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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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1 Professor de Química da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Especialista em Gestão

Escolar (UCB-RJ).

2 Pedagoga, Doutora em Educação (PUC-PR), professora adjunta do Departamento de

Educação da UTFPR, orientadora do projeto.

Análise das possíveis dificuldades de elaboração coletiva e

democrática do projeto político pedagógico: um estudo de

caso.

Antonio Sergio de Oliveira Setim1

Maria Silvia Bacila Winkeler2

Resumo

Este artigo apresenta o resultado do estudo sobre as ações desenvolvidas na construção

do Projeto Político Pedagógico da escola a fim de perceber as possíveis dificuldades na

elaboração deste documento de forma coletiva e democrática. Os principais autores que

fundamentaram este trabalho foram Ilma passos Veiga, Paulo Freire e Vitor H. Paro. A

metodologia escolhida para o desenvolvimento do projeto foi o grupo focal. A técnica

constituiu em reunir um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas pelo professor

pesquisador, para discutir e comentar o tema em questão a partir de suas experiências

pessoais. Trata-se de um método qualitativo e não diretivo. Participaram do estudo dois

pedagogos e cinco professores. As dificuldades para elaborar um Projeto Político

Pedagógico foram sendo elencadas durante das discussões realizadas pelo grupo de

profissionais.

Palavras-chave: Gestão democrática; Projeto Político Pedagógico; trabalho

coletivo.

Introdução

Embora a gestão democrática seja um princípio legitimado pela

Constituição brasileira, é bastante comum nos depararmos com escolas onde

impera a gestão centralizadora, onde o diretor é quem decide as ações, numa

relação vertical, e os demais profissionais apenas executam suas tarefas sem a

oportunidade de contribuir para a organização do trabalho pedagógico.

Dentro deste contexto, percebemos que a elaboração do projeto político

pedagógico fica restrita a alguns profissionais, impedindo assim, que os demais

membros da comunidade escolar participem da construção desse documento

que deveria atender às necessidades da escola como um todo. Uma proposta

como esta gera, no ambiente escolar, conflitos, senso de competição, evasão

escolar e define um trabalho pedagógico desarticulado e sem objetivos

concretos para serem atingidos. Uma escola que se organiza dessa forma está

longe de desenvolver uma educação de qualidade.

A educação de qualidade é garantida quando se aplicam os princípios da

liberdade de aprender e de ensinar e do pluralismo de ideias. Assim, a

elaboração do projeto político pedagógico deve ser um processo democrático e

coletivo, onde todos devem mostrar seus anseios, desta forma, estabelecer as

metas que vão realmente garantir uma educação voltada para a autonomia dos

sujeitos que participam da vida escolar.

Este estudo teve o propósito de fazer uma reflexão sobre a construção

democrática e dialógica do projeto político pedagógico em contraponto à

gestão autoritária e mostrar assim, que todos os membros da comunidade

escolar são responsáveis pela qualidade e pela democratização do ensino

público.

A educação pública brasileira está passando por um momento de crise,

tendo seu trabalho pedagógico desacreditado pela maioria da sociedade.

Muitos olham para a escola pública com preconceito, como uma instituição

falida, que não consegue cumprir com a sua função dentro do contexto atual.

Neste momento nos cabe fazer uma reflexão sobre as ações pedagógicas

que estão sendo colocadas em prática dentro das instituições da educação

básica. Observamos que atualmente as escolas têm assumido e

desempenhado uma função assistencialista no sentido de acolher o aluno

tentando afastá-lo das drogas e da criminalidade, porém, não tem conseguido

(re)construir os conhecimentos necessários para a formação de um cidadão

autônomo, crítico, capaz de interferir nas atividades de decisão da sociedade.

Essa realidade está diretamente relacionada à forma de gestão que existe

dentro das escolas. Se o gestor tiver uma postura autoritária e centralizadora

nas tomadas de decisões, sem levar em consideração a contribuição que a

comunidade escolar lhe oferece, a escola toda estará fora do eixo que a

conduz para um trabalho pedagógico de sucesso.

