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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO PATRÍCIA INÁCIO DA SILVA LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: REPENSANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE ENSINO DA ESCRITA COM FOCO NOS PROGRAMAS PRÓ-LETRAMENTO E PNAIC João Pessoa - PB 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO

PATRÍCIA INÁCIO DA SILVA

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: REPENSANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE ENSINO DA ESCRITA COM FOCO NOS PROGRAMAS PRÓ-LETRAMENTO E

PNAIC

João Pessoa - PB

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: REPENSANDO A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE ENSINO DA ESCRITA COM FOCO NOS PROGRAMAS PRÓ-LETRAMENTO E

PNAIC

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística e Ensino da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em cumprimento às exigências para obtenção do grau de Mestre em Linguística.

Mestranda: Patrícia Inácio da Silva Orientadora: Profª. Drª. Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante

João Pessoa - PB 2014

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S586l Silva, Patrícia Inácio da. Letramento e alfabetização: repensando a prática

pedagógica de ensino da escrita com foco nos programas Pró-letramento e PNAIC / Patrícia Inácio da Silva.- João Pessoa, 2014.

104f. : il. Orientadora: Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA 1. Linguística. 2. Letramento. 3. Alfabetização. 4. Prática

pedagógica. 5. Programa Pró-letramento. 6. PNAIC.

UFPB/BC CDU: 801(043)

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Dedico este trabalho

A minha mãe, pelo incentivo e apoio, por torcer pelas minhas conquistas, pelo exemplo de força e perseverança.

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AGRADECIMENTOS

A Deus. Obrigada, Senhor, por se fazer presente em todos os momentos da minha vida; A Profª. Drª. Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante, minha orientadora, a quem dedico profunda admiração, carinho e respeito. Companheira nessa caminhada ora difícil, ora prazerosa, mas sempre buscando a construção de algo grandioso e desafiador; A minha família pelo incentivo, cuidado e admiração; As professoras Drª. Evangelina Maria Brito de Faria e Drª. Roseane Batista Feitosa Nicolau pelas sugestões enriquecedoras dadas na Banca de Qualificação;

Aos meus colegas de curso, em especial Silvana Camurça e Zuleide Abrantes, pela partilha de saberes e pelo incentivo;

Aos meus colegas de trabalho, em especial Lúcia Verônica Aragão e Marli Mascena, que me incentivaram e foram solidárias nesta caminhada;

A Ana Carolina Vieira Bastos, pela gentileza de fazer o abstract;

Aos meus alunos que foram estímulo para refletir sobre a minha prática pedagógica, despertando um desejo de buscar outros conhecimentos;

A professora e a escola que possibilitaram a realização deste trabalho.

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Sentimos na pele que não dá mais para “tolerar” uma escola que, por vezes, nem se quer alfabetiza (principalmente os mais pobres) ou que, alfabetizando, não forma leitores nem pessoas capazes de expressar-se por escrito, coerente e relevantemente, para, assumindo a palavra, serem autores de uma nova ordem das coisas. É, pois, um ato de cidadania, de civilidade da maior pertinência, que aceitemos, ativamente e com determinação, o desafio de rever e reorientar a nossa prática de ensino da língua.

Irandé Antunes

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RESUMO

O discurso sobre o alfabetizar letrando, que permeia as reflexões contemporâneas em torno da prática pedagógica alfabetizadora, vem possibilitando diálogos diversos, desestabilizando velhos conceitos e abrindo novos caminhos. Neste contexto, esta pesquisa propõe investigar sobre o processo de apropriação dos conhecimentos de uma professora acerca da alfabetização e letramento, bem como seus reflexos na prática pedagógica do ensino da língua escrita, tendo como foco os cursos de formação de professores alfabetizadores Pró-letramento e PNAIC. Tratou-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Os procedimentos teórico-metodológicos consistiram em levantamento bibliográfico, análise de documentos e em pesquisa de campo, mediante observação de aulas e aplicação de questionário semiaberto. Os dados foram analisados a partir de três eixos: perfil e formação da professora alfabetizadora, concepções que fundamentam sua prática pedagógica e a própria prática pedagógica. Os resultados evidenciaram que apesar dos avanços conceituais sobre a alfabetização e o letramento, na prática pedagógica, esses avanços ocorrem de forma gradual, e que ainda acontecem equívocos do que seja alfabetizar letrando.

Palavras chaves: Prática pedagógica. Alfabetização. Letramento.

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ABSTRACT

The discourse on how to alphabetize through literacy practices which permeates contemporary reflections has enabled many dialogues, breaking old concepts and opening new paths. In this context, this research aims at investigating about the process of knowledge acquisition of an alphabetization and literacy teacher as well as their implications on the pedagogical practice of teaching writing focusing on in-service programs such as Pró-Letramento and PNAIC. Thus, this is a research of qualitative approach. The theoretical and methodological procedures consisted of bibliographic research, document analysis and field research through classroom observation and semi-open questionnaire. Data were analyzed from three axes: teacher´s profile and formation; conceptions that underlie her teaching practice and pedagogical practice itself. Results revealed that despite the conceptual advances on alphabetization and literacy in teaching practice these advances occur gradually, and that misconceptions on how to alphabetize through literacy practices still occur.

Key words: Pedagogical practice. Alphabetization. Literacy.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Agrupamentos de gêneros textuais, proposto por Dolz e Schneuwly.....................................................................................

32

Quadro 2 Propriedades do SEA que a criança precisa reconstruir para se tornar alfabetizado.........................................................................

36

Quadro 3 Pró-letramento - Compreensão e valorização da cultura escrita: capacidades, conhecimentos e atitudes........................................

43

Quadro 4 Pró-letramento - Apropriação do sistema de escrita: conhecimentos e capacidades......................................................

44

Quadro 5 Pró-letramento - Produção: capacidades, conhecimentos e atitudes..........................................................................................

45

Quadro 6 PNAIC - Direitos gerais de aprendizagem da Língua Portuguesa....................................................................................

50

Quadro 7 PNAIC - Produção de textos escritos............................................

53

Quadro 8 PNAIC - Análise Linguística: apropriação do SEA........................ 54

Quadro 9 PNAIC - Análise Linguística: discursividade, textualidade e normatividade................................................................................

54

Quadro 10 Caracterização das aulas observadas..........................................

60

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Temáticas gerais das unidades do PNAIC..................................

49

Tabela 2 Quantitativo de escolas por polo.................................................

58

Tabela 3 Perfil da professora alfabetizadora.............................................. 65

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Eixos de organização dos dados da pesquisa.......................... 64

Figura 2 Alfabeto fixado acima do quadro............................................... 70

Figura 3 Alfabeto fixado na parede lateral.............................................. 70

Figura 4 Alfabeto móvel.......................................................................... 71

Figura 5 Recursos explorados durante as aulas..................................... 72

Figura 6 Cartaz com os combinados da turma....................................... 74

Figura 7 Poema produzido pelos alunos................................................. 75

Figura 8 Produção de cartaz com rimas................................................. 78

Figura 9 Atividade proposta sobre rimas................................................. 78

Figura 10 Cartaz com rimas......................................................................

80

Figura 11 Utilização do alfabeto móvel na formação de palavras............. 81

Figura 12 Cartaz com o gênero textual bilhete......................................... 83

Figura 13 Atividade escrita referente às consoantes................................ 85

Figura 14 Atividade de nível de escrita..................................................... 89

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

MEC Ministério da Educação

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAIC Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa

PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola

PNLD Programa Nacional do Livro Didático

PPP Projeto Político e Pedagógico PROFA Programa de Formação de Professores Alfabetizadores

PRÓ-LETRAMENTO Programa de Formação Continuada de Professores dos

Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental

SEA Sistema de Escrita Alfabética

SEB Secretaria de Educação Básica

SEDEC Secretaria de Educação e Cultura

UFPB Universidade Federal da Paraíba

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................ 15

1 PRÁTICA PEDAGÓGICA ALFABETIZADORA: definindo conceitos......

20

1.1 Conceituando Alfabetização e Letramento................................................ 20

1.2 Gênero Textual..........................................................................................

1.3 A Psicogênese da Língua Escrita..............................................................

1.4 Consciência Fonológica.............................................................................

28

33

35

2 PROGRAMAS DE FORMAÇÂO DE PROFESSORES

ALFABETIZADORES......................................................................................

38

2.1 Pró-Letramento – Programa de Formação Continuada de Professores

dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental............................................

40

2.2 PNAIC – Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa........................ 48

3 CAMINHOS METODOLÓGICOS................................................................

57

4 UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA: análise dos dados.....

4.1 Perfil e formação da professora alfabetizadora.........................................

4.2 Concepções que fundamentam a prática pedagógica...............................

4.3 Prática pedagógica....................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................

REFERÊNCIAS...............................................................................................

APÊNDICES....................................................................................................

64

65

68

75

91

95

100

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INTRODUÇÃO

A motivação para realizar esta pesquisa no Programa de Pós-Graduação em

Linguística e Ensino - Mestrado Profissional da UFPB – se deu a partir do interesse

em aprofundar os estudos sobre alfabetização e letramento, com o olhar sobre a

prática pedagógica no ensino da língua escrita.

Durante os anos em que passei na Universidade envolvida com os estudos da

Pedagogia, pude perceber a importância de focalizar a alfabetização e o letramento

como um estudo específico e detalhado para a formação do Pedagogo que atuará

como professor nas séries iniciais. Recordo-me como foi difícil o início da minha

trajetória como professora alfabetizadora. Deparei-me com dificuldades devido às

lacunas em termos de embasamento teórico, aos conteúdos de linguagem, bem

como à mediação dos pressupostos teóricos com as propostas práticas.

As dificuldades levaram-me a buscar caminhos concretos para a mudança

através de leituras referentes à temática, troca de experiências com outros

professores, realização de curso na área de alfabetização e o Mestrado Profissional

que oportunizou compreender a complexidade do ensino da língua escrita.

A minha atuação como Pedagoga na rede municipal de ensino de João

Pessoa tem propiciado algumas reflexões, durante os planejamentos com as

professoras, sobre o ensino da língua escrita e suas implicações no processo de

ensino e aprendizagem. A partir dessas reflexões percebo muitos conflitos

vivenciados pelas professoras quando confrontam suas crenças e experiências

práticas com os pressupostos teóricos que atualmente fundamentam os processos

de alfabetização e letramento. Parece haver uma distância significativa entre os

conceitos a que têm acesso e as possibilidades de efetivá-los na prática pedagógica.

A trajetória aqui apresentada justifica a escolha do objeto de estudo, a partir

das minhas vivências e reflexões na área da educação. Por essas razões, considero

fundamental retomar as discussões sobre a alfabetização e letramento.

Reconhecendo a impossibilidade de esgotar uma temática tão abrangente,

elegemos como objeto de pesquisa a prática pedagógica dos professores

alfabetizadores no ensino da língua escrita.

Apesar dos avanços significativos dos estudos sobre o processo de

alfabetização, é possível observar, em alguns casos, práticas de ensino da

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língua que priorizam o uso da técnica, estando baseada na repetição e

memorização, limitando-se aos usos mecânicos e descontextualizados. Referindo-se

a essa questão Vigotski afirma que

Até agora, a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural da criança. Ensina-se as crianças a desenhar letras e a construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem como tal. (VIGOTSKI, 2010, p. 125).

As reflexões do autor são, sem dúvida, pertinentes, por nos levar a entender

que a questão do ensino da escrita não pode ser resumida como mera

sistematização do “B + A = BA”. A aquisição de um código fundado na relação

fonemas e grafemas não garantirá à criança a possibilidade de uso efetivo da escrita

nas mais diversas situações e para diferentes fins. Para aprender a escrever, a

criança precisa participar de situações que envolvam práticas e usos sociais de

nossa língua, levando-as a refletir sobre os princípios do Sistema de Escrita

Alfabética (SEA).

A apropriação do SEA deve ser concebida, como a compreensão de um

sistema de notação dos segmentos sonoros das palavras e não como a aquisição de

um código que simplesmente substitui as unidades sonoras mínimas da fala. Tal

como alertam Ferreiro (1999) e Morais (2005), conceber a escrita como um código é

um equívoco, porque, ao compreendê-la dessa maneira, colocamos, em primeiro

plano, as capacidades de discriminação visual e auditiva, embora a aprendizagem

da escrita alfabética envolva, sobretudo, a compreensão de propriedades

conceituais.

Dessa forma, aprender a ler e a escrever, é uma (re)construção conceitual e

não uma aprendizagem meramente perceptivo-motora. O aluno precisa participar de

situações que o desafiem, que coloquem a necessidade da reflexão sobre a língua,

que o leve enfim a transformar informações em conhecimento próprio. É utilizando-

se de textos reais, tais como listas, poemas, bilhetes, receitas, contos, piadas, entre

outros gêneros, que os alunos podem aprender muito sobre a escrita.

Entendemos que a alfabetização é um processo específico e indispensável de

apropriação do sistema de escrita e deve se constituir dentro de uma prática letrada.

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Para Soares (2006), o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e

escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o

indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.

Frente às questões explicitadas, as escolas precisam pensar a alfabetização

como um processo dinâmico, como construção social, fundada nos diferentes modos

de participação das crianças nas práticas culturais de uso da escrita, transcendendo

a visão linear, fragmentada e descontextualizada ainda presente em algumas salas

de aula onde se ensina/aprende a ler e a escrever.

O papel do professor, neste cenário, é de construir competências para a

organização e execução de uma prática pedagógica que se caracterize como um

saber-fazer-bem, envolvendo reflexão crítica sobre sua ação. Poersch, ao se

reportar à competência técnica do alfabetizador, destaca que:

O alfabetizador é um profissional do ensino de línguas e, como tal, além do domínio e das técnicas pedagógicas deve possuir sólidos conhecimentos linguísticos tanto da língua, enquanto meio de comunicação, quanto sobre a língua, enquanto objeto de análise. (POERSCH, 1990, p. 37).

Diante dessas novas demandas de ensino, os professores precisam atualizar-

se continuamente, através de formações continuadas que lhes possibilitem definir

procedimentos didáticos inovadores para aplicarem em suas salas de aula. No

tocante à formação dos professores alfabetizadores, Soares ressalta sua

especificidade, vejamos:

[...] a formação do alfabetizador – que ainda não se tem feito sistematicamente no Brasil – tem uma grande especificidade, e exige uma preparação do professor que o leve a compreender todas as facetas (psicológicas, psicolinguística e linguística) e todos os condicionantes (sociais, culturais, políticos) do processo de alfabetização, que o leve a saber operacionalizar essas diversas facetas (sem desprezar seus condicionantes) em métodos e procedimentos de preparação para a alfabetização e em métodos e procedimentos de alfabetização, em elaboração e uso adequados de materiais didáticos, e, sobretudo, que o leve a assumir uma postura política diante das implicações ideológicas do significado e do papel atribuído à alfabetização. (SOARES, 2013, p. 24 e 25).

Atualmente, a formação dos Profissionais do Magistério da Educação Básica

se constitui como elemento prioritário, ainda que não exclusivo, para assegurar o

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direito das crianças, jovens e adultos à educação de qualidade, construída em bases

científicas e técnicas sólidas conforme preconiza o Decreto nº 6.755 de 29 de janeiro

de 2009, art. 2º, inciso I.

No que se refere à formação continuada, a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional nº 9394/96, define no art. 63º, inciso III que as instituições

formativas deverão manter “programas de educação continuada para os

profissionais de educação dos diversos níveis”, além de estabelecer no art. 67º,

inciso II “que os sistemas de ensino deverão promover aperfeiçoamento profissional

continuado, inclusive com licenciamento periódico para esse fim”.

Nessa direção, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com as

Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, vem desenvolvendo programas de

formação de professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental tendo por

objetivo central auxiliar os educadores a vencerem os desafios da alfabetização e do

letramento, dentre eles destacamos: o Programa de Formação Continuada de

Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Pró-letramento) e o

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). As reflexões sobre o

objeto de estudo dessa pesquisa pautaram-se nas formações desses programas,

tendo em vista que foram as últimas oferecidas aos professores alfabetizadores da

rede municipal de ensino de João Pessoa.

Compreendemos, então, que o desenvolvimento desta pesquisa constitui um

instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica no ensino da escrita, e, para

subsidiar nossa investigação, tomamos como referência a prática pedagógica de

uma professora alfabetizadora da rede municipal de ensino de João Pessoa que

participou das referidas formações propostas pelo MEC.

A partir das reflexões desenvolvidas nestas considerações introdutórias,

realçamos que a nossa pesquisa tem como objetivo geral investigar sobre o

processo de apropriação dos conhecimentos da professora tomada como referência,

focando estudos acerca da alfabetização e letramento, bem como seus reflexos no

desenvolvimento da prática pedagógica do ensino da língua escrita com crianças em

processo de alfabetização. Para viabilizar o objetivo supracitado, traçaram-se os

seguintes objetivos específicos:

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a) Identificar, no discurso da professora alfabetizadora, as concepções

acerca da alfabetização e letramento, tendo como referência os programas

Pró-letramento e PNAIC;

b) Identificar na prática pedagógica da professora quais concepções orientam

o ensino da língua escrita;

c) Descrever as estratégias utilizadas pela professora, bem como os

recursos utilizados no ensino da língua escrita;

d) Contribuir e fortalecer novas práticas educativas.

A forma como o texto foi estruturado tem a finalidade de oferecer ao leitor

mais compreensão do objeto pesquisado. Sendo assim, iniciamos a introdução,

delineando o objeto de estudo, justificando a escolha a partir da relevância pessoal e

social e os objetivos da pesquisa.

No primeiro capítulo, intitulado “Prática pedagógica alfabetizadora:

definindo conceitos”, é traçado um breve percurso acerca dos estudos realizados

por alguns teóricos sobre alfabetização e letramento. Baseando-se nos estudos de

Marcuschi (2002), apresentamos a importância de trabalhar com os gêneros textuais

na sala de aula. Em seguida, destacamos as contribuições da Psicogênese da

língua escrita de Ferreiro e Teberosky (1999) no processo de alfabetização e a

relação entre a consciência fonológica e a aprendizagem da linguagem escrita.

No segundo capítulo, “Programas de formação de professores

alfabetizadores”, apresentamos as características do Pró-letramento e PNAIC,

analisando as concepções que orientam o ensino da linguagem escrita.

No terceiro capítulo, “Caminhos metodológicos”, descrevemos os

procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, tanto no que se refere aos

métodos de coleta, como o de análise dos dados.

No último capítulo, “Um olhar sobre a prática pedagógica: análise dos

dados” apresentamos e discutimos os resultados da pesquisa na perspectiva do

referencial teórico escolhido. As análises serão divididas em dois momentos: no

primeiro será feita a análise do questionário aplicado com a professora, já no

segundo momento será a análise das observações das aulas.

Finalmente, nas “Considerações finais” apresentamos as reflexões acerca

dos resultados obtidos

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1 PRÁTICA PEDAGÓGICA ALFABETIZADORA: definindo conceitos

Este capítulo tem como objetivo fazer um percurso acerca dos princípios que

fundamentam uma prática pedagógica na perspectiva do alfabetizar letrando. Para

percorrer esse caminho, iniciamos uma revisão conceitual sobre alfabetização e

letramento, na qual são expostas algumas implicações pedagógicas que surgem a

partir da inclusão desses termos nos contextos educacionais. Em seguida, refletimos

sobre a importância de oportunizar às crianças um contato sistemático com

diferentes gêneros textuais.

Damos prosseguimento com as contribuições de Ferreiro e Teberosky (1999)

sobre a compreensão do processo de aquisição da linguagem escrita, destacando

que a criança precisa compreender o que a escrita alfabética representa (nota) e de

que maneira ela representa (nota) os segmentos sonoros das palavras. Encerramos

com uma reflexão sobre as habilidades de reflexão fonológica, abordando como a

consciência fonológica se relaciona com o SEA.

