boletim conteÚdo jurÍdico n. 527 · advogado militante (oab/rs 73.357), trabalha nas áreas...

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0 BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 527 (ano VIII) (27/01/2016) ISSN - 1984-0454 BRASÍLIA - 2015 Boletim Conteúdo Jurídico - ISSN – 1984-0454

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BOLETIM CONTEÚDO

JURÍDICO N. 527 (ano VIII)

(27/01/2016)

ISSN - 1984-0454

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Conselho Editorial

COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade Granda/Espanha.

Coordenador do Direito Internacional (AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com mais de 10 anos de experiência. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitário

Coordenador de Dir. Administrativo: FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

Coordenador de Direito Tributário e Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em São Paulo (SP). Especialista em Direito Tributário e em Direito Financeiro pela FADUSP.

Coordenador de Direito Penal - RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. Contato: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

Boletim Conteú do Júrí dico

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SUMÁRIO

COLUNISTA DO DIA

27/01/2016 Mauricio Antonacci Krieger

» O princípio da fungibilidade no Processo do Trabalho

ARTIGOS

27/01/2016 Andre Vicentini Gazal » A importância da Defensoria Pública do Estado de São Paulo no acesso à educação infantil

27/01/2016 Matheus Oliveira de Souza

» O surgimento do Conselho Nacional de Justiça como órgão do Poder Judiciário Brasileiro

27/01/2016 Diego Garcia Oliveira

» Da constitucionalidade do estabelecimento de responsabilidade tributária do arrendador, pelo

pagamento do imposto sobre a propriedade de veículos automotores - IPVA, através da Lei Distrital

Nº 7.431/85

27/01/2016 Deborah Maria de Vasconcelos Gomes Soares

» Legitimidade da União para ajuizar ação de busca e apreensão com base na convenção de Haia

sobre os aspectos civis do sequestro internacional de crianças

27/01/2016 Lorena Carneiro Vaz de Carvalho Albuquerque

» O poder familiar, a maioridade, o parentesco e a obrigação alimentar

27/01/2016 Tauã Lima Verdan Rangel

» A Classificação das Paisagens Culturais: Breves Comentários

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O PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO

MAURICIO ANTONACCI KRIEGER:

Advogado militante (OAB/RS 73.357),

trabalha nas áreas cível e trabalhista.

Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela

PUCRS no ano de 2007. Especialista em

Direito do Trabalho e Processo do Trabalho

pelo IDC-RS no ano de 2010. Mestre em

Direito Processual Civil pela PUCRS no ano

de 2014. Professor de Direito da Graduação

e Pós-Graduação da Universidade de Santa

Cruz do Sul -UNISC.

Introdução

O sistema recursal comum possui alguns princípios de suma

importância e aplicabilidade prática no âmbito do processo. Alguns

deles também se aplicam ao processo do trabalho, como é o caso

do princípio da fungibilidade.

A pesquisa tem o escopo de apresentar as principais

características desse princípio recursal e sua aplicabilidade na

seara trabalhista, bem como os requisitos que o mesmo apresenta.

Fungibilidade e sua aplicabilidade nos recursos

trabalhistas

O princípio da fungibilidade está presente no sistema recursal

para permitir que um recurso seja aceito no lugar de outro. Ora, o

que se pretende dizer é que se o recurso inadequado chegou até o

magistrado com outro nome ou outra expressão, ainda assim

poderá ser aceito como se fosse o recurso adequado, desde que

respeite os requisitos necessários do princípio da fungibilidade,

também conhecido como princípio da instrumentalidade das formas,

que traz a ideia de que se o ato processual atingiu sua finalidade,

ainda que de outra forma e não traga prejuízos às partes poderá ser

válido. [1]

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Nesse sentido é o entendimento de Renato Saraiva e Aryanna

Manfredini quando sustentam que “o princípio da fungibilidade

permite que o juiz conheça de um recurso que foi erroneamente

interposto como se fosse o recurso cabível. Por este princípio,

permite-se o aproveitamento do recurso erroneamente nominado,

como se fosse o que deveria ser interposto, atendendo-se ao

princípio da finalidade e da simplicidade do processo do trabalho”.

[2]

Como pôde ser observado nas palavras dos autores acima, o

princípio da fungibilidade tem razão de ser no processo do trabalho

e, portanto, assim o será já que o princípio objeto desta pesquisa é

oriundo do processo civil, e este como se sabe é fonte subsidiária

do processo do trabalho naquilo em que a CLT for omissa e desde

que não seja incompatível com as normas trabalhistas, como

determina o art. 769 da CLT. Sendo assim, em obediência a toda

informalidade e simplicidade que fazem parte do processo do

trabalho, até mesmo para dar maior celeridade a este tipo de

demanda que lida com verbas alimentares a fungibilidade recursal

é admitida também no processo do trabalho.

O Código de Processo Civil de 1939 disciplinava o princípio

da fungibilidade no seu art. 810 in verbis: Salvo a hipótese de má-

fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição

de um recurso por outro, devendo os autos enviados à Câmara, ou

turma, a que compelir o julgamento. A CLT que data de 1943

aproveitou tal regra civilista para tornar o processo do trabalho mais

informal e simplificado, como já dito anteriormente. O CPC de 1973

não trouxe previsão para a fungibilidade, no entanto a doutrina e a

jurisprudência dominante aceitam passaram a aceitar tal princípio

para respeitar a instrumentalidade das formas. [3]

Apesar do CPC de 1973 não ter trazido expressamente a

fungibilidade dos recursos, de forma indireta a sua aplicabilidade

permaneceu inalterada, visto que os artigos 244 [4] e 250 [5]

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apresentam a mesma ideia, em que não há nulidade se o ato atingiu

sua finalidade e desde que respeite os requisitos necessários. O

Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) também não

disciplinou expressamente o princípio da fungibilidade, apenas

praticamente repetiu a redação dos artigos elencados acima nos

dispostos dos artigos 277 e 282 respectivamente. [6]

Para que o princípio da fungibilidade seja aceito, faz-se

necessário que alguns requisitos sejam observados. O primeiro

deles é que haja a existência de uma dúvida em qual recurso deve

ser interposto, mas essa dúvida deve ser doutrinária ou

jurisprudencial e não uma dúvida pessoal da parte que pretende

recorrer. O segundo requisito essencial é a inexistência de erro

grosseiro, ou seja, um recurso manifestamente incabível para

atacar a decisão recorrida não será aceito no lugar do que deveria

ter sido interposto. Por fim, o recurso interposto deve obedecer ao

prazo do recurso que seria apropriado, o que não causa maiores

problemas na seara laboral, em virtude dos prazos recursais ser de

8 dias comum aos recursos trabalhistas. [7]

Quanto à questão da dúvida em saber qual o recurso

apropriado para tal situação, uma situação comum de acontecer em

sede de processo do trabalho, é na fase de execução, em que a

doutrina não é unânime entre a interposição do recurso de agravo

de petição e as ações incidentais chamadas de embargos à

arrematação e a adjudicação. [8]

Carlos Henrique Bezerra Leite lembra alguns pontos de

extrema relevância no que tange ao princípio da fungibilidade:

primeiro que jamais será aceito um recurso no lugar de outro se for

comprovada a má-fé do recorrente, e o segundo aspecto é que na

Justiça do Trabalho um dos princípios norteadores é o do jus

postulandi, que significa dizer que as partes podem demandar sem

a necessidade de acompanhamento de advogado conforme art. 791

da CLT. [9] Sendo assim, obviamente que as partes por não terem

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maiores conhecimentos da técnica jurídica teriam maiores

dificuldades de interpor o recurso correto e adequado para atacar a

decisão impugnada, e por conta disso, a fungibilidade recursal

ganha ainda mais força no processo do trabalho. Mas o autor, deixa

claro “não ser razoável a aplicação do princípio da fungibilidade

quando o recorrente for o Ministério Público do Trabalho, uma vez

que sua atuação (seja como custos legis, seja como órgão agente)

dá-se sempre em defesa da ordem jurídica. Logo, afigura-se-nos

que a Instituição Ministerial, por decorrência lógica de sua atuação

e da notória especialização de seus órgãos, tem o dever de utilizar

o recurso adequado”. [10]

Gustavo Filipe Barbosa Garcia destaca algumas Súmulas e

Orientações Jurisprudenciais a respeito do tema, que valem a

leitura: são elas, a Súmula 421 do TST [11]; a OJ 69 da SDI-II do

TST [12]; a OJ 152 da SDI-II do TST [13]; e por fim, a OJ 412 da

SDI-I do TST. [14] [15]

Conclusão

Com o presente trabalho foi possível fazer algumas

conclusões a respeito do tema. O princípio da fungibilidade é um

princípio recursal aplicado no processo comum e aproveitado

também no processo trabalhista.

Sua aplicabilidade depende de alguns requisitos essenciais,

sob pena de não aceitação pelo julgador. No processo do trabalho,

em virtude do jus postulandi das partes, toda a formalidade de uma

peça recursal inclusive com o nome correto do recurso é

relativizado, mas ainda assim não é qualquer erro que será aceito

baseado no princípio da fungibilidade.

Referências

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CAIRO JÚNIOR, José. Curso de direito processual do

trabalho. 8. ed. rev. atual., e ampl. Salvador: Editora JusPodivm,

2015.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito

processual do trabalho. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2015.

JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de

Quadros Pessoa. Direito processual do trabalho. 7. ed. São

Paulo: Editora Atlas S.A, 2015.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do

trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007.

MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito processual

do trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2005.

SARAIVA, Renato; MANFREDINI, Aryanna. Curso de direito

processual do trabalho. 12. ed. Revista, ampliada e atualizada.

Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

NOTAS

1. CAIRO JÚNIOR, José. Curso de direito processual do

trabalho. 8. ed. rev. atual., e ampl. Salvador: Editora JusPodivm,

2015, p. 698.

2. SARAIVA, Renato; MANFREDINI, Aryanna.Curso de direito

processual do trabalho. 12. ed. Revista, ampliada e atualizada.

Salvador: Editora JusPodivm, 2015, p. 463.

3. MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito

processual do trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda,

2005, p. 203.

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4. Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem

cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado

de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

5. Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos

são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que

sejam repetidos ou retificados. § 1.º O ato não se repetirá nem se

lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte. § 2.º Quando puder

decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da

nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou

suprir-lhe a falta.

6. JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto

de Quadros Pessoa. Direito processual do trabalho. 7. ed. São

Paulo: Editora Atlas S.A, 2015, p. 824.

7. Idem, p. 824-5.

8. MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito

processual do trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda,

2005, p. 204.

9. Cabe fazer a ressalva que de acordo com o art. 791 da CLT,

os empregados e os empregadores poderão reclamar

pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas

reclamações até o final. No entanto, o entendimento da Súmula 425

do TST traz o verdadeiro alcance do jus postulandi, que deve ser

limitado nas Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do

Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o

mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal

Superior do Trabalho.

10. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito

processual do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 654.

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9 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55112

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11. Súmula 421. Embargos declaratórios contra decisão

monocrática do relator calcada no art. 557 do CPC. Cabimento.

I – Tendo a decisão monocrática de provimento ou denegação de

recurso, prevista no art. 557 do CPC, conteúdo decisório definitivo

e conclusivo da lide, comporta ser esclarecida pela via dos

embargos de declaração, em decisão aclaratória, também

monocrática, quando se pretende tão somente suprir omissão e

não, modificação do julgado. II – Postulando o embargante efeito

modificativo, os embargos declaratórios deverão ser submetidos ao

pronunciamento do Colegiado, convertidos em agravo, em face dos

princípios da fungibilidade e celeridade processual.

12. OJ 69. Fungibilidade recursal. Indeferimento liminar de

ação rescisória ou mandado de segurança. Recurso para o

TST. Recebimento como agravo regimental e devolução dos

autos ao TRT. Recurso ordinário interposto contra despacho

monocrático indeferitório da petição inicial de ação rescisória ou de

mandado de segurança pode, pelo princípio da fungibilidade

recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de não

conhecimento do recuso pelo TST e devolução dos autos ao TRT,

para que aprecie o apelo como agravo regimental.

13. OJ 152. Ação rescisória e mandado de segurança.

Recurso de revista de acórdão regional que julga ação

rescisória ou mandado de segurança. Princípio da

fungibilidade. Inaplicabilidade. Erro grosseiro na interposição

do recurso. A interposição de recurso de revista de decisão

definitiva de Tribunal Regional do Trabalho em ação rescisória ou

em mandado de segurança, com fundamento em violação legal e

divergência jurisprudencial e remissão expressa ao art. 896 da CLT,

configura erro grosseiro, insuscetível de autorizar o seu

recebimento como recurso ordinário, em face do disposto no art.

895, b da CLT.

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14. OJ 412. Agravo inominado ou agravo regimental.

Interposição em face de decisão colegiada. Não cabimento.

Erro grosseiro. Inaplicabilidade da fungibilidade recursal. É

incabível agravo inominado (art. 557, § 1.º do CPC) ou agravo

regimental (art. 235 do RITST) contra decisão proferida por Órgão

colegiado. Tais recursos destinam-se, exclusivamente, a impugnar

decisão monocrática nas hipóteses expressamente previstas.

Inaplicável no caso, o princípio da fungibilidade ante a configuração

de erro grosseiro.

15. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito

processual do trabalho. 4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2015, p. 574-5.

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A IMPORTÂNCIA DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO NO

ACESSO À EDUCAÇÃO INFANTIL

ANDRE VICENTINI GAZAL: Defensor Público do Estado de São Paulo. Especialista em Ciências Penais. Especialista em Direito Constitucional.

RESUMO: O presente estudo visa analisar a Defensoria Pública a partir da

previsão constitucional e demonstrar a importância da criação desta

instituição no Estado de São Paulo. O acesso à justiça pela população de

baixa renda e a importância da Defensoria Pública como principal

instrumento dos cidadãos considerados hipossuficientes, especialmente

no tocante a falta de disponibilidade de vagas no acesso à educação

infantil. O controle de políticas públicas pelo Poder Judiciário e a questão

da judicialização das vagas em creches.

Palavras-chave: Defensoria Pública – Acesso à Justiça – Hipossuficientes -

Educação Infantil – Controle Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

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A proximidade com objeto de estudo desta pesquisa, ou seja, o

direito à educação infantil iniciou-se com meu ingresso na Defensoria

Pública, quando comecei minha atuação na área da infância e juventude.

Os frequentes atendimentos de famílias de baixa renda

desesperadas pela obtenção de uma vaga em creche para seus filhos

despertou um interesse grande nesta temática. Outro aspecto que cativou

o estudo desse trabalho se refere a extrema relevância social do tema ao

futuro da sociedade em geral.

O presente trabalho analisará a Defensoria Pública na

Constituição Federal e os modelos de acesso à justiça. Em um segundo

momento será analisado a importância da criação da Defensoria Pública

do Estado de São Paulo na busca de efetividade do direito à educação

infantil.

Na sequência serão destacadas as normas constitucionais e

legais que garantem o direito à educação infantil a todos, de forma

gratuita, com estrutura e qualidade que garantam a formação das crianças

na fase mais importante de seus desenvolvimentos cognitivos.

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Logo após, apresentaremos à dificuldade de obtenção de uma

vaga em creche as famílias de baixa renda e as diversas “desculpas” do

Pode Público em garantir o direito à educação infantil da camada da

população mais vulnerável.

Por fim, abordaremos o brilhante trabalho desenvolvido pela

Defensoria Pública do Estado de São Paulo na garantia do direito

fundamental das crianças de baixa renda no acesso à educação infantil. A

questão do controle de políticas públicas pelos Poder Judiciário e

indagaremos se a judicialização das demandas seria a solução e as

possíveis alternativas a falta de creches.

1. BREVE ANÁLISE DA DEFENSORIA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988

A Defensoria Pública foi prevista na Constituição Federal de

1988, como função essencial à justiça em seu artigo 134. No texto

originário a Defensoria Pública dividia uma seção com a advocacia.

No entanto, em recente reforma constitucional, através da

Emenda Constitucional nº 80 de 2014, a Defensoria Pública recebeu uma

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atenção especial e um reconhecimento, visto que passou a ter uma seção

específica no texto constitucional como expressão e instrumento do

regime democrático, existindo ainda previsão expressa de seus princípios

institucionais e de sua autonomia funcional, administrativa, bem como a

iniciativa de sua proposta orçamentária.

Assim, o reconhecimento da Defensoria Pública, inclusive com

a sua ampliação no texto constitucional, apenas reforça que essa

instituição foi escolhida para a solução de conflitos e como ferramenta

essencial a pacificação das contendas, ainda mais diante do atual cenário

de exclusão e marginalização da maior parte da população brasileira.

