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Ipotesi, Juiz de Fora, v.15, n.2 - Especial, p. 31-39, jul./dez. 2011 Literatura marginal: questionamentos à teoria literária Rejane Pivetta de Oliveira * RESUMO: Neste trabalho, propomos a reflexão sobre algumas categorias centrais da teoria literária, tais como conceito e funções da literatura e suas formas de relação com a sociedade e a cultura, tomando como tópico de discussão a literatura marginal produzida nas últimas duas décadas por autores da periferia das grandes cidades brasileiras, sobretudo São Paulo. Palavras-chave: Literatura marginal. Periferia. Teoria literária. Cultura. Sociedade Marginal e periférico: problematizações iniciais O fenômeno da “literatura marginal”, produzida nas duas últimas décadas por autores da periferia das grandes cidades brasileiras, sobretudo São Paulo, tem merecido a atenção da mídia e da crítica especializada. Contudo, o fenômeno não importa apenas como “notícia” ou “objeto de estudo”. Seu alcance é muito maior, à medida que interfere nos processos de produção, recepção e circulação da obra literária, deslocando posições canônicas acerca do conceito, da função e da relação da literatura com a sociedade. Os termos “marginal” e “periférico” abarcam um largo espectro de significações que é preciso explicitar, para melhor situarmos as questões envolvidas nessa produção literária do Brasil contemporâneo, originada no espaço da neofavela 1 . Numa acepção estritamente artística, marginais são as produções que afrontam o cânone, rompendo com as normas e os paradigmas estéticos vigentes. Na modernidade, uma certa posição marginal da arte sempre foi a condição aspirada como possibilidade para a criação do novo. Contudo, a inovação, uma vez assimilada e introduzida na tradição, deixa de ocupar uma posição à margem, exigindo novos processos de ruptura, que marcam, na perspectiva de Tynianov 2 (1978), a evolução literária. Sob esse ponto de vista, a história da literatura e da arte consiste nessa dialética de posições que se alternam entre o centro e a margem, o que envolve não apenas transformações de ordem estética, mas também social e política. O sentido de “marginal”, do ponto de vista estético-cultural, tem uma aplicação específica na história da literatura brasileira, referindo-se ao movimento da década de 70 do século XX, contrário às formas comerciais de produção e circulação da literatura, conforme o circuito estabelecido pelas grandes editoras. O resultado disso é o surgimento de obras, sobretudo poéticas, produzidas artesanalmente, a partir de um registro espontâneo da linguagem, dando lugar à proliferação de “livrinhos” distribuídos diretamente pelo autor em bares, portas de museus, teatros e cinemas (HOLLANDA, 2004, p. 108). Protagonizada por um grupo de artistas e intelectuais pertencentes à classe média, com amplo acesso à cultura letrada, mas sem dispor de meios econômicos para patrocinar uma “revolução” estética nos moldes modernistas, a literatura marginal dos anos 70 no Brasil faz-se à margem do sistema social e cultural vigente. O movimento não insiste tanto na renovação das formas estéticas, mas propõe uma mudança nas próprias práticas culturais, nos modos de conceber a cultura fora de parâmetros sérios e eruditos, como atitude crítica à ordem do sistema. Segundo Heloísa Buarque de Hollanda,

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Ipotesi, Juiz de Fora, v.15, n.2 - Especial, p. 31-39, jul./dez. 2011

Literatura marginal: questionamentos à teoria literária

Rejane Pivetta de Oliveira*

RESUMO:Neste trabalho, propomos a refl exão sobre algumas categorias centrais da teoria literária, tais como conceito e funções da literatura e suas formas de relação com a sociedade e a cultura, tomando como tópico de discussão a literatura marginal produzida nas últimas duas décadas por autores da periferia das grandes cidades brasileiras, sobretudo São Paulo.

Palavras-chave: Literatura marginal. Periferia. Teoria literária. Cultura. Sociedade

Marginal e periférico: problematizações iniciais

O fenômeno da “literatura marginal”, produzida nas duas últimas décadas por autores da periferia das grandes cidades brasileiras, sobretudo São Paulo, tem merecido a atenção da mídia e da crítica especializada. Contudo, o fenômeno não importa apenas como “notícia” ou “objeto de estudo”. Seu alcance é muito maior, à medida que interfere nos processos de produção, recepção e circulação da obra literária, deslocando posições canônicas acerca do conceito, da função e da relação da literatura com a sociedade.

