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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ELAINE FRIOZI GARCIA GUIMARÃES O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS: um estudo sobre o trabalho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista FRANCA 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ELAINE FRIOZI GARCIA GUIMARÃES

O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS:

um estudo sobre o trabalho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista

FRANCA

2015

ELAINE FRIOZI GARCIA GUIMARÃES

O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS:

um estudo sobre o trabalho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista

Dissertação apresentada à Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,

como pré-requisito para obtenção do Título

de Mestre em Serviço Social. Área de

concentração: Serviço Social: Trabalho e

Sociedade.

Orientadora: Profª. Drª. Adriana Giaqueto

FRANCA

2015

Guimarães, Elaine Friozi Garcia.

O processo de implementação do SUAS : um estudo sobre o tra-

balho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista / Elaine Friozi

Garcia Guimarães. – Franca : [s.n.],2015.

191 f.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Esta-

dual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

Orientador: Adriana Giaqueto.

1. Sistema Único de Assistência Social (Brasil). 2. Legislação

social 3. Centro de Referência de Assistência Social. I. Título.

CDD – 361.61

ELAINE FRIOZI GARCIA GUIMARÃES

O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS:

um estudo sobre o trabalho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para obtenção do

Título de Mestre em Serviço Social. Área de concentração: Serviço Social: Trabalho e

Sociedade.

BANCA EXAMINADORA

Presidente: _________________________________________________________________

Dra. Adriana Giaqueto.

1º Examinador:_____________________________________________________________

Dra. Lucimara P. dos Santos Benatti – UNILAGO

2º Examinador:_____________________________________________________________

Dra. Nayara Hakime Dutra Oliveira - FCHS/UNESP

Franca, 25 de Setembro de 2015

Dedico esta dissertação aos trabalhadores do SUAS, que mesmo diante de

tempos difíceis, persistem na luta dia após dia...

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma

gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse

uma gota”. (Madre Teresa de Calcutá)

E também, aos meus queridos alunos e ex-alunos da graduação em serviço

social da Fundação Educacional de Fernandópolis. Foi o compromisso

com a formação de qualidade que me impulsionou a cursar a Pós

Graduação. O desejo de compartilhar o conhecimento com vocês foi o que

motivou-me e fortaleceu-me ao longo deste período.

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma

forma continuamos a viver naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa

palavra. O professor, assim, não morre jamais...

(Rubem Alves)

AGRADECIMENTOS

“Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que não se pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero”.

(Álvaro de Campos)

Ao chegar ao fim desta caminhada e poder sentir o prazer de conseguir concluir mais

um ciclo, os pensamentos voam e é como se eu fizesse uma viagem no tempo.

O trabalho aqui apresentado não é nada além do resultado de todas as jornadas.

Certamente todos os que encontrei ao longo do caminho também tem um pedacinho aqui,

afinal o aprendizado é constante e inacabado, todos tem algo a nos transmitir, assim como

também transmitimos algo àqueles com os quais nos encontramos dia após dia.

Pensando assim e acreditando na dialética da vida, venho aqui agradecer a todos os

que encontrei e compartilhei partes da minha vida: professores, amigos, colegas de trabalho e

a minha família.

Nomear a todos seria algo arriscado, afinal poderia cometer a falha de me esquecer de

alguém, então nomearei etapas e consequentemente pessoas importantes que nelas ficaram

marcadas.

Tudo começou com as aulas de Sociologia no CEFAM, agradeço então em nome da

Professora desta disciplina, Rosana Borin, toda a contribuição e formação crítica que

propiciou para que eu abrisse os olhos para o mundo, afinal “a verdadeira viagem de

descobrimento não consiste em procurar novas paisagens , mas em ter novos olhos”. (Marcel

Proust)

Ao período da graduação, fase tão especial da vida, que me desfez e depois refez,

virando-me aos avessos e lapidando o meu olhar para o mundo. Nesta fase pude conhecer

pessoas especiais.

Agradeço aos mestres por todas as contribuições teóricas, especialmente à Lucimara,

orientadora de TCC tão presente e dedicada, uma professora que se sempre me incentivou a

seguir em frente. E carinhosamente à professora Mariza, jamais me esquecerei o seu esforço

para conseguir adiantar a minha colação de grau, de forma que fosse possível assumir o cargo

no concurso público da Prefeitura de São Paulo, ainda no final do ultimo ano da graduação.

Aos amigos por terem compartilhado os momentos felizes e também os mais difíceis,

especialmente: Márcia, Érika e Edinéia, companheiras de reflexões que me fizeram aprender

muito.

À equipe do CRAS Parque da Cidadania de São José do Rio Preto, especialmente:

Claudia, Luciana, Eveline, Nelcides, Rafael e Cristiano. Realizar estágio neste espaço foi o

maior presente da graduação. As vivências daqueles dois anos continuam vivas em meu

cotidiano de trabalho nos dias atuais, com vocês tive o primeiro contato com o trabalho com

grupos, que posteriormente tornou-se o tema do meu TCC e continua sendo ainda hoje, a meu

ver, a principal estratégia para a realização do trabalho social com famílias.

Agradeço a toda à equipe do CRAS – Penha de São Paulo, conviver com vocês foi

uma verdadeira escola da vida! Cada história de superação, de persistência e de sonhos

contribuíram para que eu encontrasse forças para conviver com vocês longe de toda a minha

família. Vocês foram a minha família, me acolheram e tudo isso é impagável.

Retornando para o interior, agradeço pela oportunidade de ter reencontrado a

professora Lesliane, pessoa fundamental no processo de decisão por cursar a pós-graduação.

Conviver com você no curso de Serviço Social da FEF me fez compreender a tamanha

responsabilidade em ser docente. Muito obrigada por ser esta profissional tão competente e

comprometida com a formação profissional.

Agradeço aos professores do curso de Serviço Social da FEF pela acolhida e pelo

incentivo em todas as horas, em especial a Eliane, companheira de luta, das idas à Franca, das

participações nos eventos da categoria. Com certeza, ter seu apoio e companhia foi

fundamental em todo esse processo.

Agradeço a equipe do CRAS e do Órgão Gestor de Ouroeste, pela acolhida, por

estarem prontos a me ouvirem nos momentos mais delicados, especialmente no período do

desenvolvimento da pesquisa de campo desta dissertação. Não havia nada concreto que

pudessem fazer, mas apenas por terem me ouvido, o peso certamente se tornou mais leve para

os meus ombros. Obrigada por fazerem parte da minha vida.

Agradeço de forma muito carinhosa à minha orientadora Adriana Giaqueto, um ser

humano único, que esteve presente em todos os momentos orientando e acalmando minhas

angustias. A sua contribuição foi fundamental para a efetivação deste trabalho. O seu olhar

me ensinou a olhar os desafios encarando-os como possibilidades.

Não poderia deixar de agradecer aos sujeitos da pesquisa, que proporcionaram que a

proposta do projeto de pesquisa pudesse ser efetivada. Não é fácil receber um “estranho” em

nossas casas e a ele ”confessar nossas intimidades”. Obrigada pela ousadia e principalmente

pela confiança a mim dispensada.

Agradeço também o apoio continuo que recebi da minha família. Ao meu pai,

companheiro de estrada, por ter acordado tantas madrugadas e passar dias ociosos em Franca

enquanto eu estudava. À minha mãe pela preocupação e cuidado de sempre. A vovó e aos

meus irmãos Juliano e Cleber pela torcida de todas as horas.

E, por fim, agradeço ao Willian, meu companheiro de todas as horas. Como foi

compreensível... aceitando as ausências, os dias de mau-humor, sempre escutando minhas

angustias com uma palavra acolhedora de carinho. Como diz Rubem Alves: "O que as

pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranqüila. Em silêncio. Sem

dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala

bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e

silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.”

Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as

gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo

que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.

Paulo Freire

GUIMARÃES, Elaine Friozi Garcia. O processo de implementação do SUAS: um estudo

sobre o trabalho desenvolvido pelos CRAS no noroeste paulista. 2015. 191 f. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2015.

RESUMO

A presente pesquisa tem como objeto de estudo o processo de implementação do SUAS a

partir do trabalho desenvolvido pelos CRAS, na realidade cotidiana da região de cobertura da

DRADS de Fernandópolis. Tem como objetivo analisar o processo de implementação do

SUAS nos CRAS do noroeste paulista na busca pela efetivação da assistência social enquanto

direito social. Recorremos à abordagem qualitativa, na perspectiva de trabalhar com os

significados da realidade social a partir das vivências dos sujeitos desta pesquisa. A fim de

alcançarmos a materialização desta proposta de estudo, realizamos pesquisa bibliográfica,

pesquisa documental e pesquisa de campo, que foi desenvolvida nos CRAS dos municípios de

Macaubal, Populina, Riolândia e Rubinéia. Na pesquisa de campo utilizamos as técnicas do

questionário e do grupo focal. Desvelamos que a assistência social, historicamente concebida

como caridade e benesse, a partir da Constituição Federal de 1988 passou a ocupar um novo

lugar, agora no seio das políticas sociais, por meio do seu reconhecimento legal enquanto

direito social. Apresentamos os avanços obtidos por meio da criação da LOAS (1993), da

PNAS (2004) e da instituição do SUAS (2005), entretanto, destacamos os desafios

enfrentados cotidianamente para que este direito venha a ser efetivado em todo o território

nacional, principalmente ao considerarmos o contexto socioeconômico no qual estamos

inseridos, marcado pelo neoliberalismo, que se coloca na contramão dos avanços

constitucionais e das possibilidades de garantia da assistência enquanto um direito social.

Neste contexto, buscamos apreender sobre a perspectiva dos trabalhadores do SUAS a

respeito do trabalho desenvolvido pelos CRAS, discutindo sobre as possibilidades e desafios

cotidianos e também sobre as principais estratégias utilizadas na implantação/implementação

do SUAS, dentro da perspectiva da busca pela efetivação do direito à assistência social.

Palavras-chave: assistência social. direito social. SUAS. CRAS.

GUIMARÃES, Elaine Friozi Garcia. The Implementation processo of SUAS: a study on the

work developed by the CRAS in the northwest Paulista. 2015. 191 f. Dissertation (Master in

Social Work) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2015.

ABSTRACT

This research has as object of study the process of SUAS implementation from the work

developed by the CRAS, in the everyday reality of DRADS coverage of region

Fernandópolis. Aims to analyze the process of SUAS implementation in the Northwest of São

Paulo on CRAS quest for completion of the social assistance while social right. We use the

qualitative approach, the prospect of working with the meanings of social reality from the

experiences of the subjects of this research. In order to achieve the materialization of this

proposed study, we carried out bibliographical research, desk research and field research,

which was developed in the municipalities of CRAS Macaubal, Populina, Riolândia and

Rubinéia. In the field research we use the techniques of the questionnaire and focus group. It

is visible social assistance, historically conceived as charity and bounty, from the 1988

Federal Constitution went on to occupy a new place now within social policies, through its

legal recognition as social right. We present the progress achieved through the creation of the

LOAS (1993), the PNAS (2004) and the institution of SUAS (2005), however, we highlight

the challenges faced everyday so that this right will be effective throughout the country,

especially when we consider the socio-economic context in which we operate, marked by

neoliberalism, that arises against constitutional advances and the possibilities of assistance

assurance as a social right. In this context, we seek to learn about the prospect of SUAS

workers about the work developed by the CRAS, discussing the possibilities and challenges

of every day and also on the main strategies used in the deployment/implementation of the

SUAS, within the perspective of the search for effectiveness of the right to social assistance.

Keywords: social assistance. social right. SUAS. CRAS.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Porte dos Municípios. ......................................................................................... 62

Gráfico 2 – Nível de Gestão do SUAS. .................................................................................. 63

Grafico 3 – Estrutura Administrativa do Órgão Gestor da Política de Assistência

Social..................................................................................................................64

Gráfico 4 – Nível Escolaridade dos Gestores ....................................................................... 65

Gráfico 5 – Formação Universitária dos Gestores. ............................................................. 65

Gráfico 6- Perfil dos Coordenadores dos CRAS.................................................................. 66

Gráfico 7 – Situações que não atendem os pressupostos da NOB-RH/SUAS. .................. 67

Gráfico 8 – Formação Universitária dos Coordenadores CRAS. ...................................... 68

Gráfico 9 – Esperança de vida ao nascer. ............................................................................. 73

Gráfico 10 – Taxa de fecundidade total. ............................................................................... 74

Gráfico 11 – Taxa de analfabetismo da população de 18 anos ou mais de idade. ............ 75

Gráfico 12 – Percentual da população de 25 anos ou mais de idade com nível de

escolaridade de ensino superior completo. ................................................... 76

Gráfico 13 – Índice de Gini .................................................................................................... 77

Gráfico 14 – Proporção dos extremamente pobres ............................................................. 78

Gráfico 15 – Proporção de pobres ........................................................................................ 79

Gráfico 16 – Proporção de vulneráveis à pobreza ............................................................... 80

Gráfico 17 – Renda per capta média .................................................................................... 80

Gráfico 18 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal ............................................ 81

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da DRADS de Fernandópolis ....................... Erro! Indicador não definido.1

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Defasagens na equipe mínima dos CRAS. ......................................................... 68

Tabela 2 – Função que exerce no CRAS .............................................................................. 85

Tabela 3 – Sexo, Idade e Formação Profissional ................................................................. 85

Tabela 4 – Experiência Profissional ...................................................................................... 86

Tabela 5 – Participação Política ............................................................................................ 86

Tabela 6 – Participação em Eventos Científicos .................................................................. 87

Tabela 7 – Participação em Capacitações ............................................................................ 87

Tabela 8 – Leituras ................................................................................................................. 88

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Participantes do Grupo Focal ........................................................................... 83

LISTA DE SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CAPs Caixas de Aposentadoria e Pensão

CCI Centro de Convivência do Idoso

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CMDCA Conselho Municipal da Criança e Adolescente

CNSS Conselho Nacional de Serviço Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

DF Distrito Federal

DRADS Diretoria Regional de Assistência e Desenvolvimento Social

ECA Estatuto da Criança e Adolescente

FEF Fundação Educacional de Fernandópolis

FHC Fernando Henrique Cardoso

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEA/UNB Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da Universidade de

Brasília

LBA Legião Brasileira de Assistência Social

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

NEPPOS/CEAM/UNB Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social da

Universidade de Brasília

NOB/SUAS Norma Operacional Básica do SUAS

NOB-RH/SUAS Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS

ONGs Organizações Não Governamentais

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

PNAIF Programa Nacional de Atendimento Integral à Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

SEDS Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio

SMADS Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social

SUAS Sistema Único de Assistência Social

UNICAMP Universidade de Campinas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................18

Percurso Metodológico ........................................................................................................... 24

CAPÍTULO 1 HISTÓRICO DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL: UM

DESTAQUE AO LUGAR OCUPADO PELA ASSISTÊNCIA

SOCIAL ......................................................................................................... 32

1.1 A Criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e da Legião Brasileira de

Assistência Social (LBA): Os primeiros passos para a presença da assistência social

nas intervenções do Estado ............................................................................................. 37

1.2 A Assistência Social sob a Ótica do Direito: O Caminho que está sendo trilhado na

Busca por sua Efetivação Enquanto Política Pública. ................................................. 42

1.3 Discussões e Reflexões: A Busca pela Organização da Assistência Social no Brasil .. 55

CAPÍTULO 2 O UNIVERSO DA PESQUISA: AS PARTICULARIDADES DA

DRADS DE FERNANDÓPOLIS .............................................................. 60

2.1 Os Municípios de Pequeno Porte I Referenciados na DRADS de Fernandópolis. ..... 63

2.2 Macaubal, Populina, Riolândia e Rubinéia: Recortes do Noroeste Paulista .............. 70

2.3 Trabalhadores do SUAS: O Perfil dos Sujeitos desta Pesquisa ................................... 83

CAPÍTULO 3 O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS NOS MUNICÍPIOS

DE PEQUENO PORTE I: A PERSPECTIVA DOS

TRABALHADORES. ................................................................................... 90

3.1 O Sistema Único de Assistência Social: Reflexões Pertinentes ..................................... 91

3.2 O Cotidiano do CRAS: A Porta de Entrada para a Política de Assistência Social .. 101

3.3 Principais Vulnerabilidades e Riscos Sociais Presentes no Território: Demandas de

Trabalho..........................................................................................................................110

3.4 Os Usuários do SUAS e o Controle Social .................................................................... 119

3.5 O Trabalho Social com Famílias ................................................................................... 126

3.6 O Trabalho em Rede ...................................................................................................... 141

3.7 Os Caminhos da Assistência Social: Qual a Contribuição do SUAS? ....................... 149

3.8 Assistência Social: Um Direito Efetivado? ................................................................... 157

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 166

REFERÊNCIAS ... ................................................................................................................170

APÊNDICES

APENDICE A – QUESTIONÁRIO: PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA ......... 178

APENDICE B – QUESTIONÁRIO: COORDENADORES DOS CRAS. ...................... 183

APENDICE C – ROTEIRO: GRUPO FOCAL ................................................................. 185

APENDICE D – ROTEIRO: PESQUISA DOCUMENTAL JUNTO À DRADS DE

FERNANDÓPOLIS ................................................................................. 187

ANEXO

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE..... 190

18

INTRODUÇÃO

A partir do contato direto da pesquisadora com a área da Assistência Social, em

especial com o trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência de Assistência Social

(CRAS), que ocorre desde o período de sua graduação, momento este em que realizou suas

atividades de estágio1 no primeiro CRAS implantado no município de São José do Rio Preto –

CRAS Parque da Cidadania, nos anos de 2007 e 2008, surgiu grande interesse em pesquisar e

conhecer a trajetória das Políticas Sociais em nosso país, que foi enfatizada a partir da

Promulgação da Constituição Federal de 1988, ao proporcionar parâmetros legais para uma

nova caminhada em busca pela efetivação dos direitos sociais, entre eles, a assistência social,

em nosso território nacional.

O interesse pela área da Assistência Social, despertado durante a graduação, se aguçou

ainda mais, com a oportunidade da atuação profissional nesta área, que se iniciou logo após a

conclusão do curso, no final do ano de 2008, a partir da aprovação em um concurso público

na Prefeitura Municipal de São Paulo.

Atuando na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS),

primeiramente, como Assistente Social na secretaria e posteriormente como Técnica de Nível

Superior – Assistente Social do CRAS – Penha, a pesquisadora pôde acompanhar o difícil

processo de implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no município de

São Paulo.

Todas as dificuldades encontradas ao longo desse período (entre Novembro/2008 e

fevereiro/2011) levou a pesquisadora e se aprofundar nos estudos, e a cada dia mais, se sentir

provocada com a grande dicotomia existente entre o que é preconizado pela política de

assistência social em nosso país, com a forma como esta política estava, de fato, sendo

efetivada naquele local.

Muitos desafios existiam, o que se intensificava, principalmente, devido ao irrisório

número de CRAS no município (31, sendo 01 em cada Subprefeitura) para uma população de

11.244.369, conforme IBGE (2010).

O número de prontuários de famílias referenciadas no CRAS Penha chegou a ser

superior a 10 mil, em contraposição, havia apenas 06 (seis) técnicos de nível superior -

1 O estágio supervisionado no curso de Serviço Social apresenta como uma de suas premissas oportunizar ao(a)

estudante o estabelecimento de relações mediatas entre os conhecimentos teórico-metodológicos e o trabalho

profissional, a capacitação técnico-operativa e o desenvolvimento de competências necessárias ao exercício da

profissão, bem como o reconhecimento do compromisso da ação profissional com as classes trabalhadoras,

neste contexto político-econômico-cultural sob hegemonia do capital (ABEPSS, 2010).

19

Assistentes Sociais, direcionados ao atendimento social destas. Então, outra questão se

destacava e proporcionava uma indagação:

De que forma seria possível desenvolver um trabalho de proteção social básica:

A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por

meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento

de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em

situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência

de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou,

fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social.

(BRASIL, 2009a, p. 33).

Em consonância com a Norma Operacional Básica (NOB/SUAS):

A proteção social de assistência social, ao ter por direção o desenvolvimento

humano e social e os direitos de cidadania, tem por princípios: -A

matricialidade sociofamiliar; -Territorialização; -Proteção Pró-Ativa; -

Integração à seguridade social; -Integração às políticas sociais e econômicas.

(BRASIL, 2009a, p. 90).

Diante das situações de trabalho e da realidade territorial do município, o trabalho

desenvolvido não podia ir além do emergencial, configurando-se em ações paliativas, muito

próximas ao antigo plantão social, que por décadas caracterizou a assistência social em nosso

país, e que em nada contribuía para que o SUAS fosse efetivado.

Após esta desafiante experiência, que proporcionou tantos momentos de inquietações

e reflexões, a pesquisadora deixou sua atuação na metrópole e assumiu em março de 2011 um

novo cargo, a partir da aprovação em outro concurso público, desta vez, em sua região de

origem, no Município do interior, Ouroeste/SP, onde atuou como Técnica de Nível Superior –

Assistente Social do CRAS (entre Março/2011 e Abril/2015) e atua (a partir de Maio/2015)

como Coordenadora do CRAS.

Por fim, cabe ainda enfatizar a experiência atual da pesquisadora com a carreira

acadêmica, visto que desde o mês de fevereiro de 2011 a mesma passou a fazer parte do corpo

docente do curso de Serviço Social da Fundação Educacional de Fernandópolis (FEF). Esta

nova experiência proporcionou momentos verdadeiramente ricos em conhecimentos, e o

envolvimento com este “meio” destinado à formação profissional aguçaram ainda mais os

desejos pelo aprofundamento e aperfeiçoamento teórico, que surgiram a partir do contato com

a prática profissional.

20

A experiência na docência vem apontando desafios constantes os quais apresentaram

diariamente à pesquisadora a necessidade da realização de uma pós-graduação stricto-

sensu/mestrado a fim de qualificar sua atuação profissional também nesta área.

A realidade social do campo de atuação profissional se transformou

significativamente, porém, o desejo pelo aprimoramento do conhecimento acerca da política

de assistência social no país, especialmente pelo que é preconizado pelo SUAS, continua,

afinal os desafios podem mudar, mas não deixam de estar presentes no cotidiano profissional,

seja ele qual for, uma vez que frente à conjuntura atual do nosso país, marcada pelos traços

neoliberais, que, de acordo com Couto et al (2010), traz como um dos seus principais ideários

a busca pelo desmonte e pela retração dos direitos e dos investimentos no campo social, é

possível encontrar desafios diários para que a Política Nacional de Assistência Social (PNAS)

juntamente com o SUAS, venham a ser de fato efetivados garantindo, assim, “[...] o Direito à

Assistência Social”.

Diante disso, surge a necessidade de estudos constantes sobre o que preconiza a PNAS

no Brasil, para que assim tenhamos subsídios teóricos e metodológicos que possam nos

direcionar para uma desconstrução da Assistência Social que perdurou por tantas décadas em

nosso país, marcada pelo clientelismo, pelo não-direito e situada como secundária e marginal

no conjunto das políticas públicas, conforme discute Couto et al (2010), para que enfim

possamos construir e praticar a Assistência Social enquanto direito garantido na Constituição

Federal de 1988:

São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988,

Art. 6.º).

E, inserido no Tripé da Seguridade Social:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de

iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (BRASIL,

1988, Art.194, V).

Sistema este, que traz a segurança de que o risco que o indivíduo venha correr não seja

apenas um problema individual, mas sim uma responsabilidade do Estado.

Levando em conta o percurso profissional da pesquisadora, por hora apresentado, a

presente pesquisa tem como objetivo geral: “Analisar o processo de implementação do

21

SUAS nos CRAS do noroeste paulista na busca pela efetivação da assistência social enquanto

direito social”.

Para tanto os seguintes objetivos específicos foram elencados:

Conhecer o perfil das equipes dos CRAS.

Identificar as estratégias utilizadas pelos CRAS para a efetivação dos pressupostos do

SUAS na perspectiva da defesa da Assistência Social enquanto direito social

Conhecer as demandas de trabalho do CRAS, a partir das características territoriais.

Desta forma, o objeto de estudo está pautado no trabalho desenvolvido pelas equipes

dos CRAS nos municípios de pequeno porte I referenciados na Diretoria Regional de

Assistência e Desenvolvimento Social (DRADS)2 de Fernandópolis

Esta delimitação do objeto de estudo, é de suma importância, pois nos proporciona a

possibilidade de realizarmos uma discussão acerca dos trabalhos desenvolvidos nos CRAS,

que, partindo dos pressupostos do SUAS e da PNAS, estejam estruturados com as mesmas

características e recursos.

Conforme apresenta a NOB-SUAS, O SUAS é um sistema público não contributivo,

descentralizado e participativo que tem por função a gestão do conteúdo específico da

Assistência Social no campo da proteção social brasileira:

A proteção social de Assistência Social se ocupa das vitimizações,

fragilidades, contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão, a cidadã

e suas famílias enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida, por decorrência

de imposições sociais, econômicas, políticas e de ofensas à dignidade

humana. (BRASIL, 2009a, p. 89).

No que tange à gestão dos municípios, a NOB/SUAS proporciona três possibilidades,

sendo elas, a gestão inicial, a gestão básica e a gestão plena. Nesta pesquisa, abordaremos os

municípios em gestão básica, que têm como responsabilidades:

[...] organizar a proteção básica em seu município, prevenir situação de risco

por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições. Por isso, deve

responsabilizar-se pela oferta de programas, projetos e serviços

socioassistenciais que fortaleçam vínculos familiares e comunitários que

promovam os beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e

transferência de renda e que vigiem direitos violados no território. (BRASIL,

2009a, p. 99).

2 De acordo com o Decreto Estadual n. 49.688, de 17 de junho de 2005 (SÃO PAULO, 2005), destaca-se: Artigo

47 - As Diretorias Regionais de Assistência e Desenvolvimento Social têm, em suas respectivas áreas de

atuação, as seguintes atribuições: I - orientar e assistir municípios e entidades sociais na implementação e no

acompanhamento de políticas e programas de assistência e desenvolvimento social sob orientação técnica dos

Grupos que compõem a Coordenadoria;

22

A PNAS, na busca pela caracterização dos municípios, com o propósito de instituir o

SUAS, utiliza como referência a definição de municípios em pequeno porte I, pequeno porte

II, médio porte, grande porte e metrópole, sendo neste momento nosso foco de estudo os

municípios de pequeno porte I:

[...] aquele cuja população chega a 20.000 habitantes (até 5.000 famílias em

média). Possuem forte presença de população em zona rural, correspondendo

a 45% da população total. [...] possuem como referência municípios de

maior porte, pertencentes a mesma região em que estão localizados.

Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de proteção

social básica, pois os níveis de coesão social, as demandas potenciais e redes

socioassistenciais não justificam serviços de natureza complexa. Em geral,

esses municípios não apresentam demanda significativa de proteção social

especial [...]. (BRASIL, 2009a, p. 45).

Ainda na lógica da PNAS, a assistência social deve ser desenvolvida a partir de

determinados níveis de proteção, definidas enquanto proteção social básica e proteção social

de especial, sendo elas de média complexidade e de alta complexidade.

O CRAS é responsável pela execução de serviços de proteção social básica que tem

como principal foco de atuação a prevenção e é destinada a população que vive em situação

de vulnerabilidade social:

Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social

decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso

aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos

– relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de

gênero ou por deficiências, dentre outras). (BRASIL, 2009a, p. 33).

Conforme previsto na PNAS e descrito no Caderno de Orientações Técnicas

disponibilizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) em 2009, o CRAS deve

ser responsável pela organização e coordenação da rede de serviços sócio assistenciais

existente em sua área de abrangência:

A articulação é o processo pelo qual se cria e mantém conexões entre

diferentes organizações, a partir da compreensão do seu funcionamento,

dinâmicas e papel desempenhado, de modo a coordenar interesses distintos e

fortalecer os que são comuns. A articulação da rede de proteção social

básica, referenciada ao CRAS, consiste no estabelecimento de contatos,

alianças, fluxos de informações e encaminhamentos entre o CRAS e as

demais unidades de proteção social básica do território. (MDS, 2009, p. 21).

23

Desenvolve um trabalho composto por uma atuação e coordenação voltada à

população em situação de vulnerabilidade social, decorrente da pobreza, privação e, ou,

fragilização de vínculos afetivos e sociais;

Para atuar com famílias e indivíduos em todo seu contexto comunitário, a equipe

responsável pela efetivação do trabalho desenvolvido deve estar devidamente capacitada a3:

Executar procedimentos qualificados para escuta individual e em grupo;

Identificar a partir dos pressupostos teóricos, metodológicos, éticos e legais, a

necessidade dos indivíduos e famílias. E assim, prestar orientações e informações pertinentes

a realidade apresentada, às famílias de toda a área de abrangência do CRAS;

Articular a rede com seus serviços e recursos para a realização do atendimento,

encaminhamento e acompanhamento das famílias e indivíduos, possibilitando assim o

desenvolvimento de ações intersetoriais que contribuam para o rompimento do ciclo de

reprodução da exclusão social e evitando que essas famílias tenham seus direitos violados,

recaindo em situações de vulnerabilidade e de riscos sociais;

Articular a rede de proteção social local e manter ativo um serviço de vigilância da

exclusão social, para que seja feito uma produção, sistematização e divulgação de indicadores

da área de abrangência do CRAS;

Promover a inserção das famílias nos serviços de assistência social local;

Desenvolver trabalho em equipe, a partir do atendimento interdisciplinar às famílias

referenciadas no CRAS;

Produzir documentos e relatórios que sejam necessários para a organização e o

aprimoramento do serviço;

E, por fim, desenvolver atividades socioeducativas de apoio, acolhida, reflexão e

participação, visando o fortalecimento familiar e a convivência comunitária.

Para tanto, a composição de uma equipe qualificada, que tenha conhecimento dos

pressupostos do SUAS e que reconheça a Assistência Social enquanto direito social é de

extrema importância para a efetivação da Política de Assistência Social no território nacional.

A NOB/SUAS, inclusive, defende a contratação dos trabalhadores do SUAS por meio

de concurso público, a existência de Planos de Cargos, Carreiras e Salários e o investimento

em qualificação e capacitação do quadro de recursos humanos. O que de fato, quando

efetivado, pode contribuir com a formação continuada destes trabalhadores e assim,

consequentemente, aprimorar a qualidade dos serviços prestados.

3 Com base no Ministério do Desenvolvimento Social. Secretaria Nacional de Assistência Social (MDS). Guia

de Orientação Técnica (2005).

24

Todo este processo normativo que direciona a efetivação da PNAS, a partir da

implantação e implementação do SUAS em nosso país, ainda é algo novo, que necessita

continuamente de aprofundamentos teóricos, como suporte para se praticar no cotidiano

profissional ações que venham colocar em prática sua lógica.

É importante ainda, destacar a escassez de publicações que abordem este processo,

especialmente no que tange à região noroeste paulista, realidade esta que pode qualificar a

realização desta pesquisa como um elemento de suma importância para a construção do

conhecimento acerca da implantação e implementação do SUAS nesta região, além de

proporcionar a disseminação das reflexões construídas a todos que possuem interesse por essa

área de atuação e encontram-se mergulhados na luta pela garantia da Assistência Social

enquanto direito social, que deve ser implementado enquanto política pública em todo o

território nacional.

Percurso Metodológico

Esta pesquisa conta com uma perspectiva metodológica pautada na visão de homem e

de mundo fundamentada nos direcionamentos do Projeto Ético-Político do Serviço Social,

que traz o conhecimento crítico enquanto um caminho essencial para a efetivação dos

princípios e valores deste Projeto Profissional.

Guerra (2009, p. 17) nos apresenta a importância da construção do conhecimento

crítico:

Se o conhecimento crítico é um dos caminhos para a liberdade, autonomia,

competência e compromisso, não se compreende os novos cenários, não se

enfrenta a barbárie social, não se combate a ofensiva neoliberal, não se

estabelece alianças com a sociedade civil organizada, não se alcança novas

legitimidades profissionais, não se efetiva os princípios e valores do projeto

profissional, não se forma profissionais críticos e competentes, sem a

pesquisa científica. Assim, há que se colocar um imperativo para a profissão:

Ousar saber para ousar transformar.

Desta forma, a matriz teórica-metodológica desta pesquisa está pautada na teoria

social crítica, o marxismo. Acreditamos que esta matriz proporciona subsídios para uma

leitura crítica da realidade social e também para uma melhor compreensão a cerca das

relações contraditórias existentes na sociedade capitalista.

25

Considerando que as teorias e a construção do conhecimento fornecem meios para o

entendimento dos fenômenos dados na realidade empírica, acreditamos que há aproximação e

relação entre teoria e realidade.

Portanto, partimos do pressuposto de que a teoria estudada nos fornece subsídios para

melhor compreensão do objeto de estudo aqui proposto.

A relação dialética entre teoria e realidade empírica se expressa no fato de

que a realidade informa a teoria que por sua vez a antecede, permite

percebê-la, formulá-la, dar conta dela, fazendo-a distinta, num processo sem

fim de distanciamento e aproximação. A teoria domina a construção do

conhecimento através de conceitos gerais provenientes do momento

anterior. Seu aprofundamento, de forma crítica, permite desvendar

dimensões não pensadas a respeito da realidade que não é evidente e que

não se dá: ela se revela a partir de interrogações elaboradas no processo de

construção teórica (MINAYO, 2004, p. 92).

Esta pesquisa analisou o processo de implementação do SUAS nos CRAS do noroeste

paulista, mais especificamente, nos municípios de pequeno porte I, referenciados na DRADS

– Fernandópolis, na busca pela efetivação da assistência social enquanto um direito social.

Com esta finalidade, optamos por abordar os profissionais dos CRAS dos municípios

que contemplem as seguintes características:

- Município de Pequeno Porte I

- Município em Gestão Básica;

- Equipe Mínima Completa;

Acreditamos que ao realizarmos este recorte, levando em conta estas características,

teremos maiores elementos para refletirmos sobre as diversas realidades apresentadas, sempre

podendo partir do pressuposto de que todos os CRAS encontram-se no mesmo nível de

gestão, possuindo os mesmos recursos e contando com um quadro de funcionários mínimo,

conforme preconizado por Brasil (2009a) e por Brasil (2009b), o que de certa forma, vem

favorecer o desenvolvimento de um trabalho pautado nos pressupostos do SUAS.

Para tanto, durante o processo de elaboração do projeto de pesquisa, no segundo

semestre do ano de 2012, entramos em contato com a DRADS – Fernandópolis, que nos

forneceu as informações pertinentes para que o projeto pudesse ser estruturado

metodologicamente de acordo com a realidade da região, naquele momento, sendo elas:

A DRADS conta com 49 municípios referenciados, sendo 45 municípios de Pequeno

Porte I, 01 município de Pequeno Porte II e 03 municípios de Médio Porte. No que tange aos

níveis de gestão, recebemos as informações de que 01 município encontrava-se em Gestão

Inicial, 45 em Gestão Básica e 03 em Gestão Plena.

26

Em relação à equipe mínima completa, segundo o levantamento da DRADS, todos os

CRAS implantados atendiam este pressuposto, porém com uma particularidade a ser

destacada: Não são todos funcionários efetivos.

Desta forma, pudemos detectar que um total de 45 CRAS possuíam as características

previamente definidas.

Por ser este um número alto, avaliamos ser de suma importância a realização de um

novo recorte, partindo do pressuposto de que com um número menor de sujeitos envolvidos,

teríamos maiores possibilidades de aprofundar nossas reflexões, o que contribuiria para que

essa pesquisa viesse alcançar seus objetivos de maneira satisfatória, através de resultados que

representem da forma mais fidedigna possível a realidade regional. Para tanto, a partir da

localização geográfica dos municípios referenciados pela DRADS Fernandópolis, elencamos

04 CRAS para comporem o universo de nossa pesquisa. A estratégia utilizada para a escolha

destes municípios se deu a partir da localização geográfica. Dividimos a área geográfica da

DRADS Fernandópolis em quatro partes, e então em cada quadrante optamos por selecionar

aleatoriamente um município (conforme as características já elencadas) para efetuarmos a

nossa pesquisa.

Cabe aqui destacar, que o processo de escolha desses municípios foi desafiante. Para

chegarmos à definição dos municípios em questão, decorreu-se um período de cerca de quatro

meses. Os municípios da região apresentaram resistência em estar participando da pesquisa.

Ressaltamos ainda que, como primeiro passo, entramos em contato com os sujeitos da

pesquisa, realizando uma visita pré-agendada aos CRAS dos municípios da região, para

apresentarmos a proposta da mesma, esclarecendo quanto ao tema, objeto de estudo, os

objetivos, a técnica a ser utilizada, o estabelecimento do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e assim solicitarmos a participação e a colaboração destes para a efetivação do

nosso estudo.

Entretanto, os seis primeiros municípios visitados se recusaram a participar da

pesquisa. As justificativas para a recusa foram diversas, como por exemplo, houve

coordenador que esclareceu não estar desenvolvendo um trabalho pertinente aos pressupostos

do SUAS e portanto não se sentia a vontade para contribuir com a pesquisa, outros

coordenadores afirmaram estar com a equipe incompleta, o que estava dificultando a

realização do trabalho do CRAS e desta forma, preferiam não participar, por fim, outra

justificativa se deu por receio em expor o município, considerando a influência política ainda

presente na área da assistência social e a ausência da autonomia dos profissionais da área para

poderem expor a situação vivenciada.

27

Diante de todas essas situações, expomos aos coordenadores que a proposta da

pesquisa não estava em encontrar o CRAS perfeito, tão pouco em realizar críticas destrutivas

aos profissionais que atuam nos CRAS, mas sim em conhecer o cotidiano de trabalho destes

CRAS e ter subsídios para refletir sobre os desafios diários vivenciados por estes profissionais

na busca pela efetivação da garantia da assistência social enquanto um direito social.

Esclarecemos, ainda, que o SUAS encontra-se em processo de implementação,

processo este, que demanda estudos contínuos para que seja possível alcançar o rompimento

com os resquícios da trajetória da assistência social deste país, marcada pelo não-direito, pelo

clientelismo e pelo espontaneísmo.

Entretanto, respeitamos o posicionamento dos municípios e continuamos a busca pelos

municípios que aceitassem a contribuir com a pesquisa.

Delimitou-se, portanto, entre os CRAS dos municípios de Populina, Macaubal,

Riolândia e Rubinéia, o universo desta pesquisa.

Nesse sentido, podemos afirmar que a seleção desses quatro CRAS, com base na

localização geográfica dos municípios, constituiu-se através de uma amostragem,

considerando que a “[...] amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do

problema investigado em suas múltiplas dimensões.” (MINAYO apud DESLANDES, 2007,

p. 43).

O próximo desafio encontrado esteve em torno da agenda dos municípios.

Pretendemos agendar data e horário conforme disponibilidade dos sujeitos da pesquisa. E,

desta forma, devido à demanda de trabalho, o período para a realização da pesquisa de campo

em todos os quatro municípios, perdurou alguns meses. Realizamos a pesquisa no município

de Populina no dia 10 de abril de 2015, no município de Riolândia no dia 08 de maio de 2015,

no município de Rubinéia no dia 29 de maio de 2015 e por fim, em Macaubal no dia 24 de

junho de 2015.

Recorremos à abordagem qualitativa, uma vez que a mesma nos proporciona a

compreensão de como os sujeitos de nossa pesquisa concebem e experimentam concretamente

a realidade vivenciada no trabalho desenvolvido pelos CRAS através do ponto de vista dos

mesmos em relação ao tema proposto, já que concordamos com Minayo (2007, p. 21), que a

pesquisa qualitativa “[...] trabalha com os significados de uma realidade social a partir da

realidade vivida pelo ser humano.” E ainda, considerando os aspectos qualitativos de uma

pesquisa que:

28

[...] implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição

social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças,

valores e significados. Implica também considerar que o objeto das ciências

sociais é complexo, contraditório, inacabado, e, em permanente

transformação (MINAYO, 2007, p. 23).

A fim de alcançarmos os objetivos apresentados, a metodologia desta pesquisa se

fundamentou na Pesquisa Documental, Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa de Campo.

A Pesquisa Documental, segundo Gil (1991, p. 51):

[...] assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre

ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se

utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre

determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou o que ainda podem ser

reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa.

A pesquisa documental foi pautada no acesso às informações disponibilizadas pela

DRADS – Fernandópolis, referentes a realidade regional, no que tange a política de

Assistência Social e o processo de implantação/implementação do SUAS.

Realizamos ainda, estudo de documentos que contemplem informações pertinentes à

realidade demográfica dos municípios onde se inserem os CRAS em questão, em especial,

recorremos ao Atlas (PNUD; IPEA; FJP, 2013) e aos dados do IBGE.

A Pesquisa Bibliográfica “[...] desenvolvida a partir de material já elaborado,

constituído principalmente de livros e artigos científicos.” (GIL, 1991, p. 48) respaldou o

conhecimento acerca do objeto estudado, constituindo-se na leitura de livros, artigos

científicos, teses de doutorado, dissertações de mestrado, textos e resenhas que abordam a

trajetória da Assistência Social em nosso país, que a analisam enquanto política pública e

discutam o processo de implantação/implementação do SUAS no território brasileiro, além

desses, nos embasamos teoricamente nas leituras de BRASIL (2009a) , BRASIL (2009b),

BRASIL (2011b), entre outros materiais disponibilizados/publicados pelo Ministério do

Desenvolvimento Social (MDS).

Por fim, a Pesquisa de Campo, concebida por Minayo (2004) como a representação

de uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o

objeto da investigação, foi desenvolvida nos CRAS caracterizados anteriormente, a partir da

concordância destes em contribuir com esta pesquisa.

Na realização da pesquisa de campo, utilizamos duas técnicas distintas de pesquisa: a

técnica do Questionário e a técnica do Grupo Focal.

29

Utilizamos primeiramente a técnica do Questionário, que pode ser definido “[...]

como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões

apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças,

sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.” (GIL, 1999, p.128).

Pretendemos a partir desta técnica, abordar os profissionais dos CRAS selecionados

(coordenador, técnicos de nível superior, orientadores sociais e auxiliares administrativos que

prestem atendimento direto ao público) que se propuseram a participarem do grupo focal e

então realizamos o estudo do perfil destes trabalhadores.

Justificamos a importância deste estudo, ao considerarmos que realizamos nossas

reflexões partindo do ponto de vista destes trabalhadores em relação ao SUAS e a garantia da

Assistência Social enquanto direito social, desta forma, conhecermos quem são esses

trabalhadores, suas experiências na área da assistência social, quais são suas formações

profissionais e se encontram-se em processo de formação continuada, pode contribuir

significativamente para nossas reflexões a cerca do processo de implementação do SUAS na

região da DRADS de Fernandópolis.

A técnica do questionário também foi utilizada separadamente com os coordenadores

dos CRAS, e por meio dos dados obtidos através da aplicação deste questionário, realizamos

um estudo do processo de implantação/implementação do SUAS nos municípios

selecionados, com base nas informações da gestão.

Por fim, recorremos à técnica do Grupo Focal “O grupo focal é constituído por um

conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um

tema, que é objeto da pesquisa, a partir de suas experiências pessoais.” (GOMES, S. R.,

2005, p. 41). Almejamos com esta técnica compreender o trabalho desenvolvidos por estes

CRAS, identificar as possibilidades, os desafios e as estratégias utilizadas para a efetivação

dos pressupostos do SUAS e abordar sobre a efetivação da Assistência Social enquanto

Direito, de acordo com o ponto de vista destes trabalhadores.

Foram convidados a participarem do Grupo Focal a equipe do CRAS que realiza

atendimento ao público (coordenador, técnicos de nível superior, orientadores sociais,

auxiliares administrativos, entre outros). Entretanto, devido à demanda de trabalho destes

CRAS, nem toda a equipe pôde participar. Ao longo da caracterização dos sujeitos da

pesquisa, detalharemos sobre os participantes do Grupo Focal.

Para a realização do Grupo Focal, elaboramos um roteiro flexível, que segundo

assinala Gatti, poderá contribuir para motivar as discussões, que serão medidas pela

pesquisadora: “O roteiro elaborado como forma de orientar e estimular a discussão deve ser

30

utilizado com flexibilidade, de modo que ajustes durante o decorrer do trabalho podem ser

feitos com abordagem de tópicos não previstos.” (GATTI, 2005, p. 17).

A técnica do Grupo Focal foi desenvolvida pela pesquisadora, que considerando a

autorização dos entrevistados, utilizou o gravador para efetuar o registro das respostas e

posterior transcrição das mesmas para a realização da análise.

A análise dos dados obtidos na pesquisa de campo foi realizada a partir da criação de

categorias analíticas, uma vez que as categorias agregam “elementos ou aspectos com

características comuns ou que se relacionam entre si”, conforme discute Romeu Gomes

(2007, p. 70).

Assim, as categorias de análise criadas foram:

Categoria de análise I - O cotidiano do CRAS: a porta de entrada para a política de

assistência social;

Categoria de análise II - Principais vulnerabilidades e riscos sociais presentes no

território: Demandas de trabalho;

Categoria de análise III - Os usuários do SUAS e o controle social;

Categoria de análise IV - O trabalho social com famílias;

Categoria de análise V - O trabalho em rede;

Categoria de análise VI - Os caminhos da assistência social: qual a contribuição do

SUAS?;

VII - Assistência Social: Um direito efetivado?

A análise dessas categorias nos proporcionou subsídios para o conhecimento da

realidade vivenciada pelos sujeitos da pesquisa, o que foi possível a partir da expressão de

suas próprias falas.

A presente dissertação está organizada em três capítulos. No primeiro capitulo

apresentamos a trajetória das políticas sociais no Brasil, destacando o sobre o espaço ocupado

pela assistência social ao longo dos anos que antecederam a Constituição Federal de 1988.

Discutimos ainda sobre os avanços constitucionais, detalhando sobre o caminho que vêm

sendo trilhado para que a assistência social se torne um direito efetivado.

No capítulo dois, nos debruçamos à apresentação do universo da pesquisa.

Apresentamos dados pertinentes ao processo de implantação do SUAS nos municípios

referenciados na DRADS de Fernandópolis,, especialmente no que tange ao perfil dos

gestores e das equipes dos CRAS. Discutimos sobre a realidade dos municípios escolhidos

para a realização da pesquisa de campo e por fim, sobre o perfil dos sujeitos desta pesquisa.

31

No terceiro capítulo, trouxemos reflexões sobre o processo de

implantação/implementação do SUAS nos municípios visitados, tomando como ponto de

partida o ponto de vista dos trabalhadores do SUAS, mais especificamente as equipes dos

CRAS, destacando as possibilidades dos trabalhos desenvolvidos e os principais desafios

enfrentados para que a assistência social seja de fato um direito social.

