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O Princípio Regulador do Culto e o Natal Brian Schwertley

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Artigo de Bryan Schwertley sobre o caráter antibíblico da celebração e sua rejeição histórica por parte da Igreja Presbiteriana.

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O Princípio Regulador do Culto e o Natal

Brian Schwertley

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I

O Princípio Regulador

Brian Schwertley*

O Princípio Regulador da Escritura — Sola Scriptura

Devido à natureza humana pecaminosa, o povo pactual de Deus não raro se desvia da verdade. É comum o homem perverter a verdadeira religião ao eliminar elementos considerados desagradáveis. Ele também a corrompe pela adição de idéias próprias. Essa tendência de deturpar a verdadeira religião, mediante adição ou subtração, constitui a razão de Deus ter advertido Israel de nada acrescentar ou retirar de sua Palavra:

Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes; para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR Deus de vossos pais vos dá. Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que eu vos mando (Dt 4.1,2).**

Esta passagem da Escritura — além de outras semelhantes a ela — forma a base da doutrina chamada sola Scriptura [só a Escritura] dos reformadores protestantes. Isto é, somente a Bíblia é a autoridade final em todas as questões de fé e prática.

Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens [...] há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas”.1

Portanto, tudo o que o homem faz deve ter por base mandamentos explícitos da Escritura, deve ser deduzido de forma lógica ou clara (e.g., exemplo histórico,2 implicação etc.) ou, caso seja circunstancial, ser ordenado pela luz da natureza e da prudência cristã, de acordo com as regras gerais da Palavra (e.g., tempo ou lugar de reunião etc.). O mandamento de Moisés, encontrado em Deuteronômio 4.2, é o Princípio Regulador divino, em sentido mais amplo. A autoridade final para o homem, e a marca d’água para a vida, está revelada na Bíblia.

*Brian Schwertley é mestre em Teologia (Seminário Episcopal Reformado, 1984). Casado há mais de duas décadas

com Andréa, é pai de cinco filhos. Ele foi ordenado presbítero docente pela Igreja Presbiteriana Reformada dos Estados Unidos, em janeiro de 2001, e fundou a Igreja Cristã Calcedônia de Haslett. É pastor da Igreja Presbiteriana de Westminster de Waupaca, congregação da Igreja Presbiteriana de Westminster nos Estados Unidos. Foi preletor do Simpósio “Os Puritanos” em junho de 2001 no Recife (Brasil). Em português foram publicados, de sua autoria, O modernismo e a inerrância bíblica (São Paulo: Os Puritanos, 2000, 64p.) e Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto (São Paulo: Os Puritanos, 2001, 207p.). ** Todas as referências bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada: Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original de João Ferreira de Almeida (São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1994).

1Confissão de fé de Westminster, I.VI. 2Uma circunstância de exemplo histórico é o culto público no dia do Senhor. Não existe mandamento explícito ou

imperativo divino para alterar o culto público do sétimo dia (sábado) para o primeiro dia (domingo) da semana, registrado na Escritura. Entretanto, no Novo Testamento, a alteração do sétimo para o primeiro dia é registrada como fato consumado (At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10). Nem todos os mandamentos divinos ou palavras proféticas foram incluídos na Bíblia. A prática universal da igreja apostólica, como o culto público no dia do Senhor, é obrigatória por causa da autoridade exclusiva conferida aos apóstolos (mediante revelação direta). Quando os apóstolos morreram, a revelação direta cessou e o cânon foi encerrado; agora, nossa doutrina, culto e todos os exemplos históricos estão limitados à Bíblia — a Palavra de Deus. Quem apela às tradições eclesiásticas, inventadas após o fechamento do cânon, para autorizar o estabelecimento de ordenanças relativas ao culto encontra-se, em princípio, em situação não muito melhor que a de Jeroboão filho de Nebate (1Rs 12.26-33).

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O Princípio Regulador do Culto (PRC)

A Bíblia é nossa única regra infalível concernente à fé e prática. Não há área da vida na qual essa verdade seja mais aplicável que no respeitante ao culto. Antes de entrar na terra prometida, Deus advertiu os israelitas da idolatria e do sincretismo (i.e., mistura) com os cultos pagãos:

Guarda-te, que não te enlaces seguindo-as, depois que forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses. Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás (Dt 12.30-32).

Tudo o que não é ordenado pela Escritura no culto a Deus é proibido. Tudo o que a igreja realiza no culto deve ter base em um mandamento divino explícito, ser lógica e claramente deduzido dele, ou derivar-se de um exemplo histórico aprovado (e.g., a alteração do sétimo dia para o dia do Senhor para o culto comunitário).

Da mesma forma que na Antiga Dispensação nenhum aspecto do culto ou da disciplina da Igreja de Deus foi confiado à sabedoria ou ponderação humana — todas as coisas foram prescritas de modo objetivo pela autoridade divina —, também sob a Nova [Dispensação], nenhuma outra voz é ouvida na casa da fé, a não ser a do Filho de Deus. O poder da igreja é apenas ministerial e informativo. Ela deve apenas manter a doutrina, fazer cumprir as leis e executar o governo outorgado por Cristo. Nada do que o Senhor estabeleceu deve ser adicionado ou subtraído por ela. A igreja não possui poder discricionário.3

O conceito corrente entre as igrejas protestantes é o da permissibilidade de tudo o que não é explicitamente proibido na Bíblia. Esse conceito era, e ainda é, aceito pelas igrejas luteranas e episcopais. As primeiras igrejas reformadas e protestantes rejeitaram esse conceito por não ser bíblico. A Confissão de fé de Westminster diz:

... o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens [...] ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.4

O que hoje designamos PRC não é algo inventado por João Calvino ou John Knox, mas se trata de um imperativo divino. É um aspecto crucial da lei divina:

Dizemos que o mandamento de nada acrescentar é parte orgânica da lei toda, como lei e, portanto, toda adição humana ao culto divino, ainda que não contrarie nenhum mandamento de forma particular, é contrária ao mandamento geral de que nada deve ser adicionado.5

As circunstâncias do culto

A fim de entender o Princípio Regulador de forma adequada, deve-se perceber a diferença entre ordenanças referentes ao culto e suas circunstâncias, ou aspectos secundários. As ordenanças do culto são recebidas por orientação divina. Toda ordenança do culto é prescrita por Deus. Qualquer coisa relacionada a ele, com significado religioso e moral, deve se basear em ordenanças divinas (explícitas ou implícitas) ou em exemplos históricos aprovados. A igreja recebe todas as ordenanças do culto da parte de Deus, como foram reveladas na Bíblia. Ela deve obedecer a todas as ordenanças divinas e não possui autoridade para adicionar ou subtrair algo ordenado por Deus.

As circunstâncias do culto não dizem respeito ao conteúdo ou à cerimônia, mas referem-se ao que é “comum às ações e sociedades humanas”. A única forma de alguém aprender uma ordenança relativa à adoração é estudar a Bíblia e ver o que Deus ordena. No entanto, as circunstâncias do culto independem de instruções bíblicas explícitas; elas dizem respeito exclusivamente à revelação geral e ao bom senso (“prudência cristã”). Crentes e incrédulos sabem, indistintamente, que proteção e aquecimento são úteis

3James H. Thornwell, Collected Writings (Richmond: Presbyterian Committee of Publication, 1872), vol. 2, p. l63. 4XXI.I. 5Thomas E. Peck, Miscellanies (Richmond: Presbyterian Committee of Publication, 1895), vol. 1, p. 82.

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para conduzir uma reunião nos meses frios* Também entendem a necessidade de acomodação, iluminação, vestuário etc. Além disso, depreende-se a escolha prévia de um horário para a realização da reunião. Existem muitos aspectos comuns entre reuniões civis (ou seculares) e religiosas independentes de instruções bíblicas específicas. Essas são as circunstâncias, ou aspectos secundários, do culto.

Ordenanças referentes ao culto6 versus circunstâncias

Ordenanças Circunstâncias

Pregação a partir da Bíblia

Mt 26.13; Mc 16.15; At 9.20; 2Tm 4.2; At 20.8, 17.10;

1Co 14.28

Estrutura da reunião da igreja

At 20.8, 17.10; 1Co 14.28

Leitura da Palavra de Deus

Mc 4.16-20; At 13.15; 1Tm 4.13; Ap 1.13;

At 1.13, 16.13; 1Co 11.20

Local da reunião da igreja

At 1.13, 16.13; 1Co 11.20

Reunião no dia do Senhor At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10; At 20.7;

1Co 11.18

Horário da reunião da igreja

At 20.7; 1Co 11.18

Administração dos sacramentos Mt 28.19; Mt 26.26-29; 1Co 11.24,25 Roupas para a reunião 1Co 11.13-15; Dt 22.5

Audição da Palavra de Deus Lc 2.46; At 8.31;

Rm 10.41; Tg 1.22; Lc 4.20; At 20.9

Tipo de assento provido

Lc 4.20; At 20.9

Oração a Deus

Mt 6.9; 1Ts 5.17; Hb 13.18; Fp 4.6;

Tg 1.5; 1Co 11.13-15; Dt 22.5

Cântico de salmos 1Cr 16.9; Sl 95.1,2; Sl 105.2; 1Co 14.26;

Ef 5.19; Cl 3.16

Note que todos os elementos da coluna esquerda devem ser aprendidos da Palavra de Deus. Tudo o que se encontra na coluna direita é uma circunstância comum a todos os habitantes do universo criado por Deus. As ordenanças do culto são limitadas numericamente pela revelação divina. As circunstâncias do culto são praticamente de número infinito, baseando-se no bom senso de homens guiados pela “prudência cristã”. Pelo fato de o homem ter sido criado à imagem de Deus, e dada sua necessidade de viver em função da realidade divinamente criada (o universo), ele de viver e agir de acordo com essa realidade. As pessoas não necessitam de instruções explícitas da Bíblia para vestir um casaco quando a temperatura exterior chega aos cinco graus centígrados. Porém, os homens precisam de instruções claras da Bíblia sobre como se aproximar do Deus infinitamente santo.

*O autor diz literalmente: “in January, in Minnesota” ([no mês de] janeiro em Minessota). [N. do T.] 6A primeira idéia contida nelas é a de deveres religiosos, prescritos por Deus, como método instituído pelo qual ele

deve ser cultuado por suas criaturas... Portanto, as ordenanças, descritas dessa forma, devem ser encaixadas segundo a designação divina. Nenhuma criatura pode ter certeza de engajar-se em qualquer forma de culto com a pretensão de sua aceitação ou satisfação da parte de Deus; apenas Deus — o objeto do culto — possui o direito de prescrever o modo de ser adorado. A instituição, por parte de qualquer criatura, da forma do culto seria um exemplo de profanação e de ousada presunção; o culto realizado seria “vão”, como diz nosso Salvador concernente ao que não possui maior sanção que “os mandamentos de homens” — Thomas Ridgely, A Body of Divinity (New York: 1855), vol. 2, p. 433.

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O PRC é ensinado por toda a Bíblia. Segue-se o exame das diversas passagens bíblicas que comprovam a proibição de tudo o que não é ordenado na Escritura a respeito do culto a Deus. As ordenanças do culto devem basear-se especificamente nas afirmações divinas, não em opiniões ou tradições humanas.

