lista, que apesar de

desactualizada, de actividades consideradas comerciais.

Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem:

As críticas podem começar logo, aqui, uma vez que, existem empresas que podem não ser

consideradas como comerciais, em virtude da lei, como acontece com o Estado Autarquias Locais,

6

Page 7: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

que ainda que desenvolvam actividades de natureza comercial, não podem ser considerados

comerciais.

Parte da doutrina entende que o termo empresa deve ser entendido como sinónimo de empresário,

contudo, outra parte da doutrina, como Coutinho de Abreu, entende que o termo empresa é usado

como sinónimo de série de actos comerciais objectivos, porque a lei rege os actos de comércio

sejam ou não comerciantes as pessoas que os praticam.

3. Qualificação dos actos de comércio por analogia:

Analogia iuris : Analogia feita a partir de princípios jurídicos gerias de direito comercial, mas que

não possuem consagração legal. O recurso a este tipo de analogia, isto é, disciplinar casos omissos

mediante aplicação de princípios gerias através de indução, não é todavia, unânime. Tal concepção

apenas é aceite pela doutrina que vê nos actos de comércio um conceito unitário, contudo, não

podemos esquecer que tal posição pode levar a insegurança e a incerteza.

Analogia legis : analogia feita a partir de uma norma jurídica, estende-se um regime a uma situação

não prevista na lei, mediante recurso a uma semelhante consagrada normativamente. O recurso a

este tipo de analogia é pacificamente aceite.

4. Princípios de direito comercial

O professor José Reis, não exclui a possibilidade de recurso à analogia iuris, porque considera que

existem princípios basilares que são essenciais, para qualificar certas actividades, que de outra

forma não seriam qualificáveis como comerciais. Por exemplo, não há nenhuma norma que

qualifique como comerciais os actos de empresas de serviços, como cafés, restauração, oficinas, que

são qualificadas como empresas comerciais mediante o recurso à analogia. Não faria o mínimo

sentido que empresas como agencias viagem, de transportes, restauração, que prestam serviços ano

fossem qualificadas como comerciais. Assim extrai-se o primeiro princípio de direito comercial:

qualquer actividade de prestação de serviços exercida por uma empresa transforma-a em

empresa comercial, assim as empresas de prestação de serviços são em regra comerciais.

Contudo, a prestação de serviços apenas é considerada comercial se for exercida no âmbito de uma

empresa, e não meramente a título individual.

Um segundo princípio de direito comercial diz-nos que os negócios sobre em empresas, como o

trespasse e a locação de estabelecimento comercial, apesar de não serem qualificados

genericamente como actos comerciais, devem ser entendidos genericamente como actos

objectivamente comerciais.

7

Page 8: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Devendo o comércio jurídico abranger o comércio em sentido económico implicando este a troca,

então concluímos que toda a actividade de interposição de trocas deve ser tida como acto

objectivamente comercial. Apesar desta qualificação não constar da lei, deve entender-se que toda

actividade de interposição de trocas constitui acto objectivamente comercial.

O contrato de concessão comercial, é um contrato duradouro mediante o qual o concedente se

obriga a vender bens ao concessionário, que embora sendo muito usado é um contrato atípico, não

constando por isso, da lei. Não obstante, ele consubstancia um acto de interposição nas trocas, por

isso, devemos considerar a concessão comercial como acto objectivamente comercial.

O art. 3 Com estabelece a possibilidade de recurso à analogia para regular os actos já qualificados

como comercias, o artigo aplica-se assim, nos casos em que o acto é qualificado como comercial

embora não tenha regulamentação, temos por isso, uma lacuna de regulamentação.

Existe, todavia, lacunas de qualificação, quando o acto não é qualificado como comercial, apenas o

passando a ser em virtude do recurso à analogia.

5. Actos de comércio subjectivo

Os actos objectivamente comercias não têm de ser praticados por um sujeito determinado para

serem qualificados como comerciais, porque a sua qualificação em nada se relaciona com a

qualidade do sujeito. Por outro lado, já os actos de comércio subjectivamente comerciais, dependem

da qualidade e do estatuto do sujeito que os pratica.

Para que um acto seja subjectivamente comercial é necessário que estejam preenchidos três

requisitos, um de natureza positiva e dois de natureza negativa.

1. É necessário que o sujeito seja um comerciante, sendo que nos termos do art. 13.º n.º1 CCM

são comerciantes “São comerciantes:

1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão;

2.º As sociedades comerciais”

Contudo, nem todos os actos praticados por comerciantes são actos subjectivamente comerciais, é

necessário estarem preenchidos mais dois requisitos de índole negativa:

2. Os actos para serem subjectivamente comerciais, não podem ser de natureza exclusivamente

civil. Sendo que só são de natureza exclusivamente civil os actos de natureza extra-patrimonial,

como actos familiares e sucessórios. Assim só são actos de comércio aqueles de natureza

patrimonial.

3. Mas nem todos os actos praticados por comerciantes de natureza patrimonial são subjectivamente

comerciais, tal só sucede “se do contrário do próprio acto não resultar ” art 2 CCM in fine.

8

Page 9: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Assim, um acto patrimonial praticado por um comerciante, só não é subjectivamente comercial, se

da prática do acto resultar o contrário, isto é desde que haja desconexão com a actividade praticada

pelo comerciante.

Ex: A, comerciante dono de uma sapataria dirige-se a uma loja de informática para comprar um

computador.

O primeiro requisito está preenchido porque o comprador é um comerciante, o segundo também

porque o acto é claramente de natureza patrimonial, quanto ao terceiro, o acto será subjectivamente

comercial, salvo se da prática do próprio acto se induzir o contrário. Assim, se por qualquer

circunstância resultar a falta de conexão entre o acto e a actividade comercial, por exemplo se o

filho for com ele para escolher a sua prenda de aniversário, o acto não será subjectivamente

comercial. Note-se que o comerciante não necessita de se identificar como tal, basta que haja

conexão entre o acto e a actividade, sendo que a falta de conexão pode resultar, do que é dito, do

resultado da compra e das circunstâncias que rodeiam a prática do acto.

6. Classificação dos actos de comércio

6.1 Actos de comércio autónomos:

São actos qualificados como actos comerciais por si mesmos, independentemente da ligação com

outros actos.

6.2 Actos de comércio acessórios:

são aqueles que devem a sua comercialidade ao facto de se ligarem ou se conexionarem com actos

mercantis. São exemplos:

1. Fiança , art. 101.º CCM “Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja

comerciante, será solidário com o respectivo afiançado” A fiança só segue acessoriamente o

regime do CCM nos casos em que ela se destine a afiançar uma obrigação mercantil.

2. Mandato , art. 231.º CCM “Dá-se mandato comercial quando alguma pessoa se

encarrega de praticar um ou mais actos de comércio por mandado de outrem” O mandato, segue

nestes termos acessoriamente CCM se pelo seu conteúdo se destine a praticar actos de comércio.

3. Empréstimo , art. 394.º CCM “Para que o contrato de empréstimo seja havido por

comercial é mister que a cousa cedida seja destinada a qualquer acto mercantil” Assim, o

empréstimo seguirá acessoriamente o regime do CCM se se destinar a cobrir uma actividade

mercantil. Note-se que nos termos do art. 395.º CCM “O empréstimo mercantil é sempre

retribuído”, sendo que ao contrário do que se passa com o direito comum, nos termos do art. 396.º

CCM “O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género

de prova”

9

Page 10: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

4. Penhor: art. 397.º CCM “Para que o penhor seja considerado mercantil é mister que a

dívida que se cauciona proceda de acto comercial” nestes termos para que o penhor seja

acessoriamente comercial a divida garantida tem de advir de acto comercial.

5. Depósito: art. 403.º CCM “Para que o depósito seja considerado mercantil é necessário

que seja de géneros ou de mercadorias destinados a qualquer acto de comércio” assim para que o

depósito seja acessoriamente comercial a mercadoria alvo de depósito tem de ser destinada a actos

de comércio.

6.4 Actos formalmente comerciais

São esquemas negociais usados para a realização de operações mercantis económicas que não são

actos de comércio nem se inserem na actividade comercial, contudo, estão regulados na lei

comercial, e portanto merecem qualificação de actos de comércio.

É o caso do negócio cambiários, assim, A não comerciante, vende seu carro a B também não

comerciante, para seu uso pessoal. Aqui tanto a compra como a venda são civis, nos termos do art.

464.º n.º 1 CCM “Não são consideradas comerciais:

1,º As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua

família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer” não sendo o preço pago,

ambos convencionam a emissão de uma letra de câmbio, passando o acto a ser de comércio, porque

tal é instituído pela lei.

6.5 Actos substancialmente comercias

São aqueles que pela sua natureza são considerados comerciais. Note-se que tanto os actos

formalmente comercias como os substancialmente comerciais seguem o mesmo regime.

6.6 Actos bilateralmente comerciais

São actos cuja comercialidade se verifica em relação a ambas as partes, como por exemplo, se A

produtor de automóveis vende o automóvel X ao concessionário Y, quer a compra, quer a venda são

comerciais, art. 463.º n.º 1 CCM “São consideradas comerciais:

1.º As compras de cousas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou simplesmente para

lhes alugar o uso”

6.7 Actos unilateralmente comerciais

São actos cuja comercialmente se verifica apenas em relação a uma parte contratual. Assim, E

professor compra a B concessionário, um automóvel, para seu uso pessoal, aqui a venda é

objectivamente comercial nos termos do art. 463.º n.º3 CCM “3.º A venda de cousas móveis, em

bruto ou trabalhadas, e as de fundos públicos e de quaisquer títulos de crédito negociáveis, quando

10

Page 11: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

a aquisição houvesse sido feita no intuito de as revender” contudo, a compra é civil, art. 464.º n.º 1

CCM “Não são consideradas comerciais:

1,º As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua

família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;”

Aos actos unilateralmente comerciais aplica-se a lei comercial conforme estabelece o art. 99

CCM “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas

disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes, salvo as que só forem aplicáveis

àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição

comercial”

Assim os actos unilateralmente comerciais são regulados pela lei comercial exceptuando-se as

disposições da lei comercial que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito a lei é

mercantil. Daqui decorre que existem disposições que não se vão aplicar porque essas apenas se

aplicam a actos mercantis e não aos restantes, assim acontece com o art. 100.º CCM “Nas

obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salva estipulação contrária.

§ único. Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos que, em

relação a estes, não constituírem actos comerciais”

Assim a solidariedade passiva não se estende às compras civis, porque em relação a estes

compradores, não há a prática de nenhum acto comercial.

Ex: A e B advogados compram a uma empresa material informático, para o seu escritório. O acto

como se constata é unilateralmente comercial, porque apesar da venda ser comercial, a compra é

civil, art. 463.º e 464.º CCM. Contudo, o negócio vai ser regulado no seu todo pela lei comercial,

em cumprimento com o disposto no art. 99 CCM; porém, no caso do não pagamento, o vendedor só

poder exigir a cada um dos co-obrigados, a uma quota-parte na dívida, e nunca a totalidade porque

o regime da solidariedade típico do comércio não se aplica nestes casos conforme o estipulado no

art. 100.º CCM

Resumo

Requisitos cumulativos para um acto ser subjectivamente comercial

1. O SUJEITO TEM DE SER COMERCIANTE – Artº 13º – O sujeito adquire a qualidade de

comerciante quando pratica reiteradamente, em nome próprio e profissionalmente actos de

comércio;

2. O ACTO NÃO PODE TER NATUREZA EXCLUSIVAMENTE CIVIL – Os actos que não

são exclusivamente civis, são patrimoniais, os actos que são exclusivamente civis, são pessoais.

Actos exclusivamente civis: casamento, perfilhamento, etc.

11

Page 12: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

3. O QUE RESULTA – Há conexão com a actividade? Não há conexão com a actividade?. Neste

ponto, para averiguar se há ou não conexão, há que apelar à “teoria da impressão do declaratário” (o

homem médio, o bom pai de família). Pode-se verificar:

Resulta que tem conexão com o acto do comércio;

Resulta que não tem conexão com o acto do comércio;

Não resulta que não haja conexão com o acto do comércio. Dupla negativa, logo positiva, logo

há conexão.

QUEM É COMERCIANTE – Aquele que pratica, em nome próprio, de forma reiterada, tendo

capacidade de exercício, actos objectivos e absolutos. Actos que são comerciais pela sua essência –

Artº 13º c/ 7º

Artº 230 – Norma qualificadora. É aqui que o legislador tipifica as empresas comerciais

FUNÇÃO DO ARTº 230 – Visa catalogar e qualificar quais as empresas que são comerciais.

EMPRESAS COMERCIAIS – Organização de factores produtivos com autonomia técnico-

funcional. É uma actividade e é uma massificação de actos, logo esses actos que decompõem estas

actividades estão tipificados na lei – Artº 230 – embora de forma implícita. Estes actos, dado que

estão tipificados na lei (de forma implícita) são actos objectivos.

Desta forma, segundo a tese de Vasco Lobo Xavier, derivado à multiplicidade, ou massificação de

actos, não se vislumbra, facilmente, a que acto diria respeito o Artº 230.

Assim sendo será qualificado como acto do comércio, todo e qualquer dos actos praticados pelo

titular da empresa, na exploração desta. Serão actos de comércio objectivos, à luz da primeira parte

do artº 2º. Assim sendo, tratando-se de actos comerciais, cuja prática corresponde ao exercício do

comércio, para efeitos de atribuição da qualidade de comerciante, nos termos do artº 13/1, o titular

da empresa deverá ser considerado comerciante, uma vez que, como titular da empresa em questão,

no exercício das suas funções empresariais, pratica, de forma reiterada, actos implícitos, que, sendo

implícitos, são fundamentais, sendo estes actos, também fundamentais, uma vez que estão

tipificados no Artº 230.

12

Page 13: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Para Vasco Lobo Xavier, os actos têm de ser fundamentais para a actividade do comércio, ou seja,

têm de ter conexão com o próprio sujeito. Caso seja fundamental teremos de aferir se o referido acto

é objectivo implícito, civil ou subjectivamente comercial.

Para Coutinho de Abreu, os actos têm de ser típicos da actividade do comércio, ou seja

caracterizadores da actividade do comércio. Assim sendo, se o acto é típico teremos de aferir se o

referido acto é objectivo implícito, civil ou subjectivamente comercial.

QUADRO DE VERIFICAÇÃO DOS ACTOS

1. SE NÃO FOR COMERCIANTE :

a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita, ou seja, se está tipificado na

lei;

b) Se não for, é civil.

2. SE FOR COMERCIANTE :

a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita, ou seja, se está tipificado na

lei;

b) Se não for, pode ser subjectivamente comercial;

c) Se não for, é civil.

3. SE FOR COMERCIANTE E TITULAR DE UMA EMPRESA :

a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita;

b) Se não for, ver se é objectivamente comercial de forma implícita;

c) Se não for, ver se o acto é subjectivamente comercial;

d) Se não for, é civil.

Responsabilidade por dividas

REGIME DE BENS – Artº 1717 ss CC.

1. REGIME DE COMUNHÃO DE BENS ADQUIRIDOS – Artº 1721 CC.

Bens Comuns – Regra geral, os bens adquiridos, a título oneroso, na constância do matrimónio;

Bens próprios – Os bens que os cônjuges levaram para o casamento e os que adquiriram, a

título gratuito, na constância do matrimónio, por sucessão ou doação.

13

Page 14: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. REGIME DE COMUNHÃO GERAL DE BENS – Tudo é comum. Todos os bens são

comuns. Os bens de ambos, anteriores e posteriores ao casamento.

3. REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS – Todos os bens são próprios de cada um. Cada um

tem os seus bens. Se há um bem dos dois, então há compropriedade.

REGIME DO ARTº 1691/1-d) - Segundo esta norma, nos regimes de comunhão de adquiridos ou

de comunhão geral, as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio são

da responsabilidade de ambos os cônjuges.

Desta forma respondem por elas todos os bens comuns do casal e, na insuficiência deles,

solidariamente, os bens próprios de qualquer dos cônjuges – Artº 1695/1. Só assim não será, de

acordo com o Artº 1691/1-d), se se provar que as ditas dívidas, embora derivadas da actividade

comercial do devedor, não foram contraídas em proveito comum do casal, ou seja é sobre o cônjuge

que recai o ónus da prova.

Por outro lado, segundo o Artº 15º do Código Comercial, “as dívidas comerciais do cônjuge

comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”.

Desta forma o credor do comerciante para se valer do regime do Artº 1691/1-d), não precisa de

provar que a dívida foi contraída no exercício do comércio pelo devedor.

Cabe-lhe apenas provar que a dívida é comercial, ou seja, que resulta de um acto do comércio.

Há assim uma presunção legal, ilidível, desde que o cônjuge do devedor consiga provar que a

dívida, embora comercial, não derivou do exercício do comércio do mesmo devedor ou que a

dívida, apesar de ter sido efectuada do exercício do comércio do devedor, não foi contraída em

proveito comum do casal.

O cônjuge do devedor poderá, ainda, para evitar que os seus bens respondam pela dívida, ilidir a

presunção do Artº 15º do C. Com., provando que a dívida não tem qualquer conexão com o

exercício do comércio do devedor.

14

Page 15: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

DIREITO À MEAÇÃO (meação de bens) – É a quota ideal que cada um dos cônjuges tem,

relativamente aos bens comuns, ou seja, que cada um tem em face do património comum. Só

funciona para a Comunhão de adquiridos e para a comunhão de bens.

REGRA GERAL – O regime de bens não influencia a natureza da dívida, excepto uma situação: A

prevista no Artº 1691/1 d) do CC c/ Artº 5º C. Comercial.

Capítulo I

Os sujeitos

Secção I

Dos comerciantes

1. Sujeitos qualificáveis como comerciantes

Art. 7 CCM “Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se obrigar,

poderá praticar actos de comércio, em qualquer parte destes reinos e seus domínios, nos termos e

salvas as excepções do presente Código”

Artigo13.º

Quem é comerciante

São comerciantes:

1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão;

2.º As sociedades comerciais

1.1 Requisitos essenciais para obtenção da qualidade de comerciante no caso das pessoas

singulares:

1. Quando se fala em capacidade para praticar actos de comércio, estamos a referir-nos à

capacidade de exercício, isto é, à capacidade de agir per si, ou mediante procurador voluntário. Só

em casos excepcionais é que um incapaz pode ter qualidade de comerciante, nomeadamente se for

devidamente representado pelos representantes legais para o efeito, e estes tenham sido

devidamente autorizados pelo tribunal. O artigo 1889.º n.º 1 al C CC estabelece que “ 1. Como

representantes do filho não podem os pais, sem autorização do tribunal:

Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do que o filho haja

recebido por sucessão ou doação;”

Assim, apesar da exploração ficar a cargo dos representantes legais do incapaz, estes últimos

mediante autorização do tribunal, podem adquirir ou continuar a exploração de estabelecimento

comercial, mas quem adquire a qualidade de comerciante é o incapaz e não os representantes.

15

Page 16: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. Além do sujeito ter capacidade de exercício, terá que fazer do comércio profissão. Como

sabemos, há certos actos de comércio, que apesar da sua natureza não atribuem a quem os pratica a

qualidade ou estatuto de comerciante, assim, acontece nos actos subjectivamente comerciais, em

que a qualidade do acto depende de prévia qualificação dos sujeitos. O mesmo se passa com

determinados actos formalmente comerciais que podem ser usados ou não para a realização de

operações mercantis e a sua prática ainda que habitual não denota o exercício de um actividade

comercial. Assim um agricultor que recorre frequentemente ao crédito aceitando por isso, letras de

câmbio não exerce qualquer profissão comercial pelo facto de habitualmente praticar actos de

comércio cambiário.

A doutrina entende também que prática de certos actos acessórios não conduz à qualificação do

sujeito como comerciante.

Em conclusão é necessário que o sujeito faça do comércio profissão de modo reiterado e habitual,

não se exigindo contudo, que a actividade seja única e principal nem que seja exercida

ininterruptamente.

3. Só são comerciantes as pessoas que exerçam a profissão em nome próprio, a título pessoal, ou

mediante representante. Por isso, um mero empregado pratica actos comerciais em nome de outrem,

não sendo por isso, qualificado como comerciante.

O momento a partir do qual uma pessoa singular é considerada comerciante não está bem definida

na lei, a sua qualificação pode depender de um de vários actos:

O início da atribuição da qualidade de comerciante pode determinar-se pela prática de actos

reveladores da intenção do propósito, do exercício habitual de uma actividade comercial. Na

Alemanha e em Itália, sustenta a doutrina que a qualidade de comerciante se adquire aquando da

prática de actos preparatórios com vista a organizar uma empresa, entre nós Coutinho de Abreu

perfilha esta posição.

1.2 As pessoas colectivas como comerciantes:

Além das pessoas singulares também as sociedades comercias podem ser comerciantes, e acordo

com o art. 1.º Código das Sociedades Comerciais (CSC) são sociedades comercias:

1. Requisito substancia: Aquelas que tenham por objecto a prática de actos de

comércio;”

16

Page 17: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. Requisito formal : E adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, de sociedade por

quotas, de sociedade anónima, de sociedades em comandita simples ou de sociedade em comandita

por acções”

As sociedades comercias adquirem qualidade de comerciantes a partir do momento em que

adquirem personalidade jurídica, não sendo necessário que pratiquem actos de comércio, art. 5.º

CSC “ As sociedades gozam de personalidade jurídica e existem como tais a partir da data do

registo definitivo do contrato pelo qual se constituem, sem prejuízo do disposto quanto à

constituição de sociedades por fusão, cisão ou transformação”.

A nossa lei comercial permite que as sociedades que tenham exclusivamente por objecto a prática

de actos não comerciais, adoptem um dos tipos formais previstos no n.º 1 CSC, sendo-lhe aplicado

o regime das sociedades comerciais, art. 1 n.º 4 CSC. Esta sociedades – sociedades civis sob forma

comercial - não praticam contudo, actos subjectivamente comercias nem são comerciantes.

Além das sociedades comercias, há outras pessoas colectivas que podem ser comerciantes, como

empresas públicas, empresas municipais e intermunicipais, entidades públicas empresariais,

agrupamentos complementares de empresas e agrupamentos europeus de interesses económicos

cooperativos. Estas entidades, podem ser comerciantes, quando tenham por objecto a prática de

actos comerciais.

Podendo estas entidades ser qualificadas como comerciantes, onde será que elas se enquadram no

n.º 1 ou no n.º 2 do art. 13.ºCCM?

Alguma doutrina, entende que quando o n.º 1 se refere a “pessoas” apenas tem como objectivo

abarcar pessoas físicas; Coutinho de Abreu não subscreve esta posição, porque em regra as pessoas

tanto podem ser singulares como colectivas, dai que o termo usado abarca as duas realidades.

Alguns autores entendem que o enquadramento de tais entidades se deve fazer nos termos do n.º 2

do art. 13.º CCM.

2. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes

Existem determinados sujeitos que a lei exclui expressamente da qualidade de comerciantes, a

saber:

1. Sector agrícola : Não são qualificáveis como comerciantes as pessoas singulares ou

colectivas que exerçam actividade agrícola. Sendo que o sector agrícola deve ser aqui entendido de

modo amplo, de modo a abranger também a silvicultura, pecuária, criação de animais, etc. Esta

conclusão retira-se dos seguintes artigos: 230.º nº 1 1.ª parte CCM “Haver-se-ão por comerciais as

empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem: Transformar, por meio de fábricas ou

17

Page 18: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

manufacturas, matérias-primas, empregando para isso, ou só operários, ou operários e máquinas”

e art.230.º parágrafo único ” Não se haverá como compreendido no n.º 1.º o proprietário ou o

explorador rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta

acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício

mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou

só operários, ou operários e máquinas” e 464.º n.º 2 CCM “Não são consideradas comerciais: As

compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua

família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer”,

2. Artesãos: Os produtores manuais, ditos artesãos, não são considerados comercias,

porque o art. 464.º n.º 3 CCM exclui do comercio a actividade artesanal. “Não são consideradas

comerciais: As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que

exercerem directamente a sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos para transformarem ou

aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas de tais objectos que fizerem depois de assim

transformados ou aperfeiçoados” ainda que ferreiros, sapateiros, mecânicos, cabeleireiros, exerçam

a sua actividade de modo empresarial, não são considerados comerciantes.

3. Profissionais liberais : São aqueles profissionais que exercem de modo habitual e

autónomo a actividade intelectual sujeita a controlo deontológico de uma ordem profissional, bem

como trabalhadores autónomos, como pintores, escultores, músicos, são entidades que não são

considerados como comerciantes.

4. Situações de incompatibilidade legal : o art. 14.º CCM impossibilita a adopção da

qualidade de comerciante a quem por lei ou disposição especial esteja impedido.” É proibida a

profissão do comércio: 1.º Às associações ou corporações que não tenham por objecto interesses

materiais; 2.º Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar. A impossibilidade

legal de prática de comércio pode resultar de regras de direito público ou de regras de direito

privado. Os limites de direito privado, são relativos, uma vez que podem ser superados mediante a

intervenção de terceiro em relação ao qual a incompatibilidade foi criada. Assim, um gerente não

pode negociar por conta própria um negócio concorrente com o do que dirige, salvo consentimento

em contrário, art. 253.º CCM “ Nenhum gerente poderá negociar por conta própria, nem tomar

interesse debaixo do seu nome ou alheio em negociação do mesmo género ou espécie da de que se

acha incumbido, salvo com expressa autorização do proponente” Outros exemplos de regras deste

tipo, 254.º n.º 1 CSC; 398.º n.º 3 CSC; 428.º n.º 1 CSC 477.º CSC; Existem ainda

incompatibilidades de direito públicas, absolutas porque não podem ser derrogadas, assim os

magistrados não podem desempenhar qualquer função pública ou privada, salvo a de docente ou

investigação sem fins lucrativos.

18

Page 19: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

5. Insolvente : O insolvente é aquele que não pode cumprir as suas obrigações vencidas,

perdendo a possibilidade de disposição do seu património. Em regra, no caso de insolvência

culposa, o juiz na sentença que decretará a insolvência, deverá frisar a impossibilidade do

insolvente praticar actos de comércio por um período variável de 2 a 10 anos.

6. Entidades colectivas : As associações e fundações que não tenham por objecto interesses

materiais, não podem ser comerciantes. Esta norma, não impede contudo, que tais entidades fiquem

impossibilitadas de praticar actos de comércio desde que respeitem os limites da sua capacidade

jurídica, conforme o estabelecido no art. 160.º CC, contudo, apesar de praticarem actos de

comércio, não podem ser qualificadas como comerciantes. O art. 17.º CCM proíbe ainda a

designação de comerciantes a associações de fins desinteressado ou altruístico, embora possam

também praticar actos de comércio.” O Estado, o distrito, o município e a paróquia não podem ser

comerciantes, mas podem, nos limites das suas atribuições, praticar actos de comércio, e quanto a

estes ficam sujeitos Às disposições deste Código” Uma associação recreativa pode, por exemplo,

explorar um bar, isto não vai contra princípio da especialidade do fim, contudo, da prática destes

actos de comércio, tais entidades não adquirem a qualidade de comerciantes.

3. Consequências jurídicas da qualificação de um acto como comercial

1. As obrigações comercias seguem nos termos do art. 100.º CCM o regime da solidariedade,

afastando assim o regime regra da responsabilidade conjunta vigente do direito civil, “Nas

obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salva estipulação contrária”;

2. A taxa de juro das obrigações comerciais é superior à taxa de juro das obrigações civis. Nas

obrigações civis, a taxa de juro é de 4 % ao passo que nas obrigações comerciais a taxa de juro é de

9%, segundo a portaria 597/ 2005 de 19 de Julho.

3. A prescrição de algumas obrigações comerciais possui um prazo mais curto, art. 317 CC.

Os comerciantes de prestação de serviços só podem reclamar os seus créditos no prazo de dois anos,

sendo que os comerciantes de hotelaria e restauração esse prazo é de apenas meio ano art. 316.º CC

“Prescrevem no prazo de seis meses os créditos de estabelecimentos de alojamento, comidas ou

bebidas, pelo alojamento, comidas ou bebidas que forneçam, sem prejuízo do disposto na alínea a)

do artigo seguinte”.

4. Presunções relativas ao cônjuges constantes do art., 15 CCM “As dívidas comerciais do

cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio” e do art. 1691.º n.º 1

al. d CC. “São da responsabilidade de ambos os cônjuges: As dívidas contraídas por qualquer dos

cônjuges no exercício do comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em proveito

comum do casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens;” Assim pelas

19

Page 20: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

dívidas contraídas pelo cônjuge comerciante, no exercício da sua actividade respondem, além dos

bens do próprio comerciante, os bens comuns do casal e os bens próprios do outro cônjuge, salvo,

se entre eles vigorar o regime de separação de bens. A lei procura assim salvaguardar os interesses

de quem contrata com os comerciantes. Para que não haja comunicação das dívidas do

comerciante, este terá que ilidir as duas presunções:

A do art. 15.º CCM, e provar que a dívida contraída não se relaciona com a actividade

comercial.

A do art. 1691.º CC e provar que a dívida não foi contraída no interesse do casal.

3. Estatuto dos comerciantes

A qualificação de uma entidade ou sujeito como comerciante, implica a verificação de três

consequências constantes:

Artigo18.º

Obrigações especiais dos comerciantes

Os comerciantes são especialmente obrigados:

1.º A adoptar uma firma;

2.º A ter escrituração mercantil;

3.º A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;

4.º A dar balanço, e a prestar contas.

Secção II

A empresa

1. A empresa em sentido jurídico

Saber o que é uma empresa em sentido jurídico, isto é, o que o que ela consiste, o que a caracteriza

e distingue dos restante fenómenos jurídicos, não é fácil, existindo alguns autores que começam por

oferecer um conceito pré-jurídico de empresa e a caracterizam como produto da vida, contudo, no

dizer de Coutinho de Abreu ser rejeitada tal posição.

Para designar o fenómeno empresarial, empregam-se palavras como “empresa” e “estabelecimento”

sendo que em tese geral, não haverá problemas em utiliza-las como sinónimos.

