reputação corporativa

56

Upload: dinhkhanh

Post on 09-Jan-2017

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1FACULDADE AIEC

Apresentação

Editorial

Entrevista Ângela Gutierrez Presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez. Gestão da produção madeireira Avoltadosipêsfloridos José Pereira Dias Gestão da inovação

Gestão da reputação corporativa Reputação corporativa: um ativo intangível e valioso Ana Luísa de Castro Almeida Gestão empreendedora Do que é feito um Empresário de Design do Ano? Tulio Filho

Gestão de pessoas Ponha luz nos pontos fortes Maria Salete Cavalcanti e Súsie Helena Ribeiro

Gestão de clube de futebol Gestãoprofissionalnofutebol Rodrigo Caetano

Gestão de vendas Quem vê cara não vê cifrão ($) Roberto Abreu

Gestão de avaliações Avaliações de programas sociais e de políticas públicas Rogério Silva

Gestão das competências gerenciais A técnica é tudo? Marco Evangelista

Gestão da juventude Tentando fazer o melhor Yvie Springs

Gestão de mídias sociais Internet: a melhor amiga das novas ideias... e dos negócios! Felipe A. Pereira

EAD E-learning corporativo: integração e portabilidade Cris Bonini

E então... Artur Roman

Associação Internacional de Educação Continuada

Faculdade AIEC

PresidenteVicente Nogueira Filho Diretor FinanceiroFrancisco Cabral de Menezes Júnior Diretora AdministrativaLéa Postiga Nogueira Diretora de Graduação Ruth Alves Franklin Almeida Diretor de Pós-Graduação Alaciel Franklin Almeida Diretor de Pesquisa e AvaliaçãoBenito Nino Bisio

Ideias em Gestão é uma publicação da Faculdade AIECISSN 2236-8183

EditorVicente Nogueira Filho

Coordenação EditorialArtur Roman

Direção de ArteAna Cristina Almeida

ProjetoGráficoHeto Carvalho

Revisão Ângelo Edval Roman Orly Marion Webber Milani

FinalizaçãoÂngela Roman

Fotos Daniel Mansur

Foto: editorial Cleber Medeiros

ImpressãoGráfica Infante – Curitiba - PR

Diagramação e arteLado A estúdio de criação | 41 [email protected]

Edição nº 13 – Novembro/2013 Tiragem: 5.000 exemplares

ContatoRevista Ideias em GestãoCLSW 105 - Bloco A - Edifício Espaço 105 - 1º andar Setor Sudoeste - CEP 70.670-431 - Brasília - DFTelefone: (61) 3403-0000E-mail: [email protected]

Os artigos publicados na Ideias em Gestão são de responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam necessariamente a opinião da AIEC.

ÍNDICE02

03

04

08

12

16

20

24

28

32

36

40

44

48

52

2 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

APRESENTAÇÃO

A Ideias em Gestão, revista da Faculdade AIEC, publica entrevista e artigos com experiências, pesquisas e

aprendizagens no universo organizacional e no mundo dos negócios.

Periodicidade: três edições por ano, em março, julho e novembro.

Tiragem: 5.000 exemplares.

Público-alvo: empresários, dirigentes e funcionários de organizações privadas e públicas, administradores

formados pela Faculdade AIEC, alunos da Instituição.

Distribuição: gratuita para o público selecionado em todas as regiões do Brasil.

Autores: empresários, dirigentes de empresas, profissionais com experiência de mercado, pesquisadores,

pensadores e professores da área de administração, convidados especiais, administradores formados na

Faculdade AIEC, professores, tutores e alunos.

Temas dos artigos: relacionados às diversas áreas da administração como Gestão de Pessoas, Educação

corporativa, Marketing, Finanças, Produção, Serviços, Comunicação, Contabilidade, Controladoria,

Logística, Responsabilidade socioambiental, Empreendedorismo, etc.

Natureza dos artigos: opinativo, reflexivo, descritivo ou analítico.

Tamanho dos artigos: até 9.000 caracteres (com espaços).

Para receber a Ideias em Gestão, escreva para [email protected]

Para acessar a versão virtual da Ideias em Gestão, visite o site www.aiec.br

Para submeter artigos, contate o Coordenador Editorial: [email protected]

Acesse blog.aiec.br

Foi um desafio ilustrar esta edição da revista com as lindas fotos de Daniel Mansur das peças do acervo do Museu

de Artes e Ofícios de Belo Horizonte. Procurei mostrar a beleza das peças e dar um pequeno toque de época com as

cores de cada artigo.

Ana Cristina Almeida – Diretora de Arte

3FACULDADE AIEC

Editorial

Cara leitora, caro leitor

As atividades de gestão estão presentes em todos

os campos da ação humana. A leitura desta edição

confirma essa importância da administração nas

mais diversas áreas, seja em um clube de futebol,

como lemos no artigo do Rodrigo, em uma empresa

de comunicação e design, artigo do Tulio, ou em um

museu.

A criadora e administradora de museus, Ângela

Gutierrez, nossa entrevistada, nos fala com

entusiasmo sobre o seu trabalho de recuperar e

preservar objetos representativos de nossas raízes

históricas. Aprendemos com ela que cuidar da

memória cultural de um país demanda recursos e

uma dedicada ação administrativa.

Os gestores já aprenderam que não se deve exigir

do funcionário o que ele não tem para dar. Maria

Salete e Súsie vão mais além, ao propor uma

gestão de competência nas empresas com foco no

desenvolvimento das capacidades demonstradas

pelo trabalhador e não daquelas que lhe faltam.

José Pereira denuncia alguns mitos que foram

se constituindo historicamente sobre o setor

madeireiro por falta de informação qualificada

sobre seu papel na economia. A propósito, um

artigo elucidativo de Ana Luísa do Reputation

Institute discute a importância da gestão da

reputação corporativa.

Projetos sociais precisam de gestão competente,

o que inclui monitoramento e avaliação, como

nos apresenta o artigo do Rogério. O consultor de

vendas de veículos de luxo, Roberto, revela como é

fundamental o planejamento, importante função

administrativa, na abordagem ao cliente.

Felipe discute algumas estratégias na gestão da

presença das empresas nas mídias sociais. O texto

maduro da jovem de 20 anos, Yvie Springs, mostra

que as atividades de gestão se estendem também

à administração da vida e da carreira dos jovens.

Sobre EAD empresarial, temos um artigo da Cris,

com a experiência exemplar da KPMG.

A participação neste número da Revista de

cinco egressos da Faculdade AIEC de Manaus,

Porto Alegre, Teresina e Curitiba nos lembra

a presença da Instituição em todas as regiões

do País, cumprindo sua missão de formar

administradores e empreendedores, nas

competências técnicas, humanas e conceituais,

tema discutido no artigo do Marco.

Belíssimas fotos, produzidas por Daniel Mansur,

de peças do acervo do Museu de Artes e Ofícios

de Belo Horizonte, uma das instituições criadas

por nossa entrevistada, ilustram as páginas desta

edição.

Boa leitura!

Professor Vicente Nogueira Filho

Editor

4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Entrevista

1.Acreditoquedificilmenteumamãe,

aodaraluzaumafilha,diria:“Minha

filha,vocêvaiserfundadorade

museus”. O que levou a senhora a se

dedicaraessemagníficotrabalho?

Ângela Gutierrez - Sou filha de pessoas

que sempre prezaram a arte antiga

brasileira. Cresci aprendendo sobre

a história do Brasil e a importância de

conhecermos nossas origens. Meu pai,

Flávio Gutierrez, construía estradas e

viajava muito. Ainda menina, eu ia com

ele pelas cidades do interior e fazendas

em busca de peças antigas. Meu pai dizia

que o que estava nas igrejas e nas salas

de visitas das casas das fazendas iria ser

conservado. Porém, ferramentas de

trabalho e objetos do uso cotidiano que

estavam nas cozinhas, nos quintais, nas

trilhas perdidas no meio do mato... isso aí

ninguém iria guardar. E alguém precisava

fazer isso.

EMPRESÁRIA E

COLECIONADORA DE

ARTES SE DEDICA À

CRIAÇÃO DE MUSEUS

E À FORMAÇÃO

DE ACERVOS

PARA DOAÇÃO AO

PATRIMÔNIO PÚBLICO

A PARTIR DA CRENÇA

DE QUE É PRECISO

PRESERVAR AS

RAÍZES CULTURAIS

PARA FORTALECER

O SENTIMENTO

DE IDENTIDADE

NACIONAL.

Meu pai passou a vida recolhendo

essas peças que representam a história

do trabalho em nosso País. Foi dele

a inspiração para me tornar uma

colecionadora, especialmente de artes e

ofícios. Quando eu fiz 15 anos, ganhei de

presente de meu pai um tear do século

XVIII. Uma menina gostar de um presente

como esse já é um prenúncio de que ela

iria fazer museus.

2. Os museus na Europa são espaços

culturais e de lazer dinâmicos,

animados, com muitos jovens e

crianças circulando em seus espaços.

A senhora não acha que os museus

brasileiros guardam ainda um aspecto

sisudo?

Ângela Gutierrez - O senso comum

ainda define museu como um lugar

onde se guardam coisas velhas. Mas essa

realidade tem mudado.

- Presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, responsável pela

gestão do Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte e do Museu do

Oratório de Ouro Preto.

- Colecionadora de arte e empreendedora cultural.

- Pesquisadora do barroco brasileiro e especializada em arte sacra.

5FACULDADE AIEC

Os museus que foram criados nos

últimos tempos já foram criados à luz

da sabedoria de que museu tem que

estimular, enfeitiçar e seduzir as pessoas,

especialmente jovens e crianças. Esse

museu que apenas guarda coisas do

passado está ultrapassado. O Museu

de Artes e Ofícios (MAO) tem 9.200 m2

de arte expositiva, com mais de 2.500

peças históricas. Temos aqui uma equipe

pequena, mas muito dedicada, que sonha

comigo. Juntos, trabalhamos para fazer

deste museu um lugar agradável onde

se aprende, onde se conhece, onde se

pensa. Temos um projeto maravilhoso

para receber a visita de crianças de

escolas públicas, com o importante apoio

dos educadores. Gostamos de ver o

museu sempre cheio de crianças e jovens.

3.Pode-seafirmarquea

preocupação hoje, no mundo, com

a sustentabilidade, traz em seu

bojo o espírito da restauração como

um elemento fundamental para o

equilíbrio ecológico. O que a senhora,

que é apaixonada por restauração,

pensa sobre isso?

Ângela Gutierrez - Todas as minhas

coleções, os dois museus que já criei

(Museu do Oratório e Museu de Artes e

Ofícios), o novo museu que estou criando

(Museu de Sant’Ana, em Tiradentes) e os

acervos que doei para o patrimônio da

União, tudo isso vem como consequência

de minha paixão por restauração.

Comecei muito novinha a restaurar

oratórios. Meu pai sempre me trazia

alguma peça bonita antiga quebrada

e me dava para restaurar. Sou uma

restauradora autodidata. Aprendi

fazendo, e essa experiência me ensinou

o valor que tem a gente respeitar,

guardar e cuidar. Penso que restauração,

conservação, manutenção, preservação,

isso tudo faz parte de um mesmo novelo

ecológico que vai se emaranhando

e que nos leva ao mesmo lugar: a

sustentabilidade da vida. Dentre os

programas que desenvolvemos aqui no

MAO, destaco o curso para auxiliares de

restauração que oferecemos para jovens

em situação de risco social. Além da

formação técnica, esses jovens recebem

reforço escolar e orientação para a vida,

graças a uma importante parceria com a

Fundação Dom Cabral.

4. Teremos, nos próximos anos,

grandes eventos internacionais que

irão trazer muitos turistas para o

Brasil. Além das praias e do futebol, o

Brasil poderá atrair turistas também

para seus museus?

Ângela Gutierrez – Sim! Temos futebol,

sol, praia, mas temos também cultura e

história preservadas em nossos museus.

É crescente o número de visitantes

estrangeiros nos museus no Brasil. E

também de brasileiros. Vejo, de uns anos

pra cá, o turista brasileiro conhecendo o

Brasil.

MEU PAI

DIZIA QUE

FERRAMENTAS E

OBJETOS DO USO

COTIDIANO QUE

ESTAVAM NAS

COZINHAS, NOS

QUINTAIS, NAS

TRILHAS PERDIDAS

NO MEIO DO

MATO, NINGUÉM

IRIA GUARDAR.

E ALGUÉM

PRECISAVA FAZER

ISSO. FOI DELE A

INSPIRAÇÃO PARA

ME TORNAR UMA

COLECIONADORA,

ESPECIALMENTE

DE ARTES E

OFÍCIOS.

6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Famílias viajam com os filhos e amigos

para conhecer o seu país e os museus

estão em seus roteiros turísticos.

Acho muito bonito isso. Destaco o

interesse especial do brasileiro pela

arte contemporânea, pois é uma arte

de qualidade e que tem importância no

cenário mundial. Inhotim, aqui em Minas,

é um belo espaço de exposição da arte

contemporânea, que recebe milhares de

turistas de todas as partes do mundo.

5. O Barroco, que é uma de suas

especialidades, está muito

relacionado à Igreja Católica e ao

movimento de Contra-Reforma

Religiosa (Século XVI). Seria possível

relacionar algum estilo artístico

ao neopentecostalismo que cresce

tanto hoje no Brasil?

Ângela Gutierrez - Para nós, católicos,

a arte sacra é uma importante

representação da fé cristã. No cenário

que pesquiso, não conheço qualquer

expressão artística relacionada ao

neopentecostalismo. Vejo sim, por parte

desse movimento religioso, restrição ao

uso de imagens e à representação da fé

através de objetos artísticos.

6. É possível dizer que existe uma

arte genuinamente brasileira?

Ângela Gutierrez – Temos, sim, uma

arte verdadeiramente brasileira, que a

duríssimas penas se desenvolveu e se

fortaleceu. É inegável, nas áreas artística

e cultural, a influência europeia. Afinal,

fomos colonizados quando a Europa já

era velha. Quem chegou aqui trouxe o

que tinha e impingiu sua cultura.

As primeiras peças barrocas criadas

aqui eram cópias de obras portuguesas.

Porém, à medida que os colonizadores

foram entrando pelo interior brasileiro,

aquele barroco português do litoral foi

se tropicalizando, se abrasileirando.

Com o tempo, nossa arte foi adquirindo

características próprias. Vejo isso

quando saio do Brasil com minha

coleção de oratórios. O olhar do

estrangeiro para o nosso barroco é

curioso e até assustado. Ele vê vestígios

do barroco europeu, mas reconhece que

é algo diferente. Nosso país é fabuloso,

nossa gente é especial e nossa cultura é

forte, maravilhosa e tem personalidade.

A despeito da influência que sempre

recebemos de fora, e que não é pouca,

temos uma criação cultural e artística

que nos identifica, nos diferencia e que

faz do Brasil um país charmoso, sedutor

e atraente aos olhos do estrangeiro.

7. É possível fazer dinheiro com arte

no Brasil ou é uma atividade que

dependerá sempre do mecenato?

Ângela Gutierrez - Sim. É possível,

no Brasil, viver bem da própria

arte. Agora, administrar museu sem

ajuda é impossível. Um museu nunca

será autossustentável. E isso não é

privilégio do Brasil. O poder público

sozinho, porém, não é capaz de

manter os museus, pois as prioridades

são muitas e os recursos limitados.

Dificilmente veremos um cartaz em

uma manifestação pedindo verbas

para museus. É necessário o apoio de

empresas.

TEMOS, SIM,

UMA ARTE

VERDADEIRAMENTE

BRASILEIRA. A

DESPEITO DA

INFLUÊNCIA QUE

SEMPRE RECEBEMOS

DE FORA, E QUE

NÃO É POUCA,

TEMOS UMA

CRIAÇÃO CULTURAL

E ARTÍSTICA QUE

NOS IDENTIFICA,

NOS DIFERENCIA

E QUE FAZ DO

BRASIL UM PAÍS

CHARMOSO,

SEDUTOR E

ATRAENTE AOS

OLHOS DO

ESTRANGEIRO.

7FACULDADE AIEC

E no Brasil ele se dá basicamente por

meio de leis de incentivo ou renúncia

fiscal. Ora, um museu que sobrevive

de leis de incentivo tem que ser um

museu público, com as portas abertas

e cobrança simbólica de ingresso. Se

você não puder manter um museu

dignamente aberto, com acolhimento

para todo cidadão, com publicações e

eventos culturais, feche as portas!

8. Não existe tradição no Brasil de

osgrandesempresáriosfinanciarem

e estimularem a arte, como fez o

seu pai Flávio Gutierrez e a senhora

também o faz. A Revista Ideias em

Gestão é lida por empresários de

todas as regiões do País. Que recado

a senhora deixaria para esses leitores

sobre a importância do investimento

em arte e cultura no Brasil?

Ângela Gutierrez – Já existe hoje, de

parte do empresariado brasileiro, uma

certa consciência de que é preciso

valorizar e preservar nossa cultura e

nossa memória.

As estatais brasileiras estão dando

bons exemplos de patrocínio a projetos

sociais e culturais e influenciando

positivamente os empresários privados.

Mas o empresário sério sabe que o

dinheiro que ele destina através de leis

de incentivo é dinheiro público e quer

consequência nos projetos que vai

apoiar. Há ainda, porém, certa fragilidade

por parte dos demandantes de recursos

e amadorismo na forma como são

apresentados os projetos. Se for um

projeto sério e feito com correção,

responsabilidade e transparência, o

apoio institucional virá e os resultados

para a empresa também. Há usos

indevidos da Lei Rouanet? Sim. Há

muitos problemas na área cultural? Sim.

Mas tem muita coisa boa acontecendo.

