oab ensino jurídico- balanço de uma experiência
DESCRIPTION
OABAVALIAÇÃO DO ENSINO JURIDICOTRANSCRIPT
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 1/240
OAB En s i n o Ju r í d i c o
B a l a n ç o d e u m a
E x p e r i ê n c i a
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 2/240
D i r e t o r i a ;
R e g i n a l d o O s c a r d e C a s t r o
U r b a n o V i t a l i n o d e M e l o F i l h o
M a r c e l o G u i m a r ã e s d a R o c h a e S ilv a
C a r l o s A u g u s t o T o r k d e O l i v e i r a
R o b e r t o A n t o n i o B u s a t o
P r e s i d e n t e
V i c e - P r e s i d e n t e
S e c r e t á r i o - C e r a l
S e c re t á ri o - G e ra l A d j u n t o
D i r e t o r T e s o u r e ir o
M e m b r o s H o n o r á r i o s V i t a l í c i o s ;
A l b e r t o B a r r e to d c M e l o , L a u d o d e A l m e i d a C a m a r g o , J o s^ C a v a l c a n ti N e v e s , C a i o M i r i o d a S i lv a
P er ei ra , R a y m u n d o F a or o , E d u a r d o S e a b r a F a g u n d es , } . B e r n a r d o C a b r a l , M á r i o S é r g i o D u a r t e G a r c i a ,
H e r m a n n A s si s B a e ta , M á r c i o T h o m a z B a st os , O p h i r F i lg u e ir as C a v a l c a n te , M a r c e l l o L a v e n cr e M a c h a d o ,
J o s é R o b e r t o B a t o c h i o , E r n a n d o U c h ò a L i m a .
C o n s e l h e i r o s F e d e r a i s ;
A C : M a r c e l o L a v o c at G a i v ã o , R o b e r t o R o s as , S ér g i o F er ra z ; A L ; A n t ô n i o N a b o r A re i as B u l h õ e s . M a r c o s
B e r íi a r d es d e M e l l o , M a r i a d o S o c o r r o V a z T o r r es ; A M ; E z e la i d e V i cg a s d a C o s t a A l m e i d a , j o s é P a iv a d e
S o u z a F i l h o, M a r i a D o m i n g a s G o m e s L a r a n je i ra ; A P ; C a r l o s A u g u s t o T o r k c ie O l i v e ir a , G u a r a c y d a
S il va F r e it a s, P a u l o J os é d a S il va R a m o s ; B A : P e d r o M i l t o n d e B r i to , S a u l V e n ã n c i o d e Q u a d r o s F i lh o ,
Y on Yv es C o e l h o C a m p i n h o ; C F.: M a r c e l o V i n í ci u s G o u v e i a M a r t i n s , M a r c o s A n t ô n i o P ai va C o la r es ,
R a i m u n d o B e z e r ra F al cã o ; D F ; E s d r a s D a n t a s d e S o u z a , L u i z F i l ip e R i b e ir o C o e l h o . M a r c e l o H e n r i q u e s
R i b e i r o d e O li v e i ra : E S: A n t ô n i o A u g u s t o G c n c l h u J ú n i o r , A n t ô n i o J o s é F er re i ra A b ik a ir , L u i z A n t ô n i o
d e S o u z a B as íl io ; G O : E d m a r L á z ar o B o r g es , J o s é P o r f í ri o T e le s, W a n d e r l e y d e M e d e i r o s ; M A : C a r l o s
S e b a s t i ã o Si lv a N m a , J o s é B r i t o cie S o u z a , J o s é C a r l o s S o u s a S i lv a; M G ; J o ã o O t á v i o d e N o r o n h a , J o s é
M u r i lo P r o c ó p io d e C a r v a l h o , R a i m u n d o C â n d i d o J ú n i o r ; M S ; E l id e R i g o n , Jo sé W a n d e r l e y B ez er ra
A lv es , L e o n a r d o N u n e s d a C u n h a ; M T ; I va n Sz e li g ow s ki R a mo s < R e n a t o C é s a r V i a n n a G o m e s , R o b e r t o
D i as d c C a m p o s ; P A; C l ó v i s C u n h a d a G a m a M a l c h e r F il h o, E u d i r a c y Al ve s da S ilv a, S é r g io A l b er t o
F r a zá o d o C o u t o ; P B ; J o s é A r a ú j o A g r a , L e i d s o n M e l r a F ar ia s , N a d j a D i ó g e n e s P a l i t o t y P a l i to t ; P E ; J o ã o
H u m b e r t o d e F a ri as M a r t o re l l i, Jo s é J o a q u i m d e A l m e i d a N e t o , U r b a n o V i c a l in o d e M e l o F i l h o ; P L
F i d es A n g él i ca d e C a s t r o V. M . O m m a t i , J o ã o P e d r o A y r i m o r a e s S o ar e s , R o b e r t o G . d e F r e i ta s F il h o;
P R ; A l b e r t o d c P a u l a M a c h a d o , A l f t e d o d e As si s G o n ç a l v e s N e t o , R o b e i t o A n t ô n i o B u s a t o ; R j : A l fr ed o
J o s é B u m a c h a r F i l h o , J o s é C a r lo s S a n t o s C a t a l d i , E s t e r Ko s o v s k i ; R N : A d i l s o n G u r g e l d e C a s t r o , H é l i o
X a v i e r d c V a s c o n ce l o s, P a u l o L o p o S a ra i va ; R O : F r a n c i s c o A q u i l a i i d e P a u la , H e i t o r M a g a l h ã e s L o p es ,
O d a i r M a r t i n i ; R R : A n t o n i e t a M a g a l h ã e s A g u i a r , E l e n a N a t c h F o r t es , H e l d e r F i g u e i r e d o P er ei r a; RS :
| a i r B a l d ez M o r a l e s , J o r g e L u i z G a r c i a d e S o u z a , N e r c u L i m a ; S C ; A n g e l i t o l o sé B a r b i er i , J o s é G e r a l d o
R a m o s V i r m o n d , O s w a l d o J o s é P ed r e ir a H o r n ; S E : E d s o n U l is s es d e M e l o , J o r g e A u r é l io S i lv a, Jo sé
A l v i n o S a n t o s F i l h o ; S P ; C l e m e n t e C a v a s a n a , M a r c e l o G u i m a r ã e s d a R o c h a e S i l v a , P a u l o N i m e r ; T O ;
E r cí l io B e z er r a d e C a s t r o F i l h o , I v a ir M a r t i n s d o s S a n t o s D i n i z , S a d y A n t ô n i o B o e s si o P i g a tt o .
C o m i ss ã o d e E n s i n o J u r íd i c o - 1 9 9 8 / 2 0 0 1
A d i l s o n G u r g e l d e C a s t r o ( P r e si d e n te ) , J o s é G e r a l d o d e S o u z a J ú n i o r ( V i c e -P r e s id e n t e ) ; M e m b r o s
e fe ti vo s; M a r íl i a M u r i cy , A n t o n i o Jo s é F e r re i ra A b ik a i r, P a u l o R o b e r t o d e G o u v ê a M e d i n a ; M e m b r o s
c o n s u l t o r e s ; J o s é M a u r í c i o L e i t ã o A d e o d a t o , Á l v a r o M e l o F i l h o , J o s é A d r i a n o P i n t o . P a u l o L u i z N c t t o
L ô b o .
R e v i s or ; J o ã o M a u r í c i o L e it ã o A d e o d a t o
A p o i o t é c n i c o e a d m i n i s t r a t i v o :
A n n i b a l D i a s d e F i g u e i r e d o N e t oB i s t r a S t e f a n o v a A p o s t o l o v a
C a r l o s A u g u s t o P e r e i r a L o p e s
I n é s d a F o n s e c a P o r t o
M a r a n a C o s t a B e b e r S t ef an e lo
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 3/240
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B r a s i l
C o n s e l h o F e d e r a l
O A B E n s i n o Ju r í d i c o
B a l a n ç o d e u m a
E x p e r i ê n c i a
Brasília, DF
2000
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 4/240
© Ordem dos Advogados do Brasi l
Conselho Federal , 2000
Ed i t o r ação e d i s t r i b u i ção :
G e r ê n c i a d c D o c u m c n t a ç ã o e I n f o r m a ç ã o
S e t o r d e A u t a rq u i a s S ul - Q . 5 - L o te 2 - Bl. N - S o br el oj a
B ra sília, D F - C E P 7 0 0 7 0 - 0 0 0
F o ne s : ( 61 ) 3 1 6 - 9 6 3 1 e 3 1 6 - 9 6 0 5
F ax : ( 6 1 ) 3 1 6 - 9 6 3 2
c-mai l : w e b m a s t e r @ o a b . o r g . b r
T i r a g e m ; 3 . 5 0 0 e x e m p l a r e s
C o o r d e n a ç ã o : L u i z C a r l o s M a r o c l o
C a p a : F o r u m P r o p a g a n d a
FICH A CATALOGRÁFICA
OA B Ensino Jurídico : balanço dc um a cxpcricncia Brasília, D F :
0 6 5 OAB, Conselho Federal, 2000.
245 p.
ISBN 85-87260-10-3
I. Ensino j urídico - Brasil. 2. Dire ito - Brasil. I. O rd em dos
Advogados do Brasil (OAB). Cons elho Federal. Comissão de Ensino
Jurídico.
C D D : 3 4 ! . 4 1 5 0 7
CDU: 34:378(81)
G D I / C F - O A B / L u i z C ar lo s M a ro c l o
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 5/240
SUMÁRIO
Apresentação...................................................................................................... 7
Reginald© Oscar de Castro
Pela melh oria do s cursos ju r íd ic o s ............................................................. 9
Adilson Giirgel de Castro
Juspedagogia: ensina r di re ito o D i re i to ..................................................... 37
ÁJvaro Melo Filho
Reflexões pedagógicas sobre a Port aria M E C n" 1 .8 8 6 /9 4 .................. 51
Antonio José Ferreira Abikair
Formação jurídica docente: conh ecim ento , atitudes,
operacionalização.............................................................................................. 67
João M aur íc io Adeodato
A uto no m ia universitária, s entim entos sociais e confro ntos
dc quaÜdadc do ensino juríd ico .................................................................. 89
José Adriano Pinto
Critérios e dou trina para aprovação c rejeição dc pro jeto s ................. 117
José Geraldo de Sousa Junior
A crise da universidade pública e o ensino ju rí d ic o ................................ 139
M arí lia Muricy
Ens ino juríd ico: realidade e perspectivas.................................................... 147
Paulo Luiz N et to Lobo
O ensino jurídico na literatura: testem un ho s e crítica s ......................... 163
Paulo Rober to de Gouvêa Medina
Mon ografia final: exigência de graduação em curso dc D ir e ito 173
Nel son Nery Cos ta
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 6/240
A N E X O S
1) Programação e conclusõcs do I Sem inário “O Ens ino Jurídico
no Limiar do Scculo XXI - C on stru ind o o Projeto Didático
pedagógico”, Nata l, R N ........................................................................ 213
2) Programação e conclusões do II Sem inário “O E nsin o Jurídico
no Limiar do Século XXI - Apre nder a Apre nder D ireito”,
Cuiabá, M T .............................................................................................. 219
3) Programação e conclusões do III Seminário “O Ensino Jurídico
no Limiar do Século XXI - Diálogo entre a Teoria e a Prática”,Belém, P A .................................................................................................. 227
4) Programação e conclusões do IV Seminário “O Ensino Jurídico
no Limiar do Scculo XXI - Aprend er a Ed uca r”, Vitória, E S 233
5) Programação do V Sem inário “O Ensino Jurídico no Limiar
do Século XXI - Diretrizes Curriculares: Balanço de uma
Experiência”, Florianópolis, S C ......................................................... 243
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 7/240
APRESENTAÇÃO
O lançamento do qu in to vo lume da co leção OAB Ens ino
Jurídico, sob o titulo de O AB Ensino Jurídico: Balanço de Uma Experiência, traz novam ente à colação o tem a da q ualidade d o ensino jurídico no País.
O que mais se evidencia em lançam entos com o este, prom ovido
pelo Cons elho Federal da OAB , com o valioso concurso de sua Com issão
de Ensino Jurídico, é uma característica singular, nunca ausente das
campanhas empreendidas pela entidade. Nestas, o diagnóstico e a denúncia,
por mais severos e incôm odo s q ue se mo strem , aca bam , invariavelmente,
sobrepujados pela pertinência e pela qualidade das terapias que a OAB
não se omite de propor.
Nossa histór ica campanha pela reforma do Poder Judiciár io
culminou com a entrega oficial ao Presidente da Comissão Especial da
Câmara dos D eputado s dc um a proposta de emend a constitucional visando
à referida reforma. É ocioso dizer qu e tal pro po sta acab ou send o, em boa
parte, incorporada ao projeto aprovado na Câmara dos Deputados, oraem votação no Senado Federal.
E o que, também, acontece relat ivamente à campanha pela
atualização e qualificação acadêmica dos cursos jurídicos . Ela deu ensejo à
elaboração de algumas propostas de elevado teor técnico-científ ico,
formuladas po r integrantes da Comissão de Ensin o Jurídico do Co nselho
Federal da OA B.
Tais estudos compõem a coleção OAB Ensino Jurídico, e forampublicados sob os títulos de Diagnóstico, Perspectivas e Propostas (1992);
Parâmetros para Elevação de Qualidade e Avaliação (1993); Novas Diretrizes
Curriculares (1996) e Ensino Juríd ico OAB , 170^ Anos de Cursos Jurídicos
no B ras i l{ \^^7) .
Todos eles lograram intensa repercussão no meio acadêmico e
prof issional . Todos t iveram suas edições rapidamente esgotadas e
im puser am a necessidade de sucessivas reimpressões.Todavia, o im pacto mais visível pr od uz ido po r tais estud os fez-se
sentir na Portaria M E C n° 1.886/94, que in stituiu as diretrizes curriculares
e o con teú do m íni m o dos cursos jurídicos no País.
7
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 8/240
Cu m pre noiar, entretanto, não ser próprio da OA B contentar-se
com resultados apenas parciais de suas cam panh as.
A cartografia dos pontos críticos que comprometem o ensino
jurídico brasileiro e os subsídios visando à implantação de um sistema
consis tcntc dc avaliação e de classificação desses cursos não rep rese ntam oesgotame nto das contribuições da dou ta Comissão dc En sino Jurídico do
Con selh o Federal da OAB.
Mestres consagrados do Direi to e especial is tas de renome,
nacion alme nte re conhecidos, seus integrantes trazem agora a lum e esta
nova publicação. Nela, o tem a do ensino jurídico é revisitado com refinado
apuro.
Novas conclusões e perspectivas são aduzidas. Busca-se projeta r oprofissional do direito que deverá atuar na Sociedade do século XXL
Quercm-no “qualif icado, ct ico e competente”. Configuram-no, ainda,
hábil no manejo dc material jurídico em constante mudança, segundo
preconiza Paulo Luiz Netto Lobo.
Daí, a preocu paç ão com a formação e qualificação do magistério
jurídico, para a qual novos instrum entos são ofertados.
Em suma, analisando-se as reflexões propostas em O A B Ensino
Jurídico: Balanço de Uma Experiência, colhe-se a impressão de que seus
ilustrados autores ca m inh am a passos seguros para a formulação de um a
''juspedagogia" que seria, noutras palavras, a arte c a ciência dc '^ensinar
direito o Direito \ segu ndo apr opria da expressão de Adria no Pinto.
Antevejo, para esta publicação, a mesma c esplêndida acolhida
que tiveram os lançamento s anteriores.
Reginaldo Oscar de Castro
Presidente do Conselho Federal da OAB
8
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 9/240
PELA MELHORIA DOS CURSOS JURÍDICOS
Adilson Gurgel de Castro
I N T R O D U Ç Ã O
Dep ois de um período on de nã o houve qua lqu er tipo de avaliação,
os cursos jurídicos olham em volta e se vêem ccrcados por um grande
nú m er o de instru me ntos para verificar com o estão se saindo. O cardápioparece não terminar; Exame de Ordem; comissões verificadoras; auto-
avaliação; “provão”; Comissão de Especialistas no Ensino do Direito, da
SE Su/ M EC ; C omissão de Ensino Jurídico, da OAB; pedido de autorização
para abertura de novos cursos; ped ido dc reconh ec ime nto de curso; projeto
OAB/Recomenda.
Rea lmente , o cerco parece ter sido feito aos cursos jurídicos, Mas,
é de se perguntar: por que tal procedim ento ? Por que n ão deixar qu e cadauniversidade, cada centro universitário, cada faculdade isolada cuide de
sua própria vida? Por que não deixar que a própria concorrência seja o
termômetro a decidir quais os cursos que podem preparar os bacharéis
cm Direito para o seu m ún us profissional?
Quanto mais a gente se pergunta, mais vai chegar ao ponto em
que se verifica que a avaliação faz parte de qua lquer planejamen to. Primeiro,
a realidade é sonha da e se prepara um projeto de com o será o me u cursode Direito. Depois, todo u m processo de solicitação de autorização para
funcionamento, envolvendo o Conselho Federal da OAB e o Conselho
Naciona l de Educação.
S u p e r a d a e ss a p r i m e i r a “ a v a l i a ç ã o ” - q u e é m a i s u m
“acrcd itam ento ”, - com eça a segunda fase do que estava planejado: a
execução do qu e foi pensado e autorizad o. O vestibular é feito e as turmas
começam a funcionar e os alunos em breve vão estar se graduando. No
entanto, para que o dip lom a tenh a validade, necessário o reconhecimento
d o cu r so . E v em u m a p r i m e i r a g r an d e av a l i ação ; o p ed i d o d e
9
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 10/240
rcc on he dm en to. Aqu i vai se verificar se aquele voto de confiança da do ao
projeto (que cha ma mo s de “acr edit am ent o”) está send o correspon dido na
realidade fática. Exa mina-se a execução do proje to didático-pedagógico,
o corpo docente, as instalações físicas, a biblioteca, o laboratório de
informática, o núclco de prática jurídica e tu do mais que foi pro m etidorealizar c cumprir.
Depois do reconhecimento, dado por um certo núm ero de anos
(que náo ultrapassa cinco), o curso f orm a suas turm as e os bacharelandos,
antes mesmo de receberem o diploma, são subm etidos ao Exame Nacional
de Cursos, mais conhe cido pelo apelido; Provão.
Supe rada a fase universitária e assim q ue recebe m seus diplomas
em Direito, os bacharéis verificam (alguns até com surpresa) que odo cu m en to de conclusão do curso não os habilita imedia tam ente a coisa
alguma... E logo são subme tidos a Exame de O rd em e a concursos públicos
dc provas e de límlos, para po der em exercer um a profissão jurídica. Tu do
isso significando novas avaliações do curso, mesmo indiretas.
Doravante, vai ser sempre assim; os cursos de Direito vão estar
sendo c onst antem ente avaliados, que r direta, qu er indiretamente!
O qu adr o qu e se aprese nta nos faz pensar e refletir: qual o sentidodc tu d o isso? Mais ainda; qual o sen tido de se ter um curso jurídico? Para
responder, recordamos uma historinha (em qua drinh o, m esmo) na qual
um aluno, indagado se tinha alguma pergunta a fazer, fulmina a sua
professora com sua grande dúvida; “qual o sentido da vida?” E a
surpree ndida mestra se desculpa dizendo qu e queria saber se havia alguma
questão sobre o que acabava de ser explicado “em sala de aula”. E a historinha
termina, no últ imo quadrinho, como o menino cabisbaixo a lamentar;
‘‘Q u e pena! Eu queria tanto saber o sen tido da vida para p ode r saber on de
gastar minh as ou tras energias”.
Pod emo s tirar dua s lições dessa estória; prime iro, a faculdade de
Di re ito não é só para se apre nd er o q ue está nos livros e sim o qu e está na
vida, ta mb ém ; segund o, se não soub erm os o sentido da nossa vida e do
nosso curso, desperdiça remo s nossas energias em vão ou a esmo.E po r isso qu e fir ma mos nossa cren ça de que, para se saber qual o
sentido de se ter (ou dc se fazer) um curso jurídico, deve-se buscar a resposta
necessariamente no sentido q ue p rete nde mo s dar a nossa vida. Para que
10
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 11/240
ela possa ser mais bem vivida por todos, necessário que se lute por uma
melhor sociedade, com justiça para todos. E as Faculdades de direito, talvez
mais do que qualquer outro curso superior, têm todas as condições de
fazer realizar esse desiderate; cornar o m u n d o m elh or e mais justo.
Pedimos licença a qu em pensa em contrário , mas é inadmissível sedizer que a educação é “um negócio” com o out ro qualquer. Afinal, estamos
lidando com a formação integral e ctica do ser hu m an o e com suas próprias
vidas.
Neste artigo, pretendemos colocar algumas idéias a respeito do
assunto. Para tanto, vamos iniciar com um breve histórico dos cursos
jurídicos no Brasil e, em seguida, falarmos da participação da OA B e de
outras instituições no processo, procurando mostrar o porquê de assimagirem. Continuaremos comentando a respeito das avaliações que são
feitas dos cursos e dos seus bacharéis em Di reit o (pela própria sociedade e
por rodas as instituições envolvidas). Depois, mostramos qual o perfil e
quais as habilidades q ue deve m ser observadas n a form ação dos bacharéis
em Direi to (desde logo, chamando a atenção para o fato de que,
infelizmente, poucos professores sabem q ue a hab ilidade mais exigida por
todos é um a que não se exige de mane ira algum a do bacharel em Direito:memorizar as coisas). A partir daí, entramos na busca da qualidade no
ensino juríd ico e fazemos algumas consideraçõe s finais.
Em tud o isso, guiou-nos o desejo prof un do de dar um a parcela de
contribu ição para os estudos e as práticas em prol da m elhoria do ensino
jurídico. Jamais tivemos a pretensão de pontificar a respeito. Sim, pois
temos plena consciência que, nesta área, cada dia aprendemos algo de
novo.
H I S T Ó R I C O D O S C U R S O S J U R Í D IC O S
As faculdades de D ireito foram criadas no Brasil há mais de 170
anos, através da Lei de 11 de agosto de 1827 , dec ret ad a pela AssembléiaGeral e sanciona da pelo Im pe rad or D. Pedro I. Inicialmente, tivemos os
cursos de Olinda (PE) e São Paulo (SP). O objetivo imediato seria a
formação de bacharéis em Dire ito pa ra suprir as necessidades do Império,
11
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 12/240
evitando assim que os nossos jovens tivessem que atravessar o Occano
Atlân tico para buscar, na Europ a, um a educação universitária.
Daqueles “embriões” iniciais, chegamos hoje a um núm ero superior
aos 400 (quatrocentos) cursos, com a prox ima dam ente 30 0.0 00 (trezentos
mil) estudantes. D en tre eles e de u m lado, tem os cursos com vestibularpara apenas 80 (oitenta) alunos po r ano; en qu an to de outr o lado, alguns
que ousam abrir 1.000 (mil) vagas (ou mais), em cada um desses concursos.
Se volvermos os olhos para os Estados Unidos, com praticamente uma
centena de milhão de habitantes a mais do que o Brasil c apenas 190
(cento c noventa) cursos de Direito, passamos (no mínimo) a meditar
sobre a necessidade ou não de novos cursos po r aqui.
N o âm bito profissional, a OAB já registra em seus quad ros mais
de 5 00 .00 0 (qu inhentos mil) advogados inscritos e os estagiários já devem
superar a marca dos 50 .000 (cinq üenta mil) bacharelandos.
Vale ressaltar que houve uma exacerbada e acirrada corrida pela
a b e r t u r a d e novos cursos ju r íd ic o s , nos ú l t im o s ano s . C h a m a
significativamente a atenção o fato de que se levou quase 170 (cento e
setenta) anos para se chega r aos 190 (cent o e noventa) cursos - niimeroequivalente ao quad ro atual dos Estados Unidos. Con tud o, somen te nos
últimos 5 (cinco) anos, quase 200 (duzentos) novos cursos foram abertos.
Para se ter um a idéia do qua dro atual, é imp orta nte observar que
apenas 229 (duzentos e vinte e nove) cursos de Direit o foram sub metid os
ao Exam e Na cional de Cu rsos - Provão, neste ano 2.000 . Isso significa
que duas centenas de novos cursos ainda não fo rma ram sua primeira turma!
M es m o assim, não se po de d esconhecer algumas realidades.Primeira - a grande c ontrib uiçã o c|ue, ao longo de todos esses
anos, os cursos de Di reito vem d an d o para a formação dos nossos jovens;
Seg und a - na faixa etária dos 18 aos 25 anos, é m ui to baixo o
índice de jovens brasileiros que se en con tra m cursand o o terceiro grau; o
que implica na necessidade de se trabalhar para que muitos mais deles
chegue m até o ensino universitário (e que o terminem );
Jerceira - o curso de Direito se constit ui no único cur st' - iperior
que prepara, com exclusividade, os recursos hu m an os q ue com po em um
dos Poderes da República: o Judiciário; além disso, preparam também
12
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 13/240
todas os outros profissionais envolvidos co m a admin istraçã o da Justiça:
Advoga dos (piibíicos c privados), Pr om otor es de Justiça e Delegados de
Polícia.
Tu do isso au m en ta mais a respon sabilid ade dos cursos jurídicos e
exige que todos pu gne m, incansavelmente e cada vez mais, po r apresentarmelhores índices de qualidade. Afinal, pode-se dizer que deles depen de,
em b oa parte, a m elhoria da própria sociedade em que vivemos.
N ão é sem razão, po rta nr o, qu e essas situações e esses fatos todos
despertaram a OAB para chamar a si a responsabilidade por participar
tam bém do processo de melhoria da qualidade do ensino jurídico, com o
veremos m elh or na parte següinre deste artigo.
Reflexo primeiro desse envolvimento da OAB pode ser retirado
da luta que teve com o im porta nte conse qüência a elaboração da Portaria
n" 1.886 /94 do M E C (obrigatória a partir do período letivo 97.1), cujo
principal objetivo é a elevação da qua lidade dos cursos de Dire ito. A bem
da verdade, impõe-se ressaltar que a con qu ista desse dipl om a legal não foi
mérito exclusivo da OAB. De maneira alguma. Pode-se dizer que essa
reforma do ensino jurídico c onto u com o m aior consenso já havido, noBrasil, em torno de uma norma jurídica. Todos os parceiros envolvidos
foram consultados, ten do fornecido suas idéias, sugestões e contribuições,
que foram acatadas. In úm ero s e ncontro s, sem inários, palestras e oficinas
de trabalhos foram realizados até se chegar à forma final, com todas as
novidade s (boas) q ue fo ram trazidas aos cursos jurídicos: novas diretrizes
curriculares, monografia de final de curso, niicleo de prática jurídica,
a t i v i d ad es co m p l em en t a r e s , i n t e r d i s c i p l i n a r i d ad e , l ab o r a t ó r i o d einformá tica jurídica, me lhoria das bibliotecas e outras.
Com satisfação, colhemos depoimentos de faculdades que já
formaram turmas nos moldes da nova portaria, as quais atestam que a
diferença é notável na qualidade do “novo” Bacharel em Direito. Mas,
con vém sem pre se ressaltar que a portaria , po r si só, não tem o condã o de
melhorar tudo com o nu m passe de mágica. I m po rtan te se af i rmar que o
em pen ho do fator hu m an o, representado princ ipalm ente pelos dirigentes
e pelos professores de D irei to, é imp resc indíve l p ara as con quista s qu e se
impõem.
13
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 14/240
A PA R T IC IP A Ç Ã O D A O AB : P O R Q U E A I N T E R V E N Ç Ã O ?
Em bo ra a sensação seja aquela de um a com pree nsão (ou apoio)
quase unâ nim e a essa participação da OAB no processo indu tor de melhoria
da qualidade do e nsino jurídico e das faculdades de Dire ito, às vezes somosquestionados: p or que a intervenção?
Além do que já tivemos opo rtu nid ad e de aqui conversar, queremos
ressaltar mais alguns pontos que precisam ficar esclarecidos. E, ao fazer
esse exame, lemb ram o-no s do qu e u m a vez escreveu B ER N A R D SHAW,
ao se surpreender com a atitude de alguns homens que vêem as coisas
como elas são e simp lesmente pergun tam : “Por quê?” Pelo que ele afirmou
o seu credo: “Eu sonho com as coisas que ainda não aconteceram eperg unto : ‘Por qu e não?”’.
O sonho imaginado pela OAB foi aquele de transformar as
fliculdades de Direito. Cremo s q ue algo como o pensam ento de SHA W
inspirou a OAB a assim sonha r e pergu ntar: “po r que não?"
A resposta veio com buscar trans for ma r a utop ia cm realidade, o
que começou com a criação da Comissão de Ensino Jurídico da OAB,
em 1992. Ela é co m po sta por C onselheiros Federais (sendo a Presidência
escolhida entre um deles) e por advogados de todo o país e que sejam
tam bém professores de Direito, sempre com conh ecim ento s reconhecidos
nessa área específica.
Desde então, a Comissão tomou consciência da tarefa a ser
desenvolvida e partiu para se reu nir não só com o M E C , mas com todas
as faculdades de Direito do Brasil. Dos muitos debates, seminários,congressos e oficinas de trabalho veio à baila a Portaria n° 1.886/94,
reform ando totalmen te o anterior currículo dos cursos c pug nan do por
tran sfo rm ar as antigas “faculdades de leis” em verdadeiras Faculdades de
Direito!
Antes de continuar, é muito importante ressaltar um detalhe
fundam ental: a OAB não e ntro u no processo de avaliação com o objetivo
de fechar os cursos de D ireito. Absoluta me nte! O grande objetivo daOAB é lutar pela melhoria desses cursos, é ser um instrumento indutor
de qualidade. Por isso, vai con tinua r sendo sempre intrans igente com quem
não se preocupa em fazer bem feito, com qu em procura iludir seus alunos.
14
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 15/240
com quem não apresenta interesse em melhorar. Mas, de ou tra parte, vai
continuar também intransigentemente defendendo e a judando todos
aqueles que querem dar o melhor aos seus alunos, que querem uma
sociedade mais jusca e dem ocrática, que que rem lutar pelo Di reito co mo
instru m ento de obtenç ão d a paz social.Feita a ressalva, e im per ios o c ha m ar a ate nçã o para o fato de não
haver som bra de dúvida que a nova C ons titu ição Federal elevou a advocacia
a um múnus social, tornando o Advogado indispensável à realização da
J us t i ç a ( a r t . 133 ) . E m c ons e qüê nc i a de s s a me s ma C ons t i t u i ç ã o
democrática, houve o despertar da cidadania e um m aior conh ecim ento
dos direitos de rodos, fazendo o Pod er Jud iciár io passar a ser mu ito mais
acionado, exigindo Magistrados cada vez mais com peten tes n o seu ofício.Acrescente-se que, constitucionalmente falando, também o Ministério
Público ganhou muitas outras atribuições para a proteção dos direitos
difusos, além do seu papel de fiscal da lei. Nã o se pod e olvidar, ta m bé m ,
a exigência da sociedade com o ma ior cuida do que os entes piiblicos devem
ter na defesa judicial do Estado e da adm inistr ação pública, através dos
seus Procuradores, e o anseio de que os instrum entos repressores do m esmo
Estado sejam com andad os p or Delegados de Polícia com conhecim entos
e formaçã o específica em Direito.
Tudo isso é razão mais do que suficiente a provocar, como
provocou, a OAB a se preo cupar com a qualidade do Bacharel em Direito.
Afinal, até mes m o p or disposição legal, a OAB tem a tarefa de m an ter o
Estado Dem ocrático de Direito e tam bém possui o im po rtan te papel de
defesa da cidadania. Da í a exigência legal para que ela se pronunc ie a respeito
de rodos os cursos de Direito: tanto no pedid o de abertura qua nto no seu
reconhecimento.
No entanto, deve ser ressaltado que a luta da OAB não surgiu
somente com o advento do novo Estatuto da Advocacia e da Or de m dos
Advogados do Brasil (Lei n° 8.906/94). Fazendo-se um retrospecto
histórico, verifica-se que o tema do ensino jurídico perpassa todas as
Conferên cias Nacion ais dos Advog ados, desde aquela primeira de 1958,no Rio de Janeiro.
Antes mesmo de existir essa exigência legal (havida justamente
com 0 novo Estatuto), a OAB criou a Comissão de Ensino Jurídico -
15
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 16/240
CEJ. Hoje, ela é encarregada de, em no m e do C onse lho Federal, emitir o
parecer prévio sobre a criação de um novo curso jurídico, bem como
sobre o reco nhec imento (ou a renovação desse reconhec imen to) dos cursos
já existentes e em funcionamento. Em bora referidos pareceres não tenham
caráter vincuiativo, eles são emitidos com a máxima responsabilidade,bascando-se não só nos requisitos c exigências legais para a formulaç ão do
projeto de criação de um novo curso, mas também se examinando o
pretendido pelas instituições interessadas e em dados coletados junto ao
Poder Judiciár io, às estatísticas locais e às Secionais e Subsecionais d a OAB
(as quais po de m sc pr on un cia r a respeito).
Para os reconhecimentos de cursos existentes, além dos dados
acima, a OAB envia um a Co mis são Verificadora que, através de critériosobjetivos, examina o func iona m ento d o curso - in loco, - bem como o
atendimento às exigências que qualificam c permitem o funcionamento
de um curso de Direito. Ainda assim, normalmente são feitas novas
diligências pela CE J/O A B para que, u m a vez cumpridas , possa ser dad o o
parecer favorável ao reconhecimento.
Alem disso, essa Co mis são p roc ura dialogar co m o M inisté rio da
Educação (especialmente com as entidades que trataremos no item a seguir),
bem como com os envolvidos com os cursos de Direito brasileiros,
objetivando se mpre me lhora r a qualidade do ensino jurídico.
Consciente do seu papel indutor de qual idade, a OAB tem
realizado, através da C EJ, u m a serie de semin ários sobre en sino jurídico.
Nesta administração (1998/2001), cinco deles estão sendo realizados,
sem pre com grande participação de professores, mantenedores , dirigentes,consultores e alunos de Direito, além da m arcan te presença de educadores
que se interessam pelo assunto e qu e têm dado valiosa con tribuiçã o para a
me lhoria dos nossos cursos jurídicos.
Num outro ângulo, pode-se dizer que o Exame de Ordem sc
consti tui também num eficiente instrumento de aferição da qualidade
dos cursos ju rídicos. C o m efeito, as estatís ticas estão com provando que
dete rmina dos cursos estão sem pre ob ten do elevados índices de aprovaçãodos seus egressos no exame da OAB para a entrada dos novos bacharéis
nos seus quadros de advogados, o que lhes atesta a qualidade. En qu an to
que outros cursos apres entam sem pre resultados m uit o sofríveis.
16
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 17/240
Fazemos crer que o Exame dc Ordem serve não só como um
ins trum ento d e aferição dos bacharéis, para a OA B, mas igualm ente para
que ela possa conhecer melhor os cursos de Direito. Além disso, os
resultados também servem como uma espécie de alerta para os vários
cursos que não têm apresentado bons resultados, os quais precisamme lhora r para um a m aior aprovação dos seus bacharéis.
Aqueles que part icipam do processo com o um rodo (pareceres,
discussões, reuniões, palestras, seminários, comissões verificadoras,
elaboração de livros e artigos, organização e realização de palestras,
seminários e oficinas de trabalho) se ntim os q ue o traba lho po de ter falhas
(eis que feito por seres humanos), mas os resultados estão sendo muito
promissores. Prova inequívoca disso é a existência, hoje, de um maiorinteresse no diálogo, de um maior interesse em se fazer mais e melhor.
E, para cum pr ir esse objetivo, a OA B está sem pre p ro nt a a ajuda r e a ser a
que mais traba lha nesse sentido.
A P A R TIC IP A ÇÃ O D E O U T R A S I N S T I T U I Ç Õ E S
Além da OA B, outras inst i tuições tam bé m se preo cup am com a
qualida de dos cursos jurídico s no Brasil. Vamos trata r de todas elas nesta
parte d o artigo.
C O L É G I O B R A S I L E I R O D E F A C U L D A D E S D E D I R E I T O -Dentre as várias entidades vinculadas ao ensino jurídico, talvez a mais
ant iga seja o Colégio Brasileiro de Faculdades de Dire ito. Por mais de três
décadas, o Colégio vem se re un ind o em todas as regiões do país, sempre
pro curan do integrar todas as faculdades e congregá-las nas discussões sobre
a maneira como é possível formar melhores bacharéis. Essa entidade é
um a das únicas com caráter privado, por isso não tem as funções legais de
intervenção, como acontece com as entidades públicas. Contudo, porocasião das discussões que levaram à Portaria n° 1.88 6/ 94 -M EC , o Colégio
tam bé m de u sua impo rtante contribuiçã o, p articipa ndo dos debates e das
discussões sobre o novo cur rículo dos cursos de Di reito . H oj e em dia, ele
17
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 18/240
con tinua realizando o seu congresso anual e pugnando sempre pela melhoria
do ensino jurídic o e das faculdades de Direito.
C O M I SSÃ O D E ESPEC IA LI STA S D O M EC - Para le lamente à
criação da Comissão de Ensino Jurídico, da OAB, o Ministério daEducação criou a sua Comissão de Especialistas no Ensino do Direito,
direta me nte ligada à Secretaria de Edu caçã o Su perior - SESu. A escolha
dos seus membro s {sempre professores de D ireito) é efetuada a par tir de
um edital publicado no Diário Oficial da União (DOU), solicitando às
Instituições de Ensin o Super ior (lES) que in diq uem dois dou tores de seu
corpo docente para fazer parte da Comissão. A partir desses nomes, a
escolha e feita diretamente pelo MEC. E interessante fazer um registrohistórico: de início essa Comissão contou com alguns membros que
pertenciam também à CEJ/OAB. Essa fel iz coincidência inicial em
m uito facilitou os trabalhos que cond uz iram à promulga ção da Portaria
n" 1.886/94 e à sua imple menta ção.
Por sua vez, as imp orta nte s atribuições legais da C EED /S ESu são
aquelas de op inar sobre os processos de autorização para o func iona mento ,
de reconhecimento e de renovação do reconhecimento dos cursos de
Direito. O instrum ento util izado pela SESu é cha m ado “Condições de
Oferta”. Ele foi desenvolvido há algum tempo e é usado também pela
OA B. A lém disso, essa Com issão pod e o rien tar e fazer sugestões qua nt o
à política do MEC para as faculdades de Direito.
Rcccntcmente, a CEED/SESu estabeleceu uma sistemática de
“audiências públicas”, através das quais as lES poderão se pron un ciar sobrevários temas de seu interesse, bem co mo sobre os seus processos em trâmite.
Mas, que m realmente decide sobre a abertura ou n ão de um novo
curso de Direito ou sobre o seu reco nhecim ento é o Con selho Nacional
de Educação. E é fora de questão que este se consti tui num forte
instrumento de avaliação dos cursos, apreciando-os tanto no seu estágio
inicial quan to naquele dete rm ina nte do seu reconhecim ento.
I N S T I T U T O N A C I O N A L D E E S T U D O S E P E S Q U I S A S
E D U C A CIO N A IS - A part ir de 1996, um out ro órgão do ME C, o
Instituto N acional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, come çou
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 19/240
a realizar o Exame Nacional de Cursos, apelidado simplesmente de
“Provão”. Este se tornou talvez no mais Forte instrumento de avaliação
não só dos cursos de Direitos, mas de todos os cursos superiores que
examina. Inicialmente, o Provão foi muito combatido e até teve um
elevado percentual de boicote por parte dos bacharelandos. N o e ntanto,faz-se crer que, com plet ado o prim eiro ciclo de cinco anos e cinco exames,
ele está prat icam en te co nso lidado e deve se to rn ar irreversível.
Os dados do Provão são muito relevantes para todos os que
est ud am os cursos jurídicos no Brasil, não só pelos resu ltados das provas
em si, com o tam bém pelas respostas que são dadas pelos próprios estudantes
a um questionário socioeconômico qu e lhes é enviado para preenchim ento
antes do dia da prova. N ele os estudantes tam bém em item suas opiniõessobre o curso que freqüentaram .
AUTO-AVALIAÇÂO —Alem de todas essas instituições, a maioria dos
cursos de Direito possui aquilo que po dem os d en om ina r de “um controle
interno de qualidade”. Com efeito, talvez inspirados pela metodologia
do Programa de Avaliação Inter na das Universidades Brasileiras - PAIUB,
vários cursos possuem u m rígido ac om pa nh am en to de professores, alunos
e egressos, objetivando implantar um a cultura de melhoria d a sua qualidade,
com reflexos extrem am ente positivos.
Nesse sentido, pro cu ram os cursos realizar congressos, seminários
e palestras não só para a me lhoria d o de se m pe nh o dos seus alunos, mas
tam bém para que os seus professores tenha m condições de conhecer melhor
o ensino jurídico e de aprender as mais modernas técnicas pedagógicas
aplicadas ao Direito. Tudo isso sem descuid ar de qu e os docentes possam
atualizar e melhorar os conhecimentos específicos nas disciplinas que
lecionam. Aí está incluído tam bé m o estímulo d ado a que façam cursos
de pós-graduação. (Muito embora já tenhamos t ido oportunidade de
lamen tar que, em alguns casos, entidades particulares ainda não entenderam
o alcance de ter seus docentes m elh or qualificados. C o m isso, apenas lhesdão um a licença não-rem unera da, qu an do eles se afastam para cursar a
pós-graduação fora da sede de sua faculdade. Felizmente, nã o são muitos
os que assim ainda proced em... em prejuízo de sua próp ria qualidade).
19
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 20/240
Essas, portanto, as entidades públicas e privadas que tratam da
matér ia pertine nte à melhor qualificação dos cursos jurídicos. E ntre tanto ,
não poderíamos deixar de registrar, com satisfação, que mais duas
inst i tuições se juntaram recentemente a essa luta: o Inst i tuto dos
Advogados Brasileiros - lAB e a Associação Brasileira de M an ten edore sde Ensino S uperior - ABM ES. Ambas já realizaram encontros co m as
Faculdades de Direito para discutir o ensino jurídico, com resultados
muito proveitosos que estão encam inha ndo ao M E C e à OAB.
AS A V A L IA Ç ÕE S: S O C I E D A D E , C O M I S S Õ E S , P R O V Ã O ,
O A B / R E C O M E N D A
Passemos agora a examinar as diversas avaliações a que são
subm etidos os cursos jurídicos, conform e acima mencionados.
SO C IE D A D E - Alguns anos atrás , antes mesmo da promulgação da
Portaria 1.886 /94 -M EC , um empresário mineiro vociferou bravamente
con tra os cursos jurídicos e a má preparaç ão dos bacharéis, escrevendo um
artigo p ublicado na últim a págin a da revista Veja, ao qual deu o título de
“N ão sou cobaia de rábula!”.
Recentemente, no dia 31 de agosto de 2000, um editorial do
jornal O Globo elogiou as faculdades de D ire ito pelo trabalho presta do às
comunidades carentes, através dos núcleos de prática jurídica. C om o títulode ' O q ue dá certo", o jornal tece o seguin te comentário: “D e n orte a sul,
faculdades de direito estão aju da nd o a supr ir as insuficiências das defensorias
públicas, co m a instalação de escritór ios-modclo de advocacia. Já existem
mais de 300. De um lado, beneficiam estudantes com uma experiência
importante para a vida profissional; de outro, socorrem pessoas pobres,
que não podem pagar advogado.”
C om o visto, as opiniões e mitid as pela sociedade vá o da críticaexacerbada ao registro positivo e em apoio ao trabalho dos cursos de Direito.
As exigências da sociedade atual au men tam a cada dia. O campo de trabalho,
a cada dia mais acirrado, cria a de m an da para profissionais do Dire ito cada
20
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 21/240
vez melho r qualificados. Os desafios sociais são mu itos e os cursos jurídicos
não escapam a esse concrole social.
Verifica-sc que em cidades grandes e com vários cursos, o
ju lgam ento social se reflete na disputa por vagas naquela instituição
específica, melhor conceituada. Em cidades menores, especialmentenaquelas em que existe apenas um curso, ele pode ser fonte de orgulho
para sua população. Tudo vai depender da seriedade e da competência
com que os cursos sejam condu zidos.
Um fato interessante dessa cobranç a tem su rgido dos questionár ios
respondidos pelos bacharelandos em Direito que se subm etera m ao Provão.
Por incrível que possa parecer, em torno de 60% {sessenta por cento)
daqueles que fizeram o exame em 1999 disseram que os seus cursos
poderiam ter exigido mais ou muito mais do seu corpo docente. Pelo
visto, a opinião dos estudantes parece refletir aquela crítica feita antigamente
de que ter m inar o curso de Dire ito era um a m era questão biológica...
CO M ISS Õ ES V ER IFIC AD OR AS - Para da r uma sat isfação a essa
sociedade e para conhecer a verdade dc cada curso, tan to a OAB qu anto oM E C utilizam-se dc comissões verificadoras. Elas visitam cada u m dos
cursos e emitem relatórios circunstanciados da situação encontrada.
Referidas análises servem não só para instru ir os pareceres dados pela OAB
e pelo MEC, como também para que as faculdades de Direito possam
fazer suas “correções de percurso”, me lh or an do seus desempenhos.
Os relatórios dessas comissões são divididos em três partesfundamentais: instalações físicas, corpo docente e projeto didát ico-
pedagógico (sobre o que conversaremo s mais adiante ). N ão resta dúv ida
de qu e todos os três itens são im portan tes e relevantes, mas os dois últimos
possuem u m percentil maio r na determina ção do conceito a ser atribuído
ao curso.
PR O V Ã O - C om o já foi menc ionado antes , o Provão const itui mais umins t rume n to de a va l i a ç ã o . C oorde na do pe lo INE P /M E C , o s s e us
resultados são aqueles que possuem maior repercussão nos órgãos de
imprensa e, por isso, são os mais divulgados. Em conseqüência, para o
21
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 22/240
grande públ ico o Provão se const i tu i ho je na pr incipal fonte de
conh ecim ento da situação dos cursos.
Contudo, as instituições de ensino superior mantenedoras dos
cursos jurídicos têm algumas críticas ao Provão, as quais já foram discutidas
por duas vezes nos seminários nacionais promovidos pela CEJ/OAB.A principal reclamação vem a ser aquela de que o curso n ão é diretamente
avaliado e sim os seus estudantes. Jus tam en te estes que não teriam qualquer
compromisso com o exame, a não ser comparecer ao local designado e
apor a assinatura. Entretanto, nas várias projeções já feitas pelo INEP
(inclusive excluindo-se os piores resultados de cada curso e/ou os melhores
resultados), o q ua dr o não difere dos valores absolutos.
A esse respeito, vale a pena co m pa rar os resultados o btido s pelos
bacharelandos no Provão (onde se afirma que o estudante não tem
compromisso) e pelos Bacharéis no Exame de Ordem (quando o
com prom isso e total, pois só a aprovação per mi te a inscrição nos quadros
da advocacia brasileira). O que se constata é que a semelhança de resultados,
por curso, é muito grande. Ao mesmo tempo, verifica-se a existência de
Estados ond e os cursos de per si possuem resultados do Exame de O rd emum pouco melhores do que os obtidos no Provão. Paralelamente, em
outros estados ocorre o inverso: os seus resultados no Exame de Ordem
são piores do que no Provão. Donde se conclui que, ao invés de pura e
simplesmente procurar desqualificar os resultados (quer do Provão, quer
do Exame de Orde m) , os cursos devem tê-los com o u m bom termôm etro
aferidor de seu dese mp enh o didático, d e sua qualidade, enfim.
O A B /R E C O M E N D A - M esmo exist indo esses ins trumentos todos, o
Conselho Federal da OAB se mostro u ainda preocupado com o andam ento
da qualidade dos cursos jurídicos. C on he ce do r da realidade existente em
to do o Brasil e ouvidas as críticas que se apr esenta ram a cad a avaliação, o
Conse lho deliberou autorizar a sua Comissão de Ens ino Jurídico a proceder
aos trabalhos de um novo tipo de avaliação, que está sendo conhecido
como o projeto “OA B/Rec ome nda”.
Fruto de inúmeras discussões havidas ao longo de vários meses,
entre os integrantes da própria CEJ, bem como com professores e
22
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 23/240
m anten edore s dc cursos jurídicos em todo o Brasil, o projeto p retende
coletar dados dos vários instrumentos dc avaliação existentes, para
computá-los e reuni- los num documento único onde se vai mostrar à
sociedade (e na med ida d o possível), a verda deira situação de cada curso.
Dessa forma, estão sendo compilados dados fornecidos sobre osresultados dos Exames de O rd em , em todas as Secionais da O AB, bem
com o toda a eno rm e qua ntid ad e de informações contidas nos relatórios
finais do Pro vão. A lém disso, to do acervo de relatórios das comissões
verificadoras vão ser exam inados , bem co m o as condiçõe s de oferta dos
cursos.
Em sua edição de julho de 2000, o jornal OAB Nacional, do
Conselho Federal, publicou ampla reportagem sobre esse projeto, que ému ito mais de verificação do b om fun cion am en to dos cursos jurídicos.
Ali foi estampada uma lista contendo os itens a serem considerados na
avaliação:
- C om porta m ento dos egressos do curso no Exame de Ord em ,
da OAB;
- Resul tado no Exame Nac ional de Cursos;
- Exame das condições dc oferra do curso;
- Projeto didático-pedagógico;
- Qu al idade da biblioteca;
- Realização de pesquisas;
- Existência e dese mp enh o de núcleo de prática jurídica;
- Instalações físicas de salas de aulas e de adm inistração;- Qual idade do corpo docente ;
- Existência de publicações próprias;
- N úm ero médio de alunos em sala de aula;
- Publicações do corpo doc ente e do corpo discente:
- Existência de atividades com plem enta res e co m o são feitas;
- Existência de projetos de extensão universitária;
- Programa de auto-avaliação insti tucional.
O aten dim en to a esses requisitos vai perm itir à OA B atribuir u
conceito de recom endaçã o ao curso, q ue já está sendo con hecid o como
23
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 24/240
"selo dc qualidade”. Mas, o principal objetivo da OAB é mostrar à
sociedade quem está fazendo bem feito.
C om todos esses ins tru m en tos dc avaliação ao seu inteiro dispor,
os cursos juríd icos no Brasil po de m se conside rar privilegiados. Sim, pois
essa gam a total de informações, vin da de vários pontos, permit e aos cursosfazer uma análise comple ta e sempre atualizada do seu desempenho. Den tro
da hones tidade científica e acadêm ica que deve orien tar tan to avaliadores
qu an to avaliados, temos u m qu adr o a ltam ente favorável a que os cursos
possam estar constantemente melhorando o seu desempenho, basta a
vontade de fazer bem e partir para assim o fazer.
C O M O D EV E SER F O R M A D O O B AC HA RE L
Para ter realmente qualidade, o curso de Direito precisa saber
exatamente qual o tipo dc bacharel que pretende formar. Infelizmente,
são pouco freqüentes as perguntas que são encaminhadas à CEJ/OAB
ob jetiv and o saber co m o deve ser essa formação.No entanto, é bo m a gen te se perg untar: qual o perfil do Bacharel
formado por meu curso? Quais são as habilidades que estou ensinando
aos meus alunos como sendo aquelas necessárias ao exercício de qualquer
profissão no campo jurídico? Mais: como anda o projeto didático-
pedagógico do meu curso?
Ao respondermos tais perguntas, podemos chegar a uma triste
constatação de que a maioria (mais do que absoluta) dos nossos docentes
desc onhecem quais são as habil idades exigidas para seu estudan te vir a ser
um bo m bacharel em Direito. N u m a certa ocasião arriscamos dizer que
talvez 80 % (oitenta po r cento) dos professores de Direito não c onh ecem
qual o perfil, nem quais as habil idades do bacharel em Dire ito. Para nossa
surpresa, alguns professores e diretores de curso, partic ipantes do encontro ,
achara m qu e tính am os sido m ui to com placentes em nossa estatística.Mas, aquelas perguntas postas são muito importantes para
sabermos avaliar a qua ntas and a o m eu curso e com o vão os demais cursos
jurídicos no Brasil. Calcados em vários docum entos e estudos que saíram
24
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 25/240
a respeito do assunto, b em como nas suas normas disciplinadoras, podem os
traçar algumas linhas gerais sobre a matéria e o fazemos de fo rma didática
c resumida, deixando a cada professor os com entá rios a respeito de cada
item. Vejamos o que podemos dizer a respeito:
I. D O P ER FIL D E S E JA D O D O F O R M A N D O
Pelas exigências feitas pelas comissões exam inadoras e, em especial,
pelo próprio Exame Nacional de Cursos, podem os formular nada menos
que oito itens que com põ em o perfil desejado do for ma ndo e que deveriamser explorados e incentivados du ra nte tod o o Cu rso de Direito:
1 °) pe rmanen te formação humanística, tecnico-jurídica e prática,
indispensável à adequada compreensão interdisciplinar do
fen ôm eno jurídico e das transform ações sociais;
2°) co n d u t a é t i ca a s so c iad a à r e sp o n sa b i l i d ad e so c ia l e
profissional;3®) cap acidade de apreensão, tran smis são crítica e pr od uç ão
criativa do Dire ito a parti r da constante pesquisa e investigação;
4") capacidade para equ acio nar problem as e buscar soluções
harm ônicas com as dem and as individuais e sociais;
5°) capac idade de desenv olver formas judiciais e extrajudiciais
de prevenção e solução d e conflitos individua is e coletivos;6°) capac idade de atuação individ ual, associada e coletiva no
processo comunica tivo pró pr io ao seu exercício profissional;
7°) do m ínio da gênese, dos fun da m en tos, da evolução e do
conteúd o do o rden am ento jur ídico vigente; e
8°) consciência dos problem as de seu te m po e de seu espaço.
Cuidando de se estudar esses itens e procurando colocá-los emprática nas aulas e nas provas aplicadas aos alunos, o curso de Direito,
co m certeza, vai form ar melhores bacharéis.
25
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 26/240
II. D AS H A B I L I D A D E S D E S EJ AD A S D O F O R M A N D O
As habilidades const ituem as qualidades indispensáveis para que o
Bacharel cm Direito possa bem exercer o seu múnus profissional. Elas
também são fruto das preocupações e das obsei-vaçoes feitas por todas asentidades envolvidas com ensino jurídico, bem como pela metodologia
utilizada nos Exames N acion ais de Cu rsos, e estão assim enum eradas:
1 lei tura , compreensão e e laboração de tex tos e documentos ;
2^) interpretaçã o e apHcação do Direito;
3‘‘) pesquisa e utilização da legislação, da jurisprud ên cia, da
do utri na e de outras fontes do Direito;4-‘) cor reta utilização da linguag em - co m clareza, precisão e
pro prie dade fluência verbal e escrita, co m riqueza de
vocabulário;
5-’) utilização de rac iocín io juríd ico , de ar gu m en taç ão , de
persuasão e de reflexão crítica;
6'0 julg am en to e to m ad a de decisões;
7-') do m ínio de tecnologias e m éto do s para pe rm an en tecom pree nsão e atualização do Dire ito.
Vale ressaltar que essas habilidades são verificadas especialmente
pelo Exame Nacional de Cursos, qu e faz a apuração dos resultados finais,
por curso de Direito, individua lmen te. Por sua vez, os coordenado res de
curso e diretores de faculdade recebem sempre o resultado obtido por
seus bacharelandos, com as explicações respectivas das habilidades queforam solicitadas em cada perg unta. A partir do exame cuidado so desse
poderoso instrumento, a direção do corpo docente vai ter condições de
verificar onde seu alunado está mais fraco ou mais forte, para poder
determinar a maior ênfase c as correções a serem feitas nos estudos
ministrados.
III . D O P R O JE T O D I D Á T I C O P E D A G Ó G I C O
Cuidados devem ser tomados q ua nd o se elabora o projeto didático-
pedagógico do curso. A sugestão q ue está sen do feita pelos diversos órgãos
26
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 27/240
envolvidos com o assunto Foi resumida recentemente pela Comissão
ad hoc, nomeada pelo MEC, no começo do ano 2000, para rever as
diretrizes curriculares dos cursos jurídicos. Eis aqui as recomendações
propostas p ara o projeto:
l'i) objetivos gerais do curso, con tex tua lizados em relação às
inserções institu cion al, geográfica e social;
2=) condições objetivas de ofe rta (perfil, titulaçã o e no m in ata
do cor po doc ente, infra-estrutura) e vocação do curso;
3^) m od os de dese nvolvim ento das habilidades de seus alunos
para alcance do perfil de f or m an do desejado;
4 ‘*) cu rr ículo pleno;5^) cargas horárias da atividades didá ticas e da integralização do
curso;
6^) formas de realização da inte rdisciplina ridadc;
7-’) m od os de integ ração ent re teori a e práti ca das atividades
didáticas;
8^) formas de avaliação do ensino e da aprendiz agem ;
9' )̂ mod os de integ ração ent re gra duaçã o e pós-g radua ção,quan do houver;
10'0 m o d o s d e i n c e n t i v o à p e s q u i s a , c o m o n e c e s s á ri o
prolongam ento d a atividade de ensino e como instrumento
da realização de iniciação científica;
11"') concepção e com pos ição das atividades do estágio de prática
jurídica;
12‘*) forma s de avaliação in terna pe rm an en te do curso;13^) concepç ão e com posição do pr og ram a de extensão;
14-*) conc epção e com pos içã o das atividades com plem enta rcs;
15^) reg ulam ento da mo nog rafia de final de curso;
16^) sistema de ac om pa nh am en to de egressos;
17^) formações diferenciadas, em áreas de concentra ção, qu an do
necessárias ou recomendadas;
18^) oferta de cursos seqüenciais, quan d o for o caso.
Ao lado de tudo isso, faz-se necessário lembrar que o corpo docen te
é fun da me nta l na for mação do Bacharel. O s professores são aqueles que
27
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 28/240
t ransmitem o Direito ao aluno. Eles precisam estar conscientes de tudo
isso que aqui foi dito nesce item. Eles precisam ter consciência de qual é o
objetivo do seu curso, q ue bacharel sc deseja formar.
Em relação ao corpo docente, deve-se insistir qu e mui to mais que
professores, eles sejam educadores. Em seus livros (especialmente no“Conversas com qu em gosta de ensin ar”), R ub em Alves faz m uito bem a
distinção entre um e outro, entre aquele que é meram ent e um profissional
do ensino e aqueloutro que se preocupa com a formação do alunado;
entre aquele que mer am ente “bate o po nto ” e aquelo utro que, preocup ado
com a formação integral do bacharel , não contabil iza horas e sim
crcscimcnto c vitórias dos seus alunos. O auto r ainda com para o educad or
a um a árvore velha, qu e tem um a história. Aprove itamos o seu exemplo
e o parafraseamos para dizer que a diferença entre um profissional do
ensino e um educad or pode ser com para da à diferença entre dois tipos de
pinheiro: a araucária brasileira e o p inus eliotis. A araucária possui uma
história tal que se to rn ou símbolo de u m dos estados brasileiros (o Paraná),
enqua nto o p inus mera men te é plantado para ser rapidame nte derrubado
e utilizado para fins industriais (pr incip alm ent e para o papel).Assim, cabe a cada um de nós, docentes, fazer a opção entre sermos
meros “repassadores de conh ec imen tos” (e, às vezes, até pior: meros leitores
do qu e está escrito na lei) ou sermos verdadeiros educadores, pre ocup ados
com a formação integral dos bacharéis em Direito. Logicamente, a liderança
de u m bom diretor faz com que todos se engajem nessa luta.
Com todas essas cons iderações , f az - se c re r que , embora
aparentemente difícil, a luta por um bo m curso de Direito é hu mana men tepossível. Fazer bem feito só dep en de de cada u m de nós.
A BU S CA D A Q U A L I D A D E
Fina lmen te , a busca da qua l idade pode se r ob t ida com a
observância dos seguintes itens (alguns dos quais já aqui abordados):
INSTALAÇÕES FÍSICAS —Para o funcionamento de um curso de
Dire ito, é recom endável qu e a faculdad e tenh a suas instalações próprias.
28
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 29/240
Isso faz com que não seja aconselhável o que alguns cursos fazem, ao
funcionar por som ente u m período em espaço físico que perrence a um
colégio dc segund o grau. Pode-se até adm itir qu e o curso assim comece,
mas não c m uit o recomendável que esta seja a situação perm ane nte.
As instalações físicas com pletas de u m curso de Dir eito implicamnão so mente na existência de sala de aulas suficientes para todas as turmas,
mas tam bém salas suficientes para o func ion am en to d a administração do
curso e para que os professores possam ter cond ições de estudar, pesquisar,
prep arar aulas e artigos, be m co m o fazer orien tação de alunos, na pró pria
faculdade. Além disso, local próprio para funcionamento do núclco de
prática jurídica, do la boratório de inform ática jurídica, da biblioteca.
Embo ra não seja um a exigência legal, a maioria dos cursos jurídicos,em muito boa hora, está providenciando espaço para o funcionamento
de Juizados Especiais Cíveis e Crim ina is em suas próprias instalações. Isso
não só auxilia na preparação do seu alunado, co mo ajuda a Justiça a chegar
mais per to dos jur isdicionados (como já t ivemos oportunidade de
co men tar acima, com o editorial de u m jornal). Para atingir esse louvável
objetivo, os cursos de Direito tem con tado com a grande comp reensão e
contribu ição do Poder Judiciário.
C O R P O D O C E N T E - A ex igênc ia maior é feita quan to a preparação
acadêmica do co rpo docente. Assim, a cada dia cresce a de m an da po r mais
mestres e doutores nos cursos jurídicos. Legalmente falando, os cursos
deverão ter, pelo men os, um terço de seus professores com título de pós-
graduação, em sentido estrito.
As vantagens são inquestionáveis e os benefícios para o curso
incalculáveis. O s estudos em nível de pós-grad uação tê m o co ndã o dc dar
um a m elhor preparação e um a m elhor visão do Direito para o docente, o
qu e se reflete na melh or prepa raçã o do Bacharel.
PR O JET O D I D Á T I C O - P E D A G Ó G I C O - A esse re speito, já tivemosop ortu nid ad e de conversar na parte ante rior deste trabalho. Ressalvamos
apenas a necessidade de cada curso ter seu próprio projeto didático-
pedagógico, de acordo com suas peculiaridades. U m projeto q ue seja “a
29
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 30/240
&ua cara” e que possa distinguir aquele curso dos demais. É sempre
convc nicntc lem brar que se deve evitar turm as m uito grandes. Elas não
permitem ao professor ter co ntro le sobre os alunos, ne m saber co mo eles
estão progredindo no conhecimento da matéria. Deve-se evitar que o
professor ten ha q ue realizar “com ícios” ao invés de d ar aulas.Q ua nt o ao projeto didático-pedagógico, um a das perguntas feitas
com muita freqüência é a respeito da possibilidade ou não de o curso
prom over u m a espécie de ‘ especialização”, ao seu final. Inicialm ente, há
de se po nd er ar q ue a “especialização” em si é tarefa para a pós-graduação,
em sentid o largo. Aos cursos de graduação é admissível fazer um a espécie
de “concentração ” em alguma de term inada área do Direito, especialmente
se a direção do curso observar que há uma demanda social específica.Veja-se a esse respeito que as conclusões da Comissão a d hoc, nomeada
para verificar a possibilidade de m ud anç as nas diretrizes curriculares de
Direito, opinou favoravelmente a essa concentração, quando fala em
^'formações diferenciadas, em áreas de concentração, quando necessárias ou
recomendadas'' - Vide a 6^ parte desse trabalho.
PRÁ TICA JUR ÍD IC A - Um a g rande mudança que tivemos com o
advento do novo currículo de Direito foi justamente a exigência da prática
jurídica, em substituição às antigas práticas forenses, que serviam apenas
para o Bacharel ser dispensado do Exame de Ordem. Assim, os núcleos
vão se preocu par em prepara r o bac harela ndo não só para ser advogado,
mas também para o exercício de qualquer profissão na área jurídica.
A exigência da prática jurídica é curricular e é imprescindível para a obtençãodo diploma.
A prática jurídica deve ser feita tan to sim ulad a qu an to real.
N ão podem os esquecer que os cursos poderão sim ter um a prática
dedicada especialmente à advocacia. Ela é fei ta através do estágio
profissionalizante. Esse estágio é extracurricular e só pode ser feito em
convênio com a OAB.
M O N O G R A FI A D E F I N A L D E C U R S O - Em palestra realizada em
Santa Catarina, t ivemos oportunidade de ouvir o Prof. CÉSAR LUIZ
PASOLD (autor, dentre outros, do livro “Prática da Pesquisa Jurídica”)
30
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 31/240
dizer tcxtuaimcnte “ben dita monografui”. Realmente, c onco rdam os com
essa posição. A mo nog rafi a de final de curso pe rm ite ao ba cha rela ndo ter
condições de saber co m o elaborar um traba lho de cun ho científico.
Contudo, não sc deve exacerbar a importância da monografia.
Professores orientadores, tem os u m im po rtante papel a desempenhar, poiso estresse dos bacharelandos é fruto justamente da superestimação do
trabalho de sc elaborar a monografia. A esse respeito, costum amo s mosrrar
aos alunos que eles devem di m inu ir a dificuldade do trab alho e au m en tar
o reconhecimento de sua própria capacidade, pois eles têm perfeitas
condições de elaborar o trabalho. Afinal, em termos bem simples, a
“tradução” da palavra monografia e “escrever sobre um assunto”. Nada
mais.
ATIV IDA DE S CO M PL EM EN TA R ES - As at iv idades complementares
foram criadas para permitir um a formação mais complet a do bacharelando.