Não há nenhum conceito geral e operacional de empresa, Orlando de Carvalho, todavia, defende

que só será empresa aquilo que tiver como fim a produção de algo destinado à troca, a empresa será

assim um centro emissor e receptor de mensagens produtivas, em constante interacção

caracterizando-se pela sua organização autónoma, do ponto de visa financeiro e funcional.

20

Page 21: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Coutinho de Abreu define a empresa como uma unidade jurídica fundada em organização de

meios que constitui um instrumento de exercício relativamente estável e autónomo de uma

actividade comercial.

1. Autonomia financeira: as trocas realizadas com exterior têm como objectivo

proporcionar rendimentos suficientes para cobrir custos de exploração e para conferir margem de

lucro, de modo a incentivar a continuação do processo produtivo;

2. Autonomia funcional: caracteriza-se pelo facto da empresa ter de sobreviver sem o

empresário que a detém, ela poder por isso, ser negociada, não o sendo a empresa nada vale no

mercado.

1.1 A empresa em sentido objectivo e subjectivo

Empresa em sentido subjectivo: empresa como sujeito jurídico que exerce uma actividade

económica, de modo autónomo do empresário.

Empresa em sentido objectivo: empresa como instrumento ou estruturas produtivo-económicas,

objecto de direitos e negócios, através da qual se exercem actividades de interposição de trocas –

maxime a compra de coisas para revenda, mas também actividade industrial transformadora,

serviços, etc.

A empresa entendida de um ponto de vista objectivo possui três características:

1. Bem negociável com lugar no mercado: assim sobre a empresa podem ser realizados

diversos negócios, como compra, venda, locação, comodato, usufruto,

2. Bem transferível e retrotransferível: a empresa tem de ser negociável, tem de possuir

um valor económico ou patrimonial e transpessoal, ou seja, cindível da pessoa que a criou ou a

quem pertença num dado momento. Daí que a sua transferência definitiva seja possível

3. Bem irredutível : na medida em que a empresa não se pode limitar à soma dos

elementos que a compõem, ela tem de ser autónoma face a esses elementos.

A empresa é composta por um conjunto de elementos que a compõem, por ser uma realidade

complexa a sua qualificação doutrinal não é unânime. Apesar desta não ser uma questão de muito

relevo, ficam enumeradas as posições de alguns autores que mais se debruçaram sobre esta matéria:

Antunes Varela, defende que a empresa é uma universalidade de direito; Oliveira Ascensão defende

que se trata de uma universalidade de facto, ao passo que Coutinho de Abre olha a empresa como

uma realidade composta.

Por interpretação a contrario, do art. 205.º CC concluímos que a empresa é uma coisa móvel, ela

não está em regra, dependente de um elemento, encontra-se num espaço, fábrica, escritório,

armazém, mas este não é, em geral, imperativo, porque a mudança de instalações não altera a sua

21

Page 22: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

essência, além disso, é cada vez mais usual nos nossos dias a existência de estabelecimentos sem

suporte físico, por isso, se diz que a empresa é uma realidade imóvel incorpórea sui genis.

1.2 Quando é que temos uma empresa?

Pré-empresa: aquela que está apta a funcionar, mas que ainda não entrou em funcionamento, não

possuindo assim ainda valores de exploração. Resta saber se isto deve ou não ser tratado

unitariamente pelo direito? De acordo com a doutrina dominante apesar de não estar ainda a

funcionar um complexo de bens de produção organizados poderá a pré-empresa ser considerada

comercial, se se revelar apta para se realizar um fim económico produtivo jurídico comercialmente

definido, ou seja, apto para garantir clientela que lhe permita viver. Se assim suceder existe já uma

organização produtiva, pelo que o direito não pode deixar de ver tal realidade como empresa.

Imagine-se que o individuo quer arrendar um espaço para instalar a empresa, o arrendamento deve

ser tratado como comercial? Aqui o critério essencial para determinar o regime é a imagem

projectada ao público, se a pré-empresa já possui valor dentro do público ela deve ser tratada

unitariamente pelo direito. A empresa encontra-se já numa situação de aviamento, isto é, está

preparada para o caminho produtivo, porque possui capacidade produtiva e aptidão para realizar o

fim económico a que foi criado. A clientela, não é essencial para o aviamento da empresa, ela é

apenas uma das manifestações do aviamento do estabelecimento juntamente com fornecedores,

financiadores, etc.

Empresas já em funcionamento, dotadas de valores de produção, que por qualquer factor

estão desfalcadas de elementos essenciais de produção: nestes termos a actividade comercial fica

temporariamente suspensa, os bens que restam servem para exprimir a permanência de um concreta

organização produtiva qualificável como empresa., mantêm-se contudo, as relações de facto com

clientes, fornecedores e financiadores. Imagine-se que uma empresa sofre um incêndio, onde ficam

destruídos elementos produtivos. Aqui, a solução não pode ser unitária, e depende dos valores

gerados enquanto a empresa funcionar, se o publico, apesar da fatalidade ainda a considera como

empresa ou não. Quanto à mais tempo a empresa funcionar de menos bens físico precisa para

funcionar porque os valores de exploração e organização ganham cada vez mais peso da economia

da empresa por contraposição aos bens corpóreos.

Distinção da empresa e das suas secções ou sucursais: como sabemos uma empresa pode não

estar concentrada numa mesma unidade produtiva, e integrar várias secções possuindo armazéns,

departamentos a funcionar com autonomia organizativa uns em relação aos outros. As secções,

armazéns departamentos não possuem autonomia jurídica são antes partes integrantes da empresa,

dependem deste, e estão sujeitas à direcção geral da empresa. Tal só não sucede nos casos em que

22

Page 23: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

estes departamentos possuam valor tranferencial. Note-se que a empresa não tem personalidade

jurídica quem tem é a sociedade comercial.

2. Tipologia das empresas

Empresas comerciais:

1. Sector privado;

2. Sector público;

3. Sector cooperativo;

Empresas do Sector Privado:

Em regra, num estabelecimento comercial explorado por uma pessoa singular respondem pelas

dívidas contraídas na exploração desse estabelecimento, quer os bens a ele afectados quer os bens

restantes do indivíduo.

Para acabar com este regime, o nosso legislador instituiu em 86 pelo DL 248/86 um procedimento

de limitação da responsabilidade empresarial intitulado o estabelecimento individual de

responsabilidade limitada – E.I.R.L. art. 1 “ Qualquer pessoa singular que exerça ou pretenda

exercer uma actividade comercial pode constituir para o efeito um estabelecimento individual de

responsabilidade limitada” n.º 2 “ O interesse afectará ao estabelecimento individual de

responsabilidade limitada uma parte do seu património, cujo valor representará o capital do

estabelecimento.” n.º 3 “ uma pessoa só pode ser titular de um único estabelecimento individual de

responsabilidade limitada.”

O E.I.R.L é um património autónomo separado do restante património autónomo do comerciante

individual, aqui apenas respondem pelas dívidas contraídas no desenvolvimento da actividade os

bens de que o património é instrumento, art. 10.º n.º 1 “ Sem prejuízo no disposto no art. 22.º, o

património do estabelecimento individual de responsabilidade limitada responde unicamente pelas

dívidas contraídas no desenvolvimento das actividades compreendidas no âmbito da respectiva

empresa” e 11.º n.º1” Pelas dívidas resultantes de actividades compreendidas no objecto do

estabelecimento individual de responsabilidade limitada respondem apenas os bens a este

afectadas”. DL. Assim uma pessoa singular pode exercer a actividade comercial mas limitando a

sua responsabilidade ao capital investido.

Empresas do Sector Público:

23

Page 24: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Integram o sector público empresarial as diferentes formas pelas quais o estado, municípios e

associações exercem a actividade comercial, a saber:

1. Empresas públicas do Estado;

2. Empresas municipais e inter-municipais, e Serviços municipalizados;

Empresas públicas do estado: DL 558/99 de 17 de Dezembro que instituiu o regime do sector

empresarial do estado, incluindo as bases gerais do estatuto das empresas públicas do estado.

1. Sociedades comerciais controladas pelo estado: são sociedade que funcionam nos termos

do direito privado, sendo contudo reguladas e controladas pelo estado nomeadamente pelas

directrizes traçadas pelo Conselho Ministros e pelo Ministro da tutela, sujeitando-se a fiscalização

da inspecção-geral de finanças, art. 3.º n.º 1; 7.º n.º 1; 16.º; 11.ºº a 14.º RSEE,

2. Entidades Públicas Empresariais: possuía antes da reforma de 99 carácter institucional,

actualmente as EPE´s são constituídas por capitais públicos, instituídas por DL com vista à

prossecução do interesse público, sendo alvo de um controlo administrativo e financeiro bastante

apertado, art. 3.º; 2.º; 23.º; 40.º

Empresas municiais e intermunicipais: reguladas pelo DL 58/98 de 18 de Agosto, que disciplina

as empresas de âmbito municipal e intermunicipal, que os municípios e as associações de

municípios podem criar par a prossecução de fins reconhecidos de interesse público e desde que o

objecto delas se contenha no âmbito das suas atribuições.

Estas empresas podem assumir três formas diferenciadas:

1. Empresas públicas, são aquelas em que o município ou as associações de municípios

detenham a totalidade do capital.

2. Empresas de capital público, aquelas em os municípios ou as associações de municípios,

detenham participação do capital em associação com outras entidades públicas.

3. Empresas de capitais maioritariamente públicos: aquelas em que os municípios ou

associações de municípios detenham maioritariamente o capital em associação com entidades

privadas.

Para grande parte da doutrina, estas duas últimas empresas constituem um novo tipo de sociedades

comerciais, porque apesar da sua designação, o seu regime é semelhante ao das sociedades

comerciais, possuindo inclusive, capital social. O seu regime segue grande parte do direito privado,

salvo no que se refere ao processo de recuperação e insolvência.

24

Page 25: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Empresas do Sector Cooperativo: trata-se de empresas de entidades colectivas sem fins lucrativos

mas de solidariedade social, nomeadamente associações mutualistas.

25

Page 26: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Titulo II

Sinais distintivos de comércio

1. A firma

Como sabemos, nos termos do art. 18.º n.º 1 CCM uma das obrigações especiais dos comerciantes é

a adopção de uma firma. Esta obrigação assume, contudo, contornos muito diferentes consoante

estejamos perante uma pessoa singular, isto é, uma comerciante em nome individual ou perante uma

pessoa colectiva, isto é, uma sociedade comercial. No que se refere às pessoas singulares a não

constituição de uma firma significa a não obtenção de uma nome comercial, sem contudo, ser

aplicado qualquer sanção ao comerciante. No caso das sociedades comerciais, a sua constituição

implica necessariamente a obtenção do certificado de admissibilidade da firma, o que significa que

a constituição de uma firma no caso de pessoas colectivas é requisito constitutivo para sua

formação.

1.2 Noção

A firma pode ser definida como o nome comercial de um comerciante, servindo para identificar a

sua actividade comercial. A firma tem ainda como função identificar todas as pessoas colectivas,

ainda que não pratiquem actos de comércio. Qualquer pessoa colectiva tem de possuir uma firma,

mesmo que não seja comerciante, embora a firma se destine por excelência a caracterizar

comerciantes.

1.3 Formas de constituição de uma firma

O mecanismo de constituição de uma firma está regulado pelo Registo Nacional de Pessoas

Colectivas, que estabelece nos artigos 36.º a 38.º as formas pelas quais podem ser constituídas

firmas.

A análise deste artigo permite concluir, que existem três formas pelas quais podem ser

denominadas as firmas das pessoas colectivas:

1. Nome dos sócios que a compõem;

2. Denominação fantasia, mediante expressão alusiva à actividade desenvolvida;

3. Denominação mista, onde conste o nome dos sócios e expressão alusiva à actividade

desenvolvida;

A firma do comerciante individual por sua vez, nos termos do art. 38.º RNPC apenas pode ser

constituído “O comerciante individual deve optar uma só firma, composta pelo seu nome, completo

ou abreviado, conforme seja necessário para identificação da pessoa, podendo aditar-lhe alcunha

ou expressão alusiva à actividade””

26

Page 27: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

1. Pelo nome civil do comerciante ou alcunha que é conhecido;

2. Denominação mista, onde conste o nome individual do comerciante e uma expressão alusiva à

actividade desenvolvida;

2. Nome do estabelecimento:

É o sinal nominativo que designa ou individualiza um estabelecimento, visando essencialmente

distingui-lo dos demais.

3. Insígnia do estabelecimento

É o sinal figurativo ou emblemático individualizador de um estabelecimento, visando

essencialmente distingui-lo dos demais.

4. Princípios jurídicos

1. Princípio da verdade: de acordo com este princípio a designação da firma não pode

induzir o público nem quem contrata com o comerciante, em erro, a firma deve por isso, identificar

o comerciante de modo claro e verdadeiro. O nome de uma firma, pode não dar por si qualquer

indicação quando à natureza ou actividade exercida pela mesma, como sucede no caso das

denominações fantasia. Contudo, quando o nome da firma conter tais informações elas devem ser

fidedignas. No que concerne às sociedades comerciais, quando a sua designação, conter o nome dos

sócios, deverá, na eventualidade de um deles sair, ser alterada. O sócio que sair poderá sempre

autorizar que a sociedade continue a usar o seu nome, mas neste caso, para não haver violação do

principio da verdade, será responsabilizado pelos prejuízos que causar a terceiro, pelo que continua

a responder com seu património apesar de formalmente não fazer parte da sociedade

2. Principio da novidade : a constituição de uma firma tem de ser novidade nos sentido

desta ser distinguível das demais anteriormente já registadas. A firma nova é aquela que atendendo

às duas características gráficas e fonéticas, se vai integrar no mercado distinguindo-se das restantes

ainda que próximas quanto à actividade exercida. De acordo com o art. 33.º RNCP o princípio da

novidade possui dois corolários diferenciados consoante estejamos no âmbito de comerciantes em

nome individual e sociedades comerciais. “ As firmas e denominações devem ser distintas e não

susceptíveis de confusão ou erro com as registadas ou licenciadas no mesmo âmbito de

exclusividade, mesmo quando a lei permita a inclusão de elementos utilizados por outras já

registradas, ou com designações de instituições notoriamente conhecidas”

I. No caso de comerciantes em nome individual, a sua protecção apenas se

verifica se o comerciante aditar ao seu nome civil uma designação alusiva à actividade por ele

desempenhada, art. 38.º RNPC. Em regra a protecção conferida a este tipo de firmas cinte-se a

27

Page 28: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

determinada circunscrição territorial, não obstante, o comerciante em nome individual poderá

requerer protecção em todo território nacional, mediante pedido dirigido ao director geral dos

serviços e registos, desde que a actividade exercida se estenda para lá da circunscrição onde o

comerciante se encontra registado, art. 38.º 4 e 5 RNPC “ Os comerciantes individuais que não

usem como firma apenas o seu nome completo ou abreviado têm direito ao uso exclusivo da sua

firma desde a data do registo definitivo na conservatória competente e no âmbito da competência

territorial desta” Os comerciantes individuais que exerçam actividades para além da circunscrição

referida no número anterior e aditem ao seu nome expressões distintivas alusiva ao objecto do seu

comércio podem ter direito ao uso exclusivo da firma em todo território nacional, se pelo Director

Geral dos Registos e do Notariado lhes for deferida a correspondente solicitação”

II. No caso de sociedades comercias, a protecção conferida estende-se

independentemente da designação, a todo o território nacional, art. 37.º n.º 2 RNPC. “ As

sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial têm o direito ao uso exclusivo da

sua firma em todo território nacional”.

O princípio da novidade aplica-se a comerciantes que exerçam entre si actividades comerciais de

qualquer tipo, e não apenas no que concerne a actividades concorrentes.

3. Princípio da capacidade distintiva : um comerciante para ser aceite como firma nos

termos do RNPC tem de contar com um conjunto de elementos distintivos que lhe permitam

distinguir a nova firma das restantes, não se trata aqui de sinais distintivos relacionados com o

princípio da novidade, mas antes sinais individualizadores. Uma firma deve ser identificada por um

nome que a possa individualizar e diferenciar das restantes, não pode ser identificada com recurso a

sinais fracos, isto é, sinais que pelas suas características vagas ou facilmente apropriáveis por todos

se confundem. Não pode ser sinal distintivo de uma firma a designação genérica de “padaria”

“discoteca” sem mais aditivos, nem a designação de exclusiva de nomes usuais no âmbito do

comércio, como “grande hotel” “café super”

4. Princípio da unidade : de acordo com este princípio um comerciante em nome

individual, art. 38.º RNPC apenas pode ter uma firma, “ O comerciante individual deve adoptar

uma só firma, composta pelo seu nome, completo ou abreviado, conforme seja necessário para

identificação da pessoa, podendo aditar-lhe alcunha ou expressão alusiva à actividade exercida”.

O mesmo se passa em relação às sociedades comercias, art. 9.º CSC. Há todavia, uma excepção

aplicada aos comerciantes em nome individual, uma vez que a estes é permitido a constituição de

nova firma para a exploração do EIRL, art. 40.º RNPC. “ A firma de estabelecimento individual de

responsabilidade limitada é composta pelo nome do seu titular acrescido ou não de referência ao

28

Page 29: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

objecto do comércio nele exercido e, pelo aditamento “estabelecimento individual de

responsabilidade limitada ou E.I.R.L.”

5. Princípio da licitude: trata-se de um princípio residual segundo o qual a constituição da

firma tem de obedecer à lei, aos bons costumes e à boa fé. O art. 32.º n.º 4 RNPC enumera

determinadas características que não podem constar das firmas. “Das firmas e denominações não

podem fazer parte: a) expressões que possam induzir em erro quanto à caracterização jurídica da

pessoa colectiva, designadamente o uso, por entidades com fim lucrativo, de expressões

correntemente usadas da designação de organismos públicos ou se associações sem finalidade

lucrativa. b) Expressões que sugiram de forma enganadora uma capacidade técnica, financeira ou

de âmbito de actuação manifestamente desproporcionado relativamente aos meios disponíveis ou

que correspondam a qualidades ou excelências em detrimento de outras. c) expressões proibidas

por lei ou ofensivas da moral ou dos bons costumes. d) expressões incompatíveis com o respeito

pela liberdade de opção politica, religiosa ou ideológica. e) expressões que desrespeitem ou se

apropriem ilegitimamente de símbolos nacionais, personalidades épocas ou instituições cujo nome

ou significado seja de salvaguardar por razoes históricas, patrióticas, cientificas, institucionais,

culturais ou outras atendíveis”

5. Mecanismos de protecção da firma:

A tutela legal das firmas, dirige-se apenas para firmas registadas, uma vez que só após o registo é

que o titular da mesma pode possuir legitimas expectativas de ser protegido. Existem duas formas

de tutela:

1. Tutela preventiva : efectuada mediante um certificado de admissibilidade de

registo das firmas por parte do registo nacional de pessoas colectivas. Tal certificado apenas será

emitido no caso da sua constituição respeitar os princípios de constituição das firmas. Em regra o

comerciante refere três nomes que prefere por ordem hierárquica, o registo escolhe de acordo com a

preferência do comerciante. No caso das pessoas colectivas o certificado de registo é requisito

constitutivo, art. 54.º e 55.º RNPC, a ausência de certificado implica a não existência de pessoa

colectiva. Por sua vez, a emissão do certificado a uma pessoa colectiva confere a presunção de

exclusividade da firma registada nos termos do art. 35.º n.º 2 RNPC, podendo muito embora, tal vir

a ser contestado.

2. Tutela repressiva : traduz-se a possibilidade de requerer a declaração de nulidade

ou revogação do registo de firma anteriormente registada, de modo a que esta perca o direito de uso

executivo de determinada designação. Existe ainda a possibilidade de pedir uma indemnização a

quem use de modo ilícito a designação de uma firma, nos termos dos artigos 35.º n.º 4, 60.º e 62.º

29

Page 30: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

RNPC. “ O uso ilegal de uma firma ou denominações confere aos interessados o direito de exigir a

sua proibição, bem como a indemnização pelos danos daí emergentes, sem prejuízo da

correspondente acção criminal, se a ela houver lugar”

Excepcionalmente poderá haver tutela de firmas não registadas, de acordo com dois institutos:

1. O comerciante em nome individual que use uma firma sem a registar, não se encontra

como vimos protegido, mas poderá excepcionalmente reagir contra terceiros por via do instituto da

concorrência desleal prevista no art. 317.º código de propriedade industrial. De acordo com este

instituto não pode um comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente

adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena de ser accionado

contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias do 483.º CC.

2. Existe ainda outro instituto conhecido como Membros da União de Paris, que congrega

um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com sede na U.E. estes comerciantes

estão protegidos em todo o espaço da união quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos

países onde se encontram registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.

6. Alteração da firma

Consta do art. 56.º RNPC que a alteração da designação de uma firma deverá ter lugar sempre que

tal se mostre imperativo para dar cumprimento ao princípio da verdade, o que acontece por

exemplo, no caso de saída de um sócio da sociedade comercial ou no caso do comerciante em nome

individual alterar o seu nome civil.

7. Transmissão da firma

O art. 44.º RNPC como sabemos, em cumprimento do princípio da verdade, não existe uma

verdadeira transmissão da firma, quando muito pode verificar-se um aditamento ao nome de uma

firma, fazendo referencia à anterior. 1. O adquirente, por qualquer título entre vivos, de um

estabelecimento comercial pode aditar à sua própria firma a menção de haver sucedido na firma

do anterior titular do estabelecimento, se esse titular o autorizar, por escrito” 2. Tratando-se de

firma de sociedade onde figure o nome de sócio, a autorização deste é também indispensável. 3 No

caso de aquisição, por herança ou legado, de um estabelecimento comercial, o adquirente pode

aditar à sua própria firma do anterior titular do estabelecimento, com a menção de nele haver

sucedido. 4. É proibida a aquisição de uma firma sem a do consentimento a que se achar ligada”.

30

Page 31: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

8. Vicissitudes das firmas

A perda do direito ao uso de firma e denominações, consta do art. 60.º RNPC, “ cabe ao RNPC

declarar a perda do direito ao uso de firmas ou denominações quando se verificar terem sido

violados os princípios consagrados no art. 32.º e 33.º ou ainda nas condições previstas no artigo

seguinte.” 2 A declaração pelo RNPC da perda do direito ao uso de firma ou denominação implica

o cancelamento dos correspondentes registos em todos os serviços em que se encontram lavrados”

Qualquer interessado pode requerer ao RNPC a declaração de perda do direito ao uso de firma ou

denominação de terceiro, mediante prova de determinadas situações, previstas no art. 61.º RNPC:

1. Falta de inscrição da firma ou denominações no FCPC pelo seu titular, directamente ou

por intermédio da conservatória competente, consoante os casos, decorrido um ano sobre o prazo

em que o deveria ter feito. Neste caso, o RNPC pode declarar a perda do direito ao uso da firma ou

denominação e promover o cancelamento dos correspondentes registos, desde que os interessados

tenham sido notificados, para a sede declarada ao RNPC a fim de regularizarem a situação e o não

fizerem no prazo de três meses, a contar da notificação.

2. Não exercício pelo titular de actividade pelo titular da firma ou denominação durante um

período superior a 10 anos.

De acordo com o art. 62.º RNPC “ o uso ilegal de uma firma ou denominação confere aos

interessados o direito de exigir a sua proibição, bem como a indemnização pelos danos dai

emergentes, sem prejuízo da correspondente acção criminal, se a ela houver lugar”.

Secção II

A propriedade industrial

O Código de Propriedade Industrial divide-se em duas partes:

1. Parte geral – Comum a todos os sinais distintivos do comércio;

2. Parte Especial – Composto por normas reguladoras para cada sinal distintivo do comércio.

Artº 4 e 257 do Código da Propriedade Industrial – Estes dois artigos admitem explicitamente o

direito de propriedade de coisas incorpóreas, ou seja, de sinais distintivos do comércio. Assim

sendo, vamos recorrer ao regime do direito de propriedade geral – Artº 1302 e 1303 CC, para os

sinais distintivos do comércio.

O direito de propriedade industrial é um direito real. Há um direito de gozo. No entanto, é um

direito de propriedade temporário – Artº 242 CPI – a duração deste direito é de 10 anos, renováveis.

31

Page 32: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Este direito, no entanto, pode caducar, se, p. ex. não forem pagas as taxas ou se não se usar o direito

durante cinco anos – Artº 36 e 245.

É uma propriedade funcionalizável, tem uma determinada função. Se são sinais distintivos, são para

deles se fazer uso. Raramente se podem produzir alterações no direito de propriedade industrial.

Não temos o poder de modificação dos sinais distintivos do comércio – Artº 241. Por exemplo, não

se pode mudar o nome, pode-se alterar ou mudar o tipo de reclame, tipo de letra, cor, mas não o

nome.

Registo– É o registo que nos dá o direito oponível a utilizar os sinais distintivos do comércio – Artº

232.

O nome e a insígnia

1. Noção

O nome e a insígnia são coisas diferentes apesar de se encontrarem associados. Diferentemente do

que se passa com a constituição das firmas, em que a sua constituição é obrigatória, a constituição

de nome e de insígnia é facultativa. Contudo, normalmente é usual a adopção de um nome, até

porque grande parte do aviamento do estabelecimento está dependente da sua capacidade para se

distinguir dos restantes estabelecimentos concorrentes, sendo que essa distinção passa em grande

parte pelo nome do estabelecimento.

O nome pode ser entendido como o sinal nominativo constituído por palavras, que designa ou

individualiza um estabelecimento enquanto a insígnia diz respeito a um sinal figurativo ou

emblemático, constituído por, desenhos, símbolos, sinais figurativos que identificam o

estabelecimento, assim consta do art. 284.º do código de propriedade industrial, (CPI). “ Considera-

se insígnia de estabelecimento qualquer sinal externo composto de figuras desenhos, simples

combinações com os nomes ou denominações referidos no artigo anterior, ou com outras palavras

ou divisas desde que o conjunto seja adequado a distinguir o estabelecimento”.

Quer o nome quer a insígnia estão regulados nos artigos 282.º ss CPI. “ Todos os que tiverem

legítimo interesse, designadamente agricultores, criadores, industriais, comerciantes e demais

empresários, domiciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do território português, têm o

direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar, ou tornar conhecido, o seu

estabelecimento, nos termos das disposições seguintes.”

32

Page 33: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Tal como sucedeu com a firma, relativamente ao nome e insígnia vamos estudar os princípios que

norteiam a sua constituição, bem como a sua garantia. Quanto aos princípios que se devem observar

na constituição do nome insígnia, eles são os mesmos operados na constituição das firmas, embora

devam ser interpretados em moldes diferenciados precisamente porque agora estamos num âmbito

de protecção diferente.

2. A constituição do nome e insígnia

de acordo com os artigos 283.º e 284.º CPI, a constituição do nome e insígnia obedece ao princípio

da liberdade, qualquer nome, expressão, desenho, símbolo é válido, não tendo o nome de ter

qualquer relação com o estabelecimento ou com a actividade prestada. art. 283.º “ Podem constituir

nome de estabelecimento: As denominações de fantasia ou específicas; Os nomes históricos,

excepto se o do seu emprego resultar ofensa da consideração que, geralmente, lhes é atribuída; O

nome da propriedade ou do local do estabelecimento, quando este seja admissível, ou

acompanhado de um elemento distintivo; O nome, os elementos distintivos da firma ou

denominação social e o pseudónimo, ou alcunha, do proprietário; O ramo de actividade do

estabelecimento, quando acompanhado por elementos distintivos.”

A constituição da insígnia, obedece a este princípio, pelo que pode ser adoptado qualquer insígnia

desde que “ o conjunto seja adequado a distinguir o estabelecimento”, art. 284.º n.º 1 CPI.

3. Princípios jurídicos

1. Princípio da verdade : este princípio não pode ser entendido nos mesmos moldes em

que é visto para a firma, aqui o nome ou insígnia obedecendo ao princípio da liberdade, pode não

revelar qualquer indicação sobre a natureza da actividade podem ser fantasia, estes podem não ter

qualquer tipo de relação com a actividade desenvolvida pelo estabelecimento. Deste modo, o

princípio da verdade deve ser encarado segundo uma perspectiva em que o nome e a insígnia não

podem conter afirmações ou símbolos que não sejam verdade, por exemplo o nome do

estabelecimento conter o nome civil do seu titular e este ser mal identificado. O principio da

verdade encontra consagração legal, das alíneas a a e do art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte do

nome ou insígnia de estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao requerente, salvo se

provar o consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima ou a denominação social que não

pertença ao requerente, ou apenas parte característica das mesmas, se for susceptível de induzir o

consumidor em erro ou confusão, salvo se se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso;

As expressões “antigo armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras semelhantes, referidas a

estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam registados a favor de outrem, a não ser que se

33

Page 34: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

prove o consentimento do respectivo proprietário; As expressões “antigo empregado, antigo

mestre, antigo gerente “ e outras semelhantes, referidas a outra pessoa singular ou colectiva, salvo

se se provar o consentimento desta; as indicações de parentesco e as expressões de “herdeiro,

sucessor, representante, ou agente” e outras semelhantes, excepto se se provar a legitimidade do

seu uso”

2. Princípio da novidade : a constituição de um nome e insígnia, para cumprirem a sua

função individualizadora, têm de ser novidade nos sentido destes serem distinguíveis dos demais

nomes e insígnias anteriormente já registadas. Ao exigir-se que a constituição de um nome e de uma

insígnia obedeça a este princípio estão a salvaguardar-se, simultaneamente os interesses dos

comerciantes, mas também interesses públicos, de protecção dos bons costumes. O princípio da

novidade vêm expresso no art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte do nome ou insígnia de

estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao requerente, salvo se provar o

consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima ou a denominação social que não pertença ao

requerente, ou apenas parte característica das mesmas, se for susceptível de induzir o consumidor

em erro ou confusão, salvo se se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso; As

expressões “antigo armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras semelhantes, referidas a

estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam registados a favor de outrem, a não ser que se

prove o consentimento do respectivo proprietário; As expressões “antigo empregado, antigo

mestre, antigo gerente “ e outras semelhantes, referidas a outra pessoa singular ou colectiva, salvo

se se provar o consentimento desta; as indicações de parentesco e as expressões de “herdeiro,

sucessor, representante, ou agente” e outras semelhantes, excepto se se provar a legitimidade do

seu uso” para sabermos se um nome ou insígnia, é ou não confundível com outros já existentes,

temos de atender à sua fonética, grafia, ao ramo de actividade em que se encontra, à localização

geográfica, dimensão, etc. No âmbito das firmas, a sua designação abrangia firma concorrentes e

não concorrentes, pelo que o nome não poderia em caso algum ser usado, assim sucede porque uma

firma apode exercer várias actividades. Relativamente ao nome e à insígnia de um estabelecimento

ou empresa, apesar deles se distinguirem uns dos outros com base sobretudo no nome, não lhes é

atribuída personalidade jurídica, assim, este princípio quanto as empresas vale apenas para

estabelecimentos concorrentes. Assim podemos afirmar o princípio da especialidade, uma vez que a

novidade é apenas exigida para estabelecimentos com objecto idêntico ou afim. Esta orientação

retira-se literalmente do art. 285.º al. g CPI: “Não podem fazer parte do nome ou insígnia de

estabelecimento: Os elementos constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por

outrem para produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no estabelecimento a que

se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços idênticos ou afins aos que nele são

34

Page 35: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

prestados.” Assim, não podem fazer parte do nome de um estabelecimento, nomes confundíveis

com marcas e produtos afins produzidos por outro estabelecimento. Assim, poderá existir uma

marca de sapatos progresso, porque actualmente o estabelecimento que existe com este nome é um

café, não há perigo de confusão. Contudo, já não poderá haver um bar com o mesmo nome, porque

induziria o cliente em erro.