Sem ser ingênua diante dos problemas,

prefiro olhar o que é honesto, correto,

pois é isso que predomina. Além das

questões da arte e cultura, vejo hoje

parte da classe dominante brasileira

muito desmotivada e derrotista. E

vejo o povo feliz, adquirindo bens

de consumo e bens culturais, mas,

especialmente, reivindicando seus

direitos e desenvolvendo uma nova

visão de mundo, graças às possibilidades

de ascensão social e econômica.

Tenho amor pelo meu país e sou muito

otimista. Acredito que o Brasil melhorou

e a cultura também. Nesse processo,

ofereço minha contribuição a partir

da crença de que é preciso preservar

as raízes culturais para fortalecer o

sentimento de identidade nacional.

VEJO HOJE

PARTE DA CLASSE

DOMINANTE

DESMOTIVADA E

DERROTISTA. E

VEJO O POVO

FELIZ, ADQUIRINDO

BENS DE

CONSUMO E BENS

CULTURAIS, MAS,

ESPECIALMENTE,

REIVINDICANDO

SEUS DIREITOS E

DESENVOLVENDO

UMA NOVA VISÃO

DE MUNDO,

GRAÇAS ÀS

POSSIBILIDADES DE

ASCENSÃO SOCIAL

E ECONÔMICA.

8 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão da produção madeireira

Nos anos 70, nossa família

administrava uma cerealista

no interior do Paraná, porém

o avanço das pastagens na região

anunciava que o fundador devia tomar

uma decisão em relação à área de

atuação. Alguns amigos madeireiros

sugeriam mudança de ramo, inclusive

com dicas sobre onde seria o próximo

paraíso da madeira. Açailândia, no

Maranhão, foi o alvo.

Sobrevoar as florestas da região quando

os ipês floresciam era um colírio para

os olhos: um jardim de flores roxas e

amarelas, sobre o verde da floresta. E foi

com essa riqueza que a família Pereira

Dias chegou à Amazônia em 1977 para se

aventurar no segmento madeireiro.

Na época, “madeireiro” não tinha

boa fama e, mesmo hoje, apesar da

importância econômica da atividade

e de sua rigorosa regulamentação,

poucos têm orgulho de dizer que são

madeireiros, talvez porque os nossos

colonizadores gostavam mais de

pedras e azulejos, ou, quem sabe, pelos

estereótipos que se estabeleceram na

atividade.

Um pouco de história

O negócio florestal, nos anos 50 a 80,

foi base de grandes fortunas do País.

O Brasil precisava se desenvolver. Era

necessário se livrar das florestas e

abrir espaços para novos negócios. Foi

assim que o governo incentivou a ida de

madeireiros e outros empreendedores

para as florestas, principalmente para

a Amazônia. Chegavam para “limpar”

as áreas e deixar espaços para as novas

atividades, tornando-se os pioneiros

econômicos de muitas regiões. Nessa

época, não havia muitas exigências para

a atividade florestal - para colher uma

árvore bastava que ela estivesse em sua

propriedade.

Nos anos 80, o INCRA exigia que os

proprietários de terras primeiro

desmatassem pelo menos um

terço da floresta para depois ter o

direito de requerer a titularidade.

Esses fatores contribuíram para o

crescimento do País, mas colaboraram

equivocadamente para a formação do

estereótipo de devastador da Amazônia

ao setor madeireiro.

MANEJO SUSTENTÁVEL

E TECNOLOGIAS DE

EXTRAÇÃO PERMITEM

EXPLORAÇÃO

ECONÔMICA DE

FLORESTAS NATIVAS

SEM AGREDIR O MEIO

AMBIENTE.

José Pereira Dias

9FACULDADE AIEC

Por enxergar os extratores como

vilões, surgiram as discussões sobre

regulamentações do setor. As mudanças

na legislação para o cumprimento de

regras ambientais, operacionais, de

segurança e trabalhistas vieram nos anos

90. A mais importante delas passou a ser

na esfera ambiental e, caso as indústrias

não mudassem suas práticas, poderiam

ser inseridas em crimes ambientais.

O setor não se encontrava preparado

para essas mudanças, sobretudo

algumas empresas que exploravam

o mogno livremente. Rapidamente,

elas passaram a ser alvo de grandes

campanhas ambientais contra a

atividade, inclusive com ativistas

acorrentados em máquinas de serra-fita

e a mídia noticiando detalhadamente os

fatos.

Enormedesafio

Graças a essa forte pressão da

sociedade, o Brasil atingiu um nível

sem igual na evolução de suas leis

ambientais. Atualmente, o setor

madeireiro da Amazônia é um dos mais

regulamentados do mundo.

A floresta tropical é rica em diversidade,

não sendo incomum o surgimento de

dezenas de espécies comercializáveis,

se unindo às centenas que já existem.

No sistema de manejo florestal, num

ambiente com duas mil plantas, colhem-

se apenas oito árvores por hectare,

em média, a cada 35 anos. A riqueza

da diversidade aliada à pobreza da

quantidade passível de exploração é um

grande desafio de gestão.

A floresta natural é dinâmica e nada

se pode afirmar sem o adequado

inventário da área a ser trabalhada,

no qual constem as espécies e o

volume disponíveis para a exploração.

Esse trabalho, primordial para o

planejamento operacional e comercial

dos negócios, só acontece meses antes

da safra. Aplicar o “just-in-time” ou

a “entrega garantida” é um enorme

desafio!

Demoraremos muito até perceber a

importância de uma floresta nativa,

não apenas para quem usufrui dela

diretamente, mas para o mundo. O

INCRA, que exigia o desmatamento há

décadas, continua valorizando mais uma

área desmatada do que uma área com

floresta, tese confirmada pelo Judiciário.

Ou seja, o Estado, ao definir que alguém

que desmatou merece mais benefícios

do que alguém que preservou, continua

incentivando o desmatamento.

Panorama setorial

O setor madeireiro tem dificuldades de

obter a atenção econômico-financeira

do Estado. Outras fontes de matéria-

prima, como os minérios e as áreas

já desmatadas para a agronegócio,

oferecem muito menos trabalho para os

órgãos reguladores e muito mais divisas.

A sociedade ainda não se incomoda com

o fato de que a maioria dos materiais

utilizados nos automóveis, aviões e

computadores vêm de fontes não

renováveis.

OS NEGÓCIOS

FLORESTAIS FIZERAM

FORTUNAS NO

PAÍS DOS ANOS

50 A 80. O BRASIL

PRECISAVA SE

DESENVOLVER E ERA

PRECISO SE LIVRAR

DAS FLORESTAS.

FOI ASSIM QUE

O GOVERNO

INCENTIVOU A IDA

DE MADEIREIROS

E OUTROS

EMPREENDEDORES

PARA AS FLORESTAS,

PRINCIPALMENTE

PARA A AMAZÔNIA.

10 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

O negócio de nativas, além dos controles

operacionais como em qualquer outro

setor e da forte pressão ambiental,

depende da burocracia governamental. A

morosidade na liberação dos processos

deixa as empresas sérias do setor aquém

em competitividade. É muito difícil obter

estabilidade econômico-operacional

num setor que tem por característica

um período de trabalho reduzido devido

a chuvas e, principalmente, por falta de

respostas ágeis dos órgãos ambientais.

Para processos ambientalmente

corretos é fundamental uma fiscalização

eficiente, entretanto a forma como

hoje é realizada pode enfraquecer

quem trabalha corretamente. É mais

provável um empreendimento legal

receber uma fiscalização do que quem

trabalha à margem da lei. Para a extração,

produção e transporte é exigido, entre

outras documentações, comprovação

da origem legal da madeira. E o rigor

é tanto que um erro de anotação da

placa do veículo de transporte, na nota

fiscal ou nas guias florestais, pode ser

caracterizado como crime ambiental.

Desde o início dos anos 2000, as

empresas exportadoras de madeiras

da Amazônia vêm perdendo mercado.

Primeiro devido à valorização do real e

mais recentemente com a concorrência

da China, Vietnã e alguns países da

África. Após a crise de 2008, o cenário se

agravou com a redução de demanda dos

países ricos.

Várias fábricas encerraram suas

operações, favorecendo a entrada de

produtos substitutos, nem sempre

melhores e sustentáveis.

De olho no futuro

Atualmente, nossas atividades de

industrialização de madeiras estão

paralisadas, contudo nossas reservas

florestais, adquiridas graças à visão

do fundador, fortalecem a empresa.

Desde o primeiro ano de operação,

nossa empresa já contava com reservas

florestais próprias, o que permitiu

atender com qualidade e competitividade

as oportunidades que surgiram - ter

florestas próprias era algo insólito no

setor. A maioria das empresas não se

incomodava com a matéria-prima, pois

havia madeira em abundância e, sempre

que ela acabava, bastava migrar a serraria

para uma nova região.

Com a ECO-92, os clientes passaram

a exigir a comprovação de origem da

matéria-prima, preferencialmente

uma certificação ambiental, e a nossa

empresa estava pronta para aproveitar

a oportunidade. Com boa origem e a

certificação, participamos do mercado

de madeiras de Benelux, em especial o da

Holanda - grande importador de madeira

tropical - onde nossa empresa tornou-se

bastante conhecida.

PARA

PROCESSOS

AMBIENTALMENTE

CORRETOS, É

FUNDAMENTAL

UMA FISCALIZAÇÃO

EFICIENTE,

ENTRETANTO A

FORMA COMO

HOJE É REALIZADA

PODE ENFRAQUECER

QUEM TRABALHA

CORRETAMENTE. É

MAIS PROVÁVEL UM

EMPREENDIMENTO

LEGAL RECEBER

UMA FISCALIZAÇÃO

DO QUE QUEM

TRABALHA À

MARGEM DA LEI.

11FACULDADE AIEC

De visionário a inovador, o nosso

grupo investiu em novas tecnologias

e melhorias de processos, inclusive

firmando uma parceria, em 1995, com

o Instituto Florestal Tropical (IFT), uma

“universidade do manejo”, que promove

o desenvolvimento de tecnologias

florestais para redução dos impactos

operacionais da extração, e que trabalha

com programas de capacitação no

manejo florestal. Também investimos

no sistema de certificação florestal

internacional (FSC-Forest Stewardship

Council), para atender as expectativas

comerciais do mercado externo,

melhorando as práticas de manejo nas

nossas florestas.

Atualmente, nossas áreas estão mais

verdes do que quando iniciamos as

atividades. Paralelamente, aumentamos

o portfólio de produtos da floresta,

como biomassa, créditos de carbono,

espécies menos conhecidas no mercado,

dentre outros. E estamos investindo no

desenvolvimento de novos produtos, em

especial os não madeireiros.

Na hora certa

Assim como o Brasil, os países

desenvolvidos desmataram grande

parte de suas florestas para promover

o desenvolvimento e o ônus não foi

pequeno. Há um clamor mundial pela

preservação das poucas reservas

florestais que ainda temos no mundo.

AS ÁREAS DE

FLORESTAS NATIVAS

DA NOSSA EMPRESA

ESTÃO HOJE MAIS

VERDES DO QUE

QUANDO INICIAMOS

AS ATIVIDADES E,

COM UMA VISÃO

SUSTENTÁVEL DE

LONGO PRAZO,

AUMENTAMOS O

PORTFÓLIO DE

PRODUTOS DA

FLORESTA.

O Brasil agiu na hora certa, pois não

poderíamos continuar desmatando

descontroladamente para implantar

agricultura e pecuária com tanta área

degradada ainda disponível no País.

O setor madeireiro foi beneficiado

pela nova legislação ambiental, pois

as florestas ficam em condições

de produção baseada em manejo

sustentável. Os empresários do setor

sabem que a imagem dos madeireiros

está sendo modificada, graças à

consciência da importância de seu

papel para o desenvolvimento ético,

honesto e justo com o meio ambiente e a

sociedade.

A madeira sempre esteve presente

em todas as eras. Novas tecnologias

e novos materiais virão, mas sempre

haverá espaço para a madeira natural.

As florestas, por sua vez, estão voltando

à sua posição de majestade. Serão alvo

da grande evolução ambiental e estarão

lado a lado com as grandes indústrias

na base do desenvolvimento, não mais

para serem desmatadas, mas sim para

serem preservadas. Teremos mais

uma oportunidade de sobrevoar os

ipês floridos e acalentar os olhos com

a paisagem sem igual. Sem sombra de

dúvida, estamos preparados!

José Pereira Dias

Presidente do Grupo Cikel – Madeiras,

Serviços e Siderurgia. Bacharel em

Administração pela Faculdade AIEC.

12 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão da reputação corporativa

12 IDEIAS EM GESTÃO

Definimos reputação

corporativa como o vínculo

emocional estabelecido entre

as organizações e os seus diversos

stakeholders. Isto é, consiste no grau de

confiança, admiração, empatia e estima

das pessoas em relação à organização.

Construída ao longo do tempo, a

reputação é capaz de influenciar as

decisões de comprar, trabalhar ou

investir na empresa.

A reputação é um ativo intangível muito

valioso para as organizações e, por

isso, tem despertado grande interesse

tanto no âmbito acadêmico como no

empresarial. Ser reconhecida como

positivamente diferente (oferece

melhores produtos e serviços, é uma

empresa socialmente responsável,

possui uma liderança que tem

credibilidade, entre outros atributos) é

uma grande vantagem competitiva.

Em um contexto em que a diferenciação

é um fator chave, dialogar com os

diferentes stakeholders é crucial para o

bom desempenho e sobrevivência das

organizações. O diálogo pressupõe que

as organizações falem, exponham suas

ideias e defendam seu posicionamento.

Mas o diálogo também envolve ouvir e

esse é um grande desafio, pois implica

identificar quais são as percepções e

expectativas dos diferentes grupos de

relacionamento da empresa, para então

traduzi-las em ações, estratégias e novos

posicionamentos.

Reputação e competitividade

Essa discussão pode ser contextualizada

no bojo das manifestações populares

que presenciamos no Brasil este

ano. Esses movimentos trouxeram

à tona como a população avalia a

infraestrutura, a saúde, a educação,

entre outras áreas de atuação pública e

privada, e qual o cenário desejado pela

sociedade.

A GESTÃO DA

REPUTAÇÃO

CORPORATIVA PERMITE

QUE A EMPRESA

ALCANCE APOIO DOS

DIFERENTES PÚBLICOS

DE RELACIONAMENTO

ÀS INICIATIVAS

ORGANIZACIONAIS,

COM IMPACTOS

POSITIVOS NA

COMPETITIVIDADE.

Ana Luísa de Castro Almeida

13FACULDADE AIEC 13FACULDADE AIEC

Essas manifestações, fruto da crescente

consciência da população sobre seus

direitos, estão exigindo das organizações

um posicionamento que revele seu

comprometimento social. Essa é uma

das bases da gestão da reputação.

São muitos os impactos positivos que

tangibilizam os resultados do trabalho

de construção e gestão da reputação:

aumento de market share, atração e

retenção de profissionais de destaque

no mercado, aumento do preço das

ações, entre outros. O papel estratégico

da gestão da reputação tem sido cada

vez mais valorizado por organizações,

dos mais diversos setores da economia,

deixando de ser uma reponsabilidade

restrita às áreas de comunicação,

marketing e sustentabilidade, e

tornando-se uma referência para a

condução do negócio como um todo.

A experiência do Reputation Institute,

que atua em mais de 30 países, mostra

que existem aspectos comuns às

organizações no que diz respeito

à gestão da reputação, mas que as

particularidades, em especial, devem

ser observadas. Entender a unicidade

do negócio, identificar as expectativas

dos stakeholders específicos e buscar

soluções criativas é fundamental.

Avaliando a reputação

O sentimento das pessoas em relação

à organização (grau de confiança,

admiração, empatia e estima)

pode ser explicado pela avaliação que

fazem sobre aspectos tangíveis como

a qualidade dos produtos e serviços.

O Reputation Institute desenvolveu

um modelo de avaliação e análise da

reputação corporativa composto por

sete dimensões: produtos e serviços,

inovação, ambiente de trabalho,

cidadania, governança, liderança e

desempenho, chamado Rep TrakTM.

RepTrakTMSystem–Metodologiadeavaliação da reputação

Os resultados dessas avaliações

permitem que as organizações

compreendam quais são as percepções

de seus stakeholders para, a partir

daí, atuar estrategicamente. Um

dos principais objetivos da gestão

da reputação é justamente alcançar

apoio e suporte dos diferentes grupos

de relacionamento às iniciativas

organizacionais.

DEFINIMOS

REPUTAÇÃO

CORPORATIVA

COMO O VÍNCULO

DE CONFIANÇA,

ADMIRAÇÃO,

EMPATIA E ESTIMA

ESTABELECIDO

ENTRE AS

ORGANIZAÇÕES

E OS SEUS

STAKEHOLDERS.

CONSTRUÍDA AO

LONGO DO TEMPO,

A REPUTAÇÃO

É CAPAZ DE

INFLUENCIAR

AS DECISÕES

DE COMPRAR,

TRABALHAR OU

INVESTIR NA

EMPRESA.

14 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

14 IDEIAS EM GESTÃO

O alcance desse apoio dos stakeholders

está diretamente relacionado ao

que chamamos de licença para

operar, conceito que se relaciona

ao comportamento favorável dos

stakeholders em relação à atuação da

empresa. Um exemplo de ausência

dessa licença se dá quando uma

organização não conquista o apoio da

comunidade às suas atividades, seja

porque as pessoas consideram que

sua existência traz prejuízos ou então

pela falta de articulação e diálogo com

os líderes locais. Essa oposição da

comunidade à empresa pode trazer

inúmeros obstáculos que acarretam

atrasos na produção, multas e até mesmo

suspensão das atividades.

Reputação: risco e oportunidade

Quais os riscos de não possuir uma

reputação forte no contexto atual? Em

meio à cobrança social cada vez maior,

fruto da capacidade de articulação e

comunicação dos diversos atores sociais,

possuir uma reputação forte significa

contar com um crédito de confiança

dos stakeholders. Ao construir um

relacionamento com bases consistentes,

a organização torna-se mais preparada

para enfrentar diferentes desafios.

