possÍveis interaÇÕes medicamentosas envolvendo …

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Revista Panorâmica On-Line. Barra do Garças– MT, vol. 16, p. 01–18, jan./jul. 2014. ISSN - 2238-921-0 Página1 POSSÍVEIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENVOLVENDO O USO DE AGENTES HIPOGLICEMIANTES DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DE IDOSOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DA REGIÃO DO MÉDIO ARAGUAIA Ana Paula Azevedo de Jesus 1 Helena Loschi Oliveira Clarim 2 Jacqueline Viana Garcia Marques 3 Eleomar Vieira de Moraes 4 Flávia Lúcia David 5 Fernanda Regina Casagrande Giachini Vitorino 6 RESUMO: O objetivo deste trabalho foi a identificação de possíveis interações medicamentosas (IM), envolvendo hipoglicemiantes, avaliados em prontuários de pacientes idosos, hospitalizados na rede pública de saúde da região do Médio Araguaia - MT. A amostra estudada compreendeu prescrições de 264 pacientes idosos, sendo que 15% dos pacientes analisados utilizaram hipoglicemiantes. Observou-se que 50% dos pacientes que utilizaram hipoglicemiantes apresentaram IM. As interações com hipoglicemiantes foram classificadas com base no banco de dados do MICROMEDEX ® Thomson Midromedex ® Health Series, de acordo com a severidade, sendo classificadas como IM graves (7,5%), moderadas (87,5%) e leves (5%). Este estudo revelou um alto índice de possíveis IM em idosos que utilizaram hipoglicemiantes. A maioria das IM pode comprometer a segurança do paciente, evidenciando a relevância do tema e a necessidade de se avaliar e monitorar a terapêutica medicamentosa no idoso, no sentido de prevenir e diminuir efeitos adversos decorrentes de potenciais IM. PALAVRAS-CHAVE: Interações medicamentosas. Idosos. Diabetes mellitus. 1 Pós-graduada em Farmácia Clinica, pela Faculdade Montes Belos. E-mail: [email protected] 2 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 3 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 4 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 5 Doutora em Farmacologia, pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de Farmácia na UFMT. E-mail: [email protected] 6 Doutora em Farmacologia, pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de Farmácia na UFMT. E-mail: [email protected]

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POSSÍVEIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENVOLVENDO O USO DE

AGENTES HIPOGLICEMIANTES DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO DE IDOSOS

NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DA REGIÃO DO MÉDIO ARAGUAIA

Ana Paula Azevedo de Jesus1

Helena Loschi Oliveira Clarim2

Jacqueline Viana Garcia Marques3

Eleomar Vieira de Moraes4

Flávia Lúcia David5

Fernanda Regina Casagrande Giachini Vitorino6

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi a identificação de possíveis interações

medicamentosas (IM), envolvendo hipoglicemiantes, avaliados em prontuários de pacientes

idosos, hospitalizados na rede pública de saúde da região do Médio Araguaia - MT. A amostra

estudada compreendeu prescrições de 264 pacientes idosos, sendo que 15% dos pacientes

analisados utilizaram hipoglicemiantes. Observou-se que 50% dos pacientes que utilizaram

hipoglicemiantes apresentaram IM. As interações com hipoglicemiantes foram classificadas

com base no banco de dados do MICROMEDEX® Thomson Midromedex® Health Series, de

acordo com a severidade, sendo classificadas como IM graves (7,5%), moderadas (87,5%) e

leves (5%). Este estudo revelou um alto índice de possíveis IM em idosos que utilizaram

hipoglicemiantes. A maioria das IM pode comprometer a segurança do paciente, evidenciando

a relevância do tema e a necessidade de se avaliar e monitorar a terapêutica medicamentosa

no idoso, no sentido de prevenir e diminuir efeitos adversos decorrentes de potenciais IM.

PALAVRAS-CHAVE: Interações medicamentosas. Idosos. Diabetes mellitus.

1 Pós-graduada em Farmácia Clinica, pela Faculdade Montes Belos. E-mail: [email protected] 2 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail:

[email protected] 3 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 4 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail:

[email protected]

5 Doutora em Farmacologia, pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de Farmácia na

UFMT. E-mail: [email protected]

6 Doutora em Farmacologia, pela Universidade de São Paulo. Docente do curso de Farmácia na

UFMT. E-mail: [email protected]

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POTENTIAL DRUG INTERACTIONS INVOLVING HYPOGLYCEMICS DRUGS IN

ELDERLY PATIENTS DURING THE HOSPITALIZATION IN THE ARAGUAIA

EAST REGION

ABSTRACT: The aim of this study was to identify possible drug-drug interactions (IM)

involving hypoglycemic agents, through the evaluation of medical records form elderly

patients hospitalized in the Public Health System, in the Middle Araguaia Region – Brazil.