3. Princípio da capacidade distintiva: De acordo com este princípio, o estabelecimento

protegido pelo nome e sinal distintivo, tem de se diferenciar dos restantes estabelecimentos, com

base em sinais distintivos integrantes do nome e da insígnia, sendo que tal diferenciação ano se

pode fazer mediante recurso a sinais fracos e francos, isto é, sinais que pela sua generalidade não

são individualizares e sinais que pela sua apropriação genérica são podem ser usado. Assim, estes

sinais não podem ser constituídos por nomes ou figuras especificas como “discoteca” “padaria”

4. Princípio da unidade : De acordo com o princípio da unidade, estabelecido no art. 282.º

CPI “Todos os que tiverem legítimo interesse, designadamente agricultores, criadores, industriais,

comerciantes e demais empresários, domiciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do território

português, têm o direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar, ou tornar conhecido, o

seu estabelecimento, nos termos das disposições seguintes” casa estabelecimento deve possuir

apenas um nome e uma insígnia, o que poderá levantar alguns problemas no que concerne à

designação das sucursais e secções. Estas entidades não possuem autonomia jurídica, mas apenas de

facto, pelo que o critério que devemos usar deve atender ao seu grau de autonomia, assim se a

sucursal se torna uma empresa separada apenas vinculada à empresa mãe em termos formais, deve

ser registada de modo autónomo. Sendo que no que se refere à transmissão do nome e da insígnia,

temos de atender às geras gerais, assim, se a sucursal for autonomizada poderá ficar com o nome de

origem se empresa mãe adoptar outro nome ou então se tal ano se verificar, deverá a sucursal ser

registada com outro nome.

5. Princípio da licitude : Trata-se de um princípio residual segundo o qual o nome e

insígnia de estabelecimento têm de obedecer à lei, aos bons costumes e à boa fé. art. 285.º al. f CPI

ex vie, art. 239.º CPI.

4. Protecção do nome e da insígnia de um estabelecimento:

A protecção legal de nome e insígnias cinge-se essencialmente aos nomes e insígnias registadas.

Assim, apesar do registo não ser constitutivo de direitos e ter eficácia meramente declarativa, pelo

que se traduz num ónus jurídico, ou seja, na verificação de uma vantagem para o onerado, o registo

tem efeitos importantes no que concerne à protecção de nomes e insígnias, art. 295.º CPI. A

35

Page 36: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

protecção é desencadeada em regra, quando se assiste à violação do princípio da novidade, sendo

que esta protecção se poderá verificar de quatro modos:

1. Tutela preventiva: o titular de um estabelecimento que tome conhecimento do pedido de registo

de um nome e insígnia semelhante ou confundível com o seu pode apresentar a oposição do pedido,

por isso, é que todos os pedidos são registados no Boletim da Propriedade Industrial, art. 290.º CPI:

“ Da apresentação do pedido é publicado aviso no Boletim da Propriedade Industrial, para efeito

de reclamação de quem se julgar prejudicado pela eventual concessão de registo” A reclamação é

feita segundo os trâmites previstos no art. 17.º ss CPI:

2. Tutela repressiva: no caso do registo ser concedido, qualquer comerciante que tenha

conhecimento, sobretudo o titular do estabelecimento ofendido, da existência de um registo de

nome e insígnia confundível com um já existente pode, requerer a proibição do uso nos termos

gerais.

3. Poderá ainda haver lugar à declaração de nulidade ou anulação do registo do nome e da insígnia,

nos termos do art. 298.º e 299.º CPI. Paralelamente poderá ainda haver lugar a responsabilidade

civil nos termos gerais no caso de haver danos resultantes do uso indevido do nome ou insígnia

confundível.

Nota: no artigo 298.º CPI existe uma gralha, assim onde se lê art. 283.º a 285.º deve corrigir-se

283.º a 284.º CPI.

4. O art. 333.º CPI, estabelece ainda a possibilidade de aplicação de coima, “ É punido com coima

de € 3000 a € 30000, caso se trate de pessoa colectiva e de € 750 a € 7500, caso se trate de pessoa

singular, quem, sem consentimento do titular do direito, usar no seu estabelecimento, em anúncios,

correspondência produtos ou serviços ou por qualquer outra forma, nome ou insígnia que constitua

reprodução, ou que seja imitação de nome ou de insígnia já registada por outrem “

5. Poderá ainda o lesado ser indemnizado nos termos gerais, art. 483º CC.

Excepcionalmente poderá haver tutela de nomes e de insígnias não registadas, de acordo com

dois institutos:

4.1 A concorrência desleal

1.O comerciante que use um nome ou insígnia sem registar, não se encontra como vimos protegido,

mas poderá excepcionalmente reagir contra terceiros por via do instituto da concorrência desleal

prevista no art. 317.º código de propriedade industrial, e art. 24.º n.º 1 al. d CPI. De acordo com este

instituto não pode um comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente

adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena de ser accionado

contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias do 483.º CC.

36

Page 37: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A concorrência desleal é definida como “todo o acto de concorrência contrário às normas e usos

honestos de qualquer ramo de actividade económica”

2. Existe ainda outro instituto conhecido como Membros da União de Paris, que congrega um

conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com sede na U.E. estes comerciantes estão

protegidos em todo o espaço da união quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos países

onde se encontram registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.

5. Transmissão do nome e da insígnia:

A transmissão do nome e da insígnia de um estabelecimento apenas se faz em conjunto com o

trespasse do estabelecimento, nunca se podem transferir se o estabelecimento em si também não for,

sob pena de violação do princípio da verdade, art. 31.º n.º 3 CPI: “ os direitos emergentes do pedido

de registo ou do registo de nomes ou insígnias de estabelecimento só podem transmitir-se, a título

gratuito ou oneroso, com o estabelecimento, ou parte do estabelecimento, a que estão ligados”.

Em regra a transmissão do nome e insígnia faz parte do âmbito natural, pelo que não será necessário

cláusula expressa para a sua transmissão, art. 31.º n.º 4 CPI “ sem prejuízo do disposto no número

seguinte, a transmissão do estabelecimento envolve os respectivos nome e insígnia, que podem

continuar tal coo estão registados, salvo se o transmitente os reservar para outro estabelecimento,

presente ou futuro”.

Existem contudo, certos casos em que, a transmissão do nome e da insígnia estão sujeitos ao âmbito

convencional, sendo necessário, cláusula expressa para sua transmissão, art. 31.º n.º 5 CPI “ Se no

nome ou insígnia de estabelecimento ou na marca figurar o nome individual, a firma ou a

denominação social do titular ou requerente do respectivo registo, ou de quem ele represente, é

necessária cláusula para a sua transmissão.”

A transmissão do nome ou insígnia está sujeita a averbamento no instituto nacional da

propriedade industrial, nos termos do art. 30º CPI, alias como estabelece o n.º 2 desse artigo a

transmissão apenas produz efeitos “ em relação a terceiros depois da data do respectivo

averbamento”

6. Extinção dos direitos emergentes do uso do nome e insígnia:

Os direitos emergentes do nome e da insígnia podem ser extinguidos por três mecanismos:

1. Nulidade , art. 298.º e 33.º CPI, o regime da nulidade é aquele dos termos gerais, assim,

a nulidade é invocável a todo tempo por qualquer interessado, art. 33.º n.º 2 CPI. Os seus efeitos

não se produzem ipso iure, antes têm de ser declarados judicialmente, art. 35.º n.º 1 CPI. Os casos

gerais de nulidade constam do art. 33.º CPI, embora o art. A ausência dos requisitos previstos no

art. 284.º CPI geram também a nulidade.

37

Page 38: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. Anulação , art. 34.º e 299.º CPI: os casos de anulação do uso de nome ou insígnia podem

reconduzir-se a três casos, sendo que o direito de anulação, tem de ser proposto em acção para o

efeito, nos 10 anos subsequentes à “data do despacho de concessão do registo,” art. 299.º n.º 2 CPI:

I. Casos do art. 34.º CPI relativos a pedidos efectuados por quem não tenha

legitimidade para tal;

II. Casos do art. 285.º CPI onde constam fundamentos do direitos recusa de

registo de nome ou insígnia;

III. Casos em que se assista a situações de concorrência desleal, mesmo que esta

seja efectuada de modo não intencional.

3. Caducidade : art. 37.º e 300.º CPI. Nestes artigos estão previstas diferentes situações em

que se assiste à caducidade do direito de uso de nome e insígnia:

I. Caducidade resultante do decurso do tempo, art. 37.º al. a CPI, pelo que o

direito de uso de nome e insígnia, caduca nos 10 anos seguintes ao registo, embora se admita a sua

renovação, art. 293.º CPI “ A duração de registo é de 10 anos, contados da data da respectiva

concessão, podendo ser indefinidamente renovado por iguais períodos”

II. Caducidade resultante do não pagamento de taxas, art. 37.º al. b CPI. A

previsão das taxas consta do art. 346.º ss CPI.

III. Caducidade em caso de encerramento ou liquidação do estabelecimento, art.

300.º al. a CPI.

IV. Aquando do registo, o comerciante propõe como nome da estabelecimento,

três designações, sendo escolhendo apenas uma, nas restantes caducam.

Garantias quando o nome e insígnia se encontram registados:

- O registo tem eficácia constitutiva;

- Quem tem o registo efectuado pode pedir a anulabilidade do registo posterior;

- Obtém a condenação de um terceiro, por uso ilegítimo do seu nome ou insígnia;

- Pode-se apresentar reclamação sobre pedido de um registo novo – Artº 235 e 236;

- Podemos participar crimes e contra-ordenações;

- Direito a indemnização por perdas e danos sofridos, nos termos do 483 CC e 257

CPI;

- Possibilidade de se requerer vistorias – Artº 20;

- Possibilidade de interpor Providências Cautelares.

38

Page 39: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Secção III

A marca

1. Noção

A marca é um sinal distintivo susceptível de representação gráfica, destinada sobretudo a distinguir

certos produtos de outros produtos idênticos ou afins. Os princípios orientadores na constituição da

marca estão em consonância com o que se disse em relação à constituição da firma, nome e

insígnia, e vêm regulados nos art. 222.º ss CPI.

1.1 Constituição de uma marca

A constituição das marcas é muito mais aleatória do que a constituição das firmas, assim, uma

marca pode ser constituída por um sinal nominativo, por sinais auditivos, por desenhos, símbolos,

combinação de sons, de palavras, desenhos etc. As marcas identificam produtos, quer eles sejam

produzidos por empresas ou não, assim sucede porque apensar da grande parte das produtos serem

produzidos em empresas, pode um produto ser produzido por um não empresário, como sucede com

os cientistas, investigadores, e pessoas famosas que registam o seu nome.

2. Espécies de marcas

As marcas podem ser de diferentes espécies atendendo a diversos critérios:

2.1 natureza das actividades a que se ligam

Mmarcas de indústria, de comércio, de agricultura, de serviços, etc. art. 225.º al. a, b, c, e.

2.2 Atendendo aos possíveis titulares das marcas

Podem ser individuais ou colectivas, sendo que estas últimas não têm necessariamente que ser

exploradas por uma multiplicidade de pessoas, basta que seja usada por uma entidade mas que

defende interesses de múltiplos sujeitos, como acontece com a marca por exemplo de uma carne de

raça. As marcas colectivas, constam do art. 228.º CPI “ Entende-se por marca colectiva uma marca

de associação ou uma marca de certificação. 2. Podem constituir marca colectiva os sinais ou

indicações utilizados no comércio para designar a origem geográfica dos produtos ou serviços”

A este propósito cumpre diferenciar:

Marcas de associação, art. 229.º CPI “ uma marca de associação é um sinal determinado

pertencente a uma associação de pessoa singulares ou colectivas, cujo membros o usam, ou têm

intenção de usar, para produtos e serviços relacionados com o objecto da associação” assim

sucede com a marca de carne arouquesa.

39

Page 40: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Marcas de certificação, art. 230.º CPI “ Uma marca de certificação é um sinal determinado

pertencente a uma pessoa colectiva que controla os produtos ou os serviços ou estabelece normas a

que estes devem obedecer”

2.3 As marcas podem ainda ser notórias ou marcas de prestígio:

São marcas notórias, aquelas que embora não sendo registadas no nosso pais, são conhecidas em

Portugal, pelo que conforme estabelece o art. 241.º CPI

Esta norma tem assim como objectivo, salvaguardar o interesse público e acautelar a possibilidade

de confusão, evitando que um empresário português se aproveite de uma marca estrangeira, e a

adopte nos seus produtos idênticos ou semelhantes, sendo que não sendo a marca registada em

Portugal não poderia o registo ser recusado se esta norma não existisse.

Exige-se assim a identidade de produtos bem como a notoriedade da marca em causa.

Marcas de prestígio: são macas que embora não sendo registadas no nosso pais, são aqui

conhecidas, a diferença em relação às marcas notórias relaciona-se com o âmbito de protecção

quanto à espécie de produtos, uma vez que já não se exige a possibilidade de confusão de produtos

derivados da sua afinidade, não é necessário que exista identidade de produtos, passando-se assim

sobre o requisito da possibilidade de confusão. “ Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o

pedido de registo será igualmente recusado se a marca, ainda que destinada a produtos ou serviços

sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for igual ou semelhante, a uma marca anterior

que goze de prestígio em Portugal ou na Comunidade Europeia, se for comunitária, e sempre que o

uso da marca posterior procure tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da

marca, ou possa prejudica-las”

Não se exige aqui a identidade de produtos, mas apenas o risco de associação com uma marca do

mercado português dotada de grande prestígio relativamente aos seus produtos, aqui protege-se

sobretudo a tentativa de usurpação da marca por associação.

3. Função das marcas

Durante muito tempo a principal função das marcas limitou-se a ser distintiva, a distinguindo

sobretudo produtos afins e a indicar a origem do produto. Actualmente a marca não é só vista do

ponto de vista de finalidade distintiva de produtos afins, mas também como uma finalidade

informativa, pelo que a marca nos dá a conhecer diferentes características do produto em causa,

como a origem. Paralelamente, a marca tem ainda como função satisfazer interesses do seu

comercializador, uma vez que é um excelente meio de publicidade.

40

Page 41: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A marca pode ser constituída de modo quase ilimitado, mas terá sempre subjacentes questões

relacionadas com marketing e com a obtenção da maior clientela possível. Assim, a marca protege

sobretudo o seu titular.

Por último a marca tem ainda como função, garantia de qualidade do produto.

Em suma a marca tem como funções: distintiva; publicitária, indicação de origem, protecção do

comercializador; garantia de qualidade.

4. princípios jurídicos

1. Princípio da verdade: o princípio da verdade no que concerne à constituição das

marcas tem de ser entendido com uma certa maleabilidade, até porque a designação da marca, quase

nunca corresponde à designação do produto, apenas em casos gritantes é que este princípio poderá

ser violado.

2. Princípio da novidade : uma marca que é registada tem de ser nova, ou seja, tem de

conferir ao seu titular o seu direito de uso exclusivo. A protecção das marcas é efectuada em relação

às restantes que digam respeito a produtos afins ou idênticos, assim se houver a possibilidade de

confusão ou associação de marcas, devemos atender ao produto que ela identifica, sendo que se for

um produto semelhante ou afim o registo da marca deve ser recusado, vigora aqui também o

princípio da especialidade: art. 238.º al. m CPI “ É ainda recusado o registo de marcas que

contendam em todo ou alguns dos seus elementos: reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de

marca anteriormente registada para produtos ou serviços idênticos ou afins que possa induzir em

erro ou confusão o consumidor ou que compreenda o risco de associação coma marca registada” a

redacção do artigo é clara, apenas é deixado ao intérprete a análise do que são produtos afins, é

importante esclarecer o que isto seja, sendo que se entende como produtos afins aqueles que embora

sendo diferentes são substitutos entre si. A este propósito devemos atender ao disposto no art. 245.º

CPI que estabelece o que constitui a imitação ou usurpação da marca. O artigo estabelece requisitos

cumulativos: “ A marca registada considera-se imitada ou usurpada por outra, no todo ou em

parte, quando, cumulativamente: a marca registada tiver prioridade; sejam ambas destinadas a

assinalar produtos idênticos ou afins; tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética ou

outra que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreendas um risco de

associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa

distinguir senão depois de um exame atento ou confronto. N.º 2 para efeitos da alínea b do n.º 1:

Os produtos que estejam inseridos na mesma classe de classificação de Nice podem não ser

considerados afins; Os produtos e serviços que não estejam inseridos na mesma classificação de

Nice podem ser considerados afins. N.º 3 Considera-se imitação ou usurpação parcial de marca o

41

Page 42: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada .”

Este artigo deixa de fora aquelas marcas que sendo semelhantes se destinam a produtos diferentes,

porque entende a lei que nestes casos não há possibilidade de confusão. Por isso, se a marca se

tentar apropriar do prestígio da outra não obstante da diferenciação de produtos, o seu titular o

gozará da protecção conferida pelo art. 242.º CPI relativo às marcas de prestígio. Note-se apenas

que para aferir a possibilidade de confusão de produtos temos de atender ao consumidor médio, ao

produto em causa, e ao tipo de púbico a que o produto se destina. O princípio da novidade, tem

ainda aplicação importante no que se refere à protecção de marcas que apesar de se referirem a

produtos diferentes, podem gerar a risco de associação. Assim um comerciante de DVD não poderá

dar-lhes a marca de Soni, porque haveria possibilidade de confusão com uma marca já registada

apesar de não haver identidade dos produtos. Note-se por fim que, o princípio da novidade quanto

ao registo de marcas, abrange outros sinais distintivos, por isso, o registo de uma marca deve ser

recusado se a sua designação possuir elementos de “firma, denominação social, logótipo, nome e

insígnia de estabelecimento, ou apenas parte característica do mesmo, que não pertençam ao

requerente, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, se for susceptível de induzir o

consumidor em erro ou confusão” art. 239.º al. f CPI. Note-se contudo que a lei também protege os

casos em que a marca está a ser usurpada pelo nome de uma empresa, sendo a protecção da marca

feita ao abrigo do art. 285.º n.º 1 al. g CPI “Fundamentos de recusa

1 - Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os elementos constitutivos da

marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem para produtos idênticos ou afins aos que se

fabricam ou vendem no estabelecimento a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para

serviços idênticos ou afins aos que nele são prestados;”

3. Princípio da capacidade distintiva : de acordo com este princípio a marca de um

determinado produto, deve permitir que este se distinga dos seus concorrentes, a marca deve assim

estar apta para poder identificar um produto, por isso, a marca não pode adoptar designações com

recurso a sinais fracos e francos, isto é, sinais que pela sua generalidade não são individualizares e

sinais que pela sua apropriação genérica são podem ser usados. art. 222.º CPI. “A marca pode ser

constituída por um sinal ou conjunto de sinais susceptíveis de representação gráfica,

nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do

produto ou da respectiva embalagem, desde que sejam adequados a distinguir os produtos ou

serviços de uma empresa dos de outras empresas” “ Não obedecem ao princípio da capacidade

distintiva as marcas, art. 223.º CPI “ as marcas desprovidas de qualquer carácter distintivo; os

sinais constituídos exclusivamente, pela forma imposta pela própria natureza do produto, pela

42

Page 43: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

forma do produto necessária à obtenção de um resultado técnico ou pela forma que confira um

valor substancial ao produto; os sinais constitutivos, exclusivamente por indicações que possam

servir no comércio para designar a espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, a

proveniência geográfica, a época ou meio de produção do produto ou da prestação do serviço, ou

outras características dos mesmos; as marcas constituídas exclusivamente por sinais ou indicações

que se tenham tornado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do

comércio; as cores, salvo se forem combinada entre si ou com gráficos, dizeres ou outros elementos

de forma peculiar e distintiva”. No caso da marca violar o princípio da capacidade distintiva, o seu

registo deve ser recusado, art. 238.º n.º 1 al. a e b CPI. Assim, não são marcas os sinais específicos,

descritivos, e genéricos. Os específicos são aquele que designam um produto, como “ovo”. Os

sinais descritivos referem-se directamente a características ou propriedade dos produtos, “lã pura”.

Os signos genéricos designam um género ou categoria de produtos “refresco” para laranjadas. Do

mesmo modo, não podem as marcas ser constituídas por sinais de uso comum.

5. A tutela legal das marcas

Dirige-se apenas para marcas registadas, uma vez que só após o registo é que o titular da mesma

pode possuir legitimas expectativas de ser protegido. O registo da marca a “ confere ao seu titular o

direito de propriedade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina”,

art. 224.º CPI. Assim, o seu titular tem o direito de impedir o uso e usurpação da sua marca por

parte de terceiros, nos termos estabelecidos no art. 11.º e 12.º CPI.

5.1 O princípio da prioridade cronológica

Em regra, vigora quanto ao registo das marcas o princípio da prioridade cronológica, contudo,

existem dois casos especiais em que se protegem marcas cujo registo não foi prioritário.

1. Art. 227.º CPI “ aquele que usar marca livre ou não registada por prazo não superior a

6 meses te, durante esse prazo, direito de prioridade para efectuar o registo, podendo reclamar

conta o que for requerido por outrem”

2. Nos casos em que o pedido de registo tenha sido apresentado por um nacional dos

Estados-membros da convenção de Membros da União de Paris, ou membro da OMC, o pedido

gozará, em Portugal de direito de prioridade durante seis meses a partir da data do primeiro pedido,

art. 12.º CPI.

A nível internacional existe um acordo denominado Convenção de Madrid, para a protecção de

marcas, que criou um mecanismo de troca de informações entre diferentes entidades nacionais

43

Page 44: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

encarregadas de registo das marcas, art. 248.º CPI “ o titular de um registo de marca, de

nacionalidade portuguesa ou domiciliado ou estabelecido em Portugal, pode assegurar, nos termos

do Acordo de Madrid relativo ao Registo Nacional de Marcas, a protecção da usa marca nos

Estados que aderiram ou vierem a aderir a esse acordo.” Este acordo permite assim que a marca

goze de protecção em todo território dos estados-membros, o que facilita o controlo da imitação.

5.2 O registo

O registo da marca confere ao seu titular o direito de propriedade sobre a mesma, assim este pode

usar a marca em todos os seus produtos, serviços, podendo inclusive transmitir a marca, quer de

modo definitivo quer mediante licenciamento, sem a respectiva transmissão da empresa, art. 262.º

CPI “ Os registos de marcas são transmissíveis se tal não for susceptível de induzir o público em

erro quanto à proveniência do produto ou do serviço ou aos caracteres essenciais para a sua

apreciação.”

Trespassando-se um estabelecimento, transmite-se naturalmente a marca, a ele legadas, do mesmo

modo, transferindo-se um estabelecimento a título temporário, vale também a regra da transmissão

natural.

A transmissão inter vivos das marcas quando não integrada num negócio sobre o estabelecimento,

deve fazer-se por documento escrito, art. 31.º n.º 6 CPI. Sendo que em qualquer dos casos, a

transmissão só produz efeitos em relação a terceiros depois do respectivo averbamento no INPI, art.

30.º n.º 1 e 2 CPI:.

Note-se que os direitos conferidos pelo registo de marca no nosso pais, são eficazes em todo

território nacional, art. 4.º CPI

Exemplo

Se, por exemplo o Sr. A começa a usar certa marca sem registo, e B posteriormente começa a usar a

mesma marca e requer o respectivo registo ao INPI, a lei protege o interesse do Sr. A, concedendo-

lhe o direito de pedir e obter para sí o registo da marca em detrimento do Sr. B, mas com uma

condição: a de que o uso de A ainda não tenha excedido a duração de seis meses e ele apresente a

sua reclamação dentro desse prazo. O uso da marca confere, portanto, um direito de prioridade para

o seu registo, embora apenas limitado no tempo.

Pode, no entanto acontecer outra situação, de marcas ainda não registadas, o INPI pode reconhecer,

que sendo uma marca usada pelo Sr. A, e aparecendo o Sr. Ba requerer o registo, B pretende fazer

44

Page 45: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

concorrência desleal a A, ou que esta é possível independentemente as sua intenção, pode recusar o

registo requerido por B.

O registo da marca confere ao seu titular um direito sobre esta pelo prazo de 10 anos, renováveis

(art. 255.º CPI).

6. Tutela das marcas:

O titular da marca pode igualmente reagir contra o uso ilícito ou usurpação da sua marca por

terceiros:

1. Pode o registo da marca posterior ser recusado em virtude da violação do art. 245.º CPI e 239.º

al. m CPI.

2. Pode ainda o detentor do registo da marca requerer a anulação do registo, nomeadamente por

violação do princípio da novidade, nos termos do art. 266.º CPI. Que estabelece os casos em que o

registo da marca é anulável, sem prejuízo do disposto no art. 34 do mesmo diploma.

3. Possibilidade de requerer a inibição do uso da marca nos termos do ar. 258.º CPI mediante a

acção inibitória,” O registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o

seu consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas qualquer sinal igual, ou

semelhante em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi

registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos e

serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação no espírito do consumidor” sendo que

se este uso gerar danos será ainda possível accionar o infractor mediante responsabilidade civil nos

termos do art., 483.º CC.

4. Além disso, existe ainda a possibilidade de punição por via criminal pelo uso ilegal de marcas

nos termos do art. 323.º e 234.º CPI

6.1 Tutela marcas não registadas ou marcas de facto

A protecção de marcas não registadas, isto é, das marcas de facto, pode fazer-se por duas vias:

1. O titular de uma marca não registada, não se encontra como vimos protegido, mas poderá

excepcionalmente reagir com base no art. 24.º n.º 1 CPI contra terceiros por via do instituto da

concorrência desleal prevista no art. 317.º código de propriedade industrial. De acordo com este

instituto não pode um comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente

adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena de ser accionado

contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias do 483.º CC.

45

Page 46: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. Poderá ainda o lesado socorrer-se do instituto conhecido como Membros da União de Paris,

que congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com sede na U.E. estes

comerciantes estão protegidos em todo o espaço da união quanto à sua designação e sinais

distintivos quer nos países onde se encontram registados quer nos países que embora o sendo,

exercem actividade.

3. Gozam ainda de especial protecção as marcas de facto notoriamente conhecidas, nos termos já

analisados do art. 241.º CPI.

6.2 Limitações dos direitos conferidos pelo registo

Apesar do registo conferir ao seu titular o direito de propriedade sobre a marca, há determinados

aspectos que lhe são vedados, conforme o disposto no art. 260.º CPI: Além disso, importa ainda

referir o princípio do esgotamento, do art. 259.º CPI

7. Extinção dos direitos conferidos pelas marcas, art. 265.º CPI:

1. Por nulidade : o registo na marca é nulo nos casos previstos no art. 33.º e quando a sua

concessão desrespeitar o disposto nos artigos 238.ºal. a a c e 239.º al. a a e i, l CPI. A declaração

pode ser requerida a todo tempo, por qualquer interessado ou pelo MP, art. 33.º n.º 2 e 35.º CPI.

Note-se contudo que a eficácia retroactiva da nulidade contém algumas limitações, constantes do

art. 36.º CPI.

2. Por anulação : a anulabilidade pode ser requerida quando a sua concessão infringir o

disposto nos art. 34.º art. 266.º al. f a h art. 239.º e 240.º a 242.º CPI. As acções podem ser propostas

pelo MP ou por qualquer interessado dentro de um prazo de 10 anos a contar da data do despacho

de concessão do registo.

3. Por caducidade: o registo da marca caduca independentemente da invocação de causa

quando tiver expirado o seu prazo de duração e por falta de pagamento de taxas, art. 37.º a

caducidade opera ainda se as respectivas causas forem invocadas nos termos do art. 255.º, 269.º e

270.º CPI.

Nota: nos termos do art. 255.º CPI os direitos conferidos pelo registo caducam no prazo de 10 anos,

contudo, a sua renovação é admitida sem qualquer limite temporal diferentemente do que acontece

com as patentes em que o prazo de registo é limitado.

