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O PERFIL DAS FAMÍLIAS QUE OPTAM PELA EDUCAÇÃO WALDORF NO
BRASIL
Laiana Moraes de Azevedo1
Francine Marcondes (Orientadora)2
RESUMO
A Pedagogia Waldorf foi introduzida por Rudolf Steiner em 1919, na Alemanha. Nela, o ser humano é valorizado como um todo, sendo que o pensar não é o único foco da educação, estando ao lado de outras duas atividades anímicas: sentir e querer. Nesta perspectiva, a alma e o espírito possuem tanta relevância quanto o corpo físico. Desta forma, a intervenção pedagógica apresenta um modo de organização peculiar, sendo que algumas de suas características são: não há a reprovação de alunos, a alfabetização é ensejada pela prontidão física e intelectual da criança, muitas vezes há médicos no corpo pedagógico, entre outras características. Pressupondo este modo de organização, o objetivo geral dessa pesquisa foi investigar o perfil de famílias que matriculam suas crianças em escolas Waldorf no Brasil. Para tanto, realizou-se uma pesquisa deperspectiva filosófica fenomenológica, abordagem qualitativa, caracterizada como exploratória quanto aos seus objetivos e como um estudo de campo quanto aos seus procedimentos. Os resultados da pesquisa revelaram que as maiorias das famílias de alunos matriculados em escolas Waldorf nas escolas participantes são de classe alta e média. Estas compartilham de uma visão de mundo que tende aos valores antroposóficos, sendo que muitas vezes aderem ao vegetarianismo, ao não consumismo e à valorização da espiritualidade e da arte. Por meio da pesquisa, compreendeu-se que um dos principais motivos que levam os pais a optarem por esse tipo de educação são exatamente as diferenças que esta pedagogia apresenta. Grande parte dos alunos Waldorf têm familiares que passaram pela mesma pedagogia, algo que indicia uma escolha estável destas famílias pelos princípios educacionais enunciados por Steiner.
Palavras-chave:Pedagogia Waldorf. Rudolf Steiner. Famílias de alunos
Waldorf.Escolas Waldorf no Brasil.
1 Aluna do quarto ano de Graduação em Pedagogia na Universidade Estadual de Maringá e
Professora do Ensino Fundamental da rede Municipal de Maringá. 2 Pedagoga, Mestre em Educação (Universidade Federal do Paraná) e Professora da área de
Metodologia e Técnica de Pesquisa do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Cursa Doutorado em Educação para a Ciência e a Matemática na UEM.
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ABSTRACT
The Waldorf pedagogy was introduced in 1919 by Rudolf Steiner, Germany. According to it, the human being is valuable as a whole, where the thinking is not the only focus of the education, standing at the side of two animistic activities: feel and desire. In this perspective, the soul and the spirit have as much relevance as the physical body. Thus, the pedagogic intervention provides a peculiar organizational pattern, where its characteristics are: there is no failing grades for the students, the literacy is enhanced by the kid’s physical and intellectual readiness. Too often, there are doctors among the pedagogical staff, and a few others characteristics. Assuming this organizational pattern, this researches the main objective was to investigate the families profile of those who enrolled their children in Waldorf schools in Brazil. In order to do this, a research was conducted with a phenomenological philosophical perspective and a qualitative approach characterized as exploratory in terms of objectives and as a field study in terms of procedure. The results of the research revealed that most of the families that have kids enrolled in Waldorf schools among the participating schools belong to high and middle class. These families share a world perspective prone to anthroposophical values, where very often they stick to vegetarianism, to no consumerism and to valorization of spirituality and art. Through the research, it was understood that one of the main motives that led the parents to opt for this type of education were exactly the differences shown by this pedagogy. Most of the Waldorf students have relatives that went through the same pedagogy, something that indicates a stable choice of these families between the educational principles outlined by Steiner.
Keywords: Waldorf pedagogy. Rudolf Steiner. Families of Waldorf students. Waldorf
schools in Brazil.
1 INTRODUÇÃO
A Pedagogia Waldorf é uma abordagem educacional iniciada por Rudolf
Steiner (1861-1925) em 1919, em Stuttgart na Alemanha, com a fundação de uma
única escola, destinada a filhos de funcionários (HEMLEBEN, 1989, p. 126) na
fábrica de cigarros Waldorf-Astória. Nos dias atuais, milhares de escolas Waldorf
funcionam no mundo inteiro (STEZER, 2016).
Desde seus pressupostos básicos, a Pedagogia Waldorf se diferencia da
Pedagogia Tradicional por propor ideais e métodos pedagógicos revolucionários,
que buscam “[...] seguir roteiros novos e originais.” (KUGELGEN, 1984, p. 24).
Segundo Bertalot (2002, p. 10) e Steiner (1999, p. 73), o método de Steiner é
resultado de uma observação íntima da natureza humana, que é concebida como
uma integração entre corpo, alma e espírito, segundo os pressupostos da
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Antroposofia.Na aplicação desse método, existe uma organização específica para
que esses aspectos sejam abordados de forma a contemplar a formação integral do
ser humano.
Em nossa sociedade pode-se observar a vasta diversidade de concepções e
propostas para a organização da educação básica, porém, muitos educadores
relatam insatisfação em relação à prática educacional que vivenciam. Segundo
Severino (2000, p. 4), “a educação como processo mecânico de desenvolvimento de
potencialidades” não é suficiente. Educar precisa envolver uma preocupação com a
construção integral do ser humano. O não atendimento a este critério é,
possivelmente, a principal fonte de frustrações dos docentes na atualidade. Nesse
sentido a educação Waldorf pode oferecer contribuições para as demais concepções
educacionais, uma vez que persegue um idealsui generis de formação. Segundo
Veiga e Stoltz (2014, p. 6), nas escolas de Steiner “quer-se, sempre, atingir o ser
integral, não só o desenvolvimento intelectual”.
Entretanto,há um grande desconhecimento da Pedagogia Waldorf até mesmo
por parte de graduados e especialistas em educação. Nesse sentido, a reflexão de
Krautz3 (2007 apud Veiga,2014, p. 29) expõe um dos motivos pelos quais a
pedagogia Waldorf está pouco presente em currículos de formação de professores:
dentre estes obstáculos uma tendência bastante ampla, incentivada por
organizações internacionais, tal qual a Organisation for Economic Co-operation and
Development (OECD)4, visa orientar a educação cada vez mais exclusivamente
pelas necessidades pragmáticas da atual conjuntura econômica e política, já a
Pedagogia Waldorf orienta-se por “pressupostos metodológicos e antropológicos
implícitos”, para os quais não se aceita alternativa. Sendo assim, compreende-se
que um dos motivos que fazem com que a pedagogia Waldorf não encontre boa
aceitação em cursos de formação de docentesé o fato de esse modo de educação
não buscar atender, como prioridade, às necessidades do mercado e da economia.
