o potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

14

Click here to load reader

Upload: joana-cerejo

Post on 26-Jun-2015

111 views

Category:

Design


0 download

DESCRIPTION

As indústrias criativas podem ser entendidas como aquelas que abrangem os mecanismos de comunicação da informação nas suas diferentes formas de linguagem e expressão, exercendo assim fortes influências no nosso quotidiano. A análise da informação cromática como forma de expressão e conteúdo configurou-se no objecto de estudo desta pesquisa, por se tratar de um elemento da linguagem visual com importante relevância nos processos de comunicação e por possuir uma grande carga semântica, contribuindo significativamente para a composição dos aspectos sintácticos, semânticos e pragmáticos dos dados. A partir desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual, relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de informação, concluímos pela necessidade de criação de uma plataforma digital baseada e fundada na teoria da cor e respectivos aspectos culturais, que contribua para decisões de aplicabilidade dos recursos de informações visuais.

TRANSCRIPT

Page 1: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação VII Congresso SOPCOM | Universidade do Porto | 15 a 17 de Dezembro de 2011

O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das

Indústrias Criativas1 Joana Cerejo

2

José Cardoso3

Resumo: As indústrias criativas podem ser entendidas como aquelas que abrangem os mecanismos de

comunicação da informação nas suas diferentes formas de linguagem e expressão, exercendo assim

fortes influências no nosso quotidiano. A análise da informação cromática como forma de expressão e

conteúdo configurou-se no objecto de estudo desta pesquisa, por se tratar de um elemento da linguagem

visual com importante relevância nos processos de comunicação e por possuir uma grande carga

semântica, contribuindo significativamente para a composição dos aspectos sintácticos, semânticos e

pragmáticos dos dados. A partir desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual,

relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de informação,

concluímos pela necessidade de criação de uma plataforma digital baseada e fundada na teoria da cor e

respectivos aspectos culturais, que contribua para decisões de aplicabilidade dos recursos de

informações visuais.

Palavras-chaves: Indústrias Criativas; Cor; Comunicação; Teoria da Cor; Processos de Informação

Abstract: The creative industries can be understood as those that include mechanisms for providing

information in different languages and expression forms, exerting a strong influence on our quotidian.

The analysis of chromatic information, as a form of expression and content, was the main subject of this

research, because it‟s an element of visual language with significant relevance in the processes of

communication and has a great semantic load, contributing significantly to the composition aspects of

syntactic, semantic and pragmatic data. From this reflection on the roles played by color as visual sign,

linking their importance to the visual arts as a generator of information and support, we conclude that

there is a need to create a digital platform based and found on color theory and cultural aspects, which

contributes for decisions on the applicability of the resources of visual information.

Key words: Creative Industries; Color; Communication; Color Theory; Information Processes

1 Trabalho apresentado no GT – Indústrias Criativas na Comunicação do VII Congresso SOPCOM, realizado de 15 a 17 de

Dezembro de 2011. 2 Joana Cerejo. Licenciada em Design Gráfico e Publicidade pela Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão. Aluna no

Mestrado de Gestão de Indústrias Criativas na Universidade Católica Portuguesa do Porto. Email: [email protected] 3 José Cardoso. Licenciado em Relações Publicas e Internacionais pelo Instituto Superior de Paços de Brandão. Pós graduado em

Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho. Aluno no Mestrado de Gestão de Indústrias criativas na Universidade

Católica Portuguesa do Porto. Email: [email protected]

Page 2: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Introdução

A cor é um fenómeno que exerce fascínio e desperta interesse, atracção e

deslumbramento, principalmente para quem trabalha em áreas artísticas ou de

comunicação visual.

Pesquisar sobre este tema é justificável pela necessidade das constantes mudanças na

interpretação das cores no contexto sociocultural e psicológico, pois estes são

fundamentais na interpretação coesa do jogo cromático e na sua benéfica aplicabilidade

na comunicação.