Diante de uma crise ou escândalo

envolvendo a empresa, por exemplo,

os stakeholders dão-lhe o direito

de resposta antes de realizarem sua

avaliação definitiva que, a depender

da gravidade da situação, pode levar a

prejuízos irrecuperáveis e até mesmo à

extinção da empresa.

Casos históricos e recentes comprovam o

impacto negativo de crises ou escândalos,

como o acidente da petrolífera BP, as

denúncias sobre Tiger Woods, as notícias

que demonstram abalos no império de

Eike Batista, entre outros. A possibilidade

de reversão dos impactos está ligada ao

apoio e confiança dos stakeholders.

Mas como lidar com esse contexto em

que a vulnerabilidade é cada vez maior?

As empresas devem estar atentas às

possibilidades de crise e, principalmente,

prepararem-se no nível do discurso e das

ações. Algumas situações de crise nem

se tornam conhecidas pelo público geral,

isso porque algumas empresas mantêm

sistemas de monitoramento e ação

eficazes.

Também é importante refletir sobre

as diferentes naturezas dos riscos

reputacionais. Citamos alguns

exemplos ligados a falhas de operação

e também escândalos relacionados

a personalidades. Não podemos nos

esquecer dos riscos associados ao

não atendimento das expectativas

emergentes – e por isso mais uma vez

a necessidade de que as empresas

acompanhem as mudanças do ambiente.

Os bancos, por exemplo, não podem

mais se restringir à atuação puramente

financeira, pois é crescente a cobrança

em termos de transparência, retorno

para a sociedade, participação ativa no

desenvolvimento do País, compromisso

com a segurança, dentre outros

atributos.

O PAPEL

ESTRATÉGICO

DA GESTÃO

DA REPUTAÇÃO

TEM SIDO

CADA VEZ MAIS

VALORIZADO PELAS

ORGANIZAÇÕES,

DEIXANDO

DE SER UMA

REPONSABILIDADE

RESTRITA ÀS ÁREAS

DE COMUNICAÇÃO,

MARKETING E

SUSTENTABILIDADE,

PARA TORNAR-

SE UMA

REFERÊNCIA PARA

A CONDUÇÃO DO

NEGÓCIO COMO

UM TODO.

15FACULDADE AIEC 15FACULDADE AIEC

Cada vez mais os desafios estão

associados a transformar esses riscos

em oportunidades. Estudo realizado

pelo Reputation Institute com 313

líderes em reputação de empresas

de mais de 25 países mostrou que

desenvolver estratégias para mitigar

riscos é uma prioridade chave para as

organizações atualmente. O estudo

também revelou que as melhores

empresas não se limitam a lidar com

os riscos, mas buscam alavancar as

oportunidades existentes para o

crescimento de seus negócios.

Jornada da Reputação

Colocar em prática a gestão da

reputação é um processo gradual que

pode ser orientado pela Jornada da

Reputação, uma trajetória composta por

cinco estágios de desenvolvimento.

1. Compreensão do conceito de

reputação e investigação de como esse

ativo afeta os negócios.

2. Adoção de ferramentas de

mensuração e gerenciamento da

reputação, customizadas para a

realidade da empresa e que permitam

leituras do ambiente, e análise do

comportamento e demandas dos

stakeholders de forma assertiva.

ESTUDO

REALIZADO PELO

REPUTATION

INSTITUTE COM

313 LÍDERES EM

REPUTAÇÃO

DE EMPRESAS

DE MAIS DE

25 PAÍSES

MOSTROU QUE

DESENVOLVER

ESTRATÉGIAS

PARA MITIGAR

RISCOS QUE

IMPACTAM A

REPUTAÇÃO

É PRIORIDADE

PARA AS

ORGANIZAÇÕES.

3. Integração da gestão da reputação

ao plano de negócios e utilização em

conjunto com outras métricas do

negócio.

4. Implantação de um sistema

interdepartamental de gestão capaz de

envolver todas as áreas, cada qual com

as suas reponsabilidades e métricas de

avaliação.

5. Incorporação plena da gestão da

reputação ao negócio, tanto no nível

estratégico como no operacional.

O referido estudo, realizado com líderes

em reputação, também indicou que

87% das empresas estão nos estágios

de um a três da jornada, e que muitas

estão investindo na gestão da reputação

para integrar a reputação como um

direcionador dos negócios. O estudo

revelou que mais de 60% dos executivos

pesquisados percebem um alto impacto

financeiro da reputação nos seus

negócios e que a gestão da reputação

será uma prioridade estratégica em suas

empresas nos próximos dois ou três

anos.

Tal contexto convida as organizações a

refletir sobre as suas práticas de gestão

da reputação. Em que momento está

atualmente? Aonde pretende chegar?

Ana Luísa de Castro Almeida

Diretora Executiva do Reputation

Institute Brasil. Professora na PUC

Minas e na Fundação Dom Cabral.

Doutora em Administração pela UFMG.

Mestre em Comunicação pela UFRJ.

16 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão empreendedora

Há alguns meses recebi o

honroso título de Empresário

de Design do Ano, concedido

pelo Prêmio Colunistas Paraná, um

dos principais prêmios de design e

comunicação do Brasil. Para entender

um pouco o papel desse prêmio,

resolvi tentar explicar do que é feito

um Empresário de Design do Ano. Mas

antes preciso que você entenda do que o

design é feito.

O design é uma ferramenta poderosa

e não seria exagero afirmar que tudo

está impregnado dele. Você acorda

em uma cama projetada pelo design,

levanta e caminha até seu banheiro.

Lá, se depara com um vaso sanitário

assinado por um designer. Lavará suas

mãos em uma torneira definida pelo

design. Pegará uma escova de dente e

uma embalagem de creme dental, ambas

criadas por designers. Ah! A marca que

está na embalagem tem a mão do design

também. Geladeira, café, xícara, leite,

talheres, roupas, celular, relógio, botão

do elevador (ou maçaneta da porta),

carro ou ônibus (preferencialmente

bicicleta), sinalização na rua, sua cadeira,

sua mesa de trabalho, seu computador.

Design, design, design...

Parafraseando nosso último ex-

presidente, nunca antes na história

deste país se falou tanto em design. Ele

está presente em revistas, jornais, TV

(já virou até profissão de protagonista

de novela), seminários, workshops,

feiras, debates, livros de autoajuda e,

principalmente, na gestão das empresas,

incluindo metodologias de modelagem

de novos negócios. O design passou

a ser uma estratégia fundamental em

qualquer negócio que seja desenvolvido

no planeta Terra.

Tudo isso trouxe poder ao design. E

assim como eu acredito no poder do

design, me atreveria a dizer que um

Empresário de Design do Ano é feito

de uma série de capacidades, incluindo

alguns poderes. Sim, poderes.

O poder de transcender

Temos que utilizar o poder de

transcender diariamente. Basta

incluir, por exemplo, dentro de um

contrato social a atividade do design, e

automaticamente você está habilitado a

deixar cerca de 1/5 do seu faturamento

para o governo, seu grande sócio.

A PRESENÇA DO

DESIGN HOJE EM

TODAS AS ESFERAS

DE NOSSA VIDA

TRAZ NOVAS

POSSIBILIDADES À

ÁREA E TAMBÉM

RESPONSABILIDADES

E DESAFIOS AOS

EMPRESÁRIOS DE

DESIGN.

Tulio Filho

17FACULDADE AIEC

Há ainda a questão da regulamentação

da profissão. Design ainda não existe

legalmente como profissão no Brasil,

apesar da presença de escolas de Design

desde o início da década de 60. Isso faz

com que não tenhamos um Conselho

de Design e, por conta disso, alguns

“profissionais” desenvolvem suas

práticas sem a obediência à moral, e até

mesmo à ética. E não podemos fazer

nada contra, a não ser continuar em

frente.

O poder de planejar

Um Empresário de Design do Ano é

feito também do poder de planejar. A

técnica é algo que você adquire através

da formação e vai aprimorando com a

experiência. Porém, as instituições de

ensino não apostam na possibilidade

de você se tornar um empreendedor.

A formação do designer é baseada

no desenvolvimento de projetos e,

portanto, apresenta uma tendência ao

projetual em detrimento do gerencial.

Resumindo, somos ensinados a ser

“peão”. Isso faz com que boa parte dos

profissionais do design que se atrevem a

colocar seus pés no mundo empresarial

tenha imensa dificuldade. Muitos

acabam optando por tornarem-se

colaboradores em escritórios de design,

agências de publicidade ou setores de

produto em indústrias.

O mundo mudou. As relações, pessoas,

negócios e economias mudaram. Mas as

instituições de ensino de design ainda

se baseiam em modelos e metodologias

da década de 20, originadas da escola

Bauhaus. Os empresários do design são,

na verdade, aventureiros, porque lhes

falta planejamento.

Abri minha empresa como “bom

brasileiro”, sem um plano de negócios,

sem metas, apenas com a cara e a

coragem, porque detinha a técnica

e tinha um bem que acreditava ser

suficiente: a criatividade. Não me

orgulho disso. Faltava-me a capacidade

gerencial. Fui para a luta, apanhei muito

(muito mais do que bati). Hoje, além de

diretor da Blu Design e Comunicação,

sou presidente da ProDesign>pr –

Associação das Empresas e Profissionais

de Design do Paraná, onde tento

justamente passar minhas vivências

para que outros profissionais possam

encontrar caminhos menos tortuosos

que os que eu encontrei. Caminhos que

demonstraram para mim a importância

do planejamento que hoje levo a tiracolo.

O poder de observar

Boa parte da atividade do designer é

decorrente da observação. Basicamente,

o que fazemos é entender, através

da observação, o comportamento

do ser humano, e buscar inovação

e experiências positivas. Quando

pensamos em observação, nos vem à

mente apenas a visão, mas observamos

também com os ouvidos.

VOCÊ APRENDE

A TÉCNICA NA

ESCOLA E VAI

APRIMORANDO

COM A

EXPERIÊNCIA. AS

INSTITUIÇÕES DE

ENSINO, PORÉM,

NÃO APOSTAM

NA POSSIBILIDADE

DE VOCÊ SE

TORNAR UM

EMPREENDEDOR.

SOMOS ENSINADOS

A SER ‘PEÃO’,

DAÍ A IMENSA

DIFICULDADE DE

QUEM SE ATREVE

A COLOCAR OS

PÉS NO MUNDO

EMPRESARIAL.

18 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Ouvir é uma capacidade fundamental a

qualquer empresário. Sem ouvir, é difícil

fazer.

O poder de acreditar

Acreditar nas pessoas, com seus

potenciais e fraquezas, é uma aptidão

poderosa. Durante muito tempo, e esta

é uma característica forte nos designers,

me considerava onipotente. Acreditava

que não precisava de auxílio. Depois de

apanhar várias vezes, comecei a pedir

ajuda. Assim como me contratavam,

passei a perceber a importância de

contratar consultores, assessores para

aquilo que eu não tinha habilidade para

fazer.

É fundamental também acreditar na sua

equipe. Estar à frente de uma empresa

de design e comunicação é fazer com a

mão dos outros. É acreditar no potencial

de cada colaborador, em suas técnicas,

em suas ideias. Acreditar que eles podem

fazer o melhor trabalho. E isso tem

relação direta com outro poder.

O poder de inspirar

As pessoas necessitam de norte

para suas ações. Se você consegue

estabelecer um ambiente agradável,

propício à criatividade, à coesão, e

consegue inspirar as pessoas, colherá

bons resultados. Na minha empresa,

conseguimos quebrar um paradigma do

segmento de design e comunicação. O

setor sempre foi caracterizado pelo alto

turnover.

E nós, através do espírito, da alma e

da visão que imprimimos ao negócio,

conseguimos estabelecer um dos

menores turnovers do setor em nossa

região. A geração Y veio e nos trouxe

algumas dificuldades, mas hoje acredito

que já conseguimos também entender

o que desejam, e, principalmente, o que

os inspira.

A inspiração também é necessária aos

clientes. Eles precisam ser inspirados

a inovar, a não serem apenas líderes

em faturamento ou volume de vendas,

mas também líderes em ideias. Não é

uma tarefa fácil, mas é gratificante. A

construção de marcas passa por inspirar

os clientes a inspirar seus consumidores,

para que estes defendam as marcas e

produtos como verdadeiros advogados.

Acredito, ainda, que um empresário do

ano precisa inspirar o mercado. Não

posso pensar que tenho apenas uma

empresa. Tenho um percentual do

mercado e preciso trabalhá-lo para que

eu possa crescer junto. Sempre tive claro

na mente a necessidade de fortalecer

o mercado, de virar a chave que faz

com que o design deixe de ser custo

para tornar-se investimento. Isso me

levou à frente de uma associação. E esse

ativismo é corresponsável por parte do

prêmio que recebi.

Minha empresa tem conseguido

excelentes resultados e posso dizer

que essa tarefa é mais simples do que

garantir resultados para o mercado.

É FUNDAMENTAL

ACREDITAR NA

SUA EQUIPE. ESTAR

À FRENTE DE

UMA EMPRESA

DE DESIGN E

COMUNICAÇÃO

É FAZER COM A

MÃO DOS OUTROS.

É ACREDITAR

NO POTENCIAL

DE CADA

COLABORADOR, EM

SUAS TÉCNICAS,

EM SUAS IDEIAS.

ACREDITAR QUE

ELES PODEM

FAZER O MELHOR

TRABALHO.

19FACULDADE AIEC

Felizmente, meu trabalho como ativista

também vem gerando frutos. Muitas

vezes esses frutos são indagações,

questionamentos, debates, que geram

novos pensamentos e que possibilitam

que mais pessoas percebam que algo

precisa ser feito. Não basta apenas

trabalhar. É necessário trabalhar

de maneira correta, dentro de boas

práticas.

Porfim,opoderdeconectar

Tenho a certeza de que esse poder vem

sendo fundamental para o crescimento

da minha empresa. Essa potência faz

com que, muitas vezes, eu trabalhe

por nada em um primeiro momento,

buscando apenas a conexão de pessoas

e ideias. Em determinado momento,

porém, isso passa a trazer frutos.

Os relacionamentos são formados por

conexões e não há empresário do ano,

do design ou de qualquer setor, sem o

estabelecimento de relações profundas,

duradouras, corretas, morais. É preciso

juntar profissionais e fornecedores

em prol de uma ideia. E viabilizar essa

ideia. As pessoas podem pensar que

um designer vive apenas de criar ideias.

Vive, sim, de criar ideias de valor, mas

principalmente de executá-las com

sucesso. E, sem o poder de conexão, não

há como realizar essa implementação.

O EMPRESÁRIO

DE DESIGN DO

ANO TEM QUE

TRABALHAR

MUITO! NÃO

HÁ EMPRESÁRIO

DO ANO SEM

TRANSPIRAÇÃO, SEM

DEDICAÇÃO, SEM

PERSEVERANÇA,

SEM NOITES MAL

DORMIDAS, SEM

DIAS PESADOS E,

PRINCIPALMENTE,

SEM OTIMISMO.

Para isso, é necessário trabalhar a

insegurança. Aquele frio na barriga

quando não sabemos se uma proposta

será aceita, se o material será aprovado

pelo cliente, se uma estratégia definida

por você será bem sucedida, se você terá

caixa para honrar seus compromissos ao

final do mês. Todos esses medos fazem

parte da vida do empresário. Você vive

com eles, mas não pode viver por eles.

Maisumpouquinho

Para terminar, acredito que o

Empresário de Design do Ano é feito de

duas atitudes. A primeira é a “ralação”.

Tem que trabalhar muito! Não há

empresário do ano, sem transpiração,

sem noites mal dormidas, sem dias

pesados. Não há empresário do ano

sem dedicação, sem perseverança e,

principalmente, sem otimismo. Esta é

a segunda atitude que possui relação

direta com o acreditar, com o conectar,

com o transcender: ser otimista.

Como dá para ver, um Empresário de

Design do Ano é feito de várias coisas.

É feito de inovação, de transgressão, de

decisão. De referências, divergências,

vivências. De negócios, contatos

e contratos. No meu caso, é feito

de rock’n’roll. E de briefings, de

brainstormings e de inúmeros termos

em inglês.

Acima de tudo, é feito de gente.

Tulio Filho

Diretor de Planejamento e Atendimento

da Blu Design e Comunicação.

Presidente da ProDesign>pr

- Associação das Empresas e

Profissionais de Design do Paraná.

Delegado da Região Sul do Colegiado

de Design no Conselho Nacional de

Políticas Culturais – MinC. Designer

Gráfico e Bacharel em Administração

pela Faculdade AIEC.

20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

EMPRESAS DEVEM

INVESTIR ENERGIA,

RECURSOS E TEMPO

PARA TRANSFORMAR

PESSOAS

COMPETENTES EM

PROFISSIONAIS DE

EXCELÊNCIA, EM

VEZ DE FOCAR NAS

COMPETÊNCIAS QUE

OS FUNCIONÁRIOS NÃO

POSSUEM.

MariaSaleteCavalcantiSúsie Helena Ribeiro

Gestão de pessoas

“Eu não procuro. Eu encontro.”

Picasso

A identificação e

desenvolvimento das

competências pessoais e

organizacionais são hoje considerados

estratégicos para a gestão das

empresas. A partir da perspectiva da

gestão empresarial, competência é

uma generalização, uma descrição de

comportamentos, conhecimentos e

desempenhos, que é tomada como

ponto de referência à atuação da pessoa

ou da empresa em função dos objetivos

empresariais.

Várias organizações brasileiras

adotam alguma forma de Gestão por

Competência. Essa sistemática produz

um inventário das competências

que precisam ser desenvolvidas nas

pessoas. Um dos objetivos é trabalhar

as lacunas identificadas (gaps), visando

entregar à organização as competências

demandadas para fazer acontecer a

estratégia, realizar a visão de futuro e

cumprir a missão da empresa.