46

Page 47: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

8. Transmissão das marcas

A marca pode ser total ou parcialmente transmitida com grande liberdade independentemente da

transmissão da empresa, porque ela não está ligada de modo imperativo a esta, embora lhe esteja

associada, a empresa sobrevive perfeitamente sem a marca, pode haver a sua transmissão sem haver

violação do princípio da verdade, desde que tal transmissão não seja susceptível de induzir o

publico em erro, art. 262.º CPI “Os registos de marcas são transmissíveis se tal não for susceptível

de induzir o público em erro quanto à proveniência do produto ou do serviço ou aos caracteres

essenciais para a sua apreciação” 2. Quando a transmissão for parcial em relação aos produtos

ou serviços, deve ser requerida cópia do processo, que servirá de base a registo autónomo,

incluindo o direito ao título. 3. Aos pedidos de registo é aplicável o disposto nos números

anteriores e, no caso de transmissão parcial, os novos pedidos conservam as prioridades a que

tinham direito” Será possível induzir o público em erro, nos casos em que a transmissão da marca

contenha o nome ou insígnia do estabelecimento do transmitente, o mesmo se passará se os

produtos embora sendo da mesma marca sejam de qualidade inferior.

A marca, tal como os restantes elementos regulados no CPI faz parte do âmbito natural de uma

empresa, pelo que havendo transmissão desta naturalmente se transmitem (a)s marca(s) a ela

associadas, salvo convenção em contrário. Esta solução não decorre de modo directo da lei, e apesar

desta não estar muito correcta, podemos inferir tal solução do art. 31.º n.º 1 e 4.º CPI. “Os direitos

emergentes de patentes, de modelos de utilidade, de registos de topografias de produtos

semicondutores, de desenhos ou modelos e de marcas podem ser transmitidos, total ou

parcialmente, a título gratuito ou oneroso” 4 “Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a

transmissão do estabelecimento envolve os respectivos nome e insígnia, que podem continuar tal

como estão registados, salvo se o transmitente os reservar para outro estabelecimento, presente ou

futuro” Como se constata o n.º 1 refere-se a patentes, marcas, desenhos ( insígnia) mas no n.º 4 a

marca não consta apesar de constar todos os elementos referidos no n.º 1. Tem-se entendido que

estamos perante um lapso de escrita, pelo que se devem ter como incluída no n.º 4 a marca.

Assim, a marca pode ser livremente transferida, estando contudo sujeita ao regime do art. 30.º n.º 2

CPI, ou seja, para que a transmissão produza efeitos para terceiros é necessário o seu registo, “Os

factos referidos no número anterior só produzem efeitos em relação a terceiros depois da data do

respectivo averbamento.”

A forma que deve ser observada para a transmissão da firma consta do art. 31.º n.º 6 CPI “A

transmissão por acto inter vivos deve ser provada por documento escrito, mas se o averbamento da

transmissão for requerido pelo cedente, o cessionário deve, também, assinar o documento que a

comprova ou fazer declaração de que aceita a transmissão.”

47

Page 48: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

9. Licenciamento da marca

A transmissão da marca como ficou exposta implica a sua transmissão definitiva por parte do

cedente. Não obstante, a marca pode ser alvo de outro tipo de contratos de transmissão não

definitiva da mesma, trata-se de contratos que permitem transmitir a título meramente temporário,

um conjunto total ou parcial de direitos de uso de certa marca, em todo ou em parte do território

português, e que são conhecidos como licenciamento da marca, o 32.º CPI prevê a possibilidade de

licenciamento para os sinais distintivos em geral e o art. 264.º estabelece tal possibilidade de modo

particular para as marcas. “Os direitos referidos no n.º 1 do artigo anterior podem ser objecto de

licença de exploração, total ou parcial, a título gratuito ou oneroso, em certa zona ou em todo o

território nacional, por todo o tempo da sua duração ou por prazo inferior”

art. 264.º CPI “O titular do registo de marca pode invocar os direitos conferidos pelo registo contra

o licenciado que infrinja qualquer cláusula, ou disposição, do contrato de licença, em especial no

que respeita ao seu prazo de validade, à identidade da marca, à natureza dos produtos ou serviços

para os quais foi concedida a licença, à delimitação da zona ou território ou à qualidade dos

produtos fabricados ou dos serviços prestados pelo licenciado.”

O contrato de licenciamento deverá observar a forma escrita, art. 32.º n.º 3 CPI “O contrato de

licença está sujeito a forma escrita.”

E a licença terá de ser registada para produzir efeitos face a terceiros, art. 31.º n.º 2 CPI “Os factos

referidos no número anterior só produzem efeitos em relação a terceiros depois da data do

respectivo averbamento.”

Salvo estipulação em contrário, o licenciado goza, para todos os efeitos legais, das faculdades

conferidas ao titular do direito objecto da licença, salvo as excepções previstas no art. 32.º CPI:

5 -A licença presume-se não exclusiva.

6 - Entende-se por licença exclusiva aquela em que o titular do direito renuncia à faculdade de

conceder outras licenças para os direitos objecto de licença, enquanto esta se mantiver em vigor.

7 - A concessão de licença de exploração exclusiva não obsta a que o titular possa, também,

explorar directamente o direito objecto de licença, salvo estipulação em contrário.

8 - Salvo estipulação em contrário, o direito obtido por meio de licença de exploração não pode ser

alienado sem consentimento escrito do titular do direito.

9 - Se a concessão de sublicenças não estiver prevista no contrato de licença, só pode ser feita com

autorização escrita do titular do direito

Sendo o contrato de licenciamento meramente temporário, será que o cedente poderá efectuar sobre

cessionário alguma espécie de controlo? Entende-se que sim, que poderá haver um controlo de

48

Page 49: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

qualidade do produto associado à marca, para que seja mantido o grau de qualidade que os

consumidores estão habituados a associar àquela marca. Assim, se houver esta possibilidade a

licença caducará, art. 269.º n.º 1 al. b CC “A marca se tornar susceptível de induzir o público em

erro, nomeadamente acerca da natureza, qualidade e origem geográfica desses produtos ou

serviços, no seguimento do uso feito pelo titular da marca, ou por terceiro com o seu

consentimento, para os produtos ou serviços para que foi registada” Verificando-se algumas das

circunstâncias aqui previstas, haverá um incumprimento do contrato de licenciamento e

eventualmente responsabilidade civil, que poderá levar à sua resolução, por violação do princípio da

verdade e da protecção do público.

Semelhante ao contrato de licença é o contrato atípico de merchandising de marca, através do qual

o titular de uma marca registada de prestígio concede a outrem o direito de usar o signo para

distinguir produtos não idênticos nem afins dos produtos para que ela foi registada.

10. Recompensas (arts. 271.º e ss)

As recompensas são os prémios ou distinções conferidos aos industriais, comerciantes, agricultores

e outros empresários, que são seus proprietários (art. 273.º) São exemplificativamente enumeradas

no art. 271º.

As recompensas só podem ser aplicadas aos produtos e serviços a respeito dos quais foram

concedidas (art. 218.º CPI).

O seu registo, além de conceder aos titulares o direito de propriedade e de uso exclusivo, por tempo

indefinido, constitui também uma garantia de veracidade da recompensa e da autenticidade do título

da sua concessão (art. 4, n.º 2) e uma condição indispensável para que le a possa ser condicionada

às marcas ou nome ou insígnia de estabelecimento (art. 218.º CPI).

Só podem ser transmitidas em conjunto com o estabelecimento ou parte de estabelecimento a que

estão ligadas (art. 31.º CPI).

Usurpação:

Imitação – Quando há alguns elementos comuns susceptíveis de confundibilidade;

Contratação ou reprodução – Alguém está a utilizar uma marca sem sequer a ter modificado.

49

Page 50: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Como se afere uma imitação:

Critério Subjectivo – A imitação deve ser apreciada pelas semelhanças e não pelas diferenças,

de acordo com o olhar de um homem médio – Artº 193 – Conceito de imitação;

Critério subjectivo – Devemos averiguar as semelhanças – Artº 193-1-c)

Artº 193/2 – 1ª Parte – CRITÉRIO OBJECTIVO – Primeiro vamos aferir se os produtos são da

mesma gama (procurar os elementos comuns a marca originária e a segunda marca. Apurar a

confundibilidade ( 189/1/m)e, em função disso vamos às questões:

Questão de facto – Há ou não semelhanças entre as marcas;

Questão de direito – Saber se há imitação em função das semelhanças e diferenças.

Garantias do registo de marcas

Artº. 189/1/M

Artº 32/1/A – 34 e 186

Artº 264 e 2654

Artº 211 – Transmissão da marca

Artº 274

Ver artº 829 /A CC - Sanão pecuniária compulsória

MARCA DE FACTO – marca não registada . Esta , marca não obtém a tutela que lhe dá o

direito da marca registada 170 e 189

50

Page 51: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Titulo III

Títulos de crédito

1. Conceito de crédito

CRÉDITO – Troca de prestação presente por prestação futura. Este deferimento das prestações

pode resultar de:

Convenção das partes ou;

O crédito pode fazer parte da própria estrutura do negócio jurídico. Exemplo: um crédito.

Títulos de crédito (TC): Sendo o crédito a troca de uma prestação presente por uma prestação

futura, pelo que os títulos de crédito são documentos escritos constitutivos pois os direitos só

podem ser exercidos com a sua presença, sendo direitos cartulares (documentais) ou sejam direitos

incorporados no título, cujo exercício não pode ser efectuado sem a sua presença, sendo por isso

eficaz, seguro e rápido na transmissão dos respectivos créditos, vêm assim facilitar essa troca.

Túlio Ascarelli: TC, são documentos escritos, subscritos, nominais à ordem ou ao portador.

2. Características

- 4 Cumulativas:

- Incorporação ou legitimação

- Circulabilidade

- Literalidade

- Autonomia

Incorporação ou legitimação: A posse ou a titularidade é essencial para o exercício do direito nele

mencionado ou para a sua transmissão, de que advém 2 consequências:

- Mesmo que o possuidor não seja o titular original, a posse do título habilita-o a

exigir o direito nele incorporado ou referido e a transmiti-lo a terceiro

- O direito não poderá ser exercido por quem não tenha a sua posse

A lei presume que o possuidor é o seu verdadeiro proprietário, pelo que o devedor terá de cumprir

perante o seu portador, e caso o possuidor não coincida com o seu verdadeiro titular este só poderá

exigir o direito de regresso do possuidor.

51

Page 52: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Circulabilidade: O TC, surgiu para tornar mais céleres as transacções comerciais, devendo ser

transmissíveis, podendo o titular deste direito transmiti-lo livremente realizando assim o valor dele

sem necessidade de esperar pelo seu vencimento.

Literalidade: o direito cartular é literal, pelo que o direito do TC é decidido exclusivamente pelo seu

teor.

Autonomia – Art.º 17 LULL: Esta autonomia é relativa à relação subjacente, não podendo ser

opostas ao portador do título, quaisquer vícios que resultem da relação subjacente, no entanto esta

autonomia pode sofrer uma excepção por questões de má fé ou ética. Assim o TC tem autonomia

face aos portadores anteriores, cujos vícios não podem ser oponíveis ao actual proprietário, a não

ser que o possua de má fé cfr. art.º 16.

2.1 Classificação dos TC quanto à circulabilidade:

Nominativos

Ordem

Portador

Nominativos: Possuem o nome do possuidor, para cuja transmissão exige-se o nome do novo

proprietário, devendo ser inscritos no livro de registo, ex. acções

Ordem: Transmissão através de endosso, que pode ser nominativo (à ordem de F...), ou em branco,

passando o TC neste caso ao portador.

Portador: O portador é o possuidor, a transmissão efectua-se pela entrega do TC.

Cheque: Ordem de pagamento à vista dada pelo sacador ao Banco (sacado), pode ser Nominativo,

à ordem ou ao portador:

- Nominativo: Quando tem o nome do beneficiário e é cruzado, tendo a clausula

“não à ordem”.

- Ordem: Quando tem o nome do beneficiário, mas não é cruzado

- Portador: Quando não tem nome, está em branco.

Letra: Ordem de pagamento a prazo, dada pelo credor (sacador), sobre o devedor (sacado), regra

geral é um TC à ordem, podendo transformar-se em TC ao portador pelo endosso em branco.

52

Page 53: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

O endossante é co-responsável solidariamente perante terceiros no pagamento da letra, só não sendo

responsável o último tomador, como é responsável o sacador, quando o banco lhe antecipa o valor

TC

São obrigações cambiárias Abstractas em 2 sentidos:

- Não têm causa função típica, podendo prosseguir várias causas funções

- São independentes da causa que está na origem da sua emissão, logo não podem

sofrer os vícios da sua causa, p. ex. letra de favor

Pelo que sempre que exista falta de pagamento ou falta de aceite, essa recusa deve ser certificada

através de protesto junto do notário, cfr. art.º 44 LULL.

O protesto pode ser dispensado sempre que exista a clausula se “sem protesto” ou “sem despesas”.

3. Prescrição – Art.º 70 LULL: Em relação aos intervenientes:

- Aceitante: É de 3 anos a contar do vencimento da letra

- Portador: É de 1 ano a contar da data do protesto

- Endossante c/ endossante ou c/sacador: É de 6 meses a contar da data em que

pagou ou que foi accionado.

- Avalista: Mesmo prazo dos avalizados, art.º 32 LULL

Regras: A prescrição só interrompe, em relação ao obrigado notificado, e a extinção da obrigação

pecuniária abstracta, não leva à extinção por prescrição da relação subjacente.

Saque: Acto pelo qual o sacador emite uma ordem de pagamento ao sacado, o sacador é também

solidariamente responsável pelo pagamento da obrigação pecuniária constante do TC caso haja

endossos, caso o sacado não o pague o TC na data do seu vencimento.

Aceite – Art.º 21 e ss. LULL: Declaração de vontade pela qual o sacado assume a obrigação

cambiária principal, ou seja a de pagar na data do seu vencimento uma determinada quantia, que

está inscrita no TC.

Art.º 22, O sacador também pode proibir na própria letra a sua apresentação a aceite, caso em que é

uma letra pagável à vista, que em caso de não pagamento, a acção será proposta só contra o sacador

e os endossantes, cfr. art.º 44 LULL.

53

Page 54: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Endosso – Art.º 11 e ss. LULL: Com o endosso realiza-se a dinâmica da letra (circulabilidade), que

consiste na ordem de pagamento dada pelo sacador (ou endossante), ao aceitante para que este

pague a letra no vencimento ao seu portador, feita através de uma declaração no verso da letra

seguida da assinatura do endossante, o endosso abrange a totalidade do crédito cartular, se

eventualmente fosse parcial era Nulo (art.º 12.1.2 LULL).

A letra poderá não ser endossável, se nela for aposta cláusula de “não à ordem” ou chamado

endosso proibido (art.º 11 LULL), neste caso a letra não se poderá transmitir através de endosso, o

que quer dizer que só se poderá transmitir aplicando as regras da cessão de créditos (art.º 563 CC).

O endossante assume a obrigação de garantir tanto o aceite como do pagamento da letra para com o

endossado (art.º 15 LULL), pelo que todos os endossantes são solidariamente responsáveis pelo

cumprimento da obrigação cambiária.

Aval – Art.º 30 a 32 LULL: Negócio jurídico cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou mesmo

um signatário da letra, o avalista, se obriga ao seu pagamento como garante de um dos subscritores,

co-obrigados cambiários, os afiançados ou avalizados, o qual deve conter os termo “bom por aval a

F...”, se não indicar nome, se o aval for dado em branco, esse aval beneficiará sempre o sacador. O

aval tanto pode dizer respeito à totalidade do crédito como só a parte do mesmo.

Livrança – Art.º 75 LULL: Promessa de pagamento de determinada quantia, dada pelo subscritor

a favor do tomador ou endossado.

Extracto de factura: TC à ordem, que pressupõe a realização de um contrato de compra e venda de

mercadorias entre comerciantes sediados em território português, em que o preço desse contrato

deve ser pago em prazo certo, não tendo sido emitida letra ou livrança, o qual se transmite por

simples endosso feito no próprio extracto da factura que foi emitida.

Conhecimento de Depósito (CD), Cautela de Penhor (CP) e Warrant (W):

O CD, é um contrato de depósito mercantil, art.º 408 a 424 C. Com. Através do qual um

determinado comerciante, disponibiliza o seu armazém para serem depositadas determinadas

mercadorias, pertencentes a um determinado cliente, é um TC à ordem que representa os direitos

relativos às mercadorias depositadas, bastando a transmissão por endosso desse mesmo título, para

operar imediatamente a transmissão de todos os direitos relativos ás mercadorias, não sendo

necessário a circulação física das mercadorias. O CD é emitido em duplicado e em caso de

empréstimo, podem ser dadas essas mercadorias como garantia, sendo emitida uma CP (penhor

54

Page 55: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

mercantil sobre mercadorias) ou Warrant, sendo destacado o duplicado que fica em poder do

credor pignoratício, sendo este também um título de crédito à ordem, cfr. art.º 411 C. Com. Sendo

transmitido por mero endosso, podendo ambos transformarem-se em TC ao portador se forem

endossados em branco.

Acções: Títulos representativos de participação no capital social de uma sociedade que podem ser

nominativos ou ao portador, art.º 271, 276 e 299.2 CSC.

Podem existir acções escriturais, que não têm existência física, dando-se a transmissão por registo junto da

soc. emitente ou do intermediário financeiro.

Obrigações: Títulos representativos do valor de um empréstimo, feito à sociedade emitente, que tem sempre

por base um contrato de mútuo, entre a entidade emitente e uma pluralidade de mutuantes, art.º 348 e 352

CSC.

4. Função e conceito de título de crédito:

Os títulos de crédito são documentos - qualquer objecto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou

representar uma pessoa, coisa ou facto, mas nem todos os documentos podem ser considerados títulos de

crédito.

Só os documentos escritos, aqueles que representem declarações de ciência ou vontade em forma de texto

escrito, se enquadram no conceito.

Os títulos de crédito comprovam determinados factos - declarações de vontade - mas não podem ser havidos

como documentos meramente probatórios.

São documentos constitutivos, pois são indispensáveis para a própria constituição, exercício e transmissão

dos direitos que neles são mencionados, os quais não podem subsistir sem o respectivo título. Mas nem todos

estes documentos constitutivos são considerados títulos de crédito, pois este tem uma eficácia que ultrapassa

a de mera constituição do direito: o título adere permanentemente ao direito, de modo tal que é indispensável

para que o direito possa ser exercido e transmitido, para que o seu titular possa dispor dele. São por isso

documentos dispositivos.

Os títulos de crédito destinam-se a tornar mais simples, rápida e segura a circulação da riqueza e a concessão

do crédito. A par de formas directas de circulação da riqueza, os títulos de crédito representam uma forma

indirecta de a fazer circular: eles tornam simplesmente possível e fácil que a riqueza se transmita através da

sua circulação, em vez dos bens, circulam os documentos que a representam, pois é mais simples, rápido e

seguro transmitir papéis escritos do que os próprios bens a que eles aludem.

Na Idade Média, dados os riscos enormes que comportava o transporte, por estradas pouco seguras e

infestadas de salteadores, de grandes quantias de dinheiro, os comerciantes começaram a entregar o seu

numerário a banqueiros, que lhes entregavam em troca uma carta dirigida a um outro banqueiro estabelecido

55

Page 56: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

na localidade onde o comerciante pretendia efectuar pagamentos, normalmente de mercadorias que ia

adquirir para o seu comércio.

Com o decurso do tempo, tornou-se progressivamente usual utilizar a própria letra para novos pagamentos,

escrevendo nela sucessivas ordens de pagamento a favor de novos destinatários. Cada título passou a servir

para solver sucessivas obrigações, promovendo-se desta forma a facilitação da concessão e transmissão de

créditos.

Desta origem do primeiro dos títulos até ao presente, uma longa evolução decorreu, mas sempre tendo como

base a mesma função: satisfazer de forma eficaz as necessidades da vida económica no que toca à

simplicidade, rapidez e segurança da circulação da riqueza. Por isso, aos títulos de crédito se chama títulos

negociáveis ou circuláveis.

O título garante ao titular do direito que só a ele pertence o direito e não a qualquer outra pessoa que

pretenda arrogar-se tal titularidade. Assim, a emissão do título de crédito incentiva o credor a conceder o

crédito pelo meio próprio de cada espécie de títulos.

Favorece também a posição do devedor: se este paga a quem se mostra legitimado pela posse do título

segundo a respectiva lei de circulação, liberta-se da obrigação, mesmo que, na realidade, essa pessoa não

fosse o verdadeiro titular.

Dá aos terceiros de boa fé, que venham a adquiri-lo, a tranquilidade de que serão, um após outro, sucessivos

titulares de direitos, sem que lhes possam ser opostas pelo devedor as excepções oponíveis aos anteriores

possuidores.

O título de crédito é assim um documento necessário para exercitar o direito liberal e autónomo nele

mencionado.

5. Características gerais do título de crédito

A confiança constitui a base do desempenho da função dos títulos de crédito. Para que essa confiança exista,

é essencial que o regime para eles traçado proteja ao máximo os interesses do titular do direito, do devedor e

daqueles que venham a adquiri-los de boa fé. Todos eles se disporão a aceitar a emissão e transmissão dos

títulos se puderem ter absoluta confiança em que:

- O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está habilitado para exercer o

direito nele referido;

- Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título, para realizar o valor dele,

sem necessitar de esperar pelo cumprimento da obrigação correspondente ao direito nele mencionado;

- O teor literal do título corresponde ao direito que ele representa;

- A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser posta em causa pela

invocação de excepções oponíveis aos anteriores detentores do título;

56

Page 57: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Estas quatro exigências correspondem às características gerais dos títulos de crédito:

Incorporação / legitimação, circulabilidade, literalidade e autonomia.

A diferenciação entre o título e o direito nele representado é a seguinte: o título é um bem móvel, pois é

tratado pela ordem jurídica como uma coisa, que serve de suporte ou veículo corpóreo ao direito, e que

circula ou é transmitido segundo regras que lhe são bem próprias.

Daí resulta que são diferentes o direito sobre o título, por um lado, e o direito mencionado no título, por

outro, sendo do direito sobre o título que decorre a titularidade nele mencionado.

O direito sobre o título configura-se como um direito real, que tem o título por objecto, ao passo que o direito

mencionado no título pode ser uma de entre várias naturezas: na maior parte são direitos de crédito.

O direito cartular tem a sua origem numa relação jurídica que precede o nascimento do título de crédito - a

relação subjacente ou fundamental - da qual podem resultar, ou apenas um direito para uma das partes e

correlativa obrigação para a outra, ou recíprocas direitos e obrigações para as duas ou mais partes em

confronto.

Incorporação ou legitimação:

A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do direito nele mencionado.

Deve considerar-se que tal característica consiste em que a posse do título legitima o portador para exercer

ou transmitir o direito. É mais preciso designar esta característica por legitimação activa, visto que ela se

refere à posição jurídica do sujeito activo do direito, à sua aptidão jurídica para exercê-lo ou transmiti-lo.

É a posse, ou melhor, a detenção material do título segundo as regras da circulação que para ele estão

definidas, que confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer ou transmitir o direito que o título

refere.

Surgem duas consequências muito importantes: mesmo que o possuidor do título não seja o verdadeiro

titular do direito, ele estará legalmente habilitado a exerce-lo ou transmiti-lo. O titular do direito estará

impossibilitado de exercê-lo ou transmiti-lo se não tiver a posse do título. Só o possuidor formalmente

legítimo do título é que pode exercer o direito cartular, só ele é que pode transmitir para outrem esse direito.

Isto resulta de uma presunção jurídica de que o possuidor do título está de boa fé e de que é ele o verdadeiro

dono, o titular do direito sobre o próprio título.

O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de boa fé dos sucessivos detentores do

título.

57

Page 58: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Ao substituir por essa presunção a regra geral do direito civil, que exige a coincidência da titularidade do

direito com a legitimidade para o seu exercício, o regime dos títulos de crédito visa reforçar as condições de

circulabilidade dos títulos e o desempenho da sua correlativa função jurídico - económica.

Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à posição e interesse do devedor. Este pode

desonerar-se validamente da sua obrigação se a cumprir perante o detentor do título segundo a respectiva lei

de circulação.

Esta situação de legitimação passiva constitui uma inegável e relevante vantagem para o devedor, que

incentiva a sua decisão de se obrigar através do título de crédito. É que ele não precisa de verificar senão a

legitimação formal do possuidor do título, ou seja, só carece de certificar-se se o portador dele tem

legitimidade activa para exercer o direito cartular.

Não é exigível ao devedor que verifique se o detentor do título é o verdadeiro titular do direito. E, por

consequência se cumprir perante o detentor do título, fica desobrigado, não podendo ser acusado de ter pago

a quem não fosse o verdadeiro credor.

Circulabilidade:

Os títulos de crédito destinam-se a circular. A sua própria destinação jurídico - económica implica a

potencialidade de serem transmitidos da titularidade de uma pessoa para a de outra, sucessivamente.

Os documentos que não comportem a possibilidade de circulação não podem ser considerados como títulos

de crédito. Não basta a mera possibilidade da circulação para que determinados documentos possam como

tais ser qualificados. É necessário que esses documentos sejam destinados à circulação.

Isto não significa que a circulação dos títulos de crédito não possa ser de modo nenhum condicionada ou

regulada.

Literalidade:

O direito cartular é um direito literal, porque para a determinação da sua existência, conteúdo, limites e

modalidades daquele direito é exclusivamente decisivo o teor do próprio titulo.

E é assim porque a estrita ligação do título com o direito que ele incorpora torna logicamente indispensável

que tal direito valha apenas nos termos que são revelados pelos dizeres do documento.

Os sucessivos portadores do título podem estar seguros de que só os termos do próprio título é que os

vincula. Nem o possuidor pode exigir ao devedor o que não conste do título, nem o devedor pode alegar

meios de defesa que o documento não mencione.

Os títulos de crédito valem precisamente segundo os termos que a sua letra revela, para que a sua

circulabilidade seja plena.

A letra do título não tem de exprimir todas as regras e condições pertinentes ao direito cartular.

A literalidade não assume intensidade igual em todos os títulos.

58

Page 59: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

É mais directa e completa nos títulos abstractos, que são aqueles que, além de não terem uma causa-função

típica, são independentes da respectiva causa concreta.

É indispensável que o documento dê a conhecer todos os elementos identificadores dos termos, limites e

modalidades de cada obrigação constante do título.

Já nos títulos causais, cuja causa-função é típica e única, estando o título a ela vinculado, esta característica

surge mais difusa. Não se cogita de incluir senão os elementos indispensáveis para a identificação da

sociedade emitente e a delimitação básica da situação jurídica do titular.

Autonomia:

O direito representado pelo título de crédito é autónomo, em dois sentidos:

1 - Existe a autonomia face ao direito subjacente. O direito cartular tem a sua origem numa relação jurídica

logicamente anterior ao surgimento do título - a relação subjacente ou fundamental. O direito cartular é

autónomo do direito subjacente;

2 - Existe a autonomia face aos portadores anteriores. O direito cartular é autónomo, porque cada possuidor

do título, ao adquiri-lo segundo a sua lei de circulação, adquire o direito nele referido de um modo originário,

independentemente da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade. Todo se passa

como se o direito cartular não fosse propriamente transmitido, mas adquirido de forma originária, de cada

vez que o título circula para um novo titular;

6. Títulos impróprios

Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos documentos que, muito embora tenham,

em geral, as mesmas características daqueles, não as têm geneticamente, também se afastando deles no

tocante à sua função jurídico-económica e, por isso, quanto à característica de circulabilidade, sendo

designados como impróprios.

Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias:

1 - Os títulos de legitimação - têm por função conferir ao seu possuidor a legitimação activa para o

exercício de certos direitos e, consequentemente, também conferem à outra parte a correspectiva legitimação

passiva. Mas não têm por função própria a circulação, não se destinam a viabilizar e facilitar a transmissão

de direitos, e, por isso, não são verdadeiros e próprios títulos de crédito, muito embora não estejam

impedidos de circular, mas não foi para a circulação que foram concebidos e emitidos - bilhetes de entrada

em salas de espectáculo, bilhetes de transporte transmissíveis, etc..;

2 - Os comprovantes de legitimação - conferem igualmente a legitimação activa e passiva relativamente ao

exercício de certos direitos, mas nem sequer têm a possibilidade de circular, por serem intransmissíveis -

bilhetes de avião, passes de transportes colectivos, etc...;

59

Page 60: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

7. Tipologia – Classificações:

Critério da causa-função, ou do nexo com a relação subjacente

Segundo este critério, consideram-se duas espécies de títulos:

1 - São títulos causais os que se destinam a realizar uma típica e única causa - função jurídico económica,

inerente a um determinado tipo de negócio jurídico subjacente, do qual resultam direitos cuja transmissão e

exercício o título se destina a viabilizar ou facilitar. Exemplo disso são as acções das sociedades anónimas.

2 - São títulos abstractos aqueles que não têm uma causa-função típica, pois são aptos a representar direitos

emergentes de uma pluralidade indefinidamente vasta de causas-funções. Estes títulos são independentes da

respectiva causa. O devedor não pode invocar contra o portador do título excepções fundadas na relação

subjacente, que é a causa mediata da sua obrigação e do correlativo direito do portador.

A abstracção da causa significa que o direito e a obrigação cartular são independentes da sua causa, no

sentido de que eles são vinculativos independentemente dos vícios de que tal causa possa padecer, os quais

são inoponíveis ao portador.

A relação subjacente ou fundamental é apenas a causa mediata ou remota do título e de cada direito /

obrigação cartular, no sentido de que este visa incorporar um dos direitos originados por aquela relação

jurídica, direito esse que poderia perfeitamente subsistir sem o título de crédito.

Quer os títulos causais, quer os abstractos, têm sempre uma dada causa: nenhum direito surge sem uma

causa, nenhuma transmissão de direito se opera sem uma causa. O que pode ocorrer é que o título seja

propício a dar guarida apenas ao direito provindo de um dado tipo de causa - será o tipo causal - ou que ele

tenha aptidão de recobrir direitos oriundos de uma variedade atípica de causas - será um título abstracto.

8. Critério do conteúdo do direito cartular:

A maior parte dos títulos de crédito hoje em uso incorporam direitos de crédito em sentido estrito,

geralmente direitos a uma prestação pecuniária, e por isso se designam como títulos de crédito propriamente

ditos. É o que sucede com: as letras e livranças, os cheques, os extractos de factura, etc...