Com este estudo não pretendemos discutir ou definir o que é a cor, visto que ao longo

da história grandes estudiosos como Newton, Klein, Lüscher, Young e Goethe o

fizeram. Por tal, pretendemos apenas colocar em prática a utilidade desta informação, e

consideramos que uma das melhores formas como resposta a este desafio seria a criação

de uma plataforma digital que reflectisse acerca dos papéis assumidos pela cor, como

signo visual, relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e

suporte de informação, e que contribua para correctas decisões de aplicabilidade dos

recursos de informação visuais.

Metodologicamente, os métodos aplicados foram a indução analítica através de uma

pesquisa aplicada e a análise qualitativa através de uma pesquisa qualitativa.

A pesquisa desenvolveu-se em cinco etapas:

a) Colocação do problema – reflexão dos factos, a fim de descobrir o problema e

formulá-lo.

b) Construção de um modelo teórico – seleccionar factores pertinentes e definir a

hipótese central.

c) Fundamentação teórica – sobre o contexto teórico da cor, percepção, linguagem e

contexto histórico das cores que contou com revisão bibliográfica e pesquisa

documental no campo da percepção, nomeadamente no seu processo cognitivo;

linguagem da cor e contexto histórico.

d) Dedução e consequência particulares – nesta etapa procuraram-se suportes racionais

e empíricos a fim de se obter uma base adequada e estruturada à pesquisa proposta.

Nesse passo, foi elaborado um guia à interpretação e conhecimento das cores e dos seus

mais variados mecanismos, que determinou os critérios para a organização e análise dos

dados.

Page 3: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

e) Introdução das conclusões na teoria – foi estabelecida uma relação entre o problema e

os objectos de estudo resultantes da pesquisa, a fim de se chegar a conclusões acerca

dos resultados alcançados, bem como sugerir uma nova plataforma didáctica para a

instrução subjacente à teoria da cor.

Obras como A cor como Informação de Luciano Guimarães; Da cor à cor inexistente de

Israel Pedrosa; Lenguaje del color de Juan Carlos Sanz; e Color and meaning de John

Gage serviram como base de fundamentação à investigação com recurso a uma análise

sistemática a diversas publicações de índole científica portuguesa e internacional que

abordassem a temática da cor e mais especificamente os seus processos de

comunicação.

Parte 1 | A Problemática

A informação, na sociedade actual, adquiriu proporções de insumo essencial para o seu

desenvolvimento. Diversos segmentos da sociedade já perceberam qual a importância

desses valores intangíveis para o crescimento da produção e disponibilização de dados

com o objectivo de gerar informação, bem como para permitir o acesso de informação a

um maior número de indivíduos.

Nas plataformas de comunicação, a cor pode desempenhar diversos papéis, como dar

ênfase a um dado textual, aumentando o seu poder informativo, ou agir sozinha,

bastando-se para gerar informação.

Num primeiro momento, verifica-se que o estudo da cor é raramente uma parte da

educação em geral, para além de uma aprendizagem rudimentar nos primeiros anos

lectivos. Após estes primeiros anos de escolaridade, apenas os alunos vocacionados para

as áreas artísticas adquirem sensibilidades e formação sobre esta matéria, a qual é, na

larga maioria dos casos, superficial. Posteriormente, mesmo no ensino superior

vocacionado para áreas artísticas e/ou de comunicação, formam-se profissionais que se

munem, na sua maioria, da intuição para a elaboração de harmonias cromáticas, mas

sem compreenderem na realidade que na esmagadora maioria das vezes as paletas

cromáticas por eles criadas não funcionam para determinadas funções. Isto porque o

acto de selecção de qualquer paleta cromática envolve vários factores como aspectos

físicos, fisiológicos, psicológicos, culturais, etc., o que torna o acto de selecção de cores

num processo deveras complexo devido à sua demanda por interdisciplinaridade.