Entre as diversas questões que ainda precisam ser exploradas a respeito da
Pedagogia Waldorf, uma delas é concernente ao perfil das famílias e dos motivos
que as levam a confiar na formação oferecida pela educação proposta por Steiner.
3 KRAUTZ, J. Ware Bildung. Schule und Universität unterdem Diktat der Ökonomie. Kreuzlingen – München: Hugendubel, Diederichs, 2007. 4 Fundada em 1960, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma organização de cooperação internacional composta por 34 países. Sua sede fica em Paris. A OCDE é sucessora da OECE, que foi criada no contexto do Plano Marshall (ORGANIZAÇÃO..., 1996).
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Neste sentido, o problema dessa pesquisa constitui a seguinte questão: No Brasil,
qual o perfil das famílias que procuram escolas Waldorf para matricular seus filhos?
E, em segundo plano, que intencionalidades estão envolvidas na decisão destas
famílias por este tipo de educação?
Com isso, a pesquisa teve como objetivo geral investigar o perfil das famílias
que matriculam suas crianças em escolas Waldorf no Brasil, sendo que seus
objetivos específicos foram: realizar levantamento bibliográfico sobre a estruturação
teórica e prática das escolas Waldorf; entrevistar representantes de escolas Waldorf,
buscando a caracterização dos perfis das famílias que aderiram à instituição;
Realizar entrevistas com egressos da Pedagogia Waldorf a respeito do perfil de suas
famílias na época em que eram alunos; analisar o perfil das famílias Waldorf no
Brasil, com base nos relatos de representantes de escolas e egressos e na
fundamentação teórica.
Visando ampliar o campo de estudos docentes sobre diferentes concepções
da educação, o estudo do perfil e motivações das famílias que optam por ingressar
seus filhos em escolas Waldorf justificou-se do ponto de vista científico por duas
razões essenciais: 1. O levantamento inicial revelou a ausência de pesquisas
recentes a respeito do problema proposto e que possuam publicações em nossa
língua materna; 2. Ele está relacionado à defesa da pluralidade dos modos de se
compreender o fenômeno educacional pois devemos valorizar as diferenças
existentes em cada modo de se organizar a educação.
A educação não pode ser reduzida a uma única perspectiva por ser destinada
para grupos de pessoas com características individuais, valores culturais, morais,
espirituais e físicos peculiares. As pesquisas sobre a concepção Waldorf e o modo
como Steiner idealiza a educação do homem não devem ser excluídos do campo da
ciência, pois a pluralidade de concepções é fonte de enriquecimento para ela
(FEYERABEND, 1977).
Recorrendo-se às palavras de Marcelo da Veiga (2014, p. 16) pode-se
argumentar:
Seja como for a aceitação de seu pensamento, uma coisa é certa: Steiner está longe de ser morto e de esquecido. Ao contrário: frente aos problemas descritos, muita coisa em seu pensar e nos desdobramentos de seus impulsos parece ser mais atual do que alguns dos seus críticos querem admitir [...].
5
Há também uma necessidade de que a sociedade conheça esse tipo de
formação escolar para que os pais e responsáveis possam ter mais possibilidades
ao optar pelo modo de educação em que seus filhos serão formados. Segundo
Ribeiro e Pereira (2010) a Educação Waldorf enfrenta muitos mitos e preconceitos,
sendo que alguns desses mitos são: “alunos Waldorf não são capazes de cursar
uma universidade por não conseguirem aprovação em vestibulares”; “educandos
Waldorf se tornam sempre artistas”; “os alunos Waldorf não são devidamente
preparados para o mercado de trabalho”; e “a Pedagogia Waldorf é uma religião”.
Esses são alguns dos motivos que dificultam a procura e interesse de muitas
famílias por esse tipo de educação. É por meio de pesquisas a respeito desse tema
que se pode contribuir para colocar estas concepções à prova de um exame
sistemático.
Por fim, considerando-se que na educação Waldorf, o modo de se
compreender o ser humano (VEIGA, 2014, p.17), a abordagem com relação à
arte(ROMANELLI, 2014, p.73, BACH JUNIOR; STOLTZ, 2014, p. 124), a
organização interna da escola, os brinquedos (LANZ, 2005, p. 80, BACH JUNIOR;
STOLTZ, 2014, p.119), o currículo escolar, (BACH JUNIOR, MARIN, 2014, p.53)as
concepções de alfabetização (BERTALOT, 2002, p. 7), a relação com a natureza
(OLIVEIRA, BUCK, 2014, p.38), a saúde (STEINER, 1996, p. 16) e a alimentação
(STEINER, 1996, p. 27) são alguns dos muitos aspectos que possuem um
diferencial, a pesquisa se mostrou relevante em relação à formação da
pesquisadora, pois promoveu o conhecimento deste modo peculiar de Pedagogia.
2 RUDOLF STEINER, A ANTROPOSOFIA E IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
Rudolf Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861, na divisa entre a Europa
Central e a Oriental, sendo filho de Johan Steiner e FranziskaBlie Steiner. Foi
filósofo, artista, professor, além de demonstrar interesses por numerosas áreas do
conhecimento.
O início da infância de Steiner foi em Kraljevec (fronteira austro-húngara),
contudo, sua família permaneceu nesse local por apenas um ano e meio. Em
seguida, sua família mudou-se para Semmering (Áustria)( HENLEBEN, 1989 p. 13),
onde, em razão de desavenças com a escola local, seu pai se responsabilizou por
sua educação.
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Desde muito novo, Steiner já se considerava capaz de vivenciar experiências
do mundo espiritual. Segundo ele, a realidade do mundo espiritual era tão certa
quanto a do mundo material. Desta forma, ele afirmava como necessário buscar e
trazer à tona os conhecimentos do mundo espiritual.
