os cenários da república o brasil na virada do século xix para o século xx

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Vertigem e aceleração do tempo. Esta seria, sem dúvida, a sensação mais forteexperimentada pelos homens e mulheres que viviam ou circulavam pelasruas do Rio de Janeiro na virada do século

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  • Os cenrios da Repblica. O Brasil na virada do sculo XIX para o sculo XX Margarida de Souza Neves Professora Associada do Departamento de Histria da PUC-Rio.

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    Vertigem e acelerao do tempo. Esta seria, sem dvida, a sensao mais forte experimentada pelos homens e mulheres que viviam ou circulavam pelas ruas do Rio de Janeiro na virada do sculo XIX para o sculo XX. Ainda que de forma menos contundente, o mesmo sentimento estaria presente nas principais cidades brasileiras, que, tal como a cidade-capital, 1 cresciam como nunca, tornavam complexas suas funes e recebiam levas de imigrantes europeus que atravessavam o Atlntico em busca do sonho de fazer a Amrica. Tudo parecia mudar em ritmo alucinante. A poltica e .a vida cotidiana; as idias e as prticas sociais; a vida dentro das casas e o que se via nas ruas. Como nas subidas, descidas, voltas e reviravoltas de uma montanha-russa estonteante, na feliz imagem utilizada por Nicolau Sevcenko (2001, p. 11-22), o progresso, tudo parecia arrebatar em sua corrida desenfreada.

    Marasmo. E um tempo que parecia transcorrer to lentamente que sua marcha inexorvel mal era percebida. Assim, nas fazendas, nas vilas do interior e nos sertes do pas, essa mesma virada do sculo seria percebida. Ali, nada parecia romper uma rotina secular, firmemente alicerada no privilgio, no arbtrio, na lgica do favor, na inviolabilidade da vontade senhoria/2 dos coronis e nas rgidas hierarquias assentadas sobre a propriedade, a violncia e o medo. Tudo parecia ser sempre igual, e o tempo, ao menos aparentemente, ainda seguia o ritmo da natureza. Como nas memrias de infncia de Graciliano Ramos, a vida transcorria lenta e sem outras alteraes que no aquelas que distinguiam a estao das chuvas daquela da estiagem:

    Mergulhei numa comprida manh de inverno. O aude apojado, a roa verde, amarela e vermelha, os caminhos estreitos mudados em riachos, ficaramme na alma. Depois veio a seca. rvores pelaram-se;bichos morreram, o soi

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    O B R A S I L REP U B LICA N O

    cresceu, bebeu as guas, e ventos mornos espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta. Olhando-me por. dentro, percebo com desgosto a segunda paisagem. Devastao, 2laitiiJcC Nesta vida lenta sinto-me coagido entre duas situaes contraditrias - uma longa noite, um dia imenso e enervante, favorvel modorra (Ramos, 1978, p. 20).

    Na Repblica Velha, uma lgica paradoxal diferencia e ao mesmo tempo relaciona organicamente esses dois cenrios - o da capital federal e o do interior -, primeira vista opostos pelo vrtice, o cenrio do progresso montado na cidade que, aps o 15 de novembro, assume foros de capital federal e o cenrio do interior do pas, onde a Repblica recm-implantada, aparentemente, muda apenas, no cotidiano, os selos que estampilham as cartas que o correio de quando em vez faz chegar, a bandeira nacional hasteada nas festas, as notas e moedas que pouco circulam e algumas das datas ptrias ! festejadas com fanfarra e bandeirolas. Aprofundar na relao entre esses dois _ , , j cenrios, sem deixar de p;rceber as diferenas entre a ;(idi b- . , ,.; /1 interior .e a vida vertiginosa3 do Rio de Janeiro, premissa fundamental para o entendimento da histria do primeiro perodo republicano no Brasil.

    Como poucos, entre aqueles que viveram o tempo conturbado do fim do Estado imperial e do incio da Repblica, Euclides da Cunha experimentou na prpria vida e trouxe para a sua obra o paradoxo entre os dois cenrios da Repblica e os impasses do sonho republicano.

    Nascido em uma fazenda em Santa Rita do Rio Negro, interior da ento provncia fluminense, peregrinou desde muito pequeno pelo Brasil afora em razo da morte precoce de sua me e, j adulto, ao sabor dos deveres de ofcio que assume como militar, como engenheiro ou como jornalista. Ainda menino, levado, da Fazenda Saudade em que nascera, para a cidade serrana de Terespolis; dali a So Fidlis, para a fazenda de um tio, coronel da Guarda Nacional. Depois, muda-se para Salvador, na Bahia, onde vive entre os 11 e os 12 anos em companhia dos avs paternos. Transfere-se ento para o Rio de Janeiro em 1879, onde, mais tarde, ingressa na Escola Militar, sem no entanto conclu-la em funo de um famoso episdio ocorrido no ms de novembro de 1888, em que ostenta suas convices republicanas diante de Toms Coelho, ministro da Guerra do governo imperial. J adulto, continuar o priplo pelo Brasil: So Paulo, novaente o Rio _de Janeiro, interior de Minas Gerais,

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    OS CE N RIOS DA REP B LIC A

    e.omra vez So Paulo, ode retoma a colaborao com a imprensa no peridico O Estado de S. Paulo, que o enviar como reprter cena do mais desconcertante confronto a que fez frente a Repblica em seus primeiros anos: aquele que reultou do enfrentamento, no interior da Bahia, entre o Exrcito nacional e os sertanejos que buscavam nas pregaes de Antnio Conselheiro a esperana que o Estado republicano - tal como a monarquia - insistia em negar-lhes no plano dos mais elementares direitos de cidadania.

    _Depis a

    expedio aldeia sagrada de Canudos, para o escritor uma ver_dade1ra ep1fama em que o Brasil revelou-se por inteiro, Euclides seguiria ainda a peregrinao que no cessava de lev-lo e de traz-lo do cenrio do progresso montado no Rio de Janeiro para os grotes mais remotos do pas; das vilas pacatas para as capitais dos estados; da rotina das fazendas e plantaes para a exuberncia indomvel da selva amaznica. Depois de testemunhar a tragdia de Canudos e antes de sua morte violenta em 1907, aos 43 anos de idade, Euclides viajaria ainda por todo o interior de So Paulo como engenheiro de obras pblicas; conheceria a tranqilidade da vida em Guaratinguet e Lorena; viveria no Guaruj enquanto trabalhava em Santos; percorreria boa parte da Amaznia, chegaria s nascentes do rio Purus e regressaria vida agitada da capital federal j travestida em Paris tropical pela reforma Pereira Passos.

