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ESTUDO TÉCNICO JURÍDICO OAB FEDERAL ART. 8º, ADCT DA CF/88 E LEI 10.559/02 1 - INTRODUÇÃO Em cumprimento ao requerido pelo Dr. Ophir, Presidente da OAB Federal, segue estudo técnico jurídico, com conteúdo relativo as violações praticadas por órgãos da Administração Pública e/ou Poder Judiciário, no que tange ao Art. 8º, do ADCT da CF/88, bem como seus resvalos no preceito legal que o regulamenta, Lei 10.559/02, com fito de análise, verificação de possível ingresso de ADPF, e direcionamento de demais medidas pertinentes. Ressalta-se que durante a construção do material, em virtude das circunstâncias favoráveis, o grupo de advogados representantes de entidades ligadas a anistia, optou pela análise integral, além do art. 8º acima mencionado, também da Lei 10.559/02. Tal atitude cumpre o fulcro de demonstrar a extensão dos danos que vêm sendo causados através de flagrante desrespeito àquele preceito legal, bem como, oportunamente, requerer a OAB, o indicativo e suporte de direção, no aspecto administrativo e judicial, das atitudes que possam ser por ela tomadas ou pelos órgãos que ora subscrevem o trabalho, no intuito da mudança dessa mal versada realidade imposta. Em suma, o documento que segue cumpre objetivo, além de estudo para possível ADPF, a verificação de demais medidas que possam ser tomadas no intuito de sanar os problemas flagrados. Para melhor situar as questões ora abordadas, segue pequeno texto, disposto em ordem cronológica, onde está conduzido o fio da anistia política, com base nas legislações existentes.

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ESTUDO TÉCNICO JURÍDICO

OAB FEDERAL

ART. 8º, ADCT DA CF/88 E LEI 10.559/02

1 - INTRODUÇÃO

Em cumprimento ao requerido pelo Dr. Ophir, Presidente da OAB

Federal, segue estudo técnico jurídico, com conteúdo relativo as violações praticadas

por órgãos da Administração Pública e/ou Poder Judiciário, no que tange ao Art. 8º,

do ADCT da CF/88, bem como seus resvalos no preceito legal que o regulamenta,

Lei 10.559/02, com fito de análise, verificação de possível ingresso de ADPF, e

direcionamento de demais medidas pertinentes.

Ressalta-se que durante a construção do material, em virtude das

circunstâncias favoráveis, o grupo de advogados representantes de entidades ligadas a

anistia, optou pela análise integral, além do art. 8º acima mencionado, também da Lei

10.559/02. Tal atitude cumpre o fulcro de demonstrar a extensão dos danos que vêm

sendo causados através de flagrante desrespeito àquele preceito legal, bem como,

oportunamente, requerer a OAB, o indicativo e suporte de direção, no aspecto

administrativo e judicial, das atitudes que possam ser por ela tomadas ou pelos órgãos

que ora subscrevem o trabalho, no intuito da mudança dessa mal versada realidade

imposta.

Em suma, o documento que segue cumpre objetivo, além de estudo

para possível ADPF, a verificação de demais medidas que possam ser tomadas no

intuito de sanar os problemas flagrados.

Para melhor situar as questões ora abordadas, segue pequeno texto,

disposto em ordem cronológica, onde está conduzido o fio da anistia política, com

base nas legislações existentes.

2

2 - SÍNTESE LEGISLATIVA

Na tentativa de reparar as injustiças cometidas pela ditadura militar, o

legislador ainda em pleno regime de exceção, editou a Lei nº 6683/79 primeiro

diploma legal a tratar da questão da anistia dos cidadãos atingidos com a perda de seus

empregos e direitos, por razões políticas, entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto

de 1979. Entretanto, a referida lei e o seu regulamento, Decreto nº 84.143, que apesar

de sua singular importância política, pecaram pela imperfeição.

A Lei 6683/79 criou o instituto da APOSENTADORIA

EXCEPCIONAL, beneficiando os recém anistiados ainda que precariamente,

tentando, desta forma, resgatar a cidadania e minorar a situação financeira que afligia a

quase totalidade dos punidos por atos de exceção.

Com o escopo de espancar totalmente as dúvidas que pairavam sobre a

situação dos anistiados e de como seriam concedidas as aludidas aposentadorias, foi

editada a Emenda Constitucional nº 26, de 27/11/85.

Quando aqui nos referimos a anistia política, portanto, na realidade estamos

nos reportando ao conjunto de normas legais a seguir relacionadas que se ocuparam,

lenta e gradualmente, do resgate da cidadania inclusive daqueles que foram

perseguidos e punidos, na maioria quase totalidade dos casos, por crime de opinião,

isto é, por não concordar com o estabelecimento de um governo ilegítimo,

autoritário e ditatorial, assim temos:

3

1979, com a Lei nº 6683;

1985, com a Emenda Constitucional nº 26;

1988, com o art. 8° do ADCT;

1998, com a Emenda Constitucional n° 20

2002, com a Lei nº 10.559 que regulamenta o art. 8° do

ADCT.

3 – DISSERTAÇÃO SOBRE OS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS

INFRINGIDOS, SEUS RESVALOS EM ALGUNS ARTIGOS DA LEI

10.559/02

Entre os dispositivos legais que estão sendo interpretados em

desconformidade com o texto constitucional, destacam-se os seguintes:

- art. 6º, § 1º, pois a Comissão de Anistia vem concedendo

reparação econômica baseada em pesquisa de mercado, sem ater-se ao cargo

ou emprego exercido pelo anistiado quando da punição, bem como

desprezando a regra que determina que o valor da indenização seja igual ao

que ele receberia se “em serviço ativo estivesse”.

- art. 2º, inciso V, já que a Comissão de Anistia vem

entendendo que a maioria dos beneficiários deste dispositivo já foi anistiada

da punição militar e, que assim, não teriam direito a mais uma indenização,

essa de caráter civil, diante da vedação do art. 16, também da lei de anistia.

4

- art. 2º, inciso IX, a posição da CA é no sentido de que, ao

serem readmitidos, os beneficiários deste dispositivo nada têm a receber, pois

a eles foram pagas todas as parcelas indenizatórias devidas.

- art. 6º, § 6º, diante da restrição contida na parte final desse

dispostivo, relacionado aos efeitos retroativos da reparação econômica.

No art. 8º do ADCT, as questões suscitadas estão alojadas no

caput do artigo, bem como nos seus §§ 1º, 3º e 5º. Para facilitar o raciocínio

lógico no processo de interpretação do dispositivo constitucional transitório, a

parte inerente ao § 1º ficará para a última fase deste trabalho.

Art. 8º do ADCT - Desde 403 a.C, na Grécia, quando

Trasíbulo propôs aos “Trinta Tiranos Expulsos”, anistia foi sinônimo de uma

forma de esquecimento de interesse coletivo, estabelecido com o propósito de

tornar sem efeitos fatos pretéritos, voltando-se para uma pacificação geral e

construção futura.

A matéria, já no Século 19, não escapou da análise do

Supremo Tribunal Federal:

“Sendo a anistia uma medida

essencialmente política, ao poder

autorizado para concedê-la compete

apreciar as circunstâncias extraordinárias

em que o interesse social reclama o

esquecimento de certos e determinados

delitos.

5

Podendo a anistia ser geral, restrita,

absoluta ou condicional, somente ao Poder

Legislativo, que pela Const. Federal tem a

atribuição privativa de a decretar, assiste o

incontestável direito de estabelecer as

garantias e condições que julgar

necessárias ao interesse do Estado, à

consevação da ordem pública e à causa da

Justiça” (Acórdão nº 216, de 20 de janeiro

de 1897, citado por Pontes de Miranda, in

Comentários à Constituição de 1967,

Página 425) (Destaques acrescidos)

Com esse espírito de apagar da memória dos cidadãos fatos de

triste recordação, o legislador constitucional originário, ao escrever o art. 8º do

ADCT, outorgou anistia e conferiu benefícios às pessoas que sofreram

represálias e perseguições relativas ao exercício de atividade profissional,

sindical, mandato eletivo e cassação de direitos políticos durante o período de

exceção, objetivando, sem dúvida, restaurar direitos que foram suprimidos,

verbis:

“Art. 8º - É concedida anistia aos que, no

período de 18 de setembro de 1946 até a

data da promulgação da Constituição,

foram atingidos, em decorrência de

motivação exclusivamente política, por

atos de exceção, institucionais ou

complementares, aos que foram atingidos

6

pelo Decreto Legislativo nº 18, de 15 de

dezembro de 1961, e aos atingidos pelo

Decreto-Lei nº 864, de 12 de setembro de

1969, asseguradas as promoções, na

inatividade, ao cargo, emprego, posto ou

graduação a que teriam direito se

estivessem em serviço ativo, obedecidos os

prazos de permanência em atividade

previstos nas leis e regulamentos vigentes,

respeitadas as características e

peculiaridades das carreiras dos servidores

públicos civis e militares e respeitados os

respectivos regimes jurídicos.” (Destaques

acrescidos)

Esses direitos foram parcialmente modificados quando da

promulgação da Emenda Constitucional nº 20, de 1998 – Art. 3º, § 3º. Pelo

novo texto, houve o atrelamento da indenização ao valor dos subsídios dos

Ministros do Supremo Tribunal Federal.

A jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, a

quem, em derradeira instância, tem o dever de zelar pela fiel interpretação da

Constituição, a partir do julgamento do RE nº 165.438 (Pleno, relator

Ministro CARLOS VELLOSO), assentou com precisão e de maneira

definitiva, que as indenizações a serem pagas aos anistiados políticos,

devem ser calculadas com base nas remunerações ou salários que eles

receberiam se em serviço ativo estivessem. Esta posição veio a ser

reiterada em recentíssimo acórdão emanado daquela Corte:

7

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO

RESCISÓRIA. RECURSO

EXTRAORDINÁRIO. ART. 8º DO

ADCT. DECISÃO QUE AFASTOU A

PRETENSÃO DO AUTOR EM

RELAÇÃO ÀS PROMOÇÕES POR

MERECIMENTO COM BASE NA

ENTÃO JURISPRUDÊNCIA DESTA

CORTE. MODIFICAÇÃO

JURISPRUDENCIAL PARA

CONSIDERAR QUE A NORMA DO

CITADO ART. 8º ABARCA AS

PROMOÇÕES POR MERECIMENTO.

SÚMULA 343/STF. MATÉRIA

CONSTITUCIONAL.

INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO A

LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI.

CONFIGURAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA

PROVIDA.

I – Cabe ação rescisória por ofensa à literal

disposição constitucional, ainda que a

decisão rescindenda tenha se baseado em

interpretação controvertida, ou seja,

anterior à orientação fixada pelo Supremo

Tribunal Federal.

II – A atual jurisprudência do Tribunal é

no sentido de que a norma do art. 8º do

8

ADCT apenas exige, para concessão de

promoções, na aposentadoria ou na

reserva, a observância dos prazos de

permanência em atividade inscritos em

leis e regulamentos.

III – Decisão que, ao aplicar o art. 8º do

ADCT, afasta por merecimento ou

condicionadas por lei à aprovação em

curso de admissão e aproveitamento no

curso exigido, autoriza sua rescisão, com

base no art. 485, V, do CPC.

IV – Ação rescisória julgada procedente.”

(AR nº 1.478, Pleno, relator Ministro

RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 1 de

fevereiro de 2012) (Destaques acrescidos)

Em sentido equivalente, outros julgados do STF:

- ED nos ED no AR nos EDiv no RE nº

197.761-2, Pleno; relatora Ministra

CÁRMEN LÚCIA, DJe de 05 de outubro

de 2007;

- EDiv no RE nº 166.791-5, Pleno, relator

Ministro GILMAR MENDES, DJe de 19

de outubro de 2007;

9

- AR nº 1.527, Pleno, relator Ministro

RICARDO LEWANDOWSKI, Ata de

Julgamento nº 35, divulgada no DJe nº 225,

de 25 de novembro de 2011;

- RE nº 579.106, Decisão monocrática¸

Ministro CELSO DE MELLO, DJE nº 48,

divulgada em 14.3.2008;

- RE nº 601.010, Decisão monocrática,

Ministro CEZAR PELUSO, DJe nº 207,

divulgada em 4.11.2009;

- RE nº 627.836, Decisão monocrática,

Ministro MARCO AURÉLIO, DJe nº 190,

divulgada em 7.10.2010; e

- RE nº 633.155, Decisão monocrática¸

Ministro CARLOS AYRES BRITTO, DJe

nº 98, divulgada em 24.5.2011.

A Lei nº 10.559, de 2002, ao regulamentar o art. 8º do ADCT,

reproduziu literalmente a norma constitucional relativa às promoções:

“Art. 3º - A reparação econômica de que trata

o inciso II do art. 1º desta Lei, nas condições

estabelecidas no caput do art. 8º do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias,

correrá à conta do Tesouro Nacional.

10

§ 1º

____________________________________

_______

§ 2º - A reparação econômica, nas

condições estabelecidas no caput do art. 8º

do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, será concedida mediante

portaria do Ministro de Estado da Justiça, após

parecer favorável da Comissão de Anistia de

que trata o art. 12 desta Lei.

Art. 6º - O valor da prestação mensal,

permanente e continuada, será igual ao da

remuneração que o anistiado político

receberia se na ativa estivesse, considerada

a graduação a que teria direito, obedecidos os

prazos para promoção previstos nas leis e

regulamentos vigentes, e asseguradas as

promoções ao oficialato, independentemente

de requisitos e condições, respeitadas as

características e peculiaridade dos regimes

jurídicos dos servidores públicos civis e dos

militares, e, se necessário, considerando-se os

seus paradigmas.” (Destaques acrescidos)

Como se depreende a legislação de regência expressamente

assegurou a concessão da indenização calculada com base em valor igual ao

11

que o anistiado político receberia se em serviço ativo estivesse, respeitado o

limite do teto estabelecido no art. 37, inciso XI, da Constituição Federal.

Nem poderia ser diferente, na medida em que expressamente

menciona ser legislação regulamentadora do art. 8º, do ADCT, a exigir a

perfeita adequação com seu alcance na forma de compensação material, a fim

de excluir a pecha de inconstitucionalidade.

Presente tal contexto, impende verificar se a Comissão de

Anistia tem liberdade para fixar a dimensão material da reparação econômica,

sem ater-se ao comando constitucional que determina que o valor da

indenização seja igual ao da remuneração que o anistiado político receberia se

em serviço ativo estivesse.

Ao examinar a constitucionalidade de qualquer ato, o

intérprete deve levar em conta não só a intenção do constituinte, como o

sentido e a significação das palavras, o significado lógico e a experiência

constitucional.

Quando o hermeneuta está investido de alguma função

pública, impende estar sempre atento a que a Constituição, como Lei Maior

do País, há de presidir toda a sua conduta funcional.

Precisa ter em mente, de outro modo, que as demais normas

jurídicas têm sua existência, validade e eficácia dependentes, direta e

indiretamente, da Constituição.

Portanto, ele tem o dever funcional de recusar aquilo que for

uma agressão à Constituição Federal.

12

A grande lição sobre o assunto é herança cultural do Ministro

THEMISTOCLES BRANDÃO CAVALCANTI:

“Deve-se observar na interpretação da

Constituição os seguintes preceitos, a

serem observados na apreciação da

constitucionalidade:

a) as palavras devem ser tomadas em seu

sentido usual, considerando-se como tal o

sentido técnico, quando utilizados com

este objetivo;

b) o exame da intenção do constituinte

deve ser considerado, principalmente, no

que concerne aos princípios fundamentais

do regime político, à forma de governo, à

estrutura do Estado, aos objetivos sociais e

econômicos predominantes;

c) os conflitos entre preceitos

contraditórios ou aparentemente

divergentes devem ser interpretados em

função do sistema constitucional;

d) a garantia dos direitos individuais deve

ser interpretada de maneira a ampliar, em

benefício da liberdade, os preceitos de

13

entendimento duvidoso.” (Do controle de

constitucionalidade, Forense, Página 47,

1966)

Todavia, existe uma tentação diabólica por parte “das

autoridades brasileiras no mau vezo de inversão da pirâmide normativa do

ordenamento, de modo a acreditar menos na Constituição do que na lei

ordinária.” Isso “representa um dos mais graves aspectos da patologia

constitucional, pois reflete inaceitável desprezo, por parte das instituições

governamentais, da autoridade suprema da Lei Fundamental do Estado.”

(Fragmentos do voto do Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, no MS nº

23.550, STF, Pleno).

A Comissão de Anistia, em primeiro lugar, e o Ministro de

Estado da Justiça, ao referendar parecer opinativo daquele colegiado,

passaram a deferir a indenização do art. 8º do ADCT não com base no cargo

ou emprego que tinha o anistiado antes de ser punido, mas em pesquisa de

mercado. O fundamento para tal atitude seria a liberdade de escolha dentre as

hipóteses apresentadas no § 1º, do art. 6º da Lei 10.559.

A simplória argumentação não se sustenta na medida em que

ultraja a exegese jurídica ao não considerar que a interpretação do parágrafo

tem que estar vinculada ao caput do artigo, não podendo pretender dizer mais

do que ele, senão explicitá-lo. Muito menos restringir o texto constitucional.

Essenciais à espécie os seguintes trechos do voto do Ministro WILSON

GONÇALVES, por ocasião do julgamento do MS nº 93.521 (Tribunal

Federal de Recursos, relator Ministro CARLOS VELLOSO, DJ de 31 de

maio de 1982), quando afirmou:

14

“(...) Com efeito, é regra inconteste de

hermenêutica que as normas inseridas nos

parágrafos, itens, números e alíneas devem

ser interpretadas em consonância e

harmonia com o disposto no “caput” do

artigo, que contém o comando geral da

norma.

Não nos parece racional que um parágrafo

possa dispor de modo a anular ou eliminar

totalmente o que determina o “caput” do

artigo que integra (...)" (Destaques

acrescidos)

Assim, o que a lei de anistia expressa, em total consonância

com a Constituição Federal, é que para chegar-se ao quantum da reparação

econômica em prestação mensal, permanente e continuada é preciso buscar-se

o valor da remuneração que o anistiado político receberia se estivesse em

serviço ativo.

A procura pode ser efetivada por qualquer um dos meios

expressos no § 1º, do art. 6º da lei de anistia, inclusive pesquisa de

mercado, desde que ao fim se chegue ao comando do artigo transitório – o

valor da reparação econômica em prestação mensal, permanente e

continuada, será igual ao da remuneração que o anistiado político

receberia se na ativa estivesse.

Portanto, como lembra HUMBERTO ÁVILA, “qualquer ato

proveniente do Poder Executivo ou do Poder Legislativo que não leve em

15

consideração à relação entre a medida adotada e o critério que a

dimensiona, viola o postulado da razoabilidade por desrespeitar os princípios

do Estado de Direito e o do devido processo legal.” (RDA nº 236, Página

371) (Destaques acrescidos)

Constitui, desta forma, rematada ofensa à Constituição Federal

o descumprimento de norma constitucional impositiva, tal como tem

advertido o Supremo Tribunal Federal:

“– O desrespeito à Constituição tanto pode

ocorrer mediante ação estatal quanto

mediante inércia governamental. A situação

de inconstitucionalidade pode derivar de um

comportamento ativo do Poder Público, que

age ou edita normas em desacordo com o

que dispõe a Constituição, oferecendo-lhe,

assim, os preceitos e os princípios que nela se

acham consignados. Essa conduta estatal,

que importa em um ‘facere’ (atuação positiva),

gera a inconstitucionalidade por ação...”

