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O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – A VISÃO DOS

PROFESSORES

Maria José Diogenes Vieira Marques

Drª Adriana Pastorello Buim Arena

Universidade Federal de Uberlândia - FACED/UFU

Resumo:

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) é um projeto governamental de distribuição de obras literárias e didáticas para suprir a longínqua carência de fornecimento desses materiais pelo poder público. A distribuição de livros é uma medida essencial para melhorar os acervos escolares, contudo, somente ela, não é suficiente para ampliar o acesso à leitura e o letramento das crianças. O uso em sala de aula, nos anos iniciais do ensino fundamental, dos acervos e a visão dos professores sobre o PNBE são os principais temas da pesquisa. Com o objetivo de analisar este programa em uso real das obras, uma escola da cidade de Uberlândia foi escolhida e, por meio da técnica de pesquisa grupo focal, a investigação visa, ancorado nos saberes e vivências dos profissionais da educação, compreender as reais necessidades docentes e discentes comportadas ou não pelo PNBE. A pesquisa de mestrado está sendo desenvolvida ao longo dos anos de 2011 e 2012 em uma escola municipal que recebeu as coleções do PNBE e, nela será realizado um grupo de discussão entre profissionais da educação, que lá estão lotados, para coleta e análise de dados. O artigo é finalizado com as hipóteses que a presente investigação tenta comprovar e divulgar sobre os vários problemas existentes na escola que corroboram para a necessidade de chamar a atenção das falhas do PNBE e a divulgação dos discursos dos professores que precisam ser ouvidos, compreendidos e auxiliados no desenvolvimento de propostas reais de trabalhos com a educação e o letramento em leitura e literatura.

Palavras-chave: PNBE; Grupo Focal; Letramento.

Introdução

O acervo contido nas bibliotecas escolares é formado por doações, projetos

empresariais e programas federais, estaduais e municipais. O Programa Nacional

Biblioteca da Escola (PNBE) faz parte da esfera, deste último, na composição dos

acervos escolares. A temática que envolve o PNBE ultrapassa a questão de distribuição

de obras pelo governo pleiteando uma discussão acerca de necessidades e possibilidades

que envolvem o programa em seu fim maior: a leitura não se basta apenas com a

distribuição de acervos.

O assunto acima exposto em sua base inicial de dados qualitativos, que é delineado

neste artigo, constitui parte da pesquisa de dissertação de mestrado a ser defendida no

final de 2012. A pesquisa está sendo desenvolvida ao longo dos anos de 2011 e 2012 em

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uma escola municipal da cidade de Uberlândia que recebeu as coleções do PNBE e nela

será realizado um grupo de discussão entre profissionais da educação, que lá estão

lotados, para coleta e análise de dados.

A divisão do artigo apresenta inicialmente informações básicas sobre o PNBE como

a origem do programa alguns dados históricos e quantitativos para esclarecê-lo. Em

seguida, discute-se lacunas e falhas do PNBE; na sequência ocorre uma sintética

explanação sobre a importância do trabalho de formação continuada de professores que

está ancorada nas teorias de Vygotsky (2000), as quais permeiam todo o artigo, também

sendo apropriado por outros autores utilizados na pesquisa como base para as

discussões ou para ampliar a acessibilidade às problematizações proporcionadas pelas

proposições de Vygotsky (2000).

Outro momento do artigo aborda o instrumento de investigação, grupo focal, que

melhor atende a proposta de pesquisa no local de uso das obras disponibilizadas pelo

programa governamental. O ambiente da pesquisa é o próximo assunto discutido com

apresentação do meio escolar, da biblioteca e do público atendido pela unidade escolar;

seguido pelo esclarecimento do trabalho a ser realizado com os professores para a coleta

de dados: os encontros de discussão temática. O artigo é concluído com as hipóteses que

a presente investigação tenta comprovar e divulgar.

O Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE

O Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE é um projeto governamental de

distribuição de obras literárias e didáticas selecionadas em conjuntos, em kits, que

abrange toda a educação básica: a educação infantil, os anos iniciais e finais do ensino

fundamental, ensino médio e a educação de jovens e adultos. Seu objetivo principal é a

ampliação, acessibilidade e apoio pedagógico por meio de acervos bibliográficos

destinados às escolas de educação básica de todo o país.

Criado pela Portaria n.º 584, de 28 de abril de 1997, foi elaborado para, a cada ano,

contemplar com acervos plurais períodos escolares diferentes. Em 1998, ocorreu a

primeira distribuição, destinada às escolas de 5ª a 8ª séries, abrangendo obras clássicas e

modernas da literatura brasileira, enciclopédias, atlas, globos terrestres, dicionários e

livros sobre a história do Brasil. A entrega do acervo de literatura infantil iniciou-se em

de 1999 com distribuição para as escolas de 1ª a 4ª série. O programa ganha força e

começa a se consolidar a partir do ano 2000 com a Resolução nº 14, de 15/8/2000, que

utiliza o PNBE para fazer a distribuição de material didático-pedagógico do Programa

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Parâmetros em Ação. Até 2008 vários anos escolares participam do recebimento dos

acervos incluindo, a partir deste ano, a educação infantil e o ensino médio. Ampliou-se

a quantidade de obras entregues pelos critérios do PNBE-2009, do 6º ao 9º com uma

distribuição para escolas com até 250 alunos que receberam 100 títulos; com 251 a 500

estudantes, 200 obras; acima de 501 estudantes, 300 títulos.

No PNBE-2010 a distribuição, de acordo com dados do MEC/FNDE (informações

do PNBE disponíveis no site: <http://portal.mec.gov.br/>; com acesso em: 21 fev 2012),

envolve 10,7 milhões de livros a todas as escolas públicas da educação infantil, do

ensino fundamental do 1º ao 5º ano e da educação de jovens e adultos. Além deste

acervo, no início no ano, foi distribuído um vocabulário ortográfico da língua

portuguesa – VOLP; foram criados os programas complementares: PNBE-Periódico

destinado a entrega de publicações (jornais, revista, etc) às escolas e o PNBE-Professor

exclusivo para professores da rede pública que receberão livros direcionados à

orientação do ensino em cada disciplina da educação básica.

É notório o fomento consolidado pelo PNBE na indústria cultural do país no

decorrer desses treze anos de programa. A suntuosa movimentação de livros que o

projeto abrange suscita inquietações acerca das características e qualidades das obras

selecionadas para fazer parte do PNBE. No edital lançado anualmente para escolha das

obras e editoras, para montagem do acervo, é avaliado e escolhido o melhor conjunto de

livros estabelecido pelas editoras, então para este período a editora se torna a

fornecedora do material distribuído para as escolas de acordo com a quantidade de

alunos nas escolas.

Existe uma pluralidade de obras que constam no acervo como livros de literatura

culturais, histórias clássicas universais e regionais e obras de autores contemporâneos

além de contar com os mais diferentes gêneros literários. As características das obras

destinadas aos anos iniciais do ensino fundamental privilegiam a educação, no sentido

de apresentar uma diversidade de conteúdo de material e de gêneros. O letramento

literário é possibilitado, ampliado e consolidado pelo programa de distribuição de livros

- PNBE.

O PNBE é um excelente programa fomentador da leitura no Brasil, que melhora,

atualiza e amplia o acesso à literatura, mas apenas isso, não o exime da criticidade

necessária para melhorar a educação no país, pois as obras estão nas prateleiras das

bibliotecas escolares, disponíveis para serem lidas.

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O PNBE é o objeto desta pesquisa que tem como principal finalidade ressaltar a

importância do trabalho com a leitura. A pesquisa que está sendo desenvolvida ao longo

dos anos de 2011 e 2012 em uma escola municipal da cidade de Uberlândia, que

recebeu as coleções do PNBE, visa identificar nela as falhas do programa por meio das

vozes dos professores e demais profissionais da educação, ou seja, por meio de uma fala

local apresentar uma problemática que está a nível nacional.