1.1 Conceituando Alfabetização e Letramento

O termo alfabetização, etimologicamente, significa aquisição do alfabeto, ou

seja, aprender a ler e escrever. No decorrer das últimas décadas, ocorreu uma

ampliação desse conceito. Segundo Soares:

A alfabetização é um processo de representação de fonemas em grafemas, e vice-versa, mas é também um processo de compreensão/expressão de significados por meio do código escrito. (SOARES, 2013, p.16).

Nessa concepção, a alfabetização é concebida como um processo de

aquisição individual de habilidades requeridas para a leitura e escrita. A referida

autora destaca a importância de complementar esse conceito considerando os

determinantes sociais das funções e fins da aprendizagem da língua escrita.

Como suporte dessa posição, pautamo-nos em Kramer (2010) que aborda em

seus estudos a perspectiva de trabalhar alfabetização, leitura e escrita como

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processos vivos, como práticas sociais inseridas na história, constituidoras da

subjetividade, feitas na cultura e produtoras de cultura. Para além, Tfouni definiu a

alfabetização numa perspectiva sociointeracionista, considerando como um

processo contínuo.

Como processo que é, no entanto, parece-me antes que o que caracteriza a alfabetização é a sua incompletude [...] a alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, visto que a sociedade está em contínuo processo de mudança, e a atualização individual para acompanhar essas mudanças é constante. (TFOUNI, 2010, p. 16 -17).

Como vimos, a alfabetização é um processo contínuo que representa um

passaporte para a aprendizagem ao longo da vida, visto que aprendemos novas

maneiras de usar a escrita e a leitura à medida que surgem novas demandas no

trabalho, nos estudos e em nossa vida pessoal.

A aquisição das habilidades de leitura e escrita tem especificidades que não

podem ser desconsideradas nas práticas de alfabetização. Essas especificidades

envolvem a técnica que consiste em estabelecer relações entre sons e letras de

fonemas com grafemas e o uso nas práticas sociais. Ao referir-se a essa questão,

Soares faz a seguinte advertência:

Não basta apenas ler e escrever, é preciso também fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente. (SOARES, 2006, p.20).

Os domínios da técnica e do uso nas práticas sociais resultam em

aprendizagens distintas: a alfabetização e o letramento. Soares (2006) diferencia

alfabetização de letramento, sendo a alfabetização a ação de ensinar/aprender a ler

e escrever, e o letramento como estado ou condição de quem não apenas sabe ler e

escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Para a autora,

esses processos são distintos, mas indissociáveis, as duas aprendizagens ocorrem

ao mesmo tempo, sendo o ideal alfabetizar letrando.

Nessa perspectiva, alfabetizar letrando consiste em oportunizar aos alunos

tanto a apropriação do sistema de escrita, como o domínio das práticas sociais de

leitura e escrita, ou seja, a alfabetização deve desenvolver-se em um ambiente em

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que o aluno conviva com vários suportes de texto, ao mesmo tempo em que constrói

a base alfabética e, portanto, a compreensão do sistema de escrita.

Referindo-se a mesma questão, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

de Língua Portuguesa enfatizam:

A compreensão atual da relação entre a aquisição das capacidades de redigir e grafar rompe com a crença arraigada de que o domínio do bê-á-bá seja pré-requisito para o início do ensino de língua e nos mostra que esses dois processos de aprendizagem podem e devem ocorrer de forma simultânea. Um diz respeito à aprendizagem de um conhecimento de natureza notacional 1: a escrita alfabética 2; o outro se refere à aprendizagem da linguagem que se usa para escrever. (BRASIL, PCN, 2001, p. 33).

Como podemos observar, o documento propõem a aprendizagem do alfabeto

e do uso da escrita simultaneamente. Dito de outro modo, as crianças precisam

compreender a natureza do sistema de escrita ao mesmo tempo em que se

apropriam das práticas sociais de linguagem presentes na vida social, lendo e

escrevendo diferentes gêneros literários e informativos.

Soares (2006) ressalta, ainda, a importância de ter uma clara concepção

desses fenômenos, de suas diferenças e relações nos processos educativos de

ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Portanto, compreender esses

fenômenos é fundamental para o professor desenvolver novas práticas que

conduzam o aluno a novas possibilidades com o uso da leitura e da escrita, visando

atender as suas necessidades individuais, cognitivas e sociais.

É importante ressaltar que, no interior da escola, percebe-se um

distanciamento entre a teoria e a prática decorrentes dos equívocos relacionados

aos conceitos de alfabetização e letramento. Os professores apresentam muitas

dúvidas com relação ao trabalho de alfabetizar e letrar, acreditando, alguns, que o

processo de alfabetização antecede o de letramento, e outros priorizam o trabalho

com textos, desprezando as especificidades do processo de aquisição das

habilidades de ler e escrever. Esse desprezo em ensinar as técnicas, Soares

nomeou de desinvenção da alfabetização.

1 Neste documento, entende-se por notacional o que se refere a sistemas de representação

convencional, como o sistema de escrita alfabético, a escrita dos números, a escrita musical, etc.(BRASIL, PCN, 2001, v.2, p.33). 2 A escrita alfabética é um sistema de escrita regido pelo princípio da fonografia, em que o signo

gráfico representa normalmente um ou mais fonemas do idioma. (BRASIL, PCN, 2001, v.2, p.33).

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A alfabetização é parte constituinte da prática da leitura e da escrita, ela tem uma especificidade, que não pode ser desprezada. É a esse desprezo que chamo de “desinvenção” a alfabetização. É abandonar, esquecer, desprezar a especificidade do processo de alfabetização. A alfabetização é algo que deveria ser ensinado de forma sistemática, ela não deve ficar diluída no processo de letramento. (SOARES, 2003, p.16 - destaque da autora).

A perda da especificidade do processo de alfabetização ocorreu ao longo das

últimas décadas e de acordo com Soares (2003) uma das causas foi a mudança

conceitual associada às ideias construtivistas sobre o processo de construção da

escrita na década de 80, bem como as críticas aos usos dos métodos de

alfabetização. Apesar dos equívocos, tais como: privilégio da faceta psicológica da

alfabetização, incompatibilidade dos métodos com a teoria da psicogênese e que a

criança se alfabetizaria apenas por meio do convívio intenso com o material escrito,

ressaltamos a contribuição que o construtivismo trouxe para a alfabetização.

O construtivismo constitui uma teoria mais complexa do que a que está presente no senso comum – nos trouxe algo que não sabíamos. Permitiu-nos saber que os passos da criança, em sua interação com a escrita, são dados numa direção que permite a ela descobrir que escrever é registrar sons e não coisas. Então, a criança vai viver um processo de descoberta: escrevemos em nossa língua portuguesa e em outras línguas de alfabeto fonético registrando o som das palavras e não aquilo a que as palavras se referem. A partir daí a criança vai passar a escrever abstratamente, colocando no papel as letras que ela conhece, numa tentativa de, realmente, escrever “casa”, sem o recurso de utilizar desenhos para dizer aquilo que quer. Então, depois que a criança passa pela fase silábica para registrar o som (o som que ela percebe primeiro é a sílaba), ela vai perceber o som do fonema e chega o momento em que ela se torna alfabética. (SOARES, 2003, p.18 - destaque da autora).

Como se vê, a Psicogênese da língua escrita leva-nos a compreender o

aprendizado do sistema de escrita como um processo ativo, em que a criança,

desde seus primeiros contatos com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre a

natureza e o funcionamento do SEA.

Soares (2004) adverte que defender a especificidade do processo de

alfabetização não significa dissociá-lo do processo de letramento. Assim, o desafio

que está colocado para as séries iniciais do Ensino Fundamental é o de harmonizar

os dois processos – a alfabetização e o letramento - de forma que sejam garantidos

aos alunos os mecanismos necessários à apropriação do SEA, nas práticas sociais

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de leitura e escrita, por intermédio de diferentes textos que circundam o nosso dia a

dia.

Para Morais e Albuquerque (apud PERES 2012 p.65), alfabetizar letrando

requer pelo menos dois tipos de intervenções: democratizar a vivência de práticas

de uso da leitura e escrita, e ajudar o aluno a ativamente reconstruir essa invenção

social que é a escrita alfabética.

Rojo (2009) apresenta as abordagens mais recentes sobre os estudos do

letramento que têm apontado para a heterogeneidade dos estudos acerca da leitura,

da escrita e do uso da linguagem, nas suas mais diversas variações, o que implica o

reconhecimento dos letramentos múltiplos (que consideram as culturas locais de

seus agentes - os letramentos multissemióticos), exigidos pelos textos

contemporâneos que envolvam imagem, música e outras semioses que

complementam a escrita; bem como os letramentos críticos e protagonistas (que

requeiram o trato ético dos discursos situados no mundo social com seus valores

históricos, políticos, culturais e sociais). Segundo Rojo, o termo letramento

Busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagens que envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural. (ROJO, 2009, p.98).

Como podemos observar, o conceito de letramento, apresentado por Rojo,

não se limita aos eventos e práticas comunicativas mediadas pelo texto escrito. O

letramento adquire múltiplas funções e significados, dependendo do contexto em

que ele é desenvolvido, isto é, da agência de letramento3 por ele responsável. O

que acontece na maioria das vezes é que a escola não valoriza as práticas de

letramento vivenciadas fora dela. O que é ensinado torna-se totalmente

descontextualizado da realidade do aluno, e este é o desafio posto a escola:

conciliar as variadas formas de utilização da leitura e da escrita, tanto da cultura

3 Ao referirmos a esse termo pautamos no conceito de Kleiman (2008) que considera agências de

letramento as instituições que introduz os sujeitos no mundo da escrita como a família, a igreja e o local de trabalho.

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escolar e da dominante, como também das diferentes culturas locais e populares

com as quais alunos e professores estão envolvidos.

Já Kleiman (2008) faz observações sobre a existência de agências de

letramento e ressalta que estas devem ser respeitadas e valorizadas considerando o

seu contexto e contribuição na formação do indivíduo letrado. Destaca que a escola

é a mais importante agência de letramento possibilitando aos alunos participarem

das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita. Segundo a referida

autora:

O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências de letramento, preocupa-se não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola. (KLEIMAN, 2008, p.20 - destaque da autora).

Nessa concepção, a autora alerta para a preocupação da escola apenas com

as práticas de letramento que visam ao desenvolvimento de habilidades e

competências dos alunos. Nesse sentido, enfatizamos a adoção de posturas

pedagógicas legitimadas pela realidade social que envolva a interpretação de mundo

das crianças e o conhecimento de suas expectativas.

Soares (2006) ressalta a dimensão social do letramento e refere-se à Street

como um dos representantes desta dimensão. Para esse teórico, letramento se

constitui como

[..] um termo-síntese para resumir as práticas sociais e concepções de leitura e escrita (p.1); tem um significado político e ideológico de que não pode ser separado e não pode ser tratado como se fosse um fenômeno “autônomo”. (STREET, 1984 apud SOARES, 2006, p.75 - destaque do autor).

O autor retrata, ainda, o letramento como uma ação social transformadora,

que enfoca a relação estabelecida entre indivíduos ou grupos sociais com a escrita e

a leitura, influenciados pelos aspectos socioeconômicos, históricos, culturais,

políticos e educacionais. Entender o letramento dessa maneira implica reconhecer

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que cada indivíduo ou grupo social, independentemente do grau de letramento,

possui algum tipo de conhecimento sobre a escrita e seu uso em práticas sociais, e,

muitas vezes, a escola ignora o lugar desse conhecimento, fortemente presente no

cotidiano dos alunos dentro do espaço escolar.

Segundo Street (1984 apud KLEIMAN 2008, p.21 e 22), existem duas

concepções de letramento que se contrapõem: o Modelo Autônomo de Letramento e

o Modelo Ideológico de Letramento. A primeira concepção “refere-se ao fato de que

a escrita seria um produto completo em si mesmo, que não estaria preso ao

contexto de sua produção para ser interpretado”. Esse modelo apresenta algumas

características específicas que condicionam os seus conceitos e as suas posturas

em relação ao letramento, como destaca Kleiman:

[...] 1) a correlação entre aquisição da escrita e o desenvolvimento cognitivo; 2) a dicotomização entre oralidade e a escrita; 3) a atribuição de “poderes” e qualidades intrínsecas à escrita , e, por extensão, aos povos ou grupos que a possuem. (STREET, 1984 apud KLEIMAN, 2008, p.22 - destaque do autor).

Essas características reproduzem preconceitos, pois ao se estabelecer uma

correlação entre a aquisição da escrita e o desenvolvimento cognitivo estamos

criando duas espécies de indivíduos, como afirma Kleiman (2008, p. 27), “os que

sabem ler e escrever e os que não sabem”. Destacamos ainda que a aquisição da

escrita nesse modelo não é considerada uma prática discursiva.

Esse modelo de letramento é o que tem predominado nas nossas escolas,

que legitima os preconceitos e reproduzem as desigualdades sociais, atribuindo a

responsabilidade do fracasso ao indivíduo pertencente a grupos pobres e

marginalizados. Sobre isso, Kleiman diz que

O modelo que determina as práticas escolares é o modelo autônomo de letramento, que considera a aquisição da escrita como um processo neutro, que, independentemente de considerações contextuais e sociais, deve promover aquelas atividades necessárias para desenvolver no aluno, em última instância, como objetivo final do processo, a capacidade de interpretar e escrever textos abstratos, dos gêneros expositivo e argumentativo, dos quais o protótipo seria o texto tipo ensaio. [...] As práticas escolares [...] estariam constituídas por práticas de letramento ideologicamente determinadas, que encaminham o aluno por trilhas previamente determinadas em

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função de sua classe social e/ou etnia do aluno, não em função de sua inteligência ou potencialidade. Essas trilhas efetivamente reproduzem as desigualdades do sistema. (KLEIMAM, 2008, p. 44).

A segunda concepção, o Modelo Ideológico de Letramento, agrega os

aspectos culturais e as estruturas de poder existentes na sociedade, reconhecendo

a variedade das práticas culturais ligadas à leitura e escrita nos diferentes contextos.

Portanto, o letramento dos indivíduos ocorre em todos os contextos, tanto escolares

como não escolares, como afirma Rojo:

O “significado de letramento” varia através dos tempos e das culturas e dentro de uma mesma cultura. Por isso, práticas tão diferentes, em contextos tão diferenciados, são vistas como letramento, embora diferentemente valorizadas e designando a seus participantes poderes tão diversos. (ROJO, 2009, p.99 - destaque da autora).

Nessa perspectiva, o letramento se configura como uma prática social, o que

implica o reconhecimento de múltiplos letramentos - os quais variam no tempo e no

espaço -, bem como as relações de poder que configuram tais práticas. Tendo em

vista a caracterização do letramento acima delineada, o trabalho com a leitura e

escrita, na escola, deverá enfocar os usos e práticas das linguagens, vinculadas ao

contexto cultural e social no qual é construído, garantindo um ensino que valorize os

letramentos apropriados pelos alunos, como também os letramentos privilegiados

pela escola e os culturalmente valorizados.

No atual contexto educacional, enfrentamos desafios para formar leitores e

produtores de textos competentes, por isso defendemos a importância da formação

continuada como espaço de diálogo para aprofundamento dos conceitos do

processo de alfabetização e letramento. Ressaltamos, também, abertura de espaço

de reflexões nos planejamentos das escolas em torno dessas concepções, além de

definir ações no Projeto Político e Pedagógico (PPP) que valorizem a oralidade e as

experiências dos alunos oriundos de famílias cuja formação sociocultural não esteja

centrada na cultura escrita, privilegiando assim o letramento ideológico.

Cabe ao professor se apoderar desses conhecimentos, possibilitando às

crianças a construção de habilidades para o exercício competente da leitura e da

escrita nas práticas sociais. Alfabetizar letrando exige do professor uma postura

política que envolve conhecimento e domínio do que vai ensinar. Kleiman ressalta a

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autonomia que o professor ganha para planejar as unidades de ensino ao trabalhar

nesta perspectiva, declarando que

O professor volta a ser o profissional que decide sobre um curso de ação com base em sua observação e seu diagnóstico da situação. É ele que deverá decidir questões relativas à seleção dos materiais, saberes e práticas que se situam entre o local, o aplicado e o funcional à vida dos alunos e da comunidade e o socialmente relevante, que um dia poderá ser utilizado para melhorar o futuro do próprio aluno e de seu grupo. (KLEIMAN, 2007, p.6).

Diante do exposto compreendemos que o letramento deve ocorrer em

práticas discursivas, nas modalidades oral e escrita. No próximo ponto, abordaremos

o texto enquanto objeto de ensino em uma perspectiva dos gêneros textuais que

norteia o processo de alfabetização e letramento.

1.2 Gênero Textual

O alfabetizar e o letrar se constituem como dois processos diferentes, porém

complementares e simultâneos no ensino da leitura e da escrita. O trabalho com

gêneros textuais, na alfabetização, constitui uma metodologia adequada para

enfocar esses dois aspectos da aprendizagem da língua, pois permite que os alunos

tenham contato com os diversos textos que circulam na sociedade e, dessa forma,

dar-lhes a oportunidade de utilizar e vivenciar o conhecimento da escrita,

apropriando-se, de fato, da linguagem. Dentro desse contexto, Mendonça ressalta

que a escola deve propiciar aos alunos

[...] o contato com uma grande diversidade de gêneros orais e escritos, abrangendo várias esferas de circulação: a familiar ou pessoal; a literária; a midiática; a do entretenimento e a jurídica ou de regulação da convivência. (MENDONÇA, 2007, p.47 e 48).

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Desse modo, o ensino dos diversos gêneros textuais que circulam

socialmente desenvolve a competência discursiva4, linguística5 e estilística6 dos

alunos e indicam as inúmeras formas de participação social que eles podem ter,

fazendo uso da linguagem. Portanto, as atividades propostas pelo professor devem

contemplar as diversas situações sociocomunicativas nas quais, em geral, o aluno

está ou será exposto no seu cotidiano.

De acordo com Marcuschi (2002), os gêneros textuais não são instrumentos

estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais

altamente maleáveis (dinâmicos, plásticos) e enfatiza-se o aparecimento deles de

acordo com a necessidade e atividade socioculturais e novidades tecnológicas.

Abordando a definição de gênero textual, Marcuschi faz a seguinte afirmação:

Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p.155).

Assim, existem tantos gêneros textuais quanto às situações convencionais em

que são usados: anúncios, convites, avisos entrevistas, reportagens, entre outros.

Ainda de acordo com Marcuschi (2008), estes seriam outros exemplos de gêneros

textuais: telefonema, carta comercial, carta pessoal, bilhete, aula expositiva, reunião

de condomínio, bula de remédio, lista de compras, horóscopo, cardápio, bate papo

por computador, aulas virtuais e assim por diante.

Nesse contexto, trabalhar com gêneros textuais implica que o ensino da

língua deve ser norteado pelo uso real em diferentes situações sociais e nas suas

mais diversas funções. Ferraz (2007) destaca que o ensino da língua baseada no

4 Competência discursiva é a capacidade que permite o sujeito utilizar a língua de modo variado, para

produzir diferentes efeitos de sentido e adequar o texto a diferentes situações de interlocução oral e escrita. (BRASIL, PCN, 1998, p. 23). 5 Competência linguística refere-se aos saberes que o falante/intérprete possui sobre a língua de sua

comunidade e utiliza para construção das expressões que compõem os seus textos, orais e escritos, formais ou informais, independentemente de norma padrão, escolar ou culta. (BRASIL, PCN, 1998, p. 23). 6 Competência estilística é a capacidade de o sujeito escolher, dentre os recursos expressivos da

língua, os que mais convêm às condições de produção, à destinação, finalidades e objetivos do texto e ao gênero e suporte. (BRASIL, PCN, 1998, p. 23).