Desta forma concluímos a presente pesquisa, com o desejo de que estas reflexões

possam contribuir com o trabalho daqueles que ainda se arriscam a acreditar nas

possibilidades de luta pela conquista de direitos, que pode se dar, inclusive, nos espaços de

trabalho da política de assistência social.

32

CAPÍTULO 1 HISTÓRICO DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL: UM

DESTAQUE AO LUGAR OCUPADO PELA ASSISTÊNCIA

SOCIAL.

“[...] como não há ruptura definitiva com o passado, a

cada passo este se representa na cena histórica e cobra o

seu preço”. (FERNANDES, 1987 p. 202 apud ORTIZ,

1994, p. 40).

Para compreendermos o desenvolvimento da Política de Assistência Social no Brasil,

é imprescindível pontuar a concepção da qual se parte de política social.

As políticas sociais são criadas como forma de enfrentamento para as manifestações

da questão social, de forma a possibilitar a reprodução do sistema capitalista.

A questão social, aqui entendida como “[...]conjunto de expressões das

desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura.” (IAMAMOTO, 2001,

p. 16), surge primeiramente na Europa em 1830, devido a grandes mudanças econômicas,

sociais e políticas que foram desencadeadas pelo processo de industrialização, a partir das

mobilizações e reivindicações da classe operária e frente ao pauperismo e a miséria

decorrentes da exploração e exclusão social consequentes do capitalismo, que exigiram a

intervenção do Estado e o reconhecimento, por parte deste, de direitos sociais e políticos

para a classe operária.

A questão social se expressa pelo conjunto de desigualdades sociais

engendradas pelas relações sociais constitutivas do capitalismo

contemporâneo. Sua gênese pode ser situada na segunda metade do século

XIX quando os trabalhadores reagem à exploração de seu trabalho. Como

sabemos, no início da Revolução Industrial, especialmente na Inglaterra, mas

também na França vai ocorrer uma pauperização massiva desses primeiros

trabalhadores das concentrações industriais. (YAZBEK, 2008, p. 5)

No Brasil, a questão social nem sempre foi analisada como questão política:

[...] aparece escondida em meio a um processo de industrialização sob um

controle bem-articulado de importadores e empresários vinculados ao

capital estrangeiro. Permanece por várias décadas na ilegalidade; por isso

foi formulada como desordem, criminalizando o sujeito e enfrentada via

aparelhos repressivos do Estado (polícia civil, militar etc.), em resposta a

demanda por segurança. (ARCOVERDE, 2000, p. 76).

33

O próprio ex-presidente brasileiro Washington Luís, costumava afirmar que a

“Questão social é caso de polícia” durante seu governo, de cunho liberal no período de 1926 a

1930, e assim se defendia da postura adotada pelos movimentos sociais, que incomodavam

seu governo.

Apenas alguns anos mais tarde, entendeu-se que o enfrentamento às manifestações

da questão social deveria se dar por meio de intervenção do poder público.

Assim, a questão social passou a ser reconhecida enquanto uma questão política no

Brasil por volta dos anos de 1930, também pelo processo de industrialização, que se iniciou

em 1917, porém num período (100 anos depois da Europa), composto por uma realidade bem

diferente do período presenciado pelos europeus, já que aqui, recentemente, havia acabado a

escravidão (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).

O país vive uma problemática concreta, formada por grandes massas

empobrecidas ainda em consequência da liberação dos escravos e agravadas

pelo intenso êxodo rural, pela forte imigração do início do século, pela

desqualificação e despreparo dos trabalhadores e pelo trabalho precário,

limitado e explorado da época. (MESTRINER, 2008, p. 68).

Originada pelos conflitos existentes na relação capital/trabalho, a questão social se

fazia presente como consequência de ser o Brasil um país de natureza capitalista e suas

manifestações podiam ser notadas em consequência da grande falta de igualdade aqui

presente.

Expressa o processo de “[...] formação e desenvolvimento da classe operária e de seu

ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte

do empresariado e do Estado.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p. 77).

Isso se dá, pois o Brasil contou com um desenvolvimento desigual ao longo de sua

história, e, vive ainda hoje, um modelo econômico capitalista composto por marcas históricas

do momento em que o trabalho escravo foi substituído pelo trabalho livre4.

Pode-se dizer que a questão social se configura em “franjas da sociedade

capitalista”, ou seja, representa aqueles que foram excluídos dentro sistema capitalista.

No que tange à assistência social, Mestriner (2008), afirma que no período da

Primeira República (1989 – 1930) o Estado era um “Estado fraco” que não intervia, e neste

4 Segundo Behring e Boschetti (2007) esta realidade, marcada pela desigualdade, ganhou ênfase com o fim da

escravidão, momento em que o cenário brasileiro se compôs de diversas dificuldades para incluir esses libertos

ao mercado de trabalho. A maior influência deste período escravista, que se faz presente ainda hoje na história

de nosso país, pode ser encontrada nas condições de trabalho aqui existentes, as quais são marcadas pela

desqualificação.

34

caso, as ações de assistência social eram efetivadas por meio da igreja católica, sem qualquer

relação com o Estado republicano, que defendia a ideologia de que o social não era função

pública.

Desta forma, com o reconhecimento da questão social enquanto questão política, o

Estado lentamente passou a pensar sobre o papel que deveria desenvolver frente às

manifestações da questão social: “O Estado se vê na contingência de admitir sua

responsabilidade social para com os mais pobres, o que não estava na agenda liberal que

dominava o pensamento até então.” (MESTRINER, 2008, p. 68).

E assim, passou a pensar em leis, em garantias e na elaboração de políticas sociais

para intervir de forma mais explícita nas relações entre capital x trabalho.

O que se quer destacar, nesta linha argumentativa, é que o capitalismo

monopolista, pelas suas dinâmicas e contradições, cria condições tais que o

Estado por ele capturado, ao buscar legitimação política através do jogo

democrático, é permeável a demandas das classes subalternas, que podem

fazer incidir nele seus interesses e suas reivindicações imediatas. (PAULO

NETTO, 2001, p. 29).

Neste contexto, as políticas sociais tornaram-se o caminho para que a população

pudesse acessar os seus direitos: “[...] a Política Social Pública permite aos cidadãos acessar

recursos, bens e serviços sociais necessários, sob múltiplos aspectos e dimensões da vida:

social, econômico, cultural, político, ambiental entre outros.” (YAZBEK, 2008, p. 6).

Entretanto, a ideologia liberal do período não permitia que o Estado realizasse ações

de proteção social, afinal, “Proteger-se era questão do próprio indivíduo.” (MESTRINER,

2008, p. 69). Assim, os direitos, que estavam atrelados ao trabalho, foram destinados

inicialmente às categorias profissionais importantes para a economia extrativa da época,

pouco restando aos demais trabalhadores.

De acordo com Yazbek (2008), a aprovação da Lei Eloy Chaves em 1923 foi a chave

para a construção do formato da política social no Brasil, tendo sido esta legislação a

precursora de um sistema público de proteção social ao instituir a obrigatoriedade de criação

de Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs) para algumas categorias estratégicas de

trabalhadores, a exemplo dos ferroviários, dos marítimos, entre outras categorias diretamente

ligadas à produção e comercialização do café.

Até então, a economia brasileira girava em torno de uma monocultura de exportação:

O café, que era responsável por cerca de 70% do PIB brasileiro, como explica Behring e

Boschetti:

35

Naquele momento o Brasil tinha uma economia basicamente fundada na

monocultura do café voltada para a exportação – eis aqui a base da nossa

heteronomia, produto responsável por cerca de 70% do PIB nacional. Por

isso os direitos trabalhistas e previdenciários foram reconhecidos para

aquelas categorias de trabalhadores inseridas diretamente nesse processo

de produção e circulação de mercadorias. (BEHRING; BOSCHETTI,

2007, p. 80).

A crise internacional de 1929-1932 trouxe transformações nas correlações de forças

dentro das classes dominantes. Isso aconteceu, pois a partir desta crise que paralisou o

mercado mundial, as oligarquias agroexportadoras cafeeiras tornaram-se frágeis, econômica e

politicamente, abrindo assim espaço para outras oligarquias, que até então estavam fora do

núcleo de poder político, como as oligarquias de gado, açúcar, entre outras (BEHRING;

BOSCHETTI, 2007)

Desta forma, chegou ao poder político, além de outras oligarquias agrárias, também o

setor industrialista, colocando então um ponto final na hegemonia cafeeira.

As mudanças que ocorreram após isso foram um tanto conservadoras, pois mesmo

com a existência de perspectivas de se obter um crescimento econômico – agora impulsionado

por diversas oligarquias agrárias e também pela indústria – por outro lado ficaram pendentes

ações que contribuíssem para a regulamentação do trabalho e a criação de meios de

enfrentamento para as manifestações da questão social.

Yazbek (2008) afirma que foi na primeira metade dos anos de 1930 que a questão

social se legitimou no Brasil, o que se deu a partir do desenvolvimento e organização da

classe operária e o do reconhecimento desta classe por parte do Estado e do setor empresarial.

Este reconhecimento impulsionou a ampliação da abordagem pública para com a questão

social, favorecendo a criação de novos mecanismos de intervenções nas relações sociais.

Ao reconhecer a “questão social”, o governo Vargas faz seu enquadramento

jurídico, intervindo no domínio das relações entre capital e trabalho. A

compreensão da natureza específica desta “questão” será colocada no

discurso governamental como dever do Estado nacional, que reconhece a sua

função de velar pelo bem-estar da sociedade e de proteger os mais fracos,

propiciando-lhes uma situação mais digna e humana (é claro de forma

ocasional e não universal). (YAZBEK, 2008, p. 74)

Conforme discute Couto et al. (2010), Getúlio Vargas, ao longo de seu mandato

presidencial (1930 a 1937) efetuou uma política de governo direcionada a organizar as

relações entre capital e trabalho e para isso criou logo no início do seu governo, em 1930 o

36

Ministério de Trabalho, com o objetivo de harmonizar as relações que envolvem o trabalho

substituindo o conceito de Luta de Classes pelo de Conciliação.

Neste período, através do Decreto 19.770, de 19 de março de 1931, foram instituídas

as condições para a formalização dos Sindicatos, os quais precisariam então da aprovação do

Ministério do Trabalho para funcionar.

Com o surgimento dos movimentos operários em 1935, Vargas passou a tomar

iniciativas políticas, investindo na formulação de legislações que pudessem regulamentar as

relações de trabalho no país e impulsionando a Construção do Estado Social (que mesmo

sendo inspirado em modelos internacionais, possuía mediações de características próprias).

Entretanto, de acordo com Yasbek (2008), o Brasil não chegou a alcançar a institucionalidade

de um Estado de Bem Estar Social.

Cabe aqui ressaltar, com base nos apontamentos de Couto et al. (2010), que o que

houve na verdade foi uma proposta de um Estado Social autoritário, que buscou se legitimar a

partir da efetivação de medidas e de benefícios de cunho regulatório e assistencialistas.

Assim, reconhecer a “questão social” e o direito à proteção social,

desatrelada do referencial “trabalho”, é quase impossível no pensamento

liberal. Ele é o eixo divisor e agregador, fazendo com que a matriz do

pensamento da assistência social, vista como amparo social privado, fique

imiscuída nesse modo de pensar. A persistência do componente liberal fará

com que se determine o equacionamento da assistência social, sempre tendo

como referência, de um lado, o trabalho e, de outro, o princípio da

subsidiariedade, que desresponsabiliza e libera o Estado dessa intervenção.

(MESTRINER, 2008, p. 73).

Seguiu-se a lógica do Seguro Social, e desta forma o acesso aos benefícios estava

atrelado à posição ocupacional, o que acabou privilegiando apenas os trabalhadores urbanos

com vínculo ao mercado formal de trabalho.

O trabalho, antes forma de escravidão, será enfocado no novo discurso

oficial como valor social. Passa a ser um direito e um dever do homem, uma

tarefa moral e um ato de realização, uma obrigação para com a sociedade e o

Estado e uma necessidade do próprio indivíduo. [...] Por meio dele o homem

conseguirá posição na sociedade e relacionamento com o Estado. E mais,

diferentemente do regime político anterior, pelo trabalho, a classe operária

será chamada a participar da emancipação econômica e dos destinos do país.

E, nesta ótica, o não trabalhador será estigmatizado e colocado como pária

do sistema, como não cidadão. (MESTRINER, 2008, p. 75).

A Constituição Federal de 1937 trouxe a necessidade do reconhecimento, por parte

do Estado, das categorias de trabalhadores – e também na criação da Consolidação das Leis

37

Trabalhistas (CLT), promulgada em 1943: “Estava, então, desenhada a arquitetura formal-

legal da relação do Estado com a sociedade civil, e que marcou profundamente o período

subseqüente de expansão fragmentada e seletiva das políticas sociais que segue até 1964.”

(BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 108).

A Constituição de 1937, inclusive, abordava em seu artigo 136º, o trabalho enquanto

um dever de todos, tratando o não-trabalho como um crime. Desta forma, o Estado de

posicionou de forma punitiva, defendendo que aquele não trabalhava não merecia nenhuma

atenção do governo.

Partindo desta lógica, o Estado incentiva práticas marginais de atenção, baseadas na

lógica do clientelismo e do favor. Assim, a assistência social se afasta de qualquer

possibilidade de ser efetivada enquanto um direito e enquanto uma ação de proteção social e

passa a receber cada vez mais o incentivo para ser realizada por meio de benesses particulares

(MESTRINER, 2008).

Transformando as provisões que deveriam ser estatais em benesses

particulares, rebaixa a possibilidade e a qualidade desta atenção paralela que,

sempre insuficiente e precária, molda a cultura de que “para pobre basta

qualquer coisa pobre”. (MESTRINER, 2008, p. 107).

Neste contexto, o governo cria o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), e

desta forma, além de incentivar a benemerência e a solidariedade, torna-se responsável por

ela, por meio de regulações específicas que controlavam as subvenções destinadas à

filantropia privada.

1.1 A Criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e da Legião Brasileira de

Assistência Social (LBA): Os primeiros passos para a presença da assistência social

nas intervenções do Estado

Por meio do Decreto-lei n. 525 de 01/07/1938, instituiu-se o Conselho Nacional de

Serviço Social (CNSS), com o intuito de controlar as ações da assistência social e romper com

o espontaneísmo. Pela primeira vez, de acordo com Sposati (1988, p. 107), introduziu-se “[...]

uma organização nacional e um saber no processo de ajuda [...].”

O CNSS, que passou a funcionar em parceria com o Ministério da Educação e Saúde,

tornou-se o responsável pela avaliação e decisão na concessão de auxílios e subvenções às

organizações da sociedade civil:

38

[...] formado por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica e

substituindo o governante na decisão quanto às quais organizações auxiliar.

Transita, pois, nessa decisão, o gesto benemérito do governante por uma

racionalidade nova, que não chega a ser tipicamente estatal, visto que atribui

ao Conselho certa autonomia. Nesse momento, selam-se as relações entre o

Estado e segmentos da elite: homens (e senhoras) bons, como no hábito

colonial e do império, vão avaliar o mérito do Estado em conceder auxílios e

subvenções a organizações da sociedade civil. (MESTRINER, 2008, p. 58).

Mestriner (2008), ao recorrer a trechos de Atas do CNSS, traz algumas reflexões

acerca do funcionamento do Conselho, como por exemplo, o fato da utilização do termo

“amparo social” ao tratarem da assistência social, o que, segundo a autora, caracteriza a visão

de benemerência em relação às ações da assistência social.

Outra questão levantada pela autora está em torno do nome do Conselho: de “Serviço

Social” e não de “Assistência Social”, o que pode ser compreendido ao levarmos em

consideração uma possível relação com a área profissional de Serviço Social, emergente no

país naquele período. Entretanto, Mestriner (2008) expressa surpresa ao fato da não existir

nenhum assistente social em sua composição, destacando, ainda, uma possível negação à

assistência social por parte do serviço social:

[...] pela documentação disponível, não se percebe novas menções do CNSS

na histografia do Serviço Social, criado no momento do primeiro curso de

serviço social e com o qual parece não ter estabelecido nenhuma relação.

Pode ser que a atitude de negação da assistência social, típica do serviço

social por muitos anos, originou-se com o próprio surgimento da profissão.

(MESTRINER, 2008, p. 66).

Sposati et al. (2014), esclareceu que devido ao esforço de teorização do Serviço

Social, que lhe atribuiu cientificidade, uma dicotomia entre assistência social e as perspectivas

orientadoras das ações do Serviço Social foram instauradas.

São chamadas de assistência social as atividades de pronto-socorro, ou seja,

as de ajuda material ou financeira destinadas às populações com problemas

agudos de subsistência, em geral procedidas por voluntários ou auxiliares

sociais. Tais atividades passam a ser relegadas pelos profissionais do Serviço

Social, tanto pelo seu caráter paliativo e clientelístico, quanto pelas

limitações que traziam à afirmação do assistente social como profissional no

quadro institucional. (SPOSATI et al. 2014, p. 68).

Cabe destacar que nesse período a assistência social não era considerada uma política

social. Ao Estado cabia somente a responsabilidade de subsidiar as instituições privadas com

função de amparo social.

39

O CNSS foi, portanto, a primeira forma de presença da assistência social na

burocracia do Estado republicano brasileiro, ainda que na função subsidiária

de subvenção às organizações sociais que prestam amparo social. Assim,

atuou como uma forma pautada na ajuda ao setor privado, sem relação direta

com a população. (MESTRINER, 2008, p. 66-67).

Apesar de inovar com a instalação do CNSS em 1938, Vargas na verdade não traz a

responsabilidade para o setor público, pelo contrário, incentiva o amparo social privado e de

cunho filantrópico e considera a proteção social do âmbito privado e não público, reforçando

desta forma os mecanismos de clientelismo político.

De acordo com Behring e Boschetti (2007), que caracteriza o período entre 1930 –

1943, como sendo a introdução da Política Social no Brasil, a assistência começa a ter

características centralizadas, em âmbito federal, a partir de 1942, com a criação da Legião

Brasileira de Assistência (LBA).

Em 1942, buscando legitimidade junto à população pobre, o governo criou a

Legião Brasileira de Assistência (LBA), com o objetivo de assistir,

primeiramente, às famílias dos pracinhas que foram para a Guerra e logo

depois estender o seu trabalho à população pobre, principalmente com

programas na área materno-infantil. (COUTO et al., 2010, p. 103).

Com a criação da LBA, Vargas funda em nosso país o atrelamento do social às

intervenções do primeiro-damismo na figura de Darci Vargas e institui em nosso país uma

cultura que permanece presente ainda nos dias atuais.

A LBA representou o braço assistencialista do governo, que centrou na

figura da primeira-dama Darcy Vargas a coordenação da instituição. Este

traço clientelista e vinculado a benemerência apresentou-se persistente por

muitos anos na política assistencial brasileira. (COUTO et al., 2010, p. 103).

Desta forma, o papel do Estado passa a ser assumido por meio das ações das

organizações filantrópicas e através da “bondade” da primeira-dama. O governo passa a

incentivar, dentro do principio da subsidiariedade, o voluntariado, especialmente o feminino,

por meio das amigas da esposa do governante.

Outro aliado importante do governo neste período foi a Igreja Católica, por meio de

um “projeto de cristianização” da sociedade:

Segundo este projeto, a tarefa de recristianização deverá se dar pela redução

das distancias sociais, harmonização das classes em conflito, restabelecendo

entre elas relações de cooperação. Para tanto deverá livrar o proletariado de

lideranças negativas e ordenar as relações de produção a partir da

40

restauração “dos costumes cristãos”, que impeçam as explorações e a

ambição excessiva por riqueza. (MESTRINER, 2008, p. 109).

Nesse sentido à assistência social, destinou-se o papel de praticar o ajustamento

social, por meio da harmonização das classes em conflito e do incentivo aos hábitos de

trabalho. “A assistência social passa a servir de freio ao operariado, reforçando, nesse sentido,

a conduta de controle governamental.” (MESTRINER, 2008, p. 111).

Em 1945, Getúlio Vargas cai, neste período, segundo Behring e Boschetti (2007),

ocorrem diversas turbulências econômicas, sociais e políticas. O Brasil estava mais

urbanizado, e possuía um movimento popular e operário mais concentrado, com diversas

reivindicações a serem feitas.

A situação internacional, abalada pela Segunda Guerra Mundial, as novas

composições de poder, o movimento pela Constituinte, principalmente,

fazem ampliar as atividades políticas e sociais, criando uma cultura urbana

diferente e autenticamente nacional, fortalecendo, inclusive, as organizações

políticas de esquerda. Desta forma em 29 de outubro de 1945 Getúlio Vargas

é deposto por uma composição civil militar. (MESTRINER, 2008, p. 115).

O Presidente General Eurico Gaspar Dutra institui uma nova forma de relação com a

nação e promulga uma nova Constituição Federal em 1946, entretanto não leva o Estado a

atuar fortemente no setor econômico. Dutra admite a responsabilidade social do Estado e

direciona as ações, na área social, para a criação de macroorganismos sociais justificando que:

“Não bastam as organizações de benemerência e ação voluntária do primeiro-damismo. É

preciso um novo aparato social aliançado com a elite industrial emergente.” (MESTRINER,

2008, p. 117). Afinal, o Estado já havia consolidado a burguesia nacional, e então, neste

momento a burguesia tinha o dever de se apropriar também do social.

Desta forma, já no início do Governo de Dutra em 1946, O Serviço Nacional de

Aprendizagem do Comércio (SENAC), o Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço

Social da Indústria (SESI) são criados com o objetivo de ofertar programas e projetos de

execução direta. Entretanto, conforme Mestriner (2008), não foi estabelecida uma política para

a área social ou para a filantropia, tão pouco se esclareceu a concepção de assistência social.

A assistência adquire, no discurso governamental, nova amplitude. Além dos

programas de pronto-socorro social, destinados aos hipossuficientes

economicamente, abarcará a prestação de serviços sociais básicos. [...] Estas

atividades destinavam-se a romper o ciclo de dependência e provocar a

integração de indivíduos e grupos no mercado de trabalho e a sociedade

vigente, com a subjacente promessa de ascensão socioeconômica.

41

Expandem-se a partir daí os programas de alfabetização de adultos,

formação de mão-de-obra, formação social e desenvolvimento comunitário.

(SPOSATI et al., 2014 p. 69).

A política social teve uma expansão lenta e seletiva nos próximos anos, devido ao

período composto por instabilidades institucionais, decorrentes do suicídio de Vargas (1954),

da renúncia de Jânio Quadros (1961) e até mesmo do Golpe Militar (1964), o que acabou

dificultando a criação de um projeto nacional que pensasse e repensasse a política social em

sua totalidade, deixando, então, um período composto por lentas expansões de direitos, os

quais continuaram no formato corporativista e fragmentado do governo de Vargas.

(BEHRING; BOSCHETTI, 2007).

Em meio à Ditadura Militar, ocorria no Brasil o “Fordismo à brasileira”, através do

conhecido Milagre Brasileiro, momento em que se expande no país a produção em massa de

eletrodomésticos e de automóveis para o consumo também em massa. A política social, por

sua vez, também se expandia, porém, conduzida de maneira tecnocrática e conservadora.

Conforme Behring e Boschetti (2007), ao mesmo tempo em que as políticas públicas,

apesar de restritas, eram impulsionadas, a ditadura também abria espaço para a educação,

saúde e previdências privadas, trazendo a dualidade no sistema de acesso, que se dividia entre

quem podia e quem não podia pagar pelos serviços.

A partir de 1974, o projeto tecnocrático conservador do regime militar começa a se

esgotar em decorrência dos impactos da economia internacional, ocasionado pelo

endividamento externo, que após o curto período do milagre brasileiro se transformou numa

grande crise econômica.

Na década de 1980, o regime começa a se abrir lentamente, dando espaço para uma

transição lenta em direção à conquista da democracia, o que foi possível a partir da população,

da sociedade:

Foi uma década pródiga em movimentos sociais e em participação da

sociedade, organizando-se, por meio de entidades, organizações não

governamentais (ONGs) e sindicatos, para participarem do movimento pré-

Constituinte, bem como para denunciar o descumprimento das propostas por

parte do governo. Tanto que “os anos 80 foram marcados por uma notável

dinâmica associativa e organizativa que alterou o cenário político do país e

introduziu fissuras importantes no pesado legado autoritário brasileiro.

(COUTO, 2010, p. 137)

Esta organização da sociedade contribuiu para a construção de uma nova

Constituição, que pela primeira vez em nosso país, contou com a participação popular em sua

42

formulação. Desta forma em 05 de Outubro de 1988, ocorreu um marco para as políticas

sociais, que se deu com a promulgação da Constituição Federal do Brasil, a “Constituição

Cidadã” de 1988.

1.2 A Assistência Social sob a Ótica do Direito: O Caminho que está sendo trilhado na

Busca por sua Efetivação Enquanto Política Pública.

“A assistência social é uma velha prática, mas jovem política.”

(CARVALHO, 2006, p. 124).

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o

exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o

bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores

supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,

fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e

internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob

a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL.” (BRASIL, 1988).

Em 1988, com a finalidade de se constituir um Estado Democrático, pautado nas

garantias dos direitos sociais e individuais, e tendo como valores supremos a liberdade, a

igualdade e a justiça social, foi promulgada uma nova Constituição em nosso país.

No que tange aos seus princípios fundamentais, a Constituição Federal de 1988

destaca logo em seu primeiro artigo, o princípio da Dignidade da Pessoa Humana e o

princípio da Cidadania, entre outros.

Segundo Pereira (2001), este artigo contribuiu para que os Direitos Fundamentais

ganhassem maior relevância ao longo do texto Constituinte, visto que a pessoa humana

passou a ser tratada como um valor primordial.

A Constituição Federal, também conhecida como Constituição Cidadã, representou

um grande marco para as políticas públicas no Brasil, dando início a um processo de

mudanças e de avanços na questão dos direitos, principalmente os direitos sociais, os quais

foram elencados em seu Artigo 6º:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,

a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição. (BRASIL, 1988).

43

Ao compreender que a Constituição Federal avança em relação aos direitos sociais, é

importante considerar que todas estas conquistas só foram possíveis a partir de embates

políticos e também por ações realizadas por protagonistas sociais na busca pela efetivação dos

atendimentos de suas necessidades e demandas.

Os direitos do homem são direitos históricos, que emergem gradualmente

das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das

transformações das condições de vida que essas lutas reproduzem [...]

enquanto direitos históricos, eles são mutáveis, ou seja, suscetíveis de

transformação e de ampliação. (BOBBIO, 1992, p. 36).

Desta forma é possível destacar que os direitos não são dádivas, tampouco (desculpa,

corrigi errado da última vez) concessões ou doações de poderosos, mas sim respostas

estratégicas utilizadas por estes, frente às novas circunstâncias histórico-sociais, conforme

explica Nogueira:

Os direitos, porém, não são uma dádiva, nem uma concessão. Foram

‘arrancados’ por lutas e operações políticas complexas. [...] não são uma

doação dos poderosos, mas um recurso com o qual os poderosos se adaptam

às novas circunstâncias histórico-sociais, dobrando-se com isso,

contraditoriamente, às exigências e pressões em favor de mais vida

civilizada. (NOGUEIRA, 2004, p. 2).

Nesse sentido, os Direitos se constituem enquanto produto das lutas sociais entre a

população e o poder, na busca pelo reconhecimento legal das necessidades sociais.

[...] a questão dos direitos espelha o mundo em que vivemos, com suas

injustiças, suas desigualdades, seus dilemas e suas contradições. A luta por

direitos, quando devidamente politizada nos coloca de novo, o tempo todo,

no olho do furacão, ou seja, no terreno dos conflitos, das lutas sociais, e

acaba por nos animar a brigar por uma ordem social justa, sem miséria, sem

exclusões e sem desigualdades (NOGUEIRA, 2004, p. 11-12).

Pereira (2008) destaca a importância da mobilização social diante de todas estas

conquistas, uma vez que proporcionou a possibilidade da criação desta nova Constituição, que

foi formulada com o objetivo de viabilizar a cidadania e o bem-estar a todos os cidadãos

através da garantia do atendimento de suas necessidades básicas para uma vida digna:

[...] graças à mobilização da sociedade, as políticas sociais tornaram-se

centrais, nessa década, na agenda de reformas institucionais que culminou

com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nesta Constituição, a

reformulação formal do sistema de proteção social incorporou valores e

44

critérios que, não obstante antigos no estrangeiro, soaram, no Brasil como

inovação semântica, conceitual e política. Os conceitos de “direitos sociais”,

“seguridade social”, “universalização”, “equidade”, “descentralização

político-administrativa”, “controle democrático”, “mínimos sociais”, dentre

outros, passaram, de fato, a constituir categorias-chaves norteadoras da

constituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país.

(PEREIRA, 2008, p. 152).

Abre-se, então, espaço para a construção de um sistema de proteção social nunca visto

até então em nosso país:

[...] a Constituição de 1988 apontava para a construção – pela primeira vez

assim posta na história brasileira – de uma espécie de Estado de bem-estar

social: Não é por acaso que, no texto constitucional, de forma inédita em

nossa lei máxima, consagram-se explicitamente, como tais e para além de

direitos civis e políticos, os direitos sociais (coroamento, como se sabe, da

cidadania moderna). Com isto, colocava-se o arcabouço jurídico-político

para implantar, na sociedade brasileira, uma política social compatível com

as exigências de justiça social, equidade e universalidade. (PAULO NETTO,

1999, p. 77)

A esse respeito, Boschetti e Salvador (2009, p. 52), afirmam que:

As reivindicações e pressões organizadas pelos trabalhadores na década de

1980, em período de redemocratização no país, provocam a incorporação,

pela Constituição Federal (CF), de muitas demandas sociais de expansão dos

direitos sociais e políticos. Um dos maiores avanços dessa Constituição, em

termos de política social, foi a adoção do conceito de seguridade social,

englobando em um mesmo sistema as políticas de saúde, previdência e

assistência social. [...].

Assim, foi estabelecida a concepção de seguridade social:

Art.194 º. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações

de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a

seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante

gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos

empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

(BRASIL, 1988).

45

O sistema de Seguridade Social, que por definição constitucional é integrada pelas

políticas de Saúde, Previdência Social e Assistência Social, expressa as necessidades

prioritárias de nosso país. Este sistema é uma segurança de que o risco que o indivíduo venha

correr não seja apenas um problema individual, mas sim responsabilidade do Estado. Cabe

aqui destacar que todos os demais direitos previstos na Constituição Federal são de

responsabilidade estatal, no entanto, a seguridade torna-se prioritária.

A seguridade social surge sob a primazia da responsabilidade do Estado, com o

objetivo de dar um sentido amplo à área social, a partir da ampliação dos direitos sociais.

Estabelece a Saúde enquanto universal, sendo direito de todos e dever do Estado; a

Previdência Social enquanto sistema de proteção ao trabalhador e sua família, por meio de

prévia contribuição do trabalhador e de toda sociedade, sendo de caráter redistributivo sob

garantia do Estado; e, a Assistência Social como dever do Estado, devendo ser prestada a

quem dela necessitar, sem necessidade de prévia contribuição.

Assim, é possível afirmar que a política de seguridade social proposta tem

como concepção um sistema de proteção integral do cidadão, protegendo-o

quando no exercício de sua vida laboral, na falta dela, na velhice e nos

diferentes imprevistos que a vida lhe apresenta, tendo para a cobertura

ações contributivas para com a política previdenciária e ações não

contributivas para com a política de saúde e de assistência social. (COUTO

et al. 2010, p. 159).

Em relação à Assistência Social, o tema central deste estudo, há muito a que se

destacar, uma vez que a Constituição Federal abriu as portas para a possibilidade de sua

efetivação enquanto política pública e proporcionou aparato legal para o rompimento com o

assistencialismo tão presente até então nas ações da assistência social no Brasil.

Inserida no campo dos direitos, da universalização dos acessos e da

responsabilidade estatal, iniciando um processo que tem como horizonte

torná-la visível como política pública e direito dos que dela necessitarem.

Sem dúvidas um avanço. Ao permitir que a assistência social, assim posta,

transite do assistencialismo clientelista para o campo da Política Social.

Como política de Estado, passa a ser campo de defesa e atenção dos

interesses dos segmentos mais empobrecidos da sociedade. (YAZBEK,

1995, p. 10).

A inclusão da Assistência Social no sistema de Seguridade Social demarca o início

de um percurso em busca da efetivação da implementação dos direitos, da universalização dos

acessos e da responsabilidade estatal:

46

[...] configura-se como possibilidade de reconhecimento público da

legitimidade das demandas de seus usuários, espaço de seu protagonismo e

exige que as provisões assistenciais sejam prioritariamente pensadas no

âmbito das garantias de cidadania sob vigilância do Estado, cabendo a este

a universalização da cobertura e garantia de direitos e de acesso para os

serviços, programas e projetos sob sua responsabilidade. (BRASIL, 2008,

p. 95).

Porém, um ponto importante a ser discutido encontra-se na dicotomia existente entre

o anúncio do Direito e a sua materialização, uma vez que a existência de garantias legais na

Carta Magna e até mesmo a criação de um Sistema de Seguridade Social não podem ser

considerados suficientes para podermos afirmar que em nosso país todo o cidadão tem os seus

direitos sociais garantidos, assim como a concretização da garantia da dignidade da pessoa

humana.

O instrumento legal, por si só, não dá conta de impor o novo nessa relação.

Esse novo é estabilizado pelo movimento social, pelas reivindicações dos

trabalhadores, pela presença das classes subalternas na luta por verem

reconhecidos seus interesses. Esse novo o tempo todo está se debatendo com

o velho. (COUTO, 2010, p. 57).

Este contexto, onde o novo debate-se com o velho, pode ser compreendido ao

retomarmos as bases históricas da assistência social no âmbito da sociedade capitalista. A

assistência social sempre encontrou resistência para se legitimar enquanto um direito social,

por estar em constante conflito com as formas capitalistas da organização do trabalho.

É muito antiga, tensa e não resolvida a relação entre o (não) trabalho e a assistência

social enquanto política pública. Ivanete Boschetti, ao refletir sobre os limites à efetivação do

direito à assistência social, nos apresenta que as primeiras expressões desta relação

conflituosa se deram no século XVII com a Lei dos Pobres.

A primeira, Lei dos Pobres, instituída em 1662, caracterizava uma clara

oposição entre trabalho e assistência. A assistência era garantida mediante

dois critérios: domicílio e incapacidade ao trabalho. Como mostra Polanyi,

(1980, p.90), sob esta lei, “os pobres eram forçados a trabalhar com qualquer

salário que pudessem conseguir e somente aqueles que não conseguiam

trabalho tinham direito a assistência social; nunca se pretendeu e nem se

concedeu qualquer assistência sob a forma de abono salarial”. O princípio

fundante desta lei era estimular o trabalho como fonte de renda.

(FERREIRA, 1999 p. 67, grifo do autor).

47

A assistência social tinha como lógica induzir o trabalhador a se manter por meio do

próprio trabalho, não se discutia sobre as condições de trabalho, nem mesmo sobre

remuneração, a ideia que prevalecia era a de que o trabalho deveria ser a fonte de renda.

A relação conflituosa entre trabalho e assistência, que se expressou por meio da Lei

dos Pobres, teve outro momento importante a partir da Lei de Speenhamland, criada na

Inglaterra, no século XVIII:

A [...] Lei de Speenhamland, instituída em 1795, ao contrário da Lei dos

Pobres, é tida como uma medida assistencial de proteção ao trabalho, ou

mais precisamente à forma de organização tradicional de trabalho. A lei

garantia um sistema de abonos, em complementação aos salários, cujo valor

baseava-se no preço do pão. (FERREIRA, 1999, p. 68, grifo do autor).

Esta lei apresentava diferenças importantes em relação à Lei dos Pobres, pois garantia

a assistência aos trabalhadores, independente das condições de moradia ou de incapacidade,

sendo “[...] considerada como a primeira iniciativa de estabelecimento legal de uma política

assistencial garantidora de um sistema de abono salarial para trabalhadores, ou o que se

denominaria hoje de renda mínima.” (FERREIRA, 1999, p. 68, grifo do autor).

De acordo com a autora, o sistema de abonos instituído pela Lei de Speenhamland,

que assegurava uma renda mínima “[...] introduziu uma inovação social e econômica que

nada mais era que o ‘direito de viver’ e, até ser abolida, em 1834, ela impediu efetivamente o

estabelecimento de um mercado de trabalho competitivo.” (FERREIRA, 1999, p. 68, grifo do

autor).

Esta segurança do “direito de viver”, marcava a primeira medida de proteção à vida

por meio dos cofres públicos, porém, estava na contra mão dos pilares do Liberalismo:

Afinal, por que alguém trabalharia por um salário se pudesse viver da

assistência? Essa pergunta sustentou um dos principais pilares do

liberalismo: o princípio moral de que assistência estimula o ócio, a preguiça

e desestimula o trabalho, devendo ser abolida, ou garantida apenas para os

pobres incapazes de manter sua sobrevivência pelo trabalho: crianças, idosos

e deficientes. (FERREIRA, 1999, p. 68).

Assim, a revogação da Lei de Speenhamland em 1834, determinou o predomínio da

lógica liberal, que apresentava o trabalho como exclusiva fonte de renda, deixando sob

responsabilidade da filantropia, todas as ações de assistência aos pobres.

Ferreira (1999) nos apresenta que estes foram os princípios que nortearam a criação

das políticas sociais nos países capitalistas a partir do final do século XIX, tendo sido também

48

incorporado pelo Sistema de Seguridade Social brasileiro, especialmente no que tange às

políticas de previdência e assistência social:

É consenso que a seguridade social fundamenta-se em duas lógicas de

proteção social – assistência e seguros sociais –, ou o que poderíamos

denominar de complexo previdenciário-assistencial. Em relação aos

benefícios que garantem complementação e/ou substituição de renda, este

complexo estabelece uma clivagem entre os trabalhadores considerados

como capazes e/ou aptos ao trabalho e os cidadãos incapacitados de exercer

um trabalho: crianças, pessoas idosas e portadores de deficiência.

(FERREIRA, 1999, p. 68).

Outro ponto importante a ser discutido, ao refletirmos sobre a efetividade do sistema

de seguridade social pode ser pautado nos pensamentos de Vianna (1998), que discute a

efetividade da seguridade social em nosso país, ressaltando que este sistema, mesmo

instituído pela Constituição Federal enquanto um conjunto integrado de ações do Estado e da

Sociedade, foi regulamentado por legislações específicas e em momentos distintos para cada

uma das áreas que a constituem.

Desta forma, surgiram legislações que criaram caminhos específicos para cada uma

das áreas, segmentando o tripé da seguridade social composto pela Saúde, Assistência Social

e Previdência Social, do ponto de vista da estrutura administrativa, dificultando, portanto, a

efetivação concreta de um sistema de Seguridade Social no Brasil.

Não garantiu a efetivação concreta de um sistema de Seguridade Social [...].

Progressivamente, efetivou-se a segmentação das áreas [...] e do ponto de

vista da estrutura administrativa, portanto, a seguridade não tem existência

formal. Pode-se também afirmar sua inexistência formal do ponto de vista do

financiamento. (VIANNA, 1998, p. 142 apud BOSCHETTI, 2009, p. 10).

Então, a proposta inicial da Seguridade Social, de redirecionar as políticas de saúde,

previdência e assistência de forma articulada com predomínio da lógica social não aconteceu:

Ao contrário, caminhou na direção do fortalecimento da lógica do contrato, o

que levou Vianna (1998) a caracterizá-la como “americanização perversa”,

visto que, em sua análise, o sistema público foi se “‘especializando’ cada vez

mais no (mau) atendimento dos muito pobres”, ao mesmo tempo em que “o

mercado de serviços médicos, assim como o de previdência, conquista

adeptos entre a classe média e o operariado” (VIANNA, 1998, p. 142 apud

BOSCHETTI, 2009, p. 10).

49

Viana (1998) acredita em uma “americanização (perversa) da Seguridade Social”,

destacando que o país incorporou padrões norte-americanos de Proteção Social:

Algumas das características sociais e políticas que nos EUA impedem

arranjos neocorporativos [...] estão claramente presentes no Brasil. O regime

presidencialista com seus conflitos latentes entre Executivo e Legislativo, a

estrutura partidária fraca e pouco enraizada na sociedade, entidades de

representações de grupos sociais segmentadas, com baixa capacidade de

interlocução, e uma disseminada cultura do privatismo, por exemplo, se

alinham como prováveis componentes de um quadro análogo ao americano,

e, pois, bastante favorável à prática lobista. (VIANNA, 1998, p. 107)

Nesse sentido, Vianna (1998, p. 111) discute sobre a chamada “crise” do Sistema de

Proteção Social no Brasil, destacando a importância de nos atentarmos a sua origem:

[...] no fato de sua orientação legal ser inspirada no chamado modelo

socialdemocrata, de caráter mais universalista, e sua vertente pragmática, ao

contrário, seguir uma tendência mais liberal, de origem norte-americana, que

estimula os indivíduos a se auto protegerem.

Desta forma, podemos compreender que à medida que o Sistema de Proteção Social

brasileiro segue a tendência norte-americana, acaba se distanciando do modelo de Walfare

State europeu:

A americanização mencionada supõe que as provisões públicas fiquem para

os pobres, e que o mercado se encarregue da oferta de proteção aos que

dispõe de alguma renda para compra-la. É a face privatista e liberalizante de

uma opção econômica e política que impõe a um desenho universalista um

perfil seletivo e escorchante. (VIANNA, 1988, p. 111).

Os desafios para a efetivação do Sistema de Seguridade Social brasileiro também

podem ser compreendidos ao analisarmos o contexto socioeconômico vivenciado pelo Brasil

no período da Promulgação da Constituição Federal vigente, marcado pela inserção do

modelo neoliberal:

[...] inclui (por definição) a informalidade no trabalho, o desemprego, a

desproteção trabalhista e, consequentemente, uma “nova” pobreza. Ao

contrário, portanto, do que se afirma, a reprodução em condições críticas de

grandes parcelas da população faz parte do modelo, não impedindo a

reprodução do capital. (SOARES, 2002, p.12).

50

Evidenciando, desta forma, uma profunda incompatibilidade entre ajustes estruturais

da economia e investimentos sociais do Estado, conforme discute Couto et al. (2010, p.34):

Pois, se por um lado os avanços constitucionais apontam para o

reconhecimento dos direitos e permitem trazer para a esfera pública a

questão da pobreza e da desigualdade social, transformando

constitucionalmente esta política social em campo de exercício de

participação popular, por outro, a inserção do Estado brasileiro na

contraditória dinâmica e impacto das políticas econômicas neoliberais coloca

em andamento processos desarticuladores, de desmontagem e retração de

direitos e investimentos no campo social.

O Governo Collor, dando início ao projeto neoliberal no Brasil no início dos anos de

1990, realizou suas ações com base nas orientações dos organismos internacionais, entre estes

o Consenso de Washington5 que objetivava ações que limitassem a intervenção do Estado e

obstruíssem a efetivação dos novos direitos sociais:

Ou seja, é na “contra mão” das transformações que ocorrem na ordem

econômica internacional, tensionado pela consolidação do modelo

neoliberal, [...] com a sua direção privatizadora e focalizadora das políticas

sociais [...] que devemos situar o início do difícil processo de construção da

Seguridade Social Brasileira. (COUTO et al., 2010, p. 35).

No que diz respeito à Assistência Social, a Constituição Federal de 1988 em seu

artigo 203º apresenta os seus objetivos:

Art. 203º. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,

independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da

integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das

pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida

comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à

pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,

conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988).

Porém, é possível afirmar que, mesmo após ser garantida enquanto um direito social

e ter seus objetivos expostos na Constituição Federal de 1988, encontrou resistência por parte

5 Reunião realizada em novembro de 1989 entre os presidentes eleitos da América Latina e os representantes do

Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Banco Interamericano de Desenvolvimento, que entre as

reformas de cunho liberal prevê a realização de reformas estruturais para a estabilização da economia como as

privatizações, desregulamentação dos mercados, a descentralização e a retomada do desenvolvimento.

(COUTO et al., 2010, p. 35).

51

do Governo Federal para ser regulamentada e então inserida no campo das políticas sociais do

Estado, tanto que o caminho por essa regulamentação iniciou-se no governo de Sarney,

perdurou pelo governo de Collor, sendo efetivada apenas no governo de Itamar Franco. O

projeto-lei que instituía a LOAS tramitou por mais de dois anos até que fosse aprovado.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), enquanto responsável pela

regulamentação do Sistema de Seguridade Social, direcionou em 1989 ao Núcleo de Estudos

e Pesquisas em Política Social da Universidade de Brasília (NEPPOS/CEAM/UNB) a tarefa

de elaborar o primeiro projeto de regulamentação da assistência social (BOSCHETTI, 2006).

Mas, havia interesses políticos e econômicos opostos a este projeto. A Secretaria

Nacional de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS)

apresentavam interesse em reduzir a assistência social, por receio de que a assistência

absorvesse os recursos destinados à previdência social e um grupo de funcionários da LBA,

na busca pela continuidade do poder desta instituição em apontar os rumos da assistência

social, além da busca pela garantia de seus empregos, opuseram-se ao projeto de

regulamentação da assistência social (BOSCHETTI, 2006).

O governo de Sarney nem mesmo apresentou o projeto ao Congresso Nacional.

Collor, por sua vez, ignorou os direcionamentos constitucionais de tal forma, que em seu

mandato, favoreceu a manutenção da LBA, nomeando a sua esposa como presidente da

instituição. Em seu governo, as repostas às manifestações da questão social foram pautadas no

clientelismo, por meio de subvenções direcionadas à LBA (BOSCHETTI, 2006).

De acordo com Mestriner (2008), um debate sobre a situação da assistência social foi

iniciado nas universidades e ganhou forças também no seio da categoria profissional dos

assistentes sociais.

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), juntamente com a categoria

profissional, começou a problematizar a questão, discutindo de forma mais ampla sobre o

papel do Estado e das políticas sociais. Assim, a assistência social passou a ser compreendida

enquanto um espaço contraditório, porém possível de concretizar direitos.

Historicamente utilizada como instrumento de clientelismo, de controle, de

adaptação e de integração social, ela foi, por longo tempo, recusada como

prática social. Foi só a partir de meados dos anos 80 que ela passou a ser

analisada como espaço contraditório e concebida como possível campo de

concretização de direitos sociais. A partir de 1988 os assistentes sociais se

interessaram pelo debate sobre a assistência social, dedicando-se mais

sistematicamente a ele e se engajando nos movimentos pela regulamentação

dessa área. (BOSCHETTI, 2006, p. 165).