A grande problemática investigada na pesquisa refere-se a escolha do acervo - obras

clássicas e contemporâneas, conhecidas e desconhecidas, de vários gêneros literários –,

o programa de distribuição por completo e também a falta de formas de trabalhos que

envolvem os professores e que nos levam a problematizar não apenas como é feita a

seleção do material para o PNBE, quem faz esta escolha, quais os critérios seguidos

para a preferência por cânones ou quadrinhos, clássicos ou contemporâneos e qual a voz

dos professores em meio a este universo de (falta de) possibilidades.

A investigação ancora-se na necessidade de compreender e construir um trabalho

que vá além da formação continuada, de forma padronizada e desestimulante, de

professores que auxiliem no entendimento de saberes essenciais para trabalhar com as

obras do PNBE, e outros programas de leitura, a fim de refletir sobre a necessidade de

ampliar tal programa governamental para que não seja apenas uma mera distribuição de

obras literárias.

A instrumentalização e a formação de professores para atuar com acervos literários

se fazem necessário no momento em que existe uma completa inércia do sistema

educacional para o uso dos livros em sala de aula, como na distribuição das obras para

bibliotecas que muitas vezes não saem das prateleiras, ou, com parte significativa de

docentes que desconhece o programa PNBE.

A distribuição de livros é uma medida essencial para melhorar os acervos escolares,

contudo, somente ele, não é suficiente para ampliar o acesso e a leitura das crianças.

O trabalho educacional realizado nas escolas pelos professores e profissionais da

educação, com obras literárias, ancora-se em uma gama de saberes que incluem os

próprios cursos de atuação na área pedagógica como os de nível superior e os técnicos,

que faz parte da formação inicial; os conhecimentos práticos, decorrentes do

desenvolvimento das atividades diárias ao longo da carreira na educação e os saberes

advindos de atualizações. Este último ocorre quando o profissional já está inserido em

cursos de pós-graduação e cursos promovidos pelas instituições de educação. É preciso

também considerar o percurso da profissionalidade docente, pois nele se constrói uma

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rede de conhecimentos necessários para o cotidiano escolar e para o processo de

implantação de programas governamentais. Na fala de Martins (2007, p. 149-150) que

enfatiza essa preocupação sobre a formação e a personalidade do professor:

Há que se pensar, portanto, a educação do educador como um processo que

devolve ao homem sua própria personalidade, isto é, a sua qualidade de

agente da história que como trabalhador e junto com outros homens modifica

intencionalmente as condições exteriores, modificando-se a si mesmo. Há

que se fazer essa educação como um processo de luta contra a alienação, sem

desprezar que esta é alicerçada nas relações sociais de produção, na

organização econômica e política da sociedade capitalista e não na

subjetividade dos indivíduos. Há que se sentir essa educação como um

processo que parteja homens conscientes para que possam ser universais e

livres. Assim sendo, esse é um processo que ao mesmo tempo exige a

transformação das circunstâncias e das consciências, apenas possível em

educação quando o trabalhador professor se objetiva no produto de seu

trabalho, tendo neste produto a promoção intencional da humanização do

outro e de sua própria humanidade.

Há uma lacuna nesse programa que o poder público espera resolver a partir do

momento em que os livros chegam às prateleiras das unidades educacionais de forma

que os problemas relacionados à leitura tornam-se completamente inexistente; existe

esta crença tanto no meio escolar quanto fora dele alimentado pelo governo através de

publicidade positiva para reafirmar a extinção das dificuldades educacionais por meio

de programas como o PNBE apresentando uma realidade sobre as escolas que passam a

contar com uma puralidade de acervos para que elas, naturalmente, estejam incentivadas

e apropriadamente habilitadas para executar os trabalhos com os alunos não sendo

possível haver dificuldades ou problemas de aprendizagem. Essa lacuna não é resolvida

apenas com um curso de formação de professores, ou com palestras sobre o programa

PNBE, ou mesmo com cartilhas explicativas indicando receitas de como trabalhar as

obras disponibilizadas pelo programa governamental, mas ouvir os profissionais da

educação é essencial para trilhar um caminho diferente para que os programas não

sejam apenas para distribuir livros.

