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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRUSQUE SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL TECNOLOGIA EM CERÂMICAOBTENÇÃO DE CERÂMICA CELULAR POR MONOQUEIMA RÁPIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE POLIMENTOGLAUCO LUCKMANNTijucas, Agosto de 2007GLAUCO LUCKMANNOBTENÇÃO DE CERÂMICA CELULAR POR MONOQUEIMA RÁPIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE POLIMENTOTrabalhode aoconclusão cursodecurso deapresentadosuperiorTecnologia em Cerâmica como requisito parcial à obtenção do título de Tecnólogo em Cerâmica no CeTRANSCRIPT
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRUSQUE
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL TECNOLOGIA EM CERÂMICA
OBTENÇÃO DE CERÂMICA CELULAR POR MONOQUEIMA
RÁPIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE POLIMENTO
GLAUCO LUCKMANN
Tijucas, Agosto de 2007
GLAUCO LUCKMANN
OBTENÇÃO DE CERÂMICA CELULAR POR MONOQUEIMA RÁPIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE POLIMENTO
Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao curso superior de
Tecnologia em Cerâmica como requisito
parcial à obtenção do título de Tecnólogo
em Cerâmica no Centro Universitário de
Brusque (UNIFEBE) em convênio com o
Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI).
Orientador: Professor Dr. Adriano Michael
Bernardin
Tijucas, 2007
GLAUCO LUCKMANN
OBTENÇÃO DE CERÂMICA CELULAR POR MONOQUEIMA RÁPIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE POLIMENTO
Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do grau de
Tecnólogo em Cerâmica e aprovado em sua forma final pelo Curso Superior de
Tecnologia em Cerâmica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e do
Centro Universitário de Brusque.
Tijucas, Agosto de 2007.
Dr.Eng. Adriano Michael Bernardin
Orientador
Profa. Kenia Warmling Milanez
Coordenadora Técnica do Curso de Tecnologia em Cerâmica
Profo. Claudemir Aparecido Lopes
Coordenador Pedagógico do Curso de Tecnologia em Cerâmica
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr.Eng. Adriano M. Bernardin
SENAI/UNIFEBE
Profª. M.Eng. Kenia W. Milanez
SENAI/UNIFEBE
Profª. Drª. Glêdes Cabral de Albuquerque Viotti
SENAI/UNIFEBE
AGRADECIMENTOS
Pelo exemplo significativo de perseverança, dedicação e
responsabilidade, dedico esta monografia à minha família, em especial à meu
pai, Alinor Luckmann, fonte de grande sabedoria, conhecimento, ética e garra.
À minha esposa, Morgana Luckmann, incansável incentivadora de meus
projetos. Ao SENAI e UNIFEBE, ao corpo docente destas instituições de ensino
e seus colaboradores, e todos os envolvidos direta ou indiretamente com este
projeto, meu sincero obrigado!
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Especificações para o grês porcelanato (ISO 13006) ...................... 18
Tabela 2. Análise química e de fases das amostras ........................................ 34
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Difratograma do resíduo de polimento (LAMIR, 2007)...................... 35
Figura 2. Análise térmica diferencial da amostra de resíduo de polimento
(UNESC, 2007) ................................................................................................ 36
Figura 3. Evolução da densidade aparente dos corpos-de-prova sinterizados
em função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento
(AUTOR, 2007) ................................................................................................ 37
Figura 4. Evolução da resistência mecânica por compressão diametral dos
corpos-de-prova sinterizados em função da pressão de compactação e da
temperatura de tratamento (AUTOR, 2007) ..................................................... 38
Figura 5. Evolução da expansão linear dos corpos-de-prova sinterizados em
função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento (AUTOR,
2007) ................................................................................................................ 39
Figura 6. Evolução da absorção de água dos corpos-de-prova sinterizados em
função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento (AUTOR,
2007) ................................................................................................................ 41
Figura 7. Microestrutura de amostra queimada a 1.190°C (MEV) (LABMAT,
2007) ................................................................................................................ 42
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
1.1. Justificativa................................................................................................ 12
1.2. Objetivos ................................................................................................... 13
1.2.1. Principal.................................................................................................. 14
1.2.2. Específicos ............................................................................................. 14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................... 15
2.1. Grês porcelanato....................................................................................... 15
2.1.1. Processo de fabricação do grês porcelanato ......................................... 16
2.1.2. Características técnicas do grês porcelanato......................................... 18
2.1.3. Matérias-primas para fabricação de grês porcelanato............................ 19
2.1.3.1. Argilominerais...................................................................................... 19
2.1.3.2. Caulim ................................................................................................. 20
2.1.3.3. Feldspatos........................................................................................... 20
2.1.3.4. Talco.................................................................................................... 21
2.2. Resíduos sólidos gerados pela indústria cerâmica ................................... 22
2.3. Cerâmica celular........................................................................................ 26
2.4. Oxidação do carbeto de silício .................................................................. 28
3. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 30
3.1. Caracterização das amostras.................................................................... 30
3.2. Preparação das amostras ......................................................................... 30
3.2.1. Resíduo de polimento do grês porcelanato ............................................ 31
3.2.2. Preparação dos corpos-de-prova ........................................................... 31
3.2.3. Sinterização das amostras ..................................................................... 31
3.3. Caracterização da cerâmica celular .......................................................... 32
3.3.1. Determinação da expansão linear.......................................................... 32
3.3.2. Determinação da densidade aparente (DAP)......................................... 32
3.3.3. Resistência mecânica por compressão diametral .................................. 33
3.3.4. Caracterização microestrutural............................................................... 33
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 34
4.1. Caracterização físico-química do resíduo ................................................. 34
4.2. Caracterização físico-mecânica e microestrutural das cerâmicas celulares
......................................................................................................................... 36
9
4.2.1. Densidade aparente ............................................................................... 36
4.2.2. Resistência mecânica por compressão diametral .................................. 38
4.2.3. Expansão linear após sinterização......................................................... 39
4.2.4. Absorção de água das amostras............................................................ 40
4.2.5. Microestrutura......................................................................................... 41
5. CONCLUSÃO............................................................................................... 43
REFERÊNCIAS................................................................................................ 45
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RESUMO
Uma indústria cerâmica consome grande quantidade de matérias-primas; conseqüentemente, como em todas as indústrias, rejeitos também são gerados. Se estes resíduos puderem ser utilizados em novos produtos com bom valor agregado, como ocorre para as cerâmicas celulares, então o resíduo adquire status de matéria-prima, adquirindo assim valor monetário. As cerâmicas celulares são materiais de elevada porosidade que consistem de um arranjo regular e tridimensional de células ocas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi a utilização do resíduo de polimento de grês porcelanato na fabricação de cerâmicas celulares por monoqueima rápida. O resíduo de polimento foi caracterizado por análise química (FRX), de fases (DRX) e térmica (ATD). Os resíduos foram compactados por prensagem uniaxial (300 kgf/cm², 350 kgf/cm² e 400 kgf/cm²), secos e queimados em forno a rolos industrial (1.150°C, 1.170°C e 1.190°C de temperatura máxima de patamar). Em seguida as cerâmicas celulares obtidas foram caracterizadas quanto a sua densidade aparente, expansão linear, absorção de água e resistência mecânica à compressão diametral. A microestrutura também foi determinada (MEV). Os resultados obtidos mostram que é possível obter cerâmicas celulares por monoqueima rápida a partir de resíduos de polimento de grês porcelanato com boas características físico-mecânicas. Palavras-chave: resíduos sólidos industriais; reciclagem; monoqueima rápida; cerâmicas celulares.
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1. INTRODUÇÃO
Até o final do século XX, a procura de produtos diferenciados, aliada
a novas tecnologias na tentativa de buscar novos mercados ou apresentar
soluções inovadoras, levou o homem a devastar as fontes naturais que
fornecem matérias-primas, resultando na escassez de várias dessas fontes, o
que promoveu uma degradação violenta e até então uma preocupação
relativamente baixa com os resultados desse processo (AUTOR, 2007).
Contudo, a sociedade atual prima pela preservação dos meios
naturais, de forma a buscar sua conservação pelos mais diversos métodos de
reaproveitamento dos materiais, no que atualmente é chamado de
�reciclagem�. Materiais potencialmente úteis tornam-se uma ameaça, uma vez
que poderiam ser usados como fontes de recurso alternativo. A reciclagem
contribui para um melhor ambiente, e em vários casos, uma forma de baratear
custos de produção, visto que também há uma redução do consumo de energia
(AUTOR, 2007).