52

Uma nova proposta de lei foi elaborada em 1989, a partir de debates realizados no I

Simpósio de Assistência Social, realizado na Câmara Federal entre 30/05/1989 e 01/06/1989.

Entretanto, em novembro de 1990, por meio de uma mensagem ao Senado, Collor vetou o

projeto integralmente, justificando a ausência de recursos para a efetivação de auxílio às

famílias e da implementação do benefício de prestação continuada (MESTRINER, 2008).

No ano de 1991, a assistência social voltou a surgir nas pautas do legislativo e o

projeto retoma sua forma original (elaborada pela IPEA/UNB). Diversas discussões foram

realizadas pela categoria profissional dos assistentes sociais e um seminário nacional sobre a

assistência social realizou-se em Brasília no mês de junho do ano de 1991, intitulado:

“Impasses e perspectivas da Assistência Social no Brasil”

Debatem-se questões conceituais sobre o tema, fazendo fluir as tendências

“focalistas” e “universalistas”, questões relacionadas à descentralização com

proposituras relativas à organização e gestão, definindo o papel

normatizador da União e a necessidade do comando único. (MESTRINER,

2008, p. 202-203).

Neste mesmo período, veio à tona um escândalo envolvendo a LBA, quando a primeira-dama

e presidente da instituição Rosane Collor, desviou verbas milionárias para as mãos de parentes.

Após alguns meses de gestão, em início de setembro de 1991, em duas

reportagens devastadoras, o Jornal do Brasil publica todos os desmandos

perpetrados pela mesma, comprovados por documentos oficiais, obtendo

com isso sua demissão dias depois: inúmeros favorecimentos a empresas

instituições-fantasmas, por meios dos quais fez jorras as verbas federais para

mãos de parentes. (MESTRINER, 2008, p. 204).

Desta forma, os próprios funcionários da LBA, também passaram a compor a luta

pela regulamentação da assistência social.

Em dezembro de 1992, Collor sofre o impeachment e Itamar Franco assume a

presidência do Brasil. E, quase um ano mais tarde, em outubro de 1993, aprovou-se por fim,

uma proposta para a Lei Orgânica de Assistência Social. Entretanto, de acordo com Boschetti

(2009) isso só foi possível por meio de conciliações com os interesses do governo e

incorporação de sugestões dos parlamentares.

Assim, a regulamentação do artigo 203, só se efetivou cinco anos mais tarde, com a

publicação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) Lei n. 8742, de 07 de dezembro de

1993, que “[...] é um documento juspolítico [...] que expressa no seu conteúdo aparentemente

53

neutro toda a gama de discussões que caracterizaram a história da Assistência Social.”

(PEREIRA, 1998, p. 69-70).

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política

de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,

realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e

da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

(BRASIL, 1993)

A aprovação da LOAS estingue o antigo CNSS (1938-1993), de acordo com Yazbek

(2004a, p. 13) “órgão clientelista e cartorial” e:

Cria os Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Assistência Social,

órgãos paritários, com representação do governo e da sociedade civil

(entidades, usuários e trabalhadores do setor) aos quais compete: aprovar a

política de assistência social, a proposta orçamentária para a área, normatizar

as ações e regular a prestação de serviços de natureza publica e privativa no

campo da Assistência Social e convocar a cada dois anos as conferencias de

Assistência Social, que tem como atribuição avaliar a situação da assistência

e propor diretrizes para seu aperfeiçoamento.

A partir de então, constituída enquanto política de Estado, a assistência social passa a

ser:

[...] um espaço para defesa e atenção aos interesses e necessidades sociais

dos segmentos mais empobrecidos da sociedade, configurando-se também,

como estratégia fundamental no combate à pobreza, à discriminação e à

subalternidade econômica, cultural e política em que vive grande parte da

população brasileira. (BRASIL, 2008, p. 95).

A LOAS assegura a política de mínimos sociais, nela prevista, através da implantação

do Benefício de Prestação Continuada (BPC):

Art. 2º. Inciso V - A garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal

à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

(BRASIL, 1993).

Prevê em suas diretrizes a construção da Assistência Social enquanto um sistema

descentralizado e participativo:

Para a implementação dessa mudança fundamental, a Assistência Social

não pode ser pensada isoladamente, mas na relação com outras políticas

sociais e em conformidade com seu marco legal no qual está garantida a

54

descentralização com a primazia do Estado, o comando único em cada

esfera do governo e a gestão compartilhada com a sociedade civil pelos

Conselhos, Conferências e Fóruns, em seu planejamento e controle.

(BRASIL, 2008, pag. 95)

A LOAS, ao estabelecer a descentralização político-administrativa enquanto

estratégia fundamental para a gestão da Assistência Social, traz avanços para a concepção de

assistência social conhecida até então, através da redefinição das funções dos governos

federal, estadual e municipal, direcionando “[...] ao Estado o papel decisivo no enfrentamento

da pobreza, de par com a sociedade.” (PEREIRA, 1998, p. 74), o que, conforme a discussão

de Vianna (2003, p. 105), pressupõe a visão de Proteção Social referenciada à universalidade

de cobertura:

Esse caráter de responsabilidade social do Estado para com os seus cidadãos

pressupõe uma visão de Proteção Social que tenha como referência a

universalidade de cobertura e de atendimento, em oposição à padrões

restritivos e seletivos de acesso a serviços e benefícios sociais.

Os desafios frente ao sistema neoliberal continuaram presentes, mesmo com a criação

da LOAS em 1993, que apesar de abordar sobre os princípio e as diretrizes da Assistência

Social, por si só, ainda não foi suficiente para direcionar mudanças no âmbito da

consolidação da Assistência Social enquanto um direito do cidadão e responsabilidade do

Estado, prova disso encontramos ao refletirmos sobre a aprovação da primeira Política

Nacional de Assistência Social que se deu apenas no ano de 1998 (cinco anos após a

publicação da LOAS e 10 anos após a promulgação da Constituição Federal, que estabeleceu

a assistência social enquanto direito social).

A aprovação desta Política Nacional, por sua vez, não trouxe mudanças, afinal,

confrontava o Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), que havia instituído por meio da

Medida Provisória n. 813, o Programa Comunidade Solidária no ano de 1995, programa este

que, ignorando todos os direcionamentos da LOAS, se efetivou com ações de caráter focalista e

tornou-se ao longo do governo FHC a principal estratégia de enfrentamento à pobreza no país.

Longe de ser fato episódico ou perfumaria de primeira dama, opera como um

alicate que desmonta as possibilidades de formulação da Assistência Social

como política pública regida pelos princípios universais dos direitos e da

cidadania: impede prescrições constitucionais que viabilizariam integrar a

Assistência Social em um Sistema de Seguridade Social, passa por cima dos

instrumentos previstos na LOAS, desconsidera direitos e conquistas e

esvazia as mediações democráticas construídas. (TELLES, 2004, p. 19).

55

A lógica do Programa Comunidade Solidária fragilizou qualquer possibilidade de

implantar na Política de Assistência Social os padrões de gestão estabelecidos na LOAS.

Na verdade, podemos afirmar que contribuiu para uma reiteração da Assistência Social

enquanto um dever moral e de base solidária, afastando-a do previsto na Constituição Federal,

que a definia enquanto um direito conquistado através das lutas por uma sociedade

democrática.

1.3 Discussões e Reflexões: A Busca pela Organização da Assistência Social no Brasil

No seio da categoria profissional dos assistentes sociais, juntamente com os estudiosos

da política social, muitas reflexões e muitas discussões foram realizadas sobre a conjuntura na

qual estava posta a assistência social no Brasil.

Ivanete Boschetti, ao proferir uma palestra na III Conferência Estadual de Assistência

Social, realizada em Campo Grande - MS, em 16 de dezembro de 1999, trouxe elementos

importantes, no que tange aos desafios daquele período (ou por que não, ainda atuais) para a

consolidação da assistência como direito social. Cabe destacar, que ao tratar dos desafios, a

mesma ressaltou a importância de não serem entendidos como desestímulo à defesa da

assistência social, mas, pelo contrário, no sentido de contribuir para uma leitura objetiva das

dificuldades, no intuito de construir possibilidades concretas de ação.

Em relação aos direitos assistenciais os seguintes desafios foram apontados:

[...] devem constar na agenda daqueles que se colocam na defesa da política

de assistência social, os seguintes itens: · a garantia da primazia do Estado

no financiamento e execução da política assistencial; · respeito aos critérios

de necessidades locais para formulação de benefícios, programas, projetos e

serviços; · a ampliação da capacidade de atendimento da demanda; · a

regulamentação dos benefícios eventuais e dos benefícios de prestação

continuada; · planejamento da política de assistência de modo articulado às

demais políticas sociais e · a consideração ao processo de elaboração dos

planos municipais e estaduais como um momento de participação cidadã e

como estratégia de resposta coletiva às necessidades sociais. (FERREIRA,

1999, p. 73).

E, em relação à organização e à gestão:

[...] é preciso: garantir o comando único em cada esfera de governo;

estabelecer uma relação de efetiva co-responsabilidade com organizações

não governamentais, e não de transferência de responsabilidade; · reforçar a

democracia participativa, ou seja, reforçar a autonomia dos conselhos,

garantindo-os como espaço de acompanhamento, controle e reivindicação;

56

· acompanhar o trabalho das comissões bipartites e tripartites para que não se

transformem em espaços de esvaziamento dos conselhos; · fomentar a

participação dos usuários nos conselhos e · fortalecer os fóruns de defesa

da assistência social como espaços concretos de socialização de informações

e articulação da sociedade civil. (FERREIRA, 1999, p. 73).

Carmelita Yazbek6, ao participar do XX Ciclo de Debates do Serviço Social,

promovido pelo Hospital das Clínicas da UNICAMP no ano de 2003, discutiu sobre os 10

anos de tentativa da construção de um projeto para a Assistência Social, a partir da LOAS de

1993 e questionou sobre a identificação histórica da assistência social com a filantropia, que a

seu ver ainda não havia sido superada:

A primeira constatação é que nesses 10 anos, que foram 10 anos de

questionamento do clientelismo, do padrão de gestão conservadora dessa

política e da identificação histórica da assistência social com a filantropia,

ainda me parece que essa é uma questão não superada na assistência social.

A tendência a ver a assistência social como ação filantrópica, assistencialista

e tuteladora ainda é um objeto de questionamentos e reivindicações nas

Conferências Municipais e nas Conferências Estaduais em andamento. O

que estamos percebendo é que o protagonismo da população vem sendo

muito pouco colocado nesse processo. A luta continua e na verdade sua

grande tendência ainda é lutar para que o reconhecimento do direito seja a

medida da negociação e da liberação no campo dessa política. Não há outra

medida ainda. Nossa luta é para que o direito seja a medida. Não dá para

negociar direito, esta luta então continua. (YAZBEK, 2004b, p. 27).

Destacou a focalização das ações da assistência social, encarando-a enquanto umas das

características que contribuíram para a efetivação de uma renovação desta política.

Uma outra constatação nesses 10 anos e que foi observada nas três

Conferências de Assistência Social anteriores é a presença da perspectiva

focalista dessa política que acompanhou 10 anos do governo Fernando

Henrique e que não se rompeu. A assistência social ainda é uma política

focalizada, seletiva, pobre para o pobre. Os critérios de seleção e avaliação

ainda permanecem muito focalizados nos mais pobres, nos mais vulneráveis,

o que vem restringindo projetos mais renovadores e/ou criativos para essa

política. (YAZBEK, 2004b, p. 27-28).

E expressou a importância da criação de um Sistema Unificado de Assistência Social:

Tal e qual foi apresentado hoje aqui em relação à saúde sobre o SUS que

deve ser construído a cada dia, o sistema descentralizado e participativo de

assistência social no país exige ainda a organização de um SUAS (Sistema

Unificado de Assistência Social) como parte do processo de construção de

mecanismos públicos de regulação e de controle para esta área. Como é que

6 Mesa Redonda: XX Ciclo de Debates do Serviço Social do Hospital das Clínicas da UNICAMP, 2003.

57

nós vamos fiscalizar e acompanhar? Como é que nós vamos criar

parâmetros, sobretudo lembrando que o parâmetro é o direito. Não tem outra

medida de negociação dos interesses dessa população que é uma população

sem voz, que não existe. (YAZBEK, 2004b, p. 28).

Por fim, afirmou acreditar que a IV Conferência Nacional de Assistência Social seria

fundamental para que mudanças pudessem acontecer:

Nós passamos 10 anos construindo um projeto para área da Assistência

Social no país. E, na atual conjuntura vemos esse projeto emperrar e pior,

aos poucos ser substituído por uma visão conservadora sobre a assistência

social, sobre as famílias pobres, culpando-as pela sua pobreza. Ou seja,

aquilo que se construiu ao longo de 10 anos, parece estar em uma posição

bastante complicada. Esse ano nós temos a IV Conferência Nacional de

Assistência Social e eu acho que esta Conferência vai ser crucial do ponto de

vista da nossa sociedade civil organizada que deverá colocar claramente as

suas posições. (YAZBEK, 2004b, p. 27).

Muito do que estava sendo discutido pelos estudiosos da política social no Brasil, nos

próximos anos, com o governo Lula, começou a ganhar espaço na agenda política.

Com o objetivo de romper com as ações que até então vinham sido desenvolvidas e

redesenhar a Política de Assistência Social no Brasil, em 23 de janeiro de 2004 foi criado o

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), “[...] responsável pela

política nacional de assistência social com ênfase na integração entre serviços e benefícios

socioassistenciais e as ações de segurança alimentar e nutricional.” (BRASIL, 2008, p. 17).

De acordo com Lopes (2006, p.80):

[...] a criação do MDS pretendeu alterar a situação até então vivida pelas

políticas de proteção social no Brasil, que existiam sem lócus institucional

próprio e limitadas à implantação de poucas e fragmentadas ações,

desarticuladas, de baixa cobertura e reduzida efetividade social, centralizadas

nacionalmente e desrespeitando a realidade e as necessidades locais e com o

parco e pulverizado orçamento [...]. O MDS constituiu-se pela decisão de

possibilitar integrar áreas estratégicas para o cumprimento do plano de

governo no que diz respeito às políticas de combate á pobreza [...].

Neste mesmo ano, o MDS juntamente com a Secretaria Nacional de Assistência Social

(SNAS)7 e Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)

8 elaborou e aprovou a Política

7 Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) é o órgão do Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS) responsável pela gestão nacional da Política Nacional de Assistência Social. 8 O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social –

LOAS (Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993), como órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à

estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de

Assistência Social.

58

Nacional de Assistência Social – a qual foi construída a partir de discussões que ocorreram

em todos os Estados brasileiros, por meio de fóruns e conferências.

A decisão do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome –

MDS, por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS

e do Conselho Nacional de Assistência Social - PNAS, demonstra a

intenção de construir coletivamente o redesenho desta política, na

perspectiva de implementação do Sistema Único de Assistência Social –

SUAS. Esta iniciativa, decididamente, traduz o cumprimento das

deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada

em Brasília, em dezembro de 2003, e denota o compromisso do

MDS/SNAS e do CNAS em materializar as diretrizes da Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS. (BRASIL, 2009a, p. 11).

Conforme já previa Yazbek (2004b), a IV Conferencia Nacional de Assistência

realizada em Brasília em dezembro de 2003 foi de suma importância para que a assistência

social ganhasse novos rumos no patamar nacional. Uma nova Política Nacional de Assistência

Social (PNAS), em conformidade com as propostas presentes nas deliberações da IV

Conferencia Nacional de Assistência realizada em Brasília em dezembro de 2003 foi

aprovada em 22 de setembro de 2004 pelo CNAS, com o objetivo de materializar os

princípios e diretrizes da LOAS, mantendo a descentralização político-administrativa, a

participação popular e a primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de

assistência social.

Diante do importante desafio de implantar a PNAS no Brasil e organizar a efetivação

das ações da assistência social em todo o território nacional um instrumento-chave foi

elaborado enquanto estratégia para a viabilização desta política de proteção social: O Sistema

Único de Assistência Social (SUAS).

No dia 15 de julho de 2005 o CNAS aprovou a Norma Operacional Básica da

Assistência Social (NOB/SUAS) e instituiu o SUAS.

A partir de então, uma nova configuração para a Assistência Social foi colocada em

pauta, o SUAS, que tem como eixos estruturantes a matricialidade sócio-familiar; a

descentralização político-administrativa e a territorialização, direciona a implantação da

Política de Assistência Social em todo o território nacional, considerando as particularidades

territoriais e tendo como principal foco a realização de ações que viabilize a garantia dos

direitos sociais e proporcione a proteção social e o fortalecimento dos vínculos familiares e

comunitários a todo o público usuário da Assistência Social.

59

Inicia-se então, um percurso pela busca da organização da assistência social em todo o

território nacional, com o objetivo de efetiva-la enquanto política pública e enquanto um

direito social garantido Constitucionalmente.

Recentemente, no ano de 2011, temos a mais atual conquista: a criação e aprovação da

Lei nº 12.435, que alterou a Lei nº 8.742 de 1993 – LOAS e instituiu legalmente o SUAS,

garantindo no ordenamento jurídico brasileiro a permanência e continuidade das conquistas

efetivadas ao longo dos últimos anos.

Apresentaremos a seguir, nossas reflexões acerca dos direcionamentos dados pela

Política Nacional de Assistência Social de 2004 e pelo SUAS, relacionando este conteúdo

normativo com a realidade regional da DRADS de Fernandópolis, em especial no que tange à

proteção social básica, mais especificamente ao papel desempenhado pelos Centros de

Referência de Assistência Social (CRAS) no processo de implantação/implementação desta

política pública.

60

CAPÍTULO 2 O UNIVERSO DA PESQUISA: AS PARTICULARIDADES DA DRADS

DE FERNANDÓPOLIS

As Diretorias Regionais de Assistência e Desenvolvimento Social – DRADS têm entre

as suas atribuições o papel de monitorar e avaliar as ações sociais desenvolvidas pelos

municípios do Estado de São Paulo.

São Paulo conta atualmente com o funcionamento de 26 DRADS que funcionam como

órgãos descentralizados, garantindo assim, maior cobertura da presença do Governo Estadual

em todo o território do Estado.

A DRADS de Fernandópolis, que realiza a cobertura de parte da região noroeste

paulista, conta com a presença de 49 municípios referenciados.

Conforme Brasil (2009a), o SUAS deverá pautar-se na territorialização para formular

suas intervenções, tomando como referência a caracterização dos grupos territoriais a partir de

uma definição dos municípios também utilizada pelo IBGE.

Município de Pequeno Porte:

[...] aquele cuja população chega a 20.000 habitantes (até 5.000 famílias em

média). Possuem forte presença de população em zona rural, correspondendo

a 45% da população total. [...] possuem como referência municípios de

maior porte, pertencentes a mesma região em que estão localizados.

Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de proteção

social básica, pois os níveis de coesão social, as demandas potenciais e redes

socioassistenciais não justificam serviços de natureza complexa. Em geral,

esses municípios não apresentam demanda significativa de proteção social

especial [...]. (BRASIL, 2009a, p. 45).

Município de Pequeno Porte 2:

[...] aquele cuja população varia de 20.001 a 50.000 habitantes (cerca de

5.000 até 10.000 famílias em média). Diferenciam-se dos pequeno porte 1

especialmente no que se refere à concentração da população rural que

corresponde a 30% da população total. Quanto às suas características

relacionais mantém-se as mesmas dos municípios pequenos 1. (BRASIL,

2009a, p. 45-46).

Municípios de Médio Porte:

[...] aqueles cuja população está entre 50.001 e 100.000 habitantes (cerca de

10.000 a 25.000 famílias). Mesmo precisando contar com a referência de

municípios de grande porte para questões de maior complexidade, já

possuem mais autonomia na estruturação de sua economia [...]. Esses

61

municípios necessitam de uma rede mais ampla de serviços de assistência

social, particularmente na rede de proteção social básica. Quanto a proteção

especial, a realidade de tais municípios se assemelha a dos municípios de

pequeno porte, no entanto, a probabilidade de ocorrerem demandas nessa

área é maior, o que leva a se considerar a possibilidade de sediarem serviços

próprios dessa natureza ou de referência regional, agregando municípios de

pequeno porte no seu entorno. (BRASIL, 2009a, p. 46).

Municípios de Grande Porte:

[...] aqueles cuja população é de 101.000 habitantes até 900.000 habitantes

(cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São mais complexos na sua

estruturação econômica, pólos de regiões e sedes de serviços mais

especializados. Concentram mais oportunidades de emprego [...]. [...] por

congregarem o grande número de habitantes e, pelas suas características em

atraírem grande parte da população que migra das regiões onde as

oportunidades são consideradas mais escassas, apresentam grande demanda

por serviços de várias áreas de políticas públicas. Em razão dessas

características, a rede socioassistencial deve ser mais complexa e

diversificada, envolvendo serviços de proteção social básica, bem como uma

ampla rede de proteção especial ( nos níveis de média e alta complexidade).

(BRASIL, 2009a, p. 46).

Metrópoles:

Entende-se por metrópole os municípios com mais de 900.000 habitantes

(atingindo uma média superior a 250.000 famílias cada). Para além das

características dos grandes municípios, as metrópoles apresentam o

agravante dos chamados territórios de fronteira, que significam zonas de

limite que configuram a região metropolitana e normalmente com forte

ausência dos serviços do Estado. (BRASIL, 2009a, p. 46).

No caso da DRADS de Fernandópolis, o território é formado majoritariamente por

municípios pequenos. A região não conta com a presença de nenhum município de Grande

Porte ou Metrópole, como podemos observar no Gráfico 1 a seguir:

62

Gráfico 1 – Porte dos Municípios

Fonte: DRADS (2015).

A Norma Operacional Básica do SUAS – NOB/SUAS esclarece que a Gestão

Municipal do SUAS pode se dar no âmbito de 03 níveis, sendo eles: Gestão Inicial, Gestão

Básica e Gestão Plena.

A Gestão Inicial, conforme (BRASIL, 2009a, p.99) deve ser o nível de gestão dos

municípios que não se habilitarem à Gestão Básica ou à Gestão Plena, Estes, “receberão

recursos da União, conforme série histórica, [...] por intermédio do Fundo Nacional de

Assistência Social.”

A Gestão Básica cabe ao município que assume a gestão da proteção social básica da

assistência social em seu território:

[...] devendo o gestor, ao assumir a responsabilidade de organizar a proteção

básica em seu município, prevenir situação de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições. Por isso, deve

responsabilizar-se pela oferta de programas, projetos e serviços

socioassistenciais que fortaleçam vínculos familiares e comunitários que

promovam os beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e

transferência de renda e que vigiem direitos violados no território. (BRASIL,

2009a, p. 99-100).

E, inserem-se na Gestão Plena os municípios que assumem a gestão total das ações de

Assistência Social no seu território de abrangência:

O gestor, ao assumir a responsabilidade de organizar a proteção social básica

e especial em seu município, deve prevenir situações de risco, por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, além de proteger as

situações de violação de direitos ocorridas em seu município. Por isso deve

63

responsabilizar-se pela oferta de programas, projetos e serviços que

fortaleçam vínculos familiares e comunitários, que promovam os

beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e transferência de

renda; que vigiem os direitos violados no território; que potencializem a

função protetiva das famílias e a auto organização e conquista de autonomia

de seus usuários. (BRASIL, 2009a, p. 100).

Na região da DRADS de Fernandópolis, identificamos que uma grande maioria dos

municípios encontram-se no nível de Gestão Básica do SUAS, o que certamente pode ser

compreendido ao consideramos o número de municípios de pequeno porte neste região, que

desenvolvem apenas a gestão da proteção social básica em seus territórios de abrangência.

Destacamos ainda, que apenas um município ainda não se habilitou para a Gestão Básica ou

Plena, permanecendo portanto na Gestão Inicial

Gráfico 2 – Nível de Gestão do SUAS

Fonte: DRADS (2015).

2.1 Os Municípios de Pequeno Porte I Referenciados na DRADS de Fernandópolis.

Considerando ser os municípios de Pequeno Porte I o foco desta pesquisa, realizamos

junto à DRADS de Fernandópolis, uma pesquisa documental que nos permitiu conhecer

algumas particularidades da gestão do SUAS nos municípios de Pequeno Porte I desta região.

Esclarecemos que os dados nos foram disponibilizados no dia 24 de Agosto de 2015,

entretanto, são referentes a um estudo realizado no mês de abril de 2015.

64

Dentre os 49 municípios referenciados à DRADS de Fernandópolis, 45 municípios são

de Pequeno Porte I. Destes, 44 municípios estão em nível de Gestão Básica e 01 município

encontra-se em nível de gestão inicial.

Em relação ao Órgão Gestor da Política de Assistência Social destes municípios, foi

possível identificar estruturas administrativas diversificadas, com a presença de Secretarias,

Coordenadorias, Departamentos, Diretoriais, Seções/Setores e Divisão.

Grafico 3 – Estrutura Administrativa do Órgão Gestor da Política de Assistência Social

Fonte: DRADS (2015).

De acordo com o conteúdo da Constituição Federal de 1988 materializado na LOAS,

estabeleceu-se a diretriz da descentralização político-administrativa para a organização da

assistência social e garantindo o comando único das ações em cada esfera do governo.

(BRASIL, 2009a).

Entretanto, de acordo com o estudo realizado pela equipe da DRADS esta não vem

sendo uma realidade concreta, pois, dos 45 municípios de pequeno porte I, 33% deles contam

com a existência de mais de um cargo para desenvolver o papel da gestão, como por exemplo:

Gestor, Secretário, Diretor, Chefe de Setor, entre outros. Há municípios com 02 destes cargos

e também municípios com 03 destes cargos, o que na verdade se configura na inexistência do

comando único.

Em relação ao nível de escolaridade dos gestores municipais, identificamos que a

maioria deles possui nível superior, entretanto, existem gestores sem formação universitária.

65

Gráfico 4 – Nível Escolaridade dos Gestores

Fonte: DRADS (2015).

Entre os gestores que possuem nível superior, destacamos ainda um vasto leque de

formações, entre as quais, algumas que não contemplam o quadro de profissionais do SUAS.

Gráfico 5 – Formação Universitária dos Gestores

Fonte: DRADS (2015).

66

A Resolução n. 17 de 20 de junho de 2011, publicada pelo CNAS, delibera sobre o

quadro de profissionais do SUAS:

Art. 3º - São categorias profissionais de nível superior que,

preferencialmente, poderão compor a gestão do SUAS: Assistente Social;

Psicólogo; Advogado; Administrador; Antropólogo; Contador;

Economista; Economista Doméstico; Pedagogo; Sociólogo; Terapeuta

ocupacional. (MDS, 2011).

Sendo assim, é possível destacar a presença de gestores graduados em nutrição, letras,

jornalismo, historia e ciências biológicas, que se encontram em desacordo com o perfil de

profissionais solicitado pelo SUAS.

Direcionando o nosso estudo para a equipe dos CRAS, apresentamos o perfil dos

coordenadores:

Gráfico 6- Perfil dos Coordenadores dos CRAS

Fonte: DRADS (2015).

Como podemos observar, 60% dos CRAS não contam com o perfil de coordenador

estabelecido pela NOB-RH/SUAS:

As equipes de referência para os Centros de Referência da Assistência Social

- CRAS devem contar sempre com um coordenador, devendo o mesmo,

independentemente do porte do município, ter o seguinte perfil profissional:

ser um técnico de nível superior, concursado, com experiência em trabalhos

comunitários e gestão de programas, projetos, serviços e benefícios

socioassistenciais. (BRASIL, 2009b, p. 19).

67

Elencamos a seguir os motivos pelos quais estes coordenadores não estão cumprindo o

estabelecido pela NOB-RH/SUAS:

Gráfico 7 – Situações que não atendem os pressupostos da NOB-RH/SUAS

Fonte: DRADS (2015).

De acordo com o Gráfico 7, podemos observar que entre os CRAS que não possuem o

perfil de coordenador exigido pela NOB-RH/SUAS, uma parcela significativa (33%) estão

em discordância por nem mesmo contarem com a figura do coordenador na composição das

equipes, seguido pela presença de 15% municípios que indicaram profissionais não efetivos

para assumir o cargo de coordenação e de 22% dos CRAS com o coordenador cumprindo

jornada de trabalho semana inferior à 40 horas. O gráfico nos apresenta ainda que 30% dos

CRAS contam com coordenadores que possuem formação universitária incoerente com o

quadro de profissionais do SUAS,

Apresentamos a seguir a formação universitária dos coordenadores dos CRAS.

68

Gráfico 8 – Formação Universitária dos Coordenadores CRAS

Fonte: DRADS (2015).

Como é possível visualizar, um pouco mais da metade dos CRAS contam com um

assistente social desenvolvendo a função de coordenador (53%), entretanto há um índice

considerável de municípios que contrataram profissionais que não contemplam o quadro de

profissionais do SUAS para realizar esta função.

No que tange ao vinculo empregatício dos profissionais que compõem a equipe dos

CRAS, identificamos que 11% dos trabalhadores destes municípios ainda não são

funcionários efetivos, ou seja, ainda há municípios que não realizaram concurso público para

contratação da equipe mínima do CRAS.

Por fim, elencamos na Tabela 1, as defasagens encontradas na composição das equipes

dos 45 CRAS de pequeno porte I referenciados na DRADS de Fernandópolis.

Tabela 1 – Defasagens na equipe mínima dos CRAS

Defasagens na equipe mínima do CRAS Qtd %

Ausência do coordenador 9 20%

Ausência do assistente social 4 9%

Apenas um técnico de nível superior 8 18%

Nenhum técnico de nível superior 2 4%

Apenas um técnico de nível médio 18 40%

Nenhum técnico de nível médio 3 7%

Equipe mínima completa - de acordo com a NOB-RH/SUAS 6 13%

Fonte: DRADS (2015).

69

Somente seis (06) CRAS encontram-se em consonância com os pressupostos da NOB-

RH/SUAS no que tange a composição da equipe mínima, o que significa um índice de apenas

13%.

Entre as defasagens, destacamos as que apresentam os maiores índices, sendo elas:

40% dos CRAS contam com a presença de apenas 01 técnico de nível médio na equipe; 20%

dos CRAS realizam suas atividades sem a presença de um coordenador na equipe e; 18%

contam com apenas um técnico de nível superior na equipe.

Com base nos documentos disponibilizados, foi possível elaborar um panorama sobre

o processo da implantação do SUAS na região da DRADS de Fernandópolis, especialmente

no que tange ao perfil dos gestores da política de assistência social e da composição das

equipes dos CRAS dos municípios de pequeno porte I.

Este retrato aqui apresentado, nos leva a refletir sobre como são amplos os desafios

para a implantação do SUAS, que está neste ano completando uma década.

Vivenciamos um período de avaliar o Plano Decenal 2005-2015 elaborado a partir dos

resultados da V Conferência Nacional de Assistência Social em 2003. Naquela oportunidade,

milhares de pessoas se uniram para elaborar uma proposta, um plano com metas que deveriam

ser alcançadas dentro dos próximos 10 anos.

O Plano Nacional da Assistência Social, projetando a operação da política

para 10 anos, resulta, portanto, do envolvimento de milhares de pessoas num

processo de planejamento participativo de grande escala, o que lhe confere

um caráter singular na história inovadora do planejamento brasileiro.

Deliberações como essa fluem de um processo consistente de

amadurecimento que reflete sólidos compromissos ligados à urgência de

uma política de assistência social de natureza pública, superando o caráter

mais imediatista no patamar de reivindicações. (BRASIL, 2007, p. 10).

No que tange à gestão do trabalho, as metas para o Plano Decenal, foram elaboradas

com base no seguinte objetivo:

Investir na gestão do trabalho na Assistência Social e na proposição de

mecanismos reguladores da relação entre gestores e trabalhadores e os

prestadores de serviços socioassistenciais visando influenciar decisivamente

a profissionalização do setor, a desprecarização do trabalho das equipes de

referências e a conseqüente melhoria dos serviços socioassistenciais

prestados à população. (BRASIL, 2007, p. 57).

Sendo assim, os municípios teriam 10 anos, a partir de 2005, para se adequarem aos

direcionamentos do Sistema Único de Assistência Social. No caso do conteúdo aqui discutido,

70

teriam uma década para realizarem concursos públicos para a efetivação da equipe do CRAS,

para adequarem o perfil dos profissionais da assistência social ao quadro de profissionais do

SUAS, para garantirem o comando único na gestão da politica de assistência social municipal

e para garantirem a presença da equipe mínima em todos os CRAS.

Entretanto, de acordo com a realidade apresentada, podemos identificar que o

cumprimento destas metas continuam sendo um desafio, este objetivo do Plano Decenal ainda

não foi alcançado nos municípios de pequeno porte I desta região.

Realidade esta que nos leva a refletir sobre como esta política pública ainda precisa

avançar e sobre como os governantes ainda precisam lapidar seus olhares no que tange à

politica de assistência social, de forma que possam compreender que recursos humanos e

perfil profissional adequado são requisitos mínimos para a efetivação de uma política pública

de qualidade.

Esta realidade precisa ser considerada ao direcionarmos nosso olhar ao resultado da

análise das informações adquiridas a partir da realização dos grupos focais com as equipes de

04 CRAS desta região: Macaubal, Populina, Riolândia e Rubinéia, que serão apresentados a

seguir.

2.2 Macaubal, Populina, Riolândia e Rubinéia: Recortes do Noroeste Paulista

Com o intuito de realizar um estudo do processo de implementação do SUAS nos

municípios de pequeno porte I, referenciados na DRADS de Fernandópolis, localizada na

região do noroeste paulista, selecionamos, de acordo com a localização geográfica, quatro

municípios para compor o universo desta pesquisa.

Realizamos um quadrante do mapa da DRADS de Fernandópolis e optamos por

selecionar um município de cada quadrante, garantindo desta forma, a representatividade da

região como um todo, conforme apresentamos na figura 1.

71

Figura 1 – Mapa da DRADS de Fernandópolis

Fonte: SEDS.

Macaubal

Primeiramente denominado Macaúbas, este distrito foi crido por meio da Lei Estadual

de nº 2338 em 28 de dezembro de 1928, no município de Monte Aprazível. Apenas alguns

anos mais tarde, por meio da Lei Estadual nº 233 de 24 de dezembro de 1948 o mesmo foi

elevado à categoria de município, desmembrando-se de Monte Aprazível e passou a ser

denominado de Macaubal.

Macaubal possui, de acordo com o IBGE, uma estimativa de 8.006 habitantes,

conforme dados publicados em 28 de agosto de 2014 no Diário Oficial da União e conta com

uma área territorial de 248,125 km².

Populina

Tornou-se um povoado com a chegada das primeiras familias por volta de 1915, mas

apenas 28 mais tarde passou a ser conhecida como a Vila da Populina. A vila foi se

72

desenvolvendo e tornou-se o Distrito da Paz de Populina vinculado ao Município de Estrela

D’Oeste. O município de Populina foi instaruado somente em 1º de janeiro de 1960 através da

Lei nº 5.285 de 18 de Fevereiro de 1959.

Conforme dados do IBGE publicados no ano de 2014, estima-se que Populina tem

uma população de 4.284 habitantes, tendo 315.938 km² de área territorial,

Riolândia

Região indígena, estas terras passaram a receber familias paulistas após a pacificação

dos indios no final do século XX. Em março de 1935 criou-se o Distrito de Paz, pertencente

ao município de Olimpia, o nome do distrito foi alterado em 1944 para Veadinho do Pôrto e

por fim em 1953 passou a ser Município, obtendo a denominação atual – Riolândia.

Riolândia conta com uma área territorial de 613.902 km² e uma estimativa de 11.600

habitantes em 2014, de acordo com os estudos do IBGE.

Rubinéia

Rubinéia surgiu a partir da doação das terras do casal Rubem e Néia, que tinham o

sonho de erguer uma cidade. Os primeiros moradores chegaram por volta de 1951. No ano

seguinte, por contar com mais de 600 eleitores, tornou-se Distrito de Santa Fé do Sul e anos

mais tarde foi emancipada politicamente, tornando se o Município de Rubinèia pela Lei nº

8092 de 28 de Fevereiro de 1964.

O município possui uma estimativa de 3039 habitantes (2014), de acordo com o IBGE

e tem como área territorial 242.877 km².

Para apresentarmos a conjuntura atual destes municípios, suas evoluções ao longo dos

anos e compará-las com as realidades estadual e nacional, recorremos ao Atlas do

Desenvolvimento Humano no Brasil e selecionamos os principais indicadores de demografia,

educação, renda, trabalho e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos

de 1991, 2000 e 2010.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil é um instrumento destinado aos

gestores, à sociedade civil como um todo e aos pesquisadores de diversas áreas do

conhecimento, com o objetivo de subsidiar o conhecimento de um território específico, o

mapeamento dos principais desafios e oportunidades territoriais, além de estimular a

participação social dos cidadãos brasileiros, a partir do acesso à informação (PNUD; IPEA;

FJP, 2013).

Desta forma, com base no Atlas (PNUD; IPEA; FJP, 2013), iniciamos a análise da

conjuntura socioeconômica pela expectativa de vida ao nascer. De acordo com as informações

apresentadas no gráfico 1, podemos identificar que todos os municípios apresentaram, entre

73

os anos de 1991 e 2010, um crescimento em relação ao número médio de anos que as pessoas

viverão a partir do nascimento.

Gráfico 9 – Esperança de vida ao nascer

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Ao considerarmos as informações da pesquisa de 2010, verificamos que, comparados

a média nacional de 73,9 anos, apenas o município de Populina encontra-se com uma média

abaixo da nacional, com 73,3 anos. Já o índice estadual, o qual corresponde a 75,7 anos, é

superior a média de anos de todos os municípios pesquisados, sendo Macaubal e Rubinéia os

municípios que mais se aproximam da média estadual.

Em relação à taxa de fecundidade, ou seja, ao número de filhos que cada mulher

deverá ter ao terminar o período reprodutivo, que é entendido entre os 15 e 49 anos de idade

(PNUD; IPEA; FJP, 2013), podemos observar no gráfico 2 que todos os municípios

apresentaram uma queda entre os anos de 1991 e 2010.

74

Gráfico 10 – Taxa de fecundidade total

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Ao realizarmos uma comparação entre os municípios, nota-se que o município de

Riolândia apresentou a maior taxa de fecundidade ao longo dos anos, e que, mesmo tendo

apresentado a maior queda em termos absolutos, caindo de 3,5 em 1991 para 2,4 em 2010,

continua com a maior média de filhos por mulher.

Ao compararmos estes dados com a realidade estadual e nacional, observamos que os

municípios de Populina com 2,2 e Riolândia com 2,4, de acordo com a pesquisa de 2010,

apresentam uma taxa de fecundidade superior a media estadual de 1,7 e nacional de 1,9, em

contraposto, os municípios de Macaubal e Rubinéia apresentam uma taxa de fecundidade

inferior a média nacional, e uma taxa bem próxima a média estadual, estando Macaubal com a

mesma taxa do Estado e Rubinéia com uma taxa inferior.

No que se refere à taxa de analfabetismo, conforme pode ser observado no gráfico 3,

ocorreu uma redução da taxa de analfabetismo para a população com 18 anos de idade ou

mais entre os anos de 1991 e 2010. Entretanto, as taxas de analfabetismo ainda presentes nos

municípios pesquisados, de acordo com a pesquisa de 2010, são superiores a taxa de

analfabetismo do Estado de São Paulo que apresenta um índice de 4,5%.

75

Gráfico 11 – Taxa de analfabetismo da população de 18 anos ou mais de idade

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

As taxas de analfabetismo mais altas encontram-se nos municípios de Populina e

Riolândia, ambos com um índice de 13,8%, superior inclusive ao índice nacional, que se

encontra em 10,2%.

Os municípios de Macaubal e Rubinéia contam em 2010 com o índice de 8,3% e 7,4%

respectivamente, ambos inferiores ao índice nacional (10,2%).

De acordo com o gráfico 3, podemos identificar que o Estado de São Paulo encontra-

se com um nível de taxa de analfabetismo (4,5%) bastante inferior à media nacional (10,2%),

porém, em contraposição, identificamos que no caso dos municípios estudados, os

percentuais estão mais próximos da média nacional.

No que tange ao percentual de pessoas com nível superior completo, identificamos no

gráfico 4, que os municípios estudados apresentaram ao passar dos anos, crescimento no

percentual de pessoas com nível de superior completo, porém de acordo com as informações

do Atlas (PNUD; IPEA; FJP, 2013, o porcentual destes municípios são inferiores ao

porcentual do Estado de São Paulo e do Brasil.

76

Gráfico 12 – Percentual da população de 25 anos ou mais de idade com nível de

escolaridade de ensino superior completo

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

As informações apresentadas apontam o Estado de São Paulo com uma porcentagem

elevada de pessoas com nível superior completo (15,1%) ao compararmos a porcentagem de

abrangência nacional (11,3%).

Destacamos, ainda, assim como ocorre em relação à realidade do nível de

analfabetismo, os pequenos municípios visitados encontram-se novamente em desvantagem

ao serem comparados com a realidade estadual e nacional, o que revela uma questão de

vulnerabilidade no que tange à educação nesta região.

Rubinéia é o município que apresenta o percentual mais alto (10,3%) de pessoas com

25 anos ou mais com nível superior completo, tendo apresentado um crescimento

considerável desde 1991, quando apresentava um percentual 4,6%,

Na sequência, temos o município de Populina, que apresentou inclusive o maior índice

de crescimento, com um percentual de 3,5% em 1991 e uma ascensão para 9,4% em 2010.

Macaubal, em 1991, apresentava o maior percentual (4,9%), porém, não acompanhou

o crescimento dos municípios de Populina e Rubinéia, apresentando em 2010 um percentual

de 7,6%.

Riolândia, por sua vez, apresenta o menor percentual relativo à pessoas com ensino

superior completo (5,9%), tendo apresentado uma trajetória interessante, de baixo

crescimento, ou até mesmo retrocesso ao longo dos anos, apresentando em 1991 o percentual

de 3,7%, tendo uma pequena recaída no ano 2000, apresentando um percentual de 3,2 e por

fim, apresentando um crescimento nos próximos anos até o ano de 2010.

77

O Índice de Gini é um cálculo utilizado para medir a desigualdade social segundo a

renda domiciliar per capta. De acordo com o Atlas (PNUD; IPEA; FJP, 2013) “Seu valor

varia de 0, quando não há desigualdade (a renda domiciliar per capita de todos os indivíduos

tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a

renda)”.

Gráfico 13 – Índice de Gini

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Com base no gráfico 5, é possível identificar que o Índice de Gini apresentou uma

queda ao longo dos anos (entre 1991 e 2010), o que representa uma diminuição gradativa da

desigualdade social em todos os municípios visitados. Com base na pesquisa de 2010, temos o

município de Rubinéia com o menor índice (0,39), seguido por Riolândia (0,40), Populina

(0,41) e Macaubal (0,43).

Identificamos, ainda, que estes municípios apresentam índices de desigualdade social

menores que os índices do Estado de São Paulo e do Brasil. O Brasil, apresenta o índice de

gini de 0,60, enquanto o Estado de São Paulo apresenta um índice de 0,56, tendo portanto um

índice de desigualdade social inferior a média nacional.

O gráfico 6 nos apresenta os índices proporcionais à população extremamente pobre,

representados pelas pessoas com a renda per capta domiciliar igual ou inferior à R$70,00 no

mês de agosto de 2010.

78

Gráfico 14 – Proporção dos extremamente pobres

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Conforme os dados apresentados, podemos identificar que o Estado de São Paulo

possui uma proporção de pessoas extremamente pobres de 1,2%, inferior à média nacional,

que se encontra em 2010 com 6,6%.

Os municípios estudados acompanham a média estadual, apresentando dados

proporcionais de pessoas extremamente pobres abaixo da média nacional, destacamos os

municípios de Rubinéia (0,6%), Macaubal (0,7%) e Populina (1,0%) que apresentam

proporções inferiores até mesmo à média estadual (1,2%).

Riolândia apresenta a proporção de 1,9% de pessoas extremamente pobres, estando

um pouco acima da proporção estadual, entretanto consideravelmente inferior à proporção

nacional (6,6%).

Analisando a evolução destas informações ao longo dos anos, é possível identificar

que alguns municípios apresentaram uma queda nesta proporção, como é o caso de Macaubal

que contava com uma proporção de 5,9% em 1991, tendo apresentado uma queda

significativa em 2000, apresentando 0,8% e 0,7% em 2010 e de Rubinéia que apresentava

uma proporção de 10,6% de pessoas extremamente pobres em 1991 (a maior proporção

apresentada ao longo dos anos entre os municípios estudados), e também apresentou uma

queda bastante considerável, chegando à 3,2% em 2000 e 0,6% em 2010 (a menor proporção

apresentada entre os 04 municípios), ou seja, ao longo de 19 anos, Rubinéia que apresentava,

entre os municípios estudados, a maior proporção de extremamente pobres, chega em 2010

apresentado a menor proporção entre estes mesmos municípios.

Populina, que apresentava uma proporção de 3,3% em 1991, contou com um aumento

desta proporção no ano de 2000, alcançando 5,0%, porém, nos próximos anos também

79

apresentou queda, chegando em 2010 com 1,0%. Por fim, Riolândia não apresentou muitas

alterações proporcionais entre os anos de 1991 e 2000, tendo apresentados dados de 6,8% e

6,9% respectivamente, apresentando uma queda apenas na pesquisa de 2010, alcançando

1,9%.

Em relação à proporção de pobres, representada pelas pessoas com a renda per capta

domiciliar igual ou inferior à R$140,00 em agosto de 2010, identificamos também que os

municípios estudados apresentam proporções mais próximas aos índices do Estado de São

Paulo (4,7%), que se encontra com uma proporção consideravelmente mais baixa que a média

proporcional do país (15,2%).

Gráfico 15 – Proporção de pobres

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Todos os municípios apresentaram queda nas proporções das pessoas pobres ao longo

dos anos (entre 1991 e 2010) e de acordo com o gráfico identificamos que os municípios de

Rubinéia (2,3%), Macaubal (2,7%) e Populina (4,4%) apresentaram em 2010, proporções

inferiores inclusive à proporção estadual (4,7%), enquanto Riolândia apresenta a maior

proporção de pessoas pobres entre os municípios entrevistados (6,2%), estando porém,

abaixo da média nacional (15,2%).

Em relação à proporção de pessoas vulneráveis à pobreza, representada pelas pessoas

com a renda per capta domiciliar igual ou inferior à R$255,00 em agosto de 2010 (meio

salário mínimo vigente naquele período), assim como nos gráficos anteriores que apresentam

informações de pessoas extremamente pobres e de pessoas pobres, identificamos que os

municípios estudados também apresentam proporções inferiores à media proporcional do país,

que apontava em 2010 32,6% de pessoas vulneráveis à pobreza.