1.1. A DEFENSORIA PÚBLICA E OS MODELOS DE ACESSO À

JUSTIÇA

A Constituição Federal de 1988 escolheu o modelo público de

prestação de assistência jurídica, ou seja, a Defensoria Pública é que

deveria ser a responsável por essa prestação (artigo 5º, inciso LXXIV e

artigo 134, da CF).

Ocorre que existiam Estados, como São Paulo, que não tinham

Defensoria Pública e adotavam um sistema diferenciado, como por

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exemplo, a prestação de serviço ligado a Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB). Neste Estado acima mencionado existia (ainda existe) muita

resistência em relação à Defensoria Pública.

De acordo com Soares dos Reis, Zveibil e Junqueira (2013, p.32)

“A previsão constitucional dissipa toda dúvida

em favor da adoção do modelo público, com

organização e estrutura de instituição pública. Desde

logo, já sob o âmbito formal, é possível concluir que

os demais modelos são, assim, desobedientes à

Constituição, inconstitucionais[1]”.

Portanto, o Estado de São Paulo tinha um modelo

inconstitucional de prestação de assistência jurídica.

1.2. A CRIAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

No Estado mais rico do país, a assistência jurídica a população

de baixa renda era prestada pela Procuradoria de Assistência Judiciária

(PAJ), órgão pertencente à Procuradoria Geral do Estado, ou seja, os mais

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necessitados eram atendidos pela instituição responsável por prestar

serviços jurídicos ao Governo do Estado.

Além do órgão mencionado, a OAB complementava o serviço

insuficiente através de advogados conveniados.

Após quase 18 anos da Constituição Federal, a Defensoria

Pública do Estado de São Paulo foi criada e, isso somente ocorreu, após

forte pressão da sociedade civil, que resultou na promulgação da Lei

Complementar Estadual nº 988, de 09 de janeiro de 2006. Foi uma vitória

para a população carente do Estado, pois passaram a ser defendidos por

uma instituição autônoma e independente.

Apesar da criação da Defensoria Pública e do seu enorme

crescimento nos últimos anos, infelizmente algumas cidades do Estado

ainda são atendidas através do modelo antigo.

Porém, a tendência é que a situação seja alterada, pois a EC nº

80/2014 prevê um prazo de 08 anos para que a União, Estados e o Distrito

Federal dotem todas as Comarcas com defensores públicos.

2. O DIREITO À EDUCAÇÃO INFANTIL

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A Constituição Federal de 1988 conferiu tamanha importância

ao direito à educação, que lhe atribui o status de direito público subjetivo,

conforme dispõe o artigo 208, incisos I, IV e § 1º. Vejamos.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será

efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4

(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,

assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os

que a ela não tiveram acesso na idade própria.

(...)

IV - atendimento em creche e pré-escola às

crianças até 05 anos de idade.

(...)

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é

direito público subjetivo.

O grande estudioso José Afonso da Silva apresenta as seguintes

considerações sobre a natureza de direito público subjetivo.

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“Direito subjetivo, como se sabe, é o direito

exigível, é o direito integrado ao patrimônio do

titular, que lhe dá o poder de exigir sua prestação - se

necessário, na via judicial. Assim é qualquer direito

subjetivo. A rigor, para que pudesse opor-se ao Poder

Público, nem se precisava acrescentar 'público'.

Todavia, direito público subjetivo significa direito

oponível ao Poder Público, direito que cabe ao

Estado satisfazer. O ‘público' acrescenta-lhe a força

de direito público, e no caso, do direito público

fundamental, que é o direito constitucional[2]."

Importante destacar que essas normas constitucionais são de

eficácia plena, ou seja, de aplicabilidade imediata.

Não se pode olvidar também do relevantíssimo artigo 227 da

Constituição Federal. Este afirma que é dever da família, da sociedade e

do Estado assegurar à criança, com prioridade absoluta, o direito à

educação.

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Após quase dois anos da promulgação da Constituição, surgiu

um documento de suma importância à criança e ao adolescente. A lei nº

8.069/90 criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O principal

objetivo dessa lei foi a adoção da doutrina da proteção integral, afastando

a ideia autoritária, repressiva e paternalista do Código de Menores.

A brilhante doutrinadora Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade

Maciel exemplifica essa ideia.

“A partir da Constituição Federal, não houve

mais espaço para a subsistência do modelo de

atendimento centralizado, vertical, assistencialista e

correcional-repressivo construído sob a égide do

Código de Menores, sendo a promulgação da Lei

8.069/90 – ECA – o passo subsequente na instituição

de uma nova ordem jurídico-social e,

consequentemente, de uma nova política de

atendimento[3]”.

O principal ponto do ECA em relação ao direito à educação

infantil foi a obrigação dos Municípios em atender a demanda, de acordo

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com os preceitos constitucionais, sendo que o Conselho Tutelar, os

Conselhos Nacionais, Estaduais e Municipais, o Ministério Público, a

Defensoria Pública e outras entidades da sociedade deveriam zelar pelo

direito à educação a partir do nascimento.

Outro instrumento de grande relevância foi a lei de diretrizes e

bases da educação (9.394/96). A sua importância foi sistematizar o direito

à educação em todos os seus níveis. Destacaremos os artigos 29 e 30 que

estão relacionados ao direito à educação infantil.

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da

educação básica, tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco)

anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual

e social, complementando a ação da família e da

comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de

2013)

Art. 30. A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para

crianças de até três anos de idade;

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II -pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5

(cinco) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº

12.796, de 2013)

Portanto, a educação integral da criança inicia-se com o acesso

as creches. Essa previsão legislativa se coaduna com o fundamental e

enorme impacto da educação infantil no desenvolvimento das crianças.

3. A DIFICULDADE EM CONSEGUIR UMA VAGA NA CRECHE

O mestre Rodrigo Albuquerque de Victor aborda o desafio do

Estado em universalizar o acesso.

“O principal desafio para o Estado é, sem dúvida,

universalizar o acesso gratuito a creches e pré-

escolas. E mais: distribuí-las de modo que atendam

geograficamente a demanda. Atualmente, apenas

poucos Municípios brasileiros contam com rede

minimamente satisfatória. Faz-se inarredável uma

efetiva capilarização de ensino infantil, com

atendimento preferencial em áreas carentes[4]”.

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No Brasil, infelizmente essa não é a mentalidade, menos da

metade das crianças frequentam creches ou pré-escolas e, pior, algumas

delas ainda apresentam uma qualidade baixa.

O principal empecilho ao acesso das crianças as creches

municipais decorre da recusa do Poder Público Municipal em matricular

as crianças. Em muitos casos os pais são inseridos em uma chamada “lista

de espera” e acabam aguardando por alguns anos a tão sonhada vaga.

Além disso, a dificuldade em conseguir uma vaga em creches

dificulta ainda mais o rendimento financeiro da família, pois as mães são

obrigadas a parar de trabalhar por não ter com quem deixar os filhos.

O Poder Público Municipal alega principalmente que não possui

condições orçamentárias para atender o grande déficit existente há

gerações. Alguns Municípios inclusive editam algumas normas

estabelecendo regras ilegais ou abusivas para a obtenção da vaga, como

por exemplo, que os pais comprovem a existência de emprego formal.

Como se sabe também, infelizmente em alguns municípios do

nosso Estado, a chamada lista de espera é válida apenas para as pessoas

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23 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55112

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que não tenham nenhum contato com políticos de grande influência na

região, ferindo de forma frontal o princípio da isonomia.

4. A IMPORTÂNCIA DA DEFENSORIA PÚBLICA NO ACESSO AS CRECHES

MUNICIPAIS E CONTROLE DE POLÍTICAS PÚBLICAS PELO PODER

JUDICIÁRIO

No Brasil, em um primeiro momento, as creches foram criadas

à margem do sistema educacional. Essas creches eram vinculadas à

assistência social para que as famílias pobres pudessem deixar seus filhos

enquanto trabalhassem. A ideia assistencialista acabou desenvolvendo

um modelo de estabelecimentos particulares na educação infantil.

Diante desse modelo particular de educação infantil, a

população de baixa renda sempre encontrou dificuldades para garantir o

direito à educação de seus filhos.

A partir da criação da Defensoria Pública no Estado de São

Paulo, os hipossuficientes ganharam um importante aliado em busca da

garantia desse direito.

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A lei complementar federal 80/94 e a lei complementar

estadual (São Paulo) 988/06 determinam, como função institucional da

Defensoria Pública, a defesa dos interesses individuais e coletivos das

crianças e adolescentes.

A Defensoria Pública tem o dever de utilizar as diversas formas

de ação, tanto na seara individual quanto na coletiva para buscar a

efetividade do direito à educação infantil, inclusive com a propositura da

ação civil pública.

Surge neste instante, a questão do controle de políticas públicas

pelo Poder Judiciário. O principal posicionamento a favor da intervenção

do Judiciário no controle de políticas surgiu através da decisão

monocrática do brilhante ministro Celso de Mello, no julgamento da ADPF

45-9. Neste julgamento o ministro destaca a importância de se garantir

condições materiais mínimas de existência a apontar os alvos prioritários

dos gastos públicos.

De acordo com Grinover e Watanabe (2013, p. 132):

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“Os direitos cuja observância constitui objetivo

fundamental do Estado (art. 3º da CF), e cuja

implementação exige a formulação de políticas

públicas, apresentam um núcleo central, ou núcleo

duro, que assegure o mínimo existencial necessário a

garantir a dignidade humana[5]”.

O direito à educação infantil é incluído no mínimo existencial,

como direito público subjetivo do cidadão, sendo garantido o acesso à

justiça para que tal direito seja garantido pelo Poder Público.

Assim, inexiste discricionariedade administrativa do Poder

Público em promover o acesso à educação infantil, principalmente em

locais em que a demanda por vagas nas creches é muito superior as vagas

existentes.

A principal defesa do Poder Público em não efetivar o direito

das crianças a educação infantil é a falta de recursos para investir nessa

área. Contudo, a reserva do possível deve ser afastada pelo Judiciário com

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objetivo de garantir a imediata implementação do direito à educação

infantil.

Importante trazermos a decisão do Supremo Tribunal Federal

em brilhante julgamento:

Trata-se de recurso extraordinário interposto de

acórdão o qual manteve sentença que entendeu ser

obrigação do Município o oferecimento de vagas

suficientes para atender a demanda escolar e pré-

escolar (fls. 512-541). 2. Nas razões do RE, alega-se

ofensa aos arts. 2º, 5º, caput, 18, 30, 85, 167, 208, I e

IV, e 211, §2º, todos da Constituição Federal (fls. 563-

579). 3. Admitido o recurso (fls. 588-589), subiram os

autos. 4. A Procuradoria-Geral da República opinou

pelo não-provimento do recurso (fls. 595-597). 5. O

recurso não merece prosperar. Ambas as Turmas do

Supremo Tribunal Federal consolidaram

entendimento em torno da matéria para

reconhecer que a educação infantil é prerrogativa

constitucional indisponível, devendo o Estado criar

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condições objetivas que possibilitem o efetivo

acesso a creches e unidades pré-escolares. No caso,

não há falar, assim, em ingerência do Poder

Judiciário em questão que envolve o poder

discricionário do Poder Executivo, porquanto se

revela possível ao Judiciário determinar a

implementação pelo Estado, quando inadimplente,

de políticas públicas constitucionalmente

previstas. Nesse sentido, o RE 463.210-AgR/SP, rel.

Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, unânime, DJ

03.02.2006; RE 384.201-AgR/SP, rel. Min. Marco

Aurélio, 1ª Turma, unânime, DJe 03.8.2007; e, mais

recentemente, o RE 600.419/SP, rel. Min. Celso de

Mello, DJe 28.9.2009 [...] 6. Ante o exposto, nego

seguimento ao recurso extraordinário (CPC 557,

caput). Publique-se. Brasília, 04 de março de 2011.

Ministra Ellen Gracie Relatora (RE 541164,

Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, julgado em

04/03/2011, publicado em DJe-048 DIVULG

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14/03/2011 PUBLIC 15/03/2011) Destacamos e

negritamos

O julgamento acima demonstra o entendimento consolidado

pelas duas turmas do órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro. Assim,

não deveria existir qualquer discussão a respeito do controle de políticas

pública pelo Judiciário nessa seara.

No tocante a atuação de Defensoria Pública no estado de São

Paulo, os defensores públicos, em um primeiro momento, buscaram

utilizar a solução extraprocessual. Como funcionava?

Os defensores, nas mais diversas cidades do Estado, ao

atenderem uma família em busca de vaga em creche orientavam o pedido

administrativo diretamente nas creches, na secretaria de educação ou no

Conselho Tutelar, de acordo com as regras estabelecidas no Município. Em

caso de negativa, a Defensoria Pública em alguns Municípios ainda tentava

oficiar a secretaria de educação. Em diversas localidades também foram

realizadas reuniões com as autoridades em busca de uma solução.

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Diante da inércia ou resposta negativa, a Defensoria Pública

ingressava com uma ação individual (Mandado de Segurança ou

Obrigação de Fazer). Em regiões de grandes déficits de vagas, foram

ajuizadas ações coletivas e ações civis públicas.

Importante mencionar que, infelizmente, em um primeiro

momento, a maioria do Poder Judiciário sempre acolheu as demandas

individuais, mas não olhava com os mesmos olhos as ações coletivas e as

ações civis públicas.

Outro ponto interessante e bastante discutido foi qual seria a

sanção aplicada em caso de descumprimento da ordem ou da decisão

judicial.

A primeira ideia seria a fixação de multa diária. A segunda ideia

seria responsabilizar o agente por ato de improbidade e a terceira ideia

seria pedir a intervenção no Município ou, ainda, responsabilizar o

Prefeito Municipal por crime de responsabilidade ou desobediência.

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A grande questão é que nenhuma dessas sanções resolveria o

problema, pois em nenhuma delas a tão sonhada vaga em creche seria

obtida.

Diante da ampla atuação da Defensoria Pública, as cidades do

Estado de São Paulo cumpriram as decisões, criaram planos de expansão

da rede, fixaram convênios, firmaram termos de ajustamento de

condutas, etc.

No entanto, devido a grande atuação da Defensoria Pública,

surgiu a demanda reprimida (o que já era esperado), ou seja, o

crescimento da quantidade de famílias em busca de vagas na educação

infantil cresceu absurdamente. A título de exemplo, surgiram duas listas

de espera de vagas em creches: 1- a lista normal; 2- lista de famílias com

decisões judiciais garantindo a vaga.

Outro ponto que aflige os defensores é a questão do “fura fila”,

isto é, as famílias hipossuficientes que estão na lista de espera são

atingidas pelas ações judiciais da Defensoria Pública de outras famílias,

que obtém decisão judicial para que seja imediatamente conferida a vaga.

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A Defensoria Pública entende que a judicialização da questão

não seria a solução adequada para a resolução definitiva do problema. No

entanto, diante da inércia do Poder Público, não resta outra alternativa

atualmente, mas deve-se continuar a tentar o diálogo com o Município e

suas respectivas Secretarias como forma de implementar o mais rápido

possível o direito constitucional a educação infantil.

CONCLUSÃO

A ideia de realizar o presente estudo foi apresentar uma

temática atual e de difícil solução em curto prazo.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo possui uma

importância relevante como instrumento de facilitação do acesso à

educação infantil pela população de baixa renda. Essa camada de

hipossuficientes nunca tiveram um acesso à justiça de forma autônoma e

independente para garantia de seus direitos.

Ocorre que a simples judicialização da questão pode resolver

um problema específico no caso concreto, mas não contribuiria para uma

solução ampla e definitiva da questão.

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Por outro lado, o grande problema de escolher uma opção

consensual com o Poder Público é a falta confiança que seus comandantes

apresentam em suas ações.

Concluindo, a questão da falta de creches está longe de uma

solução, mas acredito que o caminho seja a continuidade das demandas

judiciais, como forma de garantir o acesso imediato às creches, bem como

a tentativa de um acordo com o Poder Público para que este assuma um

compromisso de investir na construção de novos estabelecimentos

educacionais infantis nos próximos anos.

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucional ao alcance de todos.

São Paulo: Saraiva, 2009.

CARACIOLA, Andrea Boari; ANDREUCCI, Ana Cláudia Pompeu Torezan;

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LTr, 2010.

CARRIDE, Noberto de Almeida. Estatuto da Criança e do Adolescente:

Anotado. Campinas: Servanda, 2006.

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Jurisdicional de Políticas Públicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

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______. Políticas Públicas no Estado Constitucional. São Paulo: Atlas,

2013.

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da

Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos. 6. ed. São Paulo:

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Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente: Comentado. 2. ed. São

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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23.

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SOARES DOS REIS, Gustavo Augusto; ZVEIBIL, Daniel Guimarães;

JUNQUEIRA, Gustavo. Comentários à Lei da Defensoria Pública. São

Paulo: Saraiva, 2013.

VICTOR, Rodrigo Albuquerque de. Judicialização de Políticas Públicas

para a educação infantil. São Paulo: Saraiva, 2011.