Para que a escola pública volte a ser respeitada como instituição que forma

cidadãos críticos e atuantes na sociedade, é necessário que se projete metas

que contemplem as necessidades e os desejos de todas as pessoas que

integram o ambiente escolar, daí, a importância da proposta de uma gestão

democrática, organizada, onde todos contribuam para a manutenção de um

ambiente favorável ao desenvolvimento do ser humano. Como diz Freire (1993,

p. 89)

É preciso e até urgente que a escola vá se tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte, contudo, o respeito de quem diverge de exprimir sua contrariedade.

É com esse princípio de gestão que estaremos verdadeiramente

trabalhando para a libertação do ser humano e pelo fortalecimento das

relações entre escola e sociedade.

O diretor não pode e não consegue resolver sozinho todos os problemas

que se apresentam no cotidiano escolar. Por isso, é preciso permitir a

participação dos todos na construção de uma escola que deseja cumprir com

seu papel, desenvolvendo assim, um ambiente alegre e saudável onde se

encontra o entusiasmo para trabalhar. Essa escola humanitária, engajada nos

princípios da inclusão dos sujeitos que por ela passam só é possível com a

organização do processo de gestão, da articulação dos trabalhos, do

planejamento e das formas de avaliação. Por isso, é preciso parar e observar o

que está sendo feito e refletir sobre o que poderemos fazer para buscar aquilo

que é possível para a construção da escola que desejamos. É neste momento

que o gestor escolar deve aparecer como articulador na elaboração do projeto

político pedagógico.

O planejamento do trabalho pedagógico é algo indispensável. A sua

estruturação deve ser feita com base no diálogo e de forma coletiva, superando

dessa forma, as visões de exclusividade na construção das práticas

educativas. Nas palavras de Freire (2003, p.10) “todo planejamento

educacional, para qualquer sociedade, tem que responder às marcas e aos

valores da sociedade. Só assim é que pode funcionar o processo educativo,

ora como força estabilizadora, ora como fator de mudança”.

O projeto político pedagógico é um importante instrumento no

planejamento educacional, por isso sua elaboração necessita ser feita de

acordo com as prioridades da comunidade onde a escola está inserida, tendo o

aluno como agente construtor de seu conhecimento e participativo nas

tomadas de decisões coletivas.

Dada a urgência do tema, como exposto anteriormente, este

projeto visa levar alguns profissionais da educação a refletir sobre as formas

mais eficazes da construção de um projeto político pedagógico que envolva

todos da comunidade escolar de forma igualitária e participativa.

Fundamentação Teórica

A função da escola é garantir uma educação de qualidade onde os

sujeitos que por ela passam consigam ter condições de usar o conhecimento

adquirido para se posicionar criticamente perante a sociedade. Para que isso

ocorra, é necessário que a escola assegure que todos tenham oportunidade de

participar, não só no que diz respeito ao desenvolvimento das aulas, mas de

fazer críticas e dar sugestões com relação à organização de todo o espaço

escolar. A instituição de ensino deve respeitar todos os sujeitos que nela se

encontram de maneira que eles se sintam importantes no processo de

ensino/aprendizagem. Dessa forma, essas pessoas que fazem parte da rotina

da escola, professores, alunos, funcionários e pais, irão se sentir valorizadas, e

assim, a escola começará a formar seres humanizados, já que é através da

educação que os seres humanos vivenciam e constroem sua própria história.

Para que uma escola seja humanitária é necessário que se tenha uma

gestão democrática. A gestão democrática está norteada pelo artigo 3º de Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB). Na gestão democrática

todos os membros da comunidade escolar, de forma organizada, podem

contribuir para a organização estrutural e pedagógica da instituição. Mesmo

que essa participação nos pareça utópica, ela é de extrema importância para o

bom funcionamento da escola. Segundo Paro (2000, p. 9)

Toda vez que se propõe uma gestão democrática da escola pública que tenha efetiva participação dos pais, educadores, alunos e funcionários da escola, isso acaba sendo considerada uma coisa utópica. Acredito não ser de pouca importância examinar as implicações decorrentes dessa utopia. A palavra utopia significa o lugar que não existe. Não quer dizer que não possa vir a existir.

