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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    Mundos Possveis

    Luis Carlos de Morais Junior

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    Apresentao

    1

    Levei muitos anos reescrevendo O Homem Secreto, que pode ser considerado o

    primeiro volume destas memrias. certo que mudei aluns nomes e !antasiei uns tantos

    !atos, ou por necessidade de resuardar a identidade de pessoas envolvidas, ou como um

    e"erccio da li#erdade de criao liter$ria.

    %o entanto, quero asseurar que nos dois volumes &do que seria esta diloia que#ati'ei de Mundos Possveis, e que teria como primeiro tomo Mundo Secreto, (o)e

    renomeado como O Homem Secreto, imediatamente seuido de Mundo Prprio* o meu

    uia e escopo !oi, + e ser$ o real. !ant$stico, ao ocorrer, #em como a !a#ulao, ao inv+s

    de me a!astar deste compromisso, somente o !ortalece e at+ possi#ilita.

    -specialmente quanto a Morioni e suas invenes, trata/se da mais !actual realidade,

    e apenas os nomes que o cientista adotou !oram por mim alterados, pois, de uma !orma ou

    de outra, ele ainda continua por aqui, e no permitiria que toda verdade a seu respeito

    viesse a lume. Por outro lado, + um su)eito e"tremamente vaidoso, e creio que muito se

    orul(ou de encontrar um (istoriador de suas proe'as.

    0

    Mas, eu no estaria to certo em asseurar com toda a certe'a so#re a realidade ou a

    veracidade de alo, isto +, evidentemente todos ns temos as nossas certe'as s quais nos

    aarramos mais ou menos !erreamente, por necessidade de equil#rio emocional e dere!erencial para todas as transaes que arantem a continuidade daquilo que c(amamos de

    real, o nosso real, o nosso dia/a/dia, o rande presente que + acordar e ver que o mundo

    continua e"istindo, e ns com ele.

    0

    0

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    que no sini!ica que eu pro!esse alum tipo de anosticismo, lone disso, pois se

    recusar a entender &mesmo que se)a por )ular que no seria possvel* + a mesma coisa que

    utili'ar a inteli2ncia, a ra'o e a lica da linuaem para re!erendar o no entendimento,

    a sua neao.

    Creio que + possvel um apro!undamento 3!aseado4 no real, em !ases, devido

    nature'a mesma das coisas e nossa tam#+m, a!inal somos parte do mist+rio. - por isso

    amo tanto a arte, pois ela me parece privileiada na condio &devido a sua no

    o#riatoriedade, o seu no compromisso com nada, a sua li#erdade em relao ao que seria

    o real ou at+ mesmo o ser, caracterstica que mel(or e mais a di!erencia da !iloso!ia e da

    ci2ncia* de investiadora delirante, e"perimentadora, merul(adora supratemporal e trans/

    material, que atravessa os espel(os e as paredes e re!lete as imaens de outras dimenses

    mais ou menos encai"adas nesta que supomos nossa, isto +, que pretendemos que se)a una.

    5

    utra complicada dissenso entre ns tr2s &eu e meus amios 6rederico e Jos+ 6arias

    Man(aens* + que cada um reclama para si a prioridade nesse estado de investiador, isto +,

    cada um de ns pensa por si ou por outro ser ele o autor daquilo que aqui se ler$.

    ra, seria possvel que 6rederico e Jos+ !ossem personaens de Lus, ao mesmo

    tempo que este e o primeiro !aam parte de uma inveno do seundo, e ainda que Lus e

    Jos+ consistam em reais criaes de 6rederico7

    8

    pro)eto oriinal era de um romance desmontado c(amado O Homem Secreto e

    outras mentiras, que escrevi entre 19:1 e 19:8. -ram v$rios contos e at+ uma pea de

    teatro, que se encai"avam de muitas maneiras, produ'indo a sensao de (istrias lonas,

    um romance virtual reversvel. ;en(o o reistro dessa o#ra de 19: autor descon(ecido? 0 > poesia? 5 > contos? 8 > e"perimentalismo e @ >

    inde!inio en+rica.

    5

    5

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    -nto, na d+cada de 9, eu trans!ormei O Homem Secretonum romance tradicional,

    se #em que ps/moderno, e min(as maiores in!lu2ncias nessa +poca !oram Benr Miller e

    Du#em 6onseca. Eaiu o que (o)e + o romance, contado de uma !orma linear, que eu supus

    que todo mundo pudesse entender. Fepois !i'As Novas Revolues das Esferas Celestes, e,

    com min(a mul(er -liane Colc(ete O Portal do erceiro Mil!nio, que se revelam duas

    continuaes inesperadas daquele.

    @

    Desolvi retomar o pro)eto e inserir o novo Homem Secretonum livro de contos com o

    mesmo nome, que recuperava aluns dos oriinais e inclua novos que !ui !a'endo ao lono

    do tempo. Fe certa !orma, o pro)eto inicial se restaurava, com duas metades, o rande contoque apresentava a (istria na ntera, e os contos menores, que eram suas virtualidades

    &mas 3As plulas de rito do Fr. G. Hritto4, o te"to teatral, que constava do Homem Secreto

    primitivo, permaneceu )unto com outros de seu 2nero, no livro Peas "eves, que conta

    com 3A Casa da 6onte de Iuas ivas4, que + uma outra continuao do Homem Secreto,

    na qual Lucas ae so# um dos seus pseudKnimos.*.

    Min(a mul(er insistiu que eu recuperasse o livro oriinal, e eu o o#tive no reistro de

    o#ras, e reintitulei como 3#elo4, e ele se tornou uma das novelas de "in#as de $ora&sem

    aluns contos e a pea*. Ali tam#+m as (istrias se liam de muitas maneiras. Aluns dos

    contos oriinais tin(am ido para o novo Homem Secreto e no apareceram na novela

    recuperada.

    A !orma romance !oi se de!inindo cada ve' mais para mim, a partir do Homem

    Secreto, das Revolues, de Memrias Atuais de "eo Outlander &que + um dos meus

    tri#utos ao memorialismo inventivo de sald e Miller, e por que no di'er7, de Proust e

    Joce* e principalmente em$aetontee %i&ante, onde me senti amadurecendo no 2nero,

    an(ando corpo e !ora. -nto resolvi tornar O Homem Secretoum romance assumido e

    mais #em resolvido. 6inalmente a !orma an(ava sua m$"ima comunicao e a (istria

    transparecia, completa, para quem quisesse ver &ler*.

    A !icaram os contos, que um dia )$ se c(amaram A $'ria do "e(o, e que tin(am do

    pro)eto oriinal a dupla !ace de serem tam#+m mont$veis como Nnulos de uma lona

    8

    8

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    (istria e se comunicarem com os outros livros, pelas pro#lem$ticas, personaens,

    situaes etc. A ideia oriinal se ampli!icou= todas as (istrias &romances, peas, novelas e

    contos* se liam de aluma !orma, pode/se montar um novo 2nero a partir da leitura de

    todas elas &esse novo 2nero eu c(amo de novelo e contoerao, que so o ttulo de outro

    livro meu, romance de virtualidades reais*.

    - o livro de contos !a' parte disso. Desolvi dar a ele o nome de MASSAS )ER*A+S,

    que seria o ttulo de um romance, e se tornou do conto &a (istria que ali aparece seria outro

    romance*, e que + o nome de uma t+cnica micro e macro, de plasmar e alutinar massas de

    sinos, palavras, sons e letras, sini!icados e cones, como uma !orma de mOsica e artes

    pl$sticas &esta t+cnica + irm, mas #em di!erente, daquela que c(amei de 3Cinema

    nvisvel4, que era o nome de um conto, e"presso que criei no incio dos : e que depois

    vai aparecer no )ornal na d+cada de 9 se re!erindo a !ilmes virtuais !eitos em papel porcineastas e escritores, a ideia muito pr"ima da que eu tivera e nomeara, e tudo isso vai

    re!erido em meu ensaio O Ol#o do Ciclope? em MASSAS )ER*A+S temos massas de

    palavras como mat+ria opaca e densa? em cinema invisvel a linuaem se torna

    transparente para !a'er passar um !ilme para o leitor*.

    Ao escol(er o novo nome eu mesmo des!i' o pro)eto oriinal da diloia Mundos

    Possveis. $rias !oram as arquiteturas desta o#ra, em aluns casos ela teria cinco ou mais

    volumes, s ve'es com o mesmo nome de 3mundo4, s ve'es variados. ptei por O Homem

    Secretoporque o ttulo me pareceu muito mais suestivo, e pensei ainda em acrescentar a

    ele= 3 poder descon(ecido dentro de cada um4. A ponderei que iria !icar parecendo o#ra

    de autoa)uda, e decidi tirar o su#ttulo, que ainda por cima se !ec(ava em uma Onica leitura

    ou interpretao do sini!icado de O Homem Secreto, que as tem v$rias.

    - + assim que deve ser entendido o nome eral que dou a este romance cclico ou

    painel pluriversal &ou omniversal*= Mundos Possveis, em (omenaem aos meus !ilso!os

    mais caros, Qilles Feleu'e, 6riedric( %iet'sc(e, Haruc( -spinosa, Ber$clito e Lei#ni', e ao

    escritor que precedeu a todos que tentem doravante tal investiao, Marcel Proust.

    MASSAS )ER*A+S+ um livro de contos que se )untam de v$rias !ormas, painel de

    tempos luares e modos de vida, e que pode ser considerado o romance de Jos+ de Alencar

    &meu personaem, no caso*, assim como Leo utlander vai estrelar suasMemrias Atuais,

    -'equiel O Homem Secreto, 6rederico ,-elo, Jonas 6)ordAs Novas Revolues, e Carlos

    @

    @

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    %i&ante. ;udo se lia porque eles so amios e con(ecidos ou no se do muito #em, mas,

    antes de tudo, so novelas paralelas, e"presses paralelas, um tin(a que ser o que o outro

    no tin(a que ser, mas, que alu+m tin(a que ser para ele poder ser o que ele teria que ser

    ento.

    s volumes deMundos Possveisso="in#as de $ora. O Homem Secreto. As Novas

    Revolues das Esferas Celestes, Massas )er-ais, Memrias Atuais de "eo Outlander.

    $aetonte. Mac#ineman, %i&ante e Arro/. fei0(o. amor e confus(o. s contos de Massas

    )er-aise as novelas de"in#as de $oraesto em outros livros? o romanceArro/. fei0(o

    amor e confus(oest$ em preparo, na panela.

    Luis Carlos de Morais Junior = #rasileiro = carioca = pro!essor = poeta = escritor

    uvindo mOsica, me > controlando/se.

    A#re essa portaZ Alarme, vestir roupas at+ que + instantNneo, mudar o cen$rio, )oar

    uma colc(a so#re a cama, uma saia comprida so#re a marca de mordida sanrada na co"a

    de %adine, e um cac(ecol &com esse caloro* so#re o c(upo no pescoo de Lua &o nome

    dela + Laura Am+lia, mas a %adine sempre a c(ama de Lua, e ela s osta que a %adine a

    c(ame assim*. - o que !a'er com o c(eiro e"citando todo o ar7

    Acende um incensoZ Hom/ar que + um spra, a#re a )anela na noite quente o'osa, a

    lua c(eia invade a penum#ra do quarto com sua lu' de son(o.

    Feslia o a#a)ur e lia a lu'Z

    > Por que demorou tanto7 que voc2s estavam !a'endo7

    > -studando, me.

    > A ente ia liar a tv aora pra ver a novela, dona Maura.

    > Laura Am+lia, sua me sa#e que voc2 tem dormido aqui em casa7

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    > -la sa#e sim, ela ac(a super leal eu ter uma amia com quem possa conversar,

    estudar, que me compreende. -la di' que + #om no se sentir so'in(a, principalmente nesta

    idade da ente.

    > verdade.

    Lua lia a tv e senta na !rente dela o#ediente, %adine deslia o som alto &c(amari' da

    me*, Maura !ica ol(ando suspeitosa.

    > %adine, vem na co'in(a um instantin(o. F$ licena, Laura Am+lia.

    Yma ol(ou com alarme pr outra. ;aTe it eas, vamos ter calma, #a#.

    Maura !ec(ou a porta da co'in(a, sentou/se e !e' a !il(a se sentar tam#+m. 6alou que

    ela precisava con!iar na me, que uma tin(a que ser amia da outra, que a maior amia que

    uma moa pode ter + a sua prpria me, que ela era compreensiva e poderia a)ud$/la, que

    essa era a sua preocupao, a)ud$/la.%adine !icou vermel(a, sentiu as orel(as em !oo, por que dia#os eu ten(o tanta

    veron(a de ostar de menina7 Uual+7 - resolveu assumir, contar tudo pr me.