NOTAS:

[1] SOARES DOS REIS, Gustavo Augusto; ZVEIBIL, Daniel Guimarães;

JUNQUEIRA, Gustavo. Comentários à Lei da Defensoria Pública. São Paulo:

Saraiva, 2013. 354 p.

[2] SILVA, José Afonso. Comentário contextual à Constituição. 3. Ed.

São Paulo: Malheiros, 2007. p. 795

[3] MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da

Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos. 6. ed. São Paulo:

Saraiva, 2013. 1139 p.

[4] VICTOR, Rodrigo Albuquerque de. Judicialização de Políticas

Públicas para a educação infantil. São Paulo: Saraiva, 2011. p.84

[5] GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo. O Controle

Jurisdicional de Políticas Públicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

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35 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55112

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O SURGIMENTO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA COMO

ÓRGÃO DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO

MATHEUS OLIVEIRA DE SOUZA: Assessor de

Desembargador no Tribunal de Justiça do Estado da

Bahia de 11/2012 até os dias atuais. Advogado entre

01/2010 e 11/2012. Bacharel em Direito pela

UNIFACS - Universidade Salvador, formado em

12/2009.

RESUMO: O presente artigo, à luz do contexto histórico e constitucional

pertinente, analisa a criação do Conselho Nacional de Justiça e o papel

exercido perante a dinâmica constitucional brasileira. A Constituição Federal

outorgou ao Poder Judiciário autonomia para os tribunais elegerem seus

dirigentes, organizarem sua estrutura material, dividirem as competências

entre órgãos fracionários e etc., e, diante dessa ralidade, surge o Conselho

Nacional de Justiça, através da Reforma do Judiciário, com poderes para

regular, inclusive de ofício, os atos administrativos emanados pelas Cortes

jurisdicionais. A partir daí, a atuação do Conselho será analisada sob o

prisma de suas competências, procedendo à elencação de alguns dos

mecanismos oferecidos aos jurisdicionados e à sociedade como um todo.

Programas e ações implementadas pelo órgão em questão serão objeto de

análise, além de sua aptidão para fomentar a organização logístico-

estrutural da justiça. A aplicação do seu viés disciplinar-correcional, através

das inspeções e processos disciplinares serão examinados à luz das

atribuições conferidas pela Carta Maior.

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Palavras-chave: conselho nacional de justiça; autogoverno; emenda

constitucional n.º 45.

ABSTRACT: This academic paper discusses, in the light of the relevant

historical and constitutional context, the creation of the National Council of

Justice and the role played before the Brazilian constitutional dynamics

conduct of judicial institutions as a way to improve once and for all the

services courts. The Federal Constitution granted the judiciary autonomy to

the courts elect their leaders, organize their material structure, dividing the

responsibilities between fractional organs , etc., and , given this reality,

comes the National Council of Justice through the Judicial Reform with

powers to regulate, including legal, administrative acts issued by the judicial

courts. From there, the work of the Council will be analyzed through the prism

of their skills, proceeding to talk about some of the mechanisms offered to

jurisdictional and society as a whole. Programs and actions implemented by

the agency in question will be analyzed, as well as its ability to foster logistical

and structural organization of justice. The implementation of its discipline

correctional rules, through inspections and disciplinary procedures will be

examined in the light of the powers conferred by The Federal Constitution.

1 INTRODUÇÃO

A recente ordem constitucional inaugurada pela promulgação da

Carta Política de 1988, ao mesmo tempo em que redimensionou o

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significado das Instituições componentes da estrutura organizacional do

Estado, ampliou as garantias e direitos individuais dos cidadãos brasileiros.

O Conselho Nacional de Justiça é uma instituição nova que surge

dentro de um sistema judicial arcaico e ultrapassado. São muitos os conflitos

advindos dessa nova dinâmica com a qual se revestiu não somente a

atuação dos tribunais brasileiros, mas também a própria noção do que,

efetivamente, se consiste a prestação jurisdicional e quais são verdadeiros

os fins almejados quando do exercício de tão relevante mister.

A amplitude de garantias legais, sociais e econômicas outorgadas

pela Constituição Federal de 1988 aos cidadãos e às instituições

componentes da estrutura política do Estado brasileiro, não conseguiu fazer

com que todos os setores da sociedade acompanhassem, na mesma

proporção, o desenvolvimento advindo destes novos contornos legais. Um

paradoxo, sem dúvidas, ainda a ser completamente extirpado.

O fato é que o Poder Judiciário não conseguiu promover o

aprimoramento necessário a suprir as necessidades dos jurisdicionados,

cada vez mais ciosos de seus direitos e detentores de grandes e legítimas

expectativas no afã de obter a resolução dos litígios através de uma solução

juridicamente construída.

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Nesse contexto, a autonomia administrativa e financeira, garantidas

aos tribunais a partir da Constituição Cidadã e reiteradamente objeto de

reivindicação por parte do Judiciário, assegurou, de fato, a independência

sistematicamente perdida ao longo dos anos de repressão oriundos da

época do domínio ditatorial militar.

Tais prerrogativas, que garantem às Cortes brasileiras o denominado

autogoverno, acabaram por representar um isolamento sem igual do Poder

Judiciário em relação aos demais setores sociais; os atos de gestão, as

ocorrências disciplinares, a destinação do orçamento, tudo ficava quase que

à margem das vistas alheias, sob o pretexto da autonomia plena dos órgãos

judicantes, também afiançada no âmbito administrativo.

O presente trabalho científico busca efetivar uma análise do ponto de

vista histórico da criação do CNJ como órgão central no controle

administrativo dos Tribunais, ao tempo em que visa delinear as

competências que lhe foram constitucionalmente outorgadas no desiderato

de regular a atividade administrativa e financeira das Cortes nacionais.

Assim, será objeto de apreciação científica os contornos estruturais

do Conselho Nacional de Justiça, mediante a explanação de uma visão geral

de sua atuação, instrumentos regimentais postos à disposição da sociedade,

execução do poder disciplinar-correicional, exemplos de ações e

campanhas deflagradas no âmbito da justiça brasileira, tudo abalizado sob

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uma ótica crítica e abalizada pelos pronunciamentos doutrinários

pertinentes.

2 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA: O SURGIMENTO E A SUA

CONSOLIDAÇÃO NO ÂMBITO DO SISTEMA LEGAL PÁTRIO.

Uma verdadeira revolução no Poder Judiciário Brasileiro fora

desencadeada mediante a aprovação, em dezembro de 2004, do projeto

legislativo que culminou, entre outras coisas, com a criação do Conselho

Nacional de Justiça. Idealizado, inicialmente, como um mecanismo de

controle externo do Poder Judiciário cujo escopo seria o de romper com o

isolacionismo social decorrente do monopólio do “dizer o direito”, a criação

de um órgão regulador da atividade judiciária abarcava as expectativas de

resolução dos problemas estruturais históricos, ligados, muitas vezes, à

renitência na manutenção de métodos burocráticos incapazes de solucionar

os litígios decorrentes da dinâmica do mundo moderno.

Nesse diapasão, acirradas discussões envolvendo as diversas

camadas da sociedade multiplicaram-se a fim de tentar solucionar, de uma

vez por todas, as conhecidas deficiências dos serviços judiciais, agravadas

pela proliferação de denúncias de corrupção envolvendo magistrados, fatos

estes que acabavam por dissipar a ideia de uma verdadeira crise

institucionalizada.

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De fato, as lacunas no funcionamento dos serviços jurisdicionais, sem

sombra de dúvidas, serviram como combustor para o afloramento, na

sociedade, da percepção de que necessário se fazia a adoção de alguma

providência, no sentido de viabilizar a concretização dos verdadeiros ideais

de justiça, utilizados, muitas vezes, de forma demagoga e desentrelaçada

da realidade fática vivenciada pelo Judiciário.

Em que pese a existência efetiva de grandes deficiências no serviço

de distribuição de justiça, observava-se que tais problemas eram

reiteradamente objeto de discursos com viés meramente políticos, que

sustentavam o alcance de paradigmas sabidamente inalcançáveis, em

virtude, justamente, da necessidade de se ter um judiciário eternamente

dependente, subordinado que era às disposições dos demais Poderes do

Estado.

Por outro lado, a insustentabilidade da situação demandava uma

solução eficaz, que viria a ser amplamente discutida pelos setores da

sociedade organizada. A respeito de tal contexto, rememoram Joaquim

Falcão, Marcelo Lennertz e Tânia Rangel (2009):

Na medida em que o Judiciário se revelou historicamente

incapaz de equacionar sozinho esse desequilíbrio, surgiram

propostas de Emenda Constitucional, a favor de um controle

externo da magistratura, com a participação de representantes da

sociedade e dos demais Poderes capaz não somente de agilizar

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as decisões, como também de garantir os princípios do art. 37 da

CRFB/88.

Como consequência de tais crescentes insatisfações – muitas delas

capitaneadas também por setores da imprensa às voltas com a chamada

“CPI do Judiciário” e que apostavam no sensacionalismo puro e desprovido

do dever de informação socialmente relevante -, relembra Luis Flávio Gomes

(1994, p.83), que se chegou até mesmo a colocar-se em cheque a

legitimidade dos membros do judiciário para o exercício do seu múnus em

razão de um suposto ”déficit de legitimação democrática”, pelo fato de seus

membros não serem eleitos diretamente pelo povo.

À par da discussão acerca do tema, reiterando a total inconsistência

do referido argumento em razão de sua manifesta impropriedade político-

jurídica, porquanto indubitável a coexistência da legitimação representativa,

consubstanciada na possibilidade do cidadão imiscuir-se completamente no

processo de escolha dos agentes públicos que irão representá-lo perante à

sociedade, com a legitimação formal, esta ligada à escolha dos juízes,

também erigida pelo Poder Constituinte como via de acesso e atuação no

desenvolvimento das Instituições nacionais, é que o recrudescimento das

críticas endereçadas à justiça como um todo deram o impulso necessário à

concretização do referido órgão controlador das atividades dos Tribunais

brasileiros.

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2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

No Brasil, nunca soou estranha a concepção acerca da existência de

um órgão regulador vinculado ao Poder Judiciário. De fato, ainda na década

de 70, através da Emenda Constitucional n. 7 de 1977, fora instalado, no

ano de 1979, o Conselho Nacional da Magistratura, composto por sete

ministros do Supremo Tribunal Federal cuja atribuição consistia em exercer

o controle disciplinar, podendo avocar processos contra juízes de primeiro

grau, bem como determinar sua disponibilidade ou aposentadoria com

vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

Tendo permanecido ativo até a promulgação da Carta Magna ora

vigente, com a extinção definitiva do mencionado Conselho, surgiram as

primeiras discussões entre os protagonistas da instituição judiciária dando

conta da necessidade da criação de outra Corte fiscalizadora, com poderes

mais efetivos, a fim de suprir a falta de vinculação administrativa advinda

dos novos contornos delineados pela Lei Maior.

Assim sendo, em meio a esta nova ordem constitucional vigente após

a promulgação da Constituição Federal de 1988, necessário se fazia, pois,

o estabelecimento de um padrão moral e administrativo capaz de retirar o

véu composto pela liturgia com a qual se revestiam – e ainda se revestem -

os atos emanados pelo Poder Judiciário. A aura hermética imposta ao redor

do significado intrínseco trazido na visão do leigo do que representava,

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efetivamente, a figura de um tribunal, era algo que necessitava ser de

alguma forma extirpada, ou ao menos minorada, de forma que fosse

propiciada, de fato, uma maior aproximação junto à sociedade.

Acerca de tal peculiaridade, imperioso transcrever a seguinte

passagem:

Na nossa perspectiva, a rejeição às tentativas de

subordinação do Judiciário por parte dos governos autoritários –

perfeitamente ilustrada pelo teor do AI-5 – fez com que, no

período de redemocratização, fosse erigido um sistema disciplinar

o mais fechado quanto possível, dotado de menos controles que

o precedente, configurando-se exatamente o modelo “autônomo-

corporativo ou “do isolamento”. (DINO; MELO FILHO; BARBOSA;

DINO.N; 2006, p. 101)

Nesta senda, calorosos debates de cunho legal e ideológico, muitas

vezes marcados pelo conservadorismo inerente ao desejo da consolidação

de situações de fato que se sobrepunham ao escopo público e essencial

atinente ao serviço judiciário, revelavam profundos abismos entre as idéias

e obstavam o desenvolvimento de um projeto sério e apto ao atendimento

das reais necessidades do país.

Enquanto uns defendiam a ideia de uma Corte reguladora, tal e qual

ocorre em diversas nações europeias como França e Itália, em que

subsistem os chamados Conselhos Superiores da Magistratura,

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responsáveis pelo controle administrativo e disciplinar dos juízes, com a

participação efetiva dos demais poderes Republicanos, através de sua

composição híbrida, outros rechaçavam completamente a existência de

qualquer órgão que viesse a fiscalizar a atividade dos magistrados, tendo,

ainda, quem levantasse a hipótese de um Colegiado composto somente por

membros pertencentes ao judiciário, sob pena de ser configurada uma

manifesta afronta à independência constitucionalmente garantida ao referido

Poder.

Às voltas com tais enfrentamentos, a partir da Revisão Constitucional

de 1993, é que foram surgindo as propostas de modificação na estrutura da

instituição judiciária, culminando com o projeto legislativo intitulado “Reforma

do Judiciário” que veio a se tornar a Pec. n. 29/2000, finalmente

transformada na Emenda Constitucional 45/2004.

Nessa linha de raciocínio, o chamado “controle externo do judiciário”,

sem dúvidas, era o aspecto mais polêmico das referidas modificações no

texto constitucional, alvo permanente de críticas na mesma proporção em

que a defesa pela sua existência era veementemente sustentada por setores

da sociedade como, por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil. André

Ramos Tavares (2006, p.1012) rememora com precisão os anseios de

grande parte da sociedade a respeito desse instrumento regulador que

estava prestes a ser instalado no Brasil, porquanto tal órgão ”[...] viria a

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remediar os males que acometem o Poder Judiciário, a saber, a delonga em

exercer a função jurisdicional e a ausência de transparência, decorrente de

sua natureza fechada, infenso que é às tentativas fiscalizatórias”.

Os entraves oriundos do supracitado texto legislativo restaram

amplamente evidenciados; mais do que isso, a magistratura nacional se

insurgia contra certas modificações previstas no Projeto de Emenda à

Constituição que julgavam desnecessárias e atentatórias ao autogoverno da

Instituição. Esse ponto, especificamente, se constituía como, sem sombras

de dúvidas, o aspecto mais polêmico envolto na criação do Conselho

Nacional de Justiça. De fato, a Constituição Federal garantiu aos Tribunais

nacionais autonomia administrativa e financeira, de modo que, além dos

próprios juízes, alguns doutrinadores corroboravam o entendimento que

dispunha sobre a inviabilidade da criação de um órgão central, que pudesse

vir à regulamentar as atividades das Cortes brasileiras.

Com efeito, da leitura das propostas enviadas pela Associação de

Magistrados Brasileiros – AMB - aos Senadores, pode ser destacada

interessante abordagem contida em artigo de autoria do Des. Cláudio

Baldino Maciel (2002, p.47), que retrata de forma incontrastável a opinião da

referida classe a respeito das reformas estruturais que estavam por vir,

afirmando que “[...] o projeto, que poderia ser criativo e inovador [...] acabou

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se transformando em algo que quase nada transformará. Das poucas

modificações, algumas serão para piorar”.

Resta claro, portanto, que a grande preocupação dos magistrados

residia na possibilidade de verem-se tolhidas garantias constitucionais que

sustentam, inclusive, a manutenção harmoniosa do Estado Democrático de

Direito, em detrimento de uma reforma incapaz de solucionar os verdadeiros

problemas da instituição.

Por outro lado, necessitava-se, indubitavelmente, de algum

mecanismo apto à conceder maior transparência aos atos perpetrados pelos

juízes e dirigentes de Tribunais, e, assim, tentar exterminar de vez com a

impunidade dos membros do judiciário, sempre corroborada mediante a

renitente e perniciosa prática, não só afeta ao Poder Republicano em

comento, do corporativismo.

Desta feita, não bastava somente a existência de um órgão

fiscalizador; era preciso conceber uma Corte verdadeiramente diligente, no

sentido de dar efetividade à função para a qual fora intentada, sob pena de

referendar-se a criação de mais uma repartição pública marcada pelo traço

da burocracia, ineficiência e atrelada aos velhos e superados conceitos de

justiça. Nesse diapasão, cumpria assegurar, que o órgão planejado teria

uma postura de investigar, fiscalizar e, se fosse o caso, punir eventuais

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magistrados faltosos, posição esta antagônica àquela adotada pelo extinto

Conselho Nacional da Magistratura, quando da sua existência.