No décimo ano de vida, Steiner passou a frequentar o liceu na cidade de
Wiener, Neustadt (HENLEBEN, 1989, p.22). Aos 14 anos adquiriu e iniciou seus
estudos sobre um dos maiores clássicos de Kant: “A Crítica da razão pura”. Seu
interesse se aflorava muito mais por estudos escolhidos por interesses próprios do
que pelas matérias propostas pelos professores de sua escola (HENLEBEN, 1989,
p. 23).
No décimo quinto ano de vida, Rudolf Steiner passou a lecionar aulas para
alunos de classes mais baixas. Esta era uma fonte de renda que lhe permitia ajudar
sua família com os custos dos seus estudos. Com 18 anos leu pela primeira vez o
“Fausto” de Goethe. Também neste ano, em 1879, Steiner recebeu seu diploma de
conclusão de curso em uma área relacionada à engenharia (HENLEBEN, 1989, p.
24).
Segundo as expectativas do pai, Steiner deveria seguir a profissão de
engenheiro, porém suas vivências não se coadunaram com este desejo. Após sua
formatura em engenharia, Steiner adquiriu uma série de obras de Kant e se voltou
para Fichte, Hegel, Schelling e Darwin. Aos 20 anos, Steiner passou a questionar
com mais relevância como se relacionam o mundo físico e espiritual (HENLEBEN,
1989, p.26).
Rudolf Steiner sempre possuiu uma personalidade peculiar, o que o levou a
ser, muitas vezes, mal interpretado. Nutria um interesse:
[...] incomum pelo ‘completamente diferente’ nas almas de seus contemporâneos. Enquanto que para os seus próprios problemas espirituais básicos encontrava apenas reduzida compreensão real entre seus professores e amigos de juventude. (HENLEBEN, 1989, p. 34).
Rudolf Steiner publicou cerca de 50 livros. Além dessas obras, apresentou
aproximadamente 6.000 conferências públicas, que foram convertidas em mais duas
centenas de publicações (transcrições) (GRUEL, 1994).
Steiner não produziu influências apenas sobre a Educação, sua obra se
estendeu a outros âmbitos, como: a vida social e a Economia (com a ideia da
trimembração social e da economia associativa), a Agricultura (Biodinâmica), a
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Medicina, as Artes Plásticas, a Euritmia (nova forma de movimento do corpo), ao
Teatro (com a arte da fala e dramas de mistérios) e a Religião (movimento de
renovação religiosa) (GREUEL, 1994).
A biografia de Steiner é completamente ligada à Antroposofia, sendo que as
produções de 1905 até sua morte, em 1925, são voltadas para esta ciência
espiritual. Antroposofia significa “sabedoria sobre o ser humano”. Na obra de Steiner
ela constitui uma ciência do cosmos com o centro no ser humano. “Seus métodos
possuem fundamentos na tradição ocidental.” (KULGELGEN, 1984, p. 54).
Como toda ciência, a Antroposofia não exige fé cega, possuindo métodos
para chegar aos seus conhecimentos (LANZ, 2005, p.16). Segundo Rudolf Steiner,
“a Ciência Espiritual Antroposófica existe para que nos compenetremos da
importância que possui o fato de o homem influir no mundo não só pelo que faz, mas
antes de tudo pelo que é.” (STEINER, 1999, p. 11).
2.1 A ESCOLA WALDORF E SUAS PECULIARIDADES
A pedagogia Waldorf é uma abordagem pedagógica holística que visa
desenvolver o ser humano em seus aspectos físicos, emocionais, intelectuais e
espirituais. Segundo Piske e Stoltz, a Pedagogia Waldorf possui suas práticas
envolvidas com a natureza e o universo, sendo que o objetivo principal é “perceber
cada sujeito como um ser humano integral.” (2014, p. 166). Considerada como uma
pedagogia com enfoque no ser humano, a escola Waldorf se preocupa com como
cada aluno aprende, o que aprendem e o modo como cada ser humano se forma
(KULGEGEN, 1984, p. 12).
O professor, dentro da perspectiva Waldorf, possui grande importância e
responsabilidade sobre o aluno, para além dos aspectos cognitivos. Na visão
steineriana, a maneira como o professor ensina causa influências diretas sobre a
saúde física e psíquica da criança. Dessa forma, para alcançar um ensino que
influencie positivamente a vida do aluno, Steiner defende que o corpo docente
precisa conservar certas características. Em suas palavras “na qualidade de
docentes, devemos interessar-nos por tudo o que é universal e por tudo o que é
humano. [Além disso,] [...] o professor deve ser uma pessoa que, em seu íntimo
jamais venha a compactuar com a inverdade.” (STEINER, 1999, p. 149).
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Explicando, ainda, o papel e as características do professor na Pedagogia
Waldorf, Bach Junior e Stoltz afirmam:
O professor é o formador do ambiente cultural e social da sala de aula. O que ele traz, internamente, de compreensão e sentimento acerca do mundo, é compartilhado com seus alunos por meio da fala. É intrínseco à tarefa docente, o fomento ao estímulo do desenvolvimento infantil, em amplos aspectos. (BACH JUNIOR; STOLZ, 2014, p. 116).
A escola idealizada por Steiner deve ser organizada por educadores que
busquem se entregar ao ensino para torná-lo vivo para os educandos. Visando o
sucesso da participação do professor na vida da criança, na educação Waldorf
compreende-se que a vida “é toda uma unidade e não devemos apenas focalizar a
infância separadamente” das outras etapas da vida, pois tudo deve ser visto de
forma integral (KULGELGEN 1984, p. 15). Por isso, é tão essencial que o professor
pense em um ser humano integral, no qual ele deixará marcas para além da
infância.
Na educação Waldorf, o educar é considerado como uma técnica e uma arte
que deve valorizar o prazer. Objetiva-se transformar todo o prazer do brincar em
prazer de aprender. Para isso, as fantasias são muito valorizadas por construir uma
nova realidade (KULGELGEN, 1984, p. 15).
Um dos aspectos marcantes da Pedagogia Waldorf é o caráter terapêutico
que a ela possui. Segundo Steiner (1996), “todo o próprio método de ensino e
educação está orientado para atuar proporcionando saúde à criança”. Além disso
(1996) a alimentação precisa compor a atividade educacional, de forma a elevar as
capacidades humanas conforme o temperamento de cada um. Na perspectiva
steineriana, os seres humanos possuem temperamentos, que influenciam
diretamente em suas aspirações e comportamentos, e eles podem ser equilibrados
pela alimentação que o indivíduo consome.
