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33 O TRABALHO COLABORATIVO NA TECITURA DE REDES DE APOIO À INCLUSÃO Rosângela Kittel EBM Intendente Aricomedes da Silva Ruth Mary Pereira dos Santos EBM Intendente Aricomedes da Silva RESUMO O Atendimento Educacional Especializado é um serviço da educação especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade ao conhecimento. Sua oferta e organização deve promover condições de acesso, participação e aprendizagem aos estudantes com deficiência nos sistemas de educação. Para esse formato de trabalho é necessária a articulação dos profissionais da Educação Especial com a comunidade escolar, criando e fortalecendo redes de apoio à inclusão. Esse artigo objetiva dar visibilidade à experiência desenvolvida na Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva, em Florianópolis, onde uma metodologia de trabalho em sistema de ensino colaborativo dá materialidade aos serviços da Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Palavras-chave: Educação Especial. Atendimento Educacional Especializado. Trabalho colaborativo. Formação em serviço. ABSTRACT The Specialized Educational Attendance is a special education service that identifies, elaborates and organizes pedagogical resources and accessibility to knowledge. Its offer and organization should promote conditions of access, participation and learning for students with disabilities in education systems. This work format requires the articulation of Special Education professionals with the school community, creating and strengthening support networks for inclusion. This article aims to give visibility to the experience developed at the Intendente Aricomedes da Silva Municipal Basic School, in Florianópolis, where a methodology of work in a collaborative teaching system gives materiality to Special Education services in the perspective of inclusive education. Keywords: Special Education. Specialized Educational Attendance. Collaborative work. Inservice training. O REFERENCIAL TEÓRICO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COLABORATIVO O arcabouço legal que dá sustentação a organização e oferta dos serviços da Educação Especial como modalidade de ensino é vasto e por vez conflitante. A

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O TRABALHO COLABORATIVO NA TECITURA DE REDES DE APOIO À INCLUSÃO

Rosângela Kittel EBM Intendente Aricomedes da Silva

Ruth Mary Pereira dos Santos

EBM Intendente Aricomedes da Silva

RESUMO O Atendimento Educacional Especializado é um serviço da educação especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade ao conhecimento. Sua oferta e organização deve promover condições de acesso, participação e aprendizagem aos estudantes com deficiência nos sistemas de educação. Para esse formato de trabalho é necessária a articulação dos profissionais da Educação Especial com a comunidade escolar, criando e fortalecendo redes de apoio à inclusão. Esse artigo objetiva dar visibilidade à experiência desenvolvida na Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva, em Florianópolis, onde uma metodologia de trabalho em sistema de ensino colaborativo dá materialidade aos serviços da Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Palavras-chave: Educação Especial. Atendimento Educacional Especializado. Trabalho colaborativo. Formação em serviço. ABSTRACT The Specialized Educational Attendance is a special education service that identifies, elaborates and organizes pedagogical resources and accessibility to knowledge. Its offer and organization should promote conditions of access, participation and learning for students with disabilities in education systems. This work format requires the articulation of Special Education professionals with the school community, creating and strengthening support networks for inclusion. This article aims to give visibility to the experience developed at the Intendente Aricomedes da Silva Municipal Basic School, in Florianópolis, where a methodology of work in a collaborative teaching system gives materiality to Special Education services in the perspective of inclusive education. Keywords: Special Education. Specialized Educational Attendance. Collaborative work. Inservice training.

O REFERENCIAL TEÓRICO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

COLABORATIVO

O arcabouço legal que dá sustentação a organização e oferta dos serviços da

Educação Especial como modalidade de ensino é vasto e por vez conflitante. A

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fragilidade conceitual das terminologias utilizadas nos documentos norteadores da

política é histórica e enseja, muitas vezes, diferentes interpretações. Acompanhe o

texto do parecer do Conselho Nacional de Educação:

[...] não parece clara a definição de atendimento educacional especializado, que, por vezes engloba todas as atividades desenvolvidas na Educação Especial e, por outras, o classifica como atividades específicas desenvolvidas em determinados locais, tal como o que ocorre nas salas de recursos. (PARECER CNE/CEB Nº: 6/2007).