De fato, a referida Corte ao exercer a fiscalização frente aos

magistrados não se caracterizava por seus resultados práticos, como se

depreende da constatação do Ministro Nery da Silveira (1994, p.12), que

atribui a escassez de punições disciplinares resultantes da atuação do

supracitado órgão, somente à lisura com a qual atuavam os juízes

brasileiros, nesses termos:

Não é sem sentido, entretanto, referir que no período de

funcionamento [...] nenhum caso houve de disponibilidade ou

aposentadoria de membro de Tribunal como resultado de

processo disciplinar ou de reclamação. O que se verificava, na

maioria das hipóteses, era o arquivamento liminar da reclamação,

por falta de legitimidade do reclamante, ou, após as informações,

por sua improcedência. Isso tenho, por si só, qual expressão

significativa da forma digna como atuam os membros dos

Tribunais.

Em que pese compartilhar da tese de que, na sua grande maioria, os

agentes públicos judiciários se afiguram como responsáveis, probos e

cumpridores de seus deveres funcionais, forçoso reconhecer, de outro tanto,

a existência de elementos destoantes do plano geral, e, que, por sua vez,

necessitam de permanente fiscalização disciplinar-correicional, nunca antes

verdadeiramente exercida em sua plenitude.

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Isto posto, diante da constatação de todas essas premências, bem

como envolto sob um espectro predominantemente marcado por dúvidas e

expectativas, é que, finalmente, depois de cerca de 12 anos de tramitação,

fora aprovado o esboço final da Emenda Constitucional n. 45, prevendo a

criação do Conselho Nacional de Justiça, com instalação determinada para

o mês de julho do ano de 2005.

2.2 NATUREZA JURÍDICA

O Conselho Nacional de Justiça é um órgão pertencente ao Poder

Judiciário, com poderes de regulação e fiscalização das atividades

administrativas, financeiras, correcionais e disciplinares dos membros dos

Tribunais brasileiros, bem como dos servidores das serventias judiciais.

Sobre a natureza jurídica do CNJ, assim se pronuncia Antônio Veloso

Peleja Júnior (2009; p.120):

É uma instituição federal de âmbito nacional, ínsita ao Poder

Judiciário. Sua natureza jurídica é órgão administrativo-

constitucional do Poder Judiciário com autonomia relativa. Apesar

de ser tachado de órgão de controle externo, é previsto

constitucionalmente como órgão componente da estrutura do

Poder Judiciário.

Nesta senda, como visto, a condição de célula organizacional inserta

na estrutura do judiciário é corroborada ante a constatação de que,

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efetivamente, a maioria absoluta dos Conselheiros é escolhida dentre os

magistrados pertencentes às Cortes judiciárias nacionais. Tal assertiva

reitera a conclusão de que o CNJ não se caracteriza como um mecanismo

de controle externo do judiciário, tanto mais porquanto, além do fato de ser

formado majoritariamente por magistrados, consta explicitamente declarada

na Carta Magna sua qualidade de órgão incrustado no seio do Poder

Republicano em epígrafe.

Assim sendo, a teor do art. 103-b da Constituição Federal, o Conselho

Nacional de Justiça é formado por 15 membros, com mandato de dois anos,

admitida uma recondução; desse universo, nove conselheiros advém da

Magistratura, sendo: um Ministro do Supremo Tribunal Federal, um Ministro

do Superior Tribunal de Justiça, um Ministro do Tribunal Superior do

Trabalho, um Desembargador de Tribunal de Justiça, um Juiz Estadual, um

Juiz de Tribunal Regional Federal, um Juiz Federal, um Juiz de Tribunal

Regional do Trabalho, um Juiz do Trabalho; quatro da classe dos Advogados

e do Ministério Público, dois de cada instituição, e ainda dois cidadãos de

notável saber jurídico indicados pela Câmara dos Deputados e Senado

Federal, respectivamente. Oficiarão, ainda, junto ao CNJ, o Procurador-

Geral da República e o Presidente do Conselho da Ordem dos Advogados

do Brasil. O Ministro do Supremo Tribunal Federal exercerá,

obrigatoriamente, a função de Presidente do CNJ; já o membro oriundo do

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Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, atuará no exercício da função de

Ministro-Corregedor.

É, ainda, pois, colegiado desprovido de poder jurisdicional, ou seja,

não exerce função tipicamente adstrita à instituição judiciária, daí porque sua

atuação somente se dá no âmbito da regulação administrativa e financeira,

seja no aspecto formal ou material, concernentes às atividades das unidades

judiciárias em particular.

Depreende-se, portanto, que não há qualquer vinculação das

decisões judiciais proferidas pelos magistrados ao controle do Conselho,

tanto mais porquanto ao julgador é assegurada a independência funcional,

não existindo por isso qualquer subordinação deste à vontades alheias. Nos

dizeres do Ministro Antonio Pádua Ribeiro (1994, p.34), “[...] no exercício do

poder jurisdicional, o Juiz tem ampla liberdade de decidir. Sujeita-se apenas

à Constituição, às leis e à sua consciência. É absolutamente autônomo livre

de quaisquer vínculos hierárquicos”.

Nessa linha de entendimento, oportuno esclarecer que os atos

regulamentados pelo CNJ são passíveis de análise judicial perante o

Supremo Tribunal Federal, Corte esta que pelo seu caráter de instância

máxima do judiciário nacional, não está, por óbvio, submetida às suas

determinações.

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3 AS ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS DO CONSELHO

NACIONAL DE JUSTIÇA

Nos moldes do multicitado artigo 103-B da Carta Constitucional

brasileira, assim está determinada as atribuições da Corte Administrativa, a

saber:

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação

administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento

dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras

atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da

Magistratura:

I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo

cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos

regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar

providências;

II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou

mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos

praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo

desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as

providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem

prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;

III - receber e conhecer das reclamações contra membros

ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços

auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais

e de registro que atuem por delegação do poder público ou

oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e

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correicional dos tribunais, podendo avocar processos

disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade

ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao

tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas,

assegurada ampla defesa;

IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime

contra a administração pública ou de abuso de autoridade;

V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos

disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos

de um ano;

VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre

processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação,

nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que

julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País

e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do

Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao

Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão

legislativa.

Desta feita, da leitura do dispositivo normativo acima epigrafado,

pode-se agrupar em duas categorias as atribuições constitucionais

conferidas ao Conselho Nacional de Justiça, quais sejam: exercer o controle

administrativo e financeiro dos atos perpetrados pelos Tribunais e fiscalizar

o cumprimento dos deveres funcionais por parte dos juízes, bem como dos

servidores pertencentes aos quadros do Poder Judiciário.

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3.1 Controle administrativo e financeiro

O controle administrativo e financeiro exercido pelo CNJ se

consubstancia como importante ferramenta insculpida pelo legislador,

visando, indiscutivelmente, a concessão de maior transparência às

determinações veiculadas pelas Cortes locais, além de pretender propiciar

uma regulação mais efetiva no que pertine à legalidade das disposições

emanadas pelos Tribunais.

De fato, após a criação do Conselho Nacional de Justiça, abriu-se a

possibilidade de serem apreciados, através da perspectiva referente aos

seus requisitos legais os atos administrativos originários das unidades

judiciárias autônomas. Isso quer dizer, efetivamente, que as determinações

oriundas dos Tribunais brasileiros podem ser submetidas ao crivo do CNJ,

sobretudo quando latente a ocorrência de possíveis irregularidades

destoantes do modelo normativo vigente no trato da coisa pública.

Note-se que, em outros tempos, a menos que as próprias unidades

autônomas viessem a revogá-las, as decisões das Cortes brasileiras que

não tinham caráter jurisdicional, somente poderiam ser desconstituídas

mediante instauração de processo judicial. Tal fato, indubitavelmente, dava

margem à ocorrência dos mais variados desmandos ocorridos dentro da

esfera dos Tribunais, e, por conseguinte, acabava por legitimar, muitas

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vezes, a consolidação de situações atentatórias à moralidade administrativa

e aos preceitos constitucionalmente estabelecidos.

Ilustração prática de tal múnus seria, por exemplo, o caso de um

tribunal realizar um concurso público para provimento de cargos vagos em

seus quadros, e, de forma irregular, vir a nomear candidatos em

desconformidade com a classificação final obtida no certame; na situação

aventada, pode o Conselho Nacional de Justiça desconstituir os atos

administrativos ensejadores de tais equívocos, sendo garantido, por óbvio,

o devido processo legal em todas as suas nuances.

Vale referendar, por oportuno, que, em relação aos atos

administrativos discricionários, ou seja, aos quais é atribuída ao agente

público certa liberdade no que se refere à conveniência e oportunidade para

a sua deflagração, desde que não evidenciada manifesta arbitrariedade,

será vedado ao Conselho imiscuir-se no mérito do referido ato. Sobre o

tema, aponta Alexandre de Moraes (2007, p.516), que em se tratando de

atos administrativos discricionários “[...] a opção conveniente e oportuna

deve ser feita legal e moralmente pelos membros ou órgãos dos Tribunais,

ou seja, somente na legalidade e na moralidade que a oportunidade deve

ser apreciada pelo Conselho Nacional de Justiça.”

Ainda na seara pertinente ao poder fiscalizatório conferido ao CNJ,

destaca-se, outrossim, a capacidade de expedir atos normativos

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regulamentando condutas e indicando orientações a serem seguidas pelas

Cortes brasileiras. Com efeito, o órgão supervisor da atividade dos Tribunais

é legitimado para normatizar condutas e proceder a recomendações de

caráter abstrato e, em alguns casos, vinculantes..

Nesta senda, a legitimidade para dessa forma proceder, em

atendimento ao § 4 do art. 103-b da Constituição Federal, fora ratificada pelo

Supremo Tribunal Federal em julgado da lavra do Ministro Carlos Brito (ADC

nº12, voto do Rel. Carlos Britto), que atesta em seu voto que “[...] baixar atos

de sanação de condutas eventualmente contrárias à legalidade é poder que

traz consigo a dimensão da normatividade em abstrato, que já é forma de

promover a irrupção de conflitos [...]”; atividade essa ainda que possibilita o

CNJ, segundo lição do eminente julgador “[...] debulhar os próprios

conteúdos lógicos dos princípios constitucionais de centrada regência de

toda atividade administrativa do Estado [...]”.

Quanto ao mister concernente à salvaguardar a lisura orçamentária

dos Tribunais brasileiros, exprime, o Conselho Nacional de Justiça, relevante

missão também delegada pela Carta Maior.

A fiscalização da atividade financeira das Cortes nacionais está

imiscuída no arcabouço funcional pertencente ao CNJ, e é instrumentalizada

mediante a possibilidade de inspecionar relatórios econômicos, orçamentos

referentes às atividades do tribunal local, além de outras condutas aptas à

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possibilitar a plena inteiração do Conselho, se necessário, sobre a utilização

dos gastos públicos alocados pelas unidades judiciais, sem prejuízo, como

taxativamente previsto, da atuação do Tribunal de Contas da União, ou,

ainda, dos Tribunais de Contas dos Estados, por conseqüência lógica.

Nessa linha de raciocínio, a supramencionada forma de controle

desempenhada pelo CNJ se consubstancia como nítida intenção

moralizadora, ao possibilitar maior transparência e fiscalização dos atos

administrativos que venham a de alguma forma possibilitar o uso de verbas

públicas, bem como traz intrinsecamente a possibilidade de ser realizado

certo planejamento de gastos orçamentários com o escopo de melhor

aproveitar os recursos financeiros.

Exemplo prático que cristaliza a atuação do CNJ em searas tais pode

ser extraído do caso relativo à construção do Tribunal Regional Federal da

1ª Região, em Brasília, que por conta de irregularidades na execução do

contrato, uma vez constatado sobrepreço de cerca de 35 milhões de reais,

teve sua concorrência anulada pelo CNJ.

3.2 Controle disciplinar-correcional

Grandes modificações conjunturais relativas ao judiciário advieram da

formatação do CNJ também como instância competente para apreciar

reclamações contra magistrados ou servidores, podendo avocar processos

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disciplinares em curso, e, ainda, rever processos disciplinares julgados a

menos de um ano. De fato, o conselho poderá aplicar as pertinentes sanções

administrativas quando da constatação de faltas no exercício do cargo,

sempre garantido o devido processo legal.

A amplitude funcional concedida pelo legislador, também neste caso,

traduz relevante progresso no que se refere à luta contra a impunidade dos

membros do Poder Judiciário, revelando, de outro tanto, importante arma a

ser utilizada pelos próprios magistrados em caso de perseguições políticas

locais ou outras intercorrências moralmente incompatíveis com preceitos

normativos vigentes. Outrossim, partes, advogados, servidores,

magistrados, ministério público, enfim, qualquer pessoa que demonstre

interesse legítimo, de acordo com o contexto de determinada situação dita

irregular, oriunda de falta funcional cometida por membro dos Tribunais,

poderá, diretamente, provocar o CNJ com o fito de que sejam investigados

os fatos envolvidos na reclamação.

Nesta senda, como alhures aventado, o Ministro-Corregedor ficará a

cargo da viabilização das funções disciplinares exercidas pelo Conselho

Nacional de Justiça, podendo requisitar magistrados e/ou servidores dos

Tribunais com o escopo de auxiliarem nos trabalhos. A legislação, outrossim,

em decorrência de tal atribuição, previu a instalação de ouvidorias ao redor

do país com o fito de oportunizar à população interagir com o CNJ, no

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sentido de também diligenciar o andamento de feitos que por ventura

estejam em situação irregular decorrentes da demora na prestação

jurisdicional, ou por conta de qualquer outra anormalidade constatada

casuisticamente.

Também envolto sob a competência funcional do Conselho Nacional

de Justiça, ainda no aspecto disciplinar-correcional, encontra-se a atribuição

de inspecionar os serviços prestados pelas unidades judiciárias brasileiras,

promovendo correições extraordinárias e demais providências como forma

de viabilizar o andamento dos feitos nas jurisdições em que a ineficiência

cartorária e a baixa produtividade atinjam sobremaneira a reputação e a

eficiência da prestação jurisdicional.

Por fim, o dever delegado ao CNJ de realizar relatórios

pormenorizados a respeito da produtividade, índices estatísticos,

recolhimento de informações e demais trabalhos visando a estruturação em

um plano geral e integralizado do Poder Judiciário como jurisdição una e

indivisível, é, pois, múnus exercido atinente ao âmbito regulador das

atividades correcionais, utilizado como termômetro da realidade nacional e

adotado como paradigma para implementação de programas específicos

para o aprimoramento do judiciário

4 CONCLUSÃO

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O processo de legitimação do Conselho Nacional de Justiça vem se

consolidando a cada dia que passa. No início, sobravam desconfianças em

relação a como seria efetivada sua atuação no âmbito do exercício da

regulação administrativa e financeira que lhe é peculiar.

Na verdade, ainda que judicialmente declarado como órgão incrustado

no seio do Poder Judiciário, permaneceu evidenciada certa relutância por

parte de alguns tribunais brasileiros em acatar suas determinações.

Uma vez constitucionalmente definida a consonância normativa do

Conselho com o sistema legal brasileiro, o que se tem de buscar, agora mais

do que nunca, é a junção de esforços no intuito de aprimorar a prestação

dos serviços jurisdicionais, consolidando o Judiciário como instituição aptoa

a atender as necessidades dos cidadãos.

A quebra dos velhos paradigmas que se mostraram insuficientes para

o desenvolvimento da justiça no Brasil e a abertura da mentalidade voltada

à cultura da conciliação, ao acesso às tecnologias de informação e outros

instrumentos ligados ao planejamento estratégico, é algo advindo da

atuação do Conselho Nacional de Justiça e que deve ser fomentado,

sobretudo, no que tange à mudança de mentalidade dos agentes públicos.

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É preciso que a justiça do Brasil não seja mais conhecida por aquela

máxima tão bem reproduzida por Joaquim Falcão (2009), citando Guimarães

Rosa, de que “o Judiciário de tão egocêntrico se coleciona”.

A politização excessiva que está a incidir dentro das esferas de

algumas Cortes locais é algo ainda a ser combatido; dissídios

administrativos de cunho eminentemente políticos e outras questões de

natureza secundária, à luz da atividade-fim exercida pelos Tribunais,

comprometem a atuação independente dos magistrados e devem dar lugar

à busca pela implementação de ações que levem à eficiência, organização

e moralização das gestões públicas no âmbito do referido Poder.

Não se pode perder de vista que o Judiciário deu um grande exemplo

aos demais Poderes Republicanos ao incorporar o CNJ como uma de suas

principais células estruturais. Acaso existissem outros órgãos com poderes

tão efetivos sem dúvidas os episódios de corrupção e outras tantas

intercorrências seriam sensivelmente reduzidas.

Neste sentido, se é certo que os tribunais brasileiros perderam o

monopólio absoluto para tratar sobre assuntos antes tidos como

exclusivamente internos, é certo também afirmar que o resultado das

diversas ações e programas implementados pelo CNJ o fizeram maiores,

não só em eficiência, mas também como símbolos de uma justiça embasada

em compromisso ético e nas necessidades dos seus jurisdicionados.