    Por ter testemunhado o fim trgico daquilo que ele prprio qualificou de A nossa Vendia (Cunha, 1966, vol. I, p. 575), Euclides pode escrever Os sertes, um dos mais lcidos e dramticos Retratos do Brasi/4 do incio do sculo passado. Nesse livro, engastada no meio de uma rebuscada descrio da caatinga e do homem sertanejo escrita conforme os cnones positivistas em que fora formado, aparece uma rara sntese que condensa o contraste entre os ideais de progresso e civilizao que pautam os sonhos de seu tempo e a dura realidade do Brasil. Destilada no incessante ir-e-vir, na experincia na vida familiar entre os coronis das fazendas fluminenses e da Bahia, no Exrcito, no jornal e no trabalho como engenheiro e funcionrio do governo pelo Brasil afora, esse trecho daquela que uma das obras maiores da literatura brasileira oferece uma cartografia simblica dos dois cenrios republicanos:

    Estamos condenados civilizao. Ou progredimos ou desaparecemos. A afirmativa segura. [ ... ]

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    O BRASIL REPUBLICANO

    Vivendo quatrocentos anos no litorai vastssimo, em que palejam reflexos de vida civilizada, tivemos de improviso, como herana inesperada, a Repbli-

    ,' ca. Ascendemos de chofre, arrebatados no al. dos ideais modernos, deixando na penumbra secular em que jazem no mago do pas um tero d nossa gente. Iludidos por uma civilizao de emprstimo, respingando, em faina cega de copistas, tudo o que de melhor existe nos cdigos orgnicos de ou-

    . ;-. tras naes, tornamos, revolucionariamente, fugindo ao transigir mais ligeiro com as exigncias da nossa prpria nacionalidade, mais fundo o contraste entre o nosso modo de viver e o daqueles rudes patrcios mais estrangeiros nessa terra que os imigrantes da Europa. Porque no no-los separa um mar, separam-no-los trs sculos (Cunha, 1966, vol. 2, p. 141e231).

    Na esteira dessas palavras, o que se pretende aqui , em primeiro lugar, refletir sobre a Repblica, regime poltico que Euclides da Cunha afirmava ser, no caso brasileiro, uma herana inesperada, bem como sobre as relaes entre a nova institucionalidde implantada em 1889 e os sonhos de progresso e civilizao, sem esquecer que, para o autor de Os sertes, o primeiro termo est associado a uma condenao inexorvel e o segundo constitui-se em um ideal de emprstimo. tambm, em segundo lugar, aprofundar nessa curiosa geometria euclidiana que mede em sculos a distncia entre o mago do pas e o litoral vastssimo, representaes espaciais dos dois cenrios da Repblica da perspectiva do autor. ainda -e sobretudo -pensar como, apesar das transformaes de toda ordem que caracterizam aquela virada de sculo, permanece intransponvel o fosso que exclui da arena poltica formal os rudes patrcios e como se mantm intocadas as hierarquias que subordinam aos interesses e ao mando dos que imprimem direo Repblica aqueles que Euclides, num clculo talvez otimista, estima serem um tero da nossa gente.

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    : O B RASIL REPU B LICA N O

    Oriente: Cochinchina, Camboja, Anam, Tonquim e Laos, ocupados entre 1862 e 1893, vo c?nstituir a Indochina Francesa. A Alemanha, unificada em 1870, apossa-se na Africa de Camares, do Togo e de vastos territrios da frica sulocidental e oriental, alm de parte significativa da Nova Guin e das ilhas do Pacfico a partir de 1878. Simultaneamente, a Itlia, tambm unificada no mesmo perodo que a Alemanha, ocupa a Lbia, a Eritria e parte da Somlia no territrio africano. A Blgica planta, em 1908, no corao da frica 0 Congo Belga, enquanto Portugal e Espanha, h muito presentes na frica, aumentam seus domnios. A Holanda mantm os territrios em Sumatra, Java, Bornu, ilhas Clebes e Nova Guin. No Extremo Oriente, o Japo rompe o insulamento e ocupa territrios na Coria e na China. A Rssia expande-se pelos Blcs, pelo Turquesto, pela Prsia, pela Monglia Exterior e pela China. Nas Amricas, os Estados Unidos, considerados como um modelo de pas jovem e empreendedor, entram na corrida imperialista e estabelecem bases militares ou ocupam, entre 1867 e 1915, o Alasca, o Hava, Guam, Cuba, Haiti, Porto Rico, ilhas Virgens, Nicargua, Panam, parte do territrio mexicano, algumas ilhas no Pacfico e, em 1898, substituem os espanhis nas Filipinas. O mapa poltico do mundo passa a ser outro, e o Brasil nele continua inscrito como pas dependente e perifrico, mas no mais exclusivamente na rea de influncia inglesa. Outros investimentos e interesses internacionais aqui aportam, notadamente os norte-americanos .

    Novas engrenagens internacionais transformam a economia mundial as grandes potncias hegemnicas descobrem, nas reas perifricas - inclu:ive no Brasil -, um mercado lucrativo para aplicaes financeiras e passam a investir fortemente ali, onde a mo-de-obra barata, os direitos sociais esto loge de

    _serem conquistados e a matria-prima farta e disponvel. O capi

    talismo fmanceiro complementa as conquistas dos pases industrializados e os trustes e cartis daro novas formas s polticas monopolistas . .

    Por toda parte, novos agentes e novas prticas sociais transformam as cidades. Empresrios e operrios redesenham os plos da conflitividade social, e se os primeiros ostentam riqueza nos sales e nas festas suntuosas os segundos encontram nas greves e nos sindicatos a forma de reivindicar sus diretos. Cresce o nmero das fortunas feitas da noite para o dia, e Balzac, escntor francs que traz para a ljteratura as transformaes que, ento afe-

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    OS CENRIOS DA REP B LICA

    tavam tantas vidas, sustenta com argcia que, por trs de uma grande fortuna, h sempre um crime inconfessvel (Balzac, 1965, p. 139). Simtrica e oposta, cresce tambm a pobreta nas cidades; j em 1859 Charles Dickens e em 1862 Vitor Hugo a transporo para a literatura em Um conto de duas cidades e em Os miserveis. Os pobres - cada vez mais numerosos nas cidaJ;;- se amontoam em casas de cmodos, pardieiros, penses, guas-furtadas e tugrios nos bairros miserveis e nas periferias. A multido, outra das novidades do tempo, ocupa as ruas e, paradoxalmente, faz crescer a sensa-

    . o de isolamento e solido ao instaurar o anonimato. Para cont-la os urba-nistas reformam as cidades. Para diverti-la, os mesmos maquinismos, que nas fbricas esto associados dura rotina do trabalho, so utilizados nos grandes parques de diverses. Para amenizar a distncia que a separa da natureza so construdos os grandes parques urbanos, como o Central Park, em Nova York, ou o Bois de Boulogne, em Paris.5 Para educ-la, cur-la, disciplin-la e civilizla mobilizam-se os. i!ltt::\e_

  • O BRASIL REPU BLICANO

    novo tambm o ritmo da vida e, com a associao da cincia tcnica, as distncias parecem encurtar-se. Em.terra, amplia-se a poderosa rede de -rrovias que corta os cinco continentes e, em __!__9-_0, um trem, o Empire State Express, atinge uma velocidade de mais de lOOkm por hora. Um novo ve--lgha as ruas de todas as cidades desde-qDaiI Benz constroem

    .: um fil!_tomvel movido a gasolina em 1885 e Henry Ford comea a fabricar em srie seus modelos T em 1908. Nos mares, desde 1873, a mquina Normand, de expanso tripla, toma os navios transatlnticos mais velozes, e

    o submarino lanado por Laboeuf em 1899 traz para a realidade o que antes era possvel apenas na fico de Jlio Verne, que j fizera o capito Nemo singrar as profundezas do mar nas pginas de Vinte mil lguas submarinas. O

    , telefone, o rdio, o telgrafo e - lioip91 inventada por Mergenthaler em ; ______ ...... ... - ,. .. ---- -----"---.=...-. .. ----- .. -/ ,,..-1884 revolucionam as possibilidades de comunicao. E os bales, os dirig-,-;

    ,.,veis, os zepelins e outras engenhocas voadoras tomam cada vais tang-vel o mito de caro e o sonho de Leonardo da Vinci, que se tomar realidade graas a um brasileiro franzino, Alberto Santos Dumont, que cruza os cus de Paris em 1906 a bordo do PE_m-rc:> __ \'.-1:.___i!, ainda que muitos afirmem que a proeza de voar a bordo de um aparelho mais pesado que o ar pertenceu aos irmos Wright. .

