o uso da inovação como estratégia competitiva

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TAMIRES STER DE PAULA BELTRÃO O USO DA INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA: Uma análise do mercado de defensivos agrícolas no Brasil GOIÂNIA 2014

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Uma análise do mercado de defensivos agrícolas no Brasil

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  • 0

    TAMIRES STER DE PAULA BELTRO

    O USO DA INOVAO COMO ESTRATGIA COMPETITIVA:

    Uma anlise do mercado de defensivos agrcolas no Brasil

    GOINIA

    2014

  • 1

    TAMIRES STER DE PAULA BELTRO

    O USO DA INOVAO COMO ESTRATGIA COMPETITIVA:

    Uma anlise do mercado de defensivos agrcolas no Brasil

    GOINIA

    2014

    Monografia apresentada como requisito parcial

    para obteno do grau de bacharel em Cincias

    Econmicas pela Faculdade de Administrao,

    Cincias Contbeis e Cincias Econmicas da

    Universidade Federal de Gois.

    Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Scalco

  • 2

    Beltro, Tamires Ster de Paula

    O USO DA INOVAO COMO ESTRATGIA COMPETITIVA:

    Uma anlise do mercado de defensivos agrcolas / Tamires Ster de Paula

    Beltro. Goinia/GO: FACE-UFG, 2014.

    64 f.

    Monografia apresentada Faculdade de Administrao, Cincias

    Contbeis e Cincias Econmicas UFG. Campus Samambaia, 2014.

    Orientador: Dr. Paulo Roberto Scalco.

    Banca Examinadora: M.Sc Cleidinaldo de Jesus Barbosa, M.Sc Andr

    da Cunha Bastos

    1. Inovao 2. Estratgias competitivas 3. Defensivos agrcolas

    1. Innovation 2. Competitive strategies 3. Agrochemicals

  • 3

    O USO DA INOVAO COMO ESTRATGIA COMPETITIVA:

    Uma anlise do mercado de defensivos agrcolas no Brasil

    Monografia apresentada junto Faculdade de Administrao, Cincias Contbeis e Cincias

    Econmicas da Universidade Federal de Gois como requisito obteno do ttulo de

    Bacharel em Cincias Econmicas.

    Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Scalco

    Aprovada em _____/_____/_____

    Nota: _______

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________________________________

    Prof. Dr. Paulo Roberto Scalco FACE/UFG (orientador)

    ____________________________________________________________________

    Prof. M.Sc. Cleidinaldo de Jesus Barbosa FACE/UFG

    ____________________________________________________________________

    Prof. M.Sc. Andr da Cunha Bastos FACE/UFG

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a meus pais, Walter e Nara, que me acompanham na luta diria e so meus maiores

    exemplos de vitria pelo trabalho duro e honesto. Esta conquista tambm de vocs.

    Aos meus irmos, Tales e Thas, que alegram minhas noites em casa com nossas conversas

    singelas e cotidianas.

    Ao Ney, meu melhor amigo e namorado, pelo apoio incondicional. Essa jornada foi muito

    mais fcil com voc a meu lado.

    Aos meus amigos da vida, por tolerarem meus sumios nos longos e contnuos fins de semana

    de estudos e depois me aceitarem de volta.

    Aos amigos feitos na faculdade, por todos os momentos de desespero compartilhados, pela

    ajuda sempre providencial e pelo companheirismo nas aulas e fora delas.

    Aos colegas de trabalho, pelos ensinamentos e amizade ao longo dos ltimos dois anos. Em

    especial, agradeo Katielly, Geovana e Renatha, pela ajuda nos ltimos dias de monografia,

    e ao Rafael, pelo tempo e conhecimento gentilmente cedidos realizao deste trabalho.

    Angli, pelo suporte e orientao no processo de utilizao das informaes da Bayer, mas

    de forma infinitamente maior, pela pacincia e compreenso durante este semestre.

    Ao Prof. Paulo Scalco, por aceitar este desafio e colocar rumo nas minhas ideias. Sua

    orientao foi o que transformou uma curiosidade em um trabalho cientfico.

  • 5

    SUMRIO

    RESUMO ................................................................................................................................... 6

    ABSTRACT ............................................................................................................................... 7

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 8

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 9

    CAP. I - INTRODUO ......................................................................................................... 10

    1.1. Consideraes iniciais .................................................................................................... 10

    1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 12

    1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 14

    1.2.1 Objetivo geral e Pergunta-Problema ........................................................................ 14

    1.2.2 Objetivos especficos................................................................................................ 14

    CAP. II - REFERENCIAL TERICO ..................................................................................... 15

    2.1 Inovao .......................................................................................................................... 15

    2.2 Ciclo de vida do produto ................................................................................................. 18

    2.3 Vantagem competitiva .................................................................................................... 21

    2.4 Estruturas de mercado ..................................................................................................... 24

    2.4.1 O oligoplio.............................................................................................................. 26

    2.5 Defensivos Agrcolas ...................................................................................................... 28

    2.6 Trabalhos relacionados ................................................................................................... 31

    CAP. III - METODOLOGIA ................................................................................................... 34

    CAP. IV ANLISE DA COMPETITIVIDADE DA INDSTRIA DE DEFENSIVOS

    AGRCOLAS NO BRASIL ..................................................................................................... 36

    4.1 Contextualizao ............................................................................................................. 36

    4.2 Estrutura de mercado ...................................................................................................... 39

    4.3 Inovao .......................................................................................................................... 44

    4.4 Estratgias competitivas.................................................................................................. 49

    4.4.1 Anlise dos produtos selecionados ........................................................................... 55

    CAP. V CONCLUSO ......................................................................................................... 59

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 61

  • 6

    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo analisar a relao entre inovao e vantagem competitiva

    para, dessa forma, determinar como as empresas de defensivos agrcolas estabelecem suas

    estratgias competitivas em um mercado oligopolista e intensivo em capital. Para isto, realiza-

    se uma caracterizao da estrutura de mercado, dos sistemas de inovao e das estratgias

    competitivas da indstria de defensivos agrcolas. As principais fontes deste estudo so os

    dados do setor como um todo e da empresa Bayer com foco em cinco produtos selecionados:

    Belt, Connect, Cropstar, Fox e Soberan. A partir das anlises dos dados, identifica-se que o

    mercado de defensivos agrcolas no Brasil fortemente concentrado, com barreiras entrada

    bem estabelecidas pelas seis empresas que dominam o mercado, que o processo de inovao

    da indstria intensivo em capital e acontece prioritariamente fora do pas, e que a

    comercializao de produtos patenteados a principal forma de se obter vantagens

    competitivas, comprovando a hiptese inicialmente apresentada. Alm do uso dos produtos

    inovadores, conclui-se que as empresas que dominam o mercado desenvolvem estratgias

    sofisticadas de determinao de preos, segmentao de mercado, marketing de clientes e

    gerenciamento do portflio de produtos, o que tambm influencia contundentemente na

    capacidade de criar e sustentar vantagens competitivas.

    Palavras-chave: Inovao, Estratgias competitivas, Defensivos agrcolas.

  • 7

    ABSTRACT

    This work has the objective of analyzing the relationship between innovation and competitive

    advantage to, thereby, determine how agrochemicals companies establish its competitive

    strategies in an oligopolistic and capital-intensive market. In this purpose, it is conducted a

    characterization of the market structure, of the innovation systems and of the competitive

    strategies of the agrochemicals industries. The main sources of this study are the data of the

    whole industry and of the Bayer Company with focus in five selected products: Belt, Connect,

    Cropstar, Fox and Soberan. Based on the data analysis, it is identified that the agrochemicals

    market in Brazil is strongly concentrated, with barriers to entry well-established by the six

    market leaders, that the innovation process of the industry is capital-intensive and mainly

    developed abroad, and that the patented products commercialization is the principal way of

    achieving competitive advantages, confirming the initially presented hypothesis. Beyond the

    use of innovative products, it is concluded that the leaders of the market develop sophisticated

    strategies of pricing, market segmentation, costumers marketing and product portfolio

    management, which also determine strikingly the capacity to create and to sustain competitive

    advantages.

    Key-words: Innovation, Competitive strategies, Agrochemicals.

  • 8

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Ciclo de Vida do Produto ........................................................................................ 20

    Figura 2 - Crescimento acumulado e mdio do PIB total e do setor agropecurio, 1970 a 2009

    .................................................................................................................................................. 37

    Figura 3 - Crescimento da rea, produtividade e produo de gros no Brasil, 1976 a 2013 .. 37

    Figura 4 - Vendas de defensivos agrcolas no Brasil, valores em US$ milhes, 1990 a 2013. 39

    Figura 5 - Participao de mercado acumulada das empresas de defensivos agrcolas no

    Brasil, 1990 a 2010 ................................................................................................................... 41

    Figura 6 Etapas de P&D e vendas de defensivos agrcolas ................................................... 45

    Figura 7 - Gastos mundiais em P&D das seis maiores empresas de defensivos agrcolas,

    valores em EUR milhes, 2010 a 2013 .................................................................................... 47

    Figura 8 - Tipos de estratgias de preo para introduo de defensivo agrcolas no mercado 54

    Figura 9: Dados de venda e preos sobre os produtos Bayer e seus principais concorrentes .. 57

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Resumo sobre os produtos Bayer selecionados para anlise ................................... 35

    Tabela 2 - Participao de mercado das 8 maiores empresas de defensivos agrcolas no Brasil,

    1990 a 1999 .............................................................................................................................. 40

    Tabela 3 - Principais fuses e aquisies entre as empresas de defensivos agrcolas na dcada

    de 1990 ..................................................................................................................................... 40

    Tabela 4 - Participao de mercado das 8 maiores empresas de defensivos agrcolas no Brasil,

    2003 a 2010 .............................................................................................................................. 41

    Tabela 5 - Participao de mercado das empresas por cultura e classe de uso na regio

    Cerrados, 2013 .......................................................................................................................... 42

    Tabela 6 - Posio e participao de mercado dos produtos Bayer selecionados, 2012 a 2014

    .................................................................................................................................................. 43

    Tabela 7 - Novos defensivos agrcolas introduzidos no mercado mundial e produtos em

    processo de P&D por empresa, 1995 a 2010 ............................................................................ 48

  • 10

    CAP. I - INTRODUO

    1.1. Consideraes iniciais

    Com surgimento no incio do sculo XX e expanso de uso aps a II Guerra

    Mundial, os defensivos agrcolas so hoje um insumo indispensvel para a agricultura

    mundial. Entre polmicas e opinies dissonantes, o fato que impossvel pensar sobre

    produo de alimentos em larga escala sem pensar na chamada Revoluo Verde, ocorrida

    por volta da dcada de 1960 e responsvel pela disseminao das tecnologias de produo

    agrcola modernas, dentre as quais, os defensivos agrcolas.