The sample consisted of 264 elderly patients, and 15% of them used hypoglycemic drugs

during hospitalization. It was observed the simultaneous prescription of drugs that may cause

drug interactions with hypoglycemic agents, in 50% of the patients using hypoglycemic

drugs. The potential interactions involving hypoglycemic drugs were classified based on

MICROMEDEX® Thomson Midromedex® Health Series database, according to the severity.

It was found that 7,5% of them were classified as severe interactions, 87,5% as moderate

interactions and 5% as light interactions. This study revealed a high rate of possible IM in the

elderly who used hypoglycaemic. Most potential drug-drug interactions identified during this

study could compromise patient safety, demonstrating the relevance of these findings.

Therefore, there is a real necessity to better assess and monitor drug therapy in the elderly

population, in order to prevent and reduce the irrational use of drugs.

KEYWORDS: Drug-drug interactions. Elderly.Diabetes mellitus

INTRODUÇÃO

O aumento da população idosa é um fenômeno mundial que afeta tanto países

desenvolvidos, quanto em desenvolvimento. Nas últimas décadas, esse aumento gradativo do

processo de envelhecimento da população tem sido observado, como resultado da diminuição

das taxas de fecundidade e mortalidade, ocasionado, principalmente, pela melhora das

condições sanitárias e qualidade de vida. Além desses fatores, é notável a influência dos

avanços das tecnologias médicas e farmacêuticas nesse processo, que fornecem instrumentos

para a prevenção e cura de condições mórbidas, anteriormente consideradas fatais, permitindo

o aumento significativo da expectativa de vida (SECOLI, 2010). No Brasil, em 2008, os

idosos representavam 9,5% da população, de forma que, caso as projeções se confirmem, os

idosos representarão aproximadamente, 30% da população brasileira, no ano de 2050,

(BALDONI e PEREIRA, 2011).

A prescrição de uma terapia medicamentosa para um idoso não deveria seguir os

mesmos critérios adotados em uma prescrição realizada para um jovem adulto, se

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considerarmos algumas características peculiares do paciente idoso, nas quais incluímos a

presença de diversas doenças, os problemas de saúde crônicos ativos, a ocorrência da

polimedicação e a susceptibilidade aumentada a interações medicamentosas (GALVÃO,

2006).

As interações medicamentosas (IM) são eventos clínicos nos quais os efeitos de um

fármaco são alterados pela presença de outro fármaco, alimento, bebida, ou algum agente

químico ou ambiental, constituindo causa comum de efeitos adversos (SILVA et al., 2010;

HAMMES et al., 2008).

A associação entre vários medicamentos justifica-se, na tentativa de melhorar a

eficácia terapêutica, reduzir os efeitos adversos de agentes farmacológicos, diminuir doses

terapêuticas, prevenir a resistência, obter ações múltiplas e amplas e proporcionar maior

comodidade ao paciente. Entretanto, em alguns casos, a ocorrência da associação entre

diferentes medicamentos não é devidamente avaliada, podendo resultar em prejuízos ao

paciente, podendo causar antagonismo ao efeito de uma das drogas, potencialização dos

efeitos, reações adversas, aumento da toxicidade, e em casos mais graves, ocasionar o óbito

do paciente (MORENO et al., 2007).

A prevalência de doenças agudas e crônicas entre os idosos é maior do que em

outras faixas etárias. Cerca de 80% têm alguma doença crônica e requerem cuidados médicos

e terapêuticos mais frequentes, utilizando os serviços de saúde em maior escala que as faixas

mais jovens. Aproximadamente, 14% dos custos totais com saúde estão relacionados ao

consumo de medicamentos. Mais de um quarto dos medicamentos prescritos são destinados

para o uso em idosos, sendo que esse grupo etário representa 12% da população. Sendo assim,

eles consomem, proporcionalmente, cerca de três vezes mais medicamentos que indivíduos

mais jovens, pois um grande número deles sofrem de vários problemas de saúde

simultaneamente, e esses medicamentos, em sua maioria, são de uso crônico

(CIMINFORMA, 2003).