    Tambm o espao privado se transforma com mil novidades desde que ::-,_,)\1 (\' ''siemens inventa um forno eltrico em 1870, surge a baquelite -a primeira -,.,: ;

    i t.Y".) matria plstic:a -e-I 872, Ediso-;cende a primeira l.pd-incandescente

    no vo em 1876 e o primeiro fogo eltric;-c;r ;;did em 1893. O progresso tcnico invade as casas, transforma os ritos, -;;;-ztu .,.T." . .. - -.. ,, -- .- ----------- '' ----- ' - .-- ., -- --- -. .. ---------. _!ios 9--rotina_9stica. Quando, em 1905, Einstein prope a teoria da relatividade, revolucionando a fsica moderna, a qumica cotidiana da cozinha da maioria das casas j havia sido transformada pela descoberta de um norte-americano de nome Normann que, em 1903, patenteara o processo de hidrogenao para a fabricao da _I1largarina:. Entre ns, alguns desses artefatos comeam a modificar os hbitos dos casares da rua So Clemente e da avenida Paulista. 6

    --- \ ,_:( '. ,,,Yil1_?.?:V. concepo de tempo_ e _. e_ arte.

    Cabe lembrar que o evolucionismo social de Spencer precede o _sl_winismo_,_qy_G__Q-!5!5Qli11Lt:I!!_ S_1:1a te:.QJi__d.a...sd.e._o_natllLaldaS-esp.cies os princpio q_u.e_1_19Eteiam a concepo _de histr!_ c;omo urn

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    O B R AS I L REPU B LICANO

    rando assim uma desigualdade facilmente sanvel pela aplicao das inteligncias e a mobilizao das vontades,.a diferena essencial que os separava de pases como a Frana e a Inglaterra, a Alemanha e os Estados Unidos, a Blgica ou a Itlia no cessava de aprofundar-se, uma vez que da manuteno de seu lugar perifrico, subordinado e ainda colonial, dependia a reproduo exponencial da riqueza, da hegemonia e do lugar ocupado pelos chamados pases civilizados e progressistas no concerto das naes.

    A ideologia do progresso, no entanto, impedia a percepo dessa diferena fundamental e de algumas das decorrncias menos edificantes do esprito do tempo, tais como o etnocentrismo, o desrespeito aos valores das diversas culturas, a injusta distribuio da riqueza entre os Estados e no interior deles, a prepotncia, a violncia e a explorao. Desde a metade do sculo XIX, essa ideologia, sntese dos ideais modernos em cujo caudal Euclides da Cunha via o Brasil arrebatado, transformara-se em algo muito prximo a uma religio leiga.

    Como toda religio, para alm de realizar seu sentido etimolgico - re ligare -, ao congregar os que partilhavam a mesma f em torno a um credo comum, aquela que se consolida a partir da crena inabalvel na marcha do E_!!_5_-4Desdei85i:Jquando a Inglaterra vitoriana inaugura a primeira das - Exp()_si Unfvr?is_, o caudal dos ideais m odernos vir desaguar nessas >stas do

    __p3_ggres.so_.e_da-civilizao, vistas pelos organizadores como are

    nas pacficas (Neves, 198 8) . Milhares de visitantes de todas as latitudes geogrficas e sociais aprendero, ao visit-las, lies indelveis que resumiro as convices daquele tempo, associaro indissoluvelmente os conceitos de progresso e civilizao e assimilaro urna determinada viso da histria. Cabe assinalar que muitos dos marcos que monumentalizam esses ideais modernos so originariamente vinculados s Exposies. o caso do_fa!.?:.C:i.-.-pl_,_ projet_aclo por]ohn Paxton para a Exposio

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    1 \,lov-A"",

    OS CEN R IOS DA R E B LICA

    londrina de 18Sl; da_fttua_da.Liberdade, presente da Frana aos Estados Unidos no centenrio de sua emancipao poltica e que, antes de cruzar o Atlntico e aportar diante da ilha de Manhattan, esteve exposta em Paris na Exposio de 1878, e tambm da torre Eiffel, em seu tempo a mais alta e ousada construo erguida pela mo do homem, e que presidiu grandiosa Exposio Universal com que a Frana comemorou o ter-

    - ceiro centenrio da Revoluo Francesa. No Brasil, timidamente, as novidades do tempo estaro presentes desde

    a dcada de 1860. Antes mesmo de abolir ---fc::r_avido, que se tornara um

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    obstculo i::eal para o progr:-()I_!1aterial "'. d_esmentia a reputao de progres-- sista perseguida pelo Imprio e pelo segundo imperador, aqui chegaram alguns lampejos sunturios das conquistas modernas. A fotografia, o telefe, () _elgr_a,fo_e o f()_i:i__9ggfu causaram espanto e maravilha. A rede ci.eas de ferro estendeu-se, unindo aos portos de escoamento para_g __ g:ijl_QQJC-ter;;-as gnmde;j;nd;; i; 0-st -p;u;;,-d;; ;-;b-fuo livre ganh-1 -

    -e.:;(: espao e os proprietrios pretendiam ser empresrios modernos. Desde 1862 o _Brasil participava das Exposies Internacionais8 realizadas na_ EuP_'.l e _nos Estados Up.idos, ainda que a imagem que os visitantes dessas grandes mostras que, por acaso, se fixassem no que o Estado imperial enviava para representar o pas no pudesse deixar de estar associada sua extraordinria riqueza natural e ao eQ1ismo: pedras e madeiras pr.eci_QS:J.S, peles de animais -.

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    lv:ag_;n_:;, pociutos agrcolas e arte plumria abarrotavam o espa9 de_s_tina-do ao Imprio do Brasil nas primeiras Exposies Internacionais que contaram com a presena do pas.

