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6229 OS DESAFIOS NO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL. TROVA, Andreza Gessi, Universidade Nove de Julho. BOCCIA, Margarete Bertolo, Universidade Nove de Julho. Eixo temático: Formação de Professores da Educação Infantil. [email protected] INTRODUÇÃO Este relato visa discutir o início à docência na Educação Infantil de alunos egresso do curso de Pedagogia na modalidade à distância, pois já foi possível identificar que as pesquisas sobre essa temática podem ser consideradas inexistentes. Em busca aos bancos de teses e dissertações o número de pesquisa sobre professores iniciantes em geral é considerado ínfimo, como uma temática ainda pouco explorada. Considerando-se os egressos de curso de Pedagogia na modalidade EAD, esse número beira à nulidade. Objetiva-se ainda identificar as dificuldades e desafios desses egressos, considerando as críticas que a formação em EAD recebe, ampliando-se a relevância do presente estudo com vistas a discutir sobre a identidade profissional e valorização dos profissionais que trabalham com crianças de 0 a 5 anos em nosso país. Assim, com base nas pesquisas desenvolvidas por TROVA (2014) sobre professores iniciantes na Educação Infantil, ampliaremos a pesquisa, considerando agora um aluno egresso do curso de Pedagogia na modalidade EAD, com vistas a comparar os dados obtidos nas respostas de alunos egressos do curso presencial (04) e a distância para identificarmos as aproximações e suas disparidades. Na primeira pesquisa foram enviados por volta de 350 formulários aos alunos do curso presencial e destes foram respondidos 101, cuja seleção dos sujeitos que atendiam os parâmetros delimitados da pesquisa, foram apenas 25 respondentes, que finalmente configuram em 04 sujeitos que aceitaram participar respondendo aos questionários. Na atual pesquisa, foram enviados dez formulários, a comunicação com esses alunos foi um pouco mais difícil, pois os alunos estavam em processo de conclusão de curso com diferentes afazeres acadêmicos no que resultou na aceitação de apenas um aluno respondente da pesquisa. Destaca-se que a pesquisa com os alunos do curso presencial foi respondida após o término do curso e, que esse procedimento será mantido com os alunos do curso em EAD para ampliação dos dados e da pesquisa. Esta pesquisa partiu de dados quantitativos a partir da pesquisa bibliográfica de banco de teses e dissertações da Capes sobre o início da docência na Educação

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OS DESAFIOS NO INÍCIO DA CARREIRA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

TROVA, Andreza Gessi, Universidade Nove de Julho.

BOCCIA, Margarete Bertolo, Universidade Nove de Julho.

Eixo temático: Formação de Professores da Educação Infantil.

[email protected]

INTRODUÇÃO

Este relato visa discutir o início à docência na Educação Infantil de alunos

egresso do curso de Pedagogia na modalidade à distância, pois já foi possível

identificar que as pesquisas sobre essa temática podem ser consideradas inexistentes.

Em busca aos bancos de teses e dissertações o número de pesquisa sobre

professores iniciantes em geral é considerado ínfimo, como uma temática ainda pouco

explorada. Considerando-se os egressos de curso de Pedagogia na modalidade EAD,

esse número beira à nulidade.

Objetiva-se ainda identificar as dificuldades e desafios desses egressos,

considerando as críticas que a formação em EAD recebe, ampliando-se a relevância

do presente estudo com vistas a discutir sobre a identidade profissional e valorização

dos profissionais que trabalham com crianças de 0 a 5 anos em nosso país.

Assim, com base nas pesquisas desenvolvidas por TROVA (2014) sobre

professores iniciantes na Educação Infantil, ampliaremos a pesquisa, considerando

agora um aluno egresso do curso de Pedagogia na modalidade EAD, com vistas a

comparar os dados obtidos nas respostas de alunos egressos do curso presencial (04)

e a distância para identificarmos as aproximações e suas disparidades.

Na primeira pesquisa foram enviados por volta de 350 formulários aos alunos

do curso presencial e destes foram respondidos 101, cuja seleção dos sujeitos que

atendiam os parâmetros delimitados da pesquisa, foram apenas 25 respondentes, que

finalmente configuram em 04 sujeitos que aceitaram participar respondendo aos

questionários.