    > Min(a !il(in(a, voc2 est$ usando droas7

    > Froa7 Uue droas7

    > -u senti um c(eiro esquisito no seu quarto, voc2s estavam c(eirando macon(a7

    %adine respirou aliviada e tentou dis!arar o alvio, no dar mais #andeira ainda, e

    e"plicou pacientemente &e !eli' toda vida*=

    > Me, eu te )uro que nem eu nem a Lua !umamos nada. c(eiro que voc2 sentiu + de

    incenso, uma esp+cie de per!ume do ar, mas totalmente ino!ensivo.

    > aqueles pau'in(os que os Bare Gris(na vendem nos Kni#us7

    > isso mesmo. ;odo mundo usa.

    > - esse necio no + t"ico7

    > %o, me, eu aranto pra voc2.

    c(arme da suave marinalidade.

    pai veio comer pastelo e entrou na conversa e arantiu esposa que incenso tudo

    #em, #arra limpa, dei"a as meninas, o pai adorava a %adine, sua !il(a Onica, e tam#+m

    simpati'ava demais com a Laura Am+lia.

    Ao voltar pro quarto encontrou a Lua comendo as un(as.

    01

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    > Calma, menina, ela no sentiu o c(eirin(o de... amor. -la s !are)ou o incenso, e

    surtou que era Maria Joana.

    > Uuem dera...

    - o resto da noite !oi #ele'a, elas na delas, vendo e ouvindo sem prestar ateno as

    #o#eiras da tv, !a'endo amor a noite toda, at+ o cansao c(ear e elas dormirem a#raadas.

    00

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    Captulo 8

    6im de mil2nio e as pessoas esto cada ve' mais estOpidas, neste e nos outros pases.

    6aliram todas as crenas, e quase todas as estruturas sociais t2m cr$pulas como dirientes e

    como !iuras importantes. As pessoas no sa#em mais se ostar, s querem se usar umas s

    outras, e ninu+m mais d$ valor ao ser (umano, cultura e a tudo o que realmente importa.

    que + um relacionamento a!etivo7 Ee"o. - quando o se"o cansa, porque o se"o cansa e

    asta, a no so#ra nada, e as pessoas !icam )untas se odiando, e comeam a se trair, a se

    #ater, a se destruir mutuamente, ou trocam/se umas s outras, descart$veis como copos,

    roupas, camisin(as, casas, carros e pensamentos.

    e)a o caso de Jos+ de Alencar, o nosso e"/colea do col+io de Aplicao, e sua cara/metade racema &curiosa coincid2ncia, mas a vida s ve'es osta de ser estapa!Ordia, s

    ve'es lrica, s ve'es prosaica etc.*, que vivem alternando cio com traies e porradas.

    e)a o caso de sm2nio e de -'equiel, tam#+m condiscpulos contemporNneos meus

    na mesma escola? eles vivem so'in(os, tanto um quanto o outro, no querem e]ou no

    conseuem ter namorada, compan(eira, amante, esposa, qualquer coisa assim, uma mul(er

    do lado, alu+m em quem depositar esperana, con!iana, carin(o.

    - ns ainda tentamos cultivar as nossas ami'ades, somos meio que Onicos nisto. ;odo

    o resto de meus coleas do secund$rio, do clu#e, das ruas, sumiram, incnitos como os

    passantes que da )anela deste Kni#us avisto velo'es irem sumindo pela noite.

    -u e Cirila... o que ser$7 J$ comeo a sentir dOvidas. Mas ($ alo nela que me atrai,

    quando !ico incerto, e ela me parece uma pessoa qualquer totalmente descon(ecida, ou at+

    um ser alienena que nada !ala aos meus instintos, !eito de uma mat+ria inorada e insossa,

    e pede que l(e dia que a amo, e me ol(a com medo e ansiedade esperando pela resposta,

    que ela sente no !undo que no !undo + s um caos emocional? eu tiro sua roupa, e ol(o sua

    vaina, e comeo a me es!rear nela com pra'er, e posso di'er que a amo, que a amo sim,

    que a amo muito, muito mesmo. Fepois, cansado, volta a dOvida, e me d$ vontade de sair

    na mesma (ora, de estar em alum outro luar.

    Assim pensava 6rederico no Kni#us que tomou perto da casa de -'equiel Monis,

    que !icava na ila das 6amlias, um su#Or#io distante.

    05

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    Aora ele estava indo para a YDC-, a Yniversidade Dacional Campos -lsios, onde

    cursava de noite a !aculdade de letras. A viaem era lona e os camin(os !eios e mal

    iluminados. -nto ele se retirou pro seu interior e !icou pensando, primeiro nas coisas que o

    amio l(e dissera, seundo no que seria o tal mist+rio so#re o qual ostaria de !alar a ele e

    aos outros amios no pr"imo encontro, terceiro as coisas )$ citadas, quarto que Cirila

    parecia uma cac(orra, aquela vi'in(a, uma ave pequena, o amio Pancr$cio deveria ser um

    mico, e o seu impressionante pro!essor de 6iloso!ia, de ca#elos e #ar#as lonos e risal(os,

    ar qui"otesco, e inteli2ncia aruta e pol2mica, sempre surpreendente, com os ol(os

    #ril(antes e in!antis, c(eio de pra'er de pensar e de !a'er pensar, ele tin(a a palavra 3lo#o4

    no nome, e era realmente um lo#o enorme e !ero'Z

    Uuinto= lem#rou deles quatro aos quin'e anos de idade, quando se con(eceram, e

    !i'eram o pacto. preciso e"plicar, s o sm2nio !e' pacto com o demKnio, se + que !alavaa verdade, o que sempre arantiu !a'er, em relao a isto. pacto dos quatro !oi de nunca

    dei"arem de ser amios e de se ver. s quatro rapa'es da Dua do Hispo.

    C(earam a !a'er um s(o de #rincadeira, no !inal do Oltimo ano, em que todos

    !i'eram aluma pal(aada, como parte das comemoraes pela concluso do curso.

    Levaram semanas ensaiando, tentando atinir a per!eio.

    Cada um deles realmente tocou o instrumento, no !i'eram du#laem, !oi tudo ao

    vivo mesmo. sm2nio na #ateria &medocre, mas correto*, !oi Dino Etarr. -'equiel na

    uitarra solo &sons loucos, via)antes* era Qeore Barrison. Jos+ de Alencar !oi um Paul

    McCartne ordo e #ai"o, !inindo que tocava o dito cu)o em ao reverso do modelo, alto,

    eleante e e"mio instrumentista*. - 6rederico com seus oclin(os de aros redondos

    met$licos e a enorme ca#eleira lisa e castan(a que usava na +poca !icou sendo Jo(n

    Lennon, cu)a cpia s arran(ava um violo.

    3E(e loves ou4, 3! !ell4, 3Devolution4 e 3All m lovin4. A coraem, mel(or di'er

    temeridade, e o sentimental da coisa, arantiram o maior sucesso do s(o.

    Lem#rou tam#+m de muitas outras aventuras que tiveram )untos, al+m de serem os

    Heatles por um dia.

    nventaram uma lnua. Uuer di'er, o sm2nio o !e', e os outros aprenderam um

    pouco daquela alaravia, com a qual adoravam conversar na !rente dos outros, dei"ando a

    todos aturdidos pelo eterno indeci!r$vel enima.

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    Pois ninu+m nunca conseuiu determinar qual idioma !alavam.

    6oi -'equiel quem sueriu que sm2nio inventasse um sistema de sinais no/ver#ais

    que eles usariam durante as aulas, as provas, no Kni#us, nas !estas, quando quisessem. -ste

    era um cdio constitudo de tosses, espirros, #atidas de p+, tapas, piarros, e outros sons

    malucos, at+ arrotos &(avia um peido tam#+m, mas Jos+ de Alencar conseuiu convencer a

    todos que era invi$vel, por ser uma mani!estao involunt$ria e (istriKnica demais, e que

    !oi por isto su#stitudo por uma crise de soluos, tam#+m risvel, mas de !alsi!icao

    pratic$vel*, e que !oi usado durante anos para colas escolares e para caoar dos outros, sem

    nunca ter sido desco#erto por ninu+m.

    %o lem#rava quem tin(a criado o apelido de c'ar, parecia alo nascido por erao

    espontNnea, uma criao coletiva= todos respeitavam e temiam -'equiel, e era muito di!cil

    no sentir vontade de o#edec2/lo. -le !ascinava as meninas, e namorou as mais #elas da+poca.

    ;alve' a mais escandalosa proe'a do quarteto ten(a sido colocar na cai"a de $ua da

    escola um composto qumico !a#ricado por Jos+ de Alencar, que !icava incolor na $ua,

    mas coloria a pele e a mucosa (umanas de um a'ul pro!undo. %aquele dia (ouve pNnico,

    #om#eiros, polcia, m+dicos, imprensa. composto era ino!ensivo, mas eles !oram

    desco#ertos, ameaados de e"pulso, suspensos, ouviram v$rios esporros etc. e tal.

    - outras (istrias, como naquela ve' em que se perderam na !loresta da ;i)uca com

    quatro arotas, ou na ve' em que !i'eram um torneio pra ver quem conseuia namorar a

    Claudete Qrant, uma loura !enomenal, com ol(os de um a'ul parecido com o do composto

    de Jos+, radical e denso.

    6rederico decidiu saltar e pear outro Kni#us, aora na direo da Q$vea, onde

    morava, so'in(o em seu apartamento (i( tec, o seu a!ortunado #aterista Dino Etarr.

    -ra meio tarde da noite quando c(eou l$, mas o sm2nio sempre !oi notvao.

    6rederico tocou a campain(a com insist2ncia, por uns de' minutos, e )$ pensava em voltar

    pela lona e sinuosa estrada, quando !inalmente o outro atendeu.

    -"plicou que estava conectado com o dreammer e o computador, ao mesmo tempo,

    vivendo e"peri2ncias psicod+licas em realidade virtual. !ereceu/as ao outro, que at+ tin(a

    curiosidade so#re esses oniri!icadores ci#ern+ticos, mas precisava conversar, no sa#ia

    0@

    0

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    direito so#re o qu2, + que a conversa (o)e mais cedo de tarde com o -'equiel !ora como

    aul(adas, e ele precisava... !alar.

    0 e aqui o Fr.

    Hlin(ol encerrou sua (istria, que dei"ou Sre# impressionado e pensativo.

    Comeava a c(over !orte.

    > -ssa (istria + mesmo verdadeira7

    85

    8

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    > . Fou/l(e min(a palavra. %unca a conto para ninu+m, pois sei que

    todos ac(ariam que eu tive um delrio, devido a !orte emoo. Mas eu posso

    arantir a voc2 que eu estava totalmente lOcido, que eu no me enanei, e

    que tudo aconteceu e"atamente como eu l(e contei.

    A c(uva !icava cada ve' mais !orte.

    > - qual a e"plicao cient!ica para o !enKmeno7

    > %o e"iste e"plicao. que eu vi naquela noite !oi alo impossvel.

    %este instante o carro parou, como se seu motor tivesse sido desliado. s

    dois tentaram manter a calma, e"aminaram a m$quina, tentaram empurrar,

    de#ai"o do !ortssimo temporal, tudo em vo.

    J$ se con!ormavam com a perspectiva de passar a noite no carro, quando

    avistaram ao lone uma manso, isolada naquele !im de mundo.Correram para l$, aleres, mas temerosos de que a enorme casa estivesse

    va'ia.

    Ao serem atendidos por um mordomo correto, #em vestido, educado,

    !icaram mais calmos. -le os !e' entrar e convidou/os a sentar em

    con!ort$veis poltronas na sala, di'endo que no importava se as mol(assem,

    por !avor, !iquem vontade.

    Fepois disse que iria c(amar o propriet$rio, o Fr. -vil$sio Panto)a.

    Hlin(ol e Sre# sorriram aleres, quando seu an!itrio desceu as escadas

    e apareceu na sala.

    6oi a que o Fr. Hlin(ol soltou um rito de puro pavor=

    > Foutor MorioniZ

    Sre# entendeu tudo numa !rao de seundo e tentou !uir, apenas para

    veri!icar que estava como que dopado, ou (ipnoti'ado, e no conseuia se

    mover.