No entanto, ao se deparar com o universo

de competências a desenvolver, os

gestores se sentem impotentes diante

da demanda de colocar a pessoa certa

no lugar certo, e com dificuldade

para oferecer aos empregados as

capacitações diagnosticadas e motivá-

los a alcançar um nível adequado nas

competências requeridas. Uma possível

razão para essa dificuldade pode estar na

forma como se coloca em evidência o gap

de competência, cuja reversão, quando

possível, é onerosa para a empresa e para

o empregado.

Ideia arraigada

Poucas pessoas conseguem explicitar

seus comportamentos e desempenhos

e definir com clareza a maneira como

conseguem “fazer as coisas”. Sabemos,

também, que a forma como uma

pessoa se comporta ou desempenha

alguma atividade pode ser ligeiramente

modificada, mas é difícil que seja

completamente mudada.

21FACULDADE AIEC

O ser humano realiza algo no mundo a

partir dos atributos que possui, porque

não há como realizar algo por meio de

capacidades e competências que não

estejam instaladas ou disponíveis. Peter

Drucker afirma que a performance de

uma pessoa é única. É uma questão de

personalidade. E a personalidade, seja

ela inata ou construída, certamente é

formada muito antes de a pessoa entrar

para o mundo do trabalho.

Se as pessoas alcançam resultados

fazendo algo a partir de suas

potencialidades e das competências que

possuem, por que é tão arraigada a ideia

de que uma das chaves para o sucesso

de uma pessoa é justamente trabalhar

as competências que não possui, os seus

“pontos a desenvolver”?

Caso exemplar

Geralmente, como gestores, quando nos

propomos a apoiar o desenvolvimento

de alguém, utilizamos a estratégia

de feedback: indicamos os seus

pontos fortes, e, necessariamente,

complementamos o diálogo apontando

o que lhe falta desenvolver, seus pontos

fracos, certos de que o foco neste

segundo ponto do feedback é que ajudará

o colaborador em seu crescimento e

desenvolvimento.

Um exemplo pode ilustrar bem essa

situação. Em determinado ciclo da

avaliação formal de desempenho

na empresa, a gerente convidou a

colaboradora para o momento de

feedback. Discorreu sobre várias

qualidades, competências e atributos

identificados na atuação e no

comportamento da colaboradora.

Ofereceu exemplos concretos e

descreveu os comportamentos

aderentes à estratégia da empresa.

Ao final do diálogo, e quase que por

solicitação da colaboradora, a gerente

citou um ponto a desenvolver em seu

desempenho, comentando que talvez

nem fosse tão relevante.

O leitor deve estar pensando: “a

colaboradora concentrou a atenção nos

pontos fortes citados pela gestora e, a

partir deles, pôde compreender quais

comportamentos estavam aderentes aos

objetivos da equipe e da unidade”. Não

foi exatamente esse o resultado...

A colaboradora, como a maioria das

pessoas em situação semelhante,

concentrou-se exclusivamente no

que precisaria ser feito para superar

o ponto a desenvolver. Seu Plano de

Desenvolvimento Individual (PDI)

considerou irrelevantes as competências

avaliadas como adequadas e incluiu

diversas iniciativas para “superar o gap”

apresentado, apesar de, sob qualquer

análise, ser mais efetivo investir na

melhoria contínua das competências

que já demonstrara, do que tentar

desenvolver um novo comportamento.

Foco no problema

É muito presente em nossa cultura

a predisposição para olhar mais o

problema do que a solução. Além de focar

mais no que nos falta do que naquilo

que já possuímos, desfocamos quando

buscamos a solução. Soluções simples

muitas vezes dão conta de problemas

complexos, mas não é essa exatamente

nossa estratégia.

SE AS PESSOAS

ALCANÇAM

RESULTADOS

FAZENDO ALGO A

PARTIR DE SUAS

POTENCIALIDADES

E COMPETÊNCIAS,

POR QUE É TÃO

ARRAIGADA A

IDEIA DE QUE

UMA DAS CHAVES

PARA O SUCESSO

PROFISSIONAL

É JUSTAMENTE

TRABALHAR AS

COMPETÊNCIAS

QUE A PESSOA

NÃO POSSUI, OU

SEUS PONTOS A

DESENVOLVER?

22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Percebe-se, também, uma valorização

maior da força do negativo em relação à

do positivo que interfere na forma como

vemos o mundo e compreendemos o

nosso “ser-no-mundo”. Essa assimetria

parece constituir-se como um elemento

estruturante das nossas relações sociais,

mas não precisa ser a regra geral.

Uma prática interessante que se baseia

no reforço dos pontos fortes pode ser

observada em algumas instituições

de ensino, algumas delas brasileiras.

Nessas escolas, a diretriz é oferecer

aulas de aperfeiçoamento (reforço)

nas disciplinas em que o estudante se

destaca. Se o aluno apresenta facilidades

e potencialidades em matemática,

receberá reforço em matemática; se o

melhor desempenho é em biologia, o

reforço será nos conteúdos de biologia

e assim por diante. O aperfeiçoamento

da habilidade e conhecimento se

dá na disciplina em que o estudante

demonstra facilidades, afinidades ou

motivação, a fim de que isto contribua

para que ele conquiste níveis de

excelência naquele conteúdo ou área.

Em contraponto, temos a prática

tradicional das escolas de oferecer

aperfeiçoamento ou reforço nas

disciplinas em que o estudante

apresenta baixo desempenho.

É um caminho que encontra mais

dificuldades em promover resultados

de excelência, pois coloca em evidência

a área das dificuldades da pessoa. Essa

prática tende a levar o estudante a

um desempenho mediano ou a criar

resistências de aprendizagem naquela

matéria, ou seja: dificuldades em

matemática, reforço em matemática.

Resultado: desempenho mediano em

matemática ao longo da vida ou ojeriza

à matemática.

Em busca da excelência

O comportamento que privilegia o

olhar sobre o que falta no indivíduo de

certa forma abdica da oportunidade

de ver a potência da pessoa e isso pode

acontecer também nas empresas.

Nos processos de avaliação, é comum

identificar as lacunas e as fraquezas

e investir nesses pontos. Assim,

as organizações empregam mais

tempo para tratar o que falta em seus

colaboradores do que para fortalecer

competências já desenvolvidas,

visando atingir desempenho de

excelência.

Peter Drucker alerta que é preciso

muito mais investimento para sair da

incompetência para o desempenho

mediano do que para sair de um

desempenho de primeira linha para a

excelência. Ou seja, energia, recursos

e tempo deveriam ser investidos para

transformar pessoas competentes em

profissionais de excelência.

NOS

PROCESSOS

DE AVALIAÇÃO,

É COMUM

IDENTIFICAR AS

FRAQUEZAS E

INVESTIR NESSES

PONTOS. ASSIM,

AS ORGANIZAÇÕES

EMPREGAM MAIS

TEMPO PARA

TRATAR O QUE

FALTA EM SEUS

COLABORADORES

DO QUE PARA

FORTALECER

COMPETÊNCIAS JÁ

DESENVOLVIDAS,

VISANDO ATINGIR

DESEMPENHO DE

EXCELÊNCIA.

23FACULDADE AIEC

O foco em pontos fortes não significa

ignorar que há áreas em que precisamos

nos desenvolver, nem dizer “ignore

os seus pontos a desenvolver”, e sim,

se concentrar em seus pontos fortes

e encontrar meios de administrar

qualquer fator que se interponha

no caminho da excelência do seu

desempenho. Ao conhecer e valorizar

suas forças, as pessoas tornam-se mais

capacitadas para lidar com os desafios e

eventos difíceis.

Essa é uma atitude transformadora,

pois, ao colocar a luz sobre os

comportamentos, atributos e potenciais

que a pessoa tem ou demonstra ter,

colaboramos para potencializar a sua

capacidade de realização.

Por onde começar

O desenvolvimento da avaliação de

competências e a adoção de feedback

com foco nos pontos fortes poderiam

potencializar todo o processo da gestão

por competências (identificação,

mapeamento, avaliação e capacitação),

assim como os resultados do processo

de seleção, com impactos positivos

tanto para a organização como para o

empregado:

Fazemos essas reflexões no escopo

da temática da Gestão Estratégica e

Gestão de Competências. Mas essa

perspectiva poderia alcançar outros

campos e relações. Podemos testá-las

em nós mesmos: será que nos damos

conta dos nossos pontos fortes? Será

que podemos enxergar e orientar

à excelência os pontos positivos de

nossos filhos, colegas e da nossa

comunidade? É possível? Bem, já temos

por onde começar.

NÃO SE TRATA DE

IGNORAR AS ÁREAS

EM QUE PRECISAMOS

NOS DESENVOLVER.

O FOCO EM PONTOS

FORTES NOS PERMITE

CONCENTRAR EM

NOSSAS QUALIDADES

E POTENCIALIZAR

NOSSA CAPACIDADE

PARA LIDAR COM OS

DESAFIOS E EVENTOS

DIFÍCEIS.

BENEFÍCIOS PARA A ORGANIZAÇÃO

Aproveitamento do potencial dos empregados.

Contribuição para um Clima Organizacional favorável ao desenvolvimento das pessoas. Reconhecimento da variável de crescimento do seu pessoal.

Planejamento da capacitação focada no potencial de desenvolvimento dos seus colaboradores.

MariaSaleteCavalcanti

Diretora de Gestão Corporativa da FINEP

- Financiadora de Estudos e Projetos.

Bacharel em Direito e Pós-graduada em

Gestão da Qualidade e Produtividade.

Súsie Helena Ribeiro

Superintendente Nacional de

Remuneração, Benefícios e

Relacionamento com o Empregado da

Caixa Econômica Federal. Doutora em

Teologia, Mestre em Linguística Aplicada e

Bacharel em Tradução e Interpretação.

BENEFÍCIOSPARAOEMPREGADO

Conhecimento dos pontos fortes para buscar caminhos para a excelência.

Fortalecimento das competências que agreguem valor profissional e reconhecimento.

Reconhecimento dos Pontos Fortes que são o maior potencial de crescimento do empregado.

Planejamento do autodesenvolvimento, visando fortalecer e/ou aperfeiçoar competências.

24 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão de clube de futebol

Muito se tem falado

ultimamente sobre a

profissionalização do

futebol. Enquanto muitos confundem

profissionalização com apenas

remunerar os gestores dos clubes,

outros tantos se perguntam o que

realmente vem a ser uma gestão

profissional nos clubes de futebol,

principalmente em nosso país. Antes

de definir com precisão o que significa

a profissionalização no futebol, é

necessário que os clubes estejam

realmente decididos a adotar um

sistema que permita a transição para

esse tão falado modelo de gestão.

Quebrar um paradigma

São muitas as ferramentas de gestão que

podem ser implantadas em um clube de

futebol, e muitos são os itens de controle

que facilitam a administração nos clubes.

A mais importante e difícil de todas as

decisões, porém, é a de querer quebrar

um paradigma. Nossos clubes de futebol

são centenários e, durante quase todo

o século de vida, viveram da decisão dos

dirigentes denominados de “cartolas”.

Passar a ser dirigido por administradores

profissionais e remunerados é algo

que requer um período de adaptação e

transição.

PLANEJAMENTO,

PREVISÃO

ORÇAMENTÁRIA,

ESTABELECIMENTO DE

OBJETIVOS E METAS, E

OUTRAS FERRAMENTAS

DA ADMINISTRAÇÃO

DE EMPRESAS SÃO

APLICADAS COM

SUCESSO NA GESTÃO

DE GRANDES CLUBES

DE FUTEBOL.

Rodrigo Caetano

25FACULDADE AIEC

Mas, como diz o velho ditado: “na vida

nada se cria, tudo se copia”. Portanto,

os modelos europeus de sucesso

podem, devidamente adaptados a

nossa realidade, serem seguidos aqui

no Brasil. Estabelecer metas e objetivos

a partir de uma previsão orçamentária,

assim como faz qualquer empresa de

outra área do mercado, é um princípio

básico de uma boa administração. Para a

nossa realidade, um bom planejamento

e execução aumentam a probabilidade

de se alcançarem as vitórias e os títulos.

Sem um planejamento adequado ou bem

executado, certamente o insucesso será

só uma questão de tempo.

Colhendo resultados

A remuneração de profissionais que

trabalham no futebol possibilita uma

cobrança maior ainda em cima das

metas estabelecidas pela alta cúpula

dos clubes, entenda-se Presidência e/ou

Conselho de Administração, de acordo

com o estatuto de cada clube. Essa

profissionalização não deve se restringir

somente ao Departamento de Futebol.

Devido ao grande aumento das receitas

nos últimos anos, sejam de ações de

marketing, planos de sócios ou mesmo

da venda de atletas, os nossos grandes

clubes se tornaram superavitários.

Uma gestão profissional também nos

outros departamentos, principalmente

para gerir o grande passivo acumulado

nas últimas décadas, certamente

viabilizaria a administração de nossos

clubes e possibilitaria um horizonte

muito mais promissor para os próximos

anos. Muitos clubes que despertaram

antes para esse novo modelo de

gestão já estão colhendo os resultados

dessa mudança, tornando-se assim,

invariavelmente, líderes desse mercado,

tanto dentro como fora de campo.

Organização e método

Administração no esporte de alto

rendimento é uma área muito específica,

resultado da adaptação das ferramentas

que a ciência da Administração nos

ensina. Foi por meio dessa adaptação

que venho construindo um método

bastante próprio de gestão, com

sustentação na formação acadêmica

em Administração de Empresas e na

especialização em Gestão Empresarial.

Trabalho no Departamento de Futebol

de um grande clube do nosso país,

com muitos outros profissionais que

são facilitadores para que o executivo

possa tomar as decisões. Essa estrutura

organizacional, necessária hoje nos

nossos grandes clubes, também viabiliza

a formação de novos gestores e aumenta

a absorção de profissionais nesse ramo

bastante específico.

FERRAMENTAS

DE GESTÃO PODEM

SER IMPLANTADAS

NOS CLUBES. O

DIFÍCIL É QUEBRAR

UM PARADIGMA.

NOSSOS CLUBES

DE FUTEBOL

SEMPRE FORAM

CONDUZIDOS

POR “CARTOLAS”.

PASSAR A SER

DIRIGIDO POR

ADMINISTRADORES

PROFISSIONAIS E

REMUNERADOS É

ALGO QUE REQUER

UM PERÍODO DE

ADAPTAÇÃO E

TRANSIÇÃO.

26 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Nosso trabalho consiste em introduzir

ou aperfeiçoar métodos que promovam

procedimentos mínimos de gestão,

mesmo porque, no futebol brasileiro, se

valoriza muito o improviso, confundido

muitas vezes com talento. O talento

continua sendo o diferencial, porém

a organização e o método de trabalho

potencializam essa virtude.

Com o direito de ir e vir adquirido após

a instituição da Lei Pelé, os atletas

de ponta passaram a identificar os

clubes que caminham no sentido da

profissionalização e da organização.

No mercado de trabalho, o bom

funcionário, quando é disputado

pelas empresas, escolhe aquela que

lhe oferece mais oportunidades e que

demonstra ser mais bem administrada.

Assim também pensam os bons

profissionais do futebol. Com isso,

além da remuneração, os clubes hoje

necessitam oferecer boa infraestrutura

física e humana para que esses atletas

passem a optar pelo melhor projeto em

um clube modernizado e com visão de

futuro, possibilitando assim a melhor

eficácia em campo e viabilizando os

resultados esperados.

Gestão para resultados

Muitas foram as realizações nos dez anos

de profissão como Executivo de Futebol.

Devo destacar, porém, a participação na

construção do Plano de Ação para todas

as Categorias de Base do Grêmio Football

Porto Alegrense, nos anos de 2005 e

2007, o que viabilizou a formação de

jovens talentos como Lucas Leiva, Carlos

Eduardo, Anderson, Cássio, entre outros.

Isso só foi possível graças ao apoio de

toda a diretoria estatutária, que aprovou

o projeto e viabilizou recursos para a

construção do Centro de Treinamento

de Eldorado do Sul. Vários desses atletas

formados no CT da Base participaram de

forma efetiva na equipe Vice-Campeã da

Copa Libertadores de 2007 e do Vice-

Campeonato Brasileiro de 2008.

Já no Vasco, em 2009, foi realizado um

projeto de reconstrução da equipe para

a disputa da série B, quando buscamos

um resgate da autoestima do torcedor

vascaíno no País todo. Foi realizado um

projeto de remontagem do elenco, que

resultou no título daquele ano e culminou

com o título da Copa do Brasil de 2011.

No Fluminense, o trabalho realizado foi

justamente o contrário. Mantivemos o

elenco principal, com redução dos custos

e otimização dos recursos aplicados

na montagem do elenco. O número

de atletas baixou de 40 em janeiro de

2012 para 32 atualmente, sem perder a

competitividade. Desse grupo atual, 50%

são formados no Centro de Treinamento

da Base em Xerém e os outros 50%,

contratados.

NO MERCADO

DE TRABALHO,

O BOM

PROFISSIONAL

ESCOLHE

A EMPRESA

QUE LHE

OFERECE MAIS

OPORTUNIDADES

E QUE

DEMONSTRA

SER BEM

ADMINISTRADA.

COM O DIREITO

DE IR E VIR

ADQUIRIDO COM

A LEI PELÉ, OS

ATLETAS DE

PONTA PASSARAM

A VALORIZAR

OS CLUBES

COM GESTÃO

PROFISSIONAL

E BEM

ORGANIZADOS.

elenco principal, com redução dos custos

e otimização dos recursos aplicados

na montagem do elenco. O número

de atletas baixou de 40 em janeiro de

2012 para 32 atualmente, sem perder a

competitividade. Desse grupo atual, 50%

são formados no Centro de Treinamento

da Base em Xerém e os outros 50%,

contratados.

27FACULDADE AIEC

Essa redução se deu graças a um

trabalho integrado com as divisões de

base e com a formação de uma excelente

equipe, também fora de campo.

