o sesimbrense - edição 1148 - março 2011

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ANO LXXXV • N.º 1148 de 31 de Março de 2011 • 1,00 € • Taxa Paga • Monte Belo • Setúbal - Portugal (Autorizado a circular em invólucro de plástico Aut. DE00212011GSCLS/SNC) Ensino Cidadania Política Página 10 Página 16 Página 9 Página 4 Página 8 Contrariando as previsões meteorológicas, todas as acções previstas para o Carnaval em Se- simbra acabaram por se realizar, embora com um número de visitantes inferior ao de anos mais ensolarados. “Alegria e espírito de união” caracterizaram os dias e noites de folia. João Pólvora: há futuro para a pesca O novo director da delegação Centro-Sul da Docapesca acredita que o sector das pescas nacionais tem futuro, mas que enfrenta, também, desafios importantes, os quais é necessário ultrapassar: “Enfrentamos um novo pa- radigma, que é o de garantir condições razoáveis de sus- tentabilidade económica e social e, ao mesmo tempo, reduzir a capacidade da frota e o esforço de pesca”. Sesimbra em 1958 Um documentário italiano realizado durante o I Campeonato de Caça Submarina foi recentemente colocado no Youtube, revelando imagens de uma Sesimbra vibrante e dedicada às actividades maritimas. Sesimbrenses e pioneiras Uma vida inteira dedicada à pesca, contrariando a tradição, que reserva esta actividade aos homens: Júlia Ratinho fala da dedicação com que se entrega a este trabalho desde os 9 anos. É uma das mulheres sesimbrenses que destacamos para assinalar o Dia da Mulher, juntamente com Olinda da Conceição e Almerinda Rosa Correia. Lem- bramos ainda a “conquista” da Música pelas mulheres de Sesimbra. Pescadores contra novas regras fiscais O Governo alterou as regas do jogo, obrigando os pescadores a fazer descontos fixos, independentemente da quantidade de peixe pescado, à semelhança do regime dos trabalhadores in- dependentes. O sector está revoltado e prepara-se para resistir. PCP elege Comissão Concelhia Página 10 Página 14 Página 10 Sesimbra na BTL Sesimbra voltou a marcar, pelo 6º ano consecutivo, presença na Bolsa de Turismo de Lisboa, com um pavilhão promocional. Apesar das limitações impostas pela conjuntura de crise, o es- forço feito com a “prata da casa” permitiu, segundo o Presidente da Câmara, ultrapassar essa limitação, provando que “é possível fazer mais e melhor, com menos recursos”. Página 12 Novas Oportunidades: novos diplomas Assembleia Municipal de Jovens Edifícios emblemáticos com obras para breve Página 5 O elevador da discórdia Página 5 Passageiros dos TST descontentes A Fortaleza de Santiago, a Casa do Bispo e o edifício das anti- gas Finanças, vão entrar brevemente em obras, com o objectivo de os qualificar para funções culturais. O elevador do edifício Mar da Califórnia deveria estar ao serviço dos utentes do parque de estacionamento público, mas não tem estado acessível. Também se queixa quem não usa o parque de estacionamento, mas não há nenhuma obrigação de que esteja disponível para uso geral. Diversas queixas relativas aos transportes públicos proporcio- nados pelos TST foram apontadas por passageiros de Sesimbra. Preocupação com os secto- res das pescas e da constru- ção civil, bem como a precarie- dade laboral, foram algumas das conclusões dos trabalhos da XI Assembleia da Organiza- ção Concelhia de Sesimbra do PCP, que elegeu também uma nova Comissão Concelhia de 32 elementos, para um novo mandato com a duração de 4 anos. Teve lugar em Sampaio mais uma cerimónia de en- trega de diplomas conferi- dos pelo Centro de novas Oportunidades de Sesimbra, uma iniciativa que tem como objectivo a qualificação e for- mação dos cidadãos. No final de 2010 já se tinha atingido, a nível nacional, o número de um milhão de certificados no âmbito deste programa. Fábio Rodrigues, da EBI da Quinta do Conde, foi eleito presidente da Mesa da 8º As- sembleia Municipal de Jovens, uma iniciativa que tem como objectivo sensibilizar as novas gerações para a importância da participação política e de uma cidadania activa. A Assembleia deste ano terá lugar no próximo dia 21 de Maio Numa cerimónia que contou com a projecção de um filme sobre as Escolas Conde Ferreira, uma palestra do professor Fernando António Baptista Pereira, e a actuação da banda de mú- sica Bota Big Band, a Assembleia Municipal entregou a carlos Sargedas o Prémio Espichel. Página 10 Foto de Miguel Lourenço Prémio Espichel Página 13

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O Sesimbrense - Edição 1148 - Março 2011

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Page 1: O Sesimbrense - Edição 1148 - Março 2011

ANO LXXXV • N.º 1148 de 31 de Março de 2011 • 1,00 € • Taxa Paga • Monte Belo • Setúbal - Portugal (Autorizado a circular em invólucro de plástico Aut. DE00212011GSCLS/SNC)

Ensino Cidadania Política

Página 10

Página 16

Página 9

Página 4

Página 8

Contrariando as previsões meteorológicas, todas as acções previstas para o Carnaval em Se-simbra acabaram por se realizar, embora com um número de visitantes inferior ao de anos mais ensolarados. “Alegria e espírito de união” caracterizaram os dias e noites de folia.

João Pólvora: há futuro para a pescaO novo director da delegação

Centro-Sul da Docapesca acredita que o sector das pescas nacionais tem futuro, mas que enfrenta, também, desafios importantes, os quais é necessário ultrapassar: “Enfrentamos um novo pa-radigma, que é o de garantir condições razoáveis de sus-tentabilidade económica e social e, ao mesmo tempo, reduzir a capacidade da frota e o esforço de pesca”.

Sesimbra em 1958Um documentário italiano realizado durante o I Campeonato

de Caça Submarina foi recentemente colocado no Youtube, revelando imagens de uma Sesimbra vibrante e dedicada às actividades maritimas.

Sesimbrenses e pioneirasUma vida inteira dedicada à

pesca, contrariando a tradição, que reserva esta actividade aos homens: Júlia Ratinho fala da dedicação com que se entrega a este trabalho desde os 9 anos. É uma das mulheres sesimbrenses que destacamos para assinalar o Dia da Mulher, juntamente com Olinda da Conceição e Almerinda Rosa Correia. Lem-bramos ainda a “conquista” da Música pelas mulheres de Sesimbra.

Pescadores contranovas regras fiscais

O Governo alterou as regas do jogo, obrigando os pescadores a fazer descontos fixos, independentemente da quantidade de peixe pescado, à semelhança do regime dos trabalhadores in-dependentes. O sector está revoltado e prepara-se para resistir.

PCP elege Comissão Concelhia

Página 10 Página 14 Página 10

Sesimbra na BTLSesimbra voltou a marcar, pelo 6º ano consecutivo, presença

na Bolsa de Turismo de Lisboa, com um pavilhão promocional. Apesar das limitações impostas pela conjuntura de crise, o es-forço feito com a “prata da casa” permitiu, segundo o Presidente da Câmara, ultrapassar essa limitação, provando que “é possível fazer mais e melhor, com menos recursos”.

Página 12

Novas Oportunidades: novos diplomas

Assembleia Municipal de Jovens

Edifícios emblemáticos com obras para breve

Página 5

O elevador da discórdia

Página 5

Passageiros dos TST descontentes

A Fortaleza de Santiago, a Casa do Bispo e o edifício das anti-gas Finanças, vão entrar brevemente em obras, com o objectivo de os qualificar para funções culturais.

O elevador do edifício Mar da Califórnia deveria estar ao serviço dos utentes do parque de estacionamento público, mas não tem estado acessível. Também se queixa quem não usa o parque de estacionamento, mas não há nenhuma obrigação de que esteja disponível para uso geral.

Diversas queixas relativas aos transportes públicos proporcio-nados pelos TST foram apontadas por passageiros de Sesimbra.

Preocupação com os secto-res das pescas e da constru-ção civil, bem como a precarie-dade laboral, foram algumas das conclusões dos trabalhos da XI Assembleia da Organiza-ção Concelhia de Sesimbra do PCP, que elegeu também uma nova Comissão Concelhia de 32 elementos, para um novo mandato com a duração de 4 anos.

Teve lugar em Sampaio mais uma cerimónia de en-trega de diplomas conferi-dos pelo Centro de novas Oportunidades de Sesimbra, uma iniciativa que tem como objectivo a qualificação e for-mação dos cidadãos. No final de 2010 já se tinha atingido, a nível nacional, o número de um milhão de certificados no âmbito deste programa.

Fábio Rodrigues, da EBI da Quinta do Conde, foi eleito presidente da Mesa da 8º As-sembleia Municipal de Jovens, uma iniciativa que tem como objectivo sensibilizar as novas gerações para a importância da participação política e de uma cidadania activa.

A Assembleia deste ano terá lugar no próximo dia 21 de Maio

Numa cerimónia que contou com a projecção de um filme sobre as Escolas Conde Ferreira, uma palestra do professor Fernando António Baptista Pereira, e a actuação da banda de mú-sica Bota Big Band, a Assembleia Municipal entregou a carlos Sargedas o Prémio Espichel.

Página 10

Foto de Miguel Lourenço

Prémio Espichel

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2O SESIMBRENSE | 31 DE MARÇO DE 2011

Pescas - Fevereiro

Editorial

No dia 28 de Fevereiro foi assinado um Protocolo de Cooperação, pela Au-toridade para as Condições de Trabalho (ACT) e o Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL). Este Protocolo tem o objectivo de facilitar a resolução de conflitos que surjam laboralmente, e desta forma, descon-gestionar os tribunais com este tipo de problemas.

Na sequência desta parceria, o ACT, deve informar os trabalhadores sobre os meios alternativos facultando-lhe

Tempo irregular de Inverno nada bom para a pesca. Razão que se reflecte na produção de pescado e de valores vendidos na lota. Em relação ao mês anterior houve relativo equilíbrio em qua-se todas as artes de pesca. A Primavera aproxima-se e com ela o prenuncio de melhores pescarias. Oxalá que a melho-ria de tempo traga os benefícios que a pesca e pescadores necessitam, já bas-

ta a crise geral que no momento passa pelo país e as pescas que de há muito se vem ressentido de uma má politica que também tem sido causadora da rui-nosa economia nacional. Haja em vista que éramos um substancial exportador de pescado e hoje importamos grande quantidade de peixe o que desajusta a nossa balança comercial e as gentes do mar que dele vivem. Pedro Filipe

Resolução de conflitos laboraismeios de resolução acessíveis para possíveis conflitos de trabalho, divul-gando e promovendo serviços como, o Sistema de Mediação Laboral: um serviço que permite aos trabalhadores e empregadores resolverem litígios laborais através da mediação de con-flitos. Como resultado desta mediação, o trabalhador e a sua entidade patronal podem alcançar um acordo que seja conveniente para ambos, sem neces-sidade de intervenção de um tribunal.

Andreia Coutinho

A ArtesanalPesca vai divugar os seus produtos na Alimentária e Hor-expo 2011, o Salão Internacional da Alimentação, Hotelaria e Tecnologia para Indústria Alimentar, a decorrer entre 27 e 30 de Março corrente. A promoção do peixe-espada preto e do polvo comercializados por aquela or-ganização de pesca sesimbrense será feito no espaço que a Associação para o Desenvolvimento Rural da Penín-sula de Setúbal tem naquela feira co-mercial para divulgação de diversos produtos da Península de Setúbal.

ArtesanalPesca divulga produtos

A SIMARSUL assinala o dia Mun-dial da Água com o lançamento do filme pedagógico “Na ETAR, como na Natureza…Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Este filme foi feito não só a pensar na co-munidade escolar, como também na população em geral. O referido filme, que estará disponível no site da SI-MARSUL, é uma espécie de viagem ao interior das ETAR’s, Estações de Tratamento de Águas Residuais, e ao ciclo urbano da água, e tem como objectivo sensibilizar o público para a importância do tratamento das águas residuais na protecção do ambiente, para a preservação do recurso água,

Dia Mundial da Água Filme pedagógico sobre ETAR

O Dia Mundial da Água foi criado pela ONU, Organização das Nações Unidas, em 22 de Março de 1992 e desde então é comemorado anualmente. Neste dia foi divulgado um importante documento: a “Declaração Universal dos Direitos da Água”, onde são apre-sentadas medidas que visam despertar a consciência ecológica da população e dos governantes para a questão da água. Este ano “Água para as Cidades” foi o tema do Dia Mundial da Água, devido à problemática do crescimento explosivo urbano e suas consequências.

para a valorização de resíduos e para a utilização de energias renováveis.

A Pesca em focoA entrevista com João Pólvora, o

novo responsável da Docapesca, que publicamos na presente edição (página 8) considera alguns argumentos que não fazem habitualmente parte dos de-bates que se debruçam sobre o sector da pesca, e que merecem ponderação. O aumento da concorrência no merca-do do pescado, quer pela abolição das fronteiras (fenómeno que se integra na denominada Globalização), quer pela inovação no sector produtivo (especial-mente pelo aumento da oferta de peixe da aquacultura) é um facto inegável e que já faz sentir os seus efeitos em Sesimbra, há algum tempo. Quase sem darmos por isso, o importante sector das empresas compradoras de peixe praticamente desapareceu em Sesimbra. Também muito do peixe que é servido nos nossos restaurantes vem da aquacultura.