O uso de materiais secundários resulta em uma economia de
energia substancial quando comparada à produção primária. Voltando a
atenção para as indústrias cerâmicas, vê-se que consomem grandes
quantidades de matérias-primas, e conseqüentemente, como em todo
segmento de indústria, acabam por produzir rejeitos. Esses rejeitos são
conhecidos como resíduos industriais (AUTOR, 2007).
Os resíduos gerados são normalmente depositados em aterros que
consistem, na sua maioria, de cacos (perdas do produto final), esmaltes
cerâmicos, cinzas de carvão, resíduos minerais, plásticos, metais, vidros,
papéis, óleo lubrificante, madeira, pedra abrasiva, resíduos resultantes dos
processos produtivos (como o polimento do grês porcelanato), dentre outros.
A recuperação e a reciclagem de resíduos que apresentam valor
econômico são formas mais atraentes para a solução dos problemas de
tratamento e destino final, tanto para os industriais como para os órgãos
estaduais de proteção e fiscalização ambiental. Este é um fator importante para
a redução do consumo dos recursos naturais e uma maneira de reduzir a carga
de poluentes lançados no meio ambiente (BONAR, 1996).
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Dentre as mais diversas matérias-primas a serem conservadas e
recicladas estão os resíduos sólidos industriais advindos da cerâmica. É
justamente a reciclagem dos resíduos sólidos industriais cerâmicos o objetivo
deste trabalho de conclusão de curso.
Atualmente na região de Santa Catarina não há reciclagem dos
resíduos sólidos industriais cerâmicos oriundos do processo de polimento do
grês porcelanato. Esses resíduos cerâmicos são descartados diretamente em
aterros, sendo que as empresas cerâmicas vêm descartando as sobras de
polimento e pedras abrasivas há muito tempo, sem critério algum. Os resíduos
do processo de polimento do grês porcelanato são captados, armazenados e
filtrados por estações de tratamento de efluentes (ETE), que eliminam a água
residual e geram como subproduto o lodo. O subproduto do processo de
filtração, ou lodo, é armazenado em aterros (AUTOR, 2007).
Em virtude de um iminente problema de forte impacto ambiental, viu-
se a possibilidade de utilizar os rejeitos do processo de polimento do grês
porcelanato na fabricação de novos artefatos cerâmicos, as cerâmicas
celulares, que apresentam propriedades especiais como baixa massa � devida
baixa densidade obtida pela porosidade presente no material � e boa isolação
térmica e acústica.
1.1. Justificativa
Uma indústria cerâmica consome grande quantidade de matéria-
prima; conseqüentemente, como em todas as indústrias, rejeitos também são
gerados. Resíduos depositados em aterros de forma desordenada podem
trazer inúmeros problemas, como contaminação do solo, contaminação do
lençol freático, contaminação dos rios e lagos, surgimento de doenças e
redução dos recursos naturais não-renováveis, além de influenciar
negativamente o ciclo biológico da vegetação presente (MEDEIROS, 1999).
Hoje, a preocupação com meio ambiente ocupa um espaço muito
importante nas empresas. A conscientização dos profissionais os motiva a
trabalharem colaborando na solução de problemas atuais ou futuros. Os
resíduos gerados são normalmente depositados em aterros. Estima-se que a
cada três anos um hectare de terra seja ocupado por estes resíduos.
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A reutilização e a reciclagem dos resíduos gerados pela indústria
cerâmica objetiva, entre outras atividades:
! A redução e/ou eliminação dos desperdícios, do consumo excessivo dos
recursos naturais como os minerais, água e gás natural;
! A reutilização e reaproveitamento dos materiais, pois o rejeito de uma
empresa pode ser considerado matéria-prima de outra;
! A reciclagem, que consiste na re-introdução de produtos finais,
subprodutos e resíduos em um novo ciclo de produção-consumo.
Desta forma, qualquer projeto que vise a utilização dos resíduos
sólidos gerados pelo processo de fabricação de revestimentos cerâmicos torna-
se interessante. Se estes resíduos puderem ser utilizados em novos produtos
com bom valor agregado, como ocorre para as cerâmicas celulares, então o
resíduo adquire status de matéria-prima, adquirindo assim valor monetário.
Este trabalho é a continuidade da pesquisa desenvolvida por SILVA
(2005). Em seu trabalho, Silva obteve laboratorialmente cerâmicas celulares
com adição de sobras de abrasivos, obtendo baixas densidades quando o
produto era queimado em forno de laboratório.
Porém, a principal questão resultante daquele trabalho foi em
relação à evolução microestrutural da cerâmica celular, ou seja, como ocorre a
expansão da cerâmica quando processada em forno industrial, utilizando
pressões de prensagem usuais na fabricação de placas cerâmicas e ciclos
térmicos rápidos, de até 90 min.
O uso das instalações existentes nas empresas de revestimentos
cerâmicos, com moinhos contínuos e descontínuos que poderiam ser utilizados
para a homogeneização do resíduo, o uso de atomizadores ou granuladores
para obter o pó cerâmico, o uso de prensas industriais de pequenos, médios e
mesmo grandes formatos, e finalmente o uso de secadores e fornos a rolos,
que tornariam a fabricação de placas cerâmicas celulares uma alternativa real
para forrações, divisórias e mesmo revestimentos cerâmicos convencionais.
1.2. Objetivos
Os principais objetivos deste trabalho são:
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1.2.1. Principal
Utilização do resíduo de polimento de grês porcelanato na fabricação de
cerâmicas celulares por monoqueima rápida.
1.2.2. Específicos
• Utilização do resíduo do polimento de grês porcelanato na fabricação de
artefatos cerâmicos expandidos;
• Caracterização do resíduo de polimento por determinação de sua análise
química, de fases e comportamento térmico;
• Processamento do resíduo por técnicas de monoqueima rápida, variando-se
as condições de conformação (pressão específica de prensagem) e de
queima (temperatura de patamar);
• Determinação de características técnicas cerâmicas celulares produzidas,
como resistência mecânica à compressão, expansão térmica, absorção de
água e densidade aparente.
15
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo é descrito o produto denominado grês porcelanato,
seu processo de fabricação, suas principais características técnicas e as
matérias-primas utilizadas na sua fabricação (item 2.1). Os resíduos sólidos
gerados na indústria cerâmica são descritos no item 2.2. Finalmente, a
cerâmica celular, objeto de estudo deste trabalho, é descrita no item 2.3 e o
processo de oxidação do carbeto de silício no item 2.4.
2.1. Grês porcelanato
O revestimento cerâmico denominado �grês porcelanato�, �grês fino
porcelanato�, �granito cerâmico� ou �porcelanato� é um produto derivado do
grês fino, branco ou colorido, de procedência do norte europeu, o denominado
�steingut� alemão. Também é similar ao �fine stoneware� inglês. Todos estes
produtos têm em comum sua característica impermeabilidade e resistência ao
congelamento (BIFFI, 2002).
O nome �grês porcelanato� deriva de �grês�, denominação de
materiais cerâmicos com estrutura compacta, sendo caracterizados por uma
fase cristalina imersa em uma fase vítrea predominante; e �porcellanato�, termo
que se refere às características técnicas do produto, que substancialmente
lembram àquelas da porcelana. O grês porcelanato destaca-se pelas seguintes
características: elevada resistência à abrasão; resistência ao congelamento;
resistência a ácidos e álcalis; uniformidade de cores; impermeabilidade;
facilidade de manutenção; produto de fácil composição com outros
revestimentos (DE MEDEIROS, 2005).
O grês porcelanato assemelha-se à pedra natural, tendo, porém,
inúmeras características que superam o desempenho do mármore, granito,
pedra São Tomé, entre outras. O grês porcelanato destaca-se das pedras
naturais pela sua maior resistência ao ataque químico, sendo adequado ao uso
em laboratórios e indústrias; é impermeável, tendo maior resistência às
manchas, com maior facilidade de limpeza e não desenvolvendo manchas em
caso de infiltração de umidade (BIFFI, 2002).