Por mais difícil que nos pareça é necessário encarar como possível a

construção de uma escola democrática e humanitária. A educação pública e,

portanto, todos os sujeitos responsáveis pelo desenvolvimento da educação,

assumem um o compromisso com a formação das pessoas, principalmente

daquelas que são oriundos das classes mais pobres. É por essas pessoas que

é necessário promover uma transformação no interior da escola.

Quando se propõe uma gestão democrática da escola pública se pensa

na participação de todos os representantes da comunidade escolar nas

tomadas de decisão no que diz respeito ao funcionamento da escola. Além de

permitir que as pessoas se sintam parte e, também, responsáveis pela

qualidade da educação, essa prática fortalece a gestão nos momentos de

reivindicar serviços necessários para a manutenção do ambiente escolar. Nas

palavras de Paro (op. Cit., p. 12)

Hoje, quando o diretor reivindica, é fácil dizer-lhe “não”. Tornar-se-á muito mais difícil dizer “não”, entretanto, quando as reivindicações não forem feita por uma pessoa, mas de um grupo, que represente outros grupos e esteja instrumentalizado pela conscientização que sua própria organização propicia.

Por isso, é importante que ocorra a consolidação de atitudes

democráticas dentro da instituição, pois é assim, através do diálogo, que a

escola começará a realizar as transformações necessárias para formar

cidadãos humanizados e atuantes na sociedade. Como afirma Paulo Freire “o

diálogo é o encontro amoroso dos homens, que mediatizados pelo mundo, o

“pronunciam”, isto é, o transformam e, transformando-o, o humanizam pela

humanização de todos” (FREIRE, 2002, p. 43).

É necessário que os membros da comunidade escolar desenvolvam

uma relação dialógica para que se crie um ambiente com condições de

promover atitudes e formas de pensar e agir que venham contribuir na

formação do cidadão. Para que a escola assuma esse perfil, o gestor precisa

permitir que o planejamento seja feito de forma coletiva, onde todas as ideias

possam ser convergidas para um mesmo objetivo. Um diretor com princípios

democráticos não determina sozinho como irá funcionar a organização

pedagógica da escola, mas permite que professores, funcionários pais e alunos

façam parte da construção do plano de ação da instituição.

Um dos planos de ação a ser desenvolvido pela escola é a elaboração

do Projeto Político Pedagógico (PPP). Quando se discute a construção do PPP

está sendo discutido o que se pretende fazer e quais os objetivos que o grupo

deseja alcançar. Portanto, sua elaboração exige muito diálogo e reflexão para

que o documento realmente possa expressar a identidade da escola. De

acordo com Veiga (2002, p.2)

O projeto político pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.

Percebemos, então, que o PPP se apresenta como um conjunto de

princípios que servem para nortear as ações da escola, ações estas que afirma

a identidade da instituição e, também, o tipo de aluno que será formado por ela.

Neste caso, a participação de todos e o diálogo são pontos de partida para o

desenvolvimento de uma educação libertadora. Nesse processo de construção

democrática o gestor escolar aparece como mediador criando condições

favoráveis para a elaboração do PPP, impedindo que as contradições e as

discordâncias prevaleçam sobre a decisão do coletivo.

Metodologia

Foi escolhida uma metodologia qualitativa para o desenvolvimento do

projeto com a técnica do grupo focal. A técnica de coleta de dados deu-se por

meio de um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas pelo professor

pesquisador, para discutir e comentar o tema em questão, a partir de suas

experiências pessoais. Trata-se de um método qualitativo e não diretivo.

Foram selecionados seis (06) profissionais da escola para integrarem o

grupo, sendo dois (02) pedagogos e quatro (04) professores. Os participantes

são profissionais efetivos que atuam no ensino fundamental e no ensino médio

entre seis (06) e dez (10) anos em escolas públicas do estado do Paraná.