80

Gráfico 16 – Proporção de vulneráveis à pobreza

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

Todos os quatro municípios apresentaram uma queda significativa em relação à

proporção de vulneráveis à pobreza entre a pesquisa realizada em 1991 e a realizada em 2010.

Entretanto, encontram-se um pouco acima da média proporcional do Estado de São Paulo que

apresentou em 2010 16,1%, estando Rubinéia com 17,1%, Macaubal com 18,2%, Populina

com 19,3% e Riolândia com uma média proporcional um pouco mais elevada, de 26,3%.

De acordo com o Gráfico 17, que retrata a média da renda per capta da população,

podemos identificar que o Estado de São Paulo possui uma população que conta com uma

renda per capta de R$1084,00, superior à media nacional de R$794,00, no ano de 2010.

Gráfico 17 – Renda per capta média

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

81

Os quatro municípios estudados, apesar de terem registrado crescimento nesta média

da per capta entre os anos de 1991 e 2010, contam na ultima pesquisa, com uma média per

capta bastante inferior à media estadual, apresentando inclusive, um valor inferior até mesmo

à media da per capta do país.

Identificamos, na pesquisa do ano de 2010, o município de Macaubal com a média per

capta de R$705,00, Rubinéia com R$676,00, Populina com R$621,00 e Riolândia com

R$539,00, per capta esta que representa um pouco menos que a metade da média per capta do

Estado de São Paulo.

O Índice de Desenvolvimento Humano é calculado a partir da média geométrica dos

índices das dimensões de Renda, Longevidade e Educação, com pesos equivalentes.

Gráfico 18 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

Fonte: PNUD, IPEA e FJP (2013).

A partir do gráfico 10, é possível identificar que ambos os municípios visitados

apresentaram crescimento em seu IDH municipal entre os anos de 1991 e 2010. Em 2010, o

município de Rubinéia apresentou o maior índice (0,76), seguido por Macaubal (0,74),

Populina (0,71) e por fim, Riolândia (0,70) com o menor índice.

Identificamos, com base na pesquisa de 2010, que o IDH do Estado de São Paulo

(0,78) é superior ao IDH do país (0,73). Entretanto, todos os quatro municípios apresentaram

índices inferiores ao Estadual (0,78). Por sua vez ao serem comparados ao índice nacional

(0,73), consideramos que os municípios de Populina e Riolândia encontram-se com índices

inferiores (0,71 e 0,70 respectivamente) enquanto Macaubal (0,74) e Rubinéia (0,76) estão

superando este índice.

82

A análise destes gráficos nos leva a identificar algumas questões relevantes. De forma

geral, comparando a realidade dos municípios entre os anos de 1991 e 2010, podemos afirmar

que todos eles apresentaram evolução e avanços significativos no que tange à esperança de

vida ao nascer, à renda per capta média e ao índice de desenvolvimento humano.

Ao compararmos a realidade atual (dados de 2010) dos municípios com a realidade

estadual e nacional, observamos que na maioria dos casos os municípios apresentam índices

mais favoráveis que a realidade nacional, entretanto em alguns casos encontram-se em

desvantagem em relação aos índices estaduais. Esta situação pode ser identificada ao

analisarmos os índices de Proporção de Extremamente Pobres, Pobres e Vulneráveis à

pobreza.

Os dados nos apontam ainda que as famílias dos municípios visitados possuem um

índice de renda per capta média significativamente inferior à média per capta do restante do

Estado e até mesmo à média nacional. Dados estes que se complementam ao observarmos que

o índice de desigualdade nestes municípios são inferiores ao índice Estadual e nacional.

Assim, podemos compreender que na região estudada as famílias possuem rendimentos

familiares inferiores à media nacional e estadual, o que contribui para que o índice de

desigualdade entre aquele que possui a renda per capta familiar maior e aquele que possui a

renda per capta familiar menor também seja inferior.

Ao direcionarmos o olhar para os índices relacionados à educação, é possível

identificar uma desvantagem dos municípios em relação aos índices nacionais e

principalmente estaduais, como por exemplo, no que tange ao índice de pessoas com nível de

superior completo. Apesar de ter registrado avanços ao longo dos anos, estes municípios

possui índices bastante inferiores. O mesmo acontece com relação ao índice de analfabetismo,

apesar da queda deste índice nos municípios, eles continuam superiores ao restante do Estado

e bem próximos aos índices nacionais, estando superiores em dois dos municípios, os que nos

mostra uma vulnerabilidade significativa no que tange ao acesso à política de educação nesta

região.

Por fim, podemos concluir que esta é uma região em desenvolvimento, uma vez que os

índices apresentaram avanços importantes no espaço de quase 20 anos.

Entretanto, é uma região que ainda enfrenta vulnerabilidades em razão dos baixos

índices de escolaridades, que resultam na falta de qualificação profissional e consequente nas

menores chances de conquistarem espaço no mercado de trabalho formal, que proporcione

segurança e proteção, na perspectiva da lógica do seguro, que conforme já foi discutido no

83

Capítulo 1, possui na organização atual do Sistema de Seguridade Social brasileiro, um peso

significativo.

Outra característica relevante a ser considerada, está relacionada a media da renda per

capta (significativamente inferior a media do restante do Estado) o que nos leva a

compreender sobre a existência da prevalência de baixos rendimentos para a grande massa da

população, situação esta que certamente pode contribuir para a exposição de parte

significativa da população à inúmeras vulnerabilidades sociais e até mesmo à situações de

dificuldades para suprir as necessidades básicas de seus núcleos familiares.

2.3 Trabalhadores do SUAS: O Perfil dos Sujeitos desta Pesquisa

Considerando a importância da preservação da identidade dos profissionais e dos

municípios onde estão inseridos os CRAS visitados, em consonância com os princípios da

ética em pesquisa, não identificaremos os nomes dos municípios. Desta forma, nos

reportaremos aos CRAS dos municípios apresentados no capítulo 2.2 desta dissertação a

partir da denominação CRAS I, CRAS II, CRAS III e CRAS IV.

Ao realizamos os contatos com os coordenadores dos CRAS para apresentarmos a

proposta metodológica desta pesquisa e seus objetivos, informamos que poderiam participar

do grupo focal todos os trabalhadores do SUAS que realizam atendimento ao público no

CRAS.

Apresentamos a seguir, no Quadro 1, os profissionais que participaram do grupo focal

em cada um dos CRAS visitados.

Quadro 1 – Participantes do Grupo Focal

CRAS PARTICIPANTES DO GRUPO FOCAL

CRAS I Coordenador Assistente

Social Psicólogo

Auxiliar

Administrativo

Estagiário de

Serviço Social

CRAS II Coordenador Assistente

Social

Assistente

Social

Assistente

Social

Terapeuta

Ocupacional

CRAS III Coordenador Psicólogo Auxiliar

Administrativo

CRAS IV Assistente

Social

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

84

De acordo com a tabela, é possível identificar que não foram todos os trabalhadores

que atendem ao público que participaram dos grupos focais, o que ocorreu devido às diversas

dificuldades encontradas ao longo da pesquisa. Alguns imprevistos impossibilitaram que a

proposta inicial tivesse êxito.

O CRAS I foi o único entre os quatro CRAS visitados que proporcionou a participação

de toda a sua equipe na realização do grupo focal.

O CRAS II proporcionou a participação do coordenador e dos profissionais de nível

superior, entretanto, não participaram os profissionais que ocupam os cargos de recepcionista,

auxiliar administrativo e orientador social.

O CRAS III possibilitou a participação do coordenador, psicólogo e auxiliar

administrativo. A coordenação até sugeriu que aguardássemos o retorno do assistente social

(que encontrava-se afastado por licença-médica) para a realização do grupo focal, porém,

devido aos prazos para a conclusão da pesquisa, não foi possível. Dos profissionais que

atendem ao público, não participaram, portanto, o assistente social e o recepcionista.

O CRAS IV contribuiu com a participação apenas do assistente social. Esclarecemos

que aguardamos alguns meses até conseguirmos agendar a visita para a realização do grupo

focal neste CRAS, devido dificuldades para falar com o coordenador, que já havia aceitado

participar desta pesquisa. Na data agendada, ao chegarmos ao CRAS fomos informados que

devido a um imprevisto o coordenador não iria trabalhar naquela data, então o assistente

social nos recebeu e respondeu ao roteiro do grupo focal, de acordo com as suas

possibilidades, deixando sem respostas alguns conteúdos, principalmente os relacionados à

gestão, por não ter as informações necessárias.

Aos profissionais participantes do grupo focal, descritos no Quadro 1, solicitamos que

respondessem o questionário que foi elaborado com o objetivo de realizar mos um estudo do

perfil dos sujeitos dessa pesquisa. Porém, dos treze profissionais que contribuíram, apenas

nove devolveram os questionários respondidos, o que acabou prejudicando o alcance do

objetivo inicial. Desta forma, apresentamos a seguir o perfil dos sujeitos desta pesquisa, a

partir do conteúdo dos questionários que nos foram entregues devidamente respondidos.

85

A tabela 2 nos indica quais profissionais responderam ao questionário:

Tabela 2 – Função que exerce no CRAS

Função que exerce no CRAS Total

Administrativo 1

Assistente Social 4

Coordenador 1

Psicólogo 2

Terapeuta Ocupacional 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

A tabela 3 traz informações sobre o sexo, idade, titulação, curso e ano de conclusão:

Tabela 3– Sexo, Idade e Formação Profissional

Função que

exerce no

CRAS

Sexo Idade Titulação Nome da

Instituição Curso

Ano de

Conclusão Total

Administrativ

o M 35 Graduado UNIJALES Letras 2002 1

Assistente

Social F

27 Graduado UNIFEV Serviço Social 2008 1

32 Graduado FEF Serviço Social 2011 1

33 Graduado UNIFEV Serviço Social 2007 1

40 Graduado UNIFEV Serviço Social 2011 1

Coordenador F 30 Graduado FUNEC Serviço Social 2007 1

Psicólogo

F 24 Graduado FEF Psicologia 2013 1

36 Graduado UNIP Psicologia 2002 1

Terapeuta

Ocupacional

F 34 Graduado FEF

Terapia

Ocupacional 2013 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

É possível destacar que os sujeitos desta pesquisa se constituem em um público jovial,

com uma faixa-etária de idade entre 24 e 40 anos de idade. Todos cursaram a graduação em

faculdades particulares da região e são majoritariamente do sexo feminino. Ressalto que

apenas um homem participou dos grupos focais.

No que tange à experiência profissional na área da assistência social, observamos que

nenhum dos sujeitos desta pesquisa atuaram no período anterior à criação do SUAS,

entretanto, a maioria deles possuem tempo de experiência nesta política social há mais de 03

86

anos, o que nos leva a supor que os mesmos conhecem a organização da assistência social em

nosso país.

Tabela 4 – Experiência Profissional

Função que exerce

no CRAS

Tempo de

atuação na área

da assistência

social

Tempo de

atuação

nesta

função

Vínculo

empregatício

Carga Horária

Semanal Total

Administrativo 7 anos 7 anos Estatutário 40 1

Assistente Social

6 meses 6 meses Estatutário 30 1

3 anos 3 anos

Contrato

Temporário 40 1

6 anos 4 anos Estatutário 40 1

7 anos

2 anos e

meio Estatutário 40 1

Coordenador 6 anos 4 anos Estatutário 40 1

Psicólogo 3 anos 3 anos Estatutário 40 1

4 anos e meio

1 ano e

meio Estatutário 30 1

Terapeuta

Ocupacional 3 anos 3 anos Estatutário 30 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

Em relação ao engajamento e a participação política, é possível observar que os

profissionais vêm ocupando os espaços dos conselhos de direitos, neste caso, alguns dos

sujeitos que responderam aos questionários compõem o Conselho Municipal da dos Direitos

da Criança e do Adolescente e também o Conselho Municipal dos Direitos do Idoso.

Tabela 5 – Participação Política

Função que exerce no CRAS Participação Política Qual Total

Administrativo Não

1

Assistente Social

Não

1

Sim CMDCA 1

CMDI 2

Coordenador Sim CMDCA 1

Psicólogo Sim CMDCA 2

Terapeuta Ocupacional Sim CMDCA 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

87

Em relação à participação em eventos científicos, foi possível identificar que esta não

costuma ser uma atividade rotineira dos sujeitos, uma vez não participaram de nenhum evento

científico nos últimos 12 meses.

Tabela 6 – Participação em Eventos Científicos

Função que exerce no CRAS Participação Eventos Científicos Total

Administrativo Não 1

Assistente Social Não 4

Coordenador Não 1

Psicólogo Não 2

Terapeuta Ocupacional Não 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

Realizaram, como podemos visualizar na Tabela 7, apenas capacitações.

Tabela 7 – Participação em Capacitações

Função que exerce

no CRAS

Participou de

Capacitações

Auxilio Financeiro da

Instituição Nome Total

Administrativo Não

1

Assistente Social

Não

2

Sim Sim

CRAS - A Porta de

entrada do SUAS 1

Diversas Ofertadas

pela DRADS 1

Coordenador Sim Sim

Diversas Ofertadas

pela DRADS 1

Psicólogo Não

1

Sim Sim

Capacitação

Conselho Tutelar 1

Terapeuta

Ocupacional Sim Sim

Diversas Ofertadas

pela DRADS 1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

Cabe aqui destacar que, geralmente, as capacitações ofertadas pelo governo,

proporcionam apenas aprendizados técnicos para a aplicação ou aprimoramento de alguma

ação específica.

A fundamentação teórica, por sua vez, acaba não encontrando espaço para ser

discutida nestes espaços. Daí então, reforçamos a relevância do engajamento e participação

profissional nos eventos científicos de suas categorias profissionais específicas, uma vez que,

88

à luz da teoria é possível encontrar possibilidades e subsídios para enfrentar os desafios do

cotidiano do trabalho profissional.

E, por fim, no que tange ao acesso às leituras de materiais específicos da área da

assistência social, podemos destacar que apenas um profissional elencou alguns livros, outros

se restringiram a citar legislações e guias técnicos, enquanto a maioria nem mesmo vêm

realizando este tipo de leitura.

Tabela 8 – Leituras

Função que exerce no CRAS

Leituras de

livros sobre

conteúdo

específico

Qual? Qual 2? Qual 3? Total

Administrativo

Sim

Gestão de

Benefícios –

SIBEC

1

Assistente Social Não

4

Coordenador

Sim

LOAS - ECA -

Cartilha PAIF I

e II

1

Psicólogo

Não

1

Sim

Psicologia

comunitária X

assistencialismo:

possibilidades e

limites.

Solidariedade,

política e

poder: o

desafio às

políticas

sociais.

Transferência

de renda no

Brasil.

1

Terapeuta Ocupacional Não

1

Total Geral 9

Fonte: Elaborado por Elaine Friozi G Guimarães em 2015.

Ao olharmos para o perfil destes sujeitos, podemos identificar que se trata de

profissionais formados dentro dos últimos 10 anos, mas que se encontram ausentes dos

espaços de discussões teóricas de suas categorias profissionais.

Esta realidade pode ser compreendida ao considerarmos as condições de trabalho

destes profissionais, que majoritariamente estão cumprindo 40 horas de trabalho semanais,

entre eles, até mesmo alguns assistentes sociais, que possuem por direito a garantia da

redução da carga horária para 30 horas semanais, sem redução salarial (e que não estão

usufruindo deste direito).

Podemos ainda destacar a grande demanda de trabalho, somada à precarização do

quadro de recursos humanos, conforme já foi apresentado no início deste capítulo (ao

89

apresentarmos os dados da região da DRADS de Fernandópolis), situação esta que acaba

sobrecarregando os profissionais.

Desta forma, os profissionais acabam sendo “engolidos” pelo cotidiano árduo de

trabalho e assim não encontram espaço ou disponibilidade para exercitarem a reflexão teórica.

Esta situação deve ser levada em conta ao discutirmos sobre o processo de implantação e

implementação de uma política social, que apesar de inovadora, é marcada por contradições,

que só poderão ser discutidas e analisadas a partir do momento que os profissionais do SUAS

se apegaram à fundamentação teórica e juntos passarem a propor mudanças na base

organizativa deste sistema, de forma que possam caminhar ainda mais na busca pelo alcance

da assistência social enquanto direito.

90

CAPÍTULO 3 O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS NOS

MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE I: A PERSPECTIVA DOS

TRABALHADORES.

Há exatamente uma década, no ano de 2005, a assistência social vivenciou um marco

histórico com a criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Naquela

oportunidade, depositava-se na implantação de um sistema unificado para a assistência social,

a possibilidade para efetivá-la enquanto política pública, garantida sob a ótica do direito em

todo o território nacional.

O SUAS nascia com o legado de organizar as ações na área da assistência social.

Instituiu a descentralização política e administrativa e a territorialização com a finalidade de

garantir que as realidades regionais pudessem ser consideradas no âmbito da gestão para o

planejamento das ações, entretanto, trouxe um direcionamento, uma estrutura para a

assistência social que deveria nortear todo o território nacional na condução desta política

pública.

Porém, nos dias atuais, mesmo completando dez anos de SUAS, será possível afirmar

que este sistema encontra-se implantado em nosso país e que os municípios estão

conseguindo organizar e efetivar as ações da assistência social para além das “concessões

materiais aos necessitados”, mas na busca pela garantia do acesso aos direitos sociais por

meio do trabalho intersetorial? Será possível afirmar que a lógica do trabalho social com as

famílias rompeu com as antigas práticas “de controle” e estão proporcionando informações e

possibilidades de lutas coletivas pelos interesses coletivos dentro do território? Será possível

afirmar que nesta década a assistência social enfim conquistou o seu espaço no bojo das

políticas públicas e conseguiu romper com sua trajetória histórica marcada pelo

espontaneísmo, pelo não direito, pelo favoritismo? Por fim, será possível afirmar, que mesmo

considerando a conjuntura atual marcada pela exploração, pela desigualdade social, pelo

ataque aos direitos e pela lógica da redução do papel do Estado a política de assistência social

vem ofertando, ou melhor, tem possibilidade de ofertar Proteção Social às famílias em

situação de vulnerabilidade social?

Considerando a magnitude do nosso país, não pretendemos com esta pesquisa

apresentar dados que possam retratar a realidade nacional, tampouco pretendemos retratar a

realidade do noroeste paulista – recortado pela DRADS de Fernandópolis, no que tange à

implantação do SUAS.

91

Pretendemos aqui, abordar a organização da política de assistência social atual,

prevista pela PNAS e norteada pelo SUAS, e então, apresentar a perspectiva dos trabalhadores

do SUAS - que contribuíram com esta pesquisa – em relação a esta política pública e seu

processo de implantação/implementação.

Identificamos elementos importantes do cotidiano destes trabalhadores, que nos

levam a refletir sobre como eles apreendem a realidade vivenciada cotidianamente e sobre

como os pressupostos do SUAS podem ser identificados nas ações concretas do dia-a-dia,

além de compreendermos sobre como estão sendo criadas estratégias para efetivar a política

de assistência social nos territórios de abrangência dos CRAS, considerando os desafios

diários e os resquícios da trajetória história da assistência social.

3.1 O Sistema Único de Assistência Social: Reflexões Pertinentes

De acordo com a PNAS, o SUAS enquanto um sistema descentralizado e participativo

regula e organiza as ações assistenciais de caráter permanente ou eventual existentes em todo

o território nacional.

O SUAS é constituído pelo conjunto de serviços, programas, projetos e

benefícios no âmbito da assistência social prestados diretamente – ou

através de convênios com organizações sem fins lucrativos –, por órgãos e

instituições públicas federais, estaduais e municipais da administração

direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público. (BRASIL,

2008, p. 97).

Este Sistema Único conta com alguns pilares para nortear a organização da política de

assistência social no Brasil. Trataremos sobre alguns deles, de modo a instigar uma reflexão a

respeito das bases que direcionaram a elaboração da política nacional de assistência social

tanto sob a ótica dos formuladores da política, quanto sob a ótica de estudiosos que trazem um

olhar crítico a respeito dos seus fundamentos.

Segundo a PNAS, o SUAS deverá partir da territorialização para formular suas

intervenções.

Levando em conta a extensão de nosso país, suas áreas urbanas, suas significativas

áreas rurais e suas metrópoles, podemos ter em mente o quanto este país é desigual, e esta

realidade torna equivocada qualquer tentativa de homogeneizar realidades tão distantes, como

as encontradas no Brasil.

92

A PNAS traz, então, como referência, a caracterização dos grupos territoriais a partir

de uma definição dos municípios como de Pequeno Porte I, Pequeno Porte II, Médio Porte,

Grande Porte e Metrópole, que também é utilizada pelo IBGE.

Esta classificação tem o objetivo de instituir o SUAS de acordo com a realidade local,

implantando as ações de proteção básica em todos os municípios do território brasileiro e

ações de proteção especial – de média e alta complexidade nos municípios de médio, grande

porte e nas metrópoles.

Para a realização desta pesquisa, optamos pelo recorte dos municípios de pequeno

porte I, conforme a apresentação realizada no capítulo 2 desta dissertação.

De acordo com a NOB-SUAS (2005) os municípios de pequeno porte I, em

consonância com o seu perfil, devem ofertar os serviços de proteção social básica e a cada

2.500 famílias referenciadas, devem contar com pelo menos 1 CRAS implantado.

No que tange à proteção especial, fica a critério da gestão a sua oferta, que pode se dar

por meio da instalação de equipamentos no próprio município ou por meio de serviços de

referência regional (ofertados pelo Estado) e consórcios públicos pactuados entre municípios

de determinada região.

Nos municípios visitados, podemos constatar que todos eles contam com apenas 01

CRAS implantado para atender o território com a oferta dos serviços de proteção social

básica.

Em relação à proteção especial, verificamos que para a oferta de algumas ações há o

estabelecimentos de consórcios intermunicipais e a oferta de serviços regionais, como é o

caso do atendimento com as Medidas Socioeducativas previstas pelo ECA (semiliberdade e

internação) e a Medida de Proteção de Acolhimento Institucional. Entretanto, as demais ações

de proteção Social especial são ofertadas de acordo com as possibilidades de cada município,

no próprio Órgão Gestor da Política de Assistência Social.

O SUAS propõe a organização das ações socioassistenciais a partir das seguintes

referências: Vigilância Social, Proteção Social e Defesa Social e Institucional.

A Vigilância Social é compreendida pela PNAS como “[...] mecanismo essencial para

a prevenção do risco, do quase risco e das situações de vulnerabilidades social existentes nos

territórios e micro-territórios.” (BRASIL, 2008, p. 51).

A vigilância socioassistencial deve buscar conhecer o cotidiano da vida das

famílias, a partir das condições concretas do lugar onde elas vivem e não só

as médias estatísticas ou números gerais, responsabilizando-se pela

identificação dos “territórios de incidência” de riscos no âmbito da cidade,

93

do Estado, do país, para que a Assistência Social desenvolva política de

prevenção e monitoramento de riscos. (BRASIL, 2009a, p. 93).

De acordo com a PNAS, a vigilância social:

[...] refere-se à produção, sistematização de informações, indicadores e

índices territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e

social que incidem sobre famílias/pessoas nos diferentes ciclos da vida

(crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos); pessoas com redução da

capacidade pessoal, com deficiência ou em abandono; crianças e adultos

vítimas de formas de exploração, de violência e de ameaças; vítimas de

preconceito por

etnia, gênero e opção pessoal; vítimas de apartação social que lhes

impossibilite sua autonomia e integridade, fragilizando sua existência;

vigilância sobre os padrões de serviços de assistência social em especial

aqueles que operam na forma de albergues, abrigos, residências, semi-

residências, moradias provisórias para os diversos segmentos etários. Os

indicadores a serem construídos devem mensurar no território as situações

de riscos sociais e violação de direitos. (BRASIL, 2009a, p. 39-40).

Sendo assim, o principal objetivo do desenvolvimento da vigilância social está em

“[...] conhecer o cotidiano da vida dos usuários da política de assistência social, detectando

situações de precarização, vulnerabilidade e risco social que ameaçam cidadãos e suas

famílias.” (BRASIL, 2008, p. 51).

No que tange à Proteção Social, esta “[...]tem por direção o desenvolvimento humano

e social e os direitos de cidadania, e seus serviços, programas, projetos e benefícios devem

estar articulados com as demais políticas sociais para efetivamente se constituir um sistema

público.” (BRASIL, 2008, p. 45).

O SUAS, ao considerar que as necessidades sociais são diversas e complexas,

configurou a proteção social em duas modalidades: proteção social básica e proteção social

especial.

A Proteção Social Básica engloba as ações preventivas, de convivência,

socialização, inserção e acolhida, voltadas prioritariamente para as famílias e

indivíduos em situação de vulnerabilidade social, visando desenvolver

potencialidades, aquisições e fortalecimento de vínculos familiares e

comunitários. Nessa modalidade, estão incluídos os serviços, programas e

projetos, locais de acolhimento, convivência e socialização e os benefícios

de prestação continuada, eventuais e outras formas de tranferência de renda

como, por exemplo, os benefícios pagos pelo Programa Bolsa Família.

(BRASIL, 2008, p. 47).

94

As ações de proteção social básica devem ser concretizadas no Centro de Referência

de Assistência Social (CRAS) ou estarem a ele referenciadas.

A proteção social especial divide-se entre a proteção social especial de média

complexidade e a proteção social especial de alta complexidade.

A proteção social especial tem por objetivos prover atenções

socioassistenciais a famílias e indivíduos que se encontram em situação de

risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou

psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de

medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre

outras. (BRASIL, 2009a, p. 92).

As ações de proteção especial de média complexidade devem ser concretizadas no

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ou estarem a ele

referenciadas.

Para a Proteção Especial de Média Complexidade são considerados os

serviços que ofertam atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos

violados em maior grau que os de proteção básica, cujos vínculos familiar e

comunitário, embora fragilizados, não foram rompidos. Os serviços de

acolhida, escuta, atendimento psicossocial a indivíduos, grupos e famílias,

referência e contra-referência com a rede socioassistencial, com as demais

políticas sociais e com as instituições que compõem o Sistema de Garantias

de Direitos. (BRASIL, 2008, p. 48)

Já a proteção social de alta complexidade é destinada às famílias cujos membros

tiveram rompimento de vínculos. Todas essas ações, que preveem assistência integral, devem

estar referenciadas no CREAS.

A Proteção Especial de Alta Complexidade prevê assistência integral

(moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido) a famílias e

indivíduos que se encontram sem referência e/ou sob ameaça, necessitando a

sua retirada do núcleo familiar ou comunitário. (BRASIL, 2009a p. 38).

A proteção social prevista pelo SUAS deve ser norteada pelos princípios da

matricialidade sociofamiliar, da territorialização, da proteção pró-ativa, da integração ao

sistema de seguridade social e da integração às políticas sociais e econômicas.

A proteção social de Assistência Social consiste no conjunto de ações,

cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para redução

e prevenção do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo de vida, à

dignidade humana e à família como núcleo básico de sustentação afetiva,

biológica e relacional. (BRASIL, 2009a, p. 92)

95

Desta forma, deve propiciar a garantia das seguintes seguranças: Segurança de

acolhida, segurança social de renda, segurança de convívio familiar, comunitário e social,

segurança do desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social e a segurança de

sobrevivência a riscos circunstanciais.

Por fim, a Defesa Social e Institucional, prevê que as ações da proteção social, seja

ela básica ou especial, devem ser organizadas de forma que os usuários tenham acesso ao

conhecimento acerca dos direitos socioassistenciais assegurados pelo SUAS, que são:

• Direito ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, ausente de

procedimentos vexatórios e coercitivos. • Direito ao tempo, de modo a

acessar a rede de serviço com reduzida espera e de acordo com a

necessidade. • Direito à informação, enquanto direito primário do cidadão,

sobretudo àqueles com vivência de barreiras culturais, de leitura, de

limitações físicas. • Direito do usuário ao protagonismo e manifestação de

seus interesses. • Direito do usuário à oferta qualificada de serviço. • Direito

de convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2009a, p. 40).

A referência da defesa social e institucional tem como objetivo criar oportunidades

para que a assistência seja reconhecida enquanto um direito social. Então, as ações ofertadas

devem ter como perspectiva a acessibilidade, a autonomia e o protagonismo do usuário, de

forma que em nenhum momento, o usuário venha a ser submetido às relações de tutela e

subalternização (BRASIL, 2008).

Para tanto, os usuários precisam ser incentivados a se manifestarem sobre as situações

de violações de direitos. De acordo com a NOB-SUAS, os principais mecanismos e espaços

para a defesa de direitos são as ouvidorias, os centros de referência, os conselhos de direito,

entre tantos outros.

Desse modo, considerando as referências da vigilância social, da proteção social e da

defesa social e institucional, o SUAS prevê que a rede de serviços socioassistenciais se

reorganize, por meio de um reordenamento dos serviços ofertados.

Ao abordarmos sobre as referencias indicadas pelo SUAS para pautar a organização da

política de assistência social, a discussão sobre alguns conceitos, torna-se relevante.

As expressões “riscos sociais” e “vulnerabilidade social” aparecem diversas vezes no

conteúdo da PNAS e ganham destaque no âmbito da vigilância social, apresentada

anteriormente, o que nos leva a compreender que estes são conceitos importantes a serem

discutidos.

Na política de assistência social, o conceito de vulnerabilidade social não pode estar

atrelado apenas à questão econômica, conforme explicam Mestriner e Nery (2009), a

96

vulnerabilidade social deve ser compreendida como um conceito multifacetado com várias

dimensões. Os materiais de capacitação sobre o SUAS apresentam as seguintes características

que a vulnerabilidade social compreende:

[...] a ausência ou precariedade de renda; o desemprego e o trabalho informal

e inseguro; o acesso frágil ou inexistente aos serviços sociais públicos; a

perda ou fragilização de vínculos de pertencimento e de relações sócio-

familiares; as mais diversas discriminações e preconceitos a que estão

sujeitos indivíduos, famílias, coletividades, grupos e classes sociais.

(BRASIL, 2009a, p. 45).

Desta forma, a PNAS destaca as situações que deverão ser cobertas por ela:

A opção que se construiu para exame da política de assistência social na

realidade brasileira parte então da defesa de um certo modo de olhar e

quantificar a realidade, a partir de: [...]Uma visão social de proteção, o que

supõe conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos,

bem como os recursos com que conta para enfrentar tais situações com

menor dano pessoal e social possível. Isto supõe conhecer os riscos e as

possibilidades de enfrentá-los. (BRASIL, 2009a, p. 15).

O SUAS estabelece que é tarefa da vigilância social associar as situações de

fragilidades identificadas no território com as informações e indicadores sobre o acesso aos

direitos sociais e aos serviços socioassistenciais disponíveis.

Recorre-se, então, ao conceito de território desenvolvido pelo Geógrafo Milton Santos,

que aborda sobre a exposição aos riscos sociais às quais as famílias podem se encontrar, de

acordo com o território no qual esteja inserida.

[...] permite compreender a forma como as relações sociais se materializam

num dado espaço, conformando em um local específico as estruturas de

oportunidade e ambientes de exposição a riscos, fazendo emergir na análise

as potencialidades e vulnerabilidades próprias da dimensão territorial. Isto

significa dizer que as potencialidades ou vulnerabilidades de uma mesma

família ou indivíduo podem apresentar variações significativas, conforme o

território em que está inserida. (SANTOS apud BRASIL, 2010, p. 74).

Compreendendo a lógica da vigilância social, é possível afirmar que a Política

Nacional de Assistência Social foi elaborada a partir de uma visão social de prevenção, que

supõe identificar os riscos e as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos os destinatários da

Assistência Social, considerando ser o cotidiano da vida das pessoas o espaço onde os riscos e

as vulnerabilidades se constituem. Ao longo do seu texto, a PNAS trata de forma significativa

97

sobre os riscos sociais, seja no âmbito da prevenção dos riscos, como também no âmbito da

intervenção nas situações de risco.

Considerando tamanha atenção destinada aos riscos e às situações de vulnerabilidade

social, alguns estudiosos apresentam uma leitura crítica deste conceito de risco, pois

acreditam que ele está fundado na percepção da Sociedade de Riscos.

Ulrick Beck, um dos filósofos de maior destaque em relação aos estudos da Sociedade

de Riscos, em seus livros defende que atualmente, a sociedade industrial marcada pela

produção, está sendo substituída pela sociedade de riscos, onde a exposição aos riscos sociais

independe das condições econômicas e sociais. Este sociólogo relaciona a sociedade de risco

com a globalização, defendendo que na modernidade atual os riscos são democráticos e

podem afetar a qualquer um, independentemente de classe social ou de qualquer tipo de

fronteira (GUIVANT, 2001).

Anthonny Giddens, filósofo britânico que também discute sobre a sociedade de riscos,

aponta diferenças entre a sociedade de riscos e a sociedade de classes, afirmando que a

Sociedade de Riscos introduz novos tipos de perigos para a humanidade além de afirmar que

nesta sociedade existe um equilíbrio entre perigo e oportunidade (JANCZURA, 2012).

Ao discutirmos sobre os riscos sociais, a partir da perspectiva da sociedade de riscos,

estamos automaticamente deixando de lado a existência da sociedade de classes e suas

contradições, advindas principalmente da relação capital x trabalho.

Quando pensamos numa sociedade de riscos, estamos tratando de riscos enquanto uma

questão individual, que pode ser vivenciada por qualquer sujeito, o qual, neste caso deverá

encontrar meios para enfrentá-los, de acordo com as suas possibilidades.

A partir desta concepção pode-se dizer que não há mais pobres e ricos –

todos estão expostos aos mesmos riscos, estes afetam a todos igualmente,

que se tornam vulneráveis aos mesmos. Portanto, a sociedade do risco põe

em xeque a sociedade de classes. Quando na verdade o que ocorre, de fato, é

que a sociedade de classes centrada na acumulação ampliada do capital é que

propicia inúmeros “riscos”. (MUSTAFA, 2013, p. 8)

Mustafa (2013) acredita que é esta a concepção de risco presente no sistema de

proteção social do Brasil. E, de acordo com a sua linha de raciocínio, isso contribui para que a

política de assistência social deixe de lado o debate sobre a existência das classes sociais e

suas desigualdades, e consequentemente deixe de olhar para os riscos sociais enquanto uma

questão coletiva, societária, que deve ser enfrentada pela sociedade, já que se trata de um

produto da sociedade desigual em que vivemos.

98

Assim, é possível compreender, sob esta ótica, que quando a assistência social objetiva

que o sujeito consiga superar a situação de risco vivenciada a partir do fortalecimento dos

vínculos afetivos e até mesmo do desenvolvimento de suas potencialidades, acaba por seguir a

lógica da sociedade de riscos, uma vez que, neste caso, o usuário torna-se o principal

responsável pela superação da situação de risco vivenciada.

Nesse sentido, cabe aqui reforçar sobre a importância de não nos esquecermos da

existência da sociedade de classes ao olharmos para o território, para as situações de

vulnerabilidades, para os riscos aos quais as famílias estão expostas cotidianamente,

principalmente em razão da grande desigualdade social presente em nosso país.

Precisamos sempre frisar que deixando de lado a sociedade de classes, a política de

assistência social deixaria de olhar para a contraditoriedade advinda da relação conturbada

existente entre capital x trabalho e consequentemente se tornaria impotente para intervir de

fato nas desigualdades e alcançar a transformação social, afinal toda a realidade contraditória

e suas consequências no cotidiano acabariam não sendo consideradas ao longo da construção

das estratégias de intervenção e assim, as intervenções profissionais acabariam ficando no

campo do imediatismo.

Outro conceito muito relevante e bastante utilizado, que também carece ser discutido

encontra-se em um dos princípios norteadores da proteção social no âmbito do SUAS: a

matricialidade sociofamiliar.

O SUAS apresenta a família como principal foco da proteção social. O que não pode

ser considerado como uma inovação, principalmente ao nos atentarmos ao fato de que a

família, que tem sua importância explícita na Constituição Federal de 1988, passou a estar

presente nos últimos anos em importantes estatutos do nosso pais, como o Estatuto da Criança

e do Adolescente, o Estatuto do Idoso e também na LOAS.

Há de se chamar atenção, também, para o fato de que, na última década, a

família tornou-se o elemento central da intervenção das políticas de

assistência social. Sobre isto, é importante lembrar que a LOAS considera

como objetivo a proteção à família, e a determina como um dos focos de

atenção da política de assistência social. Em suma, a proteção à família se

tornou uma estratégia a ser considerada pela política de assistência social,

enquanto alvo privilegiado dos programas sociais e é, nesse sentido, que se

tem a articulação de alguns programas de garantia de renda mínima, por

exemplo, que toma a família como unidade de intervenção. (ALENCAR,

2006, p. 63).

99

Parte-se do princípio de que não existe um modelo único de família:

[...] não existe família enquanto modelo idealizado e sim famílias resultantes

de uma pluralidade de arranjos e rearranjos estabelecidos pelos integrantes

dessas famílias. Nesse sentido, a família é concebida “como núcleo afetivo,

vinculada por laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos

circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de

relações de geração e de gênero. (BRASIL, 2008, p. 58).

Independente do formato que possui, a família, de acordo com a PNAS, é a mediadora

das relações entre os sujeitos e a sociedade, é a mantenedora do cuidado de seus membros e,

portanto, ela também precisa ser “cuidada”. Principalmente ao levarmos em consideração o

espaço contraditório onde se encontra a família, marcado por conflitos e por desigualdades. A

família, na contemporaneidade, dentro do sistema capitalista, vive em uma luta cotidiana para

prover suas necessidades básicas e torna-se público-alvo fundamental da proteção social

prevista no SUAS.

Com a crise no mundo do trabalho, a abordagem sobre os temas de família

ganha, necessariamente, novos contornos e especificidades. Famílias inteiras

veem-se abaladas pelo desemprego estrutural. Os pais perdem seus postos de

trabalhos, muitas vezes de maneira irrecuperável. Mulheres voltam ao

mercado, não mais na figura de complementadoras da renda familiar, mas

como principais responsáveis pelo orçamento doméstico. Os filhos, por sua

vez, vivem o assombro de uma sociedade que ameaça não lhes abrir espaço

no mercado formal de trabalho, a despeito de toda a dedicação e

investimentos, eventualmente, realizados pela família em sua formação

educacional e profissional. (ALMEIDA; GUIMARÃES, 2007, p. 129)

Sob esta perspectiva, a PNAS traz a assistência social com centralidade na família

como ponto importante para o desenvolvimento de uma política de cunho universal, em

consonância com os princípios do SUAS.

[...] a centralidade na família com vistas à superação da focalização, tanto

relacionada a situações de risco como a de segmentos, sustenta-se a partir da

perspectiva postulada. Ou seja, a centralidade da família é garantida à

medida que na Assistência Social, com base em indicadores das

necessidades familiares, se desenvolva uma política de cunho universalista,

prioritariamente, em redes socioassistenciais que suportem as tarefas

cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência familiar e comunitária.

(BRASIL, 2009a, p. 42).

100

A matricialidade familiar se torna, portanto, um dos eixos estruturantes do SUAS:

Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural

geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e

contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da

política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de

proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros,

mas que precisa também ser cuidada e protegida. (BRASIL, 2009a, p.41).

Entretanto, alguns estudiosos da política de assistência social trazem outro olhar para

esta perspectiva da matricialidade familiar proposta pela PNAS.

As questões que se colocam, hoje, são: como as famílias (em especial as

famílias pobres) se auto-protegerão diante de uma conjuntura adversa – em

que sobrevivem em condições precárias de moradia, trabalho, etc.? É preciso

considerar que as mulheres (até então tidas como as principais cuidadoras)

estão lutando no mercado de trabalho pela sobrevivência que não raras

vezes, no caso brasileiro, depende exclusivamente destas. Sendo assim como

esperar que estas continuem desempenhando o mesmo papel de protetoras da

família? O que ocorre quando a família não é “capaz” de proteger os seus

membros? (MUSTAFA, 2013, p. 14-15).

É preciso refletir até que ponto esta família está sendo protegida e cuidada o suficiente

para se tornar um espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias.

Afinal, a realidade com a qual nos deparamos cotidianamente nos aponta uma conjuntura

adversa, como bem apontou Mustafa, que em nada contribui para que as famílias possam se

autoproteger.

Sendo assim, caso direcionemos um olhar acrítico para a formulação da política de

assistência social em nosso país, corremos o risco de vir a classificar as famílias entre as que

são “capazes” e as que são “incapazes” de proteger os seus próprios membros:

Esta concepção de que as famílias, independentemente de suas condições

objetivas de vida e das próprias vicissitudes da convivência familiar, devem

ser capazes de proteger e de cuidar de seus membros, está profundamente

arraigada no âmbito da sociedade e tem certamente desdobramentos

importantes na operacionalização de uma política de assistência social. Ela

alimenta o estabelecimento de uma distinção básica entre famílias capazes e

famílias incapazes, mais capazes ou menos incapazes. (CAMPOS; MIOTO,

2003, p. 184 apud MUSTAFA, 2013, p. 15).

Compreendemos então, a necessidade de não deixarmos de lado a complexidade do

lugar ocupado pela família na sociedade em que vivemos, e assim ficarmos atentos aos nossos

101

posicionamentos profissionais ao tratarmos do papel da família frente às situações precárias

que a maioria está exposta nessa sociedade capitalista, evitando assim, qualquer possibilidade

de culpabilização das mesmas, pelas dificuldades enfrentadas.

A partir destas reflexões, é possível identificar que o SUAS traz uma proposta de

ampliação dos direitos e do acesso a estes, traz orientações importantes para um novo

direcionamento das ações socioassistenciais, considerando as especificidades territoriais e

também as complexidades e as diversidades das necessidades sociais. Entretanto, existem

desafios a serem superados.

Nesse sentido, apresentamos a seguir a perspectiva dos sujeitos desta pesquisa a

respeito do SUAS, a partir do trabalho desenvolvido pelos CRAS, dentro de uma conjuntura

composta por mudanças, avanços, persistências e resistências, mas que tem como objetivo o

alcance da efetivação da assistência social enquanto um direito.

Almejando maior clareza na realização de nossas reflexões e análises, optamos pelas

criação de categorias analíticas. Para tanto, estabelecemos sete categorias de análises, sendo

elas:

Categoria de análise I - O cotidiano do CRAS: a porta de entrada para a política de

assistência social;

Categoria de análise II - Principais vulnerabilidades e riscos sociais presentes no

território: Demandas de trabalho;

Categoria de análise III - Os usuários do SUAS e o controle social;

Categoria de análise IV - O trabalho social com famílias;

Categoria de análise Categoria de análise V - O trabalho em rede;

Categoria de análise VI - Os caminhos da assistência social: qual a contribuição do

SUAS?;

Categoria de análise VII - Assistência Social: Um direito efetivado?

3.2 O Cotidiano do CRAS: A Porta de Entrada para a Política de Assistência Social

O CRAS é uma unidade pública estatal responsável pela oferta dos serviços de

proteção social básica. Por ser considerado referência para o desenvolvimento dos serviços

socioassistenciais em todo o seu território de abrangência, podemos afirmar, de acordo com a

PNAS (2004) que o CRAS é a principal porta de entrada do SUAS.

102

Sendo assim, indagamos os profissionais sobre o conhecimento que a população tem

acerca do trabalho desenvolvido pelo CRAS, com a finalidade de identificarmos se é possível

afirmar que o CRAS vem sendo uma referência para a população.

Eu acredito. Primeiro por que é feito um trabalho de divulgação do direito da

assistência social. Então desde que começou em 2009 a gente já sabia do

trabalho que era feito e hoje todo cidadão tem conhecimento que existe um

CRAS, que está localizado no centro do município. E assim, devem ser

muitas poucas pessoas que não teve acesso ainda, que não conhece o

trabalho. Porque a gente sempre faz um trabalho não só voltado para o nosso

público, mas para toda a comunidade. Então a gente leva isso pra população,

nas buscas ativas que a gente faz, nos eventos que a gente faz. Que o CRAS

está aqui e que nós estamos de portas abertas para o que eles tiverem

duvidas, ou para orientações, ou para qualquer outro serviço que eles

quiserem ter acesso, que procurem a gente e que se não for competência

nossa, a gente encaminha para onde tem que ser encaminhado. Jamais um

usuário vai entrar por essa porta sem orientação e a gente vai deixar ele ir

embora perdido, a gente vai encaminhar, orientar certinho o que ele deve

fazer, aonde ele deve buscar essa solução. (CRAS I, 2015)

Sim, eu acho que sim, com certeza. Porque assim, todo nosso trabalho é

divulgado, e nós [...] sabemos da grande responsabilidade em executar né?

Cada um sabe do compromisso que é trabalhar no CRAS e executar essa

política né? de assistência social, então, eu acredito que temos executado e

temos assim divulgado bastante o nosso trabalho, ele é bem conhecido na

cidade. (CRAS III, 2015)

Para população é sim, a com certeza, eu acredito que sim. Considera muito...

não só eles como todo política né? No município toda política pública: a

saúde, a educação... É tudo no CRAS. (CRAS II, 2015)

Eu acredito que sim, todo mundo conhece, todo mundo vem procurar a gente

e, às vezes não vem procurar só às vezes, o atendimento do CRAS eles vem

tirar outras informações com a gente também, que a gente pode estar

ajudando, a gente sempre ajuda. Todo mundo conhece, é bem visado, ele é

um pouco afastado da cidade, mas todo mundo conhece, sabe do trabalho

sim. (CRAS IV, 2015)

De acordo com a perspectiva dos trabalhadores do SUAS, sujeitos desta pesquisa, é

possível afirmar que o CRAS é uma referência para a população, pois os munícipes sempre

procuram pela equipe do CRAS para obter informações sobre os direitos sociais, para ter

acesso aos serviços, aos programas, aos projetos e aos benefícios ofertados e também para

acessar a rede intersetorial.

No que tange às principais demandas do CRAS, solicitadas pelos usuários,

encontramos realidades diversas. O CRAS I apontou como principal demanda apresentada

pelos usuários o acesso às informações sobre os seus direitos.

103

Parte de orientação. As pessoas procuram no CRAS uma orientação, muito

mais do que benefício eventual. Ela quer saber qual o direito que ela tem, de

qual benefício do INSS, por que ela quer ser esclarecida. Tem sim

rompimento de vínculos, tem várias demandas, mas a busca por orientações

é a maior delas. Acesso ao BPC, acesso ao auxílio-doença, elas buscam

ondem tem que ir, o que tem que fazer, elas tem essa visão, de que ela vão

vir aqui e sair com uma resposta, sabendo aonde tem que ir, com quem tem

que falar, o que eu preciso. (CRAS I, 2015)

Depararmo-nos com realidades como esta é bastante significativo. Por tantos anos a

assistência social esteve atrelada ao assistencialismo, à concessão de bens materiais, então, ao

identificarmos que em alguns lugares esta visão sobre a assistência social vem sendo

modificada é algo positivo que nos leva a acreditar que o SUAS está contribuindo para

mudanças, especialmente, por meio do trabalho dos CRAS.