A diversidade das redações conduz a subversão dos textos legais por parte

dos seus atores, na hora da tradução da política nos cenários locais (BALL, 2011).

Nota-se que apesar da política nacional da Educação Especial indicar a importância

do apoio de diferentes serviços e profissionais para a escolarização e inclusão dos

estudantes público da Educação Especial, “o investimento no país privilegiou a

criação de SRMs,1 como principal local de atuação do professor de Educação

Especial” (MENDES, 2014, p. 33). Mas, falar de inclusão remete ao movimento de

todos, em todos os espaços de aprendizagem e, portanto, não há como imaginar

essa ação circunscrita apenas a um lugar. No dizer de Barth:

[...] uma escola inclusiva é aquela que educa todos os alunos em salas de aula regulares, alunos que recebem oportunidades educacionais adequadas, desafiadoras, mas ajustadas às habilidades, possibilidades e necessidades, onde são oferecidos todo apoio e ajuda (1990, p. 98 apud BAUMEL, 2012, p.20).

Então, partindo do pressuposto que o Atendimento Educacional Especializado

(AEE) é um serviço da educação especial que “[...] identifica, elabora e organiza

recursos pedagógicos e de acessibilidade” (BRASIL, 2008) ao conhecimento, faz-se

necessária a transposição da tecnologia educacional usada na Sala de Recursos

Multifuncional/SRM para as ações pedagógicas do ensino regular. Esse formato de

trabalho, articulado entre os diferentes espaços e profissionais da escola, cria

ambientes e práticas inclusivas, favorecendo a aprendizagem de todos os

estudantes, mas notadamente aqueles da educação especial.

Para tanto, o AEE precisa ser realizado em todas as dimensões que o

caracterizam e não ficar restrito ao atendimento em uma sala de recursos

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multifuncional, como modelo tamanho único de intervenção da Educação Especial. É

importante refletir sobre as mensagens subliminares deixadas pela organização de

serviços que privilegiam o atendimento exclusivo do estudante em espaços

segregados, pois:

O Atendimento Educacional Especializado quando ofertado exclusivamente em salas de recurso, ou seja, extrassala de aula comum, reforça o pressuposto que o problema está no aluno, e não na escola. O que há de especial neste sistema de apoio, incluindo o aluno, seu professor e seu ensino, fica restrito ao ambiente especializado e segregado da sala de recurso enquanto a classe comum permanece inalterada. (MENDES; VILARONGA; ZERBATO, 2014, p. 29).

É necessário tecer e fortalecer as redes de apoio que irão dar suporte ao

estudante com deficiência em todos os espaços e tempos de práticas pedagógicas

do ensino regular. Os textos legais que ancoram a inclusão educacional e tratam do

processo de escolarização do público da Educação Especial garantem o acesso e a

oferta de recursos para permanência na escola. Em tese, isto deveria significar a

ampliação das oportunidades de aprendizagem, contundo compreendemos que

essa assertiva depende da articulação de toda a comunidade escolar, para tecitura

da rede de apoio à inclusão.

Assim, esse artigo objetiva dar visibilidade à experiência desenvolvida na

Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva/EBIAS, localizada em

Florianópolis, onde uma metodologia de trabalho em sistema de ensino colaborativo

dá materialidade aos serviços da Educação Especial na perspectiva da educação

inclusiva.

A Educação Especial é uma modalidade de educação que perpassa todos os

níveis, etapas e modalidades de ensino. Tem como objetivo “garantir os serviços de

apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo

de escolarização de estudantes” público da Educação Especial (Art. 2º Decreto n°

7611/2011). Esse texto, em seu parágrafo segundo destaca que os serviços da

Educação Especial devem:

integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e participação dos estudantes, atender às necessidades específicas das pessoas

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público-alvo da educação especial, e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas (Decreto n° 7611/2011).

O conjunto dessas atividades da Educação Especial formam a rede de apoio

à inclusão do estudante com deficiência nos sistemas de ensino regular, com a

finalidade de promover “condições de acesso, participação e aprendizagem” (Art.