Com isso, conseguiu-se uma harmonia

melhor, com a quase totalidade do

elenco atual tendo parte de sua imagem

vinculada ao patrocinador. A equipe

continuou competitiva, vencendo o

campeonato Carioca e o Brasileiro de

2012. Além disso, foram realizadas

diversas melhorias na infraestrutura

física do clube com a reforma dos

vestiários, sala de musculação e gramado

do campo de Laranjeiras.

Os processos e controles no Fluminense

avançaram com muita velocidade,

preparando o clube para trilhar um

caminho pavimentado de prosperidade

nos próximos anos.

Capacitação e competência

Como associados e torcedores, temos

que exigir, cada vez mais, que os

clubes sejam geridos por executivos

competentes, com formação e

experiência na área. A demanda por

esses profissionais, de fato, está

aumentando a cada dia.

NA GESTÃO,

DIFERENTEMENTE DO

CAMPO DE FUTEBOL,

O IMPROVISO NÃO

DEVE SER EXALTADO,

SOB PENA DE

COMPROMETER

OS OBJETIVOS

DO CLUBE. E

IGUALMENTE AOS

JOGADORES, NÓS,

ADMINISTRADORES,

NÃO PODEMOS

APENAS PREENCHER

VAGAS. É PRECISO

COMPETÊNCIA.

Rodrigo Caetano

Diretor Executivo de Futebol do

Fluminense Football Club. Graduado

em Administração de Empresas e Pós-

Graduado em Gestão Empresarial.

Para que os gestores profissionais dos

clubes brasileiros possam realmente

contribuir com toda essa modernização

do futebol, é fundamental que busquem

capacitação.

Fui atleta durante 23 anos, em 13

dos quais atuei como profissional de

futebol, jogando no meio de campo.

Tive oportunidade de jogar em

vários clubes, inclusive no Grêmio.

Essa experiência me ensinou que, na

gestão, diferentemente do campo de

futebol, o improviso jamais deve ser

exaltado, sob pena de comprometer

fortemente os objetivos do clube. E

igualmente aos jogadores de futebol,

nós, administradores, não podemos

apenas preencher vagas. É preciso ter

competência como em qualquer outra

atividade.

O nosso desafio nesta década é atender

a demanda de consumo do esporte

mais praticado em nosso país, que está

cada vez mais acelerada, por meio de

uma gestão profissional e especializada.

Espero que os profissionais de

administração estejam se capacitando

na mesma velocidade com que esse

novo cenário se aproxima. Foto

: Bru

no H

adad

d

28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão de vendas

Lembro-me daquele final de

expediente em um sábado de

2003. Em minha cidade, Teresina,

no Piauí, jamais poderia imaginar a

cena que vi. Uma camionete D-20 velha

parou em frente à loja de venda de

veículos de luxo onde eu trabalhava.

Desceu uma figura raquítica, sem

calçado nos pés, vestindo uma camiseta

dessas de propaganda de político.

Quando o sujeito, com cara de pedinte,

adentrou, pude observar o desdém dos

vendedores mais experientes.

Movido por minha curiosidade

característica, coloquei-me de pronto

a atendê-lo e me dispus a responder

a todas as suas dúvidas sobre nossos

veículos. Acabei, na verdade, exercitando

meus conhecimentos, pois o cliente já

havia feito muito bem seu “dever de

casa”, munindo-se de informações não

só sobre os produtos que oferecíamos,

mas sobre todo o segmento automotivo.

Mudançanafilosofiadecompra

Vivíamos os primeiros anos do século

XXI. Ao analisar o mercado da época,

posso enumerar vários produtos

que já sinalizavam as mudanças que

estavam por vir. Celulares já eram

cada vez menores, mais tecnológicos

e, principalmente, personalizáveis. Os

novos automóveis já se preocupavam

se o principal usuário era um homem ou

uma mulher, se a porta era leve, se havia

porta-objetos e espelhos suficientes. Ao

andar nas ruas, víamos o que seriam os

primeiros passos do uso da tecnologia

como um fator diferencial de um

produto, passando a oferecer melhorias

práticas no dia a dia do usuário.

É certo que seria difícil, naquele

momento, imaginar que rumo esse

mercado tomaria. O que eu podia

observar, a partir de situações do

cotidiano, era uma mudança na filosofia

de compra. Olhando para o mercado de

carros de alto luxo na minha cidade, em

2005, podíamos contar com os dedos

de uma mão quantas Mercedes, BMW e

Audi havia.

MERCADO DE CARROS

DE LUXO DEPENDE

DE VENDEDOR

QUALIFICADO

PARA OFERECER

ATENDIMENTO

PERSONALIZADO,

TRATAMENTO

DIFERENCIADO

E ATENÇÃO ÀS

EXPECTATIVAS E

ANSEIOS DE CADA

CLIENTE.

Roberto Abreu

29FACULDADE AIEC

Não era difícil saber quem

provavelmente seriam seus

proprietários, o que faziam e onde

porventura poderíamos admirar essas

maravilhosas máquinas em uma noite

de sábado. Afinal, era um “clube” bem

restrito.

Para o mercado de carros de luxo

dos “mortais”, por sua vez, tínhamos

que nos contentar com produtos que

ofereceriam o básico em bancos em

couro e itens de segurança como air

bag duplo e ABS. Olhando para nossos

consumidores, porém, víamos um

público ávido por novidades em design,

tecnologia e, principalmente, em

busca de um produto que anunciasse

o esforço realizado para adquiri-lo

e sugerisse o montante de dinheiro

investido. Segmentar o tratamento foi

o grande diferencial. Eu notava que o

cliente deixava de comprar uma marca

de luxo, muitas vezes não pelo preço,

mas pela falta de um profissional que lhe

transmitisse segurança, que estivesse

pronto a sutilmente identificar suas

necessidades, seus anseios e, mais que

isso, pacientemente o orientasse da

melhor forma, deixando-o à vontade

para questionamentos.

Maisqueummeiodetransporte

De acordo com pesquisas de mercado,

valores como casa própria, carro,

educação, saúde e lazer estão presentes

como primordiais em grande parte dos

sonhos dos brasileiros. Não trabalhando

a ordem desses fatores, mas o peso em

decisões estratégicas, posso levá-lo,

leitor, às seguintes questões: você

contrataria um advogado para uma

causa milionária se esse profissional

fosse proprietário de um básico carro

velho com pintura desbotada? Será

que você não pensaria duas vezes

antes de confiar sua vida ao médico

que estacionou um carro igual ao do

jardineiro?

Moralmente você pode até não achar

correto, mas vivo isso no dia a dia e digo

que várias pessoas com as quais fecho

negócio, ao comprar um carro, querem

mais do que um meio de transporte.

Buscam algo que lhes permita desfrutar

de seu merecido sucesso pessoal, que

proporcione conforto e segurança à

família e mostre à sociedade que eles

fazem parte de uma nova economia,

de forma atuante, participativa e com

grande capacidade de consumo.

OLHANDO

PARA O MERCADO

DE CARROS DE

ALTO LUXO EM

TERESINA, EM

2005, PODÍAMOS

CONTAR COM OS

DEDOS DE UMA

MÃO QUANTAS

MERCEDES, BMW

E AUDI HAVIA.

NÃO ERA DIFÍCIL

SABER QUEM

PROVAVELMENTE

SERIAM SEUS

PROPRIETÁRIOS,

O QUE FAZIAM

E ONDE

PODERÍAMOS

ADMIRÁ-LAS EM

UMA NOITE DE

SÁBADO.

30 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Pequenos sinais

A venda é um desafio constante e,

com metas mensais, o tempo é maior

inimigo até do que nossos concorrentes.

Ser assertivo e/ou habilidoso em

transformar o atendimento em venda

garantida me levou, durante muito

tempo, a investir na arte da observação.

Fazer uso da rede de relacionamento

ajuda bastante, mas olhar para os

pequenos sinais é um trunfo e um

diferencial na venda. Isso significa não

olhar somente para o terno do cidadão

que chega para falar com seu gerente,

ou para o carro que estacionou em

frente à concessionária. O desafio está

em identificar os menores sinais: a

senhora que, para o padrão da moda,

não veste “roupa de marca”, mas deixa à

mostra uma pontinha do cordão de ouro

caríssimo que traz envolto ao pescoço;

ou o senhor com cara de aposentado

do INSS que chega de táxi, mas traz um

Rolex no pulso; ou o jovem de chinelos

com um capacete Valentino.

Essas informações nos ajudam a

proporcionar ao cliente uma experiência

inimaginável, pois será tratado como

um cliente único. E faz parte desse

atendimento qualificado, além da

presteza, oferecer informações

técnicas claras dos carros inovadores,

com modelos unificados aos padrões

mundiais.

E é fundamental destacar as funções

úteis que facilitam o dia a dia do

motorista e passageiros, muitas

das quais o cliente nunca imaginou

ter. Adquirir um carro desses é a

oportunidade para muitos de saírem

do anonimato e passar a fazer parte de

um outro grupo social, pagando preços

menores do que se imagina e com

formas de pagamento facilitadas.

Personalização e exclusividade

Não é um luxo automóveis com mudança

automática, sete air bags, bancos em

couro, controle de tração e estabilidade,

comandos no volante com a própria

voz? O fato é que, como consultor de

carros de luxo, temos duas opções:

oferecer todos esses opcionais em um

carro com valor abaixo de 60 mil reais,

para um perfil comumente retratado

como cliente A, ou propor, como já

aconteceu, um veículo de 165 mil reais

para um cliente semianalfabeto, que

fornece cera de carnaúba para produção

de muitos componentes eletrônicos

que provavelmente existam no seu

computador.

O que levaria este último cliente a

comprar o mais caro se pode ter tanto

por muito menos? Eu poderia responder

com algo completamente justificável

como a necessidade do cliente por

maior espaço, agregando assim valor ao

tamanho do veículo.

ADQUIRIR

UM CARRO

DE LUXO É A

OPORTUNIDADE

PARA MUITOS

DE SAÍREM DO

ANONIMATO

E PASSAR A

FAZER PARTE

DE UM OUTRO

GRUPO SOCIAL,

PAGANDO PREÇOS

MENORES DO

QUE SE IMAGINA

E COM FORMAS

DE PAGAMENTO

FACILITADAS.

31FACULDADE AIEC

Porém, para um mercado que

trabalha com bens produzidos em

série, a resposta é mais intrigante:

a exclusividade. Antes, as marcas

tradicionalmente voltadas para grandes

volumes de vendas desenvolviam outras

marcas para atender a um público

que buscava produtos diferenciados.

Isso aconteceu com a Ford, por

exemplo, quando era proprietária da

Jaguar e da Land Rover. A globalização

mostrou que é melhor unificar em

uma só marca volume de vendas com

produtos de maior valor agregado, pois

isso demonstra a força da mesma e a

importância da pessoa que adquire o

produto.

Ao acompanhar com mais atenção a

evolução do consumidor, as marcas

constataram a sofisticação de seus

desejos e a valorização que é dada

à personalização do produto. A

resposta para conquistar o diferencial

competitivo é segmentar o público

e buscar atender o que é prioritário

para cada indivíduo, de forma a fazê-lo

perceber que, em qualquer hipótese,

temos a opção para melhor atendê-lo.

TEMOS NO

BRASIL, HOJE,

NOVOS PERFIS DE

CONSUMIDORES.

SÃO ANÔNIMOS A

SAIR DA ESCURIDÃO.

VOU AO TRABALHO

TODOS OS DIAS

LEMBRANDO

QUE, MAIS QUE

VENDEDOR,

REPRESENTO A

OPORTUNIDADE

DE VIABILIZAÇÃO

DE SONHOS DAS

PESSOAS.

Viabilizando sonhos

A diversificação dos setores que

movimentam a economia fez surgir

novos perfis de consumidores. São

anônimos a sair da escuridão. Como

profissional, vou ao trabalho todos

os dias lembrando-me que mais que

vendedor, represento a oportunidade

de viabilização de sonhos. Portanto,

tento não descuidar da educação no

tratamento dado aos clientes que

recebo e cuido sempre de me mostrar

interessadíssimo em ouvir coisas

que vão desde a história de quando o

cliente começou a empresa em uma

bicicleta até os seus anseios de hoje. E,

principalmente, sem esquecer os pés

descalços que me abriram os olhos e

me mostraram o rumo do dinheiro nos

anos seguintes. Lembra do sujeito com

cara de pedinte que chegou no final do

expediente? Comprou o carro mais caro

da loja e é meu cliente fiel até hoje.

Roberto Abreu

Consultor Customer Premium – Ford

Antares Veículos. Aluno do 7º Período de

Administração da Faculdade AIEC, Polo

de Teresina (PI).

32 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão de avaliações

O conceito de avaliações

estratégicas que estamos

propondo neste artigo

tem como premissa a constatação

histórica da pouca influência estratégica

das avaliações sobre boa parte dos

programas sociais e das políticas

públicas brasileiras. Tomamos como

base destas reflexões nossa experiência

de 15 anos com avaliação e planejamento

no campo socioambiental.

As avaliações estratégicas têm por

objetivo demonstrar, com consistência

e transparência, tanto os resultados

quanto o potencial de uma iniciativa,

reconhecendo e criticando suas falhas

e limitações. São avaliações capazes

de tornar melhor um programa social

ou política pública, recomendando sua

continuidade com ou sem ajustes, ou

mesmo de propor seu encerramento.

As quatro faces das avaliações opacas

A primeira face da baixa influência

estratégica das avaliações diz respeito

à frágil relação entre avaliação e

planejamento.

Planeja-se essencialmente com base

em vontades e inspirações, outras

vezes exclusivamente a partir das

condições materiais disponíveis,

investindo-se pouco na incorporação de

aprendizagens organizacionais e menos

ainda na análise crítica de processos

ineficazes, métodos inadequados,

recursos mal dimensionados e

resultados insuficientes. Ancorados

na crença de que “está bom do jeito

que está”, assistimos a dezenas de

organizações patinarem por conta

da escassa preocupação com custo-

efetividade e baixa capacidade

de resolver problemas e entregar

resultados.

A segunda face do problema é percebida

na distância dos processos de avaliação

dos centros nervosos da governança

organizacional onde se produzem as

estratégias.

INCORPORAR

A DIMENSÃO

ESTRATÉGICA NAS

AVALIAÇÕES É

FUNDAMENTAL

PARA QUALIFICAR

OS INVESTIMENTOS

SOCIAIS, AMPLIAR

SEUS RESULTADOS E

CONSOLIDAR SEUS

IMPACTOS.

Rogério Silva

33FACULDADE AIEC

Em função da incapacidade de

responder às perguntas desses atores,

ou para evitar diálogos francos e críticos

a respeito das responsabilidades,

interesses e competências

organizacionais, nos deparamos com

tentativas de se pasteurizarem as

avaliações, delas retirando o potencial

de explicitar diferenças e contradições.

Nessas organizações ancoradas na

crença de que é “melhor não evidenciar

questões que podem produzir desgastes

ou expor as pessoas”, percebemos

culturas organizacionais eficazes em

sublimar diferenças e dourar a pílula,

garantindo certa calmaria na política,

ainda que a um elevado custo na

qualidade de sua oferta de serviços.

A terceira face da baixa influência

estratégica das avaliações aparece nas

práticas de avaliação que atuam apenas

como controle burocrático: “o cartão

que precisa ser batido”, “o formulário

que precisa ser preenchido”, “o

indicador que precisa ser respondido”.

Assentado na crença velada de que “eles

querem, então eu faço, ainda que eu não

acredite nisso e isso não me interesse”

está o sinal de uma prática sem vida,

despejando a avaliação em um cemitério

de processos organizacionais.

Essas experiências nos revelam

quão cercados estamos por culturas

organizacionais produtoras de atos

sem utilidade, que queimam dinheiro e

subjetividades.

A quarta e última face do problema é

a maneira como muitos processos de

avaliação são desenhados para vender

a organização ou mobilizar recursos.

Camuflam-se as fragilidades e incertezas

e explicita-se o êxito, reforçando assim

o que os gestores precisam dizer e o que

os interessados querem ouvir. “Quero

que esta avaliação ajude a vender o

projeto, a conquistar parceiros” é a

crença primária a retirar o tônus crítico

de muitas avaliações, reduzindo o

que nasceu como aplicação científica

responsável a um exercício de marketing

barato.

Tornar estratégicas as avaliações

Tem sido desafiador fazer avançar

a cultura avaliativa contemporânea

para tornar as avaliações dispositivos

potentes na produção de estratégias.

A seguir, apresentamos um modelo

elaborado a partir de perguntas

sustentadas por quatro componentes

orientadores (Figura 1).

AVALIAÇÕES

ESTRATÉGICAS TÊM

POR OBJETIVO

DEMONSTRAR OS

RESULTADOS E

O POTENCIAL DE

UMA INICIATIVA,

CRITICANDO

SUAS FALHAS

E LIMITAÇÕES.

ELAS PODEM

TORNAR MELHOR

UM PROGRAMA

SOCIAL OU

POLÍTICA PÚBLICA,

RECOMENDANDO

SUA CONTINUIDADE,

AJUSTES, OU

ENCERRAMENTO, SE

FOR O CASO.

Figura 01. Os quatro componentes das avaliações estratégicas.

34 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Sua pedra angular encontra-se na

relação entre as perguntas avaliativas e

as demandas dos principais interessados

em uma iniciativa, que são as pessoas

que possuem algo em jogo na iniciativa:

seu trabalho, reputação, capital, bem-

estar, etc. Quanto mais um processo de

avaliação responde com consistência

às demandas dos interessados, maiores

as possibilidades de que essa avaliação

estimule e nutra o pensamento

estratégico.

As perguntas, contudo, não podem

ser tomadas como construções

naturalmente potentes. As mesmas

perguntas que aprofundam podem

alienar. As mesmas perguntas que

articulam e questionam podem

fragmentar e evocar o senso comum.