Os termos “marginal” e “periférico” abarcam um largo espectro de signifi cações que é preciso explicitar, para melhor situarmos as questões envolvidas nessa produção literária do Brasil contemporâneo, originada no espaço da neofavela1. Numa acepção estritamente artística, marginais são as produções que afrontam o cânone, rompendo com as normas e os paradigmas estéticos vigentes. Na modernidade, uma certa posição marginal da arte sempre foi a condição aspirada como possibilidade para a criação do novo. Contudo, a inovação, uma vez assimilada e introduzida na tradição, deixa de ocupar uma posição à margem, exigindo novos processos de ruptura, que marcam, na perspectiva de Tynianov2 (1978), a evolução literária. Sob esse ponto de vista, a história da literatura e da arte consiste nessa dialética de posições que se alternam entre o centro e a margem, o que envolve não apenas transformações de ordem estética, mas também social e política.

O sentido de “marginal”, do ponto de vista estético-cultural, tem uma aplicação específi ca na história da literatura brasileira, referindo-se ao movimento da década de 70 do século XX, contrário às formas comerciais de produção e circulação da literatura, conforme o circuito estabelecido pelas grandes editoras. O resultado disso é o surgimento de obras, sobretudo poéticas, produzidas artesanalmente, a partir de um registro espontâneo da linguagem, dando lugar à proliferação de “livrinhos” distribuídos diretamente pelo autor em bares, portas de museus, teatros e cinemas (HOLLANDA, 2004, p. 108). Protagonizada por um grupo de artistas e intelectuais pertencentes à classe média, com amplo acesso à cultura letrada, mas sem dispor de meios econômicos para patrocinar uma “revolução” estética nos moldes modernistas, a literatura marginal dos anos 70 no Brasil faz-se à margem do sistema social e cultural vigente. O movimento não insiste tanto na renovação das formas estéticas, mas propõe uma mudança nas próprias práticas culturais, nos modos de conceber a cultura fora de parâmetros sérios e eruditos, como atitude crítica à ordem do sistema. Segundo Heloísa Buarque de Hollanda,

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a recusa das “formas sérias do conhecimento” passa a confi gurar um traço importante e crítico de uma experiência de descrença em relação à universalidade e ao rigor das linguagens técnicas, científi cas e intelectuais. E essa atitude anti-intelectualista não é apenas uma forma preguiçosa ou ingênua, mas outra forma de representar o mundo (HOLLANDA, 2004, p. 111-112).

Além das novas formas de representar o mundo, que remetem mais ao uso da linguagem e aos signifi cados textualmente construídos, existe ainda, por parte dos “marginais” dos anos 70, a adoção de um comportamento, de uma atitude marcadamente crítica em relação à ordem econômica e social, que também constitui uma forma diversa de representação do artista e do intelectual. Extrapolando procedimentos literários, os indivíduos assumem um outro papel no cotidiano, vivem uma nova situação, uma experiência grupal e afetiva que revela modos diferentes de viver e de encarar a relação com a arte e a cultura. Assim “a marginalidade desse grupo não é apenas literária, mas revela-se como uma marginalidade vivida e sentida de maneira imediata frente à ordem do cotidiano” (HOLLANDA, 2004, p. 113). Percebemos aqui que o sentido de marginal desliza para um modo de vida de sujeitos qualifi cados como “alternativos”, ou excêntricos, alheios aos padrões de comportamento socialmente aceitos.

Um outro grau de deslizamento de sentido, na linha da atitude do sujeito perante o mundo, em regra geral não identifi cado à categoria de artistas e escritores, refere-se àqueles classifi cados de bandidos e delinquentes, que vivem à margem da lei, geralmente presentes na literatura como objeto de representação, ao lado de toda uma classe de desfavorecidos, excluídos e marginalizados social, econômica e culturalmente. O termo marginal reveste-se, pois, de complexidades que envolvem representações estéticas, políticas e sociais de naturezas diferentes, que convém levar em conta na hora de falarmos dos novos marginais que surgem no cenário da literatura brasileira contemporânea.