É verdadeira a afirmação de que o peixe da aquacultura nunca poderá ter a mesma qualidade do que o que é apanhado em estado selvagem – argu-mento com que habitualmente se des-valoriza o peixe de produção artificial. Mas, sendo isso verdade em termos gerais, é também uma realidade em mudança. Por um lado, algum do peixe pescado na Natureza pode apresentar níveis de poluição preocupantes, e que podem aumentar à medida que cresce a poluição nos mares do mundo, facto especialmente preocupante para as espécies de profundidade, que tendem a acumular no seu organismo os peri-gosos metais pesados. Por outro lado, as técnicas de aquacultura também não se mantêm estáticas: gradualmente a qualidade e segurança alimentar das espécies piscícolas produzidas em cati-veiro poderá vir a aumentar, diminuindo a distância de qualidade para as espé-cies capturadas na Natureza – com a vantagem, das primeiras, em poderem ser colocadas no mercado na quantida-de e qualidade que se pretender.

Também a liberalização da venda de pescado se reflecte na possibilidade de

qualquer empresa, a partir de qualquer parte do País, ou mesmo do estran-geiro, poder comprar e vender a partir de qualquer lota, ameaçando as redes locais de comercialização de peixe, na mesma medida, e com as mesmas consequências, com que o mercado nacional de produtos agrícolas foi atin-gido pelos circuitos de comercialização abertos ao mercado europeu. E a histó-ria tenderá a repetir-se: a qualidade da laranja algarvia parecia imbatível, mas não é essa a laranja que encontramos hoje à venda nas grandes superfícies, mas sim laranja importada que, apesar da menor qualidade, apresenta preços de tal forma baixos que a equação preço-qualidade quase deixa de fazer sentido.

A definição de uma estratégia para as Pescas sesimbrenses não pode deixar de ter em conta estas realidades. O reforço empresarial da nossa frota de pesca – que é possível, como se prova pelo exemplo da ArtesanalPes-ca – e o aumento da sua capacidade concorrencial, tem de ser estudado, na procura de soluções. É necessário criar expectativas reais para o sector, baseadas em estudos fundamentados e em políticas adequadas às neces-sidades deste sector em Sesimbra. O programa comunitário PROMAR tem condições para financiar esses estudos, bem como os investimentos e iniciativas de fomento e promoção que deles decorram. O exemplo das candidaturas actualmente em curso do GAC Além-Tejo, que têm esse mesmo objectivo, devem ser devidamente acompanhadas e avaliadas, para que, ainda durante a vigência do actual Quadro de Referência Estratégica Nacional, se possa tirar todo o partido das oportunidades de adaptação do sector das pescas a uma realidade em rápida mudança, a qual arrasta consigo grandes oportunidades, mas igualmen-te algumas ameaças.

João Augusto Aldeia

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O SESIMBRENSE | 31 DE MARÇO DE 20113

ONDULAÇÕES

A papelaria de Gracinda Veríssimo, na rua do Forno (rua Prof. Joaquim Marques Pólvora) foi assaltada na madrugada da segunda-feira, dia 4 de Março. Dinheiro, tabaco e cautelas de lotaria foram os bens mais valiosos que foram levados pelos assaltantes, que partiram um dos vidros da porta para entrarem naquele estabelecimento.

Quem primeiro deu pelo assalto foi um dos estafetas de jornais, que ali chegou à 5:45 h. Entretanto, durante a manhã, estiveram no local a GNR e a Polícia Judiciária, tendo esta procura-do por indícios, tais como impressões digitais. Os pedaços do vidro partido foram levados pelos assaltantes, pro-vavelmente porque teriam vestígios das impressões digitais.

O estabelecimento encerra ao Do-

Papelaria assaltada na rua do Forno

mingo, mas é nesse dia Gracinda recebe alguns pagamentos dos cafés, e todo esse dinheiro foi roubado.

Gracinda Veríssimo estava bastante desanimada: este é o segundo as-salto que sofre em menos de 2 anos, e chamou a atenção para o facto de se tratar de uma rua mal iluminada à noite. Desconfia que o assaltante ou assaltantes possam ser pessoas que conheçam bem o local, pois foram en-contrar os rolos de moedas que tinha deixado bem escondidas: “Isto é pes-soa que sabe, que conhece os meus hábitos. Pode nem ter sido essa mesma pessoa, mas através de mandatários. Levaram a lotaria toda que eu tinha aí, incluindo a que estava em envelopes de pessoas que compram sempre o mesmo número.”

Confesso que tenho sentido alguma dificuldade em seguir a linha de rumo que Sócrates traçou ao seu governo e a forma de que se têm revestido algumas das suas decisões.

A crise interna que nos persegue, desde os finais dos anos noventa, atin-giu proporções ainda mais preocupan-tes quando o efeito da crise europeia se lhe sobrepôs. Experiências políticas nacionais, vividas em anos anteriores à crise, quer pelo PS quer pelo PSD, deveriam ter sido suficientes para que, perante o resultado das últimas eleições, estes dois partidos tivessem actuado com redobradas precauções.

De entre essas desejáveis precau-ções destaco as que eram exigíveis antes da formação do actual governo. Era sabido que se o novo governo não gozasse de uma maioria parlamentar, ou de um forte apoio, resultante de um acordo partidário alargado para a constituição de um governo de base pluripartidária, a estabilidade política não seria alcançada. Sem esta base política, não haveria condições para um eficaz combate à nossa crise interna que exigia aumentos de pro-dutividade económica, combate eficaz ao desemprego e à pobreza, especiais medidas de apoio à agricultura e às pescas, aumento das exportações, redução das importações, políticas fiscais e de justiça seleccionadas.

Sucedeu que foi o PS o partido mais votado nessas eleições legislativas e Sócrates o primeiro-ministro indigitado. Sucede, ainda, que Sócrates optou, e em minha opinião mal, pela apresen-tação na Assembleia da República de um governo unipartidário, sem maioria absoluta.

Porque razão não fui surpreendido pela sua opção? Porque conheço José Sócrates e me habituei aos seus jogos desde os finais dos anos 70. Nos seus primeiros tempos de jovem socialista, o actual primeiro-ministro foi militante activo da oposição interna ao Secretário-Geral, Mário Soares e ao Secretariado Nacional a que o autor destas Ondulações pertencia.

Quando saí do governo convivemos um largo período de tempo, no dia-a-dia do Grupo Parlamentar. Estavam, então, na moda as questões do Am-biente, tendo Sócrates “lutado” por con-seguir a sua participação na respectiva

Comissão. Eu pertencia, então, às Co-missões de Defesa e de Timor-Leste. Apesar dos diferentes “gostos” que as opções evidenciavam, sempre tivemos um bom relacionamento.

Sócrates era um jovem com imensas virtudes e qualidades e um ou dois pe-quenos defeitos. Era muito teimoso e apresentava peculiares características centralizadoras, não sendo fácil fazê-lo participar em qualquer grupo de traba-lho que não fosse por si “orientado”.

Como devem estar recordados, o actual primeiro-ministro, mexeu na sua equipe, logo nos seus primeiros meses de governo. Substituiu o ministro das finanças, peça chave desse governo. Não foram conhecidas as razões de tal substituição. Presumo eu, que tal mu-dança se deveu a uma discordância de fundo sobre a futura política financeira do governo. Dada a importância dessa discordância, lamento que, passados estes anos, os argumentos das par-tes não tenham sido completamente esclarecidos. Sócrates não é homem de transigências fáceis, segue sempre o caminho que as suas características pessoais lhe ditam. De uma forma geral, os resultados politicamente con-seguidos foram, até há alguns meses, aceitáveis. Sucede que, nos últimos meses, sobretudo, depois do resultado das presidenciais, tem sido mais ques-tionado dentro do partido e tem estado mais isolado nos actos de governação, pese embora o indiscutível apoio dos senhores ministros da presidência e das finanças, o que é verdadeiramente, muito pouco e devia merecer, da sua parte, uma análise muita séria.

Não se trata de uma análise com vista a prevenir o seu próprio futuro, trata-se de uma análise a acautelar o futuro político do Partido Socialista na sociedade portuguesa e no conceito internacional.

Senhor Primeiro-ministro, não resisto à tentação de lhe enviar, destas Ondu-lações, um conselho amigo. Embora, tarde de mais, ainda é tempo para que se disponha a procurar um último aconselhamento com os “órgãos da nossa família política”, colocando todas as “cartas em cima da mesa”, após o que seria tempo para uma profunda e séria meditação.

Eduardo Pereira

O Padre Carlos Veríssimo de Figueiredo celebrou, no passado dia 14 de Março, noventa anos de idade.

Como grande sesimbrense que é e pelo amor, dedicação e serviços que sempre prestou à sua terra, merece que a sua memória fique perpetuada para que os sesimbrenses actuais e vindouros sigam o seu exemplo. Como escrevia Anatole France, “ Um Homem não é nada se não fôr o produto da sua terra e o Padre Carlos é um “Produto” de Sesimbra que deverá ficar, como exemplo, na memória e na gratidão de todos os seus conterrâneos.

O Padre Carlos foi dotado de grande e requintada sensibilidade artística, reflectida na música, no canto, no desenho, na caricatura, na iluminura, na poesia e no teatro, tendo obras em todas estas áreas. Em Dezembro de 2000, com o patrocínio da Câmara Municipal de Peniche, editou o livro de sua autoria intitulado “Rezas antigas do Povo de Sesimbra - Laudas à minha Terra”, onde demonstra, mais uma vez, o grande amor à sua terra natal .É dele também a frase a célebre frase “Aos Pescadores a quem o mar se curva e a terra aclama”, inscrita no monumento

Um monumento ao Padre Carlos

dedicado aos pescadores de Sesimbra. Tudo é pouco o que se possa dizer ou escrever quando falamos do Padre Carlos, por isso resumimos assim a sua vida: Grande homem, grande sacerdote, grande génio, grande sesimbrense!

Assim, propomos que as autarquias locais, Câmara Municipal e Junta de Freguesia, ou quaisquer outras enti-dades religiosas ou civis ou qualquer movimento com esta iniciativa façam erigir um busto ou outro tipo de monu-mento de homenagem a tão grande sesimbrense e, se possível , também uma rua com o seu nome.

O Padre Carlos mora na Rua Eça de Queiroz, nº 47 e em frente à sua casa existe um pequeno Largo que, na nossa opinião, seria o local ideal para instalar o referido monumento. Nesse Largo, neste momento há uma peça em ferro que nos parece ter sido uma bica de água e que já não funciona nem lembra nada aos sesimbrenses.

Portanto, apelemos todos por um monumento ao Padre Carlos Verís-simo!

Joaquim Jorge

Avança a bom ritmo de construção a ponte-cais nº3 no Porto de Sesimbra. Segundo nota da APSS, todas as aduelas, vigas e pré-lajes foram pré-fabrica-das num estaleiro instalado no Porto de Sesimbra. Entre os meios utilizados na obra, a APSS destaca “a plataforma flutuante de grandes dimensões, rebo-cadores e uma grua com capacidade de elevação de 120 toneladas”.

Ponte Cais 3

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4O SESIMBRENSE | 31 DE MARÇO DE 2011

Edifício das “Finanças”A visita teve como ponto de

encontro a Biblioteca Munici-pal, de onde se seguiu para o edifício da Rua Dr. Aníbal Es-meriz, “onde já funcionou uma repartição de Finanças, que deteve também uma sala de exposição do Museu Municipal e já foi sede de associações locais e várias escolas de Samba”, relembrou o Presi-dente Augusto Pólvora. Foi construído no século XIX e a sua reabilitação custará cerca de 780 mil euros. O edifício será a “Sede dos Museus”, isto é, será o núcleo central da rede de museus de Sesimbra. Irá também ser restaurada a antiga Mercearia Ideal, como espaço para venda e divul-gação de produtos regionais, assim como, a instalação de um espaço visitável com objectos de acervo marítimo, sendo assim recriada uma loja de companha. “Este edifício não será um espaço meramen-te administrativo e logístico, será um espaço com várias exposições temporárias, onde serão feitos trabalhos oficinais e restauros a objectos patrimo-niais”, explicou o técnico mu-nicipal João Ventura. “O nosso espólio, quando necessário, tem que ser restaurado fora daqui e está, a maior parte das vezes, disperso”, acrescentou a vereadora Felícia Costa. Os arquitectos municipais Armindo Pombo e Marinho Pinto, autores deste projecto, referem que “o interior vai ser completamente demolido, o exterior irá ser apenas re-construído, aproveitando os azulejos que completam a be-leza deste edifício. O sótão irá ser recuperado, criando quase um outro piso não visível da rua.” O término da obra, está previsto para o final de 2011.

Casa do BispoA visita prosseguiu, tendo

como próxima paragem a Casa do Bispo, um dos edi-fícios mais antigos da Vila

Edifícios emblemáticos de Sesimbracom obras previstas para breve

de Sesimbra, situado na Rua Antero de Quental, construída no século XVI e que se julga ter sido propriedade do Bispo de Fez, D. Belchior Beliago. A sua recuperação está orçamenta-da em 350 mil euros, tendo início previsto no segundo semestre deste ano. “Este edifício não vai sofrer grandes ampliações, é por isso, a nível financeiro, menos oneroso que os restantes edifícios alvo de requalificação”, referiu Au-gusto Pólvora. Os arquitectos explicaram que “o edifício vai ser reconstruído tal como ele era, a não ser o piso de entra-da que irá ser nivelada.” Este local terá várias salas onde irão ser realizadas algumas exposições sobre projectos em curso. “O objectivo deste espaço passa por promover o encontro de gerações, sendo que a nossa matriz cultural é a tradição piscatória, va-mos aproveitar estes saberes dos mais velhos, realizando workshops, ensinando os mais novos, e até potenciar a cria-ção de microempresas ligadas ao artesanato ou a outro tipo de expressões deste género”, adiantou Felícia Costa.

Fortaleza de SantiagoPor fim e não menos im-

portante, o local visitado foi a emblemática Fortaleza de Santiago, futuro museu do Mar.