A oferta inaceitável

E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante (Gn 4.3,5).

O que havia na oferta de Caim para torná-la inaceitável aos olhos de Deus? A preferência pela oferta de Abel e a rejeição da de Caim não foi arbitrária; ela se baseou na revelação apresentada a Adão e sua família. É óbvio que Deus revelou essa informação a Adão ao matar animais para cobrir o homem e sua mulher (Gn 3.21). Gerações mais tarde, Noé sabia que Deus aceitaria apenas animais e aves puros como holocausto (Gn 8.20). Caim, diferentemente do irmão Abel, decidiu, à parte da Palavra de Deus, que a oferta de frutos da terra seria aceitável ao Senhor. Deus, porém, rejeitou a oferta de Caim por ser uma invenção de sua mente. Ele não a ordenara; portanto, ainda que Caim fosse sincero no desejo de agradar a Deus, ele a rejeitaria da mesma forma.

Deus espera fé e obediência à sua Palavra. Se o povo de Deus pode cultuar o Senhor segundo sua vontade, pelo fato de ordenanças humanas não serem expressamente proibidas, então não poderiam Caim, Noé ou os levitas oferecer a Deus uma salada de frutas ou uma cesta de nabos, por não haver proibição? E se Deus desejasse uma regulamentação estrita de seu culto à parte do PRC, não seriam necessárias centenas de volumes (ou talvez milhares deles) para nos informar das proibições? No entanto, Deus, em sua infinita sabedoria, diz: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Dt 12.32).

Fogo estranho

E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR (Lv 10.1,2).

Qual foi o pecado deles? Seu pecado foi o oferecimento de fogo estranho, portanto o texto diz que eles ofereceram fogo estranho, o que Deus não lhes ordenara... Contudo, onde Deus o proibira? Onde encontramos que Deus lhes proibiu o oferecimento de fogo estranho, ou a designação do oferecimento de apenas um tipo de fogo? Não existe texto na Escritura que se possa achar, do começo de Gênesis até esse ponto, onde Deus tenha dito terminantemente, de maneira expressa: Oferecerás apenas um tipo de fogo. No entanto, aqui, eles foram consumidos por Deus com fogo, por terem oferecido “fogo estranho”.7

Quem rejeita o PRC enfrenta um problema real para explicar esse texto. Alguns afirmam que Nadabe e Abiú foram condenados por terem oferecido “incenso estranho”, por sua condenação expressa em Êxodo 30.9. Porém o texto não diz “incenso estranho”, mas “fogo estranho”. Outros declaram que lhes faltava sinceridade ou que estavam embriagados. Entretanto, qual razão nos apresenta o Espírito Santo para o juízo deles? Eles ofereceram fogo estranho “o que não lhes ordenara”. Quando se trata do culto a Deus, deve haver apoio da Palavra divina.

Todos os elementos do culto a Deus devem basear-se na Palavra de Deus [e] serem ordenados. É insuficiente sua não-proibição [...] Quando o ser humano concede respeito religioso a um objeto, por virtude de sua instituição, mesmo sem apoio da parte de Deus, eis uma superstição! Todos devemos ser adoradores voluntários, mas não pessoas de devoção voluntariosa.8

O erro de Davi e de seus homens

E puseram a arca de Deus em um carro novo, e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Gibeá; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. E levando-o da casa de Abinadabe, que está em Gibeá,

7Jeremiah Burroughs, Gospel-Worship (London: Peter Cole, 1650), p. 2-3. 8Ibid., p. 9-10.

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com a arca de Deus, Aiô ia adiante da arca. E Davi, e toda a casa de Israel, festejavam perante o SENHOR, com toda a sorte de instrumentos de pau de faia, como também com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com pandeiros, e com címbalos. E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus. (2Sm 6.3-7).

Davi e os homens envolvidos no transporte da arca eram inquestionavelmente sinceros no desejo de agradar a Deus com o intuito de levar a arca a Jerusalém. Todavia, o resultado desse esforço sincero foi o juízo divino: Uzá tentou evitar a queda da arca com sua mão por amar a Deus e se preocupar com sua arca. Porém, a despeito de toda a sua sinceridade e boas intenções, acendeu-se a ira de Deus, e ele matou Uzá. Por quê? Porque a questão toda era muito ofensiva a Deus. O fato de Uzá ter tocado na arca foi o ponto culminante das ofensas desse dia.

Os objetores do PRC apostam no fato de Uzá ter sido morto por algo claramente proibido na lei de Deus (i.e., tocar na arca). Sim, é verdade que Uzá morreu pela violação de uma proibição explícita da lei (Nm 4.15). No entanto, a análise do rei Davi a respeito do que aconteceu errado naquele dia inclui todos os envolvidos, não apenas Uzá:

Porquanto vós [os levitas] não a levastes na primeira vez, o SENHOR nosso Deus fez rotura em nós, porque não o buscamos segundo a ordenança. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e os levitas, para fazerem subir a arca do SENHOR Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus sobre os seus ombros, pelas varas que nela havia, como Moisés tinha ordenado conforme a palavra do SENHOR (1Cr 15.13-15).

Pelo fato de Deus ter ordenado aos levitas para carregar a arca com varas (Nm 4.6,15), era desnecessário proibir os homens de Judá de usar um carro de boi para transportá-la. O rei Davi e seus homens deveriam ter consultado a lei de Moisés e obedecido à sua prescrição. Em vez disso, eles agiram de forma pragmática. Imitaram os filisteus, que haviam usado um carro para levar a arca de volta a Bete-Semes. Quando se trata do culto a Deus, não nos é permitido improvisar, por melhores que sejam as intenções. A sinceridade é importante, mas ela deve estar de acordo com a revelação divina. Mesmo em relação às questões religiosas que nos pareçam pequenas ou triviais, Deus ordena nossa ação segundo sua vontade revelada, e não inovações concordes com a nossa vontade: “A grande lição para todos os tempos é precaver-se de seguir as próprias sugestões no culto a Deus quando possuímos instruções claras de sua Palavra sobre o modo de cultuá-lo”.9

Condenação do culto autônomo

E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração (Jr 7.31; v. tb. 19.5).

O Senhor condena a idolatria e o culto pagão dos filhos de Judá com a declaração: “o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração”. Idolatria, assassinato e sacrifício infantil são explicitamente condenados na lei e nos profetas. Entretanto, Jeremias revela a essência do culto idólatra. Judá cultuava de forma improcedente do coração divino. O culto de Judá não se baseava no mandamento divino. Em vez de cultuar Deus segundo seu mandamento, eles “andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jr 7.24). Se os habitantes de Judá tivessem consultado a Palavra de Deus e lhe fossem obedientes, teriam sido poupados da fúria divina:

Lidamos com o Deus muito zeloso que deseja ser cultuado segundo sua estipulação, ou então ele não é cultuado. E não podemos reclamar. Se Deus é o ser descrito pela Sagrada Escritura, é seu direito inalienável determinar e prescrever como será servido.10

Adoração vã

Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? (Mt 15.1-3).

9William G. Blaikie, Commentary on Second Samuel (New York: A.C. Armstrong and Son, 1893), p. 88. 10Samuel H. Kellogg, The Book of Leviticus (New York: Hodder and Stoughton, n.d.), p. 240.

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Os fariseus eram líderes religiosos respeitados do povo judeu. Eles criam ter a liberdade de fazer adições aos mandamentos divinos. A lei de Deus continha diversas lavagens cerimoniais para representar a purificação dos impuros. Os fariseus adicionaram outras lavagens para destacar e “aperfeiçoar” a lei de Moisés. Não existe mandamento expresso proibindo essas adições cerimoniais, exceto o PRC (e.g., Dt 4.2; 12.31). Elas não tinham fundamentação na Palavra de Deus.

Jesus Cristo é o principal defensor do PRC. Ele repreendeu fortemente os escribas e fariseus por fazerem adições à lei divina. O que acontece quando homens pecadores acrescentam regras e regulamentos à lei de Deus? Com o passar do tempo, a tradição humana substitui e pretere a lei divina: “E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (Mt 15.6). A igreja cristã antiga acrescentou regras e cerimônias próprias ao culto a Deus e degenerou na Igreja Católica Romana pagã e idólatra. Se não mantivermos a linha divisória onde Deus a traçou, então, prova a história, a igreja degenerará posteriormente em algo um pouco mais bizarro que uma seita pagã. A repreensão de Cristo referente aos escribas e fariseus aplica-se hoje a quase todos (os chamados) ramos da igreja cristã: “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mt 15.8,9).

Outros exemplos

O conceito de que apenas o que Deus ordena em sua Palavra é permitido no culto encontra-se na Bíblia toda. O rei Saul ofereceu um sacrifício ao Senhor sem autorização divina. Deus ordenou aos sacerdotes, e não aos reis, o oferecimento de holocaustos. O reinado foi retirado de Saul e de sua família para sempre (1Sm 13.8-14). Considere o rei Jeroboão que estabeleceu um dia próprio de festa, bem como lugares sagrados e ofertas no “mês que ele tinha imaginado no seu coração” (1Rs 12.32,33). O rei Jeroboão era pragmático. Ele não percebia a necessidade de seguir as ordens expressas do culto a Deus. O livro de Reis apresenta seu culto autônomo e não autorizado — além da idolatria associada a ele —, como o paradigma do falso culto. Se o rei Jeroboão foi considerado ímpio por estabelecer seu dia de festa (dia santo), certamente a mesma designação é aplicável aos papas, bispos, e ao povo que estabeleceram o natal, a sexta-feira santa etc.

Paulo, na epístola aos Colossenses, concorda com o ensino do Antigo Testamento referente ao culto. Ele condena quem impõe leis dietéticas judaicas e dias santos à igreja (Cl 2.16). Pelo fato de as leis cerimônias terem sido “sombras” que apontavam para o “corpo” — Jesus Cristo —, elas foram abolidas; e dada a falta de autorização para elas, tornaram-se proibidas. A advertência paulina a respeito da filosofia humana é o pano de fundo da condenação do falso culto e das leis humanas (legalismo): “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

Paulo condena as doutrinas e os mandamentos humanos: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2.20-23). Ele afirma que a adição à Palavra de Deus é apenas uma exibição de “devoção voluntária [e] humildade”. Trata-se de devoção “voluntária” em lugar do culto segundo a vontade de Deus. As leis estabelecidas pelos homens suprimem a liberdade que temos em. A lei moral de Deus é perfeita; adições são desnecessárias. Regras e regulamentos humanos não “concedem honra” ao crente.

Deus concedeu à sua igreja um livro de salmos e um dia santo (o dia do Senhor). Pode o homem aperfeiçoar o culto instituído por Deus? Claro que não. É o ápice da arrogância e estupidez imaginar que homens pecaminosos possam melhorar as ordenanças de Deus:

Isso é provocar a Deus, porque reflete sobre sua honra, como se ele não fosse sábio o suficiente para designar a forma do próprio culto. Ele odeia todo fogo estranho oferecido em seu templo (Lv 10.11). Uma

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simples cerimônia pode, com o passar do tempo, conduzir ao crucifixo. Quem contende pela cruz no batismo, não pode obter também o óleo, o sal e o ungüento? 11

A necessidade do PRC

A história da igreja tem demonstrado que o povo pactual de Deus tem sido desviado, não raro, da simplicidade do puro culto evangélico para todos os tipos de inovações humanas. Dada a natureza humana decaída e sua inclinação ao pecado, era inevitável que a autonomia humana relativa ao culto pervertesse e suplantasse o culto verdadeiro: “E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Deus” (Nm 15.39,40).