Assim, os cursos pode rão p rom ov er eventos que serão aproveitados pelo
aluno, em forma de créditos, para com picm enta ção do seu currículo. C om
isso, a freqüência a seminários, palestras, simpósio s e congressos perm ite
que o aluno possa diversificar e ampliar seus conhecimentos jurídicos.
C ada curso vai ter seu pró prio regu lam ento para decidir quais atividades
poderão ser com putad as c om o de finalidade didática. A coordenação do
curso fica encarregada de controlar e registrar as atividades que são
desenvolvidas ou assistidas po r cada u m de seus alunos.
E S T Á G I O P R O F I S S I O N A L D E A D V O C A C I A - C o m o r essaltadoacima, este tem o papel de preparar o bacharelando para o exercício
profissional da advocacia e deve ser feito a parti r de con vênio co m a OA B.
Ele possui previsão legal no Esta tuto da Advocacia e da O AB , possuin do
caráter extracurricular (podendo inclusive ser oferecido a pessoas já
graduadas). Ressalte-se que a orientação didática desse estágio é da
faculdade de Direito.
Ele deve ser leito com atividades práticas típicas de advogado e
dedicar tempo também para o estudo do Estatuto da Advocacia e da
OA B, bem como do Có digo de Ética e Disciplina.
3 !
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 32/240
REVISTA D O C U R SO - Para que o curso possa tornar públ ico aqui lo
que está sendo feito por seus docentes e discentes, é importante que o
curso dc Direito publiq ue unia revista própria. U m a boa parte dos cursos
estão assim agindo e temos notícia até de curso on de os alunos ta m bé m
tem sua própria revista, às vezes se utilizando até da Internet, para umarevista virtual (como está acontece ndo na U FR N ). D e qualq uer forma, as
letras jurídicas brasileiras só têm a gan ha r co m essas revistas, que perm item
a todos conhecer o que se está estudando e o que se está fazendo em
termo s de Dire ito, no Brasil.
AT IVIDA DE S D E E X TEN SÃ O - Não pode o curso de Direi to se
esquecer que possui uma forte inserção social. Ele representa não só umgrande avanço sociocultural para o local ond e esteja sediado, co mo tam bém
tem grandes co ndições d c até m odific ar a realidade na qual está inserido.
Isso tudo p ode e há de ser feito com atividades dc extensão. N os seminários
p romovidos pe la CEJ /OAB, cem-se ver i f i cado exper iênc ias (que
denominamos dc “exemplares” com a finalidade não de exaltar, mas de
servir efetivamente de “exemplo” para que outros cursos possam assim
tam bé m agir), as quais bem de m on str am o esforço de vários cursos paratorn ar m elho r a vida das pessoas que vivem na com un id ad e on de eles se
inserem.
Um dos melhores exemplos dessas atividades está não só nos
serviços jurídicos cm sentido escrito, m as t am bé m nas chamadas “caravanas
da cid adan ia”, on de professores e aluno s são envolvidos para d ifu nd ir os
direitos que cada pessoa possui. Dessa forma, orientam a todos quantoaos doc um ento s legais que deve m ter (e ajuda ndo-os a obtê-los), além de
mo strar os direitos inerentes a cada cidadão - tanto políticos, como
trabalhistas, co mo previdenciários, co m o de proteção ao meio am biente,
entre outros.
PE SQ U ISA JU R ÍD IC A - Para que o curso cresça. Para que seus alunos
e professores cresçam. Para qu e o curso possa ter a merecid a reputação dequalidade. Para tudo isso, é impresc indível a pesquisa jurídica. N ão é com
a mera repetição do que foi dito por outros que se vai fazer crescer a
ciência jurídica. Assim, ela fica estagnada.
32
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 33/240
Por tais motivos, é imprescindível que a pesquisa jurídica seja
estim ulada nos cursos de Direito. Ela vai per mi tir um a ma ior facilidade
para os alunos e laborarem suas monogra fias de final de curso, vai pe rmit ir
descobrir novos caminhos para o direito das pessoas, vai consolidar os
conh ecim entos havidos no curso, vai per miti r a melho ria da faculdade deDireito, em si. Reconhecendo essas qualidades, procura-se estimular os
cursos particulares a que dediquem parte do seu faturamento (2%, que
seja) à pesquisa jurídica. O s de po im en tos recebidos daqueles que assim
procede ram são os mais animadores, pois o cresc imento foi mu ito grande.
C o m essas observações, fazemos crer qu e o curso vai ter condições
não só de alcançar a desejada qualid ade , mas sim ultrapassá-la a cada dia.
Tu do é um a questão de que rer fazer e, então, realizar a utop ia pretendida .
C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
De tudo que acabamos de escrever, podemos chegar a algumas
considerações finais, além de todas aquelas que ap rese ntamo s ao longo de
to do este artigo:
1°) Deve ser objetivo de tod o curso a tentativa de form ar aquilo
que podem os den om ina r com o “bacharel in tegrai”. Nele
está contida não só a capacidade técnica para exercer o m ún us
e m q u a l q u e r p r o f i s s ã o j u r í d i c a , c o m o t a m b é m o s
conhecimentos é t icos e da real idade c i rcundante que
permitam ao Bacharel ser alguém útil à sociedade que orecebe.
2°) De pois de m ui to despreza da cm todos os se tores da
sociedade, é ho ra de os cursos jurídicos d ar em ênfase à ética.
Causou-nos impacto m uito posit ivo a l ição do P ro f JO Ã O
L U I Z D U B O C P I N A U D d e q ue , s em p re qu e o ad vo gado
escrever uma petição, sempre que o Promotor emitir umparecer, sempre que o Juiz lavrar um a sentença, sem pre que
um acadêmico de Direito ate nder a um excluído, devemos
sempre nos lembrar que estamos fazendo história. Qua nta s
33
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 34/240
vezes o “profissionalismo” nos impediu de ver no cliente,
na parte, não um a pessoa hu m an a, mas sim mais um “caso”
a ser resolvido?
Do poeta GAB RIEL GARC IA MA RQU ES, colhemos
a lição ética da hu mildad e, q uan do diz: “Aprend i que o serhumano só pode olhar outro de cima para baixo quando
lhe estender o braço para ajudá-lo a se levantar.” Além
disso, ele nos lembra que “todos querem estar no topo da
m on tan ha , sc esque cendo que toda a beleza está no escalara encosta".
Que isso nos sirva de lição e que possamos meditar
sobre o nosso comportamento ético e sobre o ensino daética pessoal e profissional aos bacharelandos em Direito.
3°) Por fa lar nisso, tem os notíc ias de que um gru po de
professores está estudando e elaborando um “Código de
Ética das Faculdades dc D irei to” . A idéia é mu ito boa e virá
ajud ar a todos os cursos de Di reito a cuidarem melhor desse
segmento, o que redundará, também, em egressos maiséticos. Pode parecer desnecessário dizer, mas a idéia já
encon tra apoio na CE J/O AB e em todos os cursos de Direito
que querem fazer bem feito.
4 “) Por ult im o, gostar íamo s de expressar nossa esperança nos
frutos a serem colhidos em virtude do projeto “OAB/
Recomenda'. Fazemos crer que ele vai se constituir numforte indu to r de qualidade. Para isso, é importa nte qu e todos
os segmentos envolvidos com os cursos de Direito possamestar unidos, sem deixar qualque r pessoa ou q ualquer curso
ser que im ado pela fogueira de vaidades. O trabalh o é sério eprecisa ser feito em c on junto e com a contribu ição de todos.
C O N C L U S Ã O O U C O M E Ç O ?
Seria tentar nos enganar dizer que aqui concluímos este artigo
sobre a melh oria da qualid ade dos cursos de D ireito. ImpÕe-se começar
34
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 35/240
essa luta agora ç recomcçá-la a cada dia. Combater o bom combate.
De nossa parte, temos esperança c acreditamos que este mundo vai ser
bem m elhor a part ir do m om en to cm que aprenderm os a compart i lhar
os don s e os bens que nos foram d ados gra tuit am en te pelo Pai Celeste.
Possuidor de u m a tr idimens ionalidadc que o diferencia das demaiscriaturas da natureza, o ser humano possui um aspecto físico, um
psicológico e um espiritual. Infelizmente, até agora, a ênflise maior tem
sido dada ao aspecto f í s ico e , por tan to , mater ia l , em det r imento
especialmente dos sentimentos humanos. E essa má influência atinge
tam bé m nossos cursos jurídicos.
A conseqüênc ia é aquela que estamos acos tuma dos a ver: o triunfo
de um a cultura de gue rra, com a vitória do egoísmo, da individualidade,
da co mp etição desenfreada, da pobreza, da miséria, da exclusão social, da
violência, das guerras, do te rrorism o...
Por isso, torna-se necessário um a m ud an ça de ó tica que há de ser
iniciada pela educação , d an do a todo s u m a visão mais altruísta, coletiva,
solidária, pacífica, de bem-esta r, de partilha , de paz e de amor. Necessário
um a m uda nça de ótica que leve o ser hu m an o a prom over um a cul tura
de paz. A se reconhecer vivendo num mundo que é único, que não é
infinito, que possui recursos limitados. Q u e a sua destruição significa a
destruição de toda a humanida de.
Será que já esquecemos a af i rmação de VON IHERING de
que “a paz é o objetivo do Direito”? O u aquela de R EC A SE N SIC H ES ,
ao recom enda r ao aplicador do Direito utilizá-lo de ma neira a provocar a
ord em e não a desor dem da sociedade?Se essa educação para se im pla nta r u m a cu ltura de paz ainda não
foi iniciada, urge tomarmos a iniciativa. E começarmos pelas faculdades
de Direito! Por que não?
Por que o ensino jurídico tem que insistir em apenas estudar as
leis, o direito positivado?
Por que não m ostrar a todos que o D ireito é mais, mu ito mais do
que a letra fria e m or ta da lei? Será que esquecemos ta m bé m a lição de SãoPaulo: a letra m at a e o espírito vivifica?
P o rq u e nã o ensina r qu e o D ireito possui sua estética, sua beleza?
Por que não mostrar a inigualável lição do mestre M A R IO M O A CY R
35
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 36/240
PORTO de que o Direito não pode nem deve ser interpretado tal qual
um pianista que apenas “datilografa” as notas da partitura, mas sim com o
aquele outro que interpreta a mesm a partitura co m o sentim ento de alma
que distingue o ser humano do ser bruto, sem expressão. Por que não
transformar nossas faculdades de leis em faculdades dc Direito, comopretende o Pro f R OB ER TO AGU IAR?
Seria isso um sonho? Um a utopia?
Não po de m os jamais olvidar que tud o hoje existente foi fruto
primeiro de um sonho, o qual se tornou realidade graças ao necessário
esforço hu m ano .
Assim os nossos cursos jurídicos. O passado é passado e não pode
ser modificado. Mas, o futuro, este sim, po de ser modificado para melhor!Para isso, o que pod em os fazer é com eçar agora. Para isso, vamos construir
verdadeiras faculdades de D ireito , de Ética, de Paz! Só assim teremos um a
melho r sociedade. Aquela em qu e é m ui to mais dign o de se viver!
36
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 37/240
JUSPEDAGOGIA: ENSINAR DIREITO O DIREITO
Álvaro Melo Filho
O mundo vive uma constante e intermitente “revolução sem
armas” em todos os campos, sobretudo em face da aceleração da
globalização e dos avanços na informática, nos transportes e nas
comun icações im po nd o novos paradigmas. E o D ireito não pode ria ficar,
como não ficou, alheio e marginalizado dessas mudanças impactantes,
daí por que n ão se desfun cionalizou face a um a realidade em p erm an en te“estado de devir” . De outra parte , o ensino jurídico que envolve,
fundam entalm ente, o currículo {o que ensinar) e a m etod olog ia didática
(o como ensinar), ganhou novas diretrizes e conteúdos “anatômicos”
(currículo) exsurgidos da Portaria MEC n° 1.886/94, enquanto suas
dimensõ es “fisiológicas” (metod ologia) per ma nec eram imobilizadas em
desoiadora estagnação didática.
Convém recordar que entre os professores de Direito pouco se
fala sobre método de ensino “cada um guardando suas reflexões para si
mesm o. Escrúpulo de criticar-se, de parecer querer criticar a outro s, respeito
a tradição herda da dos mestres, m uito s fatores - e a simples igno rância
em qu e cada um se enc ont ra a respeito do e nsino d ispensado pelos colegas
- se conjug am para conduzir ao silêncio.” - Jean Rivero.
Ao revisitar a did ática juríd ica percebe-se o agra vam en to de seusproblemas, fruto da abertura massiva de novos cursos jurídicos e da
ampliaçã o irresponsável de vagas de vestibular nos cursos autoriz ados ou
reconhecidos, perfazendo hoje um total de 380 cursos de Direito, onde
estão matriculados 250 .00 0 alunos, aten didos por 9.5 00 professores que,
anu alm ente, “despejam ” no m ercado de trabalho 37 .000 novos bacharéis,
a maio ria com notóri as deficiências técnico-profissionais.
Apesar do aumento s ignif icat ivo de docentes t i tulados commestrado e doutorado e m Direito , da visível melhoria das instalações físicas,
especialmente bibliotecas, e de u ma novel organização didático-pedagógica
envolvendo atividades complementares, práticas profissionais indissociáveis
37
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 38/240
da formação jurídica e defesa de monografia jurídica ao final do curso,
todo o esforço qualitativo esbarra na porta da sala de aula de Direito.
C om efeito, os ntimcros do Prov ão/99 atestam q ue os 229 cursos jurídicos
e os 41.963 graduandos obtiveram, numa escala de 0 a 10, uma nota
4 ,24 como média, isto é, bem distante de um patamar desejável. Porop or tun o, cabe registrar que em 1996 a méd ia toi de 5,62, em 1997, de
4,10 e em 1998, de 3,59.
A rigor, essa mé dia geral baixa persistente e reiterada nos qu atro
anos de Provão (de 96 a 99) não pode scr debitada ao empenho , assiduidade
c pontualidade dos professores, nem às qualidades dos currículos e
bibliotecas.
A adoção das aulas expositivas pela gra nde maioria dos professores,como método quase exclusivo do ensino do Direito, parece scr a razão
primeira do sofrível c insuficiente des em pe nh o desses cursos c gradu andos
no Provão. Aliás, urge destacar que a utilização excessiva da nominada
aula-conferência ou aula monoiogada como técnica preponderante de
ensino jurídico é conseqüência e reflexo direto de dois obstáculos de
natureza institucional:
a) a carga horária reduzida dos professores, dad o que apenas 21 %
têm regime de traba lho igual o u super ior a 40 horas semanais;
b) o gigantismo do n úm ero de alunos em sala de aula, conq uan to
nada menos que 68% das turmas contam com mais de
50 alunos.
Agrcgam-sc a esses palpáveis óbices instituc iona is o utro s entraves
jungidos, visceralmente, à m etodologia do ensino jurídico:
a) 63 % dos docentes fazem uso da aula expositiva co m o técnica
iinica ou modus operandi did átic o exclusivo em sala de aula;
b) 67 % dos alunos restr ingem o seu escudo, cm cada disciplina,
a um só livro-texto ou manual “adotado” pelo professor;c) 58% das disciplinas jur ídicas estão mal dime nsiona das,
ou seja, com muito conteúdo e pouco tempo para o seu
desenvolvimento;
38
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 39/240
d) 90% da avaliação contempla tão-somente provas escritas
discursivas onde não se m en su ram as qualidades de refutar as
teses contrárias e de refletir crit ica me nte sob re o Dire ito;
c) 72% dos professores dos cursos jurídicos miniscram u m a só
disciplina duas ou três vezes po r sem ana , não realiza trabalhosde pesqu i sa , não o r i en ta os a lunos ind iv idua lmen te e
extraclasse, não é po rta do r de habilitação did ática específica,
não p articipa de o utras atividades acadêm icas fora de sala de
aula, exerce um a outra ocupação paralela que é a principal, e, a
remuneração que percebe como d ocen te é inexpressiva para a
sua rend a mensal.
Infere-se desta “radiografia" e da conju gaç ão d os obstáculos -
instituc ionais e me todo lógic os - qu e os maiores estorvos e as mais
renitentes barreiras para mudanças qualitativas no ensino do Direito
assentam-se n um a “fossilizada” e estereotipada pos tura juspedagógica.
Nesse co n t ex t o , a s d i s s i n t o n i a s m e t o d o l ó g i cas r e su l t am ,
essencialmente, do “Dire ito que se Ensina Errado”, im pedin do que o esforço
qualitativo pene tre e produza efeitos concretos nas salas de aula dos cursos
jurídicos. Relembre-se que o apego fetichista à aula expositiva e à vetusta
retórica balançam “entre as sístoles exegéticas e as diastoles dogmáticas”
gerando um a formação tópica, superficial, “acrítica, sem p anora mas largos
e prof und os, a estiolar as melh ores q ualidad es d a inteligência natur al e a
coarcar os impulsos de qu es tio na m en to” —R. Lyra Filho.
De todo modo, não há qualquer preconceito ou aversão à aulaexpositiva no âmbito do ensino jurídico. Verbcra-se, aqui, contra seu
exclusivismo ou abuso onde “sobra m certezas e falta qu es tio na m en to ”. A
propósito, observa Sérgio Ferraz que “o método preletivo, no curso de
graduação, não é um mal em si. A prcleção, com sua função o rdena dora,
deve, sem excessos, ser mantida, ao lado das pesquisas, do diálogo, do
debate e do la boratório jurídico”.
Aliás, a aula expositiva não pod e ser usada com o “bod e expiatór io”das mazelas da juspedagogia. De faro, sob o rótulo de “aula expositiva”
qua dram -se diferentes ações meto dológicas do professor em sala de aula:
desde os que fazem “navegação de cabotagem ao longo dos códigos”,
39
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 40/240
passando por aqueles que monopolizam o raciocínio jurídico, em voz
alta, antec ipa ndo e refuta ndo, s ub-rep ticiame nte, as opiniões contrárias,
até chegar aos que, após expor conceitos, princ ípios, teorias dou triná rias e
excmplificações jurisprudenciais, induzem os debates e conduzem os
diálogos com a participação ativa dos alunos na con strução de seu própriosaber jurídico.
Conscientes de que a adoção exclusiva de um dete rm inado mé todo
pode torn ar a educação jurídica ineficiente ou me smo impro dutiva, cabe
ressaltar que o processo didático do Direito funda-se no dualismo aula
expos i t iva x au la d ia logada , donde def luem p l i i r imas var i an tes
metodológicas. Nesse diapasão, veja-se o quad ro compa rativo condensan do
características antagônicas e sinais distintivos das duas tipologias de aulade Direito nas suas formas mais puras e usuais. Trata-se, então, de uma
dicotomia arqui te tada com f ins d idát icos c sem qualquer animus
maniqueísta:
AULA EXPOSITIVA AULA DIALOGAD A
1) Monólogo reperitivo. Estabelcccrelação Dominaçáo/Autoridade.
Ação unilateral r e su l tando em
distanciamento
l) Diálogo construtivo. Estabelece
relação de Integração/Liberdade
A ç ã o bilateral i m p l i c a n d o e m
reUicionamento
2) Cen tra da no Professor. Utilitarismo
egocétnrico áo Professor
2) Centr ada no Aluno. Utilitarismo
altruísta do Professor
3) Alunos passivos, de pen den tes e
induzidos à aceitação que passam a
pensar o Direito com a cabeça do
Professor
3) Aluno .s a t ivos , au tô n o m o s e
es t imulados à participação que
passam a pensar o Direito por si
niesmos
4) Professor c o d on o d a verdade 4) A verdade n ão te m pro prietário
5) Resulta no acú mu lo de
conhec imento pela memória
5) Despert a o raciocínio jurídico
6) Inexistência de crítica e perda dequalquer poder criador para resolver
problemas. Aguça apenas a visão e
audição
6) Op or tu ni za a visão crítica e reforçanos alunos a capacidade de resolver
problemas. Mot iva a reflexão crítica
40
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 41/240
AULA EXPOSITIVA AULA DIALO GADA
7) Uni formidade rnccodológica própria
d a s s o c i e d a d e s h o m o g ê n e a s ,
gerando uma escravidão mental dosalunos
7) Diversidade metodo lógica própria
d a s s o c i e d a d e s h e t e r o g ê n e a s ,
l ibertando o s a l u n o s p a r a acriatividade jurídica
8) Embasa-se nu m a visão fo rm al e
dogmática do Direito
8) Apóia-sc nu m a visão cxperiencialc
pragmática do D ireito
9) Ênfase demasiada na teoria jurídica 9) Enseja conciliar-se teoria e prática jurídicas
10) Direito é aprese ntado com o algo
estático e imutável (conhecimento
fechado)
10) Direito é apresentado com o algo
dinâmico e wwMVf/Cconhecnnento
aberto)
11) Induz a um a dimensão retrospectiva
ou reprodução do Direito
1 1) Propicia um a dim ens ão prospectiva
ou produçã o do Direito
12) Centra-sc na retórica de Aristóteles 12) Utiliza-se da dialética de Platão
13) Estabelece um Fosso entre professor/
alunos, con de na nd o os discentes à
inércia e paralisia mental e a pensar o
Direito com a cabeça do professor
13) Permite o enrique cime nto mú tuo
on de até o professor “corre o risco"
de aprender e os alunos passam a
pensar o Direito po r si mesmos
14) De tém um a pretensão informativa,
enciclopédica e exaustiva dos temas
jurídicos, onde o professor regra geral
impõ e seu ponto de visra com lastro
no passado
14) Despe -se da obrigação de exaurir a
temática jurídica pois “o mes tre não
deve ensinar pensamentos, mas
ensinar a pensar” vislumbrando e
projetando ofiitiiro
15) As pau tas ou no rmas de
comp ortamen to do docente e alunos
são form ais e rigidas, sugerindo a
mante nca do status quo
15) As pautas e norm as de ações do
professor e alunos são informais e
flexíveis, incitan do um processo de
mudança
41
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 42/240
Inobs tant c este quad ro comparacivo possa parecer tcndencio so c
favorável às aulas dialogadas, em contraposição às aulas expositivas, arc
porque ^'nidíis acidictus ju ra ri in verba m agistrr (ning uém está obrigado a
jurar nas palavras dc mestre algum), o grande cam inho ou alternativa da
metodolo gia d o ensino jurídico é conciliar os aspectos benéficos da aulaexpositiva com as vantagens da aula dialogada. Porém, csca simbiose
ou “reengenharia” didático-jurídica não é uma questão simples, pois,
os professores de Direito são, na maioria, indiferentes e refratários às
aircraçõe.s nos métodos de ensino, o que se agrava com o indisfarçável
desc om pro misso d ocente, além das idiossincrasias e “guerra dos egos” tão
com uns no âm bito dos cursos jurídicos.
Muito a propósito, sinale-se que as distorções, os vícios e oestrabism o juspedagógico estão, lapida rme nte, retratados nas palavras do
educador Paulo Freire: “D itam os idéias. Não trocamos idéias. Discursamos
aulas. Não debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos o educando.
Não trabalhamos com elc. Im po m os -lhe um a orde m a que ele não adere,
mas se acomoda. Não lhe propiciamos meios para o pensar autêntico,
porqu e, recebendo as fórmulas que lhe dam os, sim plesm ente as guarda.
Não as incorpora porque a incorporação é o resultado de busca de algo
que exige, dc quem o tenta, esforço de recriação e de procura. Exige
reinvenção."
Outrossim, é de irrecusável significação que a circunstância do
advogado , do mag is t rado , do p romoto r e do p rocurador se r um
profissional com pe ten te e de sucesso não assegura ipso facto habilit ação e
qualidade para a docência jurídica. C o m o resultado, suas ações didáticas einstrumentos metodológicos, não raro, tornam-se “rotinas ineficazes”,
autoritárias, dogmatizadas, com os loquazes professores de Direito
ensinando o certo e o errado ou trans form ando o quadra do cm círculo,
diante de alunos apáticos e silentes, cingidos à monocultura jurídica e
“castrados” em qu alq ue r reflexão crítica ou criativa, o nd e o professor é o
único m ode lo e o “livro ad ot ad o”, a referência maior. Exsurge aqui, com
visibilidade, o teatro do en sino jurídico, te ndo c om o enre do um direitopretensamente imutável, e, onde os atores principais são, de um lado, os
professores, com im po nên cia verbal, fingindo qu e ensinam , e, do outro ,
os alunos, co m subserviência metod ológica , fazendo o jogo cênico de que
42
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 43/240
aprendem . Em resumo, docentes e dfsccnces são cúm plices d e u m a “farsa
bem encenada” na tensão entr e totalidade e particularidade, entre passado
c futuro, entre m em ória e desejo, entre estru tura e processos.
O com o ensin ar Direito é, sobretudo, um questão dc mentalidade,
exatam ente n u m a época cm q ue “o m u nd o pede aos juristas idéias novas,mais que sutis interpretações”. Por isso para enfrentar os desafios
juspedagógicos no século XXI é preciso lem brar sempre que:
a) os m étod os de ensino devem aguçar o raciocínio jurídico c
desenvolver a autonomia intelectual, para que o aluno não se
converta num "robô jurídico” , ou seja, despreparado para pensar
juridicamente e desprovido dc instrumentos para conviver c omo imprevisível, com as divcrsidades te m po ral e espacial, co m o
novo direito da mundialização e com o po der metaestatal que
se ampliam todos os dias;
b) à didática jurídica com pete tr ansfu ndir o discente de espectador
passivo em part íc ipe at ivo do processo dc aprendizagem
inovadora do Direito on de são mais imp ortantes as perguntas
que as respostas, vale dizer, ao invés de fazer dos alunos receptores
de “verdades” do “one man show”, que se lhes desperte o
pensa men to crítico pelo diálogo e debate de prob lemas jurídicos
a tua is e fu turos , mot ivando- lhes mais re f lexão e menos
aceitação;
c) há necessidade de “ens inar o aluno a pe nsar os códigos e os fatos
juridicamente relevantes, nunca a pensar apenas com os códigos”,evitando o desvalioso ensino “cosmético” e “piedosamente
superficial” de u m Di reit o que c “da do ” c nã o “co ns tru íd o” , e,
on de o professor acaba po r “pe nu m bra r ou opacizar a realidade”
ao entro niz ar “no lugar dos fatos, a versão, no lugar da teoria, a
opinião e no lugar do m ode lo epistemológico, o senso co m um ”;
d) a questão medu lar está cm “im plod ir” um a educação jurídica
conservadora em q ue pred om ina m a patologia da interpretaçãoliteral e retrospectiva de leis e manuais jurídicos, bem como o
pedantismo retórico, acrítico e a-histórico na “imposição” de
um “saber jurídico em paco tad o” onde “a eloqüência mui tas vezes
43
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 44/240
substitui o arg um en to preciso, o raciocínio jurídico ou o pleno
do m ínio da matéria", sem habilitar o aluno a apr en de r a
a p re nde r” ;
e) o exclusivismo da aula expositiva ou do monólogo estereotipado
deve cedcr espaço às aulas dialogadas, às técnicas audiovisuais eaos recursos teleinformáticos, sem descurar dos seminários e
debates para que haja a produção reflexiva do conhecimento
juríd ico e não apenas a mera “reprodução” de con teúdos
petrificados, no com od ism o da rotin a e no te m or da novidade;
f) a preponde rân cia e os excessos no uso da aula expositiva nos
cursos jurídicos inibem qualquer processo metodológico-
didático eniancipacório, po r se tratar de um a técnica pedagógica jungida ao formalismo crcpuscular do magister dixit que se
restrige a “transferir conh ec im en tos”, sem criar as possibilidades
para a sua prod ução ou a sua construção, conseguindo, quan do
mu ito, forma r o que os franceses de no m in am de ''technicien de
Azg) a prática dem on stra q ue o efeito é m áxi m o q ua nd o se associa
exposição e diálogo no ensino jurídic o ''para evitar que en Ias clases de nuestms Facultades de Derecho los conocimientos vayan
de Ias notas de los profesores a Ias de los alum nos sin pa sa rp or Ia
cabeza de ninguno de ellos" (L. Reixach). Ou tro ssim, os docentes
hão de considerar qu e o ap rend izado do Direito “se baseia não
em um a ciência adquirida de fora para dentro , dogm aticamente,
senão um saber conquistado pelo espírito, organicamente, de
de nt ro para fora”, na colocação de Ferrière;h) a tipo logia de aula jurídica, seja expositiva, seja dialogada , “deve
pro porc iona r ao futu ro profissional a instru me ntaçã o capaz de
levá-lo a ope rar o direit o se gundo um a visão heracfitiana, isto
é, sob o signo de um constante devenir”, como observa João
Baptista Villela;
i) no cam po jurídico, a aula expositiva corresponde à parte primeira
do provérbio chinês “dá um peixe a um ho m em e matarás suafome por um dia”, enquanto o fecho da máxima oriental, ou
seja, 'ensina-o a pescar e o alimentarás para o resto da vida”
ajusta-se co m o u m a luva à aula dialogada;
44
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 45/240
j) o exclusivismo das aulas expos ic ivas dc D ire ito levou Rui
Barbosa a asseverar que “aquele qu e existe entre nó s não é um
m éto do de ensinar, c, ao contrário, o m éto do de não apren der” .
Na mesma linha, Paula Baptista já alertava que “o ensino do
Dire ito red uzido sim plesm ente aos textos de lei sem exame desuas razões e de seu espírito, é erro calamitoso e deplorável;
afugenta os talentos que querem aprender raciocinando c
desenvolvendo a intel igência, sujei tando-os unicamente ao
trabalho estéril e fastidioso dc dccorar”. Por isso é de suma
relevância que as figuras do professor-informador e aluno-
ouvin te sejam substituídas pelo pro fes sor -an im ad or e aluno-
pesquisador , pois , o problema fundamental da pedagogia jurídica é m uito mais u m a questão de consciência do que de
conhecimento ;
1) o m étod o de ensino do Di rei to ao alvorecer do século XXI, seja
aula expositiva ou dialogada, não pod e deixar de se funda r tan to
na lógica dessa ciência [via rationalis inquirendi), quanto na
técnica adequada dessa arte {via rationalis operandi), incumbindo
aos sujeitos do processo educacional - professor e alunos - buscaras soluções dos p roble ma s d o presente, sem olvidar os desafios
do futuro, cabendo-lhes, po r isso mesmo, ultrapassar os estreitos
limites do texto legal, repudiar o dogmatismo de qualquer
p o s i ção d o u t r i n á r i a e d esv i n cu l a r - s e d a j u r i sp r u d ên c i a
consagrada;
m) em qu alqu er estratégia ou tipologia de aula jurídica o professor
tem de concretizar a práxis pedagógica de criar e recriar, dedescobrir e redescobrir, de aprox ima r o co nh ec im en to teórico
com o prático, o idealizador com o realizador, estimulando a
criatividade, a capacidade de resolubilidade das demandas e
despertar a consciência crítica e ética para coord enar o pluralismo
social, p rom ov er a justiça social e dem oc rati za r a vida coletiva
no âmbito de uma sociedade est igmatizada pela pobreza e
contradições;n) ao invés de cultivar mé tod os de ensi no ond e, de um lado, os
‘míopes” alunos são compel idos à repet ição mecânica de
“verdades escravas” e à mem orização de n or m as positivas, e, de
45
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 46/240
outro, os professores fazem uso do ‘pedantismo livresco, do
dogmacismo petulante e do cientismo feito de eloqüência
dcvancadora”, há de privilegiar-sc a liberdade de aprender e
ensinar num contex to de abertura e debate perm anentes, pois,
de acordo com Karl Popper, no d om ín io das ciências human as,só possui n atur eza científica aquilo que for refutável;
o) o ensino do Di reito , seja qua l for a tipologia de aula (expositiva
ou dialogada), tem necessariamente de ser problematizante, mais
destinada a ensinar aos alunos a colocar - e a resolver - questões
jurídicas, sem preocupar-se com o estudo exaustivo e aparente
das disciplinas ministradas. E isso passa por um ensino que deve
ser orientado no sentido de substi tuir a “quantidade pela
qualidade, a extensão pela prof undida de, o conh ecim ento dos
pormenores pela compreensã o dos princípios fund ame ntais e
sua função sistemática”;
p) ensinar direito não é sofisticar, ens inar direito é simplificar, pois,
no magistério de Nelson Hungria “o Direito que deve ser
ensinado e apre ndid o n ão é o que se co ntenta com o eruditismoe a eloqüênc ia impecável das teorias, mas o que, de preferência,
busca encon trar-se com a verdade da vida e do ho m em , para o
conhecimento de todas as fraquezas e misérias, de todas as
infâmias e putrilagens, de todas as cóleras e negações, e para a
tentativa, jamais desesperada, d e contê-las e corrigi-las na medida
da justiça terrena” ;
q) a polarização entre o ensin o juríd ico cen trad o no professor ouno alu no está ultrapassada, daí a imperios idade de conjugar-se
ambas as vertentes. Por isso, a didática jurídica deve sempre
procurar com bina r m om ento s de exposição do professor com
m om ent os d e participação ativa dos alunos, a par de realçar o
liame estreito ent re as dim ensõ es teóricas e práticas do m un do
jurídico, entre a aprendizagem dos conceitos e teorias jurídicas
c o seu exercício através da resolução de casos práticos ousimulação de situações jurídicas concretas, entre a qualificação
científica e o desenvo lvim ento das habilidades requeridas para
a futura práxis profissional;
46
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 47/240
r) as aulas exposirjvas dc D ire ito n ão dc vcm visar a esgotar tod a a
matéria e “cu m pri r” todo o program a, dcstinando -se apenas a
“focar os seus tópicos fundamentais, a precisar este ou aquele
ponto mais difícil ou mais impressivo, a proceder a esta ou
aquela dem on straç ão ou conc retização”, cab cnd o ao professordesvestir-se de “do no da verdade”, aprese ntan do a maté ria de
forma não dogmática, sublinhando os pontos de incerteza,
evocando concepções opostas e tra nsf undin do o ensino jurídico
num “diálogo de aquisições recíprocas”, posto que, “qu em ensina
de verdade também aprende , e quem aprende de verdade
tamb ém ensina”;
s) o professor, na escolha de m éto dos didá ticos aplicáveis a um a
de terminada disciplina jurídica, deve fazer o possível para “passar
das simples formas de ensino “unilaterais” (que t om am o Direito
co m o um a realidade estática) para a utilização de m étod os de
ensino dinâmicos: que r “bidime nsionais”, qu an do se trata da
apl icação do Dire i to a s i tuações de terminadas , rea is ou
hipotéticas {v.g. resolução dc casos práticos, análise de decisões jurisprudenciais), quer “tridimensionais”, quando se trata da
concretização do Direito em situações de litígio, obrigando a
um a lógica de intersu bjetividade na afirmação ou refutação de
direitos (e deveres) antagônicos alegados pelas partes (v.g.
simulações de julgamento, de celebração e negociação de
contratos, de pr oce dim ento s judiciais);
t) a discussão livre de temas e pro ble m as jurídicos atuais deve ter'''habitat'^ e m qu alqu er tipologia de aula, instigand o nos alunos
o esp í r i to d ia lé t i co e a capac idade de a rgumentação , a
participação mais intens a e a lógica intersubjetiva, a habilidade
de tomada de decisão e de refutação das objeções alheias, os
poderes de persuasão e de improvisação, além do respeito pelas
diferentes opiniões dos outros;
u) cada professor de Direi to deve con ce be r sua próp ria “receita”,dado que na didática jurídica não há “modelos mágicos”, nem
“soluções milagrosas”. De todo modo, ele não pode deixar a
latere z indissolúvel relação entre a ciência e a técn ica jurídicas,
47
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 48/240
entre a norm a e a realidade, entre o Direito legislado c o aplicado,
impondo-se-Ihe opta r po r m étodos pedagógicos que valorizem
e esti mu lem as “capacidades de raciocínio, de espírito crítico,
de investigação e de elaboração co nceitua i”;
v) não há mais locus para ações pedagógicas de docen tes de Direitoatrelados ao universo tecnico-formal e portadores do vírus
me t o d o l ó g i co d e d o g mat i za r su a v i s ão d o s p r o b l emas ,
difundindo-a como a verdadeira, a melhor e a definit iva,
criando, assim, um terreno fértil on de bro tam , p or exemplo, a
fantasia da segurança jurídica e a equivocada sin oním ia entre lei
e Direito;
w) o Direito, como acentuava Windscheid , “menos que um a ciênciaque SC possa ensinar, é mais um a arte q ue se deve conq uis tar ”,
cabendo ao aluno vencer a natural inibição c insegurança,
tornando-se 'e scu ltor de seu pró prio cérebro”, ao conscientizar-
se que a opinião do professor é apenas uma opinião, pois, no
mundo jurídico, as questões podem ser tanto “dogmáticas”
(visam a possibilitar um a decisão c orienta r u ma ação, o qu e as
faz finitas), quanto “zeteticas” (dissolvem meras opiniões, pond o-as em d úvida, o que as tor na infinitas)\
x) o m un do do Direito não com porta homogeneização nem
pensamento único e mumificado, daí porque o método de
ensino jurídico deve, com criatividade e o quanto possível,
co ad u n a r t r ê s mo men t o s : ex p o s i ção {lectio), d i scussão
[dispiitatio) de problema colocado pelo professor e analisado
pelos alunos, cabe ndo ao docente, após sopesar os argum entospró e contra, indicar um a solução [determinatio), o que assegura
um cerco equilíbrio e ntre o valor da autorida de {auctoritas) e o
valor dos direitos da razão {ratio)-,
z) é urg en te elidir a “folia verbal” e sep ulta r o deletério ensino
“nocionís t ico” do Dire i to , responsável por “mut i lados”
formandos “em estado de indigência jurídica”, incapazes de
equac ionar d ivergênc ias jud ic i a i s ou de c r i a r so luções
extrajudiciais harm ônica s c om as dem anda s de u m a sociedade
cada vez mais diferenciada, com plexa e com petitiva, e que, ao
me sm o tem po , aspira ser pluralista, frate rna e justa.
48
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 49/240
São estas, exemplificadamcnte, algumas diretrizes pedagógicas e
estratégias didáticas sugeridas pa ra superação dos obstáculos metodológicos
do ensino jurídico, propiciando a operacionaíização e, sobretudo, a
“intcrnalização” de u m a novel juspedagog ia nas salas de aula com o pré-
requisito para Ensin ar direito o Direito.
49
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 50/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 51/240
REFLEXÕES SOBRE AS DIRETRIZES
CURRICULARES DA PORTARL\ MEC L886/94
Antonio José Ferreira Abikair*
1) Considerações preliminares
A Portaria n® 1.8 86 /94 do M E C fixou as diretrizes curriculares e
o cont eúd o m ínim o dos cursos jurídicos em tod o o território nacional.
Ela reflete as necessidades dos cursos jurídicos dentro do contextosocjoeconò mjco-poJjtico da sociedade brasileira do fim do século XX.
O confronto entre a citada Portaria e a Lei de 11 de agosto de
1827, q ue ainda na época do Império "Crèa dos Cursos de Sciencias juríd icas
e sociaes, um na cidade de S. Paido e outro na de Olinda", demonstra e
comprova a grande evolução sofrida pelo ensino jurídico brasileiro, ao
longo destes 170 anos de escolas de Dire ito.
E desnecessário registrar, a toda a evidência, que , desde a criaçãodesses cursos jurídicos na ép oca do Brasil Im pé rio até os dias de hoje, o
ens ino ju r íd ico sof reu g randes t rans formações sus ten tadas pe los
acontecimentos históricos e pelas mudan ças sociais que cont ribuí ram com o
fatores decisivos neste processo evolutivo.
H á a unanimidade qu anto à importância do papel desempenhado
pela O rd em dos Advo gados do Brasil/OAB nesce processo evolutivo do
Ensino Jurídico pátrio. A sua participação foÍ definidora dos caminhospercorrid os pelos cursos jurídic os brasileiros.
O envolvimento da OAB nesse processo é histórico e só muito
recentemente foi n ormati zado através do Estatuto da Advocacia e da OAB,
Lei n” 8.906 , de 04 de jul ho de 1994, que, cm seu artigo 54, inciso XV,
d e t e r m i n a : “ C o m p e t e a o C o n s e l h o F e de ra l c o l a b o r a r c o m o
aper feiçoamen to dos cursos jurídicos, e opina r, pr eviamente, nos pedidos
* M e m b r o d u c o m i s s á o d e e n s i n o j u r í d i c o d o C o n s c l l i o F e d e r a l d u O A B ; c o n . s cl h ei ro ( -edcr-il; e
d i r e t o r d a F a c ul d .i de d e D i r e i t o d e V i t ó r ia - F D V ,
51
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 52/240
apresentados aos órgãos competentes para criação, reconhecimento ou
crecienciamcnto desses cursos”.
Como demonstrado pelo texto legal, a participação da OAB é
ampla e não se restringe somente ao processo de criação dos cursos
jurídicos, estando envolvida em suas diversas etapas. A O rdem , por meiodo Conselho Federal, com sua Comissão de Ensino Jurídico, cem o
poder/dever de buscar o aperfeiçoamento dos cursos jurídicos, tendo
garan tido o seu direito de emissão de parecer sobre cada novo ped ido de
criação e rec onh ecim en to de curso.
A part ic ipação consolidada e s is tematizada da Ordem neste
processo voltado para a formação dos operadores do Dire ito foi resultante
de um processo histórico demorado (mais de 170 anos), permeado porvárias criscs, sucessos e retrocessos. Sobre a questão posiciona-se Pinto;
com plexidad e mesm a das questões envo lvidas pa ra se encontrar
metodologia e instrumentalidade de sua execução, assim como o processo
evolutivo da conquista de seu reconhecimento ins tituciona l pelo Estado, e da
consolidação de sua credibilidade no sentido da aptidão para se fa ze r agente
induto r da qua lidade do ensino juríd ico, jus tificam , como circunstâncias,
que somente agora tenha a O AB um desempenho ordenado e permanente,
como partícipe do sistema de qualificação do operador do Direito. ” '
Com a nova sistemática do ensino jurídico, o objetivo que se
pretende alcançar é a formação de operadores do Direito que alcancem
um perfil , no qual necessariamente estejam presentes as seguintes
características: capac idade de análise crítica, ha bili dad e de negociação e
potencial para o trabalho em equipe.
E evidente que a questão do perfil não pode ser entendida de
íorm a estanque. C ada curso jurídico deve descobrir a sua vocação, inserido
dentro do seu contexto histórico e da localidade em que se encontra
instalado, não olvidan do jamais as necessidades impostas pelo mercado
de trabalho.
O perfil profissional do g rad uan do deve ser ente ndid o com o um a
meta a ser alcançada para todos os envolvidos no processo ensino-
' P I N T O , A d r ia n o , A O A B n o s 1 7 0 a n o s d o E n s i n o J u r í d ic o . I n ; O A B E n s i n o J u rí d ic o ; N o v a s
D i r e t ri z e s C u r r i c u l a r e s . B ra sí lia : O A B . C o n s e l h o F e d e r a l d a O A B , 1 9 9 7 , p . 1 7 .
52
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 53/240
aprend izagem dos cursos jurídicos {professores, a lunos e coordenadores).
O com prom isso cem que ser co m um , sob p ena de alcançar-se o insucesso
de todo o projeto didácico-pedagógico. H por isso que se recomenda a
mais ampla discussão prévia com os agentes envolvidos sobre as
individualidades do curso e suas peculiaridades, para que o com prom issocom os resultados seja fruto do diálogo e, portanto, aceito por todos
com o o me lhor cam inho a ser tr i lhado.
Mas é incontestável que o ope rad or do Dire ito deve ser um agente
capaz de transitar pelas várias profissões jurídicas, com a capacidade de
adaptar-se às variações sociais e políticas, adequando-se ao pluralismo
jurídico que norteia a sociedade m oderna e lidando tranqüilam ente com
formas alternativas de conflito, setorizadas em gru pos sociais específicos
(especificidade cultural, econômica e política de u m grupo) e com a mesm a
desenvoltura com que deve ser capaz de en fren tar questões jurídicas globais
(direito na esfera internac ional/g lobal).
Neste sen tido, Santos traz valiosas con tribuiçõ es, sobre as “ordens
jurídicas” que sc desenvolvem atualmente: “...ao contrário do q ue pretende
a filosofia política liberal e a ciência do direito qiie sobre ela se constituiu, circulam na sociedade, não um a, mas várias fijrm as de direito ou modos de
juridic idade. O direito oficial, estatal, que está nos códigos e é legislado pelo
governo ou pelo parlam en to, é apenas um a dessas fiormas, se bem que
tendencialmente a mais importante. ” H continuando afirma que "Nas
últim as três décadas, a investigação sobre o pluralism o juríd ico cham ou a
nossa atenção para a existência de direitos locais nas zonas rurais, nos bairros
urbanos marginais, nas igrejas, nas empresas, no desporto, nas organizações profiissionais. Trata-se de fiormas de direito in fia-esta ta l, infiorm al não ofiicial
e mais ou menos costumeiro.
Nessa mesm a l inha de raciocínio, o auto r afirma que “O capita l
transnacional criou, assim, u m espaço juríd ico transnacional, um a legalidade
supra-estatal, um direito m u n d ia l Este direito é, em geral mu ito infiormal
Baseado nas práticas dominantes, ou seja, nas prá ticas dos agentes dominantes,
- . S A N T O S , B o u v c n t u ra d c Souza. P ar .i u r n r u iv o s e n s o c o m u m : a c i ê n c ia , o d i r e i t o e a p o lí t i ca
n a t r a n s i çã o p a r a d i g m á t i c a . V . ! . A c r í ti c a d a r a z ão i n d o l e n t e : c o n t r a o d e s p e r d í c i o d a e x p e r iê n c i a .
S ã o P a u l o : C o r t e z , 2 0 0 0 , p . 2 0 3 -
53
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 54/240
não é um direito costumeiro no sentido tradicional do termo. ”E conclui que
"Estes desenvolvimentos socio'jiiridicos revelam, pois a existência de três espaços
juríd icos diferentes a que correspondem três form as de direito: o direito local,
0 direito nacional e o direito glo ba l ’’-^Atualmente, não se sustenta mais a
idéia de formação de um profissional do Direito dissociado do novocon tex to sociaí-político-jurídico que se apre senta a todos.
Não basta somente conhecer esses novos “espaços jurídicos”, é
imprescindível que os graduandos em Direito sejam agentes capazes de
estabelecer um diálogo crítico com os espaços, visualizando-os como
am bientes acessíveis a sua atuação co mo profissionais.
O ate nd im en to às diretrizes curriculares da Portaria deve ser um
objetivo a ser perseguido pelas cscolas de Direito do Brasil, na busca da
formação profissional do bacharel de Direito habilitado a enfrentar esta
nova realidade que bate à sua porta.
No âmbito da presente análise, destacam-se alguns aspectos da
norm a qu e devem ter um lugar dc destaque gara ntido na discussão sobre
a melhoria do ensino jurídico pátrio: o projeto didático-pedagógico, as
atividades de ensino, as atividades de pesquisa e atividades de extensão,com enfoqu e no Nú cleo d e Prática Jurídica.
2) O projeto didático-pedagó gico
A Portaria 1.886/94 deixa claro, em seu art. 3°, que através da
articulação entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão, deve-se“atende r às necessidades de formação fun dame nta l, sociopolítica, técnico-
jurídica e prática do bacharel cm direito”.
Pode-se com preend er, po rtan to, que a formação do profissional
do direito, passa, necessar iamente pela ques tão da cidadania, qu e é função
primord ial da educação cm todos os seus graus de ensino, que m uito bem
ilustrada na Lei de D iretrizes e Bases da Edu cação brasileira.
•' S A N T O S , B o a v c n t i i r a d c S o u za . P a r a u m n o v o s e n s o c o m u m ; a c i ên c ia , o d i re i t o e a p ol í ti c a
n a t r a n s i ç ã o p a r a d i g m . í t ic a . V . 1. A c rí t i c a d a r a zã o i n d o l e n t e : c o n t r a o d e s p e r d í c i o d a e x p e r i ê n c i a .
S ã o P a u lo : C o r t c z , 2 0 0 0 , p . 2 0 7
54
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 55/240
Considerando-se como características essenciais ao proPissinal a
competência técnica para o trabalho e o com pro m etim en to com o destino
social de seu país e até mesm o do m undo, faz-se necessário iniciar a discussão
de u m projeto didático-pe dagógic o a pa rtir desses dois aspectos.
No caso do profissional da área jurídica, podemos entender acompetência técnica como a apropriação cr í t ica dos conhecimentos
jurídicos, no que se refere à parte conceituai deste conhecim ento , bem
co m o das habilidades específicas exigidas pela profissão. Ela é adqu irida ,
por tan to , no desenvolv imento dos conteúdos curr icu lares , sempre
articulados c om a realidade social.
No caso do comprometimento com o destino social do país,
pod em os considerar que o papel do ensino jurídico é a formação de hábitos,atitudes, valores éticos e morais que irão nortear todo o envolvimento
deste profissional, tan to no mer cado de traba lho co mo em sua vida pessoal
e coletiva. Ser um profissional co m pr om et id o dessa form a significa, antes
de mais nada, participar efetiva e democraticamente das instâncias de
discussões e/ou deliberações de sua sociedade.
“O trabalho doc ente con stitui o exercício profissional doprofessor e este e o seu primeiro compromisso com a
sociedade. Sua responsabilidade e preparar os aluno s para
se to rna rem cidadãos ativos e partic ipan tes n a família, no
trabalho, nas associações de classe, na vida cultural e política.
É u m a a t i v i d ad e f u n d am en t a l m en t e so c i a l , p o r q u e
contribui para a formação cultural e científica do povo,
tarefa indispensável para outras conquistas democráticas” .'̂
Resta então perguntar qual seria o Projeto Didático Pedagógico
capaz de co ntrib uir para esta forma ção almejad a pelas nossas diretrizes
educacionais e que v enh am ao enc on tro dos anseios da sociedade.
Libâneo, na tentativa de esclarecer o term o Didático-P edagógico
define a Pedagogia como “uma ciência composta de ramos de estudo
próprios, tais como a Teoria da Educação, a Didática (grifo nosso), a
L I B A N E O , J üv é C ar lo A. D i d á d c a . Si io C o r f e z , ] 9 9 1 , p . 4 6 .
55
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 56/240
Organizaçã o Escolar e a História da E ducaçã o e da Pedagogia. O estudo
destas áreas, em conjunto com a Filosofia da Educação, a Sociologia da
Educação , a Psicologia da Educa ção, a Biologia da Educação, a Econom ia
da Educação e outras , proporcionam o entendimento do fenômeno
educa tivo em todas as suas dim ensõ es na esfera institucion al escolar”.̂A Didática, compete, neste contexto, transformar os “objetivos
sociopolítico-p edagógicos” em ações concret as de sala de aula, traduzidas
pela formulação dos objetivos de ensino, pela seleção de conteúdos e
métodos, pelos procedimentos de avaliação, e pela relação professor/aluno/'
Podemos concluir que, qualquer Projeto Pedagógico implica na
apropriação de todos esses saberes pelos envolvidos com o processo
educativo para que se tenha, de forma legítima, a clareza dos aspectosformadores da com petê ncia técnica c do co mp rom isso social, funções da
educação escolar, e co m o esta pod e ser desenvolvida na prática educativa.
Ora, pela própria estrutura curricular dos cursos de formação
jurídica, podc-sc perceber que, ao fu turo profissional de Direito não é
propiciado o conhecimento destas áreas de conhecimento e, portanto,
deve-se dar no próprio contex to do seu trabalho docente.
Nesse sentido, as Instituições de Ensino de Direito devem se
preocupar, antes de mais nada, com um processo de sensibilização e
mobil ização do seu corpo docente e técnico administrat ivo para a
apropriaçã o destes saberes. Este mo vim en to deve se da r sim ultan eam ente
e continuamente, numa perspectiva dialét ica, do pensar/agir/pensar.
Evid enteme nte, este é um m ov im en to que , po r ser dialético e realista em
relação ao tempo gasto pelos professores em outras atividades profissionais,se dá nu m ritmo que nem sem pre a tende às expectativas imediatistas das
Instituições.
Portanto, um Projeto Pedagógico para u m a escola form adora de
profissionais da área jurídica não pode abrir mão de um processo de
Avaliação Institucional p er m an en te e participativo (professores, a lunos e
corp o técn ico/adm inistrativo ), para situar as dificuldades enfrentadas pela
ausência desses saberes, na inten ção de, co letivamente to m ar decisões de
L I B Â N E O , J os c C ^ ar lo s . D i d á t i c a . S f i o P a u l o ; C o r t c z , 1 9 9 1 , p . 2 5 .
L I B Â N E O , J o s é C u r l o s . D i d á t i c a . S ã o P a u lo ; C o r t e z , 1 9 9 1 , p. 2 5.
56
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 57/240
com o supri-las. Este é um dos maiores comp rom issos da Instituiçã o que
rea lmen te p re t ende fo rmar um pro f i s s iona l competen te t écn ica e
politicamente.
3) As atividades de ensino
E m seg undo lugar, um Projeto Didático-peda gógico deve pautar-
SC c m alguns princípios de ens ino-aprendizagem básicos que deverão nortear
o trabalho doc ente em sala de aula, bem co m o os indicadores da referida
avaliação institucional.
U m dos primeiros princípios a sc considera r é que o entusiasm odo professor com a disciplina em qu e atua é u m dos principais requisitos
para que haja realmente o processo do ensino. Aquele que tenta passar
para alguém um con hec ime nto no qual n em ele me smo acredita em sua
importância, não consegue, ev identem ente, contagiar outras pessoas.
O diagnóstico periódico das condiç ões dos alunos em term os de
pré-requisitos e condições de apre ndizagem deve ser tarefa im po rta nte da
prática docente. A desconsideração deste princípio pode incorrer na
“que ima de etapas”, gera ndo des motivaçao do aluno, c ond ição essencial
para qu e haja aprendizagem.
O caráter científico e significativo dos conteúdos transmitidos
deve es tar presente em toda a t iv idade de ens ino . Os métodos de
investigação dos conte údo s dev em ser colocados se mp re à disposição dos
alunos, estimulando sua aut on om ia acadêmica e sua curiosidade científica,rom pend o um a prática comodista e alienadora de receber respostas prontas.
Esta postura deve ser estimulada e desenvolvida em sala de aula para
continuar nas instâncias apropriadas da Instituição escolar, tais como
Núcleos de pesquisa e extensão, atividades co mp lem entare s, seminários,
congressos, etc. Isto se to rn a mais claro no artigo 4 ° da Po rtaria 1886, qu e
prescreve:
“Indepe nden teme nte do regime acadêmico que adotar o
curso (seriado, créditos ou o utro ), serão destin ados cinco
a dez por cento da carga horária total para atividades
57
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 58/240
complemencares ajustadas entre o aluno c a direção ou
coordenação do curso, incluindo pesquisa, extensão,
s e m i n á r i o s , s i m p ó s i o s , c o n g r e s s o s , c o n f e r ê n c i a s ,
m onito ria, iniciação científica e disciplinas não previstas
no currículo plen o”
A atualização e organização dos conteiídos é tam bém fundamenta l
para o ato de ensinar, refletidos nos Planejamentos dos professores e nas
bibliografias sugeridas, (art. 5° da portaria 1.886)
A articulação dos conhecimentos teóricos à pratica social é um
dos mais importantes princípios norteadores do processo de ensino. Se
partirmos do pressuposto de que o conhecimento escolar é instrumentode mediação en tre o cidadão e o seu m u n d o social, não pod em os pensar
em teorias que não justifiquem um a prática e vice-versa. O im por tan te c
percebermos tam bém que esta articulação deve se dar prefercncialmcnte
de forma dialética, sem priorizar um a em d etrim en to da outra. Atitudes
como ilustrações da teoria, exemplificações práticas, p roblem atizaçã o da
realidade face às teorias estudadas etc. são dimensões importantes desta
articulação que devem estar presentes em todo o processo de ensinar.
A Prática Jurídica passa a ser, então, um a das dim ensões dessa articulação,
vinda nos períodos finais do curso, com a função de consolidar os
conhecimentos, habi l idades e o comprometimento social do futuro
profissional.
As insistentes reclamações de professores, que atuam em disciplinas
dos últimos períodos da grade curricular, em relação à ausência de prc-reqiiisitos básicos para o desenvolvimento do seu trabalho docente, nos
remete a um ou tro princípio im por tan te que é o de garantir a solidez dos
conhecimentos. O freqüente inter-relacionamento dos conteú dos estudados
com as matérias anteriores e correlatas, a recapitulação periódica dos estudos,
e o atendimento individualizado a alunos que apresentam dificuldades,
são atitudes qu e passam a garan tir esta solidez dos co nhecim entos.
A relação professor alu no deve ser perm ead a p or u m a orientaçãopedagóg ica p rov ida de au to r idade ( e não de au to r i t a r i smo) , de
com pan heirism o e cons iderand o o coletivo, sem con tud o perd er de vista
particularidades individuais. O ritmo pró prio de cada um , as dificuldades
58
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 59/240
individuais psicológicas, físicas c sociológicas devem ser traçadas pelo
professor de m od o especial, fiizendo com que rodos os alunos consigam
atingir um nível mínimo desejado pelo perfil de profissional que se
prete nde atingir.
Desta forma, a avaliação discente passa do caráter classificatóriopara o caráter diagnóstico, p ro cu ran do investigar dificuldades do processo
para supri-las, a f\m de propic iar a todos os alunos o alcance do p atam ar
desejado.
Como se pode observar nos princípios relacionados ao ensino, a
un ida de entre este, pesquisa e extensão está sem pre presente. Essas funções
não se dão de forma isolada, dev end o fizer parte de qu alqu er ato educativo
de um Projeto Pedagógico.
4) As atividades de pesquisa
O que se propõe enquanto experiência redefmidora do ensino
jurídico no Brasil é u m a rup tu ra com a forma tradicional de transmissão
do conh ecim ento estabelecendo novos paradigmas que tenha m na pesquisa
e na extensão seus fun da m en to s e suas diretrizes.
Não se está defendendo aqui a idéia de que seja necessária uma
desconstrução do mod elo ate então adotado. Para um a profissão com as
características do Direito que se sustenta na história e a redireciona na
medida em que existe, não há que se falar em negação do passado, mas
reorganização de seu m odelo didático-pedagógico c entrad o na figura do
professor e de seu ins trum ento de trabalho mais co m um , quais sejam, oscódigos.
A mu dan ça que vem se processando no m un do mo dern o, passa a
exigir de nós educadores um ma ior dina mism o, criatividade e sensibilidade
para perceber a hora exata ou mais apro priada e m que essas mu danças
dev am operar.
Nesse sentido, quando se propor discussão acerca da portaria
1.88 6/94 e suas diretrizes curriculares, pode-se observar que ela inovouem vários aspectos avançando na valorização das atividades extracurriculares,
com o fo rm a de aprendizage m mais ade ren te ao estilo de vida de nossos
alunos e compatível com a realidade atual.
59
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 60/240
A pesquisa c, sem dúvida alguma, a grande mola propulsora do
co nhe cim ent o e integ rada com as diferentes formas de se fazer a extensão,
uma maneira moderna e dinâmica de superar como afirma Souza Jr
"a distância que separa o conhecimento do Direito, de sua realidade social,
política e moral, a edificação de pontes sobre o fu turo , através das cjuais transm item os elemento de um a nova teoria do D ireito e de um novo modelo
de ensino jurídico . ”
Ao relevar as atividades de pesquisa, com o elem ento indispensável
ao processo de formação, a Portaria 1.8 86 /94 deixa entrever uma crítica
ao modelo ante rior e a seu esgotam ento co m o estratégia de formaç ão de
sujeitos críticos e capazes de fazer frente a um a realidade social, política e
econôm ica absolutam ente diferente daquela que m otivou p or décadas avida no país.
A comp lexida de do cenário qu e hoje está pos to ao profissional de
Dire ito e as imagens já possíveis de s erem visualizadas do fut uro parecem
convidar, e talvez impor a todos nós comprometidos com a educação,
um a ati tude dc cnf rentam cnto e construção de modelos que não apenas
SC ade qüem , mas que im pr im am um a marca qu e seja o grand e diferencial
entre simplesmente transmitir um conhe cimento, mesmo que ultrapassado
e dcsconectado da realidade, e produzi-lo a partir dos fenômenos que
acontecem no m un do da vida e a partir dos sujeitos que im prim em vida
c sentido à nor ma fria e que d evem alimenta r a cha mada ciência do Direito.
Antes de mais nada , é necessário destaca r que, em suas diretrizes
relativas à pesquisa, a Portaria abre um leque de possibilidades à construção
desse novo modelo que possibilitará um a melh or compreensão do m un do ,um a atuação mais relevante por pa rte dos profissionais de Direito e um a
maio r inserção e equilíbrio daqueles que irão no fu turo op erar o Direito.
M uit o tem sido escrito e deb atid o acerca da Portaria. Ela que foi
fruto de grandes discussões ocorridas previamente nos encontros e
seminários da categoria, perm anec e sem um a avaliação mais sistematizada
sobre os modelos que foram implantados a partir dela, nas diferentes
instituições dc ens ino jurídi co do país.
' S O U Z A J R , J os e G e r a l d o. E n s i n o J u r íd i c o : E n s i n o e I n t e r d i s c i p li n a r i d a d e . In : O A B - E n s in o
J u i í d i a i ; N o v a s D i r c t r i / e s C u r r ic u l a r e s . B ra sí li a; C o n s e l h o F e d e r a l d a O A B , 1 9 9 6 , p . 1 9.
60
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 61/240
Ainda que em educação só se possa pensar em avaliação de
resultados, após a consolidação das estratégias, o que de m an da um tem po
lógico, parece-nos que já há tempo suficiente a permitir uma avaliação
criteriosa das mudan ças ocorridas a partir de sua recepção pela co munida de
acadêmica.C o m relação mais cspecific adam ente à pesquisa, é necessário que
nos façamos alguma s indagações;
1) Foram estas atividades efetiva mente inseridas no c otid ian o do
ensino jurídico?
2) Houve, por parte daqueles que conduzem todo processo de
formação profissional, a sensibilidade necessária à implan taçã o de u m novo
modelo, pautado na concepção de que há um m un do a construir e que
nós som os responsáveis po r essa construção ?
3) A adoção de novo modelo encontrou no meÍo daqueles que
efetiva men te operacio naliza m o currículo, os professores?
4) Q ue tipo de pesquisa vem sendo desenvolvida?
5) H á em nossos pesquisadores a consciência de que m era copilaçãode idéias emitidas na vasta literatura do Dire ito, n ão pod e ser ch am ad a de
pesquisa, não hav end o ali de fato, a pro duç ão de u m saber?
6) Tem havido, po r parte dos dirigentes de nossas instituições de
ensino, um a atitude de investim ento capaz de dar sustentação à construção
de um a am biência p rópria ao desen volvim ento d a pesquisa científica?
7) T ê m esses mesmos dirigentes percebido qu e pesquisa dem and a
experiência, capaci tação metodológica, e invest imento de recursos
financeiros?
Estes e muitos outros questionamentos devem fazer parte de
nossas reflexões e constituir-se inclusive em questões norteadoras ao
desenvolvim ento de um projeto de investigação/avaliação dos resultados
obtido s a partir da P ortaria 1.88 6/94 no que diz respeito à pesquisa.Ca da u m desses questionam entos é na realidade o po nto de partida
para u m a série de outras indagações o u reflexões sobre a pesquisa científica
desenvolvida na Portaria.
61
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 62/240
Em primeiro lugar é preciso que se faça um a redefinição conceituai
da den om ina da Pesquisa Bibliográfica. C o m já explicitado anteriormente,
a mera copilação de textos e idéias de diferentes autores sobre um dado
cema não levam a produção do conhecimento, consti tuindo-se apenas
em um a organização diferente dos subtemas.Pesquisa, seja ela bibliográfica ou não, pressupõe um a de limitação
do objeto de estudo com sua natural problcmatização. Não há que se
falar em pesquisa quando não se parte de um problema para o qual o
pesquisador busca um a solução.
Na nova concepção de pesquisa, a dúvida tanto pode surgir de
uma leitura crítica, quanto da observação da realidade que se coloca ao
pesquisador no dia-a-dia da sala dc aula, no exercício do Direito, e nos
fenôme nos que a cie se aprese ntam no m un do da vida.
Ao buscar conhecer, compreender, ou solucionar problemas, o
pesquisador insere-se no ensino com o alguém qu e enco ntra sentido para
o conh ecim ento já prod uzido, c para aquele que se que r conhecer.
E na inter-relação com o ensino e a extensão que a grande finalidade
da pesquisa é alcançada, de forma a prod uzir u m c on hec im ento q ue possa
ser socializado, q ue tenh a sentido e que melhore a qualida de de vida do
homem.
Seja investindo na formação de Grupo de Estudos sobre temas
diversos, seja na ampliação das relações extracurso através da extensão, seja
no incentivo às atividades de pesq uisa co m bolsa de iniciação científica e
remu neraç ões a professores pesquisadores, nossas instituições de ensino
devem d em on str ar seu interesse através de açÕes práticas de inves time ntoe valorização da pesquisa.
5) As atividades de extensão (enfoqu e N úc leo de Prática Jurídica)
A Portaria reconheceu formalmente a art iculação do trinômio
ensino-pesquisa-extensão ao estabelecer em seu artigo 3° que “O curso jurídic o desenvolverá atividades de ensino, pesquisa e extensão, interligadas
e obrigatórias, segundo programação e distribuição aprovadas pela própria
In stitu ição de Ensino Superior, de fo rm a a atender às necessidades de
62
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 63/240
fo rm ação fundam ental, sócio-política, técnico-jurídica e prática do bacharel
em direito".