De outra sorte, o termo “periférico” também se presta a ambiguidades conceituais. Do ponto de vista espacial, periférico diz respeito à linha que defi ne o limite de uma superfície, demarcando, portanto, a forma e a confi guração de um espaço ou objeto. Urbanisticamente a periferia abarca as regiões afastadas dos centros urbanos, em geral habitadas pela população de baixa renda. Trata-se, portanto, da periferia como um espaço também social, um lugar ocupado pelas “minorias”, onde vivem os marginais e os marginalizados da sociedade. A periferia também se reveste de uma conotação política, defi nida em oposição ao centro, tomado como modelo de desenvolvimento, seja econômico, social ou cultural. Periférico, segundo essa visão, fi gura como uma condição segunda, uma posição dependente e heterônoma face ao centro. Assim, falar na condição periférica de um país signifi ca situá-lo na relação com um modelo hegemônico, cuja matriz é, via de regra, europeia, responsável pelo estabelecimento de padrões culturais e estéticos, traduzidos a partir das chamadas “línguas de civilização”, sobretudo o francês, o inglês e o alemão.

Contudo, o fenômeno da globalização amplia as possibilidades de trocas culturais, tornando instáveis as fronteiras. A facilidade de múltiplas interações, pelos fl uxos migratórios ou de informações do mundo contemporâneo, desequilibram as relações entre centro e periferia, uma vez que os espaços geográfi co, social e cultural resultam de processos de hibridização e desterritorialização, para usarmos as expressões a partir das quais Nestor Canclini analisa as transformações das culturas contemporâneas (2008, p. 309). Por outro lado, essa mobilidade de fronteiras e de margens não signifi ca que haja igualdade na “aldeia global”, tendo em vista fenômenos como a massifi cação e a homogeneização cultural, que instituem certos padrões de comportamento e concepções da realidade, desenhados a partir do centro e todavia reapropriados pela periferia (HANNERZ, 2007, p. 108-109).

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Tanto o marginal como o periférico são conceitos intrinsecamente ligados a modelos de representação, que põem em causa não apenas modos de signifi car o mundo, como também de produzir identidades. Essa consideração é fundamental para pensarmos sobre a produção literária contemporânea originada nos morros e favelas das grandes cidades brasileiras, o modo como ela se inscreve no contexto sociocultural em que se situa, as experiências que ela traduz e as identidades que engendra.

Vale lembrar que a condição periférica, marcada pela pobreza e exclusão social, econômica e cultural, sempre ganhou as páginas da nossa literatura. O livro de Roberto Schwarz, Os pobres na literatura brasileira, tem seu mote nessa opção pela “marginália”, do que são exemplos os miseráveis explorados pela metrópole nos poemas satíricos de Gregório de Matos, os escravos da poesia libertária de Castro Alves, os moradores dos cortiços de Aluísio Azevedo, os sertanejos de Euclides da Cunha, os desvalidos de Lima Barreto, o Jeca Tatu de Monteiro Lobato, os severinos de João Cabral, os retirantes de Graciliano Ramos, os pequenos trabalhadores e contraventores de João Antonio; os mendigos e criminosos das ruas do Rio de Janeiro de Rubem Fonseca. A galeria de personagens pobres, vivendo em condições degradantes, é muito vasta e compõe um painel diverso de tipos humanos produzidos pela desigualdade social brasileira (SCHWARZ, 1983).

Na história recente da produção literária e cultural brasileiras, marginal e periférico adquirem, porém, novas feições, se pensarmos, sobretudo, nas condições de produção dessa literatura, no lugar assumido pelo escritor e no tipo de laço que sua obra estabelece com a comunidade. O aspecto característico da literatura marginal contemporânea é o fato de ser produzida por autores da periferia, trazendo novas visões, a partir de um olhar interno, sobre a experiência de viver na condição de marginalizados sociais e culturais. Essa é uma diferença crucial, pois a maior parte dos escritores que povoaram suas páginas com os marginais e marginalizados da sociedade, salvo algumas poucas exceções3, não pertencem a essa classe de indivíduos, senão que assumem o papel de porta-vozes desses sujeitos, falando em seu lugar, assumindo a sua voz. Não é o que acontece com os escritos “da” periferia (e não “sobre” a periferia), os quais transformam tanto o foco da representação da vida marginal, como conferem um novo ethos à produção literária e cultural, apresentando-se como uma resposta aos discursos daqueles que falam no lugar dos marginalizados.