O projecto está em fase de estudos e avaliação do estado de conservação, estando esta obra orçada em cerca de 1,5 milhões de euros.

“Funcionou aqui o primeiro quartel da GNR, foi também a sede da Guarda Fiscal, mas também serviu de colónia de férias, que todos nós, em crianças, nos lembramos”, recordou Augusto Pólvora.

Este espaço permitirá a im-plementação de vastas activi-dades e serviços, e desde logo a criação do Museu do Mar, a que se associa um Centro de Interpretação e Educação de Sesimbra, e a construção de um aquário que receberá es-pécies de fauna e flora vindas do Parque Marinho. Também está prevista a construção de um posto de atendimento da GNR e a transformação da Casa do Governador num pólo cultural para exposições e recepções.

Os arquitectos envolvidos explicaram a complexidade desta recuperação, “associada à sua importância quer his-tórica e patrimonial, quer no ponto de vista do edifício em si; por isso mesmo, foram feitos vários testes geológicos, uma espécie de autópsia ao doente, para podermos intervir da ma-neira menos lesiva possível.”

Este local comportará, ain-da, um pequeno campo de férias a relembrar um pouco a antiga colónia de férias para crianças, um espaço de cafeta-ria e restauração, assim como , um anfiteatro ao ar livre.

Estas intervenções fazem parte do Programa Integra-do de Valorização da Frente Marítima de Sesimbra. Os imóveis a serem requalifica-dos serão determinantes para o desenvolvimento do Plano Estratégico de Turismo de Sesimbra, na medida em que vai ser implantado um variado leque de serviços destinados não só aos munícipes como também aoss visitantes.

Andreia Coutinho

No decorrer do presente ano irão ser requalificados três importantes imóveis da vila de Sesimbra: o edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz onde funcionaram as Finanças, a Casa do Bispo e a Fortaleza de Santiago. Na manhã do dia 2 de Março os locais foram visitados pelo Presidente da Câmara, Augusto Pólvora, a vereadora Felícia Costa, alguns técnicos autárquicos responsáveis pelos res-pectivos projectos e pela Comunicação Social local. O orçamento previsto para este conjunto de intervenções é cerca de 2 milhões e 630 mil euros e conta com o apoio da QREN e do Programa Operacional Regional de Lisboa – PORLisboa. As obras terão início no segundo trimestre de 2011, excepto na Fortaleza,cujo início deverá ocorrer no final do corrente ano.

Até ao passado dia 14 de Março os hipermercados de menor dimensão do grupo Sonae eram conhecidos pela marca Modelo. Por todo o país estas áreas de mercado alte-raram o seu nome para Conti-nente, resultado da fusão das duas marcas, e o hipermerca-do de Sesimbra não foi excepção. João Moura, director desta loja, destaca “o facto desta área de comér-cio ser uma re-ferência já há 2 anos na região, apresentando um crescimen-to de clientes desde então, a par de outras inúmeras lojas

por todo o país”. O director fala-nos de uma mudança que “surgiu naturalmente quer para a empresa quer para os clientes, uma vez que a maior parte deles já entendiam a marca Modelo como marca Continente”, daí a o mote para a campanha referente a esta nova etapa “O Continente somos todos nós”. Esta fusão tem como causa uma estraté-gia de marca única por parte do grupo Sonae, reforçando a marca Continente no merca-do nacional de retalho.

Até 5 de Junho, de acordo com João Moura, as lojas que sofreram esta alteração vão ser palco de muitas promoções em vários tipos de artigo comercializadas

por este estabelecimento. Andreia Coutinho

João MouraDirector de loja

No dia 4 de Janeiro teve lugar a tomada de posse dos novos dirigentes nacionais da Câmara dos Solicitadores, a cerimónia teve lugar no Pa-lácio da Independência em Lisboa, e contou com várias figuras do panorama da Jus-tiça Portuguesa, entre elas o Ministro da justiça Alberto Mar-tins e o Secretário de Estado, José Magalhães. João Capí-tulo, técnico oficial de Contas

(TOC) e também licenciado em Solicitadoria, tomou posse como tesoureiro da Câmara. O solicitador e TOC diz ser “uma grande responsabilidade gerir um elevado orçamento”. Entre-tanto João Capítulo conseguiu que uma das cerimónias de tomada de posse de cargos regionais desta organização – delegados da zona sul – se realizasse em Sesimbra, no cine-teatro João Mota.

Um dos objectivos de João Capítulo e seus colegas é a transformação da Câmara dos Solicitadores numa Ordem profissional, tendo em conta as exigências académicas de acesso à profissão. “Nes-te momento preenchemos todas as condições para tal, mas é um processo que pode levar algum tempo, uma vez que tem de ser aprovado na Assembleia da República”, acrescentando que este foi um dos motivos que o levou a candidatar-se ao cargo.

João Capítulo na Câmara dos Solicitadores

Tratam-se de recu-perações complexas quer pela sua histó-ria quer pelo grau de conservação dos edifícios

O mandato tem a duração de 3 anos, e durante este período “a direcção reconhe-cendo os problemas da justiça, nomeadamente, a morosidade de processos, quer tomar medidas para resolver esta problemática.” Uma das me-didas, segundo João Capítulo, passa pela “introdução de um sistema informático inovador a nível nacional, que controlará os processos jurídicos, facili-

tando o trabalho do Ministério da Justiça”. Será um investi-mento grandioso a nível mone-tário mas “bastante proveitoso quando temos um número que ronda os 200 a 300 mil execu-ções por ano em Portugal”, es-clarece. Acrescenta ainda que este sector está relacionado com a economia do país, “aju-damos o ministério da Justiça, as pessoas que necessitam deste serviço, as empresas e ao mesmo tempo a nossa profissão fica credível”. Outra missão desta direcção eleita está relacionada com o Balcão Único do Solicitador, um local onde o cidadão resolve os problemas com a tramitação de todos os processos ne-cessários a certos negócios jurídicos, designadamente os relacionados com bens imó-veis e outros sujeitos a registo, “já existem este balcões mas é importante que sejam abertos mais por todo o país”.

Andreia Coutinho

substitui

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O Sesimbrense falou com Daniel Piedade, proprietário do Restaurante “O Canhão”, que representa aqui o condo-mínio do edifício da Praia da Califórnia, falou também com a empresa SIENT, a quem o condomínio contratou os tra-balhos de administração do parque de estacionamento e do elevador em questão, e, por fim, com a Câmara Municipal de Sesimbra, outra possível interveniente nesta questão.

Daniel Piedade começou por explicar que “aquando a construção do edifício do Mar da Califórnia, a administração assinou um protocolo com a Câmara e o construtor onde se assinalaram as responsa-bilidades de cada um”. Este protocolo, segundo Daniel Piedade, atribuía a limpeza e higienização da escada ao lado do bar Onda Selvagem, bem como da saída do parque de estacionamento, à adminis-tração do edifício; o parque de estacionamento e escada

ao lado do bar Gliese, ficava a cargo do Spa Hotel. Daniel Piedade acrescenta que “o hotel acabou por entregar a sua exploração à empresa SIENT. Como proprietário de um restaurante, salienta que “o comércio perdeu, há uma espécie de barreira que foi construída entre a parte de cima da vila e a praça.” Ao per-guntarmos se está a funcionar neste momento o elevador, o administrador responde que “agora está completamente fechado, só funciona quando o parque de estacionamento está aberto, indo só até ao 6ºpiso, pois o parque só vai até a este andar”.

Contactada pelo nosso jor-nal, a SIENT respondeu “ser responsável pela manuten-ção, conservação, limpeza do elevador”, mas alegou que “durante o período decorrente desde Agosto de 2010, foi confrontada várias vezes com actos de vandalismo, utiliza-ção incorrecta, etc., que de

alguma forma perturbaram o seu normal funcionamento, recorrendo várias vezes aos serviços de assistência técnica especializada”.

A SIENT afirma também que durante o período de menor movimento de visitantes e utentes adequa a abertura do elevador “ao tráfego do parque e à abertura dos pisos de esta-cionamento que são servidos pelo elevador”, e que ”no período compreendido entre 1 de Junho e 15 de Setembro, o elevador se encontra diaria-mente a funcionar, salvo por motivo de força maior (avaria, manutenção, limpeza, etc.)”.

Ou seja, implicitamente a empresa responsabiliza o uso feito por outras pessoas, que não os utentes do parque de estacionamento, de proble-mas de “engarrafamento” do elevador e de vandalismo nos equipamentos. Reconhece também que limita o uso pú-blico do elevador durante a época baixa. Como refere a Cláusula 1ª do acordo entre o condomínio do Prédio da Praia da Califórnia e o Município de Sesimbra, acordo este a que O Sesimbrense teve acesso por

parte da SIENT, “As pessoas que utilizam este estaciona-mento podem utilizar um ele-vador e as escadas centrais de acesso público”.

Contactámos ainda o Pre-sidente da Câmara, Augusto Pólvora, que nos informou que não existe, nem nunca existiu, qualquer compromis-so, nem escrito nem verbal, para manter o elevador em funcionamento para outro uso que não o do parque de estacionamento: “a Câmara considera que a primeira prio-ridade é o bom funcionamento do parque e que o elevador deve estar prioritariamente ao serviço dos respectivos utentes, tendo em conta que se trata dum parque pago e fundamental para assegurar o estacionamento da Vila”.

Quanto a outros usos, a Câmara considera que “estão salvaguardadas as ligações verticais através de escadas e da rampa escapatória existen-te a poente do edifício”.

Andreia Coutinho

Pode pois concluir-se que só existe obriga-ção de facultar elevador aos utentes do parque deestacionamento;mas, apesar disso, este serviço não tem estado disponível nos períodos de menor utilização do parque.

Polémica com o elevador da CalifórniaHá já há algum tempo que o elevador público do Parque de Estacionamento do

Mar da Califórnia é alvo de críticas por quem por ali passa, utilizadores, moradores nas imediações do elevador, e simples visitantes que querem apenas descer ou subir e se deparam com oito andares de lanços de escada. São muitas as dúvi-

das acerca do que aqui foi acontecendo e dos direitos, se é que os há, de quem se vê obrigado a subir ou descer centenas de degraus de escada para descer à praça da Califórnia ou o inverso, sendo esta pessoa jovem ou idosa, residente das proximidades ou visitante.

São muitas as queixas de utentes dos transportes públi-cos rodoviários em Sesimbra aos serviços prestados pela empresa TST, sendo a mais grave a falha arbitrariamente de determinadas carreiras, que simplesmente não são

feitas, sem que sejam dadas quaisquer explicações: são “carreiras fantasma”. Temos a prova presencial da queixa de uma passageira que alegou ter esperado em vão, no Laranjei-ro, por uma das carreiras para Sesimbra; quando chegou a carreira do horário seguinte comunicou o facto ao motorista que, em troca, não lhe respon-deu rigorosamente nada.

O Sesimbrense procurou saber a razão de tanta insatis-fação por parte de quem utiliza os transportes públicos, neste caso, os autocarros da TST. A

TST com “carreiras fantasma”?crítica é partilhada por todos aqueles que esperavam por um autocarro, “as carreiras são poucas, por estranho que pareça há menos agora do que há uns tempos atrás, espera-mos muito tempo por um auto-carro”, diz Piedade, utilizadora

diária dos transportes da rede de Sesimbra. “É inadmissível faltar um autocarro e ficarmos à espera só do próximo para eles cumprirem horários”, retorquiu um outro utilizador”.

Também ouvimos queixas de que as carreiras entre Cacilhas e Sesimbra que pas-sam na estação dos Foros de Amora, para transbordo do comboio da Fertagus, nem sempre são executadas, ou, quando são, vêm com atrasos que incapacitam os utentes de gerirem os horários do auto-carro com o comboio. “Como

é que é possível pagarmos um serviço que não funciona?”, é uma das questões colocadas por uma jovem. “Um atraso de autocarro já é grave pois o comboio a apanhar já não será o previsto, mas mais grave ainda é não vir o autocarro”.

Inês Pereira, estudante univer-sitária vê-se, assim, obrigada a utilizar o automóvel até à estação, seguindo depois de comboio, mas há quem não tenha essa possibilidade.

Mas as queixas dos utentes estendem-se a outros aspec-tos, “os bilhetes são outro problema, é difícil conseguir-mos encontrar um sítio que venda, pois aqui no terminal, o stand de vendas está fechado, não nos dão horários e quem não sabe ler tem que pedir informações a outro utiliza-dor”, acrescenta Adelina que

também utiliza este transpor-te. As pessoas mais idosas sentem-se marginalizadas por não terem qualquer apoio, a subida para a plataforma pode tornar-se muito difícil e ouvimos lamentos de que, antigamente, os motoristas, de uma forma geral, ajudavam a subida para o autocarro a quem mais necessitava.

Actualmente parece ser tão raro encontrar um motorista que ajude, que até fizeram questão de referir ao jornal qual o motorista que se des-tacava pela positiva. “Não compreendo porque é que o autocarro com o motorista lá dentro tem as portas fechadas, enquanto as pessoas estão aqui à chuva, não há sensibi-lidade nesta gente” desabafa José Almeida, que aguarda o seu autocarro habitual.

O Sesimbrense contactou a TST sobre este assunto, tendo recebido uma resposta por escrito onde a empresa afirma ter feito uma reestruturação de carreiras em Janeiro deste ano e que, sobre essa reestrutura-ção, só foram recebidas quatro reclamações, as quais “foram objecto de análise no terreno”; dizem também que nas car-reiras urbanas de Sesimbra não houve reestruturação e que, quanto a essas, não foi recebido qualquer “registo de incumprimento de horários”.