3º,Decreto n° 7611/2011). Para dar o movimento a essa tecitura é necessário que

haja um trabalho colaborativo entre os atores envolvidos no processo ou seja,

[...] dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais [...] em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento (Art. 9º, Resolução 04/2009).

Ou seja, o professor da sala de aula regular e o professor de Educação

Especial “definem juntos o planejamento, as avaliações e as estratégias

pedagógicas que favoreçam o acesso ao currículo e o aprendizado de todos os

alunos, com deficiência ou não” conforme indica French. (2002, apud MENDES,

2014, p.37). É necessário fortalecer esse modelo de trabalho colaborativo entre os

professores dos estudantes público da Educação Especial, uma que vez que ele se

caracteriza também como um importante processo formativo onde o aprendizado, a

troca de experiências e conhecimentos enriquecem a ação pedagógica. Nas

palavras de Nóvoa traduz “a necessidade de uma formação de professores

construída dentro da profissão” (NÓVOA, 2009, p.28).

Outra legislação que dá ênfase a necessidade de sistemas educacionais

inclusivos é a Lei Brasileira da Inclusão/LBI também conhecida como Estatuto da

Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). Apresenta um texto ajustado às

demandas dos movimentos sociais e aos termos da Convenção sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência (Decreto Legislativo 186/2008), que recomenda a

eliminação de qualquer dispositivo que associe a deficiência com incapacidade.

A principal inovação desta legislação reside na conceituação de deficiência,

não mais compreendida como uma condição estática e biológica da pessoa, mas

como o resultado da interação das barreiras impostas pelo meio com as limitações

de natureza física, mental, intelectual e sensorial do indivíduo. Nessa abordagem, a

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deficiência deixa de ser um atributo da pessoa e passa a ser entendida como o

resultado da falta de acessibilidade na oferta de serviços que a sociedade e o

Estado dão às características de cada um, ou seja, que a deficiência também está

no meio, no processo, nas estruturas e não exclusivamente nas pessoas (Lei

13.146/2015).

Essa concepção quando transposta para o cenário educacional alerta para a

necessidade de estender o foco para a aprendizagem dos estudantes público da

Educação Especial, a partir das suas especificidades. Apesar de óbvia essa não é

uma prática corrente nas escolas. Temos muito mais processos que privilegiam o

ensino e enaltecem a prática docente, não contemplando reflexões acerca dos seus

efeitos para a aprendizagem.

Segundo Lunardi-Mendes:

[...] encontramos uma prática de organização da aula extremamente homogeneizada entre os professores, pautada em uma forma padronizada de organização de ensino. Um modelo que privilegia o ensino em detrimento da aprendizagem, a forma em relação ao conteúdo, centralizando-se na figura do professor ao invés do aluno (LUNARDI-MENDES, 2008, p. 159).

Portanto quando o foco do trabalho pedagógico no contexto de sala de aula

fica centrado no ensino é comum termos práticas polarizadas, ou seja, de um lado

atividades para os alunos com deficiência, desvinculadas do currículo, e no outro

para os demais alunos (MENDES, 2008, p.109). Por vezes, o professor planeja

atividades fora do contexto e necessidades dos estudantes e até terceiriza sua

função ao professor auxiliar da Educação Especial. Esse mecanismo exclui na

medida que ignora as diferenças na aprendizagem e reforça a ideia de incapacidade

do estudante com deficiência.

Para que esse cenário mude é necessário estabelecer uma rede de apoio ao

professor, com subsídios ao seu planejamento e organização do ensino que

contemple a diversidade de uma sala de aula e atenda as especificidades de todos

os estudantes.

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O TRABALHO COLABORATIVO NA OFERTA DO ATENDIMENTO

EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

A ênfase na organização do trabalho colaborativo desenvolvido na Escola

Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva/EBIAS, entre professores da

Educação Especial e comunidade escolar reside em criar condições para a

realização do planejamento conjunto, elaboração e organização dos recursos

pedagógicos para uso em sala de aula regular e suporte na ação docente em

sistema de ensino colaborativo.