Dentre as doenças de grande importância no contexto de problemas de saúde pública,

principalmente em idosos, destaca-se o Diabetes mellitus (DM). O DM é uma síndrome de

etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de esse hormônio

exercer adequadamente seu efeito no controle da glicemia. Essa doença caracteriza-se por um

estado crônico de hiperglicemia, isto é, excesso de glicose no sangue (SOCIEDADE

BRASILEIRA de DIABETES, 2009; ALVARENGA, 2005). Embora essa patologia possa

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ocorrer em qualquer idade, há um aumento dramático de sua prevalência em pessoas idosas,

sendo uma das doenças crônicas mais comuns na população de indivíduos dessa faixa

etária,devido à disfunção da célula beta com menor produção de insulina e resistência

insulínica, decorrente do processo de envelhecimento que traz mudanças fisiológicas no

idoso, como diminuição da massa magra, aumento da massa gorda, diminuição da atividade

enzimática e da função renal, entre outros (ALVES et al., 2007).

As complicações associadas ao DM constituem uma das principais causas de

mortalidade, e a sua evolução leva a quadros como o de insuficiência renal, amputação de

membros inferiores, cegueira e doenças cardiovasculares (MARCELINOeCARVALHO,

2007; AZEVEDOe PAPELBAUM, 2002). Em Portanto, este trabalho tem como objetivo

identificar possíveis IMs, envolvendo agentes hipoglicemiantes, por meio da avaliação de

prontuários de pacientes idosos hospitalizados na rede pública de saúde da região do Médio

Araguaia - MT.

MATERIAL e MÉTODOS

Trata-se de um estudo farmacoepidemiológico, retrospectivo, descritivo,

observacional, de caráter exploratório e com delineamento transversal.

Este estudo foi realizado na região do Médio Araguaia, situada entre Mato Grosso e

Goiás. A população dessa microrregião foi estimada, em 2010, pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), em 90.952 habitantes e está dividida em cinco municípios no

estado de Mato Grosso (Araguaiana, Barra do Garças, Cocalinho, Novo Santo Antônio,

Pontal do Araguaia) e Aragarças no estado de Goiás (IBGE, 2011)

Os pacientes incluídos neste estudo, que atenderam aos critérios estabelecidos foram

indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, que foram hospitalizados na rede pública de

saúde da região do Médio Araguaia - MT, no período de janeiro a dezembro de 2010, e que

permaneceram internados por um período igual ou superior a 24 h. Portanto, excluem-se os

pacientes com idade inferior a 60 anos.

Coleta de dados

As informações foram coletadas de prontuários, receituários, ou outra forma de

armazenamento de informação sobre o medicamento, arquivadas nos hospitais onde se

realizaram as internações. Esses dados foram transcritos em um formulário constituído pelos

seguintes elementos: dados demográficos, idade, gênero, raça, tempo de permanência na

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unidade, causa da internação, exames solicitados, medicamentos utilizados e ocorrência de

óbito.

Para os medicamentos avaliados foi empregada a Classificação Anatômica, Química

e Terapêutica (Anatomical-Therapeutical-ChemicalClassification Index – ATC), que se

integra à Lista Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e à classificação da queixa,

segundo o Código Internacional das Doenças de 2010 – CID 10 (WHOCC, 2008; BRASIL,

2010; SAÚDE, 2010)

As bases oficiais consultadas sobre os fármacos foram o bulário da ANVISA

(disponível em: http://bulario.bvs.br/) e MICROMEDEX® Thomson Midromedex® Health

Series (disponível em: www.portaldapesquisa.com.br), que possui um sistema interativo para

checar sua ocorrência. Aproximadamente, 8.000 medicamentos podem ser testados em

interações, sendo que o programa é atualizado trimestralmente. O programa ainda descreve o

tempo de início da ação da interação, seu mecanismo subjacente, seu grau de embasamento

científico na literatura e sua potencial gravidade.

Quanto à possível gravidade, as interações medicamentosas foram classificadas em:

maior, quando apresentam ameaça à vida e possam requerer a intervenção médica imediata;

moderada, quando possa ocorrer a piora do quadro clínico do paciente e a necessidade de

alteração na terapia medicamentosa; menor, quando o paciente possa apresentar alterações no

quadro clínico, porém, sem exigir alterações na terapia medicamentosa (MICROMEDEX).