Recomendamos, portanto, reflexão e

debate sobre as perguntas de avaliação.

Estas devem ser guiadas pelos quatro

componentes orientadores e, ao mesmo

tempo, fortalecê-los.

Posição estratégica

Nenhuma avaliação terá influência

estratégica sem produzir informações

críticas e consistentes sobre a relevância

e o mérito de determinada iniciativa.

Perguntas como “Fizemos diferença

no desenvolvimento das crianças

acompanhadas pelos educadores que

formamos?”, “Garantimos o ingresso

dos jovens beneficiados a posições não

marginais no mercado de trabalho?”,

“Que mudanças induzimos nas relações

entre a sociedade civil e poder público

municipal?” precisam ser respondidas

de forma a acreditar um programa ou

política de forma inequívoca.

Impacto social

Como já apontado no início do

artigo, uma avaliação estratégica vai

demonstrar resultados e impactos que

permitirão análises e recomendações

para a continuidade de um programa,

ajustes, correções ou encerramento,

se for o caso. Para isso, é necessário

o reconhecimento da realidade na

qual o programa se instaura, com suas

demandas e possibilidades, seu passivo

e ativo. Requer construir relações entre

aquilo que se ofertou e o conjunto de

elementos éticos e técnicos disponíveis.

Quanto mais se demonstra a firmeza e

a responsabilidade com que se realizou

uma intervenção, maior credibilidade

se confere a ela e àqueles que a

empreendem.

Capital político

Está na construção e no fortalecimento

do capital político outra chave para

que uma avaliação amplie sua força

estratégica. Esse movimento, contudo,

não pode reduzir a avaliação a um

mero dispositivo de relações públicas,

mas incluir o monitoramento numa

perspectiva formativa, que favoreça

a interação entre os diferentes

atores envolvidos. É fundamental

eleger modelos e linhas de análise

que dialoguem com as diferentes

expectativas, oferecendo informações

àqueles que desejamos como aliados

e àqueles que reconhecemos como

adversários.

AVALIAÇÕES QUE

ATUAM APENAS

COMO CONTROLE

BUROCRÁTICO

DE PROCESSOS

ORGANIZACIONAIS

NOS REVELAM

CULTURAS

ORGANIZACIONAIS

PRODUTORAS

DE ATOS SEM

UTILIDADE E

PRÁTICAS SEM VIDA,

QUE QUEIMAM

DINHEIRO E

SUBJETIVIDADES.

35FACULDADE AIEC

E esses modelos de avaliação devem

ampliar as possibilidades quanto aos

momentos nos quais avaliar (ao início,

ao longo, ao final do programa, etc.), e

prever o uso combinado de diferentes

métodos. Tal combinação precisa

considerar as afinidades entre o modelo,

o objeto avaliado e o repertório de

leitura dos interessados diretos. Não se

pode avaliar em javanês, se a linguagem

corrente dos interessados é português.1

Capacidades de gestão

O potencial estratégico das avaliações

também se relaciona com sua capacidade

de qualificar a gestão, estimulando

aprendizagens e superando limites

técnicos. Afinal, de que vale um sistema

de avaliação educacional que não produz

melhoria nas práticas docentes e não

influencia os processos de gestão da

instituição?

É crucial, portanto, que os componentes

técnico e gerencial sejam contemplados

nas avaliações, pois qualquer julgamento

sobre resultados depende de um olhar

nos processos de produção, seus

insumos, sujeitos, eficiência, etc. De

outra maneira, terminaremos como

tantos pseudocríticos das práticas sociais

brasileiras, mestres em culpabilizar

gestores e técnicos, quando não a própria

população-alvo, pelos maus resultados

dos serviços, sem qualquer olhar para os

determinantes de seu trabalho.

O futuro é agora

Este é um período fértil para que muitas

das premissas que sustentam as culturas

organizacionais contemporâneas sejam

revistas. Há vozes nas ruas, há produção

acadêmica, há força empreendedora e

há experiências com as quais é possível

aprender.

As práticas de avaliação no campo

socioambiental são tributárias desses

avanços, cujo horizonte nos brinda

com políticas públicas e programas

socioambientais inclusivos, redutores

de desigualdades, promotores de

direitos e capazes de preservar e

expandir nossa biodiversidade. Todos

eles comprometidos com o processo

democrático brasileiro, que também

precisa avançar.

Ampliar a associação entre avaliação

e planejamento e, sobretudo, inflar

com crítica e aprendizagem os

espaços de formulação estratégica

dos investimentos sociais é tarefa

fundamental para produzir uma

sociedade mais justa. Talvez seja este

o compromisso de cada um de nós:

rever para inovar, criticar para superar,

debater para elucidar, avaliar para

produzir mais e para fazer melhor.

AMPLIAR A

ASSOCIAÇÃO ENTRE

AVALIAÇÃO E

PLANEJAMENTO E,

SOBRETUDO, INFLAR

COM CRÍTICA E

APRENDIZAGEM

OS ESPAÇOS DE

FORMULAÇÃO

ESTRATÉGICA DOS

INVESTIMENTOS

SOCIAIS É TAREFA

FUNDAMENTAL

PARA PRODUZIR

UMA SOCIEDADE

MAIS JUSTA.

Rogério Silva

Sócio-diretor da Move Avaliação e

Estratégia em Desenvolvimento Social.

Doutor em Saúde Pública pela USP e

Psicanalista pelo Centro de Estudos

Psicanalíticos. www.movesocial.com.br.1 Sobre o uso de métodos mistos em Avaliação, ver Composições. Relatório Anual 2012/2013. São Paulo: Move, 2013. Disponível em www.movesocial.com.br.

36 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão das competências gerenciais

Embora hoje eu atue, na quase

integralidade do dia, na área

acadêmica como professor,

nasci e me criei no comércio e indústria,

em negócios da família. Observando

o ambiente corporativo, tive contato

com profissionais de todo tipo. Eu

já percebia, desde tenra idade, que

havia diferença de um para o outro,

embora não percebesse exatamente

o que seria. Sempre achei que fosse

a técnica, o “know how”, o “saber

fazer” o determinante para o sucesso

empresarial. Cursando a Faculdade de

Administração da AIEC, concluí que algo

existe além da técnica, e que, em alguns

casos, ela pouco determina quanto aos

destinos de uma organização se o gestor

não desenvolver outras competências

fundamentais.

Como explicar que algumas

pessoas nasçam com o gene do

empreendedorismo, enquanto outras,

por mais que estudem, patinem em

resultados medíocres?

Podemos afirmar que gerenciar

compreende pelo menos cinco

capacidades, além do conhecimento

técnico: criatividade, atitude, habilidade

interpessoal, articulação e tino. Aqui

tenho duas notícias. A boa notícia é que

todos nós as possuímos. A má é que

somente uma ou outra se sobressai

o mínimo necessário à gestão. Nós

as possuímos, mas é necessário

desenvolvê-las e torná-las operacionais.

Escrevo um pouco sobre cada uma delas.

Criatividade - Em uma época em que

o conhecimento dobra a cada dez anos,

a inovação gera milionários e a sua falta

quebra empresas. A criatividade é pedra

de toque de qualquer gestão. Tudo o

que existe hoje como certeza espera ser

desmentido pelo novo. Taylor e Fayol

estiveram absolutamente certos em

algum momento, mas experimentos,

observações e descobertas posteriores

mostraram que existem outras

possibilidades de gerenciar o processo

produtivo.

AS CAPACIDADES

NECESSÁRIAS AO BOM

ADMINISTRADOR ESTÃO

PRESENTES EM TODO

GESTOR, MAS POUCOS

AS DESENVOLVEM,

APRIMORAM E AS

TORNAM OPERACIONAIS.

MarcoEvangelista

37FACULDADE AIEC

A criatividade é tão valorizada que

possui valor econômico de mercado.

Incorporada ao goodwill (capital

intelectual) da empresa, pode modificar

o valor de seu patrimônio líquido. Uma

organização pode iniciar suas atividades

sem criatividade, mas não terá vida longa

sem ela. O auge de algo criativo ocorre

quando todos passam a achar óbvio o

que antes era inusitado. É um processo

que chega a ser ingrato e que nos lembra

da célebre frase atribuída a Bill Gates:

“Temos que tornar nosso software

obsoleto antes que outro o faça”.

A criatividade é fluida e incontrolável,

pois tanto pode se manifestar de forma

consciente (quando queremos criar algo)

ou involuntariamente, através de insights.

Alguém disse, certa vez, que, quando

vamos criar algo, precisamos pensar

muito sobre isso e depois esquecer por

completo. No exercício de outra atividade

ou após uma noite de sono, a criação

“surge”. Tudo o que existe de problemas

pode ser resolvido com criatividade. E a

tentativa e erro é processo válido para

se obter solução a qualquer desafio.

Ao contrário do que se pensa, porém,

direcionar a criatividade não é fácil, já que

existe um fator chamado viabilidade, que

limita as soluções plausíveis (lembra da

fábula do sino a ser colocado no pescoço

do gato?).

Atitude - Um dito popular enuncia

que “Quem não sabe fazer, não sabe

mandar”. Em maior ou menor grau de

veracidade, há algum sentido aqui. Se,

para ordenar, não se mostra necessário

o conhecimento do “como”, para se

controlar o que foi determinado, esse se

faz imprescindível.

Assim como um soldado respeita seu

comandante por saber que este já esteve

no seu lugar outrora, um colaborador

confiará mais em seu gestor se tiver

a certeza de que este compreende

seus desafios e dificuldades. Essa é a

razão pela qual gestores que “caem de

paraquedas” são recebidos com tanta

desconfiança pelos subalternos. Outra

comprovação disso é que, sempre que

um novo chefe assume, quem o designou

faz questão de tornar conhecido o seu

currículo, por ser uma forma inicial de

o novel chefe angariar a confiança dos

subordinados. A questão é simples: você

acreditaria nas instruções passadas por

um professor de educação física que

estivesse fora de forma? Acreditaria

em lições de sucesso ministradas pelo

último ilustre falido da praça? Portanto,

sem atitude, ou seja, demonstração

de conhecimento da atividade que vai

administrar, um gestor terá dificuldade

de se fazer respeitar.

CURSANDO A

FACULDADE DE

ADMINISTRAÇÃO

DA AIEC, CONCLUÍ

QUE ALGO EXISTE

ALÉM DA TÉCNICA,

E QUE, EM ALGUNS

CASOS, ELA POUCO

DETERMINA QUANTO

AOS DESTINOS DE

UMA ORGANIZAÇÃO

SE O GESTOR

NÃO DESENVOLVER

OUTRAS

COMPETÊNCIAS

FUNDAMENTAIS.

38 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Habilidade interpessoal – Administrar

é, antes de tudo, gerir pessoas. Para que

se consiga fazer as pessoas realizarem o

que é necessário, dois caminhos existem:

através da força ou do convencimento.

As duas formas chegam ao mesmo

lugar e geram o mesmo resultado, mas

os meios utilizados determinam o que

haverá após o atingimento do resultado.

É que após um projeto haverá outro

e outro. Quem atuará nos próximos

projetos não se esqueceu de como foi

comandado no projeto anterior. E isso

irá determinar o seu novo desempenho.

O autocontrole é um aspecto

fundamental da habilidade interpessoal

de um gestor. Expressar uma euforia,

uma raiva ou desconforto fora do

momento oportuno pode pôr tudo a

perder. Aquela mansidão de policiais

negociadores de crise, quando o refém

se encontra sob a mira do meliante, se

faz necessária no mundo corporativo,

onde cada vez é mais fácil criar inimigos

e fechar portas.

Articulação – É do senso comum o

dogma de que “não se faz nada sozinho”.

Em sendo tal afirmativa verdadeira (e,

até agora, não se conseguiu provar o

contrário), se faz necessário, na gestão,

o poder de catalisar interesses, para se

chegar a um resultado comum. Tal poder

é chamado de “articulação”, algo tão

precioso que alguns gestores públicos

chegam a ter um cargo para tal.

Na cidade de Manaus, na gestão do

Prefeito Serafim Correa, foi criada

a Secretaria de Articulação, para

integrar interesses divergentes das

facções políticas, a fim de tornar a

cidade administrável. Conseguir unir

interesses opostos e conflitantes para

algum objetivo que beneficie a todos

seria muito difícil somente com técnica,

pois ninguém negocia com robôs. E aqui

entra a credibilidade, pois alguém de boa

fé é facilmente enganável, justamente

por acreditar... Mas apenas uma única

vez! Assim, qualquer gestor que não

tenha no seu arcabouço a qualificação de

confiabilidade, jamais poderá articular

qualquer interesse.

Tino - É o sentimento de querer, estar

disposto e arcar com as consequências

de fazer o que é preciso para um

resultado ser atingido. Apesar de sua

importância para o gestor, o tino é pouco

formatável para transmissão. Deveria,

em um país que pensa no futuro, ser

identificado desde a mais tenra idade

nas escolas. Muitas pessoas, com perfil

ou tino empreendedor, passam a vida

inteira sem se reconhecer como tal, por

falta de estrutura para isso. E os que

têm tal perfil, se sentem incomodados

na condição de “meros” empregados,

partindo para a carreira solo à primeira

oportunidade, muitas vezes sem o

preparo adequado.

PARA QUE SE

CONSIGA FAZER

AS PESSOAS

REALIZAREM O

QUE É NECESSÁRIO,

DOIS CAMINHOS

EXISTEM: ATRAVÉS

DA FORÇA OU DO

CONVENCIMENTO.

AS DUAS FORMAS

CHEGAM AO

MESMO LUGAR E

GERAM O MESMO

RESULTADO, MAS OS

MEIOS UTILIZADOS

DETERMINAM O QUE

HAVERÁ APÓS O

ATINGIMENTO DO

RESULTADO.

39FACULDADE AIEC

O tino não pode ser ensinado ou

aprendido, mas pode ser despertado,

desenvolvido e aprimorado. Um bom

curso de Administração tem o condão

de externalizar o tino empresarial dos

alunos. Costumo traçar um paralelo

com o curso de Psicologia: dizem alguns

alunos que é comum descobrirem suas

neuroses ao analisar o conteúdo de seus

“ids” e “egos”. O curso de Administração

faz algo parecido, sendo que, em vez da

neurose, pode fazer surgir o “eu sei, eu

posso, eu vou”.

Técnica – Embora eu tenha iniciado

este artigo afirmando que não basta

a competência técnica para um

administrador, reforço que a técnica

faz grande diferença. A sua falta explica

o fato de alguns empreendedores

fracassarem. Ainda que tenham garra e

carisma, não sabem organizar, planejar,

orientar, controlar.

Todo o resto, com técnica, pode ser que

chegue a algum lugar, mas qualquer

outra capacidade, sem técnica,

certamente não chegará a lugar algum.

A fonte está em cursos, livros, artigos,

eventos.

Ter um curso superior em Administração

representa muito. Não pelo título, mas

porque é a oportunidade de qualquer

gestor deixar de agir de forma empírica

e embaralhada e atuar com técnica. Ou

seja, não apenas saber, mas saber porque

se faz daquela maneira, podendo, assim,

fazer melhor. Cursar Administração

é “amolar o machado”, ou seja, é

importantíssimo para desenvolver

e aprimorar as demais capacidades

necessárias para o administrador.

Minha família já teve cinco empresas

ativas funcionando simultaneamente. O

destino ruim de algumas delas teria sido

outro se meu pai (único administrador,

centralizador e empresário nato) tivesse

conhecimento técnico de Administração

de Empresas.

Egrégora de talentos

As empresas sabem que é difícil

encontrar um profissional que tenha

bem desenvolvidas todas essas

capacidades aqui analisadas. Isso

explica o fato de grandes organizações

se distanciarem do comando único,

mantendo sempre um “conselho

administrativo” ou “conselho diretor”.

Assim, as decisões estratégicas estarão

sempre nas mãos de mais de uma pessoa

e será fruto da egrégora da união das

múltiplas capacidades do grupo.

AQUELA

MANSIDÃO

DE POLICIAIS

NEGOCIADORES DE

CRISE, QUANDO

O REFÉM SE

ENCONTRA SOB

A MIRA DO

MELIANTE, SE

FAZ NECESSÁRIA

NO MUNDO

CORPORATIVO,

ONDE CADA VEZ

É MAIS FÁCIL

CRIAR INIMIGOS E

FECHAR PORTAS.

MarcoEvangelista

Professor de Direito em faculdades e

cursinhos jurídicos em Manaus (AM).

Autor de sete livros. www.EvangeBlog.

com. Mestre em Direito Ambiental.

Doutorando em Direito Privado na

Universidade Católica de Santa-Fé

(Argentina). Bacharel em Administração

pela Faculdade AIEC.

40 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão da juventude

Quando éramos crianças,

não havia tantas cobranças

nem obrigações. Bem...

havia, mas proporcionais a nossa idade.

“Coloque o brinquedo no lugar” ou

“coma todos os legumes” eram coisas

fáceis se comparadas às cobranças

que temos hoje. Talvez, o problema

para nós, jovens, não seja exatamente

receber ordens e exigências. O problema

talvez seja que, com o passar dos anos

(talvez em consequência do nosso

amadurecimento), começamos a nos

exigir demais.

A passagem da adolescência para a fase

adulta mexe muito com a gente e com a

nossa mente. Tentamos nos adaptar a

grupos de amigos, grupos de trabalho,

nos adaptar a um futuro promissor,

tentamos não decepcionar nossa família

e ao mesmo tempo não nos decepcionar

e ainda tentamos estabelecer vínculos

sentimentais com outros, em cima dessa

corda bamba de responsabilidades.

Neste artigo, discorro sobre a minha

experiência na administração dessas

questões, comuns na vida de um jovem.

Gestão da carreira

Somos ensinados a trabalhar no presente

visando o futuro. Desde o pré ao ensino

médio, nos ensinam a querer um futuro

melhor. Para isso, precisamos de uma boa

educação, uma boa universidade, um bom

trabalho. É tanto tempo gasto para manter

o foco em um objetivo, que depois de um

certo tempo você passa a vê-lo embaçado.