    Junto com sementes geneticamente modificadas, mecanizao do meio rural e

    criao de tcnicas avanadas de cultivo, os defensivos agrcolas surgiram para desmistificar

    as predies malthusianas de crescimento populacional acima do crescimento da produo de

    alimentos. Assim, o aumento de produtividade mostrou-se a chave para a expanso da

    produo sem correspondente expanso de terras dedicadas a lavouras e pastos e para que a

    quantidade de alimentos produzidos anualmente no mundo fosse muito maior do que as

    necessidades nutricionais da populao.

    Apesar disso, os problemas relativos fome mundial no foram sanados e continuam

    a apresentar um imenso desafio para a humanidade. Questes como o desperdcio de

    alimentos, o crescimento da populao e o esgotamento dos recursos naturais esto no foco do

    desenvolvimento econmico do sculo XXI, e fazem parte das preocupaes de todas as

    empresas ao redor do mundo, principalmente daquelas relacionadas com a produo de

    alimentos.

    Ao mesmo tempo em que a quantidade de alimentos produzidos preocupa, importa

    tambm a questo da expanso da fronteira agrcola e suas consequncias ambientais e

    sociais. Nesse sentido, intensifica-se o desafio de produzir mais sem que para isso florestas

    sejam derrubadas ou altere-se a configurao urbana dos pases. Alm disso, h tambm uma

    vigilncia constante sobre os defensivos agrcolas e sementes geneticamente modificadas no

    que se refere a seus possveis impactos na sade dos seres humanos e na fauna e flora.

    assim que se apresenta o desafio das empresas de defensivos agrcolas quanto sua

    funo social e relacionamento com a sociedade, mas antes que cheguem a esse ponto,

    preciso que essas empresas consigam se estabelecer de forma competitiva num mercado

  • 11

    dinmico e altamente intensivo em capital. Surgida como ramificao da indstria qumica, a

    indstria de defensivos agrcolas est intimamente ligada inovao tecnolgica e se apoia na

    competio por diferenciao com margens elevadas para sustentar seus constantes e elevados

    investimentos em P&D.

    A partir do interesse pelo uso da inovao como estratgia competitiva e da

    percepo de que a indstria de defensivos agrcolas constri sua estratgia dessa forma que

    nasce este trabalho. claro que implicitamente, h tambm o interesse pelas tendncias

    futuras de desenvolvimento da indstria de defensivos e seu impacto na produo de

    alimentos mundial, na quantidade de terras dedicadas a estas atividades e nos resduos

    deixados pelo uso dos defensivos nas pessoas e meio ambiente.

    Diversas questes econmicas chamam ateno ao se analisar de forma mais

    prxima a indstria de defensivos agrcolas. Uma delas sua estrutura de mercado,

    oligopolista diferenciada, justificada tanto pelas patentes conseguidas aps anos de pesquisas

    focadas na descoberta de princpios ativos novos, que funcionam como barreiras entrada,

    quanto pelas estratgias fortemente agressivas de consolidao de mercado para conteno de

    riscos e ganho de escala estabelecidas pelas empresas lderes do mercado mundial nos ltimos

    anos.

    Outra questo a diferena de estratgias adotadas pelas empresas que produzem

    produtos patenteados e as que produzem produtos sem patente, ou genricos. Enquanto as

    primeiras tm no centro de sua estratgia a inovao tecnolgica, principalmente em produto

    e processo, as ltimas do pouca importncia a este quesito, concentrando seus gastos em

    inovao em aquisio de conhecimento externo e em investimentos tangveis. Essa diferena

    faz com que, diante da proposta desta pesquisa, seja mais interessante analisar as empresas de

    produtos patenteados do que as empresas de produtos genricos.

    Seis so as empresas que controlam hoje o mercado mundial de defensivos agrcolas:

    Syngenta, Bayer Cropscience, Dupont, Basf, Monsanto e Dow Agroscience. Estas empresas

    apresentam estratgias bem estruturadas de desenvolvimento do negcio e um intenso nvel

    de competio entre si. Certamente, elas esto entre as empresas que produzem produtos

    patenteados, alm de integrarem defensivos e sementes e de preocuparem-se no s com o

    produto, mas com estratgias de marketing de valorizao da marca e de oferecimento de

    diversos servios de relacionamento para os consumidores, atuando de forma ampla na busca

    de vantagens competitivas frente aos concorrentes.

  • 12

    neste contexto que se apresenta o mercado de defensivos agrcolas atualmente.

    Vale ressaltar que com a globalizao, reduzem-se as diferenas entre estratgias globais e

    locais, por isso que as questes levantadas aqui foram caracterizadas de forma geral. Apesar

    desse alinhamento, inevitvel que haja algum nvel de adaptao da forma de atuao das

    empresas com atividades em nvel global para os mercados e estruturas locais. Tendo isso em

    vista, este trabalho trata especificamente da indstria de defensivos no Brasil e da estratgia

    competitiva desta indstria no pas.

    1.2 Justificativa

    O progresso tecnolgico abordado na teoria econmica desde os estudos de Marx,

    Ricardo e Smith. Estes autores tratavam da tecnologia na organizao do processo de

    produo, na obteno de lucros e nas relaes sociais entre capitalistas e trabalhadores. A

    partir da revoluo marginalista pela escola neoclssica, o estudo deste tema perdeu fora, e

    s foi retomado com a apario de Schumpeter e sua fundamentao sobre ciclos econmicos,

    destruio criadora e o conceito de inovao.

    A partir do conceito de destruio criadora, Schumpeter (1961) determina que a

    inovao tecnolgica est no cerne do processo evolutivo da economia capitalista.

    Posteriormente, com um vis mais microeconmico, Porter (1980) acrescenta que a inovao

    tecnolgica importante para a mudana estrutural e a criao de novas indstrias, devendo

    ser adotada como forma de obteno de vantagem competitiva pelas empresas. Segundo este

    autor, as principais formas de vantagem competitiva geradas pela inovao so referentes

    reduo de custo, aumento de diferenciao de mercado, criao de barreiras entrada e

    melhoria da estrutura industrial.

    Na linha das discusses mais recentes sobre este tema, Cravo (2008) destaca a

    complexidade em relacionar a inovao tecnolgica com a vantagem competitiva de forma

    prtica, principalmente por causa de fatores como a influncia de muitas outras variveis no

    desempenho das empresas e a dificuldade de encontrar aspectos objetivos de medio da

    vantagem competitiva. Tendo esta problemtica em vista e a importncia que ela representa

    para a economia industrial contempornea, o presente estudo utiliza o mercado de defensivos

    agrcolas e o posicionamento das empresas deste setor na busca de vantagem competitiva por

    meio da inovao tecnolgica para acrescentar novas concluses discusso.

  • 13

    Frenkel e Silveira (1996) descrevem que a indstria de defensivos agrcolas um

    segmento da indstria qumica, chamado de qumica fina. Este um segmento que se

    caracteriza pelo alto valor unitrio dos produtos e pela produo em escala relativamente

    pequena em relao a outros segmentos da indstria qumica. Evidenciando que a indstria de

    defensivos agrcolas faz parte do processo de evoluo e diversificao da indstria qumica,

    essas caractersticas justificam a escolha deste setor especificamente para tratar das questes

    da inovao e da estratgia competitiva de empresas inovadoras.

    Quando se trata da estrutura do mercado, a literatura descreve ainda diversas

    caractersticas que incentivam as empresas do setor de defensivos a tratar o investimento em

    inovao como elemento-chave na busca de liderana de mercado. Dentre essas

    caractersticas, destacam-se a intensidade de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento

    (P&D), a alta concentrao de mercado (GONALVES; LEMOS, 2011), a constante

    necessidade de inovao de portflio, as rgidas exigncias ambientais e regulatrias

    (CRAVO, 2008), a tendncia a poucas economias de escala e fortes economias de escopo, a

    alta segmentao de mercado, a imposio de barreiras entrada, e o estabelecimento de

    preos e margens elevadas pela diferenciao de produto (MARTINELLI JR.; WAQUIL,

    2002).

    Quanto importncia econmica do setor de defensivos agrcolas, relevante

    mencionar que em 2008 o Brasil assumiu o posto de maior mercado consumidor de

    defensivos do mundo e desde ento disputa acirradamente por esta posio com os Estados

    Unidos, baseando-se em um crescimento muito acima da mdia de crescimento mundial

    (SINDIVEG, 2009 apud CARNEIRO, 2009, p. 4). Alm disso, no Brasil, as atividades do

    agronegcio representaram em 2013 22,5% do Produto Interno Bruto (PIB) (CEPEA-

    USP/CNA, 2014), e a extenso da produo agrcola faz do pas o terceiro maior produtor

    global. Por si s, este pequeno levantamento de dados j suficiente para explicar a amplitude

    de operaes das maiores multinacionais da indstria global no pas e a competitividade

    crescente do setor.

    Diante do reconhecimento da dimenso e importncia do agronegcio no Brasil, do

    interesse da teoria econmica em explicar a relao entre inovao e vantagem competitiva, e

    tambm levando em considerao as favorveis caractersticas estruturais brevemente

    descritas acima, justifica-se o interesse em analisar o posicionamento estratgico de uma

    indstria de defensivos agrcolas. Com este trabalho, espera-se entender de que forma essa

    indstria compete no mercado utilizando a inovao para criar e sustentar diversas formas de

  • 14

    vantagem competitiva, contribuindo, assim, para aproximar a teoria econmica da realidade e

    para dar sustentao deciso de inovar das empresas em geral.

    Neste sentido, vale, por fim, apresentar a hiptese que permeia as investigaes

    desenvolvidas no trabalho. Assim, espera-se verificar se de fato as indstrias de defensivos

    agrcolas se desenvolvem e estabelecem suas estratgias competitivas por meio do uso da

    inovao, especialmente com o lanamento de produtos inovadores no mercado.

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivo geral e Pergunta-Problema

    Analisar a relao entre inovao tecnolgica e vantagem competitiva na indstria de

    defensivos agrcolas para responder seguinte pergunta-problema: Como uma indstria de

    defensivos agrcolas estabelece sua estratgia competitiva no mercado oligopolista e intensivo

    em capital?