    No mesmo ano em que os holofotes da Exposio Universal de 1889 fizeram resplandecer em Paris a torre de 300 metros de altura construda por Gustave Eiffel, um golpe militar, a princpio destinado apenas a provocar a -derrocada do gabinete Ouro Preto, terminou por derrubar a monarquia, expulsar o velho imperador e sua famlia e instaurar a Repblica. Re_volu- , ,_ cionariamente, como dir Euclides da Cunha, engenheiro militar para quem - -ti-de revolta, subievao e convulso social que nos habituamos a associar ao termo revoluo certamente estaria associada quela de seu sentido primitivo, oriundo dos campos intelectuais da fsica, da astronomia, _d_a geometria e da -illed.nica; e que aparecem em primeiro lugar n Dicionrio

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  • I

    O BRASIL REPUBLICANO

    prtico illustrado de Jayme Sguier, um dos mais utilizados em sua poca e que assim define os principais sentidos da palavra revoluo:

    Revoluo, s.f. {lat. revolutio). Phys. Movimento de um mvel que percorre uma curva fechada. Astron. Marcha circular dos corpos celestes no espao; perodo de tempo que elles empregam em recorrer a sua rbita: a revoluo da terra em torno do sol. Geom. Movimento suposto de um plano em volta de um dos seus lados, para gerar um slido. Mechn. Giro completo de uma ) rda. Fig. Levantamento ou insurreio poltica de grande importncia e gra

    / v1dade, tendente a mo_

  • O B RA S IL R EP U B LICANO

    o mais conhecido dos testemunhos escritos sobre aqueie 15 de novmbro, a carta de Aristides Lobo em que o futuro ministro do Interior do primeiro governo republicano afirma ter o povo assistido ao desenrolar dos fatos daquele dia "bestializado, atnito, surpreso, sem conhecer o que significava'', reconhecno calor da hora, que "por ora, a cor do governo puramente militar e dever ser assim. O fato foi deles, deles s, porque a colaborao

    do elemento civil foi quase nula" (Citado in Carone, 1969, p. 289). A iconografia dos primeiros anos republicanos tambm sublinha o papel

    do Exrcito, tanto se tomarmos como referncia a imprensa ilustrada de ento, em que desponta a pena inspirada de Angelo Agostini, quanto se pensarmos

    . nos registros mais solenes dos pintores da poca. O quadro de Henrique Bernardelli em que Deodoro, montado em um cavalo branco e com ar triunfal, ocupa todo o primeiro plano da tela. deixando na sombra um grupo fardado e alguns poucos civis que do vi -;:::j Repblica, exemplar nesse sentido e j foi objeto da anlie de Jos Murilo de Carvalho (1990). Angela Maria de Castro Gomes (Gomes, Pandolfi e Alberti, 2002, p. 12-30) mostra ser esse tambm o sentido da tela de Benedito Calixto pintada em 1893 e que continua pondo no centro dos acontecimentos Deodoro e o Exrcito, se bem que alargue o plano pintad(), mostrando todo o campo da Aclamao, a tropa formada, canhes assestados, oficiais a cavalo em meio aos quais est o major Frederico Slon de Sampaio Ribeiro com sua espada desembainhada,

    e alguns civis, entre os quais possvel reconhecer republicanos histricos, como Quintino Bocayuva. Ainda que com mais personagens em cena, Deodoro e o Exrcito continuam, na tela de .enedito 9-lxt(), a desempenhar o papel principal no advento republicano.

    Visto da. perspectiva do tempo cronolgico que antecede o 15 de novembro propriamente dito, outra luz ilumina o ocorrido e _ fcil perceber que a Repblica brasileira no foi apenas obra do'o_!_.!11ilita.1)1ue fez cair a monarquia.

    ,. , . Se bem seja possvel encontrar referncias mais remotas, a partir de 1870 . que se oficialjza o republicanismo brasileiro, com a publicao do Manifesto

    Republicano no primeiro nmero do jornal A Repblica. Coeren-te com o princpio descentralizador do federalismo, que se constitua na grande bandeira poltica dos republicanos de todos os matizes e na principal proposta

    2 8

    O S CE N RIOS DA REP B L I C A

    do Manifesto de 1870,1 1 o movimento republicano organizou-se desde ento em partidos polticos provinciais; divulgou seus ideais em jornais da corte e das provncias; multiplicou a existncia de clubes republicanos por todo 0 pas; chegou a eleger dois representantes para a Cmara dos .Deputados; organizou Congressos Republicanos, como os de 1887 e 1888 ; abrigou tendncias diferenciadas entre as quais os chamados republicanos histricos -

    os signatrios do Manifesto de 1870 -, os positivistas, os I?oderados, os liberais e tantos outros; cooptou descontentes com os rumos do Estado imperial - tais como os ironicamente chamados republicanos de 14 de maio, fazendeiros e proprietrios de escravos que abandonam o barco da monarquia aps a abolio de 13 de maio de 1888, ou Rui Barbosa, que em voto em separado no Congresso do Partido Liberal de maio de 1889 anuncia sua adeso ao ideal republicano, uma vez que a monarquia recusava a bandeira federalista; publicou obras de grande aceitao pelo pblico leitor, como A Repblica Federal de J. F. de Assis Brasil ou o famoso Catecismo Republicano de autoria de Alberto Sales, que teve uma tiragem de 10.000 exemplares -excepcional para a poca - para distribuio gratuita e, tal como o livro de Assis Brasil, foi patrocinado pelo Partido Rpublicano Paulista.

    Do ponto de vista da poltica era explosiva a combinao entre a perda

    ot-7 . r . , . _., de apoio poltico da monarquia por parte de setores influentes, como os cafeicultores do vale do Paraba - grande parte deles com interesses

    \c"'' escravistas - e do Oeste paulista - que consideravam insuficientes os es

    foros de modernizao do Imprio; -eS.C:_Il-.1!1I1?s _rr:iJ_l_itare; a ina

    bilidade da poltica imperial para lidar com os int_eresses corp()!-"ativos da Igreja

    Catlica; a S9-de periclitante do monarca que punha de manifesto a chama

    da questo dinstica, pois a ausncia de um herdeiro homem levaria ao trono a princesa Isabel,. no precisamente popular entre os fazendeiros esctavistas

    e casada co_nLo .. conde d'Eu, que conseguira angariar antipatias generalizacis; - xito da proposta federalista que os partidos monrquicos recusavam a despeito dos esforos de Tavares Bastos e de Joaquim Nabuco; 12 e tambm

    da P.!.QR.aganda ()5- p_artidrios.da.Repblica, entre os quais o barulhento Silva Jdim, qu -ostrangia a representao diplomtica francesa ao promover festas reoublicanas nas ruas do Rio de Janeiro no dia 14 de juiho e que, quando

    o Imprio patrocinou urna ;iagem do conde d'Eu pelo litoral brasileiro para

    2 9

  • O B R ASIL REPUBLICA N O

    promover o futuro da monarquia, embarcou no mesmo navio, que, a cada porto, atracava ao som de duas fanfarras, uma servindo de pano de fundo aos grupos monarquistas e outra entoando hinos republicanos.

    Estava portanto minado o terreno da monarquia brasileira, cuja razo de ser era a garantia e a reproduo da ordem escravista, e bem pavimentado o caminho republicano quando o golpe militar fez ruir o Estado imperial em novembro de 1889. Disso davam-se conta no apenas os brasileiros atentos vida poltica mas tambm os representantes diplomticos sediados no Rio de Janeiro.

    Entre os primeiros, poucos testemunhos so to eloqentes quanto o do historiador Joo Ribeiro, que em janeiro de 1889 mapeia os setores descontentes com a monarquia e profetiza a proclamao no primeiro nmero da Revista Sul-Americana, peridico literrio publicado no Rio de Janeiro pelo Centro Bibliographico Vulgacizador entre janeiro e dezembro do ano em que foi proclamada a Repblica.