Trata-se de uma resposta habilidosa, que não diz nada sobre eventuais queixas rece-bidas pela empresa e relativas ao funcionamento das res-tantes carreiras suburbanas. Será possível que os TST não tenham recebido uma única queixa? Se receberam, omitiram-no na informação que nos foi enviada.

Andreia Coutinho,

De acordo com um estudo realizado pela Deco/Proteste, o sector de transportes terrestres sofreu um acréscimo de reclamações nos úl-timos 5 anos. Atrasos, pouco conforto atendi-mento deficiente e veí-culos sobrelotados são os principais problemas apontados pelos utentes dos transportes públicos portugueses.

Actualmente são vá-rias as iniciativas de sensibilização para a utilização de transportes públicos: a Semana Eu-ropeia da Mobilidade e o Dia Europeu sem Carros, dia 22 de Setembro, são disso exemplos, visando mobilizar as pessoas para uma maior adesão aos transportes públicos em detrimento do uso do veículo particular.

Sesimbra já tem pre-vista a construção de uma central de transpor-tes públicos, integrada num edifício a construir na Avenida da Liberda-de, no entanto, a actual crise no sector da cons-trução parece estar a atrasar o arranque deste equipamento.

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6O SESIMBRENSE | 31 DE MARÇO DE 2011

O Partido Comunista Português realizou no passado dia 21 de Março, no posto da GALP da Quinta do Conde, um protesto contra o au-mento do preço dos combustíveis. Esta acção integrou-se numa campanha nacional que previa iniciativas semelhantes em 200 locais, a nível nacional. Durante o protesto foi distribuído um comunicado contra a “insuportável subida dos preços dos combustíveis”, considerando que “PS/PSD/CDS são responsáveis por este roubo”.

Protesto do PCP contra aumento dos combustíveis

Carlos Santos, o membro da anterior Direcção dos Bombeiros que entrou em conflito com o presidente daquele órgão, Fernando Gato, tendo denunciado alegadas irregularidades no funcionamento do Bombeiros e concorrido com uma lista de oposição nas últimas eleições, anunciou a sua demissão dos Bombeiros. Carlos Santos alega que a instauração de mais um processo disciplinar conra si, desta vez com a intenção de o expulsarem dos Bombeiros, justifica esta tomada decisão, alegando que “nesta caso, como no anterior processo a sentença está já ditada, e que o presente processo discioplinar apenas serve para formalizar uma decisão pré-estabelecida e já revelada na nota de culpa”.

Para fundamentação do processo disciplinar por parte dos BVS está, segundo Carlos Santos, “um documento particular que dirigi a três pessoas identificadas na nota de culpa” que alguém “colocou traiçoeiramente nas mãos” da actual Direcção dos BVS.

Demissão nos Bombeiros

Gérard Collin, um perito da UNESCO na área do património, visitou a Arrábida durante os dias de 6 a 11 de Março, no âmbito da candidatura da região a Património Mundial. Gérard é Conservador/chefe de

Arrábida recebe perito da Unesco

património e consultor internacional, deslocou-se à Arrábida com o objectivo de fazer uma pré-avaliação de todo o processo da candidatura, englobando o plano de gestão, a área, o calendário, entre ou-tros factores imprescindíveis a todo este processo complexo. A visita do perito foi acompanhada pelos técnicos da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), responsáveis pela candidatura, apresentando alguns locais inerentes a uma Arrábida como Património Mundial, como é o caso do Cabo Espichel, os castelos de Palmela e Sesimbra, o Por-tinho da Arrábida, o Convento da Arrábida, a Quinta de Camarate e a empresa José Maria da Fonseca.

À esquerda, Gérard Collin, conservador/chefe de património, consultor internacional e responsável de curso na Universidade de Montpellier.

A Secção de Sesimbra do Partido Socialista participou no XVII Congresso Nacional daquele partido com 3 de-legados: Sérgio Faias e Carlos Gouveia Lopes (eleitos pela lista A) e Félix (eleito pela lista B. Este Congresso, realizado em 25 de Março, reelegeu José Sócrates como secretário-geral do PS.

Delegados de Sesimbra ao Congresso do PS

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8O SESIMBRENSE | 31 DE MARÇO DE 2011

Conforme noticiámos na nossa anterior edição, a Docapesca de Sesimbra tem um novo director, o sesimb-rense João Pólvora. Apesar de estar à pouco tempo nes-tas funções e de ainda não poder falar especificamente sobre aspectos particulares dos serviços de Sesimbra, João Pólvora acedeu a con-ceder-nos uma entrevista, onde revela a sua visão sobre os problemas da pesca e da comercialização do pescado.

Como avalia a situação das Pescas?

É um sector que atravessa algumas dificuldades a nível mundial, e nacional, dificul-dades essas que derivam fundamentalmente do esforço de pesca exercido nas últimas décadas, e que tem sido supe-rior aos recursos disponíveis, encontrando-se, em algumas espécies, muito próximo dos limites da exploração susten-tável. Não se pode ignorar nem negligenciar que é um sector em crise.

Mas quais são os prici-pais problemas?

Para além do esforço de pesca exercido, é um sector que é gerido no âmbito de Politica Comum das Pescas, com regras que são adopta-das numa perspectiva do in-teresse comunitário, e não do interesse particular de cada Estado, e que por isso pode, em cada momento, ser mais ou menos favorável àquilo que são os interesses nacionais – que é o que tem acontecido, como é o caso das limitações de capturas, etc.

A Comunidade impõe lim-ites, tendo e conta a preser-vação das espécies, e isso acaba por criar dificuldades aos pescadores, tendo im-plicações no seu rendimento – porque não podem pescar aquilo que eventualmente, na óptica deles, estaria em condições de ser capturado.

Mas esses limites não são para todos?

São. Mas as quotas poderão variar em função de cada país, porque as dimen-sões das frotas também vari-am de país para país.

Mas há mais factores, como é o caso da liberalização dos mercados e a abertura das fronteiras, que fez aumentar a concorrência do pescado que vem de fora. Indepen-dentemente do facto do nosso pescado ser mais fresco e ter mais qualidade, o preço tem influência, e as pessoas acabam por comprar muito do que é importado, apesar de ter qualidade inferior.

Estamos a assistir a um aumento descontrolado da produção da aquacultura, que também vai influenciar o preço. Outra questão ainda são as elevadas restrições de natureza ambiental que possam vir a surgir no decor-rer dos anos. Por exemplo,

a questão do POPNA, sei que foi um factor de grande polémica e que pode consti-tuir um factor limitativo para o desenvolvimento da pesca local.

Outra questão, e esta muito importante, é a fraca capacidade organizativa dos empresários do sector: orga-nizações de produtores, as-sociações, etc. Salvo raras excepções – há bons exem-plos, nomeadamente aqui em Sesimbra há um bom exem-

plo – mas essa fraca capaci-dade para fazer face aos de-safios crescentes, isso torna difícil sobreviver neste mundo em que tudo está em concor-rência.

Também não parece ser um sector atractivo para os jovens...

Exactamente: um grande problema é esse da descapi-talização ao nível dos recur-sos humanos. Existe hoje uma dificuldade enorme em recrutar trabalhadores para a pesca, nomeadamente tra-balhadores nacionais, e isso tem a ver com a fraca atrac-tividade do sector, que julgo ter a ver com a baixa remune-ração que lhes é dada. Tem a ver com as condições de trab-alho, que não são as mesmas que trabalhar num escritório: é uma vida dura, rude, vio-lenta.

Isso também tem a ver com as expectativas das pessoas. Não podemos ignorar que a juventude é obrigada a fren-quentar a escola até mais tarde, enquanto antigamente eram muitos os que saíam muito cedo da escola e iam trabalhar para qualquer lado. São muitos problemas. Mas também há-de haver aspec-tos positivos...

Certamente que sim. As coi-sas boas do sector são o ter uma importância considerável em termos de emprego e po-

litica social, funcionando, nal-gumas localidades, como um factor de fixação das popula-ções, por ser uma actividade profissional com grande peso, como acontece em Sesimbra, Nazaré, Peniche, Sagres, en-tre outros.

Acresce a isto o efeito gerador de emprego noutras actividades, a montante e a juzante, como é o caso da construção naval, das indús-trias transformadores, for-necedores de aprestos, etc.,

bem como o turismo e a res-tauração.

Enquanto houver pesca e pescadores, isso permite-nos consumir bens alimen-tares frescos e de elevada qualidade, que fazem bem à saúde. Temos aqui três as-pectos importantes que jus-tificam algum investimento e alguma atenção ao sector.

Mas acredita que é um sector com futuro?

Acredito estamos num novo paradigma, que é o de ga-rantir condições razoáveis de sustentabilidade económica e social e ao mesmo tempo reduzir a capacidade da frota e o esforço da pesca. Têm-se adoptado algumas medidas, tendo em consideração as principais espécies desem-barcadas nas nossas lotas, que são a sardinha, o cara-pau, o peixe-espada preto e o polvo, que são espécies pro-venientes de águas nacionais e que não são consideradas em perigo – excepto o peixe-espada preto, que é mais dificil de dizer se está ou não em risco, porque nao sei se existem muitos estudos. Mas relativamente à sardinha, ao carapau e à cavala, que são espécies com uma capa-cidade de regeneração muito grande, se houver uma von-tade política para desenvolver linhas de acção suportadas por estudos científicos, acho que há futuro para a pesca.

E acha que apoios são suficientes, ou é um sector esquecido?

Eu talvez não seja a pes-soa melhor colocada para responder a isso, mas acho que o Estado tem feito um es-forço considerável para poder ajudar todos os que estão no sector a ultrapassar as dificul-dades, sabendo nós que o Estado também se encontra em dificuldades... E qual o papel da Docap-

esca?A Docapesca tem uma im-

portância determinante, e por isso é considerada por muitos

como uma âncora deste sec-tor. Posso focar 4 ou 5 pontos fundamentais: em 1º lugar a garantia do pagamento das verbas que resultam das ven-das efectuadas pelos pesca-dores. E isso é importante, pois sabemos o que acontece noutros sectores, em que muitas empresas têm dificul-dade em receber o valor dos serviços e produtos vendidos.

A disponibilização de in-fraestruturas importantes para a realização de activi-

dades: edifícios, armazéns, equipamentos, vasilhame, venda de gelo, etc, e se não fosse a Docapesca não sei quem teria capacidade para fazer investimentos destes.

Outro aspecto é o da con-tribuição para a valorização do pescado. Estamos direc-cionados para promover o au-mento da procura, proporcio-nando, através da venda on-line, a possibilidade de vários compradores estarem em simultâneo em várias lotas. O leilão continua a ser feito na lota, mas é possível que cmpradores que estão em Portimão ou em Matosinhos possam participar também no leilão.

E isso tem feito aumentar o preço do peixe?

Bem, é uma inovação re-cente, só daqui a algum tem-po é que se irá verificar se efectivamente tem contribui-do para o aumento do preço.

Mas também há a possibi-lidade da venda directa.

O pescado fresco conti-nua a ser obrigatoriamente vendido em lota, mas há ex-cepções em que o pescador pode vender directamente a alguns compradores, que são os chamados “contratos de abastecimento”. Podem vender directamente a um preço mais favorável do que aquele que em média está a decorrer na lota, e já não pre-cisam de ir ao leilão, apesar de ter de passar pela Docap-esca.

Outra questão é a garantia das condições de segurança e qualidade alimentar de todo o peixe vendido em lota. Es-tamos obrigados a cumprir um conjuntio de requesitos le-gais, inclusivamente existem veterinários nas lotas para essa garantia.

Outra questão tem a ver com a criação de uma marca que nós atribuímos, a CCL: Comprovativo de Compra em Lota, que visa diferenciar o pescado, na perspectiva de o valorizar.

João Pólvora: há futuro para a pesca

João Pólvora tem 48 anos e nasceu em Sesimbra, na rua dos Pescadores, numa família de pescadores, e chegou a trabalhar na pesca, tendo depois ingressado na lota de Sesimbra como leiloeiro, profissão em que se manteve 16 anos, até que decidiu retomar os estudos e tirar uma licenciatura em Recursos Humanos. Isso levou-o a ser convidado para a Direcção de Recursos Humanos da Docapesca, subindo depois a lugares de direcção naquele serviço, inicialmente como chefe de departamento e depois como director. Em 2010 foi convidado para director da Delegação Centro (Nazaré, Peniche e Cascais), o que aceitou com a expectativa de, findo o mandato, poder vir para Sesimbra, mas nem foi preciso esperar tanto: a reorganização da Docapesca trouxe-o, passado um ano, até à terra natal, como director da Delegação Centro-Sul, que abrange também Sines e Setúbal.

Nasceu na mesma casa onde ainda hoje vive, na rua Jorge Nunes. Sendo a última a nascer de 10 irmãos (6 raparigas e 4 rapazes), vi-veu sempre mergulhada no ambiente da pesca, numa das mais notáveis famílias de pescadores: os “Ratinhos”. Daí ser mais conhecida como Júlia Ratinho.

Sempre trabalhou na pes-ca, mesmo sem ter contrato ou remuneração. E foi a se-gunda mulher de Sesimbra a ter cédula marítima, para pod-er beneciciar da Segurança Social.

É uma das excepções que confirma a regra que em Ses-imbra as mulheres não fazem trabalho de pescador.

Dizem que as mulheres não têm nada a ver com a pesca em Sesimbra...

Mas eu tinha, desde peque-na. Desde a idade de 9 anos que eu trabalhei na pesca.

Como é que isso aconte-ceu?

O meu pai toda a vida teve barcos. Eu toda a vida trabal-hei ao pé do meu pai e dos meus irmãos. Estas mãozi-nhas que estão aqui, trabal-haram tanto, estenderam tanto aparelho, cortei tanto anzol a estender aparelho, a empatar os anzóis! Eu toda a vida trabalhei ao pé deles.