Aproximação à literatura marginal e periférica

O gesto inaugural da literatura marginal periférica – sem com isso deixar de reconhecer que a vida cultural da periferia sempre existiu, mas sem oportunidade de se fazer ouvir – surge por meio de um manifesto, publicado na revista Caros Amigos, em 2001, em um número especial, organizado por Ferréz, como é conhecido Reginaldo Ferreira da Silva, escritor, colunista e produtor cultural, morador do morro Capão Redondo, na periferia de São Paulo. A edição, intitulada Literatura Marginal: a cultura da periferia, contou com a participação de dez autores, todos eles moradores de comunidades periféricas paulistanas.

A boa acolhida do projeto dirigido por Ferréz garantiu a veiculação de outras duas edições da Caros Amigos, em 2002 e 2004, com textos de 38 autores de literatura marginal feita por escritores da periferia. No Manifesto de Abertura da edição de 2001, Ferréz dá o tom da ação coletiva:

O signifi cado do que colocamos em suas mãos hoje é nada mais do que a realização de um sonho que infelizmente não foi vivido por centenas de escritores marginalizados deste país. Ao contrário do bandeirante que avançou com as mãos sujas de sangue sobre nosso território e arrancou a fé verdadeira,

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doutrinando os nossos antepassados índios, e ao contrário dos senhores das casas grandes que escravizaram os nossos irmãos africanos e tentaram dominar e apagar toda a cultura de um povo massacrado mas não derrotado. Uma coisa é certa, queimaram nossos documentos, mentiram sobre nossa história, mataram nossos antepassados. Outra coisa também é certa: mentirão no futuro, esconderão e queimarão tudo o que prove que a periferia fez arte (FERRÉZ, 2005, p. 10-11).

O uso reiterado do pronome plural da primeira pessoa coloca o autor não só ao lado dos demais escritores periféricos que participam da coletânea, como também o iguala aos marginalizados da história – os índios e os negros. A tensão com as vozes dominantes (bandeirantes e senhores das casas grandes) também salta à vista, não escondendo, na afi rmação da voz da periferia, o gesto de repúdio e resistência contra a violência aniquiladora da expressão do outro oprimido. Esses textos, além de conformarem uma linguagem e um tom próprios, cumprem uma função que extrapola o âmbito estritamente literário, constituindo um fator de mobilização e organização da vida da comunidade, tendo em vista um projeto de transformação social:

A cultura da periferia distingue-se das demais formas culturais (sejam elas de massa, popular ou de elite, para usar a classifi cação clássica da modernidade) por agregarem novas metas para a criação e evidenciarem formas próprias de organização do trabalho artístico, subvertendo os objetivos – digamos “contemplativos” – da arte e da literatura modernas (HOLLANDA, documento eletrônico, 2011).

A intensa movimentação cultural gerada pela ação dos escritores da periferia – debates, saraus e eventos nos quais os escritores apresentam suas obras e seus projetos culturais4 – confere um sentido de performance ao texto, cujo modo de existência é marcado pela expressão de uma voz intimamente associada a uma atuação do sujeito na realidade. O texto não é o produto fi nal da atividade criativa, mas um ato de intervenção e participação na vida da comunidade onde ele se produz e circula. Um traço bastante inovador da literatura marginal da periferia é justamente o seu caráter de voz coletiva, comprometida em contar e escrever a própria experiência, em contraponto à cultura ofi cial dominante. Contudo, não se trata de negar os monumentos e canais de afi rmação e divulgação da tradição cultural, mas de inserir-se nela, numa atitude conscientemente cosmopolita, para usarmos a expressão de Silviano Santiago5.