Muitas pessoas afirmam que o PRC é bastante restritivo. Declaram que ele confina o espírito humano e reprime a criatividade humana. Dizem tratar-se de uma reação exagerada aos abusos cometidos pelo catolicismo romano. Todavia, examinemos as implicações lógicas da permissão de qualquer coisa não proibida pela Palavra de Deus no culto divino.

A primeira conseqüência é a substituição da simplicidade e da natureza transcultural do culto puramente evangélico por uma variedade quase infinita de inovações humanas. Pelo fato de Deus não estabelecer mais a linha divisória entre o conteúdo do culto e suas cerimônias, o homem poderia traçar e retraçar essa divisão como lhe agradasse. A igreja desobediente ao PRC considera impossível impedir o fluxo de novos conceitos e inovações no culto. As denominações presbiterianas e reformadas que abandonaram o PRC no final do século XIX e início do século XX provam a veracidade deste ponto. O padrão da perversão segue mais ou menos dessa forma: Inicialmente, hinos concebidos por seres humanos (não ordenados) são cantados em conjunto com os salmos inspirados por Deus (ordenados); a seguir, em uma geração ou duas, os salmos são completamente substituídos por hinos ou por salmos parafraseados ao extremo. Os hinos antigos, após certo tempo, são substituídos por composições avivalistas “carismáticas”. No início, as igrejas reformadas cantavam os salmos sem acompanhamento musical, pois os instrumentos foram usados apenas no período do templo e, portanto, deixaram de ser usados como um aspecto da lei cerimonial. Muitas igrejas reformadas abandonaram o cântico de salmos a capella e passaram a usar órgãos. Então, dentro de uma geração ou duas as igrejas começaram a usar outros instrumentos, orquestras e até mesmo grupos de rock. Essas inovações descritas são apenas a ponta do iceberg. Pode-se encontrar também nas igrejas chamadas presbiterianas e reformadas: celebração de dias santos (Natal, Páscoa etc.), corais, liturgias complexas, dança litúrgica, grupos de rock, peças de teatro, vídeos de rock, calendário litúrgico, figuras de Cristo, cruzes etc.

Caso se dê ao homem pecador autonomia para escolher como cultuar, o padrão histórico é claro. O ser humano preferirá o culto centrado no homem. O homem pecador é sempre atraído pelo entretenimento (daí a popularidade das “palmas”, e o “pisar forte” do estilo de culto “carismático”, grupos de rock, peças de teatro, corais, solos musicais, e cantores populares e sertanejos* etc.) e pelo ritual e pompa (catedrais, incensos, velas, sinos, dias santos, vestimentas papistas, liturgias etc.). Quando as inovações humanas terão fim? Elas não cessarão até que a igreja obedeça ao PRC. Deus ordenou um mandamento que o homem não pode ignorar: “[O] modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens [...] nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.12 O falso culto tem origem na mente humana, de acordo com sua imaginação. O culto verdadeiro origina-se na mente de Deus e é revelado na Bíblia:

“Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem

11Thomas Watson, A Body of Divinity (London: Passmore & Alabaster, [1692]1881), p. 267. *No original a referência é ao estilo “country” de música, o equivalente em popularidade ao estilo sertanejo

nacional. [N. do T.] 12Confissão de fé de Westminster, XXI.I.

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inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jr 7.23,24).

Calvino, no comentário sobre Jeremias, usou este versículo para condenar todas as inovações perversas do culto papal:

Além do mais, caso se considere a origem de todo o culto papal, perceber-se-á que os primeiros a conceber superstições tão estranhas, foram impelidos apenas por sua audácia e presunção, a fim de poder calcar sob os pés a Palavra de Deus. Portanto, todas as coisas foram corrompidas; porque eles colocaram em operação todas as invenções de seu cérebro. Vemos que os papistas são tão apegados a seus erros até o dia de hoje que preferem a si mesmos e às suas quinquilharias que a Deus. E o mesmo acontece com todos os hereges. O que se pode fazer? Como disse, a obediência deve ser mantida como base da verdadeira religião. Caso desejemos render o culto aprovado por Deus, aprendamos a lançar fora tudo o que é nosso, para que a autoridade divina prevaleça sobre todas as nossas razões”.13

O verdadeiro culto versus o falso

Verdadeiro culto Falso culto

Apenas o que Deus ordena em sua Palavra é permitido.

Tudo o que não é expressamente condenado pela Bíblia é permitido.

Culto centrado em Deus. Conduz ao culto centrado no homem.

O conteúdo do culto é a Palavra de Deus objetiva. O culto se torna cada vez mais subjetivo ou místico.

O culto permanece puro, simples e sem adulteração. O culto é alterado, evolui e é adulterado por tradições humanas.

O culto baseado na Palavra de Deus possui parâmetros limitados.

As formas e o conteúdo do culto público são teoricamente infinitos.

Completamente bíblico. Basicamente pragmático: o que aparentemente funciona e agrada às pessoas será usado.

O culto puramente evangélico é transcultural. Desconsiderando-se as barreiras lingüísticas, membros de igrejas fiéis ao PRC podem visitar igrejas da mesma mentalidade em qualquer lugar do mundo e, imediatamente, sentir-se bem e em casa. No século XVII, puritanos ingleses ou americanos, presbiterianos escoceses ou irlandeses e holandeses reformados cultuavam a Deus de modo muito similar. Isso não resultou de algum ato de conformidade, mas porque criam no PRC e obedeciam a ele. No futuro, quando a doutrina e o culto puros forem revividos, e nações inteiras forem convertidas e entrarem na aliança estabelecida por Deus, a natureza transcultural do puro culto evangélico será muito útil e importante para turistas e homens de negócio.

O falso culto alimenta a autonomia humana pecaminosa. Portanto, ele é uma mistura de paganismo e cristianismo. Pelo fato de possuir teoricamente opções infinitas, as pessoas têm de adaptar, aprender e ajustar o falso culto a cada circunstância cultural e denominacional. Os anglicanos altamente litúrgicos provavelmente se sentem desconfortáveis com os cultos sem programação prévia das comunidades evangélicas de negros. Existem milhares de hinários e de liturgias diferentes. Há grupos de rock e de teatro, orquestras, declamação de poesia, vídeos, apresentações de palhaços, comediantes, humoristas, talk-shows, danças litúrgicas, recitais de órgão, dias santos diversos e calendários litúrgicos diferentes etc. O falso culto fragmenta a igreja.

Historicamente, o culto das igrejas reformadas e Historicamente, isso tem levado a igreja ao declínio,

13Calvin’s Commentary, sobre Jr 9.21-24 (Grand Rapids: Baker, 1989), vol. 9, p. 398 (ênfase adicionada).

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presbiterianas era puro, até ser abandonado ou redefinido a ponto de se tornar insignificante.

à heresia e idolatria. A igreja apostólica degenerou posteriormente no papismo.

O culto bíblico é centrado em Deus e em sua Palavra.

O culto centrado no homem tem por norte o ser humano e seus sentidos. Daí sua degeneração no entretenimento ou nas cerimônias e nos rituais pomposos (odores, sinos, mitras, catedrais, liturgias intrincadas etc.).14

Os homens têm liberdade sob a Palavra de Deus. Os homens perdem a liberdade sob seu padrão mutável e arbitrário.

O puro culto evangélico incentiva o ecumenismo bíblico e a comunidade.

O falso culto divide a igreja em milhares de facções. Pelo fato de o conteúdo e estilo do culto “evoluírem” e se modificarem, os membros mais velhos das igrejas são separados dos mais novos.

A palavra “liturgia” procede do vocábulo grego leiturgia, e significa: “o trabalho ou serviço pessoal”. Portanto, em certo sentido, todo o culto cristão é litúrgico. Ao mencionar a liturgia em sentido negativo, faço referência à liturgia usada, por exemplo, pelos católicos romanos, episcopais/anglicanos, luteranos e ortodoxos russos (dentre outros). Em sentido negativo, faço referência à liturgia baseada nas tradições eclesiásticas e humanas, por exemplo: o uso obrigatório de livros de oração, do calendário litúrgico, de vestimentas sacerdotais especiais, velas, incensos, dias santos, ajoelhar para receber a comunhão, catedrais, figuras de Cristo e dos santos, música para a igreja, corais etc. The Book of Common Order [O livro de ordem comum] designado pelos historiadores como a liturgia de Knox, foi usado pelos escoceses até 1645. Ele tomava por base a ordem do culto das igrejas reformadas de Estrasburgo, Frankfurt e Genebra. A atitude de John Knox e dos primeiros presbiterianos para com as “orações comuns” da Order [Ordem] era limitar seu uso ao treinamento dos ignorantes na arte da oração extemporânea:

O uso contínuo e imperioso da liturgia desarmoniza com o espírito dos reformadores, que confiavam na inspiração do Espírito Santo na oração.15 Os substitutos sem formação dos ministros — que requeriam essas muletas mentais, como o Book of Discipline [Livro de disciplina] — admitiam: “até atingir maior perfeição...”. Em termos similares, o bem instruído historiador Calderwood declara: “Ninguém está preso às orações desse livro; elas foram estabelecidas apenas como exemplos... Colocadas como modelos”.16

14A palavra “liturgia” procede do vocábulo grego leiturgia, e significa: “o trabalho ou serviço pessoal”. Portanto, em certo

sentido, todo o culto cristão é litúrgico. Ao mencionar a liturgia em sentido negativo, faço referência às liturgias baseadas nas tradições eclesiásticas e humanas, por exemplo: o uso obrigatório de livros de oração, do calendário litúrgico, de vestimentas sacerdotais especiais, velas, incensos, dias santos, ajoelhar para receber a comunhão, catedrais, figuras de Cristo e dos santos, música para a igreja, corais etc.

15A expressão “inspiração do Espírito Santo” não significa que os primeiros presbiterianos criam que suas orações eram “sopradas por Deus” e inerrantes como as Escrituras. Ela significa apenas “com o auxílio ou ajuda do Espírito Santo”.

16J. King Hewison, The Covenanters (Glasgow: 1908), vol. 1, p. 41-4.

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II

O Princípio Regulador e o Natal

O PRC possui implicações claras para quem deseja promover a celebração do Natal. Ele obriga quem deseja comemorar essa data a provar, a partir das Escrituras, que Deus a autorizou. Isso, na verdade, é impossível. Além do mais, a celebração do Natal viola outros princípios bíblicos.