Na atual pesquisa, foram enviados dez formulários, a comunicação com esses

alunos foi um pouco mais difícil, pois os alunos estavam em processo de conclusão de

curso com diferentes afazeres acadêmicos no que resultou na aceitação de apenas

um aluno respondente da pesquisa. Destaca-se que a pesquisa com os alunos do

curso presencial foi respondida após o término do curso e, que esse procedimento

será mantido com os alunos do curso em EAD para ampliação dos dados e da

pesquisa.

Esta pesquisa partiu de dados quantitativos a partir da pesquisa bibliográfica de

banco de teses e dissertações da Capes sobre o início da docência na Educação

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Infantil. Sobre este tipo de pesquisa Severino (2007) afirma ser aquela que se realiza

em documentos impressos e ainda:

Utiliza de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outrospesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontesdos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir dascontribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dostextos (p.122).

As palavras-chave de busca foram professores da Educação Infantil, anos

iniciais da docência, anos iniciais na docência na Educação Infantil, formação de

professores na Educação Infantil.

Como resultado dessa busca foi identificado mais de dois mil trabalhos, mas

quando estes trabalhos foram selecionados e a busca passou por um refinamento na

investigação, a partir de nova palavra-chave, como professor iniciante, essa

quantidade de trabalhos diminuiu consideravelmente.

A partir desses trabalhos realizou-se a leitura prévia de seus resumos no diz

respeito ao EAD identificou-se que não temos trabalhos que tratem especificamente

dos professores iniciantes egressos de cursos exclusivamente em Educação à

distância, formados em cursos não vinculados à Universidade Aberta do Brasil.

Trova (2014) realizou pesquisa quantitativa sobre professores de Educação

Infantil, anos iniciais na docência, anos iniciais na docência na Educação Infantil e

formação de professores na Educação Infantil e obteve como resultado os dados

indicamos abaixo:

Tabela 1 – Banco de Teses e Dissertações da Capes

Palavras-chaveANO Professoras

de EducaçãoInfantil

Anos iniciais na docência

Anos iniciais na docência na Educação Infantil

Formação de professores naEducação Infantil

2000 48 03 01 282001 60 01 00 382002 68 06 00 342003 137 06 02 752004 113 08 01 662005 142 14 01 742006 158 11 02 872007 194 17 03 1052008 184 18 01 1072009 209 25 03 1202010 213 31 06 1182011 213 19 02 120Total: 1.526 159 22 972

TOTAL GERAL 2.679Fonte: TROVA, 2014, p. 22.

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Indica que destes trabalhos selecionados apenas 22 estão vinculados aos anos

iniciais da docência na Educação Infantil. E afirma:

Este levantamento realizado e tabulado, conforme apresentado natabela acima, permitiu identificar o quanto pesquisas sobre oprofissional de Educação Infantil iniciante ainda não é expressivo noBrasil; basta considerar a variação quantitativa de trabalho realizadosnestes últimos onze anos a partir dos dados da Capes período 2000 a2011 (TROVA, 2014, p.23).

Em suas palavras, as pesquisas sobre os professores iniciantes não chegam a

1% do total teses e dissertações identificadas no Banco da Capes, demonstrando que

“os professores iniciantes da Educação Infantil não foram objeto de estudo e

investigação nesta última década.

Como indicado, a pesquisa efetivou-se pela utilização de questionário,

compreendido como instrumento de coleta de dados estruturado por uma série

ordenada de perguntas (MARCONI, 2002, p. 98).

O questionário respondido foi constituído por 27 questões que acercam as

discussões teóricas sobre formação docente, a entrada na carreira, os desafios e

dificuldades no início e questões que acercam o trabalho docente na Educação

Infantil.

MEU PRIMEIRO ANO NA DOCÊNCIA E OS SEUS DESAFIOS

1. Você fez estágio na educação infantil? Como era?2. Quais foram as condições dessa formação na licenciatura em Pedagogia no que se

refere à Educação Infantil?3. Quais foram as suas expectativas ao ingressar como professora de Educação Infantil

com a sua primeira turma?4. Compreendendo este processo de atuação como professora, alguma frustração sobre

este início? 5. Quando você começou a lecionar na escola você se sentia preparada para ensinar?6. Relate como foi a transição de aluno(a) do curso de Pedagogia a professora na prática