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conceito de gênero concebe a língua como interação, compreende a escrita como

prática social e reconhece que todo texto (oral ou escrito) realiza um propósito

particular em uma situação específica.

Marcuschi adverte sobre o que entendemos por texto e por discurso, visto

que, em muitos momentos, essas duas instâncias da ação comunicativa são

tomadas como sinônimas. A esse respeito o autor afirma:

Embora haja muita discussão a esse respeito, pode-se dizer que texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. Assim, o discurso se realiza nos textos. (MARCUSCHI, 2002, p. 24 - destaque do autor).

A partir dessa distinção, podemos compreender que esses dois conceitos

estão interligados, pois é através do texto que o discurso se materializa.

Acrescentamos, também, a relação de complementaridade dos conceitos de texto e

gênero, tendo em vista que sempre recorremos a um gênero textual quando

produzimos um texto, seja oral ou escrito. Sobre essa questão Cavalcante et all

afirma:

Todos os textos se organizam como gêneros textuais típicos, que usamos para contextos determinados social e historicamente, a partir das estratégias interativas construídas na sociedade em que estamos inseridos. Tais práticas vão requerer gêneros específicos adequados àquele contexto comunicativo. (CAVALCANTE, FERRAZ; MENDONÇA 2007, p. 29).

Assim, a escolha de um gênero textual é determinada pelo contexto

comunicativo, que envolvem as necessidades dos sujeitos atuantes, os objetivos e

efeitos pretendidos pelo locutor, além das convenções que regulam cada esfera

comunicativa.

Os PCN propõem o ensino da língua norteado pelos gêneros textuais,

partindo do pressuposto de que os textos incorporados às práticas cotidianas de

sala de aula favorecem a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais

elaboradas, visando à formação do aluno para a plena participação numa sociedade

letrada. Como podemos constatar na citação a seguir.

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Todo texto pertence a um determinado gênero, com uma forma própria, que se pode aprender. Quando entram na escola, os textos que circulam socialmente cumprem um papel modelizador7, servindo como fonte de referência, repertório textual, suporte da atividade intertextual8. A diversidade textual que existe fora da escola pode e deve estar a serviço da expansão do conhecimento letrado do aluno9. (BRASIL, PCN, 2001, v. 2, p. 34).

É importante destacar que, ao trabalhar com essa diversidade textual na sala

de aula, apontamos as inúmeras formas de participação social que os alunos, como

cidadãos, podem ter fazendo uso da linguagem. Cavalcante et all (2007) alerta que,

não basta apenas o contato frequente com textos tão diversificados, é necessário

abordar suas características, pois cada um tem estilos próprios, modos específicos

de produção e circulação.

A organização do trabalho com os gêneros inicia-se com a seleção do

material textual que deverá contemplar o contexto e as necessidades do grupo.

Segundo Leal e Mendonça (2007), o mais importante no trabalho pedagógico é

conduzir os alunos a aprender e refletir sobre as situações de interação em que os

textos circulam e sobre os diferentes gêneros textuais, a fim de poder transferir o

que aprendem na sala de aula para os contextos diversos em que convivem fora da

escola. A esse respeito diz Schneuwly e Dolz que

Toda introdução de um gênero na escola é o resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem que são sempre de dois tipos: trata-se de aprender a dominar o gênero, primeiramente, para melhor conhece-lo, melhor produzi-lo na escola e fora dela, e, em segundo lugar, para desenvolver capacidades que ultrapassam o gênero e que são transferíveis para outros gêneros. (SCHNEUWLY E DOLZ, 1999, p.10).

Reconhecendo a diversidade textual e a necessidade de assegurar,

diariamente, que os alunos vivenciem práticas reais de leitura e produção de textos

diversificados, Dolz e Schneuwly (1996 apud Leal e Mendonça, 2007 p.63 e 64)

7 Isto é, funcionam como modelos a partir dos quais os alunos vão se familiarizando com as

características discursivas dos diferentes gêneros. (BRASIL, PCN, 2001, v.2, p.34). 8 A intertextualidade é constitutiva do processo de produção e compreensão de textos. Implica as

diferentes maneiras pelas quais um texto (oral ou escrito) é dependente do conhecimento de outros textos previamente existentes para poder ser produzido e compreendido. (BRASIL, PCN, 2001, v.2, p.34). 9 Conhecimento letrado é aquele construído nas práticas sociais de letramento. (BRASIL, PCN, 2001,

v.2, p.34).

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propõem que façamos um agrupamento dos textos, com fins didáticos, com o

propósito de trabalharmos com uma gama variada de gêneros textuais na escola.

Esses gêneros textuais são agrupados de acordo com as características estruturais

e sociocomunicativas:

Quadro 1 - Agrupamentos de gêneros textuais, proposto por Dolz e Schneuwly.

AGRUPAMENTOS FUNÇÃO EXEMPLOS

Textos da ordem do RELATAR Textos destinados à documentação e a memorização das ações humanas.

Notícias, diários, relatos históricos, etc.

Textos da ordem do NARRAR Textos destinados à recriação da realidade.

Lendas, contos, fábulas, etc.

Textos da ordem do DESCREVER AÇÕES

Textos destinados a instruir e prescrever.

Receitas, regras de jogo, regulamentos, instruções de uso de equipamentos.

Textos da ordem do EXPOR Textos destinados à construção e divulgação do saber.

Artigos científicos, seminários, conferência, etc.

Textos da ordem do ARGUMENTAR

Textos destinados à defesa de pontos de vistas.

Textos de opinião, diálogos argumentativos, cartas ao leitor, cartas de reclamação, cartas de solicitação, etc.

Fonte: Dolz e Schneuwly ,1996 apud Leal e Mendonça 2007, p.64 e 65.

Segundo Leal e Mendonça (2007), essa proposta conhecida por

aprendizagem em espiral, possibilita que um mesmo gênero seja trabalhado em

diferentes anos escolares, ou até na mesma série, com variações e

aprofundamentos diversos.

Como podemos observar, o planejamento do trabalho didático com gêneros

textual é complexo e exige um conjunto de procedimentos por parte do professor,

que vai muito além de definir, classificar e conceituar os gêneros. Trabalhar com os

gêneros implica reflexão sobre os usos da linguagem, a partir de uma metodologia

que leve o aluno a pensar, a interagir com o texto e, sobretudo, a produzir sentido,

mediante a relação do texto com o seu conhecimento prévio.

Diante dessa nova perspectiva de ensino da língua materna, destacamos,

mais uma vez, a importância da formação continuada para os professores

alfabetizadores, pois acreditamos que os processos formativos possibilitam articular

a orientação metodológica com os princípios teóricos, favorecendo, assim, o

redimensionamento de suas práticas de ensino da leitura e escrita.

Partindo dessas considerações, concluímos que o ensino da língua pautado

nos gêneros textuais permite ao aluno, dos ciclos de alfabetização, ampliação do

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seu universo cultural, apropriação do sistema de escrita e desenvolvimento da

fluência de leitura e escrita.

1.3 A Psicogênese da Língua Escrita

O Pró-letramento e o PNAIC fazem referências aos estudos da Psicogênese

da Língua Escrita realizados por Ferreiro e Teberosky (1999), evidenciando o

percurso que as crianças vivem para poder compreender o SEA. Esses

conhecimentos são fundamentais para o professor planejar atividades diferenciadas

para alunos que apresentam hipóteses de escritas diferentes e avaliar a

aprendizagem.

Segundo os estudos da Psicogênese da língua escrita, os aprendizes passam

por quatro períodos nos quais têm diferentes hipóteses como a escrita alfabética

funciona:

1º Período: Nível Pré-Silábico

Na fase inicial, a criança tem dificuldade de diferenciar as atividades de

escrever e de desenhar. Á medida que vai observando o seu nome e as palavras ao

seu redor, ela passa a perceber que se escreve com letras, mas não compreende

que a escrita representa os sons da fala, por isso utiliza as letras aleatoriamente, ou

pode pensar que os nomes das pessoas e das coisas têm relação com o seu

tamanho ou idade, esse fenômeno é denominado realismo nominal.

Segundo Coutinho (2005), o principal desafio neste nível é auxiliar os alunos

a perceber que a escrita representa os sons da fala e sugere desenvolver atividades

de análise fonológica, tais como: exploração oral, escrita dos poemas, trava-língua,

parlendas e outros textos que possibilitem a exploração de sons iniciais (aliteração)

e finais (rimas).

2º Período: Nível Silábico

As crianças começam a perceber que existe uma relação entre o que se fala

e o que se escreve. As escritas silábicas apresentam-se subdivididas em

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“quantitativa e qualitativa”. Nas silábicas quantitativas, a criança tende a usar uma

letra aleatória para representar cada sílaba da palavra. Nas silábicas qualitativas,

consegue utilizar letras que possuem uma correspondência com os sons

representados.

Abordando esse nível, Ferreiro e Teberosky afirmam:

A mudança qualitativa consiste em que: a) se supera a etapa de uma correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída, para passar a uma correspondência entre partes do texto (cada letra) e partes da expressão oral (recorte silábico do nome); mas, além disso, b) pela primeira vez a criança trabalha claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p. 209).

Diante do exposto, ressaltamos que, para a criança chegar a este nível, ela

avançou significativamente em relação ao nível precedente, pois não havia, até

então, a noção de que a escrita nota a pauta sonora das palavras. Nesse momento,

as crianças começam a utilizar, na escrita das sílabas das palavras, letras que

possuem uma correspondência com os sons representados.

Coutinho (2005) destaca que, nessa etapa, atividades com escrita

espontânea, ditados e autoditados ajudam as crianças a compreender que a sílaba

não é a menor unidade de uma palavra e que ela é constituída de partes menores

(os fonemas).

3º Período: Nível Silábico Alfabético

Neste nível, a criança começa a fazer a relação fonemas e grafemas, mas

ainda se confunde no que se refere ao som de determinadas letras. A escrita está

muito próxima da alfabética. Segundo Ferreiro e Teberosky,

A criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá “mais além” da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias (ambas, hipóteses originais da criança) e o conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p.214, destaque das autoras).

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Como podemos perceber, a criança está no momento de superação da

hipótese silábica. Ela busca elementos que complementem sua escrita, tentando

encontrar a adequada relação entre os fonemas e os respectivos grafemas que os

representem.

4º Período: Nível Alfabético

Nesta etapa, as crianças compreendem as relações entre grafema e fonema,

a escrita aproxima-se muito da transcrição fonética, pois elas sabem que a escrita

nota a pauta sonora, culminando em dúvidas sobre a ortografia. Abordando o último

nível do processo de apropriação do SEA, Ferreiro e Teberosky diz o seguinte:

Ao chegar a este nível, a criança já franqueou a “barreira do código”; compreendeu que cada um dos caracteres dá escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever. Isto não quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas: a partir desse momento a criança se defrontará com as dificuldades próprias da ortografia, mas não terá problemas de escrita, no sentido estrito. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999, p. 219 - destaque das autoras).

Essa afirmação ratifica que o trabalho de reflexão ortográfica deverá começar

quando os alunos tornam-se alfabéticos. Para consolidação da base alfabética, é

necessário o planejamento de atividades diversificadas que possibilitem um trabalho

constante de reflexão sobre esse sistema. De acordo com Coutinho (2005), as

atividades no nível de palavras e letras, comparação de palavras quanto à presença

de sílabas e letras iguais e as de análise fonológica são fundamentais.

1.4 Consciência Fonológica

Para tornar-se alfabetizada, a criança precisa compreender a relação

estabelecida entre a fala e a escrita, e conhecer o SEA. Morais (2012 apud PNAIC

2012) elaborou uma lista das propriedades do SEA que a criança precisa reconstruir

para torna-se indivíduo alfabetizado. Essas propriedades são descritas no quadro a

seguir:

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Quadro 2 - Propriedades do SEA que a criança precisa reconstruir para se tornar alfabetizado.

1. Escreve-se com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de

números e de outros símbolos;

2. As letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b,

d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p);

3. A ordem das letras no interior da palavra não pode ser mudada;

4. Uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras, ao mesmo tempo em que distintas palavras compartilham as mesmas letras;

5. Nem todas as letras podem ocupar certas posições no interior das palavras e nem todas as letras podem vir juntas de quaisquer outras;

6. As letras notam ou substituem a pauta sonora das palavras que pronunciamos e nunca levam em conta as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem;

7. As letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos;

8. As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra;

9. Além de letras, na escrita de palavras, usam-se, também, algumas marcas (acentos) que podem modificar a tonicidade ou o som das letras ou sílabas onde aparecem;

10. As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, CCVCC...), mas a estrutura predominante no português é a sílaba CV (consoante – vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos, uma vogal;

Fonte: MORAIS 2012, apud, PNAIC 2012, Ano 01, Unidade 03, p.10.

Um aspecto fundamental que devemos considerar no ensino do SEA é a

reflexão sobre a dimensão sonora das palavras. Referindo-se a essa questão Leite e

Morais destacam:

Ao constatar que trem é uma palavra pequena e que moranguinho é uma palavra grande, assim como ao dar-se conta de que papai e pateta começam parecido, apesar de não terem nada em comum no mundo real, uma criança está exercendo um funcionamento que chamamos de metalinguístico, isto é, ela está exercitando uma capacidade humana de reflexão consciente sobre a linguagem . Uma coisa é usar as palavras para se comunicar. Outra é tomá-las como objetos sobre os quais podemos refletir, observando suas características (por exemplo, sua semelhança sonora com outras palavras da língua, seu tamanho, os pedacinhos sonoros que as compõem). Quando esse tipo de reflexão se dá sobre a dimensão sonora da palavra, estamos colocando em prática as habilidades de reflexão fonológica ou consciência fonológica. (Leite e Morais 2005, p. 72 e 73).

A partir dessas considerações, ressaltamos que o trabalho, enfocando a

reflexão fonológica, faz com que a criança amplie e aprofunde as suas

compreensões em torno da natureza alfabética e das correspondências entre letras

e sons.

Segundo Morais (1996 apud Morais e Leite 2005), consciência fonológica é

uma habilidade metalinguística que se refere à representação consciente das

propriedades fonológicas e das unidades constituintes da fala, incluindo a

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capacidade de refletir sobre os sons da fala e sua organização na formação das

palavras.

Essas habilidades possibilitam a criança separar e contar as sílabas orais,

comparar palavras quanto ao tamanho, identificar e produzir palavras que começam

com a mesma sílaba que rimam e que começam com o mesmo fonema. Para que

ocorra o desenvolvimento dessas habilidades, é necessário que a criança tenha

oportunidades desafiadoras de refletir sobre as forma orais e escritas das palavras

de forma lúdicas, através de: atividades de montar e desmontar palavras como o

alfabeto móvel - que permitem as crianças vivenciar uma série de decisões sobre

como escrever -, os jogos que mobilizam saberes acerca da lógica de

funcionamento da escrita e exploração de textos da tradição oral (parlendas,

quadrinha, trava-língua, cantigas etc.). Lembramos que essas atividades devem ser

contextualizadas e que constituem uma condição da aprendizagem do SEA.

No próximo tópico, abordaremos os programas de formação de professores

alfabetizadores Pró-Letramento e PNAIC, enfocando as propostas pedagógicas que

contribuem para a alfabetização e letramento.

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2 PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES

Na busca de alternativas para a melhoria da escolarização, alguns programas

têm sido propostos pelo MEC/Secretaria de Educação Básica (SEB), no campo da

formação docente, visando subsidiar o trabalho dos professores dos Anos/Séries

Iniciais do Ensino Fundamental por meio de políticas públicas de incentivo, tal como

se apresenta o Programa Pró-Letramento e o PNAIC.

A proposta da formação é formar professores reflexivos, que percebam o

quanto as suas práticas pedagógicas comprometidas com as questões políticas,

econômicas, sociais e culturais contribuem para uma educação humanizadora e

libertadora. Como podemos perceber a partir deste fragmento do Guia Geral do Pró-

Letramento:

O conhecimento adquirido no início da formação se reelabora e se especifica na atividade profissional para atender a modalidade, a complexidade e a diversidade das situações que solicitam intervenções adequadas. Assim, a formação continuada deve desenvolver uma atitude investigativa e reflexiva, tendo em vista que a atividade profissional é um campo de produção do conhecimento, envolvendo aprendizagens que ultrapassem a simples aplicação do que foi estudado. (BRASIL, Pró-Letramento, guia geral, 2010, p. 1).

No município de João Pessoa, a Secretaria de Educação e Cultura (SEDEC),

iniciou a capacitação dos professores alfabetizadores no ano de 2001 quando aderiu

ao Programa de Formação de Professores Alfabetizadores PROFA10.

Em 2004 foi instituída a Rede Nacional de Formação Continuada de

Professores/as da Educação Básica11, em parceria com o MEC. Tal rede surgiu

como resposta à necessidade de articular a formação continuada à pesquisa e a

produção acadêmica desenvolvida nas Universidades. Coube ao MEC a iniciativa de

10 Esse programa de aprofundamento destinado a professores visou o desenvolvimento das competências profissionais necessárias a todo/a alfabetizador/a, o qual está fundamentado em dois conteúdos : como acontecem os processos de aprendizagem da leitura e da escrita e como organizar, a partir desse conhecimento, situações didáticas adequadas às necessidades de aprendizagem dos alunos e pautadas pelo modelo metodológico de resolução de problemas. Fonte: BRASIL, PROFA, Documento de apresentação, 2001, p. 05 e 06. 11

É composta por instituições de ensino superior públicas, federais e estaduais que têm centros de pesquisa e desenvolvimento da educação. Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php (acesso em: 22 de out.2013)

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estabelecer este vínculo, visando interromper o distanciamento que se formara entre

os segmentos de educação: a Educação Superior e a Educação Básica. Desta

parceria resultou o Pró Letramento.

Em 2006, em consonância com a proposta da Rede Nacional de Formação

Continuada de Professores, a SEDEC aderiu ao Programa do Pró-Letramento para

atender a formação continuada de todos os professores dos anos iniciais do Ensino

Fundamental da rede municipal de ensino de João Pessoa.

Dando continuidade à formação dos professores alfabetizadores, o governo

federal lança o PNAIC, com o objetivo de alfabetizar em Língua Portuguesa e

Matemática todas as crianças das escolas municipais e estaduais até o 3º ano do

Ensino Fundamental, fim do ciclo de alfabetização. A rede municipal de ensino de

João Pessoa aderiu ao PNAIC e iniciou a formação dos professores alfabetizadores

no 1º semestre de 2013, atendendo 508 professores alfabetizadores12, totalizando

21 turmas.

Ressaltamos que a organização dos conteúdos dos fascículos, tanto do

Programa Pró-Letramento como o PNAIC, está pautada no Ensino Fundamental de

nove anos, que inclui crianças de seis anos de idade. Segundo Albuquerque,

Com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, torna-se prioritário que os diferentes sistemas públicos de ensino dediquem os três primeiros anos de escolaridade regular para a alfabetização, estabelecendo metas para cada ano. Assim, temos defendido que o primeiro ano seja dedicado à aprendizagem dos princípios do nosso sistema de escrita, de modo a garantir que a maioria dos alunos que frequenta esse nível de ensino (crianças na faixa etária dos 6 anos de idade) termine o ano tendo desenvolvido a hipótese alfabética de escrita, ficando os anos seguintes dedicados à consolidação das relações fonema-grafema. Quanto à leitura e à produção de textos, estas devem ser vivenciadas durante todo esse período, na perspectiva de se “alfabetizar letrando”. (ALBUQUERQUE, 2007, p. 24 - destaque da autora).

Compreendemos que a ampliação do Ensino Fundamental aumenta as

oportunidades de aprendizagem na medida em que amplia o tempo das crianças no

ambiente escolar, a partir dos seis anos, mas salientamos que o desenvolvimento da

linguagem escrita em crianças menores de sete anos deve ser trabalhado por meio

12

Fonte: Prefeitura Municipal de João Pessoa – Secretaria de Educação e Cultura – Diretoria de Gestão Curricular – PNAIC. Dados quantitativos baseado no Censo Escolar de 2012.