O Natal é um monumento à idolatria passada e presente

O dia em que o Natal é celebrado (25 de dezembro) e quase todos os costumes associados a ele têm origem na adoração pagã de ídolos. “Muitos habitantes da Terra eram adoradores do Sol porque o curso de sua vida dependia da rotação desse astro nos céus, e festas eram celebradas para auxiliá-lo no retorno de viagens distantes. No sul da Europa, no Egito e na Pérsia, as divindades representantes do Sol eram adoradas com cerimônias elaboradas no solstício de inverno —como o tempo adequado para render tributo ao deus benigno da fartura—, enquanto em Roma as saturnais duravam uma semana. Nas terras do norte, o tempo exato era por volta do dia 15 do mês de dezembro, pois os dias se tornavam mais curtos e o Sol estava fraco e distante. Dessa forma, esses povos antigos festejavam no mesmo período em que o Natal é observado hoje.”17 Durante o solstício de inverno os babilônios adoravam Tamuz,18 os gregos e romanos adoravam Júpiter, Mitra, Saturno, Hércules, Baco e Adônis; os egípcios adoravam Osíris e Hórus; os escandinavos adoravam Odim (ou Vodã). “Entre as tribos germânicas e celtas o solstício de inverno era considerado um importante ponto do ano, e eles celebravam o festival de Yul —o mais importante— para comemorar o retorno da ‘roda flamejante’. O azevinho, o visco, a fogueira de Yule e os filós são relíquias de eras pré-cristãs.”19

O Natal nunca foi celebrado pela igreja apostólica. Tampouco foi festejado durante os primeiros três séculos da Igreja. Por volta de 245 d.C., Orígenes (na Oitava Homilia sobre Levítico) repudiou a idéia da celebração do nascimento de Cristo “como se ele fosse um faraó”.20 Em meados do século IV, várias igrejas ocidentais de língua latina passaram a celebrar o Natal. Durante o século V, essa festividade se tornou um dia santo da Igreja Católica Romana incipiente. No ano 534, o Natal foi reconhecido feriado oficial pelo Estado romano.

A razão para o Natal ter se tornado um dia santo não diz respeito à Bíblia. A Escritura não explicita a data do nascimento de Cristo. Em nenhum lugar da Bíblia somos incentivados a celebrar o nascimento de Jesus. O Natal (bem como outras práticas pagãs) foi adotado pela Igreja de Roma como estratégia missionária.

A fusão com o paganismo como estratégia missionária foi claramente revelada pelas instruções do papa Gregório Magno aos missionários no ano 601: “Pelo fato de eles [os pagãos] sacrificarem bois a demônios, alguma celebração deve lhes ser dada em troca dessa [...] eles devem celebrar uma festa religiosa e adorar a Deus mediante sua celebração, de forma a manterem os prazeres externos e poderem, rapidamente, receber alegrias espirituais”.21

Esse sincretismo explica a razão dos costumes do Natal serem completamente pagãos. A árvore de Natal era usada porque árvores sagradas tinham um papel importante na adoração pagã durante o solstício de inverno. Na Babilônia, a sempre-verde representava Ninrode voltando à vida como Tamuz,

17Encyclopedia Britannica (1961 ed.), vol. 5, p. 643. 18“Muito antes do século IV, e bem antes da era cristã, um festival era celebrado entre os pagãos, exatamente na

mesma época, em honra do nascimento do filho da rainha do céu babilônica; e pode-se prezumir com justiça que, a fim de conciliar os pagãos, e aumentar o número de adeptos nominais do cristianismo, o mesmo festival foi adotado pela Igreja Romana, dando-lhe apenas o nome de Cristo” (Alexander Hislop, The Two Babylons [Neptune, N.J.: Loizeaux Brothers, (1916) 1943], p. 93).

19Encyclopedia Britannica (1961 ed.), vol. 6, p. 623. 20Ibid., vol. 5, p. 642. 21Beda, Ecclesiastical History of the English Nation, (citado em Encyclopedia Britannica, (1961 ed.), vol. 5, p. 643).

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supostamente nascido de uma virgem, Semíramis. Em Roma, decoravam-se pinheiros com frutinhas vermelhas para celebrar as saturnais.22 Os escandinavos colocavam pinheiros em suas casas em honra ao deus Odim. “Quando os pagãos do norte da Europa se tornaram cristãos, transformaram suas sempre-verdes sagradas em parte da festividade cristã, e decoravam árvores com nozes douradas, velas (remanescente da adoração ao Sol) e maçãs para representar as estrelas, a Lua e o Sol.”23

O acendimento de fogueiras especiais e de velas em 24 e 25 de dezembro origina-se no culto ao Sol. O uso de fogueiras tem sua origem provável no culto prestado a ele pelos druidas. Não se permitia que a madeira fosse totalmente queimada, parte dela seria usada para iniciar o fogo do ano seguinte (possivelmente, símbolo do renascimento do astro). “Os romanos ornamentavam seus templos e suas casas com galhos verdes e flores para as saturnais, a estação do contentamento e da troca de presentes; os druidas juntavam visco com uma grande cerimônia e o penduravam em suas casas; os saxões faziam uso do azevinho, da hera e de louros.”24

O fato de o Natal estar repleto de práticas pagãs é universalmente reconhecido: “Contudo, muitos cristãos alegam que essas práticas não mais possuem conotações pagãs, e crêem que a celebração do Natal oferece uma oportunidade para culto e testemunho”.25 Os cristãos dizem não adorar a árvore de Natal, e que as origens pagãs jazem no passado remoto e tornaram-se inofensivas. Entretanto, esse conceito, apesar de comum em nossos dias, demonstra a total desconsideração do ensino bíblico concernente aos ídolos, à parafernália associada à idolatria, e aos monumentos idolátricos.

Deus odeia tanto a idolatria que Israel não foi ordenado apenas a evitar o culto aos ídolos. Ordenou-se especificamente que Israel destruísse todas as coisas associadas com a idolatria.

Totalmente destruireis todos os lugares, onde as nações que possuireis serviram os seus deuses, sobre as altas montanhas, e sobre os outeiros, e debaixo de toda árvore frondosa; e derrubareis os seus altares, e quebrareis as suas estátuas, e os seus bosques queimareis a fogo, e destruireis as imagens esculpidas dos seus deuses, e apagareis o seu nome daquele lugar. [...] e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram essas nações os seus deuses, do mesmo modo também farei eu. Assim não farás ao SENHOR teu Deus... (Dt 12.2-4,30,31).

Quando Jacó saiu para purificar o campo (i.e., sua casa e seus serviçais) os brincos foram retirados bem como seus deuses estrangeiros (Gn 35.4), porque os brincos deles estavam associados com seus falsos deuses. Eles eram sinais de superstição. Quando Elias foi oferecer seu sacrifício, em uma disputa com os profetas de Baal, ele não usou o altar pagão, algo criado para os ídolos (p.ex., as saturnais), e tentou santificá-lo para o serviço de Deus (p.ex., Natal); em vez disso, ele reconstruiu o altar do Senhor. Os cristãos não deveriam tomar emprestado o festival pagão de Yule ou as saturnais e vesti-los com roupagem cristã; deveriam, em vez disso, santificar o dia do Senhor como fizeram os apóstolos. Quando Jeú se levantou contra os adoradores de Baal e seu templo, ele porventura poupou o templo e o separou para Deus? Não! Ele matou os adoradores de Baal: “Também quebraram a estátua de Baal; e derrubaram a casa de Baal, e fizeram dela latrinas, até ao dia de hoje” (2Rs 10.27).

Além disso, temos o exemplo do bom Josias (2Rs 23), porque ele não apenas destruiu as casas e os altos de Baal, mas também seus utensílios, bosque e altares; sim, os cavalos e os carros dados ao sol. Também o exemplo do penitente Manassés, que não apenas destruiu os deuses estrangeiros, mas também seus altares (2Cr 23.15). E de Moisés, o homem de Deus, que não se contentou apenas em executar vingança contra os israelitas idólatras, a menos que ele pudesse também destruir totalmente o monumento de sua idolatria.26

Deus não deseja que sua Igreja use festividades e cerimônias pagãs e papistas, além de sua parafernália, e as separe para o uso cristão. Ele nos ordena de forma direta a extingui-las totalmente da face da terra,

22As saturnais, como o Natal, era o tempo para trocar presentes. Bonequinhas eram populares — pelo menos por

uma razão desagradável: simbolizavam mito de que Saturno devorava todos os recém-nascidos do sexo masculino para ter certeza de morrer sem deixar herdeiros (The United Church Observer, Santa’s Family Tree, Dec. 1976, p. 14).

23World Book Encyclopedia, (1955 ed.), vol. 3, p. 1425. 24Encyclopedia Britannica, vol. 5 p., 643. 25G. Lambert, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, (Grand Rapids: Zondervan, 1975, 1976) vol. 1, p. 805. 26George Gillespie, English Popish Ceremonies, (n.p., 1637), Part III, p. 19.

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para sempre. Talvez você não se ofenda com a fogueira, a árvore de Natal, o visco, as frutinhas vermelhas e a escolha de uma data pagã para celebrar o nascimento de Cristo, mas Deus se ofende. Ele ordena que evitemos qualquer contato com os monumentos e com a parafernália do paganismo.

Caso sua mulher tivesse levado uma vida promíscua antes de você se casar com ela, você se ofenderia se ela mantivesse fotos de seus ex-namorados em sua penteadeira? Você se incomodaria se ela celebrasse os diversos aniversários relativos aos relacionamentos do passado? Você se ofenderia se ela guardasse e demonstrasse apreço por anéis, jóias e presentinhos dados a ela por seus antigos namorados? Logicamente você se ofenderia! O Senhor Deus é infinitamente mais zeloso de sua honra que você: ele é o Deus zeloso. Israel poderia usar os dias festivos de Baal, Astarote, Dagom e Moloque para agradar a Deus? De forma nenhuma! A Bíblia deixa muito claro quais reis de Judá agradaram mais a Deus. Ele é servido quando ídolos, seus templos, suas vestes religiosas, brincos, casas consagradas, árvores sagradas, postes, ornamentos, ritos, nomes e dias são eliminados da face da terra, para nunca mais serem restaurados. Deus deseja que sua noiva elimine para sempre os monumentos, dias, a parafernália e as recordações da idolatria: “Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos sinais dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). “Assim não farás ao SENHOR teu Deus; porque tudo o que é abominável ao SENHOR, e que o aborrece, fizeram eles a seus deuses” (Dt 12.31).

Os cristãos não devem se desvencilhar apenas dos monumentos idolátricos do passado, mas também de todas as coisas associadas à idolatria presente. O Natal é o dia santo mais importante do catolicismo romano. O nome Natal* provém do romanismo: Christmass — a “missa de Cristo”. O nome christmas [Natal] une o título de nosso glorioso Deus e Salvador com a idolátrica e blasfema missa do papado. Dessa forma, o Natal [christmas] é uma mistura de idolatria pagã e invenções papistas.

A Igreja Católica Romana odeia o Evangelho de Jesus Cristo. Ela se vale de artifícios humanos, como o Natal, para manter milhões de pessoas em trevas. O fato de muitos milhares de protestantes que dizem crer na Bíblia observarem o dia santo católico romano —sem qualquer mandamento explícito da Palavra de Deus— revela o triste estado do evangelicalismo moderno. “Não podemos nos conformar, comungar e nos identificar com os papistas idólatras, ao usar os mesmos [símbolos], sem nos tornarmos a nós mesmos idólatras mediante nossa participação.”27 Nossa atitude deve ser a do reformador protestante Martin Bucer, que disse:

Desejo do fundo do meu coração que todos os dias santos, com exceção do dia do Senhor, sejam abolidos. O zelo com o qual foram inventados, sem qualquer garantia da Palavra, e seguidos pela razão corrompida, certamente para eliminar os dias santos dos pagãos... Esses dias santos foram tão conspurcados pelas superstições que me espanto pelo fato de não estremecermos por ouvir-lhes o nome.28

A objeção comum contrária ao argumento da abolição desses monumentos pagãos é que esses fatos ocorreram há tanto tempo que se tornaram inofensíveis para nós. Todavia, essa alegação é totalmente falsa. Não existe apenas a idolatria do catolicismo romano, há também o ressurgimento das antigas religiões pagãs tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. O movimento feminista radical revive no presente as deusas da fertilidade e do Oriente Próximo. A Lei-Palavra de Deus nos diz para tomarmos cuidado com os monumentos idolátricos. A lei de Deus não perde sua força com o passar do tempo.