    %unca mais se sou#e nada de Sre# e do Fr. Hlin(ol.

    6rederico uardou os pap+is dentro do envelope, con!uso. Como -'equiel poderia

    sa#er de tanta coisa7 -ra tudo loucura7 u estava realmente acontecendo7 A!inal, quem era

    esse tal de Morioni, ou Panto)a7 - em qu2 consistia a sua pesquisa cient!ica7

    88

    8

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    45/616

    Captulo 1

    Laio acordou en)oado, com a ca#ea va'ia. A#riu lentamente os ol(os, con!uso. %o

    lem#rava de nada. -stava no meio de um !orte mataal, ao l+u. Como !ora parar ali7 Eentiu

    uma !isada na perna esquerda, outra na mo direita. l(ou para esta e pode veri!icar que

    os dedos anular e mnimo tin(am sido arrancados.

    ;entou levantar/se e constatou que a perna tam#+m estava !erida, e doa no limite da

    suporta#ilidade. corpo todo estava dolorido, as roupas rasadas e su)as, mas, !ora aluns

    arran(es disseminados, aqueles eram os Onicos !erimentos raves. que teria acontecido

    com ele7

    6oi quando viu que um nero de mais de dois metros o o#servava, de uma certadistNncia.

    3ulco Lun$ticoZ4, pensou, e ento lem#rou de tudo.

    #ru"o se apro"imou e peruntou=

    3;rou"e os artios que eu l(e encomendei74, assim, como se Laio tivesse ido ao

    supermercado.

    3Aqui esto os sacos e o !rasco. 6i' tudo con!orme !alou. Uuase morri. 6oi uma luta

    terrvelZ Uue luar + aquele74

    3%o importa. oc2 no entenderia.4

    3Uuando eu despertei me vi no meio da mais !ant$stica !loresta que voc2 possa

    imainar, com coumelos do taman(o de pr+dios, e animais que pareciam sados da mais

    delirante !ico cient!ica. Procurei a planta primeiro...4

    3%o quero sa#er dos detal(es. oc2 !oi l$, cumpriu a sua parte, me trou"e o que l(e

    pedi. -u !i' uma m$ica= Eo!ia est$ apai"onada por voc2. -stamos quites. Adeus.4

    3-spereZ -stou todo !erido. -u pensei que aquele mundo era um son(o indu'ido pela

    droa que voc2 me deu...4

    3-u tin(a l(e avisado. um mundo real.4

    3utra dimenso74

    3%o sei nem quero sa#er. Como )$ disse, Eo!ia + sua. ;en(o que ir. Adeus.4

    3-spereZ Como posso ter certe'a de que voc2 cumpriu mesmo a sua parte do trato74

    8@

    8

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    46/616

    ulco Lun$tico aral(ou com !Oria de leo.

    3;oloZ Po#reZ -stOpidoZ Eeu eu quisesse... oc2 + im#ecil, no pode entender, voc2 +

    como uma criancin(a. Con!ie. -u !i' a m$ica, e Eo!ia te amar$, po#re idiota.4

    Diu ainda.

    3-spereZ -u... me lem#ro de outro planeta, di!erente da !loresta dos coumelos

    iantes, que tin(a um c+u cor de rosa, e dois sis a#raados no c+u, envolvidos por uma

    rande espiral de $s alaran)ado. ;am#+m me lem#ro do nome Louco Morioni. sso !a'

    alum sentido7`

    ulco Lun$tico riu de novo.

    3oc2 est$ comeando a se lem#rar. sso + #om. 6ique calmo, rela"e. ;udo vir$ por si.

    Adeus.4

    -ntrou na !ol(aem e desapareceu. Mas, um seundo depois, voltou.3Quarde #em= seu nome aora + L$ios ;(ep(oros.4

    Fepois de di'er mais estas enim$ticas palavras, ulco Lun$tico sumiu no meio do

    mato cerrado, dei"ando Laio so'in(o e con!uso, em um morro descon(ecido.

    8 Precisava matar o papaaio7

    -le pediu desculpas, enveron(ado, tam#+m pelo vaso da av.

    Assim era \eca dlivares.

    @1

    @

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    52/616

    Captulo 15

    Fona Qraa !oi visitar o !il(o na clnica.

    -le estava so'in(o no quarto, lendo, quando ela entrou.

    3Meu !il(in(o, como voc2 est$7 m+dico me disse que voc2 no tem nada demais,

    que voc2 est$ timo. que voc2 ac(a de voltar para casa74

    -'equiel ol(ou para ela e !alou com vo' empostada=

    3Eu ol#ei3 #avia um vento tempestuoso 4ue soprava do norte. uma &rande nuvem e

    um fo&o c#ame0ante5 em torno. de uma &rande claridade e no centro de al&o 4ue parecia

    electro. no meio do fo&o6 No centro. al&o com forma semel#ante a 4uatro animais. mas

    cu0a apar!ncia fa/ia lem-rar uma forma #umana6 Cada 4ual tin#a 4uatro faces e 4uatroasas6 As suas pernas eram retas e os seus cascos como cascos de novil#o. mas lu/entes.

    lem-rando o -ril#o do lat(o polido6 So- as suas asas #avia m(os #umanas voltadas para

    as 4uatro direes. como as faces e as asas dos 4uatro6 As asas se tocavam entre si5 eles

    n(o se voltavam ao camin#arem5 antes. todos camin#avam para a frente5 4uanto 7s suas

    faces. tin#am forma semel#ante 7 de um #omem. mas os 4uatro apresentavam face de le(o

    do lado direito e todos os 4uatro apresentavam face de touro do lado es4uerdo6 Ademais.

    todos os 4uatro tin#am face de 2&uia6 As suas asas a-riam8se para cima6 Cada 4ual tin#a

    duas asas 4ue se tocavam e duas 4ue co-riam o corpo5 todos moviam8se diretamente para

    frente. se&uindo a dire(o em 4ue o esprito os condu/ia5 en4uanto se moviam. nunca se

    voltavam para o lado64

    3Meu !il(o, que coisas estran(as so essas7 oc2 est$ lendo a H#lia74

    -'equiel se pKs de p+ e ol(ou/a de cima=

    3Me, eu vi o carroZ4

    Fona Qraa acariciou seu rosto, !2/lo sentar/se cama, alisou seus ca#elos.

    3 doutor !alou que voc2 nunca sai do quarto. oc2 viu o carro de quem7 Uuando7

    oc2 c(eou at+ o porto da rua74

    -'equiel estava malemolente pelos carin(os dela, e !alou como se estivesse muito

    cansado=

    3-u !ui al+m, muito al+m disso...4

    @0

    @

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    53/616

    3- no me !alaramZ Uue clnica desorani'adaZ -u vou aora mesmo pedir sua alta ao

    m+dico, vou ver se consio levar voc2 comio pra casa, ainda (o)e.4

    !il(o comeou a tremer.

    3 que + isso, menino74

    3Me, por !avor, no quero voltar pra casa, ainda no, por !avor, eu preciso me

    desinto"icar, preciso mesmoZ4

    3Mas \equin(a, o doutor !alou que voc2 no est$ com into"icao nen(uma, que voc2

    s tomou rem+dio com usque, ($ duas semanas atr$s, que voc2 est$ #em.4

    3Fei"a eu !icar aqui mais tr2s dias, por !avor, mais tr2s dias, eu l(e peo, por !avor...4

    3;$ #em, calma, calma, !ique calmo, eu vou conversar com o m+dico e marcar sua

    alta para daqui a dois dias.4

    3#riado, mul(er, muito o#riado.43Aora eu vou !alar com o doutor.4

    A me se levantou para sair.

    3-u comi o livroZ4, declarou/l(e o !il(o.

    3\equin(a, no !ica comendo papel, esse meninoZ4

    @5

    @

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    54/616

    Captulo 18

    Assim que saiu do (ospital, para onde !ora condu'ido pela polcia, que o encontrara

    sanrando e !erido perto de um morro do su#Or#io, Laio !oi para a casa da tia. Feclarou

    polcia e aos m+dicos no sa#er o que aconteceu, se !ora atacado por alum animal, pelo

    qu2 ou por quem. -stava sem din(eiro nem documentos. Develou onde morava, tra#al(ava

    e estudava. ;entaram avisar sua tia pelo tele!one da vi'in(a, mas esta se recusou a dar o

    recado.

    Ao c(ear a tia deu um rito=

    3LaioZ Por onde voc2 andou, menino7 que (ouve com sua perna7 - os seus dedos7Z

    que !oi isto7774Mentiu que camin(ava pela rua quando !oi atacado por uma matil(a de ces !ero'es?

    no podia revelar a verdade para ninu+m > quem acreditaria que um monstro !a#uloso

    c(amado Triniu ratnioT arrancara dois dedos de sua mo e rasara os nervos de sua pele,

    que uma planta de son(o c(amada erva edaKntia o queimara to !undo, ou que seus p+s

    tin(am duas co#ras entrelaadas, tatuaem !eita pelas $uas corrosivas da !onte de pasturo7

    %em o ulco quis sa#er.

    3Dou#aram todo o nosso din(eiro, na mesma noite em que voc2 sumiu.4

    3A sen(ora descon!iou de mim74

    3 claro que noZ4

    3- como vai ser74

    3A(, no se preocupe, a comadre Lindalva me emprestou, pra eu paar aos poucos.4

    Laio se lavou, se per!umou, se penteou e vestiu sua mel(or roupa.

    Loo depois tocava a campain(a da #ela casa de Eo!ia.

    As araras ritaram, os ces latiram.

    A empreada apareceu.

    Ao v2/lo, meio que se assustou, !alou precipitadamente=

    3A Fona Eo!ia ainda est$ via)ando, vai !icar !ora muitos meses...4

    6oi interrompida pela prpria Eo!ia que apareceu atr$s dela, mais linda do que nunca,

    uma viso celestial.

    @8

    @

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    55/616

    3Fei"e o sen(or Laio entrar, Folores, quero conversar com ele.4

    3Eim sen(ora. Por aqui.4

    Laio passou pelo viveiro, pelas araras e outros p$ssaros !artamente coloridos, pela

    !onte onde um menino mi)ava sem parar, pela piscina de $ua suavemente esverdeada,

    pelos alos acorrentados, pelos carros importados estacionados no )ardim, pela porta de

    madeira de lei ricamente ental(ada, pela sala de tapetes persas e quadros na parede, pelo

    livin particular de Eo!ia, s a#erto aos eleitos, onde ele antes nunca tin(a pisado, e onde

    ela tin(a uma coleo de livros raros e uma mOmia dentro de uma redoma com temperatura

    controlada, pela porta de seu quarto de dormir, pelas cortinas pendentes do dossel de sua

    cama, cor a'ul celeste e #ordado de ouro, pelas suas roupas raras e caras, pelos seus l$#ios,

    pelos seus dentes de p+rolas, pela sua aranta, pelos seus #raos, seus seios, por seus

    quadris, sua calcin(a, pelos seus pentel(os, por seus randes l$#ios, e pelos pequenos, porsua vaina, e c(eou ao seu Otero escuro, onde plantou a semente de sua e"ist2ncia.

    @@

    @

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    56/616

    Captulo 1@

    3;alve'4, aventou 6rederico, 3voc2 ten(a mesmo !eito o pacto, quando pensava que

    #rincava, e nem ten(a dado pela coisa.4

    sm2nio ol(ou/o s+rio.

    3oc2 ac(a mesmo isso74

    3-stou #rincando, so apenas )oos mentais. oc2s !alam tanto que eu sou um poeta,

    um romNntico, mas, sa#e, o meu son(o + escrever um rande romance. - todo romancista +

    c+tico, ao contr$rio dos poetas, dos pro!etas, dos !ilso!os e dos ensastas. -screver um

    romance, com tantos personaens di!erentes !alando entre si e pensando de !orma to

    sinular, criar aes, descries, di$loos e monloos interiores, caracteres psquicos e!sicos, tempo/espao verossmil, tudo isso !a' do romancista um descrente por nature'a, ou

    uma esp+cie de crente tala lara, que pode crer em tudo, sem nunca crer em nada.4

    3Eei.4

    A campain(a tocou. sm2nio pensou= 3se esse meu interessante e c(ato amio no

    estivesse aqui a c(ilrear suas #alelas, eu estaria no dreammer e no ouviria a maldita

    campain(a, e, por conseuinte, no estaria na o#riao moral e social de atender a um

    outro c(ato interessante que auarda atr$s da porta, e que !ar$ uma corrente de ac(ares e

    quasares e pulsares ao redor dos pulsos de min(a ateno, cadeia de interao, quando toda

    a ao que eu quero est$ na min(a mente e na supermente da inter/rede. -n!im, vamos

    c(acrin(a.4

    -ra Jos+ de Alencar, que vin(a para c(orar as m$oas de sua racema, e !icou muito

    satis!eito de adquirir quatro ouvidos pelo preo de dois.