    H um fermento revolucionrio por toda parte: a repblica triunfa e apenas deve-se registrar a existncia de um nico partido monrquico, o dos que esperam lugubremente a certido de bito de Sua Majestade. [ . . . ) No h esprito, por mais obtuso, que no veja, ao menos dentro de poucos

    - - ;os, a runa total da instituio monrquica no Brasil. [ . . . ] A fora republicana atual uma caudal [sic] soberana que resulta de vrias convergncias: da antiga e tradicional idia republicana; da autonomia da lavoura, j no precisando da proteo imperial; dos desesperos das classes em crise econmica; do dio contra a imoralidade dos governos; da misria das provncias; do abolicionismo que trabalhou pela liberdade e no ficou monrquico . . . O republicanismo espera apenas a reao armada e esta j deploravelmente se manifestou mascarada, ainda que iniludvel. [ ... ) Seja como for, a repblica vencer (Citado in Hansen, 2000, p. 2 4 -25).

    Entre os observadores estrangeiros, dois relatrios diplomticos se destacam. Em ju ho de 1888 , o representante diplomtico da Espanha escreve a

    seu governo aludindo a uma agitao republicana generalizada, e associa a enfermidade do imperador ao descontentan1ento dos ex-proprietrios de

    3 o

    O S CE N RI O S D A R E PB L I C A

    escravos, aos interesses paulistas e ao que chama de separatismo das provncias do sul do imprio:

    Cumpre-me participar a V. Excia. que, desde o momento em que se teve conhecimento da melhora de 5. M. o Imperador do Brasil, a excitao poltica que se notava em vrias provncias do Imprio, particularmente nas de So Paulo e Minas, acalmou-se bastante. As manifestaes de carter republicano que tiveram lugacdurante os dias em que a enfermidade de S. M. fazia esperar, a qualquer momento, um desenlace fatal preocuparam sobremaneira a ateno pblica, pois, em So Paulo, o assim chamado Congresso Republicano ocupou-se [ . . . ] de questes de grande transcendncia. As tendncias separatistas que desde h muito tempo vm-se manifestando nas prov ncias do sul do Imprio comeam a encontrar certo eco nas demais provncias, sobretudo desde a emancipao dos escravos, quando os donos das fazendas ou engenhos, prejudicados em seus interesses, comeam a aderir s idias republicanas.13

    O representante do Reino Unido, por sua vez, escrever em dezembro desse mesmo ano, em carta confidencial de nove pginas ao Ministrio das Rela- es Exteriores (Foreign Office) :

    Em meu despacho confidencial n 72, de 12 de agosto, :ive a honra de dirigir a ateno de Vossa Senhoria para a existncia de certas tendncias republicanas neste Imprio. Ainda que a ao dos republicanos tenha decrescido por algum tempo aps o retorno do Imperador, tal como assinalei em meu despacho n 94, de 16 de setembro ltimo, voltou a tornar-se ultimamente extremamente ativa, e a propaganda contra a continuidade das instituies monrquicas no Brasil feita abertamente e sem contestao aqui e em outras cidades do imprio. [ . .. ) O exrcito e a marinha, fui informado, tornam-se republicanos, e a Escola Militar do Rio de Janeiro, onde esto aproximadamente quatrocentos cadetes, tambm est, conforme ouvi, imbuda das mesmas opinies. Por volta do fim do ms passado, O Paiz, um importante jornal da cidade, trazia um artigo condamando as tropas adeso ao Partido Republicano, e o mesmo

    3 1

    "

  • O B RA S I L REPU B L I C A N O

    jornal alardeia, todos os dias, as manifestaes republicanas que s e realizam por todo o pas. [ . . . ] O Imperador tem a sade enfraquecida [ . . . ]; a Princesa Imperial no , infelizmente, popular junto a uma classe numerosa e influente, prejudicada em seus negcios privados com a abolio da escravido; o executivo fraco; o exrcito no inspira confiana, e todas essas circunstncias apontam para a possibilidade de uma revoluo num futuro no distante.14

    Previsvel para brasileiros e no-brasileiros, a Repblica, se bem que talvez inesperada para alguns e proclamada de chofre, como assevera Euclides, talvez no tenha sido feita to de improviso assim, como parece indicar o prprio gesto rebelde do autor quando jovem cadete da Escola Militar em 1888 . No entanto, quando o fato do golpe militar republicano torna-se acontecimento histrico na verso que o ex-cadete e ento jornalista e intelectual respeitado Euclides da Cunhi publica em 1902, e tal como prope Pierre Nora ao teorizar sobr"e o acontecimento e a histria, passa a enfeixar todos os significados sociais que rodeiam seu ponto de vista e as circunstncias da escrita, muito especialmente o massacre dos rudes patrcios que testemunhara em Canudos. Por isso, send outro seu foco de observao em 1902, a Repblica parecia-lhe feita de improviso.

    Se perspectiva do perodo que antecede Proclamao, e no qual o eco republicano se multiplicara, acrescentarmos aquela dos anos que sucedem ao 15 de novembro, adensando assim o tempo histrico, ser possvel inferir que, alm de no propriamente de improviso, a nova institucionalidade republicana instaurada em 1889 revestiu-se de uma lgica histrica possivelmente pouco evidente para as tropas que, reunidas no campo da Aclamao e atentas ao comando de Deodoro da Fonseca, precipitaram o golpe de morte da monarquia.

    Essa perspectiva de futuro tambm no seria previsvel para os que, naquela sexta-feira, 15 de novembro de 1889, ouviram pelas ruas da cidade, leram nas fachadas dos prdios em que se alojavam os principais jornais ou escutaram da boca de Jos do Patrocnio na Cmara Municipal a notcia de que estava deposta a monarquia e pro_clama,da a Rep.blica. Tambm o impe- . rador e sua famlia, retirados da paz do vero petropolitano por um telegra-

    3 2

    OS CE N R IOS DA REP BLICA

    ma do visconde de Ouro Preto, chefe do ltimo gabinete monrquico, mantidos sob custdia militar no Pao Imperial e embarcados, na madrugada do dia 17, no Alagoas para o exlio europeu, no poderiam imaginar o que se seguiria queles dias, para eles to conturbados.

    Nas provncias, os telegramas com as notcias do que se passara no Rio de Janeiro certamente surpreenderam a muitos, mas no houve reao digna de notcias na imprensa e, imediatamente, foram formados governos provisrios. Tambm nelas no era possvel prever o que sucederia no futuro imediato da Repblica recm-implantada.

    Talvez apenas o povo das ruas da capital, que a tudo assistira bestializado, no dizer de Aristides Lobo, assim como o povo pobre do interior, das vilas e capitais provinciais, intusse que toda aquela agitao nada mudaria em suas vidas. Muitos se benzeriam, mais de um bateria com a mo na boca, e, recorrendo sabedoria dos refros e provrbios repetidos de gerao em gerao, diriam que essa tal de Repblica no mudaria nada para quem no tem eira nem beira e anda pela vida sem ofcio nem benefcio. Em tempo de Murici . . . cada qual cuide de si! Em todo caso, a submisso de sculos levaria alguns a pensar que quem boa rvore se achega, boa sombra o cobre, para continuar buscando o favor e a proteo dos poderosos de sempre, muitos deles convertidos em ardorosos republicanos depois daquela sexta-feira quente de novembro.