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de estratégias de aprendizagem capazes de respeitar as características das

crianças e seu direito de viver plenamente esse momento da vida. Segundo Baptista

(2009, p.22, 23), a aprendizagem da leitura e da escrita na infância deve ter três

exigências: (1) consolidação de uma prática educativa na qual o aprendiz vai se

apropriando da tecnologia da escrita, ao mesmo tempo em que vai se tornando um

usuário competente desse sistema; (2) considerar a escola como espaço privilegiado

para garantir esse aprendizado; e (3) respeito às crianças como cidadãos e atores

do seu próprio desenvolvimento.

Abordaremos nesta parte os referidos programas, por serem fundamentais

para a compreensão do que propomos neste trabalho, o processo de apropriação

dos conhecimentos da professora acerca do alfabetizar letrando e seus reflexos na

prática pedagógica.

2.1 Pró-Letramento - Programa de Formação Continuada de Professores dos

Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental .

O Programa “Pró-Letramento – Mobilização pela Qualidade da Educação” foi

um programa do governo federal e universidades parceiras, com adesão dos

estados e municípios, que visou à formação continuada de professores dos anos

iniciais do Ensino Fundamental de modo que repensassem a prática pedagógica

visando à melhoria da qualidade do ensino.

O Curso de Formação Continuada Pró-Letramento foi voltado a questões

relativas ao processo de aquisição da leitura e escrita. As atividades propostas no

decorrer do curso foram norteadas partindo dos conhecimentos específicos e

concepções teórico-metodológicas da linguagem articulados com as experiências

vivenciadas pelos professores em suas salas de aulas. Segundo o Guia Geral do

Pró-Letramento, a formação continuada é de

Caráter reflexivo considera o professor o sujeito da ação, valoriza suas experiências pessoais, suas incursões teóricas, seus saberes da prática e possibilita-lhe que, durante o processo, atribua novos significados a ela, compreenda e enfrente as dificuldades com as quais irá se defrontar no dia-a-dia. (BRASIL, Pró-Letramento, Guia geral, 2010, p. 1).

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Aqui se percebe a quebra do isolamento, oportunizando a troca de

experiências sobre a prática cotidiana dos professores, valorizando seu fazer

profissional e contribuindo para mudanças imediatas no planejamento e aplicação

reflexiva das propostas do curso.

Os objetivos do Pró-Letramento foram:

Oferecer suporte a ação pedagógica dos professores dos ano/séries iniciais do Ensino Fundamental, contribuindo para elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática; Propor situações que incentivem a reflexão e a construção do conhecimento como processo contínuo de formação docente; Desenvolver conhecimentos que possibilitem a compreensão da Matemática e da Linguagem e de seus processos de ensino e aprendizagem; Contribuir para que se desenvolva nas escolas uma cultura de formação continuada; Desencadear ações de formação continuada em rede, envolvendo Universidades, Secretarias de Educação e Escolas Públicas dos Sistemas de Ensino. (BRASIL, Pró-Letramento, Guia geral, 2010, p.1).

A partir do exposto, pode-se dizer que os objetivos do programa além de

oferecer suporte à ação pedagógica dos professores, contribuíram para fortalecer a

formação continuada através das ações em redes.

O material do Pró-Letramento do curso de Alfabetização e Linguagem é

composto por oito fascículos. No fascículo 1, são apresentados conceitos que

fundamentam o processo de alfabetização, bem como sinaliza para a importância de

proporcionar aos alunos o contato com diferentes gêneros e suportes de textos

escritos. Nesse fascículo, são apresentados os seguintes conceitos de gêneros e

suportes:

Gêneros de textos são as diferentes “espécies” de texto, escritos ou falados, que circulam na sociedade, reconhecidos com facilidade pelas pessoas. Por exemplo: bilhete, romance, poema, sermão, conversa de telefone, contrato de aluguel, notícia de jornal, piada, reportagem, letra de música, regulamento, entre outros. Os suportes referem-se à base material que permite a circulação desses gêneros, com características físicas diferenciadas. Por exemplo: o jornal, o livro, o dicionário, a placa, o catálogo, a agenda e outros. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p. 19 - destaque dos autores).

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Podemos depreender dessa citação que o gênero textual deve ser o

instrumento mediador do processo de ensino/aprendizagem da língua, já que o

contato com diferentes gêneros e suportes enriquece os conhecimentos dos alunos,

desenvolve a competência discursiva e amplia a capacidade de produzir e

interpretar textos.

Defende-se, ainda, o “alfabetizar letrando”, embora a alfabetização e o

letramento sejam considerados processos diferentes, mas, na ação pedagógica,

devem ser contemplados de forma articulada e simultânea.

Entende-se alfabetização como um processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever com autonomia. Entende-se por letramento como o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revista, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo). (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p.12 e 13).

A segunda unidade desse fascículo destaca que o desenvolvimento das

capacidades linguísticas13 de ler e escrever, falar e ouvir com compreensão, não

acontece espontaneamente. Elas precisam ser ensinadas sistematicamente no

Ensino Fundamental, sobretudo nos anos iniciais, e estão organizadas em torno dos

seguintes eixos: (1) compreensão e valorização da cultura escrita; (2) apropriação

do sistema de escrita; (3) leitura; (4) produção de textos escritos; e (5)

desenvolvimento da oralidade.

As capacidades, conhecimentos e atitudes relacionadas a cada eixo são

apresentados em cinco quadros a serem desenvolvidas nos três primeiros anos do

Ensino Fundamental. É importante ressaltar que essa distribuição não é rígida, mas

apenas indica o momento em que se deve privilegiar o trabalho com cada

capacidade. A proposta de trabalho está baseada na sistematização de

capacidades, conhecimentos e atitudes que devem ser introduzidos (I), trabalhados

(T) e consolidados (C) durante o processo de alfabetização e letramento.

13

O termo capacidade está associado aos termos “conhecimentos” e “atitudes” (Brasil, Pró-Letramento: fascículo 1, 2008, p. 15).

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A seguir, apresentaremos os quadros que apontam as capacidades, quanto à

apropriação do SEA, necessárias para o aluno compreender: as diferenças entre a

escrita alfabética e outras formas gráficas; dominar convenções gráficas; reconhecer

unidades fonológicas como sílabas, rimas, terminações de palavras, dentre outras;

conhecer o alfabeto; compreender a natureza alfabética do sistema de escrita e

dominar as relações entre grafemas e fonemas.

Quadro 3 - Pró-Letramento - Compreensão e valorização da cultura escrita: capacidades, conhecimentos e atitudes.

Compreensão e valorização da cultura escrita: capacidades, conhecimentos e atitudes.

Capacidades, Conhecimentos e Atitudes 1° ano 2° ano 3° ano

Conhecer, utilizar e valorizar os modos de produção e de circulação da escrita na sociedade.

I/T/C T/C T/C

Conhecer os usos e funções sociais da escrita. I/T/C T/C T/C

Conhecer usos da escrita na cultura escolar. I/T/C T R

Desenvolver capacidades necessárias para o uso da escrita no contexto escolar:

I/T/C T R

(i) Saber usar objetos de escrita presentes na cultura escolar; I/T/C T R

(ii) Desenvolver capacidades especificas para escrever. I/T/C T R

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo1, pág. 18.

O eixo compreensão e valorização da cultura escrita possibilita, aos alunos,

conhecer as manifestações e utilidades da leitura e escrita no âmbito social e

escolar. Nesta direção, faz-se necessário que a escola, pela mediação do professor,

utilize textos pertencentes a gêneros diversificados presentes em diferentes

suportes, proporcionando aos alunos vivência e conhecimento

dos espaços de circulação dos textos (no meio doméstico, urbano e escolar, entre outros); dos espaços institucionais de manutenção, preservação, distribuição e venda de material escrito (bibliotecas, livrarias, bancas, etc.); das formas de aquisição e acesso aos textos (compra, empréstimo e troca de livros, revistas, cadernos de receita, etc.); dos diversos suportes da escrita (cartazes, outdoors, livros, revistas, folhetos publicitários, murais escolares, livros escolares, etc.); os instrumentos e tecnologias utilizados para o registro escrito (lápis, caneta, cadernos, máquinas de escrever, computadores, etc.). (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p. 19 – destaque dos autores).

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Quadro 4 - Pró-Letramento - Apropriação do sistema de escrita: conhecimentos e capacidades.

Apropriação do sistema de escrita: conhecimento e capacidades.

Capacidades, Conhecimentos e Atitudes 1° ano 2° ano 3° ano

Compreender diferenças entre a escrita alfabética e outras formas gráficas.

I/T/C R R

Dominar convenções gráficas: I/T/C R R

(i) Compreender a orientação e o alinhamento da escrita da língua portuguesa;

I/T/C R R

(ii) Compreender a função de segmentação dos espaços em branco e da pontuação de final de frase.

I/T/C R R

Reconhecer unidades fonoaudiológicas como: sílabas, rimas, terminações de palavras, etc.

I/T/C T R

Conhecer o alfabeto: I/T T/C R

(i) Compreender a categorização gráfica e funcional das letras;

I/T T/C R

(ii) Conhecer e utilizar diferentes tipos de letras (de fôrma e cursiva).

I/T T/C R

Compreender a natureza alfabética do sistema de escrita. I/T T/C R

Dominar as relações entre grafemas e fonemas: I T/C T/C

(i) Dominar regularidades ortográficas; I T/C T/C

(ii) Dominar irregularidades ortográficas. I I/T T/C

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo1, pág. 24.

No eixo apropriação do sistema de escrita, são trabalhadas capacidades

necessárias para que os alunos compreendam as regras que organizam o sistema

de escrita. É importante destacar que a apropriação do sistema da escrita é um

processo gradual e muitas capacidades deste eixo, entre as quais o domínio da

ortografia, podem se consolidar ao longo do Ensino Fundamental. Com relação ao

ensino da ortografia, no início do processo de alfabetização, o programa ressalta

que

[...] não é necessária a antecipação das preocupações sistemáticas com a ortografia. Nessa fase, as situações de produção de textos criadas em sala de aula podem oportunizar o surgimento de diferentes questões dos alunos sobre a forma correta de grafar algumas palavras, que devem ser respondidas prontamente pelo professor ou pela professora. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p. 35).

Assim, as práticas de sala de aula no primeiro ano do ciclo de alfabetização

devem ser orientadas no sentido de inserir as crianças nas situações de letramento

e levá-las a compreender os princípios do SEA, sendo que as reflexões ortográficas

devem ocorrer de forma gradativa. Segundo o Pró-Letramento (2008), o ensino

sistemático da ortografia deve ser iniciado quando o aluno compreender a natureza

alfabética do sistema, ou seja, quando demonstrar ter compreendido que as

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unidades menores da fala são representadas por letras. Com relação ao

aprendizado da escrita o programa propõe

[...] orientar os alunos a traçar os diferentes tipos de letra, buscando propiciar-lhes o domínio dos instrumentos da escrita e também o domínio das formas de registro alfabético. É preciso lidar com o traçado de letras isoladas, sem dúvida, mas esse procedimento não precisa ser exclusivo. Pode-se propor aos alunos a escrita de palavras, em textos curtos, mas significativos, como etiquetas, crachás, listas, parlendas, trovas e canções conhecidas. É com estratégias desse tipo que se consegue aliar alfabetização e letramento. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p. 30).

Dessa forma, o trabalho com a escrita no início da alfabetização deve explorar

os diferentes de tipos de letras com a utilização de diversos suportes de textos

(jornais, bilhetes, embalagens e etc.), pois as crianças convivem com essa

variedade muito antes de entrarem em uma sala de aula. A exploração dos formatos

variados das letras permite a criança conhecer as mesmas letras em fontes

diferentes.

Quadro 5 - Pró-Letramento - Produção: capacidades, conhecimentos e atitudes.

Produção: capacidades, conhecimentos e atitudes

Capacidades, Conhecimentos e Atitudes 1° ano 2° ano 3° ano

Compreender e valorizar o uso da escrita com diferentes funções, em diferentes gêneros.

I/T/C T/C T/C

Produzir textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação:

I T/C T/C

(i) Dispor, ordenar e organizar o próprio texto de acordo com as convenções gráficas apropriadas;

I T/C T/C

(ii) Escrever segundo o principio alfabético e as regras ortográficas;

I/T/C T/C T/C

(iii) Planejar a escrita do texto considerando o tema central e seus desdobramentos;

I/T/C T/C T/C

(iv) Organizar os próprios textos segundo os padrões de composição usuais na sociedade;

I/T/C T/C T/C

(v) Usar a variedade linguística apropriada à situação de produção e de circulação, fazendo escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática;

I/T/C T/C T/C

(vi) Usar recursos expressivos (estilísticos e literários) adequados ao gênero e aos objetivos do texto;

I/T/C T/C T/C

(vii) Revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação previstos.

I T T/C

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo1, pag. 47.

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No eixo produção são desenvolvidos capacidades necessárias ao domínio da

escrita, perpassando das formas de registro alfabético e ortográfico até a produção

autônoma de textos. Essas capacidades podem ser trabalhadas no início do

processo de alfabetização, a partir da produção coletiva de textos - em que o

professor faz o papel de escriba e registra o texto que eles vão produzindo -. É

importante orientar os alunos no tocante ao padrão de composição dos gêneros em

função da situação de comunicação, a revisar e reelaborar seus textos para

atenderem aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação previsto.

No fascículo 2, discutem-se a importância da avaliação diagnóstica como

meio de acompanhar e monitorar as aprendizagens dos alunos e o processo de

ensino. O fascículo 3 trata da organização do tempo escolar e do planejamento das

atividades por parte dos professores. A proposta é que as atividades diárias sejam

diversificadas e organizadas de forma articulada, visando o aprendizado da leitura e

escrita como práticas sociais. Essa diversidade é garantida por meio de

uma rotina composta por atividades que possibilitem às crianças elaborar a leitura e a escrita em suas muitas funções, gêneros e estilos, conhecer e explorar seus suportes diversos – como o livro de literatura, o jornal, as revistas, os textos científicos, as enciclopédias e livros didáticos, os Atlas, os dicionários, etc. — e também dominar seus aspectos técnicos, relativos ao uso do código da escrita, tais como exercícios de codificação e decodificação. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 3, p. 20).

Portanto, precisamos garantir uma rotina escolar com atividades que tenham

sentido e se articulem, visando cada etapa da apropriação da leitura e da escrita

pela criança.

O fascículo 4 discute a importância da biblioteca e da sala de leitura,

enfatizando sua organização e possibilidades de uso com atividades que aproximem

alunos e livros, pois esses primeiros contatos são fundamentais para a formação de

um leitor.

O fascículo 5, por sua vez, sugere o uso de jogos como uma atividade

pedagógica na qual os alunos possam pensar nos princípios do SEA de forma lúdica

e prazerosa. Já o fascículo 6 apresenta reflexões relacionadas ao uso do livro

didático da Alfabetização. Mostra-se que os livros atuais trazem uma diversidade

textual, possibilitando o professor trabalhar na perspectiva do alfabetizar letrando.

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No fascículo 7, a discussão é centrada na relação entre fala e escrita no

processo de produção textual. A proposta de trabalho de ensino da língua nas séries

iniciais do Ensino Fundamental está pautada na concepção interacionista que

assume a linguagem em sua função discursiva, isto é, a linguagem enquanto

interação entre sujeitos socialmente situados, manifestando-se por meio de textos

de diferentes gêneros, como assegura o documento.

[...] uma proposta de ensino da língua deve valorizar o uso da língua em diferentes situações ou contextos sociais com sua diversidade de funções e sua variedade de estilos e modos de falar. Para estar de acordo com essa concepção, é importante que o trabalho em sala de aula se organize em torno do uso e que privilegie a reflexão dos alunos sobre as diferentes possibilidades de emprego da língua. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p.9).

A ação pedagógica está pautada na vivência interativa da linguagem e, por

consequência, no letramento. O professor precisa proporcionar aos alunos o

convívio e o uso de diferentes gêneros textuais para que percebam a sua

funcionalidade e a própria linguagem escrita nos contextos sociais. Portanto, o

docente é o mediador entre os alunos e o objeto de conhecimento e nesse processo

é fundamental:

[...] conhecer o que os alunos pensam sobre a escrita, escolher os textos que mais condizem com suas necessidades cognitivas em determinados momentos e situações, organizar as atividades que melhor se prestam ao trabalho com o sistema de escrita, envolver os alunos no processo de ensino aprendizagem e, sobretudo, buscar as informações de que necessita para uma ação pedagógica eficaz. (BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo complementar, p. 20).

Consideramos de suma importância essa postura dialógica com as crianças,

pois além de contribuir para que elas cheguem à almejada competência textual,

também contribuirá para o uso criativo e critico das práticas sociais de leitura e

escrita.

Para finalizar, gostaríamos de destacar que o Pró-Letramento permitiu aos

professores revisar seus conceitos acerca da alfabetização e letramento,

favorecendo não só a reflexão de uma nova prática de ensino, mas também sua

construção com a socialização de experiências.

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2.2 PNAIC – Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa

O PNAIC foi instituído através da Portaria Ministerial nº 867 de 04 de julho de

2012 com aporte na Lei 11.274/2006 – que ampliou o Ensino Fundamental

obrigatório para 09 anos -. A rede municipal de ensino de João Pessoa instituiu o

ciclo de alfabetização, chamado ciclo de aprendizagem através da Resolução - CME

nº 001 de 1º de Março de 2011, o qual corresponde os três anos iniciais do Ensino

Fundamental I.

O PNAIC se consolida como um compromisso formal assumido pelos

governos federal, estadual e municipal, de assegurar que todas as crianças estejam

alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização que

corresponde ao 3º ano do Ensino Fundamental I.

A proposta do PNAIC com relação ao desenvolvimento do trabalho

pedagógico no ensino da língua é norteada por quatro princípios:

O sistema de escrita alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e problematizador; O desenvolvimento das capacidades de leitura e de produção de textos ocorre durante todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início da Educação Básica, garantindo acesso precoce a gêneros discursivos de circulação social e situações interação em que as crianças se reconheçam como protagonistas de suas próprias histórias; Conhecimentos oriundos das diferentes áreas de conhecimento podem e devem ser apropriados pelas crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas diversos e agir na sociedade; A ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de ensino e de aprendizagem. (BRASIL, PNAIC, 2012, Caderno de Apresentação, p.27).

Desse modo, a escola tem a função de favorecer a aprendizagem da escrita

alfabética e possibilitar o acesso a diferentes gêneros discursivos de modo a garantir

a ampliação do universo cultural das crianças e sua inserção social em diferentes

ambientes. De acordo com o PNAIC, ao final do ciclo de alfabetização, a criança

deve ter consolidado as seguintes aprendizagens:

A compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio das correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas

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convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos. (BRASIL, PNAIC, 2012, Caderno de Apresentação, p.08).

O PNAIC ressalta que para termos êxitos nessas aprendizagens é

fundamental manter, no ciclo de alfabetização, professores efetivos que tenham

experiência na docência e atendam aos seguintes critérios para garantir a

continuidade dos trabalhos nestes anos iniciais.

Ter domínio dos conhecimentos necessários ao desenvolvimento do ensino da leitura e da escrita na perspectiva do letramento; Ter habilidades para interagir com as crianças, dinamizando o processo pedagógico e promovendo situações lúdicas de aprendizagem; Ser assíduo e pontual, evidenciando compromisso com os processos pedagógicos; Ter sensibilidade para lidar com a diversidade social, cultural, de gênero e etnia. (BRASIL, PNAIC, 2012, Caderno de Apresentação, p.12).