Rudolf Steiner considerava que os temperamentos de cada ser humano
influenciam diretamente no modo como ocorre sua interação com o meio. Os
temperamentos citados por Steiner são: o colérico, o sanguíneo, o fleumático e o
melancólico. Sobre estes temperamentos, Steiner nos fala:
Estes são misturados das mais diversas maneiras nos indivíduos, podendo-se falar apenas da predominância deste ou daquele em cada pessoa. Ora,
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quando o homem trabalha em si está proporcionando harmonia e ordem a esses temperamentos. (STEINER, 1996, p. 33).
Os temperamentos são critérios de acordo com os quais o professor organiza
a sala de aula. Visando aprimorar a capacidade dos seres humanos em equilibrar
seus temperamentos, os alunos são dispostos de forma a ficarem próximos de
outros com tendências semelhantes. Um princípio homeopático na educação pois,
Steiner compreendia que esse método propiciaria uma busca pelo equilíbrio interior
do ser humano.
O modo como o ensino é organizado também é diferente dos demais modelos
de escolas. Busca-se evitar a fragmentação dos conteúdos, organizando-os por
“épocas”, nas quais, durante duas semanas o professor desenvolve uma única
disciplina. Desta forma, o aluno se aprofunda em apenas uma disciplina em cada
época, obedecendo-se o princípio de dar tempo para que haja o seu envolvimento
profundo com o conteúdo.Em concomitância com o ensino diário, existe o ensino de
matérias artísticas, educação física, línguas estrangeiras, trabalhos manuais e
euritmia (HEMLEBEN, 1989, p. 128).
A Pedagogia Waldorf também apresenta uma perspectiva diferente em
relação à organização dos docentes. Nela, o mesmo professor regente acompanha
a turma ao longo de todo o Ensino Fundamental. Comentando este modo de
organização, Steiner afirma que:
[...] deveria ser introduzido em toda boa escola um sistema em que o professor permanecesse com seus alunos o mais longo tempo possível – recebendo-os na primeira série escolar, conservando-os no ano seguinte na segunda série, subindo com eles para a terceira, etc. -, de acordo com as possibilidades exteriores. E o professor que neste ano teve a última classe deve, no próximo ano, retomar a primeira série. (STEINER, 1999, p. 72).
A escola idealizada por Steiner compreende a importância do vínculo afetivo
que se constrói no decorrer dos anos, visando que os educandos tenham um
professor que possui um rico conhecimento de seus alunos, tornando-se
desnecessária a adaptação inicial dos alunos ao professor e vice-versa em cada ano
letivo. É natural nas escolas Waldorf que meninos e meninas sejam incentivados e
tratados da mesma forma, “sendo ensinados em conjuntos”, desenvolvendo as
mesmas atividades. Crianças e jovens são ensinados igualmente a “encontrar a si
mesmos” para mais tarde conviver na sociedade (HEMLEBEN, 1989, p. 128).
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Além de todas as peculiaridades apresentadas a respeito da Pedagogia
Waldorf, existe também a grande valorização do brincar e da imaginação dos
indivíduos. Desta forma, na Educação Infantil, os brinquedos são apresentados aos
educandos em materiais em “estado bruto”. Segundo Oliveira (2006, p. 75):
Estes objetos (traçados de cipó, blocos irregulares de madeiras, cascas de coco, sementes ou grãos não comestíveis) não pretendendo representar nenhum elemento específico do mundo ambiente da criança, tornam-se então tudo aquilo que a ela convir no ato lúdico.
Na perspectiva Waldorf, o brincar livre e o imaginar são formas de
aprendizado essenciais. Piske e Stoltz (2014, p. 166) ressaltam que na Pedagogia
Waldorf compreende-se que “a natureza e o universo, os desenvolvimentos
cognitivo, emotivo e volitivo estão em um mesmo plano”.
A pedagogia Waldorf possui em sua essência o ideal de formar um ser
humano equilibrado em suas atividades anímicas: pensar, sentir e querer. Para que
a educação Waldorf ocorra assim como Steiner idealizava, as escolas Waldorf
apresentam uma intensa ligação com os familiares dos educandos.Sem a
participação parental no processo escolar, grande parte do ideal steineriano de
educação seria inviabilizado.
3 METODOLOGIA
A perspectiva filosófica da pesquisa foi baseada no pensador Austro-Húngaro
Rudolf Steiner (1861-1925), em razão de o mesmo ser idealizador e fundador da
Pedagogia Waldorf a partir de sua ciência, a Antroposofia. A relação de influências
do universo antroposófico reúne pensadores da filosofia alemã, tais como: Immanuel
Kant (1724-1804), Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), Johann Gottlieb
Fichte (1762-1814) e Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Por suas influências mútuas com relação a Franz Brentano, e pela essência
de sua teoria, Steiner é considerado um fenomenólogo. Em concordância com isso,
a pesquisa foi encaminhada de forma a estudar como os fenômenos se
organizaram, valorizando suas essências e considerando-se a subjetividade como
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uma via necessária para a compreensão do mundo (já que todo conhecimento, de
alguma forma, passa pelo filtro da subjetividade humana).
A abordagem da pesquisa foi definida como qualitativa. Segundo Chizzotti
(2003):
A pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análise, derivadas do positivismo, da fenomenologia [...], procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles.
Considerando-se a natureza de seus objetivos, trata-se de uma pesquisa de
caráter exploratório. Segundo Gil, (2002, p. 41):
Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado.
Relativamente aos seus procedimentos esta investigação foi classificada
como um Estudo de Campo, tendo em vista que “focaliza uma comunidade, que não
é necessariamente geográfica, [...] que pode ser uma comunidade de trabalho, de
estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana.”(GIL, 2002, p.
53).
A coleta de dados foi dividida em duas etapas, a saber: 1. Levantamento de
relatos de representantes de 11 escolas brasileiras, por meio de um formulário
online (ver apêndice A). 2. Levantamento de relatos de alunos egressos de escolas
Waldorf, também por meio de um formulário online (ver apêndice B). Os formulários
online foram elaborados por meio da ferramenta Google Formulários, e
encaminhados para os participantes por meio de um link.