(ADI 1.458-MC/DF, Relator Ministro

CELSO DE MELLO)

Além do que, como bem elucida o Ministro GILMAR

MENDES, em resplandecente voto, orientador do Acórdão no RE nº

328.812-ED-AgR, “a manutenção de decisões das instâncias ordinárias

divergentes da interpretação adotada pelo STF revela-se afrontosa à força

normativa da Constituição e ao princípio da máxima efetividade da norma

constitucional”.

16

Consequentemente, é de ser declarado como

inconstitucional qualquer pronunciamento estatal que não atribua aos

anistiados reparações econômicas, em prestações mensais,

permanentes e continuadas como se em serviço ativo estivessem.

Art. 8º, § 3º - Coube ao Ministro MARCO AURÉLIO, ao

votar no Mandado de Injunção nº 543, traduzir, fielmente, o sentido do § 3º,

do art. 8º do ADCT, verbis:

“§ 3º - Aos cidadãos – e parece que, à época,

eles não eram cidadãos, porque só se pode

pensar numa pena dessas em relação a

quem não seja cidadão, pois estamos,

aqui, diante de um direito fundamental,

embora de segunda geração - que foram

impedidos de exercer - vejam o ato extremo

-, na vida civil, atividade profissional

específica, em decorrência das Portarias

Reservadas do Ministério da Aeronáutica nº S-

50-GM5, de 19 de junho de 1964, e nº S-285-

GM5, será concedida reparação de natureza

econômica, na forma que dispuser lei de

iniciativa do Congresso Nacional a entrar em

vigor no prazo de doze meses a contar da

promulgação da Constituição.” (Ementário

nº 2070-1) (Destaques acrescidos)

17

Por sua vez, o Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, ao

relatar o Mandado de Injunção nº 283, descreveu o tratamento dispensado aos

punidos por atos institucionais, dentro do Departamento de Aviação Civil:

“(...) como é notório, o DAC – Departamento

da Aeronáutica Civil, do Ministério da

Aeronáutica, negou sistematicamente, e sem

fundamentação, aos atingidos pelos atos

institucionais, o necessário certificado de

habilitação técnica: nem o requerente do MS

17.461, embora concedido pelo Supremo

Tribunal, em 3.12.68, logrou o seu

cumprimento.

Só com o início da abertura política,

contemporânea da anistia de 1979, é que se

revelou o inteiro teor dos atos normativos de

dois Ministros da Aeronáutica – Portaria – S-

50-GM5, de 19.6.64, do Brigadeiro Lavanére

Wanderley, e Portaria GM5, de 19.06.66, do

Brigadeiro Eduardo Gomes – nos quais se

fundou a negativa arbitrária de todas as

licenças requeridas...” (STF, MI 283)

Naquele precedente o Supremo Tribunal Federal concedeu

ordem em mandado de injunção, para que um punido pudesse exercer o seu

direito:

18

“Mandado de injunção: mora legislativa na

edição da lei necessária ao gozo do direito à

reparação econômica contra a União,

outorgado pelo art. 8º, § 3º, ADCT:

deferimento parcial, com estabelecimento de

prazo para a purgação da mora e, caso subsista

a lacuna, facultando ao titular do direito

obstado a obter, em juízo, contra a União,

sentença líquida de indenização por perdas e

danos.

1. O STF admite – não obstante a natureza

mandamental do mandado de injunção (MI

107 – QO) – que, no pedido constitutivo ou

condenatório, formulado pelo impetrante,

mas, de atendimento impossível, se contém o

pedido, de atendimento possível, de declaração

de inconstitucionalidade da omissão

normativa, com ciência ao órgão competente

para que a supra (cf. Mandados de Injunção

168, 107 e 232).

2. A norma constitucional invocada (ADCT,

art. 8º, § 3º - “Aos cidadãos que foram impedidos de

exercer, na vida civil, atividade profissional específica,

em decorrência das Portarias Reservadas do Ministério

da Aeronáutica nº S-50-GM5, de 19 de junho de

1964, e nº S-285-GM5 será concedida reparação

econômica, na forma que dispuser lei de iniciativa do

19

Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo de

doze meses a contar da promulgação da Constituição”

– vencido o prazo nela previsto, legitima o

beneficiário da reparação mandada conceder a

impetrar mandado de injunção, dada a

existência, no caso, de um direito subjetivo

constitucional de exercício obstado pela

omissão legislativa denunciada.

3. Se o sujeito passivo do direito constitucional

obstado é a entidade estatal à qual igualmente

se deva imputar a mora legislativa que obsta ao

seu exercício, é dado ao Judiciário, ao deferir a

injunção, somar, aos seus efeitos

mandamentais típicos, o provimento

necessário a acautelar o interessado contra a

eventualidade de não se ultimar o processo

legislativo, no prazo razoável que fixar, de

modo a facultar-lhe, quanto possível, a

satisfação provisória do seu direito.

4. Premissas, de que resultam, na espécie, o

deferimento do mandado de injunção para:

a) declarar em mora o legislador com relação à

ordem de legislar contida no art. 8º, § 3º,

ADCT, comunicando-o ao Congresso

Nacional e à Presidência da República;

20

b) assinar o prazo de 45 dias, mais 15 dias para

a sanção presidencial, a fim de que se ultime o

processo legislativo da lei reclamada;

c) se ultrapassado o prazo acima, sem que

esteja promulgada a lei, reconhecer ao

impetrante a faculdade de obter, contra a

União, pela via processual adequada,

sentença líquida de condenação à

reparação constitucional devida, pelas

perdas e danos que se arbitrem;

d) declarar que, prolatada a condenação, a

superveniência de lei não prejudicará a

coisa julgada, que, entretanto, não

impedirá o impetrante de obter os

benefícios da lei posterior, nos pontos em

que lhe for mais favorável.” (Mandado de

Injunção nº 283, Pleno, Relator Ministro

SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU de 14 de

novembro de 1991) (Destaques acrescidos)

No julgamento do Mandado de Injunção nº 284, o Ministro

CELSO DE MELLO, relator para o acórdão, por se tratar de situação

idêntica ao precedente acima colacionado, reiterou a decisão anteriormente

tomada:

“... Com essas considerações, peço vênia, ao

eminente Ministro-Relator, não obstante as

21

razões que tão doutamente expôs, para

dissentir de S. Exa., e, em conseqüência,

prestigiar e fazer prevalecer o precedente

firmado por esta Corte na ação injuncional

mencionada (MI nº 283).” (STF, Pleno,

DJU de 26 de junho de 1992) (Destaques

acrescidos)

Nesse julgado ficou consignado que não haveria mais

comunicação ao Congresso Nacional. A evolução jurisprudencial foi retratada

pelo Ministro NERI DA SILVEIRA, ao votar no MI 543:

“Neste caso concreto, o que sucedeu é que o

Tribunal, adotando uma linha de solução que,

de certa maneira, corresponde a essa posição

que adoto, porque o Supremo comunicou ao

Congresso que estava em mora no Mandado

de Injunção 283 e, não havendo o Congresso

Nacional editado a lei, no Mandado de

Injunção 284, o Supremo já dispensou a

comunicação, reconhecendo que se cumprira

esta etapa e, desde logo, adotou uma

providência em favor do titular do direito

constitucionalmente assegurado. Qual foi

essa providência no Mandado de Injunção

nº 284? Garantiu-se que os impetrantes,

independentemente da lei, pudessem

postular a reparação econômica no juízo

comum e na forma do direito comum,

22

ressalvando que, se porventura a lei, a ser

editada, lhe assegurasse mais do que a

sentença, o autor teria direito a perceber o

que estava na lei.” (Ementário nº 2070-1)

É de fácil compreensão que os militares que foram impedidos

de exercer na aviação civil a profissão de aeronauta, por diversas decisões do

Supremo Tribunal Federal, passaram a ter a prerrogativa de exercitar o seu

direito constitucional à reparação econômica, pelo direito comum,

ressalvando-se, inclusive, que mesmo depois do trânsito em julgado, aqueles

cidadãos poderiam obter os benefícios da lei posterior, nos pontos em que

lhes fossem mais favoráveis.

Como bem lembrado pelo Ministro Sepúlveda Pertence, por

ocasião do julgamento do Mandado de Injunção nº 543, “(...) o direito à

reparação é líquido e certo. Ao contrário de outros problemas da

anistia, este é um direito absolutamente límpido. Ele se dirige a todos

quantos foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade

profissional específica em decorrência das portarias reservadas (...)”

Quando da expedição da Medida Provisória nº 65, depois

convertida na Lei nº 10.559, de 2002, a matéria constitucional foi

regulamentada, como se pode ver do teor do art. 2º, inciso V, daquela lei.

A reparação econômica contida no § 3º do art. 8º do ADCT

compreende uma forma de recomposição patrimonial dos danos materiais

suportados pelos militares proibidos de exercerem, na aviação civil, a

profissão de aeronauta, que a lei de anistia classifica em prestação mensal,

permanente e continuada.

23

Diante desta constatação irrefutável, todos os aviadores

protocolaram requerimento perante a Comissão de Anistia do Ministério da

Justiça, isso em 2002, visando o recebimento da reparação econômica em

prestação mensal, permanente e continuada.

Durante o primeiro mandato do Presidente LULA, somente

dois processos foram julgados e, em ambos, foram concedidas as reparações

econômicas com base no salário de Comandante de Linha Aérea

Internacional, maior função dentro da aviação civil, nos precisos termos do

art. 8º do ADCT.

Depois da reeleição do Presidente LULA, houve radical

mudança na interpretação do dispositivo constitucional. Primeiramente,

passou-se a deferir uma indenização única no valor de R$ 100.000,00 (cem mil

reais).