    3Camaradas, eu no auento mais aquela mul(erZ4

    3Lara dela4, sueriu/l(e o an!itrio.

    3Ee !osse assim to !$cil...4

    3- o que o impede74, indaou 6red.

    3%o sei... ;udo, nada. ;eso. -la + linda, linda, uma delciaZ Mulata de corpo

    per!eito, nem orda nem mara, sua pele lisa + (omo2nea, seus mem#ros !ortes, sua #unda

    maravil(osa, sua "ota c(eirosa e macia... seus ca#elos, seus l$#ios, seus ol(osZ4

    @ - a, Jonasin(o, tudo #em7> ;udo, 6iuin(a.

    > que voc2 est$ !a'endo com esses livros7

    > -stou orani'ando um #anco de dados so#re a (istria da !sica.

    -la !e' um mu"o"o de pouco caso, !icou em sil2ncio um #om tempo, depois indaou=

    > oc2 sa#e o Qev$sio -strao e a Micon(a Alves7

    > %o. Uuem so7

    > s atores da nova novela das oitoZ

    > A(, sim, + verdade. Eei.

    > Pois +. -les esto estrelando uma pea de Hertold Hrec(t, no ;eatro A#ric...

    > A(, +7 Como + o nome da pea7

    > %alileu. oc2 )$ assistiu7

    Jonas riu intimamente da coincid2ncia, e se esquivou com )eitin(o do convite su#/

    reptcio dela, que )$ tin(a um compromisso, !icava pr pr"ima.

    Xs seis, um anoitecer c(uvoso, c(uva miOda de inverno, ainda no vero, neste nosso

    tempo de temperatura e clima enlouquecidos, as pessoas apressadas para pear os Kni#us e

    voltar para casa. Jonas peram#ulou devaar, dei"ando que a c(uva o mol(asse. Qostava de

    andar di!erente, num ritmo todo seu, e nadar contra a corrente, todos correndo, ele

    passeando devaar. -ntrou em lo)as de discos e livrarias, no mercado das !lores, nas lo)as

    de roupas e de doces, nada comprou.

    11

    1

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    111/616

    Xs sete se encamin(ou para a !ilial das Ga'as -l+triTas que !icava na Presidente

    aras, e parou )unto da porta, esperando o Dato sair.

    Dato era o apelido de in!Nncia de seu amio ldel!onso ndio do Hrasil, que era

    vendedor na dita lo)a, e que estava neste momento alcanando a calada.

    > - a, Jonas 6)ord, tudo #em7

    > ;udo, Dato, s maravil(as, vamos #e#er7

    > um#ora.

    6oram pelo mesmo lado da rua at+ a transversal onde (avia uma #irosca c(amada Ao

    C(opo. Dato !umava sK!reo.

    > %a lo)a no pode !umar, no pode #e#er, no pode comer, s tem quin'e minutos no

    meio da tarde pra tudo. uma merda.

    > Fuas cerve)as. Como vo as Ga'as -l+tricas7> o #em, otimamente #em. Uuem se !ode so os clientes e os vendedores.

    > %o !ale assim, ela + seu an(a/po.

    > %o osto de po, osto de quei)o puro. -les escorc(am o pO#licoZ 6a'em

    propaandas mentirosas. endem s porcaria. s )uros &de at+ 18 ao m2sZ* so imorais.

    F$ pena ver os !odidos se amarrarem a prestaes de vinte e quatro, trinta e seis meses,

    durante os quais a porcaria que eles compraram decuplica de valor e que#ra ou d$ de!eito.

    - eles continuam paando. !odaZ

    Jonas sa#ia que o Dato era muito paranico, ento descontou. ;am#+m, o outro

    deveria estar cansado e coisa e tal.

    l(avam as mul(eres que passavam $vidas no incio da noite.

    > Bo)e eu vi a mul(er mais linda de todos os espao]temposZ

    > Eei. oc2 con(ece a (istria da cano 3Mul(er47 Custdio Mesquita, e"celente

    pianista e compositor, toda (ora c(eava pro seu amio, o ator e poeta Eadi Ca#ral, pedindo

    uma nova letra, com outro nome de mul(er, por quem estava perdidamente apai"onado. A

    o poeta resolveu !a'er loo uma letra que valesse de uma ve' para todas as mul(eres.

    - o Dato comeou a cantarolar no #otequim c(eio de ente de ravata ou lono e

    c(eirando a cc.

    > - tem 3-scultura4, de Adelino Moreira e %elson Qonalves, em que o poeta di' que

    vai esculpir na imainao uma mul(er que se)a a sntese de todas as mul(eres.

    111

    1

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    112/616

    > Eei.

    Dato con(ecia todas as mOsicas populares #rasileiras, e uma #oa parte do pop,

    tam#+m.

    > ;ipo Pi Malio.

    > Eei.

    He#eram.

    > Como !oi o carnaval7

    > meu7 de sempre. 6iquei em casa, lendo, vendo vdeo, tentado !inir que no

    era carnaval. Furo, c2 sa#e. Fepois resolvi, me revoltei, vim pro centro, andei por tudo a,

    ol(ei uns des!iles c(oc(os de #locos, uns poucos !olies perdidos no espao, ol(ei pra umas

    donas, tentei pu"ar conversa com outras, uma pensou que eu !osse rino e de#oc(ou de

    mim com a amia, #ranco assim de #ermuda a'ul clara, duro sem sa#er sam#ar, !alei comela em inl2s, c2 sa#e, todo mundo !ala inl2s, ela no !alava inl2s, se mandou.

    A #e#ida !a'endo seus e!eitos nos ol(os #ril(antes.

    > oc2 + um cara leal, s que vacila pra caram#a. seu pro#lema com as mul(eres +

    a importNncia e"or#itante que voc2 l(es d$. -las perce#em, mesmo a mais tapada delas

    perce#e, e a se sentem as rain(as da cocada #ranca e da cocada preta.

    > que voc2 me aconsel(a7

    Lem#rou do 3cosm+tico catico4 do Caetano, puta, por que ele !icava lem#rando

    dessas coisas assim to !ora de propsito7

    > %ada. Uuando quiser aluma, toca. Ee ela no quiser, se manda, parte pra outra

    imediatamente, no d$ a mnima. At+ a tua aura mudar de cor, dessa cor #a#ona, e elas

    poderem ver, porque todo mundo v2 imediatamente a cor da aura de todo mundo. -squece

    o con(ecimento e !ic(a a pessoa, cataloa, que nem voc2 !a' com as suas !ic(in(as de

    #om#as atKmicas do Hrasil e do Mundo.

    > Uue eu se)a um mac(o.

    > %o mnimo. Pra poder no ser mac(o, nem pal(ao de !anc(ona.

    A noite !ec(ando, mais $lcool su#indo, ver#o #a#oso.

    > ;$ de moto7

    > %o. Mas vamos no movimento assim mesmo.

    > A p+7

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    1

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    113/616

    > Uue que tem7 ;odo mundo vai.

    > E doido, s doido, meu irmo.

    Paaram a cerva e !oram indo at+ a Praa onde entraram na iantesca !ila do

    Kni#us que ia para Madureira.

    > -u !i' um poema.

    > Ai meu caral(o...

    > ttulo += 3Eem dOvida4.

    Dato calado, ol(ando pro lado. A !ila lerda, uma enorme laarta na noite c(ata,

    cavaquin(os e pandeiros nos #ares pr"imos.

    > 6ala.

    > s continentes derivam]Fesli'am so#re a !ace do planeta]Montan(as rompem em

    !Oria]Fepois vo virando areia]ulces cospem !oo e pedra derretida]Eo#re pequenos!ormiueiros]As il(as #oiam e se a!astam]Lentamente de outras terras]s rios vo

    trans!ormando];oda avenida em vereda];odo serto em mar];oda certe'a em dOvida];odo

    ser em vida

    Eil2ncio. -m volta muito #arul(o, palavras e #u'inas, motores e sam#istas.

    Lem#rou/se &de novo sem sa#er por qu2, e nada mencionou a respeito pro outro* de

    um te"to de %iet'sc(e, mais ou menos assim=

    -m alum remoto rinco do universo cintilante que se derrama em umsem nOmero de sistemas solares, (avia uma ve' um astro, em que animais intelientesinventaram o con(ecimento. 6oi o minuto mais so#er#o e mais mentiroso da 3(istriauniversal4= mas tam#+m !oi somente um minuto. Passados poucos !Kleos da nature'aconelou/se o astro, e os animais intelientes tiveram de morrer. > Assim poderiaalu+m inventar uma !$#ula e nem por isso teria ilustrado su!icientemente quolament$vel, quo !antasmarico e !ua', quo sem !inalidade e ratuito !ica o intelecto(umano dentro da nature'a. Bouve eternidades, em que ele no estava? quando de novoele tiver passado, nada ter$ acontecido. Pois no ($ para aquele intelecto nen(umamisso mais vasta, que condu'isse al+m da vida (umana. Ao contr$rio, ele + (umano, esomente seu possuidor e enitor o toma to pateticamente, como se os on'os do mundoirassem nele.

    Ym Kni#us saa lotado como carreto atr$s do outro, e (avia uma !ila de Kni#us que

    topava com a !ila de (omens e mul(eres.

    > Ee esta (istria !osse min(a eu a encontraria nesta !ila.

    115

    1

  • 7/26/2019 Mundos Possveis

    114/616

    > MerdaZ A Am+lia e"iiu que eu passasse nas Casas da Han(a quando voltasse do

    tra#al(o, mas com o #ar e o movimento &ao qual ainda iremos (o)e* a tal casa )$ !ec(ou, e

    ela vai enc(er o meu ouvido e o meu saco.

    > oc2 reclama de #arria c(eia.

    > a Onica condio que permite reclamar, e com ra'o. Jonas, vai por mim, no se

    case. %o tem vantaem nen(uma. Fiminui a !requ2ncia do se"o, !a' #em, ou arruma um

    monte de amante, mas no se case, que + #esteira.

    Passin(os de laarta.

    > oc2 no ostou do poema7

    > Qostei.

    > oc2 + uma #estaZ

    > oc2 sa#e que eu no osto de poesia.> Como pode alu+m inteliente no ostar de poesia7

    > #riado.

    > - eu que ainda plane)ava te mostrar um conto na viaem...

    > Eai pra l$Z Min(a droa + outra.

    > Uual7

    > As min(as eleitas. Me e"imo de outras, contin2ncias.

    Conseuiram entrar e sentar no Kni#us, que ainda !icou um tempo parado, at+ que

    saiu. Lona viaem, tam#+m.

    > -u ac(o que vou pra casa.

    > %o vai desistir aora.

    A sua ami'ade comeou quando os dois moravam em casas pr"imas no #airro do

    Andara, e eram am#os adolescentes, e desco#riram muitas coisas )untos, como se en!iar

    num #ar e #e#er at+ cair, su#ir o morro e comprar um #ranco e dois pretos, o #ode, o #ote,

    os )eitos, como no tra#al(ar, como conseuir alum din(eiro, ir nas putas e nas

    massaistas, usar camisin(a, tocar violo. Fepois eles cresceram, Jonas entrou pr

    !aculdade de )ornalismo, cursou um ano e a#andonou, entrou pra #i#lioteconomia, se

    !ormou, arran)ou empreo e um monte de namoradas, com quem ele sempre #riava, no

    empreo ele !icou, na eterna dOvida se ostava ou suportava arrumar !ic(in(as, livros nas

    estantes, cat$loos no computador.

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    J$ o ldel!onso ou ldelp(onsus, que era como ele ostava de escrever aos quin'e

    anos, quando era poeta maldito, este parou de estudar no meio do seundo rau, e !oi loo

    tra#al(ar. Fisse pra todo mundo que estudar era coisa de ot$rio, anos e anos dentro de uma

    universidade para depois an(ar mal, ele iria direto an(ar mal e tra#al(ar e su#ir e !icar

    rico. 6oi #o, vendedor am#ulante, servente, seurana, leo de c($cara, mascate, camelK,

    secret$rio, #om#eiro (idr$ulico, !a'/tudo, e aora era vendedor de eletrodom+sticos a

    prestao em uma rande rede de lo)as. Am#os andavam pela casa dos trinta e tantos.