    1.2.2 Objetivos especficos

    Caracterizar o mercado de defensivos agrcolas no Brasil;

    Analisar a estratgia de inovao das indstrias de defensivos agrcolas;

    Averiguar como a inovao usada para obteno de vantagem competitiva pelas

    indstrias de defensivos agrcolas.

  • 15

    CAP. II - REFERENCIAL TERICO

    Para este trabalho, o referencial terico busca realizar delimitaes e esclarecer

    conceitos, relaes bsicas e pressupostos que sero adotados para as anlises posteriores.

    Assim, o referencial inicia-se com o tema da inovao, segue para a descrio do ciclo de vida

    do produto, e depois, para a delineao das principais vertentes de anlise sobre vantagem

    competitiva. Posteriormente, ainda apresenta os modelos de estrutura de mercado, dando foco

    especial nas estruturas oligopolistas, descreve de forma sucinta alguns conceitos relevantes a

    respeito dos defensivos agrcolas, e por fim, traz luz trabalhos relacionados com o tema de

    pesquisa que destacaram-se como referncia emprica diante de um assunto ainda pouco

    explorado.

    A partir da exposio de todos estes temas, evidencia-se o arcabouo terico que d

    subsdio para as anlises especficas sobre o mercado de defensivos agrcolas e explicitam-se

    as relaes que so construdas pela literatura e pela experincia prtica entre inovao,

    estratgias competitivas e o mercado de defensivos agrcolas.

    2.1 Inovao

    A inovao tecnolgica no um conceito que nasce na obra de Joseph Schumpeter

    (1961, 1982), mas em suas discusses que ressurge e se estabelece entre os pilares da teoria

    econmica contempornea. Aps essa retomada, diversos autores se dispuseram a discutir o

    papel da inovao nos mercados e na sociedade, desenvolvendo modelos e analisando fatos da

    realidade em que se encontravam.

    Inicialmente, Schumpeter (1982) faz uma distino entre inveno e inovao:

    enquanto o primeiro termo refere-se criao de algo novo, sem obrigatria relevncia

    econmica, o segundo termo indica uma inveno que de alguma forma pode ser explorada

    economicamente. O processo inovativo inicia-se pela inveno, segue para a inovao, e

    termina na difuso, momento em que a inovao se propaga pelo mercado e dissipa a

    vantagem gerada anteriormente (HADDAD, 2010).

    Em sua obra Teoria do Desenvolvimento Econmico, Schumpeter (1982) trata do

    conceito de inovao como combinao de materiais e foras ao alcance do ser humano para

  • 16

    produzir coisas ou mtodos novos. A inovao pode ser feita pela introduo de um novo bem

    no mercado, ou de caractersticas novas a um bem existente, tambm pela insero de um

    novo mtodo de produo em um segmento industrial, pela conquista de um novo mercado,

    pelo desenvolvimento de novas fontes de matrias-primas ou insumos e pelo estabelecimento

    de uma nova organizao industrial.

    Nas obras mais recentes, as inovaes tm sido divididas de forma simplificada em

    inovaes de produto ou de processo. Porm, a partir de 2004, o Manual de Oslo incorpora a

    esta classificao mais dois tipos de inovao: organizacional e de marketing. Assim,

    inovao de produto a introduo de um bem ou servio novo ou significativamente

    melhorado no que concerne a suas caractersticas ou usos previstos (MANUAL DE OSLO,

    2004, p. 57). J a inovao de processo refere-se ao aperfeioamento intenso ou criao de

    novos mtodos de produo ou de distribuio de produtos e servios, ao passo que a

    inovao de marketing concerne implementao de novos mtodos de marketing,

    relacionando-se com o design, posicionamento, forma de promoo e estabelecimento de

    preo de produtos e servios inovadores ou no. Por ltimo, a inovao organizacional faz

    referncia a novos mtodos organizacionais de prticas de negcios, organizao do local e

    ambiente interno e tambm nas relaes com outras firmas e instituies pblicas.

    Alm da classificao de tipo, as inovaes tambm so diferenciadas pelo grau de

    inovao e extenso das mudanas provocadas por elas. Neste ponto, Freeman e Soete (1997)

    definem quatro categorias de inovao: as inovaes incrementais ou contnuas so graduais e

    nem sempre surgem de um esforo concentrado ou investimento em P&D, muitas vezes sendo

    resultado do aprendizado interno da firma; as inovaes radicais ou descontnuas so saltos de

    desenvolvimento, elas quase sempre so resultados de uma atividade contnua de P&D e no

    acontecem o tempo todo como as inovaes incrementais; as mudanas no sistema

    tecnolgico combinam inovao incremental e radical de forma a afetar grupos ou setores

    inteiros e dar origem a atividades econmicas novas; e as mudanas no paradigma tcnico

    econmico so as maiores formas de inovao possvel, elas so raras, mas influem na

    economia de forma ampla e duradoura, no s sentido tcnico como tambm no sentido social

    e econmico.

    Na teoria Schumpeteriana, inevitavelmente o processo de inovao est relacionado

    com um movimento endgeno de ruptura, descontinuidade, que desestabiliza o sistema

    econmico e o leva a um patamar superior (HADDAD, 2010). Este processo pode ser

  • 17

    sintetizado pelo termo destruio criadora e dela que se constitui o capitalismo e a ela deve

    se adaptar toda a empresa capitalista para sobreviver (SCHUMPETER, 1961, p. 110).

    Para este trabalho, o ponto de maior importncia no estudo das inovaes est

    relacionado com sua capacidade de gerar valor para as empresas, o qual recebe ateno na

    literatura econmica desde os estudos iniciais de Schumpeter (1982). Para ele, as inovaes

    so tratadas, do ponto de vista do agente inovador, como forma de diferenciao para

    obteno de vantagens competitivas e lucro (HADDAD, 2010), e isto o que motiva o

    investimento e o aceite ao risco de inovar.

    Quando se trata da questo econmica das inovaes, Hasenclever e Ferreira (2013)

    destacam dois modelos de anlise estrutural industrial: o modelo de incitao e o modelo de

    seleo.

    O modelo de incitao tem vis neoclssico e foi criado por Kenneth Arrow (1962).

    Este modelo avalia a motivao para investir em P&D nas situaes de monoplio e

    concorrncia pura. Suas premissas assentam-se na ideia de que o conhecimento resultado da

    genialidade de inventores individuais, que s existem monoplio e concorrncia pura como

    estruturas de mercado e que a atividade inovativa concerne riscos e incertezas, pode ser

    apropriada por agentes externos e produz rendimentos crescentes com sua utilizao.

    O modelo considera que as empresas comparam os recursos despendidos em P&D

    com os retornos obtidos com este investimento para tomarem a deciso de inovar. Assim, para

    mercados monopolistas a inovao deve se refletir em altas redues de custo para ser

    atrativa, pois neste mercado o lucro extraordinrio garantido pela prpria estrutura de

    mercado. Em contrapartida, nos mercados concorrenciais a escolha por inovar constantemente

    a melhor forma de auferir lucro, mesmo que por curto prazo. Sendo assim, a concluso do

    modelo, considerando inovaes drsticas ou no-drsticas, que os mercados competitivos

    so mais propensos a investir em P&D que os mercados monopolistas.

    Posteriormente anlise de Arrow, o modelo de incitao foi modificado por

    Dasgupta e Stiglitz (1980) para abranger diversas formas de mercado, alm de expandir a

    anlise inicial englobando a elasticidade-preo da demanda e as barreiras entrada. Tanto na

    anlise de Arrow quanto na de Dasgupta-Stiglitz considera-se que as inovaes s so usadas

    no sentido de reduo de custos, porm, no novo modelo, os pesquisadores chegam a

    concluses opostas das iniciais. Dasgupta e Stiglitz concluem que o investimento em P&D

  • 18

    aumenta conforme o nmero de empresas no mercado diminui, dessa forma, mercados mais

    concentrados so mais inovadores que mercados mais prximos da concorrncia pura.

    O modelo de seleo, por sua vez, foi sintetizado por Winter e Nelson (1982). Este

    modelo trata principalmente da forma de evoluo das indstrias com foco na estrutura de

    mercado e nas interaes entre as empresas. Dessa forma, as empresas se mantm ou

    aumentam sua participao no mercado por meio ou da inovao ou da imitao. No

    possvel saber ex-ante qual a melhor maneira de distribuir os investimentos em P&D entre

    essas duas formas de agir. Uma vez que o mercado complexo e as empresas tm

    produtividades e custos diferentes, com o passar do tempo elas vo aprendendo qual a

    melhor forma de se posicionar na busca do equilbrio. Como concluso, este modelo prope

    que h baixa tendncia generalizao de preos dos produtos no mercado e que estruturas de

    mercado mais concentradas tendem a gerar uma produtividade maior, no pela maior

    propenso a inovar nas estruturas concentradas, mas pela facilidade de difuso das melhores

    tcnicas de produo nesses mercados.

    Com base nestes modelos possvel notar que h entre os estudiosos uma

    preocupao com a definio de qual forma de mercado mais apropriada inovao.

    Concordando com Schumpeter (1961), Dasgrupta e Stiglitz (1980) e Nelson e Winter (1982),

    Martin (2010) sintetiza algumas razes para justificar a maior propenso inovao em

    mercados mais concentrados: capacidade de diluio dos custos de pesquisa no volume de

    vendas, vantagem no relacionamento com o mercado financeiro, facilidade em explorar

    economias de escala e escopo, maior possibilidade de fazer bom uso de descobertas

    inesperadas, devido a maior capacidade de diversificao, e segurana na apropriabilidade dos

    lucros gerados por uma inovao.

    2.2 Ciclo de vida do produto

    Tendo em vista os quatro tipos de inovao apresentados anteriormente, neste

    trabalho o foco est na inovao de produto. Quando se fala em produto, importante

    considerar que este conceito refere-se a no s a um produto fsico, mas a tudo que ofertado

    ao mercado com o intuito de suprir ou satisfazer uma necessidade ou um desejo (KOTLER;

    KELLER, 2006).

  • 19

    sabido que o mercado sofre alteraes constantes de acordo com as variaes na

    oferta e na demanda, e que os produtos que esto nele inseridos so influenciados por estes

    movimentos. Baseado neste entendimento que surge o conceito de Ciclo de Vida do Produto

    (CVP). Existem diversas vertentes de anlise do CVP, no entanto, para este trabalho

    interessante adotar uma fundamentao que considere desde o processo de desenvolvimento

    do produto, principalmente pelo foco dado inovao, at sua retirada do mercado aps sua

    passagem por todas as fases de comercializao.