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Tem maior resistência à abrasão, sendo recomendado para áreas de
altíssimo tráfego. Também, sua uniformidade de cores na mesma peça e entre
peças permite um efeito estético agradável aos olhos. São mais leves, com
menor espessura e maior resistência mecânica, sendo mais fáceis de
transportar e manusear. Deste modo há maior facilidade para seu
assentamento: um assentador de cerâmica tradicional poderá assentar o grês
porcelanato (HECK, 1996; DE MEDEIROS, 2005).
2.1.1. Processo de fabricação do grês porcelanato
O controle da produção do grês porcelanato inicia-se na seleção das
matérias-primas. É fundamental manter a homogeneidade do lote e atender às
especificações, a fim de evitar variações de tonalidade e variações na
fusibilidade da composição.
As demais etapas do processo também necessitam de controle para
que se possam prever as características do produto final. A moagem é uma
etapa crítica, onde o controle sobre o tamanho das partículas deve ser mantido
para garantia das condições de compactação e características do produto pós-
queima (DE MEDEIROS, 2005).
Na atomização é necessário manter-se um estreito intervalo de
viscosidade da suspensão cerâmica, a fim de garantir a estabilidade do padrão
do pó atomizado. Variações no tamanho do grânulo significam variações na
tonalidade do produto acabado. O tempo de repouso da massa recém
atomizada não poderá ser inferior a 36 h, para garantir a homogeneização da
umidade.
A prensagem é a etapa onde, além da conformação, busca-se uma
redução da porosidade interna. A pressão específica de compactação varia de
400 kgf/cm² a 500 kgf/cm2, requerendo-se para esta finalidade prensas
hidráulicas com capacidade de até 5.000 t. A variação da densidade aparente
deverá ser mínima para evitar deformações e desvios na ortogonalidade. O uso
de moldes isostáticos é imprescindível (HECK, 1996; BIFFI, 2002).
Para a fabricação de produtos decorados com sais solúveis, a
temperatura da peça deve ser rigorosamente controlada para garantir uma
penetração dos sais entre 1,5 mm a 2,0 mm. Os produtos decorados são
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críticos, pois o desvio na planaridade das peças deverá ser mínimo, pois no
processo de polimento a camada removida deverá ser uniforme para evitar as
diferenças de tonalidade (DE MEDEIROS, 2005).
Na queima do grês porcelanato a sinterização em presença de fase
líquida viscosa é o processo de densificação que mais contribui para a baixa
porosidade final das peças, conferindo-lhes as propriedades desejadas. Neste
contexto, a queima é entendida como o processo global de tratamento térmico
de uma composição cerâmica, resultando em eliminação de umidade,
eliminação de materiais carbonosos e voláteis, desidroxilação, oxidação,
decomposições e, finalmente, a sinterização do corpo cerâmico e o
amolecimento dos materiais vítreos (BIFFI, 2002).
Para que a composição apresente um intervalo de sinterização
adequado, é imprescindível que esta apresente características específicas
durante a queima: desenvolvimento de fase líquida suficiente, com viscosidade
apropriada, para que a peça possa alcançar a porosidade desejada; no
intervalo de queima, a variação da quantidade de fase líquida e sua
viscosidade devem ser graduais com a temperatura, para que as alterações de
contração linear, absorção de água e deformação piroplástica também o sejam.
A etapa seguinte é uma inovação na produção de revestimentos
cerâmicos: o polimento. O brilho é uma característica bastante procurada pelos
consumidores de revestimento, pois além do efeito estético facilita também a
limpeza. O equipamento usado para conferir brilho às peças vem acoplado a
outro equipamento que as retifica, de maneira que todas possuam exatamente
o mesmo tamanho. A retificação também é realizada nas peças de grês
porcelanato natural (produto não polido) (DE MEDEIROS, 2005).
No polimento, alguns poros fechados que se encontram distribuídos
no interior da peças são abertos para a superfície, podendo levar a uma
diminuição da resistência às manchas, o que é indesejável, pois com o uso
pode haver a deterioração da superfície. Como já mencionado, é fundamental o
controle do tamanho, forma e a interligação dos poros. O produto ideal é
aquele que apresenta uma microestrutura composta de poros isolados e de
tamanho inferior a 15 µm (HECK, 1996).
A classificação das placas é feita em máquinas semi-automáticas,
onde o operador avalia somente os defeitos estéticos e a tonalidade. Os
18
defeitos relativos à planaridade e dimensão são avaliados por sensores
eletrônicos.
Deste modo, o grês porcelanato é um produto de revestimento que
combina características estéticas com alta técnica, o que o torna indicado para
ambientes de alto tráfego como escolas, hospitais, shopping centers,
supermercados, indústrias e câmaras frigoríficas, dentre outros. Devido suas
características e versatilidade na combinação de cores é especialmente
indicado para ambientes residenciais onde o efeito estético é um requisito
importante (BIFFI, 2002; MEDEIROS, 2005).
2.1.2. Características técnicas do grês porcelanato
O grês porcelanato possui uma absorção de água baixíssima. Em
função disso, está classificado no grupo BIa, segundo a Norma Internacional
ISO 13.006 (tabela 1).
Tabela 1. Especificações para o grês porcelanato (ISO 13006)
características técnicas ISO 13006 ISO 10545
largura e comprimento (%) ± 0,5 Parte 2
espessura (%) ± 5,0 Parte 2
retitude de lados (%) ± 0,5 Parte 2
ortogonalidade (%) ± 0,6 Parte 2
planaridade (%) ± 0,5 Parte 2
absorção de água (%) ≤ 0,5 Parte 3
resistência a flexão (Mpa) ≥ 35 Parte 4
carga de ruptura (N) ≥ 1.300 Parte 4
resistência à abrasão profunda
(não esmaltados) mm3 ≤ 175 Parte 6
resistência ao congelamento Por acordo Parte 6
resistência química Máx. classe B Parte 13
Fonte: ABNT, 1997.
19
2.1.3. Matérias-primas para fabricação de grês porcelanato
As principais matérias-primas utilizadas na fabricação do grês
porcelanato são os argilominerais, entre eles principalmente o caulim, e os
feldspatos, sendo também utilizados minerais acessórios como talco e silicato
de zircônio como agente branqueador.
2.1.3.1. Argilominerais
O termo argila é empregado para designar um material inorgânico
natural, com partículas pequenas, que apresenta comportamento plástico
quando adicionada uma determinada quantidade de água, e esta plasticidade
pode ser expressa em um consistente aumento de resistência mecânica nas
amostras, na passagem do estado verde para o seco. Do ponto de vista de
tamanho de partícula, a fração argila corresponde ao conjunto de partículas
inferiores a 2 µm ou 4 µm, segundo as escalas de Atterberg e Wentworth,
respectivamente (GOMES, 1988; DEER et al., 1992; MOTTA et al., 2004).
Mineralogicamente, as argilas são constituídas predominantemente
de argilominerais (filossilicatos), e seus tipos mais comuns são formados de
folhas tetraédricas (T) de silício e octaédricas (O) de alumínio, e com menor
freqüência de magnésio e/ou ferro. Constituem unidades estruturadas na
proporção 1:1 (TO) ou 2:1 (TOT). Além do arranjo estrutural, o espaçamento
basal dessas unidades é típico dos argilominerais dos diversos agrupamentos,
destacando-se os grupos da caulinita, ilita e esmectita como os mais
importantes do ponto de vista cerâmico.
Juntamente com as partículas de argilominerais ocorrem outros
minerais, geralmente nas frações silte (2µm<Φ<0,62mm) e areias (Φ>0,62mm).
Nesses tamanhos maiores, o mineral mais comum é o quartzo, seguido de
micas, feldspatos e minerais opacos (MOTTA et al., 2004).
As argilas são uma matéria-prima básica para todas as massas
cerâmicas. Nas massas cerâmicas para grês porcelanato desenvolvem uma
série de funções, dentre as quais: aportar uma coloração clara na queima;
conferir características ligantes e plasticidade à massa cerâmica; aportar
propriedades reológicas, facilitando a fluidez; conferir com as próprias
20
características fundentes uma boa densidade; aportar características
mecânicas ótimas nos sinterizados. Para o grês porcelanato são utilizadas
freqüentemente misturadas entre si, tanto argilas relativamente pouco
plásticas, ricas em caulinita, como argilas particularmente plásticas, mais ricas
em minerais argilosos como ilita e montmorilonita (BIFFI, 2002).