A seguir, nova interpretação foi dada ao § 3º, do art. 8º do

ADCT, dessa vez para retirar até mesmo a prestação única. O ponto da

controvérsia está calcado na proibição de acumulação de pagamento

indenizatório sob o mesmo fundamento, constante do art. 16 da Lei nº

10.559, de 2002.

As invocações trazidas no novo posicionamento da Comissão

de Anistia, referendadas pelo Ministro de Estado da Justiça, estão

absolutamente equivocadas quando asseveram que ao serem anistiados da

punição militar, os cidadãos mencionados no § 3º do art. 8º do ADCT, foram

contemplados com a indenização ali prevista.

24

Como se depreende da simples leitura do art. 8º, as duas

punições ficaram devidamente separadas – caput e § 3º -, o mesmo

ocorrendo na lei que regulamentou aquele dispositivo – art. 2º, incisos V e

XII, da Lei nº 10.559.

É evidente que se não fossem punições distintas, com

reparações econômicas diferenciadas, inexistente seria a razão do Constituinte

Original e do legislador ordinário fazerem constar nos respectivos textos a

questão dos aeronautas.

Muito menos seria o caso de concessão de inúmeros

mandados de injunção, por falta da norma reguladora do art. 8º, § 3º do

ADCT. A questão já estaria abarcada na cabeça do artigo.

Não se pode perder de vista, que jurisprudência bastante

antiga do Supremo Tribunal Federal, perfilhou posição de que o militar

atingido por ato de exceção, não estava impedido de exercer a profissão

de piloto de linha aérea comercial, em decorrência de nova punição,

pois tinha vínculo com a atividade laboral (RMS nº 17.461, relator

Ministro AMARAL SANTOS).

Observa-se, mais uma vez, flagrante descompasso na

interpretação da Constituição Federal, ao desconsiderar-se a superioridade do

art. 8º do ADCT sobre todas as outras normas que deram anistia.

Portanto, inconcebível pela ótica da dupla punição,

negar aos militares impedidos de exercer, na vida civil, a profissão de

aeronauta, a reparação econômica determinada no art. 8º, § 3º do

25

ADCT, e materializada na lei de anistia de 2002, sob a forma de

prestação mensal, permanente e continuada.

Entretanto, a teor da Emenda Constitucional nº 20, de

1998, as duas reparações econômicas somadas não podem ultrapassar o

valor dos subsídios dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Art. 8, § 5º - Reza a primeira parte deste dispositivo que a

anistia concedida nos termos do art. 8º do ADCT, aplicar-se-á aos

empregados ali descritos, demitidos ou punidos em virtude de movimento

greve, sem fazer qualquer menção à motivação política.

Nota-se, em primeiro lugar, que a norma constitucional em

questão, destinou-se, em função de seu específico sentido teleológico, a

traduzir uma limitação de alcance, ou seja, agasalhou exclusivamente

aqueles que promoveram ou participaram de movimento paralisador de

atividades profissionais. Foram excluídos deste benefício, os civis que

trabalhavam nos ministérios militares.

A parte final do parágrafo destinou-se a garantir aos punidos o

direito de readmissão no antigo cargo ou emprego. Faz apenas uma ressalva.

Esse direito só pode ser exercido por quem tenha sido punido a partir de

1979.

Frise-se que estas assertivas são confluentes com o

entendimento adotado no Supremo Tribunal Federal quando do julgamento

do RE nº 184.869, da relatoria do Ministro ILMAR GALVÃO.

26

Feitas estas observações, cabe analisar o posicionamento da

Comissão de Anistia no sentido de que a readmissão representa a

indenização do art. 8º, não havendo nada mais a ser conferido ao anistiado

político. Tal entendimento, não é isolado. O Tribunal de Contas da União

perfilha dessa mesma avaliação.

Denota-se da simples leitura dos pareceres neste sentido, que

há manifesta confusão entre os institutos da readmissão e da reintegração.

Necessário, então, fazer a distinção entre eles.

Pela percuciência e absoluto rigor na definição do real

significado dos institutos, ousa-se transcrever parte essencial do voto do

eminente Ministro EUCLIDES ROCHA, ao relatar os E-RR nº 39.810/91.5,

perante o Tribunal Superior do Trabalho:

“No Direito Administrativo Nacional,

como ocorre no próprio Direito do

Trabalho, as expressões reintegração e

readmissão possuem sentido e conteúdo

inteiramente distintos, não podendo ser

confundidas ou tomadas uma pela outra.

A reintegração é figura jurídica que se

relaciona com a estabilidade ou, no âmbito

da Administração Pública, com o exercício

de um cargo efetivo.

Por sua vez, a readmissão tem sentido de

admitir de novo, recontratar ou

27

restabelecer uma relação por qualquer

razão interrompida.

Também são inconfundíveis quanto aos

efeitos: na reintegração, os efeitos

retroagem à época do afastamento como

se este não tivesse ocorrido, já na

readmissão, ao contrário, os efeitos são

“ex nunc” gerando efeitos obrigacionais a

partir de então.” (SDI, Acórdão nº

4.821/1995) (Destaques acrescidos)

Em que pese os posicionamentos em contrários, impossível

não se verificar a existência de dois benefícios a serem outorgados aos

cidadãos que se amoldam nos contornos deste § 5º, do art. 8º do ADCT.

O primeiro benefício consiste em conceder ao anistiado a

indenização do artigo, tendo em vista que os parágrafos devem ser

interpretados em consonância com o disposto no caput.

A segunda vantagem compreende a obrigatória readmissão do

empregado ao labor perdido, se a demissão ocorreu a partir de 1979.

Haverá pessoas que só poderão usufruir da primeira parte do

parágrafo, devendo receber a indenização como se em serviço ativo

estivessem.

28

Contudo, um grande número de anistiados tem direito às duas

benesses, ou seja, além da readmissão, a eles é devida a reparação da cabeça

do artigo.

Isso porque, ao contrário da manifestação da Comissão de

Anistia e também do TCU, ao serem readmitidos nos antigos empregos os

anistiados não foram contemplados com as promoções a que teriam direito,

logo, não receberam, desde então, o correspondente valor remuneratório

como se em serviço ativo estivessem.

Nunca é demais citar que o Supremo Tribunal Federal, por

ocasião do julgamento do AI nº 797.350, relator Ministro JOAQUIM

BARBOSA, DJe de 24 de fevereiro de 2011, enunciou exemplarmente os

moldes do tema em discussão:

“Trata-se de agravo de instrumento contra

decisão que negou seguimento a recurso

extraordinário (art. 102, III, a, da

Constituição) no qual se discute os efeitos

financeiros decorrentes da anistia prevista

no art. 8º do ADCT. Cito a ementa do

acórdão recorrido (fls. 45):

“CONSTITUCIONAL,

ADMINISTRATIVO PROCESSUAL

CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO.

ANISTIA. ART. 8º, § 1º, DO ADCT/88.

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA

JUSTIÇA COMUM FEDERAL PARA O

PERÍODO ANTERIOR À CONVERSÃO

29

AO REGIME ESTATUTÁRIO.

SÚMULAS 97 E 107 DO STJ.

REINTEGRAÇÃO. EFEITOS

FINANCEIROS A PARTIR DA

PROMULGÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL/88. 1. Verbas salariais de

funcionário do quadro de fundação

pública relativas ao período laborado sob o

regime celetista devem ser reclamadas

perante a Justiça do Trabalho, falecendo

competência a esta Justiça Comum

Federal para conhecer da causa neste

particular. Conhecimento do feito

exclusivamente quanto ao período

posterior ao advento da Lei nº 8.112/90.

Súmulas 97 e 107 do STJ. 2. Além do autor

ter sido mandado reintegrar aos quadros

da ré, em face da anistia reconhecida no

Mandado de Segurança nº 90.00052203, a

jurisprudência desta Corte, em sintonia

com a orientação firmada no STF, é

uníssona no sentido de que os efeitos

financeiros da anistia instituída pelo art. 8º

do ADCT/88 emergem a partir da

promulgação da Carta Magna, e não da

data de eventual readmissão ou

reintegração ao serviço (AC

1999.01.00.121149-3/DF, rel. Juiz Federal

Marcelo Dolzany da Costa, Primeira

30

Turma Suplementar, DJ de 31/03/2005, p.

35; AC 1998.38.03.003373-4/MG, rel.

Desembargador Federal Antonio Sávio de

Oliveira Chaves, Primeira Turma, DJ de

06/12/2004, p. 09). 3. Apelação e remessa

oficial a que se nega provimento.” Em seu

recurso extraordinário a Universidade de

Brasília requer a reforma do acórdão no

sentido de estabelecer como aplicável ao

caso a Emenda Constitucional nº 26/85 e

não o art. 8º do ADCT ou o

reconhecimento de que os efeitos

financeiros contam-se a partir do

reingresso do servidor no serviço público

por força do princípio incerto no art. 8º do

ADCT. A aplicabilidade da EC 26/85 ao

presente caso não foi ventilada no acórdão

recorrido nem foi objeto de embargos de

declaração. Falta-lhe, pois, o indispensável

prequestionamento (Súmulas 282 e 356).

Quanto aos efeitos financeiros da anistia,

em caso semelhante ao presente, o

Supremo Tribunal firmou entendimento

sintetizado na ementa do RE 229.935 (rel.

min. Ilmar Galvão, DJ de 17.12.1999),

verbis: ANISTIA. ARTIGO 8º, § 5º, DO

ADCT. SERVIDOR DA EMPRESA DE

CORREIOS E TELÉGRAFOS

DESPEDIDO POR HAVER LIDERADO

31

MOVIMENTO GREVISTA.