    Devido ao interesse nas estratgicas competitivas e posicionamento estratgico das

    empresas, pouca ateno ser dada questo ambiental do CVP. Neste sentido, Kotler et al.

    (1999) oferecem um modelo de anlise que se mostra consistente com os objetivos aqui

    propostos. Segundo este modelo, o CVP divide-se em cinco fases, que podem ser descritas

    como a seguir:

    1- Desenvolvimento do Produto: Esta fase comea com a ideia inicial de um novo produto e

    termina com o lanamento do produto no mercado. Nesta fase no h vendas e os custos de

    investimento so altos.

    2 Introduo: Fase em que o produto est sendo introduzido no mercado. Ainda apresenta

    custos elevados, principalmente devido s aes de marketing e distribuio. As vendas

    comeam a crescer, mas ainda no cobrem todos os custos de introduo.

    3 Crescimento: Perodo de avano rpido das vendas conforme aumenta a aceitao do

    produto no mercado. Nesta fase, os custos so baixos e os lucros se aproximam do pice para

    este produto.

    4 Maturidade: Fase em que as vendas deixam de crescer, pois o produto j atingiu seu

    potencial de mercado. Os lucros podem se estabilizar ou sofrer alguma queda visto que a

    concorrncia cresce e gastos em propaganda podem ser necessrios.

    5 Declnio: Perodo de reduo de vendas e lucros. Nesta fase a concorrncia avana

    fortemente e o produto perde mercado por se tornar obsoleto.

    A figura 1 representa estas fases conforme vendas e lucros no tempo.

  • 20

    Figura 1 - Ciclo de Vida do Produto

    Fonte: Kotler (1999)

    Uma observao importante sobre o CVP que ele pode variar consideravelmente,

    de forma que cada ciclo pode ter as mais diversas duraes de acordo com condies de

    mercado e com as respostas das firmas a essas condies. Porm, comum que determinados

    mercados apresentem certos padres de ciclo de vida. Segundo Kotler e Keller (2006), esta

    questo da variabilidade do CVP a que mais recebe crticas, pois argumentam que ela

    impede que se visualize exatamente o posicionamento do produto em relao a seu Ciclo de

    Vida, dificultando o uso desta ferramenta na tomada de decises estratgicas.

    Quando se trata de produtos inovadores, o CVP vem se tornando cada vez menor ao

    longo dos anos, obrigando as empresas a investirem constantemente em P&D para se

    manterem ativas no mercado (SILOCCHI, 2002). De acordo com Clark e Fujimoto (1991),

    esse processo de intensa renovao tem como objetivo a sustentao de vantagens

    competitivas no tocante a custos, diferenciao de produtos, agregao de valor marca e

    satisfao do consumidor.

    Outro ponto que chama a ateno na anlise do CVP dos produtos inovadores a

    variao do valor que o P&D agrega ao produto ao longo de suas fases de vida. Quanto a isso,

    Kayo et al. (2006) explicam que quando um produto inovador, e consequentemente

    patenteado, lanado no mercado, a maior parte do seu valor est em suas caractersticas

    inovadoras e na garantia da comercializao exclusiva da tecnologia nele incorporada. Porm,

    com a difuso da tecnologia ao longo do tempo e possvel vencimento da patente, a maior

    parte do valor do produto passa a ser referente consolidao da marca e fidelizao dos

    consumidores.

  • 21

    Vale ainda mencionar que o gerenciamento do CVP e do Processo de

    Desenvolvimento de Produtos (PDP) (fase inicial do CVP) est intimamente ligado com a

    estratgia da empresa como lder ou seguidora. Ao mesmo tempo em que as duas estratgias

    no podem abrir mo da inovao, a estratgia de liderana concerne maiores riscos, mas

    tambm maiores retornos. Comumente, as empresas lderes de mercado esto frente da

    concorrncia em termos de inovao de produto e usam uma estratgia de diferenciao para

    criar e sustentar vantagens competitivas (SILOCCHI, 2002).

    2.3 Vantagem competitiva

    Vasconcelos e Cyrino (2010) afirmam que existem dois eixos principais que tratam

    da origem da vantagem competitiva. O primeiro eixo considera o relacionamento e

    posicionamento da firma diante do ambiente externo, assim, foca na estrutura da indstria e

    na dinmica da concorrncia e do mercado. O segundo foca nos recursos internos, ou seja, na

    estruturao e organizao interna da firma, para s depois de se preocupar com questes

    externas.

    Antes de seguir diferenciao das correntes de anlise da vantagem competitiva,

    importante adotar uma definio geral para este termo. Segundo Porter (1980), vantagem

    competitiva a superioridade de desempenho frente aos concorrentes, criao de um valor

    superior por meio de custos menores ou de preos maiores em relao ao mercado. A

    vantagem competitiva impacta diretamente no desempenho financeiro da firma e este o fim

    ltimo de sua existncia.

    Voltando questo das correntes de estudo da vantagem competitiva, o modelo de

    foco no ambiente externo chamado de anlise Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD), e tem

    como base inicial os trabalhos de Edward Mason (1939) e Joe Bain (1968). Este modelo

    considera que o comportamento da firma depende da estrutura da indstria na qual ela est

    inserida, de forma que a fixao de preos e custos diante da concorrncia o que determina

    seu desempenho econmico (VASCONCELOS; CYRINO, 2010).

    No modelo ECD a indstria o foco de anlise e a estrutura industrial ganha

    destaque em detrimento de aspectos organizacionais da firma. Enquanto que nas primeiras

    anlises de Mason e Bain o poder de monoplio e oligoplio era considerado nocivo

    sociedade, nas anlises seguintes, feitas por Porter (1980) e outros autores, o mercado

  • 22

    depende de certas caractersticas de concentrao industrial para que as indstrias consigam

    criar vantagens competitivas e se desenvolver.

    Quanto ao segundo eixo de anlise, este foi desenvolvido por Wenerfelt (1984) com

    base em estudos anteriores de diversos autores, principalmente Edith Penrose (1959), e

    chamado de Viso Baseada em Recursos (RBV, da sigla em ingls Resource Based View).

    Neste modelo o foco est nas estruturas internas da firma, seus recursos e competncias como

    elementos essenciais para a obteno de vantagem competitiva.

    De acordo com Foss (1997), a anlise RBV baseia-se em duas generalizaes

    empricas bsicas: 1) h diferenas sistemticas entre as firmas no que se refere ao controle

    dos recursos necessrios implementao de estratgias e 2) estas diferenas so

    relativamente estveis. Estas generalizaes devem ser consideradas em conjunto com dois

    postulados: 1) diferenas em dotaes de recursos causam diferenas de desempenho e 2) as

    firmas buscam melhorar seu desempenho econmico.

    Na literatura recente, a aceitao da heterogeneidade dos recursos internos fez com

    que a anlise das estruturas internas da firma ganhasse significncia frente anlise mais

    tradicional voltada para o ambiente externo. Nesta linha, a vantagem competitiva obtida

    diante da dificuldade de imitao dos recursos e forma de organizao entre as firmas, o que

    se contrape com a viso ECP de que so as barreiras entrada e sada que permitem a

    criao de diferencial e vantagem (VASCONCELOS; CYRINO, 2010).

    Barbosa e Bataglia (2010) prope um caminho de convergncia entre as abordagens

    ECP e RBV, que tambm ser adotado aqui, tendo em vista a dificuldade de ambas em

    justificar completamente a questo da estratgia de mercado e gerao de vantagem

    competitiva. Os autores citam Mahoney e Pandian (1992), Wernerfelt (1984), Demsetz

    (1982), Penrose (11959) e Porter (1996) para sustentar que tanto fatores internos quanto

    externos so relevantes para a estratgia das empresas, assim, a busca pelo lucro

    extraordinrio deve levar em conta os dois vieses.

    O caminho de convergncia descrito por Barbosa e Bataglia (2010) baseia-se num

    conceito chamado de capacidades dinmicas, criado por Teece, Pisano e Shuen (1997).

    Segundo estes ltimos, capacidades dinmicas so as habilidades da firma em se adequar a

    ambientes altamente mutveis por meio da integrao, construo e reconfigurao de

    competncias internas e externas. Com essa definio, percebe-se que realizada uma

    combinao no s da anlise estrutural ECP com a anlise organizacional RBV, mas tambm

  • 23

    da argumentao evolutiva e dinmica de desenvolvimento econmico dentro e fora da firma

    defendida por Schumpeter (1961) e os neoschumpeterianos.

    Assim como em qualquer outra teoria, na conceituao de capacidades dinmicas

    existem diversos autores que apresentam definies prprias. Camargo e Meirelles (2012)

    fazem um trabalho interessante no sentido de identificar essas vertentes e relacion-las. Estes

    autores apontam duas linhas de abordagem do conceito em questo: a primeira volta-se para o

    conjunto de habilidades, comportamentos e capacidades organizacionais que criam

    capacidades dinmicas, e a segunda trata das capacidades dinmicas como um conjunto de

    rotinas e processos. A definio cunhada por Teece, Pisano e Shuen (1997) enquadra-se no

    segundo caso. Para o primeiro caso, pode-se usar a definio de Helfat et al. (2007) onde uma

    capacidade dinmica entendida como a capacidade de uma organizao em

    propositadamente criar, estender ou modificar sua base de recursos.

    A partir da sntese das vertentes de abordagem mencionadas, Camargo e Meirelles

    (2012, p. 12) propem um conceito unificado para capacidade dinmica:

    [...] capacidade que baseada em uma atitude deliberada e recorrente, composta por

    processos combinatrios de capacidades que permitem criar, estender, modificar ou

    reconfigurar as capacidades chaves da organizao e sua base de recursos e

    competncias, fazendo uso de trs elementos componentes: i) comportamentos e

    habilidades; ii) rotinas e processos; iii) mecanismos de aprendizagem e governana

    do conhecimento.

    possvel notar que este conceito e todos os outros nos quais ele se baseou

    apresentam uma evoluo em relao s abordagens RBV, ECD e evolucionista no ponto em

    que se aproximam mais da realidade complexa em que os agentes econmicos se estabelecem

    e tomam decises estratgicas (VASCONCELOS; CYRINO, 2010). Alm disso, tambm

    possvel perceber que h um ciclo de interao entre ambiente externo e recursos internos, de

    forma que o exterior influencia o interior e vice versa, num processo dinmico e contnuo.