O Natal desonra o dia de Cristo

O dia que Deus separou para sua Igreja celebrar em comunidade a pessoa e obra de Cristo é o “dia” denominado “do Senhor”, o primeiro dia da semana, o sábado cristão. O primeiro dia da semana é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos. É o dia da vitória de Cristo sobre o pecado, Satanás e a morte. A humilhação de Jesus e sua morte sacrificial foram completadas. Ele ressuscitou e será exaltado nos céus para sempre como Senhor do céu e da terra. “... Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16). “O dia do Senhor nos foi

*Christmas, o autor se refere ao vocábulo inglês. [N. do T.] 27Gillespie, Part III, p. 35. 28Martin Bucer citado em William Ames, A Fresh Suit Against Human Ceremonies in God’s Worship, (n.p., 1633), p. 360.

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dado em memória de toda a obra da redenção”. A idéia de honrar a vida de alguém de modo gradual (este acontecimento, aquele acontecimento) não procede da Bíblia, mas da adoração pagã ao imperador. De fato, as únicas celebrações de aniversário registradas em toda a Bíblia são as do faraó (Gn 40.20) e do rei Herodes (Mt 14.6; Mc 6.21). As duas festas de aniversário terminaram com assassinatos: a de Herodes com morte de João Batista.

Deus foi muito generoso para com seu povo, concedendo-lhe 52 dias santos por ano. Quando os homens adicionam outros dias (p.ex., Natal, Páscoa etc.), eles tiram algo, maculam ou até deixam de lado o dia do Senhor. As pessoas preferem e dão mais atenção ao Natal que ao dia do Senhor. Muitos cristãos passam quase todo o mês de dezembro se preparando para o Natal, decorando suas casas, escritórios e igrejas, comprando presentes, assando tortas e bolos, ensaiando e memorizando cantigas, peças teatrais, recitais de música etc. Muitas pessoas que raramente entram em uma igreja vão ao culto de Natal. As pessoas normalmente nem piscam por violar o dia do descanso, fornicar, adulterar e se embriagar; mas consideram fanáticos alucinados os cristãos que não celebram o Natal.

O que Jesus deseja de nós não é a observância de algo que ele não mandou, mas sim do que ele ordenou: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado’ (Mt 28.19,20). Isto é o que os apóstolos fizeram. Eles ensinaram todo o conselho de Deus (At 20.27), o que não incluía o Natal, a sexta-feira santa ou a Páscoa, porque essas não eram parte das coisas ordenadas por Cristo. Portanto, aquele que entende “o verdadeiro significado do Natal” (ou da sexta-feira santa ou da Páscoa) é precisamente quem percebe que essas datas são invenções humanas. E para honrar a Cristo como único Rei e cabeça da Igreja, essa pessoa não observará essas adições feitas por seres humanos ao que nosso Senhor ordenou. Tal pessoa deverá evitar esse costume bastante popular. O mais importante é que ela estará ao lado de Cristo e dos apóstolos.29

O único dia autorizado por Deus como dia santo é o dia do Senhor.30 Se a Igreja deseja agradar a Jesus Cristo e honrá-lo, deverá fazê-lo guardando seu dia e sendo exemplo para o mundo não-cristão. Quando os cristãos tornam o Natal mais especial que o dia do Senhor, desobedecem aos ensinos de Cristo e desonram seu dia.

O Natal é uma mentira

O cristianismo é a religião da verdade. Deus não pode mentir. Toda a verdade e todo o conhecimento procedem de Deus. Jesus Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). O Espírito Santo é chamado “o Espírito da verdade” (Jo 16.13). O Evangelho é chamado “a palavra da verdade” (Ef 1.13). Deus ordena: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Paulo nos diz para “segui[r] a verdade em amor” (Ef 4.15), deixar a mentira e falar a verdade com o próximo para não entristecermos o Espírito Santo (Ef 4.25,30). Jesus Cristo nos diz que “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Os cristãos devem ser sal e luz do mundo (Mt 5.13,16); devem testemunhar ao mundo falando e vivendo a verdade. A celebração do Natal é compatível com nossa responsabilidade de falar e viver a verdade perante o mundo? Não, porque o Natal é uma mentira.

A data usada para celebrar o nascimento do Cristo, 25 de dezembro, é uma mentira. Segundo a Bíblia, Jesus não nasceu nesse dia: “Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho” (Lc 2.8). É de conhecimento público que os pastores na Palestina voltavam dos campos antes do inverno. A estação chuvosa na Judéia começa no fim de outubro ou no início de novembro. Os pastores já teriam voltado com seus rebanhos para as aldeias antes do início da estação de chuvas. Portanto, Jesus nasceu antes da primeira semana de novembro.

É evidente que Cristo não nasceu no meio da estação do inverno. Mas, as Escrituras nos dizem em que estação do ano ele nasceu? Sim, as Escrituras indicam que ele nasceu no outono. O ministério público de nosso Senhor durou três anos e meio (Dn 9.27). Seu ministério teve fim no tempo da Páscoa (Jo 18.39), que ocorre durante a primavera. Portanto, três anos e meio antes marcariam o início do ministério no outono

29G. I. Williamson, On the Observance of Sacred Days, (Havertown: New Covenant Publication Society, n.d.), p. 9-10. 30Na Bíblia não há nenhum dia que seja ordenado para ser guardado como santo sob o Evangelho, senão o dia do

Senhor, que é o sábado cristão. Os dias de festa, comumente chamados de dias santos, não tendo base na Palavra de Deus, não devem ser continuados (O diretório de culto de Westminster [1645], São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 66).

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daquele ano. Quando Jesus começou seu ministério, ele contava 30 anos de idade (Lv 3.23). Esta era a idade para o sacerdote começar a exercer seu ministério sob o Antigo Testamento (Nm 4.3).31

Se os cristãos estão desejosos de celebrar uma mentira e lotar o falso dia do aniversário de Cristo com mitologia papista e pagã (p.ex., papai-noel, árvore de Natal, visco, fogueira, sempre-verde etc.), por que, então, o mundo deveria acreditar na Igreja quando ela realmente diz a verdade? Se você mente a respeito do nascimento de Cristo e faz vistas grossa em relação à mitologia pagã, quando você disser a seu vizinho sobre a ressurreição de Jesus, por que ele deveria acreditar em você? Ao celebrar o Natal, você põe uma pedra de tropeço diante de seu vizinho incrédulo. Ele poderia raciocinar com toda a razão: visto que você fala e vive uma mentira acerca do nascimento de Cristo, você não é confiável para falar sobre a ressurreição dele. Alguns intelectuais já me disseram, depois de ter argumentado com eles a respeito da morte e ressurreição de Cristo, que essas doutrinas eram mitos propagados por pessoas simples da mesma forma que o papai-noel e o coelhinho da Páscoa (é claro que a mentira sobre o Natal dura há tanto tempo que a maior parte das pessoas a aceita como verdade). A Igreja deve parar de macular a Palavra de Deus inspirada e infalível ao posicionar fantasias humanas ao lado da revelação divina. O Natal contradiz a narrativa bíblica do nascimento de Jesus.

O mundo ama o Natal32

“... Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há” (1Jo 2.15).

Quem é o verdadeiro guia? Não deve a Igreja do Senhor Jesus Cristo servir de exemplo para o mundo? Não é ela o sal e a luz das nações? É correto que ela siga o modelo pagão? O Natal não se origina na Bíblia nem na igreja apostólica; é totalmente pagão. O dia, a árvore, a troca de presentes, o visco, as frutas vermelhas sagradas — tudo isso tem origem nas festividades pagãs idolátricas do solstício de inverno. A Igreja de Roma comprometida e apostatada tomou as práticas pagãs e tentou cristianizá-las. Todos os transgressores da lei, as pessoas que odeiam a Cristo, os adoradores de ídolos e incrédulos pagãos amam o Natal. Por quê? Porque o Natal não é bíblico, não procede de Deus, é uma mentira. Satanás, seu mestre, é o pai da mentira. Ateus, homossexuais, feministas, políticos ímpios, assassinos, molestadores de crianças e idólatras —todos— amam o Natal. Se essa fosse uma data bíblica, e sua observância uma ordenança, o mundo o amaria? Com toda certeza: não! O mundo odiaria o Natal. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura” (1Co 2.14). Por acaso o mundo ama o dia do Senhor, o sábado cristão? Claro que não. O mundo o odeia. O mundo ama e obedece ao Rei dos reis e Senhor dos senhores ressurreto? Não! O mundo odeia Jesus. O mundo é capaz de amar um bebezinho de plástico ou de barro em uma manjedoura. Um bebezinho de plástico não é muito ameaçador. Entretanto, Jesus não é mais um bebezinho. Ele é o rei glorificado que se assenta à destra do Pai. “... Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2Co 5.16).

A Bíblia ensina que “a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1Co 3.19). “Assim diz o SENHOR: Não aprendais o caminho dos gentios... Porque os costumes dos povos são vaidade” (Jr 10.2,3). O apóstolo Paulo tinha em mente uma aplicação bem mais ampla que apenas ao casamento quando disse, “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? [...] Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei” (2Co 6.14-17). Quando a Igreja possui algo em comum relacionado à adoração e à religião com o mundo pagão incrédulo, ela, nessa área, jaz sob o mesmo jugo que os incrédulos. A Igreja não deve celebrar um feriado pagão com o mundo pagão. Quanta hipocrisia e impiedade!

31Ralph Woodrow, Babylon Mystery Religion, (Riverside: Ralph Woodrow Evangelistic Association, 1961), p. 160-1. 32É claro que o mundo ama cachorrinhos, torta de maçã e beisebol, mas essas coisas não possuem significado

religioso. Elas não estão associadas com Cristo nem são mandamentos religiosos.

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Não seja enganado

Paulo nos adverte que “Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co 11.14). Essa é a razão pela qual os festivais pagãos em todo o mundo são dias de diversão, dias de comidas especiais, festas, desfiles, reuniões familiares e de troca de presentes. O objetivo de Satanás não é simplesmente escravizar indivíduos, mas também controlar instituições, culturas e nações. O calendário pagão de “dias santos”, nos quais os festivais pagãos são celebrados no tempo exato a cada ano, é um recurso inspirado por Satanás para envolver culturas inteiras na rebelião contra a aliança divina. Ele deseja que pessoas e países sejam escravizados por rituais pagãos e pelas trevas. Uma cultura está saturada de satanismo quando festivais, ritos e cerimônias pagãs se tornam tão naturais que não são mais questionados em determinada sociedade.