Apesar de o contato direto com as famílias ser preferível, tendo-se em vista o
problema proposto, a dificuldade de se ter acesso a este recurso conduziu os
procedimentos ao levantamento de informações indiretas. Sendo assim, as questões
direcionadas a cada grupo teve a intenção de revelar médias observadas pelos
sujeitos envolvidos, não havendo a possibilidade de se chegar a percentuais
precisos.
Em relação à primeira etapa, o passo inicial foi o contato via telefone com
representantes de escolas Waldorf (que em sua maioria foram professores e
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secretárias). Nesta fase, foram realizadas ligações para as 69 escolas constantes no
site as Sociedade Antroposófica Brasileira (SAB) (Sociedade Antroposófica
Brasileira, 2016). Como não foi possível entrar em contato via telefone com 32
destas escolas(em razão de os números informados não existirem, ou haver outros
problemas técnicos), também foi feito o encaminhamento de mensagensvia e-mail
para todas as 69 escolas, com um convite para a pesquisa5. Via telefone ocorreu o
atendimento por parte de 42 escolas Waldorf. Para as 11 escolas que aceitaram
participar da pesquisa foi encaminhado um e-mail com o link para um formulário
online, contendo 29 questões, que foi desenvolvido por meio da ferramenta Google
Formulários.
A segunda etapa da pesquisa envolveu a coleta de relatos com 68 alunos
egressos da Educação Waldorf. Os alunos egressos foram selecionados
aleatoriamente por meio de contatos estabelecidos via comunidades Waldorf,
formadas no Facebook. Os questionários dos egressos também foram organizados
por meio da ferramenta Formulários Google. Os critérios para seleção dos sujeitos
nesta etapa foram: ser participante de uma comunidade ligada à Pedagogia Waldorf
no Facebook, ser egresso de uma instituição Waldorf, ter permanecido por um ano
ou mais nesse tipo de educação e atualmente ter 18 anos ou mais. Mais de 1000
sujeitos que atendiam ao primeiro critério foram abordados durante a pesquisa.
Por fim, no decorrer da análise dos resultados procurou-se confrontar os
dados obtidos por meio das duas etapas de coleta de dados e discuti-los à luz do
referencial teórico.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa sobre o perfil das famílias Waldorf no Brasil contou com a
participação de 11 escolas Waldorf e com 68 alunos egressos da Pedagogia
Waldorf.As respostas coletadas por meio das escolas tratam-se, em sua maioria, do
relato de médias constatadas pelos representantes das instituições. Não se tratando,
desta forma, de dados agrupados em categorias precisas.
5No e-mail enviado para todas as escolas Waldorf, foi incluído, além do convite, um texto
esclarecendo a intencionalidade da pesquisa e oferecendo informações sobre o currículo da pesquisadora e de sua orientadora.
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As escolas que aceitaram participar da investigação se concentram na região
sul e sudeste. A instituição participante com maior tempo de funcionamento foi
fundada em 1950. Entre as demais escolas, oito foram fundadas entre os anos e
2005. A instituição mais recente foi fundada no ano de 2011.
Com relação ao nível de ensino,observou-se que o mais ofertado entre elas é
a Educação Infantil, seguida do Ensino Fundamental. Quase metade das escolas
envolvidas oferecem o Ensino Fundamental e apenas três escolas possuem o
Ensino Médio. Em uma única escola há, ainda, a formação de professores em nível
Médio.
Apesar de as escolas pesquisadas se concentrarem na oferta da Educação
Infantil, a maioria dos alunos das instituições participantes se encontram no Ensino
Fundamental (ver Gráfico 1).
Gráfico 1: Quantidade de alunos por nível de ensino nas escolas Waldorf
participantes da pesquisa:
Fonte: Dados coletados na pesquisa por Laiana Moraes de Azevedo.
Sendo provenientes de 11 escolas, os dados coletados envolvem, de modo
geral, informações referentes a 357 profissionais (atuando em todas as áreas de
funcionamento das escolas) e 2414 alunos de Educação Básica. Neste sentido,
constata-se a média de um funcionário para cada 7 alunos.
Nas instituições Waldorf, o número profissional/aluno é organizado de forma a
atender a necessidade de que o corpo pedagógico possua um relacionamento mais
próximo com os alunos.
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Para compreender qual era o tempo de envolvimento direto entre a família e o
aluno, questionaram-se às duas fontes de dados da pesquisa escolas e egressos
com quem os alunos ficavam em contraturno.
Dentre as escolas pesquisadas, 50% possuem algum atendimento em tempo
integral. Contudo, este atendimento não é utilizado pela maioria. Aqueles alunos que
não permanecem na escola em período integral, segundo as duas fontes,
recebem/receberam, em sua maioria, cuidados de membros da família nuclear no
período de contraturno (53%).
Além disso,os representantes de instituições Waldorf informaram que seus
alunos, em sua maioria são levados e buscados da escolapor seus pais, sendo que
uma minoria usa transportes como vans, ônibus, taxis, entre outros para chegar até
o ambiente da escola Waldorf.
Por meio de respostas dos egressos, constatou-se que a concepção
humanística adotada pela educação Waldorf, assim como as características
diferenciadas dessa perspectiva educacional são as principais razões pelas quais os
pais matriculam seus filhos nessas escolas. Segundo eles os motivos pelos quais
foram matriculados nas escolas Waldorf foram os seguintes: 57% pela pedagogia
Waldorf ou por ideais antroposóficos; 15% pela educação mais humana; 10% pela
busca por ensinamentos alternativos ao ensino tradicional; 7% por indicação; 2% por
escolha do próprio aluno; 9% por razões desconhecidas.
Sobre o diferencial da Pedagogia Waldorf, Steiner (1999, p. 11) ressaltou:
Em verdade, os métodos aplicados por nós se diferenciam daqueles adotados até agora não porque, por capricho, queríamos ter algo ‘novo’ ou diferente, mas porque a partir das tarefas de nossa época peculiar devemos reconhecer como o ensino precisa transcorrer para a Humanidade [...].
Com relação ao grau de envolvimento dos pais na vida escolar dos alunos,as
respostas dos egressos revelaram como sendo: 76% muito participativos; 19%
pouco participativos; e 2% não participativos. Três por cento dos egressos não
souberam responder à questão.
No levantamento de dados junto aos representantes de escolas Waldorf, o
resultado foi compatível. A maioria afirmou que os pais dos alunos de sua instituição
são presentes na vida escolar dos filhos, participando de reuniões, palestras,
oficinas, eventos comemorativos, entre outros. Além disso, foi mencionada pela
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maioria das escolas a participação significativa de pais em grupos de estudos
semanais, algo que é parte da rotina de escolas Waldorf.