    A abordagem das vantagens competitivas pelas capacidades dinmicas abre, segundo

    Vasconcelos e Cyrino (2010, p. 17), uma significativa possibilidade de convergncia entre a

    estratgia e a teoria. Nesse sentido, o aprimoramento contnuo, o acmulo de conhecimento

    tcnico e prtico e, consequentemente, a inovao, se tornam ainda mais prximos da firma

    em sua busca por permanncia no mercado e criao de valor por meio de vantagens

    competitivas.

  • 24

    2.4 Estruturas de mercado

    Estrutura de mercado um termo que descreve as caractersticas de interao entre

    oferta e demanda. Segundo Jolly e Clonts (1992), estas caractersticas referem-se

    principalmente natureza da competio entre empresas e capacidade de influncia ou no

    nos preos. Em adio, Magalhes, Fonseca e Russo (2008) citam Montella (2004) para

    descrever o nmero de compradores e vendedores e a possibilidade de diferenciao de

    produtos tambm como caractersticas relevantes para a determinao das estruturas de

    mercado.

    A anlise da estrutura de mercado tem relevncia para a questo estratgica de uma

    companhia na medida em que ela determina quais so os padres de concorrncia

    estabelecidos e qual o poder de mercado de uma firma especfica frente aos competidores.

    Com essas informaes, as empresas tm condies de posicionar-se de forma assertiva

    quanto imposio de barreiras entrada, fixao de preos, estratgia comercial, etc.

    (CARVALHO, 2000).

    Segundo a teoria neoclssica, as estruturas de mercado so apresentadas com base

    em modelos quantitativos com premissas restritivas e pressuposies de racionalidade perfeita

    e tendncia ao equilbrio do sistema. Melo (2013) descreve nos moldes da teoria neoclssica

    os modelos de concorrncia perfeita, monoplio e concorrncia monopolista como a seguir:

    Concorrncia perfeita: modelo que pode ser resumido em seis hipteses bsicas:

    grande nmero de empresas e de consumidores; produto homogneo; livre entrada e

    sada do mercado; maximizao de lucros; livre circulao da informao; e perfeita

    mobilidade dos fatores. Dadas estas condies, as empresas so tomadoras de preos

    e no tem nenhum poder de mercado. Alm disso, o modelo prev possibilidade de

    lucro no curto prazo, mas no no longo prazo, principalmente devido livre entrada

    de concorrentes. Neste ltimo, a situao da economia de alocao eficiente de

    todos os recursos disponveis, com empresas produzindo a quantidade que iguala o

    preo ao custo mdio mnimo.

    Monoplio: para este modelo as hipteses bsicas so quatro: um nico produtor

    para muitos consumidores; produto sem substitutos prximos; barreiras entrada; e

    maximizao de lucros. Diversas condies mercadolgicas podem explicar a

    existncia de monoplios, como a exigncia de economias de escala elevadas, a

  • 25

    existncia de patentes, a exclusividade na explorao de matrias-primas ou tcnicas

    de produo, entre outros. Em estruturas de monoplio, as empresas tm total

    controle sobre os preos, assim, operando de forma otimizada ou no, conseguem

    auferir lucro extraordinrio no curto e longo prazo. Para que o lucro permanea com

    o monopolista, ele impe sociedade perdas de eficincia, alm disso, pratica

    discriminao de preos, pela qual no s alcana mais consumidores, como extrai

    deles o mximo do chamado excedente do consumidor.

    Concorrncia monopolista: este modelo uma evoluo dos dois modelos anteriores

    diante das crticas de falta de aderncia realidade. Sua principal contribuio a

    considerao da diferenciao de produtos, de forma que quanto mais diferenciados,

    mais poder de mercado as empresas tm e mais elas so capazes de controlar o preo.

    Da mesma forma, como a premissa de livre entrada vlida, quanto mais os produtos

    so semelhantes entre si, mais a economia se aproxima de uma situao de

    concorrncia perfeita, o que tende a acontecer no longo prazo. A diferenciao de

    produtos pode ocorrer por dois motivos: o primeiro que os consumidores veem os

    produtos como diferentes, e o segundo que as caractersticas diferentes dos

    produtos geram disposies a pagar diferentes nos consumidores. A quantidade de

    empresas nessa estrutura varia de acordo com a facilidade de entrada na indstria.

    Caberia entre os modelos acima mencionados tambm tratar do modelo de

    oligoplio, porm, por ser a estrutura de mercado de maior relevncia para o trabalho, esta

    ser tratada adiante de forma diferenciada.

    Ainda sobre a questo das estruturas de mercado, apesar da ampla aceitao, os

    modelos desenvolvidos pela teoria neoclssica so alvos de muitas crticas. Mariotto (1991)

    ressalta nesse sentido a paradoxalidade entre a ateno dada ao modelo de concorrncia

    perfeita e sua utilidade no mundo real. O autor argumenta que o modelo de concorrncia

    perfeita ganha espao por ser muito simples em relao aos seus sucessores e por oferecer

    como resultado uma distribuio eficiente dos recursos, fazendo com que ele aparente ser o

    modelo mais justo para a sociedade. Entretanto, no necessariamente a noo esttica de

    equilbrio neoclssica produz o maior bem-estar social, pois as hipteses no consideram o

    papel das inovaes ou qualquer forma de interveno dinmica na economia.

    Em alternativa viso neoclssica, Mariotto (1991) prope a viso schumpeteriana

    como forma de anlise das estruturas de mercado. Nesta viso, descartam-se as premissas da

    economia neoclssica, trazendo tona a irracionalidade dos agentes, os riscos e incertezas, o

  • 26

    desequilbrio de curto prazo e a complexidade das relaes econmicas. Diante deste cenrio,

    as empresas buscam obter poder de monoplio, nem que seja por um curto perodo de tempo,

    e para tanto concorrem por meio da inovao e da diferenciao em detrimento do preo.

    Carvalho (2000) afirma que a competio nos moldes desenvolvidos por Schumpeter favorece

    a concentrao de mercado pela criao de barreiras entrada. Mariotto (1991) complementa

    que as tentativas de criao de monoplios pelas firmas acabam por gerar oligoplios

    diferenciados, onde as empresas concorrem por meio da diferenciao de produtos.

    2.4.1 O oligoplio

    O oligoplio, em sua acepo mais simples, uma estrutura de mercado que prev a

    existncia de poucos vendedores e muitos compradores, de forma que os vendedores dividem

    entre si a maior parte ou toda produo ofertada na economia e por isso tem grande poder de

    mercado (MATTOS, 2003). Este conceito relaciona-se com a teoria neoclssica, pois se

    explica pela determinao dos preos e equilbrio entre oferta e demanda.

    Recentemente, devido ao reconhecimento do oligoplio como a forma de mercado

    mais prxima da realidade econmica atual (MARIOTTO, 1991), muitos estudiosos tm se

    dedicado a estud-lo a partir de arcabouos menos engessados que os utilizados pela

    economia neoclssica. Possas (1990) apresenta, neste sentido, uma nova conceituao de

    oligoplio como uma classe de estruturas de mercado em vez de uma estrutura nica. Esta

    forma de tratamento reconhecida como dinmica e alinhada economia capitalista moderna

    (CARVALHO, 2000; MARINHO, 2001; MATTOS, 2003), podendo ser descrita

    resumidamente como a seguir:

    Oligoplio concentrado: Estrutura marcada pela homogeneidade dos produtos e pela

    alta concentrao tcnica. No possui intensa competio por preos, a disputa pelo

    mercado se d no nvel de investimentos em capacidade produtiva e inovao

    tecnolgica. Tem como caracterstica principal a alta concentrao devido s fortes

    barreiras entrada estabelecidas por economias de escala, descontinuidades tcnicas,

    alta exigncia de capital para investimentos, longo perodo de maturao desses

    investimentos e controle das matrias-primas ou tecnologias utilizadas no setor.

    Possui uma estrutura estvel, sustentada pela capacidade de manuteno das margens

  • 27

    de lucro durante oscilaes do mercado. As indstrias de base ou de produtos

    padronizados se enquadram neste modelo.

    Oligoplio diferenciado: Tem como principal caracterstica a diferenciao dos

    produtos. Neste mercado as empresas no costumam concorrer por preos, visto que

    manter uma margem elevada importante para sustentar os altos investimentos.

    Devido concorrncia por diferenciao, existe um aporte constante em publicidade

    e estratgias comerciais para os produtos que j esto no mercado. Ao mesmo tempo,

    as empresas no abrem mo do investimento em P&D, a fim de gerar inovaes de

    produto e conquistar novas parcelas do mercado. Como barreiras entrada se

    estabelecem as economias de escala de diferenciao, vinculadas aos costumes e

    preferncias estabelecidas pelos consumidores. O ciclo de vida do produto bastante

    relevante para as decises empresariais neste mercado, pois o esgotamento, e

    consequente necessidade de substituio dos produtos, gera a perda de lucro e de

    participao no mercado. A indstria de defensivos agrcolas pertence a esta

    estrutura, e alm dela possvel citar as indstrias de cigarros, bebidas, perfumaria e

    farmacuticos.

    Oligoplio diferenciado-concentrado ou misto: Como o nome orienta, esta estrutura

    uma combinao das duas anteriores. Para se manterem no mercado, as empresas

    utilizam a diferenciao de produtos juntamente com economias de escala mnimas.

    Da mesma forma, as barreiras entrada podem ser criadas tanto pelas economias de

    escala quanto pelas economias de diferenciao, o que leva o mercado a ser mais

    concentrado nesta estrutura que na estrutura de diferenciao, podendo at chegar ao

    nvel do oligoplio concentrado. importante ressaltar o aspecto fortemente

    dinmico do oligoplio misto, que gerado pela combinao de maior capacidade de

    investimento em diferenciao e inovao com a capacidade de fixao de preos

    mais elevados, alcanando mercados de maior poder aquisitivo. Tal combinao faz

    com que os produtos comercializados sejam mais propensos rpida obsolescncia,

    e tambm renovao. Os exemplos mais comuns dessa estrutura de mercado so as

    indstrias automobilsticas e de componentes e acessrios.