2.1.3.2. Caulim
O nome caulim deriva de Kauling, localidade da China da qual foram
extraídas as primeiras amostras. A fórmula da caulinita é a seguinte:
Al2O3.2SiO2.2H2O. O caulim apresenta-se em massa compacta, terrosa,
microcristalina, de dureza 1 na escala Mohs, massa específica 2,6 e brilho
baixo de madrepérola. O caulim é o produto em que se transformam em
profundidade os aluminossilicatos (feldspatos, plagioclásios, feldspatóides)
contidos nas rochas. Ocorre uma hidrólise dos silicatos com solubilização dos
íons alcalinos e alcalino-terrosos sob a forma de carbonatos, permanecendo
insolúveis os silicatos hidratados de alumínio que, devido à elevada
temperatura e pressão, cristalizam (GOMES, 1988; DEER et al., 1992; MOTTA
et al., 2004).
O emprego do caulim em cerâmica está restrito a cerca de 10% da
produção mundial, enquanto encontra grande uso na indústria de papel como
branqueador e material de carga. Além de conferir brancura à massa, a
caulinita é uma portadora fundamental do óxido de alumínio (Al2O3), que
durante a fase de vitrificação da massa cerâmica torna-se um regulador do
equilíbrio das reações. De fato, a alumina pode tomar parte na formação de
uma fase vítrea do tipo silicaluminosa em associação com elementos alcalinos
fundentes, ou também é encontrado, predominantemente no final da queima,
como mulita (3Al2O3.2SiO2), que pela sua estrutura em forma de agulhas atua
como um �esqueleto� aos produtos obtidos, contribuindo para o aumento da
resistência mecânica (BIFFI, 2002).
2.1.3.3. Feldspatos
21
Os feldspatos desenvolvem um papel fundamental nas massas
cerâmicas de grês porcelanato. De fato, deve-se a estes minerais a elevada
gresificação e a alta resistência mecânica que registram os produtos no final da
queima. Os feldspatos são os minerais mais difundidos nas rochas eruptivas,
das quais constituem cerca de 60%, além do que estão presentes como
constituintes mineralógicos essenciais em quase todas as rochas eruptivas. Os
feldspatos são definidos como silicaluminatos de metais alcalinos e alcalino-
terrosos. Do ponto de vista químico, distingue-se em ortoclásio, K(AlSi3O8),
feldspato potássico; albita, Na(AlSi3O8), feldspato sódico; e anortita,
Ca(Al2Si2O8), feldspato cálcido (DEER et al., 1992; BIFFI, 2002).
Albita e anortita dão lugar a uma série isomórfica de cristais mistos,
disseminados nas rochas eruptivas (intrusivas ou extrusivas) denominados
plagioclásios, entre os quais se podem citar: oligoclásio, andesina, labradorita,
bitownita. Junto aos feldspatos há uma categoria de minerais denominados
feldspatóides, como a leucita e a nefelina.
Os feldspatos encontram grande emprego na cerâmica onde é
necessário atingir um alto grau de gresificação, como em massas cerâmicas
tipo grês porcelanato, �vitreous china�, porcelana e em monoqueima
semigresificada. O comportamento cerâmico mais característico dos minerais
feldspáticos é a notável fusibilidade e a formação, com os outros elementos
presentes, de eutéticos que possibilitam atingir a gresificação mesmo a
temperaturas relativamente baixas (DEER et al., 1992).
Elemento básico para as propriedades fundentes é o teor de álcalis
no mineral. O valor teórico de K2O e de Na2O nos feldspatos potássico e sódico
é de 16,9% e de 11,8%, respectivamente. Quanto mais o teor em álcalis se
aproxima do valor teórico, mais aumenta o valor comercial do feldspato. As
quantidades em que é adicionado às massas cerâmicas dependem muito do
caráter fundente do feldspato, isto é, da quantidade de álcalis presente no
mineral (BIFFI, 2002).
2.1.3.4. Talco
Trata-se de um filossilicato de magnésio, de fórmula
3MgO.4SiO2.H2O e de composição química típica formada por 63,5% de SiO2,
22
31,7% de MgO e 4,8% de H2O. O talco ocorre em rochas ultrabásicas
metamorfizadas, mas também como elemento de substituição da tremolita e da
olivina em dolomitas silicosas que sofreram metamorfismo. O talco é o
constituinte principal dos materiais de depósitos de importância econômica
designados por �pedra de sabão� ou esteatitos; blocos destes materiais são
utilizados para isolamento térmico e elétrico. O talco é utilizado em cerâmica; o
pó de talco é usado como lubrificante e como base em tintas e papel, entre
outros produtos (DEER et al., 1992).
A utilização do talco nas massas cerâmicas resulta em aumento na
resistência às manchas (a partir de valores acima de 1,6% em massa);
aumenta o módulo de ruptura à flexão em até 30%; parece favorecer as
operações de polimento quando a microporosidade é mínima; reduz o
coeficiente de dilatação térmica; favorece o aumento da brancura, quando em
presença de zircônio (BIFFI, 2002).
2.2. Resíduos sólidos gerados pela indústria cerâmica
A coleta de sobras de produtos novos ou em fim de vida é o primeiro
passo para a reciclagem. O segundo passo é a transformação de resíduos em
matérias-primas secundárias que podem ser realimentadas no processo
produtivo. A reciclagem não é algo novo. É tão antiga quanto a humanidade, e
pode muito bem ter surgido quando um caçador da idade da pedra lascou seu
machado de sílex e percebeu que os fragmentos fariam boas pontas de flechas
(BIDONE, 2001).
Mas a reciclagem realmente se estabeleceu com a Revolução
Industrial. Metais redundantes, ferrosos e não ferrosos, tornaram-se materiais
padrão para a indústria metalúrgica. Papel velho poderia ser reduzido a sua
forma de polpa e assim formado em um novo papel. Hoje, esta é uma indústria
totalmente internacional. É responsável por coletar, separar, processar e
comercializar uma vasta gama de materiais � os subprodutos das indústrias de
manufatura e os produtos em fim de vida.
O comércio internacional de materiais secundários é necessário para
suprir fundições, moinhos de papel, indústrias têxteis, de borracha, entre
outras, com materiais de estoque para uma posterior produção ambientalmente
23
correta. Por que é importante reciclar? A utilização padrão dos materiais é, em
teoria, circular, um tipo de movimento perpétuo, onde substâncias primárias
extraídas da natureza são transformadas em produtos que eventualmente
tornam-se redundantes e podem ser reciclados (RESID, 1999; SENAI, 2000;
VILHENA, 2000; BIDONE, 2001).
Sem reciclagem, o movimento se transforma em uma série de
eventos sem uma resolução lógica. Materiais potencialmente úteis tornam-se
uma ameaça, em vez de serem retidos como um recurso. A reciclagem
contribui para um melhor ambiente. O uso de materiais secundários resulta em
uma economia de energia substancial quando comparada à produção primária.
A economia de energia para o aço é de 74%, de 95% para o alumínio, 85%
para o cobre, 65% para o chumbo, 64% para o papel e 80% para os plásticos.
A produção secundária é menos poluente que a primária. A
produção de papel reciclado significa 35% a menos de poluição de água e 74%
a menos de poluição do ar. Os materiais secundários não estão uniformemente
distribuídos ao redor do mundo; são transportados em escala considerável de
áreas onde são abundantes para regiões onde há demanda. Um terço das 600
milhões de toneladas de materiais processados pela indústria de reciclagem
anualmente são comercializados internacionalmente. Anualmente esta indústria
fatura 160 bilhões de dólares, com investimentos anuais em pesquisa e
desenvolvimento de 20 bilhões de dólares. Mais de 1,5 milhão de pessoas
estão diretamente empregadas pela indústria de reciclagem no mundo (RESID,
1999; SENAI, 2000; VILHENA, 2000; BIDONE, 2001).