As cobranças para entrarmos em uma

grande universidade são inevitáveis. Para

isso, nossos pais investem em cursos

preparatórios e em conselhos de “qual

profissão nos tornará um grande vencedor

na vida”. Acabamos assimilando toda essa

pressão e nos cobrando ao extremo.

ATENDER DEMANDAS

E EXPECTATIVAS DA

FAMÍLIA, DA SOCIEDADE

E DE SI MESMOS É UM

DESAFIO COMPLEXO

QUE EXIGE DOS

JOVENS CAPACIDADE

PARA ADMINISTRAR

RESPONSABILIDADES

E GERENCIAR SUAS

DIVERSAS ATIVIDADES.

Yvie Springs

41FACULDADE AIEC

A PASSAGEM DA

ADOLESCÊNCIA PARA

A FASE ADULTA

MEXE COM A

GENTE. TENTAMOS

NOS ADAPTAR

A GRUPOS DE

AMIGOS, GRUPOS DE

TRABALHO E NOS

ADAPTAR A UM

FUTURO PROMISSOR.

TENTAMOS NÃO

DECEPCIONAR A

FAMÍLIA E NÃO NOS

DECEPCIONAR, E

AINDA TENTAMOS

ESTABELECER

VÍNCULOS

SENTIMENTAIS COM

OUTROS.

Não conseguir passar em uma

universidade pública é frustrante

emocionalmente, financeiramente

(porque se manter numa universidade

particular é muito custoso) e também

socialmente. Se seus amigos passarem

e você não, vai acabar ouvindo

comparações para o resto da vida.

Quando finalmente entramos nesse

mundo mágico da graduação, vêm

as cobranças de fazer o melhor, ser

sempre um bom aluno e conseguir um

bom estágio. E saímos em busca de

um emprego que se adéque ao nosso

cotidiano de estudos e lazer e que atenda

as nossas expectativas. Ninguém quer

trabalhar em algo de que não gosta, nem

pelo melhor salário. É estafante. Imagine

então quando você não recebe o melhor

salário do mundo!

Gestão de crises

Quando um aspecto na vida não vai bem,

parece que nada mais pode funcionar.

Acabo de estar “pré-desempregada”

e passo mais tempo pensando como

vou manter meus gastos e desesperada

com isso, do que me concentrando nos

meus estudos e em outras coisas ao meu

redor, como em minha cachorra que

precisa ser tosada. Seria gratificante

saber lidar com tudo, colocar cada coisa

em seu devido lugar, mas infelizmente

isso é muito difícil. Tendemos a nos

concentrar mais em alguma coisa do que

em outra e não conseguimos balancear

tudo em suas devidas medidas.

Catástrofe juvenil!

Pessoas com mais experiência podem

até nos aconselhar, mas o que pesa

mesmo é o que você quer. E nem

adianta pai, mãe, tio, tia, avós falarem,

pois santo de casa não faz milagre.

Digo isso porque minha prima cursou

Direito, se pós-graduou em uma boa

universidade e passou na prova da OAB

em ótima colocação. Depois de toda essa

maratona, resolveu trabalhar fazendo

flores artesanais, para sua imensa

felicidade e para o desgosto da minha

tia que, em todos os almoços de família,

repete essa história como um “alerta”

para nós. Talvez, um alerta sobre o tal

“pensamento pequeno”.

Gestão da produção

Você nunca ouve falar do “pensamento

pequeno” de forma positiva. Geralmente

é: “para você ter futuro, você tem que

pensar grande, conquistar grandes

coisas”. Ninguém, ou pelo menos a

maioria das pessoas, não pensa nas

pequenas realizações da vida que se

tornam grandes coisas para nós.

Quando eu tinha oito anos, morava no

interior, numa cidade bem pequena. Na

minha casa havia um galinheiro. Uma das

minhas grandes realizações foi conseguir

tocar as galinhas pra dentro daquele

galinheiro, após uma fuga inesperada.

Sério, me senti muito responsável! Hoje

eu não corro mais atrás de galinhas.

Moro na cidade grande e passo a

maior parte do tempo estudando

ou trabalhando. Minhas pequenas

realizações que se tornam grandes se

baseiam em tirar os pelos que meus

gatos deixam nas minhas roupas.

42 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

VOCÊ NUNCA

OUVE FALAR DO

‘PENSAMENTO

PEQUENO’ DE

FORMA POSITIVA.

GERALMENTE

É: ‘PARA VOCÊ

TER FUTURO,

VOCÊ TEM QUE

PENSAR GRANDE,

CONQUISTAR

GRANDES COISAS’.

NINGUÉM VALORIZA

AS PEQUENAS

REALIZAÇÕES DA

VIDA QUE SE

TORNAM GRANDES

COISAS PARA

NÓS.

Gestão do tempo

Gerenciar a vida na juventude envolve,

também, organizar horários para tudo,

o que é muito difícil. Parece que o jovem

tem um certo ímã para a desorganização.

Sempre acabamos tentando abraçar

o mundo com as pernas. Tentamos

estudar e nos divertir ao mesmo tempo.

Abrimos mão de um fim de semana para

as responsabilidades, mas passamos

outros três descontando... Pura

bobagem. No dia seguinte acordamos

com a cabeça explodindo de cansaço

e preocupações. E aí novamente

tentamos abraçar o mundo com as

pernas. O mundo das responsabilidades

e obrigações. Como é impossível

dar conta de tudo ao mesmo tempo,

deixamos a desejar, o que acaba gerando

uma imagem de certa “incompetência”.

Acho que, por isso, em sua grande

maioria, os jovens não tenham tanta

credibilidade na sociedade.

Mas eu acredito que dá pra equilibrar

responsabilidades com diversão, pois

pra tudo há um tempo. Muitas vezes

nossos pais tentam nos mostrar, de uma

forma às vezes não muito agradável

aos nossos olhos, que é necessário

abrir mão de algumas coisas. Na hora,

não entendemos por que, mas duas

semanas, ou três meses depois (ou na

próxima prova da faculdade ou colégio)

nós vamos entender, pois seremos bem-

sucedidos. É assim que costumo pensar

(o pensamento positivo vai longe...).

Estabelecer uma relação saudável de

confiança e respeito por pessoas mais

velhas nos ajuda a entender o peso das

responsabilidades sem senti-las tão

pesadas. Nos ajuda a ter a confiança de

outros, a ter confiança em nós mesmos e

a saber que dá tempo de “curtir a vida”.

Gestão de pessoas

Para nós, jovens, ter amigos e ser aceito

por eles constituem o ápice das nossas

preocupações. Tentamos nos moldar ao

modo de falar, às roupas e aos gostos da

moda, e procuramos parecer pessoas

legais, principalmente se estamos na

fase do colégio/faculdade. Isso gera

conflitos com a família. Talvez seus pais

não permitam que você vá a uma festa

e eles têm seus motivos (talvez porque

você tenha ido mal nos estudos, talvez

porque você não tenha correspondido

corretamente aos seus pedidos, ou até

porque seus amigos e/ou pessoas que

estarão nessa festa não correspondem à

expectativa de companhias que seus pais

queiram pra você).

Para a maioria dos jovens, perder uma

“grande festa” é como perder um rim:

você pode voltar a ser saudável, mas

sempre vai te faltar algo importante.

Você pode até ter amigos e ser uma

pessoa legal, mas, se você não vai a

grandes festas com “grandes” pessoas, é

como se não tivesse evoluído junto com

os grandes grupos que são formados

(que eu costumo chamar de pequenos

ditadores da juventude, sempre

impondo, a quem quiser acompanhá-los,

que seja como eles).

43FACULDADE AIEC

CONFORME

VOCÊ CRESCE, VÊ

QUE A MAIORIA

DAS PESSOAS

COMPETE NOS

RELACIONAMENTOS,

NO TRABALHO,

NOS ESTUDOS, NA

FAMÍLIA. MUITOS,

AO CHEGAREM

A DETERMINADO

PONTO DA VIDA,

NÃO SABEM QUEM

GANHOU, SE

GANHARAM OU O

QUE GANHARAM.

Gestão do conhecimento

É muito legal ter pessoas como exemplo.

Eu tenho uma amiga que sempre me

ensinou coisas superlegais. Desde a

não deixar o copo na mesa da festa, não

aceitar bebidas de estranhos, até a não

mudar minhas convicções por ninguém,

e procurar aprender sempre mais. Às

vezes, acabamos deixando de lado coisas

nas quais acreditamos para seguir o

que dizem outras pessoas. Essa minha

amiga me ensinou a sutil e importante

diferença entre “deixar suas convicções

por outras” e “aprender mais sobre

as coisas”. Nossas certezas são nossas

raízes.

O aprendizado é aquela bebida colorida

na bandeja que o garçom toda hora vem

oferecer, mas você prefere continuar

com seu uísque tradicional. Uma hora

enjoa e você pode optar pelo novo drink.

Ou talvez, de cara, você seja curioso e

se interesse logo em bebê-lo. Seja uma

ou outra opção, é sempre importante

abrir os olhos para a diversidade de

conhecimento a nossa disposição.

Quanto mais aprendemos quando

jovens, melhores condições teremos

de fazer boas escolhas na vida. Não as

certas, e sim as que nos fazem bem.

Gestão competitiva

Conforme você cresce, vê que as

pessoas vivem apostando corridas.

Nos relacionamentos, no trabalho,

nos estudos, na família. A maioria das

pessoas competem. E muitas vezes,

ao chegarem a determinado ponto da

vida, não sabem nem quem ganhou, se

ganharam ou o que ganharam. Muitas,

às vezes, se perdem no meio do caminho,

ou não vivem o suficiente para chegar

até o fim dessa corrida.

O mundo sempre esteve aí. Estamos

chegando agora nessa festa chamada

vida, tentando nos encaixar aqui ou

ali, no ritmo da música chamada ciclo

social. A verdade é que, na passagem

de adolescência, juventude, até nos

tornarmos adultos, sempre virão as

cobranças, principalmente da nossa

parte. E, nesse processo, o medo de

decepcionar a quem amamos sempre

acaba nos atormentando. Tentamos

fazer o nosso melhor, mas infelizmente

não é possível agradar a todos os seres

humanos em todas as proporções.

Sempre deixamos a desejar em algo.

O que resta é achar a felicidade nas

pequenas conquistas da vida, pois elas

se tornarão grandiosas com o passar dos

anos. Assim espero...

Yvie Springs

Estuda Fisioterapia na Universidade

Estácio no Rio de Janeiro RJ. Tem

formação técnica em Auxiliar de

Necrópsia. Trabalha no atelier de costura

de sua avó. Tem 20 anos de idade.

44 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Gestão de mídias sociais

A internet está revolucionando

a forma como se vive, se age e

se pensa. Precisamos conhecer

esse novo ambiente de comunicação

e interatividade entre empresas e

consumidores, discutir seus limites,

pontos positivos e negativos, riscos

e vantagens, e assim aproveitar suas

possibilidades de relacionamento e

negócios.

A internet veio pra ficar e está presente

na vida da grande maioria dos brasileiros.

Mesmo assim, ainda hoje, 2013, temos

empresas resistentes à presença digital.

Essas empresas não se deram conta de

que não se trata apenas de uma escolha.

O mundo dos negócios, agora, é off-line

e on-line. A mídia tradicional e a mídia

digital coexistem, se complementam

e formam o novo cenário de negócios

mundial.

Em 2004, empresas possuírem uma

comunidade no Orkut (mídia social

líder e em franca expansão na época)

era considerado desnecessário por

muitos gestores. Pois bem: vimos que

muitas empresas, tirando proveito

dessa possibilidade, se aproximaram e

conversaram de forma rápida e direta

com clientes em potencial e garantiram

espaço privilegiado no coração deles.

A internet revolucionou os negócios e

a cultura das empresas, porém é ainda

um ambiente novo que muda o tempo

todo e quase que diariamente. Para

tirar proveito, é preciso acompanhar o

que está sendo desenvolvido na área.

As empresas nunca precisaram de um

setor de marketing e comunicação

digital, tampouco de um profissional

que entendesse de internet. O quadro

mudou. Não se pode mais pensar em

negócios sem pensar em internet.

NO NOVO CENÁRIO

DE NEGÓCIOS

OFF-LINE E ON-LINE,

MÍDIA TRADICIONAL

E MÍDIA DIGITAL

COEXISTEM E SE

COMPLEMENTAM.

Felipe A. Pereira

45FACULDADE AIEC

HÁ UMA

INFINIDADE DE

ALTERNATIVAS

NO MUNDO

VIRTUAL ONDE SE

PODE COLOCAR

A EMPRESA.

TODOS OS DIAS

SURGEM NOVAS

PLATAFORMAS DE

CÓDIGO ABERTO. A

GRANDE MAIORIA É

GRATUITA E VOCÊ

NÃO PRECISA TER

CONHECIMENTO

DE LINGUAGENS

DE PROGRAMAÇÃO

PARA TRABALHAR

COM ESSAS

PLATAFORMAS.

O momento certo

Se você tem perfil empreendedor e

possui uma ideia, é hora de aproveitar o

ambiente digital. Ligue seu computador

e pesquise sobre: mercado em que você

pensa em atuar; produtos/serviços

concorrentes; comportamento do seu

público-alvo, onde ele se concentra,

qual o seu perfil, qual a faixa etária,

se são homens, mulheres ou ambos.

Acompanhe as manifestações de

seu público sobre seus desejos e

necessidades e se apresente de forma

adequada a ele. Tenho certeza de que

você não vai encontrar nem 15% dos

concorrentes se relacionando, se

posicionando e se comportando de

forma contínua e competente.

O ambiente digital proporciona

interatividade direta e imediata.

Mantendo relacionamento adequado

e contínuo, sem invadir a privacidade

de seus “futuros clientes”, muito em

breve acontecerão as vendas, novos

negócios e, cada vez mais, novos

contatos comerciais, os chamados leads1

qualificados.

Se você já possui um negócio e ainda não

está explorando a internet, comece já:

plante e logo colherá os frutos. Destine

uma pequena verba para manter um

site e alguns anúncios nos motores de

busca (principalmente o Google) e para

manter um profissional de mídia digital

para a gestão da sua marca no ambiente

online.

Em quais frentes atuar?

Há uma infinidade de alternativas no

mundo virtual onde se pode colocar a

empresa. Todos os dias surgem novas

plataformas de código aberto, que

podem ser atualizadas pelos usuários.

A grande maioria é gratuita e você não

precisa ter conhecimento de linguagens

de programação para trabalhar com

essas plataformas. Recomendo estudar

a plataforma Wordpress. Ela é a mais

amigável ao Google, está em constante

atualização, é de fácil uso e, em poucos

passos, você personaliza seu site e blog e

coloca ambos no ar.

Para um posicionamento competitivo

no ambiente virtual de negócios,

recomendo a atuação em quatro frentes:

1. Website e blog

Em seu site, deve aparecer de forma

resumida quem você é, o que você

faz, o que você vende, como você

vende, para quem você vende e o que

você pode fazer de diferencial para o

seu cliente. Mantenha seus dados de

contato atualizados e, principalmente,

mantenha um campo de notícias para ser

alimentado frequentemente. O blog é o

alimento do seu site. Escreva para o blog

e coloque a chamada na página inicial do

seu site. Um a dois textos por semana

são suficientes para manter seu site

atualizado e comunicar ao Google que a

sua empresa é atuante, possui conteúdo

original e está pronta para receber o

usuário da internet que busca pelo que

você oferece.

1 Leads: conceito utilizado em marketing digital, refere-se a pessoas que demonstraram algum interesse por um produto ou serviço da empresa e disponibilizam suas informações para eventual contato.

46 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

O CONTEÚDO

DE SUA FAN PAGE

DO FACEBOOK É

QUE VAI DEFINIR

SE AS PESSOAS

VÃO ACOMPANHÁ-

LO OU NÃO.

TRABALHE COM

ALGO EM TORNO

DE 85% DE

CONTEÚDO DE

RELACIONAMENTO

E APENAS 15%

DE CONTEÚDO

INSTITUCIONAL

E COMERCIAL.

E AGREGUE

INFORMAÇÃO ÚTIL

AO DIA A DIA DAS

PESSOAS.

A plataforma Wordpress é amigável

ao Google, lembra? Então coloque no

site tudo que seu cliente pode precisar

saber, perguntar, questionar... o Google

vai saber que você tem a resposta e vai

mostrá-lo ao seu cliente. Não esqueça

de colocar links em seu site apontando

para os seus perfis oficiais nas mídias

sociais, pois o Google vai rastrear seu

site e chegar até seus perfis oficiais e

identificar, novamente, que você está

presente de forma ativa, contínua e

relevante. Pense o seu site para seu

cliente e também para o Google, pois ele

detém 91% de market share no Brasil.

Verifique se o nome do site (domínio)

que você criou para sua empresa está

disponível em www.registro.br e faça o

registro. Esse registro custará apenas

30 reais por ano. Para finalizar a parte

“burocrática” de criação do site, você

vai precisar hospedá-lo. Facilmente

você encontra hospedagens de site por

algo em torno de 25 reais mensais. Não

esqueça: a plataforma a ser usada para

site e blog chama-se Wordpress e é

100% gratuita, possuindo diversos temas

(templates) sugestivos e personalizáveis

para você editar seu site e blog.

2.Mídiassociais

O Twitter e o Facebook são

fundamentais para um posicionamento

online. No Twitter, as pessoas escrevem

o que querem e o que precisam. Um

simples monitoramento de expressões

específicas, através da mídia social (ou

de programas como tweetdeck) lhe

permite interagir, na hora, com essas

pessoas.

A América Latina é onde o Twitter mais

cresce e o Brasil encabeça essa lista.