Análise dos dados

Para a determinação da prevalência da prescrição e dispensação de medicamentos,

foram analisadas estatisticamente as medidas-resumo para variáveis quantitativas e

qualitativas e serão apresentadas frequências absolutas e relativas. As variáveis foram

comparadas, utilizando-se a análise bivariada mediante o teste de associação de Quiquadrado

e calculados o teste t-Student e a Razão de Chances (OddsRatio), quando necessários. O valor

de p<0,05 foi considerado estatisticamente significante e o intervalo de confiança adotado foi

de 95% (IC 95%). As análises foram feitas pelo programa Epiinfo, versão 3.5.3®.

Considerações éticas

O presente estudo faz parte do projeto de pesquisa “Farmacoepidemiologia da

Prescrição e Dispensação de Medicamentos na Região do Médio Araguaia – MT”, aprovado

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pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Hospital Universitário Júlio Müller, por processo

número: 987/CEP-HUJM/2011.

A pesquisa obedece à Resolução 196/96 (Brasil, 1996) que incorpora os quatro

referenciais da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, e visou

assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da

pesquisa e ao Estado. Não houve identificação nominal, nem risco moral para os pacientes,

por se tratar apenas de dados estatísticos coletados de prontuários, receituários, ou outra forma

de armazenamento de informação sobre o medicamento.

RESULTADOS

A amostra estudada compreendeu prescrições de 264 pacientes idosos, havendo uma

pequena prevalência de pacientes do sexo masculino (59,1%) em relação ao sexo feminino

(40,9%). A média de idade encontrada foi de 75±9,2 anos. A maioria dos pacientes eram

moradores de Aragarças (55,3%) e Barra do Garças (37,9%), locais onde se localizam os

hospitais em estudo, sendo que as cidades vizinhas somavam 6,8% dos pacientes avaliados Os

diagnósticos de internação, classificados de acordo com o CID-10, foram as doenças do

aparelho circulatório (31,6%), doenças do aparelho respiratório (26,6%) e doenças do

aparelho digestivo (10,6%). A grande maioria dos pacientes, 92%, recebeu alta médica,

registrando-se também transferência para outra unidade de saúde (4,5%), óbitos (3,0%) e alta

a pedido do paciente (0,5%). Houve prevalência de períodos de internação superiores a 4 dias

(69,7%), em relação a períodos de até 4 dias de internação (30,3%), quando se observou a

média de 10,5±4,3 medicamentos prescritos para cada paciente, durante esse período,

identificando-se uma média de 4,5±4,2 potenciais IM por paciente.

Do total de pacientes analisados,15% fizeram uso de hipoglicemiantes, sendo que

50% desses pacientes eram do sexo feminino e 50% do sexo masculino, com uma média de

idade de 73±7,3 anos de idade. Desses pacientes, observou-se que, em 50% deles, identificou-

se a ocorrência de prescrição de medicamentos com potencial de IM com agentes

hipoglicemiantes. Dentre as prescrições de pacientes que fizeram uso de hipoglicemiantes,

observou-se uma média de 12,5±5,3 medicamentos prescritos por paciente, com uma média

de potencial IM de 14,5±5,6. Dentre os que apresentavam potenciais IM, com agentes

hipoglicemiantes, 90% apresentavam 60 a 79 anos de idade e 10% estavam acima dos 80

anos, sendo encontrada também uma equivalência entre os gêneros. Em relação ao número de

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potenciais IM, com hiploglicemiantes, observou-se que a maioria dos pacientes apresentaram

apenas uma potencial IM, mas, observou-se a ocorrência de possíveis IM de dois a seis

medicamentos, originando uma média de 2±1,3 possíveis IM, envolvendo agentes

hipoglicemiantes por paciente (Tabela 1).

As interações com agentes hipoglicemiantes foram classificadas com base no banco

de dados do MICROMEDEX® Thomson Midromedex® Health Series, de acordo com a

severidade, sendo que as IM graves representaram 7,5%, as IM moderadas representaram

87,5% e as IM leves representaram 5%. Em relação ao desfecho clínico desses pacientes, 90%

deles obtiveram alta, 5% foram transferidos para outras unidades de saúde e 5% foram a

óbito. Observou-se também a predominância de um período de internação superior a 5 dias,

sendo que a média encontrada foi de 5±4,3 dias de internação para pacientes que fizeram uso

de hipoglicemiates e 6,35 ± 5,61 dias para pacientes que apresentaram potenciais IM com

hipoglicemiantes (Tabela 1).