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DA CONSTITUCIONALIDADE DO ESTABELECIMENTO DE

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO ARRENDADOR, PELO

PAGAMENTO DO IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS

AUTOMOTORES - IPVA, ATRAVÉS DA LEI DISTRITAL Nº 7.431/85

DIEGO GARCIA OLIVEIRA: Bacharel em Direito

pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em

Direito Tributário e em Direito Penal. Analista

Judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

Territórios.

RESUMO: O presente artigo tem como escopo a análise da

constitucionalidade do estabelecimento de responsabilidade tributária do

arrendador, pelo pagamento do imposto sobre a propriedade de veículos

automotores - IPVA, através da Lei Distrital nº 7.431/85, em consequência

do exercício, excepcionalmente e provisoriamente, da competência

legislativa plena, forte art.24, §3º, da Constituição Federal e no art. 34, §3º,

do ADCT, haja vista omissão legislativa da União.

PALVRAS-CHAVE: Constitucional. Tributário. Responsabilidade

tributária do arrendador. IPVA. Lei Distrital nº 7.431/85.

INTRODUÇÃO

A investida sobre o assunto será iniciada com breves considerações

acerca do arrendamento mercantil e sua natureza jurídica. Após, será

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apontado o tratamento constitucional e da legislação do Distrito Federal da

questão, bem como o entendimento jurisprudencial.

DO ARRENDAMENTO MERCANTIL E DE SUA NATUREZA

JURÍDICA

O conceito Arrendamento Mercantil é definido pela lei 6.099/74,

parágrafo único, artigo 1º :

“Considera-se arrendamento mercantil,

para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico

realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de

arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na

qualidade de arrendatária, e que tenha por

objeto o arrendamento de bens adquiridos pela

arrendadora, segundo especificações da

arrendatária e para uso desta”.

O contrato de Arrendamento Mercantil, também conhecido como

Leasing, possui a natureza jurídica de negócio jurídico complexo, uma vez

que envolve tanto a locação como a opção de compra.

Sobre o tema, elucida HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

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"Por meio de negócio jurídico, a

propriedade de uma coisa móvel ou imóvel pode

ser transferida para o credor, de forma

resolúvel, constituindo-se, dessa maneira, uma

garantia real. A posse conserva-se com o

devedor, e o domínio é mantido pelo credor até

que o débito do alienante seja solvido. Enquanto

dura o gravame, o devedor se comporta como

possuidor direto e o credor como possuidor

indireto. Vigora, portanto, uma propriedade

resolúvel, sem posse, para o credor e uma posse

com expectativa de reaquisição de domínio

(condição suspensiva) para o devedor. Se a

dívida é resgatada, resolve-se a propriedade

fiduciária do credor e restabelece-se a

propriedade plena do devedor. (...)".

O arrendador possui propriedade (não plena) e a posse indireta,

enquanto o arrendatário a posse direta do bem até que seja feita a opção de

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compra ao final do contrato, sendo certo que, somente neste momento

haverá a transferência do domínio do bem.

DA POSSIBILIDADE DE INSTITUIÇÃO DE

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO ARRENDADOR POR

LEGISLAÇÃO DISTRITAL

Para cobrança de um tributo é necessária a ocorrência de um fato que

o legislador prevê como sendo passível de tributação (obrigação jurídica de

pagar um tributo determinado). O artigo 114 do CTN preceitua que o "fato

gerador da obrigação tributária é a situação definida em lei como

necessária e suficiente à sua ocorrência".

Por seu turno, o § 1º do art. 113 do mesmo diploma legal estabelece

que "a obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem

por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se

juntamente com o crédito dela decorrente".

Ocorrendo o fato gerador, deve-se buscar a pessoa, à vista da lei, que

tem o dever legal de efetuar o pagamento da obrigação.

Dispõe o CTN sobre o sujeito passivo da obrigação tributária:

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"Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal

é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou

penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação

principal diz-se:

I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e

direta com a situação que constitua o respectivo fato

gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição

de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição

expressa de lei." (grifos nossos)

Assevera BERNARDO RIBEIRO DE MORAES:

“... é de ver que não é qualquer pessoa que pode

ser definida como responsável. Somente se justifica a

condição de ‘responsável’, adquirindo uma posição

jurídica equivalente à de devedor principal, na

hipótese da pessoa ter relações com o próprio devedor

ou com o fato gerador da obrigação tributária.”

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Especificamente em relação ao IPVA, tributo cerne da questão

debatida, com o advento da Constituição Federal de 1988, foi estipulado

pelo artigo 155, inciso III, que compete aos Estados e ao Distrito Federal

instituir impostos sobre propriedade de veículos automotores.

Entretanto, a Constituição Federal de 1988 não definiu o fato gerador

e o sujeito passivo do IPVA, deixando para lei complementar federal a

missão de elaborar normas gerais em matéria de legislação tributária,

conforme preceitua o art. 146, III, da Constituição Federal:

"Art. 146. Cabe à lei complementar: [...]

III - estabelecer normas gerais em matéria de

legislação tributária, especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem

como, em relação aos impostos discriminados nesta

Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases

de cálculo e contribuintes;” (grifos nossos)

Tal lei complementar sobredita deve observar os parâmetros do artigo

24 da Constituição Federal:

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“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao

Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário,

econômico e urbanístico;

(...)

§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a

competência da União limitar-se-á a estabelecer

normas gerais.

§ 2º - A competência da União para legislar sobre

normas gerais não exclui a competência suplementar

dos Estados.

§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais,

os Estados exercerão a competência legislativa plena,

para atender a suas peculiaridades.

§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas

gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe

for contrário” (grifos nossos).

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De acordo com LEANDRO PAULSEN:

“Entretanto, não há diploma legal deste

nível cuidando da matéria (o CTN é omisso, até

porque precedeu à criação desse imposto,

surgido apenas com a EC nº27/85 à CF/67).

Assim, os Estados, excepcionalmente e

provisoriamente, têm exercido a competência

legislativa plena, forte art.24, §3º, da

Constituição Federal e no art. 34, §3º, do

ADCT”.

Nesse sentido, tendo em vista a ausência de edição de lei

complementar pela União, o Distrito Federal exerceu sua competência

legislativa plena ao definir a responsabilidade pelo pagamento do Imposto

sobre a Propriedade de Veículos Automotores - IPVA, através da Lei n.

7.431/85, com alterações introduzidas em seu artigo 1° pela Lei n. 223, de

30/12/91, in verbis:

"Art. 1º - É instituído, no Distrito Federal,

o imposto sobre a propriedade de veículos

automotores devido anualmente, a partir do

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exercício de 1986, pelos proprietários de

veículos automotores registrados e licenciados

nesta Unidade da Federação.

§ 1º - O valor do imposto será recolhido

diretamente pelo contribuinte na rede bancária

autorizada, nos prazos e formas previstos no

regulamento.

§ 2º - O imposto é vinculado ao veículo. No

caso de sua alienação, o comprovante do

pagamento será transferido ao novo

proprietário para efeito de registro ou

averbação no órgão de trânsito.

§ 3º - No caso de transferência do veículo

regularizado de outra Unidade da Federação,

não será exigido novo pagamento do imposto,

respeitando-se o prazo de validade do

recolhimento anterior.

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§ 4º - Em razão do ano de fabricação, o

Governador do Distrito Federal poderá excluir

determinados veículos da incidência do imposto.

§ 5º Fato gerador do Imposto sobre a

Propriedade de Veículos Automotores - IPVA é

a propriedade, o domínio útil ou a posse

legítima do veículo automotor.

§ 6º A ocorrência do fato gerador do IPVA

observará, para fins de lançamento, ao

algarismo final de placa em calendário

escalonado, na forma disposta em regulamento.

§ 7º São contribuintes do IPVA as pessoas

físicas ou jurídicas residentes e ou domiciliadas

no Distrito Federal:

I - proprietárias, a qualquer título, de

veículo automotor sujeito a licenciamento pelos

órgãos competentes;

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II - titulares do domínio útil do veículo, nos

casos de locação e arrendamento mercantil;

III - detentoras de posse legítima do veículo,

inclusive quando decorrente de alienação

fiduciária em garantia, o gravado com cláusula

de reserva de domínio.

§ 8º São responsáveis, solidariamente, pelo

pagamento do IPVA:

I - o adquirente, em relação ao veículo

adquirido sem o pagamento do imposto do

exercício ou exercícios anteriores;

I — o adquirente:

a) em relação ao veículo adquirido sem o

pagamento do imposto do exercício ou

exercícios anteriores;

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b) a que se referem o art. 4º, § 7º, II, e o art.

4º, § 9º, que não cumprir as condições neles

especificadas;

II - o titular do domínio e/ou o possuidor a

qualquer título;

III - o proprietário de veículo de qualquer

espécie, que o alienar e não comunicar a

ocorrência ao órgão público encarregado do

registro e licenciamento, inscrição ou

matrícula;

IV - o funcionário que autorizar ou efetuar

o registro e licenciamento, inscrição ou

matrícula de veículo de qualquer espécie, sem a

prova de pagamento ou do reconhecimento de

isenção ou imunidade do imposto.”(Grifos

nossos).

Portanto, segundo o artigo 1º da Lei n. 7.431/85, §7º, I e §8º II, são

contribuintes do IPVA o proprietário e os titulares do domínio útil do

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veículo, nos casos de locação e arrendamento mercantil, podendo responder

ainda solidariamente com este o titular do domínio e/ou o possuidor a

qualquer título.

Entende-se que o arrendador pode ser posto como contribuinte,

conforme GLADSTON MAMEDE assevera:

“A letra constitucional aponta para um

direito real, mas não cuida da extensão precisa

do conceito de propriedade. Seriam

constitucionais as normas aludidas na medida

em que, por incluir hipótese de propriedade não

plena, podem desbordar da licença

constitucional? (...) Lembre-se que a partir da

licença constitucional para cobrança de um

imposto sobre a propriedade predial e territorial

urbana, o art.32 do Código Tributário Nacional

define o modelo de fato que gera a obrigação de

recolher o IPTU, a propriedade, o domínio útil

ou a posse de bem imóvel. (...) A interpretação

analógica seria, assim, adequada e, via de

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consequência, a hipótese de incidência

tributária do IPVA deve incluir ou não, de

veículo automotor, dá azo à exação. Porém, se

desfeita a relação de propriedade, seja em

função da destruição do veículo automotor, seja

por sua subtração, não poderá haver exação;

isso, independentemente da comunicação ou não

do fato à autoridade fazendária ou ao registro

correspondente. Afinal, não se admite tributação

sobre fato fictício”.

Coadunando com o exposto, colaciona-se também o entendimento do

Superior Tribunal de Justiça:

“Em arrendamento mercantil, a

arrendante é responsável solidária para o

adimplemento da obrigação tributária

concernente ao IPVA, por ser ela possuidora

indireta do bem arrendado e conservar a

propriedade até o final do pacto. Precedentes”.

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79 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55112

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(EDcl no AREsp 207.349/SP, Rel. Ministro

HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,

julgado em 02/10/2012, DJe 10/10/2012).

“ PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO.

IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE

VEÍCULO AUTOMOTOR - IPVA. CONTRATO

DE ARRENDAMENTO MERCANTIL.

ARRENDANTE. RESPONSABILIDADE PELO

PAGAMENTO DO TRIBUTO. ART. 1º, §§ 7º E

8º, DA LEI 7.431/85.

I - Originariamente, cuida-se de Embargos

à Execução Fiscal manejado pela ora

Recorrente em face do Distrito Federal, em que

destacou sua ausência de legitimidade passiva

para figurar como parte no processo de

Execução Fiscal, atribuindo-a ao arrendatário

de veículo automotor, por decorrência das

disposições legais pertinentes e do contrato de

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arrendamento mercantil anteriormente

celebrado.

II - No tocante à solidariedade, in casu,

entre arrendante e arrendatário, ao pagamento

do IPVA, verifica-se que a figura do arrendante

equivale a de possuidor indireto do veículo,

posto ser-lhe possível reavê-lo em face de

eventual inadimplemento, uma vez que

somente com a tradição definitiva poderia ser

afastado o seu direito real alusivo à

propriedade, ou não haveria razão para a

cláusula "com reserva de domínio", que

garante exatamente o seu direito real.

III - Nesse contexto, não se deve confundir

contribuinte do tributo com responsável pelo

pagamento, uma vez que a segunda figura,

notadamente quando se relaciona com o

instituto da solidariedade, apenas reforça a

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proteção ao crédito tributário, viabilizando sua

realização para o Erário Público.

IV - Outrossim, perceba-se que o inciso III

do § 8º da Lei nº 7.431/85 prevê solidariedade

entre o alienante e o adquirente, nos casos em

que aquele não providencia a comunicação da

alienação ao órgão público encarregado do

registro do veículo. Em outras palavras, se até

mesmo no contrato de compra e venda direta,

que importa na sua conclusão em transferência

da propriedade, há a possibilidade do Estado

buscar a satisfação do crédito tributário

diretamente do alienante desidioso, pode a

solidariedade alcançar aqueles que ostentam a

qualidade de possuidor indireto, equivalente, in

casu, à expressão "titular do domínio", para

fins de responsabilização pelo pagamento do

tributo. A ratio essendi das disposições legais

antes transcritas, portanto, não afastam, mas

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ao contrário, impõem a solidariedade quanto

ao pagamento do IPVA.

V - Recurso Especial improvido.”

(REsp 868.246/DF, Rel. Ministro

FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 28/11/2006, DJ 18/12/2006, p. 342).

CONCLUSÃO

Tendo em vista a ausência de edição de lei complementar pela União,

é legítimo ao Distrito Federal exercer sua competência legislativa plena,

assim como definir a responsabilidade pelo pagamento do Imposto Sobre a

Propriedade de Veículos Automotores - IPVA.

Desse modo, é constitucional o estabelecimento de responsabilidade

tributária do arrendador, pelo pagamento do IPVA, através da Lei Distrital

nº 7.431/85.

Portanto, segundo legislação distrital, é o credor/arrendante

responsável pelo recolhimento do IPVA referente ao veículo objeto do

contrato, podendo figurar, inclusive, na Certidão de Dívida Ativa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro

de 1988. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 12. ed. São

Paulo: Saraiva, 1999, p. 178.

MAMEDE, Gladston. IPVA; Imposto sobre a Propriedade de veículos

automotores. RT, 2002, p. 50/52.

PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código

Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 17. Ed – Porto Alegre:

Livraria do Advogado Editora; 2015, p. 339.

RIBEIRO DE MORAES, Bernardo. Compêndio de Direito Tributário,

2º v, 3ª edição, 1995, p.287.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. CURSO DE DIREITO

PROCESSUAL CIVIL. V. III - Procedimentos Especiais. 43ª ed. - Rio de

Janeiro : Forense, 2010, p. 573.

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LEGITIMIDADE DA UNIÃO PARA AJUIZAR AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO COM

BASE NA CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE OS ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO

INTERNACIONAL DE CRIANÇAS

DEBORAH MARIA DE VASCONCELOS GOMES SOARES: Graduada em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco.

RESUMO: O presente artigo visa tecer comentários acerca da legitimidade

ativa da União nas ações de busca e apreensão com base na Convenção

de Haia sobre os aspectos civis do sequestro internacional de crianças.

I-INTRODUÇÃO

Os Estados signatários da referida convenção, convictos de que os

interesses da criança são de primordial importância em todas as questões

relativas à sua guarda e objetivando protege-las, no plano internacional,

dos efeitos prejudiciais resultantes de mudança de domicílio ou de

retenção ilícitas, estabeleceram procedimentos que garantem o retorno

imediato da criança ao Estado de sua residência habitual, bem como

assegurar a proteção e efetividade do direito de visita.

II-DA CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO

INTERNACIONAL DE CRIANÇAS.

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A Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro

Internacional de Crianças, prevê explicitamente a promoção de medidas

judiciais tendentes à restituição ao país de residência habitual de menores

ilicitamente transferidos para outro território.

Conforme o art.3º da referida Convenção, a transferência ou a

retenção de uma criança é considerada ilícita quando:

a) tenha havido violação a direito de guarda atribuído a pessoa,

individual ou conjuntamente, pela lei do Estado onde a criança tivesse sua

residência habitual imediatamente antes de sua transferência ou da sua

retenção; e

b) esse direito estivesse sendo exercido de maneira efetiva,

individual ou em conjuntamente, no momento da transferência ou da

retenção, ou devesse está-lo sendo se tais acontecimentos não tivessem

ocorrido.

O direito de guarda pode resultar de uma atribuição de pleno

direito, de uma decisão judicial ou administrativa, ou de um acordo

vigente segundo o direito do Estado onde a criança reside.