Alguns relatos de egressos podem ilustrar melhor a natureza da maioria das
respostas obtidas:
Sim. Meus pais eram presentes todo o tempo na escola em todas as atividades que os pais teriam que participar. Numa escola Waldorf os pais fazem parte tanto da administração quanto das atividades pedagógicas. Era muito bom ter os pais presente. (Egresso daPedagogia Waldorf, RESPOSTA 52, 44 anos). Sim. Minha mãe sempre foi muito presente nas reuniões e conselhos. E ambos participaram das atividades abertas à comunidade, festas escolares, peças teatrais e musicais. (Egresso da Pedagogia Waldorf, RESPOSTA 55, 25 anos) Sim, a escola sempre promoveu a interatividade dos pais em projetos dos alunos como teatro, festas, encontros, etc. (Egresso da Pedagogia Waldorf, RESPOSTA 58, 25 anos) Sim. Eles sempre estiveram presentes, inclusive porque a escola Waldorf, por ser uma escola associativa na maioria dos casos (Cordão Dourado, embora tivesse um dono, os donos eram professores da escola e contavam com apoio e participação dos pais e mães), pretende construir a escola a partir da participação dos pais, mães, familiares e amigos. Com alguma frequência haviam reuniões com os pais, e atividades pedagógicas para os alunos, nas quais os pais também participavam, como é o caso da plantação e colheita do trigo, e construção de um forno de barro, ambas no 3° ano, dentre outras atividades em todas as idades dos filhos. Nas festas junina, da primavera, bazar de natal, etc., os pais levavam e vendiam comida e bebida, e participavam da organização dos eventos com o que podiam de acordo com suas profissões: fotógrafos, músicos, etc. A escola também promovia o Portas Abertas, evento voltado para os pais e amigos interessados em conhecer a pedagogia, e consistia em passar uma manhã da escola tendo aulas nos moldes da pedagogia, a fim de conhecer mais a rotina dos seus filhos na escola. (Egresso da Pedagogia Waldorf, RESPOSTA 59 , 21 anos)
Compreende-se que as participações das famílias Waldorf acontecem com
intenções que extrapolam o aprendizado do conteúdo pelo aluno, sempre visando o
desenvolvimento do ser humano por inteiro, em concordância com os ideais de
Steiner (1999).
Segundo a pesquisa, as famílias Waldorf apresentam o uso frequente das
tecnologias atuais, contrariando nossas hipóteses iniciais. Porém observa-se nas
respostas apresentadas pelas escolas que as famílias buscam possuir o controle do
uso das mídias pelos filhos. Relatos de representantes revelaram que há um esforço
de escolas Waldorf no sentido de orientar esta prática de regulação, como segue:
16
Acreditamos que os pais acessem as mídias, mas que tenham discernimento regulando o acesso dos filhos (dependendo da faixa etária). Há um trabalho contínuo por parte dos professores neste sentido. (Escola Waldorf do Sudeste).
Relativamente aos hábitos alimentares, tanto os egressos, quanto as escolas,
indicaramque existe uma busca por uma alimentação saudável (com poucos
alimentos industrializados) entre as famílias. Nas respostas dasescolas para a
questão “Qual é o perfil médio dos pais dos alunos em relação aos hábitos
alimentares?”, obteve-se como resposta que a maioria dos pais se preocupam com
uma alimentação saudável. Nas respostas dos egressos para a mesma questão
(mas voltada aos seus pais durante seu período de escolarização), obtiveram os
seguintes percentuais por categoria: 56% buscavam uma alimentação saudável;
32% não se preocupavam com a alimentação; 10% preferiam produtos pouco
industrializados. A questão não foi respondida por um dos participantes.
A alimentação é vista como parte da atividade educativa naPedagogia
Waldorf. Desta forma, a confluência entre os hábitos dos pais com esta concepção
pode surgir, principalmente, de duas formas: algumas das concepções veiculadas
pela escola podem influenciar os hábitos dos pais, e/ou aqueles que já possuem
uma visão próxima neste aspecto tendem a se identificar com a Pedagogia por este
entre outros motivos. Para ilustrar a relevância deste fator entre os fundamentos
steinerianos para a Pedagogia, pode-se recorrer às seguintes palavras do autor:
Deveríamos tentar harmonizar toda a nossa vida, empregando para isso todos os nossos esforços: não apenas viver sobriamente nossos ideais numa pequena parte do dia, mas dividir nossas ocupações, escolher nossos prazeres e mesmo regular nossa alimentação no sentido de tornar-nos homens harmonicamente auto-sustentados, para então podermos atuar na vida de acordo com melhores forças. (STEINER, 1999, p. 36).
O nível socioeconômico das famílias que matriculam seus filhos nas escolas
Waldorf participantes da pesquisa varia, segundo a maioria das respostas, entre
“alto” e “médio”. Uma das escolas apontou que uma parte de sua clientela pertence
ao nível socioeconômico “mais alto”, duas escolas apontaram nível econômico
médio e baixo entre sua clientela e apenas uma das escolas afirmou que parte das
famílias que compõem a escola pertencem ao nível socioeconômico baixo.
17
Os dados acima são confirmados pelas respostas relativas aos valores que as
famílias pagam nas mensalidades das escolas Waldorf. Existe uma variação de
valores em função do nível de ensino, por isso estes serão apresentados em
separado:
- Na Educação Infantil, os valores das mensalidades variaram entre 259 reais
e 2050 reais. A maior concentração (4 escolas) foi na faixa de 1000 a 1350 reais.
Todas as escolas participantes ofertam este nível de ensino.
- No Ensino Fundamental, os valores das mensalidades variaram entre 1094
e 2700 reais. A maioria das escolas que ofertam este nível de ensino (4 escolas de
6), têm mensalidades acima de 1500 reais.
- No Ensino Médio, os valores das mensalidades variaram entre 1400 e 2800
reais. Apenas 3 escolas participantes ofertam este nível de ensino.
Segundo informações oferecidas pelas escolas, a maior parte dos pais de
alunos Waldorf possuem Ensino Superior. Como o levantamento foi feito por meio
dos representantes de escolas, não foi possível precisar em que cursos estes pais
são formados. Mas em resposta à solicitação de menção de alguns cursos
predominantes, obteve-se maior predominância de cursos da área de Exatas entre
os pais e de Humanas entre as mães.