Page 4: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Num segundo momento, observa-se que mesmo com toda a informação e tecnologia de

que actualmente dispõem, são poucos os indivíduos que se dedicam à cor, renegando

para segundo plano instrumentos de precisão para a produção e reprodução destas. Por

conseguinte, a larga maioria das pessoas utiliza a intuição para combinar e harmonizar

as cores, o que é em si mesmo grave, ainda para mais tratando-se de áreas criativas.

Partimos, pois, da premissa de que a negligente e aleatória utilização e manipulação de

cores por profissionais de áreas da comunicação os fazem incorrer no risco de as suas

mensagens e projectos serem um completo fracasso, por vezes com repercussões

catastróficas para a saúde financeira das entidades emissoras da mensagem.

Acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de metodologias capazes

de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de mensagens baseadas

no estudo da teoria cor. Saracevic (1992, apud Pedrosa. T, 2007) “Toda e qualquer

aplicação da tecnologia e das técnicas sem objectivos claros, com conceitos indefinidos

ou uma filosofia nebulosa, introduzirão a barbárie.”

Walter Benjamin (1989) vem justificar as linhas de pensamento desta análise, porque “o

valor de culto que as imagens únicas conseguiam alcançar foi substituído pelo valor

exposto para a reprodutibilidade das imagens”, tendo a exuberância da cor sido perdida

durante este percurso.

Interpretando Gage (1999), parece-nos curioso que um fenómeno como o da Cor, que é

uma experiência sensorial primária para todos, e que atrai tantas análises nas mais

diversificadas áreas, está longe de ser entendida como um todo. Isto porque a ideia de

fundamentalismo nas cores está longe de ser universal.

“It may seem curious that a phenomenon which is a primary sensory

experience for most of us, and has attracted so many commentators

from so many points of view, is far from being understood as a whole

„Colour‟.” (Gage, 1999 p.11)

Seguindo a linha de pensamento de Guimarães (2000), o autor considera os aspectos

fisiológicos da visão cromática como códigos primários, porque o sentido da visão

exerce a principal influência e domínio no nosso crescimento como seres humanos em

correlação aos outros sentidos – audição, tacto, paladar e olfacto. O olho, desde o início

das nossas vidas, proporciona-nos uma enorme quantidade de informação, por este

processa-se a visão, constituindo-se no órgão de ligação entre o mundo interior e

exterior do homem acerca do mundo que nos rodeia. A percepção cromática para o

autor apresenta-se como códigos secundários, já que estes não dependem directamente

de uma herança genética; antes regulam os códigos primários para dar forma ao que se

Page 5: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

conhece como linguagem cromática. Segundo Gonçalves (2006) a percepção da cor

muda quando se modifica a fonte luminosa porque, em princípio, a cor não é mais do

que uma percepção no órgão visual do observador. Os sentidos permitem ao homem

captar os fenómenos do mundo que o rodeia, são os parâmetros que definem a cor em

relação às outras características do objecto como a massa, a textura, a forma ou o cheiro.

Os olhos são capazes de memorizar as diferenças de cores, mas quase nunca

percebemos uma cor como ela é fisicamente.

Guimarães considera ainda que a dimensão simbólica das cores corresponde aos

códigos terciários. Aqui, esta assume o papel de informação cultural. Para o autor, esta é

a parte mais relevante no estudo da complexidade da percepção cromática, pois quando

a cor assume um código cultural, carrega com ela todos os aspectos que envolvem o

processo da comunicação humana.

Estudos de Casos

- Nike

Com este estudo pretendemos resgatar a exuberância e personalidade das cores, de

forma a recuperar a magia das imagens, para a preservação do seu fascínio e

deslumbramento.

As cores sempre estiveram presentes, tanto em culturas arcaicas, como nas que vigoram

actualmente. Esta peculiar característica de universalidade é uma forte arma

comunicativa e cultural que desperta um poder de apelo irresistível.