Foram realizados quatro (04) encontros com o grupo, na escola

Juscelino K. de Oliveira, em São José dos Pinhais, em ambiente apropriado e

confortável, onde o tema Elaboração Coletiva e Democrática do Projeto Político

Pedagógico foi colocado em questão para ser debatido. O registro dos dados

foi feito através de gravações de áudio e por anotações por escrito, portanto,

utilizou-se de gravador e papel para anotações. Cada encontro durou em

média, 2 horas.

As interações registradas foram analisadas com o intuito de encontrar

soluções que permitam que seja elaborado um PPP de maneira democrática e

participativa na escola.

Desenvolvimeto

O primeiro encontro começou com a apresentação de cada participante

falando seus nomes, formação e disciplina que leciona. Em seguida o

moderador também fez sua apresentação e na sequência passou um vídeo de

Vasco Moretto que fala sobre a importância e a estrutura de um Projeto Político

Pedagógico. Após assistir ao vídeo, o moderador pediu para que os membros

do grupo recortassem algumas imagens e colassem em uma cartolina para

montar um material que pudesse expressar a visão de gestão democrática do

grupo. Para realizar a atividade foram disponibilizadas revistas e jornais para

o recorte. A dinâmica durou vinte minutos.

Após o fim da atividade, o moderador pediu para que cada um dos

participantes pudesse fazer um comentário do material produzido. A professora

A disse que “a gestão democrática existe quando todas as pessoas são

ouvidas de forma igual no ambiente escolar”. A pedagoga A comentou que

“além das pessoas serem ouvidas elas devem ser respeitadas quando forem

dar uma opinião ou até mesmo fazer uma crítica”. O professor B disse que

“gestão democrática é garantida quando todos ajudam a direção escolar a

tomar as decisões mais importantes para o andamento da escola”. Mas,

segundo o pedagogo B “nem todas as decisões podem ser decididas

coletivamente. Há momentos que a decisão deve vir exclusivamente do gestor

para evitar certos conflitos no ambiente escolar”. O demais participantes

concordaram com as opiniões dos demais membros do grupo.

O moderador questionou os participantes se a gestão democrática tem

alguma relação com a elaboração do projeto político pedagógico. E a resposta

dada por todos foi sim. Segundo a pedagoga A, “a elaboração do projeto

político pedagógico deve ter a participação da comunidade escolar para que

esse documento possa refletir a forma de trabalho e os objetivos comuns que

deseja obter da instituição”. A professora C comentou que “o projeto político

pedagógico precisa ser uma produção coletiva e que isso só se torna possível

quando há na instituição de ensino uma gestão democrática”. O Professor D,

no entanto, disse que para ele “a elaboração do projeto político pedagógico

deve ser feito pela equipe pedagógica, pois os pedagogos têm uma formação

específica o que facilita na hora de elaborar o documento. E a equipe

pedagógica conhece o grupo de professores da escola e que sabem quais são

os objetivos e os anseios dos docentes”. Os demais membros do grupo focal

discordaram da opinião e afirmaram que o projeto político pedagógico só vai

expressar a opinião de todos quando todos participarem de sua elaboração.

Para finalizar o primeiro encontro o moderador agradeceu a colaboração de

todos e disse que a reunião tinha sido bastante produtiva.

Para iniciar o segundo encontro o moderador fez uma breve revisão do

assunto que foi debatido no primeiro encontro. Em seguida comentou da

importância do projeto político pedagógico para a escola como um documento

que da a identidade para a instituição e que determine uma linha de trabalho

para todos, diminuindo assim, os conflitos com relação à linha pedagógica da

escola.