Ao considerarmos o CRAS como a porta de entrada para o SUAS e identificarmos que

a principal demanda posta pelos usuários está relacionada à informações sobre o acesso aos

direitos, é possível afirmar que estão sendo construídos vínculos entre a equipe de referência e

a população e que, conforme expôs o CRAS 1, o CRAS vêm sendo a ponte entre o usuário e o

direito social.

Então a gente sabe que está ali de pivô entre o usuário e o direito e toda a

rede em volta, então é você que tem que fazer a articulação alí para poder

levar esse direito até o usuário. (CRAS I, 2015)

Entretanto, esta não é a realidade de todos os CRAS, tanto que os demais CRAS que

participaram desta pesquisa ainda contam com outras demandas por parte dos usuários.

Relataram que as principais demandas por parte dos usuários estão relacionadas ao

acesso aos Programas Sociais, aos Benefícios Eventuais e aos cursos que são ofertados.

Inclusão em programas sociais né? Bolsa, renda e ação. Ultimamente que a

energia aumentou eles buscam a tarifa social de energia, que é para ter o

desconto, encaminhamentos esporádicos para INSS, BPC e participar dos

cursos. (CRAS III, 2015)

Benefício eventual ou participação em algum programa, ou é bolsa família,

ou é renda cidadã, ou é ação jovem, um programa de moradia, mas é sempre

no âmbito do benefício social mesmo, do benefício em si, não é nem o

trabalho sócio educativo. (CRAS II, 2015)

É a questão dos programas e cursos também, cursos eles sempre procuram,

às vezes eles até procuram cursos que a gente não oferece aqui, mas eles

sempre vêm aqui procurar cursos. (CRAS IV, 2015)

104

Considerando a existência dos programas de transferência de renda enquanto “carro

chefe” do governo atual, é possível compreender esta demanda que surge por parte dos

usuários.

Desta forma, é possível refletir sobre a possibilidade do CRAS utilizar estas demandas

de forma estratégica, utilizando os Programas Sociais para além de meio de “transferência de

renda”, mas também como alternativa importante para o desenvolvimento do trabalho de

proteção social básica, ou seja, para o desenvolvimento do trabalho social com as famílias, o

que pode “[...] funcionar como uma espécie de alavanca para incluir no circuito dos bens,

serviços e direitos existentes na sociedade, grupos sociais injustamente impedidos dessa

participação.” (PEREIRA, 2001, p. 226). Afinal:

Acredita-se que qualquer estratégia que busque a superação da pobreza passa

necessariamente pelas pessoas, e que para desenvolver estratégias

sustentáveis e efetivas é necessário alterar [...] condições limitadoras,

investir no empoderamento das pessoas, no desenvolvimento de sua

autonomia, competência e capacidade de autodesenvolvimento, visando a

ampliação de sua capacidade de ação. Sem alterar essa dimensão, não é

suficiente alterar condições objetivas, prover bens e serviços, investir em

infra-estrutura ou alterar condiçõesmacroeconômicas, uma vez que os

resultados não serão efetivos ou sustentáveis no longo prazo (CARNEIRO,

2005, apud RAMOS, 2008, p. 45).

Nesse sentido ressaltamos sobre a importância de utilizarmos os espaços existentes no

cotidiano do trabalho do CRAS para se efetivar uma intervenção profissional crítica,

Consideramos que o trabalho com os grupos de familias beneficiárias dos Programas Sociais

pode ser estrategicamente caracterizado enquanto um desses espaços. Dentro desta

perspectiva, destacamos a relevância da dimensão educativa do trabalho desenvolvido com as

familias beneficiárias dos programas sociais, conforme detalharemos mais adiante quando

abordaremos o trabalho social com as famílias.

Em relação às principais demandas que chegam ao CRAS por parte da gestão, o

CRAS afirmou que estão relacionadas à parte burocrática.

A parte burocrática. Os relatórios. Todo procedimento gera um papel. Então

o burocrático dos grupos, o burocrático dos atendimentos, o burocrático

mensal para o Órgão Gestor, fora o que a DRADS solicita, a alimentação de

sistema, registro em prontuário. Então é muita coisa para ser registrada e as

vezes você perde muito tempo registrando. Você se enrola no registro e as

vezes fala: Amanha tenho que executar tal grupo, eu tenho que planejar a

atividade. Então, às vezes você se atropela para executar. É muito

105

desgastante. E a gente tem mais dificuldade para fazer o burocrático do que a

prática. (CRAS I, 2015).

Estas demandas estão relacionadas ao sistema de avaliação e monitoramento das ações

da assistência social, previsto pelo SUAS. Desta forma, o registro dos atendimentos e a

alimentação dos sistemas são de suma importância para que se tenha um retrato concreto da

realidade da assistência social no município, o que poderá contribuir para a avaliação e o

aprimoramento de todas as ações desenvolvidas.

Já o CRAS III e o CRAS II acreditam que a principal demanda da gestão está

relacionada à qualidade do serviço prestado, além da realização do acompanhamento familiar.

Há... Que a gente execute bem né? Nosso trabalho que atenda... Um serviço

qualificado né? Que ofereça um serviço de qualidade, que os usuários saiam

satisfeitos né? satisfeitos e que realmente tenha impactos né? na vida de

quem vem procurar nossos serviços. (CRAS III, 2015).

Acompanhamento né? Eu acho que para a lei valer o que é mais necessário é

o acompanhamento. O que mais a gestão pede para nós? No caso até esses

dias eu estava em visita né? Então seria essa questão de visita, mas agora,

agora como esta mudando a gente está em mudança aqui no CRAS, seria

acompanhamento familiar né? [...] Seria o atendimento, benefício né..

acompanhamento para que a pessoa volte sempre, a questão do atendimento

CAD único que até a um tempo atrás estava bem tumultuado, bem difícil [...]

e não da tempo de atender a todo mundo, e a gente tem que se desdobrar,

isso é o que a gestão mais pede, para que a gente não deixe o usuário ir

embora sem ser atendido, que atenda todo mundo, fazer acolhimento né? E

uma coisa que frisa muito é para que todo mundo saiba o serviço de todo

mundo para que todo mundo entenda um pouquinho de cada coisa aqui

dentro para a hora que a pessoa pedir uma informação a gente não deixe a

pessoa ir embora sem uma resposta, [...] mesmo que não seja eu a

responsável por aquele serviço, mas eu tenho pelo menos que saber o que é,

para informar a pessoa a gente tem que saber... (CRAS II, 2015).

E o CRAS IV apronta como principal demanda da gestão, a inclusão nos programas

sociais.

É sempre inclusão em programa social, que eles mandam assim para cá, da

gestora quase não tem, quase não vem nenhum encaminhamento, mas da

coordenadora ela sempre pede para alguém me procurar para inclusão em

programa social mesmo. (CRAS IV, 2015).

Logo após a criação da PNAS em 2004 e a instituição do SUAS em 2005, no ano de

2006 foi publicada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – NOB-

RH/SUAS.

106

De acordo com a NOB-RH/SUAS os CRAS com até 2500 famílias referenciadas

(como é o caso dos CRAS visitados) devem contar com a seguinte equipe mínima: 01

coordenador, 02 técnicos de nível médio e 02 técnicos de nível superior, sendo 01 assistente

social e o outro, preferencialmente, 01 psicólogo. A NOB-RH/SUAS trata também do perfil

e das atribuições de cada um dos integrantes desta equipe mínima.

Considerando os direcionamentos normativos do SUAS, solicitamos aos sujeitos da

pesquisa que apresentassem as atribuições dos componentes da equipe mínima do CRAS,

para que fosse possível conhecer a organização do trabalho dos CRAS visitados.

Ao abordarmos sobre o papel desenvolvido pelo Coordenador do CRAS:

Direcionar a equipe, estudar junto com a equipe, planejar junto com a

equipe. Conhecer o território, quais as necessidade do território, do nosso

público. É tanta coisa, envolve capacitação constante, a busca de solução de

problemas junto com a equipe. Entender a necessidade de cada profissional e

a diferença de cada profissional enquanto formação, enquanto personalidade

e saber lidar com isso, tentar tirar o máximo de cada um. Aproveitar o

máximo, porque às vezes um não tem facilidade em algo que o outro tem lá

suas dificuldades, mas que ambos se complementam, então, isso é o mais

difícil, eu acredito: tentar levar o clima de trabalho confortável, que seja

harmônico. (CRAS I, 2015).

Um elemento interessante destacado pelo CRAS I está no trabalho em equipe,

conforme podemos observar na fala acima, o coordenador direciona a equipe, mas não

escolhe sozinho a direção a ser tomada, o trabalho se dá por meio de uma construção

conjunta.

Na organização né, como que vai funcionar o trabalho da equipe, e na

organização mesmo, nessa dimensão, porém, isso seria o que deveria ser,

mas de fato não é isso, de fato eu tenho essa... Esse nome de coordenação,

mas dai eu tenho atribuição de execução, de secretária, é isso. [...] acabo

fazendo trabalho administrativo [...] atendo, sou assistente social [...] (CRAS

II, 2015).

Neste caso, é possível identificar que o coordenador encontra-se com uma sobrecarga

de tarefas, devido ao acúmulo de funções. Além das demandas da coordenação, o

coordenador também realiza trabalho administrativo e o atendimento ao público.

Ham... é muita mistura, porque é muita coisa ao mesmo tempo, assim, às

vezes eu me sinto... é... Não sufocada, porque eu gosto do que eu faço, só

que quando eu sento para ver, parece que eu não consigo fazer como eu

gostaria de fazer entendeu? Não fica tudo do jeito que eu gostaria que fosse.

(CRAS II, 2015).

107

O MDS elaborou alguns materiais que direcionaram a implantação dos CRAS no

território, nestes recomenda-se que o coordenador seja um profissional com funções

exclusivas:

Uma das funções principais do coordenador é articular as ações junto à

política de Assistência Social e às outras políticas públicas visando

fortalecimento da rede de serviços de Proteção Social Básica. Assim,

recomenda-se que seja um profissional com funções exclusivas. Se este

profissional tiver de articular e pensar estratégias para que a equipe possa

trabalhar bem, e ainda, trabalhar direto com as famílias haverá uma

sobrecarga de funções e, conseqüentemente, uma queda na qualidade dos

serviços prestados, o que justifica a impossibilidade do coordenador ser da

equipe técnica. (MDS, 2009, p. 64).

Desta forma, o acumulo de funções do coordenador do CRAS II, podem influenciar na

qualidade do trabalho desenvolvido.

No tocante ao papel desenvolvido pela equipe técnica de nível superior:

Na verdade é assim, quando a gente chega pra trabalhar na política de

assistência, cada profissional com cada graduação a gente acha: Eu sou a

assistente social do CRAS (antes de conhecer a política). Aí você vem pra

política, passa se interagir com esta política e se coloca no lugar de Técnico

de Nível Superior da Política. Aí você percebe que o psicólogo trabalha

junto com você para fazer o mesmo papel, que um necessita do outro, que eu

não tenho todo aquele conhecimento que eu precisaria ter para poder atender

uma demanda que chega aqui e ai é ela que me completa. (CRAS I, 2015)

Então eu trabalho com grupos nas oficinas que são implementadas aqui, a

gente tem muitas oficinas, eu faço grupo com eles, trabalho em atendimento

individual com as pessoas que entram e deixam os programas que têm aqui.

Também faço, eu executo palestras, visitas domiciliares, busca ativa junto

com a assistente social, visitas junto com a assistente social, pessoas novas

que entram nos programas a gente faz visita, acompanhamento familiar

também a gente faz. (CRAS III, 2015).

A perspectiva da interdisciplinaridade é uma das orientações do SUAS, os materiais

disponibilizados pelo MDS trazem informações e direcionamento sobre este tipo de trabalho,

de forma que os técnicos de nível superior venham a realizar um trabalho conjunto, sem

segmentar o atendimento prestado à população.

A interdisciplinaridade é um processo de trabalho recíproco, que

proporciona um enriquecimento mútuo de diferentes saberes, que elege uma

plataforma de trabalho conjunta, por meio da escolha de princípios e

conceitos comuns. Esse processo integra, organiza e dinamiza a ação

cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenação, a fim de

organizar as linhas de ação dos profissionais em torno de um projeto comum.

(MDS, 2009, p. 65).

108

Porém, “[...] salienta-se que o trabalho em equipe não pode negligenciar a definição de

responsabilidades individuais e competências. Deve-se buscar identificar papéis, atribuições,

de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe interdisciplinar, encarrega-se de

determinadas tarefas.” (MDS, 2009, p. 65).

Desta forma a formação de cada profissional que compõe a equipe técnica é de suma

importância, pois cada um com os seus conhecimentos específicos, poderão contribuir para a

compreensão das demandas que chegam até o CRAS e então colaborar com o planejamento

das estratégias para o atendimento às famílias.

Em relação aos técnicos de nível médio, nos deparamos com diversas nomenclaturas e

funções:

Eu sou técnico de nível médio e trabalho com o cadastramento para os

programas sociais, as vezes também na recepção. O usuário chega aqui,

mesmo que ele tenha o conhecimento apenas de um benefício social, que ele

tem o interesse, a gente sempre faz o cadastramento no Cadastro Único e no

Pró-Social, sempre orientando também né, sobra a Carteira do Idoso, a

Tarifa Social, sempre assim, o que puder fazer, a gente orienta o usuário.

(CRAS I, 2015).

Agente administrativo, e fico no acolhimento das famílias aqui, realizo o

cadastro único, entrevistadora, e operadora de sistema e dentre outras coisas,

faço oficio, inscrições. Auxílio os técnicos também, nos cadastros

únicos.(CRAS III, 2015).

Temos dois auxiliares administrativos, que é assim: eles fazem as listas de

presença né? Tiram fotos e fazem atendimento ao público também no caso,

além de fazer todas essas coisas elas fazem entrevistas do CAD único. E tem

a digitadora, que é uma das auxiliares. Tem um entrevistador especifico

também do Cadastro Único, ele só faz isso, só faz as entrevistas do CAD

único. [..] Aí tem a recepcionista que ela faz antes de qualquer pessoa vim

aqui com a gente ela vai conversar com eles, vai perguntar o que eles

querem, e vai orientar, se necessário ela manda para a gente, caso contrário

não. Ela já orienta ali mesmo. (CRAS IV, 2015)

Em consonância com as orientações do MDS, os técnicos de nível médio, dentro das

diversas funções apresentadas, auxiliam a equipe técnica e realizam o trabalho administrativo,

em especial os cadastramentos das famílias. Por estarem em constante contato com a

população, os técnicos de nível médio também orientam as famílias sobre os seus direitos, ao

longo dos atendimentos.

Entretanto, é preciso refletir sobre o relato a respeito das atribuições da recepcionista

do CRAS IV. Para tanto recorremos ao material publicado pelo MDS de Orientações técnicas

sobre o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).

109

A recepção é o momento no qual a família recebe a primeira atenção ao

adentrar no CRAS. [...] Ela pode ser realizada por funcionários (as) de nível

médio. Esses técnicos devem ser capacitados, de forma continuada, para que

compreendam esse momento como um direito da família, respondendo suas

demandas de forma solícita e respeitosa. [...] Nessa etapa, o funcionário,

devidamente capacitado, pode repassar algumas informações básicas [...],

coletar algumas informações essenciais sobre a família ou algum de seus

membros que está em busca de atendimento (exemplo: nome do responsável

familiar, nº dos documentos de identificação, nº do NIS, composição

familiar, endereço, entre outros), agendar atendimento com os técnicos de

nível superior, entre outros. [...] Todas essas informações subsidiarão a

acolhida realizada pelo técnico de nível superior, da equipe de referência do

CRAS, que poderá ocorrer em seguida à recepção ou ser agendada para

momento posterior, conforme urgência que o atendimento requer e o fluxo

de atendimento que deve ser estabelecido pelo Serviço, em cada CRAS.

(MDS, 2012b, p. 20).

Cabe aqui destacar, que “[...] a acolhida das famílias, dada às características e

responsabilidades, compõe atividade exclusiva dos profissionais de nível superior da equipe

de referência do CRAS.” (MDS, 2012b, p. 19), pois deve se constituir numa oportunidade para

conhecer a realidade da família que buscou pelo atendimento do CRAS, além de proporcionar

uma possibilidade para o estabelecimento de vínculos entre a família e a equipe técnica de

referência.

A acolhida é, na maioria das vezes, o processo de contato inicial de um

indivíduo ou famílias - não raras vezes é o primeiro contato “qualificado” da

família com o SUAS. Consiste no processo inicial de escuta das

necessidades e demandas trazidas pelas famílias, bem como de oferta de

informações sobre as ações do Serviço, da rede socioassistencial, em

especial do CRAS e demais políticas setoriais. (MDS, 2012b, p. 17).

Desta forma, o espaço da recepção não pode ser considerado o melhor lugar para que

este atendimento aconteça. “Destaca-se que o espaço reservado para a recepção e a postura do

profissional responsável por este primeiro atendimento [...] deve ser conduzido de modo a não

se transformar em um momento vexatório aos usuários, preservando o sigilo das informações

prestadas.” (MDS, 2012b, p. 20).

A recepção desenvolve um papel muito importante no CRAS, entretanto deve-se

garantir uma acolhida qualificada, realizada pelos técnicos de nível superior, evitando que a

família venha expor sua situação diante dos demais usuários que estão aguardando pelo

atendimento e possibilitando que o processo de escuta qualificada contribua para a melhor

qualidade do serviço prestado.

Dentre os técnicos de nível médio, encontram-se também as funções de orientador

social e facilitador de oficinas:

110

É feito toda uma preparação, um estudo da função e do que deve ser

passado, no caso do Ação Jovem, a gente segue os cadernos, que é estar

passando sobre cidadania, sobre o meio ambiente, sobre cultura, história e

lazer de forma didática, que não seja cansativa para os usuários que estejam

aqui, por que por mais que eles recebem um benefício, eles não tem essa

obrigação de estar ouvindo o tempo todo algo que seja muito teórico. Então

a gente passa o mais lúdico possível. [...] O Orientador Social do Serviço de

Convivência faz o trabalho com aquele público que ele é destinado, porque

têm vários públicos: tem o das crianças de 06 a 09 anos, de 10 a 12 anos, de

13 à 14 anos, de 15 à 17 anos e tem também o orientador do PAIF, que ele

abrange a família. Cada orientador tem o seu grupo. (CRAS I, 2015)

Nas realidades dos municípios visitados, quando há a presença de orientador social e

facilitador de oficinas, estes são contratados por meio de processo seletivo. Entretanto, há

municípios, como é o caso do CRAS III, onde quem realiza todo o trabalho com os grupos e

coletivos específicos, são os técnicos de nível superior.

3.3 Principais Vulnerabilidades e Riscos Sociais Presentes no Território: Demandas de

Trabalho

Retomando a discussão sobre a territorialização, é importante ressaltar que o estudo do

território é indispensável para que o município possa conhecer melhor a realidade local, suas

características, os principais pontos de vulnerabilidade e as principais potências; porém, para

que se alcance este resultado, é necessário ter clareza de que a territorialidade representa

muito mais do que um espaço geográfico.

Os territórios são espaços de vida, de relações, de trocas, de construção e

desconstrução de vínculos cotidianos, de disputas, contradições e conflitos,

de expectativas e de sonhos, que revelam os significados atribuídos pelos

diferentes sujeitos. É também o terreno das políticas públicas, onde se

concretizam as manifestações da questão social e se criam os

tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento. (BRASIL, 2008,

p. 53, grifo do autor).

Abordamos os coordenadores dos CRAS sobre a existência de um estudo do território

que norteie as ações na área da assistência social, ou até mesmo que nortearam o processo de

implantação dos CRAS.

Durante o processo de implantação foi realizado um mapeamento com base

nos dados do IBGE e dos Cadastros para Programas Sociais (Cadastro Único

e Prosocial) tabulando os dados com base nos indicadores disponíveis

111

(renda, serviços e políticas existentes no território, condições de habitação,

entre outros). (Coordenador do CRAS I, 2015).

Existe um diagnóstico parcial da área de abrangência do CRAS, refere-se

aos programas sociais. As ações de monitoramento e avaliação do CRAS são

realizadas por meio do controle de frequência, acompanhamento das ações e

da qualidade do serviço ofertado. (Coordenador do CRAS III, 2015).

Em relação ao monitoramento e a avaliação das atividades:

Sim. As ações são monitoradas e avaliadas por meio reuniões técnicas

mensais e semestrais para reavaliação do Plano de Ação, além de visitas nos

serviços. Para o mapeamento do município utilizamos as informações do

Cadastro Único identificando qual a porcentagem de usuários por rua e qual

região concentra a maioria dos beneficiários. Ainda, definimos com base nas

informações das listas de pagamento quais famílias são prioritárias para a

atualização cadastral; através do censo suas avaliamos e estabelecemos

metas para melhoria na oferta dos serviços e as principais deficiências das

unidade. (Coordenador do CRAS I, 2015).

O município utiliza os dados da gestão de informação do SUAS para

planejar, monitorar e avaliar as ações. O atendimento individualizado, as

visitas domiciliares, a busca ativa, o trabalho socioeducativo e os cursos são

realizados com base nas vulnerabilidades sociais levantadas por meio do

Cadastro Único, do Programa Bolsa Família, do BPC, da Rede SUAS e do

Censo SUAS. (Coordenador do CRAS III, 2015).

A partir da territorialização é possível realizar uma análise crítica do cotidiano e um

estudo cultural sobre a população do território. Tal procedimento pode contribuir para que a

formulação das políticas públicas venha ao encontro das reais necessidades locais, podendo,

assim, contribuir com a inclusão social, com a qualidade de vida, com a resolução dos

problemas concretos da população, existentes em determinado território, além de contribuir

para a construção da divisão territorial que identifique conjuntos populacionais em situação

similar.

Conforme apresentado na PNAS:

Dirce Koga afirma que “os direcionamentos das políticas públicas estão

intrinsecamente vinculados à própria qualidade de vida dos cidadão. É no

embate relacional da política pública entre governo e sociedade que se dará a

ratificação ou o combate ao processo de exclusão social em curso. Pensar na

política pública a partir do território exige também um exercício de revista à

história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive neste

território [...]. A perspectiva de totalidade, de integração entre os setores para

uma efetiva ação pública... vontade política de fazer valer a diversidade e a

inter-relação das políticas sociais” (KOGA, 2003, p. 25 apud BRASIL, 2005,

p. 44).

112

Partindo desta lógica, pedimos aos sujeitos da pesquisa que relacionassem o perfil dos

usuários do CRAS com a realidade territorial, tentando identificar quais as principais

vulnerabilidades e riscos sociais existentes.

Quando a gente começa a analisar o território e a gente vê o que a gente tem

nesse território em questão de vulnerabilidade, a gente tem uma

característica, como é um município pequeno e ele tem uma infraestrutura

muito boa, o acesso ao saneamento é muito bom, o acesso à saúde tem suas

mazelas, mas ainda assim é bom, a educação também, tem lá os seus

problemas na questão de vagas de acesso à creche... Só que assim,

analisando o território, a questão de emprego, a nossa região aqui é

composta por usina, cana de açúcar, agropecuária, comércio é muito pouco,

prefeitura, então o nosso publico, o que vem aqui no CRAS ou é para acesso

a algum direito mesmo, ou é aquele trabalhador que está em período de

entressafra e ele precisa de vir aqui para acesso a algum benefício, ou algum

auxílio. (CRAS I, 2015).

Por se tratar de uma região com a instalação de muitas usinas sucroalcooleiras, de

acordo com os relatos, é possível identificar que estas usinas são de grande importância para a

geração de empregos não só nos municípios onde estão instaladas, mas para os municípios

vizinhos também, porém, no período entressafra, estas famílias, devido à ausência de trabalho,

acabam recorrendo aos serviços da assistência social.

Ao mesmo tempo, os empregos gerados não vêm sendo suficientes para atender toda a

demanda por emprego e a situação do desemprego é algo marcante na região. Podemos

observar que as oportunidades de empregos são restritas, com algumas possibilidades nas

usinas, no comércio local, na zona rural ou nas prefeituras.

É a falta de emprego né? Porque as maiorias dos empregos estão vinculados

a prefeitura, comercio tem pouco, então assim, ou eles saem para fora, para

cidades vizinhas... é as cidades vizinhas que tem usina né? ou é um

trabalhador do campo. (CRAS III, 2015).

Prefeitura... né? O comércio local e usina, as usinas da região... É o que tem,

porque aqui não tem nenhum distrito industrial, não tem indústria não é mais

isso mesmo, não tem muita opção. (CRAS IV, 2015).

A presença dos imigrantes também é uma característica em destaque. Na busca por

melhor qualidade de vida, muitas pessoas deixam o seu Estado de origem para trabalhar nas

usinas sucroalcooleiras, conforme discutem estudiosos do assunto:

[...] entendendo a região Sudeste, ou mais especificamente o estado de São

Paulo, como área de atração para o migrante devido à grande demanda por

força de trabalho exigida no corte da cana-de-açúcar; e na medida em que

esta ocupação possa oferecer uma remuneração superior a qual este

trabalhador poderia receber na área de onde provém. E a região Nordeste,

113

[...] como área de expulsão, devido à falta de alternativas de emprego a

vários trabalhadores rurais [...] que se veem obrigados a vender sua força de

trabalho no corte da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. (ALMEIDA;

LACERDA; SILVA, 2009, p. 4-5).

Porém, em alguns casos, acabam perdendo o emprego e com a ausência da proteção

social vinculada ao trabalho, tornam-se público-alvo da política de assistência social.

O que mais tem aqui é, até que eles comentam, é falta de emprego, né?

Desempregado. E falta de moradia é o que mais tem. E aqui acontece pela

população ser um pouco flutuante, vim gente do nordeste, então isso traz

muito prejuízo acho que para o município, não sei se seria essa a fala

“prejuízo” né? É porque eles vêm... ai hora fica desempregado, ai começa a

aparecer né? Ai não tem dinheiro para o aluguel, alimentação, então assim

isso é um ponto forte que acontece porque aqui na cidade mesmo não tem

usina, tem na região, nas cidades vizinhas, e mesmo assim vêm imigrantes

para cá. (CRAS II, 2015).

Compreendemos que estas situações acabam sendo, por muitas vezes, analisadas

pelos governantes enquanto situações que geram “custos” ao município onde o imigrante

nordestino está residindo, mas é preciso compreender esta realidade enquanto uma

manifestação da questão social:

É necessário deixar claro que a migração é um movimento determinado pela

expulsão, isto é, os trabalhadores migram quando as condições de

reprodução em seus locais de origem encontram-se comprometidas.

Considera-se expulsão todo e qualquer fenômeno social, econômico, étnico-

racial, religioso, político, natural ou de gênero que comprometa as condições

de reprodução do grupo social, colocando a busca por outro local como

única alternativa para sobrevivência. (ALVES, 2007, p. 47, apud COSTA;

CLEPS, 2009, p. 11).

Desta forma, juntamente com a rede intersetorial, cabe também à política de

assistência social proporcionar proteção social a esse trabalhador e sua família, de modo a

prevenir que este processo de “expulsão” venha a ser reproduzido.

Outra característica territorial está relacionada à existência de uma Penitenciária, o que

contribui, de acordo com os participantes da pesquisa, para que algumas famílias se mudem

para o município para ficarem mais próximos ao detento, tornando-se então público-alvo da

política de assistência social.

Devido ao presidio também nós temos essa dificuldade, porque vem tudo

né? O detento está aqui ai vem às famílias depois o detento vai embora, ai

muitos não vão embora fica aqui, ai depende do CRAS para ir fazer a visita,

porque tem o ônibus municipal que leva uma vez por mês essas famílias a

outros presídios para visita [...]. (CRAS II, 2015).

114

Identificamos também a questão do trabalho informal. Em um país como o Brasil,

onde o sistema de seguridade social está muito mais atrelado à lógica do seguro, que à logica

social, encontramos na informalidade laborativa uma vulnerabilidade social muito forte nos

territórios.

Tem os pescadores também, é aqui tem as famílias que trabalham com a

geração de renda com a pesca, e o trabalho informal né? É o trabalho

informal que da muita abertura, por exemplo, hoje tem renda, amanha não

tem, e ai eles estão assim, eles procuram o setor por essa insegurança.

(CRAS III, 2015).

A informalidade laborativa acaba colocando a família em situação de riscos, pois o

trabalhador, por estar desprotegido da cobertura previdenciária não terá nenhuma proteção

caso venha a sofrer algum imprevisto com a sua saúde ou até mesmo com a ausência de

oportunidades de trabalho para ter acesso à renda.

Com base nas falas dos sujeitos desta pesquisa, podemos compreender, de acordo com

o ponto de vista dos mesmos, que as principais vulnerabilidades sociais presentes nos

territórios de abrangência dos CRAS estão diretamente relacionadas com o mercado de

trabalho, ou seja, pela questão da informalidade e até mesmo pelo desemprego.

Estas vulnerabilidades se agravam ao considerarmos as especificidades dos territórios

em questão, como é o caso da existência de penitenciárias e até mesmo a presença dos

imigrantes nordestinos, que acabam contribuindo para um crescimento do número de

habitantes desses pequenos municípios, sem que os mesmos tenham infraestruturas adequadas

para garantir o acesso aos direitos sociais a todos os munícipes.

Ao tratarmos das demandas para a assistência social, considerando as características

regionais e nos depararmos com a questão do desemprego, da informalidade, por fim, da

ausência da proteção social que é legalmente garantida por meio do Sistema de Seguridade

Social Brasileiro, encontramos elementos importantes que precisam ser discutidos.

Conforme já abordamos no capítulo 1, o Sistema de Seguridade Social Brasileiro não é

suficientemente capaz de garantir a universalidade da proteção social. Behring e Boschetti

(2007), nesse sentido, acreditam que em nosso país, a Seguridade Social foi pensada sob a

perspectiva do pleno emprego.

Sendo assim, considerando a realidade apresentada nas falas dos sujeitos, marcada

pelo desemprego, nos deparamos com uma parcela da sociedade que fica excluída da proteção

social garantida pelo Estado, pois, enquanto a política de previdência social protege os

trabalhadores que contribuem, a política de assistência social, no que se refere à oferta da

115

segurança de rendimentos tem como público prioritário os idosos, a partir dos 65 anos de

idade e as pessoas com deficiência, incapacitados para o trabalho, a partir da instituição do

Benefício de Prestação Continuada (BPC), que tem como critério a renda familiar per capta

inferior à ¼ do salário mínimo e garante 1 salário mínimo de benefício mensal.

Nesta lógica de proteção social existe uma lacuna, composta por uma parcela da

população que fica às margens das duas políticas públicas, tanto da previdência como da

assistência social, que são as pessoas em situação de desemprego, de emprego informal,

enfim, pessoas em idade ativa, com a faixa-etária entre 16 e 64 anos de idade, aptos ao

trabalho, entretanto, sem acesso ao emprego.

A este público a política de assistência social oferta a segurança de acolhida e a

segurança de convivência, por meio dos serviços assistenciais e restringe o acesso integral à

segurança de rendimentos, que acaba sendo efetivada apenas por meio da oferta de benefícios

eventuais, que precisam ser regulamentados por meio de Lei Municipal e os programas de

transferência de renda, que não possuem caráter permanente, nem mesmo aparato legal, sendo

apenas um Programa de governo.

Em um dos grupos focais realizados, identificamos uma fala que retrata um pouco

deste perfil de público da assistência social, mas que acaba sendo compreendido de outra

forma:

A maioria foi como eu te falei, eles vêm por causa do desemprego, eles vêm

sempre procurando algum beneficio social [...]A gente sabe também que tem

gente que não gosta de trabalhar né? Que fica dependente de beneficio

social, infelizmente é a realidade, eles se acomodam e não querem trabalhar,

mas a maioria do pessoal é pelo desemprego ou aqueles que acham que tem

direito de receber também, às vezes tem uma condição boa, mas acha que

porque outra pessoa recebe, acha que tem o direito e quer vir aqui receber

também. (CRAS IV, 2015).

Este conteúdo nos leva a refletir sobre até que ponto a assistência social é

compreendida enquanto um direito social nos dias atuais, e sobre este questionamento,

encontramos um conteúdo interessante:

A especificidade do direito constitucional de assistência social brasileiro é a

medida (peso) em que tal direto é regido pela Lógica Contributiva da

Seguridade Social e pela Lógica não Contributiva da Seguridade Social. Se

regido pela Lógica Contributiva da Seguridade Social, a proteção social do

indivíduo estará no mercado participando das relações mercantis de trabalho

para comprar produtos e serviços, ou quando da ausência de tais meios,

estará nas formas tradicionais de proteção social (caridade, tutela, família).

Se regida pela Lógica não Contributiva da Seguridade Social, independente

do trabalho ou da contribuição prévia, o indivíduo terá a sua proteção social

116

assegurada pela sociedade, por meio do Estado. O peso de cada uma dessas

lógicas irá determinar a universalização ou seletividade do direito.

(FREITAS; CARIAGA, 2014, p. 65).

Destacamos a importância desta “medida (peso)” tão bem apresentada pelo autor.

Precisamos ter clareza de que no Brasil não existe o pleno emprego, e desta forma,

consequentemente, existe uma parcela da sociedade que não tem acesso ao trabalho, o que

não pode ser denominado como “acomodação” ou simplesmente como escolha da população

em depender da política de assistência social. Ao lançarmos este olhar ao usuário que se

encontra em idade ativa para o trabalho, estamos na verdade reforçando o papel histórico da

assistência social, voltado para a caridade, para o favor, pois estaremos acreditando que o

indivíduo tem o dever de trabalhar para ter acesso a produtos e serviços por meio do mercado.

É preciso destinar maior peso à lógica não contributiva da Seguridade Social quando

tratamos da política de assistência social, assim, fortaleceremos a garantia da proteção social

por parte do Estado, independente da situação do cidadão no mercado de trabalho, o que

certamente contribuirá para que a assistência social seja efetivada enquanto um direito do

cidadão e dever do Estado.

Discutindo ainda sobre territorialização, a PNAS (2004) aponta que os municípios de

pequeno porte I contam, geralmente, com uma ampla área de zona rural, nesse sentido,

indagamos às equipes dos CRAS sobre a cobertura do atendimento, no intuito de

identificarmos se está sendo possível atender a todo o território de abrangência do CRAS, ou

seja, no caso dos municípios de pequeno porte I, toda a zona urbana, zona rural e os distritos,

quando for o caso.

Não consegue enxergar tudo, mas tudo que chega até nós, ou que a gente

busca lá fora a gente consegue atender. Lógico, nossa cidade é pequena, mas

a demanda de trabalho é grande e na questão do atendimento, a gente faz o

possível para atender todo o território, seja zona rural ou urbana. A

facilidade de trabalhar em um município pequeno é que todo mundo conhece

todo mundo. As vezes a gente não consegue enxergar o que está acontecendo

pela busca ativa e a pessoa não vem até aqui, mas o vizinho dela vem, ou o

parente dela vem, então de uma maneira ou de outra a gente sempre acaba

sabendo. (CRAS I, 2015).

Olha, sim, [...] sim em partes, porque tem casos que a gente não chega a

tomar conhecimento por questão de equipe, porque é equipe mínima né?

Mas assim mesmo que seja um município pequeno a gente não consegue

acompanhar todos os casos, não conseguimos enxergar toda a

vulnerabilidade, porque é muito trabalho, tem que acompanhar os programas

sociais, fazer grupos, e para acompanhar, se a gente for por na ponta do

lápis, se torna assim, um trabalho muito extenso para poucos profissionais,

que no caso seria o psicólogo e o assistente social. (CRAS III, 2015).

117

Eu acho que consegue, eu acho que quem chega aqui é atendido, é uma

demanda espontânea, pode ser em qualquer bairro, qualquer lugar... A gente

vai, mas busca ativa não, na verdade busca ativa não tem a gente ainda não

conseguiu né? [...] Acho que às vezes pode acontecer de a gente não chegar

numa pessoa, mas a gente recebeu uma denuncia de que aquela pessoa tá

precisando né? Tá. Ai a gente vai, mas não que a gente tenha diagnostico de

território, isso a gente não tem. Mas a gente trabalha a cidade como um todo,

mas se chega até nós, à gente vai até a situação. (CRAS II, 2015).

De forma geral, os CRAS estão conseguindo abranger todo o território e o fato de ser

um município pequeno acaba contribuindo para isso. Entretanto, foi destacado que quando o

CRAS conta apenas com a equipe mínima, estabelece-se um ponto dificultador para o

desenvolvimento do trabalho.

Outro ponto dificultador para que o CRAS possa atender todo o território de

abrangência, pode ser identificado na ausência de transporte próprio.

Não, não consegue, porque muitas vezes a gente não tem o transporte para ir

né? Falta esse recurso do transporte à gente não tem um carro próprio então,

não te como, às vezes não tem como ir, agora que eles começaram a liberar

de novo o transporte para a gente, mas eu fiquei muito mais de um mês

parada, que nem, tem um bairro aqui que é próximo, as vezes tinha alguma

visita eu ia fazer a pé, porque é pertinho, que é aqui do lado eu ia, mas caso

contrário não, quando era muito longe não, por falta de transporte mesmo

que a prefeitura não estava fornecendo. (CRAS IV, 2015).

Como já foi abordado anteriormente, os municípios de pequeno porte I possuem uma

característica que é a presença de uma ampla área de zona rural no território. Nesse sentido,

abordamos sobre as estratégias para atender a este público.

Falando da zona rural, no começo do CRAS em 2009, a gente fez um

levantamento na zona rural e não tinha nada. As técnicas na época fizeram

visita na zona rural todinha para montar um grupo das mulheres da zona

rural, para elas destinarem um tempo para elas [...] e aí a gente conseguiu

montar esse grupo lá na zona rural, que terminou em 2012, porque muitas se

mudaram, uma veio para cidade, a outra foi embora e aí o custo de

profissional para manter lá uma vez por semana era inviável. Mas a gente

tinha esse trabalho e elas não faltavam, elas gostavam muito, agora a gente

não tem mais. (CRAS I, 2015).

Esta é uma experiência interessante, o fato de a equipe de referência se deslocar até os

pontos mais distantes e de difícil acesso do território certamente é um ponto facilitador para

que o trabalho com as famílias seja efetivado.

Eles vêm ate aqui... Acho que eles vêm mais que nós vamos, eles vêm sim, e

quando há algum tipo de trabalho a ser realizado a gente vai até eles sim,

mas... Mas aí é igual a gente está falando, sempre quando aparece o caso, ai

118

a gente vai até lá, agora para atender mesmo de maneira espontânea, isso ai..

Não acontece. (CRAS II, 2015).

Entretanto, nem sempre acontece um trabalho direcionado aos moradores da zona rural, ou no

próprio território rural, como explanou o CRAS II, o atendimento “in loco” acaba sendo efetivado

apenas por meio de algum encaminhamento, na maioria das vezes os usuários se deslocam até o

espaço físico do CRAS.

Outra característica da região é a presença de distritos, ou povoados ligados

administrativamente aos municípios. Neste caso o CRAS também precisa atendê-los, pois se

encontra dentro da área de abrangência, considerando que devido a existência de apenas um

CRAS nestes municípios, todo o território torna-se área de abrangência.

Aqui a gente tem povoado. A gente tem o grupo de convivência lá, que é um

grupo de artesanato que acontece todas às terças-feiras. No serviço de

convivência da Terceira Idade no CCI, a prefeitura busca eles para estarem

participando aqui. Tudo que a gente vai fazer, a gente da acesso ao

transporte para eles estarem participando. Toda a busca ativa que a gente faz

aqui no município a gente faz lá! É como se estivesse aqui, não é separado.

Todo o nosso trabalho abrange lá também. Eles não têm resistência em vir

para cá, eles adoram. Até no domingo tem que ter um ônibus para trazer eles

na feira. (CRAS I, 2015).

Tem uma assistente social lá também, uma assistente social só lá e a

psicóloga é a daqui. (CRAS III, 2015).

Em relação aos povoados e distritos, identificamos que algumas atividades são

realizadas em conjunto com o município e neste caso, disponibiliza-se transporte e outras

atividades acontecem especificamente para os moradores dos povoados ou distritos.

O CRAS III por sua vez, apontou que o município disponibiliza 01 assistente social

para atender o distrito e no caso a psicóloga do CRAS contribui com a execução das

atividades.

Uma das ações que deve ser desenvolvida pelo CRAS no seu território de abrangência

é a busca-ativa. “A busca ativa refere-se à procura intencional, realizada pela equipe de referência do

CRAS, das ocorrências que influenciam o modo de vida da população em determinado território.”

(MDS, 2009, p. 31)

Quando se busca, se busca algo, tem o seu objetivo. O município faz busca

ativa. Quando chega uma listagem de cartões não sacados do Bolsa Família e

o meu objetivo é buscar estas famílias para que elas retirem esse cartão e eu

vou atrás, e eu ligo, e eu faço a visita, eu estou fazendo busca ativa, estou

buscando um usuário para atender aquele meu objetivo, ou eu preciso fazer

um levantamento de quantos idosos estão lá no serviço de convivência e

quantos no município não estão, quantos tem cadastro e quantos não tem.

(CRAS I, 2015).

119

Rubinéia: Sim, constantemente. (CRAS III, 2015).

Entretanto, identificamos realidades em que a realização da busca ativa nem sempre é

possível:

Não... Trabalha o tempo todo, o tempo todo atrás das famílias que já estão já

com vínculos né... É porque não tem o CREAS né? Faz falta. Então tudo

chega para a gente, agora dentro do CAD único a gente está começando a

fazer a busca ativa, das famílias que estão em descumprimento, das famílias

que estão sem atualizar cadastros e ai a gente está tentando né? Esta andando

um passinho ai. (CRAS II, 2015).

Não, porque não temos transporte próprio. (CRAS IV, 2015).

Por se tratar de municípios de pequeno porte I, onde a instalação do CREAS não é

obrigatória, muitas vezes, dependendo da realidade territorial, principalmente quando esta é

marcada por diversas demandas que deveriam ser atendidas pela proteção especial, o CRAS

pode encontrar dificuldades para atender toda a demanda que recebe, e desta forma, o trabalho

de proteção social básica, acaba sendo prejudicado, como é o caso da realidade do CRAS 2.

Já a ausência de transporte próprio, também é algo que dificulta todo o trabalho do

CRAS. Considerando que a equipe do CRAS deve estar em constante contato com o

território, para conhecer sua realidade, sua cultura, as principais vulnerabilidades sociais

presentes e os recursos existentes, a utilização do veículo para acessar toda a área de

abrangência é fundamental, do contrário, a qualidade do serviço ofertado será prejudicada.

3.4 Os Usuários do SUAS e o Controle Social

A PNAS define o público usuário da assistência social enquanto um ser dotado de

direitos, diferindo da visão assistencialista que o colocava enquanto um ser “carente” e

“necessitado”:

Os usuários da assistência social são cidadãos e sujeitos de direitos. Sendo

assim, rejeita-se a noção de “carente”, “necessitado” e a tutela sobre os

usuários, e assume-se a perspectiva de estímulo ao desenvolvimento da

autonomia dos indivíduos, famílias, coletividade e o respeito às suas formas

próprias de organização coletiva e de intervenção social e política.

(BRASIL, 2008, p. 67).

O SUAS traz como perspectiva a acessibilidade, a autonomia, a sustentabilidade e o

protagonismo. De forma que em nenhum momento o usuário seja alvo de relações de tutela

ou subalternização.

120

Este é um momento de concretização do SUAS, a partir do paradigma da

universalização do direto, a proteção social fundado na cidadania,

abandonando idéias tutelares e subalternas, que (sub) identificam brasileiros

como carentes, necessitados, pobres, mendigos, miseráveis, discriminando-

os e apartando–os do reconhecimento como “ser de direito”. (SPOSATI,

2004, p. 172).

Esta perspectiva se reforça ao recorrermos ao texto da Carta Magna de 1988, que

inovou, garantindo pela primeira vez na história da legislação do nosso país, a participação da

sociedade no controle, acompanhamento e avaliação das políticas públicas, a partir do que

denomina Controle Social.

O Controle Social surge para dar voz à sociedade civil, levando em consideração a

vivência desta frente à eficácia e as fragilidades dos serviços prestados pelo Poder Público,

conforme explica Souza:

O controle social não é apenas uma lei geral por um direito adquirido. Trata-

se de potencializar a criatividade da sociedade civil na elaboração das

políticas publicas, uma vez que é ela quem percebe no cotidiano dos serviços

prestados a efetividade ou não das suas políticas, e principalmente as lacunas

deixadas pelos serviços públicos. (SOUZA, 2006, p.82).

A Constituição prevê um espaço legal constituído para o exercício do Controle Social

das políticas públicas, visando a efetivação dos direitos garantidos, que é a criação de

Conselhos de Políticas Públicas, que segundo Raichelis (2008, p. 83): “[...] são canais

importantes de participação coletiva e de criação de novas relações políticas entre governo e

cidadãos, e, principalmente, de construção de um processo continuado de interlocução

pública.”

[...] a constituição estabelece bases jurídicas para a construção de um novo

formato de cidadania, agora contemplando o ramo social como direito do

cidadão e dever do Estado. Mas não apenas isto, agora a cidadania política

transcende aos limites da delegação de poderes da democracia representativa

e, expressa-se através da democracia participativa, através da constituição de

conselhos paritários, que se apresentam como novo lócus de exercício

político. (CAMPOS; MACIEL, 1997, p. 145, grifo do autor)

Os Conselhos, que devem ser constituídos nas esferas da União, Estado e Município,

apresentam-se como espaços públicos de composição plural e paritária entre Estado e

sociedade civil e tornam-se instituições da democracia participativa como meio legítimo de

expressão da cidadania e controle social.

121

A implementação de políticas públicas capazes de concretizar o Sistema de Proteção

Social Brasileiro e garantir a efetivação dos direitos sociais está relacionada com a

concretização do Controle Social por meio da sociedade, conforme discute Nogueira, por

meio da efetivação da política dos cidadãos:

[...] a política dos cidadãos, concentrada na busca do bem comum, no

aproveitamento civilizado do conflito e da diferença, na valorização do

diálogo, do consenso e da comunicação, na defesa da crítica e da

participação, da transparência e da integridade, numa operação que se volta

para uma aposta na inesgotável capacidade criativa dos homens. É a "política

com muita política". Ela frequenta, em lugar de destaque, o vasto e rico

imaginário da modernidade, que a vê como expressão do desejável, um valor

maior, uma meta a ser alcançada. (NOGUEIRA, 2001, p. 75).

