congresso da virada;

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30 anos nos separa de um marco his- tórico fundamen- tal na trajetória do Serviço Social bra- sileiro. Trata-se da construção do pro-  jeto ético-político  prossional, síntese e continuidade do  processo da “vira- da”, numa alusão ao III Congresso Brasi- leiro de Assistentes Sociais, realizado em São Paulo no ano de 1979, denominado “Congresso da Virada”. O ano de 1979 tornou-se emblemático por ser o tem-  po de orescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram às forças políticas do tra-  balho expressar suas lutas pela implem entação do Es- tado de Direito após o nefasto período de vigência da ditadura militar no Brasil, que ceifou as mais corajo - sas formas de resistência e combate ao autoritarismo. Alimentados por aquela conjuntura sócio-histórica, Assistentes Sociais começaram a tecer o entendimen- to do Serviço Social nos marcos da relação capital/ trabalho e nas complexas relações entre Estado e So- ciedade. A “Virada” teve o sabor de descortinar novas  possibilidades d e análise da vida social, da prossão e dos indivíduos com os quais o Serviço Social traba- lha. Dali em diante, a realidade em sua dinamicida - de e dimensão contraditória torna-se o chão histórico  prenhe de lições c otidianas por meio do protagonismo das lutas da classe trabalhadora e dos sujeitos pros - sionais que passaram a apreender as necessidades re- ais vivenciadas pela população como demandas pos- tas ao Serviço Social. Durante a década de 1980, as necessidades sociais são politizadas  pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organi- zam em torno de sua defesa. Direito ao tra-  balho, à autonomia de organização sindical, à seguridade social, aos direitos sociais, políti- cos e civis e aqueles re- lacionados à diversidade humana - como liberdade de expressão, direito à identidade e igualdade de gênero, étnico-racial e à liberdade de orientação e expressão sexual - emergem como demandas concretas e mobi- lizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta.  Nas lutas memoráveis desses sujeitos coletivos, As - sistentes Sociais entenderam que as condições de vida e de trabalho se alteram mediante processos de resistência. Entenderam, também, que o conformismo que se reproduz na vida cotidiana d e amplos segmen- tos da população diz respeito ao modo de vida ins- tituído pelo projeto do capital que atua na produção de diferentes níveis de exploração e de opressão, na  perspectiva de assegurar a reprodução de seu projeto de acumulação. Utiliza, ainda, renados mecanismos ideológicos de adesão à ordem, e se preciso for, faz valer a “força bruta” para prevalecer seus interesses. Contra o pragmatismo, o conservadorismo e a su -  posta neutralidade defendidos pelo Serviço Social tradicional, o projeto prossional do Serviço Social  brasileiro, que se forjou nos últimos 30 anos, foi .............................................  PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL: 30 ANOS NA LUTA EM DEFESA DA HUMANIDADE 

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30 anos nos separade um marco his-tórico fundamen-tal na trajetória doServiço Social bra-sileiro. Trata-se daconstrução do pro-

 jeto ético-político prossional, síntesee continuidade do

 processo da “vira-da”, numa alusão aoIII Congresso Brasi-leiro de Assistentes Sociais, realizado em São Paulono ano de 1979, denominado “Congresso da Virada”.O ano de 1979 tornou-se emblemático por ser o tem-

 po de orescimento das possibilidades objetivas esubjetivas que permitiram às forças políticas do tra-

 balho expressar suas lutas pela implementação do Es-tado de Direito após o nefasto período de vigência daditadura militar no Brasil, que ceifou as mais corajo-

sas formas de resistência e combate ao autoritarismo.Alimentados por aquela conjuntura sócio-histórica,Assistentes Sociais começaram a tecer o entendimen-to do Serviço Social nos marcos da relação capital/trabalho e nas complexas relações entre Estado e So-ciedade. A “Virada” teve o sabor de descortinar novas

 possibilidades de análise da vida social, da prossãoe dos indivíduos com os quais o Serviço Social traba-lha. Dali em diante, a realidade em sua dinamicida-de e dimensão contraditória torna-se o chão histórico

 prenhe de lições cotidianas por meio do protagonismo

das lutas da classe trabalhadora e dos sujeitos pros-sionais que passaram a apreender as necessidades re-ais vivenciadas pela população como demandas pos-

tas ao Serviço Social.Durante a década de1980, as necessidadessociais são politizadas

 pelos movimentos daclasse trabalhadora quese formam e se organi-zam em torno de suadefesa. Direito ao tra-

 balho, à autonomia de

organização sindical, àseguridade social, aosdireitos sociais, políti-cos e civis e aqueles re-

lacionados à diversidade humana - como liberdade deexpressão, direito à identidade e igualdade de gênero,étnico-racial e à liberdade de orientação e expressãosexual - emergem como demandas concretas e mobi-lizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta.

