o valor da reputação corporativa

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33 Opinião A Administração da Reputação Corporativa é um conceito zainda novo, mas em expan- são entre as grandes corporações globais e algumas assessorias de comunicação e agências de relações públicas mundo afora. Poucos, no entanto, compreendem que a repu- tação não é apenas uma função de comunicação, mas sim uma função da administração. Nenhum plano de marketing, de relacionamento com investido- res (RI), de relacionamento com a mídia ou sofisticadas estratégias de branding, por mais audacioso que seja, sustentará os negócios de uma empresa e a maneira como ela é per- cebida por seus públicos estratégicos, stakeholders, audiências prioritárias, partes interessadas ou outro nome que se queira dar às pessoas ou gru- pos que realmente são importantes e vitais para a rentabilidade e pereni- dade da organização. Ao contrário, a reputação de uma empresa é reflexo de um inspirado modelo de negócios, implementado por meio da habilidade e capacidade de execução de seus administrado- res, do talento de suas lideranças e da capacidade de resposta em momentos de adversidade. Outros aspectos críticos e determinantes da reputação corporativa são ges- tão financeira, competitividade dos produtos, marketing, tecnologia, O valor da reputação corporativa Há uma lacuna nas empresas: um profissional que tenha se qualificado para alinhar a administração de fatores intangíveis e garantir que iniciativas e mensagens produzidas pelos diversos departamentos sejam harmônicas entre si e atendam aos objetivos do planejamento estratégico expertise da força de trabalho, ati- tudes de responsabilidade social, cultura, práticas (e não apenas dis- curso) de governança corporativa e conduta ética de seus administrado- res e acionistas. Ainda que uma empresa se comu- nique com freqüência e de forma pró-ativa, destinando significativos orçamentos para esta ação, a falta de credibilidade de suas mensagens é um forte sinal de que os problemas vão além da ineficiência da comu- nicação ou de um programa de RI. Portanto, a credibilidade da empresa está diretamente relacionada com sua reputação. Um entendimento correto dos elementos que compõem essa reputação deveria ser obtido a partir de informações vitais para alimentar o plano estratégico das organiza- ções, assim como seus processos de decisão, para o dia-a-dia (curto prazo) e ano após ano (longo prazo). A reputação de uma empresa é, portanto, um ativo intangível que se reflete diretamente em todos os demais esforços e iniciativas - desde seu custo de capital até seu sucesso no recrutamento de talentos. A reputação e o nível de confiança são os primeiros pontos de refe- Importância crescente dos ativos intangíveis (Valor de Mercado S&P 500) Fonte: Jürger H. Daum, Intangible Assets and Value Creation, John Wiley & Sons, 2002 1982 1992 2002 62% 38% 62% 82% 38% 18% Ativos Tangíveis Ativos Intangíveis

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Opinião

A Administração da Reputação Corporativa é um conceito zainda novo, mas em expan-

são entre as grandes corporações globais e algumas assessorias de comunicação e agências de relações públicas mundo afora. Poucos, no entanto, compreendem que a repu-tação não é apenas uma função de comunicação, mas sim uma função da administração.

Nenhum plano de marketing, de relacionamento com investido-res (RI), de relacionamento com a mídia ou sofisticadas estratégias de branding, por mais audacioso que seja, sustentará os negócios de uma empresa e a maneira como ela é per-cebida por seus públicos estratégicos, stakeholders, audiências prioritárias, partes interessadas ou outro nome que se queira dar às pessoas ou gru-pos que realmente são importantes e vitais para a rentabilidade e pereni-dade da organização.

Ao contrário, a reputação de uma empresa é reflexo de um inspirado modelo de negócios, implementado por meio da habilidade e capacidade de execução de seus administrado-res, do talento de suas lideranças e da capacidade de resposta em momentos de adversidade. Outros aspectos críticos e determinantes da reputação corporativa são ges-tão financeira, competitividade dos produtos, marketing, tecnologia,

O valor da reputação corporativaHá uma lacuna nas empresas: um profissional que tenha se qualificado para alinhar a administração de fatores intangíveis e garantir que iniciativas e mensagens produzidas pelos diversos departamentos sejam harmônicas entre si e atendam aos objetivos do planejamento estratégico

expertise da força de trabalho, ati-tudes de responsabilidade social, cultura, práticas (e não apenas dis-curso) de governança corporativa e conduta ética de seus administrado-res e acionistas.