    Oligoplio competitivo: Caracterizado pela concentrao relativamente alta do

    mercado, porm com existncia de um bom nmero de empresas marginais. Nesta

    estrutura, a principal forma de competio por preos, os quais so estabelecidos

    pela regra de mark-up, em geral com liderana de preo. Alm disso, as empresas

    mais fortes realizam ajustes na demanda por meio do controle do grau de utilizao

  • 28

    de sua capacidade produtiva. No possvel estabelecer barreiras entrada de

    grande amplitude no oligoplio competitivo, visto que so pequenas as economias de

    escala e as possibilidades de diferenciao dos produtos, limitando, assim, a

    sustentao de margens de lucro elevadas. Essas caractersticas permitem uma certa

    facilidade na entrada e sada de empresas pequenas, inclusive com assimetrias

    tecnolgicas, e tambm conferem aos mercados uma dinmica cclica de

    concentrao que acompanha as variaes da economia (recesso gera concentrao,

    expanso gera desconcentrao). Os setores alimentcio, txtil e de calados so

    exemplos de oligoplios competitivos.

    Diante das descries acima, interessante notar como as estruturas de mercado

    atuais, e especificamente aqui, as estruturas oligopolistas, esto fortemente atreladas

    inovao tecnolgica. Principalmente quando se remete ao oligoplio diferenciado, que a

    estrutura de mercado na qual a indstria analisada neste trabalho se enquadra, importante ter

    em mente que no s na disputa pela liderana, mas principalmente na disputa pela

    permanncia no mercado, o investimento em inovao deixa de ser uma opo e passa a ser

    uma necessidade, uma obrigatoriedade competitiva (CRAVO, 2008).

    2.5 Defensivos Agrcolas

    Esta seo pretende estabelecer uma breve conceituao a respeito do que so

    defensivos agrcolas, como eles se dividem e como eles evoluram ao longo dos anos, sem

    focar, porm, nas questes mercadolgicas e estratgicas relacionadas. De incio, importante

    adotar uma definio para o objeto em anlise. De acordo com o National Research Concil

    (2000), os defensivos agrcolas so substncias ou misturas de substncias qumicas que tm a

    finalidade de prevenir, destruir, repelir ou inibir a ao de organismos que causam danos s

    lavouras agrcolas e ao homem.

    Apesar de terem sido criados algumas dcadas antes, estes compostos s comearam

    a ser amplamente utilizados aps a II Guerra Mundial com a descoberta de ativos altamente

    efetivos para o tratamento das lavouras. Velasco e Capanema (2006) destacam que o

    aproveitamento para a agricultura da pesquisa blica empreendida pelas principais indstrias

    qumicas, e o padro tecnolgico da poca, foram os principais fatores de incentivo ao

    desenvolvimento da indstria de defensivos agrcolas, uma ramificao da indstria qumica.

  • 29

    Durante a dcada de 1950, o uso de defensivos cresceu exponencialmente diante dos

    resultados avassaladores contra as pragas. Porm, ao final da dcada, evidenciou-se um grave

    problema com o rpido aumento da resistncia dos insetos combatidos e com os resduos

    deixados pelo uso dos defensivos no meio ambiente, nas plantas, nos animais, e

    principalmente, nas pessoas. Como resposta a esta fase, e ao temor gerado pelos problemas

    citados, a indstria de defensivos agrcolas voltou suas pesquisas para produtos que

    causassem menores impactos nos seres vivos, e isso fez com que abandonassem os compostos

    inorgnicos para investir em compostos organo-sintticos (VELASCO; CAPANEMA, 2006).

    A substituio da matriz de princpios ativos na indstria de defensivos foi um

    divisor de guas, uma ruptura tecnolgica que permitiu a este setor se desenvolver pelo

    caminho da diferenciao de produtos e da criao de patentes (MARTINS, 2000). Ainda

    assim, a ao dos ambientalistas denunciando os frequentemente significativos efeitos

    adversos dos defensivos agrcolas fez com que a legislao se tornasse cada vez mais

    rigorosa. Isso continuou forando as empresas a desenvolverem, ao longo das dcadas

    seguintes, produtos com cada vez menor grau de toxicidade e com ao focada em tipos de

    pragas e formas de atuao especficas, por exemplo, causando alteraes no sistema

    endcrino dos insetos combatidos.

    Futino e Salles Filho (1991) relatam que no final da dcada de 1970 as empresas de

    defensivos agrcolas comearam a investir em solues baseadas em biotecnologia para o

    combate s pragas. Esta tendncia se solidificou ao longo do tempo e hoje a biotecnologia de

    alta complexidade parte essencial do desenvolvimento tecnolgico e da estratgia

    competitiva das indstrias de defensivos, ainda mais com a integrao entre os defensivos e as

    sementes geneticamente melhoradas.

    Ao longo da evoluo histrica descrita, os defensivos agrcolas foram se tornando

    mais especficos e, com isso, mais eficientes no combate s pragas e menos nocivos sade

    dos outros seres vivos. Por isso que quando se trata deste tema, importante considerar as

    formas de classificao destes produtos. Neste sentido, Velasco e Capanema (2006)

    estabelecem trs pontos de diferenciao: classe de uso, poder txico e registro de

    propriedade intelectual.

    As classes de uso determinam a destinao do produto, sua finalidade de uso. Silva e

    Costa (2012) diferenciam essas classes como a seguir:

  • 30

    Herbicidas so os produtos com a finalidade de combater as ervas daninhas,

    eliminando-as ou impedindo seu crescimento.

    Inseticidas so destinados eliminao de insetos, podendo ser substncias qumicas

    ou agentes biolgicos.

    Fungicidas so focados no combate aos fungos, que tambm podem ter efeito em

    plantas parasticas.

    Acaricidas so produtos que se destinam a eliminar ou controlar caros.

    Agentes biolgicos de controle so organismos vivos que interagem com as pragas,

    combatendo-as por meio de aes biolgicas como o parasitismo ou a competio.

    Defensivos base de semioqumicos so produtos destinados ao controle de insetos,

    os quais atraem e capturam utilizando gases semelhantes a feromnios. So muito

    especficos e causam pequeno impacto ambiental.

    Produtos domissanitrios so defensivos para regies urbanas e se dividem

    principalmente em inseticidas domsticos, moluscicidas, rodenticidas e repelentes de

    insetos.

    Apesar da existncia de todos estes perfis de uso, vale ressaltar que apenas trs deles

    representaram 94,8% do consumo mundial entre o perodo de 1960 a 2003: os inseticidas,

    fungicidas e herbicidas (VELASCO; CAPANEMA, 2006). Alm disso, importante entender

    que nem todos os defensivos se destinam unicamente a uma classe de uso, podendo ter uma

    ao conjunta sobre tipos diversos de pragas, e que cada defensivo tem nveis de eficincia

    diferentes conforme as culturas em que so utilizados.

    Retomando Velasco e Capanema (2006), no que se refere ao poder txico, os

    defensivos comumente so classificados por um indicador de meio de dose letal (DL50). O

    DL50 determina quanto seria uma dose para matar 50% de uma populao de animais

    testados sob certas condies, assim, quanto maior o valor apresentado pelo indicador, menor

    a toxicidade do produto1.

    Finalmente, quanto ao registro de propriedade intelectual, os defensivos se dividem

    em produtos sob proteo de patentes ou produtos genricos, enquanto os primeiros

    representam as novas molculas ou princpios ativos, os ltimos so produtos com patente

    1 Apesar da considervel reduo de toxicidade ao longo dos anos, os defensivos agrcolas so substncias de

    uso severamente regulado, principalmente devido aos impactos ambientais que podem causar. Dentre estes, vale

    destacar a contaminao dos recursos hdricos, solo, fauna e flora, e consequente desequilbrio de ecossistemas

    como um todo, e os possveis danos sade humana, causados pelos resduos deixados nos alimentos e pelo

    manuseio incorreto dos produtos.

  • 31

    vencida e longo tempo de permanncia no mercado. Estes ltimos representam hoje a maioria

    do mercado em termos de volume negociado, devido principalmente ao vencimento das

    patentes antigas e tendncia de reduo no lanamento de produtos com princpios ativos

    novos nas ltimas dcadas.

    Quando se trata da produo dos defensivos agrcolas, Terra e Pelaez (2009)

    descrevem que o produto final aplicado nas lavouras o chamado produto formulado. Este

    produto resultado da unio de um produto tcnico com produtos qumicos auxiliares, que

    tem como finalidade agregar caractersticas desejveis substncia principal, como poder de

    disperso e de fixao nas plantas. Por sua vez, o produto tcnico o princpio ativo dos

    defensivos agrcolas, o primeiro produto do processo de produo destas indstrias. Por serem

    resultados de processos distintos e independentes de produo, produtos tcnicos e

    formulados podem ser produzidos por empresas diferentes ou integrados por uma nica

    empresa.

    2.6 Trabalhos relacionados

    Tendo em vista os aspectos tericos e conceituais apresentados, se faz necessrio

    destacar tambm como referncia a este trabalho alguns estudos de vis emprico. Estes

    estudos tratam principalmente da questo da inovao como estratgia competitiva geradora

    de desempenho superior e dos incentivos inovao do ponto de vista da firma, tendo

    relevncia na medida em que impem a comprovao prtica s teorias aqui descritas e outras

    relacionadas.

    Neste sentido, Cravo (2008) realiza um trabalho que, a partir de uma amostra de 100

    empresas atuantes na indstria de defensivos agrcolas, utiliza os mtodos estatsticos de

    anlise fatorial, regresso Gama e correlao cannica para comprovar que a inovao

    tecnolgica tem influncia nas vantagens competitivas auferidas pelas empresas desse setor.

    Alm disso, a autora detalha que as empresas lderes tm um forte comportamento inovador

    no sentido de inovao de produto e de acumulao de conhecimento interno, ao passo que as

    empresas seguidoras deixam de inovar principalmente pela resistncia ao risco.

    A partir da mesma problemtica, Allegrussi et al. (2008) investigam o mercado de

    etanol brasileiro. Por meio de entrevistas semi-estruturas com profissionais especializados, os

    autores concluem que neste mercado a inovao se relaciona com a capacidade de superao

  • 32

    de desvantagens, limitaes e barreiras, com a sustentao de vantagens competitivas no dia a

    dia, e com as perspectivas para o futuro, principalmente em relao ao surgimento de novas

    tcnicas e formas de aproveitamento do etanol.