Por todas estas características intrínsecas que a cor possui, analisamos os erros

ocorridos na campanha desenvolvida pela marca Nike, enquadrada na participação da

Selecção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 2008.

Assim, a Nike quis homenagear o povo brasileiro criando uma campanha, intitulada

“Sangue Amarelo”.

O slogan desta campanha pretendia fazer uma clara associação entre aspectos tangíveis

(a cor da camisola da selecção brasileira de futebol) e intangíveis (garra, emoção,

determinação, conquista).

Contudo, a referida cor, apesar de ser a mesma da camisola da selecção, significa, no

universo futebolístico brasileiro, cobardia e medo, sendo que ninguém pretendia estar

associado a estes aspectos pejorativos, por mais que se orgulhassem da sua selecção.

Page 6: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Apesar dos incríveis recursos colocados à disposição dos criativos desta conhecida

multinacional, acontece que a campanha redundou num grande fracasso, por não terem

sido tidos em atenção aspectos culturais muito próprios do povo brasileiro,

nomeadamente o facto de tradicionalmente o amarelo estar associado aos referidos

aspectos.

Será caso para dizer que se os profissionais da Nike tivessem desenvolvido a sua

campanha utilizando a plataforma digital que propomos, haveriam sido em devida hora

alertados para a não implementação desta associação perniciosa, evitando os

catastróficos resultados alcançados.

Pela má gestão do gabinete criativo e de comunicação, que não se precaveu em relação

à implementação desta associação perniciosa, causou repercussões na saúde financeira

da entidade emissoras da mensagem – a Nike.

- Banif

Na mesma linha está o caso português do Banco Banif, que em Janeiro de 2008, através

da agência criativa Brandia Cliente, comemorou as suas duas décadas de existência com

a renovação da sua imagem, mostrando-se ao mercado com uma imagem mais forte,

comunicativa e rejuvenescida, num rebranding avaliado em 20 milhões de euros e que

marcou uma viragem na história do grupo financeiro, segundo fontes do site Banif.

Sem avaliar questões como logótipo, lettering ou slogan, focar-nos-emos apenas na

questão da cor escolhida para imagem da instituição.

Gage (1999, p.11) ressalta que uma das formas de amplificar as perspectivas da cor é

olhando para a história destas.

Esta afirmação faz todo o sentido para este caso, porque, segundo o site (imagem 1), o

departamento de comunicação da instituição intitula como “Índigo” a cor escolhida para

a nova imagem do Banif. Contudo, se olharmos para a origem e etimologia do Índigo,

facilmente nos deparamos com autores como Isaac Newton, Isaac Asimov ou mais

recentemente a arqueóloga e etimóloga Anne Varichon que dedicaram parte dos seus

estudos a esta cor.

Page 7: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Imagem 1, fonte: http://www.banif.pt/xsite/Particulares/Institucional/NovaImagemBanif.jsp?CH=4682

Segundo o dicionário etimológico (http://www.etymonline.com), a origem da palavra

Índigo vem do Latim indicum "índigo" e do Grego indikon "corante azul da Índia".

Segundo Anne Varichon (2005) os primeiros vestígios de pigmento Índigo foram

encontrados no Antigo Egipto mas foi posteriormente na Índia que o Índigo ganhou o

seu apogeu. Em todos os estudos da autora, Índigo é sempre referido como um

pigmento de cor Azul, o que vai de encontro à associação “corante azul da Índia”

percebida na palavra grega indikon.

Kalamani (2008, p.107) relata-nos as abordagens de Isaac Newton e Isaac Asimov

perante o Índigo.

“Placed in between blue and violet, it is neither an additive primary colour, nor a

subtractive one. It was named and define by Isaac Newton, when he divided the optical

sprectum, (though man does not tend to recognize indigo as a separate colour). For this

reason, some commentators including Isaac Asimov, have suggested that indigo should

not be regarded as a colour in this own right, bur merely as a shade of blue or violet. In

this novel symbolially even though no one is able to see that colour, it „is about

believing and knowing that something exist even if you can‟t see it‟.”