Na sequência o moderador pediu para que cada integrante do grupo

comentasse suas experiências na elaboração do projeto político pedagógico. O

que se percebeu é que nenhum dos professores participou da elaboração do

projeto político pedagógico nas escolas em que lecionaram, e que sequer

tinham acesso ao documento. Os pedagogos afirmaram já ter participado da

elaboração do documento. O pedagogo B disse que “elaborar um projeto

pedagógico não é algo simples, bem pelo contrário, é uma tarefa muito difícil e

que demanda de tempo e conhecimento da estrutura do documento. Isso é o

que torna difícil a participação de professores, pais e alunos no processo”. A

pedagoga A comentou que teve que estudar muito sobre a estrutura do projeto

pedagógico para poder ajudar a elaborar o documento e que a grande

dificuldade de elaborar o projeto de forma coletiva é reunir os profissionais

envolvidos no processo. Comentou também que em uma determinada escola

onde já trabalhou os pais e alunos foram convidados a participar da elaboração

do documento mais estes por sua vez não participaram dos encontros

marcados para a discussão.

O moderador perguntou aos professores do grupo por que eles nunca

tinham participado da elaboração do projeto político pedagógico. A professora A

disse que nunca foi convidada a participar da elaboração e que das três

escolas em que trabalhou apenas em uma viu a equipe pedagógica digitando

um projeto pedagógico. O professor B comentou que ele não participou da

elaboração de projetos pedagógicos e que não se vê capaz de participar da

elaboração do documento. “Eu teria que ler muito sobre o assunto e o volume

de trabalho que tenho com os alunos é muito grande o que torna a ação quase

impossível”. A professora C disse sempre achou que a elaboração do projeto

político pedagógico era uma das responsabilidades dos pedagogos da escola.

A professora D disse que conhece a importância do projeto político pedagógico

e que sempre soube, desde os tempos da faculdade, que o documento deve

ser elaborado de forma coletiva para atender todos os segmentos da

comunidade escolar, mas nunca teve a oportunidade de participar da

elaboração desse documento e que isso a deixa frustrada.

Após um intervalo de quinze minutos o moderador retomou as atividades

com o grupo e aplicou um questionário de perguntas e respostas rápidas. As

perguntas foram escritas em cartões e foram colocadas na mesa de forma que

cada participante pegasse um cartão. A pedagoga A respondeu a pergunta:

Qual a importância da elaboração do projeto político pedagógico de forma

coletiva e democrática? Sua resposta foi que “quando um projeto é elaborado

por todos de forma democrática está construindo uma escola forte, uma escola

que possui objetivos bem definidos e com um ambiente mais harmonioso”. O

pedagogo B respondeu pergunta sobre o tema debatido no projeto. Sua

reposta foi que “o tema é de suma importância e que deveria ser batido por

todos os profissionais da escola em momentos como nas semanas

pedagógicas”. A professora A respondeu a pergunta sobre o que foi aprendido

nos encontros. Segundo a professora “aprendi como é importante ter um

projeto pedagógico bem elaborado na escola. Um projeto feito de forma

coletiva da identidade e respalda o trabalho pedagógico dos professores”. O

professor B respondeu à seguinte pergunta: Qual a necessidade de uma escola

organizar-se democraticamente para obter sucesso no processo de

ensino/aprendizagem? Segundo o professor “só é possível obter êxito no

trabalho quando todos almejam atingir os mesmos objetivos. É compartilhando

idéias, dialogando, criticando e recendo críticas que se constrói uma escola

eficaz. É com a participação de todos que vamos dar mais qualidade ao

trabalho desenvolvido na escola”. A professora C respondeu se o projeto

influenciou na sua postura profissional. A professora disse que “sim, o projeto

me permitiu perceber o quanto o projeto político pedagógico é importante para

a organização do trabalho pedagógico na escola, evitando conflitos e definindo

uma única linha de trabalho a ser seguida. A escola fica mais organizada”. A

professora D respondeu de que forma o tema discutido influenciou sua relação

com os demais profissionais da escola? A professora respondeu que “o

relacionamento dela com os demais profissionais sempre foi muito bom e que o

tema debatido só reforçou o que sempre acreditou: quando se trabalha junto o

grupo fica fortalecido e consegue superar com mais tranqüilidade os desafios e

problemas que aparecem no cotidiano escolar”.