No ensino jurídico, não há mais como fugir da necessidade de
conhecimento da realidade social dos cidadãos. E preciso oferecer aos
gra duando s o acesso dire to à realidade à sua volta, sem deixar de oferecer-lhes o co nh ec im en to teórico e científico.
O profissional do D ireito precisa con hec er as de m and as sociais c
políticas próximas de si, sendo um agente capaz de atua r crítica e ativamente
no curso da história política em que está inserido. Nes te sentido, Severino
afirma: "O projeto educacional é assim, necessariamente, um projeto político
e pressupõe necessariamente um projeto antropológico. E por isso que não
bastará à universidade d ar capacitação cien tífica e form ação política, se ela
não inserir estas dimensões num a dimensão mais am pla que éa da construção
do próprio sentido da existência histórica da nação. E m termos m uito mais
concretos, isto significa que a educação cabe, em últim a análise, a construção
da identidade autêntica do homem brasileiro.
Os cursos jurídicos tam bé m deve m form ar indivíduos capazes de
transitar tr an qü ilam en te pelas variadas atividades profissionais (advocacia,
mag istratura, M inistério Público e outras), não se ad m ite a existência de
cursos vol tados para a formação exclusiva de uma única categoria
profissional.
O Núcleo de Prática Jurídica dos cursos de Direito deve ser o
celeiro das atividades de extensão d irecion adas à formação sociopolítica e
técnico-jurídica dos alunos, criando um am biente com atividades práticas
reais e simuladas abr ang endo con teúd os interdisciplinares.Uma análise mais próxima demonstra que os cursos jurídicos
brasileiros devem estar atentos às novas de m an da s jurídicas existentes na
atualidade. E necessário en ten de r a sociedade em qu e se está inserido. Nã o
bastam mais as letras frias dos códigos. É preciso aprender a pensar em
novas soluções.
N em todas as atividades de extensão dos cursos de D ireito estão
restritas aos Núcleos de Prática Jurídica, mas estes podem ser os locais
^ S E V E R I N G , A n t o n i o Jo a q u i m . M e t o d o l o g i a d o t r a b a l h o c ic nc íA co . 20". c d . S ã o P a u l o ;
C o r t c z , 1 9 9 6 , p . 18 .
63
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 64/240
mais recomendáveis para o seu de senvolv imento a rticulad o às atividades
de Pesquisa. Como o Estágio Curricular Obrigatório é cumprido nos
dois últimos anos do curso, os alunos já possuem u m conhec ime nto maior
e m a i s c o n s o l i d a d o , p o d e n d o r e a l i z a r a t i v i d a d e s c o m m a i o r
aprofundamento.As trezentas horas de estágio obrigatório devem ser distribuídas
pelas Faculdades de forma a ampl iar o acesso do aluno às vivências práticas
jurídicas, sendo necessário estimular a sua participação em projetos de
extensão junto às comun idades.
A prática de ensino nos cursos jurídicos apresenta problemas, com o
já nnrrado em item anterior. Essas dificuldades, que são de ordem
m e t o d o l ó g i c a , p e d a g ó g i c a e p r o p e d ê u t i c a , s ã o a g r a v a d a s n odesenv olvim ento das atividades de ensin o de prática jurídica.
O ensino de prática jurídica sem pre ficou restrito a segundo plano,
como se não fosse um aspecto relevante na form ação dos alunos. Os cursos
jurídicos estavam andando em sentido contrário ao de outros cursos, nos
quais os investimentos em laboratórios sempre foi questão imprescindível,
c omo , po r e xe mplo , o s c u r s os de me d ic ina e odon to log i a , que
m od ern am en te não tiveram os seus con teúd os teóricos tratados com o se
fossem dissociados da vivência prática.
A Portaria M E C 1.886/94 rom peu com essa estagnação dos cursos
jurídicos, determ inando a criação e a efetivação de núcleos institucionais
voltados especificamente para a formação prática do corpo discente. Q ua tro
dos dezesseis artigos da portaria foram destinados à questão do estágio
curricular e extracurricular, de m on stra nd o que surge a necessidade de serepensar a formação p rática dos graduandos.
Atualm ente, os cursos de Direito dev em con tar com laboratórios
jurídicos para o desenvolvim ento das atividades de prática jurídica,
devidamen te equipados para o cum pr im en to dessa missão. Devem possuir
espaço físico adequa do, arquivo de autos findos (para consu lta dos alunos
e professores), acervo bibliográfico, equipamentos de informática, salas
de conciliação e vários ou tro s espaços.Devem ser desenvolvidos projetos de extensão que pr om ov am o
co nh eci m en to e a prática de técnicas de conciliação de arbitragem. N ão
po den do o NPJ ficar restrito ao aten dim ento judicial, deve ser um agente
64
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 65/240
atuante na formação de profissionais que saibam resolver de forma
alternativa os conflitos, sem q ue rodas as ques tões necessariamente devam
ser subme tidas à apreciação do po de r judiciário.
Sendo assim, é recomendável que o atendimento à comunidade
não ocorra somente dentro dos limites físicos do Núcleo. Mecanismosdevem ser estabelecidos no sen tido de levar o Dire ito até o cidadão.
Quase todos os projetos dc extensão desenvolvidos no NPJ,
qu an do bem planejados e executados com seriedade e efetiva participação
orden ada dos corpos doce nte e discente, propiciam o desenvolvimento
de projeto s de pesquisa.
As atividades de prática jurídica devem tom ar um a outra dimensão,
voltada para a formação de cidadãos p reocupa dos com as questões políticas
e sociais, fu nd an do a sua atuação n a aplicação dos direitos hum ano s.
65
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 66/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 67/240
FORMAÇÃO j u r í d i c a DOCENTE:
CONHECIMENTO, ATITUDES, OPERACIONALIZAÇÃO
João Maur íc io Adeodato
Sumário: 1. Resumo histórico da pós-graduação em direito no Brasil.
2. Situação atual dian te dos cursos de graduação. 3. Legislação e atual
política de capacitação dos professores de direito. 4. O fut uro estratégico
da pós-graduação na formaçã o e qualificação doce nte. 5. O dilem a entrecontrole (coercitivo) e autonomia (responsável) na avaliação da pós-
graduação.
1. Re sum o histórico da pós -gradu ação em d irei to no Brasil e si tuação
atual diante d a graduação
Este artigo tem por objetivo analisar a formação dos professores
de direito no Brasil, ap on tan do alguns problem as e eventuais sugestões
para tratame nto da mesma. O estado da arte nas condições dessa formação
tem -m e mo dificado vertigino sam ente e u m a visão geral prévia afigura-se
essencial. M etod olog icam en te tentar-se-á um a descrição o mais possível
ne utra para posterior sugestão de vias para supera ção das dificuldades.
A pós-graduação em direito no Brasil com eça na primeira m etadedeste século, com a implantaçã o dos cursos de dou to rad o no Recife, Rio
de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Esses cursos tinham perfis
relativam ente simples, pode-se dizer mais corre spon den tes aos mestrado s
ou me sm o às especializações de hoje. A pós -gradu ação da F aculdade de
Direito do Recife, por exemplo, instituída em 1938 como curso de
do uto rad o, apresentava apenas oito disciplinas de trint a horas em sua grade
curricular, sem exigências de língua estrangeira ou produção científicasubstancial. Tal qual em outros países como a Itália, por exemplo, não
havia nível de mestrado na pós-graduação em direi to. Tampouco eram
padronizadas as estruturas acadêmicas.
67
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 68/240
N a passagem para a década de 70, co m um a m aior centralização e
fiscalização por parce da União, as exigências doutorais passaram a ser
maiores e mais unificadas, fazendo c om que se expandisse no país a criação
de cursos jurídicos de mestrado, em d etrim en to dos de dou torado , mu itos
dos quais foram, por assim dizer, rebaixados à condição de mestrados,como foi 0 caso na Faculdade de Direito do Recife. A tradição anterior
desses douto rados, poré m, parece ter feito co m q ue os primeiros mestrados
c os demais q ue a eles se seguiram se encam inh assem para u m a excessiva
complexidade: os poucos mestrados em direito consolidaram-se como
cursos longos, dispersos em seus conte iidos, calcados em estudos que não
se dirigiam às dissertações, fazendo com que a média de tempo de conclusão
se colocasse entre as mais aítas e men os desejáveis das áreas de conhecimento
classificadas pela Fundação Co ord ena doria de Aperfeiçoam ento d o Pessoal
de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação e do Desporto
(MEC).
Implantou-se assim, no Brasil, uma cultura de mestrados em
direito com carga horária exagerada, consis tindo de disciplinas desconexas
entre si e de corpos docentes isolados em suas linhas de pesquisa eexcessivamente burocráticos em suas exigências curriculares. N ão se deve
esquecer, po rém , a im por tânc ia desses primeiros m estrados na formação
da pesquisa jurídica e ma turação científica da área. Este perfil ac adêmico
começa a muda r com rapidez nos últimos anos e aí a O rd em dos Advogados
do Brasil (OAB), através de sua Co mis são d e Ens ino Juríd ico (CEJ), tem
tido um papel importante na criação e apoio de exigências prévias para
criação e manutenção de cursos jurídicos, mesmo sendo um órgão declasse, na opinião de alguns, desvinculado dessa sorte de problemas. De ntre
elas, a exigência de titulação qu e incentiva a de m an da po r pós-graduações
em direito. D iscutir-se-ão os núm eros mais adiante.
A tend ênc ia parece ser a de simplificar e exp an dir os mestrados,
reservando às instituições mais sólidas a responsabilid ade pelos cursos de
dou toram ento. O problema é que, para consolidar um curso de mestrado,
a instituição precisa de doutores e não de mestres, pro blem a que só podeser solucio nado e nviando professores para cursar dou tora do s fora, opção
cada vez mais difícil diante da escassez e da qua nt ia das bolsas para a área
de direito, o u realizando do utora dos interinstitucionais ou itinerantes.
68
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 69/240
D o o utro lado, mais na base da pirâm ide da educação jurídica no
Brasil de hoje, está ap are nte m en te consolid ado um processo de au m en to
de possibilidades de acesso à Univers idade p or parte da população, processo
este que já há várias décadas teve início. Nesse sentido, continua sendo
crescente o n úm ero de cursos de graduação, aum en tam -se vagas em cursos já instituídos e m esm o novos centros universitários e universidades
despontam a todo mom ento .
O nível de crescimento dos cursos de pós-graduação, contudo,
longe de ac om pa nh ar este ritmo, sequer tem feito frente à d em an da e às
expectativas dos egressos do ens ino do terceiro grau, clientela em potencial
para programas de especialização, mes trado o u do utorado. Evidentem ente,
pelo seu grau de a profun damen to e po r suas exigências peculiares, os cursos
de pós-graduação não podem oferecer o mesmo índice de crescimento
em relação aos bacharelados. M as esta e outras discrepâncias são exageradas
no qu e co ncern e à área jurídica.
A um, a graduação e m direito faz frente à m aior d em an da social
por cursos de terceiro grau em todas as regiões do país. As possibilidades
profissionais do curso, o mercado de trabalho, custos razoáveis e umasérie de outros fatores que não cabe discutir aqui respondem por essas
estatísticas. A dois, m uito em bo ra tal de m an da perm aneç a proporcion al
- e daí extrem am ente al ta - no que se refere ao quarto grau na educação,
a pós-graduação em direito, tam bé m por causas diversas, é das mais frágeis
e que meno s vagas oferece no país. Podem-se rastrear as causas desse estado
de coisas.
2. Situação atual dian te dos cursos de graduação
Segund o os dados da Fun dação CAPE S disponíveis na internet,
o país tinha em 1995 somente 20 (vinte) programas de pós-graduação
em direito credenciados, dos quais apenas qu atro com curso de doutorad o:
USP, PUC/SP, UFMG e UFSC; para se ter uma idéia do aumento e da
juventude da área jurídica cm pesquisa e pós-graduação, o núm ero de
mestrados saltou para 35 {trinta e cinco) e o nú m er o de do uto rad os para
11 (onze), mais do qu e o do br o. Esses novos cursos agora é qu e estão
produzindo suas primeiras dissertações e teses.
69
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 70/240
Mais ainda, a distribuição geográfica desses cursos não é de maneira
alguma equânime, concencrada no Sul e no Sudeste, havendo regiões
e x t r e m a m e n t e p r e j u d i c a d a s , s e m n e n h u m a p o s s i b i l i d a d e d e
aperfeiçoamento na área, como N or te e Cen tro-Oe ste. H á dez programas
cm São Paulo, dos quais dois com do uto rad o; seis no Rio de Janeiro, trêscom doutorado; quatro no Rio Gra nde do Sul, dois com doutorad o; três
em M inas Gerais, um com d outo rado ; três no Paraná, um com doutorad o;
d o i s em San t a C a t a r i n a , u m co m d o u t o r ad o ; u m p r o g r ama em
Pernambuco, com mestrado e doutorado. Têm programas apenas com
mes trado; Bahia, Brasília, Geará , Pará, Paraíba e Goiás.
N ad a obstante, espera-se qu e o nú m er o de solicitações por cursos
dc pós-graduação de mestrado e do utor ado d obre nov am ente em pouco
tempo. Aliás, já se encontram protocolados, aguardando avaliação e
credenciamento na CAPES, um número de solicitações quase igual ao
número de mestrados atualmente credenciados. Tudo bem previsível,
conclui-sc, diante da desp ropo rção e ntre graduaçã o e pós-graduação em
um a área de alta de m an da social co m o direito.
Comparem-se esses dados com aqueles referentes aos cursos degraduação em direito, disponibilizados pelo Institu to Nacional de Estudos
c Pesquisas Educacionais (IN EP ) d o M E C , segu ndo os quais exatamente
229 (duzentos e vinte e nove) cursos submeteram seus alunos ao Exame
Nacional de Cursos (EN C), o 'Trovão", em 1 999' O s dados da CEJ da
OAB contudo, referentes aos cursos efetivamente em funcionamento,
apo nta m para 356 (trezentos e cin qüe nta e seis) cursos de bacharelado em
direito no Brasil, além do fato de que mais cerca de 400 (quatrocentos)projetos de implantação já foram protocolados para autorização ou
reconhecimento junto ao Conselho Federal da OAB, à Secretaria de Ensino
Superior (SESu) do M E C e ao Conselho Nacional de Educação (CN E).
Quando se observa que, até I960, o Brasil t inha 49 (quarenta e nove)
cursos de bacharelado em direito, vê-se o crescimento interno mais do
que expressivo na área. O s d ados com parad os, sobre tudo em relação ao
número de advogados nos Estados Unidos, podem ser consultados nos
’ M E C / I N E P : P r o v ã o — E x a m e N d c i o n a l d e C u r s o s . R e l a t ó r i o S í n t e s e 1 9 9 9 - Br as il i. i: M E C / I N E P ,
I V9 9, p. U 9 - I 8 9 .
70
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 71/240
t rabalhos apresentados pelos membros da CEJ na XVII Conferência
Nacional da OAB^. Para as raízes históricas e o desenvolvimento deste
estado de coisas, o leitor deve dirigir-se aos quat ro volumes ante riorm ent e
publicados pela CE J/OA B.
Me smo que os dados do Exame N acional de Cursos, o "Provão",não espelhem a totalidade de faculdades de direito, eles são precisos e
indicam a direção geral em termos de estatísticas-^.
No ENC-99, seguindo tendência del ineada desde o início da
implantação do Exame, 6 9 3 % (sessenta e nove vírgula três por cento)
dos cursos de D ireito são m antido s po r instituições privadas, re spon den do
as públicas federais pela oferta de 17 ,5% (dezessete vírgula cinco p or cento)
dos mesm os. As instituições públicas mu nicipais têm apenas 6 ,1 % (seis
vírgula um por cento) e as estaduais, 7,1% (sete vírgula um por cento)
dos cursos.
O s cursos de Direito apresentam concentração regional acentuada,
principalm ente nas Regiões Sudeste (45 ,4% - qua renta e cinco vírgula
qua tro por cento) e Sul (2 5,5% - vinte e cinco vírgula cinco p or cento).
Essas duas regiões re spo nde m, junta s, po r mais de dois terços dos cursos,cabendo um a par ticipação bem m eno r para o Nordeste, Ce ntro-O este e
N orte (8,3 % - oito vírgula três po r cento cada). O Estado de São Paulo,
maior presença no E N C- 99 , part icipou com 48 (quarenta e oito) cursos,
sendo 39 (tr inta e nove) de inst i tuições privadas, também a maior
proporção, correspo nden te a 89 ,6 % (oitenta e nove vírgula seis por cento)
dos cursos de Direito da região. A proporção de cursos de Direito
particulares é bem maior nas regiões Ce ntro -O este (62,5 % - sessenta edois vírgula cinco p or cento). Sul (63,6% - sessenta e três vírgula seis por
cento) e Sudeste (7 9,8% - setenta e nove vírgula oito por cento). N o
Nordeste, o n úm ero de instituições públicas federais e privadas é o m esm o
(11 - onze —em cada grupo), havend o 5 (cinco) cursos de direito estaduais,
en qu an to que no N or te há 9 (nove) cursos federais, 1 (um) m unic ipal e
^ A n a i s d a X V I I C o n f e r ê n c i a N a c i o n a l d a O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B r a s i l ( 5 a 9 d c s e t e m b r o d c
1 9 9 9 ) . B ra síl ia : C o n s e l h o F e d e r a l d a O A B , 2 0 0 0 .
' P a ra u m a a n a l is e m a i s d e t a l h a d a v. Á l v a r o M e l o F i l h o : “ E n t r e o “p r o v ã o ” e o e x a m e d c o r d e m :
a i n t e g r a ç ã o c x i g ív c l ” . T e x t o i m p i i b l i c a d o .
71
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 72/240
8 (oito) particulares. Os processos protocolados na Comissão dc Ensino
Jur íd ico da OAB, por seu turno , apontam para uma tendência de
crescimento na participação da iniciativa privada nas regiões Norte e
Nordeste.
Tudo isso significa que o ensino jurídico de graduação já estásubstan cialm ente privatizado no Brasil hoje, ond e apenas 2 0% (vinte por
cento) dos alunos cursa m Instituições de En sino Sup erior (lES) piiblicas.
Pode-se razo avelmen te sup or q ue a pós -gradu ação virá a refletir situação
semelhante nos anos vindouros. E note-se que, muito em bora os conceitos
A do provão estejam 6 0% (sessenta po r cento) com as públicas, as quais
também obtiveram a menor proporção de conceitos E, pouco mais de
30 % (trinta por cento), a falta de apoio governam ental para o setor público
parece sinalizar um a queda de qualidade na universidade pública e gratuita.
E sabido que investimento em educação é uma das vias mais
eficientes para possibilitar a mobilidade social. N o Brasil de hoje, entr a na
escola pública superior quem fez escola básica privada e vice-versa"*.
Excluindo-se estratégias complicadas e de re sultado duvidoso, na direção
de “ações afirmativas” que reservariam quinhão de vagas especificamentepara os economicamente menos favorecidos, chega-se então a uma
encruzilhada lógica e, enquanto tal, muito simples: só há duas maneiras,
as quais não são excludentes, mas, m ui to ao co ntrário , conciliáveis, para
enfrentar o problema.
U m a delas é melhorar a qualidade do ensino público fimdam ental,
possibilitando aos mais pobres concorrên cia leal pelas melhores faculdades
de direito. A outra , me lhora r a qua lidade da escola privada superior. Claroque sem deixar cair o nível da escola sup erior pública, p atrim ônio ímpa r
den tre países subdesenvolvidos co m o o nosso, asneira que o governo já
vem há m uito praticando, infelizmente. A prime ira solução está realmente
nas mãos do governo, é um problema social . A segunda tem como
estratégia básica incre m en tar a pós-g raduação em direito nas instituições
privadas, nas quais investir na qualidade da infra-estrutura física (de
' [ ' c r n a n d o S c af f: “ Q u e m s e r ão o s n o v o s b a c h a r é i s e m d i r e i t o n o B r as il n o i n i c i o d o s e c u i o X X I
— p r i m e i ra s c o n s i d e r a ç õ es " . C n ã e n w s d a P ó s - G r / i d i u t ç ã o e m D i r e i t o d a U F P A , v o l . 3 , n ° 1 1 .
B e l é m : U n i v e r s i d a d e F e d e r a i d o P a r . í , j u l / d e z 1 9 9 9 , p 7 7 - 9 8 .
72
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 73/240
informática, biblioteca, instalações etc.) é relativamente simples; seu grande
pro blem a é a qualificação docen te.
E observe-se que, mesmo diante de uma boa infra-estrutura, a
qualificação docente é o elemento catalisador essencial. Tome-se como
exemplo o acervo bibliográfico, considerado importante pela Comissãode Ensino Jurídico, como sc pode ver nas exigências da Portaria MEC
1.886, de 30/1 2/94; tão imp ortante, tamb ém , é haver um programa de
orientação para consulta, poÍs tem-se repetidamente comprovado, nos
exames do Provão, p or exemplo, que, apesar de po de rem consu ltar textos,
os alunos não sabem com o fazê-lo, pois não tiveram orientação para tanto.
E esta orienta ção com pe te aos seus docentes.
Um a das mais bem-sucedidas estratégias de p reparação para a pós-
graduação e ao mesmo tempo de integração entre graduação e pós-
graduação tem sido o Programa In tegrado de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC) , fomentado pelo Conselho Nacional de Desenvolv imento
Científico e Tecnológico (CNPq) em cooperação com as universidades,
sobretudo as federais. A área de direi to tem part icipado, ainda que
t imidamente . Mesmo d ian te dos dados quan t i t a t ivos r e fe ren tes àprogressiva privatização do e nsino sup erior, so bre tud o n a área jurídica, a
absoluta pred om inân cia das universidades públicas em relação ao PIB IC
demonstra uma relação qualitativa inteiramente diferente, na qual estas
levam grand e dianteira. In ob stan te a que da no en sino piíblico superior,
seu alunad o ain da é, sem dúvida, o melhor. Para atrair um a clientela mais
capacitada, dentre outras estratégias, as universidades privadas que
perseguem a qualidade precisam instituir seus próprios programas deiniciação científica, c om ou sem apoio d o governo.
Sa l t a aos o lhos a enorme desproporção quan t i t a t iva en t re
graduação c pós-graduação em direito, a qual não tem paralelo em q ualqu er
das áreas do conhecim ento e m que se tem estrutu rado o sistema educacional
brasileiro. Observe-se ainda, d en tre as num erosas peculiaridades do curso
e do campo profissional jurídico, que a pós-graduação não se dirige
especialmente à formação de novos docentes, notan do-se u m a de m and adiversificada também da parte de bacharéis sem especial interesse no
magistério mas com pretensões de t i tulação e aprofundamento para
inserção e progresso em suas respectivas carreiras profissionais, d em and a a
73
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 74/240
que a pós-graduação lato sensu não cem conseguido responder em termos
qualitativos. Q u e os juristas precisam co ns tan tem en te atualizar-se parece
ser um truísmo no mundo moderno. Os dados coletados e analisados
pela CEJ, nas duas pesquisas levadas a efeito pela O A B ^ , mo stram qu e há
um a grande demanda, tam bém por parte de agentes jurídicos desvinculadosde atividades acadêmicas, pelos cursos de pós-graduação, sejam cursos
curtos de atualização, sejam especializações, mestrados ou doutorados.
Todos os indicadores apontam na direção de um mercado de trabalho
cada vez mais dirigido à prestação dc serviços, ambiente do operador
jurídico, mas sobretudo a serviços especializados. Para setores mais
complexos, um a formação de qu arto grau é primordial.
Ainda mais necessitadas de revisão aparecem essas contradições
qu an do se verifica que tan to a Secretaria de En sino Superior, responsável
pela avaliação governamental dos cursos de graduação, qu an to a Fundação
CAPES, responsável pela avaliação governamental dos cursos de pós-
graduação, trabalham supostamente em conjunto, sob supervisão do
Ministério da Educaçã o c do De sporto. A pesar de constituir um setor de
grande importância na SESu, tendo inclusive liderado e apoiado as reformaslevadas a efeito e ora em andamento no ensino superior, servindo dc
exemplo e abrindo o ca m inh o pa ra tantas outras áreas, inclusive no que
concerne ao "Provão", a área jurídica só no ano 2000 passa a ter
representação no Conse lho Té cnico Consu lt ivo da CAPE S, no qual têm
assento campos do conhecimento muito menos expressivos.
Falta tam bém pessoal dev idam ente qualificado: caracteristicamente
cm países subdesenvolvidos, pessoas recém-doutoradas ou até semformação acadêmico-científica, sem p rod ução científica substancial, e/ou
sem experiência educacional em formação de alunos de nível superior,
mas politicamente bem relacionadas, vêm ocupando postos de decisão
importantes.
’’ J o ã o M a u r í c i o A d e o d a t o ; “ P er fi l d o a d v o g a d o b r as i l e ir o : u m a pe s q ui s ;i n a c i o n a l ” , / «; C o m i s s ã o
d c E n s i n o J u r í d ic o d o C o n s e l h o F e de ra l d a O r d e m d o s A d v o g a d o s d o Br as il ; P e r f i l d o a d v o g a d o
b r a s i l e i r o : u m a p e s q u i s a n a c t o > i a l . B r as íl ia : B r a s íl i a J u r í d i c a , 1 9 9 6 , p . 0 9 - 1 7 , e J o s é G e r a l d o d e
S o u s a J u n i o r : “A d v o g a d o : c r e d i b i l i d a d e p r o f i s s i o n a l c c o n f i a n ç a n a s u a i n s t i t u i ç ã o ” i n : C o n s e lh o
F e de ra l d a O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra si l : A O A B v i s t a p e l o s a d v o g a d o s - p e s q u i s a d e a v a l i a ç ã o
i n s t i t u c i o n a l d a O A B . B r a s í l i a : O A B , 2 0 0 0 , p . 1 5 - 3 1 -
74
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 75/240
Tentem -se listar alguns ou tros entraves que en con tra a qualificação
do m agistér io jurídico no mo m ento:
a) As dificuldades encont radas pelas instituições de ens ino jurídico
para qua l i f i ca r seus docen tes em n íve l de Mes t rado eDoutorado;
b) Os índices efetivos insuficientes de t i tulação dos acuais
professores, prejudicando a qualidade e a produtividade do
ensino e da pesquisa em direito, posto ser a titulação uma
cond ição prévia exigida pelas agências de fo m en to naciona is e
internacionais;
c) A necessidade de desenvolver um a política de capacitação para
todo o Sistema de Educação Superior das lES, sobretu do d iante
das exigências de titulação e p ro du çã o científica colocadas aos
cursos de graduação em direito pelo M inistério da Educaçã o e
do Desporto;
d) A dem an da no sentido de criar mecanismos de integração entre
a Universidade e a com un ida de profissional, representada pelas
diversas categorias de oper adores jurídicos, visando a prim orar
as práticas jurídica s forenses e não-forenses;
e) A d i f icu ldade encont rada para publ icação da produção
acadêm ica e científica na área jurídica, pois há pou cos veículos
com controle de qualidade e sua longevidade é ainda menor.
O catálogo Qualis da CAPES precisa de maior divulgação e
transparên cia de critérios, tais co m o q ualid ade dos trabalhos,curricula dos autores, vinculação a um a instituição de prestígio,
longevidade, den tre outros.
Uma solução já em andamento tem sido a criação de cursos de
pós-graduação lato sensu e de mestrados e dou torad os interinsti tucionais,
os quais, apesar das facilidades decor ren tes d a expedição de dip lom as pelas
entidades de origem, sem necessidade de maiores investimentos nocredenciamento pela CAPES, p ode m vir acom panhados de alguma queda
de qualid ade, difícil de ser avaliada e daí fiscalizada. A qu est ão é que os
interinstitucionais po de m ta m bé m ajudar, e m uito, instituições e mes mo
75
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 76/240
regiões sem a menor condição de implantar autonomamente uma pós-
graduação em direito. Mas ce rtam ente parece mais adequada a criação de
cursos de pós-graduação própr ios nas instituições, quan do isto for possível.
Implantam-se assim novas relações entre o ensino superior e sociedade,
procurando fazer do professor também um pesquisador que atualiza osaber que transmite, pois uma instituição de ensino superior deve ser
caracterizada, principa lmente , pelo nível de seu corpo docente.
Face à função da universidade, no sent ido de responder aos desafios
colocados pelas mudan ças, o sistema de pós-graduação stricto sensti precisa
ser colocado como maior estimulador ao progresso do conhecimento
jurídico. N o entanto , em termos nacionais, apesar de algum apoio às
instituições prom otora s desses cursos, através das agências de fo m ento, a
situação da pós-graduação, em especial a da área de direito, não tem se
desenvolvido de forma ideal, quando se consideram os problemas, as
especificidades regionais e as parcerias institucionais.
3. Legislação e atual p olítica de capacitação dos professores de direito
A pós-graduação em direito brasileira está hoje estruturada em
lato e stricto sensu. E m sentido a m plo há a extensão —que tam bé m existe
em nível de graduação, claro que com outros parâm etros - , a qual apresenta
um conteúdo inferior a 360 (trezentas e sessenta) horas de trabalhos
acadêmicos, tendo ou não carga horária mínim a, a depend er da instituição,
c a especialização, com carga horária d e 3 60 (trezentas e sessenta) horas.
H á ainda a figura confusa do ap erfeiço am ento , em geral ente ndid a com o
um a especialização simplificada, cuja regu lamentaçã o te m sido deixada à
criatividade das lES. A pós-graduação stricto sensu está dividida em
m estrado e do utorad o, não havendo um a fronteira definida entre os dois
tipos de cursos, apesar das tentativas de uniformização e controle da
CAPES. Em algumas instituições o doutorado não exige créditos, em
outras os créditos são muitos, em algumas há matérias obrigatórias, emoutras, não, em algumas o utras a banca exam inadora com põe-se de cinco
mem bros, em outras, de apenas três, há instituições que exigem a presença
do orientad or na banca, outras a proíbe m e assim por diante.
76
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 77/240
E l e m e n t o c o m p l i c a d o r n e s t e c o n t e x t o é o m e s t r a d o
profissionalizante, ressuscitado pelo M E C através da Resolução 01/ 19 95
e da Portaria 80/ 19 98 . A idéia de separação entre m estra do a cadêm ico e
mestrado profissionalizante não c nova, tend o nascido da Portaria M E C
977 /196 5, a qual disting uiao mestrado com o último estágio na formaçãodo aluno, que eqüivaleria ao profissional, do mestrado com o preparação
para o do uto rado , similar ao acadêm ico/ '
Ainda estão para ser precisamente fixadas as características específicas
do me strad o profissionalizante, seja em relação à especialização, seja em
relação ao aperfeiçoamento. A área de direito d a C APE S, após u m a oficina
de trabalho em Brasília à qual compareceram a suas próprias custas
representantes de quase um a centena de instituições, p rodu ziu do cu m en tosobre sua visão do mes trado profissionalizante. M uitas dessas conclusões,
contudo, tais como competência e requisitos para criá-los, exigências
curriculares para o corpo docente e o corpo discente, dent re outras, parecem
ir de en co nt ro às diretrizes gerais menos criteriosas que a CAP ES preten de
implantar, e stando a situação aind a indefinida. A gran de questão deverá
ser se o credenciam ento anterio r de um mestra do acadêmico na mesm a
área, po r parte da instituição candid ata, é pré-requisito p ara o mestrado
profissionalizante. A má técnica legislativa demonstrada pela expressão
“preferencialmente”, na resolução da CAPES, certamente levará a
equívocos. Parece duvidoso, contudo, que a CAPES venha a curvar-se
dem ocraticame nte ao que decidiu a com un idad e jurídica.
Por outro lado, a alta de m an da social da área de direito, com enta da
acima, tende a agir contrariam ente à luta da CE J-O AB e me smo do M E Cem prol da qualidade, posto que u m a indevida simplificação do mestrado
profissionalizante pode vir a calhar com os interesses de instituições m enos
sérias, tolhidas pelas exigências legais de form ação acadêm ica. Observe-se
que o mestrado profissionalizante inspira-se na realidade norte-americana,
sobretudo nas áreas ditas básicas —natura is e tecnológicas —, cuja dem anda
G i s e ld a M a r i a F e r n a n d e s N o v a e s H i r o n a k a : "‘M o m e n t o a t u a l d a p ó s - g r a d u a ç ã o , n o B ras il :
m e s t r a d o p r o f is s i o n a li z a n t e c m e s t r a d o i n t c r i n s t i tu c i o n a l , n a á r e a d o d i r e i t o ” . A n a i s d o S e m i n á r i o
N a c i o n a l E n s i n o J u r í d i c o - a s n o v a s d i r e t r i z e s c u r r i c u l a r e s e o p r o j e t o p e d a g ó g i c o d o c u r s o d e d i r e i t o .
S ão P a ulo : C M C o n s u l t o r i a . 2 9 - 3 0 d c j u n h o d e 2 0 0 0 .
77
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 78/240
social relativamente baixa diminu i o u quase elimina possibilidades para o
mero mercantilismo. Isso não significa qu e deva haver preconceito con tra
o m estrado profissionalizante, mas apenas cuid ado com sua estruturação.
De toda forma, um mestrado profissionalizante não é um mestrado
acadêmico com exigências menores: suas finalidades são com pleta me ntediferentes.
Mais próxim a da base, a graduação foi a principal p reocupação da
Lei n" 9.3 94 /9 6 (Lei dc D iretrizes e Bases da Edu cação - LD B), a qual
trouxe três novos requisitos importantes, visando elevar a qualidade do
ensino de terceiro grau e amplia r a produç ão científica. São elas a exigência
de um m ínim o de um terço do corpo docente com pós-graduação stricto
sensu, com regime de tempo integral , e com produção intelectual
institucionalizada, co m o se pod e conferir verbatim:
“Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de
formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de
extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam
por:I - produção intelectual insti tucionalizada median te o estudo
sistemático dos temas e prob lemas mais relevantes, tan to do ponto
de vista científico e cultural, q ua nt o regional c nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação
acadêmica de mestrado o u dou torado:
III - um terço do corpo d ocente em regime de tempo integral .”
Relativamente ao disposto nos incisos II e III , possuem as
Universidades 8 (oito) anos para sua impleme ntação, co nform e prescreve
o artigo 88, § 2° das Disposições Transitórias da LD B. N o en tan to, não
SC pode om itir o fato de que, frente ao grand e núm er o de cursos de direito
existentes no país (sem mencionar o imenso número de solicitações de
novos cursos) e a carência extremada de professores com pós-graduaçãostricto sensii, necessária se faz a criação de n ovos progr amas d e m estrado e
do uto rad o, para q ue se possa viabilizar a proposição legislativa dentr o d o
prazo definido em lei.
78
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 79/240
Ao lado disso, o ut ra qu estão necessita ser explicitada. O inciso I
exige das universidades a prod uç ão instituciona lizada de con hec im ento .
A concretização desse desiderate só será possível se as universidades
possuírem pessoal qualificado (ou, em outras palavras, titulado) e com
dedicação à vida acadêmica. N ov am en te surge a necessidade de formaçãode profissionais, em nível de Pós-Graduação Stricto Sensu, para que esse
obje tivo possa ser alcançado.
Saliente-se, ainda, que a nova LDB tornou ainda mais clara a
e x i g ê n c i a d a p ó s - g r a d u a ç ã o p a r a o e x e r c í c i o d o m a g i s t é r i o ,
comparativamente com a legislação anterior. E o que se depreende da
leitura do a rtigo 66;
“Art. 66 - A preparação para o exercício do magistério superio r se
fará em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de
mestrado e dou torado.
Parágrafo único - O no tório saber, reconhecido po r universidade
pública com curso de do ut or ad o em área afim, p ode rá suprir a exigência
de tí tulo acadêmico.”
No mesmo sentido da LDB, pela qualificação do magistério
superior, vai a Portaria M E C n° 1.886, que “fixa as diretrizes curriculares
e o conteúdo m ínimo do curso jurídico". A um entan do o núm ero m ínimo
de horas-aula (a r t . 1°) , ampl ia-se a necess idade de professores ;
increm en tan do o ensino extra-classe, fora da sala de aula (art. 4°), exige-se
mais disponibilidade de tempo do professor, tornando mais imperiosaainda a necessidade de capacitação pedagógica e didática; au m en ta ndo as
disciplinas “fundamenta is”, de caráter men os dog mático (art. 6°), crescem
as possibilidades de interdisciplinaridade; e insti tui nd o a obrig atoried ade
de monografia (art. 9°), a pesquisa ganha espaço na graduação, pois é
inadmissível que um professor oriente e avalie pesquisa discente sem
conh ecim ento de causa, c de m an da mais tem po do professorado.
Esses dois fatores, o inusitado au m en to no nú m ero de faculdadesde direito, respondendo a uma demanda social grande e reprimida, e a
maior gama de exigências e aumento no controle por parte dos órgãos
governamentais, fizeram com que o magistério em direito deixasse a
79
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 80/240
posição cie atividade secundária qu e assum iu d ura nte décadas, torn and o-
se um a profissão jurídica co mo ou tra qualquer. O crescimento mé dio do
salário do professor dc direito é um dos fe nôm eno s recentes mais notáveis
no m ercado de trabalho jurídico brasileiro.
Na mesma direção, o decreto 1.916, de 23 de maio de 1996,exarado pela Presidência da República, passou a exigir, nos te rmos do § 1°
e do § 5° de seu art. 1°, capacitação forma l dos doc entes q ue pr ete nd am
se habilitar a dete rm inad os cargos administr ativos mais im por tant es nas
universidades federais - reitor, vice-reitor, dir eto r e vice-diretor de Cen tro
- isco é, pertencer, no m ín im o, à classe de professor ad junto IV ou ser
doutor, por exemplo. Pressupõe-se que aquele que tem capacitação
estimulará a qualificação e a hierarquia.
O cr i té r io seguramente mais de terminante na ava l iação da
capacitação do cen te tem sido a titulação em nível de pós-graduação. N o
m esm o sentido salutar de integraçã o entr e juristas “teóricos” e “práticos”,
a expansão dos cursos de pós-graduação em direito n o Brasil vem atraindo
operadores jurídicos das mais diversas áreas, os quais não demonstram
qualquer motivação pela carreira docente ao'fazer o curso, buscandocapacitar-se para suas próprias atividades. Istp afigura-se sem diívida
benéfico, na m edid a em qu e am plia a função social da pós-graduação em
dire i to , que não se deve jamais reduzir a produzir professores e
pesquisadores, com o se fora matem ática ou quím ica fundam ental.
Isto não significa que a pós -graduaç ão em direito se deva torna r
preferencialmente profissionalizante, voltada para a faina diária de
promotore s, p rocuradores, juizes, advogados, mas sim que essas atividades
dogmáticas têm muitas e proveitosas informações a trocar em proveito
dc todos os envolvidos. Com a criação do mestrado profissionalizante
pela CAPES, ainda em fase de definição de suas regras, a área jurídica
deverá passar po r modificações substanciais.
E necessário, ass im, f ixar as diferenças entre o Mestrado
Profissionalizante e a Especialização (modalidades Magistério Superiore Profissionalizante), por um lado, e as diferenças entre o Mestrado
Profissionalizante e o Mestrado Acadêmico, por outro. Além de não
h a v e r u n i f o r m i d a d e , j á s e c o n f u n d e m h o j e E s p e c i a l i z a ç ã o e
80
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 81/240
Aperfeiçoamento, como dito, o que não deve ocorrer em relação ao
Me strado Profissionalizante.
O plano ideal de qualificação docen te não existe, pois cada região,
cada contexto, cada instituição tem suas peculiaridades. M as o currículo
m ínim o sugerido pela OAB —e tão com batido pelo C N E - certamentetom a diretrizes definidas.
Alem da p obreza generalizada enfren tada pelas agências públicas
brasileiras de fom en to à pesquisa e à capacitação - federais, estaduais,
municipais - , o q uin hão ded icado ao direito c dos menores de ntre todos
os mais de cem segm entos em que a bur ocrac ia gov ern am ental divide as
áreas de conhecimento . Apesar de os cursos jur íd icos serem hoje
m aciçamente procurados pela sociedade, em qu antid ade e qualidade deegressos dos cursos secundários, a p roporção de recursos públicos dedicados
a seu aprimoramento é irrisória, assim como é quase nulo seu poder de
decisão na educação de segun do grau. U m dos fatores fun dam en tais nesse
alhe am ento do pod er é a po uca capacitação dos juristas.
4. O futuro es tratégico da pós-grad uação na formação e qualif icação
docente
A pó s-graduação passou a ocu par lugar de destaque n a discussão
sobre o advogado q ue o Brasil qu er form ar para o terceiro milênio, o que
se insere na mesm a consciência já adqu irida pelos países ricos do prim eiro
mundo. A pós-graduação cresce a olhos vistos e em todas as direções.
M esm o assim é preciso respon der a argum en tos falaciosos, baseados emcasos excepcionais, como dizer que a pós-graduação não é garantia de
qual idade no ensino. Ta mbé m os cursos não são mais para o litígio forense,
ainda que os mesmos antiquados permaneçam dizendo isto; crescem as
atividades preventivas no direito: consumidor, ONGs, arbitramento,
conci liação etc.
Não só a pós-graduação já se tornou conditio sine qua non para
qualificação do ensino do direito, claro que sem prejuízo dos muitos out roscritérios para tal aferição, como també m essa situação já se vinha anu nc ian do
há tempos, desde que o ensino jurídico voltou a ter auton om ia e retomou
sua imp ortância com a democratização do país. Mas agora, am pliada a
81
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 82/240
graduação a níveis quase insuportáveis, o crescimento na demanda por
pós-graduaçã o em direito p arecem favas contadas.
C om este aum ento, prob lema preo cupante diz respeito à chamada
privatização do ensino superior, sobretud o q ua nd o vem ac om pan had a de
um crescente descaso pela iniciativa pública na área. Isso é partic ularmen tegrave no ensino jurídico, pois áreas sem dem an da social significativa, com o
matemática ou biologia, dificilmente se tornarão alvo da cobiça de
empresários inescrupulosos.
O Programa de Recuperação e Ampliação de Meios Físicos das
Instituições de Ensino Superior, denominação pretensiosa para um a carteira
dc empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social - B N D ES , criada há cerca de três anos, vem servindo apenas àsinstituições privadas c confessionais, igno rando in teiram ente as necessidades
das escolas públicas. E observe-se que estas respondem po r 90 % (noventa
por cento) da pro dução científica brasileira e po r um terço das matrículas
efetivas, enqua nto as primeiras co bram mensalidades que, altas ou baixas,
arrecadam bilhões de reais po r ano. E inadmissível que haja lucro para os
mantened ores ao mesmo t em po em qu e o dinheiro púb lico c usado para
investimentos que tenderão a aumentar esse lucro. Se é louvável a
disposição do M EC , com a qual a OAB e sua Comissão de E nsino Jurídico
vêm cooperando, no sentido de avaliar, fiscalizar, cobrar e até punir
instituições de ensino jurídico dc m á qualidade, é absurdo que o mesmo
M EC , responsável pela man ut en ção das lES públicas, aja co m o se nada
tivesse a ver com elas e não lhes dê absolu ta priorida de na destinação dos
recursos públicos.Ao mesm o tem po em que deve ma nter sua bem-sucedida estratégia
dc avaliação e controle da g raduação em direito, a OAB, através da CEJ
do Conselho Federal e das CEJs seccionais, cooperando com o MEC e
sua SESu, precisa olhar para o antes e o depois, ou seja, para o ensino
médio e para a pós-graduação, pois o ensino é un o e um a política global
é sempre bem-vinda. O ensino dc segundo grau tem preparado os jovens
para um exame vestibular que pouco tem a ver com as necessidades do
E li o G a s p a r i ; “A e sc o la p ú b l i c a v ir a s u c a t a . A p r i v a d a g a n h a B N D E S " . y f ; ; - ; / , ? / ã o C o m m e r c i o .
R c c i t c : d o m i n g o , 2 7 dc f e v e r e i ro d e 2 0 0 0 . p . 1 6.
82
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 83/240
curso jurídico, p rivilegiando disciplinas e capacidades m ais adeq uad as às
áreas tecnológicas ou biológicas. Mesmo compurando o maior número
de candidatos e o alto grau de competitividade no vestibular, os cursos
jurídicos não parecem exercer influência sobre o conteúdo do exame, que
ignora po nto s im por tan tes e privilegia matérias estranhas às necessidadesdo fut uro bacharel. O diferencial de classificação no vestibu lar de direito,
assim m ostra a experiência, vem s endo a capacidade de o alu no lidar com
informações que lhe serão de pouca ou ne nh um a valia com o profissional
do d ireito. Algumas m odificações no exam e vestibular seriam suficientes,
pois os colégios e cursos preparatórios ce rtam ente adaptar-se-iam a reboque.
5. O di lema entre controle (coerci tivo) e au ton om ia (responsável) naavaliação da pó s-gradua ção
Este é u m dilema que tem ac om pa nh ad o a teoria geral e a filosofia
do direito na modernidade, qual seja, em que medida a coercitividade
caracteriza o direito e pode garantir o cu m pr im en to inexorável de normas.
Aqu i entram a SESu, o CN E , a OA B, em nível de graduação, e a CAPE S,
no que concerne à pós-graduação, assunto a ser mais detalhadamente
tratado agora.
N ada obsrance a carência de dados objetivos a respeito, parece um
lug ar-com um a afirmação de qu e o Brasil possui um dos melhores sistemas
de pós-g raduaç ão den tre os países subdesenvo lvidos. E isto se tem devido
sobretudo à CAPES, enquanto fator indutor de qualidade. Logo, se a
área de direito pre tend e, c om o obri gam os fatos, fazer pós-graduaç ão, elatem que se adaptar à CAPES e vice-versa, isto é, defendendo suas
especificidades.
A novidade no contexto é o grau de exigências do MEC, o qual
sem dúvida au m en tou em todos os níveis educacionais. Mas, en qu an to
os indicadores parecem apontar para um aumento de invest imentos
governamentais nos ensinos fun dam enta l e médio, os investimentos no
ensino superior não correspondem. £ sabido que o M E C e rodos os demaisministérios estão subordinados à polít ica econômica do Ministério da
Fazenda. E também compreensível que o MEC exija e até ameace de
fechamento, acredite quem quiser, as instituições privadas cujos indicadores
83
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 84/240
seguidamente não vêm correspondendo aos padrões mínimos fixados;
mas este não pode ser o caso com as instituições públicas federais, cuja
manu tenção e qualidade são responsabilidade exclusiva do p rópr io M EC .
Sc os docentes das públicas não estão suficientemente qualificados, se os
funcionários administrativos são incompetentes e desmotivados, e adedicação exclusiva c um eng od o e se os professores substituto s fo rm am
metad e do co rpo d ocen te, d entr e o utros diversos dados, isso é porq ue os
salários não conseguem atrair, não há concursos, não h á política de ensino
superior. Se não há infr a-es trutura con diz ent e e as condiç ões de trabalho
são insuficientes, em suma, é porque o próprio governo não investe.
Mui tas das re iv indicações dos movimentos de docentes c
funcionários parecem fazer sentido em um conte xto nacional no qual as
universidades públicas têm sido s ubm etid as a vexames, seja em term os de
discursos ambíguos sobre seus destinos e de entrega dos mesmos a
buroc ratas ignorantes de sua realidade, seja em termos da falta de apoio ao
que se poderia vislumbrar como uma inteligência nacional, sobretudo
tend o e m vista recursos de tra balh o científicos.
E notc-se que a falta de cuidado para com as especificidades daárea de direito é mais u m fiuor, em prejuízo dos cursos jurídicos, que não
vem sendo considerado na definição de conceitos avaliatórios básicos
empregad os pelos comitês assessores da CA PES, tal com o o de “inserção
internacional”, considerado pela CA PES c om o u m critério definido para
as pontuaç ões máxim as de 6 (seis) o u 7 (sete): é evide nte mente bem mais
fácil para áreas tecnológicas public ar no exterior, po sto que, entre ou tros
motivos, seu objeto não depende de conte xto social e cultural específico eseu vocabu lário é mu ito mais simples e reduzido. As ciências hu m an as e
sociais nunca tiveram m esmo espaço isonôm ico no Brasil e a área de direito
deve vir a ter papel frontal na modific açã o desse estado d e coisas.
A eficácia de norm as jurídicas de plane jamento depende do que se
p o d e a n a l o g i c a m e n t e d e n o m i n a r d e m a n u t e n ç ã o , i s t o c , d e
ac om pa nh am en to e adaptações ao longo da aplicação efetiva do currículo
planejado.A decadência do ensino jurídico, nem sempre isentamente
discutida, não é só um produto do regime militar e da política de
rec rutam ento de docentes levada a efeito nas últimas três a qu atro décadas,
84
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 85/240
mas t am bé m da falta de co ntinu ida de nas sucessivas tentativas de avaliação.
Agora que as coisas pod em com eçar a mudar, q ue ressuscitam os critérios
de qualidade e difÍcultam~se os de apadrinhamento, as pressões em
contrário tendem a aumentar. A avaliação de um corpo docente deve
privilegiar critérios com o o conc urso público, que gera a indep end ência ,o reconhecimento nacional, que possibiHta a competição saudável, a
qu an tida de c om qualid ade de publicações, que enseja a avaliação limpa e
aberta dos pares sobre os próprios pares. E deve recusar, ao contrário, a
depe nd ên cia r esultan te da acum ula ção d e sinecuras, a troca de Favores, o
direito de sucessão sobre prestígios alheios, o bo m relacio nam en to com o
poder polít ico etc. E m s uma, os mesm o critérios que têm dad o certo em
outras partes do m un do .
A endogenia de um corpo docen te de pós-graduação, por exemplo,
elem ento fiicilitador do ap adr inh am ent o e do n epotism o, e po r isso mesm o
considerada defeito da m aior im portân cia em sistemas educacionais de
qualidade, com o o alemão, vem sendo seg uidam ente desconsiderada no
Brasil, pois as maiores universidades - e muitas das menore s - são tamb ém
as mais endogênicas: seus corpos docentes fizeram m uita s vezes graduação,mestrado, dou torad o, livre-docência e titularidade n a pró pria instituição.
No que concerne a controle e avaliação da pós-graduação em
direi to , a CAPES inst i tu iu , dentre outros cr i tér ios mais ou menos
definidos, para todas as áreas, o conceito de “núcleo de referência docen te”
ou N R D , o qual compreende do N R D 6 —mais a lto - ao N R D 1 - mais
baixo. D o em aranhad o de normas e orientaçõe s e m vigor pode-se tirar o
seguinte esquema:
N R D l - Docenres há mais de nove meses no Programa de Pós-Graduação.
N R D 2 - Docentes há mais de nove meses no Programa de Pós-Graduação
e regime de trabalho de 30 horas semanais ou mais na Instituição a que
pertence o Program a de Pós-Graduação.
N R D 3 - Docentes há mais de nove meses no Programa de Pós-Graduação,regime de trabalho de 30 horas semanais ou mais na Instituição a que
pertence o Programa de Pós-G raduação e dedicação ao Program a de Pós-
Gra duaç ão de 30 % ou mais de seu tempo.
85
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 86/240
N R D 4 - N R D 1 com vínculo permanente com a Instituição a que pertence
o Programa de Pós-Graduação (CLT ou Estatutário).
N R D 5 - N R D 2 com vínculo permanente com a Instituição a que pertence
o Programa de Pós-Graduação (CLT ou Estatutário).
N R D 6 - N R D 3 com vínculo permanente com a Instituição a que pertenceo Programa de Pós-Graduação (CLT ou Estatutário).
O prim eiro p rob lem a qu e aparece diz respeito aos cursos de pós-
graduação novos, que investem na contratação de professores no m om en to
de sua criação, pois a m en or classificação, N R D 1, já pressupõe a presença
do professor há um ano letivo. Na área de direito, na qual a dedicação
exclusiva desempenha um papel be m menos significante do que em outras
áreas, a avaliação do N R D deve dizer respeito mais à dedicação de te mpo
do que ao fato de o professor de pós-graduação ter ou não ou tro trabalho.
Um juiz ou um advogado militante pode perfeitamente ser NRD 6,
m esmo sabendo-se que ele dedica pelo m enos metad e de seu tem po a sua
atividade não-acadêmica. Em compensação, um professor que é só
professor pode ser N R D 6 em dois programas ou mesm o N R D 5 em trêse assim progressivamente. Pela especificidade da área do d ireito, o N R D
precisa ser melhor definido. Em geral, a acuai concepção do NRD c
imprecisa, pouco transparente e peca po r seu caráter meram ente formalista,
conc entrada em horário e vínculo, esquecendo fatores importan tes com o
a produção científica e a orientação.
Diante da recém-ins t i tu ída P la taforma Lat tes , reunindo as
principais agências de fo m en to brasileiras, a qual deverá to rn ar púb lica eacessível toda a prod uç ão científica do país, o contro le e a avaliação dos
NRDs dos programas de pós-graduação deverão tornar-se mais fáceis,
completos e transparentes.
Não e de estranhar, também, que o Conselho Federal da OAB,
na condição de responsável pelas atividades da Comissão de Ens ino Jurídico
perante a sociedade, seja pressionado pelos diversos interesses contradi tados.
E um a incógnita se os níveis de qualidade virão a ser m antidos , so bre tudoem épocas de nova eleição e renovação dos quad ros de rep resentação dos
advogados. Para isso é essencial a inde pe nd ência dos critérios de m érito
aplicados pela Com issão de Ensino Jurídico.
86
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 87/240
Forres inreresses são pre judic ados, co n tu do , pois as faculdades de
direito se torn ara m um negócio altam ente rentável para diferentes setores,
sob retud o mas não apenas no plano empresarial. Então , é o ensino jurídico
que sofre os ataques dos diletantes, visionários e empresários sem
escriipulos, os quais dificilmen te dem on str am interesse em criar cursos debotânica ou filosofia. Nos últ imos cinco anos, qu an do a OA B começa a
atuar seriam ente e consolida as ações de sua Co missã o de En sino Jurídico,
foram autorizados cerca de 160 (cento e sessenta) cursos de direito, dos
quais apenas 43 (quaren ta e três), isto é, pou co mais de u m qu arto, foram
aprovados pela refer ida comissão. Como o parecer da OAB não é
vinculatório, esses projetos rejeitados foram aprovados no Conselho
Nacional de Educação e no M EC .
A importância do binômio est ímulo aos cursos sérios versus
d e s e nc o r a j a m e n t o dos c u r s os de m á qua l i da de d i f i c i l m e n t e s e r á
superestimada. Um entrave à ação da OA B te m sido a oposição contu m az
que o C N E tem feito à luta pelo currículo m ínim o e por u m maior grau
de exigências de qualificação por parte dos cursos de direito. Repita-se
que a situação da área de direito é única, pois não há comparação em
niim ero exagerado de cursos. Áreas sem d em an da social não ensejam cursos
caça-níqueis e outros cursos de forte demanda, como medicina, exigem
muito maiores invest imentos. Baseado em uma isonomia al tamente
discut ível , por esses e outros motivos, o CNE tem-se pronunciado
reiteradamente contra a Portaria M E C 1.886/94, tendo inclusive obtido
hom olog ação a u m parecer que sugere sua revogação.
D a í que , m e s m o t e ndo r e s gua r da do um pouc o m a i s s ualegitimidade para pron un ciar-s e sobre o ensino jurídico no país, através
da lei que é seu estatuto, a OAB vem enfrentando dificuldades neste
campo. Claro que mais coercitividade seria desejável, pois direito sem
sanção é chama que não arde, fogo que não queima.^ Como e o MEC
que d etém a força legal para descredenciar cursos sem qualid ade m ínim a,
é preciso desenvolver trabalho conjunto: com a SESu e o CNE no que
^ C o m o d e f e n d i a T o b i a s B a r r c ro d c M e n e z e s ; Q u e s t õ e s v i g e n te s - d e p h i l o s o p h i a e d c d i r ei to .
Recif-c: T y p o g r a p h i a P e r n a m b u c a n a , 1 8 8 8 , / ' / w / w .
87
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 88/240
concern e a criação e fiscalização de cursos de graduação; com a CA PE S no
qu e concerne a criação e fiscalização de cursos de pós-graduação .
Conseqüentemente , mesmo que o MEC venha a homologar
pareceres ou solicitações do C N E po r sua revogação, é necessário m an ter
as diretrizes da Portaria 1.886, sobre a qual toda u m a política foi construída ,com bons e evidentes frutos que só setores predo min antes no atual CN E ,
intei ramente desavisados da realidade do ensino jurídico brasileiro, parecem
quere r ignorar. Os valores consagrados na Portaria 1.886 não po dem ser
deixados ao sabor de governos e con jum inânc ias políticas depen den tes da
compo sição de conselhos e ministérios.
Para isto a OAB, através de sua Comissão de Ensino Jurídico e
com o apoio das Comissões de Ensin o Jurídico das Seccionais, ain da que
sem po de r coercitivo, deve criar um a lista classificatória, u m rankingói2&
faculdades de direito brasileiras, r eu nin do critérios próprios e internacionais
de avaliação, a fim de gerar u m a consciência persuasiva e alertar a sociedade
e as instituições bem -inten cion adas , o bte nd o aind a mais transparên cia na
ação moralizadora em prol da qualida de do ensino do direito e respaldo
da sociedade para essa ação.Os critérios de avaliação das Instituições de Ensino Superior, assim,
precisam ser con stan tem ente aplicados, c ond icio nando a autorização para
fun cio nam en to d e cursos e seu reconh eci me nto a sucessivas avaliações em
intervalos dete rm inado s de te mp o. A área de direito precisa conquista r a
importância que merece, sem separar seu desempenho social de seu
desempenho acadêmico, pois a união dos dois campos de atuação virá
com certeza m elh ora r a eficiência e a celeridade da justiça, pos to q ue é afalta de preparo dos agentes jurídicos u m a das grandes causas dos problemas
jurídico-institucionais em nosso p a í s ,o n d e a união entre os aspectos
acadêmico -científico e prático -instituc ional só trará benefícios.
'* A n d r c a s K r c ll : " R e a l i z a ç ã o d o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s s o c i a is m e d i a n t e c o n t r o l e j u d i c ia l d a
p r e st .! ç á o d o s s e r vi ç o s p ú b l i c o s b á s i c o s " . A n u á r i o d o s c u r s o s d e p ó s - g r a d u a ç í w e m d i r e i t o n " 10 .
R e c if e : U n i v e r s i t á r ia d a U F P I : , 1 9 9 9 , n o p r e l o , e ,í b i b l i o g r a fi a al i a p o n t a d a .
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 89/240
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA, SENTIMENTOS
SOCIAIS E CONFRONTOS DE QUALIDADE
NO ENSINO JURÍDICO
José Adriano P into
Sum ário: 1. Introduç ão. 2. Auto no m ia universitária e sentim entos sociais.
3. Co nfro ntos de qualidade no ensino jurídico. 4. Sentim ento s sociais,
formação profiss ional e confrontos corporat ivos. 5. Confrontos de
qualidade, livre empresa e ética profissional.
1. Introdução
O destino da Universidade e, em especial, seu apare lham ento para
oferecer ensino ju rídico qualificado se faz, cada vez mais vinculado à relação
entr e integração econô mica, estru turas jurídico -políticas e cidadania.Co nco m itantem ente à resistência con tra a cham ada reforma do
sistema federal universitário, assistimos nos dias atuais a um a reorganização
dos espaços da autonomia universitária segundo anseios e sentimentos
sociais, em diferentes níveis, pro jctando-se, em destaq ue c ircunstancial, a
construção de padrões socialmente valorados para a atividade dos chamados
operadores d o direito.
O presente escrito agita idéias provocadas pela vivência acadêmica,profissional e, sobretudo , pela participação na Com issão de Ensino Jurídico
do Conselho Federal da nossa OAB, onde, desta feita, nos foi proposto
colocar sob o título anunciado, articulações de visões e expectativas
integrados aos valores, sentim ento s e confr ont os envolvidos n a formação
dos operadores d o direito.
Em outras palavras, pretendemos resolver o encargo recebido,
oferecendo algumas faces das m uitas q ue se po de m apresentar qu an do sevão quest ion ar as perspectivas jurídicas, políticas e sociais que se oferecem
em termos de cidadania diante da realidade brasileira profundamente
afetada pela mudanças provocadas pela nova ordem constitucional e o
89
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 90/240
contraponto de seus valores afetados pelo processo de integração
econômica.
2. Autonomia univers i tár ia e sentimentos sociais
A criação de novas estrutu ras institucionais de pode r oriundas dos
anseios e sentim entos fund ado s em valores dem ocráticos, sofre evidente
desvio desse processo social forma lmente proclam ado , que interessa e afeta
também as aplicações da autonomia universitária e do ensino Jurídico
com o instrumen tos de construção da cidadania.
Falar de estrutura s institucionais, de sen tim entos e valores sociais,
significa con tem pla r os desvios do discurso político, em todos os níveis, e
da resistência às con junturas de po de r em todos os grupos sociais, inclusive
dos que afetam o processo educativo.
A cidadania, em seu aspecto jurídico-p olítico, com o m ostr am os
diferentes modelos his tóricos , é sempre cons t ru ída com re lação a
determ inada s estruturas Jurídico-políticas de poder.
Não vamos cons ide ra r qua i squer pos ições conce i tua i s dadiferenciação que se faz entre Sociedade e Estado, mas entre a nossa
sociedade em m ud ança e a estru tura institucional de poder, on de se fazem
os desvios que afrontam os sentimentos e os valores para os quais se
deveriam voltar as aplicações da a uton om ia universitária, d o ensino jurídico
e de todas as poten cialidades de in ferência no p rocesso educativo.
Nesse contexto, alem dos agentes institucionais da estrutura de
poder, a Escola de ensino jurídico, as corporações dos operadores do Direitoe, em especial, a OAB, po de m e devem atua r para a construç ão da cidadania
segund o sentim ento s e valores proclam ado s no discurso político.
En tende mos que existe em desenvolvimento u m processo de poder
econôm ico e corporativo acom pan had o de u m a sustentação legalista, onde
a cidada nia encontra -se en fraquec ida em seus aspectos políticos e sociais,
restando uma visão do cidadão reduzido a um mero dado econômico,
inclusive qu an do se trata de p rop orcio nar-lh e a formação jurídica.Certamente, existe no Conselho Federal da OAB, assim como
em todas as unidades de nossa corporação, e também da maioria dos
empre endedores da atividade educativa, um sen tim ento geral de perseguir
90
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 91/240
a qualidade do en sino jurídico, mas, o esforço indu tivo desenvolvido por
esra Comissã o de Ensino Jurídico t em sido inco mp reendid o, muitas vezes,
predominando a visão tormalista, o interesse meramente polít ico ou
financeiro.
Exisre uma lógica de acesso ao mercado do ensino jurídico que
opera o interesse de obter um pron tuár io de qualidade fincado na aprovação
do curso pelo Conselho Federal da OAB, mas, busca encontrar meios e
m odo s de escapar de critérios que são estabelecidos para evitar-se o culto
ao prestígio oficial, político, corporativ o, econômico , preservando-se nível
de credibil idade funda da na ind epe ndê ncia dos juízos de valor que são
produzidos.Essa independência dos juízos de valor contrapõe-se à lógica
fisiológica próp ria da cul tura p re do m in an te na vida social brasileira, onde
se estabeleceram verdadeiros mercados da pressão, coerção c peso das
personalidades.
Portanto, é comum, devendo aumentar , o confronto entre o
dese mp en ho d a CEJ e os interesses específicos e localizados, na geração de
um reconhec imento de qualidade a ser pronu nc iado pelo Conselho Federalda OAB, onde já se tem po ntua do a ausência de compreensão qu anto a
necessidade de preservar valores e sentimentos sociais alem da órbita
meramente legalista e/ou dos interesses e conveniências periféricos às
vinculações profissionais, políticas e corporativas.
E preciso remover, inclusive do âmbito do Conselho Federal da
OAB, o s r e s sa l t o s d e ap eg o à s f ó r m u l as d o g m át i ca s , ao t r a t o
processualístico no que pertine à contemp lação da eventual inconformid ade
de destinatários da proclamação negativa de qu alidade dos cursos jurídicos
examinados pe la CEJ , sob pena de comprometer a c red ib i l idade
conquistada pela nossa corporação como agente ind uto r de mudança s no
processo educativo voltado para a formaç ão de operad ores d o D ireito.
A resistência a essa mu dança busca enco ntra r n o sent imento legalista
e na suposta perda de a uto rida de colegial dos conselheiros federais, u mpatam ar de sustentação para con torn ar os juízos técnicos formulad os pela
CEJ co m fundamencos em valores e sentim entos sociais qu e não po dem
ser a feridos sob o calor da decisão assemblear p on tu ad a p or injunções de
91
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 92/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 93/240
legitimação do livre jogo do mercado socorrido por elites intelectuais,
corporativas e políticas, sem compreensão do esforço indutivo de qualidade
desenvo lvido pela CEJ.
Entretanto, é fundamentai pensarmos a diferenciação entre o
âmbito da proposta e dos dados materiais concretos que possam gerarcrença justificadora de uma manifestação favorável a mais um curso de
ensino jurídico.
A ideologia da livre qualificação dos projetos de novos cursos
jurídicos atende, de maneira óbvia, aos in teresses fis io lógicos e do capita l
na m edida em visa a escapar de qualquer t ipo de con trole m aterialmente
fundado.