Como puderam os cristãos ser enganados a ponto de celebrar um dia festivo pagão? O dia foi transformado de um período de trevas em um dia de luz. Como isso aconteceu? É muito simples: a primeira coisa a ser feita é mentir. Ensine que esse dia é o aniversário de Cristo. O fato de Jesus não ter nascido nesse dia não importa. Pouquíssimas pessoas averiguarão os fatos. E quem o fizer será considerado fanático, pessoas indesejadas como Scrooges* modernos. A seguir, transforme a data em um dia de reunião familiar, com presença obrigatória de todos. Que coisa maravilhosa: um dia para a família toda jantar junta e apreciar seus valores. Faça-o também um dia de presentes e de caridade, um dia de se preocupar com o próximo e de partilhar. Quem se oporia a isso? A seguir, dedique-o a todas as crianças do mundo, um dia repleto de lembranças agradáveis. É um dia de sentimentalismo intenso. Não corre uma pequena lágrima de seu olho quando você pensa em pais e irmãos reunidos perto da árvore? Certifique-se de que todas as cidades (independentemente do tamanho) estejam decoradas a caráter. Mantenha a indústria do entretenimento a todo o vapor com artigos especiais, filmes, espetáculos e recitais. Exerça pressão em sua comunidade, local de trabalho, igreja e família sobre quem não celebra o dia para que seja considerado perversor da verdade ou desconectado da realidade.

Essa estratégia tem sido efetiva? Sim, e muito. Houve um tempo quando presbiterianos e congregacionais disciplinavam irmãos pela celebração do Natal. Para os protestantes da ala calvinista da Reforma, a celebração desse dia foi impensável durante quase 300 anos. Agora se você for presbiteriano e não celebrar o Natal, irmãos da mesma denominação pensarão que você é fanático. Os protestantes têm sido enganados, iludidos, ludibriados e tapeados por terem esquecido o PRC: “Toda a Palavra de Deus é pura: escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5,6). Haveria apenas uma razão aceitável para o cristão celebrar o Natal, e ela seria uma ordem direta da Palavra de Deus para assim proceder. Visto que não há uma instrução implícita ou explícita para agir dessa forma, sua celebração é proibida.

Respostas comuns dadas por cristãos para a celebração do Natal

I. O texto de Romanos 14.5,6 não permite aos cristãos a celebração do Natal?

“Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor não o faz” (Rm 14.5,6a).

1. Paulo, em sua epístola aos Romanos, lidava com uma situação única na igreja primitiva. Havia judeus crentes que “consideravam os dias santos da economia mosaica como dotados de santidade permanente”.33 Os “dias” mencionados em Romanos eram dias ordenados por Deus na antiga economia. Paulo menciona “os dias santos e cerimoniais da instituição levítica”.34 Quase todos os comentaristas concordam com essa interpretação.35 Paulo permite a diversidade na Igreja a respeito

*Ebenezer Scrooge: personagem da história de Charles Dickens, Um conto de Natal, caracterizada pelo desprezo em

relação à pessoas e também à celebração do Natal. [N. do T.] 33John MURRAY, Romanos (Comentário Bíblico Fiel), São José dos Campos: Fiel, 2003) p. 539. 34Ibid., p. 673. 35De 24 comentários consultados, apenas um contemplava a possibilidade de não serem dias ligados à economia mosaica.

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desses dias santos judeus por causa de circunstâncias histórias exclusivas. Quando Jesus Cristo morreu na cruz, os aspectos cerimoniais da lei (p.ex., sacrifícios de animais, dias santos, circuncisão etc.) foram cumpridos. Entretanto, antes da destruição de Jerusalém e do templo no ano 70 d.C., os apóstolos permitiram certas práticas por parte dos cristãos de origem judaica desde que se não lhes atribuísse a justificação. Em Atos 21.26, encontramos o apóstolo Paulo indo ao templo “anuncia[r] serem já cumpridos os dias da purificação”. Aos judeus crentes acostumados a manter certos dias santos da economia mosaica foi permitida a continuação dessas práticas durante certo tempo. Porém, destruído o templo, completado o cânon das Escrituras, e a existência da Igreja durante uma geração completa, essas circunstâncias históricas únicas findaram. E mesmo que essa passagem posse aplicável à situação presente, ela não poderia ser utilizada para justificar o Natal, porque os dias mencionados por Paulo não foram “cristianizados” a partir de dias santos pagãos nem de dias santos arbitrariamente estabelecidos por seres humanos. Portanto, se essa passagem ainda fosse aplicável em nossos dias, ela seria usada apenas para justificar a celebração privada dos dias santos judaicos por crentes judeus “fracos” na fé. Ela não pode ser usada como justificativa para dias estabelecidos por seres humanos ou dias pagãos não ordenados por Deus.

2. Essa passagem não apenas não permite aos cristãos celebrar o Natal, mas ela também proíbe a celebração de cultos de Natal de qualquer tipo, bem como festas natalinas. Paulo permite a diversidade na Igreja a respeito deste assunto (i.e., os dias santos dos judeus). Ambos os grupos devem se aceitar mutuamente em busca de paz e unidade na Igreja. O dois lados crêem obedecer a Palavra de Deus. “A conformidade forçada ou a pressão exercida com o objetivo de assegurar a conformidade anula os objetivos aos quais as exortações e reprimendas são dirigidas.”36 Dessa forma, seria errado que os crentes judeus fracos levassem a Igreja a ter um culto de adoração em honra de um dia santo cerimonial, porque os crentes gentios fortes não se sentiriam compelidos a estar presentes nesse culto pública a Deus. Portanto, aqueles que celebravam os dias santos judaicos faziam-no em particular para o Senhor. Quem usa essa passagem para justificar a celebração do Natal deveria, da mesma forma, sentir-se forçado pela injunção de Paulo a manter o dia em caráter privado. Então, cultos natalinos e festas de Natal na Igreja deveriam cessar pela violação da liberdade cristã de não celebrar essa data. É claro que pelo fato de o Natal não ser ordenado por Deus e constituir um monumento à idolatria, sua celebração é proibida.37

Pastores e presbíteros que autorizam a celebração do Natal abusam de seu ofício. O pastor e os líderes de uma igreja recebem sua autoridade de Deus. Eles são responsáveis por reger a igreja de acordo com a Palavra de Deus. Quando pastores e presbíteros autorizam o culto especial de Natal, eles o fazem por conta própria, pois não há garantia da Palavra de Deus para proceder assim. Portanto, neste ponto ele não age de modo diferente de um papa ou bispo, introduzindo invenções humanas na Igreja. As pessoas na igreja que se recusam a tomar parte no dia festivo pagão-papal, que se recusam a adorar a Deus de acordo com a imaginação humana, que se recusam a adorar a Deus sem autorização divina, são forçadas pela liderança local a permanecer em casa em vez de estarem presentes ao culto público a Deus. Portanto, neste ponto, muitos presbíteros atuam como papas, prelados e tiranos em detrimento do rebanho de Deus por tirarem a liberdade que temos em Cristo para adorar a Deus como corpo “em espírito e verdade”, publicamente, no dia do Senhor.

II. Os judeus nos dias da rainha Ester não estabeleceram um dia santo não-autorizado pela lei de Moisés? Este exemplo não permite que a Igreja estabeleça dias santos (p.ex., Natal) não-autorizados pela Bíblia?

1. Quase não há semelhanças entre o Natal e Purim. Purim consiste em dois dias de ação de graças. Os acontecimentos do Purim são: “alegria e gozo, banquetes e dias de folguedo [...] e [o envio de] presentes uns aos outros e dádivas aos pobres” (Et 8.17; 9.22). Não havia culto público, atividades dos levitas e nem cerimônias. Os dois dias de Purim têm mais em comum com o dia de ação de graças e com jantares

36Murray, p. 178. 37Em Gl 4.10,11 e Cl 2.16,17 a guarda de dias é concenada por Paulo por sua conexão nesses casos com heresias. A

situação em Roma era diferente. Os dias eram guardados por causa de má-compreensã. Não havia o envolvimento de heresias e aplicação de justiça derivada de obras.

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de família que com o Natal. Essa data certamente não é a justificativa para os cultos natalinos. Sua celebração é mais parecida com os dias de ação de graças, que ainda são permitidos, e não com os dias santos cerimoniais do sistema levítico. De fato, os teólogos de Westminster usaram a celebração de Purim como texto-prova para a autorização de dias de ação de graça (Et 9.22).38

2. Purim foi um acontecimento histórico único na história da salvação de Israel. O festival foi decretado por autoridades civis: pelo primeiro ministro Mardoqueu e pela rainha Ester. O povo concordou de forma unânime. A ocasião e autorização de Purim estão escritas na Palavra de Deus e foram aprovadas pelo Espírito Santo. O imperativo bíblico de não adicionar nem subtrair aplica-se às leis e adoração estabelecidas por seres humanos. Ela certamente não proíbe o Espírito Santo de completar o cânon da Escritura e instituir novas regulamentações.

3. O Natal é intrinsecamente imoral por ter sido estabelecido sobre monumentos da idolatria pagã. Não há nada errado um país manter um dia de ação de graças por um ato especial de libertação divina. Contudo, há algo muito errado quando uma igreja corrupta tenta dar características cristãs a vestimentas pagãs; e algo muito errado quando protestantes conspiram com a Igreja corrupta de Roma e usam o piedoso Mardoqueu como desculpa.

III. Não se questiona que o Natal não tenha lugar no culto público a Deus, mas não seria correto celebrá-lo em particular?

O problema com esse conceito é o pressuposto de que o PRC seja restrito apenas ao culto público. Não existe evidência bíblica para apoiar o uso do PRC apenas nessa ocasião. De fato, a Bíblia apóia o conceito oposto. Caim foi condenado por uma inovação no culto particular (Gn 4.2-8). Noé, em um culto familiar, ofereceu animais limpos a Deus (Gn 8.20,21). Deus se agradou e aceitou a oferta de Noé a favor de si mesmo e de sua família. Abraão, Jacó e Jó ofereceram sacrifícios a Deus em cultos particulares ou familiares de acordo com a Palavra de Deus. Deus aceitou essas ofertas legais. A idéia de permissibilidade de inovações no culto em família ou particular não é bíblica; é totalmente arbitrária por não se basear na revelação divina. Se uma novidade desagrada a Deus no culto público, como ela poderia agradá-lo no culto particular? Se fosse assim, de acordo com essas premissas, poderíamos possuir em casa pequenas capelas onde queimaríamos incenso, vestiríamos sobrepelizes, mitras, evitando apenas o uso dessas coisas em cultos públicos?