A voz dos professores

Os cursos de formação de professor carregam o estigma de chatos,

desnecessários, improdutivos, e que raramente proporcionam algo de bom. A profissão

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docente também não escapa a estas críticas além de outras sobre condições de trabalho e

salário. A valorização do professor está aquém do esperado e a realidade educacional

converge para um estado complexo em que o papel do educador sofre graves abalos na

medida em que sua função não é compreendida, há uma grave defasagem de

conhecimentos tanto no sentido da docência quanto dos conteúdos. Sobre este complexo

cenário dos professores Gasparin (2009, p.1) reflete:

Há muito tempo a importância do professor no processo ensino-

aprendizagem é questionada. [...] parece que os professores perderam suas

funções de transmissores de conhecimentos. As profundas mudanças que se

estão processando na sociedade dão a impressão de que eles são dispensáveis

e podem ser substituídos por computadores e outros equipamentos

tecnológicos, por meio dos quais o educando adquire conhecimento. Todavia,

quando se buscam mudanças efetivas na sala de aula e na sociedade, de

imediato se pensa no mestre tanto do ponto de vista didático-pedagógico

quanto político. Não se dispensam as tecnologias, pelo contrário, exige-se,

cada vez mais, sua presença na escola, mas como meios auxiliares e não

como substitutos do professor.

Pensar na educação pelos professores, hoje, é agir para que algo realmente mude na

sociedade, para tanto os cursos de formação de professores são uma alternativa viável

para ampliar as discussões pedagógicas dos profissionais que não mais estão no meio

acadêmico ou que sentem carência de discussões ideológicas em seus meios de

vivências.

Analisar a importância de construir possibilidades de discussão teórica que

instrumentalize e habilite o professor em conjunto com outros professores de seu meio

histórico-social para uma nova prática social remete a necessidade da discussão

temática que Vigotsky (2000, p.165) esclarece sobre a formação de conceitos:

[...] é de importância essencial o momento funcional de que fala Ach: o

conceito não é tomado em seu sentido estático e isolado mas nos processos

vivos de pensamento, de solução de problema, de sorte que toda a

investigação se divide numa série de etapas particulares, cada uma das quais

incorpora os conceitos em ação, nessa ou naquela aplicação aos processos de

pensamento. De início vem o processo de elaboração do conceito, depois o

processo de transferência do conceito elaborado para novos objetos, depois o

emprego do conceito no processo de livre associação e, por último, a

aplicação do conceito na formação de juízos e definição de conceitos

reelaborados.

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A formação colaborativa e orientada entre professores possibilita uma formação de

conceitos, de ideias que ultrapasse o conhecimento cotidiano, ou espontâneo - do senso

comum, e amplie os julgamentos dos professores para uma evolução do pensamento em

conhecimentos científicos – mais elaborados. Na fala de Nuñez (2009, p. 44):

Os conceitos espontâneos se caracterizam pela ausência de percepção

consciente das relações que se dão na estrutura de sua definição. As relações

orientadas pelas semelhanças concretas e as generalizações isoladas. Os

conceitos científicos, pelo contrário, caracterizam-se por tornarem-se parte de

um sistema hierárquico mais complexo de inter-relações conscientes, com

diferentes níveis de organização, subordinação e supra-ordenação, expressos

em princípios, leis e teorias científicas.

O trabalho construído passo a passo na elaboração conceitual possibilita a abertura

para novos conhecimentos e reelaboração de ultrapassados saberes, a fim de que, o

docente se sinta motivado em caminhar para uma nova prática social que as novidades

conceituais produzidas no grupo tragam para seu trabalho no cotidiano escolar.