O PNAIC disponibiliza quatro cursos de formação de professores

alfabetizadores, correspondente a cada etapa de escolaridade que compõem o ciclo

de alfabetização, incluindo as classes multisseriadas. A formação é focada na

prática do professor, de modo que as singularidades do trabalho pedagógico são

objeto de reflexão, visando estruturar e melhorar a ação docente.

Os quatro cursos apresentam a mesma estrutura e distribuição de carga

horária. Eles são organizados em oito unidades, com temáticas similares, mas com

foco de aprofundamento distinto. A tabela 1 apresenta as temáticas de cada

unidade.

Tabela 1 - Temáticas gerais das unidades do PNAIC.

UNIDADES

TEMÁTICAS

01 Currículo da alfabetização: concepções e princípios.

02 Planejamento escolar: alfabetização e ensino da Língua Portuguesa.

03 A aprendizagem do sistema de escrita alfabética.

04 Ludicidade na sala de aula.

05 Os diferentes textos em salas de alfabetização.

06 Planejando a alfabetização: integrando diferentes áreas do conhecimento- projetos didáticos

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e sequências didáticas.

07 Alfabetização para todos: diferentes percursos, direitos iguais.

08 Organização do trabalho docente para promoção da aprendizagem.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Caderno de Apresentação, p.33.

Um diferencial do PNAIC com relação às outras formações de professores

alfabetizadores é a avaliação, que prevê registros e análises dos resultados visando

um atendimento eficaz no percurso de aprendizagem dos alunos, além da

disponibilização de materiais didáticos e pedagógicos nas escolas, para uso do

professor e do aluno, dentre esses podemos destacar: livros didáticos entregues

pelo PNLD - Programa Nacional do Livro Didático - e respectivos manuais do

professor; obras pedagógicas complementares aos livros didáticos e acervos de

dicionários de Língua Portuguesa também distribuídos pelo PNLD; jogos

pedagógicos de apoio à alfabetização; obras de referência, de literatura e de

pesquisa entregues pelo PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola -; obras de

apoio pedagógico aos professores; jogos e softwares de apoio à alfabetização.

O PNAIC fundamenta sua proposta a partir do documento elaborado pelo

MEC Elementos Conceituais e Metodológicos para Definição dos Direitos e

Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização. Esse

documento define os direitos de aprendizagem14 de cada componente curricular, os

eixos que estruturam esses direitos e os diversos objetivos de aprendizagem de

cada eixo.

De acordo com o PNAIC os Direitos Gerais de Aprendizagem da Língua

Portuguesa são:

Quadro 6 – PNAIC - Direitos gerais de aprendizagem da Língua Portuguesa.

Compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros, veiculados em suportes textuais diversos, e para atender a diferentes propósitos comunicativos, considerando as condições em que os discursos são criados e recebidos.

Apreciar e compreender textos do universo literário (contos, fábulas, crônicas, poemas, dentre outros), levando-se em conta os fenômenos de fruição estética, de imaginação e de lirismo, assim como os múltiplos sentidos que o leitor pode produzir durante a leitura.

Apreciar e usar em situações significativas os gêneros literários do patrimônio cultural da infância, como parlendas, cantigas, trava línguas.

Compreender e produzir textos destinados à organização e socialização do saber escolar/científico (textos didáticos, notas de enciclopédia, verbetes, resumos, resenhas, dentre outros) e à organização do cotidiano escolar e não escolar (agendas, cronogramas, calendários, cadernos de notas...).

14

Cada direito de aprendizagem subjaz conhecimentos e capacidades para a consolidação no processo de alfabetização e letramento.

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Participar de situações de leitura/escuta e produção oral e escrita de textos destinados à reflexão e discussão acerca de temas sociais relevantes (notícias, reportagens, artigos de opinião, cartas de leitores, debates, documentários...).

Produzir e compreender textos orais e escritos com finalidades voltadas para a reflexão sobre valores e comportamentos sociais, planejando e participando de situações de combate aos preconceitos e atitudes discriminatórias (preconceito racial, de gênero, preconceito a grupos sexuais, preconceito linguístico, dentre outros)

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01- Unidade 01, p.32.

Tendo como referência esses direitos, foram delimitados conhecimentos e

capacidades específicas contemplados nos quatro eixos de ensino e aprendizagem

da Língua Portuguesa: Oralidade, Leitura, Produção de texto escrito e Análise

Linguística.

Cada eixo apresenta um quadro com a progressão de conhecimento ou

capacidade durante o ciclo de alfabetização (como veremos adiante nos eixos

relacionado à escrita). A letra I será utilizada para indicar que determinado

conhecimento ou capacidade deve ser introduzido na etapa escolar indicada; a letra

A indicará que a ação educativa deve garantir o aprofundamento; e a letra C indica

que a aprendizagem deve ser consolidada no ano indicado. Um conhecimento ou

capacidade pode ser introduzido em um ano e aprofundado em anos seguintes. A

consolidação também pode ocorrer em mais de um ano escolar, dado que há

aprendizagens que exigem um tempo maior para a apropriação.

Ressaltamos a importância de planejar o processo de alfabetização a partir

desses eixos, com atividades que propiciem as crianças vivenciarem a leitura, a

produção de texto escrito, a produção e compreensão de textos orais e apropriação

do SEA, através dos gêneros textuais. Portanto é função da escola

[...] a sistematização dos conhecimentos relativos à produção e à compreensão de textos orais e escritos. Por conta disso, enfatizamos junto aos professores a importância de favorecer o contato dos alunos com textos diversos, para que, desta forma, possam [...] se alfabetizarem – adquirir a tecnologia da escrita alfabética, mas também, tornarem-se “letrados”, ou seja, fazerem uso efetivo e competente desta tecnologia da escrita em situações reais de leitura e produção de textos. (BRASIL, PNAIC, 2012- Ano 01- Unidade 05, p. 08 – destaque dos autores).

De acordo com o documento, os gêneros textuais são um instrumento

utilizado pelo sujeito para agir linguisticamente, e se manifestam através dos textos.

Como se pode perceber na citação:

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O texto não é uma construção fixa e abstrata, mas, sim, palco de negociações e produções de múltiplos sentidos. Os textos são produzidos em situações marcadas pela cultura e assumem formas e estilos próprios, também historicamente marcados [...] Desse modo, pode-se dizer que a comunicação verbal só é possível por meio de algum gênero que se materializa em textos que assumem formas variadas para atender a propósitos diversos. (BRASIL, PNAIC, 2012 - Ano 02 – Unidade 05, p.6).

O PNAIC destaca a importância de organizar o trabalho pedagógico através

das seguintes modalidades de planejamento: projeto didático e sequência didática,

de forma que possibilite não só a interdisciplinaridade, mas uma abordagem em

níveis de aprofundamento indicados para cada ano de ensino. Segundo o PNAIC

(2012), o trabalho com projeto didático nos anos iniciais do Ensino Fundamental

promove o letramento na escola e permite a estruturação de situações de ensino

que favorecem a apropriação do SEA pelos alunos. Com relação à sequência

didática, o PNAIC (2012) afirma que consiste em um processo de ensino em que um

conteúdo específico é focalizado em passos ou etapas encadeadas, tornando mais

eficiente o processo de aprendizagem.

A diferença entre essas modalidades de planejamento é que no projeto

didático há um produto final e os alunos participam da organização geral do trabalho.

A sequência didática não há, necessariamente, um produto final e o professor é que

planeja e monitora todo o processo.

Agora, centraremos nossas reflexões em torno dos eixos que apresentam os

objetivos da aprendizagem da linguagem escrita (Produção Textual e Análise

Linguística), mas ressaltamos a importância dos outros eixos (Oralidade e Leitura),

na formação das crianças, a fim de que se tornem leitores e produtores de textos

orais e escritos de diferentes gêneros para atender a diferentes propósitos de

interação.

O eixo da Produção de Textos tem a finalidade de proporcionar, às crianças,

escrever a partir de uma situação comunicativa proposta pelo professor, que poderá

ocorrer de diferentes formas: coletivamente, por meio de um escriba, em dupla ou

individualmente. Ressaltamos que o professor, quando atua como escriba, tem a

possibilidade de ensinar as diferenças entre linguagem oral e escrita, a organização

das ideias, a importância de revisar o que foi produzido, a desenvolverem suas

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estratégias de registro e se assumirem como autores. A seguir segue o quadro com

a exposição dos direitos específicos relacionados à produção textual.

Quadro 7 – PNAIC - Produção de textos escritos.

Produção de textos escritos

Ano 1 Ano 2 Ano 3

Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalidades, com ajuda de escriba.

I/A A/C A/C

Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalidades, com autonomia.

I A A/C

Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades, por meio da atividade de um escriba.

I/A A/C C

Produzir textos de diferentes gêneros com autonomia, atendendo a diferentes finalidades.

I I/A A/C

Gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando os períodos e utilizando recursos coesivos para articular ideias e fatos.

I I/A A/C

Organizar o texto, dividindo-o em tópicos e parágrafos. I A/C

Pontuar os textos, favorecendo a compreensão do leitor. I A/C

Utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero e às finalidades propostas

I/A A/C A/C

Revisar coletivamente os textos durante o processo de escrita em que o professor é escriba, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes.

I/A A A/C

Revisar autonomamente os textos durante o processo de escrita, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes.

I/A A/C

Revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os de modo a aperfeiçoar as estratégias discursivas.

I A

Fonte: BRASIL, PNAIC 2012, Ano 01, Unidade 01, p. 34.

Em relação ao planejamento das atividades voltadas para esse eixo, é

importante que estas busquem contemplar reflexões sobre a escrita e a busca de

soluções para questões que se colocam na apropriação do SEA. Destacamos que,

no processo inicial de alfabetização, deve-se propor a escrita de textos variados, a

exemplos de: a letra de uma cantiga, quadrinhas, trava-línguas, bilhetes e convites.

Sobre essa questão, o PNAIC assegura que

Para que as crianças aprendam a escrever textos é preciso variar as situações de produção quanto às dimensões da escrita a serem contempladas: (i) registro de um texto que se sabe de cor (ii) a reescrita de textos, em que as crianças sabem o conteúdo do texto, mas precisam recuperá-lo e escrever de outro modo, pensando em “como dizer”; (iii) escrita autoral de textos, em que os estudantes precisam definir o que vão dizer e como vão dizer. (BRASIL, PNAIC, 2012 Ano 01- Unidade 02, p. 10 – destaque dos autores).

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Concebemos, assim, que é preciso promover situações variadas que

contemplem o trabalho centrado nos gêneros textuais para a ampliação do grau de

letramento das crianças e, sobretudo conduzi-los a reflexão acerca do SEA.

O eixo Análise Linguística está organizado em dois quadros que se articulam:

um refere-se à reflexão sobre os aspectos gerais do texto, considerando a

discursividade, textualidade, normatividade dos textos/ gêneros selecionados para

as práticas da linguagem; o outro, a apropriação do SEA. Nos quadros a seguir

estão expostos os direitos de aprendizagem referente ao eixo da Análise Linguística.

Quadro 8 - PNAIC - Análise Linguística: apropriação do SEA. Produção de textos escritos

Ano 1 Ano 2 Ano 3

Escrever o próprio nome. I/A/C

Reconhecer e nomear as letras do alfabeto. I/A/C

Diferenciar letras de números e outros símbolos. I/A/C

Conhecer a ordem alfabética e seus usos em diferentes gêneros. I/A/C

Reconhecer diferentes tipos de letras em textos de diferentes gêneros e suportes textuais.

I/A A/C

Usar diferentes tipos de letras em situações de escrita de palavras e textos.

I A/C C

Compreender que palavras diferentes compartilham certas letras. I/A/C

Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras.

I/A/C

Segmentar oralmente as sílabas de palavras e comparar as palavras quanto ao tamanho.

I/A/C

Identificar semelhanças sonoras em sílabas e em rimas. I/A/C

Reconhecer que as sílabas variam quanto às suas composições. I/A/C

Perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas. I/A/C

Ler, ajustando a pauta sonora ao escrito. I/A/C

Dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos.

I/A A/C C

Dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a escrever palavras e textos.

I/A A/C C

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, Unidade 01, p. 37.

Quadro 9 – PNAIC - Análise Linguística: discursividade, textualidade e normatividade.

Análise linguística: Discursividade, textualidade e normatividade

Ano 1 Ano 2 Ano 3

Analisar a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina.

I/A A/C A/C

Conhecer e usar diferentes suportes textuais, tendo em vista suas características: finalidades, esfera de circulação, tema, forma de composição, estilo, etc.

I/A/C A/C C

Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção. I/A/C I/A/C I/A/C

Conhecer e usar palavras ou expressões que estabelecem a coesão como: progressão do tempo, marcação do espaço e relações de causalidades.

I A A/C

Conhecer e usar palavras ou expressões que retomam coesivamente o que já foi escrito (pronomes pessoais, sinônimos e equivalentes).

I A A/C

Usar adequadamente a concordância e reconhecer violações de concordância nominal e verbal.

I A/C

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Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares diretas entre letras e fonemas (P, B, T, D, F, V).

I/A A C

Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares contextuais entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro (C/QU; G/GU; R/RR; SA/SO/SU em início de palavra; JA/JO/ JU; Z inicial; O ou U/ E ou I em sílaba final; M e N nasalizando final de sílaba; NH; Ã e ÃO em final de substantivos e adjetivos).

I A/C

Conhecer e fazer uso de palavras com correspondências irregulares, mas de uso frequente.

I A

Saber usar o dicionário, compreendendo sua função e organização. I A/C

Saber procurar no dicionário a grafia correta de palavras. I A/C

Identificar e fazer uso de letra maiúscula e minúscula nos textos produzidos, segundo as convenções.

I A A/C

Pontuar o texto. I A/C

Reconhecer diferentes variantes de registro de acordo com os gêneros e situações de uso.

I A C

Segmentar palavras em textos. I A/C

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, Unidade 01, p. 36.

De acordo com o PNAIC (2012), nos anos iniciais, o foco deve estar voltado

para as reflexões acerca da língua e seu funcionamento, e é necessário que seja

desenvolvido, concomitantemente, com a apropriação dos usos e funções sociais

dos gêneros textuais, da leitura, da produção de textos e da linguagem oral. Nessa

fase, as crianças precisam conhecer as letras do alfabeto, seus respectivos nomes e

diferentes formas de grafá-las, bem como perceber as relações que existem entre

som/letra, por meio da consciência fonológica, e, no final, aprender sobre a

ortografia.

Todo o processo pode ser desenvolvido de forma lúdica, por meio de jogos e

atividades que envolvam ações de comparar, montar e desmontar palavras para

observar e discutir os princípios do SEA, promovendo a sua apropriação e

consolidação. Logo, é função do professor planejar sua ação didática e selecionar os

recursos didáticos adequados para o que pretende ensinar. De acordo com o

PNAIC, alguns recursos didáticos são essenciais no ciclo de alfabetização. São eles:

1.Livros que aproximem as crianças do universo literário, ajudando-as a se constituírem como leitoras, a terem prazer e interesse pelos textos, a desenvolverem estratégias de leitura e a ampliarem seus universos culturais, tais como os livros literários de contos, poemas, fábulas, dentre outros; 2. Livros que ampliem o contato com diferentes gêneros e espaços sociais, considerando as diferentes finalidades de leitura, tais como os livros de reflexão sobre o mundo da ciência, as biografias, os dicionários, os livros de receitas, dentre outros; 3. Livros que estimulem a brincadeira com as palavras e promovam os conhecimentos sobre o Sistema de Escrita Alfabética; 4. Revistas e jornais variados que promovam a diversão e o acesso a informações, tais como os

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jornais, com destaque aos suplementos infantis, as revistas infantis e os gibis; 5. Os livros didáticos, que agrupam textos e atividades variadas; 6. Materiais que estimulem a reflexão sobre palavras, com o propósito de ensinar o sistema alfabético e as convenções ortográficas, tais como jogos de alfabetização, abecedários, pares de fichas de palavras e figuras, envelopes com figuras e letras que compõem as palavras representadas pelas figuras e coleções de atividades de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita; 7. Os materiais que circulam nas ruas, estabelecimentos comerciais e residências, com objetivos informativos, publicitários, dentre outros, como os panfletos, cartazes educativos e embalagens; 8. Os materiais cotidianos com os quais nos organizamos no tempo e no espaço, como calendários, folhinhas, relógios, agendas, quadros de horários de todos os tipos, catálogos de endereços e telefones, mapas, itinerários de transportes públicos etc.; 9. Os registros materiais a respeito da vida da criança e dos membros de seus grupos de convívio: registro de nascimento/ batismo ou casamento (dos pais e/ou dos parentes), boletim escolar, cartões de saúde/vacinação, fotografias (isoladas e em álbuns), cartas ou e-mails, contas domésticas, carnês, talões de cheque, cartões de crédito etc.; 10. Recursos disponíveis na sociedade que inserem as crianças em ambientes virtuais e que promovem o contato com outras linguagens, tais como a televisão, o rádio, o computador, dentre outros.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, Unidade 02, p. 37.

O documento, além de fornecer elementos para desenvolver práticas

pedagógicas na perspectiva do alfabetizar letrando, adverte para alguns cuidados

que os professores devem ter nesse processo. Entre os quais:

1. Escolher os textos a serem lidos, considerando-se não apenas os gêneros a que pertencem, mas, sobretudo, o seu conteúdo (o que é dito), em relação aos temas trabalhados. O objetivo é que as crianças aprendam a ler e escrever, mas também aprendam por meio da leitura e da escrita; 2. Propor situações de leitura e produção de textos com finalidades claras e diversificadas, enfocando os processos de interação e não apenas as reflexões sobre aspectos formais; 3. Escolher os gêneros a serem trabalhados com base em critérios claros, considerando-se, sobretudo, os conhecimentos e habilidades a serem ensinados; relações entre os gêneros escolhidos e os temas/conteúdos a serem tratados; 4. Abordar os gêneros considerando não apenas aspectos composicionais e estilísticos, mas, sobretudo, os aspectos sociodiscursivos (processos de interação, como as finalidades, tipos de destinatários, suportes textuais, espaços de circulação...).

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 02 – Unidade 05, p.9.

Destacamos que é fundamental planejar o ensino, variar os modos de

organização do trabalho pedagógico e criar rotinas escolares, de modo a garantir

que as crianças ampliem seus conhecimentos e capacidades. Segundo o PNAIC

(2012), para planejar é importante ter consciência dos direitos de aprendizagem no

ciclo de alfabetização, estabelecendo uma progressão no ensino que proporciona a

progressão nas aprendizagens a cada ano.

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3 CAMINHOS METODOLÓGICOS

Este capítulo descreve os princípios metodológicos adotados no estudo, bem

como os procedimentos escolhidos para a coleta e análise dos dados.

Para realização da pesquisa, partimos da hipótese de que a formação

continuada contribui para a mudança da prática pedagógica dos professores dos

ciclos de alfabetização. Respaldamo-nos nas propostas do Pró-Letramento e

PNAIC, que fazem parte das políticas de formação continuada de professores

alfabetizadores estabelecidas pelo MEC.

Visando alcançar o objetivo da pesquisa, buscamos entender a concepção de

alfabetização, na perspectiva do letramento, evidenciar os usos dos gêneros textuais

como ponto de partida para a prática pedagógica e, por fim, identificar os princípios

teóricos e as orientações metodológicas para o ensino e a aprendizagem da língua

escrita preconizados no Pró-Letramento e PNAIC.

Para investigar os conhecimentos da professora sobre o ensino da linguagem

escrita, na perspectiva de alfabetizar letrando, realizamos uma pesquisa qualitativa,

visto que apresenta várias possibilidades de utilização dos instrumentos para a

coleta de dados.

Dessa forma para a coleta de dados e informações, utilizamos o questionário

semiaberto15 e a observação de aulas. O primeiro recurso utilizado justifica-se diante

do propósito de traçar o perfil da professora e de averiguar os conceitos

internalizados no que tange à compreensão de alfabetizar letrando. No tocante as

observações das aulas, utilizamos os recursos áudio fotográficos e o diário de

campo para registrar os acontecimentos, a descrição do espaço físico e os recursos

utilizados. É importante ressaltar que nossa opção pela observação permitiu captar

fenômenos que não podem ser registrados por meio de perguntas, mas que devem

ser observados in loco, na situação concreta em que acontecem.