READMISSÃO. EFEITOS

FINANCEIROS: O § 5º do art. 8º do

ADCT contemplou com a anistia todos os

servidores das entidades da administração

direta ou indireta, salvo os dos Ministérios

militares, dispensados por motivos

exclusivamente políticos, sendo garantido

a esse pessoal o direito de ser readmitido

no emprego ocupado na data da rescisão

contratual, com efeitos financeiros a partir

da promulgação da Constituição.

Entretanto, ante o disposto no caput do art.

8º, a readmissão não esgota os efeitos da

anistia, posto também ter como objeto

assegurar “as promoções, na atividade, ao

cargo, emprego, posto ou graduação a que

teriam direito se estivessem em serviço

ativo, obedecidos os prazos de

permanência em atividade previstos nas

leis e regulamentos vigentes, respeitadas

as características e peculiaridades das

carreiras dos servidores públicos civis e

militares.” Recurso não conhecido. No

mesmo sentido o RE 228.276, rel. min.

Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ

12.12.1999: ANISTIA. PROFESSOR.

READMISSÃO AO CORPO DOCENTE

DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE

32

BRASÍLIA. EFEITOS FINANCEIROS.

ARTIGO 8º, § 1º, DO ADCT DA CARTA

DE 1988. A estrutura normativa da regra

excepcional consubstanciada no art. 8º do

ADCT permite vislumbrar que, ao lado do

afastamento dos efeitos financeiros

retroativos à data da Carta de 1988, abriu-

se campo à reparação das vantagens

pecuniárias a partir da promulgação da

Constituição. Recurso extraordinário não

conhecido. E também os RE 576.348, rel.

min. Ayres Brito, DJe 24.11.2009; AI

693.517, rel. min. Celso de Mello, DJe

25.05.2009 e AI 478.634, rel. min. Marco

Aurélio, DJe 13.02.2009. Do exposto, nego

seguimento ao recurso. Publique-se.”

(Destaques acrescidos)

Sendo assim, é de palmar evidência que as decisões que

não outorgam aos anistiados readmitidos as promoções do caput do art.

8º do ADCT, padecem de veemente inconstitucionalidade.

Art. 8º, § 1º - A questão relacionada aos efeitos financeiros da

anistia merece especial atenção.

Primeiramente, a retroação tem que ter por base a data da

promulgação da Constituição Federal, diante da imperatividade do

texto.

33

A segunda questão concernente ao pagamento retroativo, é a

que diz respeito a incidência do Decreto nº 20.910, de 1932, nos valores

devidos aos anisitados políticos.

No caso em comento, ganha relevo, então, imiscuir-se a

natureza jurídica do ato administrativo que concede anistia. Ele, com toda

certeza, não tem natureza constitutiva, pois o direito está assegurado

taxativamente no artigo transitório: “é concedida anistia”. Logo, fora de

toda dúvida razoável, ele tem característca meramente declaratória. Este

pensamento encontra ressonância no Supremo Tribunal Federal:

“ANISTIA – EXTENSÃO –

BENEFÍCIOS – EFICÁCIA –

MANDADO DE INJUNÇÃO –

IMPROPRIEDADE. À exceção do

preceito do § 3º, o teor do artigo 8º do Ato

das Disposições Transitórias da Lei

Fundamental veio à balha com eficácia

plena, sendo imprópria a impetração de

mandado de injunção para alcançar-se o

exercício de direito dele decorrente.” (MI

626, Pleno, relator Ministro Marco Aurélio,

Ementário nº 2035) (Destaques acrescidos)

De afogadilho poder-se-ia garantir que os efeitos financeiros

retroativos da anistia deveriam ser gerados a partir de 5 de outubro de 1988.

Todavia, algumas conjunturas descortinam-se, diante da multiplicidade de

situações existentes entre os anistiados .

34

A primeira delas está consubstanciada na situação daqueles

que foram declarados anistiados políticos por leis anteriores à Constituição

Federal de 1988 e que, ao serem transpostos para o regime da Lei nº 10.559,

de 2002, passaram a perceber reparações econômicas, em prestações mensais,

permanentes e continuadas, nos moldes do caput do art. 8º do ADCT. Os

efeitos pretéritos por terem sido corretamente conferidos a essas

pessoas não podem, sob qualquer pretexto, ser modificados.

Àqueles que já foram anistiados por leis anteriores e que ainda

estão recebendo suas indenizações pelo INSS ou por Órgãos da estrutura

militar, quando da conversão da inatividade excepcional para o regime

da reparação econômica, em prestação mensal, permanente e

continuada, fazem jus à diferença, se houver, do valor desta e do montante

excepcional atualmente pago, calculado desde 5 de outubro de 1988.

Mesma previsão há de incidir, em toda a sua extensão, para

aqueles que foram readmitidos. Neste caso, a somatória dos atrasados será

igual à diferença salarial, se existente, é claro, entre o emprego exercido na

atividade e o emprego que deveria estar sendo ocupado.

Igualmente, são merecedores de recebimento parcial –

diferença entre o valor percebido da anistia militar e o subsídio dos Ministros

do Supremo Tribunal Federal -, os cidadãos que foram proibidos de exercer a

atividade de aeronauta. Diante da cláusula suspensiva de exercício de direito -

a reparação estava condicionada a edição de uma lei -, os efeitos retroativos

têm que ser pagos desde 1988.

Excessão à este grupo, são aqueles que ingressaram com

requerimento cinco anos após a expedição da Medida Provisória nº 2.151, de

35

24 de agosto de 2001. Para esses, é possível incidir a regra estampada na parte

final do § 6º, do art. 6º da Lei nº 10.559, de 2002, ao considerar-se a únissona

jurisprudência quanto a legalidade do Decreto nº 20.910, de 1932.

Situação idêntica terão aqueles que já anistiados, não recebem

nenhuma parcela de natureza indenizatória. A esses, se se quedaram inertes

no tempo, o direito à retroatividade tem que ser outorgado levando-se em

conta a prescrição em favor da Fazenda Pública.

A última situação possível diz respeito aos cidadãos que não

foram anistiados até hoje. Os efeitos retroativos irão depender da data de

protocolo do primeiro requerimento, aplicando-se, também, no que couber,

a restrição do Decreto nº 20.910, de 1932.

Nenhuma dificuldade terá a Comissão de Anistia de apurar os

reais valores a serem pagos, diante da competência a ela atribuída pelo art. 12,

§ 4, da lei de anistia.

Aos valores apurados desde 1988, é de rigor a incidência de

correção monetária pelo índice oficial adotado pelo Governo Federal, o

IPCA, a fim de coibir o enriquecimento ilícito de qualquer das partes

envolvidas na declaração de anistiado político com base no art. 8º do ADCT.

4 – CONCLUSÃO:

Flagrante a necessidade de que sejam tomadas

providências urgentes, no sentido de fazer valer os direitos garantidos por via

legal. Nota-se que a situação procrastinatória impingida a esse coletivo

36

equivale a continuidade da tortura, dessa vez, velada e encoberta sob o manto

da mais tenra e democrática legalidade.

Por isso, o grupo subescritor, crê no interesse dessa bem

fadada Ordem, no sentido de que o presente estudo seja estendido e

aprofundado com vistas a possível ingresso de ADPF, bem como possam ser

indicadas e compartilhadas demais medidas.

Brasília/DF, 14 de fevereiro de 2012.

ANEXO

1 – IDENTIFICAÇÃO DOS PRECEITOS LEGAIS INFRINGIDOS NO

ART. 8º DO ADCT, CF/88 E DA LEI 10.559/02

37

Para melhor intróito, e na busca de dar simplicidade e facilidade de

compreensão quanto às ofensas aos preceitos legais, abaixo segue quadro esquemático

com indicativo do preceito legal e infração praticada.

QUADRO 01

Práticas da Comissão de Anistia

1. Art.8º, ADCT, CF/88 e Art.1º, lei 10.559/02

Desconsideração do Regime Jurídico do Anistiado

A lei 10.559/02 é compreendida, por alguns julgadores, seja na esfera

administrativa ou judicial, como o Regime do Anistiado Político. No seu bojo,

faz remissão ao resguardo dos direitos contidos no Regime Jurídico dos

Militares e dos Civis, no entanto, a tratativa dada pela Comissão de Anistia, seja

quando da elaboração do voto e publicação de portarias, bem como dos demais

órgãos a ela interligados para efeito de cumprimento da anistia legal, vêm

flagrante desrespeito nesse aspecto.

2. Art. 1º, III e art. 9o da lei 10.559/02

Má aplicação do tempo de serviço

Há total dissonância quanto a identificação e aplicabilidade da contagem de

tempo para todos os efeitos.

3. Art. 1º, V parágrafo único, art. 2º, I, II da lei 10.559/02

Ônus da prova

Essa situação abarca os servidores públicos que foram demitidos através de

processos administrativos, sem direito ao contraditório, no período previsto

38

pela lei 10.559/02, militares e concursados que não puderam assumir seus

cargos. O prejuízo reside na inobservância quanto a possibilidade da

apresentação de declarações e testemunhas, considerando a impossibilidade do

interessado alcançar os documentos probatórios exigidos..

4. Art. 2º, III da lei 10.559;02

Comissões incorporadas à carreira

A Comissão de Anistia não agrega valores oriundos de comissões ou inerentes as

carreiras administrativas.

5. Art. 2º, V da lei 10.559/02

Proibição de atividade, mesmo na vida civil

O assunto é tratado de forma generalizada, sem respeitar as especificidades de

cada grupo e considerar os períodos específicos em que, a cada um deles, foi

defeso o desempenho das atividades, no caso dos militares, também na vida civil.

Mais uma vez a interpretação é de forma restritiva.

6. Art. 2º, IX da Lei 10.559/02

Readmitidos

A posição da CA é no sentido de que, ao serem readmitidos, os beneficiários

deste dispositivo nada têm a receber, pois a eles foram pagas todas as parcelas

indenizatórias devidas.