O d e s e m p e n h o d a O A B , m a n t i d o a t é a g o r a , c o m
imp ermeab ilidade às forças do pod er econôm ico e político, foi responsável
pelo desenvolvimento da idéia que a sociedade não estará a ten dida em
seus sen t ime ntos e valores pelo nú m ero de cursos jur ídicos existentes
m a s , f u n d a m e n t a l m e n t e , p e l a q u a l i d a d e d o e n s i n o q u e p o s s a m
oferecer.
Vemos, na verdade, que a OAB con tribu iu decisivamente para aformação de uma nova ordem de concepção quanto ao ensino jurídico
que c om po rta certas transferências de com petê ncias que, estávamos
habituados a considerar como atribuições exclusivas do Estado e das
instituições universitárias.
A possibilidade institucional de exercício de direitos conforme a
ofer ta de pressupostos para a qual idade do ensino jur ídico, agora
submetido ao valor de mercado gerado pela credibil idade conquistada
pela OA B, bem m ostra o papel catalisador dessa atuação.
Efetivamente, além da autorid ade formal, o cidadão vai encontrar
na OAB um novo t ipo de proteção, traduzida em valor comunitário,
co ntra os direitos dos ma nten edo res, das comp etên cias dos conselhos de
educação, da auton om ia universitária, onde e qu an do tud o isto desatenda
os sen tim en tos e valores sociais.Assim, no qu adro da construção da qua lidade do ensino jurídico,
a atuação da OAB é um novo i tem na medida em que dá ao cidadão a
possibilidade de ter proteçã o de um a Jurisdição de m ero juízo de valor,
93
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 94/240
externa ao Estado, co nfro ntan do meros parâm etros de legalidade com a
lógica de so lidariedade social.
Ate o mo m en to, vemos claram ente que falta ao desemp enho da
OAB, ainda, a consolidação dessa nova área de defesa da cidadania,
pod end o ser destacadas algumas questões em anda m ento .Em primeiro lugar, existe um desvio político do tipo funcional ista
no âm bito das unidades federativas da OA B, inclusive em seu Conse lho
Federal, que associa de maneira linear uma aproximação de culturas
corporativas e de ate nd im en tos a interesses particulares.
Em segun do lugar, a ausência da liberação dos valores me ram ente
dogmát icos c /ou s i s têmicos ge ra sens ib i l idade t ranspos ta pa ra o
aproveitamento do mercado de ensino jurídico centrado no lucro e/ou
no mero aten dim ento político.
O reflexo dessa constatação materializa-se em desdobramentos
que constituem sinais preocupantes de resistência e/ou desvirtuamento
do desempenho institucional da OAB, responsável pela credibilidade
conquistada com o agente ind uto r da qualidade do ensino jurídico.
Exatamente por ser uma construção social em andamento, odesempenho da OAB como agente propulsor da qualidade do ensino
jurídico necessita de mecan ismos de presei-vação, dada a crescente valorização
fisiológica atribuída à sua manifestação em favor dos projetos de criação e
de re conhec imen to de cursos jurídicos.
3 . Co nfrontos de qual idade no ens ino jur íd ico
Dentro dessa realidade exposta, pode e deve a OAB levar em
consideração co m o item d e qualid ade dos projetos qu e são oferecidos ao
seu exame, os valores e sentimentos sociais em ebulição no processo de
mudança, ainda qua nd o barrados pela legalidade emergente sob influência
do poder econôm ico e dos humo res governamentais.
Na verdade, em sendo a proclamação de qualidade do curso jurídico feito pela OAB fundada em juízo de valor e destinada a conferir
mera referência para a autoridade ministerial, ela deve propiciar um
contraponto de agitação dos sentimentos e valores sociais, legitimado.
94
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 95/240
exa tamen te , pe l a c red ib i l idade conqu i s t ada jun to à soc iedade em
decorrência da luta por m uda nças em favor da cidadania.
E nesse sentido que já se fez co ns um ad o e aceito pela com un ida de
dos emp reendedores d a atividade de ensino j urídico, m uito s itens externos
à legalidade, como é o caso da denominada necessidade social , doaparelhame nto adeq uado à otimização de funciona me nto, d a formação e
remuneração docentes, entres outros, que todavia não esgotam os
parâ me tros de m aterialidade para qu e a OAB possa exercer seu juízo de
con venc imen to para proclamar a qualidade do curso.
Ex i s t e , po r exemplo , uma ques t ão a t é agora de ixada sem
consideração pela CEJ, na qual, certam ente, se rec om end a co m o item de
materialidade para formação do juízo de qualida de social do curso, qual
seja o regime de trabalho do pessoal administrativo.
Porque a CF /8 8 refere-se ao regime de tra balho dos docentes, a
CEJ o tem adotado como critério seletivo, mas, pensamos nós que se
im pu nh a avançar mais no sentido de a ferir, ta m bém , o tratam en to dado
ao corpo administrativo d a instituição, pois isto ta m bé m interfere com o
des em penho geral que se possa pre tend er para minis trar o ensino jurídico.N ing ué m pode desconhecer ou negar que a questão do t rabalho
aparece como elemento presente na dinâmica social, revelando-se no debate
atual sobre as relações de trabalho em que os paradigmas existentes tor nam-
se insuficientes para dar conta das m uda nça s ocorridas nos últimos anos.
Nesse sentido, o regime de trabalho do doc ente, assim com o do
pessoa l de apo io admin i s t r a t ivo , pode se rv i r como um e lemen to
impor tan te na c red ib i l idade dos modelos t eó r i cos , bem como nareconstrução dos m ecanism os de gestão do ensino jurídico.
A temática do regime de trabalho é aind a mais relevante qu an do
não se pode deixar de con sider ar a realidade dos graves prob lem as sociais
provocados pelo atual processo de reestruturação do trabalho, cuja
conseqüê ncia mais evidente é o desemprego .
Con traria o espírito universitário e os sentim entos gerais de qu antos
contemplam a nossa realidade social que o processo educativo possa ter
desenvolvimento aproveitando-se da lógica econômica perversa que
do m ina as açÕes governam entais e norte ia os em pre en dim en tos na área da
educação, especialmente quando envolve o ensino jurídico, pois, neste
95
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 96/240
não existirá qualidade onde e quando for postergada a preocupação
com as formas de solidariedade social , ou se contribua para o seu
esfiicelamenro.
Na formação do advogado, onde o meio provedor de sua
capacitação cultural e profissional jamais pode ser considerado umelem ento neu tro, impõe-se dar-lh e sensibilidade para distingu ir e reagir,
como possível, contra a nossa sinistra realidade social, onde o processo
político, econômico e educativo gera categorias de excluídos, sendo
op ortu no e adequ ado que a OA B possa, em sua intervenção meram ente
opinativa sobre a crença de u m projeto de qualidade para o ensino jurídico,
atuar para remover do regime docente e administrativo os mecanismos
que sacrifiaini a integração social.
Não será despropositado afirmar que Íntegra o ensino jurídico,
faz parte da formação do advogado, a sua convivência com a realidade
inte rna da instituição, qua nd o esta lhe deve repassar a sensibilidade para a
realidade social externa, com os temas da cidadania, e das relações do
capital colocados, necessariamente sob reflexão que im pu lsion a a próp ria
visão do direito.D e ou tra parte, se o currículo pro pos to pa ra o projeto de curso de
direito oferece desenvolvim ento de u m a linha de estudo e/ou de pesquisa
sobre as relações de trabalho, com a adoção de u m enfo que interdisciplinar
que busque a interação das diversas disciplinas que estudam o trabalho
como elemento social sob a ótica do Direito, cumpre verificar se existe
um a prática, fu nda da nesse valor social, p or q ue m se pro põ e a oferecer
ensino jurídico com diálogo pe rm an en te entre o Dire ito e a Sociologia.A interdisciplinaridade entre o D ireito e a Sociologia n ão há de
ser mero discurso acadêmico, c um pri nd o à instituição universitária que
minis t ra o ens ino jur íd ico demonst rar que empres ta execução de
conse qüên cia dos valores qu e são colocados par a a formação jurídica.
N a verdade, sendo real o dilem a de conciliar o direito com o fato
social capaz de gerar solidariedade social, ao mesmo tempo que seja
m ecan ismo eficaz de regulação da vida social em regime on de prospera o
po de r econ ôm ico e o po de r político, essa questão há de ser enfrentad a e
resolvida pela instituição de ensino jurídico em suas próprias estruturas
administrativas.
96
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 97/240
Sabido q ue a interdisciplinaridade entre o direito e a sociologia
leva ao operador do direi to uma melhor compreensão da real idade
social, deve ser cobrada de quem vai ministrar o ensino jurídico com o
pressuposto da interdisciplinaridade a superação do sistema institucional
adm inistrativo fmcado nos limites da legalidade.Q ua n d o o discurso acadêmico projeta a formação dos operadores
do Dire ito com fu ndam en to n a percepção dos valores e sentim entos sociais,
a sua credibilidade passa, necessa riamente, p or um a prática reveladora de
que esse com prom isso deve ser de todos, e specialm ente dos que exploram
com o atividade econô mica o ensino jurídico.
A fo rmação dos operadores do Di re i to p roporc ionada por
empreend imen tos que r e t i r am dessa a t iv idade educa t iva p rove i to
econômico e /ou pol í t i co , se faz opor tunidade para cobrar -se dos
empreendedores demonstrarem algo mais do que o anúncio de uma
vonta de transcendente, mas, tam bém , a execução de um processo fruto
de uma prá t ica imanente , como conseqüência d i re ta de uma nova
solidariedade social, sem qu e o direito oficial a ten ha estabelecido.
Devemos compree nder que a produção de um determina do sabersobre a realidade jurídico-social envolve tod o o con texto no qual se insere
o ap rendizado, as condições de criação do saber jurídico.
Pensamos que medrou o esforço desenvolvido pela OAB para
que os novos cursos viessem p rojetado s c on for m e as diretrizes tornadas
oficiais, mas, entendemos que não se deve buscar qualidade na simples
pluralidade enunciativa de propósitos, de textos, hoje, uma espécie de
jogo de espelhos, onde a elaboração técnica dos projetos de cursos juríd icos
oferta um sistema de reenvio de um a im agem rem eten do a outra.
O reconhecimento do valor dessa pluralidade de imagens, de
conceitos e de representação no seio desse discurso acadêmico, não
prescinde de encontra r elementos materiais que nos perm itam acreditar
na execução de certos en unc iado s e de certos propósitos.
O s enunciados jurídicos, que se expressam na teoria, não po demser vistos fora do co nj un to das relações sociais, ou, d o m od o de pro du ção
da vida social, pois são partes constitu tivas das relações sociais, s ignificando
que o discurso possui u m a existência material, no sentido de q ue ele obedece
97
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 98/240
a uma mater ia l idade de ordem ins t i tucional , a qual def ine suas
possibilidades e seus limites.
Esse aspecto inst ituc iona l das práticas jurídicas sc revela através de
“regra dc juízo”, na qual o direito é aplicado a partir dc u m dado contexto
his tórico e social.E a “regra de juízo” que t or na possível identificar e co mp ree nd er
como, dentro de u ma certa regularidade, ocorrem mudanças no conteúdo
do direito.
O direito está am ar rad o a certos tipos de racionalidade, isto é, o
que se tem como verdade jurídico-social , num dado momento e num
da do lugar, depen de tam bé m de critérios da orde m d o saber, significando
qu e as “regras dc juízo” co nd icio na m a ma neir a d e pensar e de agir.
O direi to compree nde u m conteúd o normat ivo, u m sis tema de
normas jurídicas, um corpo de teorias ou doutrinas e um conjunto de
decisões judiciais, mas, em todas as suas faces possui u m cará ter reflexivo,
em suas manifestações reguladoras das práticas sociais, onde tem lugar,
cm certas relações, um a prática regida por regras de condições de existência,
ou seja, p or “regras de juízo”.
Entretanto, estas são condições de possibilidade não só para as
práticas jurídicas, mas t am bé m para a “comunicação social geral”, ou seja,
as diversas práticas sociais existentes nu m a sociedade estão subm etidas às
mesmas regras de existência.
As diversas práticas sociais, apesar de constituírem formações
discursivas próprias, fazem pa rte de u m a m esm a unid ad e discursiva mais
am pla que as condiciona.Nessa perspectiva, dá-se o ro m pi m en to das clivagens cristalizadas
no direito estatal, para adotar-se um a lógica aberta a um a concepç ão dc
com plem entarida de e de comunicaç ão vinculada ao con junto do espaço
social, ou ao “m u n d o da vida”, ao qual elas devem o briga toriamente estar
ligadas.
As práticas discursivas, dent re as quais se situa a esfera do direito,
estão articuladas co m o “m u n d o da vida”, pois a idéia da resgatabilidadede pretensões dc validade criticáveis impõe idealizações, produzidas
pelas pessoas que agem comunicativamente, em sua órbita de influência
social.
98
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 99/240
Para romper com a ideologia da independência do direito e do
corpo social, é preciso levar em co nta que as práticas e os discursos jurídicos
são, com efeito, produtos do funcionamento de um campo cuja lógica
específica está determinada, de um lado, pelas relações de força própria
qu e lhe confere a sua estrutura e que ori en tam as lutas de conc orrênc ia ou,mais precisamente, os conflitos de com petê ncia q ue nele têm lugar e, por
ou tro lado, pela lógica intern a das obras jurídicas que d elim itam cm cada
m om en to o espaço dos possíveis e, deste mo do , o universo das soluções
prop riam ent e jurídicas.
O enfraquecimento dos laços de solidariedade, provocado pela
exclusão dete rm ina da pelo pode r econ ôm ico, recalca a solidariedade em
favor da lógica do mercado.
No caso da a tuação da OAB como agen te fo rmulador de
reconhecim ento de crença na qualidade do ensino jurídico a ser propiciado,
cu m pre contrap or-se a essa lógica perversa, ap on ta nd o para ações sociais
com um sentido, ao mesmo tempo, l ibertário e comunitário.
C om o agente social que logrou co nquista r a credibil idade que se
quer emprestada em favor da qualidade do curso jurídico, a OAB não
po de ficar indife ren te às características específicas de nossa estrutura social,
dos sentim ento s e anseios que envolvem o processo educativo.
A sociedade brasileira caracteriza-se por uma prática política e
econômica de exclusão social, de negação da solidariedade, fatores que
consti tue m um a das vertentes do discurso público da OA B, nem sem pre
efetivado no processo deliberativo inte rno que, algumas vezes, segue um
dogmatismo inaceitável ou cede às pressões que se fazem característicasem nossa história política, e conô mic a e social, pro fu nd am en te excludente
e concen tradora.
N o plano da am plitud e de interesses que atuam sobre o processo
deliberativo da O AB , propicia-sc a incidência desse mod elo de exclusão
social em situação concreta , em bo ra prevaleça o discurso d a solidariedade
social, que /ãcilmente vai frustrado num a cul tura jurídica fechada, marcada
pelo form alismo e pelo dog m atis m o exegético.A percepção desse desvio do discurso da OAB, que logrou
conquistar espaço nos resultados dos mo vim en tos sociais que projetaram
mudanças institucionais nos anos 70 e 80, é fun dame nta l para a preservação
99
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 100/240
dessa conquista junto aos detentores do poder econômico e político e,
sobretudo, perante os setores sociais mais desfavorecidos em termos de
cidadania.
A partir dessa credibilidade social conquistada impÕe-se à OAB
refletir um pouco mais sobre suas funções intei-ventivas no processo deproclam ação da qua lidade dos cursos jurídicos.
Através dessa sua atividade in terven tiva no processo educacional
pode c deve a OAB atuar em busca da efetividade social de princípios
contidos na C F/8 8, no tad am en te aqueles qu e se referem à justiça social,
aos direitos sociais, à cida dan ia e à solidariedade.
Dizemos “efetividade social”, considerando que, do ponto de
vista formal, a CF/88 expandiu os direitos sociais, estabeleceu um padrãovalorativo da cidadania dc plena efetividade jurídica, sem, contudo,
corresponder a resultados dc avanços sociais concretos , para cujo
retardamento contribui o profu nd o enr aizamento de um a cultura jurídica
sedimen tada no formalismo.
A intervenção da OAB na questão da cidadania, tendo com o eixo
a sua participação no processo hom ologatório oficial dos empreendimentos
destinados ao ensino jurídico, por via do qual se vai proporcionar
sentimen tos e valores básicos na fu nd am enta ção teórica da formação dos
operadores do Direito, pode contribuir para a criação de uma cultura
juríd ica aberta que rom pa com o formalism o exegético, mas sofre,
contradi tor iamente , os e fe i tos desse formal ismo em seu processo
deliberativo destinado a expressar sua proclamação de qualidade dos cursos
jurídicos em si tuações concretas.Urge, pois, buscar uma conduta objetiva capaz dc viabilizar a
atuação da OAB no processo seletivo dos cursos jurídicos segundo os
valores e sen tim entos sociais, conferindo aos novos mecani smos jurídicos
e políticos de regulação social a efetividade desejável.
A participação da OA B n o desen volvim ento de tais mecanism os
de regulação jurídica passa pela construção de novos critérios, como,
por exemplo, o de equilíbrio, em que não se vislumbrem interessescorporativos, políticos, econômicos, mas de princípios básicos com caráter
essencialmente procedimental, que, nem sempre, podem ser definidos
po r critérios apriorísticos e, jamais, po r meras fórm ulas dogm áticas.
100
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 101/240
Cabe, no caso, rcssaltar-se a posição que defend e a subs tituiçã o do
enfoque processualístico tradicional p or critérios de racionalidade material,
em que se valoriza a “instrumentalidade do processo”, na convicção de
que a busca da “Justiça” e da “eqüidade” sempre implica uma margem
mais ampla e flexível do que a fundada exclusivamente nas prescriçõesdos códigos c das leis, ou seja, a aplicação de critérios que rem ete m a um a
“sociologização" da inte rpretaç ão e aplicação das lei e dos códigos."
Essa noção de equilíbrio, como referência para a solução dos
conflitos jurídico-sociais, é baseada tam bé m n u m a visão esrrafcgica do
direito, pois funda-se em relações de poder e contrapoder, nas quais a
unidade não elimina a diversidade, enq uanto se buscam soluções provisórias
e flexíveis, para dar conta da diversidade e da dinâmica dos conflitos
inerentes à sociedade.
Nessa perspectiva, cumpre à OA B exercitar as soluções de equilíbrio
que co m bin am semp re três dimensões: o consenso, qu e é a referência às
orientações culturais comuns; o conflito, que opõe como adversários os
interesses econô mic os, políticos e corpora tivos à solida riedad e social e à
cidadania; o compromisso, que concilia esse conflito com o respeito deum quadro social onde hão de prevalecer os valores e sentimentos que
socorram os excluídos do p od er decisório.
Cumpre à OAB em sua atividade interventiva no processo do
ensino jurídico operar utilização de um a lógica de com plem entari dade no
direito, em que o todo social é visto como expressão de novas práticas
situadas nu m espaço com plexo q ue articula meios e m od os para fornecer
aos que vão form ar operadores do Direito elementos para p ensar os novosmecan ismos jurídicos de gestão do social, os quais devem ate nde r a um a
sociedade cada vez mais comp lexa q ue exige formas jurídicas se gun do os
sentim ento s e valores da c om un id ad e que vai lhes oferecer os resultados
econô micos e /ou os dividendos políticos perseguidos.
C om essa atuação, a OA B vai con tri bu ir para mais um a reflexão
sobre um dos problemas d o nosso sistema jurídico atual, que diz respeito
“ N c s s c s e n t i d o , e m b o r a s e m r e la ç ã o o b j e ti v a , v e r I -;iria, J o s e E d u a r d o : “ O s d e s a f io s d o j u d i c i á ri o " ,
i n “ D o s s i ê J u d i c i . í r i o " . R e v h t a c i a { J n i v e r ú d a ã e d c S a o P a u l o , n " 2 1 . São P a u l o ; U n i v e r s i d a d e d e
•São P a u lo , m a r ç o / a b r i l / m a i o 1 9 9 4 , n " 2 1 , p á g s . 5 4 - 5 6
101
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 102/240
à ineficácia de mu itos princípio s con tido s nos textos legais, no tad am en te
aqueles que se referem à just iça social, aos direitos sociais, à cida dania e à
solidariedade.
Certamente, c am inha ndo nessa direção, a OAB atua para rom per
os embaraços que os constirucionalistas registram-' , decorrentes daperplexidade vivenciada ao estarem atados a um a dinâmica social, exigindo
soluções mais de caráter administrativo do que a proposta de um amplo
aspecto da presença de u m a constituição.
Sabidamente, no centro das dificuldades institucionais está o
conflito de com o conciliar a legalidade, como um a expressão das dema nda s
sociais congeladas e fixas tem poralme nte , com o alargamento da jurisdição
constitucional, com o espaço político e púb lico legitim o para abrigar via
mecanismos interpretativos os valores democráticos e os sentimentos
sociais.
A C F /9 8 dispõe, por exem plo, n o inciso 1 de seu artigo 7°, sobre
o direito dos traba lhadores urbanos e rurais à “relação de emprego protegida
contra despedida arbitrária ou sem ju sta causa”. N o enta nto, os agentes
econôm icos op eram cada vez mais com a flexibilidade na apropriação damão-de-obra, o que significa ampla facilidade de demitir, e determina
alta rotatividade do empregado .
Nessa vertente, surge valor visível em materialidade p rod ut iva de
juízo de credibilidade exerci tável pela OAB em sua função indu tora do
processo educativo, co nsiderar a eventual aplicação da lei rom pe do ra da
solidariedade social em proveito do pod er econôm ico, c riando o contr ato
temporário de trabalho'*, alternativa ao contrato regido pela CLT, cujopressuposto é a duração por tem po indete rminado, e só por exceção admite
o contrato por temp o determinado.
Aliás, no conte xto político do m in an te, tão desprestigiado, está o
instituto da estabilidade no emprego que mesmo aquela atribuída aos
•' V e r C^ ii n or il h o, J . J . G o n ic - s (1 9 9 7 ) : D i r e i t o c o n s c i r u c i o n a l e t e o r i a d a c o n s t i t u i ç ã o . C o i m b r a :
L i v ra r ia A l m c i d i n a , 1 9 9 7 , e s p c c i a l m c n t c o ú l t i m o c a p í t u l o , d e d i c a d o à a n a l i se d a T e o r i a
( ' o n s c i t u c i o n . i l .
'' O “c o n t r a t o t e m p o r á r i o d c t r a b a lh o " n ã o d c v c s cr c o n f u n d i d o c o m o “c o n t r a t o d e t ra b a l h o
t e m p o r á r i o " r e g i d o p e l a L e i i i " 6 . 0 1 9 / 7 4 e a d e q u a d o h s d i s p o s i ç õ e s c o n s o l i d a d a s .
102
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 103/240
se r v i d o r e s p ú b l i co s cn co n t r a - se f r u s t r ad a p e l a ch am ad a r e f o r m a
adminiscraciva, colo cando em paiira a siruação das instituiçõe s dc ensi no
jurídico oficiais.
E s t a s r e f l ex õ es su g e r em o q u es t i o n am en t o a r e sp e i t o d a
especificidade, n o caso da litigiosidade do exame de qu alidade do curso jurídico realizado pela OAB, q u ando se tem perd ido de vista que sendo
m era m en te “opinaciva” e sem efeito vinculativo, essa manifestação presta-
se ao aco lhim en to dos valores e sen tim ent os sociais, por qu e vai funci ona r
com o elem ento de indução, sem oferecer legalmente qualqu er prejuízo
ao conve ncim ento diferente que a autoridade de educação possa ter em
benefício dos emp reen dim entos destinados ao ensino jurídico.
O papel da OA B nesse contexto há de estar voltado para as relaçõessociais do cotidia no, de m od o a cap tar as tendências a favor ou co ntra o
espírito das instituições jurídicas formais vigentes, e consid erando qualidade
para os cursos jurídicos baseada em fatos e dados materiais de suporte
para u m juízo de valor e não apenas na fo rmulação do discurso acadêmico
repr od ut or de idéias festejadas.
Ob viam ente , semp re poderão oco rrer desvios de resultados, com o
se tem no açodamento da produção de t i tu lação de mestrados para
responde r a um merca do profissional, inc rem enta do pela exigência dessa
titulação, com o item de qualida de na aferição dos cursos jurídic os.’
Sem constituir resposta definitiva para o problema, a própria
evidência dessa s i tuação de perda de qual idade do mest rado , da
industrialização deles até mesmo à margem da normatividade vigente,
pode e deve ser levada em conta pela OAB, em sua ação verificadorades tinada à avaliação dos cursos jurídicos.
Deve, porém, ser ressalvado o equívoco em afirmar-se que há
me mb ros da CEJ que privilegiam a exigência da infra -estrutura ao projeto
didático-pedagógico^’, pois, na verdade, este sem pre se coloca em prim eiro
’ V e r r e g i s t r o c r i t i c o f o r m u i a d o p o r E d m u n d o I . i m a d c A r r u d a J u n i o r c m t e x t o d e i i o m m a d o
" l o r m a ç á o j u r í d i c a e p e r s p e ct iv a p ro f is s i on a l : r e f o r m a c t r a n s f o r m a ç ã o ” d i s t r i b u í d o a o s m e m b r o s
d a C E J d u r a n t e o II S e m i n á r i o O F . n s i n o J u r í d i c o n o L i m i n a r d o S é c u l o X X I , r e a l iz a d o e m C u i a b á .
E d m u n d o L i m a d c A r r u d a J u n i o r ( n “ 5) .
103
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 104/240
plano do exame realizado, embora se tenha como padrão verificar-se a
existência de sinais materiais qu e possam g erar a crença da com issão em
sua fu tura execução.
N a verdade, a ccse qu e con trap õe a simples oferta de um projeto
didático-pedagógico qualificado co m o fator determ inante da aprovaçãodo curso juríd ico peca pela ausência de objetividade , pois essa qualida de
formalizada em extratos discursivos propícios a serem p roduzidos em série
pode não se materializar na execução do projeto, donde, indispensável a
exigência de infra-estrutura, de investimentos iniciais e de capacidade
financeira que ofereçam po tencialidade para a consecução do projeto como
elementos de crença em seu desenvolvimen to.
Cer tamente , a lógica da realidade onde se tem o processo educativotransformado em mercado, com destaque para o baixo investimento
destina do ao curso jurídico que sabid am ente oferece alta rentabilidade,
de term ina visão objetiva das condições materiais existentes para a execução
de um projeto de qualidade.
E m uito mais se afirma a necessidade dessa avaliação obje tiva das
condições materiais para a execução do projeto de curso jurídico qu and o
se faz conhecido existir a prática de “preparação” destinada a receber a
visita de comissões verificadoras da O AB e do M E C .'
D en tro desse con texto é que a CEJ não se limita, p or exemplo, a
verificar a existência de corpo docente com titulação, mas também
considera a program ação e linhas de pesquisa, para as suas avaliações, assim
com o a endoge nia na forma ção dos titulados.
Por outro lado, sempre que a CEJ depara-se com sistema deremu neração que possa enco brir a utilização de paga me nto d e hora-aula,
nega aprovação ao projeto, em mais uma utilização de elementos de
materialidade que devem expressar pressupostos para sua crença na
qualidade do futuro curso jurídico.
D o m esm o modo, salvo condições excepcionais de aparelhamento
das salas e da ministração de aulas, cuja avaliação objetiva depende do
funcionamento do curso , não se pode ace i ta r , como e lemento de
' E d m u n d o L in ui d e A r r u d a J u n i o r ( n " 5).
104
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 105/240
maierialidade da desejável qualidade de ensino, que as curmas tenham
além de qu are nta alunos, e, atribui-se ao en ge nh o gerencial viabilizar-se a
sustentação financeira do curso, ate po rqu e o valor a ser cons idera do pela
CEJ jamais poder á ser a relação de cus to/bene fício (rentabilidade) para a
instituição m antenedora.N a verdade, é preciso an im ar o deba te sobre as conseq üências das
políticas a respeito das relações de custo econômico e benefício social
imposta s pelo dever geral de solidariedade, e m um país on de os interesses
fisiológicos setoriais do m in am , q u an do se trata de delinear a execução do
processo educativo, m ui to especialmente no toca nte aos cursos jurídicos,
reco nhecida men te um po nt o de excelência para resultados econômicos.
Costumava-se dizer que o Brasil era o país dos bacharéis e, de
certo modo , essa era um a verdade até o adven to dos economistas, os quais,
de tem pos para cá, se transf orm aram nas vedetes da sociedade na era da
tecnologia, qu an do os governantes, sob discurso dem ocrá tico, passa ram a
desfrutar o poder sacrificando os valores sociais em flivor de planos
econômicos.
Mas às virtudes do bacharelismo, representadas por u m alto espíritocívico, fund ad o em corajoso am or à liberdade, con trap õe m -se os vícios,
sob retudo a tendên cia para a fuga dos encargos sociais, subs tituídos por
abs t rações i lusór ias e medidas de emergência , e , de modo gera l ,
institucionalizando-se o “jeitinho” como conseqüência perniciosa do
prestígio poh'tico e/ou econômico.
Infelizmente, na atualidade, ainda prosperam no trato da vida
pública esses vícios do bacharelismo, sem prejuízo da identificação dos
bacharéis com os valores da cidadania, com a luta pela igualdade de direitos
e deveres en tre todas as categorias sociais.
Essas duas s i tuações convivem na era da CF/88, quanto à
compreensão do Estado Democrát ico do Direi to como aquele que se
dist ingue pelo prim ado d a l iberdade, que r no plano econôm ico, n o qual
ela se realiza co mo livre iniciativa, livre concorrência e livre empresa (artigos1° e 170 e seu parágrafo único), qu er no plan o juríd ico, no qua l se há de
conciliar valores expressos na Secção I, do seu Capítulo III, ao tratar da
Educação (Arts. 205 a 214).
105
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 106/240
4. Sentimentos sociais, formação profissional e confrontos
corporat ivos
Em SC trata ndo da formação de advogados, um entro sam ento
necessário com a realidade social, d om in ad a pela exclusão da maio ria dosbrasileiros da capacidade econô mica, pode e deve ser instr um ent ado por
via da conjugação do treinamento profissional com a prestação de
assistência jurídica aos necessitados.
A Constituição com eteu à União e aos Estados-m emb ros o dever
de prestação de assistência juríd ica gra tuita aos necessitados, med ian te a
Defensoria Pública, sem emb argo do dever de qualqu er advogado prestar
essa assistência, sendo remunerado pelo Estado, como determina oEstatuto, ou da escolha de patrocínio ofertado gratuitam ente po r pessoas
e/o u entidades.
Essa garantia constitucional tem tudo a ver com a formação do
advogado e com o de sem pe nho da instituição universitária que ministra
ensino jurídico, embora, nem sempre isso tenh a sido comp reen dido, canto
pelos educadores, como pelos que fazem a OAB.O art. 5°, LXXIV, da CF dispõe que “o Estad o prestará assistência
judiciária integral c g ra tu ita aos que com provarem insuficiência de
recursos”. Projeta, pois, essa garan tia co nstitucio nal o dever da assistência
judiciária , em to d a a am p l i tu d e da ab rangênc ia do tem a, com as
conseqüências e recursos cabíveis em todas as situações ond e caiba o controle
judicial necessitado, especialmente nos três principais ramos dajustiça: o
cível, o penal e o trabalhista.Embo ra se possa dizer que a assistência judiciária não se co nfunde
com justiça gratuita, sendo a primeira fornecida pelo Estado, possibilitando
0 acesso aos serviços profissionais do adv ogado e dos dema is auxiliares da
justiç a, inc lusive os peritos, seja mediante a defensoria pública ou da
designação de um profissional liberal pelo Juiz, enq ua nto a justiça gratuita
consiste na isenção de todas as despesas inerentes à demanda. Sendo
instituto de direito processual, ambas estão compreendidas na garantia doacesso àjustiça.
D e fato, com o já foi dito, “a garantia cons tituc iona l da assistência
jurídica aos hipossuficientes tem por escopo o princípio da igualdade, de
106
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 107/240
form a a do tar os desiguais ccono m icam ence de idênticas condições para
o pleito em juízo"^, significando qu e n ing ué m ten ha a busca ou a defesa
de seus direitos dificultada ou imped ida em função dc sua condiç ão social,
ou por insuficiência dc meios econômico s.
Daí porque a defensoria pública estabelecida pelo Estado, pormelhor que seja seu nível, tem caráter de atuação supletivo, e não
obrigatório, nã o sendo exigível que o pobre venha, obrigatoria men te, dela
se utilizar para ob ter a justiça gratuita.
R e a l m e n t e , t a n t o p o d e o p r o f i s s i o n a l l i b e r a l t r a b a l h a r
caridosamente, quanto ter um interesse financeiro no resultado a ser
proporcionado pela causa, como ocorre com freqüência nas demandas
trabalhistas e previdenciárias, como essa mesma assistência mesmosem interesse de recompensa financeira pode ser prestada por entidades
não-oficiais.
Aliás , a lgumas entidades não-governamentais têm encargos
instituic ionais de prestar a assistência judiciária, c om o ê o caso estabelecido
no art. 514, b, da CLT, que incumbe aos sindicatos providenciar assistência
jurídica aos seus associados.'^
C om o advento da CF /88 , que elastcceu o cam po de aplicação da
Lei 1.060/50 , e por força da Lei 7.510 /86, tem-se que a simples declaração,
na pecição inicial, do estado de hipossufíciência é suficiente para que se
presum a o estado de pobreza do reclamante.
Essa garantia constitucional se expan de n o artigo 133 da C F/8 8,
quando proclama ; “O advogado é indispensável à administração da
justiça, sendo inv iolável por seus atos e manifestações no exercício daprofissão, nos Jimires da lei” .”^
E o atual Estatuto da Advocacia, promulgado através da Lei
n° 8 .906 /94 , considera infração disciplinar o tato de o advogad o “recusar-
* R ó b s o n F l o r es P i n t o ; “A g a r a n t i a c o n s t i t u c i o n a l d a . i ss i st ê n c ia j u d i c i á r i a e s t a ta l " . C a d e r n o s d e
D i r e i t o C o n s t i t u c i o r u d e C i ê n c i a P o l í t i c a . S ã o P a u l o : R e v i st a d o s T r i b u n a i s , 3 / 1 0 1 .
V a l c n t im C a r r i o n ; C o m e n t á r i o s à C L T . S ã o P a u lo ; R e v is ta d o s T r i b u n a i s , 1 9 9 4 , p . 7 9 0 .P a u t o L u i z N e t t o L ô b o : C o m e n t á r i o s a o N o v o E s t a t u t o d a A d v o c a c i a e d a O A B . B r a s í l i a : E d i t o r a
B r as íl ia J u r í d i c a , p. 2 4 : “o p r i n c í p i o d a i n d i s p c n s a b i l i d a d e n ã o t o i p o s t o n a C o n s t i t u i ç ã o c o m o
f a v o r c o r p o r a t i v o a o s a d v o g a d o s o u p a r a r e s er v a d c m e r c a d o p r o f is s i o n a l. . . c g a r a n t i a d a p a r t e c
n ã o d o p r o f is s io n a l " .
107
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 108/240
sc a presrar, sem justo motivo , assistência jurídica, qu an do no m ea do em
virtu de de imp ossibilidade da Defensoria Pública” (art. 34, XII).
C om o se sabe, o estágio profissional de advocacia não se confu nde
com o estágio de prática jurídica (curricular ou extracurricular) m an tido
por curso dc Direito, posto qu e este últim o é mais amplo e busca qualificaro estu dante para tod as as profissões jurídicas.
Todavia, o estágio dc prá tica juríd ica p ode ser desenvolvido com o
estágio profissional de advocacia, desde que a instituição universitária
celebre convênio com a OAB e inclua o estudo do Esta tuto da Advocacia
e da OAB e do Código de Ética e Disciplina, devendo, ainda, ter uma
duração m ínim a de dois anos.
Mas, esse estágio profissional, ofertado pelo Curso Jurídico em
regime de convênio com a OAB , não e obrigatório, p od en do o bacharel
em Direito optar por submeter-se diretame nte ao Exame de Or de m para
fins de inscrição com o advogado.
O estágio profissional pode ser ofertado diretamente pela OAB
ou mediante convênios celebrados com instituições de ensino jurídico
e/ou com departamentos jurídicos de órgãos públicos ou escritório deadvocacia, e também realizado por bacharel em direito, inclusive na
instituição em que se formou .
N o regime atual, qua lque r que seja o estágio profissional realizado,
sempre haverá necessidade do Exame de O rd em para fins de ob ter inscrição
como advogado nos quadros da OAB.
Nesse contexto, surge a questão, já verificada em caso co nc re to ",
qu an to a saber se a instituição universitária, ao desenvolver a atividade deestágio curricular com alunos supervisionados po r professores-advogados,
isto é, inscritos na OAB, pode realizar atendimento público prestando
assistência jurídica gra tuita a pessoas sem capacidade eco nôm ica para pagar
po r este serviço.
A universidade, com o todos sabem, deve encontra r meios e modos
de aproveitar o seu potencial para servir a comunidade também com
' ' O A B - C o n s e l h o F e d e i a l / C E J : c o n s u l ta . I n t e r e s s a d o s : 2 4 = S u b s e ç ã o d a O A B - S P -
. So ro ca ba /S P , F un d ai ^ ão D o m A g u i r r e — U n i v e r s i d a d e d e S o r o c a b a . — U N I S O , R e l a t o r: A d r i a n o
P i n t o -
108
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 109/240
atividades de extensão, prestando-se estas a instrumentar a formação
acadêmica com a prática d estinada a viabilizar me lhor d esem pen ho do
futuro profissional.
A preocupação de oferecer am paro às com unid ades carentes em
suas necessidades de acesso à Justiça é legítima para qua lqu er instituiçãoou pessoa que possa ofcrecê-lo, sendo, pois, recomendável que a OAB
disp onh a-se a prestigiar e colaborar, o nd e e qu an do isto se faça possível,
sem p rejuízo de sua vigilância qua nt o a eventuais desvios caracterizadores
do exercício irregular da advocacia.
Ora, modernamente, salvo situações excepcionais, não se pode
desenvolver atividade de advocacia sem usar força de traba lho adv ind a de
não-advogados, pelo que a utilização de estudantes de direito na prestaçãoda assistência judicial não deve merecer recriminações, especialmente
qu an do em sistema destinad o à sua formação profissional.
De outra parte, o atendimento à população carente feito sob
responsabilidade de advogados regu larme nte inscritos, sem a cobr ança de
taxas ou valores a qua lquer título remuneratór io, não pode ser caracterizado
co m o conc orrên cia desleal ou exercício irregular da advocacia.
Ademais , cum pre notar que qu and o a C F/8 8 explic itou o dever
do Estado de prestar assistência judicial aos cidadã o carentes de recursos,
não resolveu o prob lema por qu e a Defensoria Pública ainda está longe de
dispor de condições para atender à demanda e, mesmo que fosse ela
suficiente a esse ate nd im en to , não exclui a legit imidad e de outro s órgãos
ou pessoas para realizar esse serviço quando possa oferecê-lo através de
estrutura organizada sob a responsabilidade de advogado regularmenteinscrito na OA B.
A Defensoria Pública, sendo inst i tuição essencial à função
jurisdicional do Estado, como instrum ento do dever de prestar assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos,
corresp ond e ao meio instituciona l de fazer efetivo o direito dos cidadãos
desfavorecidos de co ntar co m um a assistência eficaz {CF, art. 5°, LXXIV
e art. 134), mas, com o são poucos os Defensores Públicos para a mu ltidãode desvaiidos, e desaparelha da a instituição para ate nd er à dem an da e à
qualidade da assistência judicial, a falha do Estado não pode ensejar
impedimento para que outros órgãos e entidades públicas ou privadas
109
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 110/240
soco rmm os necessitados dc assistência jurídica sem c ondições para pagar
tais serviços.
Se aos acusados, em geral, a C F /8 8 assegura “am pla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes”, maior deve scr o em pe nh o dos grupos
sociais com poder dc socorrer aos pobres, para ver realizado o ideárioconstituciona l (CF, art. 5", LV), con stitu indo-se m otivo de ord em pública,
portanto, o desempenho que a instituição universitária, assim como a
OA B, e qualq uer ou tra m erec edora de credibilidade, possa oferecer para
prestar assistência judicial, até po rqu e é tam bé m dever de solidariedade
social assegurar-se o acesso à Justiça.
O acesso ao Poder Judiciário requer a assistência por advogado,
pelo que não se recomenda qualque r t ipo de con duta da O AB impeditivade que a assistência judiciária deixe de scr acessível para os mais pobres,
pois estes não teriam condições de arcar com os honorários dos profissionais
liberais.
Nenhum valor social ou consti tucional veda a existência de
aparatos não-oficiais que propiciem que os men o s favorecidos tenham
acesso à Justiça, ou que o advo gad o se abs ten ha de co brar h ono rár ios ao
traba lhar para os mais pobres.
Ademais , como acen tuado dou t r inar i amen te ' " , “a garan t i a
constit ucion al da assistência jurídic a aos hipos.suficientes tem po r escopo
o princípio da igualdade, dc form a a do tar os desiguais eco nom icam ente
de idênticas condições para o pleito e m juízo”, sendo , pois, contrário a tal
princípio qualquer con du ta que possa inibir o atend im ento a quem busca
a defesa de seus direitos, dificult ando ou im pedind o fórmulas operacionaisvoltadas para socorrer a cond ição social de ter m ina da p or insuficiência de
meios econômicos.
Pelo antigo Estatuto, constituía-se u m dever ético do advogado a
prestação gratuita aos necessitados ec ono mic am ente , mas, agora o novo
Es tatu to traz expresso que esse encargo, em bo ra dever profissional, será
rem une rado pelo Estado {Art.22 c/ A rt.34, XII, da Lei 8.906 /94)
Portanto, pelo novo Estatuto, passou a ser uma obrigação doEstado o pagamento dos honorá rios de advogados que mi litam para pessoas
R ó b « ) i i F l o r e s 1’ i i u o ( n " 8 ),
110
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 111/240
carcntes, devendo esses honorários serem arbitrados pelo Juiz, após o
trânsito em julgado da sentença, con form e tabela organizada pelo Conselho
Seccional da OA B par a tais casos.
Concluímos, pois, ser valor constitucional, cuja efetividade se
impõe ao Estado e aos que te nh am missões instituciona is, o acesso à Justiça,do nd e n ão se justificar venha a OAB gerar resistências contr a qu aisquer
dese mpenh os que possam oferecer a assistência judicial gratu ita a que m se
apresente sem condições para pagar, send o abs olu tam en te legítimo e até
m esm o recomendável q ue a instituição de ensino jurídico ofereça prática
real de advocacia em estágio curricular com a prestação de serviço a
com un ida de , sob orientação e responsabilidade de professores qu e sejam
advogados reg ularmen te inscritos co m o tal.
5. C on fron tos de qualidade, l ivre empre sa e é t ica profissional
Emergem do ordenamento jurídico princípios , fundamentos e
sistemas de valor moral que impõem um tratado dos deveres a serem
cu m prid os pelo cidadão no seu relac ion am ento profissional e social.
D entro desse com posto de viilores éticos, fiz-se necessário destacaroutros valores que devem ser cultuados pelo op erad or do Direito e que
lhes são impo stos pelo acelerado processo de tran sform ação econ ômic a,
política, social e tecnológica que se vem desen volven do no m un do .
H á de se reconhecer que o discurso do ensino jurídico da atualidade
tem se preo cupa do e m destacar o novo papel a ser exercido pelo ope rador
do Direito no exercício de suas funções, diante do conflito gerado pelo
processo social de m udanç a.Renega-se, hoje, o positivismo jurídico-científico qu e se vincula a
uma tarefa de formar homens profundamente cultos , dominadores da
ciência humanística, poré m, insensíveis ao processo de m ud an ça im posto
pela sociedade contem porân ea, on de o direito à cidadania se apresenta
com o sendo o centro principal da conqu ista do h om em do Século XXI.
O ord enam ento jurídico brasi le iro adota um posicionamento de
impor regras de conduta profissionais, quase todas com imposição dereprim enda, se forem desobedecidas.
Tu do isto c m ui to mais há de ser objeto da form ação profissional
dos operadores do Direito, cumprindo à OAB fomentar e fiscalizar o
111
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 112/240
processo educativo, aplicando, como já def-endcmos, juízos de valor na
verificação das qualidades d o cursos juríd icos qu e deva recomendar, nos
quais deve compor extratos dos sentimentos e valores sociais a serem
respondidos pela atividade econ ômica desenvolvida no processo educativo.
Tem sido comum defrontar-se a CEJ com resistências fundadasnas preocupações com os riscos financeiros do em preen dim en to, funda do
no projeto de curso jurídico sub m etid o à su a avaliação de qualidade.
Pode, então, surgir qu estio nam ento qu an to ao com po ne nte ético
dessa postura da CEJ em tomar juízos de valor como base para suas
avaliações, ao suposto de negar-se aos futuros mantenedores do curso
jurídico a segurança jurídica q ue se faz p rincípio incidente, onde e quando
exista a relação jurídi ca de depe ndênc ia.Segundo au torizado ensinamento, “entre as principais necessidades
e aspirações das sociedades humanas encon tra-se a segurança jurídica. Não
há pessoa, grupo social, entidade pública ou privada, que não tenha
necessidade de segurança jurídica, para ating ir seus objetivos eacé mes mo
para sobreviver” .'-̂
A C F/ 88 proclama, no título relativo aos princípios fundamentais,
que a República Federativa do Brasil constitui-se em E stado De mocrátic o
de Direito e tem com o fun dam ento s a soberania, a cidadania, a dignidade
da pessoa hum an a, os valores sociais do rrabalho e da livre iniciativa e o
pluralismo político.
Acrescen ta cons t i tu í rem-se seus ob je t ivos fundamenta i s a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do
desenvolvimento nacional, a erradicação da pobre za e da marginalização,a redução das desigualdades sociais e a prom oçã o do bem co m um com
eliminação de quaisquer formas de discriminaç ão (C F/8 8, arts. 1° e 3°).
Os fundamentos e objet ivos fundamentais , todos de caráter
permanen te, materializam opções ideológicas cuja implementaç ão somen te
se viabiliza ao longo do tempo, por degraus, implicando, por isso, em
pro jeto de realização e execução sem pre inacabadas.
' ’ D a l m o d c A b r e u D a ll .i ri : S e g u r d f i ç a e D i r e i t o . O r e n a s c e r d o D i r e i i o . S ã o P a u l o : S a ra i v a , 1 9 8 0 ,
2-‘ ed. . p. 26.
112
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 113/240
Sabidamente, “a segurança jur ídica é indispensável para os
governantes e os governados. Para os governantes, a fim de que possam
desempenhar plenamente suas atribuições, usando com o máximo de
eficácia os instrumentos legais, tendo a certeza de que não irão sofrer,
mais tarde, as conseqüências dos atos que tiverem pratic ado co m o agentesdo poder público". “Para os governados é, talvez, mais evidente ainda a
necessidade de segurança jurídica, para que, sob pretex to de razão de Estado,
não sofram o a rbítrio e a violência, ficando à mercê de autorida des mal
preparadas, desprovidas de espírito piíblico, incapazes de compreender
seu papel de órgão social, ou, o que não é raro, empolgadas com a
possibilidade de exibirem algum a supe riorid ade ”.
Ta m bé m se faz reconhecido que a segurança jurídica consiste “no
con jun to de condições que to rna m possível às pessoas o con hec ime nto
ante cip ado e reflexivo das conseqü ênc ias d e seus atos e de seus fatos à luz
da libe rdade reconhecida”.^̂
C o n t u d o , n o â m b i t o d a d i n â m i c a s o c i a l e d a v i v ê n c i a
constitucional, a segurança jurídica tem-se garantida aos empree ndedo res
de atividades de ensino jurídico pelo con he cim en to prévio das exigências
qu e vinculam legalmente a aprovação de seus projetos, inexisrindo ofensa
a tal princípio, o julgam ento de valor ofertado pela OA B, considerando
que ele não é vinculativo e, tam bém, que sua peculiaridade se faz divulgada.
E dentro desse propósito de transparência quanto aos valores
defendidos no processo de avaliação da qu alida de dos projeto s de cursos
jurídicos, que oferecemos essas reflexões e questionamentos, os qua is , sem
implicarem compromisso coletivo da Comissão de Ensino Jurídico doConse lho Federal da OAB, expressam padrões de con ven cim ento de um
dos seus mem bros.
N o mesmo sentido, embo ra com maior abrangência, se devem
com pree nde r as normas e orientações expendidas pela própria CE J, que,
sem prejuízo da flexibilidade para aj usta mento aos casos concretos, objetiva
oferecer elementos de consideração quando do planejamento do curso
D u l m o d e A b r e u D a l l a r i ( n " 1 3 ) , p. 2 9 .
J o s é A f o n s o d a S il va : C u r s o d e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l P o s i t i v o . S á o P a u l o ; M a l h e í r o s E d i t o r e s ,
1 9 95 , 1 0 " e d . . p , 4 1 2 .
113
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 114/240
jurídico, à luz de razoável co n jun tura de previsibilidade, dentro do risco
próprio de qualquer empreen dime nto.
Extrai-se da experiência vivida na CEJ que ainda p red om ina entre
os empreendedores dos cursos jurídicos, e ate mesmo entre integrantes
dos quadros diretivos da OAB, o culto e/ou o estímulo à interpretaçãotímida e burocrática da Cons tituição, de m od o que a realidade fática acaba
por afastar os valores e sentim ent os q ue a nossa corporação deve defende r
em proveito da cidadania.
Essa resistência atenta c ontra a construção de um a sociedade mais
justa e so lidária , levando-a a um individualismo exacerbado e ao “vale-
tud o” da conveniência, em de trim en to da postura ética e das convicções
pessoais, suscitando a despersonalização e o fingime nto com o m od o de
vida.
Por desinformação, por falta de prioridade ao compromisso de
solidariedade social, modulam-se reações para soluções inspiradas no
oportun ismo , com total desc om pro m etim ento com as causas e avanços
sociais.
O grande proveito prático que a OAB deve extrair dos resultados
ate agora obtidos, na sua atividade interventiva no processo de qualificação
dos cursos jurídicos, é a credib ilidade alcançada pela constatação d e que
não escolhe destinatários de suas proclamações, pois, qualquer um, por
critérios técnicos e avaliações de desprovidas de co mprom issos fisiológicos,
de conveniência e oportunidade, pode ou não receber o crédito de
confiabilidade qu an to à qualidade do seu projeto.
A cidadania, nos dias de hoje, não p ode ser vista nem sob o enfoquedo in dividualismo liberal, da liberdade pera nte o Estado, ne m tam po uco
sob a ótica do universalismo dos antigos. As sociedades modernas reclamam
a proteção dian te de um a o rde m cada vez mais coletiva, ao passo que a
liberdade política do mundo clássico consiste no privilégio de atuar em
co m um e em prol do Estado, do nd e surge maior o cam po de incidência
dos va lo res p lasmados na Cons t i tu ição , en t re es t es , a lguns sem
co ntem plaç ão explicitada nas soluções dos con fron tos sociais.N ão temos registro revelando fun dam enta ção de decisões, mesm o
judiciais , calcadas expressamente na tutela da dignidade da pessoa hum ana
com o parâmetro.
114
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 115/240
D e fato, raras vezes a jurisprudên cia busca fun dam en tos anteriores
ao estabelecidos no art. 5° da CF para solução de conflitos que, em grande
parte dos casos, apenas poderiam ser solucionados com o recurso das
interpretações axiológicas ou principiológicas da Co nstitui ção .
Urge que sc leia a CF /8 8 não apenas com o u m doc um en to jurídico,mas também como um glossário de valores políticos fundamentais de
u m a especial ma ne ira de ser do Estado brasileiro, qua l seja, de u m Estado
Social e De mo crá tico d e Direito.
A dignidade surge como valor intrínseco de todo ser humano,
que não pode ser substi tuído por seu equivalente, como preço de uma
mercadoria, com o não pode, da m esma forma, ser toma do funcionalmentecomo engrenagem ou membro de um organismo, nem simples e mera
força de trabalho.
Logo no Preâmbulo da CF/88 consta que os representantes do
povo, reunidos e m Assembléia K.icional Co nstit uin te, ali estavam c om a
finalidade de “instituir um E stado De mo crátic o, de stina do a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem -
estar, 0 des envolvimento, a igualdade e a justiça co m o valores suprem os
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
har mo nia social e com prom etida , n a ordem internacional, com a solução
pacífica das controvérsias...” .
De scend o do Pre âm bulo ao texto articulado, ali estão inseridas,
em diversos dispositivos, normas de conteúdo finalístico, vendo-se no
art . os fund am entos do Estado de Direito De mo crático, forma pelaqual se manifesta a Re pública Federativa do Brasil.
Pouco adiante, no art. 3°, que enu m era os objetivos fundamentais
da Repúb lica, em seus incisos I, III e IV, elege-se co m o tais: “a co nst ruç ão
de uma sociedade livre, justa e solidária; a erradicação da pobreza, da
marginalização e redução das desigualdades sociais; e a pro moç ão do bem
de todos, sem preconceitos ou formas de discrim inaçã o”.
A idéia de dignidade da pessoa hu m an a, no sentido de um EstadoDem ocrático de Direito, com preen de status objetivo, material, consistente
no p leno acesso às condições necessárias para pr om oção de u m sentim ento
pessoal de satisfação e da garan tia material fo rtemente desenvolvida tam bém
115
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 116/240
no plano da consciência indiv idual e social de que os direitos ftindamentais
do ho m em prevalecem sobre as restrições arbitrárias e irrazoáveis.
Ta nto é verdade que, pou co adiante, no § 1° do art. 5°, que trata
dos direitos e garantias individuais e coletivos, está inscrito em termo
lapidar que “as normas definidoras de direitos e garantias fundamentaistêm aplicação imediata ”.
Corolário disso é qu e a dignidad e d a pessoa não é um valor futuro,
mas presente desde a vigência da Con stitui ção , assegurando a todos acesso
ao direito de dign idad e material.
D ian te dos arg um en tos expostos, é forçoso con cluir ser premissa
da proteção à dignidade que a ordem jurídica não po de to m ar o cidadão
com o simples meio, mas com o fim, o que se aplica, em toda dimens ão,
como limite à liberdade de empresa, ao acesso da atividade de ensino
jurídico como desempenho de result ado econômico, legitimando-se, pois,
em toda extensão possível, a co nd ut a da CE J em conferir efetividade aos
valores e sentimentos sociais por meio de intervenção indutiva em sua
participação no processo de aferição da q ualid ade dos cursos jurídicos.
116
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 117/240
CRITÉRIOS E DOUTRINA PARA APROVAÇÃO
E REJEIÇÃO DE PROJETOS
José Gera ldo de Sousa Junio r
Sum ário: 1. Antecedentes e Pressupostos do Tema; 2. C on trib uiçã o da
OAB para a Do ut rin a do Tema; 3. Condições Objetivas e Intersubjetivação
na Contextualização de Projetos Didático-Pedagógicos; 4. E nfr en tan do e
Superando Obstáculos; 5. Respostas Criativas para Novos Desafios: o
Protagonismo da OA B na Formulação de Alternativas.
1, Antecedentes e pressupostos do tema
Para ferir o tema “Critérios e D out rina para a Aprovação e Rejeição
de Projetos”, é indispensável retomar alguns antecedentes e proceder anecessário recorte descritivo dos pressupostos do próprio tema.
Co ntu do , com o estes antecedentes e pressupostos são com uns e
balizam os demais tem as desenvolvidos po r me us colegas de C om issão de
Ens ino Ju rídi co neste livro, será preciso estabelecer o viés qu e distin ga os
dados recortados e recolhidos dos m esm os referenciais.
Por outro lado, se se impõe um certo nível descritivo para esse
procedimento, a descrição segue diretriz metodológica, segundo a qual“a descrição verdadeira d o obj eto é, sim ulta ne am ent e, a sua explicação”.
Assim, procurarei im prim ir a m in ha abo rdag em um enfo que descritivo,
como disse, mas ao mesmo tempo, crítico/analítico relativamente aos
materiais recortados, neste caso, ind icando as fontes e as referências precisas
par a a localização dos dados e info rmaçõe s utilizados no texto.
Em razão das condições de localização do tem a, alguns p on tos só
poder ão ser designados na expectativa de sua integração no c on ju nt o dost r a b a l h o s d e s t a C o l e t â n e a , e n q u a n t o o u t r o s , e m b o r a t a m b é m
problemáticos, serão examinados de tida me nte po rque cons tituem questões
cujo con he cim en to é imprescindível aos objetivos desta obra.
117
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 118/240
Exemplifico. Em bo ra n ão seja possível estruturar u m sistema de
conhccimcnto de uma dada realidade sem definir um campo objetivo ,
um a problem atização e um a dou trina que o difi.mda, a exigência descritiva
a que antes mc referi po de co nd uz ir ao sacrifício dos pressupostos sociais
e teóricos que lhes dão sentido . Ne ste caso, algo do esforço realizado pararomper com o pragmatismo c o senso comum, que configuram os
obstáculos epistemológicos a todo processo de conhecimento, afeta a
correta percepção da direção qu e seguem as correntes de transformações
dos modos de conhecer, dos paradigmas dessas transformações e dos
protagonismos q ue as impu lsionam.
Com efeito, objeto permanente das reflexões desenvolvidas no
âmbito d o C onselho Federal da OAB com o já indicado em outro lugar’,
acentuou- se no início da década de 1990 o processo de crítica ao ensino
jurídico brasile iro, elaborando a sua Comissão de Ensino Jurídico um
im po rtante diag nóstico da situação dos cursos de direito no País.
Em 1992, a Comissão de Ensino Jurídico do Conselho Federal
da ÜAB lançou o livro “OA B En sino Jurídico: D iagnós tico, Perspectivas
e Propostas’', no qual traçou u m a cartografia de problem as qu e afetavamo ensino do Dire ito n o Brasil, nela identificando a co nju ntu ra de crise cm
que esses problemas se produziram, indicando, ao mesmo tempo, as
condições para a superação dos obstáculos, impasses e dilemas deles
d e c o r r e n t e s . N e s s e e s t u d o , p u s e r a m - s e e m r e l e v o e l e m e n t o s
paradigmáticos oferecidos pela rica reflexão dos autores convocados a
participar do livro que, assim, ofereceram ao deba te categorias novas por
eles apreendidas e tornadas visíveis e que se constituíam, tal como asdesignou a Comissão, em “figuras de fu turo” por meio das quais se poderia
operar a transição entre a velha e a nova realidade emer gente no pan oram a
do ensino jurídico brasileiro.
No ano seguinte, 1993 portanto, novo l ivro “OAB Ensino
Jurídico; Parâmetros par a Elevação de Q ua lida de e Avaliação” pe rmitiu à
Comissão de Ensino Jurídico do Conselho Federal da OAB, com a
' A d r i a n o P i m o : "A O A B n o s 1 7 0 a n o s d o c n s i n o j u r í d i c o ” , i n C o m i s s ã o d e E n s i n o J u r í d i c o :
h n s i n o J u r í d i c o O A B : 1 7 0 A n o s d e C u r s o s J u r í d i c o s n o B r a s i l . B ra sí li a: C o n s e l h o F e d e r a l d a O A B ,
1 9 9 7 .
118
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 119/240
colaboração de especialistas, estabelecer um estratégia metod ológ ica e u m
esqu ema de compr eensão acerca do tem a para, com base neles, oferecer ao
debate elementos para a implantação de um sistema de avaliação e de
classificação dos cursos jurídicos d o I^a/s, o q ue de fato foi feito pela OAB.
O foco destes trabalhos refletiu de u m a visão de crise do Direitoe procu rou ilum inar reflexões sobre suas determ inaçõ es. Em perspectiva
epistemológica esta reflexão arti culo u elementos (1) de representação social
relativa aos problemas identificados, (2) de conhecimento do Direito c
suas formas sociais de produção, (3) de cartografia de experiências
exemplares sobre a autopercepção e o imaginário dos juristas e de suas
práticas sociais e profissionais. Ao fim c ao cabo, cond ições par a supe rar a
distância que separa o conh ec im en to do Dire ito de sua realidade social,política e moral, poss ibilitando a edificação de pontes sobre o fu turo através
das quais pudessem t rans i tar os e lementos novos de apreensão e
com preensão do D ireito e de um novo mo delo de ensino jurídico.
Tratava-se, como se vê, de empreender um trabalho crínco e
consciente ap to a afastar o jurista das determ inações das ideologias, quebrar
a aparente unidade ou homegen eidade da visão de m un do constitutiva de
um pensamento jurídico hegemônico produzido por essas ideologias e
romper, em suma, co m a estrutura do m odo abstrato de pensar o direito,
inapt o para captar a com plexida de e as mu taçõe s das realidades sociais e
políticas.
Esse trabalho representou, p od e dizer-se, u m a espécie de superação
do mal-estar de uma cultura jurídica convertida em caleidoscópio de
i lusões e de crenças responsáveis pelo est iolamento de modelos eparadigmas de racionalidades funda ntes de certezas e seguranças adquiridas
ao preço do imob ilismo científico e da eliminaç ão do espírito crítico na
forma ção intelectual do jurista e do profissional do Direito.
Propunha-se, então, articular o ensino jurídico com a exigência
científica de identificação de p arâme tros para a legitimidade epistemológica
de conceitos pe rm an en tem en te reelaboráveis e de ampliação crítica para a
apreensão de categorias aptas a organizar um a prática de ensino na qual adisponib ilidade de artefatos científicos operacionais e de hipóteses relevantes
de con hecim ento não viessem a funcionar com o substi tutivos de visões
globais acerca dos fenôm eno s estud ados, ao risco de con dic iona r tod o o
119
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 120/240
proc edim ento, a pro duç ão de seus resultados e a próp ria transmissão dos
conhe cimen tos desse m od o gerados.
Lembrei por isso, em estu do anterior^, a advertência de Rob erto
Lyra Filho quando este identificava “o Direito que se ensina errado".
Seg undo ele, essa acepção “pode entend er-se, é claro, em pelo men os doissentidos: como o ensino do direito em forma errada e como errada
con cepç ão d o direito que se ensina”. Se o prim eiro a specto “se refere a um
vício de metodologia; o se gun do à visão inco rreta dos co nteú dos que se
pretend e min istrar”, ambos perm ane cem vinculados, “uma vez que não
se pode ensinar bem o direito errado; e o direito, que se entende mal,
determ ina, com essa distinção, os defeitos da pedagogia”^
Por isso recomen dava o m esm o Ro bert o Lyra Filho a necessidade,
tanto no ensino qu an to na pesquisa, de se estar ate nto a que eles visam a
um a definição de posicionam ento: “o simples recorte do objeto de estudo
pressupõe, queira ou não o cientista (o professor ou o estudante), um
tipo de ontologia furtiva. Assim é que, por exemplo, quem parte com a
persuação de que o D ireito é u m sistema dc norm as estatais, destinadas a
garantir a paz social ou a reforçar o interesse e a conveniência da classe
dominante, nunca vai reconhecer, no trabalho de campo, um Direito
praeter, supra o u contra legem c mu ito me nos descobrir u m verdadeiro e
própr io D ireito dos espoliados e oprim idos. Isso porqu e, de plano, já deu
por não-ju rídico’ o que Ehrlich e outros, após ele, den om in ar am o ‘direito
social’” "'. Este mesm o au tor pôde , assim, fal ar em “direito achado na rua”,
apreendendo-o “não como ordem estagnada, mas positivação, em luta,
dos princípios libertadores, na tota lidade social em m ov im en to” , on de oDireito se constitui com o enu nciação dos princípios de u m a “legítima
organização social da l iber dad e” .̂
Nessas condições, o conh ecim ento do Dire ito opera, exatamente,
na consciência das interações que toda atividade intelectual e prática
^ J o s é G e r a l d o d e S o u s a J u n i o r ; “ M o v i m e n t o s s o c ia i s e p r á t i c a s i n s t i t u i n t e s d c d i r e i t o : p e rs p e c t iv a s
p a r a a p e s q u i s a s ó c i o - j u r í d i c a n o B r a s i l ” , i n C o m i s s ã o d e E n s i n o J u r í d i c o (n® I ).^ R o b e r t o L y r a F i l h o ; O d i r e i t o c j u e s e e n s i n a e r r a d o . B r a sí li a ; E d i t o r a O b r e i r a , 1 9 8 0 .
R o b e r t o L y ra F i l h o : P e s q u i s a e m q t i e d i r e i t o ? B r as íl ia : E d i ç õ e s N a i r , Í 9 8 4 .
^ R o b e r t o L y r a F i l h o ;O q u e é d i r e i t o { C o l e ç ã o P r i m e i r o s P a s s o s ) . S ã o P a u l o : E d i t o r a B r a si l ie n s e ,
1 9 8 2 .
120
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 121/240
con st i tui h istor ica me nte, ar t icu land o cond ições sociais e teó rica s/’
O m un do jurídico não pode, com efeito, ser propr iam ente conhecido,
senão “em relação a tu do o que pe rm itiu a sua existência e o seu futuro
possível. Esse tipo de análise desbloqueia o estudo do Direito do seu
isolamento, projeta-o no m un do real onde e nc on tra o seu lugar e a suarazão de ser, e, ligando-o a todo s os out ros fenô me no s da sociedade, torna-
o solidário da m esm a história socia l" ' .
Desse modo, nos seus antecedentes e nos seus pressupostos, os
cam inhos percorridos pela O A B em associação co m o utros protagonistas
desse processo, visando à refo rma d o ens ino do D irei to n o Brasil, tiveram
como leito as condições sociais e as condições teóricas que s ustent am ainda
agora o debate acerca da função, do sentido e dos mo dos de prod ução doprópr io conhec imen to , no con tex to das múl t ip las t r ans ições que
dete rm inara m e determ ina m ainda o seu valor para as práticas sociais.