    > oc2 lem#ra do poema que eu !i' quando a Claudete Qrant me deu o !ora7

    > Uue Claudete Qrant7

    > -u rasuei, queimei, )ouei !ora? (o)e, depois que eu encontrei a 6lor de Ma, de

    tarde, sa#e, enquanto tam#orilava com !ora as teclas do computador, eu me lem#rei de um

    trec(o dele, assim= AdeusZ]Por+m]B$ Feus7]Ee ($ Feus no ($ adeus]- eu de tomac(ucado]%em posso e"plicar por qu2]Por+m]Ee ($ a um Feus]eu re/ten(o]-st$

    ravado]-st$ previsto e lem#rado]%essas carnes de voc2.

    > amos !a'er um trato. oc2 me espera l$ em#ai"o, eu pao um #ranco pra voc2 e

    levo na tua mo, e voc2 no !ala mais nen(uma poesia (o)e. A(, e de que#ra para de !icar

    c(oraminando por #oceta.

    -scuro, !las(s de !aris, cansao. ;rNnsito lento e r$pido, todos correndo pra casa.

    > 6ec(ado.

    Como, vinte anos depois, eles ainda eram amios, era um solene mist+rio. %o tin(am

    nada a ver. ldel!onso o Dato esquecera de todos os seus interesses leais da adolesc2ncia,

    casara com uma c(ata #em #a#aca e tivera tr2s !il(os, tra#al(ava como um cavalo e s

    queria sa#er de mul(er, #e#ida e macon(a. ;in(a a impresso de que o amio vivia para

    dormir, satis!eito, se desse.

    Dato tam#+m no devia estar muito contente com ele, que vivia lendo e escrevendo,

    procurando $vido aluma coisa a mais, esquecendo de dormir, de comer e de caar.

    > oc2 osta do seu empreo7

    > claro que noZ - voc27

    > %o sei.

    > Mas que saco, voc2 no sa#e nada, sempre em dOvida, parece um #oiola.

    Paci2ncia. Por qu27

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    > J$ te contei do So Pen7

    > Ai caceta )$Z

    Eeu ouvido no+tico ouviu= 3 verme passeia]%a lua c(eia4 dos Eecos b Mol(ados.

    > sso no + poesia. %em literatura. sso + o que realmente aconteceu.

    Como a viaem !osse lona, Jonas resolveu continuar a contar a (istria de So Pen,

    como l(e !ora revelada em est$ios (ipnaicos, e ldel!onso se con!ormou de escutar a

    lena/lena pois era mel(or do que ouvir outro poema, era um )eito de passar os lentos

    minutos da viaem c(ata e cansada, isso satis!aria um pouco seu amio #a#aca de quem ele

    ostava mas pra cu)os poemas e outras romanticidades anacrKnicas no conseuia mais

    !or)ar paci2ncia nem !inimento.

    GiTouviu= ($ cerca de tre'entos mil(es de anos atr$s todos os atuais continentes

    !a'iam parte de uma Onica e"tenso de terra no meio do vasto oceano &Pant($lassa* doplaneta, e a esse supercontinente os atuais cientistas c(amam Pan+a, do reo, toda a terra.

    Por coincid2ncia, o povo (umano que vivia nessa terra &neste ponto o Dato interrompeu

    com uma e"clamao indinada, impossvel (aver (omo sapiens ($ tre'entos mil(es de

    anos atr$s, mas Jonas disse que a evoluo era uma tolice e continuou*, naquela +poca,

    tam#+m a c(amava por uma e"presso que tin(a o mesmo sini!icado, mas no e"istia

    reo nem portuu2s, lnuas novssimas, nem nen(um dos idiomas nossos con(ecidos,

    ento, apenas a sua lnua, Onica para todo o supercontinente, que em seu idioma se

    denomina So Pen.

    Eei que isto contraria toda a ci2ncia e o #om senso atuais, mas a verdade cristalina +

    que a (umanidade )$ e"istia ento, e, ali$s, era mais inteliente, loneva e !orte do que (o)e.

    povo openiano era moreno como os ndios, tin(a em m+dia tr2s metros e meio de

    altura e costumava viver at+ mil anos. A lnua, a nao e o povo tin(am o mesmo nome.

    %o (avia con!litos s+rios, todos eram muito s$#ios, tin(am ci2ncias, artes e !iloso!ia

    muito desenvolvidas &e totalmente di!erentes das atuais*, al+m de e"celentes pro!issionais

    que supriam com esmero todas as necessidades do pas.

    povo de So Pen tin(a como inatas e naturais v$rias capacidades que (o)e nos

    parecem pura lenda= clarivid2ncia, telecinese, transmutao, telepatia e levitao.

    Ym dia normal, como outro qualquer, ;od so#revoava os campos, sentindo que alo

    de inusitado se desen(ava no ar.

    11 Me v2 de' reais.

    Dato pediu sem cerimKnia, esquecido do acordo que !i'era com Jonas no Kni#us.

    > Aora pea mais de' e !ica na mo. Uuando c(ear eu peo dois pretos e um

    #ranco, e voc2 !a' o mesmo. F$ o din(eiro, pea e sai, vem atr$s de mim.

    J$ tin(am !eito aquilo inOmeras ve'es, mas o ldel!onso sempre aia como se ele !osse

    um tolo. Mais um dado desa#onador de seu relacionamento. Jonas pensou com triste'a que

    aturava o outro porque se sentia muito so'in(o. que ele estava !a'endo naquela !avela, no

    meio de #andidos, de ces e de atos7 %a pequena casa onde morava so'in(o aora dera

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    pra aparecer um monte de camundonos de noite, e ele no se decidia se arrumava um ato,

    se comprava c(um#in(o, se #otava #ola de esso dentro de um quei)o ou um pedao de

    toucin(o dentro de uma arra!a de c(ampan(e, e, enquanto isso, os ratos iam se

    multiplicando e in!estando a sua casa, e ele tin(a medo de camin(ar por ela no escuro, e

    tin(a medo de !icar s com seus son(os, ento aceitava su#ir o morro atr$s de um pouco de

    !elicidade qumica com o amio descort2s, e iria pra casa dele depois, auentar os desa!oros

    da Am+lia do Hrasil.

    C(earam a um canto mais escuro ainda, um cara sentado com um saco no colo, outro

    de p+, revlveres nas cinturas, o dia#o por toda parte.

    > Fois pretos e um #ranco > e Dato estendeu a c+dula pl$stica para o (omem que

    estava de p+, ao que o sentado l(e colocou na palma da mo a mercadoria.

    Eem mais palavras ele se en!iou por um #uraco e sumiu de vista.Jonas c(eou perto da dupla e !e' o seu pedido, estendendo a nota, c(eio de medo.

    Ac(ou que o cara demorou pra atender, provavelmente o encarava. -le com os ol(os

    #ai"os. A sentiu um pedacin(o de pl$stico maro e dois pap+is estu!ados serem colocados

    na palma de sua mo. mediatamente camin(ou sem correr para onde ac(ava que o Dato

    tin(a ido, mas no sa#ia, o outro tin(a sumido de vista, e tudo ali l(e parecia iual e

    di!erente, inidenti!ic$vel, naquele la#irinto iantesco de cai"otes e tel(as.

    Andou apressando cada ve' mais o passo, e quase que es#arrou em um vulto que era

    um pedao de escurido mais macia.

    > ;udo #ele'a7

    -ra o Dato.

    Pu"ou/o por uma vereda que levava a uma pedra contra as estrelas do c+u, de onde se

    via parte do #airro po#re l$ em#ai"o. Eentou/se a ela e comeou a me"er no papelote.

    > Me v2 duas notas.

    /ai c(eirar aqui7

    > leal.

    -ra a !issura.

    -stava doido para sair dali, a qualquer momento poderia comear um tiroteio ou a

    polcia poderia aparecer, mas o Dato queria se sentar e c(eirar e !umar calmamente, o

    idiota.

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    > Me v2 duas notasZ

    Jonas estendeu pro Dato duas notas de um real cada, que era o que l(e restava. a ter

    que en!iar no nari' o din(eiro vel(o e su)o.

    > Eenta a. C(eirar aqui em cima + muito maneiro.

    ldel!onso peou a c+dula, do#rou uma de suas pontas transversalmente, e enrolou/a a

    partir do outro lado, !ormando um canudo, preso pela primeira do#ra. Peou a outra nota e

    vincou/a ao comprido, !ormando um pequeno vale, onde depositou um pouco de p #ranco,

    depois de dar aluns petelecos no saquin(o, e a#ri/lo. -n!iou o canudo no meio do p e no

    nari' e aspirou com !ora, em seuida apertando as narinas com o polear e o indicador da

    mo direita.

    C(eirou e o!ereceu ao Jonas, que !e' do mesmo modo.

    mediatamente, este sentiu um #aque na ca#ea e no peito, como uma cacetada, comoum #loqueio, que tornava di!cil pensar e respirar. Aora vem a (ora delicada, pensou

    tentando se animar, ol(ando l$ pra #ai"o, camin(ando nervosamente por ali.

    Aos poucos a taquicardia !oi se acalmando, a ele c(eirou de novo, e pronto, pensou,

    aora vem a (ora mais leal, e sentiu que tudo era per!eito, tudo era lindo, maravil(oso,

    puro pra'er, e ns somos o m$"imo.

    Uuando desceram o morro )$ passava um minuto da meia/noite.

    %o seundo dia tudo se complicou

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    Passava um minuto da meia/noite quando -va se esueirou por #ai"o da cerca

    improvisada, dri#lando a viilNncia da polcia que uardava dia e noite o local, se

    equili#rando no meio de destroos do que tin(a sido o seu pr+dio, que simplesmente rura

    sem motivo, sem desaste, durante o seu primeiro ano de uso, )$ todo vendido e pao e

    (a#itado, antes do habite-seda pre!eitura.

    A tarde deste dia que !a'ia sua madruada, o resto que no desmoronara so'in(o iria

    ser implodido, pois estava para cair de uma (ora para outra. apartamento de -va !icava

    na ala ainda intacta e que seria detonada de tarde, mas ela no podia entrar, nem ela nem

    nen(um dos moradores dos apartamentos que ainda e"istiam podiam entrar para apan(ar

    seus pertences e documentos, pois qualquer vi#rao mnima precipitaria novo

    desmoronamento. ;odos eles tentavam resatar )oias, dlares, reais, ru#los, escrituras,

    certides, quadros, diplomas, livros, discos, aparel(os, !otos, roupas, colees e outroso#)etos de valor e estimao.

    Para impedi/los !ora colocado um #om continente policial que cercava o pr+dio meio

    arruinado e impedia !ortemente que qualquer morador entrasse em um mpeto desvairado.

    caso de -va era mais rave= aos trinta e sete anos de idade, escritora e #iloa, ao

    lado de seus tra#al(os rotineiros, estava ($ mais de de' anos !a'endo uma pesquisa para o

    seu mais importante livro, parcialmente !inanciada, s ve'es, s ve'es com recursos

    prprios, com di!iculdades tantas, via)ara a v$rias !lorestas, coletara in!ind$veis dados,

    !otos, desen(os, esp+cimes, anotaes= o livro )$ estava em parte rediido? ao todo eram

    cinco mil p$inas de notas e quin(entas de te"to em primeira redao. -stava tudo no

    apartamento, e no (avia outras cpias.

    -va Jacotina s tin(a de importante este tra#al(o.

    6alou com todas as autoridades possveis e imain$veis, tentando conseuir uma

    permisso especial para recuperar o livro, s, onl, apenas o livro.

    %o concederam. %o entenderam. %o quiseram sa#er.

    -la contratou mercen$rios para entrar em seu apartamento, pr$tica comum naquela

    semana entre os moradores do Castelo de uro &nome do tal pr+dio dela*? muitos puderam

    reaver )oias ou documentos assim, sempre !uncionava um su#orno, um con(ecimento e um

    )eitin(o #rasileiro na )oada. Mas a imprensa do pas e do e"terior estava de ol(o e nem

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    tudo era to solto assim, como costuma ser, por e"emplo, onde estava a inspeo so#re as

    o#ras do pr+dio, c(eio de erros de c$lculo e de materiais de qualidade nen(uma7

    Eeus mercen$rios no conseuiram entrar. s mercen$rios de um vi'in(o prometeram

    que#rar o al(o dela. ;rou"eram um livro )$ editado de um !otra!o c(ileno, com aves

    tropicais. -m Oltima instNncia ela decidiu entrar por si mesma, e salvar sua o#ra, que era

    tudo o que importava aora, que ela era )oada de um motel para outro, sem sa#er se a

    construtora iria paar as di$rias, sem roupa para trocar, tendo que ir !aculdade onde

    lecionava todo o dia com a mesma cala lee e os mesmos t2nis, as #lusas ela comprou sete,

    mas )$ estava sem din(eiro, o paamento s iria sair ou entrar no !im do m2s, isto +, na

    seunda semana do outro m2s.