Outros títulos denominam-se títulos representativos, porque incorporam direitos sobre determinadas coisas,

em geral mercadorias, como a guia de transporte, etc... Atribuem ao seu possuidor, juntamente com o direito

de crédito à entrega das mercadorias, também um direito real sobre estas.

Em terceiro lugar, existem os títulos de participação social, assim designados por incorporarem uma situação

jurídica de participação social, ou seja, o complexo de direitos e obrigações que integra a qualidade de sócio

de uma sociedade. É o que sucede com as acções das sociedades anónimas.

60

Page 61: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Os títulos de crédito propriamente ditos e os títulos representativos, estes apenas quando representem coisas

fungíveis, têm uma importância particularmente relevante no plano do direito processual civil, dado

constituírem, em geral, títulos executivos: com efeito o art.°46 al. c) do C.P.Civil., atribui essa qualidade às

letras, livranças, cheques, extractos de factura, etc... e quaisquer outros escritos particulares, assinados pelo

devedor, dos quais conste a obrigação de pagamento de quantias determinadas, ou de entrega de coisas

fungíveis.

9. Critério do modo de circulação:

Esta classificação é clássica e a de maior importância prática por ela ter como fulcro a função essencial dos

títulos de crédito: a circulação.

Segundo este critério do modo de circulação, os títulos podem ser:

- Ao portador

- À ordem

- Nominativos.

Títulos ao portador: São os que não identificam o seu titular e transmitem-se por mera tradição manual, por

entrega real do documento: o titular é quem for detentor do documento - art.°483 do C. Com.

O possuidor presumir-se-á sempre o titular do crédito de propriedade do título e, com ele, do direito cartular,

estando por isso legitimado para o exercer.

Títulos à ordem: São os que mencionam o nome do seu titular, tendo este, para transmitir o título e, com ele,

o direito cartular, apenas de nele exarar o endosso: uma declaração escrita, no verso do título, ordenando ao

devedor que cumpra a obrigação para com o transmissário e / ou manifestando a vontade de transmitir para

este o direito incorporado - art.°483 do C. Com.

Este endosso que produz o efeito de transmitir a propriedade do título e o direito cartular, diz-se endosso

translativo. Dele importa distinguir, por não terem essa finalidade nem esse efeito outros tipos de endosso.

O chamado endosso em branco, caracterizado por não mencionar o nome do endossado, limitando-se o

endossante a subscrever o título, o qual passa a partir de então a ser um título ao portador em vez de um

título à ordem, porque ele passará a circular, de pleno direito, por mera tradição, enquanto não for inserido o

nome de detentor no espaço em branco.

Títulos nominativos: Mencionam também o nome do seu titular e a sua circulação exige um formalismo

complexo, do qual é exemplo modelar o regime da circulação das acções nominativas: para que a sua

transmissão seja válida, deve ser exarada nos próprio título, pelo transmitente, uma declaração de

transmissão, bem como que nele seja lavrado a quem pertence, isto é, que no local adequado seja inserido o

nome do novo titular; além disso, é ainda necessário o averbamento do acto no livro de registo da acções da

sociedade emitente.

61

Page 62: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

10. Critério da natureza da entidade emitente:

São títulos públicos aqueles que são emitidos pelo Estado e por outros entes públicos legalmente habilitados

para tanto, aos quais se refere o art.º 483 do C. Com. como títulos públicos negociáveis: são os títulos de

dívida pública.

Todos os demais títulos de crédito são títulos privados, por as pessoas ou entidades que os emitem não terem

natureza de entes públicos ou não actuarem nessa condição.

Possibilidade de criação de títulos de crédito:

O princípio da autonomia da vontade, ou da liberdade contratual, consagrado amplamente no art.º405 do C.

Civil, poderá conferir suporte à possibilidade de criação de títulos de crédito inominados, que não se

integrem em nenhum dos tipos de títulos caracterizados e regulados na lei. Porém, essa possibilidade

genérica sofre limitações muito significativas, que reduzem a bem pouco o seu alcance:

I. Quer a lei, quer a natureza das coisas, podem restringir a certas categorias de pessoas ou entidades a

emissão de certos títulos de crédito. É o que se passa com os títulos de dívida pública, que só podem ser

emitidos por entes públicos legalmente competentes; ou com as acções, que só podem ser emitidas por

sociedades anónimas ou em comandita por acções; ou os títulos de participação que só podem ser emitidos

por empresas públicas ou sociedades anónimas pertencentes maioritariamente ao Estado.

II. Quando os títulos nominados são admitidos apenas em determinadas modalidades, correspondentes a

certas leis de circulação - os cheques só podem ser à ordem ou ao portador; as livranças só podem ser à

ordem; as acções e obrigações só podem ser nominativas ou ao portador, etc... - não é lícito emitir títulos

desses em modalidades não consentidas por lei.

III. Extrai-se da conjunção dos art.°280 e 458 do C. Civil a exigência de uma causa lícita para que o

negocio jurídico seja válido, o que implica a proibição genérica dos negócios abstractos, salvo norma legal

em contrário. Os títulos abstractos são válidos apenas e na medida em que normas legais os permitam, mas

não será lícito criar outros títulos abstractos.

IV. Há que ter presente a proibição de negócios unilaterais que gerem uma obrigação de prestar fora dos

casos previstos em lei, contida no art.°457 do C. Civil. Desta proibição resulta a inadmissibilidade da criação

de títulos de crédito inominados - que seriam títulos de crédito propriamente ditos - que contenham a

promessa unilateral de uma prestação, dado que nos negócios abstractos vigora o principio da tipicidade

taxativa ou “numerus clausus”.

No escasso terreno de aplicação deixado livre por estas restrições é que poderá conceber-se a criação de

títulos de crédito inominados.

62

Page 63: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

11. Principais títulos de crédito - Os títulos cambiais: Letra, Livrança e Cheque

A Letra:

A letra é um título de crédito através do qual o emitente do título - sacador dá uma ordem de pagamento -

saque, de uma dada quantia, em dadas circunstâncias de tempo e lugar, a um devedor - sacado, ordem essa a

favor de uma terceira pessoa - tomador. Ex.: o sacador A (credor) dá ordem de pagamento ao sacado B

(devedor) a favor do tomador C (Banco).

O sacado só assume a obrigação mencionada no título - obrigação cambiária, se e quando aceitar a ordem,

assinando transversalmente no rosto do título, acto este que se denomina aceite e converte o sacado em

aceitante.

Como título de crédito rigorosamente formal, a letra é destinada à circulação, a qual se efectua através de

endosso, sendo portanto, um título à ordem. O tomador poderá assumir a qualidade de endossante,

transmitindo a letra a um endossado, o qual, por sua vez, poderá praticar acto idêntico a favor de um outro

endossado e assim por diante. Ex.: o tomador C pode endossar ao endossado D a letra.

O principal obrigado da letra é o aceitante, que assume a obrigação de pagar a quantia nela mencionada, ao

portador legitimado por uma série ininterrupta e formalmente correcta de endossos, ao tempo do vencimento

e no local devido.

Mas não é só o aceitante que se obriga em virtude da letra: todos os subscritores do título se obrigam a

efectuar a prestação nele referida. Obrigam-se solidariamente, embora a obrigação dos demais subscritores

seja apenas uma garantia.

Cada um dos endossantes promete ao seu endossado e aos posteriores endossados que a letra será aceite e

paga pelo sacado, obrigando-se solidariamente ao seu pagamento se este não o fizer.

Temos assim uma sucessão de co-obrigados à mesma prestação, que forma a chamada cadeia cambiária, na

qual têm posições diversas apenas na medida em que cada um se obriga só perante os posteriores titulares,

embora todos se obriguem solidariamente perante o portador.

Há ainda um outro tipo de obrigação cambiária de garantia, que é a resultante do aval, acto pelo qual uma

qualquer pessoa garante o pagamento dela por um dos subscritores.

Resta referir que a eficácia das obrigações cambiárias de garantia depende, em regra, da comprovação da

falta de aceite ou de pagamento pelo sacado, que o portador deve promover através do protesto no cartório

notarial competente.

63

Page 64: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A Livrança:

A livrança menciona uma promessa de pagamento de uma certa quantia, em dadas condições de tempo e

lugar, pelo seu subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um posterior endossado que for seu portador

legítimo no vencimento.

A livrança é um título à ordem, transmissível por endosso, e rigorosamente formal.

Na livrança existem apenas inicialmente os dois mencionados personagens e não três, como ocorre na letra.

Todos os subscritores são co-obrigados solidariamente e formando uma cadeia cambiária, dependendo

também do protesto a efectivação das obrigações de garantia, que são as do subscritor, endossados e

avalistas.

O Cheque:

O cheque exprime uma ordem de pagamento, de determinada quantia, dada por um sacador a um sacado, que

tem a peculiaridade de ser necessariamente um banqueiro, ou uma instituição de crédito habilitada a receber

depósitos de dinheiro mobilizáveis por essa forma, e a favor de uma pessoa denominada tomador, que pode

ser ou não individualizada. O cheque constitui um meio de pagamento, ao próprio depositante ou a terceiro, a

realizar por força do depósito que o sacador tem na instituição de crédito.

Como o cheque é livremente circulável, ele pode desempenhar a função de transmitir o crédito, o direito ao

pagamento pelo banco da quantia nele mencionada, porque a ordem de pagamento e os sucessivos actos de

transmissão do título não têm uma causa-função típica, antes podem ter como causa relações subjacentes da

mais variada espécie, trata-se de um título abstracto.

Quanto à forma de circulação, o cheque pode ser título à ordem, quando contém o nome do beneficiário da

ordem de pagamento, que o pode transmitir por endosso; e pode ser título ao portador, quando não contém o

nome do beneficiário da ordem, sendo transmissível por mera entrega real.

É ainda concebível o cheque pagável a determinada pessoa, mas com a cláusula "não à ordem", o qual, à

semelhança da letra, só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.

O cheque é também um título rigorosamente formal.

No cheque, o sacador e os endossados são solidariamente responsáveis pelo pagamento do cheque, no caso

de falta de cumprimento do sacado, devendo a falta deste, em princípio, ser comprovada por protesto ou

declaração equivalente, a realizar no prazo da apresentação a pagamento.

As obrigações dos demais subscritores do cheque podem ser garantidas por terceiro, mediante aval.

Todos os subscritores do cheque são co-obrigados solidariamente e formando uma cadeia cambiária, que

abrange o sacador, os endossados e os avalistas, como obrigados em garantia.

Outras formas de garantir ao portador o seu recebimento, são:

64

Page 65: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

O cheque visado pelo banco sacado a pedido do emitente e antes de este o entregar ao beneficiário, contém

em si mesmo a prova da existência de provisão na data do visto e de que tal quantia foi bloqueada pelo

banco, o que garante o seu pagamento.

O cheque cruzado que só pode ser pago a um banqueiro ou a um cliente do banco sacado; fica mais

preservado o beneficiário do cheque contra as consequências de extravios, pois só poderá ser pago por

intermédio de um banco sacado, ou a uma pessoa facilmente identificável, por ser cliente do banco sacado.

O cheque a levar em conta, que é aquele em que o sacador ou portador proíbem o pagamento em numerário,

só podendo ser pago por lançamento em escrita.

O cheque comprado (vulgo cheque bancário), que se caracteriza por ser emitido por um banco contra si

mesmo: ele é ao mesmo tempo o sacador e o sacado. Uma pessoa que pretenda remeter ou levantar fundos

para outra praça compra o cheque ao banco, que o emite a favor da pessoa indicada pelo comprador.

O cheque viagem, que é uma espécie de cheque comprado, caracterizado por conter a assinatura do tomador,

lançada no cheque no momento da compra, devendo o tomador nele lançar uma segunda assinatura, para

evitar fraudes, quando pretender receber o seu montante no banco, ou transmiti-lo.

Extracto de factura:

O extracto de factura é um título de crédito em sentido restrito, à ordem, que deve ser emitido sempre que, no

contrato de compra e venda mercantil a prazo entre comerciantes, a obrigação de pagar o respectivo preço

não for titulada por uma letra.

A emissão deste título pressupõe a realização de uma compra e venda de mercadorias entre comerciantes

estabelecidos no território nacional português, na qual o preço deva ser pago a prazo certo.

O vendedor deve emitir uma factura, que será acompanhada de um extracto e remetida ao comprador. Este

deverá ficar com a factura e aceitar o extracto, devolvendo-o ao vendedor dentro do prazo aplicável.

O extracto factura envolve necessariamente a cláusula à ordem, expressão com a qual o legislador quis

claramente caracterizá-lo como um título de crédito, visto ser destinado à circulação, que pode ser realizada

por endosso.

Trata-se de um título rigorosamente formal, visto enumerar com detalhe os elementos que ele deve

mencionar.

Os subscritores do extracto de factura serão, em regra, o emitente (vendedor), o aceitante e os endossantes. A

responsabilidade de qualquer deles poderá ser garantida por um terceiro, por meio de aval.

O extracto é susceptível de protesto, quer por falta de aceite ou de devolução, quer por falta de pagamento no

vencimento. O protesto é dispensado para que seja efectivada a responsabilidade do aceitante e do respectivo

avalista.

Os endossantes e respectivos avalistas do extracto de factura são obrigados solidariamente, como garantes do

pagamento, perante o portador legítimo do título.

65

Page 66: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A responsabilidade solidária destes co-obrigados fundamenta-se na regra geral dos art.º 100 e 101 do C.

Com.

Tem sido muito controvertido o significado e valor da exigência legal de emissão do extracto da factura nos

contratos de compra e venda, referidos no art.°1 do DL n°19.490, registando-se na doutrina duas correntes de

opinião. A aceite é a que afirma que a falta de emissão do extracto de factura, quando se verifique a hipótese

do artigo mencionado, acarreta a nulidade absoluta do contrato de compra e venda respectivo, por falta de

forma legalmente exigida, podendo o devedor apenas pedir a declaração judicial do aludido vício e a

consequente restituição da mercadoria ou do seu valor.

Conhecimento de depósito e Cautela de penhor (warrant):

Os art.°408 a 424 do C. Com. regulam uma especial modalidade do contrato de depósito mercantil,

consistente no depósito de géneros e mercadorias em armazéns gerais.

Os armazéns gerais são armazéns autorizados pelo Governo a receber em depósito géneros e mercadorias,

mediante caução, pelo preço fixado nas respectivas tarifas - art.°94 do C. Com.

Guia de transporte e conhecimento de carga:

Revestem a natureza de títulos de crédito os documentos que formalizam o contrato de transporte de

mercadorias, que é um acto de comércio regulado nos art.°366 e seguintes do C. Com. Pode definir-se como

o contrato pelo qual uma pessoa singular ou colectiva, constituída em empresa para a explorar a actividade

transportadora - o transportador - se obriga para com uma pessoa que lhe entrega determinadas coisas móveis

- o expedidor - a transportá-las de um determinado lugar para outro, mediante remuneração - o frete -

fazendo entrega do objecto do transporte, no local do destino, a outra pessoa - o destinatário. O expedidor e o

destinatário podem ser a mesma pessoa - art.°371 do C. Com.

Acções:

Denomina-se acção cada uma das fracções, de valor igual, em que se divide o capital social de uma

sociedade anónima, bem como as participações no capital de uma sociedade em comandita por acções que

sejam detidas pelos sócios comanditários.

As acções podem ser representadas por títulos predispostos para a circulação e que reúnem as características

gerais dos títulos de crédito, os quais são igualmente denominados - acções.

As acções são títulos de participação social que representam uma situação jurídica de sócio, um feixe de

direitos e obrigações de seu titular face à sociedade emitente. As acções incorporam essa situação jurídica,

pois os respectivos titulares só podem exercer os direitos pertinentes à sua condição de accionistas desde que

detenham os títulos. Só podem transmitir essa situação jurídica através da alienação dos próprios títulos,

segundo as modalidades que a lei consente.

66

Page 67: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Tais modalidades são apenas duas: acções ao portador e nominativas. A emissão por uma sociedade de

acções de ambas ou apenas de uma destas espécies decorre do que estiver previsto nos seus estatutos.

As acções ao portador transmitem-se entre vivos por tradição real.

As acções nominativas transmitem-se mediante:

- Declaração de transmissão a favor do transmissário “pertence a ...”, escrita no título,

seguida da assinatura do transmitente

- Averbamento no livro de registo de acções da sociedade emitente;

Todas estas formalidades condicionam a própria validade da transmissão. A transmissão das acções

considera-se efectuada no quinto dia a contar da data da apresentação dos títulos à sociedade para esse fim.

A sujeição ao regime de registo ou depósito das acções nominativas - para as quais é obrigatório - e ao

portador - para as quais é facultativo.

Este regime, que visa controlar a transmissão e titularidade das acções para fins fiscais, é independente da

disciplina da circulação das acções.

O depósito dos títulos pode ser efectuado em instituições de crédito, sociedades correctoras, etc... autorizadas

a exercer a actividade de guarda de valores mobiliários.

As acções escriturais têm necessariamente que ser registadas, uma vez que não são representadas por títulos.

A par das acções ordinárias, podem ser estatutariamente criadas acções preferenciais que conferem certos

direitos especiais aos accionistas delas detentores. Existem duas categorias destas acções preferenciais:

- Acções preferenciais sem voto – Art.º 341 a 344 CSC: conferem aos seus titulares todos

os direitos das acções ordinárias, excepto o de voto e ainda o direito a um dividendo prioritário, não inferior

a 5% do seu valor nominal, bem como o direito a um reembolso prioritário em caso de liquidação da

sociedade.

- Acções preferenciais remíveis – Art.º 345 CSC: são acções que gozam de um

determinado privilégio patrimonial, e que ficam sujeitas a remissão em data determinada.

Obrigações:

Denominam-se obrigações os títulos negociáveis que, numa mesma emissão, conferem direitos de créditos

iguais, para o mesmo valor nominal, art.º 348 CSC.

67

Page 68: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Consistem em partes, de igual valor, em que se divide o débito colectivo assumido, sob determinadas formas

e condições, pelas sociedades e demais entidades autorizadas a emiti-las.

As obrigações têm como causa ou fundamento um contrato de mútuo, que a entidade emitente contrai

perante uma pluralidade indeterminada de mutuantes, os quais se constituem nessa qualidade mediante a

subscrição de uma ou mais fracções do montante global do empréstimo, subscrição essa em regra aberta ao

público.

No nosso país, podem emitir obrigações: - sociedades anónimas; - sociedades por quotas; - outras entidades,

mediante autorização por despacho do Ministro das Finanças;

A emissão de obrigações deve ser deliberada pelos sócios, estando também sujeita a registo comercial.

Os titulares das obrigações - obrigacionistas - podem reunir-se numa assembleia própria, à qual compete

deliberar sobre os assuntos de interesse comum.

A lei determina que, para cada emissão de obrigações, seja designado um representante comum dos

respectivos obrigacionistas, ao qual cabe praticar, em nome de todos eles, os actos de gestão destinados à

defesa dos interesses comuns.

As obrigações são títulos de crédito em sentido restrito, pois representam direitos de crédito dos seus

titulares em relação à entidade emitente.

Quanto à forma de circulação, podem ser nominativas ou ao portador, transmitindo-se segundo formalismo

idêntico aos das acções das mesmas espécies.

A lei prevê a possibilidade de emissão de modalidades especiais de obrigações.

Outros títulos:

Os títulos de participação são títulos de crédito, que apenas podem ser emitidos por empresas públicas ou

sociedades anónimas de capitais maioritariamente pertencentes ao Estado, directa ou indirectamente, e que

conferem direito a uma remuneração anual composta de uma parte fixa e de uma variável - esta dependente

da actividade ou dos resultados da empresa apenas podendo ser reembolsados em caso de liquidação da

empresa. Podem ser nominativos ou ao portador.

Os papéis comerciais constituem títulos de crédito, semelhantes às obrigações, obrigatoriamente

nominativos, representativos de empréstimos de curto prazo - não superior a dois anos.

68

Page 69: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Os créditos de depósito são títulos emitidos pelas instituições de crédito, representando depósitos nelas

constituídos em moeda nacional e livremente negociáveis, acarretando a sua circulação a transferência de

todos os direitos relativos aos depósitos que representam. São títulos à ordem, pois circulam por endosso,

com a especialidade de neles não ser admissível o endosso em branco.

11. Extinção e reforma dos títulos de crédito:

título de crédito extingue-se quando se extinguir o documento em si mesmo ou pela extinção do direito

cartular. Temos como causas de extinção referentes ao próprio título:

- a destruição ou extravio do documento;

- a ineficácia do título;

Temos como causas de extinção do direito cartular: - o pagamento; . - a prescrição;

A destruição e extravio do documento: a reforma dos títulos de crédito

O título é um objecto material, um documento escrito, geralmente em papel, o que o torna muito facilmente

perecível ou degradável, assim como sujeito a inúmeras causas de perda ou extravio, voluntárias ou

involuntárias.

A característica da incorporação ou legitimação implica que só pude ser exercido ou transmitido o direito

cartular mediante a posse material do título. A inutilização do documento implica a destruição do título de

crédito, pois implica a impossibilidade do exercício ou transmissão do respectivo direito.

O extravio priva o respectivo titular da sua posse, condição indispensável para a sua legitimação activa,

equivale em consequências à destruição do documento.

O direito não pode ser transmitido nem exercitado sem o suporte material da posse do título, o que conduz a

um resultado prático equivalente à extinção daquele direito.

A lei não leva tão longe o alcance da característica da incorporação, antes dispõe o meio técnico-jurídico

adequado para assegurar a sobrevivência do direito cartular, através da chamada reforma dos títulos de

crédito.

A reforma consiste na reconstituição do título, através de emissão de um novo documento, equivalente ao

que foi destruído ou extraviado, possibilitando assim a incorporação do direito no novo título. O título

reformado equivale juridicamente ao que desapareceu, como se fosse o mesmo documento.

O art.°367 do C. Civil prevê genericamente a reforma de quaisquer documentos escritos que tenham

desaparecido, a qual deve ser efectuada por via judicial, a fim de lhe conferir a indispensável segurança.

Quanto aos títulos de crédito, existe uma norma específica prevendo a sua reforma, que é o art.°484 do C.

Com. Este artigo refere-se a letras, acções, obrigações e mais títulos comerciais transmissíveis por endosso,

que tenham sido destruídos ou perdidos.

Em virtude de o art.°484 do C. Com. aludir apenas aos títulos transmissíveis por endosso, leva a

compreender apenas os títulos à ordem. Mas não parece que tenha sido esse o pensamento do legislador, uma

69

Page 70: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

vez que o corpo do art.°484 do C. Com. Também se refere a acções e obrigações, títulos estes que apenas

podem ser nominativos ou ao portador.

Não é igual o regime da reforma dos títulos destruídos e dos perdidos ou desaparecidos. O legislador teve

manifestamente em conta a circunstância de que, quanto aos primeiros, não existe o risco de virem a

reaparecer, que existe quanto aos segundos.

Daí que se preveja a publicação de avisos convidando a pessoa que tiver o título desaparecido em seu poder a

vir apresentá-lo.

A sentença que deferir a reforma deve declarar sem valor o título desaparecido, sem prejuízo dos direitos que

o portador possa exercer contra o requerente.

12. Ineficácia do título:

A ineficácia dos títulos pode resultar de: - norma legal; - decisão judicial; - vontade do emitente;

Resulta da lei, por exemplo depois de protestado por falta de pagamento;

Resulta de declaração judicial, quando o tribunal assim decida, por exemplo numa acção de anulação ou

reforma do título.

Resulta da vontade do emitente quando, sobre permissão legal, este declara ineficaz certo título, de forma

directa ou como consequência indirecta de outra declaração.

13. Extinção do direito cartular:

O título de crédito também se extingue quando ocorre a extinção do direito nele incorporado, a qual pode

ficar a dever-se à generalidade das causas de extinção das obrigações.

O cumprimento constitui a forma natural e mais frequente de extinção do direito cartular. Só assim acontece

com o cumprimento efectuado pelo obrigado principal.

O cumprimento deve ser acompanhado da cessação da circulação da título, pela sua entrega ao obrigado que

efectuar o pagamento, para que não suceda que, apesar de cumprida a obrigação, o título continue a circular,

correndo o obrigado o risco de ter de pagar duas vezes.

Só o pagamento total extingue o direito cartular.

Parte 1

A Letra de câmbio:

1. Requisitos formais da letra

A letra é um título rigorosamente formal, o que implica que o acto gerador da sua emissão, o saque - tem de

respeitar um conjunto de requisitos de forma, que são indispensáveis para que o documento produza efeitos

como letra.

Estes requisitos formais constam dos vários números do art.°1 da LULL, a qual impõe que a letra contenha:

70

Page 71: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

1. A palavra "letra", inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redacção

do título - a finalidade é advertir claramente quaisquer potenciais interessados da natureza do título e o seu

regime.

2. O mandato (ordem) puro e simples de pagar uma quantia determinada - a letra deve conter a ordem

de pagamento, que não pode conter cláusulas acessórias que lhe condicionem ou restrinjam o sentido e

alcance. Qualquer condição ou restrição aposta ao saque fará com que o documento não produza efeitos

como letra. A ordem de pagamento tem de respeitar a uma quantia determinada. Não é permitida a

convenção de juros nas letras pagáveis no dia fixado.

3. O nome daquele que deve pagar (sacado) - a letra tem de indicar expressamente a pessoa à qual a

ordem de pagamento é dirigida, identificando-a pelo seu nome. Se o sacador for comerciante identifica-se

pela sua firma. O uso de indicações indirectas torna o documento insusceptível de produzir efeitos como

letra. O sacado pode ser o próprio sacador.

4. A época do pagamento - a letra pode ser sacada: à vista pagável no acto de apresentação ao sacado; a

um certo tempo, vence-se decorrido um certo prazo sobre o aceite ou o protesto por falta de aceite; a um

certo tempo de data decorrido um certo prazo sobre a data do saque. Se não houver qualquer menção da

época do pagamento, entender-se-á pagável à vista. Não pode adoptar-se uma regra de vencimento diferente

daquelas quatro.

5. A indicação do lugar em que se deve efectuar o pagamento - a menção do lugar do pagamento, se

não constar da letra, é suprida, valendo o lugar indicado ao lado do nome do sacado, como seu domicílio.

Caso falte também a menção do domicílio do sacado, ou haja uma indicação deficiente de um lugar, o

documento será insusceptível de valer como letra.

6. O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (tomador) - a indicação do nome do

tomador deve ser feita de modo a possibilitar a sua identificação. A lei exige a indicação do nome, não sendo

lícita uma referência indeterminada, o que a tornaria nula. Será nula a letra sacada ao sacador. É lícito na

letra o endossa ao portador, mas não o saque ao portador.

7. A indicação da data e do lugar onde a letra é passada - quanto ao lugar do saque, se ele faltar, vale

como tal o lugar indicado ao lado do nome do sacador. Se mesmo esta menção faltar, a essencialidade do

requisito em causa determina que o documento não produzirá efeito como letra.

8. A assinatura de quem passa a letra (sacador) - o saque é o acto gerador da letra, que lhe confere valor

e identidade próprios e implica o nascimento da obrigação cambiária do sacado. O sacado tem de assinar a

letra.

2. Falta dos requisitos essenciais. A letra em branco

A consequência da falta de um ou mais dos requisitos essenciais da letra, quando não seja suprida ou suprível

é a sua nulidade: o documento não produzirá efeito como letra.

Tal não significa que o documento que, por falta de um requisito ou mais, seja nulo como letra, não possa ter

algum valor. Terá valor probatório.

71

Page 72: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

É permitido que a letra não contenha todos os requisitos formais no momento da sua emissão, pois uma letra

em branco pode vir a valer como letra, que terá de ser completada, de modo a respeitar todos aqueles

requisito no momento do seu vencimento.

A letra em branco deve ser completada em consonância com o pacto de preenchimento celebrado entre as

partes. Este pacto não está sujeito a forma. A violação do pacto de preenchimento constitui o chamado

preenchimento abusivo da letra em branco.

3. Os negócios jurídicos cambiários:

3.1 O Saque:

Denomina-se saque o acto pelo qual o emitente - sacador - cria a letra e, pela indicação dos elementos

correspondentes aos respectivos requisitos essenciais, lhe confere a sua específica identidade como título. Ele

é a ordem de pagamento em que a letra essencialmente consiste.

Por ele o sacador, além de ordenar ao sacado que pague ao tomador a quantia mencionada na letra, nas

demais condições de tempo e lugar desta constantes, exprime também implicitamente a promessa, para com

todos os futuros portadores da letra, de que o sacado assumirá a obrigação cambiária principal e pagará a

dívida no vencimento e, se não o fizer, o próprio sacador está obrigado a pagá-la.

O beneficiário da ordem contida no saque, à ordem de quem ele é feito, é o tomador que em regra será um

terceiro, mas pode ser e muitas vezes é o próprio sacador.

O saque também pode ser sobre o próprio sacador, sendo, então, este sacado e sacador ao mesmo tempo (não

se vê qual seja actualmente o interesse)

Nada impede que sejam vários os sacadores da letra, desde que a ordem de pagamento seja uma só.

3.2 O Aceite – Art.º 28 LULL:

O aceite é a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque assume a obrigação cambiária principal

de pagar à data do vencimento, a quantia mencionada na letra a quem for o portador legítimo desta, passando

a designar-se como aceitante.

Só pelo aceite é que o sacado se obriga.

O aceite é necessariamente escrito e assinado pelo sacado na letra. O aceite é feito por assinatura transversal

do sacado no lado esquerdo do rosto da letra.

A apresentação da letra ao sacado, para o aceite, pode ocorrer até ao vencimento da letra e ser feita pelo

portador ou por um simples detentor.

A apresentação é facultativa, podendo a letra apenas ser apresentada ao sacado para pagamento. Pode ser

tornada obrigatória, por estipulação do sacador ou de um endossado, fixando ou não prazo para tal.

O aceite deve ser puro e simples, art.º 26. A lei permite que o aceite seja parcial quanto a valor do saque..