    Com vis um pouco diferente, um estudo muito interessante sobre as motivaes ao

    investimento em inovao feito por Silocchi (2002) com indstrias do setor metal-mecnico

    de Caxias do Sul-RS. Em primeiro lugar, o autor levanta na literatura e com entidades de

    classe do setor industrial as razes para inovar em produto. Em seguida, leva estas razes

    prova, realizando uma pesquisa com executivos de marketing e produo das indstrias do

    setor escolhido. Os resultados finais comprovam que a estratgia de inovao de produtos

    um fator relevante para o sucesso das empresas. Alm disso, a partir de alguns mtodos

    estatsticos, o autor consegue verificar que h diferenas na viso dos processos inovadores

    entre executivos mais experientes e menos experientes, entre empresas de grande e pequeno

    porte e entre empresas com menos de 10 anos ou mais de 10 anos de existncia. Por fim, o

    autor lista cinco grupos de motivaes inovao para consolidar todos os pontos discutidos:

    A qualidade e o meio ambiente;

    A viso de curto prazo;

    A viso de longo prazo;

    A estratgia de volume (crescimento);

    A estratgia de diferenciao (rentabilidade).

    Tambm com foco em inovaes de produto, Moura (2008) estuda a indstria

    qumica brasileira para entender quais so suas estratgias de inovao, se elas existem, e at

    que ponto as companhias esto empenhadas em promov-las. A partir de uma pesquisa

    realizada com uma amostra de empresas da indstria petroqumica, ou autor utiliza-se da

    metodologia definida por Freeman (1997) para classificar as estratgias inovativas adotadas

    entre seis tipos: defensivas, dependentes, imitativas, ofensivas, oportunistas e tradicionais. O

    estudo conclui que as empresas mais jovens possuem estratgias defensivas, pois apesar de

    inovar, focam em minimizar riscos, as empresas mais experientes so ofensivas e tem uma

    estrutura de inovao melhor estruturada, e, alm dos extremos, existe um grupo

    intermedirio que parece estar em transio entre os outros grupos, adotando estratgias

    variadas. Apesar das diferenas, todas as empresas praticam atividades de P&D de produtos,

    definindo conclusivamente o vis inovador da indstria qumica brasileira.

  • 33

    O que se mais destaca nesses trabalhos a aproximao entre os constructos tericos

    que foram apresentaes nas sees anteriores deste referencial e a realidade das indstrias na

    economia brasileira. Inclusive, a variedade de setores de atuao das indstrias, analisadas

    pelo ponto de vista da inovao e sua relao com estratgias competitivas, refora a

    amplitude da participao de atividades inovadoras no cotidiano das empresas com atividades

    industriais.

    Apesar disso, o levantamento dos trabalhos aqui citados tambm demonstrou que as

    pesquisas empricas no campo da inovao como estratgia competitiva ainda encontram

    diversas dificuldades, quase sempre relacionadas falta de informaes consolidadas. Isso

    justifica parcialmente a frequente escolha pela coleta de dados por meio de pesquisas e a

    dificuldade em promover estudos mais generalizados sobre as atividades inovadoras. Diante

    desta realidade, ento, que o presente estudo define seu mtodo de abordagem dos temas

    propostos como se descreve a seguir.

  • 34

    CAP. III - METODOLOGIA

    De acordo com Ponte et al. (2007) a metodologia de um trabalho cientfico pode ser

    classificada quanto aos objetivos especficos, ao delineamento e natureza. Esta forma de

    abordagem leva em conta a falta de consenso entre as diversas maneiras de se caracterizar

    uma pesquisa acadmica, por isso deve ser considerada como uma sntese das principais

    formas de classificao de pesquisa levantadas por este autor. Para simplificar, esta

    abordagem ser utilizada na exposio do mtodo deste estudo.

    No que se refere aos objetivos especficos, este trabalho de cunho exploratrio.

    Sendo assim, tem como finalidade proporcionar uma viso ampla sobre um tema pouco

    explorado (GIL, 2006). Quanto ao delineamento da pesquisa ou sua classificao por

    procedimento, pode-se dizer que ela bibliogrfica, pois se utiliza de fontes secundrias para

    compor a argumentao, mas tambm uma pesquisa de campo, devido utilizao de fontes

    primrias obtidas junto empresa Bayer. E finalmente, em relao natureza, se caracteriza

    por sua anlise qualitativa, no sentido de que mesmo fazendo uso de dados estatsticos tem

    foco em compreender e contextualizar estes dados para fazer anlises voltadas para a

    explicao dos fenmenos, em vez de sua mensurao (PONTE et. al., 2007).

    Para alcanar os objetivos propostos este trabalho utiliza dados referentes economia

    brasileira, coletados por rgos e entidades governamentais, dados do setor de defensivos

    agrcolas, agrupados pelos sindicatos de defensivos, e dados disponibilizados pela empresa

    Bayer S.A. Mais especificamente, no captulo 4 feita uma caracterizao do mercado de

    defensivos agrcolas no Brasil, ressaltando suas caractersticas histricas, competitivas e

    inovadoras, e tambm uma anlise do posicionamento estratgico de uma das empresas

    lderes do setor, a Bayer, para entender como se estabelece de forma emprica a estratgia

    competitiva da empresa frente ao mercado e qual o papel da inovao neste processo.

    Como fontes para a anlise da Bayer so utilizadas informaes primrias obtidas

    por meio de entrevistas semi-estruturadas com o coordenador de marketing de uma das

    Diretorias de Negcios da empresa sediada em Goinia-GO, DN Cerrados Distribuio, e pela

    disponibilizao de sries histricas relacionadas a vendas (2006 a 2014), preos (2011 a

    2014) e participao de mercado da empresa (2012 a 2014), alm de informaes de acesso

    pblico divulgadas em websites e meios de comunicao oficiais. Por questo de

    simplificao e de disponibilidade de informaes, a anlise da Bayer se concentra na regio

  • 35

    do Cerrado brasileiro, abrangendo as duas Diretorias de Negcios da regio, DN Cerrados

    Venda Direta e DN Cerrados Distribuio, que atendem as reas de Mato Grosso, Norte do

    Mato Grosso do Sul, Gois, Distrito Federal, Oeste da Bahia, Sul do Piau, Sul do Maranho e

    Tocantins e tem como principais culturas a soja, o milho e o algodo.

    Levando em considerao as especificidades de cada segmento do mercado de

    defensivos agrcolas, foram selecionados cinco produtos desenvolvidos e comercializados

    pela Bayer no Brasil para direcionar as anlises propostas. Os produtos escolhidos esto

    listados na Tabela 1 com algumas de suas caractersticas mais relevantes. Nota-se que foram

    escolhidos produtos patenteados, com data de lanamento em anos distintos e pertencentes s

    principais classes de defensivos agrcolas comercializadas no pas. Alm disso, a escolha

    levou em considerao a importncia dos produtos para a Bayer atualmente, a diversidade

    entre eles e a facilidade de obteno de informaes a seu respeito.

    Tabela 1 - Resumo sobre os produtos Bayer selecionados para anlise

    Produto Princpio Ativo Ano de

    lanamento Classe Especificao

    Connect Imidacloprido (neonicotinide)

    Beta-ciflutrina (piretride) 2004 Inseticida

    Ao sistmica com foco em

    insetos sugadores

    Fox Trifloxistrobina (estrobilurina)

    Protioconazol (triazolinthione) 2011 Fungicida

    Ao sistmica e

    mesosistmica contra fungos

    diversos

    Cropstar

    Imidacloprido (neonicotinide)

    Tiodicarbe (metilcarbamato de

    oxima)

    2006 Inseticida

    Combinao de inseticidas

    exclusivamente para tratamento

    de sementes

    Belt Flubendiamida (diamida do cido

    ftlico) 2009 Inseticida

    Produto de controle e ingesto

    com foco em insetos

    mastigadores

    Soberan Tembotriona (tricetona) 2008 Herbicida Ao seletiva e sistmica para

    controle de plantas daninhas

    Fonte: Bayer S.A (2014).

    A partir desses dados, o Captulo 4 busca caracterizar e analisar o mercado de

    defensivos agrcolas no Brasil com foco em trs pontos especficos: sua estrutura de mercado,

    suas caractersticas inovadoras e suas estratgias competitivas. Neste contexto, a apresentao

    e anlise de informaes do mercado de defensivos agrcolas, e principalmente da Bayer

    como um dos principais players do setor, so direcionadas comprovao emprica das

    teorias apresentadas no referencial terico, que indicavam uma relao positiva entre o

    desempenho das empresas e sua capacidade de inovar em mercados altamente intensivos em

    capital e em concentrao de mercado.

  • 36

    CAP. IV ANLISE DA COMPETITIVIDADE DA INDSTRIA DE DEFENSIVOS

    AGRCOLAS NO BRASIL

    4.1 Contextualizao

    A indstria de defensivos agrcolas deu seus primeiros passos no Brasil por volta da

    dcada de 1950, porm, foi a partir da dcada de 1970 que se deu a real instalao do parque

    brasileiro de produo de defensivos. Segundo Terra e Pelaez (2009), os principais fatores que

    explicam o crescimento do consumo e produo de defensivos neste momento foram os

    processos de industrializao pela substituio de importaes e modernizao das bases de

    produo agrcola no pas, a liberao de crdito para financiamento agrcola como poltica do

    governo brasileiro e a internacionalizao produtiva das empresas de atuao global deste

    mercado. Foi tambm neste perodo que o governo brasileiro lanou o Plano Nacional dos

    Defensivos Agrcolas (PNDA), por meio do qual concedeu incentivos fiscais, crdito para a

    instalao de unidades industriais e benefcios tarifrios que favoreceram a consolidao das

    grandes empresas de defensivos no Brasil.

    Na dcada seguinte, com o fim do PNDA e a crise que se instalou no pas, a indstria

    de defensivos agrcolas reduziu sua capacidade de expanso, principalmente devido

    mudana de foco do governo da industrializao e crescimento para o controle da pssima

    situao macroeconmica. Apesar disso, a agricultura brasileira apresentou desempenho

    favorvel mesmo nos perodos de maior depresso econmica, e a partir da estabilizao da

    economia e abertura comercial ao exterior conquistou definitivamente seu lugar de destaque

    na composio do PIB, permitindo, assim, que a indstria de defensivos agrcolas expandisse

    suas atividades e mercado consumidor a partir da dcada de 1990.

    Corroborando com esse histrico, a Figura 2 compara o crescimento acumulado e

    mdio do PIB total com o PIB agropecurio da dcada de 1970 at a dcada de 2000. Com

    esta figura nota-se que a partir da dcada de 1980 o setor agropecurio apresentou

    crescimento sistematicamente superior ao crescimento do PIB total, destacando-se a dcada

    de 1990, em que o setor cresceu quase o dobro em relao ao crescimento brasileiro, devido

    principalmente ao fortalecimento da posio do Brasil como potncia no mercado de

    commodities mundial.

  • 37

    Figura 2 - Crescimento acumulado e mdio do PIB total e do setor agropecurio, 1970 a 2009 Fonte: IBGE (2014).