Fica claro que não se trata apenas de afrontar o sistema e denunciar as estratégias de dominação e manipulação dos donos do poder, mas de derrubar as barreiras que tornam invisíveis e operam a negação da cultura produzida pelos “excluídos sociais”, tanto mais quando se trata da atividade escrita, tão restrita ao universo letrado das classes média e alta. A literatura, arte dos salões nobres, chega, assim, ao morro, onde apenas se concebia o samba, a capoeira, artes da ginga do corpo, tão distantes das ditas habilidades intelectuais exigidas pela literatura: pois “agora a gente fala, agora a gente canta, e na moral agora a gente escreve” (FERRÉZ, 2005, p. 9).

De outra parte, essa postura participante dos escritores da periferia traz à tona a velha questão do engajamento literário, discutida por Walter Benjamin (1985) no ensaio “O autor como produtor”, de 1934. Mesmo que Benjamin escreva sob um horizonte de forte polarização ideológica e de lutas revolucionárias do proletariado, na União Soviética sob o regime stalinista, sua abordagem dialética da literatura, que não considera a obra isolada, mas dentro de contextos sociais vivos, é ainda hoje pertinente. Ao invés de perguntar, como faz a crítica materialista de então, como se situa a obra em relação às condições de produção da época, o autor propõe que se pense como a obra situa-se dentro

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dessas condições. Benjamin volta-se, assim, para as funções da obra no interior das relações literárias de produção de uma época. Importa destacar a inversão de perspectiva proposta por Benjamin: ao invés de perguntar, como faz a crítica materialista de então, como se situa a obra “em relação” às condições de produção da época, propõe pensar como a obra situa-se “dentro” dessas condições. Benjamin volta-se, assim, para as funções da obra no interior das relações literárias de produção de uma época, em que não importam as opiniões e convicções políticas defendidas pelo escritor, pois não reside nelas, em si, o potencial transformador da arte. Como produtor, a tarefa do escritor não é a de propor uma renovação “espiritual” com suas obras, e sim uma renovação técnica, uma reestruturação de certos institutos e instituições, refuncionalizando as formas artísticas, para que elas não se transformem em simples artigos de consumo, sem interferirem nos meios de produção e nos modos de participação do público nessa esfera.

A maneira orgânica como os escritores da periferia articulam o seu fazer literário com a própria experiência de viver no espaço periférico demonstra o alcance teórico das ideias de Benjamin, mesmo em outro contexto e condições bastante específi cas. Essa literatura não fornece apenas um repertório de técnicas literárias, mas transforma-se em uma ferramenta para a organização da vida individual e coletiva, uma “estratégia de ação”, ultrapassando a concepção estabelecida de literatura como bem espiritual, fonte de “ilustração” e prazer desinteressado. Assim, trata-se de uma produção com repercussões não apenas do ponto de vista estético, pois a literatura é tomada também como um modo de habitar a periferia, o que certamente acrescenta novas perspectivas no campo das investigações literárias.

Literatura marginal periférica: impasses teóricos

Uma das problematizações iniciais trazidas pela “periferia literária’ diz respeito à forma como o intelectual pode produzir uma teoria (ou mesmo uma crítica) dessa literatura, sem assimilá-la às categorias e parâmetros consagrados da estética, ou sem valer-se de pressupostos metodológicos válidos indiferentemente para todo e qualquer objeto literário. A questão não envolve, antes de mais nada, uma refl exão sobre o papel da teoria na produção do conhecimento, uma vez que a teoria constitui um discurso, nem sempre consciente das injunções político-ideológicas implicadas no processo de dizer os objetos, descrevê-los e, ao mesmo tempo, signifi cá-los. Gayatri Spivak, no seu questionamento à teorização pós-colonial das identidades subalternas, no conhecido ensaio Pode o subalterno falar?, salienta exatamente o perigo de se constituir o outro e o subalterno como objetos de conhecimento por parte de intelectuais que almejam meramente falar pelo outro, sem oferecer-lhe um espaço onde possa falar e ser ouvido (2010, p. 12-13).

No caso da chamada literatura marginal, produzida na e pela periferia, o problema começa pela própria defi nição de “marginal”, conforme o conceito é pensado por aqueles que assim se autodesignam. Ferréz entende por marginal a busca de um lugar na série literária para aqueles que vêm da margem. E explica melhor: “literatura marginal é aquela feita por marginais mesmo, até por cara que já roubou, aqueles que derivam de partes da sociedade que não têm espaço”. Ora, tal compreensão é diferente de simplesmente associar os marginais aos subalternos, como aqueles pertencentes às “camadas mais baixas da sociedade, constituídas pelos modos específi cos de exclusão dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante” (SPIVAK, 2010, p. 12). O marginal, na concepção de Ferréz, é, além disso, o bandido, ou “bicho-solto”, inspirando um modo de conceber a atuação dos agentes culturais da periferia a partir da expressão “terrorismo literário”, conforme intitula-se o prefácio do livro Literatura marginal: talentos da escrita periférica (FERRÉZ, 2005).