em sala de aula?7. Como foi sua iniciação na profissão? 8. Como eram suas condições de trabalho? 9. De que materiais você dispunha para trabalhar?10. Como é a sua classe? Quantos alunos você tem na sala de aula e qual é a idade? E a

sua relação com eles?11. Você faz planejamento das atividades?12. Usa livro didático? Como avalia os seus alunos?13. Há supervisão do seu trabalho? Existem cobranças? 14. A quem você recorre quando tem dificuldades? 15. Quais eram ou são as maiores dificuldades que você sente como professora?16. Quais eram e/ou são os desafios neste primeiro ano da docência?17. Você lembra como se sentia ou ainda sente nesta época em que viveu essa

experiência de ensino?18. O que você destacaria como mais significativo nessa experiência profissional inicial?19. Como você acha que as professoras se sentem no início da profissão hoje?

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20.Em termos institucionais e pessoais, como você acha que essa iniciação no exercício

da docência poderia ser?21. O que a estimulou na escolha da Educação Infantil para atuar como professora?22. Como você se vê como professora de Educação Infantil? Sente-se realizada?23. Como é a sua relação com os seus colegas de profissão?24. Quais são as suas expectativas como profissional de Educação Infantil?25. E a escola onde você trabalha qual é a estrutura?26. O que você diria aos futuros professores de Educação Infantil?27. Gostaria de relatar, sugerir algo que não foi perguntado e anseie descrever?

Fonte: TROVA, 2014 p.162

Das questões indicadas acima foram utilizadas para análise nesta pesquisa as

perguntas de número seis, dezesseis e dezessete.

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E EDUCAÇÃO À

DISTÂNCIA

Educação à distância é uma modalidade de ensino na educação brasileira,

desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, em 1996. Desde então a

educação do país passou a ter duas configurações: uma presencial com suas

características já bastante conhecidas e a não presencial ou à distância, caracterizada

pela não presencialidade, pelo uso das tecnologias como o meio efetivador das

relações, virtualidade, tempos e espaços distintos, com encontros mediados pelas

ferramentas tecnológicas e principalmente a internet.

A partir dos incentivos legais apresentados na referida lei, em seu artigo 80, o

curso de Pedagogia na Modalidade EAD passa a ser uma realidade cada vez mais

próxima de nós, e próspera também em termos numéricos de alunos egressos,

constituindo-se em alternativa para a formação de professores da educação básica.

Segundo dados do Censo o Ensino Superior do Ministério da Educação (2013)

o aumento de cursos de licenciaturas presenciais subiu em dez anos 35%, mas em

cursos oferecidos na modalidade EAD, esse número salta para os 1.100% passando

de 49 cursos para 592 no ano de 2013.

Demarcando claramente o peso da formação inicial via essa modalidade

específica de ensino.

Não só a educação a distância mereceu destaque na legislação educacional do

país, a Educação Infantil passou por significativas mudanças de concepção e

expectativas de formação dos profissionais vinculados a ela.

Após a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei

9394/96 – LDB, que alterou o status da educação infantil de nosso país para um

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segmento que compõe a educação básica do país, iniciou-se as discussões sobre

quais seriam os referenciais para essa nova realidade educativa.

Processo esse longo e desenvolvido nas instâncias governamentais federais,

que culminou na publicação dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação

Infantil do Brasil – RCNEI, documento este que o ministério da educação se

preocupou em colocar os principais aspectos a serem considerados pela educação de

crianças de zero a três anos e inicialmente de quatro a seis anos.

Com a perspectiva de conjugação entre o Cuidar e o Educar e, não abrindo

mão do Brincar como característica específica; no que se refere aos profissionais que

atuam diretamente com as crianças, na apresentação inicial do documento

encontramos:

Embora não existam informações abrangentes sobre os profissionaisque atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-escolas dopaís, vários estudos têm mostrado que muitos destes profissionaisainda não têm formação adequada, recebem remuneração baixa etrabalham sob condições bastante precárias. Se na pré-escola,constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela de profissionaisconsiderados leigos, nas creches ainda é significativo o número deprofissionais sem formação escolar mínima cuja denominação évariada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem,monitor, recreacionista etc (BRASIL, 1998, p. 39).

Preocupação essa, atualmente, pelo menos em tese, minimizada pela

efetivação da exigência da formação em nível superior para os profissionais que

atuam na educação básica e nosso país confirmada pela atual Plano Nacional de

Educação Lei nº 13.005/ 2014.