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Conforme a jurisprudência do STF, a Convenção sobre Sequestro

visa, em seus artigos 16 e 17, coibir o deslocamentop ilegal de crianças e

permitir a rápida devolução ao país de sua residência habitual anterior ao

sequestro.

A ideia é tudo fazer para que a criança possa, no futuro mais

próximo possível, manter contato com ambos os pais, mesmo que estes

estejam vivendo em países diferentes.

O art.7 da Convenção enuncia que as autoridades centrais devem

cooperar entre si e promover a colaboração entre as autoridades

competentes dos seus respectivos Estados, de forma a assegurar o retorno

imediato das crianças e a realizar os demais objetivos da presente

Convenção.

Ainda, a aplicação das exceções à regra da devolução da criança,

previstas nos artigos 13 e 20 da referida convenção, devem ser

interpretadas restritivamente, conforme entendimento majoritário do

STF e da doutrina, sob pena de a Convenção se tornar pouco efetiva e

admitir-se o estímulo à remoção ilícita.

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As exceções devem ser entendidas em caráter humanitário,

impedindo que as crianças sejam submetidas a maus tratos ou a

ambientes incompatíveis com sua formação física e psicológica.

De antemão, o Estado Brasileiro, por meio do Poder Judiciário, não

pode negar pedido de restituição de menores se os requisitos do Tratado

estiverem presentes.

Impende destacar a previsão inserta no art.12 da Convenção de

Haia:

Art.12 Quando uma criança tiver sido ilicitamente

transferida ou retida nos termos do Artigo 3 e tenha

decorrido um período de menos de 1 ano entre a data

da transferência ou da retenção indevidas e a data do

início do processo perante a autoridade judicial ou

administrativa do Estado Contratante onde a criança

se encontrar, a autoridade respectiva deverá ordenar

o retomo imediato da criança.

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A autoridade judicial ou administrativa respectiva,

mesmo após expirado o período de um ano referido

no parágrafo anterior, deverá ordenar o retorno da

criança, salvo quando for provado que a criança já se

encontra integrada no seu novo meio.

A doutrina enuncia que, o objetivo da Convenção de Haia é

precipuamente defender o melhor interesse da criança, encerrando sua

manutenção ilícita em país signatário.

III-DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DA UNIÃO FEDERAL. DA

COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL.

Ao corroborar os termos da Convenção de sobre os Aspectos Civis

do Sequestro Internacional de Crianças, concluída na cidade de Haia, em

25 de outubro de 1980, em consonância com o previsto nos arts.84, VII,

cumulado com o art.49, I, ambos da CF/88, a República Federativa do

Brasil assume compromisso que, violado, enseja sua responsabilização no

plano internacional.

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Impende destacar que a responsabilidade internacional do Estado

advém de uma violação a norma jurídica internacional, bem como do

desempenho de conduta que transgrida o inserto nos tratados firmados.

Assim, ante a possibilidade de responsabilização da União, a

busca e apreensão por ela requerida deve ser deferida integralmente, sob

pena de afronta aos compromissos internacionais da República Federativa

do Brasil assumidos quando da ratificação e internalização da Convenção

de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.

IV -DA LEGITIMIDADE E DO INTERESSE PROCESSUAL DA UNIÃO PARA

AJUIZAD AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO NOS TERMOS DA CONVENÇÃO DE

HAIA.

Ante ao exposto no presente artigo, se faz relevante destacar a

legitimidade e o interesse da União para propositura de ação de busca e

apreensão de criança com base na Convenção de Haia.

A responsabilidade internacional é instituto de direito

internacional pelo qual o estado ou organização internacional que

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descumpriu norma internacional e causou dano a outro sujeito de direito

da gentes, deve reparar o prejuízo causado.[1]

Nos termos do entendimento consolidado do STJ e do STF, a União

tem interesse direto nos casos referentes à Convenção de Haia sobre o

sequestro internacional de crianças, pois, por intermédio da AGU, atua

não em defesa de interesses dos particulares, mas sim, visando assegurar

que obrigações internacionais assumidas pela República Federativa do

Brasil, sejam cumpridas perante os estados soberanos que aderiram à

referida convenção.

A União, que apresenta como integrante de sua estrutura a

Secretaria Especial de Direitos Humanos, representante do Estado

brasileiro, na forma do disposto no artigo 21, incisos I e IV da Constituição

Federal, é dotada de competência para se utilizar de medidas necessárias

ao integral cumprimento das obrigações assumidas pelo País, por ocasião

da adesão e ratificação dos preceitos contidos na Convenção, inclusive a

propositura de ações de busca, apreensão e restituição de menores, vez

que a SDEH não apresenta capacidade postulatória.

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Neste diapasão, com base no art.84,VIII, da CF/88, é legítima a

atuação da União no pólo ativo de ação de busca e apreensão com base

na exercida convenção, visando elidir sua responsabilidade internacional

no caso concreto.

V-CONCLUSÃO

Assim, tendo em vista que a República Federativa do Brasil é

signatária da Convenção de Haia sobre aspectos civis do sequestro

internacional de crianças, bem como a possibilidade de responsabilização

internacional pátria ante seu descumprimento, é possível afirmar ter a

União legitimidade ativa para ajuizar ação cautelar de busca e apreensão,

para que seja feita devolução da criança ao país de origem, visando a

proteção da dignidade humana, a manutenção das boas relações com os

demais signatários, sempre observando o princípio do melhor interesse da

criança.

REFERÊNCIAS

PORTELA, Gonçalves Henrique Paulo, Direito Internacional e Direitos

Humanos,2ª Ed. Salvador: Jus Podivum,2014.

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GONÇALVES, Ribeiro Beatriz Maria, Direito Internacional Público e

Privado,2ª Ed. Salvador: Jus Podivum,2015.

Portal da Advocacia Geral da União. Disponível em:

http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/119651

Portal da Advocacia Geral da União. Disponível em:

http://www.agu.gov.br/page/download/index/id/4359727

Decreto 3413 de 14 de abril de 2013. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3413.htm

Portal da Revista Veja. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/030609/sentenca.pdf

Nota:

[1] PORTELA, Gonçalves Henrique Paulo, Direito Internacional e

Direitos Humanos,2ª Ed. Salvador: Jus Podivum,2014, p.113.

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O PODER FAMILIAR, A MAIORIDADE, O PARENTESCO E A

OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

LORENA CARNEIRO VAZ DE

CARVALHO ALBUQUERQUE:

Advogada, inscrita na OAB/GO. Bacharel em

Direito pela PUC/GO. Especialista em Direito

do Trabalho e Processo do Trabalho pela

UNIDERP.

INTRODUÇÃO

Sobre o poder familiar prescreve o art. 1.630 do NCC:

"Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao

poder familiar, enquanto menores."

O poder familiar substituto do pátrio poder do revogado

Código Civil de 1.916 é um sistema de direitos e deveres, limitado pelas

normas jurídicas, que permeia a relação entres os pais e seus filhos na

qualidade de crianças ou adolescentes, não emancipados ou não sujeitos a

outra restrição familiar legal ou judicial, propiciando legitimamente a

forma como devem ser cumpridos os ditames impostos pela legislação para

formação da pessoa em desenvolvimento com dignidade social e humana

na entidade familiar e na sociedade.

DESENVOLVIMENTO

O poder familiar é exercido pelos pais, quanto à pessoa dos

filhos, enquanto estes não atingirem a maioridade civil ou por outra causa

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determinada pela legislação, competindo dirigir-lhes a criação e educação;

mantê-los em sua companhia e guarda; concedendo-lhes ou negando-lhes

consentimento para se casarem; nomear-lhes tutor por testamento ou

documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou se

sobrevivo não puder exercer o poder familiar; representá-los, até aos

dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade até a

maioridade ou cessação da incapacidade, nos atos em que forem partes,

suprindo-lhes o consentimento; reclamá-los de quem ilegalmente os

detenha; e, exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços

próprios de sua idade e condição.

A extinção do poder familiar se dá pela morte dos pais ou

do filho; pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único do

Código Civil; pela maioridade; pela adoção; e, por decisão judicial, na

forma do artigo 1.638 do CC ("art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder

familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar

o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons

costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo

1.637").

Sobre a maioridade civil e cessação da incapacidade

ensinava o revogado Código Civil:

"Art. 9o Aos 21 (vinte e um) anos

completos acaba a menoridade, ficando

habilitado o indivíduo para todos os atos da

vida civil.

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§ 1o Cessará, para os menores, a

incapacidade: (Parágrafo único

renumerado pelo Decreto nº 20.330, de

27.8.1931)

I - por concessão do pai, ou, se for

morto, da mãe, e por sentença do juiz,

ouvido o tutor, se o menor tiver 18

(dezoito) anos cumpridos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público

efetivo;

IV - pela colação de grau científico em

curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou

comercial, com economia própria.

§ 2o Para efeito do alistamento e do

sorteio militar cessará a incapacidade do

menor que houver completado 18 (dezoito)

anos de idade. (Redação dada pelo Decreto

nº 20.330, de 27.8.1931)"

O atual Código Civil estatui diversamente sobre a

maioridade civil e a cessação da incapacidade, vejamos:

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"Art. 5o A menoridade cessa aos

dezoito anos completos, quando a pessoa

fica habilitada à prática de todos os atos da

vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os

menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um

deles na falta do outro, mediante

instrumento público, independentemente

de homologação judicial, ou por sentença

do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver

dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público

efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de

ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou

comercial, ou pela existência de relação de

emprego, desde que, em função deles, o

menor com dezesseis anos completos tenha

economia própria."

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A modificação trazida pelo novo Código Civil quanto à

maioridade civil determinando que a menoridade cessa aos dezoito anos

completos não exclui, por si só, a obrigação dos pais de prestarem alimentos

aos seus filhos, devendo prevalecer o princípio da solidariedade familiar e

da dignidade da pessoa humana.

Após a maioridade dos filhos e a cessação do poder

familiar, nos termos dos arts. 5º e 1.630 e ss. do CC, não cessa

definitivamente a obrigação de prestar alimentos.

Com o advento da maioridade, cessa somente o dever de

sustento, porém se mantém o parentesco, desaparecendo o dever, e, em

regra, sem solução de continuidade, sendo mantida à obrigação alimentar

em decorrência da relação de parentesco.

O dever de sustento dos filhos se extingue com a

maioridade, quando cessa o poder familiar, entretanto, a obrigação

alimentar decorrente da relação de parentesco podendo continuar se

comprovado o prolongamento da necessidade do alimentando.

Os genitores têm o dever quase que absoluto de assistir,

criar e educar seus filhos até a maioridade em decorrência do poder familiar

(art. 5º e 1.630 do NCC), ressaltando-se que inexiste direito absoluto a

alimentos, entretanto, a obrigação de prestá-los somente deixará de ser

exigida nos casos de inadimplemento involuntário e escusável de obrigação

alimentícia.

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Ressalta-se ainda que, desde muito tempo, o Judiciário tem

como um dos fundamentos históricos à aplicação do Regimento do Imposto

de Renda (art. 82, § 3º do Dec. 58.400, de 10.05.1966 e Lei 1.474, de

26.11.1951) passando a garantir a prestação alimentícia até que o filho

complete 24 anos de idade, desde que esteja cursando estabelecimento de

ensino, salvo nas hipóteses de possuir rendimento próprio. Assim, desde

muito tempo, não se aplica à maioridade, por si só, como parâmetro

automático para cessação da prestação alimentar.

Sobre o tema, veja-se:

"São considerados encargos de

família, os filhos que até 24 anos de idade

estejam cursando estabelecimento de

ensino superior não gratuito". (TJSC,

Apelação Cível n. 98.004021-3, de

Joinville, rel. Des. Orli Rodrigues, Primeira

Câmara Civil, j. 18.8.98).

"... Cursando o filho escola

universitária, presume-se a necessidade de

alimentos até que complete 24 anos" (RT

640/77).

"ALIMENTOS- Exoneração

pretendida - Filha que completa 21 anos,

que não tem rendimentos próprios e cursa

estabelecimento de ensino superior -

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Prestação devida pelo pai - Confirmação da

sentença" (RJTJSP 60/40).

Vale notar que, mesmo quando o alimentando (contando

com 21 anos de idade) realize trabalhos esporádicos e ainda não curse

estabelecimento de ensino superior, mas, apenas, 2º Grau, podem ser

devidos alimentos pelo genitor, veja-se:

"O autor da ação de alimentos tem

direito à percepção destes desde a citação

até completar a maioridade civil ou até 24

anos se for estudante ou estiver

desempregado."

"Apresenta-se razoável a fixação dos

alimentos sem 10% dos rendimentos do

varão ao alimentante, jovem, que tem de

suprir complexo variado de necessidades,

efetua trabalhos esporádicos e ainda cursa,

aos 21 anos, o supletivo de 2º Grau."

(TJSC, Apelação cível n. 00.017798-9, de

Barra Velha. Relator: Des. Carlos

Prudêncio).

Ensinam os 229 e 230 da CF, respectivamente que os pais

têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores

têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou

enfermidade; e, a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar

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as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,

defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

Complementado as determinações constitucionais e

independentes de fatores como a maioridade, sexo, ou de limite de idade o

art. 1.694 prescreve que os parentes, os cônjuges ou companheiros podem

pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo

compatível com a sua condição social, inclusive para atender às

necessidades de sua educação, devendo ser fixados na proporção das

necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada, obedecendo

o chamado bimônio.

Ressalta-se, desde logo, que o art. 1.694 do CC,

acompanhando os avanços da jurisprudência, ensina que os parentes, os

cônjuges ou companheiros podem pedir uns aos outros alimentos para

atender às necessidades ligadas à educação.

E, ainda, os artigos 1.696/1697 do CC prescrevem o direito

à prestação de alimentos como sendo recíproco entre pais e filhos, e

extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos

em grau, uns em falta de outros; e, na falta dos ascendentes, caberá a

obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando

estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Ultimamente, por um vértice, o Judiciário vem se revelando

demasiadamente flexível quanto à inexistência de limitação de idade ou

sexo para prestação de alimentos fundada na relação de parentesco; e, por

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outro, a maioria dos tribunais vem reconhecendo como sendo rígida e

taxativa a restrição quanto aos parentes que devem prestar alimentos.

Então quais parentes devem prestar alimentos?

A obrigação de prestar alimentos primeiramente nasce

entre pais e filhos independente de idade, sexo ou condição social. Porém,

se todos os ascendentes não tiverem condições de prestar satisfatoriamente

a obrigação alimentar, caberá a obrigação aos descendentes guardada a

ordem da sucessão, ou seja, filho(s), depois neto(s), bisneto(s) e assim por

diante em linha reta.

Mas, persistindo a necessidade, na falta dos ascendentes e

descendentes, cabe, por fim, ressalva a responsabilidade do Estado

Democrático de Direito e a decorrente das relações afetivas (duradouras,

públicas e contínuas), a obrigação alimentar aos irmãos colaterais de

segundo grau(germanos – filhos do mesmo pai e mãe; ou, unilaterais –

filhos de pais diversos) de forma conjunta e proporcional. Assim, em regra,

ficam excluídos todos os demais parentes que ultrapassem a linha colateral

em segundo grau, como por exemplo, o tio em relação ao sobrinho ou os

primos entre si. Nesse sentido:

"EMENTA: HABEAS CORPUS.

PRISÃO CIVIL. PRESTAÇÃO DE

ALIMENTOS. TIOS E SOBRINHOS.

DESOBRIGAÇÃO. DOUTRINA.

ORDEM CONCEDIDA.

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I - A obrigação alimentar decorre da

lei, que indica os parentes obrigados de

forma taxativa e não enunciativa, sendo

devidos os alimentos, reciprocamente,

pelos pais, filhos, ascendentes,

descendentes e colaterais até o segundo

grau, não abrangendo, consequentemente,

tios e sobrinhos.

II - O habeas corpus, como garantia

constitucional contra a ofensa à liberdade

individual, não se presta à discussão do

mérito da ação de alimentos, que tramita

pelas vias ordinárias, observando o duplo

grau de jurisdição.

III - Posicionando-se a maioria

doutrinária no sentido do descabimento da

obrigação alimentar de tio em relação ao

sobrinho, é de afastar-se a prisão do

paciente, sem prejuízo do prosseguimento

da ação de alimentos e de eventual

execução dos valores objeto da condenação

(HC 12079 / BA ; HABEAS CORPUS,

2000/0009738-1,DJ

DATA:16/10/2000,PG:00312,

JBCC,VOL.:00185,PG:00446,RBDF

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VOL.:00008 PG:00112 RT VOL.:00786

PG:00215, Min. SÁLVIO DE

FIGUEIREDO TEIXEIRA)".