En qu an to reflexão sobre as condições de possibil idade da ação h um an a
projetada nessas práticas sociais, esse debate remonta à consideração,
mesmo quando sc cuide de designar o que é aí propriamente jurídico,
destacada por Boaventura de Sousa Santos, de que “ne nh um a forma de
co nh ec im en to é, em si mesm a, racional; só a con figura ção de todas elas é
racional e é, pois, necessário dialogar com outras formas de conhe cim en to,
deixan do-se penet rar po r elas”®.
N o livro “OAB En sino Jurídico: Novas Diretrizes C urriculares”,
lançado em 1996, a Com issão de Ensino Jurídico d o C onse lho Federai
da OA B fez o balanço das contribuições da Entidade , do M E C e de todos
quant os, recentem ente, se dedicaram à tarefa de repensar o ensino jurídicono Brasil. Nesse traba lho, pôs em relevo as diretrizes indicadas na Portaria
n° 1.886/94, qu e o reorientaram e que desencadearam o processo ora em
curso, de re formulação curricu lar em todas as escolas de Dire ito d o País.
Delas também extraindo-se os parâmetros para autorização, avaliação e
recon hecim en to dos cursos jurídicos brasileiros.
^ B o a v e n t u r a d e S o u s a S a n t o s : P e i a m ã o d e A l i c e . O s o c i a l e o p o l í t i c o n a p ó s - m o d e m i d a d e . P o r co :
E d iç õ e s A f r o n t a m e n t o , 1 9 94 .
^ M i c h e l M i a i l l e : U r n a i n t r o d u ç ã o c r í t i c a a o d i r e c t o . L i sb o a : M o r a e s E d i to r e s , 19 7 9 .
® B o a v e n t u r a d e S o u s a S a n to s : U m d i s c u r s o s o b r e a s c i ê n c i a s . P o r to ; E d i ç õ e s A f r o n t a m e n t o , 1 9 8 7 .
121
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 122/240
Nos ensaios c documentos editados pela Comissão de Ensino
jurídico, nos quatro livros anteriores da sér ie “OAB Ensino Jurídico”,
abre-se um a perspectiva de futuro acerca da função do Direito e do papel
do jurista na sociedade. Pode dizer-se, com convicção, q ue os estudo s da
OA B desc ortina ram alternativas paradigm áticas para a constru ção dessefuturo, o qual não pode prefigurar-se, senão sobre a consciência da
responsabilidade que tem o ensino juríd ico para a criação de categorias
novas apreendidas na leitura atenta da realidade social. Num exercício
prefiguraiivo, estas categorias, percebidas pela Comissão de Ensino
Jurídico, foram enunciadas como demandas apelando à real ização;
1) demandas sociais: 2) demandas de novos sujei tos; 3) demandas
tecnológicas; 4) de m an da s éticas; 5) dem an da s técnicas; 6) dem an da s deespecialização; 7) demandas de novas formas organizativas do exercício
profissional; 8) de m an da s de efetivação do acesso à justiça; 9) d em and as
dc re fund am enta ção científica c de atualização dos paradigmas.^
Esses elementos, c riticam ente operacionalizados pela Comissão
dc Ensino Jurídico da OAB em sua dinâm ica de atuação, for ma m a base
na qual se assentam os critérios construíd os pela OA B para avaliar e a ferir
propostas funcionais, legislativas e de efetivação de projetos no cam po do
ensin o jurídico, em face de sua atrib uiçã o legal de manife star-se sobre o
tema."’
O próprio M EC , que já vinha conduzin do gestões para implantar
um sistema de avaliação instituc ional , im pr egn ou -se desses elem ento s e,
ao recriar as comissões de especialistas de ens ino, en tre elas a Com issã o de
Especialistas de Ensin o do Dire ito, p au to u com eles os dois instr um ent osque atualmente aplica: “Levantamento das Condições de Oferta dos
Cu rsos” e “Exame Na cional de Curs os”.
Em estudo preparado para o Con selho N acional de Educação pela
Comissão de Especialistas de Ensino do Direi to do M EC , deno min ado
“Descriçã o da Área de D ire ito ”, estes elemen tos estiveram presentes e se
traduziram em indicadores p ara aferir a adeq uação dos cursos existentes e
'* V er, p a r u u m a p r i m e i r a a p r o x i m a ç ã o a e s sa s d c m a n c l . i s, R o b e r t o A R . d e A g u i a r : A c r i s e d a
a d v o c a c i a n o B r a s i l . S ã o P a ul o: E d i t o r a A l f a - O m e g a , 1 9 9 6 .
A r t . 5 4 d a Lei n " 8 . 9 0 6 / 9 4 - E s t a t u t o d n A d v o c a c i a e d a O A B .
122
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 123/240
que devessem ser apreciados dc m od o rigoroso na análise de pedidos de
autorização de novos cursos c dc reco nhe cim ent o de cursos já autorizados:
a) padrão m ínim o de qualidade, prin cipa lme nte para os cursos noturnos;
b) integração permanente do ensino com a pesquisa e a extensão; c)
interdisciplinaridade; d) acervo bibliográfico atualizado mínimo; e)instalações adequadas para a prática jurídica; f) maior dedicação e
qualificação do corpo docente, para as atividades de pesquisa e de orientação
das monografias finais; g) disponibilidade para áreas de concentração e
especialização; h) dese nvo lvime nto de intercâmb ios.
Esses indicadores, construídos numa metodologia participativa
de consulta, contrib uíram para consolidar consensos acerca de sua validade
e aplicação, em âm bit o ac adêm ico e profissional e são eles que avalizam a
qualificação de projetos pedagógicos coerentes em condições de ultrapassar
a fase de estagnação bu rocra tizante e medíocr e a que chegara o ensino do
Direito. Para Álvaro Melo F ilh o' ', estas eram as condições para: “a) rom per
com o posi t ivismo normat ivista; b) superar a concepção que só é
profissional do Direito aquele que exerce atividade forense; c) negar a
auto-suficiência disciplinar do Direito; d) superar a concepção de educaçãoco m o sala de aula; e) fo rmar u m profissional com perfil interdisciplinar,
teórico, crítico, do gm ático e prático.
Enquanto adensava a sua percepção acerca das condições de
apresentação de projetos, a Comissão de Ensino Jurídico do Conselho
Federal da OA B foi sistematizando indicadores para orie ntar o exame de
proposições, sinalizando aos interessados, objetivamente, os elementos
balizadores de sua apreciação e de fo rma ção de seus juízos de valor. E m1997, por meio de duas instruções norm ativas deu p ublicid ade a esses
parâmetros, no prime iro ato (IN n° 1), destinado a orientar a apresentação
de propostas de criação de cursos e, no s egu ndo (IN n “ 2), co m o objetivo
de orientar a análise de pedidos de re con hec imen to de cursos já autorizados
a funcionar.
Nessas condições, em se trata ndo da p rim eira situação, isto é, da
criação dc cursos, a CEJ sinalizou que ao receber os pedidos, além dos
' ' Á l v a r o M e l o P i lh o ; I n o v a ç õ e s n o e n s i n o j u r í d i c o e n o e x a m e d e o r d e m . B e l o H o r i z o n t e , E d i t o r a
D e l R e y . 1 9 9 6 .
123
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 124/240
tópicos exigidos pelo MEC, notadamente os indicados na Portar ia
n° 1.886/94, observaria os seguintes dados devidamente comprovados
pela instituição interessada, relativamente a uma área equivalente a um
raio inferior a 50 km do c entro do município: 1) população do município,
indicada pelo IB GE - que não p oderá ser inferior a 100 mil habitantes -levando-se em conta a proporção máxima de 100 vagas iniciais anuais
para cada 100 mil habitan tes; 2) instituições de ensin o mé dio, existentes
no municíp io, co m respectivos núm eros de alunos; 3) cursos de graduação,
em geral autorizados ou reconhec idos, inclusive os jurídicos existentes no
mu nicípio , co m respectivas vagas anuais, e os cursos de pós-gra duação, se
houver; no caso de capitais c regiões metropolitanas, apenas os cursos
jurídicos; 4) havendo cursos jurídicos no município , a relação média
cand idato /vaga , nos vestibulares mais recentes; 5) composição dos órgãos
da administração da justiça e segurança instalados no mun icípio, com o
tr ibunais , ju izados, OAB, ministér io públ ico, defensoria públ ica,
delegacias, penitenciárias, órgãos notariais e dc registro público; 6) total
de advogados inscritos na O AB local; 7) órgão ou e ntidades qu e possam
absorver estagiários; 8) livraria jurídica e bibliotecas de órgãos jurídicosfranqueados à consulta pública; 9) curricula vitae e cópias dos dip loma s
relativos à mais alta titulação dos professores, com respectivas declarações
de comprom isso com o curso.
Considerados satisfatórios esses fatores, o prosseguimento do
exame do projeto segue indicadores correntes de avaliação apropriados ao
pedido, nos seguintes âm bitos: 1) qualificação do co rpo docente, regime
de trabalho, plano de carreira e de capacitação; 2) qualidade da organizaçãodidático-pedagógica, inc luindo ensino, pesquisa, extensão, estágio e número
de alunos por turma; 3) infra-estrutura destinada ao curso, acervo
bibliográfico disponível (30% do total mínimo exigível) e plano de
aquisição do restante, além de instalações do núcle o de prática jurídica.
E claro que nas condições desse exame está presente u m requisito
de satisfação da necessidade social do curso, u m a limitação necessária mas
não impeditiva de superação, já que a CE J n ão po de d eterm inar regras de
mercad o, senão indicar eleme ntos de diferenciação qualitativa presentes
em projetos que carreguem m arca de execepcionalidade que justifiquem a
sua implantação emulativa em áreas já atendidas, bem ou mal. Assim,
124
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 125/240
para fun dam enta r um juízo claramente de pond eração, a CEJ indicou os
seguintes valores, entr e outros: I) m etade do corpo docen te com titulação
de doutorado ou mestrado; 2) metade do corpo docente em regime de
tem po integral ou sua totalidade em regime de t em po integral e 20 horas;
3) qualidade do acervo bibliográfico atualizado, co m pro vad am ente emno m e da instituição: 4) qualidade da estrutura curricular; 5) implementação
dos núcleos de pesquisa (incluindo a orientação à monografia ) e de extensão;
6) remun eração do corpo do cen te acima da média praticada na região; 7)
número reduzido de vagas pretendidas e dimensão das turmas que não
ultrapassem 40 alunos; 8) instalações adequad as destinadas ao núcleo d e
prática jurídica e recursos previstos n o seu func iona m ento ; 9) laboratório
de informáti ca jurídica.
Já nas situações de reconh ecim ento , reafirma ndo a sua postura de
cooperação com tod o o sistema, a CE J considera inicialmente os resultados
aferidos no instrumental de avaliação oficialmente adotado, tendo,
inclusive, par ticipa do d e sua elaboração e, a partir das indicações regular,
bom e muito bom, considera o projeto em escala de periodicidade, aferindo
a implantação definitiva de: I) totalidade das insrajações indicadas noprojeto de criação ou autorização do curso; 2) Núcle o de Prática Jurídica,
em instalações próprias e adequadas e com recursos materiais e hu m an os
suficientes; 3) acervo bibliográfico em número, estabelecido na Portaria
MEC n” 1.886/94, além de 5 periódicos; estes em suporte gráfico ou
informatizado de jurisprudência, do utrin a e legislação, p ara cada grup o
de 1.000 alunos; 4) organização, cu m pr im en to e efetiva regulam entação
da carga horária das atividades com plem entare s; organização e controle
das atividades relativas à monograf ia de final de curso; 6) plano de carreira
docente, programas de capacitação e níveis salariais praticados; 7) programas
de pesquisa e extensão.
Como se vê, os parâmetros existem, são objetivos, seguem uma
construção que é base para form ar um a cu ltura e um a dou trin a para sua
herm enêutica e aplicação e, m ctodologicam cnte, po r meio d e semináriose de uma literatura hoje com a marca de referência, conf erindo ao processo
um grau razoáve l de in te rsub je t ivação dese jáve l pa ra pe rmi t i r a
contextualização singularizada de projetos didático-pedagógicos.
125
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 126/240
3. Co ndiçõ es objetivas e intersubjetivação n a contextualização de
projetos didático-pedagógicos
N a tradição weberiana, com seu núcleo de racionalidade récnico-
cicntífica e positiva, o conhe cim ento se estru tura de m od o objetivo. Assim,a questão da objetividade, alem de critério dc validação, é antes de tud o,
um conforto epistemológico.
En qu an to o processo de reorientação do ensino do Direito seguiu
parâm etros objetivos, a discussão que ele suscitou perseguiu indicadores
de consenso m anten do-se serena nu m pata m ar de segurança presumida.
A medida porem, que o debate, sob acicate da crise, eliminou as
certezas presum idas d iant e das cont radições pa radigmáticas, inclusive noplano epistemológico e obrig ou ao exercício da dúvida e à interpelação do
novo sem garantias quanto aos resultados, abriu-se, efetivamente, um
cam po razoável para a subjetividade.
A CEJ desde o início, ao se dar conta de que lidava com um
processo problemático e não mais dogmático, impôs-se o exercício de
arrostar suas dúvidas sem se deixar subjugar pelos seus impasses, criando,
ao contrário, uma estratégia para a intersubjetivação dos significados
razoavelmente dete rm inado s n u m debate em tais condições.
Observe-se, desse modo, a forma problematizante do modelo
interrogante que a CEJ imprimiu aos Seminários realizados a partir de
1998, sob a designação geral dc “O Ens ino Jurídico no Limiar do Século
XX I”. O primeiro, realizado em Natal, o segundo, em C uiabá, o terceiro,
em Belém e um quarto, realizado em Vitória em maio de 2000.Sem descer aos porm eno res, isto é, aos eixos sub tem áticos desses
Seminários e à sua metodologia de trabalho em grupo e de partilha de
experiências exemplares, cada Seminário traduziu , no seu enfoque central,
a partir do sentido com um - a transição para o Século XXI - um a chamada
à intersubjetivação transversal aos problemas enfrentados. E m Natal , tratou-
se da “construção do projeto didático-pedagógico”, em Cuiabá, de
“apr end er a apr end er D ire ito”, em Belém, de estabelecer “diálogo en tre ateoria e a prática” e em Vitória, de ‘ ap re nd er a edu car ”.
Na exper iênc ia desse debate , conquanto se v is lumbre um
adensamento doutrinário e um fortalecimento da objetividade para o
126
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 127/240
manejo dc ind icadores, exercicou-se de Faro um a incra e intcrsub jetivação
de uma cultura comum para a formação jurídica, consti tuída mais no
perguntar do que no prescrever , mais no diferenciar subjet ivo da
singular idade das propostas do que na modelagem homogênea dos
en qu ad ram en tos objetivos e de seus cortes m eridianos.Permanece, entretanto, uma inquietação, fruto da ausência de
definições abr indo à subjetividade o p róp rio processo dc avaliação. Eliane
Botelho Junqueira, citada em hom ena gem ao trabalho sério que desenvolve
e à reflexão sempre cuidadosa que imprime em suas análises, não hesita
em sinalizar o perigo ilusório da subjetividade, fazendo a sua mais dura
crítica exatam ente ao qu e m elho r trad uz o espírito da reforma: as amplas
e singulares possibilidades de criação de alternativas didático -ped agóg icas
para o ensino jurídico'^. Propõe a autora, assim, uma minimização dos
indicadores ponderáveis pela subjetividade. Parece ela tem er ou ao menos
desconfiar dc pedagogias sem pré-condições. C o m o se os projetos didático-
pedagógicos fossem quebra-cabeças, complexos em sua montagem, mas
não po de nd o produ zir imagens diferentes das que já vêm pré-inscritas no
modelo imutável, que não dá, assim, espaço para novos desenhos ouvariações.
Ora, o mais significativo contributo do pensamento sociológico
que Eliane Junqueira, aliás, identifica no processo de reforma, foi o de
nela valorizar, epistemo logica me nte, a subjetividade.
Com efeito, a publicação no começo dos anos 1960 do livro de
Wright Mills'^ trouxe para as ciências sociais a novidade heurística de
uma capacidade, em si mesma qualidade do espírito, mas não apenashabilidade da razão.
O ineditismo do trabalho de Mills veio marcado, antes de tudo,
por configurar a imaginação sociológica en qu an to condiç ão de passagem
en tre perspectivas —da p olítica para a psicologia e des ta pa ra a sociologia,
transitando “das mais impessoais e remotas transformações para as
características mais íntimas do ser hum ano”, sensível às relações entre ambas.
E l i an e B o t e l h o J u n q u e i r a : F í i c u t d a d e s c i e d i r e i t o o u f á b r i c a s d e i l u s õ e s ^ R i o d c J a n e i r o : l O F . S -
I n s n t u c o D i r e i t o e S o c i e d a d e / L e r r a C a p i t a l E d i t o r a , 1 9 9 9.
W r i g h t M i l ls : A i m a g i n a ç ã o s o c i o l ó g i c a . R i o d e J a n e i r o : E d i t o r a Z a h a r , 1 9 6 3 .
127
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 128/240
A imaginação, numa época de imprecisões, de indefinições, de
subentendidos, de incertezas e de inquietações em face de problem as sequer
formulados, n ota da m en te no ca m po das ciências sociais, se pu nh a com o
recusa à indiferença ou à impotência perplexa, exercitando “razão e
sens ib i l idade” , fo rma f ru t í f e ra , d i z Mi l l s , de uma “consc iênc iatransformadora da história”.
O texto de Mills deu à imaginação um sentido metodológico
claro, be m distinto d o trata m en to filosófico do tema, a partir de sua raiz
psicologista, como aparece por exemplo, em Montaigne''^, sensível à
impossibilidade de livrar-se de seu dom ínio : “um a imaginação fortem ente
preocupada com um ac ontecimento pode provocá-lo - fortis imaginatio
general casnm - , dizem os eruditos”.
Este sentido novo aparece nos trabalhos do grupo Socialisme ou
Barbaric, para indicar a compreensão d o processo social e histórico, isto é,
da tensão en tre sociedade instituin te e sociedade instituída, da história
feita e da história se fazendo, co mo invenção e co m o criação, p or impulso
de um imaginário radical que o funda. Expressão das mais importantes
desse grupo, C lau de Lefort'^ traba lha o processo de re-instituição contín uado social e da democracia pelo imaginário dos direitos hum ano s, enq uan to
Cornelius Castoriadis'^’, revela a emergência histórica do novo, em
decorrência do trabalho do imaginário.
Para Mirtes M irian Am orin , em sua tese de dou tora do' ^, essa é a
con tribuiç ão mais significativa de C astoriadis para o estu do da sociedade
e da história: “a história não mais pode ser pensada n um a visão tradicional,
que quer tudo explicar através da Razão, baseada numa ontologia de
determinidade; a história pensada como criação e a sociedade como a
tensão entre o i nstituinte e o instituído s om ente possível n um a visão que
restituísse ao imaginário radicai o seu papel de fundação do social-histórico”.
M o n t a i g n e ; E n s a i o s ( C o l e ç ã o O s P e n s a d o r e s ) . S á o P a u l o ; E d i t o r a A b r i l .
C l a u d e L e f o r t: A i n v e n ç ã o d e m o c r á t i c a , S ã o P a u l o : B r a s il i en s e , 1 9 8 7 .
C o r n e l i u s C a s t o r i a d i s ; A i n s t i t u i ç ã o i m a g i n á r i a d a s o c i e d a d e . S ã o P a u l o : E d i t o r a P a z e T e r r a , 1 9 8 2 .
M i rc es M i r ia n A m o r i n : L a b i r i n t o s d a a u t o n o m i a . A u t o p i a s o c i a l i s t a e o i m a g i n á r i o d e C a s t o r i a d i s .
F o r ta l ez a : E d i ç õ e s U F C , 1 9 8 5.
128
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 129/240
Surpreende-se, nesse processo, uma inflexão entre o que se pode
cham ar de imaginário referido às estruturas que d ete rm inam e categorizam
o simbólico de um a realidade ou de um a época e a elas atribu em sentido,
e a própria imaginação como atividade, para configurar, tal como o faz
Claude-Gilbert Dubois, uma distinção necessária'^. A distinção entre o“imag inário ‘espec ular’ - do latim speculum, espelho - essa busca que
postula uma relação narcisística de isomorfia com relação ao objeto, em
vir tude da or igem da i lusão mimét ica que repousa sobre efe i tos
pro lon gad os do estado de esp elho ’ e da identificação” e o imagin ário
simbólico, enquanto “modo de significação consti tuído em linguagem
não a partir de signos lingüísticos, mas sim de imagen s significantes”, por
impulso de uma imaginação já não especular mas especulativa, “a qual
consiste em transform ar em redes de sentido o que só exprimia um cam po
de forças”.
Fiz essas considerações sobre tr abalh o de ínês da Fonseca Porto''^,
cen trado e m idéias qu e a autora, aliás, ap resen tou em Painel no Seminário
de Belém para um a atenta audiência. A autora, co m o Mills, coloca tamb ém
como “tarefa e promessa” de “espionamento do real pela imaginação”,para pod er cap turar ângulos em qu e ele não se percebe observado e, desde
a perspectiva de testemunho (“testemunho da construção do projeto
didático-pedagógico na reforma do ensino jurídico”), poder avaliar “o
modelo central do ensino jurídico” e indicar, na medida em que “a
imaginaçã o dê form a à von tade de trans form ação ”, as possibilidades que
ele co mpo rta de abrir-se “a novas experiências - não vividas, mas possíveis”,
co m o projeto a realizar. Nesse estudo a autora, iden tificando elemen toscaracterísticos - a descontextualização (negação do pluralism o jurídico),
o dogmatismo (exclusão das contradições e preservação dos processos
u n í v o co s d e s eu p en samen t o co n s t i t u t i v o ) e u n i d i s c i p l i n a r i d ad e
(exclusividade de um m od o de conhecer) - de m on stra o impasse crítico a
que chegou o modelo central de ensino jurídico e apela à subjetividade
para superar o limite p aradigm ático d e sua ma triz positivista e formalista.
C l a u d e - G i l b e r t D i ib o is : O i m a g i n á r i o n a R e n a s c e n ç a . B r a s/ li u: R d i t o r a U i i B , 1 9 9 3 .
I n ê s d a F o n s e c a P o r t o : A c o r i s r r t t ç l o J o p r o j e t o d i d â i i c o - p e d ã g ó g i c o n a r e f o r m a d o e n s i n o j u r í d i c o .
D i á l o g o s c o m a i m a g i n a ç ã o ( D i .s s cr t aç ã o d e M e s t r a d o ) . B r. is íl ia : F a c u l d a d e d e D i r e i t o d a U n B , 1 9 9 9 .
129
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 130/240
e por meio dela, isco é, da subjetividade, situar, co m o diz M auro A lmeida
No leto, "a titu lar idade de direitos em perspectiva em ancipató ria” *̂̂.
O trabalho dc Inês da Fonseca Porto é uma das mais criativas
leituras até aqui feitas sobre os cam inhos e instrumentos que es trutura m a
reforma do ensino juríd ico sin tetizada nas diretrizes curriculares da Portaria1.886/94, do MEC.
Dife rentem ente de Eliane Jun que ira que, ao analisar o m odelo de
ensino jurídico dos anos 1990, que stion a o seu m od o dc elaboração e o
sentido de sua concepção, pondo-o sob suspeição por traduzir “uma
valorização da visão hu man ista”, e po r te mer “a direção dessas m ud anças”,
a seu ver disfunciona is em relação às de m an da s do me rcad o simb ólico de
ensino ju rídico, Inês Porto não se deixa atemo rizar e m face dos riscos da
subjetividade que se introduz no sistema de ensino com a reforma. Ao
contrário, ela sugere a pertinência da subjetividade, mostrando que no
mo delo o significativo c que a inco m ple tud e é a face da reforma qu e a
tran sm uta n um projeto de realização quo tid ian a e sem fim”, centrada no
aprendizado do diálogo ou, conforme a sua formulação elegante, no
aprendizado do aprendizado: “a construção da identidade de um perfil
profissional, conte xtu alm en te engajado, deve criar condições pa ra que os
alunos aprendam a aprend er”.
Essa, de resto, é a posição sugerida por Juan Ramón Capella^',
que contrap õe à aprendizagem de simples ma nut ençã o a aprendizagem
renovadora, algo que se con stitua mais qu e m era atualização, antes, u m
m od o de aprender a aprender. Trata-se de u m processo atento d o observar-
se no processo de aprender, exam ina ndo c uida dosam ente as habilidades einteresses que se adquirem paulatinamente, e do despertar da própria
sensibilidade intelectual e moral.
Para Capel la é necessário vencer o m edo de aprender pois, diz ele,
o te mor de não ser capaz de fazê-lo paralisa o esforço criativo para enf rentar
questões não resolvidas, abr indo-se à imaginação e não apenas à m emória,
porque aprender não é recordar, mas saber integrar a aprendizagem de
M a u r o A l m e i d a N o l e t o : S u b j e t iv i d a d e j u r íd i c a . A t i tu l a r id a d e d e d i r e it o s e m p e rs p ec t iv a
e m a n c i p a t ó r i u . P o r t o A le g re : S er g i o A n t o n i o F a b r is E d i to r , 1 9 9 8 .
J ii a n R a m ó n C a p e l l a : E l a p v e n d i z a j e d e l a p r e n d i z a j e . M a d r i d : E d i t o r ia l T r o t t a , 1 9 9 5 -
150
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 131/240
hoje no conjunto de capacidades sempre disponíveis que se adquirem
contin uam ente , n o ade stram ento profissional e ao longo da vida.
4 . Enfrentando e superando obs táculos
Nos debates regulates que a CEJ promove e sobretudo, no seu
cotidiano deliberativo, tem-se camin had o, e fortem ente, para a construção
de um sistema de referências com uns que perm itam orientar a toma da de
decisão da C om issão nos temas a ela afetos, en tre eles, o proferi r pareceres
acerca da criação e do rec redenci am ento de cursos jurídicos.
Esse trabalho implica, na tura lmente, enfrentar e superar obstáculos.
Parte desse processo de enfren tar e superar obstáculos diz respeito ao padrãode interlocução que a CEJ promove ou ao qual necessariamente deve
ater-se e qu e resulta em relações cr/ricas, às vezes de en fre nc am en to e, em
geral, terçando confrontos de entend im ento. Adriano Pinto tra tou com
m uita acuidade desse viés em sua exposição n o Sem inário de Belém e é
este o tem a de sua abor dag em nesse livro.
N a perspectiva aqui desenvolvida, à luz da reflexão am adu recid a
no seio da C EJ, cuida-se mais de indicar parâmetros para a contextualização
dos projetos didático-p edagógico s qu e a ela são sub m etido s, estabelecer
os seus referenciais de verossim ilhança e visualizar o perfil e as habili ldades
que os cursos jurídicos, co m seus projetos, in ten tam formar.
No primeiro caso, que se inscreve na indagação sobre a própria
necessidade social do curso e de que m od o este respo nde às interpelações
e aspirações reais de u m m erca do não ape nas profissional mas simbólico,“a descontextualização dos cursos jurídicos trad uz des conhecim ento dessa
rea l idade e descons idera ques tões re levantes para o ades t ramento
profissional qu e não interage com as dem an da s sociais e de m erca do em
transformação”.
N o s egun do caso, relativam ente às experiências de implantação,
quando se verifica a ruptura entre o discurso de inovação realizado por
um fenô men o de inserção do trabalho de consultoria, hábil n a apropriaçãodo universo conceituai no qual se abrigam as novidades curriculares e
organizacionais mas que não se comunica às equipes responsáveis pela
execução do projeto, salvo nos raros casos em que o trabalho de
131
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 132/240
preparação haja incorpo rad o o proc agonismo de indispensáveis núcleos
perman entes de gestores e docentes q ue se incum birão da im plantação
dos projetos.
No terceiro caso, mais nitidamente tem lugar a retórica de
atualização, substitu indo-se por meio de expressões ou rótulos de inovaçõesdidático-pcdagógicas o cnfrentamento a questões inéditas relativas à
formação profissional nas quais co m um en tc se arm am os impasses e os
dilemas da formação profissional: autonomia/padronização , especialização/
generalização, teoria/práti ca, form ação téc nica /forma ção ética, exigências
sociais/exigências profissionais, engajamento/neutralidade e assim por
diante.
En qu anto esquema de compre ensão e cm nível epistemológico,não tem sido difícil enfrentar esses obstáculos e a sua superação vem se
da nd o co m o im pulso do m éto do d e incerlocução e de busca de consenso
com os protagonistas do campo, valendo considerar a qualidade de
participação nos Seminários conv ocados pela OAB.
Nesse espaço, que c também um espaço de aprendizagem, tem
sido possível criar uma interlocução desarmada e sincera e construir
definições de interesse com um , enfre ntand o questões que são inerentes
ao processo formativo, à determinação de perfis e de identidades e por
meio do diálogo que d em arca diferenças en tre visões de m u n do e é base
para a criativ idade e a sin gu lar ida de subjetiva. Vale, nesse particular, não
perder dc vista a didática do imaginário prop osta po r Luiz Alberto Warat
para o ensino jurídico-^, c om o fo rma de interpelação do novo, na medida
em que sugere com Bachelard "a possibilidade de pensar e sentir sem
censuras, de revelar os segredos da singularidade, e de revelar o ponto
neurológico da diferença: o ho m em novo, aquele que não tem seus sonhos,
seu imagin ário cen surado pela instituiç ão e qu e organiza seus afetos sem
desejos alugados” .
Basta ver, neste aspecto, qu e o próp rio M E C , por m eio do Exam e
Nacional de Cursos, logo aproveitou dessa interlocução e metodologia
de diálogo, ass imilando em seu s is tema de avaliação, rapidamentedif un did o na Sociedade, os seus benefícios, n a m ed ida em que se integra
L u i z A l h e r t ü W a r a t : M a n i f e s t n d o s u r r e a l i s m o j u r i d i c o . S ã o P a u l o : E d i t o r a A c a d ê m i c a .
132
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 133/240
aos Seminários da O AB , dialoga com seus rcpresenranres e os incorpora
em suas comissões técnicas.
Com efeito, a experiência do Exame Nacional de Cursos tem
sido 0 âmbito privilegiado para a tradução desses esforços e na sua
organização, me lhor se enc arn ou o espírito da re forma do ensino jurídico,p recon izada nas d i r e t r i zes cu r r i cu la res da Por t a r i a n^ 1 .886 /94 ,
respo ndendo o mod elo do “Provão” pela me lhor explicitação do c ontexto
de atualiziição curricular e de determinação dos perfis e habilidades essenciais
à form ação dos juristas.
Não se trata aqui de simplesmente aludir aos imperativos já
definidos por Kan t, com o habilidade ou destreza, com o o que se tem de
fazer para alcançar uma finalidade razoável e boa"\ Em Kant, tal como
Miche l Villey já observara^"*, de na da valem cais imp era tivos, a inda qu e se
leve em conta qu e “todas as ciências têm um a p arte prática, que se com põe
de problemas que estabelecem que u m a dete rminada finalidade é possível”,
se na clivagem por ele estabelecida, o ensino jurídico exclui o jurista da
discussão de fundo acerca do justo {qu id sit jus), objeto de análise do
filósofo (na Faculdade de Filosofia), restando-lhe apenas (na Faculdade deDireito), estabelecer se um de ter m ina do fato ou ato seja lícito ou ilícito
sob o po nt o de vista jurídico {q u idsit luris)}'’
Por isto que no espírito da reforma, a determinação do perfil
profissional remete ainda à subjetividade como interpelação criativa e
síntese das várias habilidades q ue co ns titu em o afazer do juris ta e, com o
diz Ma rth a Nus sbau n, “ingrediente indispensável ao pensam ent o piíblico,
com condições de criar hábitos m entais que co ntri bu am para a efetivaçãoda igualdade social"^.
A experiência do “Provão” caminha para a sua quinta aplicação
com ple tand o a série histórica prevista para serenar a sua qualificação com o
instr um en to de avaliação e para pe rmitir extrair do m odelo o seu papel de
I m n i a n u c l K u i u : F u n d a m e n t a ç ã o c ia m e t a f í s i c a d a s a i s t i i m c s ( C o l e ç ã o O s P e n s a d o r e s ) . S ã o P a u l o ;
E d i t o r a A b r il .
•'* M ic hc l Vi l ley : L e ç o n s d ’h i s t o i r c d e l a p b i l o s o p h i e d u d r u i t . P a r i s : D a l l o z , 1 9 6 2 .
M i c l i e l V i l le y ; L e c o n f l i t d e s f ã c i d t é s . 1’ari .s: L i b r n i r i c P h i l o s o p h i q i i e J . V r i n , 1 9 7 3 .
M a r t i i a N u . s. s b ai i n ; J i i s t i c i a p o é t i c a . L a i m n g i n a c i o n U r e m r i a y l a v i d a p u b l i c a . B a r c e l o n a / B u e n o s
A i r c s / M c x i c o D . R / S a n t i a g o cic C h i l e : E d i t o r i a l A n d r e s B c ll o, 1 9 9 7 ) .
133
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 134/240
fomento a mudanças no sistema. Certamente, nessa experiência, é nota
significativa a indução proporcionada pelo Exame Nacional de Cursos
para desenhar o perfil profissional do jurista, fortemente hum anista, sensível
aos condicionamentos de seu tempo e espaço e dotado de senso ético-
profissional e de responsabilidade social para atuar no sentido da realizaçãoda libertação do ho m em e do ap rim ora m ent o d a sociedade.
Essas categorias, designadas e normatizadas para demarcar os
procedimentos de aplicação do ENC em Direito, são mediadas por um
diálogo perm ante no social em condições de atribuir, define ainda o EN C ,
“visão atualizada do m un d o e, em particular, consciência dos problem as
nacionais”, requerendo, lem bra Bistra Stefanova Apostolova: “a habilidade
de ver o outro como diferente e saber colocar-se no lugar dele, e desse
m od o desenvolver a capacidade de i mag inar e compree nder, essencial na
formação do bacharel”"'.
Nesse ponto radica um outro tipo de obstáculo mais difícil de
arrostar porq ue co nstituíd o no interior me sm o d o sistema e gerado pelos
ruídos e destempos de integração de seus agentes nas etapas de implantação
de um modelo no qual há uma part i lha de responsabil idades paraimplementá-lo.
Veja-se, a propósito, o seguin te trecho do R elatório da Comissã o
de Direito do Exame Nacion al de Cursos 1999, que bem ilustra o ponto;
“Curioso e inquietante, feitas essas considerações, é o
fa to de te r a Câmara de Ens ino Super ior do Conse lho
Nacional de Educação acolhido e aprovado iniciativa deconselheiro seu no sen tido de revogar a Portaria n° 1886 /94,
sob o argumento de sua anterioridade à Lei de Diretrizes e
Bases da Educação . Esta atit ud e eq uivocada e descolada da
própria metodologia que preside o Edital n® 4, de 10 de
dezem bro de 1997, lançado pelo Ministério da Educação para
orientar a discussão de novas diretrizes para o ensino superior,
ignora a recepção jurídica dos enunciados e princípios da
B i s c r a S c e f a i i o v a A p o s t o l o v a : “ P e r f i l c h a b i l i d a d e s d o j u r i s t a ; r a z ã o e s e n s i b i l i d a d e . N o t í c i a d o
D i r e i t o B r a s i l e i r o , n " 5. B ra sí li a: F a c u l d a d e d e D i r e i t o d a U n B , 1 9 9 9 .
134
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 135/240
portaria pela Lei de Diretrizes e Bases, assim como códigos
anteriores à Co nstit uiçã o não foram, só po r isso, revogados,
ou se ja , mant ive ram-se v igen tes naqu i lo em que não
contrariavam a nova ordem constitucional. Pior é que essa
proposta, volun tarista e arredia ao espírito de integração quevem marcando o protagonismo dos atores envolvidos no
processo de requalificação do ensino juríd ico , retira-lhe
açodada men te o pont o de sustentação e o paradigm a em que
tod o ele se estrutura, prin cipalm ente o Exam e Nacio nal de
Cursos. Nã o foi por outra razão que no Relatório do Exame
de 1998 a Comissão, explicitamente, declarou seu apoio à
man utenção da Portaria n° 1886/94, concedend o argumentoshermenéutico-jurídicos para avalizar a sua vigência mesmo
após a promu lgaç ão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Procedeu do mesmo modo ao adiantar pos ic ionamento
contido nas sugestões para as diretrizes em discussão segun do
a convocatória do Edital n° 4 e pôs-se em con sonân cia com
as principais manifestações n o m esm o sentido, aduzidas pelas
mais re sponsáve i s ins t i tu ições , como por exemplo , o
Conselho Federal da OAB. A Comissão espera, assim, que,
prudentemente , o Minis t ro da Educação não homologue
essa deliberação, recusando caráter normativo ao Parecer
n" 50 7/9 9 e Indicação respectiva (n" 1 /99 )”.
O u po rqu e o M inistro resistiu ou aind a resiste a hom olo gar esseparecer, volta agora em procedimento oblíquo o mesmo expediente
desconstitutivo. De sta feita, ho m olo ga do pelo M inistro . Sob a aparência
de fixar critérios para autorização e reconhecim ento de cursos de Instituições
de Ensino Superior {Parecer n° 1.070/99, Processo n° 23001.000406/
99-64), a Câmara, outra vez pretendendo uniformizar procedimentos ,
subtrai elementos fund am en tais para a área de D ireito, assim os alusivos à
iniciação científica e à estruturação de uma infra-estrutura capaz defom enta r a pesquisa institucional, desm obilizando esforços já consolidados
para adensar a qualidade do cam po. N ega validade, co m alegação, que
ignora evidências em contrário, de falta de regras sobre procedimentos
135
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 136/240
clássicos, como elaboração de monografia de final de curso e sugere no
geral não p on der ar indicadores, não apenas vitais para a ma nu tenç ão de
avanços, mas o que é mais grave, já aceitos e praticados pela ma ioria dos
agentes do s istema preocupados com a qualificação da área, resssalvadas as
resistências conhecidas dos grandes empreendedores, renitentes aosinvestimentos em seus megaprojetos, todavia, indisponíveis aos apelos
para realizar os necessários inves timentos para a qualificação de seus cursos
ou para contribuir com a elevação geral do ambiente de ensino, uma
responsabilidade já assumida pelos empreendedores conscientes de sua
responsabilidade social a pa rtir de seu lugar no m ercado.
5. Respostas criat ivas para novos desafios: o pro tag on ism o da O AB
na formulação de al ternat iva
Em um magn í f i co t ex to o r i en tado para a busca de “uma
fundamentação substantiva para o Direito”, Cláudio Souto fala em
alternatividade e apela a que se perceba o Direito co mo pro du to hum ano ,
carregando a marca de sua origem hominal para se constituir “clara eessencialmente idéia-sentimento, co m o tudo que é hu m an o”
“Idear, sentir, decidir em função do idear-sentir” - diz Souto - “aí
estará a essência do homem e de tudo que é produto humano”. Assim,
para ele, “mesmo as coisas materiais produzidas pelo trabalho humano
são resultado de decisões da von tade em função de idéias-sentimentos”.
N ão é excessivo localizar no pro tago nism o da OA B, no tem a do
ensino jurídico, este valor “idéia-sentimento”, pleno de sentido dealternatividade. Basta ver, a pa rtir da trajetória aqui resumida, a designar
os anteced entes e pressupostos que balizam a atuação da Instituição neste
cam po, a sua capacidade de perceber a direção correta do m ov im en to de
m ud an ça paradigm ática e a sua sensibilidade política para se saber colocar
em papel protagonista.
Assim, em qu e pese a sua contrib uição irrecusável ao m ov im en to
atual de requalificação do sistem a de ensin o jurídic o n o Brasil, o que lhe
C l á u d i o S o uc o ; T e m p o d o d i r e i t o i t l t e r i t a t i v o . P o r c o A l eg r e: L i v r a ri a d o A d v o g a d o E d i t o r a , 1 9 9 7 .
136
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 137/240
granjeou prerrogativa, inclusive legal, de manifestação sobre procedim entos
de criação e de re conhec ime nto dc cursos, não são pequenas as dificuldades
a enfr ent ar e os obstácu los a superar, c om o se viu.
Não surpreendem, inclusive, tergiversações que possam afetar
prerrogativas já estabelecidas, notadamente quando se trata de umaInstituição que organiza a única atividade profissional com assento
constitucional ("o advogado c essencial à administração da Justiça”).
E que, embora entidade corporativa, o seu papel histórico atribuiu-lhe
m ún us público q ue ultrapassa as fimções de organismo de classe e im prime
à sua ação um mandato de claro alcance transubjetivo para a defesa de
interesses gerais da Sociedade. Por isso, em sua atuação p ara a preservação
da qualidade do ensino jurídico não lhe move o desiderato qualquer
sentido corporativo, de intervenção e m merc ado, senão a preservação de
valores e de salvaguardas da c idadan ia.
Assim é que a Instituição O AB pe rm ane ntem ente se prop õe novos
desafios, sem se deixar imobilizar nas prerrogativas dur am en te alcançadas
e se impõe, desse modo, um exercício de autocrítica contínua para
reorientar e acentuar, reforçando-as, as expectativas que a Sociedade
natu ralm ent e alim enta relativamente a seu agir.
A que novos desafios a experiência da OAB no campo do
credenciamento, do reconhecimento e da avaliação do ensino jurídico
pode levar neste mo m ento? Acu mu lam- se os sinais decorrentes de um a
co njun tu ra sem precede ntes de facilitação à criação de novos cursos, com
o amole cim ento de indicadores de qualidade (ver parecer CE S 1.070/9 9)
e com o concurso de um mercan t i l i smo ren i ten te que impede ageneralização de um a legítima consciência em pr ee nd ed ora balizada pelo
reco nhec ime nto do valor social da educação.
Cada vez ma is d i sc repam os n i imeros que as s ina lam os
pronunciamentos da OAB favoráveis (enquanto se conf i rmam nas
avaliações o desempenho medíocre de projetos que não tiveram o seu
aval) e as autorizações, numa proporção tal que, computados os dados
recentes, tem-se já o registro de criação nos últimos sete anos de maiscursos jurídicos do que os autorizados a funcionar em 160 anos,
considerando-se que em 1993 existiam 184 cursos instalados no País e
hoje eles chegam a quatrocentos.
137
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 138/240
Nesce diapasão, a manifestação da OAB, permanentemente
necessária, quase se dilui no cartorialismo de credenciamentos. Que
altcrnafiva então? Tudo se enc am inha pois, no sentido de consti tuir a
Entid ade um sistema de recomendação, tantas são as sugestões da Sociedade
para que a OAB reto me o p roc ed im en to de classificação de cursos, após abcm-sucedida experiência feira em 1993, co m a publicação do livro “OAB
Ensino Jurídico: Parâme tros para Elevação de Q ua lida de e Avaliação”,
q u a n d o a E n t i d a d e o f e r e c e u u m m o d e l o b e m f u n d a m e n t a d o e
do cu m en tado de classificação dos cursos jurídico s brasileiros.
Cuida, assim, a CEJ de organizar um proc edim ento alternativo
para a alternativa que formula, factível na medida em que avança para
além do pa tam ar ante rior que alcançou carregada da credibilidade porqu e
já a realizou e suficientem ente tópica para preservar a marca de sua
singularidade, fru to dessa mesma experiência que lhe perm itiu criar e testar
instrumentos , metodologias e bem elaborados esquemas de compreensão
da sistemática de avaliação de projetos. Segue-se, aqui, o conselho de
Boaventura de Sousa Santos, a propósito de sociabilidades alternativas:
"não basta pensar em alternativas, já que o pensamento moderno de
alternativas tem-se mostrado extremamente vulnerável à inanição, quer
porque as alternativas são irrealistas e caem no descrédito por utópicas,
quer porque as alternativas são realistas e são, por essa razão, facilmente
cooptadas p or aqueles cujos interesses seriam ne gativam ente afectados por
elas: precisamos pois de u m pe ns am en to alt ern ativ o de alternativas""'^.
Quem senão a OAB e a sua Comissão de Ensino Jur íd ico
acumulou experiência para pensar, pois, não só alternativas mas umpensamento alternativo para as alternativas que está em condições de
formular.
Trata-se, então de propor e oferecer respostas criativas ao novo
desafio.
B o a v e n t u r a d e S o u s a S a n t o s : R e i n v e n t a r a d e m o c r a c i a ( C o l e ç ã o F u n d a ç ã o M á r i o S o a re s) .
L i s bo a ; E d i ç ã o G r a d i v a , 1 9 9 ^ .
138
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 139/240
A CRISE DA UNIVERSIDADE PÚBLICA
E O ENSINO j u r í d i c o
M aríl ia M ur icy
Sumário: 1. A crise da Universidade Pública: privatização e lógica de
mercado. 2. O sentido público do ensino jurídico. 3. Conclusões.
1. A crise da Un iversidade Pú blica: P rivatização e lógica de m ercado
A notória incapacidade das políticas públicas adotadas pelo governo
brasileiro, no setor do ensino, trouxe, en tre outras c onseqüências, surto
incontrolável de privatização que, estimulado pela ideologia neoliberal,
terminou por instalar, com nitidez que ninguém ignora, a lógica do
mercado no campo educacional . Começando pelo ensino básico, o
primeiro a sofrer os efeitos da incúria governamental, logo chegou aoensino superior e co m intensidade cada vez maior à área do ensino jurídico,
vista com o de dem an da garantida e baixo custo empresarial . Longe de
um quadro de equilíbrio entre a escola pública e a privada, o que seria
perfeitamente aceitável, na con jun tur a histórica em q ue nos enco ntramos,
0 que se vê é uma avassaladora e nociva invasão de cursos jurídicos, em
que a preocupação com a qualidade não passa de retórica vazia, desmentida
por uma realidade em que turmas de mais de cem alunos refletem osmecanismos facilitadores utilizados pelo sistema de rec rutamen to e geram
profissionais incapacitados, cont ribuindo para u m a crescente deslegitimação
da profissão jurídica, co m graves prejuízos p ara a vida dem ocrática.
Fortes razões existem, por tanto, para trazer ao deb ate o significado
e o destino da Universidade Pública Brasileira: o espaço qu e lhe é próprio,
os dano s p rodu zido s pela sua desqualificação e, sob retu do , as alternativas
para sua recuperação. E, pe ns an do nessa direção, refletir sobre a relevância
do ensino público superior para a formação dos operadores jurídicos, tendo
em vista a natureza das atividades a que são convocados e a responsabilidade
ético-política qu e elas envolvem.
139
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 140/240
Escrevendo sobre a idéia de Universidade, Boaventura de Souza
Santos mencio na a existência de tripla crisc: crise de hege monia , crise dc
legitimidade c crise instituciomil. A primeira diz respeito à perda progressiva
do espaço piiblico pela instituição universitária, com pr im ida pela ação de
grupos sociais que acionam meios alternativos para realização dc funçõesque, antes, lhe eram exclusivas. A segunda (crise de legitimidade) resulta
da incapacidade de absoi'ver a dem an da de u m a sociedade em que a procura
da educação superior assume proporções de u m a reivindicação de massa.
Finalmente, a crisc institucional manifesm-se pela substituição dos modelos
organizativos consentâneos com a sua especificidade por padrões de
funcionalidade característicos dc outras instituições.
Pensamos que a categorização elaborada por Boaventura, sobre tudo
no que concern e à crise de legit imidade e à crise instituciona l, ilum ina a
compre ensão do ca minh o que con duz o ensino piíblico superior no Brasil,
de suas origens ate o atual m om en to histórico, em qu e testem unh am os,
com indignação e certa impo tênc ia, o triste processo de seu sucateamen to.
A Universidade Brasileira nasceu como Universidade Pública,
inspirada no ideal repu blica no de igualdade n o acesso aos bens culturais.C on tem po râne a de um a fase histórica em que o papel do Estado, com o
provedor de bcneficiamentos coletivos, distingue-se, com precisão, do
desempenho da iniciativa privada, logo o imaginário social a associou à
abertura de canais de ascensão popu lar e, não obstante os mui tos elementos
estruturais da sociedade brasileira que oblitcravam a realização de seus
objetivos, por m uito tem po assim se a conc ebeu, tan to qu an to se cuido u
de preservar o seu sentido utópico de instituição voltada à livre e au tôno m aprodu ção/repr oduçã o dc u m saber para o desenvolvimento nacional.
Entretanto, o desmonte do ensino público fu ndamental, realizado,
com êxito indiscutível, term ino u p or abalar, co mo conseqüência perversa,
0 su port e de confianç a social na U niversidade Pública, cujos critérios de
acesso, pelo rigor e seletividade (em si mesmos imprescindíveis)
determinaram por deixar à margem os egressos da Escola Pública, em
benefício do contingente, melhor habilitado, proveniente do ensinoprivado. Instala-se assim, a crise de legitim idade, estim ulada , com o be m
observa Marilena Chauí em trabalho intitulado “Ideologia neoliberal é
Universidade”, pela visão ingênua dos que aceitam o argumento, nada
MO
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 141/240
ingênu o, da necessidade de baixar o cusro pú blico da U niversidad e para
“democraiizá-Ia”.
T ão grave qu an to a desiegitimação da U niversidad e Pública, é o
processo de sua “crise institucional”, cujos sintomas —e ainda aqui nos
valemos da análise de C ha uí - origina dos pela servil acom oda ção àsexigências do neoliberalismo, incluem, entre outros, o modo como a
co m un ida de d ocen te se relaciona com a sociedade, e formu la os processos
de avaliação de sua produ tivida de. N o pla no das relações Universid ade/
Sociedade, o sentido desenvolvim entista de que falava Darcy Ribeiro deu
lugar a políticas de pesquisa e extensão que vão, aos poucos, transform and o
a Universidade em prestadora de serviços às empresas privadas, co m franco
prejuízo à investigação básica, na área das humanidades. A “ondamodern izadora” nada poupa , ne m é recente. E com o disse, quase dez anos
atrás, em aula inaugural proferida na Universidade Federal da Bahia, os
espaços da Universidade vão-se, cada vez mais, privacizando, pela ocupação
privilegiada de convênios, firmados com base na atuação de segmentos
tidos como “de ponta” porque mais aptos a atender às expectativas do
mercado. Já no âm bito interno, o que se vê é mero reflexo. A crescente
incorporação, pela com un idade universitária, da lógica da eficiência, própr ia
dos negócios privados, leva a aferição da produtividade acadêmica por
critérios meramente quantitativos, tais como número de publicações e
titulação formal que des den ham o potencial crítico e transf orm ado r da
atividade docente. E não será dema siado lem brar o m od o pelo qual a pós-
graduação, cuja importância e indiscutível, termina por funcionar, em
muitas situações, como fator de justificação para afastar o docente dasatividades de ensino de graduação, transformando-os em “professores
pesquisadores”, escravos da lógica burocrática dos relatórios exigidos pelas
agências financiadoras.
2. O sentido público do ensino jurídico
A crise da Universidade Pública, como até aqui procuramosentendê-la , const i tui importante e lemento para a compreensão das
dificuldades e resistências enfrentadas pela tentativa de impr im ir ao ensino
jurídico, nos moldes projetados pela Portaria 1 .886/94, rum os que o
141
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 142/240
apro xim am de resp onde r satisfatoriamen te às experiências da cidadan ia e
da vida democrática.
Com essa af i rmação , não es tabelecemos o pressuposto da
impossibilidade do ensino jurídico privado de boa qualidade. Se assim
fosse, não apenas nos ãeixaríãmos c on ta m ina r po r excessos ideológicosmas, o que é pior, estaríamo s a decretar, com impe rdoáv el pessimism o, a
absoluta inviabi l idade do atual modelo brasi leiro de formação de
profissionais do direito, em larga medida composto pela presença da
iniciativa privada. Pensamos, sim, que a preservação do sentido público
do processo de formação acadêmica, em nossa área , é condição
indispensável para eficácia das diretrizes normativas q ue ora d isciplinam o
ensino jurídico e que estão, indisc utivelmen te, voltadas para a formaçãode um profissional cuja militância, ainda quando realizada no âmbito
privado, tem a marca do público, razão aliás decisiva para que atingisse
foros de atividade essencial à Adm inistraç ão da Justiça, nos te rmos do art.
133 da Cons tituiç ão Federal.
Quem l ida com o direi to , encontra à sua frente um objeto
caracterizado po r ser história e estar referido a valores que, po r sua vez,
não po de m ser identificados senão po r referência às estruturas de po der
em que se articula a vida social. Conhecer o direito, e com ele atuar
profissionalmente, não é, po rta nto , tarefa que se possa levar a cabo co m o
estra nham ento de qu em depa ra algo que lhe é externo; é, sim, assumir-se,
0 sujeito, co mo prota gonis ta de um processo que é parte essencial de sua
instalação. N ão e possível, na formação do profissional do direito, adm itir
fronteiras rígida entre técnica e ética. Aqui, a eficiência do desempenhom ed e- se , t am b ém , p e l a n a t u r eza d o co m p r o m e t i m en t o é t i co d o
profissional com o mundo em que atua. E é este, como tantas vezes se
tem repetido, o perfil de profissional perseguido pela Portaria 1.886/94
e a partir do qual devem ser examinadas suas diretrizes básicas: conhecimento
produzido através da pesquisa e da at itude interdisciplinar; desenvolvimento
de atividades complem entares, d e m od o a descompartimentalizar o estudo
produz ido na sala de aula, pro jetand o-o para ourros campos d o saber epara o conjunto da sociedade; convivência entre teoria e prát ica,
im un iza nd o co ntr a a falsa crença n a oposição e ntre a atitu de reflexiva e o
m om en to de aplicação do con hec imento; ênfase nas disciplinas e métodos
142
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 143/240
que estimu lam a crítica c o desenvo lvimen to do raciocínio são, entre outros,
instrumentos para assegurar, além da mera informação que repassa
conhecimentos pré-constituídos, a formação de um profissional apto a
procurar soluções próprias e criativas para problemas, cujo ineditismo
desorienta a postu ra rigidam ente dogmática.Tudo isso conduz a uma primeira conclusão: o profissional
projetad o pelo atual mod elo de ensino jurídico, fruto de muitas décadas
de discussão, com am pla e decisiva participação da OA B, é o profissional-
cidadão, que, a nosso ver, a dom inâ nc ia da lógica de m erca do é incapaz de
produzir.
Em t raba lho pub l icado na rev i s ta Car ta Cap i ta l de 10 de
maio de 2000, Rafael Alcadipani e Ricardo Bresler refletem, com
indisfarçável indignação c ironia inteligente, sobre o que chamam de
“MacD onald ização do E nsino ” o u o processo pelo qual “Universidades e
Escolas adotam o m od elo da fast-inbecilização”. O alvo da crítica são os
megaempreendimentos , quase que exclus ivamente inspi rados pe la
perseguição do lucro, co m inocultável desp rezo a critérios de qu alida de e
não raro indiferentes a exigências básicas, tal co m o a seriedade do exame
vestibular. M as os autores ta m bé m cuida m, ultrapa ssando a análise dos
exemplos teratológicos, de ap on tar os prob lem as de fun do que viciam o
ensino superior submetido à lógica mercantil , denunciando o divórcio
entre a racionalidade in stru m enta l q ue rege a “empresa” e os princípios
que dev em orienta r as práticas das instituições de ensino. E nesse po nto
nos dão a ocasião de refletir sobre o indisfarçável con flito en tre a “lógica
dos resultados” e o privilegiamento do lucro e a responsabilidade dos cursos jurídicos na função do profissional que a sociedade requer e a que a
Con stituição em presta lugar de destaque.
N ão é preciso esforço para atingir o óbvio: postulações pedagógicas
com o a de Ínterdisciplinaridade do en sino, prática jurídica e atividades
com plem enta res, projeta das para além da Escola, não são realizáveis pelo
ensino de massa, protagonizado por professores horis tas e a lunos
apressados. Exigem, sim, a profissionalização de docen tes bem remuneradose estudantes disponíveis, afetiva e intelectualmente, para o tempo do
diálogo, do desen volvim ento das suas ponten cialidad es e do exercício da
criatividade. Por seu imediatism o pragmático, a lógica de mercado tam bé m
143
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 144/240
não favorece às atividades de pesquisa, co m as peculiaridades co m qu e se
apresentam na área do direito, não sendo, pois, de surpreender, que a
produç ão universitária, neste âmbito, em bora ainda insuficiente, concentre-
se na esfera do e nsino públic o, fornecida pelo sistema de bolsas.
Não é preciso ir mais longe para concluir que o profissionalmo delado pela atual conccpção de curso jurídic o nã o po de surgir senão
de condições acadêmicas que assegurem a interlocuç ão entr e os atores do
processo de ensino/aprend izagem e a realidade viva da experiência jurídica.
Pois é dessa inter locuç ão que em erg em os pressuposto s do pró prio saber
sobre o direito e as pautas, dc ordem valorativa, que direcionarão a sua
aplicação.
Pequeno intervalo, de natureza epistemológica, pode auxiliar a
comp reensão do q ue dizemos. R econhece r a politização da ciência, o nde
quer que ela se efetive, constitui, desde muito, um truísmo filosófico,
não fazendo sentido ignorar a extrem a problema ticidade dos limites entre
ciência e técnica. Ent reta nto , no D ireito , a questão se apresenta ainda mais
complexa . Pois, em nossa peculiaríssima ciência, os pro blem as de ordem
ético-politica não aparecem apenas na motivação para conhecer e na
aplicação dos resultados, mas, sim, integram a estrutura mesma do
conhecimento produzido, cuja natureza normativa é, aliás, aspecto de
acentuada im portância para a compreensão do desem pen ho prescritivo
da do utr ina dos Juristas, a nosso e nte nd er im po rtan te Fonte do direito.
Assim, o co nhe cim ento que se prod uz e se ensina nos cursos jurídicos não
é apenas relevante para de finir o perfil ético e técnico do profissional in
fieri; desempen ha, tam bém , o papel de elemento formativo do própriodireito, o que t orn a ai nd a mais exigível a otimização da postura reflexiva
e do recurso à crítica, antídotos contra as seduções da ideologia e as
armadilhas do conservadorismo e, portanto , condições a serem preservadas
dos efeitos da lógica do me rca do e das ‘simplificações pedagógicas” da/
decorrentes.
3. Conclusões
N o debate mais recente acerca da crise da Universidade Pública há
consenso quanto a um ponto: o melancólico processo de deterioração
144
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 145/240
progressiva a que tem sido submetida a Universidade Pública no Brasil
danifica, a um só tempo, o desenvo lvimento nacional e a vida democrática.
Esvaziada pela evasão de seus melho res cérebros qu e vão em igra nd o para
as Universidades privadas, em busca de salários meno s indignos; c ompelida
a t e r que admin is t ra r de f ic i t s f inance i ros c a sobrepor ques tõesadministra tivas e gerenciais aos problemas de natureza acadêmica; induzida ,
cada vez mais, a adota r estratégias de sobrevivência q ue descaracterizam a
sua identidade pública, pela incorporação de mecanismos operacionais
própr ios à esfera privada, a Universidade Brasileira encontra-se, nesse início
de século, em agonia, c om riscos incalculáveis para o futu ro do país.
Mesmo os mais entusiásticos defensores dos mecanismos de
me rca do não ignoram a existência de aspectos da vida social que resistemà consagração d a lógica da eficiência e ao uso das estratégias qu e lhe são
próprias. A vida universitária, co m o hab itat privilegiado do pen sam ento
e da ciência, ocupa, entre esses lugares de resistência, uma posição de
destaque. Isso, entretan to, não tem evitado a atitude de olímpica indiferença
do governo federal ante os dados estatísticos que revelam expressiva
superio ridade do nú m ero de matrículas nas escolas privadas em relação ao
número de matriculados nas Universidades Públicas, em um quadro de
crescimento inc ontrolado do ensino superior.
Se deixamos de lado a questã o geral e co nc en tra m os o o lhar sobre
os cursos de direito, aind a m aio r é o desequilíbrio entre o setor público e
o setor privado.
A Declaração Mundial sobre o Ensino Superior, aprovada pela
Co nferê ncia da Unesco, realizada em Paris, em o u tu br o de 1998, preferiunão enfrentar, direta mente, a questão (talvez delicada e cont rovertida , para
um universo de 3.00 0 participantes) da responsabilidade do p ode r público
na manutenção das Unive rs idades . Optou-se por uma l inguagem
m ediado ra entre as forças do capitalismo e as da d emo cracia - que
compõem, segundo Agnes Heller e Ferenc Féher, o palco do mundo
m od erno - def in indo a educação com o serviço públ ico , para cuja
sustentação d evem conc orrer recursos privados e governamentais. FoÍ esseo c o n s e n s o p o s s í v e l , e m u m e n c o n t r o q u e r e u n i a e x p e r i ê n c i a s
socioeconò mico-p olíticas extre m am en te diversificadas: firmar o sentido
públic o do ensino universitário.
145
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 146/240
Abrir espaço, nesse trabalho, para o debate con tem po rân eo sobre
a distinção entre o púb lico e o privado, qu e, pa ra imp orta nte s ideólogos
do governo, deve constituir o eixo da avaliação sobre o futuro da
Universidade brasileira, seria tran sborda m en to inútil.
O que temos vivido, no Brasil, não é o desenvolvimento deparcerias entre o Estado e a iniciativa privada, definidos os limites de atuação
e as responsabilidades dos parceiros. E, sim, a proliferação descontrola da
de Escolas Superiores Privadas, na ausência d o Estado, limita do a utilizar
mecanismos de avaliação de resultados, o que, apesar de sua utilidade,
termina, até por força de seu desloca me nto q ua nto a m odo s mais amplos
de participação e controle, por ser apropriado, por parte de algumas
instituições, como um puro desafio à melhoria de suas condições demercado , tal co m o indica a exem plo limite, recente me nte divulgado em
periódico paulista, de Universidade que ofereceu um Corsa 0 km para a
comissão de forma ndo s, se exitosa a turm a n o Provão.
Am pliar a responsabilidade ética do ensino privado, coibin do os
excessos da procura de lucrativ idade; viabilizar, na Universidade Pública, a
reimplanta ção das condições necessárias a seu pleno des em pen ho com o
instituição a serviço do desenvolvimento e da democracia são tarefas a
serem cum pridas, com a urgência q ue a cidada nia brasileira está a exigir.
146
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 147/240
ENSINO JURÍDICO:
REALIDADE E PERSPECTIVAS
Paulo Luiz N et to Lôbo
Sumário: 1. As etapas da reforma do ensino jurídico, na década de noventa.
2. O papel funda men tal da avaliação dos cursos jurídicos, no processo de
mudança . 3. N atureza e objetivos da avaliação externa e interna. 4. Crítica
da classificação dos resultado s do provão e da avaliação das co ndiçõ es de
oferta. Rankin g. 5. Rem odelando o Exame de O rde m . Sua importânciapara a melhoria do ensino jurídico. 6. Renovação do reco nhec ime nto dos
cursos jurídicos. 7. O estado atual dos cursos e análise dos quantitativ os.
8. Proje to pedagógico do curso jurídico e a busca do perfil profissional.
1. As etapas da reform a do ensino jur ídico, na década de noven ta
A última reforma do ensino jurídico, no Brasil, no século XX,
está sendo impu lsionad a pela con jun ção e harm oniza ção de vários fatores,
qu e tê m possibilitado sua efetiva conc retização, a saber:
a) a participação significativa e representativa da comunidade
acadêmica (docentes, discentes e instituições de ensino) e da com un ida de
profissional {entidades profissionais da advocacia, da magistratura e do
ministério público) na discussão e definição das diretrizes básicas, em
sucessivos eventos nacionais e regionais, superando-se as desconfianças
recíprocas;
b) a crescente consciência da necessidade de refun damenta ção dos
cursos jurídicos, para m elh or compatibilizá-los aos novos paradigmas do
direito e das profissões jurídicas, bem como às mudanças sociais que seapr ofu nd ara m n o final do século;
c) a insatisfação com modelos uniformes de diretrizes oficiais,
fixadas sem discussão com os interessados, que não contemplem as
147
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 148/240
cspecificidades da área de conhecimento do direito e as reais condições
dos cursos;
d) a comprccnsão mais abrangen te do projeto pedagógico do curso
de direito, que não se resume a m era reform a de grade curricular;
e) a progressiva profissionalização acadêmica dos docentes doscursos jur ídicos, par t icularmente com o notável aumento de pós-
graduados, nas últimas duas décadas;
F) a melho r compreensão da necessidade de articular o ensino co m
a pesquisa e a extensão;
g) a superação das resistências, ou da inércia, aos processos de
avaliação pe rm an ente dos cursos jurídicos.
O ano de 1991 significa o marco inicial da sistematização dos
esforços, con ducentes à reforma. An tes dele, as iniciativas foram isoladas
de pesquisadores, de especialistas e de pensadores, cujos resultados,
diagnósticos e reflexões, todavia, formaram o indispensável arcabouço
teórico para o processo de mudan ça. Em 9 de agosto de 1 99 1, 0 Conselho
Federal da OAB, um dos mais fortes críticos da baixa qualidade dos
egressos dos cursos, criou a Com issão de Ens ino Jurídico (CE J)', desde
então com post a por professores de direito. N o d ia 29 de janeiro de 1993,
o M E C recriou a Comissão de Especialistas em Ensino do D ireito (C EED),
para assessorá-lo na área".
As duas comissões, favorecidas pelo fato de contarem com dois
membros comuns-^, passaram a desenvolver iniciat ivas conjuntas.