 Nas lutas memoráveis desses sujeitos coletivos, As-sistentes Sociais entenderam que as condições de

vida e de trabalho se alteram mediante processos deresistência. Entenderam, também, que o conformismoque se reproduz na vida cotidiana de amplos segmen-tos da população diz respeito ao modo de vida ins-tituído pelo projeto do capital que atua na produçãode diferentes níveis de exploração e de opressão, na

 perspectiva de assegurar a reprodução de seu projetode acumulação. Utiliza, ainda, renados mecanismosideológicos de adesão à ordem, e se preciso for, fazvaler a “força bruta” para prevalecer seus interesses.Contra o pragmatismo, o conservadorismo e a su-

 posta neutralidade defendidos pelo Serviço Socialtradicional, o projeto prossional do Serviço Social

 brasileiro, que se forjou nos últimos 30 anos, foi

.............................................

  PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL:30 ANOS NA LUTA EM DEFESA DA HUMANIDADE 

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fundado na luta política por liberdade, trabalho edireitos. É na trincheira da resistência e do enfren-tamento que as entidades nacionais da categoria eassistentes sociais em diferentes recantos deste paísassumiram explicitamente seu compromisso comos interesses do trabalho. Assim, buscaram o apri-moramento intelectual como condição para apreen-

der o real em sua concretude e complexidade. Neste processo, a interlocução com a tradição marxista e posteriormente com o pensamento marxiano forne-ceu o alicerce teórico-metodológico para apreen-der a realidade sob uma perspectiva de totalidade.Os cursos de pós-graduação em Serviço Social ti-veram um papel relevante no incentivo e na produ-ção qualicada de estudos e pesquisas. Temáticasforam revisitadas e outras descobertas num movi-mento permanente de entendimento da realidade emsuas determinações mais profundas. O diálogo com

outras prossões e áreas do conhecimento passa aacontecer sem o signo da subalternidade intelectual.30 anos depois podemos armar que a perspectiva datotalidade constituiu-se na grande conquista desse pro-

 jeto prossional e, simultaneamente, no grande desa-o da prossão na contemporaneidade. O projeto éti-co-político prossional é produto da ação dos sujeitos

 prossionais sob dadas condições objetivas. Em cadaconjuntura foi e permanece permeado por exigênciase desaos. Situado na contra-corrente da sociabilidadedo capital foi desaado nos anos de 1990 a aprimoraro entendimento da ética e desse modo aperfeiçoar osinstrumentos normativos no âmbito do Serviço Social.O atual Código de Ética prossional, aprovado em1993, foi resultado de um amadurecimento das re-exões iniciadas na elaboração do Código de 1986,fruto de uma ampla e democrática construção coletivada categoria em nível local, regional e nacional. Nadécada de 1990, a perspectiva ética, teórica e políticaque conquistava hegemonia no seio da prossão foiaprofundada. O Código de 1986 revelou-se insucien-te, dentre outras questões, na subordinação imediata esem mediações entre ética e política e entre ética e ide-ologia. É também de 1993 a renovação da Lei de Re-gulamentação da Prossão que, ao denir atribuiçõese competências prossionais, contribuiu para inscre-ver a prossão de Serviço Social num patamar quali-cado no tratamento das expressões da questão social.Desse período em diante, aprofunda-se mais aindao arsenal teórico-metodológico e ético-político. A

 prossão ganha visibilidade no cenário nacional nadefesa intransigente dos direitos humanos, das po-

líticas sociais universais e de um conjunto de mar-cos legais que se tornaram fundamentais para a luta pela realização dos direitos. Há explícito fortaleci-

mento da direção social voltada para a crítica da so-ciabilidade do capital ao tempo em que os sujeitos

 prossionais identicados com este projeto constro-em mediações para o enfrentamento da desigualda-de social e formas de opressão no tempo presente.

 Nas últimas duas décadas tem sido cada vez mais ins-tigante e desaador analisar e intervir na contra-cor -

rente dominante. A crise estrutural do capital é mar-cada por um “continuum depressivo” em que todas as

dimensões da vida social estão submetidas a intensos processos de mercantilização. O capital não tem limi-tes à sua expansão. Tudo ordena e desordena, acolhe

e descarta, constrói e destrói. Esta crise tem carátercumulativo e permanente e apresenta um modo de serextremamente destrutivo da natureza e do trabalho. As

“É na trincheira da resistênciadades nacionais da categoria erecantos deste país assumiramcom os interesses do trabalho ”

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conseqüências para a humanidade são devastadoras.Desemprego, inserção precária no universo do traba-lho, múltiplas formas de violência na vida cotidiana;criminalização dos movimentos sociais e de suas lide-ranças; judicialização da questão social e instituiçãodo “Estado Penal” dão o tom do cenário contempo-râneo por onde se movimentam os sujeitos pros-

sionais nos diferentes espaços sócio-ocupacionais. Numa situação extrema de desigualdade social e de

tempos sombrios como esse poderíamos inadvertida-mente supor que o projeto ético-político prossional

 perde relevância. Mas é justamente o contrário! Con-

siderando que assistentes sociais atuam nas expres-sões da questão social e na mediação de direitos paraatendimento às necessidades da população usuária,

quanto mais esta categoria for capaz de decifrar eapreender as determinações desse tempo de barbárie,mais teremos condições para elaborar respostas pro-ssionais qualicadas teórico-politica e eticamente. Este projeto prossional não é uma carta de inten-ções e não se compra em livrarias. É um processo deconstrução permanente e cotidiana em defesa de uma

 perspectiva ética, teórica e política que subsidia As-sistentes Sociais e as entidades nacionais da categoria

 para atuarem em condições concretas. As respostas àsdemandas e aos desaos se objetivam no cotidiano.