    Uuando )$ tin(a passado a cerca e se apro"imava da portaria meio inteira -va

    Jacotina !oi interceptada por policiais e seuranas que aarraram seus #raos e aarrastaram para lone do pr+dio.

    Loo depois Jonas e Dato c(earam no pequeno e po#re apartamento deste, num

    pr+dio vel(o, espremido entre tantos outros de uma ruela de Madureira.

    cracT era novidade ento no Dio de Janeiro, e os dois estavam meio des!ocados

    pela nova mistura de cansao, $lcool, cocana, mari)uana e cracT.

    Ym !alou pro outro= cracT no que + perioso, mas no sop+ do morro veio um cara

    o!erecer, Jonas s tin(a dois reais pra voltar pra casa de Kni#us, o Dato insistiu, mentindo

    que estava duro, de repente apareceu uma nota de papel de de' reais na sua mo, e o cara

    l(e deu tr2s pedras, e sumiu na rua !eito um saci perer2, e eles cataram uma lata va'ia de

    re!rierante, depois !oram num #ar, um pediu uaran$ e o outro coca/cola, e !oram pr casa,

    sam#a #atia na noite, de se"ta pra s$#ado, ente trepando no meio da rua escondida pela

    penum#ra, !odendo de p+ de#ai"o de $rvores e]ou postes, muita ente vendo tv pela

    madruada, especialmente proramas pornor$!icos &pela tv a ca#o e a#erta*, outros

    dormindo, e o Jonas ritando como se estivesse #2#ado seu poema na noite, enquanto Dato

    tapava os ouvidos e cantarolava alo no identi!ic$vel, Jonas !alando alto, lu'es se

    acendendo e protestos=

    > A#ai"o o li"oZ

    > Uue porra + essa7 Parece que a ente t$ #2#adoZ

    > Y+Z

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    > %o Andara, porraZ Marin(eiro de ca#ao.

    > A#ai"o o li"oZ + o ttulo do poema que eu vou declamar.

    > Puta que pariuZ Lalarilari larilaralal$...

    > Aca#ou7

    > C(eamos. amos !a'er uma serenata pr Am+lia7

    > Eai pra l$Z ;$ a!im da min(a mul(er7

    > Uue + isso Dato7Z ou pr min(a casa.

    > ;K #rincando pom#a. que voc2 parece tesudo.

    > -u tK tesudo. oc2 tem aluma cun(ada7

    > %o enc(e.

    -ntraram, a casa s escuras, vamos pro quartin(o, que era o quarto de empreada mas

    eles no tin(am empreada ento o Dato trans!ormou o micro quarto em estOdio de mOsicaonde s ele e convidados podiam entrar, e montou seu monstro aparel(o de som !eito com

    cada pea de uma marca, alumas usadas, muito potente, !ec(ou a porta, acendeu a lu',

    liou o som meio #ai"o meio alto, uma r$dio especiali'ada em rocT, um prorama de

    punTrocT, tocava Damones, 3 don_t anna ro up4, #ateu um monte de !ileira, e enrolou

    um c(aruto.

    > YauZ som t$ alto7

    ;aquicardia.

    > A ente no tem mais quin'e anos.

    > Eo !ucTin (at7

    Emas(in mice.

    > Faqui a pouco a #ru"a vem pelo c(eiro, deslia essa merda, os vi'in(os vo

    reclamar, aposto que astou todo o din(eiro do leite das crianas comprando macon(a...

    Am+lia #ateu, ele a#riu, ela entrou, ol(ou/o com dio.

    > Qastei todo o din(eiro do leite, do po e da carne com cracT, Am+lia meu amor,

    nem tudo est$ perdido, ainda e"iste droas, se"o e rocT_n_rollZ

    Fa Oltima ve' em que esteve nesta casa, Am+lia !icou ol(ando !i"o pra ele, com um

    ol(ar terrvel, parecia uma #ru"a, e ele se sentiu pro!undamente descon!ort$vel na presena

    dela. -vitou voltar l$, mas alum tempo se passara, e ele meio que esqueceu o sentimento

    con!uso que a mul(er l(e despertara, ao c(ear em casa na mesma noite ele se mastur#ou

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    pensando nela, com veron(a, a mul(er de um amio, uma esp+cie de amia ou con(ecida,

    a mul(er de um rande amio, me de seus tr2s !il(os. Antes de dormir ainda escreveu em

    seu caderno=

    Amor em p=];e c(eiro iual cocana]Uuando teu corpo + nu]Eom#ra a'ul nas

    a"ilas]s ol(os c(eios de nuvens];e !umo inteira #aul(o]Mais lindo que enlouqueceu]

    meu amor claro]escuro]Fe rudos e runas]- esperas sem sentido]-s!eras celestes so

    !eras];erra $ua ar !oo +ter]ri!cios lindos da mul(er]Arti!cios lentos de ol(os

    !2meos]Q2meos]Q2nios em arra!as]Lanadas ao mar]Almas em !estas]-"traem das

    ess2ncias]Eeus #rinquedos]Ee"o

    Aora ela mandava o 6onsin(o pr cama e dese)ava #oa/noite com cara de inspetora

    di'ia pode ouvir som se quiser mas #ota #em #ai"in(o por causa das crianas e da ente e

    por causa dos vi'in(os, tem a dona Aparecida a da !rente que + vel(in(a, e di'ia #oa noitee encostava a porta e ele se deitava no colc(onete que o Dato tem no seu estOdio de som pra

    essas e outras ocasies depois de ter apaado a lu' e sem ter ido ao #an(eiro caar mi)ar

    lavar as mos escovar os dentes e]ou tomar #an(o e sem comer tam#+m pois estava com

    !ome mas sentiu tanta vontade de o#edecer a Am+lia ali$s uma !ome louca louquin(a uma

    !ome doida danada mas ele estava constranido e o#ediente se deitou no colc(onete so#re o

    c(o e tentou dormir ouvindo um monto de rocTs #ai"in(o no escuro sentindo #aratas e

    outros #ic(os andando por ali e sede mas enoliu saliva e tentou sua ca#ea rodava tanto

    era to #om !icar acordado sentindo tudo e tentando no dormir esse corpo pesado essa

    #oca mol(ada que #ei)ava a min(a #oca essa outra #oca mol(ada que enole o meu pau

    esse corpo quente e #om de repente viu que no era son(o a Am+lia tin(a voltado e estava

    nua so#re ele a !a'er amor com ele no c(o so#re o colc(onete no quarto ao lado seu

    prprio quarto de casal onde a essa (ora seu marido e seu amio dormia seu sono pesado de

    droa]tra#al(o]t+dio.

    Fentro da nova descon(ecida Am+lia Jonas sentia um tril(o e"ato de coisas s no

    sentia mais um pino de culpa. Uue importava se Am+lia traa seu amio Dato7 Uue

    importava quem eram os pais dos !il(os dela, ou quem era o pai dele mesmo7 Eentiu uma

    rande li#erdade de pensar que poderia ser !il(o do mel(or amio ou de alum con(ecido

    ou descon(ecido de seu pai o!icial. Fentro de Am+lia iante Jonas escol(ido encol(ido e

    teso se sentia dentro da #aleia. Passaria ali dias e dias sem sentir mais !ome nem sede nem

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    nada, nem pra'er, s a certido, a certitude, a certe'a de estar ali nadando com seu osso

    se"ual no mar imenso c(eio de polvos siris pei"es/espadas e navios nau!raados que a

    #aleia tin(a dentro da #oceta.

    A !oda durou um lono tempo que !oi um tempo de son(o louco para Jonas que no

    dia seuinte conseuiria acalentar alumas dOvidas apesar do pau mal(ado cansado

    c(upado ralado se tudo aquilo no !ora apenas s um son(o apesar de ele sa#er de ter

    certe'a da realidade daquele delicioso in!erno leve e re!rescante da dana dos elementos do

    quadro vivo do circo de Bieronmus Hosc( no c(o c(eio de ratos e #aratas e outros #ic(os

    o vel(o e #om#a Dollin Etones rolando alto #ai"in(o pelos ouvidos e pelos pelos e pelos...

    Acordou tarde com as costas doendo e c(eio de vontade de ir ao #an(eiro.

    -ncontrou crianas ritando na porta esperando pra entrar l$ dentro o Dato caava e

    lia todo o )ornal de s$#ado enquanto Am+lia !ritava sardin(a e #atata aos montes e run(iuum som qualquer no luar de um #om/dia para ele ela no sentia veron(a ele no sentia

    nada tam#+m s vontade de caar.

    Dato saiu sorridente do #an(eiro aliviado e disse oi mermo enquanto o Jonas

    empurrava os tr2s meninos pro lado e conseuia a prima'ia da de!ecao. Am+lia

    resmunou com cinco (omens a casa vira uma 'ona c(iqueiro e nin(o de rato e eu !ico #em

    arrumada, porra.

    Jonas estava com veron(a e nem conseuia ol(ar para a cara do Dato.

    Loo depois de tomar um ole de ca!+ e comer um pedao de po, !alou=

    > Ac(o que vou c(eando.

    > Fe )eito nen(um, meu camaradin(a, (o)e voc2 tem que !icar aqui. %s temos muito

    o que conversar.

    > ;emos7

    > Ym assunto muito s+rio.

    Pronto, pensou Jonas, aora deu merda no ventilador.

    Hem, vamos ver.

    > que que + (ein7

    Mas o Dato no parecia nada aressivo com ele, s nervoso, como que preocupado

    com um assunto maior.

    > %o d$ pr ente conversar aqui. amos camin(ar.

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    1

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    Fesceram para a rua, c(eia de com+rcio e movimento, mas encontraram um #anco

    onde se sentaram e o an!itrio pKde !alar #ai"in(o no ouvido de seu (spede=

    > Presta ateno no que eu vou te contar. %o + que nem aquela (istria de So Pen

    que voc2 inventa, isso no + literatura, + verdade mesmo, + coisa s+ria...

    > Literatura + coisa s+riaZ - a (istria de So Pen tam#+m + ver/

    > %o importa. -u s quero que voc2 sai#a que tudo o que eu vou te contar + verdade

    e + assunto s+rio, mesmo. Hem. oc2 deve ter ouvido !alar nos notici$rios que andam

    rou#ando camin(es de cara nas estradas #rasileiras. Pois outro dia eu !ui !alar com a

    secret$ria do c(e!o l$ da lo)a, ela no estava na sala, a eu peuei no tele!one dela porque

    eu precisava !a'er uma liao urente, e !oi ali$s por causa disso que eu !ui procur$/la,

    porque ela + leal comio e no se nearia a a)udar. Mas, ao colocar o !one no ouvido, eu

    escutei a conversa que o erente da lo)a estava tendo com um c(e!e de quadril(a de rou#ode cara, marcando encontro no domino de noite, neste endereo na Harra...

    Uuando su#iram a Am+lia peruntou com toda a naturalidade do mundo para Jonas se

    ele continuava escrevendo, sempre, ele !alou, ten(o um conto aqui comio no meu #olso

    #em aora, quer ver7, ele se animou porque era to raro alu+m se interessar, e ele ostava

    tanto quando liam seus escritos.

    > (, Amelin(a, no d$ trela seno ele te alua o dia inteiro...

    > Uuanta #o#aem 6onsin(o, vem c$ Jonas, senta do meu lado, isso, dei"a eu ver esse

    conto que voc2 escreveu.

    Jonas !icou sem )eito e de pau duro na (ora, e mostrou o dito &o escrito*, que ele

    c(eou a pensar c(amar de 3Eon(o de -scultor4, o que tam#+m pensava ser o nome da

    cano do Adelino Moreira que ontem citou no #ar, mas esta, como se sa#e, tem o nome de

    3-scultura4, enquanto que o seu novo conto se intitula= 3-n)anelado Modelo -statu$rio4.