Essa organização dos serviços da Educação Especial converge para o

conceito de ensino colaborativo que na visão de Ferreira:

consiste numa parceria entre os professores de educação regular e os professores de educação especial, na qual um educador comum e um educador especial dividem a responsabilidade de planejar, instruir e avaliar os procedimentos de ensino a um grupo heterogêneo de estudantes (FERREIRA, 2007, p.1).

O objetivo é articular os saberes entre ensino especial e comum, onde o

professor regente contribui com o conhecimento da disciplina e conteúdos

específicos previstos no planejamento escolar, e o professor da Educação Especial

colabora com as estratégias e recursos adequados a promoção da aprendizagem

do estudante com deficiência (MARIN; BRAUN, 2013).

A partir dessa perspectiva são prospectadas estratégias pedagógicas com a

finalidade de promover o acesso ao conhecimento, a participação nas atividades

escolares e a aprendizagem dos estudantes público da Educação Especial. Assim,

são maiores as possibilidades de contemplar a diversidade de uma sala de aula.

Todas essas ações convergem para que, em havendo necessidade, o Atendimento

Educacional Especializado realizado em Sala de Recursos Multifuncional tenha

significado no contexto escolar.

Uma das diretrizes que orienta o trabalho colaborativo é a formação no

exercício da profissão, que atenda às reais necessidades dos professores nesse

processo de inclusão escolar. Realizada a partir do estudo de casos, enlaça

subsídios teóricos que resultam em suporte pedagógico para o exercício docente. A

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forma de viabilizar esta ação foi a organização e oferta de encontros nos tempos de

hora atividade e entre aulas para os professores do Ensino Fundamental, Equipe

Pedagógica, Professor Auxiliar da Educação Especial, Professores da Sala

Informatizada e Laboratório de Ciências que possuem estudantes público da

Educação Especial. O esquema abaixo representa esse movimento:

Trabalho Colaborativo: elaborado pelas autoras, 2017

Encontros Coletivos: destinado à Equipe Pedagógica e professores de

estudantes com deficiência para formação em serviço, com a participação de

consultores externos. Nesse espaço são estudadas e discutidas questões de ordem

geral sobre algum tema de interesse daquele coletivo. Por exemplo, no primeiro

semestre do ano de 2017, foram realizados dois encontros de 4 horas para

formação em Grafia Braille2 e Soroban3, oferecido aos envolvidos no processo de

ensino aprendizagem de um estudante cego, do 6º ano do Ensino Fundamental.

Os encontros aconteceram no tempo de hora atividade dos professores. Os

consultores externos são nossos parceiros de instituições onde os estudantes da

EBIAS realizam atendimento especializado, como Associação Catarinense para

Integração do Cegos/ACIC e o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às

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Pessoas com Deficiência Visual/CAP Florianópolis.

Encontros Individuais: inicialmente todo professor que tem em sua turma

estudantes público da Educação Especial participa de um encontro individual para

orientações acerca da necessidade de alinhar sua metodologia de ensino as

especificidades dos estudantes com deficiência. Nessa ocasião, é oferecido ao

professor um horário fixo na SRM, para junto com as professoras da Educação

Especial, realizar o planejamento, as adaptações e confecção de materiais. Esses

encontros tem a periodicidade definida pelo professor, a partir da sua necessidade

e/ou interesse. Atualmente, na EBIAS, são 23 professores que possuem estudantes

com deficiência e destes 52% realiza planejamento semanal, 29% optou por

encontros quinzenais ou mensais, 8% não aderiram a proposta comparecendo

apenas ao encontro obrigatório e 11% abandonaram os encontros de

planejamento.

Práticas Colaborativas: definido como os momentos em que as professoras

da Educação Especial participam efetivamente do trabalho docente em sala de aula

regular. Ou seja, a professora da Educação Especial pode dividir o protagonismo

da ação pedagógica com o professor regente, conduzindo uma atividade coletiva,

enquanto o mesmo acompanha o estudante com deficiência em uma intervenção

mais individualizada e vice e versa. Na prática, os professores “compartilham as

decisões tomadas e são responsáveis pela qualidade do que é produzido em

conjunto” (DAMIANI, 2008 apud MARIN; BRAUN, 2013 p.54).