CONCLUSÃO

Chamo a atenção para o disposto no art. 1.698 do CC de

natureza material e processual, sem correspondência no CC/1916, que, com

base no princípio constitucional da razoabilidade, estabelece que se o

parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições

de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau

imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas

devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação

contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Por outro ponto, os cônjuges ou companheiros não são

parentes em relação aos respectivos integrantes do casal, mas, independente

do sexo, podem exigir alimentos com fundamento no princípio da

solidariedade social. Também poderão ser exigidos alimentos em

decorrência das relações afetivas duradouras, públicas e contínuas.

A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o

alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de

prestar o necessário à sua educação, competindo ao magistrado, se as

circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da prestação. E,

no caso de cônjuges separados judicialmente devem contribuir na

proporção de seus recursos para a manutenção dos filhos.

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O direito a alimentos é irrenunciável, portanto, mesmo que

o credor não o exerça lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o

respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora e a

obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na

forma do art. 1.694 do CC, mas adverte-se que somente nos limites da força

da herança.

O prazo prescricional é de dois anos para exercício da

pretensão das prestações alimentares vencidas contado da data em que se

vencerem (art. 206, § 2º, do CC).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MADALENO, Rolf. Direito de Família – Aspectos Polêmicos. 2. Ed.

Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999, pág. 13.

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A CLASSIFICAÇÃO DAS PAISAGENS CULTURAIS: BREVES

COMENTÁRIOS

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL: Doutorando

vinculado ao Programa de Pós-Graduação em

Sociologia e Direito da Universidade Federal

Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos

Urbanos, Rurais e Socioambientais. Mestre em

Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal

Fluminense (UFF). Especializando em Práticas

Processuais - Processo Civil, Processo Penal e

Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São

Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro

Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos

artigos, voltados principalmente para o Direito Penal,

Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do

Consumidor, Direito Administrativo e Direito

Ambiental.

Resumo: O objetivo do presente está assentado em promover um

exame a respeito da concepção jurídica da paisagem cultural, tal como a

classificação dessas, na perspectiva do Direito do Patrimônio Cultural.

Cuida salientar que o meio ambiente cultural é constituído por bens

culturais, cuja acepção compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico, fossilífero, turístico,

científico, refletindo as características de uma determinada sociedade. Ao

lado disso, quadra anotar que a cultura identifica as sociedades humanas,

sendo formada pela história e maciçamente influenciada pela natureza,

como localização geográfica e clima. Com efeito, o meio ambiente cultural

decorre de uma intensa interação entre homem e natureza, porquanto aquele

constrói o seu meio, e toda sua atividade e percepção são conformadas pela

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sua cultural. A cultura brasileira é o resultado daquilo que era próprio das

populações tradicionais indígenas e das transformações trazidas pelos

diversos grupos colonizadores e escravos africanos. Nesta toada, ao se

analisar o meio ambiente cultural, enquanto complexo macrossistema, é

perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído, constituído por bens

culturais materiais e imateriais portadores de referência à memória, à ação

e à identidade dos distintos grupos formadores da sociedade brasileira. O

conceito de patrimônio histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja de interesse

público, por sua vinculação a fatos memoráveis da História pátria ou por

seu excepcional valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

ambiental.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural. Paisagem Cultural.

Instrumento de Tutela.

Sumário: 1 Ponderações Introdutórias: Breves notas à construção

teórica da Ramificação Ambiental do Direito; 2 Comentários à concepção

de Meio Ambiente; 3 Meio Ambiente e Patrimônio Cultural: Aspectos

Introdutórios; 4 A Classificação das Paisagens Culturais: Breves

Comentários.

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1 Ponderações Introdutórias: Breves notas à construção teórica da

Ramificação Ambiental do Direito

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca do tema colocado

em tela, patente se faz arrazoar que a Ciência Jurídica, enquanto um

conjunto multifacetado de arcabouço doutrinário e técnico, assim como as

robustas ramificações que a integram, reclama uma interpretação alicerçada

nos plurais aspectos modificadores que passaram a influir em sua

estruturação. Neste alamiré, lançando à tona os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-se imperioso

salientar, com ênfase, que não mais subsiste uma visão arrimada em

preceitos estagnados e estanques, alheios às necessidades e às diversidades

sociais que passaram a contornar os Ordenamentos Jurídicos. Ora, infere-

se que não mais prospera o arcabouço imutável que outrora sedimentava a

aplicação das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população,

suplantados em uma nova sistemática.

Com espeque em tais premissas, cuida hastear, com bastante

pertinência, como flâmula de interpretação o “prisma de avaliação o

brocardo jurídico 'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade,

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está o Direito', tornando explícita e cristalina a relação de

interdependência que esse binômio mantém”[1]. Destarte, com clareza

solar, denota-se que há uma interação consolidada na mútua dependência,

já que o primeiro tem suas balizas fincadas no constante processo de

evolução da sociedade, com o fito de que seus Diplomas Legislativos e

institutos não fiquem inquinados de inaptidão e arcaísmo, em total

descompasso com a realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta

estrutural dependência das regras consolidadas pelo Ordenamento Pátrio,

cujo escopo primevo é assegurar que não haja uma vingança privada,

afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em que

o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho, dente por dente”),

bem como para evitar que se robusteça um cenário caótico no seio da

coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, imprescindível se fez adotá-la como maciço

axioma de sustentação do Ordenamento Brasileiro, precipuamente quando

se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico e abstrato, aos complexos

anseios e múltiplas necessidades que influenciam a realidade

contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o voto magistral voto

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proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descumprimento

de Preceito Fundamental Nº. 46/DF, “o direito é um organismo vivo,

peculiar porém porque não envelhece, nem permanece jovem, pois é

contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força,

o seu fascínio, a sua beleza”[2]. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível mutabilidade que

apresenta, decorrente do dinamismo que reverbera na sociedade e orienta a

aplicação dos Diplomas Legais e os institutos jurídicos neles consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se evidenciar que a

concepção pós-positivista que passou a permear o Direito, ofertou, por via

de consequência, uma rotunda independência dos estudiosos e profissionais

da Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de Verdan, “esta

doutrina é o ponto culminante de uma progressiva evolução acerca do

valor atribuído aos princípios em face da legislação”[3]. Destarte, a partir

de uma análise profunda dos mencionados sustentáculos, infere-se que o

ponto central da corrente pós-positivista cinge-se à valoração da robusta

tábua principiológica que Direito e, por conseguinte, o arcabouço

normativo passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho vinculante,

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flâmulas hasteadas a serem adotadas na aplicação e interpretação do

conteúdo das leis, diante das situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de mutabilidade tornou-se ainda

mais evidente, em especial, quando se analisa a construção de novos que

derivam da Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a ramificação

ambiental, considerando como um ponto de congruência da formação de

novos ideários e cânones, motivados, sobretudo, pela premissa de um

manancial de novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação, de boa

técnica se apresenta os ensinamentos de Fernando de Azevedo Alves Brito

que, em seu artigo, aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse

dos estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar as

peculiaridades ambientais, que, por estarem muito mais ligadas às ciências

biológicas, até então era marginalizadas”[4]. Assim, em decorrência da

proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira paulatina,

alcançando, notadamente a partir das últimas discussões internacionais

envolvendo a necessidade de um desenvolvimento econômico pautado em

sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em razão de novos

fatores, um verdadeiro remodelamento ou mesmo uma releitura dos

conceitos que abalizam a ramificação ambiental do Direito, com o fito de

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permitir que ocorra a conservação e recuperação das áreas degradadas,

primacialmente as culturais.

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito ambiental passou a

figurar, especialmente, depois das décadas de 1950 e 1960, como um

elemento integrante da farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha

realçar que mais contemporâneos, os direitos que constituem a terceira

dimensão recebem a alcunha de direitos de fraternidade ou, ainda, de

solidariedade, contemplando, em sua estrutura, uma patente preocupação

com o destino da humanidade[5]·. Ora, daí se verifica a inclusão de meio

ambiente como um direito fundamental, logo, está umbilicalmente atrelado

com humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade mais justa e

solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível citar o artigo 3°., inciso I, da

Carta Política de 1988 que abriga em sua redação tais pressupostos como

os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direitos: “Art. 3º -

Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -

construir uma sociedade livre, justa e solidária”[6].

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a construção dos

direitos encampados sob a rubrica de terceira dimensão tende a identificar

a existência de valores concernentes a uma determinada categoria de

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pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais prosperando a típica

fragmentação individual de seus componentes de maneira isolada, tal como

ocorria em momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira

pertinente as ponderações vertidas, insta trazer à colação o entendimento

do Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N°. 1.856/RJ, em especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os direitos

de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que

materializam poderes de titularidade coletiva

atribuídos, genericamente, e de modo difuso, a todos

os integrantes dos agrupamentos sociais, consagram o

princípio da solidariedade e constituem, por isso

mesmo, ao lado dos denominados direitos de quarta

geração (como o direito ao desenvolvimento e o

direito à paz), um momento importante no processo de

expansão e reconhecimento dos direitos humanos,

qualificados estes, enquanto valores fundamentais

indisponíveis, como prerrogativas impregnadas de

uma natureza essencialmente inexaurível[7].

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Quadra anotar que os direitos alocados sob a rubrica de direito

de terceira dimensão encontram como assento primordial a visão da

espécie humana na condição de coletividade, superando, via de

consequência, a tradicional visão que está pautada no ser humano em sua

individualidade. Assim, a preocupação identificada está alicerçada em

direitos que são coletivos, cujas influências afetam a todos, de maneira

indiscriminada. Ao lado do exposto, cuida mencionar, segundo Bonavides,

que tais direitos “têm primeiro por destinatários o gênero humano mesmo,

num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos

de existencialidade concreta”[8]. Com efeito, os direitos de terceira

dimensão, dentre os quais se inclui ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, positivado na Constituição de 1988, emerge com um claro e

tangível aspecto de familiaridade, como ápice da evolução e concretização

dos direitos fundamentais.

2 Comentários à concepção de Meio Ambiente

Em uma primeira plana, ao lançar mão do sedimentado jurídico-

doutrinário apresentado pelo inciso I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de

agosto de 1981[9], que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências,

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salienta que o meio ambiente consiste no conjunto e conjunto de condições,

leis e influências de ordem química, física e biológica que permite, abriga

e rege a vida em todas as suas formas. Pois bem, com o escopo de promover

uma facilitação do aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que

o meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de fatores abióticos,

provenientes de ordem química e física, e bióticos, consistentes nas plurais

e diversificadas formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos

apresentados por José Afonso da Silva, considera-se meio-ambiente como

“a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que

propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

formas”[10].

Nesta senda, ainda, Fiorillo[11], ao tecer comentários acerca da

acepção conceitual de meio ambiente, coloca em destaque que tal tema se

assenta em um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao intérprete

das leis, promover o seu preenchimento. Dada à fluidez do tema, é possível

colocar em evidência que o meio ambiente encontra íntima e umbilical

relação com os componentes que cercam o ser humano, os quais são de

imprescindível relevância para a sua existência. O Ministro Luiz Fux, ao

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apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou,

com bastante pertinência, que:

(...) o meio ambiente é um conceito hoje

geminado com o de saúde pública, saúde de cada

indivíduo, sadia qualidade de vida, diz a Constituição,

é por isso que estou falando de saúde, e hoje todos nós

sabemos que ele é imbricado, é conceitualmente

geminado com o próprio desenvolvimento. Se antes

nós dizíamos que o meio ambiente é compatível com

o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a partir da

Constituição, tecnicamente, que não pode haver

desenvolvimento senão com o meio ambiente

ecologicamente equilibrado. A geminação do

conceito me parece de rigor técnico, porque salta da

própria Constituição Federal[12].

É denotável, desta sorte, que a constitucionalização do meio

ambiente no Brasil viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que

concerne, especificamente, às normas de proteção ambiental. Tal fato

decorre da premissa que os robustos corolários e princípios norteadores

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foram alçados ao patamar constitucional, assumindo colocação eminente,

ao lado das liberdades públicas e dos direitos fundamentais. Superadas tais

premissas, aprouve ao Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira,

ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira dimensão,

insculpir na redação do artigo 225, conceder amplo e robusto respaldo ao

meio ambiente como pilar integrante dos direitos fundamentais. “Com o

advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, as

normas de proteção ambiental são alçadas à categoria de normas

constitucionais, com elaboração de capítulo especialmente dedicado à

proteção do meio ambiente”[13]. Nesta toada, ainda, é observável que o

caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988[14] está abalizado em

quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em conjunto, dão corpo

a toda tábua ideológica e teórica que assegura o substrato de edificação da

ramificação ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento dispensado pelo

artífice da Constituição Federal, o meio ambiente foi içado à condição de

direito de todos, presentes e futuras gerações. É encarado como algo

pertencente a toda coletividade, assim, por esse prisma, não se admite o

emprego de qualquer distinção entre brasileiro nato, naturalizado ou

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estrangeiro, destacando-se, sim, a necessidade de preservação, conservação

e não-poluição. O artigo 225, devido ao cunho de direito difuso que possui,

extrapola os limites territoriais do Estado Brasileiro, não ficando centrado,

apenas, na extensão nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste

sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou que:

A preocupação com o meio ambiente - que hoje

transcende o plano das presentes gerações, para

também atuar em favor das gerações futuras (...) tem

constituído, por isso mesmo, objeto de regulações

normativas e de proclamações jurídicas, que,

ultrapassando a província meramente doméstica do

direito nacional de cada Estado soberano, projetam-se

no plano das declarações internacionais, que refletem,

em sua expressão concreta, o compromisso das

Nações com o indeclinável respeito a esse direito

fundamental que assiste a toda a Humanidade[15].

O termo “todos”, aludido na redação do caput do artigo 225 da

Constituição Federal de 1988, faz menção aos já nascidos (presente

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geração) e ainda aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo

àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no mínimo, os

recursos naturais que hoje existem. Tal fato encontra como arrimo a

premissa que foi reconhecido ao gênero humano o direito fundamental à

liberdade, à igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em

ambiente que permita desenvolver todas as suas potencialidades em clima

de dignidade e bem-estar. Pode-se considerar como um direito

transgeracional, ou seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que

o meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta feita, o ideário de

que o meio ambiente substancializa patrimônio público a ser

imperiosamente assegurado e protegido pelos organismos sociais e pelas

instituições estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável que se

impõe, objetivando sempre o benefício das presentes e das futuras gerações,

incumbindo tanto ao Poder Público quanto à coletividade considerada em

si mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito erga mones, sendo,

portanto, oponível contra a todos, incluindo pessoa física/natural ou

jurídica, de direito público interno ou externo, ou mesmo de direito privado,

como também ente estatal, autarquia, fundação ou sociedade de economia

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mista. Impera, também, evidenciar que, como um direito difuso, não subiste

a possibilidade de quantificar quantas são as pessoas atingidas, pois a

poluição não afeta tão só a população local, mas sim toda a humanidade,

pois a coletividade é indeterminada. Nesta senda, o direito à interidade do

meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa jurídica de

titularidade coletiva, ressoando a expressão robusta de um poder deferido,

não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas num sentido mais

amplo, atribuído à própria coletividade social.

Com a nova sistemática entabulada pela redação do artigo 225

da Carta Maior, o meio-ambiente passou a ter autonomia, tal seja não está

vinculada a lesões perpetradas contra o ser humano para se agasalhar das

reprimendas a serem utilizadas em relação ao ato perpetrado. Figura-se,

ergo, como bem de uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos

sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser esmiuçado, está atrelado o

meio-ambiente como vetor da sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-

se na salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie humana está se

tratando do bem-estar e condições mínimas de existência. Igualmente, o

sustentáculo em análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os

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preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando a vida em todas

as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a corresponsabilidade, que impõe

ao Poder Público o dever geral de se responsabilizar por todos os elementos

que integram o meio ambiente, assim como a condição positiva de atuar em

prol de resguardar. Igualmente, tem a obrigação de atuar no sentido de

zelar, defender e preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça

intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que permite a ação

antrópica, viabilizando melhorias no meio ambiente, trabalhando com as

premissas de desenvolvimento sustentável, aliando progresso e

conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever negativo, que se

apresenta ao não poluir nem agredir o meio-ambiente com sua ação. Além

disso, em razão da referida corresponsabilidade, são titulares do meio

ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

3 Meio Ambiente e Patrimônio Cultural: Aspectos Introdutórios

Quadra salientar que o meio ambiente cultural é constituído por

bens culturais, cuja acepção compreende aqueles que possuem valor

histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico, fossilífero,

turístico, científico, refletindo as características de uma determinada

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sociedade. Ao lado disso, quadra anotar que a cultura identifica as

sociedades humanas, sendo formada pela história e maciçamente

influenciada pela natureza, como localização geográfica e clima. Com

efeito, o meio ambiente cultural decorre de uma intensa interação entre

homem e natureza, porquanto aquele constrói o seu meio, e toda sua

atividade e percepção são conformadas pela sua cultural. “A cultura

brasileira é o resultado daquilo que era próprio das populações

tradicionais indígenas e das transformações trazidas pelos diversos grupos

colonizadores e escravos africanos”[16]. Desta maneira, a proteção do

patrimônio cultural se revela como instrumento robusto da sobrevivência

da própria sociedade.