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Este seria um primeiro desafi o a ser enfrentado pela teoria frente à atual produção literária da periferia brasileira, relacionado ao papel do sujeito como agente e produtor cultural, que muitas vezes vive sob condições de ilegalidade, reivindicando, no entanto, o direito de falar desde essa experiência. Os compromissos dessa literatura não são puramente estéticos, de renovação formal, mas fortemente motivados pela trajetória, muitas vezes “criminosa”, que constitui a experiência desses sujeitos. Dessa forma, a literatura periférica desafi a a teoria da literatura a articular a voz do sujeito que fala desde sua condição marginal à posição hegemônica do intelectual que fala sobre uma realidade e sobre práticas por ele desconhecidas, avaliadas segundo lugares sociais e institucionais, representantes do centro e da ordem, que inevitavelmente carregam posições ideológicas e interesses que condicionam a sua interpretação.

Sem um questionamento sobre o lugar do investigador, a teoria corre o risco de sobrepor-se ao objeto e emudecê-lo, transformando-se em instrumento de dominação e imposição do conhecimento. O valor da teoria não está na sua capacidade explicativa – caso em que ela se mostra como mero discurso – mas no seu poder de alterar a forma como lemos e apreendemos o mundo ou, em outros termos, a efi cácia da teoria está em desentranhar do objeto o método por meio do qual ele apresenta-se em sua vivacidade, não descolado da experiência, nem desprendido de razões práticas, como propõe Pierre Bourdieu6 (1996).

No âmbito dos estudos literários, a teoria assume comumente um caráter de interpretação e aplicação de conceitos. A hipótese para essa incidência da teoria como instrumental hermenêutico, a partir da aplicação de conceitos à interpretação de obras literárias, por exemplo, deve-se menos ao fato da tradicional distinção entre Ciências Humanas e Ciências Exatas, do que à prevalência de uma certa epistemologia, um “habitus”, termo com que Bourdieu (1994) defi ne a matriz social de disposições duráveis, que modela sentimentos, pensamentos e ações. No campo dos estudos literários, verifi camos a recorrência de pressupostos teóricos e metodológicos associados a um certo modo de conceber o objeto literário antes como obra, produto fi nal da atividade literária, do que como fenômeno associado a condições de produção, circulação e recepção, sujeito ainda a coerções sociais e condicionantes ideológicas7. Eis aqui um problema digno da teoria como crítica ao conhecimento instituído, remetendo-nos ao que afi rma Paul De Man:

A verdadeira disputa da teoria literária não é com os seus oponentes polêmicos mas com as suas próprias suposições e possibilidades metodológicas. Devemos nos interrogar sobre a razão porque a teoria literária tem tanta difi culdade em tratar o que lhe diz respeito (1989, p. 33).

A teoria seria, desse ponto de vista, uma espécie de leitura não reduzida à metalinguagem ou à aplicação de conceitos, implicando uma concepção de linguagem que a impede de ser modelo (DE MAN, 1989, p. 41). Nessa medida, a teoria comporta uma tensão permanente entre métodos de compreensão e o conhecimento que eles permitem alcançar (DE MAN, 1989). Para Paul de Man, “A teoria da literatura surge quando [...] o objeto de discussão passa a ser as modalidades de produção e de recepção de sentido e de valor anteriores ao seu estabelecimento” (DE MAN, 1989, p. 27). A aposta do autor é no caráter retórico8 da teoria, que “transtorna ideologias enraizadas, revelando a mecânica de seu funcionamento, transtorna o cânone e esbate as fronteiras entre o literário e o não-literário” (1989, p. 32).