Já naquele momento de publicação do documento, a preocupação também

com as funções a serem exercidas por esses profissionais mereceriam destaque,

devido às reformulações:

O que se esperava dele há algumas décadas não corresponde maisao que se espera nos dias atuais. Nessa perspectiva, os debates têmindicado a necessidade de uma formação mais abrangente eunificadora para profissionais tanto de creches como de pré-escolas ede uma reestruturação dos quadros de carreira que leve emconsideração os conhecimentos já acumulados no exercícioprofissional, como possibilite a atualização profissional RCNEI(BRASIL, 1998, p. 39).

Nos dias atuais, com a obrigatoriedade (Lei nº 12796/2013) das crianças a

partir de quatro anos serem matriculadas e mantidas nas escolas do país as

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expectativas com as funções a serem exercidas e o perfil profissiográfico desse

profissional passa por processos de reflexão dos pesquisadores e dos próprios

sujeitos. A competência polivalente descrita no RCNEI não basta em si mesma.

Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar comconteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidadosbásicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes dasdiversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda,por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que devetornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobresua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias ea comunidade e buscando informações necessárias para o trabalhoque desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre aprática direta com as crianças a observação, o registro, oplanejamento e a avaliação RCNEI (BRASIL, 1998, p. 41).

Destaca ainda que este deva ser um profissional comprometido com práticas

educacionais que atendam ao tripé da educação, com bases nas necessidades do

cuidado, nas aprendizagens, no brincar e ainda responda às demandas das famílias.

Ainda, segundo Trova (2014),

Podemos considerar que tais competências pressupõem umaformação ampla e, ao mesmo tempo, específica de vivências eexperiências significativas no campo das linguagens artísticas eexpressivas, além do necessário aprofundamento nas teoriaseducacionais, filosóficas, linguísticas, entre outras, quandoapresentados no RCNEI (BRASIL, 1998), volume 3, os eixos e opapel de atuação do professor por meio das orientações didáticas(TROVA, 2014, p.46).

Consideramos que a formação docente deve ajustar situações que permitam a

reflexão e a conscientização dos entraves sociais, culturais e ideológicos da própria

profissão docente ponderando não só a importância da normatização, mas também a

dimensão entre o cuidar e o educar. É ressaltar a importância dessa etapa educacional

frente à valorização deste profissional, pois é a primeira etapa da Educação Básica

considerada pela LDB 9394/96 como o primeiro nível de ensino atendido em Creches

e Pré-Escolas de 0 a 5 anos.

PROFESSOR INICIANTE E OS SEUS DESAFIOS NO INGRESSO DA CARREIRA

DOCENTE.

A bibliografia sobre o professor em início de carreira é bastante expressiva,

especialmente no que se refere aos estudos dos dilemas e desafios vivenciados neste

período. O enfoque nesta fase inicial da carreira docente tem se dado por ser

considerada um rito de passagem, uma etapa relevante na vida profissional do

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professor iniciante, determinando o seu futuro profissional e a relação com o trabalho

como afirma Tardiff (2001).

De modo geral, o início da carreira constitui um período marcado por crises.

Pesquisas revelam que esse período é considerado pelo professor como um dos

piores da vida profissional docente (HUBERMAM, 1995).

Huberman (1995, p.39) estudioso da área de formação de professores, sobre

essa temática utiliza a terminologia de ciclos de vida profissional e coloca que nestes

ciclos os professores iniciantes passam por duas fases: “a entrada na carreira” e a

fase de “estabilização”.

Segundo Trova (2014, p.60) o autor se preocupou em estudar a carreira de

professores e classificar os ciclos de vida profissional de docentes, denominando-os

como fases, onde cada fase apresenta características próprias e procura enquadrar o

professor durante o seu percurso profissional. Destes ciclos de vida profissional:

entrada na carreira, estabilização, diversificação, pôr-se em questão, serenidade,

conservantismo e desinvestimento.