    Em novembro de 1889 a Repblica foi apenas proclamada. S anos mais tarde, no governo de Campos Sales (1898-1902), o irmo do autor do Catecismo republicano de 1 8 85, e que se tornaria o grande arquiteto e o executor da obra de engenharia poltica que faria funcionar azeitadas as engrenagens da chamada Repblica Velha, serenaria a turbulncia da primeira hora republicana no Brasil. S ento o terreno movedio e ainda indefinido da Repblica brasileira se assentaria para que as bases de um equilbrio poltico complexo, frgil, mas eficiente at a dcada de 1930, fossem lanadas. Como nunca antes, as rdeas do poder do Estado, sem a mediao da coroa metropolitana ou da coroa imperial, estariam direta e exclusivamente nas mos dos que - sem grandes sutilezas e com boa dose de arbtrio - efetivamente imprimiam direo sociedade brasileira.

    Como .num feixe, para novamente recorrer imagem proposta por Pierre Nora, os significados sociais de que se rodeta o acontecimento d proclama-

    3 3

    :

  • O B R A SIL R EP U B L I CANO

    o da Repblica no Brasil se renem e o improviso de 1 8 89 encontra sua completude na inveno republicana (Lessa, 1999 e 2001 , p. 1 1-58) de Campos Sales e dos governos que o seguiram. Aos que viveram o sucedido entre 1870 e a primeira dcada do sculo XX, no entanto, s os fatos eram acessveis. O acontecimento, com toda sua carga de significados e com a possibilidade de abrir-se a um sem-nmero de possveis verses, quase nunca pertence histria vivida. Ele , sobretudo, o territrio da histria feita pelos historiadores.

    A CAPITAL E OS ESTADOS

    Entre 15 de novembro de 1889 e 15 de novembro de 1898 , quando Manuel Ferraz de Campos Sales assume a Presidncia, a Repblica brasileira enfrentou anos tumultuados.

    Antes de que o novo regime poltico se consolidasse, a Repblica vive um perodo de instabilidade, de no poucas tenses, de indefinio de rumos e de ausncia de um desenho poltico ntido para a nova ordem instaurada. Para Renato Lessa, "os primeiros anos republicanos se caracterizaram mais pelo vazio representado pela supresso dos mecanismos institucionais prprios do Imprio do que pela inveno de novas formas de organizao poltica. O veto imposto ao regime monrquico no implicou a inveno de uma nova ordem" (Lessa, 2001, p. 17) .

    A composio do ministrio do governo provisrio, presidido por Deodoro, demonstra a necessidade de abrigar, no mais alto escalo do primeiro governo da Repblica, representantes de tendncias muito diferenciadas e das mais variadas latitudes republicanas. Compunham esse primeiro ministrio, na pasta da Justia, o paulista Campos Sales, o mesmo que mais tarde, como presidente eleito, assentaria as bases da Repblica Velha e que, nas primeiras horas do novo regime, fora chamado para garantir o apoio dos cafeicultores paulistas; frente do Ministrio da Fazenda estava o baiano Rui Barbosa, que poucos meses antes abandonara o Partido Liberal por considerar a defesa do federalismo mais importante que a fidelidade monarquia. Tambm estavam presentes dois republicanos itrico_s, sig.i:iatrios do Ma-

    3 4

    OS CEN R IOS DA R E P B L I CA

    niesto de 1 870, o moderado Quintino Bocaiva, na pasta das Relaes Exteriores, e, no Ministrio do Interior, Aristides da Silveira Lobo, o jornalista paraibano e republicano da ala radical que afirmara, em 15 de novembro, ter 0 povo a tudo assistido bestializado . A pasta da Guerra coubera ao positivista Benjamin Constant Botelho de Magalhes, enquanto Eduardo Wandenkolk presidia a pasta da Marinha, uma fora militar mais elitista que 0 Exrcito. Por fim, na pasta da Agricultura, Demtrio Ribeiro, um representante do Rio Grande do Sul, provncia que sempre se apresntara com caractersticas muito prprias no cenrio poltico brasileiro.

    Estavam portanto presentes nesse ri i-ministria rep.r:esen.tan.te.s_ .d interesses nem semru:e co ver_ _es ...das ..pncias _!!1ais poderosas; republi-

    canos histricos e outros de ades-o muito recente causa republicana; federalistas e centralistas; moderados e radicais; liberais e positivistas, e no seria fcil ao marechal habituado disciplina da caserna presidir aquele governo e atravessar as tenses provocadas pelo primeiro plano econmico do pas, decidido por Rui Barbosa e decretado sem consulta a seus colegas de ministrio, episdio que provocou enorme turbulncia poltica e financeira e ficou conhecido pelo nome de Encilhamento.

    Somente em junho de 1890 foram convocadas eleies para a Assemblia Constituinte e, em 24 de fevereiro de 1891 , a nova Constituio, de forte inspirao na carta constitucional norte-americana, e cujas marcas principais eram a adoo do federalismo, a acentuao do presidencialismo, o estabelecimento de trs poderes - o Executivo, o Legislativo e o Judicirio - para o governo da Repblica, a separao entre a Igreja e o Estado e a definio do critrio da alfabetizao como elemento de qualificao dos que teriam direito a voto . No dia seguinte ao da promulgao da primeira Constituio republicana, foi realizada a eleio presidencial, indireta, votando os membros da Assemblia Constituinte. Contabilizaram-se 234 eleitores, e os resultados do pleito demonstram a tenso e a instabilidade desses primeiros tempos republicanos.

    Defrontavam-se duas candidaturas, a primeira, da situao, formada pelo marechal Deodoro da Fonseca e pelo almirante Eduardo Wandenkolk e a segunda composta por Prudente de Morais, paulista que havia presidido a

    :.constituinte; e por Floriano Peixoto, militar de gerao e formao distin-

    3 5 1

  • I i ( O B R ASIL REP U B L I C A N O

    tas daquelas de Deodoro. Os resuitados foram doq Lh:ntes : para Presidncia, eleito Deodoro com 129 votos, contra 97 dados a Prudente de Morais. Para vice-presidente, no entanto - os dois cargos, nessa eleio, no estavam vinculados -, Floriano recebeu 153 votos,-enquanto Wandenkolk teve apenas 57.

    Em novembro desse mesmo ano as tenses polticas tornaram-se insustentveis. Deodoro decreta a dissoluo do Congresso, mas, diante da presso de grupos militares e civis, de uma greve de ferrovirios que explode no Rio de Janeiro, do aumento da tenso no Rio Grande do Sul com a deposio de Jlio de Castilhos e, por fim, da revolta de Custdio de Melo, que assesta os canhes dos navios da armada ancorados na baa de Guanabara contra a capital da Repblica, sem ter como lidar corn uma situao que se aproximava perigosamente da guerra civil, ern 23 de novembro, o proclamador da Repblica transformado, depois de um breve governo constitucional, em ditador passa governo s mos de Floriano Peixoto o vice-

    '

    presidente eleito pela Assemblia Constituinte. Floriano passaria histria como o Marechal de Ferro, por ter enfren

    tado com xito, entre 23 de novembro de 1890 e 15 de novembro de 1894 '

    perodo em que presidiu a Repblica, movimentos armados de expresso como a Revoluo Federalista no Sul do pas e a Revolta da Armada ter

    '

    procedido derrubada de quase todos os governadores de estado, substi-tuindo-os por outros, fiis a seu governo;_.t.e.Lbuscado apoio polk.Q nas oligarquias estaduais, na jovem oficialidade e na capitl federal, onde aplicou medidas como o combate especulao dos aluguis das casas populares e a baixa dos preos de alguns produtos, como a carne, que lhe granjearam forte apoio popular.