A pesquisa foi desenvolvida na rede municipal de ensino de João Pessoa. As

escolas dessa rede estão divididas em nove polos16 e atendem às modalidades da

Educação Infantil, Ensino Fundamental I, II e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

15

Ver questionário – Apêndice B. 16

Cada polo agrega vários bairros do município de João Pessoa.

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A tabela 2 demonstra o quantitativo de escolas existentes por polo no município de

João Pessoa/ PB.

Tabela 2 - Quantitativo de escolas por polo.

PÓLO

NÚMERO DE ESCOLAS

I 13

II 14

III 10

IV 09

V 10

VI 13

VII 09

VIII 10

IX 08

Fonte: Prefeitura Municipal de João Pessoa – Secretaria de Educação e Cultura/ Dados referente ao ano de 2013.

Para a seleção da escola, definimos como critérios:

Escolha de uma escola por considerarmos

quantitativamente/qualitativamente suficiente para realizar o nosso

estudo, em face da abordagem metodológica adotada, a qual privilegia

aspectos qualitativos;

Possuir professores efetivos nos ciclos de alfabetização e que

estivessem participando da formação do PNAIC, pois entendemos que

os professores que estão participando da formação têm mais domínio

dos conhecimentos necessários ao desenvolvimento do ensino da

escrita na perspectiva do letramento;

Vínculo efetivo com a rede, pois acreditamos que eles poderão dar

continuidade aos trabalhos relativos à aprendizagem mais complexa,

nos ciclos de alfabetização, através de um planejamento em longo

prazo. É importante destacar a rotatividade dos professores nos ciclos

de alfabetização, porque alguns professores atuam na condição de

prestadores de serviço.

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A escola selecionada faz parte do polo I, e, no ano de 2013, funcionou apenas

com uma turma referente a cada ano do ciclo de alfabetização.

A professora participante da pesquisa atua no 1º ano do ciclo de alfabetização

e foi selecionada por ser a única que atendia aos seguintes critérios: efetiva na rede

municipal de ensino de João Pessoa, graduada em Pedagogia e participou dos

Programas de Formação Continuada: Pró-Letramento e estava participando do

PNAIC durante o período em que foi realizada a pesquisa. Ressaltamos que as

professoras que atuavam no 2º e 3º ano do ciclo de alfabetização eram prestadoras

de serviços.

A escolha de trabalhar com sujeitos efetivos assegura a continuidade dos

trabalhos através da socialização dos resultados da pesquisa. Na opção de

contemplar só quem tivesse a formação inicial de Pedagogia, levamos em conta que

é nessa licenciatura que vem sendo trabalhada a formação do professor para atuar

no ciclo de alfabetização. O último critério de estar participando e/ou ter participado

de formação continuada, configura-se no eixo central da pesquisa, que foi verificar

como o processo formativo tem influenciado na atuação da professora no processo

de aprendizagem da escrita.

Destacamos que, antes da realização da pesquisa, foi assinado o termo de

consentimento17, cuja assinatura do participante assegura sua adesão voluntária ao

projeto de investigação, estando ele ciente da natureza do estudo.

No processo inicial dessa pesquisa, realizamos um estudo bibliográfico,

recorrendo a fontes que discutem temas e questões relacionados ao nosso objeto de

estudo, além de uma análise documental que contemplou o estudo do material

didático do Pró-Letramento, do PNAIC e os documentos oficiais que instituem essas

formações. Segundo Caulley (1981), citado em Lüdke e André (2013, p. 45), a

análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir

de questões ou hipóteses de interesse.

A leitura atenta desse conjunto de materiais foi necessária para fundamentar

todas as etapas da pesquisa, ocorrendo de forma simultânea ao desenvolvimento da

mesma, desde o planejamento à análise dos dados.

O primeiro instrumento que utilizamos para a coleta de dados foi à aplicação

do questionário semiaberto, as questões foram relacionadas à formação acadêmica

17

Ver termo de consentimento – Apêndice A;

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60

e ao desenvolvimento da prática pedagógica no ensino da língua escrita. A

professora mostrou-se tranquila para responder as questões, em alguns momentos

fazia relatos de atividades que tinha realizado e pontuava as possibilidades e

desafios de ensinar a língua escrita na perspectiva do alfabetizar letrando.

Dando continuidade iniciamos as observações das aulas no segundo

semestre letivo de 2013, entre os meses de agosto e dezembro, totalizando 17 aulas

observadas, ocorridas, principalmente, às terças-feiras e quintas-feiras. Tal opção se

deu porque, em outros dias da semana, os alunos saiam para as aulas de Educação

Física e Arte. Por isso, decidimos concentrar as observações nesses dias citados,

pois tínhamos a oportunidade de realizar as atividades sem interrupção.

O quadro abaixo apresenta a caracterização das aulas observadas seguindo

a ordem cronológica. Na caracterização das aulas, observamos que houveram dois

momentos de sequências didáticas - processo essencial no ensino e aprendizagem

da língua escrita.

Nos outros momentos, as aulas não se configuraram em sequências

didáticas, pois as atividades não foram sequenciadas de acordo com uma proposta

de progressão de desafios ou de problemas a serem resolvidos pelos alunos.

Categorizamos as atividades desenvolvidas nessas aulas a partir das seguintes

temáticas:

Gêneros textuais dispersos;

Foco no SEA;

Gêneros textuais dispersos e SEA.

Quadro 10 - Caracterização das aulas observadas

Se

qu

ência

did

ática

I

Aula 01

Data da observação 12/08/2013

Conteúdo Rimas.

Recursos didáticos Poema “A escola” (produção coletiva da turma). Fichas com palavras.

Produção escrita Produção de rimas com o nome dos alunos.

Aula 02

Data da observação 13/08/2013

Conteúdo Rimas.

Recursos didáticos Cartaz (rimas com o nome dos alunos).

Produção escrita Completar os versos com palavras que rimam.

Aula 03

Data da observação 15/08/2013

Conteúdo Poema “O gato chinês” / rimas.

Recursos didáticos Cartaz (poema lacunado). Alfabeto móvel (formar nomes de animais).

Produção escrita Completar o poema lacunado.

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61

Se

qu

ência

did

ática

II

Aula 04

Data da observação 19/08/2013

Conteúdo Cantigas de roda.

Recursos didáticos Fichas com a letra de três cantigas de roda (Cada grupo de alunos trabalhou com uma cantiga).

Produção escrita Não houve produção escrita.

Aula 05

Data da observação 20/08/2013

Conteúdo Parlenda.

Recursos didáticos Fichas com a parlenda “1,2 feijão com arroz”.

Produção escrita Cruzadinha (escrever o nome dos números).

Aula 06

Data da observação 22/08/2013

Conteúdo Advinha.

Recursos didáticos Alfabeto móvel (formar palavras que são respostas das advinhas).

Produção escrita Não houve produção escrita.

ne

ro

dis

pe

rso

Aula 07

Data da observação 27/08/2013

Conteúdo Bilhete.

Recursos didáticos Cartaz (bilhete escrito com letra de forma e cursiva).

Produção escrita Produção de bilhete sugerido no livro didático.

Fo

co

no

sis

tem

a

Aula 08

Data da observação 05/09/2013

Conteúdo Alfabeto (consoantes B/ D/ T/ P).

Recursos didáticos Fichas com as consoantes. Alfabeto móvel.

Produção escrita Escrita das palavras que formaram com o alfabeto móvel.

Fo

co

no

sis

tem

a

Aula 09

Data da observação 09/09/2013

Conteúdo Produção de frases.

Recursos didáticos Cartaz com o texto “O sapo no saco”. Imagem do sapo.

Produção escrita Produção de frases sobre o sapo.

Fo

co

no

sis

tem

a

Aula 10

Data da observação 11/09/2013

Conteúdo Produção textual “lista”.

Recursos didáticos Fichas com as notas musicais. Palavras iniciadas com as sílabas das notas musicais.

Produção escrita Produção de lista de frutas.

ne

ro

dis

pe

rso e

foco

no

sis

tem

a

Aula 11

Data da observação 17/09/2013

Conteúdo Cantiga de roda/ Consoante S.

Recursos didáticos Cartaz com a cantiga de roda “Sapo cururu”.

Produção escrita Caça-palavras iniciadas com a consoante S.

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62

Fonte: Elaboração da autora.

Com intuito de conhecer as práticas de alfabetização e letramento,

selecionamos as aulas para análise, contemplando uma sequência didática e uma

aula de todas as temáticas trabalhadas. Segue abaixo as aulas selecionadas:

Sequencia didática I (aulas 01, 02, 03) → contempla atividades escritas

em todas as aulas;

ne

ro

dis

pe

rso e

foco

no

sis

tem

a

Aula 12

Data da observação 19/09/2013

Conteúdo Ordenação de texto.

Recursos didáticos Fichas com a letra da música “Meu limão, meu limoeiro”.

Produção escrita Escrever no cartaz o nome do pé das frutas.

Fo

co

no

sis

tem

a Aula 13

Data da observação 23/09/2013

Conteúdo Produção de frases.

Recursos didáticos Flor de origami produzida pelos alunos.

Produção escrita Produção de frases sobre a primavera.

ne

ro d

ispe

rso e

foco

no

sis

tem

a

Aula 14

Data da observação 26/09/2013

Conteúdo Formação de palavras.

Recursos didáticos Livro de história “Os três porquinhos na faixa de pedestres”. Alfabeto móvel (formar palavras relacionadas ao trânsito).

Produção escrita Escrita das palavras que formaram com o alfabeto móvel.

ne

ro d

ispe

rso e

foco

no

sis

tem

a Aula 15

Data da observação 03/10/2013

Conteúdo Produção textual “Lista”

Recursos didáticos Livro de história “O velho lobo do mar”. Alfabeto móvel (formar nomes dos meios de transportes).

Produção escrita Escrita das palavras que formaram com o alfabeto móvel.

ne

ro

dis

pe

rso e

foco

no

sis

tem

a

Aula 16

Data da observação 10/12/2013

Conteúdo Produção textual “Lista”.

Recursos didáticos Livro de história “Abelhinha”.

Produção escrita Produção de lista com o nome dos animais que apareceram na história.

Fo

co

no

sis

tem

a Aula 17

Data da observação 12/12/2013

Conteúdo Produção textual “Cartão natalino”.

Recursos didáticos Ficha com a palavra família.

Produção escrita Produção de cartão natalino para os familiares.

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Gêneros textuais dispersos (aula 07) → aponta o trabalho com a

produção textual;

Foco no SEA (aula 08) → apresenta atividades de apropriação do SEA;

Gêneros textuais dispersos e SEA (aula 16) → aborda o ensino dos

gêneros concomitante com o SEA.

Para analisar as informações advindas do questionário e das observações

das aulas, levamos em conta o discurso da professora, tendo como referência a

teoria e a prática presentes na proposta do Pró-Letramento e PNAIC com o objetivo

de compreender como ocorrem as práticas de alfabetizar letrando. Acreditamos que

esses diferentes procedimentos favorecerão na elucidação da análise e

compreensão dos saberes docentes mobilizados durante as aulas acerca dos

processos de alfabetização e letramento.

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64

4 UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA: análise dos dados.

Este capítulo é composto pela análise do questionário semiaberto e das aulas

observadas que fazem parte do corpus coletado para o desenvolvimento desta

pesquisa.

Nosso objetivo, por meio da análise desse material, é identificar como está

ocorrendo a transposição das mudanças didáticas relacionadas à alfabetização para

a prática de ensino da língua escrita. A organização dos dados da pesquisa está

delineada em três eixos temáticos que apresenta-se materializada na figura 01.

Figura 1 - Eixos de organização dos dados da pesquisa

Fonte: Elaboração da autora

A partir da organização dos eixos temáticos, iniciamos a interpretação dos

dados produzidos no contexto empírico, evidenciando os diferentes aspectos

desvelados no processo de produção da pesquisa, no que se refere ás práticas de

alfabetização e letramento, considerando os diferentes usos e funções da escrita no

ambiente escolar. Assim, iniciamos a discussão em torno do primeiro eixo da

análise.

Eixo 1

Perfil e formação da professora alfabetizadora.

Eixo 2

Concepções que fundamentam sua prática pedagógica.

Eixo 3

Prática pedagógica.

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65

4.1 Perfil e formação da professora alfabetizadora

Neste eixo, caracterizamos o perfil e a formação da professora alfabetizadora,

revelando aspectos peculiares de sua identidade e analisando aspectos

relacionados à formação inicial e continuada, sendo elementos essenciais à

constituição do saber e do fazer docente. A tabela 3 apresenta o perfil da professora.

Tabela 3 - Perfil da professora alfabetizadora.

Sexo Feminino

Idade 29

Graduação Pedagogia

Pós-graduação Psicopedagogia

Tempo de atuação no magistério 10

Tempo de atuação na escola (local da pesquisa) 2 anos

Tempo de atuação no ciclo de alfabetização (1º ano) 2 anos

Vínculo com a rede municipal de João Pessoa Efetiva

Formações de professores alfabetizadores que participou (a). Pró-Letramento e PNAIC

Fonte: Questionário aplicado com a professora/ 2013.

Como podemos observar, a professora possui uma experiência significativa

no magistério. Ressaltamos que o menor tempo de exercício na docência é no 1º

ano, pois está atrelada a sua nomeação na rede municipal de ensino de João

Pessoa em 2012. Quanto a sua formação, é licenciada em Pedagogia e especialista

em Psicopedagogia. Dessa forma, constatamos que a pesquisa se desenvolveu com

uma professora que, em sua prática, mobiliza saberes consolidados ao longo de

formações acadêmicas e de um percurso profissional, atendendo, assim, aos

critérios para atuar nos anos iniciais do Ensino Fundamental proposto pelo PNAIC

(2012), uma vez que os docentes que atuam nos anos iniciais precisam ter:

domínios necessários ao desenvolvimento do ensino da leitura e da escrita,

experiência na docência e serem efetivos da rede.

No que se refere à formação continuada, a professora participou do Pró-

Letramento e durante o período em que foi realizada a pesquisa estava na formação

do PNAIC. Quando questionada sobre as relações que estabelecia entre o que

aprendeu nas formações e a sua prática em sala de aula, a professora respondeu:

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66

A formação veio aperfeiçoar a minha prática, porém, já utilizava muitos métodos e recursos lá explorados.

O discurso da professora não revela a articulação dos conhecimentos

adquiridos nas formações com a sua prática, ela apenas reconhece que contribuiu

para a melhoria da sua atuação profissional e que, em termos de metodologia e

recursos, não trouxe novidade. É importante frisar que as formações continuadas de

Língua Portuguesa propiciam a revisão de conceitos específicos da área de

Linguagem e permitem, aos professores, trocarem experiências sobre a prática,

possibilitando um novo fazer pedagógico que ultrapassa a simples aplicação do que

foi estudado.

Buscando uma melhor compreensão sobre o processo de apropriação dos

saberes e seus reflexos na prática pedagógica, perguntamos à professora sobre

como ocorreram às formações e quais as contribuições dos teóricos que estudou (a)

para a sua prática. A professora deu o seguinte depoimento sobre o Pró-Letramento:

O Pró-Letramento ocorreu há 5 anos na cidade de Umbuzeiro – PB. Os autores em destaque foram Magda Soares, Emília Ferreiro e Ana Teberosky. A formação em si deixou a desejar, pois só foi focalizado a teoria e a turma não contribuiu muito.

Nesse ponto, a professora reconhece alguns autores que fundamentam o

discurso pedagógico presente nos fascículos do programa, mas não ressalta a

importância e as contribuições que trouxeram para o desenvolvimento da sua

prática. Ratificamos que as contribuições dos autores que fundamentam o Pró-

Letramento podem auxiliar na prática pedagógica do professor no sentido de

aprimorar seus conhecimentos sobre a linguagem, além do desenvolvimento de uma

prática pedagógica pautada na perspectiva de se alfabetizar letrando, o que pode

garantir a efetivação de uma educação mais inclusiva, isto é, que oportunize de fato

o acesso ao aluno ao mundo escrito.

Com relação à metodologia adotada nos encontros de estudos, a professora

mostra insatisfação. Tal constatação é contrária à perspectiva do que propõe o Pró-

Letramento (2010): uma formação reflexiva em que são valorizadas as experiências

pessoais, as incursões teóricas, os saberes da prática, possibilitando que, no

processo, o professor atribua novos significados a sua prática.

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67

Em relação ao PNAIC, seu relato foi o seguinte:

Está acontecendo no decorrer deste ano (2013) na cidade de João

Pessoa. Evidenciamos os mesmos autores já citados, dentre outros. A formação em questão está bastante eficiente, pois a teoria está presente, porém a prática é o destaque, aonde um vai aprendendo com o outro para trabalhar melhor em sua sala de aula, com o intuito de proporcionar aos discentes a aquisição dos direitos da aprendizagem.

Neste relato, a professora aponta que a formação do PNAIC está atendendo

suas expectativas, ressalta a ênfase na articulação entre a teoria e a prática,

privilegiando a troca de experiências entre os professores, com o objetivo de garantir

aos alunos os direitos de aprendizagem, que deve permear toda a ação pedagógica

no ciclo de alfabetização.

Desse ponto de vista, consideramos que a dinâmica dos encontros está de

acordo com a proposta de trabalho para cada unidade, como propõe o PNAIC

(2012), que prevê socialização de memórias, análise de situações de sala de aula

filmadas ou registradas, análise de atividades dos alunos, dentre outras.

Outra questão abordada foi com relação se as formações continuadas tem

contribuído para a sua prática pedagógica. Quanto a este aspecto ela relata que

Sim. O PNAIC está sendo muito válido e contribui bastante para a minha prática, tanto teoricamente quanto na metodologia. E a troca de experiência com pessoas bastante comprometidas está sendo importante para o meu trabalho.

Percebemos no seu discurso que a formação do PNAIC tem contribuído para

a sua prática pedagógica, entretanto não são relatados com especificidades quais

foram essas contribuições. A formação do Pró-Letramento não foi mencionada,

permitindo inferirmos que também trouxe contribuições, mas que devido o aspecto

cronológico a professora não se lembrou de fazer referências.

Diante do exposto, percebe-se na fala da professora indícios que a formação

do Pró-Letramento e PNAIC proporcionou a aprendizagem de novos conhecimentos.

Entretanto não foram mencionados de que forma estão sendo articulados com a sua

prática pedagógica.

.

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68

Vale ressaltar que a formação docente é um processo contínuo, que ocorre

de maneira gradativa e que, muitas vezes, supri possíveis lacunas deixadas no

processo de formação inicial. Por isso, gostaríamos de destacar a importância da

formação continuada para os professores que atuam nos ciclos de alfabetização,

revelando-se como forma de garantir a possibilidade de reflexão sobre seu trabalho

em torno do ensino da alfabetização e do letramento. Segundo Líbâneo (2004), a

formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas

docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades,

compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-las.

4.2 Concepções que fundamentam a prática pedagógica

Neste eixo, apresentamos as concepções que norteiam a prática pedagógica

da professora no ensino da língua escrita. Refletir acerca da prática pedagógica

alfabetizadora implica considerar o cotidiano da ação dos professores e os

conhecimentos teóricos e metodológicos que direcionam as situações didáticas de

sala de aula.

Vejamos, a seguir, o relato da professora sobre a fundamentação do seu

trabalho desenvolvido na alfabetização:

Tenho como foco uma alfabetização baseada nos níveis de escrita de acordo com Ferreiro e Teberosky e voltada para o letramento, pois as crianças precisam reconhecer a função social da escrita e ter as suas produções circulando na sociedade.