Esse aspecto do trabalho colaborativo foi desenvolvido com 16% dos

professores no primeiro semestre do ano letivo em curso. Em virtude dessa

parceria foi possível elaborar atividades que o professor regente não conseguiria

desenvolver sozinho, pois envolvia saídas da sala de aula, confecção de estruturas,

pesquisas em pequenos grupos, uso de materiais diversificados, etc. Diante da

riqueza das produções os trabalhos passaram a ser socializados com a

comunidade escolar, com exposições no espaço denominado Corredor Cultural

EBIAS, de forma a dar visibilidade e materialidade ao processo de ensino

aprendizagem a partir do protagonismo estudantil.

Atendimento Educacional Individual: realizado na sala de recursos

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multifuncional e que, ao reunir elementos dos momentos acima mencionados busca

uma intervenção mais assertiva e significativa para o contexto escolar. A

individualização no sentido de atender a diferenciação pedagógica de determinada

intervenção. Por exemplo, um estudante cego que precisa aperfeiçoar o uso do

soroban enquanto técnica de registro numérico e cálculo. Importa destacar que esta

ação não tem efeito exclusivo sobre o estudante público da Educação Especial e

pode ser uma estratégia desenhada para responder a uma necessidade individual,

mas desenvolvida em grupo, favorecendo a aprendizagem de outros estudantes e

até de uma turma inteira. Por exemplo: havia uma resistência de dois estudantes do

8º ano do Ensino Fundamental em frequentar a SRM (um com deficiência

intelectual e outro com Transtorno do Espectro Autista), pois julgavam que aquele

era um espaço para estudantes menores. Então o AEE foi organizado em forma de

estágio na Educação Especial e além deles outros 2 estudantes sem deficiência se

habilitaram as vagas. O trabalho consistiu no aprendizado da técnica de

Orientação e Mobilidade, condução de pessoas cegas, característica dos pisos de

sinalização tátil e grafia Braille. Posteriormente esses estagiários organizaram

oficinas para socializar com seus colegas os aprendizados e realizavam a

transcrição dos materiais em Braille de um estudante de outra turma da escola.

Essa proposição tomou forma de projeto de formação, aprovado pela Secretaria

Municipal de Educação de Florianópolis que emitiu certificação para os envolvidos.

Ou seja, ao introduzir uma adaptação curricular, um recurso e mesmo uma

estratégia possibilitamos que outros estudantes, “ao se apoiarem nos suportes

oferecidos, passem a entender melhor o que está sendo ensinado” (MARIN;

BRAUN, 2013, p.55).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Especial no seu campo educacional de atuação, cunhou

políticas de acesso à bens e serviços, projetou condições de permanência e

participação nos espaços. Agora se desafia à promoção da aprendizagem do seu

público. Ao realizar este trabalho, percebemos o descompasso que existe entre a

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intenção de incluir e as práticas pedagógicas que compõem a cultura escolar, pois

os professores ainda atuam sozinhos em suas salas de aula com dificuldades para

concretizar processos reais de aprendizagem.

Como vimos, há na legislação brasileira suporte legal para o

desenvolvimento do trabalho colaborativo entre os professores da Educação

Especial e ensino regular, bem como o estabelecimento da rede de apoio ao

professor no exercício da docência inclusiva.

Entretanto a organização dos serviços ainda apresenta vieses clínicos, ao

usar apenas o número de estudante e não o número de professores envolvidos no

processo de inclusão como critérios para a abertura de uma Sala de Recursos

Multifuncional. Assim como privilegia o atendimento individualizado nas Salas de

Recursos Multifuncional, os serviços de itinerância que impedem o envolvimento

com o projeto político pedagógico da Unidade Educativa e dificulta o planejamento

em conjunto com professores do ensino regular e o diálogo com gestores e equipe

pedagógica.