Especificamente, na indústria de revestimentos cerâmicos de Santa
Catarina não há reciclagem dos resíduos sólidos. Os resíduos sólidos
industriais são descartados diretamente em aterros. As empresas cerâmicas
vêm descartando as sobras de produtos de esmaltação e de polimento (pedras
abrasivas) há muito tempo, sem critério algum. Os resíduos de esmaltação,
que são as sobras do processo de aplicação dos esmaltes, tintas e aditivos, a
úmido, são captados, armazenados e filtrados para eliminar a água residual. O
produto do processo de filtração, a chamada torta, é então aterrada (BUDNI,
1988; MEDEIROS, 1999).
Deste modo, este trabalho de conclusão de curso visa uma
alternativa ao descarte de resíduos sólidos gerados pela indústria cerâmica
24
(resíduos de esmaltação e de polimento), pela utilização destes resíduos em
novos produtos, com bom valor agregado, como é o caso de produtos
cerâmicos expandidos, as chamadas cerâmicas celulares. Estes produtos têm
utilidade na indústria de construção civil, tanto como componentes de lajes �
substituindo polímeros expandidos (Isopor®) � como divisórias internas �
substituindo madeira e papel. Deve-se ressaltar que estes produtos têm
excelentes características de conforto térmico e acústico.
Outro resíduo resultante no processo de fabricação de um cerâmico
é a denominada �quebra�. São produtos acabados que apresentam algum tipo
de defeito e por isso são desclassificados no setor de classificação. Outros
tipos de resíduos sólidos são as cinzas de carvão mineral procedentes dos
tanques de decantação de efluentes líquidos gerados nas fornalhas
(MEDEIROS, 1999).
Há ainda os rejeitos das valas de decantação dos efluentes líquidos
do setor de esmalte e tintas, como também o material decantado nas valas de
captação de efluentes líquidos existente no interior da fábrica, no setor de
esmaltadoras, todos denominados �raspas� de esmaltes.
As cinzas geradas a partir da queima do carvão mineral são
constituídas basicamente de sílica (SiO2) e alumina (Al2O3), que
correspondem à cerca de 50% e 30% da sua massa, respectivamente. As
cinzas do carvão mineral são resíduos sólidos potencialmente poluidores, tanto
devido ao pH da sua drenagem, quanto devido à solubilização dos elementos
presentes na sua composição química, que reflete a composição do carvão
suprindo-se os elementos voláteis (BUDNI, 1988; MEDEIROS, 1999).
Os efluentes líquidos são compostos basicamente por substâncias
inorgânicas e insolúveis. Os corantes contêm óxidos de Al, Co, Zr, Si, Cr, Zn,
Ni, Ca e Sn; os esmaltes contêm SiO2, B2O3, Na2O e PbO; as resinas
sintéticas contêm compostos orgânicos; as tintas contêm Pb, Ca, Si, Al, Fe, Cr
e Mn; além de haver sólidos finos em suspensão (argilas, restos de fritas,
silicatos).
O problema dos resíduos sólidos abrange aspectos relacionados a
sua origem e produção, bem como os conceitos de inesgotabilidade e os
reflexos de comprometimento do meio ambiente, principalmente do solo, ar e
25
água. Portanto, a definição de resíduos, suas origens e formação, dependem
dos diversos fatores, como hábitos e atividade econômica, entre outros.
Nem todo resto é considerado coisa que não serve, desde que este
�resto� possa ser reutilizado ou reciclado. Os resíduos sólidos, ou nos estados
sólido e semi-sólido, são os que resultam de atividades da comunidade de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços. Os
resíduos podem ser considerados uma fonte altamente poluidora do meio
ambiente, afetando a qualidade de vida no planeta (BONAR, 1996;
MEDEIROS, 1999; VILHENA, 2000).
Porém, as concentrações de resíduos também vão aumentando;
muitas vezes tornam-se economicamente inviáveis, impossibilitando a técnica
de tratamento. A evolução e melhoria tecnológica para o tratamento de
resíduos dependem da estrutura e do consumo da produção.
As indústrias consideravam os resíduos como um mal necessário,
diante do seu objetivo que era fabricar seu produto. Mas os industriais já se
conscientizaram, interagindo com os problemas sociais e ambientais da
comunidade onde desempenham suas atividades, uma vez que o mercado
também exige essa preocupação por parte dos empresários (SENAI, 2000).
Para definir um gerenciamento adequado de tratamento aos
resíduos sólidos faz-se necessário melhor conhecê-los, ou seja, classificá-los.
Os resíduos sólidos industriais podem ser classificados como perigosos e não
perigosos. Para uma indústria, esta diferenciação é importante e faz-se
necessária, uma vez que o gerenciamento para cada tipo de resíduo é muito
diferente, levando em consideração a tecnologia e custos (BIDONE, 2001).
No processo de fabricação do grês porcelanato polido o material
utilizado para o polimento das peças é a pedra abrasiva, que pode ser à base
de partículas de diamante ou de carbeto de silício. Como os revestimentos
cerâmicos polidos, tanto grês porcelanato quanto grês polido, têm alto valor
agregado, o consumo das pedras abrasivas está crescendo muito. Em 1996 a
única empresa produzindo grês porcelanato no Brasil era a Eliane
Revestimentos Cerâmicos. Atualmente, além da empresa Eliane, Cecrisa,
Ceusa, Itagrês e Portobello produzem tanto grês porcelanato quanto grês
polido, gerando grande quantidade de resíduos e sobras de pedras abrasivas.
26
Estas sobras de pedras abrasivas não têm outro destino a não ser
os aterros, como é comum a todos resíduos gerados pela indústria cerâmica no
Brasil. Porém, há outra possível destinação para as sobras. Nos anos 1970,
Espanha e Itália enfrentavam o mesmo problema com relação às sobras de
pedras para polimento. Várias soluções foram encontradas, sendo uma das
mais efetivas o uso das pedras contendo carbeto de silício em sua composição
como agentes promotores de expansão em produtos cerâmicos (BERNARDIN
et al., 2006).
O carbeto de silício, em determinada temperatura (inicialmente a
1.000°C ou mesmo temperaturas menores em determinadas condições), reage
com o oxigênio gerando CO e CO2 além de sílica. Se adicionado a um
cerâmico com temperatura de transição vítrea (Tg) inferior à temperatura de
decomposição do SiC, o produto resultante sofrerá uma expansão volumétrica
devido à reação do SiC com O2 associada ao início do amolecimento do
material cerâmico, cuja superfície será impermeável à passagem do gás
resultante da decomposição para o exterior da peça. O produto resultante será
o material cerâmico expandido, denominado cerâmica celular. Sua aplicação
varia desde um componente para preenchimento de lajes nas construções, até
a fabricação de divisórias com excelentes propriedades termoacústicas.
A seguir será dada uma breve introdução aos materiais cerâmicos
celulares, dando ênfase aos materiais obtidos neste trabalho pela técnica de
formação de gases, e em seguida alguns comentários sobre a ação do
oxigênio sobre o carbeto de silício, o agente formador de gases utilizado nas
cerâmicas celulares produzidas a partir de resíduos de polimento do grês
porcelanato.
2.3. Cerâmica celular
Apesar de sua origem recente, as cerâmicas celulares vêm
dominando o cenário das cerâmicas porosas e são as que têm apresentado
maior potencial de aplicação. Sua utilização como componentes estruturais tem
sido um dos mais importantes avanços no campo de separação sólido-fluido
nas últimas décadas, merecendo destaques nas áreas metalúrgica, automotiva
27
e petroquímica. Cerâmicas celulares são materiais de elevada porosidade que
consistem de um arranjo regular e tridimensional de células ocas.
Com relação a seu processamento, várias rotas estão disponíveis
para obtenção de cerâmicas celulares, como compactação isostática a quente
(HIP) sem cápsula, formação de bolhas (ou gases) em uma suspensão ou em
estado verde durante tratamento térmico adequado, sinterização reativa,
controle das condições de sinterização para se obter uma densificação parcial,
empilhamento de grânulos ou fibras pré-sinterizados, métodos aero-gel e sol-
gel, pirólise de vários aditivos orgânicos ou principalmente o método de
esponja polimérica, provavelmente o mais estudado e que utiliza impregnação
de resinas poliméricas (BERNARDIN et al., 2007).