Tabela 1 – Potencial ocorrência de interações medicamentosas em pacientes que fizeram uso

de hipoglicemiantes

Características Valores

(ƒ) (%)

Pacientes que utilizaram hipoglicemiantes(n, %)

Sim 40 15

Não 224 85

Total 264 100

Potencial Interações entre Medicamentos-Hipoglicemiantes (n)

Sim 20 50

Não 20 50

Total 40 100

Idade x Potencial Interações entre Medicamentos-Hipoglicemiantes

60-79 anos 18 90

Acima de 80 anos 2 10

Total 20 100

Gênero x Potencial Interações entre Medicamentos-Hipoglicemiantes

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Feminino 10 50

Masculino 10 50

Total 20 100

Total de interações Medicamentos-Hipoglicemiantes

1 interação por paciente 10 50

2 interações por paciente 5 25

3 interações por paciente 2 10

4 interações por paciente 2 10

6 interações por paciente 1 5

Total 20 100

Severidade das Interações entre Medicamentos-Hipoglicemiantes

Grave 3 7,5

Moderada 35 87,5

Leve 2 5

Total 40 100

Desfecho clínico dos pacientes que apresentavam potenciais IM

Alta 18 90

Óbito 1 5

Transferência 1 5

Total 20 100

Dias de Internação

Até 4 dias 16 40

Acima de 5 dias 24 60

Total 40 100

Os hipoglicemiantes disponíveis para uso no SUS são o cloridrato de metformina, a

glibenclamida e a insulina, sendo que alguns pacientes faziam uso de mais de um desses

agentes, simultaneamente. A glibenclamida e o cloridrato de metformina apareceram em 40%

(cada) das prescrições e a insulina, em 20% delas.

A metformina apresentou potencial IM com oito fármacos, sendo a ranitidina o mais

frequente (50%), seguido pela digoxina (12,5%), beta-bloqueaodores – atenolol, carvedilol e

propranolol- (6,25% cada), morfina, vancomicina e nifedipino (6,25% cada). Dessas

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potenciais IM, 93,8% foram classificadas como moderadas e 6,2% leves. Dentre as

consequências dessas potenciais IM podemos destacar o aumento na concentração plasmática

da metformina, aumento da absorção de metformina e o aparecimento de quadros de

hipoglicemia ou hiperglicemia. Esses dados são apresentados na tabela 2, bem como um

resumo das potenciais IM e sua severidade.

Tabela 2 – Potenciais interações medicamentosas identificadas envolvendo a metformina, em

que os fármacos aparecem de acordo com sua classificação na ATC

Características Severidade Consequência Valores

(ƒ) (%)

Metformina(A10BA02)

Ranitidina

A02BA02

Moderado Aumento nas concentrações plasmáticas de metformina

8 50

Digoxina

C01AA05

Moderado Aumento nas concentrações plasmáticas de metformina

2 12,5

Atenolol

C07AB03

Moderada Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

1 6,25

Carvedilol

C07AG02

Moderado Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

1 6,25

Morfina

N02AA01

Moderado Aumento nas concentrações plasmáticas de metformina

1 6,25

Propanolol

C07AA05

Moderado Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

1 6,25

Vancomicina

J01XA01

Moderado Aumento nas concentrações plasmáticas de metformina

1 6,25

Nifedipina

G02C/C08CA05

Leve Aumento da absorção de metformina

1 6,25

Total 16 100

A glibenclamida apresentou potencial IM com doze fármacos, sendo o captopril o

mais frequente (31,25%), seguido pelo atenolol, carvedilol, cloranfenicol, cloridrato de

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amiodarona, propranolol, diclofenaco, hidroclorotiazida, levotiroxina, enalapril,

sulfametaxazol e tenoxicam (6,25% cada). Todas as potenciais IM encontradas foram

classificadas como moderadas, e entre as consequência dessas potenciais IM com a

glibenclamida, podemos citar a diminuição da eficácia da glibenclamida, hipoglicemia

excessiva e aumento nos níveis plasmáticos de glibenclamida. Esses dados são apresentados

na tabela 3, bem como um resumo das potenciais IM e sua severidade.

Tabela 3 – Potenciais interações medicamentosas identificadas envolvendo a glibenclamida,

em que os fármacos aparecem de acordo com sua classificação na ATC

Características Severidade Consequência Valores

(ƒ) (%)

Glibenclamida(A10BB01)

Captopril

C09AA01

Moderado Hipoglicemia excessiva 5 31,25

Atenolol

C07AB03

Moderada Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão.