Assim sendo, analisando a imagem do Banif, estamos perante uma má utilização da

sintaxe do Índigo. Este é empregue graficamente pelo departamento de comunicação,

como uma cor situada na gama dos violetas.

Page 8: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Apesar de que, Pastoureau (1997, p.152) expõe que,

“A sinonímia absoluta, não existe. Isso é talvez ainda mais verdadeiro no vocabulário

das cores, do que em qualquer outro campo do léxico. Nenhum termo tem com ela uma

analogia de sentido e de utilização suficiente para a substituir em qualquer contexto.

Por outro lado, todos os termos de cores são polissémicos. Por este facto, a ideia de

uma sinonímia, ainda que aproximativa, entre determinados termos de cores parece-

me, também, muito contestável. É por isso que o léxico das cores – o mais poético de

todos – aparece como um léxico inteiramente rebelde à redundância. E, sem dúvida,

também à tradução.”

Pode-se assim constatar que historicamente a cor designada por Índigo está estritamente

relacionada a pigmentos de cor azul e não violeta. Desta forma, se a própria instituição

não percebe a paleta de cor que utiliza, como irá o público-alvo entendê-la?

A percepção e a informação cromáticas do ser humano encontram-se dependentes da

nomeação clara e precisa das cores. Designar a cor de uma forma rigorosa, num espaço

cromático tridimensional, permite educar a sensibilidade estética, viabilizar uma

percepção intelectiva mais complexa e facilitar o consequente reconhecimento e a

transmissão dos dados sensoriais e culturais inerentes ao domínio da cor. Assim sendo,

estamos perante um claro erro sintáctico entre a nomenclatura da cor com a sua real

aparência.

Quando pensamos em linguagem da cor, devemos ter duas linhas de pensamento: o seu

contexto visual e o seu contexto linguístico.

Sanz (2009, p.15) explica que,

“Os vínculos psico-iconelinguísticos e psico-linguisticos entre a linguagem – icónica

ou verbal – a percepção cognitiva e cultural implicam que ambos os tipos de

linguagem possam determinar a percepção do mundo através da «educação», ou seja,

tanto a representação quatricolor como a indicação verbal «verde» condicionam o que

vemos. O contexto social e antropológico em que se desenvolvem as palavras

condiciona a valorização de determinada cor.”

Por conseguinte, o Banif desvalorizou a importância que a cor pode ter dentro de uma

composição visual, ao cair no erro de apenas pensar na inovação que seria trazer uma

cor desta gama para o contexto bancário, sem analisar a fundo quais as consequências

cognitivas que esta cor trazia inerentes a si. Assim, a negligente escolha e

empregabilidade desta cor, causou efeitos negativos ou de distracção, afectando a

reacção do receptor em relação à mensagem do emissor.

Concluindo, diversos cuidados devem ser tidos em consideração num projecto de

comunicação, no que se refere à utilização de cores: deve considerar-se o aspecto

cultural do grupo de pessoas a quem se destina a mensagem, pois algumas comunidades

podem apresentar reacções negativas perante certas cores; as cores devem ser

seleccionadas de modo a evitar uma fadiga ao órgão visual do receptor, dado que uma

Page 9: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

cor específica é afectada pelo ambiente que a circunda e que as cores interagem umas

com as outras.

Farina (1990, p.27), assume que,

[…] sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor exerce uma acção

tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista: impressiona

a retina. É sentida: provoca emoção. É construtiva, pois tendo um significado próprio,

possui valor de símbolo, podendo assim, construir uma linguagem que comunique uma

ideia.

Segundo a imagem 1, o banco pretenderia com esta nova cor transmitir “o

conhecimento e o idealismo, a capacidade de sacrifício e resistência, a devoção e a

compaixão. Simbolizar a linha do conhecimento absoluto, da mestria e da realização

pessoal”, o que não se verifica.