Considerações Finais

As interações vividas no decorrer do trabalho com o grupo focal levou a

uma constatação de que existe um consenso quanto à necessidade da

participação de maior número de pessoas da comunidade escolar na

construção do PPP, para garantir que este documento demonstre as

convicções e propostas da instituição.

Um dos problemas apresentado foi com relação à participação dos

alunos e dos pais na participação da elaboração do PPP. Segundo uma das

professoras, já é difícil conseguir o envolvimento dos docentes no processo,

imagine a dificuldade para trazer a comunidade e os alunos para discutir o

tema. Quanto à participação dos alunos e dos pais, é necessário utilizar

estratégias e criar espaços para estimular a discussão sobre assuntos

pertinentes à escola, estabelecer representantes de turma para participar de

reuniões de trabalho para que eles possam participar das ações que podem ser

implementadas no ambiente escolar. É importante manter os alunos e os pais

informados sobre o processo de elaboração do projeto político pedagógico

como também os progressos obtidos pela escola através deste documento.

Com relação aos professores é necessário que se disponibilize textos e livros

que possam dar subsídios para uma compreensão mais profunda sobre o

assunto.

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho foi possível observar como

a discussão a respeito dos diferentes aspectos do projeto político pedagógico

pode levar os participantes a modificarem suas posições iniciais. Inicialmente,

os professores não percebiam a importância do projeto pedagógico como um

instrumento que organiza o trabalho e ações de todos os sujeitos envolvidos no

ambiente escolar. Após as discussões todos demonstraram entender que o

projeto político pedagógica norteia o trabalho da escola e que isso se reflete na

qualidade do ensino ofertado pela instituição.

Outro aspecto interessante foi perceber que por mais que a gestão

democrática seja garantida por lei, a maioria dos estabelecimentos de ensino

não são administrados por gestores democráticos. Quando os professores

afirmam que nunca participaram da elaboração do projeto político pedagógico

da escola significa que suas opiniões foram desconsideradas no documento

que define as características da escola. Foi levado em consideração o ponto de

vista de poucos profissionais ou até mesmo somente a opinião do gestor no

momento em que o documento foi elaborado.

O desenvolvimento do projeto mostrou que de fato existem dificuldades

quando se trata da elaboração coletiva e democrática do projeto político

pedagógico da escola. Essas dificuldades são reflexos da exclusão da maioria

dos profissionais nas tomadas de decisão que organizam o trabalho

pedagógico da instituição. Também percebeu-se o desinteresse de alguns

profissionais em participar da construção do projeto político pedagógico,

achando que essa ação é uma tarefa específica dos pedagogos e do diretor da

escola. Outro aspecto levantado é a falta de tempo que os professores tem

para se dedicar à elaboração do projeto político pedagógico. A carga de tarefas

a ser cumprido ao longo do período letivo impede que os docentes se

dediquem ao processo de construção do documento.

Esse projeto mostra a necessidade de criar espaços para uma

participação mais efetiva da comunidade escolar, principalmente no que diz

respeito aos pais e alunos. Com relação aos professores seria necessário

oportunizar cursos sobre gestão democrática e participação coletiva, cursos

sobre a importância do projeto político pedagógico para a escola e importância

da participação de todos nesse processo. Mas para que essas ações e esses

momentos sejam efetivados é necessário que os diretores estejam pautados na

gestão democrática.

Referências

GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas.

Brasília: Liber Livro Editora, 2012.

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da

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FREIRE, P. Especial Paulo Freire. Revista Nova Escola. São Paulo:

novembro, 1993.

_______. Educação e Atualidade Brasileira. São Paulo: Cortez, 123 p., 2003.

LIMA, M. R. C. Paulo Freire e a Administração Escolar. A busca de um

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LUCK, H. (org.) A escola participativa - O trabalho do gestor escolar. São

Paulo: Vozes, 2009

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2000.

VEIGA, I. P. A. (org.) Projeto Político Pedagógico da Escola. Uma

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