7. Art. 2º, VI, lei 10.599/02

Má interpretação das práticas persecutórias e ônus da prova

Descumprimento total da lei. Falta da interpretação correta de todos os termos

39

contidos no preceito legal.

8. Art. 2º, XV, lei 10.559/02 e Parágrafo 3o, art. 8o, ADCT CF/88

Situação dos grevistas.

Desnecessidade de maiores provas, pois os movimentos falam por si. Não há

que ser cobrada prova de militância política, pois não importa a atividade

exercida pelo interessado e sim a forma com que o Estado o via e o punia.

Inversão do ônus da prova

9. Art. 2º, VI, lei 10.559/02

Aposentadorias excepcionais de anistiados

Os que foram beneficiados pela lei 6683/79 e não buscaram os seus direitos no

prazo previsto pela lei têm direito de requerê-lo por ocasião da lei 10.559/02,

ou seja, a prescrição foi colocada à baixo, e cabe a aplicação da progressão

funcional como se na ativa estivessem.

10. Art. 4º, lei 10.559/02

Reparação em prestação única

Em muitos casos a Comissão de Anistia impõe a reparação em prestação única

sem exercer os poderes à ela conferidos no sentido de oficiar os órgãos

necessários para verificação de atividade laboral.

11. Art. 5º, caput, lei 10.559/02

Inversão do ônus da prova quanto a identificação de atividade laboral

A lei determina a comprovação de atividade laboral, e não vínculo empregatício.

Ocorre que muitos dos interessados encontram dificuldades de prova quanto a

atividade exercida e os prejuízos causados quando da perseguição. Nesse lastro,

40

reafirma-se a necessidade de oitiva de testemunhas e aceitação de declarações

que devem ser consideradas como oficiais.

12. Art. 6º caput, art. 7º, parágrafo 2º , da lei 10.559/02

Valor relativo a reparação em prestação mensal, permanente e continuada

O artigo da lei determina o equivalente a remuneração, e não o equivalente ao

salário, que o anistiado político estaria recebendo se na ativa estivesse. Ou seja,

o valor final reparatório vai além do salário e compreende demais benefícios.

13. Art. 6º, parágrafo primeiro, art. 12, parágrafo 3º, lei 10.559/02

Aferição da prestação mensal, permanente e continuada

No caso em tela, em virtude da enorme lacuna omissiva do Estado, muitas das

empresas não mais existem, por isso mesmo, a própria lei determina a forma de

aferição desses valores, preceito absolutamente desrespeitado pela Comissão de

Anistia.

14. Art. 6º, parágrafo 2º e art. 9º, art. 14 da , lei 10.559

Direitos e vantagens à serem incorporados

Os direitos e vantagens incorporados a situação jurídica do anistiado político

relativos a categoria a que pertencia, englobam a assistência médica, anuênios,

qüinqüênios, plano de previdência privada, plano habitacional, participação nos

lucros, entre outros.

15. Art. 6º, parágrafo 6º, da Lei 10.559/02

16. Art. 8º, lei 10.559/02

41

Reajustamento da prestação mensal, permanente e continuada

A lei, é clara quando determina o reajustamento a partir de aumento no valor de

direito do anistiado, seguindo os parâmetros da categoria. No entanto, o

Ministério do Planejamento tem praticado reajuste somente com base em

Acordos ou Dissídios Coletivos, deixando de reconhecer outros mecanismos

que tenham passado pelo crivo dos representantes patronais e dos operários.

17. Art. 11, caput, da lei 10.559/02

Prática de revisão de decisões de outros órgãos

A Comissão de Anistia está praticando, inclusive, a revisão de decisões emitidas

por outros órgãos, no sentido de minorar os valores recebidos pelos anistiados,

visto que praticam interpretação errônea no que tange as progressões

funcionais.

18. Art. 11, parágrafo único, e art. 12 lei 10.559/02

Possibilidade do interessado questionar os valores mensais

A Comissão de Anistia não tem praticado as revisões dos valores a título de

anistia. Isso se dá, entre outros motivos, pela falta de estrutura funcional visto

que ainda encontram-se inúmeros requerimentos para apreciação através de

julgamento ordinário e recursais. Necessária a criação da estrutura devida sob

pena de aumento dos prejuízos dos interessados. Vez mais, o Estado estende sua

omissão e perpetua os danos causados aos interessados.

19. Art. 12, parágrafo 3º, da lei 10.559/02

Prova através de declaração

Faz-se necessária a oitiva de testemunhas no âmbito da Comissão de Anistia ou

aceitação de declarações, simplesmente. Quem declara já está sob as penas da lei.

42

20. Art. 12, parágrafo 4º e art. 18, art. 19, parágrafo único da lei 10.559/02

Pagamento no prazo

O Ministério do Planejamento e Defesa não cumprem o pagamento no prazo

previsto em lei e se resguardam na escrita “ressalvada a disponibilidade

orçamentária”.

21. Art. 13, caput, da lei 10.559/02

Direito de herança

Os regimes jurídicos dos civis e militares não estão sendo obedecidos. E na

ausência deles, não são considerados os preceitos legais contidos no INSS e/ou

Código Civil Brasileiro, como o direito de herança ou de ingresso na esfera

administrativa ou jurídica, pelos filhos não dependentes. Enriquecimento sem

causa do Estado. Ingressar judicialmente, já que houve demora e criou-se um

passivo. Ver natureza jurídica da reparação econômica.

22. Art. 16 da lei 10.559/02

Desconto de verbas rescisórias

Estão sendo descontadas dos anistiados as verbas rescisórias pagas, seja quando

da demissão, seja via judicial. Claro está que as naturezas jurídicas são distintas

e a anistia não se confunde com ação trabalhista.

Igualmente, a reparação por danos materiais ou lucros cessantes previstos pela lei

10.559/02, não excluem o direito ao dano moral.

23. Art. 19, parágrafo único da lei 10.559/02

Direito a herança

Os regimes jurídicos dos civis e militares não estão sendo obedecidos. E na

43

ausência deles, não são considerados os preceitos legais contidos no INSS e/ou

Código Civil Brasileiro, como o direito de herança ou de ingresso na esfera

administrativa ou jurídica, pelos filhos não dependentes. Os filhos não têm

direito. Ação constitutiva pela apropriação indevida por parte do Estado em

virtude da sua omissão.

2 – DISSERTAÇÃO SOBRE DISPOSITIVOS DA LEI.

10.559/02

2.1 - Art.8º, ADCT, CF/88 e Art.1º, lei 10.559/02

A lei 10.559/02 é compreendida, por alguns julgadores, seja

na esfera administrativa ou judicial, como o Regime do Anistiado Político.

No seu bojo, faz remissão ao resguardo dos direitos contidos no Regime

Jurídico dos Militares e dos Civis. Nesse ponto são identificados os

seguintes problemas:

a) Os direitos contidos no Regime Jurídico dos Militares não

são respeitados. Nesse lastro pode ser citado o direito a pensão,

resguardado as filhas;

Caso concreto:

b) Os direitos contidos no Regime Jurídico dos Civis, à

exemplo da ECT, Petrobrás, Petroquímicos, igualmente não são respeitados,

especialmente no que tange aos benefícios indiretos que, se quer, são

mencionados em portaria publicada pelo Ministério da Justiça.

44

Caso concreto:

c) A maioria dos anistiados civis não têm amparo em regime

jurídico, o que os coloca em situação ainda mais precária que os demais

anistiados. A estes, são garantidos todos os benefícios indiretos praticados

pela empresa ou órgão de origem. Ocorre que, na maioria dos casos, tais

fontes originárias não mais existem ou não há disponibilidade do alcance de

melhores informações a esse respeito. Fato este que, somado a situação de

empresas extintas das quais, são identificados os benefícios, há total

impossibilidade de sua aplicação objetiva em virtude de sua inexistência nos

dias atuais. Dessa forma, a esse coletivo é concedida, meramente, a anistia

política com valor reparatório “puro”, sem a aplicabilidade de quaisquer

benefícios, mesmo quando identificados.

Considerando que toda a responsabilidade relativa a anistia,

foi chamada a si, pela União, no mesmo lastro há de ser interpretada a

obrigação de reparar o dano com a inclusão dos benefícios de direito,

mesmo quando estes têm fulcro em programas de previdência privada, onde

deveria ser computada parcial contribuição do interessado.

Cumpre, para esse raciocínio, excluir a exigibilidade da

existência da empresa, levando a queda o raciocínio menor de que se esta

não mais existe, o anistiado já não mais estaria exercendo atividade

remunerada, portanto, desmerecedor de tais benefícios. Fato é que o

Estado, ultimamente, mais amiúde, através do Poder Executivo, permite

uma sucessão de omissões que fazem perpetuar no tempo o direito vazio

45

previsto em lei. Essa lacuna omissiva é de exclusiva responsabilidade moral

e pecuniária do Estado. Porquanto, cabe a este amparar e fazer existir o

direito.

Caso concreto:

FNM, Operários Navais de Niterói, Ishikawajima

do Brasil, ECT.

2.2 - Art. 1º, III e art. 9o da lei 10.559/02

A Lei determina a contagem de tempo para todos os

efeitos, no entanto, os parâmetros para essa contagem não ficam

clarificados e a Comissão de Anistia sempre aplica interpretação restritiva,

em franca infração aos preceitos legais que determinam a interpretação

extensiva quando o assunto se amolda aos direitos humanos e fundamentais.

Observado que o INSS não aplica a contagem

contributiva em dobro, observado ainda que se a anistia está sendo concedida

no dia do julgamento, até essa data havia o manto persecutório praticado pela

omissão estatal, a contagem deve ser entendida até aquele momento,

abarcando de forma igual, civis e militares.