E depois tinhamos que es-tender o aparelho, para de-pois se colocarem os estro-vos, para ficar todos direitin-

Júlia Correia Pinto: uma vida dedicada à pesca

Almerinda Rosa nasceu em 9 de Março de 1920, nos fundos da taberna que existia onde está hoje o restaurante Pintarola.

Almerinda Rosa foi uma das figuras femininas de des-taque no desporto, ganhando diversas provas em diferentes modalidades, na década de 40 do século XX. Oriunda de uma família modesta, a jovem sesimbrense mudou-se uns anos mais tarde para Almada com a sua família. Ali conhe-

O ano de 1897 assistiu a uma grande actividade sindi-calista e política por parte dos trabalhadores de Sesimbra, e as mulheres não foram excep-ção, tendo-se constituído aqui uma Associação de Classe das Operárias Conserveiras e Costureiras, cuja sede ficava frente à Câmara, ao lado da Associação de Classe dos pescadores.

Neste mesmo ano de 1897 nasceu a primeira organiza-ção feminina para defesa dos

Almerinda Rosa Correia: pioneira dodesporto feminino

Olinda da Conceição: pioneira do movimento feminista em Portugal

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Júlia Correia Pinto: uma vida dedicada à pescahos com o anzol.

Nessa altura era uma barca de que tamanho? Era pequena?

Não! Tinha 9 metros e meio.E havia trabalho todos os

dias?Havia, todos os dias. E

quando foi depois que o meu

velho morreu, os meus irmãos andavam só os quatro ao mar, andavam às albacoras, aos atuns, chegaram a apan-har 16 espadartes naquela altura, num dia! Depois apan-havam atuns com 200, 300 quilos, apanhavam sete, oito atuns daqueles grandes. To-

das as vezes que iam ao mar apanhavam peixe. Um dia apanharam duas mil e tal al-bacoras; naquele tempo foi 60 contos, foi o lance mais alto em Sesimbra que tinha havido naquele tempo; foi a um domingo, era meio-dia e tal quando a barca chegou,

tava o mar rasinho como está agora, calmo. Quando eram quase duas horas da tarde, começa a cair uma lavadia, começa o mar a crescer na borda d’água, os meus ir-mãos tiveram que levantar a fateixa e foram então para a doca. O peixe veio então den-

tro de uma camioneta cheia, ali para o Largo dos Valentes.

Nessa altura havia mais peixe em Sesimbra, mas eles eram dos que apanha-vam mais, porquê?

Não sei. Apanhavam! Eram “os Ratinhos”! Toda a gente em Sesimbra os conhecia.

E eu trabalhava na praia, eu agarrava nas selhas do apa-relho: era selhas à cabeça, era selhas aqui ao ombro, agarrava nas caixas do peixe na lota a estender o peixe-espada. Fiz isso tudo! Mas não ganhava nada!

Não ganhava nada?

Que eu nunca quiz. Eu é que recebia o dinheiro, eu é que fazia as contas, fazia-se as partes todas. Se no fim fi-cavam aí 7 ou 8 mil-reis, ou 10, ou 15, ou 20, o meu pai dizia assim: esse fica para ti. Que eu nunca quiz.

E continua hoje ligada à pesca?

Continuo à mesma a ir para a doca, vou ajudar ao meu so-brinho, que é a traneira que é a Pérola de Sesimbra. Eu vou lá, não ganho nada, que eu não quero. Só quero é que, se eu precisar de peixe, que me dêm uns peixes, que é para eu trazer, para dar à malta. É só! Mais nada! Mas vou lá, ajudo a tirar o peixe das dor-nas, a escolher o peixe: todos os dias, todos os dias!

Quando diz que é para distribui o peixe “pela mal-ta”, que “malta” é essa?...

É pessoas conhecidas a quem eu dou. Eu gosto muito de dar. É assim! Sou amiga de toda a gente, e toda a gente me estima, toda a gente gosta de mim, e eu também gosto de toda a gente. Não tenho razão de queixa de ninguém.

Nunca chegou a ir ao mar?

Cheguei a ir ao mar! Ao peixe-espada, quando eles andavam aqui à pesca, no Mar Novo, que era aqui em frente, a uma hora e tal daqui. Cheguei a ir aos espadartes, ir com eles, ver eles apanhar os espadartes, aqui ao Norte, e aqui a Noreste, ao pé do

Cabo Espichel.Chegaram a levar turis-

tas?O Arsénio Cordeiro, o pro-

fessor Arsénio Cordeiro, che-gou a ir muitas vezes ao mar com os meus irmãos, era mui-to nosso amigo.

Ele tem um livro onde fala nos Ratinhos!

Então! Ele era um grande amigo. Era quase como famí-lia. E cheguei a ir muitas vez-es a casa deles levar lá muito peixe e muita coisa. É assim.

Fala-se muito das dificul-dades da pesca, mas Ses-imbra continua a se rum grande porto de pesca...

Mas Sesimbra está a ir-se abaixo. E as coisas que eles estão a fazer agora, ainda pior é para as pessoas. An-tigamente não era preciso li-cenças para os homens irem aos polvos, ou para ir aqui ou ir ali, agora tem que se tirar uma licença – é para ires ao mar, se não tirares a licença, chega a polícia, pumba! Mul-tado!

Agora estão a fazer uma: para a Segurança Social, que é: se vais para o mar esta semana, este mês, agora ao princípio do mês, quando chegar ao fim do mês tens de ir à Segurança Social pagar cento e vinte e não sei quantos euros, mesmo que não apanhes nada, mesmo que os homens não ganhem nada! Então você acha isso bem?

J. A. Aldeia

A Banda de Música da Sociedade Musical Sesimbrense foi durante muitos anos um feudo de homens, mas, gardualmente, as mulheres foram conquistando o seu lugar, sendo hoje já 15, num total de 51 músicos. Aqui fica uma referência às três primeiras mulheres - na altura, apenas miúdas - que quebraram a ditadura masculina da Banda: Marcelina, São e Adelaide.

Mulheres da Música

ceu Romeu Correia, conhe-cido escritor da corrente neo-realista, e que virá a ser o seu marido. O jovem escritor trazia factos da sua própria vida e do seu quotidiano para as suas obras, a realidade transcrita por Romeu confundia-se com a ficção, fazendo por vezes da sua esposa a personagem das suas obras literárias, como é o caso do romance “Trapo Azul”, publicado em 1947, e que conta a história da família de um guarda-fiscal que vive em Sesimbra e que mais tar-de se muda para Almada. Ao longo do romance os leitores apercebem-se que a persona-gem principal, a Laurinda, tem, na realidade, um percurso de vida muito semelhante ao de Almerinda: ambas tiveram a profissão de costureira – tra-balhando na confecção nos fatos-de-macaco de ganga usados pelo operariado dessa época – o “trapo azul” que dá nome ao romance.

Esta obra tem especial in-teresse para Sesimbra, não

direitos das mulheres de que há memória em Portugal: a Federação Socialista do Sexo Feminino.

A divulgação desta inicia-tiva constitui uma novidade publicada pelo nosso jornal, pois nas referências ao movi-mento feminista em Portugal, tem-se colocado a sua génese apenas no início do século XX, aquando de uma iniciativa de mulheres republicanas.

A sessão inaugural do movi-mento feminino socialista, em

Lisbnoa, tal como foi refelatada pelos jornais A Vanguarda e O País, não deixou dúvidas quanto à sua orientação polí-tica e à sua natureza feminista. Na rua vendia-se A Emancipa-ção, “folha comemorativa da inauguração do movimento feminino em Portugal”.

A presença de Olinda da Conceição, representante da Associação de Classe das Operárias de Sesimbra, me-receu especial destaque na imprensa. As mulheres socia-

listas de Lisboa foram esperá-la à chegada de barco, no Tejo, e a operária sesimbrense foi alvo de uma inequívoca mani-festação de carinho na sessão solne: logo após a abertura, foi convidada a fazer parte da mesa.

só pelo facto de retratar uma família que aqui vivia, mas também porque ao longo da história se poderem “vislum-brar” diversos retratos de gen-tes da vila, e de ocorrências tais como o naufrágio na praia e a devoção ao Senhor das Chagas, e sua procissão que lhe é votada: quer a verdadei-ra, quer uma a de brincadeira feita pelas miúdas.

Almerinda Rosa Correia foi por cinco vezes campeã de Portugal e venceu por seis vezes os Campeonatos Dis-tritais nos Torneios de Lisboa, na modalidade de lançamen-to de peso, disco e dardo. Como atleta completa, aliou os brilhantes resultados no arremesso a outras distintas classificações em corridas e saltos. A Câmara de Almada homenageou-a, tendo-lhe atribuído o nome de uma rua da cidade. Também Sesimbra devia dar o seu nome à rua onde nasceu, a actual Coronel Barreto, militar sem história do tempo da 1ª República.

Almerinda Rosa Correia: pioneira dodesporto feminino

Olinda da Conceição: pioneira do movimento feminista em Portugal

O nome de Olinda da Con-ceição fica assim assinalado como uma das primeiras sin-dicalistas portuguesas, e como fundadora da organização pio-neira do movimento de defesa dos direitos das mulheres, em Portugal.

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Fábio Rodrigues, líder de bancada da Escola Básica Integrada da Quinta do Conde, foi eleito presidente da Mesa da 8.ª edição da Assembleia Municipal de Jovens, que se realizou dia 16 de Março no Cineteatro Municipal João Mota. A votação foi efectuada pelas seis escolas presentes e representadas pelos seus respectivos líderes de banca-da, elegendo como primeira secretária Ana Gaboleiro da Escola Básica do Castelo e como segunda secretária, a aluna Catarina Alves da Escola Secundária de Sampaio. Na eleição estiveram presentes o Presidente da Câmara Au-gusto Pólvora, a Presiden-te da Assembleia Municipal, Odete Graça, a vereadora Felícia Costa, representantes de Juntas de Freguesia e um representante da Assembleia Municipal do Seixal.

Esta eleição insere-se nos trabalhos da 8ª Assembleia

Assembleia Municipal de JovensEleição da Mesa

Municipal de Jovens, que terá lugar no próximo dia 21 de Maio, sendo então presidida pelos agora eleitos.

A Assembleia Municipal de Jovens é uma iniciativa da Assembleia Municipal de Sesimbra com o objectivo de sensibilizar as novas gerações para a importância da partici-pação política e de uma cida-dania activa. Para o corrente ano foi escolhido como tema o “Turismo – uma ideia jovem de futuro para Sesimbra”. Na sua Assembleia de Maio serão apresentados os trabalhos e propostas de cada escola para este importante sector de economia sesimbrense. Diversos alunos das escolas de Sesimbra têm acompanha-do os edis sesimbrenses em diversas visitas e sessões de trabalho, também com o ob-jectivo de os familiarizar com a dinâmica e os temas políticos do momento.

Andreia Coutinho

O novo Código Contributivo entrou em vigor no dia 1 de Ja-neiro do ano corrente e e tem vindo a ser contestado pelos pescadores. Com a entrada em vigor das novas regras, a partir de 31 de Janeiro, os proprietários das embarcações da pesca local e costeira, ain-da que integrem a tripulação, passam a ser considerados trabalhadores independentes. Passam a ter que pagar, até Outubro, uma taxa de 28,3 % sobre o valor estabelecido para o primeiro escalão do Indexante dos Apoios Sociais, 419,22 euros.

Em declarações ao jornal O Sesimbrense, Arsénio Caeta-no, presidente da Associação dos Armadores de Pesca Ar-tesanal do Centro Sul, falou-nos acerca das mudanças e consequências no seio da pesca, afirmando que “levarão certamente ao fim das comu-nidades piscatórias que se dedicam à pesca local, será o fim da actividade para muitos pescadores e Sesimbra deixa-rá de ser o que é hoje”.

Segundo Arsénio Caetano, estes homens, cuja actividade depende no fundamental das contingências do tempo e do estado do mar, chegam a ficar dias e dias em terra, “havendo dias sem irmos ao mar, mas teremos que pagar à mesma, ao invés de pagarmos até um pouco mais nos tempos bons em que apanhamos muito pescado.” Ora, o Novo Código Contributivo não atende a esta situação peculiar deste sector, obrigando os pescadores, in-dependentemente de partirem ou não para a faina, a pagar contribuições à Segurança Social, encargos que alegam ter muitas dificuldades em cumprir.

O regime que vigorava an-teriormente e o dos descon-tos efectuados em lota, 10% sobre o valor bruto vendido na venda do peixe, “Foram os pescadores que, em tempos,

Pescadores revoltados com lei

“Será o fim da actividade paramuitos pescadores e Sesimbra deixará de ser o que hoje é.”

Arsénio Caetano

o propuseram”, acrescenta Arsénio, “aqui o problema não é os pescadores não quererem contribuir, pelo contrário, nós queremos pagar e fazer os nossos descontos para mais tarde termos as nossas refor-mas e um serviço de saúde de qualidade”. Explica que o problema é o facto dos pes-cadores com esta alteração estarem “a pagar duas vezes, tanto os 10% como os 118, 64€ no escalão mais inferior.” Com este novo Código Contributivo os proprietários das pequenas embarcações mesmo sendo tripulantes, são abrangidos pelo regime de trabalhadores independentes, ainda que não integrem o rol da tripulação.

Arsénio Caetano, reafirma “que não podem ser consi-derados como trabalhadores

independentes e pagarem mensalmente as suas con-tribuições para a Segurança Social, quando passam meses sem trabalhar, quer devido às condições climatéricas, quer devido às quotas de peixe cada vez mais apertadas.”