' R e s o l u ç ã o n " i 3 / 9 1 . D e n o m i n a d a , I ni ci ai m e n t e , d e C o m i s s ã o d e C i ê n c i . i e E n s i n o J u r í d i c o .
O s m e m b r o s d a C o m i s s n o sã o e s c ol h i do s p el a D i r e t o r ia d o C o n s e l h o F e d e ra l d a O A B , c o i n c i d i n d o
o m a n d a t o d e s t a c o m o d a q u e l a . I n t e g r a r a m a p r i m e i r a C o m i s s ã o : p r o f e ss o re s P a u l o L u iz N e c t o
l . ô b o [ AI . ( P r e si d e n t e )] , J o s é C . e r a ld o d e S o u z a j u n i o r ( D F ) . Á l v a r o V il l aç a A z e v e d o ( S P) ,
E d m u n d o A r r u d a L i m a J u n i o r ( S C ), S é rg i o F er ra z (R J) e R o b e r t o R a m o s A g u i a r ( D F ) .
- P o r ta r i a n " 1 5 / 9 3 , d a S E S u / i V l E C . F o r a m d e s ig n a d o .s p a r a c o m p ô - l a ; p r o fe s s o re s S i lv i n o
J o a q u i m L o p es N e t o ( P U C - R S ) , J o sé G e r a l d o d c S o u z a J u n i o r ( U n B ) c P a u lo L u i z N c t t o L ò b o
( U F A L ) , q u e e x e r c e ra m s u c es s iv o s m a n d a t o s a té o i n í c io d e 1 9 9 8 . O p r i m e i r o c o n t i n u a v a a
p r e si d i- l a n a d a t a d e s t e t r a b a l h o . N e s s e p e r í o d o , h o u v e i n e s t i m á v e l c o n s u i r o n a e s pe c ia l p r e s t a d a
p el .i P r o f ' L o u s s i a P e n h a Mu. s.se Fe li x, q u e s e i n c u m b i u d o p r o j e t o p i l o t o d c a v a l i a ç ã o d o s c u r s o s
j u r í d i c o s , o b j e t o d e s u a te se d e d o u t o r a d o .
' P ro fe ss or e. s P .i u lo L u i z N c t t o L õ b o e J o s é G e r a l d o d e S o u z a J u n i o r .
148
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 149/240
promovendo seminários , encontros e ivorkshops com especialistas em
ensino jurídico, além de docentes, discentes e profissionais do direito, nos
anos de 1993 c 1994, voltados, prin cipa lm ente , para recolher propostas
relacionadas a três questões funda men tais;
a) elevação da qualidad e dos cursos de direito, má xim e do co rpo
docente;
b) novas diretrizes curriculares;
c) avaliação.
A partir das conclusões desses eventos, foi possível à C E E D elaborar
projeto de resolução, aprovado pela SE Su /M EC , a ser subm etid o ao entãoConselho Federal de Educação, e, após a extinção deste, convertido na
Portaria do M E C n° 1.886/94, datada de 30 de dezembro dc 1994, com
vigência obrigató ria para todo s os cursos jurídicos, a partir d o a no letivo
de 1997.
Paralelamente, a CEJ publicou nos anos de 1992 a 1997 quatro
livros de estudos e análises sobre ensino jurídico , re un ind o trabalhos de
especialistas e do cu m en tos, cada u m des tinad o aos seguintes temas:
1°) Diag nóst ico, perspectivas e propostas;
2°) Parâm etros para elevação de qua lida de e avaliação;
3°) Novas diretrizes curriculares;
4") 170 anos de cursos juríd icos n o Brasil.
No início de 1992, o Conselho Federal da OAB concluiu oantepro jeto de lei do Estatuto d a Advocacia e da OA B, afmal convertido
na Lei n° 8.906, de 04 de julh o de 1 9 94 .0 Estatuto (artigo 54) estabeleceu
a competência do Conselho Federal da OAB para colaborar com o
aperfeiçoamento dos cursos jurídicos e opin ar nos p edidos d e autorização
de novos cursos ou de reconhecimento. O Estatuto (art . 9°) instituiu
novo regime de estágio profissional de advocacia, para fins exclusivos de
inscrição n o q ua dro de estagiários, rela cion ando-o ao estágio previsto nasdiretrizes curriculares da Portaria do MEC n° 1.886/94, tendo sido
pormenorizado pelo Regulamento Geral da OAB, datado de 06 de
novembro de 1994.
149
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 150/240
No ano de 1996, as duas comissões realizaram seminário e
encontros específicos sobre os critérios e indicadores de avaliação dos cursos
jurídicos, cujas conclusões serviram para fundam entar a elaboração do
instrum ento respectivo. O s 74 indicadores foram agrupados em três partes:
corpo docente (14 indicadores), organização didático-pedagógica (34indicadores) e instalações (26 in dic ado res ). A avaliação das condições de
oferta, aplicando esse instrumento, foi promovida por comissões de
especialistas designadas pela SESu/MEC, entre novembro de 1997 e
outubro de 1998, cm todos os cursos jur íd icos que t inham s ido
subm etidos ao Exame Nacio nal de Cursos (provão). Desde então, a CE J/
OAB tem observado o mesmo instrumento para fins de manifestação
prévia nos pedidos de recon hec ime nto de cursos jurídicos.
2. O papel fund am en tal da avaliação dos cursos jurídicos, no processo
de mudança
Eme rgiu desse esforço coletivo, a firme convicção de que a reforma
não se consolidaria se não fosse aco m pa nh ad a da avaliação perm an ent e
dos cursos. A avaliação envolve e compromete todos os protagonistas,
alcançando seus objetivos qu an do ob tém a participação ativa do avaliado.
N a fase em que se enc ontra o m ovim ento de reforma do ensino
jurídico, na virada do século e do milênio, a avaliação dos cursos passou a
desempenhar um papel determinante. Tendo presentes as diretrizes
curriculares, c om o ossatura, const itu i ela a referência básica para a elevação
da qualidade e a permanente construção do projeto pedagógico, querespond a às variadas de m and as dirigidas aos cursos jurídicos.
Desde cedo, os especialistas mais diretamente envolvidos na
condução das iniciativas, notadamente os que integraram as comissões,
perceberam que o controle da proliferação dem asiada de cursos jurídicos
e vagas, que está ocorrendo no Brasil, como adiante se analisará, não
produziu os efeitos desejados. A definição das diretrizes curriculares foi
imprescindível para demarcar o campo consensual das mudanças.Constit uem , todavia, pontos de partida, hipóteses normativas, que devem
ser densificados e concretizados pela realização constante do projeto
pedagógico de cada curso. A avaliação externa, sob retud o, c on tribui para
150
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 151/240
qu e o curso ten ha referências objetivas de identificação de e leme ntos para
elevação da qualidade, a par tir dos indicadores qu e ela utiliza, segu ndo o
consenso da co m un ida de acadêm ica e profissional da área de direito.
Os cursos jurídicos nunca t iveram clareza da importância da
avaliação. Em verdade, a ela sempre resistiram, até po rqu e desconfiavamdos indicadores utilizados, d e m od o genérico, p or e nas demais áreas, sem
co nte mpla r suas especificidades. C o m efeito, o que é bo m para o curso de
engenharia civil ou para o curso de medicina ou de educação não é
necessariamente adequado para o curso de direito, ante suas condições
históricas, culturais e profissionais. D e t od o m odo , havia a percepçã o da
impo rtância de indicadores claros de qualidade m ínim a, que pudessem
aferir os desempe nh os dos cursos e, dessa forma, melho rá-los e torná-lo s
conhecidos da comunidade em geral, destinatária dos profissionais por
eles formados.
N os eventos referidos, conc luiu-se que os indicadores de avaliação
dos cursos jurídicos deveriam ser sistematizados e m qu atro partes: corpo
docente, corpo discente, projeto pedagógico e instalações, que term inara m
prevalecendo e sendo adotados tanto pelo M E C q ua nto pela OA B (CEJ).Todavia, a avaliação do corpo discente terminou por ser inteiramente
absorvida pelo provão, des ligando-se das dema is partes.
3. N atu rez a e objetivos da avaliação ex terna e inte rna
Tanto a avaliação das condições de oferta quanto o provão são
espécies do gênero avaliação externa. A avaliação é externa quando oscritérios, os indicadore s e os avaliadores são definid os fora da instituiçã o
avaliada. A avaliação externa utiliza critérios e indicadores uniformes
{requisito de unifo rmid ade), pa ra que possa atingir outro de seus requisitos
fundamentais, ou seja, a comparabilidade. São, também, requisitos a
pub licida de e a objetividade.
A publicidade tem por f i to esclarecer a comunidade sobre o
desem penho do curso e de adequ ação às expectativas qu e nele depo sita deformação ade qua da dos profissionais de direito. A objetividade resulta da
escolha de critérios que reduzam o quantum de subjetividade d o avaliador
e permitam a comparação dos resultados. A avaliação externa tende a
151
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 152/240
privilegiar critérios quantitativos, po rque os critérios qualitativos envolvem
maio r juízo subjetivo, a partir dos valores e mode los q ue o avaliador tem
por ideais ou que derivem de sua experiência acadêmica. De qualquer
forma, a mescla de critérios quan titativ os e qualitativos é salutar, p orq ue
um razoável grau dc subjetivida de é inerente à avaliação, com o qu alq uerespécie de julgam ento.
A avaliação é um processo e, como tal, permanentemente em
construção. Os indicado res de avaliação devem refletir a realidade de cada
época (condições reais de oferta) e, ao mesmo tempo, os objetivos
realizáveis. Portanto, jamais constitui m ode lo ideal, permanen te. A m edida
qu e as condições reais forem melh ora nd o (por exemplo, a qualificação do
corpo docente), os indicadores devem ser ajustados. Atualmente, asdificuldades de oferta de cursos de pós-graduaç ão stricto sensii em direito
justificam que se exija apenas 50% de mestres e doutores, para que o
curso atinja o conceito m áx imo nesse indicador. No te-se que é um objetivo
realizável, mas ainda não realizado, pois em 1998 apenas 9,1% dos
professores dos cursos jurídicos, inc lui nd o os de m atérias não jurídicas,
eram doutores e 19,2% eram mestres"^. No futuro, certamente, poderá
ser ampliado, quando se alcançar patamares equivalentes aos de outras
áreas.
Os indicadores dc avaliação das condições de oferta dos cursos
jurídicos devem ser objeto de periódica atualização, mediante discussões
amplas de sua pertinên cia ou adequação. Tal com o ocorre em países ond e
esse processo está avançado , c reco mendáv el q ue as entidade s envolvidas,
MEC, OAB e inst i tuições de ensino superior , juntamente com osespecialistas, professores e estudantes de direito, promovam eventos
D a d o s d a A v a U a ç ã o J u s C . o n ã i ç õ e s d e O f e r t a d e C u r s a s d e G r a d u a ç ã o : R e l a t ó r i o S í n t e s e d e 1 9 9 8 . d a
S c c rc ta r ia d c E d ii c aç á o S u p e r i o r d o M E C , B ra sí l ia : M E C / S E S i i , 1 9 9 8 . D o s 9 - 3 8 6 d o c e n t e s d o s
c u r s o s j u rí d i c o s ( i n c l u i n d o o s d c o u r r a s á r e a s q u e m i n i s t r a m d i s c ip l i n a s n o s c u r s o s ju r í d ic o s ) ,
3 7 , 2 % e r a m e s p e c i a l i s t a s e 3 4 , 6 % e r a m a p e n a s g r a d u a d o s . C o m p a r e - o s c o m o s d o c e n t e s d o s
c u r so s d e e n g e n h a r i a c iv il ( c o m p er fi l p r o fi s si o n a l m u i t o p r ó x i m o a o s d e d i r e it o ) , n o m e s m o a n o ;
2 2 , 6 % e r a m d o u t o r e s c 3 2 , 6 % e r a m m e st re s , l o d a vi a , q u a n d o a p u r a d o s t o d o s o s 1 4 i n d ic a d o r es
d o c o r p o d o c e n t e , a m é d i a n a c i o n a l f o i s a t i s f a tó r i a (a s i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s f e d e r ai s e e s t a d u a i s
a p r e s e n t a r a m í n d ic e s m a i s e l ev a do s : a p e n a s 2 7 , 9 8 % d o s c u r s o s j u r í d i c o s f o r a m a v a l ia d o s c o m o
i ns u fi ci en tc s , e m b o r a s o m e n t e 7 , 7 7 % d o s c u rs o s fo s s em c o n s i d e r a d o s m u i t o s b o n s c m c o r p o
d o c e n t e ( p . 7 8 d o R e l a t ó r i o ) .
152
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 153/240
bianuais ou trianuais, de caráter naciond, para que recom endem as alterações
que se façam necessárias.
A cultura de avaliação apenas será disseminada, nos cursos jurídicos,
qu an do se torn ar freqüente a avaliação interna. Ente nde -se p or avaliação
inter na a que se utiliza de critérios e pro cedim en tos definidos pela própr iacomunidade ava l i ada do cu rso , ou pe la in s t i tu ição man tenedora .
A instituição pode valer-se de avaliadores externos, sem modificar sua
natureza. A avaliação inte rna apresenta a vantagem de am pliação m áxima
dos critérios qualitativos, voltados aos objetivos propostos no projeto
pedagógico do curso, principa lme nte qu an to às habilidades pretendidas
do aluno, ao perfil profissional def inido e à vocação do curso. N a avaliação
interna não se comp ara u m curso jurídico com outro, mas o desem penh oobtido em um período com outro, do mesm o curso, além do desempenho
do curso jurídico com os demais cursos da m esm a instituição, qu an to aos
indicadores comuns. Inclu i -se na aval iação in terna o denominado
Program a de Avaliação Insti tucional das Universidades Brasileiras - PAIUB,
coordenado pela Secretaria de Educação Superior do MEC, no caso de
cursos jurídicos ofertados por universidades. A avaliação interna pode
ad ota r indicadores mais flexíveis e afeiçoados à instituição, inteira me nte
distintos dos praticados na avaliação externa, que não po de m ir além de
critérios com uns , m édios e gerais para todos os cursos do país.
4. Crít ica d a classificação dos re sultados d o pro vão e da avaliação das
condições de oferta. R a n k in g
N o Brasil, op tou-s e p or não classificar os resultados em ranking
individual dos cursos avaliados, co m o ocorre em ou tros países. E nte nd o
que o m odelo brasileiro contr ibui para o objetivo maior de gerar indicadores
que radiografem o curso, permitin do aos que o integram elementos valiosos
para análise de seu dese mpe nho, para correção de r um os e para su prim ento
de deficiências. O agr upa m ento dos cursos em q ua tro ou cinco níveis, em
razão de seu resultado, a tenu a o efeito negativo da c om pe tiçã o e favorecea com parabilidade.
O p r o v ão u t i l i z a c i n co co n ce i t o s , n o s q u a i s en q u ad r a o
dese mp enh o m édio dos alunos dos cursos:
153
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 154/240
a) Melhores: A (12%) c B (18%);
b) Médios: C (40%);
c ) Piores: D (18%) e E (12%).
N o sistema do provão, pode ocorrer que u m curso melhore suamédia, de u m ano para outro, mas caia de conceito, porq ue outros cursos
elevaram suas médias, ultrapassando-o, uma vez que os percencis de
agrupam ento são rígidos. Nesse ponto , o sistema adotad o é injusto, porque
indica redução de desempenho para aquele que tenha melhorado. Por
outro lado, se a média geral for baixa, ingressam no conceito “A”, que
deveria ser destinado aos cursos de excelência, aqueles que não ating iram
méd ia razoavelmente elevada. Para corrigi-lo impõe-se a fixação de média
minima para cada conceito, abandonando-se o modelo de percentis , o
que ind ependeria de m ud anç a da lei.
En tre as instituições d e ens ino e os professores de d ireito cresce a
convicção da necessidade de m ud an ça da Lei n° 9.131 /95, qu e instituiu o
provão, no sentido de elim inar a proibição de incluir o resultado individual
do alu no no h istórico escolar. A rg um en tam que os cursos ficam à mercê
da boa ou m á vontade do alunado, que p ode prejudicá-los porq ue a Lei
apenas exige o comparecimento ao exame. De fato, alguns cursos, nas
avaliações das condições de oferta prom ovidas en tre nov em bro de 1997 e
outubro de 1998, obtiveram boa conceítuação nas dimensões avaliadas
(corpo docente , organização dÍdático-pedagógÍca e instalações), mas foram
prejudicados pelos alunos n os resultados do provão, seja por boic ote seja
por desinteresse deles com a instituição. N o 1° Sem inário Nac ional deAvaliação do Provão dos Cursos de D ireito, o corrid o n o dia 26 de m aio
de 1999, na cidade de Cuiabá, decidiu-se por ampla maioria e com a
reação contrária da representação estudant il, que se deveria envidar esforços
no sentido da referida mud ança da Lei n° 9 .131. Susten taram os estudantes
qu e o provã o não os avaliava, mas os cursos, e qu e 0 registro de um a no ta
baixa poderia preju dicar sua inserção na vida profissional. Todavia, a Lei
n° 9.131 permite que o aluno, ainda qu e graduado, possa submeter-seaos exames subseqüentes, de m o do a melho rar a nota obtida.
A avaliação das condições de o ferta utiliza qu atr o c onceitos, para
cada dimensão (corpo docente, organização pedagógica e instalações):
154
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 155/240
CMB (condições muito boas), CB (condições boas), CR (condições
regulares) e C l (condições insuficientes). Essa avaliação oferece a van tagem
de permitir o ingresso do curso no conceito obtido, em cada dimensão,
ind epe nde ntem ente de perccntis rígidos, com o ocorre com o provão. Sua
desvantagem reside no período necessariam ente longo entre u m a e outr a(três a cinco anos) e na ausência de um conceito final, decorrente dos
conceito s parciais. O receio do ranking levou o M E C ao paroxismo de
evi tar o concei to fmal do curso , impedindo a comparabi l idade e
dificultando a com binação com o resultado (único) do provão. A opção
equivocada do M E C levou a com unida de e a mídia a não saberem comb inar
os resultados parciais da avaliação das condições de oferta, provocando
seu desprestígio, inclusive no m eio acadêm ico, levando à sobrevalorizaçãoindevida do provão, que indica resultados simples e fáceis de com preender.
Essa dissociação não amplia o esforço de conscientização da
aviüiação perm ane nte, que supõe a interlocução dos vários critérios, m odos
e procedimentos reconhecidos. O desempenho global do curso não se
avalia isolando partes, privilegiando um a em de trim en to de outra. Aliás,
nesse sentido abrangente, determina o artigo 3° da Lei n° 9.131/95 que
". . .o Ministério da Educação fará realizar avaliações periódicas das
insti tuições e dos cursos, fazendo uso de procedimentos e cri térios
abrangentes dos diversos fatores que d eter m ina m a qual idade e a eficiência
das atividades de ensino, pesquisa e extensão” .
A com unidad e jur ídica, nos eventos prom ovidos pela C E E D e
pela CEJ, exigiu enfaticamente que o resultado do provão integrasse a
avaliação global do curso, conferindo-lhe um percentual para formaçãodo conceito final, ao lado dos parâ me tros ou dimen sões das condições de
oferta. Havia, c om o há, o receio de qu e a divulgação dos resultados anuais
do provão, simplificados pela m ídia, ob scurecessem as dem ais avaliações
externas e internas.
5. Rem odeland o o Exame de O rde m . Sua imp or tânc ia para a
me lhoria do ensino jur ídico
A Lei n*^ 8.906/94 não apenas tornou obrigatório o Exame de
O rdem , mas insti tu iu um mod elo novo: não é mais um a m odalidade de
155
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 156/240
seleção de profissionais da advocacia, com o alternativa ao estágio oferecido
pela instituição de ensino; é o único meio de ingresso ao exercício
profissional, desvincu lando -se tot alm en te do estágio. O novo estágio de
prática jurídica, disciplinado pela Portaria n.° 1.886/94, nada tem em
co m um com o anterior estágio de prática forense, pois assumiu a naturezade formação prática do estudante de direito, integrando o currículo do
curso. São, porta nto , distintas as funções; o estágio tem função pedagógica
ampla, o Exame de O rd em tem funç ão de seleção para a advocacia. No
Brasil, 0 curso jurídico não habilita dire tam ente para o exercício de qualquer
profissão jurídica: não é escola de advocacia, até porque o bacharel em
direito poderá não q uerer o u não pod er exercê-la.
Definida a função do Exam e de O rd em , houve necessidade de ser
remodelado, o que se procurou atingir com o Provimento n° 81/96,
editado pelo Conse lho Federal da OAB . A grande m ud anç a ocorreu com
a introdução d a prova prelim inar e objetiva de conhe cim entos jurídicos,
pois não basta a habilidade prática o u de técnica processual; o can didato
há de dem onstra r con hec im ento am plo do direito, sobretudo do direito
material. N este p on to reside a im po rtânc ia do efeito reflexo do exame na
qualidade dos cursos, que são afetados pelo desempenh o de seus graduados.
Todavia, para que possa melhor ating ir suas finalidades e, sobretudo,
ser qualificado ins tru m en to de con tribuiçã o para o aperfeiçoa mento dos
cursos jurídicos, como determina o inciso XV do artigo 54 da Lei
n" 8 .90 6/9 4, miste r se faz a adoç ão das seguintes providências:
a) atribuir o caráter nacional à prova objetiva do Exame de O rdem ,
que passaria a ser elabora da po r exam inador es designados pelo Con selh oFederal da OAB, pre ferencial mente de ntr e professores de direito;
b) desenvolver questões que exijam raciocínio, reflexão crítica, e
incluam temas voltados às mu dança s d o direito e às matérias de formação
geral e humanística, excluindo-se as questões que envolvam apenas
memorização.
Por outro lado, é imp ortan te que haja uma m aior aproximação
do provão com o Exame de Ordem, permitindo que média superior a6 (seis) no primeiro possa substituir a prova objetiva do segundo. Tal
providência, una nim em ente aceita pela Com issão de E nsino Jurídico do
Conselho Federal da OAB, se vier a ser aprovada pelo Plenário deste,
156
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 157/240
fortalecerá os dois exames: interessa aos alunos, qu e se estim ula riam a usar
uma boa nota para duas finalidades legais; interessa às instituições de
ensino, que teriam seus alunos mais em pe nha dos , m elh ora ndo sua média
no provão; interessa ao M E C , po rq ue fortaleceria o exame; c interessa à
OAB , porq ue fortaleceria o Exame de O rde m , co nstantem ente ameaçadode extinção por projetos de lei, patroc inad os p or estudan tes e instituições
de ensino, além de receber profissionais mais qualificados.
6. Renovação do reco nhec ime nto dos cursos jurídicos
A nova LDB (Lei n*^ 9.394/96) reafirmou, no seu artigo 46, a
obrigatoriedade do reconhecimento periódico dos cursos de graduaçãopúblicos e privados, antec edid o de um processo de avaliação externa, que
já continha a legislação anterior. Essa determinação legal nunca foi
cum prida , para os cursos em fun cion am ento no país. D e m od o geral, o
reconhecimento se sucedia à autorização do curso, não mais sendo
renovado, o qu e dificultava o aco m pa nh an do e a fiscalização da qualidade
do ensino m inistrado, pela auto rida de educacional.
A renovação do reco nhec ime nto sempre foi exigida pela OAB , ao
M EC . Finalmente, editou-se a Portaria M E C n° 755 , de 11 de maio de
1999, que “dispõe sobre a renovação do reconhecimento dos cursos
superiores do sistema federal de ensino”, voltada exclusivamente aos cursos
que obtiveram três conceitos negativos sucessivos (“D ” ou “E ”) ou conceito
insuficiente (“C l”) em duas das três dimen sões d a avaliação das condições
de oferta^. A SE Su /M EC , após visita da comissão de especialistas ao curso,encam inhará a avaliação ao Cons elho Nacional de Educaçã o para deliberar
sobre a renovação ou revogação do aro de rec onh ecim ento .
O critério utilizado c criticável, pois incluiu situações heterogêneas,
a saber:
a) cursos que apresentaram conceitos suficientes em corp o docent
organização pedagógica e instalações, e foram prejud icado s p or boicote
A P o r t ar ia M E C n ° 7 5 5 / 9 9 r c la c i o n oi i 1 0 ! c u r so s d e d ir e i to , e n g e n h a r i a c iv il c a d m i n i s t r a ç ã o
q u e já t i n h a m s id o av a l ia d o s n o p r o v ã o d o s a n o s 1 9 9 6 , 1 9 9 7 e 1 9 9 8 .
157
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 158/240
oil desinteresse dos estudante s. A ida de nov a comissão de avaliação não
produzirá qualquer efeito, porque confirmará o desempenho do curso
nessas dimensões, não afetan do a participação dos estudantes no provão;
b) cursos que apresen tara m concei tos insuficientes em duas dessas
dim ensõe s das concfições dc oferta, mas obt ivera m conceito s elevados noprovão. Neste caso, a nova avaliação pode produzir efeito para correção
ou saneamento das condições de oferta, como requisito para renovação
do recon hecime nto, inclusive qu an do o M E C for o próprio responsável
(caso das instituições federais). P orém, se o desem penh o médio dos alunos
foi bom, o curso teria cumprido seus objetivos, apesar das deficiências
localizadas;
c) cursos que apresenta ram conceitos insuficientes tan to no p rovão
qu an to na avaliação das condiçõe s de oferta. Estes deve riam ser os únicos
ameaçados com a possível revogação do recon hecim ento.
A essa perplexidade se chegou, tendo em vista a falta de um
conceito final ou avaliação global dos cursos, que se faria com a com binação
dos resultados do p rovã o e da avaliação das condiçõe s de oferta.
7. O estado atual dos cursos e análise dos qua ntitativ os
O grande desafio que enfrenta o m ovim ento de reforma do ensino
jurídico são os núm eros crescentes que envolvem os cursos, no Brasil.
É penosa e desigual a luta pela qualidade, ante a magn itu de das quantidades,
que t erm ina m po r prevalecer.
Segundo d ados colhidos no Relatório Síntese de 1998, já referido,e do censo escolar de 1996'’, amb os do M E C , havia em 1996 :
a) 2 62 cursos de gradu ação e m d ireito;
b) 9. 386 docen tes jurídicos;
c) 239.201 alunos de direito matriculados (relação média: 1
professor para cada 25 ,4 alunos).
Segundo o In stituto Nacion al de Estudos e Pesquisas Educacionais
- INEP, do M E C ", o curso com o m aior ni imero de graduandos no
w w w . i n e p . g o v . b r.
' D o c u m c x u o P r o v ã o - 9 9 . B r a s í l i a : I N E P , 1 9 9 9 .
158
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 159/240
Provâ o/99 foi o de direito, co m 4 3.7 73 inscritos. C om pa re-o s com os de
outros cursos tradicionais: engenharia civil co m 6.5 05 inscritos, e medicina
com 8.470 inscritos.
Have rá acréscimo considerável nos próx imo s dois anos, na virada
do século, porque as Universidades e os Centros Universitários, após aLD B de 1996, au me nta ram assustadoramente as vagas dos cursos jurídicos,
em alguns casos multiplica ndo p or q uatr o o total anterior. Apenas n o ano
de 1997, foram apresentados mais de 500 projetos de novos cursos de
direito para análise do M E C e da OAB!
Essas quantidades impressionam q ua nd o com paradas com os do
ano letivo de 1998-99, nos Estados Unidos, segundo divulgação na internet
da American Bar Association^: são 181 escolas de direito, com 125.627alunos matr iculados (graduação) , 42.804 alunos admit idos, 39.455
grad uado s, 10.838 professores {relação méd ia: 1 professor para 11,59
alunos) e 3.080 diretores e administradores acadêmicos. Esses números
man tivera m-se estáveis nos últim os anos, co m leves acréscimos. Lem bre-
se que se trata de país co m popu lação supe rior à brasileira e com elevada
classe m édia q ue de m an da os serviços jurídicos.
A pressão para criação de novos cursos de direito e para aum en tode vagas continua. O que fazer? O Governo Federal quer aumentar o
núm ero de alunos da educação superior, pou co se im po rtan do como; a
populaç ão estudantil vê o curso de direito c om o espaço de ascensão social,
sendo m ino ria os que o de m an da m para forma ção profissional liberal; as
insti tuições de ensino concebem o curso de direito como de baixo
inves timen to e receita garantid a, conv ertend o-se em “trem pa gad or” dos
dem ais cursos e despesas.A nte esse qua dro , po uco anim ador, resta o espaço da avaliação,
para prosseguir a luta pelo ensino jurídico de m elh or qualidade , fund ad o
em projetos pedagógicos bem executados e por ela estimulados.
8. Pro jeto pedagó gico do curso jurídico e a busc a do perfi l profissional
As diretrizes curriculares têm po r fun ção estabelecer os requisitosbásicos e com uns aos cursos jurídicos do país. D ese nha m um a estrutura
L e g a l E d u c a t i o n a n d B a r A d m i s s i o n S t a t i s t i c s , w v a v . a b a n e c . o r g / l c g a l e d .
159
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 160/240
mínim a, de harm onização dos elementos essenciais, um a vez que o bacharel
em direito p od e exercer as profissões jurídicas em qualq uer região do Brasil.
N ão significam regras de unificação, pois cada curso deve, a pa rtir delas,
organizar seu projeto pedagógico que o identificará e o diferenciará dos
demais.Essa preocupação ref le te a f rus t ran te exper iência da Res .
03 /72 -C FE , pois a maioria dos cursos tende u a transformar o currículo
mínimo em currículo pleno, sern criatividade, não contemplando suas
vocações, suas peculiaridades, as deman da s sociais e o mercado de trabalho.
O projeto pedagógico é de cons trução dinâ mica , cm cada curso,
não se resu min do à grade de disciplinas. Para atend er às suas finalidades,
deverá observar os seguintes elem entos, de ntre outros:
a) estru tura curricular ou currículo pleno, desdo bra ndo as matérias
(e não apenas as referidas nas diretrizes curriculares) em disciplinas e
períod os letivos, com definição de cargas horárias;
b) conteúdos programáticos das disciplinas e o modo de sua
pe rm an ente atualização;
c) plano de dese nvolvim ento e interligação do ensino, da pesquisae da extensão;
d) organização da ad minis tração e controle acadêmicos:
e) processos de avaliação da apr end izag em dos alunos;
f) regulamentação das atividades com plem entares, d a monografia
final c da prática jurídica sim ulad a e real;
g) integração da graduação com a pós-graduação , qu an do houver,
inclusive qu an to à uniform izaç ão e interação das linhas de pesquisa;h) definição das habilidades que o curso preten de desenvolver nos
alunos, n ota da m en te as que co nd uz am ao raciocínio, à reflexão crítica, à
capacidade de argum entação , à decisão, à conciliação e à produ ção criativa
do direito;
i) perfil profissional qu e o curso te m por m eta atender, observadas
as demandas d a sociedade em mudanças, do mercad o de trabalho, dos
novos espaços de atuação p rofissional e de resoluções de conflitos; j) pol ítica de aquisição, m anutenção, acesso e atualização d o acervo
bibliográfico para o curso, inc luin do periódicos atualizados em papel ou
informatizados;
160
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 161/240
1) resposta do curso às demandas sociais de maior qualificação
técnica, de conduta ética profissional e pessoal, de novas tecnologias de
informação , de especi f ic idades reg ionais , de acesso à jus t iça , de
refun dam enta ção do c on hecim ent o jurídico, de novos direitos, de sujeitos
coletivos, da transformação do Estado e das polít icas públicas, daglobalização;
m) processo per m an ente de auto-avaliação do curso, qu an to ao
dese mp en ho, ao cum pr im en to de metas e, afmal, à realização do projeto
pedagógico.
O me lhor projeto pedagógico será irrealizável se não ho uve r um
forte comprom etim ento do corpo docente do curso. O com prom etimen to,por sua vez, pressupõe plano de carreira, com rem uneração decente e plano
de capacitação.
A formação humanista, que tanto se propugna para os cursos
jurídicos, não deve se r confundida com educação generalista, de cultura
geral, pois, na atualid ade, seja qual for o perfil profissional defin ido pelo
curso, há de estar conjugada à formação técnico-jurídica c à formação
sociopolítica. A formação prática simulada e real, de boa qualidade, é
i m p r e s c i n d í v e l n o m o d e r n o curso j u r íd ic o , po is d e m o c ra t iz a a
aprendizagem c o estágio profissional, antes privilégio de poucos que
tin ha m acesso a escritórios de advocacia.
O curso jurídico tem po r finalidade a form ação d o profissional
do direito qualificado, ético e com pe ten te, que a sociedade exige, e não
apenas a difusão de conhec imento dos direitos para o exercício da cidadania.N o passado, suas finalidades eram indiferentes, pois, com o disse Alberto
Venâncio Filho*^, ser estudante de direito era “sobretudo, dedicar-se ao
jornalismo e fazer literatura, especialmente poes ia, consagrar-se ao teatro,
ser bo m orador, p articipa r de grêm ios literários e políticos, das sociedades
secretas e das lojas maçônicas” .
O modelo pre do m ina nte que se deseja superar de curso jurídico
tinha e ainda tem po r fi to m inistrar a máx ima in formaçã o possível. N aatualidade, deve estar orie nta do a prover as ferrame ntas conceituais para
A l b e r t o V e n ; i ; i c í o F i l h o ; D / J s A r a i d a s / w ] h n ' h a r e i h » i ü . S ü o P ; iu l o : P c i s p c c t i v a , ] 9 7 7 . p . 1 3 6 .
161
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 162/240
que o futu ro profissional do direito possa desenvolver, au ton om am en te,
o raciocínio crítico necessário para resolução de problemas variados,
man ejand o material jurídico em con stante m udan ça. Por outro lado, um
dos grandes desafios da educ ação juríd ica é a capacitação d o profissional
para atuar na sociedade do século XXI, legatária das magnas questões nãoresolvidas no século que se vai; os direito hu m anos , a demo cratizaç ão, a
qualidade de vida e a justiça social.
162
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 163/240
o ENSINO JURÍDICO NA LITERATURA:
TESTEMUNHOS E CRÍTICAS
Paulo Rober to de Gouvêa Medina
"A l i te ra tura é a própr ia h is tór ia de cada
coletividade; refletem-se nela, como num espelho
polido, as im agens tristes ou risonhas dn a lm a
hum an a. E ela qiie an un cia as grandes revoluções
polí ticas e religiosas, como no caso de Lutero e dos
enciclopedistas do século XVIII, ou que registra os triunfos de uma raça que declina, como no caso
dos Lusíadas . '
As palavras que tomo como epígrafe deste texto servem-lhe, ao
m esm o temp o, de motivação e justificativa. D e u m lado, sugerem a análise
de dep oim ento s deixados po r memorialistas e informações registradas por
biógrafos, assim c om o a leitura de sátiras colhidas em p áginas de ficção,co m o fito de m ostrar co m o era visto o curso jurídico pelos seus autores
e personagens, na época em que estudaram o u no tem po em que se situam.
De o utra parte, ind icam a conveniência de se traçar um a linha evolutiva
dos m étodos e critérios que têm orien tado o ensino do direito, ao longo
de diferentes épocas, a pa rtir desses registros e com entá rios.
N ão se trata, pro priam ente, de fazer história. A história dos cursos
jurídicos no Brasil já foi escri ta, com proficiência, por Alberto VenâncioFilho-, e por Aurélio W an der Ba stos l O nosso prop ósito é, apenas, o de
an ota r algumas impressões relevantes sobre a form ação d o bacharel em
direito, no nosso país e em Portugal, mais precisamente, quanto a este.
' R o n a l d cie C a r v a l h o ; P e q u e n a h i s r ó n n d a l i t e r a t u r a h r a s i í e i r a . R i o d c J a n e i r o ; F. B r i g u i c t C i a ,
E d i r o r e s , 1 9 5 5 . 1 0 ' c d . , p . 4 3 .
• A l b e r t o V e n â n c i o F i lh o : D a s A r c a d a s a u B n c h a r e l í s n i o . S ã o P a u l o : E d i t o r a P e r s p e c t iv a , c o -
e d i ç á o c o m a S e cr e ta r ia d c C u l t u r a , C i é n c i; i e T e c n o l o g i a d c S ã o P a ti lo , J 9 7 7 .
A u r é l i o W a n d e r B as co s: O e n s i n o j u r í d i c o n o B r a s t l . R i o d e J a n e ir o : L u m e n J u ri s , 1 9 9 8 .
163
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 164/240
em C oim bra - matriz on de se plasm ou o perfil dos primeiros juriscas
b ra sil cir os -e refletir sobre o sentido caricatural que se lhe empre stou na
Figura dc um ou o utr o p erso nage m d a literatura.
E interessante observar co m o a m on ot on ia das aulas, o alheam ento
dos professores aos m éto do s didáti cos, a inexistência de um a visão críticado direito, con tribu íram para afastar da seara jurídica talentos de escol ou
levaram outros a valer-se, para o seu aprendizado, dos recursos do
autodidatismo.
N o prim eiro caso se enqua dra, p or exemplo, Eça de Queirós, que
optou pela carreira de cônsul e pela atividade literária, depois de uma
rápida e desalentadora experiência na advocacia. Seg undo o testem unh o
dc Teófilo Braga, foi o maior romancista português, em Coimbra, um“cábula”, isto é, um es tudante p ou co assíduo ás aulas e desinteressado das
lições. A isso, em compensação, deveu-se o que o seu patrício ilustre
qualifica de a “saúde cerebral” do escritor, ovi seja, a capacidade desde logo
dem ons trada para reagir “con tra a violência de velhos m étodo s do temp o
do humanismo jesuítico, contra as doutrinas de uma ciência atrasada,
ond e a superstição do texto histórico n un ca foi vivificada po r um raio de
luz crítica ou filosófica, em que a autoridade do mestre se impõe pelo
entono do pedantismo doutorai e pelo terror do apontamento na pauta
escolar, que no fim do ano se traduz em reprovação.” A conclusão de
TcóFilo Braga é cáustica, mas, antes de tudo , su rpreendente : “Neste terrível
meio acadêmico uns sucu m bem e adaptam -se a tudo, outros reagem com
pujança, com o ac onteceu a Antcro de Q ue nta l e a José Falcão, mas, cm
geral, adquire-se no meio desta perversão intelectual hábitos profundosde ironia, e fica-se com uma tendência para o sarcasmo, com uma
hostilidade con tra tu do o que é medíocre, vulgar e chato. E esse e o caráter
de Eça de Qu eirós, e um dos seus poderes de estilo.”'̂
Coincide com o com entário de seu co ntem porâ neo e confrade o
depoimento do próprio Eça. Descrevendo, em carta ao colega Carlos
Mayer, o seu qu ar to dc e stud ante , explica assim p orq ue repelira a idéia de
um companhe iro de república para que, à guisa de ornamentação , “forrasse
' A p u d C a r l o s h i a n t a r é m A i u l r .i d c : A C o i m b r a d e E ç a d e Q u e i r ó s . C o i m b r a : M i n c r \ ' a l i d i c o r a ,
1995. p. 15.
164
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 165/240
0 quarto com as folhas dos compêndios”: “eu opus-me asperamente a
isso, dand o as mesmas dolorosas razões que daria u m preso, se lhe quisessem
forrar as paredes da enxovia com um tecido feito dos seus próprios
remorsos.”’.
O tom satírico, o estilo alegórico dessa troca de corre spon dênc iaco m um condiscípulo, assum e o caráter de confissão refletida, em Ultimas
Páginas, neste trecho no qual Eça revela sua opção, em d ad o m om en to da
vida acadêmica, pela experiência do teatro , d izendo que “depressa
com pre end en do q ue por aquele m étodo de decorar todas as noites, à luz
do azeite, um papel licografado qu e se cha m a a sebcnra, eu nunca chegaria
a pod er distinguir, juridicame nte, o justo do injusto, dec idi aproveitar os
meus anos moços para me relacionar co m o m un d o ” ’̂.
O uso da apostila - a malsina da “sebe nta” - , em lugar dos livros,
parecia ser com um cm C oim bra, ao tem po d e Eça de Qu eirós e ele, por
isso, o vergastou em página de fina ironia, conc ebida c om o um dos tópicos
do “Projeto de Reforma do Ensino", at r ibuído ao Co nd e de Abranhos -
personagem que forma com o Conselheiro Acácio (de 0 Prim o Basílió), o
Pacheco (da Correspondência de Fradiqiie Mendes) e o Gouvarinho (deOs Maias) o quarteto dos tipos medíocres, na obra queirosiana. Eis o
saboroso trecho:
“Têm alguns espíritos, ávidos de inovação, ainda que no
Rmdo sinceramente afeiçoados aos princípios conservadores,
sustentado que o sistema da sebenta (como, na sua jovial
l inguagem, lhe cha m a a m ocidad e estudiosa) é antiqua do.Eu considero, porem, a sebenta como a mais admirável
disciplina para os espíritos moços. O estud ante hab ituand o-
se, durante cinco anos, a decorar todas as noites, palavra
por palavra, parágrafos que há qua ren ta anos perm anec em
imutáveis, sem os criticar, sem os comentar, —ganha o
hábito s alutar de aceitar, sem discussão, e co m o bediência,
as idéias precon cebid as, os princ ípios adotados , os dogm as
^ A p u d C a r l o s S a n e a r e m A n d r a d e ( n " 4 ) , p , 1 6.
A p u d C a r l o s S a n e a r e m A n d r a d e ( n " 4 ) , p . 3 1 .
165
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 166/240
provados, as instituições reconhecidas. Perde a funesta
tendência - que canto mal prod uz - dc querer indagar a
razão das coisas, examina r a ver dad e dos fatos; pe rde en fim
o funesto h ábito de exercer o iivre-exame - que não serve
senão para ir flizer um processo científico a venerandasinstituições, qu e são a base da sociedade. O livre-exame é o
princípio da revolução. A orde m o que é? - A aceitação
obed iente das idéias adotadas. Se se aco stum a a mo cidade -
a não receber ne nh um a idéia dos seus mestres, sem verificar
SC é exata —cor rem os o perigo de os ver, mais ta rde, não
aceitar ne nh um a instituição d o seu país sem verificar se é
Justa. Temos o espírito da revolução - que term ina pelas
catástrofes sociais. Ho je, dest ruído o regime abso luto, temos
a certeza que Carta liberal é justa, é sábia, c útil, é sã. Que
necessidade há de a examinar, discutir, verificar, criticar,
comparar, pôr em dú vida ? O hábito de decorar a sebenta -
pro du z mais tarde o h ábit o de aceitar a Carta. A sebenta é a
pedra angular da Car ta! O Bacharel é o gérmen doConstitucional.”
Discorrendo sobre a concepção que o C on de de Abranhos t inha
do regime ideal de relaciona mento “entre o e stud ante e o lente”, Eça deixa
extravasar, mais uma vez, as decepções acumuladas no seu tempo de
estudante, pond o na boca do impagável Zagalo - o secretário do C on de -
esta observação repassada do mais vivo sarcasmo: “o hábito d e de pe nd er
absolutamente do lente, de se curvar servilmente diante da sua austera
figura, de ob ter po r em pe nh os qu e a sua severidade se abra nde —form a os
espíritos no salutar respeito da aut or id ad e. ” .̂
Eça traduzia, assim, a impressão que lhe ficara dos própr ios mestres,
que eram, segundo um de seus biógrafos - o brasileiro Viann a M oo g -,
' E ç a d e Q u e i r ó s : O C o n d e d e A b r a n h o s , i n O b r a C o m p l e t a , r. II , R i o d e J a n e i r o ; E d i t o r a N o v a
A g ii il ar , 1 9 9 7 . p. 9 5 6 - 9 5 7 .
E ç . t d e Q u e i r ó s ( n ° 7 ) , i b i d e m .
166
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 167/240
“Cavalheiros solenes e enfáticos, m on ót on os e cansativos, a enc her as horas
de tédio, rec itando o con teú do das sebentas”'^
O auto ritarism o e a tend ên cia para a repetição de idéias teriam
marc ado a vida acadêmica em Co imb ra, ao tem po de Eça de Queirós.
No Brasil , a herança coimbrã revelou-se atenuada quanto aoprimeiro aspecto, mas o cl ima nas Faculdades de Direito, em seus
prim órdios, não era mais prop ício ao de bate e à pesquisa.
Por isso, dizia Joa qu im N ab uco , em Um Estadista do Império-.
“A plêiade saída, nos primeiros anos, dos nossos cursos
jurídicos pode-sc dizer que não aprendeu neles, mas por si
mesm a, o que mais tarde m ostro u saber. (...) N em Teixeirade Freitas nem Nabuco habil i taram-se em Olinda para a
profissão que exerceram. Sua biblioteca de estudante poucos
elementos encerrava que lhes pudessem ser úteis. Nossos
a n t i g o s j u r i s c o n s u l t o s f o r m a r a m - s e n a p r á t i c a d a
magistratura, da advocacia e alguns da função legislativa.”
Par t icu larmente em relação ao pai - o Senador N abu co deAraújo um dos mais conce ituados advogados de seu tem po, observa
Joaquim Nabuco que “ele nunca fez estudos sistemáticos ou gerais de
direito, não esquadrinhou o direito como ciência; viveu o direito, se se
pode assim dizer, como juiz, como advogado, como legislador, como
ministro. Essa fal ta de estudos metódicos na mocidade —acrescenta
Joa qu im N ab uc o - fá-lo-á até o fim tratar o direito com o um a série de
questões práticas e não abstratas. As vistas científicas e evolutivas no ensino
do direito, a nova terminologia, não o acharam prep arado na velhice para
as receber.
A si tuação descri ta por Joaquim Nabuco relat ivamente à época
de seu pai na Faculdade (1831 a 18 35), não se altero u ao long o de tod o o
Império.
V i a n n a M o o g : E ç a d e Q i i e i r o z e o S é c u l o X I X . P o r c o A l e g re ; L i v r a r i a d o G l o b o , 1 9 4 5 . 4a .
e d i ç ã o , p . 2 5 .
J o a q u i m N a b u c o ; U m e s t a d i s t a d o I m p é r i o . R i o d e J a n e i r o : E d i r o r a N o v a A g u i l a r, 1 9 7 5 .
v o l u m e ú n i c o , p . 5 1 , L i v ro I, tó p i c o “ E s t u d a n t e c m O l i n d a " .
167
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 168/240
Em o bra do mesmo gcncro, vamos en con trar observações de igual
teor, Feitas por Afonso Arinos de Melo Franco sobre o curso jurídico de
seu pai, realizado bem mais tarde, entre 1887 e 1891. N ão tendo o Governo
Imperial acolhido o projeto de reform a do ensino superior, de autoria de
Rui Barbosa, o ensino jurídico seguia o me sm o ram crrão de outro ra, comdisciplinas como Direito Natural e Direito Eclesiástico, programas e
métodos superados” .
Talvez por isso, as Faculdades de Direito fossem, àquela época,
um estuário de vocações indefinidas, para on de co nfluíam , em boa parte,
jovens que não se sentiam atraídos nem para a medic ina nem para a
engenharia ou não haviam recebido o chamado interior para a vida
sacerdotal... Bem expressiva desse estado d e espírito de m uitos moços de
então é a passagem do “D om Ca sm urro” em q ue o Bentinho, já enamorado
de Capitu, apegando-se a qualquer alternativa que o livrasse da idéia de
mandá -lo para o seminário, tida com o pr om essa irrevogável por sua mãe,
diz, pateticam ente, ao José Dias: “Estou pr on to p ar a tudo; se ela quiser
qu e eu estude leis, vou para S. Paulo.
Mas, no Recife - impõe-se ressalvar - já em 1882 o sol despontavano h orizonte cultural: era o adven to de Tobias Barreto. C on fo rm e o relato
de C ruz Costa, ao seu redor, a partir daque le ano, “agrupavam-se os moços
que desejavam ouvir um a l inguagem diferente daque la que os velhos lentes
da Academia de Direito do Recife entoavam. E Tobias Barreto soube
dizer algo de no vo aos jovens estu dan tes do Recife.” '-̂
O festejado mestre sergipano que pont i f icou na capi tal de
Pernam buco preconizava am pla m ud an ça de m étodos no ensino jurídico.Em célebre discurso de paraninfo , advertia para o fato de que, “pelo sistema
que nos rege, nós ... corremos o risco ... de tornarmo-nos um povo de
advogados, um povo de chicanistas, de fazedores de petição, sem critério.
" A f o n s o A r in o s d e M e l o F r a nc o ; U t » e s t a d i s t a d a R e p i U A i c a ( “A f r . u i io d e M e l o F r a n c o e s eu
’I c m p o " ) . R i o d c J a n e i ro : E d i t o r a N o v a A g u i la r , 1 9 7 6 , v o l u m e ú n i c o , p . 1 72 .
M a c h a d o d e Ass is : D o m C a s m u r r o , i n O b r a C o m p l e t a . R i o d e J a n e i r o : E d i t o r ;: N o v a A g u i l a r,
1 9 8 5 , v o l . I , p . 8 3 6 , C a p í t u l o X X V .
A p i i d E r n ã n i D o n a t o : G r a n d e s d i s c u r s o s d a H i s t ó r i a . S ã o P a u l o : E d i t o r a C u l t r i x , 1 9 6 8 , p . 1 5 4 ,
n o t a i n t r o d u t ó r i a a o d i s c u rs o d c T o b i a s B a r r e t o d e M e n e s e s : “ I d é i a d o D i r e it o " .
168
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 169/240
sem ciência, sem ideal”''^. E lembrava: “As Faculdades não são somente
estabelecimentos de instrução, mais ainda e principalmente, como diz
Hen riqu e von Sybel, verdadeiros laboratórios, oficinas de ciência. É preciso
tam bé m pensar por nossa conta . Eis aí tu d o .” '"’
Nove anos depois da cpoca recordad a, em 1891, a Faculdade deSão Paulo veria, do mesmo modo, o arrebol dc um novo tempo, com a
ascensão à cátedra de Filosofia do Direito de outro mestre renovador;
Pedro Lessa. E significativo o depoimento de um de seus mais ilustres
alunos, o Rituro Min istro do Supremo Carvalho M ourão, sobre o magistério
desse m ineiro do Serro, qu e São Paulo revelou ao país e a nossa mais alta
C or te d e Justiça consagraria, depois, co m o o “M arshall brasileiro”;
“Pode-se dizer que co m ele penetrou no ad orm ecid o recinto
da faculdade paulista o espírito do século, com todas as
suas ânsias de aspirações hu m an as e as suas largas visões do
futuro, pois só ele iniciou e co m plet ou u m curso anima do,
todo, por um sistema de idéias m od erna s e progressistas...
Tinha, então, Pedro Lessa, vinte e oito anos e desde logo,
f i c o u c o n s a g r a d o m e s t r e e j u r i s c o n s u l t o , p o r q u e jurisconsulto só o é quem , com espírito de fi lósofo, vê no
Direito , não um código misterioso de regras hieráticas, mas
um a força propu lso ra d a vida pa ra os seus fins ideais” "'.
Pedro Lessa, ao reunir em livro os estudos produzidos ao longo
dos dezesseis anos em q ue lecionou Filosofia do Di reito (de 1891 a 1907,
ano em que se torna M inistro do Sup remo ), fez, no prefácio, imp ortante sconsiderações sobre as conseqüências do nosso descaso, no ensino do
direito, em relação aos princípios , às verdades gerais, às leis fun dame nta is,
“que co nsti tuem o su ped âneo do direito, que lhe explicam a razão de ser,
revelam o quid constante, p erm anen te, inv ariáve l, que se nota em meio
E r iu i n i D o n a t o ( n ° 1 3 ) . p . 1 6 1 .E r n â n i D o n a t o ( n " 1 3) . i h i d e m , p . 1 6 2 .
A p u d A l b e r t o V e n ã n c i o F i l h o ( n " 2 ) , p. 2 2 9 ) . V e r t a n i b c m , s o b r e “A p r e s e n ç a d c P e d r o L e ss a
n o e n s i n o j u r íd i c o " , R o b e r t o R o s as : P e e ir o L e s s a , o M a r s h u l l B r a s i l e i r o . B r as íl ia : H o r i z o n t e E d i t o r a
L t d a. , e m c o n v ê n i o c o m o I n s t i t u t o N a c i o n a l d o L i vr o, 1 9 8 5 , p. 3 9 s.
169
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 170/240
às transformações das normas jurídicas, e infundem a convicção da
necessidade absoluta da justiça.” Por vivermos, então, segundo o autor,
um a “fase embrionár ia d a nossa cultura jurídico-filosófica”, “não se deve
estranhar que, como conseqüências, logicamente inevitáveis, tenhamos
uma profusão de leis, irrefletidamente feitas ao sabor dos interessesindividuais do mom en to , c sem o complexo es tudo das necessidades sociais,
em que deviam ter os seus únicos alicerces; uma jurisprudência notável
pela instabilidade, e que já mereceu de um dos mais ilustres civilistas pátrios
a censura canden te, mas em parte justificada, de ser “o pro du to do instinto
cego, à mercê de influências acidentais e passageiras”; e a profissão do
advogado , em geraJ, tão prostituída, que dificilm ente se enco ntra rão fora
dela mais perniciosos inimigos d o dir eito.” ' .̂ Assim escrevia Pedro Lessaem d ezem bro de 1911, para a prim eira edição de seu livro!
As deficiências do ensino jurídico no Brasil decorreram sempre,
fundamentalmente, das mesmas causas: o verbalismo, responsável pelo
estilo das aulas magistrais, não raro monologadas e tediosas; a exposição
repetitiva do q ue os alunos pode riam encontrar, co m maior proveito, nos
autores; a ausência de incentivo à pesquisa'®; o sentido gera lmente acrítico
com q ue os institutos jurídicos eram abord ados'^. Nos primeiros tempos,a esses pon tos negativos acrescentar-se-ia ou tr a séria dificuldade : a escassa
P edr o Lcs s a : E s t i i d o i c l c P h i l o s o f í u d o D i r e i c o , 2 . t . tc l i ção . R i o d c j a ne i r o ; L i s r . ir i a i T . u i c i sco
A l v c . s , 1 9 1 6 , p . 9 - 1 0 , N o t a : c o l o c o u - s e n a o r t o g r a f i a a t u a l o t r e c h o t r a n s c r i t o .
R e s s a l v c - s e , p o r é m , q u e , n o s p r i m e i r o s t e m p o s , s o b r e t u d o n a F a c u l d a d e d e S ã o P a u l o , a s
d i ss e rt a çõ e s ex i g id a s d o s e s tu d a n t e s p r e e n c h i a m s a t is f a t o r ia m e n t e e ss a la c u n a - c o m o n o t a
A f o n s o A r i n o s d e M e l o F r a n c o : R o d r i g u e s A l v e s — A p o g e u e D e c l í n i o d o P r e s i d e n c i a l i s m o . R j o d c j a n e i r o : L i v r a r i a J o s é O l y m p i o E d i r o ra e E d i t o r a d ü U n i v e r s id a d e d e S á o P au )o , 1 9 7 3 ,
vol , [ , p. 17.
É i m p o r t a n t e , a e ss e r e s p ei to , o t e s t e m u n h o d c M i g u e l R e a le s o b re o e n s i n o n a F a c u l d a d e d e
D i r e i t o d e S ã o P a u l o n a d é c a d a d e t r i n c a , q u e " n ã o f o i é p o c a d e e s p l e n d o r n a h i s t ó r i a d a s
A r c a d a s " [ M e m ó r i a s , vol. 1, D e s t i n o s C r u z a d o s . S ã o P a u l o : S a r ai v a, 1 9 8 6 . p . 4 3 s .). N o m e s m o
. s en t i do , s c c r c . i d o c u r s o n v n i s t r a é o , q u a s e à m e s m a é p o c a , n a F a c u l d a d e N a c i o n a ) d c D i r ci ro ,
e o d e p o i m e n t o d e P l ín i o D o y l e, e m s u as m e m ó r i a s ( C / m a V i d a , R i o d e ja n e i r o ; e d i ç ã o d a C a s a
d e R u i B a r b o s a , C a s a d a P a la v ra - e d i t o r a - , 1 9 9 8 , p . 3 0 s .) . N a r r a e s te m e m o r i a l i s t a c u ri o s o
e p i só d i o , c o m s a b o r a n e d ó t i c o ; n a d i s c ip l in a D i r e i t o R o m a n o , o p o n t o q u e o p r o f es s or d a v ac o m o " .s or te a do ” p a ra a p r o v a e s c r i ta e r a s e m p r e o m e s m o e o s a l t ui o s, s a b e n d o d i s so , a d r e d e o
d e c o r a v a m n a o c a s i ã o J o e x . i m e . O e p i s ó d i o é c o n c a d o , d o i n cs n io m u d o , p o r u m c o n t e m p o r â n e o
d c e s t u d o s d a q u e l e a u t o r , o i l u st re M i n i s t r o E v a n d r o L i n s e Sil va , e m 0 S a l ã o d o s P a s s o s P e r d i d o s .
R i o d e J a n e ir o ; F u n d a ç ã o G e t ú l i o V a r ga s E d i t o r a , 1 9 9 7 , p . 6 2 .
170
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 171/240
bibliografia nacionaF*^. G ilb er to A mad o, que e stud ou n o Recife, de 1905
a 1909, dá a dimensão desse problema quando narra o que para efe
represe ntou, afinal, a desco berta de um gra nde livro de aut or brasileiro: o
D ireito das Coisas, de Lafayette - “um a das mais perfeitas obras do pon to
de vista literário do nosso idi om a n o Brasil”, qu e dispensava “o estuda ntede p rocu rar livro estrangeiro”. “Só entã o - confessa o em ine nte escritor,
diplomata e intern ac iona lista-vi que podia tornar-me um jurista. Graças
a ele é que fui procu rar Teixeira de Freitas, isto é, galgar u m H im ala ia e ver
a que alturas p od ia subir o Brasil”^'.
D ian te das condições muitas vezes precárias em que se desenvolveu
o ensino jurídico no Brasil, até a prim eira m eta de deste século, fica no ar
uma indagação natural: como, a despeito disso, o país produziu tãorespeitáveis juristas? Só dois fatores, a nosso ver, pode m dar resposta a essa
instigante pergunta: a capacidade dc autodidatismo e a sólida formação
hum aníst ica dos estudantes dc então.
Hoje, se alguns escolhos acham-se superados, m orm en te po rque
se passou a dar maior importância aos métodos didáticos e à formação
dos professores, de fron tam o-no s, todavia, c om outro s graves problemas.
O maio r de todos, p or certo, é o da massificação do ensino, resultante daprol i feração indiscr iminada —e, não raro, dominada pelo espír i to
merc antilista - das nossas Faculdades de Direito.
Mas, não há m elhor fo rma de corrigir os senões que ainda persistem
e enfren tar as novas dificuldades qu e surge m do qu e a de refletir sobre as
lições do passado. H isto ria magistra vitae — lembrava Cícero. E até os
traços caricaturais de certos professores e estu dan tes, qu e a realidade dos
fatos e a literatura de ficção nos revelam, servem para evitar qu e in cidamos
nos erros satirizados, caindo no ridículo ou deixando-nos dominar pelo
comodismo .. . Ridendo castigai mores —ponderava Horácio.
^ É d e P o n te s d e M i r a n d a e st a a ss er ti va : “ N ã o c h e g a m a q u i n z e o s b o n s v o l u m e s b r as il ei ro s
s o b r e d i r e it o c iv il , p u b l i c a d o s a n t e s d o C ó d i g o " [ F o n t e s e E v o l u ç ã o d o D i r e i t o C i v i l B r a s i l e i r o , 2a .
e d . , 1 9 8 ] , p. 6 4 . a p u d V e ã m O u t r a , L i t e r a t u r a J u r i d i c t i n o I m p é r i o . R i o d e J a n e i r o : T o p b o o k s ,
1 9 9 2 , p . 2 8 ) . A f o n t e d c o n d e e x t r a í m o s e s ta c i t a ç ã o r e ve la , e c e r t o , r e s p e i tá v e l p r o d u ç ã o
d o u t r i n á r i a d c j ur i st a s q u e s c t o r n a r a m c l ás s ic o s d a n o s s a b ib l i o g ra f i a, n o I m p é r i o . A s o b r a s q u e
a c o m p õ e m , p o r é m , n ã o s ão , e m g er al , d e l e i t u ra a g ra d á v el o u n ã o a p r e s e n t a m f ei çã o di d á ti c a
a d e q u a d a . D a í , n a t u r a l m e n t e , a c o n s i d e r a çã o d e C l i lh e rt o A m a d o r e fe r id a n o t ex to .
M i n h a F o r m a ç ã o n o R e c i f e . R i o d c J a n e i r o : L i v ra r ia J o s é O l y m p i o E d i t o r a , 1 9 5 8 , p . 1 8 5 - 6 .
171
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 172/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 173/240
MONOGRAFIA FINAL: EXIGÊNCIA DE
GRADUAÇÃO EM CURSO DE DIREITO
Nelson Nery Cos ta
Sumário: 1 . In t rodução; 1 .1 . Condições para o Novo Curr ículo;
1 .2 .P o r t a ri a do M E C 1 .88 6 /94 ; 1 .3 .M ono gra f i a e P e squi sa ;
2. Monografia de Graduação cm Curso de Direito; 2.1. Introdução à
Monografia; 2.1.1. Método Monográfico; 2.1.2.Iniciação Científica;
2.1.3. M ono graf ia e Ciência; 2.2. Projeto de Pesquisa; 2 .2.1. A Escolha
do Tema; 2.2.2 . Hipótese; 2 .2 .3 .Bibliografia Iniciai; 2.2.4. D efiniçã o dos
R e c u r s o s M e t o d o l ó g i c o s ; 2 . 2 . 5 - C r o n o g r a m a d a P e s q u i s a ;
2.2 .6. Elabor ação do P rojeto de Pesquisa; 2.3. Pesquisa Jurídica;
2.3.1. Uso de Bibliografia; 2.3.2 .Coleta de D ados; 2.4. A Elaboração da
Monografia; 2.4.1. Crítica à Doc um en taç ão e aos Dados; 2.4.2. Construçã o
da Monografia; 2.4.3. Relatório Parcial; 2.4.4. Redação; 2.4.5 . Monografia
Final ; 2 .4.6. Apresentação Gráfica da Monografia; 2.5. Exame daMonografia: 2.5.1. Professor Orientador; 2.5.2. Banca Examinadora;
2.5.3. Defesa da Monografia; 3. Conclusão; 3.1. Ciência e Direito;
3.2. Im portân cia da Mo nografia Final de Gradua ção em Cur so de Direito.
1. Introdução
1.1. Condições para o Novo Currículo
A realidade social, econômica e política indicaram, no ensino
jurídico brasileiro, a necessidade de d iscutir e implantar um novo cur rículo,
capaz de com pre en de r as mud anç as o corridas nas instituições públicas e
na própria sociedade, nos últimos anos. Deve-se considerar, ainda, a
existência de aspectos teóricos e práticos que de ve m scr observados, paraque o ensino do Direito respon da às exigências con tem por ânea s.
As mu da nça s pelas quais a sociedade brasileira passou, no início
da década de oitenta até o novo século, decorrentes de um crescente
175
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 174/240
em pobrec im en to das classes média e baixa, além da ampliação da exclusão
social, são por demais evidences e indicam que o profissional do direito
não pode ficar alheio a cais problemas'. Não se deve pretender que as
inscicuições de ensino superior sejam transformadas cm aparelhos de
m ovim ento s não acadêmicos, mas tam bé m não se pod e ficar indiferenteàs questões sociais e políticas postas, p or qu e da í nascem novas dem and as
jurídicas que precisam receber suas respostas .
A economia sofre t ransformações profundas, decorrentes da
abertu ra econômica, de modo que os cursos de Dire ito precisam se preparar
para solucio nar as novas questões da s ociedade e do Estado. Observe-se,
ainda, o processo de integração regional, co m o o Mercosul, que implica
na exigência de novos conh ecim ento s de D ireito In ternacional.
A Constitu ição Federal de 1988 abr iu novas perspectivas políticas,
no Brasil, com a ampliação da au ton om ia dos Mu nicípio s e dos Estados-
m cm bros. Por outr o lado, a falência da Previdência Social, os problemas
no sistema tributário e nos orçamentos públicos, a participação pública
na eco nom ia e as novas diretrizes da Adm inis traç ão Pública são situações
que exigem soluções jurídicas diferentes, que repercutem no ensino jurídicoe na formação dos profissionais do Direito.