Neste texto vamos usar o ciclo entrada na carreira que compreende os

primeiros 3 anos de docência dos professores, apresentando dois estágios. O estágio

de sobrevivência, momento no qual ocorre o “choque com o real”, o distanciamento

entre o ideal e a realidade cotidiana e a fragmentação do trabalho. O estágio de

descoberta resume-se no entusiasmo inicial, a exaltação pela responsabilidade de ser

professor e sentir-se inserido no corpo de professores. “Este processo na vida do

professor iniciante está relacionado também ao retorno dado pelos alunos frente às

aprendizagens construídas e pelos pares e gestores, vivendo emoções nem sempre

semelhantes aos colegas-pares de profissão” (TROVA, 2014,p.63).

Podemos identificar estes impasses e dilemas a partir dos dados obtidos com o

sujeito de pesquisa egresso do curso de Pedagogia à distância e na modalidade

presencial.

Na questão 06 foi perguntado: Relate como foi a transição de aluno (a) do

curso de Pedagogia a professora na prática em sala de aula?

Professora Ana (EAD)

Pude perceber que quando terminei a faculdade parecia quefaltava alguma coisa e hoje sei bem o que é.... segurança,quando sai para dar aula me senti muito insegura e isso nosdeixa sujeitos a erros. Quando eu assumi minha primeiraturma, ao olhar para aqueles rostinhos dava um medo de dizerqualquer coisa, mas aos poucos fui entendendo que é umprocesso normal se conhecer, conhecer os alunos e darcontinuidade aquilo que eu me formei pra ser professora.

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Veenman (1988) afirma que o início da docência, que pode ser chamado

também de período de aprendizagem da profissão, é um período de experimentação

empírica de ensaios, com tentativas e erros. Assim, essa iniciação ao ensino é um

período desgastante de muita insegurança, chegando a ser para alguns um ano muito

traumático.

Quando analisamos as respostas dos alunos egressos do curso presencial as

aproximações se concretizam

Professora Judite:

Como aluno tem a responsabilidades de aprender e tirar todas

as dúvidas possíveis com nossos mestres e como professor é

o dobro da responsabilidade, estamos como mestre para

ensinar e cessar as dúvidas dos mesmos.

Professora Luciana:

Foi uma transição cheia de nervosismo e insegurança, e penso

que no ensino fundamental será da mesma forma.

Observa-se, a partir das professoras pesquisadas, que a transição inicial dos

profissionais de educação e sua inserção na profissão docente é um momento crucial

em suas vidas de professoras independente se na modalidade presencial ou à

distância.

Segundo Veenman (1988) este representaria o chamado “choque da realidade”

com as dificuldades concretas e dualidade de sentimentos no início do exercício da

docência.

Ainda considerando esse choque da realidade, este não é exclusivo do ingresso

na educação infantil, a professora Luciana, ressalta a que acredita que quando ingressar

no “ensino fundamental será da mesma forma”, as dificuldades serão inerentes;

embasando esse pensamento, Huberman (1995) afirma que “o desenvolvimento de uma

carreira é, assim, um processo e não uma série de acontecimentos”.

Reforçando ainda esse pensamento Silva (1997) afirma: ” É como se, da noite

para o dia, deixasse subitamente de ser estudante e sobre os seus ombros caísse

uma responsabilidade profissional, cada vez mais acrescida, para a qual percebe não

estar preparado” (p. 53).

Como nosso objetivo era identificar quais seriam os desafios do início da

carreira docente, na questão 16 apresentamos: Quais eram e/ou são os desafios

neste primeiro ano da docência?

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As respostas das professoras egressas do curso presencial indicaram questões

da aprendizagem da rotina, do relacionamento com os pares, pais e alunos.

Professora Luciana:

Aprender tudo na marra.

Professora Carina:

Esse período inicial da docência, pra mim representa um

momento intenso de aprendizagens que vão influenciar tanto a

permanência na carreira quanto o tipo de professor que

realmente irei ser. Já a necessidade de cuidado com o

professor iniciante que além de se sentir atraído pela carreira

precisa permanecer nela. Atrair e reter os professores na

docência são pontos críticos, salientados também pela

precária preparação dos professores, o que demanda

um esforço ainda maior da formação. A falta de cuidado e de

acolhida com os professores iniciantes é evidente, assim como

também é evidente o comportamento que lhes é exigido assim

que ingressam.

Professora Judite:

Muitas perguntas ainda não foram respondidas, mas a

convivência com pessoas era um dos desafios, nestes casos

com os pais dos meus alunos, diante de tudo isso queria saber

até onde posso chegar.