Trata-se de uma cor inadequada ao target do banco, apesar de a maioria deste target ser

leiga em relação aos conteúdos teóricos e culturais das cores, regendo-se apenas pelos

seus sentidos fisiológicos e cognitivos. Mais: baseado no contexto sociocultural

português, tem uma associação fúnebre - Domingo de Ramos; ao comércio

farmacêutico e até mesmo à homossexualidade. Segundo Heller (2007, p.207) o violeta

tornou-se popular como símbolo do orgulho gay na década de 60 – uma frase popular da

época na comunidade gay era “Purple Power” (“Poder Roxo”). Esta cor está associada à

cultura gay desde pelo menos 1970, porque no violeta unem-se o masculino e o

feminino (azul + vermelho = violeta), logo, nenhuma outra cor pode simbolizar melhor

a homossexualidade.

Desta forma, a cor não é somente uma propriedade estética na sua aplicabilidade, esta

agrega em ti uma pluralidade de condicionalismos. O seu poder cognitivo é uma

ferramenta para identificar os elementos que devem atrair a atenção, de forma a

interagir eficazmente com o receptor.

Seguindo um estudo realizado pela mesma autora, Heller (2007, p.193)

“O violeta é a cor dos sentimentos ambivalentes. As pessoas que o rejeitam são mais

do que as que o preferem. Cerca de 12% das mulheres e 9% dos homens referem-na

como a cor que menos gostam, enquanto apenas 3% das mulheres e dos homens a

nomeiam como sua cor preferida. Da rejeição em relação a esta cor, nasce em muitas

pessoas, uma resistência a entendê-la de forma diferenciada, uma vez que não sabem

distinguir o violeta do lilás ou roxo. A aversão a determinadas cores não é nenhum

problema para quem não trabalha com elas. Em nenhuma outra cor que unem

qualidades tão opostas como no violeta. A união dos contrários é o que determina o

simbolismo da cor violeta.”

Sucintamente, partindo desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo

visual, concluímos que é impossível desconjuntar a interdisciplinaridade que o

fenómeno da cor obriga, pois a cor exerce essencialmente três funções na compreensão

de uma mensagem. Esta pode funcionar como signo para um fenómeno físico, para um

Page 10: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

mecanismo fisiológico ou para uma associação psicológica. Aspectos que nem a Nike

nem o Banif tiveram em consideração como um todo.

Desta forma, a cor não é somente uma propriedade estética na sua aplicabilidade. O seu

poder cognitivo é uma ferramenta para identificar os elementos que devem atrair a

atenção, de forma a interagir eficazmente com o receptor. O que em ambos os casos de

uma forma ou outra não aconteceu na sua plenitude.

Parte 2 | Proposta de resolução da problemática

Actualmente, no programa do Ministério da Educação Português, o estudo eficaz da cor

é claramente descorado. . Durante o seu percurso académico, os alunos apenas têm uma

aprendizagem rudimentar nos primeiros anos de escola. Após estes primeiros anos de

escolaridade, apenas os alunos vocacionados nas áreas das artes adquirem sensibilidades

e formação na área da cor. E mesmo estes apenas recebem uma superficial formação

sobre a cor e os seus mecanismos.

Observamos ainda que mesmo com toda a informação e tecnologia de que actualmente

dispõem, são poucos os indivíduos que se dedicam à cor, renegando para segundo plano

instrumentos de precisão para a produção e reprodução destas. Por conseguinte, a larga

maioria das pessoas utiliza a intuição para combinar e harmonizar as cores, o que é

negligente, ainda para mais tratando-se de áreas criativas.

Consideramos negligente e aleatória utilização e manipulação de cores por

profissionais, fazendo-os incorrer no risco das suas mensagens e projectos serem um

completo fracasso, com repercussões na saúde financeira das entidades emissoras da

mensagem. Acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de

metodologias capazes de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de

mensagens baseadas no estudo da teoria cor. Assim, pretendemos criar uma plataforma

digital que altere o panorama da comunicação com um carácter inovador, com forte

argumentação nas práticas teóricas dos mecanismos cromáticos com particular enfoque

nas condicionantes socioculturais.