    > Qostei > a Am+lia !alou. Me parece li#ert$rio, sei l$, ela !ica em casa, no acontece

    nada, e + como se acontecesse... me parece meio anarquista, matriarcal, contra o estado.

    Dato deu uma aral(ada.

    6)ord indaou=

    > ;$ rindo do qu27

    > %ada no...

    > Jonas, no d$ #ola, que ele s quer enc(er o teu saco.

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    > %o + isso, mas eu ac(o que voc2 t$ e"aerando. conto tem alumas qualidades,

    mas da a !a'er dele um li#elo li#ert$rio anti/patriarcal vai um a#ismo... + de doer o -nels

    da ente.

    6)ord !alou=

    > pra inl2s ver.

    - ninu+m entendeu o que ele queria di'er com isso.

    > Mas o meu coment$rio se #aseia no con(ecimento pr+vio que eu ten(o de outros

    te"tos do Jonas, como seus poemas, a estria de So Pen...

    > -le )$ te contou essa doideira tam#+m7... Uuando7

    > utro dia. %o importa. -u ac(ei o conto lindo, parece poema.

    > Mas + esse o pro#lema. Prosa + prosaZ -le !a' ritmo de redondil(a, s ve'es rima e

    tudo. -u ac(o que tem !uturo, mas tem que amadurecer muito, muito mesmo, ler muitoFostoi+vsTi.

    - riu de novo.

    Jonas riu tam#+m. Pra !inir que no liava.

    As crianas #erravam, )oavam vdeo ame e pediam para ir praia.

    > Aman( a ente vai.

    > f Dato, eu vou c(eando, )$ a#usei demais.

    -le nem sa#ia o quanto.

    > ai !icando... > Am+lia.

    > %em pensarZ oc2 esqueceu do que ns conversamos7

    Jonas repetiu a perunta como quem no a entende=

    > que ns conversamos7Z...

    > Ai ai ai, voc2 + um ca#ea de vento mesmo... no lem#ra que eu te pedi a)uda7

    A Am+lia !inindo que lavava coisas na co'in(a prestava toda a ateno no que eles

    di'iam.

    > A(, sei, sim, mas o... necio + s aman(, certo7

    Dato arrealou #em os ol(os e levou o indicador da direita aos l$#ios, numa ordem de

    sil2ncio autorit$ria e caricata.

    > amos dar uma volta...

    > -i, voc2s dois, t$ na (ora do almooZ amos todos comer.

    10 e tr2s

    enormes surpresas no !inal

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    Jonas acordou alerta, um sentido de ur2ncia, doido pra voltar pra casa e... o qu27

    %o sa#ia ao certo. Mas tin(a certe'a de que precisava !a'er aluma coisa. ;alve' o

    livro... isso, precisava voltar a escrever o seu livro de contos. B$ quanto tempo no peava

    na m$quina de escrever e na !ora do loos pra criar seus mundin(os virtuais7

    -stava se arrastando pelo c(o do quartin(o de som c(eio de !ome e sem vontade

    aluma de comer quando o Dato entrou todo e"citado e sem #ater na porta e tra'endo um

    livro a#erto na mo, quase #errando, s sete ou oito (oras daquele domino de man(.

    > Uue #om que voc2 est$ acordado. Leia istoZ

    > -u no quero ler porra nen(uma. ;en(o de ir para casa.

    > Aora nem pensarZ oc2 tem que me a)udar com o caso do rou#o das caras.

    > uve s, eu leio pra voc2. um trec(o do livro O Alimento dos 9euses do enial

    cientista americano ;erence MacGenna=

    %ossa crise lo#al + mais pro!unda do que qualquer outra crise da(istria? portanto, nossas solues devem ser mais dr$sticas. As plantas,)unto com uma renovao de nosso relacionamento arcaico com asmesmas, podero servir como modelo de orani'ao para a vida nos+culo , assim como o computador representa o modelo dominante no!inal do s+culo .

    Precisamos voltar a pensar no Oltimo momento sadio que tivemos,como esp+cie, e em seuida air a partir das premissas e"istentes naquele

    momento. sso sini!ica recuar no tempo a modelos que !oram #em/sucedidos entre quin'e e vinte mil anos atr$s. -ssa mudana de ponto devista iria nos permitir ver as plantas como alo mais do que comida,a#rio, roupas ou mesmo !ontes de educao e reliio? elas iriam setornar modelos de processo. A!inal de contas, elas so e"emplos decone"o sim#itica, de reciclaem e administrao de recurso.

    Ee admitirmos que o Denascimento Arcaico ser$ uma trans!ormaoparadim$tica e que realmente podemos criar um mundo solcito,re!eminili'ado e ecossensvel retornando a modelos muito antios, entodevemos admitir que ser$ necess$rio mais do que e"ortao poltica. Paraser e!ica', o Denascimento Arcaico deve #asear/se numa e"peri2ncia que

    ven(a a sacudir cada um de ns at+ as ra'es. A e"peri2ncia deve ser real,enerali'ada e possvel de ser de#atida.Podemos comear essa reestruturao de pensamento declarando

    letimo o que neamos durante tanto tempo. amos declarar que a%ature'a + letima. A noo de plantas ileais +, acima de tudo,detest$vel e ridcula.

    > Uue leal.

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    Dato estava emocionado, os ol(os Omidos, quase c(orando, uma sensao de

    #eatitude e de !ilia.

    > So Pen + livro7

    > %o.

    > son(o7

    > um tipo de viso, quase son(o, que eu ten(o antes de dormir, quando estou quase

    dormindo. Mas s ve'es son(o com imaens e situaes que me levam a entender mel(or

    So Pen. u ento eu as utili'o para e"plicit$/lo, ou mesmo nos escritos.

    > Como se c(ama seu livro de poemas7

    > O Pouso do Mos4uito6

    > nteressante, acad2mico, poesia de inseto. Hom. - o de contos7

    >Pluralia antum6> Uue dia#os + isso7

    > Eo su#stantivos que s se usam no plural, em latim.

    > Mel(or. Modernista. Pessoal. Poli!Knico.

    > Fe#oc(ado.

    Fe onde Dato con(ecia Earne, Pessoa e HaT(tin7

    > -u ostei.

    > Y+, voc2 ento osta de aluma literatura7

    > Ea#e, eu ten(o muita preuia de ler, ac(o #em c(ato !icar parado, ol(ando pr

    p$ina. Mas eu osto de coisas interessantes, novidades, letras de canes intelientes

    como as de Ca'u'a, !ilmes com conteOdo, como 6ellini.

    > Meus para#+ns.

    > - osto de seus te"tos.

    > Uue #omZ -u estava mesmo querendo sa#er a sua opinio so#re uma novela que eu

    escrevi...

    alarma se acendeu instantNneo no rosto de Dato.

    > -u tK #rincando, tam#+m estou com preuia de contar, declamar, !a'er revelaes

    so#re So Pen etc.

    > oc2 escreveu outros livros7

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    > Melin(a, como voc2 quer que eu compre essa #aul(ada toda que est$ na lista se eu

    astei todo o meu din(eiro com #aul(o na se"ta7

    > -u tam#+m, Jonas declarou.

    > -u ten(o din(eiro escondido, t$ aqui, mas ve)a #em, + pra comprar o que eu pediZ

    e)a l$. Jonas, toma conta dele? 6onsin(o, cuida dele, no se dei"em um ao outro cair em

    tentao.

    -stendeu trinta reais ao marido, #ei)ou seus l$#ios, o rosto do amio, e !oram os dois

    ao supermercado, que a#ria aos dominos.

    -nquanto peavam produtos nas prateleiras das Casas da Han(a, Dato !alava=

    > oc2 tem assistido ao notici$rio7 impressionanteZ Parece !ilme !ant$stico.

    > -nc(entes que param a cidade do Dio de Janeiro por (oras e mais (oras, seca no

    nordeste, crimes, viol2ncia no esporte sem sentido, corrupo desen!reada e impune nooverno, poluio, eroso da terra enolindo cidades inteiras, pr+dios que caem como

    castelos de areia, !alsi!icadores de rem+dio...

    > %ada to prosaicoZ

    > Datos com orel(as (umanas nas costas, criados eneticamente pra transplante,

    transplante de ca#ea ou de corpo, sei l$, enen(aria en+tica, mistura de enes (umanos

    com enes animais e veetais, (omens que peam !oo espontaneamente, pessoas que

    ressuscitam.

    > ;udo o que voc2 !alou no notici$rio da mesma semanaZ Eu#a um pouco maisZ

    > Fiscos voadores.

    > -u !alo de coisas comprovadas, con(ecidas, o!iciais, comuns.

    > Fesempreo, populaes escravas, capitalismo atro', pseudo/democracia,

    ro#oti'ao (umana, seres teleuiados, lavaem cere#ral e (ipnose eletrKnica...

    > Eu#aZ Eu#aZ oc2 no sou#e7 -sta semana deu no notici$rio que uma al$"ia inteira

    !oi enolida por um #uraco neroZ

    > Como assim uma al$"ia7

    > Yma al$"ia, do taman(o da nossa, enorme, !oi enolida por um #uraco nero

    descomunal, e desapareceu completamente dentro deleZZZ

    Dato arrealava os ol(os, seurando uma alin(a conelada.

    > Muito ertico. A !oda csmica.

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    > s cientistas disseram que esto vindo dois meteoros iantes e"atamente em rota

    de coliso com a ;erra. Ym cometa desses quando caiu aqui aca#ou com os dinossauros,

    aora eles so dois.

    > Epiel#er )$ !e' esse !ilme? ali$s, esses !ilmes.

    > %o dia seuinte desmentiram. Mas quem acredita7

    > %o qu27

    -stavam c(eando na cai"a.

    > ntem a Am+lia saiu do quarto, ac(o que !oi no #an(eiro, sei l$, s sei que ela

    demorou uma meia (ora. Feve ter !icado desarran)ada com toda aquela sardin(a !rita que

    comeu.

    > Com certe'a.

    > A eu !iquei esperando ela voltar, com vontade de ir ver onde ela estava, mas compreuia, e perdi o sono, liuei a tv e assistir a um !ilme impressionante, so#re o livro do

    !sico inl2s Etep(en BaTin, Cai"a livreZ > ritou a moa da cai"a, c(eia de impaci2ncia e dio contido,

    empurrando parte das compras de Dato so#re as de um sen(or que passara antes dele, e

    ainda estava empacotando as suas, porque o mercado no #otava ninu+m para !a'er isso.

    -la se vinava de dois !reueses de uma tacada s.

    Dato riu.

    Paou.

    -mpacotou as compras.

    Levou/as pro carro com o outro, colocaram/nas no porta/malas, sentaram/se, o carro

    arrancou. Jonas liou o r$dio, esquecendo/se de que o receptor do cal(am#eque pala no

    !uncionava.

    Comeou a cantarolar uma mOsica de Caetano assim= 3 esprito de tudo]Uuanto

    ainda no (avia];omou a !orma de uma )ia]- dando o primeiro pulo];ornou/se o verso e o

    reverso]Fe tudo que + universo...4

    > oc2 + seu prprio r$dio, certo7

    > - essa e"plicao do Caetano, o que voc2 ac(a7

    > %ada, ela no e"plicou nada, isso + mitoloia parodiada.

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    > oc2 acredita em universos paralelos7

    > -ssas coisas no so para se acreditar ou no acreditar.

    Jonas lem#rou/se deles dois aos quin'e= revolta, revolta, revolta, revolta. Por onde

    andava aora tudo aquilo, crena, pai"o, vontade de mudar o mundo7 !ei)o e o arro'

    tin(am ento tanta !ora assim7

    Dato riu e contou uma piada=

    > Ym cara c(eou pro outro e disse= Me separei. Por qu27, peruntou o interlocutor.

    Porque, ao c(ear em casa, vi min(a mul(er transando com um outro (omem. C(ocado, o

    amio indaou= oc2 viu os dois copulando7 E o dele, responde o su)eito.