Expectativa de serem acolhidos no grupo, de terem apoio e respaldo nas ações

pedagógicas no espaço escolar, considerando que são iniciantes.

Esses desafios de algum modo são representados na resposta da professora

egressa do curso na modalidade à distância, quando indica de modo ampliado sem

condições adequadas para o desenvolvimento do seu trabalho.

Professora Ana (EAD)

Fazer o melhor, mesmo sem condições adequadas para o

trabalho. Porque acredito que é a educação ainda que

transforma a pessoa e a sociedade.

Identificamos em todas as professoras que os desafios foram

grandes, conforme aludido por Guarnieri (1996). Elas se sentem despreparadas e

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cobradas pelo seu trabalho como os profissionais de educação vistos por elas mais

experientes.

Reforçando as colocações a professora Carina responde:

Esses anos iniciais constituem um período realmente

importante da história profissional do professor, determinando

inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho.

Para complementar nosso estudo sobre esse período de entrada na carreira

docente, a questão 17 busca identificar os sentimentos relacionados a este: Você

lembra como se sentia ou ainda sente nesta época em que viveu essa experiência de

ensino?

Professora Ana (EAD): Me sentia perdida em meio a tantas dúvidas.

Professora Antônia:

Sentia medo e insegurança. Medo de não ser aceita pelos

alunos e pelos pais. Insegurança de não estar fazendo o certo,

pois vejo o início escolar como o primeiro passo para o futuro

profissional. É como se o futuro desta criança estivesse em

minhas mãos.

Professora Carina:

A minha resposta é única me sinto ainda um tanto descontente

com a falta da necessidade de se repensar como vêm sendo

trabalhadas as questões na formação inicial, sobretudo, no

aspecto da didática e, no ingresso desses professores

iniciantes por meio de implantação de políticas públicas que

deveriam nos dar mais atenção e suporte, minimizando o

choque com o real, potencializando os nossos conhecimentos

e valorizando a experiência gradativa em sala de aula, o que

não é muito válido atualmente nos dias de hoje.

Professora Judite: “Diria que essa experiência a gente não esquece nunca; da

primeira vez em sala, até a carinha dos alunos nunca esqueceremos”.

Segundo Trova (2014, p.96) esta insegurança decorre da “ausência” de

experiência docente as professoras buscam alcançar a transição de estudantes a

profissionais e, nesse momento, surgem questionamentos e tensões, como questiona

a professora Carina sobre a sua formação inicial.

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Ainda segundo a autora, os docentes necessitam adquirir conhecimento e

competência profissional em um determinado período de tempo. De acordo com

Veenman (1988) e Huberman (1995), os professores principiantes estão à procura da

sua própria identidade individual e profissional. O fato é que o ingresso na carreira

docente aponta muitas dificuldades, mas também possibilidades de alteração da

realidade apresentada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa revelou que independente da modalidade de ensino na

formação inicial seja ela na modalidade a distância ou presencial as professoras

pesquisadas relataram pontos convergentes sobre o ingresso na carreira docente na

Educação Infantil representadas por questões subjetivas como medo, insegurança,

mas também como a própria descoberta da profissão.

Os autores Hubermam, (1995) e Veenman,(1984), fincam que boa parte dos

problemas sentidos pelos professores iniciante se dá por um tipo de saber idealizado,

representação idealizada da escola e do aluno, estruturada nos cursos de formação

inicial.

Foi possível analisar que os professores em início de carreira passam por

muitos problemas que indicam um não saber desse professor no manejo de sala, boa

parte desse saber, Nóvoa (1995) chama a atenção para a escola, ela que deve ser

vista como lócus de formação continuada destes profissionais, um lugar onde se

evidenciam os saberes e a experiência dos professores. É nesse cotidiano que o

profissional da educação aprende, desaprende, estrutura novos aprendizados, realiza

descobertas e sistematiza novas posturas na sua “práxis”. Eis uma relação dialética

entre desempenho profissional e aprimoramento da sua formação, principalmente se

relacionarmos a construção destes saberes docentes do professor iniciante nas

escolas.

A reflexão que apontamos é que Universidade e Escolas de Educação Infantil

promovam ações que permitam dialogar na prática a realidade a ser vivenciada pelos

futuros profissionais de ensino.

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