Nesse sentido, o SUAS traz como sendo um dos principais desafios do seu novo

modelo de gestão, a criação de mecanismos que possam garantir a participação dos usuários

nos espaços públicos enquanto sujeitos de direitos e não apenas como cidadãos sub-

representados, em conformidade com o previsto na LOAS: “Participação da população, por

meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em

todos os níveis.” (BRASIL, 2011b, Art. 5º. Inciso II).

O SUAS defende a existência de espaços como os Conselhos, para que esta

participação em busca do controle social seja efetivada.

[...] espaço fundamental de diálogo entre a sociedade civil e o governo é o

Conselho de Assistência Social. Os Conselhos são organismos públicos,

compostos por representantes dos governos, dos trabalhadores, da sociedade

cível e dos usuários e tem um papel importante nas deliberações sobre os

rumos da política em cada esfera do governo e também na fiscalização da

execução dos serviços socioassistenciais. (BRASIL, 2008, p. 118).

Entretanto, o “chão social” ainda vivencia obstáculos para que este espaço seja efetivo.

Os sujeitos da pesquisa nos apresentaram uma realidade desafiadora, que nos leva a refletir

sobre o quanto ainda estamos distantes da efetivação do controle social nas políticas públicas.

A importância se dá na participação efetiva da população na busca por uma

Assistência Social que atenda a sua função de proteção. Entretanto, é

cômodo para os governantes manter os usuários alienados, facilmente

manipuláveis e este é um espaço de construção para garantias e direitos. A

relação ainda é de dependência administrativa e funcional, não há a cultura

de participação e acaba que são sempre os mesmos que se dispõe a participar

do controle social. (Coordenadora do CRAS I, 2015)

122

Em relação à participação dos usuários nos Conselhos de Direitos, identificamos que

em alguns municípios ainda não há a garantia da representação do segmento usuário no

âmbito da sociedade civil:

Eu acho que não tem, não sei posso estar falando coisa errada, mas eu acho

que agora é que eles estão mais abertos a isso, eu já escutei falar que tem que

ter [...] No da assistência acho que não. Tem só representante da sociedade

civil, agora usuário mesmo não tem não. (CRAS II, 2015)

Apesar de garantir a paridade representativa na composição dos Conselhos (Poder

Público x Sociedade Civil), alguns municípios não preveem a presença do segmento usuário e

contam com a sociedade civil representada apenas pelas entidades religiosas, sociais ou clubes

de serviços.

Desta forma, não é possível garantir o envolvimento da população ou a ampliação da

cidadania. Para a construção de uma representação democrática é preciso garantir a presença

dos usuários nos espaços de participação, pois é um direito deste segmento.

Deparamo-nos, ainda, com a questão de Conselhos que ainda não desenvolvem o

papel que lhes é cabido.

Se eu te falar que eu não sei te responder isso, eu não sei [...] o conselho ele

não é ativo no município, ele não é um conselho ativo, tem o multi... é

multiuso [...], que tem as salas do conselho, que não estão sendo usadas para

o conselho tá? É o pessoal da saúde que está lá, e o conselho ele não é ativo

no município, ele tem no papel, no papel ele existe, mas na prática... (CRAS

IV, 2015).

Este relato pode ser relacionado com os dizeres de Campos e Maciel:

Pensar o Conselho Paritário como “lócus” do fazer político, é pensá-lo como

espaço contraditório. Como uma nova modalidade de participação. Diz

respeito a um formato de exercício democrático que questiona, tanto a

tradição elitista do fazer político no âmbito da sociedade quanto sugere

repensar as práticas de precária experiência democrática, predominantes na

sociedade civil. (CAMPOS; MACIEL, 1997, p. 150).

Ou seja, sem a efetivação das ações do Conselho, como será possível questionar a

tradição elitista das ações políticas? Como garantir o controle e a participação social na

formulação e avaliação das políticas públicas?

Quando pensamos na implantação do SUAS, a garantia da efetividade do Conselho de

Assistência Social é extremamente necessário, pois ele tem, entre suas atribuições, o papel de

deliberar sobre a política de assistência social municipal, além de fiscalizar o fundo municipal

123

de assistência social. Então, quando o Conselho não existe “para além do papel”, não é

possível afirmar que haja a transparência e que as ações desenvolvidas estejam indo ao

encontro das reais necessidades do território.

Outro espaço privilegiado para a efetivação são as Conferências Municipais, Estaduais

e Nacionais que avaliam as ações de determinada política pública e propõe melhorias. Na

área da assistência social, as conferências devem acontecer a cada dois anos.

Na conformação com o SUAS, os espaços privilegiados de participação no

controle social são as conferências e os conselhos. O espaço das

Conferências é aquele que se avalia a situação da assistência social e se

definem as diretrizes para a política. (BRASIL, 2008, p. 118).

Este ano de 2015 é um ano de realização de Conferências e os CRAS visitados

estavam vivenciando este momento tão importante para a efetivação do controle social.

Então foi positivo, nós tivemos só do CMDCA até agora, do idoso nós

vamos ter agora em junho, dia nove de junho, e da assistência em julho, mas

assim a que teve com a criança e adolescente foi muito boa, eles são

participativos, é mas nessa parte esses são participativos, nós fizemos o CCI,

chamou a escola estadual, foi bem... Muito legal o encontro, teve muita

participação. (CRAS III, 2015).

Teve a conferência municipal dos direitos da criança e do adolescente, nós

realizamos junto com outro município, é... Alguns acho que, dois

adolescentes foram, acho que vão participar como delegados, foi bem legal a

forma como eles se expressaram lá [...]. (CRAS IV, 2015).

A participação popular pode ocorrer também em outros espaços, espaços mais

permeáveis e menos formalizados, e que sejam capazes de constituírem canais mais diretos

para a ação popular, podendo também somar força a esse processo participativo de controle

social:

As comissões de bairros, os conselhos de gestão de serviços e programas, os

núcleos comunitários e grupos de cidadania, entre tantas outras formas de

organização, estão se desenvolvendo nos municípios por todo o País e

precisam ser avaliadas e socializadas. (BRASIL, 2008, p. 69).

Porém, de acordo com o CRAS III, a sociedade civil apresenta resistência em seu

papel no controle social, especialmente no caso da participação dos Conselhos.

[...] os representantes da sociedade civil não vem cumprindo de forma

efetiva suas funções. Existe uma grande resistência na participação das

reuniões do Conselho [...] o principal desafio para a efetivação do controle

social no âmbito da política de assistência social no município é motivar os

124

membros do CMAS, representantes da sociedade civil a participarem

continuamente das ações de planejamento e monitoramento. (CRAS III,

2015).

Nesse sentido, é imprescindível a existência de cidadãos comprometidos com os

interesses coletivos e dispostos a se engajarem nas lutas diárias.

A democracia participativa somente pode produzir bons frutos se dispuser de

cidadãos e de associações com disposição política para experimentar

dinâmicas decisionais coletivas e cooperativas, isto é, “destinadas não a

promover destruições recíprocas, mas a compor unidades da diversidade”

(NOGUEIRA, 2003, p. 164).

Para tanto, é indispensável refletir sobre isso com os usuários, de forma que estimule o

envolvimento dos mesmos de forma ativa e direta, na busca pela conferência de maior

visibilidade e transparência às suas reivindicações e expectativas, conforme prevê a PNAS:

Assim, há que se produzir uma metodologia que se constitua ao mesmo

tempo em resgate de participação de indivíduos dispersos e desorganizados,

e habilitação para que a política de assistência social seja assumida na

perspectiva de direitos publicizados e controlados pelos seus usuários.

(BRASIL, 2009a, p. 52).

Sobre este aspecto, o trabalho do CRAS, em especial, é de grade valia para estimular

os usuários da assistência social a lutarem pelos seus direitos e se apropriarem dos espaços

legalmente instituídos para a efetivação do controle social.

Vejo que evoluímos muito com relação a consciência da população sobre o

acesso e a proteção aos seus direitos, hoje os usuários já se enxergam como

titulares de direitos e não se sujeitam a humilhações e esmolas. .

(Coordenadora do CRAS I, 2015).

Consegue bastante, eles mesmos já cobram os próprios direitos deles, que

eles conhecem bastante. É... é uma grande responsabilidade nossa em tentar

fazer com que eles apoderem né? Porque isso aí só tem a melhorar para eles,

a participação deles, a fiscalização dos serviços, eu acho que assim, ainda

não entenderam ainda esse papel, mas se eles se apropriarem, eles vão ver

que assim, é muito importante. (CRAS III, 2015).

Torna-se para tanto, de suma importância a promoção de espaços e eventos temáticos

através de seminários, encontros, palestras, entre outros, que propiciem aos usuários

discussões políticas, que os levem a reconhecer-se enquanto sujeitos sociais, com o poder de

tornarem-se protagonistas no processo do controle social.

125

A realização do trabalho social com família pode ser considerada um momento

estratégico para orientar os usuários sobre o controle social e sobre o papel que cada um pode

desenvolver no âmbito das políticas públicas, avaliando as ações desenvolvidas e lutando por

melhorias, seja nos espações legalmente instituídos (como nos Conselhos e Conferências) seja

nos demais espaços coletivos que participam, como por exemplo, os grupos de famílias que

são desenvolvidos nos CRAS.

[...] isso está sendo mais procurado agora nessa ultima conferência que teve,

na época das conferencias sempre divulga, sempre faz, ai faz as pré-

conferências, convida, manda convite [...] E essa ultima conferencia que teve

mandou para as escolas, chamou os pais teve uma boa participação dos pais

e teve boa participação dos adolescentes, foi divulgado na rádio. (CRAS II,

2015).

Não, não, não faz. (CRAS IV, 2015).

Entretanto, este trabalho de conscientização e empoderamento das famílias precisa ser

realizado pelas equipes dos CRAS de forma contínua e não apenas nos anos em que

acontecem as conferências. O tema controle social é de extrema importância e quando

presente no planejamento das atividades a serem desenvolvidas, poderá contribuir para a

organização coletiva dos usuários e pela criação de possibilidades de lutas pelos direitos

sociais.

Estratégia esta que podemos considerar como desafiadora, pois nem sempre este

trabalho é realizado com as famílias atendidas, o que acaba distanciando as possiblidades da

existência do controle social.

Pensando no controle social para além dos espaços legalmente instituídos e no CRAS

enquanto espaço propício para instigar os cidadãos a lutarem por seus direitos,

questionamentos as equipes sobre como este controle social vem sendo realizado dentro dos

próprios CRAS, se há espaço para a população se posicionar avaliando e trazendo propostas

para os programas, projetos e benefícios ofertados.

Ali na entrada tem uma caixinha, estão usando agora. (CRAS II, 2015).

Tem uma caixinha de sugestões, não de sugestão, de avaliação né? Só tem de

avaliação, para colocar sugestão não tem,, eu acho que deveria, mas não tem,

só tem para avaliar se o atendimento é bom, se é ruim, tem uma caixinha ali,

é uma pesquisa que a gente faz. (CRAS IV, 2015).

Olha, nunca deixamos lá na frente, por exemplo, um questionário para...

[...]mas assim, eles participam, não é sempre, é esporadicamente, para os

programas sim, para os programas faz, às vezes a gente levanta, teve um

126

questionário que o ano passado eu fiz com o ação jovem, o que que eles

gostariam que melhorasse, o que que tinha que eles gostariam que voltasse

ou que não tem que eles gostaria, então com os programas a gente fez assim.

(CRAS III, 2015).

Quando tratamos de controle social, podemos observar que este é um eixo estruturante

do SUAS que se encontra em construção.

Identificamos uma carência no trabalho direcionado para a ampliação da cidadania, no

sentido de fortalecer os usuários e contribuir para que os mesmos se reconheçam enquanto

sujeitos de direitos. Em alguns CRAS esse trabalho de conscientização acontece apenas nos

períodos das Conferências, momento em que a explicitação do controle social se torna mais

visível, entretanto em outro CRAS não acontece em momento algum.

Cabe aqui destacar que esta realidade pode estar sendo regada pelos resquícios

históricos, que por ser marcada pelas características do favor e da caridade, à assistência

social não restava espaço para as reivindicações.

3.5 O Trabalho Social com Famílias

O CRAS, que é capacitado para uma atuação junto às famílias e indivíduos em seu

contexto comunitário, visando a orientação e o convívio social familiar e comunitário, é

responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), principal

programa de proteção básica do SUAS.

Criado em 18 de abril de 2004 (Portaria nº78), pelo MDS, o Programa de Atenção

Integral a Família (PAIF), veio para aprimorar o Programa Nacional de Atendimento Integral

à Família (PNAIF), implantado pelo governo federal no ano de 2003.

A partir do dia 19 de maio de 2004, quando foi reconhecido pela PNAS como parte

integrante da Proteção Básica, tornou-se “ação continuada da assistência social”, passando a

integrar a rede de serviços de ação continuada financiada pelo Governo Federal (Decreto

5085/2004), desenvolvendo ações e ofertando serviços básicos continuados para as famílias

em situação de vulnerabilidade social em toda a área geográfica de abrangência do CRAS.

Desta forma, com a aprovação da Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais no ano de 2009, enfatizando o conceito de ação continuada estabelecida

anteriormente, o Programa de Atenção Integral à Família passou a ser denominado de Serviço

de Proteção e Atendimento Integral à Família, entretanto a sigla PAIF foi mantida.

Conforme os direcionamentos do PAIF e em consonância com a PNAS, o trabalho

social com família trata-se de um:

127

Conjunto de procedimentos efetuados a partir de pressupostos éticos,

conhecimento teórico-metodológico e técnico-operativo, com a finalidade

de contribuir para a convivência, reconhecimento de direitos e

possibilidades de intervenção na vida social de um conjunto de pessoas,

unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade – que se

constitui em um espaço privilegiado e insubstituível de proteção e

socialização primárias, com o objetivo de proteger seus direitos, apoiá-las

no desempenho da sua função de proteção e socialização de seus membros,

bem como assegurar o convívio familiar e comunitário, a partir do

reconhecimento do papel do Estado na proteção às famílias e aos seus

membros mais vulneráveis. Tal objetivo materializa-se a partir do

desenvolvimento de ações de caráter “preventivo, protetivo e proativo”,

reconhecendo as famílias e seus membros como sujeitos de direitos e tendo

por foco as potencialidades e vulnerabilidades presentes no seu território

de vivência. (MDS, 2012b, p. 12).

Cabe ressaltar aqui, que o trabalho social com famílias tem como referência um dos

princípios norteadores do SUAS: a matricialidade familiar, que já foi abordada anteriormente,

no capítulo 3.1 da dissertação.

A PNAS traz avanços importantes ao tratar do conceito de família, “[...] estamos

diante de uma família, quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade.” (BRASIL, 2009a, p. 28). Entretanto,

ainda apresenta resquícios do pensamento liberal, pois parte do princípio de que a família

possui funções clássicas, que precisam ser cumpridas.

[...] partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a

proteção e a socialização dos seus membros, constituir-se como referências

morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de

mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e

com o Estado. (BRASIL, 2009a, p. 35).

Nesse sentido, Teixeira trás uma reflexão pertinente, apontando que, no seu ponto de

vista, a noção de matricialidade familiar presente na PNAS, na verdade, objetiva que

possamos a partir do trabalho social, apoiar a família para que ela desenvolva o seu papel

autoprotetivo.

Embora essa concepção supere o conceito de família como unidade

econômica (NOB/SUAS), mera referência de cálculo de rendimento per

capita, e parta de uma visão ampliada de família, com formatos plurais,

historicamente situada, e inclua a ideia de que esta deve ser apoiada, o

objetivo, na verdade, é apoiar para que esta possa desempenhar o seu papel

de sustento, na guarda, na socialização e na educação de suas crianças,

adolescentes, no cuidado de seus idosos e portadores de deficiência. Logo, a

noção de matricialidade sociofamiliar desvela seu verdadeiro significado, de

ampliar e contar – mediante estratégias de racionalização e orientação – com

128

a proteção da família, reforçando a tendência familista da política social

brasileira. (TEIXEIRA, 2010, p. 10).

Continua ainda sua reflexão, destacando que “Assim, apesar de o reconhecimento da

pluralidade de formas familiares, as homogeneízam em suas funções, papéis e relações

internas, trata-a, a priori, como o lócus da felicidade, do refúgio da vida desumana do

mercado, da proteção social.” (TEIXEIRA, 2010, p. 10)

Ao abordarmos os sujeitos da pesquisa sobre a importância do trabalho social com as

famílias, foi possível identificar em algumas falas, o como esta lógica apresentada por

Teixeira encontra-se embutida no cotidiano dos trabalhadores.

Acho que o fortalecimento de vinculo né? Porque a gente pensa assim numa

família, onde ela tenha consciência [...], eu digo assim, para eles manterem

uma boa convivência... Para nós no futuro, vão gerar menos problemas, eu

acredito! Então eu acho que o trabalho na família é prevenção.. É prevenção,

eu acho que é um espaço dos direitos também né? Porque quando ele vem a

nós ele busca alguma coisa, acho que a gente tem que... Pode contribuir com

o que a gente tem né? Com o pouquinho de conhecimento que a gente tem

para poder ajudar aquela família, aquela pessoa. (CRAS II, 2015).

De acordo com o CRAS II, um trabalho preventivo, que apoie a família a manter uma

boa convivência e que proporcione conhecimento acerca dos direitos, pode prevenir futuros

riscos, futuras vulnerabilidades e consequentemente, prevenirá futuras demandas de trabalho.

Esta lógica de pensamento acaba reproduzindo o que Teixeira denomina de “redução

dos gastos sociais”.

É essa ambiguidade de reforço das funções protetivas da família de um lado;

e, de outro, como alvo de proteção social que denota a dimensão da parceria

público/privada na proteção social, e sua dimensão estratégica em contexto

de redução de gastos sociais, posto que se pode contar com a parceria da

família para potencializar a proteção social oferecida, mesmo quando não

ocorre em quantidade nem qualidade suficiente para suprir todas as atenções

necessárias e demandadas. (TEIXEIRA, 2010, p. 10).

O CRAS I, por sua vez, trás um elemento muito importante para a discussão sobre a

importância do trabalho social com as famílias.

É a base. É a base do serviço, porque é lá na família que é a estrutura da

sociedade. Então se a família, independente de qual família seja, se a família

está desestruturada, reflete na sociedade né. Então é o fortalecimento com

essa família que é o mais importante. Nos aspectos enquanto cidadão,

enquanto provedor, enquanto pessoa emancipada. (CRAS I, 2015).

129

Neste caso, podemos notar que a concepção de trabalho social com famílias ainda está

arraigada de antigas práticas. Partir do princípio de que “se a família está desestruturada,

reflete na sociedade” está na contramão de todo o arcabouço teórico, de toda a trajetória

teórica que está sendo construída para chegarmos até aqui, pois este pensamento pode

direcionar para práticas profissionais coercitivas, disciplinadores, corretivas que tenham como

finalidade “estruturar a família que se encontra desestruturada”. Por muitos anos, o trabalho

social utilizou o paradigma da patologia social para intervir nessas situações e desta forma, as

intervenções eram realizadas por meios de recursos terapêuticos e do trabalho psicossocial

individual.

Iniciamos esta dissertação apresentando que as políticas públicas foram criadas

enquanto estratégias para o enfrentamento das manifestações da questão social. Ao partirmos

do pressuposto da existência da Questão Social, que se manifesta de inúmeras formas dia após

dia, compreenderemos também que ela está relacionada à reprodução do sistema capitalista,

fundado na relação capital x trabalho, que estabelece a sociedade de classes sociais, composta

por desigualdades a ela inerente.

Nesta linha de pensamento, não é possível planejar um trabalho com famílias, sem

compreender que são as desigualdades sociais, a exploração, o não acesso aos direitos, entre

outros, que refletem no cotidiano da família e não o contrário: a desestrutura da família que

reflete na sociedade.

A PNAS traz em seu conteúdo este direcionamento:

Assim, o fazer cotidiano da equipe de referência do CRAS, ao

operacionalizar o PAIF, deve fugir das práticas do senso comum, que sem

nenhum tipo de contestação ou indagação, tornam-se crenças imutáveis, que

reproduzem ideias carregadas de preconceitos, culpabilizam as famílias por

sua situação social e mantêm o status quo, impossibilitando movimentos de

transformação da realidade. Neste sentido, o trabalho social com famílias

deve ter por pressuposto basilar a responsabilidade estatal na proteção às

famílias e assumir como embasamento de sua prática o conhecimento

científico, que requer profissionais qualificados, aptos a compreender a

realidade dada e construir conhecimento, com os quais questionam as

estruturas sociais injustas, elaborando estratégias para modificá-las. (MDS,

2012b, p. 13).

De forma ampla, é possível destacar também, que o trabalho social com famílias,

ainda encontra-se na lógica individualizadora dos problemas sociais. Os sujeitos se remetem a

este trabalho, como sendo a possibilidade para orientar direitos e realizar os encaminhamentos

necessários, acompanhando a trajetória do usuário.

130

É de grande importância, porque muitas vezes algumas famílias não têm

nem noção né? Dos direitos que elas têm, e assim, nós trabalhadores né?

Temos essa responsabilidade, de ver se a pessoa está com seu direito

violado, auxiliar, fazer uma análise do caso né? E encaminhar as pessoas, ter

acesso aos direitos, então seja lá qual for a demanda que a pessoa necessita,

porque muitas vezes elas mesmo não sabem nem como fazer, em

determinadas situações e aí a nossa parte é essa, orientar, auxiliar. (CRAS

III, 2015).

Nossa muito importante, o ano passado a gente tinha, toda semana, às vezes

tinha pouca pessoa sabe? Mas a gente vê que influencia bastante no dia a dia

das pessoas mesmo, eles vem procurar a gente, às vezes, para dar resultado

das coisas que estão acontecendo, ou mesmo nos grupos na próxima reunião

né? A gente fez também reunião com os pais das crianças da creche, é bem

importante, influencia bastante eu acho que na vida deles, no dia a dia, é

importante sim [...]. (CRAS IV, 2015).

Não que esta intervenção não seja coerente e relevante, mas o trabalho social com

famílias precisa ir além. É preciso compreender os problemas sociais enquanto problemas

coletivos, que precisam ser enfrentados coletivamente.

O CRAS I trouxe esta visão do coletivo, da importância de não responsabilizar as

famílias pelas situações vivenciadas.

Fundamental. Porque você orientando essa família, entendendo essa família,

fazendo ela entender que o que ela vivencia hoje não é culpa dela, ou que os

problemas dela não existem só com ela, que ela é fruto de um território, de

um conjunto de situações, de um ciclo, de um sistema, você consegue uma

resposta. Se você conseguir colocar isso na família, embutir naquela família

que ela não está em uma situação porque é única e exclusivamente

responsabilidade dela, mas que ela faz parte de um contexto, você consegue

mudanças na sociedade, você consegue o reflexo dessa família ou desse filho

dessa família amanha, e com certeza, é uma forma de transformar a

realidade, se você conseguir desenvolver esse trabalho social com esta

família. (CRAS I, 2015).

Porém, retomam a lógica apresentada anteriormente, de que a mudança na sociedade

advém das famílias. Novamente, colocam que o trabalho social com as famílias deve

proporcionar mudanças, superações nos núcleos familiares que futuramente refletirão na

sociedade.

Esta inversão na compreensão do lugar ocupado pela família pode influenciar no foco

dado ao trabalho social com as famílias. Pois, buscará o fortalecimento das famílias para

superar as situações de vulnerabilidades e riscos sociais enfrentadas, sem que se realize a

discussão sobre a organização da sociedade capitalista, sobre as desigualdades, sobre a

exploração e o como tudo isso influencia e trás riscos para os núcleos familiares.

131

Dando continuidade à discussão sobre o trabalho social com famílias, abordamos

sobre as estratégias que os CRAS vêm utilizando para a sua efetivação.

Então a nossa estratégia é trazer esses cursos, cursos para que a psicóloga

atraia o trabalho dela, social com famílias. Porque é uma estratégias de trazer

os cursos, e por traz dos cursos, eles saem com informação, tem aquele

trabalho informativo. [...]. É assim, [...] a estratégia e antes de começar ou

depois e quando é um de culinária, por exemplo, que eles têm que esperar

alguma coisa, ai eu já entro com o grupo, quando é um artesanato eu falo

antes, ou quando termina. Porque assim, ainda eles não vêm por

espontaneidade pra participar dos grupos, aí a gente tem essa dificuldade,

então usa essa estratégia, porque às vezes eles querem só benefício, só assim

participar de programas, e ai eles não conseguem visualizar se eles tiverem

mais informações eles vão.. eles poderão sair da situação que se encontram e

buscar autonomia deles. (CRAS III, 2015).

O CRAS III apresenta a oferta dos cursos como estratégia para a efetivação do

trabalho social com famílias, especialmente o de abordagem grupal.

A questão da oferta de cursos e do investimento em capacitação profissional, realizada

pela política de assistência social nos últimos anos, nos trazem elementos importantes para o

debate. Conforme discute Yazbek, a promulgação da Constituição Federal de 1988 inscreveu

a assistência social na agenda dos direitos sociais, entretanto, esta lógica encontra-se na

contramão da política econômica neoliberal vigente.

Como evidenciam as avaliações do desempenho da Assistência Social

brasileira pós-LOAS, sua construção como direito tem sido uma difícil

tarefa, plena de ambigüidades e de profundos paradoxos. Pois, se por um

lado os avanços constitucionais apontam para o reconhecimento de direitos e

permitem trazer para a esfera pública a questão da pobreza e da exclusão,

transformando constitucionalmente essa política social em campo de

exercício de participação política, por outro, a inserção do Estado brasileiro

na contraditória dinâmica e impacto das políticas econômicas neoliberais,

coloca em andamento processos desarticuladores, de desmontagem e

retração de direitos e investimentos públicos no campo social, sob a forte

pressão dos interesses financeiros internacionais. (YAZBEK, 2004a, p. 23-

24, grifo do autor).

O que de certa forma acabou contribuindo para a formulação de uma política social de

assistência social composta por perspectivas teóricas ecléticas, que em alguns momentos

aproxima a assistência social da lógica da universalização dos direitos e em outros momentos

apresenta resquícios da ideologia liberal, com o objetivo de inserir as famílias no mercado

para que possam satisfazer as suas necessidades (MUSTAFA, 2013), como podemos conferir

no próprio texto da PNAS, ao tratar das possibilidades e capacidades das famílias que devem

ser exploradas.

132

- Uma visão social capaz de entender que a população tem necessidades, mas

também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas.

Assim, uma analise de situação não pode ser só das ausências, mas também

das presenças até mesmo como desejos em superar a situação atual; – Uma

visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas

situações de vida possua. (BRASIL, 2009a, p. 15).

Nesta lógica, a oferta de cursos acaba sendo uma possibilidade para que o Estado

invista nas capacidades das famílias, para que estas venham superar a situação atual de

vulnerabilidade, relacionada à existência de rendimentos insuficientes ou até mesmo de

ausência de rendimentos, o que podemos identificar no cotidiano prático da política de

assistência social, a partir da fala do CRAS III:

[...] a gente faz uma busca ativa, pergunta o que, quais cursos elas gostariam

e também pela demanda né? A gente vê que estão precisando de emprego, a

gente faz bastante relacionado a isso, que nem a gente teve curso de pães,

por exemplo, culinária, elas podem fazer e estar vendendo e acrescentando

na renda familiar, vai ter o de bordado, que é para elas também ter uma

renda, como elas são donas de casa, costura, que elas sempre pediram, então

tem, né? O de crochê a gente acabou de fazer também elas fazem para

revender, então assim tudo para a gente trazer uma renda, que é o que mais

tem de preocupação no município, mas assim é uma parceria, elas falam o

que querem e a gente vê o que gostaria de oferecer para acrescentar na vida

delas né? (CRAS III, 2015).

Destacamos ainda, conforme o conteúdo da PNAS, que estas ações podem contribuir

para a individualização dos problemas sociais enfrentados:

- Uma visão social inovadora, dando continuidade ao inaugurado pela

Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Assistência Social de

1993, pautada na dimensão ética de incluir “os invisíveis”, os transformados

em casos individuais, enquanto de fato são parte de uma situação social

coletiva; as diferenças e os diferentes, as disparidades e as desigualdades;

(BRASIL, 2009a p. 15).

Mustafa, em suas reflexões sobre a política de assistência social, nos chama a refletir

sobre a importância de não depositarmos na família toda a responsabilidade por superar as

situações vivenciadas.

Observa-se aqui a presença do pensamento de Amartya Sen – sua

formulação da Teoria das Capacidades. [...] O que Sen (1999) preconiza é a

expansão das capacidades e, estas podem ser aumentadas pelas políticas

públicas ou a política pública pode ser efetivada e expandida pela capacidade

de participação da população. Aí tem-se o indivíduo desempenhando o papel

de agente (na medida em que tem suas capacidades ampliadas consegue

133

cuidar de si e influir no mundo)! [...] O que se precisa deixar claro é que [...]

não se pode imaginar (acreditar) que a população brasileira (a sua maioria)

sairá do pântano da pobreza, do desemprego, do trabalho desprotegido por

suas próprias forças ou pela força de suas famílias [...]. Sem condições

objetivas favoráveis como é possível desenvolver capacidades, desfrutar de

real liberdade?[...]. (MUSTAFA, 2013, p. 11-13).

Nesse sentido, é possível compreender que ao investir em capacitação profissional e

incentivando a inserção no mercado de trabalho, muitas vezes de forma precária, sem a

garantia dos direitos trabalhistas, em razão da informalidade, acabamos não realizando o

enfrentamento da questão social e deixamos de lado a discussão sobre a exploração advinda

do sistema capitalista, o que acaba gerando limitação para as práticas da política de assistência

social.

Entretanto, é importante identificar as possibilidades nas ações desenvolvidas. No caso

do CRAS III, o que sabemos ser a realidade de muitos CRAS pelo país, a oferta dos cursos

acaba sendo, contraditoriamente, uma estratégia para a realização do trabalho social com

família, por meio do desenvolvimento dos grupos.

A realização dos grupos é um grande desafio quando tratamos do trabalho social com

famílias. Fala-se tanto dos grupos do PAIF, dos grupos dos CRAS, entretanto, esses são

desenvolvidos das mais variadas formas, com os mais variados objetivos.

O CRAS I nos apresentou um pouco de suas vivências, destacando que nos últimos

tempos a equipe vem modificando a compreensão acerca do trabalho com grupos:

Primeiro a gente começou a estudar. Eu lembro que estávamos em uma

apresentação sobre o trabalho com grupos, que a DRADS organizou, com

relatos de experiências, ai depois daquele evento a gente começou a refletir

mais sobre a questão do grupo e o quanto a gente estuda pouco pra prática.

Porque até então todo o conceito de grupo que se ouvia dos relatos dos

profissionais era trabalho em grupo, mas era artesanato. A pessoa vinha e

queria fazer artesanato e era grupo, a pessoa vinha e queria fazer culinária e

era grupo, tudo era grupo. Na verdade não deixava de ser um grupo, mas não

tinha o conceito do “GRUPO” que se pede e nem o objetivo que a gente tem

em trabalhar o grupo. Porque lá está ensinando um ofício não está realizando

um trabalho SOCIAL com o grupo. E ai você começa a estudar mais sobre a

questão de grupos: Que tipo de grupo que existe? Quantas pessoas podem ter

nesse grupo para configurar esse grupo? É grupo de convivência? O que é

que eu vou trabalhar em um grupo de convivência? O que é que eu vou

trabalhar em um grupo socioeducativo? E ai a gente começou a reorganizar o

trabalho. Eu lembro que a gente fazia reunião mensal com o grupo dos

Programas Sociais. Era um grupo só, mas ai já não é grupo, é quase uma

ação comunitária, porque envolve quase o município inteiro. Ai eu falei:

Vamos mudar! Ai a gente sentou e organizou: Vamos trabalhar grupos de

famílias de programas sociais no formato socioeducativo... ai gente começou

a trabalhar grupos, mais ou menos de acordo, porque até então a gente

134

também trabalha grupos de artesanato, com intervenções, a única diferença é

que a gente faz a intervenção. Então, durante a semana, durante o mês, os

profissionais desenvolviam atividades no grupo, ou durante os encontros

permanecia com o grupo, mas era um grupo de artesanato, a pessoa vinha

para fazer o artesanato. O artesanato não era o meio para desenvolver o

grupo... Que de primeiro impacto, com a implantação do CRAS, era essa a

visão que a sociedade tinha: de escola profissionalizante! O CRAS ensina

fazer artesanato e na realidade não é isso, e isso vem se transformando. Não

que não tenha curso... Tem! Mas não é o papel do CRAS ser uma escola de

qualificação. Ai conforme você vai participando dos cursos, ouvindo outros

profissionais, pra mudar esse conceito de que o CRAS não é para fazer

cursos, as pessoas tem resistência, não falo só a comunidade, mas as pessoas

que estão envolvidas, porque digamos assim: O que marcou o CRAS no

nosso município? A quantidade de cursos que tinham no começo. Para você

falar para a pessoa que o trabalho social com famílias se dá por meio de

grupos que faz ela refletir sobre os direitos, sobre as situações de vivências

dela, sobre a emancipação dela, as capacidades que ela tem, as

potencialidades que ela tem e não para colocar na cabeça dela que ela tem

que trabalhar e ganhar dinheiro, que a vida não é só isso... mas fazer ela

refletir sobre a vida dela de forma critica, mas é difícil! Por que elas falam

assim: nossa, mas não vai ter curso esse ano? Mas não vai ter nada esse ano

no CRAS então? Então é difícil mudar esse conceito de trabalho. Eles não

entendem que o curso é uma forma de chamar eles para o trabalho, que é

uma parte do trabalho. E às vezes o usuário nem percebe essa intervenção no

curso. Por que eles vêm com o objetivo de aprender aquele ofício: Vou lá

aprender a pintar tela. Mas ai a intervenção que é feita, mexe com a

realidade da pessoa, com o interior da pessoa, com as potencialidades da

pessoa e ela nem percebe que esse trabalho é o objetivo do CRAS. (CRAS I,

2015).

Desde que o PAIF foi criado, o governo federal não investiu em capacitações para

orientar as equipes dos CRAS sobre a efetivação do trabalho social com famílias. Alguns

materiais foram publicados, entretanto, a aprendizagem coletiva, com trocas de experiências e

espaço para que as dúvidas fossem sanadas não existiu. Desta forma, cada município precisou

interpretar o PAIF à sua maneira, e consequentemente, inúmeras formas para o trabalho social

com famílias foram sendo instauradas, enquanto em alguns municípios, o trabalho social com

família nem mesmo foi efetivado até os dias atuais.

Um ponto interessante a ser destacado da fala do CRAS I encontra-se no conceito de

“grupo”, conforme foi exposto, tudo o que se faz no coletivo, dentro do CRAS, passou a ser

denominado grupo: Grupo de Artesanato, Grupo de Culinária, entre outros, e desta forma, o

trabalho em grupo, proposto pelo PAIF, que deve ser considerado espaço privilegiado para a

efetivação do trabalho com famílias, acabou não sendo realizado por muitos CRAS.

O CRAS I destacou ainda a importância de ter se dedicado aos estudos para poder

compreender o real significado do trabalho com famílias, pois a partir desta compreensão foi

135

possível repensar o trabalho que vinha sendo desenvolvido e então pensar em estratégias para

reorganizá-lo de acordo com os direcionamentos do PAIF.

Antes o CRAS, quando ele começou, a gente na época focou muito na

questão de cursos, de qualificação, que a gente tinha muito pedido antes e ai

foi o que marcou mais o início do CRAS. Depois a gente mudou o foco né,

conforme a gente foi se capacitando mais ainda sobre a política, a gente

compreendeu que o curso deveria ser uma “forma” de trabalho e não o “fim”

do trabalho. (CRAS I, 2015).

No ano de 2012 o MDS publicou um material interessante sobre o PAIF, com um

volume (2) específico sobre o trabalho social com famílias. Este material traz direcionamentos

para a efetivação do trabalho, entretanto, novamente, não houve espaços para o estudo

coletivo, não se investiu em capacitações para os trabalhadores do SUAS que efetivam o

trabalho do PAIF, e desta forma, novamente, não se tem a garantia de que todas as equipes

estudaram o material e que conseguiram apreender o conteúdo disponibilizado, tão pouco

tem-se a garantia de que todas as equipes tiveram acesso a este material.

A publicação, intitulada “Orientações Técnicas sobre o PAIF (Vol. 2) – Trabalho

Social com Famílias do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família” trata, em seu

5º capítulo, das abordagens metodológicas para o desenvolvimento do trabalho social com

famílias no âmbito do PAIF.

De modo rápido, apreende-se abordagem metodológica como o conjunto de

fundamentos e pressupostos que embasa a ação profissional, à luz das

correntes epistemológicas do conhecimento científico. Portanto, a opção por

uma abordagem metodológica influi diretamente no alcance dos objetivos da

ação realizada. (MDS, 2012b, p.95).

Destaca-se ainda a importância de não confundir abordagem metodológica com

procedimentos metodológicos:

É preciso evitar a banalização do termo “abordagem metodológica”. Não é

adequado confundi-lo com a realização de procedimentos metodológicos,

ligados aos métodos, à operacionalização de atividades, tais como

entrevistas, visitas domiciliares, entre outros. (MDS, 2012b, p. 96).

Orienta-se que a equipe do CRAS escolha a abordagem metodológica, de acordo com

a realidade territorial, entretanto, ressalta-se a importância da escolha de uma abordagem que

venha ao encontro do paradigma dos direitos sociais:

136

Assim, cabe aos técnicos de nível superior e ao coordenador do CRAS a

escolha das abordagens metodológicas mais adequadas para responder às

demandas postas para o PAIF em determinado território. Destaca-se que as

abordagens metodológicas devem ser apropriadas à política de assistência

social, baseada desde 1988 no paradigma dos direitos. (MDS, 2012b, p. 97).

O texto publicado vai além, apresentando componentes importantes que devem conter

na abordagem metodológica escolhida.

Nesse sentido, precisam apresentar componentes que estimulem a

participação das famílias e seus membros, contribuam para a reflexão sobre

suas condições de vida, valorizem os saberes de cada um, propiciem uma

visão crítica do território, permitam o reconhecimento do dever estatal em

assegurar direitos, possibilitem a vivência de experiências, fortaleçam suas

capacidades para construir alternativas de ação e, assim, auxiliem no

processo de conquista de cidadania. (MDS, 2012b, p. 97).

E, logo em seguida, traz, enquanto uma das possibilidades de abordagens

metodológicas para o trabalho social com famílias, a Pedagogia da Problematização,

compreendida a partir do resultado das obras Pedagogia do Oprimido (1970), Pedagogia da

Autonomia (1996) e Pedagogia da Esperança (1992), todas de Paulo Freire.

A Pedagogia da Problematização, foi pensada para o uso na educação popular,

entretanto, pode ser utilizada em outros contextos, como por exemplo, na área da assistência

social, por meio de adaptações.

Esta abordagem metodológica ressalta a importância do diálogo e reconhece os seres

humanos enquanto sujeitos e não meros objetos, podendo dessa forma serem autores da

transformação social.

Outro pressuposto da pedagogia da problematização é o constante ato de

desvelamento da realidade, mediado pelo diálogo, que reconhece homens e

mulheres como seres históricos e, por isso, capazes de lutar contra a

acomodação ao mundo da opressão. É por meio desse entendimento que

Paulo Freire questiona e problematiza a percepção fatalista de que “as coisas

são assim mesmo”, “não há nada que se possa fazer” ou “o sistema é assim”

– insumos para as práticas assistencialistas. (MDS, 2012b, p. 98).

Abordados sobre as abordagens metodológicas e os procedimentos metodológicos

utilizados para o desenvolvimento do trabalho social com famílias, os sujeitos se restringiram

a responderem sobre os procedimentos metodológicos:

São rodas de bate papo, dinâmicas, às vezes eu aplico avaliação de nível de

depressão para saber qual nível de depressão, ansiedade que elas estão, faço

uma devolutiva, se precisar de encaminhamento eu encaminho, então eu faço

137

essas avaliações também no final, mas quando é um tema que dá para ser

avaliado né? No caso da depressão eu fiz assim um trabalho com elas para

saber assim, qual grau, se era leve, moderado, grave, os que deram caso

grave eu encaminhei, para saúde para ser atendido. (CRAS III, 2015).

É... Palestra, roda de conversa mesmo, de bate papo e as oficinas. (CRAS II,

2015).

Detalharam, ainda, sobre o que vêm desenvolvendo como grupos atualmente:

[...] de Planejamento familiar; Grupo de gestante; Pais e Filhos; de

Programas Sociais [...] tem as oficinas de artesanato, tem as oficinas do

serviço de convivência, [...] e agora de idosos, que antes, como a cultura não

era de serviço de convivência, mas apenas de encontro, agora a gente está

formatando o grupo, não tirando as características dele, mas fazendo com

que a gente insira o serviço de convivência no que já existe. (CRAS I, 2015).

Bom, tem vários grupos, tem grupo de benefício eventual né? Que é a

mesma coisa, a gente faz palestra socioeducativa, e oficina.[...] tem o grupo

do BPC de deficiente que é também realizado dessa forma de palestra, mas é

mais dinâmica porque a gente trabalha mais com a deficiente deles né? Vem

a pessoa, às vezes vem à família, às vezes aquela pessoa que não consegue

vir sozinha, ai vem acompanhado da família, alguém da família. E também é

realizado oficinas, porque como ele tem a deficiência, ele vai melhorar

alguma parte do desenvolvimento dele, né? Coordenação alguma coisa, e

como uma pessoa com deficiência geralmente ela tem depressão, então isso

ai vai ajudar também, porque a gente resgatou pessoas que não saiam de

casa, esse grupo foi montado faz pouco tempo. A gente tem o grupo de

reeducando, que é de familiares de reeducando, que é essas famílias que a

gente leva para as unidades prisionais, para visitar, então a gente tem esse

grupo também, que é um grupo que faz tempo que já está aqui, e esse roda-

roda, porque às vezes a pessoa sai né? o filho, sei lá.. ou algum parente, fica

em liberdade, e as vezes ele chega a voltar ou às vezes, mesmo ele estando

em liberdade ela continua frequentando o grupo porque elas gostam muito, o

grupo é bem... (CRAS II, 2015).

E sobre os assuntos/temas que são discutidos:

[...] esse grupo de reeducando, assim elas falam muito sobre o que elas

passam lá né? Elas contam histórias que já aconteceu, já viveram lá... E às

vezes quando eles saem, já aconteceu, delas trazerem eles para contar como

que foi a situação, é um grupo meio de apoio mesmo para elas porque assim

sempre que elas precisam “a eu preciso ligar lá para saber como que ele

está?” elas vêm aqui, entendeu? “ha preciso mandar a alguma coisa para

lá...” né? Então tudo elas procuram a gente, então esse grupo é mais nesse

sentido assim. Elas são bem unidas né? Talvez uma não pode ir e manda pela

outra, porque as despesas se tornam caras, porque tem alimentação né? Não

por parte do transporte, mas chegando lá elas têm que se alimentar, fica o dia

fora, elas são bem unidas assim, é um grupo bem gostoso de trabalhar, ai

pede para a outra levar. Ai tem o grupo do Bolsa família, esse a gente vai

mudar agora, vai trabalhar as condicionalidades, a gente, na verdade já

tentou trabalhar as condicionalidades só que ai, foi muita procura e no final

estava trabalhando tudo! Ai tem do Renda cidadã. O do Renda é reunião mês

sim mês não, ai agora vai montar um novo grupo para trabalhar com as

138

famílias né? Que dá mais preocupação, porque tem umas famílias assim que

elas vêm em reunião, sempre aparece, e têm outras que já não vai tem aquela

dificuldade, você vê que precisa do benefício, então ai vai trabalhar com

essas né? com mais dificuldades. O Ação jovem, também parece que vai

formar um grupo com os pais, que vai montar também com os meninos que

estão mais precisando, não é de todo mundo não, mas ainda não começou

esses dois grupos não. (CRAS II, 2015).

Busca temas né? Do cotidiano. Agente busca temas através das

vulnerabilidades que eles apresentam né? vejo quais que são os temas que

são mais necessitados e faço o grupo através desses temas e os que elas

pedem também, às vezes elas pedem para trabalhar algum tema. Olha esse

ano eu trabalhei, eu acabei de trabalhar a questão de como você usar o tempo

que você tem para melhorar a sua qualidade de vida, eu trabalhei esse tema

agora num curso que teve de crochê, bom já trabalhei com stress, depressão,

já trabalhei com pais e filhos assim na educação, como melhorar a educação,

em relacionamento conjugal, como melhorar o relacionamento conjugal,

porque elas pediram muito esse e dos filhos, como por limite nos filhos, os

perigos da internet, trabalhei bastante que hoje é um tema muito atual, né? a

gente teve problema com vídeos que as pessoas soltaram aqui, e depois você

não tem a dimensão do que pode proporcionar, então foi trabalhado até no

ação jovem, trabalhei com esses temas, nossa tem um monte, bastante.

(CRAS III, 2015).

Questionamos os sujeitos sobre o ponto de vista deles a respeito dos grupos enquanto

espaço estratégico para orientar sobre os direitos sociais e todos apresentaram que acreditam

que o trabalho com os grupos contribui para o acesso às informações sobre os direitos.

Muito, sim, sim, eles têm acesso a informações que antes nem tinham né?

Porque eles ficam nas casas deles, assistem televisão, conversam com os

vizinhos, muitas vezes não tem esse acesso aos direitos, porque a maioria

das mulheres são donas de casa, do lar, então elas ficam um tempo ociosas,

então quando tem esse momento é importante para elas, é porque na verdade

assim a palestra a gente abrange de uma forma geral, no grupo eu já sou

mais específica né? Então no grupo eu trabalho bem especifico a vivencia

delas, que elas estão ali e que elas me trazem e me dão essa liberdade de

fazerem isso né? De trabalhar, então às vezes elas até trazem um caso e a

gente trabalha o caso ali no grupo. Quarta, a gente terminou um curso, aí vai

começar um novo na semana que vem, aí eles já falam “Oh! semana que

vem eu quero que você trabalhe tal assunto” aí eu já tinha planejado vou lá

desplanejo e faço outro com o assunto o que eles me deram, eles pedem

bastante, são bem participativos. (CRAS III, 2015).

acho que sim, contribui porque na medida do possível, a gente faz palestras

sobre temas relacionados aos direitos, eu acho que contribui. (CRAS II,

2015).