    Com a eleio de Prudente de Morais, o primeiro civil a presidir a Repblica, So Paulo, ento a principal oligarquia do pas, ascende ao poder, e 0 Partido Republicano Paulista consolida-se como a principal fora poltica do Brasil. Mas ainda era instvel o panorama republicano. Prudente teve de fazer frente a dois gravssimos problemas: no plano internacional, a queda dos preos do caf, que ominava a pauta de exportaes brasileiras, ameaando assim as bases econmicas da Repblica. Internamente, para alm dos malabarismo

    _s poltic()s neces!;s_s composies regionais desequilibradas

    3 6

    OS CE N RIOS DA REP B LICA

    pela con.solidao dos pautas no poder, Prudente enfrentou uma ameaa

    insuspeitada: a de ver o brioso Exrcito nacional desbaratado e vencido pe

    los homens de Canudos, os rudes patrcios que Euclides da Cunha vira lutar

    como bravos e morrer como fortes na aldeia sagrada de Canudos.

    Durante esse primeiro momento republicano, ainda instvel e turbulen

    to, governo e intelectuais ligados ao novo regime no descuraram na difcil

    busca da construo de referncias simblicas para a Repblica brasileira.

    Tanto quanto o controle das cises e oposies polticas, era importante ins

    crever a Repblica nos coraes e nas mentes dos brasileiros, e o processo de

    construo de um imaginrio republicano, como j foi demonstrado, 15 mos

    trou-se to complexo quanto aquele da formulao da engenharia poltica

    necessria estabilidade do regime implantado em 1 889.

    Essa ltima, como j foi sugerido aqui, foi obra de Campos Sales.

    O poltico campineiro conhecia bem, desde que compusera o gabinete

    do primeiro governo republicano, os meandros dos difceis equilbrios re

    gionais, das suscetibilidades oligrquicas e o que, de seu ponto de vista,

    representava o perigo potencial das multides na rua.

    Ao assumir a Presidncia da Repblica, Campos Sales fez coincidir o

    desenho republicano com os interesses dos setores oligrquicos que o ha

    viam conduzido ao Catete. As questes financeiras foram encaminhadas pela

    via do endividamento externo negociado atravs do funding /oan; do ponto

    de vista econmico, o desemprego, a estagnao econmica e a alta dos pre

    os foram a tnica das diretrizes impressas pelo ministro da fazenda Joaquim

    Murtinho; as greves que se multiplicaram no Rio de Janeiro e em So Paulo

    como resposta crise foram objeto de forte represso, e a Repblica brasilei

    ra encontrou seu fundamento na consolidao de uma lgica fortemente

    excludente e hierarquizadora. Ao escrever suas memrias polticas, Campos Sales formula assim a sn

    tese da arquitetura poltica que, a partir de seu governo, presidiu primeira

    Repblica brasileira:

    Nessa, como em todas as lutas, procurei fortalecer-me com o apoio dos Esta

    dos, porque - no cessarei de repeti-lo - l que reside a verdadeira fora

    - poltica: - [ . . . ] Em que pese os- centriistas, verdeiro pblico que forma a

    3 7

  • O B R ASIL REPU B LICA N O

    opinio e imprime direo ao sentimento nacional o que e st no s Esta do s. de l que se governa a Repblica por cima das multides que tumultuam, agitadas, nas ruas da Capital da Unio (Sales, 1983, p. 127).

    clara a equao poltica formulada e m seu governo: ela supe , em primeiro lugar, a clara prioridade a tribuda a um do s cenrio s da Rep blica , o do s e stado s da federao, onde dominam e se d igladiam as oligarquias re giona is, onde predomina a relao pe ssoal e a pol tica do favor , onde se perpe tuam as pr tica s coronel stica s. Um cen rio , se no s lembrarmo s do trecho das memria s infa ntis de Graciliano Ramo s, onde o tempo parecia no ter pas sado e onde a Rep blica proclamada em 1889 no mudara grande coi sa. Ma s a formulao de Camp s Sale s de uma limpidez cri stalina : pa ra ele , dos estados que se governa a Repblica. No termina por a no en tanto sua frmula pol tica . Na con traface do primado a tribudo ao cenrio do s e stado s como lugar da dire o poltica da Rep blica e alic c!llrce da ordem, Campo s Sale s tamb m e xplicita com nitide zo o corolrio de sse primeiro termo de sua equao de governo: por cima das multides que tumultuam, agitadas, nas ruas da Capital da Unio. O

    cenrio da capital federal, que o governante enxerga sob o si gno da de sordem , deveria, por via de con seq nci , ser de spolitizado .

    Traado s a ssim o s princpio s da poltica a ser implementada , com a clara hierarquizao entre o s doi s cenrio s da Rep blica , um a Capital da Unio, a ser politicamente e svaziado, e outro o s Estados, a ser tomado como o locus, por excelncia , do exerccio do poder , re stava pr em movimento o maquini smo poltico .

    Para tanto , Campo s Sale s e, a partir dele , o s pre sidente s que se sucedero at 1930 bu scaro no federali smo , in scrito no iderio republicano bra sileiro como princpio cardeal de sde o Manife sto de 1 870, a mola me stra que far funcionar a Rep blica bra sileira , permitindo, por um lado , um grau de autonomia con sagrado in st itucionalmente para a s oligarquia s reg ionai s e sua s lu ta s inte stina s e, por outro , uma ba se para a poltica de con trapre stao de favore s poltico s que o s por em con sonncia com o governo federal.

    O sutil equilbrio entre municpio s, e stado s da federao e governo federal pode ento armar- se com a f orte politizao de uma in stncia - os estados - que, cll!.raoJe.todu o sculo. XJX,_quando. ainda era m.c hama dos de

    3 8

    j , l l . i !

    . O S CEN R I O S O A REPBLICA

    provncias, tivera uma funo , sobr etudo , de mediao admini strativa. Agora , com base no peculiar federali smo da primeira Rep blica bra sileira, era po ssvel fazer funcionar a chamada poltica dos governadores, que garanti

    .a

    ao governo federal o apoio nece ssrio -traduzido sobretudo no forneci mento de uma ba se eleitoral -, enquanto e ste oferecia em troca a s verba s nece ssria s para a manu teno do pre stgio da situao no s e stado s e muni cpio s e , para ca so s de nece ssidade , o mecani smo da Comisso de Verificao de Poderes, encarregada de corroborar o s re sultado s eleitorai s. Na s rara s oca sie s em que a s eleie s e scapavam da s r dea s da situao , a Comisso simple smente impedia a titulao do s eleito s.