Percebe-se, nesse relato, que a Psicogênese da língua escrita e o letramento

norteiam seu trabalho na alfabetização. Ressaltamos que tanto o Pró-Letramento

como o PNAIC fazem referências aos estudos de Ferreiro e Teberosky (1999) e o

alfabetizar letrando como propõe Soares (2006).

Destacamos ainda que a Psicogênese da língua escrita permite compreender

o percurso que as crianças vivenciam para poder compreender o SEA. Para as

autoras dessa teoria, a escrita é um sistema de representação, e a aprendizagem

deve se constituir em uma construção pela própria criança. Acreditamos que esse

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69

conhecimento é indispensável ao professor alfabetizador, pois possibilita reconhecer

os avanços e recuos das crianças e, a partir, desses dados definirem as formas de

intervenções. Coutinho (2005) propõe que o professor organize, em seu

planejamento, atividades adequadas às hipóteses de escrita apontadas pelos

alunos, lançando desafios para que eles avancem para outro nível.

Outro aspecto ressaltado pela professora são as práticas de letramento no

processo de alfabetização. É importante destacar que são processos distintos (como

tem sido afirmado neste trabalho desde o início) e, de acordo com Soares (2006),

alfabetização e letramento envolvem habilidades e competências específicas,

devendo ocorrer simultaneamente. Portanto, o professor deve propiciar às crianças

experiências variadas envolvendo a leitura e a escrita, por meio da diversidade de

gêneros textuais que, paralelamente, desenvolvam as capacidades exigidas para

compreensão e apropriação do SEA.

Com referência a metodologia que utiliza para ensinar língua escrita, a

professora comenta:

Eu ensino a escrever, escrevendo em diversas situações e utilizo com frequência o alfabeto móvel, pois acredito que é um excelente recurso para o avanço dos níveis de escrita.

Concordamos que, para aprender a escrever, é fundamental que as crianças

tenham a oportunidade de escreverem como sabem, pois quanto mais fizer isso,

mais aprenderá sobre o funcionamento da escrita. Coutinho (2005) diz que a

oportunidade de escrever, quando ainda não se sabe, permite que a criança

confronte hipóteses sobre a escrita e pense como ela se organiza, o que representa

e para que serve. No entanto, esse “ensinar a escrever” deve ocorrer através de

práticas de letramento, isto é, deve ser proporcionado às crianças, o convívio e o

uso de diferentes gêneros textuais para que percebam a sua funcionalidade e a

própria linguagem escrita nos contextos sociais.

Nas observações das aulas, constatamos a exploração do alfabeto móvel, e

que todas as letras estavam visíveis na sala de aula. Realçamos a importância de

promover o reconhecimento das letras com atividades lúdicas como os jogos, pois

brincando as crianças podem compreender os princípios do SEA e socializar seus

saberes com os colegas. As figuras a seguir ilustram os modelos de alfabetos

explorados pela professora na sala de aula.

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Figura 2 - Alfabeto fixado acima do quadro.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Figura 3 - Alfabeto fixado na parede lateral.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

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71

Figura 4 – Alfabeto móvel.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Como podemos perceber, a professora expõe os alfabetos seguindo a ordem

alfabética e explorando a escrita de forma e a cursiva, além de utilizar o alfabeto

móvel em diversas atividades. De acordo com o PNAIC (2012), as atividades de

montar e desmontar palavras com o alfabeto móvel permitem, ao aprendiz, vivenciar,

de modo bastante rico, uma série de decisões sobre como escrever. Nesse

momento, a atenção da criança que escreve com o alfabeto móvel vai se voltar para

a escolha de quais letras usar e em que ordem colocá-las na sequência da escrita

da palavra.

Além do alfabeto, a professora relatou outros recursos que utiliza durante as

aulas:

Utilizo vários recursos: cartazes, cd explorando músicas com as letras do alfabeto, jogos do PNAIC, fichas com palavras e frases, painel de letras e palavras, álbum ilustrado do alfabeto, quebra cabeça da ordem alfabética, computador, livros paradidáticos e outros.

O desenvolvimento de um trabalho com a linguagem escrita, na alfabetização,

requer a utilização de recursos diversificados capazes de estimular o interesse e a

atenção das crianças. Esses recursos precisam estar associados a atividades que

possibilitem as crianças interagir na sala de aula e vivenciar situações significativas

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de uso da leitura e escrita. A figura abaixo mostra alguns recursos explorados pela

professora durante as aulas:

Figura 5 - Recursos explorados durante as aulas.

Livros

Jogos

Cartazes

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Constatamos que a professora utiliza vários recursos durante as aulas,

possibilitando a apropriação do SEA de forma lúdica. De acordo com o Pró-

Letramento (2008), é possível, adequado e necessário permitir, através do lúdico,

que os alunos avancem em sua compreensão da escrita alfabética.

Ao ser indagada sobre como avalia o desenvolvimento da escrita de seus

alunos, a professora respondeu:

A partir da escrita espontânea, levando em consideração outras atividades já realizadas com o intuito de realizar um diagnóstico mais preciso.

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73

Para complementar, destaco que, em algumas atividades escritas, a

professora fazia o registro em um caderno. A mesma informou que essas

observações fariam parte do relatório semestral dos alunos que consta no diário de

classe. Como foi possível perceber, a professora avalia as aprendizagens das

crianças de forma diagnóstica e processual. Essa perspectiva de avaliação, segundo

o Pró-Letramento (2008), indica os níveis já consolidados pelo aluno, suas

dificuldades ao longo do processo e as estratégias de intervenção necessárias a

seus avanços.

Em seguida, perguntamos se havia alunos com dificuldades na aprendizagem

da escrita e a que atribuía essas dificuldades. Ela respondeu:

Tenho alunos com dificuldades e na maioria dos casos, vejo como principal causa à falta de interesse e envolvimento das crianças no decorrer das aulas e também das atividades propostas, a falta frequente e até mesmo dificuldade na aprendizagem.

Com base no relato, as dificuldades são atribuídas a vários fatores. Iniciamos

apontando fatores observados que, de certa forma, atrapalhavam a dinâmica das

aulas. O primeiro refere-se às faltas frequentes das crianças, principalmente na

segunda-feira e sexta-feira, muitas vezes, sem justificativa. A professora, sempre

que possível, solicitava a presença dos responsáveis para explicar as

consequências dessas ausências. O segundo refere-se à agitação da turma, uma

vez que a maioria tinha dificuldades de obedecer aos comandos da professora,

recusando-se, em alguns momentos, a fazer as atividades, atrapalhando os colegas.

Evidencio, nesse momento, a sabedoria da professora em lidar com os conflitos,

sempre demonstrando tranquilidade nas intervenções que eram feitas através de

diálogos e sanções que estavam preconizadas nos “combinados da turma”.

Segundo o PNAIC (2012), cabe ao professor, por meio da observação e do diálogo

permanente, buscar compreender os estudantes, estando sensível não apenas ao

que eles demonstram saber ou não, mas também ás suas características e modos

de interagir, suas inseguranças, seus medos e anseios. A figura a seguir mostra o

cartaz exposto com esses “combinados”.

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Figura 6 - Cartaz com os combinados da turma.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Com relação às dificuldades de aprendizagem, a professora não menciona,

no entanto, destacamos que nenhum aluno tinha laudo médico atestando alguma

deficiência18. Apesar dessas dificuldades, a professora conseguia conduzir a aula de

forma produtiva, raramente, não concluía o que era proposto no planejamento.

Ao ser questionada sobre como trabalha com os alunos que apresentam

dificuldades na aprendizagem da escrita, a professora respondeu:

Procuro dar bastante auxílio, colocando-os muitas vezes bem próximo e sempre ofereço situações para que possam compreender melhor as associações grafofônicas. Em alguns momentos proporciono atividades diferenciadas focalizando o nível de escrita em que se encontra.

Como se pode observar, a professora apresenta possibilidades de

intervenções em situações de aprendizagem que as crianças apresentam

dificuldades, visando reorientar o ensino e garantir os direitos de aprendizagem a

todos. Constatamos, durante as aulas, esses procedimentos de atendimento

individualizado aos alunos não alfabéticos, em outros momentos, foram realizados

agrupamentos dos alunos com diferentes repertórios de conhecimento para

promover a cooperação e, assim, ajudar o colega a superar suas dificuldades. De

acordo com o PNAIC (2012), é papel do professor ficar atento à diversidade da sala

18

Informação coletada na secretaria da escola.

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75

de aula, aos diferentes tempos de aprendizagem, buscando atender às

necessidades dos alunos, com estratégias de ensino acessíveis a todos.

A partir da reflexão teórica sobre as concepções que fundamentam a prática

pedagógica da professora, conclui-se que, apesar dos desafios, há uma articulação

da teoria com a sua prática. A fundamentação, a metodologia, os recursos, a

proposta de avaliação e as intervenções estão de acordo com o que preconiza o

Pró-Letramento e o PNAIC.

4.3 Prática Pedagógica

Nosso propósito, no terceiro eixo, é relatar e analisar as aulas selecionadas.

Focaremos nos conteúdos abordados, objetivos da aprendizagem, atividades

desenvolvidas e recursos utilizados. Iniciaremos seguindo a ordem descrita na

metodologia.

Sequência didática I - Essa sequência didática foi desenvolvida em três

aulas, tendo como eixo condutor o trabalho com rimas.

Aula 1

A professora iniciou retomando a produção do poema “A escola”, realizada na

aula anterior, fez a leitura coletivamente a partir de um cartaz exposto na sala

conforme ilustração abaixo:

Figura 7 - Poema produzido pelos alunos.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

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76

Após a leitura, fez uma reflexão do título, dos tipos de letras que apareciam

no poema (forma e cursiva) e da noção conceitual de rimas, sendo os alunos

indagados sobre as palavras que rimavam. Concluída essa atividade, foram

formados dois grupos: um recebeu fichas de cor marrom com nomes de pessoas; o

outro recebeu fichas de cor laranja com nomes diversificados. Antes de iniciar a

atividade, explicou que o objetivo era formar pares de rimas.

O grupo marrom iniciou fazendo a leitura das palavras seguido do outro

grupo. Para os alunos que tinham dificuldades na leitura, a professora fazia a

mediação. A partir da leitura, foram formando os pares de rimas. Ressalto que os

alunos não tiveram dificuldades de formar os pares, alguns que estavam mais

avançados no processo sugeriram até outras palavras. A professora fixou os pares

de rimas no quadro conforme modelo abaixo:

JOÃO → BOFETÃO

ZÉ → PÉ

MARA → CARA

ESMERALDA → FRALDA

VIEIRA → CAVEIRA

CHICO → PENICO

JOAQUIM → FIM

No final, levou os alunos a refletirem sobre as variações nas palavras quanto

ao número de letras e semelhanças sonoras. Essa atividade possibilitou o

desenvolvimento da consciência fonológica, uma vez que, para dominar o SEA, os

alunos precisam refletir sobre as partes sonoras das palavras e sua representação

na escrita.

Concluída essa atividade, solicitou, como tarefa de sala, que os alunos

escrevessem palavras que rimavam com o seu nome. Nessa atividade, pude

perceber a autonomia dos alunos para produzir as rimas, já os que tinham

dificuldade para fazer o registro escrito recebiam auxílio.

Nessa primeira aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita

focalizou as seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de

aprendizagem do PNAIC:

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77

PRÓ-LETRAMENTO

Reconhecer unidades fonoaudiológicas como

sílabas, rimas, terminações de palavras etc.

Conhecer e utilizar diferentes tipos de letras (de

forma e cursiva).

Compreender a natureza alfabética do sistema

de escrita.

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo

1, p.24.

PNAIC

Escrever o próprio nome.

Usar diferentes tipos de letras em situações de

escrita de palavras e textos.

Compreender que palavras diferentes

compartilham certas letras.

Perceber que palavras diferentes variam quanto

ao número, repertório e ordem de letras.

Segmentar oralmente as sílabas de palavras e

comparar as palavras quanto ao tamanho.

Identificar semelhanças sonoras em sílabas e em

rimas.

Dominar as correspondências entre letras ou

grupo de letras e seu valor sonoro, de modo a ler

palavras e textos.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.37.

Destacamos que não houve uma continuidade do trabalho com o gênero

textual poema e as rimas foram produzidas sem um contexto. Seriam mais

significativas atividades de Análise Linguística, relacionadas tanto ao SEA como a

estrutura organizacional do poema, já que as rimas são características desse gênero

textual.

Aula 2

A aula iniciou com a socialização das produções das rimas sugeridas na aula

anterior. Em seguida, a professora distribuiu fichas com o nome dos alunos e

solicitou que ficassem agrupadas com nomes que rimassem com o seu, exemplificou

usando o seguinte par: Letícia rima com Fabrícia. Alguns alunos perceberam que

não teriam o par, pois seu nome não rimava com nenhum da turma. Na sequência,

fixou um cartaz contendo frases lacunadas e explicou que esses espaços seriam

completados com o nome dos alunos que rimavam com a última palavra da frase. A

figura a seguir mostra a produção final dessa atividade:

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Figura 8 – Produção de cartaz com rimas.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

A atividade seguinte correspondeu à cópia de palavras e frases lacunadas no

caderno. A professora solicitou que completassem as frases com uma das palavras.

A figura abaixo expõe a atividade escrita no quadro:

Figura 9 - Atividade proposta sobre rimas.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

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A partir do exposto, pode-se verificar que não foi escrito o enunciado da

atividade, bem como a data para registro. Nessa aula, podemos destacar que as

atividades giraram em torno da repetição da produção de rimas e escrita de frases

sem um contexto, caracterizando-se como uma prática pedagógica de alfabetização

tradicional.

Ressaltamos a importância de trabalhar textos em sala de aula e de articulá-

los com os diferentes eixos de apropriação da língua escrita. Portanto, podemos

dizer que as atividades propostas não atendem às orientações do Pró-Letramento

(2008) e do PNAIC (2012) que preconizam um trabalho na perspectiva do alfabetizar

letrando, sendo fundamental propiciar aos alunos o contato com diferentes gêneros

textuais para ampliação do letramento e, sobretudo, conduzi-los a reflexão e

apropriação do SEA.

Nessa aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita focalizou as

seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de aprendizagem

do PNAIC:

PRÓ-LETRAMENTO

Reconhecer unidades fonoaudiológicas como

sílabas, rimas, terminações de palavras etc.

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo

1, p.24.

PNAIC

Identificar semelhanças sonoras em sílabas e em

rimas.

Dominar as correspondências entre letras ou

grupo de letras e seu valor sonoro, de modo a ler

palavras e textos.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.37.

Aula 3

Essa aula foi iniciada coma a leitura do poema “Gato da China”, do autor José

Paulo Paes. Evidenciamos que houve um momento de apresentação do livro e do

autor da obra. Concluída a leitura, foram realizadas perguntas sobre as palavras que

apresentavam semelhanças sonoras. Não houve uma preocupação e uso, por parte

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da professora, de estratégias de antecipação de sentidos, (método este usado para

buscar a ativação de conhecimentos prévios relativos ao texto, bem como um

trabalho sobre as características desse gênero), ressaltamos que essas atividades

contribuem para o desenvolvimento do letramento literário das crianças.

Dando continuidade, foi exposto no quadro, fichas com frases lacunadas para

serem completadas com palavras que rimavam com o nome dos animais. Os alunos

também receberam uma cópia dessas frases lacunadas. Em seguida, a professora

explicou que a atividade seria realizada coletivamente, e, depois, escrita na atividade

individual. As palavras citadas pelos alunos foram escritas no quadro, sendo

realizada uma abordagem das letras e das sílabas e posta em destaque as rimas.

Segue a ilustração do cartaz produzido nessa aula:

Figura 10 - Cartaz com rimas.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Após a conclusão, a professora enfatizou os tipos de letras usadas na escrita

das frases. Destacamos que é importante explorar os diferentes tipos de letras, mas

com a utilização de diversos suportes de textos (embalagens, jornais, revistas etc.),

pois os alunos convivem com essa variedade muito antes de entrarem na escola.

Ao fim da atividade, a professora entregou o alfabeto móvel para formação de

nomes de animais. A figura a seguir ilustra a utilização desse recurso no decorrer da

atividade:

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Figura 11 - Utilização do alfabeto móvel na formação de palavras.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Nessa aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita focalizou as

seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de aprendizagem

do PNAIC:

PRÓ-LETRAMENTO

Reconhecer unidades fonoaudiológicas como sílabas, rimas, terminações de palavras etc. Compreender a categorização gráfica e funcional das letras. Conhecer e utilizar diferentes tipos de letras (forma e cursiva).

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo

1, p.24.

PNAIC

Reconhecer e nomear as letras do alfabeto. Usar diferentes tipos de letras em situações de escrita de palavras e textos. Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras. Identificar semelhanças sonoras em sílabas e em rimas. Reconhecer que as sílabas variam quanto às suas composições. Perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas. Ler, ajustando a pauta sonora ao escrito. Dominar as correspondências entre letras ou grupo de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.37.

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A análise desse bloco de aulas revelou as dificuldades que alguns

professores enfrentam para desenvolver práticas de ensino na perspectiva de

alfabetizar letrando. Como podemos perceber o texto (poema) tornou-se pretexto

para o ensino do SEA. Nesse momento, nem se viabilizou um trabalho produtivo de

reflexão sobre o texto, nem um trabalho reflexivo sobre o sistema de escrita.

Gêneros textuais dispersos

A aula que vamos analisar teve como foco trabalhar o gênero textual “Bilhete”.

A professora iniciou contando uma história, vejamos:

Maria acordou e não encontrou o esposo, quando chegou à cozinha viu um papel na porta da geladeira, onde estava escrito: Maria fui ao supermercado. Beijos. Carlos

Em seguida, os alunos foram conduzidos a participar de interações orais a

partir dos questionamentos da professora:

- Por que o esposo de Maria deixou esse bilhete?

Alguns alunos responderam:

- Para Maria não ficar preocupada.

Continuando, perguntou como eles avisariam a mãe que estavam na casa de

um colega. Os alunos elencaram que poderiam avisar através de telefonema,

internet, recado e bilhete. Percebe-se que a professora utiliza estratégias de

antecipação de sentidos, buscando a ativação de conhecimentos prévios relativos

ao gênero em questão. De acordo com o Pró-Letramento (2008), ao utilizar seus

conhecimentos prévios para a análise dos gêneros, as crianças evidenciam o fato de

que todos os que vivemos em uma sociedade letrada têm alguma experiência com

textos escritos.

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No segundo momento, foi fixado um modelo de bilhete no quadro,

representado na figura abaixo:

Figura 12 - Cartaz com o gênero textual bilhete.

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Foi realizada a leitura, e, logo após, a professora explicou as características

desse gênero textual (do que eles costumam tratar, como se organizam e qual a sua

função). Foi destacado no cartaz: o destinatário, o remetente, a mensagem e a

despedida. Ampliando as reflexões em torno desse gênero, foram abordados os

tipos de letras (forma e cursiva) explorados no bilhete.

Após esse momento, foi realizada a atividade sobre bilhete proposta no livro

didático. Inicialmente, foi solicitado que os alunos localizassem, no texto, o nome

para quem o bilhete foi escrito, o nome da pessoa que fez o bilhete, a mensagem e

a despedida.

Vale ressaltar que o bilhete do cartaz é o mesmo do livro didático e poucos

alunos apresentaram dificuldades na localização das informações. Os

questionamentos do livro foram respondidos oralmente, o registro escrito foi

realizado individualmente e os que não estavam no nível alfabético receberam

auxílio da professora.

A segunda atividade do livro didático solicitava que fosse feita a produção de

um bilhete. A professora chamou a atenção dos alunos durante a produção coletiva

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apontando: o nome de quem vai receber o bilhete, a mensagem, a despedida e o

nome de quem escreveu. Destacamos que a produção do bilhete teve a professora

como escriba. Ao fazer o registro não foi realizado questionamentos sobre a grafia

das palavras e a estrutura do bilhete.