Falámos ainda com João Lopes, dirigente da Mútua dos Pescadores de Sesimbra, que refere que “com estas alterações, no futuro poderá haver maior fuga à lota do que aquela que existe,” explicando que “uma vez que o pequeno proprietário é considerado como trabalhador indepen-dente, ou seja, os inscritos marítimos têm que pagar a sua contribuição à parte dos descontos que já faz na lota que vai directamente para a Segurança Social, há uma tendência em vender o menos possível na lota”. Refere ainda que, “esta lei é penalizante para a pequena pesca e tem contrariedades, porquê tratar como trabalhador indepen-dente se é um homem que trabalha a bordo?”.

São vários os movimentos de contestação que o sector das pescas tem organizado em vários pontos do país, que visam sensibilizar o governo e chegarem a um acordo mais favorável para os pescadores e armadores.

Andreia Coutinho

No passado dia 20 de Fe-vereiro o PCP realizou sua XI Assembleia da Organização Concelhia, tendo eleito uma nova Comissão Concelhia, composta por 32 militantes, e que terá um mandato de 4 anos. De acordo com o pecu-liar estilo organizativo do PCP, não existe o cargo de “presi-dente” ou equivalente, apenas uma Comissão Executiva, a quem o jornal O Sesimbrense colocou algumas questões relacionadas com a posição daquele órgão face à situação política local.

O sector das Pescas foi refe-rido pelas dificuldades que en-frenta, “com poucos apoios do Governo, nomeadamente falta de apoio à gasolina e outros incentivos que permitissem a recuperação da frota que se perdeu, imposta por Bruxe-las”. Também as restrições impostas pelo POPNA foram destacadas, “pois continuam a ser emitidas severas multas que os pescadores não têm condições de pagar. A tudo isto junta-se a última macha-dada do Governo PS, que foi o alargamento do novo Código Contributivo ao Sector das Pescas, de incertos rendimen-tos, mas que terão de pagar de igual forma, como se cada embarcação de uma empresa se tratasse e quer pesque ou não terá de pagar.”

O Sector da Construção Civil e Extracção de Inertes

PCP elege Comissão Concelhiaé também considerado como preocupante, dadas “as gra-ves medidas do Governo PS, nomeadamente as de não realizar as obras públicas anunciadas, levaram a que muitas empresas encerras-sem despedindo centenas de trabalhadores e reduzindo a actividade.” O aumento da precariedade, principalmente

no Comércio e Serviços e no Trabalho Sazonal, é também alvo da preocupação da nova Comissão Executiva, tal como a Educação e a Saúde, refe-rindo-se “o encerramento de escolas, a falta de aquisição de meios e infra-estruturas, a falta de aquecimento nas escolas e de equipamentos adequados para a prática desportiva.”

Sobre o trabalho autárquico realizado pela CDU no último mandato, a Comissão Conce-

lhia destaca a actuação dos eleitos da CDU nos diferentes Órgãos Autárquicos no Con-celho, que considera “ter sido decisiva na elevação da qua-lidade de vida da População. Valorizou-se a disponibilidade e interesse em resolver os problemas, valorizou-se o em-penho dos trabalhadores das autarquias e o respeito pelos

seus direitos, valorizou-se a descentralização de poderes e recursos para as Freguesias, valorizou-se o sistemático prestar de contas do trabalho realizado e o atendimento pronto à População.” Com o lema “Intervir e Lutar por um Futuro Melhor”, foi afirmada a “disponibilidade dos Comunis-tas do Concelho de Sesimbra para lutar por uma mudança de política, como condição para um futuro melhor.”

No dia 24 de Março a As-sembleia Municipal fez a entre-ga do Prémio Espichel a Car-los Sargedas, numa cerimónia que incluiu a projecção de um documentário sobre a história das Escolas Conde Ferreira, uma actuação da banda Bota Big Band, e uma palestra pelo professor Fernando António Baptista Pereira sobre o pat-rimónio do Cabo Espichel.

Na sua intervenção Odete Graça, presidente da Assem-bleia Municipal começou por se referir ao documentário e ao edifício sede da Assem-bleia Municipal – a antiga Es- – a antiga Es-a antiga Es-cola Conde Ferreira de Sesim-bra – como o “testemunho vivo de alguns homens e mulheres que por entre estas paredes sonharam, aprenderam e en-sinaram outros saberes”, sa-lientando depois que o prémio Espichel pretende destacar “Pessoas ou instituições que pelo seu empenho, capacid-ade, competência, inovação, afirmação, projectaram Ses-imbra no país ou no mundo”.

O simbolismo do Espichel foi destacado como “marco importante que ilumina o Con-celho e as suas gentes, um farol que orienta e garante a segurança de homens e navi-os, uma luz que nos projecta no mundo, rompendo a força da escuridão.”

Numa revelação pouco vul-gar, Odete Graça admitiu que “a Assembleia Municipal vem demonstrando, ao longo dos últimos anos, uma vontade de romper com o quadro le-gal que nos define e nos en-quadra”, e que, “sem deixar de cumprir aquelas que são as nossas competências, deseja-mos alargar a nossa interven-ção, promovendo dinâmicas de aproximação com a popu-lação local”.

Referindo-se especifica-mente a Carlos Sargedas,

salientou que “enquanto fotó-grafo, artista e profissional, tem nas veias o sentido de guardar Sesimbra, e registar as suas belezas, mas a beleza das fotografias não são ap-enas momentos para contem-plar, elas são também ima-gens de prestígio e de grande valor cultural e patrimonial”.

No seu discurso, Carlos Sargedas ampliou o sentido do conhecido slogan da Câ-mara para revelar Sesimbra como “um mar de emoções toda uma vida”. Salientando o seu “amor por Sesimbra e amor pelo Cabo Espichel”, disse acreditar que “tudo é possivel quando acreditamos e trabalhamos para isso.”

“Vivemos numa sociedade onde o desenvolvimento so-cio-económico tem servido de desculpa para que se produza e trabalhe sem respeito pelos principais valores e direitos da vida humana”, acrecentou Carlos Sargedas, referindo-se depois à sua actividade no Clube Rotário onde, “ao tratar-mos as pessoas como se fos-sem aquilo que deveriam ser, ajudá-las-emos a tornarem-se naquilo que são capazes de ser”.

O premiado fez votos para que o Espichel “venha a ser aquilo que merece: o principal local de desenvolvimento e atracção turística da região”, e terminou com um agradeci-mento especial “à pessoa que tornou sempre tudo posssível”, a sua mulher Fernanda, dedi-cando depois o prémio a “duas pessoas muito especiais que fizeram de mim o homem que sou”: ao pai, Mário Sargedas, pelo seu exemplo, a sua ética profissional e o seu espirito fa-miliar, ao e irmão Mário João, que todos os dias me serve de exemplo de dedicação e altru-ismo”.

Prémio Espichel

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Eliseu Pólvora

Comissão: Angola 1972 a 1975Força: Fuzileiros EspeciaisBatalhão: Destacamento 6Idade: 61 anos

Pedro Coelho

Comissão: Angola 1967 a 1969Força: Companhia de Cavalaria 1706Batalhão: 1917Idade: 65 anos

Carlos Henrique Custódio

Guerra Colonial: 50 Anos

Negativo

Positivo

Negativo

Negativo

Positivo

Positivo

Eliseu Pólvora quando foi destacado para a Guerra Colonial, já era enfermeiro e como tal, era este o seu serviço aquando da sua ida em Novembro para o Leste de Angola, na fronteira com Zâmbia. Eliseu refere o acolhi-mento que lhes foi dado pelo destacamento que lá estava, “fomos recebidos muito bem, deram-nos muito apoio e trans-mitiram-nos uma segurança que aliviava de certa forma o medo que levávamos deste novo desconhecido.”

Como enfermeiro viu e as-sistiu a um lado da guerra que poucos combatentes conhece-ram, “cheguei a estar 16 horas com um soldado que ficara sem uma perna, devido a uma mina anti-pessoal, à espera de ajuda pois de noite, sem luz alguma, a Força Aérea não conseguia sobrevoar”. Apesar deste cenário aconteceram algumas curiosidades, como o facto de ter encontrado um

amigo da terra, “quando estava numa missão de salvamen-to juntamente com os pára-quedistas, num campo com minas, qual o meu espanto quando encontrei um amigo meu a milhares de quilómetros de Sesimbra”, recorda Eliseu Pólvora ao falar destes dias difíceis que passou.

Eliseu Pólvora retira de mais positivo desta experiência as caçadas que podia fazer, “es-távamos juntos de um parque enorme que se levava dois dias e duas a noites a atraves-

sa-lo onde havia uma grande variedade de animais selva-gens. Todos os momentos que tinhamos livre eram ocupados pela paixão da caça.”

O ex-combatente é hoje enfermeiro em Sesimbra e tem o posto de Capitão de Fragata da Marinha Portuguesa.

“O mais negativo que retiro desta experiência foi o facto de ter sido obrigado a ir, não fui voluntário assim como outros tantos jovens de 20 e 21 anos, no início de vida.” Eliseu Pólvora já tinha termi-nado a sua especialidade em enfermagem e iniciado o seu projecto de vida.

“Para além disso cheguei a beber água de poças, dormir pouco quando estávamos 4 e 5 dias seguidos no mato”, conta-nos o enfermeiro.

Pedro Coelho fez a recruta em Elvas, tirou especiali-zação em transmissões de Infantaria, ao fim de mais dois meses foi para Coimbra tirar a especialidade de condução. Foi mobilizado para ir para a Guerra Colonial, onde esteve na zona do Norte de Angola, em Carmona, hoje conhecida como Uíje, numa fazenda de café chamada Zalala. “Era uma fazenda enorme, com electricidade, um sítio para tomar banho, na altura um luxo”. Durante este período, Pedro patrulhava as matas, com a ajuda aérea que vigia-va e fotografava à procura de acampamentos de milícias, “geralmente quando chegá-vamos aos acampamentos já tinham escapado, excepto um, relativamente perto, que não tendo tempo para escapar foram encontrados e houve mortes só da parte deles”. Pedro Coelho contou-nos um episódio que poderia ter resultado numa batalha grave,

“num desses acampamentos foram descobertos papéis que revelavam um plano para nos atacarem no dia em que fazíamos dois anos de lá es-tar, aproveitando o facto de estarmos em festa e possivel-mente mais distraídos do que o normal. Houve interrogatórios da PIDE, isolamos sanzalas e o ataque não se deu para nosso bem.” Contam-se algu-mas baixas mas apenas uma em combate, “o meu colega morreu com um tiro que não era para ele, o tiro bateu na arma do alferes que ia à frente, fez ricochete e volta para o pescoço deste soldado.”

Pedro Coelho, recorda como aspecto mais negativo o pós-guerra “ao fim de um mês en-trei em coma derivado a uma encefalite palúdica, quando acordei ao fim de sete dias nem sabia onde estava”. Mais

tarde volta a ter problemas, desta vez a nível da traqueia, consequência de ter estado entubado.”Qual o meu es-panto, quando me disseram que tinha de pagar todas as despesas de saúde quando estive internado, apesar de ter contraído esta doença ao serviço da Nação”.

“O que recordo com mais saudade são os dias passados com os colegas naquela Ilha do Mussulo, onde comíamos óptimo marisco e passeava-mos na cidade de Luanda, junto àquela linda baía”.

Carlos Custódio assentou recruta em Elvas e tirou a sua especialidade, operador motorista fluvial, em Tancos. Este ex-combatente conta-nos a primeira peripécia antes de embarcar, “fiquei de casti-go por ter estragado a arma quando a limpava por estar com pressa de ir embora para casa, por sorte acabei por não passar o Natal no quartel”. Dia 24 de Junho de 1966, “dia de São João”, recorda o ex-combatente, embarca com destino a Guiné. Carlos che-gou à cidade de Bissau, onde permaneceu com os restantes soldados cerca de 8 dias, e conta-nos que “no primeiro dia as picadas de insectos eram mais que muitas por todo o corpo”. Depois rumou ao mato onde ficou durante 24 meses. Durante o tempo que aqui pas-sou várias são as peripécias que aconteceram, uma delas num dos acampamentos de soldados de portugueses, num pequeno incêndio, queimou os

Comissão: Guiné 1966 a 1968Força: Companhia 2Especialidade: Operador motorista fluvialIdade: 66 anos

dedos numa chapa de zinco, alguns dias depois, recebeu uma carta de sua mãe muito preocupada, pois tinha in-formação que seu filho tinha ficado sem dois dedos, “para a minha mãe acreditar que es-tava bem, tive que enviar-lhe uma fotografia às duas mãos para comprovar que não me faltava dedo nenhum”.

quando soubemos do ataque e do aprisionamento de cole-gas, um deles de Sesimbra também”. Carlos apontou outro aspecto negativo “um colega, despediu-se de mim, pois ia embora, ainda foi desarmar uma mina mas ao lado desta estava outra que explodiu acabando por matá-lo”.

“Foi uma boa experiência se não fosse o episódio do ataque e prisão daqueles soldados, confraternizávamos todos e fazia as minhas caças ao cro-codilo pelo rio.”

Andreia Coutinho

“O momento mais difícil que passei foi o facto de colegas meus, por acaso um deles aqui de Sesimbra, terem sido presos e levados por milícias. Atacaram o acampamento onde estavam, e onde pas-saram muito tempo presos, ouvimos rebentamentos muito fortes”. Na manhã seguinte Carlos Custódio foi chamado para patrulhar o rio com a notícia que estariam homens desaparecidos, sem saber quantos seriam ou não, “foi

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«Sesimbra, um mar de emo-ções todo o ano», é assim que o concelho se faz representar pelo sexto ano consecutivo, na Bolsa de Turismo de Lisboa, a maior feira de promoção turística do país, que decorreu durante os dias 23 e 27 de Fevereiro.