O método de formação de bolhas (gases) foi patenteado pela
primeira vez em 1973. Neste método, uma mistura contendo os constituintes
desejados é tratada de modo a envolver um gás o qual cria bolhas, tornando o
material esponjoso. Sunderman e Viedt misturaram argilas a diversos
propelentes como carbeto e hidróxido de cálcio, sulfato de alumínio e peróxido
de hidrogênio. Em meio ácido podem ser utilizados metais que evolvem
hidrogênio, como Mg, Ca, Cr, Mn, Fe e Co; em meio básico normalmente é
utilizado Al. Mesmo neste caso etapas de secagem e sinterização são
necessárias para desenvolver um esqueleto cerâmico de suporte (BERNARDIN
et al., 2007).
O método de formação de bolhas por evolução de gases utilizando
Al metálico em meio básico tem sido utilizado comercialmente no Brasil para a
produção de concretos celulares, onde Al metálico é adicionado à mistura
fresca do cimento, que é um meio básico, causando assim a formação de
bolhas.
Agentes espumantes como sílica gel, negro de fumo, talco e mica
podem ser adicionados para dar uniformidade na formação da espuma, mas
também CFC�s já foram utilizados com muita facilidade por formarem finas
gotas dispersas em uma suspensão, com auxílio de um surfactante para
dispersar o gás e estabilizar as bolhas.
O método de formação de bolhas permite a obtenção de espumas
de poros fechados de pequenas dimensões, o que não é possível com as
técnicas de impregnação. Utilizando este método, podem-se obter cerâmicas
28
celulares com densidades tão baixas quanto 0,2 g/cm³ sem dificuldades
(BERNARDIN et al., 2007). Este método é o mais adequado para o uso de
resíduos industriais como matéria-prima para fabricação de espumas
cerâmicas a partir da evolução de gases, objeto de estudo deste trabalho.
Como o carbeto de silício (SiC) presente no resíduo de polimento é o
agente de expansão considerado neste trabalho, o próximo item descreve a
ação do oxigênio sobre este material.
2.4. Oxidação do carbeto de silício
O carbeto de silício foi descoberto acidentalmente em 1890 por
Edward G. Acheson, um assistente de Thomas Edison, quando estava fazendo
um experimento de síntese de diamantes. Acheson imaginou que o novo
material fosse um composto de carbono e alumina presente na argila, levando-
o a chamá-lo �carborundum�, nome ainda utilizado em algumas ocasiões. O
carbeto de silício ocorre naturalmente em alguns meteoritos, porém muito
raramente e em pequenas quantidades. Como descobridor do SiC Acheson foi
o primeiro a sintetizá-lo passando uma corrente elétrica através de uma mistura
de argila e carbono. Hoje o SiC ainda é produzido via reação em estado sólido
entre areia (dióxido de silício) e coque de petróleo (carbono) a temperaturas
muito elevadas em um forno a arco elétrico (RASHED, 2002; ASTM, 1973).
A formação de SiC a partir da reação entre silício e carbono ocorre
em temperaturas abaixo do ponto de fusão do silício. A reação contrária,
formando SiO (gás) ou SiO2 (sólido) e CO ou CO2 (ambos gases) ocorre por
reação do SiC em presença de atmosfera oxidante.
Em geral o SiC tem uma excelente resistência à oxidação até
1.650°C. Porém, esta resistência depende muito da porosidade aberta e do
tamanho de partícula, o que determina a área superficial exposta ao oxigênio.
Quanto maior a área superficial maior a taxa de oxidação. Cineticamente, o SiC
é estável em ar até 1.000°C. entre 1.000°C e 1.150°C a oxidação superficial é
termodinamicamente favorecida e resulta na formação rápida de um fino filme
de sílica (SiO2). Acima de 1.150°C o filme de sílica espessa e densifica,
resultando em uma difusão mais lenta do oxigênio, diminuindo a taxa de
29
oxidação, pois passa a prevalecer um mecanismo de oxidação passiva
(RASHED, 2002).
Os fatores que afetam a estabilidade e integridade da camada de
sílica como um filme protetor incluem a presença de impurezas no material,
que tendem a diminuir a viscosidade do filme de sílica, aumentando assim a
mobilidade em massa dos agentes oxidantes. Acima de 1.650°C reações
interfaciais entre o filme de sílica e o substrato de SiC tornam-se aparentes,
resultando na formação de SiO volátil e CO gasoso. Estes produtos gasosos
tendem a romper o filme de sílica, abrindo novamente novos canais para mais
oxigênio difundir e a oxidação continua (RASHED , 2002).
Neste caso o mecanismo de oxidação muda do modo passivo, onde
o filme de SiO2 é denso e estável, para o modo ativo, onde a camada de sílica
é porosa e fraca. A presença de vapor de água em uma atmosfera oxidante
também faz com que o filme de sílica seja mais poroso, aumentando a taxa de
oxidação de materiais feitos de SiC. Em geral, a taxa de oxidação de SiC é
mais lenta em ar seco e aumenta em pressões parciais de O2, CO2 e H2O.
30
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho foram utilizados resíduos fundentes do processo de
polimento do grês porcelanato. O carbeto de silício contido no próprio resíduo é
o agente expansor e o resíduo fundente a base dos corpos cerâmicos para os
artefatos expandidos. Ambos os materiais encontram-se misturados nas tortas
formadas a partir dos efluentes tratados na ETE da empresa Portobello, que
doou o resíduo para estudo. Como mencionado anteriormente, a técnica de
formação da cerâmica celular obtida é a de formação de bolhas ou gases
durante sinterização do resíduo em forno a rolos industrial.
Neste capítulo são descritas as técnicas de caracterização do
resíduo obtido na ETE da empresa Portobello (3.1), a preparação das amostras
(3.2) e a caracterização das cerâmicas celulares obtidas (3.3).
3.1. Caracterização das amostras
Amostras do resíduo de polimento de grês porcelanato foram
encaminhadas ao Laboratório de Análises em Minerais e Rochas (LAMIR) do
Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para
determinação de sua composição química, por fluorescência de raios X (FRX),
e mineralógica, por difração de raios X (DRX). As análises químicas foram
realizadas em pérola fundida, por fluorescência de raios X (Philips PW2400).
As análises de fases foram realizadas com as amostras secas, pulverizadas,
por difração de raios X (Philips PW 1830). As fases foram identificadas com
auxílio do aplicativo X�Pert HighScore (Philips).
As amostras do resíduo também foram submetidas à análise térmica. O
ensaio foi realizado nos laboratórios do curso de Engenharia de Materiais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, sendo utilizado um sistema
de análise térmica diferencial BP Engenharia modelo RB3000, com taxa de
aquecimento de 10°C/min. Os resultados de todas as análises encontram-se no
capítulo 4.
3.2. Preparação das amostras
31
São descritas a amostragem do resíduo e sua homogeneização
(3.2.1), a preparação dos corpos-de-prova (3.2.2) e a sinterização das
amostras (3.2.3).
3.2.1. Resíduo de polimento do grês porcelanato
O resíduo chamado de �lodo�, proveniente do setor de polimento,
passa por um processo de prensagem em um equipamento chamado filtro-
prensa na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), para retirada da água
residual, sendo depois armazenado em aterros.
As amostras utilizadas foram coletadas no aterro (depósito de
resíduo) da Cerâmica Portobello. A coleta das amostras foi feita em três pontos
diferentes do aterro; em seguida, estas foram misturadas em uma só amostra
de referência, visando maior homogeneidade; logo após a amostra de
referência foi mantida em estufa durante 24h à temperatura de 110°C, para se
obter um material seco e sem umidade.
3.2.2. Preparação dos corpos-de-prova
O resíduo homogeneizado foi umedecido com água (6% em massa),
granulado manualmente e então compactado em uma prensa do Laboratório
de Processos Cerâmicos do SENAI Tijucas (SACMI PL) com pressões de
compactação de 300 kgf/cm², 350 kgf/cm² e 400 kgf/cm², formando corpos-de-
prova cilíndricos (50 mm de diâmetro e 8 mm de altura). Foram compactados
trinta corpos-de-prova para cada formulação.
3.2.3. Sinterização das amostras
Após compactação, os corpos-de-prova foram secos em estufa
(110°C por 24 h) e então sinterizados em forno a rolos industrial do Laboratório
de Processos Cerâmicos do SENAI Tijucas. Foram utilizadas três curvas para
verificar qual o ciclo era o mais adequado para o desenvolvimento do produto,
32
com base na caracterização térmica (ATD) do resíduo de polimento, e também
em estudo inicial desenvolvido por SILVA (2005).