Sem contar, ainda, que o Twitter é uma

mídia social mundialmente relevante

e um perfil oficial lhe trará benefícios

também com o Google, desde que

você seja frequente, poste assuntos

relevantes e aponte links para portais

que sejam referência nos assuntos que

você aborda.

Depois, vamos trabalhar a nossa fan

page no Facebook. Os desavisados criam

perfil de usuário – sim, como se fossem

pessoas! – e adicionam pessoas na busca

de se autopromover e atingir mais e mais

pessoas. Não faça isso! Crie sua página

de fãs, personalize suas imagens e passe

a divulgar nas suas mídias on-line e off-

line a sua presença oficial também no

Facebook.

Busque ser relevante para seu público.

O seu conteúdo é que vai definir se

as pessoas vão acompanhá-lo ou não.

Trabalhe com algo em torno de 85%

de conteúdo de relacionamento e

apenas 15% de conteúdo institucional

e comercial. Dê bom dia, boa noite,

parabéns. Procure ser coloquial sem

nunca, porém, sacrificar a elegância da

linguagem. E agregue informação útil ao

dia-a-dia das pessoas. Por exemplo: se

você vende eletrodomésticos, fale sobre

as desvantagens em colocar comida

ainda quente dentro do refrigerador,

pois a comida quente exigirá um

esforço maior do eletrodoméstico e,

consequentemente, um desgaste e

consumo ainda maiores, por exemplo.

47FACULDADE AIEC

Existem, nas mídias sociais, muitas

comunidades virtuais de nicho que

reúnem amantes de gatos, cachorros,

livros, fotos, etc. Pesquise se, no seu

segmento, não há uma comunidade em

alguma mídia social e, caso positivo,

torne-se presente, relevante e influente

nela também.

3.Marketingdebusca

Mais de 80% das visitas nos sites

brasileiros é de origem de sites de

pesquisa ou busca. Esses visitantes são

classificados em: usuário de origem paga

e usuário de origem orgânica. O usuário

de origem paga é aquele que clica

em algum anúncio seu nas pesquisas

por palavras-chave relacionadas

ao seu negócio – os chamados links

patrocinados. O usuário de origem

orgânica é aquele que achou seu site

nos resultados naturais das pesquisas,

onde não há publicidade. Esse usuário

– o de origem orgânica – permanece

mais tempo nos sites, navega por mais

páginas e converte esse contato inicial

em mais telefonemas e e-mails. A dica

aqui é estudar a SEO2 e aplicá-la em

seu site. Se bem feita, colocará seu site

na primeira página de resultados para

as buscas pelas principais palavras-

chave relacionadas à sua empresa e

você receberá tráfego qualificado,

sem necessidade de contratar links

patrocinados.

4.E-mailMarketing

Se você colocou seu negócio na internet

e se preocupa com o retorno desse

investimento, vai precisar abordar

seu cliente com frequência. Use o

e-mail marketing para isso! Entregue

aos seus prospects3 novidades, dicas

e utilidades até três vezes por mês! O

e-mail ainda é a forma de comunicação

mais personalizada possível. Para tirar

proveito, faça um cadastro de todos os

seus contatos e mantenha-o atualizado.

Não há, hoje, conjunto de estratégias

melhor e a baixo custo em termos de

internet: website em plataforma free,

gestão estratégica de mídias sociais,

marketing de busca e e-mail marketing.

Mas não se esqueça: o mercado e a

internet mudam muito rapidamente.

Da noite para o dia surgem novas

possibilidades, novas ferramentas e

novos concorrentes. Mantenha-se

atualizado sobre o ambiente digital e

garanta que seu negócio se mantenha

ativo e consistente na internet. Acredite:

em uma próxima etapa, você vai precisar

de tempo para mais uma atividade:

vender mais!

O MERCADO E

A INTERNET MUDAM

RAPIDAMENTE. DA

NOITE PARA O DIA,

SURGEM NOVAS

POSSIBILIDADES,

FERRAMENTAS E

CONCORRENTES.

MANTENHA-SE

ATUALIZADO E

GARANTA QUE

SEU NEGÓCIO SE

MANTENHA ATIVO

E CONSISTENTE NA

INTERNET.

Felipe A. Pereira

Fundador e Diretor-Executivo da

agência Intermidia Brasil. Autor

do livro Marketing e Comunicação

Digital: a internet otimizando

negócios (2012). Pós-graduando em

Marketing Digital (IERGS). Bacharel

em Administração pela Faculdade

AIEC.

2 SEO - Search engine optimization (otimização para motores de busca): ação de melhoramento de um site para ser mais facilmente encontrado pelas ferramentas de busca e se posicionar melhor em uma página de resultados de uma busca.

3 Prospects: clientes potenciais de uma empresa. É um público mais qualificado para a empresa do que os leads. As empresas buscam converter leads em prospects e estes em clientes consumidores.

48 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

ENSINO A DISTÂNCIA

COM O USO DE

TECNOLOGIAS

ELETRÔNICAS AMPLIA

O ALCANCE DAS

AÇÕES DE EDUCAÇÃO

CORPORATIVA E

ENRIQUECE AS

POSSIBILIDADES DE

DESENVOLVIMENTO

E CAPACITAÇÃO

PROFISSIONAL.

Cris Bonini

EAD

O avanço das tecnologias

de informação, sua

popularização e a

democratização do uso de suas

ferramentas e aplicações têm

transformado nossa sociedade e

provocado mudanças nos negócios, na

gestão, na produção, nos serviços, nas

relações sociais e na educação. Graças a

essas novas tecnologias, as corporações

vêm se aprimorando, especialmente

no campo da educação e da formação

profissional.

Diante de algumas lacunas e de

restrições notadas na preparação dos

brasileiros para a atuação profissional,

as empresas ampliam e reforçam as

ações de educação corporativa e de

treinamento.

O uso das ferramentas de ensino a

distância, como aulas virtuais ou ensino

via computador, denominado e-learning,

tem contribuído de maneira decisiva

para a capacitação e atualização dos

conhecimentos dos profissionais.

Repensar a educação de profissionais

Grandes empresas que empregam

dezenas, centenas ou até milhares

de pessoas, e que muitas vezes estão

presentes em diversas localidades

do País (e até fora dele), são aquelas

que mais se beneficiam das vantagens

propiciadas por essa modalidade

de ensino. Além disso, repensar a

forma como a aprendizagem e o

desenvolvimento pessoal vêm sendo

conduzidos para a educação de

profissionais ou para o ensino de adultos

tornou-se uma obrigatoriedade.

49FACULDADE AIEC

Por meio da tecnologia, oferecer um

curso a inúmeros profissionais é uma

tarefa muito mais fácil, especialmente

pelo uso de redes internas das empresas

(como as intranets), ou externas

(como a internet). Some-se a isso a

praticidade de o estudante participar

da formação de qualquer lugar em que

estiver, basicamente se conectando

por meio de um computador ou de

outras ferramentas tecnológicas

atualmente disponíveis. Esse é um

fator especialmente vantajoso para

empresas que têm parte de seus

profissionais atuando fora de suas

próprias instalações físicas. Outra

grande vantagem dessa abordagem

é que a oferta e aplicação dos cursos

a funcionários e colaboradores pode

ser padronizada ou customizada, não

importando o nível de formação das

pessoas ou os cargos que ocupam.

A profusão de equipamentos móveis,

como smartphones e tablets, também

tem contribuído para os avanços dessa

modalidade de ensino. Hoje, já dispomos

de alguns módulos de educação sendo

desenhados e pensados para o chamado

mobile learning, nova modalidade

de se repassarem conhecimento e

informações ao alcance das mãos, olhos

e ouvidos de qualquer profissional.

Assim, o que era só uma visão de futuro,

hoje é uma realidade ao alcance de

todos.

O ensino a distância, que é atualmente

reconhecido como tão eficaz quanto o

presencial, contribui para a economia de

tempo dos profissionais e de recursos

das corporações.

Afinal, poupa-se na eliminação da

necessidade de deslocamento das

pessoas de suas unidades de trabalho

para o local de aplicação de cursos e

em gastos com materiais impressos.

Além disso, a possibilidade de aplicar

o treinamento a um número maior

de pessoas simultaneamente reduz o

dispêndio de recursos e tempo para a

formação de grandes turmas.

É importante perceber que essa

economia tem sido muitas vezes

utilizada em investimentos no

desenvolvimento das áreas de formação

das empresas, principalmente nos

próprios recursos de e-learning, ou na

viabilização da estrutura tecnológica

de suporte às plataformas de ensino

a distância. Nesse cenário, o ensino a

distância, nas suas mais variadas versões,

se firma como plataforma prioritária

para o desenvolvimento de profissionais

de diversas áreas.

Eficazevantajosa

Como empresa com atuação nas áreas

de auditoria, tributos e consultoria,

a KPMG tem valorizado o ensino a

distância (quer seja por meio do

e-learning, de aulas virtuais ou de

vídeos), na formação, capacitação

e atualização de seus profissionais.

Somente no ano fiscal encerrado

em 30/09/2012, foram investidos R$

2 milhões no desenvolvimento da

estrutura; elaboração ou aquisição de

materiais, conteúdos e ferramentas; e

aplicação de cursos nessa modalidade.

DIANTE DE

ALGUMAS LACUNAS

NA PREPARAÇÃO

DOS BRASILEIROS

PARA A ATUAÇÃO

PROFISSIONAL, AS

EMPRESAS AMPLIAM

E REFORÇAM

AS AÇÕES DE

EDUCAÇÃO

CORPORATIVA.

O ENSINO A

DISTÂNCIA TEM

CONTRIBUÍDO

DE MANEIRA

DECISIVA PARA A

CAPACITAÇÃO E

ATUALIZAÇÃO DOS

PROFISSIONAIS.

50 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Pelas características de seu negócio, em

que muitas vezes os profissionais atuam

diretamente nas instalações de seus

clientes, mas estão conectados na rede

da organização por meio de seus laptops

corporativos (que são ferramentas de

trabalho), a adoção do modelo a distância

tem sido muito eficaz e vantajosa.

Entre os esforços realizados pela KPMG

está a capacitação, em tempo recorde,

de cerca de mil profissionais admitidos e

incorporados aos quadros da organização

após a aquisição de uma empresa. Em

apenas dois dias, eles puderam participar

de aulas sobre o módulo básico de

formação da empresa, que inclui cursos

que abrangem temas como segurança

da informação, ética e independência,

cumprimento de leis, normas e

regulamentações, entre outros.

Virtual class

No processo evolutivo de abordagem

das tecnologias eletrônicas destinadas

à formação e capacitação de seus

profissionais, a KPMG tem investido

na tecnologia Virtual Class. Utilizando

a ferramenta Adobe Connect, são

promovidas aulas virtuais on-line e em

tempo real. A tecnologia permite o

contato direto e ao vivo com o instrutor,

simulando, em ambiente eletrônico, uma

sala de aula tradicional.

A tecnologia de Virtual Class pode

ser utilizada para qualquer tipo de

treinamento, permitindo interação entre

os estudantes para realização conjunta

de exercícios, formação de grupos de

alguns poucos participantes para debates,

discussões de temas, formatação de

trabalhos coletivos e apresentação de

estudos de caso.

A ferramenta permite imitar em

ambiente virtual as experiências que

usualmente são desenvolvidas em

salas de aula tradicionais. E o que é

mais importante, a interatividade

entre os participantes é um diferencial

significativo, já que o mesmo curso pode

ser realizado concomitantemente por

profissionais em diversas partes do

mundo, representando firmas-membros

da KPMG de vários países em um mesmo

treinamento aplicado.

A grande vantagem da Virtual Class é

que a tecnologia desobriga o profissional

de se deslocar para realizar seus cursos

que exigem acompanhamento de um

instrutor em tempo real. Basta dispor de

computador conectado à Internet e de

um headset (fone de ouvido com volume

e microfone). Outro benefício é que, com

a Virtual Class, profissionais que atuam

no Brasil podem participar de cursos

oferecidos pelas unidades da KPMG

espalhadas pelo mundo, permitindo a

troca de impressões e conhecimento

com colegas estrangeiros.

Conexão em tempo real

Outra iniciativa em desenvolvimento,

a partir de ajustes das tecnologias, é a

viabilização do acesso dos profissionais

aos cursos de treinamento no

formato e-learning por intermédio de

smartphones e tablets, o que certamente

facilitará a conclusão das capacitações

sugeridas.

Globalmente, a KPMG tem feito

investimentos significativos em outras

soluções inovadoras quando se trata

de aprendizagem e desenvolvimento.

PELAS

CARACTERÍSTICAS

DO NEGÓCIO DA

KPMG, EM QUE

OS PROFISSIONAIS

ATUAM NAS

INSTALAÇÕES DE

SEUS CLIENTES,

MAS ESTÃO

CONECTADOS

NA REDE DA

ORGANIZAÇÃO

POR MEIO DE

SEUS LAPTOPS

CORPORATIVOS,

A ADOÇÃO

DO ENSINO A

DISTÂNCIA TEM

SIDO MUITO EFICAZ

E VANTAJOSA.

51FACULDADE AIEC

Isso se comprova pela criação de uma

estrutura global de aulas virtuais em

salas de conferência conhecidas como

“Halo”, que são espaços que reúnem

alta tecnologia destinada à realização de

videoconferências envolvendo vários

países ou localidades com transmissões

ao vivo, conectando escritórios em

tempo real.

A comprovação de que está traçando

um caminho adequado no campo

da educação corporativa reflete-se

no fato de que a KPMG recebeu o

prêmio “Contribuição Marcante” do

Congresso E-Learning Brasil 2011-

2012. A premiação foi concedida pelo

reconhecimento à estrutura formada,

pelo uso bem-sucedido das ferramentas

de e-learning e por casos de sucesso.

Ferramenta essencial

A organização conta ainda com

conteúdos mais específicos e voltados

para a área, como as ferramentas: Get

Abstract, um provedor de conhecimento

condensado de negócios, disponível

para profissionais da KPMG no mundo

inteiro, e que possui mais de sete mil

resumos de livros de negócios; Intuition

Rubicon, que possui conteúdos para

todos os públicos da área financeira,

desde os recém-contratados, até os

mais experientes; e Harvard Manage

Mentor, site internacional com vários

cursos, considerado um recurso de

aprendizagem on-line e suporte ao

desempenho que reúne as principais

habilidades de gestão crítica para líderes.

EM UM

CENÁRIO QUE SE

APROXIMA DO

PLENO EMPREGO,

COM DISPUTA

ENTRE EMPRESAS

POR PROFISSIONAIS

QUALIFICADOS,

OFERECER

FORMAÇÃO

CONSTANTE É

ESSENCIAL PARA

A RETENÇÃO DE

TALENTOS. A EAD É

UMA SOLUÇÃO

PRÁTICA,

ECONÔMICA E

EFICIENTE.

Independentemente da área de atuação

do profissional, quando o assunto é

e-learning, as palavras de ordem são

integração e portabilidade. É essencial

lembrar que todo esse conteúdo precisa

estar disponível em tempo real, refletir

a estratégia e política da empresa e

manter-se atualizado e integrado às

mudanças e avanços tecnológicos.

Isso ajudará a levar o conhecimento

aos profissionais onde eles estiverem

e a apoiar seu aprendizado no longo

prazo, ajudando-os a pôr em prática

seu potencial para contribuir com a

valorização da corporação.

Em um cenário que se aproxima do pleno

emprego e com alta competição entre

empresas na disputa por profissionais

qualificados, oferecer formação

constante é uma das ferramentas

essenciais para a qualificação e retenção

dos talentos. O ensino a distância é uma

das soluções mais práticas, econômicas

e eficientes para desenvolver com

sucesso a educação corporativa.

Cris Bonini

Diretora de Learning Development e de

Performance, People & Culture da KPMG

no Brasil.

52 IDEIAS EM GESTÃO | NO 13 | NOV/2013

Vi no noticiário da tv um pernambucano que

havia viajado quatro dias de ônibus para ver a

neve em São Joaquim, SC. E ele contou essa

façanha à repórter com um sorriso caloroso,

apesar dos flocos de neve que deslizavam

sobre ambos, na rua, onde acontecia a

entrevista.

Além da diversidade cultural, a pluralidade

climática também caracteriza nosso país

e permite que, no mesmo mês de julho,

nordestinos curtam dias brancos e gelados no

Sul, enquanto sulistas se maravilham com as

águas quentes do colorido litoral nordestino!

Apesar dessa cultura caleidoscópica, o Brasil

desenvolveu, em seu processo de formação

histórica, uma unicidade magnífica que

lhe dá uma identidade admirada em todo o

mundo. Já há algum tempo, passamos a ser

valorizados não apenas por nossa música ou

por nossos jogadores de futebol. O Brasil se

posiciona como uma nação economicamente

importante no cenário mundial. E o brasileiro

dá mostras contundentes de que, além desses

méritos de nossa nacionalidade, é hora de

se resolverem alguns flagelos históricos,

especialmente com relação à gestão da coisa

pública.

Tivemos este ano, além da neve no Sul, um

aquecimento das tensões sociais nas ruas das

grandes cidades brasileiras. Grande desafio

para os analistas dos fenômenos sociais

e maior ainda para governos e políticos,

principal tema das indignações.

As insatisfações ganham impulso nestes

tempos em que, parece, o ser humano

revela uma certa angústia existencial. Esta

porém não é exclusiva dos brasileiros. É um

fenômeno civilizacional que nos leva, nem

sabemos exatamente em busca do quê, às

estradas, aos bares, aos aeroportos, aos

shoppings, aos bailes, às drogas, às raves, aos

templos neopentecostais, enfim, às ruas.

Bem administradas, essas manifestações, que

acontecem não apenas no Brasil, cumprem

uma função catártica importante para o

equilíbrio dinâmico das relações sociais. O

maravilhoso espetáculo de mais de três

milhões de pessoas em Copacabana, rezando

com o Papa, em paz, é um belo exemplo disso.

Bom final de ano e até março!

Artur Roman