A inauguração do pavilhão de Sesimbra contou com a presença do Presidente Au-gusto Pólvora e com a vere-adora Felícia Costa, entre ou-tras personalidades de Sesim-bra e meios de comunicação locais. O espaço do Concelho era dos mais vistosos do certa-me, apesar da sua dimensão, este ano reduzida para mais de metade, fruto da crise. A conjuntura macroeconómi-ca “obrigou-nos a recorrer à criatividade e a trabalhar com o que temos de melhor para oferecer, não só durante o Ve-rão, mas durante todo o ano,” referiu Augusto Pólvora. Usou, como exemplo, _o Réveillon de 2010/11, “um Réveillon subaquático, em que às doze

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No passado dia 15 de Março e no âmbito do Dia Mundial da Água (22 de Março), a Coca-Cola promoveu uma visita à sua fábrica em Cabanas (Qtª do Anjo) e à Estação de Tratamento de Água ali cons-truída, tendo estado presentes membros da empresa Coca-Cola, membros da Refrige, Sociedade Industrial de Refri-gerantes, e representantes da WWF, Fundo Mundial para a

Sesimbra presente nabadaladas, vários mergulha-dores submersos, formaram o número 11 usando lanternas, bem como outras actividades, fazendo desta passagem de ano uma das mais originais do país”, frisando que o con-celho aposta num turismo diferenciado e não de massas, um turismo voltado para uma panóplia de ofertas, do mar ao campo, do desporto ao lazer. Pela sua ligação ao mar, Sesimbra explora-o para além das pescas, e do seu peixe fresco, oferecendo um mar de desportos e actividades, como a canoagem, o mergulho, a vela, o Surf, o Bodyboard, o Windsurf, o Kitesurf, e, para os menos aventureiros, passeios de barco.

Destacando o facto do tu-rismo gerar emprego e desen-volvimento para o concelho “e apesar da crise económica, que nos invade pelas notícias diárias, e a que o nosso conce-lho não está imune, o turismo é um sector que tem crescido e que tende a aumentar ainda

mais, portanto, va-mos optimizá-lo e aproveitar os pri-vilégios que Se-simbra detém, desde a sua gastronomia, a serra, o mar, as suas praias, as tradições, a cultura, o pa-trimónio, en-fim, um des-tino turístico por natureza”.

Augusto Pól-vora recordou o lançamento de um s i t e dedicado ao turismo e a elaboração de um plano

estratégico para o desenvolvi-mento do sector. A autarquia conta com a parceria de vários agentes locais e empreende-dores para que se continue a apostar nesta vertente econó-mica e estratégica, que assen-ta na divulgação e participação neste tipo de eventos como a BTL. “Os resultados de um bom trabalho a neste nível, são cada vez mais visíveis, e isto só prova que é possível fazer mais e melhor com menos recursos”, acrescentou Au-gusto Pólvora acerca da crise económica, “para fazer face a este obstáculo, foi necessário trabalharmos em conjunto, unir esforços em prol do turismo de Sesimbra e contornar os problemas”. O Presidente não deixou de destacar o

apoio prestado pelo Grupo Turifórum, agradecendo o seu contributo na “promoção do concelho e mostrar aos turistas que existem inúmeras riquezas para usufruir e descobrir”.O Turiforum estava representado por Aleixo Terra-da-Mota.

O pavilhão de Sesimbra ofereceu uma vasta gama de razões para o concelho ser visitado. Desde a gastronomia, ao mar, ao património, à natu-reza e à cultura. A conjugação do verde da serra com o azul do mar resulta num casamento perfeito aos olhos de quem deambula pelos caminhos desde a Arrábida ao Cabo Espichel. Os interessados tive-ram ao dispor sete pequenas brochuras, onde os mais inte-ressados poderiam vislumbrar

o que Sesimbra tem de melhor na Gastronomia, Mergulho, Praias, Mar, Património cultu-ral e Natureza.

Sesimbra tem tudo isto e muito mais para oferecer. O pavilhão de Sesimbra foi prova de que podemos “ir para fora cá dentro” e as expectativas dos visitantes serem supera-das. O espaço que Sesimbra ocupou na exposição deste ano não deixou indiferente quem por ali passou, e até o próprio Primeiro-Ministro, José Sócrates, em visita oficial à BTL, ao passar pelo espa-ço de Sesimbra, teve tempo para cumprimentar quem ali esperava pela “inauguração sesimbrense”.

Andreia Coutinho

Natureza, em Portugal, com a qual mantém uma parceria, e alguns órgãos de comunicação locais.

Foi dada especial atenção à construção da ETAR que permite, segundo os respon-sáveis pela fábrica, reduzir a quantidade de água utilizada na produção das bebidas, permitindo também reutilizar a água nas comunidades en-volventes e na Natureza. Este

investimento contabilizou um custo em cerca de três milhões de euros e a evolução do pro-cesso no tratamento da água levou quatro anos a ser de-senvolvida, resultando numa água cristalina. O objectivo deste investimento nesta área é restituir toda a água utilizada para a produção de bebidas ao meio ambiente.

A parceria a nível mundial entre a empresa Coca-Cola e a WWF assenta numa cres-cente conservação e gestão sustentável de água por parte da Indústria, neste caso da fábrica da Coca-Cola, que segundo o Eng. Vítor Martins, director técnico-adjunto da

Visita à fábrica da Coca-ColaRefrige, “até 2012 contamos com uma melhoria de eficiên-cia do uso de água em cerca de 20%”. O responsável frisa a preocupação que há por parte desta empresa quanto ao desperdício de água, um bem cada vez mais escasso e precioso, e apresentou valores na redução do seu consumo, “de 2005 a 2010 tivemos uma poupança de mil e quinhentos milhões de litros de água”. O compromisso é claro, “até 2016 o objectivo é utilizar menos de 2 litros de água por litro de bebida, enquanto que em 2002 o consumo de água era de 3,2 litros por cada litro produzido”.

A Coca-Cola está envolvida em vários projectos que visam a protecção de bacias hidro-gráficas, recolha da água da chuva, reflorestação e eficiên-cia no uso agrícola da água, como é o caso das lamas provenientes do processo de depuração, utilizadas após compostagem, para proveito agrícola.

O Eng. Vítor Martins salienta ainda o facto da fábrica Refrige estar “situada no maior aquífe-ro da Península Ibérica, muito próxima da Serra da Arrábida, sendo a água captada entre 100 a 200 metros do solo.”

Andreia Coutinho

A fila de recipientes na imagem apresenta a água da ETAR em diversas fasese de tratamento e depuração. O tratamento padrão só exige que se vá até ao 4º recipiente, mas esta ETAR vai mais

longe acrescentando mais dois níveis.

BTL 2011BTL 2011

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As noites do Carnaval se-simbrense decorreram com a animação habitual, ape-sar das chuvadas e molhas pontuais. Os bares da vila e duas colectividades – Musical Sesimbrense e Grémio – ani-maram-se ao som da música e, sobretudo, do desfile de máscaras. O maior grupo de mascarados que vimos foi o dos Pauliteiros de Miranda, mas a variedade era grande: empregadas do “Pingo Azedo”, mulheres-roleta, galinhas, abóboras, iogurtes, bailarinas de corda, cupcakes, mimos, mulheres Hulk, cogumelos, lavadeiras – apresentavam bastante originalidade; mais tradicionais viam-se os habi-tuais Romanos, bruxas, pa-lhaços, chineses, índios, Alice, esquimós, cruzados, robots, vestais e amazonas, padres e freiras, abelhas, piratas e flibusteiros, coelhinhas e anji-nhos, mulheres das cavernas, marinheiras e polícias, solda-dos e sopeiras, etc.

Em grande forma estiveram os bailes do Grémio, uma iniciativa de Pedro Canana e Hugo Pinto, com animação

constante, incluindo actuações de rodas de samba, baterias e passistas das Escolas e grupos carnavalescos.

Toda esta folia começou na sexta-feira, levando alguém a comentar que, se antigamente se dizia que o Carnaval eram três dias, agora são quatro – mas em Sesimbra são cinco!. E assim foi, embora na noite de terça-feira muitos bares tenham optado por fechar.

Já na nossa edição anterior apresentámos os enredos e fantasias da maioria das Escolas e grupos, pelo que agora detalharemos apenas

Alegria e espírito de uniãoContra os receios provocados pelas previsões meteorológicas, que anunciaram sistematicamente

céu nublado e chuva para os dias de Carnaval, todos os desfiles acabaram por se realizar – o das crianças das escolas, o dos palhaços e o dos grupos de samba, embora com alguma chuva no início dos desfiles de segunda e terça. No entanto, o número de visitantes foi visivelmente menor do que em anos mais ensolarados. “Alegria e espírito de união”, nas palavras de uma das passistas, caracterizaram os dias e noites de folia. Desde o Baile Trapalhão, uma semana antes do Entrudo, até ao Enterro do Bacalhau, na quarta-feira, quase tudo decorreu como previsto. Pontualmente, no período nocturno, verificaram-se alguns desacatos, mas sem consequências graves.

um pouco mais os restantes.Os Saltaricos do Castelo

desfilaram sob o tema: “A vida

não é mais do que um jogo de Xadrez”, aforismo traduzido por fantasias que represen-tavam os jogos de casino, das Damas e o Xadrez, com figuração das diversas peças do tabuleiro: rainha, cavalo,

peões, etc. Esta Escola, uma das mais antigas de Sesimbra (fundada em 1983) desfilou este ano apenas com cerca de 100 elementos, menos do que no ano anterior e, pela voz de um dos seus responsáveis, sr. Dorindo, mostra-se pessimista relativamente à continuidade no futuro, principalmente devi-do aos cortes de financiamento e atrasos nos pagamentos: “Isto já estava mal, e ainda ficou pior”.Quer o desfile de domingo quer o de terça cor-reram bem, do ponto de vista anímico dos participantes, mas a chuva provocou danos no

equipamento de som, quei-mando um dos amplificadores.

A Escola Batuque do Conde escolheu como tema «Quem ri por mal, sem mal acaba por rir», o qual era tra-duzido nas fantasias de bobos da corte, de palhaços, e ainda no “Nariz Vermelho”, o símbolo do riso solidário. O Batuque participou em vários desfiles: “Hoje até o sol nos agraciou, desfilámos sempre com um sol maravilhoso, graças a Deus”.

Segundo Hélder Gaboleiro, este ano apenas participaram 80 elementos, menos de me-tade dos 165 do ano anterior. Para isso terão contribuído as limitações financeiras, mas também algum tempo de inac-tividade durante o ano. Entre-tanto arranjaram sede própria e estão agora a “dar a volta por cima”.

Os Bigodes de Rato apre-sentaram este ano o tema “Do sonho à Desilusão”, desde o surgimento do mundo e o esta-do em que estava a Natureza, até à degradação dos nossos dias. Afastando-se um pouco da mono-fantasia, apresenta-va várias figurações: à frente, Evas em cima de dinossauros, seguindo-se os macacos, ho-mens das cavernas, Idade Mé-dia, militares a e astronautas. Músicos e cantores retratavam o Avatar – o futuro. Segundo Carlos Dias, “costuma-se tratar estes grupos de forma a fazer uma mancha muito grande e ter mais brilho, mas aqui a ideia foi, com as fantasias, retratar o tema”. Calculam 80 elementos na bateria, se-guindo-se o bloco, de número imprevisível, mas que este ano foi visivelmente reduzido face a anos anteriores. Quanto às limitações financeiras: “Em-bora não perdendo qualidade, tentámos de outras formas reduzir custos.”

As duas alas da Tripa (Ca-gueira e Mijona) abriram os desfiles, quer de domingo quer de terça, levando na frente a bateria de Bobos da Corte e atrás as Estrumpfinas. O Trepa no Coqueiro desfilou sob o tema “Quem o Feio Ama Bonito lhe Parece”, e o Bota no Rego: “Para Onde Vais?”; a Unidos de Vila Zim-bra perguntava “O que será o Amanhã?” e a Dá que Falar apresentava “Mitos e Lendas”. Esta última voltava a integrar elementos do agrupamento ju-venil “Geração Cool”, do Monte da Caparica, um projecto de integração de jovens da zona do Plano Integrado de Almada.

Um pequeno inquérito feito no final da tarde de 3ª-feira revelou que a maioria dos que desfilaram gostaram mais desse dia do que do domingo, apesar da chuva. Como expli-ca Ana Raquel: “o de Domingo é um ensaio geral, e este é que é o mais importante”. Vestígios das origens em que só se fazia desfile na 3ª-feira.

Daniela Gaboleiro acha que o desfile correu melhor do que nunca: “Corre sempre bem, cada desfile melhor do que o outro, mesmo com a chuva, isso não atrapalha nada”. O desfile de terça foi melhor “Porque o espírito estava mais quente, serviu para reflectir a força e a vontade de desfilar”, e salienta o que considera o

melhor do Carnaval: “A alegria, o espírito de união entre as pessoas.”

Igualmente esfusiante es-tava Ana Filipa Alves, sempre com uma grande entrega e energia nas coreografias, apesar de ter uma lesão no menisco que lhe vai exigir uma operação em breve, e que lhe provocava muitas dores e dificultava o andar. Mas, mes-mo, assim desfilou e sambou como se nada fosse, porque “Há coisas muito importantes. Hoje, para mim, correu melhor, porque no Domingo estava com mais dores. Agora vai ser o pior, quando eu parar.” Mas ainda nessa noite dançaria no Grémio, na despedida de mais um Carnaval Sesimbrense.