Com relação à atividade profissional dos familiares de alunos Waldorf,
compreendeu-se que as mulheres apresentam um grande índice de atuação nas
áreas de ciências humanas, sendo que profissões relacionadas à educação são as
que apareceram com maior frequência. Outras áreas de concentração profissional
das mulheres de famílias Waldorf, segundo relatos dos representantes de escolas,
são aquelas relacionadas à saúde como psicologia, enfermagem, medicina, entre
outras. Houve também a constatação da existência de muitas mulheres que
trabalhavam em casa.
Os relatos de representantes indicaram maior concentração dos pais das
famílias Waldorf em profissões relacionadas às seguintes áreas: engenharia,
administração de empresas, atendimento bancário, arquitetura, entre outros. Em um
índice menor, os homens das famílias Waldorf atuam como artistas, professores,
publicitários, entre outros. Ressaltamos que em ambos os sexos houve uma grande
variedade de atuações profissionais, inviabilizando a listagem geral.
Outra informação que a pesquisa obteve com as respostas de representantes
de escolas é que é comum que os alunos Waldorf possuam membros da família
18
entre os alunos ativos e egressos de cada escola, isto conduz à ideia de que os
indivíduos recebem influências e recomendações dos demais membros de sua
família no momento de optar pela Pedagogia Waldorf.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa objetivou investigar o perfil de famílias de alunos Waldorf no
Brasil, bem como suas intencionalidades na procura desse modelo diferenciado de
educação.
A princípio, estabeleceu-se a meta de se abranger três escolas Waldorf em
cada região do Brasil. Porém, no decorrer da pesquisa houve dificuldades em se
conseguir a adesão dos representantes de escolas, o que encaminhou a
pesquisadora à focalização das instituições de forma geral, sem distinção por região.
Apesar das dificuldades, foi possível alcançar a participação de onze escolas. O que
representa cerca de 1/6 do total de escolas Waldorf do país.
Com relação aos egressos, observou-se maior facilidade em obter a
participação, tendo sido alcançado o número de 68 participantes entre 18 e 54 anos.
Os resultados obtidos permitiram deduzir que o perfil socioeconômico das
famílias que mantêm seus filhos em escolas Waldorf, varia, na maioria dos
casos,entre as classes média e alta. Além disso, constatou-se que grande parte das
famílias que matriculam crianças e adolescentes em instituições Waldorf possuem
ou possuíram outros membros nesse modelo de educação.
As famílias Waldorf, segundo a pesquisa com as instituições, são bastante
participativas na vida escolar dos seus membros. Esse dado se confirmou com a
pesquisa dirigida aos egressos, que revelou um envolvimento intenso em 76% das
respostas.
Observa-se também a possível influência da Pedagogia Waldorf nos hábitos
familiares dos alunos Waldorf, pois, segundo as escolas e os egressos consultados,
as famílias costumam se preocupar em consumir uma alimentação saudável, de
forma concordante aos ideais steinerianos.
As profissões das famílias Waldorf apresentam uma grande variedade de
áreas de atuação. Em geral os homens apresentam profissões nas ciências exatas e
as mulheres em sua grande maioria são professoras ou atuam em profissões das
19
áreas humanas. Houve na pesquisa um número significativo de mulheres que não
possuíam profissão externamente ao lar.
Segundo a pesquisa, as famílias Waldorf geralmente optam que seus
membros fiquem com pessoas da própria família no contraturno da escola. Outra
informação compreendida por meio da pesquisa é que os pais costumam levar e
buscar seus filhos diretamente na escola Waldorf, sendo baixo o índice daqueles
que utilizam vans, transportes escolares, táxis, entre outros.
Outra característica interessante apresentada pela pesquisa concerne às
intencionalidades das famílias ao procurar a educação Waldorf. A maioria procura a
escola exatamente em função da proposta pedagógica ou de uma identificação com
a Antroposofia, em detrimento da conveniência ou de outras questões. Sobre isso,
Bach Junior (2016) nos fala das possíveis razões das escolhas pela pedagogia
Waldorf:
Em relação à educação convencional, há pessoas satisfeitas, indiferentes e que não questionam a escola comum. Porém, há uma parcela de mães e pais que almeja um caminho escolar diferenciado para seus filhos. [...]. As opções não convencionais são poucas, Montessori, Freinet, Escola da Ponte, Pedagogia Waldorf, entre outras. (BACH JUNIOR, 2016, p. 6).
Com relação à tecnologia, as famílias dos alunos Waldorf possuem acesso
semelhante às de famílias que compõem instituições que oferecem uma educação
tradicional. Porém, em relação aos filhos, o uso é possivelmente mais moderado em
famílias Waldorf. A respeito desse tema, é importante mencionar os estudos que as
escolas ofertam aos pais, visando proporcionar o contato dos alunos com a mídia de
modo positivo. Bach Junior (2016), ao pesquisar egressos da Pedagogia Waldorf
canadenses e estadunidenses, obteve resultados semelhantes em relação ao uso
de mídias:
A posse de aparelhos de TV e vídeo game apresentou índices menores entre os alunos Waldorf. Possivelmente para esses dois aparelhos, a escolha dos pais foi preponderante para evitar o contato deliberado dos jovens com o conteúdo midiático. Os resultados da pesquisa sobre os jovens com a mídia e o mundo virtual deixaram bem claro que os alunos Waldorf estão inseridos no mundo atual como os alunos das outras escolas. (BACH JUNIOR, 2016, p. 42)
Notou-se a necessidade de se buscar responder às mesmas questões
propostas na presente pesquisa por meio da participação direta das famílias, algo
20
que demandaria mais tempo, além do deslocamento do pesquisador aos locais em
que as escolas se situam. Além disso, outras pesquisas relevantes poderiam ser
desenvolvidas, por exemplo, sobre o grau de compreensão que as famílias têm da
Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, já que ambas foram apontadas como as
principais razões para a matrícula dos filhos em escolas Waldorf.