Ora, tal empreendimento não se dá fora da vinculação da teoria à ação, o que, no caso dos estudos literários, certamente compromete os paradigmas estabelecidos sob premissas abstratas e defi nidas a priori. As concepções de conhecimento literário sofrem de um certo consenso, legitimando

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paradigmas de interpretação baseados no exercício hermenêutico feito por especialistas, com o apoio desta ou daquela teoria. Para além do arranjo de signifi cados mais ou menos desvelados por um aparato teórico, a literatura inscreve-se no campo da experiência, formada a partir das interações com as condições e práticas da vida social e cultural.

Desse modo, como intelectuais, “em vez de interpretar demandas e traduzir diretamente culturas, devemos exercer o papel de negociadores que possam relativizar nossos espaços de fala – até hoje um patrimônio digamos tombado pela tradição e pela academia – para outras vozes que começam a surgir com uma saudável agressividade e alto poder de interpelação” (HOLLANDA, 2011). Para Spivak, por sua vez, a tarefa do intelectual é criar espaços por meio dos quais o sujeito subalterno possa falar, para que, quando ele o faça, possa ser ouvido. Não se pode falar pelo subalterno, mas pode-se trabalhar contra a subalternidade (2010, p. 14).

Sem atenção às práticas e às condições de existência dos objetos que examina, nenhuma teoria resiste e tampouco se oferece como “resistência”, para usarmos a expressão de Paul De Man. Isso signifi ca que talvez a teoria literária devesse conceber seu objeto, as obras, não apenas como produtos fi nais, depósito de valores do espírito, mas como produções resultantes de ações humanas concretas inseridas em um sistema cultural (EVEN-ZOHAR, 2007). Desse modo, já não poderíamos falar de literatura como uma entidade homogênea, enquadrada em parâmetros pré-defi nidos, pois o termo literatura implicaria necessariamente questionamentos do tipo: Que literatura? Para quem? Com que fi nalidade? Em que condições? Quais as mediações?

Assim, refl etir sobre o conhecimento produzido em áreas e disciplinas acadêmicas coloca em pauta a necessidade de um saber capaz de refl etir sobre o próprio ato que o produz, levando o sujeito, no caso, o teórico, a compreender criticamente o seu envolvimento no jogo de produção e reprodução de práticas e valores hegemônicos. Tal epistemologia, que não prescinde de uma crítica do sujeito, determina um constante revisar dos procedimentos que interferem no processo de conhecimento, em face das situações concretas que constituem a experiência dos sujeitos envolvidos nos fenômenos que a teoria busca compreender .

A teoria da literatura, nesses termos, daria atenção às atividades, funções e sentidos desencadeados pelas práticas de produção das obras, levando em conta sua interação com pessoas, grupos, sociedades e culturas. Ler a produção literária periférica que hoje ganha corpo no Brasil ultrapassa métodos conhecidos, sejam eles desconstrucionistas, pós-coloniais ou todo o arsenal das teorias sobre identidade, diferença, diversidade, hibridismo, etc. Cabe à teoria evitar a sua transformação em discurso explicativo, revelando antes os interesses que eles sustentam e as condições objetivas a que eles concretamente respondem. Nesses termos, trata-se de assumir um “projeto de desaprendizagem” (SPIVAK, 2010), o qual exige colocar sob permanente suspeita a possibilidade de representação do outro, destituindo a teoria de uma essência positiva.

Compreender, a partir do próprio movimento e da constituição dessa literatura marginal o seu caráter de “marginalidade” é das questões mais importantes, para que possamos apreendê-la em seus próprios termos, evitando, assim, avaliações e julgamentos, segundo conceitos e teorias a priori. Assim, convém pensar as novas formas e apropriações da literatura e das práticas culturais, ditas marginais e periféricas, com especial atenção aos sujeitos e às condições que dão voz e corpo a esse fenômeno, de forma a evitar o que Gayatri Spivak (2010) chama de “violência epistêmica”, ou seja, o discurso acadêmico institucionalizado que fala em nome dos “subalternos” (e marginais, poderíamos acrescentar), incorrendo nos mesmos imperativos de dominação que pretende denunciar.