Faça Chuva ou Faça Sol

O desfile dosestabelecimentos de ensino provocou este ano alguma polémica: realizou-se na Quinta doConde, pretendendo-se que, no futuro, alterne entre a vila deSesimbra e aquelapovoação;mas alguns pais não gostaram da solução encontrada e nãoautorizaram os filhosa participar.

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Teve lugar no Centro de Novas Oportunidade (CNO) de Sesimbra, em Sampaio, no dia 22 de Fevereiro, a cerimónia de entrega de diplomas aos adultos Certificados no ano de 2010, nos níveis de ensino básico e secundário.

Na cerimónia foi referida “a coragem, não só da equipa do CNO, como também, dos formandos devido a algumas dificuldades como a idade, o facto dos formandos já terem filhos, ao contrário da maioria dos jovens estudantes.” Também foi destacado que este projecto visa “formar a população, assim como, a pessoa poder subir no trabalho ou até mesmo mudar de emprego, ou até mesmo de área”.

O presidente da Câmara, Augusto Pólvora, elogiou diplomados e professores pelo trabalho feito. “Por aqui já passaram mais de 2000 formandos desde Setembro 2008. Estes professores, apesar das di-ficuldades, nomeadamente em termos financeiros, continuaram e não abandonaram este projecto”. O presidente parabenizou os formandos, “para alguns, a sua participação ajuda no próprio emprego, para outros facilita a entrada noutro trabalho, há quem tire o secundário para se candidatar à faculdade e tirar um curso superior. A taxa de desemprego é uma realidade na nossa sociedade. Não basta ter um diploma mas cada vez é mais importante ter um para conseguir um emprego.”

Augusto Pólvora, lembrou que para além da qua-lificação das competências, este programa permite valorizar, também, a auto-estima de cada uma das pessoas que conseguiram a certificação.

Este certificado fundamenta-se no reconhecimento do trabalho destas pessoas que decidiram, por vários motivos, voltar a estudar e a tendência do número de inscrições é para aumentar. No final de 2010, Portugal já contava com um milhão de certificados no âmbito deste programa. É uma iniciativa que aposta na qualificação da população portuguesa, fazendo dela uma população mais activa, capaz de resolver problemas que surjam na sua área de trabalho, na sua vida privada, uma população com “voz”, contribuindo assim para o desenvolvimento do país.

Com uma mescla de orgulho e nervosismo, os for-mandos presentes, foram subindo ao palco, depois de ouvirem o seu nome a ser chamado para a entrega do

“Novas Oportunidades”

diploma. Entre olhares brilhantes e vozes trémulas, os agradecimentos eram muitos por esta oportunidade e alguns tiveram a oportunidade de falar um pouco desta experiência.

Foi o caso de Ana Maria Neto, “ouvi várias opiniões acerca deste projecto, antes de inscrever-me, havia pessoas que lhe tiravam o mérito, mas pelo contrário, dá oportunidade de estudar a quem não teve noutra altura”. Ercília Marques, também proferiu algumas palavras e contou a dificuldade que teve aquando de sua própria apresentação, “não aceitei bem quando me disseram para falar de mim, da minha vida, da minha experiência. Foi um obstáculo que tive que ultrapassar e que talvez só com esta experiência eu tenha conseguido. O meu filho dizia-me sempre para tirar o 12º ano, ele fazia mesmo muito gosto, então resolvi concluir a escolaridade”. Maria Alves, outra formanda, já está a tirar um curso pelo CREF, “estou a tirar o curso de gestão e quero dar continuidade. Fui

“Não basta ter um diploma, mas cada vez é mais importante ter um para conseguir um emprego”

Augusto Pólvora

criada em França e para mim sempre foi uma dificul-dade falar e, principalmente, escrever correctamente português, o que é logo um entrave para concorrer a um emprego”.

Maria trabalha na área de hotelaria e como tal, sentia necessidade de melhorar o seu português para falar com os clientes. “Não ter diploma hoje em dia é difícil para fazermo-nos vingar.

É preciso agarrarmos as oportunidades e não ficarmos em casa, sentados no sofá, é difícil sair do curso às 23:00 horas, o carro não pegar, e no dia a seguir, bem cedo, ter outro dia de trabalho pela frente, já para não falar nas lidas de casa e a minha família, mas isto compensa”, refere apontando para o diploma que enverga como se de uma medalha de ouro se tratasse.

Maria Santos, mais uma formanda pelo CNO, trabalha na Endesa, é técnica superior. “Tirar o 12º ano é uma mais valia a nível profissional mas tam-bém na vida privada. Foi um processo motivador e cativante. Adorei fazer pesquisa para os trabalhos pedidos ao longo do curso”. Maria é o exemplo de que muitos dos formandos não se ficam por aqui, “vou começar já no curso de formação de formadores, e depois, retomarei os estudos para candidatar-me, ainda este ano, ao curso superior de História ou de Sociologia na Universidade ISCTE.” Esta experiência acaba por ser tão reconfortante e inspiradora para os próprios envolvidos, que a vontade por eles sentida é de continuar a estuda-rem e a inscreverem-se nos mais variados cursos.. Andreia Coutinho

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A Selecção Nacional de Luta Feminina participou em mais uma prova a contar para o Campeonato da Europa de Séniores, que se realizou em França, nos dias 26 e 27 de Fevereiro.

Luta Feminina7º Grande Prémiode Tourcoing

Campeonato Regional de Ténis de Veteranos

Dia 26 de Fevereiro realizou-se a eliminatória decisiva de atribuição do título de clubes

No 7º Grande Prémio de Tourcoing, estiveram presen-tes 151 atletas de 18 países

Atleta portuguesa Ana Meier defrontou nos Oitavos de final Charlotte Skauen da Suécia

A classe de Ginástica Acro-bática do GD Alfarim participou dia 12 de Março no Campeo-nato distrital da Associação de Ginástica de Setúbal, que teve lugar no Pavilhão Desportivo de Pinhal Novo. O grupo des-portivo que representou Alfa-rim contou com 17 elementos sob orientação da Professora Ana Patrícia Gomes.

GD ALFARIMCampeonato Distrital de Ginástica Acrobática

dos 4 continentes, e as nossas atletas contaram com uma prova a nível do Campeonato

do Mundo, onde participaram várias atletas bem qualificadas no ranking mundial, na modali-dade de Lutas Femininas.

Portugal fez-se representar nesta competição por três atletas da Casa do Benfica na Quinta do Conde, dirigidas pelo Professor Luís Fontes.

A Liliana Santos, 48 kg, defrontou nos 1/16 Avos de Final a Polaca Anna Lukasiak, ganhando o 1º período mas depois perdeu o segundo e terceiro períodos.

Vânia Guerreiro, 55 kg, isenta por sorteio da 1ª elimi-natória, defrontou nos oitavos de final a Francesa Adeli-ne Vescan, perdendo ambos os períodos.

Por fim, a atleta portugue-sa Ana Meier, 59 kg, isen-ta por sorteio, da primeira eliminatória,defrontou nos oitavos de final a Norueguesa Charlotte Skauen acabando por perder o segundo e tercei-ro períodos.

Esta prova serviu também como preparação para o Cam-peonato da Europa de Sénio-res que se realizará de 29 de Março a 03 de Abril, em Dortmund, na Alemanha.

Andreia Coutinho

em Veteranos +45, no Centro Municipal de Ténis de Sesim-bra (Maçã).

Após vitória do Clube da Escola de Ténis de Sesimbra no dia 6 de Fevereiro frente ao Clube Brasileiro Rouxinol (Cor-roios), necessitava apenas de vencer uma partida para garantir o seu primeiro título de campeão, defrontando o actual campeão desta modalidade. O Clube sesimbrense conquistou assim o troféu e apuramento para o Campeonato Nacional.

Terminaram no dia 19 de Março os Campeonatos Re-gionais Individuais de Ve-teranos de + 45 e +55, que trouxeram mais um título para o Clube Escola de Ténis de Sesimbra, desta vez através de João Pedro Aldeia, alcan-çando o troféu individual de +55, ultrapassando quatro jogadores do Clube de Ténis de Setúbal. O CETS este-ve também representado no campeonato de + 45 através de alguns dos seus associa-dos, dois deles alcançaram as meias-finais, são eles Rui Ribas e Joaquim Barreira.

O céu de Sesimbra no pas-sado dia 19 e 20 de Março, foi palco de mais um evento de Parapente “Falésias de Sesimbra 2011”organizado pelas ASAS do SUL - Asso-ciação de Pilotos de Voo livre de Sesimbra, sendo a sua base sediada no Parque de Campismo do Campimeco, na

praia das Bicas.Este evento foi organi-

zado a pensar no convívio entre pilotos e de forma a incentivar a prática deste des-porto, dando igualmente a conhecer, os locais em Se-simbra onde o voo livre e o parapente são praticados.

Parapente“Falésias de Sesimbra 2011

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O SESIMBRENSEEfemérides e citações

“A mulher”O conjunto de experiências e conhe-

cimentos adquiridos e acumulados por sucessivas gerações de homens nunca poderá ser atingido pela mulher: vai nisso um obstáculo quase palpável, quase material. A emancipação femini-na não pode em absoluto ser conferida pela instrução, porque a cultura mental do homem avançou já tanto que, em re-gra, a mulher ficaria sempre em atraso, em manifesta inferioridade.

Epifânio Macedo Saraiva,6 de Março de 1927

“Saber Ler”Não condenemos a leitura, porque

sem ela não poderá nunca haver educação perfeita. Ergamos-lhe, pelo contrário, hossanas porque foi ela que, nivelando os homens perante a lei, acabou com escravos e servos da gleba; que apagou as fogueiras inqui-sitoriais; que acabou com as «galés»; que há-de substituir a violência pelo direito, a guerra pela paz, a iniquidade pela justiça, o ódio pelo amor.

Não fiquemos de braços caídos a chamar pitorescas a todas as cam-panhas que tentem desenvolvê-la e ergamos-lhe hossanas porque assim prestaremos um grande, um colossal serviço às gerações futuras.

António Nunes Gonçalves, 6 de Março de 1932

“Hitler, o Títere”Proferem-se discursos eriçados de

palavras agressivas contra os opres-sores da Alemanha, e por fim, Hitler, com gravidade, uma imponência que o seu bigodinho à Charlot desmente e ridiculariza, passa em revista os seus partidários, estendendo o braço, parodiando o antigo cumprimento dos romanos. E é este homem, antigo bro-chante sem categoria intelectual, que

durante doze anos tem cometido toda a espécie de atrocidades, conduzindo o país que lhe deu guarida — ele hoje é naturalizado alemão — a uma luta fratricida. E tudo para alcançar o poder, o que finalmente conseguiu.

João Ramada Crespo,12 de Março de 1933

“Sesimbra agonizante”Eu creio que em Sesimbra são já

poucas as pessoas que não tenham sofrido os efeitos da apavorante crise económica que vimos sofrendo há uma boa meia dúzia de anos. E se ainda há alguém a quem a desgraça não lhes tivesse batido à porta, nem por este facto deixará de sentir a miséria alheia e preocupar-se com a situação aflitiva dos seus semelhantes e penalizar-se das suas desditas, levados por espírito de solidariedade humana, comovendo-se da triste odisseia deste povo, outrora tão feliz e ridente.

João da Luz, 31 de Março de 1935

“Os Efeitos da Guerra”Mas o que também se deve obstar é

que o consumidor com relativo poder de compra, percorra todos os estabe-lecimentos da vila, comprando aqui açúcar, acolá arroz, noutra parte banha, toucinho, etc. em prejuízo dos que mou-rejando toda a semana, só ao sábado recebem a féria e só nesse dia podem adquirir os géneros indispensáveis. Nesse caso, não é o comerciante o açambarcador, mas sim o consumidor.

João da Luz, 29 de Março de 1942

“Um Sonho”Numa das colinas mais próximas

outro edifício embandeirado defrontava o mar com as suas numerosas janelas abertas à brisa saudável. No alto, entre as suas colunas corínticas, podia ler-

se um título esculpido em lajes ricas do Zambujal: «Grande Hotel de Se-simbra». No átrio, em redondel, havia animação desusada, porque chegara nesse momento ao largo fronteiro a lufada de automóveis de regresso da estação de Santana, aonde o comboio silvara.

Jorge Teixeira, 2 de Março de 1947

“Vapores de Arrasto”No dia 5 do corrente mês, os vapores

de arrasto denominados «Os Albertos» e «Samirro», da Praça de Lisboa, largaram os seus rastos por cima dos aparelhos do bote de pesca do alto ‘Flor da Fonte Nova», causando-lhe prejuízos avaliados em 2.800$00. Por esta infracção, o arrais do bote, sr. Joaquim Sebastião Soromenho Pinto, apresentou a sua queixa na Delegação Marítima de Sesimbra.

O Sesimbrense, 19 de Março de 1950

O artista sesimbrense André Semblano vai participar em Abril no “Salão de Primavera 2011”, que se realiza na cidade do Porto sob a curadoria da Galeria Vieira Portuense, onde apresentará um conjunto de aguarelas. Simultaneamente participará numa exposição que terá lugar no Algarve, no Tivoli Marina Hotel de Vilamoura, com acrílicos sobre tela e esculturas em cerâmica.

André Semblano

Em 1958 realizou-se em Sesimbra o 1º Campeonato de Caça Submarina (em apneia), um evento que teve grande repercussão na divulgação na imagem de Sesimbra. Na altura a Televisão Italiana enviou a Portugal uma equipa que realizou um documentário que agora foi colocado no Youtube. Realizado por Victor de Santis e com a duração de 24m:20s, o filme revela imagens inéditas de Sesim-bra: o trabalho nas armações, a lota na praia, o mercado ao ar livre no exterior da actual praça. Há igualmente imagens da prova no Cabo Espichel, incluindo tomadas debaixo de água.

Sesimbra em 1958