As curvas de sinterização utilizadas foram: ciclo industrial em forno a
rolos de 70 min com três máximas temperaturas de patamar, 1.150°C, 1.170°C
e 1.190°C, sendo as amostras queimadas sobre uma grelha de amianto e as
peças tratadas em forno vazio.
Após tratamento térmico as peças foram caracterizadas quanto a
sua densidade aparente, expansão linear, absorção de água e resistência
mecânica por compressão diametral.
3.3. Caracterização da cerâmica celular
As amostras expandidas de cerâmica celular foram analisadas
quanto a sua densidade, expansão linear e resistência mecânica por
compressão diametral. Também foi analisada a microestrutura da amostra
tratada a 1.190°C.
3.3.1. Determinação da expansão linear
Antes de se iniciar a sinterização das amostras, foi realizada a
medição das dimensões iniciais (Li) das mesmas com um paquímetro. Após
sinterização foi efetuada a medição das dimensões finais (Lf), também com
paquímetro, para se calcular a expansão média das peças, utilizando-se a
equação 1. Foram utilizadas dez amostras para cada tratamento. O ensaio foi
realizado no Laboratório de Processos Cerâmicos do SENAÏ Tijucas.
100.Lf
LiLf(%)ansãoexp
−= (1)
3.3.2. Determinação da densidade aparente (DAP)
A determinação da densidade aparente foi realizada com as
amostras já sinterizadas, após expansão. Para determinação da DAP foi
33
utilizado o método de imersão em mercúrio. O ensaio foi realizado no
Laboratório de Processos Cerâmicos do SENAÏ Tijucas
Para o cálculo da densidade aparente (DAP) por imersão em
mercúrio foi utilizada a equação 2, onde DAP é a densidade aparente (g/cm³);
Ms a massa da amostra sinterizada (g); Mm a massa da amostra submersa em
mercúrio (g) e dHg a densidade do mercúrio (13,5325 g/cm³). Os resultados de
densidade aparente são expressos em g/cm³.
HgAP dMmMs
D = (2)
3.3.3. Resistência mecânica por compressão diametral
O ensaio foi realizado em uma máquina universal de ensaios (EMIC
DL 10000) com velocidade de aplicação de carga de 10 mm/min. Para este
ensaio foram utilizadas cinco amostras para cada tratamento. O ensaio foi
realizado no Laboratório de Processos Cerâmicos do SENAÏ Tijucas.
A tensão de ruptura à flexão na compressão é expressa em kgf/cm²
e foi calculada pela equação 3, onde P é a força aplicada para ruptura (kgf); D
é o diâmetro do corpo-de-prova (cm) e t sua espessura (cm), segundo ASTM C
496:
DtπP2
σruptura = (3)
3.3.4. Caracterização microestrutural
A microestrutura das cerâmicas celulares foi determinada por
microscopia eletrônica de varredura (MEV). Foi utilizado um microscópio Philips
XL 30, sendo a amostra recoberta com ouro e utilizada uma tensão de
operação de 20kV. O ensaio foi realizado no Laboratório de Caracterização
Microestrutural do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo são discutidos os resultados de caracterização do
resíduo de polimento (4.1) como também da densidade aparente obtida (4.2.1),
expansão após queima (4.2.2), da resistência mecânica por compressão
diametral (4.2.3) e análise microestrutural (4.2.4) das cerâmicas celulares
obtidas.
4.1. Caracterização físico-química do resíduo
A tabela 2 apresenta os resultados da análise química e de fases
das amostras de resíduo de polimento utilizado neste estudo.
Tabela 2. Análise química e de fases das amostras
amostra SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 CaO MgO K2O Na2O P.F. fases
resíduo 59,5 17,3 0,7 0,3 1,6 5,3 2,8 3,6 5,6 Q, Z, Al
onde: Q é quartzo; Z é zircão (SiO2.ZrO2) e Al é albita.
Fonte: LAMIR, 2007
Como pode ser observado o resíduo de polimento é composto por
quartzo (JCPDS 83-0539), zircão (JCPDS 71-0991) e albita (JCPDS 01-0739),
ou seja, as fases majoritárias de uma massa de grês porcelânico, figura 1.
Nesta amostra não se identificou mulita, fase que normalmente se desenvolve
após a queima dos grês porcelanatos.
Deve-se ressaltar a quantidade de alcalinos e alcalino-terrosos
presentes neste material, de 13,3% em massa dos óxidos de cálcio, sódio,
magnésio e potássio, o que demonstra a boa vitrificação da amostra.
35
Figura 1. Difratogramas dos resíduos de polimento e do abrasivo. Qz
é quartzo; Zr é zircônio (SiO2·ZrO2); Ab é albita; Hlt é halita
(NaCl); Dlm é dolomita; Clt é calcita; Mgn é magnesita; Cln é
clinocloro; Plt é portlandita (Ca(OH)2).
O ensaio de análise térmica da amostra de polimento (figura 2)
mostra uma série de acidentes endotérmicos entre 57°C e 402°C relativos à
decomposição de resíduos carbonosos presentes na amostra. Deve-se
salientar que as amostras foram obtidas no filtro-prensa da estação de
tratamento de efluentes da empresa. Em 1.103°C verifica-se um pico
endotérmico relativo à temperatura de transição vítrea (Tg) da amostra.
Esta temperatura indica o ponto onde as partículas do resíduo
deixam de ser um sólido rígido e começam a adquirir viscosidade, ou seja, é a
temperatura onde o resíduo vítreo começa a ser trabalhável. Acima desta
temperatura a amostra começa a se transformar em uma massa viscosa e
plástica, selando a superfície e assim retendo os gases gerados pela oxidação
do carbeto de silício, causando assim a expansão dos corpos-de-prova. E o
início da formação das cerâmicas celulares.
36
Figura 1. Análise térmica diferencial da amostra de resíduo de polimento
(UNESC, 2007)
4.2. Caracterização físico-mecânica e microestrutural das cerâmicas celulares
A partir da caracterização do resíduo de polimento foram obtidos
corpos-de-prova para três pressões de compactação: 300 kgf/cm², 350 kgf/cm²
e 400 kgf/cm². Para cada condição de compactação foram sinterizadas
amostras em três patamares máximos distintos: 1.150°C, 1.170°C e 1.190°C.
Em seguida, os corpos celulares foram caracterizados quanto a sua densidade
aparente, resistência mecânica à compressão diametral, absorção de água e
expansão linear.
4.2.1. Densidade aparente
Com o aumento da temperatura de tratamento, a densidade
aparente (DAP) dos corpos-de-prova sinterizados (compactados nas três
pressões específicas) torna-se cada vez menor, isso devido à expansão
proporcionada pela oxidação do carbeto de silício a partir de 1.000°C (figura 3),
aumentando a quantidade de poros na matriz vítrea.
37
Figura 2. Evolução da densidade aparente dos corpos-de-prova sinterizados
em função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento
(AUTOR, 2007).
É interessante observar a pequena variação de densidade aparente
em função da pressão específica de prensagem, sendo que a variação de
densidade aparente é função principalmente da temperatura de tratamento: a
1.150°C a densidade média varia de 1,98 g/cm³ quando as amostras são
compactadas a 300 kgf/cm², a 1,95 g/cm³ quando compactadas a 400 kgf/cm³.
Porém, a 1.170°C a densidade aparente média estabiliza-se a 1,29 g/cm³ para
qualquer pressão de compactação.
Infelizmente as amostras tratadas a 1.190°C fraturaram dentro do
forno, não sendo possível a determinação das propriedades dos cerâmicos
tratados a esta temperatura. SILVA (2005) obteve densidades aparentes
médias tão baixas quanto 0,3 g/cm³ com as amostras tratadas a 1.180°C em 20
min de patamar, mas em forno muflado de laboratório.
Deste modo, percebe-se a grande influência que o tratamento
térmico � em função da temperatura máxima e tempo de patamar � causa na
expansão das amostras quando se utiliza resíduo vítreo para fabricação de
cerâmicas celulares.