Respaldados no PNAIC (2012), realçamos que, ao escrever no quadro o que

é ditado, o professor estará explicitando aos alunos os comportamentos próprios de

quem escreve e estará problematizando a produção, ajudando-os a observarem o

que ainda não conseguem perceber sozinhos.

Nessa aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita focalizou as

seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de aprendizagem

do PNAIC:

PRÓ-LETRAMENTO

Conhecer os usos e funções sociais da escrita. Compreender e valorizar o uso da escrita com diferentes funções, em diferentes gêneros. Produzir textos escritos de gênero diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de circulação. Conhecer e utilizar diferentes tipos de letras (forma e cursiva).

Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p. 18, 24 e 47.

PNAIC

Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades, por meio da atividade de um escriba. Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção. Usar diferentes tipos de letras em situações descrita de palavras e texto.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.34, 36 e

37.

Portanto, nessa aula, percebe-se que não houve uma conciliação entre o

ensino de um gênero textual com atividades voltadas à apropriação do SEA. Como

já foi mencionado, a aprendizagem do SEA deve ser simultânea com as práticas

sociais da escrita.

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Foco no SEA

Agora, apresentaremos uma aula que contemplou atividades de reflexão do

SEA. Essa aula foi iniciada com a contação de história “A ovelhinha Lalá” da coleção

animais fofos. Após a leitura, não houve uma reflexão em torno da temática, nem

articulação com a próxima atividade que abordou as letras do alfabeto.

Dando continuidade, foi apresentado fichas com consoantes e varetas

coloridas. Cada letra foi associada a uma vareta colorida - a letra P, vermelho, a

letra B, amarelo, a letra T, azul e a letra D, verde -. Em seguida, a professora

explicou que, de olhos vendados, eles escolheriam uma vareta, falando uma palavra

iniciada com a letra correspondente e depois, com o auxílio do alfabeto móvel,

formariam a palavra.

Após a formação, a professora fazia o registro no quadro e realizava uma

reflexão sobre as partes constituintes das palavras tanto no que diz respeito às

sílabas quanto às letras, fazendo a relação entre a pauta sonora e a escrita que

essas representavam. Os alunos que não estavam no nível alfabético eram

auxiliados pela professora e, em alguns momentos, pelos próprios colegas que

estavam no nível mais avançado. Ao final, os alunos copiaram as palavras em seu

caderno conforme o modelo registrado na figura abaixo:

Figura 13 - Atividade escrita referente às consoantes.

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

O que se verificou, nessa aula, foi uma ênfase no ensino do SEA, o qual não

foi orientado em torno de um gênero textual conforme preconiza o Pró-Letramento

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(2008) e o PNAIC (2012). Nas suas propostas, os gêneros ganham lugar de

destaque como um instrumento norteador nas orientações para o ensino da língua

escrita.

Observamos, inicialmente, que não houve uma discussão relevante acerca da

contação da história proposta, “A ovelhinha Lalá”, de modo que levasse o aluno a

construir sentidos através do contexto. Foram apresentadas letras isoladas do

alfabeto, com o objetivo de formar palavras, seguido de atividade de cópia. Como se

vê, a atividade proposta não foi desenvolvida na perspectiva do ensino da escrita

inserida nas práticas de letramento.

Nessa aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita focalizou as

seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de aprendizagem

do PNAIC:

PRÓ-LETRAMENTO

Reconhecer unidades fonoaudiológicas como sílabas, rimas, terminações de palavras , etc. Conhecer o alfabeto. Compreender a natureza alfabética do sistema de escrita. Dominar as relações grafemas e fonemas. Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p.24.

PNAIC

Reconhecer e nomear as letras do alfabeto. Compreender que palavras diferentes compartilham certas letras. Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número , repertório e ordem das letras. Segmentar oralmente as sílabas de palavras e comparar as palavras quanto ao tamanho. Reconhecer que as sílabas variam quanto as suas composições. Perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas. Ler, ajustando a pauta sonora ao escrito. Dominar as correspondências entre letras ou grupo de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos.

Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.37.

É importante reiterar a importância de que as atividades, no ciclo de

alfabetização, contempladoras dos usos sociais da leitura e da escrita e as de

apropriação do SEA, sejam desenvolvidas simultaneamente, dessa forma estaremos

desenvolvendo uma prática na perspectiva de alfabetizar letrando.

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Gêneros textuais dispersos e SEA

Nessa análise, priorizamos uma aula que oportunizasse aos alunos

compreender a natureza do sistema de escrita inseridas nas práticas de letramento.

A professora iniciou conversando com os alunos sobre os animais,

procurando explorar suas características e utilidades. Em seguida, disponibilizou

livros de histórias e revistas sobre os animais e orientou para que fizessem a leitura,

chamando a atenção para os tipos de letras presentes nos suportes textuais. Esse

momento foi muito produtivo, pois as crianças demonstraram interesse, participando

com questionamentos. Após as leituras, houve uma socialização das descobertas, e

também uma votação para a escolha do livro ou revista que seria lido para a turma.

O livro escolhido foi “A abelhinha”, de Nireuda Longobardi, Editora Paulus.

Após a leitura, a professora refletiu sobre os elementos textuais (como autoria) e

sobre o conteúdo, sendo os alunos indagados com relação às características dos

animais, o que eles tinham em comum e se podiam ser animais de estimação.

Concluída essa atividade, a professora propôs fazer uma lista com os nomes

dos animais que apareceram na história. Mas, antes, questionou os alunos:

- Vocês sabem o que é uma lista?

- Para que ela serve?

- Quem faz lista?

- Onde encontramos?

- Que tipos de listas vocês conhecem?

Os alunos mostraram que tinham conhecimento desse gênero, com a maioria

se reportando à lista de compras, explicando que ajudavam a mãe a lembrar do que

precisavam comprar. Essa participação nos mostra, claramente, os conhecimentos

prévios dos alunos sobre o gênero em questão. Baseados no observado, podemos

afirmar que a professora está trabalhando na perspectiva dos letramentos múltiplos

proposto por ROJO (2009) - que considera as culturas locais de seus agentes e o

uso da linguagem nas mais diversas variações -.

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A lista das personagens foi construída coletivamente, tendo a professora

como escriba. Após o registro da palavra, fazia-se a Análise Linguística, relacionada

tanto a estrutura organizacional do gênero textual como ao SEA.

Nessa aula, o trabalho com o eixo de aquisição da língua escrita focalizou as

seguintes capacidades do Pró-Letramento e os seguintes direitos de aprendizagem

do PNAIC:

PRÓ-LETRAMENTO

Conhecer os usos e funções sociais da escrita; Reconhecer unidades fonoaudiológicas como sílabas, rimas, terminações de palavras etc.; Compreender a natureza alfabética do sistema de escrita; Dominar as relações entre grafemas e fonemas; Compreender e valorizar o uso da escrita com diferentes funções, em diferentes gêneros; Produzir textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos, ao destinatário, e ao contexto de circulação; Escrever segundo o princípio alfabético e as regras ortográficas; Organizar os próprios textos segundo os padrões de composição usuais na sociedade. Fonte: BRASIL, Pró-Letramento, 2008, Fascículo 1, p.18, 24, 47.

PNAIC

Conhecer e usar diferentes suportes textuais, tendo em vista suas características: finalidades esfera de circulação, tema, forma de composição, estilo etc.; Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção; Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalidades com autonomia; Reconhecer diferentes tipos de letras em textos de diferentes gêneros e suportes textuais; Compreender que palavras diferentes compartilham certas letras; Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras; Segmentar, oralmente, as sílabas de palavra e comparar as palavras quanto ao tamanho; Reconhecer que as sílabas variam quanto a suas composições; Perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas; Ler, ajustando a pauta sonora ao escrito; Dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos. Fonte: BRASIL, PNAIC, 2012, Ano 01, p.34, 36 e 37.

Finalizando, a professora propôs que produzissem uma lista com nomes de

animais e uma frase com o nome do animal que mais gostavam. Essa atividade teve

como objetivo avaliar os alunos com relação ao nível de escrita, bem como

estabelecer a composição do relatório final do 1º ano.

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Durante a atividade, a professora apenas circulou pela sala. Todos fizeram a

atividade, com a maioria demostrando segurança e autonomia. Depois, solicitou que

fizessem a leitura da palavra, apontando com o dedo o que foi escrito. A figura

abaixo ilustra algumas das atividades dos alunos. Informamos que a turma era

composta por 16 alunos e, no final do 1º ano, apresentavam os seguintes níveis de

escrita:

11 alunos alfabéticos;

4 alunos silábico alfabético;

1 silábico quantitativo.

Figura 14 - Atividade de nível de escrita.

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Fonte: Arquivo da pesquisadora.

A partir do exposto, podemos constatar que a professora planejou e executou

sua aula de forma sequencial, trabalhando com conteúdos relacionados a um

gênero textual específico, o que possibilitou aos alunos: o contato com suportes

textuais relacionados ao conteúdo focalizado (animais); reflexão sobre o SEA; e a

produção textual a partir de um contexto explorado. Por fim, consideramos que essa

aula exemplifica a perspectiva do alfabetizar letrando, pois o conjunto de atividades

realizadas contemplou os diferentes eixos da língua e contribuiu de forma

significativa para a aprendizagem dos alunos e para o processo avaliativo.

Diante das análises dos três eixos, fica claro que a prática pedagógica

analisada apresenta (exemplifica) as várias facetas das dificuldades de se letrar

enquanto se alfabetiza ou de se “letrar alfabetizando”.

Em alguns momentos, foram práticas estanques, em que não houve

articulação dos processos de alfabetização e letramento. No entanto, o relato da

última aula só veio corroborar que é possível conciliar esses dois processos, pois a

professora mostrou que, uma vez compreendidos os princípios teóricos

metodológicos do alfabetizar letrando, é possível desenvolver um trabalho

sistemático com os direitos de aprendizagem através de oportunidades para os

alunos interagirem na sala e de participarem de situações de leitura e escrita que se

assemelham àquelas que eles vivenciam no seu cotidiano.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Debruçar-se sobre o tema alfabetização e letramento representou uma

possibilidade de dar continuidade a investimentos iniciados na minha graduação em

Pedagogia. Possibilitou, ainda, um olhar sensível sobre as dificuldades que

enfrentamos para desenvolver uma prática pedagógica que conduza a uma

aprendizagem contextualizada e significativa da língua escrita.

A investigação sobre as concepções de alfabetizar letrando que permeiam,

atualmente, o ensino da língua escrita constituíram-se relevantes passos para a

compreensão de como está ocorrendo a transposição da teoria para a prática. As

reflexões feitas no percurso dessa pesquisa dão conta de importantes avanços

conceituais em relação à concepção do processo de alfabetização e letramento.

Contudo, na prática, as mudanças vêm ocorrendo gradativamente, pois ainda é fato

aulas em que o ensino da escrita parece distanciado da sua função na sociedade,

limitando-se a usos mecânicos e descontextualizados das práticas sociais

vivenciadas pelos alunos.

As análises desenvolvidas no nosso trabalho revelaram que a professora em

questão tem conhecimento razoável das propostas didáticas que privilegiam o

alfabetizar letrando. Inferimos que ainda existe uma dificuldade em fazer a

articulação entre os dois processos, o que justifica algumas aulas contemplarem um

dos processos em detrimento do outro.

Reconhecemos que a proposta de alfabetização, na perspectiva do

letramento, constitui um desafio para o professor, pois requer mudanças

significativas acerca das questões teórico-metodológicas que norteiam a prática

pedagógica.

Portanto, reiteramos a importância de compreender esses dois conceitos que,

embora se refiram a aspectos diferentes do aprendizado da língua escrita, são

complementares e indissociáveis, a saber: alfabetizar e letrar.

Como vimos, nesse sentido, todos os autores a quem nos reportamos, na

fundamentação do nosso trabalho, chamam a atenção para a importância de se

alfabetizar letrando. E, para alcançar esse objetivo, é preciso oportunizar situações

de aprendizagem da língua escrita nas quais os alunos tenham acesso aos textos e

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a situações sociais de uso, sendo levados, também, a construir a compreensão

acerca do funcionamento do SEA.

Todavia, devemos ter cuidado para que, durante o processo, não ocorra

equívocos do que seja alfabetizar letrando, a exemplo do visualizado nas aulas

analisadas. Os equívocos constatados foram:

Utilização de textos apenas como pretexto para o ensino do SEA. Com esse foco

nem se viabiliza um trabalho de reflexão sobre o texto, nem sobre o sistema de

escrita;

O foco apenas nos gêneros textuais. Trabalhando-se dessa forma, não

garantimos a apropriação dos princípios que regem nosso sistema de escrita,

pois não adianta os alunos saberem identificar a que gênero o texto se refere e

qual sua funcionalidade, se eles não são capazes de compreender a escrita

registrada no papel.

É importante ressaltar que, na última aula observada e analisada, a

professora fez a articulação entre os dois processos, ou seja, ela oportunizou aos

alunos compreender a linguagem que se usa ao escrever um determinado gênero

(lista) e desenvolveu atividades para eles se apropriarem da escrita que usamos ao

escrever textos. Desse modo, podemos concluir que a professora está num

processo de mudança da sua prática, que pode ter sido reflexo dos estudos

propiciados nas formações das quais participou; pois, através das observações e da

análise das aulas, percebe-se que há momentos que ela consegue desenvolver uma

ação pedagógica na perspectiva do alfabetizar letrando.

Nessa ótica, concordamos com Morais e Mandarino (2007) quando afirmam que

as mudanças nas práticas cotidianas envolvem recuos e avanços que precisam ser

coletivamente assumidos e avaliados como parte de uma construção de novos

saberes profissionais.

Assim, acreditamos que a formação continuada seja essencial no sentido de

contribuir para que os professores atribuam novos significados aos conhecimentos

teóricos e saberes da prática, a partir das discussões com outros profissionais, o que

pode favorecer a troca de experiências e propiciar reflexões mais aprofundadas

sobre a prática.

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Dessa forma, reconhecemos as contribuições do Pró-Letramento e PNAIC na

formação de professores alfabetizadores. Esses cursos garantiram o

aprofundamento dos conhecimentos sobre alfabetização e letramento,

interdisciplinaridade e inclusão como princípios fundamentais do processo educativo.

Salientamos, ainda, que a formação do professor alfabetizador seja também

privilegiada na escola, pois consideramos que esse espaço seja propício para

incentivar os professores e equipe pedagógica a refletirem sobre as situações

didáticas de sala de aula, proporcionando, assim, o planejamento, a execução e a

avaliação de trabalhos e projetos envolvendo toda a comunidade escolar. Segundo

Morais e Mandarino (2007), as escolas que incorporaram a formação continuada

como ação institucional fortalecem o trabalho e propiciam melhor espaço de

construção do saber de sua equipe.

Concluímos esta pesquisa na expectativa de ter contribuído com as reflexões

acerca da alfabetização e letramento, e reafirmamos a importância de aprofundar a

temática no que tange à formação inicial e continuada dos professores

alfabetizadores. Nessa lógica, sugerimos que as reflexões iniciem no âmbito das

instituições, incluindo os sujeitos sociais envolvidos nesse processo. Portanto,

fazemos as seguintes orientações:

Universidades → Discussão sobre a mudança no currículo do curso de

Pedagogia e Letras com intuito de incluir disciplinas sobre alfabetização e

letramento;

Rede Municipal de Ensino → Manter parcerias com as universidades para a

promoção de cursos de especialização na área de alfabetização e letramento,

além de considerar, na organização dos processos de formação continuada,

as práticas metodológicas de experiências em alfabetizar letrando;

Escola → Promover espaços nos planejamentos para discussão das práticas

pedagógicas que estão sendo desenvolvidas nos ciclos de alfabetização, bem

como promover cursos de capacitação na área de alfabetização e letramento;

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Professores alfabetizadores → Participar de cursos e formações com o

objetivo de se manterem atualizados em relação a questões teóricas e

metodológicas.

Por fim, faz-se necessário expor que é fato a abrangência da temática e que,

com toda certeza, há questões que ainda precisam ser pesquisadas, compreendidas

e partilhadas.

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REFERÊNCIAS

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Apêndices

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APÊNDICE A – Termo de consentimento

Termo de Consentimento do Pesquisado

Prezado (a) Senhor (a)

Esta pesquisa é sobre “Letramento e Alfabetização: repensando a prática

pedagógica com foco nos programas Pró-letramento e PNAIC – Pacto nacional

pela alfabetização na idade certa” e está sendo desenvolvida pela pesquisadora

Patrícia Inácio da Silva aluna do Curso de Mestrado Profissional em Linguística e

Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Ensino da Universidade

Federal da Paraíba, sob a orientação da Professora Dra. Marianne Carvalho Bezerra

Cavalcante.

O objetivo do estudo é compreender os pressupostos teóricos e

metodológicos que fundamentam as práticas de alfabetização e letramento,

estabelecendo relações com a ação pedagógica.

Solicitamos a sua colaboração para a participação em atividades didáticas

desenvolvidas no âmbito da sala de aula, como também sua autorização para

apresentar os resultados deste estudo em eventos da área de Linguística e

educação e publicar em revistas científicas. Por ocasião da publicação dos

resultados, seu nome será mantido em sigilo. Informamos que essa pesquisa não

oferece riscos, previsíveis, para a sua aprendizagem e, tampouco, para a sua saúde.

Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, o(a)

senhor(a) não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as

atividades solicitadas pelo Pesquisador(a). Caso decida não participar do estudo, ou

resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem

haverá modificação na assistência que vem recebendo na Instituição (se for o caso).

Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que

considere necessário em qualquer etapa da pesquisa.

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Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu

consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou

ciente que receberei uma cópia desse documento.

______________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

ou Responsável Legal

Contato com o Pesquisador (a) Responsável:

Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor ligar para o

(a) pesquisador (a) Patrícia Inácio da Silva

Telefone:

Atenciosamente,

___________________________________________

Patrícia Inácio da Silva

Nome da Pesquisadora

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO

MESTRADO PROFISSIONAL

Pesquisa: Letramento e alfabetização: repensando a prática pedagógica de ensino da escrita com foco nos programas Pró-Letramento e PNAIC.

Orientadora: Dra. Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante. Pesquisadora: Patrícia Inácio da Silva

Dados de Identificação: 1. Sexo: ( ) feminino ( ) masculino 2. Idade: _______ 3. Formação: Ensino Médio:_________________________________________________ Licenciatura em: ________________________________________________ Especialização em: _____________________________________________ Mestrado em: __________________________________________________ Outros (as): ____________________________________________________ 4. Tempo de experiência lecionando: ________________________________ 5. Tempo de trabalho nessa instituição: ______________________________ 6. Tempo de atuação no ciclo de alfabetização: ________________________ 7. Tempo de atuação no 1º ano: ____________________________________

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8. Vínculo com a Rede Municipal de João Pessoa: ______________________ 9. Participa (ou) de quais formações de professores alfabetizadores? ( ) PROFA

( ) PRÓ-LETRAMENTO

( ) PNAIC

Prática pedagógica:

10. Que relações você estabelece entre o que você aprendeu na sua formação

inicial e continuada e a sua prática hoje em sala de aula?

11. Em relação à formação continuada: Em que momento ocorreu? Quais autor (es)

estudou, ou estuda e que contribuições trouxeram para a sua prática?

12. As formações continuadas, tem contribuído efetivamente para o seu trabalho?

13. Você tem uma perspectiva teórica que fundamenta o seu trabalho hoje, na

alfabetização? Qual?

14. Como você ensina seus alunos a ler e escrever? De que forma o faz?

15. Quais recursos você utiliza durante as aulas?

16. De que forma você avalia o desenvolvimento da escrita dos seus alunos?

17. Você tem alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem da escrita? A

que você atribui essas dificuldades?

18. Como trabalha com os alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem da

escrita?