Nesta toada, ao se analisar o meio ambiente cultural, enquanto

complexo macrossistema, é perceptível que é algo incorpóreo, abstrato,

fluído, constituído por bens culturais materiais e imateriais portadores de

referência à memória, à ação e à identidade dos distintos grupos formadores

da sociedade brasileira. Meirelles anota que “o conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens moveis e imóveis,

existentes no País, cuja conservação seja de interesse público, por sua

vinculação a fatos memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

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valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e ambiental”[17].

Quadra anotar que os bens compreendidos pelo patrimônio cultural

compreendem tanto realizações antrópicas como obras da Natureza;

preciosidades do passado e obras contemporâneas.

Nesta esteira, é possível subclassificar o meio ambiente cultural

em duas espécies distintas, quais sejam: uma concreta e outra abstrata.

Neste passo, o meio-ambiente cultural concreto, também denominado

material, se revela materializado quando está transfigurado em um objeto

classificado como elemento integrante do meio-ambiente humano. Assim,

é possível citar os prédios, as construções, os monumentos arquitetônicos,

as estações, os museus e os parques, que albergam em si a qualidade de

ponto turístico, artístico, paisagístico, arquitetônico ou histórico. Os

exemplos citados alhures, em razão de todos os predicados que ostentam,

são denominados de meio-ambiente cultural concreto. Acerca do tema em

comento, é possível citar o robusto entendimento jurisprudencial firmado

pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao apreciar o Recurso Especial N°

115.599/RS:

Ementa: Meio Ambiente. Patrimônio cultural.

Destruição de dunas em sítios arqueológicos.

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Responsabilidade civil. Indenização. O autor da

destruição de dunas que encobriam sítios

arqueológicos deve indenizar pelos prejuízos

causados ao meio ambiente, especificamente ao meio

ambiente natural (dunas) e ao meio ambiente cultural

(jazidas arqueológicas com cerâmica indígena da Fase

Vieira). Recurso conhecido em parte e provido.

(Superior Tribunal de Justiça – Quarta Turma/ REsp

115.599/RS/ Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar/

Julgado em 27.06.2002/ Publicado no Diário da

Justiça em 02.09.2002, p. 192).

Diz-se, de outro modo, o meio-ambiente cultural abstrato,

chamado, ainda, de imaterial, quando este não se apresenta materializado

no meio-ambiente humano, sendo, deste modo, considerado como a cultura

de um povo ou mesmo de uma determinada comunidade. Da mesma

maneira, são alcançados por tal acepção a língua e suas variações regionais,

os costumes, os modos e como as pessoas relacionam-se, as produções

acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações decorrentes de cada

identidade nacional e/ou regional. Neste sentido, é possível colacionar o

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entendimento firmado pelo Tribunal Regional Federal da Segunda Região,

quando, ao apreciar a Apelação Cível N° 2005251015239518, firmou

entendimento que “expressões tradicionais e termos de uso corrente, trivial

e disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o patrimônio

cultural de um povo”[18]. Esses aspectos constituem, sem distinção,

abstratamente o meio-ambiente cultural. Consoante aponta Brollo, “o

patrimônio cultural imaterial transmite-se de geração a geração e é

constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu

ambiente”[19], decorrendo, com destaque, da interação com a natureza e

dos acontecimentos históricos que permeiam a população.

O Decreto Nº. 3.551, de 04 de Agosto de 2000[20], que institui

o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem patrimônio

cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências, consiste em instrumento efetivo para a preservação dos

bens imateriais que integram o meio-ambiente cultural. Como bem aponta

Brollo[21], em seu magistério, o aludido decreto não instituiu apenas o

registro de bens culturais de natureza imaterial que integram o patrimônio

cultural brasileiro, mas também estruturou uma política de inventariança,

referenciamento e valorização desse patrimônio. Ejeta-se, segundo o

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entendimento firmado por Celso Fiorillo[22], que os bens que constituem

o denominado patrimônio cultural consistem na materialização da história

de um povo, de todo o caminho de sua formação e reafirmação de seus

valores culturais, os quais têm o condão de substancializar a identidade e a

cidadania dos indivíduos insertos em uma determinada comunidade.

Necessário se faz salientar que o meio-ambiente cultural, conquanto seja

artificial, difere-se do meio-ambiente humano em razão do aspecto cultural

que o caracteriza, sendo dotado de valor especial, notadamente em

decorrência de produzir um sentimento de identidade no grupo em que se

encontra inserido, bem como é propiciada a constante evolução fomentada

pela atenção à diversidade e à criatividade humana.

4 A Classificação das Paisagens Culturais: Breves Comentários

De plano, quadra apontar que a conceituação da Paisagem

Cultural Brasileira fundamenta-se na Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, segundo a qual o patrimônio cultural é formado por bens

de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,

portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas

de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas,

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artísticas e tecnológicas, as obras, objetos, documentos, edificações e

demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais, os

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Igualmente, os

fenômenos contemporâneos de expansão urbana, globalização e

massificação das paisagens urbanas e rurais colocam em risco contextos de

vida e tradições locais em todo o planeta. Ao lado disso, a necessidade de

ações e iniciativas administrativas e institucionais de preservação de

contextos culturais complexos, que abranjam porções do território nacional

e destaquem-se pela interação peculiar do homem com o meio natural.

No mais, o reconhecimento das paisagens culturais é

mundialmente praticado com a finalidade de preservação do patrimônio e

que sua adoção insere o Brasil entre as nações que protegem

institucionalmente o conjunto de fatores que compõem as paisagens. Em

igual linha, a chancela da Paisagem Cultural Brasileira estimula e valoriza

a motivação da ação humana que cria e que expressa o patrimônio cultural.

Em mesmo sentido, a chancela da Paisagem Cultural Brasileira valoriza a

relação harmônica com a natureza, estimulando a dimensão afetiva com o

território e tendo como premissa a qualidade de vida da população. Nesta

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dicção, os instrumentos legais vigentes que tratam do patrimônio cultural e

natural, tomados individualmente, não contemplam integralmente o

conjunto de fatores implícitos nas paisagens culturais. Em uma concepção

inicial, entende-se por Paisagem Cultural Brasileira uma porção peculiar do

território nacional, representativa do processo de interação do homem com

o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou

atribuíram valores. A Paisagem Cultural Brasileira é declarada por chancela

instituída pelo IPHAN, mediante procedimento específico.

A chancela da Paisagem Cultural Brasileira tem por finalidade

de atender ao interesse público e contribuir para a preservação do

patrimônio cultural, complementando e integrando os instrumentos de

promoção e proteção existentes, nos termos preconizados na Constituição

Federal. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira considera o caráter

dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do território a que

se aplica, convive com as transformações inerentes ao desenvolvimento

econômico e social sustentáveis e valoriza a motivação responsável pela

preservação do patrimônio. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira

implica no estabelecimento de pacto que pode envolver o poder público, a

sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão compartilhada da

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porção do território nacional assim reconhecida. O pacto convencionado

para proteção da Paisagem Cultural Brasileira chancelada poderá ser

integrado de Plano de Gestão a ser acordado entre as diversas entidades,

órgãos e agentes públicos e privados envolvidos, o qual será acompanhado

pelo IPHAN. Qualquer pessoa natural ou jurídica é parte legítima para

requerer a instauração de processo administrativo visando a chancela de

Paisagem Cultural Brasileira. O requerimento para a chancela da Paisagem

Cultural Brasileira, acompanhado da documentação pertinente, poderá ser

dirigido: I - às Superintendências Regionais do IPHAN, em cuja

circunscrição o bem se situar; II - ao Presidente do IPHAN; ou III - ao

Ministro de Estado da Cultura.

Verificada a pertinência do requerimento para chancela da

Paisagem Cultural Brasileira será instaurado processo administrativo. O

Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização - DEPAM/IPHAN é

o órgão responsável pela instauração, coordenação, instrução e análise do

processo. A instauração do processo será comunicada à Presidência do

IPHAN e às Superintendências Regionais em cuja circunscrição o bem se

situar. Para a instrução do processo administrativo poderão ser consultados

os diversos setores internos do IPHAN que detenham atribuições na área,

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as entidades, órgãos e agentes públicos e privados envolvidos, com vistas à

celebração de um pacto para a gestão da Paisagem Cultural Brasileira a ser

chancelada. Finalizada a instrução, o processo administrativo será

submetido para análise jurídica e expedição de edital de notificação da

chancela, com publicação no Diário Oficial da União e abertura do prazo

de 30 dias para manifestações ou eventuais contestações ao reconhecimento

pelos interessados. As manifestações serão analisadas e as contestações

julgadas pelo Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização -

DEPAM/IPHAN, no prazo de 30 (trinta) dias, mediante prévia oitiva da

Procuradoria Federal, remetendo-se o processo administrativo para

deliberação ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Aprovada a

chancela da Paisagem Cultural Brasileira pelo Conselho Consultivo do

Patrimônio Cultural, a súmula da decisão será publicada no Diário Oficial

da União, sendo o processo administrativo remetido pelo Presidente do

IPHAN para homologação final do Ministro da Cultura.

A aprovação da chancela da Paisagem Cultural Brasileira pelo

Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural será comunicada aos Estados-

membros e Municípios onde a porção territorial estiver localizada, dando-

se ciência ao Ministério Público Federal e Estadual, com ampla publicidade

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do ato por meio da divulgação nos meios de comunicação pertinentes. O

acompanhamento da Paisagem Cultural Brasileira chancelada compreende

a elaboração de relatórios de monitoramento das ações previstas e de

avaliação periódica das qualidades atribuídas ao bem. A chancela da

Paisagem Cultural Brasileira deve ser revalidada num prazo máximo de 10

anos. O processo de revalidação será formalizado e instruído a partir dos

relatórios de monitoramento e de avaliação, juntando-se manifestações das

instâncias regional e local, para deliberação pelo Conselho Consultivo do

Patrimônio Cultural. A decisão do Conselho Consultivo do Patrimônio

Cultural a propósito da perda ou manutenção da chancela da Paisagem

Cultural Brasileira será publicada no Diário Oficial da União, dando-se

ampla divulgação ao ato nos meios de comunicação pertinentes.

Tecidos estes comentários, cuida reconhecer que a paisagem

cultural pode ser classificada em três categorias, para fins de inscrição

como patrimônio mundial: a) paisagens claramente definidas (clearly

defined landscapes), que são aquelas desenhadas e criadas

intencionalmente, como jardins e parques construídos por razões estéticas;

b) paisagens evoluídas organicamente (organically evolved landscapes),

também chamadas de “essencialmente evolutivas”, que se subdividem em

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paisagens-relíquia ou fóssil (relict or fossil landscapes), cujo processo de

construção terminou no passado, e paisagens contínuas ou vivas

(continuing landscapes), em que os processos evolutivos ainda estão em

curso; c) paisagens culturais associativas (associative cultural landscapes),

que têm o seu valor determinado de acordo com associações feitas acerca

delas, como as associações espirituais de povos tradicionais com

determinadas paisagens. Não há, até o momento, nenhum sítio brasileiro

reconhecido como paisagem cultural na lista de patrimônio mundial da

Unesco, assim como nenhum sítio inscrito no Livro do Tombo

Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico que tenha sido tombado por seu

valor enquanto “paisagem cultural”, no sentido definido pela Unesco, que

privilegia as interações entre cultura e natureza e os componentes materiais

e imateriais.

Referência:

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed. atual. São

Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa

do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

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__________. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio

Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

__________. Decreto-Lei N° 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza

a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

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Brasileiro de Museus – IBRAM, cria 425 (quatrocentos e vinte e cinco)

cargos efetivos do Plano Especial de Cargos da Cultura, cria Cargos em

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meio-ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a existência

ou a inexistência das classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-

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Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível

em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 01 out. 2015.

NOTAS:

[1] VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do Direito

Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível

em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 01 out. 2015, s.p.

[2] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa Pública de

Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de Correspondências. Serviço

Postal. Controvérsia referente à Lei Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978.

Ato Normativo que regula direitos e obrigações concernentes ao Serviço

Postal. Previsão de Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal.

Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de

afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170, caput,

inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil. Violação dos

Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não Caracterização.

Arguição Julgada Improcedente. Interpretação conforme à Constituição

conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que estabelece sanção, se

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configurada a violação do privilégio postal da União. Aplicação às

atividades postais descritas no artigo 9º, da lei. Órgão Julgador: Tribunal

Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio. Julgado em 05 ag. 2009.

Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[3] VERDAN, 2009, s.p.

[4] BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do meio-

ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a existência ou a

inexistência das classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente

misto. Boletim Jurídico, Uberaba, ano 5, n. 968. Disponível em:

<http://www.boletimjuridico.com.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[5] MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional –

Teoria, Jurisprudência e 1.000 Questões 15 ed., rev., ampl. e atual. Rio

de Janeiro: Editora Impetus, 2004, p. 69.

[6] BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[7] Idem. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação Direta

de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições entre

aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa - Diploma

Legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos

de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98, ART. 32) - Meio Ambiente

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- Direito à preservação de sua integridade (CF, Art. 225) - Prerrogativa

qualificada por seu caráter de metaindividualidade - Direito de terceira

geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da

solidariedade - Proteção constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) -

Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural -

Reconhecimento da inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada -

Ação Direta procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma que

institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro

Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[8] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed. atual.

São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007, p. 569.

[9] BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[10] SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20.

[11] FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental

Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p.

77.

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[12] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da Associação

Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe de Âmbito

Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da Constituição. Não emissão

de parecer pela Comissão Mista Parlamentar. Inconstitucionalidade dos

artigos 5º, caput, e 6º, caput e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002

do Congresso Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade

(Art. 27 da Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08 mar.

2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[13] THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o Novo

Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador:

Editora JusPodivm, 2012, p. 116.

[14] BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015: “Art. 225. Todos

têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”.

[15] Idem. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

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Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições entre

aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa - Diploma

Legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos

de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98, ART. 32) - Meio Ambiente

- Direito à preservação de sua integridade (CF, Art. 225) - Prerrogativa

qualificada por seu caráter de metaindividualidade - Direito de terceira

geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da

solidariedade - Proteção constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) -

Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural -

Reconhecimento da inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada -

Ação Direta procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma que

institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro

Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[16] BROLLO, Sílvia Regina Salau. Tutela Jurídica do meio ambiente

cultural: Proteção contra a exportação ilícita dos bens culturais. 106f.

Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica do

Paraná, Curitiba, 2006. Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2006-10-

05T061948Z-421/Publico/SilviaDto.pdf>. Acesso em 01 out. 2015, p. 15-

16.

[17] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 38 ed.

São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 634.

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[18] BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região. Acórdão

proferido em Apelação Cível N° 2005251015239518. Direito da

propriedade industrial. Marca fraca e marca de alto renome. Anulação de

marca. Uso compartilhado de signo mercadológico (ÔMEGA). I –

Expressões tradicionais e termos de uso corrente, trivial e disseminado,

reproduzidos em dicionários, integram o patrimônio cultural de um povo.

Palavras dotadas dessas características podem inspirar o registro de marcas,

pelas peculiaridades de suas expressões eufônicas ou pela sua inegável

repercussão associativa no imaginário do consumidor. II – É fraca a marca

que reproduz a última letra do alfabeto grego (Omega), utilizado pelo povo

helênico desde o século VIII a.C., e inserida pelos povos eslavos no alfabeto

cirílico, utilizado no Império Bizantino desde o século X d.C. O propósito

de sua adoção é, inegavelmente, o de fazer uso da familiaridade do

consumidor com o vocábulo de uso corrente desde a Antiguidade. III – Se

uma marca fraca alcançou alto renome, a ela só se pode assegurar proteção

limitada, despida do jus excludendi de terceiros, que também fazem uso do

mesmo signo merceológico de boa-fé e em atividade distinta. Nessas

circunstâncias, não há a possibilidade de o consumidor incidir erro ou,

ainda, de se configurar concorrência desleal. IV – Apelação parcialmente

provida tão-somente para ajustar o pólo passivo da relação processual,

fazendo constar o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI como

réu, mantida a improcedência do pedido de invalidação do registro da

marca mista OMEGA (nº 818.522.216), classe 20 (móveis e acessórios de

cozinha), formulado por Ômega S.A. Órgão Julgador: Segunda Turma

Especializada. Relator: Desembargador Federal André Fontes. Julgado em

25.08.2007. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 01 out. 2015.

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[19] BROLLO, 2006, p. 33.

[20] BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio

Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 out. 2015.

[21] BROLLO, 2006, p. 33.

[22] FIORILLO, 2012, p. 80.