72

Page 73: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Se não for feito o aceite pelo sacado, poderá sê-lo por outra pessoa: é o chamado aceite por intervenção, que

pode ocorrer devido a uma incumbência expressa na própria letra pelo sacador, ou espontaneamente, sem

incumbência, art.º 55

3.3 O Endosso – Art.º 11 e ss. LULL:

Constitui uma nova ordem de pagamento, dada pelo endossante ao sacador (?) para que pague a letra, no

vencimento, ao portador, através de uma declaração no verso da letra seguida da assinatura.

O endosso constitui a forma natural de transmissão da letra. Pode ser transmitida mortis causa e por acto

entre vivos.

O endosso confere legitimação activa ao endossado, que passa a ser o portador da letra, para exercer o direito

cambiário. Ele transmite a propriedade do título, como coisa e através dele o endossante assume a obrigação

de garantia do aceite e pagamento da letra pelo sacado, para com o endossado e posteriores portadores da

letra.

O endosso feito posteriormente ao protesto por falta de pagamento ou ao decurso do respectivo prazo vale

apenas como cessão ordinária de créditos.

3.3.1 A cláusula “não à ordem”

Desde que na letra seja a posta a clausula “ não á ordem” ela passa a circular como cessão de

créditos. A letra quando circula por endosso é um negócio jurídico unilateral. Quando circula por

cessão ordinária de crédito é bilateral – Artº 583 CC

Efeitos da Cessão ordinária de créditos – Artº 585 CC. Nestes casos, em que a letra passa para

cessão ordinária de créditos, perde a sua autonomia. Perde a sua característica do direito cartular.

Perde o princípio da autonomia – Artº 587 CC. O cedente não garante o pagamento da letra. Fica

com uma relação mais ténue. Só assume o crédito – Artº 587/2 CC

Efeitos da cessão de créditos:

- Endosso c/ cláusula valor a cobrar ou para cobrança ou por procuração – Este endosso constitui o

endossado, mandatário do endossante, passa a ser mandatário do endossado, logo o endossado pode

exercer todas os direitos inerentes à letra, como mandatário. O endossado é, agora, mandatário do

endossante;

- Endosso com cláusula valor em garantia ou valor em penhor – Permite ao endossatário exercer os

direitos resultantes do título e endossar a letra como procurador. A este endossatário não podem ser

opostas excepções por parte do seu endossante.

73

Page 74: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Distinção entre endosso e cessão de créditos

Quando se endossa uma letra com a clausula não à ordem, proíbe-se futuros endossos. O endossante

pode opor no pagamento a relação subjacente. Sendo posteriormente a letra transmitida por cessão

ordinária de créditos, o transmissário assume a posição do transmitente, logo endossante pode sem

opor os vícios da relação subjacente

Uma letra com a clausula não à ordem perde a característica da autonomia do direito cartular.

Aquele que transmite uma letra com a clausula nãoà ordem não garante o pagamento, a garante

apenas a existência e a exigibilidade do credito ao temo da cessão.

3.4 O Aval – Art.º 30 a 32 LULL:

O aval constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou mesmo um signatário da letra se

obriga ao seu pagamento, como garante de um dos co-obrigados cambiários.

O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da obrigação do avalizado.

Trata-se de um acto gerador de uma obrigação de garantia pessoal, que vem reforçar a obrigação de um dado

subscritor da letra, com o qual o avalista responde solidariamente.

O aval não se confunde com a fiança, pois embora se caracterize a obrigação do avalista como acessória da

do avalizado e se use até a palavra afiançado, para referir este último, a verdade é que logo se evidencia uma

substancial diferença de regimes entre os dois institutos. Ao passo que a nulidade da obrigação principal

aproveita inteiramente ao fiador, que fica igualmente desobrigado, já no caso de nulidade da obrigação do

avalizado por vício de fundo mantém-se a obrigação do avalista, só ocorrendo a desobrigação deste no caso

de a obrigação do avalizado ser nula por um vício de forma.

4. Características da obrigação cambiária:

São basicamente as mesmas dos títulos de crédito, já anteriormente descritas, mas com as seguintes

particularidades:

Incorporação ou legitimação - o sacado goza de legitimação passiva, ficando liberado da sua obrigação se

pagar a letra, no vencimento, a quem for o portador legítimo, o qual tem legitimidade activa, pois só ele pode

endossara a letra, art.º 14, apresenta-la para aceite art.º 21 e apresenta-la para pagamento art.º 38.

Literalidade – A obrigação correspondente ao direito cartular é literal, não sendo relevantes as chamadas

convenções extra cartulares art.º 17.

Circulabilidade – A letra como titulo à ordem é vocacionada para a circulação

Autonomia – Art.º 17 LULL: A autonomia do direito cartular (são inoponíveis ao portador as excepções

decorrentes das relações pessoais do obrigado cambiário com os portadores anteriores ou com o sacador) e

autonomia do direito sobre o título em si mesmo (o adquirente do título é um adquirente originário, cujo

direito sobre a letra não está sujeito à arguição de ser ilegítima a sua posse, em virtude da ilegitimidade de

qualquer dos ante-possuidores. O direito que tem por objecto a letra só não será autónomo e o portador será

74

Page 75: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

obrigado a restituí-la, se quem tiver sido dela desapossado fizer prova de qualquer das duas circunstâncias,

art.º 16:

- Má fé (conhecimento, por parte do portador, no momento da aquisição da letra, de que um possuidor

anterior foi dela indevidamente desapossado) ou falta grave cometida na sua aquisição (agindo com culpa

grave, correspondente à falta daquele mínimo de diligência com que deve agir um homem médio);

Abstracção – A posição da obrigação cambiária em face da relação subjacente ou fundamental preexistente,

é abstracta em dois sentidos:

- Porque não tem uma causa-função típica, podendo prosseguir várias causas

- Porque é independente da causa e como tal, não sofre as consequências dos vícios da

sua causa;

Independência recíproca – Art.º 7 LULL: A nulidade de uma das obrigações que a letra incorpora não se

comunica às demais. Subsistência das obrigação dos demais subscritores quando uma delas for inválida por

incapacidade, assinatura fictícia ou subscrição inválida por qualquer outro motivo. Existem algumas

restrições: é indispensável que seja formalmente válida a vinculação do sacador, pois se faltar no saque

algum dos requisitos essenciais da letra, esta será nula art.º 2; se o vício formal se verificar no endosso, ele

irá ocasionar a ilegitimidade formal dos portadores subsequentes da letra art.º 16 e 40; se a obrigação do

avalizado for nula por vício de forma, essa nulidade propaga-se à obrigação do avalista art.º 32;

5. Vencimento e pagamento da letra – Art.º 33 e ss. LULL:

As letras pagáveis à vista vencem-se mediante a simples apresentação ao sacado, o que deverá ser feito no

prazo de um ano a contar da sua data, podendo o sacador aumentar ou reduzir este prazo e os endossantes

encurtá-lo.

Também pode o sacador estabelecer que a letra não seja apresentada antes de certa data, contando-se então o

prazo a partir desta.

A apresentação da letra à vista é simultaneamente para aceite e para pagamento: se o sacado paga, é porque

aceita, o que significa que o aceite perde autonomia e de facto não chega a existir.

Na letra a certo termo de vista, o prazo do vencimento conta-se do aceite ou do protesto por falta dele

entendendo-se o aceite não datado como feito no último dia do prazo

A falta de apresentação das letras à vista ou a certo termo de vista implica a perda do direito de regresso

contra o sacador e os endossantes, art.º 53.

Paga a letra, o sacado tem o direito a que ela lhe seja entregue com a respectiva quitação, sujeitando-se, se a

não obtiver, a que ela seja de novo endossada e a ter de pagar de novo a um endossado.

Pode o sacado pagar apenas parcialmente a letra, sem que o portador lhe possa recusar o pagamento e a

respectiva quitação, é a chamada reforma da letra.

Ao pagar, o sacado não tem de verificar a regularidade formal da cadeia de endossos.

75

Page 76: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

6. Protesto – Art.º 44 LULL:

A falta de aceite ou a falta de pagamento devem ser certificadas através do protesto. Trata-se de um acto

jurídico declarativo, não negocial, praticado perante notário, destinado a comprovar e a dar conhecimento

aos intervenientes na cadeia cambiária da falta do aceite ou do pagamento, bem como a salvaguardar a

integridade do direito do portador.

Há dois protestos diferentes:

6.1 O protesto por falta de aceite

Certifica que o sacado se recusou a aceitar a letra que para tal lhe foi apresentada. E feita contra o sacador,

pois este promete ao tomador e aos posteriores endossados que o sacado aceitará a letra. Este protesto

dispensa o protesto por falta de pagamento e a apresentação a pagamento.

6.2 O protesto por falta de pagamento

comprova que foi recusado o pagamento da letra para tal apresentada ao sacado e é feito contra este, já que,

ao aceitar a letra, se obrigou a pagá-la no vencimento.

O portador que efectuar o protesto deve avisar o sacador e o seu endossante da falta de aceite ou de

pagamento. A falta destes avisos constitui causa da obrigação de indemnizar os prejuízos dela resultantes,

art.º 45.

A falta de protesto não impede o portador de cobrar a letra do aceitante e do seu avalista, mas inibe-o de

cobrar a letra do sacador, dos endossantes e demais co-obrigados, cfr. art.º 53.

Pode o protesto ser dispensado, através de uma cláusula "sem protesto" ou "sem despesas" a qual permitirá

ao portador exercer plenamente os seus direitos de acção, sem necessidade de protesto. Se tal cláusula for

aposta pelo sacador, produz efeitos quanto a todos os intervenientes na letra. Se aposta por um endossante ou

avalista, só produzirá efeitos em relação a ele.

7. Prescrição – Art.º 70 LULL:

O direito cartular está sujeito a prazos de prescrição extintiva, diferentes consoante as posições dos sujeitos

cambiários. Não se tratam de prazos de caducidade mas sim de prescrição. Tais prazos são os seguintes:

- Contra o aceitante: 3 anos a contar do vencimento;

- Do portador contra o sacador e os endossantes: 1 ano, a contar da data do protesto, ou do vencimento

quando exista uma cláusula "sem protesto";

- Dos endossantes contra outros e contra o sacador: 6 meses a contar da data em que o endossante pagou ou

foi accionado;

- Os avalistas estão sujeitos aos mesmos termos dos seus avalizados.

A interrupção da prescrição só opera em relação àquele face ao qual foi efectuada.

76

Page 77: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

8. Acções de regresso – Art.º 43, 47 e 48 LULL:

O portador da letra pode accionar os endossantes, o sacador e os demais co-obrigados: quer se ela não for

paga no vencimento, quer antes deste, se houver recusa total ou parcial do aceite, no caso de falência,

suspensão de pagamentos ou execução sem resultado dos bens do sacado, ou no caso de falência do sacador

de uma letra não aceitável.

Todos os subscritores de uma letra são solidariamente responsáveis pelo pagamento dela perante o portador.

Exercício

Clausula “ sem despesas “

significa que podemos endossar todos os obrigados

garantia sem efectuarmos o protesto.

Caso pratico

A__________________B____________C____________D_________E

( não à ordem)

D__________ não pode endossar a letra, mas pode fazer cessão ordinária de créditos, assim,

________________C, pode opor a____ E____a excepção do artº 17º.-

Na cessão de creditos E___assume a posição juridica de D.

77

Page 78: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Exemplo de uma letra (frente e verso com cláusula “sem despesas”

78

Page 79: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Casos práticos

A, estudante da FDUP comprou uma máquina de café e instalou-se, durante a época de exames, numa banca num dos corredores onde decorriam orai., servindo café. A sua actividade foi contudo, proibida pelo conselho directivo, pelo que A acabou por vender a sua máquina de café à Associação de Estudantes, que a passou a usar no bar que tinha instalado nas suas instalações.

Qualifique, do ponto de vista comercial, os sujeitos em causa bem como os actos por este praticados.

Para podermos classificar os sujeitos em causa temos de analisar se eles são ou não comerciantes. Como sabemos com base no art. 13. CCM são comerciantes “As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão” Assim é necessário além da capacidade, que o indivíduo faça da prática de comércio profissão e o exerça em nome próprio. Contudo, a nossa lei é muito lacunosa, na qualificação de actividades como comerciais, por isso, existem determinados princípios de direito comercial basilares que são essenciais, para qualificar certas actividades, que de outra forma não seriam qualificáveis como comerciais. Nestes termos para enquadrarmos certas actividades teremos de nos socorrer de um mecanismo conhecido como analogia iuris, trata-se da analogia feita a partir de princípios jurídicos gerais de direito comercial, mas que não possuem consagração legal. Extrai-se assim um princípio geral de direito comercial, segundo o qual qualquer actividade de prestação de serviços exercida por uma empresa transforma-a em empresa comercial, assim as empresas de prestação de serviços são em regra comerciais. Contudo, a prestação de serviços para ser encarada como actividade comercial, tem de ser feita no âmbito de uma empresa. Neste caso, A apesar de exercer uma prestação de serviços, não a presta integrado numa organização empresarial, não existe na sua actividade vectores de organização e exploração que possam ser negociados, por isso, A não pode se qualificado como comerciante. Temos assim uma prestação de serviços civil, que não se rege pelo direito comercial. Quanto à Associação de Estudantes, sendo uma entidade que não tem por objecto fins lucrativos, não pode ser classificada como comerciante. Isto não impede contudo que as entidades sem fins lucrativos não possam exercer actos de comércio desde que tal respeite o princípio da especialidade do fim consagrado no art. 160.º CC, nada impede a associação de explorar um bar, isso não a torna, todavia, um comerciante, porque tal actividade é exercida não a título principal mas a título meramente instrumental.

Uma vez concluído que os sujeitos em causa não são comerciais segue-se a qualificação dos actos praticados, a compra da máquina e a sua posterior revenda. A compra efectuada pelo estudante é uma compra civil, por interpretação a contraio dos artigo do art. 463.º e 464.º n.º 1 CCM, pelo que estabelece este artigo que “Não são consideradas comerciais: As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;” A compra não foi destinada à revenda, este acto acontece por motivos supervenientes, pelo que não se trata de uma compra comercial, nos termos do art. 463.º CCM, mas de uma compra civil.Temos agora que saber qual o regime que segue compra, porque apesar desta ser civil, poderá seguir os trâmites do CCM. O estudante, comprou a máquina numa loja, tudo leva a concluir que a venda foi comercial, assim, a comercialidade da actividade apenas se verifica em relação a uma das partes, o acto é deste modo, unilateralmente comercial. Para estes, estabelece o art. 99.º CCM “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes, salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição comercial”Assim os actos unilateralmente comerciais são regulados pela lei comercial exceptuando-se as disposições da lei comercial que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito a lei é mercantil. Nestes termos basta que uma das partes seja comercial para se aplicar o regime do CCM.Conclui-se portanto, que apesar da compra ser civil, vai estar sujeita ao regime comercial, por força da lei mandar aplicar ao acto unilateralmente comercial o regime do CCM. Todavia, apesar disto, não será aplicado à compra o regime da solidariedade previsto no art. 100.º CCM por tal preceito estabelecer que “ Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituírem actos comerciais”Relativamente ao negócio efectuado com a AE, consideramos que a venda é civil, porque a máquina não foi adquirida como intuito de revenda, art. 463.º n.º 3 CCM a contrario. Contudo, a compra é já comercial, porque foi comprada pela AE com intuito de explorar uma actividade comercial. Assim, temos uma situação semelhante à acima explicada, um acto unilateralmente comercial, que leva a que os efeitos comercia se estendam também à venda que é neste caso civil, por força do art. 99 CCM, salvo a excepção prevista no art. 100 .º do mesmo diploma.

B, com 17 anos, organiza periodicamente actividades radicais no rio Paiva, sendo que para dar continuidade ao negócio, adquire dois novos barcos de borracha contraindo para tal um empréstimo de 2.500 € junto de um tio C, que explora uma pensão.

79

Page 80: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Admita ainda que C tinha emprestado a D serralheiro3.000 € para que este pagasse a última prestação do seu carro. Classifique do ponto de vista comercial, os sujeitos em causa bem como os actos por este praticados.

Para podermos classificar os sujeitos em causa temos de analisar se eles são ou não comerciantes. Como sabemos com base no art. 13. CCM são comerciantes “As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão” Assim é necessário além da capacidade, que o indivíduo faça da prática de comércio profissão e o exerça em nome próprio. Contudo, a nossa lei é muito lacunosa, na qualificação de actividades como comerciais, por isso, existem determinados princípios de direito comercial basilares que são essenciais, para qualificar certas actividades, que de outra forma não seriam qualificáveis como comerciais. Nestes termos para enquadrarmos certas actividades teremos de nos socorrer de um mecanismo conhecido como analogia iuris, trata-se da analogia feita a partir de princípios jurídicos gerais de direito comercial, mas que não possuem consagração legal. Extrai-se assim um princípio geral de direito comercial, segundo o qual qualquer actividade de prestação de serviços exercida por uma empresa transforma-a em empresa comercial, assim as empresas de prestação de serviços são em regra comerciais. Contudo, a prestação de serviços para ser encarada como actividade comercial, tem de ser feita no âmbito de uma empresa. Neste caso, B, exerce uma prestação de serviços integrada numa empresa, uma vez que nos encontramos perante uma organização de valores e meios com valia autónoma que pode ser autonomamente transferível. Além disso, B pode desde logo ser qualificado como comerciante porque exerce a profissão nos termos exigidos pelo art. 13.º CCM. Contudo, levante-se neste caso um problema de capacidade, uma vez que B tem apenas 17 anos, não podendo per si, realizar actos de comércio. Só em casos excepcionais é que um incapaz pode ter qualidade de comerciante, nomeadamente se for devidamente representado pelos representantes legais para o efeito, e estes tenham sido devidamente autorizados pelo tribunal. O artigo 1889.º n.º 1 al C CC estabelece que “ 1. Como representantes do filho não podem os pais, sem autorização do tribunal:Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do que o filho haja recebido por sucessão ou doação;”Assim, apesar da exploração ficar a cargo dos representantes legais do incapaz, estes últimos mediante autorização do tribunal, podem adquirir ou continuar a exploração de estabelecimento comercial, mas quem adquire a qualidade de comerciante é o incapaz e não os representantes. Uma vez enquadrado a qualificação de B como comerciante, vamos proceder à análise dos actos por ele praticados:Relativamente aos empréstimos, sabemos que ele é um acto acessoriamente comercial, ou seja, deve a sua comercialidade ao facto de se ligar a um acto mercantil, podendo ser considerado como acto comercial, quando se destine a cobrir uma actividade comercial, art. 394.º CCM “Para que o contrato de empréstimo seja havido por comercial é mister que a cousa cedida seja destinada a qualquer acto mercantil” Nestes termos se conclui que o empréstimo é um acto objectivamente comercial, porque ainda que B não fosse comerciante, o acto não perderia sua comercialidade, porque este é devido ao facto dele se destinar a financiar uma actividade comercial. Refira-se apenas que o empréstimo comercial não carece de ser realizado formalmente, a lei não exige forma específica, art. 396.º CCM “O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género de prova”Quanto à compra dos barcos, sendo esta praticada no âmbito de uma empresa comercial, estamos perante um acto objectivamente comercial, art. 463.º n.º 1 CCM.Não podemos esquecer que C tinha emprestado D serralheiro 3.000 € para que este pagasse a prestação do carro. C é sem dúvida à luz do art. 13.º CCM um comerciante, D contudo, não o é, porque, de acordo com os princípios gerais de direito comerciais, uma actividade de prestação de serviços só é considerada comercial se for realizada no âmbito de uma empresa, o que não é o caso. Quanto ao empréstimo enquanto acto acessoriamente comercial, não é aqui, objectivamente comercial, conforme o disposto no art. 394.º CCM porque não se destina a financiar uma actividade comercial, mas antes particular. Questiona-se agora saber se o empréstimo poderá ser subjectivamente comercial. Para que um acto seja considerado subjectivamente comercial é necessário que estejam preenchidos três requisitos, art. 2 CCM.

1. Que o sujeito seja um comerciante porque como vimos C é comerciante,2. Que o acto tenha natureza patrimonial porque se destina pagamento de uma prestação pecuniária;3. “Se do contrário do próprio acto não resultar” Assim, um acto patrimonial praticado por um comerciante, só

não é subjectivamente comercial, se da prática do acto resultar o contrário, isto é desde que haja desconexão com a actividade praticada pelo comerciante. Ora é precisamente isto que resulta desta caso, não há qualquer ligação entre o empréstimo e a actividade desenvolvida por D, pelo que o empréstimo segue os trâmites do CC e não do CCM.

C, alemão, residente em Portugal explora no Alentejo uma propriedade agrícola onde cria porcos e cultiva oliveiras. Paralelamente possui uma pequena loja em Beja, a funcionar num prédio arrendado, onde vende o azeite que produz bem como os enchidos resultantes da criação de porcos.

80

Page 81: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A) Quid iuris?B) Em Dezembro no ano passado C comprou tintas para pintar a sua loja e contratou um pintor, supondo que C

é considerado comerciante será o seu acto considerado subjectivamente comercial? Quid iuris se quem comprasse as tintas fosse uma associação de agricultores que tem como fim ajudar os agricultores a escoar seus produtos?

A) Antes de mais, temos de saber se C é ou não considerado comerciante, sendo que se destaca logo, o facto de C ser cidadão alemão a residir em Portugal. Relativamente a esta questão, o nosso CCM resolve no art. 7.º ao estabelecer que “Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se obrigar, poderá praticar actos de comércio, em qualquer parte destes reinos e seus domínios, nos termos e salvas as excepções do presente Código.” Assim, em termos de relações comerciais os cidadãos estrangeiros estão em pé de igualdade com os portugueses.

Temos agora que analisar se C exerce ou não uma actividade comercial, sendo que conforme decorre do art. 230.º parágrafo único, não se consideram comerciantes “proprietário ou o explorador rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.” Assim, na eventualidade de C apenas se dedicar à criação de porcos e oliveiras, não exerceria uma actividade industrial, até porque como sabemos o CCM exclui da qualidade de comerciantes o sector agrícola, conforme decorre do art. 230.º CCM.

Contudo, neste caso, C não se dedica apenas à criação de porcos e oliveiras, mas também à venda de azeite e dos enchidos resultantes da exploração, deste modo, paralelamente à actividade agrícola C possui uma actividade de transformação e de venda ao público dos seus produtos. Será que pelo desempenho destas actividades C já pode se considerado comerciante? Mais uma vez temos de analisar o que dispõe o art. 230.º parágrafo único nesta matéria que refere que não serão comerciantes “proprietário ou o explorador rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.” Pelo que decorre deste artigo conclui-se que aquilo que releva é a actividade transformadora, se esta for uma actividade acessória relativamente à exploração agrícola então, C não é considerado comerciante. Se por outro lado, a actividade de transformação for uma actividade principal paralelamente à exploração agrícola, C é considerado comerciante. O critério que de deve usar para qualificar uma entidade de exploração agrícola que se ocupa também de transformação e venda do produto, será então o da acessoriedade, mediante análise nomeadamente do tempo dispendido na actividade, no investimento, o trabalho desenvolvido. Se se concluir que a actividade principal é actividade de transformação, então C deverá ser considerado comercial.

Mas, C além da actividade agrícola e transformadora dedica-se ainda à venda dos seus produtos numa loja, assim, ele vende directamente sem intermediário fornecedor os seus produtos por si transformados. Conforme decorre do art. 464.º n.º 2 CC “Não são consideradas comerciais: As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou por ele explorada e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas” Daqui se conclui portanto, que as venda realizadas por um produtor rural para revenda são civis, contudo, a compra de tais produtos será comercial, nos termos do art. 463.º n.º 1 CCM, pelo que nos termos do art. 99.º CCM se aplicará quanto à compra e venda no seu todo, o regime do CCM salvo np que se refere à solidariedade conforme estabelece o art. 100.º CCM. Mas a questão neste caso é diferente porque C não vende o produto original, como sucederia com fruta por exemplo, C antes de proceder à venda do produto tem de transforma-lo, será então considerado comerciante? C só será considerado comerciante em virtude do exercício de venda de produtos na loja, se tiver sido considerado comerciante a título transformador dos produtos, porque neste caso, a actividade principal será a transformação, sendo a venda do mesmo produto uma espécie de secção da indústria transformadora. Se C não foi considerado como comerciante, em virtude da sua actividade de exploração ser meramente acessória à exploração agrícola, então quando procede à venda dos produtos nua loja também não deve ser considerado comerciante.

Resta apenas concluir que C preenche os requisitos do art. 13.º CC uma vez que tendo capacidade para o exercício de direito, porque em nada resulta o contrário, faz deste profissão e pratica os actos de comercio em nome próprio. É ainda dito que a loja de C a funcionar em Beja, se encontra instalada num prédio arrendado, pelo que aqui importa descortinar se se trata ou não de um arrendamento comercial, nos termos do art. 110.º RAU “ considera-se realizado para comércio ou indústria o arrendamento de prédios ou parte de prédios urbanos ou rústicos tomados para fins directamente relacionados com uma actividade comercial ou industrial.” Neste caso a actividade desempenhada no prédio é uma actividade comercial, logo, o arrendamento tem-se como comercial. Assim, apesar do arrendamento constar de lei civil, o acto será objectivamente comercial.

81

Page 82: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

B) Considerando C um comerciante, por preenchimento dos requisitos do art. 13.º CCM, o acto de compra de tintas será subjectivamente comercial, se se encontrarem preenchidos os respectivos requisitos, do art. 2 CCM. É primeiramente necessário que o acto seja praticado por um comerciante, pelo que este requisito se encontra preenchido porque como vimos C é considerado comerciante.

Além disso, os actos para serem subjectivamente comerciais, não podem ser de natureza exclusivamente civil. Sendo que só são de natureza exclusivamente civil os actos de natureza extra-patrimonial, como actos familiares e sucessórios. Assim só são actos de comércio aqueles de natureza patrimonial, aqui não se suscita problemas uma vez que tratando-se de uma compra o acto não é de natureza exclusivamente civil. Por fim Mas nem todos os actos praticados por comerciantes de natureza patrimonial são subjectivamente comerciais, tal só sucede “se do contrário do próprio acto não resultar” art. 2 CCM in fine. Assim, um acto patrimonial praticado por um comerciante, só não é subjectivamente comercial, se da prática do acto resultar o contrário, isto é desde que haja desconexão com a actividade praticada pelo comerciante.

Deste modo, se na compra das tintas, C se identificasse como comerciante do ramo agrícola, resultaria claramente da prática do acto a falta de conexão com a sua actividade, pelo que o acto não seria subjectivamente comercial. Se nada fosse, dito, em contrário, o acto seria encarado como sendo subjectivamente comercial. Contudo esta diferenciação não releva porque em qualquer dos casos o regime a aplicar seria o do CCM, porque como sabemos aos actos unilateralmente comercias, se aplica o disposto no art. 99.º CCM pelo que “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes, salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição comercial” destacando-se como excepção o regime da solidariedade previsto no art. 100.º CCM.

Além de ser subjectivamente comercial a compra seria ainda objectivamente comercial, porque se destina ao exercício de uma actividade comercial.

Sendo a compra das tintas efectuada por uma associação de agricultores, o acto não poderia ser qualificado como subjectivamente comercial. Assim sucede porque como sabemos os actos subjectivamente comercias, são aqueles que são praticados por comerciantes, e uma associação deste género não é comerciante, art. 14.º CCM É proibida a profissão do comércio: 1.º Às associações ou corporações que não tenham por objecto interesses materiais;” As associações e fundações que não tenham por objecto interesses materiais, não podem ser comerciantes. Esta norma, não impede contudo, que tais entidades fiquem impossibilitadas de praticar actos de comércio desde que respeitem os limites da sua capacidade jurídica, conforme o estabelecido no art. 160.º CC, contudo, apesar de praticarem actos de comércio, não podem ser qualificadas como comerciantes.Nestes termos o que podemos suscitar é se a compra poderá ser objectivamente comercial, ao que respondemos afirmativamente porque a tinta vai ser usada no âmbito de uma actividade comercial, a venda de produtos dos agricultores, logo será objectivamente comercial. Mais uma vez, destacamos que esta qualificação não é muito importante porque se a compra não fosse comercial aplicar-se-ia na mesma o regime do CCM, por aplicação do art. 99 CCM, porque a venda será a priori comercial.

Resta agora analisar a contratação do pintor. Como sabemos este desempenha uma actividade de prestação de serviços, sendo que em nenhuma disposição do CCM se qualifica a prestação de serviços como sendo uma actividade comercial, contudo, tem-se entendido a qualificação desta actividade como sendo comercial, mediante o recurso à analogia iuris, permitindo a partir de princípios de direito comercial, qualificar certas actividades como comercias. Contudo, note-se que a actividade de prestação de serviços apenas é considerada de índole comercial no caso de ser exercida no âmbito empresarial, pelo que o pinto que trabalha por conta própria não possuindo qualquer organização empresarial por de trás da sua actividade não poderá ser considerado como comercial. Contudo, ainda que o pintor não pratique uma actividade comercial, por não possuir uma empresa, a prestação de serviços por ele desempenhada será de âmbito comercial, por se destinar a uma empresa, assim o regime jurídico a aplicar será o do CCM, em virtude do art. 99.º CCM.

M, Guitarrista, possui uma banda de Rock “M&M sound” sendo sócio único de uma sociedade comercial, conhecida como “Rock&Rock” que se destina à gravação e emissão de discos. M comprou recentemente uma guitarra e uma mesa de mistura para o estúdio da editora.C é considerado comerciante?

Vamos começar por analisar a actividade de M enquanto músico, pelo que se conclui do art. 464.º n.º 3 CCM “Não são consideradas comerciais: As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que exercerem directamente a sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos para transformarem ou aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas de tais objectos que fizerem depois de assim transformados ou aperfeiçoados” Assim, em regra o nosso ordenamento jurídico exclui da actividade industrial o exercício de actividades intelectuais, entre as quais de inclui a música. Assim, por esta via, M não pode ser considerado comerciante.