Ainda que uma empresa se comu-nique com freqüência e de forma pró-ativa, destinando significativos orçamentos para esta ação, a falta de credibilidade de suas mensagens é um forte sinal de que os problemas vão além da ineficiência da comu-nicação ou de um programa de RI. Portanto, a credibilidade da empresa está diretamente relacionada com sua

reputação. Um entendimento correto dos elementos que compõem essa reputação deveria ser obtido a partir de informações vitais para alimentar o plano estratégico das organiza-ções, assim como seus processos de decisão, para o dia-a-dia (curto prazo) e ano após ano (longo prazo).

A reputação de uma empresa é, portanto, um ativo intangível que se reflete diretamente em todos os demais esforços e iniciativas - desde seu custo de capital até seu sucesso no recrutamento de talentos. A reputação e o nível de confiança são os primeiros pontos de refe-

Importância crescente dos ativos intangíveis (Valor de Mercado S&P 500)

Fonte: Jürger H. Daum, Intangible Assets and Value Creation, John Wiley & Sons, 2002

1982 1992 2002

62%

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Ativos Tangíveis

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rência quando investidores estão avaliando o preço de suas ações ou estudando potencias fusões.

Pode representar, ainda, um importante valor a ser descontado quando o inesperado acontece, não importando se é uma repercussão negativa na mídia, uma reclassifica-ção no balanço –é bom lembrar da implementação do IFRS (veja quadro ao lado) que se avizinha e a estimada redução que provocará na lucrativi-dade das empresas brasileiras– ou uma transação de fusão ou aquisição com resultados indesejados.

Também faz a diferença em uma iniciativa hostil de acionistas minoritários ou, ainda, em desa-fios públicos envolvendo questões ambientais, sociais ou assuntos rela-cionados a movimentos sindicais.

Por outro lado, a reputação pode ser um grande catalisador na cria-ção de valor em momentos de resultados favoráveis e iniciativas positivas, acelerando os negócios e potencializando resultados.

Função estratégica do administrador

No Brasil, os aspectos tangíveis, em especial o financeiro, ainda são muito valorizados. Preocupações com a gestão de reputação, rela-ções públicas com métricas de resultado ou branding ainda não são o foco da maior parte das organizações. Mas serão. Sai na frente quem estiver capacitado para alinhar planos estratégicos com as atitudes e a comunicação, tanto nas relações institucionais, nas manifestações públicas, nas relações interpessoais e, especial-mente, na linguagem utilizada nos websites, relatórios anuais, catálo-gos de produtos/serviços, revistas internas ou imprensa, entre outros meios.

Dentro do contexto corporativo, o administrador tem uma função estratégica, pois deverá cuidar da sustentabilidade da organização a partir de uma gestão que combina uma multiplicidade de conhe-cimentos, tais como estratégia, finanças, operações, marketing, regulamentação, comunicação, governança etc. A habilidade para gerenciar de maneira harmônica áreas aparentemente antagônicas é fundamental, mas ainda não o credencia para dominar a gestão da reputação corporativa. Estou certo que muitos profissionais possam atingir essa meta, mas faltam for-mação, técnicas e estratégias.

Em um mercado cada vez mais complexo e acirrado, no qual se lida com um grande volume de informações –oque prejudica a compreensão e assimilação das principais mensagens–, é indis-pensável dominar técnica da visão sistêmica, sustentabilidade e comunicação integrada para atender a uma multiplicidade de

públicos estratégicos, cada vez mais bem informados, conscien-tes e exigentes. Mais que isso: tudo em tempo real. Não é à toa que o intangível passou a valer mais que o tangível. Então, estamos prepa-rando administradores para vencer esse novo desafio?

Conjunto de normas e pro-nunciamentos de contabilidade internacionais publicados e revi-sados pelo IASB (International Accounting Standards Board).

As normas IFRS foram ado-tadas pelos países da União Européia a partir de 31 de dezem-bro de 2005 com o objetivo de harmonizar as demonstrações financeiras consolidadas, publi-cadas pelas empresas abertas européias.

A iniciativa foi internacional-mente acolhida pela comunidade financeira. Atualmente, nume-rosos países têm projetos oficiais de convergência das normas contábeis locais para as normas IFRS, inclusive o Brasil.

Estudo da Ernst Young, com base em pronunciamentos da CVM, demonstra que regras já implementadas provocaram queda de 20% nos resultados.

IFRS (Internacional Financial Reporting Standards)

Adm. Valter FariaCRA-SP - 25210-7administrador de empresas, consultor e especialista em governança corporativa, estratégia de comunicação financeira e relações com investidores

O administrador tem uma função estratégica, pois deverá cuidar da sustentabilidade da organização, a partir de uma gestão que combina uma multiplicidade de conhecimentos