1 6,25

Carvedilol

C07AG02

Moderada Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

1 6,25

Clorafenicol

J01BA01

Moderada Hipoglicemia excessiva 1 6,25

Amiodarona

C01BD01

Moderada Aumento dos níveis plasmáticos daglibenclamida

1 6,25

Proponolol

C07AA05

Moderada Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

1 6,25

Diclofenaco

M01AB05

Moderada Aumento do risco de hipoglicemia

1 6,25

Hidroclorotiazida

C03AA03

Moderada Eficácia daglibenclamida diminuída

1 6,25

Levotiroxina

H03AA01

Moderada Diminuição da eficácia do antidiabético

1 6,25

Enalapril

C09AA02

Moderada Hipoglicemia excessiva 1 6,25

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Sulfa/Trimetropina

J01EE01

Moderada Hipoglicemia excessiva 1 6,25

Tenoxican

M01AC02

Moderada Aumento do risco de hipoglicemia

1 6,25

Total 16 100

A insulina apresentou potencial interação com quatro fármacos, sendo o propranolol

o mais frequente (50%), seguido pela ciprofloxacina (25%), levotiroxina e levofloxacina

(12,5% cada). Dessas interações, 37,5% foram classificadas como graves e 62,5%,

moderadas. Os riscos dessas potenciais IM estão relacionados às alterações na glicemia,

podendo resultar tanto em hipoglicemia como hiperglicemia e diminuição da eficácia do

medicamento. Esses dados são apresentados na tabela 4, bem como um resumo das potenciais

IM e sua severidade.

Tabela 4- Potenciais interações medicamentosas identificadas envolvendo a insulina, em que

os fármacos aparecem de acordo com sua classificação na ATC

Características Severidade Consequência Valores

(ƒ) (%)

Insulina (A10A)

Propanolol

C07AA05

Moderado Hipoglicemia, hiperglicemia ou hipertensão

4 50

Ciprofloxacina

J01MA02

Grave Alterações na glicemia e aumento do risco de hipoglicemia ou hiperglicemia

2 25

Levotiroxina

H03AA01

Moderada Diminuição da eficácia do antidiabético.

1 12,5

Levofloxacina

J01MA12

Grave Alterações na glicemia e aumento do risco de hipoglicemia ou hiperglicemia

1 12,5

Total 8 100

O maior índice de uso de hipoglicemiantes se deu em pacientes com diagnóstico de

internação que incluem as doenças do aparelho circulatório (67,5%), doenças do aparelho

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respiratório (15%), algumas doenças infecciosas e parasitárias (7,5%) e doenças endócrinas,

nutricionais e metabólicas (10%). A tabela 5,nos mostra o perfil de uso de cada

hipoglicemiante de acordo com o diagnóstico (CID10).

Tabela 5 – Uso de hipoglicemiantes, de acordo com o CID-10 indicado como causa de

internação

Glibenclamida Insulina Metformina Total

(ƒ) (%) (ƒ) (%) (ƒ) (%) (ƒ) (%)

Doenças do aparelho circulatório I00-I99 12 30 4 10 11 27,5 27 67,5

Doenças do aparelho respiratório J00-J99 1 2,5 2 5 3 7,5 6 15

Algumas doenças infecciosas parasitárias A00-B99

1 2,5 0 0 2 5 3 7,5

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas E00-E90

2 5 2 5 0 0 4 10

Total 16 40 8 20 16 40 40 100

DISCUSSÃO

Os principais dados encontrados em nosso estudo foram: (a) elevado índice de

potenciais IM, envolvendo hipoglicemiantes; (b) em metade das prescrições que

apresentavam potenciais IM, havia mais que um fármaco, com potencial IM com

hipoglicemiantes; (c) grande número de potenciais IM de hipoglicemiantes, com

medicamentos anti-hipertensivos; (d) aumento na média de dias de internação em pacientes

que apresentaram potenciais IM com hipoglicemiantes; (e) ocorrência de potenciais IM

graves; (f) ausência de exames para determinação de glicemia.

Metade dos pacientes que utilizaram hipoglicemiantes apresentou potencial IM com

outros medicamentos. De importância, a maioria dessas IMs foi classificada como moderada

e, neste caso, como a interação pode resultar em exacerbação do problema de saúde, a

indicação terapêutica é a de que um dos fármacos envolvidos na IM seja substituído. Um

exemplo é a ocorrência da IM entre a ranitidina e a metformina, que, neste estudo, foi a

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potencial IM observada mais frequentemente. Como forma de solucionar esse problema,

poder-se-ia realizar a troca da ranitidina pelo omeprazol, fármaco este também disponível na

lista de medicamentos essenciais e que não apresenta potencial de IM com a metformina.