    O aumento de produtividade da atividade agrcola tambm um motivo forte para

    explicar o desempenho favorvel da agricultura mesmo nos perodos de estagnao

    econmica. possvel ver por meio da figura 3 que, enquanto a rea plantada cresceu 43,5%

    entre as safras de 1976/1977 e 2012/2013, a produtividade medida em Kg/ha cresceu 180%,

    alavancando a produo de gros no pas em 301,9% e saindo de um patamar de 46 milhes

    de toneladas produzidas no perodo inicial para quase 190 milhes na safra 2012/2013.

    Segundo Velasco e Capanema (2006), esse aumento se deve em grande parte ao

    desenvolvimento tcnico-cientfico da atividade agrcola, com destaque para a mecanizao

    das lavouras, a criao de novas tcnicas de cultivo e a intensificao do uso de sementes

    geneticamente modificadas, fertilizantes e defensivos agrcolas.

    Figura 3 - Crescimento da rea, produtividade e produo de gros no Brasil, 1976 a 2013

    Fonte: Conab (2014).

    109,48% 22,22% 22,60% 32,63%44,90% 32,27% 40,20% 38,91%

    7,68%

    2,03% 2,06%2,86%

    3,78%

    2,84%

    3,44% 3,34%

    1970 1980 1990 2000

    PIB - Acumulado

    Agropecuria - Acumulado

    PIB - Mdio

    Agropecuria - Mdio

    19

    76

    /77

    19

    77

    /78

    19

    78

    /79

    19

    79

    /80

    19

    80

    /81

    19

    81

    /82

    19

    82

    /83

    19

    83

    /84

    19

    84

    /85

    19

    85

    /86

    19

    86

    /87

    19

    87

    /88

    19

    88

    /89

    19

    89

    /90

    19

    90

    /91

    19

    91

    /92

    19

    92

    /93

    19

    93

    /94

    19

    94

    /95

    19

    95

    /96

    19

    96

    /97

    19

    97

    /98

    19

    98

    /99

    19

    99

    /00

    20

    00

    /01

    20

    01

    /02

    20

    02

    /03

    20

    03

    /04

    20

    04

    /05

    20

    05

    /06

    20

    06

    /07

    20

    07

    /08

    20

    08

    /09

    20

    09

    /10

    20

    10

    /11

    20

    11

    /12

    20

    12

    /13

    REA PRODUTIVIDADE PRODUO

    301,9%

    180,0%

    43,5%

  • 38

    Tendo em vista no s a agricultura, mas toda a cadeia do agronegcio, dados da

    Cepea/USP e CNA (2014) apontam que, em mdia, 24% do PIB do Brasil foi obtido a partir

    das atividades desse setor no perodo de 1994 a 2013, sendo que o papel da agricultura nesta

    composio foi de aproximadamente 70%. Esses nmeros demonstram que o agronegcio

    tem mantido uma participao relevante e estvel na composio do PIB brasileiro, o que

    seguramente se apoia no s o aumento da produo de commodities, mas tambm na

    expanso das indstrias montante e jusante da atividade rural propriamente dita.

    Todas estas informaes so necessrias para entender o desenvolvimento da

    indstria de defensivos no pas, visto que o comportamento da produo agrcola

    extremamente relevante para a demanda por defensivos agrcolas e impacta diretamente nos

    resultados deste mercado. Porm, outros fatores tambm devem ser levados em considerao

    quando se trata da demanda por defensivos agrcolas, tais como a poltica agrcola

    implementada pelo governo, influenciando principalmente nos preos e financiamento para

    aquisio de insumos, a eficincia dos defensivos agrcolas, medida pelo custo por rea, e a

    especificidade de uso, que determina diretamente quais so os produtos substitutos para cada

    nicho de mercado (TERRA, 2008).

    Em consonncia com o desenvolvimento do setor agropecurio, a partir da Figura 4

    possvel destacar o crescimento expressivo que o mercado de defensivos agrcolas apresentou

    nos ltimos 25 anos e tambm como as vendas tem apresentado taxas crescentes de expanso,

    crescendo 115% na dcada de 1990, 156% na dcada de 2000 e 57% nos ltimos quatro anos.

    Porm, vale considerar que apesar do crescimento do consumo e participao brasileira em

    relao ao resto do mundo, saindo de 10% do consumo mundial de defensivos agrcolas em

    2000 para 15,3% em 2010, o pas possui um valor relativamente baixo de defensivos agrcolas

    empregados por rea (US$ 88,00/ha) e um valor muito baixo de custo com defensivos

    agrcolas por quantidade produzida (US$ 7,40/t), ficando assim, a frente de grandes

    concorrentes mundiais quando se trata de produtividade em relao a quantidade de

    defensivos agrcolas aplicados lavoura.

  • 39

    Figura 4 - Vendas de defensivos agrcolas no Brasil, valores em US$ milhes, 1990 a 2013 Fonte: Andef (2001); Sindiveg (2014).

    4.2 Estrutura de mercado

    Quanto estrutura do mercado de defensivos agrcolas, uma das caractersticas mais

    marcantes a elevada concentrao de mercado, tanto no Brasil quanto em nvel global. A

    indstria de defensivos como ramificao da indstria qumica j surgiu com esta

    caracterstica, que se intensificou ao longo dos anos. A Tabela 2 mostra essa evoluo no

    mercado brasileiro durante a dcada de 1990, perodo marcado no s pela expanso

    acelerada do mercado, como tambm pela intensidade dos processos de fuses e aquisies

    (F&A) entre as empresas lderes do setor.

    1.084

    947

    1.404

    1.536

    1.793

    2.181

    2.558

    2.329

    2.588

    2.355

    2.000

    3.201

    4.599

    4.328

    3.992

    5.483

    7.125

    6.626

    7.300

    8.488

    9.710

    11.454

    0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000

    1990

    1995

    1998

    2001

    2004

    2007

    2010

    2013

    115%

    156%

    57%

  • 40

    Tabela 2 - Participao de mercado das 8 maiores empresas de defensivos agrcolas no Brasil,

    1990 a 1999

    Posio 1990 1995 1998 1999

    1 Ciba-Geigy 11,1% Ciba 11,3% Novartis 12,3% Sygenta 19,6%

    2 Cyanamid 7,1% Zeneca 10,2% Zeneca 8,5% Cyanamid 13,3%

    3 ICI 6,9% DuPont 9,9% Makhteshim 8,4% Aventis 12,6%

    4 Bayer 6,5% Cyanamid 9,6% DuPont 8,0% Makhteshim 8,1%

    5 Monsanto 6,3% Monsanto 8,0% Cyanamid 8,0% Monsanto 7,8%

    6 DuPont 6,0% Dow Elanco 7,4% Monsanto 7,1% DuPont 7,3%

    7 Rhne-Poulenc 6,0% Bayer 7,1% Bayer 7,0% Bayer 6,7%

    8 Dow Elanco 5,6% BASF 7,0% AgrEvo 6,0% Basf 5,8%

    CR8 55,5% 70,5% 65,3% 81,2%

    Fonte: Terra e Pelaez (2009)

    Os processos de F&A ocorridos no setor de defensivos agrcolas foram em sua

    grande maioria fuses horizontais entre empresas do ramo e tiveram como principal

    justificativa a expanso e diversificao dos portflios de produtos sem a necessidade de

    realizar dispendiosos e longos processos de P&D e registro de criaes prprias

    (KOSHIYAMA; MARTINS, 2008). Como resultado destes processos, formaram-se as trs

    empresas que estariam na liderana do mercado nos anos 2000: Syngenta, Bayer e Basf. Alm

    disso, o mercado brasileiro como um todo se tornou mais concentrado e mais

    internacionalizado, visto que as maiores empresas nacionais da poca foram absorvidas por

    multinacionais nos processos de F&A. A Tabela 3 mostra simplificadamente as F&A mais

    relevantes para o setor na dcada de 1990.

    Tabela 3 - Principais fuses e aquisies entre as empresas de defensivos agrcolas na dcada

    de 1990

    Anos Tipo de Transao Empresas Adquiridas Empresas Resultantes

    1994 Aquisio Cyanamid America Home Products

    1996 Fuso Ciba-Geigy e Sandoz Novartis

    1999 Fuso Hoechst e Rhone-Poulenc Aventis

    2000 Fuso AstraZeneca e Novartis Syngenta

    2001 Aquisio American Cynamid Basf

    2002 Aquisio Aventis Bayer

    Fonte: Matsushita; Pelaez; Hamerschmidt (2010)

    Assim, aps os anos 2000, o mercado de defensivos agrcolas brasileiro consolidou-

    se como um oligoplio com franjas, de forma que as oito maiores empresas controlam

    aproximadamente 80% do mercado e quase todo o restante dominado por poucas empresas

    lderes mundiais na produo de defensivos genricos. possvel notar na Tabela 4 como

  • 41

    Syngenta, Bayer e Basf consolidaram suas posies e as outras maiores vem se alternando ao

    longo dos ltimos anos. Dentre estas, apenas a FMC e a Makhteshim-Agan so especializadas

    em produtos genricos.

    Tabela 4 - Participao de mercado das 8 maiores empresas de defensivos agrcolas no Brasil,

    2003 a 2010

    Posio 2003 2006 2010

    1 Bayer 16,6% Syngenta 17,6% Syngenta 20,5%

    2 Syngenta 15,0% Bayer 13,7% Bayer 16,2%

    3 Basf 13,4% Basf 11,2% Basf 12,4%

    4 Monsanto 9,2% Monsanto 8,3% FMC 6,9%

    5 Dow 8,0% DuPont 8,1% DuPont 5,7%

    6 DuPont 7,0% Makhteshim 6,6% Dow 5,6%

    7 Makhteshim 5,7% FMC 6,2% Monsanto 4,3%

    8 FMC 4,4% Dow 6,1% Makhteshim-Agan 4,2%

    CR8 79,3% 77,8% 75,8%

    Fonte: Terra (2008)

    Sintetizando a evoluo do processo de concentrao de mercado do setor de

    defensivos agrcolas no Brasil, a Figura 5 mostra a participao de mercado acumulada pelas

    quatro e oito maiores empresas do setor de 1990 a 2010.

    Figura 5 - Participao de mercado acumulada das empresas de defensivos agrcolas no

    Brasil, 1990 a 2010 Fonte: Terra e Pelaez (2009); Terra (2008)

    Por mais que a anlise do mercado como um todo demonstre claramente o elevado

    nvel de concen