Com esta plataforma pretendemos contribuir para uma maior eficiência e produtividade

dos sectores criativos, enriquecendo, com o estudo específico da cor, as possibilidades

de criação de um “vocabulário” para uma sintaxe visual.

Page 11: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

A plataforma preencherá uma lacuna existente no mercado, a qual foi identificada na

pesquisa realizada para este estudo. Pretende-se que responda eficazmente à

necessidade de escolha de paletas cromáticas baseadas no contexto em que esta

necessita se inserir.

Sendo a conjuntura actual propícia ao aparecimento e disseminação de novas

plataformas tecnológicas, ao mesmo tempo que existe uma maior propensão para as

práticas criativas - onde a cor é uma incontornável - a nossa plataforma pretende ter um

carácter inovador e eficaz, com forte argumentação nas práticas teóricas dos

mecanismos das cores e com particular enfoque nas condicionantes socioculturais.

Conclusões

Diversos segmentos da sociedade já perceberam qual a importância desses valores

intangíveis para o crescimento da produção e disponibilização de dados com o objectivo

de gerar informação, bem como para permitir o acesso de informação a um maior

número de indivíduos.

A partir desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual,

relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de

informação, demonstramos a necessidade de criação de uma plataforma digital baseada

e fundada na teoria da cor com a componente sociocultural que as cores agregam em si,

que contribua para decisões de aplicabilidade dos recursos de informações visuais.

Isto porque a dimensão semântica da cor explora as relações entre as cores, através dos

seus códigos e associações que se estabelecem de acordo com cada cultura e ou

contexto social e natural. Estes conhecimentos permitem-nos encontrar o sentido da cor

em cada situação.

Guimarães (2000. p.15), ressalta que utilizamos o conceito de cor na dimensão

aplicativa, ou seja, a cor aplicada a algum objecto, seja ele corpóreo ou etéreo, material

ou conceptual. Extraímos a simbologia das cores das suas várias aplicações. Utilizamos

a cor como informação que desempenha determinadas funções quando aplicada com

determinada intenção ou determinado objectivo.

Segundo o mesmo autor, (2000, p.15)

“A aplicação intencional da cor, ou do objecto (considerando-se a sua cor)

possibilitará ao objecto (ou estímulo físico) que contém a informação cromática

Page 12: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

receber a denominação de signo. Ao considerarmos uma aplicação “latente”, que será

percebida e decifrada pelo sentido da visão, interpretada pela nossa cognição e

transformada numa informação actualizada. […] Numa dimensão pragmática, a cor

como informação actualizada do signo, ou seja, um objecto produzido por um emissor,

recebido e interpretado por um receptor. Na dimensão semântica da semiose, os signos

estarão compostos em complexos significativos – os textos – e organizados por

sistemas de regras – os códigos. Nesse sentido, podemos compreender a cor como um

dos elementos da sintaxe da linguagem visual, e a linguagem visual como um dos

diversos códigos da comunicação humana.”

A cor funciona como ícone quando representa uma qualidade, independentemente da

existência do signo que representa. No plano perceptual, como no icónico, a cor é vista

como um elemento básico de uma progressiva estruturação da sugestão fisiológica,

mediante a qual um observador adquire consciência visual. Desta forma, a iconicidade

representa um determinado aspecto da cor como informação, que articulado aos demais

aspectos da dimensão semântica e perceptual, constituem a totalidade da cor

informação.

A cor é um produto cultural. Não existe cor se esta não for percebida, ou seja, não basta

ser vista apenas com os olhos, esta tem que ser sobretudo descodificada pelo cérebro,

com a memória, com os conhecimentos e com a imaginação.