Certo é que a Lei 10.559/02, estabelece período para os

atos praticados que geram o benefício da anistia, datado de 1946 a 1988. No

caso concreto, há que se ter atenta perspicácia ao analisar os dois fatos de

46

forma distinta. O primeiro diz respeito ao período que resguarda os atos que

conduzem ao direito a anistia política. O segundo, diz respeito as suas

consequências, seu lastro. Estes, não podem estar encarceradas no mesmo

estreito temporal pelo claro motivo de seus efeitos esternarem até os dias de

hoje, mais uma vez, em virtude da translúcida omissão do Estado.

2.3 - Art. 1º, V parágrafo único, art. 2º, I, II da lei 10.559/02

Os servidores públicos que foram demitidos através de

processos administrativos, sem direito ao contraditório, no período previsto

pela lei 10.559/02, não conseguem a sua reintegração uma vez que têm seu

direito obstado pela própria Comissão e Anistia. Esta não exercita o

preceito da lei que determina a oitiva de testemunhas. Mister ressaltar que a

oitiva de testemunhas, bem como aceitação de declarações torna-se prova

fundamental dos casos previstos nesse artigo, considerando que os

documentos probatórios constam dentro dos próprios gabinetes e seus

arquivos, evidentemente, fora do alcance do interessado.

Agrava a situação o fato da maioria dos funcionários

públicos terem sido demitidos de forma ilegal, mas sob o manto da

legalidade, qual seja, com, ao menos parte de seus direitos pagos e

respectivas assinaturas nos documentos devidos. Esquece-se o Poder

Executivo, ora julgador, que este mesmo Estado mantinha em seus

corredores salas que guardavam órgãos de monitoramento vinculados ao

SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES – SNI. Igualmente, que

não havia qualquer importe no fato do cidadão visado ser ou não

verdadeiramente praticante de qualquer militância política. O que

47

determinava seu destino, seus próximos passos, era, tão somente, os olhos

com que o Estado o via.

Para o coletivo, especialmente de militares, a transferência

“a bem do serviço” faz parte da carreira. Por esse motivo, todos os atos de

punição através de transferência tomam aparência de legalidade e a condição

de prova persecutória acaba por se perder, mais uma vez em virtude da

inversão do ônus da prova e da interpretação restritiva da lei.

A mesma situação é extensiva aos aprovados em

concursos públicos que foram impedidos de assumir seus cargos. Com isso,

há que trazer a baila a inversão do ônus da prova. O cidadão, no período

ditatorial, era obrigado a fazer de tudo para esconder qualquer ideologia

política contrária ao regime imposto, chegando ao cúmulo de omitir

parentesco no intuito de sua própria proteção, para hoje, ocasião em que

busca por seus direitos reparatórios, vê-se obrigado e restabelecer o que ora

era imposto o sumiço. Há algo de injusto nesse raciocínio.

Caso concreto:

Albery, José Ney, Wilson Milagres

2.4 - Art. 2º, III da lei 10.559;02

A comissão de Anistia não agrega valores oriundos de

comissões ou inerentes as carreiras administrativas. Vale ressaltar que a lei

48

determina a consideração da situação funcional como se na ativa estivesse,

o que determina a não diferenciação quanto a tais preceitos.

Muito comum nos idos persecutórios, a prática da

intervenção em empresas e sindicatos, principalmente as estatais, à exemplo

da extinta Fábrica Nacional de Motores, invadida pelo exército no dia 1º de

abril de 1964, e a Companhia Siderúrgica Nacional. Nesse momento, todo

aquele que ocupava cargo de chefia ou em comissão, por motivos óbvios,

tinham esses valores extirpados de seus ganhos. Fato é que, em não havendo

tais intervenções, os ganhos permaneceriam os mesmos, e dessa forma devem

ser restituídos.

Caso concreto:

Jacaúna, Magda, Jachinto...

2.5 - Art. 2º, VI, lei 10.599/02

Há flagrante má interpretação correta dos termos contidos

no preceito legal:

a) punidos – qualquer ato que lhe cause prejuízo;

b) demitidos;

c) ou compelidos ao afastamento das atividades

remuneradas que exerciam – obrigados ou forçados ao afastamento das

atividades remuneradas a fim de proteger-se, qual seja, aposentadorias

obrigatórias, abandono de emprego para ingresso na vida clandestina;

49

d) bem como impedidos de exercer atividades

profissionais em virtude de pressões ostensivas - monitoramentos que

impediam a posse do NADA CONSTA para contratação em empresas

públicas ou privadas, listas negras que impediam com que os operários,

sindicalistas e grevistas conseguissem ingressar em empresas da mesma

atividade profissional ou mesmo outras atividades formais. Entendemos

que o constar de nomes em documentos oficiais, mesmo quando significam

a atualização de pastas, são pressões ostensivas, pois mantêm o interessado

sob os olhos da repressão.

e) ou expedientes oficiais sigilosos – Dizem respeito

aos militares.

Caso concreto:

2.6 - Art. 4º, lei 10.559/02

Reparação em prestação única

Em muitos casos a Comissão de Anistia impõe a reparação

em prestação única sem exercer os poderes à ela conferidos no sentido de

oficiar os órgãos necessários para verificação de atividade laboral.

Está omissa quanto a busca de provas que levem a prestação

mensal e continuada e não acata declarações apresentadas pelo interessado ou

sindicatos. Esse tópico, melhor será exposto abaixo.

50

Caso concreto:

2.7 - Art. 5º, caput, lei 10.559/02

A lei determina a comprovação de atividade laboral, e não

vínculo empregatício. Ocorre que muitos dos interessados encontram

dificuldades de prova quanto á atividade exercida e os prejuízos causados

quando da perseguição. Nesse lastro, reafirma-se a necessidade de oitiva de

testemunhas e aceitação de declarações que devem ser consideradas como

oficiais.

A profissão do interessado deve ser considerada,

independentemente da atividade exercida quando da punição, pelo fato do

perseguido ser compelido a mudança de atividade com o fito de

sobrevivência. Assim, fundamental observar se o ato punitivo ocorreu

quando da demissão ou anteriormente, quando compelido a mudança de

atividade laboral.

Caso concreto

2.8 - Art. 6º caput, art. 7º, parágrafo 2º , da lei 10.559/02

O artigo da lei determina a apuração do equivalente a

remuneração, e não ao salário que o anistiado político estaria recebendo se

51

na ativa estivesse. Ou seja, o valor final reparatório significa a somatória

entre salário e benefícios. Quando a lei determina “como se na ativa

estivesse,” não o faz de forma metafórica ou trazendo a realidade passada do

interessado a equiparação dos profissionais de hoje, por exemplo, com base

em pesquisa de mercado.

Uma vez que trata-se de reparação econômica por perda

de atividade laboral, a lei determina a devolução do que foi tirado, ou seja,a

atividade laboral através da sua remuneração, considerando, ficticiamente,

que o interessado nunca tenha sofrido interrupção ou afastamento dela, com

a conseqüente progressão funcional como se na ativa estivesse.

Resguarda ainda as promoções na atividade, sendo certa

a garantia de promoção por antiguidade e merecimento, uma vez que é

defeso cobrar do interessado posição que atingiria se aferido, vez que foi

impedido de participar de tal situação, conforme resguardam decisões

judiciais acima já listadas.

Nesse passo da lei, a Comissão de Anistia têm praticado

tratativa generalizada, para todos os anistiados, independentemente de sua

origem laboral. Há resguardo somente dos militares, em virtude de

disporem do suporte informativo do Ministério da Defesa.

2.9 - Art. 6º, parágrafo primeiro, art. 12, parágrafo 3º, lei 10.559/02

52

No caso em tela, em virtude da enorme lacuna omissiva

do Estado, muitas das empresas não mais existem, por isso mesmo, a

própria lei determina a forma de aferição desses valores, á saber:

§1º - O valor da prestação mensal, permanente e

continuada, será estabelecido:

a) conforme os elementos de prova oferecidos pelo

requerente, (oitiva de testemunhas e/ou declaração);

b) informações de órgãos oficiais;

c) bem como de fundações, empresas públicas ou

privadas, ou empresas mistas sob controle estatal;

d) ordens, sindicatos ou conselhos profissionais a que o

anistiado político estava vinculado ao sofrer a punição;

e) podendo ser arbitrado até mesmo com base em

pesquisa de mercado.

Através da transcrição acima identificamos que a lei

resguarda o direito de que o interessado apresente as provas relativas a

progressão funcional, estabelece um “hol” de possibilidades, em caráter

exemplificativo, e ainda trabalha com o resguardo jurídico quando inicia

com permissivo e aceitação de informações de órgãos oficiais e finda com a

possibilidade de arbítrio, sendo este até mesmo com base em pesquisa de

mercado.

O objetivo do legislador é o de abarcar toda a sorte de

interessados, e para tanto, chega a criação da exceção do arbítrio com base

53

em pesquisa de mercado, não podendo ser confundido com liberdade da

Comissão de Anistia em praticar pesquisas salariais ao seu livre alvedrio,

basilando seus atos em princípios da administração pública, aplicados de

forma equivocados.

O critério para aplicabilidade da progressão funcional

existe de forma legal e translúcida. A administração não pode avocar para si,

princípios de moralidade e razoabilidade no intuito de prestar economia aos

cofres públicos, quando para isso fere o princípio da legalidade, culminando

com a criação de norma dentro da norma.