Neste estudo, identificamos a ocorrência de potenciais IMs classificadas como

graves. Essas potenciais IMs ocorreram, envolvendo insulina e ciprofloxacina (2 pacientes) e

insulina e levofloxacina (1 paciente). As consequências de ambas as IMs são alterações na

glicemia e aumento do risco de hipo ou hiperglicemia. Em casos de IM classificada como

grave, ela pode apresentar perigo à vida do paciente e requer intervenção médica para

diminuir ou evitar os efeitos adversos .

Dentre os pacientes que apresentaram potenciais IMs graves, observou-se um óbito.

Esse paciente tinha 71 anos de idade, foi diagnosticado com doenças do aparelho respirátorio

(J00-J99), fazia uso de 15 medicamentos, sendo que a potencial IM, envolvendo

hipoglicemiantes foi observada entre a insulina e a levofloxacina. Nenhum exame laboratorial

foi realizado, durante a internação desse paciente, que veio a óbito após dois dias de

internação. Não é possível relacionar o óbito com a potencial IM encontrada, mas o fato vale

como alerta para uma monitorização mais eficaz das prescrições e acompanhamento mais

efetivo do quadro clínico do paciente.

Em relação à não realização de exames laboratoriais para determinação de glicemia,

observou-se que 55% dos pacientes em uso de hipoglicemiantes não realizaram esse exame e

dos 18 pacientes que fizeram o exame, 10 deles apresentavam níveis de glicemia acima do

valor estipulado como referência pelo laboratório do hospital (70 a 110mg/dL). A

monitorização da glicemia é importante, pois pode demonstrar a efetividade do tratamento,

visto que existem IMs que podem diminuir a eficácia do agente hipoglicemiante, como, por

exemplo, a interação entre a glibenclamida e a hidroclorotiazida.

Observou-se, também, que um paciente apresentou 6 potencias IMs, sendo todas

classificadas como moderadas. Paciente este, do sexo feminino, 79 anos de idade,

diagnosticada com acidente vascular cerebral não especificado como hemorrágico ou

isquêmico (I64), em uso de 19 medicamentos, sendo que dois deles eram hipoglicemiantes

(insulina e glibenclamida) e outros dois considerados contraindicados para a faixa etária

(nifedipino e cloridrato de amiodarona), segundo os Critérios de Beers (Soares et al., 2008).

Foram realizados exames laboratoriais nesta paciente, incluindo hemograma completo,

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dosagem de ureia, dosagem de creatinina e dosagem de glicose (glicemia normal), e a

paciente recebeu alta, após 6 dias de internação.

Observou-se um elevado número de potenciais IMs de hipoglicemiates com anti-

hipertensivos, dado este de elevada relevância, visto que, segundo dados do Sistema de

Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes mellitus da Atenção Básica (SISHiperdia),

no Brasil, existem 112.513 pacientes cadastrados no programa, que apresentam

concomitantemente diabetes e hipertensão (BRASIL, 2012). Essas potenciais IMs podem

resultar em hipoglicemia excessiva, hiperglicemia, hipotensão e diminuição da eficácia do

hipoglicemiante e devem ser monitoradas cuidadosamente.

O estudo de Amaral e Perassolo (2010) que avaliou possíveis IMs entre anti-

hipertensivos e hipoglicemiates em pacientes cadastrados no HIPERDIA, apresenta resultados

semelhantes ao presente estudo, visto que também foram identificados altos índices de

potenciais IMs entre hipoglicemiantes e anti-hipertensivos. Neste estudo foram entrevistados

45 pacientes participantes das reuniões do grupo HIPERDIA, sendo aplicado um questionário

que avaliou itens sobre as patologias, como: tempo de diagnóstico, uso de terapia

farmacológica e hábitos de vida dos participantes.

O estudo de Moreno et al. (2007), também encontrou resultados semelhantes, em que

150 pacientes hipertensos (faixa etária a partir dos 60 anos de idade), cadastrados no

Programa de Hipertensão Arterial do Centro Municipal de Saúde “Jardim Paulistano”, foram

selecionados, por meio de sorteio aleatório para investigação. Esses pacientes responderam a

um questionário, evidenciando sua condição em relação à doença e aos medicamentos, e

receberam orientações gerais. Foram estudadas as possíveis interações medicamentosas

existentes e verificou-se que algumas delas apresentam riscos potenciais para o paciente,

principalmente em se tratando de indivíduos idosos e comprometidos com outras doenças

crônicas, como o diabetes.