 Não espalhamos ilusões. O projeto ético-político pro-ssional requer um conjunto de mediações que arti-culem a luta por um projeto societário anticapitalistaàs estratégias de enfrentamento no tempo presente.

 Nesses 30 anos não houve um dia sem luta. E nessaslutas sobressai a força do coletivo. Este é um projetocoletivo de uma categoria prossional que construiu

 procedimentos e instâncias de decisão democrática.Encontros, seminários, congressos e a luta das enti-dades – Conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e ENES-SO - dão o tom da ação dos sujeitos. Isto aconteceno espaço-tempo em que também prevalecem práti-cas individualistas, lideranças desenraizadas de suas

 bases e forte apelo ao pragmatismo no dia-a-dia pro-ssional e que se situam na contramão desse Projeto.

 Nesses 30 anos, o projeto ético-político prossionalsuperou limites da ordem do economicismo, do politi-cismo e do eticismo. E com razão militante não temeuseguir a trilha da canção: “E vejo bem tudo recomeçartodas as vezes e vejo o tempo apodrecer e brotar e se-guir sendo sempre ele, o tempo todo começar de novoe ser e ter tudo pela frente”. O arsenal teórico-metodo-lógico e ético-político que sustenta este projeto armaa razão dialética no entendimento da vida social. Osolo matrizador por onde as demandas postas à pro-ssão são analisadas e respondidas é produto da com-

 plexa e dinâmica relação entre as condições objetivase subjetivas. É um projeto, portanto, que não dita re-gras e nem receitas porque não paira sobre as institui-ções nem sobre as determinações da sociabilidade eda relação entre Estado e Sociedade. Exige a reexão

 permanente e a elaboração de estratégias cotidianas.O projeto ético-político prossional não é único na pro-ssão. Projetos prossionais disputam a direção socialdo Serviço Social brasileiro neste momento histórico.

 Neoconservadorismo, pragmatismo e formas despo-litizadas de entender a questão social reaparecem nocenário prossional. Tempos sombrios! Por isso, maisdo que nunca precisamos estar atentos e fortes, para

não sucumbir à “confusão do espírito”, ao conformis-mo, ao “pensamento único”, às falsas polêmicas, aos“cantos da sereia” da pós-modernidade. Precisamos

e do enfrentamento que as enti-assistentes sociais em diferentesexplicitamente seu compromisso

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Assistentes Sociais. É processualidade histórica, é possibilidade inscrita na vida real, é construção quemistura trajetórias e histórias de diferentes gerações.Articula variadas formas de lutas e insiste em reno-var-se incessantemente. São 30 anos na luta contra adesigualdade social, pela igualdade e liberdade subs-tantivas. São 30 anos na luta pelo fortalecimento das

classes trabalhadoras e em defesa da humanidade.

de coragem, porque como sinaliza Guimarães Rosa:“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: es-quenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e de-

 pois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.Rearmamos aqui, com estas reexões inquietas,a convicção que nosso projeto ético-político pro-ssional só existe porque é resultado da constru-

ção coletiva por parte signicativa da categoria de

Conselho Federal de Serviço Social - CFESS - Gestão 2008-2011 Atitude Crítica Para Avançar na Luta

Presidente: Ivanete Salete BoschettiVice-Presidente: Sâmbara Paula Ribeiro1ª. Secretária: Tânia Maria Ramos de Godoi Diniz2ª. Secretária: Neile d’Oran Pinheiro1ª. Tesoureira: Rosa Helena Stein2ª. Tesoureira: Telma Ferraz da SilvaConselho Fiscal:

Silvana Mara de Morais dos SantosPedro Alves FernandesKátia Regina Madeira

Conselheiros (as) Suplentes:

Edval Bernardino CamposRodriane de Oliveira SouzaMarinete Cordeiro MoreiraKênia Augusta Figueiredo

Erivã Garcia VelascoMarcelo Sitcovsky Santos PereiraMaria Elisa dos Santos BragaMaria Bernadette de Moraes MedeirosMarylucia Mesquita Palmeira

Conteúdo:

Silvana Mara de Morais dos SantosIvanete Salete Boschetti(Aprovado pela Diretoria do CFESS)

Criação:Marcela Mattos

Assessor de Comunicação:

Bruno Costa e [email protected]