É importante, é o momento que a gente tem que está mais próximos deles,

que eles tem a liberdade de tirar as duvidas e a gente tem a oportunidade de

esclarecer a eles quanto o acesso à direitos, quanto ao acesso à serviço, que

se foi negado o acesso você não tem que se conformar, se é um direito seu.

Lembrando que direito é tudo que não pode ser negado, que é um direito seu,

139

não é um favor que eu posso retirar a qualquer momento. Então a gente

trabalha muito essa questão, seja qual for o direito, no grupo a gente trabalha

muito sobre direito, o acesso ao direito, seja saúde, seja de alimentação, seja

de programa social, de benefício, seja qual for o direito. Tem pessoas que

não tem conhecimento do direito, por exemplo no grupo de gestante, sobre o

auxilio maternidade, tinha pessoa dali que tinha o direito mas não sabia.

Então foi devido ao grupo que teve acesso. (CRAS I, 2015).

Analisando a dinâmica do trabalho com os grupos nos municípios visitados, é possível

identificar que na maioria das vezes, o trabalho é desenvolvido com o objetivo de alcançar

resolutividade para os problemas sociais “individuais” dos participantes. Não surgiram

elementos nas falas, que nos levassem a identificar a realização de um trabalho social que tem

como perspectiva a organização coletiva, a luta de classes, o empoderamento coletivo das

famílias atendidas, o que de acordo com Teixeira, poderia contribuir para que o trabalho

social fugisse do imediatismo.

Nessa perspectiva, o trabalho socioeducativo com famílias ultrapassa a

indução de reflexões internas e o uso do grupo como troca de experiências e

ajuda mútua, para se transformar em instrumento de construção de um novo

conhecimento, partilhado e crítico, que os leva a sair do imediatismo de suas

necessidades, para entendê-las enquanto coletivas, enquanto necessidades

sociais de classe, que devem ser atendidas pelo poder público, como

condição fundamental para a garantia de direitos e de qualidade de vida. ”

(TEIXEIRA, 2010, p. 16).

A autora esclarece, ainda, que isso não significa que “[...] os temas relacionados às

vivências, sofrimentos, violências, decorrentes da situação de vulnerabilidade ou risco social

que compartilham não sejam debatidos, refletidos.” (TEIXEIRA, 2010, p. 16), mas é preciso

ir além e é preciso cautela para não depositarmos nas famílias toda a responsabilidade pelas

situações vivenciadas

Esse fechamento da família em si mesma e nas soluções domésticas

aumentaria o sofrimento de não poder cumprir os papéis sociais exigidos por

ela, como, por exemplo, tirar os filhos da rua, da criminalidade, da

delinquência, das drogas, além de dar sustentabilidade material, afetiva,

proteção e cuidados a seus membros, sem compreender o porquê da redução

de seu poder e autoridade perante as gerações mais jovens, da redução do

tempo dedicado ao lar, do endurecimento das relações afetivas e até da

violência no seio familiar. (TEIXEIRA, 2010, p. 16).

Para a efetivação do trabalho social com as famílias, é de suma importância que os

grupos discutam os assuntos que anseiam, reflitam sobre os problemas do território, debatam

140

sobre as angústias do cotidiano. Ou seja, as experiências coletivas devem ser valorizadas,

conforme acredita Freire e Nogueira.

[...] os conteúdos surgem vestidos de problemas. [...] As pessoas então fazem

de seus discursos um panorama do que é possível fazer. Não se limitam

àquilo que deve ser feito. As pessoas descobrem com a prática as suas

possibilidades. Mesmo dentro dos limites analisados, as pessoas organizam

esforços para viabilizar o que está sendo difícil de ser feito. Penso que esse

processo amadurece politicamente os intelectuais e os grupos populares.

Penso que nesse processo as pessoas não se limitam a discutir sobre

conteúdos, mas as pessoas discutem sobre as dimensões e os momentos da

prática. [...] As pessoas que, em grupo, procedem nesses rumos estão

compondo sua (delas) compreensão coletiva sobre as dificuldades e sobre as

soluções. (FREIRE; NOGUEIRA, 2007, p. 40-41).

A este respeito, as Orientações Técnica sobre o PAIF publicada em 2009, com base

nos dizeres de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, trazem a seguinte orientação, em

relação à escolha dos temas a serem discutidos com as famílias na realização das atividades

com grupos:

Investigar o universo temático das famílias usuárias do PAIF, a fim de eleger

“temas geradores” a serem com elas trabalhados. A investigação temática

envolve a investigação do próprio pensar das famílias, por meio da

observação compreensiva – captar o não dito, os elementos simbólicos,

explícitos e implícitos nas ações sociais. Isso significa que: “não posso

pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros...” (MDS,

2012b, p. 100).

É possível afirmar ainda, que esta metodologia de trabalho contribui para o

desenvolvimento da conscientização dos participantes, conforme defende Paulo Freire:

A consciência se reflete e vai para o mundo que conhece: é processo de

adaptação. A consciência é temporalizada. O homem é consciente e, na

medida em que conhece, tende a se comprometer com a própria realidade. A

conscientização é mais que uma simples tomada de consciência. Supõe, por

sua vez, o superar da falsa consciência, quer dizer, o estado de consciência

semi-intransitivo ou transitivo-ingênuo, e uma melhor inserção crítica da

pessoa conscientizada numa realidade desmitificada. (FREIRE apud

MARINHO, 2009 p. 94).

Por meio desta conscientização, objetiva-se construir a consciência de classe, e então,

os interesses defendidos por cada um dos participantes, passarão a ser interesses do grupo.

Assim, nesta perspectiva, o trabalho social com família poderia contribuir para a

realização de discussões coletivas, onde certamente surgiriam as possibilidades de

141

organização e mobilização do povo, na busca coletiva pela concretização de seus interesses

coletivos.

3.6 O Trabalho em Rede

Partindo do pressuposto de que as ações da política de assistência social causam

impacto às demais políticas sociais, assim como as ações das demais políticas sociais também

podem impactar as ações da assistência social, o SUAS foi criado com a perspectiva da

intersetorialidade dentro do território.

[...] a Assistência Social, enquanto política pública que compõe o tripé da

Seguridade Social, [...] considerando as características da população

atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-se na articulação

intersetorial com outras políticas sociais, particularmente, as públicas de

Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego, Habitação, entre outras, para

que as ações não sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade

dos serviços para todas as famílias e indivíduos. (BRASIL, 2009a, p. 42).

O principal objetivo do desenvolvimento do trabalho em rede está na busca pela não

fragmentação das ações, para que a família possa ser atendida em sua totalidade, garantindo,

assim, a qualidade de vida da população (BRASIL, 2009a).

Assim, é possível afirmar, de acordo com a PNAS, que a intersetorialidade requer um

rompimento com a lógica das práticas segmentadas, de forma que a proteção social seja

priorizada em detrimento da segmentação das intervenções pelos diversos setores atuantes.

Trabalhar em rede, nessa concepção territorial significa ir além da simples

adesão, pois há necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as

práticas se construíram historicamente pautadas na segmentação, na

fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, considerando os

novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que se apresenta sob

múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de forma integrada e

articulada. (BRASIL, 2009a, p. 44-45).

Em relação ao trabalho intersetorial, os CRAS apresentaram suas experiências:

Não. Ainda não, ainda não consegue. Consegue assim, é um problema da

educação, a educação vem, a gente senta, a gente discute problemas assim.

Mas a gente se encontra às vezes, reunião de conselho municipal [...]. É a

oportunidade que a gente se encontra. [...]então é só esses eventos eventuais

né? . (CRAS I, 2015).

142

Olha nós temos o contato, ainda há muito o que se avançar né? [...] pode-se

dizer que não semanal, mas a cada quinze dias pode-se dizer que sim,

quando surge um caso novo a gente senta e discute, quando surge

necessidade. [...] muito contato também com a gestora né? Ela que faz esses

contatos com a educação, algumas vezes, saúde, mas às vezes diretamente,

ontem mesmo a gente teve uma reunião com a educação... Assim, não a

reunião aqui, eles não vem até nós, mas eu e a gestora formos na saúde,

conversamos com o gestor lá da saúde, ontem fomos na educação, é mais

quando tem assim alguns casos, que nem a gente está com um caso na

educação, ai a gente vai até lá, faz reuniões [...].(CRAS III, 2015).

É no caso a comissão Intersetorial né? Acho que é um momento que tem a

comissão dos direitos da criança e do adolescente, a gente acaba tratando de

todos os casos, mas em especifico de criança e adolescente, é onde a gente

trabalha junto com a saúde, e a educação, né? Todas as políticas públicas,

que giram em torno da criança e da família, então nessa comissão é muito

bacana. (CRAS II, 2015).

Na verdade quem tem mais contato com a rede é a psicóloga, ela até faz essa

parte, do trabalho em rede, tem um projetinho de violência também que é ela

que faz parte, ela que tem mais contato, toda quarta feira também ela vai no

fórum, é um grupo de estudo na verdade [...] Saúde, assistência, educação,

conselho tutelar também faz parte, acho que até a polícia, a polícia militar

também...eu acho que vai fazer cerca de um ano e meio mais ou menos que

tem, e no caso quem vai aqui do CRAS e participa das reuniões é a

psicóloga. (CRAS IV, 2015).

Entretanto, a intersetorialidade proposta pelo SUAS, requer que possamos ir além das

discussões de casos isolados, além das comunicações cotidianas com os demais setores,

conforme contextualiza Bronzo e Veiga:

[...] mais do que a articulação ou a comunicação entre os diversos setores

sociais, tais como saúde, educação, habitação, emprego e renda, saneamento

e urbanização, por exemplo. Ela aponta para uma visão integrada do

problema da exclusão, em uma perspectiva que situa a pobreza como um

problema coletivo, algo que diz respeito ao conjunto da sociedade e que deve

ser coletivamente enfrentado. (BRONZO; VEIGA, 2007, p. 11, grifo do

autor).

Nesse sentido, de acordo com os sujeitos desta pesquisa, para a existência de um

trabalho em rede, que possa proporcionar uma visão integrada da realidade social e que

possibilite a criação de estratégias para um enfrentamento coletivo destes problemas sociais,

ainda há muito que avançar:

Mas marcar um encontro para discutir. Discutir, por exemplo, a gente sabe

que no município a gravidez está com o índice lá em cima... Sentar, falar

mensalmente para discutir esse assunto, ai não senta, não senta, não senta. .

(CRAS I, 2015).

143

Entretanto, existe o reconhecimento da importância do trabalho intersetorial:

Não senta, é complicado, mas isso não acontece de fato. Mas seria tão bom

se acontecesse né? Seria ótimo... . (CRAS I, 2015).

Recorrendo à Yasbek, podemos compreender que as dificuldades para a efetivação do

trabalho interdisciplinar estão relacionadas ao modo como as políticas sociais são organizadas

e gerenciadas em nosso país, sob a lógica da centralização e da hierarquização.

A não efetivação dessa intersetorialidade decorre, dentre outros fatores da

própria condução da política no cenário brasileiro em que as “políticas

públicas [sociais] (educação, assistência social, saúde, habitação, cultura,

lazer, trabalho, etc.) apresentam-se setorizadas e desarticuladas, respondendo

a uma forma de gestão com características centralizadoras e hierarquizadas”

(YAZBEK, 2014, p. 99).

De acordo com Pereira (2014) a compreensão do termo intersetorialidade é complexo,

e muitas vezes acaba sendo confundido com outros termos, o que também pode causar

incoerência no trabalho intersetorial.

Mas assim, a gente faz o encaminhamento, a rede às vezes atende nossas

demandas, eles também fazem encaminhamentos para gente, eu acho que

tem uma parceria sim, mas ainda precisa avançar bastante. (CRAS III, 2015).

[...] mas assim, sempre quando a gente precisa né? Pega o telefone da uma

ligadinha, a gente está sempre se falando. (CRAS IV, 2015).

Neste caso, quando há apenas os encaminhamentos ou trocas de informações, não

podemos afirmar que houve o rompimento com a setorialização, nem mesmo com a

segmentação do atendimento.

O trabalho interdisciplinar requer espaço para discussões dos problemas sociais, pois

parte do princípio de que sua efetivação pode criar uma visão integrada dos problemas sociais

e consequentemente de suas soluções.

A qualidade de vida demanda uma visão integrada dos problemas sociais. A

gestão intersetorial surge como uma nova possibilidade para resolver esses

problemas que incidem sobre uma população que ocupa determinado

território. Essa é uma perspectiva importante porque aponta uma visão

integrada dos problemas sociais e de suas soluções. Com isso busca-se

otimizar os recursos escassos procurando soluções integradas, pois a

complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no

âmbito de uma única política social. (JUNQUEIRA, 2004, p. 27).

144

Junqueira defende ainda que a intervenção de apenas uma política social não é capaz

de efetivar o trabalho intersetorial, até porque não existe uma única solução para as demandas

que chegam à rede.

Portanto, a ação intersetorial não se esgota no âmbito de uma organização ou

de uma política social, mas de várias organizações públicas, sejam privadas

ou estatais [...]. Os problemas sociais emergem da interação do sujeito com o

mundo, e sua percepção não é única, depende dos valores de cada ator social

envolvido, e, como tal, sua solução também não será única, inclusive porque

as certezas absolutas perderam consistência. (JUNQUEIRA, 2004, p. 29).

A Política Nacional de Assistência Social foi elaborada com esta mesma linha de

pensamento, como podemos identificar no trecho a seguir:

[...], ao invés de metas setoriais a partir de demandas ou necessidades

genéricas, trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e

as soluções, a partir de recortes territoriais que identifiquem conjuntos

populacionais em situações similares, e intervir através das políticas públicas

[e sociais], com o objetivo de alcançar resultados integrados e promover

impacto positivo nas condições de vida. (BRASIL, 2009a, p. 38).

Um trabalho intersetorial, em consonância com os direcionamentos da PNAS (2004) e

com as fundamentações teóricas elaboradas pelos estudiosos do assunto, somente acontece a

partir de uma interação satisfatória entre os diversos setores que compõem a rede do território.

Para tanto, é indispensável uma relação de respeito e confiança:

Supõe vontade, decisão, que tem como ponto de partida o respeito à

diversidade e às particularidades de cada setor ou participante. Envolve,

portanto estruturação de elementos de gestão que materializem princípios e

diretrizes, a criação de espaços comunicativos, a capacidade de negociação

e também trabalhar os conflitos para que finalmente se possa chegar, com

maior potência, às ações. (YASBEK , 2014, p. 98).

Além disso, cabe também destacar a importância da horizontalidade na tomada de

decisões.

Na estrutura organizacional em rede – horizontal – todos têm o mesmo poder

de decisão, porque decidem somente sobre sua própria ação e não sobre a

dos outros. Não há dirigentes nem dirigidos, ou os que mandam mais e os

que mandam menos. E todos têm o mesmo nível de responsabilidade – que

se transforma em co-responsabilidade – na realização dos objetivos da rede

(WHITAKER, 2000, p. 2 apud GIAQUETO, 2010, p. 97).

145

Abordando sobre a visão dos sujeitos desta pesquisa em relação ao contato que o

CRAS mantém com a rede intersetorial no território, questionamos se é possível atender todos

os encaminhamentos que recebem.

O CRAS IV relatou que o trabalho em rede ainda é recente no município e portanto

recebem poucos encaminhamentos.

Olha, se eu te falar que sempre tem alguém que é mandado para cá, alguma

coisa, não tem, é muito difícil, é mais a busca espontânea mesmo, é... acho

que foram poucas pessoas hoje que foram encaminhadas pela rede, está

muito novo aqui no município, esse trabalho também da rede. (CRAS IV,

2015).

Já os CRAS I e II responderam que estão conseguindo atender a demanda da rede.

Sim, sim, a gente tá, a saúde é que mais encaminha, a gente tem um contato

bom com a saúde, na saúde o NASF, que agora foi implantado no município,

é nosso parceiro, a gente trabalha muito junto, está dando muito certo, muito

mesmo. Nós encaminhamos para os grupos deles, e eles encaminham para os

nossos grupos, tá tendo bastante contato. (CRAS I, 2015).

A gente tenta né? A gente tenta.. da melhor maneira possível, porque a gente

tem um olhar diferenciado para o cidadão, para o usuário [...].(CRAS II,

2015).

No que tange a este contato com a rede e ao atendimento das demandas que recebem,

um elemento interessante, relacionado à falta de compreensão do papel desempenhado pela

assistência social no atendimento das demandas do território precisa ser destacado, pois como

veremos a seguir, esta realidade está prejudicando o acesso aos direitos pelos usuários.

Não, porque com essa questão deles acharem que tudo é aqui, às vezes não

depende de nós, alguma necessidade, não está vinculada a nós, mas assim é

feito o diálogo, a orientação, e ai é encaminhado pro.... até porque tem

necessidade que não depende né? Nós somos limitados às vezes, muitas

vezes na nossa atuação. (CRAS III, 2015).

Já foi pior. É a questão de entender qual é o papel da assistência e do CRAS

né... Que o CRAS não está aqui para resolver problema de indisciplina de

aluno, que não é função do CRAS dar medicamento e nem fralda geriátrica,

que a gente não interna ninguém, não faz internação psiquiátrica, que a gente

não tem que ir lá limpar a casa da pessoa, que é invasão, não tem que abrir o

armário dela pra ver se realmente esta faltando alimentação, que ela não está

mentindo. Então as pessoas da rede intersetorial não compreendiam. Porque

a gente veio de um período de mudanças: tipificação, a NOB. Quando a

gente entrou era uma fase de transição mesmo e isso causou um atrito

políticas. (CRAS I, 2015).

146

[...] só que saiu da comissão é um jogo de empurra, isso não é meu, isso vai

para o CRAS o pessoal quebrou o pé, é problema do CRAS, a pessoa... tudo

é dentro do CRAS. Esse nosso momento é muito por conta disso, aquela

pessoa precisa ir no médico, não tem condições de ir não tem o transporte, a

saúde não vê que é dever deles acham que a pessoa se vira, e ela acaba vindo

para o CRAS. (CRAS II, 2015).

Só que eu entendo as vezes que a saúde ainda não entendeu nosso papel, essa

questão assim, eu percebo que.. Tem alguns encaminhamentos né? Que eles

poderiam resolver lá, não precisaria trazer para cá, é sempre para a

assistência social [...] eu acho que todo município tem esse problema né? Da

saúde não entender... Tudo é assistência, então eu acho que é um passo a se

avançar nesse sentido. (CRAS III, 2015).

Giaqueto acredita que esta falta de conhecimento sobre a Política de Assistência Social

acaba contribuindo para a não efetivação do trabalho intersetorial.

Um dos entraves para a concretização do trabalho intersetorial, portanto, é a

dificuldade do diálogo entre as diversas áreas de atendimento, que tem como

uma de suas causas, a falta de informação sobre a Política de Assistência

Social por parte dos outros órgãos e secretarias da prefeitura. (GIAQUETO,

2010, p. 91).

Diante desta realidade, destacamos uma fala em especial:

Muitas vezes a rede não sabe qual é o papel do CRAS. Até o medicamento a

gente se pega muitas vezes debatendo, e sendo que o medicamento teria que

ser da saúde. Mas como que faz ela não toma? [...] Vamos dizer assim, que

ai você tem que ver a melhor forma daquela pessoa conseguir aquele

medicamento na hora, porque ela não tem condições de esperar um mês para

conseguir uma lata de leite, dependendo da situação então, ainda a muito

conflito com relação a isso sim. Mesmo a gente sabendo que não é da gente

a gente faz, para atender eles[...] Eu falo assim que a realidade daqui, ela é

muito diferente dos municípios vizinhos, assim das cidades pequenas, é

muita complicado[...]. É muito diferente, é gritante. (CRAS II, 2015).

O CRAS II traz elementos para uma reflexão interessante neste momento. Afinal, o

que fazer diante destas situações onde o setor responsável pela efetivação de um determinado

direito não está garantindo-o? Neste exemplo, o CRAS optou por fazer o atendimento,

pensando na proteção social do usuário, justificando que o importante foi garantir o acesso ao

direito que vinha sendo negado.

A assistência social, historicamente, atendeu as demandas reprimidas pelos demais

setores. Que trabalhador da assistência social nunca ouviu a antiga fala de que “tudo o que

não é de ninguém, torna-se da assistência social”?. Realidade esta, que pode ser compreendida

147

devido à própria natureza contraditória da política de assistência, marcada, pela ausência de

normatizações e de direcionamentos técnicos sobre o papel da assistência

O SUAS, por sua vez, foi idealizado também com este compromisso, o de organizar as

ações na área da assistência social.

A partir da criação da PNAS em 2004 a da instituição do SUAS em 2005, a assistência

passou a caminhar na busca pela conquista do seu espaço no bojo das políticas públicas, desde

então, diversas portarias, guias técnicos e normatizações vêm sendo elaboradas pelo

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e pelo Conselho Nacional

da Assistência Social (CNAS), no intuito de proporcionar clareza sobre esta política pública e

o seu papel no atendimento do território.

Nesse sentido, é importante que nos posicionemos sobre o que já temos claro no que

tange à política de assistência social.

Explicar para o setor “poxa a pessoa vai demorar uma mês, aguardar o

processo de licitação, ou então ela vai ter que entrar no judiciário, para

conseguir esse medicamento?”, então muitas vezes há esse... a gente tem que

bater de frente né? (CRAS II, 2015).

Conforme expôs a equipe do CRAS II e é reforçado pela equipe do CRAS I, é preciso

realizar um trabalho de orientação ao usuário sobre o papel específico de cada política pública

e se posicionar em relação aos encaminhamentos indevidos da rede, contatando o setor

responsável e esclarecendo sobre as normatizações/portarias existentes que esclarecem sobre

determinado tipo de atendimento. Como bem frisou a equipe, é fundamental ser firme, neste

aspecto.

Quando teve a mudança de benefícios, da assistência é da assistência e da

saúde é da saúde9, quando teve essa transição de que não é função da

assistência fornecer óculos, próteses, remédios, a gente teve um desgaste

muito grande, mas a gente se manteve muito firme. E na hora de atender esse

usuário, ainda que a política de saúde não aceitasse que isso era função dela,

a gente reforçava com o usuário que medicamento era obrigação, era função

da saúde atender e não do CRAS e a gente explicava, a gente fazia reunião

informando, para o usuário não ficar de um lado pro outro. E ainda é uma

luta muito grande hoje para consolidar essa situação, porque quando a saúde

para de dar medicamento lá, o usuário volta aqui pra gente, seja porque não

fez licitação, ou porque não tem mais recurso para gastar, mas devemos lutar

9 Aqui, refere-se ao conteúdo da Resolução n. 39, de 09 de dezembro de 2010, que dispõe sobre o

processo de reordenamento dos Benefícios Eventuais no âmbito da Política de Assistência Social em

relação à Política de Saúde.

148

para que ele seja informado da situação e não que ele seja jogado para outro

setor tentar resolver. (CRAS I, 2015).

Ainda em relação ao contato com a rede, abordamos sobre a continuidade do

acompanhamento familiar, no caso dos encaminhamentos recebidos e realizados.

O CRAS I destacou manter um vínculo favorável com os usuários, que possibilita que

eles mesmos retornem ao CRAS, mas que a devolutiva por parte dos setores também

acontece.

Conseguimos... Se não a rede não der a devolutiva a gente cobra (risos), se

for preciso às vezes por telefone. Mas a gente sempre orienta o usuário, a

voltar, “você vem aqui e me fala o que aconteceu”. Mesmo se for o BPC, ele

foi no INSS, normalmente assim, ele volta e fala “deu certo, não deu certo,

preciso disso, preciso daquilo” [...] Ele vai lá na saúde e fala assim: “fulano,

falou assim, fala até as virgulas, é meu direito, e assim, assim, assim”, aí o

fulano fala: “a então está bom” e a gente acaba fincando sabendo. (CRAS I,

2015).

Identificamos, ainda, que na perspectiva dos trabalhadores, o fato de se tratar de

trabalharem em município de pequeno porte I, contribuiu para a continuidade do

acompanhamento às famílias encaminhadas.

A gente continua em contato com eles, continua... acredito que por ser

município de pequeno porte, então a gente ainda consegue acompanhar,

[...]por exemplo, quando a gente aciona o conselho tutelar, sempre tem o

retorno, a gente faz o acompanhamento, da saúde, a gente sempre tem...

(CRAS III, 2015).

Em contraposição, o CRAS IV expôs que em alguns casos não há a devolutiva dos

encaminhamentos, o que impossibilita a continuidade do acompanhamento.

Nem sempre, nem sempre acontece, às vezes a gente encaminha e nunca

mais fica sabendo, ou às vezes eles encaminham também e a gente acaba

deixando passar batido, então nem sempre tem essa devolutiva não. (CRAS

IV, 2015).

Por fim, partindo dos elementos obtidos em relação ao trabalho em rede, identificamos

que os CRAS vêm conseguindo ter um contato com as demais políticas públicas, realizando

encaminhamentos e atendendo as demandas recebidas, entretanto, ainda existe uma falta de

clareza, por parte da rede intersetorial, sobre o lugar ocupado pela política de assistência

social.

149

Um desafio importante encontra-se na efetivação do trabalho intersetorial. As

vivencias dos sujeitos nos apontaram elementos importantes que nos levam a compreender os

entraves para que a intersetorialidade aconteça no território.

3.7 Os Caminhos da Assistência Social: Qual a Contribuição do SUAS?

Partindo do pressuposto de que o SUAS está completando 10 anos neste ano de 2015,

suponha-se que a organização e a prática da assistência social tenham sofrido muitas

mudanças ao longo deste período.

Sendo assim, discutimos com os participantes dos grupos focais e questionamos os

coordenadores dos CRAS sobre a perspectiva dos mesmos acerca desta caminhada, de forma

que fosse possível compreender como os mesmos identificam as principais mudanças, os

desafios enfrentados, os avanços conquistados e a relação desta realidade vivenciada no

cotidiano do trabalho com a implantação do SUAS.

Em relação à efetivação da assistência social no período anterior à implantação do

SUAS, muitos trabalhadores não puderam contribuir, pois ainda não trabalhavam na área e

não têm, portanto, conhecimento de como a assistência social era realizada. Entretanto, foi

possível absorver algumas informações:

Era assistencialista né? Isso aí já vem lá desde o princípio né? Mas assim, a

gente percebe que tem avançado. Eram os benefícios eventuais, não tinha

equipe mínima concursada, era tudo contratado, nós não tínhamos espaço

né? Era menor, [...] era executado numa casa com pouco espaço. Só tinha

uma assistente social, acho que um coordenador e um auxiliar

administrativo, então a equipe bem mínima não dava para executar o que

tinha realmente para executar, então mudou, nós não tínhamos carro, carro

era uma dificuldade tremenda né? Na realização das visitas, ou o que tivesse

que fazer. (CRAS III, 2015).

Era bem mais assistencialista, nossa era demais, eu lembro que esse serviço

de benefício... Tinha de tudo... Era bem mais [...] Ai parece que a primeira

dama ajudava, era uma assim coisa bem, mas eu acho que avançou sim

naquela época eu fazia estágio. (CRAS II, 2015).

Era uma assistente social da prefeitura né? Antes, lá em 2004/ 2005 tinha

uma assistente social na prefeitura, uma só, trabalhava se não me engano era

20 horas, e fazia toda a parte de plantão social e atendimento para concessão

de beneficio. Então ela doava auxilio... Era mais auxilio financeiro e cesta

básica que dava, era só isso que fazia e visita pra conceder, ou quando o

prefeito pedia para ela ir na casa do fulano, ou quando queria que fizesse um

mutirão para limpar a casa de alguém, aí... ela não fazia a limpeza não, mas

aí arrumava alguém para fazer a limpeza, aí ia para fazer. (CRAS I, 2015).

150

Podemos identificar que há alguns anos atrás, antes da implantação do SUAS, a

assistência social era realizada principalmente por meio da concessão de benefícios eventuais.

Alguns termos utilizados nas falas como “ela doava auxílio”, “a primeira dama ajudava”, “o

prefeito pedia para ir na casa de fulano” nos remete à história da assistência social, marcada

por ações assistencialistas e clientelistas. O vínculo com o governante e sua esposa estava

explícito e a benevolência se fazia presente como pano de fundo das ações.

Foi destacado também a ausência de concursos públicos e a existência de uma

infraestrutura inadequada para a efetivação do trabalho, uma vez que os funcionários não

contavam com espaço adequado, tampouco com transporte próprio para estar em contato com

as famílias.

A partir da criação da Política Nacional de Assistência Social em 2004 e da

implantação do SUAS no ano de 2005, algumas mudanças passaram a acontecer, entretanto,

cabe destacar que na perspectiva dos trabalhadores estas mudanças não aconteceram de forma

imediata, tanto que eles destacam o ano de 2009 (CRAS I) e o ano de 2011 (CRAS III) como

sendo os anos que marcaram o rompimento de um ciclo:

O Centro de Referência, antes do ano de 2009, exercia suas funções no

mesmo local em que atuava o Órgão Gestor da Assistência Social o que

gerava a confusão de papéis. A equipe que o compunha não atendia as

exigências estabelecidas pela NOB-RH e seu funcionamento estava

comprometido, pois os técnicos de nível superior cumpriam uma carga

horária semanal de apenas 20 horas. No ano de 2009 com a mudança da

gestão do Poder Executivo foi realizado um estudo sobre as necessidades de

adequação de estrutura física, funcionamento e a equipe necessária para

prestar o serviço. O CRAS foi implantado definitivamente em março de

2009 após adequação da estrutura física e contratação da equipe mínima

através de Processo Seletivo. [...]e ai mudou por duas vezes a equipe e agora

as meninas estão como efetivas. A equipe redondinha sem um

administrativo, que o outro administrativo pediu afastamento, a partir de

2014, só o órgão gestor que não, ainda as meninas não são efetivas.

(Coordenador do CRAS I, 2015).

A prefeitura realizou concurso público para formar a equipe do CRAS em

2011, adequando os perfis profissionais às necessidades do SUAS.

(Coordenador do CRAS III, 2015).

Cabe ressaltar a importância dada pelos trabalhadores à efetivação dos profissionais

por meio de concurso público.

Foi muito importante! Depois do concurso público, foi um grande avanço,

porque agora todas que trabalham são concursadas. Havia o primeiro

damismo, é bem menos essa influência, nós conseguimos planejar um

trabalho entre órgão gestor e CRAS, e executar, não tem assim muita

151

influência na questão de querer, por exemplo, a prefeita querer executar

alguma coisa aqui, nesse caso tem avançado, tem liberdade para planejar e

executar as atividades. E quando ela questiona que ela quer alguma

intervenção, a gente tem as leis, mostra né? A gente senta, conversa, mostra

a lei, fala dos critérios, e pelo menos tem entendido, e não temos feito né,

tentamos tá sendo um trabalho de formiguinha, mas com sucesso, porque

temos conseguido avançar muito nesse sentido, muito mesmo. (CRAS III,

2015).

O CRAS III ressalta que a efetivação do quadro de funcionários proporcionou maior

autonomia para a realização do trabalho, o que contribuiu para o rompimento com o primeiro

damismo10

, perpetuado por tantos anos no município, assim como no restante do país.

Já o CRAS I destaca que um avanço importante está na continuidade do serviço

ofertado:

É a maior dificuldade aqui no município é a questão da mudança né? Eu

estou já há seis anos ai e já é a terceira equipe que passa, então é assim,

quando você está encaminhando o seguimento no seu serviço, muda, aí entra

outro profissional, aí quando está encaminhando de novo, que ele está

entrando, aí muda novamente, então é aonde que o trabalho sempre dá uma

brecada, mas agora graças a Deus, as meninas estão aí passou né? Da adição

à assistência né? Então não vai ter mais essa mudança, então o trabalho vai

ter continuidade, eu acho que até a questão da união também né?

(Coordenador do CRAS I, 2015).

E complementam afirmando sobre o compromisso do servidor público para com a

efetivação da política pública.

[...] então agora eu tenho que ter consciência assim: “eu sou servidora

pública, trabalho com a assistência social, então eu tenho que entender da

política de assistência social.” (CRAS I, 2015).

Cabe aqui destacar que a PNAS em seu conteúdo já abordava a necessidade da

valorização dos profissionais que efetivam o serviço público:

Valorizar o serviço público e seus trabalhadores, priorizando o concurso

público, combatendo a precarização do trabalho na direção da

universalização da proteção social, ampliando o acesso aos bens e serviços

sociais, ofertando serviços de qualidade com transparência e participação na

perspectiva da requalifição do Estado e do espaço púbico, esta deve ser a

10

A expressão primeiro damismo surgiu na era Vergas quando a Primeira-Dama do país, Darcy Vargas, assumiu

a presidência da LBA. A partir de então, estabeleceu-se a cultura de que as primeiras damas deveriam ser

responsáveis pelas ações de assistência social nos Estados e Municípios. Enfrenta-se, ainda nos dias atuais,

desafios para o rompimento com esta cultura, na busca da afirmação da assistência social enquanto política

pública, que deve ser realizada por meio de trabalho profissional, na perspectiva do acesso aos direitos e não da

realização de assistencialismo (MESTRINER, 2008).

152

perspectiva de uma política de recursos humanos na assistência social, com

ampla participação nas mesas de negociações. (BRASIL, 2009a p. 55).

Desta forma em 26 de dezembro de 2006 foi aprovada a NOB-RH/SUAS

publicada em 25 de janeiro de 2007, que em seu conteúdo, especificou sobre a composição

das equipes de referência dos serviços, programas, projetos e benefícios.

Equipes de referência são aquelas constituídas por servidores efetivos

responsáveis pela organização e oferta de serviços, programas, projetos e

benefícios de proteção social básica e especial, levando-se em consideração

o número de famílias e indivíduos referenciados, o tipo de atendimento e as

aquisições que devem ser garantidas aos usuários. (BRASIL, 2009b, p. 19).

No tocante as equipes de referência dos CRAS instalados nos municípios de Pequeno

Porte I, para até 2.500 famílias ficou definido enquanto equipe de referência: dois técnicos de

nível superior, sendo um profissional assistente social e outro preferencialmente psicólogo,

dois técnicos de nível Médio e um coordenador (BRASIL, 2009b).

A NOB-RH/SUAS trata ainda em sua Introdução, no item 12, sobre a importância da

criação de um Plano de Carreira, Cargos e Salários para os trabalhadores do SUAS.

PCCS é uma questão prioritária a ser considerada. Ele, ao contrário de

promover atraso gerencial e inoperância administrativa, como alguns

apregoam, “se bem estruturado e corretamente executado é uma garantia de

que o trabalhador terá de vislumbrar uma vida profissional ativa, na qual a

qualidade técnica e a produtividade seriam variáveis chaves para a

construção de um sistema exeqüível” (Plano Nacional de Saúde, 2004, p 172

- 173 e PNAS, 2004, apud BRASIL, 2009b, p. 13).

Porém, os municípios visitados ainda estão lutando para a efetivação desta conquista.

O Gestor da assistência social requereu à prefeitura a instituição do Plano de

Cargos carreiras e salários, mas ainda está sendo avaliado pela gestão

municipal. (Coodenador do CRAS III, 2015).

Não. Ainda é uma meta que não alcançamos. (Coordenador do CRAS I,

2015).

Outro conteúdo discutido foi a questão da capacitação continuada. A NOB-RH/SUAS

direciona para a existência de uma política nacional de capacitação dos trabalhadores do

SUAS:

4. A capacitação dos trabalhadores da área da Assistência Social deve ser

promovida com a finalidade de produzir e difundir conhecimentos que

devem ser direcionados ao desenvolvimento de habilidades e capacidades

153

técnicas e gerenciais, ao efetivo exercício do controle social e ao

empoderamento dos usuários para o aprimoramento da política pública.

5. A capacitação dos trabalhadores da Assistência Social tem por

fundamento a educação permanente e deve ser feita de forma:

a) sistemática e continuada: por meio da elaboração e implementação de

planos anuais de capacitação;

b) sustentável: com a provisão de recursos financeiros, humanos,

tecnológicos e materiais adequados;

c) participativa: com o envolvimento de diversos atores no planejamento,

execução, monitoramento e avaliação dos planos de capacitação, aprovados

por seus respectivos conselhos;

d) nacionalizada: com a definição de conteúdos mínimos, respeitando as

diversidades e especificidades;

e) descentralizada: executada de forma regionalizada, considerando as

características geográficas dessas regiões, Estados e municípios.

f) avaliada e monitorada: com suporte de um sistema informatizado e com

garantia do controle social. (BRASIL, 2009b).

Porém, questionados sobre a existência de capacitação continuada para os

trabalhadores, os sujeitos afirmaram que em alguns momentos realizam capacitações técnicas

organizadas pela DRADS, sobre algum assunto específico.

Entendemos que a capacitação continuada é um elemento primordial na busca pela

garantia da assistência social enquanto um direito social. Os trabalhadores precisam vivenciar

momentos onde possam relacionar teoria x prática e desta forma pensarem em estratégias para

superarem as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia do trabalho.

Todavia, estes cursos precisam ir além de simples direcionamentos técnicos sobre a

execução de determinado projeto, serviço ou programa. Os trabalhadores do SUAS precisam

ser instigados a pensar a assistência social enquanto política pública, a compreenderem o

contexto social e econômico no qual esta política está inserida, é preciso que tenham

momentos para pensar a política de assistência social no seu sentido macro, para identificarem

os conceitos utilizados na base de sua formulação, suas contradições dentro do sistema

capitalista e assim encontrarem elementos consistentes para discutirem o como toda essa

conjuntura se materializa no cotidiano profissional.

Ao realizarmos um levantamento sobre os materiais disponibilizados pelo governo

federal sobre a assistência social, nos deparamos com uma série de cartilhas e orientações

técnicas para a efetivação do trabalho da assistência social, mas, a política de capacitação

continuada prevista pela NOB/SUAS precisa ir além, precisa, de acordo com o que já foi

apontado, considerar as características regionais e mais que isso, precisa proporcionar espaços

coletivos para o debate.

154

Em razão da ausência de cursos e capacitação continuada, ofertadas pelo governo, os

CRAS precisam encontrar estratégias para que as equipes tenham momentos de reflexões:

No intuito de nos capacitarmos e refletirmos a prática, realizamos todas as

sextas-feiras reunião para planejamento e estudo dirigido com as técnicos de

nível médio e superior da equipe mínima e nas segundas com os orientadores

sociais. (Coordenador do CRAS I, 2015).

Ao tratarmos sobre o Sistema Único de Assistência Social - SUAS, abordamos os

sujeitos desta pesquisa sobre qual a importância deste sistema para a política de assistência

social.

É... Tornou-se política pública né? Tornou-se um direito, não é um favor que

a gente está fazendo, o serviço que a gente oferece é um direito deles né? É..

e assim sobre essa questão, organizou muito bem a política de assistência

social e ai é onde contribuiu também para o rompimento do clientelismo e

passou a ser mesmo o direito de cada um, eu acho, eu acredito que avançou

muito. (CRAS III, 2015).

Um sistema único né? Terminou aquele assistencialismo, a partir da

efetivação, então assim, separou o que era da assistência e o que não era da

assistência, para cada política, então ele fortaleceu a política, pra fazer

realmente aquilo que é papel dela, não fazer o que é papel do outro fazer. O

SUAS eu acho que, assim, hoje, hoje o SUAS é uma... É a organização né? É

a organização da forma de trabalho, é a diretriz máxima de como a gente

deve funcionar e atuar, que dá segurança para gente atuar enquanto

profissional desse sistema né? Que organiza e oferta essa assistência, essa

política pública, que faz com que os trabalhadores, uma vez que eles

compreendam o que é o sistema único, o que ele deve e como ele deve ser

implantado, organizado, no município, faz com que ele atue de forma

independente, autônoma, segura, sem ingerência política né? (CRAS I,

2015).

Eu acho que é a nossa vertente de trabalho hoje o SUAS né? Eu acho que é o

nosso trabalho como ele deve ser realizado, é um norte para a gente, é

realmente, eu acho que a gente tem que pelo menos tentar seguir alguma

coisa, tudo a gente não vai conseguir colocar em prática, mas eu acho que o

que a gente conseguir é o que vai ser válido é o que é importante para a

gente. (CRAS IV, 2015).

É ele que é o articulador, que organiza, é nossa, vamos falar assim, é nossa

diretriz. Avanço... é nosso avanço. Assim, como que eu vou falar, como se

fosse a política de... de... normas, direcionamento, de norte, então é a base

mesmo. (CRAS II, 2015).

É possível identificar que na perspectiva dos trabalhadores, o SUAS surgiu com a

tarefa de organizar a política de assistência social no território, norteando as ações

155

profissionais nesta área. Desta forma, o usuário da assistência social passou a ter uma

referência para o acesso a esta política em qualquer lugar do território nacional.

Sabendo que se ele for para outro município, [...] ele tem a quem recorrer,

porque é um padrão nacional, todo mundo faz de acordo com esse sistema e

não cada um, cada qual faz da sua maneira. Hoje tem uma diretriz, hoje tem

regulamentação, que ele pode atuar com segurança né? (CRAS I, 2015).

Um avanço a ser destacado encontra-se na tipificação das ações. A partir de 2009, com

a publicação da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, as ações desta política

pública passaram a ser organizadas por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social

Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Esta organização vem

contribuindo para o fim do espontaneísmo, tão presente ao longo da história da assistência

social.

Outros avanços foram elencados pelas equipes dos CRAS:

A eu acredito que trouxe sim, principalmente na parte do assistencialismo,

embora ainda exista, mas eu acho que é bem pouco, mas eu acho que ele

trouxe sim bastante mudança. (CRAS IV, 2015).

... eu acho que trouxe. Há... Esse trabalho com grupo mesmo né? Que

antigamente não tinha, é a parte de normativa que vem a ação né? O que eu

falo, por mais que eu acho que está bem aquém, assim está construindo

agora, ainda está novo, mas assim, demorou um tempo para a gente

entender, aliás, eu estou entendendo ainda né? Eu acho que assim, trouxe

mudanças? Sim. Significativas? Sim, só que, ainda... ainda é assim um

passo de formiga ainda. Ainda é muito novo. (CRAS II, 2015).

Essa relação de direito mesmo, o direito, a equipe né? . A equipe, se não eu

acredito que a gente ainda estaria na equipe mínima, no espaço físico

também contribuiu, porque se não estaríamos lá no... Então contribuiu,

temos espaço físico ótimo, tem a parte de atendimento e de palestra né?

Onde a gente realiza os cursos, as oficinas, a gente tem o espaço de culinária,

de cabelereiro, temos um norte teórico para executar nossas atividades

diárias né? Então foi um avanço muito grande na assistência, facilitou muito,

o SUAS. (CRAS III, 2015).

A partir da implantação do SUAS e das diretrizes do Plano os usuários

tinham a sua disposição um sistema que ofertava o acesso a direitos e rompia

com a ideia de favor e benesse, isso fortaleceu a Assistência Social que

durante esses 08 anos de adesão possibilitou uma mudança muito grande na

cultura de acesso a direitos pela população, pois organizou e estabeleceu

padrões, diretrizes, que qualificaram o atendimento. (Coordenador do CRAS

I, 2015).

A PNAS e o SUAS oportunizaram vários avanços, o primeiro é que o

município pode planejar suas ações de acordo com o seu território,

respeitando suas características. A gestão municipal regulamentou a provisão

156

de benefícios eventuais no âmbito da política pública de assistência social

delegando a responsabilidade do fornecimento de medicamentos para a

política municipal de saúde e definiu que os benefícios eventuais ficassem

sob a responsabilidade do Órgão Gestor. E o suporte técnico da Secretaria

Estadual de Assistência Social por meio da equipe da DRADS de

Fernandópolis. (Coordenador do CRAS III, 2015).

A nível de município posso citar a destinação de espaço exclusivo para o

CRAS, a separação do Órgão Gestor do CRAS e a edição de Lei Municipal

que define quais os benefícios eventuais podem ser concedidos no âmbito da

Assistência Social. Com relação às normas editadas, acredito que a

Tipificação Nacional de Serviços e a NOB RH SUAS foram fundamentais

para esse avanço. (Coordenador do CRAS I, 2015).

Em relação aos desafios enfrentados pelos trabalhadores no cotidiano da implantação e

implementação do SUAS, surgiram alguns elementos, que já foram explorados anteriormente,

como a falta de clareza sobre o papel da política de assistência social pelas demais políticas

públicas; a realização da busca ativa e acompanhamento familiar, que está relacionado aos

desafios da efetivação do trabalho social com as famílias; a existência de um diagnóstico

social sobre a área de abrangência dos CRAS e o alcance de todo o território; e, por fim

romper com a cultura clientelista, ainda presente no território.

Aprimorar e ampliar a oferta dos serviços sem que assumamos o papel de

outras políticas públicas como saúde, educação, cultura e lazer.

(Coordenador do CRAS I, 2015).

Fazer acompanhamento familiar e busca ativa devido a demanda de trabalho

existente. Garantir a equivalência no aceso ao atendimento à população

urbana e rural. Fazer diagnóstico social da área de abrangência do CRAS (no

momento existe apenas o perfil das famílias atendidas pelos programas

sociais). (Coordenador do CRAS III, 2015).

[...] eu acho que é romper com a cultura clientelista aqui, eu acho que é o

ponto crucial, ainda é muito de cesta básica, aquela visão mesmo de

paternalismo de clientelismo, eu acho que é isso. Eu acho que é cultural. Eu

acho que é até um conhecimento da politica pelas outras politicas. (CRAS II,

2015).

Pensando nestes desafios, algumas estratégias foram elencadas como possibilidades

para enfrentá-los:

Estudo constante para que tenhamos clareza de papeis e atribuições, bem

como desenvolver através dos profissionais que atuam junto a Assistência

Social a conscientização dos usuários como forma de fortalecer a Política de

Assistência Social. (Coordenador do CRAS I, 2015).

157

O CRAS I destaca duas estratégias de suma importância para o enfrentamento dos

desafios diários, destacando a relevância da capacitação profissional dos trabalhadores do

SUAS e da conscientização dos usuários. Estes dois segmentos (trabalhadores e usuários) são

sujeitos essenciais para que esta política seja efetivada, e com certeza, a partir do

conhecimento e reconhecimento da assistência social e seus objetivos, eles terão condições de

aderir e contribuir com a luta conjunta pela garantia da assistência social enquanto direito

social, em meio ao cenário contraditório, no qual está posta.

3.8 Assistência Social: Um Direito Efetivado?

É sabido que a Constituição Federal de 1988 inovou ao inserir a assistência social no

bojo das políticas sociais a partir de sua garantia enquanto direito social. Desde então,

trabalhadores, usuários, estudiosos da área e representantes da sociedade civil percorrem uma

árdua caminhada para que este direito, hoje garantido legalmente, seja efetivado.