REFERÊNCIAS
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21
OLIVEIRA, F. M. C. A Relação entre homem e a natureza na Pedagogia Waldorf. 2006. 183 f. Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2006. OCDE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Organiza%C3%A7%C3%A3o_para _a_Coopera%C3%A7%C3%A3o_e_Desenvolvimento_Econ%C3%B3mico&oldid=47014526>. Acesso em: 21 out. 2016. PISKE, F. H. R; STOLTZ, T. Ciência e Arte na Educação de Superdotados: um olhar a partir de Steiner. In: VEIGA, M.; STOLTZ, T. (Org.). O pensamento de Rudolf Steiner no debate científico. Campinas, SP: Alínea, 2014. RIBEIRO, W. PEREIRA. J. P. J. SevenMythsof Social Participationof Waldorf Graduates. ResearchBulletin, v.15, n. 2, autumn/winter, 2010. ROMANELLI, R. A. A influência de Goethe no pensamento steineriano e na Pedagogia Waldorf. In: VEIGA, M.; STOLTZ, T. (Org.). O pensamento de Rudolf Steiner no debate científico. Campinas, SP: Alínea, 2014. SAB. Mapa das escolas Waldorf no Brasil. Disponível em: <http://www.sab.org.br/>. Acesso em: 25 mar. 2016. SEVERINO, A. J. Educação, trabalho e cidadania a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico. São Paulo em Perspectiva, 2000. STEINER, R. Temperamentos e alimentação: indicações médicas-terapêuticas e aspectos gerais. São Paulo: 1996. STEINER, R. A arte da educação I: Estudo geral do homem, uma base para a Pedagogia. Antroposófica, 1999. STEZER, W. V. Pedagogia Waldorf. Disponível em: <http://www.sab.org.br/portal/pedagogiawaldorf/27-pedagogia-waldorf>. Acesso em: 30 mar. 2016. VEIGA, M. O significado do pensamento filosófico para a Pedagogia Waldorf. In: VEIGA, M.; STOLTZ, T. (Org.). O pensamento de Rudolf Steiner no debate científico. Campinas, SP: Alínea, 2014. VEIGA, M.; STOLTZ, T. Apresentação. In: ______.O pensamento de Rudolf Steiner no debate científico. Campinas, SP: Alínea, 2014.
22
APÊNDICE A – QUESTÕES DO FORMULÁRIO ONLINE DIRECIONADO A
REPRESENTANTES DE ESCOLAS WALDORF
1. Nome da escola:
2. Cidade em que a escola se situa:
3. Data de fundação:
4. Quantidade de alunos matriculados:
5. Etapas de ensino que atende:
Educação Infantil I - (0 - 3 anos)
Educação Infantil II - (3 - 5 anos)
Ensino Fundamental I - (1º ano - 5º ano)
Ensino Fundamental II - (6º ano - 9º ano)
Ensino Médio
Outra:
6. Número de alunos por etapa de ensino:
7. Número de profissionais e funções:
8. Composição da equipe administrativa pedagógica da escola:
9. Número de bolsistas:
10. Qual é o valor da mensalidade por etapa de ensino: Educação Infantil, Ensino
Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio?
11. Há variação no valor da mensalidade para alunos da mesma etapa? Se sim, Por
quê?
12. Nível socioeconômico das famílias dos alunos (caso seja necessário, marque
mais de uma alternativa):
Mais Baixo
Baixo
Médio - Baixo
Médio - Alto
Alto
Mais Alto
13. Há atendimento de alunos em período integral?
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14. Como ocorre o primeiro contato das famílias com a escola? Qual a frequência de
atendimento de novas famílias? (Para matrícula na escola).
15. Qual é o cardápio semanal e como é a relação das crianças com este cardápio?
Existe a presença, ou não, de açúcar, carnes e industrializados no cardápio? Se sim,
em que proporção?
16. Qual o perfil médio dos pais dos alunos em relação à formação escolar?
17. Qual o perfil médio dos pais dos alunos em relação a hábitos alimentares?
18. Qual o perfil médio dos pais dos alunos em relação à tecnologias?
19. A escola tem acesso a informações de quais cuidados as crianças recebem em
contraturno? Se sim, quem realiza essa função? (Babá, membros da família nuclear,
membros da família extensa, outros).
20. Com quem os alunos costumam ir embora da escola? (Babá, membros da
família nuclear, membros da família extensa/outros)
21. Qual é o meio de transporte mais utilizado pelos pais ao trazer seus filhos para a
escola?
Transporte Público
Carro Particular
Moto
Outro:
22. No ano de 2015, qual foi o número de alunos novos matriculados e qual o
número de alunos que deixaram a escola para estudar em outras instituições (antes
do término do ciclo).
23. Quais são as razões mais comuns pelas quais os pais/responsáveis escolhem a
escola para matricular seus membros?
24. Com que frequência há a participação dos pais em questões relativas à
escolarização dos filhos? Descrever formas de participação em casa e na escola
(por exemplo: grupos de estudos, reuniões de pais, palestras, atividades escolares
voltadas para os pais).
25. Existem alunos atuais que possuem parentes que estão matriculados nessa
mesma instituição ou são egressos desse tipo de educação?
26. A partir de que idade os alunos ingressam na educação infantil? Geralmente
estes alunos estudam em outras escolas antes de ingressar em uma escola
Waldorf?
24
27. De forma geral, qual é o perfil da família que procura uma escola Waldorf para
seus filhos?
28. Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pela escola na relação com os
pais?
29. Caso queira fazer uma observação adicional sobre qualquer questão deste
formulário, apresente-a abaixo:
25
APÊNDICE B –QUESTÕES DO FORMULÁRIO ONLINE DIRECIONADO A
EGRESSOS DE ESCOLAS WALDORF
1. Durante quanto tempo você estudou em uma escola Waldorf? De que ano a que
ano? Em que cidade se localizava a instituição?
2. Por qual motivo você foi matriculado em uma escola Waldorf?
3. Qual era a profissão de seus pais ou responsáveis na época em que estudou em
uma escola Waldorf?
4. Você se lembra da participação dos seus pais em sua vida escolar? Se sim,
descreva brevemente esta lembrança.
5. Quando era aluno Waldorf, você ficava na escola em período integral ou apenas
meio período? Se ficava na escola meio período, quem era responsável por
cuidar de você no contraturno? (Babá, membros da família nuclear, membros da
família extensa, outros).
6. Você estudou em alguma escola não Waldorf? Se sim, como foi sua adaptação?
Destaque em que aspectos sentiu maior dificuldade.
7. Você se lembra de como era a rotina de alimentação na sua casa durante a
infância? Havia algum critério específico para a seleção de alimentos? Quais
eram os alimentos mais comuns?