A voz dos professores pelos encontros de discussões temáticas

O paradigma de pesquisa seguido é o qualitativo com a opção pela técnica do tipo

grupo focal, ou seja, nos processos investigativos há um grupo de discussão sobre temas

do projeto. Parte da investigação é uma análise das obras do PNBE presentes na

biblioteca da escola dentro da listagem proposta pelo programa em particular as do

PNBE-2010, estrutura e funcionamento da biblioteca escolar. No outro segmento da

pesquisa ocorre a discussão temática na forma de encontros com a seleção dos temas e

gêneros baseados na possibilidade de obter uma análise mais fiel da realidade

empregada pelo programa PNBE no cotidiano escolar daquele local de sessão. Com

uma proposta de análise, da coleta de dados qualitativos, conceituação das

problemáticas escolares relacionados ao uso dessas obras, visa-se pela técnica

empregada, obter pelo processo de observação da análise das opiniões, planos,

propostas de trabalhos para uso dos livros em sala de aula e também compreender os

principais sentimentos mobilizadores do trabalho docente. Nesta perspectiva o uso da

técnica grupo focal:

permite compreender processos de construção da realidade por determinados

grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e

eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante

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para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos,

valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias prevalentes no

trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em

comum, relevantes para o estudo do problema visado. A pesquisa com

grupos focais, além de ajudar na obtenção de perspectivas diferentes sobre

uma mesma questão, permite também a compreensão de ideias partilhadas

por pessoas no dia-a-dia e dos modos pelos quais os indivíduos são

influenciados pelos outros. (GATTI, 2005, p.11)

Serão colhidos dados acerca dos temas e gêneros presentes na escola da seleção

PNBE, analisados não apenas a qualidade gráfica e o conteúdo das obras, como também

as problemáticas que envolvem o acesso ao acervo e uso das obras pelos professores,

sempre amparado por uma análise fundamentada na literatura pertinente. Esta pesquisa

tem como escopo uma profunda análise, estabelecimento de ações planejadas,

submetidas à observação, reflexão e transformação/intervenção, pois: “a utilização do

grupo focal como meio de pesquisa, tem de estar integrado ao corpo geral da pesquisa e

dos seus objetivos, com atenção às teorizações já existentes e às pretendidas” (GATTI,

2005, p.8).

O grupo focal implica em envolvimento na escolha da pesquisa em relação ao meio

inserido histórico-socialmente, leva-se em conta o público, os valores da comunidade,

os interesses e preferências dos pesquisados dentre outros influenciadores na pesquisa.

No método escolhido - grupo focal - o PNBE, nessas condições, além do acervo, são

considerado os sujeitos, os locais de sessão e os registros dos dados.

O grupo focal é válido para o desenvolvimento desta pesquisa devido à riqueza que

o conjunto de informações proporciona, na fala de Gatti, (2005, p. 69-70):

A potencialidade mais enfatizada do grupo focal como meio de pesquisa está

ligada a possibilidade que ele oferece de trazer um conjunto concentrado de

informações de diferentes naturezas (conceitos, idéias, opiniões, sentimentos,

preconceitos, ações, valores) para o foco de interesse do pesquisador. As

comparações, os confrontos, as complementações, que os participantes

produzem entre si, a partir de suas experiências, são uma fonte sólida para a

construção de compreensões sobre a complexidade de formas de pensar, de

se comportar, das motivações, das intenções e expectativas, em face de um

problema, de uma ocorrência, de um serviço, etc.

Dentre as diversas tipologias de pesquisa existentes o grupo focal responde melhor a

este projeto de investigação das obras literárias do PNBE e da realidade de uso desse

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programa a fim de propor uma observação diagnóstica acompanhando opiniões, saberes,

intenções em seu uso cotidiano e, através desses parâmetros, juntamente com o grupo de

discussão, construir medidas, planos de trabalho com o acervo disponível na biblioteca

para uso do próprio meio e quiçá ampliar a discussão para outros meios.