    Na base do si stema e stava a figura do coronel, dono da vontade do s eleito- \ re s e senhor do s currai s eleitorai s, cu jo poder pe ssoal sub stitua e repre sentava o Estado , d istr ibuindo como favor e bene sse s, a seu bel -prazer , o que seria de di

    reito do s cidado s. Ne sse qua dro, a s eleie s eram um rit ual va zio , a parti cipao eleit oral era mnima (Ca rvalho , 2002, p . 40) e a fraude a norma eleitoral .

    O coroneli smo co sturava a ssim , pela ba se , o si stema poltico da primeira Rep blica. E se no s municpio s o s coron i s teciam a s malha s iniciai s de ssa rede de compromi sso s, ela tornava -se mai s complexa e mai s firme ao pa ssar pelo s arranjo s entre a s oligarquia s regionai s no s e stado s e chegar at a de finio de quem pre sidiria o governo federal. Para arremat-la pelo alto, Campo s Sale s mane ja com de streza o princpio d o federali smo e a prtica da poltica do s governadore s.

    O de senho que re sulta de ssa te ssitura complexa e firme mo strar a clara hierarquia da s oligarquia s regionai s. No por outra razo o Palcio do Catete ho spedar , at 1930, uma suce sso de pauli sta s e mineiro s, com algum fluminen se como a exceo para confirmar a regra : e ssa s so a s dua s oligarqu ia s mai s podero sa s da poca , a primeira fundando seu poder na riqueza do s cafezai s e da incipiente ind stria cafeeira pauli sta, e a segunda encontrando seu pre stgio no maior contingente eleitoral do pa s.

    Como num gigante sco mbile poltico, as oligarquia s e staduai s se equilibravam no eixo federativo, o scilavam ao sabor do s vento s do s a rran jo s pol tico s e dei xavam de ma ri.ife sto a hiera rquia e xistente en tre o s e stado s da f ederao . Num plan ma is elevado , So Paulo e Mina s. Logo ab aixo , o Rio de J aneiro co rp. 0 Di strito Federal; seguido , qua se no me smo p lano, ainda qu e p or di stinta s r a-

    3 9

    " '

  • . ..

    O B R A SIL REP U B LIC ANO

    zes, da Bahia e o Rio Grande do Sul. Depois o bloco das principais oligarquias nordestinas. Um pouco mais abaixo, os estados do Norte, o Paran e Santa Catarina. Depois ainda o Mato Grosso e Gois. E no plano da menor ponderao poltica, estados como o Sergipe e Piau. Ao poder federal competia, despolitizada a capital federal e mantidas sob rdea curta as multides das cidades, 16 governar os ventos polticos para que no se embaraassem os tnues fios que uniam os diferentes interesses polticos e no se rompesse o frgil, complexo e - a seu modo - eficiente equilbrio sobre o qual repousava a Repblica. Esse era o segredo da ordem, que, cada vez mais, era apresentada como precondio do progresso, subordinando assim ao primeiro o segundo dos dois termos da divisa positivista que a Repblica brasileira bordara em p de igualdade, em letras de ouro, no centro da bandeira nacional.

    Com o governo Rodrigues Alves, o desenho poltico traado encontra seu complemento necessrio. Despolitizada, a capital federal ser higienizada por Osvaldo Cruz e reformda pelas picaretas comandadas por engenheiros como Paulo de Frontin e Francisco Bicalho.

    Na avenida Central, boulevard retilneo traado por sobre o emaranhado de ruelas ainda coloniais e ladeado por fachadas eclticas, o Rio de Janeiro viveria o sonho de ser uina Paris tropical (Needell, 1 9 9 3 ) , to bem condensado por Joo do Rio: "De sbito, da noite para o dia, compreendeu-se que era preciso ser tal qual Buenos Aires, que o esforo despedaante de ser Paris" (Joo do Rio, 1919, p. 215). E do porto deslocado do velho cais Pharoux para a praa Mau, iluminado e modernizado, a cidade continuaria a exportar as riquezas do pas, cumprindo assim o destino mercantil, que, desde os tempos coloniais, era o seu.

    De que forma a sunturia e carssima reforma urbana do Rio de Janeiro orquestrada pelo prefeito Pereira Passos se justifica, uma vez que, como foi visto, a capital havia sido esvaziada de seu potencial poltico?

    Para desvendar esse aparente paradoxo preciso lembrar o papel simblico que o Rio assume como cidade-capital: reformada, iluminada, saneada e modernizada, a capital permitia aos estrangeiros que nela aportavam, aos que circulavam pelas caladas da grande Avenida vestidos pelo ltimo figurino parisiense e aos lderes da Repblica acreditar que o Brasil - nela metonimizado - havia finalmente ingressado na era do progresso e da civilizao. Para o pas omo um

    4 o

    O S CEN RI O S DA R EP B LIC A

    - . . . . - .

    todo, os estados - para utilizar a frmula de Campos Sales -, a capital moder-

    nizada antecipava um futuro que imaginavam que um dia seria o seu.

    Opostos pelo vrtice na aparncia, os dois cenrios inscrevem-se no

    mesmo crculo da lgica da primeira Repblica e demonstram ser comple

    mentares. No primeiro - aquele conformado pelos estados - a Repblica

    consolida os alicerces polticos que permitem a privatizao da res publica e

    imprime direo ao governo. No segundo - a capital federal despolitizada

    - a Repblica constri um cenrio de sonho, projeta um futurn imaginado

    e legitima, assim, o presente.

    Num e noutro cenrio, a velha ordem excludente e hierarq uizadora

    manter, sob novas formas, a permanncia de prticas sociais, estrutura eco

    nmica, lgicas polticas e vises de mundo. Num e noutro cenrio, para dizer

    o mesmo nos termos propostos por Euclides da Cunha, iludidos por uma

    civilizao de emprstimo, tivemos de improviso, como herana inesperada, a

    Repblica. Nela, na capital, como nos estados, a nova ordem institucional

    no impede que se torne mais fundo o contraste entre aqueles que o autor de

    Os sertes qualifica de copistas, empenhados em construir uma Repblica

    imagem e semelhana de seus interesses, e o modo de viver [ . . . ] daqueles ru

    des patrcios mais estrangeiros nessa terra que os imigrantes da Europa.

    NOTAS

    1. Para o conceito de cidade-capital aplicado cidade do Rio de Janeiro da virada do sculo, ver Neves (1991 , p. 53 a 65).

    2. Para o conceito de inviolabilidade da vontade senhorial, ver Chalhoub (1990). 3. Vida vertiginosa o ttulo de uma srie de crnicas de Joo do Rio (Paulo Barreto)

    publicada em livro no ano de 1911 . 4 . Retrato do Brasil o ttulo de u m livro d e Paulo Prado, publicado e m 1928 . Muirns

    foram os intelectuais brasileiros que, pela via ensastica ou pela fico, dedicaram-se

    nesse perodo a formular, na letra, interpretaes do Brasil. Sobre esse tema, ver,

    por exemplo, os textos de Alberto da Costa e Silva (2000), e os trs volumes de Intrpretes do Brasil, coordenados por Santiago (2000).

    5. Ver, a respeito das formas de divertir e educar a multido, o livro de Kasson (1978). 6. A respeito das novidades do_ tempo e de seu impac_to na vida e na histria brasileiras,

    irnprfarite a 1etura d texto de Nicolau Sevcenko intitulado "O preldio repu-

    4 1

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