    Jonas !orou para rir, piada antia, s que de portuu2s, o Dato no ostava de piada

    de portuu2s, adaptava tudo, quem seria mais #urro do que ns, os #rasileiros7, costumava

    di'er? Jonas riu !orado, e no !undo muito preocupado, era a seunda indireta que o amiol(e mandava (o)e, ou seria paranoia dele7

    > A Am+lia )$ te traiu7

    > Uue peruntaZ %em pensarZ C2 sa#e, > cantou > 3Am+lia + que era mul(er de

    verdade...4

    > - se acontecesse7

    > Eei l$, como vou sa#er7 sso nunca aconteceria, eu ten(o a certe'a, ela s osta de

    !a'er amor comio, s osta de mim, nem conseue se imainar com outro (omem. - de

    mais a mais eu me aranto.

    que isso queria di'er7

    Eil2ncio. Dato estacionou o pala em !rente de seu pr+dio, e, antes de saltar, !alou=

    > Mas se acontecesse eu no #riaria com ela. ;alve' com o cara, se !osse meu

    con(ecido, ou amio, eu poderia ainda !icar c(ateado. Mas com ela eu no #riaria... isso

    eu sei. CaraZ Ee ela me trasse eu ac(o que no ia mudar coisa nen(umaZ

    Jonas se sentia super descon!ort$vel. Ainda assim, !alou=

    > -u ac(o que voc2 tem ra'o. sso no iria acontecer. oc2s dois se amam demais.

    > - a mul(er quando ama, voc2 ac(a que no trai7

    > -u no sei. Einceramente, sei l$.

    -ra uma linda man( de sol de domino, e Am+lia e os peti'es os esperavam vestidos

    de #iquni e sunas, prontos e pulando, querendo ir praia.

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    > Mas a ente nem almoou.

    > Pai, voc2 prometeuZ

    > Fesde a semana passadaZ

    > Uueremos ir praiaZ

    Am+lia cantava pela casa !eito louco a cano de Jards Macal+=

    3amos a la plaa

    Pear con)untivite

    Uuem sa#e uma sistite

    ;alve' uma (epatite4

    -les aleres.

    > - comida7

    > A ente compra uns !ranos e uns pes doces e uns re!rierantes na padaria daesquina.

    > oc2 ainda tem rana7Z

    > ClaroZ

    > Am+lia + que + mul(er de verdadeZ

    > um#ora macacadaZ

    > Qente, ente, eu vou pra casa...

    > Cala a #oca JonasZ

    > Mas e a suna7

    > este uma do 6onsin(o. D$pido.

    - l$ se !oram todos para a Harra da ;i)uca, onde ldelp(onsus tin(a at+ uma partida de

    pelada com#inada com uns coleas de praia, e o Jonas !icou um tempo !inindo que

    ensinava os a!il(ados a nadarem, enquanto Am+lia se em#onecava se colorindo de sol de

    costas com o lao do suti do #iquni des!eito pra no dei"ar marca deitada na areia

    tomando mate elado e comendo #iscoito de polvil(o a'edo doce com areia e lendo as

    !o!ocas das vidas dos artistas na revista deitada em cima da toal(a com um uarda/sol

    en!eitando do lado.

    Jonas sentou/se )unto a ela e !icou ol(ando pro c+u e pro mar to lindos, e pensando= a

    arte + uma coisa muito di!cil. -stou ($ mais de vinte anos escrevendo o mesmo livro, e o

    resultado ainda no me aradou. Cresci, !i' o seundo rau, entrei pr !aculdade, me

    15 Complicado... parece o eterno retorno de %iet'sc(e.

    > -le di' muito mais coisas, mas eu no entendo tudo. o maior 2nio do s+culo ,

    no campo da !sica, maior que -instein...

    > -instein esteve no Hrasil. -u pensei em !a'er uma pesquisa e escrever uma (istria

    em que ele aparecesse, um enima de implicaes enormes, que se desdo#rasse at+ os dias

    de (o)e...

    > maior mist+rio + o prprio mundo, a vida e o pensamento. e)a o caso de

    Etep(en, esse que revolucionou toda a ci2ncia da (umanidade, isso depois de Ho(r,

    Beisen#er e -instein, eu ac(o at+ que ele vai encontrar a teoria do campo uni!icado...

    > -u no sa#ia que voc2 entendia tanto assim de ci2ncia.

    > ...e no entanto o (omem no pode se me"er, s move um dedo e com esse Onico

    dedo ele aciona um computador atrav+s do qual escreve livros, desen(a r$!icos,

    impulsiona e direciona a cadeira de rodas e sinteti'a uma vo'Z -le s pensa, o tempo todo.

    > %ada escapa do #uraco nero...

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    > prprio BaTin desco#riu so'in(o que metade da mat+ria que l$ cai escapa de

    volta so# a !orma de partculas su#atKmicas. -u )$ tin(a lido o astrKnomo #rasileiro

    Donaldo Do+rio de 6reitas Mouro no =ornal do *rasilescrevendo que o #uraco nero

    poderia ser uma comunicao com outros universos, a mat+ria sairia do nosso por um deles

    e entraria no outro pela supernova, que + uma estrela que e"plode e li#era uma quantidade

    incalcul$vel de eneria.

    > Comunicao entre universos paralelos7 asos comunicantes7

    > EimZ Mas com Etep(en !ica mais louco ainda= o prprio universo seria muitos

    universos, por causa de sua nova concepo do tempo. Joce escreveu so#re um caosmos,

    os estoicos !alavam em Iion e Feleu'e e Quattari em ri'oma, por+m Etep(en BaTin

    reali'ou isto cienti!icamente. Pena que as pessoas no entendam. ;odos so uns im#ecis,

    inorantes, idiotas como voc2.> Com todo o respeito, + claro, que voc2 + meu amio, n+ Datn7 Pois eu tam#+m

    posso te surpreender, quer ver7 Ee toda ve' que se cria uma partcula num ciclotron se cria

    uma equivalente de antimat+ria, ento a e"ist2ncia do universo implica na e"ist2ncia de

    todo um antiuniverso iual e especular. - os dois no podem estar misturados nem

    contuos, pois quando a mat+ria e a antimat+ria se tocam e"plodem com uma li#erao

    espetacular de eneria.

    Dato ouviu interessado, como um )oador de !ute#ol ao rece#er um passe na

    construo de uma )oada.

    > s dois podem ser contuos, e pode (aver uma 'ona de contato altamente inst$vel,

    com li#erao constante de eneria.

    > %o entanto isso iria !a'er com que os dois encol(essem sem parar.

    > ;alve' o que os cientistas interpretam como e"panso se)a esse consumo. ;am#+m

    pode ser que nas asas, considerando a 'ona de interseo como o corpo da #or#oleta, na

    !m#ria e"terna das asas poderia (aver criao permanente de partculas correspondentes ao

    consumo e como consequ2ncia dele.

    > Ym cclotron caosmtico...

    > Muito mais.

    > super/e!eito/#or#oleta.

    > uro#oros.

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    > E que a erao de novas partculas eraria novas antipartculas, e as pontas das

    asas tam#+m teriam 'onas inst$veis... Dato no respondeu. Mesmo assim Jonas estava

    impressionado com seu amio descon(ecido.

    Fe onde estava vindo tanta inteli2ncia repentina7 E porque ele assistira a mpressionanteZ -stamos indo para um encontro super cavernoso e voc2 a

    calmamente !alando que nem um doutor da Eor#onne.

    > -les !alam assim7 Hem, estou s tentando te acalmar, )oando aluma areia nos

    seus ol(os > e !uncionouZ e)a= c(eamos.

    -ra uma casa rande, com enorme )ardim sua volta, cercado por um muro alto, em

    cima do qual (avia uma cerca de metal. %o porto, dois seuranas discretamente armados.

    > %em pensar de entrar. Aquilo ali deve ser uma cerca eletri!icada, e esses dois carasno so de #rincadeira.

    > A ente d$ um )eito...

    > %o sen(or. -u topei vir at+ aqui, e #asta. A reunio vai ser daqui a pouco, eles

    provavelmente ainda no c(earam. A ente pode !icar escondido de lone e !ilmar quem

    entra. - + s. o m$"imo. -ntrando ns estaremos errados, dando marem a qualquer

    reao deles.

    Dato pensou um tempo. Fepois !alou=

    > ;$ #em.

    6icaram aac(ados, meio sentados na calada, do outro lado da rua, escondidos por

    um ar#usto.

    Passaram/se apenas aluns minutos e um carro parou em !rente ao porto.

    > Me d$ a !ilmadora, r$pido, + eleZ

    - o Dato comeou a ravar.

    -ra o erente de sua !ilial, o Fr. Ana'ildo Creone.

    > Eer$ se vai dar para pear o rosto dele dessa distNncia, de noite7

    > A cNmara tem um #om 'oom, voc2 deve sa#er, e !ilma de noite...

    > Papo de vendedor.

    > F$ sim. Aora !ica quieto.

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  • 7/26/2019 Mundos Possveis

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    carro entrou e loo depois c(eou um automvel de lu"o, diriido por um (omem

    )ovem e muito #em vestido, parecendo um pla#o.

    > -sse deve ser o c(e!e da an que rou#a camin(es de cara.

    6ilmou/o at+ que entrasse e o porto !osse !ec(ado.

    Mais um tempin(o e c(eou um carro #em mais simples que os outros dois, um reles

    modelo nacional, diriido por um enorme e alvssimo (omem, parecendo um pastor

    alemo.

    > - quem ser$ esse aora7

    > %o sei, mas tK !ilmando. Feve ser da quadril(a tam#+m.

    > -sse cara + muito esquisito, #ranco demais, parece al#ino, e iantesco. Feve ser

    estraneiro.

    > ai ver que a rou#al(eira tem rami!icaes em outros pases.> sso t$ !icando perioso...

    > Cala a #oca. ;udo que a ente !ala sai na ravao.

    Eil2ncio. rino entrou. s seuranas !alavam em seus alTtalTs. Pareciam

    rece#er ordens, ol(ar a rua e responder aluma coisa.

    Yma limusine uiada por c(o!er tra'ia um !iuro no #anco de tr$s, o qual diriiu a

    palavra aos (omens que uardavam a entrada. Ao v2/lo atrav+s da lente da cNmara o Dato

    teve que se seurar para no soltar um rito de espanto.

    > Put'rila, + o C(e!oZZZ

    > Uue c(e!o7

    > dono das Ga'as -l+triTas, o Fr. Qunterisc( 6raun#raulerZ

    > utro alemo7

    > %o, esse + #rasileiro da ema, de !amlia cincocentona.

    > - esse nome escroto7

    > - o teu patronmico, 6)ord7 Fi'em at+ que ele vai sair candidato a senador da

    DepO#lica nas pr"imas eleies.

    > Por isso que o pas est$ nessa mis+ria= seus dirientes so estraneiros de corpo e de

    alma.

    > CaludaZ

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    Fepois da entrada do veculo que levava Qunterisc( 6raun#rauler passou/se um

    tempo, e parecia que mais ninu+m iria c(ear. A reunio poderia demorar (oras, e Jonas

    convenceu o Dato de que era mel(or ir em#ora. -ste )$ estava uardando a cNmera, quando

    outro carro com c(o!er c(eou.

    Jonas peou rapidamente a m$quina e recomeou a !ilmar.

    > Com mil etsZ - essa aoraZ

    > que !oi7 oc2 con(ece esse (omem7 > indaou ldel!onso.

    > o Fr. J. J. Jones, o presidente da !irma nuclear onde tra#al(o.

    > %uclear7 Eer$ se eles vo rou#ar #om#as7

    > A min(a empresa no tra#al(a com #om#as. E usinas.

    > estatal7

    > oc2 sa#e que ela + particular, eu )$ te disse. uma sociedade anKnima...> u sociedade atKmica7

    > -u sempre ac(ei a ideia pretensamente neoli#eral do overno de privati'ar a eneria

    termonuclear uma temeridade &pois os pases mais capitalistas do mundo mant2m como

    estatais as empresas de eneria e comunicao, que todos sempre consideram como de

    seurana nacional*. Aora ol(e o que est$ acontecendo. -sse (omem manda e desmanda

    na empresa, + praticamente seu propriet$rio. que estar$ ele !a'endo, comparecendo a

    reunies noturnas com #andidos e o dono de uma rede de lo)as de eletrodom+sticos7

    Fepois de !ilmarem a entrada do Fr. Jones os dois ac(aram que )$ estava de #om

    taman(o e resolveram se mandar.

    6oram quase que se arrastando at+ o pala do Dato, que estava estacionado em uma

    rua vicinal, e rodaram lentamente para lone dali.

    > que quer di'er J. J.7

    > Josep( Jo(n.

    > utro estraneiro...

    > Carioca da ema. 6il(o de me paulista e pai norte/americano &quer di'er,

    estadosunidense*. 6e' todos seus estudos no pas de seu pai &que + seu tam#+m, pois ele

    tem evidentemente dupla cidadania*.

    > ;em sotaque7

    > ;em. - o outro7

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