Parte-se das vivências e práticas sociais para teorizar sobre os conhecimentos,

postos e novos, para construir juntamente com o grupo de discussão uma nova prática

social. Este suporte teórico é baseado na teoria histórico-cultural de Vygotsky (2000) e

amparado pelos esclarecimentos de João Luiz Gasparin (2009, p.10) como na

explicação do uso dessas teorias para o trabalho de formação de professor:

[...] essa metodologia de ensino-aprendizagem apresenta três características

desafiadoras: 1) nova maneira de planejar as atividades docentes-discentes;

2) novo processo de estudo por parte do professor, pois todo o conteúdo a ser

trabalhado deve ser visto de uma perspectiva totalmente diferente da

tradicional; 3) novo método de trabalho docente-discente, que tem como base

o processo dialético: prática-teoria-prática.

Durante um semestre será realizado os encontros do grupo focal, primeiramente

ocorrerá uma reunião em que a dinâmica do processo de pesquisa é explicitada em

linhas gerais do objeto de pesquisa. “Não se recomenda dar aos participantes

informações detalhadas sobre o objeto da pesquisa. Eles devem ser informados de modo

vago sobre o tema da discussão para que não venham com idéias pré-formadas ou com

sua participação preparada” (GATTI, 2005, p.23). Neste encontro os participantes são

convidados a fazer parte voluntariamente do estudo e apresentam algumas expectativas

sobre as propostas de discussão. O objetivo deste primeiro encontro é informar

brevemente e motivar os participantes para que façam adesão ao processo e dele tenham

interesse de participar completamente.

Os demais encontros são previamente elaborados, também em sentido geral, para

que no decorrer das discussões os roteiros possam ser criados pelos próprios

participantes de acordo com a direção das argumentações, sentidos e forças dos

discursos se moldarem. O encontro com os professores será orientado de forma que as

pessoas que participarem do grupo de discussão contribuirá diretamente para a

realização das pautas de diálogos e dos resultados obtidos.

As discussões são arquitetadas de forma que o pesquisador seja um motivador do

grupo e tenha sensibilidade de conduzir os participantes, inicialmente, para

compreender a realidade local dos professores e dos alunos fazendo uma leitura da

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realidade para apreender o nível de desenvolvimento atual do uso de todo o acervo

escolar, e não apenas das obras distribuídas pelo PNBE, afim de aparecer nos diálogos a

prática social do cotidiano escolar.

Também neste primeiro encontro desejamos traçar as características

fundamentais dos conceitos cotidianos assimilidados pelo grupo que estão engendrados

no experiência pedagógica de uso de obras literárias em sala de aula em contraposição

aos conhecimentos científicos.

[...] os conceitos cotidianos das coisas e vivências [...] estão impregnados de

grande experiência empírica. Por isso, para o estudo dos conceitos científicos

em aula, faz-se necessário, antes de mais nada, determinar ou tomar

conhecimento de qual a compreensão que as crianças [pessoas] possuem, no

seu dia a dia, sobre esses conceitos. (GASPARIN, 2009, p.17)

As temáticas que permeiam as discussões do grupo envolvem o programa

governamental PNBE, as obras, questões de leitura e literatura – letramento literário, o

uso do acervo em sala de aula, as dificuldades da docência, as relações entre os

profissionais da educação e as relações entre estes e os estudantes. Outros temas, como

as estratégias de leitura, e outros assuntos serão utilizados, mas como pano de fundo

para aprofundar as problemáticas que envolvem o objeto da pesquisa e sua importância

na constituição dos saberes que envolvem o trabalho educacional.

O pesquisador como moderador do grupo focal, a partir do segundo encontro e em

todos os demais orienta a condução do grupo com o seguimento de padrão: no princípio

apresenta-se um tema motivador e problematizador do debate para dar início as

explanações, pois “a problematização é um desafio, ou seja, é a criação de uma

necessidade para que o educando, através de ação, busque conhecimento” (GASPARIN,

2009, p.33). O moderador deve intervir o menos possível, apenas para incentivar os

diálogos entre os participantes e para que seja retomado o assunto da temática central.