Outro dado importante, observado no presente estudo, foi o aumento da média de

dias de internação de pacientes que apresentavam potenciais IMs com hipoglicemiantes em

relação à média de dias de internação do total de pacientes analisados. O estudo de Hammes

et al. (2008), que avaliou possíveis IMs em 140 pacientes hospitalizados na Unidade de

Terapia Intensiva, também encontrou uma média de dias de internação superior em pacientes

que apresentavam potenciais IMs, comparados a pacientes que não as apresentaram.

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Com base nisso, destaca-se a importância dos serviços de assistência farmacêutica,

que constituem uma prática profissional centrada no paciente, e sua implantação, como parte

dos serviços farmacêuticos prestados em farmácias hospitalares, exige ampla mobilização de

profissionais e acadêmicos, principalmente quanto à assistência ao paciente idoso, que carece

de informações básicas essenciais para o uso correto e seguro do medicamento, a fim de evitar

ou minimizar possíveis IMs potencialmente graves, melhorando, assim, a qualidade do

tratamento, diminuindo o tempo de internação e, consequentemente, os gastos com a saúde,

visto que é nessa faixa etária que os gastos com saúde são mais onerosos.

Um dos medicamentos mais prescritos para esses pacientes foi a dipirona sódica.

Porém, esse fármaco não consta na base de dados do Micromedex® porque está proscrita nos

Estados Unidos. Assim, apesar de ser um medicamento amplamente comercializado e

utilizado no Brasil, é necessário cuidado na sua administração e monitorização dos usuários.

Embora não tenham sido encontrados relatos que evidenciem a ocorrência das potenciais IMs

graves apresentadas pela população em análise, sabe-se que esse é um risco iminente para o

paciente de Unidade de Terapia Intensiva, que apresenta um quadro de saúde de extrema

fragilidade. E, de acordo com estudos previamente publicados, interações entre dois ou mais

medicamentos, em uma mesma prescrição, devem ser investigadas, mesmo que não haja

manifestação clínica imediata, uma vez que a suspeita inicial permite que a equipe médica

esteja preparada, caso reações indesejadas apareçam (SILVA et al, 2010; HMERSCHLAK e

CAVALCANTI, 2005)

Foram encontrados outros medicamentos, que, assim como a dipirona, não

constavam no banco de dados do Micromedex®: ambroxol, deslanósido, cloridrato de

petidina, nimesulida, acebrofilina, diidroergocristina, propatilnitrato, ambufilina. Outro fato

que limita os resultados deste estudo é a possibilidade de os pacientes que fazem uso

constante de medicamentos, como por exemplo, anti-hipertensivos e hipoglicemiantes,

levarem esses medicamentos de suas casas e fazerem uso no ambiente hospitalar, sem

necessariamente estarem descritos nos prontuários avaliados.

Considerando que a população que mais consome medicamentos pertence à faixa

etária dos idosos e que o envelhecimento populacional brasileiro encontra-se em ritmo

acelerado, é de extrema urgência a necessidade de considerar a seleção de fármacos que sejam

seguros, eficazes e que atendam às necessidades da população idosa. Gestores e profissionais

de saúde precisam praticar uma seleção criteriosa que valorize e considere essa faixa etária,

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pois a seleção reflete sobre todas as etapas da Assistência Farmacêutica e, quando baseada em

evidências de estudos farmacoepidemiológicos, pode favorecer o uso racional e seguro desses

insumos terapêuticos que possuem grande representatividade social, econômica, clínica e

humanística (BALDONI e PEREIRA, 2011)

Com este estudo, esperamos alertar a comunidade para a situação crítica da

prescrição no ambiente hospitalar, onde a politerapia e a vulnerabilidade do paciente

propiciam a ocorrência de potenciais IMs. Neste estudo, não foram avaliadas as

consequências dessas potenciais IMs, mas pode-se inferir que elas contribuam diretamente

para uma evolução desfavorável do paciente, deterioração do quadro clínico, trocas de

medicamentos e aumento do tempo de internação, resultando em prejuízos pessoais, além de

custos financeiros para as instituições de saúde. O investimento na implantação de programas

de rastreamento de interações, adequação da dosagem da medicação em pacientes idosos e

conformidade de horário de administração de fármacos, podem prevenir tais eventos,

contribuindo para o sucesso da terapia e a redução dos custos da internação.

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