82

Page 83: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

E ainda referido que M é sócio unitário de uma sociedade comercial, sendo que nos termos do art. 13.º n.º 2 as sociedades comerciais são consideradas comerciantes. Assim, além das pessoas singulares também as sociedades comercias podem ser comerciantes, sendo que de acordo com o art. 1.º Código das Sociedades Comerciais (CSC) são sociedades comercias:

3. Requisito substancia: Aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio;”4. Requisito formal : E adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de

sociedade anónima, de sociedades em comandita simples ou de sociedade em comandita por acções” Contudo, apesar de M ser sócio único da sociedade, quem adquire a qualidade de comerciante é a sociedade e não o sócio, deste modo, se conclui que por esta via M também não pode ser considerado comerciante. Note-se que para que a própria sociedade seja considerada comercial é necessário que além do preenchimento do requisito formal, enumerado acima, tenha por objecto a prática de actos de comércio. Aqui não temos qualquer dúvida em afirmar que esta sociedade pratica actos de comércio, porque tal decorre directamente da lei, art. 230.º n.º 5 CCM “Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem: Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas”Relativamente à compra da guitarra, parece que estamos perante uma compra subjectiva e objectivamente civil, destinando-se o objecto para uso pessoal, subjectiva porque não é efectuada por um comerciante e objectivamente civil porque não consta do art. 463.º nem 4634.º nem se destina ao desenvolvimento de uma actividade empresarial. Quanto à mesa de mistura, destinada para a gravação dos discos poderá ser uma compra subjectivamente comercial, de acordo com ao art. 2 CCM, uma vez que, foi praticada por um comerciante, neste caso a sociedade comercial na pessoa de M, é o acto de natureza patrimonial, e desde que o contrário do próprio acto não resultar. De qualquer dos modos, a compra será objectivamente comercial porque de destina ao desenvolvimento de uma actividade comercial.De qualquer dos modos na compra da guitarra, apesar da compra ser civil aplicar-se-á o regime do CCM em virtude da aplicação do art. 99 CCM, salvo no que concerne à aplicação do regime da solidariedade.

Caso pratico:

A é comerciante em nome individual. É casado com B no regime de comunhão de adquiridos. Têm dois filhos menores. Há 5 meses A comprou mercadoria diversa para revenda no seu estabelecimento, cujo pagamento devia ser efectuado nos 30 dias seguintes, o que nunca aconteceu. a) Quem pode o credor responsabilizar pelo pagamento da divida?

Resolução:O credor pode pedir responsabilidades no pagamento desta divida ao comerciante e também a sua esposa, isto porque analisando o art. 1691º, a responsabilidade por uma divida comercial é de ambos os cônjuges se forem casados num regime de comunhão (o que se verifica pois são casados no regime de comunhão de adquiridos), se a divida foi contraída no exercício do comércio (que também acontece, visto A ter comprado mercadoria para revenda no seu estabelecimento, tendo em conta o art. 15º do código comercial – presunção) e, finalmente, se houver proveito comum do casal (em principio existe pois todo o acto comercial gera beneficio para toda a família). E como os requisitos são cumulativos e visto estarem preenchidos os 3, a responsabilidade é atribuída a ambos os cônjuges.

Caso pratico:C é comerciante e é casado desde 1999 no regime de comunhão geral de bens com D. C possuiu um estabelecimento onde se dedica a venda de vinhos. No mês passado, organizou uma festa em sua casa e foi a um hipermercado comprar 30 garrafas de vinho, as quais foram consumidas na referida festa. Admitindo que C fica devedor dessa mercadoria, diga quem pode ser responsabilizado por este pagamento.

Resolução:O credor vai responsabilizar o casal na medida em que se presume do art. 15º do código comercial, que todo o

acto praticado no exercício do seu comercio, assim como se presume do art. 1691º, 1, d) que o facto que deu origem a esta divida gerou proveito comum do casal. Verificando-se estes dois requisitos, mais o facto do casal estar casado num regime de comunhão, nos termos do art. 1691º, 1, d) a divida comercial pode ser imputada a ambos os cônjuges pois estão preenchidos, cumulativamente, os 3 requisitos necessários.

Caso prático: (nosso) A comerciante em nome individual detém uma papelaria. No passado mês de Maio adquiriu uma viatura para transporte das suas mercadorias, a qual começou a pagar Em prestações. Em setembro passado deixou de pagar as prestações. Sabendo que A é casado com B no regime da comunhão geral de bens e que tem dois filhos menores, verifique se é aplicável a alínea d) do n.º 1 do 1691 do C. Civil.

83

Page 84: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Resolução:De acordo com o n.º 1 do 1690 A tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do cônjuge.Quando o facto que deu origem á divida ocorreu, já eram casados, logo verifica-se o n.º 2 do 1690.A viatura foi adquirida para o exercício do comércio segundo 15 do C. Comercial, como esta lei estabelece uma presunção legal, logo verifica-se este requisito, a compra da viatura, ou seja o negócio subjacente á divida gerou proveito comum do casal, mesmo que não tenha sido imediatamente evidente a nível económico, presume-se que gerou bem-estar familiar.Como são casados em comunhão geral de bens e a alínea d) só fala em separação de bens, logo neste caso concreto respondem solidariamente os bens comuns do casal de acordo com1695 C. Civil, ou na falta destes, os bens próprios de cada um. Como se verificam os 3 requisitos e são comulativos, logo pode-se aplicar a alínea d) do n.º 1 do 1691. Neste caso concreto é difícil ilidir quer a presunção do 15, bem como o proveito comum do casal. Quanto á presunção do 15 é difícil de ilidir esta presunção porque o próprio enunciado diz que a viatura foi comprada para o exercício da actividade comercial de A. Quanto á presunção do proveito comum do casal, também esta presunção não é ilidivel porque é óbvio que ou imediatamente ou a curto prazo esta aquisição vai gerar bem-estar familiar, na medida em que vai permitir uma vivência familiar mais pacifica, mais calma quer a nível físico de A quer a nível mental e intelectual.

Admita que o credor interpôs a acção contra ambos os cônjuges e que o cônjuge B contestou a acção dizendo que se encontra separado de facto de A, isto á mais de 2 anos, sendo que A não presta alimentos nem a B nem aos filhos. Estes factos condicionam a invocação da alínea d) do n.º 1 do 1691?

Assim, verifica-se que não houve proveito comum do casal, sendo A e B separados á mais de 2 anos e como o negócio é de Maio passado, logo é evidente que estes factos ilidem a presunção da alínea d) n.º 1 do 1691. È obvio que B não beneficia da aquisição da viatura.

Caso prático (nosso)A comerciante em nome individual tem uma loja de fazendas e é casado com B desde 97 no regime da comunhão geral de bens. Em Junho de 2000 adquiriu diversas fazendas para revender no seu estabelecimento comercial. Não pagou o valor acordado na data devida, pelo que o credor após diversas tentativas de acordo de pagamento decidiu interpor uma acção judicial contra A e B.È possível aplicar a alínea d) do n.º 1 do 1691?

Resolução:De acordo com o n.º 1 do 1690 tem A legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento de BQuanto ao facto que deu origem á divida ocorreu A e B eram casados, logo verifica-se o n.º 2 do 1690.As fazendas foram adquiridas em pleno exercício da actividade comercial de A, logo verifica-se a presunção legal a que se refere o 15 do C. Comercial, então também se verifica este requisito. Lógico é que de acordo com o n.º 1 alínea d) do 1691 que houve proveito comum do casal, porque o proveito que advirá da revenda das fazendas irá gerar bem-estar á família, logo e de acordo com o referido artigo verifica-se a presunção legal aí prevista, logo se verifica este requisito.Como são casados em comunhão geral de bens e alínea só exceptua os casados em separação de bens, neste caso concreto e de acordo com 1695 respondem solidariamente A e B com os bens comuns do casal.Verificam-se os três requisitos e como são comulativos, pode o credor sem duvida alguma interpor uma acção judicial contra A e B. Neste caso concreto é difícil ilidir quer a presunção do 15, bem como o proveito comum do casal. Quanto á presunção do 15 não se pode na medida em que o próprio enunciado nos diz que A comerciante de fazendas e se as comprou para revender, é óbvio que está no pleno exercício da sua actividade comercial. Quanto á presunção do proveito comum do casal, é lógico que o facto que esteve subjacente á divida irá gerar lucro o que se irá reflectir a vários níveis no que concerne ao bem-estar familiar.Admita que em 1999 iniciou um processo de divórcio que transitou em julgado em Janeiro de 2000.Á data do negócio que esteve subjacente á divida já não havia casamento, logo não posso aplicar estas normas, até porque já não havia cônjuge á data do negócio.Admita que a sentença é de Janeiro de 2001 e hoje é que a acção foi interposta.Assim existe casamento, existe cônjuge, logo são os dois responsáveis.Admita que estas fazendas eram quentinhas e como se estava a aproximar o Natal A comprou as fazendas para doar a uma instituição.Ilide a presunção do 15 porque A não comprou as fazendas as fazendas em pleno exercício da sua actividade comercial. Ilide também o proveito comum do casal, porque não houve. Assim, só se verifica o 3.º requisito, mas como os três requisitos são comulativos, não podemos de forma alguma aplicar o n.º 1 alínea d) do 1691. Caso prático (nosso)

84

Page 85: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A comerciante em nome individual, casado com B no regime da comunhão de adquiridos e tem 2 filhos menores. A tem uma papelaria e no passado 1/10 adquiriu diverso material escolar para revender sendo que o pagamento seria efectuado a 30 dias. Até hoje ainda não pagou a factura e o credor pretende exigir o pagamento. Pode segundo o n.º1 da alínea d) do 1691? Resolução:De acordo com o n.º 1 do 1690 A tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do seu cônjuge.Quando o facto que deu origem á divida ocorreu A e B já eram casados, logo verifica-se o n.o 2 do 1690.O material escolar foi adquirido para revender em pleno exercício da sua actividade comercial de A, logo verifica-se a presunção legal a que se refere o 15, então verifica-se este requisito.De acordo com o n.º 1, alínea d) do 1691, houve proveito comum do casal, dado que com o lucro da revenda do material escolar adviria uma mais valia a nível familiar e toda a família iria beneficiar com isso, logo e de acordo com este artigo verifica-se a presunção legal aí prevista, logo verifica-se também este requisito.Como são casados no regime da comunhão de adquiridos e a alínea d) só exceptua os casados em separação de bens, logo neste caso e de acordo com 1695 respondem solidariamente A e B com os bens comuns do casal.Verificam-se os três requisitos e como são comulativos, pode o credor exigir o seu pagamento interpondo uma acção judicial contra A e B.Neste caso concreto não é possível ilidir as presunções legais, ou seja, a 15 e proveito comum do casal.

Caso pratico:A é comerciante em nome individual e detém uma papelaria. É casado com B desde 2000, no regime de comunhão de adquiridos e tem um filho menor. Em fevereiro de 2001 adquiriu uma viatura para efectuar o transporte das suas mercadorias. Admita que A não efectuou o pagamento.a) Aplicam-se os requisitos constantes no art. 1691º, 1, d)?Neste caso é aplicável o art. 1691º, 1, d) do código civil porque:A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos.A divida foi contraída no exercício do seu comercio pois A comprou a viatura para poder efectuar o transporte da sua mercadoria e não esquecendo também que o art. 15º do código comercial, presume que todas as dividas contraídas pelos comerciantes, o são no exercício do seu comercio.Houve proveito comum do casal (como o próprio artigo presume) uma vez que A adquiriu a viatura para desenvolver a sua actividade comercial e, como tal, gerar beneficio para toda a família.Como todos os requisitos são cumulativos e visto estarem preenchidos os 3, a responsabilidade é de ambos os cônjuges, aplicando-se plenamente o art. 1691º, 1, d) do código civil.b) Que bens do património do casal poderão responder pelo pagamento desta divida?Os bens comuns do casal ou o bem próprio de qualquer um dos cônjuges (por solidariedade) podem responder pela totalidade da divida.

Caso prático

A é comerciante em nome individual e tem um estabelecimento onde se dedica ao comércio de vinhos. É casado com B desde 1995 no regime de comunhão de adquiridos. Têm um apartamento propriedade de ambos, um automóvel propriedade de A e um terreno propriedade de B. em outubro de 1998, A adquiriu vinhos para revenda, cujo pagamento não efectuou.a) Diga se é aplicável o art. 1691º, 1, d).Neste caso é aplicável o art. Porque:A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos.A divida foi contraída no exercício do comercio, pois A comprou vinhos para revenda no seu estabelecimento e não esquecendo também que o art. 15º do código comercial presume que todas as dividas contraídas pelo comerciante são contraídas no exercido do seu comercio.Houve proveito comum do casal (como o próprio art. Presume) uma vez que A adquiriu os vinhos para desenvolver a sua actividade comercial e, como tal, gerar beneficio para toda a família.Como todos os requisitos são cumulativos e visto estarem os 3 preenchidos, a responsabilidade é de ambos os cônjuges, aplicando-se plenamente o art. 1691º, 1, d). b) Dos bens constantes do enunciado, quais respondem em 1º lugar?Segundo o art. 1695º, em primeiro lugar responde o apartamento, visto ser um bem comum do casal. Em segundo lugar e como há solidariedade, pode responder qualquer um dos bens, sem ordem obrigatória.

Caso prático:

A, titular de uma empresa de construção civil, é casado com B no regime de comunhão de adquiridos.

85

Page 86: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A, adquire para a sua empresa, equipamentos de escritório e ainda duas obras de arte, destinando-se o equipamento aos escritórios da Direcção e as obras de arte para a Sala de Reuniões.A, não pagou os respectivos preços.

a) Caracterize a empresa em questão.

A é titular de uma empresa reputada de comercial em face do Artº. 230/6 do C. Com., pois trata-se de uma empresa de construção civil a qual certamente visará a construção e edificação de casas.O Artº. 230º é uma norma qualificadora no sentido de qualificar as empresas comerciais e consequentemente as actividades dessas empresas como comerciais.

O citado preceito, contudo, também nos fornece um elenco implícito de actos objectivamente comerciais, em virtude de as mencionadas actividades não serem mais que uma massificação de actos, ou seja, é possível decompor as ditas actividades em actos, os quais, porque tipificados na lei e de acordo com o Artº. 2º/1, 1ª parte do C. Com. Serão considerados objectivamente comerciais.

Quanto a esta problemática, existem duas posições doutrinais defendidas, uma por Lobo Xavier e outra por Coutinho de Abreu.

Diz Lobo Xavier que os actos implícitos do Artº. 230º só serão objectivamente comerciais se forem actos fundamentais e se houver conexão com a actividade da empresa.

Coutinho de Abreu não fala na fundamentabilidade dos actos porque, para ele, os actos do elenco implícito do 230º só serão objectivamente comerciais se forem típicos, ou seja, característicos daquela actividade.

Parece mais defensável esta última posição, o que corresponde a dizer que só os actos típicos ou caracterizadores das actividades comerciais merecerão a qualificação de actos de comércio objectivos, embora implicitamente.

b) Prove que o sujeito é comerciante.

A, porque titular de uma empresa comercial, é comerciante.

O titular de quaisquer empresas do Artº 230º é comerciante pela conjunção desse preceito com o Artº 13º/1 e Artº 2º/1ª parte do C.Com.

Diremos que o titular de uma empresa comercial, ao desenvolver uma actividade comercial, pratica, necessariamente, actos que se incluem na respectiva actividade.

Tais actos são objectivamente comerciais e, por isso mesmo, abrangidos na 1ª parte do artº 2º. Deste modo ainda serão actos atributivos da qualidade de comerciante, em face do Artº 13º/1, pois tratam-se de actos objectiva e substancialmente comerciais, praticados habitualmente profissionalmente e com um fim em si mesmo. Logo estão preenchidos os pressupostos do Artº 13º/1.

c) Qualifique os actos em apreço.

A, adquiriu para a sua empresa equipamento de escritório e as duas obras de arte para a sala de reuniões.

A aquisição do material de escritório e das obras de arte não parece poder ser qualificada como acto objectivamente comercial, nem explícita nem implicitamente, pois não se trata nem de compra para revenda (Artº 463), nem se trata de um acto típico da actividade desenvolvida pela empresa.

Para estes actos serem reputados de comerciais, só o poderão ser subjectivamente.

Para estarmos em face de um acto subjectivamente comercial, é necessária a verificação de três pressupostos cumulativos:

- o sujeito tem de ser comerciante e, neste caso, é, como atrás se provou;

86

Page 87: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

- os actos em abstracto, de acordo com o tipo negocial, não podem ter natureza exclusivamente civil, ou seja, terão de possuir natureza patrimonial, como é o caso em análise;

- apelando à teoria da impressão do declaratário e às circunstâncias que rodearam a prática do acto, deveremos observar se um homem médio, colocado na posição do real declaratário, conclui se o acto tem ou não conexão com o comércio daquele comerciante.Daqui, temos que averiguar o que resulta e, no nosso caso, quanto à aquisição do material de escritório resulta que tem conexão e o acto é subjectivamente comercial.

Quanto à aquisição das obras de arte, não resulta que tem conexão, e o acto é civil.

Assim, concluímos que a dívida aquisição do material de escritório é comercial e a dívida da aquisição das obras de arte não é comercial, é civil.

d) Diga quem e que bens responderão por estas dívidas.

Dado que A é casado com B em comunhão de adquiridos, importa agora caracterizar a dívida comercial como comunicável, pois, só assim, se responsabilizará ambos os cônjuges e o credor verá aumentada a garantia patrimonial.

Tendo em conta o Artº. 15º do C.Com. e o Artº 1691/1-d) do CC, dir-se-á que:- Existem duas presunções legais ilidíveis que visam facilitar a tarefa do credor e aumentar a sua garantia.

Estas presunções facilitam a tarefa ao credor porque, em face destas duas disposições, o credor só terá de provar que A é comerciante e que a dívida emergiu de um acto de comércio.

Provados estes dois factos, está automaticamente accionada a presunção do exercício de comércio (Artº 15º C.Com.) e seguidamente a presunção do proveito comum (Artº 1691/1-d) CC).Accionada a primeira presunção, a segunda é automaticamente accionada.

Se assim for, a dívida da aquisição do material de escritório é comunicável, e serão responsabilizados ambos os cônjuges.

O cônjuge de A, na situação concreta, dificilmente conseguiria ilidir alguma das presunções mas, se conseguisse ilidir a presunção do Artº 15º do C.Com., o credor podia ainda assim responsabilizá-lo pelo Artº 1691/1-c) CC, tendo, todavia, o ónus de provar o proveito comum.

Se o cônjuge ilidisse a presunção do proveito comum, não seria responsabilizado.No entanto, reafirmamos que, nesta situação, não se vislumbra qualquer possibilidade do cônjuge ilidir qualquer das presunções.

Deste modo, responderão pela dívida todos os bens comuns do casal (Artº 1695º) e na falta ou insuficiência deste, solidariamente, os bens de qualquer dos cônjuges.

Quanto à dívida da aquisição das obras de arte, não sendo comercial, o credor não beneficiará de qualquer presunção, podendo, no entanto, responsabilizar ambos os cônjuges pelo Artº 1691/1-c), mas tendo o ónus da prova de proveito comum.

Caso não consiga responsabilizar o cônjuge de A, apenas este responderá pela dívida, nos termos do Artº 1696º/1 CC, respondendo em primeiro os bens próprios dele e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.

2 - Caso prático:

António proprietário de um café onde exerce a sua actividade em prédio arrendado a Bento, entra em negociações com Carlos, para efectuar o trespasse do mesmo.

António notifica Bento para que este exerça o seu direito de preferência, o que ele veio a fazer negativamente.

87

Page 88: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

António celebra então o contrato de trespasse do café com Carlos mas antes de proceder à entrega do estabelecimento, retira todo o mobiliário, bem como as máquinas que se encontravam no interior do recinto.

No dia seguinte, António comunica a Bento quem é o novo arrendatário.

Carlos ao deparar com o estado em que lhe foi entregue o pretenso café quer agora vir a arguir a invalidas do negócio.

Quid Iuris?

António pode efectuar o trespasse do seu estabelecimento comercial com Carlos sem a prévia autorização do senhorio, nos termos do Artº 115/1 RAU. Todavia, antes de efectuar o trespasse, António tem que notificar Bento para que este tome conhecimento das condições do trespasse e efective, ou não, o direito de preferência que a lei lhe reconhece, nos termos do Artº 116/1 RAU.

Esta condição foi cumprida e Bento não excedeu o seu direito de preferência, logo António podia celebrar com Carlos o contrato de trespasse.

Após a celebração do contrato de trespasse, António comunicou ao senhorio do imóvel arrendado, o novo arrendatário, nos termos do Artº 1038-g) CC.

Carlos pode arguir a invalidade do contrato de trespasse por via do Artº 115/2-a) RAU, uma vez que António nunca poderia ter retirado do café nem o mobiliário nem as máquinas, uma vez que estes utensílios fazem parte do âmbito mínimo que integram o estabelecimento e que, obrigatoriamente têm que o acompanhar.

3 - Caso prático:

António, comerciante no ramo da restauração resolveu contrair um empréstimo junto de uma instituição bancária no sentido de remodelar o seu estabelecimento.

O empréstimo ascendeu a 10000 contos, tendo até hoje apenas pago 1000 contos.

Também no sentido de melhorar o seu estabelecimento resolveu adquirir um ecrã gigante para instalar no seu café, melhorando assim a qualidade televisiva que proporcionava aos seus clientes. Nada declarou nesse sentido.

António é casado com Berta no regime de comunhão geral de bens, encontrando-se separado de facto hà 4 anos. Todavia, continua a contribuir para os encargos da vida familiar, proporcionando aos seus filhos alguma qualidade de vida.

Diga se António é comerciante.

António para ser comerciante terá que praticar com carácter de profissionalidade e reiteradamente, actos objectiva e substancialmente comerciais e absolutos, nos termos do Artº 13/1 C. Com.

De acordo com o Artº 2º - 1ª parte do C. Com., actos objectivos são aqueles que a lei comercial explicitamente enumera e aqueles que se retiram do elenco implícito fornecido pelo Artº 230, que descreve actividades que se traduzem numa massificação de actos.

António não é titular de uma empresa comercial, porque a actividade por ele desenvolvida não consta do rol descrito no Artº 230 , mas pratica actos cuja comercialidade radica neles próprios, ou seja, a compra e venda para revenda, explicitamente tipificada no Artº 463 C. Com.. Deste modo, o requisito necessário para que António adquira a qualidade de comerciante está preenchido.

88

Page 89: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Pronuncie-se acerca dos actos em questão.

António contraiu um empréstimo junto de um banco para remodelar o seu estabelecimento onde exercia a actividade de restauração.

Este acto está objectivamente tipificado no Artº 394 C.Com., mas para este acto ser comercial tem de estar em conexão com a actividade comercial, ou seja, o empréstimo só será qualificado como acto objectivamente comercial se tiver conexão com a actividade do comerciante.

Verificam-se em concreto os pressupostos para que tal acto seja qualificado como objectivamente comercial, de acordo com o Artº 2, 1ª parte.

Quanto à aquisição do ecrã gigante, há a referir que este acto não está tipificado na lei comercial, por isso, a ser reputado de comercial, só o poderá ser subjectivamente.

Para que um acto possa ser considerado subjectivamente comercial é necessário que se verifiquem três requisitos cumulativos, a saber:

É necessário que o sujeito seja comerciante o que é o presente caso, como atrás ficou demonstrado;

Os actos em abstracto não podem ter natureza exclusivamente civil, ou seja, terão de possuir natureza patrimonial, como acontece neste caso;

Apelando à teoria da impressão do declaratário e às circunstâncias que rodearam a prática do acto, deveremos observar se um homem médio, colocado na posição do real declaratário conclui se o acto tem ou não conexão com o comércio daquele comerciante.

Daqui temos de aferir o que resulta e no presente caso não resulta que não tenha conexão com a actividade do comerciante.

Em situação de dúvida como a que chegamos, o acto é qualificado como subjectivamente comercial.

Deste modo conclui-se que as dívidas emergentes, quer do empréstimo, quer da aquisição serão reputadas como dívidas comerciais.

Quem responde pelas dívidas comerciais e em que termos:

Dado que António é casado com Berta em comunhão geral de bens, importa agora caracterizar a dívida comercial como comunicável, pois só assim se responsabilizará ambos nos cônjuges e o credor verá aumentada a garantia patrimonial.

Tendo em conta o Artº15 C. Com. E o Artº 1691-d) dir-se-á que existem duas presunções legais ilidíveis que visam facilitar a tarefa do credor e aumentar a sua garantia.

Estas presunções facilitam a tarefa ao credor porque, em face destas duas suposições o credor só terá que provar que António é comerciante e que a dívida emergiu de um acto de comércio. Provados estes dois factos está automaticamente accionada a presunção do exercício do comércio – Artº 15 C. Com e presunção do proveito comum – Artº 1691/1-d) CC. Accionada a primeira presunção acciona-se automaticamente a segunda.

Sendo assim, as dívidas contraídas por António são comunicáveis e serão responsabilizados ambos os cônjuges.

O cônjuge do António na situação concreta dificilmente conseguiria ilidir algumas das presunções, mas, se conseguisse ilidir a presunção do Artº 15, o credor podia ainda assim responsabiliza-lo pelo Artº 1691/1-c) CC, tendo todavia o ónus de provar o proveito comum.

Se o cônjuge ilidisse o proveito comum não seria responsabilizado. No entanto reafirmamos que, nesta situação não se vislumbraria qualquer possibilidade do cônjuge ilidir qualquer das presunções. Assim sendo, responderão pela dívida todos os bens comuns do casal – Artº 1695 CC

Imagine que Berta o consulta no sentido de saber se é possível responsabilizar-se pelas dívidas do marido. O que lhe diria?

89

Page 90: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Berta apesar de estar separada de facto, recebe contribuições de António para ocorrer aos encargos normais da vida familiar. Ocorrendo uma separação de facto, continua o cruzamento de patrimónios, não existindo uma separação entre estes, situação que só se verifica quando haja uma decisão judicial de separação. Nesta circunstância o cônjuge não terá qualquer hipótese de se desresponsabilizar tendo que responder perante as dívidas contraídas por António.

Teorias DO ACESSÓRIO – Todos os actos conexos com actividades mercantis, ou seja actos acessórios do comércio, serão comerciais, mesmo que praticados por não comerciantes – Artº 2º – 2ª parte C. Comercial.

TEORIA FRANCESA (para actos conexos): Os actos comerciais conexos, pelo facto de terem conexão com o exercício ou com a actividade do agente, implicam que o agente é comerciante: A doutrina portuguesa só aceita esta teoria se verificar o 3º requisito – O que resulta; Actos acessórios conexos com actos do comércio, objectivos e absolutos, ou seja, a possibilidade dos não comerciantes virem a praticar actos acessórios de actos objectivos e absolutos. A n/ doutrina não aceita esta teoria.

marcasCaso prático relativo a esta matéria:

A infotrónica, produtos de informática, Lda, tem por objecto a produção e comercialização de hardware e software para computadores pessoais. Para esse efeito explora uma cadeia de estabelecimentos denominados “micro mestres” espalhados por todo o país, onde vende entre outros, dois produtos da marca “masters” produzidos e distribuídos por uma empresa multinacional, e as aplicações para escritório da marca “master- office”, desenvolvidas pelos seus próprios técnicos e programadores. Para além desta vertente, a infotrónica detém ainda 100% do capital social da “giga soluções”, informática, Lda, que produz e distribui processadores da marca “luso intel” e monitores da marca “shell PC”

1. Poderá a proprietária da marca “masters” reagir contra a marca “master-office”? Se achar que sim, explique em que circunstancias e por que formas?

2. A “giga soluções” foi recentemente contactada pelos proprietários das marcas intel e shell que ameaçaram com processos judiciais no caso de as marcas “luso intel” e “shell PC” não serem imediatamente retiradas do mercado. Parece-lhe que tem razão?

3. A, proprietário da loja de electrodomésticos “mestre micro” situada em Braga, pretende reagir contra o nome “micro mestres”. Em que circunstâncias poderá ter sucesso?

4. A sociedade “giga solutions, Inc” multinacional com sede nos EUA, pretende também reagir contra a firma “giga soluções” parece-lhe possível uma tal reacção contra um sinal distintivo desta natureza?

5. A infotrónica teve conhecimento de uma empresa de software com o nome de “mestre office. Terá alguma possibilidade de atacar o uso desse nome?

1.A marca é um sinal distintivo susceptível de representação gráfica, destinada sobretudo a distinguir certos produtos de outros produtos idênticos ou afins. Os princípios orientadores na constituição da marca estão em consonância com o que se disse em relação à constituição da firma, nome e insígnia, e vêm regulados nos art. 222.º ss CPI. “ A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais susceptíveis de representação gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respectiva embalagem, desde que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas” “ A marca pode, igualmente ser constituída por frases publicitárias para os produtos ou serviços a que respeitem, desde que possuam carácter distintivo, independentemente da protecção que lhe seja reconhecida pelos direitos de autor” A constituição das marcas é muito mais aleatória do que a constituição das firmas, assim, uma marca pode ser constituída por um sinal nominativo, por sinais auditivos, por desenhos, símbolos, combinação de sons, de palavras, desenhos etc. As marcas identificam produtos, quer eles sejam produzidos por empresas ou não, assim sucede porque apensar da grande parte das produtos serem produzidos em empresas, pode um produto ser produzido por um não empresário, como sucede com os cientistas, investigadores, e pessoas famosas que registam o seu nome.Durante muito tempo a principal função das marcas limitou-se a ser distintiva, a distinguindo sobretudo produtos afins e a indicar a origem do produto. Actualmente a marca não é só vista do ponto de vista de finalidade distintiva de produtos afins, mas também como uma finalidade informativa, pelo que a marca nos dá a conhecer diferentes características do produto em causa, como a origem. Paralelamente, a marca tem ainda como função satisfazer interesses do seu comercializador, uma vez que é um excelente meio de publicidade.