Assim, as estratégias críticas devem ser modifi cadas a partir das lições aprendidas com os que sofrem a marginalização social, pois da experiência desses sujeitos emergem formas culturais não-

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canônicas, produzidas no ato da sobrevivência social (BHABHA, 1998, p. 240). A perspectiva de análise, portanto, modifi ca-se, de modo que a cultura deixa de ser explicada a partir de critérios formais da racionalidade, e passa a ser encarada como uma atividade de articulação humana que promove formas diversas de representação e de negociação de sentidos entre os sujeitos, agentes do processo social e produtores de cultura.

A função da teoria, enquanto resistência e prática transformadora dos modos de conhecer a realidade e nela interferir, é a de reagir às forças que tendem a reduzir o alcance cognitivo dos objetos, evitando transformá-los em corpos inertes, mudos e manipuláveis. Os escritos da periferia, constituindo-se a partir da fala – local e coletiva – de moradores da favela, conferem novas confi gurações do literário, que certamente obrigam a teoria a repensar não apenas suas categorias e parâmetros de análise, como ainda a sua tarefa política de resistência à dominação do conhecimento.

Marginal literature: questions to literary theory

ABSTRACT:Th is article proposes the consideration of some main categories of literary theory, such as the concept and functions of literature and its ways of relating society and culture, taking as a topic of discussion the marginal literature produced during the last two decades by authors from periphery of Brazilian cities, specially São Paulo.

Keywords: Marginal Literature. Periphery. Literary Th eory. Culture. Society

Notas explicativas

* Professora de Teoria da Literatura, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras, UniRitter, Porto Alegre. 1 Em Cidade de Deus, Paulo Lins vale-se do terno “neofavela” para designar a nova confi guração da favela, a partir

da entrada do tráfi co de drogas e do crime organizado: “Aqui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silêncios, em gritos-desesperos no correr das vielas e na indecisão das encruzilhadas” (LINS, 2002, p. 16).

2 Tynianov, teórico do formalismo russo, reconhece que a evolução literária deve ser estudada na relação com um sistema mais amplo, dentro de um quadro artístico, cultural, sócio-político e econômico, pois “o estudo isolado de uma obra não nos dá a certeza de falarmos corretamente de sua construção” (1978, p. 109). Itamar Even-Zohar (2007), autor da Teoria dos Polissistemas, reconhece em Tynianov o precursor do enfoque sistêmico da literatura, considerada como um conjunto de atividades e de uma intrincada rede de relações com outros sistemas da cultura.

3 Os escritores Lima Barreto e João Antônio poderiam ser citados como exemplos, ainda que não possamos comparar as suas condições de vida com a realidade de violência e a criminalidade enfrentada hoje pelos moradores dos morros e favelas das grandes cidades brasileiras. Outra exceção notável é Carolina de Jesus, que escreveu a obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, na qual conta sua vida de catadora de lixo e a luta pela sobrevivência.

4 No estudo realizado por Erica Peçanha do Nascimento, intitulado Vozes marginais na literatura (2009), a autora desenvolve um capítulo sobre a atuação político-cultural dos escritores da periferia, chamando atenção para movimentos culturais como a Cooperifa, a 1daSul (sigla da “Somos Todos Um Pela Dignidade da Zona Sul”), e a Literatura no Brasil.

5 No ensaio “O cosmopolitismo do pobre”, Silviano Santiago (2004) argumenta a respeito das novas confi gurações da cultura no cenário da globalização, dando lugar a uma virada cosmopolita da pobreza como uma nova forma de afi rmação cultural dentro do sistema de exclusão.

6 Por “razões práticas” Bourdieu entende uma ciência que “atualiza as potencialidades inscritas nos corpos dos agentes e na estrutura das situações nas quais eles atuam ou, mais precisamente, em sua relação” (1996, p. 10).

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Ipotesi, Juiz de Fora, v.15, n.2 - Especial, p. 31-39, jul./dez. 2011 39

7 Para maiores esclarecimentos sobre a confi guração dos estudos literários tais como se desenvolvem na academia, remetemos ao artigo “Pesquisa literária em foco: tendências, possibilidades e impasses” (OLIVEIRA, 2009).

8 Nos termos de Paul De Man, a retórica é entendida como vigilância da própria linguagem sobre os mecanismos de produção dos sentidos.

Referências

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Recebido em: 31 de maio de 2011.Aprovado em: 29 de agosto de 2011.