A instrumentalização proposta ocorre, além de toda a dinâmica do encontro e das

temáticas com algumas perguntas ou afirmações elaboradas para ampliar e aprofundar a

discussão, além de material gráfico para ilustrar os conteúdos e outras propostas trazidas

pelos próprios participantes.

O pesquisador deve evitar emitir opiniões fechadas e conclusões precipitadas a fim

de não direcionar os juízos individuais, para que com a problematização e

instrumentalização seja possível por parte dos próprios participantes construírem e

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detectar o caminho desenvolvido ultrapassando os conhecimentos cotidianos para a

edificação dos conhecimentos científicos.

O professor, ao trabalhar com os alunos, leva-os a passar dos conceitos

cotidianos aos científicos, respondendo aos desafios da Prática Social Inicial

e às dimensões do conteúdo propostas na Problematização e trabalhadas nesta

fase da Instrumentalização. Aqui o conteúdo científico é analisado e cotejado

com o conhecimento cotidiano. (GASPARIN, 2009, p.53).

Cada novo encontro gera material para o próximo de modo que as discussões não se

percam mesmo com novas temáticas, seguindo uma das leis da dialética em que o velho

sempre está presente para a construção do novo. O objetivo é que as discussões evoluam

em seus níveis de profundidade e que os participantes tenham interesse em aprofundá-

las, pois:

Uma vez incorporados os conteúdos e os processsos de sua construção, ainda

que de forma provisória, chega o momento em que o aluno [professor] é

solicitado a mostrar o quanto se aproximou da solução dos problemas

anteriormente levantados sobre o tema em questão. Esta é a fase em que o

educando sistematiza e manifesta que assimilou, isto é, que assemelhou a si

mesmo os conteúdos e os métodos de trabalho usados na fase anterior.

(GASPARIN, 2009, p.123)

Como as temáticas e as discussões terão como escopo o trabalho educacional

realizado na escola da pesquisa, as experiências profissionais e os saberes da educação o

resultado final esperado é que os próprios participantes proponham, testem e coloquem

em ação planos e propostas discutidas, de modo que as argumentações incentivem os

profissionais a fazer sua prática social transformada pelas problematizações e afim de

criar e aplicar ações individuais ou coletivas no seu cotidiano profissional.

Considerações Finais

A fim de descobrir novos conhecimentos sobre a seleção de obras do PNBE as

problemáticas auxiliam na organização e no caminho traçado para se chegar, após a

investigação, às hipóteses de conclusão. Na busca por um princípio que se pode deduzir

um conjunto de conseqüências e suposições o grupo focal auxilia na busca de

conjecturas que permitem ao pesquisador organizar o raciocínio estabelecendo ‘pontes’

entre essas ideias gerais e as comprovações por meio de observação concreta. As

proposições desta pesquisa têm como parâmetro, no contexto atual do programa PNBE,

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apresentar a falta de conhecimento sobre o programa, o não uso qualitativo das obras e a

falta de preparo das pessoas que trabalham na biblioteca, encontrar uma completa

ausência de suporte para o trabalho pedagógico de docentes e profissionais na biblioteca

da escola que confirmem um sistema educacional despreparado e ancorado no programa

de distribuição de livros como forma de solução dos problemas de leitura na educação

do Brasil.

A análise inicial e parcial dos dados qualitativos da pesquisa comprovaram vários

desses problemas na escola de investigação e corroboram para a necessidade de chamar

a atenção das falhas do PNBE e a divulgação dos discursos dos professores que

precisam ser ouvidos, compreendidos e auxiliados no desenvolvimento de propostas

reais de trabalhos com a leitura e a educação, como as propostas para cursos de

formação.

Referências

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Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001525