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
2,20
300 350 400pressão (kgf/cm²)
DAP
(g/c
m³) 1150°C
1170°C
38
4.2.2. Resistência mecânica por compressão diametral
Com relação à resistência mecânica por compressão diametral das
amostras sinterizadas observa-se a redução da resistência mecânica com o
aumento da temperatura de tratamento. Esta redução ocorre devido ao
aumento da quantidade e tamanho de poros com o aumento da temperatura de
tratamento: a resistência à compressão diametral média das amostras reduziu
de 10,1 MPa a 11,5 MPa (no intervalo entre 300 kgf/cm² a 400 kgf/cm² de
pressão de compactação) para 1150°C, para 2,50 MPa a 4,96 MPa (nas
mesmas condições), a 1.170°C, como demonstra a figura 4.
Figura 3. Evolução da resistência mecânica por compressão diametral dos
corpos-de-prova sinterizados em função da pressão de compactação e da
temperatura de tratamento (AUTOR, 2007).
Também houve variação da resistência à compressão diametral
entre as pressões de compactação, sendo mais intensa para 1.170°C de
tratamento térmico, com uma variação de 98,4% entre as pressões de 300
kgf/cm² e 350 kgf/cm², sendo que a variação reduz-se para 38,4% entre 300
kgf/cm² e 400 kgf/cm².
Apesar da redução da resistência mecânica com o aumento
temperatura de tratamento, verifica-se que o produto apresenta resistência
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
300 350 400pressão de compactação (kgf/cm²)
resi
stên
cia
à co
mpr
essã
o (M
Pa)
1150°C1170°C
39
mecânica adequada para várias aplicações, como por exemplo, o uso na
construção civil substituindo o concreto celular ou mesmo substituindo as
argilas expandidas utilizadas no preenchimento de lajes. Não foi possível a
análise das peças tratadas a 1.190°C, devido à perda das amostras no
processo de queima.
4.2.3. Expansão linear após sinterização
As amostras, depois de sinterizadas, apresentaram uma expansão
relativamente alta e gradativa com o aumento da temperatura de tratamento
térmico (figura 5), ficando claro que com o aumento da temperatura a expansão
tende sempre a aumentar, devido a maior porosidade gerada. Isto resulta de
dois fatores que se complementam: com o aumento de temperatura ocorre
maior formação de fase vítrea e diminuição de sua viscosidade, o que aumenta
a impermeabilidade das amostras, que retêm mais gases. Em segundo lugar
com aumento da temperatura aumenta a taxa de oxidação do SiC, resultando
em maior liberação de CO, CO2 e até mesmo SiO gasoso.
Figura 4. Evolução da expansão linear dos corpos-de-prova sinterizados em
função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento (AUTOR,
2007).
-
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
300 350 400pressão (kgf/cm²)
expa
nsão
line
ar (%
)
1150°C1170°C
40
Deve-se observar que com o aumento da pressão de compactação
ocorre uma diminuição da expansão linear, mostrando que amostras muito
compactas diminuem a oxidação das partículas de carbeto de silício presentes
no resíduo de polimento, diminuindo assim a formação de gases de reação.
Novamente, é grande o efeito da temperatura sobre a expansão
linear após queima: um aumento de apenas 20°C na temperatura de
tratamento causa um aumento médio de expansão de 1,7% a 3,1%, para as
amostras tratadas a 1.150°C, e 12,3% a 13,8%, quando as amostras são
tratadas a 1.170°C. Não foi possível a análise das peças tratadas a 1.190°C,
devido à perda das amostras no processo de queima.
4.2.4. Absorção de água das amostras
Apesar de o resíduo ser vítreo, as amostras apresentaram absorção
de água significativa para produtos vitrificados (figura 6). Neste caso, o
aumento da temperatura de tratamento causou um aumento na absorção de
água média. É interessante notar que para a pressão de compactação de 350
kgf/cm², para ambas as temperaturas de tratamento, houve a maior absorção
de água média: a 1.150°C foi de 1,80%, subindo para 3,17% a 1.170°C. Esta
absorção pode ser problemática dependendo da aplicação que se faça da
cerâmica celular obtida.
41
Figura 5. Evolução da absorção de água dos corpos-de-prova sinterizados em
função da pressão de compactação e da temperatura de tratamento (AUTOR,
2007)
Não foi possível a análise das peças tratadas a 1.190°C, devido à
perda das amostras no processo de queima.
4.2.5. Microestrutura
Finalmente, na figura 7 pode-se perceber a microestrutura das
amostras queimadas a 1.190°C, onde há em média 6,5 poros por cm linear da
amostra analisada. Os poros podem atingir até 500 µm de diâmetro, e são
totalmente fechados e arredondados, o que pode explicar a boa resistência
mecânica do produto, apesar da baixa densidade. Especula-se que o produto
apresenta boa isolação térmica e acústica, porém estas propriedades não
foram analisadas neste estudo.
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
300 350 400pressão (kgf/cm²)
abso
rção
d'á
gua
(%)
1150°C1170°C
42
Figura 6. Microestrutura de amostra queimada a 1.190°C (MEV) (LCM, 2007)
Como a produção em escala desse tipo de material não tem
precedente, há a possibilidade de serem realizados testes em escala maior de
produção, semi-industrial, por atomização, conformação em prensa hidráulica e
queima do material em forno a rolos a uma temperatura próxima a 1.200ºC.
Uma alternativa para o processo de atomização seria confeccionar as peças
por moagem via seca, umidificação e conformação por extrusão, obtendo-se
blocos de cerâmica expandida.
43
5. CONCLUSÃO
A composição químico-mineralógica dos resíduos de polimento do
grês porcelanato é, basicamente, uma massa de grês porcelanato, contendo
grande quantidade de óxidos alcalinos e alcalino-terrosos, com presença de
quartzo, albita e zircão. A quantidade de óxidos fundentes permite a obtenção,
durante queima, de corpos vítreos que impermeabilizam a superfície das
amostras se estas forem tratadas acima de sua Tg, que para o resíduo
estudado é de aproximadamente 1.100°C, causando a formação de poros por
transformação de gases gerados pela oxidação de carbeto de silício contido
nos resíduos.
Com relação à densidade aparente, há grande influência da
temperatura máxima de tratamento térmico na expansão das amostras quando
se utilizam resíduos vítreos para fabricação de cerâmicas celulares devido à
porosidade formada. Não houve grande efeito na densidade quando a pressão
de compactação foi variada para uma mesma temperatura de tratamento.
Para resistência mecânica à compressão diametral das amostras,
observa-se que com o aumento da temperatura de tratamento houve
diminuição da resistência: o aumento da temperatura de tratamento térmico de
1.150°C para 1.170°C causou a diminuição da resistência à compressão de
11,9 MPa (média entre as pressões de compactação) para 3,7 MPa. A variação
de pressão de conformação em uma mesma temperatura também causou
variação da resistência à compressão, sendo que o máximo das resistências
ocorre para a pressão de conformação de 350 kgf/cm².
A expansão linear das amostras é muito afetada pela temperatura de
tratamento: um aumento de apenas 20°C na temperatura máxima de
tratamento causa um aumento médio de expansão de 650%. Com o aumento
da pressão de compactação em uma mesma temperatura ocorre diminuição da
expansão linear, mostrando que amostras muito compactas diminuem a
oxidação das partículas de carbeto de silício presentes no resíduo de
polimento, diminuindo assim a formação de gases de reação e a expansão
final.
Para a absorção de água das amostras, o aumento da temperatura
de tratamento causou um aumento na absorção de água média. A pressão de
44
compactação também altera a absorção em uma mesma temperatura de
tratamento. A 1.170°C a absorção média é de 3%.
Com relação à microestrutura das amostras, estas se apresentam
com poros de vários tamanhos totalmente arredondados, mostrando a
eficiência do processo de formação de bolhas a alta temperatura pela utilização
de carbeto de silício.
Com este projeto espera-se a obtenção de artefatos cerâmicos
expandidos com boas características mecânicas, térmicas e acústicas.
Produtos de tal natureza poderiam ser utilizados como substitutos ao
poliestireno expandido na preparação de lajes em edifícios, adicionados na
massa de artefatos cerâmicos como blocos de concreto ou similares em
percentuais a definir, e também substituir papel e madeira nas divisórias
internas. Deste modo, além da utilização de resíduos industriais sólidos, estar-
se-ia evitando a degradação do meio ambiente pelo corte de árvores ou pela
geração de mais resíduos devido ao uso de materiais poliméricos.
45
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