C om a chegada do pró xim o milênio, há a indicação clara de que
vai haver uma crescente influência científica e tecnológica na vida do
cidadão, p rovo cando m odificações na sociedade e no Direito. Trata-se de
problema novo, com repercussão na ética e na própria solução das
' A (.1:1 P c l cg ri n i Gr i n ovc r : “ O i s c c R ef o r m a d e En s i n o J u r í d i co ” , i t i E n s i n o J u r í d i c o O A B : D i a g n ó s t i c o ,
P e r s p e c t i v a s e P r o p o s t a s . B r as íl ia : C o n s e l h o F e d e r a l d . i O A B , 1 9 9 2 , p. 4 2 - 3 , o b s c i v a q u e : " 0
i i d v o g . i d o q u e s e d e d i q u e e x c l u s i v . i m c n c c à s l i d e s f o r e n s e s n á o p o d e r á s a t i s f a z e r - s e c o m o
c o n h e c i m e n t o t c c ni c o -j u rí d ic o , q u a n d o s e d e f ro n t a , p o r e x e m p l o , c o m c au sa s q u e e n v o l v a m
q u e s tõ e s d e t er ra s, q u e d e m a n d . i m .i c o m p r c c n s . l o d o s c o n f l it o s e n r i e p r o p r i e d a d e a a p o s s a m e n t o s ;
o u q u a n d o se t r a t e d e p r o c e s s o s t r a b a l h i s t a s , a e x i g i r e m o c o n h e c i m e n t o d a s r e l a ç õ e s e n t r e
c a p i ta l e t r a b a l h o ; o u q u a n d o s e d e p a r a r c o m ( id e s e n v o l v e n d o o r i q u í s s im o s u b s t r a t o so c ia l da s
re la ij óe s d e c o n s u m o ; o u , a i n d a , q u a n d o t iv e r q u e a j u iz a r u m a d e m a n d a c o le ti v a, e m d e fe s a d os
n o v o s in t er e ss e s m e t a - i n d i v i d u a i s q u e , p o r se e n q u a d r a r e m n o s c o n f l it o s d e m a ss a , im p l i c a m
s e m p r e u r n t r a t a m e n t o p o l í t ic o . ( .. . ) P o r s e u t u r n o , o j u r i st a d e f o r m a ç ã o e x c l u s i v a m e n t e s óc i o -
p o l í t ic a , s em o p r o f u n d o c o n h e c i m e n t o d a t é c n i c a j u r í d ic a , n ã o e s ta r á a p t o a o p e r a r .is
t r a n s f o r m a ç õ e s q u e d e l e s e e s p e r a m ” .
174
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 175/240
controvérsias jurídicas. O curso de graduaçã o em Direito, p orta nto , deve
estar pr on to para traduz ir os novos con hecim en tos técnicos, para satisfazer
um a m entalid ade cada vez mais científica.
Os cursos de Direito são severam ente criticados em razão da baixa
qualidade de ensino, resultante da utilização de técnicas pedagógicasconservadoras, não estim ulan do o aluno ao efetivo aprendizado^. O estudo
jurídico encontra-se realizado de forma a não traduzir a exigida qualidade
social e tecnológica, nem a fomentar a reflexão crítica, a indagação e a
formação científica. O am biente arcaico acaba restringindo o m om en to
da discussão intelectual e do conflito de opiniões saudáveis para a
m aturid ade política de qu alqu er sociedade.Ficou evidente, na década de noventa, do século passado, a
dificuldade do curso de graduação em Direito de responder às pressões
po r profissionais voltados para os mais diferentes setores jurídicos, co m o
bons advogados, respeitáveis magistrados, corretos promotores, sérios
procuradores, acessíveis defensores públicos, diletos professores, eficientes
assessores jurídicos, honestos delegados de polícia e urbano s serventuários.
N ão fora tal situação, existiu a preocupa ção efetiva co m a traduç ão dosavanços da mentalidade científica em relação às leis e à jurisprudência,
à proteção d o c idadão , às reivindicações sociais, às exigências do Estado
e ao moderno capitalismo. Assim, as pressões para que houvesse uma
nova regulamentação dos currículos jurídicos, em que os graduados
estivessem voltados para o estudo, a pesquisa e a crítica, co m o u m a at itude
profissional, resultaram n a im planta ção da exigência das monografias definal de curso.
^ “Qu.í íu o à m e c o d o l o g i u d e e n s i n o , pouco m o d i f i c o i i- s e d o e s ti l o d o u t r i n á r i o , a u l a s e xp o s it i va s
d e b a. se c o i n i b r ã . Tal c o n t e x t o d e v e - s e , h o j e , a i n d a , ao f a t o d a s f a c u l d a d e s p a r t i c u l a r e s d e
D i r e i t o , p a r a t e r e m a l g u m a v i a b i l i d a d e e c o n ô m i c a , m a n t é m t u r m a s d e m a i s d e 6 0 ( s e s s e n t a )
a l u n o s o u a s U n i v e r s i d a d e s p i i b l i c as p e la p r o c u r a e x c e ss i v a ( e v a s ão d a s i n s t i t u i ç õ e s d c e n s i n o
p a r t ic u l a r) , i n c o m p e t ê n c i a a d m i n i s t r a t iv a , t a lt a d e p r o f e s so r e s h a b i l i ta d o s e c o n c u r s a d o s c
l i m i t a ç õ e s d c e s p a ç o fí si c o, a p r e s e n t a m , t a m b c m , s al as r e p l e ta s d c a l u n o s . E s sa r e a l i d a d e o b r i g a ,
f a t a l m e n t e a o d o c e n t e a a d o t a r u m a m e t o l o g i a c x p o si t iv a " . C f . J o s c R i b a s V i ei r a: " D e s a f i o s e
P r i o r i d a d e s p a r a a R e f o r m a d o E n s i n o J u r í d i c o n o B r a si l” , i n E n s i n o J u r í d i c o O A B : D i a g n ó s t i c o ,
P e r s p e c t i v a s e P r o p o s t a s { n o t a 1 ) , p . 1 7 2 .
175
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 176/240
1.2. Portaria do M E C n° 1.886194
A discussão que havia nos cursos de graduação em Direito,
ped indo um novo cu r r í cu lo , l evou o Min i s t é r io da Educação à
elaboração de “diretrizes curriculares e conteúdo mínimo do curso jurídico". Esta discussão foi levada p r in c ip a lm en te pelo C onse lho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e por algumas instituições
de ensino superior de vanguarda, mas já era consenso no m un do jurídico
tal solução.
Assim, foi editada a Portaria do MEC n° 1.886, de 30.12.1994,
Fixando uma carga horária mínima, de três mil e trezentas horas deatividade, em pelo menos cinco anos letivos. O art. 3", dessa Portaria,
dizia que “o curso jurídico desenvolverá atividades de ens ino, pesquisa e
extensão interligadas e obrigatórias, de forma a atender às necessidades
de formação fundamental, sociopolítica, técnico-jurídica e prática do
bacharel em Direito”. Foi exigido, também, um acervo bibliográfico
atualizado de, no mínimo, dez mil volumes de obras jurídicas e de
referências às matérias do curso, além de periódicos de jurisprudência,do utr ina e legislação (art. 5"). Fixou, ainda, o co nteiído m íni m o do curso
jurídico, com preendendo disciplinas fundam entais e profissionalizantes
(art. 6").
A grande mu dan ça da Portaria do M E C n° 1.886/94, não obstante,
foi a exigência de m onografia, no final dos cursos jurídicos, c om o se pode
ver abaixo:
“Art. 9" - Para conc lusão do curso, serão obrigatórias
apresentação e defesa de m onog rafia final, p erante banca
examinadora, com tem a e orienta dor escolhido pelo aluno ”.
Tratou-se, então, de efetuar uma modif icação profunda no
currículo do curso de Dire ito, q ue en globo u experiência de outros cursos,como 0 de Econ omia , e viabilizou o con tato do grad uando com a pesquisa
e a reflexão jurídica. Foi uma n ov ida de n a área, pois não havia tal previsão
em nenhuma das disposições anteriores, especialmente a Resolução do
176
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 177/240
CFE no 03/72, de 25 de fevereiro dc 1972% de modo que se abriu à
perspectiva de que o o per ado r d o D ireito tivesse condiçõ es de refletir e
produzir um trabalho coordenad o e com pesquisa . A Portaria do M E C
no 1.8 86 /94 fixou para o ano de 1996 a sua obrig atorie dad e (art. 16), de
modo que no f inal do ano de 2000 devem começar os exames dasmo nograf ias finais.
1.3. Monografia e Pesquisa
A inovação da exigência, de monografia, como condição para a
obtenção da graduação em curso de direito, passou a permitir que o
graduando tivesse conhecimento e fizesse utilização da metodologia detrabalh o científico^. Além disso, pe rm ite o des envo lvime nto d a lógica da
’ A l egi s l ação rc lar iv ; ) a s esrrurunis c u r r i c u la r e s , d f s d e ü c ri ii ç ão d o s p r i m e i r o s cursos j u r í d i c o s ,
fo i u s e gu ii ir c: L ei d c 1 1 d e a g o s t o d c 1 8 2 7 , q u e “c r i a d o n s C u r s o s d e C i ê n c i a s J u r í d i c a s e S o ci ai s,
u n i n a C i d a d e d e S. P a u l o e o u t r o n a d e O l i n d . i ” ( C f . E n s i n o J u r í d i c o O A B : 1 7 0 A n o s d e C u r s o s
J u r í d i c o s n o B r a s i l . B r as íl ia : C o n s e l h o F e d e r a l d a O A B . 1 9 9 7 , p. 1 8 7 ) ; D e c r e t o n " 7 - 2 4 7 , d e 1 9
d c a b r il d c 1 8 7 9 . q u e “ r e f o rm a o e n s i n o p r i m . í r i o e s e c u n d . í r io n o m u n i c í p i o d a C o r t e e o
s u p e r i o r e m t o d o o I m p é r i o , e s p e c i a l m e n t e n o a r t . 2 3 (/W fw , p . 1 9 0 ); D e c r e t o n ” 1 2 . 3 2 1 , d e 2
d e j a n e i ro d e 1 8 9 1 , q u e “a p r o v o u o r e g u l a m e n t o d a s I n s t it u iç õ e s d c E n s i n o J u r íd i c o , d e p e n d e n r e s
d o M i n i s té r i o d a I n s t r u ç ã o P ú b l i ca ” { i d e m , p. 1 9 3 ) ; L ei n " 3 1 4 , d e 3 0 d e o u t u b r o d c 1 8 9 5 , q u e
“ r e o r g a n i z a o e n s i n o d a s F a c u l d a d e s d e D i r e i t o ” { i d e m , p. 1 9 3 ) ; D e c r e r o n " 1 1 . 5 3 0 , d e 1 8 d e
m a r ç o d e J 9 1 5 . q u e “r c o rg . in i zü o c n s t n o i c c u n d á r i o c o s u p e r i o r n a R c p ú b l i c . i " , c s p c c i . i l m e n t e
o s a r t i g o s 1 7 5 a 1 8 { i d e m , p. 1 9 7 ) ; D e c r c t o n " 19 8 5 I . d e 11 d e a b ri l d c 1 9 3 1 , q u e “d i s p õ e s o b r e
o e n s i n o s u p e r i o r no B r a s i l , d e p r e f e r ê n c i a , a o s i s t e m a u n i v e r s i t á r i o ( . . . ) ” , e s p e c i a l m e n t e o s
a r t ig o s 2 6 a 3 1 ; P a r e c e r n " 21 S , a p r o v a d o e m 1 5 d c s e t e m b r o d e 1 9 6 2 , q u e f ix o u c u r r í c u l o
m í n i m o { i d e m , p . 2 0 3 ); R e s o lu ç ã o C F E n " 0 3 - 7 2 d e 2 5 d e f e v e re i r o d e 1 9 7 2 , q u e f ix o u c u r r í cu l o
m í n i m o { i d e r n , p . 2 0 5 ) ; P o r ta r i a n " 0 5 / 9 5 - C F / O A B , q u e “d i s p õ e s o b r e os c r i t é r i o s ep r o c e d i m e n t o s p a r a a m a n i f es ta ç ã o d a O A B n o s p e d i d o s d e c r i aç ã o e r e c o n h e c i m e n t o d c c u r so s
j u r í d i c o s " { i d e m , p. 2 0 7 ) ; D e c r c t o n ° 2 . 2 0 7 , d e 1 5 d e a b r i l d e 1 9 9 7 , q u e “ r e g u l a m e n t a p a r a o
S i s t e m a F e d e r a l d e E n s i n o ( .. .) '’ , e s p e c i a l m e n t e o a r t i g o 11 { i d e m , p . 2 1 2 ) ; e P o r t a r i a d o M F . C
n'^ 1 . 8 8 6 , d c 3 0 d e d e z e m b r o d c 1 9 9 4 { i d e m , p , 2 1 3 ) .
^ “ N o f in a l d o c u r s o , o d i s c e n t e d e v e a p r e s e n t a r t r a b a l h o m o u o g r á f i c o , s o b o r i e n t aç ã o d c
d o c e n t e , n a á re a d e e s pe c ia l i za ç ão es c o l h id a , d e f e n d e n d o - o p e r a n t e b a n c a e x a m i n a d o r a , c o m o
c o n d i ç ã o p a r a o r e c e b i m e n t o d o g r a u . E s sa m o n o g r a f i a p e r m i t i r i a f a ze r u m a p e r fe i ta a v al ia ç ão
d o a l u n o e, p o r c o n s e g u i n te , d o p r ó p r i o c u r s o d e D i r e i to , c o m o t a m b c m e s t im u l a r ia a i n v es ti ga ç ão
t e ór ic a e a p e sq u is a c i en t í fi ca . O D e p a r t a m e n t o d e C i ê n c ia s ju r í d i c a s d e p e n d e d o f o m e n t o a o
e s t u d o c à p r o d u ç ã o d e o b r a s j u r íd i c a s p a r a s e a f i r m a r f r en t e às d e m a i s i n s t i tu i ç õ e s d e e n s i n o
j u r í d i c o . D e n t r o d e s s e c o n t e x t o , a o b r i g a t o r i e d a d e d e d e f e s a d e m o n o g r a f i a r e p r e s e n t a r i a u m
e s t í m u l o t a n t o a o s d i s c e n t e s c o m o a o s d o c e n t e s , q u e i r i a m o r i e n t a r à q u e l e s ” . N e l s o n N e r ) '
C o s t a : A n t e p r o j e t o d o N o v o C u r r í c u l o d o C u r s o d c G r a d u a ç ã o e m D i r e i t o d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l
d o P i a u í . T e r e si n a : U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P i a u í , 1 9 9 4 , p . 1 6.
177
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 178/240
argumentação e persuasão, send o poderoso instru m ento de aprendizagem
e desenvolvimento da pesquisa jurídica^ O gra duan do deve elaborá-la no
final do curso jurídico, escolhendo o tem a e o orientador, inclusive docente
de ou tro curso que não seja o de direito, frente a banca ex am inado ra com,
no mínimo, três professores.A monografia permite, ainda, que o graduando tenha contato
com trabalhos de pesquisa e de investigação científica. A pesquisa pode
compreender investigações teóricas, como trabalhos doutrinário ou de
jurisprudência, bem com o trabalhos indutivos, com base em entrevistas,
questionários e outros levantamentos de dados. Já a investigação científica,
na verdade um a iniciação, estimula o futu ro bacharel a ter um a po stura
de refiexão frente aos problemas jurídicos, com condições técnicas para
resolvê-los '^’ . A monografia, assim, desenvolve os conhecimentos
epistemológicos e os procedimentos metodológicos, permitindo que o
futu ro jurista tenh a condiçõe s pa ra con hecer a realidade social, política e
ética relacionada com o Direito.
2. Monografia f inal de graduação em curso direi to
2. 1. Introdução à Monografia
2. 1. 1. Método Monográfico
A monografia decorreu da uti l ização do método monográfico,
criado pelo econom ista Le Play^, qu e o e m pre gou no estudo de famílias
' " A n u ) n o gr u f] . j f in a l, p o r c c r t o , a l e m d c c a p a c i t a r o a l u n o à m e t o d o l o g i a d o t r a b a l h o c i c n t í fi c o ,
à l ó g i ca d a a r g u m e n t a ç ã o c p e r s u a s ã o , s e rá p o d e r o s o i n s t r u m e n t o d e a p r e n d i z a g e m e
d e s e n v o l v i m e n t o d c p c s i ju i s a ”. Á l v a r o M e l o F i lh o : “ C u r r í c u l o s J u r í d i c o s : N o v a s D i r e t r i z e s c
P e r s p e c t i v a s " , i n E n s i n o J u r í d i c o O A B : N o v a s D i r e t r i z e s C t i r r t c i i l a r e s . B r a s í l i a : C o n s e l h o P e d e r a l
d a O A B , 1 9 9 6 , p. 15 .
Á l v a ro M e l o F i lh o : “ E n s i n o J u r í d i c o e a N o v a L D B ” , i n E n s i n o J u r í d i c o O A B : 1 7 0 A n o s d e
C u r s o s J u r í d i c o s n o B r a s i l { n o t a 3 }, p . 1 0 7 .
' “ F r é d é r i c L e P la y, e c o n o m i s t a e e n g e n h e i r o f r a n cê s , t r a d i c i o n a l i s t a e c o n s e r v a d o r , f oi p a r t i d á r i o
d c lima f o r t e o r g a n i z a ç ã o d a f a m í l i a e d a p r o p r i e d a d e , p r e s i d i d a p o r u m e s p í r i t o r e l i g i o s o " .
K o o g a n & H o u a i ss ; E n c i c l o p é d i a e D i c i o n á r i o I l u s t r a d o . R i o d e J a n e i r o : E d i ç õ e s D e l t a ,
199H, p. 96J.
178
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 179/240
operárias, na Europ a. Ele partiu d o p rincípio de qu e qualq uer caso que se
estude em profundidade pode ser considerado representativo de muito
out ros o u até de todos os casos semelhantes. A investigação é dirig ida para
exam inar o cem a escolhido, obse rvan do o assunto escolhido, bem c om o
os fatores qu e o influen ciam , para analisá-lo em todo os seus aspectos.No in íc io , o mé todo monográ f ico cons i s t i a no exame de
peculiaridades do objeto do estudo, como o orçamento familiar, as
características de profissões c domicílios ou o custo de vida. N ão obs tante ,
esse método permite também o es tudo abrangente do conjunto de
atividades de um a classe social particular. A grande van tagem do m es mo é
o estudo da vida do grup o na sua unida de concreta, ev itando prema tura
dissociação de seus elementos^. O m éto do mo nog ráfico passou a ser
aplicado cm todas as ciências sociais, passando inclusive a significar o
trabalho final de curso de graduação.
2.1 .2. Iniciação Científica
O grau de qualida de nos trabalhos acadêmicos, em razão de serem
trabalhos escritos e submetidos a uma avaliação, são (1) a monografia,
dissertação monográfica ou trabalho, (2) a dissertação de mestrado, tese
de mestrado ou dissertação científica e (3) a tese de doutorado ou tese.
No primeiro caso, a monografia é exigida canto no n/vel da graduação,
com o n o da pós-graduação, sendo util izado basicamente co m o trabalho
de final de curso, c om o atividade de de sem pe nh o discente a ser avaliada.
Já a dissertação de mestrado se eqüivale à tese de licenciatura, dasuniversidade européias, bem como do research pa per das universidades
americanas, conferindo no Brasil o grau de mestre. Por fim, a tese de
do utor ad o é trabalho de alto nível de qualificação, condição para se conferir
ou grau de dou tor ou P hD das universidades americana s, sen do exigida a
originalidade, grau de p rofu nd ida de teórica, cientificidade e demons tração
de q ue se trata de verdade ira pesquisa científica.
^ E v a M a r i a La k ac os & M a r i n a d c A n d r a d e M a r c o n i : M e t o d o l o g i a C i e n r í f i c a . S á ü P a u l o : E d i t o r a
A t l a s , 1 9 8 2 , p. 8 1 .
179
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 180/240
A mon ogra fia dirige-se para treinar o grad uan do nas atividades de
leitura, es tudo, análise dc texto, crítica e discussão de idéias, assim com o
na habilidade de síntese e comunicação. Permite, desse modo, que as
deformações do curso de graduação, especialmente provocadas por
excessivas aulas expositivas, sejam corrigidas'^A monograf ia é realizada através de pesquisa b ibliográfica ou de
pesquisa empírica o u experimental. Trata-se de u ma atividade de pesquisa
científica, pod en do ser conceitu ada com o o resultado do e studo científico
de u m tema, ou de um a questão mais específica sobre determinado assunto.
Vai sistemat izar o re sulta do das leituras, observações, críticas e reflexões
feitas pelo educando"'. Não é apenas uma compilação de textos, dos
resumos ou opiniões pessoais, devendo haver uma rigorosa coleta deinfo rma ções e análise de dado s e bibliografias. Deve-se div idir em etapas
o processo de trabalho, com o fim de ser realizado com postura crítica e
me todo logia científica.
A mon ografia, em gr aduação de curso de Direito, exige um tema
que possa ser útil ao graduado, especialmente na sua vida profissional,
não devendo ser m uito complexa, nem que tenh a uma abordagem muito
exte nsa" . N ão há exigência, sequer, de originalidade ou criatividade. Vema ser trabalho feito nos moldes d a tese, co m a particularidade dc ser ainda
uma tese inicial, em miniatura, como um treinamento para aquela.
Incluída, com o foi, em exigência para o térm ino d e curso de graduação,
demonstra ser de grande valia didática, substituindo vários tipos de
verificação de aprendizagem e pe rm itin do um a m entalidade científica ao
operad or do Direito.
' “A p r o p o s r a a c a d ê m i c a d a d i s s e r ta ç . ío n i o i i o g r á f i c a n o s c u r s o s d e g r a d u a ç ã o v i sa t r e i n a r o
e s t u d a n t e n a s a t i v i d a d e s d c I c i t u r a - e s t i i d o , a n á l i s e d c t e x t o , c r í t i c a e d i s c u s s ã o d e i d é i a s ( r u d o
f r e q ü e n t e m e n t e i d e n t i fi c a d o c o m “a n á l is e d o d i s c u r s o ” ) e n a s h a b i li d a d e s d c s í n t e se e c o m u n i c a ç ã o .
Se rve a s s i m p a r a c o r r i g i r o h . i b i to q u e a e s c ol a s e c i m d á r i a b r a si l e ir a , in f e l i z m e n t e , t e m d e s e n v o l v i d o
n o s a l u n o s : o d a p e s q u i s n , c m s u a p i o r d e f o r m a ç ã o c o n c e i t u ai , i d e n ti f ic a d a c o m o a t i v id a d e d c
t r an s c ri ç ão c e g a d c t e x to s u p e r r i c i a lm c n t e c o n s u l t a d o e q u e r e su l ta n u m t r a b a l h o c u j a a p r e s en t a ç ã o
m a t e r ia l e q u a n t i d a d e d e p á g i n a s p r e d o m i n a m c o n i o c r i t ér io s d c v a l o r aç ã o ” . D é l c i o V i e ir a S a l o m o n ;
C o m o l - a z e r u m a M o i i o g n i f u i . S ã o P a u lo : M a r t i n s F o n t e s , 1 9 9 7 , p . 18 3 .l i l iz a b ct h M a t a l l o M a r c h e s i n i d e P á d u a ; " O T r a b a l h o M o n o g r á f l c o c o m o I n i c ia ç ã o à Pe sq u is a
C i e n t í f i c a ” , i n C o n s i r u i u d o o s a b e r : t é c n i c a s d e m e t o d o l o g i a c i e n t í f i c a . S ã o P a u l o : P a p i r u s , 1 9 8 8 .
' ' C e s a i L u i z P a s o ld : P r á t i c a d a P e s q u i s a J u r í d i c a : I d é i a s e F e r r a m e n t a s Ú t e i s p a r a o P e s q u i s a d o r d o
D i r e i t o . F l o r ia n ó p o li s : O A B / S C E d i t o r a , 1 9 9 9 , p. 1 44 .
180
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 181/240
2.1.3. Monografia e Ciência
A mono grafia perm ite a aproximação do ensino jurídico da ciência,
afastando um a postura de m era colagem de leituras de manua is, para um a
análise mais profund a, através do m éto do mon ográfico, q ue consiste noestudo aprofundado de determinadas matérias. O trabalho, no final do
curso jur ídico, est imula o desenvolvimento de conteúdos jur ídicos
epistemológicos, bem com o de pro cedim entos metodológicos, realizando
a aprox imaçã o do D ireito com a investigação científica.
A pesquisa realizada faz com que os novos graduados tenham
condições de efetuar um a análise crítica, capaz de com preend er o fenôm eno
jurídico, relacionado com a realidade social e pol ít ica. A monografia enseja
uma mentalidade científica, capaz de impedir que o ensino do Direito
seja feito sempre de um a fórm ula assimétrica e conservadora, em razão da
po stur a crítica e na análise científica que passa a ser ad ota da p elo nov o
estudioso. Estimula, inclusive, os docentes, que passam a ter melhor
capacitação'".
2.2 . Projeto de Pesquisa
2. 2. 1. A Escolha do Tema
O s temas escolhidos nas monografias d evem ser condizentes co m
a realidade do gradua ndo , relevantes para a vida acad êmica mas qu e estejam
no estágio de seu desenvolvim ento intelectual. A tem ática p od e ser voltadapara assuntos que o direcionem a uma especialização ou, ainda, para
preencher lacunas teóricas que tenham ocorrido durante o curso. Pode
ser, ainda, a co nti nu ida de d e pesquisas iniciadas ou a verificação empírica
de um a prop osta de trabalh o desenvolvida apenas de ma neira teórica.
“ A g o r a , c o m a c o n f i g u r a ç ã o d e u m m o d e l o a r t i c u l . i d o a p r o c e d i m e n t o s d e o r i c n t a ç á o e d cp u b l i c i d a d e d a s d e fe s as , a m o n o g r a f i a f i n al p a s sa a sc c o n s t i t u i r e i x o d a e l e v a ç ã o d a q u a l i d a d e d o
e n s i n o , c o m refl c.xos p o s it iv o s n a o r g a n i z a ç ã o c u r ri c u l a r e n a c a p a c i t a ç ã o d o d o c e n t e j o s c
G e r a l d o d e S o u s a J u n i o r ; " E n s i n o J u r í d i c o : P e si ju i sa c I n t e r d i s c i p l i n a r i d a d e ” , i n E n s i n o J u r í d i c o
O A B : N o v a s D i r e t r i z e s C u r r i c u L i r c s ( n o t a 3 ) . p - 9 7 .
181
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 182/240
o assunto, q ua nd o c tratado cientificamente, pela primeira vez,
necessário sc faz que seja ligado ao iniciante da atividade científica,
selecionado entre as matérias qu e mais lhe interessaram d uran te o curso e
que atendam às suas inclinações e possibilidades profissionais''^ A escolha
do tema relaciona-sc, ainda, a fatores psicossociais, referentes à adequaçãoda matéria ao indivíduo, para que o m esm o possa ter energia, velocidade,
ren dim ento e constância.
A escolha deve ser um objetivo que se constitua em um desafio,
para que seja m an tid a a mo tivaçã o ao long o da pesquisa. E aconselhável,
ainda, a discussão com especialistas; a freqüência a debates, cinemas ou
teatros ou a leitura de material preliminar, para que seja formulado
cla ram ente o pro blem a a ser investigado e suas possíveis soluções.
Para o iniciante, deve haver a seguinte dir etriz para a escolha do
tema. Inicialmente, q ua nto à origem do assunto, pode ser: a) a observação
direta do co m po rta m en to dos fatos e fenô me nos jurídicos; b) a reflexão;
c) o senso co m um , isto é, a vivência do cotid iano; d) a experiência pessoal;
e) as analogias; f) a observação de documentos; g) o acaso, como a
descober ta r epentina e casual; h) os seminários , os cursos e os debates; i) ascontrovérsias do mom en to ; e j) as informações dos meios de comunicação .
Deve ter com o critério na escolha do assunto, inicialmente, qu e o mesmo
esteja adaptado à capacidade, inclinações e interesses do graduando , levando
em conta o tem po à disposição, a existência de bibliografia e a possibilidade
de consultar especialistas. Depois, n ão convém em pre end er um trabalho
antes de com pletad os os estudo s iniciais, co m base na análise m eticulosa
das reais possibilidades do tema. Por fim, depois de escolhido o tema, énecessário que o trabalho seja logo iniciado, para não se perder o interesse
no assunto.
* ^ “ V e r d a d e c q u e .se t r a t a d e u m j ) r o b l c m a c a n \ p l e x Q q u e r cO e te q u e s t õ e s d e t i p o l o g i a p s ic o ló g ic a ,o r i c n t a ç l o p r o fi ss io n a l c m e r c a d o d e t r a b a l h o . A s o l u ç ã o p c r r c n c e e s p e c i fi c a m c i u c à U n i v e r s id a d e
m o d e r n a n a d u p l a n i i s s . l o d e f o r m a r o i n d i v í d u o e d a r - l h e c o n d i ç õ e s d c i n c o r p o r a r - s e a o s
q u a d r o s so c ia i s , c o m o a u t ê n t i c o i n t e g r a n t e d a é p o c a ” . D é l c i o V i e ir a S a l o m o n ( n o t a 9 ) ,
p. 192.
182
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 183/240
2. 2. 2. Hipótese
E preciso delimitar o assunto a ser pesquisado, elaborando sua
problematização, dando o direcionamcnto das possíveis soluções, que
fundamentem o trabalho. Não se pode deixar de dizer que a hipóteseantecipa o resultado da pesquisa, ainda q ue de pe nd a da pos terior coleta de
dados. Não obstante, na maioria das vezes, em monografias, o trabalho
empírico consiste em pesquisas bibliográficas e documentais, de modo
que a hipótese estabeleça o eixo do proje to' ' ' .
Formular um problema, então, trata-se de reduzi-lo a termos,
como uma operação lógica. Parece simples, à primeira vista, mas assim
não pensam a maioria dos graduandos. Ocorre, com freqüência, que apesquisa pode ter um problema interessante, mas a falta de formulação
ou de recursos técnicos meto doló gicos levam -na a falta de soluções e de
fracasso da pesquisa.
A formulação do problema pode ser feita, do seguinte modo: a)
perg untas genéricas, em que se focaliza o gênero d o c onc eito da matéria
do juízo ou do c onhe cime nto a obter a partir do pro blem a a ser formulado
(“que tipo de crime é o estupro?”); b) perguntas específicas, em que se
focaliza den tro do gênero a espécie ou de nt ro desta a diferença específica
{“qual comparação pode ser feira entre o estupro e os outros crimes
sexuais?”); c) p ergun tas de definição, em qu e se ped e a determ inaç ão da
matéria em forma de elaboração de conceito (“o que é o crime de
estupro?”); d) perguntas de relação causai, que enfocam o problema da
pesquisa em forma de causa-efeito, função, d epe ndên cia ou formulação{“por que os homens realizam estupros?”); e) perguntas que pedem respostas
qualitativas, podendo ser afirmativas ou negativas (“a pena no estupro
deve ser a castração química?”); f) perguntas que pedem respostas
quantitativas, q ue se referem à extensão e a com pre ens ão ou à extensão
universal ou particula r da proposição (“qual é o índice de estupro na cidade
ou em determinado bairro?”); g) perguntas que se referem às relações de
“A m a i o r i a d o s t r a b a l h o s n i o n o g r á f i c ü s c í c a l i / at l a .u r a vc s d c p e s q u i s a b i b l i o g rá f i c a c d o c u m e n t a l ,
c a f u n ç ã o d a b i p ó t c s c c f ix ar a d i r e tr i z d o p r o j e t o , c o m o e l e m e n t o i n t e g r a d o r d a r ef le x ão
d u r a n t e o p r o c e s s o d e p e s q u is a " . E l iz a b e t h M a r a l l o M a r c h e s i n i d c P á d u a ( n o t a 1 0 ), p . 1 5 2 .
183
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 184/240
comparação, em que se pro põ em questões co mo igualdade, maior, menor,
mais, menos , semelhança ou diferença (“existem mais estupros na cidade
ou n o cam po?”); h) pergu ntas de variação conco m itante , em q ue não se
focaliza a causalidade entre dois elem ento s d a proposição, mas a relação
de concomitância e m que a variação da presença, da qu antidad e e do graude um correspondente a do outro (“será que, à medida que aumenta o
índice de incidência de doenças sexualmente transmitidas, diminuirá o
índice de estu pro?”).
A escolha da hipótese, segundo Délcio Vieira Salomon , deve seguir
os seguintes passos: a) form ular o problem a, es pon tane am ente , à maneira
de descrição ou dúvida, feito de maneira clara; b) tentar, em seguida,
estabelecer um co nfr on to e u m a relação, en tre a idéia inicial e o contexto
jurídico em que esta se encontra inserida; c) tentar transformara formulação
já obtida em pergunta ou perguntas bem específicas e ordená-las de acordo
co m os princípios lógicos e os tipos de q uestões levantadas; d) para cada
pergunta feita, deve-se tentar um começo de resposta; e) com o marco
teórico de referência já esboçado o u a linha de p en samen to a ser adotad a,
flizcr de cada resposta uma proposição bem definida; f) parte-se, então,para selecionar os conceitos e as categorias mais relevantes e procurar defini-
los, inicia lmente co m as próp rias palavras, pa ra depois efetuar a operação
de forma mais científica; g) depois, procurar estabelecer as chamadas
referências empíricas do problemas e de suas respostas, seja com base
bibliográfica, seja co m coleta de dados; h) ob tida a relação empírica, deve-
se partir para n ova men te relacionar as respostas, especialmente a hipótese
e suas doutrinas , com o objetivo de, em prim eiro lugar, decidir aplicar ouaprov eitar a teoria, para explicar o prob lem a, o u, em s egundo, verificar os
pon tos de d ivergência ou até a oposição à teoria escolhida, em v irtude de
não satisfazer o problema; i) tentar, ainda, relacionar o problema e as
hipóteses com as técnicas qu e serão usadas para a do cu men taç ão e a coleta
de dados; j) chega-se, fina lmente, à correta formulação d o p roblema , b em
com o efetua-se o planejamento, com a elaboração do projeto de pesquisa
da monograf i a '^
D é l c i o V i e i r a S a l o m o n ( ii oc a 9 ) . p. 2 0 0 - 2 .
184
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 185/240
2. 2. 3. Bibliografia Inicial
Depois de formulado o problema e levantadas as hipóteses que
dcvcm direcionar a pesquisa bibliográfica inicial, o que marca o início
da coleta de dados para o desenvolvimento do trabalho, o levantam entoinicial precisa ser discutido co m o orientador, que pode indicar a necessidade
da ampl i ação ou não da r e l ação de t ex to encon t rado . Al i ás , no
desenvolvimento da pesquisa pod em surgir novos dados, que ind iqu em a
am pliação ou a revisão da bibliografia inicial.
A pesquisa inicial da bibliografia deve ser com a consulta de sumário
de livros, para efetuar uma pré-seieção de textos relacionados com a
hipótese de trabalho. Os periódicos e as revistas especializadas tambémprecisam ser consultadas, escolhen do-se os artigos per tinente s ao assunto
pesquisado. Ainda não é necessário a leitura dos textos ou capítulos, p orque
está se fazendo apenas uma seleção. Não obstante, é importante a
organização de um fichário de aponta m ento s, c om cada ficha con tend o
os dad os bibliográficos com ple tos do texto, inclusive co m a indicação do
nú m ero de registro na biblioteca, bem co m o o resum o do seu conteú do,
elaborado a part ir do sum ário, da bibliografia ou do abstract.
2 .2 .4 . Definição dos Recursos Metodológicos
Depois do levan tam ento bibliográfico inicial, deve-se discutir com
o orientador a identificação das fontes de pesquisas que permitam o
desenvolvimento do tema escolhido, inclusive para se identificar os
pressupostos teóricos do trabalho de pesquisa'^’. Na etapa de coleta dedados, p rop riam en te dita, se for utilizado o texto selecionado, deve-se dar
con tinui dad e às anotações iniciais da ficha de apo nta men to, com o registro
do con teú do do texto ou, ainda, a transcrição dos trechos mais importantes ,
colocados entre aspas e com o n úm er o da págin a do livro ou revista.
E importante que a definição dos recursos metodológicos seja
discutida com o orientador. Em geral, nas tnonografiiasfinaisáos cursos de
Direito, utiliza-se a pesquisa bibliográfica, complementada com outros
recursos metodológicos, d epe nde ndo do tema e das hipóteses da pesquisa.
El i zabe th Mata l l o Marches in i de P . í dua (no t a 10 ) , p . 153 .
185
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 186/240
2. 2. 5. Cronograma da Pesquisa
O cronograma vem a ser um gráfico, com barras indicativas do
tempo planejado ou, pelo menos, estimado, para a execução de uma
atividade programada' ' . Trata-se da técnica que fornece a visão doand am ento de um dete rm inado programa, pois permite que a realização
de atividades seja marcada semanalmente. Assim, o graduando tem
condições de consultá-lo e de melhor acompanhar o desenvolvimento
geral do projeto dc pesquisa. O cron ogr am a não perm ite que haja uma
fácil identificação de dependência entre as atividades que nele são
apresentadas, pois sua finalidade é tão- som ente de m on str ar se o program a
está sendo cum prid o, sem qu alqu er paralisação ou atraso.Os principais t ipos dc cronograma são cronograma mestre e
cron ogr am a parcial. E m prim eiro lugar, o cron ogr am a mestre serve para
todo o projeto, relaciona os subsistemas, envolve todo o período de
d e s e n v o l v i m e n t o d o p r o j e t o , d e v e n d o s e r a t u a l i z a d o c o m u m a
periodicidade mensal e ter escala de tempo de anos e meses. Por outro
lado, o cronograma parcial serve para cada subsistema, relaciona os
com ponentes, abrange o período do projeto, atualiza-se semanalm ente etem a escala de tem po em meses e semanas.
O cronograma é divid ido em três partes: a) um a coluna à esquerda,
on de serão colocados os nom es dos diversos subsistemas e suas divisões
principais, sem maiores detalhes; b) um espaço superior on de são colocados
os anos, meses ou dias, quando se trata de cronograma mestre; e c) o
espaço destinado às barras que vão indicar o início, o tempo total
programado e o fim da atividade, podendo ser colocado nesse espaço o
tem po real de execução das atividades. D e ac ordo co m as necessidades do
projeto e a disponibilidade de espaço no qu adro demo nstrativo, p odem os
subd ividir a escala de tem po em quinz enas, s emana s ou dias. Por fim, ao
se fazer a separação dos diversos sub sistem as qu e co m põ em um projeto,
antes mesmo de lançá-los em um cronograma, deve ser verificada a
necessidade de su bdividir u m dos subsistemas.
' “ C r o n o g r a m a é a r e p re s e n t a çã o gr áf ic a d o t e m p o p l a n e j a d o , o u e s t im a d o , p a r a se e x e c u t ar
u m a t a re fa o u a t i v id a d e " . O é l ci .i E n r i c o n e e t ã l l ü : P l a n e j a m e n t o d e E n s i n o e A v a l i a ç ã o . P o r t o
A l e g r e : S a g r a E d i t o r a , 1 9 8 6 , p . 2 9 8 .
186
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 187/240
2. 2. 6. Elaboração do Projeto de Pesquisa
O método de elaboração dos projetos faz parte dos métodos da
educação sistemática, talvez o mais completo de todos, inspirados nas
idéias de Jo hn Dewey'^. Para ele, esse métod o tinh a como principal objetivolutar contra a artificialidade da escola e aproximá-la o mais possível da
realidade da vida. O m étod o tem a finalidade de orientar os procedim entos
e lhes conferir motivação. Pode ser, inclusive, u m a atividad e intenc iona l,
um plano de t rabalho ou um conjunto de tarefas que tendem a uma
adaptação in dividual e social do a luno.
O método tem a vantagem de proporcionar conteúdo vivo à
instrução, ao contrário dos pro gram as tradicionais. Segue o princípio de
ação organizada em torn o de um fim, em vez de im po r aos graduandos
conh ecim entos cujo objetivo e uti lidade não co m pree nde m . Possibili ta,
também, a aprendizagem real, significativa, interessante e atrativa; have ndo
sempre um propósito para a ação do ensino. Por outro lado, co ncen tra a
atividade do aluno, obrigando-o a realizar os trabalhos de pesquisa.
É integrador, dese nvolvendo os pen sam en tos divergentes e a descobertadas aptidões, bem como desperta o desejo da iniciativa, investigação e
responsabilidade. Estimula o planejar e o executar com os próprios
recursos, com base no esforço, perseverança, aumento da confiança e
ordenação de energia. Por fim, ativa e socializa o ensino, levando o
gra du and o a se colocar consc ienteme nte na vida social e profissional. Tem
limitações, tam bém , c om o a possibilidade de haver u m a iniciativa ingênua
e superficial do aluno, que não atenda aos objetivos da aprendizagem epoderia terminar em desordem de todo o currículo e, ainda, o perigo de
um a excessiva interferência do mestre; e c) orientador, q ue po de transformar
o projeto em um a coordenação estereotipada de l ições em torno de tema
determ inado , de pou co interesse para o meio.
O projeto de sem pen ha a função de torna r o aprendizado ativo e
interessante, envolvendo a educação em um plano de trabalho, sem
“ D c w e y ( J o h n ) , f il ós of o c p s i c o ló g o n o r t e - a m e r i c a n o ( B u r l i n g t o n , V e r m o n t , 1 8 3 9 - N o v a
Y or k, 19 5 2 ) , c r i a d o r d e u m a p e d a g o g i a b a s e ad a n o i n s t r u n i e n t a ü s m o , v a r i e da d e d o p r a g m a t i s m o ,
q u e r e n o v o u o m é t o d o d e e n s in o n o s E . U . A . " K o o g a n & H o u a i s s ( n o t a 7) , p . 5 1 7.
187
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 188/240
impingi r aos alunos informações das atividades científicas, sem qualq uer
significação para eles. Por meio desse m ctod o, ele conversa, faz investigação,
an ota dados, levanta gráficos, reú ne o necessário e, po r fim, converte tud o
isso em ponto s de p artida para o exercício ou ap licação na vida'^. Pode-se
dizer, então, q ue projetos são atividades que r ed un da m na produ ção , pelosgraduandos, de um relatório fmal que sintetize dados originais colhidos,
no decurso d a pesquisa, par a a solução da hipó tese levantada.
O projeto é executado em quatro fases distintas: a) intenção,
relat iva a curiosidade e desejo de resolver uma si tuação concreta;
b) preparação, que trata do estudo e busca dos meios de trabalho
escolhidos; c) execução, que é a aplicação dos meios de trabalho escolhidos;
e d) apreciação, q ue vem a ser a avaliação do trab alho realizado, cm relação
aos obje tivos finais.
Assim, para Elizabeth Matalo Marchesini de Pádua, pode-se
estabclcccr o seguinte roteiro básico pa ra o pro jeto de pesquisa:
“ 1. Te ma ou assun to especifico da pesquisa.
2 . Descr ição resumida do que consis te o problema a serinvestigado.
3. Relação das questões q ue devem ser respondidas pela pesquisa.
(Que hipóteses devem ser “provadas”?)
4. Indicação d o lev an tam ento inicial da bibliografia relacionada
ao prob lem a da pesquisa.
5. Indicação dos recursos metodológicos que serão utilizados
para Coleta de Dados (Pesquisa bibliográfica? Entrevistas? Relatório deEstágio? etc.).
6. Elaboração do Plano de Assunto Provisório, mostrando a
provável estrutu ra do traba lho de pesquisa: divisão em capítulos, itens e
subitens com as respectivas titulações.
“A s in a ce r ia s r e s u l t a m e n i u m s i m p l e s m e i o p u r a a re s o l u ç ã o d e u m p r o b l e m a d a v i d a , p a r a a
r ea li za çã o d e u m p r o jc r o . E u m m e i o , c o n s i d e r a n d o s u a f u n ç á o i m e d i a ta , e, r e m o t a m e n t e , u m
h m , i n d i r e t a m e n t e p e r s e g u i d o " . J u a n D i a/ . R o r d c n a v e & A d a i r M a r t i n s P er ei ra : E i t r n t é g i m d e
E n s i n o - A p r e n d i z i t g e v i . P e t r ó p o l i s : E d i t o r a Vo7 .es , 1 9 7 7 , p . 2 3 3 .
188
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 189/240
7. C ron og ram a de ar iv idades para cada e tapa da pesquis
indicando o tempo provável em que cada etapa será desenvolvida e
completada ”’*’.
2. 3. Pesquisa Jurídica
2. 3. 1. Uso de Bibliografia
A documentação é uma das fases mais importantes do trabalho
científico, mas se trata na verdade de u m há bito de trabalh o intelectual e
um tipo de pesquisa tam bém . O uso de bibliografia, para monografia de
Direito, vem a ser bastante comum e usual , ainda que nem sempreper feitamente utilizado. Existe, inclusive, a bibl iotecon omia, qu e é o estudo
de tudo que se relaciona com a biblioteca, ramo auxiliar da ciência, mas
que tem papel relevante, como instrumento da cultura e dos trabalhos
científicos.
Ao se chegar à biblioteca, o gra du an do tem as seguintes questões
a resolver: a) “tem um a obra de dete rm ina do autor?” b) “tem um a obr a de
um determinado t i tulo?” c) “tem uma obra que trata de determinadoassunto?” Estas perguntas po de m ser respondidas ju nto s aos catálogos da
biblioteca.
Os reper tó r ios podem ser gera i s , ab rangendo o segu in te :
a) enciclopédias, que têm artigos, resumos, extratos qu e cobr em todo s as
áreas científ icas, inclusive com bibliografias consideradas básicas;
b) dicionários especializados, qu e são enciclopédias em m iniatu ra, com
maior aprofundamento; c) catálogos de bibliotecas, onde as grandes
bibliotecas p ublicam seus catálogos; d) anuá rios bibliográficos de editoras,
com inform ação d e suas publicações, classificadas po r áreas ou em forma
de abstracts.
O s repertórios po de m , ainda , ser especializados, e m dua s classes:
retrospectivos e atualizados. Os repertórios retrospectivos, por sua vez,
podem ser: a) repertórios bibliográficos propriamente dito, que são osque ind icam a prod ução literária de dete rm inad a categoria de assuntos ou
El i zabe th Macaüo .Marc l i es in i de Pádua (no t a 10 ) , p . 135 -
189
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 190/240
de determinada categoria de autores ou, ainda, os trabalhos publicados
sobre eles; b) repertórios manuscritos e incunábulos, qu e são livros editados
antes de 1501; c) coletâneas de livros raros. Já os repe rtórios atualizados ,
co m pre en dem os boletins e os periódicos, sen do em geral mais úteis para
a pesquisa bibliográfica, podendo ser atualmente: a) índices periódicos,que Facilitam a localização de artigos periódicos sobre assuntos específicos;
b) anuários de vários tipos e que obtêm as informações de grande variedade
de fontes.
A pesquisa bibliográfica tam bém coloca o grad uand o frente ao
problema de trabalhar com bibliografia, que é o con jun to de obras derivadas
de certo assunto, escritas por vários autores, em épocas diversas, utilizando
todas ou partes das fontes. Já estas são materiais de primeira mão, em
geral um a edição original ou um a edição crítica da obra cm apreço, nem
sempre sendo fácil encontrá-la, po de nd o ser caracterizada com o a matéria
prim a da pesquisa bibliográfica.
Depois da localização da bibliografia básica, começa-se a fase de
docu me ntação, q ue é um a técnica atual, com o propósito de dar conta do
estado do conhe cim en to e das experiências, co m o fo rma de racionalizaçãodo trabalho intelectual. Consis te em o rganizar m eto dicam en te o material
que vai sendo estudado. Para Délcio Vieira Salomon, o trabalho de
do cu men taçã o deve ter os seguintes requisitos:
“1) Exatidão: isto é, objetividade quanto ao conteúdo e precisão
qu an to à indicação dos do cu m en tos de prove niência (...);
2) Utilidade: não é sempre fácil distinguir o supérfluo e o útilquando se trata de recolher material para um determinado trabalho.
Transcrevem-se os textos que, conforme se prevê, podem ser utilmente
inseridos na dissertação, assim como os docu men tos de difícil consulta (...);
3) Integridade: a documentação não deixará de lado nenhuma
inform ação útil ao trab alho ”^'.
" U n i ;! v c/ , c l a b o r . i d o o e s q u e m a i n ic i al , t r a t a - s e cie c o l h e r a d o c u m e n t a ç ã o n ec es s. ír ia . É o
p r o b l e m a d a l e it u ra d o s d o c u m e n t o s , q u e c c v i d c n t c m e n r e d a m á x i m a i m p o r t â n c i a . D e v e r á s er
f ei ra s e g u n d o u m p l a n o l ó g i c o e r a c i o n a l ” . D é l c i o V i e i r a S a l o m o n ( n o r a 9 ) . p. 2 2 3 .
190
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 191/240
A elaboração cia ficha de documentação é o passo seguinte,
devendo nelas serem indicadas as informações que a técnica exige. Em
geral, existem três fichas de do cu m en taç ão : a) ficha de citação , qu e deve
con ter u m cabeçalho, ond e se coloca u m titulo para a ficha e logo depois
a fonte e, ainda, o corp o da ficha cm q ue sc en co ntr a a citação retirada dodocumento l ido, com a indicação da página; b) f icha de resumo, que
deve conter um cabeçalho e, em seguida, o corpo da ficha, em que são
colocadas anotações resumidas a exposição do autor, cujo texto está sendo
objeto da doc um enta ção ; c) ficha de idéias pessoais, que são críticas ou
associações que surgem du ran te a leitura, sendo de autoria do gradu ando,
mas que devem conter no cabeçalho a referência à fonte que originou
aquela reflexão.
O uso da técnica de ficham ento tem c om o principal ut i lidade a
otimização da leitura na pesquisa científica, na qual o au tor consegue colher
e guardar os elementos colhidos. Para a monografia final, de cursos
jurídicos, existem outros dois modelos: a) a ficha destaques/referente
de obra científica; b) ficha resumo/analítica de obra científica^^. Na
primeira, de destaques/referente de obra científica, deve possuir: a) n om ecompleto do au tor do f ichamento ; b) obra , ar t igo ou ensaio em
C c s ; ir L u i z P a s o l d ( n o t a 1 1) , p. 1 1 2 - 3 e 1 1 6 - 7 : " C o n s c l l i o s p r á t i c o s s o b r e o m o d e l o d c f ic h a
d c s c a q u c s / r c f c r c n t c d c o b r a c i L - n c í f l c a : 1 . U t i l i d a d e b á s i c a d e s t e m o d e l o d c f i c h a : “ r e g i s t r o d e
e l e m e n t o s t e ó r ic o s o u p r á t ic o s e n c o n t r a d o s e m p e sq u i sa e m l iv ro o u e n s a io o u a r ti g o , c o n f o r m e
r e f e r e n t e p r e v i a m c n r e e s t a b e l e c i d o ; 2 . P r o d u z a u m a f i c h a i n d e p e n d e n t e p a r a c a d a l i v r o o u
e n s ai o o u a r t ig o l id o e r eg i st ra d o ; 3 . C o l o q u e e s te m o d e l o c o m o a r q u i v o b a se e m s eu c o m p u t a d o rs o b d e n o m i n a ç ã o “d e s ta q u e s / r e fe r e n t e ' ’ e n o m i n e d e p o i s c a d a u m d o s a r q u i v o s d e f i ch as q u e
f o r e m s e n d o e l a b o ra d o s ; im p r i m a - a s p a r a t e r à m ã o n o m o m e n t o c m q u e n e c e s si ta r s e le c io n a r
e o r d e n a r t o d o o m a t e r i a l t e ó r ic o r e c o l h i d o p a r a c o m p o r o se u t r a b a l h o f in a l; 4 . A o r e al iz a r c a d a
f ic h a m a n t e n h a e s c r i to l i te r a l m e n t e o c o m a n d o d c c a d a i t e m e se u n ú m e r o (. . . )" e " C o n s e l h o s
p r á t i c o s s o b r e o m o d e l o " l l c h a r e s u m o / a n a l í t i c a d c o b r a c ie n t íf i ca : 1. U t i l i d a d e b á s ic a d es t e
m o d e l o d e f ic h a; r e g is t ro d o r e s u m o d o c o n t e i i d o d e l i v r o / e n s a i o / a r t i g o e e l a b o r a ç ã o d e a n á l is e
c r i t i c a m e n t e r e s p o n s á v e l s o b r e o c o n t e ú d o l i d o e c o n f o r m e r e f e r e n t e e s t a b e l e c i d o ; 2 . P r o d u z a
u m a f i c h a i n d e p e n d e n t e p a r a c a d a l i v r o o u e n s a i o o u a r t i g o l i d o e r e g i s t r a d o ; 3 - C o l o q u e e s t e
m o d e l o c o m o a r q u i v o ba se c m s e u c o m p u t a d o r s o b d e n o m i n a ç ã o “ R e s u m o / A n á l i s e ” c n o m i n e
d e p o i s c a d a u m d o s a rq u i v o s d e f ic ha s q u e f o r e m s e n d o e l a b o ra d o s ; i m p r i m a - a s p a r a t e r à m ã o
n o m o m e n t o e n i q u e n e c e ss i ta r s e l ec i on a r e o r d e n a r t o d o o m a t e r ia l t e ó r ic o r e c o l h i d o p a ra
c o m p o r o s e u t r a b a l h o f in al ; 4 . A o r ea li za r c a d a f i c ha m a n t e n h a e s c r i to l i t e r a lm e n t e o c o m a n d o
d e c a da i t e m e s eu n ú m e r o ”.
191
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 192/240
fichamento, segundo as técnicas oficiais; c) especificação do referente
utilizado; d) destaques conforme o referente; e) registros pessoais do
fichador sobre os destaques selecionados c sua utilidade para pesquisa ou
a aprendizagem efetiva obtid a com o ficham ento; f) outras observações
do fichador.Já a ficha resumo/an alítica de ob ra científica deve conter: a) no m e
completo do au tor do f ichamento ; b) obra , ensaio ou ar t igo em
fichamento; c) especificação do referente utilizado; d) resumo do livro,
ensaio ou artigo, em redação do próp rio fichador ou através de transcrições
literais; c) análise/crítica do conteúdo do livro, feita através da análise e
crítica coerentes e cien tificamente responsáveis, sus tentadas nas idéias do
pró prio fichador; f) outra s observações.
Pode-se dizer, em síntese, como o faz Cessar Luiz Pasold, autor
dos m odelos de fichas acima, que:
“01. O f icham ento pode ser considerado Arte porque deve
haver no p rod uto desta técnica um a preo cu pa çã o estética, ou seja, o seu
utilizador dcvc zelar para que a ficha resultante de seu trabalho se apresente
de form a organizada, de le itura agradável (seja pelo tam anh o da letra, seja
pelo orden am ento de sua composição - vide os modelos rctropropostos)
e de objetivo manuseio. Com o avanço da informática, este desiderato
pod e ser alcançado sem maiores problem as.
02. O f i c h a m e n t o é a t i v i d a d e d a C i ê n c i a p o r q u e o
Fichamento com o Técnica, deve ser acionado nu m contexto em que o
seu ut i lizador tenha um Referente clarame nte pré-explicado antes deiniciar a operação, além de dispor da bibliografia e demais condições
adequadas para consu m ar o trabalho.
03. O s cinco mo delos de fichas apres entad os e explicados
neste item , tanto para registro de leituras qu an to de atos científicos ou
acadêmicos, são sugestões que devem ser recebidas pelo Leitor, com a
estimulação enfática à sua co ns ulta a livros especializadas no as sun to e
à sua criat ividade para criar novas ferramentas deste t ipo que sejammais adequadas a sua pesquisa específíca”^^.
Cesur I .ui / . Pnsold (nota 11), p. 123.
192
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 193/240
2.3-2. Coleta de Dados
A cole ta de dados pode ser fe i ta a t ravés de: a) pesquisa
exper imental ; b ) pesquisa b ib l iográf ica ; c) pesquisa documental ;
d) entrevistas; e) questionário e formulários; f) observação sistemática;g) estud os de caso e h) relatório de estágio^*’.
A pes quisa ex perim ental é aquela que se desenvolve na busca das
relações en tre fatos sociais ou fenôme nos físicos, através da identificação e
manipulação das variáveis relativas à relação causa-efeito, proposta na
hipótese de trabalho. Já a pesquisa bibliográfica, como já foi visto, é
feita med ian te a identificação, localização e com pilaç ão de d ado s escritos
em livros, artigos, revistas especializadas ou publicações de órgãos oficiais.
Por fim, a pesquisa documental vem a ser aquela efetuada a partir de
docu m ento s cientificamente considerados autênticos. Nas monografias a
pesquisa mais utilizada é a bibliográfica.
Pode haver, ainda, entrevistas, um a técnica alternativa para coletar
dados não docum enta dos sobre determ inado assunto, pod en do ser formal,
informal ou narrativa livre. Os qu es tion ári os são ins tru m en tos de coleta
de dados que são preenchidos pelos informantes sem a presença do
pesquisador, enq ua nto os formulários são feitos pelo pesquisa dor co m os
informantes. Já a observação sistemática é feita através do registro dos
fatos observados a partir da experiência pessoal, tentando buscar para
a realidade as relações en tre os fen ôm en os especiais e certa análise geral.
O estudo de caso é meio para se coletar dados, preservando o caráter
unitário do assunto a ser estudado, aplicado tanto nas ciências sociais,como nas ciências físico-químicas. Por fim, o relatório de estágio nada
mais é do qu e o resultado de estu do e fetuado po r estagiário, sob orientação
do professor. A mo no gra fia final pod e ser realizada através de estu do de
casos, entrevistas e questionários e formulários, p rincip alm ente q ua nd o
houver caso concreto a ser analisado, m uito co m um na área do D ireito
Penal e Penitenciário.
E l i z a b et h M a t a l l o M a r c h c s i n i d e P á d u a ( iu it ;i 1 0 ), p. 1 5 5 - 1 6 3 -
193
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 194/240
2.4. Elaboração da Monografia
2.4 .1. Crítica a Docum entação e aos Dados
De pois de feito o fich am ent o, deve se fazer a crítica do materialcoletado, podendo ser críticas externas ou críticas internas. Dentre as
externas, a crítica do texto é aquela q ue trata de saber se no texto utilizado
não sobram modificações ou falsificações ao longo do tem po , especialmente
na consulta de manuscr itos ou textos originais. Já a crítica da auten ticidade
é relativa à determinação do autor, data, lugar e circunstâncias da
composição do texto. Por fim, a crítica da proveniência versa sobre
determ inadas circunstâncias históricas e doutrinárias que deram origem
ao texto. Por outro lado, as crí t icas internas, tratam da crít ica de
interpretação ou hermenêutica, versando sobre o sent ido exato do
documento, ou da crít ica do valor interno do conteúdo, que analisa o
valor que representa certa obra, fonte ou estudo, espec ialmente sobre o
valor das idéias neles contidas.
2 .4.2 . Construção da Monografia
A c o n s t r u ç ã o d a m o n o g r a f i a é u m l o n g o t r a b a l h o d e
docu me ntaçã o e crí tica, devendo estar instrume ntalizado c om material
relativo à doc um en tação das fontes, doc um en taç ão bibliográfica e críticas
pessoais. D epo is q ue se iniciou a fase de crítica à do cu m en taç ão , diversas
idéias foram lançadas, bem como muitos obstáculos foram vencidos.O plano inicial e o projeto da m ono graf ia já foram há m uito modificados,
pelas novas idéias e necessidades da próp ria pesquisa. Depois, o grad uand o
pode passar a selecionar as fichas, descartando o que é desnecessário,
colocando como material do prólogo, da introdução ou da conclusão,
enfim, organizando seu material para a fase de redação da monografia.
Nesse momento, se aproveita e coloca-se de grafite ou tinta vermelha a
destinação da ficha, inclusive po r capítu lo, ite m o u su bite m , se tiver.Fazendo-se um esforço cont inuado de medi tação , cr í t ica e
conclusão, vai-se dando continuidade à pesquisa, descobrindo novas
informações e con cluindo pela improcedênc ia de outras. E opo rtun o, nesse
194
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 195/240
m om en to , retificar o projeto da monografia, d an do as atuais características
do trabalho elaborado. E aconselhável, então, reorganizar o trabalho,
pa rti nd o de três premissas: a) clareza e simp licida de, ev itan do demasiadas
subdivisões que podem trazer mais confusões do que vantagens; b)
economia, evitando repetições; c) m étod o, respeitando o desenvolvimentonatural do raciocínio^*^.
O trabalho científico escrito pode ser reduzido a três partes: a)
in t rodução, b) desenvolvimento e c ) conclusão. A in t rodução é a
apresentação do assunto do trabalho, feito de maneira clara, simples e
sintética, inclusive colocando o tema dentro do quadro de referência
teórica, bem co m o a questão discutida.
O desenvolvimento, na verdade, é o pró prio trabalho, que consiste
na fund am entaçã o lógica do tema, tend o p or objetivo expor e provar. O
graduan do deve, então, colocar to do o seu po de r de raciocínio e de crítica,
desenvolvendo a questão, resp onden do às indagações da hipótese, de forma
sistemática. A organização é essencial, para que o leitor da monografia
possa en ten de r as reflexões do autor.
O desenvolvimento, para melhor organização, é feito com base
em uma lógica, com três fases: a) na explicação, b) na discussão e c) na
demonstração. A explicação vem a ser o ato de tornar evidente o que
estava apenas implícito, ou seja, clarear o obscuro, de modo que quem
explica, repete criticamente uma realidade a fim de que outro possa
entendê-la t am bém ’ ’̂. Já a discussão c a fase em que o g radu ando desenvolve
seu raciocínio exa m inan do as colocações contrárias ao seu pensa m ento ,
aprec iando as falhas de sua próp ria análise. D a superação das contradições,próprias da realidade, o c on he cim ent o se faz, dem on stra nd o a síntese nas
questões colocadas. Por fim, a dem ons tração é aplicação do c on hec im ento
dedu zido, isto é, depois do trabalho elaborado, procura-se chegar a um a
conclusão determinada.
D c l c i o S a l o m o n ( n o t a 9 ), p. 2 2 8 - 9 .“ N a g r ad a çà o d o c o n h e c i m c n t o c i e n t íf ic o , o n í v e l e x p l ic a t iv o é o q u e se i d e n ti f ic a c o m a
c i ê n ci a p r o p r i a m e n t e d ic a, E s a b i d o q u e sá o q u a t r o o s d e g r a u s d o c o n h e c i m e n t o c i e n tí f i c o ( c m
o p o s i ç ã o a o c o n h e c i m e n t o n ã o - c i e n t í f ic o ) : o d e s c r i t iv o , o i n t c r p r c t a t iv o . o e x p l i c a ti v o e o
p r e d i t i v o " . D c l c i o S a l o m o n ( n o t a 9 ) , p . 2 3 9 -
195
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 196/240
Por ou tro lado, a conclusão significa o m o m en to para o qual se
desenvolveu a monografia, que p od e inclusive ter mais de um a conclusão.
Esta, no entanto, possui uma estrutura própria. A conclusão deve
prop orcio nar um resum o sintético c com pleto, inclusive das provas e dos
exem plos, se for o caso. A con clusão d eve relacionar as diversas par tes daargumentação, uni nd o as idéias nelas desenvolvidas. Pode-se dizer, mesm o,
que a conclusão é um a volta à introduç ão, co m o se fosse um a prestação
de contas.
2.4.3 . Relatório Parcial
O relatório parcial da m onog rafia final deve con ter informaçõesdetalhadas acerca das pesquisas e estudos realizados na pr imeira fase. Deve-
se aplicar, cm sua avaliação, os mesmos critérios, no tas e conceitos utilizados
nas demais disciplinas. Caso tenha o relatório parcial reprovado, deve
matricular-se novamente em um a das disciplinas de monografia, para evitar
o problema de uma reprovação da defesa do trabalho, frente à banca
exam inadora. Pode ser ma nti do o tem a ou orientador, mas é aconselhável
qu e este seja subs tituído.
A monografia é um trabalho escrito. Desde a fase de sua construção
ele vem sendo redigido, exigindo muita atenção, principalmente na
documentação , língua portuguesa o u id iom a estrangeiro em citações, lógicae estilo. E m prim eiro lugar, faz-se um a redação provisória, co m o o esboço,
o rascunho ou o plane jame nto. N a verdade, ao longo da própr ia pesquisa
já SC vai tomando notas, muitas contidas nas fichas de documentação,
que servem de texto básico ao longo da redação. Depois, fazem-se as
correções e emendas necessárias ao trabalho preliminar, passando-se à
redação definitiva.
A introdução, logicamente, é a primeira a aparecer no trabalhodefinitivo, tendo por objetivo: a) expor as razões pela qual o graduando
escreveu aquele t rabalho; b) refer i r-se ao quadro teórico em que
fun da me nto u seu trabalho; c) apresentar a questão ou formula r a hipótese;
196
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 197/240
d) ind icar trabalhos congênere s references ao m esm o tem a, inclusive os
que desto am d o seu raciocínio e e) o rien tar o leitor sobre o assunto a ser
abordado. O corpo do t raba lho é a redação do desenvolvimento ,
com pre end en do os capítulos da m onografia, excluindo a introd ução e a
conclusão. Nos capítulos está elaborado o seguinte: a) o problema e ahipótese; b) as variáveis do problema ou da h ipótese; c) a opção da pesquisa
e sua justificativa; d) o planejamento; e) o tipo de amostragem, se tiver,
com a descrição das amostras e dos instrumentos ut i l izados; f) a
apresentação de resultados; g) as técnicas de análise utilizada e suas
justificativas e h) as generalizações e as conclusões definitivas. Pode se
chamar de relatório da pesquisa. Por fim, vem as conclusões, que já
surgiram implícitas no desenvolvimento do trabalho, tratando de uma
resenha das proposições científicas.
2.4.5. M onografia Fina l
O trabalho de nível universitário deve se pauta r, em especial, po r
uma linguagem correta, concisa e clara, pois o objetivo principal damo nografia é in form ar e persua dir e só se fazendo e nt ende r isto é possível.
De ve se evitar o supérfluo , os enfeites des toan tes e os circ unló quio s, não
podendo, de modo algum, efetuar repetições enfadonhas, excessos de
partículas e de palavras vazias, como “um, isto, mesmo, coisa, que, este,
pr inc ipa lmente , de forma que , sendo que , de modo que” e outras
semelhantes. N ão obstante, o gra du an do não necessita se despojar do seu
estilo pessoal e da elegância^^, co m a devida orie ntaç ão d o professor.As obras que não têm uma sistematização própria, como os
dicion ários e as enciclopédias, deve m se sujeitar a divisões e subdivisões.