90

Page 91: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A marca pode ser constituída de modo quase ilimitado, mas terá sempre subjacentes questões relacionadas com marketing e com a obtenção da maior clientela possível. Assim, a marca protege sobretudo o seu titular. Por último a marca tem ainda como função, garantia de qualidade do produto.Em suma a marca tem como funções: distintiva; publicitária, indicação de origem, protecção do comercializador; garantia de qualidade. Na constituição de uma marca devem ser tidos em conta vários princípios jurídicos, que não podem se violados, como princípio da verdade, da novidade, da capacidade distintiva, da unidade e da licitude.No caso em apreço, estamos perante uma situação em que a proprietária da marca de jogos masters pretende reagir contra a marca master-office, contudo, esta pretensão apenas terá sucesso no caso da designação da marca princípio da novidade. De acordo com este princípio uma marca que é registada tem de ser nova, ou seja, tem de conferir ao seu titular o seu direito de uso exclusivo. A protecção das marcas é efectuada em relação às restantes que digam respeito a produtos afins ou idênticos, assim se houver a possibilidade de confusão ou associação de marcas, devemos atender ao produto que ela identifica, sendo que se for um produto semelhante ou afim o registo da marca deve ser recusado, pelo que vigora aqui o princípio da especialidade: art. 238.º al. m CPI “ É ainda recusado o registo de marcas que contendam em todo ou alguns dos seus elementos: reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada para produtos ou serviços idênticos ou afins que possa induzir em erro ou confusão o consumidor ou que compreenda o risco de associação coma marca registada” a redacção do artigo é clara, apenas é deixado ao intérprete a análise do que são produtos afins, é importante esclarecer o que isto seja, sendo que se entende como produtos afins aqueles que embora sendo diferentes são substitutos entre si. A este propósito devemos atender ao disposto no art. 245.º CPI que estabelece o que constitui a imitação ou usurpação da marca. O artigo estabelece requisitos cumulativos: “ A marca registada considera-se imitada ou usurpada por outra, no todo ou em parte, quando, cumulativamente: a marca registada tiver prioridade; sejam ambas destinadas a assinalar produtos idênticos ou afins; tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreendas um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir senão depois de um exame atento ou confronto. N.º 2 para efeitos da alínea b do n.º 1: Os produtos que estejam inseridos na mesma classe de classificação de Nice podem não ser considerados afins; Os produtos e serviços que não estejam inseridos na mesma classificação de Nice podem ser considerados afins. N.º 3 Considera-se imitação ou usurpação parcial de marca o uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada.” Este artigo deixa de fora aquelas marcas que sendo semelhantes se destinam a produtos diferentes, porque entende a lei que nestes casos não há possibilidade de confusão. Por isso, se a marca se tentar apropriar do prestígio da outra não obstante da diferenciação de produtos, o seu titular o gozará da protecção conferida pelo art. 242.º CPI relativo às marcas de prestígio. Note-se apenas que para aferir a possibilidade de confusão de produtos temos de atender ao consumidor médio, ao produto em causa, e ao tipo de púbico a que o produto se destina. O princípio da novidade quanto ao registo de marcas, abrange outros sinais distintivos, por isso, o registo de uma marca deve ser recusado se a sua designação possuir elementos de “firma, denominação social, logótipo, nome e insígnia de estabelecimento, ou apenas parte característica do mesmo, que não pertençam ao requerente, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão” art. 239.º al. f CPI.O princípio da novidade, tem ainda aplicação importante no que se refere à protecção de marcas que apesar de se referirem a produtos diferentes, podem gerar a risco de associação.Temos assim se analisar face ao caso em concreto, se se encontram preenchidos os requisitos que permitem a reacção contra a marca. Assim, tem de haver possibilidade de confusão entre as partes, possibilidade de induzir o público em erro, e registo prioritário da marca que pretende reagir, tendo como base o consumidor médio. Analisando aspectos nominativos da marca e a sua fonética bem como eventual possibilidade de confusão ou associação de produtos temos de concluir que poderá de facto, haver possibilidade de confusão de associação, porque para além do nome ser idêntico, as marcas identificam produtos facilmente associáveis, jogos de computador e software para escritórios, resta agora saber se poderá ou não haver possibilidade de indução do público em erro, ao que parece haverá possibilidade de indução do público em erro, embora tal avaliação no caso concreto tenha de se basear em mais informações nomeadamente nas cores, formato das caixas em que é embalado produto, etc. Resta por fim, que para que a marca possa reagir, que esteja registada e que a data do registo seja anterior àquele da marca que se pretende reagir, assim consta do art. 11 CPI “Salvo as excepções previstas no presente diploma, a patente, o modelo de utilidade ou o registo é concedido a quem primeiro apresentar regularmente o pedido com os elementos exigíveis” estando preenchidos estes requisitos, havendo portanto violação do princípio da novidade, a proprietária da marca atingida poderá reagir: poderá ser requerido a anulação do registo da marca, nos termos do art. 266.º CPI. Que estabelece os casos em que o registo da marca é anulável, sem prejuízo do disposto no art. 34 do mesmo diploma. Haverá ainda a possibilidade de requerer a inibição do uso da marca nos termos do ar. 258.º CPI mediante a acção inibitória,” O registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas qualquer sinal igual, ou semelhante em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos e serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação no espírito do consumidor” sendo que se este uso gerar danos será ainda possível accionar o infractor mediante responsabilidade civil nos termos do art., 483.º CC.

91

Page 92: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

Por fim, a proprietária poderá ainda reagir por via criminal pelo uso ilegal de marcas nos termos do art. 323.º e 234.º CPI.Estes mecanismos de reacção apenas se aplicam a marcas registadas, mas imagine-se contudo, que a marca não se encontrava registada em Portugal, ainda assim a proprietária da marca poderia reagir, mediante três institutos. O primeiro mecanismo de protecção é aquele conferido pelas marcas notórias, aquelas que embora não sendo registadas no nosso pais, são conhecidas em Portugal, pelo que conforme estabelece o art. 241.º CPI “deve ser recusado o registo de marca que no todo ou em parte essencial, constituída reprodução, imitação ou tradução de outra notoriamente conhecida em Portugal, se for aplicada a produtos ou serviços idênticos ou afins e com ela possa confundir-se ou se, dessa aplicação, for possível estabelecer uma associação com o titular da marca notória”Esta norma tem assim como objectivo, salvaguardar o interesse público e acautelar a possibilidade de confusão, evitando que um empresário português se aproveite de uma marca estrangeira, e a adopte nos seus produtos idênticos ou semelhantes, sendo que não sendo a marca registada em Portugal não poderia o registo ser recusado se esta norma não existisse. Note-se contudo, que a marca tem que ser notória, isto é objectivamente conhecida em Portugal, sob pena deste regime não se aplicar. O segundo mecanismo de reacção prende-se com o instituto da concorrência desleal, prevista no art. 317.º código de propriedade industrial. De acordo com este instituto não pode um comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena de ser accionado contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias do 483.º CC. Por último Poderá ainda o lesado socorrer-se do instituto conhecido como Membros da União de Paris, que congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com sede na U.E. estes comerciantes estão protegidos em todo o espaço da união quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos países onde se encontram registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.

2. A questão suscitada neste caso é semelhante à anterior relativa à constituição das marcas e à eventual violação do princípio da novidade, vamos contudo, presumir que estas marcas não se encontram registadas em Portugal, porque encontrando-se registada a solução é a mesma do número anterior Assim, além dos mecanismos de protecção previstos no número anterior relativos à protecção das marcas notórias, da concorrência desleal e da protecção dos membros da união de paris, existe outro mecanismo que podemos chamar aqui à colação, o regime das marcas de prestígio, são macas que embora não sendo registadas no nosso pais, são aqui conhecidas, a diferença em relação às marcas notórias relaciona-se com o âmbito de protecção quanto à espécie de produtos, uma vez que já não se exige a possibilidade de confusão de produtos derivados da sua afinidade, não é necessário que exista identidade de produtos, passando-se assim sobre o requisito da possibilidade de confusão, bastará a possibilidade de associação do produto à marca em causa. “ Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o pedido de registo será igualmente recusado se a marca, ainda que destinada a produtos ou serviços sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for igual ou semelhante, a uma marca anterior que goze de prestígio em Portugal ou na Comunidade Europeia, se for comunitária, e sempre que o uso da marca posterior procure tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca, ou possa prejudica-las.

3. Neste caso em concretos A proprietário de um estabelecimento, quer reagir contra uma marca, baseando-se na violação do princípio da novidade. O nome e a insígnia são coisas diferentes apesar de se encontrarem associados. Diferentemente do que se passa com a constituição das firmas, em que a sua constituição é obrigatória, a constituição de nome e de insígnia é facultativa. Contudo, normalmente é usual a adopção de um nome, até porque grande parte do aviamento do estabelecimento está dependente da sua capacidade para se distinguir dos restantes estabelecimentos concorrentes, sendo que essa distinção passa em grande parte pelo nome do estabelecimento. O nome pode ser entendido como o sinal nominativo constituído por palavras, que designa ou individualiza um estabelecimento enquanto a insígnia diz respeito a um sinal figurativo ou emblemático, constituído por, desenhos, símbolos, sinais figurativos que identificam o estabelecimento, assim consta do art. 284.º do código de propriedade industrial, (CPI). “ Considera-se insígnia de estabelecimento qualquer sinal externo composto de figuras desenhos, simples combinações com os nomes ou denominações referidos no artigo anterior, ou com outras palavras ou divisas desde que o conjunto seja adequado a distinguir o estabelecimento”.Quer o nome quer a insígnia estão regulados nos artigos 282.º ss CPI. “ Todos os que tiverem legítimo interesse, designadamente agricultores, criadores, industriais, comerciantes e demais empresários, domiciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do território português, têm o direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar, ou tornar conhecido, o seu estabelecimento, nos termos das disposições seguintes.” De acordo com os artigos 283.º e 284.º CPI, a constituição do nome e insígnia obedece ao princípio da liberdade, qualquer nome, expressão, desenho, símbolo é válido, não tendo o nome de ter qualquer relação com o estabelecimento ou com a actividade prestada. art. 283.º “ Podem constituir nome de estabelecimento: As denominações de fantasia ou específicas; Os nomes históricos, excepto se o do seu emprego resultar ofensa da consideração que, geralmente, lhes é atribuída; O nome da propriedade ou do local do estabelecimento, quando este seja admissível, ou acompanhado de um

92

Page 93: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

elemento distintivo; O nome, os elementos distintivos da firma ou denominação social e o pseudónimo, ou alcunha, do proprietário; O ramo de actividade do estabelecimento, quando acompanhado por elementos distintivos.”A constituição da insígnia, obedece a este princípio, pelo que pode ser adoptado qualquer insígnia desde que “ o conjunto seja adequado a distinguir o estabelecimento”, art. 284.º n.º 1 CPI. A constituição de um nome e insígnia, para cumprirem a sua função individualizadora, têm de ser novidade nos sentido destes serem distinguíveis dos demais nomes e insígnias anteriormente já registadas. Ao exigir-se que a constituição de um nome e de uma insígnia obedeça a este princípio estão a salvaguardar-se, simultaneamente os interesses dos comerciantes, mas também interesses públicos, de protecção dos bons costumes. O princípio da novidade vêm expresso no art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao requerente, salvo se provar o consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima ou a denominação social que não pertença ao requerente, ou apenas parte característica das mesmas, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão, salvo se se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso; As expressões “antigo armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras semelhantes, referidas a estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam registados a favor de outrem, a não ser que se prove o consentimento do respectivo proprietário; As expressões “antigo empregado, antigo mestre, antigo gerente “ e outras semelhantes, referidas a outra pessoa singular ou colectiva, salvo se se provar o consentimento desta; as indicações de parentesco e as expressões de “herdeiro, sucessor, representante, ou agente” e outras semelhantes, excepto se se provar a legitimidade do seu uso” para sabermos se um nome ou insígnia, é ou não confundível com outros já existentes, temos de atender à sua fonética, grafia, ao ramo de actividade em que se encontra, à localização geográfica, dimensão, etc. No âmbito das firmas, a sua designação abrangia firma concorrentes e não concorrentes, pelo que o nome não poderia em caso algum ser usado, assim sucede porque uma firma apode exercer várias actividades. Relativamente ao nome e à insígnia de um estabelecimento ou empresa, apesar deles se distinguirem uns dos outros com base sobretudo no nome, não lhes é atribuída personalidade jurídica, assim, este princípio quanto as empresas vale apenas para estabelecimentos concorrentes. Assim podemos afirmar o princípio da especialidade, uma vez que a novidade é apenas exigida para estabelecimentos com objecto idêntico ou afim. Esta orientação retira-se literalmente do art. 285.º al. g CPI: “Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os elementos constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem para produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no estabelecimento a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços idênticos ou afins aos que nele são prestados.” Assim, não podem fazer parte do nome de um estabelecimento, nomes confundíveis com marcas e produtos afins produzidos por outro estabelecimento.Como sabemos, o nome do estabelecimento apenas é protegido no caso de estarmos perante um nome registado, partindo do princípio que este requisito está preenchido, para que se possa reagir é ainda necessário que a actividade em causa seja concorrente e que haja possibilidade de gerar confusão no público. Atendendo ao caso podemos concluir que as actividades são pelo menos de modo indirecto concorrentes, pele que A terá possibilidade de reagir, de acordo com os seguintes mecanismos: Poderá haver desde logo haver a possibilidade de requerer a inibição do uso da marca nos termos do ar. 258.º CPI mediante a acção inibitória,” O registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas qualquer sinal igual, ou semelhante em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos e serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação no espírito do consumidor” sendo que se este uso gerar danos será ainda possível accionar o infractor mediante responsabilidade civil nos termos do art., 483.º CC. Poderá ainda haver lugar à declaração de nulidade ou anulação do registo do nome e da insígnia, nos termos do art. 298.º e 299.º CPI. Paralelamente poderá ainda haver lugar a responsabilidade civil nos termos gerais no caso de haver danos resultantes do uso indevido do nome ou insígnia confundível. O art. 333.º CPI, estabelece ainda a possibilidade de aplicação de coima, poderá por fim o lesado ser indemnizado nos termos gerais, art. 483º CC.

4. Neste caso estamos perante uma situação contrária da que se passava no número anterior, temos uma marca que quer reagir contra o nome de uma empresa que usurpou o nome da marca. Não estamos no caso em que uma marca imita o nome de uma empresa, mas sim num caso em que um estabelecimento imita o nome de uma marca. Mais uma vez estamos no âmbito do princípio da novidade, sendo que a protecção da marca se faz nos termos do art. 285.º n.º 1 al. g CPI “Fundamentos de recusa1 - Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os elementos constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem para produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no estabelecimento a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços idênticos ou afins aos que nele são prestados;”. Mais uma vez, o requisito em causa é que possa haver possibilidade de indução do público em erro.

93

Page 94: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

CASO PRÁTICO - LETRAS

A dono de uma empresa de construção civil adquiriu a B, empresa de construção, vários materiais no valor de

500.000 €. Acordaram os titulares das respectivas empresas que o devedor aceitaria uma letra a 30 (trinta) dias no valor de 100.000 €, aceitaria uma letra a 60 (sessenta) dias no valor de 200.000 € e aceitaria uma letra a 90 (noventa) dias no valor restante (200.000 €). Todas as letras eram pagáveis em dia fixo e no banco X.

Na segunda letra (200.000 € a 60 dias) verifica-se uma cadeia de endossos, estando o título na data de vencimento, nas mãos do Senhor E, portador legítimo.

O portador resolveu, neste segundo título, apôr uma cláusula “não à ordem” e transmiti-la a C, seu credor. Não esquecendo que hoje, o título se encontra nas mãos do Senhor E.

QUESTÕES:

1º) Indique os intervenientes na cadeia cambiária e justifique as suas posições.

RESPOSTA

A – Sacado (art.º 1.º LULL) , pessoa sobre a qual se emite o saque, a quem é dada a ordem de pagamento, tornando-se somente obrigado cambiário quando a mesma lhe seja apresentada e ele a subscreva (aceite) conforme art.º 28º da LULL, sendo que o aceite é escrito na própria letra e exprime-se pela palavra “aceite”, ou outra equivalente, e é assinada pelo sacado. Como o saque também o aceite terá de ser puro e simples.

A letra pode ser apresentada ao aceite do sacado até ao vencimento, pelo portador ou até por um simples portador (nos termos do disposto no art.º 21 da LULL).

Se o sacado recusar o aceite, não se tornará obrigado pelo pagamento da letra, nem será garante das obrigações cambiárias nelas expressas, sendo legítimo ao portador fazer lavrar um protesto por falta de aceite (art.º 44º LULL) e a exercer imediatamente os seus direitos (art.º 43º LULL).

B – Sacador (art.º 1 LULL), pessoa que emite o saque, isto é, que emite uma ordem incondicional de pagamento de uma determinada soma pecuniária, a realizar pelo destinatário (sacado), a certa pessoa (tomador) ou à sua ordem o que acontece neste caso sendo por isso sacador/tomador, prometendo assim o tomador (e aos sucessivos possuidores da letra)que fará com que o sacado assuma a responsabilidade cambiária do pagamento (aceite) e pague a letra. De acordo com o disposto no art.º 3.º da LULL o saque pode fazer-se :

a) à ordem do próprio sacador,b) contra o próprio sacador,c) por ordem e conta de terceiro.

C – Portador (art.º 6 LULL), que por endosso – nova ordem de pagamento que acresce ao saque daí o dizer-se que “ o endosso é um novo saque” emitida pelo portador actual ao novo portador e que se exprime pela fórmula aposta na letra “pague-se a ...”, (o qual deve ser puro e simples e compreender o valor total do título, sendo nulo o endosso parcial - art.º 12 LULL) – de B será a pessoa a quem o pagamento deverá vir a ser feito)

X – Lugar de pagamento (art.º 1.º LULL)

2º) Imagine que a primeira letra foi parcialmente paga. Pode o portador exigir, nesse momento o restante? justifique.

RESPOSTA

O pagamento executa o cumprimento da ordem emitida pelo sacador.O portador não pode ser obrigado a receber o se pagamento antes do vencimento da letra (art.º 40 LULL), não

pode igualmente recusar o pagamento parcial, podendo o sacado exigir que o se faça menção da parte paga na letra e dela lhe seja dada quitação (art.º 39 LULL), podendo relativamente na situação concreta reformar a letra pelo valor não sujeito a pagamento.

Assim, o portador a quem não seja satisfeito o pagamento integral pelo sacado ou seu avalista, poderá então apresentá-la a pagamento da diferença não satisfeita aos outros subscritores da letra, que com a sua intervenção se tornam também garantes, para isso porém é necessário e indispensável que se faça certificar o não acatamento do sacado através do protesto.

3º) De quem pode o portador E exigir o pagamento do título? O que significa a clásula “não à ordem” aposta pelo sacador?

RESPOSTA

94

Page 95: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A cláusula “não à ordem” ou equivalente (art.º 11º 2.ª parte, e art.º 77º da Lei Uniforme) aposta na letra, implica que o direito nela representada só possa transmitir-se pela forma e com os efeitos da cessão de créditos disciplinada nos art.º s 577º e 588º do C. Civil, dominando aí o princípio nemo plus iuris ad alium tranferre potest quam ipse haberet, e a posição do adquirente é profundamente vulnerável dado que de acordo com as regras da cessão de créditos (cfr. o disposto no art.º 583º n.º 1 do C. Civil) esta só produz efeitos desde que seja notificada ao devedor ou que este a aceite, o qual poderá opor ao cessionário, mesmo que este o ignore (art.º 789º do Código Civil), todos os meios de defesa que lhe seria lícito invocar contra o cedente, com ressalva dos que provenham de facto posterior à cessão (cfr. art.º 585º C. Civil).

Assim, e porque o tomador da letra sacada “não à ordem” pode endossá-la a terceiro, simplesmente esse endosso está privado da eficácia normal, os efeitos que surte são os da cessão, daí que o endossante só assuma a responsabilidade de um cedente de um crédito, respondendo pela sua existência e legitimidade, já não pelo pagamento do sacado. Pelo que E pode exigir o pagamento de A aceitante, dado que E é não é um portador autónomo, é mero cessionário do seu antecessor e independentemente de boa fé podem-lhe ser opostas todas as excepções relevantes em face dos portadores anteriores.

4º) Imagine que no terceiro título (200.000 € a 90 dias), o aceitante possui um avalista, Z, poderá o portador, D , demandar Z em primeiro lugar? Justifique.

Z – Avalista, que se traduz numa obrigação de garantia dada por uma pessoa a favor de outra que já é obrigada na letra, obrigação que pode ser chamada a cumprir não beneficiando da excussão prévia da pessoa por quem se vinculou dada a disposição expressa do art.º 47.º da LULL que determina que os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas são todos “solidariamente” responsáveis para com o portador, e este tem o direito de accioná-las individual ou colectivamente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigam.

O dador de aval torna-se responsável da mesma forma que a essa por ele afiançada (art.º 39 LULL), mas a sua obrigação mantém-se , mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma (art.º 32 LULL).

Não pode contudo invocar contra a o portador que estiver na relação imediata com a pessoa avalizada os meios de defesa que se baseiem na relação fundamental invocáveis pelo avalizado, uma vez que não é sujeito de tal relação e não estará assim na relação imediata com o portador, pelo facto de ser só avalista de um obrigado imediato do portador.

RESPOSTA

Dada a desnecessidade de protesto para accionar o aceitante, para o exercício da obrigação cambiária principal, bastando a apresentação do título a pagamento na data de vencimento, o direito de acção do portador da letra de câmbio contra o avalista do aceitante não depende igualmente de protesto por falta de pagamento contra o avalista (art.º 53 LULL).

Assim, D pode demandar em primeiro lugar Z.

5º) D é o portador legítimo da terceira letra e constata que o endossante C apôs uma cláusula “não à ordem” e que o sacador apôs uma cláusula “sem despesas”.

CONSIDERAÇÕES PERTINENTES

A cláusula “não à ordem” ou equivalente (art.º 11º 2.ª parte, e art.º 77º da Lei Uniforme) aposta na letra, implica que o direito nela representada só possa transmitir-se pela forma e com os efeitos da cessão de créditos disciplinada nos art.º s 577º e 588º do C. Civil, dominando aí o princípio nemo plus iuris ad alium tranferre potest quam ipse haberet, e a posição do adquirente é profundamente vulnerável dado que de acordo com as regras da cessão de créditos (cfr. o disposto no art.º 583º n.º 1 do C. Civil) esta só produz efeitos desde que seja notificada ao devedor ou que este a aceite, o qual poderá opor ao cessionário, mesmo que este o ignore, todos os meios de defesa que lhe seria lícito invocar contra o cedente, com ressalva dos que provenham de facto posterior à cessão (cfr. art.º 585º C. Civil).

O sacador, um endossante ou um avalista podem, pela cláusula “sem despesas”, “sem protesto” ou outra equivalente (art.º 46 da Lei Uniforme) aposta na letra dispensar o portador de fazer o protesto por falta de aceite ou de pagamento,, para se habilitar a exercer os seus direitos de acção (art.º 46 LULL).

- a) Diga de quem pode o portador exigir o pagamento do título e porquê ?

RESPOSTA Os efeitos restritivos da cláusula “não à ordem” apenas aproveitam ao endossante que a apôs, sendo que os

efeitos da cláusula não se estendem ao endossado imediato, o endossante que a apôs tem a normal responsabilidade cambiária, não aproveitando igualmente ao contrário do que acontece quando inserida pelo sacador, aos demais endossantes (art.º 15 LULL).

95

Page 96: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

A cláusula “sem despesas” quando inscrita pelo sacador estende-se a todos os signatários da letra produzindo todos os seus efeitos em relação a todos eles (art.º 46LULL).

Pelo que o portador D pode exigir o pagamento da letra do aceitante.

- b) Imagine que o portador quer accionar os obrigados de garantia conjuntamente, mas não realizou protesto.

RESPOSTA Impende sobre o portador o ònus do protesto, bem como o de avisar da falta de aceite ou pagamento o seu

endossante e o seu sacador - nos termos do artigo 45 da LULL - terá de o fazer dentro de quatro dias úteis que se seguirem ao que teria para apresentação do protesto.

Devendo cada um dos endossantes por sua vez, dentro dos dois dias úteis que se seguirem à recepção do aviso, avisar o endossante do aviso que recebeu .

A cláusula “sem despesas” quando inscrita pelo sacador estende-se a todos os signatários da letra produzindo todos os seus efeitos em relação a todos eles.

Pelo que o portador pode accionar os obrigados de garantia sem a realização do protesto.

96

Page 97: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

INDICE

Titulo I......................................................................................................................1Parte geral................................................................................................................21. Evolução histórica do direito comercial...............................................................22. Noção de direito comercial português.................................................................33. Fontes do direito comercial português.................................................................44. A autonomia do direito comercial e a sua relação com o direito civil................4Titulo II....................................................................................................................5Dos actos de comércio em geral.............................................................................51. Noção de acto de comércio..................................................................................52. Actos de comércio objectivos..............................................................................63. Qualificação dos actos de comércio por analogia:...............................................74. Princípios de direito comercial............................................................................75. Actos de comércio subjectivo..............................................................................86. Classificação dos actos de comércio....................................................................9

6.1 Actos de comércio autónomos:......................................................................96.2 Actos de comércio acessórios:.......................................................................96.4 Actos formalmente comerciais.....................................................................106.5 Actos substancialmente comercias...............................................................106.6 Actos bilateralmente comerciais.................................................................106.7 Actos unilateralmente comerciais................................................................10

Capítulo I................................................................................................................15Secção I..................................................................................................................15Dos comerciantes...................................................................................................151. Sujeitos qualificáveis como comerciantes.........................................................15

1.1 Requisitos essenciais para obtenção da qualidade de comerciante no caso das pessoas singulares:..........................................................................................................151.2 As pessoas colectivas como comerciantes:..................................................16

2. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes...................................................173. Consequências jurídicas da qualificação de um acto como comercial..............193. Estatuto dos comerciantes..................................................................................20Secção II.................................................................................................................20A empresa..............................................................................................................201. A empresa em sentido jurídico...........................................................................20

1.1 A empresa em sentido objectivo e subjectivo..............................................211.2 Quando é que temos uma empresa?.............................................................22

2. Tipologia das empresas......................................................................................23Titulo II..................................................................................................................26Sinais distintivos de comércio................................................................................261. A firma...............................................................................................................26

1.2 Noção...........................................................................................................261.3 Formas de constituição de uma firma..........................................................26

2. Nome do estabelecimento:.................................................................................273. Insígnia do estabelecimento...............................................................................274. Princípios jurídicos............................................................................................275. Mecanismos de protecção da firma:...................................................................296. Alteração da firma..............................................................................................307. Transmissão da firma.........................................................................................30

97

Page 98: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

8. Vicissitudes das firmas.......................................................................................31Secção II.................................................................................................................31A propriedade industrial.........................................................................................31O nome e a insígnia................................................................................................321. Noção.................................................................................................................322. A constituição do nome e insígnia.....................................................................333. Princípios jurídicos............................................................................................334. Protecção do nome e da insígnia de um estabelecimento:.................................35

4.1 A concorrência desleal.............................................................................365. Transmissão do nome e da insígnia:..................................................................376. Extinção dos direitos emergentes do uso do nome e insígnia:...........................37Secção III...............................................................................................................39A marca..................................................................................................................391. Noção.................................................................................................................39

1.1 Constituição de uma marca..........................................................................392. Espécies de marcas.............................................................................................39

2.1 natureza das actividades a que se ligam.......................................................392.2 Atendendo aos possíveis titulares das marcas..............................................392.3 As marcas podem ainda ser notórias ou marcas de prestígio:.....................40

3. Função das marcas.............................................................................................404. princípios jurídicos.............................................................................................415. A tutela legal das marcas...................................................................................43

5.1 O princípio da prioridade cronológica.........................................................435.2 O registo.......................................................................................................44

6. Tutela das marcas:..............................................................................................456.1 Tutela marcas não registadas ou marcas de facto........................................456.2 Limitações dos direitos conferidos pelo registo...........................................46

7. Extinção dos direitos conferidos pelas marcas, art. 265.º CPI:..........................468. Transmissão das marcas.....................................................................................469. Licenciamento da marca....................................................................................4810. Recompensas (arts. 271.º e ss).........................................................................49Titulo III.................................................................................................................51Títulos de crédito...................................................................................................511. Conceito de crédito............................................................................................512. Características....................................................................................................51

2.1 Classificação dos TC quanto à circulabilidade:...........................................523. Prescrição – Art.º 70 LULL: Em relação aos intervenientes:............................534. Função e conceito de título de crédito:..............................................................555. Características gerais do título de crédito..........................................................566. Títulos impróprios..............................................................................................597. Tipologia – Classificações:................................................................................608. Critério do conteúdo do direito cartular:............................................................6010. Critério da natureza da entidade emitente:.......................................................6211. Principais títulos de crédito - Os títulos cambiais: Letra, Livrança e Cheque. 6311. Extinção e reforma dos títulos de crédito:.......................................................6912. Ineficácia do título:..........................................................................................7013. Extinção do direito cartular:.............................................................................70Parte 1....................................................................................................................70A Letra de câmbio:.................................................................................................701. Requisitos formais da letra.................................................................................70

98

Page 99: Apontamentos DAC -2007 v.1

BERNARDINO MILHEIRASU.A.L. – 3º ANO – 20060248

2. Falta dos requisitos essenciais. A letra em branco.............................................713. Os negócios jurídicos cambiários:.....................................................................72

3.1 O Saque:.......................................................................................................723.2 O Aceite – Art.º 28 LULL:..........................................................................723.3 O Endosso – Art.º 11 e ss. LULL:...............................................................73

3.3.1 A cláusula “não à ordem”.....................................................................733.4 O Aval – Art.º 30 a 32 LULL:.....................................................................74

4. Características da obrigação cambiária:.............................................................745. Vencimento e pagamento da letra – Art.º 33 e ss. LULL:.................................756. Protesto – Art.º 44 LULL:..................................................................................76

6.1 O protesto por falta de aceite......................................................................766.2 O protesto por falta de pagamento...............................................................76

7. Prescrição – Art.º 70 LULL:..............................................................................768. Acções de regresso – Art.º 43, 47 e 48 LULL:..................................................77

99