Caso concreto:

2.10 - Art. 6º, parágrafo 2º e art. 9º, art. 14 da , lei 10.559

Os direitos e vantagens incorporados a situação jurídica

do anistiado político relativos a categoria a que pertencia, englobam a

assistência médica, anuênios, qüinqüênios, plano de previdência privada,

plano habitacional, vale alimentação, participação nos lucros e demais

benefícios:

a) Considerando que a maior parte das empresas não

mais existe, o que torna impossível que as mesmas arquem com a assistência

médica, considerando ainda que a maior parte dos civis encontra-se com

idade superior a 60 anos, bem como com o estado de saúde comprometido,

não só pela idade, mas também pelas mazelas à eles impostas no decorrer

54

das décadas subseqüentes ao ato danoso, entende-se que é de dever do

Estado arcar com essa obrigação que deverá ser extensiva aos seus

familiares, respeitados os moldes estabelecidos pelos planos de saúde;

Contemplado quando remete ao regime jurídico;

b) O direito ao recebimento da previdência privada

encontra contrapartida após as contribuições estabelecidas em seus

estatutos. O mesmo raciocínio ampara a questão do plano habitacional. No

entanto, no caso concreto, considerando a impossibilidade de contribuição

em virtude da ausência de atividade laboral ligada a empresa que deu origem

ao direito, quando esta ainda estiver em atividade, que ela assuma os meses

que deveriam ser contribuídos, ou a União. Em última análise, que seja

resguardado o direito facultativo da devolução, com a devida correção

monetária e juros, do valor contribuído pelo anistiado até a data do dano;

c) Indiscutível a agregação de valores como anuênios,

qüinqüênios e valores relativos a benefícios, exceto o que não recebe na

inatividade;

d) Participação nos lucros deve ser informada pela

empresa ou informada pelo interessado com base em documentos sindicais

e demais, seguindo o contido no parágrafo 2º, art. 6º, lei 10.559/02;

e) As pensões garantidas as filhas dos militares devem

ser respeitadas conforme o preceituado no art. 9º e regimento próprio. Ao

retroagir a data, naquela data havia o direito. Analisar caso concreto.

Somente alterou a partir de 2001/2002.

Auxílio funeral, auxílio doença, principalmente aos militares, extensivo para

alguns civis

55

Caso concreto:

2.11 - Art. 8º, lei 10.559/02

A lei, é clara quando determina o reajustamento a partir de

aumento no valor de direito do anistiado, seguindo os parâmetros da

categoria. No entanto, o Ministério do Planejamento tem praticado reajuste

somente com base em Acordos ou Dissídios Coletivos, deixando de

reconhecer outros mecanismos que tenham passado pelo crivo dos

representantes patronais e dos operários.

Soma-se a este, o fato de muitos anistiados pertencentes a

categorias específicas estarem privados dos seus corretos ajustamentos por

mera falta de informação na portaria publicada pelo Ministério da Justiça.

Ressalta-se que aquele que não dispõe de categoria passa a ter seu reajuste

com base nos mesmos índices praticados pelo grupo do INSS. Trabalhar

portaria da forma devida.

Caso concreto:

2.12 - Art. 11, caput, da lei 10.559/02

56

A Comissão de Anistia tem incorporado o poder de revisar

atos praticados por outros órgãos, inclusive no sentido de diminuir valores

outrora concedidos. Com isso, rompe a esfera de competência estreita à sua

casa e passa e atuar na casa alheia.

Ainda nesse estreito, deixa de aplicar o preceito que

resguarda a progressão funcional como se na ativa estivesse, àqueles que

recebiam aposentadoria excepcional de anistiado político, à eles sendo

garantido, tão somente, a conversão da casa pagadora, que passa à ser o

Ministério do Planejamento, sem qualquer acréscimo, ou verificação do

direito concreto do interessado.

O instituto da anistia é um crescente carreado de lutas e

pequenas e sucessivas conquistas, portanto, a aposentadoria excepcional

abarcada pela lei anterior, hoje é sobreposta pelos preceitos contidos na Lei

10.559/02, e estes devem ser aplicados.

No mais, tratam-se de naturezas jurídicas distintas, sendo a

primeira, em caráter de aposentadoria excepcional, absolutamente

equivocada, e que passa pela correção da nova lei quando esta reconhece a

natureza jurídica de reparação econômica.

Vale ainda ressaltar que a regulamentação do art. 8º do

ADCT, da CF/88, somente ocorreu, através de MP, no ano de 2001, fato

este que impedia, anteriormente à essa data, qualquer aplicabilidade da

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progressão funcional como se na ativa estivesse, pela mera falta de

condições explícitas para tal..

Caso concreto:

2.13 - Art. 11, parágrafo único, e art. 12 lei 10.559/02

A Lei garante que o interessado, a qualquer momento que

entenda prejudicado no pagamento dos valores mensais, pode solicitar a sua

revisão. Ocorre que a precária estrutura da Comissão de Anistia, se quer

conseguiu dar cabo nos julgamentos ordinários, guarda acúmulo de

requerimentos na casa recursal, e nem aventa a possibilidade da prática das

revisões.

Com isso, flagrante, a insistente e contínua omissão do

Poder Executivo, que insiste em demonstrar atitudes superficiais e infra-

legais como moldura para uma falsa atitude definitiva quanto a anistia

política. Ocorre um amontoado de falácias e exposições através da

imprensa, com publicidade à engordar a falsa imagem de ação do Executivo,

quando na realidade, o caso patente é de extensão da tortura, dessa vez,

velada, encoberta sobre o manto da legalidade, seguindo os moldes do

outrora praticado.

Por mais que um povo deva e possa sentir-se satisfeito ao

perceber que seus governantes insistem em fazer registro e reconhecer as

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mazelas passadas e mal fadadas, não há como contentar-se com uma

Comissão de Anistia que completa uma década sem cumprir ao que veio, e,

ao contrário, perceber que, se quer estrutura funcional para aplicação de

todas as pontas da lei são oferecidas pelo Poder Executivo.

Caso concreto:

2.14 - Art. 12, parágrafo 3º , da lei 10.559/02

Faz-se necessária a oitiva de testemunhas no âmbito da

Comissão de Anistia ou aceitação de declarações, simplesmente. Não há que

questionar a validade do contido em tal documento vez que quem declara, já

o faz sob as penas Ada lei.

O ônus da prova insurge-nos como invertido em quase toda

a lei. Vejamos que o Estado sempre foi o detentor de todas as provas

atinentes a qualquer atividade política, no que tange aos atos persecutórios.

À exemplo da Guerrilha do Araguaia, o Exército não expõe qualquer folha

nesse sentido. Nos demais casos, há arquivos queimados destruídos, alguns

tantos que permanecem em segredo, e um mínimo aberto ao público.

Portanto, injusto requerer, exigir prova documental da parte mais frágil.

É de necessário registro o simples fato de que para o

resguardo da integridade física e moral, ao militante, ou aquele assim visto

pelo Estado, era imposto o esconder de suas ações, livros, panfletos,

ideologia, companheiros, relações e todo o mais que, naquele momento,

59

pudesse o comprometer diante dos olhos do Estado. Portanto, cabalmente

injusto requerer que o que antes era obrigatória a escusa, hoje deva ser

trazido à tona.

Caso concreto:

2.15 - Art. 12, parágrafo 5º , lei 10.559/02

Mesmo com inúmeras dificuldades aparentes, a Comissão de

Anistia não utiliza da faculdade de buscar melhores e maiores informações e,

principalmente, assessoria das associações de anistiados.

Em momento anterior, tal permissivo legal foi amplamente

utilizado e com bons resultados. No entanto, quando valores começam à

serem lançados pela mídia, órgãos e entidades desavisadas sobre o correto

conteúdo da lei, bem como da extensa lacuna omissiva do Estado que

permite um acúmulo retroativo, iniciam verdadeira caças às bruxas. Com

isso, a possibilidade de que entidades civis possam auxiliar na construção da

correta e bem feita anistia, passou a ser preterida sob o manto da

desconfiança e parcialidade.

Equívoco completo, pois o incessantemente pleiteado é o que

está na lei, tão somente o direito escrito à ser transportado a sua prática em

benefício a quem de direito.

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Caso concreto:

2.16 - Art. 13, caput, da lei 10.559/02

Os regimes jurídicos dos civis e militares não estão

sendo obedecidos. E na ausência deles, não são considerados os preceitos

legais contidos no INSS e/ou Código Civil Brasileiro, como o direito de

herança ou de ingresso na esfera administrativa ou jurídica, pelos filhos não

dependentes.

A partir do momento em que há impeditivo para que o

detentor do direito possa exercê-lo, é de ver que está sendo praticado e

enriquecimento sem causa do Estado.

Caso concreto:

2.17 - Art. 16 da lei 10.559/02

A Comissão de Anistia vem praticando o desconto das

verbas rescisórias pagas, seja quando da demissão, seja determinada via

judicial. Claro está que as naturezas jurídicas são distintas e a anistia não se

confunde com ação trabalhista.

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O demitido por envolvimento em mobilização paredista,

na sua maioria de vezes, assim o foi por justa causa. Após, em muitos casos,

conseguiu provar judicialmente esse quadro, bem como efetuar composição

direta com a empresa, o que não o impede de receber os valores

conseqüentes da relação trabalhista e que dizem respeito a situação pretérita,

ou seja, só é garantido algum direito sobre o período efetivamente laborado.

Dessa forma, não há que se confundir pagamento de

verbas trabalhistas com anistia política que tem caráter reparatório,

vinculado ao ato da perda da atividade laboral. Absolutamente defesa essa

prática que, vez mais, vem aumentar os prejuízos causados aos anistiados.

No mesmo lastro, a reparação por danos materiais ou lucros cessantes

previstos pela lei 10.559/02, não excluem o direito ao dano moral.

Caso concreto:

2.18 - Art. 19, parágrafo único da lei 10.559;02

Os regimes jurídicos dos civis e militares não estão

sendo obedecidos. E na ausência deles, não são considerados os preceitos

legais contidos no INSS e/ou Código Civil Brasileiro, como o direito de

herança ou de ingresso na esfera administrativa ou jurídica, pelos filhos não

dependentes. Os filhos não têm direito. Ação constitutiva pela apropriação

indevida por parte do Estado em virtude da sua omissão.

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Caso concreto:

Brasília/DF, 2012.