Em suma, acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de metodologias

capazes de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de mensagens

baseadas no estudo da teoria da cor, com forte componente histórica e condicionantes

culturais, sendo a plataforma digital por nós proposta a chave para a resolução desta

contenda.

Page 13: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Bibliografia

Benjamin, W. (1989). A Obra de Arte na era da sua reprodutibilidade técnica. 2ª Versão.

Volume II.

Crepaldi, L. (2006). A influência das cores na decisão de compras: um estudo do

comportamento do consumidor no ABC paulista. Livrodatas do XXIX congresso Brasileiro de

ciências da comunicação. São Caitano do Sul, 6 a 9 de Setembro de 2006. Intercom - Sociedade

Brasileira de estudos interdesciplinares da comunicação. Acedido a 23 de Março em URL:

http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1188-1.pdf

Farina, M. (1990). Psicodinâmica das cores em comunicação. Editora Edgard Blücher LTDA.

São Paulo.

Gage, J. (1999). Colour and Meaning, arte science and symbolism. Thames & Hudson. London.

Gonçalves. P. (2006). Utilização das cores em páginas Web. Educa 2006. Universidade de

Salamanca. Salamanca. Acedido a 23 de Março de 2010 em URL:

http://noesis.usal.es/Documentos/Educare2006/arts_pdf/Pedro_Goncalves.pdf

Guimarães, L. (2000). A Cor como Informação – a construção biofísica, linguística e

cultural da simbologia das cores. Editora Annablume editora. São Paulo.

Heller, E. (2007). A psicologia das cores, como actuam as cores sobre os sentimentos e a razão.

Editora Gustavo Gili. Barcelona.

Kalamani, N. (2008). The fusing horizons: Critical essays in Indian writing in English. Sarup &

Sons. New Delhi.

Leão, A.; Souza, L. e Araújo, A. (2007). Gerenciamento de cores - Ferramenta fundamental

para a documentação digital de bens de cultura. Revista Brasileira de Arquitectura, Restauração

e conservação. Volume 1, No. 4, 215-220 pp.

Lotufo. E. (2008). Cor e comunicação. Universidade Católica de Góias. Departamento

de Artes e Arquitectura, Curso de Design. Acedido em 18 de Maio de 2010 em URL: http:www.

ucg.br/ACAD_WEB/.../3954/.../teoria%20da%20cor.doc

Maia, M. (2008). A importância da cor como ferramenta de comunicação e marketing

contemporâneos na cultura ocidental sob análise da psicologia das cores. Aceido a 11 de Junho

em URL:

http://www.webartigos.com/articles/3745/1/Cor-Como-Ferramenta-De-Comunicacao-E-

Marketing/pagina1.html

Mukarovsky, J. (1997). Escritos sobre estética e semiótica da arte. Editorial Estampa. Lisboa.

Pastoureau, M. (1997). Dicionário das cores do nosso tempo, simbólica e sociedade. Teoria da

Arte. Editorial Estampa. Lisboa.

Pedrosa, I. (2002). Da cor à cor inexistente. Editora Léo Christiano. Rio de Janeiro.

Pedrosa, T. (2007). Significado e significante da cor no processo informacional : Estudo

apli -cado na construção de interfaces digitais para Web . Tese de Mestrado em

Page 14: O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das indústrias criativas

Ciências da Infor-mação. Instituto de Ciências da Informação, Universidade Federal da Bahia,

Bahia.

Pernão, N. (2005-2006). O Léxico da cor. Laboratório da cor. Ano lectivo 2005-2006.

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa. Acedido a 8 de Abril de

2010 em URL: http:apcor.org/pt/imagens/proj_dec/proj_pernao.pdf

Sanz, J. (2009). Lenguaje del color, sinestesia cromática en poesía y arte visual. Editora H.

Blume. Madrid.

Varichon, A. (2005). Colores, História de su significado y fabricatión. Editora Gustavo Gil.

Barcelona