“ Q u a n d o , p o r e m , sc t e m c o m o o b j e ti v o n .ío ( o u n ã o a p e n a s ) i n fo r m a r , m a s s o b r e t u d o
i n f l u e n c i a r o l e i to r , a t ra í - l o p a r a a n o s s a f o r m . i d c p e n s a r , p a r a a n o s s a “ t e se " , e m s u m a , a
l i n g u a g e m a s su m e , n e c e s s a r ia m e n t e , a s p e c to s d iv e rs o s; l a n ç a rá m á o o a u t o r , m o d e r a d a m e n t e ,
d o s r e c u rs o s e x p r e ss i vo s d e q u e , p a i a es se f i m , d i s p õ e a n o s s a l ín g u a , e s p e c i a l m e n t e a l i n g u a g e m
f ig u r ad a . D e i x a a l i n g u a g e m , e n t ã o , d e t e r f u n ç ã o p u r a m e n t e o b j e ti v a , p a r a p e n e t r a r n a á re a d o
s u b je t iv o , a d q u i r i n d o m a i o r f o rç a a e x p re s s i v id a d e , a f i m d e a t u a r m a i s f i r m e m e n t e s o b r e o
l e it o r” . A d r i a n o d a G a m a K u r y : E l a b o r a ç ã o í e d i t o r a ç ã o d e t r a b a l h o d e n í v e l u n i v e r s i t á r i o : e s p e c i a l r y i e n t e
n a á r e a h i i m a n í s t i c ã . R i o d e J a n e ir o : F u n d a ç ã o C a s a d e R u i B a r b o s a , ] 9 8 0 , p . 2 5.
197
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 198/240
i
sem qu e haja um a hierarquia fixa. A prim eira g rande divisão, co m o já foi
visto, é a introdução, que tem as características de um capítulo prévio.
Com eça, então, a n ume ração das páginas em algarismo arábico, porqu e a
parte anterior, com título, referência bibliográfica, agradec imentos, citações,
prefácio ou pró logo e índice, c feita co m algarismo rom ano . Pode-se utilizara numeração progressiva (como 2.4 .5 . , desta matér ia) , para outras
estruturações, como parte e seção, que são procedidos dos ordinais
respectivos, com o 1^ Parte ou 2 ' Seção, e cap ítulo, nos quais se utilizam
algarismos romanos, como Capítulo I ou Capítulo II . Em trabalhos
menores, não obstante, utilizam-se simples mente algarismos ro man os em
seqüência, antes dos títulos dos diversos com pon ente s. O s capítulos pod em
ter subcapítulos, co m n úm er os árabes, co m o 1., ou subdivisões menores,
iniciand o com letras maiúsculas, co m o A ou B, letras minúsculas, co mo
a ou b, e, ainda, nú m ero s arábicos (ordinais), co m o 1° ou 2°. Observe-se,
po r outro lado, qu e na m arcação dos títulos para impresso é preciso prever-
se um jogo ha rm onio so d e corpos e formas dos caracteres tipográficos,
ou seja, cor po m aio r ou não q ue o do texto; uso de versais (maiúsculas),
com binados ou não com versaletes (maiúsculas de tama nh o menor), em
negrito, grifo ou itálico. É op or tu no , em cada capitulo, princ ipalm ente se
ho uv er subdivisões, colocar u m sum ário, sobre o assunto a ser tratado.
Em relação às citações - qu e vêm a ser o ato de transcrever, em
apoio ao qu e se afirma, trech o de auto r ou d e obra, seja na língua original
ou em tradução, p rópria o u alheia - po de m ser: a) formal, em que se
reproduz ipsis verbh, de determ inad a fonte, um texto qualquer, curto ou
longo; ou b) conceptual, em que se reprod uze m sob outra forma as idéiasou os conceitos tirados das fontes.
As ci tações têm normas, que Adriano da Gama Kury assim
descreve;
a) qua lqu er citação for ma l deve ser obje to de realce material e de
referência; b) realça-se a citação em pr osa co m aspas duplas, d e abr ir e de
fechar, qu an do o trecho citado não ultrapassar duas linhas, ou um a linhae duas seções de linha, (...); c) q u an d o a citação ultrapassar duas linhas,
realça-se com pon do-se o trecho em corpo m enor, em geral dois ponros
tipográficos abaixo do corp o do texto, co m bra nco marginal à esquerda e
198
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 199/240
bra nco interlinear inicial e final maior, disp en san do- se as aspas (...); d) a
citação de versos que não ultrapasse duas linhas, ou uma linha e duas
seções de linha, faz-se corrida, entre aspas duplas, q ua nd o im por te apenas
o seu significado, separando-se os versos com um a barra oblíqua e as estrofes
em duas, (...); e) caso a citação de versos ultrapasse duas linhas (o u u m alinha e duas seções de linhas), procede-se co m o no item c, 0 as
citações (ou quaisquer realces), originalmente entre aspas duplas, que
incidirem em citação que mereça igualm ente aspas duplas, passarão a ser
realçadas por aspas simples, (...); g) essas mesmas subcitações que, ent retanto,
ocorrerem com realce de corpo menor e branco marginal, sem uso de
aspas, como no item c, manterão as aspas duplas, h) se a citação sofrer
cortes inferiores, in di qu em po r me io de reticências entre colchetes, i) se a
supressão atingir um ou mais parágrafos, indica-se tal fato com linha
ponti lhada em toda a extensão da mancha; j) quando o ci tador houver
m odifica do o original, retifica-se no texto a citação - a não ser que haja
interesse em c ontrário - e anota-se o fato no ro dap é ou em advertência
preliminar, em ambos os casos; 1) quaisquer acréscimos e correções
necessárias virão entre colchetes; m) a pontuação em final de citação secoloca dent ro das aspas, q ua nd o pe rten ce r ao texto citado, e fora delas, se
for do editor do texto ou do citador, (...); n) ficam fora das aspas da
citação as adaptações, be m com o as orações intercaladas que r epres entam
com en tário , crítica ou inform ação do citador, (...); o) q ua nd o a citação se
refere a mais de uma página, indicam-se a inicial e a final, ligadas por
hífen. Se os nú m ero s tiverem dois ou mais algarismos, no d a pág ina final
pode m suprimir-se os repetidos, ( . . .)"^Na citação de antropônimos portugueses, ou aportuguesados,
devem adotar-se as mesmas normas oficiais simplificadoras relativas aos
nomes comuns, não se levando em consideração grafias resultantes de
tradição, capricho pessoal ou ignorância. Deve-se respeitar as grafias
alatinadas e arcaicas, ou em língua estrangeira que ainda não hajam
assumido forma portug uesa de boa aceitação, mas n ão se deve traduzir
os prenomes estrangeiros, saldo quando a tradição assim o aconselhar.
^ A d r i a n o d a G a m a K u r y (n o ca 2 7 ), p . 3 0 - 3 .
199
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 200/240
Pode-sc, ainda - ado tar p roc cdim ento previsto nas publicações oficiais,
nas indicações bibliográficas inseridas no final de capítulo ou da monografia,
como bibliografia, obras consultadas ou obras citadas, que procuram
representar uma imagem exata da folha de rosto de um livro ou artigo,
fazendo-se qu an do necessário, as abreviações usuais.Nas referências bibliográficas estão os eleme ntos q ue i ndic am ao
leitor a identificação no todo ou em parte, ou para localizar uma citação
na sua fonte. As referências devem conter indicações precisas, mais ou
menos minuciosas, conforme o objetivo. São elementos essenciais:
a) o nom e do auto r da publicação; b) título da publicação; c) núm ero da
edição; e d) notas tipográficas, com o local da publicação, editora e data de
publicação. Por outro lado, são complementares: a) o título original,
qu and o traduzido; b) tradutor, prefaciador ou coordenador; c) núm ero
de páginas ou de volumes; d) indicação de ilustrações, mapas o u tabelas;
e) título da coleção ou série e n úm ero da publicação dent ro da coleção ou
série, entre parênteses, depois da imprenta; e, ainda, f) ou tros elementos
julgados indispensáveis à identificação mais precisa da publicação.
Para aquele autor, as referências bibliográficas pod em ser incluídasdo seguinte mod o: a) no texto, após o nom e do autor, abreviado em regra
pelo último sobrenome, registra-se a sigla da obra citada, sigla esta que
virá devidamente explicada na bibliografia final, após a abreviatura do
nom e do autor, com o no primeiro caso acima, incluindo-se um núm ero
rom ano , que se identificará na bibliografia final. O ut ro s registram o ú ltimo
sobre nom e do autor seguido do ano de publicação da obra ci tada, e na
bibliografia o ano a identificará; b) no texto e no rodapé, q ua nd o p od e serparcialmente indicada no texto e complementada em nota de rodapé; c)
em final de capítulo, parte, seção ou, até, no final da monografia, mas
que é desaconselhável po rqu e dificulta o m anuseio d o trabalho; d) e, ainda,
exclusivamente no rodapé.As notas de rodapé têm os seguintes tipos: a) como referência
bibliográfica, qu an do a obra não apre senta r lista bibliográfica final ou de
fim de capítulo ou parte, caso em que se procede como para as listasbibliográficas, reproduzindo-se os dizeres da folha de rosto, fazendo-se
en t r ad a p e l o ú l t i mo so b r en o me , i n c l u i n d o o v o l u me ; b ) co mo
esclarecimento, comen tário, subsídio ou ade ndo ao texto, procedendo-se
200
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 201/240
co m o no texto, orde m d ireta nos nom es dos autores, que são simplificados
na ortografia; e c) co m o remissão a ou tra págin a do livro.
Devem-se observar as seguintes normas: a) a numeração das
referências, em notas de rodapé, deve ser consecutiva, no correr da obra,
ou por partes, ou por capítulos; b) na numeração das notas, usam-sealgarismo arábicos; c) na nu m era çã o das remissões e das notas se usa, em
princípio, o núm ero elevado, qua nd o a tipografia disp on ha desse recurso;
d) a primeira referência bibliográfica a de ter mina da obr a deve ser comple ta,
a fim de que o leitor a identifique de pro nto , sem necessidade de recorrer
à bibliografia final; e) as referências su bse qüe ntes se abrev iam, desde q ue
se faça a devida remissão à primeira .
Em relação a esta regra final, deve-se observar ainda que; a) se anota de rodapé se refere ao mesmo título citado na nota precedente,
usa-se ib. ou ibid., que são abreviaturas de ibidem, ou m es m o idem, para
evitar a repetição do título; b) se a no ta se refere a trab alh o já citado, mas
não n a not a precedente, usa-se a abreviatu ra op. cit. o u apenas cit., de obra
citada; c) se faz da m esm a obr a e página, usa-se a abreviação loc. cit, ou
lug. cit., enquanto na segunda referência sucessiva do mesmo autor, o
no m e deste se abreviará com id.; d) nas referências sucessivas ao me sm oau tor e obra usam -se junt as as abreviaturas id., ib.
Nas listas bibliográficas, os an tropôn im os são transcritos tais como
figuram na publicação citada, sendo que em livro ou folheto, que é
publicação não periódica de até quarenta e cinco, páginas, é a folha do
rosto a fonte. N a o rden açã o alfabética, adota-se o sistema de letra a letra,
colocando-se inicialmente o sobrenome em maiúscula. Já no texto, as
referências são feitas sem se inverter a or de m dos no me s. N os sobre nom escom postos de substantivo e adjetivo, e vice-versa, man têm -se a ord em do
com posto, com o cuidado de observar que na língua castelhana, tão usada
hoje no Brasil, a entrada se fará pelo penúlt im o sob reno me, que é o paterno.
2. 4. 6. Apresentação Gráfica da Monografiia
A m onografia, pela legislação brasileira, é utilizada para o trab alhode conclusão de curso de gradua ção em direito ou, ainda , para o trabalho
de conclusão de curso de especialização, ou de pós-g radu açã o lato sensu.
E recomendável, q ua nto à mo nografia de conclusão de curso de gradução
201
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 202/240
em direito, qu e o gr ad ua nd o “escolha um tem a qu e lhe possa ser licii na
vida de operador jurídico, que não seja demasiadamente complexo e
que não uma abordagem mui to ex tensa; esco lha o seu Professor
O rienta do r e troqu e idéias con stan tem en te com cie; neste tipo de trabalho
não se exige originalidade nem criatividade, mas se você se sentircicntiFicamcnte seguro apresente contribuições inovadoras à com un ida de
jurídica’” '^
A monografia deve ser apresentada em ordem . N o inicio, a capa,
com: a) o nom e do autor, orde m direta, centralizado, no alto da página;
b) o título do traba lho grifado, centralizad o, no m eio da página; c) local
c data, centralizados, ao nível da margem inferior, que não é numerada.
Depois, a página de rosto, qu e deve ter: a) o nom e do autor, orde m direta,
centralizado no alto da página; b) o título d o traba lho, grifado, acima do
meio da página, centralizado; c) abaixo do título, do lado direito, deve
constar um a explicação qu an to à natureza do trabalho, a instituição a que
SC destina, sob a orientação de quem foi realizado; d) local e data,
centralizados, ao nível da margem inferior; e) a numeração se inicia na
página de rosto, não sendo obrigató rio colocar o núm er o no alto da página.
Em seguida, a página de aceitação, o nd e são colocadas as observações sobre
o tr abalh o e a avaliação.
Coloca-se, ainda, o prefácio, qu e não é obrigatório, mas que po de
ser escrito pelo autor ou po r convidado, citan do a instituição que p rom oveu
a pesquisa ou fazendo agradecimentos pela orientação e patrocínios
recebidos. D epois, o sum ário, ind icand o as partes do traba lho, capítulos,
seus títulos, itens e subitens, b em co m o as páginas em qu e se en co ntra m ,po de nd o ser utilizado apena s índice, com informaçõ es sobre as partes e
capítulos. Existem, ainda, as páginas preliminares, contendo listas de
tabelas, f iguras, abreviaturas, códigos ou símbolos, sendo páginas
num eradas, mas não constantes do sumário.
Vem, então, a introdução que, como o próprio nome já diz,
apresenta a questão, as bases teóricas e a hipótese. Em seguida, vem o
desenvolvimento, corpo d o assunto, com cada capítulo devendo come çar
Ccsar Luiz P . jsold (nota 11) , p . 144-5.
202
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 203/240
em nova folha e ser nu m era do progressivamente, em algarismos romanos.
Já os itens e sub itens elevem ser num erad os c om algarismos arábicos, até a
terceira subdivisão, quando então se podem usar letras, ou mesmo
algarismo arábico, letra maiúscula e letra minúscu la. Por fim, a conclusão,
que expõe o desenvolvimento do trabalho e responde diretamente àhipótese apresentada.
Pode-se, ainda, no início, colocar apenas índice, apenas com as
partes ou capítulos do trabalho, deixando para o final o sumário, que é
mais completo. Pode haver, também, o índice remissivo, que contém o
índice por assunto, sendo supérfluo, mas mu ito o po rtu no . Cabe, ainda, a
bibliografia, que é a bibliografia final, organizada segundo a ordem
alfabética dos autores e, qu an do forem utilizadas várias obras de um mesmo
autor, substitui-se o no m e do au tor por um traço. Existem, tam bém , os
anexos, com documentos , nem sempre do próprio autor do trabalho,
co mo legislação especializada ou ju risp rudência coletada. N o caso de vários
anexos, devem vir separados de outro por folha que indique o seu
conteúdo, com cada um tendo numeração indepen dente de outro, com a
folha que indica seu cont eúd o tendo sua num eraçã o seguindo a seqüêncianorm al do tr abalho de pesquisa. Por fim, a contrac apa, folha em branco,
qu e encerra o trabalho.
Cabe ao auto r digitar a mono grafia ou encarregar alguém q ue o
faça. Pode-se fazer o segu inte lembrete: a) dig itar n o eq uivalen te ao espaço
dois. E ntr e parágrafos, se usa espaço três, co m os parágrafos com eça nd o
ao equivalente a sete espaços da marg em esquerda do papel; b) usar negritos,
itálicos e sublinhad os apenas no m o m en to o po rtu no ; c) evitar o abuso demaiúsculas para chamar a atenção; d) manter a niarginação estética: a
margem direta com 2,5 cm, a superior com 3,0 cm, a inferior com 1,5
cm e a esquerda com 4,0 cm; e) qu ant o à impressão, hoje há inúm eros
meios, p rincipalm ente através de com pu tado res com diversos recursos
gráficos^"^.
D é l c i o V i e i r a S a l o m o n ( n o t a 9 ) , p . 2 4 8 .
203
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 204/240
2.5. Exam e da M onografia
2.5 .1. Professor Orientador
A monografia final é desenvolvida sob a orientação de u m professordo Dep arta mento de Ciências Jurídicas. E atividade de natureza acadêmica,
com a devida alocação dc t em po dc ensino para esta orientação. C abe ao
gra dua ndo escolher o professor orientado r, deven do levar em co nta, ao
fazer o convite, o prazo reg ulam enta r para a apresentação da monografia.
A assinatura do projeto é o term o pelo qual o orienta dor se co m pro m ete
e aceita a orientação da pesquisa. Pode haver co-orientador, co m o no m e
constando dos documentos e relatórios do aluno, mas com a devidaanuên cia do orientador, me sm o para profissional que n ão faça parte do
corpo docente da instituição de ensino superior. Caso não encontre nenh um
professor disponível, deve procu rar a coordenaç ão do curso para que esta
indique o orientador. É preferível que o orientador tenha ti tulação
acadêmica e algum a experiência co m pesqu isa^\
Ao orientador deve ser limitado o número de alunos, para que
sua carga de tr abalho seja com patíve l c om as exigências da or ientação. É
possível a troca de orien tador , desde qu e haja a aquiescência do substituído.
Cabe ao orie nta dor den tre outras competências: a) a obrigação de atender
aos alunos orientados, em horário previamente fixado; b) avaliar,
sem estralmen te, a freqüênc ia e avaliação preen ch ida e assinada; c) avaliar
os relatórios parciais que lhe forem entregues pelos graduandos, com as
respectivas notas; d) partic ipar das defesas de m ono graf ia, para as quaisestiver designado, em especial de seus grad ua nd os orientados; e e) assinar,
juntamente com os demais membros das bancas examinadoras, as fichas de
avaliação das monograf ias e as atas finais das sessões de defesa. N ão obstante,
a responsabilidade pela mon ografia é do g rad uan do , mas isso não exime o
professor orientado r de d esem penhar adequ adam ente suas atribuições.
" “A e x i g ên c ia d o t r a b a l h o m o n o g r á f i c o d e t e r m i n a , p o r u m l a d o , o d e s c n v o l v i m c n c o d c a ti v id a d es
i n i cr n a s d c p cs cj uis a, a s si m c o m o u r n a a p r o x i m a ç ã o d a g r a d u a ç ã o c o m a p ó s - g r a d u a ç ã o , e, p o r
o u t r o l a d o , a r c q u a l if i c aç ã o c a d e d i c a ç ã o d o c e n t e à o r i e n t a ç ã o j u r í d i c a e à p e s q u is a " . A u r é li o
W a n d e r B a st os : “ O n o v o c u r r í c u l o e a s t e n d ê n c i a s d o e n s i n o j u r í d i c o n o B ra s il - d a s d e s il u s õe s
cr í r ic. is à.s i lusões paradoxais , i n E n s i n o J u r í d i c o O A B : N o v a s D i r e t r i z e s C u r r i c u U r e s ( n o t a 5 ) , p . 125 .
204
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 205/240
2.5.2. Banca Exam inadora
A versão final da monografia será defendida pelo graduando, perante
banca exam inadora co m posta pelo professor orientador, que a preside,
c o m d o i s o u t r o s m e m b r o s , m a i s u m s u p l e n t e , d e s i g n a d o s p e l aCoordenação ou Departamento. Pode, inclusive, fazer parte da banca
exam inadora um m em bro escolhido entre professores de outro s cursos,
mas com interesse na área de abrangência da pesquisa ou entre profissionais
de nível super ior que exerçam atividades afins ao te m a da mo nografia. E
obrigatór ia a presença de três professores na banca, sob pe na de invalidação.
Todos os professores podem participar das bancas examinadoras, mas sendo
mais aconselhável a escolha de profissionais com titulação acadêmica,devendo ser observado um rodízio, para que não haja excesso de
designações.
2.5.3. Defesa da Monografia
As sessões de defesa da mon og raf ia são públicas, co m c alendá rio
fixando a realização das mesmas, prevendo os horário s e as salas destinadas.Sc houver atraso na entrega do trabalho, a relevância deve ser analisada,
para que tal situação não se torne regra, mas deve haver tolerância, observada
segundo as jus t i f i ca t ivas apresen tadas . Os membros das bancas
examinad oras precisam ter um prazo de, pelo m enos, du as semanas, para
proce derem à leitura das monografias, qu e não p od em ser divulgadas antes
do exame das mesmas.
Na defesa, o graduando tem prazo para apresentar seu trabalho,s e n d o r a z o á v e l d e t r i n t a m i n u t o s , c o m c a d a m e m b r o d a b a n c a
examinadora, que tem dez minutos para fazer sua argüição, dispondo
aquele de outros dez minutos para efetuar as respostas a cada um dos
examinadores. A atribuição das notas ocorrerá após o enc erram ento da
argüição, obedecendo o sistema de notas individuais por examinador,
considerando o texto escrito, a exposição oral e a defesa na argüição da
banca examinadora. O examinador põe sua nota, para cada item a serconsiderado, com a nota final sendo o resultado da média das notas
atribuídas pelos mem bro s da b anca exam inadora. É aconselhável que a
no ta m ín im a de aprovação seja sete.
205
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 206/240
A banca examinadora, por maioria, pode sugerir ao aluno que
reformule aspectos da sua mono grafia, co m prazo para apresentação das
modificações de um mês, com a entrega de novas cópias da monografia.
Por outro lado, antes da sessão de defesa pública, por maioria, a banca
examinadora p ode devolver a monogra fia para reformulação, com prazode um mês para as devidas retificações.
A avaliação final é assinada por todos os membros da banca
exam inad ora, dev end o ser registrada no livro de atas respectivo e, em caso
dc aprovação, n a cópia da m onografia, qu e deve ser destinada à biblioteca
da instituição, central ou setorial. O gra du an do qu e não apresen tar a
monografia, ou que não se apresente para sua defesa oral, sem motivo
justificado, está reprovado da disciplina. E m caso de reprovação, seja por
omissão oü po r nora, fica a critério do gradua ndo con tinu ar com ou m ud ar
de orientador. Caso opte por mudança de tema, deve reiniciar todo o
processo de elaboração da mon og rafia final. Caso contin ue no m esmo
tema, basta que se matricule nov am en te na disciplina em que foi reprovado,
para que a apresente no semestre seguinte^^.
3. Conclusão sobre mon ografia em curso de graduação em direito
3, 1. A Ciência e o D ireito
A formação da ciência moderna, dos séculos XVI e XVII,
representou um marco no con hecim ento e uma nova forma de conhecer
a verdade, com base no raciocínio científico e na co mp rovaçã o empírica.
Assim, foi grande o desenv olvim ento das ciências da natureza , em especial
da qu ím ica e da fi"sica. N ão foi fácil tra ns po r as barreiras, mesm o po rq ue
o conhecimento não se apresenta linear, mas dinâmico e contraditório.
O método indutivo, ou seja, a comprovação da verdade através da
exper imen tação , passou a s ign i f i ca r o parâmet ro para separa r o
conhecimento científico, das outras formas de conhecimento, como o
senso comum, a religião e a filosofia.
“ P r o p o s t a d e R e g u l a m e n t o p a r a o T n i b a l h o d e C o n c l u s ã o d e C u r s o d a U n i v e r si d a d e F ed er al
d e S a n t a C a t a r i n a ” , a r ti g o s 3 3 a 4 4 , p . 2 1 6 - 8 .
206
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 207/240
Dos séculos XV^III e XIX em diante, começou a formação das
ciências sociais, especitilmente da economia e da sociologia. A base de
argumentação seria a possibilidade de aplicação do método indutivo,
também nessa área. N&o obstante, existe uma tendência natural para a
uti l ização do método dedutivo e, também, do método dialét ico. Dequ alq ue r forma, sem pre paira a dúvida se realm ente as ciências sociais são
efetivamente ciências, ou apenas teorias, sem a necessidade de comprovação
empírica.
O con hec ime nto jurídico, ainda que ten ha suas origens remotas,
na época da Babilônia de Hamurabi, por volta de 1800 a.C., ou que
ten ha alcançado alto desenvolvimento técnico na época dos jurisconsultos
romanos, principalmente com a edição do Cód igo de Justiniano n o século
VII d.C., só começou uma construção teórica mais acabada nos séculos
XV III e XIX. Foi na m esm a época de form ação das ou tras ciências sociais
mas pr incipalmente para scr um conh ecim ento dogmático e al tamente
ideológico. D aí a tradição legislativa de codificação, com o desenvolvimento
racional do Direito especial , bem como o ensino voltado às aulas
expositivas, sem quaisq uer qu estiona me ntos.Já no século XX, o pensame nto de H ans Kelsen representa o marco
da discussão teórica do direito, com a idéia de que havia uma ciência
jurídica, com objeto próprio, distante da polí tica, economia e sociológica^^
Essa forma ção teórica foi im po rta nte do po nt o de vista de que se passou
a tenta r a formulação de u m a base científica para o Direito, co m a definição
do objetivo, dos princípios e dos m étodos a serem utilizados no seu estudo.
A Teoria Pura, apesar de sua importância metodológica, foiinsuficiente para com pree nde r o fe nôm eno jurídico e de ser o meio de se
transformar o Direito em ciência. Já hoje, existe a consciência de que os
problemas da ciência juríd ica são os mesmos das ou tras ciências sociais, na
dificuldade de se l idar com o m étod o indutivo e com a experimentação.
' ’ “A t c n d c n c i a d o p o s i t i v is m o j u r í d i c o a e l a b o r a r u m a c i ê n c i a d o d i r c i r o o b j e t i v a , is e n t a d e
q u a l q u e r j u í z o d c va lo r, fo i a i n s p i ra ç ã o p r o f u n d a d a n o t á v e l o b r a d e H a n s K e l se n . S e g u n d o a
R e m e R e c h t s l e h r e , c a d a s i s t e m a d c d i r e i t o c u m c o n j u n t o h i e r a r q u i z a d o e d i n â m i c o d c n o r m a s
q u e d e s e n v o l v e m s u a s c o n s e q ü ê n c i a s i n d e p e n d e n t e d o m e i o s o c i a l a q u e s e a p l i c a m , q u a s e à
m a n e i r a d e u m s i st e m a fo rm ii l" . C h a i m P e r e h n a n : E t i c a e D i r e i t o . S ã o P a u l o : E d i t o r a M a r t i n s
F o n t e s , 1 9 9 6 , p. 4 5 2 .
207
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 208/240
Não obstante, já existe a reflexão de que os outros métodos também
pe rm ite m a formação d a ciência, inclusive para o m un do jurídico^*^.
3. 2. Im portância da Monografia Fin al de Graduação em Curso de
D ireito
Existe, então, a possibilidade dc se fazer ciência no Direito. As
instituições de ensino sup crio rsão o local ideal para o fomenco d a pesquisa
e do conhecimento metódico. Não obstante, esse trabalho apenas nos
cursos de pós-graduação causam um hiato na formação dos operadores
do D ireito, que passam um curso de graduação inteiro submet idos a aulas
cxposirivas e conhecimentos a maiorias das vezes expostos de forma
dogmática. A exigência da monografia para a graduação em curso de
Direito, pela Portaria do MEC n° 1.886/94, em seu art. 9°, representa
um marco significativo para a compreensão do fen ôm eno juríd ico passível
de tratam ento científico, através da pesquisa e da elaboração de u m trabalho
escrito fund am ent ado tecnicamente.
A monografia veio para se transformar no meio pelo qual oDireito po de ser estudado de fo rma científica, libertando o gra duan do da
visão arcaica e ineficiente ao estu dar a realidade jurídica. Ao se deparar
com a necessidade de formular um trabalho escrito, com razoável
apro fund am ento teórico, o graduand o passa a com preend er o fenôm eno
jurídico com o integrante do complexo das re lações humanas. Passou o
“ D o D i r e i t o o c u p a - s e h o j e u m a s e ri e d e d i s c i p l i n a s d i f e r e n te s : a fi lo s of ia d o D i r e i t o , a c e or ia
d o D i r e i t o , a s o c i o lo g i a d o D i r e i t o , a h is t ó r i a d o D i r e i t o e a J u r i s p r u d ê n c i a ( “d o g m á t i c a j u r íd i c a " ),
p ar .t re f er ir s o m e n t e a s m a i s i m p o r t a n t e s . T o d a s e la s c o m p l e t a m o D i r e i t o so b u m d i f e r e n t e
a f p e c r o . e a ss ir n , d e m o d o d i s f i n f o . 7 s J n ã o . seria p o s s / v d s e o D i r c k o n ã o f o s s e n a r e a l id a d e u m
f e n ô m e n t ) c o m p l e x o , q u e s e m a n i f e s t a c m d i s t i n t o s p l a n o s d o s er. c m d i f e re n t e s c o n t e x t o s . Ta l
c o m o a l í n g u . i , a l i t e r a t u r a , a a r t e , t a m b é m o E s t a d o e a c i v i l i z a ç ã o t e c n o l ó g i c a , p e r t e n c e m a o
a m p l o d o m i n o d a s r ea li za çõ e s h u m a n a s ; é u m a p a r t e i n te g r a n t e d o m u n d o q u e d i z re s p e it o a o
h o m e m c só a e le : n e s t e s e n t i d o , n ã o p e r t e n c e à “n a t u r e z a ” . O D i r e i t o a p r e s e n t a , a l é m d i ss o ,u m a r e l a ç ão e s tr e it a c o m a e x i st ê n c ia so c ia l d o h o m e m ; é, d c a c o r d o c o m a o p i n i ã o g e r al , u m
c o n j u n t o d c r eg ra s, c m c o n f o r m i d a d e à s q u a i s os h o m e n s o r d e n a m e n t r e si a c o n d u t a , a q u a l
p o d e s e r a v a l i a d a d e a c o r d o c o m e s sa s r eg r a s" . K a r l L a r e n z : M e t o d o l o g i a d a C i ê n c i a d o D i r e i t o .
L is bo a : F u n d a ç ã o C a l o u s t c G u l b c n k i a n , 1 9 8 3 , p . 2 2 1 .
208
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 209/240
curso de Direito, abre
graduan do, futuro op erado r do Direito, a ter um a consciência científica
da realidade.
A monografia, c om o exigência para a conclusão da graduação, em
ma nova perspectiva para o estu do jurídico e a sua
consciência crítica. A pesquisa, co m o m éto do a ela inerente, favorece oestudo e o trabalho, en qu an to a elaboração do trabalho escrito estimula
a reflexão e a boa redação, inclusive quanto à linguagem. E preciso,
não obstante, as instituições de ensino superior, que tenham cursos
jurídicos, façam com que essa exigência seja um avanço científico e não
uma simulação da verdade, como veio sendo o estudo do Direito até
mea dos d o século XX.
209
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 210/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 211/240
ANEXOS
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 212/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 213/240
I Seminário “O Etisino Jurídico no Limiar do Século XXI”
Tema; Consjiruindo 0 projeto didát ico-pedagógíco”
fNATAL/RN)
Im plem entaç ão das Diretrizes Curriculares
Perfil Profissional e H ab ilidades Profissionais
Experiências Exemplares
P R O G R A M A Ç Ã O :
10 /09 /1998 - Qu in t a- f ei ra
8h 30 - Abertura - Sessão de Instalação
Co m posiç ão da Mesa: D r. Adilson Gurgel de Castro
Presidente da Seccional do R N
9h 00 - Painel de Implementação
Tema: “y4 Im plem entação do projeto didático-pedagógico emfiace das diretrizes
Curriculares”
Painelistas: Professor Paulo Luiz Netto Lôbo
Professor Álvaro Melo Filho
Professor João M aurício Adeo dato
1 0 h l 5 - C o f fe e - br e a k
10 h3 0 —R etor no aos trabalhos
12h0 0 - Encerram ento do Painel (sem debate)
213
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 214/240
14h00 - In /do dos G rupos de Trabalho
G rupo 1 - Elementos transversais das novas diretrizes curricula res- estágio
e núcleo de prá tica ju ríd ica
G r u p o 2 — Elementos transversais das novas diretrizes curriculares — M onografia e atividades complementares
G r u p o 3 - Pós-Graduação, pesquisa e form açã o docente - integração
com a graduação
11 /09/1 998 - Sexta-fei ra
8h30 —Painel: Perfil Profissional e Habilidades. Mudança do perfil
profissional dos cursos de Direito
Paine listas: Professor José G era ldo de Sousa Jr.
Professora Eliane B otelho Ju nqu eira
Professor Horá cio Wan derley Rodrigues
10h30 - Coffee-Break
10h45 - Experiências Exemplares (exposição das experiências das lES)
12h45 - Almoço
I 4 h 0 0 - Plenária Final (leitura dos relatórios dos grupos de trabalho)
Conclusões do I Seminário “O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI”
Plenária Final, Natal, 11 de setembro de 1998
Tema 1 - Elementos Transversais das Novas Diretrizes Curriculares.
(Estágio e N úc leo de Prática Jurídica)
214
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 215/240
D en tre as propostas apresen tadas e debatidas, foram aprovadas as
seguintes:
1 .1 - A par ti r do 1 ano da graduação , o a luno deve ser provocado a
treinar o aprendizado da identificação dos acon tecim entos e seuenq uadra m en to no Direito; se essa prática de identificação ocorrer
sempre, os Núcleos de Prática Jurídica, a partír do 4° ano, receberão
alunos acostumados a treinar a prática, (proposta aprovad a por
maioria dos presentes)
1 . 2 - As Instituições de Ensino Superior que m an ten ha m cursos jurídicos
devem empenhar-se na implantação de Fórum Universi tário,
como integrante do Núcleo de Prát ica Jur ídica, de modo a
viabilizar a participação dos estud antes de Dir eito nas atividades
dos serviços judic iários básicos, dent re os quais, Juizados Especiais
e Varas de Assistência Judiciária, (aprovada p or un an im idade )
1.3 - Concessão de Certificado ao aluno aprovado no estágio de Prática
Jurídica, para comprovar sua experiência de estágio, (proposta
retirada)
Tema 2 - Elementos Transversais das Novas Diretrizes Curriculares.
(Monografia e Atividades C om plem entares)
D en tre as propostas apresen tadas e debatidas, fo ram aprovadas as
seguintes:
2 . 1 - As at ividades com plem entares devem ser múlt iplas (seminários,
grupos de estudo, monitoria, participação em projetos de pesquisa
e extensão, disciplinas cursadas em ou tros cursos), sendo que cada
Instituição as ad apta rá às peculiaridades do projeto acadê mico e
ao perfil de bacharel que deseja formar, e as implementará na
med ida das suas condições.2.2 - As atividades comp leme ntares não devem estar submetidas a rígida
padronização. Pelo con trário, cada Instituição terá total liberdade
para a ferir a pertinên cia c om seu projeto didático-pedagógico.
215
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 216/240
2 .3 - O a luno deve t er l i be rdade para a esco lha de a t iv idades
complem entares da sua preferência, recomendando-se q ue execute
atividades de na tureza distinta.
2 . 4 - V i s to s cr cm as a t i v id a d e s c o m p l e m e n t a r e s d e n a t u re z a
institucional, a sua realização deverá ser cont rolada academicamentepela Instituição, d e m od o a qu e se to rn em mais proveitosas para
o aluno.
2.5 - Q ua nto à organização do rol das at ividades comp lementares, a
Ins t i tu ição deverá considerar que a f inal idade des tas é o
enriqu ecim ento d o currículo obrigatório de disciplinas.
2.6 - C om o objetivo de atend er a um a valorização, a mais equânim e
possível, as atividades complementares deverão ser pontuadas
diferentemente.
2.7 - N ão obstan te a sua especificidade e auto nom ia, as atividades
com pleme ntares dever-se-ão articular com os demais aspectos do
projeto acadêmico no sentido da valorização das interfaces do
ensino, da pesquisa e da extensão, explicitando desse modo a
realidade do curso e favorecendo a constru ção e reconstrução dopapel social da Instituição jun to à co m un ida de regional ond e está
inserida.
Seguiu-se o debate sobre o tem a da monografia, do qual resultaram
aprovadas as recomenda ções abaixo:
2.8 - Em bora distintas, as at ividades comp lementares e a monografiapodem aparecer vinculadas, de modo que as informações e
c o n h e c i m e n t o s a c u m u l a d o s n a p r á t i c a d a s a t i v i d a d e s
complementares sugiram ao aluno temas para o seu trabalho de
final de curso.
2.9 - Recomenda-se que a Inst ituição prom ova, a part ir do 4° ano ou
equivalente, a conscient ização do aluno para o preparo da
monografia.2 . 1 0 - Recomenda-se que se est imule a vinculação entre a monografia e
a iniciação científica.
216
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 217/240
2 . 1 1 - Recomenda-se a criação de um núcleo de pesquisa com a finalidade
de sistematizar e apoiar o processo de orienta ção da monografia.
2.1 2 - A disciplina metodo logia do trabalho científico deverá ser oferecida
no início do curso.
2 . 1 3 - O aluno é livre para escolher o tem a da m onografia, assim com oo orientador, de acordo com a Portaria M E C n° 1.886/94.
2 . 1 4 - O aluno poderá eleger um orientador externo à Insti tuição, desde
que uma coordenação específica supervisione a elaboração do
trabalho.
2 .1 5 - Recomenda-se que a Inst i tuição ado te a atr ibuição de orientação
de monog rafia a todos os docentes, inde pen den tem ente d o regime
de trabalho.
T e m a 3 — P ós - G r a dua ç ã o , P e s qu i s a e F o r m a ç ã o D oc e n t e
(Integração co m a Graduação)
D en tre as propostas a presentadas e debatidas, fo ram aprovadas as
seguintes:
3.1 - Ratificar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão,
no âm bito das instituições de ensino superior, recusa ndo a idéia
de d irecionar algumas instituições p ara a pesquisa, o utras para o
ensino, po r exemplo.
3.2 - Incentivar a criação de programas de fom en to à pesquisa, em nívelde graduação, e m todas as instituições de ensino supe rior do país,
públicas ou não, a exemplo do Program a Especial de Treinam ento
(PET) da CAPES e do Programa Insti tucional de Bolsas de
Iniciação Científ ica (PIBIC) do C N Pq .
3 . 3 — I nc r e m e n t a r o a po io a c ur sos de pós -g r adua ç ão de c a rá te r
interdisciplinar, tais como direito e ciência política, direito e
sociologia, em sum a, dire ito e ou tras áreas.3.4 — Estimular a criação de cursos de pós-graduação interinstitucionais,
possibilitando a capacitação docente em áreas mais carentes do
país.
217
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 218/240
3.5 - Defender, jun to aos órgãos governam entais com petentes , a
desvinculação entre creden ciam ento e fm anciam ento dos cursos
de pós-graduação, l ibertando o credenciamento das limitações
orçam entárias impo stas às agências de fomento .
218
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 219/240
II Seminário O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI
Tema: Aprender a aprender d i re i to
I Seminár io sobre Exame Nacional de Cursos - o “ Provão”
(Cuiabá, 23 e 25 de maio de 1999)
2 3 /0 5 - D o m in g o
20 h0 0 - Abertura: M arcelo G uima rães R ocha e Silva, Secretário Geral da
OAB e Adilson Gurgel de Castro, Presidente da CEJ.
24/05 —Segunda-fei ra
08 h3 0 - Palestras: C on stru ind o o projeto didático-pedagógico
Projeto didático-pcdagógico - singularidade e diferenças Inês da Fonseca Pôrto
Para gostar de direito - pen san do a pré-graduação
M aríl ia M uricy
1 Oh 15 - Pausa p ara o café
10h 30 - Co ntinuação das palestras
Perfil profissional e habilidade s —form açã o té cnica e educação
para vida plena
M il to n Nobre e A ntônio José A h ika ir
I 4 h 3 0 às 1 8 h 0 0 - G r u p o s d e T ra balh o
G ru p o 1 — Elementos transversais das novas diretr izes curriculares —
estágio e núcleo de prática jurídica (Co ordena dor; Paulo Luiz
Net to Lôbo)
219
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 220/240
G ru p o 2 - Elem entos transversais das novas diretrizes curriculares -
monografia e atividades com plemen tares (Coorde nador; José
Adriano Pinto)
G ru p o 3 - A sala de aula e a criação de novos espaços de aprendizag em
(Coordenador: João M aurício Adeodato)G ru po 4 - Reunião das Comissões de Ens ino Jurídico das Seccionais
da OA B (Coorde nador: Adilson Gurgel de Castro e Professor
José G erald o de Sousa Jr.)
25/0 5 - Terça-fei ra
8h 30 - Palestras: Práticas Pedagógicas no Ensin o Jurídico
práticas aprop riadas ao en sino jurídico
Loussia Musse Felix
práticas de interdisciplinaridade
Roberto A rm ando A guia r
10H30 - Pausa para o cafc
10K45 - Experiências Exemplares
I4 h 3 0 - Plenária Final (Relatórios finais dos grup os de trabalho)
26 /05 - Quar t a- fe i ra
I Seminár io sobre Exame Nacional de Cursos —o “Provão”
Para Melhorar não Basta Avalia r
09h 00 - Aber tura - O S is tema Nacional de Avaliação (M EC /INEP )
09 h3 0 - Palest ra - A Qu al idade dos Cursos Jurídicos (CF/OAB )
220
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 221/240
09 h5 0 - Palesrra - O Exame Nacional de Cursos (DAES)
1 Oh 15 - Pausa para o café
10h30 - Painel - E N C - Curso dc Di re ito - p ressupostos , inst rumentose resultados
1 2 h 0 0 - In te rvalo
13h 30 —Trabalho em G rup o —A uti lização do E N C c om o ins t rum ento
para melhoria do ensino (C omissão de Curso)
15H30 - Pausa para o café
15h45 - Painel - A uti lização do E N C com o in strum ento para a melhoria
do ensino (Com issão de Cur so e Relatores)
17h30 - Encerramento (DAES)
17h 45 - Avaliação conjim ta do Seminário
Conclusões do II Seminário - O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI
Tem a 1 - Estágio e N úc leo de Prática Jurídica
1.1 — Cons ide rando a concepção do ens ino com o um a pe rmanen te
problem atização d a teoria e da prática do direito, qu e deve levar
em consideração desde os conceitos básicos até a elaboração de
monografias fmais, além de criação de u m núcleo d e pesquisa, da
re l ação de g raduação com a pós -g raduação , da ex t ensãouniversitária com o prática interativa entre instituições de ensino
superior, a sociedade e o Estado, deverão os cursos jurídicos
conc eber seus núcleos de prática jurídica, igualm ente, c om o local
221
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 222/240
de desenvolvim ento de pesquisa perm ane nte, dada a sua relação
básica com o binômio teoria/prática e sua parceria com as mais
diversas organizações sociais, e a com un ida de .
1.2 - Co nsid eran do a necessidade da atividade de prática efetiva por
parte do corpo discente, devem as Faculdades ou Cursos de Direitose empenhar para fi rmar convênios com órgão judiciários e
entidades públicas e privadas para d ar o po rtu nid ad e à realização
do trabalho vo lun tário de estagiários.
1.3 - Co nsid eran do que, especialmente no que tange a convênios para
instalação de Juizados Especiais, tem surg ido alg um a dificuldade,
recomenda-se que a Comissão de Ensino jurídico da OAB,
juntam ente com as Seccionais, colaborem com as Insti tu ições para
a realização de conv ênios co m os Tribunais d e Justiça dos Estados
c a imp lem en tação efetiva dos referidos Juizad os Especiais.
1 A - Co nsideran do a necessidade de um a reflexão crítica e de uma busca
constante do conhe cim ento, bem com o do desenvolvimento do
raciocínio lógico, dev em os professores orien tadores incentivar o
corpo discente às fontes de pesquisa jurisprud encial e doutriná ria,desvinculando-se de modelos e formulários para a execução da
prática jurídica.
1.5 - Co nside ran do que a CEJ, dad a a sua longa experiência, pode
fornecer parâmetros para as Ins t i tu ições no que range ao
funcionamento do Núcleo de Prát ica Jurídica , sugere-se a
e laboração de uma obra espec í f i ca pe la OAB, publ icando
recom endações teóricas e práticas e relata ndo experiências reais eeficientes vividas em diversos cursos no Brasil. A publicação aqu i
referida será tão-somente para servir de orientação e não como
fórmula pronta a ser obedecida, levando também incluir as
r e g u l a m e n t a ç õ e s d a m o n o g r a f i a f i n a l e d a s a t i v i d a d e s
com plem entare s e suas interações com a prática jurídica.
1.6 - Co nsiderand o que há necessidade de uma me lhor formação prática
do corpo discente, recomenda-se que os estágios do núcleo
de prát ica jurídica tenham a duração mínima de 2 anos ou 4
semestres.
222
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 223/240
1 . 7 - C o n s i d e r a n d o a n e c es si da d e d o c u m p r i m e n t o d o e stá gio
supervisionado em período let ivo e a dif iculdade dos aluno s em
dispo r de te m po para isso sem prejuízo de suas atividades, propôs-
se que possa ser com ple m en tada a carga horária d o estágio tam bém
em períodos de férias e recesso escolar, dc ac ord o com o prog ram ado Nú cleo de Prática Jurídica.
1 .8 — Co nsidera ndo as especificidades e singularidades dos seus projetos
pedagógicos, deverão os cursos jurídicos, através de seus N úcleos
de Prática Jurídica, dar especial ate nçã o à interdisciplinariedade ,
inc or po ran do ou tros saberes, de profissionais e estagiários, com o
serviço social, psicologia, nas suas atividades e relação com a
comunidade.
1.9 - Co nsiderand o que a presença do corpo discente nestes encontros
é salutar para que os professores , or ientadores , di retores e
coordenadores possam tomar conhecimento do que pensam os
estudantes, que as inst i tuições de ensino superior est imulem e
assegurem a participação de represe ntantes discentes nos eventos.
1.10 - Co nside rand o a im portân cia dos vários aspectos relacionados à
formação prática, indica-se que sejam progra ma dos intercâmbios
entre os Cursos de Direito, através de encontros em Seminários
específicos regionais, para q ue se possa trazer m aiores subsídios
para os encon tros nacionais no que tange às questões sobre Núcleos
de Prática Jurídica.
1 .1 1 — Con siderando o crescimento de discussão a respeito do ensino à
distância e as dificuldades decorrentes para c um pr im en to das váriasetapas d a form ação jurídica, propÕe-se qu e esse tem a seja incluído
nos próxim os seminários.
Tema 2 - Mon ograf ia e At ividades Com plemen tares
1 - Propõe-se que o estágio estudantil , regu larmen te conve niado coma Instituição, m as não supervisionad o, seja válido com o atividade
complementar dentro dos limites estabelecidos, no curso, para
apropriaçã o dessa atividade.
223
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 224/240
2 - Propõe-se que as atividades com plem entares objetivem propiciar
a formação do bacharel em direito, conforme o perfil de seus
interesses e vocações. Podem ser jurídicas, ou não, e ocorridas
den tro o u fora de Instituição de Ensino, mas sempre fora da grade
curricular e fora do elenco de disciplinas optativas. Logo, não
de ve m s e r un i f o r m e m e n t e r e a l i z a da s pe l o s a l unos , m a s
diversificadas.
3 - Propõe-se que o patrocínio de at ividades comp lementares, pela
Instituição, não deva ter como preocupação o im plem ento integral
das horas correspondentes.
4 - Propõe-se qu e seja recom enda da a estruturação de um núcleo de
a t iv idades complementa res , em cada cur so ju r íd i co , pa ra
ac om pa nh am en to e controle acadêm ico das atividades.
2.5 - Propõe-se qu e a orientação da mono grafia deva ser efetuada por
todos os professores interessados da Instituição, ind epe ndente do
grau de sua formação acadêmica, preferencialm ente formado s em
Dirciro, caben do ao N úcle o de Pesquisa coibir eventuais abusos.
6 - Propõe -se que se pe rm ita às Instituições flexibilizar a fixação demodalidades de atividades complementares, de acordo com seu
proje to pedagógico , exig indo, todavia , que o regulamento
estabeleça carga horária didática para cada u m a delas, pe rm itind o
ao aluno realizar atividades não previstas desde que sejam aprovadas
pelo responsável do controle dessas at ividades, bem como
estabelecer a obrigatoriedade de u m plan ejam ento semestral ou
anual das atividades complemen tares.
7 - Propõe-se que seja recom end ado inserir no elenco de atividades
complem entares program a de atividade de pesquisa com professor
tutor.
8 - Propõe-se qu e a assistência e a elaboração de relatório de conferências,
debates e painéis gravados em vídeos, decorrentes de eventos
jurídicos (previamente indicados pelo Colegiado do Curso) sejam
acolhidos com o atividades complem entares, desde que obedecidos
critérios de contro le e avaliação adota dos pela Instituição.
224
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 225/240
Tema 3 - A 5aia de Aula e a Criaçã o de No vos Espaços de
\prendizagem
1 - Vi san do à uniíormizaçcão das diretrizes curriculares, sob ret ud o as
expressas na Portaria 1.8 86/9 4, recom enda -sc a compatibilizaçãodos trabalhos das Comissões da OA B de Exame de O rd em e de
Ensino Jurídico, nota da m en te qu an to à inclusão dos conteúdos
de natureza propedêutica e fundam ental no Exame de O rdem , ao
lado das matérias profissionalizantes.
2 - R ecusa ndo a d i ssoc iação do t r aba lh o do cen te e d i scen te ,
recomenda -se a participação dos alunos no processo decisório de
cons trução dos projetos didático-pedagógicos dos cursos jurídicos.
3 — R ec om e nd a-s e a im p la n ta çã o d e p ro gra m as de fo rm a çã o
con t inuada para capac i t ação pedagóg ica dos docen tes e a
introduçã o deste item no in stru m en to de avaliação utilizado pelo
M E C e O A B na avaliação dos cursos jurídicos.
i - U m a vez que o M EC , na Resolução 03/8 2, destina 60 horas para
Didática do Ensino Superior e Metodo logia da Pesquisa na pós-graduação /aí-o sensu (especialização), deve-se exigir pelo m enos a
mesm a carga horária na pós-graduação stricto sensu.
5 - Sugere-se a implantação, pelas Instituições, da avaliação dos cursos
jurídicos a ser realizada pelo corpo discente, relativa ao corpo
docente, infra-estrutura e projeto didático-pedagógico.
6 - Sugere-se a realização de um a pesquisa nacional, a ser realizada
pela OA B, do perfil do p rofessor dos cursos jurídicos , a exem plo
da pesquisa sobre o perfi l do advogado, en com end ada pela OAB
em 1996.
7 - Recom enda-se a l imitação m áxim a de 50 alunos em sala de aula,
sobretudo na hipótese de a Inst i tu ição aumentar o número de
vagas originalmente autorizado. Entend e-se q ue a aprendizagem,
nos cursos jurídicos, na experiência brasileira, é seriamentecom prom etida quan do se adm ite núm ero m aior de alunos, por
sala.
225
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 226/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 227/240
Ill Seminário “O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI”
Tema: Diálogo entre a teoria e a prát ica
Belém, 06 a 08 de ou tub ro de 1999
06 /10 /1999 —Quar ta - fe i ra
20 h00 - Aber tura Solene
0 7 / 1 0 / 1 9 9 9 - Q u i n ta -f ei ra
08 h3 0 - A Aprend izagem pelo Diálogo entre a Teoria e a Prática.
Roberto Santos
L u iz Edson Fachin
1 Gh30 - Pausa para o café
10h45 — As Habilidades como C entro do Processo de Aprendizagem.
Fernando Sc aff
I 4 h 0 0 - Gr u po s d e T raba lh o
G ru po 1 — A Aprend izagem pela Prática Jurídica.
G ru p o 2 - Inter-relação entre Atividades Co mp lem entare s e Habilidades.
G ru po 3 - Interação entre C on he cim en to Jurídico e Realidade: Pesquisa
e Extensão.
17hOO - Evento Paralelo - Reun ião da CE J c om as Comissões de Ensino
Jurídico, com as Direções das Escolas Superiores de Advocacia das
Seccionais e co m os represen tantes da II Câm ara.
227
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 228/240
0 8 / 1 0 / 1 9 9 9 - S e x t a - f e ir a
08h30- Sentimentos Sociais, Qualidade de Formaçao I ' l ' iussional e
Confrontos Corporativos.
- Perspectivas das Diretrizes Curricula res e dos Critério'; de
Avaliação no Ens ino Jurídico.
jo séA dria no Pinto
- O ensino da ética e a forma ção profissional
Silvino Joaq uim Lopes Neto
10h 30 - Experiências Exemplares: Processos Inovadores de Aprendizagem
no Nú cleo de Prática jurídica.
1 2 h 3 0 — A lm oço
I 4 h 0 0 - P lenária Final
Conclusões do III Seminário “O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI”
Tema; Diálogo entre a Teoria e a Prática
Belém/PA
Tema 1 - A Apre ndizage m pela Prática Jurídica
1 - C on sid era nd o que o conc eito de “prática” envolve a “prática
pedagógica” , a “prá tica simulada” e a “prá tica real”, recom enda-se,
sempre que possível, que a prática jurídica perpasse todas as disciplinase atividades qu e inte gram o curso de graduação em Direito.
1.2 - Considerand o a necessidade de aplicação da prática além do cam po
m era m en te forense, reco m end a-se que as Seccionais e Subseções
228
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 229/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 230/240
3.3 - Q ue a OAB reivindique junco aos órgãos de fom ento auxil io
para as instituições co m objetivo de pro m ov er a qualificação do
c o r p o d o c e n t e , a u m e n t a n d o d e s s e m o d o o n ú m e r o d e
pesquisadores nos seus quadr os.
3.4 - Q ue o Conselho Federal da OAB, através da sua Com issão deEnsino Jurídico, prom ova a criação de Revista para publicação de
trabalhos de alunos, fruto de pesquisas, com o form a de incentivo,
sugerindo-se que os Conselhos Seccionais também acolham a
proposta.
3.5 - Q ue as Instituições atrib ua m carga horária para que os professores
desenvolvam projetos de pesquisa com pree ndid os pelas linhas de
pesquisa da Instituição.3.6 - Q ue as Instituições pr om ov am Cursos e Seminários sobre pesquisa
para preparar o seu corpo do cen te e discente.
3.7 - Q ue pelo menos um a disciplina, voltada para a metod ologia de
pesquisa, seja incluída na g rade c urricular dos cursos jurídicos.
3.8 - Q u e o conceito de extensão-serviço seja am pliado para abranger:
- programas de assessoria e consultoria a m ovim entos da sociedade
civil;
- program as de palest ras de esclarecim ento e inform ação às
comunidades;
- elaboração de cartilhas de informação para servir à com unid ade;
3.9 - Q u e as atividades de extensão sejam levadas aos bairros e não
promovidas som ente no espaço da Insti tuição.
3 . 1 0 - Q u e as atividades de extensão, semp re qu e possíVel, aprese ntem
caráter interdisciplinar.
Recomendação propo sta pela 2^ Câ m ara do Conselho Federal da
OAB , aprovada na Sessão Plenária do dia 08 de o utu bro de 1999.
Co nsidera ndo a preocupação com a formação ético-profissional
dos egressos dos cursos jurídico s, recomenda-se:
1) As Faculdades de Direito, a expansão do nú m ero m ín im o de 30
horas reservadas ao estudo da É tica para 60 horas.
230
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 231/240
2) Ao Co nse lho Federal da OA B e aos Co nse lho s Seccionais, a
aplicação de maior vigor na fiscalização/acompanhamento da
formação ética dos estagiários tanto no estágio supervisionado
qu an to no estágio profissional.
Moções da Comissão de Ensino Jurídico, aprovadas na Sessão
Plenária do dia 08 de outu bro d e 1999.
1) M oçã o de apoio à m an ute nç ão das atuais diretrizes curriculares
dos cursos jurídicos que constam da Portar ia M E C n° 1886/94.
2) Moç ão de apoio à Com issão de Ens ino Jurídico do Con selho
Seccional de São Paulo pela luta contra a abertura irregular decursos jurídicos fora de sede.
231
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 232/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 233/240
Tema 3 - A de Aula e a C riaç ão clc No vos Espaços de
\prendizagem
i - Visa ndo à uniform ização das diretrizes curriculares, sob retu do as
expressas na Portaria 1.88 6/94, recom enda-se a compatibilizaçãodos trabalhos das Comissões da OA B de Exame de O rd em e de
Ensino Jurídico, n otada m ente qu an to à inclusão dos conteúdos
de natureza propedêutica e fundam ental no Exame de Ord em , ao
lado das matérias profissionalizantes.
2 - R e c us a ndo a d is soc ia ç ão do t r a ba lho doc e n te e d i sc e n te ,
recomenda -se a participação dos alunos n o processo decisório de
construção dos pro jetos didático-pedagógicos dos cursos jurídicos.
3 - R e c o m e n d a - s e a i m p l a n t a ç ã o d e p r o g r a m a s d e f o rm a ç ã o
cont inuada para capaci tação pedagógica dos docentes e a
introdu ção deste item n o i nst rum en to de avaliação utilizado pelo
M E C e OAB na avaliação dos cursos jurídicos.
i - Um a vez que o M EC , na Resolução 03/8 2, destina 60 horas para
Didática do Ensino Superior e M etodo logia da Pesquisa na pós-graduação lato sensu (especialização), deve-se exigir pelo menos a
mesm a carga horária na pós-graduação stricto sensu.
5 - Sugere-se a implantação, pelas Instituições, da avaliação dos cursos
jurídicos a ser realizada pelo corpo discente, relativa ao corpo
docente, in fra-estrutura e projeto didático-pedagógico.
6 - Sugere-se a realização de um a pesquisa nacional, a ser realizada
pela O AB , d o perfil do professor dos cursos jurídicos, a exemplo
da pesquisa sobre o perfil do advogado, en com end ada pela OA B
em 1996.
7 - Recom enda-se a l imitação máx ima de 50 alunos em sala de aula,
sobretudo na hipótese de a Inst i tuição aumentar o número de
vagas originalm ente autorizado. Enten de-se q ue a aprendizagem,
nos cursos jurídicos, na experiência brasileira, é seriamentecom prom et ida quando se admite núm ero maior de alunos , por
sala.
22$
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 234/240
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 235/240
Ill Seminário “O Ensino Jurídico no Limiar do Século XXI”
Tema; Diálogo entre a teoria e a prát ica
Belém, 06 a 08 de outu bro de 1999
0 6 / 1 0 / 1 9 9 9 - Q u a rt a- fe ir a
2 0 h 0 0 — Aber tu ra Solene
0 7 / 1 0 / 1 9 9 9 - Q u i n ta -f e ir a
08 h3 0 - A Aprendizagem pelo D iálogo entre a Teoria e a Prática.
Roberto Santos
L u iz Edson Fachin
1 0 H 3 0 - Pausa para o café
10h45 - As Habil idades com o C entro do Processo de Aprendizagem.
Fernando Scaff
I 4 h 0 0 - G r u po s de T ra balh o
Gru po 1 - A Aprendizagem pela Prá ticajuríd ica .
G ru po 2 — Inter-relação entre Atividades Comp lementares e Habilidades.
G ru po 3 — Interação entre Con hecim ento Jurídico e Realidade: Pesquisa
e Extensão.
17 h0 0 - Evento Paralelo - Reunião d a CEJ com as Comissões de Ensino
Jurídico, com as Direções das Escolas Superiores de Advocacia das
Seccionais e com os representantes da II Câ mara.
227
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 236/240
08 /10 /199 9 - Sex ta -feira
08 h3 0 - Sentim entos Sociais, Q ua lida de de Forniaçao P" iiissional e
Con frontos C orporativos.
— Perspectivas das Diretrizes Curricula res e dos Critcrio's de
Avaliação no En sino Jurídico.
José A dria no Pin to
— O ensino da ética e a formação profissional
Silvino Joaquim Lopes Neto
10h 30 - Experiências Exemplares: Processos Inovadores de Aprci idrzagem
no Núc leo de Prática Jurídica.
1 2 h 3 0 - A t n i ü ç o
I4 1 i0 0 - Plenária Final
Conclusões do III Seminário “O Ensino Jurídico
no Limiar do Século XXI”
Tema: Diálogo entre a Teoria e a Prática
Belém/PA
Tem a 1 - A Aprendizagem pela Prática Jurídica
1 — Considerando que o concei to de “prát ica” envolve a “prá tica
pedagógica”, a “prá tica simulada” e a “prática real”, recomenda-se,
sempre que possível, que a prática jurídica perpasse todas as disciplinase atividades que in tegram o curso de graduação em Direito.
1.2 - Co nsiderando a necessidade de aplicação da prática além do cam po
m era m ent e forense, reco men da-se q ue as Seccionais e Subseções
228
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 237/240
da OAB envidem es forços a f im de p roporc ionar in tegra l
cooperação entre os Núcleos de Prática Jurídica e a com un idad e
em geral.
1.3 — Con siderando as diferenças entre a prática jurídica s imulada e a
real, recomenda-se que os instrumentos didático-pedagógicosutilizados para a prática jurídica real sejam diferentes daqueles
utilizados para a prática jurídica simulada.
Tem a 2 - In ter-rc lação ent re At iv idades Co m plem entares e
Habilidades
2 . 1 - As atividades complementares const i tuem um espaço alternat ivo
em que as relações tradicionais de ensino/apr endizag em pod em
scr transformad as. Ju stam ente po r sua naturez a inov adora é que
se to rn a difícil conceituá-las c om precisão.
2.2 - O êxito das atividades com plem entares pressupõe a ru ptu ra do
padrão tradicional de ensino in cor po rad o pelos professores.
2.3 - As habilidades profissionais po de m ser identificadas e estimuladas
nos a lunos no decorrer do desenvolvimento das a t iv idades
complementares.
Tema 3 - Interação entre o C on hec im en to Jurídico e Realidade:
resqu isa e Extensão
3.1 - Co nside rand o o caráter incipiente da pesquisa, na maioria das
Instituições, propõ e-se que se dê ráp ida definição às linhas de
pesquisa, mas que se iniciem de imedia to os trabalhos nos núcleos
de pesquisa, com o objetivo de proporcionar a criação de um
am bien te de pesquisa.
3 ’ Q u e os traba lhos, fru tos de pesquisa, sejam pub lica dos pelasInstituições com o fo rm a de incentivo a novas produções.
3.2 - Q ue sejam prom ovid os seminários para qu e os resultados das
pesquisas sejam apresentados ao meio acadêmico.
229
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 238/240
3.3 - Q ue a OAB reivindique ju nto aos órgãos de fomen to auxílio
para as instituições com objetivo de pro m ove r a qualificação do
c o r p o d o c e n t e , a u m e n t a n d o d e s s e m o d o o n ú m e r o d e
pesquisadores nos seus quadros .
3.4 - Q ue o Con selho Federal da OAB, através da sua Comissão deEnsino Jurídico, pr om ov a a criação de Revista para publicação de
trabalhos de alunos, fruto de pesquisas, co m o form a de incentivo,
sugerindo-se que os Conselhos Seccionais também acolham a
proposta.
3.5 — Q ue as Instituições atribuam carga horária para que os professores
desenvolvam projetos de pesquisa com pre en did os pelas linhas de
pesquisa da Instituição.3.6 - Q ue as Instituições prom ova m Cursos e Seminários sobre pesquisa
para preparar o seu corpo doc ente e discente.
3.7 - Q ue pelo me nos um a disciplina, voltada para a metodo logia de
pesquisa, seja incluída na grade cu rricular dos cursos jurídicos.
3.8 - Q ue o conceito de extensão-serviço seja am pliado para abranger:
- programas de assessoria e consultoria a mo vim entos da sociedade
civil;
- p rogram as de pales tras de esclarecimento e in formaç ão às
comunidades;
- elaboração de cartilhas de informa ção para servir à com unidad e;
3.9 - Q u e as atividades de extensão sejam levadas aos bairros e não
promovidas so me nte no espaço da Insti tuição.
3 . 1 0 - Q ue as atividades de extensão, sem pre qu e possível, apresentemcaráter interdisciplinar.
Recomendação proposta pela 2" Câ m ara do Con selho Federal da
OA B, aprovada na Sessão Plenária do d ia 08 de o utu bro d e 1999.
Co nsiderand o a preocupação co m a formação ético-profissional
dos egressos dos cursos jurídicos, recomenda-se:
1) Às Faculdades de Direito, a expansão do nú m ero m íni m o de 30
horas reservadas ao estud o da É tica par a 60 horas.
230
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 239/240
2) Ao Co nse lho Federal da OA B e aos Co nse lhos Seccionais, a
aplicação de maior vigor na fiscalização/acompanhamento da
formação ética dos estagiários tanto no estágio supervisionado
quanto no estágio profissional.
Moções da Comissão de Ensino Jurídico, aprovadas na Sessão
Plenária do dia 08 de ou tub ro de 1999.
1) M oçã o de apoio à m an ute nç ão das atuais diretrizes curriculares
dos cursos jurídicos que co nstam da Portaria M E C n° 1886/94 .
2) Moção de apoio à Com issão de Ensino Jurídico do Conse lho
Seccional de São Paulo pela luta contra a abertura irregular de
cursos jurídico s fora de sede.
231
7/17/2019 OAB Ensino Jurídico- Balanço de Uma Experiência
http://slidepdf.com/reader/full/oab-ensino-juridico-balanco-de-uma-experiencia 240/240