Thousand & Villa indicam que “para as escolas se tornarem inclusivas é

necessário gastar tempo e energia formando a equipe escolar para tomar decisões

de forma colaborativa” (1989, apud MENDES, 2014, p.17). Acrescentamos a essa

assertiva a necessidade de criar e fortalecer as redes de apoio ao trabalho docente

a partir do enfoque colaborativo entre os profissionais dos diferentes segmentos

escolares.

Podemos afirmar que o trabalho colaborativo é uma estratégia pedagógica

que promove a aprendizagem dos estudantes público da Educação Especial por

meio de processos que consideram as especificidades e necessidades de alunos e

professores.

REFERÊNCIAS Agência Senado. Senado aprova Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, 10/06/2015. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/06/10/senado-vota-lei-de-inclusao-dapessoa-com-deficiencia>. Acesso em: julho de 2017.

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BALL, S. J.; MAINARDES, J. (Org.). Políticas educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortex, 2011. BAUMEL, Roseli. Sobre Educação Inclusiva e Inclusão. In: RIBEIRO, Maria Júlia Lemos (organizadora). Educação Especial e Inclusiva: teoria e prática sobre o atendimento à pessoa com necessidades especiais. Maringá: Eduem, 2012. BRASIL. Lei nº 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ministério da Educação e Cultura. Brasília: MEC, 1996. _______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva Grupo de Trabalho. Ministério da Educação e Cultura. Brasília, 2008. _______. Decreto 7.611, de 27 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Casa Civil. Brasília, 2011. _______. Lei nº 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ministério da Educação e Cultura. Brasília: MEC, 1996. FERREIRA, Bárbara Carvalho et al. Parceria colaborativa: descrição de uma experiência entre ensino regular e especial. Revista Educação Especial, 2007, n.29. Disponível em http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas. Acesso em agosto de 2017. LUNARDI-MENDES, Geovana Mendonça. Nas trilhas da exclusão: as práticas curriculares de sala de aula como objeto de estudos. In: BUENO, José Geraldo Silveira; MENDES LUNARDI, Geovana Mendonça; SANTOS, Roseli Albino (organizadores). Deficiência e Escolarização: novas perspectivas de análise. Araraquara, SP: Junqueira & Marin. Brasília, DF: CAPES, 2008. MENDES, Enicéia Gonçalves; VILARONGA, Carla Ariela Rios; ZERBATO, Ana Paula. Ensino Colaborativo como apoio à inclusão escolar: unindo esforços entre educação comum e especial. São Carlos: EdUFSCar, 2014. NÓVOA, António. Professores. Imagens do futuro presente. EDUCA: Lisboa, 2009. MARIN, Márcia; BRAUN, Patrícia. Ensino Colaborativo como prática de inclusão escolar. In: GLAT, Rosana; PLETSCH, Márcia Denise (organizadoras). Estratégias Educacionais Diferenciadas para alunos com necessidades especiais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013

Rosângela Kittel Professora da Educação Especial na Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva, Florianópolis/SC, atuando na Sala Multifuncional. Mestre em Educação pela UDESC/SC, especialista em Deficiência Intelectual pela UEPG/PR e graduada em Educação Especial pela UFSM/RS.

Ruth Mary Pereira dos Santos Professora da Educação Especial na Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva, Florianópolis/SC, atuando na Sala Multifuncional Especialista em Mídias na Educação pelo IFSC (2015), e graduada em Pedagogia com Habilitação em Educação Especial pela UFSC (2010).

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1 Sala de Recurso Multifuncional, segundo nomenclatura da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008). No município de Florianópolis esse serviço foi organizado em 2002 sob a terminologia de Sala Multimeios e assim é conhecido na Rede Municipal de Ensino. 2 Sistema de escrita com pontos em relevo que as pessoas cegas usam para escrever e ler. 3 Uma espécie de ábaco, de origem japonesa, usado para registrar valores e efetuar cálculos usando as quatro operações além de extração de raízes, trabalho com horas, minutos e segundos, conversão de pesos e medidas. No soroban podemos operar números inteiros, decimais e negativos.