Existem algumas diferenças entre o culto público e o particular (p.ex., o culto particular pode ser feito duas ou três vezes por dia, ao passo que o culto público deve ser realizado pelo menos uma vez a cada dia do Senhor). Indivíduos nas denominações reformadas que trouxeram inovações não-bíblicas como o Natal, mulheres ensinando Bíblia e teologia para homens em estudos bíblicos e aulas de escola dominical, a introdução de hinos e melodias de Natal etc., não procuram justificar essas práticas mediante a Escritura. Em vez disso, elas arbitrariamente regulamentam essas atividades sem consultar o PRC ao dizer que elas se encontram na esfera do culto particular. Pastores e rebanhos se encontram tão apaixonados por essas inovações que partem para a mistificação. Agem como se pastores, papas ou bispos possuíssem autoridade para transformar o culto particular (no qual presumem a permissão da autonomia humana) em culto público (onde a Palavra reina suprema) ao dizer: “Agora tem início o culto público a Deus”. Em que parte da Bíblia o culto público é relegado a poucas horas no dia do Senhor?39 Jesus Cristo disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18.20). Como pode uma mulher ensinar homens em particular no domingo? Como poderiam cinqüenta pessoas cantar canções natalinas no culto particular? Não presuma a permissão divina para inovações e autonomia humana no culto particular. Tente prová-las pela Palavra de Deus. Você não conseguirá. Não declare arbitrariamente que suas práticas se referem ao culto particular quando são

38Confissão de fé de Wetminster, (1647), cap. XXI, seção 5, texto-prova (a). 39O povo de Deus é a Igreja; quer se reúnam em edifício próprio, celeiro, estacionamento ou casa. Quando os cristãos se

juntam para ouvir a Palavra de Deus, há uma reunião da igreja. Trata-se de culto público quer ele comece às 7h ou às 23h. O culto público deve ocorrer no dia do Senhor, mais isto não significa que o culto público esteja limitado a um dia apenas.

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próprias do culto público. Os rabinos do passado justificavam todo tipo de coisas sem sentido com o mesmo raciocínio.

A Bíblia diz: “um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1Co 5.6; Gl 5.9). Quando presbíteros e pastores presbiterianos pararam de disciplinar membros da igreja por causa da celebração doméstica do Natal nos séculos XIX e XX, praticamente permitiram que o fermento pagão-papista do Natal se espalhasse. De fato, foi o que aconteceu. Deve-se procurar bastante para encontrar um lar de presbiterianos onde a invenção papista não seja celebrada.40

IV. Nós não celebramos o Natal. Para nós o dia é apenas um dia comum em família. O que poderia haver de errado nisso?

Há 365 dias no ano. É interessante que o dia anual da reunião da família ocorra exatamente em 25 de dezembro? Por acaso vocês não estariam imitando seus vizinhos pagãos e sua cultura? Vocês não estariam celebrando o dia, como os demais e apenas declarando o secular como justificativa ou desculpa? Se você estiver passando um dia agradável em família, você encherá sua sala com monumentos e lembranças da idolatria passada e presente? Você diz ser apenas um dia secular em família, mas você tem uma árvore de Natal, sempre verde, visco, presentes, velas e cantigas. É óbvio que vocês celebram o Natal da mesma forma que os papistas. A verdade é que se vocês eliminarem toda a parafernália pagã do Natal, então provavelmente não se incomodarão em celebrá-lo. O dia pagão perderia seu fulgor, charme e atração emocional. Como cristãos devemos nos dedicar à família. Devemos nos reunir com nossos parentes e usufruir mutuamente de sua companhia. Mas não precisamos de um dia de festa pagã para fazê-lo.

Conclusão

Se a Igreja de Jesus Cristo deve ser sal e luz para nossa cultura degenerada, ela deve purificar a própria casa. Mais e mais cristãos têm tentado impactar positivamente nossa cultura pagã. Eles tentam resgatar a data do humanismo secular e do estadismo. Esse novo envolvimento é necessário, mas ele não será bem-sucedido até que a Igreja retorne à pureza doutrinária e do culto alcançada pela ala calvinista da Reforma. O Estado romano pagão com todo o seu poder não conseguiu destruir a Igreja cristã. A Igreja prosperou a despeito da tirania e da opressão do Império Romano. O que causou o colapso da Igreja foi a decadência interna. A corrupção da doutrina e do culto na Igreja a tornaram uma fonte de heresia, superstição, idolatria e tirania.

O evangelicalismo moderno se encontra em um sério estado de declínio. O movimento de crescimento da igreja, o movimento ecumênico, o pragmatismo e a manutenção da paz têm precedência sobre a integridade doutrinária e o culto puro. Como resultado, o evangelicalismo moderno é frouxo, comprometido, impotente e morno. Não é simples coincidência que a Igreja tenha tido um impacto mais positivo sobre a sociedade e a cultura quando sua doutrina e culto eram mais puros (p.ex., o segundo período da Reforma na Escócia, 1638). Só quando retornarmos ao culto bíblico rejeitaremos a autonomia humana.

40Como demonstramos antes, o Natal é um monumento à idolatria passada e presente; portanto, mesmo sem a

intervenção do Princípio Regulador do Culto é errado celebrá-lo no lar, no escritório, na igreja, no clube etc.

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Apêndice histórico

Sempre consideramos extremamente abomináveis aos olhos de Deus todas as invenções humanas, i.e., as festas e vigílias dos santos, a água chamada “benta”, a abstinência de carne em determinados dias, e coisas similares, mas em especial a missa.

Primeira confissão valdense, 1120.

Por doutrina contrária, entendemos tudo o que homens mediante leis, concílios ou constituições impuseram à consciência humana sem o mandamento expresso da Palavra de Deus, como os votos de castidade, o repúdio ao matrimônio, a compulsão de homens e mulheres ao uso de trajes especiais, a observância supersticiosa de dias de jejum, diferenciação de carnes [alimentos] por questão de consciência, oração pelos mortos e a manutenção de dias especiais dedicados a santos humanamente ordenados, bem como todos os inventados pelos papistas, e os dias de festa (como eles os designam) dos Apóstolos, Mártires, das Virgens, do Natal, da Circuncisão, Epifania, Purificação, e outras celebrações de nossa Senhora. Julgamos que todas elas, pelo fato de não terem sido ordenadas nem certificadas nas Escrituras divinas, devem ser completamente abolidas de nosso meio; e afirmamos ainda que os obstinados no ensino e na perpetuação dessas abominações não devem escapar da punição do magistrado civil.

Igreja da Escócia, (First) Book of Discipline [(Primeiro) Livro de Disciplina], 1560.

Entretanto, não podemos deixar de mencionar uma única coisa escrita no capítulo 24 da referida confissão [Segunda confissão helvética] concernente à “festa da natividade de nosso Senhor, da circuncisão, paixão, ressurreição ascensão, e do envio do Espírito Santo sobre seus discípulos”, essas festas no presente momento não têm lugar entre nós; pois não ousamos celebrar religiosamente nenhum outro dia de festa que não seja prescrito pelos oráculos divinos.

Assembléia Geral da Igreja da Escócia (assinada por John Knox, John Craig, James Melville etc.), Carta ao eminente servo de Cristo, mestre Teodoro Beza, cultíssimo e mui cuidadoso pastor da Igreja de Genebra, 1566.

Todos os dias tidos por santos até agora, além dos dias de sábado, como o dia do Yule [Natal], dias dos santos, e outros, devem ser abolidos, com penalidades civis contra os praticantes dessas cerimônias, desses banquetes, jejuns, e outras vaidades dessa ordem.

Assembléia Geral da Igreja da Escócia, Artigos para apresentação ao Senhor Regente (1575).

Abominamos e detestamos todas as coisas contrárias à religião e doutrina, mas principalmente todas as variedades do papismo e invenções particulares, pelo fato de agora terem sido condenadas e refutadas pela Palavra de Deus e pela Igreja da Escócia. Todavia, de forma especial, detestamos e rechaçamos a autoridade usurpada pelo anticristo de Roma, das Escrituras divinas, exercida sobre a igreja, o magistrado civil, a consciência humana [...] [quer pela] dedicação de igrejas, altares, dias...

John Craig (subscrita pelo rei e pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia em 1580; renovada em 1581, 1590 e 1638), O Pacto Nacional: ou, a confissão de fé, 1580.

A Igreja de Genebra celebra a Páscoa e o Yule [Natal]. O que eles têm a seu favor? Eles não têm nenhuma base [bíblica].

Rei Tiago VI (Tiago I), Alocução à Assembléia Geral da Igreja da Escócia, 1590.

Se Paulo condena os gálatas pela guarda de festas instituídas pelo próprio Deus, e apenas para sua glória, e não a de qualquer criatura, tanto mais condenáveis são os papistas, que obrigam a celebração de destas inventadas por seres humanos, para a honra de outros homens.

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Thomas Cartwright (ministro não-conformista, Inglaterra), Refutação da tradução, das glosas e das anotações do rhemistas, 1618.

Opostos à ordenança do dia do Senhor são todas as festas ordenadas pelos homens e consideradas dias santos como o dia do Senhor.

William Ames (ministro não-conformista, exilado na Holanda, professor de teologia em Franeker), The Marrow of Theology (1623).

Ao comungarmos com os idólatras em seus ritos e cerimônias tornamo-nos culpados de idolatria. Além de Acaz (2Rs 16.10) ser idólatra... Ele copiou o padrão do altar dos idólatras. Tanto mais, então, o ajoelhar-se diante do pão consagrado, o sinal da cruz, a sobrepeliz, os dias de festa, a hierarquia episcopal, o curvar-se perante o altar, a administração particular dos sacramentos etc. são os artigos de Roma, a bagagem de Babilônia, os adornos da Prostituta, os emblemas do papado, as insígnias dos inimigos de Cristo — os próprios troféus do Anticristo. Não podemos nos conformar a eles, comungar com eles, e nos valermos desses símbolos dos papistas idólatras sem nos tornarmos idólatras por participação. Deve a casta Esposa de Cristo tomar sobre si os ornamentos da Prostituta?

George Gillespie (teólogo da Assembléia de Westminster), A Dispute Against the English Popish Ceremonies [Uma contestação das cerimônias papistas inglesas], 1637.

Os dias de festa, comumente designados dias santos, por não terem autorização na Palavra de Deus, não devem ser mantidos.

Assembléia de Westminster, Directory for Publick Worship [Diretório para o culto público], 1645.

A Assembléia Geral, levando em consideração os diversos abusos, a profanação e as superstições cometidas no dia de Yule [Natal] e em outros dias de superstição, concluiu unanimemente e, por meio desta, ordena que qualquer pessoa (ou grupo de pessoas), de agora em diante, considerada culpada de guardar os dias de superstição mencionados, será submetida à censura eclesiástica, e fará penitência pública perante toda a congregação em que a ofensa for cometida. E que os presbitérios e sínodos provinciais tomem cuidado particular em relação a como os ministros lidam e censuram os delinqüentes desta ordem nas diversas paróquias.

Assembléia Geral da Igreja da Escócia, Act for Censuring Observers of Yule-day, e other Superstitious days [Ato de censura dos observadores do dia de Yule (Natal) e de outros dias de superstição], 1645.

Pergunta: Existe algum dia santo além deste dia [i.e., o dia do Senhor]?

Resposta: Não há nenhum outro dia além deste — santo por instituição do Senhor; ainda que dias de humilhação e de ação de graças possam ser legalmente apontados pelos homens para invocar a Providência, os dias santos papistas não são autorizados e nem devem ser observados (Gl 4.10: “Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”).

John Flavel (ministro não-conformista, Dartmouth, Inglaterra, An Exposition of the Assembly’s Shorter Catechism [Uma exposição do Breve Catecismo da Assembléia], 1692.

Pergunta n.o 3: Os dias santos papistas não devem ser observados?

Resposta: Os dias santos papistas não devem ser observados por não serem indicados na Palavra e, pela mesma razão, nenhum outro dia santo deve ser guardado, independentemente da pretensa devoção em relação a Deus, quando não há preceito nem exemplo dessa prática na sagrada Escritura.