Mas, o que seria garantir a assistência enquanto um direito social? Sobre este

conteúdo, Sposati contribui teoricamente, ressaltando a primazia da responsabilidade do

Estado para a sua garantia.

A perspectiva de constituí-la como política pública exige a introdução em

sua aplicação da racionalidade republicana na gestão dessa política para

além da concepção de gestão humanista (de solidariedade ou de

benemerência). O Estado, na gestão da política de assistência social, não

pode permanecer no papel de coadjuvante que concede ajudas financeiras,

subvenções a ações, trabalhos ou projetos comunitários de organizações da

sociedade civil. Ele precisa alcançar o estatuto de regulador e responsável

por garantir proteção social como política de cidadania, isto é, nem

compensatória, nem residual, nem caritativa, nem assistencialista, mas sim

política pública de direitos. (SPOSATI, 2007, p. 446-447).

Buscamos a compreensão dos trabalhadores do SUAS a respeito:

Levar informação, primeiro o usuário ele tem que saber que a politica existe,

porque que ela existe, que ele e contribuinte para que ela exista, que e direito

dele, que é dever do Estado. E nós profissionais, a responsabilidade está em

cima da gente, fazer essa ponte entre o direito e o usuário, entender também

que o usuário não é raso, que ele tem conhecimento, que ele tem o seu

conhecimento, o que a gente precisa fazer nesse sistema, é fazer com que ele

compreenda o funcionamento, que ele saiba fazer valer o direito dele, que

ele seja realmente protagonista da vida dele, que ele consiga direcionar a

vida dele para onde ele queira ir, e não agir como, antes a gente trabalhava

muito a questão, de eu levar para o usuário, [...] como se o usuário não

soubesse, como se o usuário não entendesse, bom, partindo de uma premissa

158

de que eu sei o que é melhor para meu usuário, mas é ele que sabe o que é

melhor para ele, ele que tem que conhecer que é direito dele, se ele quer

acessar esse direito no momento ou não, o que é prioridade para ele. E assim,

hoje tem muita gente esclarecida, tem, a população está esclarecida, é por

isso que o profissional tem que estar assim em constante estudo, porque às

vezes você fala uma coisa errada que o usuário lá da plateia te corrige,

porque hoje com o avanço da tecnologia, todo mundo tem acesso à

informação. (CRAS I, 2015).

Garantir a assistência como um direito social? é você executar uma política

não como se você estivesse fazendo um favor para a pessoa, mas sim

analisar ela né? A pessoa na sua conjuntura, no total, na sua conjuntura, é

respeitar a cultura, é você contribuir para ela sem achar que está fazendo um

favor, garantir seus direitos. É realmente garantir seus direitos, efetivar.[...]

Fundamentar a prática dos trabalhadores do SUAS nas legislações. Fazer

com que as famílias conheçam seus direitos e a forma de acesso aos

mesmos. Garantir a equidade na oferta de serviços. (CRAS III, 2015).

Os sujeitos compreendem a assistência social enquanto direito na perspectiva da oferta

de informação e possibilidade de acesso aos direitos existentes. Para eles, garante-se o direito

à assistência social à medida que se efetiva um trabalho de orientação acerca dos direitos, sob

a ótica da universalização do acesso. Para tanto, ressaltaram a importância do trato ao usuário

da política de assistência social enquanto cidadão dotado de direitos.

O CRAS IV, por sua vez, após um período de silêncio, apresentou dificuldade para

responder nosso questionamento:

Ixi [...] Essa é difícil, bem difícil, (silencio...pensativa) repete a pergunta?

[...] Porque hoje a assistência é para quem dela necessitar, independente eu

acho, da classe social, como é um direito... (silêncio... pensativa). Se eu te

falar que eu nunca parei para pensar nisso... não sei, como garantia eu não

sei, fazer ela ser um direito né? (CRAS IV, 2015 – grifo nosso).

E logo em seguida, ao perguntarmos se acredita que os profissionais não realizam esse

exercício de pensar sobre o conceito de assistência social, recebemos um desabafo:

Não faz, não pensa e nem coloca em prática. (CRAS IV, 2015).

E continuou apresentando o seu ponto de vista

Eu acredito que faltam discussões, porque a gente às vezes fica um pouco

perdido sabia? Nos projetos que eles mandam para a gente, cada hora é de

uma maneira, cada hora é de uma forma, a gente não sabe o que faz, Às

vezes a gente está fazendo, “não, não está certo, está errado, tem que ser

assim” então a gente fica até meio perdida, na verdade, eu acho que falta

mais discussão porque nem eu sei te responder. (CRAS IV, 2015).

159

Então, tentamos instigar a discussão, questionando sobre como ficariam os usuários

neste contexto, pois se na sua perspectiva os profissionais não pensam, não discutem a

respeito do que é o direito à assistência social, como é possível garantir que o restante da

população tenha esse conhecimento? Porém, o CRAS IV limitou-se ao silêncio.

Ao discutirmos sobre os principais desafios enfrentados para que o direito à assistência

social seja efetivado, o CRAS I relatou acreditar que o principal desafio está no

empoderamento do usuário, uma vez que, os governantes e o próprio poder público, em

alguns casos, temem que a população tenha conhecimento de todos os seus direitos, pois desta

forma, teriam propriedade para reivindicá-los.

Aqui, fazer as pessoas que trabalham com os usuários entender que o usuário

tem potencia, que ele tem condições de buscar os seus direitos, e atuar para

que essa pessoa tenha acesso a esses direitos, porque muitas vezes é muito

melhor ter um “usuariozinho” alienado, para você dominar, “não fala não, há

é direito dele, mas não precisa falar” né? Esse é o desafio maior, as pessoas

tem medo do que a população... os governantes tem medo do que a

população pode ter de conhecimento e a assistência é parte do poder público,

mas ela não está do lado do poder público, ela está do lado da população. Ela

é vista como desafiadora, [...] Por isso que eu falo, quando a gente fala com

propriedade, as pessoas elas sabem que você esta falando com propriedade.

Você sabe o que você está fazendo, então ela não vai ter coragem de te

questionar sobre algo que ela sabe que está correto. Na verdade a assistência

tem que ser uma cobra que o estado criou para picar ele (risos). Exatamente,

não é não? É... Por isso que a gente tem que trabalhar com autonomia,

porque agente tem que fazer com que o usuário conheça seu direito, saiba

onde está esse direito e como ele deve acionar esse direito, e ai a gente tem

que ir contra quem emprega a gente, quem trabalha na rede conosco, porque

as pessoas que trabalham não tem essa visão do usuário, muitas vezes é

melhor, lá na saúde, falar para o usuário que não tem medicamento, e não

explicar para ele, que não tem o medicamento, mas o medicamento é direito

dele, que e ele quiser ele pode acessar a via tal, a via tal, a via tal. Mas ai

quando ele chega aqui à gente fala, mas é direito seu você volta lá fala pra...

Aí você acaba criando indisposição com pessoas que não querem que o

usuário tenha esse conhecimento, eu acho que esse é o principal desafio, é

fazer as pessoas compreender que o usuário ele tem direito e que nós

estamos aqui para ofertar o serviço público, ofertar o direito com qualidade.

(CRAS I, 2015).

O rompimento com a cultura clientelista foi apontada pelo CRAS II, como sendo o

principal desafio encontrado.

Eu acho que é romper com a cultura clientelista aqui, eu acho que é o ponto

crucial, ainda é muito de cesta básica, aquela visão mesmo de paternalismo,

de clientelismo, eu acho que é isso. Eu acho que é cultural. Eu acho que é até

um conhecimento da politica pelas outras politicas. (CRAS II, 2015).

160

De fato, enquanto o paternalismo e o clientelismo estiverem presentes na política de

assistência social, a sua efetivação enquanto um direito não será possível, pois, o benesse, o

favor, a tutela e o favoritismo anulam qualquer possibilidade de rompimento com a trajetória

histórica desta política, que sempre foi praticada como não-direito, mas sim como ação que

necessita da “boa vontade” dos governantes, que por questões morais, decidem dispensar

recursos para a sua efetivação.

Outro desafio apontado, desta vez pelo CRAS III, encontra-se na existência dos

critérios.

Eu acho que precisa entender melhor os critérios né? Eu acho que os

critérios do governo [...] vamos supor, nordeste poderia ter tido esse critério,

região sul outro... Nossa região aqui, outro... [...] porque ficou um padrão e

não é padrão, a qualidade de vida lá, não é o mesmo que a qualidade de vida

aqui, a gente se sente assim, é uma coisa que a gente fica... O Bolsa família

em especial, eles não entendem muito bem, a gente tem essa dificuldade

deles entenderem né? (CRAS III, 2015).

Para este CRAS, é contraditório falar em direito quando o acesso a ele depende de

enquadramento em critérios pré-estabelecidos, como é o caso do acesso aos programas de

transferência de renda.

Quem criou o bolsa família, esses critérios, assim, utilizou para o Brasil

inteiro, e esqueceu que cada um tem sua particularidade, perdeu um pouco a

essência, então assim, às vezes eu vou assim para minha casa e me sinto

assim, às vezes, fiscalizando o usuário e eu não gosto entendeu? Pela

questão [...] Que a gente recebeu a polícia federal, que veio fiscalizar os

municípios, [...] a gente tornou pública a lista, tá lá a lista, Então assim, aí a

gente fica: “nossa será que tem alguém né?”. Aí você fica assim, já sai um

pouco dessa de efetivar o direito. É que aqui, por ser um município pequeno,

a gente conhece a realidade das famílias, mas se é um município maior a

gente trabalha com o que a pessoa traz aqui entendeu? Então aqui tem essa

questão, a fulano tá mentindo, ciclano tá mentindo, e a gente consegue

averiguar, mas e a cidade maior? E acontece muito aqui, de fulano denunciar

o outro. [...] Porque às vezes fulano mentiu, mas a gente tem declaração de

renda que a pessoa assina, tem essa questão assim deles entenderem assim os

critérios do governo e a gente mesmo fica sem saber o que fazer... [...] E eu

me sinto frustrada por que o governo coloca um critério só para o Brasil

inteiro, ai dificulta muito. Então essa parte eu sinto dificuldade. (CRAS III,

2015).

Já o CRAS IV acredita que um dos desafios encontra-se na ausência de valorização

dos trabalhadores.

Hii... Falta tanta coisa, eu acho que falta às vezes empenho até por parte da

gente, dos próprios profissionais também para que isso aconteça, eu acho

que falta às vezes, falta incentivo para a gente também, se eu te falar que,

161

tipo assim, às vezes o salário que a gente recebe influência muito, que não é

valorizado né? Eu acho que falta às vezes força de vontade da gente, falta

incentivo para a gente também, eu acho que, eu acho que é isso. [...] Às

vezes, os serviços que a gente oferece, a gente não consegue concretizar ele,

que nem as visitas às vezes, porque não tem carro, falta recurso, tem projeto

parado porque não está vindo dinheiro, a gente não tem resposta porque que

não vem, então você acaba desanimando infelizmente você acaba

desanimando, você não sabe o que fazer, qual atitude tomar. (CRAS IV,

2015).

Para eles, os profissionais encontram-se desmotivados em razão dos baixos salários,

da ausência de incentivo e até mesmo da inexistência de infraestrutura adequada para a

realização do trabalho, o que está diretamente relacionado com a qualidade do serviço

prestado, que por ser precário, contribui para a não efetivação da assistência social enquanto

direito.

Outro desafio importante a ser superado, na visão do CRAS II, encontra-se no fato de

as pessoas reconhecerem a assistência social enquanto política social destinada aos pobres.

[...] porque infelizmente a área da assistência social no Brasil foi feito para

baixa renda, eu acho que a gente tem que quebrar isso ai, porque o SUS é de

todo mundo, é universal do rico e do pobre e a assistência não, é para quem

dela necessitar, a gente se prende a renda, renda, renda. Então eu acho que

esse preconceito da área da assistência tem que mudar. Porque gente, não se

faz propaganda, não se fala da assistência, que é para todos, não, não se fala,

né? Como que é, como que procede, mesmo na televisão, a gente não vê

propaganda, parece que o governo não tem interesse em mudar essa

realidade. (CRAS II, 2015).

Apresentam ainda um exemplo a este respeito:

Eu lembro uma vez, que um professor vinha pedir ajuda com medicamento,

nossa, todo mundo caia matando, “onde já se viu aquele homem lá, ele tem

condição de comprar”, entendeu, é essa a visão, e assim medicamento é para

todos é universal. Já hoje, se ele vai no SUS pegar uma medicação, ele vai

ter a mesma renda tal, e lá tudo bem... então olha o tanto que muda a visão

das pessoas, no SUS pode todo mundo e a assistência é para pobre, e sempre

para pobre, eu vejo muito essa visão também. (CRAS II, 2015).

Este exemplo nos remete a uma das reflexões de Sposati, que também faz uma leitura

crítica sobre o olhar dispensado às ações da assistência social:

A exemplo, se o leite é distribuído pela política da saúde, ele tem sua entrega

ao usuário como parte de um programa nutricional baseado em assegurar

nutrientes, calorias e padrões saudáveis de alimentação materno-infantil. Se

o mesmo leite é distribuído ao usuário pelo serviço público de assistência

social, essa entrega é entendida como doação, auxílio ou ajuda para dar de

162

comer à criança pobre ou faminta, filha de pais carentes. Transmuta-se a

mesma ação de garantias de resultados a uma ação de ordem moral e

emergencial, direcionada a carentes, sem qualquer relação ou menção a

direitos ou deveres. Passa a ser uma atitude do governante (ou de sua

mulher em particular), e não uma responsabilidade de Estado. É

interessante notar que a criança pode ser a mesma — como a mesma

poderá ser sua família —, todavia, o guichê estatal da assistência social

transmuta na versão conservadora, o direito à nutrição em ajuda ao pobre,

pelos usos e costumes da cultura institucional brasileira, mesmo após a CF-

88. (SPOSATI, 2007, p. 441).

De acordo com a autora, esta visão que a sociedade tem acerca da assistência social,

afasta-a da lógica do direito. Sposati é clara ao afirmar que a mudança de perspectiva acerca

desta política pública é fundamental para que ela se torne uma política pública de direito.

Considero que um dos fatores que gera essa transmutação é a atribuição

indevida da assistência social ao campo “dos pobres e da pobreza”. É este o

campo das culpas, das vítimas e sofredores, dos coitados e dos não cidadãos.

[...] A condição de ser pobre não gera direitos. É a condição de ser cidadão

que os gera. Por conseqüência, enquanto for atribuída a responsabilidade da

assistência social ao trato do pobre, ela não será uma política de direito de

cidadania. Esta é uma das questões mais difíceis a ser enfrentada, pois muda

o “pólo energético” da assistência social. (SPOSATI, 2007, p. 441).

O CRAS I, também traz esta necessidade de mudar o conceito atribuído à assistência

social:

Que não está vinculada apenas ao critério de renda, que tem direito todo

aquele que necessitar, porque, às vezes a pessoa, ela não tem vergonha de ir

na saúde, mas às vezes fala de assistência social acha que tem que estar em

estado de pobreza, e não é assim, a gente tem que mudar esse conceito das

pessoas, que é direito dela, que ela é quem financia a política. (CRAS I,

2015).

Por fim, questionamos se é possível afirmar que a assistência social é um direito

efetivado hoje.

O CRAS IV foi claro ao afirmar que acredita que o direito não acontece e o CRAS III

afirmou acreditar que ainda é preciso avançar.

Eu acho que não, eu acho que não é direito efetivado, ele está lindo no papel,

mas eu acho que na prática ele não acontece, eu acho que não acontece.

(CRAS IV, 2015).

É um direito efetivado, mas precisa avançar bastante, totalmente acredito

que não, estamos tentando avançar, mas assim, já está em lei, já está

garantido, o desafio é romper mesmo, e é um processo continuo, é uma luta

163

diária, e a gente não consegue assim, transformar do dia para noite é uma

luta mesmo. (CRAS III, 2015).

Como podemos observar, na perspectiva de alguns trabalhadores, aqui representados

pelo CRAS III, a busca pela efetivação da assistência social enquanto um direito é uma luta

diária.

Todos sabemos que este direito foi garantido em 1988 pela Constituição Federal (há

27 anos) e que em 2005 (há 10 anos) um sistema único, o SUAS, foi instituído para organizar

a assistência social enquanto política pública.

A princípio pode parecer muito tempo, entretanto, ao considerarmos a quantidade de

décadas e por que não séculos, pelos quais a assistência social foi efetivada sem nenhum tipo

de direcionamento técnico ou suporte legal, sob a perspectiva da “ajuda ao próximo”, por

meio de ações espontâneas, fica mais fácil compreendermos a existência de tantos desafios e

resistências para que esta lógica secular seja modificada. Afinal, como explicita Carvalho

(2006, p. 124): “A assistência social é uma velha prática, mas jovem política.”

Sposati (2007, p. 438), nos esclarece sobre isso:

Analisar a especificidade/particularidade da política de assistência social no

Brasil significa entender que estamos tratando de um objeto sócio-histórico,

econômica e geograficamente situado, e que, portanto, se está tratando de

uma dada relação de forças sociais, econômicas e políticas que, no caso,

constrói o formato do regime brasileiro de assistência social.

Nesse sentido, de fato, a luta deve ser diária. Os trabalhadores do SUAS trabalham em

parceria com trabalhadores de outras políticas públicas que, por muitas vezes, nunca

estudaram sobre a formulação da política de assistência social e seus fundamentos, trabalham

com governantes que, por muitas vezes, ainda dispensam à assistência social o olhar de que

esta deve ser destinada aos necessitados e desamparados.

Enfim, se deparam com resquícios da trajetória histórica diariamente. “Há um

simbólico arraigado à cultura social e política brasileira que sugere ser a assistência social a

área de governo que autoriza aos necessitados, de preferência aos mais necessitados dentre os

necessitados, o ‘acesso gratuito’ a bens para sua subsistência.” (SPOSATI, 2007, p. 441). E,

sendo assim, precisam estar firmes, lutando para que as mudanças aconteçam, exigindo da

gestão que a lei seja cumprida.

O CRAS II ficou dividido sobre ser ou não a assistência social um direito efetivado.

Por fim, chegaram ao consenso de que estão caminhando para isso (para a efetivação do

164

direito), conquistando avanços importantes, portanto não podem dizer “não, de jeito nenhum”,

acreditam que a melhor resposta seria “estamos no caminho”.

Acho que sim, [...] na minha interpretação entender que a assistência existe e

para que ela serve, a gente vem trabalhando isso esse ano pesado nos grupos,

só vem falando sobre isso, então assim, entender, eles entendem que a

assistência existe e eles procuram, então a partir dai a gente começa... Então

eu penso que sim, eu penso que está funcionando, eu penso que está sendo

efetivado eles entendem... Porque se eu falasse: não está. Então assim, seria

de jeito nenhum no meu entendimento, entendeu o que eu quis dizer? (CRAS

II, 2015).

E continuou a reflexão:

Nossa que pergunta difícil gente, não sei, muito difícil, às vezes eu acho que

sim, às vezes eu acho que não. Que é o que eu acabei de falar, a gente está

no caminho, então os usuários eles sabem que existe a política de assistência,

não está direcionado ainda na cabeça deles, que vai demorar, até para nós

né? O que seria, para que veio a assistência, e a gente esta construindo,

assim, reforço na minha fala que a gente tá trabalhando pesado sobre isso

nos grupos. Até porque assim: a gente falou de clientelismo e paternalismo,

ai se a gente começa a analisar, a história da assistência dentro do nosso

município [...] agora que a gente está construindo, a gente está realmente

numa fase de transição, e assim, eu não sei se as meninas viram, ouviram, se

prestaram atenção no dia da conferencia da criança e do adolescente, a fala

do prefeito em relação a assistência, vocês lembram o que ele falou? Ele

falou um negocio lá de assistencialismo e ainda disse: “as meninas da

assistência social vão me matar porque vou falar isso” então, eu percebi na

fala dele que ele também está desconstruindo, então, eu vejo que a gente tá

numa fase de transição mesmo. (CRAS II, 2015).

Apenas o CRAS I respondeu acreditar que hoje a assistência social é um direito

efetivado, entretanto, ressaltaram que esta resposta positiva está relacionada com a realidade

do município.

A assistência em nosso município eu acho que é um direito efetivado. Não

consolidado ainda, totalmente, efetivado, tá efetivado, porque a gente

trabalha com autonomia para o usuário né? Sem ter medo, sem medo, sem

ficar por baixo de ordens, sem fazer algo que não é correto, então à gente faz

o que é correto, se é direito, se é o nosso papel, a gente não vai deixar de

fazer porque o prefeito ou vereador veio falar que não é para fazer, não, o

nosso papel a gente exerce, independente de qualquer outra rede, se e o

nosso dever a gente vai fazer, então por isso que ele está consolidado sim.

(CRAS I, 2015).

O CRAS I afirma ser a assistência social um direito efetivado no município,

justificando que os trabalhadores do SUAS realizam suas ações com autonomia, se

posicionando e fazendo valer o direito do usuário, independentemente das vontades políticas.

165

Ao longo de toda entrevista, foi possível identificar nas falas do CRAS I um

posicionamento claro em favor do rompimento com as antigas práticas e a busca por

aprofundamentos teóricos para que as mudanças pudessem ser realizadas. Desta forma, a

concretização desse rompimento, certamente contribuiu para que a equipe construísse a

perspectiva de que estão conseguindo efetivar o direito à assistência social.

Ao refletirmos sobre ser ou não ser a assistência social um direito efetivado hoje,

torna-se relevante ressaltar o quanto são mínimas ou praticamente nulas as possibilidades de

efetivar a assistência social enquanto direito no seio de uma sociedade capitalista.

Podemos encontrar ações importantes que deem vida, que fortaleçam o direito à

assistência social, assim como podemos identificar intervenções relevantes que garantam o

acesso aos direitos sociais. Entretanto, ao considerarmos a estrutura das políticas sociais e

todos os interesses econômicos que temos como pano de fundo das intervenções políticas,

deparamo-nos com uma realidade contraditória, a qual não contempla a lógica da

universalização dos direitos, não permite a divisão da riqueza socialmente produzida e,

portanto, não garante a igualdade social, tampouco garante que as necessidades básicas de

todo o cidadão sejam supridas.

Porém, esta leitura crítica sobre as frágeis possibilidades da efetivação do direito à

assistência social, não nos deve direcionar para a sua negação. Pelo contrário, precisamos ter

clareza de todos os entraves existentes, reconhecendo-os e discutindo-os, mas, acima disso,

precisamos considerar os avanços e ressaltar as possibilidades que ela nos apresenta.

A luta pela efetivação deste direito não pode parar e para isso precisamos acreditar

nesta política, afinal ela é o caminho, é a possibilidade que temos neste momento histórico.

166

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oportunidade de poder realizar este estudo constituiu-se numa aprendizagem impar,

que proporcionou a construção de novos conhecimentos ao longo de todo o processo.

Há quem diz que o pesquisador precisa se apaixonar pelo seu objeto de estudo, e neste

caso, o objeto de estudo é mais que uma paixão, é algo que faz parte da trajetória profissional

da pesquisadora.

A assistência social, que por tanto tempo foi praticada sem nenhum direcionamento

teórico, apenas pautado na ajuda e na boa vontade, conquista a partir de 1988 uma esperança,

pois passa a dividir o mesmo chão com diversas outras políticas sociais, sob a lógica da

primazia da responsabilidade estatal.

Legalmente, a assistência social tornou-se um direito social, entretanto, este foi apenas

o primeiro passo de uma longa caminhada, que se estende até os dias atuais. Na contramão

dos interesses econômicos vigentes, pautados no neoliberalismo que adentrou o Brasil na

década de 1990, a assistência social caminhou a passos lentos, tendo o artigo 203 da

Constituição Federal, que trata dos objetivos da assistência social, regulamentado apenas em

1993 com a publicação da LOAS.

O próximo avanço se deu com a criação da PNAS em 2004 e com a instituição do

SUAS em 2005. Agora, a assistência social estava regulamentada e possuía um norte para a

sua efetivação em todo o território nacional.

Entretanto, no chão social, todos estes avanços legislativos nem sempre vêm

conseguindo garantir o seu espaço.

Os trabalhadores do SUAS enfrentam desafios dia após dia para romper com os

resquícios da trajetória histórica desta política pública, seja por parte da sociedade, seja por

parte dos governantes. A cultura da benevolência perdurou por tanto tempo que não é tarefa

simples convencer a todos de que estamos tratando de direitos quando tratamos da assistência

social.

Todos estes desafios se tornam ainda mais complexos quando direcionamos um olhar

crítico à própria organização da política de assistência social, que foi construída sobre pilares

um tanto quanto contraditórios. Desta forma, caso nos afastemos das reflexões teóricas,

colocamo-nos sob o risco de reproduzir, mesmo que inconscientemente, os interesses da

burguesia, olhando para os problemas sociais e tentando compreendê-los enquanto problemas

individuais, que devem ser superados pelas famílias e não como problemas da sociedade

capitalista que é naturalmente desigual e conflituosa.

167

Analisando toda esta estrutura que temos como pano de fundo para a política de

assistência social, poder conhecer a perspectiva dos trabalhadores sobre esta política e sobre o

trabalho que o CRAS vêm desenvolvendo na busca pela implantação do SUAS, foi algo

extremamente rico.

A realidade passou a ser avaliada já no processo de seleção dos municípios, que foi um

tanto quanto desafiador. Diferente do que prevíamos, muitos municípios se recusaram a

contribuir com a presente pesquisa. Entretanto, o contato realizado para a apresentação da

proposta já nos proporcionou um conhecimento imenso. Ouvir os coordenadores justificarem

a recusa na participação, nos levou a compreender o quanto ainda precisamos avançar para

conquistar o espaço que é de fato garantido para a política de assistência social.

Deparamo-nos com realidades, onde o primeiro damismo ainda é tão presente, a ponto

de não permitir que os profissionais venham “expor” a realidade do município. E, com

realidades onde o trabalho desenvolvido pelos CRAS está tão “defasado” que o coordenador

foi direto ao afirmar que não participaria, pois não tinha nenhuma atividade em

desenvolvimento no momento e que nada poderia declarar sobre a implantação do SUAS

naquele território. Além destes casos, encontramos também realidades onde a equipe mínima

do CRAS não estava garantida, ora por falta de assistente social, ora por falta de coordenador,

ora por falta de ambos os profissionais.

Todos estes elementos já nos permitiram identificar o quão grande são os desafios

desta região para que o SUAS venha a ser implementado, uma vez que, nem implantado ainda

podemos afirmar que ele está.

Após a seleção dos municípios, a possibilidade de conhecer o cotidiano destes CRAS e

as perspectivas das equipes foi além das expectativas iniciais, nos deparamos com realidades

diversas, entretanto, com profissionais, que mesmo diante de tantas dificuldades, são

comprometidos com o desenvolvimento do trabalho realizado.

Poder conhecer a dinâmica de trabalho de cada equipe, nos levou a compreender o

quanto o Sistema Único de Assistência Social ainda é eclético. Em diversos momentos

identificamos que cada local interpreta a política à sua maneira, e assim, cada um enfatiza o

que lhes parece melhor. As estratégias de intervenção são diversas e ainda existe falta de

clareza sobre o que de fato cabe à política de assistência social.

Por meio das categorias de análises criadas para a realização da análise dos dados,

enfatizamos os elementos mais importantes que surgiram a partir dos grupos focais.

Na perspectiva dos trabalhadores, o CRAS constitui-se em um espaço de referência

para a população, porém, as principais demandas apresentadas são distintas nos municípios.

168

Há municípios que já conseguiram fazer com que a população veja o papel do CRAS para

além das concessões materiais, como espaço de trocas e de acesso à informações, enquanto

em outros, o que prevalece é a inclusão em programas sociais e acesso à benefícios eventuais.

No que tange ao controle social, podemos destacar que ainda há muito que avançar.

Identificamos realidades em que a composição dos conselhos não passam de algo meramente

formal, que não consegue ir além do papel, como também nos deparamos com situações em

que há tentativas para que os conselhos sejam ativos, mas, falta o engajamento dos seus

membros.

Em relação ao trabalho social com famílias, cada município o realiza à seu modo.

Cabe aqui destacar o quanto ainda precisa-se de esclarecimentos a respeito do objetivo deste

trabalho e das possíveis abordagens metodológicas existentes.

O trabalho em rede é algo bastante desafiador, a falta de clareza do papel da política de

assistência social acaba sendo um ponto dificultador. As possibilidades para a efetivação de

um trabalho intersetorial são pequenas, ainda se prevalece a lógica individualista, onde cada

política social faz o seu trabalho. A ideia de que “vamos atender juntos, sob a perspectiva da

totalidade” ainda tem muito para avançar.

Mesmo com tantos entraves, os trabalhadores acreditam que o SUAS contribuiu

significativamente, eles acreditam que estamos no caminho para a efetivação do direito à

assistência social.

Pensar a assistência enquanto um direito social requer alcançar a superação de

diversos desafios com os quais nos deparamos.

Acreditamos que primordialmente os recursos humanos precisam estar garantidos e

atendendo ao perfil pré-estabelecido pelo SUAS. Uma política pública só pode ser efetivada

de forma qualificada com a presença de profissionais qualificados e isto requer investimento.

Vivenciamos uma realidade marcada pela precarização do trabalho, e isso rebate na prática

profissional, pois não podemos fazer política pública com trabalhadores multifuncionais, que

realizam de tudo a qualquer modo, pelo contrário, está lógica nos remete à antiga visão de que

“para pobre qualquer coisa basta”.

É preciso investimento em educação permanente. O governo tem a responsabilidade

de capacitar os trabalhadores, entretanto o plano nacional de educação permanente no SUAS,

ainda continua sendo uma utopia.

E é necessário, ainda, discutir a estrutura da política de assistência social atual, que

conforme explanamos ao longo da dissertação, foi elaborada sobre pilares contraditórios. Os

trabalhadores do SUAS precisam se debruçar nos estudos e buscar compreender a fundo estes

169

pilares que vêm sustentando a política de assistência social, para então se engajarem, por meio

de luta coletiva, para que haja diálogos e reflexões construtivas a respeito de possibilidades de

mudanças em sua base organizacional.

Por fim, acreditamos que mesmo diante de tantas contradições e desafios, não cabe

simplesmente recusar a efetivar esta política. É preciso apropriarmos dela, ressaltando as

possibilidades que a mesma nos apresenta. Por mais que seja contraditória, a política de

assistência social nos proporciona acesso à população, acesso à classe que vive do trabalho,

acesso à parcela da sociedade que mais sofre com a relação conflituosa entre capital x

trabalho. Por que não utilizar este acesso de maneira estratégica?

Temos consciência de que no âmbito da sociedade capitalista não é possível garantir a

universalização do acesso aos direitos sociais e de que sob a ótica do modelo neoliberal torna-

se desafiador levar o Estado a tomar para si a responsabilidade pela proteção social dos

cidadãos, entretanto, precisamos caminhar pelas lacunas, elaborando estratégias na busca pela

efetivação dos direitos.

Esta é a política de assistência social que temos posta hoje, negá-la neste momento não

nos levará a lugar algum, sejamos, então, estrategistas, e engajemo-nos em uma luta coletiva

por mudanças.

170

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APÊNDICES

178

APENDICE A – QUESTIONÁRIO: PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA

I – PERFIL PROFISSIONAL E VINCULO EMPREGATÍCIO

1) SEXO: ( ) F ( ) M

2) IDADE: ____ anos

3) ESTADO CIVIL:

( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Viúvo(a)

( ) Divorciado(a) ( ) União Estável ( ) Separado

4) ESCOLARIDADE:

( ) Ensino Fundamental Completo

( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Médio Completo

( ) Ensino Superior Incompleto

( ) Ensino Superior Completo

( ) Pós Graduação Incompleto

( ) Pós Graduação Completo

5) TITULAÇÃO

( ) Graduado

( ) Especialista

( ) Mestre

( ) Doutor

6) INSTITUIÇÃO EM QUE SE GRADUOU

( ) Pública ( ) Privada

Local/Estado:

___________________________________________________________________________

Graduação em:

___________________________________________________________________________

Ano de conclusão da Graduação:

___________________________________________________________________________

7) INSTITUIÇÃO EM QUE CURSOU PÓS GRADUAÇÃO

( ) Pública ( ) Privada

Local/Estado:

___________________________________________________________________________

Pós Graduação em:

___________________________________________________________________________

Ano de conclusão da Pós Graduação:

___________________________________________________________________________

8) FUNÇÃO QUE EXERCE NO CRAS ____________________________________

9) HÁ QUANTO TEMPO ESTÁ ATUANDO NESTA FUNÇÃO? _______

Anos/Meses

10) HÁ QUANTO TEMPO ESTÁ ATUANDO NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL?

_______Anos/Meses

11) VÍNCULO EMPREGATÍCIO NO CRAS

( ) CLT ( ) Estatutário(a)

( ) Informal ( ) Contrato Temporário

12) SALÁRIO QUE VOCÊ RECEBE DO CRAS _________________ (em R$)

13) CARGA HORÁRIA DE TRABALHO SEMANAL NO CRAS ______ (EM HORAS)

14) VOCÊ EXERCE OUTRA ATIVIDADE DE TRABALHO REMUNERADA?

( ) NÃO Se a resposta for não, pule para a pergunta 17.

( ) SIM Qual?________________________________________

TIPO DE VÍNCULO DESTA OUTRA ATIVIDADE?

( ) CLT ( ) Estatutário(a)

( ) Informal ( ) Contrato Temporário

15) CARGA HORÁRIA DE TRABALHO SEMANAL NESTA OUTRA ATIVIDADE

_________________(EM HORAS)

16) SALÁRIO QUE VOCÊ RECEBE DESTA OUTRA ATIVIDADE

_________________ (em R$)

II – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, EVENTOS CIENTÍFICOS E CAPACITAÇÕES

17) PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS NOS ULTIMOS 12 MESES?

( ) Não ( ) Sim. Elenque os eventos, se possível:

1._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

( ) Apresentou trabalho

2._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

( ) Apresentou trabalho

3._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

( ) Apresentou trabalho

18) REALIZOU CAPACITAÇÕES NOS ULTIMOS 12 MESES?

( ) Não ( ) Sim. Elenque os eventos, se possível:

1._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

2._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

3._______________________________________________________________________

( ) Obteve algum recurso/auxilio financeiro da Instituição

19) EXERCE PARTICIPÇÃO POLÍTICA? (Membro de Conselhos, Sindicatos,

Associações, Órgãos da Categoria Profissional entre outros)

( ) Não ( ) Sim/Qual(is)? *Detalhar se possui algum cargo.

180

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

20) LEU ALGUM LIVRO/ARTIGO CIENTÍFICO DE CONTEÚDO ESPECÍFICO NOS

ÚLTIMOS 12 MESES?

( ) Não ( ) Sim. Qual/Quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

21) RECORRE A ALGUM(S) AUTOR(ES) ESPECÍFICO(S) e/ou REFERENCIAL

TEÓRICO ESPECÍFICO PARA APRIMORAR SEU CONHECIMENTO TEÓRICO E/OU

PARA PAUTAR SUA AÇÃO PROFISSIONAL?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

III – A IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS.

22) VOCÊ ACREDITA QUE A IMPLEMENTAÇÃO DO SUAS CONTRIBUI PARA A

GARANTIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL ENQUANTO DIREITO SOCIAL E POLÍTICA

PÚBLICA?

( ) Sim ( ) Não

Por que?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

181

23) CONSIDERANDO OS PRESSUPOSTOS DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL, DA POLITICA NACIONAL DE ASSISTENCIA SOCIAL E O TRABALHO

DESENVOLVIDO PELO CRAS DESTE MUNICÍPIO, ELENQUE, SE POSSÍVEL, 03 PONTOS

FACILITADORES E 03 PONTOS DIFICULTADORES NA BUSCA PELA GARANTIA E

EFETIVAÇÃO DA ASSISTENCIA SOCIAL ENQUANTO UM DIREITO DO CIDADÃO E

DEVER DO ESTADO.

PONTOS FACILITADORES:

1-

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

2-________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

3-_______________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

PONTOS DIFICULTADORES:

1-________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

2-________________________________________________________________________________

182

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

3- ________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

APENAS PARA O COORDENADOR DO CRAS:

ESTE CRAS CONTA COM A EQUIPE MÍNIMA COMPLETA?

( ) SIM. HÁ QUANTO TEMPO? ___________________

( ) NÃO.QUAL(S) INTEGRANTE(S) NECESSÁRIO(S) PARA A FORMAÇÃO DA EQUIPE

MINIMA ESTÁ FALTANDO NA EQUIPE?

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

TODOS OS INTEGRANTES DA EQUIPE MÍNIMA SÃO FUNCIONÁRIOS EFETIVOS

CONTRATADOS POR MEIO DE CONCURSO PÚPLICO?

( ) SIM. HÁ QUANTO TEMPO? ___________________

( ) NÃO.

INTEGRANTE NÃO EFETIVO _______________________________________________________

__________________________________________________________________________________

OBS:______________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

183

APENDICE B – QUESTIONÁRIO: COORDENADORES DOS CRAS.

1- Histórico da Implantação do CRAS

Data

Existiram estudos sobre o território, seus riscos e vulnerabilidades, como base para a

implantação?

2- Funcionamento

Horário

Espaço Físico

Placas de identificação

Equipe

Condições Materiais

Condições orçamentárias (recursos federais, estaduais e municipais)

Ações de proteção básica em execução

Existência/articulação com rede – (qual o papel do CRAS)

Facilitadores e Bloqueadores da dinâmica de funcionamento do CRAS

Número de Famílias acompanhadas/mês

Numero de Familias cadastradas

3- Vigilância Socioassistencial

Existe um diagnóstico social da área de abrangência do CRAS?

São efetivadas ações de monitoramento e avaliação?

O município utiliza dados da gestão da informação do SUAS para planejar, monitorar

e avaliar suas ações? (Rede SUAS, CAD Único, Base de dados do Bolsa Família e BPC,

Censo SUAS, entre outros). Apresente exemplos.

4- Gestão do Trabalho no SUAS

Realizou-se concurso público?

Houve adequação dos perfis profissionais às necessidades do SUAS?

Existe capacitação continuada?

Foi instituído plano de cargos, carreiras e salários?

5- Controle Social

Qual a importância do Conselho Municipal de Assistência Social? De que forma você

avalia a relação/articulação do Conselho com a gestão municipal?

Quais os principais desafios para a efetivação do Controle Social no âmbito da política

de assistência social no município?

6- Avaliação do Coordenador sobre o SUAS

Comente sobre o processo de implantação do SUAS. O município teve

suporte/orientações necessárias do Estado e/ou Governo Federal?

Quais foram as medidas adotadas para a implantação do SUAS?

184

O que mudou com PNAS e SUAS na realidade local?

Quais os principais avanços?

Quais as principais desafios?

Quais as estratégias utilizadas para lidar com os desafios?

7- Você tem autonomia para planejar e executar as ações deste CRAS?

8- Considerando a trajetória histórica da assistência social, marcada por ações paliativas,

não-continuadas, clientelistas e de benevolência, de que forma você avalia a Assistência

Social nos dias atuais neste território? Ainda existem resquícios desta trajetória?

9- O que seria garantir a assistência social enquanto Direito Social?

10- Apresente as estratégias utilizadas para a garantia deste direito.

11- Quais as principais desafios a serem superados nos dias atuais, para que a assistência

social se efetive enquanto Direito Social, considerando a realidade do município.

185

APENDICE C – ROTEIRO: GRUPO FOCAL

1- O Cotidiano do CRAS

Como descrevem o cotidiano do CRAS?

Cotidiano de trabalho/atribuições do coordenador

Cotidiano de trabalho/atribuições dos técnicos

Cotidiano de trabalho/atribuições dos Orientadores Sociais

Cotidiano de trabalho/atribuições dos auxiliares administrativos

Cotidianos de trabalho/atribuições dos demais profissionais que realizam atendimento

ao público

2- Atendimento ao público

De que forma é possível descrever o perfil do público atendido? Quais as principais

características territoriais e a relação destas com o perfil do público atendido?

Apresentem a dinâmica de atendimento.

O CRAS consegue atender todo o território de abrangência?

Realizam busca-ativa?

Qual a estratégia para atender as comunidades, bairros distantes ou zona rural?

Vocês acreditam que o CRAS é uma referência para a população? Por que?

3- Principais vulnerabilidades e riscos sociais presentes no território: Demandas de

trabalho

Apresentem sucintamente as características do município e se possível for, relacione-

as com as vulnerabilidades e riscos sociais presentes no território.

Quais as principais demandas que chegam até a equipe por parte dos usuários?

Quais as principais demandas que chegam até a equipe por parte da gestão?

Há demandas não atendidas? Quais os desafios?

4- Trabalho Social com Famílias

Quais as estratégias para a realização do trabalho social com famílias previsto pelo

PAIF?

De que forma acontece o atendimento com Benefícios Eventuais? Quais os critérios?

Para a equipe, qual é a relevância do trabalho social com famílias?

O trabalho com famílias previsto pelo PAIF pode contribuir de alguma forma para que

a assistência social seja compreendida enquanto um direito social? Por que?

Uma das estratégias do trabalho social com famílias se dá por meio da realização de

grupos. De que forma este CRAS vêm efetivando este trabalho? Qual a abordagem

metodológica utilizada/Fundamentação teórica utilizada? É realizado por quem?

Os grupos contribuem de alguma forma para a conscientização e o acesso dos usuários

aos direitos sociais?

5- O Contato com a rede socioassistencial e intersetorial

186

Como é o contato com a rede? Há reuniões sistemáticas?

Existe Referência/contra-referência? A equipe do CRAS consegue acompanhar a

trajetória do usuário pela rede socioassistencial ou Intersetorial quando realiza ou recebe

encaminhamentos?

É possível atender as demandas da rede?

6- Controle Social

Os usuários participam das instâncias deliberativas como Conselho e Conferências?

O CRAS realiza algum trabalho para estimular os usuários a se apropriarem destes

espaços?

O CRAS proporciona espaço para que os usuários possam avaliar o trabalho

desenvolvido e apresentar sugestões? De que forma?

7- As características da Assistência Social no município

Como é possível descrever as características da Assistência Social neste município?

Quais foram as estratégias utilizadas no decorrer dos anos, antes da implantação do SUAS?

É possível identificar resquícios da trajetória histórica da Assistência Social marcada

pelo clientelismo, favor, não-direito, ainda nos dias atuais?

o Nas ações desenvolvidas:

o Na visão de vocês, trabalhadores do SUAS:

o Na visão da população:

o Na visão dos governantes:

O CRAS têm autonomia para realizar as suas ações dentro do território?

o Existe o Primeiro-Damismo?

o Existe Influência Política?

o É possível apontar alguma interferência por parte dos governantes?

Vocês acreditam que a Cultura Política, a história deste município/região, influenciam

na efetivação da Política de Assistência Social de alguma forma? Por que?

8- O SUAS e a Assistência Social enquanto direito

De que forma vocês analisam o SUAS? (O que é o SUAS, qual a sua importância)

O SUAS trouxe mudanças para a Assistência Social no município? Aponte-as.

O que seria garantir a Assistência Social enquanto Direito Social?

De que forma este Direito vêm sendo garantido? Quais as estratégias?

Há desafios para a efetivação da assistência social enquanto Direito Social no

território? Quais?

Atualmente, com a implementação do SUAS, é possível afirmar que a assistência

social é um direito efetivado? Por que?

187

APENDICE D – ROTEIRO: PESQUISA DOCUMENTAL JUNTO À DRADS DE

FERNANDÓPOLIS

1- Dos Municípios Referenciados:

1.1 Porte do Município:

Pequeno Porte I. _________

Pequeno Porte II. _________

Médio Porte. _________

Grande Porte. _________

1.2 Nível de Gestão:

Gestão Inicial. _________

Gestão Básica. _________

Gestão Plena. _________

2- Estudo direcionado aos Municípios de Pequeno Porte I

2.1 Nível de Gestão:

Gestão Inicial. _________

Gestão Básica. _________

Gestão Plena. _________

2.2 Comando Único da Gestão do SUAS.

Municípios que contemplam. _________

Municípios que contam com a existência de mais de um cargo para a efetivação da

Gestão do SUAS no município. _________

Quais são os cargos genéricos responsáveis pela gestão?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Se possível detalhar o numero de municípios que contam com:

02 cargos para a gestão. _________

03 cargos para a gestão. _________

Mais de 03 cargos para a gestão. _________

2.3 Perfil dos Gestores Municipais.

Municípios com gestores que tem formação acadêmica conforme o quadro de

categorias profissionais do SUAS. _________

Destes:

Municípios com Assistentes Sociais assumindo cargo da gestão. _________

188

Municípios com gestores que não atendem ao quadro de profissionais do SUAS.

_________

Destes:

Municípios com formação acadêmica que não atendem ao quadro de categoriais profissionais

do SUAS. _________

Municípios com gestores sem formação de nível superior. _________

Municípios com Primeira Dama assumindo cargo de gestão. _________

No caso dos municípios com Primeira Dama assumindo cargo de gestão, apresentar o

perfil:

Possuem nível superior com formação que atende ao quadro de categorias profissionais do

SUAS. __________

São assistentes sociais. __________

Possuem nível superior com outras formações. _________

Possuem Ensino Médio Completo. _________

Possuem Ensino Médio Incompleto

Possuem Ensino Fundamental Completo. _________

Possuem Ensino Fundamental Incompleto. _________

2.4 Equipe mínima do CRAS

Municípios com a equipe mínima completa, conforme o perfil estabelecido pela

NOB/SUAS/RH. _________

Municípios com a equipe mínima completa, porém composta por profissionais não

efetivos. _________

Destes:

Coordenador não efetivo_________

Técnico de nível superior não efetivo_________

Técnico de nível médio não efetivo _________

Municípios sem a equipe mínima completa. _________

Dos municípios sem a equipe mínima completa:

Ausência de Coordenador. _________

Ausência de 01 dos técnicos de nível superior. _________

Ausência dos 02 técnicos de nível superior. _________

Ausência de 01 dos técnicos de nível médio. _________

Ausência dos 02 técnicos de nível médio. _________

2.5 Perfil dos coordenadores dos CRAS

CRAS com coordenadores que tem formação conforme o quadro de categoriais

profissionais do SUAS. _________

Destes, coordenadores com formação em Serviço Social. _________

Coordenadores com outras formações acadêmicas, não contempladas pelo quadro de

categorias profissionais do SUAS. _________

ANEXOS

190

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

191