Thomas Vincent (ministro não-conformista, Londres), An Explicatory Catechism: or, An Explanation of the Assembly’s Catechism [Um catecismo explanatório, ou Uma explicação do Catecismo da Assembléia] (1708).

Pergunta: A Igreja pode apontar dias santos para recordar o nascimento, a morte, a tentação e a ascensão (etc.) de Cristo?

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Resposta: Não. Assim como Deus aboliu os dias santos judaicos por ele estabelecidos, não concedeu autorização à Igreja para estabelecer outros. Entretanto, ele nos ordenou trabalhar seis dias, exceto quando a Providência nos convocar para a humilhação ou ação de graças; e proíbe-nos expressamente de observar dias santos designados por homens (Cl 2.16; Gl 4.10,11).

John Brown, de Haddington (ministro e professor, Sínodo Associado [Presbiteriano] de Burgher), An Essay Towards an Easy, Plain, Practical, and Extensive Explication of the Assembly’s Shorter Catechism [Um ensaio

para uma explicação fácil, clara, prática e abrangente do Breve Catecismo da Assembléia], 1758.

Esta é a estação do ano na qual, querendo ou não, somos compelidos a pensar sobre o nascimento de Cristo. Considero um dos maiores absurdos que possam ocorrer debaixo do céu pensar que exista algo religioso na celebração do Natal. Não há nenhuma probabilidade de que nosso Salvador Jesus Cristo tenha nascido nesse dia, e sua celebração é de origem puramente papista; sem sombra de dúvida, os católicos têm o direito de santificá-lo, mas eu não vejo como protestantes coerentes podem considerá-lo sequer sagrado.

Charles Haddon Spurgeon, “The Incarnation e Birth of Christ”, 23/12/1855.

Não somos supersticiosos a respeito de tempos e estações. Com certeza não cremos no arranjo eclesiástico atual chamado Natal. Em primeiro lugar, por não crermos na missa; ao contrário, nós a abominamos, quer seja cantada em latim quer em inglês. Em segundo lugar, por não encontrarmos nenhuma garantia bíblica para guardar qualquer dia como o aniversário do Salvador; conseqüentemente, sua observância é uma superstição por não possuir autoridade divina. Essa superstição encontrou guarida no dia do aniversário do nosso Salvador, ainda que não haja a menor possibilidade de descobrir sua ocorrência. [...] Foi só no final do século III que em algumas partes da igreja passou-se a celebrar o nascimento de nosso Senhor; não muito tempo depois da igreja ocidental ter estabelecido o exemplo que a igreja oriental o adotou. [...] Provavelmente o fato é que os dias “santos” foram arranjados de forma a substituir os festivais pagãos. Não nos arriscamos a afirmar, caso houvesse algum dia no ano do qual pudéssemos estar certos de ser o dia do nascimento do Salvador, que ele seria o 25.o dia de dezembro. ... Sem levar em consideração o dia, entretanto, demos graças a Deus pelo dom de seu querido Filho.

Charles Haddon Spurgeon, “Joy Born at Bethlehem”, 24/12/1871.

... Quando se puder provar que a celebração do Natal, do Pentecostes e de outros dias santos papistas foi instituída por estatuto divino, também nós os celebraremos, mas até então não o faremos. É nossa obrigação rejeitar as tradições humanas e observar as ordenanças do Senhor. Perguntamos a respeito de cada rito e rubrica [litúrgica]: “Esta é uma lei do Deus de Jacó?”, e se a resposta não for afirmativa, ela não possuirá autoridade entre nós que caminhamos na liberdade cristã.

Charles Haddon Spurgeon, Treasury of David [Tesouro de Davi], s/d, Salmos 81.4.

P. 49.Quais são algumas das destas sazonais da Igreja de Roma?

R. Existem diversas, dentre as quais as mais proeminentes são o Natal, o dia de Nossa Senhora, a Quaresma, a Páscoa e a Festa da Assunção.

P. 50. Qual é o significado do Natal?

R. É uma festa celebra no 25.o dia de dezembro, em honra do nascimento de Cristo. Nesse dia são rezadas três missas: à meia-noite, ao nascer do sol e a terceira no período da manhã.

P. 51 Quando essa festa foi instituída?

R. Decretos espúrios atribuem sua instituição a Telésforo, bispo de Roma, na primeira metade do século segundo; entretanto, os pais [da igreja] dos primeiros três séculos não a mencionam.

[...]

P. 55. Essa festa tem base bíblica?

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R. Não. As Escrituras nada dizem a respeito do dia e do mês do nascimento de Cristo, e os melhores escritores admitem que o dia preciso não pode ser obtido de qualquer fonte. Cristo ordenou aos discípulos a comemoração de sua morte, mas nada ordenou a respeito de seu nascimento.

John M’Donald (ministro da Igreja Presbiteriana Reformada da Escócia [Reformed Presbyterian Church of Scotland]; membro da Sociedade Refomada escocesa), Romanism Analysed in the Light of Scripture, Reason, and

History (1894).

Não há base bíblica para a observância do Natal e da Páscoa como dias santos, mas o contrário (v. Gl 4.9-11; Cl 2.16-21), e essa costume é contrário aos princípios da fé reformada, conduzem á adoração vã, e estão em desarmonia com a simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo.

Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (presbiterianos do Sul), Deliverance on Christmas and Easter (1899).

P. 7. A instituição do Natal ou a Páscoa não constitui uma intrusão ousada contra a prerrogativa divina da designação de dias festivos?

R. Trata-se da depreciação da sabedoria divina e da afirmação de nosso direito e habilidade de melhorar seus planos.

James Harper (professor do Seminário Teológico de Xenia, Igreja Presbiteriana Unida [United Presbyterian Church], An Exposition in the Form of Question and Answer of the Westminster Assembly’s Shorter Catechism

(1905).

Os dias de festa, comumente designados “dias santos”, não têm base bíblica, e por isso não devem ser observados.

Sínodo Presbiteriano Reformado, Constitution of the Associate Reformed Presbyterian Church (1937).

Estou sozinho na biblioteca e aparentemente não haverá ninguém no Salão Machen até a seta-feira de manhã. São 21h30 da quarta-feira. Você pode achar tudo lúgubre. Bem, eu gosto disso. É uma alteração deliciosa da rotina. Tive dois excelentes dias na biblioteca. A segunda-feira foi ocupada com reuniões antes do almoço. Espero passar o dia todo de amanhã aqui. Nem mesmo um convite de jantar de “Natal” (como eles o chamam). Detesto-o completamente.

John Murray (professor do Seminário de Westminster, da Igreja Presbiteriana Ortodoxa [Orthodox Presbyterian Church], “Letter to Valerie Knowlton, Dec. 24, 1958,” in Collected Writings, Vol. 3 (1958).

É justamente essa atitude de indiferença em relação à Constituição que nos conduziu ao estado atual da PCUS. Anteriormente, como se encontra declarada na Deliverance on Christmas and Easter [Declaração sobre o Natal e a Páscoa], de 1899, havia uma preocupação meticulosa pela permanência como padrões, e a interpretação estrita da Escritura a respeito desse assunto. Agora acontece o reverso a ponto da adoção do calendário litúrgico da tradição antiga, sem qualquer base bíblica.

Morton Smith (professor do Seminário Teológico de Greenville, da Igreja Presbiteriana dos EUA [Presbyterian Church in America]), How is the Gold Become Dim, 1973.

Dias santos. A Igreja Presbiteriana Livre rejeita o costume moderno da celebração do Natal e da Páscoa, prevalecente na Igreja da Escócia. Ela considera a observância desses dias como um sintoma da tendência a favor do episcopado na Igreja da Escócia. No tempo da Reforma na escócia essas festas foram retiradas da igreja não só como algo desnecessário, mas antibíblico.

Comitê designado pelo Sínodo da Igreja Presbiteriana Livre [Free Presbyterian Church], History of the Free Presbyterian Church of Scotland. 1893-1970 [1974])

Recentemente, as denominações que nunca usaram o calendário [litúrgico], foram induzidas pelo Conselho Nacional de Igrejas [National Council of Churches] a adotar a prática... Como se podem defender essas formas não-bíblicas de culto? o princípio puritano, isto é, o mandamento bíblico, é que

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no culto não se deve adicionar nada e nem subtrair das exigências divinas... [O professor] James Benjamin Green, Studies in the Holy Spirit [Estudos sobre o Espírito Santo] (Revell, 1936), incentivou os cristãos a celebrar o Pentecoste: “Existem três grandes dias no ano cristão: o Natal, a Páscoa e o Pentecoste, e não somos verdadeiros para com nossa fé quando permitimos que o domingo do Pentecoste seja preterido... Ele está postado entre o Natal e a Páscoa. Esses três dias são os mais importantes do ano cristão”.

É incrível que o professor de um seminário presbiteriano fosse tão romanista e anti-reformado. A Escritura nos dá as regras do culto, e, repito, delas não devemos nada subtrair, nem algo lhes acrescentar. Não devemos nos mover para a esquerda e nem para a direita, A Escritura não nos autoriza a celebração do Pentecoste. O mesmo é verdadeiro em relação ao Natal. Ele começou como uma festa de bêbados e continua dessa forma em muitas festas no ambiente de trabalho. Os puritanos fizeram dessa celebração um crime civil. Entretanto, um argumento para a celebração do Pentecoste era: “Não celebram todos os cristãos o Natal e a Páscoa?” Não, os cristãos não o celebram. A família de meu pai e os membros de sua igreja nunca celebraram o Natal, tampouco o fizeram as duas administrações Blanchard no Wheaton College. Porém, o que dizer da Páscoa? Certamente devemos celebrá-la, não é? Sim, de fato. Devemos, como ordena a Escritura, celebrá-la não apenas uma vez por ano, mas 52 vezes.

Gordon H. Clark (professor do Covenant College, da Igreja Presbiteriana Reformada), The Holy Spirit.

O Natal, a Sexta-Feira Santa e a Páscoa são dias santos romanos. Isso significa que sua fonte é a tradição católica romana, não a Escritura... Houve ocasiões na história das igrejas reformadas na quais a verdade da sobre os dias santos receberam atenção reverente. Antes da chegada de João Calvino a Genebra, no tempo da grande Reforma, descontinuaram-se ali a guarda dos dias santos romanos. Isso se deu sob a liderança de Guillaume Farel e Pierre Viret. Outrossim, Calvino concordava inteiramente. É fato notório que ao chegarem essas datas tradicionais, Calvino não lhes dava a menor atenção. Apenas continuava sua exposição dos livros da Bíblia. Os reformadores, Knox e Zuínglio, concordaram com Calvino. Bem como as igrejas reformadas da Escócia e da Holanda. No Sínodo de Dort, em 1574, anuiu-se que apenas o sábado semanal deveria ser observado, e a guarda de outros dias seria desestimulada. Essa pratica bíblica foi mais tarde contemporizada. No entanto, isso não altera o fato de que as igrejas reformadas eram favoráveis originariamente ao princípio bíblico. A posição original das igrejas reformadas era escriturística Este é um assunto importante.

G. I. Williamson, ministro da Igreja Presbiteriana Ortodoxa [Orthodox Presbyterian Church], On the Observance of Sacred Days [n.d.]).